Você está na página 1de 30

Curso de

Plantas Psicoativas: Uma


Abordagem Farmacológica
Ligia Moreiras Sena

MÓDULO III

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para
este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do
mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores
descritos na bibliografia consultada.
MÓDULO III

PLANTAS ESTIMULANTES

1. CAFÉ (Coffea arabica)

Planta de Coffea arabica

1.1. Nome científico

O café como conhecido tradicionalmente é, na verdade, a semente de uma


espécie vegetal chamada popularmente de cafeeiro. Pertencente à família botânica
Rubiaceae, seu nome científico é Coffea arabica. No entanto, existem
aproximadamente 100 outras espécies do gênero Coffea, entre as quais se incluem
a Coffea canephora (que, junto com a Coffea arabica, responde por mais de 70% do
café cultivado para fins comerciais) e a Coffea liberica, cultivada em pequena escala
para os mesmos fins.

57
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
1.2. Nomes populares

A espécie Coffea arabica não possui grande variedade de nomes populares,


sendo conhecida quase unanimemente, pelo menos em território brasileiro, pelo
nome de café. A etnobotânica, subdivisão da etnobiologia, que estuda as diferentes
interações existentes entre as plantas e o homem em comunidades consideradas
tradicionais, afirma que a existência de poucos nomes populares para designar uma
mesma espécie vegetal indica uma maior concordância com relação ao uso popular
que é feito de tal planta. Em outras palavras, significa dizer que quando uma espécie
vegetal é conhecida, em diferentes regiões geográficas, por um mesmo nome, o uso
que se faz dessa planta também tende a ser o mesmo nessas regiões. E é
exatamente o caso do café, o qual é utilizado para preparar a bebida consumida em
função de suas propriedades aromáticas e estimulantes, em diferentes regiões do
mundo. Ainda assim, no território brasileiro, a planta em si pode ser chamada tanto
de café quanto de cafeeiro (ou até de “cafezeiro”, em algumas regiões), embora o
termo “café” tenha sido inicialmente cunhado para designar a bebida preparada com
as sementes torradas do cafeeiro.

1.3. Informações botânicas

O cafeeiro é uma planta arbustiva, raramente atingindo mais de 4 metros de


altura. Possui folhas opostas, com ondulações nas bordas e flores brancas
distribuídas ao longo dos ramos. Suas folhas possuem coloração entre verde e
cinza, as quais se tornam mais verdejantes conforme ficam mais maduras. Seus
frutos são ovalados, com cores diferentes conforme o estágio de desenvolvimento
da planta: frutos verdes em estágio inicial de desenvolvimento, vermelhos em
estágio médio e pretos quando em desenvolvimento avançado. As sementes, parte
utilizada tradicionalmente, são envoltas por uma polpa adocicada e de aroma
agradável. É uma espécie com preferência de cultivo em regiões de clima ameno,
solos férteis e sem acúmulo de água, desenvolvendo-se melhor em lugares
sombreados. Parece se desenvolver melhor em lugares em que a temperatura

58
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
média esteja entre 18 e 22°C e que, mais importante, não apresentem picos de
baixas temperaturas, pois é uma espécie pouco tolerante ao frio. Geralmente, não se
desenvolvem bem em regiões abaixo de 500 m de altitude, pelo menos no que diz
respeito à espécie Coffea arabica.

Frutos maduros de
Coffea arabica

1.4. Histórico

A história do cafeeiro remete à província de Kaffa, nome antigo para a região


que hoje é conhecida como Etiópia. Embora não existam evidências concretas que
comprovem exatamente quando a planta passou a ser utilizada no preparo dessa
bebida estimulante, feita com suas sementes, existem diversas lendas a respeito do
início de sua utilização para tal finalidade. A mais conhecida dessas lendas conta
que, há cerca de 1000 anos, um pastor de cabras de nome Kaldi observou que seus
animais ficavam sempre mais agitados depois de mastigar e ingerir pequenos frutos
vermelhos de uma planta muito comum naquela região. Como Kaldi não tinha tempo
para se dedicar à leitura do Alcorão durante o dia, pois cuidava de suas cabras o dia
todo, pensava em alguma maneira de conseguir ficar acordado durante a noite para
que pudesse lê-lo. Assim, passou a observar ainda mais o comportamento das
cabras e notou que, após ingerir aquelas sementes, os animais conseguiam

59
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
caminhar durante muito tempo com maior facilidade e disposição. Tendo isso em
mente, Kaldi resolveu mastigar algumas daquelas sementes e notou, para sua
felicidade, que seu cansaço havia diminuído, sendo substituído por uma sensação
de disposição, conseguindo ficar acordado por mais tempo, para que pudesse ler o
Alcorão. Em suas andanças conduzindo as cabras, comentou o ocorrido com um
religioso daquela região e lhe ofereceu algumas daquelas sementes, que passara a
carregar consigo. O religioso, por sua vez, curioso sobre os efeitos relatados,
resolveu experimentá-las também. Porém, em função de não apreciar o gosto
amargo que elas liberavam após a mastigação, decidiu fazer uma infusão com
aquelas sementes e bebê-la. Após a sua ingestão, percebeu que conseguia ficar
acordado durante muito tempo, tempo esse que destinava a realizar suas orações.
Embora essa seja apenas uma lenda, existem realmente indícios de que o
café não só tenha sido originado como bebida na antiga região de Kaffa, como
também que tenha sido cultivado em monastérios por volta da mesma época
mencionada pela lenda. Já com relação à sua comercialização, os primeiros
registros indicam que a mesma tenha ocorrido após o século XV, onde hoje está
localizado o Iêmen. Documentos históricos afirmam que as primeiras casas de
comercialização do café, já na forma de bebida, foram abertas em Meca, de onde se
espalharam pelo mundo árabe. Essas casas de café, na época, eram lugares
finamente decorados, onde negociantes tratavam de seus negócios enquanto
ocorriam apresentações de dança e música. Posteriormente, passaram a ser
combatidas em função de terem se tornado centros de discussão e de atividade
política, embora tenham retornado após algum tempo. O cultivo do café, bem como
seu preparo, era tratado com muito sigilo e envolto por segredos por parte dos
árabes, os quais sequer permitiam que estrangeiros visitassem suas plantações.
Mesmo assim, as sementes chegaram até as colônias alemãs da época, situadas
em Java e na Índia, e foram os alemães os responsáveis por fazer a bebida chegar à
Europa, de onde se difundiu para outras regiões do mundo conforme foram
ocorrendo colonizações.

