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Fisiologia

Introdução à Fisiologia - Base celular e molecular da Fisiologia

Fisiologia: Estudo do funcionamento do organismo como um todo → Disciplina integradora.

Claude Bernard: Primeiro grande fisiologista. A investigação de qualquer órgão/célula pode começar por
partes, mas deve sempre posta em contexto, para que haja noção do papel da molécula no organismo.

Homeostasia: Capacidade de um sistema biológico aberto se autorregular de forma a manter estáveis as suas
condições internas, independentemente das condições e/ou alterações ambientais externas.

Organização hierárquica do corpo humano: única célula → células diferenciadas → Tecidos → órgãos →
sistemas de órgãos. Durante a diferenciação, as células dividem-se em 4 tipos de especialização: epiteliais
(tecido epitelial), conjuntivas (tecido conjuntivo),
nervosas (tecido nervoso) e células musculares (tecido
muscular). A maioria dos órgãos é constituída por
quase todos estes tipos de tecidos.

Sistemas de órgãos – órgãos que, em conjunto, têm


funções fisiológicas importantes.

Membrana celular
50% são proteínas – envolvidas na sinalização celular,
estabilidade estrutural do tecido (ligação a outras
células ou elementos da matriz extracelular) ou no
transporte de substâncias através da membrana.

Difusão Simples: condicionada pela 1ª Lei de Fick –


fluxo resultante (J) tal que 𝐽 = 𝑃𝐴(𝐶2 − 𝐶1 ).
P- coef. de permeabilidade C - Concentração dos
meios, A - Área Da membrana. Equilíbrio de fluxos: C2
= C1.

A maior parte dos compostos – água, iões e outros solutos - depende de mediadores proteicos para atravessar
a membrana, que estabelecem poros/canais ou sistemas de transporte na membrana assim como de outros
sistemas de transposição mais complexos como a endocitose e a exocitose.
Poros/Canais
Criam um poro hidrófilo na membrana, permitindo a difusão de substâncias polares, a favor do seu gradiente
de concentração. O fluxo é rápido e só depende do gradiente de concentração. Estes não são transportadores,
porque as substâncias que eles permitem entrar não se ligam diretamente ao canal, é um poro que permite a
difusão. No entanto, os canais iónicos são muito seletivos, pois só são permeáveis a um ou dois iões. A
abertura do canal pode ser mediada por alteração conformacional total, parcial ou remoção de partícula de
bloqueio, desencadeados por estímulos (elétricos, químicos e mecânicos).

Transportadores simples (uniporte)


Transportam de forma específica (por afinidade).
A cinética de travessia da membrana é limitada
pela ligação de uma única molécula ao
transportador – velocidade inferior à dos canais
iónicos. Vmáx de transporte depende do número de
transportadores e gradiente de concentração. O
transporte é reversível, porque uma vez alterado
o sentido do gradiente, altera-se o sentido de
transição na membrana.

Figura 1 - A captação celular da glucose pelo transportador


GLUT1 apresenta cinética Michaeliana simples.
Transportadores dependentes de ATP
Bombas que usam energia obtida da hidrólise de ATP para transporte
contra o gradiente de concentração (transporte ativo).

Bomba Na+-K+: Forma desfosforilada → Alta afinidade para o Na+ → liga-se


→ fosforilação → alteração conformacional com alta afinidade para K+ a
saída do Na+ → K+ liga-se → desfosforilação → alteração conformacional
com saída de K+ → início do ciclo. (2 conformações).

Há quatro classes principais de ATPases: P, V e F transportam


exclusivamente iões e algumas da superfamília ABC transportam outros
tipos de solutos. O ATP liga-se em domínios intracelulares e só é hidrolisado
quando ocorre em simultâneo o transporte de moléculas e iões.

(Não é preciso decorar)


Co-transportadores (simporte e antiporte)
Transportam uma molécula contra o gradiente de concentração movido por outra a favor do seu gradiente,
quer no mesmo sentido (simporte), quer antiporte. É um transporte ativo secundário, pois a energia do
transporte vem de um gradiente eletroquímico previamente estabelecido. Pode ser eletroneutro ou
eletrogénico (gerar assimetria de/destabilizar cargas TIRAR DÚVIDA).

Transporte transcelular: Através da travessia nas células - epitélio do intestino, pulmão e vasos sanguíneos -
locais onde as substâncias necessárias à vida entram no organismo ou passam do sangue para os tecidos.

Transporte paracelular: pelos interstícios das células.

Transporte intercelular: A células podem ter mecanismos de transporte diretos – junções - canais que ligam
uma célula a outra, regulando a passagem de substâncias.

Há ainda a endocitose (absortiva, fagocitose, transcitose) e exocitose. Todos estes processos são muito
específicos, pois há recetores, a célula tem de conhecer as substâncias, não há endocitose só por si.

T3: Sinalização Celular


O aumento da complexidade dos organismos
e especialização dos tecidos implicam a
necessidade de ter mecanismos de controlo e
comunicação entre os diversos órgãos e
células com diferentes níveis de organização.
Logo, a passagem de um organismo unicelular
para um multicelular implica alguma
especialização das células: umas em fazer
trocas com o meio exterior, outras na receção
(células recetoras) e outras responsáveis pela
atividade sensorial e passagem de informação
a células mais interiores no organismo.

Durante a integração há um input de células


nervosas que garante a transmissão de
informação entre os diferentes tipos de
tecidos, sendo o sistema nervoso uma forma
de realizar, receber e transmitir essa informação.

Mecanismos de sinalização/comunicação

• Contacto direto - na maior parte dos casos envolve recetores.


• Parácrino – hormonas/mensageiros produzidos por uma célula agem diretamente sobre as vizinhas.
• Autócrino - mensageiros que atuam na própria célula onde foram produzidos.
• Sináptico - organismos maiores e mais complexos. O sistema nervoso permite o contacto à distância
dentro do organismo. Nos pontos de contacto há sinapses e neurotransmissores.
• Endócrino - comunica através de hormonas que circulam no sangue, ligando-se depois às células alvo.
• Comunicação célula a célula - através de junções comunicantes.

→ Todos estes mecanismos coexistem nos tecidos e exceto as junções, envolvem recetores.

Localização dos receptores: membranares ou intracelulares (citoplasma ou núcleo - ou acabam por ser
translocados para este, tendo ação na regulação da transcrição génica). A localização do recetor reflete a
natureza química do mensageiro e a sua função principal. Ex: Os mensageiros hidrófilos não conseguem passar
na membrana pelo que têm de ter um recetor lá, enquanto os hidrófobos passam a membrana, mas têm de
ter um recetor no citoplasma/núcleo.

→ A ligação de um mensageiro a um recetor na membrana celular pode implicar transdução de sinal e diversas
proteínas intracelulares sinalizadoras e pequenas moléculas (segundos mensageiros) que atuam em muitas
proteínas alvo intracelulares, alterando metabolismo e outras funções celulares.

Diversidade de mensageiros

A maior parte são neurotransmissores – pequenos


aminoácidos ou derivados:

▪ GABA - aminoácido obtido por descarboxilação;


▪ Acetilcolina – derivado do Acetil-coA.

ATP – derivado de purina, sinalizador do metabolismo


energético para fora da célula - mensageiro que
reporta o estado energético celular.

Aminas Biogénicas

▪ Iodotironinas - Hormonas da tiroide produzidas a


partir de 2 moléculas de tirosina, transportadas no
sangue pela TBG (globulina de ligação às hormonas
na tiroide).
▪ Catecolaminas - produzidas na medula adrenal a
partir da tirosina. Incluem a adrenalina
(epinefrina), noradrenalina e dopamina. (2-OH’s)
▪ Há ainda indolaminas como a serotonina e
imidazoloaminas como a histamina.

Hormonas esteroides – Produzidas no córtex adrenal, ovários, testículos e placenta. No sangue, precisam de
ser transportadas por albumina (não específica) ou globulinas de ligação às hormonas sexuais/ aos
corticoesteróides (específicas). Dividem-se em:

❖ Progestinas e corticoides (mineralocorticoides e glucocorticoides) – 21 C’s;


❖ Androgénios (19 C’s) e estrogénios (18 C’s). São hidrófobas.

Péptidos, proteínas e glicoproteínas – Constituem preprohormonas ou prehormonas, sintetizados e


modificados tal e qual como as proteínas: translação para o RE; remoção do péptido sinal; transporte em
vesículas para o complexo de Golgi; modificações (glicosilação, pontes S-S, hidrólise d@ pro-
péptido/hormona); armazenamento em vesículas de secreção exportadas para o citoplasma. Também podem
ser fatores neurotróficos se forem muito grandes, que apoiam o desenvolvimento dos neurónios. Pequenos
péptidos podem atuar tanto como hormonas como neurotransmissores.

Mensageiros atípicos:

Fosfato de esfingosina - obtido por hidrolise de lípidos membranares e tem uma ação autócrina.
Oxido nítrico - obtido pela arginina – regulação parácrina – das células endoteliais para o músculo
próximo que envolve os vasos.
Teoria dos recetores: Ligação mensageiro – recetor
A maioria dos sistemas homeostáticos necessita de assegurar a comunicação celular por mensageiros de
natureza química. O primeiro passo da ação do mensageiro químico na célula alvo consiste, geralmente, na
sua ligação a proteínas específicas dessa célula, os recetores. Os recetores de membrana são mais comuns,
pois a grande maioria dos mensageiros não consegue atravessar a membrana plasmática. Os recetores
intracelulares são alvo de substâncias hidrófobas ou lipossolúveis, que podem atravessar a membrana, como
por exemplo das hormonas esteroides os glucocorticoides.

→ A existência de recetores confere especificidade à comunicação intercelular. Assim, um mensageiro


químico pode contactar com diferentes tipos de células, afetando somente o comportamento daquelas que
possuírem os correspondentes recetores. Células com o mesmo recetor podem, também, ter respostas muito
diferentes, funcionando o recetor apenas como um interruptor molecular cuja resposta depende da função e
estrutura da célula-alvo.

A ligação de um mensageiro(M) a um recetor(R) pode caracterizar-se pela sua afinidade para esse recetor e
vice-versa, i.e., a força da sua interação. Esta interação pode ser estudada avaliando a extensão da ligação
como o aumento da concentração de mensageiro (curvas de saturação).

KA - constante de afinidade – caracteriza a afinidade de um mensageiro para um recetor;

KD - constante de dissociação (1/KA) – concentração de mensageiro necessária para ocupar 50% dos recetores;
reflete o estado de equilíbrio entre as formas livres do recetor e do mensageiro e o complexo MR.

→ Um mensageiro com elevada afinidade, tem baixa constante de dissociação.

A ligação a um recetor está saturada quando todos os recetores


estão ocupados. Usualmente, acontece para concentrações de
mensageiro superiores a ≈100x o valor do KD. Ao valor máximo
de ligações que se consegue obter (concentração total de
recetores no tecido) dá-se o nome de Bmáx. D é a concentração
de mensageiro a que se atinge a saturação dos recetores (ligação
máxima). Concentrações superiores são supra-máximas.

→ D = Bmax quando o mensageiro só se liga ao recetor em estudo (não costuma acontecer).

Resposta fisiológica

Acoplamento: conjunto de fenómenos que ocorrem entre a ligação do mensageiro e a resposta celular.
Importante relação: vermelho: curvs de ligação do mensageiro; azul – resposta.

Outra característica importante é a eficácia intrínseca (atividade) com que um mensageiro desencadeia a
resposta fisiológica a que está acoplado, seja esta celular (Ex: produção de cAMP), do tecido (Ex: contração do
músculo liso) ou sistémica. Esta pode avaliar-se pelo efeito máximo, Emáx, que esse mensageiro pode
desencadear. A potência de um mensageiro pode avaliar-se determinando a concentração de mensageiro que
produz 50% da resposta máxima, EC50. Menor EC50, maior potência.

Tanto EC50 como KD são pontos de inflexão de uma curva. Logo:

▪ EC50 = KD – 50% de ocupação = 50% de efeito;


▪ EC50 < KD - 50% de ocupação = efeito > 50% - há recetores de reserva (os recetores não têm de ser
todos ocupados para haver efeito máximo);
▪ EC50 > KD - 50% de ocupação = efeito < 50% - efeito limitado pelo acoplamento aos mecanismos de
transdução.

→ A célula pode regular como responde a um mensageiro diminuindo ou aumentando o número de recetores.

Múltiplos mensageiros para um recetor

Nos sistemas biológicos há, frequentemente, mais que um mensageiro a ligar-se a determinado recetor,
podendo haver competição. As diferenças na disponibilidade do mensageiro e nas afinidades dos mensageiros
para o recetor determinam qual estará preferencialmente ligado. As diferenças de afinidade podem ser
comparadas através dos seus KD. Um recetor é seletivo para um determinado mensageiro/fármaco quando
se liga a um mensageiro com um KD pelo menos 100x inferior ao dos outros, ou seja, o equilíbrio está muito
deslocado para a formação de MR.

A competição é um fenómeno importante na toxicologia e também na terapêutica, pois na maioria das vezes
queremos prevenir a ação de um mensageiro endógeno ou substituir a sua ação pela de um químico
adicionado exogenamente. Assim, podemos definir 2 tipos de fármacos consoante a sua ligação ao recetor:

• Agonista – Induz uma resposta biológica semelhante à do mensageiro endógeno. Para ser agonista
total, i.e., desencadear uma resposta máxima igual à do mensageiro endógeno (índice de eficácia = 1)
ou agonista parcial (índice de eficácia < 1). Na ausência de um ligando, muitos recetores exibem
atividade constitutiva (desencadeiam resposta biológica na ausência de mensageiros): os fármacos
capazes de estabilizar estes recetores numa conformação inativa denominam-se agonistas inversos
(índice de eficácia < 0).
• Antagonista – Liga-se com afinidade ao recetor, mas não induz resposta biológica (índice de eficácia
= 0), prevenindo parcial ou totalmente a ligação do mensageiro e respostas biológicas desencadeadas.
Os antagonistas podem ser substâncias endógenas, normalmente envolvidas na regulação da
atividade do recetor, ou substâncias exógenas (fármacos ou venenos). O antagonismo geralmente
resulta da competição com um mensageiro/agonista para o mesmo local (antagonismo competitivo)
mas também pode ocorrer por interação com outros locais de ligação (antagonismo alostérico ou
alotópico). A ligação ao recetor pode ser reversível ou irreversível dependendo da estabilidade do
complexo ligando-recetor formado.

Os antagonistas competitivos ligam-se no mesmo local que o mensageiro endógeno, reduzindo o número de
locais disponíveis para o mesmo. Não afetam a ligação máxima do agonista, mas deslocam a curva de ligação
para a direita, diminuindo a afinidade do recetor para o mensageiro. A sua ligação pode normalmente ser
revertida (antagonismo reversível) aumentando a concentração do mensageiro endógeno, desde que a
interação entre o antagonista e o recetor não envolva ligações covalentes (antagonismo irreversível). Diminui
a potência (curva de efeito máximo para a direita), mas não altera a eficácia.
Os antagonistas não competitivos não afetam a afinidade do mensageiro para o recetor, mas reduzem a sua
capacidade de desencadear uma resposta máxima. Podem ligar-se ao receptor noutro local/domínio da
proteína, que pode ser um local de modulação alostérica (antagonismo alostérico ou alotópico) podendo
afetar a ligação do mensageiro ao recetor ou interferir com a eficácia da sua ligação a outras moléculas,
afetando o seu acoplamento a mecanismos efetores ou de transdução de sinal e a resposta máxima. São
também considerados antagonistas não competitivos as substâncias que se ligam no mesmo local que o
mensageiro endógeno de forma irreversível (antagonismo pseudo-irreversível). Dependendo da quantidade
de antagonista que se ligou aos recetores, podem reduzir parcial ou totalmente a atividade do recetor.

A ligação de substâncias a locais de modulação alostérica pode também resultar na potenciação da ligação
e/ou atividade dos mensageiros endógenos/agonistas.

Múltiplos recetores para o mesmo mensageiro

Uma célula também pode ter diferentes tipos de recetores para um só mensageiro, muitas vezes com
afinidades diferentes ou acoplados a mecanismos de transdução diferentes. A combinação deste mensageiro
com um dos tipos de recetor. Assim, a resposta celular será diferente, dependendo do tipo de recetor na
mesma célula.

Regulação dos recetores

Os recetores são importantes alvos de mecanismos de regulação fisiológica locais ou sistémicos. O seu nº,
afinidade e a sua eficácia podem assim ser regulados positiva/negativamente por vários processos. Os níveis
de recetores podem ser alvo de regulação negativa (‘downregulation’) pela própria célula em resposta a uma
elevação da concentração do mensageiro mais longa que o habitual (mecanismo de retroação negativa local)
ou por resposta a sinalização remota (hormonal ou nervosa). Os mecanismos envolvidos neste processo
podem incluir a inibição da expressão do recetor pela célula ou a internalização de recetores de membrana
(degradados ou reservados intracelularmente). Quando se dá a regulação positiva (‘upregulation’) podem
observar-se mecanismos inversos aos descritos acima, i.e., aumento da expressão dos genes que codificam os
recetores e inserção de recetores de reserva na membrana celular.

Sinalização Celular
Recetores de membrana
→ 3 grandes tipos de recetores de membrana:

▪ A própria molécula é um canal iónico e quando se dá o sinal, dá-se a abertura de canal com a
passagem de iões;
▪ Recetores relacionados à atividade enzimática, pode ser desencadeada pelo próprio recetor ou
proteínas que a ele se associam, cujo produto gera o sinal intracelular;
▪ Recetores acoplados a proteínas: geração do sinal do meio intracelular pelas proteínas G.
Recetores: Canais iónicos

1. Recetores para neurotransmissores. Estes necessitam de um sinal rápido, que é causado logo que há
abertura do canal.
2. Sistema sensorial: recetores na boca para detetar substâncias ácidas; HCN (gosto).
3. Sistema sensorial: canais sensíveis à concentração de Na+ (gosto).

Exemplo: recetor AMPA para o glutamato – um domínio N-terminal, um intermédio onde se liga o glutamato,
3 domínios transmembranares, é um heterotetrâmero. Quando o glutamato se liga ao recetor, há uma
abertura do canal e entrada de Na+ - é um canal de sódio.

Recetores acoplados a atividade enzimática

1 – De Guanilil Ciclase: O péptido natriurético auricular (ANP) libertado pelo miocárdio, que sinaliza do coração
para o rim, vasos, liga-se ao homodímero no domínio extracelular, ativando o domínio intracelular com
atividade de guanilato ciclase (gera cGMP a partir do GTP) que ativa canais iónicos, fosfodiesterases e cinases
de proteínas dependentes de cGMP.

2- Recetores com atividade de cinase em resíduos de tirosina: A ligação do NGF (nerve growth factor) ao
recetor TrkA provoca uma dimerização das subunidades que, sem ser ativadas existem como monómeros.
Depois, há fosforilação recíproca nos seus resíduos de tirosina e também de Shc que promove a ativação de
3 cascatas de sinalização –> ativação de múltiplos mecanismos intracelulares (cinases e IP3-Ca2+).

3 – Recetor do TGF-β (transforming growth factor - citocina pro-inflamatória): Quando TGF-β se liga aos
recetores de tipo I e II, promove a formação do tetraheterodímero com 2 subunidades do tipo II e 2 do tipo I,
seguido da fosforilação das I pelas II. Depois, a subunidade I fosforila fatores de transcrição (Smad) e enzimas.

4 – Recetor da Insulina: Tem 4 subunidades ligadas por pontes persulfureto. 2 são responsáveis pela ligação
de 2 moléculas de insulina (2 moléculas por recetor) e as duas β são subunidades integrais que têm atividade
de cinase em resíduos de tirosina. A ativação do recetor induz primeiro auto-fosforilação das subunidades β
que depois induz atividade de cinase de resíduos de tirosina noutros enzimas intracelulares, como a Akt (cinase
B de proteínas) que tem ações na síntese de glicogénio, glicólise e inserção de transportadores de glucose na
membrana das células.

5 – Recetor da Prolactina/Hormona do crescimento: Após a ligação da PRL ou GH, o recetor dimeriza e traduz
sinais dependendo da ativação pela JAK (Janus kinase), que começa a fosforilação da JAK pela JAK associada à
outra subunidade. Ativada, JAK fosforila e ativa fatores de transcrição da família STAT5, permitindo que estes
migrem para o núcleo, ou enzimas celulares (alterações metabólicas).

Recetores acoplados a proteínas G

O maior e mais diverso grupo de recetores de membrana em eucariotas. Proteínas globulares monoméricas
transmembranares que têm 7 domínios em forma de hélice α. Os domínios extracelulares (incluindo o N-
terminal) formam o local de ligação dos mensageiros. Os domínios intracelulares (incluindo o C-terminal)
participam na interação do recetor com moléculas do citoesqueleto e com as proteínas G que têm a
capacidade de ligar GTP e GDP. Podem ser:

▪ Pequenas (Rab, Arf, Ras, Rho) – menos comuns, intracelulares necessitam de uma proteína adaptadora
e do fator de troca da guanina (GEF) (GTP --> GDP) e outra proteína auxiliar para hidrolisar o GTP (fracas).
▪ Maiores (proteínas heterotriméricas) – mais comuns, 3 subunidades diferentes: α, β e γ. Duas, α e γ,
ancoradas lipidicamente à membrana. A sub α liga-se ao GDP quando inativa ou ao GTP quando ativa: Na
forma inativa o heterotrímero está ligado a um recetor inativo. Quando o mensageiro se liga este é
ativado, alterando a sua conformação o que ativa o heterotrímero, α dissocia-se das β e γ que
permanecem ancoradas à membrana embora desligados do recetor, podendo interagir com outras
proteínas da membrana efetoras. α liga-se ao GTP e as pG ficam ativas enquanto isto acontecer. Quando
o GTP é hidrolisado, volta a formar-se o heterotrímero inativo que se associa a um recetor inativo.
Há várias subclasses de proteínas G (GS, Gq, Gi/o) que diferem na sua subunidade α e que, quando ativas,
ativam uma cascata de sinalização diferente:

Isto acontece por intermédio de 2ºs mensageiros. Há um número enorme de proteínas que são sensíveis e
ativadas pelo Ca2+ (um dos 2ºs mensageiros mais importantes). Em cada passo há um potencial de amplificar
o sinal que chegou quando uma hormona chegou ao recetor.

→ As cinases são famílias de imensas proteínas intracelulares com pequenas diferenças e expressão
diferenciada em diferentes tecidos. São todas sensíveis e ativadas por cAMP. 2 subunidades catalíticas e as
reguladoras ligadas entre si. Quando 4 moléculas de cAMP se ligam às reguladoras, as catalíticas soltam-se,
podendo fosforilar os seus substratos. Na proteína cinase c de proteínas os domínios reguladores afastam-se,
para o catalítico ficar mais acessível aos substratos.

Calmodulina: Com a ligação do Ca2+, esta sofre alterações conformacionais que expõe os seus domínios
hidrófobos permitindo que formem interações com outras proteínas, enzimas. O complexo Ca2+- calmodulina
ligase, depois, a cinases dependente de calmodulina.

→ Qualquer um dos recetores de membrana, embora não esteja especificamente vocacionado para isso, tem,
também, uma ação na regulação da transcrição através da ativação de proteínas intracelulares. Ex: O fator de
transcrição CREB (cAMP response elemento-binding protein).

Recetores intracelulares

▪ Podem ser nucleares ou citoplasmáticos


▪ São fatores de transcrição que se ligam como homo- ou
heterodímeros a sequências de consenso no DNA
(elementos de resposta a tal sinal, normalmente a
hormonas) na região promotora dos seus genes alvo,
regulando a sua expressão.
▪ Ligam substâncias endógenas hidrófobas, o que leva à
dissociação ou associação de outras proteínas reguladoras.
→ Os recetores que não são de hormonas esteroides são na maioria nucleares, mesmo na ausência de ligando.
Interagem com outros recetores nucleares para formar heterodímeros, bem como com outros reguladores da
transcrição génica. A seletividade da regulação génica é resultado da interação com sequências de consensus
no DNA, organizadas tipicamente como repetições ou palíndromos invertidos permitindo a ligação de
múltiplos fatores de transcrição.

Quando não ativados, estão fora do núcleo associados a uma chaperonina. Só são translocados para o núcleo
quando são ativados pela ligação de uma hormona, que os dissocia das chaperoninas. Ex: Quando os
estrogénios se ligam ao recetor, há uma chaperonina que é libertada, o recetor dimeriza e migra para o núcleo,
onde se associa a RNA polimerase e a outros enzimas, de modo a promover a regulação da transcrição génica.
Normalmente liga-se as zonas dos recetores que tem zinc fingers e que estão muito aptas a ligar-se ao DNA,
como no caso da superfamília dos recetores esteróides.

Canais Iónicos
Criam um poro seletivo e hidrófilo na membrana permitindo a difusão de substâncias, sempre a favor do
gradiente de concentração e com uma velocidade de difusão próxima à da passagem de um composto
hidrófobo na membrana.

São muito seletivos e a abertura pode ser mediada por mais que um tipo de mecanismo: alteração
conformacional local/total ou remoção de uma partícula de bloqueio e tem como origem diversos estímulos.

Técnicas para estudo funcional de canais iónicos

Patch-clamp - Consiste em utilizar 2


elétrodos, um dentro da pipeta,
outro no meio extracelular.
Medem a diferença de potencial ou
a corrente. Com as células in vitro,
o meio exterior tem composição
semelhante ao meio extracelular.
Encosta-se a pipeta à membrana, formando-se um gigacelo: o único sítio por onde a corrente pode passar é
através do canal. Mas com 2 ou 3 canais temos correntes muito pequenas… o melhor é romper o pedaço de
membrana. Continua a haver um gigacelo, mas agora mede-se a corrente de todos os canais da membrana da
célula (whole-cell configuration). No modo anterior de contacto, a intensidade da corrente é muito pequena
e aleatória. Neste modo, é muito mais fácil seguir a corrente.

FRET – espetroscopia de transferência de ressonância. Marca-se os canais com 2 moléculas fluorescentes e


por causa da distância a que as moléculas estão quando o canal está aberto ou fechado, conseguimos saber
se está aberto ou fechado. Se as moléculas estiverem próximas, há transferência de energia e, portanto, sinal
de FRET. Quando o canal está aberto estão afastadas, não havendo sinal.

