Você está na página 1de 275

Tesouros Peculiares

Série Katie 1
Robin Jones Gunn
Capítulo 1
Katie segurou a saia de seu longo vestido de dama de honra e empolgada, traçou
seu caminho até a aglomeração de convidadas do casamento:

- Desculpe. Vim cumprir um dever. Mulher em uma missão aqui. Abram espaço.

A maioria dos convidados conhecia Katie e encarava com bom humor seus
comentários. Katie se plantou bem na frente e no centro. Pôs-se em posição do
interceptador da bola1 e discretamente, antes de ajeitar o cabelo vermelho-
berrante atrás da orelha, gritou:

- Aqui Cris! Já estou pronta.

Outra jovem também chegou mais perto e gritou suas próprias direções para a
noiva:

- Nada de favorito, hein, Cris!

- Estou exatamente aqui na sua esquerda. Joga pra mim, na esquerda!

- Não, joga pra mim, Cris! Pra mim! Aqui!

A noiva mantinha-se de costas para todas as convidadas, já que sua


supereficiente tia agitava-se para ajustar a posição de Cris, para que seu perfil
estivesse perfeito para as lentes do fotógrafo.

-Mantenha os ombros para trás Cris, querida - Tia Marta advertia - Agora vire o
queixo um pouquinho para a direita. Não, nem tanto. Volte... Isso. Assim.

O flash da câmera capturou a pose de Cris antes mesmo que a noiva pudesse
respirar ou piscar.

Outro flash surgiu, agora na direção de Katie e as outras impacientes convidadas.


Katie era um pouco mais alta do que a maioria das garotas que estavam
aglomeradas ao seu lado. Isso fazia com que a competição não parecesse tão
desafiadora.

- Dama de Honra aqui! Katie gritou. Siga o som da minha voz, Cris!

Lá do outro lado veio uma voz profunda.

- Joga alto!
1
Interceptador da bola - jogador do lado do lançador no jogo de beisebol, que intercepta a bola.
Katie conhecia aquela voz. Era a voz do Rick Doyle, seu “quase” namorado. Rick
estava junto do restante dos padrinhos do noivo, na beira do gramado. Os outros
rapazes, todos surfistas de nascença, já tinham tirado suas longas gravatas há
uma hora atrás, antes mesmo de o brinde ser oferecido. Eles estavam prontos
para curtir confortavelmente a tarde quente do sul da Califórnia. Rick era o
único que mantinha o estilo “pronto para a câmera”, como dizia a Tia Marta. Ela
estava satisfeitíssima com Rick, mas irritadíssima com os outros, inclusive com o
noivo, Ted, que tinha arrancado o paletó logo depois que ele e Cris cortaram o
bolo.

Alto, e de olhos castanhos Rick posicionou as mãos em forma de copo, em frente


a sua boca, e gritou de novo:

- Joga alto, Cris!

Por que ele está falando isso? Eu estou logo aqui na frente. Katie virou a cabeça
para trás para ver se Rick estava olhando para alguém que estivesse na fileira de
atrás das ansiosas caçadoras de bouquet. Mas antes que ela pudesse localizar
alguém em particular, algo perfumado bateu do lado esquerdo de sua cabeça.

Todas as mulheres em volta gritaram.

Katie flexionou seu braço esquerdo e puxou o objeto voador pro seu lado. Mas
uma outra jovem, na tentativa de seu próprio alcance pelas flores, bateu com
força em Katie.

- Ei! Katie começou a tombar, mas viu que o bouquet estava prestes a ser
agarrado.

Uma outra jovem balançou seu braço para frente e sem calcular seus
movimentos, lançou o maço de volta pro ar. O bouquet estava de volta ao jogo!

Lá do outro lado, os rapazes gritavam. De dentro do amontoado de mulheres


histéricas, os berros aumentavam. De repente, todos os braços voltaram para o
ar.

O bouquet fugitivo parecia estar se divertindo com o seu momento de vôo e só


pararia nas mãos de uma única convidada ansiosa, que golpearia as flores como
se elas fizessem parte de uma caça a passarinhos. Em meio a pulos e saltos, a
travessa bola branca lançou uma única rosa para uma mulher de braços longos
antes que Katie pudesse saltar pra frente e agarrar o bouquet. Viva o bouquet!

A garota alta do lado de Katie vacilou com a solitária rosa nas mãos. E então
Katie levantou seu braço e deixou sua empolgação ser ouvida por toda a
campina.
- Peguei!

- Eu quase peguei - murmurou a mulher com o solitário botão de rosa.

Cris, que já tinha se virado para assistir ao “show” momentâneo, deu uma risada
quando viu onde o bouquet parou.

Katie imitou a expressão alegre de sua melhor amiga. Esse era o momento com
que ambas haviam esperado durante anos. Muitos anos. As duas sabiam que Cris
seria a primeira a se casar. A corajosa Katie sempre persistia em dizer que o
noivo de Cris seria Ted, mesmo durante aquelas épocas em que Cris tinha lá suas
dúvidas. Para incentivar os segredos de Cris durante aqueles duvidosos-mas-
sonhadores momentos, Katie foi uma das melhores animadoras, “Só me prometa
que você vai jogar o bouquet pra mim.” Aquele pensamento sempre as fazia rir
uma da outra, da mesma forma que estavam fazendo agora.

Missão cumprida.

Dando uma rodada de triunfo, Katie deu de cara com Rick a observando. Pra
quem quer que tenha sido aquele comentário “joga alto”, agora não importava
mais. Rick estava a encarando com aqueles olhos castanhos-chocolates, e ela
parecia estar se derretendo por dentro, como se essa fosse sua primeira
paixonite por Rick na escola.

- Olhe pra cá, por favor, disse o fotógrafo.

Katie levantou a cabeça e mostrou a ele eu maior sorriso.

- Mais uma. Agora menos forçado!

Levando a fragrância do bouquet branco da gardênia até o nariz, Katie


mergulhou o queixo e inspirou lentamente o aroma doce e puro das flores. Então
é esse o cheiro de estar casada.

O fotógrafo capturou a pose, reajustou o ângulo da câmera e tirou outra.

- Ótimo, obrigada.

Katie olhou de volta, pronta para dar uma piscada com seu brilhante e
esverdeado olhar cheio de charme na direção de Rick, mas seu sorriso se desfez.
Rick não estava mais a observando. Ele estava dando atenção ao grupo de
rapazes solteiros prontos para capturar a liga1.

1
Liga – tira elástica que segura as meias. Assim como as mulheres solteiras ficam ansiosas para
agarrar o bouquet da noiva, nos Estados Unidos, os homens solteiros apanham a liga que é
jogada pelo noivo.
Katie caminhou vagarosamente para o lado para se juntar ao grupo de
espectadores enquanto tirava o cabelo da testa. Era estranho estar tão bem
vestida e ter uma foto sua capturada. Mas, até que essa experiência estranha foi
agradável. As seleções de estilo pessoal de Katie foram por um longo tempo na
área do jeans e camiseta ou blusa de moletom. Durante o ano passado, então,
ela lançou uma chamada “Versão-Katie” atualizada. Ela começou com um corte
de cabelo que deu a sua juba vermelho-berrante um ar mais sofisticado, num
estilo "fácil-de-lavar-e-sair".

Então ela adicionou umas saias mais coloridas ao seu guarda-roupa e foi à
procura de modelos mais femininos e confortáveis. Essa roupa de dama de honra
estava bem além da forma como ela costumava se vestir, mas Katie gostou do
jeito com que isso a fez se sentir mais sofisticada.

Um rapaz que usava roupas casuais e uma barbicha-de-bode e óculos escuros


retangulares inclinou-se na direção de Katie que estava parada ao lado do grupo
de rapazes. E sem olhar para ela disse baixinho:

- A presilha ta escorregando.

Katie virou seu olhar para o sol da tarde e piscou pra ele. Mesmo sem ter muita
certeza se o comentário dele tinha sido realmente para ela ou não. O rapaz
continuava olhando para frente. Ele não repetiu o comentário nem olhou de volta
para ela. Atrás da orelha esquerda dele, ela viu uma fina e branca cicatriz na
forma de um “L”.

Katie ignorou o rapaz e voltou sua atenção ao grupo de rapazes que agora
estavam importunando Ted, o adorável noivo. Ele tinha posicionado a liga de Cris
entre os dois dedos polegares na posição de projétil e malandramente mirou para
trás de si próprio. Se ele soltasse agora, a liga iria desordenadamente atingir
algum lugar no alto das palmeiras que se encurvavam para a festa de casamento,
assim como as girafas fazem para alimentar seus filhotes.

Um dos rapazes gritou:

- Ei, direção errada, cara.

Douglas, o único padrinho do grupo que era casado, parou ao lado de Ted e virou
seu corpo de forma que ele encarasse o grupo.

- Só mire nessa direção geral. Daí, isso vai voar loucamente. Desse jeito, você
não precisará ficar de costas para eles.

Ted parecia que estava se divertindo com isso, do mesmo jeito que pareceu ter
adorado a cerimônia de casamento e a tranqüila recepção. Katie sabia que
apesar de todo o esforço que foi feito entre o casal, seus pais, e sua ansiosa e
perfeccionista Tia Marta durante o planejamento deste dia, parecia mesmo que
tudo tinha se tornado um momento super especial para Ted e Cris.

O casamento e a recepção tiveram apenas leves toques da influencia de Marta; a


maioria do dia tinha sido planejada por Ted e Cris. Katie estava super feliz por
seus amigos.

Os rapazes pararam com suas posturas relaxadas na direção de Ted, era


perceptível pela expressão de seus rostos que eles estavam calmos demais para
disputar a liga. Katie conhecia aquele grupo bem o suficiente para saber que eles
iam entrar em ação a partir do momento que Ted lançasse a liga.

E realmente. Ted levantou o queixo, e no comando de Douglas, ele lançou a faixa


elástica de renda branca no meio do “muito-calmo” grupo de rapazes. E ai,
bagunça total.

Katie notou que Rick foi um dos poucos rapazes que não entrou em ação. A liga
deu voltas próximo ao rapaz de barbicha que estava perto de Katie. Mas antes
que ele pudesse agarrar o frágil flutuante pedaço de renda, uma outra mão
surgiu e agarrou o prêmio.

Os ombros de Katie deram um solavanco involuntário quando ela viu quem pegou
a liga. David, o pequeno idiota. O irmão de Cris de 15 anos de idade começou a
fazer a dança da vitória. Infelizmente, aquela dança era estranha demais para os
pés imensos do David, tornando penoso demais para Katie assisti-lo. Ela se virou
para o outro lado da multidão onde Rick estava parado. Ele estava conversando
com o pai de Ted.

-Excelente resgate na caça ao bouquet hein, Katie. O pai de Ted apontou com
seu copo de plástico em sua direção e adicionou: Corra atrás do que deseja.

- Obrigada. Virando para Rick, ela disse: Acho que não vi você fazendo nenhum
esforço heróico para agarrar a liga lá, Doyle.

Rick deu uma risada forçada e balançou os ombros.

- Não veio na minha direção.

Essa é a tal frase “Filosofia-de-vida” do Rick Doyle. Nos últimos seis meses Katie
tinha visto Rick passar por dúzias de situações extremamente desafiadoras sem
agir com a mesma agressividade que ele demonstrava durante seus anos do
segundo grau. Ele amadureceu. Talvez até demais.

Ela deu uma longa olhada em Rick. Aquele era o seu amigo. De acordo com a
última conversa que tiveram sobre a evolução de seu relacionamento, seu
“quase” namorado. Eles estiveram perto um do outro todos os dias durante os
últimos sete meses, e ela sentia que já não sabia mais quem ele era ou o que ele
estava pensando.

De uma coisa ela tinha certeza: Ela queria ser a namorada do Rick. Ela estava
feliz por ter “ido nessa direção” na noite em que Ted pediu a Cris em casamento
na lanchonete “Ninho da Pomba”. Rick era o gerente do “Ninho da Pomba”, e
apesar deles já terem se conhecido desde a escola, seus caminhos não tinham se
cruzado durante anos.

Depois de terem se reencontrado naquela noite, Katie e Rick começaram um


relacionamento fixo. Num ritmo equilibrado. Ela até conseguiu um emprego no
“Ninho da Pomba”. Os últimos seis meses foram os mais estáveis trechos da nova
vida adulta de Katie, e ela não queria que isso mudasse. Tudo que ela queria era
um titulo mais preciso para o relacionamento deles. Ela queria que fossem logo
intitulados “namorado” e “namorada”.

- Katie! Chamou a Tia de Cris de lá da treliça do casamento.

David já estava em posição, segurando a liga. O fotógrafo estava checando a


intensidade da luz com o seu medidor.

- Você está sendo intimada - disse o pai de Ted.

- É, estou mesmo. Você quer vir comigo? Ela agarrou o braço do Rick.

- Vá em frente. Eu disse ao Douglas que iria ajudá-lo com um... É... pequeno
projeto.

- Vocês, rapazes, não vão aprontar com o carro de Ted e Cris, vão?

Rick apenas riu.

O pai de Ted foi saindo.

- Eu não ouvi nada. Estou fora do que quer que vocês, rapazes estejam
planejando.

- Rick, Cris não quer que vocês façam nada com o carro deles. Você e o Douglas
sabem disso, né?!

- Katie! A voz de David os interrompeu - Tia Marta disse para você andar logo.

- Prometa-me que não vai fazer nada com o carro deles, Rick. Eu sou a dama de
honra. Tenho que proteger Cris. Me ajuda nisso. Por favor, não...
- É melhor ir - Rick apontou para a direção de Tia Marta e o fotógrafo. Aliás, suas
flores estão tortas.

Ela partiu em direção a treliça, olhando para o bouquet que estava em suas
mãos. O que ele quis dizer com “suas flores estão tortas”? Elas estão apenas
fazendo o balanço delas. Estão só um pouco espalhadas, e, talvez, faltando um
botão de rosa.

- Pelo amor de Deus, Katie, tá tudo torto - Tia Marta chegou perto e deu uma
puxada para o lado no enfeite de cabelo que Katie estava usando na cabeça
como uma coroa, que fazia parte do figurino de dama de honra.

De repente, o comentário que o rapaz com barbicha-de-bode fez sentido, assim


como o comentário do Rick também. A presilha dela tinha escorregado. Katie fez
seus próprios ajustes com os dois grampos de cabelo depois que Marta terminou o
seu “ataque”. Com o cabelo arrumado de novo, ela perguntou:

- Tá melhor?

- Vai ficar. Marta foi para o outro lado e estalou os dedos, como se estivesse
encarregada de dar as ordens para o fotógrafo.

David chegou mais perto de Katie e colocou seu braço em volta dos ombros dela.

- O que está fazendo? Katie disse.

- Posando para a foto.

Ela se balançou pra fora do braço pesado dele.

- Apenas sorria, David. Isso é tudo o que você precisa fazer. Sorrir. Desse jeito.

Katie deu um largo sorriso de “giz” para o fotógrafo. O fotógrafo olhou por cima
das lentes de trás da câmera.

- Um pouco menos exuberante, se você não se importar. Ele capturou a pose e


disse

- Agora uma pose casual.

David esticou o braço na direção de Katie. O odor do suor de adolescente era


forte o suficiente para fazer as flores do bouquet murcharem.

- Estou te avisando, David, tire suas patas de mim.

As palavras de Katie escaparam por entre seu sorriso. David abaixou o braço.
-Isso! O fotógrafo fez um aceno com a cabeça e saiu com a câmera.

Katie soltou um “Obrigada” e notou que o rapaz da barbicha-de-bode estava


parado no final da fileira de cadeiras perto de Trícia, a outra dama de honra.
Trícia era casada com Douglas, e os dois estavam esperando seu primeiro bebê
em pouco menos de um mês.

- Ted e Cris estão prontos para sair? Katie gritou por entre as fileiras de cadeiras
vazias.

Trícia confirmou com um aceno de cabeça, suas mãos envolviam o topo de sua
barriga redonda.

- Eu vim te chamar. Eles estão na capela assinando a certidão de casamento. Eles


precisam que você assine como testemunha.

Katie se apressou para atravessar o gramado em direção à pequena capela de


oração localizada na extremidade da universidade. A capela era um dos tesouros
favoritos de Katie no campus do Rancho Corona. A campina gramada no fim da
alta planície que cercava o campus, geralmente era usada apenas como caminho
para um longo passeio. Fazer o casamento ao ar livre nesse grandioso espaço
tinha sido idéia do Ted, e foi uma ótima idéia. Sem dúvida a campina, a partir de
agora, passará a ser um local freqüentemente requisitado por outros estudantes
do Rancho Corona para a realização de casamentos.

Pegando um atalho por entre as palmeiras, Katie se surpreendeu com o vislumbre


brilho do sol que de longe, refletia dentro do brumoso campo azul do Oceano
Pacifico. O ar já estava ficando fresco.

Profundamente, a camada atmosférica de pêssego com as sombras da primavera


sugeria um toque de glória na paisagem do pôr do sol.

Katie sorriu. Ela achou fácil acreditar que Deus estava incrementando Seu toque
festivo ao final do dia perfeito de Cris e Ted. Num sussurro, Katie disse: O
Senhor irá abençoá-los, Deus Pai? Abençoe todos os anos que eles irão viver. O
Senhor tem sido tão bom para eles.

Com um nó na garganta, ela adicionou: Eu não sei o que exatamente o Senhor


tem em mente para mim a partir de agora, mas o Senhor irá me abençoar
também? Se Rick não for o cara certo para mim, me faça perceber isso logo. Eu
não quero tentar me convencer que ser a namorada do Rick é uma de suas
“Coisas de Deus” se isso for apenas uma “Coisa da Katie”.

Chegando à capela, Katie parou, e antes de abrir a porta adicionou um “PS” em


sua oração: Se o Senhor não quer que eu e o Rick caminhemos mais adiante em
nosso relacionamento, faça com que nós terminemos. Essa dúvida de ser a
“quase” namorada dele está me matando. Principalmente hoje.
Capítulo 2
- Hora certa - O pastor disse quando viu Katie por os pés dentro da capela. Ted
tinha uma caneta em sua mão e estava assinando um documento anexado a uma
prancheta. Cris assinou em seguida. Depois o pai de Ted, Bryan, que tinha sido o
padrinho do noivo. A caneta foi passada para Katie, e ela sentiu o coração
acelerar por um doce momento.

- Vocês estão casados - ela disse com um enorme sorriso, enquanto escrevia
"Katie Weldon" no documento.

Ted se inclinou e beijou Cris na bochecha. Ele sussurrou alguma coisa que apenas
Cris ouviu. No mesmo instante os cílios dela baixaram e seu rosto aqueceu-se
com um sorriso brilhante, Katie imaginou que talvez ele tenha dito alguma coisa
muito maravilhosa. Alguma coisa que Cris provavelmente tenha esperado meia
década para ouvi-lo dizer. Alguma coisa fora do comum para o Ted de
antigamente que não expressava seus pensamentos.

- Vocês dois estão prontos pra ir? O pai do Ted perguntou.

- Eu estou - Ted disse - E você, Kilikina?

Pareceu conveniente pro Ted chamar Cris pelo seu nome havaiano - o apelido
que ele lhe dera. Eles estavam a caminho de Maui para a lua de mel deles.

Antes que Cris pudesse responder, a porta da capela se abriu e Tia Marta entrou
falando alto, com o rosto vermelho. Seu marido, Bob, estava com ela.

- Venha, venha! Estamos esperando por vocês. Marta informou. Todos em seus
lugares. Grandes sorrisos. O fotografo estará a sua esquerda enquanto vocês vão
em direção ao carro então tenham certeza que...

- O carro! Katie irrompeu: Eu quase me esqueci de falar pra vocês! Eu tenho


certeza que Rick e Douglas estão tentando fazer alguma coisa com o carro de
vocês. Eu tentei pará-los, mas...

Ted encolheu os ombros:

- Não importa.

- Katie, eles não vão ao carro deles para o aeroporto - A réplica de Tia Marta
soou um tanto alto para a pequena capela. Ate o pastor ergueu as sobrancelhas,
e Bob deu um passo pra mais perto da esposa.
- Como eles vão pra lá? Katie perguntou

- De limusine, claro. Agora, por que estamos parados aqui? Venham. Por favor.
Cris, você poderia passar um pouco mais de brilho labial. Katie, onde esta o
brilho? Você deveria ser responsável por retocar a maquiagem dela para as fotos.

- Meus lábios estão ótimos, Tia Marta - Cris falou firmemente.

- Seus lábios estão mais que ótimos. Dessa vez o comentário de Ted não foi um
sussurro. Ele disse em voz alta o que provavelmente vinha pensando, isso
pareceu surpreendê-lo mais que aos outros.

Tio Bob foi o único que riu. Claramente ele estava apreciando cada momento da
celebração do dia. A porta da capela aberta para a noiva corada e o noivo
sorridente, Bob disse:

- Últimos detalhes pra vocês dois. O motorista da limusine esta com suas
passagens, os papeis do aluguel do carro, e duas chaves do condomínio. Vocês
têm o numero do meu celular se precisar de mais alguma coisa.

- Muito obrigada, tio Bob. Cris lhe deu um grande abraço e um beijo na
bochecha.

Marta levantou um pouco seu queixo para que sua bochecha estivesse mais
acessível ao beijo de agradecimento de Cris no seu caminho porta afora.

Um pouco mais a frente os convidados do casamento tinham formado duas filas


com a passagem em direção à área do estacionamento no meio. Assim que o
grupo viu Ted e Cris saindo da capela de mãos dadas, eles começaram a usar as
lembrancinhas que tinham sido providenciadas para cada mesa. Os convidados
lançaram varias bolhas de sabão ao invés da tradicional chuva de arroz. Nesse
ponto, Katie tinha tentado convencer Cris a usar borboletas. Agora as bolhas de
sabão pareciam uma opção mais adequada.

Katie passou adiante dos recém casados que vinham mais devagar, passeando em
direção ao túnel do amor de bolhas de sabão. Ela queria ter certeza que eles
chegariam à limusine sem nenhum problema.

Trícia já se encontrava em posição bem no fim da fila junto aos pais de Cris.

A mãe de Cris passou uma garrafinha extra de bolhas pra Katie. Ao invés de abrir
e se juntar à festa de bolhas de sabão, Katie olhou ao redor a procura de Rick.

- Você sabe pra onde os rapazes foram? Ela perguntou para Trícia.

- Não, eu esperava que eles estivessem com você.


Ted e Cris já estavam na passagem que os levaria ao estacionamento. Centenas
de bolhas cor de rosa brilhantes ao redor deles e dançando no ar. Ted parou e
esticou a mão, se permitindo que o momento encantador caísse sobre ele. Ele
manteve a palma da mão estendida como uma criança que tenta pegar pingos de
chuva ou flocos de neve.

Katie abriu sua garrafinha e adicionou mais bolhas a chuva de saudações


brilhantes.

A primeira encantadora bolha que veio para a palma da mão de Ted estourou no
impacto. Ele manteve a mão aberta para uma segunda bolha, e uma terceira e
então uma quarta. Os convidados aumentaram a produção de bolhas, cada um
tentando ser aquele que poderia fazer a bolha singular e resistente que poderia
flutuar ate a palma de sua mão e se tornar a perola indefinível pela qual ele
estava esperando.

Mais duas bolhas pousaram e estouraram antes de Cris colocar em pratica seu
novíssimo poder de persuasão como esposa. Ela foi em direção a Ted e esticou o
braço, colocando sua mão na dele. Ted se voltou para olhar sua noiva. Um
pequeno sorriso surgiu enquanto ele entrelaçava os dedos dela em sua mão. O
verdadeiro encanto do momento estava claro; Cris era a perola do coração de
Ted. Ele não precisava mais tentar alcançar anseios tão frágeis quanto bolhas de
sabão. Ele tinha seu tesouro em suas mãos, e ela seria o presente que faria dele
um homem rico.

Assim que Cris e Ted chegaram ao fim da passagem formada pelos amigos, eles
pararam e deram à mãe e ao pai de Cris um último abraço e beijo. Katie
engasgou quando viu o pai de Cris se derramando em lagrimas dar pra sua filha
agora–totalmente–crescida um enorme abraço de urso.

Uma pontada aguda de dor surgiu no coração de Katie quando ela percebeu que
nunca tinha recebido um abraço como aquele de seu próprio pai. Tão
rapidamente quanto a dor surgiu, ela a evitou.

Ela estava indo bem nisso de superar a dor em velocidade recorde.

- Ligue pra gente quando puder. A mãe de Cris disse para os recém-casados.

- Nós ligaremos. Ted deu um abraço na sua nova sogra.

Cris parou em frente à Katie, e as duas se deram as mãos. O sorriso aquecedor


que elas trocaram era tudo que as duas melhores amigas precisavam pra
comunicar seus sentimentos uma para a outra nesse momento de despedida.
Então com rápidos abraços em Trícia, o novo casal acenou para o restante dos
convidados e se apressaram para abrir a porta da limusine que os estava
esperando.
- Espero que Douglas e Rick não estejam perdendo isso. Trícia disse.

- O que você quer dizer com perdendo isso? Nós estamos bem aqui. Douglas
surgiu atrás delas. Rick estava com ele.

- Onde vocês dois estavam? Trícia perguntou.

Rick colocou o braço ao redor de Katie e murmurou em seu ouvido:

- Você fica bonita com bolhas de sabão em seu cabelo.

Rick era bom com as palavras. Às vezes um pouco bom demais. Katie se afastou,
tentando olhar mais claramente a expressão no rosto dele.

- Você está apenas tentando me distrair pra que eu não descubra o que vocês
fizeram com o carro deles.

Rick olhou pra ela com uma falsa expressão de choque.

- Não se preocupe - Douglas disse. - nós não fizemos nada com o carro. Por falar
nisso você viu o motorista da limusine? Ou deveria dizer o gorila da limusine?

- Ei, a gente poderia ter derrubado ele se a gente quisesse. Rick falou.

- Mas a gente não quis, não é, Rick?

- Não. O sorriso inocente de Rick se transformou em um malicioso. Katie sabia


que aquilo significava problema.

- O que vocês dois fizeram?

Ela olhou para Douglas esperando uma resposta sincera.

- Vocês têm que me dizer. Eu sei que vocês fizeram alguma coisa.

- Não foi nada ruim, Katie. Rick colocou sua mão no ombro dela. Apenas relaxa.

- Eu vou relaxar depois que vocês me contarem o que fizeram.

- Cara - Douglas disse - ela é inflexível, não é?

- Você não faz idéia. Rick ajustou sua jaqueta. Tudo que fizemos foi adicionar um
presentinho na mala deles.

- Que tipo de presente?


- Um kit de sobrevivência pra lua de mel.

- Um o que?

Trícia entrou na conversa.

- Tá certo, Katie. Eu os ajudei a organizar tudo. É um monte de pequenos itens


com notas neles. Como um frasco de anti-séptico bucal que diz, ‘Abra em caso
de mau hálito de manhã’ e um par de meias para cada um deles com uma nota
que diz, ‘Em caso de pés resfriados’.

A limusine saiu bem lentamente pelo estacionamento de cascalho. Os convidados


acenaram e sopraram mais algumas bolhas na direção do casal.

- Não tem nada pra você ficar zangada, Katie, Douglas disse. Quando eles
chegarem a Maui e Cris abrir a mala dela, eles vão ter alguma coisa engraçada
pra rir.

Katie ainda não estava convencida.

- A mala da Cris? Por que vocês não colocaram essas coisas na mala do Ted?

Rick riu.

- A mala do Ted é uma velha mochila de nylon com um dos lados remendado com
fita adesiva. Não tinha como a gente colocar mais nada lá sem que a mochila
explodisse. A gente teve que arrumar um pequeno espaço na mala da Cris, mas
coube tudo.

- Arrumar um pequeno espaço? O que vocês tiraram?

- Só alguns papéis.

- Que papeis? Katie e Trícia perguntaram em uníssono.

Rick tirou do bolso da jaqueta um monte de folhas de papel bem dobradas e


atadas com uma bonita fita de renda. Parecia uma coleção de cartas escritas à
mão.

Katie gelou.

-Rick, você não!

- Douglas! Dessa vez o grito agudo de Trícia foi mais alto que o de Katie.

- O que?
Katie pegou as cartas e saiu correndo atrás da limusine.

- Espera! Pára!

Seu sapato do pé esquerdo saiu, mas ela continuou correndo. Atrás dela começou
a crescer o som de risos dos que estavam vendo a cena. Ela sabia quão ridícula
estava naquele momento, uma dama de honra com um pé de sapato perseguindo
freneticamente a limusine que ia embora. Mas nenhum deles entendia. As cartas
em sua mão eram o coração de Cris.

Desde o tempo que Cris tinha 16 anos, ela vinha escrevendo cartas para seu
futuro marido, dizendo que ela estava orando por ele e se guardando pra ele.
Ted não sabia nada sobre as cartas, e nem deveria. Essas palavras
cuidadosamente preservadas eram o presente de casamento de Cris pra ele. Rick
e Douglas não tinham o direito de roubar isso deles.

- Pare! Katie gritava. Ela acenava furiosamente tentando chamar a atenção do


motorista pelo espelho retrovisor do lado dele. Espera.

A limusine diminuiu a velocidade e parou. Katie se lançou na direção da porta da


limusine que estava aberta e sem ar entrou só pra ver Ted e Cris se beijando.

- Katie! Cris disse

- Desculpa! Katie falou, rapidamente escondendo as cartas atrás de si.

- O que você esta fazendo? Ted perguntou

- Me desculpem. Isso é realmente, realmente muito importante. Ted, você


poderia virar seu rosto pro outro lado? Só por 1 minuto.

Katie raramente tinha visto Ted ficar zangado. Naquele momento ele
definitivamente estava zangado.

- Eu prometo, Ted. Eu não quero bagunçar nada aqui. Isso é extremamente


importante. Se você pudesse só, é exatamente assim. Mantenha sua cabeça
virada pra lá e feche os olhos.

- Katie - a voz de Cris era firme e sua expressão dura - é melhor que isso seja...

- É. Eu prometo. Sem dizer mais nenhuma palavra, Katie tirou a mão de trás de si
e mostrou o monte de cartas.

Os olhos e a boca de Cris se abriram.

- Eu sei, Katie disse, eu explico tudo depois.


Cris pegou as cartas e rapidamente sentou em cima delas, colocando-as embaixo
das pregas de seu vestido de noiva.

- Katie, você não faz idéia...

- Sim, eu acho que sim.

- Obrigada, Katie! A voz de Cris soou aguda.

- Com certeza. Tudo em um dia de trabalho para uma dama de honra.

Ted se voltou pra elas e com o olhar questionou as duas.

- Ok. Katie tirou os cabelos dos olhos. Eu tenho que ir agora. Eu sei, eu sei que
vocês dois realmente desejam que eu possa ficar, mas, bem, ei. Eu preciso usar
meus super-poderes em outros lugares. Amo vocês.

Katie fez uma pausa e acrescentou com um sorriso

- Até mais, Sra. Spencer.

Ted fez seu costumeiro gesto de levantar o queixo:

- Mais tarde.

- É - Katie disse, saindo da limusine - Mais tarde.

Ela virou a cabeça e trombou no peito do motorista da limusine que agora estava
de guarda perto da porta aberta do carro. Katie se endireitou e levantou o olhar
para o não-tão-divertido, homem tamanho-gorila.

Uau, Douglas estava certo! Ela se virou e mancando voltou para o


estacionamento de cascalho a procura de seu sapato perdido.

Um dos divertidos convidados tinha pegado o sapato de Katie. Ela o entregou a


Katie como se fosse um pagamento para ficar por dentro das informações.

- O que aconteceu? Tá tudo certo? Eles esqueceram alguma coisa?

- Tudo esta ótimo. Perfeito, na verdade. Você me dá licença?

Ela era, mais uma vez, uma mulher em ação. Dessa vez seu objetivo era caçar
dois certos travessos e dar a eles um pedaço do seu cérebro. Não exatamente um
pedaço. Uma fatia grossa. Ou um pedaço bem grande. Um pedaço bem grande de
seu cérebro, tão grande que os dois se engasgariam.
Uma mulher alta de uns 30 anos surgiu andando rapidamente ao lado de Katie
assim que ela começou sua jornada através do prado.

- Katie, você tem um minuto?

Katie parou e olhou de relance para a mulher. Ela tinha certeza de já tê-la visto
pelo campus. O lapso de memória de Katie deve ter ficado evidente em seu rosto
porque a mulher se apresentou.

- Sou Julia Trubec. Sou a diretora residente da ala feminina no Crown Hall.

- Oh, certo! Selena morou no Crown Hall Norte esse ano. Vocês tiveram a melhor
festa de Natal de todos os dormitórios no ultimo dezembro.

- Obrigada. As festas de Natal estão se tornando nossa tradição.

- Bem, continuem que é uma ótima tradição.

Katie começou a caminhar.

- Na verdade, se você tiver um minuto, eu estava procurando por você.

Esquecendo seu objetivo de caçar Rick e Douglas, Katie voltou e disse:

- Se é sobre o cheiro que estava na cozinha no Crown Hall Norte na sexta à noite
duas semanas atrás, eu posso explicar.

Julia olhou surpresa e intrigada. Seu rosto tinha uma galáxia de sardas que não
eram obvias a primeira vista porque se misturavam muito bem com o tom quente
da cor de sua pele. Seu cabelo marrom areia tinha traços de algumas luzes. Katie
teve a impressão de que ela era uma pessoa que tinha cruzado o Oceano Pacifico
em um barco a vela e agora carregava consigo os efeitos sem fim do sol em seu
cabelo e em sua pele.

- Eu confesso: eu fui uma das que colocou os sapatos da Vick no forno. Katie
disse.

- Os sapatos da Vick?

- A gente só estava se divertindo. Fazendo uma brincadeira com ela antes do


grande encontro dela. Selena e eu só planejávamos esconde-los lá por uns, dez
minutos. Nos jamais imaginamos que alguém ligaria o forno. Quer dizer, quem
começa a fazer biscoitos e liga o forno sem primeiro olhar? Você ta entendendo o
que estou dizendo? E obviamente que nunca esperávamos que os solados
derretessem da forma como derreteram e formassem aqueles esquisitos, não-
amigos-do-ecossistema estalagmites, mas Selena disse que limparia o forno, e eu
já paguei Vick pra ela comprar outro par...

Julia levantou a mão.

- O que eu estava querendo perguntar não tinha nada a ver com o forno.
Entretanto, obrigada. Eu aprecio ficar por dentro dessa historia.

Katie pressionou os lábios um contra o outro. Selena vai me estrangular por ter
contado!

- Na verdade eu queria te perguntar se você talvez consideraria a possibilidade


de ser uma AR no outono.

Katie piscou.

- Uma assistente residente? Eu? Você tem certeza que esta falando com a Katie
certa?

- Sim. Tenho certeza que você em a Katie certa. O problema é: nós temos uma
outra AR nesse cargo no Crown Norte, mas ela acabou de nos informar que não
poderá retornar no outono. Nós pedimos recomendações por ai, e seu nome
apareceu.

- Apareceu? De quem? Selena?

- Na verdade, todas as recomendações vieram dos funcionários e docentes. Você


tem uma ótima reputação no departamento de biologia.

- Ok, bem, o que quer que seja que lhe disseram sobre o tempo que 3 dos 5
estudantes de botânica tiveram reação alérgica depois de provarem meu chá de
ervas, bem... Na verdade, é bem verdadeiro. Ou talvez fossem 3 dos 5 que
apresentaram problemas estomacais e apenas 2 dos 5 tiveram alergia. Mas Julia
fez uma careta

- Você esta dizendo que devemos te manter longe dos jardins orgânicos na parte
mais baixa do campus assim como longe da cozinha?

- É, basicamente. Eu sou muito melhor com pessoas do que com plantas e


eletrodomésticos.

- Como você é com os animais?

- Animais?

Julia sorriu como se Katie tivesse entendido a piada.


- Ok, bem o primeiro peixe-vermelho que eu tive no outono passado era
realmente velho quando o comprei. Acho que eles tinham um aquário geriátrico
especial que não estava etiquetado como tal, mas eles me cobrariam mais caro.
Rudy era tão velho que deveria ter vindo com uma bengala. Ou um andador.
Serio. E o segundo peixe-vermelho, bem...

- Katie, eu só estou brincando! Julia riu enquanto Katie só desejava encontrar


uma forma de terminar a conversa graciosamente.

- Escuta, Katie. O trabalho de uma AR não tem nada a ver com peixe, chá ou
manutenção de forno. Você é boa com as pessoas, é isso que importa.

-Oh, ok. Katie percebeu que se ela não tivesse causado uma má primeira
impressão dela pra Julia, ela provavelmente teria uma chance de obter uma
posição no campus lucrativa para seu ultimo ano na faculdade. Ela ouviu com os
lábios pressionados enquanto Julia lhe dava mais detalhes. Parecia muito bom.

- Você poderia vir ao Crown Hall na segunda à tarde por volta das 3 horas? - Julia
perguntou - Craig, o outro DR, estará lá.

- Com certeza

- Perfeito. Te vejo lá então. Oh, e Katie.... Sua confissão sobre o forno esta a
salvo comigo.

Katie sorriu.

- Obrigada.

Por alguma razão ela teve o sentimento de que nenhuma confissão estaria a salvo
com Julia. Ela também se deu conta que essa vaga de AR poderia ser uma
resposta para a oração que ela nem sequer tinha tido tempo de fazer.
Capítulo 3
Com um passo determinado, Katie puxou a saia de seu vestido azul de dama-de-
honra, agora sujo e desajeitado, e colocou seu queixo para frente.

- Ei, uma voz masculina disse atrás dela. Sua auréola está...

- Sim, sim. Eu sei. Está caindo de novo.

- Não, dessa vez sua auréola saiu. O cara do cavanhaque segurou sua grinalda que
tinha caído.

Muito agitada para pegar sua coroa de flores e tentar reposicionar na sua cabeça,
Katie abanou o ar e continuou andando:

- Apenas jogue fora pra mim, ta?

Dirigindo-se para a área da recepção, onde os convidados que restaram estavam


reunidos, ela localizou Rick e Douglas em pé ao lado da mesa do bolo. Ambos
estavam saboreando grossas fatias do bolo de casamento enquanto os garçons
limpavam a mesa principal.

Katie marchou na direção deles com uma expressão séria e zangada no rosto.
Douglas se voluntariou:

- Ei, eu sei que você está realmente chateada com o que nós fizemos, mas ouça.
A Trícia acabou de nos contar sobre as cartas. Nós não sabíamos.

Rick entrou na conversa:

- Katie, nós não fazíamos a mínima idéia do que eram as cartas.

- O ponto não é esse - Katie colocou as mãos nos quadris -iIndependentemente de


o que vocês sabiam, vocês não deveriam tê-las tirado da mala dela. Aliás, vocês
não deveriam ter mexido em nada da Cris. Isso é grosseiro.

- Você está certa. Disse Douglas.

- Você sabe que nós só estávamos querendo fazer algo engraçado para eles, não
sabe? Rick disse. Nós não estávamos tentando sabotar a lua de mel deles.

Katie olhou para Rick, examinando-o cuidadosamente. Depois olhou com raiva
para Douglas.
- Wow! Disse Douglas. Eu não vejo essa expressão no seu rosto desde aquela
viagem de barco quando eu acidentalmente te dei aquele nariz sangrando.

Reprimindo o sorriso que, sobre outras circunstâncias, viria acompanhando


aquela memória há muito tempo esquecida, ela disse:

- Sim, mas se eu me lembro corretamente, eu sujei seu rosto muito bem com um
brownie naquela viagem.

- Um brownie com creme batido, Douglas adicionou. E você está certa. Você me
acertou em cheio daquela vez. Eu não vi aquele vindo.

Katie notou que Douglas ainda estava segurando o prato com seu pedaço-bônus
de bolo de casamento. Dando um passo para trás antes que Douglas tivesse
alguma idéia, Katie sentiu sua indignação ir embora. Ela tinha marchado na
direção deles, pronto para dar a Douglas e Rick uma lição sobre etiquetas em
casamentos, ainda que a história tivesse provado que ela não era uma boa pessoa
para ensinar ninguém nesse assunto.

- Está tudo perdoado? Rick perguntou.

Katie concordou. Ela tinha tido um pouco de prática em estender perdão para
esses meninos durante os últimos anos. Especialmente para Rick Doyle. Ela sabia
que não conseguia ficar brava com ele.

- Você foi mais rápida em aceitar desculpas do que minha esposa, disse Douglas.
Ele fez uma careta como se ele soubesse que ainda estava em encrenca com a
Trícia.

- Onde está a Trícia? Katie perguntou.

Douglas apontou para uma cadeira a alguns metros dali. Sua pequena e grávida
esposa estava desajeitadamente despojada, apertando sua mão na sua cintura.

- Trícia? Katie chamou. Você está bem?

Ele concordou com a cabeça e tentou um sorriso.

- Nós devemos ir, disse Douglas. Eu sei que ela está cansada. Durante a recepção
ela disse que o bebê estava chutando muito. Ele engoliu mais duas mordidas do
bolo e entregou o prato para um dos garçons antes de sair com Trícia.

- Você gostaria de uma fatia? Perguntou a garçonete a Katie.

- Não, obrigada. Katie olhou ao redor a área da recepção deserta. Eu sinto que
deveria ajudá-los a limpar. Vocês precisam que nós façamos alguma coisa?
A jovem mulher sorriu:

- Não, nós temos tudo sob controle.

Katie notou que Rick estava dando pra ela um olhar de “tá-falando-sério?”.

- O quê?

- Eu acho que você está trabalhando no Ninho da Pomba há muito tempo.

- Por que você está dizendo isso? Katie franziu a testa e tentou ler sua expressão.

Esta é a maneira esperta do Rick de me dizer que eu estou despedida? Ele não
está dizendo que quer terminar, está?

- Por que você está parecendo tão preocupada? Rick perguntou.

- Por que você disse que eu estou trabalhando no Ninho da Pomba há muito
tempo?

- Bem, por que outra razão você se ofereceria tão rapidamente para ajudar na
limpeza?

- Ah, isso... - Katie olhou ao redor de novo. Eu só não sei o que mais eu devo
fazer como dama de honra.

- Eu acho que você ficou oficialmente fora do seu dever de dama de honra
quando a limusine desapareceu das nossas vistas. Você está dispensada agora.

- Acho que estou.

Às vezes a natureza esporádica dos seus pensamentos deixava Katie até um


pouco doida. De vez em quando ela se sentia como um guarda de zoológico
encarregado por umas 4 dúzias de macacos. Quando os macacos ficavam na jaula
deles, tudo ia bem no zoológico da Katie. Um pouco barulhento às vezes, mas
controlável. Quando esses macacos escapavam, bem... Ela tinha que dar crédito
ao Rick pelas muitas vezes que ele estava com ela enquanto ela corria em volta
com uma rede de macacos.

Colocando o dedo no pedaço de bolo de Rick para experimentar, ela disse:

- O que você acha? Quer ir embora agora ou ficar mais um pouco?

- Estou pronto pra ir. Rick tocou seu garfo na cobertura fofa, gelada e branca e
marcou a ponta do nariz de Katie. Ele se afastou e sorriu para o seu trabalho.
Katie cruzou seus olhos, tentando focalizar na marca.

Só então Tia Marta veio falar com eles.

- Katie, você esqueceu o buquê de noiva. Isto é seu para guardar.

- Oh, obrigada. Ela não tinha removido a cobertura do seu nariz. Era muito
engraçado esperar para ver se tia Marta iria notar.

Marta já tinha voltado sua atenção para Rick.

- Você pegou as bandejas que os garçons pegaram emprestado do seu


restaurante? Eu especifiquei para eles devolverem as bandejas limpas para você.
Eles fizeram isso?

- Sim. Elas já estão no meu carro.

- Ótimo. Agora, eu tenho uma pequena coisa para cada um de vocês. Marta
entregou dois pequenos envelopes para Rick e Katie. Uma demonstração do meu
agradecimento pela ajuda de vocês hoje.

- Você não precisava nos dar nada, disse Katie.

- Sim, eu precisava, disse Marta. Vocês têm sido importantes para a vida de Cris
e Ted por muitos anos, e vocês deveriam ser reconhecidos neste dia.

- Isso é muita gentil de sua parte, Rick disse, recebendo o envelope. Obrigado.

- É apenas uma pequena demonstração, disse Marta. Espero que vocês gostem.

Katie se aproximou e deu um beijo na bochecha de tia Marta. Com um tom de


brincadeira na voz ela disse:

- Não importa o que o Rick diga sobre você, eu acho você um pêssego.

Com uma leve satisfação Marta disse:

- Se você acha que eu vou cair nesse comentário ou que eu não notei a
cobertura, você está enganada. Você vai ter que tentar mais do que isso para me
irritar depois de um dia como esse, Senhorita Katie Weldon.

Apesar de Katie gostar da idéia de levar a tia de Cris nesse desafio, ela deixou a
oportunidade pra lá e suavizou sua saída quebrando o gelo e dizendo:

- Você fez um ótimo trabalho com tudo, Marta.. O casamento, a recepção, tudo
estava perfeito.
- Estava, não estava?

Rick e Katie deixaram Marta se deliciando no amável sucesso do seu


planejamento e andaram para o clássico Mustang vermelho-cereja de Rick onde
ele abriu a porta para Katie. Ela abaixou a janela para deixar sair o ar quente.
Enquanto Rick andava para o seu lado do carro, Katie abriu seu envelope.

- Wow, ela disse. Isto é muito bom. Você gosta dessa loja, não gosta? Katie
segurou seu cartão-presente para Rick ver.

Ele concordou.

- Pena que eles só vendem roupas, disse Katie. Se eles vendessem gasolina,
minhas despesas com transportes no verão estariam cobertas.

- Você pode comprar algo legal pra você. Rick ligou o motor. Eu gosto desse tom
de azul em você.

Antes que ela pudesse pensar se Marta e Rick estariam em associação, tentando
melhorar o guarda-roupa de Katie, um velho Toyota Camry branco passou por
eles. Katie notou um círculo de pequenas flores brancas pendurado no retrovisor
interno.

- Ei, minhas flores! O que ele está fazendo com minhas flores?

- Do que você está falando? O buquê ta no seu colo.

- Não, não essas flores. Minha aureola.

- Sua aureola?

Katie não podia mais ver o outro carro. Ela virou para trás no seu banco e piscou.
Por que ele ficaria com as minhas flores?

- Ei, Anjinha, o que você está pensando?

- Anjinha? Katie fez uma cara para Rick. Esse tem que ser uma das piores até
agora.

Nos quase 7 meses que Rick e Katie estavam juntos, Rick tentou sem sucesso
surgir com um apelido para ela. No ensino médio, ele tinha dado a ela o apelido
de “Veloz”1 depois de um incidente com um trenó. Katie rapidamente vetou
“Veloz” como um apelido nessa nova temporada do relacionamento deles. Mas
Rick estava determinado a inventar algo novo para ela.

1
Speed
- Falando nisso, você estava linda hoje, ele disse. Mesmo que você não queira ser
chamada de ‘Anjo’, você parecia um.

- Ah, sim, certo. Tenho certeza que eu parecia divina correndo atrás na limusine
numa moda Cinderela, usando apenas um sapato e com minha aureola caindo.

Rick sorri.

- Você não tem idéia de como você estava bonita. Confie em mim, todos os olhos
estavam em você.

A música de fundo tocando no rádio parecia chamar a atenção dele. Ele


aumentou o volume.

Você é a única pra mim, Menina Atrevida.

Você deixa os outros na poeira.

Vem comigo, Menina de Classe.

Eu sou o homem que você pode confiar.

Katie nunca gostou dessa música. Mas ela gostava de Rick. Especialmente em
momentos como esse, quando ele estava sorrindo para ela e dizendo que ela era
linda. Suas dúvidas sobre ele do início do dia foram embora.

Ele pode não ser o melhor em gestos românticos, mas ele tem seus momentos de
charme. E estes são os momentos que eu nunca fui capaz de resistir.

- Que tal Menina Atrevida? sugeriu Rick.

- Ah, esse seria negativo à centésima potência. E nem tente Menina de Classe
como substituto.

- Ok, eu vou continuar trabalhando nisso. Ei, eu tenho que levar as bandejas de
volta pro trabalho. Você quer que eu te deixe no dormitório, ou você quer ir ao
Ninho da Pomba comigo?

- Eu vou com você.

- Eu esperava que você dissesse isso.

- Eu esperava que você perguntasse.

Eles trocaram sorrisos confortáveis, e Rick ligou a música de novo. Ele gostava do
som bom e alto enquanto ele dirigia. Especialmente em noites quentes como
esta, com o vidro do carro aberto. Ele colocaria a mão do lado de fora da janela
e usaria a porta continuar batucando com a música.

O hábito de Katie era cantar junto, o que fazia Rick rir. Na verdade, era uma
ambigüidade se a expressão dele era mais um sorriso ou uma expressão
arrogante. De qualquer jeito, os dois tinham seu ritmo e tinham gasto várias
horas na estrada com a música ligando os intervalos de conversa. Nenhum deles
parecia se importar com os interlúdios musicais.

Mas dessa vez Katie não caiu na rotina de cantar junto. Ao invés, ela reclinou e
vagueou em um canto feliz do seu coração onde ela podia retroceder o dia e ir
bem calmamente por suas partes favoritas.

Eu imagino como será o dia do meu casamento. Será que eu vou casar ao ar
livre? Meu casamento vai ser tão grande quanto o de Cris e Ted?

Ela soltou um suspiro de contentamento. Com quem eu vou acabar casando?

Olhando para o elegível solteiro ao lado dela, Katie deixou sua mente fazer a
pergunta óbvia. Poderia ser o Rick?

Ela sabia que estava indo muito além de onde o relacionamento deles estava,
mas hoje era o tipo de dia em que qualquer mulher com um pouco de
romantismo faria este tipo de pergunta.

Ela estudou o perfil de Rick como se a resposta para sua pergunta nunca antes
feita em voz alta pudesse ser encontrada nas linhas de sua forte mandíbula.

Rick pareceu sentir seu olhar. Ele virou rapidamente para ela.

- Você disse alguma coisa?

- Não. Katie sorriu para si mesma.


Capítulo 4
Quando eles chegaram ao Ninho da Pomba, Rick saiu do carro, mas Katie não.

- Eu acho que vou esperar aqui, ela disse.

Ele olhou surpreso. Katie geralmente não se afastava de uma potencial


oportunidade social.

- Você está bem?

- Sim, eu só quero sentar por um minuto. Eu vou entrar se ficar entediada.

- Ok. Eu já volto.

Ela pensou que se ela sentasse sozinha por alguns minutos, algumas respostas
viriam a ela em relação a várias questões da vida que a estavam pressionando.

Seu relacionamento com Rick estava sempre no quadro “Para discussão” na


mente de Katie. Em segundo estava a inesperada oferta de Julia para o cargo de
AR1. A terceira decisão pendente era sua carreira.

Mais cedo nessa semana Katie teve uma conversa não muito agradável com seu
conselheiro. Quando ela começou na Universidade Rancho Corona, Katie tinha
sido transferida com uma variedade de créditos da faculdade comunitária 2 e
tinha declarado botânica como sua carreira. Após suas tentativas não tão bem
sucedidas criando seus próprios chás de ervas, ela tinha mudado para biologia
com o pensamento de que ela poderia se tornar uma professora. Esta opção
deixou de ser atrativa para ela há uns quatro meses atrás.

Agora que ela estava para completar seu penúltimo ano na faculdade, seu
conselheiro apresentou algumas possibilidades nas ciências. Nenhuma das opções
pareceu desejável ou boa escolha para Katie. Ela tinha evitado sua reunião
marcada por dois cursos de verão com aulas de educação geral. Ela também
deixou escritas as palavras “não declarado” em um formulário onde uma carreira
precisava ser listada antes que ela pudesse completar seu registro para o último
ano.

Katie tinha conversado com Rick por duas vezes sobre o que ela chamava de
“dilema de carreira”. Ele sugeriu que ela seguisse a carreira de negócios, mas
Katie não conseguia visualizar isso. Ela não queria gerenciar um Café como Rick
fez.
1
Assistente dos residentes
2
Faculdade para alunos de uma comunidade específica.
Mas então, ela não conseguia se ver em nenhuma outra carreira em particular.

Talvez eu nem devesse estar indo para a faculdade. Talvez eu devesse parar
agora e esperar até que saiba o que eu quero ser quando eu crescer.

Ela encostou-se à porta do carro e passou os dedos nas pétalas do buquê de Cris.
Katie tinha deixado seu dilema de carreira fora das suas conversas com Cris nas
últimas semanas. Sua melhor amiga estava muito ocupada com suas provas finais,
formatura e planos de casamento. Ela não precisava ajudar Katie a resolver seus
problemas. Katie estava determinada a resolver este por conta própria.

Só que não exatamente agora.

Rick não voltou para o carro tão rápido quanto Katie esperava. E ela não gostou
tanto de ficar sozinha quando ela pensava que iria gostar.

Deixando o buquê no carro, Katie entrou no Ninho da Pomba. Ela achou Rick na
cozinha, deitado no chão com a cabeça embaixo da pia.

- Me diga que você não está fazendo o que eu acho que você está fazendo.

- Katie, olhe só isso. Carlos disse que ele acha que as formigas estão entrando na
parede por aqui, na conexão dos canos.

Katie cuidadosamente ficou com as mãos e os joelhos no chão e girou a cabeça


para olhar embaixo da pia. Ela não via nenhuma formiga.

- Rick, está na hora de você chamar um profissional. Sério.

- Um exterminador?

- Ou um exterminador para matar suas formigas imaginárias ou um terapeuta


profissional para te convencer que as formigas não existem.

- Elas existem. Você só não estava aqui quando elas vieram em massa.

- Se você está dizendo. E por falar nisso, você ainda está usando um terno
alugado. Só em caso de você ter esquecido.

Ele levantou e ofereceu a mão a Katie.

Ela levantou.

- O que agora? Você está planejando ir para a lixeira para ver se você encontra
algum roedor?
Rick abaixou o queixo.

- Roedores, hã?

- Sim, porque, você sabe, parece que você está vestido para um pequeno
mergulho na lixeira.

- Se eu estou indo, você vai comigo.

- Ah, é? Eu gostaria de ver isso acontecer.

Num rápido movimento, Rick agarrou Katie em volta dos joelhos e a colocou
sobre suas costas como se ela fosse um saco de batatas vestido num vestido de
dama azul.

- Rick!

Ele cruzou a cozinha em quatro passos largos e disse: “Lixo”, como se ele saísse
em direção à lixeira.

Katie riu e bateu nas costas de Rick com as mãos fechadas. Antes que ela
pudesse ameaçá-lo, duas garotas da Racho Corona a chamaram. Elas estavam
estacionadas perto da área da lixeira.

Rick rapidamente colocou Katie no chão, como se de repente percebesse o


quanto ele estava sendo não-profissional em seu lugar de trabalho. Katie ajeitou
o cabelo para trás; seu rosto ficou rosado. As duas meninas saíram do carro e
cumprimentaram Katie, mas os olhos delas estavam em Rick.

- Ei, Carley, Tifannie, disse Katie descontraidamente. Linda noite, vocês não
acham?

As duas meninas estavam usando camisetas rosa. O cabelo loiro de Carley estava
preso em um rabo de cavalo, e Tifannie usava seu cabelo loiro em duas tranças
frouxas.

- Nós demos uma pausa no estudo para comer. O que vocês estão fazendo? Carley
perguntou.

- Nós estamos dando uma pausa no estudo também. Katie deu um sorriso de lado
para Rick. Um de nós estava estudando formigas e um estava coletando dados
para uma pesquisa sobre roedores.

- Formigas? Tifannie perguntou.

- Roedores? Carley completou. Vestidos assim?


- Nós estávamos em um casamento hoje cedo, Rick explicou.

- Você é o Rick, não é? Carley perguntou. Você é o gerente aqui, certo?

Ele concordou, com uma expressão que parecia ser uma mistura de vergonha por
ter sido pego em um comportamento inapropriado e orgulho por ter sido
identificado como gerente. Katie percebeu que não foi bom ter mencionado
sobre formigas e roedores no restaurante de Rick.

- Nós amamos sua pizza San Felipe, disse Carley.

- “Sim, é nossa favorita. Tifannie concordou.

Carley listou suas bebidas favoritas do cardápio do Ninho da Pomba, e Tiffanie


concordando com tudo.

Rick continuou sorrindo, o que fez com que Katie quisesse dar um tapa nele e
dizer: Não vá ter uma overdose com tanta bajulação, Doyle. Ela estava
acostumada com sua rotina de gerente amigável e seria a primeira a dizer que
Rick era ótimo em relações públicas.

- Eu tenho que voltar lá dentro e pegar minhas chaves, Rick disse. Quando vocês
duas forem pedir, chamem a Andrea. Eu vou garantir que ela dê a vocês duas
xícaras de expresso como minha contribuição para a pausa no estudo de vocês.

- Wow, obrigada!

Rick correu de volta para a porta da cozinha, e Carley disse para Katie:

- Seu namorado é o melhor cara que existe”

- Meu namorado... Katie repetiu, gostando da forma como soou.

No estranho silêncio que se seguiu, Carley adicionou:

- Ele é seu namorado, não é?

Antes que Katie pudesse surgir com algum tipo de resposta, Rick voltou e disse:

- Tudo certo. Andrea está esperando por vocês. Pronta, Katie?

- Sim, estou pronta.

Katie podia sentir o olhar das meninas enquanto elas assistiam sua saída com
Rick. Ela teria adorado se Rick tivesse colocado seu braço em volta dela ou
segurado sua mão. Qualquer gesto de afeição para mostrar a Carley e Tiffanie
que Katie e Rick estavam juntos. Mas Rick manteve suas mãos para si mesmo. Ele
e Katie andaram lado a lado, se comportando como empregados respeitáveis e
bem-vestidos do Ninho da Pomba.

Enquanto eles voltavam para Rancho Corona, Katie girava o buquê de Cris no seu
colo. Ela foi atraída pelo perfume das gardênias murchas e riu, pensando em Cris
e Ted. Eles estavam no avião agora, voando para Maui.

- Por que você está rindo? perguntou Rick.

- Por nada.

Rick olhou com um olhar de dúvida para ela.

- Ok, eu não posso mentir. Eu estava pensando sobre Ted e Cris e o casamento e,
você sabe, um monte de coisas melosas.

- Coisas melosas, hã?

- Sim, coisas melosas.

- Você quer saber o que eu estava pensando? Esta era uma pergunta rara vinda do
Rick.

- Claro. O que você estava pensando?

- Eu estou muito feliz com o jeito que nosso relacionamento está. Eu acho que as
coisas estão indo bem.

Katie esperou que ele adicionasse alguma coisa mais comprometedora. Ele não
disse mais nada.

Então Katie adicionou seus próprios pensamentos.

- Eu acho que nós estamos na pista lenta por muito tempo.

Rick olhou para ela, parecendo confuso.

- Esta estrada só tem uma pista nessa direção.

- Eu quis dizer a pista lenta na estrada do nosso relacionamento.

Rick ainda parecia confuso.

Katie virou os olhos.


- Rick, eu e você estamos levando nosso relacionamento lento por muito tempo.
Quer dizer, l-e-n-t-o. Não que eu tenha nenhuma reclamação importante. Eu só
pensei que talvez você fosse dizer que estava pronto para ligar a seta.

- E ligar a seta significaria que nós estamos prontos para ir para uma pista rápida?

- Certo. Ou pelo menos pensando em mudar de pista. E isso não tem que ser uma
mudança para a pista rápida. Poderia ser a pista do meio. Ou se nós estivéssemos
num relacionamento com uma estrada de seis pistas, então esta seria uma
mudança de pista ainda menor. É que nós estamos nessa pista lenta por tanto
tempo que nós caímos na rota dessa estrada.

Rick continuou dirigindo. Mesma pista. Mesma velocidade. Sem comentários.

Katie olhou pela janela e desejou que não tivesse dito nada. Ao menos não a
analogia toda com mudança de pista e rota. Ele não gostou do jeito como seus
pensamentos tinham saído. A verdade era que ela não queria ser a responsável
por acelerar as coisas. Ela nem tinha certeza se estava pronta para fazer uma
mudança de pista no relacionamento deles com todas as outras decisões que ela
tinha à frente dela. Mas hoje parecia um dia para declarações de amor – ou ao
menos de afeição. O discurso “as coisas estão indo bem” de Rick era apenas blá.

- É o seguinte - ela virou para Rick. Quando você voltou para pegar suas chaves,
Carley perguntou se você era meu namorado.

- O que você disse pra ela?

- Eu não disse que você era, mas também não disse que você não era. Eu queria
dizer: ‘Sim, Rick Doyle é meu namorado. Ele não é ótimo?’. Mas eu não podia
dizer isso. Quer dizer, eu posso dizer que você é ótimo. Mas desde que nós
decidimos não usar as etiquetas namorado-namorada até que nós dois
estivéssemos prontos para o próximo nível de compromisso.

- Você está? perguntou Rick.

- Eu estou o que?

- Pronta para o próximo nível de compromisso?

Katie não tinha uma resposta. Isso a deixou surpresa.

Rick refez sua pergunta como se ela não tivesse entendido o que ele estava
perguntado.

- Você está pensando que nós estamos prontas para fazer a mudança de pista?
Nós estamos prontos para ser namorados?
A resposta imediata e sem pensar foi:

- Eu não sei.

A resposta espontânea a surpreendeu de novo. Ela acreditou que era honesta,


então ela ficou presa com isso, mesmo ela sabendo que se ele tivesse feito essa
mesma pergunta mais cedo naquele dia ela provavelmente teria gritado:
Finalmente! Sim!

Katie jogou a batata quente de volta para Rick.

- Você está?

- Se eu estou pronto para ser oficialmente namorado?

- Sim. Está?

Rick deu uma pausa.

- Quase. Veja, eu não acho que rotas sejam ruins. Rotas são rotinas, e rotinas são
boas. Elas são estáveis e previsíveis. Rotinas levam você pra onde você está indo.
Nós precisamos continuar orando sobre o que está por vir para nós. Nós temos o
verão inteiro à nossa frente, e no próximo outono você vai ser...

- Uma assistente dos residentes. Possivelmente. Ou talvez uma desistente da


faculdade. Eu estou entre essas duas.

Rick riu.

- Não ria. Eu estou falando sério. Sobre o cargo de AR, principalmente.

Katie colocou Rick a par da sua conversa com Julia e concluiu com:

- Eu não decidi, mas estou pensando seriamente sobre isso. E eu vou orar sobre
isso. E você está certo sobre nós orarmos sobre o que está por vir para nós. Eu
preciso orar um pouco mais sobre isso.

O carro seguiu na estrada sem que nenhum deles falasse nada por alguns
minutos. Quando Rick falou, seu tom era grave.

- Esta é uma grande decisão, você sabe.

- Qual decisão? Sobre namorados ou sobre assistente dos residentes?

- As duas.
- Eu sei. Adicione essas ao carrinho de compras com meu dilema da carreira, e eu
tenho três grandes itens indo ao caixa da vida nesse momento.

Rick entrou com o carro no estacionamento do dormitório de Katie e desligou o


carro. Ele encostou-se à porta com seu braço sobre o volante.

- Se você aceitar o cargo de AR, isso significaria que você iria trabalhar menos
tempo no Ninho da Pomba. Isso seria um problema, já que você disse que precisa
de mais dinheiro no próximo ano.

- Eu sei. Mas esta é a parte boa sobre o emprego. Se eu aceitar o cargo de AR,
meu quarto e minhas refeições serão cobertas. Quarto e refeição, Rick! Eu não
conseguiria dinheiro suficiente para cobrir quarto e refeição trabalhando no
Ninho da Pomba meio expediente. E eu não posso trabalhar mais horas do que eu
já trabalho, porque, mesmo com o curso de verão, meu conselheiro disse que
provavelmente eu vou ter que pegar 18 créditos no outono independente de qual
carreira eu escolher. Quer dizer, contanto que eu escolha uma carreira.

Katie estava exausta. Ela não queria terminar esse dia glorioso examinando todas
as decisões não ter terminadas na sua vida. Era deprimente.

A mandíbula de Rick se movia pra frente e pra trás como se ele mascasse as
palavras de Katie.

- Você sabe que nós nos veríamos muito menos, ele disse.

- Não necessariamente, Katie retrucou.

Obviamente o Sr. Eu-gosto-de-estar-numa-rota não gostou da potencial saída de


Katie da rotina estabelecida deles. Talvez fosse bom que o relacionamento deles
ainda estivesse indo devagar. Se ele mudasse radicalmente, poderia ser um ponto
final.

Assim que Katie percebeu o potencial resultado da sua decisão, sua garganta deu
um nó. Ela não queria terminar. Ela preferia a pista lenta a nenhuma pista.

Seguindo a rotina, Rick levou Katie ao seu dormitório, deu um abraço e disse que
ligaria mais tarde.

Ela respirou fundo. “Mais tarde” sempre foi uma das palavras favoritas de Ted.
Katie percebeu que esta também era a palavra que estava evitando que seu
relacionamento com Rick se tornasse num grande e meloso romance. “Mais
tarde” nunca seriam suas palavras favoritas.
Capítulo 5
Katie abriu a porta do seu dormitório e ficou em pé, parada, com seu vestido de
dama de honra. Ela não entrou imediatamente. Ela odiava, odiava, odiava entrar
no seu quarto sozinha naquela noite. Ela odiava que Cris estava casada e tinha
ido embora e nunca mais seria sua colega de quarto. Nos últimos nove meses Cris
tinha estado a apenas alguns passos de distância toda noite, e elas podiam se dar
ao luxo de conversar por horas no conforto de suas camas. Esta Era tinha
acabado pra sempre.

Katie jogou o buquê na cama vazia de Cris e deixou a porta bater atrás dela. Ela
odiava estar sozinha. Ela odiava estar presa na pista lenta. Ela odiava ter tantas
decisões não resolvidas na sua vida.

Na mesma hora, Katie decidiu que ela iria aceitar o trabalho de AR. Ela queria
esse cargo. Ela gostava da idéia de ser parceira de Nicole, a outra AR que estaria
no seu andar. Ela gostava da possibilidade de se apresentar para Julia. Além do
mais, os salários iam de encontro às suas necessidades financeiras para moradia e
alimentação.

