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• 1 RIO DE JANEIRO O-
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Jacintho R.ibelro dos Santos
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PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL
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PEDRa DO COUTTO
([)a Callegla Pedra 11)
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RIO DE JANEIRO
Jacintho Ribeiro dos Santos
(EDITOR)
RUA SÃO JOSÉ, 82
1923
Aos nobres collegas e amigos
DO AUTOR João Ribeiro e Escragnolle Doria
PA61HA5 DE {'RITI{'A:
{'ARA5 E {,ARETA5.
P. c.
PREfACIO
o trabalho humano. Mesmo os auctores calculada- alguns pontos dos commentos habitualmente feitos,
mente mimeticos, uma que outra vez se deixam e fil-o com sinceridade, sem deturpar factos nem
apanhar por olhos avezados' a essas COUSa3, numa individualidades.
phrase, num adjectivo, por modesto, que este seja. No julgamento de situações sociaes de que.
Neste trabalho nada ha de hesitante. Os fa- fui parte rninima, mas consciente, ha, afóra a cul-
ctos são os que se deram - nada poderia eu tura de meu espírito, o testemunho de quem viu.
inventar sobre elles. Havendo duvida sobre alguns Assim na campanha Ida abolição e da republica.
d'~lles - e estas se manifestam em regra em re- Naquella fiz vêr aos que me lêrern o exaggerq
lação aos de menor valia - manda a boa logica feito commumrnente do papel da digna princeza
que se siga a mais corrente das opiniõ,es.l D. Isabel, condessa d'Eu, na terminação, daescra-
Não ha nem pó de haver em trabalho expo , Vjidão no Brasil. A essa virt'uosa senhora, a quem
sitivo de' historia nada de original, a não ser 'ft o meu radicalismo republicano não impossibilita de
fórma e a apreciação, Ao chronista podem a ne.: render preito ás suas yirtudes e patriotismo, cou-
sentar-se, emexcavaçõ1es :pacientes, informes :Ilus- be nessa hora grande da minha patria a funcção
trativos de alguns acontecimentos ou subsídios a exclusiva de se' pôr a serviço da comente dorni-
contestações e ampliações 'de outros. Ao historio- nadora, avassaladora, catapultuosa, da liberdade dq
grapho cabe,em linhas geraes, seriar as etapas negro. EUa se viu sem forças para se oppôr á for-
do evolver do povo cuja vida se propõe estudar. midavel pressão do povo brasileiro. E tanto a di-
Nem chronista, nem historiographo, compete-me gna senhora não tinha o. objectivo de abolir a
exclusivamente expôr o que se tem passado no escravidão, que manteve o gabinete Cotegipe, de
meu paiz desde que uma calrnaria impertinente côr nitidamente esclavagista . E' de hontem ainda
desviou Pedro Alvares Cabral da róta traçada á o renome do seu chefe de policia da Côrte, desern-
India, nas pegadas de Vasco da Gama, até a hora bargador Coelho Bastos, cujas arbitrariedades lhe
andante. Nesta exposição, 'porém, não me pude eu ficaram assignaladas na ironia popular pelo cogno-
libertar de atirar, sem jactancia, mas com dignidade, me de rapa-côco.
a minha individualidade, que se não arroga de ico- Crescendo a grita pela liberdade e crescendo
noclasta, mas que se não pauta por um convencio- a fuga dos negros das fazendas, onde eram victi-
nalismo hypocrita. mas de toda sorte de vilezas, o governo da Prin-
Expondo, eu cornmentei, sobriamente, mas ac- ceza Regente appellou para o exercito nacional
corde com as minhas convicções. Desviei-me em afim de' que fossem capturados os negros que fu-
..
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 11
10 PEDRO ,DO COUTTO
giam, seguindo inconscientemente o conceito de meiro assim' redigido: - E' declarada extincta a
Augusto Cornte - liberdade não se pede, torna-se- escravidão no Brasil - o que tanto vale dizer que
O exercito brasileiro que sempre (e ahi está o Estado sanccionava uma situação de facto.
a historia para confirrnal-o) esteve ao lado d~<; Por tudo isto, sem absolutamente paixão par-
• causas liberaes, respondeu em uma moção celebre tidaria, é que não concordo de modo algum com
do Club Militar, seu auctorizado orgão, que se os elogios exaggerados feitos habitualmente á Prin-
não prestava a essa funcção, ao encargo de capi- ceza Regente pelo termo da escravidão no Brasil,
tão do malta, denominação dada aDS que se em- instituição sempre mantida pelo throno, como é
pregavam em pegar 'escravos fugidos. tambem de facil observação.
bA onda crescendo, 'e não havendo meio de A respeito da implantação da república, ha
prender o negro ás fazendas, o throno transigiu, divergencias, mesmo nos que lhe fôram sempre
chamando para organisar ministerio, João Alfre- adeptos. Alguns não julgam acertado que se dê a
do Correia de Oliveira., de cujo abolid,onismo se Benjarnim Constant e Deodoro o papel predomi-
tinha noticia sórnente por ter feito parte do gabi- nante no período final da lucta contra o throno
nete do Visconde do Rio Branco, que deu liberdade bragantino, suppondo certamente que, assim sen-
aos nascituros. A escolha de João Alfredo signifi- do, o papel dos propagandistas da idéa fica dimi-
cava a olho~ desapaixonados, a má vontade com nuido, E' um erro de apreciação: Benjamin' Con-
que' a Princeza Regente cedia á força da situação. stant, cerebro do movimento de 15 de Novembro)
Mandava a bôa logica - fôra esse um gesto e Oeodoro seu executor, foram OiS elementos fi-
espontaneo da Princeza D. Isabel - que aos ele- naes á lucta que vinha desde Bernardo Vieira de
mentos abolicionistas do 'partido liberal coubesse Mello. Elles fôrarn os auctores, na hora precisa,
a gloria de legalisar a liberdade que o negro to- da obra de' demolição, trabalhada desde muito por
mava por suas proprias mãos. . patriotas excelsos, um dos quaes a sagrou com o
De tudo isso se deprehende que a acção da seu sangue, de modo altisonante. No momento em'
Regente foi secundaria ria lei de 13 de Maio de que elles se puzeram a serviço da causa republica-
1888. na, ella era sacudida do norte ao sul do paiz por
Essa lei, bem o comprehendeu o ministro F~r. Quintino Bocayuva, Lopes Trovão, Silva Jardim,
reira Vianna, foi a sancção official de um fado exis- Martins Junior, Thimotheo da Costa, Julio de Cas-
tente. Com effeito, cabendo-lhe a sua redacção de- filhos, Dernetrio Ribeiro, Assis Brasil, .Aristides Lobo,
finitiva , elle a fez em dous artigos, sendo o prX- Campos Salles, Olycerio, Coelho Lisboa, Sampaio
PE,DRO DO COUTTO PONTOS DE HISlTORIA DO BRASIL 13
12
Ferraz, Prudente de Moraes, Rangel Pestana, An- cia indebita nos nego cios alheios, determinava o
nibal falcão, Nilo Peçanha, Saldanha Marinho, para odio ao povo brasileiro e consequenternente luctas
só falar nos que agiam na imprensa e na tribuna. A desnecessárias e deshumanas.
estes se juntava uma pleiade de homens de ca- A guerra do Paraguay, para o Brasil, só ser-
racter puro, á frente Esteves Junior, que formavam viu para realçar inequivocamente o valor do nos-
em torno áqueUes, concorrendo com todo o seu so soldado -- bravo entre os bravos - que para
esforço em pról 'de seus ideaes. se bater fal-o saciado ou faminto. Sómente a bra-
Benjamin e Deodoro, com o prestígio de que vura, a dedicação 'e o patriotismo das nossas for-
gozavam no exercito, deram a ultima demão no ças {te mar e terra se destacam nesse período, Quan-
quadro, accentuando-o mais, ;de modo a tornal-o t'o á conducta do governo imperial,ella se revela
bem nítido. A acção d'esses dous homens foi tã,o, na perseguição tenaz a um homem por capricho
importante nesse momento quanto. foi a de josé de outro homem, ,que lhe tinha ogeríza, E tão in-
Bonifacio e Pedro I na índependencia. Certo, ou- comprehensivel era a sanha de Pedro 11, em regra
tros a conceberam: e outros a sentiram mais intensa- tão apegado ás soluções medias, que se forjou a -
I mente e ha mais tempo do que [osé Bonifacio e lenda de que Lopez pedira 'em casamento a prin-
Pedro I, mas a estes coube innegavelmente o pa- ceza O. Leopoldina. Certo, nada ha de verdade
pel de a 'tornar realidade. E a justiça hístoríca deve 'nesse fado, mas elle serve como umaexplicaçãb
ter o rnaxjmo de imparcialidade: que o povo se deu do odío do ultimo imperador
•. Acontecimento historico de cuja habitual apre- do Brasil ao selvagem caudilho que dominou o
ciação eu me desvio neste trabalho é. a guerra povo paraguayo.
do Paraguay. Estudando-a em suas origens, analy- Estes pontos são os que chocam os precon-
sando o seu desenvolvimento e apreciando' com ceitos correntes. Salientei-os aqui para que meu
justeza - sem demagogia nem cortezanice - a juizo não fosse mal interpretado. Em tudo que
attitude do governo imperial para com as republi- faço - mediocre, bem o sei - procuro dar um
cas sul-americanas, um escriptor de mediana since- cunho de honestidade. Sou profundamente avesso
ridade deve concluir contra a maneira por que á covardia e á hypocrisia.
essa guerra foi provocada e conduzida pelo Brasil. Ahi fica o meu trabalho. Elle veiu a lume a
Não defendo Lopez, que reputo um caudilho instancias de alurnnos. Que lhes sirva de algo é
como os seus emulos de todos 'os tempos, mas ac- o que desejo.
cuso a politica imperial, que, com a sua íngeren- Maio de, 1918., P. o.
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Descobrimento do Brasil. O Incola
que tanto lustre deram a Portugal. 1 ão foi elle, . Para a hístoria está assentado, por aUSEm-
como hoje é tendencia dizer, um acto calculad~, cia completa de documentos em contrario, que o
um plano preconcebido da parte d?S qu~ o reali- acaso e urna calmaria fôram os unicos elementos
zaram: foi, já é tradicional a afflrmahva, ob~a de successo Ide Cabral no descobrimento do
de méro acaso , consequen.cia de uma: . calmana. Brasil. O facto averiguado é que a 9 de Março
. . de 1500 partia do Tejo para a India, em comple-
Esta foi sempre a versão corrente; JamaIs
houve sequer vislumb~e do contrario; nem seria mento á empreza de Vasco da Gama uma frota
crível que Portugal deixasse de assegurar que os de seis navios e mais de um milheiro de tripolan-
seus marinheiros partiram certos de que Iam des- tes; que foi rezada missa' na ermida de Belém
p~lo bispo de Ceuta'; e que a bandeira, após a de-
cobrir terras, se fosse esse o caso. r
Ao envez disso, o que se sabe e que para VIda benção, foi levada em procissão e pelo rei
completar o serviço de Vasco da Gama, .D. Ma- ~'. l\1í~no~l,ent~egUiea Cabral. Terminada que
fOI esta s~ol~ml1ldade,a frota' se fez de véla, pas-
noel organizou uma poderosa armada, cujo com-
miando coube a Pedro Alvares Cabral, a quem' sando no dia 14 por diante das Canarias.
Vasco da Gama' deu alguns conselhos co,ncer- Seguindo o conselho que lhe déra Gama se-
gundo se diz, Cabral se desviou elo rumo com-
nentes viagem'.
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18 PEPRO DO COUTTO
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eram: - o maracá, especie de chocalho cheio ele tal ao homem, existia um chefe, que, dado o
pedras e ele ossos, o Iambo r, a gaita, e uma hu- constanle estado de guerra em que viviam, de-
zina que vibrava Iortc em meio aos combates, via ser o mais valente, o mais audaz, o mais te-
Vivendo em estado primitivo da evolucão merario.
humana, eram os selvagens profundamente guer- E' natural que semelhante chefe exercesse
reiros e por isso ferozes e vingativos. Sua con- em época de paz alguma influencia, se bem que
dição de vida delerminava terem apuradissimos os aetos attinentes á vida da tribu fossem re-
os sentidos, especialmenle j) olfato. solvidos em assembléa.
Em sua maioria eram anthropophagos, de- Tal chefe chamava-se cacique ou tnorubi-
vorando os vencidos, em meio a cerimonias ade- xaba.
quadas, em que os cantos e o tanger dos inslru- No ponto de vista religioso, dada a sua in-
mentos de musica predominavam. capacidade para alta abstracção, estavam tám-
Alimentavam-se de productos da pesca e da bem em periodo rudimentar. Não podiam con-
caça, de fructos e de raizes. ceber Deuses nem Deus, adoravam o que viam
O estado social do Indígena era tambe'n~ e lhes infundia pavor. Assim, o trovão exercia
rudimentar, tendo entretanto em esboço as con- entre elles papel importante, levando-os o temor
dições actuaes da nossa especie o que, até certo a respeital-o, sendo mesmo possivel que o sup-
ponto, é comprehensivel, visto ser o selvagem o puzessem produzido por alguem, por um homem
homem actual em gráo atrazado de evolução. semelhante a elles, apenas dotado de attributos
Assim, entre elles já existia a Iai ilía mais superiores, de um poder formidavel. Esta hy-
ou menos organizada, coÍn a instituição do casa- pothese é plenamente acceitavel, por isso que
mento, que se não podia effeetuar entre paes e ainda hoje, os homens incultos, adeptos do Ca-
filhos, irmãos e irmãs. A mulher, submissa :10 tholicismo , não concebem Deus 'senão como um
marido, occupava-se dos encargos mais pesados, velho venerável a quem se deve o maximo de
emquanto o marido combatia, caçava ou pes- respeito, o que prova aliás o anthropomorphis-
cava. mo da theologia.
Sendo nomades, não haviam des-envolvido; Do mesmo modo que dispunham de quem
sufficientemente a noção de propriedade; tam- os dirigisse nas guerras - o cacique ou mo-
pouco lhes era nítida a condição politica. Não rubixaba - tinham quem lhes falasse ao senti-
obstante, correspondendo a uma necessidade fa- mento - o p:agé; que exercia as funcções de me-
24 PE1DRO DO COUTTO
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 25
do alguns, já havia' estado no Brasil, on- dados e desertores, bem como Francisco Chaves,
28 PEDRa DO COUTTO
PONTOS DE HIS;rORIA DO BRASIL 29
sideraveis que lhes offerecia a coroa portugueza. S. Yicenie, doada a Marfim Affonso de
Souza. Constava de cem leguas de costa divi-
Os lotes em que foi dividido o Braisl eram .
dídas em duas porções: - a primeira
'
da foz
quinze, mas os donalarios Iôr am apenas doze,
sendo que Martim Affonso e seu irmão Pero do rio Macahé á do Curupacé, contando 55 le-
Lopes Iôrum aquinhoados melhor do que os guas liítoraneas , a outra, entre a barra da Ber-
tioga e a barra de Paranaguá, abrangendo as
demais.
Cumpre observar que os donalar ios d'essas restantes 45 leguas.
capitanias não lhes tinham a posse lerritorial e Partindo para Portugal, Marfim Affonso de
sim e sómentc o usofructo, e bem assim que a Souza deixou-a entregue a Gonçalo Monteiro na
successão se dava obrigatoriamenle de cada do- sua parte littoranea, e a João Ramalho no' in-
terior. ' ,
natario para o seu primogenito, consoante a cor-
- ltamaracá e Santo Amara, a Pero Lopes
.rente da época.
Essa divisão territorial foi o esboço da di- de Souza, irmão de Martim Affonso, constando
visão administrativa do Brasil, que até hoje se de, ~O leguas, divi~idas em: 50, Ido Curupacé
mantém má, dada a disparidade de tamanho dos ate a barra do S. Vicente, e no sul, desde Para- ,
naguá até proximo á Lagunat; e 30 do rio Iguas-
actuaes Estados.
Seja como fôr, ella marca uma preoccupa- 'sú. até á bahia da Traição, com /ehel1'dend'o
ção systematica por parte de Portugal em curar a Ilha de Itamaracá.
do achado de Cabra], pondo-o a salvo da cobiça Em nome do donatario, Gonçalo Mouteiro
fundou na ilha do Guaimbé a colonia de Santo
.de outros povos.
Xão deu resullado essa divisão, e era Ialal Amaro, denominação posteriormente estendida a:
que assim fosse, dadas - a extensão Lerrilorial ~oda .a capitania, e João Gonçalves exercia papel
do paiz, a impossibilidade de uma acção conjun- ídentico em Itamaracá.
cta dos varios donatarios e ausencia de um ....cen- - Parahyba coube a Pero Góes,
tro coordenador que désse unidade á direcção. Constava ella de 30 leguas da barra de
D'ahi o desastre de muitas d'ellas, forçando Macahé ao rio Itapemirim. Pero de Góes após
o governo portugucz a. tornar outra orientação ter fundado ás margens do Parahyba um esíabe-
maisaccórcle com os seus intcr sses. l~cimento a que chamou Villa da Rainha, par-
As capitanias e seus respectivos douaãarios tiu para Portugal, deixando em seu lozar José
Iôr-am : Martíns. Voltando, encontrou sua capita~ia aban-
32 PBDRO DO COUTTO
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 33
donada por Martins, que se não pou~e sust~ntar m'alquistou-se Romero com os colonos, que o
contra os ataques do gentio. Gastos lm?roflcu~- prenderaml e enviaram a Figueiredo Correia. Este,
mente esforços para vencel-o, Pero de G~es fugiu [nhabilrrrente o quíz manter, não o consentindo
para o' Espirito Santo, seguindo depois para os colonos, ensejando aos Ayrnorés occasião a
PortugaL que destruíssem a colonia.
- Porto Seguro, doada a Pero de Campos
- Espirito Santo, constando de 50 leguas
Tourinho constava de 50 leguas, a' partir do Mu- do rio Itapemirim ao Mucury, coube a Vasco
cury pa;a o norte. Emquanto viveu o donaí-
Fernandes Coutinho. que bateu o indigena, tra-
tario, a capitania prosperou; com a. sua morte, tando-o depois com' bondade e conseguindo as-
porém, começou de "haver decadencia. . sim captar-lhe o respeito e a amizade.
_ Baliia, doada' a Francisco Pereira Co_u-
Havendo desharmoníaentre os seus colonos,
tinho ia desde a barral da Bahia até a foz do Sao Vasco Fernandes Coutinho, acceítou auxilio de
,
Francisco ,
contando .
50 leguas d e cost a.I
Duarte de Lemos, de S. Vicente, a quem doou
Perd~a Coutinho teve a principio governo a ilha de Santo .Antonio.
facil e calmo ; mas após longa e tremenda lucta
Por não obter quanto desejava, Lemos tor-
entre o donatario, os colonos e OIS selvagens, nou-se inimigo .de Vasco Fernandes Coutinho,
viu-se obrigado a retirar-se. ':~a: su~ capitania. inimizade que determinou mais rapidamente a
Compellido por seus cornpatricios, apos um al~no, decadencia da capitania.
a voltar, naufragou Coutinho nas costas. da Il~a Vasco Fernandes Coutinho renunciou aos
de Itaparica, sendo, de:vorado p~lo~ T~pmambas. seus direitos de donatarío, morrendo em' extre-
_ Ilhéos, doada a Jorge de Figueiredo Co~- ma miseria.
reia, constava de 50 leguas, des~e Porto Seguro
A capital da capitania, que fôra assentada
até á bahia de Todos os Santos! ' pelo donatario em' terras do continente, transfe-
Não podendo vir ao Brasil por exercer íunc-
riu-se ainda 'em sua vida' para a ilha de Santo
ção publica em Portugal, Jorge de Figueiredo
Antonio ou de Duarte de Lemos, sob a denomi-
Correia mandou como seu representante o hes- nação de Nossa Senhora da Yictoria.
panhol Francisco Romero, qu: esta?eleceu a' co-
- Pernambuco, com 60 leguas, desde a foz
lonia a principio na ilha de 'I'inharé, mudando-a do rio S. Francisco até o rio Iguassú coube :at
posteriormente para Ilhéos. .' Duarte Coelho, que fundou um estabelecimento
Victorioso na guerra contra os Ayrnores
34 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 35
I
concorrer nesse trabalho de caldeamento des- segura ao serviço de povoamento e desenvol-
ordenado de povos, que, luclando, odiando-se, vimento material do Brasil, tirando-o da anar-
massacrando-se, vêm formando, máo grado tudo chia em' que se achava'. E o meio logico era a
isto, um povo synthese dos tres elementos da estabelecimento de um governo forte e uno, de
modo a constituir-se em' centro de onde irra-
especie humana.
A obra se faz por vezes lugubremente, em diasse a acção organica necessaria á obra pro-
meio a soluços de augustia e de revolta, mas se gressiva que a terra reclamava e que os espi-
faz; e é d'essa época, da' divisão tarnbem desor- - ritos, ainda os mediocremente esclarecidos, viam
denada do territorio cabralíano, que data mais facilmente.
ou menos systematicamente o esboço do povo A constituição de um governo uno, colloca-
do em situação topographica capaz de attender
brasileiro.
a tudo quanto fosse necessário ao paiz em for-
mação, seria o passo inicial para um hábil tra-
ôoverno geral·· Thomé õe 50uza e
Duarte õc Costa balho de colonisação systematica da terra cabra-
liana. Foi o que assentou D. João Il l, e com alto
o resultado negativo que deu o estabeleci- tino político, dada a agudeza com que soube
mento das capitanias e o perigo evidente que escolher um homem, que ás qualidades já exer-
os piratas, especialtncníe francezes, represenla- citadas de governo aliava condições de virtudes
vanr, forçaram o governo portuguez a tomar então pouco em voga. Esse homem foi Thomé de
um:a resolução pratica e organíca, attinente ao Souza, com serviços na Asia e na Africa, bas-
tantes a garantir-Ihes o exito na íuncção que, lhe
Brasil.
Os males inequivocos que as capitanias, gran- era dada.
demente autonomas, offereciam, fôram mesmo Accresce que a esses attributos praticas jun-
apercebidos por portuguezes aqui residentes, que tava ainda grande religiosidade, algo mesclada
escreviam' ao rei, solicitando-lhe uma solução á
de superstição,
desordem dominante, ao mesmo tempo que lhe Apparelhou-se em começo de Fevereiro de
faziam' vêr a ameaça da perda d'este lerrilo rio , 1549 a frota que devia trazer ao Brasil 0'1 seu
e quiçá de outros a que fossem levados os es- primeiro governador geral. Compunha-se ella dos
trangeiros audazes. seguintes navios:
Tudo premia Porlugal a dar uma orientação - Conceição, do commando de. Thomé de
40 PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 41
PE;DRO DO COUTTO
Souza; Ajuda, de Duarte de Lemos' Salvador arma de fogo com que matou uma ave, impon-
d.e Antonio Cardoso de Barros; Rainhl~, de Fran: do-se ao temor do selvagem.