Funcionamento dos canais iónicos

Leak channels/canais de fuga


Estão sempre/quase, sempre abertos, raramente são regulados

Voltage-gated channels
Canais sensíveis a flutuações no potencial de membrana. Todas as assimetrias que se geram com os
mecanismos de transporte fazem com que haja potencial de membrana (-70/-75). Cada vez que um canal abre
na membrana e os gradientes se desfazem, há variações no potencial de membrana que fazem com que estes
canais (Na, Ca, K e Cl) reajam.
Ex: Canais de sódio dependentes de voltagem: família de canais responsável pela geração do potencial de ação.
Uma subunidade única, mas complexa com 6 domínios transmembranares. Grandes loops formam um único
poro que, normalmente, funciona
sozinho. A subunidades α pode, ou
não, estar associada a uma ou duas
subunidades β com função
reguladora. Hélices (a vermelho) são
sensíveis à voltagem e quando há
depolarização, rodam, aproximam-
se da superfície e abre o canal (1ms).
Depois volta a ficar indisponível para
receber alterações no potencial de
membrana durante vários ms pois
possui um domínio de inativação. São muitos genes que codificam para este tipo de canal, distribuídos de
forma diferenciada no humano: estímulo igual, cinética de resposta diferente.

Ex: Canais de potássio dependentes de voltagem: 2 famílias diferentes - uma com 6 domínios
transmembranares a outra só com 2. No entanto, tanto numa como noutra se organizam em homotetrâmeros.
Não têm domínio de inativação. Noção: a diversidade de canais de K dependentes de voltagem é imensa.

Canais
ativados por ligandos/mensageiros
Ligand-gated channels

Extracelulares

1. Recetores para neurotransmissores (a maior parte);


2. Recetores para substâncias ácidas (HCN);
3. Canais sensíveis à concentração de Na+ (gosto);

Ex1: Recetor AMPA para o glutamato, homo ou heterotetrâmero. Os recetores para o glutamato têm 3 canais
diferentes, pois também permeiam Na+, K+ e dependendo da composição Ca2+. Poro pouco seletivo.

Ex2: Recetor nicotínico da acetilcolina. Permeável a catiões e pouco seletivo.

Intracelulares (signal gated channel)

Segundos mensageiros, como o Ca2+, cGMP


ou cAMP ativam o canal, ligando-se a ele
pelo lado intracelular. Podem estar na
membrana celular ou em compartimentos
intracelulares.

Ex1: Recetor do IP3 que mobiliza Ca2+ do


retículo para o citoplasma quando há
ligação do segundo mensageiro. O cálcio
pode ativar um canal de K+ dependente de Ca2+.

Ex2: Epitélio olfativo - reconhece as moléculas do ar. Retina - mecanismo semelhante ao anterior, canais
heterotetrâmeros.
Canais ativados por temperatura
Importantes para o sistema sensorial, alguns são ativados pelo frio, outros pelo calor. A diferença de
temperatura causa alterações conformacionais nos pequenos domínios, inseridos fora e dentro da membrana,
e na solvatação. Quando a hélice fica mais vertical, deixa passar os iões. Há ainda uma família destes canais
sensíveis a gamas de temperaturas.

Canais ativados por deformação mecânica


Canais Piezo – São sensíveis e respondem a algo que cause deformação na pele (à pressão, ao toque, tensão
muscular) que levam à tensão na membrana e permitem a abertura do poro, havendo despolarização da
membrana para gerar sinais elétricos/nervosos.

Células osmorrecetoras do hipotálamo - Detetam o nosso grau de hidratação. São sensíveis à tensão do meio
extracelular sobre a membrana. Falta de água – meio extracelular hipertónico → célula “mirra” →
superfuncionamento dos canais → sensação de sede e libertação de vasopressina. Falta de sódio/sais – meio
extracelular hipotónico → célula incha → silenciamento do funcionamento dos canais.

Princípios que explicam a seletividade dos canais iónicos


Os iões estão solvatados. Enquanto o potássio entra na parte azul do poro,
consegue ser acompanhado pela sua esfera de solvatação. Quando chega ao
amarelo, tem de largar a parte da sua esfera de solvatação. As interações que
fazia com os O’s da água (4 das 6), faz agora com os grupos carbonilo. No
entanto, a passagem dos iões através dos poros é muito rápida e as
interações que se estabelece com os grupos do canal são rapidíssimas. Tal
como para a esfera de solvatação, a ligação também não é fixa, nem estável
estando continuamente a estabelecer/reestabelecer interações. Não é o tipo
de ligação entre molécula e o recetor ou transportador.

Seletividade: a distância a que se estabelece a esfera de solvatação varia com a dimensão e densidade de
carga do ião. Para além dos iões Na+ serem mais pequenos, quando entram no canal, não conseguem
estabelecer interação com os grupos carbonilo do poro, voltando a sair.

Outros canais
Têm poros maiores e outras características diferentes:

Aquaporinas – Homotetrâmeros que permitem a passagem de H2O ou até algumas moléculas não polares,
pela membrana ou organelos intracelulares. São um conjunto de moléculas e não uma molécula. Envolvidas
na homeostase sistémica da água, metabolismo de adipócitos, edema cerebral, migração celular e secreção
de fluidos pelo epitélio.

Aquogliceroporinas – permeáveis ao glicerol e, algumas isoformas, à ureia.

Amoniaporinas e peroxiporinas – permeáveis à amónia e/ou H2O2.

Conexinas – Formam conexões (hemicanais de 6 subunidades de conexinas) que se ligam(1 em cada célula)
para constituir poros enormes. Estes formam as junções de hiato/comunicantes. As conexões podem ser
fechadas/abertas pela célula(rotação). Importantes na neurotransmissão elétrica, contração do músculo
cardíaco e liso, transporte epitelial de iões.

→ Guide to pharmacology – os canais de que falamos são os principais alvos farmacológicos, para qualquer
tipo de doenças.
Mecanismos de regulação homeostática
O sistema nervoso (com ênfase no SN Autónomo) e o sistema
endócrino complementam-se na coordenação dos processos
homeostáticos. A principal diferença entre estes é os tempos de
resposta. Este sistema integrador é controlado pelo cérebro.

Sistema Nervoso Autónomo:

• Simpático - responsável pelas alterações no organismo em


situações de stress. Deixa o indivíduo em estado de alerta,
preparado para reações de luta e fuga.
• Parassimpático - Faz o organismo retornar ao estado de calma.

O controlo homeostático pelo sistema nervoso/cérebro – componentes


1 – Manutenção da Osmolaridade:
✓ Controlador – CNS (hipotálamo-hipófise e outros)
✓ Sensor – (osmorrecetores) hipotálamo, o principal ponto de convergência e partida de toda a
informação. Os osmorrecetores são sensíveis à osmolaridade do sangue nos tecidos à qual respondem
com uma atividade elétrica. Sinalizam algo.
✓ Valor de referência – osmolaridade normal de referência.
✓ Mecanismo de controlo – ADH (hormona antidiurética) e comportamento (ingestão de água). Função
normal: metade dos canais abertos. Células em solução hipertónica → Perda de água: as células vão
começar a disparar mais intensamente, o que resulta no estímulo da libertação de uma hormona, ADH,
que que tem como alvos o rim, sistema gastrointestinal, pele e glândulas. Por outro lado, o sinal via
sistema nervoso despoleta uma resposta comportamental: sede.

Sistemas efetores – vários órgãos e ações voluntárias.

2 – Queda de pressão arterial


✓ Controlador - centros cardiovasculares do CNS;
✓ Sensores de pressão – baroreceptores aórticos e carotídeos;
✓ Valor de referência – pressão arterial normal de referência armazenada no funcionamento de uma
célula de referência que está no centro cardiovascular;
✓ Mecanismo de controlo - Sistema quase todo dependente do sistema nervoso autónomo (a resposta
tem de ser rápida) – vai enervar o coração, os vasos causando alteração do batimento cardíaco e a
tensão nas veias, artérias e arteríolas, para termos uma reposição da pressão arterial.
✓ Sistemas efetores – coração, veias e arteríolas.

→ Podemos ter mais do que um mecanismo efetor/de controlo na resposta a uma determinada perturbação
de um sistema fisiológico:

3 – Descida de Temperatura
✓ Controlador - CNS;
✓ Sensor – Termorrecetores (hipotálamo e periféricos);
✓ Valor de referência – Temperatura interna normal (37oC)
✓ Mecanismo de controlo - SNA (inervação, vasos, músculos piloerectores) e SNS (controlo involuntário
da musculatura).
✓ Sistemas efetores – vasos, músculo, pelo.
→ O centro integrador está em células do hipotálamo que vão alterar o funcionamento das células. Esta
resposta pode ser:

1- Constrição dos vasos periféricos (mais apertados, para menos sangue e menor perda de calor à
superfície do corpo)
2- O SNA recruta o SNSresposta do músculo esquelético com o tremor – gera calor.
3- Arrepiar cria uma camada de ar entre o pelo e a pele para o calor não escapar para o exterior (animais).

→ O valor de referência está sempre codificado na expressão de proteínas, num grupo de células.

→ As formas pelas quais o organismo controla o metabolismo têm de ter um sistema de STOP. A resposta não
pode continuamente surtir efeito quando já não é precisa! → Controlo de cascatas de ativação enzimática,
controlo de cascatas de ativação hormonal.

Retroação negativa
Secreção das hormonas na tiroide: 1º - O hipotálamo liberta a TRH (hormona
libertadora de tirotrofina) que estimula a produção e libertação de TSH
(tirotrofina), pela hipófise anterior, que por sua vez induz a libertação de hormonas
da tiroide. Quando há suficiente quantidade, estas hormonas inibem a libertação
das anteriores.

→ Normalmente, existem 2 pontos de regulação em que há retroação negativa:

1 – Há um valor inferior/superior ao normal detetar por um sensor e o centro


integrador desencadeia uma resposta em determinado sistema efetor, de modo a
regularizar o valor.

2 – Quando o parâmetro já está regularizado, os sensores também detetam e


inibem a resposta, de modo a que a resposta não supere o estado normal, https://www.youtube.com/watch?v=An
mantendo-se um estado estacionário no ambiente interno. Q2z-r_00s

→ Assim, mantemos a o fator numa gama de valores adequada. Dois


ciclos de retroação negativa conseguem manter no estado
estacionário.

Autorreceptores: Regulam o funcionamento da célula em função da sua própria atividade. Ex: Quando o
neurotransmissor é libertado, liga-se a autorreceptores no terminal do próprio neurónio que inibem a
libertação de mais neurotransmissores, para não haver excesso – também é um sistema de retroação negativa
em que o neurotransmissor regula a sua própria libertação.

Dessensibilização de recetores: É importante quanto há uma ativação continuada de recetores (exigência


elevada ao nível da resposta celular). Quando acontece, a célula faz alguma reciclagem associada a endocitose
e reintroduz na membrana só a quantidade de recetores associados a esta nova resposta dessensibilizada.

Retroação positiva
Controlo da contração uterina pela oxitocina: No nascimento, dá-se a quebra do ciclo de retroação positiva.

Controlo da coagulação sanguínea: Quando um vaso é danificado libertam-se das células endoteliais muitos
sinais que levam as plaquetas para a zona de reparação e estas libertam mais sinais para trazer mais plaquetas,
num processo que só acaba quando o vaso está sarado.
Mecanismos de controlo homeostático: ritmos biológicos, aclimatização e adaptação
Aclimatização: Resposta à exposição contínua a situações extremas como altitude ou ambientes muito frios.
É como se houvesse uma redefinição (‘reset’) dos valores de referência usados no controlo homeostático.

Adaptação: ocorre de forma mais lenta, pois é uma adaptação ao nível da espécie e permanente, ocorre
através dos genes. Ex: Proteção dos UV pela pele escura.

Ritmos circadianos: O corpo gere os recursos com alguma antecipação. Ainda antes de nos deitarmos, o corpo
antecipa que está a chegar a hora de dormir e baixa a temperatura corporal.

Volume dos fluídos corporais


O volume dos fluidos corporais é muitas vezes alvo de regulação. Garantir que mais de metade do corpo é
constituído por água, estando ela no meio intracelular (67%) ou extracelular e fluido intersticial (26%) ou no
plasma (7%). Grandes pontos da regulação fisiológica: membrana celular, parede dos capilares e trocas que
ocorrem nos epitélios do sistema digestivo, respiratório e urinário.

Princípios do transporte epitelial


Primeiro ponto de trocas com o organismo: epitélios. As células epiteliais estão dispostas em monocamadas,
formando uma interface entre o mundo externo e o ambiente interno do organismo. Dependendo da sua
localização, as células epiteliais têm diversas funções, como a formação de uma barreira contra
microrganismos (pulmões, trato gastrointestinal e pele), a prevenção da perda de água do organismo (pele)
e a manutenção de um ambiente interno constante (pulmões, trato gastrointestinal e rins).

Para esta última função, as células têm de ser capazes de executar o


transporte vetorial regulado (i.e., o transporte de um lado da célula
epitelial para o lado oposto) de várias substâncias, sendo, por isso, células
polarizadas.

Para que o transporte vetorial possa ocorrer, diferentes proteínas de


transporte de membrana estão restritas a um dos domínios da membrana:
membrana apical ou membrana basolateral.

Junções oclusivas junto à face externa das células epiteliais formam uma
barreira à maior parte das substâncias (via paracelular).

Transporte Transcelular da água


O Fluxo de água através dos epitélios depende do fluxo dos diversos
solutos através do epitélio.

O transporte ativo de Na+ da membrana basolateral das células


epiteliais para o meio interno/intersticial, causa a entrada de Na+ por
difusão facilitada na célula apical. Isto gera hiperosmolaridade na
região basolateral e hiposmolaridade no lúmen. Assim, há um
gradiente osmótico que promove a entrada da H2O, por aquaporinas
(via transcelular) ou até pelas junções oclusivas entre as células
epiteliais (via paracelular).
Tecidos
Células → Tecidos → Órgãos → Sistemas

Tecido: conjunto de células que com funções semelhantes.

4 tipos básicos de tecido:

• Conjuntivo
• Epitelial
• Nervoso
• Muscular

Pele: temos os 4 tipos de tecido num só órgão.

Tecido conjuntivo
Ao contrário de outros tecidos, não é constituído
maioritariamente por células, mas sim, por um conjunto
de moléculas que constituem todas elas a matriz
extracelular. É o tipo de tecido mais abundante e distribuído no organismo. É constituído por fibras e
substância fundamental (matriz extracelular) e células.

Fibras
Proteínas que se polimerizam formando estruturas alongadas. Principais: colagénio, reticulares ou elásticas.

Fibras de colagénio

Constituídas por colagénio (proteína mais abundante no organismo).


Há em diferentes tipos de colagénios:

❖ Os colagénios que formam fibrilhas (I, II, III, IV e XI);


❖ Os que estão associados a fibrilhas (IX, XII e XIV) - permitem a
comunicação entre fibrilhas ou fibrilhas e tecidos.
❖ Os que formam redes (IV) - encontram-se na lamina basal
(camada da matriz muito próxima das células).
❖ De ancoragem (VII) - Fazem a ancoragem da matriz entre as
várias redes.

Aminoácidos da cadeia α → hélice tripla (molécula em si) → fibrilhas de colagénios → fibras de colagénio.

→ A biossíntese do colagénio (no fibroblasto) é uma cascata com vários passos pós-traducionais, no RER
(preprocolagénio → hidroxilação da prolina e lisina, glicosilação → procolagénio). Depois da passagem pelo
complexo de Golgi, chega ao espaço extracelular onde continua o processamento (clivagem dos terminais do
procolagénio, formando-se tropocolagénio e, de seguida, formação de cross-linking → fibras).

Fibras Reticulares

São principalmente constituídas por colagénio tipo III e formam uma estrutura em rede. Encontram-se no
músculo liso (revestimento), fibras nervosas ou órgãos hematopoiéticos (baço, nódulos linfáticos, medula
óssea).

Fibras elásticas

São constituídas por elastina. Podem estar associadas a fibras oxitalânicas (constituídas por fibrilina) ou fibras
elaunínicas (resultam da deposição de elastina nas fibras oxitalânicas).
Funções das diferentes fibras:

▪ Colagénio – ligação entre tecidos e a forma dos tecidos. Flexíveis, mas resistentes.
▪ Reticulares - Mais próximas das células (membrana basal), também são flexíveis, mas resistentes.
▪ Elásticas – conferem elasticidade (esticam e encolhem).

Substância fundamental
Mistura de moléculas aniónicas (glicosaminoglicanos, tal
como o ácido hialurónico, e proteoglicanos) e
glicoproteínas. Tem grande capacidade de retenção de
líquidos, sendo altamente hidratada. Permite preencher os
espaços entre as células e fibras do tecido conjuntivo.

Matriz extracelular
Constituída por fibras (colagénio e elastina) e substância
fundamental

Lâmina basal
É um tipo particular de matriz extracelular, que faz a ponte
entre os tecidos epiteliais e o tecido conjuntivo, constituída
por glicoproteínas (colagénio, lamininas) e proteoglicanos.

Células
Existem vários tipos diferentes de células que variam consoante o tipo de tecido conjuntivo. Entre essas
células estão por exemplo fibroblastos, macrófagos, mastócitos, plasmócitos e adipócitos.

As células do tecido conjuntivo podem classificar-se em residentes (fixas no tecido conjuntivo) ou transitórias
(ou móveis), dependendo da estabilidade das mesmas no tecido conjuntivo. Células hematopoiéticas: dão
origem aos elementos figurados do sangue.

Tipos de tecido conjuntivo:


A diferente organização de matriz extracelular (fibras e substância fundamental) e células dita o tipo de tecido
conjuntivo.

1. Tecido conjuntivo propriamente dito


1.1. Laxo – fibras de colagénio, fibroblastos, macrófagos e substância fundamental. Confere
força/resistência em várias direções.
1.2. Denso – fibras de colagénio, fibroblastos, macrófagos e substância fundamental, menos flexível,
mais resistente. Regular – perfeitamente alinhado, p.e., tendões; Irregular – não é tão organizado,
p.e., derme, local onde a tensão pode vir de muitas direções.

2. Tecido conjuntivo de propriedades especiais


2.1 Adiposo – É laxo (não é denso e tem poucas fibras); presença de adipócitos (reservas de gordura).
2.2 Elástico – fibras elásticas, colagénio e fibrócitos; pouco frequente, presente nos ligamentos
amarelos da coluna.
2.3 Reticular – fibras reticulares, fibroblastos; formação de trabéculas (espaços entre as células que
permitem o fluído entre as células, importante nos órgãos hematopoiéticos que precisam de
migração das células).
2.4 Mucoso – caracterizado pela grande abundância de ácido hialurónico; raro no adulto, estando
presente, p.e., no cordão embrionário.
2.5 Sangue – pode ser classificado como tecido conjuntivo uma vez que a maior parte da sua
composição é fluido extracelular, o plasma.

3. Tecido conjuntivo de suporte


3.1 Cartilagíneo – condrócitos, substância fundamental e fibras de colagénio (ou elásticas).
Cartilagem hialina – a nível do nariz e junções entre ossos (revestidos para que não haja
desgaste direto do osso).
Fibrocartilagem – predominância de fibras de colagénios em zonas que é preciso maior
flexibilidade (joelho e mandíbula).
Cartilagem elástica – tem fibras elásticas, presente nas orelhas.
3.2 Ósseo – osteoblastos (produzem material ósseo, extracelular), osteócitos, substância basal e
fibras de colagénio.

→ Os vários tecidos coexistem no mesmo espaço físico. Têm diferente origem embrionária.

https://www.youtube.com/watch?v=Jvtb0a2RXaY
Principais funções:

✓ Estabelecimento e manutenção da forma do corpo – tecido conjuntivo denso.


✓ Armazenamento de nutrientes – tecido adiposo
✓ Isolamento – tecido adiposo
✓ Defesa – células do sangue
✓ Reparação – células do sangue
✓ Transporte de substâncias – sangue ou difusão direta

Doenças associadas ao tecido conjuntivo:

▪ Artrite reumatoide
▪ Esclerodermia
▪ Lupus Eritematoso Sistémico
▪ Esclerose sistémica
▪ Escorbuto – falta de vitamina C com consequências na síntese de colagénio
▪ Osteogénese imperfeita
Função e transporte de substâncias através das membranas celulares
Glicocálice: camada rica em hidratos de carbono que protege a célula de danos, reconhecendo ou não, um
organismo exterior ao nosso. Este, juntamente com outros componentes, faz a rejeição de órgãos.
Transporte

Passivo Ativo
a favor do graiente de [], contra o gradiente de [],
não requer energia requer energia

Difusão Simples Difusão facilitada (com Indireto/Secundário


Osmose Direto/Primário
partículas pequenas e transportador). Utiliza gradientes iónicos já
Permeases ou proteínas específico para H20, de < Envolve Bombas, ATPases formados. Co-transporte:
gases; substâncias
canal/porinas. [soluto] para > Simporte, Antiporte.
hidrófobas.

Endocitose: A membrana plasmática cria uma invaginação, englobando Gasto de ATP.

Exocitose: secreção de enzimas digestivas do pâncreas, hormonas libertadas pela célula na corrente
sanguínea.

Junções Celulares
Zonas especializadas da membrana plasmática que permitem a
aderência celular permanente. Não são apicais, estão laterais.

Zônula de Oclusão – junções apertadas ou oclusivas


Localizada na porção mais apical das superfícies laterais, é constituída
por faixas de proteínas transmembranares – claudinas e ocludinas – que
selam o espaço entre as células, impedindo a passagem de muitos
componentes, exceto H2O e pequenas moléculas. Os filamentos de
actina de cada célula ancoram-se às proteínas periféricas ZO-1, ZO-2 e
ZO-3 no lado citoplasmático.

Zônula de Adesão – junções de aderência


Promove a adesão entre células e situa-se abaixo da zónula de oclusão. Formada por caderinas, proteínas
transmembranares que se ligam extracelularmente às membranas e intracelularmente a filamentos de actina
do citoesqueleto através de catetinas.

Desmossomas
Estruturas em disco/placa com proteínas transmembranares desmogleínas e desmocolinas (família das
caderinas) que unem as membranas vizinhas e que do lado citoplasmático se ligam a filamentos intermédios
de queratina através da desmoplaquina. Unem as membranas vizinhas, permanecendo um espaço
intercelular de 25nm. Abundantes em tecidos sujeitos a stress mecânico.

Pênfigo: Doença autoimune – o sistema imune produz anticorpos que atacam as zonas das ocludinas (junções
oclusivas) e também as desmogleínas, desfazendo os desmossomas.

Junções comunicantes
Gap junctions – são canais hidrofílicos formados por conexinas, proteínas transmembranares – 6 filamentos
de conexinas agregam-se para formar um poro, conexão, que permite a comunicação entre os citoplasmas de
duas células adjacentes. O poro é bastante estreito, limitando a passagem a substâncias <1kDa.
Interdigitações – invaginações da membrana plasmática a fim de aumentar o contacto e reforçar a adesão
entre células vizinhas, facilitando as trocas.

Hemidesmossomas
Localizam-se na base das células epiteliais e parecem a metade
de um desmossoma. Permitem a adesão da célula epitelial à
matriz extracelular (lâmina basal) através das integrinas,
proteínas transmembranares que se ligam à laminina e ao
colagénio IV. Conferem resistência ao stress mecânico.

As erbinas promovem um intercambio entre as BP 230


(proteínas dos hemidesmossomas) e as integrinas.

Tecido epitelial de revestimento


✓ Reveste superfícies externas e internas
do corpo e forma o tecido glandular.
Tem pouca matriz extracelular, é
avascular e altamente inervado. As
células são unidas por junções e
polarizadas.
✓ Constituído/apoiado na lâmina basal.
✓ Funções: proteção, transporte,
permeabilidade seletiva, secreção,
absorção e sensorial.
Lâmina Basal
É sintetizada pelas células epiteliais,
musculares, adiposas e de Schwann.

Membrana basal = lâmina basal + fibras


reticulares. Filtração, integridade, reparo
e regulação da proliferação celular.

Tipos de tecido epitelial de revestimento

Simples – absorção, excreção e secreção

• Pavimentoso – Glomérulo (rim) – filtra o sangue para produzir a urina; endotélio (capilares); alvéolos.
• Cúbico - Túbulo contorcido proximal/distal (rim); glândulas.
• Cilíndrico/prismático - Vesícula biliar; Intestino - o núcleo fica mais na parte basal.
▪ Intestino delgado: Microvilosidades do intestino delgado com função de absorção. Apesar de ser
cilíndrico tem células caliciformes - produzem muco com a função de hidratar o meio extracelular,
de modo a que haja um transito intestinal correto.
▪ Trompas de Falópio: Ciliado na parte apical – condição do óvulo até ao útero durante a ovulação.

Peseudoestratificado – É simples cilíndrico, porque cada célula está apoiada na membrana basal. Contudo, ao
microscópio vê-se algumas camadas de células, porque não é organizado morfologicamente como os outros
tecidos.

• Traqueia: dá-se a passagem de ar. Com cílios e células caliciformes. Nos fumadores, estes cílios não
existem. Os cílios distribuem o muco produzido pela caliciforme através da traqueia.
• Epidídimo: com estereocílios.

Estratificado – Revestimento e proteção

• Pavimentoso
▪ Vagina, língua: Não queratinizado. O tecido glandular produz saliva libertada na boca por
exocitose. Na parte basal são cúbicas, mas na parte mais apical (o que interessa) é pavimentoso.
▪ Pele: Queratinizado (tecido morto) – função protetora que gera pele grossa. (basal: cúbicas)
• Epitélio de transição – Bexiga: relaxada - sem urina, epitélio cúbico; bexiga distendida - pavimentoso
porque as células se distendem.

As células epiteliais são justapostas, poliédricas (várias faces), com muito citoplasma, citoesqueleto
desenvolvido e caracterizam-se ainda por serem polarizadas, isto é, por possuírem diferenças na estrutura e
função entre a membrana exposta, ou apical da célula, e membrana basal, mais próxima da dos tecidos.
Tecido nervoso

Sistema nervoso central: Encéfalo e medula espinal - integração de toda a informação, tomada de decisões e
transmissão pelo sistema nervoso periférico (nervos cranianos e espinais). Uma parte do SNP faz a regulação
interna, o autónomo, levando informação do CNS para órgãos. Outra regula as ações: somático/visceral. O
autónomo divide-se em Simpático - resposta imediata a uma necessidade emergente, e parassimpático -
situações de repouso. O somático pode dividir-se em motor (CNC → músculo) e sensorial (sentidos → CNC).

Os neurónios são células especializadas na transmissão rápida de informação, com diversa forma e função.

No SNP há os neurónios aferentes que transmitem a informação ao CNS, onde há os interneurónios (a


maioria) que integram e processam a informação. Depois, a informação volta a ser transmitida do SNC para o
SNP, onde estão os neurónios eferentes e daí para as células efetoras no músculo, glândulas, neurónios, entre
outros.