Isso, um problema resolvido.

Apenas declarar sua decisão para si mesma já foi um grande alívio.

Deixando seu vestido de dama de honra pendurado no encosto da cadeira de sua


escrivaninha, Katie colocou seu roupão peludo amarelo e desceu o corredor para
tomar um banho.

Assim que a água morna caiu em suas costas, ela pensou se não teria decidido
muito rápido. É isso que tu queres, Deus? Porque se o Senhor não quer que eu
aceite este trabalho, então feche as portas. Eu farei alguma outra coisa para o
dinheiro. O que tu quiseres, está bom para mim. É que isso faz sentido, e eu
amo a idéia de estar cercada por tantas pessoas novas no próximo ano, agora
que a Cris se foi e a Selena estará no Brasil. Isto é, se o Senhor quiser que eu
continue nesta faculdade. Eu preciso decidir minha carreira. O que o Senhor
quer que eu faça da minha vida? Com meu relacionamento com Rick? Eu sou tua.
Eu estou pronta para que tu realizes teu plano para esta próxima etapa da
minha vida.

Eu vou tentar ser paciente, mas não esquece de mim, certo? Eu sei que o Senhor
não vai esquecer.

Katie fechou a água e respirou fundo no vestiário quieto. Ela enrolou o cabelo em
uma toalha, colocou o roupão, e desceu o corredor para o seu quarto. Entrando
no espaço que agora estava livre de qualquer evidência de Cris, exceto pelo
buquê de casamento, Katie fechou a porta e chorou. Ela não chorava com muita
freqüência, mas quando ela chorava, a cascata poderia ser significativa. Uma das
coisas boas sobre Katie e suas emoções tão evidentes era que uma vez que o
momento passava, estava terminado. Ao invés de guardar seus sentimentos e
curtir um mal-humor por um longe período, ela se considerava ser mais uma
emotiva de “pagamento à vista”.

Assim que ela gastava suas lágrimas, ela estava bem. Katie se deitou na cama e
caiu no sono com seu cabelo molhado ainda enrolado na toalha.

Seu celular a acordou na manhã seguinte. Ela podia dizer pelo toque
personalizado que era Rick que estava ligando.

- Oi. Katie sentou e tentou desembaçar seus olhos para ver as horas no alarme da
sua mesa. A toalha caiu da sua cabeça e foi parar no chão.

- Eu queria saber se você ia fazer alguma coisa hoje.

- Não sei. Eu acho que estava planejando ir à igreja mais tarde. Está muito cedo,
Rick.

- Eu sei. Meus pais ligaram e me pediram pra ir à casa deles hoje. Eu estava
pensando se você gostaria de ir comigo.

- Quando você vai sair?

- Umas sete e meia.

- Isso é daqui a uns vinte minutos.

- Acho que sim. Escute, eu sei que você não é uma pessoa matutina, mas eu
queria chegar lá a tempo de ir à igreja com eles. Eu preciso tirar o resto das
minhas coisas da garagem esta tarde e trazer para o meu apartamento. A casa
deles vai à venda na segunda-feira.

Katie jogou as cobertas para trás e tentou “ligar” seu cérebro.

- A casa nova deles já está pronta?

- Não, mas eles acham que ficará pronta assim que eles venderem a casa de
Escondido.

Os pais de Rick moravam um pouco mais de uma hora de distância de Rancho


Corona.
Eles tinham construído o Ninho da Pomba e a livraria cristã Arca há quase um ano
atrás numa área onde o aluguel para salas comerciais era muito mais barato que
perto da casa deles, em Escondido. O negócio foi tão bem que eles decidiram
construir uma nova casa perto do café e da livraria.

Katie passou perto do espelho e soltou um involuntário: Wow!

- Que foi? Rick perguntou.

- Nada. Katie não queria explicar como ela estava naquele momento. Seu cabelo
tinha se “ajeitado” por conta própria durante a noite, e agora o lado direito
estava pro alto, formando um cacho engraçado no topo, como um pica-pau.

Intrigada, Katie virou o cabelo para o lado direito. A onda permaneceu no mesmo
lugar. Ela virou-o para a esquerda, e a onda vermelha formou uma crista e caiu.
Katie caiu na gargalhada.

- O que está acontecendo? Rick perguntou.

- É o meu cabelo. Katie sacudiu seu cabelo pra frente e pra trás em frente ao
espelho e assistiu seu cabelo fazer todos os tipos de travessura. Ela riu pelo
comportamento de seu penteado hilário.

- O que é tão engraçado?

- Você não vai acreditar nisso. Na verdade, isto é bom demais para perder. Eu
vou tirar uma foto e mandar pra você. Desligue e me ligue de volta quando a foto
chegar.

Katie desligou. Ela segurou o telefone, abaixou o queixo para pegar o efeito
completo do seu cabelo selvagem, e tirou a foto. Ela caiu na gargalhada de novo
quando viu a foto e mandou para o Rick.

Um momento depois seus celular tocou a música de Rick.

- O que é que você fez com seu cabelo?

- Eu fui dormir com ele ainda molhado. Essa não é a coisa mais hilária que você
já viu?

- Katie, você é a mais...

- O quê? Vá em frente. Diga. A mulher mais acabada que você já conheceu?

Rick não concordou nem discordou.


- Então, o que você decidiu? Você e seu cabelo acabado querem ir a Escondido
comigo daqui a dez minutos?

- Eu acho que meu cabelo super-sonic e eu devemos ficar em casa. Eu tenho uma
prova na segunda, e um trabalho de sete páginas para entregar na terça, e mais
duas provas na quarta. Se eu for com você não vou conseguir estudar nada.

- Ok, eu entendo.

Katie pensou ter detectado desapontamento na sua voz. Isso era bom. Ela gostou
de nesse momento não ser oficialmente a namorada de Rick. Se eles tivessem
decidido fazer uma mudança de pista da noite passada, ela tinha o sentimento
de que teria ido com ele porque isso parecia uma coisa que uma namorada
deveria fazer.

- Eu te ligo mais tarde, disse Rick. Talvez você esteja pronta para dar uma pausa
no seu estudo.

- Parece bom. Tenha um ótimo dia com seus pais. Ah, e se você vier mesmo à
noite, traga comida. Katie se jogou novamente na cama e ficou olhando para o
teto. Dentro de dois minutos ela caiu no sono e não acordou até o meio-dia.

Wow! Eu deveria mesmo estar precisando desse sono.

Depois de um banho rápido para acalmar suas madeixas selvagens, Katie se vestiu
e começou a se organizar. Sua primeira tarefa foi um passeio até a máquina no
final do corredor onde ela esvaziou suas moedinhas e se estocou com lanches
para o estudo.

Quando eu me mudar para Crown Hall, eu vou comprar uma geladeirinha para
eu poder guardar lanches no meu quarto. E leite!

A idéia de jantar uma tigela de sucrilhos com leite gelado e ao mesmo tempo
pular pra de baixo das cobertas a qualquer hora fez Katie sorrir.

Ela lembrou que não tinha falado com Rick sobre sua decisão de aceitar o cargo
de AR. Seu cabelo a tinha distraído. Ela contaria para ele de noite.

Entretanto, quando Rick ligou naquela noite, era ele quem tinha uma surpresa
para ela.

- Você está a fim de dar uma volta?

- Claro.

- Eu estou a três minutos do seu dormitório, e o Max está comigo.


- Está? O Max está no seu carro? Katie sabia que o Dogue Alemão da família de
Rick era muito velho e muito grande para estar confortável por muito tempo no
banco de trás do Mustang de Rick. Ela nunca tinha visto Rick deixar Max entrar no
seu carro meticulosamente cuidado.

- Max vai ficar comigo por um tempo, já que ele não é exatamente uma peça de
destaque na venda da casa dos meus pais.

- Eu sabia que você estava procurando por um colega de quarto, mas a questão
é: o Max pode cobrir a parte dele do aluguel?

- Espero que sim. Então, está pronta para sair da sua caverna de estudo? Eu
pensei que nós poderíamos levar o Max para dar uma volta. Ah, e eu trouxe
pizza.

- Bem, neste caso, eu já estou indo.

Katie calçou os chinelos e correu para o estacionamento. Rick estava chegando.


Ele não estava dirigindo seu Mustang. Ele tinha alugado uma caminhonete, e Max
estava no banco do carona, com a cabeça pra fora da janela aberta. Katie foi
cumprimentada com um beijo babado que cobriu metade da sua bochecha e
metade do pescoço.

- Max, você é um paquerador e tanto. Ela limpou a bochecha e o pescoço com a


manga da blusa e puxou a orelha de Max, que era seu jeito próprio de
cumprimentar o velho cachorro. Você quer passear?

Max conhecia a palavra “passear” e latiu bem alto para a oferta de Katie.

- Ele está claramente feliz em te ver, disse Rick. Em todo o caminho pra cá ele
estava gemendo como um bebê.

- Isso é porque ele é um bebezão, não é, Max? Você é um bebezão, e você sabe
disso.

Rick prendeu a correia na coleira de Max, e o velho e desajeitado cachorro pulou


da caminhonete. Eles tomaram um passo rápido, com Max liderando o caminho
por curiosidade e necessidade. Algum tempo depois seu passo ficou mais
devagar, e Rick disse:

- Tenho que dizer que estou decepcionado.

- Por quê?

Rick apontou para o cabelo de Katie.


- Você não está parecida com a foto.

Katie riu.

- Aprenda a viver com a decepção. Falando nisso, você me atraiu aqui pra fora
com pizza, e eu não estou vendo nenhuma pizza.

- Eu deixei na parte de trás da caminhonete. Eu não queria dividir com o Max.

Quando ele ouviu seu nome, Max sentou.

- Vamos lá, Max, essa volta não foi nada.

- Ele parece bem cansado, Katie disse.

- Foi um dia louco lá em casa. Eu tenho água para ele na caminhonete. Nós
podemos voltar.

- Vamos, Max. Katie bateu na perna. Levante. Vamos beber um pouco de água.

Max estava ofegante enquanto voltava para a caminhonete, então bebeu com
prazer a água que Rick colocou para ele na vasilha de plástico. Katie riu para o
jeito que Rick pensava em tudo, incluindo as necessidades de seu cão. Ele
também pensou em tudo o que eles precisariam para um piquenique na caçamba
da caminhonete, incluindo a bebida favorita de Katie ultimamente, cream soda1.

- Você lembrou, ela disse.

Rick ficou feliz por ela ter notado.

- O que tem na pizza? Ela perguntou quando ele pegou a caixa grande, lisa e
branca.

- Tudo. Mas sem pimentão.

- Boa. Eu odeio pimentão.

- Eu sei. Eu lembrei disso também.

- Especialmente, não gosto daqueles amarelos brilhantes, que parecem cera. Me


diga uma outra comida que seja amarelo brilhante. Não é natural, pode crer!

Rick abriu a caixa e mostrou para Katie que nenhuma comida com cores “não
naturais” tinha sido incluída na pizza deles.

1
Cream soda - Refrigerante sabor baunilha
Eles tinham dado apenas duas mordidas quando um carro parou do lado deles.
Carley abriu sua janela e chamou:

- Oi, vocês dois!

Max deu um latido. “Woof.”

- Você está de mudança cedo, Katie? Carley desligou seu carro e saiu.

- Não, essas coisas são do Rick. Eu vou ficar aqui durante todo o verão.

- Você vai?

- Sim, semana passada eu decidi ficar para o curso de verão.

- Eu deveria voltar para casa no Texas. Eu não quero ir. Os olhos de Carley
estavam na pizza, o que Katie achou melhor do que se os olhos de Carley
estivessem fixos em Rick.

- Você quer um pouco? Rick ofereceu. Nós temos bastante.

- Claro. Carley pegou um pedaço e sentou na caçamba perto de Katie.

Antes que Katie pudesse colocar mais uma mordida na boca, mais dois alunos
chegaram para perto da caminhonete e cumprimentaram Katie e Carley como se
fossem velhos amigos. Parecia que todos tinham saído para dar uma pausa nos
estudos ao mesmo tempo, e a pizza era como um localizador. Rick tinha trazido
bastante e suas habilidades de relações públicas fizeram com que ele ficasse
ansioso para dividir. Entre mordidas, o pequeno grupo falava sobre as provas
finais e a ultima semana de aula.

Todos expressavam o mesmo tipo de stress que Katie estava sentindo. Ela não
estava sozinha como ela pensara na noite anterior.

Uma vez terminada a pizza, o grupo se dispersou. Rick fechou a porta da


caçamba e ajudou Max a entrar na cabine. Então Rick virou e Katie abriu seus
braços, oferecendo um abraço de despedida.

- Eu estou muito suado e sujo de limpar a garagem, ele disse, abrindo seus braços
para ela.

- Ei, eu já fui babada pelo seu cachorro. Você não pode ser nem 50% tão nojento
quanto Max. Sem ofensas, Max. Katie envolveu seus braços em volta da cintura
de Rick e encostou sua bochecha contra o peito dele.
Ela pôde ouvir Rick respirar fundo, e sentiu o ar ser liberado lentamente das
narinas dele e tocar seu cabelo. Um canto esperançoso do seu coração imaginou
se Rick havia reconsiderado sua decisão da noite anterior. Talvez ele tivesse
decidido sair da pista lenta. E se ele tivesse percebido que isto era uma coisa boa
para eles e estava pronto para mudar de pista?

Olhando para cima, Katie chegou para trás e levantou seu queixo na direção
dele. Se Rick quisesse mudar de pista, tudo o que ele tinha que fazer era selar
aquele momento com um beijo. Nenhuma palavra era necessária.

Rick e Katie estavam guardando esse beijo para quando eles estivessem prontos
para estabelecerem-se oficialmente como um casal. Katie ainda não tinha
certeza se estava pronta, mas ela estava aberta para essa possibilidade. Seus
lábios estavam disponíveis.

Rick sorriu para ela, mantendo seus lábios para si mesmo.

- Ainda não, ele sussurrou.

- Eu sei, ela sussurrou de volta.

Saindo lentamente do abraço, Katie disse:

- Eu estou feliz que você tenha vindo.

- Eu também.

- Obrigada pela pizza.

- Disponha. Te vejo amanhã. Rick entrou na caminhonete e ligou o motor


barulhento.

Katie acenou enquanto ele ia embora. Então ela cruzou os braços, tentando
segurar o calor de Rick que tinha estado ali há alguns momentos. Por mais que
ela tivesse concordado com a decisão de guardar o beijo, Katie não gostava da
sensação de não-conclusão toda vez que Rick ia embora, deixando seus lábios
intocados.

Eles estavam fazendo a coisa certa. Ela sabia disso. Ela também sabia que seu
nível de stress estava afetando seus pensamentos. Suas emoções estavam por
todo lado. Semana de provas não era uma semana para tomar decisões
importantes.

Mas em momentos como esse, todo o autocontrole a estava matando, porque


Katie já sabia como era beijar Rick Doyle e beijá-lo mais que uma vez.
Capítulo 6
Em vez de voltar para o dormitório depois que Rick saiu com sua caminhonete
alugada, Katie decidiu andar até Crown Hall e “fazer um Neemias”. Há um ano,
um dos professores de Bíblia de Katie tinha usado essa expressão e ela tinha
gostado do conceito, mas ainda não tinha usado. A premissa era andar ao redor
de uma nova situação e avaliá-la antes de mergulhar nela. O profeta Neemias do
Antigo Testamento fez uma caminhada durante a noite ao redor das ruínas das
muralhas de Jerusalém antes de começar a grande tarefa de reconstruí-las.

Katie percebeu que ela podia estar usando a viagem de espionagem de Neemias
como uma razão para evitar estudar. Se ela estivesse, não estaria sozinha no seu
adiamento. Apesar de já ter passado das dez, todos os estudantes do campus
pareciam estar bem acordados e procurando por qualquer coisa para fazer que
não fosse estudar para as provas finais.

Quando Katie passou pelo chafariz no centro do campus, duas meninas estavam
sentadas tocando violão. Um cara passou e cumprimentou as musicistas. Ele esta
carregando duas bandejas carregadas com copos grandes de expressos. Oito dos
seus colegas de estudo estariam comemorando daqui a alguns minutos.

Katie olhou para o céu escuro acima de sua cabeça. Algumas pequenas estrelas
piscaram para ela de trás de seus cobertores de nuvens. Elas não tinham provas
na manhã seguinte, então elas podiam ir dormir se quisessem.

Katie não estava pronta para dormir. Ela percebia o quanto ela amava essa
escola, esse campus, essa comunidade de pessoas. Mesmo que a Cris tivesse ido
embora, Katie ainda queria estar ali por outro ano. Não, ela queria estar ali por
mais dez anos. Pelo resto da sua vida! Este campus parecia mais seu lar do que a
casa de seus pais em Escondido jamais foi.

Aproximando-se da porta de vidro aberta de Crown Hall, Katie viu Julia em pé lá


dentro à direita. Ela estava conversando com Craig, o diretor de residentes para
os meninos que moravam em Crown Hall. Julia olhou para Katie e acenou.

Katie chegou mais perto. Julia a apresentou para Craig, e Katie disse:

- Bem, estou dentro.

Craig concordou como se fosse óbvio que, sim, ela estava dentro do prédio.

Julia, por outro lado, entendeu o que Katie quis dizer e abriu um largo sorriso.

- Sério?
Katie concordou. Ela adorou que Julia tivesse entendido o seu comunicado
peculiar.

- Fantástico, Katie. Isso é ótimo.

- Eu decidi aceitar o cargo de AR, Katie disse para que Craig pudesse entender.

Ele pareceu impressionado com sua atitude decidida.

- Estou feliz de ouvir isso. Nós estávamos falando agora mesmo sobre a reunião
de amanhã às três horas. Esta hora estaria boa para você?

- Claro.

Katie percebeu novamente que ainda não tinha contado ao Rick sobre sua
decisão de aceitar o cargo. Com Max e todos os colegas de piquenique
inesperados, Katie tinha esquecido de falar sobre esse assunto. Ela sentia que
não precisava de sua permissão ou benção ou o que seja, mas teria sido bom se
ela tivesse conversado com ele antes de se comprometer em aceitar o trabalho.
Mas a situação era a seguinte: ela tinha acabado de declarar que ela estava
“dentro”.

Sentindo-se na obrigação de oferecer uma cláusula de escape, Katie disse:

- Eu acho que deveria dizer que apesar de achar que sei que isto é o que Deus
quer que eu faça, se Deus fechar a porta, então, bem... eu vou entender.

Julia aproximou seu olhar.

- E o que é isto que você vai entender, exatamente?

- Eu vou entender que isto não é a vontade de Deus para mim.

- A velha teologia da dobradiça, Craig sorriu. Escute, eu odeio ir, mas eu preciso
correr lá pra cima. Verei vocês amanhã.

Assim que Craig saiu da conversa, Katie virou para Julia.

- O que ele quis dizer com ‘teologia da dobradiça’?

- Todo estudante que nós já aconselhamos falou uma vez ou outra a mesma
coisa, sobre Deus abrindo ou fechando portas. A teoria do Craig é que para
muitos jovens, a vontade de Deus parece se restringir à direção em que as portas
de oportunidades abrem.

- E o que há de errado nisso? Katie perguntou.


- Deus não está limitado a se expressar através de portas abertas ou fechadas.

- Eu sei. Ele usa janelas fechadas e abertas também. Eu assisti A Noviça Rebelde.

Julia riu.

- Quando Deus fecha uma porta, ele abre uma janela. Katie adicionou. Ou seria
quando ele abre uma porta, fecha uma janela?

- Eu acho que é porta fechada e janela aberta.

- Ok, mas se você está dizendo que a teologia da dobradiça não é legal, então o
que seria uma teologia melhor? Katie perguntou. Eu quero dizer, se é muita
presunção limitar Deus a abrir e fechar portas, então qual seria um jeito melhor
de descobrir o que Ele quer quando você tem que tomar uma grande decisão?

Julia sorriu.

- Eu gosto de você, Katie.

- Isso é bom, Katie disse com sua atitude brincalhona. Eu também gosto de você.
Mas você não respondeu minha pergunta.

Julia riu de novo.

- Você está certa, eu não respondi. Você realmente quer saber minha opinião?

- Sim.

- Ok.

Sem adicionar nenhuma informação, Julia virou e saiu andando. Ela abriu
caminho através de outros estudantes reunidos no lobby e sentou em um dos
sofás do outro lado da sala. Então ela moveu seus lábios, mas Katie não podia
escutá-la.

Katie permaneceu perto da porta com uma expressão de “hã?” no rosto.


Obviamente, se ela queria ouvir a resposta de Julia, era melhor segui-la no
caminho através do lobby.

Katie se jogou no sofá com uma expressão expectante.

- Então?

- Então, é isso, disse Julia.


- É isso o que?

- Esta é minha demonstração visual de como eu acho que é descobrir a vontade


de Deus.

Katie não estava entendendo.

- Tudo o que você fez foi andar até aqui e sentar.

- Certo. Eu fiz isso. Então eu disse, ‘Então, é isso’, mas você não me ouviu da
primeira vez que eu disse. E você quis uma resposta de mim, certo? Você queria
ouvir o que eu tinha para dizer. Então você me seguiu. Julia levantou uma
sobrancelha como se ela tivesse acabado de revelar um antigo segredo.

Katie concordou movendo a cabeça lentamente. Bem lentamente.

- Craig chama isso de teologia ‘grudar no pé’1, Julia disse. É assim que eu acho
que é com Deus. Se você quer saber o que Ele tem a dizer, apenas siga-o. Fique
perto. Você pergunta e continua perguntando, e você ouve. Ele vai fazer isso
claramente. Quanto mais perto você está dELe, mais fácil é ouvir o que Ele está
dizendo.

Katie deixou os pensamentos fluírem.

Julia recostou, parecendo confortável. A aparência confortável não vinha do


jeito que ela estava sentada, o que ela estava vestindo, ou qualquer outra
influencia externa. Julia simplesmente parecia confortável em sua própria pele e
no que estava acontecendo naquele momento. Seu foco estava em Katie, não
nela própria ou no que estava acontecendo ao seu redor. Katie não sabia se ela
já havia estado perto de alguém tão tranqüilo antes. Era bom.

- Você já pensou alguma vez sobre como Cristo guiava seus discípulos durante os
três ou mais anos que eles estavam juntos? Julia perguntou. Quando você lê os
evangelhos, parece que eles estão por todo o lado. Um dia Jesus estava em um
barco com eles; no dia seguinte eles estavam subindo as montanhas. A jornada
parecia sem rumo. Se você tentar mapear o caminho deles, pareceria um monte
de ziguezagues que não levam a lugar nenhum. Mas Jesus tinha um plano,
obviamente. Ele disse que ele cumpria tudo o que o Pai mandava. Tudo que os
discípulos tinham que fazer era grudar no pé de Jesus e confiar nele.

Katie nunca tinha pensado em seguir a Jesus daquele jeito.

Julia sorriu como se pudesse ler os pensamentos de Katie.

1
Muito perto, atrás de alguém
- Esta é a minha teologia. Você deve ficar perto de Jesus. Lembre-se que ser um
dos discípulos de Jesus vai parecer como uma aventura sem roteiro na maioria
das vezes. A jornada definitivamente não é um tamanho único. Mas ele tem um
plano. Ele está cumprindo Seus objetivos na sua vida.

- Eu concordo com isso, Katie disse. Meu versículo para este ano passado foi: O
Senhor vai cumprir seus propósito para mim. E eu sei que ele fez. Ele faz. É que
neste momento certas coisas na minha vida não estão indo pra frente e isto pode
afetar minha decisão de aceitar o cargo de AR.

- Que tipo de coisas? Julia perguntou.

- Eu preciso de uma carreira. Principalmente. É o meu dilema de carreira.

- Ah, disse Julia balançando a cabeça.

- Eu estou terminando meu penúltimo ano essa semana, e eu estou sem uma
carreira. Vou fazer o curso de verão para terminar os créditos básicos, mas não
posso me matricular para as aulas no outono ate que eu declare minha carreira.
É por isso que eu disse que Deus pode fechar a porta de AR para mim. Entende?
Sem carreira, sem matricula, sem aula, sem próximo semestre, sem trabalho de
AR.

Julia concordou.

- Quando eu conheci meu conselheiro, ele me entregou uma lista de carreiras no


departamento de ciências e me pediu para escolher uma imediatamente.
Nenhuma me parecia certa. Então eu disse a ele que não podia escolher nenhuma
daquelas.

- O que o seu conselheiro disse?

- Ele disse, ‘Se você não consegue tomar uma decisão, eu não posso te ajudar.’

- Parece uma resposta honesta, disse Julia.

- Honesta ou não, não meu ajudou nem um pouco. Katie mastigou a cutícula ao
lado da unha do dedão. Afastando sua mão, ela perguntou: Então, qual o seu
conselho para o meu dilema de carreira?

- Qual é a sua paixão, Katie? Julia perguntou.

Nenhuma resposta imediata surgiu no pensamento de Katie.


- Pense nisso, Julia disse. Eu vou te perguntar de novo amanhã. Pense sobre o
que te dá energia e te faz feliz. Se você responder a essas perguntas, sua
carreira provavelmente vai estar bem na sua frente.

Katie pensou que a resposta de Julia era um pouco orgânica demais. Muito
aerada e sem parecer promissora. Mas ela disse que daria uma idéia.

- Eu tenho que checar algumas meninas, disse Julia. Te vejo amanhã? Às três no
escritório do terceiro andar?

Katie concordou, e Julia deixou-a no sofá do saguão com seus pensamentos.

A ponderação de Katie durou uns dois minutos. Ela não queria estar sozinha ali.
Então ela se dirigiu para o familiar corredor que levava ao quarto de Selena e
Vicki, o corredor onde Katie seria AR – isto é, se ela achasse uma carreira. Ela
debateu se preferia parar para visitar suas amigas ou apenas prosseguir e
terminar sua caminhada de espionagem Neemias. A opção da caminhada de
espionagem venceu, e Katie continuou andando no longo corredor.

Várias portas estavam abertas ao longo do caminho, espalhando uma variedade


de fragrâncias, músicas e vozes. No final do corredor estava o quarto onde Katie
moraria. Geralmente duas ARs ficavam nos quartos localizados em cada ponta do
corredor.

Katie olhou para as decorações na parede à frente da porta de seu futuro quarto.
Uma variedade de expressões artísticas dos alunos cobria as paredes da maior
parte do longo corredor dos dormitórios. Entretanto, nessa época do ano, a
maioria das decorações e dos pôsteres estava estragada, restando apenas mais
alguns dias do seu dever de embelezamento antes de serem jogados fora.
Geralmente as paredes eram pintadas ou reparadas durante os meses de verão
para estarem prontas para o próximo ciclo de decorações com a chegada dos
residentes.

Katie não tinha visto esta parede antes, mas ela também nuca tinha andado todo
o caminho até o final do corredor. O desenho era bem feito e dava a impressão
de uma larga borda na figura, com a linha externa feita em papel corrugado
preto e retangular. No topo da parede estava pintada à mão uma placa que dizia
“A Parede do Beijo”.

Katie riu pra si mesma. Não é exatamente a mesma parede que Neemias andou
ao redor. Eu não consigo imaginar Neemias descobrindo uma parede do beijo na
sua viagem de inspeção!

Dentro da borda estavam dúzias de figuras de pessoas se beijando. A maioria das


figuras parecia ter sido cortada de revistas ou impressa da Internet. Algumas das
figuras eram fotos. Misturado entre as fotos estavam vários versículos da Bíblia
sobre beijar.

“Amor e fidelidade se encontrarão; a justiça e a paz se beijarão.”

“’O Senhor conceda a cada uma de vocês um novo lar e um novo marido!’ Ela as
beijou e elas começaram a chorar alto.” Rute 1:9

“Depois Jacó beijou Raquel e começou a chorar bem alto.” Gênesis 29:11

“Uma resposta honesta é como um beijo nos lábios.” Provérbios 24:26

Katie reconheceu algumas das meninas nas fotos e sabia que elas moravam nesse
andar. Uma foto mostrava Selena com sua larga juba arredondada no alto da sua
cabeça numa engraçada cascata de loiros cachos indomáveis. Um dos sobrinhos
de Selena estava beijando sua bochecha enquanto ela tentava segurar um
bocejo. Era uma ótima foto espontânea.

Todas as fotos na Parede do Beijo eram doces, ternas, apropriadas, e


representantes de tudo que há de inocente e bonito sobre um beijo.

Katie sentiu vontade de chorar.

Há menos de uma hora, Rick estava há alguns centímetros dela, mas ele não
tinha respondido ao seu convite para beijá-la. Alguma coisa primitiva, feminina,
e triste dentro de Katie tinha sido acordada. Ela desejava ser amada.

Apertando seus lábios não beijados, Katie leu mais algumas frases.

“Beija-me ele com os beijos de sua boca – pois o seu amor é mais agradável que
o vinho.” Cantares de Salomão 1:2

“Você não me deu um beijo, mas esta mulher, desde que entrou, não parou de
beijar meus pés.” Lucas 7:45

“Cumprimentem um ao outro com um beijo santo.” Romanos 16:16

Era isso. Katie não podia mais agüentar nenhuma imagem ou versículo sobre
beijos – santo ou não. Ela sentiu como se estivesse torturando a si mesma parada
ali e vendo tudo isso.

Voltando em direção ao quarto de Selena, Katie estava pronta para uma conversa
de amigas de coração para coração. Anos atrás Selena tinha se compadecido
durante uma viagem de missões na Inglaterra. A angústia delas naquela época
tinha sido pelo fato de nenhuma delas tinha um cara a seguindo do mesmo jeito
que Trícia e Cris tinham. A ironia para Katie era o quão pouco tinha mudado.
Seus sentimentos de desejo intenso e vontade de pertencer estavam mais fortes
que nunca.

Quando um coração finalmente se sente em casa e contente? Quando essas


paixões em fim serão realizadas? No casamento?

A pessoa com quem Katie realmente queria conversar era Cris. Ou deveria dizer
Sra. Ted Spencer? Cris teria uma visão totalmente diferente sobre esta discussão
depois de retornar da lua-de-mel e Katie estava ansiosa para ouvi-la.

Com algumas batidas na porta de Selena, Katie esperou pelo costumeiro convite
“Entre por sua conta e risco” vir de Selena do outro lado da porta.

Entretanto, nenhuma voz respondeu. Ela bateu de novo. Sem resposta. Selena e
Vicki evidentemente tinham se juntado aos outros estudantes de Rancho Corona
que, como Katie, adiaram o estudo e passeavam pelo campus em vez de ficar em
seus quartos.

Você também deveria ir estudar, Weldon. Você está muito emotiva neste
momento para ponderar qualquer uma de suas paixões. Termine o que você
precisa para esta noite. Esta é a semana de provas, lembra?

Katie peregrinou pelo campus. A cada passo ela pensava na afirmativa de Julia
de que às vezes seguir a Cristo pode parecer sem rumo.

- Você está aqui, não está? Ela sussurrou, como se Cristo estivesse fisicamente a
acompanhando até seu dormitório. Sim, você está. Eu sei que está. Ela continuou
andando, consciente de que não existe um só momento em que o Senhor não
esteja perto de suas crianças.

- Ok, Katie respirou um tipo de oração resolvida que abrangia todas as coisas não
resolvidas na sua vida. Guia-me. Estou dentro.
Capítulo 7
A prova de Katie no dia seguinte tinha sido melhor do que ela esperava. Ela
deixou a sala de aula um pouco antes do meio-dia. Seu plano era “pular” o
almoço e dar uma passada no Ninho da Pomba antes do seu encontro com Julia e
Craig às 3 da tarde. Ela queria contar ao Rick pessoalmente que ela tinha
decidido aceitar o cargo.

Por alguma razão, no entanto, ela andou vagarosamente pelo campus,


conversando com as pessoas e checando sua caixa de correio e então parou de
falar com mais pessoas. O tempo voou, e ela acabou por não descer a montanha
até o Ninho da Pomba. Ela sabia que se quisesse pensar no significado por trás de
suas ações, ela poderia chegar a uma análise muito boa do porquê estava
evitando falar com Rick sobre o trabalho de AR. Mas ela não queria saber.

Se ela estava zangada com o fato de ainda não ser sua namorada oficial ou algo
mais relacionado aos sentimentos que contra os quais ela tinha lutado quando
estava diante da “Parede do Beijo”, Katie não queria saber. Ela não queria
pensar sobre essas coisas quando encontrasse com Craig e Julia.

Às 14:55 Katie entrou no Crown Hall e foi em direção ao escritório do diretor dos
residentes no terceiro andar. Julia e Craig já estavam lá.

Katie se sentou no sofá.

- Eu devia ter mencionado isso antes, mas eu tenho que trabalhar essa tarde. Eu
não sei quanto tempo esse encontro vai durar, mas se eu pudesse sair por volta
de 15:30 seria ótimo.

- Isso não será problema, Craig disse. Você trabalha no campus?

- Não, eu trabalho no centro, no Café Ninho da Pomba. O que remete a outra


pergunta que eu deveria ter feito mais cedo. Eu poderei trabalhar meio-período
no Ninho da Pomba ou o cargo de AR é em tempo integral?

- É tempo integral e um pouco mais, disse Craig. Nós tivemos alguns ARs nesses
anos que tentaram ficar algumas horas aqui e em outros empregos, mas isso
nunca funcionou pra eles. As horas que você precisa cumprir no dormitório
variam a cada semana, e isso dificulta o trabalho em outros lugares.

Katie concordou. Agora ela sabia que sua conversa com Rick mais tarde seria
ainda mais difícil. Ela esteve pensando que poderia prometer a ele que
continuaria a trabalhar algumas horas aqui e lá, dessa forma as coisas não
mudariam tão radicalmente no relacionamento deles. Mas esse não era o caso.
- Eu vou seguir em frente e começar nossa entrevista oficial agora com uma
oração, falou Craig. E então eu tenho uma pergunta pra você.

Katie teve dificuldade em prestar atenção na oração de Craig porque ela estava
envolvida demais no pensamento sobre qual seria a pergunta dele. Assim que ele
disse “amém”. Katie olhou pra cima.

- Nós perguntamos isso a todos os candidatos. Mesmo que tenhamos sido nós que
procuramos por você, Julia e eu pensamos que seria bom ouvir sua resposta.

- Ta bom.

- Por que você quer ser uma AR? Craig perguntou.

A resposta imediata de Katie foi:

- Eu tenho meu quarto e alimentação cobertos. Para sua surpresa, sua resposta
foi falada mais alta do que na sua cabeça. Ela apertou sua mão na boca e disse:
Eu realmente disse isso?

Julia concordou, e ela e Craig sorriram.

- Uma resposta honesta, Craig falou. Você não faz idéia do quão revigorante isso
é.

- Há uma outra razão, Katie falou rapidamente. Eu gosto de pessoas. Eu pensei


em me candidatar a AR quando eu estive pela primeira vez na Rancho, e meu
principal motivo é o mesmo de antes. Eu amo estar com as pessoas.

Julia sorriu como se Katie tivesse dito a coisa certa.

- Eu também gosto da idéia de que eu poderia fazer da vida do dormitório algo


mais divertido e talvez um pouco mais fácil para as calouras. Eu fico feliz quando
penso nisso.

- Que bom. Craig parecia satisfeito porque ele começou a fazer um breve resumo
do que o cargo de AR requeria.

Vinte minutos depois, ele deu a ela uma pasta com uma etiqueta escrita:
“Manual do AR.” Repentinamente tudo se tornou oficial.

- Você tem alguma pergunta? Craig perguntou. Eu sei que são muitas informações
de uma vez só.

- Acho que não. Seus números estão aqui caso eu precise te ligar, certo?
- Sim, e por que você também não deixa o número do seu celular conosco? Julia
disse.

Katie estava pronta para sair quando parou na porta.

- Eu tenho um pequeno pedido.

- Claro, Craig disse. O que é?

- Eu não contei a ninguém sobre minha decisão. Vocês poderiam não dizer isso a
ninguém até amanhã? Eu preciso contar a algumas pessoas antes que elas saibam
disso por terceiros.

- Totalmente compreensível. O que você acha de não dizermos nada até quinta-
feira? O nosso próximo encontro será às 19:00 na quinta. Nós anunciaremos sua
decisão para que todos ouçam ao mesmo tempo.

- Obrigada. Fico muito grata.

Katie sabia que deveria trabalhar no Ninho da Pomba na quinta-feira das 15:00 às
21:00, mas tudo estava prestes a mudar. Ela poderia pedir pra sair mais cedo.
Então ela percebeu que estaria dando sua notícia a Rick, estaria se demitindo.
Esse pensamento a levou a um novo nível de pavor.

Mudança é terrível. Eu, definitivamente, não gosto disso. Talvez Rick tenha
razão quando diz que as rotas são nossas amigas.

Katie caminhou um pouco mais rápido para seu carro, sabendo que quanto mais
breve conversasse com Rick melhor seria.

As densas nuvens pareciam diminuir a paisagem enquanto Katie deixava o campus


da Rancho Corona e dirigia um pouco rápido demais na descida da montanha.

A umidade fria do mar pairava no ar como de costume ao longo da costa durante


os dias de “Junho-melancólico” no fim da primavera. No interior, de onde Katie
era, o ar quente do deserto do Sul da Califórnia geralmente empurrava as nuvens
de volta para o mar. Hoje as forças do oceano estavam levando a melhor sobre os
ventos do deserto. Juntamente com o céu nublado um silêncio “macio” tomou
conta da tarde.

Katie se perguntava quais das forças que prevaleciam em sua vida iriam tomar o
controle assim que ela entrasse no trabalho e contasse a Rick sobre sua decisão.

Ela bateu seus polegares no volante de seu Volks, que ela carinhosamente
chamava de “Buguinho”. Não que seu rebaixado e bonitinho Volks trouxesse
alguma semelhança com os modelos esportivos e grosseiros vendidos pela
General Motors. Não, Katie chamava seu carro de Buguinho porque, apesar de
sua "idade", ele continuava a andar "macio" pela estrada. Katie amava ter um
desses carros únicos. Ela também amava o preço ridiculamente baixo que tinha
pago pelo Buguinho. Hoje, no entanto, ela foi lembrada que o Buguinho era mais
conveniente para dias de sol. Enquanto uma brisa úmida entrava por uma dúzia
de não-tão-bem-fechadas aberturas no carro, ela não estava sentindo o amor. Ela
apenas sentia o frio.

Uma parte de Katie sabia que ela estava focando seu desconforto no Buguinho e
no clima ao invés de focar no que realmente causara sua baixa na adrenalina. Ela
estava nervosa por ter que contar a Rick sobre sua decisão. Ela não queria que o
relacionamento deles mudasse.

Estacionando na sua vaga usual ao lado do café, Katie correu para a porta dos
fundos e se viu frente-a-frente com Rick.

- Ei, você está aqui! Que bom. Nós estamos muito ocupados. Jared adoeceu, e
um grupo de Beanies1 apareceu. Nós temos alguns pedidos de pizzas.

- Ok. Katie não tinha certeza do que Rick quis dizer com "Beanies". Rick, preciso
falar com você.

- Podemos fazer isso mais tarde? Nós estamos seriamente atrasados. Rick saiu
para a frente do café sem esperar por uma resposta.

Katie foi em busca de um limpo avental, envolveu seu cabelo em uma nada-
agradável redinha para cabelo e lavou suas mãos.

Carlos, o sub-gerente, estava sozinho na cozinha. Ele tinha seis massas de pizza
alinhadas prontas para serem cobertas.

- Aqui, Katie, Carlos disse Queijo apenas nessas duas. As próximas três são
Havaianas e por último uma de pepperoni com queijo extra.

- Entendi.

- Nós temos mais nove depois dessas.

- Você tá brincando. O que está acontecendo aqui? Uma convenção de Beanies?

- Beanies? Carlos perguntou.

- Sim, Rick disse que um grupo de Beanies apareceu.

Carlos gargalhou.
1
Literalmente, Beanies quer dizer feijõezinhos.
- Não é um grupo de Beanies. É um grupo de escoteiros: Brownies 1. Você sabe,
aquelas garotinhas com uniformes marrons e chapéus engraçados.

- Eles não são engraçados. Elas são as “top-bolotinhas”2. Pelo menos é como nós
as chamávamos quando eu era uma Brownie. Eu não sabia que as Brownies ainda
usavam uniformes.

- Katie, você esqueceu o queijo extra naquela.

- Desculpe-me.

- Você não deve ter tido a chance de ganhar um distintivo de "rapidinha" quando
você era uma Brownie, né?

- Por quê? Eu estou devagar demais pro seu gosto, Carlos?

- Todo mundo é devagar demais pra mim.

Katie captou um olhar rápido de Rick com o canto de seu olho e disse:

- Ninguém gosta de estar empacado na pista lenta quando eles pensam que
podem se manter na pista rápida. Mas sabe de uma coisa? Eu estou começando a
pensar diferente a respeito da pista lenta.

- Sobre o que você está falando? Carlos pensou.

- Nada. Eu só estava começando a sentir falta da minha rota favorita.

Carlos a ignorou. As três horas seguintes passaram num piscar de olhos. Katie mal
viu Rick, uma vez que ele estava trabalhando no caixa onde os fregueses vinham
para fazer seus pedidos. Ela nem notou quando ele foi aos fundos para sua rotina
de "fechamento" do dia. Ele tinha uma série de coisas pra checar quando era
hora de ir embora. Hoje, Katie notou que ele estava fazendo isso mais cedo que
o normal.

Ela decidiu parar um pouco e seguiu Rick ao escritório dos fundos.

- Você já está indo embora?

Ele balançou a cabeça afirmando e colocou suas iniciais em uma página presa a
uma prancha próxima ao freezer.

1
Marronzinhas
2
They're a little acorn tops
- Max está trancado no meu apartamento desde as onze dessa manhã. Eu já devia
ter ido há uma hora atrás. Eu apenas espero que eu não encontre um desastre.
Eu te ligo mais tarde, okay?

- Rick, eu preciso falar com você sobre o cargo de AR.

- Falar sobre o quê? Você aceitou o emprego, certo?

- Como você soube?

- Carley estava aqui há uma hora. Ela disse que alguém que ela conhece viu você
saindo do escritório dos DRs1 esta tarde com o manual de instrução.

A temperatura do rosto de Katie chegou a "ferver".

- Carley não tinha o direito de te contar Eu queria ter conversado com você sobre
isso. Isso realmente me tira do sério. Às vezes a Rancho é uma colméia de
abelhinhas zumbidoras zumbindo na vida alheia2.

Rick deu uma longa olhada nela.

Katie levantou sua sobrancelha.

- Eu coloquei muitos 'b's' nessa frase, né?

- Talvez um ou dois, honey, Rick disse.

- Bonitinho. Katie soltou um xingo.

- Relaxa, Rick disse com um tom de estabilidade autoritária na sua voz. Carley
não me contou nada que eu já não soubesse.

- O que você quer dizer?

- Eu sabia quando você falou sobre o cargo no sábado que você iria aceitá-lo. Os
números se encaixaram. É simples assim. Você tem seu quarto e alimentação
cobertos. Eu não posso fazer isso com horas suficientes ou sálarios aqui no Ninho
da Pomba.

- Eu pensei que você ficaria...

- O quê?

- Zangado. Ou decepcionado comigo ou algo assim.


1
Diretores dos residentes
2
is a beehive of a busyboodies buzzing into everbybody else's business
- Katie... Rick chegou mais perto e olhou-a fixamente com seus calorosos olhos
castanhos. Você está nas etapas finais de seu objetivo. Eu entendo isso. Você
tem que fazer tudo que precisa pra que possa se formar. Você sabe como foi
difícil pra mim lidar com os empréstimos estudantis depois que eu me formei.
Você, milagrosamente, arrumou um jeito de se ver bem longe das dívidas por
causa de bolsas estudantis e as longas horas que trabalhou. Você conseguiu isso
tudo sem ajuda alguma. Katie, isso é a realização da sua carreira. Se você
precisa ir para um emprego que te dá melhores condições financeiras, então é
isso que você tem que fazer.

Katie permaneceu calada por um momento, absorvendo as palavras deles.

- É isso? É esse o seu pensamento final sobre o assunto?

- Você precisa tomar sua própria decisão, e obviamente você já tomou. Ajudaria
se eu dissesse que entendo seus motivos e apóio sua decisão?

- Sim, ajudaria muito. Obrigada. Katie examinou o rosto de Rick, pra ter certeza
de que ela estava "lendo" honestidade na sua expressão. Isso significa muito pra
mim, Rick.

- Eu sei que sim.

- Você disse no sábado que nós não nos veríamos tanto se eu aceitasse o cargo de
AR, e isso é verdade. Eu não serei capaz de trabalhar aqui mais.

Os ombros de Rick caíram.

- Nem mesmo algumas horinhas na semana ou aos sábados?

- Não. Os horários variam muito toda semana, e é tempo integral. Além do mais,
tem minhas aulas no próximo semestre, não sei...

- Katie, está tudo bem. Relaxa. Eu vou contratar alguém pra cobrir suas horas, e
se der pra você voltar aqui em algum momento, nós podemos sempre encaixar
você no horário. Ele pegou suas chaves e foi pra porta dos fundos.

- Oh, Rick? Mais uma coisa. Eu preciso de folga na quinta.

- Fale com o Carlos e coloque seu pedido de mudança no horário na minha caixa.
Rick levantou o braço num gesto de despedida enquanto saía.

Respirando fundo, Katie pensou: Foi tudo bem. Eu acho. Uma coisa feita e outra
ainda por fazer.
Ela precisava contar a seus pais sobre sua decisão. Contar a eles seria muito mais
difícil, mas por diferentes razões.

Por causa daquelas razões desafiadoras, Katie só ligou para seus pais na quinta
depois do jantar. Era sua última oportunidade de contar a eles antes que sua
decisão fosse anunciada no encontro com todos os assistentes. Ela sabia que
precisava honrar seus pais deixando-os atualizados, mesmo sabendo que aos
vinte e um ela era independente deles e capaz de tomar suas próprias decisões,
legalmente e pessoalmente.

No seu caminho pelo campus até o Crown Hall, Katie fez a chamada. Sua mãe
atendeu. Colocando sua voz mais animada, Katie disse:

- Oi, mãe. É a Katie. Ter que anunciar sua identidade toda vez que ligasse a
matava.

A necessidade veio depois de muitos anos ligando e dizendo, "Oi, sou eu!" e toda
vez a resposta do outro lado era "Quem?".

- Como você está, mãe?

- Bem, a pia do banheiro quebrou semana passada. Nós tivemos que chamar um
encanador.

- Eu aposto que foi uma bagunça.

- Não, nem tanto. Eles têm máquinas, você sabe. Elas fazem um barulho terrível,
mas não fazem muita bagunça. Mas foi caro, no entanto.

- Isso é terrível, Katie falou.

- A pia está funcionando direito agora. Você soube que sua tia-avó Mabel morreu?

- Não. Katie parou. Eu sabia que tinha uma tia-avó Mabel?

- Claro que sabia. Mabel era irmã de Edith. Você sabe, cunhada do meu irmão,
Edith.

Katie tentou fazer todas as conexões na sua cabeça. Ela apenas conhecia alguns
parentes distantes através de fotos que vinham ocasionalmente em cartões de
Natal. Ela sabia que tinha alguns primos em Missouri. Ou talvez fosse em
Michigan.

- Eu sinto muito pela sua perda, mamãe.


- Não foi bem uma perda pra mim. Eu nunca encontrei com a mulher. Eu só
pensei que você se interessaria em ouvir as notícias da família, já que eu nunca
sei quando você vai ligar.

Katie percebeu a "alfinetada", mas se esquivou e continou falando.

- Bem, eu estou ligando agora porque tenho novidades.

- Você vai se casar?

- Não.

- Você já não está casada, está?

- Não, mamãe.

Uma pausa do outro lado da linha foi seguido com um:

- É melhor você não me falar que está grávida.

Katie apertou sua mandíbula e lutou para não desligar o telefone e nunca mais
ligar pra esse número novamente.

- Não, mãe, eu não estou grávida.

Katie estava passando por um trio de calouras que pararam sua conversa e
encararam Katie. Ela abaixou sua cabeça e desviou do seu caminho para
continuar com a conversa com um pouco mais de privacidade.

- Ouça, eu tenho que ir a uma reunião daqui a alguns minutos, mas eu queria te
contar minhas boas novidades. Eu tenho um novo trabalho no outono. Eu vou ser
uma AR. Uma Assistente dos Residentes. Eu vou trabalhar no dormitório onde eu
vou ficar no outono.

Uma pausa seguiu.

- Isso é tipo zelador?

- Não, se parece mais com um conselheiro. Eu vou inspecionar as meninas em


uma das áreas do dormitório.

- Tipo um síndico? É isso?

Katie desistiu.

- Tipo.
Sua mãe pausou. Katie sabia que algo nada a ver estava por vir e se preparou
para a 'pancada'.

- Agora, se a pia quebrar aí no dormitório, se você é a síndica, você não tem que
consertar ou pagar pra isso, tem?

- Não, mamãe.

- Eu sou estou perguntando porque a nossa pia quebrou semana passada. No


banheiro. Eu te contei?

- Sim, você me contou. Eu preciso ir agora. Eu só queria saber como estão as


coisas e te contar sobre o cargo de AR.

- O quê?

- O cargo de AR. Katie traduziu pra sua mãe de sessenta e três anos. O trabalho
de síndico nos dormitórios.

- Sim, você me contou sobre seu emprego no apartamento. Isso é tudo? É por isso
que você ligou?

- Sim, mais por isso. É isso. Eu tenho que ir agora...

- Katie, você olhou sobre fazer trabalhos de zeladora, no entanto, não olhou? O
salário de síndico não deve ser tão bom, mas você poderia trabalhar à noite, e os
horários seriam mais flexíveis, eu acho. Você considerou essa possibilidade?

Katie engoliu e trocou o celular de orelha. Ela pensou que era impossível que
seus orgãos doessem mais do que eles já doíam naquele momento. Nenhuma
palavra saiu da sua boca, o que era uma boa coisa.

Porque Katie não respondera a sugestão da mãe, ela disse:

- Alô? Katie? Você ainda está aí?

- Sim, ainda estou aqui.

- Eu pensei que você tivesse dito que tinha que ir à uma reunião.

- Eu tenho. Eu falo com você mais tarde. Tchau, mamãe.

Ela ouviu um click do outro lado da linha. Nenhum "Tchau, Katie" nenhum
"Obrigada por ligar" nenhum "Parabéns por seu emprego" e certamente não agora
e nem nunca um doce ou afável "Eu te amo", "Sinto sua falta", ou até mesmo um
"Estou orgulhosa de você".
Apenas um click e o insensível barulho do telefone.
Capítulo 8
Katie trancou sua mandíbula e lutou para conter as emoções que sentiu em
relação à conversa com sua mãe. A última coisa que ela queria era ir para sua
primeira reunião de AR com o rosto parecendo ter passado por um lava-jato.

Ela notou um banco de pedra na parte da frente do Crown Hall. Atrás do banco
estavam algumas buganvílias roxas que escalavam o muro e se estendiam até
formar uma espécie de cobertura protetora. Katie se voltou para o banco coberto
por aquele refúgio e se sentou de costas para o dormitório. Com muito esforço
ela convenceu sua respiração a voltar ao seu ritmo calmo e constante.

Nota a si mesma: Não ligue para sua mãe antes de algo importante. Melhor
ainda, não ligue para sua mãe em momento algum.

Katie sabia que sua mãe não fazia idéia da honra que era ser oferecido a esse
cargo. Infelizmente, essa era uma das muitas coisas que sua mãe nunca saberia
ou entenderia sobre a menina.

Katie tinha gastado muitos anos tentando explicar a desconexão emocional que
ela tinha com seus pais. Ela atribuía esse afastamento ao fato de ela ter sido um
bebê surpresa que apareceu quando seus pais já estavam nos quarenta. Seus dois
irmãos mais velhos eram adolescentes-problema, e então a tumultuosa bebê
Katie foi adicionada à mistura. Ela crescera por si só em muitas áreas.

Essa análise racional não tornava mais fácil aceitar o fato de que seus pais jamais
saberiam o quão duro Katie trabalhara para chegar até onde ela chegou na
faculdade. Se ela chegasse a se formar, ela seria a primeira pessoa de toda sua
família, até onde ela sabia, a se formar em uma faculdade. Essa realização por si
só já era uma razão pra ela continuar caminhando.

Katie sabia, entretanto, que seus amigos, mais que sua família, celebrariam com
ela verdadeiramente no dia de sua formatura. Cris, Ted, Douglas, Trícia, e
especialmente Rick eram os que compreendiam a tamanha realização que seria
pra ela o seu diploma superior.

Isto é, uma vez que ela decidisse qual carreira seguiria.

Um problema de cada vez. Eu já fiz a ligação pra minha mãe. Eu estou na


semana de provas finais e, agora, eu devo me concentrar na reunião de AR.

Ela caminhou em direção à reunião com o queixo levantado e foi recebida por um
grande número de boas-vindas vindo do grupo de outras sete ARs do Crown Hall.
Nicole cumprimentou Katie com um grande sorriso, abraçou-a e disse:

- Eles não me contaram quem seria minha nova companheira AR. Então você
entrou pela porta e eu fiquei muito feliz! Eu estou muito contente por ser você!

Nicole era uma pessoa que Katie tinha julgado mal à primeira vista. A aparência
de Nicole e seu cabelo preto que parecia sempre arrumado. Sua pele lisa, lindos
olhos redondinhos e seu grande sorriso a colocavam num cenário na categoria de
princesa na mente de Katie. Contudo, uma vez que Katie conheceu Nicole, ela
descobriu que ela era uma réles-mortal, de bom coração e ocasionalmente
hilária. Katie confiou que elas se dariam bem.

Na animação da calorosa recepção de Nicole, Katie entrou na reunião e se sentiu


em casa com suas novas companheiras. Elas gastaram algum tempo conversando
e tendo uma noção de quais seriam suas responsabilidades nesse outono.

Posteriormente Julia convidou as meninas para irem ao seu apartamento, mas


Katie era a única que não tinha nenhum plano para aquela noite. No princípio ela
se sentiu um pouco sem graça em aceitar o convite de Julia, mas no final ela
ficou feliz por ter aceitado.

O apartamento de Julia ficava no final do corredor no terceiro andar, do lado


oposto ao escritório dos DRs.

- O apartamento de Craig e sua esposa faz ligação com o escritório. Eu prefiro


que o meu seja aqui embaixo, Julia falou enquanto abria a porta. Normalmente
quando alguém vem ao meu apartamento é para uma ‘social’. Quando eles vão
ao escritório é mais para resolver problemas. Você gosta de chá, Katie?

- Sim, eu amo chá, e uau, onde você conseguiu todas essas coisas?

Com um gesto com as mãos mostrando toda sua coleção de arte espalhada pela
sala de estar, Julia disse:

- Por aí.

- Por aí onde? Pelo mundo?

- Sim, mais ou menos.

- Por onde você esteve?

- Eu estive em alguns cantos da criação. Eu gostaria de visitar mais alguns um


dia. Julia se direcionou à sua pequena cozinha e colocou um pouco de água na
chaleira e ligou na tomada. Katie começou com a primeira parede na sala de
estar e examinou a foto de uma praia rodeada por uma calma enseada. Coloridos
barcos pesqueiros se alinhavam na areia, e sombrinhas feitas com pedaços de
folhas balançavam com a brisa da tarde.

- Onde é esse canto da criação?

- Isso é Playa de lãs Canteras.

- Onde fica isso?

- Las Palmas nas Ilhas Canárias.

- E onde fica isso? Katie sorriu à sua anfitriã. Eu odeio mostrar minha ausência de
habilidades geográficas, mas...

- Tudo bem. Eu não posso dizer que sabia onde as Ilhas Canárias ficavam até ir
até lá. Elas são uma província da Espanha, e está à cerca de cinqüenta
quilômetros da costa da África Oeste.

- Eu jamais adivinharia. E essa foto? É você? Katie apontou para uma moldura no
fim da parede. Era uma paisagem do deserto com uma barraca bem colorida no
fundo, e uma mulher em primeiro plano com óculos escuros montada num
camelo.

- Sim, sou eu.

- No Deserto do Saara?

- Não. Eles têm camelos nas Ilhas Canárias. Esse foi um dia muito divertido.

Katie tinha visto partes da Europa no último verão quando, Ted, Cris e ela
viajaram juntos, mas ela jamais poderia imaginar um lugar no mundo onde você
pudesse caminhar por uma linda praia e montar camelos numa paisagem
desértica, tudo na mesma ilha.

- A fama das Ilhas Canárias vem do fato de que Cristóvão Colombo saiu de lá na
sua viagem rumo ao descobrimento do Novo Mundo. Julia disse apontando para a
grande figura dos barcos pesqueiros e da enseada. Algumas coisas na ilha
permanecem semelhantes a como elas eram quando ele estava lá equipando seus
navios para a jornada.”

- Okay, Katie falou. Eu estou oficialmente impressionada. Então, onde mais você
esteve?

- Eu morei na Áustria por um tempo. Depois Nova Zelândia e BRASIL.


- Que legal! Muito legal! Eu acho que estou com inveja da sua vida. Eu tenho uma
amiga que está indo para o Brasil.

- Você está falando sobre a Selena? Julia perguntou.

- Isso mesmo. Selena morava nesse dormitório. Claro que você conhece a Selena.

- Ela vai ficar com alguns dos meus amigos enquanto estiver no Brasil.

A chaleira apitou.

- Eu suponho que chá de ervas seja seu favorito, Julia disse. A menos que você
ainda esteja se recuperando do seu experimento com ervas.

Katie sorriu.

- Eu estava esperando que você tivesse esquecido essa pequena informação no


nosso primeiro encontro.

- Você gosta de mel ou açúcar no seu chá?

- Nenhum dos dois. Eu sou ‘purista’.

Julia deu à Katie uma caneca chinesa que era decorada com flores roxas e
amarelas.

- Eu comprei esse copo no aeroporto de Londres.

- Heathrow? Katie perguntou. Eles têm ótimas lojas lá, não têm? Eu queria ter
tido mais dinheiro quando estive lá pra comprar algumas lembrancinhas.

Julia acendeu uma vela no centro de um tronco de árvore1 que servia de mesa
para café.

- Eu amo conversar à luz de velas. Se o cheiro for forte demais pra você, me fale.

Katie bebeu um gole do chá.

- Isso é bom.

O ar em volta delas estava “entrelaçado” por uma calma fragrância de baunilha


e amêndoa. Julia se sentou no canto de sua poltrona do amor, deixando uma
aconchegante cadeira para Katie. Era o tipo de cadeira que praticamente
acenava da sala para as almas cansadas e se transformava num mundo

1
Trunk
- Conte-me sobre quando você esteve em Londres, Julia falou.

Pelas duas horas seguintes Katie e Julia compartilharam experiências de viagem


e até descobriram que as duas estiveram no mesmo albergue jovem em Amsterdã
em épocas diferentes e conheceram algumas pessoas em comum.

Bem depois de o chá ter acabado e a chama da vela ter diminuído, Katie
perguntou:

- E como você acabou aqui?

- Eu amo essa escola. Eu amo esse campus e essa comunidade. Eu me formei aqui
há 15 anos. Depois de muitos ministérios pelo mundo, eu acabei voltando para a
Rancho em um período de sofrimento. Eu vim para o campus para gastar tempo
orando na capela. A primeira pessoa que vi foi Craig. Ele me conhecia de muito
tempo atrás e me contou sobre a vaga. No momento que ele me contou, eu sabia
que era essa a próxima coisa a fazer. Julia sorriu. Essa é minha paixão. Isso me
faz feliz.

Katie se lembrou da conversa que tiveram no domingo à noite e disse:

- Caso você me pergunte qual é a minha paixão, eu devo te dizer que com as
provas finais e tudo mais e eu ainda não tive tempo de descobrir.

- Eu já sei qual é sua paixão. Você me contou no começo da semana.

- Contei? Quando?

- No nosso encontro com Craig na segunda. Você disse que amava pessoas.

Katie não tinha considerado “pessoas” como sua paixão, mas ela não discordava
de Julia.

- Agora eu tenho uma pergunta pra você, Katie falou. Qual foi seu ‘diploma’
quando você esteve na Rancho?

Julia sorriu.

- Em qual semestre?

- Você também? Katie perguntou. Se ela ainda não tinha sentido afinidade com
Julia, o fato de Julia mudar seu diploma mais de uma vez uniu Katie à sua
sardenta diretora dos residentes para sempre.

- É. Eu mudei três vezes antes de terminar me formando em Sociologia. Julia


esticou suas pernas e descansou seus pés na mesa do café. Em um momento da
minha vida, eu soube que eu gostava de seres humanos e eu queria fazer algo
que me mantivesse interagindo com as pessoas.

- Sociologia, Katie repetiu. Naquele momento isso soou pra ela como o título de
uma canção de amor. Uma canção que ela manteve murmurando por um longo
tempo, mas nunca soube a letra.

Poderia ser assim tão simples? Você me manda aqui pra ter essa conversa com
Julia, e eu decido minha carreira assim, desse jeito?

- Você acha que eu seria uma ‘imitona’ se eu decidisse por Sociologia? Katie
perguntou.

- Você sente que é isso?”

- Pode ser. Eu estou interessada em dar uma ‘conferida’. Eu sei que posso fazer
isso pela internet. Não vai ser muito difícil saber quais matérias eu posso
transferir. Eu vou olhar isso hoje à noite.

- Você encontra com seu conselheiro em breve?

- Na próxima semana.

- Conte-me como foi.

- Conto sim. Obrigada. Eu deveria ir andando. Obrigada pelo chá, pela conversa e
por tudo. Você é uma grande encorajadora.

- Mande-me um e-mail ou me ligue depois que você falar com seu conselheiro,
ok? Eu não estarei aqui praticamente o verão inteiro, mas eu estarei de volta na
última semana de julho. Eu adoraria gastar mais tempo com você antes da
semana de treinamento dos ARs.

- Sim, eu adoraria isso também. Katie parou diante da porta antes de sair. Ao
lado da porta estava uma bela placa emoldurada pendurada na altura dos olhos.
As palavras não faziam nenhum sentido pra ela.

He aha te meã nui?

He tangata! He tangata! He tangata!

- Que língua é essa? ela perguntou.

- Maori. Eu comprei isso na Nova Zelândia. É um antigo enigma do povo indígena.


A primeira linha é uma pergunta, ‘Qual é coisa mais importante?’ A segunda
linha é a resposta. ‘São pessoas! São pessoas! São pessoas!’
- Que legal. Eu amei isso. Eu não poderia concordar mais.

Katie deixou o apartamento de Julia flutuando.

- Agora é esse o tipo de mulher que eu quero me tornar, ela disse a si mesma.

A única hesitação que assombrava sua declaração era o fato de Julia ser solteira.
Katie não sabia se Julia já havia sido casada, ou se ela ainda não tinha tido
tempo de procurar ou ser procurada romanticamente enquanto andava pela
criação. Por muitos anos o foco secreto de Katie estava em encontrar um rapaz
para amar e para amá-la pelo que ela era. Ela ainda não contemplara o fato de
que podia investir as primeiras décadas de sua jovem vida adulta em outras
coisas. Julia tinha dado a Katie muito que pensar.

No domingo à noite Katie e Rick foram ao seu restaurante mexicano favorito para
jantar. Katie não parava de falar de Julia e da conversa delas no apartamento de
Julia. Rick ouviu durante todo o caminho e se manteve ouvindo até depois que se
sentaram.

Quando os chás gelados deles chegaram, Rick interrompeu Katie e disse que
queria oferecer um brinde.

- Esse é a você, Katie. Ele levantou seu copo de chá e sorriu pra ela. Esse é ao
fim das suas provas finais, por completar o primeiro ano, e pelo começo da...

- Se você disser escola de verão, eu vou ter que jogar esse chá gelado na sua
cara, Katie provocou.

- Eu ia dizer, pelo começo das FÉRIAS de verão e ao novo emprego no outono que
provê a você quarto, alimentação e uma nova amiga.

Os copos de plástico vermelhos fizeram um grande tim-tim assim que bateram


um no outro.

Uma coisa que Katie descobrira estando rodeada por Rick e sua família pelos
últimos 6 meses foi que eles eram ótimos com comemorações. Sair pra comer
normalmente inclua um momento onde eles paravam pra oferecer um brinde por
algo que eles eram gratos. Katie gostou da tradição e, pra constar, ela queria
continuar o feitio na sua vida.

- Oh, e eu tenho outra novidade pra comemorar, ela adicionou. Meu dilema de
carreira está resolvido.

- Você encontrou com seu conselheiro na sexta? Rick perguntou. Você disse no
trabalho que iria tentar marcar uma entrevista.
- Não, eu vou encontrá-lo na terça. Mas eu decidi trocar para sociologia. Eu
chequei todas as informações e isso faz muito sentido. E a parte boa é que a
maioria das minhas matérias será aproveitada.

- Katie - Rick falou levantando seu copo novamente para celebrar a decisão dela
- essas são ótimas novidades.

- Eu sei. Eu tenho uma carreira, Rick, não um dilema de carreira. Apenas uma
carreira. Você faz idéia do quão grande é esse alívio?

- Eu sei que isso te deixou pra baixo por muito tempo.

- Deixou mesmo.

- Isso é realmente uma boa notícia, Katie.”

- Eu sei. E eu vou te contar uma outra novidade. Assim como uma FY.I 1, eu vou
pedir um burrito chimichanga, Katie falou. O tamanho gordinho.

Rick sorriu e olhou pro seu cardápio balançando a cabeça.

- Que foi? Você está sorrindo assim porque é isso que você também ia pedir? Ou
você está sorrindo porque acha que não sou capaz de comer tudo isso?

- Eu estou sorrindo porque eu vou te deixar sozinha na sua tentativa. Eu não vou
nem tentar competir com você nessa.

- Você acha que eu não consigo comer isso tudo?