60
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
Semente de café após
a torrefação

1.5. Dados químicos e farmacológicos

Como o próprio nome indica, a cafeína (1,3,7-trimetilxantina) é o principal


constituinte químico da bebida preparada à base das sementes de Coffea arabica. É
sintetizada não somente nesse gênero, como em grande número de espécies
vegetais, tais como nas outras duas plantas mencionadas neste módulo (Paullinia
cupana, o guaraná, e Ilex paraguariensis, a erva-mate). Portanto, muito do
mecanismo de ação aqui mencionado também é aplicado a essas espécies, em
virtude de também apresentarem a cafeína em sua composição. A cafeína é um
alcalóide amplamente difundido pelo reino vegetal, tanto em plantas superiores
como em plantas mais simples, como é o caso da monocotiledônea Scilla maritima,
conhecida popularmente como cebola-do-mar. No entanto, a quantidade de cafeína
presente entre as espécies varia enormemente. Com relação especificamente ao
gênero Coffea, a quantidade de cafeína presente nas sementes pode variar entre
0,4 e 2,4% do seu peso seco. Embora existam outros componentes presentes em
sua constituição química, a cafeína é a principal responsável por seus efeitos
estimulantes e, em função dos inúmeros estudos disponíveis na literatura que
afirmam esse fato, este item é voltado para a discussão da ação desta metilxantina
sobre o sistema nervoso central.

61
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
A cafeína é a substância psicoativa mais consumida no mundo. Os Estados
Unidos registram um consumo médio de 200 mg/dia por pessoa, o que equivale a 2
ou 3 xícaras de café por dia. Além disso, o que contribui para que seja o psicoativo
mais consumido em todo o mundo. É o fato de que também faz parte da composição
de um grande número de bebidas, tais como os refrigerantes à base de cola, que
também contêm quantidades apreciáveis de cafeína e que são consumidos em larga
escala não somente por adultos, mas também por crianças.
Os efeitos estimulantes da cafeína relacionam-se à diminuição da fadiga,
melhoria da concentração e da atenção, à estimulação física, à inibição do sono
decorrente do cansaço, entre outros efeitos oriundos de sua ação estimulante sobre
o sistema nervoso central. Estudos clínicos indicam que a cafeína é eficaz em
reduzir o tempo de reação a estímulos, além de melhorar a capacidade cognitiva em
testes de laboratório. É importante mencionar, no entanto, que tais efeitos são dose-
dependentes e que, após um limite máximo de consumo, o qual fica por volta de 300
mg, os efeitos benéficos são sobrepujados por reações indesejadas, tais como
tremores, insônia de longo prazo, desconfortos gastrointestinais, entre outros
sintomas.
A cafeína não só é ingerida por meio do café, como também é sintetizada
quimicamente para utilização terapêutica. Muitos medicamentos utilizados para o
tratamento de condições dolorosas apresentam cafeína em sua composição, em
função de potencializar o efeito analgésico de algumas drogas, como a aspirina.
Além disso, prolonga o tempo de convulsões em terapias eletroconvulsivas e
também é utilizada no tratamento de enxaquecas e dores de cabeça de origens
diversas, entre outros usos terapêuticos. É um composto bem absorvido pelo trato
gastrointestinal e, quando ingerido, induz o esvaziamento gástrico por meio da
estimulação dos nervos submucoso e mioentérico gástrico. A isso se segue a
passagem direta da cafeína do estômago para a corrente sangüínea. O sistema
nervoso central também é estimulado pela cafeína, por meio dos nervos
autonômicos colinérgicos do trato gastrointestinal.
Para compreender seu mecanismo de ação central é necessário mencionar o
papel neurofisiológico desempenhado por uma substância endógena chamada

62
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
adenosina. A adenosina é considerada um neuromodulador por agir modulando a
liberação de diversos neurotransmissores, incluindo a acetilcolina, a dopamina, a
noradrenalina, o GABA (ácido gama-aminobutírico, já mencionado nesta apostila) e
a serotonina. A adenosina age sobre esses neurotransmissores de forma inibitória,
ou seja, diminuindo sua liberação. Considerando que os receptores de adenosina se
encontram preferencialmente no sistema nervoso central, torna-se fácil compreender
o efeito central que desencadeia. Entre os receptores de adenosina atualmente
conhecidos, os tipos A1 e A2 são os que predominam em regiões cerebrais. Há mais
de vinte anos foi proposto que os efeitos psicoestimulantes tanto da cafeína como de
outras metilxantinas fossem decorrentes do antagonismo que exercem sobre a
adenosina. Em outras palavras, a cafeína atua como um antagonista seletivo do
receptor de adenosina; isso quer dizer que ela se liga ao mesmo sítio de ligação da
adenosina, no entanto exercendo efeitos bloqueadores, não deixando que esta
cumpra seu papel fisiológico, que é inibitório. A cafeína se liga, como antagonista,
tanto aos receptores do tipo A1 quanto do tipo A2, embora possua uma afinidade
maior para estes últimos. Acredita-se que o bloqueio desses receptores seja o
principal responsável por seus efeitos estimulantes e essa hipótese foi confirmada
por dados experimentais. Os quais demonstram a habilidade de outros antagonistas
de receptores do tipo A2 em reproduzir os mesmos efeitos bioquímicos e
comportamentais da cafeína, enquanto que antagonistas dos receptores do tipo A1
não produziram tais efeitos. Além disso, pesquisas científicas também afirmam que a
cafeína não produz a estimulação esperada em animais experimentais, ditos
knockout para os receptores A2, isto é, animais geneticamente selecionados em
função de não possuírem esses receptores, indicando que seja realmente seu alvo
preferencial de ação.
Dados disponíveis na literatura científica também sugerem que os efeitos
estimulantes observados após a ingestão de cafeína ocorrem em função do bloqueio
dos receptores de adenosina influenciar a neurotransmissão de dopamina, como
ocorre com outras categorias de psicoestimulantes. Essa hipótese é reforçada por
dois tipos de evidências: primeiro, pelo fato de que a estimulação motora induzida
pela cafeína pode ser evitada por drogas que bloqueiam receptores dopaminérgicos