CISCO da Silva; e Leôa, de Pero de Góes, Acom- Com elles accordou Thomé de Souza o modo
pan~av~m esta esquadra um bergantim e varios de agir'; e reuniu os homens que trazia, com os
navios a conta de emprezas particulares, padres á ,vanguarda, levando uma cruz grande ~
A 1 de Fevereiro partiu a frota zarpando marchando processionalmente ao s<;>mde cantí-
a 2 a náo Salvador, e a 29 de Março checou á cos, para Villa Velha', antigo arraial de Cara-
Bahia. b
murú. .
Com Thomé de Souza vieram mais de mil Verificou Thomé de Souza desde logo a m-
. - que
homens, entre tropa, colonos contractados e de- conveniencia de Villa V,elha para a mlss~o
gredados, e bem assim Antonio Cardoso de Bar- trazia, e começou de procurar" elle proprio, um
ros investido das funcçôes de provedor-mór da local adequado. Encontrou-o um tanto para o
fazenda, Pero ,Borges de Souza na' de ouvidor norte de Villa Velha, em uma elevação ~ue a
geral, e Pero de Góes na de capitão-mór dai costa terra faz, e em cuja chapada lançou. os .funda-
que lhe em- assás conhecida. ' m'Cjntos d'aquella que devia ser a'. primeira ca-
Nã~ foi esquecida a parte moral, aquella pital da América Portugueza:. FOI aplan~do o
que devI.a fazer a catechese do indio pelo senti- terreno a matta destruida, delineada a CIdade,
mento? VIS~O que seis jesuitas, Aspicuelta Navarro, praças 'e ruas esboçadas, e marcados os legares
A~tomo Pwes.' Leonardo Nunes e os irmãos leigos para os edifícios publicos. .'
Vícente Rodngue:s e Diogo Jacorne, á frente Ma- Ao trabalho todos se entregaram, ínclusíve
noel da Nobrega, acompanharam a expedição. o indigena, que prestou serviços de monta ..
Contam as chronicas que, aportados que fô- Em' meioanno a cidade estava em condlçôe.s
rarrr os portugueses, lhes veiu ao encontro Diogo de ser solemnemente inaugarada, o que se veri-
A.lv~res, ? Caramurú, que com outros patricios ficou no dia 1 de Novembro de 15~9 com. a
aqui residentes deu informes relativamente á pompa indispensav,el: Tho~~ ~e So~z~, s~gUIdo
terra e á gente. das auctoridades e povo, dirigiu-se a ).greja? ou-
.Era este Diogo Alvares um portuguez que vindo a missa do Espírito-Santo, indo depois a?
aqui naufragara e que se salvara dos indios paço do Senado, onde declarou instaUada ~ CI-
segundo a lenda, por se ter servido de uma' dade com o nome de Salvador, prestando jura-
mento e assumindo o cargo de governador geral
42 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HlSTORIA DO BRASIL 43
do Brasil, cerímonia repetida perante elle pelas rior : não tinha a energia nem! 'O tino adminis-
auctorídades que lhe eram subalternas. traíivo do seu antecessor, de modo que 'O seu
Entr'O~ logo 0. ?'O,vernador a agir, organí- governo não teve 'O valimento do anterior.
sando a vida municipal, distribuind'O as terras E' ~erdade que nem! só as qualidades pes-
pelos colonos, com a 'Obrigaçã'Ode nellas residi- soaes de Duarte da Costa influiram na sua
rem', de satisfazerem 'Odizimo á Ordem de Chr-isto administração - as condições do momento C'O-
e de se não desfazerem das concessões terr'ito- 'Operaram também e bastante para 'O seu pouco
r iaes nos tres primeiros annos, exilo. Os indios, cançados da maldade dos colo-
Feito isto, começou Th'O~é de Souza de nos, reagiram e se revoltaram sob a chefia de
administrar, 'O que fez com proveito ínconteste, Cuüabebe; e 'Os Iranoezes se vinham installar no
de. mOd'01a se poder assegurar que sua direcção Ri'O de Janeiro, na ilha que conserva ainda hoje
fOI das mais profícuas que 'O Brasil teve. 'O nome de um de seus chefes.
Aos indios tratou com' relativa bondade , e E' claro pois que a acção de Duarte da
as terras sob sua direcção percorreu-as varias
" ,
Costa, fôra elle mesmo intrinsecamente de altos
vezes, curando com habilidade do seu progresso meritos políticos, tinha de ser difficultada pelas
e da ordem nos seus habitantes. circumstancias que acabam de ser expostas.
Durante sua gestão no Brasil for creado 'O Accrescia, entretanto, a aggraval-a 'Odescaso com
primeiro bispado, que coube a D. Pero Fernan- que Portugal procedia, não 'atlendend'O aos re-
des Sardinha. clamos do governador, deixando-o sem 'Os ele-
Partindo Pero de Góes para Portugal, man- mentes indispensáveis a uma lucta que tudo in-
d'O~ Thorné de Souza ao rei, o que já fizera dicava proxima e que prejudicaria certamente
mais de uma vez, 'O pedido de sua dispensa, do 'Osinteresses da metrópole.
cargo,' visto já ter excedido de um' anno o prazo C'Om'Ose não bastassem tantos entraves á
de seu governo. Acquiesceu 'O rei; e em 'chegan- direcção de Duarte da Costa, ainda rompeu séria
do á }3ahia o seu successor, em 1553, partíu contenda entre elle e 'Obispo D. Pero Sardinha,
Thorné de Souza, depois de ter feito uma admi- p'Or causa de seu filho Alvaro da' Costa, a quem
nístração fecunda e habil. 'Oprelado imputava excesso de libertinagem, aco-
Duarte da Costa, que devia' ser 'O continua- roçoada, dizia elle, pela excessiva fraqueza do
dor da 'Obra de Thorné de Souza, corno segundo governador.
governador geral, 'era-lhe manifestamente infe- E 'Os desvaires
, , tão communs então, de AI-
44 PEDRO DO COUTTO
PONTOS DE HISTORIA DO BRA31L 45
varo da Costa, que serviços militares de monla frentar o elemento francez; de outro, o indige-
prestara bastas vezes á colonia, molivaram ce-
na, cuja atlracção ao meio civilisado o porluguez .
leum'a €;I:l:tn~ o go~ernador e o bispo, os quaes em nem' sempre soube estimular.
cartas ao rei se recrirrrinavam reciprocamente. Portugal resolveu habilmente a diff'iculda-
Durante muito tempo se manteve essa ridi-
de nomeando terceiro gO~Brnador Mem. de ()á,
cula disputa, até que o bispo foi chamado a Por- homem digno e energico, cuja acção administra-
tugal, quando já se havia accommodado com o
tiva foi complementar da de Thomé de Souza',
governador. quiçá levando-lhe vanlagem, 'n,aturalmenbe por
Partiu elle com sua comitiva, e proximo ao
ter governado quinze annos- de 1558 a 1572.
rio Cururipe naufragou nos baixios de D. Rodri- Sua missão era complexa e difficil: ás per-
go, sendo devorado, quando salvo do naufragio turbações intimas, isto é, ás desordens entre por-
seguia por terra, pelos indios Cahetés. tuguezes e indios ainda lhe era relativamente
Correu o tempo, e em 1558 Duarte da Costa
~cil altender, mas o mesmo não se dava com' o
deixou o governo, não levando de sua passagem
elemento Irancez, que em pleno governo de
por elle grande renome,
Duarte da Costa se havia localisado na ilha en-
De mais notável com' a sua vinda ao Brasil,
tão denominada Sereqipe, -e depois e até hoje
foi, em' meio á nova remessa de jesuítas, a che-
do nome ido almirante audaz que a Portugal a
gada de José de Anchieta, o homem illustre que
tomou.
tanto havia de fazer por esta terra, augmentan- De facto , corria o anno de 1555, quando
do, graças aos seus talentos e virtudes, os servi-
um homem de vasta cultura e alta intelligencia
ços íncontestaveís que a sua ordem aq;ui prestou.
ao serviço de um espírito aventureiro e soffre'-
go de emoções partiu da Europa com destino á
mem de 5ã -- francezes no Rio de America, a pretexto de dar aos huguenotes um
1aneiro abrigo onde se não vissem ameaçados pela cam-
panha que lhes movia o catholicismo. Aportan-
A situação que Duarte da Costa havia dei-
do ao Brasil, com: seus confrade.s e aventureiros,
xado no Brasil, com parte. do seu territorio presa
quiz, a principio, estabeleoer-se na ilha' da Laqe;
da França,exigia um governo forte, mas calmo;
verilicando, porém, a sua desvantagem, passou
energico, mas ponderado, sem recursos ao arhi-
para a ilha de Seregipe, entrincheirando-se mos
trio. De um lado tinha o no;yo governo de cn-
monticulos nella existentes, e construindo um
•
46 PE,DRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 47
forte que chamou de Coligny, em honra ao al- se não subordinava integralmente á doutrina re-
mirante írancez, partidario do protestantismo, ligiosa, dando-lhe falsa interpretação. Ora, a um
patrono da expedição, e victima, afinal, na noite soldado disciplinado qual o almirante Irancez,
de St. Barthélemy, do odio de Catharina de que queria os padres tão sómente para atlrahir
l\1édicis, pelas mãos fracas de seu filho Car- o indigena á civilisação e não para lhe darem
los IX. normas de conducta, perturbando a sua acção
Esse homem audaz, que atravessou o Atlan- COm' discussões Iuteis e attentatorias da disci-
tico e hasteou arrogantemente o pavilhão fran- plina, só cabia reagír ; e fel-o; e dentro de algum
cez em meio á bahia de Guanabara, foi Níco- tempo os obrigava a voltar para a Europa, onde
láo Durand de Willegaignon, marinheiro valente elles, por vingança, assoalharam que Willegai-
e instruido, e de costumes austeros, qualidade gnon era um traidor á doutrina, cognominando-o
esta que lhe valeu a má vontade dos colonos que Caim da America.
com elle lvieram, os quaes não puderam dar e. Essa campanha' diffamatoria creou difficul-
pansão a seus instinctos, c, furiosos, tentaram' dades 'ao almirante francez, quando, de volta'
uma revolta logo por elle reprimida enérgica- á Europa, tentou obter novos recursos em pról
, /
mostrou á saciedade quanto comprehendera a 1lio de Janeiro, aliás medida presentida' por Mem
sua missão. de Sá, que já havia muito a queria localisar na
Na colonia era completa a desordem e ex- capitania do Espirito Santo.
traordinarios os abusos. O novo governador pôz Coube a Estacio de Sá, sobrinho do gover-
termo ás demandas, ao jogo e a uma série eno:- ador, a fundação da' nova cidade, junto ao Pão
me de actos reveladores da tremenda anarchia e ASIS'uaar, local onde se acha' hoj~ a Praia Ver-
moral dominante. Apresentava-se-lhe .ta~bem, ~ melha. Ahi se fortificou elle, entrando em lucta
índeclínavel necessidade de trazer o mdlg,~na, a 'COm os írancezes e os indios seus allíados. A
civílisação. E Mem' de Sá venoeu os re:alcItran- principio os portuguezes foram tomando conta
tes e aos domesticados reuniu em aldeias entre- â terra lentamente, sem que lhes fosse obstado
gu~s á direcção dos jesuítas. Feito que foi es~ esse trabalho; passados quatro dias, o inimigo
serviço, cumpria-lhe cuidar de u~ trabalho mais Aggride os portuguezes, que o vencem; dias de-
difficil e 'do qual dependia a sorte de Portugal Póis nova victoria portugueza, seguida de calma,
em terras da America: urgia expulsar os Iran- prenunciadora de espera de reforços, que de
cezes. E isto fez elle em' 1560, quando de Por- facto chegaram com a entrada á barra, a 1 de
Junho, de tres navios francezes acompanhados
50 PEDRO DO COUTTO
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 51
52 PEDRO DO COUTTO
Caldas e Gaspar Dias de Taide, quando da ex-
pedição ao rio S. Francisco. E' o caso que para
mandada por João Capdeville e Jacques Sore, o exito d' essa expedição se soccorreram elles do
celebres corsarios huguenotes, Trava-se lucta, sen- auxilio de Piragibe, chefe, tabajara que lhes pro-
do mortos todos quantos vinham na esquadra :porcionou victorias, e em paga de taes servi-
porlugueza. Foi então que o governo da metro- ços planejaram os portuguezes fazer ao seu po-
pole resolveu estabelecer a dualidade de governo deroso alliado o que haviam feito aos vencidos
no Brasil: o do norte e o do sul. Este, localisado - escravisal-o e a toda: a sua gente. Percebeu
na cidade do Rio de Janeiro, abrangia as capi- o chefe indigena a traição e dissimulou, conti-
tanias do sul a partir do Espirito Santo; aquelle, nuando a servil-os, até que, usando de um ardil
na cidade do Salvador, na Bahia, cornprehendia e com' o auxilio de um seu parente de nome As-
as capitanias de Porto Seguro para o norte. sento de Passaro, matou os traidores, escapan-
Coube o gowerno do norte a L.uiz de Brito e do sómente um mameluco, alliado dos portu-
Almeída: o do sul ao Dr. Antonio Salema.
, .'
Os dous go,vernadores reumram-se na CI-
guezes, graças á protecção de uma irmã de
Assento de Passaro; o qual levou aos reinoes
dade do Salvador pelo anuo 1574, e accorda- a noticia do desastre .
. ram' na attitude a' tomar relativamente ao indi- Emquanto pelo norte assim se ia effectuan-
gena. Feito' isto, dirigiram-se ás vespecti.vas sé- do: a conquista, no sul o Dr. Antonio Salema ex-
desf ,e trataram' de pôr em execução o duplo pro- pulsava definitivamente os Iranoezes, que con-
gramma - estender as conquistas e esmagar o tinuavam a traficar em Cabo Frio com' ajuda
Indígena. dos Tamoyos, os quaes por sua vez Iôram quasi
Luiz de Brito e Almeida atacou desde logo totalmente anniquilados, sendo muitos escraví-
o indigena até o rio Real, lançando dest'arte as sados e tendo os poucos restantes emigrado para
bases da capitania 'de Sergípe, e esboçou a con- o norte, parando sómente ao esbarrar com o
quista da Parahyba, Ao mesmo tempo seguira~ Amazonas.
rumb do sertão expedições dirigidas por Luiz Pelo armo de 1577 entendeu o governo de
Alves Espinha, Antonio Dias Adorno, Sebastião Porlugal tornar novamente uno o governo do
Alvares Gaspar Dias de Taide e Francisco 'Caldas, Brasil, para em 1608 tornal-o a bipartir.
que, indo em busca de minas, segundo dizia~', Os quatro annos de dous governos não sa-
traziam escravizados muitos indigenas, seduzi- tisfizeram aos planos de Portugal, que nomeou
dos pelas maneiras enganosas dos portuguezcs.
D'estas emprezas sahiram-se mal Francisco
55
54 PEDRa DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRAS}L
Lourenço da Veiga governador geral chezan- 1587, fiCou ia dírecção interina do Brasil eon-
do este á Bahia em 1578 e aovernand; o Bl~asil' fiada a uma' junta composta do pro:v~oT-mór
a t'e sua morte, em 1581, emb pleno domínio hes- ChriStoNão óe Barros, do bispo D: Antonio Bar-
panhol. . reiras e do outvidor-:ger:al Antonio Coelho de
. Em sua administração cuidou Lourenço da Aguiar, que permaneceu pouco' tempo, no' go:verllO;
Veíga de colonisar a Parahyba destruiu alzuns visto que foi a serviço para Perna'mbuco.
. f 'o Esta junta governou durante quat~o a~o.s
n.avlOs ranoezes que faziam o trafico, ímpul-
sionou a catechese enviando para os aldeíamen- e com feliz resultado, tendo a dita de ver pacífí-
tos. de jesuítas os indigenas que haviam sido cs- oado em 1590 o districto da Sergipe', q~e. ~stava
cravisados, e explorou o rio de S. Francisco até em desordem em virtude da acção dos mdlgenas
além da cachoeira de Paulo Affonso. mancom'munados com os francezes <Jl:le~erco:-
Em 1581, morrendo Lourenço da Veíga, riam! o littoral e creadal uma nova capüamacUJa
succedeu-lhe uma junta governatíva composta da capital recebe~ o nome de S. Christovão.
Ca~18.ra da' cidade do Salvador, do bispo D. An- A essa junta sucoedeu D. Francisco de Sou-
tomo Barreíros e do ouvidor geral Cosme Rangel ".a, em 1591, cujo governo vem' a~é o a~m~ d,ª
de Macedo. 1602, data e~ que o assume DlOgO Bptelho,
Dissentiram errr breve o bispo e o ouvídor-: para cxercel-o até 1607. . '
aquelle se retirou e o ouvidor dominou a Ca- Em Dezembro de 1q07 chega a Pernal11bu~
mara, impondo-se exclusivamente. E como lhe D. Diogo de Menezes, posteriormente co~d.e, da
fo~se feita opposíção, aos que a faziam' perse- Ericeir,a, como gov,ernador geral, e começa: ~e
guiu por todo o modo. eXlercelio seu cargo. Em 1608, ao chegar á Bahia
Terminou este estado de cousas em 9 de tem noticia de que o gOiVlC'rno
de Madríd resolvera
Maio de 1583, com a vinda do novo governador d~vidir novamente o Brasil em dous gov~rnos, c~-
geral, Manoel Tclles Barreto, que pôz termo á
bendo-lhe o do norte; sendo o do sul, a pa;tIr
desordem reinante, arnnístíando todos os culpa- do Espírito Santo, commettido a D.. FrancI~co
dos, entregando-se por completo administracão
á
de Souza, que chegou ao Rio. de J aneiro, capital
e. tendo tambem a ventura de vêr por fim rea- do sul, ainda em 1608.
lisada a conquista da Parahyba e iniciada a Morre D. Francisco de Souza em 1610, sue-
decorrenle colonisação. cedendo-lhe seu filho D. Luiz de Souza nago •.
Tendo Iallecido Manoel Telles Barrete em yern,ação do sul.
5Ó PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 57
Pf.DRO DO COUTTO
ram direito aos empregos e cargos, quer em' Por- vimento do apego ao solo, condição innata: ao
tugal, quer em suas possessões. homem.
. .Philippe II foi reconhecido em todos. os do- Foi nesse período que. se dilatou a conquista
~Imo~ portuguezes, tendo prova ímmediata da' do Brasil, então. parada em Itarnaracá, para a
s~ncendade da adhesão do Brasil no modo ener- Parahyba em 1585, Rio Grande do Norte em
gico com que Salvador Correia de Sá recebeu no 1598, Ceará em 1610.
Rio de Janeiro tres navios francezes encarrega- A conquista definitiva da Par ahyba deu-se,
dos de eíf'ectivar os direitos de D. Antonio, prior como ficou dito, no governo de Manoel Telles
do C.rato, que em paga a' esse serviço doaria o Barreto; para ella, porém, vinham contribuindo
Brasil a Catharina de Medicis, mãe de Henrí- os esforços dos portuguezes desde muito tempo.
que III de França. Assim é que em 1578 Frucluoso Barbosa, tendo
. ~ocha ,Pombo aprecia com justeza' esse facto obtido o privilegio de gozar, por dez annos as
p~hhco e jeintendre,com' razão, que, dada 3J situa- rendas da futura capitania e de lhe ser capitão-
çao do. ~omento, não foi desfavcravel a Portugal mór, tentou a conquista mas sem resultado, o
o domínio hespanhol, que se não fez sentir vío- mesmo lhe succedendo em subsequentes tentati-
lentOj,e que, 'ao contrario, respeitou relativamente vas tres annos depois.
o s.entim:ento nacional portuguez, facilitando-lhe Como os indigenas viessem até Itam'aracá,
assim, se b:m que indírectamente, a possibilidade onde destruíram engenhos, Telles Barrete man-
de se manifestar com a restauração, em' 1640. dou que Diogo Flores Valdez, chefe de uma es-
. E~ relação ao Brasil, tambem julga o illustre quadra hespanhola havia pouco chegado' á Bahia,
h istor-iador- que foi de vantagem esse domínio: fosse a Pernambuco, emquanto por terra; seguia
aliá~, é logico que todas as perturbações que sã: uma força de perto de 1.000 homens, composta
cudissem .a metropole, prejudicando-a apparente de brancos, negros e indígenas, sob o commando
ou effect~vamente, deviam dar resultados uteis de Dom Felippe de Mour'a e Fructuoso Barbosa.
ao BrasiL Chegado que foi a seu destino, Valdez man-
A preponderancia hespanhola se nos deu a dou que se levantasse um forte á margem' es-
má (Vontade dos povos infensos á Hespanha, pôz- querda do rio Parahyba, dando-lhe o nome de
no~ por ou~ro lado mais em evídencía, dando-nos São Felippe e nomeando para cornmandal-o
mais energias, maior capacidade de defesa ter- Francisco Castejon, que experimentou varies ata-
ritorial, determinando implicitamente 9 desenvol-
60 peDRO DO COUTTO
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 61
ques dos indigenas sob a direcção de Piraaibe
(Espinha de Peixe) alliados aos francezes. o trada do rio, um forte que chamou dos Tres Reis
Castejon lançou fogo ao forte e o abando- Magos.
nou, fugindo para Itamaracá. Os Potyguares alli dominantes fizeram te-
Como em breve Piragibe se malquistasse com naz guerra aos portuguezes, que para vencel-os
os indigenas da Parahyba, que o accusavam de tiveram o auxilio de J eronymo de Albuquerque
covarrlia, os portuguez.es o attrahiram' a seu par- e a alliança do chefe indígena Sorobabé.
tido, e d'este modo João Tavares, escrivão da Victoriosos os portuguezes, coube a Jerony-
Camara e juiz de orphãos em Olinda', e em se- mo de Albuquerque o encargo de capitão do Rio
guida Martim Leitão acompanhado de Manoel Grande, que posteriormente se chamou Rio Gran-
Fernandes, mestre das obras do rio, levando mui- de do Norte.
tos colonos, marcaram! no dia! 4 de Novembro
\ _ A conquista do Ceará realísou-se em
de 1585, á margem direita do rio , o local em . 1610. Anteriorrnente a 'esta época, porém', regis-
que se devia levantar o forte, cuja dírecção tram-se duas tentativas para o mesmo fim - a
coube a Francisco de Morales, que, vindo da de Pero Coelho] e a dos jesuitas Francisco Pinto
Europa, tomou posse :po cargo em Abril de e Luiz Figueira. Pero Coelho partiu em 1605
1586. para o Ceará, com 80 colonos e 800 indigena's.