- Oh, não tenho dúvida alguma que você vai conseguir comer tudo isso. Mas eu
sei que vou ouvir você falar disso nos próximos dois dias. Você vai dizer: ‘Rick, eu
não acredito que você não me parou! ’ Então, pra constar, eu estou te falando
agora: Pare. Aqui. Agora peça o que você quiser. Esse é nosso jantar de
comemoração.

Katie pediu o tamanho gordinho do burrito chimichanga. E ela comeu tudo.

Então ela e Rick levaram Max pra dar um passeio em volta do complexo de
apartamentos de Rick. Eles praticamente tiveram que empurrar o enorme e velho
cachorro pela coleira. Max definitivamente não estava interessado em aprender
novas brincadeiras.

Katie teria optado por fazer algo mais divertido posteriormente, como ir ao
boliche ou ao cinema, mas ela desistiu. Sim, ela sabia a verdade: o burrito foi o
que a parou. Entretanto, sua desculpa para Rick fora que ela estava no fim de
1
Não sei o que é isso!!!
suas energias depois de uma semana lidando com provas finais. Ela disse a Rick
que tudo que ela queria fazer era cair na cama e tentar dormir, então Rick a
levou de volta para o vazio dormitório.

- A que horas suas aulas da escola de verão começam amanhã?

Katie “gemeu”.

- Nós temos mesmo que falar sobre escola de verão? Eu não posso pelo menos
adormecer tudo que resta do último semestre?

- Você não quer dizer o que resta do seu burrito?

Katie ignorou o comentário de Rick.

- Me ligue amanhã quando você levantar, ele disse. Então com um sorriso ele
adicionou: Isto é, se você sentir que pode alcançar o telefone até lá.

Katie estava apagada demais pra até mesmo dar a ele um sorriso irônico. Tudo
que ela queria era sua cama. E talvez alguns comprimidos antiácidos.
Capítulo 9
Enquanto Katie atravessava o campus rumo à sua aula de apreciação à arte as
onze na manhã de segunda-feira, ela ainda se sentia cheia por causa do burrito.

Nota a si mesma: Uma comemoração só é realmente uma comemoração quando


você continua feliz na manhã seguinte.

O telefone de Katie apitou, avisando que ela tinha perdido uma chamada. Ela
checou e viu que tinha perdido três chamadas. Duas de Rick naquela manhã, mas
ele não tinha deixado nenhuma mensagem.

É sempre assim. Ele iria perguntar como eu estava me sentindo, e teria sido
impossível mentir sobre meu estado de “satisfação”.

Katie então ouviu à mensagem deixada pela terceira pessoa e prestou bastante
atenção. Era Cris. Ela e Ted estavam de volta da lua-de-mel.

Katie esperou até o fim da aula e voltou para seu quarto para ligar pra Cris.

- Alô? É a Senhora Spencer? Katie brincou.

- De fato é, disse Cris. Como você está?

- Melhor.

- Você estava doente?

- Não, na verdade não. Mas eu fiz um voto de nunca mais comer um burrito que
seja do tamanho de um pequeno furão.

- Oh! Você foi á Casa de Pedro sem mim!

- Rick me levou lá ontem. Ei, você vai estar em casa pela próxima uma hora? Eu
poderia dar uma passada aí quando for pro trabalho.

- Claro, venha. Só estarei eu aqui. Ted não está em casa. Eu estou tentando
organizar nossos presentes de casamento. Nós abrimos todos eles na noite
passada e eu mal posso esperar pela confusão de caixas.

- Eu vou levar um facão pra ajudar a abrir caminho.

- Apenas traga sacos de lixo extra se você tiver alguns. Nós temos uma explosão
de papéis de presente. Oh, e eu comprei uma coisinha pra você do Hawaii.
- Você não tinha que ter comprado nada pra mim! Você estava na sua lua-de-
mel, você sabe.

Cris riu com doçura:

- Sim, eu sei. Mas você não viu o que compramos então você não tem que me
agradecer ainda.

- Eu espero que não seja uma daquelas saias de capim com um top feito de coco.

Cris ficou calada do outro lado. Katie pulou da cama e caminhou pelo quarto,
“dando ré” no seu comentário o mais rápido que pôde.

- Porque, você sabe, se é uma dessas saias de hula-hula , eu sempre quis uma,
mas eu tenho certeza que eles a têm aqui no Galpão da Economia e eu acho que
o preço seria muito melhor no Galpão da Economia que no Hawaii. E além do
mais, uma vez que sempre foi meu sonho ter um desses apetrechos de hula-hula,
bem, eu não sei se te contei, mas eu estava pensando em esperar e comprar um
quando eu mesma fosse ao Hawaii. Um dia. Dessa forma eu poderia comprar o
conjunto todo, sabe? Colar de flores de seda e o hibisco pra pôr atrás da orelha
e...

- Katie, você pode parar agora.

- Obrigada. Eu já estava ficando sem fôlego. Katie vistoriou seu armário em


busca de um par de sapatos mais confortáveis para o trabalho.

- Eu tenho que te contar a história sobre porque nós compramos a saia de hula-
hula.

- Vá em frente. Eu vou te colocar no viva-voz pra que eu possa me arrumar para


o trabalho.

- Ted e eu as vimos em Lahaina numa loja, e eu disse, ‘Sabe quem precisa de


uma dessas? ’ E Ted disse, ‘Katie,’ e então nós a compramos porque ambos
pensamos em você imediatamente. Nós pensamos que seria útil no próximo ano
para todos os seus eventos loucos de AR.

Katie parou com apenas um sapato e congelou no seu lugar.

- Como você soube sobre o cargo de AR?

- Douglas contou ao Ted.

- E como Douglas soube?


- Pelo Rick, eu acho.

- Isso me mata. Katie pegou seu pé para calçar no outro sapato sem amarrá-lo
completamente. Eu queria que isso fosse uma grande surpresa quando eu te
contasse.

- Assim como eu achei que a saia de hula -hula seria uma grande surpresa pra
você.

- Ah, bem.

- Sim, ah, bem. Katie, eu acho que nossas vidas estão simplesmente muito bem
ligadas para deixarmos espaço para muitas surpresas.

- E esperamos que continue sempre assim. Eu senti muito a sua falta, Cris. Você
tem que saber que foi um grande desafio pra mim tomar a decisão do cargo de
AR sem ter você aqui pra discutir cada ângulo e opção.

- Você poderia ter me ligado, você sabe.

- Você estava na sua lua-de-mel, lembra?

- Sim, eu lembro. Cris riu de novo com a mesma doçura. Oh, Katie, foi tudo
tão...

- Espera! Katie a interrompeu e pegou o celular. Tirando-o do viva-voz, ela disse.


Eu acho que a direção que está conversa está tomando é importante demais para
que a deixemos no telefone. Vejo você em alguns minutos.

Katie deu uma olhada no relógio em cima da mesa. Se ela saísse agora, ela teria
cerca de quarenta minutos com Cris até a hora de ir para trabalho.

Apertando o passo, Katie correu para o Buguinho. A primeira coisa que ela viu foi
um pedaço de papel amarelo debaixo de seu limpador de pára-brisa.

- Não! Nem me fale! Ela pulou do carro e pegou o papel.

- Não! Ela gritou ao ar. Fala sério, gente! É só o primeiro dia da escola de verão.
Dê-me uma chance de ao menos conseguir meus serviços do estudante e comprar
meu estúpido ticket do estacionamento antes que vocês me multem com $25!

Continuando seu discurso, ela deu partida no Buguinho e deu ao acelerador um


extra “vrum”. Bem à frente da estreita rua do campus ela avistou um segurança
em um dos carrinhos de golfe da universidade.
- Não tão rápido, colega. Katie apertou a buzina, e o garoto encostou o carro. Ele
pulou do carro de golfe como se estivesse pronto para reagir a uma emergência.
Ele avistou Katie saindo do Buguinho furiosa, e sua expressão aliviou.

Era o “Cara do Cavanhaque” da festa de casamento. Ele claramente reconheceu


Katie e aparentou estar feliz em vê-la.

Para Katie, o sentimento não era recíproco.

Balançando o papelzinho amarelo no ar, ela disse:

- Um pouco de misericórdia aqui, se você não se importa. É apenas o primeiro dia


de aula.

- Essa “Coisa” é sua? Ele continuava a sorrir.

- Sim, esse é o meu clássico vintage, uma Coisa Volkswagen 1978, e sim, ela é
uma gracinha. Agora, essa multa. Você não acha que isso é um pouco precoce? O
dia mal está na metade. Se hoje é o prazo final, o que eu acho que não seja,
então eu ainda tenho metade do dia pra renovar meu ticket de estacionamento.

- O prazo era até hoje meio-dia. Mas claro, vá em frente. Cancele a multa no
Serviço aos Estudantes.

O vigor de Katie despencou.

- Ok. Então você está dizendo que eles vão cancelar minha multa se eu for até lá
agora?

- Não posso afirmar com certeza, mas você pode tentar.

- Que tal se eu pagar pelo meu ticket amanhã de manhã? A primeira coisa. Assim
que eles abrirem o escritório. Eu estarei lá com o dinheiro na minha mãozinha
quente.

O Cara do cavanhaque inclinou sua cabeça e ouvia como se tudo que Katie
falasse fosse importante.

- Você pode tentar pagar amanhã se quiser, mas seria melhor fazer isso hoje. Eu
fui instruído a multar todos os veículos dos alunos não registrados depois do meio
dia.

- Deixa eu adivinhar. Katie bateu seus dois punhos nos quadris e deu a ele uma
piscada exasperada. Hoje é seu primeiro dia de trabalho.

A desconfiada expressão no rosto dele deu a resposta.


- Vamos lá, só mais um dia. É tudo que estou pedindo.

Ele pareceu não se comover.

- Não sou eu quem toma essas decisões.

Katie bufou. Ela queria fazer uma espécie de barulho “melindroso”, mas um
“bufado” desagradável foi o que acabou saindo.

- Legal, ela declarou, tentando resgatar alguma dignidade. Esse é seu trabalho,
certo? E você tem que fazer seu trabalho não importa qual seja o rank no Sr.
Competição Congenialidade, certo?

- O Sr. o quê?

- Sr. Congenialidade, ela repetiu à medida que um motorista atrás do Buguinho


buzinava. Katie se virou para ver que ela tinha deixado a porta aberta, tornando
impossível para o veículo passar por ela.

- Isso quer dizer... ah, deixa pra lá. Katie pulou no carro e dirigiu rumo ao
escritório de Serviço aos Estudantes. Ela olhou no seu retrovisor mais uma vez e
viu que o Cara do cavanhaque continuava encarando-a, assistindo-a ir embora.

- Tire uma foto. Isso ta durando muito, colega.

Katie apertou o número dois do seu celular, discagem rápida para Cris. A reunião
delas teria que esperar até depois do trabalho. Ela não estava feliz por causa
disso. Também não estava feliz com relação à ida ao Serviço dos Estudantes.

Subindo rapidamente a montanha deixando o campus meia hora mais tarde Katie
pensou: Eu sou uma grande fraude! Aqui eu faço todas aquelas nobres
declarações sobre como eu amo as pessoas, quero trabalhar com pessoas, e
estudar como resolver problemas na humanidade, e então eu faço aquela cena
com um cara que eu nem conheço. Qual é meu problema?

Então, porque ela não tinha uma resposta para sua pergunta, Katie colocou uma
música no rádio do carro e estacionou na sua vaga no Ninho da Pomba quinze
minutos atrasada. Ela entrou pela porta dos fundos. Rick a olhou com se fosse
dizer alguma coisa. A expressão dele não era boa.

Antes que ele pudesse falar, Katie começou a falar.

- Eu sei, eu sei, não diga nada. Eu tenho uma razão legítima para estar atrasada.
Muitas razões legítimas, na verdade, começando com uma multa de
estacionamento que ainda me faz querer gritar.
Rick olhou surpreso. Ele parou antes de dizer:

- Eu tenho certeza que todas as suas razões são legítimas, Katie. Elas sempre
são.

- Sempre? Ela ecoou. Sua impaciente rispidez “subiu”. Ela estava pronta pra
começar uma briga bem ali, agora. Sempre, Rick? Você disse sempre?

A mandíbula de Rick se prendeu.

- Katie... Ele olhou sobre a cabeça dela. Ela estava atenta ao fato de que algum
outro empregado tinha vindo e ouvia o que eles estavam conversando. Ela sabia o
quão inflexível Rick era sobre manter as conversas no trabalho limitadas a
assuntos de negócio e guardar todas as discussões pessoais pra mais tarde.

Naquele momento Katie poderia parar de culpar o burrito por sua irritação. Ela
nem precisava checar o calendário para ver o porquê de suas emoções estarem
tão à flor-da-pele.

Consciente de que esse outro empregado ainda estava atrás deles esperando pela
atenção de Rick, Katie “deu ré” mais uma vez naquele dia. Sem chance de que
ela iria gastar todo seu expediente com uma tensão mal resolvida com Rick.

- Ei, apague esses comentários, ok? Eu estou um pouquinho impaciente hoje. Ta


bom, não é só um pouquinho. Bastante. Eu estou muito impaciente. Eu não devia
ter falado assim.

Impulsivamente ela colocou seus braços em volta do tronco de Rick, pressionou


sua bochecha no peito dele e deu-lhe um abraço.

- Desculpa.

O olhar de desprezo, espanto e nada feliz de Rick contou à Katie que ela tinha
feito uma péssima escolha. De novo. Katie não entendia porque um pequeno
abraço poderia ser algo tão importante. Todo mundo que trabalhava lá sabia que
eles eram praticamente um casal. Por que ela não poderia lhe dar um abraço
rápido? Suas ações chocariam Carlos? Certamente não.

Rick olhou por cima da cabeça de Katie novamente para o empregado que
esperava.

- Você precisava de alguma coisa?

Katie se virou para ver não Carlos, mas Carley. Carley vestindo um avental do
Ninho da Pomba.
- Desculpem-me por atrapalhar vocês. A voz doce de Carley voou até eles como
uma libélula. Carlos queria que eu te falasse, Rick, que as formigas estão na pia
novamente.

Rick se ergueu. Ele passou por Katie e Carley, com um olhar de quem está pronto
pra derrubar um muro.

Katie encarou a nova funcionária.

- E então Carley, quando você começou a trabalhar aqui?

- Hoje. O Rick foi muito legal comigo quando eu vim aqui e me candidatei na
semana passada. Isso é tão perfeito. Se eu não conseguisse esse emprego eu teria
que voltar pro Texas no verão, e eu realmente não queria que isso acontecesse.
Rick é o melhor, não é?

- Sim, eu sempre achei isso.

- Sempre, Carley repetiu com um sorriso calculado. Você disse ‘sempre’ de novo.
Essa é a sua palavra hoje. Ela se virou e saiu.

Agora Katie queria socar alguma coisa. Ela se refugiou no banheiro e tentou o
truque do papel-higiênico-frio-atrás-do pescoço. Isso a acalmou um pouco.
Voltando à sua obrigação, ela vestiu um limpo avental e gastou o resto do seu
expediente tentando manter a boca fechada. Mais importante, ela tentou ainda
mais manter sua mente “calada”. Ela não precisa dar nenhum espaço aos
sentimentos dolorosos que a aparição de Carley tinha acendido. O que ela
precisava fazer era se acalmar.

Ela tinha “apelado” com a escolha de Rick pela palavra “sempre” por causa de
uma grande discussão que eles tiveram meses atrás. Katie provocou a briga. Das
grandes. Para sua surpresa, Rick estava pronto para o desafio. A explosão verbal
dele encontrou a dela. De muitas maneiras aquela discussão foi como “romper
com as linhas inimigas” deles. Eles viram que ambos podiam chegar ao ponto
mais baixo, ofender um ao outro e ainda assim voltar atrás e querer que o
relacionamento deles continuasse.

Katie nem lembrava mais o porquê daquela discussão. Mas ela lembrava que
posteriormente a ela, eles tinham concordado em não lançar hipóteses um no
outro ou colocar palavras como “sempre” ou “nunca” no meio de suas
discordâncias. O fato de Carley ter jogado aquela palavra de volta pra Katie era
demais pra engolir.

Rick tem que ter admitido Carley por uma boa razão. Katie precisava confiar nele
e acreditar que sua lógica era racional e sólida.
Esse é o real problema, não é? Você se mantém esperando por uma boa razão
para não confiar em Rick e em suas decisões. Katie expeliu aquele pensamento o
mais rápido que pôde.

Seus pensamentos, assim como suas emoções, estavam muito confusos.

Enquanto a tarde continuava, Rick estava ocupado demais lidando com o


problema das formigas para prestar atenção em Katie enquanto ela e Carlos
preparavam sanduíches, pizzas e um monte de kits de salada-e-sanduíche.

Ela assistia Rick pelos fundos do cômodo e decidiu que raiva não era bem o olhar
dele. Ela não conseguia lembrar-se de ter visto seu rosto tão “firme”. Suas
escuras sobrancelhas pareciam estar inclinadas permanentemente para dentro
como se estivessem prontas para escorregar e iam em direção a uma colisão com
a ponta de seu nariz. A pior parte era que ele não iria estabelecer contato visual
com ninguém.

Pelo menos não sou só eu. Eu não sou a única a quem ele está excluindo.

Rick tinha um monte de razões relacionadas ao trabalho para se estressar. Mas


Katie estar atrasada e agir rispidamente com ele não deveriam ser suficientes
para mandá-la a um lugar tão longe quanto Grumpsville1

Se ele está escolhendo ficar bravo assim a noite toda só porque eu estava
atrasada e o abracei quando eu não deveria ter abraçado, então talvez eu e ele
tenhamos alguns outros problemas que precisamos resolver.

Deu nove da noite e o horário de Katie terminou. Ao invés de ir embora, ela fez
uma horinha, esperando por uma chance de falar com Rick. Ele estava no
telefone, ela poderia dizer que ele estava falando com seu irmão ou pai.

Rick disse:

- Espere um segundo. Largando o telefone, e olhou para Katie e disse com sua
insensível voz de gerente: Você precisa de alguma coisa?

- Sim, eu acho que nós devemos conversar.

- Ta bom, eu te ligo mais tarde.

Ela concordou, mas não adicionou palavra alguma ao final dessa conversa. O que
ela decidiu ser uma boa coisa. Sua boca não estava confiável hoje. Melhor deixar
esse dia como estava sem mais novos defeitos.

1
Cidade da irritação, ou algo do tipo, ou nada a ver! Hehe.
Depois de caminhar rumo ao Buguinho, Katie manteve sua janela aberta para
liberar suas confusas emoções enquanto dirigia para o apartamento de Cris e
Ted. Ela e Rick tinham uma longa história de novos começos. Amanhã poderia ser
mais um desses pra eles. Uma “manhã de misericórdia” ela as tinha nomeado
poucos meses atrás.

Sua teoria era que se Deus poderia misericordiosamente começar de novo


conosco todas as manhãs, por que nós não poderíamos começar de novo com os
outros ou conosco mesmos também?

Notavelmente calma assim que ela chegou ao complexo de apartamentos, Katie


certificou-se de que tinha estacionado na seção dos visitantes atrás dos
apartamentos a fim de não convidar outra multa no fim daquele longo dia.

O apartamento de Rick ficava no mesmo complexo, mas ela sabia que não estaria
em casa antes das dez. Talvez eles pudessem conversar ao invés de esperar até
amanhã. Katie odiava esperar. Eles poderiam “liberar” tudo hoje à noite e os
pedaços voltariam ao lugar. O relacionamento e a comunicação deles voltariam
aos trilhos.

Descendo a calçada de cimento que passava pelo apartamento de Rick, Katie


pensou em como ela e Rick tinha caminhando naquela trilha no dia anterior, com
Max atrás deles. O tempo que tiveram juntos no domingo foi ótimo. Por que hoje
foi tão terrível?

Apesar de todos os seus pensamentos positivos sobre “misericórdia” e


“recomeço”, Katie sentiu a impaciência voltando enquanto estava parada na
porta de Cris e respirou fundo. Ela falou para todos os seus sentimentos agitados
para se acalmarem enquanto tocava a campainha.

Ninguém respondeu.

Ela tocou a campainha novamente. Quando parecia que não apareceria ninguém,
Katie ficou ali, mordendo seu lábio inferior, se perguntando se deveria ligar ou ir
embora. Ela olhou pra baixo e notou que as margaridas que ela e Cris tinham
colocado lá há duas semanas continuavam vivas apesar de ninguém ter estado em
casa para regar as pequenas sorridentes nos últimos oito dias.

Katie fez sua última tentativa de entrar; dessa vez ela bateu na porta com o
punho.
Capítulo 10
A voz de Cris respondeu do outro lado da porta fechada.

- Quem é?

- É o grande lobo mau, Katie brincou. Abra a porta ou eu vou...

A porta se abriu, e Cris disse:

- Você me assustou.

- Eu tenho feito isso com todo mundo hoje. Desculpa.

- "Não, é só porque eu não estou acostumada com esse apartamento ainda, e sua
batida realmente ecoou.

- Eu toquei a campainha algumas vezes.

- Essa é uma das muitas coisas que nós descobrimos que não funciona. Eu
comecei a fazer uma lista para o proprietário. Entre!

Katie entrou e deu um abraço de oi em Cris, mas seus olhos estavam mesmo era
na abundância de caixas por todo o chão.

- Você não estava brincando quando disse sobre a confusão de presentes. Cara,
eu acho que isso compensa ter uma grande cerimônia de casamento. Olhe pra
todas essas coisas!

A última vez que Katie esteve no apartamento, ela e Cris tinham tentado
encontrar um jeito de fazer o espaço parecer mais acolhedor com as mais
escassas das escassas coisas que Cris e Ted possuíam no mundo todo. Naquele
momento tudo que Cris e Ted possuíam era uma prateleira para livros, uma
cama, e uma "poltrona" ultra-estilosa que Ted tinha feito. Ele fez essa arte com
seu original banco da parte traseira de sua agora defunta Kombi1 e sua amada
prancha de surfe alaranjada, Naranja. Quando Ted deu a Cris essa "jóia" antes de
eles se casarem, ela tinha tentando encontrar um lugar para colocá-la no quarto
do dormitório. Ela e Katie a chamavam de "Narankombi"2 por causa dos dois
componentes da obra de arte. A cadeira era legal, mas era impossível achar um
jeito confortável de sentar nela.

1
Gus
2
Narangus
Narankombi ainda estava na sua posição inicial encostada na parede da sala de
estar, mas agora ela estava cercada por abajures de chão (desses que têm um
grande mastro e a lâmpada em cima) com as etiquetas de preço penduradas.
Sentada na Narankombi estava um dos muitos presentes que continuavam em
caixas.

- Isso é uma sorveteira? Katie perguntou.

- Sim, é. Nós ganhamos duas dessas. E quatro liquidificadores e dois fazedores de


waffle. Nós registramos, mas acho que o sistema caiu por um dia ou algo do tipo
porque minha mãe disse que as listas não foram atualizadas para mostrar às
pessoas o que já tinha sido comprado.

- Você pode facilmente trocar essas coisas, não pode?

Cris balançou a cabeça concordando.

- Primeiro eu estou tentando fazer uma relação do que nós temos e do que ainda
precisamos.

- Parece que você estava falando sério sobre precisar de sacos de lixo para os
papéis de presente. Katie passou sobre uma pilha de papéis de presente dobrados
que foram até seus joelhos. Ou você vai guardar esse para o papel de parede do
seu quarto?

- Nós temos o suficiente para forrar o apartamento inteiro, Cris disse. Mas os
papéis precisam 'ir'.

Cris procurou no meio de uma pilha de sacolas plásticas e deu uma delas à Katie.

- Eu iria embrulhar pra você com esse tanto de opções de papel de presente, mas
você já sabe o que é.

Katie abriu a sacola e tirou a comemorativa saia de capim e o top de coco. O


conjunto veio até com um hibisco de plástico alaranjado.

- Agora isto é um clássico, Katie disse. Acho que isso não poderia ser mais
conveniente. Eu amei!

- Experimente.

- Agora?

- Você e eu somos as únicas pessoas aqui. Coloque por cima da sua roupa.

Katie se atrapalhou para desembolar os nós e ajustar o top de coco.


- Por favor não me diga que alguém no Hawaii veste esse tipo de coisa.

- As dançarinas de hula vestem uma versão mais sofisticada nos luaus, Cris falou.

- Com o top de coco e tudo mais?

Cris concordou.

- Se você tem o mesmo "tamanho" dos cocos, isso fica mais recatado que o top de
um biquíni.

- Eu não acho que eu tenha o tamanho certo dos cocos, Katie disse. E esse
comentário não sai daqui, a propósito.

Cris riu.

Katie se virou para revelar um grande "buraco" atrás onde a saia não fazia a volta
completa em na sua cintura.

- To sentindo uma pequena brisa aqui atrás. Isso é aquela camisola de hospital
havaiana ou algo do tipo?

Cris pegou o embrulho.

- Ah, não! Katie, eu sinto muito!

- O quê?

- Este é o tamanho infantil. Eu me sinto uma idiota. Eu pensei que Ted tinha
pegado o tamanho adulto.

- Você deixou o Ted comprar isso sozinho?

- Eu estava na fila comprando mantimentos.

- Sim, isso explica bastante. Aqui vai minha sugestão: Não deixe o Ted comprar
nenhuma roupa pra você daqui pra frente.

- Eu me sinto uma idiota!

- Eu não. Isso é hilário, Katie disse. Além do mais, a flor é definitivamente


tamanho único. Ela pegou o hibisco de plástico e colocou atrás da orelha. Quando
ela fez isso, o estame artificial caiu e fez um três giros no seu caminho para o
chão.
Katie e Cris juntas olharam para aquilo que se parecia com uma lagarta de
plástico. Elas se viraram uma para a outra e explodiram em gargalhadas.

- É a intenção que conta, Katie falou. O fato de que você e Ted pensaram em
mim é que torna esse presente especial.

- Você está sendo muito bondosa, disse Cris.

- Sim, eu sou. E agora para demonstrar minha bondade, eu vou fazer uma
performance para você e só para você de uma dança muito especial, raramente
vista em algum lugar desse lado das ilhas."Katie balançou os quadris, bateu as
mãos1 e balançou a cabeça enquanto resmungava algumas seqüências de notas
que pareciam não ficar muito bem juntas.

Cris riu tanto que teve que se sentar.

Katie terminou se curvando até os pés e olhou para sua melhor amiga. Cris
enxugou as lágrimas de tanto rir dos seus olhos.

- Essa teve que ser a pior hula de todos os tempos, Cris falou.

- Você é má.

- Não, não sou. Eu estou sendo honesta. E aqui está. Eu realmente tentei, Katie.
Eu tentei encontrar algo divertido pra trazer pra você. Depois dessa
demonstração, eu diria que eu consegui.

- Consegui. Conseguiu estupendamente. Obrigada. Ou eu digo 'aloha'?

Katie tentou repetir mahalo e Cris sorriu.

Foi então que Katie notou o que Cris estava vestindo. Ela vestia shorts e um dos
"símbolos" de Ted: camiseta com capuz, azul marinho, com as mangas
arregaçadas. Sua pele carregava o brilho dourado de alguém que tinha gastado
uma semana nos trópicos. Seu longo cabelo, cor de noz-moscada estava preso
com um grampo com as pontas fazendo seu próprio "estilo" numa feliz imitação
da dança das folhas de uma palmeira na brisa.

Os cantos da boca de Katie se "enrolaram" num pensativo sorriso.

- Que foi?

- Você está casada, Cris.

A brilhante pele de Cris ficou mais brilhante ainda.


1
swished her hands
- Eu sei.

- Então, Senhora Spencer?

- Então?

- Então, conte-me tudo.

Cris vislumbrou. Seus olhos azul-esverdeados se encheram de doçura.

- Estar casada é maravilhoso.

- E...

Um acanhado e conhecido sorriso foi a única resposta que Katie recebeu. A


mulher tinha alguns segredos, ela os estava mantendo seguros e mergulhados
num cantinho do seu coração.

Afundando-se num lugar vazio da Narankombi ao lado da sorveteira, Katie


arrumou a saia de capim que ela ainda estava vestindo e encostou na poltrona.

- Eu não estou perguntando pelos... você sabe... detalhes íntimos. Eu só quero


saber, da sua boca de mulher casada para os ouvidos virgens, como é do outro
lado? Diga-me que a parte da pureza não é um engano. Eu preciso saber que o
que eu estou guardando para meu futuro marido vale a espera.

- Oh, a espera é válida sim, se vale. Definitivamente. O brilho corado de Cris


estava agora animado com uma expressão com olhos arregalados maravilhados e
satisfeitos. Isso vale muuuito a pena esperar, Katie. Confie-me em mim.

Katie nunca tinha visto sua amiga tão vibrante. Vibrante, porém tranqüila. Se a
recompensa pela inocência tinha uma expressão, Katie estava olhando pra ela.

- Você parece muito feliz, Cris.

- Eu estou delirantemente feliz. Cris arredou a sorveteira e sentou-se do outro


lado da Narankombi.

A expressão de Cris era suficiente para fazer Katie acreditar em suas próprias
decisões de abstinência novamente. Katie não era totalmente inexperiente
quando o assunto era garotos, mas ela mudara os passos que estava dando
quando terminou com Michael no colégio. Olhando para sua amiga agora, Katie
sentiu toda sua esperança renovada de que ela iria retornar um dia de sua lua-
de-mel e estaria tão radiante quanto Cris.
- Sabe todos aqueles milhares e milhares de beijos que você tem guardado,
Katie? Bem, continue guardando esse beijos. Você vai ficar muito feliz por ter
feito isso. Porque lá estará você, do outro lado da espera, e você será uma
mulher casada, livre para abrir o banco e... bem... A expressão de Cris mudou.
Ela agora tinha a aparência de uma mulher que vestia o véu da confidência.

- Bem? Katie incitou. Termine a frase.

Cris pensou por um momento.

- Sabe de uma coisa? Eu acho que vou deixar você terminar a frase por si só. Na
sua lua-de-mel.

Elas ficaram em silêncio olhando uma para a outra, piscando, olhando fixamente
e sem dizer coisa alguma.

Um risinho escapou de algum lugar bem dentro de Cris.

- Que foi?

- Eu só estava pensando em algo que uma mulher em Lahaina me disse quando


Ted e eu compramos nossa colcha. Venha cá, você tem que ver nossa nova
colcha. É uma colcha havaiana feita à mão. Nós usamos parte do nosso dinheiro
do casamento1 para comprá-la. O desenho-tema é o fruto-pão2.

Katie seguiu Cris pela bagunça de presentes ainda em caixa no quarto. Sobre a
cama estava uma linda colcha em tons de turquesa, marrom e creme. A conexão
entre folha e bulbo não faziam nenhum sentido para Katie, mas ela também não
fazia a menor idéia do que era um fruto-pão.

- Isso é o que a mulher me disse. Cris procurou por um pedaço de papel em cima
da cômoda e leu para Katie lentamente, 'Nana no a ka 'ulu paki kepau.'

- Fácil para você dizer isso, Katie ironizou.

Cris sorriu.

- Significa 'Procure pelo fruto-pão pastoso'.

Katie soltou uma gargalhada.

- Eu acho que entendi melhor em havaiano! Essa sábia vendedora de colchas de


fruto-pão explicou o que ela queria dizer?

1
Que eles ganharam de presente
2
breadfruit
- Sim, claro. Frutos-pão crescem em árvores no Hawaii do mesmo modo que
pêssegos crescem em árvores. Apenas o fruto-pão pode ficar tão grande quanto
uma uva, ou tão grande quanto uma bola de basquete. Os havaianos contam que
podem dizer que o fruto-pão está maduro e pronto para ser colhido quando ele
estiver 'pastoso'.

- Pastoso - Katie repetiu. Como uma bala de goma?1

Cris gargalhou.

- É exatamente o que eu disse para a mulher na loja de colchas quando ela


estava nos explicando. Ela disse que as anciãs havaianas diriam para as moças
para procurar pelo homem que estiver 'pastoso', significando que ele está maduro
e pronto pra ser pego. Foi então que eu me virei para Ted e disse a ele que ele
era meu urso pastoso e que eu estava feliz por tê-lo pego.

Katie cobriu o rosto com as mãos.

- Eu sei, Cris disse. Foi isso que Ted fez também. Mas pense sobre isso, Katie. É
verdade. O amor amadurece. Ele realmente amadurece. E estando maduro, é
como sabemos que é tempo de colhê-lo. Não antes de ele estar maduro.

- É isso que a mulher da loja te disse?

- Não, isso é só o que eu penso. A mulher na loja achava que nós éramos um belo
casal e que estávamos cercados de aloha.

- E ela obviamente pensou que vocês eram lindos suficientes para comprar a
colcha dela. Katie brincou. E a essência do aloha era suficiente para levar pra
casa o provérbio secreto do fruto-pão pastoso.

Elas riram juntas e Cris perguntou:

- Você quer beber algo?

- Claro.

Katie não conseguia deixa de aplicar o "folclore" havaiano de Cris aos seus
sentimentos instáveis com relação a Rick. Se o que eles sentiam um pelo outro
era amor, Katie sabia que ele ainda não estava maduro. Ainda que ela odiasse
admitir isso, a melhor coisa que eles poderiam fazer era continuarem juntos
como um casal de frutos-pão ainda não pastosos em uma árvore.

Katie considerou a possibilidade de dizer essas coisas à Cris, mas sua amiga
estava tão flutuante que Katie resolveu deixar as angústias do seu
1
Gummy bear
relacionamento pra lá e apenas desfrutar do frescor do amor jovem e maduro de
Cris.

- Nós temos suco e água mineral, Cris disse enquanto elas caminhavam pelo
labirinto da sala de estar rumo à pequena cozinha.

- Tenho uma pergunta, Katie disse. Onde você vai colocar todos esses
maravilhosos novos utensílios?

- Não sei. Nós não pensamos nisso quando nós registramos todas essas coisas.
Quando você não tem nada, a oportunidade de receber muitas coisas novas é
atraente. Então quando você tem todas essa coisas e não tem lugar para colocá-
las, a atração diminui. É por isso que estou fazendo uma lista de tudo e tentando
decidir o que nós realmente precisamos. Agora, o que nós mais precisamos é o
dinheiro do aluguel. Nossa próxima dívida será em doze dias e nenhum de nós vai
receber pagamento nas próximas duas semanas.

- Você está desfazendo minha impressão de como é linda a vida de casada.

Cris olhou para Katie por cima da porta aberta da geladeira.

- Oh, ainda continua lindo. Só é caro. Você disse água ou suco de laranja?

- Eu quero S.L. Então Katie percebeu que água era mais barato que suco de
laranja, e na tentativa de ajudar a conservar os recursos dos amigos: Não, eu
quero água.

- Gelo?

- Não, assim está bom. Obrigada.

- Então, conte-me sobre o emprego de AR e como tudo aconteceu.

Elas se sentaram em duas cadeiras que ficavam em volta da mesa redonda da


cozinha. Katie ainda estava vestindo sua saia de hula e fez uma cômica tentativa
de arrumar a parte aberta para o lado para que ela pudesse cruzar as pernas.

- Você sabe que pode tirar a saia, disse Cris.

- É muito mais engraçado continuar vestida assim. Katie contou à Cris como Julia
se aproximou dela no casamento logo depois que Ted e Cris se foram na limusine.

- Espera. Katie parou sua história no meio. Falando na limusine, antes que eu te
conte qualquer coisa, você tem que me contar sobre as cartas!

Katie colocou a mão sobre a mesa e segurou o punho de Katie.


- Oh, Katie, você salvou o dia. Você sabe disso, não sabe? Eu não conseguia
acreditar no que os meninos fizeram. Você salvou minha lua-de-mel.

- Eu não acho que você deva ir tão longe.

- Não, sério, Katie. Eu já te disse obrigada? Eu acho que não. Muito, muito
obrigada. Você é a melhor, Katie. De verdade.

- E você deu as cartas ao Ted naquela noite?

- Não, eu esperei até a próxima noite. Ela sorriu1.

- E?

- Foi perfeito. O momento foi maravilhoso como eu sempre sonhei que seria. Nós
fizemos o jantar no apartamento e o comemos à luz de velas lá fora na lanai.

- Lanai? É como uma varanda? Katie perguntou.

- Sim. O apartamento do Tio Bob fica no sexto andar então o lanai é como uma
sacada e fica de frente para o mar. Foi uma noite perfeita. E um lugar perfeito.
Ted e eu sentamos naquela mesma lanai na noite do meu aniversário de
dezesseis anos. Naquela noite nós olhamos para as luzes da ilha vizinha de
Molokai e o Ted me disse que nosso futuro era como aquelas luzes. Nós não
saberíamos o que estaria lá até que nós chegássemos perto o suficiente para ver
os detalhes. Então nós saberíamos o que fazer e qual caminho seguir. Naquela
noite, quando eu fiz dezesseis anos, ele disse que nós deveríamos apenas
continuar nos movendo em direção ao que nós podíamos ver.

Cris suspirou contentemente.

- Lá estávamos nós, cinco anos depois, sentados no mesmo lanai, e eu estava


assistindo meu verdadeiro amor ler minhas cartas pra ele à luz de velas. Katie,
foi perfeito. Perfeito em todos os sentidos. Ted chorou, e eu chorei, e durante
todo esse momento as luzes sobre as águas de Molokai piscavam para nós, sob a
lua de Maui.

- Você está me matando! Que momento romântico, romântico, romântico.

- Eu sei. E Katie, se você não tivesse vindo correndo para a limusine com as
cartas, nós teríamos perdido esse momento. Então, novamente, obrigada.
Obrigada por ser essa maravilhosa melhor amiga!

1
huuummm! Nota da tradutora! Hehe
Já que ela não tinha crescido recebendo muita afirmação, Katie ainda
encontrava dificuldades em ouvir um elogio e apenas recebê-lo. Sua resposta
normal era fazer uma piada ou ir contra ele.

Incapaz de deixar o elogio vir a ela, Katie disse:

- Bem, eu estou feliz que você se sinta dessa forma porque eu vou precisar de
uma referência para a minha nova petição de emprego.

- Você quer dizer o cargo de AR? Eu pensei que você já tinha o emprego.

- Esse é um trabalho diferente. É um trabalho a parte. Eu estou me candidatando


para ser uma salva-casamentos. Eu sou capaz de pular sobre grandes multidões
para capturar buquês acrobatas e perseguir limusines calçando apenas um
sapato. Apenas superpoderes básicos. Você vai me recomendar, não vai?

- A qualquer hora. Cris sorriu. Eu não soube sobre o sapato perdido.

- Ah sim. O look de Cinderela correndo de uma festa para a romântica vida real.

- Eu acho que você deveria ficar com o cargo de AR. Esse outro emprego iria
requerer muita força sobre-humana. Conte-me mais sobre o que aconteceu. Você
disse que falou com Julia no casamento e então?

Katie contou os detalhes que a levaram a tomar a decisão de aceitar o cargo de


AR e inclui a parte que ligou para a mãe.

- O que ela disse quando você a contou? Cris perguntou.

- Vejamos, ela disse que eu deveria ter me candidatado ao cargo de zeladora ao


invés de AR. E que minha tia Mabel faleceu.

- Oh, Katie. Eu sinto muito por ouvir isso.

- Eu também, mas eu nem sabia que eu tinha uma tia Mabel. Minha mãe também
nunca a conheceu, se eu ligasse pra casa mais frequentemente, eu saberia mais
detalhes sobre Mabel e sobre a pia do banheiro.

- O que tem a pia do banheiro?

- Ela quebrou.

- Oh.

- Está tudo bem agora. Obrigada por perguntar. Além do mais, eu ser uma AR,
bem, não mexeu muito com o mundo dela.
Cris não precisava dizer nada. Sua expressão compreensiva era suficiente. Katie
tinha tentado manter muitas das decepções de sua vida em casa longe de serem
tópicos de suas conversas com Cris por todos esses anos.

Todavia, Katie sabia que Cris entendia alguns dos vazios do coração de Katie.

- E o Rick? O que ele disse sobre você ter aceitado o emprego? Cris perguntou.

- Ele aceitou bem. Ele tem sido compreensivo.

- Vocês continuam no lugar flutuante?

- Você quer perguntar se nosso relacionamento continua indefinido? Sim. Hoje foi
um dia terrível pra nós dois, então me pergunte onde nós estaremos amanhã
novamente.

- O que aconteceu no trabalho?

Nessa mesma hora a porta da frente do apartamento se abriu e Ted entrou. Ele
parecia mais bronzeado que Cris, o que era esperado já que Katie tinha certeza
que Ted tinha surfado o máximo possível enquanto estiveram em Maui. Seu curto
cabelo loiro tinha ficado mais claro com o brilho do sol tropical.

Ted olhou para Cris com um sorriso de meia boca. Então ele notou Katie e
inclinou sua cabeça, pegando a fantasia de hula que ela ainda vestia sobre seu
jeans e sua camisa.

- Novidades, Grande Kahuna, Katie disse. Um tamanho não serve em todo mundo.

Ted deu a ela um gesto levantando o queixo e deixou o assunto de lado.

- Ei, como o Rick está?

- Bem. Por quê?

Ted olhou pra ela mais atentamente.

- Você o viu hoje?

- Claro. No trabalho. Por quê?

- Ele te contou?

- Contou-me o quê?

Ted olhou para Cris.


- Eu não tive tempo pra te contar ainda. Rick me ligou quando eu estava no
escritório da igreja essa tarde. Ele foi do trabalho pra casa para dar uma olhada
em Max, e algo estava errado com ele.

- Com Max ou com Rick? Katie perguntou.

- Max. Ele não estava se mexendo e estava tendo muita dificuldade de respirar.
Rick me ligou e me pediu pra ir até lá para ajudá-lo a colocar Max no carro.

- O que estava errado com ele?

Ted balançou os ombros.

- Não sei. Nós o levamos ao veterinário, mas a essa hora já era óbvio. Max não
iria agüentar.

O maxilar de Katie se "soltou".

- O veterinário o 'matou'? Cris perguntou.

- Ele não precisou. Max morreu sozinho. Rick ficou muito triste. A família dele
tem esse cachorro há muito tempo. O veterinário disse que Max tinha mais ou
menos noventa anos na idade dos cachorros. A mudança da casa de Escondido
para a casa de Rick pode ter sido demais pra ele.

- Que triste, Cris disse. Se ela disse algo mais, Katie não ouviu. Ela já tinha
pulado da cadeira e foi até onde ela deixara as chaves do carro. Rapidamente,
ela saiu pela porta, deixando a saia de capim para trás.
Capítulo 11
Correndo pelo complexo de apartamentos, Katie sentiu o elástico do seu top de
coco arrebentar. As duas partes do coco voaram em direções opostas e foram
rolando calçada abaixo. Ela não parou para pegá-los.

Meu Deus! Como eu pude ser tão insensível com Rick? Ele não estava nervoso.
Ele estava triste por causa do Max . Por que ele não me contou? Ou ele tentou
me contar, mas eu fui rápida demais em me defender porque pensei que ele ia
dizer que eu estava atrasada para o trabalho? Por que eu não percebi que algo o
estava incomodando?

Katie chegou ao Ninho da Pomba bem no momento em que Rick estava


caminhando para seu carro. Ele foi o último a deixar o café. Ela pulou do
Buguinho e correu até Rick. Ele a viu chegando e parou ao lado de seu carro.

- Ted acabou de me contar, Katie disse. Sobre o Max. Rick, eu sinto muito.

Rick balançou a cabeça, mas não disse nada.

Colocando os braços em volta do tronco de Rick, Katie deu-lhe o mesmo tipo de


abraço afável que tinha dado mais cedo naquela tarde na cozinha do Ninho da
Pomba. Dessa vez Rick correspondeu imediatamente. Ele a trouxe pra mais perto
e colocou seu rosto no topo da cabeça dela. Seu peito parecia tremer
involuntariamente, enquanto ele respirava fundo e lentamente deixava o ar sair.

Ele está chorando?

Eles ficaram juntos e abraçados numa vaga do estacionamento vazio por um


longo tempo. Rick normalizou sua respiração e se ergueu, se soltando do abraço.

- Rick, eu sinto muito por ter sido tão insensível.

- Não se preocupe com isso. Você não sabia. Parece que nós dois tivemos um dia
difícil.

- Você pode dizer isso de novo?

- Parece que nós dois tivemos um dia difícil, ele repetiu.

Katie chegou para trás e olhou para a expressão dele no brilho das luzes do
estacionamento.

- Isso foi uma piada? Você acabou de fazer uma piada?


Rick encolheu os ombros, seus lábios se transformaram no primeiro sorriso de
meia-boca que ela tinha visto o dia todo.

Katie sorriu de volta.

- Você quer comer algo, ou café ou alguma coisa?

Ao invés de responder, Rick olhou pra ela mais atentamente.

- O que você tem atrás da orelha?

Katie procurou pelo pedaço de plástico alaranjado. Ela o tocou e decidiu deixá-lo
bem onde estava. Colocando seu cabelo pra trás, ela disse:

- Claro que isso é um hibisco.

- Claro.

- A parte amarela do meio caiu, é isso que deve ter prejudicado sua habilidade
de reconhecer essa obra de arte.

- Eu deveria te perguntar por que você tem parte de uma flor de plástico atrás
da sua orelha?

- Foi o presente de um admirador, Katie disse com uma piscadinha nos olhos.

- Um admirador, hein? Rick pareceu gostar da brincadeira assim como Katie.

- Dois admiradores, na verdade: Ted e Cris. Isso foi o que eles trouxeram pra
mim de Maui. Havia outras partes do conjunto feminino de hula, mas eu acho que
os perdi no meu caminho pra cá.

O sorriso de Rick aumentou de tal maneira que mesmo na luz ofuscante Katie
pôde ver o quanto a afeição dele por ela estava transparente naquele momento.

- Katie, você...

- O que?

- Eu não tenho uma palavra para descrever você. Você me surpreende. Ele parou.
Eu...

Katie sentiu seu rosto avermelhar. Ele está prestes a dizer que me ama? Aqui?
Agora?
- Katie, você faz idéia de quão maravilhosa você está sob essa luz? Rick falou
com a voz baixa.

O que significa isso? Ele está sendo romântico ou ele realmente quer dizer isso?
Essa flor tola e tudo mais, eu estou realmente maravilhosa pra ele? Oh, Katie,
pare de tentar arruinar o momento. Apenas relaxe!

Rick colocou as mãos dele nas dela, entrelaçando seus dedos fortes nos dela.

- Talvez você esteja certa, ele disse.

- Certa sobre o quê?

- Talvez nós estejamos na pista lenta por tempo demais. Pode ser o tempo de
uma mudança de pista, como você disse.

Katie sentiu seu coração acelerar. Seu pensamento entrou num redemoinho. Ela
ouvia a voz de Cris dizendo: Você não vai se arrepender de guardar todos
aqueles beijos. E simultaneamente ela se ouvia dizendo: Isso é tudo pelo qual
você tem esperado! E acima daquelas vozes ela ouvia a voz de Carley: Ele é seu
namorado, não é?

- Uau. Isso é raro, Rick disse, soltando as mãos dela. Qual o problema?

- Nenhum. Eu estou...

- Você está pensando, ele disse. O que significa que você não está pronta.

- Eu pensei que eu estava. Talvez me dê só um minuto para...

- Não, você não está pronta para tomar uma decisão. Se você estivesse pronta,
nós não estaríamos conversando agora.

Katie sabia o que eles estariam fazendo. Eles estariam se beijando. O beijo tão
esperado que, representaria uma mudança de pista e entrada em uma nova fase
do relacionamento deles. Ao invés disso eles estavam começando uma discussão.

- Como você sabe? Ela perguntou a Rick.

- Toda vez que você disseca um momento como esse até a última molécula,
Katie, eu sei que você não tomou a decisão. Suas melhores decisões são suas
decisões espontâneas. Eu sei disso porque eu te conheço. Você é um livro aberto.

- Bem, e você é um enigma de proporções lendárias.

- De onde você tirou isso?


Katie tinha se arrependido do que ela acabara de soltar da sua boca. Suas
palavras a tinham colocado em muitos apuros hoje.

- O que quero dizer é que você é reservado com seus sentimentos e com o que
está acontecendo com você.

- Eu sei o que um enigma significa.

- O que estou dizendo é que se eu sou um livro aberto, você é um baú trancado.
Ela adicionou: Mas um baú de tesouros, numa tentativa de fazer da sua avaliação
algo mais agradável.

- Eu não posso acreditar que você está tentando provocar uma briga.

- Você acha que isso é uma briga? Isso não é uma briga.

- Então o que é?"

- Não é nada, Katie disse. Vamos deixar isso pra lá.

- É alguma coisa. O que está entristecendo você? Você deve ter algo na sua
cabeça. A voz dele não carregava mais a mesma doçura que a tinha feito
avermelhar há alguns minutos.

- Ta bom. Talvez eu ainda esteja triste sobre você não ter me contado sobre
Max. Ou sobre não ter me contado que contratou Carley para ficar no meu lugar.

Rick arredou pra trás, seu queixo virado para o céu escuro.

- É sobre isso que você quer brigar? Você quer brigar sobre eu ter admitido Carley
para que ela não precise voltar para o Arizona no verão?

- Texas, Katie o corrigiu.

- Ta bom, Texas. Legal. Então vá em frente. Vamos brigar por isso.

- Tudo que estou dizendo é que eu pensei que seria bom se você tivesse me
contado sobre contratá-la ao invés de esperar até eu confundir tudo e te abraçar
na frente dela. Quero dizer, eu sei que você tem uma boa razão pra tê-la
contratado, mas...

- Katie. Ela não queria voltar pro Texas no verão porque ela tem um namorado
aqui. Ela queria ficar com ele no verão.

- Ela tem?
- Foi o que ela me disse.

- Eu não sabia que ela tinha um namorado. Quem é ele?

- Sei lá. O currículo não tem uma linha que diz, 'Preencha com o nome do
namorado aqui'.

Katie olhou para seus pés. Ela estava começando a sentir frio no ar da noite.

- Eu acho que agi muito emocionalmente. De novo. Não é a primeira vez que faço
isso hoje.

- Se você fala sobre ficar envergonhada com alguém te vendo me abraçar no


trabalho, bem, foi que você que cruzou o limite lá. Então como você pode me
culpar?

- Eu sei. Você está certo. Eu peço desculpas por isso.

- Já que eu vou deixar tudo às claras, e você não quer que eu esconda meus
sentimentos de você, eu ia te contar sobre o Max, mas eu não tive chance. A voz
de Rick aumentou perceptivelmente.

- Mais pelo fato de que você não teve a chance de falar porque eu não deixei,
Katie disse.

- Exatamente. Agora você sabe. Este tem sido um dia muito intenso, e eu não
posso acreditar que você não está chorando agora. A voz dele subiu para outra
"oitava".

- Eu deveria estar chorando?

- A maioria das garotas estaria chorando agora. Eu estou aqui gritando com você,
e você está apenas recebendo isso.

- Então? Eu não sou como a maioria das garotas.

- Eu sei que você não é. Nós não brigamos há muito tempo. Eu tinha me
esquecido do quão forte isso pode ser às vezes. O tom de voz de Rick estava
derretendo.

- As coisas que você diz são verdade, Rick. Eu posso agüentar a verdade. Eu só
não posso agüentar o silêncio. Eu fico louca quando eu não sei o que está
acontecendo. Eu confundo as coisas e é aí que eu choro.

Rick deu uma "bufada" e levou os dedos ao seu cabelo escuro e cacheado.
- Eu não acredito que vou dizer isso, mas é muito bom brigar com você.

- É?

Ele respirou fundo.

- Eu tenho que ser tão educado o tempo todo com todo mundo, mas agora com
você eu posso...

- O quê? Ser verdadeiro sobre quem você realmente é? Ser normal?

- Sim. Rick concordou. Eu posso ser eu mesmo com você e você não fica brava,
ou chora ou me fala pra onde eu devo ir.

- Eu poderia te dizer pra onde ir, se isso faria você se sentir melhor.

Rick sorriu.

- Você sabe o que mais, Katie? Ele abaixou a voz e fixou os olhos nos olhos verdes
dela. Eu vou te elogiar agora e eu quero que você apenas receba isso. Não diga
nada. Apenas receba. Katie, você é uma mulher única e maravilhosa.

- Oh, você percebeu isso agora, não foi?

Rick colocou sua mão sobre a boca dela.

- Shhh. Só ouça, ok? Não banque a espertinha dessa vez.

Katie concordou.

Ele sorriu e continuou com a mão sobre a boca dela.

- Quando eu estou com você, eu sinto que a minha vida está nos trilhos. Eu sinto
que posso ser eu mesmo e que você pode ser você mesma comigo também. Você
faz idéia do quão excelente isso é? Percebendo que ele estava impedindo-a de
responder à sua pergunta, Rick disse: Apenas balance a cabeça.

Katie balançou a cabeça.

- Aqui está o que eu gosto em você. Você é genuína. Seu temperamento não me
incomoda. Eu o aprecio. Sua honestidade me dá a liberdade pra eu ser honesto
com você. O nosso relacionamento é o melhor relacionamento que eu já tive com
uma garota. Você percebe isso? Você é minha amiga, minha companheira,
minha...
Katie se manteve quieta apesar de Rick já ter tirado sua mão e os lábios dela
estarem livres para falar. Se ele não podia dizer que ela era sua namorada
espontaneamente, então ela não iria se intrometer nisso. Ela olhou pra baixo.
Talvez eles ainda não estivessem "pastosos" no amor deles. Talvez fosse por isso
que ela hesitara mais cedo.

Rick amorosamente tirou o cabelo dela de sua testa e trouxe o olhar dela de
volta para os olhos de chocolate dele.

- "Ei, ouça, essa é a verdade. Você mexe com meu mundo, Katie. Você sabe
disso, não sabe? Você é maravilhosa e linda e se você quiser que eu comece a te
chamar de minha namorada então eu acho que estou pronto pra fazer isso.

Um par de lágrimas de alegria escorregou nas bochechas de Katie.

Rick sorriu.

- Ah, agora você chora.

Ao mesmo tempo em que Katie estava feliz por tê-lo ouvido dizer finalmente a
palavra "namorada", Katie percebeu que as palavras dele não eram espontâneas.

Ele colocou seus polegares abaixo do queixo dela e limpou cada lágrima com
eles.

- Você é a mulher ruiva dos meus sonhos. Katie Weldon, você quer ser minha
namorada?

Katie olhou nos olhos de Rick. Ela ansiara por esse tipo de declaração dele, mas
agora que ela tinha vindo, ela não sabia o que fazer com ela. Se Rick estava
certo sobre suas decisões mais verdadeiras serem as espontâneas, então ela sabia
que não estava pronta para tomar essa decisão.

- Ainda não, ela disse.

Rick se afastou.

- Você está falando sério?

Katie balançou a cabeça.

- Eu não estou preparada para nos tornamos 'oficial'.

Agora era Rick quem não estava falando.


- Não me leve a mal, Rick. Eu sou louca por você também. Eu não vou a lugar
algum. Eu só estou pensando sobre como é seguro estar na pista lenta e sobre
como nós deveríamos continuar nela um pouco mais.

- Um pouco mais, ele repetiu.

- Eu estou te deixando louca? Katie perguntou.

- Sempre, ele disse. Então se lembrando da reação de Katie quando ele usou o
termo "sempre" no trabalho, Rick adicionou: Veja, isso é loucura. Nós dissemos
que não iríamos apressar nada no nosso relacionamento e nós não o fizemos. Eu
posso esperar. Você pode abaixar a guarda. Eu não vou te beijar. Não agora. Eu
quero. Eu quase fiz há poucos minutos atrás. Mas eu não vou fazer. Agora você
sabe o que eu estou pensando. Mistério resolvido. Eu não sou mais um enigma pra
você. Pelo menos não um de proporções lendárias.

Sua frase final deixou claro para Katie que ele não estava irritado. Seria bom
deixar as coisas como estavam e não tentar continuar essa conversa.
Especialmente não na vaga do estacionamento.

- Aqui está, Katie. E isso vai ser inegociável pra mim. Eu não quero continuar
essa conversa. Eu não quero ficar indo e voltando. Nós enlouqueceremos um ao
outro. Eu acho que nós deveríamos continuar sendo o que somos pelo resto do
verão, sem ter que declarar nenhum título oficial, ok? É assim que funciona.

- Ok. Você está certo. Por mais nebuloso que seja, de alguma forma funciona.
Pelo menos na maioria do tempo. Pista lenta no verão. Ok. Está bem.

- Está bem, Rick repetiu.

Eles ficaram meio desajeitados por um momento, nenhum dos dois fazia o
próximo gesto. Katie suspeitava que ele estivesse sentindo a mesma coisa que
ela. Assim que eles estabeleceram que iriam levar as coisas mais vagarosamente,
Katie quis beijá-lo mais do que nunca. Ela encostou a cabeça nos ombros dele e
Rick a envolveu com seus dois braços.

- Te vejo amanhã. Ele lhe deu um abraço final e se foi.

Katie entrou no carro e acenou enquanto eles iam para caminhos opostos.

- Domínio próprio é altamente admirado, ela murmurou.

A única coisa que a mantinha dirigindo de volta para o dormitório ao invés de dar
a volta e seguir Rick até seu apartamento era o eco de sua visita à casa de Cris.
Sim, Cris tinha dito todas as coisas certas, sendo a candidata ideal para o pôster
infantil de recém-casada-mas-abstinente. Mas não foram as palavras de Cris que
foram ao encontro do coração de Katie naquele momento. Foi a aparência de
Cris. Foi o brilho. Katie desejava ficar irritada assim em noites como essa, se ela
soubesse que toda essa espera a faria um dia brilhar daquele jeito.
Capítulo 12
Apesar da complicada conversa entre Katie e Rick na vaga do estacionamento,
tudo ia bem no mundo de Katie. Ela e Rick estavam de volta ao seu lugar
“flutuante” como diria Cris. E estava bom dessa forma. Era familiar e estável.
Katie até parara de pensar no ritmo deles como sendo uma rota. Para eles, por
agora, era assim que funcionava.

Katie lembrava-se dessa verdade enquanto os dia de escola de verão e trabalho


entravam num momento de estabilidade. Ela desenvolvera uma apreciação por
dias sem drama.

Então, numa sexta-feira pela manhã da última semana de junho, Katie acordou
com o toque musical de seu celular indicando que tinha uma mensagem de texto
a esperando. Cambaleando para fora da cama, ela foi até a mesa e pegou seu
celular que estava recarregando. A mensagem era simples.

É UM MENINO!

Em algum momento da noite, Daniel, o bebê de Douglas e Trícia tinha feito sua
grande entrada no mundo. Katie escreveu de volta uma palavra.

MARAVILHOSO!

Ela riu alto e tentou ligar para Douglas. Quando seu correio de voz atendeu, ela
disse:

- Ei! Eu só estou ligando para adicionar meu ‘feliz vida’ para vocês. Me ligue
quando puder.

Em seguida ela tentou o celular de Cris. Ted respondeu.

- Eu falei com o Douglas meia-hora atrás, disse Ted. Trícia está ótima e Daniel
está melhor ainda. Eles foram para o hospital às 22:30 da noite de ontem, e
Daniel nasceu às 7:30 da manhã de hoje. Parece muito bom para um primeiro
bebê.

- Quanto ele pesa?

- Algo do tipo 3 e 6. Faz sentido?

Katie riu.

- Isso é provavelmente 3 quilos e 60 gramas.


- Pode ser. Douglas disse que ele tem dedos longos, então parece que teremos
mais um violonista na família.

O comentário de Ted fez Katie sorrir. A família de Ted era tão turbulenta como a
de Katie. O fato de ele ter se referido a Douglas, Trícia e Daniel como “família”
afirmou o sentimento que Katie tinha com relação aos seus amigos cristãos.
Enquanto seus pais caíram fora passivamente da vida dela, seus amigos enviados
por Deus preencheram o vazio.

- Vocês vão ao hospital hoje para vê-los? Katie perguntou.

- Nós estamos pensando sobre isso.

- Eu quero ir com vocês, se vocês forem.

- Parece bom. Eu vou falar com minha esposa quando ela sair do chuveiro. Por
que vocês não combinam um horário?

A esposa dele. Que lindo.

Katie certificou-se de que chegara ao Ninho da Pomba cedo. Ela e Cris


trabalhavam no mesmo complexo, mas Cris ficava na livraria. Elas se viam menos
do que pensavam que se veriam um dia, gastavam suas horas de trabalho há
apenas alguns metros de distância uma da outra, mas estavam separadas por um
forno de pizza, uma parede, e duas prateleiras de livros infantis.

Nesse dia em particular, Katie e Cris tiveram sua pausa para o almoço no mesmo
horário. Ao invés de se encontrarem na “sala de descanso” nos fundos do Ninho
da Pomba, como elas faziam normalmente, Katie convenceu Cris a se mover lá
para fora no calor daquela tarde e dirigir três quarteirões até um pequeno
restaurante. Ela esperava que isso as permitisse a liberdade de conversarem sem
interrupções.

Enquanto Cris pedia um sanduíche de carne assada para as duas dividirem, Katie
checava seu telefone. Um sorriso se acendeu em rosto quando ela viu a
mensagem que a estava esperando.

- Por que você está sorrindo? Cris perguntou voltando pra mesa com a comida
delas.

- Você checou seu telefone recentemente? Katie perguntou. Olhe, Douglas


mandou uma foto do Daniel. Ele não é bebê mais fofo do mundo?

Cris olhou na tela do telefone.


- Oh, olhe para essas bochechas! Ele é tão adorável. Eu mal posso esperar para
vê-lo pessoalmente!

- Eu sei. Nós temos que combinar a que horas vamos sair hoje à noite para ir até
Carlsbad. Ted disse que eu e você deveríamos acertar os detalhes.

Cris continuava a estudar a foto.

- Olhe esse narizinho. Ele é tão bonitinho! Eu acho que ele vai ter o queixo da
Trícia. O que você acha?

- Não, esse é o queixo do Douglas. Definitivamente o queixo do Douglas.

- Você perguntou ao Rick se ele poderia ir antes das seis hoje à noite?

Katie afirmou que sim com a cabeça.

- Ele disse que pode sair a qualquer hora.

- Então vamos nos encontrar no meu apartamento por volta das cinco e de lá nós
vamos.

Às 17:45 daquela tarde, Katie, Rick, Cris e Ted subiram no Volvo de Cris e Ted.
Eles estavam juntos pela primeira vez após a cerimônia de casamento.

Isso é precioso, Katie pensava enquanto eles desciam pela via-expressa comendo
tacos. Eu amo sermos “nós”.

Eles chegaram ao hospital em Carlsbad restando apenas meia hora do horário de


visita. Assim que eles entraram no quarto, eles viram Douglas em pé ao lado da
cama com um pequenino “embrulho” nos braços. Katie jamais esqueceria a
imagem do bebê Daniel recebendo de seu maravilhoso papai um de seus
primeiros “abraços do Douglas”.

Trícia olhou para cima. Seu rosto com formato de coração estava cansado, mas
radiante.

- Eu estou muito contente por vocês terem vindo. Bem a tempo. Vocês viram
meus pais? Eles acabaram de sair.

- Eu não os vi, Ted disse. Como você está, Trícia?

- Bem. Melhor.
O sorriso de Douglas parecia que estava prestes a criar asas e voar pelo quarto
para cumprimentá-los. Ele se virou para dar à turma uma visão melhor de seu
filho.

- Ohh! Cris e Katie disseram em uma só voz.

- Ele é tão pequenininho, Katie falou. A foto no telefone fez as bochechas dele
parecerem tão gordinhas. Mas ele tão pequenino!

- Três quilos e sessenta gramas, disse Trícia. Não pareceu tão pequeno quando
ele fez sua grande entrada.

- Acho que você estava certa, Katie. Ted disse. Eu pensei que ele tivesse seis
quilos e trinta gramas.

Trícia “fez uma cara”.

- Eu não posso sequer imaginar!

- Ele é absolutamente perfeito. Cris estendeu os braços. Eu posso segurá-lo? Por


favor, ah, por favor?

- Claro. Douglas falou e em seguida endereçou Daniel com um: Você está pronto
para conhecer a titia Cris?

Cris recebeu a preciosa carga em seus braços. Ela parecia natural, segurando
Daniel facilmente e sorrindo para ele.

- Olá, Pequena Maravilha. Você é um bebê lindo, é. A voz de Cris era suave e
doce sem soar melosa. Katie se perguntava se o ano que Cris gastara trabalhando
no orfanato na Suíça tinha voltado o coração dela para os pequenos de um jeito
que Katie jamais experimentara. Ted parecia admirar a ternura de sua esposa.

Rick, com um gesto incomum, mas perfeitamente natural, chegou mais perto de
Katie e colocou seu braço em volta dos ombros dela. Katie se sentiu aquecida dos
pés à cabeça.

- Ele é maravilhoso. Disse Cris olhando para Douglas e Trícia. Eu estou muito feliz
por vocês.

- Obrigada. Nós ainda estamos maravilhados, disse Trícia.

- Eu cortei o cordão umbilical, disse Douglas orgulhosamente.

Katie levantou os braços para fazê-lo parar de dizer qualquer coisa a mais e Rick
removeu seu braço dos ombros dela.
- Informação suficiente, por aqui, disse Katie. Eu não estou preparada para
nenhuma descrição que você esteja pensando em compartilhar conosco.

Eles gargalharam, e Daniel deu um pequeno sinal do começo de uma explosão de


barulho.

- Oh, desculpa, Cris sussurrou e deu um doce beijo bem em cima da cabecinha de
Daniel. Ele tem um cheiro de novinho! Ela beijou sua cabecinha careca
novamente.

- Ele não é um carro novo! Katie disse.

- Eu sei.

- Ele é uma nova alma. Disse Ted. Uma vida nova.

- Você quer segurá-lo? Cris perguntou à Katie.

- Eu estou bem, Katie falou.

- Tem certeza? Douglas perguntou.

- Sim, tenho. Não me entenda mal. Eu o amo. Eu o acho adorável. Não estou
rejeitando meu pequeno sobrinho. É só que ele tão pequenininho. Eu não tenho
praticado minhas habilidades para manusear recém nascidos e...

- Está bem, Katie. Você vai ter muitas chances de segurá-lo, disse Trícia. E não
se preocupe. Eu entendo o que você está dizendo.

