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Caderno de Pesquisa em Comunicação e Inovação — Vol.

1 - No 1 - 1o semestre de 2006

ENTREVISTA
Francisco Rüdiger
A cibercultura e a comunicação na atualidade.

ARTIGOS
Produção de revistas: resistência às
inovações no ensino de Jornalismo.

Vol. 1 - No 1 - 1o Semestre 2006


Merchandising: confusão conceitual ou uma
questão de classificação?

A comunicação regional no contexto da globalização:


uma reflexão sobre a Região do Grande ABC.

A importância da responsabilidade social de um hospital,


sob a perspectiva do médico, na decisão
de internação de um paciente.

Sociedade, comunicação e educação: unindo as distâncias.

COMUNICAÇÃO & TECNOLOGIA


Telemarketing: a prova dos nove.
Universidade

Jornal: mídia em transição.


Sumário

SUMÁRIO
Editorial.............................................................................................................4

ENTREVISTA

Francisco Rüdiger
A cibercultura e a comunicação na atualidade........................................5

ARTIGOS
Produção de revistas: resistência às
inovações no ensino de Jornalismo.
Mônica Pegurer Caprino e Marli dos Santos.....................................................8

Merchandising: confusão conceitual ou uma


questão de classificação?
Magali Colconi Carrijo e Silvio A. Minciotti...................................................18

A comunicação regional no contexto da globalização:


uma reflexão sobre a Região do Grande ABC.
Roberto Elísio dos Santos, René Henrique Götz Licht e
Antonio Carlos Gil...........................................................................................35

A importância da responsabilidade social de um hospital,


sob a perspectiva do médico, na decisão
de internação de um paciente.
Isaac Gil...........................................................................................................47

Sociedade, comunicação e educação: unindo as distâncias.


Elias Estevão Goulart........................................................................................59

COMUNICAÇÃO & TECNOLOGIA


Telemarketing: a prova dos nove.
Alexandre Tersano, Fernando Marques Alfano,
Marcelo Domingos de Souza, Maurício Felix Andrade,
Renato Argenton..............................................................................................66

Jornal: mídia em transição.


Adriana Bueno, Daniela Schittini, Daniela Trazzi,
Érika Lima, Leandro Negreiros, Léride Lomonico....................................71

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Editorial Entrevista

A CIBERCULTURA E A COMUNICAÇÃO NA ATUALIDADE

Francisco
Rüdiger
Editorial
Desde sua instituição, a Universidade
Municipal de São Caetano do Sul vem inten-
sificando suas atividades na área de pesquisa,
empreendendo uma série de aperfeiçoamen-
tos, entre os quais se destaca a implementa-
ção de uma política editorial para as publica-
ções acadêmicas.
Nesse sentido, surge o caderno.com
— Caderno de Pesquisa em Comunicação e
Entrevista concedida a
Inovação, voltado prioritariamente à divul-
Roberto Elísio dos San-
gação de pesquisas e estudos relacionados
tos, jornalista e professor
ao Curso de Comunicação Social da Univer-

Arquivo pessoal
do curso de Comunica-
sidade IMES.
ção Social da Universi-
O caderno.com pretende acolher diferen-
dade IMES.
tes formas de produção docente e discente, tais
como artigos, resenhas, notícias ou informes,
relatórios parciais ou completos de pesquisa,
relatos de eventos, estudos de casos, entrevistas
e outros materiais que estejam alinhados com a
temática da Comunicação nos cursos de gradu-
ação e pós-graduação.
A publicação do caderno.com vem con-
solidar, juntamente com outras iniciativas, o
O desenvolvimento dos meios de comunicação ocorrido nas duas
últimas décadas, especialmente quando a tecnologia digital
passou a ser empregada, alterou a maneira como os indivíduos
interagem. Como conseqüência, surgiram novas formas de socialização e
consolidou-se um espaço virtual de trocas e de relacionamentos huma-
comprometimento da Universidade IMES e nos. Passou-se a falar, então, da constituição de uma cibercultura, que
do Curso de Comunicação Social com a ela- caracterizaria a vida, a partir da década de 1990.
Para tratar criticamente da questão da cibercultura e dos efeitos da inova-
boração e a divulgação de conhecimentos e
ção tecnológica no processo de comunicação, o caderno.com — Cader-
de pesquisas acadêmico-científicas. no de Pesquisa em Comunicação & Inovação, do Curso de Comu-
nicação Social da Universidade IMES, entrevistou o professor Francisco
Rüdiger, autor dos livros Elementos para a crítica da cibercultura (Hackes,
Gino Giacomini Filho 2002) e Introdução às teorias da cibercultura (Sulina, 2004), entre outras
obras. Doutor em Ciências Sociais, pela USP, e mestre em Filosofia, pela
UFRGS, é professor titular da PUC-RS, e professor adjunto da UFRGS.

caderno.com: De que forma as inovações tecnológicas verificadas nos

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Entrevista Entrevista

últimos 20 anos alteraram as formas de comunicação? caderno.com: Como o senhor classifica e analisa as teorias que versam sobre
a cibercultura?
RÜDIGER: As tecnologias digitais de informação produziram abalo na co-
municação, na medida em que criaram um espaço virtual para o seu desen- RÜDIGER: No livro Introdução às teorias da cibercultura, apresento amplo
volvimento e vêm possibilitando o surgimento de mecanismos de interação panorama sobre esse assunto. Falando genericamente, existem lado a lado,
até então desconhecidos pelos meios de massa anteriores. O sentido unidi- teorias da sociedade da informação (Manuell Castells) e teorias da cibercul-
recional do rádio e televisão se vê rompido, sem perda de seus respectivos tura, que convém distinguir. Entre as últimas, destacam-se as liberais progres-
recursos, por um sistema descentralizado, mas massivo. As formas de comu- sistas (Pierre Lévy) e as marxistas-apocalíticas (Arthur Kroker), mas também
nicação abstratas se renovam, via mecanismos de interação que promovem existem muitas abordagens analíticas do fenômeno (como as de Slevin, Gra-
um ciberespaço de relacionamentos, ao mesmo tempo tecnológicos e sim- ham, ou Jordan). Particularmente, filio-me à corrente crítica, que se desen-
bólicos. volve a partir dos trabalhos de Marcuse e Feenberg, continuado, mais espe-
cificamente sobre a cibercultura, com os trabalhos de Kevin Robbins e Ken
caderno.com: Como se desenvolveu a chamada cibercultura? Hillis.

RÜDIGER: A cibercultura pode ser definida como a emanação simbólica caderno.com: No Brasil, um país periférico no processo de globalização e
ou projeção imaginária do desenvolvimento da informática e do pensamento com graves problemas sociais, como podemos pensar a cibercultura?
cibernético. O pensamento cibernético era um acontecimento filosófico. A
cibercultura corresponde ao momento em que as formas de cultura cotidi- RÜDIGER: A cibercultura é um fenômeno ainda incipiente entre nós, mas
anas começam a ser colonizadas por esse pensamento, surgido em meados que já envolve as camadas com maior poder econômico e simbólico de nossa
do século XX. O elemento mediador do processo todo foi o aparecimento das sociedade. O barateamento dos recursos tecnológicos que a sustentam irá
máquinas de processamento automático de informação (computadores). pouco a pouco estendido sua penetração sobre os setores populares, como
já o está fazendo no caso do sistema bancário e em alguns serviços públicos
caderno.com: Quais são as novas formas de socialização, propiciadas pela e privados. O resultado disso será, parece-me, uma agravamento das distân-
cibercultura? Como o senhor as avalia? cias sociais mais objetivas. Haverá, por um lado, aqueles com condições de
desfrutar, de modo não de todo seguro, o real e o virtual; e aqueles que, con-
RÜDIGER: A cibercultura não se restringe ao ciberespaço, possuindo uma tinuando a ser massacrados pela vida, no real, poderão compensar seus sofri-
interface cotidiana, que, cada vez mais abstrata (televisão, filmes, literatura, mentos nos ciberespaços.
imagens, publicidade), não se despreende muito do corpo, da experiência
imediata. As formas de socialização que ela ancora são, pois, mistas, parte
virtual, parte real. O corpo pode ser negado ou rejeitado pela potencialização
do imaginário que ela incentiva, mas só por momentos temporais abstraí-
dos do fluxo da experiência. Inclusive o internauta mais viciado precisa ir ao
banheiro, por exemplo. O ciberespaço não seria um outro mundo, mas uma
mediação a mais do conjunto de nossa existência. A avaliação disso precisa
ser feita em cima de casos e levando em conta o ponto de vista dos sujeitos
envolvidos. Aprioristicamente, os juízos têm apenas um sentido heurístico ou
valem como idéias reguladoras.

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PRODUÇÃO DE REVISTAS: RESISTÊNCIA ÀS INTRODUÇÃO


INOVAÇÕES NO ENSINO DE JORNALISMO.
O jornalismo em revistas, no Brasil, é quase tão antigo quanto a modalidade dedica-
Mônica Pegurer Caprino – Doutora em Comunicação pela UMESP, da à produção de jornais diários. Logo após a publicação do primeiro jornal brasileiro,
S. Bernardo do Campo; docente do curso de Comunicação Social Correio Braziliense, em 1808, surge a primeira revista do país, em 1812. Segundo apon-
da Universidade IMES e da Universidade Metodista de São Paulo. ta Maria Celeste Mira (2001, p. 14)), teria sido criada por iniciativa do editor português
Antonio da Silva Serva. As Variedades ou Ensaios de Literatura (era comum à época as
Marli dos Santos – Doutora em Comunicação pela UMESP, publicações terem dois nomes, por influência de uma tradição norte-americana) tinha
S. Bernardo do Campo; docente do curso de Comunicação como objetivo “defender os costumes, as virtudes morais e sociais”, publicando “ex-
Social da Universidade Metodista de São Paulo tratos de romance, resumos de viagens, trechos de autores clássicos” e até conselhos
e da Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP. domésticos (Mira, 2001, p.14).
As primeiras revistas eram — como muitas são até hoje — cópias de edições es-
Resumo trangeiras e pretendiam se constituir como “painel de toda civilização humana”. Porém,
Vários cursos de Jornalismo incluem em suas atividades a produção de revistas. Nor- a vocação para a segmentação manifesta-se, já em 1852, com a criação de dois veículos
malmente, uma das modalidades do Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo é voltados ao público feminino: Jornal das Senhoras, Jornal das Moças Solteiras.
também a revista impressa. Entretanto, as grades curriculares, em geral, dão ênfase às Segundo Thomaz Souto Correa,1 as revistas femininas se multiplicaram no século
técnicas jornalísticas padrão, importantíssimas para a formação, porém, insuficientes XIX. Tinham uma fórmula editorial dedicada basicamente aos afazeres do lar, às novi-
para que os futuros profissionais imprimam a sua marca em um texto mais aprofundado dades da moda, moldes de roupas e monogramas para bordar, como acontece até hoje
e criativo, como o esperado em uma revista. Até que ponto não serão os professores os com algumas publicações.
responsáveis por essa ausência de criatividade e aprofundamento para a produção de re- No século XX, surge a lendária O Cruzeiro, que foi um marco no jornalismo
vistas? Essa é a questão a ser discutida: que caminhos e opções professores e estudantes brasileiro. Semanal ilustrada, a revista valorizava a fotografia e a reportagem. As maté-
podem ter para gerar criatividade na produção jornalística para todas as mídias? rias eram produzidas em parceria, fotógrafo e repórter, de forma que as páginas revela-
vam, em foto e texto, o tema da reportagem.
Palavras-chave: cursos de Jornalismo, Jornalismo de revistas, inovações no ensino de O Cruzeiro reinou absoluto nas décadas 1940 e 1950, tornando-se uma espécie de
Jornalismo. Rede Globo da época, pela repercussão de seu material jornalístico. O início da seg-
mentação (na década de 1960, com a criação de Claudia, Quatro Rodas e outras) e o
Abstract fortalecimento da televisão fizeram com que a fórmula das semanais ilustradas entrasse
Several journalism courses include in its activities magazines productions. Nor- em declínio. Surgiram as revistas semanais de informação, como Veja, e a segmentação
mally, one type of final academic task is the press magazine. However, most of the do mercado se acelerou nos anos 1980. Há, hoje, um sem número de títulos. A cada ano,
universities emphasize basics journalistic techniques, that are very important, but not centenas deles nascem e morrem.
enough to assure a particular way that the professional could express himself in a most Marília Scalzo (2003, p. 61) observa que “é o plano editorial que vai alimentar o
profound and creative text that are demanded by a magazine report. At this point, how plano de negócios e, por conseqüência, deve representar a visão exata da redação sobre
much will be journalism professors responsible to the lack of creativity and deepness in a publicação, e sua relação com o leitor”. A autora ressalta que o plano deve conter a
the magazines production? This is the question to be discussed: what paths and options “missão, os objetivos e a fórmula editorial”, bem como o perfil dos leitores, a concor-
should be taken by journalism professors and students to assure creativity in all kind of rência, “cenário futuros”. O dinamismo do mercado enseja que o “plano editorial” deva
medias? ser sempre revisto, para atualizar-se segundo as demandas do leitor e da realidade da
concorrência.
Keywords: Journalism courses, Journalism magazine, innovations in Journalism stu- A proliferação de títulos tornou-se uma realidade e a globalização e a tecnologia
dies. tornaram real a segmentação em escala planetária. É possível observar, a partir de dados

1. Thomaz Souto Correa fala sobre a história das revistas em palestras registradas em Uma breve história das grandes revistas. Curso Abril de Jornalismo.
http://cursoabril.abril.com.br/coluna/materia_84318.shtml. Acessado em 15/4/2006.

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divulgados pela Associação Nacional de Editorias de Revistas – Aner, que somente o É quando o repórter deixa de encarar o entrevistado somente como aquele que con-
número de títulos registrados nessa associação subiu de 1.534, em 2000, para 2.296, firma ou nega a macroproposição da matéria, para tomá-lo como possibilidade de en-
em 2003. riquecimento no tratamento do fato jornalístico. Como o jornalismo é a “linguagem
Embora instável, com títulos efêmeros, o mercado de revistas é hoje um campo de dos conflitos”, conforme afirma Chaparro (2001), o entrevistado tem muito a dizer e é
trabalhados importante para os alunos de Jornalismo. Dessa forma, torna-se impres- preciso que o repórter o deixe à vontade para as revelações. Quando esse procedimento
cindível que os estudantes apreendam, ainda na faculdade, as características básicas da é realizado, a riqueza é muito maior, pode-se sair do comum, do vulgar, para ampliação
produção de revistas e possam estar preparados para se engajar nesses veículos. de significados e a contextualização dos fatos.
Entrevistas bem conduzidas ajudam a reconstituir cenários, personagens, perfis psi-
VEÍCULO QUE EXIGE CRIATIVIDADE cológicos, aprofundam a reflexão e a contextualização e humanizam os acontecimentos.
Humanizar significa tornar a narração mais próxima do leitor, revelando o que há por
A revista sempre foi um veículo impresso que se diferenciou por algumas caracte- trás das estatísticas.
rísticas específicas, que podemos sintetizar em três aspectos: linguagem, reportagem Mas será que todas essas características que fazem da revista um veículo de virtudes
e apresentação visual. E são justamente esses três aspectos os pontos que devem ser próprias no panorama do jornalismo impresso estão sendo absorvidas e praticadas pelo
trabalhados com os alunos de Jornalismo e que, veremos adiante, causam dificuldades estudante de Jornalismo? E mais: essas práticas estarão sendo incentivadas pelos pro-
e entraves na produção de uma revista-laboratório. fessores de Jornalismo durante sua prática pedagógica?
Sérgio Villas Boas (2000) caracteriza a linguagem utilizada nas revistas como um
texto que requer planejamento e talento, uma “conciliação entre arte e técnica” e usa ENSINO PARA REVISTAS
para esse texto destinado às revistas o nome de estilo magazine, já utilizado anterior-
mente por Nilson Lage (1979). A causa para se discutir o ensino de revista é a mesma que Lopes (1999) ressalta em
Poderíamos elencar características próprias, que diferenciam a linguagem das re- “Para uma pedagogia do jornal-laboratório”. Recuperando o histórico mais recente da
vistas em relação aos diários: títulos nominais (em contraposição ao esquema sujeito- profissão, o professor analisa que a regulamentação em 17 de outubro de 1969, Decreto-
verbo-predicado do jornal diário); possibilidade de uso de adjetivos e coloquialismos; Lei 972, e o fim da obrigatoriedade de estágio em 1979, Lei no 5.454/78, estimularam
presença de elementos narrativos e descritivos; ênfase aos personagens e falas com a inserção de disciplinas práticas nos cursos, das oficinas de jornalismo, para suprir as
possibilidade de apresentação em forma de diálogos e travessões. necessidades de formação.
Também é necessário mencionar a constante desobediência ao princípio da pirâmide A partir de 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases e a flexibilização dos currículos de
invertida e ao lead tradicional. O texto de revista trabalha com aberturas de reportagem, Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, o MEC – Ministério da Educação e
que têm como função chamar a atenção do leitor e conduzi-lo ao prazer da leitura. (Pos- Cultura, passou a determinar como um dos critérios de qualidade nos cursos o ofereci-
sendoro, 2004). mento de infra-estrutura tecnológica para o ensino das diversas linguagens jornalísticas.
No seu aspecto visual, a revista também tem suas características próprias, como o As escolas tiveram de se adequar para as disciplinas práticas em rádio, TV, impresso e
uso privilegiado da imagem, seja foto ou ilustração. O infográfico — uma inovação no digital e um perfil mais técnico passou a dominar o cenário. Segundo Lopes (1999, p. 11):
aspecto visual, que une imagem e informação — também ganhou papel de destaque na
edição das revistas e hoje é elemento fundamental para a transmissão de informações. Essas duas medidas evidenciaram a importância do jornal-laboratório na formação
do jornalista. Afinal, era e praticamente continua sendo o único meio de dar um
No que se refere às técnicas de reportagem, também há um trabalho diferenciado. As
treinamento adequado ao aluno para que possa colocar em execução os conheci-
entrevistas por telefone e e-mail, tão comuns hoje no jornalismo diário, devem dar lugar mentos teóricos obtidos nas disciplinas de caráter técnico-profissionalizante.
aos interlúdios pessoais, à presença do repórter no local dos fatos jornalísticos, para que
possa recorrer aos recursos da narração e descrição, necessários a que se dê o colorido Sabe-se, porém, que a prática de estágios em jornalismo têm ocorrido de forma
especial ao jornalismo de revista. “clandestina” em diversos veículos e assessorias de imprensa, mesmo após o fim da
Na reportagem aprofundada, exige-se a capacidade de interpretação e o “faro” de obrigatoriedade do estágio e a fiscalização (precária) do Sindicato dos Jornalistas a
repórter. As chamadas “entrevistas de compreensão”, mencionadas por Lima (2004), evitar a contratação de estagiários.
são uma técnica na qual a interação com o entrevistado é importante para mergulhar no Nesse panorama, a prática laboratorial torna-se fundamental, e deve se estender à
universo do que será revelado. produção de todas as mídias, incluindo as revistas, que, como foi dito anteriormente,
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têm características próprias a serem apreendidas. gio rápido e, a partir de 1993, passou a formar, também, além de jornalistas, fotógrafos
Embora vários cursos de Jornalismo produzam revistas, uma rápida pesquisa às e designers.
grades curriculares dos cursos de Jornalismo apontados pelo Guia do Estudante como Segundo a própria editora, o Curso Abril de Jornalismo “é o mais prestigiado pro-
cinco e quatro estrelas, notamos que dificilmente existe uma disciplina que apareça na grama de treinamento editorial para recém-formados do Brasil”. Além de selecionar
grade com o título jornalismo em revista. A produção desse veículo aparece, muitas mão-de-obra para a própria empresa, preenche essa lacuna de formação para o mercado
vezes, sob a rubrica de disciplinas como Redação Jornalística ou Edição. de revistas. Formação ou treinamento? Essa seria uma outra discussão, sobre o papel
Na grade da Universidade Federal de Santa Catarina, não encontramos nenhuma formador dos trainees de grandes empresas jornalísticas.
disciplina que apareça no currículo nominalmente vinculada à produção de revista. O
mesmo acontece na Universidade de Brasília. Na Escola de Comunicação e Artes, da PRÁTICA NA SALA DE AULA
Universidade de São Paulo, encontramos a disciplina optativa chamada Laboratório
de Jornalismo Impresso – Revista, além de Edição de Texto em Revistas e Edição de Embora praticamente não existam disciplinas específicas, o trabalho de produção de
Imagem em Revistas. revistas no curso de Jornalismo acaba acontecendo sob diversos rótulos. Na rotina da
Nos Estados Unidos, a Escola de Jornalismo da Columbia University, em Nova sala de aula,2 normalmente a primeira etapa é ministrar conteúdo teórico sobre história,
York, já tem um mestrado de caráter profissionalizante com área de concentração o perfil e mercado de revistas e as técnicas de reportagem e texto em matérias para revis-
Jornalismo em Revistas, conforme relata Iluska Coutinho (2004), que realiza um curso tas, os alunos começam a discutir o tema da reportagem e a elaborar a pauta.
lá. Ela conta que, em 2004, da maioria dos 350 estudantes de pós-graduação, 76% A etapa seguinte é a de orientação individual para elaboração da reportagem, ou seja,
optaram pela especialização em mídias impressas (Newspaper e Magazine Journalism) e a captação de informação por meio de entrevistas, observação do fato, dos personagens
34% especificamente em revistas. Na Escola de Jornalismo da Colúmbia, o estudante envolvidos, como “procedimento de extensão” da pauta. Nesse momento da produção,
do mestrado em Magazine Journalism cursa disciplinas como Redação para Revista, estimulamos o aluno a sair às ruas, a observar cenários pertinentes ao tema, a aplicar
Jornalismo Literário, Escritura Narrativa, A Literatura de Não-ficção e Produção de Re- técnicas de entrevista.
vista. Além disso, o curso é voltado também para a prática e, ao fim do curso, os alunos Nesse momento, a sensibilidade e a perspicácia do repórter ao abordar a fonte são
estão aptos a ingressar com sucesso no mercado profissional. fundamentais. Se o entrevistado não se sentir seguro quanto às suas intenções, tam-
No Brasil, não existe curso universitário específico. Como aponta Coutinho (2004): pouco observar nele conhecimento prévio do assunto, o “clima de conexão” necessário
à condução do trabalho de reportagem é prejudicado. Algumas experiências são revela-
Os jornalistas brasileiros interessados nessa formação podem contar com: 1) o cur-
doras aos alunos e relatadas por eles ao longo da orientação de reportagem. O domínio
so da Editora Abril, destinado a profissionais em início de carreira; 2) especializa-
ções ou cursos de capacitação eventualmente oferecidos por instituições privadas (e da técnica exige prática e maturidade, porém, quando o aluno percebe o diferencial que
portanto sem uma avaliação continuada de sua qualidade); 3) pelo autodidatismo. uma boa entrevista propicia à reportagem, supera a mera instrumentalização da fonte
Nesse caso, há ainda que se destacar a bibliografia reduzida sobre o assunto dis- para confirmar idéias preconcebidas sobre o assunto abordado, enriquecendo seu tra-
ponível em língua portuguesa. balho. Romper essa barreira é um desafio.
A observação direta do fato, do comportamento dos entrevistados e a pesquisa docu-
Durante quatro semanas, os alunos assistem a palestras, participam de workshops mental também fazem parte do modus operandi da reportagem aprofundada. Sair às
e produzem material jornalístico para revistas, sites, televisão e celulares. Parte dos ruas significa estar em contato com a realidade, e na tarefa do repórter, como sujeito que
trabalhos faz parte da Revista Plug, uma publicação anual, que canaliza a produção dos interpreta e narra os acontecimentos do mundo, é um procedimento fundamental.
alunos do curso. A etapa em que culmina a produção do aluno é a organização e análise das infor-
O primeiro curso da história da Editora Abril aconteceu em março de 1968. Cem mações e das observações de campo em um texto atraente para o leitor. As perguntas
jornalistas de diferentes estados, selecionados entre 1.800 candidatos, participaram de são sempre as mesmas: Como iniciar o texto? Que estratégias deverá utilizar? O que
um curso, cujo objetivo era ensinar a fazer jornalismo em revista semanal. Foi desse priorizar?
grupo que saiu a primeira equipe de Veja. Um bom texto de revista é resultado direto do envolvimento do repórter com a re-
Inspirada nessa experiência de 1968, a idéia de um curso de formação foi retomada portagem. Isso quer dizer também que o empobrecimento do texto é diretamente pro-
por Alberto Dines, em 1984, com a criação do Curso Abril de Jornalismo em Revistas. porcional ao nível de empenho na fase de pesquisa, entrevista e observação. A criativi-
Inicialmente formatado em palestras, o curso foi transformado em uma espécie de está-
2. As autoras trabalham com disciplinas voltadas à produção de revistas nos cursos em que lecionam.