_ A conquista do Rio Grande do Norte Chegado, atacou os selvagens de Ibiapaba e ten-
foi não só uma natural cOl1sequencia da da Para- tou fundar uma povoação na foz do rio Jaaua-
hyba, no empenho logico de avançar para o 'b b
1 e.
norte, como tambem' mais rapidamente incen- Seus companheiros, porém, começaram de
tivada pelos ataques que os indigenas e os fran- abandonal-o, o que levou o governador Diogo
cezes faziam á Parahyba. Assim pois, em 1597, Botelho a mandar em seu auxilio João Sorome-
Manoel Mascarenhas, capitão de Pernambuco, nho, cuja conducta peiorou a' situação de Pero
partiu a conquistar o Rio Grande do Norte , le- ~o~lho. E' o facto que, auctorisado a aprisionar
vando cerca de mil homens. indígenas, fel-o aos inimigos e aos amigos, obri-
Pouco distante da barra do Rio Grande fun- gando estes ultimos a fugir dos portuguezes
dou Mascarenhas uma povoação a que deu o Pero Coelho, vendo-se abandonado, voltou
nome de Natal, le.vantando, para defesa da en- á Parahyba, a pé, e com a magoa de ter perdido
alguns de seus filhos.
O governador castigou SorO'lnenho e 'deu li-
,.11.•.•..••.•. ~____..... __
PONTOS OS HISTORIA DO BRASIL 63
62 PBDRO DO COUTTO
da chegada do. inimigo, resolveram abandonar assumir o cargo Ioi substituído pelo.' ouvidor-ge-
a capital, co.nco.mendo.' para essa reso.lução. os rul Anlão de Mesquita de Oliveira, dentro. em
conselhos do. bispo. D. Marcos Teixeira. pouco. deposto par suggeslão. do. bispo. D. Mar-
Dessa circumstancia resultou Diogo dc Co.STeixeira, escolhido para lhe succeder. Feliz
Mendonça Furtado se não. achar preparado. con- foi a escolha, por isso. que o. bispo. se diriziu com
venientemenle para a resislencia. habilidade e energia, prestando. reaes s~r,viço.s,
No dia 9 de Maio. ro.mperam fogo. os ala- por pouco tempo. porém, visto que 4 mezes de-
cantes contra a cidade e contra 15 navios que se pois morr-ia, Por elle foram incumbido.; Louren-
achavam no. porto, sendo. tornados 8 e ínccndia- ço Cavalcantí e Antonio Cardoso do. commando
dos 7. Foram to.m.a'do.s os fortes de S.. Marcello das tropas, mantendo. o. mais absoluto sitio., no.
e Santo Antonio, respect\vamçnte, po.r Pieter que Ioram em breve secundados po.r Francisco,
1 'unes Marinho d'Eça, capitão-mór da' Parahy-
Heyn >C Major Albert Schouíen, que na ausen-
cia de Johan van Dorth co.mnl'alJ:rdo.uas tropas ba, mandado. de Peruambuco por Mathias de
de desembarque. A cidade foi corn facilidade oc- Alhuquerque.
cupada no. dia immediato depois de ter sido. !u~ltou-se-lhes após D. Francisco. de Moura,
derrotado Antonio de Mendonça, filho. do. gover- brasileiro, nomeado capitão-mór do. Reconcavo
nador, e este preso. após se ter batido. co.m gal-. e que nesse posto substituiu a Marinho. d'Eça.
Os hollandezes por seu lado. se achavam
lhardia.
Chegado. que Ioi J ohan van Dorth no. dia mal, cahíndo J ohan van Dorth a 17 de Junho. de
seguinte, 11, tornou a direcção da terra conquis- 1624 em uma emboscada, sendo. morto pelo. capí-
tada e reputando-se em segurança díspensou os tão. Francisco. Padilha, em combate corpo. a cor-
co.ntingentes da esquadra que a: pouco e pouco se po. Morto foi tambem pouco depois Albert Schou-
for-am retirando. ten que succedera a van Dorth, substituindo-o
Emqanto o. cornmandante hollandcz se jul- seu irmão. Willhem Schouten, cujo. comporta-
ga~Ta garantido, preparava-se a roacção que em mento pouco digno. provocou a indisciplina entre
breve se traduzia no. sitio. posto ás suas tropas. seus commandados.
O go.,verno., em consequenciu da prisão. de Tornavam-se de mais em mais difficeis as
Diogo de Mendonça Furtado, Iôra rccahir em condições dos sitiados, quando. o.governo hespa-
seu successor natural Mathias de Albuquerque, nhol fez partir uma grande esquadra sob o. corn-
governador de Pernambuco., que não. podendo mando. de D. Fradique de Tolcdo Osorío, Mar-
70 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE; HISrrORIA DO BRASIL 71
quez de Valduez Compunha-se clla de 52 na- Ao tempo em que apertava á Bahia a e's-
vios de guerra, lusivc os transportes, e .dc quadra de D. Fradique de Toledo, Pieter Heyn
12.500 homens de guarnição e de desembarque. com 4 navios e 300 homens de desembarque ata-
De portuguezes e hespanhóes era constitui- cava a capitania do Espirito Santo, sendo repel-
da essa esquadra, sendo o contingente dos pri- lido energicamente, tendo para isso cooperado
meiros de 23 navios e 4 caravellas e 4.000 ho- Salvador Correia de Sá.
mens, sob o cornmando de D. Manuel de Menc- Sendo mais essa tentativa: mallograda, Pieter
zes, tendo como almirante D. Francisco de AI- Heyn dirigiu-se para_ a Hollanda, ficando o
meida, e como comman'dante das forças de des- Brasil
, por esse momento liberto do domínio hol-
embarque, o sargento-mór Antonio Moniz Bar- landez.
reto; dos segundos era o contingente de 31 ga-
leões e 8 navios com cerca de 8.000 homens, Segunôa lnvcsüo hotlcnõezc
sob a direcção de D. Juan Fajardo.
Essa immensa frota chegou á Bahía a 29 Não desanimaram os hollandezes com: os re-
de Março de 1625, occupou desde logo a barra, vezes soffridos no Brasil: insistiram em' ata-
interceptando a sahida á esquadra hollandeza cal-o, Em 1627 Pieter Heyn entrou por duas ve-
composta de 21 navios, e pondo-se em commu ... zes no porto da Bahia, 'e avançando para o
nicação com as forças silianles reforçou-as com reconcavo travou combate com o capitão Padi-
tropas de desembarque. lha, que Ialleceu na peleja defendendo a posição
Os hollandezes, atemorisados, dcsliluiram de Petitínga.
Willem Schouten do counnando e escolheram Encorajado pela victoria, Pieter Heyn as-
para essa funcção .J ohn Ernest Kyff, que após salta e toma os galeões vindos do México sob
.30 dias de combates capitulou a 30 de Abril, o commando de D. Juan de Benevides, dando
entregando a cidade com tudo nella existente, um' lucro considerável á Companhia das lndias
sendo-lhe garantida, bem como aos seus subor- Occidentaes, que estimulada por ésse resultado
dinados, a voltaá Hollanda, Dias depois chega- prepara uma expedição de cerca de 70 navios.
va uma outra esquadra hollandeza de 311 na- Por esse tempo, era governador geral Dio-
vios, sob o commando ele Bondcwin Hcndriks- go Luiz de Oliveira, conde de Miranda, que haJ-
zoon, vinda em soccorro de seus compatriotas; via recebido este cargo em 1626, de D. Fran-
mas, sabedora do occorrído, seguiu para o norte. cisco de Moura, a quem D. Fradique de Toledo
72 PBDRO 00 COUTTO PONTOS DE, HISTORIA DO BRASIL 73
Osorio passára O governo após a restauração v.eram os hollaudezes de experimentar Iorte rea-
da Bahia. cção por parte dos habitantes do paiz,
Da partida da expedição hollandeza teve co- Malhias de Albuquerque organisou a resis-
nhecimento o governo hespanhol, recebendo en- tencia, fundando um arraial que chamou do Bom
tão. Mathias de· Albuquerque ordem de voltar Jesus e creou as Companhias de Emboscadas, a
a Pernambuco com a insignificanlissima força umadellas pertencendo como capitão o indio Poty,
de 3 caravelles e 27 soldados, afim de prorno- mais tarde conhecido pelo nome de D. Antonio
ven a defesa da capitania. Felíppe Camarão. E num encontro com essas tro-
Mathías de Albuquerque chegou a Pernam- pas, o. general Loncq perdeu cerca de 600 ho-
buco a 19 de Outubro de' 1629 e procurou, tanto mens, chegando quasi elle proprio a ser apri-
quanto poude, attenden á defesa, difficil bastante, sionado, o que se não deu graças á ligeireza' de
dada a deffícíencia' de recursos. seu cavallo.
Demorando-se a chegar a expedição contra Continuavam as escaramuças entre os dous
Pernambuco, Mathias de Albuquerque ordenou adversarios, sem: resultado a eciavel para qua~-
ao capitão Ruy Calaça fosse desalojar os ho11an- quer das forças inimigas. Foi então creado um'
dezes de Fernando de Noronha. Conselho de cinco directores, que tomou a ges-
Afinal, a 14 de Fevereiro de 1630, chegou tão do governp. O cornmando da esquadra' con-
diante de Olinda a esquadra hollandeza, tendo tinuou entregue a W'eerdemburch, sendo nomea-
corno almirante Pieter Adrians-zoon e trazendo do Vabbeck para almirante em' commissão.
a seu bordo o commandante geral Hendvick Cor- Os hollandezes, tendo recebido reforços, tenla-
neliszoon Loncq e o general das tropas Dietrick ram em 1631 tomar a ilha de Itarnaracá, designan-
Weerdemburch. do. para essa commissão o tenente-coronel Horl-
Chegada que foi, intimou á villa que se ren- man Gceírid van Steyn Callenfelds com 1.200
desse, o que se não dando, rompeu fogo, desern- homens. Não foram, porém, felizes, visto que o
barcando Weerdernburch no Páo Arnarello, com capitão Salvador Pinheiro os repelliu, tendo só-
cerca de 3.000 homens. Marcharam em segui- mente elles conseguido levantar o forte de Orange,
da sobre Olinda, que foi tomada facilmente de- ahi ficando o capitão Artichofsky com 300 ho-
pois de ter sido batido na passagem do Rio Doce mens.
Mathias de Albuquerque, que valentemente se Para a Europa participou Mathias de AI-
portou. Conseguida a occupação de Olinda, ti- buquerque a invasão, não sendo attendido con-
74 PfDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRA3lL 75
seu Pater, e torna a resolução de apparelhar uma de 1631, começando a experimentar derrolas
outra para se lhe oppôr. Constava esta esqua- succcssi\'as, taes como - a repulsa do capilão
dra, que vinha sob o comman'do de D. Antonio João de Mattos Cardoso ao ataque do tenente-co-
de Oquendo, de 19 navios de guerra e 34 de ronel Callenfclds contra o forte de Cabedello,
comboio, trazendo 1.000 homens para Pernam- na Parahyba ; a resistencia valoro a opposla pelo
buco, 800 para a Bahia e 200 para a Parahyba. tenente-coronel Porto-Carrero a Callenfelds no
Chegou ella á Bahia a: 13 de Julho, desembar- ataque do Rio Grande do 1 orte,
T
cando ahi os recursos trazidos, dirigindo-se a 3 A seu turno Weerdcmburch não tirou resul-
de Setembro para o norte, A 12 do mesmo mez, tado do ataque ao Rio Formoso; abandonando
porém, encontrou-se com a esquadra hollandeza, então Pcrnambuco, com 18 naviolS' foi derrotado
travando-se desde logo combate, com' plena der- no. Pontàl de Nazareth por Bento, Maciel Pa-
rota dos hollandezes. Alguns historiadores aí- rente.
firmam que o combate não deu completo ganho Assustados com a longa serie de derrotas,
de causa a nenhum dos contendores ; mas é certo cuidavam já os hollandezcs de abandonar Pcr-
ter sido submergido o navio almirante hollan- nambuco, quanelo lhes foi trazido auxilio grande
dez, e a tradição registrou a celebre phrase do por um conhecedor elo terreno, que desertara das
chefe da esquadra, J ansen Pater, ao se atirar tropas contrarias. Chamava-se elle Domingos
ao mar envolto no seu pavilhão: - o oceano é Fernandes Calabar.
o unico turnulo digno de um almirante batavo». Sobre este brasileiro cahiu a pécha' de trai-
1 Tão só essa circumstancía como lambem a dor, por haver elle passado elo domínio do por-
consecução dos planos que trazia a frota hespa-
J nhola, attestam a victoria desta. Com effeito, a
despeito de estragos consideraveis, conseguiram
tuguez para o do hollandez. Tão ha, em absoluto,
justiça nessa accusação : Quem era elle? Um ho-
mem: nascido nestas terras e que naturalmente
os hcspanhóes desembarcar 700 homens em Per- experimentava o descaso, o desdém e o mão-trato
nambuco; os quaes sob as ordens do conde Baj- que o portuguez dispensava ao brasileiros, pro-
gnoulo chegaram ao arraial do Bom Jesus depois vocando-lhcs, Como revide fatal, accentuada an-
de um percurso de 40 leguas. típathía. Em meio aos portuguezcs, conhecendo-os
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76 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 77
bastante e não sendo por elles estimado, é expli- sua direcção :(16 dias) tomou, sempre auxiliado
cavel que quaesqucr solicitações, explícitas ou im- por Calabar, o posto dos Afogados e atacou o
plicitas, o atirassem nos braços dos hollandezes. acampamento de Bom Jesus a 24 de Março, sen-
Era passar de um senhor para outro, liber- do porém, morlo e totalmente derrotadas suas
dade que elle devia ter e da qual usou. 1 Tatu- tropas. Substituiu-o no commando Segísmundo
calmenle os portuguezes jamais lhe perdoaram a an Schkoppe, que dentro em pouco tomava ai
preferencia e o classificaram de traidor. 1 Tão ti- ilha de Ilamarncá e o forle dos Tres Reis Magos
veram igual procedimento, porém, mais tarde, no IUo Grande do 1 Torte, e era derrotado na
em relação aos seus cornpatricios que Iuclaram Parahyba.
junto aos hollandezes e em favor dos quaes estes Destruíram os hollandezes uma esquadra a
ímpuzeram, no accordo da campina do Taborda cujo bordo vinham 600 homens, sob o comman-
- atnnistia, garantia de vida e de propriedade} do de Francisco de Vasconcellos da Cunha. Des-
bem como navios que os conduzissem á Europa. s reforços só recebeu l\1athias de Albuquerque
Assessorados por Calabar, começaram o's hol- 180 homens, o que muito o irritou, levando-o a
landezes a contar triumphos succcssivos, Assim tacar Olinda na noite de 17 de Maio, com com-
é que nr eerdemburoh toma por sorpreza a villa leto insuccesso.
de Iguarassú na noite de 30 de Abril, e o major Mais uma vez o Conselho Político assumiu
Schkoppe toma em Janeiro de 1633 o forte do a direcção, retirando-se os dous directorcs. Foi
Rio Formoso, resistindo-lhe ahi valenlemente Pe- ntão conquistada a Parahyba por Segísmundo
dro de Albuquerque com um contingente de 20 vau Schkoppe, que á capital deu o nome de Fre-
homens. derica, em atíenção ao Síathoutcr- Frederico Hen-
A valentia cxtraordínarla de Pedro de Al- rique, ao passo que garantia a plena liberdade
buquerque foi admirada pelos hollandezes, que religiosa, revelando desí'artc alta capacidade
depois de tratarem ele seus Ierimentos o deixa- política.
ram seguir para a Europa. Os pernambucanos viram-se afinal, em 1635,
Nesse tempo era o Conselho hollandez que reduzidos ao Arraial da Villa Formosa de Seri-
íunccioriava em Pernambuco, modificado, sendo nhaern, commandado por Mathias de Albuquer-
nomeados dous directores, o que desgostou a que; á fortaleza de Nazareth, sob a direcção de
lV,eerdemburch, levando-o a passar o commando Pedro Corrêa da Gama' e Luit Barbalho ; a Por-
ao coronel Rembach, que durante o período de to Calvo, commandado por D. Fernando de Ia
- 79
PONTOS DE HlSTORIA DO BRASIL
78 PBDRO DO COUTTO
Riba Aguero e ao Arraial do Bom Jesus, sob o a situação em que se achava o Brasil, em parte,
commando de André Morin. sob o dominio hollandez, resolveu a Hespanha
Eslas posições mesmo seriam dentro em tomar medida energica. Para islo entendeu con-
breve tomadas, firmando os hollandezes cada. vez veniente organisar uma expedição, para cujo
mais seu predominio. Assim é que Porto Calvo commando convidou D. Fradique de Toledo
foi tomado por Lichthardt, o Arraial do Bom Osorio. Este porém exigiu 12.000 homens, o
Jesus capitulou após tres mezes de sitio, c. a que pareceu ao governo por tal modo excessivo,
fortaleza de N azarch rendeu-se a Sshkoppe. que determinou a prisão de D. Fradique.
Mathias de Albuquerque, tendo cada: vez Foram em seguida convidados - D. Fran-
menos recursos, começou a effectuar a retirada cisco da Silva, que não acceitou o encargo por
para Alagôas, a 3 de Julho de 1635, indo reunir- não julgar sufficientes os recursos que! lhe con-
se .ao conde 'de Bagnuolo, que! lá estava desde' a cediam, e D. Antonio de Avila e Toledo, mar-
tornada de Porto-Calvo. . quez de Vallada que, recusando, indicou D. Luiz
Proximol a Porto-Calvo Sebastião Souto oí'íe- de Rk> jas y Borja. Este com 1.700 homens par-
receu-se ao hollandez Picard para sondar o tiu para o' Brasil afim de render a Mathías de
valor das forças de Mathias de Albuquerque e Albuquerque, que a 15 de Dezembro de' 1635 lhe
com' este fim' se dirigiu para o seu campo. Ahi, entregava o commando, partindo para a Europa,
combinou co~ Mathias de Albuquerque corno onde foi recolhido preso no castello de S. Jorge,
p.everia agir, e de volta ao acampamento hollan- em Lisboa, dalli sahindo, restituído á liberdade,
dez assegurou ao commandante Picard que os por occasião da restauração de Portugal.
brasileiros dispunham apenas de 200 homens. Com Borja vinha o novo governador geral
Confiando na informação, PIcard atacou-os, sen- Pedro da Silva, o Duro, que tornou posse em!
do derrotado, e aprisionado Domingos Fernan- Dezembro de 1635.
des Calabar, que foi enforcado. D. Luiz de Rojas y Borja assumiu desde
Depois desta victoria continuou Mathias de logo a offensíva, marchando para Porto Calvo
Albuquerque sua retirada, deixando aos hollan- que, abandonada pelos hollandezes, foi occupada,
dezes odominio 'de quatro capitanias - Pernam- pelo capitão Francisco Rebello. Foi de curta du-
ração esta victoria, visto que os hollandezes com-
buco, Rio Grande do Norte, Parahyba' e Ila-
maracá. mandados por Artichofski derrotaram' os hespa-
Depois de ler quasi descurado por completo nhóes, morrendo 'na luta Rojas y Borja;
80 PEDRO DO CC>UTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 81
Succedeu-lhe Bagnuolo, que começou uma rayel desemvolvimento ao territorio sob o seu
série brilhante de guerrilhas.,
governo.
Sendo favoravel o resultado das guerrilhas, A esse tempo van Schkoppe invadia Sergí-
pois que os hollandezes começara~ de expe.ri- pe, sentindo todavia, os ataques guerrilheiros de
menlar sorte adversa, a: Companhia das Indias Henrique Dias e Felippe Camarão. ' ,
Occidentacs resolveu encarregar 'de vir dirigir Mauricio de Nassau, por ordem do Cons e-
suas possessões no Brasil um homem: en~r;gico c lho dos XIX, partiu a tomar a' cidade do Salva-
competente - o principe João Maurício de or a 8 de Abril de 1638, com uma esquadra! de
Nassau .. O 'n~vios, com 3.400 soldados e 1.000 índios,
Chegado que foi, o principe tomou posse de xcluida a guarnição. Foi infeliz, porém', na em-
seu cargo a 23 de Janeiro de 1637, partindo enr preza, sendo obrigado a )voltar ao Recife,
seguida para Porto Calvo com 500 homens, tra- Em Janeiro do armo ímmediato chegava á
vando na Barra' Grande combate com' o conde de ahía o noIVOgovernador geral, D. Francisco
Bagnuolo, que dispunha de 4.~00 h?mens. . 1
Mascarenhas, conde da Torre, comi unra es-
Nesse combate Bagnuolo nao fOI desaloja- uadra de 18 navios. Preparou-se, e conseguiu
do das suas posições. Salíentaram-se na peleja, unir 89 navios com 2.400 peças, dispondo-se
Henrique Dias, combatendo sempre, mesmo de- tão a atacar os hollandezes. '
pois de amputar uma das mãos, e Felippe Cama- André Vidal de Negreiros, Barbalho e Ca-
rão, auxiliado fortemente por sua mulher - D. arão iriam por terra emquanto que Bagnoulo
Claro, Henrique Dias seguiriam' com o conde da Tor-
Não se reputando bem" Bagnuolo começou a bordo da esquadra.
a caminhar para Alagôas, deixando no posto que Encontraram-se com os hollandezes a' ? de
occupara pequeno contingente sob o cornmando aneiro de 1640 diante da Parahyba, onde o con-
de Miguel Giberton, que' poucos mas depois ca- de da Torre havia reunido 63 navios,
pitulava, Os hollandezes, a despeito de se acharem
Mauricio de Nassau perseguiu Bagnoulo até inferiores em numero, pois tinham 41 navios,
o rio S. Francisco, onde fundou um forte que aeceitaram o combate iniciado pelo conde da
teve seu nome e de volta ao Recife entregou-se Torre, sahindo delle victoriosos, não obstante
especialmente 'á administração, dando conside- averem perdido no começo da luta o almirante
82 PE'DRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASfL 83
cumbiria ao primeiro embale com a Hcspanha. cidas pelos hollandczes que os habitantes se re-
Pouca lisura também houve por parte do voltaram, lendo como chefe Antonio Moniz Bar-
governo portuguez, porque em todos os aclos reiros. Aprisionaram e mataram desde lozob
a
officiaes reconhecia o domínio da Hollanda no guarnição inimiga de cinco engenhos e tomaram
Brasil e ao mesmo tempo auxiliava secrclamente o forte do Calvario de Ilapicurú. Dirigiram-se
e animava a revolta dos brasileiros contra aquelle em seguida para a cidade onde começaram o
dominio, sem 'se descuidar de negal-o em 'publico». sitio, lendo anteriormente derrotado uma força
Eis corno cumpriam o armisticio. contraria, em Cotim.