- Nós vamos colocar um pouco de carne nos ossos dele, Douglas disse. Assim ele
não será tão ameaçador.

- Eu não quero devolvê-lo, disse Cris. Mas a mulher na recepção fez parecer que
eles são bem rigorosos com o horário das visitas.

- Eles são. Aqui, eu vou pegá-lo, disse Trícia.

Douglas assistiu à transferência como se ele tivesse tudo sob controle.

- Obrigado mais uma vez por terem vindo, gente.

- Só mais uma coisa antes de irmos. Ted aproximou-se da cama do hospital. Ele
colocou sua grande mão na pequena testa de Daniel e falou com gentil
autoridade. ‘Que o Senhor te abençoe e te guarde, pequeno Daniel. Que o
Senhor faça resplandecer o rosto d’Ele sobre ti e te dê a paz. E que você sempre
ame a Jesus em primeiro lugar, acima de tudo mais.’
- Amém. Disseram Rick e Douglas em uníssono.

Katie, Trícia e Cris compartilhavam sorrisos cheios de lágrimas. A alegria que elas
dividiam naquele momento vinha de uma irmandade de corações.

Três semanas depois, Katie sonhou que ela estava na praia em volta de uma
fogueira com Cris, Ted, Rick e o resto da turma. O coração dela estava
completamente no sonho. Eles estavam cantando, rindo e assando
marshmallows.

Seu sonho foi interrompido quando ela sentiu que Rick gentilmente pressionou
sua mão no ombro dela. Katie abriu os olhos. Ele estava em pé diante dela. Ela
tinha caído no sono no trabalho durante o horário de almoço.

- Você está bem? Ele puxou uma cadeira ao lado dela na mesa do almoço. Eles
eram as duas únicas pessoas no cômodo.

Ela afirmou que sim com a cabeça e checou os cantos da sua boca para se
certificar de que não estava babando.

- Apenas cansada. Eu fiquei acordada até as três dessa madrugada fazendo um


trabalho de doze páginas. Eu gastei uma eternidade.

- Seu trabalho de História da Arte?

Ela fez que sim com a cabeça.

- Você conseguiu terminar?

Ela fez que sim de novo e bocejou.

- Pergunte-me qualquer coisa sobre o Movimento Pré-Raphaelita, e eu vou te


encantar e surpreender.

- Não precisa. Ele subitamente colocou sua mão sobre a dela e fez um carinho
que podia ser considerado um carinho fraternal por alguém que pudesse estar os
assistindo. Você já me encanta e me surpreende.

Katie sorriu pra ele.

- Você não vai fazer nenhuma pergunta?

- Se você quiser realmente que eu faça, eu faço. Mas o que você acha de
fazermos o quiz na sexta à noite?

- O que tem na sexta à noite?


- Nós vamos à praia com Ted e Cris, lembra?

- Ah, sim, mais que lembro. Eu estava sonhando com isso agora mesmo.

- Você está pronta para um descanso, não está?

- Mais do que você possa imaginar.

- Que bom. Eu posso sair daqui por volta das quatro na sexta-feira. Você quer ir
com Ted e Cris ou vamos nós dois juntos?

- Tanto faz pra mim. Katie se levantou e, acidentalmente, tropeçou em Rick.

Ele segurou o cotovelo dela e provocativamente disse:

- Cuidado por onde anda, Weldon.

- Cuidado você, por onde fica, Doyle. Brincando, ela deu nele um cutucão.

Eles sorriram um para o outro, enquanto Katie passava por ele virando o queixo
atrevidamente. Era difícil conseguir enganá-lo vestida com um avental do café e
uma redinha nos cabelos, mas de alguma forma, naquele momento, isso estava
funcionando para Katie e ela sabia disso.

Iupi. Eu diria que nós dois estamos ficando mais e mais “pastosos” a cada dia,
Rick Doyle. Quanto mais nós ficamos juntos nessa árvore, mas pastosos nós
ficamos.

A pergunta que não queria calar era: O que vai acontecer quando eu começar o
trabalho de AR, e nós não vamos mais ficar juntos nessa árvore todo dia? O quão
pastosos nós vamos ficar?

Os restantes do dia e da semana ocorreram normalmente, a todo vapor e, então,


a quinta-feira veio com uma surpresa. Assim como Rick tinha contado à Katie,
Carley ligara pra ele naquela manhã, meia hora mais cedo do horário de trabalho
dela começar. Ela disse a ele que tinha um novo emprego na Casa de Pedro e não
iria mais trabalhar no Ninho da Pomba.

Katie não podia acreditar no quão compreensivo Rick foi. Um dos funcionários
dissera que Carley estava tendo problemas com o namorado e, aparentemente,
ele trabalhava no restaurante mexicano, então isso explicava a repentina
mudança de trabalho.

Apesar de Katie não dizer que estava feliz por Carley não mais trabalhar no Ninho
da Pomba, ela estava aliviada. As duas nunca se deram muito bem como colegas
de trabalho e, para Katie, parecia que Carley paquerava Rick toda vez que
conversava com ele.

Ao mesmo tempo, Katie teve que simpatizar um pouco com o fato de Carley
querer trabalhar com o namorado; Katie entendia bem as vantagens diretas
disso. A única coisa estranha era que, nas semanas que Carley tinha trabalhado
no Ninho da Pomba, o namorado dela nunca tinha ido lá para vê-la. Pelo menos
não enquanto Katie estava lá, o que era absolutamente todos os dias. Agora as
horas dela tinham aumentado, já que Rick e Carlos estavam tentando cobrir as
horas de Carley até que pudessem contratar outra pessoa.

Katie supostamente teria folga na sexta-feira á tarde. Ela tinha planejado usar o
tempo livre para fazer algumas coisas essenciais, como lavar as roupas e mandar
alguns emails antes de se preparar para ida à praia no fim da tarde. Ao invés
disso, ela pegou as horas de Carley. Ela e Rick tiveram que reagendar o encontro
deles na praia com Cris e Ted para a próxima sexta.

- Eu estou com muita raiva, Katie falou com Cris enquanto se aprontava para sair
do trabalho. Não porque tive que trabalhar mais. Eu e Rick não nos importamos.
Perder o encontro na praia é que me deprime.

- Vai dar certo na próxima vez, Cris disse.

- Eu posso te contar uma coisa que eu concluí uma hora atrás.

- O que é? Cris perguntou.

- Um cliente veio falar que ele acabou de chegar da Itália e eu concluí que a
coisa mais inteligente que eu já fiz foi ter gasto todas as minhas economias e ter
ido à Europa no último verão com você e Ted. Sem dúvida de que não
poderíamos ter ido nesse ano. Eu nunca vou me arrepender de termos feito essa
viagem.

- Nem eu, disse Cris. Apesar de que as lembranças que tenho de escalar os Alpes
e colher flores silvestres com você parecem ser algo de uma eternidade atrás.

- Uma eternidade e meia.

Elas suspiraram juntas.

- Envelhecer e ser responsável realmente é uma droga, Katie disse.

Cris riu.

- O que você vai dizer quando nós estivermos nos trinta?


- Ou quarenta? Katie perguntou.

Nenhuma delas pensara tão longe. Parecia impossível imaginar que a vida iria tão
longe assim no futuro. Tudo que Katie sabia era que ela seria sempre jovem. Ela
não queria perder nenhuma aventura porque ela era responsável e trabalhava o
tempo todo.
Capítulo 13
Uma semana mais tarde quando Katie e a turma deveriam ir à praia, Rick teve
que adiar os planos deles. Seu irmão mais velho, Josh, estava na cidade para
fazer planos de abrir um novo café como o Ninho da Pomba no Arizona, onde ele
morava. Sexta à noite era o único horário que ele podia se encontrar com Rick.

A festa na praia foi adiada mais uma semana. Entretanto, quando ela finalmente
aconteceu, todos quatro concordaram que não podia ter sido em melhor hora. Da
parte dela, Katie estava aliviada porque ela finalmente tinha terminado a escola
de verão.

Ted e Cris tinham o tanque de gasolina cheio no carro, então eles se ofereceram
para dirigir. Rick estava com um ótimo humor porque ele finalmente encontrara
um “colega de quarto” que parecia ser bom.

- Onde você encontrou o ‘colega de quarto’? Katie perguntou, enquanto ela e


Rick deixavam o trabalho e dirigiam rumo ao complexo de apartamentos onde
eles planejaram encontrar Ted e Cris.

- Ele é um rapaz que o Ted conhece. Ele será capaz de cobrir o primeiro e o
último mês de aluguel, o que torna minha vida mais fácil do que você pode
imaginar.

- Quando ele se muda pra lá?

- Em algumas semanas. Eu estou te falando, Babe, vai ser muito bom finalmente
colocar algum dinheiro no banco.

- Babe? Katie ecoou.

- Sim, Babe. Funciona. Você não acha?

- Ahh, não.

- Não ao Babe? Huh!

- Não. Definitivamente um grande, enorme não para o Babe. Você se esqueceu


do filme que fala disso?

- Que filme?
1
- “É isso que você vai fazer, porco?”
1
That’ll do, pig? Uma fala de “Babe, o porquinho atrapalhado”.
2
- “Você me perdeu com apenas um oi”, Rick disse.

Katie girou os olhos.

- É “Você me GANHOU com apenas um oi”, não “me perdeu”. “Me ganhou”.

O telefone dela tocou.

- Se for a Cris... Ela atendeu antes do segundo toque. Se você vai nos dizer que
está cancelando dessa vez, é bom que um de vocês esteja mortalmente doente!

- Katie? Uma pausa se seguiu, Katie, é a Nicole.

- Oh, Nicole! Desculpa, eu devia ter olhado o número. Eu pensei que você fosse
outra pessoa.

- Que alívio.

- Desconsidere o que você acabou de ouvir. Katie trocou o celular de ouvido e


tentou aumentar o volume. Então, como você está? Você teve um bom verão?

- Muito bom. Passou rápido. Como foi o seu?

- Três palavras, Katie disse. Escola de verão. E a lição que eu aprendi dessas três
palavras é que eu nunca mais na minha vida vou colocá-las juntas novamente,
porque a parte da escola cancela bem a parte do verão.

- Mas agora já acabou, né?

- Sim. E para comemorar, nós estamos a caminho da praia nessa tarde.

- Espero que você tenha um ótimo tempo lá. Eu não vou te atrapalhar. Eu só
queria que você soubesse que eu tive o ok hoje.

- O ok pra quê?

- Nós podemos nos mudar para os quartos do Crown Hall Norte a qualquer hora da
tarde de amanhã.

- Amanhã? Eu achei que nós não poderíamos nos mudar até a próxima semana.

- Eu também pensei. É por isso que eu achei que deveria te ligar no caso de você
não ter visto o e-mail ainda. Eles disseram que todos os reparos foram feitos, e
que nós podemos nos mudar. Eu acho que eles reformaram o Crown Hall primeiro
2
Fala de um filme do Tom Cruise, ‘Jack Mcguire’. Nessa parte, meu amigo gringo disse que é como se a
Katie tivesse sido grossa e o Rick respondeu à altura.
esse ano, o que pra mim é bom. Eu vou sair de Santa Bárbara amanhã para mover
minhas coisas do “depósito” para o meu quarto.

Katie desligou o telefone e encarou Rick.

- Eu vou gritar.

- Por quê?

- Esse verão acabou antes mesmo de começar.

- Outro nervosismo por causa do trabalho? Ele perguntou.

- Não. Eu não estou nervosa por causa do trabalho. Estou lamentando pela falta
de qualquer tipo de folga nesse verão.

- Nós estamos tendo nossa folga bem agora. Nós apenas vamos fazer dessa noite
na praia algo memorável o suficiente para compensar todas as vezes que
quisemos fazer algo nesse verão e não o fizemos.

As palavras de Rick carregavam muitas promessas para Katie. Talvez até mais
promessas do que ele pretendera colocar nelas.

Cris, Ted, Rick, e Katie chegaram à praia em Carlsbad um pouco antes das cinco.
Eles levantaram o acampamento num lugar que Katie não achou que fosse a
melhor escolha. Mas o “abrigo de algas-marinhas espalhadas” estava próximo à
casa de Douglas e Trícia, e o plano era que, se o bebê Daniel estivesse indo bem,
Douglas e Trícia iriam descer para a praia para se juntarem aos outros por alguns
instantes. Esse era o lugar planejado.

A praia estava lotada e a areia ainda estava quente após ficar sob o poder
intenso do sol durante toda tarde. O céu estava claro e as ondas estavam calmas.
Vozes de crianças que brincavam na água ecoavam pelas rochas que formavam
um cenário ao fundo do lugar onde eles estavam acampados. Eles estavam bem
protegidos do vento e do mormaço no ar daquele tarde.

O celular de Rick tocou, e ele começou uma complicada conversa com seu irmão.

- Você quer ir pra água conosco, Katie? Ted perguntou.

Ela olhou para Rick. Ele estava bem envolvido na sua conversa ao telefone.

- Claro. Ela tirou sua roupa de cima, ficando só com o biquíni e acenou para Rick
enquanto Ted, Cris e ela deixavam Rick com a tarefa de assistir o momento deles
enquanto ele conversava com seu irmão. Katie teve a desconfortável mas
prazerosa sensação de que Rick a estava olhando enquanto ela caminhava pela
areia.

O contraste entre seus passos na areia quente e as geladas e espumantes ondas


na beira da água se chocaram com os pés descalços de Katie.

Ted foi caminhando e mergulhou na água. Ele apareceu no outro lado da onda,
balançando sua cabeça na direção de Katie e Cris, assim as gotas de água voaram
nelas.

- Eee! Cris protestou, levantando as mãos para bloquear a água. Está muito
gelada!

Katie gostou da temperatura da água e foi andando rumo às ondas. Ted se voltou
em direção às meninas. Seu sorriso malicioso era clássico. Katie sabia o que se
seguiria.

- Nem pense nisso, Ted Spencer! Cris correu de seu marido para a parte rasa da
água.

Ted agarrou Cris pela cintura e aparentemente sem esforço carregou sua esposa
para a “casa” que esse típico garoto surfista considerava ser seu verdadeiro lar -
o oceano. Ted deu cinco ou seis passos para alcançar o lugar onde as ondas
estavam quebrando. Cris soltou um protesto alegre no começo, mas depois ela
colocou suas mãos em volta do pescoço de Ted e sorriu para ele como se ele
fosse o homem dos sonhos dela.

Os dois jovens amantes mergulharam na onda juntos e surgiram vislumbrados e


gargalhando. Katie pareceu esquecida enquanto Ted e Cris se trancavam num
beijo profundo e mergulhavam sob a próxima onda antes que ela tivesse a chance
de se quebrar neles.

- Ta bom, ok, muito legal, Katie resmungava enquanto ficava sozinha na água
que agora alcançava sua cintura. Eu vou ali passear enquanto vocês são um casal
casado.

Katie os assistia enquanto eles brincavam e se abraçavam naturalmente como se


fossem um só coração há muito tempo. Eles estavam muito apaixonados. Tudo
parecia “fresco” e novo, como se eles fossem os únicos dois amantes que
descobriram a felicidade do oceano numa tarde de verão.

- Vocês dois são os frutos-pão mais pastosos desse lado de Maui. Eu acho que vou
deixá-los sozinhos com seu amado oceano. Katie caminhou um pouco na praia por
uma pequena distância antes de decidir mergulhar nas ondas. Ela continuou
olhando para trás, para a barraca deles na areia, esperando que Rick terminasse
sua ligação e se juntasse a ela. Ela não tinha a expectativa de que a brincadeira
deles fosse tão divertida ou romântica como a de Ted e Cris, é claro, mas
qualquer atenção naquele momento seria ótima.

A fria água do oceano e a brisa do entardecer fizeram Katie bater os dentes. Ela
voltou para a areia e sacudiu a água salgada de seus cabelos.

Ted e Cris se retiraram para um romântico passeio ao longo da praia. Douglas e


Trícia chegaram e estavam no meio de um “descarregamento” de parafernália
suficiente para sobreviver numa ilha deserta por um mês. Para um garotinho tão
pequenino, Daniel certamente aparentava ter uma grande quantidade de
necessidades. Rick estava ajudando a armar a sombrinha e parecia nem ligar
para o desfile de Katie pela areia.

Trícia armou um berço desmontável e o posicionou sob a sombra do guarda-sol.


Ela abriu sua cadeira de praia e a colocou perto do “quartinho de criança”
portátil.

Seu toque final foi tirar uma toalhinha de pano da bolsa de fraldas e colocá-la
nos seus ombros como se o pano com carneirinhos felpudos e margaridas fosse
parte de seus apetrechos para um dia na praia.

- É assim toda vez que vocês vão a algum lugar? Katie se enrolou na sua
quentinha toalha de praia.

Trícia pareceu levemente irritada com a pergunta.

- Essa é a primeira vez que nós trazemos o Daniel à praia. Não sabíamos do que
iríamos precisar.

Douglas estava em pé com suas mãos nos quadris, olhando para o oceano.

- Vá em frente, Trícia disse. Eu sei que você está morrendo de vontade de entrar
na água. Eu tenho tudo que preciso aqui.

- Se você for entrar, Douglas, eu vou com você, Rick disse. Você vem de novo,
Katie?

- Talvez. Assim que eu me esquentar.

- Trícia, se você quiser que eu volte, apenas acene, ok? Douglas tirou sua camisa
e correu para as ondas com Rick. O adormecido Daniel aparentou saber que
acabara de perder a atenção do papai e irrompeu num choro escandaloso.

- Opa! Katie disse. O garotinho tem um par de pulmões.


Trícia o desprendeu da cadeirinha de bebê do carro e o colocou sobre seus
ombros, dando tapinhas em suas costas e falando suavemente. Era bonito ver
Trícia usar suas habilidades educativas. Mas era estranho também.

Os momentos favoritos de Katie na praia com a galera tinham acontecido em


volta de uma fogueira com um cardápio de cachorros-quentes e marshmallows.
Dessa vez Rick tinha marinado bifes para todos e trazido duas grandes porções de
salada do trabalho. Ted trouxera para a areia um fogão de camping muito pesado
e deixou seu violão em casa porque não havia mais lugar no carro.

O que está acontecendo conosco? Ao invés de pranchas de surfe e violões, esses


garotos estão trazendo caminhas desmontáveis de bebê, bolsas de fraldas e uma
sombrinha de gente velha para o nosso jantar ao ar livre. Quando foi que todo
mundo se tornou tão prático e responsável?

Katie se sentou perto de Trícia enquanto dizia ‘olá’ e ‘tchau’ para o verão num
fôlego só. Ela sentia como se uma nova página tivesse sido virada no livro da vida
dela. Ela e seus amigos estavam todos em diferentes capítulos agora. Capítulos
com títulos como “Primeiro vem o amor”, “Depois vem o casamento”, “Depois
vem o bebê no carrinho de bebê” 1.

Ted e Cris estavam obviamente no capítulo do “casamento” enquanto Douglas e


Trícia estavam começando o capítulo do “carrinho de bebê”. Ela se perguntava
se ela e Rick estavam para mudar para o capítulo do “primeiro vem o amor”. Eles
ficaram flutuando por todo o verão sem uma única “DR”, definir-o-
relacionamento. Agora que eles estavam em uma outra estrada, Katie estava
sentindo aquele fiozinho de esperança que sentira logo após o casamento de Ted
e Cris. Ela queria saber o que viria em seguida.

Rick, no entanto, parecia não pensar que era hora de reavaliar o relacionamento
deles. Isso se tornou evidente para Katie quando os dois caminharam juntos na
beira do mar depois de Rick voltar da água.

Ele pegou a mão dela e fez um carinho.

- Eu estava pensando sobre como é bom o fato de nós ainda estarmos na pista
lenta.

- Por que é bom? Katie perguntou.

- Eu espero que você não entenda errado, mas estar na pista lenta com o nosso
relacionamento tem me dado a chance de estar na pista rápida dos negócios em
potencial com o Josh. Eu estou muito contente por você ser uma mulher
1
Essas frases são de uma musiquinha que os americanos cantam, especialmente as crianças. A música é
assim: “Christy and Todd (por exemplo) sitting in a tree K I S S I N G. First comes love, then comes
marriage, then comes the baby in the baby carriage.
paciente, Katie. Eu tenho um pressentimento de que vou andar muito ocupado
pelos próximos meses. Mas você também vai estar. Nós estamos em um ótimo
lugar agora.

Katie concordou. Rick estava começando seu novo e próprio capítulo na vida. Ela
não sabia exatamente qual capítulo estava começando. Tudo o que ela sabia com
certeza era que um capítulo bem definitivo estava terminando naquele fim de
tarde com a galera na praia.

Cinco dias depois, Katie começou o treinamento oficial para seu novo cargo de
assistente dos residentes e tudo em sua vida mudava mais uma vez.

Ela desligou seu despertador e procurou por todo lugar por seu manual do AR que
ela deveria ter lido durante o verão. Hoje foi a primeira vez que ela o tirava para
fora da caixa; onde o tinha depositado desde que o recebera, o que foi nove
semanas atrás.

Suas intenções tinham sido de sentar assim que o período do verão acabasse e ler
todo o projeto de uma só vez. Ela tinha tudo planejado - ela iria gastar muitas
horas com um jarro de chá de ervas e um lápis bem apontado, dessa forma ela
estaria preparada para tudo antes da primeira reunião. Esse tempo idealizado de
estudos nunca aconteceu. Ela trabalhou no Ninho da Pomba até o horário de
fechar na última noite e agora esperava que de alguma forma ela pudesse
escapar do radar da reunião.

Julia tinha convidado Katie para ir ao seu apartamento dois dias antes, mas ela
não pôde ir. Ela não tinha nem conseguido arrumar um tempo para visitar Nicole
porque, assim que Nicole se mudou para o dormitório, ela teve que voltar para
Santa Bárbara para a festa de aniversário de seu pai.

Sem nenhuma aparente preparação ou estudo, Katie apareceu para o primeiro


dia de treinamento dos ARs numa manhã quente de agosto. O lugar na grama
planejado para o encontro e sob a sombra atrás da biblioteca fora uma boa
escolha. Pelo menos o lugar prometia que a coisa seria casual.

Craig providenciou donuts e bebidas. Julia trouxe os cobertores sobre os quais


eles poderiam se sentar. Os dois pareciam um par incomum para liderarem
juntos, mas de alguma forma a combinação de seus temperamentos e estilos de
liderança funcionavam. Ambos eram bem respeitados pelos outros ARs, Katie
podia notar.

Dando uma olhada geral no grupo enquanto cada um começava a comer seu
donut, Katie se perguntava se os outros tinham lido o manual. Ela estava
plenamente convicta de que era a única nova mulher na equipe; os outros dois
novos ARs eram rapazes. Todos os outros reunidos na grama tinham trabalhado
no ano interior no mesmo dormitório e no mesmo andar. O fato de que cinco
deles tinham voltado para um segundo ano dizia muito sobre suas experiências
anteriores. Isso também significava que cinco dos oito já tinham gastado um ano
crescendo próximos uns aos outros.

Seu donut tinha acabado e sua garrafa de água, esvaziado, Katie se sentou
silenciosamente esperando pela reunião começar. Todo mundo se encontrava em
círculos de conversas ao passo que ela estava sozinha. Naquele momento, ela se
perguntava se estava realmente pronta para o desafio.

O fato era que ela sabia que não poderia voltar ao modo como as coisas tinham
sido no Ninho da Pomba depois de fazer sua grande despedida na noite passada.
Era isso. Esse era o próximo passo adiante. Ela pensou no passeio à praia na sexta
à noite e como seus velhos e amigos de todo dia estavam ocupados empurrando
carrinhos de bebê e aproveitando suas noites livres se beijando, abraçando e
devolvendo presentes de casamento. Rick estava trabalhando numa função de
um homem de negócios ainda mais ocupado.

Se esse grupo, que estava agora espalhado diante dela nos cobertores, seria suas
novas pessoas de todo dia, Katie teria que encontrar um jeito de fazer isso dar
certo.

Craig oficialmente abriu a reunião com uma oração e então disse:

- Aqui estamos nós, equipe Crown Hall. Eu acho que temos um ótimo ano pela
frente. Nós vamos ter muito tempo juntos; então como alguns de vocês sabem,
esse grupo deve terminar sendo como uma família para vocês em termos de
suporte e encorajamento. Eu espero que isso aconteça. Agora, minha primeira
pergunta para todos vocês é, vocês leram o manual?

O resto do grupo fez que sim com a cabeça e soltou sons de confirmação como se
fosse um grupo da Sociedade de Honra dos estudantes.

- Tem alguém que não leu ainda?

Katie hesitou. Ela não era uma boa mentirosa. Sua mão se levantou antes que ela
pudesse contê-la.

- Ok. Craig fez que sim. Alguém mais?

Os outros encararam Katie como se ela fosse louca. Louca por não ter feito a
leitura requerida ou por ter admitido que não leu. Tanto fazia, eles eram legais,
e ela não era.

Nota a si mesma: Mantenha as mãos abaixadas na próxima reunião.

Julia se inclinou e sussurrou:


- Você vai ficar bem, Katie. Se houver algo mais que não ficou claro pra você
depois do encontro, me avise, e eu posso explicar pra você.

Katie sorriu agradecendo.

- Vamos pular essa parte, Craig disse. Eu estou certo de que você será capaz de
captar o que precisa enquanto nós discorremos, Katie. Como a maioria de vocês
sabe, cada ano nós temos um versículo tema diferente. Esse ano o verso é de
Filipenses 2. Vocês o verão impresso na primeira página do manual. Eu usei a
versão encontrada em “A Mensagem”. Isso é uma paráfrase, claro, mas eu acho
que expressa bem a idéia do que o apóstolo Paulo estava dizendo.

- “Se vocês absorveram algo por seguir a Cristo, se o amor dele tem feito alguma
diferença na vida de vocês, se estar na comunhão do Espírito significa algo para
vocês, se vocês têm um coração, se vocês se importam - então façam-me um
favor: Concordem uns com os outros, amem uns aos outros, sejam amigos
profundamente-vivos1. Não se coloquem em primeiro lugar, não sejam
convencidos. Coloquem-se de lado, e ajudem os outros a avançar. Não sejam
obcecados em conseguir vantagem própria. Esqueçam de si mesmos o suficiente
para emprestarem uma mão amiga.”

Craig olhou para o grupo.

- Isso resume o objetivo do que é ser um assistente dos residentes. Vocês vão ter
oportunidades incríveis esse ano de servir e meu desejo é ver vocês entrarem
naquele lugar de serviço concordando uns com os outros, amando uns aos outros,
e se tornando amigos profundamente-vivos.

Katie olhou em volta para os outros e esperou que aquelas palavras se tornassem
verdade.

1
deep-spirited
Capítulo 14
- Eu amo essa frase, ‘profundamente vivos’ – disse Nicole.

- Eu também, Talitha concordou. Ela era a mais alta das quatro AR’s mulheres e
tinha as maças do rosto salientes e um longo pescoço que lhe davam um perfil
elegante. Eu acho que amigos profundamente-vivos é uma ótima descrição.

- Sim, Katie disse e adicionou espontaneamente: É como ser Tesouros Peculiares.

Todos se viraram a olhar pra ela.

Por um segundo ela pensou que eles não tinham ouvido direito então ela repetiu
a frase:

- Vocês sabem, como no Velho Testamento, Êxodo, eu acho. Deus chama o seu
povo de seus ‘Tesouros Peculiares’.

Como ninguém acenou em reconhecimento do termo, Katie tentou explicar:

- É o que eu e minha melhor amiga usávamos para chamar uma à outra. Na


verdade, nós ainda nos chamamos assim. Quero dizer, não todos os dias e nem
sempre em voz alta, mas vocês sabem, é só... é uma outra forma de dizer que
nós somos Amantes de Deus.

O grupo continuou a fitá-la.

- Amantes de Deus. Crentes. Vocês sabem, Cristãos. Katie parou hesitante.

Craig deu a Katie um sorriso. Para Katie, parecia o tipo de sorriso que a pessoa
dá para um gatinho brincalhão enroscado em sua bola de fios.

- Ok. Craig lentamente balançou sua cabeça. Bom. Obrigado por adicionar isso,
Katie.

Ninguém mais tinha alguma coisa para dizer sobre o versículo tema, então Craig
trouxe sua atenção de volta para a agenda.

Outra nota para si mesma: Manter o bico fechado.

Craig folheou a seção inicial, gastando uma hora em vários procedimentos do


dormitório, monitorando um debate sobre quantos eventos eles estariam
planejando aquele ano e seguindo para um checklist de detalhes que deveriam
ser observados no fim de semana quando os estudantes se mudariam para os
dormitórios.

Katie manteve seus ouvidos abertos e sua boca fechada.

Craig passou para como tratar situações de aconselhamento. Alguns dos tópicos
eram sobre o que fazer se um estudante demonstra evidências de um distúrbio
alimentar ou sinais de estar pensando em suicídio. Katie tomou notas nas
margens, escrevendo tão rápido quanto poderia. Foi quando o treinamento ficou
mais intenso. Ela esperava que não precisasse usar nenhum dos passos esboçados
para os problemas específicos. Mas se ela aconselhasse garotas com problemas
sérios, ela queria estar preparada.

Assim que terminou essa seção, a reunião parou para o almoço na lanchonete.
Katie caminhou pra cima com Julia, e Julia disse:

- Eu nunca tinha ouvido aquele termo antes. Como era? Tesouros Peculiares?

Katie acenou com a cabeça.

- Eu gostei muito. Eu estou feliz por você ter acrescentado aquilo à conversa.
Você está sendo uma boa adição a esse grupo, Katie.

Katie deu a Julia um olhar cético.

- Combinar pessoas juntas leva um pouco de tempo, Julia disse. Está aí uma coisa
que vocês terão bastante neste semestre – tempo juntos.

Elas entraram na lanchonete e Katie notou que o pessoal era mínimo. Esse era
um curto intervalo entre as sessões de verão e o termo do outono e um limitado
serviço de comida estava disponível às pessoas que trabalhavam no campus. O
balcão de saladas foi provido, pizzas de pepperoni esperavam sob um abajur de
calor e a máquina de iogurte gelado estava ronronando com uma barriga de aço
inoxidável cheio de iogurte de morango de baixo teor de gordura.

Uma competição começou para ver quem conseguiria encher mais o próprio copo
de iogurte antes que a matéria-prima rosa suave entornasse pelos lados. Katie
pensou que estivesse no jogo, mas um dos rapazes mais estudiosos, Jordan,
conseguiu acrescentar mais espiral ao seu prato sobressalente de iogurte
congelado do que Katie poderia.

- Fechado. Katie disse voltando para perto de Nicole.

- Nós não te advertimos que nós somos um grupo bastante competitivo, Nicole
disse.
Essa era uma coisa boa para Katie. Ela é bem competitiva. De fato, tudo o que
eles tinham que fazer era encabeçar um losango de softball e ela lhes mostraria
como poderia ser uma pequena competição em uma quente tarde de agosto.

Katie trouxe o tópico à tona para o grupo, mas mais uma vez foi encontrada por
olhares fixos e curiosos. Ela se retirou, percebendo que havia meses desde que
ela tinha balançado um morcego. Se ela fosse se encaixar nesse grupo, seria nas
condições e na grama deles, não dela.

Levando sua bandeja para a área de limpeza indicada, Katie notou o Cara do
cavanhaque vindo em outra direção. Ele estava usando seu uniforme de
segurança do campus e parecia bronzeado, o que ela pressupôs ser o resultado
de rodar em volta com esse carro de golfe o verão todo.

- Olá, ele chamou, reconhecendo Katie mesmo ela tentando virar sua cabeça
para longe dele.

- Olá, o que foi?

- Ei, o que aconteceu com o seu ticket do estacionamento? Ele estava próximo a
ela agora e o telefone celular colocado na bandeja dele estava vibrando e
saltando ao redor do plástico.

- Eu paguei. Notícias velhas. Seu telefone está tocando.

- Obrigado.

- Qualquer hora. Katie cortou a frente dele e colocou sua bandeja na abertura de
entrada. Ela o ouviu dizer “Alô” e continuar conversando.

Por que esse cara me irrita tanto? Ele me faz ficar incomodada. É como se ele
estivesse tentando me conhecer, mas eu não vejo razão para ele querer isso.

Ao invés de retornar para o gramado, Craig direcionou o grupo para a sala de


conferência na fresca e quieta biblioteca do campus. Sentando-se ao redor de
uma larga mesa como uma reunião de executivos para descobrir quem será
despedido, os AR’s do Crown Hall iniciavam um novo tipo de treinamento. Craig
disse que cada um deles iria responder duas questões. A primeira questão era de
uma lista aleatória. A questão seguinte viria de uma pessoa do grupo.

Talitha foi a primeira a responder. Em três minutos o grupo ficou sabendo que
ela quis ser bailarina quando ela crescia na Filadélfia e que os ancestrais do lado
de seu pai vieram da Somália.

Katie foi a próxima. Sua primeira questão foi: Qual é o seu traço preferido que
você herdou de sua mãe?
Katie não tinha resposta. Ela piscou e esperou por uma resposta que voasse
através do ar e pousasse em seus lábios.

- Só um – Craig disse, como se ela estivesse escolhendo entre infinitas


possibilidades. Um único traço herdado de sua mãe que você considera seu
favorito.

- Acho que devo dizer meu nariz, porque o nariz do meu pai é realmente amplo e
eu estou feliz por meu nariz ser mais como o da minha mãe é.

Ninguém respondeu.

- Eu na verdade estava procurando por algo mais interno, Craig disse. Um traço,
atributo ou característica é mais próximo das linhas para as quais eu estava indo.
Você sabe, como ser um bom ouvinte ou ser generoso. Alguma coisa assim.

Katie deu de ombros, incapaz de dar a Craig o tipo de resposta que ele estava
procurando. Esse era um dos problemas que Katie encontrara quando escolheu ir
para uma universidade evangélica. As aulas eram ótimas. Os professores eram
estelares. A qualidade da educação era excelente, tanto no nível acadêmico
quanto no espiritual. Mas durante momentos como este, quando uma resposta de
“escola dominical” era esperada, Katie não sabia nenhuma resposta de escola
dominical. Ela poderia talvez falar apenas olhando para os outros que haviam
crescido em famílias cristãs. Eles provavelmente tiveram festas de chá de
ursinhos de pelúcia com suas mães quando eles eram pequenos e receberam
anéis de pureza de seus pais quando estavam no ensino médio. O pacote de
cuidados de casa deles provavelmente vinha toda semana com pequenas e
inteligentes notas de amor e biscoitos adocicados com glacê rosa.

Nesse momento parecia que o resto do grupo estava surpreendido na parte


peculiar da expressão Tesouro Peculiar de Katie.

Talitha fez uma pergunta diferente.

- E quanto a isso, Katie: Os seus pais tinham um apelido para você quando você
estava crescendo?

- Sim.

- Qual era? Ela perguntou.

Katie rapidamente cobriu a falha próxima em sua fachada:

- São três questões. Craig não disse que nós só teríamos que responder duas
questões? A resposta para minha segunda pergunta foi ‘sim’.
O riso que murmurou ao redor da mesa era do tipo que Katie amava extrair das
pessoas, especialmente quando ela estava tentando baixar a guarda1 em novas
situações. Se as pessoas não soubessem que seu apelido era um tanto quanto
engraçado, eles estariam menos prováveis a esperar que ela divulgasse qualquer
parte séria da sua vida. Katie gostava desse jeito.

Sempre os faça rir antes de você ir embora; é disso que eles vão se lembrar. Esse
era o lema não escrito de Katie.

Além do mais, como ela poderia dizer a esses potenciais novos amigos que o
apelido que ela cresceu ouvindo de seus pais era “Nosso pequeno erro”2?

Não, nenhum deles entenderia o que era ser indesejada. Katie explicara para
Rick no último inverno que cresceu se sentindo tolerada como criança, ignorada
como adolescente e, agora, apartada como um chato quase esquecido. Ela disse
a ele que tudo o que ela sempre quis foi pertencer a alguém.

Rick a surpreendeu com sua resposta. Parte dela esperara que ele dissesse algo
como: Eu te quero, Katie. Você pertence a mim agora. Eu vou cuidar de você.
Ele não disse aquilo. Mas sua resposta foi a melhor, realmente: Você pertence a
Cristo, Katie.

Katie atraiu aquela verdade e a segurou como uma forma de adoção


completamente executada. Isso não a fez se sentir diferente. Certamente não a
fez sentir-se aquecida e especial da forma que ela sabe que teria se sentido se o
Rick tivesse dito: Eu te quero. Você pertence a mim.

Mas isso era verdade. E verdade, o tipo de verdade que tem força para libertar,
às vezes vem sem emoção. Como uma âncora, simplesmente segura
rapidamente. A identidade turbulenta de Katie estava se acalmando. Mesmo
hoje, enquanto os ventos e ondas da insegurança lhe dão pontapés, a verdade
das palavras de Rick permanecia fixada no coração de Katie. Elas voltaram a ela
agora à medida que ela apartava o apelido de “Nosso pequeno erro” e ouvia a
voz forte de Rick atrás da sua mente. Você pertence a Cristo.

Katie queria saber se o velho apelido que seus pais haviam lhe dado era a razão
para ela ficar atenta ao Rick apelidando-a. Ela não queria ser rotulada de
qualquer coisa que não fosse ela mesma. Seu eu de mulher universitária. Katie.
Somente Katie.

Ela sabia que se no inverno passado Rick tivesse dito “Você pertence a mim”, ela
seria uma pessoa diferente do que é agora. Ela não teria a liberdade que Rick lhe
dera para estabelecer sua real identidade. Katie sabia que ela teria se ligado a
Rick e ido a qualquer lugar que os ventos e ondas levassem a vida dele.
1
Não sei se é exatamente essa a tradução, mas o sentido é parecido. Caught off-guard.
2
Our Little Miss Take. Em inglês é mais legal, porque brinca com o duplo sentido de Miss.
- Tudo bem. Vamos para a próxima pergunta. Craig disse. É você, Nicole.

A pergunta de Craig para Nicole foi:

- Se você não tivesse vindo pra Rancho Corona, o que você acha que estaria
fazendo em vez disso?

Nicole pensou um minuto.

- Eu acho que teria ido para a Austrália viver com minha irmã por um ano.

A resposta dela produziu muitos sotaques falsos e tagarelices sobre cangurus e


ursos coala.

- Ok, Craig pôs fim à discussão down-under1. A próxima questão para Nicole
precisa vir de um de vocês.

O exercício continuou em volta do círculo. Muitas informações sobre cada AR


foram compartilhadas. Katie percebeu que não era a única com uma infância
turbulenta. A honestidade dos outros a ajudou a relaxar e sentir como se talvez,
somente talvez, ela pudesse se encaixar nesse grupo. Se ela tivesse sido a última
no círculo, ela sabia que poderia ser mais aberta com suas respostas.

Craig concluiu a sessão com um resumo de porque ele tinha dado a eles esse
exercício.

- Eu quero que todos vocês aprendam tanto a escutar os outros como responder
honestamente. Limites precisam ser respeitados e eu acho que todos vocês
fizeram um belo trabalho nessa área. Nós somos um time e nós precisamos
aprender como trabalhar juntos como uma unidade coesa. Aprender a fazer as
perguntas certas ao outro e, mais importante, aprender a ouvir a resposta.

A sessão de treinamento continuou sem intervalo até mais de 18:30. Craig


conseguiu passar por todas as seções restantes da agenda, incluindo
procedimentos de segurança e procedimentos de saúde. O assunto final, que
animou os ARs que retornavam, foi a menção do retiro de dois dias para o qual
todos os ARs embarcariam na manhã seguinte.

Antes do grupo se desmanchar para o jantar, Craig distribui dois grandes sacos de
lixo pretos e deu a instrução final, que não fez sentido para Katie. Ao invés de
interromper o fluxo da reunião, Katie esperou até que eles estivessem no
caminho para o jantar.

1
Não sei se essa expressão tem um correspondente em português. É uma forma que eles usam para se referir à
Austrália, Nova Zelândia, etc. Se fosse traduzir ao pé da letra, seria “debaixo de”, mas isso não ia se encaixar
na frase.
Ela pegou Nicole de lado para perguntar:

- Você sabe o que o Craig quis dizer quando ele disse que poderíamos embalar
apenas o que conseguíssemos encaixar nos sacos de lixo? Ele quis dizer que nós
iremos colocar nossas bagagens dentro dos sacos de lixo?

- Não, os sacos de lixo são a sua bagagem. É suposto que você empacotará suas
necessidades mínimas e aqueles itens que couberem dentro de um saco de lixo.
Isso inclui seu saco de dormir.

- Quer dizer que é pra caber em dois sacos de lixo?

- Não, só um. Os sacos são dobrados para reforçar - Nicole sorriu.

Bagagem leve não era um problema para Katie. Ela não notou que era
minimalista. O que a preocupava era que ela não sabia onde eles estariam indo
para o retiro. Nenhum dos estudantes sabia. Isso tornava fazer as malas um
desafio.

Enquanto Katie e Nicole caminhavam pra dentro da lanchonete atrás do resto do


grupo delas, elas farejaram o ar, virando uma pra outra e dizendo juntas:

- Sticks de peixe.

- E batatas fritas, sem dúvida, Katie adicionou.

- Eu não acho que tenha comido sticks de peixe em toda a minha vida antes de
vir pra universidade, Nicole disse.

- Oh, quantas sensações de comigo congelada-queimada você perdeu durante a


sua infância.

Não, eu experimentei as sensações de comida congelada. Minha mãe costumava


fazer empadões de carne de galinha congelados todo o tempo. Não empadões
extravagantes com rótulos de nome-marca. Ela estocava na loja de produtos
genéricos e cozinhava para nós sobre um papel que endurecia junto com um doce
transbordante quando os empadões de carne explodiam, o que sempre acontecia.
Acha que quem lavou os pratos e tentou limpar o doce da torta de frango de
panela queimado?

- Ok, você venceu, Katie disse. Suas comidas menos favoráveis de infância são
piores que as minhas. E pra ser honesta, eu realmente gosto dos sticks de frango
que eles servem aqui. Mais ainda quando eles têm batatas fritas também. Se
você colocar os dois na sua boca ao mesmo tempo, eu acho que as batatas fritas
cancelam o sabor do peixe.
- Eu vou tentar isso. Eu normalmente cubro os sticks de peixe com molho de
fazenda. Funciona também.

O Telefone de Katie estava vibrando e ela deu uma olhada na mensagem de texto
que estava chegando. Era do Rick. CINEMA? 19:15.

Ela escreveu de volta, AINDA EM REUNIÃO.

Enquanto Katie e Nicole pegavam suas bandejas e entravam na fila, Rick retornou
com, 21:20?

- Nós temos alguma coisa pra depois do jantar? Katie perguntou a Nicole.

- Estou certa de que teremos alguma coisa, mas eu não sei o quê. Ano passado
nós apenas penduramos um no outro para nos conhecermos melhor como um
time.

Katie escreveu de volta, NÃO POSSO.

A resposta de Rick veio antes dela pegar o caminho para os molhos de fazenda.
AINDA? ÀS 21?

SINTO MUITO. NÃO POSSO ESTA NOITE.

Katie parou e olhou para a mesa onde o restante dos Ars estavam esperando por
ela. Esta não era uma boa hora para ela pular fora. Ela enviou uma mensagem de
volta para Rick dizendo que poderia ligar pra ele mais tarde. Ela esperava que
ele entendesse. Ela estava trabalhando. Ela tinha um novo trabalho. Era isso. As
horas do treinamento de AR não eram nitidamente definidas como as horas no
Ninho da Pomba.

Rick entenderia. Ele não era a âncora dela. Esse era o próximo capítulo do
relacionamento deles e estava sendo diferente dos anteriores.
Capítulo 15
Quando Katie retornou ao seu quarto no dormitório na noite de segunda-feira, já
eram mais de onze horas. Ela tinha seus dois sacos de lixo que Craig passara para
cada um dos ARs, assim como alguns papéis que ela tinha que preencher antes
deles partirem para o retiro de treinamento pela manhã.

O que ela não tinha era um sentimento definido sobre o que viria logo à frente.
Katie normalmente tinha a aparência de alguém que apreciava viver
espontaneamente, no momento. Ela amava a idéia de novas aventuras e de dar
novos passos de fé.

Contudo, quando chegava o momento de arriscar, ela freqüentemente se achava


ansiosa e cheia de dúvidas. Esses eram os momentos em que ela parecia estar
face a face com seu verdadeiro eu. A Katie que nem sempre tinha uma resposta
rápida ou uma expressão facial engraçada. Aquela era a Katie refletida agora no
espelho de corpo inteiro atrás da porta do seu quarto.

- O que você está tentando provar? A verdadeira Katie perguntou a si própria. Por
que você quis pegar esse cargo de AR? Você não sabe aconselhar ninguém.
Verdade seja dita, você é provavelmente quem precisa de conselhos. Quando
você tentar guiar, você honestamente acha que alguém irá te seguir?

Os olhos claros de Katie no espelho não responderam.

- É muito tarde pra voltar atrás? Eu posso voltar para o Ninho da Pomba e apenas
estar com Rick todos os dias? É possível pra minha vida voltar ao que era nos
últimos sete meses?

Katie caminhou pra longe do espelho. Ela poderia ouvir a verdadeira Katie
replicar,

- Nos últimos sete meses você esteve procurando por algo mais. Lembra-se de
quão inquieta você estava? Isso é o que o Senhor colocou na sua frente. Aceite
isso1 e seja grata.

Katie sorriu. A última fala que ela ouvira de sua mente foi de um vídeo que ela
assistira há vários meses, na época em que ela realmente tinha tempo livre em
sua vida para fazer tais coisas. O filme abria com uma cena em um orfanato no
qual todas as crianças agitadas faziam uma fila para receber sua colherada de
óleo de rícino. A mal-humorada matrona do orfanato dava a cada criança um
1
Em inglês a expressão seria: Take it and be thankful. Literalmente seria: Tome isso e seja grato (a). Mas isso
não se aplica ao "cargo da Katie". Por isso, nesse caso, traduzi para ACEITE. Mas no caso de óleo de rícino
fica TOME mesmo, por causa do contexto.
olhar malvado antes de empurrar o medicamento na sua boca. A cada um deles,
ela dizia,

- Tome! Tome e seja grato.

Katie sorriu porque sabia no fundo do seu coração que essa oportunidade de
servir como uma AR não era uma desagradável colherada de óleo de rícino. Isso
era um presente. Ela estava agradecida. Ela havia aceitado o cargo de boa
vontade e com alegria.

Com as mãos nos quadris, ela falou em voz alta dentro do quarto.

- Todas as suas inseguranças e dúvidas terão que ir agora. Vá para o lugar que
Jesus as enviou. Vocês não são bem vindas aqui. Saiam.

Suas palavras surpreenderam-na. De onde veio isso?

Tudo o que ela sabia era que o quarto parecia mais espaçoso. Seus pensamentos
se achavam mais leves.

Outra nota para si mesma: Seja valente quando as mentiras vierem até você.
Você pertence a Cristo, Katie. Siga bem perto dele.

Uma imagem veio à Katie de um grupo de mentiras e dúvidas beliscando em seus


calcanhares. A imagem era como um esboço de caricatura de um grupo de
repugnantes lesmas verdes com dentes de navalha afiados avançando lentamente
bem atrás dela e cravando suas mandíbulas. Contudo, quando ela chegava perto
do Senhor e começava a caminhar em compasso com ele, as lesmas repugnantes
gritavam e rastejavam na direção oposta. As mentiras perecem quando elas
chegam perto da verdade.

Mantendo o frescor que envolvia sua profunda respiração, Katie decidiu fazer a
sua cama. Ela não era, por natureza, uma "fazedora de cama". Nas duas últimas
noites desde que ela se mudou para esse quarto no Crown Hall, Katie tinha
dormido em seu saco de dormir em cima da sua cama porque isso era uma
simples, rápida e conveniente coisa a se fazer. Agora que ela precisava embalar
seu saco de dormir para o retiro de treinamento de AR, ela queria realmente se
mudar e se situar no seu novo ambiente.

Indo para o canto do seu quarto, Katie abriu a caixa de cima que balançava em
uma pilha de quatro recipientes inclinados para o lado. A caixa de baixo estava
começando a ceder. Decidida a ir ao trabalho, Katie liberou seus pertences de
suas prisões de papelão e encontrou seus lençóis e sua fronha preferida da
Pequena Sereia que ela havia comprado no Galpão da Economia. Levantando uma
bolsa de roupas sujas, Katie desceu pelo corredor vazio até a lavanderia,
empurrando seus lençóis e roupas dentro de duas máquinas de lavar.
Enquanto suas roupas lavavam, Katie colocava seus pertences dentro das gavetas
da cômoda economizando bastante espaço. O tempo total da mudança foi de
aproximadamente vinte e oito minutos. Ela pensou em como isso levara quase a
mesma quantidade de tempo para simplesmente fixar e erguer o guarda-sol para
Trícia e Douglas quando eles foram à praia com o bebê Daniel. Ela nunca
imaginara que aqueles dois se transformariam em um circo ambulante com toda
aquela parafernália de bebê. Eles estavam até mesmo falando em comprar um
carro maior e se mudar para uma casa mais espaçosa.

Ela então pensou em Cris e Ted, que tinham usado todo o espaço do armário para
todos os presentes e pequenos eletro-eletrônicos deles. O apartamento deles
ainda continha algumas caixas empilhadas de presentes de casamento. Eles
estavam tentando decidir se deveriam manter ou trocar alguns dos itens. A vida
de casado deles estava cheia de "coisas domésticas", como Ted as chamava.

Algumas semanas atrás, Cris havia convencido Katie a ir fazer "devoluções” com
ela numa noite depois do trabalho. A resposta de Katie tinha sido:

- Claro, eu ainda tenho um cartão-presente de sua tia que eu preciso usar para
alguma coisa. Eu poderia fazer umas pequenas compras.

- Não, não, não. Devolução é diferente de compra, Cris explicou.

- Você tem que responder questões, preencher formulários e tentar decidir bem
naquela hora se você quer dar uma olhada em alguma coisa para usar seu crédito
da loja. Devolução usa um tipo de energia mental diferente da compra, e eu
estou farta de ir sozinha. Ted só foi devolver comigo duas vezes. Eu estou num
ponto em que só posso ficar indo a uma loja por viagem.

Katie se sentiu como um burro de carga na excursão da devolução, carregando


pela loja um liquidificador na caixa, uma torradeira na caixa, e dois fazedores de
waffle na caixa. Cris carregava uma colcha numa embalagem de plástico que
vinha com uma alça. Com seu outro braço ela balançava uma cafeteira e uma
fronha com uma palmeira desenhada. Para a mulher no caixa ela disse, “Essas
são duplicatas.” O que era verdade para a descrição de Cris sobre o processo,
fora requerido que ela preenchesse um monte de formulários e fosse então
convidada a “dar uma olhada em algo mais”.

- Não, obrigada, Cris disse enquanto dobrava seu cartão-presente dentro de sua
carteira atrás de três cartões-presente de outras lojas.

Katie avistou uma geladeira perfeita para seu quarto enquanto elas caminhavam
rumo à porta. Ela comprou-a e a rebocou para o Volvo de Cris.

Agora que Katie havia removido as quatro caixas de papelão do seu quarto, ela
comparou sua cota de “coisas domésticas” com as que Cris e Ted tinham que
lidar. Ela decidiu que gostava da benção simples de viver equipada com o básico.
Ela não estava pronta para torradeiras e liquidificadores e ter que levar um
guarda-sol para a praia. Mas o frigobar era certamente um bom divertimento.

Assim que seus limpos lençóis saíram secos da secadora, Katie os estendeu sobre
sua nova cama. Para ela, na quietude desse momento da meia-noite, esse gesto
era um pequeno ato de adoração. Seu esforço para se “aninhar” era seu jeito de
dizer que ela desejava “aceitar isso e ser grata”. O que quer que viesse, Katie
estava pronta para aceitar. E sem dúvida, ela estava grata.

Com a cama feita, suas roupas penduradas no armário, e suas gavetas


organizadas, Katie empacotou as coisas essenciais que foram chamadas no retiro
de lista “Para Trazer.” Seu saco de dormir e tudo mais couberam facilmente no
seu duplo saco de lixo.

Então, porque isso pareceu celebrável, Katie tomou um quente e cheiroso banho
antes de subir para seus limpos, macios e envolventes lençóis de fibra sintética.
Ao checar o relógio de seu celular, ela notou outra mensagem de Rick. ME LIGUE
HOJE À NOITE.

Ela já ia apertar o número 1 para a discagem rápida do número de Rick. Então


ela parou e reconectou o telefone ao carregador. Era 1:15 da manhã. Mesmo se
Rick ainda estivesse acordado, ela não queria tentar resumir esse longo dia numa
curta conversa. Ela sabia que ele devia estar chateado por ela não ter ligado
mais cedo, mas ela tinha uma longa lista de razões legítimas.

Katie decidiu que ligaria para ele de manhã, quando ambos estivessem
“renovados”. Uma nova “manhã de misericórdia” seria a hora para falar com ele.

Deitando na limpa maciez de seu quarto, Katie percebeu a doce companhia da


solidão quando um coração está rendido e pronto para o que virá em seguida. Ela
não sabia se estava inteiramente pronta para o que viria em seguida, mas ela
desejava estar.

Eu me pergunto se desejar é tão bom aos olhos de Deus quanto estar pronta.
Especialmente uma vez que é um tanto quanto difícil estar pronta quando você
nem sabe para onde você está indo de manhã!

Naquela noite, Katie sonhou que estava boiando sobre uma balsa em águas bem
azuis. Sobre seu pequeno colchão inflável da balsa, todos os seus pertences a
cercavam. De alguma forma, o balançar da balsa era simplesmente estável. Ela
não estava com medo de ser tombada por todas as suas “coisas domésticas”.
Arredando um pouco para trás, com os braços cruzados atrás de sua cabeça,
Katie sonhava em estar flutuando contentemente pelo que pareceram dois
minutos antes de seu despertador tocar às 6:30, forçando-a a sair da cama e do
seu sonho.
Gemendo e reclamando durante todo o caminho pelo corredor até o grande
banheiro coletivo, Katie entrou arrastando os pés e encontrou Nicole no espelho,
passando rímel nos cílios.

- Bom dia! Nicole a cumprimentou.

- Hummh.

- Não é uma pessoa “das manhãs”, pelo que vejo.

- Baffumph.

Nicole sorriu.

- Você já fez as malas?

- Mmmhmm.

- Que bom. Por que você não dá uma passadinha no meu quarto quando estiver
pronta, e nós podemos ir juntas para a fonte para nos encontrarmos com todos?
Eu sei que você provavelmente se lembra de Craig dizendo isso ontem, mas
certifique-se de usar sapatos bem confortáveis para caminhadas. Ano passado,
era uma manhã quente quando nós partimos e um monte de nós estava calçando
chinelos. O ônibus nos deixou na estrada antes de nós chegarmos até o centro de
conferência, e nós tivemos que caminhar mais de 1 km e meio sobre cascalhos.
Meus pés ficaram destruídos.

Katie se aprontou em tempo recorde. Enquanto ela descia o corredor rumo ao


quarto de Nicole, Nicole saía do banheiro com sua bolsa de maquiagem. Katie
estava vestindo um jeans, uma camiseta, sua camisa da Rancho Corona estava
amarrada na sua cintura, e o par mais confortável de sapatos que ela tinha.

- Como você pode ficar tão bonita tão rapidamente? Nicole perguntou. Você
levou, tipo, quatro minutos.

- Eu decidi que eu sou minimalista, Katie disse. Eu arrumei meu quarto ontem à
noite e percebi que todos os meus pertences cabem no meu carro com lugar
sobrando para um amigo no banco da frente. Uns amigos casados que tenho
acabaram de ter um bebê, e eles levaram em apenas uma tarde para a praia
mais coisas do que tudo que eu possuo. Então, noite passada, eu decidi que gosto
de ser minimalista.

- Você vai ser uma influência pra mim, Nicole disse com um grande sorriso. Você
ainda não viu meu quarto, né?
- Não até eu te ajudar a carregar umas caixas no sábado.1

- Prometa que não vai zombar de mim.

- Por que eu zombaria de você?

- Por causa disso. Nicole abriu a porta do seu quarto, e a mandíbula de Katie
caiu. O quarto parecia com algo saído de uma revista de decoração. A cama de
Nicole tinha uma pequena ondulação, uma colcha perfeita em amarelos e azuis,
meia dúzia de travesseiros enfileirados perfeitamente, uma cortina listrada sobre
a janela que combinava com todo o resto, um tapete felpudo no centro do
quarto, uma poltrona confortável no canto oposto com uma “combinante”
almofada azul no centro do convidativo ninho. Meia dúzia de fotos emolduradas
foi colocada perfeitamente nas paredes.

Katie soltou seu saco de lixo.

- Eu sei. Chocante, não é? Eu fiquei acordada até depois da meia noite nas
últimas três noites. Eu estou muito focada em fazer do meu ambiente algo
bonito. Isso é uma doença.

Katie se virou para Nicole, e com um tom de voz mais alto do que ela pretendia
ter usado, ela disse:

- Jamais diga que isso é uma doença.

Nicole recuou.

- Seu quarto é lindo. Katie redirecionou seu pensamento para um jeito mais
positivo. É isso que eu estava tentando dizer. O que você fez com seu quarto é
maravilhoso. Não despreze sua obra de arte. Isso é um talento, Nicole, não uma
doença. Você juntou um monte de espaço e “nada”, e fez uma obra de arte.
Você fez uma maravilha.

Os olhos de Nicole lacrimejaram. Ela deu um grande abraço em Katie.

- Obrigada.

- Pelo quê?

- Obrigada por dizer isso. Obrigada por me fazer sentir como se não houvesse
nada de errado em eu amar fazer do meu quarto algo bonito.

1
Em inglês está: "Not since I helped carry in a few boxes on Saturday". Não entendi.
- Essa é a verdade, Katie disse. Na sua imaginação ela podia quase ver um monte
de lesmas nojentas correndo da verdade que ela tinha acabado de dizer no
quarto de Nicole.

Nicole balançou a cabeça lentamente.

- Sim, essa é a verdade. Como você chamou isso? Minha obra de arte? Você está
certa. Eu sou igual à minha mãe; é assim que eu me expresso. Obrigada, Katie.

- Disponha. Eu espero que sua criatividade me atinja esse ano. Eu sou uma
minimalista, e minha mãe é quase que uma ‘suficientista’. Ou talvez ela esteja
mais pra uma ‘chatista’.

Nicole gargalhou, mas Katie não.

- É verdade, Katie disse.

- Vamos lá, nós temos que levar suas tralhas minimalistas de retiro para a fonte.

Enquanto elas iam com seus sacos de lixo sobre seus ombros ao estilo Papai Noel,
Katie disse:

- Então me diga o que devo esperar.

- É difícil dizer. Você sabe que ano passado nós fomos até um centro de
conferência nas montanhas e ficamos em cabanas. Eu ouvi rumores de que nós
devemos ir pra lá de novo.

- Por que eles mantêm o lugar em segredo?

- Eu acho que é pra colocar todos no mesmo nível no começo. Ninguém sabe o
que esperar, e já que nós só podemos levar o que está na lista, todos estamos na
mesma.

Muitos estudantes estavam aglomerados na área da fonte quando Katie e Nicole


chegaram. Mais alguns pareciam estar vindo de todas as direções. Katie achou
estranho assistir tantas pessoas caminhando pelo campus com seus grandes sacos
de lixo pretos.

- Quantos ARs há? Katie perguntou a Nicole.

- Ano passado o total foi trinta e seis, oito de cada dormitório.

- Nós temos apenas quatro dormitórios. Deve dar um total de trinta e dois.

- Você esqueceu o Brower Hall. É de onde os outros quatro são.


- Ah é. Como eu poderia ter me esquecido do Brower Hall? Foi onde eu morei no
semestre passado. Antes de lá, eu morei no Sophie Hall.

Sophie Hall era o mais novo, o mais impressionante dos dormitórios. O hall de
entrada foi desenhado para parecer com o saguão de um hotel clássico. No
centro do prédio estava um pátio aberto completo com o que Katie chamava de
“a selva”. Altas palmeiras, diversas plantas, e um lugar cheio de bancos faziam
do lugar o ponto favorito para casais terem suas conversas de coração-pra-
coração.

Katie preferia a área da fonte no centro do campus. O jeito como a luz do sol
mudava continuamente a aparência da água contra os azulejos azuis, fazia com
que ela sentisse como se este fosse o lugar onde vida e esperança jorravam em
meio a prédios que a cercavam.

Ela também decidiu que preferia o Crown Hall aos outros dormitórios no campus.
Os quartos eram um pouco menores do que no Sophie Hall e no Brower Hall, mas
o Crown oferecia janelas maiores. Ela também achava o saguão do Crown melhor
que o do Sophie. Ele era direto. A porta deslizante de vidro se abria para uma
grande área com poltronas, uma mesa de sinuca, e mesas de café feitas de
madeira maciça que serviam tanto para os estudantes quanto para pés, laptops,
livros ou jogos de tabuleiros. Para Katie, o saguão do Crown Hall parecia com o
cômodo extra da casa em que ela sempre desejou ter crescido. O único cômodo
clichê extra que estava faltando era um com uma cabeça de alce pendurada na
parede. Ou talvez um com um peixe com um longo e pontudo nariz.

O outro aspecto que Katie amava sobre o Crown Hall era o “ninho secreto” no
telhado. A escadaria guiava a uma porta que se abria para uma área plana sobre
o telhado. O parapeito em volta do ninho era tão que mesmo que uma pessoa
estivesse sentada na mesa do pátio ou deitada sobre uma das três cadeiras do
“lounge” na área compacta, ela não saberia que há alguém lá em cima. Katie já
havia planejado utilizar o esconderijo como um lugar para respirar ou para tirar
uma tranqüila soneca.

- Aqui, Nicole deu a Katie um rolo de fita adesiva e um marcador permanente.


Você precisa escrever seu nome no pedaço de fita e colá-lo em um lado de seu
saco.

Katie o fez, adicionando uma carinha sorridente depois de seu nome.

- Você deveria colocar seu último nome, Nicole disse. Há outra AR chamada Katie
no Sophie Hall.

- Você está brincando. Katie olhou em volta. Você sabe quem é ela? Ela está
aqui?
- Eu ainda não a vi.

Katie não conhecia nenhuma outra Katie na Rancho. Seu nome não era
particularmente popular, e ela não tinha que compartilhá-lo com freqüência.
Nesse pequeno grupo, ela não gostava de ser uma das duas Katies. Ela sabia que
isso era ridículo, mas sua singularidade repentinamente diluiu-se.

- Eu te apresento quando eu a vir, disse Nicole.

Katie escreveu “Weldon” em outro pedaço de fita adesiva e colou-o bem depois
da carinha sorridente. Se ela não podia ser a única Katie no grupo, pelo menos
ela seria a única com uma carinha sorridente para sua letra inicial do meio.

As malas deles foram jogadas no porta-malas de um trailer alugado. Greg e dois


dos outros diretores dos residentes estavam em pé à beira da fonte e deu as
direções ao grupo. Eles foram avisados a pegar o café da manhã das mesas e
então se direcionarem para o ônibus fretado que os esperava do outro lado do
campo de futebol. Katie e Nicole pegaram, cada uma, uma maçã, um muffin de
banana e nozes, uma garrafa de água, e entraram no ônibus.

- É ela. Nicole cutucou Katie e apontou com a cabeça em direção à garota de


cabelos curtos e escuros e belos óculos de sol. Katie a reconheceu porque ela
costumava fazer o check-in das pessoas na academia de ginástica do campus. A
outra Katie tinha um temperamento tranqüilo e se mantinha na dela.
Excentricamente, saber que aquela outra Katie não tinha cabelos vermelhos nem
parecia com ela em nenhum aspecto em particular era confortante.

Uma vez que todos estavam no ônibus, um dos líderes distribuiu camisas que
tinham a logo da Universidade Rancho Corona nas costas. Cada dormitório tinha
uma cor diferente, e o nome do dormitório aparecia na manga direita da camisa.
Os ARs do Sophie Hall ganharam camisas brancas, e os ARs de Brower Hall
ganharam camisas azuis. Os próximos foram os de Crown Hall; Nicole ficou feliz
quando ganhou camisas cor de chocolate.

Katie pegou sua camisa quando jogaram pra ela e pensou: De chocolate,
exatamente como os olhos do Rick.

Um repentino sentimento de oh-oh cobriu-a como uma rede. Ela não tinha ligado
de volta para Rick. Ele não sabia que ela estava partindo hoje para o retiro de
treinamento. Se Katie tivesse lido seu manual de treinamento na hora certa, ela
saberia os detalhes desse dia e teria contado a Rick.

Katie tirou seu telefone da sua mochila e tentou ligar. Caiu na caixa postal e ela
decidiu não deixar uma mensagem já que as pessoas á sua volta ouviriam o que
ela dissesse. Também, ela não tinha certeza sobre o que dizer.
Optou por mandar uma mensagem de texto, Katie escreveu que ela estaria fora
do campus pelos próximos três dias para o treinamento. Apertando “enviar” no
seu telefone, Katie soube por que o sentimento de oh-oh fora tão intenso. Essa
era a primeira vez hoje que ela havia pensado em Rick ou lembrado de que
deveria contar a ele o que estava fazendo.

Fitando para fora da janela enquanto o ônibus descia lentamente a via -


expressa, Katie se perguntou, ue isso diz sobre meu compromisso com Rick? Se eu
me importasse com ele o tanto que eu acho que eu me importo, eu me
esqueceria dele por tanto tempo? Talvez nós não estejamos ficando mais
pastosos? Talvez nós estejamos ficando mais flutuantes, e nós estamos flutuando
para longe um do outro.
Capítulo 16
Depois de uma hora de viagem de ônibus com especulações do grupo sobre qual
seria o destino deles, um fato era óbvio. Eles estavam se encaminhando para o
oeste, na direção do oceano e não para o leste na direção das montanhas. Katie
gostou da idéia de um retiro na praia. Nem todos compartilhavam do interesse
dela. Parecia que aqueles que tinham ouvido sobre um local nas montanhas ano
passado se fecharam nessa idéia e estavam desapontados, embora eles ainda não
soubessem onde estavam indo realmente.