63
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
ou que produzam a depleção de dopamina; em segundo lugar, pela crença de que
os efeitos reforçadores da cafeína sejam dependentes da dopamina, uma vez que
esse neurotransmissor é crucial em casos de estabelecimento de reforço positivo. A
compreensão do que é reforço positivo é necessária para compreender a questão da
dependência química a diferentes compostos e, no caso da cafeína, existe certa
polêmica a respeito disso. Um reforço positivo é uma situação que aumenta a
probabilidade de um determinado comportamento ocorrer em função de ter causado
uma sensação prazerosa. Dessa maneira, drogas psicoestimulantes que produzem
dependência assim o fazem em função de serem reforçadoras, ou seja, os efeitos
prazerosos produzidos reforçam a repetição do uso. Nesses casos, muitas
evidências científicas afirmam que é a dopamina o neurotransmissor que regula tais
processos. E, se a cafeína atua como um antagonista de receptores de adenosina -
e isso interfere na quantidade de dopamina liberada - a probabilidade de que ocorra
tolerância e dependência se torna muito grande. Como já foi mencionado, essa é
uma questão polêmica. Embora o uso milenar do café sugira sua relativa inocuidade,
uma grande quantidade de trabalhos científicos afirma que os indivíduos que fazem
uso constante da cafeína podem, realmente, desenvolver tolerância ao composto e,
conseqüentemente, apresentar sintomas de abstinência com a interrupção do uso.
Esses sintomas podem incluir: dores de cabeça (sintoma mais comum),
freqüentemente de origem difusa, pulsante e intensamente dolorosa, que é
exacerbada por exercícios; letargia; apatia; cansaço; tremores; perda do controle
sobre movimentos finos, além de falta de concentração, irritabilidade e distúrbios
gastrointestinais. Os dados também sugerem que a probabilidade de ocorrência de
sintomas de abstinência à cafeína é maior entre mulheres. Podem aparecer 12 horas
após a última ingestão de cafeína, ou após um período de tempo relativamente
maior, na dependência da intensidade e da freqüência com que o café é
normalmente consumido.
O Manual de Diagnóstico e de Estatística dos Distúrbios Mentais, em sua
quarta edição, conhecido pela sigla DSM-IV, reconhece alguns distúrbios
relacionados ao consumo de cafeína. Incluindo intoxicação cafeínica, ansiedade
induzida por cafeína e distúrbios do sono, mas não reconhece, por insuficiência de

64
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
dados, a cafeína como droga de abuso ou ocorrência de dependência, física ou
psicológica.
Nos últimos anos, diferentes grupos de pesquisa têm sugerido que a cafeína
talvez possa ser empregada no tratamento da doença de Parkinson, embora os
estudos ainda estejam em fase experimental. Essa hipótese partiu de trabalhos que
indicam a existência de uma pronunciada associação inversa, e dose-dependente,
entre o consumo de café em algumas populações européias e norte-americanas e o
risco de desenvolvimento de Parkinson. Em outras palavras, esses pesquisadores
sugerem que o consumo habitual de café reduza os riscos de aparecimento da
doença de Parkinson, atuando como um agente protetor. Isso faz sentido ao se
considerar que, de acordo com seu mecanismo de ação, ao atuar como bloqueador
dos receptores de adenosina do tipo A2, a cafeína realmente poderia melhorar
déficits motores, que são justamente um dos sintomas do Parkinson. Essa hipótese
tem sido reforçada por resultados obtidos com animais experimentais. Trabalhos
recentemente publicados têm demonstrado que antagonistas de receptores de
adenosina do tipo A2 são capazes de melhorar déficits motores em modelos animais
da doença de Parkinson. Além disso, o efeito neurotóxico causado pela droga
conhecida pela sigla MPTP (1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina) sobre a
depleção de dopamina em modelos animais da doença de Parkinson também se
mostrou diminuída em camundongos tratados com cafeína.
Com relação à sua possível toxicidade, existem diversos relatos na literatura
acerca de seus efeitos tóxicos, a despeito do café ser utilizado milenarmente. Muitos
desses estudos investigam os efeitos do consumo de café sobre o feto durante a
gestação, em função das características físico-químicas da cafeína permitir que a
mesma atravesse a barreira placentária com facilidade, podendo exercer algum tipo
de efeito durante o desenvolvimento fetal. Alguns deles sugerem que o feto, quando
exposto à cafeína, pode apresentar prejuízos de desenvolvimento neuromuscular,
além de contribuir para seu mau posicionamento no útero. Estudos com animais de
laboratório afirmam que a administração por via intraperitoneal de doses sub-letais
de cafeína, na segunda semana de gestação de fêmeas, resulta em uma alta
freqüência de fetos mal formados, principalmente com má formação esquelética.

65
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
Talvez isso aconteça porque a cafeína e seus metabólitos passam livremente
através da placenta, e o feto pode não conseguir degradar essas substâncias, que
interfeririam em seu desenvolvimento normal. Estudos adicionais afirmam, ainda,
que a cafeína, na dose de 25 mg/kg e administrada por via oral à fêmeas de
roedores grávidas, induz a um déficit na formação do tubo neural contribuindo para a
mortalidade pós-natal. Também existem evidências dos embriões, além de atrasar o
desenvolvimento do coração, olhos e patas, o que do acúmulo de cafeína e seus
metabólitos no tecido cerebral de fetos de animais experimentais. No entanto, é
importante ressaltar que esses efeitos tóxicos, embora bastante descritos em
animais de laboratório, não se encontram muito bem documentados em humanos.
De qualquer forma, sugere-se cautela na ingestão de café durante a gestação,
recomendando-se que a gestante reduza as doses consumidas diariamente.
Adicionalmente, a cafeína pode provocar o aumento da quantidade de cálcio
intracelular, quando presente em doses muito elevadas na circulação sangüínea, o
que pode levar à ocorrência de tremores involuntários e hiperestimulação da função
cardiovascular, com aumento da freqüência cardíaca e da pressão arterial. O
excesso de cafeína no sangue pode levar também à intoxicação cafeínica, cujos
sintomas mais comuns são tonturas, perda do equilíbrio, náuseas ou vômitos,
diarréias, câimbras, cansaço e irritabilidade. A dose letal para um adulto saudável de
peso médio é relativamente alta e, quando medida na forma de xícaras, fica em
torno de 70 a 100 xícaras de café, uma quantidade muito acima do que normalmente
é consumida. Apenas a título de curiosidade, é interessante mencionar que, embora
produza efeitos estimulantes no organismo, inclusive melhorando o desempenho
físico, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) atualmente não lista a cafeína como
substância proibida em exames antidoping. Ainda, muitas pessoas procuram evitar a
ingestão de cafeína evitando o consumo de café; no entanto, é necessário lembrar
que também está presente em grande número de bebidas, tais como o chá-preto, o
chá-verde, refrigerantes à base de cola, entre outras. Algumas espécies vegetais
podem apresentar, inclusive, quantidades de cafeína maiores do que as contidas em
Coffea arabica, como é o caso do guaraná.

66
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
2. ERVA-MATE (Ilex paraguariensis)

Ilex paraguariensis

2.1. Nome científico

“Erva-mate” é um dos nomes populares mais freqüentes da espécie Ilex


paraguariensis, pertencente à família botânica Aquifoliaceae, família que possui
cerca de 400 espécies. Em função de semelhanças morfológicas e entre suas
propriedades, outras espécies do gênero também podem ser chamadas de erva-
mate, como é o caso de Ilex mate, Ilex sorbilis, Ilex theezans e Ilex domestica.