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dade requer vivência na reportagem, não invenção. Este último item, por exemplo, tem sido um dos desafios no ensino de revista. Não
Esse é o momento do aluno romper com a fórmula padrão do lide, da pirâmide inverti- se trata de descobrir ângulos mirabolantes, mas de trazer ao leitor de um determinado
da, para inserir a sua marca no relato, a sua autoria na narração. Várias são as técnicas em- veículo, como no nosso caso uma revista especializada, de periodicidade quadrimestral
prestadas da literatura, agregando ao texto um valor estético, como a descrição, o diálogo, e dirigida a alunos de Comunicação de diversos cursos no Brasil, assuntos interessantes
a narração, a exposição, a edição, o ponto de vista. A camisa-de-força na qual muitos vo- e de seu contexto.
luntariamente, ou inconscientemente, se apegam como tábua de salvação apenas permite A dificuldade parece ser reflexo da falta de assimilação de procedimentos e concei-
o óbvio: uma reportagem assinada pela redação ou pelo repórter, tanto faz. tos básicos, abordados em disciplinas como Teoria do Jornalismo, Teorias da Comuni-
cação e oficinas. Perfil e missão editorial e imagem do público leitor são fundamentais
DIFICULDADES para o entendimento e adequação da pauta criativa.
Alguns conseguem avançar, outros mostram resistência, e há aqueles que realmente
As dificuldades dos alunos de jornalismo em trabalhar para revista são inúmeras. A não conseguem enxergar a diferença entre a reportagem descritiva diária de jornal e a
experiência vivenciada na produção da Revista JÁ, com certeza, é a mesma que outros de revista.
docentes enfrentam no seu dia-a-dia. Podemos observar isso também pela prática viven- Na bibliografia sobre a grande reportagem, e na história do jornalismo, verifica-se
ciada em outras universidades com disciplinas voltadas à produção de revistas. que as boas reportagens são resultado de um contato mais próximo, mais efetivo, mais
A primeira dificuldade começa na pauta: direcionados e doutrinados normalmente elaborado, com a realidade. Porém, a superficialidade, conseqüência de um jornalismo
para a produção de matérias factuais, para a notícia, os alunos têm dificuldade em pro- burocratizado, de gabinete, no qual a urgência imprime um ritmo alucinante e alienante,
duzir pautas mais criativas. A maioria de suas sugestões está voltada para o imediatis- a fórmula padrão acaba sendo a opção mais fácil e econômica para se produzir reporta-
mo. Não conseguem, muitas vezes, sugerir temas que não percam a validade ou possam gens. Isso acontece nos cursos de Jornalismo, bem como na vida profissional.
gerar matérias mais aprofundadas. Importante observar que os veículos de comunicação continuam cobrando dos cur-
Outro problema é a falta de pesquisa. Geralmente, quando se pede a realização de sos de Jornalismo um profissional atualizado, com boa formação cultural, capacidade
uma pauta mais completa, na qual o aluno faça uma investigação prévia para conheci- de interpretação dos fatos. Mas as condições de produção aos que ingressam hoje nas
mento do assunto e definição do enfoque, há resistências. O comportamento é o de não redações não são propícias para a efetivação e valorização desses procedimentos quali-
valorização do planejamento como procedimento da reportagem. tativos na reportagem. O excesso de pautas e a concorrência são hostis ao bom jornal-
A partir do momento em que o aluno resiste à pesquisa, a falta de criatividade é ismo.
conseqüência no processo. Isso se revela em pobres pautas nas quais históricos, fontes Esse aspecto enseja discussões mais aprofundadas não propostas neste artigo, porém,
e enfoques são precários. também pistas para explicar qualidades e precariedades na formação de profissionais e
Segundo Lima (2004 p. 68), uma boa reportagem começa com uma boa pauta: no exercício do jornalismo.
É comum observar alunos que, adestrados na ideologia da objetividade e da impar-
Onde começa a nascer esse desvio e qualidade da reportagem? Como primeira cialidade jornalística, mostram-se refratários aos objetivos e procedimentos propostos
etapa do processo de produção da mensagem jornalística, a pauta é a definição de na disciplina voltada às reportagens para revistas. De outro lado, é possível também
rumos, o estabelecimento de diretrizes que, quando mal-administradas, conduz a
matéria a terrenos pouco férteis. Seria como o preparar da navegação de um avião
verificar que, aqueles que superam esse ranço e recuperam o sentido da “arte da reporta-
a jato de passageiros. Antes da decolagem, os pilotos inserem no computador de gem”, dão um salto de qualidade.
bordo as coordenadas do destino e da rota que vão cumprir para atingi-lo. Caso as Em termos de estilo, ainda é estranho ao aluno ouvir falar de jornalismo literário.
coordenadas sejam viciadas, naturalmente a navegação será pobre, menos eficiente, Como destaca Sérgio Villas Boas (2000), antes de tudo, não se deve confundir Jornalis-
podendo hipoteticamente chegar, em condições extremas, a se desviar totalmente
mo Literário (JL) com jornalismo sobre literatura. Por incrível que pareça, esse engano
do destino previsto.
ainda circula entre universitários e até entre jornalistas velhos de guerra.
Depois de treinar durante dois os três anos (pois normalmente a produção de revistas
É evidente a dificuldade em construir um bom “plano de vôo”, que inclua as etapas
está nos últimos anos de curso) o texto para jornal, acham, no mínimo, esquisito o pro-
de pesquisa para um “histórico” consistente (que contenha principalmente síntese do
fessor que sugere que se insiram diálogos, travessões etc.
tema), de “fontes” não convencionais (ou não só as convencionais), para aprofundar o
Em relação ao planejamento gráfico, os alunos também se encontram despreparados:
assunto da reportagem e expandir os significados do fato abordado; de “enfoque” ou
o ensino se volta mais ao jornal, com trabalho direcionado a padronizações e módulos.
“angulagem” diferenciada da matéria, permitindo maior liberdade ao repórter.
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O estudante de Jornalismo, e talvez por uma idiossincrasia da orientação do curso, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
acaba valorizando o texto, a reportagem, a redação e esquece-se, muitas vezes, do mate-
rial visual ao elaborarem uma revista laboratório. Ao longo de vários anos lecionando a CORREA, Thomaz Souto. Uma breve história das grandes revistas. Curso Abril de
disciplina que engloba produção de revistas, um dos maiores problemas que enfrenta- Jornalismo. http://cursoabril.abril.com.br/coluna/materia_84318.shtml. Acessado em
mos é em relação ao material visual. De maneira geral, mostra-se um material de baixa 15/4/2006.
qualidade, seja jornalística, seja técnica. Isso nos leva a crer que não estamos dando a
devida ênfase ao aspecto visual do jornalismo. Nos cursos, de maneira geral, são poucas COUTINHO, Iluska. Novas opções na Universidade de Columbia. Observatório da
as cadeiras voltadas à concepção estética de páginas de veículos impressos. imprensa. http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=294DAC0021
Quando muito, nossas disciplinas de planejamento gráfico têm direcionado o aluno 4/9/2004.
para o aprendizado de softwares de paginação, como In Desing e Pagemaker (inclusive
já superado no mercado profissional). LAGE, Nilson. Ideologia e técnica da notícia. Petrópolis: Vozes, 1979.
Em relação à disposição do material jornalístico nas páginas, os alunos exercitam
essa atividade, em geral nos jornais laboratórios e, muitas vezes, já encontram um pro- LIMA, Edvaldo Pereira Lima. Páginas ampliadas. Barueri, SP: Manole, 2004.
jeto gráfico pronto, pois o jornal-laboratório da universidade é um veículo que já é dado
pronto para as novas turmas. Assim, não criam seu projeto gráfico, mais uma vez não LOPES, Dirceu Fernandes. Jornal-laboratório – do exercício escolar ao compromisso
exercitam sua criatividade, limitando-se ao uso de padrões preestabelecidos. com o público leitor. São Paulo: Summus, 1989.

PADRÕES MIRA, Maria Celeste. O leitor e a banca de revistas: a segmentação da cultura no


século XX. São Paulo: Olho d’Agua: Fapesp, 2001.
A transmissão de padrões parece ser uma importante questão a discutir no ensino
de jornalismo de revistas. E, por conseqüência, no ensino de jornalismo em geral: O POSSENDORO, Alexandre. Abertura do texto de reportagem na narratologia jor-
que temos passado a nossos alunos? Padrões de texto, de planejamento gráfico? De nalística - uma proposta de classificação. São Paulo: ECA/USP, 2004. Dissertação de
concepção visual? mestrado – ECA/USP.
Esse acanhamento em transmitir padrões para o engajamento no mercado de traba-
lho dificulta, também, a produção dos Trabalhos de Conclusão de Curso. Na orientação SCALZO, Marília. Jornalismo de revista. São Paulo: Contexto, 2003.
de projetos de impresso, percebemos as mesmas dificuldades apresentadas na produção
de uma revista-laboratório. VILLAS BOAS, Sérgio. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo: Summus,
É de extrema necessidade e urgência que os cursos de Jornalismo insiram em suas 2000.
grades curriculares a disciplina de Jornalismo em Revista, voltada não só para a produção
de um veículo laboratório, mas que mostre aos alunos as particularidades dessa mídia.
Cabe aos cursos de Jornalismo e aos docentes que ministram disciplinas teórico-
práticas, práticas, e mesmo as teóricas, estimular o aluno, à luz do interesse público e
do compromisso social do jornalista, a ser um autor, um historiador do cotidiano, um
contador de histórias de não-ficção, um sujeito jornalístico e não um mero operário da
informação. Uma pedagogia da criatividade no jornalismo é urgente.

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Entretanto, observam-se novidades advindas de modismos que nem sempre pos-


MERCHANDISING: suem solidez de conteúdo, ou ainda, que se mostram perniciosas para as bases con-
CONFUSÃO CONCEITUAL OU UMA QUESTÃO DE ceituais existentes, pois geram informações difusas, contraditórias e superficiais.
Um exemplo desta situação é o que se observa quando se busca orientações sobre
CLASSIFICAÇÃO? merchandising, especificamente no Brasil. É um assunto polêmico, devido à diversi-
ficação de conceitos e aplicabilidades, decorrente das diferentes formações acadêmi-
Magali Colconi Carrijo – Mestranda em cas e experiências dos profissionais atuantes no mercado, assim como, principalmente,
Administração na Universidade IMES; docente da FIZO, devido aos seus interesses específicos neste assunto.
UNIP e UNISA. A fim de que se verifiquem as considerações referenciadas, torna-se necessário
efetuar uma sucinta e rápida comparação entre as diferentes abordagens pesquisadas
Silvio A. Minciotti – Mestre e doutor em sobre merchandising, no que tange aos aspectos atividade, terminologia e conceituação,
Administração pela FEA/USP; dentre outras.
docente do Programa de Mestrado da Universidade IMES.
ORIGEM DA ATIVIDADE DE MERCHANDISING
Resumo
Este estudo apresenta as considerações divergentes acerca da origem da atividade, Para alguns estudiosos, o merchandising iniciou-se no ponto-de-venda. Para ilustrar
terminologia e conceituação do merchandising no Brasil, entre outras colocações. A essa origem, releva-se as considerações de Blessa (2005, p. 7), que conceitua merchan-
utilização confusa da expressão merchandising, aliada à ausência de uma legislação dising como uma atividade muito antiga, já verificada na Idade Média, onde os homens
específica, gerou uma situação sui generis neste país, propiciando estudos de várias escolhiam as ruas principais para expor suas mercadorias. Gritando e concorrendo com
ordens. os demais mascates, para chamar a atenção dos passantes para seus produtos, estes,
estavam fazendo merchandising. Afirma, ainda, que o “merchandising, como hoje é co-
Palavras-chave: merchandising, marketing, ponto-de-venda. nhecido, surgiu com o próprio marketing e intensificou-se com o surgimento do auto-
serviço nos Estados Unidos, na década de 1930”.
Ainda dentro da concepção “ponto-de-venda”, Silva (2003, p. 39) afirma que o mer-
Abstract chandising pode ser observado no século XIX, no romance The ladie’s paradise, de
This study presents divergent aspects regarding the origin of merchandising activi- Émile Zola. Para ilustrar sua abordagem, indicam-se algumas considerações evidencia-
ties, terminology and concepts in Brazil, among other features. The confusing utilization das na obra sobre o tema merchandising:
of the expression merchandising, combined with a missing specific legislation, has cre-
ated a unique situation in the country. This singular atmosphere enables many studies [...] Mecanismos de sedução utilizados pelo varejo de hoje, incluindo a criação de layouts diferen-
from different perspectives as a consequence. ciados para seções e áreas dentro da própria loja; o modelo de disposição de mercadorias que ”obri-
gam” os clientes a percorrerem diversos departamentos e áreas antes de encontrarem o produto que
procuram e a sedução visual de displays e das vitrines, tanto externas como internas dos negócios
Keywords: merchandising, marketing, product placement.
comerciais.