Também há células gliais que se dividem em astrócitos (recaptação de NT, Sinais Ca2+, reculação da BBB),
oligodendrócitos/Schwan (mielinização), microglia (Imunidade) e células ependimárias (revestem
ventrículos, regulação da composição da BBB).

Neurónios e excitabilidade neuronal


❖ Dendrites – receção e integração da informação;
❖ Corpo celular – decisão, geração do potencial de ação;
❖ Axónio – transmissão rápida da informação;
❖ Botão pré-sináptico – especialização da membrana com função de armazenar e libertar NTs para a fenda
sináptica;
❖ Sinapse – zona de contacto entre dois neurónios, especializada na neurotransmissão (elétrica e química).

Tipos de sinapses

Podem ser numa junção muscular, com células


glandulares ou com outro neurónio:

❖ Axo-dendrítica: (mais típico) axónio → dendrites


❖ Axo-somática: axónio → corpo celular
❖ Axo-axónica: axónio → meio de axónio
❖ Dendro-dendrítica
Atividade elétrica

Atividade elétrica – patch clamp permite medir correntes. O registo intracelular também permite medir.

1- Potencial = 0 V, porque o elétrodo


está fora da célula, não se deteta.
2- potencial = -65 V, o elétrodo entrou
na célula, detetando potencial
gerado assimetria de distribuição
iónica.
3- Sem estímulos, o potencial de
membrana mantém-se estável.
4- Se introduzirmos uma pequena
corrente elétrica, damos a sensação
de que abriu um canal na membrana, mas é recuperável - resposta passiva (pequenas flutuações).
5- Estímulo demasiado grande, neurónio ativado - resposta ativa, gerando-se potencial de ação.

→ Respostas passivas dependem de canais abertos em repouso e ativas de canais de Na+ dependentes de
voltagem.

Como se forma o potencial de repouso do neurónio?

Por ação de bombas e sistemas de transporte, o K+ e iões orgânicos estão em maior concentração dentro da
célula. O Cl- e o Na+ em maior concentração fora da célula.

Leak channels – estão abertos na membrana em repouso, sendo a sua permeabilidade constante. Os mais
importantes são de K+ (two pore domain) e de Cl-.

Em repouso, a bomba de Na+-K+ cria gradientes de concentração de Na+ e K+ que são eletrogénicos – ≠ carga.
Como os canais de K+ e Cl-estão sempre abertos, vai haver correntes de fuga que os deixam voltar para fora (o
Cl-- sai por gadiente de carga). No final há uma membrana em equilíbrio com diferença de potencial elétrico
devido às assimetrias iónicas formadas. Todos os iões que consigam permear a membrana nesse momento,
entram na equação de Goldman, que tem de contar com a constante de permeabilidade que pode ser
diferente dependendo do sentido do ião na membrana.

𝑅𝑇 [𝑋]
Equação de Nernst: potencial de Equilíbrio - 𝐸𝑋 = 𝑧𝐹
𝑙𝑛 [𝑋]𝑜𝑢𝑡
𝑖𝑛

Equação de Goldman-Hodkin-Katz – Potencial de membrana num meio só para os iões que permeia:
𝑅𝑇 𝑃 [𝐾]𝑜𝑢𝑡 +𝑃𝑁𝑎 [𝑁𝑎]𝑜𝑢𝑡 +𝑃𝐶𝑙 [𝐶𝑙]𝑜𝑢𝑡
𝑉𝑚 = 𝐹
𝑙𝑛 𝐾𝑃 [𝐾] , Px é o coef. De permeabilidade da membrana para o ião X.
𝐾 𝑖𝑛 +𝑃𝑁𝑎 [𝑁𝑎]𝑖𝑛 +𝑃𝐶𝑙 [𝐶𝑙]𝑖𝑛
Repouso: Se alterarmos as [K+] no meio extracelular, o potencial de membrana varia imenso. Se fizer um
estudo semelhante para o Na+, o potencial não varia, porqueos canais de Na+ (dependentes de voltagem )não
estão ativos. Os canais de K+ é que estão maioritariamente abertos e são muito mais que o resto, de modo
que o potencial de repouso tem um valor próximo do potencial de reversão para o K+ Vm ≈ EK+. Para Mg2+, Ca2+,
HPO42- e HCO3- não há quase canais ativos em repouso. A alteração da permeabilidade da membrana a
qualquer um destes iões altera o potencial de membrana, podendo ativar os canais dependentes de voltagem
e estes levarem às condições para gerar um potencial de ação. NOTA: Nas células musculares é o Cl-!!

Quando há uma flutuação suficientemente grande no potencial de membrana, atinge-se o limiar de disparo
dando-se a abertura dos canais de Na+ dependentes de voltagem. Abertos, [Na+]ext origina o potencial de ação
e revertem o potencial de membrana. Quantos mais canais de Na+ dependentes de voltagem são ativados,
mais canais vizinhos se ativam, sendo maior a propagação da despolarização aos canais vizinhos.

Mas depois, é preciso voltar a despolarizar a membrana – abrem,


então, canais de K+ dependentes de voltagem (só são ativados
quando o potencial de membrana atinge um valor positivo – perto
do pico) e assim podem equilibrar o fluxo iónico e repolarizar a
membrana.

Propriedades cinéticas - Codificação sináptica

Um potencial de ação tem quase sempre a mesma amplitude (‘all or none’), por isso a intensidade que
diferencia os estímulos, ou seja, a quantidade de neurotransmissores recebidos, é traduzida de um neurónio
para o seguinte pelas diferenças cinéticas no potencial de ação.

Quanto maior o estímulo, mais canais de Na+ dependentes de voltagem são estimulados, em simultâneo, e
mais rápida é a propagação da despolarização aos canais vizinhos. Assim, com o aumento da rapidez de
gatilho, há a redução do período de latência (do ponto mais baixo, início do estímulo, ao pico) e uma cinética
mais rápida, estando mais canais novamente disponíveis, no tempo e no espaço, para responder a novos
estímulos. Se a estimulação for menor, a cinética é mais lenta e maior é o período de latência.

→ Se a despolarização for suficientemente prolongada, pode haver tempo para gerar mais que um potencial
de ação. Neste caso, a resposta pós-sináptica reflete a intensidade do estímulo também por codificação de
frequência de disparo (reflete uma redução do período refratário e do período de latência).

Para além de fechar, o canal de Na+ é inativado por um domínio de ativação.

Período refratário: período em que não conseguimos


gerar uma resposta tão intensa como se o neurónio
estivesse em repouso. Pode ser absoluto – todos os canais
de Na+ dependentes de voltagem estão inativados pelo
domínio de inativação. No relativo, já há canais desses que
são novamente ativados, mas fechados – pode-se modular
para alterar o período refratário.
Neurotransmissão: A Sinapse
→ A sinapse é uma estrutura! O que ocorre na estrutura sinapse é a transmissão de sinal, não se “faz” sinapse.

Sinapse elétrica
Zonas de contacto entre 2 neurónios ligadas por junções GAP (comunicantes), onde os conexões podem ser
fechados/abertos pela célula (rotação). O fluxo de informação é bidirecional e do mesmo tipo do neurónio
pré-sináptico. Se a atividade elétrica se inicia numa célula, é transmitida muito rapidamente à vizinha. Não é
necessário ocorrer um potencial de ação para haver transmissão. Coordenam grandes grupos de células:

• Geração de atividade sincronizada de tecidos: células musculares do coração que contraem juntas,
porque o potencial de ação se propaga rapidamente;
• Geração de atividade sincronizada entre diferentes zonas do cérebro: sinapses dendrodentríticas.

Sinapse química (maioria)


No neurónio pós-sináptico estão recetores para os neurotransmissores dos pré-sinápticos, o que confere
direccionalidade. A célula pós-sináptica é especializada na receção do neurotransmissor e geração de sinal
pós-sináptico. A fenda sináptica é sustentada por múltiplas proteínas estruturais: há continuidade entre o
citoesqueleto das células pré e pós-sinápticas, sendo a estrutura densa e muito coesa.

→ A neurotransmissão química é menos simples, mas tem múltiplos passos de regulação e a possibilidade de
haver amplificação de sinal (uma vesícula pode ativar muitos canais iónicos, pois contém milhares de NTs). Se
tivermos uma despolarização num neurónio, dependendo do neurotransmissor que este liberta e do recetor
no componente pós-sináptico, pode haver uma resposta excitatória (despolarização), ou inibitória
(hiperpolarização, forma de retroaçaõ negativa) no neurónio seguinte. Assim, há possibilidade de inverter o
sinal no fluxo de informação usando neurotransmissores inibitórios.
Sinapse Elétrica Química
Latência (desfasamento do sinal
Quase ausente Pelo menos 0.3ms
entre os neurónios pré e pós)
Continuidade citoplasmática sim não
Direção da transmissão bidirecional unidirecional
Vesículas pré-sinápticas, zona ativa,
Componentes estruturais Junções GAP (por onde iões fluem)
recetores pós-sinápticos, neurotransmissores
Passos:
1. Chegada de um potencial de ação, ativação de canais
de Ca2+ dependentes de voltagem e entrada de Ca2+.
2. Fusão das vesículas e libertação de NTs.
3. Ativação pós-sináptica de recetores ionotrópicos
(canais) ou…
4. Ativação pós-sináptica de recetores metabotrópicos
(acoplados a sistemas de transdução)
5. Ativação pré-sináptica de recetores que modulam
(geralmente inibindo) a libertação de mais NT.
6. Recaptação do transmissor pelo terminal ou…
7. Degradação enzimática do transmissor na sinapse ou…
8. Captação do transmissor pelas células gliais
9. Endocitose das porções de membrana que constituem
as vesículas
10. Vesículas densas contendo moduladores (péptidos) e…
11. Sua libertação de locais distintos dos das restantes vesículas sinápticas.
Para termos um sinal, temos de ter um sítio que estar sensível. Para estar sensível à chegada de um
neurotransmissor, a sinapse não pode ter lá outro. Logo, tem de haver recaptação do neurotransmissor,
remover o NT: vai novamente para a vesícula, ou há reciclagem/destruição na sinapse, ou as células gliais
captam o neurotransmissor, e dão-no ao neurónio para que sejam ressintetizados. Também tem de haver
algum tipo de reciclagem também para as vesículas, para que o terminal não cresça cada vez mais.

Exemplo do GABA: Síntese do gaba, introdução nas vesículas, normalmente, com a ajuda de um transportador
(VGAT). Este é um neurotransmissor inibitório. O GABA é captado quer por células da glia quer pelo terminal.
O succinato sai das células da glia e volta para o neurónio pré-sináptico para este voltar a sintetizar GABA. Os
recetores de GABA podem ser ionotrópicos ou metabotrópicos.

A libertação de um neurotransmissor deve ser dependente de Ca2+ e deve haver recetores específicos para
este no componente pós-sináptico. Caso contrário, a substância libertada é antes um modulador (regulação
da transmissão sináptica).

Mecanismos pré-sinápticos
Ciclo das vesículas sinápticas
No componente pré-sináptico há várias populações de vesiculas ancoradas em locais da membrana ricos em
canais de cálcio dependentes de voltagem: pool de reserva ligada ao citoesqueleto por sinapsinas. Estas ficam
mais disponíveis para ser libertadas quando há potencial de ação. Mas têm de estar pré-preparadas para o
potencial de ação, num passo de priming. Quando este chega, há fusão de vesículas. Depois, estas vesiculas
são recicladas por endocitose regulada por clatrina ou endocitose em massa. Proteínas envolvidas:
mobilização – sinapsinas libertas no citoesqueleto pela PKA e CAMKII; tráfego – hidrólise do GTP promove a
ancoragem e liberta a rab3A; transportador vesicular de NT…

Fusão das vesículas sinápticas – 4 passos:

❖ Ancoragem à membrana pré-sináptica;


❖ Preparação – formação do complexo SNARE que envolve a associação de 4 proteínas: 1
sinaptobrevina, 1 sintaxina e 2 SNAP.
❖ Fase de gatilho – entrada de Ca2+ através de canais dependentes de voltagem liga-se à sinaptotagmina
que altera a sua conformação e se liga a lípidos de membrana e nela se insere, aproximando as
membranas de modo a que se dá a…
❖ Fusão. Pode haver saída de neurotransmissores e saída de proteínas da membrana.

Canais de cálcio – fundamentais no desencadear da transmissão sináptica. Na subunidade α-1 há o detetor de


voltagem.

Mecanismos pós-sinápticos

O ATP é também um neurotransmissor importante que sinaliza estados metabólicos nas células! O
neurotransmissor liga-se a recetores, originando:

➢ ‘Gating’ direto: O NT liga-se ao próprio canal iónico, recetor ionotrópicos, que se abre na membrana;
➢ ‘Gating’ indireto: O NT liga-se a recetores metabotrópicos que, por meio de um sistema de
transdução de sinal, vão afetar canais iónicos. Segundos mensageiros podem também atuar sobre
estes canais. A PKA, através de fosforilação de componentes da membrana, também consegue
desencadear potenciais por abertura de outros canais.

Glutamato: sinapse glutamatérgica. O acoplamento está todo centrado numa zona muito pequena do
neurónio pós-sináptico.
Integração sináptica

Como é que o neurónio gere os sinais que chegam e estão desfasados no espaço e no tempo?

Sinal inibitório – sentido contrário ao desenvolvimento de um potencial de ação. Ainda está em intenso
estudo, é complexo. A integração do sinal pelo neurónio como um todo depende não só da sua soma pontual
como da sua evolução no tempo (coincidência dos sinais, propriedades de resposta do neurónio).

Condução nervosa
Porque precisamos dos potenciais de ação?
Respostas passivas: dependem de canais abertos em repouso, quando se ativa um recetor de um
neurotransmissor sem se chegar ao limiar de disparo, o sinal é gerado, propaga-se (num sentido ou noutro),
mas rapidamente se atenua, pois há fuga de iões pelos canais abertos em repouso, desfazendo, a diferença
de potencial. Quando maior a distância a percorrida, maior a atenuação do sinal.

Mecanismo para conseguir transmitir um sinal elétrico até à extremidade do neurónio:

Durante o potencial de ação há canais especializados em reativar o sinal (de Na+ dependentes de voltagem),
que criam uma perturbação ampliada e fiável mesmo a grandes distâncias (respostas ativas). No entanto, há
algum atraso na transmissão do sinal, porque continua a haver perdas por fuga basal e alguns neurónios, como
os motores, são muito compridos. Recorrer à propagação do sinal por potenciais gerados continuamente
também é muito dispendioso. Logo, durante os potenciais de ação, por os canais de Na+ ficarem inativados
(período refratário), não permitem que haja corrente no sentido oposto, propagando-se o sinal apenas no
sentido “certo”. Depois, a passos regulares, tem de haver mais canais de Na para renovar o potencial de ação.
Mas há alguma limitação temporal na propagação do potencial de ação.

→ A condução axonal envolve sempre uma alternância entre condução ativa e condução passiva (entre os
nodos de Ranvier, por difusão iónica).

Mecanismos para melhorar a velocidade da condução:


No neurónio, há a resistência da membrana à passagem dos iões (transmembranar) e a resistência do próprio
meio intracelular à difusão dos iões (longitudinal). A variação de potencial ao longo do axónio é inversamente
proporcional à constante espacial (relação do decaimento exponencial do potencial de membrana).

Mielinização – Limita a difusão de iões para fora da membrana isolante, aumentando a resistência
transmembranar e favorecendo a condução passiva (difusão ao longo do axónio). A condução ativa dá-se de
forma saltatória, entre os nodos de Ranvier, onde existem canais dependentes de voltagem que vão propagar
o sinal, ficando o processo mais rápido.

Aumento do diâmetro axonal - Reduz mais a resistência longitudinal da membrana, do que a resistência
transmembranar, diminuindo a atenuação da propagação longitudinal das respostas passivas. Se aumentar-
mos 2 vezes o comprimento do axónio, a resistência cai 4x, favorecendo-se o movimento neste sentido,
porque a resistência cai.

Produtores de mielina: oligodendrócitos (SNC, podem envolver vários neurónios) e células de Schwann (SNP,
um único axónio). Estes também dão suporte metabólico aos axónios (lactato). A membrana das bainhas vai
enrolando em várias camadas à volta do axónio. Nem todas as fibras/axónios são mielinizadas. Algumas
sensoriais que não têm mielina e, por isso, têm uma condução mais lenta, p.e., fibras C.

Esclerose múltipla – desmielinização causa deficiências na condução e diminuição da comunicação do cérebro


com a periferia.
Os axónios dos neurónios periféricos (fibras nervosas) associam-se em nervos onde estão protegidos por
estruturas/tecidos conjuntivos.

Recetores sensoriais e fibras sensoriais


Nota: Em fisiologia, recetores sensoriais pode estar a referir-se células e não a moléculas!

Especializações:

• Recetores sensoriais da pele – exterorreceptores


• Perceção dos odores – estruturas de base: os nervos olfativos são de neurónios que estão no SNC que
atravessa, o osso etmóide/perfurado.
• Perceção do gosto na língua – células da família das células neuronais especializadas, mas só são
responsáveis pela transmissão. Quem deteta são células gustativas.
• Neurónios sensoriais e fibras sensoriais – a maior parte dos neurónios sensoriais não tem o corpo
celular junto do sítio de atividade sensorial, mas sim nos gânglios sensoriais, que estão tao longe como
a nossa mão à espinal medula.

Principais sistemas de neurotransmissores


A maior parte dos neurotransmissores, exceto alguns, são clássicos estão em vesículas pequeninas. Podem ser
excitatórios, inibitórios ou ambos.

Acetilcolina

Sintetizada a partir da colina pela ação da acetiltransferase da colina. Inativada pela degradação de
acetilcolinesterase seguida de captação da colina para o terminal (gestão metabólica, para não estar sempre
a obter a partir da dieta). No SNC é muito importante nos processos cognitivos. É também o principal
neurotransmissor excitatório na junção neuromuscular (muscular + somático motor- SNS). Aí, liga-se a
recetores ionotrópicos, como o recetor nicotínico da acetilcolina, canal permeável a catiões não seletivo.
Também é importante no SNA na comunicação entre o SNC e os órgãos efetores, como acontece com o recetor
pré-glanglionar na divisão parassimpática do SNA. Também tem recetores metabotrópicos, como os
muscarínicos.

Glutamato

Sintetizado a partir da glutamina através da glutaminase. Inativado por recaptação (transporte) para o
terminal e células gliais. Principal neurotransmissor excitatório no cérebro e SNC associado a formação de
memórias, raciocínio, decisões... Os recetores do glutamato também podem ser ionotrópicos, como os que
não são do tipo NMDA (AMPA e Kainate) e deixam passar sódio e potássio ou os NMDA que também deixam
passar cálcio e outros, ou podem ser metabotrópicos. Estão associados a formação de memórias.

GABA

Gerado pela descarboxilação do glutamato. A inativação do seu sinal também é por transporte para o terminal
e células gliais. É o principal neurotransmissor inibitório do SNC. Para além de estar presente em vias
GABAérgicas principais há também inúmeros interneurónios GABAérgicos. 50% das sinapses inibitórias no
cérebro são GABAérgicas.

GABAA – recetores ionotrópicos, p.e., canal de cloro cuja saída vai diminuir o potencial de membrana (ação
hiperpolarizante/inibitória.
GABAB – Recetores metabotrópicos associados a proteínas Gi. No componente pós-sináptico, estes canais
induzem uma hiperpolarização lenta, ativando canais de K+ (GIRK). No pré-sináptico inibem o canal de Ca2+
dependente de voltagem que é responsável pela libertação de Ca2+ (diminui a condutância), inibindo ainda
mais a libertação de GABA. A benzodiazepina liga-se a subunidade a, inibindo algumas ações excitatórias.

Glicina

Sintetizada a partir da serina pela transhidrorimetilase da serina e recaptada por transporte para o terminal
das células gliais. Também é um NT inibitório do SNC, fundamentalmente importante na espinal medula.

Catecolaminas

Tem todas a tirosina como precursor e são recaptados para o terminal nervoso pelos transportadores das
monoaminas. Dependendo do número de reações, formam diferentes NTs. A dopamina é sintetizada nos
neurónios dopaminérgicos, noradrenalina no noradrenérgicos e epinefrina na célula adrenérgica (células da
medula adrenal). Estes neurónios estão em sítios diferentes do cérebro e o nº de enzimas da via aumenta de
um NT para outro.

Dopamina

Sintetizada na substância negra cujas projeções normalmente degeneram na doença de Parkinson. As células
dopaminérgicas também se projetam para o córtex superfrontal - zona relacionada com as decisões e com a
motivação. Perturbações nas vias dopaminérgicas estão implicadas em doenças psicológicas e psiquiátricas.

Noradrenalina

Importante neurotransmissor no ramo simpático do SNA, na sinapse ganglionar. Também é importante no


SNC. Está presente na regulação do cerebelo, importante para a motricidade e na regulação da atividade de
memorização e formação de memória, promove a ativação dos sistemas ligados à atenção. Os recetores são
todos metabotrópicos.

Serotonina

Antidepressivos são inibidores da captação de serotonina. A falta de input serotonérgico está ligada à
depressão e a demasia ao stress pós-traumático (o contrário da depressão, reações exageradas e ultra
motivadas).

Histamina

Sintetizada pela histidina por um passo simples de descarboxilação, promove a atenção e o estado de vigília.
Tecido muscular
Tecido especializado na contração. Constituído por células alongadas que se caracterizam pela presença de
filamentos contráteis.Tipos:

▪ Esquelético – células estriadas, alongadas e multinucleadas


▪ Cardíaco – células estriadas e ramificadas -
▪ Liso – células alongadas, fusiformes (com as extremidades pontiagudas) e sem estrias.

Os 2 primeiros compõem tipo músculo estriado – estrias devidas a filamentos de actina e miosina (a nível do
citoesqueleto).

Esquelético
Célula base: multinucleada com os núcleos periféricos, à
superfície. Formam-se durante o desenvolvimento
embrionário – miogénese (também ocorre na regeneração).

Estrutura: as fibras musculares organizam-se em feixes que se


organizam numa estrutura que forma o músculo. Cada uma das
organizações é rodeada por tecido conjuntivo,
respetivamente, endomísio, perimísio ou epimísio (extensão
do tecido conjuntivo dos tendões que faz a sua ligação ao osso).

Cada fibra muscular tem uma membrana plasmática designada


sarcolema que envolve o citoplasma (ou sarcoplasma) onde as
miofibrilas se alinham longitudinalmente. As miofibrilas são
constituídas por filamentos finos → actina e filamentos
grossos → miosina que se dispõem alternadamente e formam
bandas I e bandas A numa estrutura estriada cujas unidades
repetitivas formam o sarcómero. (unidade de contração?)

Banda A: Maior densidade, devido à


sobreposição dos 2 tipos de filamentos

➢ Os filamentos de actina são também


constituídos por tropomiosina e troponina.
➢ O filamento de miosina tem um cauda e
cabeça com atividade ATPase.

→Como é comunicado o sinal para a


contração?
É iniciada pela despolarização de neurónios motores, que conduzem os potenciais de ação desde o SNC até
às fibras musculares por meio dos seus prolongamentos axonais/fibras nervosas que contactam diretamente
com o músculo. A zona de contacto designa-se placa motora (também pode ser a zona da fibra muscular que
contacta com a nervosa).
Unidade motora: todas as fibras musculares que 1 neurónio (muitas ramificações axonais) é capaz de enervar.
Características: cada fibra muscular é inervada apenas por um terminal do axónio motor; cada neurónio motor
pode inervar múltiplas fibras musculares; Cada unidade motora consiste em média em cerca de 100 fibras
musculares, mas podem ser muito menos ou mais de 2000, dependendo da localização; Quanto maior a
precisão do movimento, menos o nº de fibras musculares inervadas pelo mesmo neurónio motor.

A própria placa motora tem muitas pequenas ramificações que contactam através de junções
neuromusculares e que correspondem a sinapses químicas entre os neurónios motores e fibras musculares.

Transmissão de sinal no nervo: É geralmente feita por neurotransmissores, na sinapse. Esta pode ser de modo
gradual, através de potenciais conduzidos eletronicamente, ou de modo instantâneo, por potenciais de ação.

A membrana da fibra muscular é pós-sináptica. Na placa motora ocorre um tipo de transmissão química
rápida, mediada pela acetilcolina (ACh). As suas vesículas encontram-se na zona do nervo motor mais próxima
do músculo, a zona ativa. Na fibra muscular existem recetores para a ACh, que levam à abertura temporária
de canais de sódio e cálcio. Assim, os recetores para a ACh promovem a transmissão do sinal, enquanto a
acetilcolinesterase bloqueia a transmissão do sinal, o que permite haver controlo do sinal e relaxamento do
músculo (não pode haver sobre estimulação da contração).

Pode haver neurotoxinas (cianobactérias) que causam sobre estimulação das fibras musculares, o músculo
contrai constantemente. Toxina botulínica: bloqueia a libertação de acetilcolina – fica o músculo super
relaxado (parálise flácida). Toxina do tétano: inibe a inibição, promovendo uma contração constante (parálise
de espasmos incontrolável).

Potencial de ação no músculo

→ Alteração breve e forte no potencial de membrana acionado a partir de um reservatório de energia


(distribuição assimétrica de cargas). Depende do transporte ativo de Na+ e K+. Passos: chegada do sinal, com
a libertação de Ca+ no neurónio pré-sináptico que vai levar à libertação de vesículas de ACh. A ACh liga-se a
um recetor no pós-sináptico que vai permitir a entrada de Na+ resultandonuma alteração no potencial de
membrana, uma despolarização muito rápida que desencadeia a contração muscular. Logo, de seguida, a
AChcolinesterase degrada a ACh para reutilização.

No caso de se gerar potencial de ação, este propaga-se ao longo do sarcolema e das suas invaginações, os
túbulos T, que aumentam a área que pode ser despolarizada e comunicar o potencial de ação e também
aumenta a proximidade ao retículo. Este desencadeia a libertação de Ca2+ pelo retículo sarcoplasmático, que
se liga à troponina, expondo os sítios de lidação à miosina. Dá-se, então, um ciclo de contração no qual depois
a tropomiosina bloqueia o sítio de ligação à miosina e a fibra relaxa.

Duração do potencial de ação: nerónio< músculo < coração

Contração dos sarcómeros: a teoria do filamento deslizante


→ Sugere que os sarcómeros encurtam durante a contração dos músculos. O encurtamento do sarcómero dá-
se pelo encurtamento das bandas I e H, com a sobreposição dos filamentos de actina na zona H e aproximação
dos discos Z. Assim, os sarcómeros encurtam, mas os filamentos (actina e miosina) mantêm o tamanho. A
dimensão de A também se mantém.

Como ocorre o deslizamento?