2.2. Nomes populares

A erva-mate também recebe outros nomes populares, na dependência da


região geográfica e da população ali residente. Além disso, a forma de
processamento da erva-mate antes de chegar ao consumidor final, bem como a

67
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
forma de preparo, também interfere no nome que recebe. Assim, pode ser
encontrada com as seguintes designações, entre outras menos freqüentes:
- mate (preferencialmente a forma utilizada para o preparo do “chimarrão”);
- chá-mate (nome que recebe a erva-mate comercializada na forma de sachês, para
o preparo do chá);
- erva-verdadeira;
- erveira;
- congonha;
- yerba mate (em países de língua espanhola da América Latina);
- tereré;
- chimarrão;
- mate tea (em países de língua inglesa).

2.3. Informações botânicas

É uma espécie arbórea endêmica das regiões situadas mais ao sul da


América Latina, principalmente no sul do Brasil (onde desempenha um papel social e
econômico extremamente importante), na Argentina, no Paraguai e no Uruguai. É
uma árvore dióica, perene e que, em alguns casos, pode atingir mais de 10 metros
de altura, mas com altura média entre 4 e 8 metros. Produz flores e frutos; floresce
de outubro a novembro e frutifica de março a junho. Necessita de um regime severo
de chuvas anuais, as quais não devem ser menores do que 1200 mm, bem
distribuídas ao longo do ano. No entanto, não é tão vulnerável a variações de
temperatura, podendo resistir a temperaturas de até -6°C, embora se desenvolva
melhor em locais que apresentem média anual de temperatura entre 21 e 22°C.
Resiste até mesmo a nevascas, que são freqüentes em algumas regiões
montanhosas em que se desenvolve. Seu caule possui tonalidade acinzentada e o
tamanho relativamente pequeno, com diâmetro de aproximadamente 30 cm. Suas
folhas são ovais, do tipo coriácea. As plantas encontradas na forma nativa, não
cultivadas, são germinadas com o auxílio de pássaros, os quais ingerem suas
sementes e as dispersam.

68
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
Folhas de
Ilex paraguariensis

2.4. Histórico

Embora hoje a bebida preparada com a erva-mate seja um dos principais


símbolos da população do sul do Brasil, bem como da Argentina, Paraguai e
Uruguai, sua história remete aos índios Guaranis que habitavam a região do Rio da
Prata, na época da colonização européia da América Latina. Os registros deixados
pelos colonizadores que chegaram a esta região relatam que os índios Guarani
tinham dois hábitos relacionados à erva-mate: ou tostavam suas folhas, trituravam-
nas e mastigavam como um alimento energético, ou colocavam as folhas trituradas,
tostadas ou frescas em uma cabaça seca, acrescentavam água e ingeriam com o
auxílio de um canudo feito de bambu ou outra planta. A essa bebida, os índios
davam o nome de “caá” ou “caá-i”. A planta era tão importante na cultura desses
índios que eles acreditavam ter sido enviada diretamente por Tupã, o deus indígena.
A lenda conta que em uma das tribos de índios Guarani, vivia um cacique muito
sábio. Esse cacique possuía uma única filha, de nome Caá-Yari, a quem muito se
dedicava e amava. No entanto, algo o preocupava: sua velhice se aproximava e as
regras da tribo exigiam que o cacique fosse substituído por seu filho homem. Como
ele só possuía uma filha e, portanto, não tinha um sucessor natural, pensou em
escolher para seu sucessor um bravo e corajoso guerreiro da tribo. Mas isso lhe
trazia muita angústia, uma vez que sabia que sua filha era apaixonada por esse

69
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
guerreiro. Caso o escolhesse, o novo cacique teria muitas vezes que se ausentar da
tribo e, como as regras exigiam que sua esposa o acompanhasse, o velho cacique
teria que ficar sem a companhia de sua amada filha e sofrendo de uma profunda
solidão. Ele estava em um grande dilema. Para ajudá-lo a tomar a melhor decisão,
resolveu pedir ajuda a Tupã. Como sabia que não poderia ter sua filha ao seu lado
para sempre, pediu que Tupã enviasse a ele algo que fosse sua companhia em
todas as horas. E Tupã o atendeu: enviou uma árvore e disse ao cacique que,
quando estivesse se sentindo sozinho, poderia preparar uma bebida quente e
acolhedora utilizando as folhas torradas dessa árvore. Ainda, ordenou que a
preparasse dentro de uma cabaça sagrada e a ingerisse com o auxílio de um
pequeno bambu. E assim fez o sábio cacique. Após o casamento de sua filha com o
bravo guerreiro, e sempre que esses se ausentavam, o velho cacique preparava a
bebida sagrada e, bebendo-a durante horas, sentia-se muito revigorado, animado,
bem disposto e, o mais importante, nunca mais se sentiu sozinho.
Relatos históricos afirmam que os colonizadores europeus instalados na
região do Rio da Prata, observando os índios Guarani que consumiam grandes
quantidades daquela bebida, a experimentaram e, notando seus efeitos estimulantes
e benéficos ao corpo, também passaram a consumi-la à maneira dos indígenas. Em
função de sua grande popularidade, rapidamente os europeus aqui situados
passaram a cultivá-la e a comercializá-la com colonizadores situados nas províncias
brasileiras, como foi o caso das Missões do Guaíra, onde hoje se situa o Paraná.
Acredita-se que tenha sido nesta região que os jesuítas também passaram a
consumir a bebida, inclusive desenvolvendo uma técnica de cultivo muito produtiva e
passando a comercializá-la na região. Alguns desses jesuítas, ao se deslocarem
para a região argentina de Missiones, iniciaram o cultivo do mate em grande escala,
contribuindo para que a região se estabelecesse como um dos maiores produtores
dessa espécie vegetal na América Latina.
Atualmente, o hábito de compartilhar o mate representa mais do que uma
tradição entre as populações do sul do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do
Paraguai: tornou-se um verdadeiro símbolo dessas regiões. A forma tradicional de
consumo da bebida é chamada de “chimarrão” (ou apenas de “mate”). É preparado

70
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
de maneira semelhante à descrita na lenda, com a adição de água quente às folhas
trituradas e secas da planta, dispostas em uma cuia e ingeridas com o auxílio da
bomba. No entanto, também pode ser consumida de outras formas, como o “tererê”,
preparado com adição de água gelada e limão às folhas trituradas, ou simplesmente
como um chá, adicionando-se água quente a sachês contendo a folha queimada e
triturada da planta.
A produção brasileira anual de Ilex paraguariensis está em torno de 200.000
toneladas, sendo que os principais estados produtores são Paraná, Santa Catarina,
Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Com relação ao maior consumidor, o Rio
Grande do Sul destaca-se, consumindo mais de 50% do que é comercializado no
Brasil. Anteriormente restrito à região sul do país, o consumo do mate vem se
expandindo, sendo hoje consumido inclusive em estados da região norte. Aparece
como uma das espécies arbóreas naturais de maior importância econômica para a
região sul do Brasil já há muitas décadas, principalmente por ser uma espécie
resistente às baixas temperaturas observadas na região. Contribuiu, inclusive, para a
fixação do homem ao campo nas regiões sulinas.
Atualmente, a Argentina é considerada o principal produtor de Ilex
paraguariensis, cultivando mais de 150.000 hectares anualmente, o que equivale a
cerca de 280.000 toneladas da planta. O Brasil e o Paraguai são o segundo e o
terceiro produtores, respectivamente. No mundo todo, são cultivados mais de
290.000 hectares de mate, com uma produção anual de mais de 800.000 toneladas,
isso só no ano de 2002. Em 2004, o valor de sua produção mundial foi estimado em
cerca de 1 bilhão de dólares.