Ainda sobre a vertente da origem do merchandising no “ponto-de-venda”, no Bra-


sil, ressalta-se que, apesar de se verificar o aparecimento de redes varejistas signifi-
INTRODUÇÃO cativas, tais como Casas Pernambucanas (1906), Mesbla (1912), Lojas Americanas,
Mappin, Casas José, Spoler (décadas de 1920 /1930), foi em 1948, com a manifesta-
Este ensaio tem o objetivo de efetuar um levantamento sobre as considerações acerca ção da promoção de vendas (Sears Roebuck, Exposição Modas Cliper, Eletroradio-
do merchandising no Brasil, registradas em diferentes meios, identificando-se possíveis braz etc.), que Chalmers (1976, p. 26) já havia registrado que os homens de vendas
divergências e as conseqüências oriundas destas. A ausência de rigor científico no campo despertaram seu interesse por técnicas para alavancar e movimentar mercadorias com
da comunicação permite a formulação de novos conceitos e teorias organizacionais, ao mais rapidez, sempre visando lucros.
longo do tempo, o que pode ser comprovado pelo extenso e variado número de publica- Na década de 1950, o surgimento dos supermercados e do conceito de self-services
ções nesta área, recentemente (MCKINLEY, MONE, MOON, 2003, p. 88).
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trouxeram um novo cenário para o comércio e o merchandising, que substituiu as simples ORIGEM, CONCEITO E DESIGNAÇÃO DE MERCHANDISING
tarefas de decoração de vitrines e decorações internas, acelerando a rotação de produtos
no ponto-de-venda, a refrigeração e disposição de produtos, técnicas de vendas, desen- Em 1915, o professor Melvin Copleland ministrou o primeiro curso sobre
volvimento de embalagens, não apenas verificadas no varejo de bens alimentícios, mas comercialização. Responsável pelo ensino de Marketing na Harvard Business
em outros campos da distribuição varejista (FREITAS e NATALI, 1998, p. 18-19-34). School, Copleland lançou o livro Principles of merchandising, em 1924, apre-
Ressalta-se, ainda, o lançamento da Revista Propaganda e a fundação da ADVB sentando o termo merchandising. Esta terminologia formalizou-se nos Estados
– Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil, em 1956, sendo esta a primeira enti- Unidos em 1948, quando a American Marketing Association editou seu glossário
dade voltada para o marketing (SIMÕES, 1983, p. 8). e definiu merchandising (FREITAS e NATALI, 1998, p. 18).
Foi na década de 1970 que se registrou o aparecimento das atividades mais intensas No Brasil, Ferracciú (1976, p. 16) comentou sobre as tentativas de aportu-
de merchandising. Inflação, crise do petróleo, déficit da balança comercial brasileira guesamento da palavra merchandising, por alguns estudiosos e teóricos, de-
etc. marcaram este período, fazendo com que o marketing se desenvolvesse rapida- finindo-a como “mercadizar, mercantilizar, mercanciar, mercadejar, mercandizar,
mente e começasse a se fazer eficiente em todas as suas áreas, intensificando estraté- merceologia, mercandologia e até mercadologia”. Isto se deveu à ausência do
gias que respondessem melhor às características dos produtos, integrando-se em um só reconhecimento do MEC – Ministério da Educação e Cultura, ou seja, a palavra
esforço às atividades de propaganda, da promoção, do merchandising e de vendas nas merchandising não poderia ser desta forma transcrita, motivo pelo qual algumas
organizações. Enfrentar esses tempos difíceis gerou temores, trazendo a necessidade de escolas necessitaram adotar a palavra “mercadização” para esta respectiva cadeira.
concentrar-se em atividades diretamente ligadas às vendas em si, que permitem retorno Ressalta-se que, felizmente, a expressão marketing, também de origem inglesa,
mais rápido e seguro. não teve vetada a sua expressão, utilizada mundialmente aliás, evidenciando-se a
Aliada a essas contingências, adentrou-se o período de 1980 com uma concorrência disparidade entre os critérios utilizados.
acirrada entre as empresas, tornando indispensável o desenvolvimento de atividades Objetivando diminuir a confusão acerca deste termo, Penteado Filho (1987)
ligadas à promoção de vendas e merchandising, verificando-se, de maneira geral, a apontou que “alguns profissionais e professores preferiram utilizar o termo ‘exi-
maior aplicação das verbas nesta área do composto de marketing (PINHEIRO, 2001, bitécnica’, em lugar de merchandising. Mas a palavra ainda não pegou”.
p. 18). “Merchandising é, sem dúvida, o mais confuso, enigmático e incompreensível
O segundo grupo de estudiosos sugere que a origem das atividades do merchandi- termo no campo de marketing” (FERRACCIÚ, 1997).
sing é apresentada sob a ótica do cinema, não fazendo alusão acerca do ponto-de-venda, Dentre as considerações acerca da origem do merchandising, a abordagem
na maioria das vezes. Murdocco e Reis (2002, p. 11) alegam que, em 1930, o desen- referente à sua conceituação é a que denota o maior número de controvérsias, en-
volvimento do filme falado e os longa-metragens norte-americanos implementaram os contrando-se a ausência de um consenso sobre o seu significado até mesmo den-
roteiros conceitos, exposições e uso de diferenciados produtos e serviços, através de tro da própria academia. Simões (1987, p. 14) afirmou que “hoje, merchandising
seus astros e estrelas. acabou sendo a terra de ninguém ou a poção venacular mágica para definir aquilo
Um terceiro e último grupo, aliado ao segundo, indica que o merchandising apareceu que ninguém consegue racionalizar”.
inserido na televisão, conforme afirmam Adibb (1991) e Souza (2004). Este último co- Primeiramente, destacam-se as dificuldades para se diferenciar as definições
menta que foi a novela Beto Rockfeller (1968) que apresentou a primeira inserção. Toda de “marketing”, “promoção de vendas” e “merchandising”, existentes no mercado
vez que o principal ator bebia uísque pronunciava a marca de um remédio para ressaca, brasileiro.
ganhando um cachê do seu fabricante. Nessa época, não se estudava novela, motivo Antes mesmo da existência da palavra marketing, a American Marketing Asso-
pelo qual não ouviram críticas, pois apenas alguns se incomodaram. Mas a novela O ciation utilizou a expressão merchandising, em 1948, definindo-a em seu glossário
primeiro amor (1972), de Walter Negrão, oficializou a primeira ação de merchandising, como sendo “a operação de planejamento necessária para se por no mercado o
onde os integrantes do núcleo jovem andavam de bicicleta de uma reconhecida empre- produto (ou serviço) certo, no lugar certo, no tempo certo, em quantidades certas
sa. Para Walter, um produto ou serviço deveria ser associado a personagens bonzinhos e a preço certo”. E, de acordo com Penteado Filho (1987, p. 125), esta definição
da história, pois altruístas dão mais credibilidade ao produto e representam melhor uma está muito mais para marketing do que para merchandising. Completou, ainda,
marca do que os vilões. que:

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No Brasil, entretanto, a grande maioria das empresas vem usando a palavra para feitas anteriormente – ou mesmo em substituição à propaganda, em alguns ca-
definir o conjunto de atividades desenvolvidas no ponto-de-venda, com o objetivo sos (DEFINIÇÕES DE MERCHANDISING NA INTERNET, 2005).
de dar destaque aos seus produtos e serviços, gerando mais vendas [...] é isso que
significa, universalmente, em nosso país, a atividade de merchandising. Qualquer É uma ferramenta de comunicação e marketing, que serve de apoio às ações de
outra definição será preciosismo acadêmico e inútil. propaganda e promoção. Isso significa dizer que cabe ao merchandising lembrar,
informar e tentar persuadir o consumidor a comprar um determinado produto. Por
isso, existem técnicas de exposição de produtos, além de uma série de materiais de
Com relação à definição de “promoção de vendas”, subentende-se que o merchan- apoio destinados a chamar a atenção do consumidor para que este seja convencido
dising deve estar acima desta, usando-a como meio para efetivar sua ação, como por a efetuar a compra (BOMBRIL, 2005).
exemplo as campanhas feitas nos pontos-de-venda para aumentar a rotatividade dos
estoques. O merchandising pode, ainda, utilizar a propaganda (divulgando ofertas na O que acontece no mercado é uma confusão com relação a empregabilidade do
termo merchandising. Hoje podemos classificá-lo de duas formas:
mídia) como a promoção de vendas (preços mais baixos, brindes etc.) para ampliar sua • Merchandising eletrônico: é aquele que vemos por exemplo na televisão,
estratégia. Portanto, a promoção é feita por tempo determinado, enquanto o merchan- em uma novela, filme ou programa de auditório, quanto determinado ator ou apre-
dising é constante (BLESSA, 2005). sentador utiliza ou referencia um produto ou marca. Nesse caso, o investimento é
Entretanto, Pancrazio (2000, p. 21) parece discordar das definições de Blessa (2005), muito alto, pois além do espaço utilizado dentro da programação da emissora, não
podemos esquecer do cachê deste ator ou apresentador;
acima, quando define que “promoção de vendas” é considerada um substantivo abstrato
• Merchandising no varejo ou no ponto-de-venda (pdv): esta definição fica
e, apesar de parecer um termo explícito, é difícil de ser definido, a exemplo das palavras muito próxima da definição de promoção de vendas, promover vendas no local
amor, saudade, ambição etc. Observa, ainda, que qualquer atividade em comunicação onde ela acontece. De alguns anos para cá, o mercado vem utilizando estas duas
tem fronteiras insólitas, impossibilitando embalar ou rotular como: propaganda, rela- ferramentas (merchandising e promoção de vendas) de forma única, como comple-
ções públicas etc. Se nenhuma definição afim é totalmente satisfatória, deve-se elaborar mentares. Desta forma, é comum vermos a própria mídia divulgar que determina a
marca está investindo em ações de merchandising junto ao seu segmento de varejo.
então um conceito apenas, formado por análise das definições mais aceitas pelos au- Com relação ao investimento, seguramente é bem menor se comparado com o mer-
tores, estudiosos e professores. Concluiu suas considerações, afirmando que “promoção chandising eletrônico. (SANTOS, 2005).
de vendas corresponde ao todo, enquanto que merchandising é uma parte – importantís-
sima, diga-se de passagem – desse todo. Seria como se a promoção de vendas se tor- Nesta amostra conceitual, nota-se o quão divergentes são as definições sobre mer-
nasse merchandising ao entrar no ponto-de-venda”. chandising. E, dentro destas considerações conflitantes, agrega-se a observação efetuada
Em segundo lugar, além das considerações fornecidas para ilustrar alguns dos de- por Pancrazio (2000, p. 27), onde afirma que, popularmente, a expressão merchandising
bates existentes para essas diferenças, somam-se as divergências pertinentes à conceitu- é usada por pessoas que não sabem de fato conceituá-la. Para estas, um simples logotipo
ação de merchandising, especificamente. no “boné” pode ser considerado merchandising.
Através de uma pesquisa exploratória elaborada via internet, torna-se relevante Paralelamente, na pesquisa bibliográfica efetuada, encontrou-se algumas definições
demonstrar ipsis litteris alguns conceitos encontrados, revelando os seguintes resulta- de merchandising, cujas conceituações variam de acordo com os estudiosos e interes-
dos sobre a definição de merchandising: ses.
De forma geral, constataram-se as seguintes diferenciações conceituais sobre a ex-
É o conjunto de produtos relacionados a um grupo, um dj, um artista, um even-
to, um selo discográfico ou um club, que modelam sua imagem corporativa.
pressão merchandising:
Camisetas, chaveiros, bonés, record bags [...] (PEÇANHA, 2000). a) Composto de marketing (produto, propaganda, preço e distribuição);
b) Ponto-de-venda;
Merchandising significa destacar a mercadoria. Enquanto o marketing explora c) Mídia (TV, cinema etc.).
imagem da empresa como um todo, incluindo logomarca, promoção, distri-
No contexto “composto de marketing”, referencia-se a conceituação de merchandis-
buição, mídia, tudo enfim. O merchandising é a exposição do produto. Mostrar
o produto é fazer merchandising. Merchandising na TV, por exemplo, é colocar ing efetuada por Simões (1983, p. 240):
o produto no meio de uma cena de novela. Mas existe também o merchandising
no ponto-de-venda, que tem a responsabilidade de destacar o produto perante O merchandising é uma dinâmica. Ele parte do produto, das seleções dos pontos-de-
os demais. Tudo o que coloca o produto em evidência é merchandising (PEACH venda intrínsecos ao produto, para acionar a movimentação do próprio produto até o
JR. 2005). seu consumidor final [...] sua atuação é abrangente no sentido de articular os compo-
nentes do produto, da propaganda, da promoção e da distribuição [...].
Ferramenta de comunicação de marketing utilizada no ponto-de-venda e em es-
paços editorias (TV, mídia impressa etc.) para reforçar mensagens publicitárias Nesta corrente, alia-se Las Casas (1997, p. 261), que designa o termo merchandising
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como “ação da mercadoria”, conceituando ainda que: Nas afirmações acima, há divergências com relação à data de inserção do mer-
chandising na televisão, contrapondo-se, ainda, ao já referenciado nas informações
[...] Todos os elementos do composto de marketing devem estar presentes. Percebe- descritas por Souza (2004), ou seja, surgimento na novela Beto Rockfeller, em
se em conseqüência destas definições que estão implícitos não somente produtos,
1968.
como também preço, distribuição e promoção, instrumentos que permitem o desen-
volvimento da estratégia certa. Portanto, o termo engloba toda a parte operacional Como estratégia de comunicação, a empresa Apoio de Comunicação Ltda., da
do marketing. Rede Globo, segundo Lois (1994, p. 113), objetivou oferecer ao mercado publici-
tário melhores opções de merchandising.
No que tange ao conceito “ponto-de-venda”, registra-se que, há mais de 30 anos, Atualmente, verifica-se que, diante da significativa importância comercial, a Rede
Scotti (1973) afirmou que merchandising era uma eficiente técnica de comercializar Globo (2005) divulga e conceitua merchandising:
produto, definindo-a como sendo um conjunto de prestações de serviços e atividades
do ponto-de-venda para o consumidor. Seu objetivo era explorar ao máximo o impulso [...] Inserção de produtos, marcas, promoções, serviços ou conceitos, da forma
mais natural possível, dentro dos programas da Rede globo, aproveitando a em-
de compra, acelerando a rotação dos bens de consumo, sendo uma estratégia de venda patia entre personagens/apresentadores e o telespectador. Quanto mais ação de
na sua fase final. merchandising se adequar à trama e aos personagens, maior será a sua eficácia.
Mas, Freitas e Natali (1998, p. 17) registram um acontecimento que parece se con- Por essas características, o merchandising confere autenticidade às cenas, o que
trapor às colocações de Scotti (1973). Afirmam que merchandising estava ligado à ação possibilita mudanças no comportamento do público/consumidor, por meio de
reversão de atitudes e hábitos de consumo.
publicitária, informando que, nos anos 1940, no Dicionário da propaganda, merchan-
As ações de merchandising farão parte de um projeto formatado a partir de brie-
dising implicava em atividades relacionadas à escolha do produto a ser produzido ou fing detalhado elaborado pelo cliente/agência. Poderão conter estímulos visuais e
estocado, ou seja, decisões sobre seu tamanho, sua embalagem, preços etc. Registram, textuais, ações conceituais, de compra e de uso/consumo ou eventos especiais.
ainda, que, em 1960, a McCann Erickon lançou o livro Técnica e prática da propaganda,
definindo-se merchandising como “ação de ampliar o rendimento de uma campanha de Paralelamente, ainda em seu site, no item “informações comerciais”, observa-se
propaganda e qualquer implementação feita à propaganda preparada para um produto, um Dicionário de mídia, onde, mais uma vez, dentre outras considerações de inter-
a fim de ampliar o rendimento dessa propaganda”. esse comercial, registra:
Em 1962, conforme Freitas e Natali (1998, p. 17), a Fundação Getúlio Vargas, no
seu Glossário de mercadologia, definiu merchandising “como o planejamento de bens [...] Em mídia, merchandising designa a comercialização de menções e aparições
econômicos a serem mercadizados”, ou seja, ainda dentro da conceituação voltada as de produtos em TV, cinema, rádio etc., segundo critérios editorias de ‘naturali-
dade’, ‘contexto’ etc. Nos Estados Unidos, as ações de merchandising são co-
atividades junto ao produto. nhecidas como ‘in script advertising”(GLOBO 2006).
Soma-se a esta confusão a última vertente de estudiosos, profissionais e afins que
interage com “mídia”, direta ou indiretamente. Neste contexto, cita-se Rabaça (et alli, Com a intenção de dirimir dúvidas, alguns autores tentam estabelecer uma con-
1978), que conceitua merchandising como a palavra que indica, em mídia, a veiculação ceituação única, como já observado por Silva (apud COBRA, 1990, p. 643), quando
de um produto, serviço ou marca, de forma não ostensiva e casual, em programa de TV, da conceituação de merchandising:
rádio, filme, teatro, novela etc.
Outro adepto desta linha teórica, Lois (1994, p. 111) também afirma que “este tipo de [...] Compreende um conjunto de operações táticas efetuadas, no ponto-de-ven-
mecanismo baseia-se na técnica de inserir anúncios no espaço não publicitário de uma pro- da, para se colocar no mercado o produto ou serviço certo, na quantidade certa,
gramação, no contexto de uma encenação... sem perder a devida naturalidade”. no preço certo, no tempo certo, com o impacto visual adequado e na exposição
correta. Envolvem a embalagem, displays, técnicas de preços e ofertas especiais.
Historicamente, foi na TV Globo que o merchandising se institui nas telenovelas
Pode ser executada sem o auxílio do vendedor, por promotores ou demonstradores
brasileiras, conforme registrado por Nascimento (2004, p. 294). Em Dancing days, em ou por uma ação conjunta desses no ponto-de-venda, ou através de televisão, cine-
1978, na novela de Gilberto Braga, a inserção de um merchandising beneficiou a marca ma, revista etc. É basicamente o cenário do produto no ponto-de-venda (SILVA,
de jeans Staroup, propiciando um salto nas vendas. 2003:44).
Para Lois (1994, p. 112), o merchandising foi utilizado pela primeira vez em 1973,
em Cavalo de aço, de Walter Negrão. Uma garrafa do conhaque Dreher foi colocada no Nesta mesma linha de raciocínio, Pancrazio (2000, p. 27) comenta que, tecnica-
cenário pelo regra-três (sic), destacando de forma significativa o produto na memória mente, merchandising pode ser definido de diferentes formas, de acordo com o tipo
do telespectador. e profissional:

