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Clarissa Valera Bonzato

Aula 1 – LPF UCXII

Toxicologia da atividade agrícola


Toxicologia da atividade

TOXICOLOGIA:

Estuda os efeitos nocivos de algumas substâncias, além de estudar interações de substâncias


químicas no organismo.

Agentes químicos que podem causar toxicidade:

 Medicamentos;
 Inseticidas/herbicidas;
 Plantas medicinais;
 Toxinas animais;
 Armas químicas;
 Elementos radioativos.

A dose é oque definirá quando haverá toxicidade.

Efeito terapêutico  aumento da dose  Efeito tóxico

Efeito tóxico do paracetamol é fatal;

Efeito tóxico do benzodiazepínico é reversível.

 “Substâncias de qualquer natureza pode causar um processo de intoxicação.”

Finalidade do estudo de toxicologia: definir limites seguros para a exposição.

Métodos de abordagem:  análise toxicológicas  tratamento específico ou inespecífico


(antídoto – substância específica /antagonista)

Em toxicologia em hipótese alguma trabalha com agonista, pois agravará o quadro clínico por
estimulação.

 Agente químico/toxicante: qualquer substância que modula o sistema biológico, que


se não for tratado leva à morte;
 Xenobiótico: substâncias químicas estranhas ao organismo, não possuem papel
fisiológico conhecido;
 Toxina: substância produzida por um sistema biológico (plante, animal, fungo ou
bactéria) - Toxina butolínica, penicilina;
 Veneno: substância química ou mistura (derivada de plantas ou animais) com
capacidade de provocar intoxicação em baixas doses. – ex. picada de cobra filhote
(pois a mesma não consegue dosar a quantidade de veneno liberado).

Toxicologia moderna:

O uso exagerado do açúcar pode causar:

Hipertensão;
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Doenças cardiovasculares

Diabetes;

Doença hepáticas não alcoólicas;

Aumento de TRI e CT.

Etapas de estudo da toxicologia:

1. Descoberta - fase exploratória;


2. Pré-clínica - teste de medicamento em não humanos;
3. Clínica – teste de medicamento em humanos; (dividido em 3 doses)
4. Aprovação de publicações - vigilância pós-comercialização de medicamentos e
pesquisa translacional.

 Toxicocinética: absorção, distribuição, metabolismo e excreção.


 Toxicodinâmica: ação no organismo (citoproteção, ligação proteíca)

Toxicologia agrícola:
Praguicida ou agrotóxico (liberados no Brasil) - “Produtos e agentes de processos físicos,
químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e
beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou
implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais,
cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preserva-las da ação
danosa de seres vivos considerados nocivos”.

- Aumento de novos registros de agrotóxicos – já foram registrados 475 agrotóxicos.

Carbamatos e organofosforatos: utilizado para controle de insetos e outros


parasitas.

Demoram para serem absorvidos, são absorvidos pela pele e tem afinidade com tecido
adiposo, causando efeitos a longo prazo;
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Mecanismo de efeito tóxico:

 Inibição da Acetilcolinesterase (degradação da acetilcolina)  resultando no acúmulo


de acetilcolina nas sinapses colinérgicas no sistema nervoso central, periférico,
somático e autônomo, levando ao aumento da resposta nos receptores pós-sinápticos,
nicotínicos ou muscarínicos.

 Os inseticidas carbamatos, a inibição é REVERSÍVEL e a reativação da enzima é


espontânea e rápida, podendo levar menos de 24 horas;

 Os inseticidas organofosforados, a inibição é quimicamente mais estável e a


recuperação da enzima pode ser mais lenda (levando dias, semanas ou até mesmo
irreversível), onde a reativação irá depender da síntese de novas moléculas de
acetilcolinesterase.

Dose tóxica:

 Depende muito do princípio ativo, porém é sempre uma intoxicação potencialmente


grave.

 Necessário diagnóstico rápido e pronta intervenção terapêutica.