É feito através de umas pontes cruzadas estabelecidas entre os filamentos de miosina e de actina, sendo que
a cabeça da miosina vai ligar-se aos filamentos de actina, formando a ponte.
Começa por haver ligação da cabeça da
miosina ao filamento de actina devido à
hidrólise de ATP a ADP e Pi, pois a cabeça
é uma ATPase. A ligação do Pi à miosina
torna-a fosforilada, alterando a sua
conformação e tornando-a propensa ao
movimento para a contração. Assim, dá-
se a libertação do fosfato que leva ao
deslizamento do filamento de miosina
sobre o de actina, e depois há também a
libertação de ADP, criando-se um espaço
para a ligação de uma nova molécula de
ATP. Recomeça o ciclo.

A ligação de ATP, pode, por um lado


promover o reiniciar do ciclo, mas por
outro pode promover apenas o retorno
da cabeça de mio à sua posição normal.
A ligação de ATP à miosina leva à
hidrolise e retorno a uma posição
normal. No entanto, a tropomiosina está
a bloquear os locais em que a miosina se
liga à actina. Mas como o Ca2+ se liga à
troponina, esta vai arrastar a tropomiosina e recomeça o ciclo. Assim, a miosina já pode ligar-se à actina.
Portanto, é o cálcio, que quando libertado do sarcoplasma, que reinicia o ciclo.

Ao longo dos túbulos T, há transportadores de cálcio dependentes de voltagem, que são os recetores de
dihidropiridina (DHP). À ligação do Ca2+, sofrem alteração de conformação e por ação mecânica, que levam à
abertura dos canais de libertação de cálcio do retículo (recetores de rianodina – RyR).

Acoplamento excitação-contração – processo que permite a contração a


partir do potencial de ação.

Mas, temos de ter um mecanismo que controle, para não haver excesso de
Ca2+ livre: há ATPases de Ca2+ que incorporam o excesso de Ca2+ livre de novo
no retículo sarcoplasmático, para não haver contração permanente.

Tipos de contração muscular

▪ Abalo: contração instantânea e única;


▪ Somação: 2 abalos que ocorre quase simultaneamente;
▪ Tétano incompleto: iniciado com um potencial de ação, mas depois
há muitos potenciais que ocorrem – força da contração cada vez
maior.
▪ Tétano completo – os vario potenciais unem-se.

→A contração cessa-se com a fadiga muscular ou cessação do estímulo. Quanro maior for a carga, mais força
tem de ser aplicada, e a velocidade para contrair vai ser menor, de modo que temos que fazer mais força para
contrair.Contrações isotónicas: encurtamento do músculo; contração isométrica: a força aplicada para a
contração é maior, menor encurtamento do músculo
Hipotonia: Incapacidade de manter a tensão base dos músculo, o nosso tónus muscular.

Fontes de energia para a contração: o ATP obtido através da fosforilação direta (fosfato de creatina em
cratina); glicólise ou glicogénio; também a partir da fosforilação oxidativa (ácidos gordos). Exercício ligeiros:
usamos ácidos gordos; mais intenso: glicogénio.

Há diferentes tipos de fibras musculares, que diferem entre si bioquímica, metabólica ou histoquimicamente

▪ As propriedades elétricas da membrana determinam a resposta por abalo rápido ou contração


gradual;
▪ Velocidade de dissociação das “cabeças” de miosina, que determina a taxa máxima de contração;
▪ Densidade de bombas de Ca2+ no retículo (diferente tempo de cálcio livre no sarcoplasma);
▪ Nº de mitocôndrios (capacidade de obter ATP) e quantidade de vasos sanguíneos. Assim, há 2 grandes
grupos (em mix):

Fibras lentas/vermelhas/tipo I – contração mais


prolongada, mas resposta mais lenta. Há maior
resistência à fadiga. Associada a maratonas.

Fibras rápida/brancas/tipo II – contração muito rápida,


com resposta rápida – associadas à fadiga. As tipo IIa
usam metabolismo oxidativo e as IIb metabolismo
glicolítico. Associada a sprints.

→ Os homens tem mais fibras tipo II, as mulheres, mais


do tipo I.

Músculo extraocular→ movimentos muito rápidos →


Tipo I. Gémeos –> grande mistura entre os dois tipos.

Tecido muscular: Contração do músculo cardíaco


e liso
Músculo cardíaco
As células são os cardiomiócitos: cilíndricas e ramificadas
com 1 ou 2 núcleos e geralmente centrais. As ramificações
permitem o contacto com células vizinhas por discos
intercalados (contêm junções GAP) que facilitam a
transmissão da despolarização.

Tem funcionamento autónomo, mas é regulado pelo SNA.


A contração é sempre involuntária.

Estrutura do coração – dados anatómicos, ainda não é


preciso.

• Pericárdio – saco duplo que envolve o coração, contém os vasos e a cavidade pericárdica com o líquido
pericárdico que evita a fricção que se gera com a contração contínua do músculo cardíaco – longevidade.
• Miocárdio – tecido contrátil, músculo estriado cardíaco-
• Endocárdio – membrana endotelial que separa o sangue do tecido muscular.
Há 3 tipos de miócitos:

• Ventriculares e Auriculares: contraem de forma


parecida ao músculo estriado esquelético, maior
duração de contração.
• Fibras musculares excitatórias e condutoras: dão
automatismo à contração cardíaca, constituem o
sistema cardioelector.

→As contrações são espontâneas, não dependem de um


estímulo nervoso para iniciar a contração, que é
dependente da [Ca2+] extracelular.

Sistema cardioelector do coração (rede de Purkinje)

No nodo sinusal inicia-se a despolarização do músculo cardíaco, mais precisamente, as aurículas. Podem gerar
60-100 estímulos por minuto – contém as células ‘pacemaker’ (marca-passo), responsáveis pelo automatismo
(independência dos neurotransmissores), pois são capazes de se autodespolarizar. São especializadas na
condução e estão ligadas às outras via junções ‘GAP’. O potencial de ação ocorre durante a diástole. Este
propaga-se às células do miocárdio vizinhas através de junções ‘GAP’ e por sua vez a todas as células do
miocárdio nas aurículas, incluindo as células do nodo aurículo-
ventricular. Este é o único responsável pela passagem da despolarização
para os ventrículos (através do feixe de His e das fibras de Purkinje) pois
o septo horizontal separa física e eletricamente o miocáridio ventricular.
A fibras de Purkinje vão excitar primeiro os cardiomiócitos na pontinha
do coração, porque este vais espremer o sangue de baixo para cima.

Os canais HCN (permeáveis a Na+ e K+) são ativados pelo potencial de


repouso e iniciam uma despolarização lenta que leva à abertura de
canais de Ca2+ dependentes de voltagem e de um potencial de ação
dependente de Ca2+ que é terminado pela abertura de canais de K+
dependentes de voltagem. Cada vez que a célula chega ao repouso, os
canais voltam a abrir, estando as células sempre com potencial.

Esta células do miocárdio, que tem potencial contráctil, têm um potencial de ação duradouro, porque para
além de ser ativados canais de sódio dependentes da voltagem, a seguir vão ser ativados canais de cálcio
dependentes de voltagem, prolongando a ação. Assim, o
coração mantém as células contraídas tempo suficiente para
esvaziar os ventrículos.

Contração do músculo cardíaco

1- Abertura dos canais de Na+ dependentes de voltagem.


2- Abertura dos canais de Ca2+ dependentes de voltagem
nos Túbulos T.
3- Entrada de iões Ca2+ no cardiomiócito.
4- Libertação de Ca2+ do RS induzida pelo Ca2+ (principal
responsável pela elevação de Ca2+ intracelular, pois são
10x maiores que os da membrana).
5- Ligação do Ca2+ à troponina C.
6- Contração (mecanismo semelhante ao músculo esquelético) mas de duração mais prolongada

Acoplamento excitação-contração e resposta inotrópica

É induzido o mecanismo de libertação de Ca2+ induzida pelo Ca2+ que se liga à troponina e promove a contração
(resposta inotrópica). O músculo cardíaco, ao contrário do músculo esquelético, tem pouca capacidade de
fazer somação das contrações. Tem um período refratário absoluto longo que permite o relaxamento
necessário ao enchimento dos ventrículos.

Abertura do canal de cálcio ocorre depois do sódio. O potássio hiperpolariza negativamente as membranas.

Músculo Liso
Regulado fundamentalmente de forma involuntária pelo SNA, mas também por células pacemaker,
estiramento e por hormonas. Localiza-se na parede de órgãos ocos, como vasos sanguíneos, olhos, útero…
Cada célula tem 1 núcleo central. Proteínas: actina, miosina, caldesmon, calmodulina e MLKC (cinase).Placas
de adesão à superfície das células (ancoragem dos filamentos).Corpos densos no cruzamento dos filamentos
que estão organizados em rede, o que faz com que a contração ocorra em todas as direções. Não há aquele
aspeto estriado do músculo.

Contração do músculo Liso

1- Ligação da ACh a recetores muscarínicos.


2- Entrada de Ca2+ extracelular no citoplasma por canais de cálcio dependentes de voltagem.
3- Ligação do Ca2+ à calmodulina (CM)
4- Ligação do complexo Ca2+- CM à cinase da cadeia leve da miosina (MLCK) e sua ativação.
5- Fosforilação da cadeia leve da miosina pela MLCK
6- Ligação da Ca2+-CM à caldesmon (CDM) que se dissocia da actina
7- Ligação da miosina à actina (pontes cruzadas)
8- Contração
9- Desfosforilação da cadeia leve da miosina pela fosfatase da miosina (é inactivada por fosforilação)
10- Relaxamento

→ No músculo liso não é preciso haver potencial de ação para haver


contração, porque os canais de Ca2+ dependentes de voltagem na
membrana não precisam de uma despolarização tão grande para
abrirem. Mesmo se for abaixo do limiar, pode ser suficiente para
desencadear a entrada de cálcio no músculo liso.

No músculo liso a cabeça da miosina tem 2 cadeias leves sendo que tem
de ser fosforilada num sítio específico para que esta consiga fazer as
ligações cruzadas. Tipos de músculo liso:

• Unitário - ligado por junções gap e contraído como uma unidade


única
• Multiunitário - funciona mais como o músculo esquelético, sendo
ativado independentemente por diferentes tipos de fibras.
Ambos podem ser ativados por hormonas. A resposta depende do recetor ativado.
Audição e equilíbrio
O sistema auditivo é fundamental na aquisição e desenvolvimento da comunicação humana (linguagem oral
e escrita). É, também, essencial ao sentido de equilíbrio – coordenação motora.

Ouvidos e seus componentes


Ouvido interno:
Consiste num invólucro externo ósseo, o labirinto ósseo, no interior do qual se
encontra o labirinto membranar. O labirinto ósseo pode ser dividido em três secções
principais: os canais semicirculares (superior, lateral e inferior), o vestíbulo e a
cóclea. Figura 2 - Labirinto ósseo
Os canais semicirculares e o vestíbulo estão envolvidos na manutenção do equilíbrio. A cóclea está envolvida
na transdução dos sinais sonoros em sinais elétricos para o sistema nervoso.

Estrutura do ouvido
O ouvido consiste numa estrutura óssea está ligada a um
sistema de membranas preenchidas com líquido linfático,
responsável pela propagação do som e sua transdução em
sinais nervosos. Este sistema de fluidos é também essencial à
perceção do equilíbrio. O sistema auditivo é composto pelo
ouvido externo, ouvido médio, ouvido interno e nervo
auditivo, localizando-se maioritariamente, no osso temporal
do crânio. A trompa de Eustáquio liga o ouvido à nasofaringe
permitindo equalizar a pressão de ambos os lados da
membrana timpânica.

Cóclea
Deteta a frequência, intensidade e timbre (depende da interferência de ondas sonoras) do som.

A cóclea é um tubo ósseo enrolado em espiral, no interior do qual há um sistema de canais (rampas/scala) em
espiral: rampa vestibular, que começa na janela vestibular/oval e vai até uma ponta (helicotrema) passando
a chamar-se rampa timpânica. Ambas as rampas têm perilinfa. Entre estas encontra-se a rampa média ou
canal coclear. Esta é contínua com o aparelho vestibular e não comunica com as outras duas rampas, estando
separada delas, respetivamente, pela membrana vestibular (membrana de Reissner) e a membrana basilar,
que são contínuas. Contém endolinfa e o órgão de Corti.

Transmissão do som no ouvido interno


1- As ondas sonoras chegam ao tímpano através do ouvido
externo (pavilhão auricular, canal auditivo e meato
acústico externo) conduzidas pela ar, a baixa pressão.
2- As oscilações da pressão sonora provocam oscilações na
membrana timpânica que são transmitidas, de forma
mecânica, ao ouvido médio pelos ossículos (martelo,
bigorna e estribo). Daí, são transmitidas ao ouvido
interno na janela oval (a amplificação do som deve-se à
diferença nas áreas das duas membranas).
3- A estrutura membranar da janela oval transmite o som à perilinfa contida na rampa vestibular da cóclea
(condução num fluido, alta pressão passo 1).
4- Há a deformação da membrana vestibular pela onda mecânica de fluido (passo 2, seguir setas) e
transmissão do sinal mecânico ao órgão de Corti que se encontra no interior da rampa média.
Órgão de Corti
Na rampa média está localizado o órgão em espiral de Corti, onde se situam células ciliadas (‘hair cells’)
responsáveis pela mecanotransdução (contêm mecanoreceptores). As células ciliares podem ser externas
(mais próximas da cavidade auditiva) ou internas. Há uma membrana tetorial apoiada sobre os cílios
sensoriais. O maior cílio das células ciliares, o cinocílio é um cílio verdadeiro, constituído por tubulina. Os
outros são estereocílios, parecidos com microvilosidades, mas com função sensorial.

Percepção do som no órgão de Corti

1- As ondas de pressão propagam-se a partir da janela oval pelo labirinto


até à janela circular, provocando o deslocamento da membrana basilar
para cima e, depois, para baixo.
2- Esta oscilação faz com que os cílios se desloquem no sentido do
cinocílio, ativando a mecanotransdução e, depois, no sentido contrário,
inibindo a mecanotransdução.
3- As células ciliares externas modulam a intensidade do sinal (há
ativação de prestina e maior aproximação da membrana tectorial). As
células ciliares internas geram o sinal auditivo (em 90% dos casos)
gerando uma codificação por intensidade de som (decidem se ocorre,
ou não, sinal auditivo).

Alguns cílios estão unidos nas pontas por proteínas de ligação, ‘tip-links’ e possuem canais de K+. A endolinfa,
à volta dos cílios, tem elevada concentração de K+.

A deformação mecânica na direção do cinocílio (distensão) abre os canais


de K+, levando à despolarização da sua membrana das células. Isto permite
a entrada de Ca2+ na células que leva à libertação de neurotransmissores que
vão ativar o neurónio que leva informação ao SNC. Quando a deformação
ocorre na direção oposta ao cinocílio, os canais de K+ fecham, dando-se a
hiperpolarização e cessando-se a transmissão de sinal nervoso. O
neurotransmissor envolvido é, provavelmente, o glutamato.

Como a cóclea vai estreitando ao longo do seu enrolamento, há uma


sensibilidade diferente à frequência ao longo ao órgão de Corti. Logo,
células de diferentes segmentos, respondem a diferentes frequências: há
medida que a distância ao ouvido médio aumenta, a frequências detetadas
são cada vez mais baixas.

Equilíbrio
O sistema vestibular é responsável, em conjunto com outros órgãos, pelo equilíbrio postural (estático ou
dinâmico). Este equilíbrio é controlado por vários recetores sensoriais, localizados nos olhos, sistema
vestibular do ouvido interno e os propriocetores localizados nas articulações e nos músculos. Todos eles
desencadeiam ações reflexas no SNC com o objetivo de posicionar o corpo para voltar ao equilíbrio ou
reorientar a cabeça ou os olhos para a visão.

Na base do sistema vestibular estão 3 canais semicirculares (superior, lateral e


inferior) e o vestíbulo (utrículo, aqueduto vestibular e o sáculo). Na base dos
canais semicirculares encontram-se as ampolas, dilatações onde se situam os
órgãos sensoriais destes canais. Há ainda 2 órgãos sensoriais otólitos (têm
cristais) na base do utrículo e do sáculo.
Na crista da ampola dos canais semicirculares é detetada a orientação e
aceleração angular da cabeça.

Ao longo dos 3 canais semicirculares, circula um fluído. Por cima da cúpula há


uma substância gelatinosa que que vai dar densidade ao meio e banha a crista.
As células inseridas no gel deformam-se mais intensamente.

Os otólitos são cristais de carbonato de cálcio que aumentam a massa da


membrana otólita e a inércia do movimento, quando há um movimento da
cabeça de aceleração e desaceleração. Quando estamos de pé, as células ciliadas
do utrículo encontram-se na vertical a apontar para cima. Respondem a
alterações no plano HORIZONTAL.

Processamento reflexo da informação sensorial


O processamento da informação sensorial pode ser feito a vários níveis do sistema nervoso central: reflexos
espinhais, reflexos bulbares ou medulares, processamento cortical, etc.

Propriorrecetores: funcionam em conjunto com o sistema vestibular, para responder e manter o corpo num
equilíbrio dinâmico.

Processamento reflexo
Reflexo – resposta involuntária, não premeditada e não aprendida a determinado estímulo (sensorial).

Arco reflexo – unidade básica funcional. Este é composto por um órgão sensorial, um neurónio aferente, uma
ou mais sinapses centrais integradoras, um neurónio eferente e um sistema efector. É o exemplo mais simples
de processamento central da informação. Os corpos celulares dos neurónios sensoriais estão nos gânglios,
junto à espinal medula.

Reflexos espinhais – forma mais simples de controlo motor.

Reflexos monosinápticos e polisinápticos


Arco reflexo monossimpático – Não contém interneurónios. É constituído por uma única sinapse entre um
neurónio aferente e um eferente. Ex: reflexo miotático ou reflexo de estiramento.

Reflexos polissinápticos – Contêm um ou mais interneurónios entre o neurónio aferente e o neurónio


eferente (entre um sensorial e um motor), para além de não terem muitos neurónios. São a maioria

Reflexo espinhal polissináptico – controlo motor. Ex: Reflexos de proteção (reflexo de defesa, reflexo
corneano, reflexo da tosse), reflexos nutricionais (reflexo da deglutição), reflexos locomotores e inúmeros
reflexos vegetativos (na circulação, respiração, estômago e intestino, função sexual e bexiga). A maior parte
destes exemplos envolve centros localizados no encéfalo.

Músculo flexor – dobra a perna; músculo extensor – estica a perna.

Todas estas ações são resultado da atividade de reflexo.


2 principais recetores sensoriais responsáveis pela ativação dos reflexos espinhais
Fuso muscular
O fuso muscular é constituído por um conjunto de até cerca de 10 fibras musculares envolvidas por tecido
conjuntivo e que estão em paralelo com as restantes fibras musculares. No entanto, não são tão contráteis
como as fibras musculares: a extremidade é contrátil, mas o seu centro não é tão contrátil. As fibras intrafusais
(do interior do fuso muscular) são de 2 tipos: fibras de saco nuclear (~2) e fibras de cadeia nuclear (~5-8).
Estas são enervadas por fibras/neurónios aferentes primárias tipo Ia (mielinizados e grandes) e secundárias
tipo II (mielinizadas e pequenas).

Importante: quando as fibras são estiradas, os neurónios são


ativos. Ambas são inervadas por neurónios motores γ (mais
pequenos que os α que inervam as outras fibras musculares).
A densidade de fusos musculares num músculo é
proporcional à intensidade do movimento que os músculos
controlam.

Função do fuso muscular: Reflexo de estiramento ou miotático

Este órgão sensorial é responsável pelo teste do martelo: Uma pequena


martelada no joelho provoca um estiramento do ligamento do músculo
e ativação dos seus neurónios sensores. Ao nível da medula, os
neurónios sensores ativam, por sua vez, os neurónios motores α, o que
leva à contração/estiramento do músculo.

Esta contração reflexa do músculo esquelético é mediada por neurónios


motores α de forma a restaurar o comprimento inicial do músculo.

Há a alteração ‘voluntária’ do comprimento do músculo esquelético


mediada simultaneamente por neurónios motores α (inervam as fibras
extrafusais) e γ (inervam as fibras intrafusais) de forma a obter o
comprimento pretendido do músculo.

Corpo tendinoso de Golgi


Estrutura encapsulada localizada na junção músculo-tendinosa, onde as fibras de
colagénio do tendão se juntam e estão em série com as extremidades
das fibras musculares. Cada órgão tendinoso é inervado por um axónio
sensorial do tipo Ib (fibra Ib), que perde a sua bainha de mielina após
atravessar a cápsula e se ramifica em numerosas terminações, as quais
se entrelaçam à volta dos fascículos de colagénio. As terminações
nervosas disparam quando o músculo se contrai.

Função do corpo de Golgi: reflexo de contração/ miotático inverso

A tensão no tendão ativa um neurónio sensorial que comunica com um interneurónios que vai inverter o sinal
da transmissão. Este interneurónios é uma célula inibitória que inibe o neurónio motor. Isto provoca uma
redução da tensão (não a eliminação completa), que serve para proteger o músculo. É um reflexo disináptico
(1 interneurónio).

Os reflexos espinhais ativados pelo corpo de Golgi e pelo fuso muscular funcionam em conjunto para regular
a tensão do músculo.
Controlo da postura e movimento
Controlo motor integrado:

Inervação recíproca de músculos antagonistas e resposta ao reflexo miotático do músculo extensor: Note-
se que, para além de ativarmos o neurónio motor para o músculo extenso contrair, vamos também, através
do circuito do neurónio inibir o músculo flexor, para eles poderem funcionar de maneira coordenada.

Dupla inervação recíproca: Para além de ter a coordenação do musculo extensor e flexor do mesmo pé,
podemos também ter uma resposta que regula o extensor e flexor do ‘outro pé’ (contralateral) para suportar
o peso que não pode ser suportado pelo outro pé que se levanta. Estes reflexos que permitem a coordenação
de músculos mais distantes são, por exemplo, reflexos espinhais.

→ Tudo o que é voluntário vem do córtex.

Coordenação do movimento com outros estímulos ambientais e outros órgãos:

Há sempre 2 tipos de controlo motor: voluntário e involuntário. O andar, engolir, mastigar, arranhar/coçar
são fundamentalmente involuntários em termos de coordenação motora, embora sejam sempre sujeitos a
controlo voluntário. A vontade de ir para um certo sítio já é voluntária (os passos que damos para chegar não).

Este controlo envolve pelo menos três áreas principais do encéfalo: córtex, cerebelo e gânglios de base em
conjunto com vários núcleos do tronco cerebral.

Há vários níveis de integração e coordenação, cada vez mais complexos.

Sistema nervoso autónomo: introdução


Há uma dinâmica entre a atividade e informação sensorial e
necessidade de análise a vários níveis. A nível de processamento
reflexo, temos um papel importantíssimo no sistema nervoso
autónomo. Fora do SNC temos nervos, normalmente, os nervos
eferentes (motoras, projetam-se através das raízes ventrais) e os
nervos aferentes (sensoriais, cujos corpos celulares estão nos
gânglios). A informação entra no SNC através das raízes dorsais da
espinal medula. A matéria cinzenta é escura, porque é onde estão
os corpos celulares, a zona mais branca é onde passam fibras
nervosas mielinizadas.

Os nervos do sistema nervoso periférico têm origem ou no encéfalo


(nervos cranianos) ou são nervos espinhais (saem das raízes
ventrais, enervando os órgãos alvo).

Nervos cranianos: São 12. A maior parte são mistos, i.e., têm fibras
sensoriais e motoras. 2 pares de nervos têm origem em neurónios
do cérebro anterior e 10 pares têm origem no mesencéfalo e tronco
cerebral.
Sistema nervoso autónomo (SNA)
Responsável pelo processamento automático (inconsciente) e relfexo de um enorme número de funções com
objetivo de manter a homeostase corporal. As repostas autonómicas funcionam conceptualmente como um
arco reflexo. Os núcleos do tronco cerebral e o hipotálamo também fazem parte do SNA.

Divisão sensorial – Receção de informação a nível periférico e a nível central.

Divisão central (núcleos do tronco cerebral, hipotálamo) – Integração da informação e geração da resposta
autonómica.

Divisão periférica (gânglios e nervos periféricos) – transmissão rápida de informação aos órgãos alvo.

SN Simpático – mobiliza rapidamente energia e respostas fisiológicas do organismo para respostas rápidas em
estados de necessidade imediata (estado de alerta, luta ou fuga, ...). Toda a atividade do SN Simpático
necessita de Energia, havendo mobilização de glucose. O SNS também acaba por ter uma ação forte na
motivação e no estado de alerta.

SN Parassimpático – promove a conservação e armazenamento da energia no organismo e manutenção do


mesmo (descanso, digestão).

SN Entérico – restrito ao sistema gastrointestinal, pode funcionar de forma independente, mas normalmente
é regulado pelos dois anteriores. Responsável pelos movimentos gástricos e intestinais, secreções do sistema
digestivo e regula a atividade de glândulas exócrinas e endócrinas.

→ O simpático e o parassimpático têm sempre ações antagónicas (e por vezes complementares) nos seus
órgãos alvo. Exceções: Suprarrenal, músculos piloerectores, glândulas sudoríparas e a maioria dos vasos.

Organização anatómica e funcional do SNA


Note-se que ao contrário do SN Somático, cujos neurónios motores tem o corpo celular na espinal medula ou
mais acima, os neurónios centrais autonómicos do SN simpático e parassimpático fazem sinapse com
neurónios ganglionares. São neurónios colinérgicos (ACh). Assim, no SNA não há ação direta do neurónio no
órgão alvo, tendo de haver um sinapse de permeio. Em
todos os casos, os neurónios têm alguma função de estímulo
motor e todos eles libertam acetilcolina (recetores
nicotínicos). No entanto, há algumas diferenças:

SN simpático: Gânglios mais próximos da espinal medula,


afastados dos órgãos efetores, o que torna as fibras pré-
ganglionares curtas e as pós-ganglionares longas. As fibras
pós-ganglionares são noradrenégicas (noradrenalina).

Via parassimpática adrenal: Não há gânglios, mas sim


contacto direto com o órgão endócrino efetor (medula da
suprarrenal). O órgão efetor liberta adrenalina para a
corrente sanguínea.

SN Parassimpático: Os gânglios estão próximos dos órgãos


efetores, o que torna as fibras pós-ganglionares as fibras
pré-ganglionares longas e as pós-ganglionares. As fibras
pós-ganglionares são colinérgicas (ACh).
Neurotransmissores
Os neurónios centrais do SN simpático e parassimpático são colinérgicos (ACh) e fazem sinapse com neurónios
ganglionares ou células da medula adrenal (células cromafins). A ACh liga-se a recetores nicotínicos
(ionotrópicos) nos neurónios pós-ganglionares (resposta rápida) e também a recetores muscarínicos M1
(metabotrópico) acoplados a proteínas Gq (resposta lenta). Também há transmissão peptinérgica (ainda mais
lenta).