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• O profissional de mídia, definirá merchandising como uma forma indireta de No passado, ressalta-se que também houve esforços para nomear profissionais da
veiculação de uma mensagem comercial, denominando-a de “mídia merchandising”, área de merchandising, sem efetivo sucesso. Freitas e Natali (1998, p. 24) designaram
onde o produto, serviço ou marca são mostrados de modo indireto e subjetivo dentro de o termo “merchandiser”, definindo-o como o profissional que executa todo o trabalho
determinado ‘cenário’, utilizando-se da propaganda; de merchandising, atuando nos canais visitados, ocupando-se dos produtos em ciclo de
• O profissional de promoção de vendas, que dirá que é qualquer ação que ajude marketing em particular e dos demais em geral, conforme a programação de marketing
a destacar o produto no ponto-de-venda, determinando-a como “merchandising comer- de sua empresa.
cial”, onde a presença do produto é clara, explícita e ostensiva. Nos programas femininos, as “merchandetes” aguardavam muitas horas nas emis-
Para rebater estes argumentos, um grupo de estudiosos teoriza que merchandising soras para entrar no ar. Chegavam a trabalhar 14 horas por dia, inclusive aos sábados, e
deve se restringir apenas ao ponto-de-venda. Quem conceitua que inserção na TV, no seus salários poderiam chegar de R$ 3 mil a R$ 20 mil reais por mês. O aparecimento
editorial etc. é merchandising está equivocado. A denominação certa é “product place- das “merchandisers” “na tela” incrementou o número de ligações recebidas nas empre-
ment” (antigo “tie-in”), ou seja, como esta atividade é determinada nos Estados Uni- sas que as contrataram.
dos. Portanto, deveria ganhar um outro apelido para evitar a confusão aqui no Brasil O programa feminino Mais você, onde a apresentadora Ana Maria Braga executa
(BLESSA, 2004). pessoalmente as inserções, pode servir como exemplo da importância comercial do
O Glossário de promoção e merchandising, atualizado em 2002, pelo quinto ano con- merchandising para as emissoras. No site da Globo (REDE GLOBO, 2005), verifica-se
secutivo, pelo Comitê de Promoção & Trade Marketing da ABA (Associação Brasileira que “com médias de audiência de 8 pontos e share de 35%, em mercado nacional, o
de Anunciantes) e Popai-Brasil (Point of Purchase Advertising International), reafirma Mais Você atinge quase 5 milhões de telespectadores em todo o Brasil”.
o conceito defendido por Blessa (2004), conceituando merchandising como o “conjunto No entanto, muitos estudos sustentam influências negativas do merchandising de
de atividades desenvolvidas em um canal de vendas, visando chamar a atenção do con- emissoras de televisão na população brasileira, como ressaltado por Maia (2002) em
sumidor para um determinado produto e impulsiona-lo à compra”. suas considerações à programação da Rede Globo, dentre outras observações, e Giaco-
Entretanto, de forma discordante, o Dicionário da propaganda (on-line) designa mer- mini Filho (et al., 1997), sobre os problemas do merchandising não regulamentado, no
chandising como “ferramenta de comunicação de marketing utilizada no ponto-de-venda que tange ao telejornalismo.
e em espaços editoriais (TV, mídia impressa etc.) para reforçar mensagens publicitárias Entretanto, especificamente no merchandising observado em programas femininos,
feitas anteriormente (ou mesmo em substituição à propaganda, em alguns casos)”. salienta-se a importância de uma pesquisa, efetuada em parceria com a Comsenso –
agência de estudo do comportamento (INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO, 2005).
CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES SOBRE MERCHANDISING Além de outras informações importantes, este estudo ressalta a concepção das
telespectadoras sobre o que é merchandising e sua influência sobre as mesmas. Atesta,
A televisão chegou no Brasil em 1950, revolucionando os hábitos da vida dos seus ainda, que o merchandising, inserido dentro da programação, encontra as telespecta-
telespectadores. A extinta TV Tupi apresentava o programa Espetáculos Tonelux, mos- doras despreparadas, anunciando o produto sem dar o preço, condições de pagamento,
trando sua primeira garota-propaganda Neide Aparecida, dentre outras. Essas profis- garantia etc., oferecendo apenas um telefone para informação de compra. Quando se
sionais anunciavam, de forma explícita e nos intervalos dos programas, os diferentes telefona para obter informações, verifica-se pressão e insistência para a efetivação da
produtos disponíveis no mercado. compra. Comparativamente, esta amostragem registra que:
Ao longo do tempo, essas propagandas foram cedendo lugar a outras produzidas
Com os produtos das propagandas em geral, as mulheres podem ter contato no
com maior grau de sofisticação e criatividade, aliadas à disponibilidade de mais recur- supermercado, farmácia e outros estabelecimentos. É possível ler rótulos, embala-
sos tecnológicos. E, como já referenciado, no Brasil, observou-se o surgimento de uma gens e trocar informações com amigas e familiares. No caso do merchandising,
segunda abordagem de merchandising nas emissoras de TV, a partir da década de 1970, não; além de a telespectadora não ter acesso ao produto antes da compra, este é
como uma opção atrativa de divulgação de produtos, serviços e marcas, agora de forma apresentado com o aval de pessoas que para ela tenha credibilidade. No caso, o(a)
apresentado(a) do programa feminino (INSTITUTO PATRÍCIA GALVÃO, 2005).
ostensiva, explícita e não casual.
O merchandising tornou-se tão significativo nas emissoras que, em 2004, noticiou-se
Para se ter idéia da representatividade econômica destas inserções, cita-se o comen-
até uma nova profissão no mercado: “merchandetes” (BUDLOWSKI, 2004, p. 22-23).
tário do jornalista Castro (2003, p. C4), acerca dos valores de inserção do merchandi-
Atuando dentro da própria programação, estas profissionais surgem, inesperadamente,
sing dentro de um programa da rede SBT. Os executivos desta emissora citaram que o
no meio de edições matutinas, vespertinas, noturnas, testemunhando a eficácia de dife-
apresentador Gugu Liberato faturava R$ 750 mil reais por programa Domingo legal,
rentes produtos.
só com merchandising. O SBT fica com toda a receita das publicidades veiculadas nos
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intervalos do programa, ou seja, em média, 35 anúncios pagos, veiculados no horário sob forte pressão das concessionárias, conforme apontado por Leal Filho (2005, p. 7),
do programa, perfazem uma receita líquida de R$ 642 mil reais, aproximadamente, já completando que “hoje é letra morta”. Ao longo do tempo, tentou-se, sem sucesso, pro-
computados descontos e comissões de agências. mover as alterações necessárias. Entretanto, Leal Filho (2005, p. 10), salienta que:
Em 1996, o diretor comercial do SBT, Zagari (1996, p. 8) apontou que o merchan-
dising correspondia a 5% do faturamento total da emissora, mostrando a propensão de A luta que se trava há mais de uma década em torno dessa Lei revela os interesses
parar de exibir novelas de época, uma vez que estas reduzem a possibilidade de altas poderosos que temem ameaças. Se persistir a imobilidade a democracia não avançará
no Brasil, mantendo os privilégios daqueles que fazem da radiofusão empreendimen-
receitas de merchandising. Contou, ainda, que uma ação de merchandising custa duas tos destituídos de qualquer compromisso de responsabilidade social.
vezes e meia a mais do que um comercial de 30 segundos. Na Rede Globo, comerciais,
patrocínios e merchandising em programas de esporte, novelas e ações promocionais Aliado aos aspectos legais, ainda, pode-se notar que o merchandising inserido dentro
contabilizam US$ 1,2 bilhões de reais por ano, aproximadamente. de uma determinada programação, de forma explícita e ostensiva, é uma forma disfar-
Outra consideração importante, encontrada nesta pesquisa, refere-se ao aspecto legal çada de propaganda por parte das emissoras, conforme informado por Blecher (1996,
do merchandising em televisão. p. 130):
Nos países europeus a legislação é severa. As emissoras britânicas, por exemplo,
são proibidas de aceitar e praticar merchandising ou “product placement“ (inserção de Chico Anysio beija um cheque do Banco Real, em Tieta. Recompensa à altura de
produtos no conteúdo do programa). Toma-se como exemplo, a recente investigação da um patrocínio de 1,1 milhão de dólares (A propósito: qual o serviço eletrônico de
BBC sobre uma acusação de merchandising no programa The hairy biker cookbook. banco usado pelos personagens da novela das 8 horas? O Itaú é claro.).
O produtor desta programação de grande audiência, John Stroud, tentava negociar, em
Londres, a divulgação da cerveja mexicana Reds in Britain neste programa, apresentado CONCLUSÃO
pelos motociclistas Dave Myers e Si King, que reportam suas experiências culinárias e
culturais, obtidas em viagens (CELVERT e WALSH, 2005). Merchandising social, merchandising promocional, merchandising editorial, mer-
Em alguns países a propaganda em televisão ou não existe ou é limitada. De acordo chandising antijurídico, merchandising digital etc. É grande a diversificação da classifi-
com Keegen e Green (2003, p. 419), é inexistente na Dinamarca, Suécia e Noruega. Na cação, quando se efetua uma pesquisa sobre merchandising no Brasil. As denominações
Finlândia, é de 12 minutos/dia, na Itália, 80 minutos/dia, 12 minutos/hora por canal na são tantas que, por vezes, se pode perder o foco do estudo e, até mesmo, a noção da
França e 20 minutos/dia na Suíça, Alemanha e Áustria. conceituação correta deste termo.
No Brasil, conforme Simões (1983, p. 76), o Decreto no. 52.795, de 31 de outubro de Ao se procurar as origens do merchandising, o campo mostra-se mais amplo ainda,
1963, estabeleceu que o limite máximo do tempo destinado à divulgação de propaganda constatando-se muitos critérios e informações divergentes. E pode permitir a prolife-
comercial nas emissoras de raiofusão é de 25% do seu tempo de programação diária, ou ração de expressões não adequadas às atividades de merchandising, provavelmente
seja, 6 horas/dia, 15 minutos/hora. utilizadas como forma de se chamar a atenção para o descobrimento de algo novo no
O jurista estudioso Fernandes Neto (apud PINHO, 2004, p. 80) comenta que “o mercado, o que não se mostrou ser verdadeiro na prática, até então.
motivo do aumento do merchandising televisivo decorreu da limitação de 15 minutos No que tange à conceituação do merchandising, observa-se que a definição relacio-
por hora de radiofusão” (FERNANDES NETO, 2004, p. 53). Registra que “o conceito nada às ações de marketing no “ponto-de-venda” parece ser, inclusive historicamente,
legal de merchandising... é deficiente”, confundindo-se nas distintas redações acerca do a mais pertinente. Estudar as características do ponto-de-venda e todos os fatores a ele
conceito entre propaganda e publicidade. Informa, ainda, que ao “merchandising resta relacionados, para impulsionar à compra, é uma atividade indispensável diante da con-
ser devidamente delineado, para distingui-lo da denominada publicidade ou propagan- corrência acirrada percebida, a partir do surgimento dos self-services.
da subliminar, esclarecendo quando a técnica está de acordo com o direito e quando Design do produto, peso, características técnicas, embalagem, preço, displays, car-
agride” (FERNANDES NETO, 2004, p. 185). tazes, promoções, preços, margem, distribuição e outros fatores fazem parte do com-
Acerca desta limitação do tempo por hora destinado aos comerciais, Maia (2002, posto de marketing (produto, preço, promoção e distribuição) . Estas atividades devem
p. 123) apresenta em sua pesquisa o registro de 2 horas 30 minutos e 56 segundos de ser desenvolvidas, previamente, pelos profissionais da área, pois asseguram o impulso
propaganda, em 11 horas e 40 minutos de programação da Rede Globo, ou seja, 20,5% dos consumidores no ponto-de-venda e garantem a rotatividade de produtos. Portanto,
do tempo total de gravação, desconsiderando o merchandising, que é de difícil medição pode-se concluir que a relação “mix de marketing” para a conceituação do merchandi-
e respectiva auditagem. sing está inserida no contexto “ponto-de-venda”.
Em vigor desde 1962, a Lei de Radiofusão Brasileira foi assinada por João Goulart, Entretanto, os debates referentes à conceituação de merchandising relacionada à “mí-
dia” tornam-se mais complexos, não só devido à possibilidade de inserção em diferentes
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espaços, veículos (cinema, teatro, novela etc.), acerca da forma da mensagem (explícita zem a posicionamentos equivocados e, freqüentemente, passíveis de avaliação social
ou implícita), assim como se deve ou não ser permitida dentro deste contexto. negativa quanto à ética, profissionalismo etc.
Um posicionamento acadêmico rigoroso conduz a não aceitação do merchandising Dos aspectos da comunicação ao direito, conclui-se que este estudo apresentou uma
inserido na mídia. Esta postura releva o conceito e a prática de merchandising verificado série de questões e sugestões que permitem abrir espaço para debates acadêmicos de
internacionalmente, onde pouco se observa o uso deste nas atividades relacionadas à variados interesses, acerca da importância da conceituação e prática adequada no mer-
mídia, sendo seu uso proibido inclusive em alguns países. chandising no Brasil.
A exemplo do praticado nos Estados Unidos, ou seja, “product placement”, estes
estudiosos acreditam que seria mais acertado definir uma nova terminologia para mer- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
chandising, quando inserido na mídia brasileira. Mas nada foi sugerido com relação à
nova denominação em si. ADIB J. Merchandising em televisão. Visão. São Paulo – 29/5/1991.
Por outro lado, o conceito de que o merchandising procura gerar um “clima” satis-
fatório junto ao consumidor, propiciando persuadi-lo quanto à escolha de um produto BLEKER, Nelson. A propaganda se disfarça. Exame. São Paulo, v. 30, n. 20, 25/9/1996, p. 130.
no ponto-de-venda, pode ter sido utilizado como o mote por um segundo grupo de pro-
fissionais, desencadeando a concepção errônea junto à mídia. BLESSA, Regina. Merchandising no ponto-de-venda. São Paulo: Atlas, 2005, p. 7.
As emissoras defendem este posicionamento e julgam possuir pontos-de-venda para
exibição de produtos e serviços, quer seja de forma explícita ou implícita, em variada ———————. Responsabilidade ou merchandising social? Consumidor Moderno.
programação. Vêem na opção merchandising uma possibilidade de ganhos comerciais 20/05/2004. Disponível em: < http://www.consumidormoderno.com.br/ler_materia.
significativos. Souberam, ainda, aproveitar as oportunidades que o mercado brasileiro aspx?numero=4660> Acesso em: 2/12/2005.
apresentou, no que tange a destinar “verbas” para veículos que apresentem maiores e
mais rápidos retornos sobre o investimento, a exemplo do ocorrido com a promoção de BOMBRIL. Clientes. Guia do promotor. São Paulo, 2005. Disponível em: <http://
vendas no Brasil, na última década. www.bombril.com.br/clientes/guia/teguia.shtml>. Acesso em: 1o/12/2005.
A disponibilidade destes espaços permite, ainda, que empresas de pequeno e médio
porte divulguem seus produtos, sem necessitar de uma estrutura previamente definida BUDLOWSKI, Ligia. No ar, os merchandetes. Veja SP. São Paulo, 25/8/2004, p. 22-23.
de vendas, distribuição etc. E, sem a necessidade legal da interferência direta de agen-
ciadores, as emissoras podem observar uma redução nas margens de custo destas inser- CALVERT, Jonathan e WLASH, Gareth. BBC Investiga acusação de Merchandising.
ções, oriundas da ausência do pagamento de uma comissão, comumente observada na Observatório da Imprensa. Disponível em: <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.
comercialização de propagandas. br/artigos.asp?cod=348MON009>. Acesso em: 2/12/2005.
A rigorosidade da Lei de Radiodifusão Brasileira, no que tange ao tempo permi-
tido para veiculação de propagandas, fez com que as emissoras e afins buscassem um CASTRO, Daniel. Proibição de Gugu dá prejuízo de R$ 1 mi. Folha de S. Paulo. São
caminho alternativo, encontrado através do merchandising. Somam-se a este aspecto, Paulo. Cotidiano. C4, 23/9/2003.
as dificuldades em se estabelecer nos textos legais uma terminologia adequada, que
diferenciasse propaganda de publicidade, como já mencionado. Precavidamente, talvez CHALMERS, Ruy B. Merchandising — a estratégia do marketing. São Paulo: Atlas,
esse seja o motivo pelo qual a Rede Globo utiliza a expressão “in script advertising”, ao l976.
invés de “product placement”, como definido pelos estudiosos.
Por outro lado, merchandising inserido nas diferentes programações deverá ser cada COBRA, Marcos. Administração de marketing. São Paulo: Atlas, 1990.
vez mais um posicionamento estratégico indispensável por parte da Globo e demais
emissoras. Brevemente, serão disponibilizadas televisões digitais interativas, onde os DEFINIÇÕES DE MERCHANDISING NA INTERNET, 2005. Disponível em: <
telespectadores assistirão somente às propagandas que quiserem. Este fato propiciará http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&lr=lang_pt&oi=defmore&defl=pt&q=def
um incremento à comercialização do merchandising, conceituado neste padrão atual, ine:MERCHANDISING>. Acesso em: 2/12/2005.
pois poderá se reverter em uma experiência de compra imediata.
Embora se observe muitas classificações empíricas sobre merchandising, ressalta-se FERNANDES NETO, Guilherme. Direito da Comunicação Social. São Paulo: Edi-
a importância de se relevar apenas um conceito, pois as confusões constatadas condu- tora Revista dos Tribunais, 2004.

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Grande ABC tornou-se pólo industrial a partir da década de 1950 e, ao lado do cresci-
mento econômico e urbano verificado nas duas décadas seguintes, também viu aumen-
tarem os focos de miséria e ascender o chamado Novo Sindicalismo. A partir dos anos
1990, foram criados órgãos regionais para discutir e tentar solucionar problemas ambi-
entais, sociais e econômicos que atingem as cidades da região. Mas, apesar dos avanços
democráticos advindos da instalação das instâncias regionais, o ABC ainda carece de
sistemas de comunicação capazes de promover a integração de todos os atores sociais
no processo de regionalização.

Palavras-chave: comunicação, regionalidade, Região do Grande ABC.

Abstract
Formed for seven cities that integrate the region metropolitan of São Paulo, the
“Grande ABC” became an industrial region from the decade of 1950 and, to the side
of the economic growth and urbanization verified in the two following decades, also it
increased the misery promoting the “Novo Sindicalismo”. During 1990s, some regional
1. Trabalho apresentado no XXVIII Congresso da Intercom (UERJ, 2005). Participaram da pesquisa, coordenada pelo professor Roberto Elísio dos Santos,
os seguintes alunos de Iniciação Científica do curso de Jornalismo da Universidade IMES: Cristina Salvatti Abel, Eduardo Veríssimo Chaves e Glaucia
Balbachan.

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agencies had been created to try to solve ambiental, social and economical problems O PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
that reach the cities of the region. But, despite the democratic advances, the ABC still
lacks of systems of communication capable to promote the integration of all the social O desenvolvimento tecnológico, em particular o aperfeiçoamento das mídias digi-
actors in the regionalization process. tais, foi fundamental para a produção e disseminação em âmbito planetário de infor-
mações e produtos culturais de consumo, a tal ponto que alguns teóricos falam de uma
Keywords: communication, new regionalism, Grande ABC Region. cultura mundializada, compartilhada por indivíduos e sociedades distintas. De acordo
com Ianni (1999, p. 119), os meios de comunicação de massa, potenciados por essas
tecnologias, rompem ou ultrapassam fronteiras, culturas, idiomas, religiões, regimes
políticos, diversidades e desigualdades socioeconômicas e hierarquias raciais, de sexo
INTRODUÇÃO e idade.
A desterritorialização – ou seja, a universalização dos estilos de vida, do comporta-
No decorrer da década de 1980, forjaram-se as condições para que o processo de mento e do consumo acima dos grupos sociais, das etnias, crenças, idiomas e ideologias
globalização tivesse condições de ser implementado. Contribuíram para essa situa- – passa a ser a norma e evidencia um esgotamento da idéia de Estado-nação. Castells
ção o advento de mídias que proporcionam a comunicação rápida entre pontos dife- (2003, p. 170) afirma que as tecnologias digitais redefinem as distâncias, embora não
rentes e distantes do planeta, o fim da divisão geopolítica gerada pela Guerra Fria e anulem a geografia, criando novas configurações territoriais, que emergem de processos
a tendência acentuada do sistema capitalista de se expandir e envolver os diversos simultâneos de concentração, descentralização e conexão espaciais, incessantemente
mercados, formando uma teia controlada por grandes corporações transnacionais. elaborados pela geometria variável dos fluxos de informação global.
Mas, ao mesmo tempo em que, do ponto de vista econômico e cultural, as so- Barbosa (2001, p. 12-13) caracteriza a globalização, processo que os teóricos fran-
ciedades pareciam convergir, surgiram movimentos contrários, de valorização da ceses preferem denominar mundialização, pela expansão dos fluxos de informações
cultura local e de formação de blocos econômicos regionais com vistas a alcançar – que atingem todos os países, afetando empresas, indivíduos e movimentos sociais –,
o desenvolvimento sustentado. Se, por um lado, o nacionalismo ou o regionalismo pela aceleração das transações econômicas e pela crescente difusão de valores políticos
exacerbado leva a conflitos étnicos e políticos, por outro, a integração de forças e morais em escala universal. Com o emprego das novas tecnologias da comunicação,
regionais pode representar um avanço democrático, por permitir a articulação de as distâncias geográficas e temporais são ultrapassadas. Dessa forma, a migração do
agentes sociais nos processos decisórios, assim como um fortalecimento econômico capital de um mercado financeiro a outro rapidamente torna-se realidade, assim como o
dos setores e regiões afetados pelas transformações em curso (diminuição de postos acesso imediato a informações e produtos culturais.
de trabalho, fusão de empresas, informatização e automação do processo produtivo, Segundo Smith (in Featherstone, 1994, p. 187), a concorrência capitalista deu ori-
fechamento e encolhimento das indústrias etc.). gem a corporações transnacionais imensamente poderosas com enormes orçamentos,
Seguindo o exemplo de outras regiões que uniram esforços para enfrentar as reservas de mão-de-obra qualificada, tecnologias avançadas e redes de informações so-
turbulências econômicas, políticas e sociais geradas nesse novo contexto, o Grande fisticadas. O paradigma que passa a predominar nesse momento, na visão de Castells
ABC deu início a sua articulação regional no começo da década de 1990, em um (1999, p. 49), se organiza em torno da tecnologia da informação, na qual se incluem
momento caracterizado pela consolidação da democracia no país, após 20 anos de microeletrônica, computação (software e hardware), telecomunicações/radiodifusão,
regime de exceção, e por uma crise que dificultou o crescimento econômico do optoeletrônica (fibras óticas) e até mesmo engenharia genética. Ainda segundo este au-
Brasil. Nesse contexto, surgiram órgãos orientados para criar políticas públicas tor (1999, p. 31), a revolução da tecnologia da informação foi essencial para a imple-
voltadas para o desenvolvimento da região. No entanto, esse processo ainda carece mentação de um importante processo de reestruturação do sistema capitalista, a partir
de mecanismos adequados de comunicação para informar e esclarecer a população da década de 1980, sendo moldada pelas lógicas e interesses do capitalismo avançado,
acerca de suas ações e para criar e disseminar o sentimento de regionalidade – en- sem se limitarem às expressões desses interesses.
tendida por Gil (2003, p. 11) como a verdadeira mentalidade da região. No que concerne à produção e ao consumo de produtos culturais, a chamada in-
dústria cultural – empresas que produzem bens simbólicos (filmes, teledramaturgia,
histórias em quadrinhos, música, literatura etc.) em escala industrial e com objetivo
comercial – atingiu alcance global, padronizando não somente o consumo e a forma de
entretenimento, mas também influenciando a criação de produtos locais, que passam
a copiar ou repetir fórmulas consagradas, estruturas narrativas e elementos estéticos