Com facilidade realisaram os hollandezes as Do Pará foram 130 soldados e 600 indios
conquistas ao norte, para em pouco serem d'alli com artilharia e munições, sob as ordens dos
expulsos. capilães Bento de Oliveira, Ayres de Souza Chi-
D. João IV nomeou Antonio Telles da Silva chorro e Pedro Favilla. Estas forças conserva-
para substituir a junta' governativa que succede- ram-se sitiantes, permittlndo que os hollandezes
ra ao marquez de Montalvão, tomando elle posse recebessem o reforço de 300 soldados e' 200 in-
de seu cargo a 26 de Agosto, de 1642. dios, dirigidos pelo tenente-coronel Hinderson.
Com o noivo governador viera de Portugal Atacaram os hollandezes o quartel do Carmo,
André Vidal de Negreiros, a quem D. João IV COm vantagem, sendo depois derrotados quando
promettera o gO,verllo do Maranhão quando d' alli assaltaram a posição occupada por Muniz Bar-
fossem expulsos os hollandezes. André de "T e- reiros. Este pouco depois morria, sendo substi-
greíros tratou, logo que chegou ao Brasil, de íuído pelo !sargento../mór Antonio Tcíxeira de
procurar insinuar a revolta contra os hollande- Mello que ordenou a retirada para o Cotim;
zes e aproveitou da circumstancia de ter sido Chegados reforços suíficientes, Teixeira de
mandado pelo governador a tratar com Mauricio Mello tornou a off'ensiva, tendo 'sempre resulta-
de J assau, para accordar com vários inrlividuos dos valiosos em varias batalhas, sobretudo na
prestigiosos, notadamente com João Fernandcs do Outeiro da Cruz, obrigando por fim os hol-
Vieira, a insurreição em Pernambuco. landezes a se retirarem para o Ceará, a 28 de
Antes, porém, que Pernambuco se manifes- Fevereiro de 1644.
tasse contrariamenle ao domínio hollandez, o 1\1a- Estava, assim, liberto o Maranhão do donrí-
ranhão devia Iazel-o. nio hollandez, sendo delle nomeado governador
N esta capitania eram íaes as violencias exer-
86 P~DRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 87
50 escravos seus que se haviam batido, alislan- ba, ao passo que o cêrco do Recife se tornava
do-os como soldados. mais serrado. Por essa occasião os hollandezes
Em breve juntaram-se aos .ínsurrectos .as recebiam auxilio de 2.400 homens e bastante
forças de Henrique Dias e Felippe Camarão, munição, trazidos por Segismundo van Schkoppe
bem como dous regimentos sob as ordens de. numa esquadra
Vidal de Negreíros e Martim Soares Moreno, O governo hollandez para pôr termo á lucta
Foi então João Fernandes Vieíra acclama- offereceu a amdístía geral, que não foi acceita,
do chefe dos Independentes, cuja divisa era:- continuando as hostilidades.
Deus e Liberdade. Segismundo van Schkoppe foi derrotado por
Assumiu o commando em chefe André Vi- João da Silva ,e Braz de Barros, bem' como foi
dal de Negreiros, atacando uma columna hol- mal succedida uma expedição ao 'rio de São Fran- .
landeza commandada por João Blaar, que, não cisco, morrendo de morte natural Lichtard,aI
se sentindo seguro, se entrincheirou no engenho 30 de Novembro de 1646. Estes revezes foram
With, onde por algum tempo resistiu, sendo fi- compensados com a tomada por Schkoppe da
nalmente forçado a capitular. ilha de Itaparica, a 8 de 'Fevereíro de 1647, e
Rendia-se concomitanternente o forte 'de Serí- a devastação do reconcavo pela esquadra. -
nhaem a Marfim Soares Moreno e rendia-se tanr- O mestre de campo Francisco Rebello, en-
bem a Vidal de Negreiros o forte de Nazareth. carregado de retomar a: ilha de Itaparica, não
A causa dos brasileiros ganhava terreno: só foi derrotado, como perdeu a vida. A ilha' po-
em Porto Calvo os hollandezes rendiam-se -a; rém foi em' breve abandonada', por isso que
Christovão Lins ; Olínda era tomadai; o capitão . Schkoppe havia sido chamado ao Recife.
Nicoláo Aranha tomava 9 forte Mauricio, hoje O movimento libertador tão nobremente .iní-
cidade de Penedo. Eram porém' derrotados em ciado e tão corajosamente sustentado ia receber
Itamaracá, sendo ferido Cam:arão. um auxilio que em' poucos annos decidiria da
Os Independentes formaram uma nova' base contenda,
de operações a que deram o nome d[e Arraial A Hollanda reclamara' de Portugal o desres-
Nouo do Bom Iesus, sendo ahi acclamado gover- peito ao arrnisticío; e este que não podia aber-
nador J óão Fernandes Vieira. tamente tomar o patrimonio da insurreição, com
Felippe Camarão derrotou os hollandezes no a qual 'entretanto sympathisava, procurou ladear
Rio Grande do Norte, e seguiu para a: Parahy]- a difficuldade, aíf'ectando satisfazer aos recla-
90 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HIs:roRIA DO BRASIL 91
mos hollandezes. Simulou ordenar aos Indepen- .\ despeito da inferioridade Illll:lericu, fo-
dentes a cessação das hostilidades e demittiu ram victoriosos os pernambucanos, graças á sua
o governador geral Antonio Telles da Silva, no- valentia, mas ainda mais particularmente gra-
meando para seu substituto o conde de Villa ças á capacidade estrategica do commandante em
Pouca de Aguiar. Mas ao mesmo tempo mandava chefe.
secretamente Francisco Barreto de Menezes como Nesse combate perderam os hollandezes 478
mestre de campo general, para' com um reforço homens que morreram na acção, cerca: de' 530
de 300 homens pôr termo ás rivalidades entre feridos, peças de artilharia, munições, ficando
os chefes independentes. Barreto de Menezes foi muitos prisioneiro/s e tendo o seu chefe van Sch-
derrotado na viagem, perdeu as duas caravellas koppe sahido ferido. '
que levava e foi conduzido preso para! o Recife; Esta batalha memor avel é conhecida na his-
d'onde conseguiu fugir nove mezes depois, se- toria por - primeira batalha dos Guararapes.
guindo para o Arraial NOIvodo Bom Jesus, onde Ainda assim dizimados, apoderaram-se os
a 24 de Janeiro de 1648 assumiu o commando' hollandezes de Olinda, permanecendo allí entre-
em chefe datando d'ahi ai série de víctorias que tanto pouco tempo. Tentaram' mais duas vezes
deviam pôr termo ao dominio hollandez. retornal-a, mas Iôrarn repellidos pelo heroico
Reforços chegaram aos hollandezes, já d'elles Henrique pias.
necessitados, visto que se achavam reduzidos á Os ínsurrectos sentiram-se duplamente des-
posse do Recife e dos fortes de Itamaracá, da) falcados - de gente e da bravura de Felippe
Parahyba e do Rio Grande do Norte. Camarão, . que havia. fallecido no fim' do anno
Mais uma vez foi offerecida a' amnistia de 1648, succedendo-lhe no cornmando dos in-
pelos hollandezes, para ser de novo rejeitada. digenas seu sobrinho Diogo Pinheiro Camarão.
O termo da Iucta heroica se approxima, e Os hollandezes sitiados em Recife e des-
os independentes se não querem subordinar de moralisados com as consecutivas derrotas ten-
modo algum ao hollandez. taram um esforço supremo.
A 19 de Abril de 1648, trava-se batalha en- Doente ainda dos ferimentos recebidos Sch-
tre van Schkoppe com 4.500 homens e Barreto koppe não poude assumir o commando das tro- ~
de Menezes com 2.400, numa estreita passa- pas, sendo d'elle encarregado o coronel Van deu
gem entre os montes Guararapes .e as Aguas Brincke, que com 3.500 homens foi derrotado;
das Corcoronas, a tres léguas do Recife. i numa segunda batalha nos montes Guararapes,
92 PEDRa DO COUTTO
PONTOS DE HIS!TORIA DO BRASIL 93
a 19 de Fevereiro de 16-:19, por Barrete ele Meue-
zes á frenle de 2.600 homens. Mais uma vez mandada por Pedro J acques de Magalhães, pos-
Barreto de Menezes e,videnciou suas brilhantes teriormenle visconde da Fonte Arcada, que pôz
qualidades eslrategicas, destroçando completa- termoá lucla. Accordados os chefes de mar e
mente o inimigo. terra, deram o golpe decisivo, COIU tanto maior
Além da morte do coronel Brincke, os hol- audácia quanto estavam certos de que os soe-
landezes conlaram a morte do vice-alrnirante Gi~- corros so licitados pelos hollandezes não lhes po-
lissen, que acompanhava o combate, de 92 offi- deriam ser enviados, em consequencia da' derrota
ciaes e de consideravel numero de soldados. infligida á esquadra hollandeza pelo almirante
inglez Blake.
Esse combate não foi entretanto, o termo da
lucta, que por mais cinco annos se pro,~ongou. Cercados por mar e por terra fôram os
Era todavia facil de julgar que o fim das. llOUandezes perdendo successivame:nte as forta-
hostilidades se approxímava, já pela tenacidade lezas do Rego ou das Salinas, Buracos, Afoga-
dos pernambucanos, já pela difficuldade em' que dos, Santo Amaro e Barreto; Segismundo van
se encontrava a Hollanda, em' guerra com a Schkoppe concentrou-se no Recife, defendido
Inglaterra desde 1612, de cuidar de suas pos- elo forte das Cinco-Pontas. Foi ahí atacado a
sess,ões. 20 de Janeiro de 1654, e quando se ia dar o .ata-
Além disso, para se contrapô r á Compaí- que decisivo ordenado por André Vidal de N e-
nhia das Indias Occidentaes, havia sido creada reiros, que se achava ferido, pediu o chefe hol-
a Companhia do Commercio do Brasil, com o andez uma conferencia a que aquelle acquiesceu.
monopolio de alguns generos e outras conces- Nessa conferencia, que durou tres dias, An-
sões, tendo como obrigação, porém, mandar ell~as ré Vidal de Negreiros exigiu a entrega do Re-
esquadras por anno para comboiar os n~v~o.s ife, da Parahyba, de Itamaracá, e de Fernan-
o de X oronha.
mercantes, concorrendo para expulsar dcl irnti-
mente do Brasil os hollandezzes. AcceiLou Segismundo vau Schkoppe a im-
Com a primeira esquadra da nova compa- osição de K egreiros, e assignou a 26 de J a-
nhia vieram alguns reforços, que se Iôram' re- eiro de 1654, na campina do Taborda, diante
petindo á medida que novas-esquadr~s
. chega- o forle das Cinco Pontas, o accordo pelo qual
vam. Finalmenle em Dezembro de 16~3 chega -
apitulavam os holIandezes, enlregando todos os
va uma esquadra de mais de 60 navios, C0111- j pontos occupados no Brasil, armas, munições,
etc., a troco de arnnístia aos portugllezes que se
94 P6DRO DO COUTTO PONTOS DE HIS'TORIA DO BRASIL 95
haviam bandeado para os hollandezes, garan- guezas e faria outras concessões ccmmerciaes de
tias de vida e de propriedade B navios para se- menor importanCÍa.
rem reconduzidos á Europa. Ao Brasil não bastava a lucta sustenlada
Os hollandezes retiraram-se do Brasil com quasi que sómente com' recursos proprios, tal o
as condições estahelccídas, entrando no Recife pequeno auxilio recebido da metropole, cumpria
a 27 de Janeiro de 1654, João Fcrnandes Vieíra' entrar com a quota annual de 120.000 cruzados
e André de Negreiros com sua gente. No dia durante o prazo de 16 annos.
immcdiato fazia sua) entrada na cidade o gene- Por 24 annos teve o Brasil de manter guer-
ral Barreto de Menezes. ' ra aberta Com os hollandezes, que se não que-
Após a capitulação dd campina do Toborda,
os hollandezes mantiveram as hostilidades contra
.
riam deixar desalojar de tão commodas posições: ,
o sacrificio de vidas, de tranqüilidade, de bens
Portugal na Europa e na' Asia, de sorte que no de toda a ordem, foi em parte compensado pelo
reinado de D. João IV não se fez a paz, que só desenvolvimento da industria e do commercio
foi assígnada quando reinava D. Affonso VI, pelo conhecimento não só de grande faixa do .
filho d'aquelle monarcha a' 6 de Agosto de 1661, littoral como do interior das capitanias do norte,
por mediação da Inglaterra. O papel assumido por obras de engenharia, que ficaram a atteslar
pela Inglaterra explicaí-se por ser Carlos II, seu o gráo de cultura do povo hollandez e seu tino
rei, esposo da irmã de D. Affonso VI. administrativo, sobretudo na phase de Mauricio
O tratado, ratificado em 1662, estabelecia de T assau, incontestavelmente homem de alto
que a Hollanda renunciaria ás províncias con- valor.
quistadas no Brasil, e Portugal abriria mão 'de Ficou evidenciada a superioridade do hol-
seus direitos sobre as Molucas, Malaca, Ceylão landez sobre o portuguez no que diz respeito a
e mais terras até então perdi'das. Outrosim, pa- espirito de iniciativa, bastando para confírmal-rs
garia Portugal no prazo de 16 annos a quantia observar. as modificações que elles fizeram ex-
de 4 milhões de cruzados, em dinheiro, assucar perimentar ás terras sob sua gestão.
ou tabaco, em prestações annuaes de 250.000 O Brasil hollandez tornou-se realmente pros-
cruzados. Restituiria tambem todas as peças de pero: nossos productos tornaram-se conhecidos
artilharia encontradas no Brasil com as armas na Europa; a cidade Mauricía, cujo plano foi
hollandezas, garantiria a liberdade de culto aos devido ao artista Picter Post , era realmente bella ,. •
hollandezcs dornicilíados nas possessões portu- dous soberbos palácios Iôrarn' construidos para
96 PEDRa DO COUTTO JlONTOS De HI~TO~IA DC> 8lASIL
resistencia do chefe hollandez; um brilhante elen- Sua administração devia durar cinco annos,
co de artistas - pintores, architectos, esculpto- cabendo-lhe a presidencia do conselho adminis-
res, para aqui veio espontaneamente ou a con- trativo da colonia, com voto duplo, 'e podendo
vite; e até um observatorio astronomico foi cons- conferir postos militares em' período de guerra.
truido na ilha de Antonio Vaz, e expedições' Em tempo de paz era-lhe facultada a escolha em
scientífícas fôram realizadas. lista triplice apresentada' pelo conselho, de ac-
E para coroar a série de benefícios que aí- cordo com o qual podia fazer as nomeações dos
testavam o tino pratico] e o emprehendimento do funccionarios civis.
povo que se tinha -vindo installar pela' força das Era, pois, Nassau quasi senhor absoluto da
armas em vasta zona do nosso paiz, foi insti- terra que ia conquistando para a sua pátria.
tuída a liberdade de consciencía, que concorreu A' proporção, porém, que a prosperidade avul-
grandemente para attenuar a aversão dos na- tava, a Companhia das Indias Occidentaes o ia
turaes pelo estrangeiro domina'dor. desgostando, desconfiada' de que pudesse elle
Esta situação, 'entretanto, não foi de mui crear para si um reino in depend ente. O pricípe,
longa duração, visto que era producto da com- magoado com a suspeita', demittiu-se, seguindo
petencia de um' homem a quem a inveja devia para a Europa'.
preparar a quéda, acarretando mais rapidamente Começaram', então, os desastres motlvados
a expulsão dos seus compatricios das terras bra- pela ganancia da Companhia; ao espírito libe-
sileiras. ral, justo e emprehendedor, succedeu a rotina,
Com effeito, ao principe João Mauricio de a immoralidade, a tyrania, precipitando a re-
I\" assau deveu exclusivamente o Brasil ho11an- acção por parte dos brasileiros'.
dez a sua prosperidade. Nomeando Mauricio de Foi novamente convidado o principe de Nas-
T assau para' dirigir as terras e as pugnas nesta sau para reassunrir o governo que deíxára pros-
parte da Ameríca, a Hollanda mostrou conhecer pero e respeitado; mas as condições que impôz
sua alta capacidade administrativa e seu valor á Companhia não fôram acceítas, e de quéda
militar; deu-lhe a Companhia das Indias Occíden- em quéda os hollandezes cediam o passo aos in-
taes amplos poderes. o titulo de governador, ca- surrectos brasileiros até serem expulsos defini-
pitão e almirante dos paizes conquistados e por tivamente,
conquistar, e o cornmando de todas as forças de Salvou-se a integridade do territorio, mas
terra e mar. perderam-se as qualidades da raça, que inocula-
98 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HIS'TORIA DO BRASIL 99
ria na alma brasileira, ao lado das suas natu- "\. razão primeira dessas desavenças consis-
raes qualidades de intelligencia e de coração, as tia no modo pelo qual consideravam o indio. O
condições de caracter - a coragem, a perseve- colono não se queria subordinar aos processos
rança, a firmeza; , pelos quacs os jesuitas captavam a sympathia do
indigena - procurava sempre escravisal-o.
Luctas entre jesuitas e colonos. A tal ponto chegou a preoccupação tyraní-
BeCRmann ca dos colonos que só admittiram' a' localisação
dos jesuítas no Maranhão com a' condição destes
Terminado o dominio hollandez, Portugal os não perturbarem, envolvendo-se nessasques-
entrou na posse dos territorios brasileiros que Wcs. :
lhe haviam sido tirados, graças áenergia dos Todas as leis referentes a esse assumpto
pernambucanos, ou melhor, dos brasileiros. Fo- eram sophismadas. Assim é que a' lei de 1611,
ram elles incontestavelmente os que mais se es- repetição da de 1574, auctorisando a escravísa-
forçaram para expulsar o invasor tenaz e intelli- "Ção do indio preso em guerra ou corno resgate
gente, visto que da metropole, mesmo depois da '-do prisioneiro já condemnado á morte, foi de tal
restauração, os auxilios não fôram de tal monta sorte burlada que em 1652 uma outra lei prohi-
de modo a reputal-os de primeira ordem. E' bia a escravidão e considerava libertos todos os
verdade que os portuguezas também' se bateram, Indígenas, A essa nova revoltaram-se os colonos
mas não é menos verdade que a acção se deveu do Maranhão, o mesmo fazendo os do Pará, en-
especialmente aos nacionaes. viando ambos os grupos revoltados representan-
Do que não resta duvida é que a metropole tes a Lisboa. '
não tomou como devera o patrocinio claro dai Estavam nessa situação, quando surge no
reacção, limitando-se a soccorros de menor Iaranhão o padre Antonio Vieira; grande ora-
valor. dor e finissimo diplomata, que em favor dos op-
Apossou-se entretanto Portugal dos territo- prírnidos poz seu alto talento e grande prestígio
rios rehavidos e continuou a politica estreita junto á Côrte. '
que sempre havia mantido. Do descaso ou da Não obstanle, os colonos se mantinham em
ausencia de capacidade deviam resultar as lu- seus miserandos processos.
ctas que em breve se davam entre os jesuitas e DifIicilmente poderia Antonio Vieira, mes-
os colonos. mo iaccorde com o governador do Maranhão, Al~-
100 JtEDlW DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 101
dré Vidal de Negreiros, conseguir o que dese- rtl'eiros quanto ao progesso material, mas íncon-
java, fossem quaes Iossem' as penalidades, por testavelmente immoraes.
isso que senhores de 'escravos eram todos, menos Portugal resolveu, como a Hollanda o fize-
os jesuitas. ra, crear companhias de cormnercio com o mono-
Irritados os colonos contra os jesuítas que polio de certos generoso Assim, foi estabelecida
se haviam estabelecido em Gurupá, no Amazo- em 1649, a Companhia Geral do Commercio
nas, aprisionaram-nos e os enviaram' para Be~ ~lo ~prazo de. 20 annos, findos os quaes poderi~
lém, Foram' punidos, porém de modo algo beni- díspôr de mais 10, caso o quizesse. Obrigava-se
gno, de sorte que mais enraivecidos se tornaram; a Companhia aenviar ao Brasil duas esquadras,
Continham-se de algum' modo em virtude do composta cada uma' de 18 navios, para cornboiar'
prestigio de Antonio Vieira junto a D. João IV. seus navios mercantes.
Morrendo porém' o rei e tendo deixado o cargo, Compunha-se a Companhia de accionistas
André Vidal de Negreiros, reanimaram-se os co- sendo 9 directores, gozando de certas immunida~
lonos, indo até o Senado de Belém a enviar a: es os que nella tivessem 10.000 cruzados. Po-
Vieira uma carta' em' que se pregavam ais van- dia o utrosim alliciar mercenários e mesmo offi-
tagens da escravidão, ciaes do exercito.
Em pouco, o conhecimento de carlas parti- As mercadorias, tanto exportadas como im-
culares de Antonio Vieira sobre a colonia , tor- portadas, embarcariam em seus navios sendo pa-
nadas \publicas, graças á perfidia de um monge
vindo de Lisboa, provocou uma revolta formi-
, . ..
gos os fretes a priori estabelecidos:
'
Alem desses favores gozava a' Companhia
davel, sendo atácadoí o collegio dos jesuítas. e estes do privilegio de não serem" preparados no Brasil
presos e deportados. Antonio Vieira quiz oppôr- generos que pudessem concorrer C01l1' os do seu
se a esses excessos, sendo também preso, e bani- comm'ercio. Prohibiram a venda de aguardente
do do territorio. de canna, bem como estatuíram outras medidas
Para o sul as mesmas luctas se davam; ten- iníquas, tendo em Ivista -exclusivamente a' prote-
do sempre o mesmo alvo - a escravidão do CÇ.ãopara os artigos de seu monopolio: vinho,
indio., trigo, bacalháo e azeite. Taes violencias provo-
, Aíóra 'esses males, outros se verificavam, caram protestos, que 1evaram o rei D. Affonso
trazendo consequencias tão graves como os pri- ~I a cassar a concessão do quadruplo monopo-
lio, compensando, porém, esse prejuízo Compa-
á
103
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL
102 PEDRO DO COUTTO
entre os revolucíonaríos. Nestas condições G0- o espírito nobre e altivo de>indio, em _opposição
mes Freire de Andrade desembarcou audaciosa- ao servilismo boçal do negro que se nao revolta-
mente,: apoderando-se dos fortes, provocando a' va contra a infame exploração.
adhesão da guarnição e mesmo do povo. Semelhante julgamento não tem absolula-
, Como se~pre, o a~hesismo vesgo impava, mente consistencia, visto que denota desconhe-
brando proveito das mais antagonicas situações. cimento completo da situação do negro e do
Não houve, pois, resistencia, fugindo Beck- indio.
man e outros de seus companheiros, Não basta dogmaticamente affirmar - o ne-
Foi concedido o perdão aos revolucionarios gro é servil, o indio é altivo; é preci~~ corro-
m~n?s aos mais em evidencia no movimento. In- bIorar essas asserções com factos pOSitiVOS, de
sht~lU-se um tribunal que condemnou ao bani- modo a evidenciar sua veracidade.
mento alguns dos implicados na revolta' outros á Porque o negro é servil? Porque o indio é
morte. Neste numero se achavam M,an~el Be~k- altivo?
man e Jorge de Sarnpaio, ' Certo, só um estudo Ido' meio physico e so-
Beckman, que se achava foragido na fazen- cial póde permittir um' juizo seguro, l1es~e.como
da do .Mearim, foi descoberto e denunciado por em outros assumptos. Ora, tal estudo VIria pa-
seu afilhado e protegido Lazaro de Mello, tentear a razão do servilismo apparente do ne-
gro e da altivez 'do indio.. .'