Nota: as células cromafins são neurónios ganglionares


modificados para atuarem por via endócrina. Nestas,
a ACh liga-se principalmente a recetores nicotínicos
(ionotrópicos). Estas libertam catecolaminas
(adrenalina, noradrenalina…) na corrente sanguínea
que a leva aos seus órgãos-alvo. Ex: medula da
glândula suprarrenal.

Muito importante: a adrenalina é muito importante


na parte de mobilização energética. Também no
coração e sua contratilidade é importante (a ver mais
tarde).

Os neurónios pós-ganglionares do SN parassimpático


fazem sinapse com os seus órgãos-alvo, nas quais o
neurotransmissor é ACh – também são colinérgicos. Aí, a ACh liga-se principalmente a recetores muscarínicos
M2 e M4 (metabotrópico) acoplados a proteínas Gi (resposta lenta). Ex: atuação do SN parassimpático no nodo
sinusal e nodo aurículo-ventricular via ativação de recetores M2 da ACh, levando à inibição da despolarização
que gera o potencial pacemaker (maior latência) o que gera a diminuição da frequência cardíaca, sem afetar
a contração do músculo cardíaco.

Os neurónios pós-ganglionares do SN simpático fazem sinapse com os seus órgãos-alvo, nas quais o
neurotransmissor é a noradrenalina (NA). A NA atua principalmente via recetores metabotrópico muscarínicos
alfa adrenérgicos (α1 e α2) e beta adrenérgicos β1. A diferença são os tecidos alvo:

• α1 – proteínas Gq, hiperpolarização (inibição da mobilidade do sistema gastrointestinal) com aumento


do Ca2+ intracelular (contração dos vasos, bronquíolos, …)
• α2 – proteínas Gi, diminuição do cálcio e hiperpolarização.
• β1 – ativam a proteína Gs, múltiplos mecanismos.

Notas: Adrenalina – dilatação de vasos, bronquíolos. Em alguns casos, há gânglios secundários, que é
importante na regulação de algumas funções.

Controlo do SNA
O processamento central envolve zonas do cérebro fundamentais e importantíssimas no controlo neuronal
dos estamos emocionais, como são exemplos o hipotálamo (parte do diencéfalo) e o sistema límbico.

O sistema límbico consiste num grupo de núcleos, estruturas e feixes de fibras situadas na base do córtex que
formam um anel em torno do tronco cerebral e está envolvido em respostas comportamentais (agressão,
medo, motivação). O hipotálamo consiste num grupo de núcleos estruturas e feixes de fibras situados no
diencéfalo e está envolvido na regulação do SNA e da secreção hormonal pelo sistema endócrino (temperatura
corporal, sede, pressão arterial, reprodução).
O tronco cerebral corresponde a uma zona central do encéfalo que
está sobre a espinal medula e sob o Tálamo. Engloba a ponte e o
bulbo raquidiano que contêm os centros responsáveis pelos
reflexos respiratórios (pneumotáxico, apneustico e rítmico),
reflexos cardiovasculares (vasomotores e cardioinibidores) e
outros reflexos motores pelo SNA (deglutição, salivação). Engloba,
ainda o mesencéfalo. É o local de cruzamento de fibras sensoriais
e de origem de inúmeros nervos, como o vago.

Núcleos: conjuntos de neurónios com função muito específica.

Sistema Nervoso Entérico (SNE)

Consiste numa estrutura em rede (plexo) de neurónios autonómicos que podem funcionar de forma
independente do controlo pelo cérebro e espinal medula, controlando diretamente a resposta reflexa a
acontecimentos locais como a distensão do tubo digestivo ou respostas hormonais locais (parácrina) à
chegada de alimentos. É enervado pelo nervo vago e pelos neurónios dos gânglios pré-vertebrais do SNA
permitindo a regulação da sua atividade pelo SNC. Existem 2 principais estruturas no SNE:

• Plexo submucoso (ou de Meissner) – mais próximo da mucosa, controla principalmente as secreções
e o fluxo sanguíneo local.
• Plexo mientérico (ou de Auerbach) – exterior ao músculo liso longitudinal, controla
fundamentalmente os movimentos peristálticos.

Fisiologia Respiratória
Função alveolar, transporte sanguíneo dos gases, trocas gasosas nos tecidos
O sistema respiratório é composto pela caixa torácica, os pulmões e as vias aéreas. A caixa torácica inclui a
grande costal, os músculos intercostais, o diafragma, a cavidade abdominal e os músculos abdominais
anteriores. Há uma zona condutora (nariz, laringe, traqueia, brônquios, bronquíolos e bronquíolos terminais)
e uma zona respiratória (bronquíolos respiratórios, condutos alveolares, sacos alveolares e alvéolos).

A mucosa das vias aéreas tem a função de barreira, sendo responsável pela proteção do organismo/pulmão
contra substâncias tóxicas e microorganismos. Está associada a 2 sistemas: o sistema mucociliar de remoção
e o sistema imune da mucosa respiratória.

Respiração

1. Ventilação: troca de ar entre a atmosfera externa e os


alvéolos por fluxo de ar nos pulmões.
2. Troca de O2 e CO2 entre o ar alveolar e os capilares
pulmonares por difusão.
3. Transporte de O2 e CO2 na circulação pulmonar e sistémica
pelo fluxo sanguíneo.
4. Troca de O2 e CO2 entre os capilares e os diferentes tecidos
por difusão.
5. Utilização de O2 e produção de CO2 pelas células dos
tecidos.

→A respiração celular dá-se ao nível dos mitocôndrios. A respiração interna dá-se a nível das trocas entre os
capilares e os diferentes tecidos. A respiração externa dá-se entre os alvéolos e o sangue.
Mecânica ventilatória
Ventilação – processo automático e rítmico que gera
movimentos de entrada de ar nas unidades respiratórias
terminais permitindo a entrada de O2 e remoção do CO2
do organismo. É regulado a nível central e depende da
contração e relaxamento dos vários músculos.

→ O diafragma é responsável por 75% da variação do


volume intratoráxico durante a inspiração em repouso.

Durante a inspiração, o diafragma e os músculos intercostais contraem-se, fazendo aumentar o volume do


tórax e dos pulmões. Isto baixa a pressão intrapulmonar. Na inspiração forçada, a pressão desce ainda mais.
Durante a expiração, o diafragma e dos músculos intercostais relaxam, diminuindo o volume os pulmões de
volume. Isto aumenta a pressão intrapulmonar. Na expiração forçada, a pressão aumenta ainda mais.

Os músculos respiratórios são principalmente inervados pelo nervo frénico e pelos nervos intercostais.

Papel da pleura na ventilação


É composta por duas membranas pleurais: a parietal (externa) e a visceral (interna) separadas pelo espaço
interpleural que contém o fluido interpleural. Os sacos pleurais direito e esquerdo são independentes.

A pleura faz a ligação entre os movimentos da caixa torácica (folheto pleural parietal) e a tensão dos pulmões
(folheto pleural visceral). Esta permite o deslizamento dos pulmões sob a caixa torácica com atrito mínimo.

Diferenças de pressão na ventilação


As alterações na pressão hidrostática do líquido intrapleural causam os
movimentos torácicos e pulmonares. A pressão dos pulmões (PA) varia entre
o ponto de equilíbrio da pressão atmosférica. A pressão
intrapleural/intratoráxica (Pip) é muito menor que a pressão dos pulmões.

P = Palv – Pip – pressão transpulmonar – determina o tamanho/expansão


pulmonar/ alvéolos.

Palv - Patm – determina a direção do fluxo de ar.

Fluxo de ar nos pulmões (F): F = (Palv - Patm)/R, R= resistência pulmonar

Função alveolar
Os alvéolos são evaginações em forma de bolsa das paredes dos bronquíolos
respiratórios, dos ductos alveolares e dos sacos alveolares. Têm a função de trocar O2 e
CO2 entre o ar no alvéolo e o sangue dos capilares pulmonares. A irrigação alveolar é feita
via circulação pulmonar.

As células alveolares podem ser pneumócitos tipo I ou II e estão rodeados por fibroblastos,
endotélio dos capilares pulmonares e macrófagos alveolares.

Tensão superficial alveolar

A água na superfície dos alvéolos faz com que estes funcionem como um balão cheio de
ar. Estes têm tendência a colapsar devido à elevada tensão superficial. A produção de
surfactante pelos pneumócitos do tipo II previne o colapso dos alvéolos mais
pequenos. O surfactante pulmonar é constituído por fosfatidilcolina, fosfatidilglicerol, proteínas plasmáticas
e apolipoproteínas. A principal substância redutora da tensão superficial é a dipalmitoilfosfatidilcolina.
Difusão de gases no pulmão e trocas gasosas alvéolo-capilares
As trocas gasosas alveolares ocorrem por difusão simples de acordo com a Lei de Fick. A força motriz para
esta difusão é dada pela diferença nas pressões parciais dos gases entre o espaço alveolar e os eritrócitos
no sangue dos capilares pulmonares.

→ Há medida que a altitude aumenta, a pressão atmosférica diminui e as pressões parciais de oxigénio
nos alvéolos e no sangue também.

Transporte de gases no sangue


Transporte de CO2 no sangue
A maioria difunde-se para os eritrócitos onde é convertido pela anidrase carbónica (5, desidratase do
carbonato) a HCO3- e transportado nesta forma maioritariamente pelo plasma (4, antiporte na membrana do
eritrócito com o Cl-). Para ser eliminado é novamente convertido a CO2 pela anidrase carbónica.

Cerca de 20% liga-se à Hb, formando carbaminohemoglobina (3). Isto diminui a afinidade de Hb para o O2.
Cerca de 7% fica dissolvido no plasma.

Transporte de O2 no sangue
A hemoglobina é um tetrâmero com 4 locais de ligação para o O2 (um em cada cadeia peptídica). O O2 liga-se
ao grupo prostético Heme (protoporfirina IX, Fe2+). Pode estar sob a forma de desoxihemoglobina (sem ligação
ao O2) ou oxihemoglobina (todos os locais de ligação ao O2 ocupados).

Curva de dissociação oxigénio-hemoglobina


Apresenta cooperatividade na ligação. Quando a desoxihemoglobina se liga a uma molécula de O2, os outros
grupos heme tornam-se muito mais propensos a ligar outras moléculas de O2. Da mesma forma, a dissociação
de uma molécula de O2 torna mais provável a dissociação do O2 de outras subunidades.

Fatores que influenciam a ligação de O2 à hemoglobina


• ↑pCO2, ↓pH – indicadores de taxa metabólica elevada → mais libertação de O2 p/ tecido;
• ↑T – indicador de taxa metabólica elevada → mais libertação de O2 p/ tecido;
• ↑ 2,3-DPG (2,3 bifosfoglicerato) – liga-se à hemoglobina e diminui a sua afinidade para o O2 (resposta à
↓ pO2 em altitude) → mais libertação de O2 p/ tecido.

→ Apenas 25% do O2 ligado à Hb sofre trocas em cada passagem circulatória pelos tecidos, o que permite
manter uma reserva que poderá ser usada numa emergência, quer por paragem circulatória, quer por
aumento da atividade tecidual.
Génese e regulação da respiração
Regulação central da respiração
Os neurónios motores que enervam os músculos respiratórios são controlados por 2 mecanismos centrais
fundamentais:

• Controlo da respiração involuntária: centros respiratórios do bulbo raquidiano (génese da respiração) e


da ponte regulados pelo sistema nervoso autónomo (SNA).
• Controlo da respiração voluntária: sistema nervoso somático (controlado pelo córtex e tálamo).

Controlo central involuntário da ventilação

O controlo involuntário da respiração pelo SNA é regulado pelo retorno dos recetores sensoriais para a PCO2,
pH e PO2 na circulação arterial (quimiorrecetores arteriais). É também controlado pelo retorno de
mecanorreceptores pulmonares.

Este controlo é feito a partir de 2 grupos de centros diferentes:

Os centros respiratórios dorsal e ventral do bulbo raquidiano


mantêm o ritmo respiratório na ausência de estímulos
externos, em conjunto com o complexo Pré-Boltzinger. Os
neurónios do complexo Pré-Boltzinger são células pacemaker.

As fibras nervosas que comandam a inspiração convergem


nos neurónios do núcleo motor do nervo frénico (inerva o
diafragma) e nos neurónios motores dos músculos
intercostais externos (menos importantes em repouso).

As fibras nervosas responsáveis pela expiração ativa convergem, principalmente, nos neurónios motores dos
músculos intercostais internos.

No centro respiratório dorsal, os neurónios inspiratórios (I) disparam


espontaneamente ou em resposta aos neurónios pré-Boltzonger com
bursts com intensidade cada vez maior, gerando uma atividade
crescente dos músculos inspiratórios e diafragma que dura cerca de
2s – sinal inspiratório em rampa – permite um aumento harmonioso
do volume pulmonar. Nos 3s seguintes essa atividade cessa
bruscamente (ponto de cessação ou limitante) permitindo a retração
(elastic recoil) da parede torácica e do pulmões – expiração passiva.

→ O aumento de atividade do nervo frénico reflete fielmente o


aumento do declive do sinal inspiratório em rampa.

→ O declive do sinal inspiratório em rampa aumenta em resposta ao aumento da concentração de CO2


(profundidade da inspiração).

No centro respiratório ventral há neurónios expiratórios (E). Estes permanecem praticamente inativos
durante a respiração normal em repouso. São responsáveis pela génese e transmissão de impulsos nervosos
para os músculos expiratórios, durante a expiração ativa. Este centro contribui tanto para a inspiração como
para a expiração: a ativação de alguns neurónios reforça a inspiração (I) enquanto outros desencadeiam
expiração (E). Funciona como um mecanismo de potenciação dos sinais respiratórios (aumento da
profundidade e frequência da respiração), auxiliando o centro respiratório dorsal, quando são necessários
níveis mais elevados da ventilação pulmonar, especialmente durante o exercício. Envia projeções inibitórias
para o centro apneustico.

O centro pneumotáxico (promove a expiração inibindo o centro apneustico) e o centro apneustico (promove
a inspiração estimulando os neurónios inspiratórios do centro respiratório dorsal). Ambos pertencem à ponte
e têm função reguladora.

Regulação química da respiração


A regulação da respiração tem como objetivo a obtenção de um nível adequado de ventilação, consumindo
um mínimo de energia. A respiração mantém níveis adequados de O2, CO2 e [H+] nos tecidos. Os mecanismos
de regulação química controlam a ventilação de tal maneira a manter a pCO2 dentro de valores normais, para
evitar o excesso de H+ no sangue, e regular a paO2 evitando hipoxia. O volume respiratório é proporcional à
taxa metabólica, no entanto, o elo de ligação entre o metabolismo e a ventilação é o CO2 e não o O2.

Os centros respiratórios cerebrais (ventral, dorsal, pneumotáxico e apneustico) não são sensíveis a alterações
químicas no sangue. Portanto, a regulação da ventilação é mediada pelos quimiorrecetores respiratórios,
sensíveis a alterações de pressão de CO2 e O2 e a alterações do pH, que enviam impulsos nervosos para os
centros respiratórios cerebrais induzindo uma adaptação do seu funcionamento. Um aumento da PaCO2 ou
da [H+] (acidose) ou uma diminuição da PaO2 levam a uma ativação do centro respiratórios dorsal promovendo
a ventilação. Há 2 tipos de quimiorrecetores no organismo: centrais e periféricos

Quimiorecetores periféricos
Respondem diretamente a alterações na circulação arterial. Nestes, incluem-se os corpos carotídeos, que
são os mais importantes no homem, e os corpos aórticos. Para ambos, a principal função é detetar alterações
na pO2, apesar de também serem sensíveis a alterações da pCO2 e da [H+]. Assim, respondem a diminuições
da pO2 e do pH sanguíneo e a aumentos da pCO2. Levam a informação aos centros respiratórios via fibras
sensoriais do nervo glossofaríngeo (carotídeos) ou vago (corpos aórticos).

• Barorreceptores periféricos – respondem a alterações no líquido cefalorraquidiano resultantes de


alterações na circulação arterial.

Corpo carotídeo na resposta à hipóxia


As células do corpo carotídeo aumentam a sua atividade em resposta à hipoxia
(↓O2) mas também à hipercapnia (↑CO2) e acidose. O corpo carotídeo tem estrutura
glomerular e é constituído por unidades estruturais (glomus) que contêm ilhéus
com 2 tipos de células rodeadas de capilares sinosoidais fenestrados.

As células glómicas tipo I têm grânulos densos que contêm catecolaminas e


recebem terminações do nervo glossofaríngeo. Respondem à hipoxia libertando
dopamina para terminações sensoriais do nervo glossofaríngeo onde ativam
recetores D2. Este leva a informação aos centros respiratórios do bulbo.

As células glómicas tipo II são semelhantes a células gliais, e cada um rodeia quatro
a seis células tipo I. A sua função é, provavelmente, de sustentação.

→ Quando a pO2 diminui, este reflexo estimula a atividade dos neurónios do centro
respiratório dorsal, aumentando a ventilação.
Quimiorrecetores centrais
São neurónios que se localizam na superfície ventro-lateral
do bulbo raquidiano, entre as origens dos sétimo e décimo
nervos cranianos, perto dos centros respiratórios. São
responsáveis por ~75% da hiperventilação introduzida pelo
aumento da pCO2 (restantes 25% - quimiorrecetores
periféricos).

Quando a pCO2 aumenta (hipercapnia), o CO2 passa para o


líquido cefalorraquideano (CSF) por difusão a partir dos vasos
sanguíneos cerebrais. Os neurónios quimiorrecetores
bulbares respondem a alterações da [H+] no fluido
intersticial cerebral que os rodeia (e não ao CO2
diretamente). No CFS é rapidamente convertido em iões HCO3- e H+ pela desidratase do carbonato, que
passam para o fluido intersticial onde H+ estimula os neurónio quimiorrecetores centrais. Estes neurónios
estimulam a atividade dos neurónios do centro respiratório dorsal, estimulando a ventilação.

Regulação da capacidade de transporte de oxigénio e co2 pelo sangue

• Pela regulação do fluxo sanguíneo – regulação cardiovascular (quanto maios o fluxo, mais rápida a entrega
de oxigénio aos tecidos).
• Regulação pelo sangue
• Adaptação à altitude: o rim deteta alterações na PaO2 nº de eritrócitos no sangue e tem a capacidade de
segregar eritropoietina que vai induzir a produção de eritrócitos e a capacidade de aporte de O2 pelo
sangue.

Fisiologia Renal
Rins + bexiga.

Nefrónio
→ Unidade funcional do rim. No córtex renal estão as partes mais enroladas: vasos sanguíneos contornados
e túbulos contornados. Na medula renal estão os componentes mais lineares: vasos sanguíneos retos (vasa
recta) e túbulos retos. O cálice e a pelve renal dirigem a urina aos ureteres e depois esta segue para a bexiga.
Componentes:

• Corpúsculo renal/de Malpighi


• Tubo contornado proximal (do corpúsculo)
• Ramo descendente da ansa de Henle
• Ramo ascendente da ansa de Henle
• Tubo contornado distal (drena para o tubo coletor).
• Tubo coletor

Função do rim: Filtra o sangue (plasma) nos corpúsculos renais


e reabsorve seletivamente as substâncias do plasma que quer
reaproveitar (no tubo renal) e excreta todas as substâncias que
permanecem nos tubos renais, de que o rim se quer livrar.
Corpúsculo renal ou de Malpighi
Constituído pela cápsula de Bowman que tem no interior
capilares glomerulares. O sangue entra pela arteríola
aferente e sai por uma arteríola eferente. Os podócitos
cobrem os capilares fenestradod e têm sulcos/fendas
essenciais na filtração glomerular: tem-se um
processamento do sangue que sai dos capilares e é
filtrado para o espaço da cápsula de Bowman e, daí, sai
para o tubo renal pelo tubo proximal.

O aparelho de filtração nos capilares glomerulares tem 3 camadas: endotélio dos capilares fenestrados
(espaços por onde as moléculas podem passar - as junções não são muito apertadas), membrana basal
glomerular e camada de podócitos. No sangue, permanecem células sanguíneas, muitas proteínas
plasmáticas, aniões grandes e minerais associados a proteínas, que não são filtrados.

Tubo renal
Entrando no espaço de Bowman, o filtrado é direcionado para o tubo renal, entrando no tubo contornado
proximal. Há um nefrónio justamedular (longo, vai até à medula) e cortical (componente curta). Os corticais
têm funções reguladoras e excretoras, enquanto que os justamedulares na regulam a diluição da urina. Após
vários processos de secreção e reabsorção, as substâncias filtradas percorrem o tubo coletor são drenadas
para as papilas renais e seguem para o cálice e ureteres para excreção.

É constituído por:

• Corpúsculo renal / de Malpighi


• Tubo contornado proximal e ramo descendente grosso da
ansa de Henle: Função de absorção e secreção muito intensa
e responsável pela reabsorção da água e substâncias
previamente filtradas.
• Ramo descendente fino e ramo ascendente fino: Trabalham
em paralelo com os capilares dos vasos retos circundantes
para ajustar os níveis de sais e água no filtrado para regular
bem a composição da urina. O descendente é altamente
permeável à água e menos permeável aos solutos, enquanto
que no ramo ascendente é o oposto.
• Ramo ascendente grosso da ansa de Henle e tubo
contornado distal: Reabsorção final de substâncias como o
sódio (aldoesterona).
• Mácula densa: função endócrina, secreção de renina.
• Ducto de ligação e porções cortical e medular externa e medular interna e ducto coletor. Reabsorção final
de água Na+ regulada pela ADH. As células principais fazem excreção de K+, secreção de H+ e transporte de
HCO3- (regulação do pH do sangue).

3 principais processos na função renal


• Filtração glomerular;
• Secreção tubular (secreção para o tubo renal para ser excreção);
• Reabsorção tubular.
Filtração glomerular

→ A taxa de filtração do rim depende da área de contacto dos capilares na zona do glomérulo, da
permeabilidade (número de poros e seu tamanho), e da pressão de filtração glomerular global (TFG) que
depende tanto da pressão arterial como da pressão do líquido na cápsula de Bowman e de forças osmóticas
que se opõem à passagem o líquido para o espaço de Bowman (proteínas de grandes dimensões a não
conseguir passar). O sangue vai nos vasos no sentido de favorecer a filtração glomerular. Diferentes
substâncias vão ter taxas de filtração, secreção e reabsorção tubulares diferentes. Para determinar a fração
de substância excretada, ou clearance canal, tem de se conhecer todos estes fatores:
𝑚𝑆 𝑒𝑥𝑐𝑟𝑒𝑡𝑎𝑑𝑎/𝑚𝑖𝑛
𝐶𝑆 =
[𝑆]𝑝𝑙𝑎𝑠𝑚𝑎

A inulina é filtrada, não sendo nem segregada para o tubo nem reabsorvida. É possível, pela taxa de excreção,
determinar a taxa de filtração glomerular (TFG): taxa de excreção/[I]urina. Nos humanos, usa-se a creatinina
como medida da taxa de filtração glomerular. É um metabolito da degradação da creatina no músculo, pelo
que sabendo que ela não é segregada e reabsorvida, consegue-se ter a TFG.

Reabsorção tubular

Esta tem 3 fases/passos:

• Passagem do interior do túbulo para o interior da célula


do túbulo;
• Passagem da célula para o interstício;
• Passagem do interstício para a corrente sanguínea.

Mecanismos:

• Difusão paracelular
• Difusão/transporte transcelular
• Osmose
• Ultrafiltração (‘Bulk flow’) – movimento de substâncias da passagem do interstício para o sangue,
acontece porque os capilares renais são fenestrados, permitindo a ultrafiltração – regulação frouxa da
adesão de células nos capilares que permite a passagem mais fácil das substâncias.

Imagem: Principais substâncias


segregadas e absorvidas pelos
diferentes segmentos do tubo renal.
As principais substâncias endógenas
processadas pelo rim são quase todas
reabsorvidas. A ureia, produto da
metabolização dos aminoácidos, é
fortemente excretada.

Excreção: função vesical


Depois de ter saído do tubo coletor, a urina é introduzida na bexiga e o processo de micção, ato de urinar, é
desencadeado pelo enchimento da bexiga. O reflexo da micção requer a inibição do SN simpático e a ativação
do SN parassimpático. À mediada que a bexiga se enche de urina, a pressão interior aumenta, estimulando os
recetores de estiramento, da parede da bexiga. Os neurónios aferentes destes recetores sinalizam via espinal
medula e estimulam os nervos parassimpáticos que desencadeiam a contração do músculo detrusor e do
trígono. Quando contraem, a alteração do contorno da bexiga abre o esfíncter uretral interno e inibe os
neurónios simpáticos que o inervam, o que contribui ainda mais para a sua abertura. A ação reflexa também
vai relaxar o esfíncter uretral externo. A contração do músculo com o esfíncter aberto induz o esvaziamento
da bexiga (micção).

Regulação da homeostase da água de dos iões inorgânicos (processos celulares)


Os epitélios do sistema digestivo, respiratório e urinário são pontos chave na regulação da entrada e saída de
água no organismo.

→ Perceber como primeira abordagem que a regulação da água no organismo está intimamente associada à
regulação do sódio e, por conseguinte, do cloro e HCO3-. Logo, são os principais iões que contribuem para o
conteúdo osmótico do fluído extracelular (plasma e fluido intersticial).

Como funciona:

Quase todos estes processos dependem do gradiente criado pela Na+-K+ ATPase presente na MEMBRANA
BASAL.

1. Transporte ativo de Na+ para o interstício, o que


cria um gradiente.
2. Entrada de Na+ passiva, a partir do lúmen do
tubo renal, para as células, para compensar a
entrada para o interstício.
3. Entrada de aniões que seguem o Na+ por meio
de cotransportadores ou antitransportadores
tanto por via transcelular como paracelular.
4. A H2O segue o soluto (transcelular e
paracelularmente)
5. A água e os solutos movem-se por ultrafiltração
para o capilar peritubular.

Reabsorção do Na+ no tubo renal


A maior parte da reabsorção de Na+ faz-se no ramo descendente grosso do tubo proximal (65%) e outra parte
faz-se no ramo ascendente grosso do tubo distal (25%). Apesar disto, a bomba de Na+-K+ está presente em
quase todos os pontos do tubo renal porque fornece um gradiente e permite a difusão de outras substâncias.
A reabsorção de sódio para alem de não ser muita, é importante para a de outras substâncias. Importante:
Em cada um dos pontos, os transportadores que estão na parte do tubo são diferentes.