Todos eles ficaram surpresos quando o ônibus saiu da auto-estrada em Long


Beach e se dirigiu para uma área de estacionamento no lado do porto onde o
sinal dizia "Estacionamento para a Balsa da Ilha Catalina".

Um zumbido selvagem percorreu o grupo. Quase todos os ARs colocaram suas


camisas coloridas sobre o que quer fosse que eles estivessem vestindo,
juntamente com um sentimento generalizado de uma corrida que estaria prestes
a começar. Uma das garotas atrás de Katie e Nicole disse:

- Eu amo Catalina! Eu estou muito feliz de nós estarmos indo para lá! Minha
família costumava alugar a mesma cabana todos os verões quando eu estava na
escola primária. Eu não volto à ilha há quase dez anos. Isto vai ser ótimo. Eu sei
todos os bons lugares pra nadar.

O desembarque do ônibus levou muito menos tempo que o embarque na Rancho


levara. Katie ajudou a formar uma linha de brigada para que eles passassem as
bolsas do trailer para a balsa que os esperava. Turistas, assim como moradores
da ilha, embarcavam na enorme arte marítima e todos eles davam uma longa
olhada para o pequeno exército de estudantes da Rancho que certamente
aparentavam estar preparados para uma invasão.

- Vamos subir para o topo do barco, Katie sugeriu para Nicole. Ela não queria
estar presa a uma cadeira de praia na cabine interior quando a vista poderia ser
muito melhor ao ar livre, no topo.

- Eu estou falando – Talitha disse – os DRs realmente se superaram planejando


isso. Eu sempre quis ir à Ilha Catalina. Eu ouvi dizer que ela é realmente antiga e
que tudo é bem parecido com o que era nos anos cinqüenta ou algo do tipo.
Clássica Califórnia. Isso é ótimo! Eu vou nadar em todas as chances que tivermos.

O telefone celular de Katie tocou enquanto a balsa estava deixando o porto para
a excursão de hora para Catalina. Ela viu o ID na tela e caminhou para longe do
resto do grupo enquanto atendia.
- Rick, oi. Desculpa por não ter te ligado de volta ontem à noite. Você recebeu
minha mensagem?

- Sim. Eu realmente estou sentindo sua falta, Katie. Está me matando você não
estar aqui no trabalho. Onde você está?

Katie olhou para o litoral de Califórnia. O marco mais visível, o Queen Mary, um
navio a vapor enorme ancorado no porto de Long Beach, estava sumindo ao
longe.

- Você não vai acreditar nisso. Eu estou em uma balsa a caminho de Catalina. Eu
gostaria que você estivesse aqui.

- Eu pensei que você estivesse em treinamento pelos próximos três dias.

- Eu estou. Esse é o nosso retiro. Nós estamos indo para Catalina. Foi uma grande
surpresa para todos.

Houve um silêncio do outro lado da linha.

- Você ainda está aí?

- Eu ainda estou aqui.

- Eu pensei que talvez tivesse perdido o sinal porque nós estamos nos
encaminhando pra longe da costa. Se a linha cair, eu te ligo de volta quando eu
puder. Nós supomos que estaremos até sexta-feira, mas eu não sei se nós
ficaremos em Catalina o tempo todo. O local do treinamento é um segredo.

- Outro segredo?

- Sim, nós não sabemos se vamos ficar na ilha, em um barco ou o quê. É uma
loucura. Ela cobriu em volta do bocal com a mão para proteger da interferência
da brisa do oceano que de repente bateu e causou um estalido alto no telefone
dela. Eu devo te falar porque não te liguei de volta ontem à noite. Nós estivemos
em treinamento no campus todo o dia até tarde da noite. Então eu tive que fazer
as malas para esse retiro e nós tínhamos que nos apresentar às sete esta manhã.
Nós não sabíamos onde estávamos indo até nós vermos as placas de Catalina...
Katie continuou, fazendo bom uso do seu mecanismo de defesa tente-sempre-
ser-interessante.

- Então, na hora que eu reuni todos os meus pertences na noite passada, já era
mais de uma da manhã e eu sabia que eu ainda poderia ligar, mas se você
estivesse dormindo, eu não queria acordá-lo, então...

Ela parou e percebeu que a linha estava muda.


- Alô? Rick?

A mensagem da tela no telefone celular dela dizia "Sinal fraco". Ela não sabia em
que ponto a chamada havia caído e o quanto Rick havia ouvido de sua
explicação. Não que importasse. Rick poderia ter ouvido tudo o que ela disse ou
nada e ainda assim o "sinal" entre os dois estaria "fraco". Essa era a pior coisa pra
ela: Sentir-se emocionalmente desconectada da pessoa que era provavelmente
uma das que mais importava.

Katie voltou e sentou-se perto dos seus amigos na proa do convés superior. Uma
AR do Brower Hall juntou-se a eles. Ela era a única de camiseta azul entre as
cinco camisetas marrons. Era estranho como uma camiseta colorida estabelecia
um limite subentendido.

Katie virou seu queixo na direção do oceano aberto e respirou o ar fresco do mar.
A AR do Brower Hall olhou para Katie e disse:

- Ei, eu conheci um cara que te conhece ontem à noite. Carley disse a ele que eu
era uma AR também. Ele perguntou se nós ainda estávamos em nossa sessão de
treinamento, o que nós achamos engraçado porque nós estávamos no cinema.
Mas então ele disse que o seu grupo ainda estava em treinamento e nós dissemos
a ele que você com certeza estava com o Crown Hall porque eles gostam de
superar limites.

As outras ARs do Crown Hall tinham respostas para o comentário de "gostam de


superar limites" dela.

Katie as interrompeu.

- Quem era o cara que você viu?

- O nome dele é Rick. Ele estava sentado à nossa frente.

- No cinema?

A garota confirmou com a cabeça.

Rick foi ao cinema sem mim. Parecia estranho.

- Carley disse que ele era seu antigo chefe também. Ele me pareceu realmente
simpático.

- Carley?

- Ela estava com Rick ontem à noite no cinema.


Essa parte da notícia desceu pela garganta de Katie como uma pimenta de
jalapeno.

- Quem mais estava lá?

- Só os dois. Rick perguntou se nós a tínhamos visto ontem porque eu suponho


que ele tenha tentado te ligar algumas vezes.

Katie acenou concordando, ainda mantendo sua expressão fixa. Tentando mudar
de assunto, ela perguntou:

- Alguém sabe onde fica o banheiro nessa coisa?

A "cabeça", a outra AR disse. Em um barco eles chamam de cabeça.

Katie não queria saber como se chamava. Ela não estava indo lá mesmo. Ela
estava apenas procurando por uma saída fácil para que pudesse ir pra longe
dessa conversa. Assim que ela ficou fora da vista, ela discou o número de Rick e
esperou que o telefone conectasse. Todas as onze tentativas produziram a
mesma resposta: "Sinal fraco".

Katie respirou fundo e sentiu o ar fresco do oceano aberto refrigerar seus


pulmões. Ela digitou uma mensagem de texto para Rick e tentou enviar. Quando
quer que chegasse, pelo menos Rick saberia que ela estava pensando nele esta
manhã e sentido falta dele também. A coisa mais importante para Katie lembrar
nesse momento era que não havia razão para não confiar em Rick.

Quanto à Carley ela não estava certa.

- Oi. Julia veio a Katie e se apoiou contra a grade, olhando para o mar. Dia
deslumbrante, não é?

- Sim.

Julia se virou e deu à Katie uma longa olhada.

- Tudo bem?

Com um suspiro Katie perguntou:

- Quanto você quer ouvir?

- Tudo. Ou pelo menos o quanto você quiser me contar.

Katie olhou para Julia. Aqui no convés, no ar aberto com o reflexo da água em
sua face, Julia parecia uma piscina refletora. Quando Katie olhou dentro dos
calmos olhos azuis de Julia, ela sentiu como se ela pudesse ver a si própria
olhando de volta.

- Isso pode ser demorado, Katie disse.

- Eu não irei a lugar algum pelos próximos, oh, quarenta minutos ou mais. Julia
disse.

- Ok, bem, há um cara...

- Sim? Julia sorriu como se já tivesse ouvido algumas histórias antes que
começavam com a mesma frase.

- O nome dele é Rick e eu acabei de saber que ele foi ao cinema ontem com
alguém com quem eu não me dou muito bem. Eu não consigo explicar porque não
gosto dela. Eu só não gosto. Então eu não sei o que está se passando com ele. Ele
me ligou na noite passada e me chamou para ir ao cinema, mas eu não podia.
Parte de mim pensa que ele provavelmente tentou formar um grupo para ir ao
cinema, mas no final só ele e Carley puderam ir.

Katie se interrompeu.

- Ops, eu não ia dizer o nome dela.

Julia deu uma leve piscada com um gesto do tipo "prossiga".

- Eu presumo que devo lhe dizer como eu e Rick nos tornamos o que somos hoje.
Indo para um canto fora da brisa, Katie explicou como ela e Rick se encontraram
pela primeira vez no primeiro ano do segundo grau e como ela teve uma queda
por ele desde então.

Ela contou então sobre segundo ano e sobre ela ser a mascote da escola, Katie, a
Oncinha do Kelley High, e Rick era o popular atacante principal do premiado time
de futebol americano deles.

- Ele não prestou muita atenção em mim no segundo ano. Todas as garotas
estavam atrás dele. Então Cris se mudou para Escondido. Cris é a minha melhor
amiga e tem sido por anos.

- Eu conheço a Cris, Julia disse. Ela fez uma matéria eletiva que eu ensinei ano
passado em estudos interculturais.

- É claro. Você estava no casamento dela. Ela e eu nos conhecemos em uma festa
do pijama quando estávamos nos segundo ano. Nós empapelamos a casa do Rick
Doyle. Ele deu uma olhada na difícil Cris e o cara ficou apaixonado. Esta é
realmente uma longa história.
- Da minha parte na novela – Katie continuou – com exceção de alguns blipes
ocasionais no ensino médio, Rick não havia me notado até o outono passado. Ele
está muito mudado desde o ensino médio e suponho que eu tenha mudado
também.

Katie desenrolou para Julia a versão estendida da queda de Rick por Cris no
ensino médio, os anos selvagens de faculdade dele e os dois beijos que ele
roubou de Katie no meio disso tudo, começando com seu primeiro beijo no
Desfile das Rosas no Reveillon em Pasadena.

- O Desfile das Rosas é na verdade uma doce recordação de um jeito estranho,


Katie disse. Um grupo nosso estava acampando na rua esperando pelo desfile na
manhã seguinte. Era meia-noite. Todo mundo estava beijando. Eu estava lá. Rick
estava lá. Ele me beijou. Fim dos detalhes.

- A segunda vez que nós nos beijamos foi poucos meses depois. Era tarde da noite
no lado de fora do apartamento do Rick em San Diego. Cris estava lá dentro
assistindo, eu não sabia disso naquele momento. Rick não me "deu" um beijo
dessa vez. Ele definitivamente o arrancou de mim.

- Claro, eu tendo a ser competitiva, para não ficar pra trás, eu arranquei um
beijo dele de volta. Foi tudo estranho e desajeitado, sem nenhum sentido. Nós
passamos o dia seguinte no Zoológico de San Diego e o Rick praticamente me
ignorou. Foi tudo um monte de coisas do colégio.

- Mas isso ainda machuca, Julia disse. E isso permanece com você por muito
tempo.

- Exatamente. Katie contou à Julia sobre a carta que Rick enviara para ela um
ano antes e como ele tinha se desculpado pela forma que ele a havia tratado. Eu
o perdoei depois de ler a carta. Eu achei que nunca iria vê-lo de novo.

- Então no outono passado eu estava no Ninho da Pomba na noite em que Ted


pediu Cris em casamento e Rick estava lá. Eu não o via há muito tempo e nós
começamos a sair. Até então, nós estávamos sendo...

Katie percebeu que estava encurralada e não estava certa sobre como continuar.

Julia esperou até ela encontrar a descrição certa.

- Nós não estamos exatamente namorando. Não oficialmente. Nós fazemos coisas
juntos. Mas nós não somos namorado e namorada. Mas até a semana passada nós
nos víamos todos os dias porque trabalhávamos juntos.

Júlia acenou que entendia.


- Em vários sentidos nosso relacionamento tem sido surpreendente, maravilhoso
e apenas direito. Mas agora eu estou receosa porque eu não sei o que está
acontecendo. E a questão é que eu não deveria estar preocupada. Quero dizer,
Rick tem provado mais e mais que eu posso confiar nele. Nós concordamos em
levar o nosso relacionamento tão lento quanto pode ser. E acredite em mim, tem
sido tão rápido quanto uma velha senhora com um pneu careca na pista lenta.
Quero dizer, se o Rick quiser sair com outras pessoas, isso não deveria me
perturbar. Eu posso sair com outras pessoas se eu quiser. Nós estamos apenas
flutuando, sabe? Nós não estamos comprometidos.

- Vocês soam bem conectados – Julia disse – isso tem a ver com se verem todos os
dias por muitos meses e estarem romanticamente interessados um no outro.
Posso fazer uma pergunta?

- Claro.

- Você e Rick estão envolvidos um com o outro fisicamente?

Katie meneou a cabeça. Julia olhou surpresa. Agradavelmente surpreendida.

- Quero dizer, nós tivemos alguns momentos de abraço e carinhos aqui e ali, mas
nós não nos beijamos ainda. Ou, eu acho que deveria dizer, nós não nos beijamos
desde o ensino médio. Katie suspirou. Quando eu me ouço falar, a forma que eu
e Rick nos relacionamos soa bem bizarra. Eu não conheço outro casal que tenha
um relacionamento como o nosso.

- Isso é uma parte do tema "Tesouro Peculiar" na sua vida, não é? Você é única,
Katie, e assim é seu relacionamento com seu quase namorado. Eu acho que você
está indo bem.

- Você acha? Sério?

- Sim, sério. Soa como se vocês dois tivessem escolhido ir com calma e deixar a
amizade entre vocês se tornar a base. Isso é sábio.

- E também pode ser enfadonho.

Julia riu.

- Eu disse ao Rick no início do verão que nós estávamos em uma rota e ele disse
que rotas podem ser boas. Então se as rotas são boas e você está dizendo que
nosso relacionamento é bom, então eu presumo que eu não precise me apavorar
com relação ao cinema. E mesmo se ele tiver levado a Carley para um encontro
ou qualquer outra coisa, não é minha função fazer exigências com relação à vida
social dele.
- É o tipo de relacionamento no qual vocês dois não sentem paz em avançar,
embora vocês também não vejam uma razão para romper e seguir seus caminhos
separados?

Katie pensou um momento antes de concordar.

- Tipo isso. Esse cargo de AR se tornou uma forma natural de nos separarmos.
Rick, na verdade, estava pronto para me pedir pra ser sua namorada no início do
verão.

- E você não estava pronta?

Katie acenou com a cabeça.

- Eu pensei que estivesse. Eu disse a ele que eu queria sair da pista lenta. Então,
quando ele estava pronto para falar sobre isso, eu me fechei. Eu não queria dar o
próximo passo. Eu não sei por que exatamente.

- Há alguma coisa que a faça não confiar nele?

- Eu confio no Rick.

- Ok.

Katie fitou o oceano e pensou sobre o seu comentário.

- Bem, presumo que na maioria das vezes eu confie nele. Eu acabei de perceber
que nós não estaríamos levando essa conversa sobre a ida dele ao cinema com
Carley se eu confiasse nele completamente.

Julia sorriu.

- Você vai me dizer para trabalhar na minha teologia "grudar no pé de Deus"


então eu estarei perto o suficiente do Senhor para ouvir o que ele está tentando
me dizer a respeito do Rick?

- Parece que eu não preciso te dizer isso outra vez. Você já teve essa lição.

- Você vai me dar algum conselho?

Julia levantou seu nariz sardento.

- Acho que não. Soa como se você já tivesse dado a si própria um sólido conselho.
Com uma relação de muito tempo como esta, você precisa dar tempo a si própria
e isso é o que você está fazendo. Bom pra você. Mas eu gostaria de me manter
informada sobre como as coisas vão com vocês.
- Ok. Obrigada por ouvir. Ajuda a colocar as coisas no lugar.

- Disponha.

Katie e Julia se juntaram aos outros do grupo do Crown Hall. Katie estava
surpresa ao perceber que ela sentia que a situação com Rick estava resolvida
após conversar sobre isso com Julia.

O poder de uma mulher compreensiva, que abre os seus ouvidos e o seu coração
para outra mulher não deve nunca ser subestimado.

Katie amava ter Julia em sua vida. Especialmente agora.

A balsa diminuiu a velocidade à medida que se aproximava de Catalina. À frente


delas, a baía em forma de lua crescente do Porto de Avalon vinha à vista. Katie
permaneceu ao lado de Nicole na grade, bebendo da curiosa vista das pequenas
construções que pontilhavam a ilha de Avalon. Ela relembrou como Rick havia
dito no telefone mais cedo que sentia a falta dela. Ela não conseguia lembrar-se
de alguma vez que ele tivesse dito alguma coisa assim a ela antes, pelo menos
não no tom de voz que ele usara desta vez. Sua memória a convenceu que as
coisas poderiam ficar bem com Rick quando ela voltasse pra casa.
Capítulo 17
Assim que a enorme balsa ancorou em Avalon, as equipes da Rancho Corona
aumentaram a marcha, pegando seus pertences e se juntando no estacionamento
enquanto dois ônibus compactos fretados esperavam por eles.

Craig deu as direções e os ARs embarcaram nos ônibus, segurando seus sacos de
lixo no colo. Os ônibus subiram a colina para longe da baía. As vistas se
expandiam à medida que eles iam pela árida ilha. Catalina, a despeito de ser
uma ilha, não poderia reivindicar massas interiores de água como um de seus
recursos naturais abundantes.

- Ok, ouçam - Craig disse para o grupo enquanto o ônibus reduzia a velocidade -
se você tem um telefone celular, desligue e mantenha-o desligado.

Ele esperou enquanto quase todas as pessoas no ônibus pegavam seus telefones.

- Aqui está a primeira regra. Sem recebimentos ou efetuações de chamadas. Sem


mensagens de texto. Sem downloads. Alguns de vocês vão ver que a sua
operadora não funciona aqui. O restante terá que, ou desligar os seus telefones
ou pro seu próprio bem, deixá-los longe de vocês. Se você precisar de uma
pequena intervenção nisso, dê o seu telefone à Julia e ela o devolverá ao final do
treinamento.

Telefones foram desligados e guardados.

- Próxima, nós precisamos que todos vocês deixem seus sacos de lixo no ônibus,
mas peguem suas mochilas e qualquer outra coisa que você carregou com você.
Quando vocês saírem, reúnam-se por dormitório e nós daremos as direções
quando estiverem lá.

Eles saíram do ônibus e Katie se reuniu com o restante dos ARs de camiseta
marrom. A visão do topo da ilha era surpreendente. O porto de Long Beach, de
onde eles haviam partido, já não era visível por causa da fumaça e da neblina do
litoral. Tudo o que eles podiam ver era o Oceano Pacífico expandido,
vislumbrando na luz solar do começo da tarde.

- Parece com um campo de estrelas, Nicole disse.

- Um campo de estrelas? Um dos caras ecoou.


- Você sabe, como se aqui fosse onde todas as estrelas cadentes pousam quando
elas caem dos céus. É um curral de estrelas cadentes. Este é o lugar onde você
pode vir para vê-las durante o dia.

Katie sorriu. Nicole era definitivamente uma artista. Katie gostava de estar
rodeada por pessoas artísticas, principalmente porque ela sempre esperou que a
lírica fascinação deles pela vida pudesse ser passada para ela.

- Ok. Craig caminhou para o grupo deles. Fiquem juntos, garotos. Nós estamos
caminhando para dentro do acampamento e é aqui que a trilha começa. Ele
acenou com a cabeça adiante da estrada que se transformava de asfalto em
poeira e pedregulho. O que quer seja que vocês escolheram trazer consigo em
suas mochilas, vocês precisarão carregar com vocês pelo resto do caminho.

- Quão longe é? Jordan perguntou.

- Não é longe. Craig sorriu.

Umas poucas pessoas no grupo reclamaram por causa do mistério de serem


enviados para uma caminhada, mas não saber o quão distante eles estavam indo.
Katie não reclamou. Ela estava preparada para esticar as pernas. Durante todo o
verão ela gastara a maioria dos seus dias em pé no Ninho da Pomba. Sentar um
pouco não era algo que ela costumava fazer.

- Nós temos algumas caixas lá em cima com kit para trilha, alguns sticks de
queijo e garrafas de água. Como eu estou certo de que vocês já notaram isso
pelos arredores, essa é uma ilha árida e nós estaremos no sol por quase toda a
caminhada. Todo mundo recebeu duas garrafas de água. Eu tenho que adverti-los
de que vocês devem tomar pequenos goles para que se mantenham hidratados.
Todos prontos?

Eles apanharam seus itens de almoço e alcançaram a trilha atrás do grupo de


camisetas brancas do Sophie Hall. Poeira subia assim como os sons dos alegres
acampantes à frente deles flutuava no ar.

Uma das garotas atrás deles estava dizendo como ela estava desapontada pelo
acampamento não ser localizado perto da água. Essa jornada de subir ao cume
de Catalina e descer de volta não era a experiência que ela esperava.

Katie tinha uma reação oposta. Esse era um dos seus tipos de sonhos mais felizes
e ela amou a aventura. Dando um passo para ficar ao lado de Nicole, ela disse:

- Eu estou contente por você ter me lembrado a respeito dos sapatos


confortáveis de caminhada.
- Eu sei, Nicole disse. Eu vi uma garota usando sandálias plataforma. Eu já estou
sentindo por ela. Ela vai ficar péssima. Eu amo o fato de nós vermos um lado de
Catalina que não muitas pessoas experimentam.

- Eu esperei o verão inteiro para sair e fazer alguma coisa; essa é a minha idéia
de um bom tempo.

- Você cresceu acampando com a sua família? Nicole perguntou.

- Não. Eu queria que tivéssemos feito isso. Eu só fui a um acampamento de verão


uma vez, mas aquela semana mudou a minha vida. Eu acho que isso é um pouco
do porquê de eu ser tão animada com acampamentos. Qualquer tipo de
acampamento.

- Se você gosta tanto de acampar, porque você só foi ao acampamento de verão


uma vez?

- Minha família não exatamente tirava férias de verão para Yellowstone. O único
jeito de eu acampar era com amigos. Minha família não ia à igreja também,
então quando eu fui convidada para ir com alguns amigos a um acampamento de
verão da igreja, foi uma grande coisa. Meus pais concordaram que eu poderia ir
porque eles queriam ir a Las Vegas sem mim. Enviar-me para acampar
proporcionou uma semana livre para eles.

Nicole olhou como se ela não soubesse como responder.

Katie decidiu continuar andando.

- Quando eu penso sobre isso, eu descubro que acabou sendo uma semana "livre"
pra mim também. O acampamento da igreja no Lago Hume foi onde meu coração
se libertou.

- Quer dizer que foi lá que você veio até Cristo? No Lago Hume? Nicole
perguntou.

- Sim, exceto pelo fato de que isso foi mais como se Cristo tivesse vindo a mim
porque eu nunca soube que eu poderia ir até ele.

Nicole deu a Katie um olhar surpreso.

Katie tentou explicar.

- “Aquela semana no acampamento da igreja foi a primeira vez que eu ouvia


falar que Deus me queria. Aquilo foi grandioso, sabe? Eu não posso imaginar onde
eu estaria ou quem eu seria se eu não tivesse aceitado o desafio de Deus naquela
semana.
- Desafio dele? A expressão de Nicole deixava claro que ela ainda estava confusa
com a escolha ímpar de palavras da Katie. Katie pensou que ela deveria fechar o
bico antes que outro pio ardiloso saísse. Então ela decidiu que poderia muito
bem colocar tudo isso para fora, dado que ela e Nicole estariam vivendo juntas
pelo próximo ano escolar. Mas e se Katie não soubesse todos os termos cristãos
corretos para tudo? Ela sabia o que acontecera em sua vida. Se Nicole estava
prestes a conhecer Katie na essência de quem ela era, esse era o ponto de
partida.

- Eu sei que não estou dizendo todas as coisas do jeito certo. Katie disse
enquanto ela e Nicole mantinham o passo largo caminhando na estrada de
pedregulho. Pra mim, confiar em Deus é um tipo de desafio. Se tudo o que
preleitor do acampamento disse for verdade, o que eu sei que é, então para
mim, parecia com um desafio.

- Eu não sei o que você quer dizer com desafio, Nicole disse.

- Deus estava oferecendo gratuitamente este presente de perdão, vida eterna e


acesso ao reino dele. Tudo o que eu tinha que fazer era acreditar e receber.
Como um presente. Isso foi o que me cativou. Quero dizer, isso é uma transação
realmente ruim para a parte dele. Era como se ele estivesse dizendo: "Vá em
frente, Katie. Eu te desafio a ver se eu sou real. Confie em mim. Você não saberá
a menos que você se aproxime e aceite o que eu estou oferecendo. Esta é a
única forma de você acreditar quando eu disser que te amo." Assim eu aceitei
Deus no desafio.

Nicole continuava caminhando, seus olhos escondidos de Katie atrás dos óculos
de sol.

- Você sabe o que eu estou começando a apreciar em você, Katie?

- Suponho que não seja o suor que rola agora mesmo debaixo de meus braços.

Nicole riu.

- O que eu aprecio em você são o seu frescor e honestidade. Você diz coisas que
eu nunca pensaria em dizer e você diz isso de um jeito que me faz pensar.

- Pensar ou se esquivar? Como um arrependimento quando você perceber que eu


sou aquela com quem você vai ficar presa durante o ano.

- Katie, não diga isso! Nicole deu a Katie uma expressão firme sem adicionar seu
sorriso característico. Sabe como você me falou esta manhã para não desprezar
minha arte de decorar meu quarto? Bem, eu estou dizendo a você, não despreze
a sua personalidade. Você é única. Você é uma obra de arte. Você realmente é.
Você faz a vida parecer real e não uma peça de teatro.
Katie não sabia o que dizer.

Nicole sorriu.

- Então, o que eu estava dizendo antes de você rudemente depreciar meu


comentário, é que você me faz pensar na minha verdade familiar de formas
diferentes. Minha infância foi provavelmente o oposto da sua. Você sabe que o
meu pai é pastor?

- Não.

- Ele tem sido pastor na mesma igreja em Santa Bárbara por mais de vinte anos.
Eu tenho ouvido o evangelho milhares de vezes. Minha vida inteira. Eu fui a uma
escola cristã e agora eu estou em uma universidade cristã. De várias formas eu
fiquei adormecida ou imune ou qualquer coisa assim. Mas você! Você inspira
todas as suas conversas sobre Deus com um ímpeto de frescor. Estar ao seu redor
é como estar em uma cachoeira. Você é refrescante. Todas as gotas de sua
queda me acordam.

Agora Katie realmente não sabia o que dizer.

- Como ontem - Nicole aumentou o passo com os pés e a conversação dela -


quando você usou o termo ‘Tesouros Peculiares’, eu não sabia o que fazer com
aquilo. Quero dizer, eu cresci ouvindo que eu era uma princesa no reino de Deus.
Minha tarefa era ser sua doce e carinhosa filha. É muito diferente de ser "impar"
ou "peculiar". Especialmente quando você amarrou a palavra "peculiar" a
"tesouro".

- Espero que eu não tenha bagunçado a sua teologia, Katie disse. Só que eu
realmente nunca me encaixei na categoria de princesa.

- Oh, sim, você se encaixa! Nicole disse. Toda mulher que é uma seguidora de
Cristo é uma filha do Rei e isso faz dela uma princesa. Mas o que você disse sobre
ser um Tesouro Peculiar se encaixa muito mais com onde nós estamos agora. Nós
estamos vivendo em um mundo falido. Nós somos incomuns quando somos
comparados com a maioria das pessoas. Eu não estou dizendo isso claramente, do
jeito que você fez, mas eu entendi. Nós somos valorosas. Isso é a parte do
"tesouro". Mas vamos encarar; nós somos peculiares. Eu amo isso.

- ‘Tesouro Peculiar’ é, na verdade, um termo do Velho Testamento. Eu não


inventei.

- Quando nós chegarmos ao acampamento, eu quero que você me mostre onde


está. Você trouxe sua Bíblia?
- Claro. Estava na lista. Katie não sabia exatamente onde o versículo do Tesouro
Peculiar estava. Ela esperava que o tivesse sublinhado, assim ele saltaria pra fora
da página quando ela fosse buscá-lo.

- Katie, eu quero que você saiba que eu quis dizer apenas o que eu disse. Eu amo
o frescor com que você encara tanto a vida como Deus e eu estou muito alegre
de nós sermos ARs juntas este ano. Você não tem idéia de quão alegre.

- Eu estou alegre também, Katie disse.

Os comentários acolhedores de Nicole ajudaram mais do que Katie percebera de


primeira porque, quando eles pararam para descansar mais ou menos no meio do
caminho, Katie começou ficar “por fora” novamente. Os ARs que tinham estado
juntos no ano anterior tinham uma piada interna sobre alguma coisa que Jordan
tinha feito na caminhada para o acampamento da última vez. Até mesmo Craig
estava brincando e rindo com eles, o que era ótimo, claro. Mas isso continuou e
Katie estava perdida. Se a doçura das palavras acolhedoras de Nicole não
estivesse em seu coração, ela teria se sentido mais por fora.

Katie percebeu naquele momento o desafio que ela e Nicole tinham à frente
delas pelo ano vindouro no seu andar. Se metade das mulheres estava voltando
para o Crown Hall Norte, metade das mulheres teria formado “panelinhas”,
desenvolvido piadas internas e estabelecido rotinas preferenciais. E assim eles
deveriam fazer. Esta era a diversão de estar em comunidade. Já que os novatos
poderiam ter muitos momentos como este que ela estava vivendo agora, quando
eles se sentiam marginalizados simplesmente porque eles eram novos.

Katie se afastou dos outros membros da equipe enquanto eles aproveitavam o


momento da piada deles. Ela tirou o frasco de protetor solar da sua mochila e
reaplicou um pouco no seu nariz, braços e atrás do pescoço. Se ela pudesse
colocar nos seus cabelos, ela colocaria. O sol do meio-dia estava forte, ela estava
certa que esfregando dois fios juntos poderia pegar fogo.

Craig anunciou que eles precisavam voltar para a trilha. Um dos outros grupos já
tinha ido à frente. O competitivo Crown Hall apertou o passo.

A trilha estreitou por um lugar árido e rochoso. As pedras que eles chutavam no
caminho rolaram abaixo em um íngreme e assustador precipício.

- Vão devagar, Craig convocou. Mantenham-se no interior. Em fila indiana.

- Eu sinto como se nós fôssemos os filhos de Israel caminhando pelo Mar


Vermelho em terra seca. Nicole disse.
- Eu prefiro pensar em nós como sendo os filhos de Israel quando eles cruzaram o
rio Jordão1. Esse comentário veio de Jordan, que enfatizou a sua palavra
preferida da frase.

- Bem, Jordan - Craig disse - se você quer ir cruzando no chão seco, então nós
teremos que pegar doze pedras e empilhá-las como um memorial onde nós
acamparemos esta noite. Você quer escolher suas pedras e começar a carregá-
las?

- Eu prefiro recontar a narrativa à pôr em prática o conto do Velho Testamento,


Jordan disse.

- Boa escolha, Craig disse.

Eles passaram através do estreito e pedregoso caminho e fizeram uma curva onde
todos eles pararam como veículos engavetados numa auto-estrada.

- Búfalo? Talitha perguntou. Eu estou olhando para uma manada de búfalos?

- Eles são enormes, Nicole disse. Eles não estão vindo nos debandar, estão?

- Acho que não. Apenas se mantenham na trilha. Eles provavelmente não irão nos
incomodar se nós não os incomodarmos.

A água de Katie das duas garrafas tinha acabado, mas ela estava realmente
pronta para um gole gelado. O ar era seco e quente na trilha, só agora o cheiro
desagradável de gado acompanhou as moscas enxameando.

- Quanto você acha que falta para chegarmos? Talitha perguntou. Eu sinto como
se nós já tivéssemos andado dez milhas.

- A trilha é muito mais árdua do que a do ano passado, Nicole concordou.

- Craig? Talitha chamou. Sua voz despertou um dos búfalos que bufou e levantou
sua cabeça para olhar para eles.

Craig sinalizou para ela manter a voz baixa e permanecer caminhando devagar e
constante.

Katie recordou um filme do oeste no qual o cavaleiro punha a orelha no chão


para ouvir o trovejar de patas. Eles não teriam que escutar aqui para tentar
localizar um rebanho. O búfalo estava dentro do ângulo de visão e a uma
distância facilmente alcançável.

1
Jordan River
A equipe ficou bem junta e caminhou o próximo quarto de milha sem ninguém
conversar. Katie notou que, na presença de perigo em potencial, o silêncio e a
proximidade do grupo deles traziam certo senso de segurança e proteção.

Assim como todo mundo, Katie ficou feliz quando eles pararam de novo para um
descanso. Tudo o que ela desejava era que ela não tivesse bebido tão
rapidamente seu suprimento de água cedo na viagem.

Jordan tirou sua garrafa de água e tomou um gole. Katie o assistiu, mas tentou
pensar em outra coisa que não fosse água.

- Quer um pouco? Jordan perguntou.

- Eu sou tão óbvia?

- Vá em frente.

Ele deu a ela sua garrafa e ela tomou dois bons goles. Foi o suficiente para
resolver a secura da garganta dela.

- Eu tenho chiclete se você quiser.

Katie aceitou a oferta e o agradeceu novamente. Foi muito legal da parte de


Jordan e ela sabia que se lembraria desse favor.

A última porção da caminhada era a mais cansativa, mas eles tinham sombra
parcial e aquilo fazia uma diferença tremenda. O grupo do Crown Hall passou o
pequeno time tinha tomado a frente mais cedo e Craig e Jordan foram os dois
primeiros a entrar no acampamento. Katie e Nicole estavam bem atrás deles,
seguidas pelo restante dos ARs do Crown Hall.

Julia e outro pessoal, que estavam levando os veículos para dentro do


acampamento, estavam com a tarefa de organizar a comida em uma área de
churrasco ao ar livre ladeada por oito sólidas mesas de piquenique. Outros dois
líderes estavam armando as últimas de uma dúzia de barracas.

Tirando sua mochila, Katie se ofereceu para ajudar Julia.

- Você está vendo os containeres plásticos de água bem ali? Julia perguntou.
Quando os outros entrarem no acampamento, você pode direcioná-los para
encher suas garrafas de água naqueles containeres?

Katie encheu uma de suas garrafas de água vazias, tomou um longo gole e então
se posicionou como a monitora da água. Ela entrou no ritmo do passo do
acampamento e permaneceu empolgada nos dias seguintes.
Com a mesma inclinação organizacional do treinamento de ARs anterior, o retiro
correu com uma agenda eficiente que permitiu ajustes ocasionais, como a
primeira noite deles em volta da fogueira. O plano era cantar, compartilhar e
assar marshmallows. Executar aqueles objetivos era mais complicado do que
provavelmente parecera durante as fases de planejamento. Os marshmallows
estavam torrados e umas poucas canções soavam, mas os andarilhos estavam
muito apagados para se revezar e contar as suas histórias para o grupo.

Antes de alguns dos acampantes adormecerem nos ombros de seus amigos, um


dos líderes do Sophie Hall deu instruções para a manhã.

- Nós vamos jejuar amanhã até a hora do jantar. Se algum de vocês tem razões
médicas para não participar, fale comigo. Nós todos vamos acordar às seis da
manhã e manter uma disciplina de silêncio até as seis da noite. Você vai passar o
dia sozinho com Deus em qualquer lugar que lhe agradar. Leve com você a sua
água, sua Bíblia e caderno. Espalhados, mas não muito longe do acampamento.
Encontre o seu lugar para ouvir e tire vantagem do seu tempo sozinho com Deus.
Como os ARs que estão retornando irão lhes contar, o ano vindouro trará poucas
oportunidades como essa. Eu pedi à Nicole para falar um pouco sobre o que ela
gostou dessa parte do retiro do ano passado.

Nicole se levantou.

- Ano passado, eu usei o tempo para ler a maioria dos Salmos e fazer anotações
sobre os versos que se destacavam para mim. Durante o ano eu abriria o meu
diário e descobriria que um dos versos que eu tinha escrito era exatamente o que
eu precisava naquele momento durante o semestre. Foi como se o Senhor tivesse
me preparado para o ano, no retiro, fazendo com que eu escolhesse os versículos
certos que eu precisei para a jornada.

Craig falou sobre como não havia um jeito certo ou errado para usar o dia.

- Apenas esteja disponível, ele disse. Esse é um tempo para você e o Senhor.
Tudo o que você tem que fazer é ouvir.
Capítulo 18
Katie pensou em várias coisas sobre sua agenda para o dia. O pensamento de
gastar o dia lendo, escrevendo e ouvindo não a atraiu, especialmente pouco
tempo depois da escola de verão. Ao mesmo tempo, ela gostou da idéia de ficar
sozinha com Deus e se concentrar nele. Ela não conseguia se lembrar de um
momento em sua vida onde ela dedicara um dia em tal concentração.

Katie estava de pé antes das seis porque uma das garotas saiu de sua barraca e o
som do zíper combinado com a luz da manhã sobre o rosto de Katie a acordou.
Ainda vestindo as mesmas roupas que ela tinha colocado nessa mesma hora do
dia anterior, Katie pegou sua mochila com a Bíblia, diário e uma garrafa de água
e saiu da barraca. O dia já estava radiante com a livre luz solar enchendo o céu
do lado leste.

Julia estava acordada e estava sentada em uma das mesas de piquenique.

- Bom dia, Katie a gritou.

Julia virou-se para Katie e rapidamente colocou seu dedo em frente a seus lábios
para silenciar a menina agitada.

Katie bateu na boca com sua mão. Ela queria muito sussurrar um “desculpe”,
mas isso só iria quebrar a disciplina do silêncio tudo de novo.

Eu não acredito que a primeira coisa que eu fiz foi falar. Eu espero que ninguém
mais tenha me ouvido. Eu acho melhor eu sair daqui o mais rápido que eu
puder.

Ela se abaixou para amarrar seus sapatos e então deixou o acampamento em


busca de seu “lugar para ouvir”, como Craig havia nomeado.

Lá pelo meio-dia o forte sol estava refletindo sobre o lugar escolhido de Katie.
Ela tinha escolhido ficar sobre uma pedra lisa onde ela podia contemplar o
oceano distante. A rocha estava fria quando ela começara sua vigília quatro
horas atrás. Agora a pedra estava tão quente que dava para fritar bacon, o que
soava muito bom àquela hora para Katie, seu estômago estava reclamando por
ter perdido o café da manhã.

Ela foi em busca de um novo lugar e esperava esquecer-se da comida. Seguindo a


trilha de volta para o acampamento, Katie passou por oito ARs, cada um
seqüestrado em um canto da natureza. A maioria deles estava sob uma sombra
parcial, o que ela sabia que seria um prêmio assim que chegasse o entardecer do
dia.
Katie se perguntava como esse diário da alma estava indo para o resto do grupo.
Suas primeiras horas parecerem improdutivas. Não que ela soubesse exatamente
o que ela deveria produzir, mas ela não tivera nenhuma grande libertação
espiritual ou revelações interiores. A primeira hora, ou ela gastara pensando,
orando ou estudando o cenário. Depois ela se esticou sobre a rocha quentinha e
tirou um cochilo. Seu cochilo foi interrompido por uma multidão de pássaros
radiantemente coloridos que parecia se encontrar em um grupo de discussão num
arbusto abaixo dela.

Esforçando para realizar alguma coisa, Katie escreveu alguns parágrafos em seu
diário, tentando expressar seus sentimentos. Escrever em diários não era sua
especialidade. Alguns de seus amigos, como Cris, eram revigorados ao passar
para o papel seus pensamentos e sentimentos. É por isso que as cartas que Cris
escrevera ao longo dos anos para seu futuro marido tinham sido tão importantes
para ela.

Enquanto Katie procurava à sua volta por um novo “lugar para ouvir”, ela brigava
com um sentimento de fracasso. Ela não sabia como fazer aquela atividade
espiritual na selva. Falar com Deus não era o problema; ouvir definitivamente
era.

Desviando-se da estrada principal, Katie encontrou um conjunto de arbustos. Ela


checou para se certificar de que poderiam vê-la da trilha, o que era um dos
requisitos para qualquer lugar escolhido. Numa inspeção mais detalhada, Katie
descobriu que o pé de framboesas crescia em uma sombra arqueada, deixando
uma caverna natural dentro da “moita” que era larga o suficiente para que ela
que engatinhasse para lá e se beneficiasse da abertura daquela sombra irregular.

Com sua mochila como travesseiro, Katie se encolheu e adormeceu num outro
cochilo. Quando ela acordou em sua caverna de pé de framboesas, ela estava
pressentindo que algo a estava encarando. Ela olhou para seus pés e congelou.

A poucos centímetros dos sapatos dela havia uma raposa, encolhida e imóvel. Os
olhos delas se encontraram. Assim que Katie se mexeu, a raposa correu, com sua
pele vermelho-alaranjada reluzindo a uma trilha de distância dela. Ela nunca
tinha visto uma raposa antes. Ela também não se lembrava de ter ficado tão
perto de animais selvagens antes. O coração dela estava acelerado.

Saindo de sua caverna aberta, Katie levantou e esticou-se, olhando em todas as


direções. Ela não fazia a menor idéia de quanto tempo ela estivera adormecida,
mas ela se sentia bem. A explosão de adrenalina que a raposa causara trouxe seu
sangue e sua respiração para a superfície. Ela não se sentia tão bem há muito
tempo, descansada e bem exercitada da caminhada do dia anterior.

Bebendo o resto de água de sua primeira garrafa, Katie se alongou novamente e


se perguntou o que deveria fazer agora. Ela pegou sua mochila e percebeu que
ela estava muito pesada por causa de sua Bíblia, a qual não tinha sequer sido
aberta hoje.

Katie caminhou um pouco e pensou que, apesar de “bom dia” terem sido as
únicas palavras que ela pronunciara para Julia, ela ainda tinha um monte de
conversas na cabeça dela. Seria bom ouvir a Deus. A única maneira que ela sabia
de fazer isso era lendo a Bíblia.

Encontrando um terceiro lugar, ela limpou a sujeira visível debaixo de um


eucalipto, sentou-se e recostou no estreito tronco da árvore. Com o penetrante
aroma de cheiro-verde da árvore flutuando em volta dela, ela abriu sua bíblia e
foi à procura do verso do Tesouro Peculiar. Aquele parecia um bom lugar para
começar.

Ela encontrou um monte de fragmentos de versículos que ela tinha sublinhado ao


longo dos anos. Numa tentativa de ouvir o que Deus tinha para dizer ao invés de
ser a única a falar, Katie listou os versos sublinhados em seu diário assim como
Nicole tinha sugerido. Dentro de uma hora ou mais, ela descobriu que todas as
frases que ela tinha retirado eram como pérolas. As frases estavam amarradas
juntas sobre a página de seu diário onde elas formavam um lindo “colar”.

Katie notou que esperança formava um tema repetitivo nos versos. Em cada frase
ela sentia como se Deus estivesse mostrando-a o coração dele e a lembrando de
quem ele era. Ter a memória refrescada sobre Deus e seu amor dava esperança a
Katie.

No topo da página de seu diário ela escreveu: “Deus me ama. Ele disse.” Então
ela leu os versos que tinha listado.

“Eu derramo meu amor sobre àqueles que me amam.” Êxodo 20:6a

“Eu te escolhi e eu nunca te abandonarei.” Isaías 41:9b

“Eu te resgatei. Eu te chamei pelo nome. Você é meu.” Isaías 43:1b

“Eu serei fiel para contigo e te farei meu e você finalmente me conhecerá como
SENHOR.” Oséias 2:20

Katie sabia que cada verso continha verdades mais profundas que as frases e
trechos sobre os quais ela tinha escolhido refletir. Ela está numa faculdade cristã
há tempo suficiente para saber os perigos de tirar parte de um versículo fora de
contexto. A clareza do coração de Deus para sua criação foi o que Katie tinha
ouvido no colar de pérolas enquanto ela os lia. Ela era sua filha, sua princesa,
seu Tesouro Peculiar. Ele guardava Katie em seu coração. No silêncio penetrante
debaixo da árvore de eucalipto Deus estava lembrando Katie de quem ele era.
Ela sentia essa verdade ir bem ao fundo do coração, quase como que se ele
tivesse suspirado suas promessas dentro do ouvido dela.

Katie nunca experimentara esse tipo de afirmação de Deus antes. Mas também,
ela não conseguia se lembrar da última vez em que ela se calou e se sentou
tempo suficiente para ouvir.

Voltando as páginas de sua Bíblia para Êxodo 19, onde ela vira uma das
referências para Tesouros Peculiares, Katie notou outro verso na página em
Êxodo 20. Construa altares nos lugares onde eu te lembro de quem eu sou e eu
virei e te abençoarei lá.

Ela pensou no comentário de Craig um dia antes sobre os filhos de Israel


carregando pedras para fora do Rio Jordão para construir um monumento. Doze
pedras para as doze tribos de Israel.

Então, porque o coração dela se sentiu tão preenchido e porque ela quis se
lembrar desse momento, Katie procurou à sua volta por doze pequenas pedras.
Ela as empilhou do melhor jeito, ali debaixo do eucalipto.

Colocando de lado a vergonha e se lembrando de que ninguém além de Deus a


estava assistindo, ela levantou suas mãos ao céu e orou em voz alta com uma
alegria solene preenchendo seu coração.

- Deus Pai, hoje neste lugar você me lembrou de quem você é. Você me lembrou
de que você tomou meu lugar de abandono e me libertou de uma infância
solitária. Você me trouxe para um lugar de esperança, amizade, e amor
simplesmente porque você escolheu derramar seu amor sobre mim. Eu coloco
essas pedrinhas aqui hoje porque eu quero me lembrar de quem tu és. E eu não
quero me esquecer da verdade que me mostrastes hoje. A verdade que... Katie
mal podia pronunciar as últimas três palavras. ... Você me ama.
Capítulo 19
Beijada pelo sol de Catalina, Katie entrou no Ninho da Pomba na manhã de
sábado ansiosa para surpreender Rick. Ela se bandeou para o caixa, mas a
surpresa, parecia, era pra ela. Careley estava atrás do balcão usando um avental
do Ninho da Pomba.

- Carley, quando você começou a trabalhar aqui de novo?

- Uns dias atrás. Rick foi realmente bom em me deixar voltar e pegar o seu lugar.

A escolha de palavras de Carley, “pegar o seu lugar”, acertou na marca onde elas
pareciam ser sido apontadas – no espírito de Katie.

Andréa veio de trás e parecia feliz por ver Katie.

- Nós ouvimos um pouco a respeito do retiro de vocês de um pessoal que veio na


noite passada – ela disse. Pareceu ser uma viagem ótima.

- Foi. Katie respondeu.

Carley disse:

- Eu ouvi que vocês não tomaram banho o tempo inteiro. Eu acho que não teria
feito isso – toda aquela caminhada e sem banhos.

- Eu amei, Katie disse firmemente.

- Nós ouvimos que quando vocês caminharam ontem, você e alguns outros foram
nadar no oceano de roupas. Carley disse. É verdade?

Katie concordou com a cabeça.

- Bom pra você, Andréa disse.

- Foi melhor que a alternativa, Katie disse. Ela era uma das saltadoras
espontâneas que tinham decidido não esperar na fila para usar o banheiro móvel 1
na praia pública. Descalça, em seus jeans e top de banho, Katie tinha dado um
mergulho na baía. Então, depois de uma nadada refrescante, ela se enxaguou sob
a ducha ao ar livre. A fila para o banheiro móvel tinha acabado àquele momento
e ela contentemente guardou os amarrotados, mas manteve limpas as roupas no
fundo dos sacos de lixo. O saco de lixo extra serviu bem para o seu jeans
encharcado. O mergulho foi uma de suas partes favoritas da viagem.
1
Changing room. Pelo contexto, acredito que seja banheiro móvel mesmo.
- Eu ainda digo que eu nunca poderia fazer uma viagem como essa. A voz aérea
de Carley subiu um oitavo para enfatizar. É como se vocês tivessem que passar
por um acampamento de camponeses.

- Então - Katie disse, olhando para Andréa e tentando voltar à razão pela qual ela
estava no balcão – você pode ir lá atrás e dizer ao Rick que eu estou aqui? Ela
não se sentia bem indo à área dos fundos, o caminho que ela fazia quando
trabalhava lá.

- Rick não está aqui, Carley respondeu.

- Ele não está?

- Não, está com o irmão dele. Andréa disse.

Katie tentou não parecer surpresa.

- Ah, tá. Ok.

- Ele não te contou? Carley perguntou.

- Meu telefone estava desligado. Eu o vejo mais tarde. Katie sorriu para Andréa e
voltou rapidamente, ansiosa para sair.

- Tchau! Carley gritou atrás dela. Você vai me ver mais tarde também. Eu estou
no 204.

Katie não tinha idéia do que aquilo significava, mas ela não queria ficar ali nem
mais um minuto. Ela saiu para o lado da livraria na intenção de encontrar Cris. Se
alguma vez ela precisou de sua melhor amiga, era agora.

Cris estava ajudando um cliente quando ela viu Katie. Ela deu a Katie um aceno e
um sorriso.

Enquanto esperava por Cris, Katie tranqüilizou-se. Ela tentou se livrar do


encontro com Carley e pensar em alguma outra coisa. Fora do canto de visão
dela, Katie viu Cris sinalizando para ela vir ao caixa. Ela caminhou para o balcão
e Cris disse:

- Eu ouvi que você viu uma raposa.

- Por que todo mundo conhece minha vida?

- Um cara do seu grupo esteve aqui na noite passada. Eu não lembro o nome
dele. Ele estava falando sobre o búfalo ou boi selvagem ou o que quer que fosse
e então ele disse que você viu uma raposa.
- Eu vi. Foi muito legal. Nós também vimos um leão marinho ou um golfinho no
passeio de balsa na volta. Era algum tipo de criatura grande e preta, nadando.

Cris olhou atrás de Katie e disse:

- Me dê licença só um minuto.

Katie deu um passo pro lado enquanto Cris ajudava uma mulher que havia
chegado para pegar um livro que ela tinha encomendado.

- Está sendo realmente muito atarefado esta manhã, Cris disse assim que a
mulher saiu. Por quanto tempo você vai ficar aqui? Eu posso fazer meu intervalo
para almoço daqui umas duas horas.

- Eu não posso esperar tanto. Eu tenho que voltar. Nicole e eu temos muitos
planejamentos a fazer para o nosso saguão e eu tenho uma lista de mantimentos
para comprar no Galpão da Economia. Todos os nossos pacotes de boas vindas e
decorações de parede devem estar prontos na quinta-feira. Nossa meta é fazer
do Crown Norte o mais desejável saguão do campus. Mas, Cris, eu realmente
preciso conversar com você logo.

- Qual é o seu programa pra esta noite? Cris perguntou. Você tem tempo para vir
lá pelas sete?

- Talvez. Eu estou tentando entender o que Rick está fazendo. Eu não sei o que
está se passando com ele. Eu não o tenho visto em quase uma semana. Eu tenho
esperança de que ele e eu possamos comunicar esta noite.

- Eu acho que o Rick está com o Josh no Arizona.

- Arizona?

- Você não sabia, né?

Katie balançou a cabeça.

- Eu estou por fora de tudo. Eu não sabia que Carley havia sido contratada
novamente. Eu sinto como se eu estivesse entrando como um estranho de outro
planeta. Nada parece normal.

- Ainda está normal, Katie. Não se preocupe. Rick foi para o Arizona com o Josh
ontem. Ele veio pedir ao Ted para pegar a sua correspondência.

- O colega de quarto dele ainda não se mudou?


- Suponho que não. Eu não sei. Tudo o que eu sei é que Rick nos disse que ele
estava deixando mensagens no seu telefone, mas você estava fora de área ou
coisa parecida.

- É pior do que isso. Eu abandonei meu telefone durante todo o tempo em que eu
estava fora. A bateria acabou. Agora alguma coisa está errada porque ela não
carrega. Eu não posso ouvir nenhuma das minhas mensagens. A loja de telefones
é a minha primeira parada depois que eu sair daqui.

- Você acha que conseguirá vir hoje à noite, então? Cris perguntou.

Katie acenou confirmando.

- Às 19:30, ok?

- Perfeito. Os cabelos cor de noz-moscada de Cris estava preso atrás e ela estava
usando uma blusa azul royal com um colarinho impecavelmente passado. Seus
olhos verde-azulados se salientavam. Katie lembrou como Rick costumava
chamar Katie de “Olhos de matar”. Se ele estivesse aqui hoje, sem dúvida iria
desenterrar aquele apelido do passado.

- Me empresa seu telefone celular? Katie perguntou.

- Claro.

- Eu quero ligar pro Rick antes que ele esqueça quem eu sou.

- Sabe o que mais? Fique com o meu telefone pelo resto do dia e traga-o ao meu
apartamento à noite. Se alguém me ligar, você pode deixar a caixa postal
apanhar as chamadas.

- Ótimo. Obrigada, Cris. Ajuda muito. Vejo você hoje à noite. Katie disparou para
o Buguinho enquanto apertava o número do celular de Rick. Ela só obteve a caixa
postal.

- Ei, sou eu. Meu telefone teve uma crise pessoal. Eu estou no caminho para
comprar uma nova bateria pra ele agora. Me ligue de volta no telefone da Cris.
Eu estou com esperança de que meu telefone esteja recuperado dentro de uma
hora e que você esteja tendo um ótimo tempo com seu irmão. Arizona, huh?
Então, você vai ter que me contar sobre isso. E eu vou te contar sobre Catalina
quando...

A gravação do correio de voz a cortou e anunciou que ela tinha excedido o limite
para uma mensagem.
- Ok, tudo bem. Katie pôs o celular de Cris na sua capinha. Ela estava quase na
loja de telefones quando o telefone tocou. Assumindo que Rick estava ligando de
volta, ela respondeu com:

- Ei, como está você? Eu sinto a sua falta terrivelmente.

- Katie?

- Ted? Sinto muito. Eu pensei que fosse o Rick.

- Tudo bem. Eu sinto a sua falta terrivelmente também.

- Muito engraçado. Meu telefone pifou, então eu peguei emprestado o da Cris


para a tarde. Ela está no trabalho. Mas você provavelmente sabe disso.

- Sim. Então, como estava Catalina? Rick disse que você foi pra lá no seu retiro
de treinamento.

- Catalina estava surpreendente. Nós deveríamos ir todos acampar lá um dia. Eu


amei. É muito acidentado e o acampamento onde nós ficamos era longe; então
nós tivemos que caminhar, mas eu amei.

- Você ficou em um em Mt. Orizaba?

- Sim. Você há esteve lá?

Não. Eu dei uma olhada nele uma vez para um retiro da mocidade.

- Bem, se você algum dia decidir levar um grupo pra lá, eu amaria ir de novo.

- Ok, tranqüilo.

- Vejo você à noite, Katie disse. Chegarei por volta das 19:30.

- Tranqüilo, de novo. O Rick voltou do Arizona?

- Não. Pelo menos, não que eu saiba. Eu há pouco deixei uma mensagem pra ele.

- É louco como tudo aconteceu tão rápido com o negócio no Arizona. Se alguém
pode pegar um empreendimento sobre a terra, é o Rick.

- Yup. Rick, Rick, ele é o nosso homem. Se ele não pode fazer isso, ninguém
pode.

- Isso é alguma ovação ou qualquer coisa dos seus dias do colégio? Ted
perguntou.
- Yup, de novo.

Katie estava encostando em um estacionamento em frente à loja de telefone e


se despediu dizendo:

- Eu tenho que ir, Ted. Vejo você à noite.

Katie saiu do carro, mas parou em seu caminho antes de entrar na loja. O Ted
acabou de dizer que Rick estava indo adquirir o café do Arizona que corre sobre
a terra? Como o Rick pode fazer isso sem se mudar pro Arizona?

Katie tentou o número de Rick novamente. Caiu no correio de voz de novo. Katie
estava prestes a deixar uma mensagem dizendo: “Que história é essa de você se
mudar pro Arizona?” Mas ela desligou sem dizer coisa alguma. Tinha sido uma
semana louca. Muita coisa acontecera com os dois. Ela não havia contado a Rick
que ela estava indo à Catalina, então ela dificilmente podia cobrar dele o fato de
ele não ter a contado sobre o Arizona. Ele provavelmente deixara um monte de
mensagens no celular dela. Assim que sua bateria fosse consertada ela poderia
ouvir seu correio de voz, e então saberia o que estava acontecendo.

Infelizmente, o telefone de Katie tinha problemas maiores do que apenas uma


troca de bateria. O vendedor, quem Katie notou que não poderia ter mais que
dezoito anos apesar de ele agir como se tivesse inventado a Internet, estava
convencido de que ela deveria comprar um novo telefone. Sim, o telefone dela
era velho. Sim, ela não tomara muito cuidado com ele, especialmente enquanto
ele sacolejava no fundo de sua mochila durante o retiro. E, sim, ela sabia que
mesmo o menos caro dos novos telefones teria duas vezes mais o recurso e as
opções que seu defunto possuía.

Apesar de todos esses “sins”, Katie disse não e foi embora nervosa sem fazer a
compra. Ela não podia acreditar que um novo telefone era sua única opção. Ela
odiava se sentir pressionada a tomar decisões que envolviam retirar uma quantia
significante de suas limitadas economias. Em momentos como esses, Katie odiava
ser o que ela chamava de “sozinha no mundo”. Ela era uma adulta, verdade, o
que significava que ela era responsável por suas próprias decisões e por cobrir
suas despesas. Mas ela odiava não ter alguém para recorrer em momentos como
esse.

Rick tinha pais que o ajudavam, e Cris tinha seus riquíssimos Tio Bob e Tia Marta
assim como os pais dela. Katie sabia que seria inútil ligar para sua mãe e dizer a
ela que precisava de um celular novo. A mãe dela provavelmente diria, “Por que
você precisa desses artigos de luxo eletrônicos? Eles não te dão telefones no seu
quarto?”

A atitude de Katie melhorou quando ela entrou no Galpão da Economia e viu


alguns compartimentos de itens aleatórios para preencher a lista de compras que
ela e Nicole tinham feito. Katie amava esse armazém louco. Ela sempre
encontrava o que ela precisava - e muitas coisas que ela não precisava.

Os preços eram muito baixos, e além do mais, ela estava comprando com o
dinheiro da conta do Crown Hall dessa vez. Craig tinha dado a ela mais do que o
suficiente para os itens decorativos que elas precisavam.

Enquanto ela descarregava seus utensílios do Galpão da Economia para dentro do


Buguinho, o celular de Cris tocou. Dessa vez era Rick.

- Katie. A voz dele soava feliz. Eu não acredito que eu finalmente consegui falar
com você.

- Rick, eu estou com muita saudade de você! Eu acabei de descobrir que você
está no Arizona. O que está acontecendo? Eu não consegui ouvir nenhuma das
suas mensagens.

- Eu estou com saudade, Katie, ele disse lentamente, como se eles tivessem todo
o tempo do mundo para falar.

- Eu também estou com saudade de você. Ela apoiou-se no lado de seu carro sujo
e elevou seu rosto para o sol do meio-dia. Fechando seus olhos, ela percebeu que
essa era a primeira vez na sua semana ocupada que ela parava para pensar sobre
o quanto ela realmente sentia falta dele.

- Eu acho que eu e você não ficamos sem nos ver por tanto tempo desde o último
outono, ele disse.

- Eu sei. Não era minha intenção que as coisas se tornassem assim.

- Nem a minha. Essa viagem ao Arizona aconteceu muito rápido. Uma


propriedade abriu aqui em Tempe. Meu irmão e o papai voaram para cá há alguns
dias para dar uma olhada, e então eles me trouxeram aqui ontem. Nós
provavelmente vamos comprar o prédio. O local é fantástico, e um outro
comprador está na fila logo atrás de nós então não podemos pensar em hesitar.

- Uau.

- Eu sei. Inesperado, mas, definitivamente, como você diria: uma coisa de Deus.

- E como isso tudo vai funcionar? Katie perguntou cautelosamente.

- Você quer dizer se eu me mudarei para cá?

- Sim, é isso que quero dizer. Eu não queria falar essas palavras em voz alta.
- Eu não sei. Nós ainda não chegamos nesse ponto. Carlos pode cuidar das coisas
no Ninho da Pomba sem mim. Eles precisam de mim aqui...

- Rick?

- Sim?

- Nós podemos falar disso quando você voltar? Face-a-face? Eu preferiria ter essa
conversa quando nós estivermos no mesmo lugar.

- Está bem.

Houve uma pausa. Katie trocou o telefone de orelha.

- Então, quando você volta?

- Não sei. Talvez amanhã. Talvez em dois ou três dias.

- Uau.

- Você já disse isso. A voz de Rick soou profunda e, se Katie não estava errada,
ele parecia triste.

Uma lágrima rolou sobre sua bochecha bem ali na vaga de estacionamento do
Galpão da Economia. Katie não sabia se seria útil dizer a Rick que ela não queria
que ele se mudasse para o Arizona. Ele diria algo impertinente da mesma forma
como ela freqüentemente fazia ou repetir uma de suas frases como, “Aprenda a
viver com decepções”.

Ao invés de dizer o que ela sentia, Katie decidiu guardar seu coração. A conversa
durou apenas mais alguns minutos antes de Rick dizer que ele tinha que ir. Ele
desligou sem eles terem a discussão sobre o fato de Carley estar de volta ao
trabalho ou sobre o estranho incidente do passeio de Rick e Carley ao cinema na
semana passada.

Katie não estava certa se uma resposta detalhada para qualquer uma daquelas
perguntas iria mudar o que ela sentia. Se ela e Rick tivessem ficado frente-a-
frente, ela teria decidido começar uma briga decente sobre as coisas de Carley.
Mas por quê? Nenhuma daquelas coisas parecia importar. Ela estava contente em
deixar isso pra lá. Todas as perguntas e incertezas tinham derretido junto com o
coração dela quando ela ouviu a voz de Rick e o jeito como ele disse que sentia
saudades dela.

O jeito como eu me sinto agora é um bom padrão para medir como eu realmente
me sinto a respeito de Rick, certo? As coisas têm estado tão inconstantes com
ele. Eu preciso vê-lo. Nós precisamos de outra DR.
Pensando sobre o que ela deveria dizer a ele da próxima vez que ele ligasse,
Katie percebeu que não havia contado a Rick que seu telefone não ressuscitaria.
Da próxima vez que ele ligasse, ela ainda estaria com o celular de Cris?

Era isso. Ela precisava de um telefone. Seu telefone. Hoje.

Sentando no banco do motorista e ligando o motor, Katie dirigiu direto para a


loja de celulares, pisou lá dentro, e comprou o melhor celular que cabia em seu
orçamento.

Ela não queria perder o próximo telefonema de Rick.


Capítulo 20
O tour a trabalho de Rick no Arizona durou até quinta-feira, o dia anterior a que
os novos estudantes iriam começar a se mudar para o dormitório. Nos quatro dias
que ele esteve fora, Katie e Nicole estiveram nos preparativos do hall delas.

Com a criatividade de Nicole e a tenacidade de Katie, elas eram uma máquina


em constante movimento. Elas concordaram que o tema para o andar delas seria
Tesouros Peculiares. Katie não poderia estar mais feliz. Nicole ficava
empolgadíssima cada vez que contava a alguém sobre isso.

Nicole tinha um amigo artista que preparou o banner que ia sobre as duas portas
da entrada do andar. Tanto Katie como Nicole amaram a fonte e as cores que o
criativo artista usou. O que elas gostaram ainda mais foi a idéia de que cada vez
que alguém entrasse ou saísse do hall delas durante todo o ano, aquela pessoa
passaria debaixo do banner Tesouros Peculiares.

Para cada uma das mulheres no andar, Katie e Nicole prepararam um pequeno
baú de tesouro, um dos fabulosos achados de Katie no original Galpão da
Economia. Nicole e Katie encheram os baús de tesouro com moedas em papel
laminado dourado que tinham dobrões de chocolate dentro da embalagem
circular. Outra especiaria do Galpão da Economia.

Katie provou do sabor das moedinhas de chocolate e fez uma careta. “Elas estão
comestíveis mas não exatamente frescas.”

- Talvez as mulheres vão considerá-las apenas como decoração. Elas estão


perfeitas demais para não serem usadas como nosso tema do tesouro, Nicole
disse

- Nós vamos dizer a elas que o sabor coloca o “peculiares” na frase “Tesouros
Peculiares.”

Em meio aos esforços criativos delas, Katie surgiu com uma idéia que Nicole
hesitou a respeito. Katie quis armar um mural de fotos como O Mural do Beijo do
ano passado, mas Katie queria intitular esse de “O Mural dos Tesouros
Peculiares.” A idéia dela era colocar todos os versículos bíblicos que elas
pudessem encontrar em que Deus expressava sua afeição para seus filhos e os
chamava por um nome amável.

Nicole disse que algumas das mulheres protestariam por não terem O Mural do
Beijo, mas Katie a convenceu de que O Mural dos Tesouros Peculiares ia ao
encontro do tema. Nicole finalmente concordou.
Depois Katie teve que convencer Nicole de que o versículo do banner, que
apareceria bem abaixo do cabeçalho onde estava escrito “Tesouros Peculiares”,
deveria ser a frase de Êxodo 19:5 na Versão de King James: Vós sereis um tesouro
peculiar perante mim sobre todos os povos.”

Nicole não estava certa sobre apelar para King James para manter a palavra
“peculiar” no verso. Novas traduções usavam termos como “tesouro especial” ou
“possessão estimada”.