Pclrnoree, Emboabas e mascates Seja como fôr, não se deixando o indígena
dominar, procuraram' os portuguezes trazer pa.ra
. . Os portuguezes encontrando tenaz resisten- o Brasil os negros africanos. E com esse funJ
era por. parte dos indigenas á escra,visação, lan- converteram-se nos maiores traficantes de escra-
param t~rpemente mão dos africanos, cujas ter- vos, usando da situação especial em que se acha-
ras haviam pisado e mesmo pilhado. vam relativamente á Africa.
A reacção digna, e aliás naturalissima dos Desenfreiadamente , sem dó, sem compaixão,
f .
indígenas, á brutalidade do europeu foi l~vada arrebanhavam todos quantos podiam ílludir, aci-
á conta de insubmissão e índolencia pelos que litados até certo ponto nesse lriste mislér pela
os tentavam subjugar. situação social do africano.
Para outros, mais modernarnente imbuídos Outra fôra ella e sem duvida' altivamente
d~ um sxotíco indianismo, tal 'repulsa ~ara~t~risa
106 PEDRO DO COUTTO
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 107
extraordinaria, foram afinal esmagados, prefe- cio portuguez por sua situação liltoral, em plena
rindo o Zumbi e seus principaes auxiliares ali- prosperidade, com uma população que augmen-
rarem-se de um despenhadeiro a se entregarem lava sempre, e entrelanto sob a jurisdicção de
prisioneíros. - Olinda.
A morte escravidão. A liberdade no tumulo
á
Os porluguezes do Recife exerciam, além
á vida nas algemas. disso e para mais odiosos se tornarem dos olin-
Tão estavam porém lerminadas as luclas deuses, verdadeira usura nas transacções com
no Brasil: outras se desenrolaram ao norte e os brasileiros de Olinda dos quaes eram cre-
ao sul da bella colonia portugueza da America, dores.
denunciando o espirito de nativismo, que até Todas eslas pequenas causas accrescidas da
então latente começava a explodir. mais importante que era o espirito de natívísmo:
Era aliás natural que, medida que os bra-
á
que linha forçosamente de extravasar um' dia,
sileiros fossem tendo noção do seu proprio va- deram logar a luctas porfiadas, duradouras e
lor, fossem parallelamcntc reagindo contra os lerriveis, que ensanguentaram por mais alguns
portuguezes, que da terra e 'das gentes só que- annos o sólo pernambucapo já tão rudemente
riam auf'erir lucros. A animosidade reciproca experimentado durante o domínio hollandez.
era Iatal, e d'ella naturalmenle deviam' decorrer Os portuguezes do Recife impetraram' da
succcssos que a traduzissem. Um' cl'esses é O que côrte de Lisbôia a elevação do Recife á categoria
a histeria consigna sob a denominação de Guerra de cidade, e a metrópole, como era de prevêr,
dos mascates e cuja acção se desenrola em: Per- attendeu aos seus reclamos, encarregando da fi-
nambuco. xacão dos limites da nova cidade o governador da
A razão que levou á lucta pernambucanos c capitania .Sebastíão de Castro Caldas e o ouvi-
porluguezes foi apparentemente Iutil, mas signi- dor Luiz de Valenzuela Ortiz.
ficou de modo inilludivel o estado dos espirilos Desavieram-se logo estas duas auctoridades,
em ambas as parcialidades. visto entender o governador que as freguezias
O movimento teve seu inicio na rivalidade ele Ipojuca, Cabo e Moriheca deviam pertencer
entre Olinda, antiga! e opulenta capital, então de- ao Recife, e o ouvidor, á Olinda.
cahida do seu primitivo esplendor, arruineída Demarcado que foi o Recife, foi erguido na
pelas guerras hollandezas e habitada por fazen- praça principal o pelourinho, symbolo da justi-
deiros brasileiros, e o Recife, séde do commer- ça, sendo essa cerimonia feita' occultamente, á
110 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 111
noite, de modo que ao amanhecer Recife era Diante dessa attitude o governador partiu
'
cidade. para a Bahia acompanhado de muitos portugue-
O presidente da camara de Olinda procurou zes.
o governador, protestando contra o aeto. O go-: Os vencedores festejaram durante dois dias
vernador prendeu-o incontinente, como a vários a victoria e destruiram o pelourinho ao som' de
outros, tornando-se mais tensa a situação. canticos religiosos.
Achavam-se já exaltados os animos quando Findo os festejos, reuniram-se em: assem-
um tiro disparado no governador, determinou bléa composta de proprietarios de terras e de
por parte deste uma reacção forte. indivíduos conceituados da cidade e trataram
Dívergencías entre o governador e o bispo de resolver sobre 'O modo de instituir o governo.
de Olinda, D. l\lanoel Alvares da Costa, motiva- Duas correntes se apresentaram consoante
ram em pouco a ruptura das hostilidades. De ao assumpto : - o partido moderado queria o
fado, andava o bispo em viagem, acompanhado bispo, aliás successor legal do governador ; o par-
por um indivíduo suspeito de cumplicidade no tido exaltado tendia para a republica ; este porém
attentado contra o governador, quando foi em se achava em minoria.
caminho procurado por tropas que pretendiam' Afinal o governo foi organizado proviso-
prender seu companheiro. Recusou-se o bispo a riamente com uma junta de seis membros bra-
entregar o suspeito, provindo dahi lucta, da qual sileiros, até que o rei sé manifestasse a respeito.
sahiram vencidas as tropas do governador. O partido moderado foi ganhando influen-
Diante desse resultado a revolta se fez for- cia e em breve assumiu o governo o bispo, até
te e '20.000 homens sitiaram o Recife. que um novo governador. fosse nomeado.
Achando-se -doente o governador ,e sem for- O primeiro aeto do bispo foi dar amnistial
ças sufficientes para a resistencia, entendeu me- com'pleta aos implicados na sublevação.
lhor entrar em accôrdo com os revolucionarios, Neste periodo, porém, foi instituida uma
prornptíf'icando-sc a entregar os presos, desde magistratura muito liberal, revelando o ponto de
que os seus adversarios se desarmassem. Estes vista adiantado dos revolucionarios.
altivamente responderam não necessitar de ac- Surge então na arena um homem audacioso
côrdo, visto que se achavam fortes para libertar e dispondo de grande fortuna. Chamava-se elle
os presos, bem como para t 1 ar a cabeça ao go- Bernardo Vieira de M,e110,e alliava a bens avul-
vernador. tados um temperamento ardente.
112 "fDRO DO ~OUTTe> ,.ONT(!')5 DE HI~TO~IA DO 8~ASIL 113
Assumiu a chefia dos radicaes e partiu para Continuou a revolução, visto que só o Re-
o Recife, pretendendo fazer embarcar novamente cife se conservava fiel ao rei. Foi-lhe posto cer-
o governador a chegar, caso elle não trouxesse 00, ao quaâ resistiu, retirando-se então o bispo,
a amnisíia. " que se passou palra os revolucíonarios, assumin-
Recebido com temor pelas autoridades, em do João da Motta a direcção suprema'.
breve foi descoberto. o seu plano de apoderar-se Nova feição tomou a guerra - ambos os
do deposito de pólvora. partidos affirmava'rri fidelidade ao rei.
O bispo o aconselhou a partir do Recife; Continuava a lucta sem resultado apreciavel
mas Bernardo Vieira de Mello forte de sua' gen-
I ,
para nehuma das partes, a despeito do apoio
te, não deu importancia ~ advertencia. trazido ao Recife pelo capitão-mó r da Parahyba,
Começaram em pouoo as luctas entre as tro- João da Maia da Gama, quando chegou de Lis-
pas de Vieira 'de Mie110e à guarnição militar. boa uma esquadra: trazendo o novo governador,
B'ernardo de Me110exigiu o castigo dos sol- a quem ambos os partidos dirigiram congratu-
dados como provocadores, e o bispo por fra- lações.
queza acquíesceu ás suas exigencías. Com algumas medidas enérgicas foi resta-
Diante da oonducta do bispo revoltaram-se belecída a ordem, ficando o Recife oom os fóros
alguns soldados que tinham! de ser deportados e de cidade, e Olinda tendo como compensação a'
que haviam sido acolhidos no convento dos Car- regalia de ser por seis mezes a resídencia do
melitas, em' desespero 'de causa, e como medida; governador, o que se não manteve por muito
suprema, encontrando apoio em todos os rea- tempo.
listas. Estava assim finda a guerra, continuando
Foi afinal vencido Bernardo Vieira de Mello, entretanto a má vontade entre pernambucanos e
por ter tido a velleidade de dar' a liberdade porluguezes, animada pela parcialidade das au-
a um povo que se queria manter escravo. ' ctoridades lusitanas.
Vencido, foi Bernardo Vieira de Mello pre- Antes d'estas luctas em Pernambuco haviam
so, sendo a prisão oonfirmada pelo bispo que a rebentado outras em Minas.
João da Motta entregou o commando militar. As descobertas de ricas minas de ouro , fei-
Isto posto, proclamaram' que ainda era go- tas pelos paulistas, despertaram, a cobiça dos por-
vernador Sebastião de Castro Caldas, bem corno tuguezess, que em grandes massas vinham da
o Recife se mantinha cidade. metrópole, deixando de ficar no littoral como
114 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE. HISoTORIA DO BRASIL 115
,
119
PONTOS DE HISTORIA 00 BRASIL
118 PEDRO DO COUTTO
parte da população e dos estudantes sob o Com- pilulação que lhe deu a cidade ele novo, a 10
mando de Bento do Amaral Gurgel.
de Outubro. de 1711.
Foi intimado o governador a se render e o A conducta indigna de Castro Moraes im-
imbecil respondeu que «defenderia a cidade até possibilitou Antonio de Albuquerque ~oelho de
a ultima gotta do seu sangue.» Palavras, só pa-
Carvalho, que havia' chegado de ~~mas COl~1
lavras. Era muito inepto e muito covarde para 3.000 homens de cavallaria' e iütantaria, de agir
cumprir o que respondera ao inimigo.
energicamente contra os francezes.
Em breve 'mesmo, Castro Moraes. com a Todos inclusive o proprio governador que
maior parte da tropa', abandona indignamente a entrou co~ 10.000 cruzados, contribuiram' para
cidade, fugindo para o Engenho dos Padres e o pagamento exigido. Conseguíram-n'o por fim,
em' seguida para Iguassü.
sendo embolsado Duguay-Trouín.
Entrementes, Duguay-Trouin, apertando o Não só essa avultada' quantia receberam os
bombardeio, se foi apoHerando dos fortes que se Irancezes, visto que do saque tiraram elles mais
lhe, rendiam sem' resístencía, de modo que se
de 12 milhões de cruzados.
achou em' pouco senhor- da cidade. I
Conhecido o resgate a 4 de Novembro, par-
Não quiz Duguay-Trouin demOrar-se na ci- tiu a '13 Duguay-Troin, tentando ainda assaltar
dade conquistada, por isso que elle via' clara- a Bahia. Sendo-lhe 'porém contrartcs os ventos,
mente que os r,eforços contrarios chegariam' in- desistiu da empreza Ie dirigiu-se para a França.
evitavelmente
. e elle seria forçado , talvez , a uma
Na viazem soffreu Duguay-Trouin grandes
retirada pouco digna. Cuidou então de tirar o
prejuízos d; gentle e de dinheiro, levan~o ainda
maximo proveito da aventura'. Com effeito cer- assim optimo resultado para' a sua patría. .
to do pavor de que se achavam pi)slSuidos o; por- Francisco de Castro Moraes teve o premio
tuguezes, ameaçou incendiar a cidade, forçan-
de sua conducta indigna, sendo condemnado a
do-a dest'arte á capitulação.
degredo perpetuo na India.
Exigia elle 610.000 cruzados em dinheiro
100 caixas de assucar e 200 bois para a alímen-
tação de sua gente. o Bra5i1 no reinado de D 1oão U.
Bandeira5
Francisco de Castro Moraes misera:Velmente
acquiesceu a essas impOSições, assígnando a ca- A D. Pedro II succedeu no throno de POIf-
tugal seu filho D. João V, que foi acclamado a
122 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HIS'TORIA DO BRASIL 123
5 de Janeiro de 1707. Seu reinado foi vantajoso sendo seu primeiro governador D. Antinio Rolim
para o Brasil, seguindo elle as pegadas de seu Moura, posteriormente conde de Azambuja.
pae. A industria desenvolvida, a colonisação para Concomilantemente se iam creando bispados.
o sul e os descobrimentos dos paulistas repre- O rei ha muito havia libertado o poder ju-
sentam os elementos primordiaes d'esse periodo. diciario da subordinação aos governadores ge-
1 Ta preoccupação que o dominava - as co- rais collocando os ouvidores dependentes da re-
lonias hespanholas do Prata - procurou o rei lação da Bahia.jsendo que os do Maranhão' e Pará
collocar-se bem, no sul, creando elementos para! eram subordinados á de Lisbôa.
qualquer emergencia. Assim é que mandou João Outrosim , elevaram em 1714 os vencimentos
de Magalhães em 1726, ao Rio Grande do Sul, dos governadores geraes, considerando-os como
incumbido de construir uma estrada permittíndo seus directos delegados, ficando os demais func-
communicação com: a 'colonia do, Sacramento, bem cionarios da colonia a lhes dever obediencia como
como nomeou o brigadeiro José da Silva' Paes, a elle proprio.
cornmandante militar, o qual chegou a,o Rio Foi nesse reinado util ao Brasil, que os des-
Grande a 9 de Fevereiro de 1737, começando. cobrimentos do interior se accentuaram assás.
uma po;voação junto á barra, sendo empós, a 11 Aventureiros audazes lançavam-se sertão afó-
de Agosto de 1538, provido no cargo de governa- ra, á procura de ouro, desbravando terras até
dor de Santa Catharina, creada capitania subor- então desconhecidas. A essas emprezas chama-
din.ada ao Rio de Janeiro. Posteriormente, como vam bandeiras. Eram ellas compostas de indívi-
se tornassem relativamente extensos os territorio, duas a tudo dispostos, dotados de espirito em-
o rei fez novas divisões: em 1720 tirou de São prehendedor e resignados a toda a ordem de
Paulo o territorio de Minas, formando uma nova contratempos.
capitania, cuja capital foi Vil/a Rica) nomeando, Atiravam-se ao acaso, desconhecendo os ca-
seu governador D. Lourenço de Alrneida , a 8 inhos por onde marchavam, descuidados ab-
de Dezembro de 1744 o dislricto de Goyaz foi solutamente de feliz resultado, ímportando-lhes
separado de Minas e elevado á capitania, tendo pouco saber si voltariam ou não aos seus do-
por capital Bôa e como governador D. Marcos micilios.
de Noronha, depois conde dos Arcos; ainda a' 9 Sendo ignorado o destino que haviam' de
de Maio de 1749, Cuyabá foi elevada á capitania levar não dispunham de provisões suíficientes.
,
Muita vez, em pouco, ellas se esgotavam, e então
-
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 125
124 PEDRO DO COUTTO
percorrido grande parte do sertão, morre sem governo com o titulo de Capítão-mór das minas
ter colhido o resultado visado. de esmeralda.
De não menor insuccesso é a bandeira de Seguiu Paes Leme para sua arrojada aven-
Glitnnier, assim chamada em consequencia de tura, denotando desde logo seu espirito pratico.
nella se encontrar o hollandcz Wilhelm Glimmer. Com effeito, á medida que avançava foi forman-
Desse modo, á caça de ouro, levas de homens do estações, de modo a estabelecer constantes re-
se internavam pelo Brasil, não trazendo o metal lações entre os varios pontos em que houvesse
procurado, não o encontrando mesmo, mas em passado. Desse modo atirou-se sertão a dentro,
compensação abrindo caminhos, revelando ter- fazendo parada no local em que se acha actual-
ras. mente a cidade do Serro, onde por quatro annos
Annos bastantes as bandeiras exploraram os permaneceu, enviando expedições para' varios
sertões, trazendo por vezes mineraes de pouca pontos, sem todavia nada achar de ouro ou pe-
valia e algum' Duro, de nenhum' modo compensa- dra preciosa.
dores dos sacrifícios feitos. A desillusão em pouco começou por traba-
Como se houvesse (encont"rado esse pouco lhar os espiritos, levando alguns bandeirantes á
ouro e muito ferro em' S. Paulo, varios decretos revolta contra Paes Leme, abandonanrlo-o e '"01-
foram expedidos, offerecendo titulos de nobreza, tando para as suas terras. Paes Leme porém não
ordens honorifícas e outras concessões, aos des- desanimou com mais essa contrariedade: homem
cobridores quaesquer. de energia, não se arreoeiou desse contratempo
Deprehende-se d'ahi a avidez do precioso como se se não houvera molestado com as diffi-
metal que a metropolc revelava. culdades que já o haviam assaltado.
Das mais celebres bandeiras que o genio Enviou um emissario á esposa afim de que
audaz dos paulistas concertou, salienta-se in-: ella lhe remettesse o que lhe era necessario, féilo
conlestavelmenle a de Fernando Dias Paes Leme. o que, internou-se mais pelo sertão.
Era esse homem possuidor de fortuna e do- Encontrou-se então runn terreno onde a
tado de experiencia nessas emprezas arrojadas lenda collocara esmeraldas em profusão, e, máo
em que o seu espirto audaz se comprazia. Re- grado a insalubridade do local, nelle se man-
solveu, pois, organizar ásua custa uma expedição teve. Ao seu espirito dominado r e severo tudo
para o fim de descobrir minas, agraciando-o o se submettia, sendo exemplo a circumstancia de
mandar enforcar um filho natural que se havia
128 PEDRO DO COUTTO "0NTO~ Df HISTO~IA00 BItA~IL 129
revoltado com outros. Esta medida extra-ener- Por esse tempo já elle havia descoberto varias
gica bastou para debellar a rebellião. minas, cujo paradeiro o governo lhe pedia' em'
Vencidos todos os trabalhos, todas as dif- troca do esquecimento do crime. Acquiesceu Bor-
ficuldades, conseguiram encontrar as esmeraldas, ba Gato, obtendo não só a rehabilitação para
trazendo-as então em porções para São Paulo. seu nome como tambem honras.
Não teve entretanto Paes Leme a ventura Como Borba Gato e Paes Leme, Antonio
de voltará sua terra, visto que morreu ás mar- Rodrigues Arzão, Bartholomeu Bueno da Silva,
gens do Rio das Velhas. o Anhanguéra, e outros, varreram os sertões á
Em S. Paulo foi reconhecido não serem es- procura de ouro e pedras preciosas.
meraldas as pedras trazidas depois de ~tantos As bandeiras, com todos os seus erros, com:
dissabores. todos os seus crimes, revelam' a tempera forte de
Ao encontro de Fernando Paes Leme fôra' um povo, a quem, é facto', a avidez ímpellia, mas
uma bandeira sob a direcção de seu enteado a quem não faltava, é evidente, qualidades de
Manoel Borba Gato, que chegou no momento do energia e de emprehendimento.
fallecimento do padrasto, de quem' se despediu e De miado indirecto, elles cooperaram' paira o
de quem recebeuas falsas esmeraldas, conhecimento do territorto', e ahí é que se encon-
Borba Gato dirigiu posteriormente novas tra o seu maior merito.
bandeiras, bem corno muitas outras se organi-
saram explorando o lerritorio das Minas. o. J05é I e o marquez de Pombal
Quando se achava Borba Gato em excursão cuerra5 do 5ul
veiu-lhe ao encontro, dirigindo uma bandeira
Rodrigo Castello Branco, intendente das lava- A 31 de Julho de 1750 morria D. João V,
gens do ouro em S. Paulo. Entendeu este que sucoedendo-lhe seu filho D. José I, cujo reinado
Borba se lhe devia submelter, resultando dahi se notabilisou pela acção do grande estadista
disputa, tendo como consequencia ser assassi- Sebastião José de Carvalho e Mello, Marquez
nado Rodrigo Castello Branco. <m Pombal, neto de brasileira e grande amigo
Borba Gato fugiu para o interior, alheian- do Brasil, de cujo progresso curou com' 'energia.
do-se por inteiro do mundo. Receiava elle da Devemos-lhe serviços innumeros, attestado-
justiça que lhe seria feita pelo crime perpetrado. res incontestes de sua grande visão politica. As-
e por isso viveu durante vinte annos no sertão. sim é que deu liberdade aos indios e cooperou
130 PEDRO DO COUTTO
PONTOS DE HISTORIA 00 B~ASIL 131
para que os portuguezes se casassem com as capitão-general Gomes Freire de Andrade, depois
indias ; diffundiu a instrucção primaria na colonia Conde de Bobadella e do norte ao capitão-general
e distinguiu os brasileiros, nomeando-os para do Maranhão, Francisco Xavier de Mendonça
cargos de monta; prohibiu que as donzellas bra-
Furtado e depois em substituição, a este, o gover-
sileiras fossem mandadas para os conventos euro- " , t,
nador de Matto-Grosso, D. Antonio Rolim de
pêos ; desenvolveu o commercio, diminuin~o os Moura, posteriormente Conde de Azambuja.
impostos e creou bancos e navegação no RIO de A Hespanha por seu lado nomeou para as
Janeiro; aboliu a inquisição e os direitos tem- duas demarcações - do sul, o marquez de Val-
poraes do clero; impulsionou a ímmigração ; pro-
delirios , e do norte D. José Iturriaga.
curou estabelecer sympathia entre brasileiros e Partiu Gomes Freire para o sul a 19 de Fe-
portuguezes; creou o vice-reinado com séde ~o vereiro de 1752, conferenciou com o delegado
Rio de Janeiro, de modo a melhor attender as hespanhol Valdelirios, 'e ambos ínícíaram' a de-
guerras do sul.'
marcação que em breve forarnl obrigados a parar
Esta synthese de trabalhos fecundos ao Bra-
por causa da altitude dos indios das Missões,
sil o torna digno de nossa veneração, e a; sua
impellidos a assim agirem pelos jesuítas.
acção na politica européa o colloca no plano de
Gomes Freire deu-lhes combate, obrigando-
um Richelieu.
os á submissão, não obstante a periciacom' que
Defeitos, teve-os. E quem os não tem? No!
os dirigiam o padre Mathias Strobel, superior
cotejo, porém, entre estes e as qualidades que o
nas missões, e o padre Lourenço Balda, chefe
recommendaram, estas os sobrepujam em muito. militar da campanha.