1. Tubo contornado proximal – O Na+ é reabsorvido com o HCO3- e com aniões orgânicos como a glucose e
os aminoácidos. Acoplado à excreção de H+.
2. Tubo proximal – O Na+ é reabsorvido com o K+ e o Cl- à custa da oxirredução do HCO3-.
3. Tubo distal reto ascendente (25%) – O Na+ reabsorvido com o K+ e 2Cl-. O co-transportador é alvo de
diuréticos. Não há reabsorção de H2O. sensível a tiazidas (diuréticos).
4. Tubo contornado distal - O Na+ é reabsorvido com Cl-. O co-transportador é sensível a tiazidas (diuréticos).
5. Tubo coletor – O Na+ é reabsorvido nas células principais por difusão passiva pelo canal de Na+ epitelial
(ENaC).
Reabsorção do H2O no tubo renal
A reabsorção de água ocorre sempre por osmose. Ocorre principalmente no tubo contornado proximal e na
porção descendente fina do tubo distal e no tubo coletor. Está intimamente associada à reabsorção de Na+,
que também cria um gradiente de carga transepitelial que leva ao estabelecimento de diferença de potencial
elétrico entre o lúmen do tubo renal e o interstício. A reabsorção de água no tubo proximal concentra no
lúmen do tubo renal todas as substâncias que não foram reabsorvidas. Isto cria um gradiente de carga e de []
favorável à sua absorção, quer pela via transcelular, quer pela via paracelular. A reabsorção de água leva
consigo outros iões/moléculas por um processo de arrastamento pelo solvente. Ex: ureia, K+, Ca2+, Mg2+ e Cl-.

A reabsorção pela via Transcelular depende da presença de canais/transportadores específicos na membrana


apical (tubular).

A reabsorção no tubo coletor é fortemente regulada pela vasopressina (hormona hipotalâmica), pela inserção
de aquaporinas e pela regulação da osmolaridade e da pressão arterial. Está intimamente ligada à reabsorção
de Na+, juntamente com a aldosterona e o péptido natriurético auricular.

Mecanismo de contra-corrente e concentração da urina

→ Muitas vezes, o Na+ e K+ estão muito ligados, e no tubo coletor, K+ acaba por ser excretado quando
queremos reabsorver mais Na+.

→ A principal via de entrado do Ca2+ e Mg2+ é difusão passiva por via paracelular, arrastamento pelo solvente.
Reabsorção de glucose e de aminoácidos
A reabsorção de glucose e aminoácidos (também lactato) ocorre
sempre associada à reabsorção do Na+. Ocorre principalmente no
tubo contornado proximal da ansa de Henle e envolve:

1. Co-transporte com Na+ do lúmen do tubo renal para as células


tubulares (membrana apical).
2. Transporte passivo da glucose/a.a/lactato das células
tubulares para o interstício (transportadores específicos na
membrana basal não representados exceto para a glucose).

Reabsorção e secreção de péptidos e proteínas


Os dipéptido são co-transportados com o H+ e degradados internalmente. Os oligopéptidos são degradados
no lúmen e transportados pelos transportadores de a.a. As proteínas são absorvidas por transcitose para o
interstício ou por endocitose (degradação lisossomal).

Regulação do equilíbrio ácido-base


O pH é rigorosamente controlado no meio extracelular, intracelular e no sangue, pois tem influência na
estrutura terciária de proteínas, ácidos nucleicos e lípidos. O tamponamento das substâncias no organismo é
feita pelo também bicarbonato/CO2 e pelos tampões não bicarbonato que incluem o tampão fosfato,
proteínas séricas e hemoglobina.

O pH do sangue e por consequência nos tecidos é regulado pela taxa metabólica, pela respiração, pela
excreção renal de iões hidrogenocarbonato e amónia, pela metabolização dos iões amónia no fígado e pela
produção de ácidos orgânicos no metabolismo de a.a. A ingestão de alimentos ácidos ou básicos também
controla o pH do sangue.

Respiração e taxa metabólica

A ventilação é regulada pelo pCO2 do sangue (Quimiorreflexo central – resposta ao aumento da taxa
metabólica via CO2).

Quando o pH do sangue diminui:

• ↑pCO2 no sangue → ↑ eliminação alveolar de CO2


• ↑ Ventilação → ↑ eliminação alveolar de CO2
✓ Aumento do pH

Quando o pH do sangue aumenta:

• ↓pCO2 no sangue → ↓eliminação alveolar de CO2


• ↓ Ventilação → ↓ eliminação alveolar de CO2
✓ Diminuição do pH

Regulação ácido-base pelo rim


Fisiologia cardiovascular – Conceitos Básicos
Tipos de vasos:
Artérias: Conduzem sangue para longe do coração. Paredes grossas e
elásticas para suportarem a força do sangue que nelas passa.

Veias: Conduzem sangue para o coração “vem”. Têm paredes mais finas que
as artérias, com válvulas para impedir que o sangue circule para trás.
Armazenam mais sangue que as artérias.

O sangue venoso (pobre em oxigénio) sai do ventrículo direito para os


pulmões pelas artérias pulmonares (válvula do tronco pulmonar) que se
dividem em 2 ramos. Agora rico em oxigénio, o sangue arterial volta para a
aurícula esquerda pelas veias pulmonares (4). Depois, passa para o ventrículo
esquerdo pelas válvulas mitrais (bicúspide), e daí para todos os outros órgãos
através da artéria aorta (válvula aórtica). Após percorrer os órgãos, volta, já
venoso, pelas veias cavas inferior e superior para a aurícula direita e daí pela
válvula tricúspide para o ventrículo direito.

→ As válvulas na base das artérias (do tronco pulmonar e aórtica) também


são designadas válvulas semilunares.

Circulação sistémica: coração esquerdo --> órgãos –> coração direito.


Circulação pulmonar: coração direito –> pulmões –> coração esquerdo.
À saída do coração a pressão é maior que à entrada.

→ Regurgitação: ocorre quando uma válvula não fecha corretamente


(febre reumática, enfarte do miocárdio) por mau funcionamento dos
músculos papilares (que abrem e fecham as válvula).

Os órgãos com mais fluxo de sangue são o fígado e o músculo


esquelético. Em termos de % de consumo de oxigénio é o músculo
esquelético, o fígado e, depois, o cérebro.

O sangue é um tecido líquido. Biópsia líquida: análise a nível molecular de constituintes do sangue, por
biomarcadores indicadores de neoplasia ou exossomas indicadores de uma doença neurodegenerativa.

60% do corpo é água, 2/3 no meio intracelular e 1/3 no extracelular (fluido intersticial e plasma). O fluído
intersticial é aquele que é drenado pelos vasos linfáticos. Na componente dos plasma faz-se as análises
bioquímicas. A análise aos valores de glicémia dá-nos os níveis de glicose do sangue no instante. Se
procurarmos pela hemoglobina glicada, temos o reporte de 120 dias (3 meses) – tempo de vida dos eritrócitos.
No plasma também se pode avaliar a função renal – concentrações de ureia e creatinina.

A análise à função hepática faz-se através da bilirrubina, molécula que resulta da degradação de eritrócitos
no final de vida. Esta é responsável por dar cor castanha às fezes.
1. Células do sangue
Hematopoiese
A formação dos elementos figurados do sangue, que ocorre
na medula óssea (ossos esterno, ilíaco) e tem como percursor
comum uma célula estaminal multipotente. A partir desta, há
as linhagens linfoide/linfocítica (linfócitos e NK) e
mieloide/mielocítica (resto). Este processo é regulado por
citocinas como as interleucinas, fatores de crescimento e a
eritropoietina.

Interleucinas (IL): associadas ao processo de febre – resposta


adaptativa do organismo para com outros organismos
invasores, com a função de promover a desnaturação Figura 3: Heritrócitos – translucência central. Plaquetas –
proteica ao aumentar a temperatura – stress térmico. pequenas; basófilos – muito básicos/azuis. Monócitos menos
regulares especialmente quando transformados em macrófagos.
Leucócitos
Constituem o Leucograma (conjunto de todas as células brancas) e apresentam 2 subgrupos:

- Granulócitos: Fazem parte do sistema imunitário inato, apresentando


grânulos ou inclusões citoplasmáticas que incluem lisozimas, e ROS,
usados para atacar o organismo invasor – “guerra química”. Também
são chamadas células polimorfonucleares, porque durante o
desenvolvimento apresentam múltiplos lóbulos ou fragmentos no
núcleo. (Também nesta categoria há os monócitos, sem granulação,
grandes, que nos tecidos vão ser ativados e transformar-se em
macrófagos).

▪ Neutrófilos: Primeira linha de defesa contra bactérias, libertam ROS.


▪ Eosinófilos: Resposta a parasitas e reações alérgicas, asma e doenças autoimunes. Coram com um corante
ácido (eosina)
▪ Basófilos: Reações de hipersensibilidade, leucemia mieloide crónica. Coram com um corante básico
(hematoxilina) e podem diferenciar-se em mastócitos.

- Agranulócitos

▪ Monócitos: Residem nos tecidos, onde se diferenciam em macrófagos, aparecendo a seguir aos
neutrófilos no sítio da inflamação e têm longo tempo de vida. São células apresentadores de antigénios.
▪ Linfócitos: núcleo muito grande relativamente ao citoplasma. Os B maturam na medula óssea e os T no
timo (está atrofiado nos adultos, logo, maturam nos gânglios linfáticos).
https://www.youtube.com/watch?v=PzunOgYHeyg

Sistema linfático – vasos parecidos às veias com dilatações – gânglios – nestes,


células apresentadoras de antigénios permitem a maturação dos linfócitos B e T
em células efetoras (secretam citocinas ou matam microrganismos infetados) ou
de memória. Os linfócitos T têm anticorpos à sua superfície e reconhecem de
forma específica as células infetadas ou organismos patogénicos e promovem a
destruição celular, podem ser do tipo TCD4 (auxiliares) ou TCD8 (citotóxicas). Os
linfócitos B podem transformar-se plasmócitos (células que produzem e libertam
anticorpos que se ligam aos antigénios do patogénio para este não se poder ligar
a outras células, enquanto os marcam para destruição). Ao contrário dos
neutrófilos e macrófagos, estas células têm uma resposta específica/adaptativa.
Leucemia: neoplasia/cancro do sangue, que tipicamente é constituída por blastos, células percursoras
brancas. Pode ser linfoblástica (excesso de linfócitos) ou leucoblástica.

Eritrócitos
Células sem núcleo e biconcavas, associadas ao transporte de O2 através da hemoglobina que contém um
grupo heme (Fe). Têm 8 µm e um tempo de vida de 120 dias. Começam por ser reticulócitos (já sem núcleo),
pelo que atingem a forma final por ação da eritropoietina.

Hemograma: avaliação da concentração da hemoglobina no organismo.

Hematócrito: % de sangue que é de eritrócitos. Valores abaixo do normal – hemorragias, sangue difícil de
estancar; acima – trombos.

→ No feto, as cadeias β da hemoglobina são substituídas pelas α, ficando com mais afinidade para o oxigénio
que a mãe.

Plaquetas
Fragmentos celulares sem núcleo com origem em megacariócitos e com um tempo de semivida de 10 dias.
Estas células participam no processo de hemóstase/coagulação e são eliminadas no baço.

Hemostase: processo de controlo hemorrágico com ação local composto por plaquetas, células endoteliais,
células com fator tecidular (TF) e fatores de coagulação. A solução para a hemorragia consiste na formação de
complexos de moléculas de fibrina e plaquetas que originam trombos.

Fatores de Coagulação: A maioria é produzida pelo fígado. Fator XII- plaquetas; fator VIII – células endoteliais.
Os fatores II, VII, IX e X dependem do enzima hepático γ-carboxylase que depende da vitamina K. O
anticoagulante oral varfarina inibe a atividade da vitamina K e é usado em caso de AVC ou trombose. As
proteínas S e C também são anticoagulantes que dependem da vitamina K.

A hemóstase divide-se em:

▪ Primária: Vasoconstrição, adesão e ativação plaquetária no local


da lesão.
▪ Secundária: Ativação da cascata de coagulação (iniciação,
amplificação e propagação) pelo fator tecidular, que leva à
formação de fibrina polimerizada para reforço do coágulo formado
pelas plaquetas.
▪ Terciária: fibrinólise – processo mediado por plasmina que leva ao
corte das fibrinas do trombo formado.

→ A hemostase tem de ter controlos muito finos, porque a hemorragia tem de ser estancada, mas a passagem
de sangue não pode ser bloqueada (demasiada coagulação). A coagulação pode ser testada laboratorialmente
pelo Tempo de Prototrombina ou pelo Tempo de tromboplastina parcial ativada (aPTT).

→ A proteína em maior quantidade no sangue é a albumina – aumenta a concentração de sangue atraindo


água para o compartimento vascular. Edema: acumulação de água nos tecidos.
Discrasias sanguíneas (se calhar não sai…)
Alterações na qualidade do sangue e seus elementos.

Anemia: Baixa concentração de hemoglobina no sangue.


Tem várias causas possíveis e, dependendo do volume dos
eritrócitos, pode ser:

▪ Macrocítica: maiores que o normal.


▪ Microcítica: menores que o normal.
▪ Normocítica: tamanho próximo do normal.

Anisocitose: variação no tamanho das hemácias;


Poiquilocitose: variação na forma, p.e, esferocitose.

Eritrocitose: concentração elevada de hemoglobina no


sangue devido à produção elevada de eritropoietina
(fumadores, habitantes de locais de elevada altitude,
tumores).

Outras discrasias estão associadas ao aumento do nº de


determinados elementos no sangue: neutrófilos (neutrofilia/neutopenia), linfócitos (linfocitose/linfopenia)
ou plaquetas (trombocitose/ trombocitopenia). As discrasias hemorrágicas estão associadas a fatores de
coagulação.

Anemia ferropénica: Causada pelo aporte insuficiente de ferro (má dieta, má absorção), hemorragias
(menstruação, gravidez, úlceras…) ou por hemólise intravascular, eventos que geram falta de Ferro.

2. Coração – ECG
O coração encontra-se na região precordial, ligeiramente à esquerda.

As artérias coronárias direita e esquerda emergem da aorta e são


responsáveis por irrigar o miocárdio. A formação de um coágulo numa
destas artérias leva ao enfarte do miocárdio, que pode ser uma:

• Estenose - Bloqueio parcial, aperto


• Oclusão – Bloqueio total

O enfarte pode ocorrer devido a fibrilhação auricular: Neste, as aurículas


contraem de forma descoordenada, o que faz com que o sangue não seja
ejetado de modo conveniente, encontrando-se mais parado. Isto é muito
favorável à formação de trombos (plaquetas e fibrinas – hemóstase secundária), que podem desprender-se,
ir para o ventrículo esquerdo, e na base da aorta (imagem) passar para as artérias coronárias. Assim, a zona
afetada do miocárdio fica impedida de receber O2 e começa a morrer por hipoxia. Isto leva à perda da
capacidade de contração e o coração deixa de conseguir injetar a quantidade de sangue necessária através da
aorta (injeção normal: 50% ou mais), o que gera insuficiência cardíaca.

A causa mais frequente da estenose/oclusão é a aterosclerose a


nível das veias coronárias, uma lesão endotelial que evolui para uma
deposição de cristais de colesterol, em particular LDL, na camada
média das artérias. Ao longo do tempo, esta deposição e o processo
inflamatório associado causam a diminuição do lúmen do vaso, o
que impede a passagem do sangue (isquémia) e pode originar um
trombo. A aterosclerose pode ter como origem a hipercolesterolemia familiar, em que o fígado produz mais
colesterol que o normal. Fruto da exposição a hipertensão cronica, pode-se também ter uma progressiva
rigidez das artérias por calcificação.

→ 3 critérios para detetar o enfarte agudo do miocárdio:

• Aperto no peito com duração superior a 30 min


• Análise sanguíneas a marcadores moleculares que com a lesão do miocárdio, passam para a circulação
sanguínea, como a creatina cinase do miocárdio (fosforila a fosfocreatina – choque de açúcar na
célula) e as proteínas troponinas (T e I) envolvidas na atividade muscular encontram-se em circulação
quando há lesão cardíaca.
• Modificação do padrão elétrico do funcionamento do coração (ECG): Lesão do sistema de condução
de impulsos elétricos – cardionector – como uma onda de despolarização através do miocárdio
alterada – supras de ST no traçado eletrocardiográfico.

Contração e condução elétrica


Inicia-se no nodo sinoauricular (azul), um conjunto de
células na base da veia cava superior que emitem
constantemente e espontaneamente potenciais de ação,
porque na sua membrana existem canais iónicos
permeáveis, que deixam continuamente passar iões de
Ca2+ para o interior, mudando o estado de polarização da
membrana – sistema ‘pacemaker’/marcapasso. Estes
potenciais propagam-se ao longo das aurículas, permitindo
a sua contração e a consequente passagem de sangue para
os ventrículos. Depois, este sinal chega ao nodo
auriculoventricular (amarelo), onde fica retido por algum
tempo, porque como a estrutura é fibrosa, conduz pior o potencial, havendo um atraso entre a contração
das aurículas e a contração dos ventrículos que permite que ocorra a injeção do sangue todo para os
ventrículos, antes que estes ejetem o sangue para as artérias. De seguida, o sinal propaga-se através de fibras
especializadas – feixe de His e fibras de Purkinje que enervam o miocárdio, havendo contração dos ventrículos
(iniciada na região apical – de baixo para cima) e bombeamento de sangue para fora do coração. Segue-se a
relaxação dos ventrículos e o recomeço do ciclo.

Condução: nodo sinoauricular → nodo auriculoventricular → feixe de His →


fibras de Purkinje.

Para a elaboração de um eletrocardiograma, usam-se, tipicamente elétrodos


colocados a nível dos punhos e dos tornozelos, dos quais se tiram as derivações
Lead I, Lead II, Lead III e aVR, aVL e aVF. As outras 6 derivações retiram-se com
montagem sobre o tórax esquerdo - derivações precordiais (v1 – v6). O sinal para
o eletrocardiograma é medido de acordo com os eixos formados pela Lead 1 (da
esquerda para a direita) e a Lead aVF (de cima para baixo). Sinais com sentido
contrário ao indicado representam deflexões negativas no eletrocardiograma.
Como a gordura é pouco condutora, em pessoas obesas, é mais difícil fazer o
traçado eletrocardiográfico.
Eletrocardiograma (slides 5-7)

1- Onda P: Início do potencial de despolarização no nodo


sinoauricular com um vetor de campo elétrico da direita
para a esquerda (deflexão positiva) e com a consequente
despolarização nas aurículas que leva à contração;
2- Período isoelétrico: O potencial chega ao nodo
auriculoventricular, onde se dá um atraso na propagação
do potencial de ação causado pelo anel fibroso.
3- Onda Q: O sinal propaga-se até ao feixe de His, que se
divide em dois e há despolarização ao nível do septo.
Como o miocárdio do ventrículo esquerdo é mais
espesso1, o vetor elétrico é dirigido para a direita
(deflexão negativa) e, mais tarde, vira a sua direção de
baixo para cima (deflexão positiva – início da onda R).
4- Onda R: O sinal segue para a zona apical (ápex), num vetor
para a esquerda e para baixo, o que acentua a deflexão
positiva. 2
5- Onda S: O sinal chega às fibras de Purkinje, que sofrem
despolarização de baixo para cima (negativa) e da direita
para a esquerda (positiva). Assim, dá-se a contração dos
ventrículos e injeção do sangue para fora do coração.
6- Segue-se um plateau (não há atividade elétrica) que dá
tempo para a ejeção completa do sangue.
7- Onda T: Sinal correspondente à repolarização ventricular
(fim da sua contração) que se vai dar de cima para baixo
(positiva) e para a esquerda (positiva).
8- Período sem atividade elétrica para o reinício do ciclo.

→ O intervalo QRS está associado não só à despolarização


ventricular, mas também, à repolarização auricular.

→ A repolarização tem sentido oposto à despolarização para


impedir novos potenciais de ação.

→ No ventre materno existe comunicação interventricular –


buraco no qual o sangue passa do ventrículo direito para o
esquerdo – o bebé vai buscar sangue oxigenado à mãe. Mas
este septo encerra depois do nascimento, e as 2 artérias e veia
umbilicais colapsam.

Sincício: células gigantes no coração por onde passam os


potenciais elétricos.

1
O miocárdio do coração esquerdo é mais forte porque tem de bombear para o corpo todo. O miocárdio direito é mais
deformável, pois armazena mais sangue, estando preparado para receber quantidades variáveis de sangue venoso.
2
Se uma onda R terminar abruptamente ou for negativa, significa que o miocárdio esquerdo não está a conduzir bem, a
descendente anterior poderá estar ocluída.
O ciclo cardíaco pode ser dividido em duas partes:

▪ Sístole - Ocorre durante a contração dos ventrículos e corresponde a 2/3 do ciclo cardíaco. Inicia-se o
fecho das válvulas auriculoventriculares (mitral e tricúspide), que é causado pela pressão que o sangue,
que está nos ventrículos, exerce sobre estas. Esta pressão tem efeito contrário nas válvulas semilunares,
que abrem e permitem a saída do sangue.
▪ Diástole – ocorre quando o coração se encontra relaxado e com menos sangue que os vasos, o que leva
ao fecho das válvulas semilunares (pulmonar e aórtica). Por outro lado, a pressão exercida pelo sangue
que vem do exterior abra as válvulas auriculoventriculares havendo entrada de sangue para os ventrículos.
https://www.youtube.com/watch?v=jLTdgrhpDCg

Relação ciclo cardíaco – sons cardíacos


O fecho das válvulas ao longo do ciclo cardíaco é
responsável pelos sons cardíacos.

O primeiro som (S1) ouve-se devido ao fecho das


válvulas auriculoventriculares, ou seja, quando
ocorre o início da sístole. O segundo som (S2)
ocorre com o fecho das válvulas semilunares, ou
seja, no início da diástole.

Relação ciclo cardíaco – ECG

Relativamente ao ECG, a sístole começa após a


onda R, detetada quando, por contração, o sangue
passou totalmente das aurículas para os
ventrículos, o que está em concordância com o
fecho das válvulas auriculoventriculares.

A diástole ocorre após a onda T, ou seja, após a


repolarização dos ventrículos e seu consequente
relaxamento. Após este período, mais sangue vem
para o coração e passa das aurículas para os
ventrículos, por contração (onda P) e com a
abertura das válvulas auriculoventriculares.

Relação pressão – volume nos ventrículos

Com o fecho das válvulas auriculoventriculares (1º som), todo o sangue


se encontra nos ventrículos, logo têm-se o volume ventricular máximo.
De seguida, inicia-se a contração dos ventrículos que faz com que, por
aumento de pressão as válvulas semilunares se abram e o sangue seja
ejetado pelas artérias. Durante esta ejeção, o sangue atinge a pressão
máxima. Com a pressão elevada do sangue, já nas artérias, as
semilunares fecham (2º som) e os ventrículos atingem o volume mínimo
de sangue o que causa uma diminuição na pressão. De seguida, há,
novamente, a entrada de sangue para o coração e a sua passagem das
aurículas para os ventrículos e o fecho das válvulas auriculoventriculares
pelo aumento de volume de sangue nos ventrículos. O ciclo repete-se.
O ritmo característico do eletrocardiograma é sinusal (controlado pelo nódulo sinoauricular). Sempre que se
observar uma onda P, sabe-se que há ritmo sinusal.

Se o ritmo cardíaco aumentar, diminui o segmento/intervalo ST


e intervalo QT. O intervalo QRS e a duração da onda P são
constantes. Se for numa situação adaptativa, em que o ritmo é
maior, há menor tempo para sístole e contração do miocárdio
(R) – sístole ventricular.

Fibrilhação ventricular: ritmo imposto à contração ventricular


superior ao ritmo sinusal → O coração mal tem tempo de relaxar
e encher o ventrículo com sangue (diástole). Assim, o sangue
não flui ao nível do coração e pode acumular-se ao nível dos
pulmões – desfibrilhadores.

A despolarização e a repolarização contínuas ocorrem a uma determinada frequência: 70-80 bpm. Abaixo dos
50, o coração encontra-se em bradicardia e acima dos 100 em taquicardia. Como determinar a frequência
cardíaca? – intervalo de tempo entre 2 ondas R seguidas (intervalo de R-R), que corresponde a um ciclo
cardíaco completo. Pode-se fazer a média de vários ciclos.

→ Os atletas têm hipertrofia (mais músculo cardíaco), o que faz com que o seu coração injete mais sangue,
precisando de bater menos vezes – frequência cardíaca menor. As crianças têm uma frequência cardíaca maior
que a dum adulto, por terem necessidades metabólicas mais exigentes, o que faz com que o início da onda P
e do complexo QRS sejam menores.

A frequência cardíaca pode ser medida pelo pulso radial (no seguimento do
polegar) ou o pulso carotídeo (pescoço). Na artéria carótida/primitiva, que
divide em carótida externa e interna, há um corpo carotídeo no local da
bifurcação. Este tem barorrecetores que, quando a pressão é elevada, enviam
um sinal para o tronco encefálico, que envia um sinal para o nodo sinoauricular
de que a pressão está elevada, o que resulta na diminuição da frequência
cardíaca. Assim, o sangue não é ejetado pelo ventrículo e a pessoa desmaia
(síncope), o que pode resultar num traumatismo craniano. A pressão neste local
(ex. lâmina de barbear) pode originar esta situação.

Para a irrigação dos órgãos, costumam existir uma ou duas veias, uma artéria e
um vaso linfático. Os vasos linfáticos também possuem válvulas cujo
movimento é por pressão e compressão muscular.

As células tumorais também podem migrar através dos gânglios linfáticos e


ficar lá alojados. A drenagem torácica pode explicar onde existem metástases.
O torácico esquerdo drena da parte a azul (imagem) e o direito, drena da parte
amarela. Estes ductos vão depois drenar nas veias subclávias que encaminham
o material para o sistema venoso, para a nível capilar ir
para os diferentes órgãos (circuito fechado). A mama
pode drenar para o cérebro, podendo haver aí metástases
cerebrais do cancro, ou para fígado, pulmões ou ossos.
Algumas vão também circulam no sangue. Numa situação
de tumor, os gânglios costumam estar rígidos.
Cauda de Spence – extensão do tecido da glândula mamária até à axila. Em caso
de tumor maligno, exclui-se toda a glândula mamaria por cirurgia, o que resulta
num linfedema no braço correspondente à mama operada (líquido acumulado no
braço).

3. Vaso sanguíneos
Artérias vs. Veias
Tanto as veias como as artérias possuem uma camada externa, uma
camada média constituída por músculo liso (ajuda à circulação,
comprimindo ou dilatando consoante a pressão) e uma fina camada de
endotélio que delimita o lúmen (entre outros).