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conhecidos pelo público, disputados avidamente no mercado midiático. A música no consumidores dos produtos do mercado global. Já os países excluídos do processo de
ritmo techno, por exemplo, pode ser elaborada e ouvida em qualquer parte do planeta. globalização, aqueles que têm economia insipiente ou que se fecharam por motivos
O mundo, ou pelo menos as metrópoles desenvolvidas, tornou-se mercado para o políticos ou culturais (Irã, nações africanas, entre outros), tendem a ficar à margem da
consumo da produção editorial, cinematográfica, televisiva, jornalística e fonográfica, integração mundial.
gerada e distribuída pelas grandes empresas de mídia. A homogeneização dos com-
portamentos, percebida tanto no gosto pessoal – que engloba a moda, os padrões de CARACTERÍSTICAS DA COMUNICAÇÃO GLOBAL
consumo e as atitudes – como na organização das empresas e das sociedades, evidencia
uma “ocidentalização” dos modos de vida. Para Ianni (1999, p. 98), a modernização No contexto da Sociedade da Informação, surgida na década de 1980 com o avanço
do mundo implica a difusão e sedimentação dos padrões e valores socioculturais pre- tecnológico e a opção por parte dos países do Primeiro Mundo pela produção de conhe-
dominantes na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. Segundo Almendra (1998, p. cimento – onde a informação e o conhecimento científico passaram a gerar capital, a
134), desde o começo do século XX, a americanização e a dependência cultural são tal ponto que se começou a falar em uma “economia da informação” –, o processo de
necessárias para o capitalismo global, para a ideologia-cultura do consumismo. globalização da comunicação leva, ao mesmo tempo, à democratização das informa-
Do ponto de vista econômico, Almendra (1998, p. 134) observa: ções e à criação de um ambiente saturado, o que causa a “incomunicação”. Por um
lado, o aumento do número de fontes (canais de TV a cabo, sites na internet) possibilita
O adjetivo global surgiu no início dos anos 1980 nas escolas americanas de admi- ao receptor não só o recebimento de informações provenientes de qualquer lugar do
nistração de empresas (business management schools) como Harvard, Columbia,
Stanford (...). Foi popularizado nas obras e artigos dos mais hábeis consultores de
planeta e de maneira rápida, como abre espaço para a sua participação, tornando-o
estratégia e marketing como o japonês K. Ohmae e o norte-americano M.E. Porter. um potencial emissor. Constata-se também o aumento da redundância, do sensaciona-
Em matéria de administração, o termo era utilizado tendo como destinatários os lismo e da superficialidade, levando a uma situação entrópica, em que a quantidade de
grandes grupos empresariais. (...) Sua mensagem era simples, direta e clara: em informação disponível não significa mais conhecimento, mas a formação de um “caos
todos os lugares onde se possa gerar lucros, os obstáculos à expansão das ativi-
semiológico”, devido ao bombardeio incessante de signos visuais e sonoros que apelam
dades econômicas foram levantados, graças à liberalização e a desregulamentação;
a telemática e os satélites de comunicações colocam em suas mãos formidáveis aos sentidos mais que à razão.
instrumentos de comunicação e controle; reorganizem e reformulem, em conse- Homogeneizadora, a produção cultural veiculada pelas mídias globalizadas padroniza
qüência, suas estratégias internacionais. comportamentos e atua de forma a cristalizar no imaginário dos receptores de culturas
diferentes os mesmos conceitos e valores criados e propagados pela mídia nos países
Historicamente, a globalização só começou a se viabilizar com o colapso do regime globalizadores. A velocidade com que as informações se propagam na atualidade, com
socialista na antiga União Soviética e com a queda muro de Berlim, que reunificou a o uso das mídias digitais (assim como dos satélites, da telefonia móvel e do cabo de
Alemanha. Estava aberta a possibilidade de grandes corporações expandirem suas ações fibras óticas), permite que uma determinada mensagem ou bem cultural chegue rapida-
e conquistarem novos mercados internacionais. Barbosa (2001, p. 10) observa que a mente a receptores separados geográfica e culturalmente.
aceleração dos fluxos econômicos que ultrapassam as fronteiras geográficas ocorre em A força da mídia global é capaz de se sobrepor às culturas locais, principalmente
setores tradicionais, como alimentos e vestuário, mas, principalmente, nos das novas em países e regiões menos desenvolvidas economicamente. Oliveira (1991) relata o
tecnologias e das aplicações financeiras em bolsas de valores, e até mesmo nas áreas impacto da transmissão de programas televisivos norte-americanos e mexicanos para
do esporte, das artes e do entretenimento. Essas empresas poderosas, que produzem e Belize, pequena nação da América Central. Em sua pesquisa, constatou que, nas regiões
difundem em escala planetária seus produtos localizam-se nos países mais ricos. Por metropolitanas do país, os telespectadores preferiam a programação americana, o que
este motivo, diversos críticos advertem para o surgimento de um “neo-imperialismo ocasionava distanciamento das tradições culturais belizenhas e o aumento do consumo
cultural”, uma vez que os países produtores e difusores dessa cultura planetária detêm de produtos produzidos nos Estados Unidos. Os habitantes das áreas rurais, entretanto,
o poder político, militar e econômico. identificavam-se com o tradicionalismo dos programas televisivos mexicanos e tinham
Nesse processo de globalização, a participação das diferentes sociedades depende preferência por produtos da América Central.
de seu grau de desenvolvimento, de seu poder econômico, político e militar. Assim,
há países globalizadores, como é o caso dos Estados Unidos, que sobrecarregam os O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO
circuitos das mídias, assim como o mercado em geral, com seus produtos. Há, também,
países globalizados, normalmente aqueles que se encontram em vias de desenvolvi- Paralelamente ao processo de globalização deflagrado no final da década de 1980,
mento, a exemplo do Brasil, que se inserem nesse contexto mais como receptores ou houve uma preocupação com a produção e veiculação de informações e de produtos
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Artigo Artigo

culturais ligados a determinadas regiões, grupos étnicos ou sociais. A mesma tecnologia Do ponto de vista da consolidação do espaço regional como base de articulação da
que permite a difusão em escala planetária de bens culturais de consumo e padroniza- sociedade civil, de órgãos públicos e setores provados, a mídia local desempenha um
dos também possibilita o desenvolvimento de sistemas de comunicação que atendem papel decisivo para a manutenção econômica e a ampliação das instâncias democráticas
a países, regiões ou segmentos da sociedade (uma emissora de rádio comunitária, de representativas, como é o caso da Região do Grande ABC, no Estado de São Paulo.
pequeno alcance, por exemplo, cria vínculos com um grupo social, sendo, muitas vezes,
seu porta-voz em relação às reivindicações). A REGIÃO DO GRANDE ABC
No caminho contrário à massificação resultante da globalização da comunicação, o
processo de regionalização da comunicação e da cultura envereda pela via da segmenta- Em sua origem, o ABC, por situar-se entre a Serra do Mar e o Planalto Paulista, foi
ção. Ao tratar de assuntos que interessam a uma determinada comunidade ou região, ao um núcleo colonial, formado em 1553, que servia de parada para os viajantes e explo-
abrir espaço para as manifestações culturais locais, as mídias regionais têm um papel de radores que se dirigiam para o Interior ou para o Litoral. Sua terra, inadequada para a
destaque na promoção da cidadania, na consolidação da democracia e do fortalecimento lavoura, servia para a fabricação de telhas e tijolos. A região começou a se constituir,
dos laços sociais. As mídias regionais sofrem, contudo, com o controle de grupos políti- contudo, no final do século XIX, quando a linha férrea ligando o porto de Santos a Jun-
cos locais e com a constante falta de recursos. Mas sua presença é fundamental para o diaí iniciou suas atividades (tornando o ABC um entreposto comercial) e com a chegada
fortalecimento do sentimento de pertença a uma região, para o incentivo à participação dos imigrantes europeus, principalmente italianos, que se estabeleceram no local.
de todos os atores sociais na discussão dos temas pertinentes a todos e para a manuten- O perfil de região industrial começa a ser traçado na virada do século XX, com
ção e difusão da cultura local. a criação de olarias e a instalação de empresas de manufatura. A partir da década de
A relação entre a cultura local e a cultura global assume uma tal complexidade que 1950, quando a indústria automobilística se consolida no ABC, observa-se o cresci-
é possível percebê-las tanto como antagônicas como complementares no processo de mento econômico da região, a ampliação dos espaços urbanos, a ampliação da migra-
mundialização ora em curso. Como já se observou, a cultura global tem o poder de se ção interna (do Interior ou de outros Estados) e o fenômeno da conurbação, em que os
sobrepor à cultura local. Há, ainda, contextos em que uma cultura local forte e fechada limites dos municípios do ABC e da capital, São Paulo, tornaram-se indistintos. Na
impede a expansão do processo de globalização. Nesses casos, ambas se contrapõem e segunda metade do século XX, a região se desmembrou em sete cidades: Santo André,
entram em acirrada disputa. Daí a importância atribuída ao novo regionalismo – concei- São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio
to que será abordado adiante –, que concebe a região, não apenas como uma realidade Grande da Serra.
geográfica, mas também cultural, econômica e política (BRESLIN, 2002). Berço do novo sindicalismo, movimento operário que se organizou ainda durante o
Teóricos marxistas apontam também para uma convergência dos interesses das elites regime militar, o ABC contribuiu para a abertura política do país com o surgimento de
locais e das empresas globais. Mas, além disso, a cultura local pode ser apropriada pela organizações populares na década de 1980 e a criação do Partido dos Trabalhadores e da
mídia globalizada e ser consumida em escala planetária. Alain Herscovici (1996, p. 60) Central Única dos Trabalhadores. Mas os efeitos das crises econômicas que atingiram
afirma que a própria dinâmica do sistema mundial torna necessária a preservação do lo- a economia brasileira, das políticas neoliberais e do processo de globalização também
cal; do ponto de vista econômico ou antropológico, um nível mínimo de diversidade, ou afetaram a região, que viu iniciar um processo de desindustrialização. As instituições
de diferenciação, é necessário para a manutenção da dinâmica do sistema. regionais surgidas na última década do século XX, por outro lado, procuram rearticular
A cultura local, ainda segundo Herscovici (1996, p. 60-61), apesar de sua especifici- os vários setores da sociedade, para tentar superar a situação.
dade, não deve ser pensada como oposição ao global, mas como a expressão do univer- No entender de Gil (2003, p. 11), o conceito de região tem sofrido mudanças e, hoje,
sal. Se não for concebido desta maneira, [o local] não passa de uma forma de bairrismo pode ser compreendido como uma entidade socialmente construída, cujos limites não
que não tem mais relações com o “mundo”, adverte o teórico. Para ele, a cultura local são definidos apenas pelo espaço geográfico que a delimita. O termo região se amplia
faz sua conexão com o global pela utilização do “exotismo” como elemento de diferen- mais porque, para suplantar as crises econômicas e sociais, diversos países realizam
ciação ou caracterizando-se pelos “sistemas tecno-estéticos” aceitos universalmente. É acordos ou pactos de integração, a exemplo do Mercosul. Ou, ainda, conforme Gil
o caso da música e da telenovela brasileira, que conseguem espaço em meio à cultura (2003, p. 13), há os municípios que, por alguma razão, decidem se constituir como
global. Dessa forma, é possível perceber a ambivalência, a dialética das mídias globais regiões, como é o caso dos municípios que integram o Consórcio Regional do Grande
(conforme Moraes, 1997, p.11). ABC Paulista.
Seja para participar da economia-mundo, como caracteriza Herscovici (1996, p. 60),
seja para manter a identidade cultural de um grupo, de uma sociedade, de uma região
ou de um país, a comunicação regional assume importância fundamental na atualidade.

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O NOVO REGIONALISMO mensal, que circula entre os formadores de opinião, a Livre Mercado. Jornais alterna-
tivos são restritos a um dos municípios e têm circulação limitada – isso, quando sua
Assim como o ABC, outras regiões industrializadas do mundo também enfrenta- distribuição é feita –, periodicidade pouco confiável e, normalmente, são porta-vozes
ram os desafios impostos pelo novo contexto mundial e deram início à constituição de de grupos políticos.
instâncias regionais para debater e implantar políticas que promovessem o desenvolvi- A Rádio ABC, única emissora comercial local, mistura entretenimento e informa-
mento sustentável e a integração de todos os parceiros possíveis para alcançar seus ob- ção, abrindo espaço para questões regionais. E, no que tange à transmissão televisiva, há
jetivos. Experiências regionais foram realizadas com sucesso, ao longo dos anos 1990, uma emissora a cabo e outra, transmitindo em UHF (o canal 43, de São Caetano), que
na Alemanha (Vale do Ruhr), na Holanda (Roterdã), Itália (Sesto San Giovanni), na contam com audiência restrita. Para Lima (2002, p. 113-118), a dependência do ABC
Espanha (Bilbao) e nos Estados Unidos (Detroit e Vale do Silício). em relação à cidade de São Paulo, quanto à mídia de massa, é resultado do processo
Ao mesmo tempo em que o Estado Nacional vem perdendo poder de promover e cen- de conurbação, que inviabiliza tecnicamente a instalação de emissoras de TVs abertas
tralizar os rumos do desenvolvimento econômico face à globalização, novas formas de na região. Também, do ponto de vista econômico, as mídias locais encontram barreiras
governança local têm se expandido. De acordo com Klink (2000, p. 12), essa tendência para disputar com jornais e revistas de circulação nacional e com emissoras de rádio de
do nível local de se reafirmar como ator relevante no processo de reestruturação produ- São Paulo.
tiva e territorial em escala mundial vem crescentemente sendo analisada em termos de Dessa forma, o público do ABC tem pouca alternativa para se informar sobre as
um chamado “novo regionalismo”. No Grande ABC, o regionalismo acentuou-se na questões pertinentes à região e sobre as atividades dos órgãos regionais. É possível
década de 1990, a partir da necessidade de elaborar e executar políticas públicas que afirmar, inclusive, que a maior parte da população da região desconhece a existência
interessam ao sete municípios, envolvendo o governo do estado, as prefeituras e outros desses órgãos. É a conclusão a que chegaram alunos do Programa de Mestrado em Ad-
segmentos sociais – representações do empresariado, sindicais e da sociedade civil. ministração do IMES, que realizaram uma pesquisa em 2001 com alunos de graduação
Para tanto, foram constituídos espaços institucionais, como o Consórcio Intermunici- da mesma universidade (ver Bernardo, 2001, p. 37) e constataram que, apesar de 92%
pal das Bacias do Alto Tamanduateí e Billings (criado em 1990, congrega os sete chefes morarem na região, mais da metade nunca ouvira falar nesses órgãos.
do executivo da região, com o intuito de promover formas articuladas de planejamento Outra pesquisa,2 realizada no início de 2005, nas edições do mês de janeiro do Diário
do desenvolvimento regional), o Fórum da Cidadania (surgido em 1994, a partir da do Grande ABC e da Revista Livre Mercado, revela o espaço destinado e o tipo de
campanha “Vote no Grande ABC”, voltada para eleger representantes da região para as enfoque dado pelos veículos impressos às ações dos órgãos regionais. Dos textos en-
câmaras estadual e federal e para o Senado, e chegou a reunir mais de cem entidades da contrados nas publicações, nesse período, a maior parte se enquadra na categoria infor-
sociedade civil), a Câmara Regional (constituída em 1997, para elaborar e definir acor- mativa (notícias), enquanto que editoriais e artigos assinados (categoria opinativa) que
dos de caráter regional, integrada por tomadores de decisão do governo do estado e dos se referem aos órgãos regionais têm menor quantidade, já que os textos informativos
poderes executivos e legislativos do ABC) e a Agência de Desenvolvimento Econômico correspondem a 76% dos textos publicados em janeiro de 2005. No que se refere aos
(concebida pela Câmara Regional em 1998, com o objetivo de estimular investimentos temas tratados nesses textos opinativos, Política foi o mais encontrado, com 88,5%.
e apoiar negócios e empresas na região; trata-se de uma organização não-governamen- Também nos textos informativos, o enfoque político sobressaiu (56%), mas os
tal, integrada pelo Consórcio Intermunicipal, por associações comerciais e industriais, temas Transportes (18,3%), Economia (14,6%) e Segurança (7,31%) também tiveram
sindicatos e pelo Sebrae, com ação executiva voltada para o marketing regional, o fo- destaque.
mento às empresas e a disseminação de informações socioeconômicas do ABC). Os órgãos regionais com mais espaço nos veículos impressos pesquisados foram o
Consórcio Intermunicipal (91%) e a Agência de Desenvolvimento Regional (9%).
O DESAFIO DA COMUNICAÇÃO REGIONAL NO GRANDE ABC É também o Consórcio Intermunicipal que contribui com o maior número de temas
abordados nos textos jornalísticos, como indica a Tabela 1.
Apesar de contar com uma população que ultrapassa os 2,2 milhões de pessoas,
com segmentos de bom poder aquisitivo e padrão de consumo alto, além de empresas
que seriam grandes anunciantes, a Região do Grande ABC carece de mídias fortes. Os
meios de comunicação massivos existem, mas são pouco expressivos, comprometidos
politicamente ou possuem alcance limitado. No que se refere aos periódicos impres-
sos, há apenas um jornal de porte (cuja tiragem, porém, é insignificante, se levada em
consideração o total de habitantes do ABC), o Diário do Grande ABC, e uma revista 2. Estes, são dados preliminares de um trabalho mais amplo, ainda em andamento, que vai abranger as edições de fevereiro, março e abril dos mesmos órgãos
de imprensa.

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Tabela 1 - Temas abordados nos textos jornalísticos por órgão. CONCLUSÃO

TEMAS POR ÓRGÃOS Região socialmente construída pela necessidade de encontrar alternativas para o
Consórcio Câmara Regional Agência de Desenv. Fórum da Cidadania crescimento sustentado, face ao processo de desindustrialização, e soluções para pro-
Política - Economia -
Economia - - - blemas sociais e ambientais, o Grande ABC abriga órgãos regionais que agregam dife-
Transportes - - - rentes atores sociais. No entanto, a falta de expressividade da mídia local e mesmo os
Segurança - - - deficientes canais de comunicação entre os órgãos regionais e a sociedade impedem
Educação - - -
Saúde - - - o aprofundamento da regionalidade, entendida como uma verdadeira mentalidade da
Opinião - - - região.
Por esse motivo, a consciência regional, necessária para a união de esforços em prol
do desenvolvimento regional, é frágil. O fortalecimento do sentimento de regionali-
Por fim, a freqüência em que os órgãos regionais do ABC apareceram nos textos3 edi- dade só será possível, portanto, se houver uma gestão comunicacional que divulgue, es-
tados no jornal Diário do Grande ABC em janeiro de 2005 é mostrada na Tabela 2. clareça, motive e incentive a participação de todos os setores da sociedade na discussão
das questões que a eles interessam.
Tabela 2 – O número de matérias destinadas aos órgãos regionais do ABC por edição do Diário do Grande ABC, em
janeiro de 2005. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Ano 3, n. 5. São Caetano do Sul: IMES, 2o semestre de 2001.
O mesmo procedimento foi realizado com a edição de janeiro de 2005 da Revista
Livre Mercado e constata-se que a freqüência das matérias que tratam dos órgãos re- BRESLIN, Shaun. New regionalism in the global political economy. Nova York:
gionais do ABC também é pequena: apenas quatro matérias (sendo três, referentes ao Routledge, 2002.
Consórcio Intermunicipal e, uma, à Agência de Desenvolvimento Regional) – Tabela
3. No total, esses textos ocuparam 13 páginas da edição, composta de 98 páginas, ou CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura (A socie-
13,26% do espaço. dade em rede). 2 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
Tabela 3 – Freqüência de textos jornalísticos sobre os órgãos regionais do ABC na edição de janeiro de 2005 da
Revista Livre Mercado. ——————. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a socie-
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quisa Pós-graduação IMES. Ano 5, n. 9. São Caetano do Sul: IMES, 2o semestre de
3. É importante ressaltar que o tamanho das matérias não ultrapassa meia página do jornal formato standard. A maioria dos textos não chega a ocupar meia página.
2003.