E é em conjuncto que se julgam os homens:
Essa victoria não permittu, todavia, que fos-
Applicando-se-lhe esse modulo de julgar, pode-
sem continuados os trabalhos-de demarcação, pois
se affirmar que elle foi um dos maiores estadís-
que um elissidio se estabeleceu entre os demar-
tas do seu tempo.
cadores , determinando a vinda: ele Gomes Freire
O grande serviço de D. José I consiste em o
de Andrade para o Rio de Janeiro.
ter mantido, resistindo' á grita da mediocridade,
Ao norte, o mesmo gesto de opposição dos
invejosa do grande ministro.
jesuítas impossibilitou a acção de Francisco Xa-
Subido ao poder, tratou Pombal de dar exe-
vier de Mendonça Furtado.
cução ao tratado de Madrid, de 13 de Junho,
Pombal, ante a conducta dos jesuítas, assen-
de 1750 , incumbindo da demarcação do sul aOI
tou expulsal-os dos ominios portuguezes, pe-
"-
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 133
132 PE,DRO DO COUTTO
exigiu explicações decisivas, que a côrle de Hes- D. Affonso Valdez, com 2.000 homens de
panha, influenciada pela França, Inglaterra e cavallaria e 4.000 indios, atacou a Colonia do
Italia, se promptificou a dar. Sacramento, que durante 6 mezes resistiu va-
Celebrou-se então um tralado provisorio, o lentemente, graças á energia de seu commandante
qual resava a entrega immediata da Colonia do Sebastião da Veiga Cabral.
Sacramento com toda a artilharia ahi encontra- Finalmente não poude Veiga Cabral resis-
da, e bem assim a reprehensão do governador tir, capitulando e retirando-se para o Rio de
de Buenos-Ayres. Janeiro com a guarnição.
Reintegrada a Colonia do Sacramento no Ficaram os hespanhóes de posse da colonia
domínio portuguez, ia em franca prosperidade até o tratado de Utrecht (1715) em virtude do
quando nella se veio reflectir a situação de Por- qual Portugal novamente a recebeu, sendo no-
tugal diante da guerra' de successão de Hespa- meado seu governador Manuel Gomes Barbosa.
nha. Nesse momento Portugal, a quem o rei de Não obstante os dispositivos desse tratado,
Hespanha não queria desagradar, firmou um' tra- os hespanhóes continuaram a hostilizar os por-
tado (1701) pelo qual a margem esquerda do tuguezes na Colonia do Sacramento. »:
Rio da Prata lhe ficaria pertencendo. Assim pois, Tomaram a deliberação de fundar Monteví-
foi pelo governo, porluguez resolvida a creação déo, o que ha muito Portugal desejava fazer,
de uma colonia em' Montevidéo, o que não con- sendo sua ultima tentativa nesse sentido a de
seguiu pela relutancia apresentada pela Hespa- Manuel de Freitas da Fonseca, que foi forçado,
nha, resolvendo então cuidar exclusivamente da' a recuar de suas pretenções ante a superioridade
Colonia do Sacramento. das forcas de D. Bruno 'Mauricio Zabala.
Iniciada que foi a guerra entre Porlugal e Est~belecidos em Montevidéo, os hespanhóes
Hespanha por ter a primeira das nações lomado continuaram a desejar a Colonia do Sacramento.
parlido por um dos pretendentes ao throno da Atacaram-n-a varias vezes, cumprindo salientar
segunda, a repercursão na America se deu inc- como mais notavel dessas tentativas a dirigida
vilavel. por D. Miguel de Salcedo, em 28 de Novembro,
Tentaram então os hespanhóes expulsar os de 1735. Foram porém repellidos vantajosarnen-
portuguezes do Rio da Prala. Ao governador de te pelos portuguezes dirigidos por Antonio Pedro
Buenos-Ayres, D. Affonso Valdez, foram dadas de Vasconcellos, commandante da praça.
instrucções nesse sentido. No ataque feito por Salcedo, os portuguezes
116 peDRa DO COUTTO PONT05 oe HIStTORIA DO BRASIL 137
resistiram heroicamente ao bombardeio durante o amor ao sólo' e o odio ao novo senhor le-
dois annos, rompendo afinal o sitio em um ata- varam-n-os á reacção, obrigando as tropas que
que vigoroso que paz em debandada os adver- auxiliavam o serviço de demarcação a uma re-
sarios. tirada.
Mas o que não conseguiram os hespanhóes Da acção combinada' dos exercitos - hespa-
pelas armas, conseguiram-n-o pela diplomacia: nhol e portuguez, em 1756, se poude conseguir
firmaram um tratado, conhecido por tratado de a submissão dos indios. Alguns se mudaram para
Madríd ,(13 de Janeiro de 1750) em' que se pro- territorio hespanhol 'e outros se internaram na:
curavam estabelecer os limites das nações na floresta.
America. Não estava ainda definitivamente resolvido
Em' virtude desse tratado, feito por D. Tho- o litigio entre as duas potencias rivaes: reben-
rnaz Antonio Telles Visconde 'de Villa Nova de tando em' 1761 a guerra conseqüente ao chamado
Cerveíra, por parte de Portugal, e D. José de- ~pacto de familia, em virtude da ligação dos Bour-
Corhajal-e Lencaster, por parte da-He:spanha, bons de França e Hespanha contra a Inglaterra
para o dominio desta passava a Colonia do Sa- e Portugal, de novo no sul da América recome-
cramento e para o de Portugal o territorio das çam as hostilidades.
sete missões do Uruguay, composto de 7 aldeia- D. Pedro de Ceballos, governador de Bue-
mentos de Guaranys, sob a invocação de S. Bor- nos-Ayres, á frente de 6.000 homens torna a Co-
ja, Santo Angelo, S. João Baptista, S. Nícoláo, lonia do Sacramento, invade e se apossa de va-
S. Luiz, S. Miguel e S. Lourenço. rios pontos do Rio Grande.
Nesse territorio haviam os jesuitas fundado Negociada a paz na Europa pelo tratado de
colonias de indios guaranys que sob sua' direcção Fontainebleau deviam os hespanhóes restituir as
trabalhavam na agricultura. Sobre elles a Hes- , terras tomadas na America. Só o fizeram rela-
panha não exercia nenhuma influencia directa tivamente á Colonia do Sacramento, conservan-
deixando-os entregues aos jesuitas hespanhó~ do entretanto o que haviam tomado no Rio Gran-
que os governavam. de do Sul.
. Não acceitaram de bom grado os jesuítas a Em' 1 de Julho de 1767 o governador do Rio
Incorporação a Portugal, tarnpouco se quízeram Grande conseguiu expulsar os hespanhóes do
aproveitar da concessão que lhes faziam de aban- norte da capitania, e totalmente o fizeram com a
donar essas terras.
138 PEDRa DO COUTTO PONTOS DE HISlTORIA DO BRASIL 139
derrota experimentada pelo brigadeiro D. José do ser -íços, mas que representava então um
de Molina, ntrave pernicioso ao progresso.
A Hespanha irrita-se e incumbe a D. Pedro Anles de Pombal expulsar os jesuitas, prohi-
de Ceballos, na qualidade de Vice-rei do Prata, biu-Ihes, bem como a quaesquer outros religio-
de baler os portuguezes. D. Pedro de Ceballos sos, comprar c vender indios, baseado na bulla
com cerca de 20.000 homens conquista facilmente de Benedicío XIV, de 1741.
a ilha de Santa Catharina a 20 de Fevereiro de' Pouco depois decretava o grande político, a'
1777, graças á capitulação de seu governador 6 de Junho de 1755, a emancipação dos indios do
Antonio Carlos Furtado de Mendonça, e por ca- Pará e do Maranhão, seguindo-se a de todos os
pitulação do coronel Francisco José da Rocha' indios do Brasil, a 8 de Maio de 1758.
toma a colonia do Sacramentoi a 31 de Maio. Taes medidas são suíficíentes para revelar
Ceballos, talvez para que a Hespanha um o valor do homem' que a estreiteza de fidalgos
dia não fosse forçada a restituir a Colonia do ediocres sacrificou.
Sacramento, arraza-a e obstrue-lhe o porto.
Quando D. Pedro de Oeballos se achava em lnconrlõenclo mineira
plena febre de conquista, assigna-se em Outu-
bro de 1777 o armisticio de Madrid e após, em Vinha de longe a aspiração emancipadora
Dezembro, o tratado de Santo Ildefonso, em vir- do jugo portuguez; aqui e acolá explodiam' re-
tude do qual a Hespanha restitue a ilha de voltas denunciadoras da aspiração brasileira; Ial-
Santa Catharina, conservando porém a posse da ára entretanto o momento opportuno para que
Colonia do Sacramento, das Missões do Uru- :() Brasil se constituísse em nação independente,
guay e outras terras de valor, ao sul. e d'ahi o mallogro das varias tentativas nesse
Assim, Portugal perdia definitivamente a co- sentido. Se fracassavam os movimentos de rebel-
lonia pela qual vivera em hostilidades com a ião, serviam todavia para attestar o ardor com
Hespanha dezenas de annos. Ao governo de en- ue os brasileiros desejavam sua libertação do
tão deve o povo portuguez essa perda; já não [ugo luso. Portugal só devia vêr nesses actos de
mais dirigia os seus destinos o grande Pombal) ebellião o preparo para acção mais decisiva, pois
Ao eminente estadista deve Portugal servi- ue as medidas violentas postas em pratica pela
ços de primeira ordem, culminando-os a expul- ctropolc mais promptamenle determinariam o
são dos jesuítas, instituição que houvera já pres- ermo do seu domínio em terras da Ameríca,
140
P0NTOS DE HISTORIA DO B~ASIL 141
Tudo, pois, presagíava que as revoltas se iriam ções com Thomaz J efferson, Ministro ~os ~s-
tornando mais frequentes e mais forros á pro- dos Unidos na França. Essa approximaçao,
porção que o brasileiro fosse tendo noção mais rtão infructifera, demonstra entretanto a ha~
nítida de seu valor. Com effeito, a cultura e a ílidade com que se dirigia o moço patriota,
fortuna de que muitos brasileiros dispunham, se- ocurando o apoio da novel republica, em pról
riam necessariamente postas ao serviço de sua e seus ídeas,
patria, com 'tanto maior presteza quanto era Não fôra a morte prematura de José Joa-
evidente a má vontade, o odio mesmo que por im da Maia e é possivel que grande contin-
eUes experimentavam os portuguezes. Accresce ente pratico trouxesse elle á revolução que den-
ainda que sobre esses brasileiros se fazia inevi- o em breve planejada ia fracassar por de-
tavelmente sentir o movimento philosophico que uneia traçoeíra á sanha portugueza.
vinha trabalhando o mundo moderno, fazendo-os M\inas-Geraes, onde em 1720 Felippe .dos
conhecer novos horizontes, apontando-lhes a róta antos fôra assassinado brutalmente por asprrar
a seguir consentanea com os tempos. liberdade para sua terra, era o ponto natural-
Assim, pois, já pela. revolução que se operava ente indicado para séde do movimento liberta-
no espirito de escól, já pela situação premente or pelas eircumstaneias especiaes em que se
em que se via o natural do paíz, não era de adrní-
ach~va no momento: para ella haviam' voltado da
rar que a explosão se désse. Para demorar nem uropa onde se haviam imbuído das idéas revo:
havia sequer habilidade por parte de Portugal, lucionarias - Domingos Vidal Barbosa e Jose
que, ao contrario, usava de uma política estreita, lvares Maciel. Homens illustres pelo saber e
cavando mais o odio entre as duas massas que los talentos, todos pertencentes ao. escol bra-
habitavam o Brasil. Ainda outra circumstancia ileiro partilhavam as mesmas doutrinas eman-
encorajava os brasileiros na empreza de sua li- ipad~ras, sympathisavam com as idé~s que agi-
bertação - a independeneia dos Estados-Uni- avam a sociedade e o 'mundo, anceiavarn por
dos. Esse movimento despertou verdadeiro en- rnar livre a pátria' que contava tantos e tão
thusiasmo nos brasileiros, principalmente nos que dignos filhos. Eram elles - o lenente-coron~l
na Europa estudavam, recebendo alli o influxo rancísco de Paula Freire de Andrade, Ignacio
das idéas novas. Um d'elles, José Joaquim da
e Alvaranga Peixoto, Claudio Manoel da .C~sta,
Maia, patriota ardoroso, soffrego de redimir sua homaz Antonio Gonzaga, o alferes Joaquim .10-
patria da prepotencia portugueza, estabeleceu re- da Silva Xavier, cognominado o Tiradentes, e
142 PfDRO DO COUTTO PONTOS DE HWTORIA DO BRASIL 143
outros, cujos talentos e posição social garan- ponsabilidade decorrente, Tiradentes enerzica-
b
tiam a segurança dos planos libertadores. E for- mente se entregava á acção, Das commissões
maram uma conjuração com o fim de realisal-os. mais arriscadas era elle o encarregado, e levad~
Concertados, os revolucionarias reuniam-se por seu C?:ação abnegado, propunha-se a pren-
em casa de Claudio Manoel da Costa, onde os der ~ capitão-general da provincia e a percorrer
poetas resolviam de preferencia sobre o que se depois as ruas da cidade chamando ás armas
devia fazer depois do triumpho da revolução, os seus patricíos.
deixando em segundo plano a realisação d'esta. Theoricamente fôra decidido ter a revolução
A despeito dos talentos litterarios de muitos caracter republicano, ficando pois resolvida a
conspiradores, Ialtavam-lhes a capacidade orga- implantação da republica, e rebentar o movi-
nica, a coragem' grande. e a convicção profunda, mento quanto o .governo procedesse á cobranca
condições imprescindiveis aos que se atiram' a! do quinto do, ouro, avultadíssimo então por estar
emprezas de tão alta monta'. Dominando-os, po- em grande atrazo. Não eram os brasileiros cul-
rém, de maneira incontrastavel pela pureza de pados do atrazo da' cobrança, 'antes elle resultara
caracter, pelo devotamente á causa que abra- do declinio da índustria da mineração declinio
çára, sobresahia a: figura de Tiradentes, a alma tão accentuado, que o, rendimento do ouro não
do movimento e o amico de todo abnegado e desin- attingia sequer o minimum exigido pela corôa.
teressado, A opportunidade não poderia ser melhor
A esse homem extraordinario se deve a a'gi- para o levante, faltando apenas a acquísição dos
tação da idéa emancipadora, bem como á sua meios materiaes e a adhesão do Rio de Janeiro e
conducta heroica se deve o registro nas paginas de S, Paulo, que foi julgada indispensaveL
da histeria d'esse mallogrado movimento rein- Tiradentes, que se offerecia sempre para os
vindicador .. postos mais arriscados, veíu ao Rio de Janeiro,
Emquanío os conjurados discutiam a futura on~e, chegado, percebeu logo as vantagens ma-
bandeira, onde devia figurar um triangulo, sym- teríaes do governo e a fraqueza, nesse parti-
bolo da Trindade, comi a divisa Libertas qUCE sera cular, do lado dos revolucionarios. Necessitando
lamen, convencidos da necessidade de um chefe pois, de capital, e11e,o simples alferes de milícia'
que imprimisse direcção homogenea ao movi-, o anonymo dentista, se propôz a tomar a direcção
menlo, propunham a creação d'esse cargo, sem de uma ernpreza que se encarregasse de captar
que houvesse quem' acceítasse a tremenda res- as aguas dos rios Andarahy e Maracafia para a
144 PfOR.O oo COUTTC> PONTOS DE Hlf;TORIA DO e~A~IL 145
cidade, por isso que se tornava já deficiente a! o perdão da avultada' divida para com 8. metro-
fornecido pelo Carioca. Imaginou também, con- pole,
struir na Saude, ás margens do mar, vastos ar- O Visconde de Barbacena, para tirar o pre-
mazens destinados a facilitar a vida commercial. exto á revolução, fez suspender a derrama (23
Estas emprezas reveladoras de seu espirito de Março de 1789) prevenindo concomitante-
emprehendedor e do seu senso pratico orientado mente ao Vice-rei Luiz de Vasconcellos e Souza
por uma intelligencia lucida, representavam' para de que devia andar pelo Rio de Janeiro em pro-
Tiradentes o meio de adquirir dinheiro para a paganda da revolução o alferes Tíradentesr
consecução dos planos da conjuração emanei- Em breve <era o ardoroso patriota" preso no
padora. Rio de J aneíro, bem como em Mínas os seus
Ao vice-rei Luíz de Vasconcellos apresentou companheiros.
Tiràdentes seus proejctos.; este, porém, não lhes Immediatamente foi aberta' devassa e se ín-
- deu ímportancia, reputando-os talvez imprati- staIlou o tribunal que devia julgar os revolucio-
caveis. narios, e a Conjuração Mineira teve seu termo
O futuro incumbiu-se de evidenciar a pra- épico, com a condemnação á morte dos princi-
ticabilidade dos planos do patriota. paes conjurados, após um' longo, um moroso pro-
Desgostoso, mas ainda seguro de realizar a cesso, durante o qual Tíradentes esteve á altura
obra ingente da emancipação brasileira, se acha- de sua missão social. Conservou-se. sereno e digno,
va Tiradentes, quando Joaquim Silverio dos Reis, ão fugindo absolutamente á responsabilidade do
um dos conjurados, embora portuguez de nas- crime que lhe era imputado, e jamais condescen-
cimento Basilio de Brito Malheiro e Ignacío dendo em implorar misericordia aos seus algozes. "
, \T·
Pamplona, também portuguezes, puzeram o l~- Sua atlitude nobilima na prisão, sua acção
conde de Barbacena, então governador de Mi- energica e constante durante o preparo da revo-
nas-Geraes, ao corrente de todos os planos da lução, fizeram vêr aos seus julgadores que era!
revolução e da opportunidade que se ensejava eIle a alma da rebellião, convergindo portanto'
aos patriotas com a cobrança dos impostos por para eIle os odios dos portuguezes.
parte da metropole. Assim , a 19 de Abril era lida na cadeia pu-
Consla ter semelhante procedimento, injus- blica do Rio de Janeiro a sentença de morte de
lificavel e indigno, visado por parte de Silverío onze conjurados, e horas depois lhes era annun-
ciada a commutação da pena ultima em degredo
146 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 147
para a Africa, excepto para Tiradentes, conside- Tiradentes foi a synthese da convicção, do
rado réo de crime imperdoavel. ardor, da firmeza e da fé.
Espirito verdadeiramente superior, coração Portugal matou-o, saciou seu odio aos bra-
bem formado e leal, amparado além d'isso por sileiros no sangue do maior d'elles, mas incom-
profunda fé catholica, Tir~dentes c~nfor~~u-se .scientemente levou-o á gloria.
com a odiosa excepção, feliz de expiar sósinho . Tiradentes foi miseravelmente assassinado;
a culpa que era de todos. E o inclyto patriota, sua acção politica e moral foi, porém, fructifi-
cumprindo a sentença de 19 de Abril, subia ajO: cadora.
patibulo no dia 21 de Abril de 1792, sendo ~e-
pois de enforcado, esquartejado, e sua cabeça f~n-
Transmigração õc familia real portu-
cada em alto poste na 'estrada, como a clamar :vm-
quezn para o Brasil - D. João VI
gança contra ai conducta indigna do governo da
Revolução ae ]8]7
metrópole.
A esse typo 'de nobreza lnconteste se deve Em consequencia da morte de D., José I su-
juntar como justiça historica a' figura distincta bira ao throno de Portugal D. Maria I, que após
de Barbara Heliodcra de Alvarenga, que, ener- alguns annos de reinado começou a' manifestar
gica e digna, impediu que o marido, Alvarenga desarranjo mental, o que motivou a regencia de
Peixoto , num momento de fraqueza, . abando- seu filho o principe D. João.
nasse e trahisse os seus companheiros. Continuando .louca a rainha, o principe Dom
Quando os conjurados se acovardavam, quan- João manteve a regencia durante 24 annos, tendo
do o portuguez Thomaz Antonio Gonzaga negava esse longo período do seu governo assjstido a fa-
systematicamente a coparticípação no movimento. ctos políticos de alta relevancia.
libertador , é dever de quem perlustra . a histo- Tão havia o principe regente recebido edu-
ria patria tornar d'esses dous typos illustres e cação aprimorada, visto. que não lhe cabia a he-
impôl-os á veneração dos posteros. rança do throno e sim, a seu irmão D. José, morto
Barbara de Alvarenga foi a mulher nobre, em 1788; não se podia, pois, valer senão, da
que estigmatisou a altitude inferior de seu ma- propria intelligencia, que a tinha clara, comol
rido , lembrando-lhe os deveres e a sua digni- o revelou accentuando conselhos habeís. Assim,
dade de homem. manteve a polilica seguida por Portugal em rela-
PONTO~ DE HIS(TORIA DO BRASIL 149
148 PEDRO DO COUTTO
paiz em quinze, recebendo identica intimação o cooperava d'esse modo, se bem que indirecta-
ministro portuguez na Hespanha. Anteriormente mente, para emancipar o Brasil da tutella portu-
já haviam pedido seus passaportes os minístroa gueza. De facto, a installação no Brasil da Ia-
francez e hespanhol junto á côrte portugueza. milia real e as medidas decorrentes, deram-lhe
Diante d'essa attitude decisiva' o governo tal impulso que o encaminharam fatalmente para
portuguez resolveu baixar o decreto ordenando a' a independencia.
prisão dos inglezes e confisco de suas proprie- Fez-se pois de véla para o Brasil a côrte
dades, consoante a intimação feita pela França. portugueza, e separada a esquadra em duas, em
Immediatamente o governo inglez ordenou o virtude de temporal que experimentou na al-
bloqueio dos portos portugueses e a occupação tura da Madeira,a parte mais numerosa, incluida
da ilha da Madeira. a náo em que vinha D. João, arribou ª' Bahia'
D. João mostrava-se completamente alheio (24 de Janeiro de 1808) sendo recebida com satis-
á resolução de N apoleão, sendo preciso que o fação, pedindo os bahianos que entre elles ficasse
commandante da esquadra íngleza lhe enviasse o principe regente, ao que este não acquíesceu.
um'exemplar do M:oniteur, orgão official do go- Achando-se ainda na Bahia, D. João, acon-
verno francez, para que ficasse a par da situa- selhado por José da Silva Lisboa, posteriormen-
ção. Ao mesmo tempo lhe era communícado que te Visconde de Cayrú, decretou a abertura: dos
as tropas francezas, ao mando do general J unot, portos do Brasil 'ás nações amigas como medida
já haviam invadido seu reino. provisoria, afim de não melindar os preconcei-
Nesta conjunctura só havia para D. João, tos da metropole.
que não podia pensar em resistir quando tudo Começou d'esse modo o Brasil a se prepa-
estava desorganisado, como recurso supremo a rar para a vida autorioma que a sabedoria poli-
retirada para' o Brasil, o que fez com toda a sua tica de José Bonifacio devia completar em 1822.