As artérias são mais flexíveis e elásticas e têm uma camada média mais
espessa que a da veia, pois suportam o sangue que vem do coração a
alta pressão. A camada média das veias já é menor, pois o sangue que
nelas flui tem menor pressão. Estas comprimem para o sangue voltar
para o coração e têm válvulas para este não voltar para trás.

Nota: as varizes ocorrem quando as válvulas não funcionam bem, o que causa a dilatação das veias, que se
tornam mais visíveis. Assim, o sangue fica mais parado, favorecendo a formação de trombos.

Nota: As artérias também são irrigadas por vasos (vasos dos vasos) – vasa vasorum.

Normalmente, o fluxo de sangue nos vasos é laminar. No entanto, na raiz da aorta


é turbulento, porque a pressão do sangue acabado de sair do coração é muito alta.
Com esta exceção, só há fluxo turbulento em situação de doença (ex.
aterosclerose).

Os capilares são tao grandes ou menores que os eritrócitos e têm apenas endotélio, para facilitar as trocas.
No caso da anemia falciforme, o eritrócito vai ter o citoesqueleto alterado (forma de foice). Assim, o eritrócito
não consegue passar o capilar, gerando isquemia (falta de fluxo sanguíneo). A administração de hidroxiureia
potencia a expressão de hemoglobina γ, para resolver o problema.

Artéria > Arteríola > Capilar < Vénula < Veia

Menor volume/dimensão → Maior resistência à passagem do sangue (menor velocidade) → Maior pressão

Pressão arterial
Pressão que as moléculas do sangue exercem nas paredes interiores dos vasos (variação da velocidade das
moléculas por área de superfície). Divide-se em sistólica e diastólica, sendo a primeira geralmente maior que
a segunda (sístole – maior pressão). Quando os valores estão elevados, há hipertensão e trata-se com
fármacos inibidores do enzima conversor da angiotensina3 ou antagonistas dos recetores da angiotensina. A
hipertensão pode ser sensível/idiopática (não se sabe a causa) ou pode ser devida a alterações no sistema
angiotensina-renina, displasia renal ou a um feocromocitoma (tumor das suprarrenais que emite adrenalina a
mais).

3
Molécula responsável por fazer contrair as paredes das artérias, levando ao aumento da pressão arterial.
A hipertensão pode levar ao desenvolvimento de arteriolosclerose, ou seja, rigidez das arteríolas. Esta pode
ser hialina (formam-se fibras de hialina, que levam ao estreitamento do lúmen) ou hiperplástica.

De um caso de hipertensão cronica, pode gerar-se insuficiência renal ou insuficiência da retina – há spots de
algodão (mais visíveis numa retina diabética) e distensão muscular.

Figura 6: Trombose venosa


Figura 4: Retina de um diabético com profunda detetada por exame de
spots de algodão. Eco-Doppler. Figura 5: Imagem de tomografia – aorta
calcificada e bloqueada. Cinzento mais
escuro do vão – falso aneurisma, onde fica
acumulado sangue.

A artéria aorta tem 3 emergências: à direita o tronco bronquioencefálico e à esquerda a


carótida primitiva e a subclávia esquerda. As artérias que irrigam espinal medula
também vêm da aorta. A carótida interna (3) divide-se em três ramos, de modo que
todos irrigam o cérebro. Assim, no cérebro como em outros lugares mais característicos
existe uma redundância na irrigação, para proteção.

O líquido cefalorraquidiano – tecido líquido, de composição semelhante ao plasma,


rico em glucose, mas com pouca proteína, sem eritrócitos e sem plaquetas. Função
nutricional e proteção (a cavilha de água do líquido cefalorraquidiano minora possíveis
lesões cerebrais). Acumula-se nos 3º e 4º ventrículo de onde sai através dos
forâmenes, irrigando todo o SNS, incluindo a espinal medula.
4. Regulação cardiovascular pelo SNA
O sistema nervoso autónomo (simpático e parassimpático) tem um papel importante
na regulação de processos corporais em função de um fator ambiental. Por exemplo,
o nodo sinoauricular funciona de forma autónoma, porque temos líquenes nos canais
iónicos que fazem com que o potencial de membrana vá despolarizando. No entanto,
numa situação de fight-or-flight a adaptação da atividade faz-se através do nervos do
SNA, um deles, o nervo simpático (alerta) de onde a perceção chega a partir de
emergências da espinal medula ou o parassimpático (calma) cuja perceção chega pelo
nervo vago.

A nível vascular, a comunicação é apenas simpática e vai, p.e., regular a contratilidade


do coração e o lúmen vascular. Situação de alerta: tenho de regular o aporte
de sangue ao tecido músculo-esquelético. A regulação pode ser miogénica (a
nível da musculatura lisa das artérias) ou endotelial.

A nível endotelial, perante um processo inflamatório que liberta, p.e.,


histaminas e acetilcolina, há a produção de óxido nítrico com propriedades
vasodilatadoras. Isto também acontece em situação de shear stress (stress
mecânico) no qual há libertação de prostaciclinas (prostaglandinas). Já o ANP
(péptido natriurético atrial) é libertado diretamente no músculo.

Numa situação de pressão arterial baixa, pode haver produção da hormona antidiurética (vasopressina) que
leva à contração do músculo liso, diminuindo o lúmen e aumentando a pressão arterial. A nível endotelial, a
trombina e as citocinas também potenciam a contração da musculatura lisa. A angiotensina I também é
convertida em angiotensina II no endotélio, que tem o mesmo efeito, diminuindo o lúmen vascular.

O péptido natriurético cerebral (BNP) também é produzido


no músculo cardíaco e juntamente com o ANP leva à
diminuição da produção de renina, o que leva a diminuição
da produção de angiotensina II e aldosterona. Isto aumenta
a taxa de filtração glomerular, promovendo a diurese e a
natriurese – perda de H2O e de Na+ – diminui o volume do
sangue e da pressão arterial.

Deste modo, a diminuição da pressão sanguínea pode ser


conseguida através da vasodilatação e, também da
diminuição do volume de sangue. Também pode ser
diminuída, diminuindo a frequência cardíaca.

Nos capilares promove-se a troca de nutrientes, que ocorre devido a uma difusão passiva e outra uma difusão
osmótica. O gradiente osmótico é suficiente de modo a manter a água no vaso, mas queremos permitir que
outras substâncias possam passar para o meio extracelular, para as células. Diferenças de pressão nos vasos
explicam os movimentos das moléculas de e para os diferentes compartimentos, quer meios celulares quer
nos vasos linfáticos.

Ao contrário do restante corpo, o cérebro tem um processo de autorregulação. Independentemente da


pressão arterial, tenta manter o fluxo constante. Para além da fosfocreatina (rápido) não tem reservas de
energia, usando apenas glicose e oxigénio, logo, precisa de um aporte constante. Quando abro e fecho a mão,
existe maior solicitação da área motora, havendo vasodilatação local, com maior aporte de sangue oxigenado.
Assim, pode-se usar a ressonância magnética para obter mapas de atividade, através de grupos de neurónios
com uma assinatura do uso do oxigénio. Através da medição dos consumos energéticos, consegue-se inferir o
consumo de alguma droga/fármaco.

O rim mantém normalmente a autorregulação, mas os nervos do sistema nervoso simpático diminuem o fluxo
de sangue no rim, para quando há uma situação de fuga não termos de urinar. Assim, a glândula hipofisária
produz ADH que vai diminuir a taxa de filtração glomerular tentando manter o máximo volume possível.

A comunicação parassimpática via nervo vago é feita através de acetilcolina. Já o principal neurotransmissor
simpático é a noradrenalina, produzida pela suprarrenal.

Assim, a adaptação do SNA a nível do coração faz-se através do sistema renina-angiotensina-aldosterona e


ocorre nos cérebro, rins, suprarrenais, coração e pulmões. Por exemplo, este sistema controla a
excreção/eliminação de Na+ (natriurese) e H2O, ou seja, controla a diurese (produção de urina), que influencia
diretamente a pressão e volume de sangue. É importante considerar que na eliminação de Na+, está implicada
a eliminação de água.

Volume de sangue e pressão diminuídos:

• Ativação a nível do hipotálamo da sensação de sede, que leva a consumir água, levando ao aumento do
volume do plasma (sangue);
• Produção de ADH, que diminui a taxa de filtração
glomerular;
• Aumento da atividade simpática, que vai reduzir a
eliminação de sódio (logo, a eliminação de água) e vai
estimular a secreção de renina, que ativa a angiotensina
1, convertida em angiotensina 2 que vai diminuir da
natriurese e estimular a produção de aldosterona
(também diminui a natriurese).

→ Este conjunto de fatores leva ao aumento do volume


sanguíneo e diminui a pressão.

Volume de sangue e pressão aumentados:

• Diminui a produção de ADH, o que resulta no aumento


da taxa de filtração glomerular;
• Diminui a atividade simpática, que leva à diminuição da
produção de renina, logo de angiotensina e aldosterona;
• A produção de ANP também diminui a aldosterona e aumenta a eliminação de Na+ e água, diminuindo a
pressão e volume do sangue.

Em situações de hipertensão, usam-se como fármacos, inibidores da angiotensina II para diminuir a pressão
arterial. A angiotensina 2 também atua a nível cerebral, para a produção de hormonas de antidiuréticas. A
nível suprarrenal, regula a aldosterona, que diminui a natriurese.
Sistema Gastrointestinal
Estrutura altamente especializada que permite o processamento
da comida de modo a poder ser utilizada como fonte energética
pelas células.

Funções:

▪ Mobilidade – ingestão, mastigação, deglutição,


movimentos peristálticos (unidirecionais) e contrações de
segmentação (diferentes direções).
▪ Secreção – exócrina e endócrina
▪ Digestão
▪ Absorção
▪ Reserva (temporária) e eliminação
▪ Barreira imunológica

Composição:

✓ Trato gastrointestinal
✓ Órgãos digestivos acessórios (glândulas salivares, língua, dentes, fígado, vesícula biliar e pâncreas).

Trato Gastrointestinal
O trato gastrointestinal, do esófago ao ânus, é revestido por 4 camadas/túnicas:

• Muscosa: 2 funções - Absorção (epitélio e camada


muscular da mucosa) e secreção (células mucosas e
células goblet/calciformes).

• Submucosa: Tem 3 funções principais – suporte (tecido


conjuntivo), vascularização (vasos sanguíneos e linfáticos)
e inervação ( para a contração do músculo da mucosa).

• Muscular: Contração a nível das camadas de músculo liso longitudinal e circular. O plexus de Auerbach
inerva estas duas camadas musculares.

• Serosa: Função de proteção/revestimento (tecido conjuntivo aoreolar e epitélio conjuntivo escamoso).

Órgãos:
- O esófago é uma estrutura tubular que liga a faringe ao estômago.

- O estômago é um órgão com grande capacidade de distensão e com importantes funções ao nível do
armazenamento de alimentos, iniciação da digestão, eliminação de microrganismos (pH ácido),
movimentação dos alimentos para o intestino (o que ocorre na forma de uma mistura designada quimo) e
com um pequeno papel na absorção (álcool e alguns fármacos solúveis em líquidos). Tem:

1. Células mucosas do colo – mais próximas da superfície do epitélio, contêm muco que protege contra
o pH ácido.
2. Células parietais – produção de HCl e do fator intrínseco que permite a absorção de vitamina B12.
3. Células zimogénicas – Produzem pepsinogénio, pré-enzima quer vai ser clivado a pH ácido e
convertido a pepsina, relacionada com a degradação de proteínas. Também produzem lipase gástrica,
que está envolvida na digestão dos lípidos.
4. Células entero-endócrinas – vários subtipos que permitem a regulação da digestão a nível do
estômago:
- Enterocromafins (EC) – produção serotonina
- Tipo enterocromafins (ECL) – produção de histamina.
- Células G (gastrina)
- Células D (somastatina)
- Células P/D1 ou A (grelina)

→ Conjunto das secreções gástricas e a grande quantidade de água no estômago: suco gástrico.

Regulação das Secreções Gástricas:

• Extrínseca: Nervos parassimpáticos do sistema nervoso autónomo (nervo vago), estimulam a


mobilidade (plexos com ligação às camadas musculares) e secreção, e nervos simpáticos reduzem
movimentos peristálticos e secreção.
• Intrínseca: sistema nervoso entérico - neurónios sensores intrínsecos, em que o corpo celular está
localizado nas paredes do tubo digestivo: papel importante na regulação hormonal local, regulação
estrita com o sistema nervoso simpático e parassimpático.

O sistema nervoso entérico atua de forma independente do SNC, mas em contacto próximo com o
parassimpático e o simpático. É responsável pela motilidade, regulação das secreções exócrinas e endócrinas,
microcirculação do sistema gastrointestinal e regulação de processos imunológicos e inflamatórios.

→ A secreção ao nível do estômago não é contínua e é coordenada com a ingestão de comida.

A secreção de HCl é estimulada por acetilcolina, histamina e gastrina que atuam sobre a mesma célula
parietal:

• Acetilcolina: comunicação ao nível do SNC – regulação nervosa


• Histamina: produzida pelas células ECL que têm ação parácrina
nas células parietais
• Gastrina: produzida pelas células G, faz a regulação hormonal.

Há ainda uma troca de bicarbonato (tamponisa o pH do sangue) por


um ião cloreto que, por difusão facilitada é libertado para o lúmen do
estômago levando à produção de HCL.

As células D produzem somastatina que vai ter o efeito oposto, atuando diretamente nas células G e inibindo
a produção de gastrina. Um pH demasiado ácido também inibe a produção de HCl.

Fases da regulação:
1. Fase cefálica: estimulação do núcleo do nervo vago no cérebro após cheirar, ver ou saborear comida,
dando início ao processo digestivo de salivação e estimulação das células parietais.
2. Fase gástrica: A presença de comida (aminoácidos, peptidos) no estômago estimula o nervo vago
que, por sua vez, promove a secreção de ácido a nível do estômago.
3. Fase intestinal: Quando entra no duodeno, o quimo inibe as secreções gástricas, porque há a
sinalização de que a comida passou para um órgão diferente, logo não há necessidade de haver os
enzimas no estômago.

Há uma regulação adicional mediada por:

• Serotonina: As células EC produzem 5-HT, um precursor da serotonina, que regula ao nível da mucosa
para estimular a absorção e a secreção, ou dos neurónios que promovem movimentos peristálticos.
A regulação enteroendócrina existe não só no estomago, como também nos intestinos.
• Grelina: Quando acabamos de comer, ingerimos glucose, que entra no sangue. Mas, se estivermos
numa fase de jejum, a grelina atua como hormona sensora, indicando que não existem alimentos no
estômago ao SNC, que estimula a produção de glucose no fígado, para a concentração de glucose
sanguínea ser mantida.

- O Intestino delgado é especializado na digestão (completa o estômago) e absorção, o que é potenciado pela
presença de vilosidades e microvilosidades. Este tem a região do duodeno que comunica diretamente com o
estômago, a região do jejuno e a região do íleo que comunica com o intestino grosso. Há duas glândulas muito
importantes na digestão dos alimentos, que comunicam diretamente com o intestino delgado:

• Vesícula Biliar, através do ducto biliar comum


• Parte exócrina do pâncreas, através do ducto
pancreático

Células do intestino delgado:

1. Células goblet ou caliciformes – produção de muco, que evita que as bactérias do nosso intestino entrem
em contacto diretamente com as células, o que poderia ser prejudicial.
2. Enterócitos – absorção e digestão. Possuem nas suas membranas (ao invés de serem secretados) enzimas
que degradam dissacáridos em monossacáridos (sucrase, maltase e lactase) permitindo a digestão final.
Também possuem peptidases e fosfatases.
3. Células entero-endócrinas – regulação hormonal.
4. Células de Paneth – importante ação antimicrobiana.
5. Células estaminais – reposição de células no intestino. As células do intestino são muito desgastadas,
então, no fundo das microvilosidades há células estaminais que regeneram o epitélio.

- Intestino grosso: Absorção de água, eletrólitos e algumas vitaminas. Também conduz o que não foi
digerido/absorvido para ser excretado. Células:

1. Células goblet ou calciformes – Produção de muco. Enquanto que no intestino delgado há apenas
uma camada de muco, no grosso há duas.
2. Colonócitos – absorção
3. Células entero-endócrinas – regulação hormonal
4. Células de Paneth – ação antimicrobiana
5. Células estaminais – reposição de células no intestino

O intestino grosso é alvo de grande atividade bacteriana que é essencial ao metabolismo de alguns compostos,
em particular glícidos. As bactérias comensais que residem no intestino, fazem parte de uma comunidade de
microrganismos que desempenham um papel fundamental na manutenção da homeostase (isto é a
manutenção de um ambiente interno estável), a microbiota intestinal.

Probióticos: expulsam as bactérias que causam efeitos mais nefastos.

Órgãos digestivos acessórios – glândulas anexas

- Fígado: Órgão central no metabolismo e na destoxificação. O fígado é maioritariamente constituído por um


tipo específico de células, os hepatócitos. Para além destas células, estão presentes células endoteliais
(evolvem os vasos que irrigam o fígado), células de Kupffer (tipo especializado de macrófagos residentes) e
células estreladas hepáticas (armazenamento de vitamina A e reparação).

No vértice de cada um dos lóbulos do fígado existe um conjunto com 3 vasos (tríade
portal): ramificação da veia porta, ramificação da artéria hepática e ducto biliar.

Categorias funcionais do fígado:

• Destoxificação do sangue - As células de Kupffer que fagocitam estes organismos invasores; Ação de
hepatócitos que convertem e fazem destoxificação de tóxicos; produção de ureia, ácido úrico e
moléculas menos tóxicas que os seus percursores; excreção de moléculas na bílis.
• Metabolismo de hidratos de carbono, lípidos e proteínas;
• Secreção de bílis, que sai através do ducto biliar comum e é armazenada na vesícula biliar até ser
libertada. Ajuda à digestão de lípidos através de seus sais e também a uma parte da sua excreção.

Os hepatócitos apresentam grande capacidade de divisão, têm funções chave no metabolismo; têm um papel
no sistema imune inato, na destoxificação e produzem bílis.

Na circulação entero-hepática: muitos dos componentes excretados pela bílis


vão ser reabsorvidos através do epitélio intestinal e chegam novamente ao
fígado via veia porta. Por exemplo, uma grande percentagem dos ácidos
biliares e colesterol são reabsorvidos por este sistema.

Contrariamente, no caso da bilirrubina não há circulação entero-hepática


porque tem como destino único ser excretada do organismo. Esta molécula é
um produto de excreção aquando da renovação de glóbulos vermelhos. Os glóbulos vermelhos podem sofrer
hemólise, libertam-se vários compostos, como a hemoglobina. Como ter hemoglobina (consequentemente,
ferro) livre no sangue não é o ideal, esta tem de sofrer reciclagem dos seus componentes, nomeadamente o
hemo. O ferro, átomo central da protoporfirina, vai ser reciclado na medula óssea, integrando novas moléculas
de hemo. Desta desintegração de hemos também resultam biliverdina (convertida a bilirrubina, que como é
tóxica que ser rapidamente conjugada e excretada nas fezes) e monóxido de carbono (logo excretado pela
respiração).

Os níveis de bilirrubina são bons indicadores para determinadas doenças. Na anemia falciforme há hemólise
excessiva: muitos glóbulos vermelhos, que têm de ser destruídos e que geram muita bilirrubina. Na síndrome
de Crigler-Najjar há mutações na enzima necessária à conjugação da bilirrubina. Quado há muita bilirrubina
no sangue, fica-se com um aspeto dos olhos e pele amarelo – Icterícia.
Outros compostos destoxificados a nível do fígado: A amónia (NH4+), muito tóxica, é convertida em ureia a
nível do fígado. Várias purinas tóxicas são convertidas em ácido úrico. Os produtos formados são, depois,
excretados nos rins.

- Vesícula biliar – estrutura em forma de saco que está fisicamente


associada ao fígado, sendo o órgão que concentra e armazena a bílis. A bílis
é um fluído amarelo que contém, entre outros, sais biliares, bilirrubina e
colesterol.

As contrações da camada muscular do trato intestinal levam à libertação


da bílis via ducto cístico para o ducto biliar comum que a liberta para o
duodeno. Na ausência de alimentos no intestino, como não há contrações,
o esfíncter que liga o ducto ao duodeno está fechado. Assim, a produção
de bílis é continua, mas sua libertação para o intestino não.

- Pâncreas - Tem funções:

• Endócrinas: Os Ilhéus de Langerhans secretam insulina e glucagina para


o sangue (regulação global hormonal).
• Exócrinas: As unidades secretoras, ácinos pancreáticos, permitem a
secreção de suco pancreático que irá comunicar com o duodeno.

O suco pancreático contém cerca de 20 digestivos, é por isso que no intestino


ocorre maior parte da digestão. Também contém bicarbonato que neutraliza a
acidez que vem do estômago.

Ao contrário do estômago, no pâncreas, o ião cloreto é transportado para o


interior das células, enquanto o bicarbonato é secretado para o suco pancreático.

No intestino delgado faz-se a digestão completa dos alimentos, pelo suco


pancreático e enzimas da zona apical dos enterócitos. Estes enzimas nas
microvilosidades vão ser importantes para ativar os enzimas do suco
pancreático que são secretados muitos deles na forma de zimogénios (inativos).

Por exemplo, há um enzima libertado sob a forma de tripsinogénio, um


zimogénio, mas por ação dos enzimas do epitélio do duodeno passa para a forma de tripsinogénio, que ativo,
cliva os outros enzimas do zuco pancreático tornando-os ativos.

Tabela: ao nível do sistema digestivo, existem vários enzimas e sucos digestivos:

• Glândulas salivares: produzem α-amílase, muito importante no início da digestão do amido. Na boca
conseguimos absorver logo parte de alguns compostos.
• Glândulas gástricas: HCl, pepsina (secretada como pepsinogénio - inativo) e também lipase gástrica.
• Duodeno: suco intestinal
• Vesícula biliar: parte exócrina do pâncreas (suco pancreático).
• Intestino: enzimas nas microvilosidades que permitem completar a digestão feita no intestino.
Regulação Neuronal e Endócrina
O sistema nervoso entérico (SNE) é característico do sistema
intestinal e atua de forma independente do sistema nervoso
central. Os neurónios que fazem parte do SNE têm o próprio
corpo celular ao longo do trato gastrointestinal e não apenas
na zona do SNC (medula ou cérebro). Responsável por
motilidade, regulação das secreções endócrinas e exócrinas,
microcirculação do sistema gastrointestinal e regulação de
processos imunológicos e inflamatórios. Mucosa, submucosa
onde há vários plexos (células nervosas, neurónios) há
neurónios motores, mas, também, neurónios sensores.

A nível do sistema nervoso entérico há controlo por algumas hormonas, que vêm da corrente sanguínea ou
por ação parácrina e regulam as secreções do sistema digestivo.

Nas camadas do trato intestinal, principalmente na submucosa e nas musculares há plexos nervosos (redes
de neurónios) importantes na contração do músculo liso para permitir movimentos peristálticos para o
movimento da comida. O seu corpo celular encontra-se a nível do próprio trato gastrointestinal.

Sumarizando, a regulação neuronal começa com o bolo alimentar que vai


estimular os neurónios sensores, que vão, por sua vez, promover a ativação
dos neurónios motores. No percurso do bolo alimentar ao longo do esófago,
a parte muscular anterior ao bolo alimentar sofre contração pela ação da
acetilcolina. Na parte posterior ao bolo alimentar, os músculos têm de estar
relaxados, para este poder passar, o que é controlado pelo óxido nítrico e o
ATP.

Fase cefálica: estímulo ao ver ou cheirar o alimento com a ativação do sistema.

Fase gástrica: regulação apertada entre a acetilcolina, histamina e gastrina que


permitem a produção de HCl. A ação da gastrina é inibida se o pH for muito
ácido. Há várias células específicas. Vários tipos de células. Células EC:
responsáveis pela produção de serotonina que contribui para uma regulação mis sistémica. Chegada do quimo
e entrada no intestino ativa muitas das regulações hormonais a nível do intestino. A ação da gastrina é inibida
se o pH se tornar muito ácido. A gastrina localiza-se maioritariamente no estomago ou no duodeno, para
regular a produção de ácido clorídrico.

A fase intestinal da regulação gástrica inicia-se logo que os alimentos chegam ao duodeno. Esta fase é
controlada por hormonas que levam ao reflexo enterogástrico, i.e., à inibição da função gástrica:

• Péptido inibidor gástrico (GIP) produzido pelas células K;


• A somastatina bloqueia a ação gástrica.
• A colecistocinina (CCK) é importante na zona intestinal do intestino.
• Péptido semelhante à glucagina 1 (GLP-1)

A regulação intestinal pode ser feita diretamente através do sistema nervoso entérico ou haver regulação
parácrina. Da regulação parácrina do intestino fazem parte:

• Células ECL - produzem a serotonina (5-HT) e a motilina que promove a contração do intestino e
consequente deslocação do quimo.
• As células da mucosa intestinal produzem guanilina que promove a regulação dos fluidos.
Diarreia: Ocorre quando a regulação não é a ideal. Os enterócitos regulam vários compostos e há as células
goblet cuja função é a produção de muco. A produção de guanilina por parte das células e existem patogénios
que têm toxinas cuja estrutura é semelhante à guanilina e que vao ligar-se a esses recetores. Quando estes
patogénios crescem, há muitas enterotoxinas que se vão ligar a este recetor e estimular a produção de muco
–> perda excessiva de fluídos durante a diarreia.

A guanilina regula a produção de muco. Quando se ligam aos recetores estimula a produção de muco, daí a
perda de fluidos aquando da diarreia.

A regulação intestinal pode ser feita diretamente através do sistema nervoso entérico ou haver regulação
parácrina.

A regulação da secreção pancreática é estimulada por três fatores: pela acetilcolina, a CCK (na presença de
lípidos e proteínas) e a secretina (quando o pH é inferior a 4.5 – entrada do quimo proveniente do estomago,
onde há um pH muito mais baixo).

As células I produzem CCK.

Regulação vai via nervo vago e libertação de ACh que vai estimular a produção e secreção destes compostos
a nível de líquido e água e secretar enzimas. As células que produzem CCK são ativadas pela presença de lípidos
e proteínas e o pH baixa a libertação de secretina.

A presença de nutrientes é importante para a secreção de suco pancreático.

A secreção de bílis é estimulada pela presença de ácidos biliares no fígado e da ação da CCK. O aumento da
acidez pela secretina também atua de modo semelhante ao que acontece ao nível do pâncreas e também a
presença de lípidos e gordura. Os sais biliares também vão ser importantes para a emulsificação das gorduras.