 Perigo iminente:

Tentativa de suicídio, devido a ingestão de altos volumes do Princípio Ativo;

Farmacocinética dos carbamatos:


 Absorção: Bem absorvido por ingestão, inalação, pele e mucosas. Atravessa a barreira
hematoencefálica – pico plasmático de 30à 40 minutos após a ingestão
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 Distribuição: São lipossolúveis, possibilitando uma boa distribuição em todo os tecidos


incluindo o SNC

 Metabolismo: Geralmente (90%) são biotransformados no fígado

 Eliminação: Cerca de 90% é excretado na urina dentro de 3 ou 4 dias

Farmacocinética dos organofosforados:

 Absorção: Bem absorvido por todas as vias, entretanto, a via cutânea é responsável
por toxicidade crônica

 Distribuição: Maioria lipofílico, maior possibilidade de acúmulo em tecido adiposo

 Metabolismo: Hepático – após biotransformados (alguns) geram subprodutos mais


tóxicos que o composto de origem. Ex: Malationa  Malaoxon

 Eliminação: Excretado na urina

Manifestações clinicas:
 Agudas:

Muscarínicas: Salivação, sudorese, lacrimejamento, hipersecreção brônquica, bradicardia,


miose, vômito e diarreia

 Nicotínicas: Taquicardia, hipertensão, midríase, fraqueza muscular evoluindo para


paralisia

 Centrais: Agitação, cefaleia, tontura, confusão mental, ataxia, convulsão e coma

 Tardias: Normalmente evoluem para distúrbios ácido-base, metabólicos e


hidroelétricos

Tratamentos:

 Manter permeável as vias aéreas

 Hidratação venosa

 Lavagem corporal (em caso de contaminação dérmica)

 Lavagem gástrica

 Carvão ativado

 Catártico (adm. 1 hora após o carvão ativado)

 Adm de atropina  1 à 2 mg/dose, de 10/10 min ou 15/15 min.

 MANTER EM OBSERVAÇÃO O PACIENTE POR 72 HORAS


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 Administração de Contrathion  SOMENTE PARA ORGANOFOSFORADOS 


antídoto expecífico, reativador da colinesterase (oxima é muito mais cara por isso não
é utilizada e validade curta).

Pode cair na prova 

Inseticidas piretróides
 São um grupo de inseticidas sintéticos derivados das piretrinas naturais, que são
extraídas das flores de crisântemo. São classificadas em 2 grupos:

 Tipo I: Não possuem o grupo ciano, a maioria ocasiona tremores a longo prazo

 Tipo II: Possuem um grupo ciano, o que aumenta muito a neurotoxicidade

Mecanismo de efeito tóxico:

 Atuam diretamente nos axônios prolongando a despolarização do canal de sódio,


levando a uma hiperexcitação do sistema nervoso. Em concentrações altas, os
piretróides do tipo II ligam-se aos receptores do GABA bloqueando os canais de cloro e
sua ativação que leva a uma hiperexcitabilidade do SNC
 Em resumo: Os piretróides agem à nível dos receptores dos canais de sódio das
membranas das células nervosas, resultando em despolarização da membrana,
consequentemente na hiperexcitabilidade nervosa

Dose tóxica:

 A toxicidade dos produtos que contém piretróides é devido a outros ingredientes


contidos na preparação, usualmente solventes, derivados de petróleo

Farmacocinética dos piretróides:

 Absorção: Bem absorvido por via oral e inalatória

 Distribuição: São lipofílicos, desta forma rapidamente distribuídos ao SNC

 Metabolismo: Rapidamente metabolizado a produtos menos tóxicos que as


substâncias originais pelo sistema enzimático CYP450, desta forma não acumula no
organismo

 Eliminação: É eliminado pela urina em até 24 horas, sem evidencias de recirculação

Manifestações clínicas:

 Tontura, salivação, cefaleia, vômito, irritabilidade, alergia (parece renite).

 Sintomas neurológicos são incomuns (apenas em casos crônicos)

 Sensações de formigamento e queimação podem ocorrer em áreas da pele em contato


direto com o inseticida
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Tratamento:

 Baseado nos sinais e sintomas

 Carvão ativado

 Antídoto: Não existe

Herbicida glifosato
 Herbicida amino-fosfonato, pós-emergencial e não seletivo, não inibidor de
colinesterase

Mecanismo de efeito tóxico:

 Não esta totalmente elucidado, sabe-se que o glifosato é irritante e em altas


concentrações é corrosivo para o TGI

Dose tóxica:

 Ingestão intencional de 30 à 60 mL do produto é suficiente para desencadear o quadro


clínico

 Necessário diagnóstico rápido e pronta intervenção terapêutica

Perigo iminente:

Tentativa de suicídio, devido a ingestão de altos volumes (100 à 120 mL)

Farmacocinética do glifosato:

 Absorção: Bem absorvido por via oral. Pico de concentração plasmática em até 2 horas