- Eu realmente quero manter o ‘peculiar’, Katie disse. Por um motivo, a avó da


Cris foi quem disse a ela que nós éramos Tesouros Peculiares, e eu tenho certeza
que ela lera apenas a Versão de King James durante toda a vida dela. Nenhuma
dessas novas paráfrases e traduções estava disponível na época em que a avó da
Cris estava crescendo. Para mim, é como uma benção, um legado. Eu gosto do
‘vós’ e do ‘sereis’. Além disso, nós podemos colocar o mesmo verso em outras
versões no mural também. Dizer a mesma coisa de várias maneiras nos dará uma
imagem mais completa de como Deus nos vê.

Nicole concordou novamente, e elas se puseram a trabalhar para preencher o


espaço do mural com uma variedade de versículos. No meio das citações, elas
deixaram espaço para as fotos. O plano era tirar uma foto de cada mulher no dia
em que elas se mudassem para o dormitório e colocar a foto delas no mural perto
de um dos versículos.

Enquanto Katie e Nicole estavam imersas em sua toca criativa, Rick permanecia
no Arizona. Ele ligava muitas vezes todo dia, e algumas vezes eles se falaram por
mais de uma hora. Katie sentia como se eles estivessem voltando ao ritmo. Um
ritmo diferente daquele de estar no mesmo espaço por horas todos os dias, mas
eles estavam conectados, e ela estava contente.

Ela amava provocar Rick, pois toda vez que ele ligava, em algum momento da
conversa ele iria dizer, “Está muito quente aqui”.

Na noite que antecedeu a volta de Rick pra casa, Katie viu o número dele na tela
de seu super chique celular novo e respondeu com um:

- É o meu ‘homem do tempo’ de Arizona?

- O quê? Rick perguntou.

- Deixe-me adivinhar. Está quente aí, certo?

Rick gargalhou.

- Você acertou. Eu não sei como as pessoas conseguem viver aqui, Katie. Eu vou
do ar-condicionado do carro para o ar-condicionado do prédio, mas no meio
dessa transição eu estou caminhando sobre asfalto derretido. O leitor de
temperatura do banco do outro lado da rua em que estou bem agora diz que
estamos a 39 graus. E são 8:30 da noite!

- Sim, mas o tempo está seco, certo?

- Não comece com isso. O tempo está seco, mas continua sendo calor. Eu nunca
bebi tanta água na minha vida. Ela evapora da minha garrafa antes que eu possa
bebê-la.

- Eu, por outro lado, estou adorando o fato de você não gostar de estar aí.

- Por que você diz isso?

- Porque se você não gosta de Tempe, significa que você vai tentar voltar pra
casa o mais rápido que puder e isso me deixa feliz.

- Então você vai ficar feliz de saber que meu vôo sai daqui às 8:30 da manhã de
amanhã. Eu deixei meu carro no aeroporto de San Diego; então quando estiver
indo pra casa, eu penso que poderíamos sair pra almoçar em algum lugar
simplesmente maravilhoso para compensar as duas semanas que estamos longe
um do outro.

- Oh!

- Isso é oh-que-ótimo ou um oh-eu-tenho que trabalhar?

- O último. Amanhã ao meio dia é quando os estudantes começam a se mudar


para cá. Eu estarei ocupada por cerca de quarenta e oito horas enquanto Nicole
e eu ajudamos todos a se acomodarem em seus quartos.

- Quarenta e oito horas? Isso coloca o nosso almoço no domingo. Eu deveria fazer
uma reserva em algum lugar ou esperar pra ver se são verdadeiras quarenta e
oito horas ou mais como fictícias quarenta e oito horas?

- Melhor esperar pra reservar. Mas não espere pra vir ao dormitório. Você sabe
onde o Crown Hall fica, não sabe? Você pode vir enquanto todos estão fazendo as
mudanças e pelo menos pode me dar um grande b... Katie quase, quase, quase
disse “beijo”, mas ela salvou o momento tentando transformar a palavra em
“abraço”. E saiu um “babraço”.

- Um grande babraço, huh?

- Sim, um grande babraço. Katie sorriu.

- Você está sorrindo? Ele perguntou.


- Como você sabe?

- Eu posso ouvir seu sorriso no telefone, Katie Querida.

- Katie Querida? Nossa!

- Não se incomode em comentar esse. Eu vou dispensá-lo agora mesmo.

- Ótima escolha, Rick Querido.

- Não me venha com essa, Katie, ele disse com uma gargalhada brincalhona.

- Você começou, Rick Querido.

- Eu estou te avisando!

- O quê? Avisando sobre o quê, Rick Querido? O que você vai fazer? Vir pra casa e
o quê? Tentar me jogar na lixeira do restaurante de novo?

Rick não respondeu imediatamente.

- Eu posso te ouvir sorrindo, ela disse.

- Então espere um pouco, Rick disse. Eu tenho que atender a essa outra
chamada. Eu te vejo amanhã.

- Mal posso esperar.

Nicole não disse uma palavra sobre a conversa de Katie. Ela simplesmente desceu
seus óculos escuros e os colocou apesar de elas estarem sentadas no chão do
quarto de Nicole.

- O que você está fazendo? Katie perguntou.

- Está um pouco claro aqui dentro, Nicole disse. Alguém, que eu não vou dizer o
nome, está radiando um monte de raios solares de amo-o-o-or.

Katie caiu na gargalhada. Ela e Nicole estavam se dando muito bem. Rick estaria
de volta em breve e os dois poderiam retomar de onde eles pararam. A vida era
doce.

Na manhã seguinte Nicole e Katie estavam prontas para o que Katie chamou de
chegada dos felizes campistas. As duas tinham saído às 8:30 da noite anterior e
pegado um desconto numa loja de roupas que fechava às 9:00. Em vinte minutos
elas encontraram novas blusas para vestir para o primeiro dia oficial delas como
ARs do Crown Hall North.
Nenhuma das duas precisava de uma nova blusa, mas a emoção da “caçada”, no
relógio e o sucesso subseqüente eram um exercício que as divertia depois de
muitos dias de tarefas com a preparação do hall delas.

Sentando à mesa da frente em suas novas blusas, com a lista de seus cinqüenta e
dois residentes, Katie e Nicole despertaram com os novos desafios diante delas.
O primeiro desafio foi um incomum par de nervosos avós que estavam no começo
da fila com sua neta.

- Essa é Emily. Os pais dela estão no campo missionário em Moçambique. Os dois


estudaram na Rancho Corona. Ela tem uma bolsa estudantil. Ela tem todos os
papéis preenchidos. O avô chegou mais perto. Isso é muito difícil pra nós. Ela
está conosco há apenas cinco dias, e nós não estamos certos de que ela esteja
pronta pra isso.

Katie olhou para a jovem de cabelos bem claros e largos óculos que pendiam
para trás, seu ombro encolhido contra o braço da avó. Katie caminhou em
direção à Emily, abriu seus braços, e disse.

- Eu estou muito feliz por você estar aqui. Seja bem vinda, Emily. Eu sou a Katie.

Emily timidamente recebeu o abraço de Katie e deixou cair algumas lágrimas ao


piscar.

Katie chegou mais perto e sussurrou pra ela:

- Você vai ficar impressionada com o que Deus vai fazer nas nossas vidas nesse
ano. Você está no lugar certo. Eu estou muito feliz por você estar no nosso
andar.

A avó puxou um lenço de pano e passou em seus olhos e nariz enquanto Katie
pegava a pequena quantidade de bagagem ao lado de Emily.

- Venha, eu vou te mostrar sua nova casa. Por aqui.

Katie “captou” os olhos de Nicole enquanto elas passavam pela porta dupla sob o
banner do Tesouros Peculiares e se dirigiam para o corredor. No treinamento
daquela semana eles foram instruídos a permanecer à mesa enquanto
registravam cada estudante. Os estudantes deveriam cuidar de suas próprias
bagagens.

Aparentemente nos anos anteriores os ARs tinham se tornado carregadores de


bagagem e “acabaram com suas colunas” enquanto carregavam caixas pesadas e
pertences durante os dias de mudança.
Quando Katie trocou olhares com Nicole, as duas concordaram que Emily seria
uma exceção à regra.

Katie olhou sobre seus ombros e viu que o avô de Emily não tinha vindo com elas.

- Ele pode se juntar a nós, ela disse.

- Mas é o dormitório das mulheres, a avó disse.

- Sim, mas os andares estão abertos durante os dias de mudança. Você não acha
que ele gostaria de vir conosco?

Emily recuou alguns passos e timidamente acenou para que seu avô entrasse no
corredor com elas.

- Pode vir, ela disse.

- Ela não está acostumada com nada do Ocidente, a avó confidenciou para Katie.
Ela morou em Moçambique desde que nasceu. Esse é um grande passo.

- Nós temos o telefone de vocês no formulário, eu tenho certeza disso. Katie


diminuiu o tom de voz para que Emily e seu avô não ouvissem. O que você acha
de eu te ligar daqui alguns dias para te informar sobre como Emily está indo?

- Oh, você faria isso?

Katie fez que sim com a cabeça e sorriu. Um grande nó tinha se formado em sua
garganta desde o momento em que ela fitara os olhos daqueles cuidadosos avós.
Katie não podia imaginar como seria ter parentes tão envolvidos em sua vida a
ponto de eles a levarem na faculdade de deixarem-na lá com tanto receio e
amor. Ser amada era um poder que não podia ser subestimado. Katie tinha
certeza disso. Ela sabia que esses avós não descansariam até eles soubessem que
sua amada neta estava bem.

- Aqui está seu novo cantinho, Katie disse radiante, tentando trazer um
sentimento de alegria a esse momento triste. Quarto 204, e sua colega de quarto
será... Katie olhou para a lista de nomes feita à mão na porta e leu o nome:
“Carlene Fischer.”

Foi quando Katie fez uma conexão que tinha escapado dela durante sessão de
preparação dos quartos. Carlene era Carley. É por isso que Carley tinha dito que
se encontraria muito com Katie porque ela estava no “204”. Katie não tinha feito
a conexão mais cedo. Ninguém chamava Carley de “Carlene”.

- Na verdade, não. Sem muita sutileza, Katie puxou o cartão de nomes da porta.
- O que há de errado? O avô perguntou.

- Este é o quarto certo para Emily. Sim, aqui, 204. Bem vinda ao seu quarto. Não
seu preocupe, eu preciso checar o que aconteceu. Katie tentou parecer natural.
Então eu vou deixar vocês três começarem a fazer a mudança de Emily, e eu
estarei na mesa da frente se vocês precisarem de algo mais.

- Ela vai ter uma colega de quarto, não vai? A avó perguntou.

- Ah, sim, definitivamente. Emily tem uma ótima colega de quarto. Eu só vou
organizar isso e, hmm... sim, vocês podem começar a mudança.

Katie se apressou pra voltar para a mesa onde Nicole estava “atolada” com uma
fila de cinco famílias, desejosas de ajudarem a fazer desse momento de suas
filhas calouras no campus da faculdade uma boa experiência.

Nicole estava entregando alguns papéis para a próxima jovem e explicando que
ela não tinha preenchido um dos formulários necessários para ter seu carro no
campus. O temperamento doce de Nicole adicionado à experiência dela por ter
feito isso ano passado permitiram a Katie um momento para estudar a lista de
residentes e tentar fazer uma mudança-de-última-hora nas colegas de quarto
para Emily. Bem no fundo de seu coração, Katie não conseguia ver Carley com
Emily.

Por que Carley não está no Brower Hall novamente? Eu não fazia idéia de que
ela escolheu o Crown Hall. Por que ela faria isso? Ela já está no último ano da
faculdade. Emily não pode ter mais que dezoito anos, se não for muito. Carley
vai perverter essa borboletinha.

- Katie, você poderia começar o registro com a próxima aluna? Nicole perguntou.

- Em um minuto. Katie sorriu para a aluna que esperava, ela estava mascando um
chiclete e tinha ao seu lado uma mãe com uma aparência-preocupada.

Katie se aproximou de Nicole e sussurrou:

- Eu tenho que mudar a colega de quarto de Emily para outro quarto.

- Agora? Katie, já está tudo definido.

- Eu sei. Por favor, confie em mim, Nicole.

As duas se olharam e Katie sabia que Nicole iria voltar e deixar Katie com sua
tarefa. O tempo de treinamento delas juntas tinha resultado no que as duas
precisavam em momentos como esse. Cumplicidade.
- Okay. Nicole sussurrou de volta. Apenas faça isso o mais rápido que puder.

Ás 11:30 daquela manhã Carley chegou pronta para se registrar.

- Eu não entendo.

Ela disse a Nicole.

- Os papéis que eu recebi algumas semanas atrás dizia que eu estava no quarto
204.

- Eu sei. E eu sinto muito pela confusão, Nicole disse. Seu quarto de verdade é o
238.

- Como assim? Eu pedi um quarto perto da porta de entrada e longe do banheiro.


O quarto 238 é exatamente ao lado dos chuveiros. Eu não entendo porque a
definição dos quartos mudou”

Nicole olhou para os papéis. Katie não suportou ver Nicole assumindo o problema
de Carley então ela disse.

- Eu mudei o quarto, Carley.

- Você mudou? Por quê?

- Eu precisei fazer um ajuste da colega de quarto.

- O que você quer dizer como ajuste da colega de quarto? Minha colega de quarto
é Marissa Stockbridge. Não me diga que você nos colocou em quartos diferentes.
A única razão pela qual eu estou no Crown Hall é por causa da Marissa.

Nicole e Katie se olharam e depois olharam para os papéis.

- Você não estava listada com a Marissa, Katie disse.

- Como pode isso estar tão bagunçado? O que fez das reais reclamações de Carley
um problema maior foi o que Katie viu listado nos papéis em frente a ela.

- Carley, eu preciso te contar que Marissa já se registrou e está no quarto 259


com a Kim Choy.

- O quê? Que bagunça! Por que você colocou Marissa com Kim?

Katie olhou para o formulário de novo. Marissa e Kim tinham escolhido uma a
outra. De acordo com os registros na frente de Katie, Carley não tinha sido
escolhida como colega de quarto por ninguém. Foi por isso que ela acabou
ficando com Emily, que também não especificara sua colega de quarto.

- Nós não...

Nicole interrompeu Katie e calmamente disse:

- Nós podemos descobrir o que aconteceu. Você se importa em esperar um pouco


para que possamos colocar as coisas no lugar de novo? A fila atrás de Carley tinha
crescido, e a paciência das calouras que esperavam estava acabando.

- Não, eu não posso esperar. Eu tenho que trabalhar. Ele lançou um olhar
penetrante para Katie. Meu chefe está voltando hoje, e eu não posso me atrasar.

Katie sentiu sua mandíbula cair. Ela estava prestes a dizer umas poucas e boas
para Carley e pedir para que ela parasse de fazer aquela cena, mas então, se
Katie dissesse algo, ela sabia que ela quem estaria fazendo uma cena.

Ao passar a mão na sua nuca e olhar para o lado, Katie viu algo que a fez parar
de respirar. Vindo em sua direção estava um rapaz alto e incrivelmente bonito
com cabelos escuros e ondulados. Ele estava usando óculos escuros e camisa bem
justa. Katie reconheceria aquele andar determinado em qualquer lugar.

- Rick, ela sussurrou.


Capítulo 21
Isto, seu primeiro encontro com Rick em duas semanas, fez o coração de Katie
bater de um jeito que ela nunca tinha sentido. Ela pulou da sua cadeira e se
apressou para encontrá-lo no meio do caminho, cumprimentando-o com um
enorme abraço e um alegre gritinho.

Rick deixou escapar uma leve risada e levantou seus óculos de sol.

- Bom te ver, Raio de Sol, ele sussurrou. E quanto ao babraço?

Katie riu.

- O babraço foi ótimo. Mas me diga que você não trouxe esse apelidinho
insolente com você do Arizona.

- Você gostou?

Ela se ergueu para passar a parte de cima da sua mão no maxilar dele, que
estava com a barba por fazer.

- Eu acho que você pode definitivamente enviar o "Raio de Sol" de volta para o
Arizona, Cactus Boy.

- Cactus Boy, huh?

- Sim. Não era esse visual que você estava querendo?

- Não. Eu tinha que pegar um vôo cedo.

- É tão bom te ver, scruff and all.

- Você também, unscruffed and all. Rick olhou por cima da cabeça de Katie e
disse:

- Parece que vocês estão muito ocupadas aqui. É melhor eu deixar que você
volte. Me ligue quando puder, ok? Eu estou a caminho do trabalho agora.

- Ok. Vejo você mais tarde. Ela deu uma olhada de perto no rosto de barba-por-
fazer dele. É muito bom olhar pra você, você sabe, Sr. Lenhador.

- Lenhador definitivamente não é o que eu estava procurando.

- E quanto a Agente Secreto?


- Melhor. Rick se inclinou para mais perto e sussurrou no ouvido de Katie: Você, a
propósito, está absolutamente deslumbrante.

Ele se virou para ir, mas quando fez isso, Carley chamou:

- Rick, espere! Você tem que me ajudar. Está tudo uma bagunça.

Rick olhou para Carley e novamente para Katie. Ela tentou dizer com os olhos
que ele realmente não precisava se envolver nisso. Mas o complexo heróico de
Rick Doyle assumiu e ele passou por Katie para ouvir o problema de Carley.

A única coisa boa sobre Rick se interessar pelo problema do quarto de Carley foi
que ele a colocou de lado, longe da fila de ouvidos atentos. Katie e Nicole
estavam preparadas para ver a próxima jovem e registrá-la sem complicações.

Elas processaram a papelada de mais três mulheres na fila antes de Rick voltar à
mesa.

- Estou indo agora, Katie. Carley disse que ela precisa fazer mais algumas
ligações e voltar para se registrar hoje depois do trabalho. Suponho que ela
tenha uma amiga em outro dormitório com quem ela possa trocar ou algo assim.

Ele terminou a frase com uma expressão suave ao redor dos olhos e Katie sentiu-
se enrubescer lembrando-se de como ele dissera mais cedo que ela parecia
deslumbrante.

- Obrigada por ajudá-la. Nós ajeitaremos tudo, Katie disse.

- Eu sei que vocês vão. Rick a alcançou e deu um aperto no antebraço dela.
Então ele sorriu o seu clássico sorriso mais-charmoso-do-universo somente para
ela.

Katie não podia acreditar em como estar perto dele depois desse tempo
separados estava despertando suas emoções.

Rickster o que você está fazendo comigo?

Nicole e Katie registraram o restante das mulheres na fila sem qualquer


obstáculo e depois de meia hora tiveram algum tempo livre. Nicole se inclinou
para trás na cadeira dobrável.

- Mama mia!

- Sem brincadeira – Katie disse – Que loucura!


- Eu não estava dizendo 'mamma mia' pelas pessoas se registrando. Eu estava
fazendo uma referência a você e ao seu namorado.

- Ele não é meu namorado. Eu já expliquei pra você antes. Nós estamos apenas
flutuando. Sem compromisso. Apenas 'quase'. Katie podia sentir a sua face
enrubescer.

Nicole sorriu abertamente e balançou a cabeça:

- Eu não acho que você está convencendo alguém disso. Muito menos a você
mesma. Katie, eu estou achando que é melhor vocês dois terem outra DR logo.
Vocês são o 'quase' casal mais apaixonado que eu já vi.

- Apaixonados. A frase saltou da boca de Katie como quando um pássaro


enjaulado encontra a porta de saída entreaberta. Ela estava contente por não
haver ninguém por perto naquele momento para ouvir a conversa delas.

- Katie, vocês estavam queimando.

- Queimando? Ah, por favor.

Nicole concordou, parecendo desfrutar daquele momento muito mais do que


Katie estava.

- Eu estou te dizendo, Katie, se eu tivesse um cabide e alguns marshmallows


perto de você há uns dois minutos, eu teria feito uns s'mores1 agora mesmo.

Katie gargalhou do comentário de Nicole. Ela pensou em como ela usara a


palavra com "A" quando ela estava contando a Cris como ela se sentia com
relação ao Rick quando os dois começaram sair no outono passado. Mas aquilo foi
no começo de tudo isso e ela estava conversando com a Cris; Katie podia
exagerar tudo o quanto quisesse com Cris.

Agora que ela e Rick estavam mais alguns meses dentro desse relacionamento,
Katie não queria exagerar em nada. Ela queria que todas as decisões e promessas
estivessem claras e não sujeitas a ondulações, da mesma maneira como eles
estiveram procedendo nos últimos meses.

Outro grupo de estudantes chegou. Katie afastou seus pensamentos sobre Rick.

Algumas das mulheres que haviam se registrado mais cedo estavam voltando à
mesa com perguntas e problemas. Duas delas tinham chaves que não

1
s'mores - uma tradição americana de acampamentos em que as pessoas torram os marshmallows no espeto
sobre a fogueira e fazem "sanduíche" com as bolachas, os marshmallows derretidos e o chocolate. (N. da T.)
funcionavam em seus quartos, então Katie teve que enviá-las para o Serviço dos
Estudantes.

Uma jovem mulher trouxe todas as suas roupas literalmente em um guarda-


roupas. A bela, grande peça de mobiliário foi descarregada de um trailer no
estacionamento e navegava para a porta da frente em uma dolly. A dolly perdeu
uma de suas rodas direitas em frente à porta dupla principal onde dúzias de
estudantes estavam tentando trazer para dentro suas caixas. Fazendo
uma ligação para a manutenção do campus, Katie foi para a frente para ajudar a
redirecionar o tráfego.

Um dos cambaleantes carros de golfe verdes do campus parou e um cara de boné


veio em direção à Katie com uma caixa de ferramentas.

- Obrigada por vir tão rápido, ela disse.

O empregado da manutenção do campus olhou para ela sob o boné e rompeu em


um largo sorriso. Era o Cara do Cavanhaque. Katie tinha quase se esquecido dele.

- Eu estava querendo saber quando iria vê-la novamente, ele disse. Como foi o
seu verão?

- Bem, obrigada. Katie respondeu brevemente. Ela não podia acreditar que ele
estava tentando iniciar uma conversa. Você deve ter percebido que nós temos
um engarrafamento aqui. Você se importa se nós pularmos a parte da conversa?

Ele olhou para Katie mais de perto.

- Claro. Mas eu tenho que te contar algo.

- Você pode me contar depois?

- Não, eu acho que não. Eu esperei para vir até você de novo e eu disse a mim
mesmo que quando eu a visse eu lhe diria isso.

- Ok, Katie disse impacientemente.

- Você deve saber que você é inesquecível. Isso é um problema meu e não seu,
nesse ponto, mas eu achei que você deveria saber.

Ele se virou e deixou Katie olhando à direita e à esquerda para ver se ninguém
tinha ouvido o que ele disse.

O que? O que foi isso? O que eu supostamente faço com uma declaração como
essa? É a minha nova blusa ou o quê? Isso é louco!
Deixando de lado o encontro desajeitado com o Cara do Cavanhaque, Katie se
apressou a voltar para a mesa onde Nicole estava mais uma vez ocupada com
mulheres esperando para se registrar. Não houve nenhum outro intervalo no
fluxo de trabalho até por volta das quatro horas.

Nicole foi procurar alguma coisa para elas beberem enquanto Katie tentava
entender o problema do quarto de Carley. Até aqui, quarenta e três das suas
cinqüenta e duas mulheres tinham se registrado. Infelizmente, Katie não tinha se
familiarizado com nenhuma das que restavam para se registrar, então ela não
sabia se alguma delas seria uma boa companheira para Emily.

Por que eu comecei isso? Craig nos disse no treinamento para não inventar mais
trabalhos para nós mesmas, rearranjando qualquer coisa nas inscrições. Talvez
seja idéia de Deus desde o princípio para Carley e Emily serem colegas de
quarto. E se eu estiver bagunçando as coisas?

Katie achou estranho Carley ter selecionado o Crown Hall e não ter contado a
Katie sobre a sua decisão exceto pela sua afirmação codificada sobre estar no
204. Embora Carley fosse alguém que Katie não queira exatamente ter por perto,
Carley estava designada para o dormitório delas. Ela era uma das mulheres que
Katie estaria supostamente "assistindo" como uma assistente dos residentes.

Eu realmente preciso que você me dê uma direção aqui, Deus. Você quer Carley
e Emily no mesmo quarto? Porque se você quiser, eu vou voltar atrás.

Katie não sentiu nenhuma paz sobre voltar atrás. Ela não tinha segurança de que
as duas mulheres pudessem estar juntas no 204. De qualquer forma, ela se sentia
mais determinada a encontrar uma diferente companheira de quarto para Emily
depois que ela orou.

Julia chegou poucos minutos depois e se desculpou por não ter checado mais
cedo como Katie e Nicole estavam indo. Aparentemente o andar dos
calouros tinha experimentado desafios o dia todo e Julia tinha sido a resolvedora
de problemas.

Já que ninguém mais estava por perto no momento, Katie contou a Julia sobre a
sua decisão de fazer uma troca de última hora. Julia parecia ler nas entrelinhas
as declarações que Katie não fazia. Ela já tinha bagagem suficiente
proveniente da conversa que Katie e ela tiverem na balsa de Catalina para
preencher as peças faltantes.

- Como estão os seus pensamentos sobre isso no momento? Julia perguntou.

- Eu orei a respeito - Katie disse – e eu realmente não tenho paz sobre desistir da
minha busca por uma companheira de quarto diferente. Eu sei que nós não
devemos ouvir os nossos sentimentos para questões como essa, mas isso é tudo o
que eu tenho neste momento.

- Quem disse que você não deve ouvir os seus sentimentos? Julia perguntou.
Ouvir, obviamente, é a palavra chave. Ouvir os seus sentimentos. Não ser
dominada por eles.

Katie acenou com a cabeça e tentou entender como seria possível não deixar
seus fortes sentimentos dominá-la. Antes que ela tivesse qualquer pista sobre
com o que isso poderia se parecer, a próxima estudante chegou carregando uma
capa de violão em uma mão e um telefone celular em outra.

Abaixando o telefone, ela disse:

- Oi! Como "cês tão"? Eu sou Emilee Monroe.

- Eu sou Katie. Esta é Julia. Bem vinda ao Crown Hall.

- Nós estamos realmente contentes por você estar aqui, Julia disse.

- Caraca! Você vai me fazer chorar! Disse Emilee.

- Chorar?

- Você não tem idéia de como essas doces palavras soam para mim. Eu esperei
por um longo tempo para estar aqui. Isso é como um sonho se tornando
realidade.

- Eu senti o mesmo quando eu cheguei aqui, Katie disse.

- Então você sabe o privilégio que é.

Katie concordou. Ela olhou para baixo na sua lista e colocou um 'Ok' perto do
nome de Emilee Monroe, do Alabaster, Alabama. Sem verificar sua atribuição
original de quarto, Katie tomou uma decisão imediatamente e.

- Você está no quarto 204.

- Isso está certo? Porque eu acho que o papel que eu recebi dizia que eu estava
em um quarto diferente. Aqui, espere. Jared? Eu vou ter que te ligar de volta. Eu
estou me registrando no meu quarto agora. Eu sei. Sim, você também. Diga oi
para mamãe por mim.

- Você requisitou uma colega de quarto específica? Katie perguntou depois de


Emilee desligar o seu telefone.
- Não. Está brincando? Eu não conheço ninguém aqui.

- Então você está definitivamente no quarto 204, Julia disse.

- Nós tivemos que fazer alguns ajustes com as atribuições, Katie explicou. Espero
que você entenda. Sua carta pode ter listado um quarto diferente, mas você está
no 204.

- Caraca! Você poderia me colocar na cabina do campo de baseball que eu não


me importaria. Eu já estou nas nuvens só por estar aqui. Mais, eu não me importo
de te contar que eu orei muito com relação à minha colega de quarto e eu tenho
certeza de que ela vai ser ótima.

- Ela é, Katie sorriu largamente. Só que tem um pequeno detalhe que eu tenho
que te contar sobre a sua colega de quarto.

- O que? Ela ronca? Porque eu trouxe tampões de ouvido em todo caso. Claro, eu
os coloquei originalmente pensando que minha colega poderia querer alguns
tampões de orelha logo que ela me ouvisse no violão.

- Você terá que descobrir com ela sobre o ronco e as preferências musicais, mas
pelo menos você não levará muito tempo para se lembrar do nome dela, porque
é Emily.

- Não brinca!

- Ela já se registrou e você pode encontrá-la no quarto de vocês.

- Isso é ótimo. Muito obrigada. Emilee estendeu a sua mão para cumprimentar
Katie e então Julia. Ela era a primeira estudante a agradecer Katie com tamanho
gesto de apreço.

- Vai ser um ótimo ano. Emilee disse enquanto passava sob o banner de Tesouros
Peculiares. Seus louros cabelos cacheados estavam presos em um rabo de cavalo
que subia e descia como um grupo de dentes-de-leão nas mãos de uma criança.

- Sim, Katie disse suavemente. Está para se tornar um ótimo ano com mulheres
como você nesse dormitório, Senhorita Emilee Monroe, de Alabaster, Alabama.

Julia colocou uma mão no ombro de Katie.

- Às vezes ouvir os sentimentos é o melhor caminho a seguir.

As mudanças restantes se encaixaram no lugar como peças de um quebra-cabeça.


Nicole resolveu o enigma de Katie colocando-a no quarto 203, no corredor de
Emily e Emilee e junto com a antiga colega de quarto de Selena, Vicki. Selena
ainda estava no Brasil e tudo o que Vicki havia requisitado em seu formulário de
inscrição era que estivesse no mesmo quarto onde ela e Selena estiveram no
último ano.

Quando VIcki se registrou, perto de 17:30, ela estava com um ótimo humor e deu
a Katie uma bronca com relação aos sapatos derretidos na última primavera.
Vicki apontou para os pés dela e disse:

- Esses são os sapatos que você trouxe para substituir os meus derretidos, e
adivinhe? Eu gostei muito mais desses.

Katie esperava que Vick tivesse os mesmos sentimentos felizes com relação à
colega de quarto que Katie "substituiu" para ela. Ela explicou que Carley
provavelmente seria a companheira de Vicki, mas elas não tinham recebido
nenhum retorno de Carley se ela estava se mudando para um outro dormitório.

- Ok, Vicki disse sem hesitação. Eu não a conheço bem, mas está tudo bem
porque eu estou com esperança de me juntar a alguma pessoa nova. Selena e eu
fomos ao ensino médio juntas e apesar de ter sido ótimo sermos colegas de
quarto ano passado, eu quero uma chance para me expandir os horizontes e me
fazer novos círculos de amizade.

Nicole e Katie trocaram rápidos olhares.

- Obrigada por ser tão flexível, Nicole disse.

Quando Carley retornou e verificou que ela estava, em suas palavras, "presa" ao
Crown Hall, ela estava feliz pelo menos por saber que ela estaria se alojando
com Vicki.

- Bem, Katie fechou a sua pasta depois que a última garota se registrara. Nós
provemos um quarto para todos sem derramamento de sangue. Eu acho que nós
estamos nos encaminhando para um bom ano.

- Estamos nos encaminhando para um ótimo ano, Nicole disse.

Agora tudo o que Katie queria era a chance para se sentar e ter uma longa
conversa de reconexão com Rick.

Ela tinha que esperar.

Entre os compromissos de Rick no trabalho e os compromissos dela na escola,


quatro dias se passaram antes que os dois finalmente se encontrassem. Rick
trouxe almoço para Katie e os dois se encontraram na fonte do centro do
campus.
Em vez de morder seu sanduíche de rosbife, Katie iniciou a conversa com:

- Antes de nós falarmos sobre qualquer outra coisa, nós temos que discutir algo.

- Discutir? Sobre o quê?

- Não tem que ser uma discussão, mas pode ser, então eu só estou te avisando.

- Ok, então qual é o problema? Você não gosta de rosbife?

- Não é o sanduíche. É Carley.

- Ela não fez o sanduíche. Carlos fez.

- Rick, não é o sanduíche ou quem fez o sanduíche. Ela colocou a comida de lado
para ganhar a atenção total dele. Umas duas semanas atrás eu ouvi que você foi
ao cinema com Carley.

- Isso mesmo. Você e eu nunca tivemos chance de conversar sobre isso, não é?

- Não. Não foi minha novidade preferida. Eu ouvi sobre isso na balsa em Catalina.

Rick olhou atentamente para Katie.

- Sinto muito. Aquela noite toda foi estranha. Carley disse que ela ia encontrar
com o namorado ao cinema e me perguntou se você e eu queríamos nos juntar a
eles. Foi por isso que eu fiquei te mandando mensagens de texto. Ted disse que
ele e Cris poderiam ir também, então eu fui ao cinema pensando que seria um
grupo. Ao sair estava só Carley e ela já tinha comprado as entradas. Eu deveria
ter pago a ela pela entrada e ido pra casa. Ele balançou os ombros. Foi um
grande nada. O filme, a coisa toda.

- Ok, foi o que eu pensei que tivesse acontecido. Um plano em grupo dando
errado. Isso é tudo. Fim da discussão.

- Essa foi fácil.

Katie deu uma mordida no seu sanduíche, seu apetite retornava.

- Hmm, Carlos se lembrou da mostarda. É perfeito.

- Ele disse que sabia como você gosta de seus sanduíches.

- Você gosta de mostarda em seu rosbife? Katie perguntou.

- Não muito. Rick segurou o seu sanduíche. Eu vou de peru e abacate.


Katie balançou a sua cabeça.

- Nunca te frustra sermos tão diferentes?

- Não, diferente é bom. Talvez seja a hora de você ter paz com a noção de que
os opostos se atraem, porque se eu tenho isso de forma perfeitamente clara, eu
estou muito atraído por você, Katie Girl.

Ela sorriu. O apelido 'Katie Girl' não a incomodava muito. Talvez tenha sido
porque Rick o colocou no final de uma sentença tão deliciosa. Uma jovem mulher
poderia construir um castelo inteiro de sonhos em naquela fala.

Rick avançou e tocou no canto dos lábios de Katie. Ela pensou que fosse uma
tenra expressão de corações derretidos até ele mostrar a ela o seu dedo e a
mancha de mostarda que ele tinha removido dela.

Katie procurou na sacola por um guardanapo. O que sua mão tocou não foi um
suave guardanapo, mas papel duro.

- O que é isto?

Katie arrancou as duas entradas para o jogo de baseball em San Diego.

- Rick!

Ela passou os braços em torno do pescoço dele e deu a ele um aperto,


aconchegando o nariz na curva cheirando a loção pós-barba do pescoço dele.
(Essa parte ta estranha mas ainda não consegui pensar em nada melhor... vamos
pensando. ok?)

- Eu pensei que você estivesse pronta para um pequeno evento social. Só nós
dois. Eu sei o quanto você gosta de baseball e cachorros-quentes.

- Com mostarda, Katie adicionou.

- Com mostarda, Rick repetiu.

- Isso é ótimo! Tão divertido! Eu não posso esperar.

- Eu também não. Eu acho que eu tenho que sair mais cedo do trabalho sexta-
feira e nós podemos dirigir ao longo da costa. Colocar uma boa música. Tirar um
tempo pra nós.

Katie gelou.

Rick leu alguma coisa que ele precisava saber na expressão dela.
- Sexta à noite é um problema para você.

- Oh, Rick, eu não posso acreditar nisso. É o nosso Evento de Volta à Escola de
Todos os Dormitórios. Nicole e eu estamos encarregadas da coisa toda. Cada par
de companheiras de dormitório pegou um dos quatro eventos principais do ano e
esse é o que eu e Nicole escolhemos. Nós pensamos que poderíamos ir primeiro
pra ficar livre disso logo. Eu sinto muito.

- Eu também. Ele pegou os tickets de volta da mão dela e os colocou no bolso. Eu


deveria ter perguntado a você antes, mas então não teria sido uma surpresa.

- Eu adorei que você tentou me surpreender.

- Bom – ele disse – pelo menos essa parte funcionou.

- Nós dois podemos tentar fazer alguma coisa no sábado? Katie tentava soar
esperançosa e não muito "destruída" como ela se sentia.

- Claro, nós podemos planejar alguma coisa. O tom de voz de Rick deixava claro
que ele estava desapontado porque sua surpresa não funcionara.

- Parece que tem sido semanas, meses, desde que nós fizemos alguma coisa
juntos, Katie disse.

- Eu sei. Isso não está funcionando tão calmamente como supomos que fosse, não
é?

- Você quer dizer, meu cargo de AR?

- Não é só o seu cargo, Rick disse. É o meu trabalho, esse projeto no Arizona e o
seu calendário de aulas. É tudo de uma vez. Nós vamos fazer alguma coisa no
sábado e isso é o que importa a essa altura, certo?

- Certo. Sábado. O que você quer fazer?

- Nós podemos jantar no novo restaurante tailandês em Temecula.

- Parece bom. Isso quer dizer que nós iremos usar uma gravata?

- Eu poderia – ele disse, aparentemente não notando a escolha de palavras dela.


Eu não tenho certeza que é um lugar formal, mas...

Katie riu.

- Foi uma piada, Doyle. Restaurante tailandês? Gravata? Pegou?


- Oh, peguei.

Katie deu outra mordida no seu sanduíche com um sorriso presunçoso em sua
face. Ela não viu o esguicho de água que Rick tirava e mandava na direção dela,
mas ela definitivamente sentiu o efeito.
Capítulo 22
Algumas mulheres guardam álbuns com fotos dos seus momentos favoritos. Os
melhores momentos de Katie estavam guardados em seu coração. Ela sempre
gostou do verso sobre a mãe de Cristo mantendo todas as memórias sobre o filho
dela como tesouros em seu coração.

Katie conhecia o sentimento de “entesourar” algo em seu coração. E este era o


lugar onde ela mantinha as lembranças do piquenique no almoço que ela e Rick
tiveram na fonte. As lembranças instantâneas incluíam uma seqüência de ações
de guerra de água que se seguiram ao primeiro esguicho de Rick.

Os reflexos dela eram rápidos, mas naquele dia em particular, Rick estava mais
rápido. Em três minutos e meio, ambos estavam encharcados. Rick estava
gargalhando alto, mas Katie gargalhava mais forte. A injustiça disso tudo, Rick
disse, era que Katie poderia voltar para o seu quarto e se trocar enquanto ele
teria que se secar dirigindo colina abaixo na volta para o trabalho.

O que fez desse momento mais memorável não foi só a seqüência de lembranças
que Katie guardava em seu coração, mas também a forma como ela se sentiu
quando Rick foi embora. Ela sabia como era entesourar uma lembrança e
entesourar uma pessoa em seu coração.

Katie não teve tempo para falar com Rick por mais dois dias. Ela mal teve tempo
para dar atenção para qualquer coisa que não fosse todas as responsabilidades de
AR que continuavam chegando aos montes. Apesar dos problemas esperados do
dormitório, como estudantes ficando trancadas do lado de fora de seus quartos e
um chuveiro quebrado, Katie e Nicole tinham finalizado o Mural dos Tesouros
Peculiares.

Durante os registros, Katie e Nicole tinham se esquecido de tirar fotos de todas


as garotas para colocar na parede, próximo aos versículos que elas tinham
reunido. O desafio agora era encontrar todas as garotas para tirar as fotografias
delas.

Na quinta-feira à tarde, Nicole e Katie fizeram as rondas com uma câmera na


mão. Em praticamente todos os quartos, Katie e Nicole acabaram envolvidas em
longas conversas. Aquilo foi ótimo para conhecer todas melhor e para construir
um senso de comunidade. Só não foi tão bom para finalizar o projeto assim como
para adiar o trabalho de classe delas. Sem mencionar todos os detalhes que elas
precisavam finalizar para o Evento do Hall na sexta-feira à noite.

Katie e Nicole tiraram ótimas fotos de Emily e Emilee. As duas novas colegas de
quarto estavam se dando tão fabulosamente bem quanto Katie tinha esperado.
Elas tinham rearranjado suas camas, então estavam ambas contra a janela. Na
parede de Emily acima de sua escrivaninha estava um pedaço maravilhoso de um
tecido marrom e ferrugem trançado com tema africano. Na parede de Emilee
havia uma arrumação de fotografias emolduradas de sua família, amigos, fãs,
assim como uma foto bem de perto de seu grande cachorro babão. Ninguém se
perguntaria qual lado do quarto pertencia a Emily da África e qual lado pertencia
a Emilee do Alabama.

Quando Katie e Nicole desceram pelo corredor, Katie disse para Nicole seguir em
frente.

- Eu acabei de lembrar de uma ligação que eu tenho que fazer. Eu a alcançarei,


ok?

- Não se preocupe com isso, Nicole disse. Eu só tenho mais quatro pra ir.

Katie foi até o escritório dos ARs e pegou o arquivo de Emily. O salão de entrada
estava tão barulhento que ela subiu até o esconderijo no alto do telhado onde
podia se 'empoleirar'. Digitando o número dos avós de Emily, Katie falou com
ambos e deu um relatório radiante de quão bem Emily estava entrosada com sua
colega de quarto e como ela estava se instalando bem.

- Nós queremos que você saiba – o avô de Emily disse – que minha esposa e eu
tiramos um tempo toda manhã depois do café para orar. Nós acrescentamos você
à nossa lista de oração, Katie. Nós estaremos orando por você todos os dias.

- Obrigada. Katie não sabia o que mais dizer. Ela nunca tinha ouvido alguma coisa
como essa antes. Ela sabia que seus amigos oravam por ela – pelo menos eles
diziam que oravam, sempre que ela pedia para orarem. Mas nenhuma figura
paterna tinha alguma vez tomado para si a responsabilidade de orar por ela
regularmente.

- Minha esposa e eu queremos que você saiba o quanto nós apreciamos o que
você está fazendo aí pela nossa neta. Os pais dela estão muito agradecidos
também. Você fez o ingresso de Emily na universidade algo de primeira categoria
tanto quanto poderia ser.

Katie se sentiu encorajada depois da conversa ao telefone, o que foi uma boa
coisa porque às 22:15 uma Nicole de rosto vermelho veio ao quarto de Katie.

- Nós temos uma situação. As mulheres no 229 têm um cara no quarto delas. Já
se passaram horas e a porta está fechada.

Katie saltou de sua escrivaninha, onde ela estava imprimindo as fotos das garotas
do andar para finalizar o mural dos Tesouros Peculiares.
- Você tem a chave-mestra?

Nicole a segurou no alto.

- Bem aqui. Nós precisamos fazer isso juntas. Lembra do treinamento, nós
precisamos ser firmes e específicas, mas não é nossa função assumirmos um
papel policial.

Katie concordou. Parte do treinamento delas durante a semana de reuniões e


preparações depois do retiro em Catalina tinha sido encenações de situações
problemáticas. Cada AR fora posto em um quarto do dormitório com outro AR
com quem encenara uma situação complicada. A tarefa de Katie tinha sido lidar
com um estudante que estava depressivo e nostálgico. Depois que Katie
descartou sua resposta inicial, que era virar os olhos e dizer "Oh, vamos lá,
cresça", ela recebeu um pequeno tempo extra para refletir na situação e
terminou recebendo uma boa avaliação. Os revisores disseram que ela foi
simpática sem ser fraca e deu à estudante nostálgica direções específicas e
oportunidades para dar um passo para fora de sua depressão.

Katie não achou que iria se sair tão bem quanto se tivesse que responder a uma
encenação de suicídio ou àquele que ela e Nicole estavam prestes a assistir agora
no quarto 229.

Nicole bateu na porta. Katie checou os nomes na etiqueta à porta que ela e
Nicole tinham feito alguns dias antes. "Sabrina e Tasha", Katie repetiu, tentando
lembrar se ela já as tinha conhecido.

- É Nicole e Katie. Nicole bateu uma segunda vez. Nós precisamos que vocês
abram a porta.

Elas podiam ouvir vozes baixas e coisas se arrastando dentro. Uma das vozes era
definitivamente masculina.

- Sabrina, Tasha, nós sabemos que vocês estão aí. Nós ouvimos dizer que vocês
têm um rapaz no quarto. Nós podemos, por favor, conversar com vocês? Nicole
disse.

A maçaneta clicou e virou e a porta abriu.

As duas companheiras permaneceram uma ao lado da outra, olhando indiferentes


e calmas. Katie se lembrou delas. Ela também se lembrava desse quarto. Sabrina
era aquela com um grande guarda-roupa que teve um problema ao se mudar.

Nicole deu uma olhada pelo quarto. Katie checou perto da porta.
- Ei, – Nicole disse, sempre a mulher de coração mole – nós ouvimos que vocês
têm um rapaz aqui e eu estou certa que vocês duas estão familiarizadas com as
políticas do Crown Hall.

Elas balançaram a cabeça.

- Então, é verdade? Vocês têm um rapaz aqui?

- Você vê um rapaz aqui? Sabrina perguntou com ironia em seu tom.

- Havia um rapaz aqui mais cedo. Tasha olhou para Sabrina e então voltou para
Katie e Nicole. Nós não fizemos nada errado. Ele esteve aqui durante as horas em
que o dormitório estava aberto para a mudança.

- Quando ele foi embora? A voz de Nicole ainda estava suave e amigável.

As garotas entreolharam-se e deram de ombros.

- Ok, Nicole jogou seus cabelos para trás. Bem, eu só preciso relembrar a vocês
da política da escola e dizer que não é uma boa idéia ir contra as regras
estabelecidas aqui na Rancho. As regras são para a proteção de vocês.

- Exceto as regras que são ridículas, Sabrina disse. Quero dizer, nós estamos na
universidade. Porque alguém pode nos dizer quem pode entrar no nosso quarto e
quando a pessoa tem que sair? Quero dizer, vamos lá, confie em nós um pouco.
Nós não estamos no ensino fundamental.

- Eu sei, Nicole disse. Muito poucas universidades tem o tipo de restrições que
estão em vigor aqui na Rancho. Mas isso é parte do que nos torna Rancho. Até
que as regras mudem, parte do meu trabalho é ser uma defensora delas.

Katie deu um passo para perto das mulheres.

- O que Nicole está dizendo é que ao vir para a Rancho Corona vocês duas
assinaram as políticas da escola e isso significa que vocês não poderiam ter um
rapaz aqui agora.

- Nós sabemos.

- Ok, Nicole começou a sair do quarto.

Katie não estava satisfeita para ir embora. Ela tinha ouvido algo se arrastar e
uma voz ao fundo. No seu caminho em direção à porta Katie teve uma idéia. Ela
avançou e bateu no guarda-roupa com seu punho.
As outras três mulheres pularam e uma voz masculina soltou um "Whoa!" de
dentro do guarda-roupa.

- Vocês não têm um rapaz no seu quarto, mas vocês têm um escondido no seu
guarda-roupa. É isso? Katie avançou para abrir a porta do guarda-roupa, mas o
rapaz não veio. Ele estava escondido atrás das roupas penduradas.

- Você – Katie disse – se você está procurando uma passagem para Nárnia, você
não vai encontrá-lo aí, colega.

Ela podia ouvir a respiração dele, mas ele não saía.

- Venha. Katie não pôde conter o riso enquanto permanecia em pé em frente ao


guarda-roupa aberto. - Isso é ridículo. Ela empurrou as roupas e ali permanecia
um rapaz de olhar amedrontado tentando aparentar uma expressão de “durão”.

Batendo os pés, ele passou por Katie e disse:

- Era só uma piada. Cara, vocês são muito caretas. Nada disso importa porque eu
não estudo aqui, então eu não tenho que seguir suas regras estúpidas.

Ele se foi e Sabrina e Tasha tiraram os olhos uma da outra e se viraram para
Nicole.

- Vocês não vão gritar conosco ou qualquer coisa assim? Sabrina perguntou.

Nicole balançou a cabeça.

- Não, mas nós precisamos lhes dizer que um dos DRs vai contatá-las em alguns
dias para se encontrar com vocês e conversar sobre isso.

Katie seguiu Nicole corredor abaixo até o quarto dela. Uma vez que elas estavam
perto do quarto fechado de Nicole, Katie disse:

- Isso foi louco. Você tem muita classe, Nicole.

- Você é muito inteligente. Nicole disse com uma risadinha nervosa. Eu ia chamar
o Craig. Eu nunca teria pensado em bater no guarda-roupa.

- Era óbvio. Onde mais ele poderia estar? E o que elas estavam fazendo tendo um
rapaz de fora do campus no quarto delas? Eu não teria sido tão simpática como
você foi. Elas mentiram completamente para nós.

Nicole apanhou o seu telefone celular e discou para a segurança do campus.


- Ei, é Nicole do Crown Hall. Nós tivemos um homem de fora do campus no nosso
andar por algumas horas. A segurança poderia se assegurar de que ele encontre o
seu caminho para fora daqui? Nicole deu uma descrição detalhada de como ele
era e o que estava vestindo.

Com essa parte da segurança resolvida, as duas encontraram o relatório de


incidentes e o preencheram juntas. Levou mais de uma hora. Então elas
retornaram para obter a assinatura das garotas e para que elas checassem que os
detalhes do relatório eram precisos.

Dessa vez as mulheres abriram a porta da primeira vez que Katie bateu.

- É isso? Tudo o que nós temos que fazer é assinar isso? Sabrina perguntou. Vocês
não vão ligar para os nossos pais ou nos mandar para o reitor ou qualquer outra
coisa?

Nicole negou com a cabeça.

- É como eu disse mais cedo: Vocês são estudantes universitárias agora. Vocês
conhecem as diretrizes e as regras. Vocês podem escolher o que querem fazer
com a sua liberdade aqui. Quero dizer, a verdade é, se vocês preferem ir para
uma universidade sem essas restrições, vocês têm muitas outras escolas para
escolher. A Rancho Corona não é para todos. E sim, pode ser vista como uma
pequena bolha cristã às vezes, mas é como as coisas são estabelecidas e é o que
têm funcionado na Rancho por todos esses anos.

- Sabe o que é? Nós queremos nos desculpar. Tasha disse.

- Sim, nós conversamos sobre isso e nós não queremos fazer confusão aqui. Vocês
estão certas, é nossa escolha sobre as regras e ter um rapaz em nosso quarto
durante horas não foi uma boa escolha.

Katie caminhou pelo quarto e deu a ambas um abraço. Nenhuma delas parecia
esperar o gesto de aceitação.

A risada descuidada de Tasha afastou o nervosismo.

- Quando vocês chamaram os nossos nomes e disseram que vocês iam abrir a
porta, nós pensamos que seria horrível.

- Nós não queremos deixá-las com medo de nós, Katie disse. Nós queremos
desenvolver um ótimo relacionamento com ambas. Um relacionamento que é
baseado em honestidade e respeito.

- Nós realmente pensamos que vocês iriam ficar furiosas conosco por um longo
tempo, Sabrina disse.
Nicole balançou a cabeça.

- De que adiantaria isso? Katie está certa. Nós vamos viver juntas por um ano. O
que nós queremos é o que é melhor para todas nós.

Mais tarde, depois de meia-noite, enquanto Katie e Nicole finalizavam a


colocação do resto das fotos na parede, Katie pensou sobre como o incidente
tinha terminado. Ocorreu a ela que quando era criança seus pais usaram uma
combinação de ira, vergonha e ameaças para mantê-la na linha. Ela percebeu
agora que teria funcionado muito mais se tivesse usado firmeza e amor.

Nicole voltou para o quarto dela para pegar mais um pouco de cola para o mural.
Katie deu um passo para trás e deu uma olhada no trabalho delas. Eu suas mãos
ela tinha um verso impresso de Isaías 43:1: "Não temas porque eu te remi; Eu te
chamei pelo teu nome; tu és meu". Ela estava tentando decidir qual foto ela
poderia encaixar com o versículo.

Emille saiu do banheiro e acenou para Katie com a sua escova de dentes. Ao
invés de retornar para o quarto dela no outro extremo do corredor, Emilee veio
arrastando o pés em seu pijama floopy (não sei a tradução disso) e parou perto
de Katie.

- Eu amei o que vocês fizeram com esse mural. O versículo que vocês colocaram
próximo à foto da minha companheira de quarto é perfeito para ela, com a parte
'povos de longe' e tudo o mais.

O versículo era Isaías 49:1, "Ouvi-me, ilhas, e escutai vós, povos de longe: O
Senhor me chamou desde o ventre, desde as entranhas de minha mãe fez menção
do meu nome".

- É um ótimo versículo, Katie concordou. Eu acho que foi Nicole quem o colocou
ali.

- Nicole pôs o versículo na minha foto?

- Não tenho certeza.

- Bem, eu realmente amei. Emilee avançou e tocou o papel como se fosse algo
precioso. Ela leu em voz alta, "Eu vou dar a você os tesouros da escuridão,
riquezas armazenadas em lugares secretos, então você saberá que eu sou o
Senhor, o Deus de Israel, que te chama pelo nome".

- Esse é bom também, Katie disse.

- Como vocês sabem todos os versos para colocar com as fotos?


- Nós não sabemos, Katie disse.

- Então como eles se encaixaram perfeitamente?

Katie sorriu e respondeu a Emilee com uma de suas expressões favoritas de todos
os tempos:

- Deve ser uma coisa de Deus.

Katie sustentou o ainda não atribuído verso de Isaías 43.

- Você ainda não tem um verso na sua foto, Emilee notou. É o seu, esse em sua
mão?

Katie o leu novamente.

- Eu gosto, ela disse. Eu gosto que Deus tenha me remido e me chamado pelo
nome, mas eu não sinto que ele seja o meu versículo para o ano.

- E se eu encontrar um verso pra você? Emilee perguntou. Você está fazendo tudo
isso por nós. Deixe-me fazer alguma coisa para você.

- Ok, eu gostei disso. Obrigada, Emilee.

- Agora estão me chamando de “Em”. Minha colega de quarto é ‘Emily’ e eu sou


‘Em’. Eu gostei e você?

Katie acenou com a cabeça.

- Boa noite, Em.

- Boa noite, Senhorita Katie.

Enrolando-se na cama essa noite bem depois das 2:00, Katie sentiu-se flutuando
para longe em um sonho. Em sua imaginação, ela estava de volta ao piquenique
com Rick na fonte. Ela pegou no sono com um sorriso.
Capítulo 23
A sexta-feira foi um dia tão cheio que Katie não comeu até o anoitecer, até as
cinqüenta pizzas chegarem para todos do “Evento do Hall” que acontecia no
campo de futebol. Ela estava incumbida de distribuir a comida, mas assim que
ela abriu a primeira caixa para checar o tamanho da pizza, ela percebeu que
seria melhor pegar um pedaço antes que ela começasse a ficar tonta.

Katie e Nicole tinham organizado os jogos de quebra-gelo e trabalharam juntas


para começar a festa. O Crown Hall tinha um total de 208 alunos, e parecia que
cerca de 150 viriam para o evento. Craig disse que esse era um bom número de
participantes. Ele ajudou Nicole dando instruções para o primeiro jogo interativo
através de um auto-falante.

Enquanto o grupo estava entretido no jogo, Katie bolou uma ordem lógica para
que todos se movessem na fila da comida. Como gafanhotos, os estudantes
atacaram e fizeram a pizza desaparecer.

Katie recrutou Em e Emily para ajudarem na limpeza juntamente com Jordan que
juntou seis rapazes de seu andar. Katie não parou de se mover durante todo o
tempo. Às 22:30 a última lata de lixo foi retirada do campo e ela deu uma olhada
em volta.

- O que foi isso? ela resmungou para si mesma.

Julia, que estava em pé há alguns metros de distância, disse:

- Isso, Katie Girl, foi um Evento do Hall imensamente bem sucedido. Muito bem.

Katie se lembrou de como Rick a tinha chamado de “Katie Girl” no dia de


registros e ela meio que gostara do apelido. Quando Julia a chamou de “Katie
Girl” ela gostou muito. Com Julia, o nome soou como uma iniciação em um grupo
especial. Soou como se fosse uma “garota surfista”.

- Tudo que eu sei é que esse evento foi uma confusão, Katie disse.

- Pois então me deixe ser a primeira a te falar, foi uma boa confusão, Julia disse.
Todos tiveram um tempo fantástico aqui e começaram a conhecer melhor uns aos
outros. Você e Nicole fizeram um ótimo trabalho. Nós não tivemos falta de nada,
o que é raro nesses eventos. Normalmente ou as coisas sobram ou faltam. Esse
foi tudo certinho.

- Eu me sinto um pouco mal porque não ter conversado com ninguém, Katie
disse.
- O que você quer dizer com isso?

- Eu sei que meu papel como AR é me relacionar com os residentes de uma forma
mais pessoal, mas eu me tornei uma abelha-operária e quase não falei com
ninguém ou notei o que estava acontecendo.

- Ser um servo tem um monte de formas diferentes, Julia disse. Dessa vez você
serviu as mulheres sendo uma abelha-operária. No próximo ‘Evento do Hall’ você
não estará encarregada dos detalhes e será capaz de se socializar o quanto
quiser.

Katie tremeu naquele ar gelado da noite. Agora que ela tinha parado de correr
de um lado para o outro e estava ali de pé no campo gramado, sua camiseta e
shorts não estavam adequados para aquela temperatura.

- Nós podemos ir andando de volta para o dormitório enquanto conversamos?

- Claro.

- Eu estou sentindo que não consigo me relacionar bem com cada uma das
mulheres da maneira como eu gostaria.

- Só se passou uma semana, Katie.

- Eu sei, mas eu acho que estava pensando na maneira como a conselheira do


acampamento de verão do ensino médio se relacionou com cada uma de nós em
uma semana. Todas do nosso chalé ficamos muito unidas.

Julia sorriu.

- Quantas meninas estavam no chalé? Oito? Dez?

Katie cruzou os braços na altura de sua barriga e concordou com a cabeça.

- Mais ou menos isso.

- E vocês estavam todas no mesmo chalé, Julia acrescentou. Dormindo no mesmo


espaço. Isso faz a diferença. Num acampamento, tudo que vocês tinham que
fazer naquela semana era estarem juntas. Isso é faculdade. Um tanto quanto
diferente, como você já sabe. Você tem três vezes o número de mulheres e essas
mulheres têm aulas, empregos, amigos. Dê um tempo a si mesma, Katie. Seu
trabalho é estar disponível. Lembra? Você não é a mãe delas. Você não é a
conselheira delas. Você não é a melhor amiga exclusiva delas. Você é uma
assistente. Uma serva. Essa noite você facilitou a relação delas umas com as
outras e é pra isso que os ‘Eventos do Hall’ servem.
- Eu achei que eu seria mais um tipo de...

- Conselheira individual? Julia terminou a frase pra ela.

- Sim, algo do tipo.

- Pense no seu papel como sendo mais uma ouvinte do que uma conselheira. A
maioria das pessoas consegue perceber seus próprios desafios e problemas uma
vez que é dada a elas a chance de ouvirem a si mesmas expondo seus problemas.

Katie pensou sobre como Julia tinha feito isso por ela mais de uma vez. Julia
proporcionou tempo para que elas conversassem no começo do verão quando
Katie foi até o apartamento dela para tomar chá. Ela também deu oportunidade
a Katie, na balsa em Catalina, para que ela falasse sobre o que estava
acontecendo entre ela e Rick. Na maior parte do tempo Julia ouviu. Apesar disso,
Katie saiu de cada conversa sentindo como se tivesse recebido sábios conselhos.

- Eu estou tão feliz por você ser minha DR, Katie disse quando elas entravam pela
porta da frente do Crown Hall.

- O sentimento é recíproco, Julia disse. A propósito, como as coisas estão indo


com Rick?

- Bem. Muito bem.

- Fico feliz em ouvir isso, Julia disse.

Ao chegar ao pé da escada cada uma seguiu um caminho diferente e Katie se


lembrou de que ela estaria com Rick bem agora em San Diego se ela não fosse
uma AR encarregada do Evento do Hall.

Perguntando-se se Rick foi ao jogo de baseball sem ela, Katie entrou em seu
abafado quarto e notou seu celular piscando no carregador onde ela o tinha
deixado. Chutando suas sandálias, Katie checou sua caixa postal. A primeira era
de Cris. Ela disse que só estava querendo saber como Katie estava. Ela e Ted
estavam a caminho de Carlsbad para cuidar do bebê Daniel. Katie podia até
imaginar os dois todo apaixonados pelo garotinho.

A próxima mensagem na caixa postal era de Rick.

- Ei, me ligue o mais rápido que puder, ok? Eu preciso falar com você.

Katie apertou o botão de discagem rápida e se esticou na cama. Rick respondeu


no primeiro toque.

- Como foi o grande evento?


- Bem. Julia disse que foi um sucesso. Tivemos muito trabalho e eu não parei
hora nenhuma o dia todo. Essa é a primeira vez que eu sentei desde que eu saí
do meu quarto nessa manhã. Eu estou acabada. E você, como está? O que fez
essa noite? Você foi ao jogo?

- Não, eu dei os ingressos para Douglas e Trícia.

Katie percebeu que fora por isso que Ted e Cris tinham ido à Carlsbad para
cuidar do bebê.

- Então o que você fez?

- Eu vim para o Arizona essa tarde. Eu estou em Tempe agora com meu irmão.
Nós precisamos tomar algumas decisões finais sobre o novo café e foi um bom
momento para eu vir.

Katie engoliu. Ela estava quase certa de que em seguida ele diria que não estaria
de volta a tempo para que eles fizessem algo juntos, no sábado à noite. Ao invés
de extrair aquela informação de Rick, ela perguntou:

- Como está indo o novo café?

- Bem. Um monte de detalhes. Nós vamos encontrar com um novo fornecedor de


manhã. O primeiro não deu certo.

Uma pausa tensa estendeu-se entre eles.

- Ouça, Katie... Rick começou.

- Está bem, ela disse rapidamente.

- Você ainda nem sabe o que eu vou dizer.

- Sim, eu sei. Você ia dizer que não sabe se vai voltar a tempo de nós sairmos
amanhã à noite. E estou dizendo que está bem. Nós podemos fazer algo no
domingo à tarde se você voltar até lá. Ou na segunda-feira à noite. Bem, depois
do meu grupo de estudo de 8 às 10. Ou sei lá. Nós faremos algo no próximo fim
de semana. Está tudo bem, Rick. Eu entendo.

- Tem certeza?

- Sim, por mim tudo bem. Você sabe que eu diria se não estivesse tudo bem.

- Eu sei bem disso. Essa é uma das coisas que eu adoro em você, Katie. Com você
não há fraude.
Ela gargalhou.

- O que isso quer dizer? Fraude não é algo que tem a ver com vesícula biliar?
Você está dizendo que eu não tenho uma vesícula biliar confiável?1

Rick gargalhou. Foi uma das boas, profundas e felizes risadas de Rick.

- Eu acho que vesícula biliar tem a ver com ‘bile’, não com ‘fraude’. Quando eu
digo que com você não há fraude, eu quero dizer que você não é falsa. Você diz
o que quer dizer e quer dizer o que diz. Você não faz joguinhos. Eu amo isso em
você.

O coração de Katie deu uma pequena palpitada quando Rick disse a palavra
“amo”. Verdade, ele não disse que amava Katie. Mas ele disse que amava algo
que ela fazia, ou melhor, algo que ela não fazia. Ele amava um traço da
característica dela.

Com um flashback de seu primeiro dia de treinamento, Katie pensou em quando


Craig perguntou a ela qual sua característica favorita que ela tinha herdado da
mãe dela. Agora ela tinha uma resposta. A mãe dela dizia as coisas abertamente,
como elas eram. Katie fazia o mesmo. Era como um pequeno pedaço de uma
pedra preciosa quebrada, mas um pedacinho que era digno de ser pego e
guardado. Katie falava abertamente. Rick amava isso nela. Com ela não tinha
fraude.

Naquele momento pareceu possível para Katie que tudo na sua vida fragmentada
poderia ser redimível. Mesmo os fragmentos da pedra preciosa de sua triste
infância tinham valor e eram dignos de serem guardados para uma inspeção mais
de perto.

Pela próxima uma hora, Katie e Rick conversaram sobre tudo e nada. Eles
estavam juntos, mesmo estando há quilômetros de distância. Eles estavam
descobrindo como ser “nós” na próxima temporada do relacionamento deles.

Apesar de todos os obstáculos, estava funcionando. A distância e as interrupções


os fragmentaram, mas de algumas forma os desafios os levaram para mais perto
um do outro. Mais perto ao nível do coração. Assim Katie descobria que essa era
a parte do relacionamento que importava mais.

Duas semanas depois, o encontro mais aguardado finalmente aconteceu. Rick


tinha terminado suas viagens de fim de semana para o Arizona por um tempo.
Katie tinha se adaptado à sua rotina de aulas, e, com exceção de alguns altos e
baixos, tudo estava indo bem no andar de Nicole e Katie no Crown Hall Norte.

1
Em inglês, a palavra fraude é guile, que se ‘confunde’ com a palavra bile, que é escrita em inglês e
português da mesma forma. Por isso o trocadilho da Katie entre guile e bile.
Isto é, com exceção de uma petição assinada por vinte e três mulheres no andar.
Elas queriam a Parede do Beijo de volta. Aparentemente ele tinha sido uma
tradição no Crown Hall North por cerca de doze anos. A idealizadora da petição
disse que tinha uma prima mais velha ou irmã ou alguma parenta próxima que
ajudou a começar a Parede do Beijo, e com a tradição ditada, elas deveriam ter
um esse ano novamente.

- Elas querem que nós tiremos o Mural dos Tesouros Peculiares? Katie perguntou
quando as duas se encontraram para dar uma olhada na petição no quarto de
Nicole.

- Não, todas elas disseram que amaram a Parede dos Tesouros Peculiares. Elas
apenas o querem localizado no começo do corredor onde todas entram, isso vai
ajudá-las a se familiarizarem com as outras mulheres do andar. Elas sugeriram
que nós movamos a Parede dos Tesouros Peculiares para a parede de frente para
o meu quarto, já que aquela parede está toda branca. Então, seis delas se
dispuseram a colocar a Parede do Beijo de volta ao seu lugar tradicional no final
do corredor de frente para o seu quarto. O que você acha?

Apesar de Katie ter pensado que seria uma tortura particular olhar para fora de
sua porta todos os dias e ser lembrada de que todos no campus estavam beijando
exceto ela, ela disse:

- Nós não podemos ser aquelas que vão quebrar a tradição.

- É isso que eu também acho, Nicole disse.

Os projetos do mural gastaram a maior parte da tarde do sábado para ser


completado. Nicole imprimiu as mesmas frases de beijo que ela tinha colocado
no ano passado. Algumas das estudantes do Inglês do andar adicionaram citações
da literatura. Outra das favoráveis à Parede do Beijo tinha fotos prontas com as
quais poderia contribuir.