Tabela sumário – tipo de tecido, efeitos fisiológicos necessários para a libertação das secreções e ação da CCK
nesta regulação.
Digestão
A digestão ocorre ao longo do trato gastrointestinal através da presença de sucos e enzimas especializados.

Absorção
Transferência de nutrientes para a corrente sanguínea de modo a chegarem a todas as células e tecidos. O
intestino delgado é um local muito importante na absorção das principais macromoléculas. A existência de
vilosidades permite o grande aumento da área de absorção.

Absorção dos hidratos de carbono

São hidrolisados por ação de vários enzimas (amílase, sucrase, lactase e maltase) até serem gerados
monossacáridos. Depois, são absorvidos através da membrana apical dos enterócitos por difusão facilitada.
Outros polissacáridos que não o amido, são digeridos ao nível do intestino grosso e convertidos em acetato,
prorpionato e butirato, graças à ação da microbiota.

Absorção das proteínas

A sua digestão é iniciada no estômago por ação da pepsina, sendo que a maior parte ocorre no duodeno e
jejuno por ação da tripsina, quimiotripsina e elastase (endopeptidases) e carboxipeptidase (exopeptidase),
sendo finalizada por ação de enzimas localizadas na membrana apical ou no citoplasma dos enterócitos. Já na
forma de aminoácidos individuais, ou di- ou tripéptidos, são transportadas através de transportadores
especializados para o interior dos enterócitos.

Absorção de lípidos

Primeiro, dá-se a ação da lipase gástrica. Depois, a chegada de gordura ao


duodeno leva à libertação de bílis e consequente emulsificação dos
lípidos pelos sais biliares, levando à formação de micelas, sobre as quais
atua a lipase pancreática.

Ácidos gordos, monoacilgliceróis e colesterol são absorvidos nos


enterócitos através de transportadores presentes na membrana apical.
No interior dos enterócitos, os triacilgliceróis formados e colesterol
formam complexos com fosfolípidos e proteínas, designados quilomicra.

Ao contrário dos hidratos de carbono e aminoácidos, no caso dos lípidos,


os quilomicra são transportados para vasos linfáticos (também
designados quilíferos) e daí para a corrente sanguínea. A exceção é feita para alguns ácidos gordos de cadeia
curta, que não são re-esterificados e entram diretamente nos capilares sanguíneos, os ácidos gordos livres.

Fígado

Após absorção, os nutrientes entram na corrente sanguínea onde podem chegar aos vários órgãos e tecidos.
Os capilares sanguíneos localizados no intestino conduzem os nutrientes principalmente através da veia porta
até ao fígado, órgão que desempenha uma função metabólica central no organismo, produzindo e
armazenando energia.

No fígado, a glucose é convertida em glucose-6-fosfato, a qual é depois utilizada em várias vias metabólicas,
tais como síntese de glicogénio (armazenamento) ou participar nas vias da glicólise ou das pentoses-fosfato
(biossíntese).

Por sua vez, os ácidos gordos não esterificados ou livres são os únicos libertados diretamente dos enterócitos
para a corrente sanguínea e podem ser transportados para o citoplasma dos hepatócitos, onde são
esterificados (em triacilglicerol e fosfolípidos) e posteriormente oxidados na mitocôndria ou são mantidos nas
células como reserva, os glicerolípidos.

Lípidos

Os quilomicra são captados pelo tecido adiposo e músculo


esquelético onde são hidrolisados, levando à obtenção de ácidos
gordos livres e quilomicra remanescentes (de menores
dimensões e contendo maioritariamente colesterol), e que são
novamente libertados na corrente sanguínea e podem assim ser
captados pelo fígado ou por outros órgãos e tecidos.

No sangue os quilomicra associam-se a uma apolipoproteína, ApoE, permitindo que sejam depois
transportados para o interior de células no músculo e tecido adiposo através de um receptor para a ApoE.

A ação da lípase lipoproteíca permite a hidrólise dos triglicéridos dos quilomicra levando à libertação de ácidos
gordos e quilomicra remanescentes (contendo colesterol).

Colesterol e triglicéridos produzidos pelo fígado associam-se a um tipo de apolipoproteínas designado VLDL
(very-low-density lipoproteins), permitindo o seu transporte no sangue e distribuição por diferentes órgãos.

A remoção dos triglicéridos leva à conversão de VLDL em LDL (low density lipoproteins) que transportam
colesterol para vários órgãos. Excesso de colesterol é transportado dos órgãos alvo para o fígado associado a
HDL (high-density lipoproteins).
Nos LDL há a remoção dos triglicéridos – transporte maioritário de colesterol. HDL (high-density lipoproteins),
vesículas que vão capturar colesterol, ou excesso de colesterol que está em vários órgãos e transportá-lo de
volta para o fígado para ser excretado via bílis, para as fezes. Logo, é o colesterol bom, porque limpa o
organismo de colesterol.

Músculo

A energia é obtida através do metabolismo dos lípidos (diretamente


provenientes do intestino) ou de glícidos (que são libertados para a corrente
sanguínea através do fígado).

Durante o exercício, o substrato principal para a obtenção de energia é a glucose


(glicólise (via glicogénio) ou metabolismo oxidativo). A glucose entra nas fibras
musculares através da corrente sanguínea e pode ser rapidamente armazenada
na forma de glicogénio para utilização posterior (ex. condições anaeróbicas de
contração muscular rápida e intensa).

Regulação endócrina do metabolismo


Um indivíduo deve suprir as necessidades energéticas de modo a evitar o
catabolismo de gordura, hidratos de carbono e proteínas do próprio
organismo. A taxa metabólica corresponde à taxa global do metabolismo e
pode ser medida através da quantidade de calor produzido pelo corpo ou
quantidade de oxigénio consumido pelo corpo a cada minuto. A taxa
metabólica em repouso, depois de 12h a 14h da última refeição é designada
a taxa metabólica basal e varia consoante a pessoa.

O consumo é zero quando não ingerimos comida (líquidos ou sólidos).

✓ Elevado anabolismo → obesidade


✓ Elevado catabolismo → caquexia

Um obeso tem uma taxa metabólica elevada e também uma quantidade de matéria gorda livre mais elevada.
Nutrientes provenientes da alimentação vão ser utilizadas ou pelas células ou por reservas energéticas, como
o glicogénio e os lípidos. As proteínas só são usadas em casos extremos.

A regulação do metabolismo energético envolve a comunicação entre tecidos e órgãos, que é mediada
principalmente por hormonas. Ao conjunto de glândulas endócrinas e suas secreções designa-se sistema
endócrino. As glândulas endócrinas produzem secreções que são libertadas na corrente sanguínea.

→ O pâncreas tem simultaneamente funções exócrinas e endócrinas.

Glândula exócrina: os conteúdos são libertados no exterior do corpo → os ácinos pancreáticos secretam suco
pancreático para o duodeno.

Glândulas endócrina: Os ilhéus de Langerhans secretam hormonas para o sangue.


Metabolitos vs. Hormonas
Um metabolito é um produto de uma reação que estamos a observar. Podem ser produzidos por um órgão e
ter ação noutro ou então pode ter efeito no próprio órgão. A sua ação afeta o seu próprio metabolismo. Há
em maiores concentrações que as hormonas.

As hormonas afetam outros compostos que não a própria hormona. Estão presentes em concentrações muito
baixas, sendo finamente reguladas: quando a ação termina deixa de ter a função. São produzidas num tecido
e têm efeito noutro. As hormonas metabólicas permitem a regulação entre a ingestão de alimentos e o
consumo energético.

Há dois grandes estímulos: a fome e a indicação de supressão (saciado). A regulação da sensação de fome ao
nível do cérebro é feita numa zona do hipotálamo designada de núcleo arqueado. A grelina, produzida pelo
estomago quando o estomago está vazio, sinaliza, pela corrente sanguínea ao SNC que é preciso alimentos,
logo, temos de ter fome. Insulina, leptina (produzida pelo sistema adiposo) → Supressão de apetite.

Ao nível dos tecidos, algumas hormonas associadas ao metabolismo vão promover o anabolismo (insulina) ou
o catabolismo (glucagina).

• Período absortivo: quando os nutrientes ingeridos entram na corrente sanguínea provenientes da


digestão.
• Período pós-absortivo/de fastio: o organismo depende apenas das reservas energéticas para o seu
metabolismo. Ver reservas na tabela.

Vários órgãos contribuem para a regulação metabólica do organismo através da secreção de hormonas. Entre
estes órgãos encontram-se o tecido adiposo, o músculo esquelético, órgãos do sistema digestivo (estômago,
intestino, pâncreas), coração e rim.

Dentro dos ilhéus de Langerhans há diferentes subpopulações associadas à produção de diferentes hormonas:

❖ Células α – produzem glucagon;


❖ Células β – produzem insulina;
❖ Células δ – produzem somastatina.

→ A regulação hormonal tem de ser finamente regulada, não pode


haver um descontrolo na regulação.

Insulina
Hormona peptídica produzida por células β (60% das células dos ilhéus).
A sua secreção ocorre em resposta a glucose, mas também a presença de ácidos gordos que ajudam à secreção
de insulina. Também aminoácidos e corpos cetónicos.

Assim que a glucose entra nas células é convertida em glucose 6-fosfato de glucose. Entra em processo de
glicólise, que leva a que se acumule ATP. Nas células β há canais de potássio sensíveis a ATP que vão ser
fechados, depolarizando a membrana e permitindo a entrada de Ca2+. Com a entrada de Ca2+, dá-se a exocitose
das vesículas que contêm insulina. Depois, a insulina entra na corrente sanguínea.

Assim, a insulina promove o transporte de glucose para o interior das células alvo (em particular no fígado,
músculo esquelético e tecido adiposo) através do transportador GLUT4.

ASSIM, a glucose estimula mais a transcrição do gene da insulina. O principal transportador de glucose para
células β é o GLUT 2 (GLUTs 1 e 3 humanos).
Quando a insulina se liga aos recetores, ativa uma cascata de sinalização que permite a translocação de
transportadores para a membrana, permitindo a entrada de glucose. Orgãos alvo: fígado, …

Glucagon (glucagina)
A glucagina é uma hormona peptídica produzida pelas células α do pâncreas (25% dos ilhéus). A sua secreção
ocorre em resposta a glucose, mas também aminoácidos. Ao contrário das células β, nas células α, menor
concentração de ATP é necessária para a abertura dos canais de Ca2+ dependentes de voltagem. Elevadas
concentrações de glucose levam a uma excessiva despolarização e inativação dos canais de Na+ e Ca2+. A ação
do glucagon nas células alvo permite a mobilização de glucose a partir de reservas de glicogénio.

→ Os níveis de insulina e glucagina controlam a transcrição de genes envolvidos em diferentes vias


metabólicas.

Quando a glucose está baixa, vai entrar na glicólise e produção de ATP. Mas os transportadores de potássio
são muito sensíveis e menores quantidades de ATP vão fazer com que haja uma despolarização excessiva da
membrana e uma inativação dos canais de Na e Ca.

Nos órgãos alvo também existe um recetor para glucagon que estimula, por exemplo, a formação de cAMP
numa cascata de fosforilação em que o objetivo final é que o glicogénio seja mobilizado para se obter glucose.
Tanto a ação do glucagon como de insulina vão promover ou inativar a transcrição de genes. A glucose-6-
fosfatase permite a desfosforilação de glucose, i.e., a sua mobilização.

Despolarização excessiva → a via do glucagon é suprimida

As hormonas que permitem a regulação entre ingestão de alimentos ou consumo energético:

• Insulina – diminui a glucogenólise e a gluconeogénese


• Glucagina – aumenta a glucogenólise e a gluconeogénese
• Hormona do crescimento (ADH)
• Glucocorticoides - função semelhante à da glucagina, estimulam a formação de mais glucose
(gluconeogénese) e de glicogénio. A adrenalina também causa um aumento de glucose no sangue.
• Epinefrina (adrenalina) – estimula a glucogenólise e a gluconeogénese.
• Hormonas da tiroide

→ Das hormonas acima, a insulina é a única que provoca a diminuição de glucose no sangue.

Onde são produzidas?


Vários órgãos contribuem para a regulação metabólica do organismo através da secreção de hormonas. Entre
estes órgãos encontram-se o tecido adiposo, o músculo esquelético, órgãos do sistema digestivo (estômago,
intestino, pâncreas), coração, rim e também glândulas adrenais.

Há 2 grupos de hormonas produzidas e secretadas ao nível das glândulas adrenais. Os glucocorticoides, como
o cortisol, são secretados da zona do córtex adrenal. A adrenalina é secretada na zona da medula.

Conjuntamente com esta regulação hormonal, a regulação do metabolismo também é feita pelo sistema
nervoso autónomo (somático, simpático e parassimpático) que regula movimentos peristálticos, mobilização
ou armazenamento de nutrientes. O principal neurotransmissor é a acetilcolina, que quando libertada pelos
neurónios vai por ação direta, ou indireta, estimular os diferentes órgãos.
No fígado, a regulação do metabolismo da glucose é mediada
por hormonas, permitindo a mobilização ou armazenamento de
nutrientes. A glucagina promove a mobilização de glucose e a
insulina o seu armazenamento.

Ao nível do tecido adiposo também há órgãos para


regulação hormonal. A regulação dos lípidos é mediada por
hormonas, permitindo a mobilização ou armazenamento de
gorduras.

Em condições de escassez de glucose, a glucagina promove,


também, a formação dos corpos cetónicos (cérebro),
mobilizados através dos ácidos gordos.

O músculo também é importante no metabolismo das gorduras. Assim, também a contração desempenha um
papel importante, permitindo a estimulação da glicogenólise, mesmo na ausência de estímulos hormonais.

A deslocação de glucose na corrente sanguínea é altamente regulada, permitindo que essa chegue aos vários
órgãos e tecidos quando necessário.

→ A própria contração estimulada por ATP também estimula a mobilização de glucose a partir de glicogénio
e a glicólise.

A imagem acima permite notar que:

• A insulina vai promover a glicólise e também a degradação dos ácidos gordos. Particularidade: a
utilização ou não do glucogénio e glicose é controlada pelo tipo de contração.
• A adrenalina estimula a mobilização do glicogénio.
• A glucose sanguínea é controlada a nível hormonal. O fígado pode controlar a glucose sanguínea, pois
tem a capacidade de fazer tanto a glicólise como a gluconeogénese.
Glucose sanguínea: Concentração de glucose presente no sangue, indicadora do metabolismo de um
indivíduo:

▪ Hiperglicémia: níveis de glucose no sangue superiores aos normais. Ex: primeiras horas após refeição.
▪ Hipoglicémia: níveis de glucose no sangue abaixo dos normais. Ex: jejum/fastio.

O aumento dos níveis de insulina não só está associado ao aumento da glucose sanguínea como, também, ao
do lactato sanguíneo.

Período absortivo: após o pequeno almoço, a regulação


hormonal mediada por insulina promove o
armazenamento de glucose sob a forma de reservas
energéticas.

Período de fastio: durante uma noite de fastio, a


mobilização de lípidos na forma de ácidos gordos livres ou
ácidos gordos não esterificados (NEFA) a nível do tecido
adiposo é uma importante fonte energética.

Diabetes mellitus
→ Concentração de glucose no sangue superior à normal.

Tipo 1
É pouco comum. Caracteriza-se por ser de evolução rápida e evidente, mesmo em crianças muito jovens.

O organismo produz anticorpos que levam à destruição das células β dos ilhéus de Langerhans do pâncreas.
Isto leva a uma diminuição na produção de insulina, o que faz com que não haja sinalização/deteção da glucose
existente no sangue. Logo, dá-se um aumento da glucogenolise e da gluconeogénese, potenciando-se as vias
que levam ao aumento da concentração de glucose sanguínea, para compensar a suposta falta de glicose
sanguínea, o que acaba por gerar hiperglicemia. A ausência de insulina também leva à formação de corpos
cetónicos, que quando em excesso, podem ser bastante tóxicos para o organismo. A esterificação de ácidos
gordos também diminui, não havendo reserva de nutrientes, mas sim mobilização, o que culmina em magreza.
Ausência total de insulina.

Tipo 2
É muito comum, desenvolvendo-se ao longo da vida. Uma das características é a insulina deixar de conseguir
exercer a sua função normal. Às vezes tem a ver com a sua produção, outras vezes tem a ver com os recetores
de insulina dos tecidos – resistência à insulina.

Note-se que também continua a haver problemas na regulação, com um aumento da glucose sanguínea.
Também continua a haver produção de insulina, muitas vezes superior ao normal.

A doença vai progredindo.

Fase pré-diabético - glucose elevada, mas acaba por ser baixada pela produção de insulina. No entanto, esta
resposta da insulina é exacerbada, por perda de sensibilidade à ação da insulina.

Caso mais extremo - o nível basal de glucose é logo muito elevado e, após a ingestão de alimentos, permanece
elevado durante muito mais tempo. Ausência de resposta por parta da insulina.

→ À medida que a doença se torna mais severa, vai diminuindo a resposta da insulina. Ao contrário da diabetes
tipo 1, na diabetes tipo 2 há sempre alguns níveis de insulina do sangue, mesmo que baixos, o suficiente para
contrariar o aumentos de corpos cetónicos
Tratamentos
São ajustados de acordo com o tipo de diabetes. A insulina administrada é produzida pela técnica do DNA
recombinante.

▪ Tipo 1: A insulina tem de ser injetada. Se fosse injerida, iria ser metabolizada e degradada durante a
digestão. Nestes pacientes, tanto pode haver hiperglicemia como hipoglicémia. Mesmo as injeções e as
refeições têm de ser muito regradas.
▪ Tipo 2: controlo da obesidade (dieta e cirurgia).
Fármacos:
- Sulfonilureias - atuam nas células β e promovem a libertação de mais insulina, porque bloqueiam os
canais de potássio.
- Biguanidas – melhoram a sensibilidade dos tecidos à insulina.

Hipotálamo e hipófise
Hormonas esteroides

Produzidas no córtex adrenal, ovários, testículos e placenta.


No sangue, precisam de ser transportadas por albumina (não
específica) ou globulinas de ligação às hormonas sexuais/ aos
corticoesteróides (específicas). Dividem-se em:

❖ Progestinas e corticoides (mineralocorticoides e


glucocorticoides) – 21 C’s;
❖ Androgénios (19 C’s) e estrogénios (18 C’s).

Devido à sua natureza hidrófoba, necessitam de se associar a


proteínas específicas para o seu transporte no sangue. A
albumina é não específica, mas proteínas como a globulina de
ligação às hormonas sexuais (SHBG) e a globulina de ligação
aos corticoides (CBG) têm ação mais específica.

Aminas Biogénicas
▪ Iodotironinas - Hormonas da tiroide produzidas a partir de 2 moléculas de tirosina, transportadas no
sangue pela TBG (globulina de ligação às hormonas na tiroide).
▪ Catecolaminas - produzidas na medula adrenal a partir da tirosina. Incluem a adrenalina (epinefrina),
noradrenalina e dopamina. (2-OH’s)

Péptidos, proteínas e glicoproteínas

Constituem preprohormonas ou prehormonas, sintetizados e modificados


tal e qual como as proteínas: translação para o RE; remoção do péptido
sinal; transporte em vesículas para o complexo de Golgi; modificações
(glicosilação, pontes S-S, hidrólise d@ pro-péptido/hormona);
armazenamento em vesículas de secreção exportadas para o citoplasma.
Também podem ser fatores neurotróficos se forem muito grandes, que
apoiam o desenvolvimento dos neurónios. Pequenos péptidos podem
atuar tanto como hormonas como neurotransmissores.
Eixo hipotálamo-hipófise
O hipotálamo consiste num grupo de núcleos, estruturas e feixes de fibras situados na base do diencéfalo.
Está envolvido na regulação de vários processos fisiológicos, sendo um dos principais centros integradores do
SNC. É sensível às concentrações plasmáticas de vários nutrientes, atuando no organismo através da libertação
de hormonas da hipófise e do SNA (ex. medula drenal, sistema digestivo e sistema endócrino). É parte
integrante do sistema límbico. A sua sensibilidade a todos estes parâmetros, é importante tanto no gatilho
como na regulação da libertação das hormonas hipotalâmicas por mecanismos de retroação negativa.

O eixo hipotálamo-hipófise é o principal sistema regulador do sistema


endócrino pelo SNC, atuando sempre na função de outras glândulas
endócrinas.

O hipotálamo controla a secreção que ocorre na hipófise quer por ação


direta quer por via hormonal. A secreção na hipófise anterior ou
adenohipófise é estimulada por hormonas hipotalâmicas (ditas
hipofisiotróficas) e atingem a hipófise por meio do sistema hipotálamo-
hipofisário e estimulam células secretoras. A secreção na hipófise posterior
ou neuro-hipófise é mediada por terminais nervosos de células neuro-
secretoras. As hormonas hipotalâmicas são neuro-secreções (hormonas
sintetizadas por neurónios) e são geralmente péptidos pequenos.

Hipófise posterior/ Neurohipófise


A neurohipófise é um prolongamento anatómico do hipotálamo. Esta liberta
vasopressina (ADH) e oxitocina. As hormonas libertadas na neurohipófise
são sintetizadas no hipotálamo, nos núcleos paraventricular e supraóptico.
O transporte das hormonas é axonal, em grânulos de secreção associados a proteínas de transporte, a
neurofisina I (oxitocina) e a neurofisina II (ADH). A libertação das hormonas faz-se na neurohipófise onde há
ramificações da artéria hipofisária inferior que depois se unem para formar a veia neurohipofisária. O
principal estímulo para a sua secreção são os estímulos nervosos que chegam aos neurónios hipotalâmicos
(secreção reflexa) quer dos centros sensoriais hipotalâmicos como do resto do organismo.

Vasopressina
A sua libertação é regulada por ativação de osmorrecetores
no hipotálamo e pela diminuição da atividade de
barorreceptores periféricos. Atua no rim e no sistema
cardiovascular e promove mecanismos fisiológicos que
levam ao aumento da pressão arterial. Atua em dois
recetores distintos V1 e V2. No rim, promove a retenção de
água no organismo através da estimulação da reabsorção
de água, causa o aumento da expressão e translocação
para a membrana da aquaporina 2 e é mediado por
recetores V2 acoplados às pGs e AC-cAMP-PKA promovendo
o aumento do volume de sangue assim como a secreção de
renina.

A ação da vasopressina nos recetores V1 das células da


macula densa do tubo distal promove a libertação de NO e
PGE2. Estes induzem a libertação de renina das células
justaglomerulares junto das arteríolas aferentes e
eferentes do rim. Interação com o sistema renina-angiotensina aldosterona.
No sistema cardiovascular promove a vasoconstrição e o aumento da resistência vascular. A vasoconstrição
é promovida pela ativação de recetores V1, acoplados à fosfolipase C e elevação do Ca2+ intracelular. Atua
tanto no músculo liso como nas células endoteliais que reforçam a sua ação inibindo a secreção de substâncias
vasodilatadoras (como o NO). Aumento da pressão arterial.

Oxitocina
A sua secreção é estimulada pelo contacto e sucção na glândula mamária (amamentação) ou dilatação do colo
do útero (parto) e estímulo mecânico da parede vaginal (coito). São reflexos autonómicos hipotalâmicos com
manifestações na secreção endócrina. Estimula a ejeção do leite pelos ductos da glândula mamária.

Hipófise anterior / Adenohipófise


A secreção na hipófise anterior ou adenohipófise é estimulada por hormonas hipotalâmicas ( hipofisiotróficas)
que são provenientes de diferente núcleos. Atingem a hipófise por meio do sistema porta hipotálamo-
hipofisário. Localizado na zona inferior do hipotálamo onde há ramificações da artéria hipofisária superior que
depois se unem para atravessar o infundíbulo e entrar no plexo secundário do sistema porta de veias
adenohipofisárias. É constituído por duas redes de capilares ligadas por vasos um pouco maiores. Os capilares
no sistema portal são fenestrados o que permite um transporte rápido das hormonas entre o hipotálamo e a
hipófise. Têm 5 tipos de células secretoras onde atuam seletivamente hormonas do hipotálamo diferentes:

❖ Hormona de libertação da somatrofina (GHRH): estimula as células somatotróficas a produzir e libertar


a somatotrofina/hormona do crescimento (GH) que permite a proliferação e crescimento celular e a
libertação de IGF-1 pelo fígado. A somastatina inibe células somatotróficas.
❖ Hormona da libertação da corticotrofina (CRH): estimula as células corticotróficas a produzir e libertar
corticotrofina (ACTH).
❖ Hormona de libertação da tirotrofina (TRH): estimula as células tirotróficas a produzir e libertar
tirotrofina (TSH), que permite a libertação de hormonas da tiroide.
❖ Hormona de libertação da gonadotrofina (GnRH): estimula as células gonadotróficas a segregar FSH e LH.
❖ Hormona de libertação da prolactina (PRH): estimula as células lactotróficas a produzir e libertar (PRL)
que permite a lactação e induz a produção e secreção de leite na glândula mamária. Dopamina – inibe as
células lactotróficas.
✓ O controlo da secreção hormonal tem três níveis: hipotálamo – adeno-hipófise – órgão-alvo. As
hormonas hipofisárias são, normalmente, proteínas ou polipéptidos.

Corticotrofina (ACTH)
Cadeia única peptídica segregada em resposta a vários tipos de stress. Atua no córtex da glândula suprarrenal
induzindo a secreção de cortisol, mas também mineralocorticoides, androgénios e estrogénios. A resposta
imediata ao stress consiste no aumento da taxa cardíaca, pressão arterial, dilatação dos bronquíolos, elevada
taxa metabólica. A resposta prolongada ao stress consiste na produção de mineralocorticoides e
glucocorticoides que, respetivamente, aumentam a retenção de Na+ e H2O pelos rins e o volume e pressão
sanguínea, e convertem proteínas e gorduras em glucose para obter energia, aumentam os níveis de açúcar
no sangue e causam imunossupressão. A regulação é por retroação negativa (hipotálamo e adenohipófise).

Hormona do crescimento (GH)


Cadeia única peptídica que atua maioritariamente nos tecidos alvo, dependendo esta ação da síntese de
somatomedinas pelo fígado e, também, em menores quantidades pelos tecidos alvo. A principal
somatomedina é a IGF-I ou somatomedina C. Esta promove o crescimento das células, a mitose e a
diferenciação de células precursoras como as células de crescimento do osso ou as células precursoras do
músculo. Mobiliza energia a partir de metabolização de a.g. do tecido adiposo para suprir as necessidades
anabólicas (síntese proteica). Nos outros tecidos, a glucose é utilizada na síntese de a.a e não para obtenção
de energia. A GH está envolvida da regulação circadiana.

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