71
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
Folhas de Ilex paraguariensis
após processamento

2.5. Dados químicos e farmacológicos

As folhas da erva-mate, parte utilizada tradicionalmente no preparo da


bebida estimulante mais conhecida por “chimarrão” ou por “chá-mate”, possui como
principal constituinte químico, responsável por seus efeitos estimulantes do sistema
nervoso central, a cafeína. Em função de ser o principal constituinte químico do café,
as propriedades psicobiológicas da cafeína já foram mencionadas no item anterior,
sobre a espécie Coffea arabica. Portanto, a fim de evitar redundâncias, suas
propriedades biológicas não serão novamente mencionadas, embora seja o principal
componente químico estimulante presente nas folhas de Ilex paraguariensis.
Muitos outros compostos, no entanto, também estão presentes nas folhas de
erva-mate, os quais também podem contribuir para suas propriedades centrais
estimulantes. Além da cafeína (presente num teor entre 0,8 e 2%), as folhas jovens
de erva-mate contêm entre 0,08 e 0,5% de teobromina e pequenas quantidades de
teofilina. Aliás, a questão da presença ou não de teofilina na espécie é controversa:
alguns pesquisadores indicam a presença de pequenas quantidades desse alcalóide
estimulante; outros grupos de pesquisa, no entanto, afirmam que a teofilina não está

72
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
presente em extratos de Ilex paraguariensis. De qualquer forma, a cafeína e a
teobromina parecem ser realmente seus principais compostos psicoestimulantes.
Além de cafeína e teobromina, investigações fitoquímicas sobre a espécie
Ilex paraguariensis demonstram a existência de muitas classes de constituintes
químicos, tais como aminoácidos, polifenóis (como o ácido clorogênico e o ácido
caféico), flavonóides (quercetina, rutina e canferol) e saponinas triterpênicas. É
importante mencionar que diversos trabalhos científicos têm associado a presença
de polifenóis e de flavonóides ao papel protetor que alguns extratos vegetais
desempenham contra determinadas doenças, como parece ser também o caso da
erva-mate.
Das três metilxantinas mais comumente encontradas no reino vegetal, a
cafeína, como já mencionado, é a que está presente em maior concentração no
mate, seguida pela teobromina. Esses dois compostos são encontrados
principalmente nas folhas das plantas e em pequena concentração no tronco. A
concentração de cafeína que chega até o consumidor é de aproximadamente 78 mg
em uma xícara do mate (aproximadamente 150 ml). Comparada com o café, é uma
quantidade de cafeína muito similar (85 mg por xícara). No entanto, a freqüência
com que o mate é consumido no método tradicional representa uma média mínima
de ingestão de 500 ml, o que resulta em 260 mg ou mais de cafeína, quantidade
essa que dificilmente seria atingida com a ingestão diária de café. É importante
mencionar também que, embora exista uma grande variabilidade do conteúdo de
metilxantinas existente em Ilex paraguariensis, em função do tipo de solo, das
condições climáticas, da ocorrência ou não de ataque de parasitas, da época de
colheita, entre outros fatores. A legislação atual brasileira estabelece que deva haver
um conteúdo mínimo de cafeína de 0,5% (massa/massa) no mate comercializado.
Mais do que suas propriedades aromáticas ou sua bebida estimulante, a
erva-mate parece representar uma importante fonte de compostos necessários ao
bom funcionamento do organismo. No entanto, relativamente poucos estudos
científicos já foram realizados a respeito de toda a sua potencialidade medicinal,
provavelmente em função de que apenas um pequeno número de países está
envolvido em seu consumo. Nos últimos anos, esse panorama já vem apresentando

73
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
alguma alteração, principalmente em virtude de outros países já terem incorporado a
erva-mate em seus hábitos alimentares.
As bebidas à base de erva-mate, de sabor amargo, parecem possuir
propriedades hepatoprotetora, hipocolesterolêmica, anti-reumático, diurética,
glicogenolítica e lipolítica. Atualmente, a erva-mate também tem sido empregada em
preparações fitoterápicas como tônica, anticelulítica e para combater o
envelhecimento. Algumas dessas atividades farmacológicas são atribuídas ao seu
alto teor de derivados cafeoil e de flavonóides. No entanto, a principal atividade da
erva-mate parece ser como um antioxidante natural, combatendo os radicais livres,
especialmente em regiões cerebrais. Essa possível capacidade antioxidante da erva-
mate pode estar relacionada à sua concentração de polifenóis. Em média, a
quantidade de polifenóis extraída do mate utilizado em forma de chá é de 92 mg,
equivalente a ácido clorogênico por grama de folhas secas, enquanto outros chás
possuem significativamente menos.
A produção de radicais livres está envolvida em uma série de condições
patológicas, entre as quais se incluem doenças neurodegenerativas como o
Alzheimer, como já mencionado no item sobre a espécie Melissa officinalis.
Antioxidantes naturais têm sido considerados como eficazes no combate à ação
nociva desses radicais livres e, conseqüentemente, na prevenção de tais condições
patológicas. Isso leva a crer que o dano oxidativo e as doenças, conseqüentes da
progressão do mesmo, possam ser retardados por meio de antioxidantes naturais. A
oxidação de lipoproteínas de baixa densidade induzida por radicais livres parece ser
uma causa chave para o estabelecimento de tais doenças. Estudos sobre o
potencial da espécie Ilex paraguariensis como um antioxidante natural indica que a
planta possui constituintes que inibem efetivamente a oxidação de lipoproteínas de
baixa densidade in vitro, sugerindo que a ingestão desses constituintes antioxidantes
pode ser benéfica. Esses compostos antioxidantes da erva-mate são facilmente
absorvidos e alcançam níveis suficientes no plasma para inibir a autoxidação
lipídica. Algumas pesquisas têm demonstrado que a espécie Ilex paraguariensis
aumenta a capacidade antioxidativa do plasma, e que essa ação talvez possa ser
explicada pela presença de quantidades significativas de polifenóis e de flavonóides.