Em pouquíssimo tempo a Parede do Beijo estava erguida. Katie ficou de pé com


uma dúzia de outras mulheres e admirou o trabalho manual, lendo as citações.

“O beijo, juntamente com a música, é a única linguagem universal”


Anônimo.

"Porque não foi ao meu ouvido que você sussurrou, mas ao meu coração.
Não foi ao meu coração que você beijou, mas à minha alma."
Judy Garland.

“Digo que estou cansado, digo que estou triste;


Digo que riqueza e saúde me abandonaram;
Digo que estou envelhecendo, mas adiciono...
Jenny me beijou!”
Jenny Hunt.

“Um homem deu toda sua felicidade,


E todas as suas posses por causa disso,
Para perder seu coração em um beijo,
Por sobre os perfeitos lábios dela.”
Alfred Lord Tennyson.

“Os lábios dela nos dele puderam dizer-lhe melhor que todas as palavras
errantes.”
Margaret Mitchell.

“A luz do sol bate na terra,


E os raios da lua beijam o mar:
De que adiantam todos os beijos,
Se você não me beijar?”
Percy Bysshe Shelley.

“O momento eterno - apenas aquele e nenhum mais-


Quando o êxtase chega ao máximo, nós nos agarramos ao coração
Enquanto bochechas queimam, braços se abrem, olhos se fecham, e lábios se
encontram!”
Robert Browning.

“A primeira vez que ele me beijou, ele não apenas beijou


Os dedos dessa mão por meio dos quais eu escrevo;
E, desde então, isso ficou mais limpo e branco.”
Elizabeth Barret Browning.

“Onde uma gota de sangue destrói um castelo da vida,


Assim um beijo pode trazer vida de novo.”
Bela Adormecida. 1

Num redemoinho de contemplações de beijos, Katie teve que se apressar para se


aprontar para o encontro com Rick. Apesar de fazer algumas semanas desde o
último encontro oficial deles, os dois tinham conseguido se encontrar nas duas
últimas terças-feiras na fonte para almoçarem. Nas duas vezes, Rick tinha apenas
uma hora e meia. Ele sempre trouxe o sanduíche de rosbife favorito de Katie,
com mostarda, e cada vez eles acabaram por se envolverem em alguns momentos
de carinho e guerras de água.

1
Provavelmente a frase no filme não é essa, não me lembro disso no filme, mas enfim, traduzindo seria isso.
Todas essas citações são traduções minhas, elas estão em inglês no livro, obviamente, e provavelmente não há
tradução delas para o português. (Nota da tradutora)
Enquanto Katie corria de um lado para o outro em seu quarto para ficar pronta,
pensamentos românticos deram as mãos e dançaram alegremente em sua
imaginação. Ela estava mais que pronta para seus momentos piegas com Rick.
Depois de ler as citações de beijos, ela sentiu como se seu compartimento “do
abraço” precisava ser preenchido.

Katie cantava enquanto tomava banho e depois foi até suas opções de roupas
limpas em tempo recorde. Levando alguns minutos extras para prestar atenção
em quão uniformemente seu rímel estava disposto em seus cílios, Katie brincou
com seu raramente usado lápis para os olhos. Os resultados foram ótimos. Ela
sentiu muito por não ter Cris em seu quarto assim com no ano passado. Cris daria
alguns conselhos nesse momento e depois levaria Katie até a porta do quarto
com alegres recomendações de cumplicidade.

Assim como normalmente acontecia quando os pensamentos de Katie eram


levados para a amizade dela com Cris, ela abriu a porta para a tristeza. A
tristeza não era relacionada à Cris, mas mais ao que Katie tinha perdido em sua
fase de crescimento. Porque ninguém nunca a mostrou ou a deu nenhum
encorajamento particular sobre como ela aparentava, agia, ou se desenvolvia, de
muitas maneiras, Cris tornou-se a primeira fonte de inspiração e instrução de
Katie naquelas áreas. Não que Cris deliberadamente tentava ser um modelo de
comportamento para Katie. As lições de vida vinham naturalmente, florescendo
na primavera da amizade delas.

Katie parou de olhar no espelho.

- Como você seria uma pessoa diferente se não fosse pela Cris.

Assim que ela murmurou aquele pensamento, outro pensamento veio a ela. Esse
pensamento trouxe asas consigo e parecia atar aquelas asas a uma aflição de
longa data num canto do espírito de Katie. Aquela aflição era o triste, nostálgico
sentimento de que ela nunca fora estimulada ou aconselhada da mesma maneira
como muitas das outras mulheres na Rancho Corona tinham sido. Dessa vez,
entretanto, quando o pensamento repousou sobre ela, ela viu como Deus tinha
colocado Cris em seu caminho para ser aquela amiga cuidadosa e incentivadora.
As asas invisíveis pegaram a velha aflição de um sentimento negligenciado e a
levaram embora.

- Você me deu tudo que eu precisava, não foi, Senhor? Então e daí se minha mãe
não se superou no quesito cumplicidade? Você me deu a Cris. Você nos deu uma à
outra. Todos esses anos você esteve preenchendo os meus vazios, não esteve?
Você cuidou das minhas necessidades de afeto quando eu nem estava prestando
atenção. E agora eu tenho a amizade da Julia e da Nicole.

Perceber aquilo trouxe lágrimas aos olhos recentemente maquiados de Katie.


- Ah, não, vocês não! Ela deu ordem às lágrimas com uma rápida piscada. Suas
pequenas gotas de lágrima voltem para onde estavam se escondendo. Pelo
menos, por agora. Eu não tenho tempo para refazer minha maquiagem.

Katie passou rapidamente pela Parede do Beijo e pela Parede dos Tesouros
Peculiares. Ela parou brevemente ao lado de sua foto e notou que Em ainda não
tinha colocado um versículo pra ela. Todas as outras meninas tinham versículos.
Talvez ela devesse encontrar um apenas para completar o mural.

Saindo do Crown Hall e adentrando na tarde do fim de Setembro, Katie sorriu. O


ar estava quente e carregado do cheiro de grama seca. O céu estava adornado
com uma margem rosa clara brilhante vinda do pôr do sol.

Rick estava caminhando em sua direção e vestia uma camisa de manga curta
perfeitamente passada. Ele era o único rapaz que ela conhecia que passava suas
camisas e as mandava para uma secadora. Ele estava lindo. A melhor parte,
entretanto, era o jeito como sua expressão animou quando ele a viu.

- Olá, espetáculo. Ele disse com seu sorriso-de-meia-boca.

Rick está tão romântico agora. Eee. O romântico Rick. Essa vai ser uma ótima
noite!
Capítulo 24
Katie deslizou a sua mão na de Rick enquanto eles caminhavam para o carro
dele. Ela sabia que era uma vaidade desculpável, mas intimamente ela desejava
que mais mulheres estivessem pelo campus para ver o passeio dela até a vaga no
estacionamento para o seu encontro dos sonhos.

- Eu tenho algo para você no carro, Rick disse.

- O que é?

- Você vai ver.

A surpresa de Rick era um enorme buquê de flores mistas que esperavam por ela
no banco do passageiro. A combinação de cores do sortimento floral e a
fragrância dos lírios diurnos eram tão intensos que o carro dele foi dominado pelo
cheiro quando ele abriu a porta para ela.

Katie estava atordoada pelo tamanho do buquê.

- Você limpou uma floricultura inteira?

- Não, eu fiz uma encomenda. Eu disse a eles que eu queria um buquê misto com
as melhores e mais perfumadas flores e isso foi o que eles criaram. Eu acho que
eles capturaram exatamente o que eu pedi. Pode parecer pequeno no topo. Um
pouco arrojado, formidável e dramático, mas é por isso que eles me lembram de
você. Rick fechou a porta e deu a ela um sorriso.

- Obrigada. Katie não soube exatamente o que fazer com as flores. Ela se sentiu
como uma princesa em um desfile segurando o enorme fardo em seu colo. Se o
carro de Rick fosse um conversível, ela teria se sentido compelida a se sentar no
banco de trás e acenar para as pessoas enquanto eles dirigiam.

Rick colocou algumas de suas músicas favoritas e permaneceu olhando para


Katie, sorrindo para ela.

- Você está muito bonita, ele disse.

- Obrigada. Você também. Conte-me sobre o Arizona. Como vai o trabalho no


café? Você irá voltar para lá logo?

- Não por enquanto. Nós estamos meio parados no momento, esperando por mais
papelada para arrumar. Sem mais viagens para mim por um tempinho. Eu espero
que isso signifique que nós vamos poder passar mais tempo juntos. Com um
sorriso ele adicionou: Isto é, se você conseguir me encaixar em seus horários.

Katie avançou e, de um jeito brincalhão, deu um puxão no lóbulo da orelha de


Rick.

- Oh, eu acho que eu consigo encaixar você ocasionalmente.

- Bom. Eu vou cobrar.

Katie sorriu contentemente. Já faz muito tempo desde que Rick e eu estivemos
juntos. Eu estou realmente cansada de estar na pista lenta. Nós ficamos nessa
durante nosso primeiro mês de ajustes a uma série de mudanças. Da maneira
como eu vejo, já está mais que na hora de termos a nossa próxima DR. No
entanto, eu não vou iniciar a conversa agora. Se o Rick não iniciar uma conversa
sobre o nosso relacionamento no jantar, eu vou fazer isso depois.

A curta viagem deles até Temecula os trouxe ao restaurante Tailandês onde eles
descobriram que teriam que esperar duas horas para se sentar no alvoroço do
novo restaurante.

- Vocês gostariam de esperar? A recepcionista verificou a quantidade de acentos


disponíveis em um livro, na frente dela.

- O que você acha? Rick perguntou.

Katie balançou a cabeça. Ela não queria esperar tanto para comer.

Enquanto Rick seguia atrás dela para fora rumo ao carro, Katie disse:

- Eu estou surpresa que você não tenha ligado antes.

- Eu liguei. Eles não fazem reservas. Suponho que nós tenhamos que ir ao Plano
B.

- Ok, qual é o Plano B?

- Eu não sei. Eu tenho certeza que nós podemos pensar em algo.

Depois de dez minutos debatendo opões, eles acabaram se dirigindo para um


restaurante fast-food, pedindo hambúrgueres e então se apressando para
conseguirem assistir a um filme, num cinema que ficava na rua de baixo do
restaurante tailandês.
O cinema estava lotado e o filme estava decepcionante. Katie descreveu como
uma daquelas comédias na qual todas as boas partes são as que você vê nos
trailers, mas o filme em si é uma droga.

Somado a isso, o ar condicionado não parecia funcionar no cinema. Ela e Rick


tinham começado a noite sentando próximos. Ao final do filme, ambos estavam
sentindo claustrofobia e não estavam se tocando.

- O que você acha? Rick perguntou enquanto eles saíam. Devemos tentar o
restaurante tailandês agora?

- Eu não estou faminta o suficiente para sentar pra comer, Katie disse. Você
está?

- Não exatamente.

Embora eles estivessem do lado de fora, com o ar noturno os refrescando, ela


ainda sentia claustrofobia e impaciência.

- Eu poderia tomar um sorvete, Katie disse.

- E se nós comprássemos algum no supermercado e levássemos para o meu


apartamento?

Katie estava surpresa. Ela não se lembrava de Rick alguma vez sugerindo que eles
fossem para o apartamento dele.

- O seu colega de quarto está no apartamento? Katie perguntou. Eu ainda não o


conheci.

- Não, ele foi para um retiro de trabalho esse fim de semana. O nome dele é Eli.
Eu pensei que você o conhecesse.

Katie balançou a cabeça.

- Eu não me lembro tê-lo conhecido. Como está sendo ter um companheiro de


quarto?

- Ótimo. Nenhum de nós nunca está lá, então eu ainda não consegui conhecê-lo
muito bem.

- Eu acho que nós podemos ir ao seu apartamento e tomar sorvete. Isto é, com
uma condição, Katie disse.

- Qual?
- Eu escolho o sorvete.

- Você está com medo que eu vá escolher algum de que você não goste? Rick
perguntou.

- O quê? Como algo no topo, formidável e um pouco dramático do lado? O sorriso


dela estava cheio de travessura.

Rick entendeu a piada.

- Você não gostou das flores.

- Eu gostei das flores. Eu só queria te provocar.

Ele olhou para ela de novo.

- Não, você não gostou das flores, gostou? Seja honesta.

Katie mordeu o lábio e desejou que ela não tivesse feito o comentário revelador.

- Eu amei a intenção por trás das flores, mas para ser honesta, você poderia ter
pegado uma simples papoula da Califórnia da beira da estrada e isso iria
significar exatamente o mesmo para mim. Faz sentido?

Ele confirmou acenando lentamente com a cabeça.

- Eu não sou exatamente um tipo de pessoa fru-fru, então a extravagância soa...


Eu não sei... Extravagante.

- É assim que o buquê deveria fazer você se sentir. Essa era a mensagem. Mas ela
não sabia dizer se as coisas estavam tranquilas com Rick, então ela adicionou:

- Obrigada de novo, Rick. De verdade. Obrigada por ser extravagante.

- De nada. Os olhos dele estavam fixos na estrada à frente e ele não lançou
nenhum tipo de olhar à Katie que demonstrasse que estava tudo bem.

- Eu gosto simplesmente de passar tempo com você, Rick. Eu quero que saiba
disso para que você não sinta como se precisasse me presentear com metade de
uma floricultura para tornar memoráveis nossos momentos juntos.

Rick virou para dentro do estacionamento do Supermercado dos Irmãos Sherman.

- Por que você não foi para o Supermercado Kart? Katie perguntou.

- Por que eu iria lá?


- O Irmãos Sherman é muito mais caro.

- O Supermercado Kart é um armazém cavernoso e eu não gosto de embalar as


minhas próprias compras.

- Compras? É um único pote de sorvete.

Rick saiu do carro e fechou a porta sem responder.

- Ok, Katie disse sussurrando. Isso está virando um desastre!

Nota a si mesma: Seja legal com o pobre rapaz. Ele está tentando. Pare de dizer
a primeira coisa que vem à sua mente!

Eles caminharam lado a lado dentro do supermercado. Katie decidiu


imediatamente por sorvete de menta com pedaços de chocolate, mas a marca
que ela pegou vinha em um recipiente quadrado.

- Pegue o de menta com pedaços de chocolate em um recipiente redondo, Rick


disse.

- Por quê?

- Sorvetes em recipientes redondos são mais gostosos.

Katie riu.

- Não, não são.

- Apenas pegue o redondo.

Katie lançou um olhar atrevido para Rick e pegou ambos os potes. Ela parecia ter
esquecido a última nota a si mesma.

- O que você acha disso: Nós vamos comprar ambos e fazer um teste de sabor. E
você paga. Você vai ver que não há diferença entre sorvete quadrado e redondo.

- Está bem, mas o seu teste não será válido. Rick seguiu o caminho para a fila de
no máximo dez itens.

- Por que você disse isso?

- Você está comprando duas marcas diferentes. Eles usam ingredientes


diferentes.
- Não, eles não usam. Sorvete é sorvete. Ela apanhou o recipiente quadrado
depois que a mulher do caixa chamou. Katie leu em voz alta os cinco primeiros
ingredientes. Verifique o seu sorvete redondo aí, Doyle. Eu aposto qualquer coisa
que os ingredientes são os mesmos.

A moça do caixa parecia estar reprimindo a sua diversão quando ela perguntou:

- Vocês querem papel ou plástico?

- Plástico, Katie disse. E um par de colheres de plástico, se você tiver. Nós


podemos resolver isso aqui e agora. De fato, você pode ser nosso juiz imparcial.

A mulher levantou a mão.

- Eu faço questão de ficar de fora de conflitos matrimoniais.

- Nós não somos casados. Rick e Katie disseram em uníssono.

Ela olhou surpresa.

- Irmão e irmã, então?

- Não. Katie disse firmemente.

- Nós somos só... Rick não tinha um termo de definição que pudesse usar.

Katie se sentiu compelida a dar uma resposta para essa estranha, embora ela não
soubesse claramente por que. Ela queria dizer, "Nós somos 'quase' um casal. Isso
é 'quase' um encontro. Agora mesmo. Nós estamos em um 'quase' encontro. Eu
sei. Difícil de acreditar. Não muitos casais vão a encontros, quase ou não, no
supermercado. Especialmente o Supermercado Irmãos Sherman. Mas, ei, nós não
somos como todos os outros 'quase' casais.”.

Em vez disso, Katie atendeu à sua mais nova nota a si mesma e manteve sua boca
fechada.

A mulher olhou ainda mais surpresa pelo fato de que nenhum dos dois pôde
esclarecer o relacionamento deles. Ela entregou o recibo da caixa registradora e
disse:

- Bem, vocês certamente brigam como um casal.

Nem Katie e nem Rick pareceram achar aquele comentário romântico ou digno
de resposta. Eles andaram juntos até o carro e Katie disse:

- O comentário dela foi completamente inconveniente.


- Ela está trabalhando até tarde, Rick disse calmamente.

Katie se voltou e colocou as mãos no quadril.

- Você a está defendendo?

- Eu não estou defendendo ninguém. Eu só estou dizendo, o que uma pessoa que
trabalha no último turno em um supermercado tem a dizer?

- Não importa em qual turno ela trabalha, é tudo atendimento ao cliente. Não é
isso que você prega o tempo todo no trabalho?

- Bem, o Supermercado Irmãos Sherman não é o Ninho da Pomba. E eu não sou o


gerente do Irmãos Sherman.

Katie deslizou pelo banco do passageiro.

- Da próxima vez nós vamos ao Supermercado Kart.

- Não, nós não vamos, Rick disse.

Katie não tinha certeza, mas pareceu que Rick batera a porta com um pouco de
força. A dominante fragrância das flores no banco traseiro era uma doce
zombaria à tensão entre eles enquanto Rick acelerava o motor do Mustang.

Nada nessa noite estava se saindo como Katie havia sonhado.

Rick e Katie não disseram nada um ao outro durante a viagem de quatro


quarteirões até o apartamento dele. Quando eles chegaram, Katie deixou as
flores no banco traseiro, mas pegou a sacola com as duas caixas de sorvete.

Rick a encontrou no lado dela do carro e pegou a sacola dela.

- Ei, a voz dele estava baixa. Ele avançou e suavemente tocou no ombro dela.
Vamos lá.

Ele chegou para mais perto.

Ela sentiu-se acalmar. Era loucura provocar uma briga agora. Katie se alivou.
Com um senso crescente do ritmo confortável que eles tinham compartilhado
durante suas longas conversas ao telefone nas últimas semanas, ela disse:

- Vamos lá, você, Rickster. Nós temos um teste de sabor de sorvete para
conduzir.
Ele pôs o braço em torno dos ombros dela e eles começaram a descer o caminho
para o apartamento dele.

- Você sabe, Rick disse com uma ponta de tensão ainda pairando em sua voz, se
você e eu vamos continuar trabalhando em apelidos um para o outro, eu acho
que Rickster precisa ser descartado.

- Por quê?

- Soa como 'malandro'1. Isso não sou eu, Katie. Deve ter sido no Ensino Médio que
você começou a me chamar de Rickster, mas isso não sou eu mais.

Katie percebeu que o comentário dele era verdadeiro. O apelido do Ensino Médio
dela para ele não tinha surgido de pensamentos calorosos e favoráveis.

- Ok, isso é justo. Ela amoleceu um pouco mais. Por que você acha que tem sido
tão duro para nós propor apelidos um para o outro? Quero dizer, quanto tempo
levou para você vir com 'Olhos de matar' para a Cris?

Rick parou de caminhar e se virou para encarar Katie no brilho das luzes do
complexo de apartamentos. O maxilar dele estava trancado. Ele não disse nada,
mas em vez disso começou a caminhar novamente. Destrancando a porta do seu
apartamento, ele segurou a porta para ela e então disse:

- Katie, isso te incomoda?

- O quê?

- Que eu tenha chamado Cris de 'Olhos de matar'

- Não, claro que não. Por que deveria? Ela tem mesmo olhos de matar.

Rick colocou a sacola do supermercado no balcão da sua pequena cozinha e se


voltou para Katie.

- Aqui está o que eu estou tentando perguntar: Não te incomoda que eu tenha
tido uma paixão pela Cris?

- Não. Katie balançou a cabeça e manteve o seu olhar fixo enquanto ela olhava
para os sinceros olhos castanhos de Rick. Isso não me incomoda. Aquilo foi
passado. Isto é agora. A palavra chave na sua pergunta é, claro, 'teve'. Você teve
uma paixão pela Cris. Você não mais tem uma paixão por ela. Ela parou. Você
tem?

1
Malandro = Trickster
- Não, absolutamente. Aquilo foi no Ensino Médio. Eu definitivamente estava me
apaixonando, mas eu acho que noventa por cento disso foi porque ela era um
desafio. Ela era a nova garota inacessível. Eu mudei, Katie. Você sabe disso.

- Sim, eu sei. Katie colocou o sorvete no freezer. Ela não queria se preocupar
com o desafio do teste de sabor até que ambos estivessem novamente de bom
humor. Quando ela se virou, Rick ainda estava olhando para ela pensativo.

- Houve algumas outras, Rick disse em uma voz tensa.

Katie não sabia se ele queria dizer algumas outras maneiras de apelidar Cris ou
algumas outras paixões no Ensino Médio. Qualquer um dos dois, não importava
para ela. Isso não era novidade. Katie esteve por perto durante várias fases da
mudança de Rick. Mais do que tudo, ela queria que o relacionamento deles desse
certo. Se isso fosse dar certo, ela sabia que ela tinha que estar pronta e disposta
para aceitar Rick em todos os níveis, assim como ela queria que ele a aceitasse
com todas as suas falhas e caprichos.

Se eles estavam para sair da pista lenta, como Katie acreditava que eles
estavam, então se abrir um para o outro era uma coisa boa. Era como usar um
sinal de mudança. Rick estava sinalizando mudança. E Katie estava pronta.

O que ela não entendia era por que o seu estômago estava tão agitado no
momento.
Capítulo 25
Rick recostou sobre o balcão da cozinha de frente para Katie em seu pequeno,
mas organizado apartamento e começou com:

- Você se lembra do outono passado quando eu disse que desejava voltar atrás e
mudar alguns anos da minha vida?

- Sim.

- Eu fiz uma série de coisas estúpidas. Eu fiz escolhas muito ruins.

- Aquilo é passado, Rick. Isso é agora.

- Eu sei.

- Você não é mais a mesma pessoa que você era naquela época. Deus mudou
você. Ele te perdoou por qualquer coisa que tenha acontecido no passado. Você
está livre para dar o próximo passo. Katie quase acrescentou, E fato é que eu sou
seu próximo passo; então se mexa, colega. Mas ela voltou atrás porque a
expressão de Rick deixou claro que ele tinha mais a dizer. Ele parecia estar
analisando as palavras dela cheias de graça e trancou seu maxilar.

- Eu quero te contar algo, Katie, e eu preciso que você me ouça.

Ela concordou.

- Uma das moças com as quais eu saí no meu primeiro ano de faculdade me
contatou semana passada. Eu quase não me lembro dela. Ele pausou. Bem, não é
essa a verdade. Eu quero ser honesto com você, Katie. A verdade é que eu me
lembro do jeito como ela beijava. Eu sou homem, ok? Nós nos lembramos dessas
coisas. Por muito tempo. São como certos momentos de contato físico que você
nunca se esquece. Eles se mantêm acesos na memória de um homem. Mas veja
você, aí está, eu não me lembro da personalidade dela ou do jeito como ela ria.
Eu não me lembrava nem do nome dela até ela me ligar.

- Como ela conseguiu seu número? Katie tentou manter sua expressão e voz
estáveis.

- Não sei. Ela está morando em Boston.

Katie relaxou um pouco e atentou-se para deixar claro para Rick, através de sua
postura e expressão, que ele podia contar a ela qualquer coisa.
- Aqui está o “x” da questão, Katie. Como eu disse, eu não me lembro de nada
específico sobre ela. Ele forçou um sorriso. Eu não faço idéia de qual sabor de
sorvete ela gosta, muito menos a forma da embalagem que ela prefere. Pelos
meus atuais padrões e minha atual maneira de medir um relacionamento, ela e
eu não tivemos um relacionamento real. Nada como o que você e eu temos.

Rick mudou de posição.

- Eu queria te contar isso porque eu não quero que nada nem ninguém do meu
passado surja algum dia e te deixe confusa.

Ele chegou mais perto de Katie e tocou a ponta do cabelo dela, esfregando os
fios de cobre entre seu polegar e o dedo indicador.

- O que você e eu temos é real. Você é muito real. Tudo o que você diz e faz é
genuíno.

- Bem, nem tudo o que eu digo é real. Algumas vezes eu exagero.

- Oh, sério? As marcas em volta dos olhos marrom-chocolate de Rick suavizaram.

- Sim, e ás vezes – só às vezes – eu excedo nas coisas.

- Isso é verdade? O sorriso dele aqueceu todo seu rosto enquanto ele passou os
dedos sob o queixo dela e levantou o rosto de Katie em direção ao dele.

Por um momento os dois se mantiveram imóveis, fitando os olhos um do outro.


Katie sentiu seu coração acelerar.

É isso? Ele vai me beijar? Aqui? Na cozinha dele? É assim que Rick pretende
mudar de pista?

Todas as vezes que Katie imaginara esse momento definidor do relacionamento


deles, ela pensava em um cenário mais dramático. Seu cenário preferido para
esse primeiro beijo era a praia, preferencialmente no pôr do sol. Ou nas
montanhas debaixo dos ramos protetores de uma árvore que estariam carregados
de neve. Eles se beijariam e, então, flocos de neve iriam magicamente flutuar
até o chão, colocando-os numa particular e maravilhosa bola de neve.

Nunca em sua imaginação ela pensou no cenário em volta deles como sendo o
guarda-louça manchado e as paredes com figuras de cogumelo da cozinha sem-
graça de Rick.

Rick inclinou a cabeça dele para perto da dela.

Nenhum deles falou.


Não analise, Katie! Apenas deixe o momento ser o que é.

Com o coração batendo tão alto que chegava até os seus ouvidos, em estéreo, e
com o queixo posicionado corretamente, Katie abaixou suas pálpebras como se
estivesse abaixando as cortinas da janela de sua alma. Ela pôde sentir a
respiração de Rick em suas pálpebras e antecipou o toque dos lábios dele nos
dela.

Mas o beijo não veio.

Abrindo suas pálpebras, Katie olhou para a expressão desolada de Rick.

- O que foi? Ela sussurrou.

- Nós devemos esperar.

Todo o ser de Katie decaiu e entrou num emaranhado de irritações. Ela se virou,
deu dois passos para a direita, e deu uma “bufada”. Com as palmas das mãos
abertas, ela deu um empurrão no peito de Rick do mesmo jeito que ela empurrou
o juiz do seu último jogo de softball. Suas atitudes agressivas a deixaram no
banco de reservas na última primavera.

Por causa do empurrão, Rick deu um passo para trás e levantou as mãos,
colocando-as sobre a cabeça dele.

- Me desculpe. Eu...

- Não se desculpe, Katie falou impulsivamente. Só me beije!

- Não, ainda não, ele disse.

- Então quando? Rick, já faz quase dez meses. Se não agora, quando?

- Não sei.

- O que você quer dizer, você não sabe?

A voz dele aumentou, emparelhando à intensidade de Katie.

- Eu não sei. Talvez mais dez meses.

- Não! Você está me matando!

- Você acha que isso é fácil pra mim? Por favor! Eu estou tentando fazer o que é
certo para nós dois. Você não faz idéia do quanto eu estou tentando. Me dá um
tempo!
- É só um beijo, ok?

- Não é só um beijo. Ele significa algo. Tem que significar algo. Você não vê?
Significa que nós daremos o próximo passo, Katie. Nós estaremos mudando de
pista, não é assim que você chama isso?

Katie projetou seu queixo mais pra frente.

- Nem todo beijo vem com a mais pura das intenções, Katie.

- Você acha que eu não sei disso? Mesmo Katie sabendo que deveria manter sua
boca fechada, ela continuou. Você roubou um beijo de mim duas vezes, lembra?

- Claro que eu me lembro. A voz dele soou irritada. Eu te disse. Homens não
esquecem.

- Bem, mulheres não esquecem também.

O ar entre eles acabou. Eles encararam um ao outro, como se estivessem se


desafiando pra ver quem piscaria primeiro.

- Katie, eu prometi a mim mesmo que da próxima vez que eu te beijasse, eu não
roubaria um beijo de você. Eu te daria o beijo.

- Então vá em frente. O tom de voz dela abaixou tornando-se um sussurro. Dê-me


um beijo, Rick. Eu vou aceitá-lo.

Rick não se mexeu por longos trinta segundos. Talvez um pouco mais.

Ele finalmente bufou e esfregou suas mãos sobre o lado de seu maxilar.

- Nós não devíamos ter vindo pra cá. É minha culpa. Eu sinto muito. Eu peço
desculpas, Katie. Eu queria que algo nessa noite fosse especial pra nós.

- Ah, isso é ridículo, Katie murmurou. Agora quem é que está dissecando tudo até
a última molécula? Não é isso que você diz que eu faço? Bem, se você me
perguntar, eu acho que nós dois analisamos demais isso. Nós colocamos
significado demais em beijo estúpido. Nós mesmos nos colocamos em toda essa
tensão. Nós fizemos de um ato individual o ápice de todo nosso relacionamento.
Nós somos loucos!

- Nós não somos loucos, Rick disse. Nós estamos tentando fazer o que é certo.

- Então se nós estamos tentando ser tão perfeitos, por que nós não censuramos
todos os nossos gestos de afeição? Quero dizer, o que nós estamos fazendo
andando de mãos dadas? O quão íntimo isso é? E os abraços? Talvez nós
devêssemos cortar todos os abraços enquanto estamos ‘nessa’. Você e eu temos
dado alguns abraços bem apertados e carinhosos, você sabe disso.

Ela pausou apenas o suficiente para tomar fôlego.

- Com um beijo idiota, a única parte do nosso corpo que, oficialmente, tem que
se tocar é nossos lábios, certo? Com um abraço, bem, é muito mais contato. Um
abraço pode ser, tipo, vejamos, 50 por cento do nosso corpo se tocando. Ao
contrário, com um beijo, dois pares de lábios dão conta do serviço, vejamos,
meio por cento de contato físico. Não, ta mais pra 0,16 por cento.

- Katie. A voz de Rick era firme.

- Não, não tente me calar. Já é hora de nós colocarmos as cartas na mesa e eu


tenho que dizer isso. Eu acho que estar na pista lenta é uma droga. Nós somos
humanos, não somos? Seres físicos. Nós não somos capazes de controlar nossos
desejos estúpidos?

- Nossos desejos não são estúpidos! Ele aumentou a voz.

A voz de Katie abaixou.

- Ok, então nossos desejos não são estúpidos. Então isso significa que nós somos
estúpidos. É isso que você quer dizer? Você e eu somos estúpidos demais para
sermos confiáveis.

- Katie, você está por fora dessas coisas.

- Estou? Então por que nós estamos tratando a nós mesmos e aos nossos desejos
naturais como se eles fossem imbecis e incontroláveis? Não é possível para nós
que nos beijemos e não fiquemos ‘loucos’? Estamos nós dizendo que temos
domínio-próprio zero? Isso só acontece em filmes. Na vida real as pessoas tratam
de expressar seus sentimentos de desejo e afeição – com um beijo, certo? – e eles
também tratam de fazer isso sem perder a virgindade. Ted e Cris se beijaram
antes de se casarem e eles não saíram dos trilhos ou qualquer coisa que você
esteja com medo de que aconteça conosco.

- Katie...

- Eu não terminei. Você parece pensar que eu sou inocente e inexperiente, mas
eu não sou. Eu tive momentos bem significantes com o Michael quando nós
estávamos namorando. Sim, isso foi no segundo grau, e não, eu não estou
dizendo que ele era meu modelo de um relacionamento ideal ou que estou
orgulhosa do que aconteceu entre nós. Mas eu estou dizendo que se você acha
que foi o único garoto que já me beijou, Rick Doyle, você está enganado. Eu sou
só mais uma na sua lista de beijos então...
- Katie, não termine essa frase. A expressão de Rick endureceu.

Katie voltou atrás.

- Você está certo. Isso não foi justo. Me desculpe.

Eles permaneceram em cantos opostos, em silêncio.

Katie sentiu como se todo o seu sistema nervoso estava prestes a explodir a
qualquer momento. Com aspereza ela disse:

- Vamos lá. Você e eu precisamos descobrir como sermos ‘nós’. Nós não somos
Douglas e Trícia. Nenhum de nós entrou nesse relacionamento com a intenção de
ser um pôster infantil de pureza. Nós somos nós. E eu acho que nós devemos
decidir o que é certo para nós. É tudo que estou tentando dizer.

- Nós já decidimos, Katie. Nós conversamos sobre isso meses atrás. Por que você
está questionando tudo isso de novo?

- Porque...

Ele esperou por ela concluir sua resposta.

- Porque. A voz dela voltou a um sussurro. Eu quero muito, muito, muito mesmo
que você me beije. Agora.

Rick não piscou. Não se mexeu.

Katie encarou-o de volta. Algo constrangedoramente forte dentro dela disse que
se Rick não iria dar a ela o que ela queria, ela deveria marchar em direção ao
lado dele na cozinha e fazer isso. Tudo que ela precisava fazer era dar três
decisivos passos.

Ela tinha visto muitas cenas dessas no cinema. Uma das pessoas irritadas,
normalmente o rapaz, tomava a corajosa decisão. Ele pega a moça em seus
braços; eles se fecham em um abraço eternal. A câmera chega mais perto para
focar no beijo, e seus corações são selados pra sempre.

A próxima cena é sempre um do casal dirigindo alegremente uma motocicleta ou


um alimentando o outro com sushi nos pauzinhos. Era assim que estar juntos,
como namorado e namorada, deveria ser. Não toda essa ridícula discussão na
cozinha.

Katie disse a si mesma que ela podia fazer isso. Ela podia assumir o controle e
atravessas o vazio entre eles com três atrevidos passos. Ela estaria bem lá, um
milímetro dos lábios dele, e ela o beijaria.
E quando ela fizesse isso, ela sabia que tudo mudaria.
Capítulo 26
Katie podia sentir Cris encarando-a do banco do passageiro do Buguinho.

- Então, o que aconteceu? Cris perguntou.

- Eu dei três determinados passos.

Os olhos de Cris arregalaram-se.

- Você deu?

- Sim, mas foram três grandes passos na direção oposta. Eu caminhei para fora do
apartamento.

- Oh, Katie. Os ombros de Cris relaxaram. Aonde você foi?

- Só ao redor do complexo de apartamentos. Eu considerei ir ao seu


apartamento, claro, mas naquele momento eu não achei que estivesse pronta
para conversar com ninguém. Então eu só caminhei por ali e desanuviei a cabeça.

- O que o Rick fez? A xícara de bebida suave de Cris na mão dela estava
gotejando de condensação no colo dela.

- Nada. Me deixou ainda mais furiosa! Eu queria que ele viesse correndo atrás de
min, sabe? Eu achei que ele deveria me levar lá pra cima e fazer tudo ficar
melhor. Mas ele não veio atrás de mim. E isso me deixou com mais raiva ainda.
Nada naquela noite correu da forma como era pra acontecer. Eu estou tão farta
de todos os contos de fada. São tão falsos.

- Isso é porque você não está vivendo num conto de fadas. O que você está
experimentando com o Rick é a vida real, Katie. Esta é a verdadeira matéria-
prima da qual os relacionamentos são feitos.

- É? Bem, eu não gosto disso. Por que se apaixonar não pode ser doce, sonhador e
feliz como nos livros?

Cris parecia estar tentando duramente não deixar um sorriso assumir a sua
expressão compreensiva.

- Oh, por favor. Não. Katie disse, pescando o olhar de Cris. Se você vai me dizer
que o verdadeiro amor realmente é sonhador e feliz e que tudo muda uma vez
que você se casa, eu vou ser obrigada a te dar uma grande surra e ninguém vai
poder me culpar.
- Você não sabe o que eu estava para dizer. Cris disse obstinadamente.

- Eu posso adivinhar. Você tinha aquele olhar aqui-agora-indo-para-Mauí nos seus


olhos e, para ser honesta, eu não posso aturar nenhum chavão impertinente
agora mesmo sobre castelos nas nuvens de algodão-doce que esperam por mim
do outro lado dos meus votos de pureza.

- Eu não ia te contar nenhum chavão impertinente. Eu acho que eu sequer


conheço algum. O que eu vou lhe dizer, e você precisa me ouvir dizer isso, é que
todas as coisas mudam, de maneiras boas e maneiras ruins. Tudo no
relacionamento se intensifica uma vez que você se casa. Todas as esquisitices na
outra pessoas se tornam mais esquisitas. Toda a doçura amplifica também. Todos
os conflitos aumentam. Você não acreditaria nas brigas insanas que Ted e eu
tivemos nas últimas semanas.

Katie se inclinou para trás.

- Sério? Vocês têm brigado?

- Não todo o tempo. Mas nós tivemos alguns desentendimentos do tamanho de


Golias. Ted diz que nós estamos nos ajustando um ao outro e descobrindo como é
ser um casal casado. Eu acho que ele está certo, mas eu ainda odeio discutir com
ele.

- Eu não posso imaginar vocês tendo discussões agora. Quero dizer, todas as
tensões estão sendo aliviadas, certo?

Cris pressionou suas costas contra a porta do carro e olhou como se estivesse
tentando decidir o que responder.

- Sim, muitas tensões são aliviadas. Fisicamente, claro.

Katie notou como o rosto de Cris assumiu aquele suavizado brilho familiar que ela
assumia sempre que fala sobre estar casada.

- Mas nem tudo é a parte física da relação, Katie. Estou certa de que você sabe
disso.

- Agora, eu não sei o que eu sei.

- Sim, você sabe. Você sabe o que funciona e o que não funciona. Você sabe o
que permanece e o que enfraquece. Vocês estão indo realmente bem, Katie.
Você está.

- Eu não acho. Katie suspirou e abaixou o visor de sol no pára-brisa do Buguinho.


Rick e eu não conversamos um com o outro desde a noite de sábado.
- Não?

- Não.

- Katie, é segunda-feira.

- Eu sei.

Cris amassou a sacola do Archie's Burgers que continha o resto de suas batatas-
fritas, agora frias, e um pedaço não comido de seu sanduíche de frango.

- Ted tem essa coisa de não deixar o sol se pôr sobre a nossa ira. Ele não nos
deixa ir para a cama furiosos. Quanto mais cedo você e Rick conversarem,
melhor vai ser.

- Ou o pior que poderia ser.

Essa era a primeira vez que Katie contava todos os detalhes da sua noite
decepcionante e conversava sobre eles. Ela podia ver como toda a noite teria
sido diferente se apenas um dos dois tivesse cedido um pouco.

- Rick e eu podíamos sentar e conversar, mas ele pode dizer: É isso. Você é uma
maluca. Tô fora.

- Ele pode, Cris disse passando rapidamente pela possibilidade. Ou ele pode dizer
que nada mudou no coração e na cabeça dele com relação a você e que ele quer
seguir em frente. Rick é um homem determinado. Ele tem bastante afeto por
você, Katie. Eu tenho uma intuição de que é preciso mais de que uma discussão
tensa sobre beijo para levá-lo a mudar seu interesse em você.

- O homem tem um gênio, Katie disse. Mas se for assim, eu também tenho. Eu
suponho que nós descobrimos quão teimosos nós podemos ser. Nós podíamos pelo
menos concordar na forma da embalagem de sorvete. Quando eu fui de volta pro
apartamento aquela noite, eu vi que ele tinha jogado ambas as embalagens no
lixo. Eles estavam assentados lá derretendo e eu pensei, Bem. Deixa pra lá. Isso
foi quando ele quis sentar e conversar, mas eu disse a ele que não estava bem
naquele momento. Então ele me levou pra casa em silêncio. Eu saí do carro, bati
a porta e deixei as flores no banco de trás. Você já ouviu falar de pássaros
zombeteiros? Bem, eu acho que aquelas eram flores zombeteiras. Talvez a
melhor coisa para nós fosse chegar a um impasse.

- Não, um impasse nunca é a melhor coisa. Já faz muito tempo, Katie. Você
precisa conversar com ele. E eu realmente odeio dizer isso, mas eu tenho que
voltar para o trabalho.
- Eu sei. Eu gostaria que você não tivesse. Eu queria que nós pudéssemos fugir
para longe por alguns instantes. Nós não poderíamos ir sair sem permissão pelo
resto do dia? Um sol brilhante como este não pode deixar de ser apreciado.

- O tempo está perfeito, não está? Cris concordou. Eu amo tardes de verão como
esta.

Katie ligou o motor do Buguinho e se encaminhou de volta para o Ninho da


Pomba.

- Eu to falando sério, Cris. Diga uma palavra e eu volto para trás. Por que nós não
podemos pegar a auto-estrada e permanecer viajando até alcançarmos a costa?
Nós poderíamos ir direto pra dentro dá água e nadar todo o caminho para
Catalina e quando nós chegarmos lá nós poderíamos caminhar até o topo do Mt.
Orizaba. Eu te mostraria meu 'lugar para ouvir' sob o eucalipto onde eu coloquei
as doze pedras. Então nós poderíamos ir a uma pedicura ou alguma coisa
realmente decadente como esta.

Cris gargalhou.

- Você está definitivamente estressada, garota. Você percebe isso, não percebe?

- Quem, eu? Estressada? Katie cruzou os olhos e fez uma cara engraçada para
Cris.

- Preste atenção em onde você está indo! Cris estendeu a mão para o volante
quando Katie desviou para o meio-fio.

Katie voltou a sua atenção para a estrada.

- Eu não quero voltar para o campus. Eu tenho muita coisa pra estudar. Eu já
estou atrasada na maioria das minhas matérias. Eu sinto como se eu quase não
tivesse tido um intervalo entre a escola de verão e o início deste semestre. Você
sabe que quando nós fomos à praia com vocês e Douglas e Trícia aquela foi a
única vez que eu saí em todo o verão?

- Nós podíamos planejar outro dia na praia enquanto o tempo ainda está
agradável, Cris disse. Isto é, considerando que você e Rick comecem a falar um
com o outro novamente.

- Ah, sim. Tem isso.

- Vamos lá, por que você não pode ir até o Ninho da Pomba agora e conversar
com ele?
- Não, ele realmente não gosta de misturar as coisas do trabalho com assuntos
pessoais. Isso só iria ocasionar outra briga. Além do mais, eu não tenho tempo.
Eu tenho que ir a uma reunião do conselho do Serviço dos Estudantes.

- Conselho do Serviço dos Estudantes?

- Não te contei? Eu concordei em ser uma representante dos veteranos no


conselho do Serviço dos Estudantes.

- Além de ser uma AR?

- Superando limites para Jesus! Este é o meu novo clube. Quer se juntar"

- Katie, isso não é engraçado. Você sabe que você não...

- Antes de você dizer o que eu sei que você está prestes a dizer, as reuniões são
uma vez por mês. A Ruth do Serviço dos Estudantes me disse eu tenho opiniões
úteis e eu acho que ela está certa. Meu banco de influências está sempre cheio.
Você sabe o quanto eu gosto de compartilhar minhas visões com aqueles que são
menos privilegiados no departamento de opiniões. Essa é a minha chance para
exercitar essas habilidades.

- Eu ainda não estou rindo. Você sabe que não tem que fazer isso, Katie.

- Eu não saio por aí procurando essas oportunidades. Elas sempre me encontram.

- Bem, quando as oportunidades te encontram, tudo o que você tem que fazer é
dizer não. É uma pequena palavra miraculosa. Só três letras. Fácil de lembrar.
Repita comigo, 'N-ã-o'.

- Sim, sim, muito engraçado. Você não tem que me passar um sermão, Pequena
Miss Formada que adoeceu durante a graduação e bem antes de seu casamento
por que estava tentando fazer muitas coisas.

- Trégua. Cris levantou ambas as mãos.

- Além do mais, Katie disse com um balanço de seu cabelo flamejante. Eu posso
dizer não a qualquer hora que eu quiser. Como uma reflexão tardia ela
sarcasticamente adicionou - Eu posso não ser a campeã de não como o Rick é:
'Não, eu não vou beijá-la. ' 'Não, eu não vou quebrar as regras. ' 'Não, eu não vou
ir mais adiante em nosso compromisso até que eu esteja bom e pronto. ' Mas eu
sei como dizer não quando isso importa.

- Sim, você sabe. Cris avançou e apertou o braço de Katie antes de sair do
Buguinho. Ouça, eu quero que você saiba que eu aplaudo você pelo que você fez
sábado à noite. Caminhar para fora do apartamento de Rick foi provavelmente a
melhor escolha que você poderia ter feito. E eu sei que isso tudo é muito
idealista e bobo, mas eu vou dizer de qualquer forma. Katie, os seus dias de
estar solteira vão passar rapidamente. Um dia você vai acordar e vai estar
casada. Você terá o resto da sua vida para gastar todos esses beijos guardados. O
resto da sua vida, Katie. Lembre-se disso, ok? Confie em mim nisso. Você vai
estar tão alegre por ter feito as coisas certas. Todos os seus "nãos" vão se tornar
em um monte de "sins" felizes e você vai estar muito contente por não ter gastad
seus beijos agora.

Katie deu a Cris um sorriso indiferente.

- Obrigada pelo seu conselho de senhora-casada-há-muito-tempo, Senhora


Spencer. Eu sabia que você encontraria uma forma de escorregar esses castelos
de algodão doce para dentro dessa conversa

- Você quer falar sobre castelos e princesas? Eu vou lhe dizer mais uma coisa,
Katie. Minha opinião sobre o Rick Doyle tem subido em centenas de pontos. Ele
está mostrando o quanto ele se importa com você. Ele está tentando estabelecer
um alicerce sólido para o relacionamento de vocês. Isso é ouro puro. Digno de um
príncipe.

- Eu sei.

- Eu tenho um pensamento sobre as flores também, mas eu te conto mais tarde.


Eu tenho que voltar ao trabalho. Me ligue à noite, ok?

- Cris? Katie se inclinou sobre a porta fechada de Cris. Cris se voltou e olhou para
Katie através da janela aberta.

- Obrigada. Obrigada por sempre estar aqui para mim e por ser minha 'contadora-
de-verdades'"

Cris sorriu.

- Eu te amo, Katie.

- Eu sei. Eu te amo também.

Katie dirigiu de volta para a Rancho se sentindo confortada e altamente agitada


ao mesmo tempo. O conforto vinha da força que ela sempre ganhava de seus
momentos de coração-pra-coração com Cris. A agitação vinha das coisas estarem
incertas com Rick. Parte dela queria voltar atrás, marchar para dentro do Ninho
da Pomba e ter a conversa necessária, querendo o Rick tê-la durante o período
de trabalho ou não.
Ela sabia que esse tipo de abordagem poderia causar mais problemas. No fundo,
ela queria uma resolução com Rick e não mais confusão. Ela também sabia que
não queria que o relacionamento terminasse.

Enquanto ela deixava o Buguinho no estacionamento do Crown Hall, Nicole


chamou-a.

- Katie, aqui em cima! Ela acenava do pátio do telhado. Suba!

Katie se juntou a ela em uma das mesas do telhado. O laptop de Nicole e três
livros didáticos estavam esparramados pela mesa.

- Eu estou contente por ter te visto. Eu tenho me perguntado como as coisas


estão indo. Por causa do jeito como nós temos nos desencontrado, ninguém
imaginaria que nós moramos no mesmo andar.

- Eu sei. Tem sido muito intenso. Tudo está bem. O Mural do Beijo parece bom.
Um pouco bom demais, talvez. No fundo da mente dela, Katie tinha atribuído um
pouco da culpa pelo fracasso da noite de sábado com Rick à forma como ela
tinha se deleitado nas palavras do Mural do Beijo.

- Eu acho que ficou ótimo. Assim como o Mural dos Tesouros Peculiares. Eu amo o
versículo da sua foto.

- Em ia escolher um para mim. Eu ainda não o vi.

- Ela fez um bom trabalho.

- Que horas são? Katie virou o pulso de Nicole de modo a ver as horas no relógio
dela. Eu vou dar uma olhada nele antes de sair pelo campus para a reunião do
Serviço dos Estudantes.

- Você pode me fazer um rápido favor antes de sair? Me ajude a mover essa
mesa. Precisa ficar mais na sombra.

Elas trabalharam juntas, trazendo a mesa para perto da extremidade coberta.


Katie olhou para baixo no estacionamento.

- Você realmente se sente como um pássaro no ninho aqui, não é? Você pode ver
tudo que está acontecendo, mas sem saberem que você está assistindo.

- Eu sei. Legal, não é? Nicole olhou por cima da beirada. Ei, é o Rick? Isso é
ótimo. Você pode assistir seu namorado vindo visitá-la. O quão divertido isso é?

O coração de Katie deu uma baqueada.


- Ele não é meu namorado, ela murmurou. Todos os instintos diziam para ela se
esconder. Ela não pensava que podia encará-lo. Ainda não.

Deixando Nicole no telhado, Katie disparou escadaria abaixo. Ela pensou que se
pegasse as escadas ao invés do elevador ela poderia evitar correr para o Rick.
Seu plano parecia funcionar. Isto é, até ela alcançar o salão de entrada.

Ali estava ele, parado perto de uma das cadeiras olhando para baixo na tela do
seu celular.

Abaixando-se atrás da escada antes que ele pudesse vê-la, Katie se recostou na
parede e tentou pensar em como ela poderia alcançar o outro lado do prédio sem
passar pelo salão principal. Então, seu telefone celular tocou.

Katie agarrou o seu telefone e o encarou, paralisada. Claro que era o Rick. As
notas altas do seu toque personalizado ecoaram ruidosamente nas escadas. Katie
fitava o telefone, tentando decidir se deveria atender e acabar logo com isso ou
esperar Rick deixar uma mensagem. Se ele deixasse uma mensagem, então ela
poderia pelo menos saber pelo tom da voz dele se ele ainda estava chateado com
ela.

Comprimindo o seu telefone atrás do bolso lateral de sua bolsa de ombro, Katie
decidiu esperar no enclave da escadaria. Seu telefone parou de chamar no
terceiro toque. Era suposto que ele chamasse cinco vezes antes do correio de voz
pegar a chamada. Agora Katie não sabia o que fazer. Se Rick tivesse desligado
sem deixar uma mensagem, ela não poderia dizer se ele estava chateado. Ela
também não sabia se ele ainda estava no salão ou se ele tinha partido.

Ela estava a ponto de abrir um pouco a porta para dar uma olhada quando a
porta balançou contra ela. Katie se inclinou para trás bem a tempo de evitar uma
colisão. Rick deu um passo para a escadaria e permaneceu há apenas algumas
polegadas dela, olhando para ela com os seus olhos de chocolate quente.

- Estava alto. Rick disse.


Capítulo 27
- Eu sei. Eu exagerei. Katie sentiu todas as suas defesas contra Rick derreterem e
se tornarem uma poça invisível bem ali na base da escada. Você tem razão, eu
exagerei, estava mesmo alta, eu fui grossa, e estava mesmo com a cabeça
quente na noite do último sábado e...

- Katie, eu estava falando sobre seu telefone. Um sorriso surgiu no canto da boca
de Rick. O toque do seu telefone estava alto. Eu o ouvi tocando do outro lado da
parede. Foi por isso que eu soube que você estava aqui.

- Ah.

Rick apertou os olhos.

- Katie, eu não quero mais ter brigas como aquela com você. Nós temos que
fazer isso dar certo.

Ela concordou com a cabeça.

- Você está dizendo que quer continuar?

- Claro. Por quê? O que você estava pensando?

- Eu estava pensando um monte de coisas loucas. Uma parte de Katie queria


explicar a Rick sobre o Mural do Beijo e como os pensamentos tinham sido
direcionados para o próximo “primeiro” beijo deles. Antes mesmo de eles
entrarem no carro naquela noite de sábado para o encontro deles e Rick ter
aparecido pra ela com as flores, as expectativas de Katie estavam elevadas.
Parecia um ponto a ser discutido agora. Melhor seguir em frente do que discutir o
que havia dado errado e, como diria Rick, “dissecar tudo até a última molécula”.

- Então por que você está se escondendo debaixo da escada? Ele perguntou.

Katie se lembrou do rapaz escondido no armário no quarto de Tasha e Sabrina.


Ela estava fazendo a mesma coisa. No fundo, no fundo, ela percebeu que tudo
que despertara raiva nela naquela noite de sábado – as restrições, regras, e
diretrizes – tinha nascido de um velho fervor. Cada regra já estabelecida, desde
o começo, trouxe uma revolta.

- Acho que eu estava me escondendo porque estava com medo de como essa
conversa entre nós podia ser.
- Katie. A voz de Rick era meiga enquanto ele segurava as mãos dela. Vamos, nós
precisamos dar uma volta.

- Eu tenho uma reunião”

- Quando?

- Daqui a quinze minutos.

- Ok, então nós vamos dar uma pequena voltinha. Vamos.

Katie pegou a mão dela, e eles caminharam até o carro. Rick abriu a porta de
Katie. Antes de ela entrar, ela notou alguma coisa no banco.

Uma única papoula da Califórnia.

As bochechas dela aqueceram.

- Rick, onde você conseguiu isso?

- Eu tenho minhas fontes. Ele aparentou estar contente.

Katie rodopiou a papoula entre seu polegar e o dedo indicador.

- Obrigada. Ela lançou um grande sorriso pra ele.

- De nada. Eu entendi que isso diz mais pra você do que um grande buquê misto.

- Muito mais. Obrigada, Rick.

Ele sorriu.

- Vá em frente. Coloque em você.

- Eu realmente tenho que ir a uma reunião no Serviço dos Estudantes.

- Em doze minutos, certo?

Ela concordou com a cabeça.

A expressão dele convenceu Katie mais do que as palavras. Com os seus gentis
olhos castanhos, ele lançou a ela o olhar você-é-a-mulher-ruiva-dos-meus-sonhos.

Katie não pôde resistir.


- Oh, está bem. Ela deslizou no banco do passageiro e Rick fechou a porta. Onde
nós estamos indo?

- Você vai ver. Não é longe.

Rick dirigiu para a parte mais alta do campus. Ele parou o carro na vaga do
estacionamento de cascalho perto da campina onde Ted e Cris tinham se casado
há quatro meses. A grama da campina estava seca e amarela fosca. As palmeiras
farfalhavam suas saias de hula-hula furiosamente em um vento forte que estava
batendo nas canelas delas e fazendo seus próprios passos de dança.

Rick abriu o porta-malas do carro e tirou uma caixa de gelo. Katie lançou-lhe um
olhar cético.

- Confie em mim, Rick disse. Ele guiou Katie pela campina até um dos galhos no
meio da trilha. A vista da beira do planalto era de tirar o fôlego porque os ventos
tinham soprado a neblina que normalmente ficava na costa para longe. Eles
podiam ver todo o caminho até Catalina.

- Uau, Katie disse. Eu ouvi dizer que se podia ver Catalina daqui, mas eu nunca
chequei isso num dia claro. Essa vista é maravilhosa. Eu nunca te perguntei, Rick,
você já esteve em Catalina?

- Não.

- Nós deveríamos ir uma vez. Eu acho que você iria gostar muito. Lá é tão
remoto.

Rick estava ocupado arrumando algo com a caixa de gelo. Quando Katie olhou
pra baixo, ele segurava pra ela duas tigelas de sorvete de menta com pedaços de
chocolate.

Ela riu.

- Eu acredito que eu e você temos um negócio inacabado.

Katie olhou para ambas as tigelas. O sorvete estava derretendo rápido.

- Você vai me dizer qual deles veio numa embalagem redonda e qual veio numa
embalagem quadrada?

O sorriso de Rick estava cheio de malícia.

- Não, ele disse. Você me diz.

- Está bem, eu direi.


Katie pegou uma colher cheia da primeira tigela.

- Bom, ela disse.

Depois ela experimentou da segunda tigela.

- Hmmm. Não tenho certeza.

Ela foi e voltou com mais algumas colheres de cada um e finalmente disse.

- Esse, apontando para a primeira tigela.

- Tem certeza? Rick disse. Essa é sua escolha final, então?

- Sim. Qual é esse? Redondo ou quadrado?

- Cheque o fundo da tigela.

Katie levantou a tigela e viu um pedaço de papel colado ao fundo onde se lia
“Redondo”. Ela leu a resposta relutantemente uma vez que redondo era o tipo
preferido de embalagem para sorvetes de Rick.

- É isso? Redondo, huh? Então, você está me dizendo que sorvetes em embalagens
redondas têm um sabor melhor? Infelizmente Rick ficava muito bonito quando
estava convencido.

- Sim, sim, sim. Ok, você ganhou. Você se supera, Doyle. A verdade é que os dois
eram muito bons e... Katie levantou a outra tigela, esperando ver uma etiqueta
em que se lia “Quadrado”.

- Ei, esse também é redondo!

Ela foi até a caixa de gelo e abriu a tampa da mesma, expondo os estoques do
teste de sabor de Rick. A caixa de gelo continha uma caixa de papelão de
sorvete. E ela era redonda.

- Uh, Rickster – e eu estou usando o nome corretamente – o que você me diz


sobre esse teste distorcido?

Ele continuava a sorrir irresistivelmente.

- O que eu posso dizer? Eu fui ao altamente recomendado Armazém Kart e você


acredita que eles tinham sorvete de menta com pedaços de chocolate apenas em
embalagens redondas? Eu teria feito o teste com ambas as opções, mas o
Armazém Kart não cooperou com os estoques.
- Você está bem feliz consigo mesmo, não está?

Ele encolheu os ombros de um jeito charmoso, mas seus poderes de persuasão


tinham parado de funcionar com Katie.

- Por que você fez isso? Não teve graça. Você me enganou.

- Era pra ser uma piada.

- Sim, uma piada comigo.

- Katie. Rick colocou seu braço em volta de um galho e chegou mais perto dela.
Ei, você está entendendo mal. Eu realmente tinha a intenção de conseguir tanto
a embalagem redonda quanto a quadrada e acabar com esse teste louco. É
verdade que o Armazém Kart só tinha recipientes redondos de sorvete. Então
achei que seria divertido conduzir o teste desse jeito. Era pra ser uma piada.

- Você e eu não temos o mesmo senso de humor. Katie se sentiu acalmar ao


pensar na lógica de Rick. O fato era que ele estava tentando fazer alguma coisa
esperta e divertida. Assim como o buquê misto não tinha sido uma boa escolha
pra ela, o teste de sorvete também não.

- Você está certa. Nós não temos o mesmo senso de humor. Você e eu somos
muitos diferentes em muitas coisas. Mas você sabe o que eles dizem sobre os
opostos?

- Sim, ele se atraem.

Rick pegou gentilmente nas pontas do cabelo dela, esfregando os finos fios entre
seu polegar e o indicador.

- Katie, você precisa saber que estou tentando. Eu estou tentando descobrir
como fazer as coisas certas no nosso relacionamento. Eu liguei o sinal de
mudança, como você chamou, mas nada está se saindo do jeito que eu pensei
que sairia.

- Você acha que nós estamos tentando demais? Katie perguntou. Eu quero dizer,
nós fomos muito bem na primeira parte desse ano.

Rick concordou com a cabeça.

- Eu acho que nenhum de nós estava preocupado com o que poderia acontecer
depois.

Ela respirou fundo.


- Você está certo.

Rick pausou e com a voz mais baixa disse:

- Eu tenho que te contar, Katie. Eu estou pisando em território desconhecido no


nosso relacionamento. Eu nunca dei continuidade a um relacionamento por tanto
tempo. Eu não sei como que se faz pra mudar de pista. Eu estou tentando mas...
Eu não sei. Talvez nós não estejamos prontos. Talvez não é pra nós nos irmos a
nenhum lugar além da ótima amizade que nós tivemos por todos esses meses.
Talvez já tenha dado o que tinha que dar.

- Você acha? O coração de Katie estava acelerado.

- Não, eu não acho. Ainda não.

- Eu também não acho que já tenha acabado.

- Que bom. Pelo menos não somos opostos nesse ponto. Rick sorriu. Katie
retribuiu o sorriso.

- Parece que definir nosso relacionamento não deveria ser algo tão difícil.

Rick gargalhou.

- Por que é tão engraçado?

- É engraçado porque todo casal que eu conheço tem que definir tudo para si
mesmo. Eu acho que alguns princípios básicos se aplicam a todos os casais, mas
na maioria dos casos, cada relacionamento tem seus princípios particulares.
Todos eles são diferentes. Deus escreve uma história diferente para cada casal.

Katie deixou que as palavras de Rick preenchessem o espaço entre eles. Ela
pensou na teologia ‘grudar-no-pé’ de Julia e sabia que a única maneira de ela e
Rick saberem o que estava por vir para eles era se eles permanecessem perto do
Senhor. Ele deixaria as coisas claras.

- Eu tenho uma pergunta para você, Katie disse.

- O que foi?

- Quais são seus planos para o resto do sorvete?

Rick gargalhou e tirou o sorvete do container. Sentando-se lado a lado, os dois


mergulharam suas colheres de plástico dentro do caixa redonda de papelão. O
vento tinha diminuído e agora uma brisa quente girava em forma de oito entre
eles enquanto eles fitavam o oceano há milhas de distância.
- Você se lembra de quando você era um duende? Rick perguntou.

- O quê?

- No ensino médio. Você se vestiu de duende no shopping durante o Natal.


Lembra?

- Ah, sim. Eu quase me esqueci. Ou eu deveria dizer, eu tentei esquecer.


Obrigada por trazer isso de volta à minha memória.

- Eu nunca me esqueci do jeito como você olhou para dentro do carro naquele
dia com a Cris.

- Você quer dizer no dia em que eu estava com uma fantasia completa de
ajudante de Papai Noel e usava orelhas pontudas e aquele sapatinho que tem a
ponta levantada?

Rick concordou com a cabeça.

- Você tentou se esconder de mim naquele dia também, lembra?

Katie relembrou-se muito bem do jeito como ela tinha se apertado debaixo do
banco do passageiro no carro, esperando que Rick continuasse caminhando e não
parasse pra conversar com Cris. Mas ele parou.

- Por que você acha que se escondeu de mim, Katie?

Ela sabia a resposta, mas por um momento, ela não a verbalizou. Não era porque
ela estava com vergonha ou sem graça. A verdade era que ela não confiava em
Rick. Ela estava com medo de se magoar com algo que ele fizesse ou dissesse.
Aquele medo, ela sabia, estava ligado ao passado dela com Rick, mas mais
importante, estava conectado à falta de confiança que penetrou no
relacionamento dela com seus pais.

- Eu não tenho muita certeza de que você queira mesmo ouvir essa resposta,
Rick, mas aqui está. Essa é uma grande parte de mim e eu não sei o que você vai
fazer com ela, mas apenas se lembre de que você perguntou. A verdade é que eu
não suporto pensar que as pessoas com quem eu me importo podem me magoar.
Eu evito a dor sempre que possível.

Rick parecia deixar as palavras dela penetrarem nele.

- Katie, você me perdoou por eu ter te magoado no passado?

- Sim, ela disse. Absolutamente.


- Você confia em mim?

Ela não respondeu imediatamente.

Rick recuou. Respirando fundo, ele olhou para o seu relógio e disse.

- Eu te atrasei para a sua reunião. Desculpa.

- Eu confio em você, Katie disse, tentando terminar a conversa interrompida.

Rick olhou-a nos olhos. Katie sabia que a expressão dela não foi sincera o
suficiente para que Rick acreditasse, porque o semblante dele decaiu quando ele
analisou o rosto dela.

- Você deveria ir para sua reunião. Rick juntou o que havia restado do sorvete.
Nós podemos falar mais sobre isso amanhã. Você quer se encontrar comigo na
fonte para almoçarmos?

- Claro. Na mesma hora de sempre?

Rick concordou com a cabeça e foi para seu carro.

- Eu te vejo lá então, Katie.

Katie odiava essa incerteza. Ela não sabia o que fazer. A parte boa era que ela
veria Rick amanhã. Eles conversariam um pouco mais. Ele disse que não estava
pronto para que o relacionamento terminasse, ela também não. Parecia que a
única coisa que os dois poderiam fazer era deixar a conversa onde estava,
continuar mais um pouco na pista lenta e voltar a trabalhar mais nisso quando
eles tivessem as ferramentas necessárias.

Enquanto ela caminhava pelo campus, Katie percebeu que tinha deixado a
papoula de Rick no banco da frente do carro dele.
Capítulo 28
Katie andou a passos lentos durante o resto do dia. Ela jantou com um grupo de
garotas do dormitório e teve uma longa reunião de AR às oito com o restante do
pessoal.

Julia chamou Katie à parte depois da reunião e perguntou se estava tudo bem.

- Você parecia muito distraída durante a reunião.

- Eu estou processando um monte de coisas. Eu gostaria de conversar com você


sobre isso a qualquer hora.

- Claro, Julia disse. Eu estou disponível amanhã à tarde, se você quiser marcar
um horário.

Katie esperava que Julia estivesse disponível naquela hora mesmo. Como ela não
estava, Katie disse:

- Eu ligo pra você mais tarde e combinamos uma hora.

Retornando ao seu quarto, Katie parou para conversar com alguns amigos no
salão de entrada. Eram mais de dez horas quando ela entrou no Crown Hall Norte
e passou sob o banner dos Tesouros Peculiares. Ela decidiu que se ela soubesse o
que era bom para ela, ela iria para a cama cedo de uma vez. Essa gentileza
poderia beneficiar suas emoções grandemente. Ela poderia encontrar Rick para
almoçar no dia seguinte com o seu coração um pouco mais calmo.

Um recado estava esperando por ela no quadro de mensagens do lado de fora da


sua porta. "Katie, eu preciso falar com você. Vicki."

Ela apagou o recado de Vicki e desceu corredor abaixo. Batendo na porta de


Carley e Vicki, ela esperou que uma delas respondesse. Ela esperava que fosse
Vicki. Katie tinha conseguido não se encontrar com Carley com freqüência e
estava bom pra ela desse jeito.