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1999. Isaac Gil – Médico pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos – FCMS - SP;
mestrando em Administração da
KLINK, Jeroen. O novo regionalismo: o caso da Região do Grande ABC. São Paulo: Universidade IMES; diretor-geral do
FAU/USP, 2000 [tese de doutorado]. Hospital Santa Paula em São Paulo-SP.

LIMA, Daniel. Complexo de gata borralheira. Santo André: Livre Mercado, 2002. Resumo
O presente artigo explora a importância do conceito de responsabilidade social (RS)
MORAES, Denis de (org.). Globalização, mídia e cultura. Campo Grande: Letra de um hospital privado, quando comparado com outros tópicos importantes, conforme
Livre, 1997. avaliações dos próprios médicos, no momento da decisão do encaminhamento do paci-
ente para internação não emergencial. Para isso, empreendeu-se uma pesquisa de cam-
OLIVEIRA, Ômar Souki. Genocídio cultural. São Paulo: Paulinas, 1991. po com médicos de um hospital da cidade de São Paulo, os quais foram submetidos a
um questionário contendo atributos considerados relevantes para o médico, dentre eles,
a RS do hospital. O objetivo foi avaliar a importância da RS, quando comparada com
atributos técnicos e humanos da instituição hospitalar. Os resultados indicaram que,
para os médicos, a RS é um fator secundário, quando comparado com os demais atribu-
tos pesquisados, porém, em termos absolutos, considerado importante.

Palavras-chave: responsabilidade social, atendimento ao consumidor, marketing hos-


pitalar.

Abstract
The present article explores the importance of the concept of Social Responsibili-ty
(RS) of a particular hospital compared with other important technical topics, when doc-
tors decide to guide an patient for not emergencial internment. The research was applied
in doctors of a hospital of the City of São Paulo, who answered a questionnaire with
differents attributes, among them social responsibility attributes. The objective was to
evaluate the importance of the RS when compared with social and technical attributes
of the hospital.The results indicated that, for the doctors, the RS is a secondary factor
when compared with technical attributes, however, in absolute terms, considered im-
portant.

Keywords: social responsibility, consumer service, hospital marketing.

INTRODUÇÃO

A saúde e os hospitais são áreas de grande interesse social, tanto assim que o go-
verno as assume como uma de suas responsabilidades prioritárias (STEVENS, 1991).
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Além do governo, muitos setores, instituições e profissionais integram essa área como Outra questão subseqüente, no mesmo estudo, foi apresentada: você deixaria seu
laboratórios farmacêuticos, planos de saúde, hospitais e profissionais da saúde em geral, banco, se soubesse que ele encerrou seu programa de ação social? setenta e quatro por
através de equipes multidisciplinares. cento responderam que não, propiciando o comentário dos autores de que essa atitude,
A responsabilidade desses profissionais e instituições é muito grande já que prestam certamente, desagradaria os entusiastas da RS.
um serviço relacionado diretamente com a qualidade de vida das pessoas. Inúmeras definições de responsabilidade social podem ser mencionadas (KREIT-
Porém, em que pese a importância social óbvia dessa estrutura, tanto os hospitais LON, 2004), mas, para este artigo, iremos usar a do Instituto Ethos de Responsabilidade
como os médicos podem ser solicitados a assumir outras responsabilidades sociais, tal Social:
como o são as empresas de todos os setores e os profissionais de todos os ramos de
atividade (LEISINGER e SCHMITT, 2001). Responsabilidade social é uma forma de conduzir os negócios da empresa, de tal
maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A em-
Além disto, seria de se esperar que a instituição hospitalar também zelasse pelo meio
presa socialmente responsável é aquela que possui capacidade de ouvir os inte-
ambiente, condições de trabalho, engajamento comunitário, participação em atividades resses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, for-
de inclusão social e outras atribuições contidas no conceito de responsabilidade social necedores, consumidores, comunidade, governo e o meio ambiente) e conseguir
(RS) corporativa (MELO NETO e FROES, 2001). incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas
Tradicionalmente, o meio médico tem priorizado os recursos técnicos, humanos e de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários (ETHOS, 2005).
outros para optar por um serviço médico hospitalar para seus pacientes (TAUBLIB,
1993). O que se pretende aqui é chamar a atenção para a RS como possível fator
de investimento dos acionistas e dirigentes hospitalares, no sentido de diferenciar a
instituição de seus concorrentes e, se ações de RS podem fazer diferença na decisão MODELO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL APLICÁVEL
médica. A INSTITUIÇÕES HOSPITALARES.
O presente estudo questiona se as posturas de RS sensibilizam o médico na sua
decisão de internação de pacientes em situações não emergenciais. Atuar de maneira Figura 1
socialmente responsável repercutiria positivamente na percepção que médico tem de Tipos de responsabilidade social
um hospital?
O objetivo do presente trabalho é avaliar se os atributos de RS, na prática, são rele-
vantes para o profissional médico, em comparação com outros atributos, quando da
necessidade de internação de seu paciente em um hospital.
Para Guedes (2000), quando uma empresa atua com responsabilidade social, au-
menta o seu relacionamento com diversos públicos relevantes (clientes atuais e em po-
tencial, opinião pública, acionistas, investidores, fornecedores, funcionários, governo)
e aumenta a exposição positiva em mídia espontânea onde seus produtos, serviços e
marca ganham maior visibilidade e possível aceitação.
Lourenço e Schroeder (2004) citam que existe uma relação positiva entre o com-
portamento socialmente responsável e a performance econômica da empresa, contudo A Figura 1 (Carrol apud Lourenço e Schoreder, 2004) descreve os quatro tipos de
a demonstração disto é difícil, pois há pouco consenso sobre a forma de medir a RS e responsabilidade social:
de como esta pode estar relacionada com as medidas de desempenho, tais como lucro e
preço das ações, que são preocupação dos acionistas. a) Responsabilidade econômica: A base e o principal da responsabilidade econômi-
Volpon e Cruz (2004) divulgam resultado semelhante em artigo denominado A im- ca é o lucro, razão pela qual as empresas existem. Os hospitais privados, embora pres-
portância da responsabilidade social na fidelização dos clientes: uma investigação no mer- tem um serviço de interesse público, têm de ter lucro auferido por meio de produtos e
cado bancário. Assim, a cem entrevistados foram apresentadas cinco qualidades, para que serviços. Funcionam como empresas, porém, a cobrança social é grande, já que lidam
os mesmos as priorizassem em relação ao que um banco deve ter, para não perder seus com a saúde. Os hospitais particulares precisam oferecer tratamentos adequados como
clientes. O resultado foi: relacionamento com funcionários, 28%, preço das tarifas, 25%, forma de tornarem-se competitivos em um mercado em que boa parte dos hospitais
qualidade dos serviços, 21%, bom atendimento, 17%, responsabilidade social, 9%. públicos não é eficaz. É possível que, por seu caráter essencial, sejam vistos como em-

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presas condicionadas a ações sociais. • Tratamento diferenciado para o médico


• Confiança e identificação com a instituição
b) Responsabilidade legal: Observância às rigorosas leis municipais, estaduais e • Sistema de diagnóstico seguro e com qualidade
federais. Os hospitais atêm-se tanto às normas que regem quaisquer empresas como • Qualidade de setores críticos como UTI e pronto socorro
às específicas (descarte de lixo hospitalar, armazenamento e uso de medicamentos e • Hospital da moda ou valorizado pela comunidade
registros legais diversos). • O seguro saúde
• Que atendam a necessidades financeiras
c) Responsabilidade ética: É o senso de equidade, justiça e imparcialidade, além do • Que atendam às exigências do paciente
respeito aos direitos individuais. O corpo clínico de um hospital está ancorado em pro- • Menor custo para o paciente
cedimentos e códigos de ética profissional, que estabelecem normas para a conduta en-
tre si, para com a sociedade e entre os seus pares, que preservam os níveis de confiança Os mesmos autores buscaram responder à seguinte pergunta: quais são os aspectos
e a imagem perante a sociedade. A conduta ética do corpo clínico é um forte indicador que evidenciam uma aproximação do médico com as instituições hospitalares em que
da RS de um hospital perante os pacientes e demais públicos. atua e como ocorre esta relação no processo de gestão, de modo a contribuir para que
a organização seja mais competitiva? A ordem acima é a de importância na escolha da
d) Responsabilidade discricionária ou filantrópica: É a ação pela empresa na rea- instituição, encontrada no resultado da pesquisa.
lização de atividades sociais não obrigatórias e sim por decisão voluntária de seu corpo Silva (1996) cita o esquema abaixo, que compõe o processo de percepção, útil para
diretivo e funcional. Os hospitais particulares, em face de suas competências, ou sim- demonstrar a decisão médica e relevante na escolha da instituição para internar um
plesmente por serem um referencial para tratamentos médicos, têm sido procurados paciente:
para atender pessoas carentes ou com problemas específicos, algo que por vezes o fa-
zem para atender o clamor social. Muitos hospitais participam de ações sociais diversas, Órgãos do sentido => Simbolismos => Associações => Produção de significados =>
como aquelas destinadas a combater a obesidade, desnutrição ou prevenção de doenças PERCEPÇÕES
cardiovasculares; outros tratam de carentes sem cobranças financeiras de qualquer tipo.
Maldonado e Canella (2003) assinalam que o atendimento integral e integrado ao
Ibrahim, Angelidis e Howard (2000), em pesquisa conduzida com 184 diretores de paciente é fator indispensável e comentam que para atender bem o paciente é preciso
15 hospitais do Sudoeste dos Estados Unidos, constataram que, quando os gestores têm que os profissionais busquem também o atendimento às suas próprias necessidades e
formação na área de saúde, as responsabilidades “econômica” e “legal”, (modelo da reivindicações básicas. No mais das vezes, estes pré-requisitos são oriundos da percep-
Figura 1), são tidas como menos importantes do que quando consideradas por gestores ção do médico, noutros, da constatação e, em outros, mais da realidade comprovada.
que não tem tal formação. Para a responsabilidade “ética” e “discricionária”, não houve Assim, sugerimos a Figura 2 abaixo, esquematizando os envolvidos no processo de
variação, ou seja, ambos tipos de gestores as consideram de modo similar. atendimento ao paciente que o médico considera e pondera ao decidir por um hospital,
quando da internação de seu paciente.
O MÉDICO E SEU AMBIENTE

O profissional médico tem de considerar em seu processo de diagnóstico inúmeras


variáveis e, quando há necessidade de internação, outras são adicionadas e usualmente
consideradas. Figura 2
A escolha da instituição e o processo de decisão são objetos deste artigo. Burlama-
qui e Keller (2004) avaliaram o assunto e encontraram 12 variáveis, conforme listagem
abaixo:

• Condições de trabalho
• Segurança para o médico e paciente
• Qualidade da assistência

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Taublib (1993) menciona que, de todos os envolvidos na assistência ao paciente (Fi- Os hospitais buscam esta excelência de serviços, percebidos pelos médicos em seu
gura 2), somente a enfermagem está 24 horas permanentemente ao lado do paciente e trabalho diário, por serem tangíveis e significativos. O selo confere à instituição um
é a principal interação deste com o hospital. padrão relevante e os que o almejam têm de atender aos critérios estabelecidos.
Ainda, segundo este autor, a enfermagem é a responsável pela imagem do hospi- Com base nos modelos apresentados, no julgamento decisório do médico, no que
tal com qualidade, fator percebido pelo médico com a mesma intensidade que o pa- entendemos ser critério de escolha e nas referências citadas até agora, elaboramos os
ciente. Assim, o médico, enquanto cliente do hospital, tem no serviço de enfermagem atributos, submetidos às avaliações dos médicos, conforme o próximo tópico deste arti-
um importantíssimo fornecedor. Segundo Marx e Secaf (apud TAUBLIB, 1993, p. 47), go, com as respectivas definições e conceituação de cada um deles, que foram submeti-
“Muitas vezes um paciente precisa escolher entre um hospital com aparelhagem sofisti- dos à apreciação de um grupo de médicos, a fim de buscar o entendimento dos mesmos,
cada e outra instituição em que o ponto alto é qualidade de assistência de enfermagem de suas necessidades e do que é relevante no momento da decisão de internação de um
prestada. É quase certo que não só o paciente, mas também seus familiares e o próprio paciente. Tais definições estão sujeitas a críticas e podem ser aperfeiçoadas, porém,
médico escolheriam o hospital em que os recursos humanos sobrepujam os recursos refletem as variáveis consideradas pelos médicos no processo de decisão da escolha de
materiais”(grifo nosso). um hospital para internação de seu paciente em caráter não emergencial.
O médico também recebe grande influência de diversos setores, dentre eles o da in-
dústria envolvida com equipamentos, medicamentos e serviços de saúde. Muitas vezes, A PESQUISA COM OS MÉDICOS
é o mesmo sistema de marketing que também persuade o paciente, fazendo-o pressionar
o médico, no sentido de seguir modismos e valores (CAMARGO, 1995). Outro fator A pesquisa foi conduzida em um hospital particular, de porte médio, da Zona Sul
que pesa na indicação do hospital, por parte do médico, é o seu alto índice de credibili- da cidade de São Paulo, durante o mês de abril de 2005. Trata-se de um hospital com
dade, prestígio e aceitação social (LEISINGER e SCHMITT, 2001, p. 29-30). internações clínicas e cirúrgicas e com um corpo clínico atuante de mais de 300 médicos
A Associação Paulista de Medicina e o Conselho Regional de Medicina do Estado de e 150 leitos, entre Unidade de Terapia Intensiva, apartamentos,enfermarias e suítes.
São Paulo promovem o CQH, ou seja, o Programa de Controle da Qualidade do Atendi- Não houve nenhum tipo de seleção quanto ao sexo, especialidade, tempo de for-
mento Médico-Hospitalar. Há um manual, (PROGRAMA, 2001), onde são descritos os mação, capacitação, tempo de trabalho, grau de freqüência ao hospital ou outro tipo
atributos ou critérios de qualificação distribuídos em sete grandes grupos, a saber: de seleção. Não foi solicitada nenhuma identificação do profissional e o questionário
foi respondido apenas por médicos (as) e sem intermediários. Ao final, retornaram 61
• Liderança => São avaliados: sistema de liderança, cultura da excelência e formulários preenchidos.
análise crítica do desempenho global. Foi recomendado ao médico que considerasse seu universo de utilização de hospitais
• Estratégias e planos => São avaliados: formulação de estratégias, operaciona- e não apenas onde a pesquisa foi aplicada, pois o que se julgava não era a instituição
lização das estratégias e planejamento da medição do desempenho global. propriamente dita, mas somente os atributos definidos.
• Clientes e sociedade => São avaliados: imagem e conhecimento do mercado, Ressalta-se que o questionário foi preenchido por todos os médicos, através de con-
relacionamento com cliente e interação com a sociedade (grifo nosso). vite e entregue em mãos dos mesmos.
• Informação e conhecimento => São avaliados: gestão das informações do hos- Não foi prestado nenhum esclarecimento adicional ou explicações além das escritas
pital, gestão das informações comparativas e desenvolvimento do capital intelectual. no questionário. A ordem de apresentação dos atributos foi, no questionário, aleatória.
• Gestão de pessoas => São avaliados: sistemas de trabalho, educação, treina- Também foi mencionado ao profissional que, se ele entendesse haver um atributo
mento e desenvolvimento e o bem-estar e satisfação das pessoas (grifo nosso). que, para ele/equipe fosse importante, mas que não foi mencionado, ele deveria ater-se
• Gestão de processos => São avaliados: gestão de processos relativos ao ser- aos que foram apresentados e que os categorizasse conforme suas expectativas, percep-
viço, de processos de apoio, relativos aos fornecedores e a gestão financeira. ções, necessidades ou desejos.
• Resultados => São avaliados: os resultados relativos aos clientes e ao mercado; Os dez atributos receberam valores numéricos de 1 a 5, conforme o grau de im-
resultados financeiros, de pessoas, de fornecedores e parceiros, de serviços de apoio e portância, ou seja:
organizacionais e os relativos à sociedade (grifo nosso).
Sem importância Ù um ponto
Este programa concede um selo de qualidade ao hospital, por meio de critérios Pouco importante Ù dois pontos
Importante Ù três pontos
definidos e avaliados metodicamente, com base em questões, parâmetros e critérios Muito importante Ù quatro pontos
rígidos, aferidos por estes sete grandes grupos. Importantíssimo Ù cinco pontos

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OS ATRIBUTOS PESQUISADOS porá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender a demanda de todos e
não apenas dos acionistas ou proprietários.
• Capacidade das equipes internas
É a forma com que os outros profissionais de saúde atendem o médico e suas equi- • Status do hospital
pes, excluindo-se neste quesito os profissionais de enfermagem. É a percepção que o médico, equipe e pares têm do hospital em que ele exerce suas
atividades e a visibilidade de sua presença constante na instituição. Cooper e Schindler
• Agilidade na internação e alta médica (2003) recomendam as escalas de classificação para julgar propriedades. Optamos pela
É a avaliação dos processos de check-in e chek-out do paciente, considerando-se a escala tipo Likert, por tratar-se de uma escala de classificação somatória, ou seja, afir-
rapidez e eficácia com que atendem o paciente. mações que expressam atitudes favoráveis ou desfavoráveis em relação ao que se quer
estudar.
• Capacidade humana
Conceituado como o atendimento do corpo de enfermagem, exclusivamente, e seu
grau de competência, aqui definido como conhecimento, habilidades e atitudes no pro- RESULTADOS E CONCLUSÕES
cesso de tratamento do paciente e na atenção dada ao médico e suas equipes, quando
das demandas. Os 61 questionários foram analisados e o resultado foi:

• Capacidade técnica do hospital ATRIBUTO PONTOS


É a avaliação dos recursos de equipamentos, instrumentais cirúrgicos e assessórios,
bem como a modernidade, aferição, disponibilidade e manutenção. Capacidade das equipes internas 251 terceiro
Agilidade na internação e alta médica 240 quinto
• Estacionamento Capacidade humana 256 segundo
Refere-se à facilidade, cortesia, gratuidade e agilidade no processo de chegada e Capacidade técnica do hospital 264 primeiro
saída do médico com seu carro.
Estacionamento 207 décimo
• Fonte pagadora Fonte pagadora 221 nono
É o relacionamento comercial do hospital com a fonte pagadora ou convênio médi- Localização geográfica 230 sexto
co, para que o paciente não tenha custo com a internação. Repasse do médico e suas equipes 245 quarto
Responsabilidade social 227 oitavo
• Localização geográfica
Status do hospital 229 sétimo
É a avaliação do médico quanto à localização do consultório, residência e distâncias
percorridas diariamente e o trânsito enfrentado para a visita ao paciente internado.
Pode-se dividir os comentários em duas partes. A primeira, se refere à baixa per-
formance relativa da RS, se comparada aos demais atributos (oitavo lugar). A segunda,
• Repasse do médico e suas equipes
relaciona-se ao bom resultado do atributo RS em si, já que, pelo resultado absoluto (227
É a forma com que o hospital faz o ressarcimento aos médicos e equipes, depois de
pontos), posicionou-se como um fator entre “importante” e “muito importante”.
receber da fonte pagadora, quando o profissional não tem vínculo comercial direto com
É possível especular sobre as razões da baixa performance em termos relativos.Os
o mesmo, sem, contudo, avaliar valores, tabelas e/ou salários.
resultados mostram que, no meio médico-hospitalar, a percepção da RS como fator de
decisão só está à frente dos quesitos “fonte pagadora” e “estacionamento”.
• Responsabilidade social
Como se trata de uma prestação de serviços extremamente dirigida e técnica, o
Para esta pesquisa, a definição foi adaptada do conceito do Instituto Ethos e assim
médico não priorizaria a relação de causa e efeito entre sua prática médica propriamente
descrita: a empresa socialmente responsável é aquela que possui capacidade de ouvir
dita e as ações de RS, talvez, a nosso ver, confundindo-a com benemerência, caridade
os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, for-
ou similares.
necedores, consumidores, comunidades, governo e meio ambiente) e consegue incor-
Outro fator, seria o pouco conhecimento, por parte do médico, das implicações que
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a RS teria sobre suas atividades e de um hospital. Por exemplo, uma atitude discrimi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
natória em relação a funcionário, mas sem repercussão pública, parece não ser im-
peditiva para o trato com pacientes. Mas, com mais informações sobre possíveis des- ASHLEY, P.A. (Org.). Ética e responsabilidade social nos negócios. 2 ed. São Paulo:
dobramentos desse comportamento por parte do hospital, certamente fariam o médico Saraiva, 2005.
apontar a RS como item fundamental na gestão hospitalar.
A constatação de a fonte pagadora estar logo abaixo da RS, em importância, para os BURLAMAQUI, P; KELLER, A. Estratégia hospitalar: compatibilizando o gestor
médicos, revela uma realidade de variável financeira, pois os mesmos só são autoriza- administrativo e o corpo clínico. XXVIII Encontro Nacional da ANPAD, 2004. Cu-
dos a atender determinado paciente em um hospital por decisão do convênio médico do ritiba, 2004.
paciente, desde que o médico(a) aceite interná-lo naquele hospital. Assim, o item “fonte
pagadora” é atributo que pertence ao universo do médico, mas este não o domina, ou em CAMARGO, K. R. Medicina, medicalização e produção simbólica. In: PITTA, A.
outras palavras, o médico(a) interna onde a fonte pagadora da internação em questão (Org.). Saúde & Comunicação: visibilidades e silêncios. São Paulo: Hucitec - Abras-
determinar, não cabendo a ele (a) opção neste processo. co, 1995, p. 13-24.
Em último está o “estacionamento”, que nada tem a ver com a qualidade do serviço
prestado ao paciente e é apenas um item do conforto pessoal do profissional. Irrelevante, COOPER, D; SCHINDLER, P. Métodos de pesquisa em administração, 7 ed. São
portanto, na prestação do serviço propriamente dita e que também fica abaixo da respon- Paulo: Bookman, 2002.
sabilidade social do hospital.
Os três fatores mais relevantes para os médicos são “capacidade técnica do hospi- ETHOS – Instituto Ethos de empresas e responsabilidade social.<http://www.ethos.
tal”, “capacidade humana” e “capacidade das equipes internas”, corroborando com os org.br.> Acesso em 19/4/2005.
estudos de Maldonado e Canella (2003) e Taublib (1993). Porém, a mesma pesquisa
aponta, para um desempenho bom, em termos absolutos, da responsabilidade social GUEDES, R. C. Responsabilidade social & cidadania empresariais: conceitos estra-
do hospital para o médico. Isso porque, na média, esse item ficou com avaliação entre tégicos para as empresas em face à globalização. (Mestrado em Administração) - Pon-
“importante” e “muito importante”. tifícia Universidade Católica de São Paulo: 2000.
Um dos motivos para isso seria o fato do médico ter boa formação intelectual, acom-
panhar o que condiciona a qualidade de vida individual e coletiva das pessoas e tam- IBRAHIM, N. A; ANGELIDIS, J. P; HOWARD, D.P The corporate social responsive-
bém porque a RS é assunto que, embora não faça parte do universo deste profissional, ness orientation of hospital directors: does occupational background make difference?
é politicamente correto. O setor hospitalar já está inserido naturalmente na RS, pelas Health Care Management Review. Frederick: Spring, v. 25, Iss 2, p. 85 - 93, 2000.
características intrínsecas do serviço prestado, e o médico preocupa-se também com sua
imagem perante o paciente, em que a indicação de um hospital que desrespeita a RS KREITLON, Maria Priscilla. A ética nas relações entre empresas e sociedade: funda-
ser-lhe-ía percebida como desabonador. mentos teóricos da responsabilidade social empresarial. XXVII Encontro Nacional da
O médico sabe que um tratamento só será eficaz se as condições internas de trabalho, ANPAD, 2004. Curitiba: ANPAD, 2004. Seção GSA (Gestão Social e Ambiental), 13p.
recursos e outros forem consistentes. Uma conduta antiética do hospital com um fun-
cionário, sobretudo da equipe de enfermagem, pode repercutir diretamente no cuidado LEISINGER, K; SCHMITT, K. Ética empresarial: responsabilidade global e geren-
ao paciente. O mesmo ocorrendo com o descaso com a comunidade ou fornecedores. ciamento moderno. Petrópolis: Vozes, 2001.
Nesse caso, a RS seria parte do “serviço” que o médico oferece ao paciente.
Finalizando, o que se mostrou aqui foi a forma com que o médico percebe a RS, MALDONADO, M; CANELLA, Paulo. Recursos de relacionamento para profis-
comparada com outros atributos, em seu processo decisório, assunto este que está longe sionais de saúde. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2003.
de ser esgotado, merecendo mais reflexões e estudos, uma vez que a área médica e os
setores de responsabilidade social podem propiciar grande significado social e desfrutar MELO NETO, F. P; FROES, C. Gestão da responsabilidade social corporativa: o
de uma gestão articulada. caso brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.

PROGAMA de controle da qualidade do atendimento médico-hospitalar. Manual de


orientação aos hospitais participantes. 3 ed. São Paulo: Atheneu, 2001.

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VOLPON, C. T; CRUZ, E. P. A importância da responsabilidade social na fideliza- Resumo


ção dos clientes: uma investigação no mercado bancário. XVIII Encontro Nacional da As sociedades contemporâneas têm sofrido mudanças significativas, que demandam
ANPAD 2004. Curitiba, ANPAD, 2004. Seção GSA. novas abordagens para solucionar suas necessidades. Em especial, a formação profis-
sional se altera pela necessidade de novas competências e de novos requisitos de tempo
e espaço para sua realização. Neste contexto, a educação a distância exerce papel im-
portante, gerando novas possibilidades de conciliar a aprendizagem com novos modelos
educacionais.

Palavras-chave: tecnologia, globalização, educação a distância.

Abstract
Contemporary societies have experienced meaningful changes that require new ap-
proaches to attend their needs. Specially, the professional education is changed by the
necessity of new competences and new demands regarding time and space for its ac-
complishment. In this context, the distance education plays an important role by creat-
ing new possibilities of putting together learning with new educational models.

keywords: tecnology, globalization, distance education.

INTRODUÇÃO

Os cenários atuais constituídos pelo aspecto social, tecnológico, político e econômi-


co sofreram grandes mudanças, promovendo o surgimento de novas atividades, ao mes-
mo tempo em que outras funções desaparecem ou são transformadas. O crescimento
exponencial do volume de informação, a geração de novos produtos, o advento de novas
teorias ou a nova aplicação de teorias já largamente conhecidas, têm acarretado cons-
tantes reavaliações do processo de trabalho.
A tecnologia está mudando rapidamente, a competição global está forçando uma
dramática redução nos tempos decorridos entre o surgimento de uma inovação e sua
entrada no mercado, reduzindo as oportunidades do sujeito compreender e acompanhar
as novas tecnologias da informação e da comunicação. Portanto, os conceitos-chave
deste novo momento global são a colaboração e a cooperação entre os sujeitos e a
comunicação virtual, eliminando distâncias, aproximando as pessoas e aumentando a
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produtividade, por meio de métodos cooperativos de trabalho virtual. cipalmente na era moderna, sendo acentuadas nas atuais sociedades contemporâneas
Conforme Castells (1999): (GAUNTLETT, 2005).
A globalização gera mudanças em todos os níveis e esferas da sociedade, criando
[...] Ao abordar a relação entre tecnologia e sociedade, o resultado final depende de novos estilos de vida, de consumo, novas maneiras de ver o mundo e de aprender. “A
um complexo padrão de interação dialética, uma vez que muitos fatores, inclusive
globalização não é apenas um fenômeno econômico (...) mas tem a ver com a transfor-
criatividade e iniciativa empreendedora, intervêm no processo de descoberta cientí-
fica, inovação tecnológica e aplicações sociais. Embora não determine a evolução mação do espaço e do tempo” (GIDDENS, 1997, p.15).
histórica e a transformação social, a tecnologia, ou a sua falta, incorpora a capaci- As interações e relações em escala mundial criam demandas pelo atendimento quase
dade de transformação das sociedades, bem como os usos que as sociedades, sem- instantâneo das necessidades em um ambiente fortemente estruturado pelo consumis-
pre em processo conflituoso, decidem dar a seu potencial tecnológico. mo, que gera, por um lado, altas demandas de produtos e serviços que devem ser cons-
tantemente alterados e acrescidos de valor e, por outro, a necessidade de profissionais
Essa nova realidade redefine o perfil do sujeito deste fim de século. É preciso formar preparados para organizações empresariais que requerem alta adaptabilidade, flexibi-
profissionais que aprendam de forma não convencional e que saibam trabalhar coopera- lidade, capacidade de resolver problemas, auto-aprendizado e de trabalhar em grupo
tivamente para gerar soluções inovadoras e competitivas. (BELLONI, 1999).
Conduzida intensamente pela globalização econômica e pelo desenvolvimento das
tecnologias de comunicação, de informação e de gestão, a sociedades contemporâneas COMUNICAÇÃO VERSUS EDUCAÇÃO
enfrentam uma série de aberturas nos seus paradigmas, chegando como uma época de
conflagração das interações sociais e produtivas. Segundo Drucker (1993), esta época Aretio (2001) destaca que, assim como outras tecnologias, como imprensa, telefone,
deve ser denominada de Era do Conhecimento e da Informação, onde a economia esta- rádio, cinema e televisão causaram autênticas revoluções quando surgiram, as novas
belece, por premissa, que as novas fontes de riqueza são o conhecimento e a comunica- tecnologias possuem maior impacto, devido às suas características de globalização,
ção, e não mais os recursos naturais ou o trabalho físico. rapidez e capacidade de crescimento.
Essa era do conhecimento está surgindo em meio ao processo de globalização. A Adicionalmente, é importante destacar que os processos de ensino se inserem no
globalização deve ser entendida aqui, como um processo de transformações econômicas escopo maior dos processos comunicacionais, cujo foco busca compreender os fenôme-
e políticas que vêm acontecendo nas últimas décadas. A principal característica é a inte- nos associados à transmissão de mensagens entre produtor e receptor, analisando todas
gração dos mercados mundiais com a exploração de grandes empresas multinacionais. suas características e nuanças.
Junte-se a isso a grande revolução tecnológica, com o uso cada vez maior de telefones, Esta abordagem é fundamental, pois a Educação a Distância, que será descrita em
computadores e televisão e a uniformidade das informações, com o surgimento e ex- seguida e representa um dos principais desafios contemporâneos, é, basicamente, um
plosão da internet e dos canais de televisão por assinatura. Com isso, os países passam processo comunicacional que associa o acesso a conteúdos para formação dos indivídu-
a interagir não só na economia e na política, como também na cultura. os aos diversos meios de comunicação, aqui entendidos como os suportes físicos para a
sua transmissão entre o ponto inicial e o final (professor e aluno, por exemplo).
SOCIEDADE GLOBALIZADA Esta inter-relação pode ser observada na afirmação:

Anthony Giddens, contextualiza o desenvolvimento das sociedades em seus estudos O extraordinário é que o ‘papa da comunicação’ tenha tido uma visão (previsão)
sob o ponto de vista das transformações nas relações sociais com o espaço e o tempo. tão lúcida da escolarização do futuro, sem que seja, propriamente, um educador.
Acontece, porém, que só agora os educadores estão tomando consciência de que a
Suas análises relacionam o atual estágio das sociedades contemporâneas com as formas educação é um processo de comunicação e as melhores possibilidades da didática
de interação humanas potencializadas pelas tecnologias e que aproximam as pessoas, prospectiva estão da ‘teoria da informação’, área em que atua McLuhan. As facul-
alterando os aspectos da vida local sob influência dos eventos e conhecimentos no âm- dades de comunicação podem vir a ser, no futuro, as verdadeiras escolas de ‘for-
bito mundial (GIDDENS, 1997). mação do professor’, se é que a função do professor vai sobreviver às mutações
pedagógicas que estão em vias de ocorrer, pelo menos nos paises de civilização
Desta forma, a globalização, como resultado destas interações em âmbito global,
pós-industrial (LIMA, 1998 apud BELLONI, 1999, p.68).
não deve ser encarada como um fenômeno apenas econômico, porém, resulta da inten-
sificação dos meios de comunicação e de transporte em escala planetária.
Como um processo comunicacional, a Educação a Distância — EaD — deve ser es-
Para Anthony Giddens, as estruturas sociais são alteradas e redefinidas em resposta
tudada sob o enfoque das teorias da comunicação, para se obter os subsídios necessários
a forças sociais motivadas pelas mudanças que sempre ocorreram na história, prin-
a uma aplicação adequada e com resultados efetivos.
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formação a distância com o emprego de materiais impressos e, depois com o advento do


NECESSIDADES DE FORMAÇÃO rádio e da televisão, também estes meios de comunicação passam a ser empregados para
a difusão de programas com conteúdos e métodos de ensino específicos.
A formação das pessoas passa a ser foco especial das ações dos governos das nações As novas tecnologias da informação e comunicação, especialmente potencializadas
ditas pós-industriais, pois os processos produtivos estão sendo constantemente altera- pelos recursos computacionais, oferecem atualmente diversas e significativas possibi-
dos, visando sempre maior produtividade, levando à necessidade de constante espe- lidades de inserção educacional, contando com instituições nacionais e internacionais
cialização das forças de trabalho. Esta formação continuada é essencial, de forma que especializadas em EaD.
os profissionais possam estar, permanentemente, em condições produtivas, pois, caso
contrário, é decorrente a exclusão social e os problemas dela advindos. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
A economia mundial vive um processo de intensificação da competitividade e capa-
cidade de gerar inovação tecnológica. Uma vez que o processo de aprendizado é perma- A educação a distância tem sido objeto de estudos e discussões face ao seu potencial
nente e atrelado ao desenvolvimento humano, torna-se cada vez mais imprescindível, a de permitir que pessoas em todos os locais com acesso à internet, a qualquer momento,
busca por uma alternativa educacional inovadora, para atender aos requisitos dos profis- tenham alcance a informações, cursos, treinamentos e formação, de maneira geral.
sionais atuais e futuros. Entende-se EaD como a prática educativa, composta pelo processo em que: (1) exis-
A inovação é entendida aqui como idéia, prática ou “algo”, que para um indivíduo ou te total separação entre o professor e o aluno durante a maioria do tempo do processo
grupo é percebido como novo (ROGERS 1995). A inovação é o novo desenvolvimento de ensino e aprendizagem; (2) faz-se uso de recursos tecnológicos (educacional-media)
e introdução de ferramentas, artefatos e dispositivos derivados dos conhecimentos pelos para unir o professor a seus alunos, os alunos entre si, e para transportar informações
quais as pessoas entendem e interagem com o seu ambiente. e conteúdos didáticos; (3) garante-se a comunicação bidirecional, entre professores e
Estas inovações tecnológicas podem ser percebidas como totalmente novas (inova- alunos e (4) transfere-se o controle do processo de aprendizagem basicamente para os
ção radical), caso sua percepção ocorra sem prévio conhecimento, ou incrementais, no próprios alunos (SOARES, 2003).
caso do interagente possuir contato prévio com estas tecnologias. A EaD surge no contexto das inúmeras inovações tecnológicas oriundas da área da
Elas podem produzir alterações profundas nas relações interpessoais, em todos os computação e informática, associadas às telecomunicações, que têm transformado as
níveis e aspectos, principalmente nas sociedades que delas dispõem, as quais imprimem sociedades contemporâneas. Ainda, a EaD pode ser caracterizada como:
um novo ritmo, quase frenético, aos relacionamentos empresariais e humanos, modifi-
cando, principalmente, as novas relações com o trabalho e a formação profissional. [...] Sistema tecnológico de comunicação bidirecional, que pode ser massivo e que
substitui a interação pessoal, na sala de aula, de professor e aluno, como meio
prefe-rencial de ensino, pela ação sistemática e conjunta de diversos recursos
QUESTÕES EDUCACIONAIS didáticos e pelo apoio de uma organização e tutoria que propiciam a aprendizagem
independente e flexível dos alunos (Aretio, 1994).
A educação é alvo recente de preocupações, debates e investimentos por parte dos go-
vernos, empresários e da sociedade como um todo. Hoje, é discutida a importância de se Desta forma, a EaD surge como uma proposta para o atendimento das demandas
repensar as práticas pedagógicas, para enfrentar os desafios provenientes da globalização, educacionais, às quais o sistema tradicional de educação atual dificilmente poderá
da revolução nas tecnologias de comunicação e informação e do encaminhamento para atender por sua estruturação limitada. Para melhor posicionamento, trata-se por “siste-
uma sociedade interdependente. ma tradicional de educação” ao conjunto de cursos oferecidos de forma regular e sob a
No campo da educação, também podem ser percebidos desequilíbrios em relação à supervisão do governo (ROSENBERG, 2002).
formação dos profissionais, devido às novas categorias funcionais, aos novos padrões Atualmente, a sua adoção está alcançando apenas uma parcela das organizações, ha-
de estudo (cursos noturnos e/ou autônomos), aos novos currículos etc. vendo grande potencial para seu emprego, principalmente face às questões destacadas
Os sistemas educacionais tradicionais, por outro lado, precisam atender a estas de- anteriormente sobre as transformações sociais em curso, decorrentes das tecnologias da
mandas, passando por reorganização, buscando maior eficiência em seus processos edu- informação e comunicação. Ainda, estudos recentes sobre EaD têm discutido acerca dos
cacionais e tendo na educação aberta e a distância, alternativas promissoras para atender conteúdos disponibilizados nos ambientes virtuais de aprendizagem e apontado as neces-
a estes novos desafios. sidades de elaboração de páginas criativas, objetivas, com riqueza gráfica, organização
A educação a distância tem sido desenvolvida e aplicada, praticamente, seguindo as clara e logicamente orientadas, com navegabilidade fácil (BELISARIO, 2003).
inovações tecnológicas. Constata-se, a partir do início do século XX, as iniciativas para Logo, as aplicações de EaD baseadas na internet requerem qualidade na elaboração
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de seus conteúdos e estudos da aplicabilidade das linguagens midiáticas (vídeo, áudio, ROGERS, E. M. Diffusion of innovations. 4 th. Edition. New York: The Free Press,
animações etc.) em sua elaboração e resultados. 1995.
Estudos têm demonstrado que, ao se discutir EaD, os principais obstáculos se en-
contram não propriamente nas tecnologias e sua aplicação, mas principalmente no esta- ROSENBERG, M. J. e-Learning: estratégias para a transmissão do conhecimento na
belecimento de uma cultura interna, juntos a todos os envolvidos, pois o ensino é essen- era digital. São Paulo: Makron Books, 2002.
cialmente uma ação humana, na qual as pessoas atuam como professores, mediadores e
estudantes, inclusive com revezamento constante nestes papéis. SOARES. I. O. EaD como prática educomunicativa: emoção e racionalidade operativa.
IN: SILVA, M. (org.) Educação online. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com este trabalho, buscou-se contextualizar a EaD e discutí-la com o subsídio das
análises citadas para demonstrar que sua evolução não está vinculada a “modismos”,
antes, porém, tem sido estudada e empregada de forma ampla, na perspectiva de que
poderá alterar o modo como a educação funciona e poderá atender aos desafios que as
sociedades contemporâneas lhe impõem.