74
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
Muitos tipos de flavonóides são conhecidos por serem absorvidos pelo trato
gastrointestinal de humanos e animais e são considerados antioxidantes potentes,
“captadores” de radicais livres e inibidores da peroxidação lipídica.
Além de seu possível efeito antioxidante potente, há evidências científicas
de que a erva-mate promova melhoria do humor, da performance psicomotora e da
concentração. Embora considerada inócua em doses moderadas, pode causar
insônia, ansiedade e aumento da freqüência cardíaca com o uso excessivo, além de
ser preferível que pessoas com úlceras gástricas, hipertensão e taquicardia evitem
seu consumo. Existem algumas evidências, ainda, de que seu consumo na forma de
infusão (principalmente na forma conhecida como “chimarrão”) esteja relacionado à
ocorrência de câncer orofaríngeo, embora a explicação mais cogitada para esse fato
relacione-se à alta temperatura da água adicionada à bebida, a qual é ingerida ainda
bastante quente. No entanto, estudos mais aprofundados ainda são necessários
para esclarecer essa possível correlação.
Estudos sobre os efeitos farmacológicos da erva-mate, quando comparado a
outras espécies vegetais estimulantes, são relativamente limitados, a despeito de
seu grande uso popular, principalmente na região sul do Brasil. Ainda assim, um
estudo realizado em 2004, com 71 voluntários, indicam que a quantidade de cafeína
presente na erva-mate não foi suficiente para afetar o funcionamento cardiovascular,
o que representaria uma vantagem. Ao contrário do esperado, no entanto, o
consumo da bebida preparada à base de erva-mate após o almoço não produziu um
melhor desempenho em atividades cognitivas, como ocorre após a ingestão do café
e do guaraná. No entanto, os autores justificam esse resultado afirmando que a dose
de erva-mate empregada neste estudo apresentava uma quantidade relativamente
pequena de cafeína, a qual não seria suficiente para eliciar os efeitos esperados.
Portanto, os resultados disponíveis atualmente na literatura científica
sugerem que a ingestão do mate pode representar uma maneira eficaz e econômica
de fornecer uma quantidade importante de compostos que aumentam o sistema de
defesa antioxidante do organismo. Considerando que tal atividade antioxidante
parece estar relacionada com a presença de polifenóis, é importante ressaltar que a
quantidade dos compostos polifenóicos encontrados no mate para chá difere

75
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
significativamente do mate que é vendido para o preparo do chimarrão. Ainda assim,
estudos afirmam que ambas as formas de apresentação mostram atividades
antioxidantes comparáveis, as quais indicam que a etapa de secagem, conhecida
como “sapeco”, embora modifique o perfil dos compostos voláteis e do conteúdo de
compostos polifenólicos da infusão, não afeta sua propriedade antioxidante. No
entanto, estudos adicionais são necessários tanto para comprovar definitivamente
sua atividade antioxidante em tecidos neuronais, quanto para assegurar a ausência
de toxicidade das preparações de Ilex paraguariensis, embora seja uma espécie
tradicionalmente utilizada há séculos.

3. GUARANÁ (Paullinia cupana)

Paullinia cupana

3.1. Nome científico

O estimulante conhecido como guaraná trata-se, na verdade, das sementes


do guaranazeiro, cujo nome botânico é Paullinia cupana, mais especificamente sua
variedade sorbilis, pertencente à família botânica Sapindaceae. No entanto,

76
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
farmacopéias de diferentes países podem considerar o guaraná como sendo outra
espécie pertencente ao gênero Paullinia, como por exemplo, a farmacopéia norte-
americana, que conhece o guaraná por dois nomes específicos diferentes: Paullinia
cupana Kunth e Paullinia sorbilis Martius. Na verdade, trata-se de duas variedades
de uma mesma espécie: Paullinia cupana variedade cupana e Paullinia cupana
variedade sorbilis.

3.2. Nomes populares

Assim como ocorre com o café, a espécie Paullinia cupana não apresenta
uma grande diversidade de nomes populares. Em quase toda a totalidade em que
ocorre naturalmente é conhecida pelo nome de “guaraná” ou pelo nome de sua
árvore, o “guaranazeiro”. Aqui também se evidencia a relação entre a baixa
diversidade de nomes populares encontrados e a relativa uniformidade na finalidade
do uso, que, neste caso, se faz como tônico e estimulante. Os índios Sateré-Mawé,
considerados os inventores da cultura do guaraná, o chamam de “çapó”, que é o
guaraná em forma de bastão, que é ralado na água e bebido rotineiramente ou para
finalidades rituais e religiosas.

3.3. Informações botânicas

Planta lenhosa e trepadeira, a espécie Paullinia cupana ocorre na região


Amazônica, da qual é um dos símbolos de beleza e uso medicinal, principalmente
nos estados do Acre, Amazonas e Pará, e uma pequena parte do Maranhão, além
de regiões localizadas na Venezuela, Peru, Colômbia e Bolívia. Quando cresce em
área de mata fechada, pode atingir cerca de 10 metros de altura; no entanto, em
áreas abertas, assume um porte arbustivo, atingindo no máximo 3 metros. Apresenta
um número maior de flores femininas quando comparadas às flores masculinas, e
florescem nos meses mais secos do ano. O fruto, que dá origem ao preparado que
recebe o nome de guaraná, é bem característico. Composto por uma cápsula de
coloração alaranjada a qual se abre ao amadurecer, expondo as sementes – de 1 a

77
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
3 por fruto – de cor marrom, envoltas por um arilo de coloração branca, lembrando a
morfologia de um olho humano. E é nesse estágio que a colheita deve ser feita, para
que não se percam as sementes, as quais se desprendem da cápsula. O
guaranazeiro pode ser propagado pelas sementes ou por propagação vegetativa,
com o auxílio de estacas. A espécie necessita de solo profundo e bem drenado,
onde não haja acúmulo de água, o qual pode inviabilizar as sementes. É uma planta
que se desenvolve bem em baixas altitudes e clima quente e úmido, com média
anual de chuvas em torno de 2500 mm, tal qual o clima amazônico.

Frutos de
Paullinia cupana

3.4. Histórico

A região brasileira com maior prevalência do guaranazeiro coincide com o


território habitado pelos índios da etnia Sateré-Mawé. O guaraná é uma espécie
vegetal de tal importância para esses indígenas que seu cultivo e preparo se
confunde com sua história, inclusive com a lenda que explica o seu surgimento. Não
é exagero afirmar, portanto, que os Sateré-Mawé sejam os inventores da cultura do
guaraná, e eles assim se consideram, como os Filhos do Guaraná. Não é de se