Nem Vicki e nem Carley responderam, então Katie deixou um recado para Vicki e
depois parou diante do Mural de Tesouros Peculiares. Ela viu o versículo que Em
colocara próximo à sua foto e bebeu as palavras como se elas fossem água.

Katie percebeu que ela estivera vagando de fonte em fonte toda noite
procurando por um gole de refresco. Suas amigas no jantar proporcionaram uma
conversa agradável. Julia convidara Katie a se encontrar com ela mais tarde para
uma conversa mais profunda. Até mesmo os amigos que ela conversara a pouco
no salão de entrada eram doces e acolhedores. Mas nenhuma dessas fontes tinha
dado a ela as palavras de saciedade que ela estava procurando, sabendo ela
quais eram essas palavras ou não. Seu espírito cansado ainda estava sedento.

Ali à frente do Mural dos Tesouros Peculiares estava o gole de esperança que ela
precisava. Era apenas um pequeno gole, mas a fez sorrir.

“O SENHOR guardará a tua entrada e a tua saída, desde agora e para sempre.”
Salmos 121:8

Ela estava definitivamente em uma fase de "entradas e saídas". Na maioria dos


dias ela sentia como se estivesse presa em uma porta rotatória. A escolha
singular de palavras que fez Katie sorrir foi o termo "saída". Quando Katie seria
capaz de dizer que ela e Rick estavam oficialmente "saindo"?

Para aquela questão antiga ela não tinha resposta. Mas ali ao lado de sua foto
estava uma promessa que o Senhor estava guardando-a, protegendo-a,
direcionando-a na "saída" e na "entrada". Ele continuaria a guardá-la, "desde
agora e para sempre".

Dessa verdade ela poderia beber profundamente e se satisfazer.

Retornando para o fim do corredor com uma leveza em seu passo, Katie parou
em frente ao Mural do Beijo e verificou as novas fotos que haviam sido
adicionadas. Alguém tinha colocado uma foto de um avô beijando a bochecha de
um bebê bem gordinho. A nova citação perto dela era:

"Se você está em dúvida se deve ou não beijar uma linda garota, sempre dê a ela
o benefício da dúvida."
Thomas Carlyle.

Katie sorriu.

Ao lado da foto estava outra nova. Katie olhou-a de perto. Então ela parou de
sorrir. Ela reconheceu Carley como aquela que estava sendo beijada na foto. Ou
pelo menos Katie estava razoavelmente certa de que era Carley. Tudo o que
mostrava era parte do rosto de Carley com um olho aberto, olhando para a
câmera. O cara desarrumado e não barbeado que estava beijando Carley tinha o
rosto voltado para longe da câmera e estava cobrindo a maior parte do rosto
dele.

Katie não gostou da foto, mas ela não sabia exatamente o porquê.

Qualquer um no dormitório poderia adicionar uma foto, versículo ou poema sobre


beijo no mural, mas Nicole e Katie se reservavam no direito de ter a palavra final
sobre o que ficaria à mostra. Katie sabia que quando o assunto era algo
relacionado à Carley, seu radar de julgamento ficava em alerta. Ela decidiu que
iria perguntar a Nicole se a foto estava dentro dos parâmetros "inocentes" que
elas haviam definido para a seleção fotográfica.

Antes de arrastar-se para a cama, Katie deliciou-se com seu pequeno luxo. Ela foi
até o seu frigobar, tirou uma caixa de leite, pegou uma tigela da estante sob a
escrivaninha e serviu-se com uma porção feliz de bolinhos de chocolate.
Deslizando sob os seus lençóis frescos e sacudindo seus dedos dos pés
descobertos, Katie desfrutou de seu lanche de meia-noite na solidão.

Quando ela descobriu que estaria sozinha em seu quarto, como uma AR, Katie
não tinha certeza de como isso seria. Ela sabia que sentiria a falta de Cris
terrivelmente. Agora que ela estava bem no meio do semestre, contudo, a maior
surpresa de Katie era o quanto ela precisava da chance de estar sozinha toda
noite. A solidão dava a ela oportunidade de pensar, orar e processar.

Ela estava quase terminando com a sua tigela de bolos de chocolate quando Katie
lembrou que ela não tinha imprimido seu resumo de leitura de duas páginas que
era para sua primeira aula da manhã seguinte. Seria mais fácil imprimir agora do
que tentar lembrar de manhã.

Deslizando para fora da cama e clicando no arquivo do resumo em seu laptop,


Katie enviou o arquivo para a impressora. Enquanto o papel estava imprimindo,
Katie decidiu checar o seu e-mail. Aquela era sempre uma decisão arriscada
quando alguém deveria fazer alguma outra coisa, como dormir.

Ela disse a si própria que ela devia realmente ir para a cama. Ela mesma
respondeu e disse: "Eu vou logo depois de ler apenas alguns desses".

Katie leu e respondeu todos os seus e-mails. Ela abriu a série de fotos de Trícia e
Douglas do "Lindo Dani Boy" e passou a ler o blog da Selena sobre a vida no Brasil.
Ela estava bem ouvindo quatro novas músicas em um link que Emilee tinha
enviado para ela antes de perceber que já eram quase 2 horas da manhã.

- Você precisa ir agora, Katie disse a si própria.

Dessa vez ela ouviu.

A mente agitada de Katie vagueara pela terra dos sonhos só por vinte minutos
quando uma imagem no canto do seu subconsciente fez com que ela acordasse e
levantasse rapidamente da cama. A imagem que ela via em seu sonho apenas-
flutuando-na-superfície era a foto de Carley no Mural do Beijo. A foto tinha sido
perturbadamente familiar para Katie e agora ela sabia por quê.

Abrindo num arranco a porta do seu quarto, com seus olhos piscando na
claridade, Katie permaneceu em frente ao Mural do Beijo. Ela piscou diante da
foto, tentando ajustar a sua visão. Para Katie, naquele momento, não havia
dúvidas em sua mente. Aquela cabeça cheia de fios escuros e cacheados na foto
pertencia a Rick Doyle.

E ele estava beijando Carley.

Arrancando a foto de sua posição de destaque na parede, Katie levou a foto para
o quarto dela, colocou-a sob a luz na sua escrivaninha e examinou o retrato. Sem
dúvida, era a bochecha não barbeada "Cactus Boy" do Rick. Isso significava que a
foto fora tirada no dia que o Rick voltou do Arizona. O dia que Carley seguiu Rick
para o trabalho.

Tudo dentro de Katie lhe implorava pra deixar isso pra lá. Dessa vez ela não
podia.

Ela pegou o seu telefone celular e ligou pra Rick. Mas foi Cris quem atendeu no
terceiro toque. Katie percebeu que pressionara o número errado na discagem
rápida.

- Katie? Cris respondeu. Qual o problema?

- Oh, Cris, me desculpe! Eu queria ligar pro Rick. Sinto muito se eu te acordei.

- Qual o problema, Katie? Você está bem?

Katie notou que suas mãos estavam tremendo. Ela revelou:

- Eu acho que o Rick beijou a Carley. Ela colocou uma foto deles na parede em
frente ao meu quarto.

- O quê? Que loucura!

- Eu sei. É o que eu estou dizendo a mim mesma. Mas eu não tenho escutado
muito a mim mesma nessa noite.

- Katie, você quer que eu vá até aí?

- Não. Estamos no meio da noite.

- Eu sei. Mas eu irei se você quiser que eu vá.

- Você não tem que fazer isso.

- Na verdade, eu tenho sim. Ted me ouviu conversando com você e ele já está
pegando as chaves do carro. Nós já estamos chegando.
Agora Katie se sentia envergonhada. Isso não precisava ser um resgate
comunitário. Katie sentia que poderia resolver o problema por si só. Ela só estava
tão cansada que não podia resolver o que fazer em seguida. Carley era a pessoa
que Katie deveria estar questionando, não Rick.

Correndo corredor abaixo, Katie bateu na porta fechada de Carley e Vicki. Até
mesmo para estudantes universitários era muito tarde. Quando nenhuma das
duas atendeu, Katie sabia que não deveria bater mais forte. Isso podia esperar
até amanhã.

Se apenas as batidas do seu coração diminuíssem um pouco. Tanta adrenalina a


essa altura da noite raramente resultava em alguma coisa produtiva, exceto
talvez por algumas páginas bastante criativas em trabalhos escolares. Ela
permanecia no corredor em frente à porta de Carley e se perguntava sobre as
coisas que ela sabia que nunca deveria estar se perguntando.

Será que Rick esteve brincando comigo todo esse tempo? Todas aquelas falas
sobre esperar e fazer o que era direito e querer o que é o melhor para nós... Ele
estava mentindo pra mim? Não. Eu não quero nem sequer pensar nisso.

De qualquer forma, uma vez que ela deixara aquele pensamento entrar, aquilo
era tudo em que ela conseguia pensar.

E se ele nunca tiver ido realmente ao Arizona? E se ele só estivesse saindo com
outras garotas e querendo que eu pensasse que ele estava fora da cidade? Não,
isso é loucura. Não enlouqueça, Katie. Fique com o que você sabe que é
verdade. Rick se importa com você. Ele tem provado isso cada vez mais.

Katie sentiu como se um bando de lesmas verdes da mentira estivessem se


aproximando dela com seus dentes de navalha afiada. Ela não conseguia sacudí-
las.

Ele não é o cara que você pensa que ele é. Você diz a si mesma que ele mudou e
que não vai te machucar, mas o que você sabe? Ele te machucou antes. Por que
ele não te machucaria novamente?

Uma batida na porta de Katie foi seguida por um giro silencioso na maçaneta.

- Katie? Cris entrou. Você está bem?

- Sim. Não. Eu não sei. Obrigada por vir.

- Tudo bem. Onde está a foto? Cris perguntou.

Katie entregou-lhe a foto, e Cris concordou que o cara na foto era Rick. Sem
dúvidas. E Carley e Rick estavam se beijando.
O espírito de Katie submergiu profundamente.

- Você disse que Carley colocou isso no mural. É isso mesmo? Cris perguntou.

- Eu estou pressupondo que tenha sido Carley.

- Você já conversou com ela?

- Não, eu bati na porta dela, mas ninguém respondeu e eu não queria acordá-la.

Katie deu uma olhada de perto na roupa de Cris. A combinação ímpar distraiu
Katie por um momento. Por cima Cris estava usando uma das blusas enormes de
Ted, um blusão de moletom azul-marinho com capuz, que Katie sabia que era o
artigo preferido de roupa confortável de Cris. O resto da roupa foi o que prendeu
a atenção dela.

- Por que você está usando uma saia com suas pantufas?

- Meus pés estavam frios.

- Por que você não vestiu uma calça moletom ou algo do tipo?

- Essa foi a primeira coisa que eu peguei. Você não parecia bem ao telefone.

- Eu não estou bem. Eu não consigo pensar claramente. Eu nem sei por que eu
estou avaliando sua vestimenta para a missão-de-misericórdia da meia-noite.

O telefone celular de Cris zumbiu e ambas pularam.

Cris olhou para a mensagem de texto.

- É o Ted. Ele está me esperando no carro. Ele só quer saber se você está bem.

Cris digitou uma rápida mensagem enquanto Katie olhava mais de perto para a
foto.

- Ted teve uma idéia no caminho pra cá. Você acha que há alguma chance de a
foto ter sido editada?

No fervor de sua confusão, Katie não tinha pensado sobre essa possibilidade,
mesmo que fosse a mais óbvia. Ela olhou de novo para a foto. O fundo estava
cheio de inconsistências na luz e nos detalhes. A linha que traçava o cabelo de
Rick parecia desigual e salpicada de brancos.

- Eu não sei muito sobre edição digital, Cris disse, mas quase parece que Rick foi
cortado e copiado para o retrato.
Katie murchou sobre a sua cama.

- Eu sou uma grande idiota. Você está certa. Ele provavelmente foi colado. Eu
não posso acreditar que pressupus o pior.

Cris sentou-se perto dela.

- Katie...

Antes que Cris pudesse oferecer palavras de encorajamento, uma batida soou
suavemente na porta de Katie e Vicki deu uma espiada lá dentro.

- Ei. Eu acabei de voltar de lá cima, de onde eu estava estudando e eu vi que a


sua luz ainda estava acesa. Está tudo bem? Vicki caminhou para dentro do quarto
de Katie e notou Cris. Cris, o que você está fazendo aqui tão tarde?

- Eu só vim para ver Katie.

- De pantufas? E saia?

- Ela está usando sua roupa oficial para missão-de-misericórdia, Katie disse. Eu
tive um pequeno momento deprê, por isso eu a chamei e ela veio.

O olhar de Vicki estava fixo na foto na mão de Katie.

- Sua deprê tem a ver com as fotos?

- Fotos? Cris e Katie repetiram em uníssono.

- É mais de uma?

- Sim, há uma porção de fotos estranhas. Eu pensei que Carley ainda não as
houvesse imprimido.

- Por que ela faria algo assim? Cris perguntou.

Vicki olhou para Cris e de volta para Katie.

- Vocês não sabem?

- Sabem o quê? Katie perguntou.

Bem nessa hora outra batida soou na porta de Katie.

- Isso é loucura! Cris disse. A vida nos dormitórios nunca foi assim quando nós
vivíamos no Brower Hall ano passado, Katie.
- Eu sei. Bem vinda ao Crown Hall Norte. Nenhuma mulher com problemas de
sociabilidade neste andar. Katie abriu a porta.

Nicole estava lá parada em um roupão de banho estilo "spa" e pantufas


combinando.

- A segurança acabou de me chamar para ver quanto tempo eles devem esperar
antes de suas visitas partirem.

- Eu não sabia que a segurança estava esperando por mim, Cris disse. Sinto muito
se eles te acordaram, Nicole.

- Tudo bem. O que está acontecendo? Vocês estão bem? Mesmo estando no meio
da noite, Nicole continuava graciosa.

Katie colocou Nicole a par da situação com a foto. Ela mostrou a foto à Nicole e
disse:

- Vicki estava prestes a nos dizer porque Carley faria algo como colocar uma foto
como esta.

- Eu pensei que você soubesse, Vicki disse. Todo mundo no nosso andar sabe.

- Sabe o quê? Katie olhou para as três mulheres paradas em seu quarto. Alguém
vai, por favor, me contar o que está acontecendo?
Capítulo 29
- Fotos como essa são uma tradição do Mural do Beijo, Vicki disse.

- Por quê? Cris perguntou.

- É, por quê? Katie repetiu. A tradição é tentar sabotar perfeitamente bem


relacionamentos de outras mulheres do andar?

- Não, claro que não, Nicole disse. Não é essa a tradição. A tradição é imprimir
fotos de alguém do andar beijando alguém improvável, como uma estrela de
cinema. Você se lembra da foto do último ano com Kim beijando Kermit o sapo?

Katie piscou, mas não respondeu.

- Ou aquela com Amy do ano passado onde ele beijava o homem-aranha, Vicki
adicionou. Essa é a tradição. Nós sempre tivemos uma ou duas fotos no mural de
um casal improvável, e todos sabiam que as fotos eram falsas.

- Nem todos, Katie replicou.

- É por isso que eu deixei um bilhete pra você hoje cedo. Eu vi a foto, e achei
que você deveria saber disso antes que Emilee a terminasse, no caso você não
quisesse que ela fosse colocada.

- Emilee? Em colocou a foto no Mural do Beijo?

- Eu não sei exatamente quem a colocou lá. Em pediu a Carley ontem à noite no
nosso quarto para fazer uma montagem dela com um cantor de música country.
Eu não me lembro quem era o cantor. Enquanto Carley estava fazendo aquela
montagem digital para Em, ela decidiu fazer uma dela com seu chefe. Quando eu
a vi fazendo isso, eu disse a ela que não era uma boa idéia. Eu não achei que
você fosse gostar.

- Você está certa. Eu não gostei mesmo.

- Mas, Katie, você precisa saber que isso era pra ser uma brincadeira. Não algo
maldoso. Era uma piada. Só isso. Pense nisso como estando no mesmo nível da
sua brincadeira do ano passado, quando você colocou meus sapatos no forno.

Katie ficou em silêncio. Ela não tinha nada a dizer sobre o comentário de Vicki.
Ela sabia tudo sobre como uma piada interna podia parecer ótima em
determinado momento e como ela poderia se tornar ridícula mais tarde. A
revelação fez com que ela compreendesse melhor Rick e sua tentativa de fazer
uma piada com o sorvete.

- Ok, eu vou ser sincera com vocês agora. Eu continuo não querendo essa foto no
mural, Katie disse.

- Eu concordo, Nicole disse.

- Eu também, disse Vicki. É por isso que eu estava tentando falar com você antes
que a colocassem lá. Eu tenho certeza que se você falar com Carley ela vai
entender se você tirar a foto de lá.

- Nós podemos falar com ela amanhã, Nicole disse. Ou melhor, hoje mais tarde,
já que hoje já é amanhã.

- Ao invés de Rick, Carley pode fazer a montagem com Dean, Vicki ofereceu.

- Quem é Dean? Katie perguntou

- Ele era o chefe dela na Casa de Pedro quando ela trabalhou lá por um tempo no
verão. Eu a ouvi a dizer que a foto de Rick tinha uma resolução melhor, por isso
ela a colocou.

- Casa de Pedro, Cris murmurou.

Katie se virou para ela.

- Eu sei. Não é que uns burritos chimiganga cairiam muito bem agora?

Nicole gargalhou.

- Como você pode pensar em comida numa hora louca como essa?

- Isso é um dom, Katie disse.

- Vocês gostariam mesmo de ir comer uns burritos? Vicki perguntou. Porque eu


estou disposta a ir se vocês forem.

- Sim, Katie disse. Mas eu realmente preciso dormir um pouco, então é melhor eu
deixar pra próxima.

- Eu preciso ligar pra segurança do campus, Nicole disse.

- Pode dizer a eles que eu já estou indo, Cris disse. Eu vou deixar o burrito pra
próxima também, Vicki, mas ele cairia bem mesmo. Eu adoraria ir com vocês
numa outra hora. Me ligue se você tiver planos pra isso outra noite. Talvez um
pouco mais cedo.

- Não, eu acho que nós vamos esperar e te ligar depois que estivermos certas de
que você já foi pra cama, Katie disse. Assim nós teremos certeza de que você
aparecerá com outro excelente modelito como esse.

Cris sorriu. Ela levantou da cama de Katie e arrumou seu grande blusão de
moletom enquanto Nicole e Vicki deixavam o quarto e se desciam corredor
abaixo.

Katie agradeceu Cris por ter vindo socorrê-la e mais uma vez deu uma conferida
no modelito de Cris.

- O que você tem debaixo disso?

Cris sorriu timidamente.

- Nada.

- Nada do tipo nada-nada? Ou nada do tipo nada-que-seja-da-minha-conta?

Cris sorriu e deixou a resposta no ar. Virando-se para ir embora, ela disse:

- Ah, e Katie?

- Sim?

- Tente dormir um pouco. É stress demais para seu último ano na faculdade. E
você apenas começou.

- Eu sei, Katie disse. Você e eu temos muito que conversar. Você quer tentar
encontrar comigo mais no fim dessa semana?

- Acho que é uma boa idéia. Vamos dar uma olhada nos nossos compromissos e
ver quando podemos nos encontrar.

Katie acenava enquanto seu original Tesouro Peculiar descia meio cambaleante o
grande corredor em seu modelito estiloso. Então Katie retornou exausta para a
cama. Ela estava certa de que acordaria cedo o suficiente para a aula, portanto
ela não armou o despertador.

A boa notícia foi que Rick ligou às 7:15.

A má notícia foi que Rick ligou às 7:15.


- Ei. A voz de Katie estava ‘lenta e grogue’.

- Eu soube que você teve uma noite difícil hoje.

- É, como você soube? Ted?

- Sim, ele me trouxe até o aeroporto agora de manhã.

- Aeroporto? Katie apoiou-se em seu cotovelo. Você está voltando pra Tempe?

- Sim, foi de última hora. Meu irmão estava pra marcar um encontro, e eu só fui
descobrir hoje de manhã. Meu avião sai em quarenta minutos. Eu quis te ligar
antes de partir pra dizer que nós teremos que remarcar nosso almoço na fonte.

- Ah, sim. Ok. Sem problema. Estava difícil pra ela pensar claramente àquela
hora.

- Nós teremos que remarcar o resto da nossa conversa também.

- Sim, nós podemos conversar mais tarde. Nós, definitivamente, precisamos


conversar mais.

- Eu concordo.

Uma pausa se seguiu antes que Rick dissesse:

- Katie, eu tenho um grande favor pra te pedir.

- Ok.

- Existe alguma possibilidade de você poder ir ao Ninho da Pomba por volta das
cinco da tarde de hoje e por mais ou menos uma hora ajudar Carlos com uma
encomenda especial? Eu aceitei fazer umas pizzas para uma grande noite de
premiação de futebol no centro comunitário. Alguém vai buscar a encomenda às
6:30, mas eu não consegui arrumar funcionários suficientes para a preparação
das pizzas. Eu já liguei pra todo mundo. Você é minha última opção.

- Claro, eu estou livre hoje à noite. Eu posso fazer isso.

- Que ótimo.

- Só pra saber... a Carley estará trabalhando nesse horário?

- Sim, por quê?

- O Ted não te contou?


- Contou o quê?

- Sobre essa noite.

- Ele disse que você ligou pra Cris no meio da noite com um problema no seu
andar, e que os dois foram até aí e ficaram por cerca de uma hora e meia. Isso
foi tudo o que ele disse.

Katie sentou-se na sua cama e deu a Rick um rápido resumo sobre os eventos na
noite passada, completando com alguns dos diálogos internos dela, contra os
quais ela lutou, pensando se deveria desconfiar dele ou não.

- Espere aí, Rick disse. Deixe-me entender isso direito. A foto era uma piada,
mas você achou que ela fosse real?

- Ela parecia real. Pelo menos quando eu a vi pela primeira vez. Eu estava muito
cansada.

- Mas honestamente você pensou que eu tinha beijado a Carley. Rick falava
lentamente e com cautela. Isso não era um bom sinal.

- Foi uma pegadinha. Mas eu não entendi. Eu ainda estou bem ‘grogue’, e eu não
sei porque eu estou te contando isso agora, especialmente quando você está
prestes a pegar um avião. Eu acho que eu só preciso resolver esse estranhamento
entre mim e Carley antes de eu ir ao Ninho da Pomba hoje à noite. Desculpe-me
por ter dito isso tudo bem antes de você ir.

O outro lado da linha estava totalmente silencioso.

- Você está aí, Rick?

- Katie, eu preciso que você me responda uma pergunta honestamente.

- Está bem.

- Ontem à noite, você pensou que eu pudesse estar te traindo?

Ela não conseguia encontrar sua voz para dar uma resposta a Rick. A resposta
honesta era: "Sim, por alguns minutos, pelo menos, mas ela não queria dizer
isso."

- Katie... Eu, eu não sei. Depois de todos esses meses, e tudo que você e eu
passamos, se você ainda tem sérias dúvidas sobre mim, eu não sei mais o que
fazer. Eu quero dizer, se você ainda não confia em mim...

- Eu confio em você, ela disse rapidamente.


- Eu quero acreditar nisso. Mas, Katie, você acabou de me dizer que quando você
teve uma chance de duvidar de mim ou confiar em mim, sua tendência foi
duvidar.

- Eu sei. Eu duvidei. Era muito tarde.

- Sim, mas Katie... Eu não sei o que dizer agora. Eu continuo pensando que você
e eu estamos deixando a desejar em algumas das partes fundamentais do nosso
relacionamento e então... Eu começo a me perguntar se você vai algum dia me
perdoar completamente e começar a confiar em mim.

Um silêncio pesado manteve o telefone de Katie grudado ao seu ouvido como


cola. Mesmo depois de Rick dizer: "Eu preciso pensar em tudo isso. Nós
precisamos conversar quando eu voltar do Arizona em alguns dias,” e então
desligar, Katie continuava sentada lá, segurando o telefone ao seu ouvido.

Forçando a si mesma a sair da cama e ir para a aula, Katie foi se arrastando


corredor abaixo para sua usual rotina matinal. Ela encontrou Carley no banheiro
lavando o rosto.

- A Vicki me contou, Carley falou antes que Katie tivesse chance de dizer algo.
Você sabe que isso era pra ser uma piada.

Katie concordou com a cabeça.

- Vicki disse que você ficou muito chateada.

- Fiquei mesmo.

- Eu sinto muito, Katie. Carley se virou para olhar pra ela.

Katie concordou com a cabeça novamente. Esse era o único gesto de aceitação
de uma desculpa que ela sentia que podia dar nesse momento.

Outras duas meninas entraram no banheiro. Carley saiu, e Katie foi tomar banho.
Por um bom tempo ela permaneceu imóvel debaixo do chuveiro. A água
derramava sobre ela, e Katie desejava que ela pudesse batizar seu coração e
clarear sua mente.

Nenhum dos cenários ou explicações que passavam pelos seus pensamentos


parecia oferecer alguma calma para o dilema com Rick. Ela disse milhares e
milhares de vezes que confiava nele, mas em seu coração ela continuava
esperando que algo desse errado. Ela ficava na expectativa de ser magoada.
Quanto mais eles ficavam juntos, mais devastadora ela esperava que a mágoa
fosse.
O que há de errado comigo? Eu sou a confusão em pessoa. Por que eu não posso
confiar no Rick? Ele tem provado constantemente sua lealdade para comigo e
seu comprometimento no nosso relacionamento, mas eu continuo tentando
sabotar tudo. Qual é o meu problema?

Pelo restante do dia Katie se sentiu estranha. Ela não tinha vontade de comer.
Ela não conseguia prestar atenção na aula. Ela evitou pessoas com as quais ela
normalmente ficava. Ao meio dia ela se lembrou de que se Rick não tivesse ido
pro Arizona, eles estariam almoçando juntos na fonte.

Ela tentou ligar pra Cris. O correio de voz atendeu, e Katie disse, “Me ligue
quando você puder. Eu vou ajudar no Ninho da Pomba às cinco. Seria ótimo se
você tivesse um tempinho pra conversarmos depois das 6:30.”

Quando Katie chegou ao Ninho da Pomba às 4:45, ela ainda não tinha tido uma
resposta de Cris. Ao checar na Livraria Arca, ela descobriu que Cris já tinha ido
embora.

Foi estranho pra ela ir até a cozinha e procurar por um avental limpo. Carley
entrou pelos fundos e disse:

- Carlos comentou que você viria. Eu espero que você não esteja mais brava
comigo.

Katie queria soltar algo como, “Por que você se importa com isso?” Ao invés
disso, ela disse:

- Eu não sei, Carley. Eu não estou muito bem agora. Nós podemos conversar
sobre isso mais tarde?

- Você está chateada por causa da foto de Rick e tudo mais?

- Sim. Tudo mais.

- Eu já te disse que eu sinto muito.

- Eu sei. Eu já entendi a questão da foto ser uma tradição e uma pegadinha. Mas
você sabe o que mais? Katie hesitou. Ela percebeu o quanto suas palavras, em
momentos com esse, podiam colocá-la em apuros. Decidindo que não iria segurar
por nem mais um minuto o que ela estava sentindo, Katie disse: Eu posso só te
dizer uma coisa? Desde maio parece que você está tentando se meter entre mim
e Rick. Eu não sei se é algo da minha cabeça, e eu estou com sérios problemas de
desconfiança, ou se alguma coisa está acontecendo entre mim e você e eu não
sei o que é.

Carley olhou pra baixo.


- É coisa da minha cabeça, ou tem algo realmente acontecendo?

Levantando lentamente seu queixo, Carley disse:

- Você se lembra do que você me disse na noite de pizza no outono do ano


passado no Brower Hall?

Katie franziu suas sobrancelhas. Ela não se lembrava nem da noite de pizza do
outono, quanto menos o que ela pode ter dito.

- Eu acho que você não lembra, mas você estava muito animada para ir à casa de
alguém onde você e todos os seus amigos teriam uma grande noite. De manhã
você fez omeletes com Rick, e você estava muito empolgada por Cris estar noiva.

- Certo, eu me lembro disso tudo. Mas eu não me lembro da noite de pizza ou de


algo em particular que eu tenha dito a você.

- Nós estávamos paradas na porta, e eu disse, ‘Sua vida é tão perfeita, Katie. Eu
queria poder trocar de vida com você’. E você disse, ‘Sim, está bem. Como se
você pudesse sair dessa vida’. A expressão de Carley demonstrou sua mágoa
enquanto ela contava sobre a conversa.

- Eu não me lembro de dizer isso. Mas eu tenho certeza de que eu te magoei,


Carley. Me desculpe. Eu falo demais e digo coisas que eu não deveria dizer. Eu
sinto muito. Katie se arrependeu pelo que quer que seja que causara tamanha
ferida em Carley, mas ela estava tendo dificuldade em perceber por que suas
palavras causaram tanta dor.

- Está tudo bem, Carley disse. Provavelmente eu deveria te pedir desculpas por
ter sido levada pelo desafio.

- Desafio?

- Você disse, ‘Como se você pudesse sair dessa vida’. As pessoas têm dito isso pra
mim a minha vida inteira. Então eu acho que eu levei o desafio muito a sério. Eu
comecei como se isso fosse só um joguinho idiota, e aí isso se tornou uma
obsessão, eu acho. Eu estava com inveja. Você tinha uma vida tão perfeita e...

Katie a interrompeu.

- Ah, não! Minha vida está bem longe da perfeição. Acredite em mim, se você
tivesse pelo menos idéia de como eu cresci...

A expressão de Katie certamente ficou mais “furiosa” do que ela esperava


porque Carley parecia assustada e quase atemorizada.
- Você sabe o que mais, Carley? Katie recuou em suas emoções e em suas
palavras. Você já ouviu aquela frase que diz ‘Pessoas machucadas machucam
pessoas’?

- Não.

- Eu acho que é nisso que eu e você nos encaixamos, e isso é mesmo muito ruim.
Os outros nos machucaram, e nós temos machucado os outros. Você não quer a
minha vida, confie em mim. Eu não quero te magoar com meus comentários
impertinentes. De verdade. Você acha que nós duas poderíamos começar de
novo?

Carley concordou com a cabeça. Uma expressão amigável substitui a expressão


carregada.

- Eu sinto muito, ela disse.

- Eu sinto muito também.

Elas trocaram sorrisos e pela próxima uma hora e meia trabalharam como um
time, preparando em escala um estoque de pizzas de pepperoni para um
batalhão de pessoas.
Capítulo 30
Quando Katie retornou à Rancho Corona depois de trabalhar no Ninho da Pomba,
ela ainda sentia seu o coração pesado com relação a Rick. Ela queria ligar pra
ele e conversar sobre sua mudança com Carley e contar para ele como tudo havia
mudado enquanto as duas estavam trabalhando juntas.

Mudanças no relacionamento provavelmente só aconteceriam quando ela e Rick


pudessem sentar para uma conversa de coração para coração. Até lá, tudo o que
ela podia mudar era a si própria.

Com aquela verdade, Katie se dirigiu ao apartamento de Julia. A porta dela


estava aberta e a música de uma guitarra metálica flutuava para o corredor.
Katie bateu à porta e Julia olhou do sofá. Foi então que Katie notou que Julia
estava no telefone.

- Eu posso voltar, Katie disse, praticamente só movimentando a boca, sem sair


nenhum som.

- Não, entre. Eu estou na espera com a minha companhia de cartão de crédito.


Eu fui cobrada indevidamente no mês passado. De fato, eu não estou com humor
para discutir com eles agora. Eu vou ligar mais tarde.

Julia desligou seu telefone e gesticulou para que Katie se sentasse no sofá.

- Eu ia ligar e combinar uma hora pra conversarmos - Katie disse - mas o meu dia
foi um pouco excêntrico.

- Eu ouvi sobre a foto no Mural do Beijo, Julia disse. Está tudo resolvido com isso?

Katie concordou com a cabeça. Ela colocou Julia a par da sua conversa com
Carley no Ninho da Pomba.

- O que me mata é que eu não sei quantas vezes eu disse a coisa errada e
machuquei as pessoas.

- Eu acho que a maioria das pessoas entende o seu humor e o seu jeito expressivo
de se manifestar. Essa coisa com Carley é um pouco incomum. Você lidou bem
com isso.

- Na verdade, foi ela que iniciou o pedido de desculpas. E eu sei que eu não
controlei muito bem as coisas com Rick esta manhã.

- O que aconteceu?
Katie deu à Julia um panorama da sua conversa e seus sentimentos sobre Rick;
então, antes dela perceber, Katie tinha derramado o seu coração.

Com poucos minutos de conversa, Julia fechou a porta para garantir que elas
tinham privacidade. Cinco minutos depois, Julia ofereceu uma caixa de lenços
para Katie. Doze minutos mais tarde, Katie se sentia exausta e muito triste.
Julia, contudo, parecia calma e pronta para dar à Katie um conselho.

- Então o que eu devo fazer? Katie perguntou. Supondo que o Rick nunca mais vai
falar comigo, como eu posso convencê-lo de que eu confio nele? O que ele disse
é verdade. Eu permaneço esperando que ele me desaponte ou me traia ou
qualquer coisa do tipo. Você não acha que eu sou uma louca, acha?

- Claro que não.

- Eu sinto como se alguma coisa estivesse errada comigo. Quero dizer, por que eu
não posso confiar nele?

- Você disse que o perdoou há mais de um ano. É isso mesmo?

- Sim. Eu te contei sobre a carta que ele me mandou. Foi quando eu o perdoei.
Aquilo foi bem antes de eu o ver de novo no Ninho da Pomba. Na carta dele, ele
perguntava se eu poderia perdoá-lo por ser um idiota e por não me tratar com o
respeito que eu merecia.

- E você o perdoou?

- Sim.

- Mas você continua esperando que ele a machuque.

Katie balançou a cabeça.

- Você acha que talvez eu não o tenha perdoado de verdade? É por isso que eu
estou sempre esperando que ele estrague tudo?

- Só você sabe se o perdoou de verdade.

Katie pensou por um momento.

- Eu perdoei. Eu sei que perdoei. É como se houvesse uma balança invisível na


minha cabeça. Eu peguei todas as coisas que eu guardara contra o Rick que
estavam pesando em um lado da balança e pedi a Jesus para acabar com elas. A
balança ainda estava lá. Como se nada estivesse pesando meus pensamentos e
sentimentos com relação ao Rick de um modo desequilibrado.
- É uma boa forma de explicar o perdão, Julia disse.

- Eu não criei a ilustração, Katie disse. Eu ouvi um cara usando em uma das
minhas aulas da Bíblia. A figura ficou comigo. Eu tirei da balança em minha
mente todas aquelas coisas com Rick.

- Eu sua mente, Julia repetiu. E quanto ao seu coração?

Katie não tinha certeza do que Julia queria dizer.

- Deixe-me perguntar. Como Rick a machucou? Eu não estou perguntando o que


ele fez. O que eu estou pedindo é para você identificar a ferida. Por exemplo,
ele roubou de você?

- Não, ele me usou, me enganou e basicamente traiu. Katie estava atordoada de


ver o quão rapidamente as acusações contra Rick saltavam de sua boca.

Whoa! Eu posso tê-lo perdoado, mas eu certamente não esqueci!

- Eu acho que você só moveu da sua cabeça para o seu coração. A expressão de
Julia suavizou como se Katie tivesse realizado algo difícil. Quando Julia falou de
novo, foi com ternura. Da forma que eu vejo isto, quando nós estamos
machucados no nível do coração, o perdão e a cura têm que acontecer no mesmo
lugar que a ferida aconteceu. Rick não machucou a sua mente; ele machucou o
seu coração. É lá que você tem que ir para perdoá-lo completamente.

- Agora, Julia disse, respirando fundo, eu tenho outra pergunta para você.
Quando você olha em seu coração, eu quero saber, o que você fez com as feridas
que o Rick causou a você? Você as deu para Jesus apagá-las por completo?

Katie sentiu um baque em seu peito. A resposta para a pergunta de Julia vinha a
ela com segurança. Não era como se ela soubesse a resposta em sua cabeça; ela
sabia a resposta em seu coração.

- Eu mantive algumas delas comigo.

Julia acenou com a cabeça lentamente, oferecendo a Katie um olhar


confortante.

- Eu não as lancei para o norte ou sul ou leste ou oeste ou qualquer lugar, não é?
Ao invés de lançar as dores para longe, eu retive algumas delas. Aqui. Katie
bateu em seu coração. Eu nunca percebi que fiz isso. Quando você me perguntou
o que eu fiz com as dores, eu acabei de perceber. Elas ainda estão comigo. Eu as
tenho guardadas comigo.

Katie olhou para baixo, para os seus dedos encolhidos.


- Eu não sei por que eu as estou guardando. É como ter uma caixa de granadas no
canto. Eu digo que eu não quero explodir nenhuma, mas eu sei que eu as tenho à
mão para o caso de precisar usá-las.

- Para autodefesa, Julia disse.

Katie concordou com a cabeça.

- Para autodefesa. Essa é a minha vida. Isso mesmo. Estar preparada para
esconder ou ter munição para quando você acaba sendo muito magoada pelas
pessoas mais próximas de você.

- Como com a sua mãe? Julia perguntou.

- Você pescou isso, hein? Sim, eu não tenho muita conexão emocional com os
meus pais, mas especialmente com minha mãe. Eu fico na expectativa de que ela
seja uma mãe de verdade, entende? E ela é só ela mesma.

- Você diria que você perdoou os seus pais? Julia perguntou.

- Perdoei pelo quê?

Julia não respondeu. Ela olhou para Katie com cara de quem esperava uma única
resposta.

Katie sabia que ela era a única que poderia dar nome a sua infância.

- Você quer dizer que eu deveria perdoar meus pais por me abandonar
emocionalmente?

Julia deu a Katie um olhar cauteloso, porém afirmativo. Ela parecia estar
esperando Katie constatar o óbvio.

- Eu acho que só disse isso, não é? Eu suponho que a resposta seja não, eu não
perdoei meus pais. E eu não liberei o Rick completamente também.

Por um momento elas ficaram sentadas quietas, deixando as percepções


dolorosas penetrarem.

- Eu estou olhando para algumas balanças no meu coração agora, Katie disse. Eu
pensei que aquelas balanças estivessem vazias e equilibradas. Talvez elas
estejam na minha cabeça. Mas no meu coração, elas estão pesadas para baixo.
Então, como eu me livro dessas coisas tóxicas?

- Você disse isso mais cedo. Peça a Jesus para pegá-las e demoli-las. Você quer
orar comigo sobre isso agora?
- Sim, Katie fechou os seus olhos e disse: Querido Pai Celeste, por favor, perdoe
Rick por todas as coisas que ele fez comigo e...

- Katie. Julia tocou no braço de Katie, interrompendo a oração dela.

Katie olhou pra cima. Ela nunca tivera alguém a interrompendo quando ela
estava orando antes. Julia estava balançando a cabeça.

- Você está só dizendo as palavras, Katie. Soa como se você tivesse pegado um
elevador expresso que sai do seu coração e vai pra sua mente. Deus conhece o
seu coração. Ele já está lá. Você precisa voltar pra lá. Vá direto para a essência
do seu coração.

Katie engoliu. Ela sabia o que Julia queria dizer. Katie sabia onde estava a
essência do seu coração – era um lugar que ela evitara. Aquele lugar estava
coberto com cicatrizes das dores que ela tinha experimentado. E aquelas
cicatrizes estavam cobertas com caixas de granadas.

- Você quer lidar com isso agora? Julia perguntou gentilmente. Porque você não
tem que fazer isso se você não estiver pronta.

- Sim, eu quero. Eu não quero carregar toda essa munição mortal por outro
momento. Deus me perdoou de muito mais. Eu sei que ele quer que eu perdoe
outras pessoas da mesma forma que ele me perdoou. Ele não armazena uma
caixa de raios de todas as coisas que eu tenho feito para machucá-lo. Você sabe,
ele não lança as coisas do passado sobre mim. Não, eu quero lidar com isso
agora. Eu sinto como se eu estivesse acumulando essas feridas como um tesouro
nessa caverna em meu coração. Esse lixo não é um tesouro.

Enquanto Katie falava, ela chorava. Julia acabou chorando também.

- Você está lá agora, Julia disse com um sorriso. Você está na essência do seu
coração. Isso é sincero. Isso é verdadeiro. Agora, vá em frente, diga a Deus o que
você começou a dizer mais cedo.

Sem fechar os seus olhos dessa vez, Katie chorou lágrimas silenciosas e falou
alto.

- Deus? Grande Deus, eu sei que você está aqui. Eu sei que você está me ouvindo.
Sinto muito se eu tenho segurado esse lixo por tanto tempo. Eu não quero isso.
Pegue isso. Lance isso longe. Bem longe. Eu quero liberar Rick completamente,
eu quero liberar os meus pais completamente. Do meu coração... Katie respirou
meio que tremidamente. Do meu coração, eu escolho perdoar minha mãe e meu
pai por me abandonar e me machucar emocionalmente. Você quer que eles
sejam perdoados completamente assim como você me perdoou completamente.
Eu quero o que você quer. Faça uma de suas surpreendentes coisas de Deus.
Liberte-os e liberte-me.

Katie se inclinou para trás e fechou os seus olhos. Ela sentiu como se estivesse
surfando em uma onda ou planando como um pássaro. Um pássaro livre. Nunca
tinha sentido seu coração tão leve.

- Uau, ela disse suavemente. Ela olhou para Julia, que estava sorrindo e
chorando ao mesmo tempo. Foi quando Katie percebeu que ela estava chorando
também. Ela riu. Nós estamos parecendo com momentos em que está chovendo
enquanto o sol está brilhando.

Julia riu e as duas mulheres se abraçaram.

- Isso é bom, Katie disse. Eu me sinto ótima agora!

Julia chegou mais perto e gentilmente pressionou a palma da sua mão contra a
bochecha de Katie. O gesto foi de mãe amorosa, do jeito que Katie sempre
esperou, mas nunca recebeu.

- Nunca se esqueça deste momento, deste sentimento. Eu estou certa de que


você não vai esquecer, Julia disse. A verdade de Deus realmente nos liberta e eu
acho que nós nunca estamos tão perto dessa verdade quanto quando escolhemos
perdoar os outros da forma que ele nos perdoou.

Aquela noite, antes de Katie ir para a cama, na solidão do seu quarto, ela
escreveu em seu diário. O exercício era uma rara experiência, mas o que ela
tinha experimentado naquele dia era raro.

Eu sinto como se o baú de tesouro na essência do meu coração estivesse há


muito transbordando com estoque de dores, mágoas e decepções. Aquele lugar
está agora vazio do lixo e pronto para ser cheio com os tesouros verdadeiros.
Todo dia Deus envia Tesouros Peculiares no meu caminho, mas eu não fui capaz
de guardar alguns deles porque não tinha lugar em meu coração para guardá-los.
Agora eu tenho.

Rick é definitivamente um desses Tesouros Peculiares e eu sinto como se eu


finalmente tivesse um lugar no meu coração para ele. O tipo certo de lugar e o
tipo certo de motivação para avançar em nosso relacionamento.

Mas eu realmente acho que eu preciso esperar até ele dar o próximo passo. Eu
estou pronta para confiar nele de todo coração. Ele precisa estar disposto a
confiar em mim de todo coração também.

Se Rick e eu fizermos qualquer avanço em nosso relacionamento, então eu acho


que isso será um resultado de Deus estar incitando o Rick a fazer a mudança de
pista. Se Rick decidir se referir a mim como namorada, então eu saberei com
certeza que ele guarda nenhuma mágoa de mim com relação à minha
desconfiança.

Katie sentiu muita paz. Ela sabia que não teria que correr atrás de Rick para
explicar em mil palavras porque ela se sentiu do jeito que se sentiu ou tentar
convencê-lo a deixar de lado a falta de confiança dela. As feridas antigas tinham
passado. Ela e Rick seriam capazes de continuar de onde eles tinham parado. Ela
sabia disso. Só agora seria diferente entre eles. Rick não precisaria mais ficar
provando nada para Katie e ela teria lugar em seu coração para o amor crescer.

Foi isso que ela pensou na terça-feira depois do seu tempo glorioso com Julia. Na
quarta-feira à noite, Katie estava pensando em ligar para Rick já que ela não
tivera notícias dele. Na quinta-feira depois da última aula dela, Katie sentiu
como se ela não pudesse mais agüentar o silêncio entre eles. As dúvidas
continuavam vindo até ela, mas ela lutava contra elas tão valentemente como se
estivesse lutando contra um dragão.

Talvez, de alguma forma, ela estivesse lutando contra um dragão. Um dragão


muito antigo.
Capítulo 31
Na sexta-feira, depois da última aula de Katie, ela colocou seu jeans favorito e a
camisa que ela tinha comprado no dia dos registros das calouras, já que ela se
lembrava de que Rick tinha notado e gostado.

Subindo em seu Buguinho às 8:05, ela desceu montanha abaixo, ensaiando o que
ela diria a Rick quando o visse. Ele tinha mandado uma mensagem pra ela três
horas mais cedo que dizia, "Conversa lá em casa às 8?".

Katie sorria enquanto descia na calçada do complexo de apartamentos rumo à


porta da frente de Rick. Isso só podia dar certo. Ela estava em sua melhor fase
tanto espiritualmente quanto emocionalmente. Ela estava, finalmente, pronta
para levar seu relacionamento com Rick a sério e entrar no mesmo interesse e
entusiasmo que ele tinha expressado pra ela por todos aqueles meses.

Eu acho que tudo isso tinha que ter acontecido para que Deus pudesse limpar
meu coração. Agora eu estou pronta para me abrir para ele e para o Rick. Você é
tão bom pra mim, Senhor. Obrigada pelo que o Senhor tem feito em meu
coração. Obrigada pelo que o Senhor vai fazer em meu relacionamento com
Rick. Eu confio em ti.

Katie percebeu que estava sorrindo. Essa é a base de qualquer relacionamento


duradouro, não é? Confiança. Confiar completamente. Nesse caso, deixe-me
dizer novamente, Deus Pai, eu confio em ti.

Ela estava à porta do apartamento de Rick e podia ouvir a música de lá de


dentro. Cheia de esperança e confiança, ela apertou a campainha. Então ela se
lembrou de que a campainha de Cris continuava sem funcionar, ela bateu e deu
um passo pra trás.

A porta se abriu, e lá estava a última pessoa que ela esperava encontrar. O Cara
do Cavanhaque.

- O que você está fazendo aqui? Katie checou o número na porta do apartamento
de Rick para ter certeza de que estava no apartamento certo.

O Cara do Cavanhaque sorriu.

- Oi.

- O que você está fazendo aqui? Katie repetiu.

- Eu moro aqui.
- Não, você não mora. O Rick mora aqui. Onde está o Rick?

- No Arizona.

Katie sentiu seus joelhos cambalearem.

- Ele disse que estaria- de volta hoje à noite às 8.

- Eu não sei dos horários dele. Você quer entrar e esperar por ele?

- Não. Katie se virou para ir direto para a porta da frente de Ted e Cris. Batendo
forte na porta deles, ela engoliu seus sentimentos.

- Katie, como vai? Ted, usava uma luva de microondas em forma de lagosta
quando abriu a porta. Ele abriu e fechou seus dedos como se a luva fosse um
fantoche. Katie sabia que a luva tinha sido um presente de casamento dos tios de
Cris, mas ela pensou que Cris tinha a devolvido à loja durante uma de suas
divertidas idas às devoluções.

- Ei. Vocês estão jantando ou algo do tipo?

- Não. Ted abriu a porta totalmente. Katie pôde ver a tia e o tio de Cris sentados
no sofá, vendo o álbum de casamento de Cris. Nós já comemos, mas se você
ainda estiver com fome, nós temos bastante comida. Entre.

- Ah, não. Eu só estava...

Cris estava em pé atrás do sofá. Quando viu Katie, ela foi até a porta.

- Ei. Por que você não entra? Cris perguntou.

- Eu não sabia que você tinha visitas.

- Está tudo bem. Eles acabaram de voltar de um cruzeiro e deram uma parada
aqui antes de voltarem para Newport Beach.

- É a Katie? Bob perguntou de dentro do apartamento.

- Ei. Katie acenou para eles.

- Nós estamos bem na hora da sobremesa, Bod disse. Ted estava indo tirar a torta
do forno. Você nos faz companhia?

- Não. É melhor eu ir. Apesar de estar com um cheiro muito bom.


- Está ventando muito com essa porta aberta, você não acha? Disse Marta pra
ninguém em particular.

Cris olhou pra sua tia e depois pra Katie. Sobre seus ombros Cris disse a Ted:

- Eu volto logo. Então ela saiu do apartamento, fechou a porta, e olhou bem
fixamente pra Katie. O que está acontecendo? Você está bem?

- Não sei. Eu estava ótima, você sabe, como no e-mail que eu te mandei ontem.

Cris concordou com a cabeça.

- Foi um e-mail incrível sobre o que aconteceu quando você orou com Julia. Eu
mostrei ao Ted. Espero que não tenha problema.

- Não, claro que não. Tudo bem.

- Me desculpe por não ter podido me encontrar com você. É que...

- Não se preocupe. Eu não vim aqui porque você e eu não pudemos conversar. Eu
vim para ver o Rick. Mas agora eu estou confusa. Ele me mandou uma mensagem
dizendo pra eu encontrá-lo às oito para conversarmos, mas ele não está em casa.
O Cara do Cavanhaque atendeu a porta do apartamento de Rick.

- Cara do Cavanhaque?

- Eu não sei o nome dele. Eu acho que o novo colega de quarto de Rick.

- É o Eli. Eu achei que você o tivesse conhecido no meu casamento.

- Como você o conhece?

- Ele e Ted moraram juntos na Espanha. Katie, você está bem?

Katie levantou uma de suas mãos e colocou-a sobre a cabeça.

- Sim, eu estou bem. Isso é só meio bizarro. Então, você estará livre amanhã após
o trabalho?

- Sim.

- Você e eu podemos sair pra jantar ou outra coisa qualquer?

- Claro. O que você acha sobre irmos à Casa de Pedro?


- Com uma condição. Você tem que prometer que vai me fazer parar antes que
eu coma, sozinha, um burrito chimiganga tamanho gigante inteiro.

- A gente vai dividir um, Cris disse.

- Perfeito. Nós combinamos tudo depois então, Katie disse. Você deveria voltar
para sua tia, tio e a torta.

Cris deu uma risadinha e chegou mais perto.

- Você viu a luva de microondas em forma de lagosta?

- Sim, eu pensei que nós a tivéssemos devolvido alguns meses atrás.

- Nós devolvemos! Ted me lembrou de que ela tinha vindo de Bob e Marta e eu
tive que correr até a loja aqui perto de casa e comprar uma. Pelo menos eu
ainda tinha alguns créditos na seção de cozinha.

- Seu segredo está a salvo comigo.

Cris se aproximou e deu um abraço em Katie.

- Eu sei que está. Você é meu Tesouro Peculiar favorito, Katie. Você sabe disso,
não sabe?

- E você é o meu. Katie retribuiu o abraço. Te vejo amanhã às 5:15 na Casa de


Pedro.

- Mal posso esperar.

Katie pegou o caminho mais longo para o estacionamento dos apartamentos


porque assim ela não teria que passar pelo apartamento de Rick e correr o risco
de ver o Eli do Cavanhaque. Ela decidiu voltar para a Rancho e esperar até que
Rick ligasse. O avião dele pode ter atrasado, ou ele pode ter decidido fazer algo
antes de falar com Katie, como checar as formigas em variados lugares no Ninho
da Pomba que ainda não tinham sido checados.

Para Katie, a melhor coisa nesse momento era que seu coração se sentia livre.
Ela não tinha nenhum problema em pressupor todas as razões pelas quais Rick
não estava em casa ou porque ele não tinha ligado. Ela confiava nele. Era um
tipo de pensamento revigorante, libertador e completamente diferente de todos
os pensamentos que ela já teve a respeito dos dois.

Destrancando a porta do Buguinho, Katie se ajeitou no banco do motorista.


Quando ela olhou para o pára-brisa, ela viu algo embaixo do limpador. Não era
uma multa, era uma flor. Uma buganvília rosa como uma daquelas que cresciam
ao lado do complexo de apartamentos. Katie pensou que ela certamente tinha
sido levada pelo vento até lá. Ela ficou sentada por um momento antes de ligar o
carro, pensando no grande buquê de flores que Rick a tinha dado no encontro
desastroso deles.

Alguns dias atrás, Cris tinha expressado um pensamento sobre aquelas flores em
um e-mail que mandara para Katie. Cris disse que o fato de Rick dar a Katie
aquela enorme quantidade de flores era, possivelmente, uma maneira cautelosa
de Rick expressar sua paixão e seu interesse por ela. Cris sugeriu que, uma vez
que os dois não estavam expressando seus sentimentos com beijos, Katie deveria
receber e apreciar toda e qualquer maneira que Rick usava para expressar suas
emoções, incluindo luxuosos e exagerados buquês.

- Pense nas flores como estando no lugar de duas dúzias de beijos. Cris tinha
escrito. Qual é a citação que você tirou daquele filme dos órfãos? 'Pegue isso e
seja grato!' É isso que eu acho que você deveria fazer de agora em diante se Rick
te der flores ou qualquer outra coisa. Pegue isso e seja grata.

Katie sabia que ela veria a expressão de Rick em sua direção com mais admiração
agora que sua desconfiança em relação a ele tinha acabado. A afeição dela por
ele e pelo jeito único dele de fazer as coisas estava crescendo.

Ela apenas esperava que não fosse tarde demais e que ele ainda não tivesse
desistido dela. Silenciosamente, em seu coração, ela não achava que o
relacionamento deles tivesse acabado. Ainda não. Katie sentiu muita esperança
sobre o que iria acontecer entre Rick e ela. Ela não sabia explicar por que; ela
apenas se sentia esperançosa.

Katie checou seu celular. Ela percebeu uma coisa que ela provavelmente deveria
ter percebido bem antes. Ela tinha duas mensagens de Rick. Enquanto ela lia a
primeira mensagem dele, um par de faróis iluminou o retrovisor.

Era o Mustang de Rick.

Katie tirou a chave da ignição e caminhou até a vaga onde o carro de Rick
estava. Ela tinha seu telefone em sua mão e tentava ler a mensagem dele. Rick
permanecia no banco do motorista e baixou sua janela.

- Eu vejo que você recebeu minha mensagem.

- Eu estou lendo agora. Ela diz que seu vôo se atrasou, e que você quer ir comer
algo. Katie tirou seus olhos do telefone e olhou para Rick. Ele estava olhando
para ela como aquele olhar de eu-não-consigo-tirar-você-do-meu-coração

- Então, o que você acha? Ele perguntou.


- Eu não me importaria de sair pra algum lugar. A noite está ótima.

- Suba aí, Zing1.

- Zing? Katie deslizou para o banco do passageiro e repetiu: Zing?

- Sim, Zing. O que você acha desse?

- Zing, hein? Acho que vou ter que pensar mais sobre esse.

Rick saiu da área do estacionamento.

- Eu conheci seu companheiro de quarto.

- Ele te chamou pra sair?

Katie examinou o perfil de Rick enquanto ele continuava olhando pra frente.

- Não, ele não me chamou pra sair. Por que você perguntou isso?

- Porque é o que ele quer.

- Por que você está dizendo isso?

- Ele me disse que acha você extraordinária e mais uma coisa.

- Mais uma coisa?

- É, uma outra palavra. Ah, sim, 'inesquecível'. Era isso. Ele acha você
inesquecível.

- E o que você disse pra ele?

- Eu disse que se ele acha que você algum dia sairia com ele, ele vai ter que
aprender a viver com decepções.

Katie tentou não sorrir demais pelo fato de Rick ter usado uma das frases
"irreverentes" dela em resposta a Eli.

Rick ligou o som e batucava com a palma aberta de sua mão no lateral da porta
seguindo o tempo da música. Tudo parecia estar de volta ao normal. Eles ainda
precisavam conversar. Katie queria que Rick soubesse que ela confiava nele. Ela
queria contá-lo como ela tinha deixado de lado todas as munições que ela vinha
guardando para o caso de precisar usá-las contra ele. As velhas mágoas tinham
morrido e ela estava livre. Ela queria que ele soubesse.
- Eu pensei que podíamos tentar o restaurante tailandês. Eu acho que não vai ser
tão difícil conseguir entrar lá às nove da noite. Com ou sem gravata.

- Legal. Como foi no Arizona?

- Quente.

- E como está indo o projeto?

- Ótimo. Você está pronta para ouvir minha novidade?

Katie mordeu seu lábio inferior. Se ele fosse dizer que estava se mudando para
Tempe, então ela não queria ouvir sua grande novidade.

- Qual é sua novidade? Ela perguntou cautelosamente.

- Nós contratamos um gerente e a escritura do prédio está ok. Minha parte no


projeto já está no fim.

- Então você não vai se mudar pro Arizona?

- Não. Mas eu tenho uma parte da divisão do lucro e, em cerca de dois anos, eu
devo ter o suficiente para abrir outro café em algum lugar, se tudo der certo.

- Que ótima notícia.

Eles saíram do carro e caminharam para dentro do restaurante ornadamente


decorado, onde eles se sentaram em um lugar mais isolado. Era o lugar perfeito
para uma conversa particular.

Rick deu uma olhada rápida no menu. Katie deu uma demorada olhada para Rick.
Ele abaixou o menu e capturou o olhar de Katie. Os olhos dele fitos nos dela e
por um intenso momento nenhum deles falou.

Um sorriso, lentamente, saiu dos cantos da boca de Rick. Ele disse:

- Você decidiu que está pronta para confiar em mim, não foi?

Katie piscou surpresa.

- Como você soube?

- Eu vejo isso. É perceptível. Você está diferente. Você está olhando pra mim
como se você acreditasse em mim.
- Eu acredito. Esse seria meu grande anúncio. Você pode mesmo perceber isso só
de olhar pra mim?

- Você é um livro aberto, Katie.

- É verdade. Você acha que eu não tenho bile, não é?

- Fraude (guile), Rick a corrigiu. Com você não há fraude, Zing.

O garçom foi até a mesa deles e encheu o copo deles de água. Assim que ele
saiu, Katie disse:

- Zing, hein? Então, de onde você tirou esse apelido?

- Você está gostando dele? Rick perguntou.

- Talvez.

- Quando eu estava em Tempe, eu contei ao meu irmão que você e eu estávamos


tendo algumas dificuldades. Eu não contei detalhes, mas eu perguntei o que ele
me aconselharia a fazer nesse ponto do relacionamento?

- E o que seu irmão disse?

- Ele me perguntou, 'Ela continua a balançar seu coração?'1 E eu pensei 'Sim,


mesmo no meio dessa coisa toda, a Katie continua a balançar meu coração.

Katie sorriu.

- É verdade, Katie. Rick disse. Mesmo eu sendo um enigma às vezes e mesmo


quando essas dificuldades vêm até nós, você balança meu coração.

Um inteligente jogo de palavras surgiu na mente de Katie. Ela apertou os olhos.

- Você sabe, um enigma é como uma dúvida1.

- Ok, Rick disse como se não estivesse seguindo a lógica dela.

- Então talvez eu devesse te chamar de, 'a Maze', que é 'uma dúvida' em inglês.

Rick não pareceu muito empolgado com seu provável apelido.

- Porque se você é 'a maze' e sou uma 'zing', tudo que nós temos que fazer é nos
juntarmos e nos tornaremos 'amaze-zing', que é maravilhoso em inglês1!
1
Galera, acompanhem o raciocínio do jogo de palavras... Quando o Rick chama Katie de 'Zing', em português
isso significa meio que "balanço" (não literalmente, mas só pra entenderem, ok?). Daí depois quando ele diz
Rick caiu na gargalhada. Era muito bom ouvir uma gargalhada que vinha do fundo
do coração dele. Debruçando-se sobre a mesa, ele se aproximou dela e disse:

- Katie...

Ele não terminou seu pensamento. Ao invés disso, ele inclinou-se mais pra perto,
olhou no olho dela e deu a ela uma fabulosa piscada. Ela tinha certeza de que
era a piscada mais romântica e memorável que qualquer mulher na Terra já tinha
recebido.

Se Rick não devia, não podia ou não iria dar a ela uma afirmação do
relacionamento deles em forma de beijos, ela iria, de bom grado, aceitar suas
flores, palavras, ou suas piscadas de derreter o coração. Sim, ela aceitaria e
seria grata. Muito grata.

A garçonete chegou à mesa deles. Katie podia sentir-se avermelhar.

- Vocês já tiveram tempo para decidir? A garçonete perguntou.

- Acho que sim, Rick disse. Mais do que suficiente, acredito eu. Mas nós dois
precisávamos de tempo pra ter certeza. Ele fechou o cardápio e se inclinou pra
frente. Eu vou querer o que minha namorada quiser.

Katie gelou.

Era isso. Rick tinha acabado de mudar de pista no meio do restaurante tailandês
sem mais nem menos. Ou talvez a verdade fosse que ele vinha acendendo e
apagando os faróis durante meses, mas dessa vez ele estava pronto; ele mudou
facilmente para a pista do namorado-namorada. Do jeito que deve ser quando se
está no tempo certo.

Em resposta, Katie fechou seu cardápio, olhou para Rick e disse:

- Eu vou querer o que meu namorado quiser.

A garçonete abaixou seu bloco de pedidos.

- Ok. Eu vou voltar quando vocês dois souberem o que realmente querem.

Assim que ela saiu de perto da mesa, Rick disse:

- Eu acho que nós dois sabemos o que nós queremos agora.

que ela balança o coração dele, em inglês ele diz: "You make my heart go ZING." E depois quando a Katie
diz que Rick é 'a maze', em português isso é 'uma dúvida'. Daí ela faz a piadinha, juntando 'a maze' com 'zing'
que dá 'amaze-zing', que é igual a AMAZING, que em português significa MARAVILHOSO!!! Lindo, né?!
Hehe. Eu tentei fazer o jogo de palavras em português, mas nada ficou bom... Espero que tenham entendido.
- Mudança de pista lenta, Doyle.

- Você gosta disso?

- Eu gosto de você.

- Eu gosto de você também. Mais do que nunca.

Rick debruçou-se sobre a mesa e pegou a mão de Katie. Com o gesto mais
romântico e galanteador que ela pudesse imaginar, Rick levantou a mão dela até
os lábios dele. Ele fechou os olhos e beijou as costas da mão dela.

Esse beijo, dado com toda a verdadeira afeição e a mais sincera intenção de um
coração valente, era o beijo de um-novo-começo deles. Naquela hora, ela tinha
todas as razões para acreditar que, com Rick Doyle, esse era apenas o começo de
muitos momentos "você-balança-meu-coração".
Querido Tesouro Peculiar,

É o que você é, você sabe. Você é o Tesouro Peculiar de Deus. O amor dele por
você é profundo e permanente e cheio de “momentos de misericórdia”. Ele
revela seus caminhos misteriosos para você todos os dias. Ele nunca deixa de te
amar. Você é o primeiro amor e ele sempre quer você. Você é o Tesouro Peculiar
de Deus.

Eu tenho que lhe dizer algo. Quando eu comecei a escrever este livro sobre a
Katie, eu estava muito emotiva. Por uma variedade de razões, já se passavam
sete anos desde que eu escrevera pela última vez sobre esses personagens. Eu
sentia como se fosse um presente. O presente era a chance de gastar muitas
semanas em um canto da minha imaginação onde Katie, Cris e o restante da
turma de Amigos de Deus1 juntos e me dizendo o que eles têm feito desde que eu
estive com eles pela última vez. Eu amo estar com todos esses personagens de
novo. Eu sinto como um tenro privilégio. Eu não posso esperar para começar a
escrever a próxima história sobre Katie.

O versículo que eu estava refletindo quando eu comecei a escrever este livro


vem de Gálatas 6:4 em The Message.

“Faça uma exploração cuidadosa de quem você é e do trabalho que você tem
feito e então afunde a si mesmo nisso. Não fique impressionado com você
mesmo. Não se compare com outros. Cada um de vocês deve tomar a
responsabilidade por dar o melhor criativo que você pode com a sua própria
vida.”

Eu acho que as palavras “melhor criativo” foram o que me capturou quando eu li


esse verso pela primeira vez. Deus certamente fez esse melhor criativo quando
ele projetou cada um de nós e ordenou nossos dias. Nós temos a oportunidade de
tomar a responsabilidade e fazer o nosso melhor criativo com nossas vidas. Que
privilégio!

Minha pergunta para você, querido Tesouro Peculiar, é o que você vê Deus
fazendo em sua vida bem agora? Você está pegando no pé dele, buscando-o e
ficando avidamente tão perto dele quando você pode? Oh, agora eu oro para que
você esteja! Permaneça confiando no Senhor com todo o seu coração. Você
nunca vai ser lamentar disso.

Com um coração cheio,

Robin Jones Gunn

www.robingunn.com
1
God lovers, literalmente é “Amantes de Deus”.
Contracapa
KATIE WELDON agarrou mais do que o buquê do casamento de sua melhor amiga, Cris
Miller. Ela também recebeu uma oferta que a levaria para uma aventura que ela
jamais imaginara.

Ansiosa para abraçar o novo desafio, Katie aceita o trabalho como assistente dos
residentes nos dormitórios da Universidade Rancho Corona e se encontrou bem
no meio de um conflito. Ela pensava que isso era o que Deus queria, mas por que
tudo parece estar se quebrando? Especialmente o relacionamento com seu quase
namorado, Rick Doyle.

Katie busca o consolo das mulheres em sua vida, incluindo sua amiga para toda
vida, Cris. Na segurança do amor e encorajamento dos seus amigos, ela
finalmente se permite derramar seu coração, mesmo que os conselhos deles não
possam adiar as decisões que definirão quem Katie é e que mulher ela está se
tornando.

TESOUROS PECULIARES é o tão anunciado e esperado primeiro livro da Série Katie.

ROBIN JONES GUNN é a tão amada autora das séries Cris, Selena, Glenbrooke e
Sisterchicks, com mais de 3,5 milhões de livros vendidos no mundo inteiro. Robin
ama viajar e frequentemente discursa localmente e internacionalmente. Ela e
seu marido vivem perto de Portland, no Oregon, onde a vista de sua janela é
verde o ano inteiro.

Você também pode gostar