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LIMA, L. O. Mutações em educação segundo McLuhan. São Paulo: Vozes, 1998.

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Comunicação & Tecnologia Comunicação & Tecnologia

TELEMARKETING: A PROVA DOS NOVE. conceito persiste: o operador precisa, durante o contato, de informações sobre o produto
que está vendendo, para argumentar sobre as objeções que, possivelmente, receberá do
Autores:1 consumidor potencial e de dados e regras para fechamento de negócios – e um script é
Alexandre Tersano uma boa maneira de fornecer-lhe tais informações. Mas é importante que o script seja
Fernando Marques Alfano complementado com treinamentos, de forma a fazer com que o operador entenda e ab-
Marcelo Domingos de Souza sorva o script, e não apenas o leia durante o contato.
Maurício Felix Andrade
Renato Argenton 4 - TREINAMENTO

Operações de telemarketing, quando bem-executadas, têm grande potencial de êxito. Treinar os operadores é fundamental, para mantê-los bem condicionados no trata-
O desafio é exatamente executá-las bem. O segredo, naturalmente, é planejamento, cria- mento dos contatos. Operadores treinados têm segurança na oferta, e esta segurança é
tividade e controle, muito controle. A seguir, nove itens que podem significar o êxito transmitida ao consumidor potencial. Além disso, o treinamento agiliza a resolução de
– ou o fracasso – de uma operação deste tipo. eventuais conflitos, e aumenta o nível de competência e motivação da equipe, o que é
importante para que esta participe do processo de controle de qualidade da oferta e da
1 - PLANEJAMENTO DA OFERTA operação.

Desenhar o produto adequadamente é o primeiro passo para executar bem uma opera- 5 - MOTIVAÇÃO
ção de telemarketing. Deve-se levar em consideração a condição principal do telemarke-
ting – a venda a distância – no momento de projetá-lo. Assim, produtos de venda mais A operação de telemarketing é estressante por natureza e a única maneira de lutar de
técnica ou especializada devem ser ofertados com possibilidade de acesso às informa- forma efetiva contra este estresse é manter a equipe motivada. Muitos fatores auxiliam o
ções por parte do operador, trabalho que em uma loja normal seria feito pelo vendedor. processo de motivação: ofertas interessantes, boa seleção de público-alvo e bons recur-
Além disso, os meios de pagamento devem ser cuidadosamente analisados para evitar sos de contato, que permitem mais contatos efetivos, políticas de descompressão (termo
que vendas se percam, por desconfiança do consumidor potencial. usado para denotar atividades de redução de estresse da equipe) e incentivo gerencial
A oferta também deve ser planejada – custos, recursos, tempos e ganhos devem ser e de supervisão. Mas nenhum destes fatores será eficiente se não for acompanhado de
analisados de antemão, para posterior controle, sob risco de se criar uma operação que uma boa política de remuneração.
gira em falso.
6 - REMUNERAÇÃO
2 - PÚBLICO-ALVO
Um dos principais fatores críticos de sucesso de uma operação de telemarketing
Selecionar bem o público-alvo é fundamental em operações de telemarketing ativo, é este: a remuneração. Remunerar bem os operadores e a supervisão é essencial para
onde o consumidor potencial (o lead) é contatado pela empresa, para início do processo que estes se mantenham motivados e enxerguem vantagens na oferta que estão execu-
de venda. Como este contato é pago, toda vez que ele atinge um consumidor desinteres- tando. Remunerar bem passa tanto por garantir um rendimento fixo adequado para ne-
sado, gera-se um custo que deve ser absorvido pelas vendas realizadas, diminuindo-se cessidades básicas do operador, incluindo alguns benefícios, como um bom sistema de
o potencial financeiro do negócio. Assim, contatar as pessoas certas é essencial para comissionamento, que incentive vendas de maior valor agregado para a empresa sem
manter o negócio viável e evitar perdas financeiras e operacionais. prejudicar sua margem esperada, mas que gere boa receita para o operador.
Não existe fórmula mágica de comissionamento; basta que ela atinja estes dois ob-
3 - SCRIPT jetivos básicos, para que ela possa ser considerada bem-sucedida. Mas é um desafio
conciliar estes dois fatores, visto que eles são, em primeira instância, antagônicos. O
O script é a ferramenta de venda que o operador utiliza para ofertar o produto. grande segredo é identificar, dentre as determinadas soluções, que sistema permitiria
Embora scripts fixos e inflexíveis, que robotizam o atendimento, sejam obsoletos, o um aumento de vendas significativamente grande para absorver o custo adicional de
premiação.
1. Alunos da disciplina “Comunicação em Marketing” do curso de Pós-graduação Lato Sensu em Gestão de Marketing da Universidade IMES.

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Tabela: Indicadores de controle de telemarketing.


7 - SUPERVISÃO

O papel da supervisão é fundamental. O supervisor monitora os níveis de produção,


mantém a equipe focada nas metas táticas e operacionais e sustenta a sua motivação. É
importante, portanto, buscar um profissional com um perfil organizador e disciplinador,
mas que tenha habilidades pessoais para o contato com a equipe.
Indicador Fórmula Descrição Exemplos
10.000 contatos
8 - TECNOLOGIA sobre 40.000
telefonemas = 25%
Contatos Efetivados Percentual de tentativas onde a empresa
Efetivação de
/ Tentativas de conseguiu comunicar-se com o consumidor
Aplicar corretamente os recursos tecnológicos é essencial para manter o negócio Contatos
Contato potencial
1.000 respostas
sobre 100.000
produtivo. Recursos tecnológicos podem ser caros, mas eles sempre trazem retorno. É correspondências
importante, portanto, avaliar estes recursos com base no porte da operação e identificar = 1%

quais têm maior retorno de investimento. 40.000 telefonemas


Tentativas por Tentativas de Contato Número de tentativas de contato para cada lead
Existem dois pontos focais de aplicação de tecnologia na operação: o contato, que sobre 10.000 nomes
Lead / Leads Trabalhados trabalhado no período
trabalhados = 4
permite a adoção de inúmeras tecnologias de telefonia e telecomunicações em geral, e o
controle, que abrange basicamente os recursos de sistema de informação para operação, Número de tentativas de contato para cada
venda efetivada no período. Indicador importante
supervisão e gerenciamento. 40.000 telefonemas
Tentativas por Tentativas de Contato para cálculo do custo de contato por venda,
sobre 200 vendas
Venda / Vendas Efetivadas que envolverá não só os contatos envolvidos
efetivadas = 200
diretamente com cada venda, como também os
9 - CONTROLE, CONTROLE, CONTROLE... que não resultaram em venda alguma.

Percentual de nomes da base trabalhada que


Controlar é a pedra de toque do processo. Operações de telemarketing são lucrati- foram efetivamente contatados, independente do 6.000 nomes
vas, sob estreitas margens de produção; é importante conhecê-las, definí-las, planejar-se Contatos Leads Contatados / número de tentativas; indicador importante para contatados sobre
sobre Leads Leads Trabalhados projetar o potencial de vendas total do programa, 10.000 nomes
para alcançá-las – e depois medir incessantemente os resultados, para certificar-se de que seria atingido na hipótese de que todos os trabalhados = 60%
que isso ocorreu. leads trabalhados gerassem um contato

Não existe nenhum conceito revolucionário no telemarketing – em princípio, trata-se 200 vendas sobre
Penetração Vendas Efetivadas / Percentual de leads trabalhados que geraram
de uma operação de venda como outras, onde se faz um contato com um consumidor Total Leads Trabalhados uma venda efetiva
10.000 nomes
trabalhados = 2%
potencial, oferta-se um produto, tenta-se fechar a venda, entrega-se o produto e faz-se
a cobrança financeira. A grande diferença, em relação ao processo de venda física, é o Percentual de leads contatados que geraram
200 vendas sobre
Penetração Vendas Efetivadas / uma venda efetiva; indicador importante para
6.000 nomes
contato e a oferta. Se estes forem bem planejados, executados e controlados, o telemar- Nominal Leads Contatados estimativa do potencial total das vendas, sem a
contatados = 3,33%
interferência dos leads que não geraram contato
keting não apresenta riscos adicionais.
A Tabela, a seguir, mostra alguns dos indicadores mais utilizados no controle de Chamadas Atendidas
Percentual de chamadas atendidas dentro do 800 chamadas
limite de nível de serviço. Percentual básico de atendidas em 30
operações de telemarketing. Nível de em x segundos /
qualidade no atendimento receptivo. Conhecido segundos sobre
Serviço Total de Chamadas
pela notação indicador/limite (ex. 80% em 30 1.000 chamadas
Recebidas
segundos = 80/30) recebidas = 80/30
Chamadas 50 chamadas
Taxa de Abandonadas Percentual de chamadas não atendidas por uma abandonadas sobre
Abandono / Chamadas estrutura de atendimento receptivo 1.000 chamadas
Recebidas = 5%
7.500 segundos
Tempo Médio Tempo médio das chamadas na fila de espera no
Tempo Total em Fila / em fila sobre 500
de Espera em período de análise. Varia em função do nível de
Chamadas na Fila chamadas em fila =
Fila serviço e do perfil de entrada de chamadas
15 segundos

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TMA (Tempo Tempo Total de


Tempo médio de atendimento das chamadas.
Mede o tempo que a estrutura de atendimento
2.400 minutos de
atendimento sobre
JORNAL: MÍDIA EM TRANSIÇÃO.
Médio de Atendimento / leva para atender cada chamada, incluindo o 800 chamadas
Atendimento) Chamadas Atendidas tempo fora do meio de contato (telefone, chat atendidas = 3
etc.) minutos
Autores:1
Custo de Custo Total das 8.000 reais de custos Adriana Bueno
Custo de contato absorvido por cada venda
Contato por Tentativas de Contato
efetivada
de contato sobre 200 Daniela Schittini
Venda / Vendas Efetivadas vendas = 40 reais
Daniela Trazzi
Custo fixo por seat (posição de atendimento). O
custo fixo exclui os custos diretos de aquisição Érika Lima
20.000 reais de
Custo por Custos Fixos Totais / (comissões, custos de contato, despesas de
custos fixos sobre 5 Leandro Negreiros
Seat Seats Aplicados logística etc.). Este indicador é importante
seats = 4.000 reais Léride Lomonico
para medir a competividade de um seat de
atendimento

Existem inúmeros meios para se anunciar. Cada meio, ou veículo de comunicação,


apresenta peculiaridades que o torna mais indicado para certos tipos de comunicação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Não existe um veículo absoluto, que cubra todas as funções da comunicação. Por isso,
é muito importante saber onde colocar o anúncio. Os veículos mais usados pela propa-
JOHNSON, Neil. Os segredos do telemarketing. Littera Mundi, 2000.
ganda podem ser divididos em três grandes grupos: mídia eletrônica (TV, rádio, cinema
e internet), mídia impressa (revistas, listas e guias, jornais e mala direta) e mídia exte-
MAC ADDEN, Daniel Oscar. Telemarketing na prática. STS, 1994.
rior (outdoor, placas de rua, painéis).
A mídia impressa trabalha fundamentalmente com o sentido da visão, acionada por
CASTELLIANO, Tânia; FERREIRA, Norberto. Telemarketing 100%. Rio de Janeiro:
imagens (fotos, ilustrações, formas) e textos. Além de possibilitar bom direcionamento,
Record, 1998.
é indicada quando se torna necessário apresentar longos argumentos de venda, dados
comparativos, preços e outras informações que pedem tempo para análise e reflexão.
O meio jornal é um dos que mais tem se movimentado, quase que se reconstruído
ou se recriado a cada dia. Isto ocorre principalmente na área publicitária. São formatos
diferenciados e inéditos, edições especiais, cores, aromas, capas falsas, inserts, papéis
de diferentes cores, gramaturas, anúncios em três dimensões etc.
Trata-se de uma mídia que pode ser seletiva e direcionada. Podemos selecionar pú-
blico-alvo, escolhendo o tipo de jornal, tiragem, cadernos específicos etc. Os diários
permitem agilidade na produção e veiculação, possibilidade de interação entre conteúdo
editorial e mensagem comercial, potencializando o interesse.
Os jornais são a segunda mídia mais utilizada pela propaganda. É uma mídia muito
acessível ao anunciante e presta um verdadeiro serviço de utilidade pública, através dos
anúncios classificados, usados por toda a população e empresas de todos os tamanhos.
Representa uma excelente mídia de caráter local e regional, oferece grande agilidade
para sua utilização, alto impacto entre as classes mais elevadas e boa credibilidade para
os anúncios, transferida pela credibilidade do jornal junto a seus leitores, que com eles
mantém uma forte relação de identidade.
Um veículo jornalístico pode ser dirigido à população em geral, atendendo a múlti-
plos interesses, por meio das suas sessões e cadernos: Esporte, Política, Finanças, Lazer,
Notícias Nacionais e Internacionais.

1. Alunos da disciplina Comunicação em Marketing do curso de pós-graduação lato sensu em Gestão de Marketing da Universidade
IMES, 2005.
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A publicação de anúncios em jornal compreende dois espaços distintos: o espaço tancialmente os volumes de circulação da mídia impressa e revistas, uma vez que estão
editorial (noticiário) e o classificado, podendo apresentar diferentes formatos e, conse- claramente subdimensionadas no país.
qüentemente, preços distintos. Dentre os jornais associados à Associação Nacional de Jornal, muitos deles já criaram
A forma básica de comercialização de anúncios em jornal ainda é o centímetro por programas que levam jornais a escolas, bibliotecas e outras instituições educativas com
coluna. Normalmente, a página (standard) é dividida entre seis colunas a dez colunas, o intuito de formar novos leitores. Estes contribuem para que se revertam os baixos
cada uma com 54 cm de altura. Existem jornais com formatos diferentes e menores, índices de leitura entre os brasileiros, abrindo, inclusive, a oportunidade de facilitar o
como os chamados tablóides, por exemplo. Alguns jornais aceitam encartes, que são acesso às questões do cotidiano descritas nos jornais, para que cada um sobre elas se
distribuídos junto com seus exemplares. Outros disponibilizam formas na Web, mos- posicione e faça suas escolhas em prol de uma sociedade melhor.
trando formatos de anúncios ainda mais diversificados, ou ainda fazem um trabalho A recente pesquisa promovida pela ANJ (2005)3 junto ao conjunto das empresas
associada entre o formato impresso e o eletrônico. jornalísticas associadas revela que, mesmo entre aquelas que ainda não criaram seus
A edição de domingo, em todo o Brasil, e praticamente em todo o mundo, é a mais próprios programas educativos, há uma preocupação em se aproximar das escolas, de
chamativa e de maior tiragem, e que muitos leitores avulsos também a adquirem para seus alunos e de seus professores .
fins específicos. Domingo também é um dia de lazer em que o jornal se apresenta como Assim é que se verificou, por exemplo, que é bastante comum a publicação de suple-
autêntico prestador serviços, devido às matérias especiais, às ofertas e também aos en- mentos infantis e juvenis (até mesmo com conselho editorial formado por adolescentes
cartes com matérias mais profundas e analíticas para todas as faixas etárias da famí- e jovens), a doação de exemplares a escolas, o recebimento de alunos em visita à em-
lia. Os classificados, sempre deixados de lado em estudos acadêmicos, fazem parte presa, a realização de concursos, a publicação de cadernos, seja dedicados ao vestibular,
desse ambiente e pesquisas provam que estão entre algumas das seções prediletas dos seja dedicados à educação de um modo geral, a orientação a escolas na criação de seus
leitores. jornais escolares ou mesmo a realização de palestras em instituições de ensino e a busca
Uma pesquisa da ANJ (Associação Nacional de Jornais) (2003)2, de abrangência de parcerias com universidades locais.
nacional, foi realizada entre 960 pessoas que tinham lido jornal pelo menos uma vez Dentre as 50 empresas que já têm programas, todas elas satisfeitas com os resultados
nos últimos três meses, situadas em 11 praças do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Sal- que vêm obtendo com o seu desenvolvimento, as principais motivações que as levaram
vador, Recife, Fortaleza, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Santos, Campinas, Interior a investir em suas respectivas ações dividem-se entre as seguintes:
de São Paulo e Porto Alegre. Ela mostra que a preferência pelo meio jornal por aqueles
que decidem as compras (os chamados decisores de compra) é nitidamente superior à • 24% optaram pelo objetivo de “favorecer o exercício da cidadania por parte dos
de outros meios, dividindo o grau de importância em consulta na tomada de decisões jovens”;
apenas com os intermediadores: corretores, vendedores, agentes de viagens etc.
Praticamente, hoje, todos os grandes jornais do país são orientados por pesquisa. • 20% optaram pelo objetivo de “investir na formação de novos leitores de jornal”;
Isso tem tornado este veículo cada vez mais próximo dos leitores, mais pertinente, com
maior variedade de temas e prestação de serviços. • 18% optaram pelo objetivo de “dar início a uma iniciativa que expresse a respon-
O meio jornal, sem dúvida, ainda não fala tão próximo dos jovens, mas existem bons sabilidade social da empresa”.
esforços tanto junto ao público mais infantil, como o programa “Jornal e Educação”, da
ANJ, e de outros grupos jornalísticos. Quanto ao tipo de público a que atendem, a realidade constatada é bastante diferen-
ciada e demonstra que cada associado, cada um à sua maneira, vem encontrando formas
originais e criativas de promover suas ações em busca do leitor do futuro.
PROGRAMA “JORNAL E EDUCAÇÃO” Um dado relevante a ser observado é o de que há um crescente avanço na implan-
tação desses programas: há 14 anos, não se registra nem um ano sem que, pelo menos,
O primeiro desafio, típico do Brasil, é a forte tradição da mídia eletrônica e o ainda um programa novo seja lançado.
baixo grau familiaridade com a leitura. O meio jornal, no Brasil é muito voltado para
uma elite socioeconômica-cultural e, mesmo que não se direcione para tantos, quanto a
televisão em alguns programas, dirige-se a certas lideranças e certos decisores.
Acredita-se que a melhora no poder aquisitivo da população deve incrementar subs-
3. Comentários de Carmen Lozza, Diretora do Programa Jornal e Educação da ANJ. Endereço eletrônico: http://www.anj.org.br/
2. Pesquisa publicada em Julho de 2003, no sítio da ANJ – Associação Nacional de Jornais.: www.anj.org.br. Acesso em 10/10/2005. ?q=node/40. Acesso em 10/10/2005.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desempenho do jornal está totalmente acoplado ao desempenho do país.


É necessário voltar a produzir, olhar para o futuro com perspectivas de crescimento,
de aumento das exportações, de fortalecimento do mercado interno e, principalmente,
de colocar uma massa enorme de gente no mercado de trabalho, o que tende a esquentar
mais a economia.
O futuro do jornal pode ser brilhante, se conseguirmos, gradativamente, melhorar a
qualificação das pessoas, incentivando a leitura e tornando-nos todos mais e melhores
cidadãos. Esse é o terreno em que o jornal sabe melhor se movimentar e, de fato, contri-
buir mais para a sociedade, fortalecendo cada uma de suas comunidades.

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