78
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
estranhar, portanto, que a produção do guaraná estivesse, até o final da década de
70, concentrada no município de Maués, no Estado do Amazonas, município que
recebe esse nome em função de estar localizado em área tradicional dos Sateré-
Mawé. Os índios Sateré-Mawé possuem a reputação de serem excelentes
comerciantes e acredita-se que essa habilidade seja decorrente do comércio de
guaraná, que realizam há séculos. Desde que os homens brancos tomaram contato
com o guaraná, ficaram impressionados com suas propriedades como estimulante,
tônico e supostamente afrodisíaco, e passaram também a beneficiá-lo para consumo
e comércio. No entanto, por não possuírem os conhecimentos tradicionais dos
Sateré-Mawé sobre o cultivo e o preparo, esse guaraná produzido pelos homens
brancos era considerado, naquela época, como sendo de baixa qualidade ou um
falso guaraná. Esse fato também faz parte da lenda do guaraná, a qual trata tanto do
surgimento do guaranazeiro quanto do aparecimento do primeiro índio Sateré-Mawé.
Segundo a lenda indígena, existiam três irmãos de uma etnia indígena
ancestral, dois meninos e uma menina. A menina, de nome Onhimuab (ou
Onhiámuáçabê) era muito querida por seus irmãos, tanto porque brincava todos os
dias com eles, indo juntos buscar castanhas na castanheira-sagrada, quanto porque
cuidava de seus ferimentos e de sua saúde com remédios que só ela sabia preparar,
de uma grande variedade de plantas. Onhimuab queria muito se casar, mas seus
irmãos não gostavam da idéia, pois ela não poderia mais ficar com eles todo o
tempo. Um dia, ao caminhar pela floresta, uma cobra tocou sua perna e a índia
engravidou. Seus irmãos ficaram tão bravos por ela estar grávida que a expulsaram
da tribo e a proibiram de comer as castanhas da castanheira-sagrada, das quais os
três tanto gostavam e que ela mesma havia plantado. Triste, Onhimuab foi embora e
construiu sua própria cabana, onde viveu até o nascimento de seu filho. A índia deu
à luz um belo e forte menino, que trouxe muita alegria à sua vida. Logo que
aprendeu a falar, o menino disse à mãe que queria comer daquelas castanhas que
ela e seus tios tanto gostavam, mas ela explicou ao filho que não podia, pois seus
tios a haviam proibido de se aproximar da castanheira-sagrada. Ao ver a tristeza do
filho, Onhimuab permitiu que o menino fosse até a castanheira e pegasse algumas
castanhas. Como seus irmãos deixaram no local alguns vigias – animais da floresta

79
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
– para cuidar da castanheira e garantir que ninguém se aproximasse, ao saber da
presença dos dois ali, ordenaram que matassem quem quer que se aproxime
novamente. Assim, quando o menino voltou ao local para apanhar mais algumas
castanhas, deu-se a tragédia: o indiozinho foi decepado e sua mãe, que se
aproximava por ter ouvido os gritos do filho, não chegou a tempo de salvá-lo.
Tomando o corpo do filho nos braços, em completo desespero, Onhimuab arrancou
os olhos do menino e os plantou naquele local. Dizem os índios que do olho
esquerdo nasceu uma planta que não prestava o falso guaraná, enquanto que do
olho direito plantado nasceu o guaraná verdadeiro, uma planta que dava ânimo e
coragem aos índios, curando-os de todos os males. Ali também a índia enterrou o
corpo do filho e cercou o local. Dias depois, saiu da sepultura uma criança, que era o
filho de Onhimuab ressuscitado, o qual foi o primeiro Sateré-Mawé, nascido do pé de
guaraná brotado do olho enterrado do menino, fazendo referência ao formato das
sementes do guaranazeiro.
Lendas a parte, o fato é que foram realmente os índios Sateré-Mawé os
primeiros detentores do conhecimento sobre o cultivo e o preparo do guaraná. Foi
no início da década de 80 que a produção do guaraná saiu da região amazônica,
sendo introduzida em regiões do centro-oeste e do nordeste brasileiro. Atualmente,
o guaraná é consumido e exportado na forma das sementes em si ou de
preparações das mesmas, na forma de pó (empregados com muita freqüência em
compostos terapêuticos), de xaropes (utilizados para o preparo de sucos e
refrigerantes que levam o nome da planta), entre outras apresentações. Estima-se
que sejam exportadas, anualmente, aproximadamente 500 toneladas de guaraná
para os Estados Unidos e países europeus, o que movimenta uma cifra considerável
no mercado brasileiro. No mercado interno, duas são as formas mais consumidas:
na forma de extrato, presente em refrigerantes, e na forma de guaraná em pó,
utilizado como complemento alimentar em função de suas propriedades estimulantes
do funcionamento físico e mental. Dados indicam que o Brasil é praticamente o único
país produtor do guaraná em grande escala, sendo os principais estados produtores
a Bahia, o Amazonas, o Pará e o Acre.

80
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
3.5. Dados químicos e farmacológicos

A primeira investigação sobre a composição química das sementes do


guaraná foi realizada no século XVIII pelo botânico alemão Theodore von Martius, o
qual isolou uma substância amarga e cristalina com marcantes propriedades
biológicas. Essa substância foi chamada inicialmente de guaranina; posteriormente,
descobriu-se que se tratava da já conhecida cafeína. Como já mencionado
anteriormente nesta apostila, a cafeína é um alcalóide do tipo purínico amplamente
distribuído no Reino Vegetal. Acredita-se que mais de 60 espécies de plantas a
apresentem em sua composição, sendo o guaranazeiro a espécie com maior teor
deste alcalóide psicoestimulante. Além da cafeína, e de forma semelhante ao que
ocorre com a espécie Ilex paraguariensis, a espécie Paullinia cupana apresenta,
ainda, os alcalóides teobromina e teofilina, em pequenas quantidades. Nas
sementes da espécie, os teores de cafeína são bastante altos, variando entre 2,5 e
6% do seu peso seco, o que é uma quantidade considerável quando comparada às
de teobromina e teofilina, inferiores a 0,02% e 0,01%, respectivamente.
Além das metilxantinas mencionadas, o guaraná também possui saponinas
e taninos em sua composição, e muitos estudos afirmam que esses compostos
desempenham um papel muito importante na determinação dos efeitos estimulantes
da espécie, de maneira semelhante ao que ocorre com outra espécie vegetal
bastante utilizada em função de suas propriedades estimulantes do sistema nervoso
central, o ginseng (Panax ginseng). Diversos estudos disponíveis na literatura
científica afirmam, inclusive, que os taninos isolados de Paullinia cupana apresentam
considerável atividade antioxidante, o que reforça ainda mais a importância desses
compostos presentes no guaraná.
Um considerável número de trabalhos investigando os efeitos do guaraná
sobre a performance cognitiva, em animais de laboratório, encontra-se disponível na
literatura. Já em humanos, o número de estudos é comparativamente menor,
embora os dados até agora disponíveis contribuam de maneira significativa para a