 Distribuição: Imediata

 Metabolismo: Mínima

 Eliminação: É eliminado pela urina em até 24 horas, sem sofrer alteração (se for até
30ml ocorre eliminação – a longo prazo causa dano renal // > 30ml tem
comprometimento renal, paciente terá que fazer hemodiálise)
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Manifestações clínicas:

 Dor, queimação, náuseas, vômito, diarreia

 Casos graves: hipotensão, acidose metabólica, insuficiência respiratória e choque

Tratamento:

 Medidas de suporte

 Monitorar sinais vitais

 Hidratação

 Vias aéreas sempre desobstruídas

 Adm de oxigênio

 Carvão ativado

Antídoto – não existe

Herbicida Paraquat
 Herbicida dipiridílico não seletivo, usado para controle de ervas daninhas e como
desfolhante pré-colheita. Considerado um dos pesticidas mais tóxicos disponíveis

Mecanismo de efeito tóxico:

 Nas exposições agudas possui efeito corrosivo quando em contato com a pele e
mucosas, pode causar lesões teciduais em pulmão, fígado e rins. O mecanismo de
lesão tecidual não esta bem elucidado, mas a hipótese mais aceita é que o herbicida
eleva a formação de radicais livres dentro do tecido alvo, sobrecarregando ou
esgotando os mecanismos fisiológicos de inativação.

Dose tóxica:

Perigo eminente

 Dose de até 20 mg/Kg: Sintomas gastrointestinais

 Dose de 20 à 40 mg/Kg: Evolução letal – NA MAIORIA DOS CADOS

 Dose >40 mg/Kg: Evolução letal em 100% dos casos

 Dose letal estimada em 10 à 20 mL para adultos e de 4 à 5 mL para crinças

 Necessário diagnóstico rápido e pronta intervenção terapêutica


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Farmacocinética do paraquat:

 Absorção: Bem absorvido por via oral – pico plasmático em até 2 horas

 Distribuição: 1,2 à 1,6 L/Kg, distribuídos para os pulmões, rins, fígado e tecido
muscular

 Eliminação: Renal, com mais de 90% sendo eliminado sem alteração em 12 à 24 horas,
em caso de função renal normal

Manifestações clínicas:

 Manifestação clínica inicial após ingestão:

Dor, edema na boca e garganta, náuseas, vômito, diarreia, disfagia

 Manifestação clínica após 24 horas da ingestão:

Colestase, necrose hepática, insuficiência renal aguda e pancreatite

 Manifestação clínica tardia (após 1 ou 2 semanas)

Edema pulmonar, fibrose pulmonar, choque, arritmia, coma, convulsões, edema


cerebral

Tratamento:

 Início precoce do tratamento nos casos de ingestão pode ser determinante para a
sobrevivência do paciente. A intoxicação é diagnosticada através do histórico do
paciente. Diagnóstico rápido através da técnica colorimétrica na urina

 Medidas de suporte

 Monitorar sinais vitais

 Hidratação

 Frequência renal e hepática

 NÃO ADM O2 (acelera a distribuição do herbicida)

Antidoto – não existe


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Diagnóstico de Intoxicação
Histórico e exame físico

 História de ingestão pode ser muito útil!

• Quem? O que foi utilizado e quanto? Qual a via de exposição? Onde? Como? Há
quanto tempo?

• Alterações de pupilas; Achados cutâneos; Odores característicos; Alterações da


consciência; Alterações cardiovasculares; Alterações respiratórias; Achados do
aparelho digestório

Exames laboratoriais:

o Hemograma

o Ureia e creatinina

o AST, ALT, GGT, FA, Bilirrubina

o Exame de urina

o Níveis séricos (paracetamol e etanol)

Exame toxicológico:

o Sangue

o Urina

o Específicos e quantificados

o Limitações???
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Métodos de detecção:

Qualitativo / Quantitativo

Imunocromatográfico
Espectrofotometria
Cromatografia
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Colinesterase (CHE)  Enzima com a função de catalisar a hidrólise da acetilcolina e


outras colinas, regulando a transmissão do impulso nervoso na sinapse do nervo e na junção
neuromuscular.

o Valores diminuídos de CHE:

 Envenenamentos por inseticidas organofosforados;

 Doenças hepáticas crônicas, devido à diminuição da síntese enzimática do fígado.

 Amostra: soro ou plasma.

 APLICAÇÃO CLÍNICA: suspeita de envenenamento por inseticidas organofosforados e


carbamatos.

VALORES DE REFERÊNCIA

Homens: 4620 – 11500 U/L

Mulheres: 3930 – 10800 U/L

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