Iamilia e fidalgos, em' uma esquadra de mais de Chegado que foi o príncipe ao Rio de Janeiro.
20 navios, deixando a direcção de Portugal con- (7 de Março 'de 1808) o povo lhe fez enthusias-
fiada a uma junta cuja presidencia era exercida tica recepção, acclamando-o =Lmperador do Bra-
pelo Marquez de Abrantes. sil - como que presentindo que da assistencia
A 30 de Novembro, dia immediato ao da par- do governo em seu seio resultaria a éra da li-
tida da familia real, Junot entrava em Lisboa. b~d~a ~
T apoleão, em sua mania de conquistador, Em pouco o enthusiasmo era algo arreie-
PONT05 DE HIS'TORIA DO BRASIL 153
152 PEDRO DO COUTTO
cido pela violencia feita aos habitantes do Rio , real portugueza continuava a residir no Brasil,
obrigados a ceder suas casas aos fidalgos e e longe de serem annulladas as leis que lhe
demais pessoas da comiliva. Tal circumstancia garantiam liberdade e progresso, outras accres-
se observava pelo augmento subito da popula- ciam sempre mais vantajosas.
ção) e por gente habituada ao Iausto] e á dissipa- Com ser a residencia do chefe do Estado,
ção, i}pezas d'isso, embora constrangidos, bem vieram para o Brasil o corpo diplomatico e mui-
sentiam OIS brasileiros que desde então cabia ao tos estrangeiros que traziam o seu concurso ao
Brasil a preponderancia no reino portuguez. nosso desenvolvimento, sendo por todo esse con-
Poucos dias depois de chegado, D. João 01'- junclo de circumstancias elevado o Brasil á ca-
ganisava seu ministerio com O Visconde de Ana- legoria de Reino Unido a Portugal e Algarves,
dia, D. Fernando José de Portugal e Castro, por decreto de 16 de Dezembro de 1815, con-
posteriormente Marquez de Aguíar, e D. Rodri- vindo lembrar que D. João IV o considerára
go de Souza Coutinho, depois Conde de Linha- principado, em favor de um filho, a 27 de Ou-
res. A este ultimo, typo de. alto valor mental, tubro de 1645.
deve o Brasil todas as medidas progressivas que Dest'arte cooperava a monarchia portugue-
foram nesse momento estabelecídas, a despeito za para a separação fatal de sua principal colo-
da má vontade que manifestavam os outros mem- nia, da que por assim dizer provia á sua exís-
bros do gabinete. Eram estes de pequeno des- tencia, consoante o testemunho insuspeito de Oli-
cortino, não percebendo que jamais, fossem quaes veira Martins. Portugal, sete annos antes da
fossem os decretos expedidos, o Brasil desceria nossa independencia, equipara.va-nos á metropol ,
da posição politica que já attingira!. Effectiva- reconhecendo portanto o nosso valor politico c
mente, de tal modo e tão rapidamente pro'gre- a capacidade do Brasil para gerir os seus pro-
dia o Brasil com a liberdade das industrias e prios interesses.
do commercio, com a abertura de fabricas e of- A sympathia que revelava D. João pelo Bra-
Iicinas, e com a creação de repartições publicas, sil e o ascendente que tomava leste sobre Por-
escola medico-cirurgica, imprensa official, J ar- tugal, atiçaram a antipathia dos portuguezes, ex-
dim Botanico, o Banco do Brasil, a Bibliotheca tremados em zelos pela preferencia que o seu
real e outras, que, libertado Portugal do jugo rei manifestava pela' sua principal colonial e a Sil\r-
francez em 1808 e reconhecida a sua indepen- da e pequenina guerra que nunca se havia ex-
dencia pela Paz geral de Paris de 1814, a família tinguido começou de revelar-se mais intensamente.
154 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HI~TORIA DO BRASIL 155
Tarde era porém para retroceder: o Brasil cami- Costa, posteriormente Marquez de Queluz. cuja
nhava seguro para os destinos que as fatalidades administração fü! proficua.
historicas lhe haviam traçado. D'essa época é que data a intr ducção no
Emquanto o Rio de Janeiro era séde de tão Brasil de productos da Guyana, especialmente a
notáveis successos, acontecimentos de certa mon- canna chamada cayena, do nome de sua prece-
ta se davam' no norte do Brasil. D. João viera dencia.
para o Brasil fugindo á invasão dos francezes, Por oito annos sórnente Portugal esteve de
para cuja resistencia se não havia preparado; en- posse da Guyana Franceza, visto que em 1817 a
tretanto não se subrnettera por completo á prepo- restituiu , reinando então em França Luiz XVIII,
tencia de Napoleão. Não lhe podendo dar com- em consequcncia da Convenção de Paris, de 28
bate na Europa, reservou-se para a America, e de Agosto d'esse mesmo anno.
a 1 de Maio de 1808 poblicava no Brasil um ma- Tendo fallecido D. Maria I a 20 de Maio
nifesto em que, «levantando a voz do novo im'- de 1816, o principe D. João, que já reinava de
perio que vinha crear», declarava guerra á Fran- facto havia 24 annos, succedeu-lhe no throno
ça. Ordena no mesmo anno a invasão da Guya- portuguez, sob o titulo de D. João VI. A sua'
na Franceza, .sendo dadas instrucções para esse coroação, reservada para depois do anno de luto,
fim e auxilios ao governador do Pará. Organi- teve de ser novamente adiada por sério movi-
ganisou-se uma força ás ordens do tenenfê-co- mento de rebellião, de caracLer republicano, em
ronel Manoel Marques e uma 'esquadrilha com- Pernambuco.
posta da fragata ingleza Confiance e varios pe- A animosidade dos portuguezes crescia ápro-
quenos navios, sob o commando do capitão i11- porção que o Brasil progredia, e especialmente
glez James Lucas Joe, com 500 homens de desem- entre os militares de ambas as. nacionalidades
barque. Esta esquadrilha devia operar de accôrdo mais intensamente se manifestava o odio reci-
com ...Ianoel Marques, sob cuja direcção ficaria. proco, graças ao espírito estreito dos portugue-
Victor Hugues, governador da Guyana zes,sempre propensos a amesquinhar os brasi-
Franceza, valentemente se bateu, não podendo leiros. 1 Testas circumstancias, é logico, explodiria'
entretanto conter o ataque do inimigo, que o fatalmente uma reacção por parte d'estes, tanto
forçou a capitular a 12 de Janeiro de 1809, mais quanto era tambem crescente o ardor da
entregando Cayena e retirando-se para a Europa. liberdade, o desejo ele uma pa tria livre, auto-
Portugal nomeou para dirigir a nova colo- noma , nos brasileiros de valor mental e moral.
nia o desembargador João Severiano Macíel da
156 P5DRO DO COUTTO
PONTOS DE HISlrORIA DO BRASIL 157
Foi adoptada a fórma republicana de go- derrotado por Cogomínho no engenho Trapiche
verno e nomeado ministro do interior 1~iguel de lpojuca. ,
Joaquim de Almeida, conhecido por Padre Mi- Estando os revolucionarios em condições dif-
guelinho. Iiceis, propuzeram capitular, o que não foi ac-
Adheriram se~ demora á revolução as pro- ceito. Assim, fizeram dictador a Domingos Theo-
vincias da Parahyba, Alagõas e Rio Grande do tonio Jorge, que, julgando impossivel manter a
Norte, e os revolucionarios tentaram a adhesão resistencia, abandonou o Recife com cerca de 2.000
de outras, mas foram mal succedidos. NO. homens. Entraram na cidade as forças de R~dri-
Ceará foi preso o padre José Martiniano de go Ferreira Lobo, fugindo alguns chefes que alli
Alencar, que allí fazia a propaganda do movi- se achavam. Varios revolucionarios Iôram' pre-
mento; e na Bahia, logo ao desembarcar, foi: sos e o padre João Ribeiro Pessôa suicidou-se,
preso e fuzilado José Ignacio. Ribeiro de Abreu Começou então a vingança dos portuguezes,
e Lima, 'mais conhecido por Padre Roma'. prornptos sempre a saciar o seu odio no sangue
Continuava entretanto a: revolução, forçan- dos brasileiros que desejavam uma' patria livre.
do o Conde, dos Arcos, capitão-general da Ba;- Com effeito, chegado que foi ao Recife Luiz do
hia, a enviar contra ella uma força sob asror- Rego Barros, capitão-general de Pernambuco;
dens do. marechal Joaquim de M,ello Leite Co- organísou logo commissões militares, ordenan-
gominho de Lacerda, e bem assim uma esqua- do-Ihes fizessem o processo dos revoltosos e exe-
dra afim de bloquear o Recife. Do Rio de J a'- cutassem: as sentenças. Foram condemnados á
neíro partiram tambem forças ás ordens do vicc- forca Domingos Theotonio, o padre Pedro de
almirante Rodrlgo José Ferreira Lobo. Souza Tenorio, José de Barros Lima, Antonio
Diante de taes forças os revolucionarios se José Henriques e outros chefes parahybanos;
sentiram mal; difficilmente poderiam sustentar Na Bahia haviam sido fuzilados anteriormente
a lucia, dispondo de recursos evidentemente in- -:- o Padre Roma, Domingos José Marfins, o
feriores. De faelo, a Parahyba e o. Rio Grande padre Miguel Joaquim de Almeida Castro e José
do Norte submetteram-se desde logo; e Domin- Luiz de Mendonça. .
gos José Martins, que se tinha ido reunir ao Tão julgando Portugal bastante á sua vin-
capitão-mór Francisco de Paula Cavalcanti , foi gança o assassinato d'aquelles patriotas, e attri-
ferido e preso, e o mesmo Paula Cavalcanti foi buindo talvez fraqueza ás commissões militares,
mandou estabelecer uma alçada presidida pelo
160 PEDI'tO DO COUTTO PONTóS }"')EHI~TOftJA DO eft.A5IL 161
desembargador Bernardo Teixeira Coutinho, cuja do primeiro; e já que a realeza perdia: terreno
maldade requintada encheu de pasmo a Luiz; por toda a parte, teve Iogar o extravagante con-
do Rego Barros, que entretanto tão pouco capaz sorcio d'aquellas duas forças - rei e povo -
de commiseração se havia mostrado. dando nascimento' ao que se cham'ou o constitu-i
Satisfeito o governo portuguez de tanto san- cionalismo. A ordem política observada em os
zue
o brasileiro , houve por bem conceder amnistia povos occidentaes é assim o resultado d'aquella
plena aos revolucionarios no dia da coroação de união hybrida.
D. João VI (6 de Fevereiro de 1818). Portugal não podia deixar de receber o in-
fluxo do movimento politico assim surgido, tanto
Regendo de O. redro. A lnôepenõencln mais quanto havia o exemplo da Hespanha onde
uma revolução se consumára para restaurar a
As idéas liberaes postas em evidencia gra- constituição promulgada 'em' 1812. A situação in-
ças á revolução Iranceza, trabalhavam' o mundo. terna de Portugal, por 'outro lado, era: de molde
Não obstante o desvirtuamento que o grande mo- a precipitar os acontecimentos. De facto, desde!
vimento francez experimentou, é incontestável, que 1817 alli se faziam sentir as idéas revoluciona-
elle operou modificação profunda 1110 mundo oc- rias provocadas pelo governo despotico do .mare-
cidental. Os reis perderam grande parte do seu chal Bercsford, que D. João VI nomeára para;
prestígio
b , e se não fôram eliminados, fôram di- governar militarmente Portugal, com auctorida-
minuidos em muito do seu valor, pois que já se de superior á da Regencía. A exaltação dos ani-
lhes não attribuia ascendencía divina, já se lhes mos subiu de ponto quando, descoberta uma con-
podia tocar, já se lhes cerceiavam as íuncções, e spiração em que entravam militares e civis, e
por assim dizer passaram a constituir cartazes que tinha por fim depôr Beresford, fazer regres-
de eífeito. I
sar o rei á antiga metropole, que se achava então,
Um no,vo poder se vinha levantando, tão em verdadeira situação de colonia, e expulsar da
falso como o direilo divino attribuido ao ante- guarnição alguns offidaes inglezes, pois que o
rior: á realeza oppunham o povo, em cujo nome predominio da Inglaterra muito vexava Portugal,
os mesmos erros iam: ser praticados; entretanto, fôram por ordem de Beresford presos os indi-
se a solução do problema não consistia em' op- ciados, entre os quaes Gomes Freire de Andra-
pôr á entidade rei a entidade povo, todavia muito de, e assassinados, dois dias antes de ser pu-
se havia lucrado com a diminuição do poderio blícada a sentença que os condemnava e que nem
162 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 163
teve sequer a sancção régia. D'esses infelizes Livre de qualquer obstaculo, o novo governo
consta não se ter sequer verificado a culpabili- poude decretar as medidas convenientes, bem
dade de todos, 'estando neste (llumero Gomes. como providenciar para a convocação das côrtes.
Freire. Semelhante acontecimento politico devia ne-
Solicitado por todas 'estas vexações, o povo cessariamente echoar no Brasil, produzindo aqui
portuguez tinha de ser inevitavelmente arrasta- tambem seus effeitos. De facto, o primeiro pon-
do á reacção. Effectivamente, á 24 de Agosto to do Brasil onde d'elle se teve noticia foi o
de 1820 explodia no Porto uma revolução pro- Pará. r Testa provincia o povo e as tropas da
movida pelo desembargador Manoel Fernandes guarnição puzeram-se ao lado da nova ordem'
Thomaz e pelo ouvidor-geral José da Silva Car- de cousas da metropole, depondo logo o capitão'
valho,' reclamando a convocação das côrtes, que general Conde de Villa-Flôr e organisando uma
se não reuniam desde 1697, e proclamando a: Junta Governativa de que era presidente o vi-
monarchia constitucional exercida pela propria gario capitular Romualdo Antonio de Seixas, pos-
casa de Bragança. teriormente arcebispo da Bahía, e vice-presidente
Tal movimento propagou-se rapidamente pelo o Juiz de Fóra Joaquim Pereira' de Macedo.
norte , vindo reflectir-se em Lisboa, onde a Re- Dado o signal no Pará, tem outros pontos
.gencia capciosamente procurou dirígil-o para a revolução se fazia sentir, Com effeito, na Ba-
mais facilmente anniquilal-o. Nessa intensão pro- hia os tenente-coroneis Francisco de Paula Oli-
metteu medidas liberaes como as que haviam veira" Francisco José Pereira e Manoel Pedro
sido estabelecidas no Porto, chegando com se- de FreitasGuimarães dirigiram o movimento, do
melhante ardil a quasi dominar a revolta, o que qual resultou a intallação de uma Junta Governar'
não conseguiu, sendo deposta, e organisada uma tiva de que foi presidente o desembargador Fran-
Junta Governativa, que a 15 de Setembro fazia cisco Manoel de Moura Cabral, e vice-presideníe
jurar uma constituição moldada pela da Hes- Paulo José de Mello Azevedo e Brito.
panha, Ka Bahia, não se querendo submetter aos
O marechal Beresford, que tinha vindo ao revolucionarios, o marechal Felisberto Caldeira
Brasil, regressava nessa occasião a Portugal a Brant Pontes. depois Marquez de Barbacena, que
reassumir o seu posto. Foi-lhe impedido o des- insistiu em dominar o movimento, chegando mes-
embarque, a 10 de Outubro, vendo-se elle obri- mo a tomar aos revolucionarios a artilharia, tra-
gado a retirar-se para a Inglaterra, vou-se lucta entre as duas forças, sendo Ie-
PONTOS Df HlSTORIA DO BRASIL 165
164 PfORO DO COUYTO
garem ao estudo que devia depois ser feito com
rido o proprio Felísberto Caldeira, e mortos um os procuradores convocados (18 de Fevereiro de
official e varios soldados. 1821). .
Derrotado, o marechal Felísberto Caldeira Achavam-se, porém, os anímos de tal modo
Brant Pontes e alguns funccionarios seguiram excitados, e era tão habilmente explora'do o mo-
para o Rio de Janeiro a bordo de um navio de mento pelos que desejavam forçar o rei á appro-
guerra inglez, acompanhados pelo capitão-general vação immediata dos actos occorrídos na me-
Conde de Palma, que recusou a presidencia da tropole, que o decreto de 18 de Fevereiro não
Junta Governativa que lhe haviam offerecido os conseguiu sustar a corrente revolucionaria' que
reyolucionarios. já havia tomado vários corpos da guarnição do
Tardiamente tinham chegado ao Rio de Ja- Rio, concitados por alguns officiaes e pelo advo-
neiro noticias do que se passára. Fri o brigue gado padre Marcellino José Alvares Macambôa.
mercante Providencia que trouxe os primeiros 1 TO dia 26 apresentaram-se em' sedição no
informes, lançando o pa VIO:Ij e a: indecisão no es- antigo largo do Rocio, hoje praça Tiradentes,
pirito do rei, que, incapaz de resolução prompta, diversos corpos 'da guarnição, sob as ordens do
oscillava entre as diversas medidas que lhe eram' brigadeiro Francisco Joaquim Carrettí, no intuito
prcpostas. I de obterem do rei a adopção das reformas esta-
Após a primeira e dolorosa impressão e im- belecidas em Portugal. Em' tal emergencia Dom
pulsionado pelo movimento que já havia ganho João VI enviou aos exaltados seu filho o príncipe
a Bahia, D. João VI baixou um decreto enviando D. Pedro, que corajosamente atravessou a mul-
a Portugal seu filho, o principe Dom Pedro, a ver tidão, e do theatro S. João íntera-ogou o povo.
se conseguia o restabelecimento da ordem', me- Verificando que nada conseguiria sem satisfazer
diante leis e reformas que, consolidando a con- os intuitos dos revolucionarios, voltou a S. Chrís-
stituição portugueza, satisfizessem as aspirações tovão a conferenciar com o seu pae, trazendo ao
liberaes da metropole. Concomitantemente con- povo, com data de 24 de Fevereiro, o decreto
vocou ao Rio de Janeiro os procuradores que fos- que approvavava a constituição que as camaras
sem eleitos pelas villas e cidades do Brasil, para votassem em Lisboa, obrigando-se ao mesmo tem-
o fim de procederem ao exame do que da futuraJ po a adoplal-a no Brasil.
constituição portugueza pudesse ser aqui adopta- Para mais agrado significar ao povo, demit-
do, e nomeou uma cornmissão de vinte membros, tia o ministerio e outros íunccionarios não sym'-
em maioria brasileiros, para desde logo se entre-
PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 167
pathisados pelo publico. Do novo ministerio fa- ao movimento liberal portuguez, este não expe-
ziam parte - o conde de Louzã na pasta da fa- rimentava sympathía alguma pelo Brasil. Sen-
zenda, Sylvestre Pinheiro Fernandes nas da guer- tiam os homens que dirigiam Portugal que a si-
ra e estrangeiros, Joaquim José Monteíro na da tuação politica a que D. João VI elevára o Bra-
marinha e Ignacio da Costa Quintella na do sil prejudicára muito a antiga metropole, cuja
reino. " penuria se aggravara com a separação da sua
Acclamações estrondosas ir-romperam na pra- colonia de outr'ora, então Reino-Unido a Portu-
ça ,á noticia de tão completa victoria do movi-, gal e Algarves e séde da monarchia portugueza.
mento. A municipalidade reuniu-se immediatal- Desejavam pois os pro-hornens da revolução de
mente no theatro S. João, e os principes D. Pe- 1820 - a volta definitiva do rei a' Portugal,
dro e D. Miguel juraram' a constituição que hou- plano que parecia occultar o da recolonisação
vesse de ser confeccionada pelas côrtes do Brasil. D. João era pois solicitado por mui-
Partiu D. Pedro ao encontro de seu pae, tos dos seus cõmselheiros no sentido 'do seu re e-
trazendo-o para o cenlro da cidade, a pedido do gresso a Lisboa, sendo bem poucos os que dis-
povo, ao que se prestou 0'. João, verdadeiramen- cordavam de semelhante alvitre. )Entre estes
te apavorado," e após tcr procedido ao juramen- occupa logar saliente o ministro Sylvestre Pi-
to da constituição, imponente e exagerada ma- nheiro, partidário da ida do principe Pedro ; en-
nifestação lhe foi feita. tre os que se lhe contrapunham, cumpre men-
Tendo o Rio de Janeiro procedido accorde cionar o conde de Palrnella, e o ministro inglez.
com a revolução triumphante em Portugal, acom- Ganharam estes a partida, baixando o rei o
panharam-n-o as provincias do Ceará, Piauhy, decreto de 7 de Março, em que manifestava ao
Maranhão, Parahyba e Pernambuco, que já se povo a resolução de retirar-se para Portugal, fi-
linha aliás manifestado nesse senlido. cando o governo do Brasil a cargo do 'principe
A opinião já se podendo manifestar pela D. Pedro. Foram no mesmo dia publicadas as
imprensa sob o regímen das concessões liberacs instrucções para a eleição de deputados ás côrtes
da jurada constituição, surgiram em Pernam- de Lisbô a, tendo sido adoptado o processo elei-
buco os periodicos Aurora e Ceqareqa, e no Ma- toral hespanhol, segundo o qual o povo elegia os
ranhão o Coticiliddor e a Polmatoria, ainda assim commissarios; estes, os eleitores parochiaes, que
não de todo independentes da censura. por sua vez escolhiam os eleitores provínciaes,
Não obstante a prompla adhesão do Brasil os quaes por fim elegiam os deputados.