81
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
compreensão dos efeitos psicoativos do guaraná. As investigações sobre os efeitos
do seu extrato sobre o humor e a performance mental mostram atividades que
podem ser resumidas em alerta, melhoria de aspectos cognitivos como aprendizado
e memória, como estimulante da performance motora, entre outras atividades.
Com relação às investigações sobre os efeitos do guaraná em animais de
laboratório, alguns estudos específicos podem ser citados. Em 1997, um grupo de
pesquisadores brasileiros da Universidade Federal de São Paulo avaliou a ação do
guaraná sobre a performance geral em animais experimentais, utilizando o teste do
nado forçado (para avaliação sobre o desempenho físico), testes de esquiva passiva
e ativa (para verificação dos efeitos sobre aprendizado e memória) e os efeitos sobre
a longevidade dos animais após o tratamento crônico. Os resultados obtidos neste
estudo mostraram que animais previamente tratados com o extrato do guaraná
apresentaram um melhor desempenho físico, no teste do nado forçado, e que a
administração aguda tanto do guaraná quando da cafeína isolada, para comparação,
impediu o efeito amnésico induzido pela escopolamina nos animais. A administração
crônica do guaraná também protegeu ratos mais velhos dos efeitos amnésicos da
escopolamina. Os autores afirmam que esses efeitos positivos observados foram
obtidos mesmo em doses muito pequenas, as quais continham apenas 0, 0062
mg/ml de cafeína (quantidade 15 vezes menor que a dose de cafeína utilizada como
referência no trabalho). Além disso, a maior dose do extrato do guaraná testada,
contendo uma quantidade maior de cafeína, não se mostrou ativa. Portanto, os
autores concluíram que os efeitos do guaraná sobre a performance física, assim
como sobre a memória de ratos jovens e velhos, podem ser devidos também a
outras substâncias e não apenas à cafeína. Como mencionado no início deste
tópico, realmente alguns pesquisadores sugerem que taninos e saponinas também
contribuam para os efeitos benéficos do guaraná sobre o sistema nervoso central.
Outros estudos também confirmam os efeitos do guaraná contra a amnésia
induzida por escopolamina, em animais de laboratório. Em 2005, outro grupo de
pesquisa brasileiro, dessa vez da Universidade Estadual de Maringá, investigou os
efeitos do tratamento crônico com o extrato bruto do guaraná, bem como dos
constituintes semipurificados de suas sementes, sobre o comportamento cognitivo

82
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
de ratos, utilizando o teste do labirinto aquático de Morris. Esses pesquisadores
observaram que ratos cronicamente tratados com o extrato bruto apresentaram
melhoria do comportamento cognitivo. Além disso, a administração crônica (tanto do
extrato bruto quanto de seus compostos isolados) também foi capaz de proteger os
animais dos efeitos amnésicos da escopolamina. Sugerindo que tanto o extrato bruto
quando os compostos semipurificados das sementes do guaraná são capazes de
melhorar a cognição tanto em ratos normais quanto em ratos com amnésia induzida.
Com relação a estudos clínicos, poucos já foram realizados para investigar
os efeitos do guaraná sobre processos cognitivos, embora seus efeitos como
estimulante físico já estejam bem estabelecidos. Neste sentido, um estudo clínico
relevante foi realizado em 2004 por pesquisadores do Reino Unido, em que foram
avaliados os efeitos do tratamento agudo com 75 mg de guaraná sobre a
performance cognitiva e o humor em 28 voluntários saudáveis. Os resultados dessa
pesquisa mostram que doses únicas de guaraná, bem como da combinação entre
guaraná e ginseng, foram realmente capazes de melhorar a performance cognitiva
em comparação com o placebo, pelo menos em jovens saudáveis. Tais melhorias
foram representadas por um notável aperfeiçoamento do desempenho em muitas
tarefas, bem como pela diminuição do declínio de desempenho observado no grupo
controle (placebo) com relação à conclusão das tarefas solicitadas. Este estudo
forneceu as primeiras evidências empíricas as quais confirmam as supostas
propriedades psicoativas do guaraná em humanos. Os autores ressaltam que o
resultado mais notável foi a melhoria da velocidade na realização de tarefas,
observadas após a administração da dose de 75 mg do extrato de guaraná.
Além de estudos clínicos e com animais experimentais, alguns estudos in
vitro também já foram realizados com o extrato do guaraná para verificação de suas
propriedades biológicas. Com relação à ação relacionada, direta ou indiretamente,
ao sistema nervoso central, estudos in vitro demonstram a atividade do guaraná
como um antioxidante natural, relacionando tal atividade à presença de quantidades
significativas de polifenóis, similarmente ao que ocorre com a espécie Ilex
paraguariensis. Portanto, estudos sobre o possível efeito protetor do guaraná contra

83
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
doenças neurogenerativas, também associadas à ocorrência de danos oxidativos,
representam uma área de pesquisa bastante promissora.
Esses dados experimentais, quando observados em conjunto, fazem com
que os pesquisadores dos efeitos psicoativos do guaraná o considerem como uma
droga nootrópica. Essa terminologia é utilizada para designar uma categoria de
agentes psicoativos os quais apresentam efeitos seletivos no desempenho
intelectual, no aprendizado e na memória, na presença ou ausência de um déficit
cognitivo anterior.
Considerando que, pelo menos entre a população brasileira, a forma mais
freqüente do uso do guaraná como estimulante se dá na forma de pó. É importante
mencionar a questão da quantidade de cafeína presente nessas preparações, a qual
pode variar de acordo tanto com a procedência da matéria-prima, quanto com
método de cultivo, com a presença de contaminantes, ou com outros fatores. Nesse
sentido, pesquisadores de diferentes instituições de pesquisa localizadas na cidade
de Campinas, SP, publicaram em 2007 um estudo sobre a contribuição do guaraná
em pó sobre a quantidade de cafeína presente na dieta. Nesse estudo, os
pesquisadores investigam os teores de cafeína presentes em diferentes marcas de
guaraná em pó comercializados. Os pesquisadores observaram que as quantidades
de cafeína nas amostras de guaraná avaliadas variaram tanto entre marcas quanto
entre lotes de uma mesma marca, e que o coeficiente de variação entre os lotes
ficou entre 4,5 a 30,6% de variação.
Os autores afirmam que o crescente consumo de guaraná em pó pela
população brasileira nos últimos anos faz com que seja importante a determinação
da quantidade média de cafeína neste produto, a fim de evitar possíveis interações
ou efeitos inesperados. Ainda, fazem um alerta: de acordo com valores
estabelecidos, ao seguir a orientação do fabricante para o consumo diário do
guaraná em pó, que fica entre 3 e 15 g, um consumidor pode ingerir até cerca de
550 mg de cafeína, o que é uma quantidade suficiente para eliciar os sintomas de
um distúrbio conhecido como “cafeinismo”. O “cafeinismo” pode ser causado por
excesso de cafeína no organismo e apresentam como sintomas: sensação de
ansiedade, inquietação, irritabilidade, entre outras reações desagradáveis,

84
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
decorrentes do bloqueio excedente de receptores de adenosina, como mencionado
no item sobre dados químicos e farmacológicos da espécie Coffea arabica.

----------FIM DO MÓDULO III----------

85
Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores

Você também pode gostar