168 PE:ORQ 00 COUTTO PONTOS oe HISTORIA DO BRASIL 169
No dia 20 de Abril teve logar a reunião dos Auxiliado pelo temor provocado por este acto
eleitores parochiaes na praça do Commercio, a de força, D. João baixou no dia 22 de Abril
convite do ouvidor da comarca. dous decretos - um annullando quanto havia
A sessão tornou-se logo tumultuosa, exigin- resolvido na vespera, coagido pelas circumstan-
do os eleitores a proclamação da constituição -- cías ; outro nomeando seu filho D. Pedro regen-
hespanhola de 1812, mandando ordem ás forta- te do Brasil.
lezas para não deixarem sahir a esquadra que No dia 24 embarcou D. João com a familia
devia conduzir a família' real, e impondo o des- real na náo D. João V'I~ e a 26 seguiu para Por-
embarque dos cofres publicos que suppunham tugal.
acharem-se a bordo para serem levados por Diz a tradição que no momento de embar-
D. João VI. car, prevendo aproxima independencia do Bra-
O rei, ao qual se dirigiam os emíssarios da sil, e receioso de que região tão vasta e tão rica
assembléa, com a sua: natural e já conhecida fal- passasse a outras mãos que não as da casa de
ta de energia, acquiesceu ai quanto se lhe exigia, Bragança, o velho rei dirigira' ao principe Dom:
sendo logo decretada a constituição hespanhola Pedro as seguintes palavras: «Pedro, o Brasil
até que as côrtes portuguezas votassem outra; brevemente se separará de Portugal; se assim'
apenas, quanto aos cofres publicos, asseverava fôr, põe a corôa sobre tua cabeça, antes que
não terem sido retirados dos respectivos legares. algum aventureiro lance mão della».
Scíente do que se passava, a tropa portu- D. Pedro constituiu seu ministério com' o
gueza formou no largo do Rocio, chamando a conde dos Arcos na pasta do reino? o conde de
assernbléa o respectivo commandante a explica- Louzã na da fazenda! e o marechal Caula e Ma-
ções; e continuava a deliberar quando traiçoei- noel Antonio Farinha respectivamente nas pas-
ramente, ás tres horas da madrugada de 21, um tas da guerra e da marinha.
destacamento da força portugueza invade a as- Em situação difficil, quer quanto ao ponto
sembléa á bayoneta calada, depois de uma des- de vista financeiro, quer no tocante ápolítica)
carga de fuzilaria, fazendo mortos e feridos. ficara no Brasil o principe regente: a partida de
A este golpe de força não parecem' ter sido D. João acarretára a retirada de 4.000 pessoas,'
estranhos os que cercavam o rei e o proprio rei, cujos bens eram assim de chofre retirados da,
sempre oscíllante entre as correntes que o soli- circulação, determinando um grande desequilibrio
citavam. na (vida nacional, embaraço que o novo govemo
170 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 171
tinha logo de enfrentar; por outro lado, Portu- Gomes dos Santos, resultando hostilidades entre
gal, depauperado pelo lamentavel atrazo de seus as forças brasileiras e as tropas portuguezas e
homens publicos, em pleno recúo quanto ás ma- mesmo um combate travado perto de Olinda.
nifeslações do espirito e da actividade humana, Luiz do Rego, sentindo que não poderia
e saudoso da, exploração da sua antiga colonia, triumphar, propoz capitular, o que foi acceito,
sentia a necessidade de restaurar o antigo regi- neto conhecido na historia por Capitulação de
men colonial no Brasil; assim, a principio oc- 'Beberibe. Luiz do Rego e suas tropas retiraram-
cultamente e depois ás claras, impellia as Juntas se para Portugal, ficando os pernambucanos li-
Governativas das provincias a se não subordi- vres de tão odiento inimigo:
narem á autoridade de D. Pedro, nada lhe dan- Ao sul, em Montevidéo, houve um pronun-
do de recursos financeiros. ciamento das tropas dírigidas pelo coronel Clau-
Aconselhado pelo conde dos Arcos, procurou dino Pimentel, ao qual o general Lecor, barão da
o principe enfrentar as difficuldades, reduzindo Laguna, adheriu, assumindo a presidcncia da jun-
as despezas de sua propria casa; e preparando-se ta que se instituiu.
para dominar a situação política com medidas Os portuguezes sentiam' que o seu predo-
energicas Ie efficazes. minio se ia annullando no Brasil, e cornprehen-
A attitude de Portugal para com o Brasil deram que deviam por todos os modos diíf'icul-
era de todo ponto impolitica, contraria aos seus tar a acção do 'príncipe regente, subordínando-o
proprios interesses, visto que alienava de si as a Porlugal.
sympathias de D. Pedro, of'Iendido em seu amor- A altitude das côrtes portuguezas para com
proprio, e atirando-o portanto aos braços dos D. Pedro reflectia essa situação de antipathia
brasileiros, que julgavam seus actos com justiça. c mesmo de descaso. Assim) é que lendo chegado
Em Pernambuco, onde sempre o sentimento, ao Brasil novas não officiaes do juramento da
nacional se mantivera energico, os' portuguezes ex- Constituição em Lisboa, entendeu D. Pedro aguar-
perimentaram em breve merecida lição. Assim é dar a communicação que lhe devia ser feita of-
que tendo o seu governador Luiz do Rego recebi- ficialmenle. Não o entendeu assim a guarnição
do um tiro, ordenou, muitas prisões, estabelecendo portugueza, que, tendo á frente Jorge de Avilez,
o terror. Reuniram-se os principaes brasileiros se reuniu no largo do Rocío, exigindo desde logo
e formaram em Goyana uma Junta Provisoria, o juramenlo da constituição adopíada, bem como
cuja presidencia foi dada a Francisco de Paula a demissão do conde dos Arcos, a formação de
172 PEDRO DO COUTTO
I'ONTOS DE HISTORIA DO eRASIL 173
uma junta que auxiliasse D. Pedro 110 governo
e a creação de uma' coiumissão militar. leiros não podiam acceítal-os porquanto elles im-
Acquiesceu D. Pedro ás exigencias portu. Iicavam o regresso do Brasil á condição de
guezas, queixando-se todavia a seu pae das pi- lonia, e os proprios portuguezes se sentiam'
cardias constantes que lhe eram feitas pela me- rejudicados porque, abolidos os tribunaes, se
tropole. iam obrigados a recorrer a propósito de tudo
1 [ão altendeu D. João aos reclamos justos Lisboa. Portugal, pois, não fazia mais do que
de seu filho, 'pois que em breve chegava de Lis- recipitar o acontecimento político que queria
boa uma lei datada de 24 de Abril de 1821, esr- evitar a lodo o transe.
tatuindo a subordinação directa das -províncias Reuniões se fizeram para impedir a parti-
ao governo de Lisboa. . a de D. Pedro, e emissarios Iôram enviados a
T:al medida mais irritou D. Pedro, cuja 'aucto- . Paulo e Minas Geraes, afim de que as juntas
ridade ficava reduzida á de simples governador espectivas cooperassem para que o principe não
do Rio de Janeiro. O primeiro resultado d'aquella ahisse do paiz.
lei inepta foi negar-se a junta governativa da A Junta de S. Paulo, que era presidida' por
Bahia a obedecer ao principe regente, tendo sido oão Carlos Augusío de Oyenhausen, posterior-
approvados por Portugal todos os seus actos e mente Marquez de Aracaty, tendo como vice-pre-
recebendo ainda um reforço de tropas, o que era idente José Bonifacio de Andrada e Silva, fez
por demais significativo. . ma representação ao príncipe D. Pedro, no sen-
Succederam-sc a breve treeho dous novos tido de sua permanencia no Brasil, representa-
decretos das côrtes portuguezas, recebidos no ção recebida no Rio a 31 de Dezembro de 1821.
Rio a 10 de Dezembro de 1821: um, supprimin- D. Pedro, se bem que magoado com Portugal, he-
do os mais importantes tribunaes do Rio de J a- sitava em acceder aos desejos dos brasileiros,
neiro; outro, ordenando a D. Pedro a retirar-se quando os patriotas do Rio de Janeiro, encora-
para a Europa, para viajar, afim de aprimorar sua jados com a decisão dos paulislas e com as noti-
educação, e dispondo que o Rio de Janeiro fica- cias que chegavam de Minas, fizeram uma repre-
ria governado por uma junta que se elegeria sentação ao príncipe, redigida por Frei Francisco
dentro de dous mezzes. de Sampaio, com mais de oito mil assignaturas,
Era impossível deixar de dar-se uma rea- angariadas em' poucos dias, aLLeslado palpável
cção a estes actos estreitos e ineptos; os brasi- da disposição em que se encontravam os brasi-
leiros de resistir a Portugal.
174 PEDRa DO COUTTO PONTOS DE HIS\TORIA DO BRASIL 175
1 TOdia 9 de Janeiro de 1822 foi essa repre- guida por Portugal: cumpria aproveital-o em bem
sentação entregue ao príncipe-regente pelo se. do Brasil unido. Foi o que acertadamente se fez
nado da camara, que todo incorporado se diri- na occasião.
giu ao paço acompanhado de grande massa po- Em meio a esse tumultuar de paixões umas
. '
progressistas, no sentido de tornar o Brasil o ca-
pular.
Diante d'esta e de outras decisivas mani- minho da liberdade, outras retrogradas, aspiran-
festações contrarias á sua' partida, resolveu D. do que se mantivesse o predominio politico do
Pedro permanecer no Brasil, desobedecendo ás lusitano (que o economico ainda o vem mantendo
ordens d'além-mar, o que foi de uma das janel- por desleixo nosso) se destaca um: grupo de
Ias do paço annunciado ao povo por José Cle- homens ardorosos que pleiteam a todo o transe
mente Pereira, presidente do senado da: camara. a independencia, formando sociedades secretas
As palavras textuaes da resposta do principe - e orientando os patriotas pelas columnas brilhan-
«Como é para bem de iodos e felicidade gerâl tes do Reverbero. N elle se vêem - Gonçalves
da nação, diga ao povo que fico'» - importaram Ledo, J anuario da Cunha Barbosa, Frei Frarr-
em passar para a historia com o nome de - dia ciscodeSampaio, José Joaquim da Rocha e No-
do fico - a data 9 de Janeiro de 1822. brega, sob a inspiração de José Clemente Pe-
Havia quem almejasse estabelecer logo a reira, portuguez de nascimento mas enthusiasta
república, cousa aliás difficil de tentar, dado o da, independencía.
exemplo das nações americanas de origem hes- Com a decisão tomada pelo principe regen.
panhola que haviam adoptado essa fórma de te, as tropas portuguezas, que formavam a di-
governo com resultados desfavoraveis no ponto visão auxiliadora ao mando do general Jorge de
de vista da ordem. E' bem verdade que a Iór- Avilez, tomaram armas e sahiram dos quarteis
ma republicana de governo se avantaja muito á
praticando tropelias, perturbando a ordem, ín-
monarchica, e não( é menos certo que a desordem: sultando os brasileiros, manifestando claramente
em que se viam os paizes hispano-arnerícanosl o odio que sempre lhes haviam dispensado. Ten-
não resultava do novo regimen político; mas, to- tou Jorge de Avilez um plano audacioso do qual
mando o ponto de vista relativo á situação, urgia D. Pedro teve conhecimento, o que levou o gene.
fazer a independencia lançando mão dos elemen- ral portuguez a occupar, logo, o morro do Cas-
tos existentes. D. Pedro era um centro de natural tello, que dominava a cidade, com ots 2.000 ho-
convergencia em virtude da política erronea se-
PONT05 D~ HI~TOR.IA 00 e~A5IL 177
176 Pl!DRO ee COUTTO
caracter enegico, servidos por uma instrucção
rnens do seu commando, prornpto a romper fogo vastissima, estava destinado a dirigir o movi-
(11 de Janeiro de 1822). mento que se vinha preparando, de separação da
Díspuzeram-se á lucta os brasileiros, reunin- metropole.Coube-lhe desde então a direcção dos
do tropa de linha, milicianos e patriotas, no acontecimentos, dominando com extraordínaría
campo chamado de Sant'Anna, ao passo que personalidade o scenario político. do paiz.
D. Pedro appellava para os governos de São Por sua inspiração foi publicado um decre-
Paulo e Minas, pedindo-lhes auxilio. to convocando um conselho de procuradores das
Diante da energia do POVOl e das tropas fieis provincias, afim de auxiliar o regente nos pro-
a D. Pedro, e da responsabilidade que assumia, jectos e reformas administrativas e nas medidas
agindo por conta propria, Jorge de Avílez obe- de interesse geral (16 de Fevereiro de 1822). A
deceu á intimação para capitular que lhe fez o este decreto seguiu-se logo outro, a 21 do mesmo.
general Joaquim Xavier Curado, retirando-se para mez, estabelecendo que lei alguma emanada de
Níteroy, d'onde devia partir para Portugal, o Portugal fosse obedecida no Brasil sem o -
que fez desde que se achou prompta a esqua- cumpra-se - do principe D. Pedro.
dra que o devia conduzir com suas tropas .(15 Poder-se-ha dizer com propriedade que es-
de Fevereiro de 1822). \ tes dous decretos iproclamaram a independencia
O ministerio, que a 16 de Janeiro tinha sido do Brasil, chamando os seus filhos a collaborar
nomeado em substituição ao. anterior que insistira: no seu destino! e collocando a autoridade do prín,
por sua demissão, contava no seu seio, entre ou- cipe como unica a ser obedecida, na qualidade
tros homens illustres, o vulto de estadista de de chefe supremo Ido paiz; cumpria entretanto
José Bonifacio de Andrada e Silva, que, che- eliminar os elementos perturbadores á vida da
gado ao Rio no dia 12 como membro da' depu- nacionalidade que surgia', e resistir tenazmente
tação de S. Paulo, fôra convidado por D. Pedro á reacção portugueza que necessariamente se ia
para dirigir ai pasta do reino e 'estrangeiros; fazer sentir. De facto, na. Bahia já a lucta se
a da guerra estava confiada a Joaquim, de Olí- travára entre portuguezes e brasileiros, em vir-
veira Alvares; a da Iazeznda a Caetano Pinto tude da substituição do commandante das armas
de Miranda Montenegro e a da' marinha a Ma- Manoel Pedro de Freitas Guimarães , brasileiro
noel Antonio Farinha, que já a occupava no mi- de nascimento, pelo brigadeiro portuguez Luiz
nisterio demissíonarío. Ignacio Madeira de Mello. A 19 de Fevereiro
José Bonííacío, homem de alto talento e de as tropas de uma e outra facção se tinham em-
penhado em combate nas ruas da cidade, sahindo
178 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 179
victoriosos os portuguezes e ficando Madeira se- para que não deixassem sahir munições bellicas
nhor da cidade do Salvador, sem reconhecer para o Brasil.
o governo do Rio de Janeiro. Freitas Guimarães Ao mesmo tempo nas côrtes portuguezas os
foi remettido preso para Lisboa; e os brasi- ataques e os insultos soezes ao Brasil eram en-
leiros, embora derrotados, não sentiram arrefe- frentados com dignidade, com nobre patriotismo
cido o animo, antes, tirando da má sorte nas e com brilhante talento, por Antonio Carlos, Dio-
armas novas energias, foram acampar no inte- go Feijó, .Barata de Almeida, Araujo Lima e ou-
rior, onde se lhes juntaram muitos patriotas, tros representantes brasileiros.
e alli installaram uma junta conciliatoria e de), O povo brasileiro, por seus representantes,
dejeza, conseguindo a adhesão de diversas villas dirigiu-se então ao principe regente, pedindo.lhe
e dando começo. á guerra, que só devia terminar acceitar o titulo de Defensor perpetuo do Brasil
a 2 de Julho de 1823, cornl a derrota de Madeira (13 de Maio de r822')~e a 23, pelo mesmo' orgão,
e o seu embarque com as tropas Iusitanas e ne- requeria a convocação de uma' assembléa con-
gociantes portuguezes com suas famílias, para stituinte brasileira, ao que tudo acquisceu D. Pe~
Portugal. dro.
Em Pernambuco, onde sempre vibrár~ a A 3 de Junho foi convocada a constituinte ;
alma brasileira no anceio de liberdade, já a 31 por decreto de 1 de Agosto 'eram declaradas ini-
de Janeiro se tinha organizado urna junta pr'o~ migas, e como taes devendo ser tratadas, todas
visaria, que declarou reconhecer a autoridade d~ as tropas portuguezas ou de qualquer outra na-
principe-regente, sendo destituido do comman'- ção que desembarcassem no Brasil sem aviso
do das armas o brigadeiro portuguez José Cor- prévio ao principe D. Pedro; e no dia 6 era pu-
rêa de Mello e embarcado para Portugal alguma blicado um nanifesto aos governos das nações
tropa lusitana ainda allí existente. amigas, expondo a marcha dos acontecimentos
Em Minas Geraes bastou a presença de no Brasil, offerecendo a continuação das rela-
D. Pedro para apaziguar os animos e conquis- ções de amizade com todos clles e declarando,
tar inteira adhesão e confiança. continuarem tambem abertos os portos ao com-
De volta ao Rio de Janeiro, em Abril, teve mercio.
o principe noticia das ordens dadas pelo gover- Todos estes actos significavam de modo
no portuguez aos seus agentes nos portos es- inilludivel já não haver absolutamente no Bra-
trangeiros, por aviso de 7 de Março de 1822, sil dependencia de Portugal, faltando apenas urna
180 Pl!:DRO DO eOUTTO
trahidor a Pedro L Como consequencia de sua \fllOl"OSOS para seus instillctos sanguinaríos os
altitude, foi eleiLo presidente de uma Junta Go-
190 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 191
tado de 29 de Agosto de 1825, pelo qual Portu- sua formação de homem e, certo, de valia' se-
gal reconhecia a independencia do Brasil. riam os seus actos na funcção que o destino
Cumpre notar que o tratado rezava no ar- lhe reservou. De sua passagem pelo mundo fi-
tigo IX a obrigação do Brasil pagar uma inde- cou-lhe a gloria grande de ter cooperado effi-
mnisação a Portugal, condição que sem duvida' cazmenle para a independencín do Brasil. E só.
determinou as boas disposições de D. João VI. Seu governo foi um attestado de que o homem
Assim, Porlugal recebeu dous milhões slerlinos que soltara o brado ~ lndependencia aa M,or-
para o fim de reconhecer a independenecia do te! - ás margens do Ypiranga, não estava ta-
Brasil, cousa que se havia de dar falalmente lhado para o mister de estadista.
A má vontade fatal entre brasileiros e por-
194 PEDRa DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 195
tuguezes foi por elle algo acoroçoada, talvez tugueza em sua filha, D. Maria da Gloria, prin-
inconscientemente, pela sympathia, pela prefe- ceza do Grão Pará.
rencia que a estes manifestava. Em breve, a "'0 paiz havia relativa calma, olhos fitos
popularidade que conquistára com a indepen- no sul, onde se trava a primeira guerra do
dencia se esboroava, e a sua situação se ia tor- Brasil imperio com PO,VO estranho. 1 Tessa guer-
nando incompativel com o meio brasileiro. Ao ra, o Brasil foi vencido, conseguindo porém a
mesmo tempo as idéas liberaes iam avançando, sua esquadra sob o cornrnando do almirante
a cultura nacional se ia fazendo e o sentimento Pinto Guedes bater a argentina ás ordens do
patriotico se evidenciava nitidamente. Aos mo- almirante Brown. Infelizmente, no combate na-
vimentos insurreccionaes no paiz, em breve se val do J uncal, a esquadra brasileira sob o com-
juntava um de monta - a independencía da mando de Jacintho Roque de Souza Pereira' é
Provinda Cisplafina. destroçada pelo almirante Brown, em cujo po-
A 19 de Abril de 1825, D. João Antonio: der ficaram onze navios brasileiros. ,
Lavalleja, conjunctamente com Fructuoso Rive- Trava-se por fim a batalha de Ituzaingo,
ra invadia Montevidéo, proclamando em Junho 'em que o exercito argentino, forte de mais de
a independencia da Cisplatitia com o nome de 10.000 homens e 54 peças de artilharia', ao man-
Banda Oriental e collocando-a sob o protec- do de Alvear, bate o exercito brasileiro de 5.500
torado das Provincias Unidas do Prata. homens e 10 peças, commandado pelo Marquez
Bento Manoel Ribeiro oppoz-se a esse acto de Barbacena.
de Lavalleja e lhe deu combate a 12 ~e Outubro Termina ahi a lucta e iniciam-se as nego-
em Sarandy, sendo derrotado. ciações diplomaticas, celebrando D. José Ma-
O ministro dos estrangeiros da Republica noel Garcia, com o Brasil, no Rio de Janeiro,
Argentina, a 4 de Novembro, communicou ao a 24. ele Maio de 1827, uma convenção que
Brasil que o congresso das Provincias do Prata não foi ratificada.
havia declarado a separação da Banda Oriental, 1 TO anno seguinte, graças á mediação da
do Brasil. Ante semelhante attitude o Brasil Inglaterra, foi assignado o tratado de paz, pelo
declarou guerra á Republica Argentina, a 10 de qual a Banda Oriental ficava independente por
Dezembro de 1825. cinco annos, escolhendo depois o governo que
D. João VI morria a 16 de Março de 1826 lhe conviesse.
e Pedro I, seu successor, abdicava a coroa por- Essa guerra desastrosa para o Brasil, a an-
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIl.. 197
196 PEDRO DO COUTTO
brigadeiro Lima e Silva, e deputados João Brau-
tipathia cada yez maior que experimentavam os lio Moniz e José da Costa Carvalho.
brasileiros por Pedro I, o avanço das idéas li- Começaram então as luclas tremendas que
beraes, o odio entre brasileiros e portuguezes, agitaram lodo o paiz, dando ao período regeu-
tudo cooperava para uma explosão. E esta se cial grande destaque na polilica nacional. 1\'0
deu tão violenla que levou Pedro I a abdicar, anuo mesmo de 1831, no Rio de Janeiro, houve
a 7 de Abril de 1831, em seu filho D. Pedrol a 14 e 15 de Julho e a 7 de Outubro, revolta
de Alcanlara, então de 5 annos e 4 mezes de das tropas, dominada por Diogo Feijó, ministro
idade. Confiou-o aos cuidados de José Bonita- da jusliça. Nas províncias, as revoltas explo-
cio, que elle havia perseguido ingratamente, diam fortes e constantes: no Maranhão, o povo
e embarcou no navio Warspite) passando-se de- e a tropa se põem em rebellião desde 13 de
pois para a fragata Y olaqe, deixando o Brasil Setembro de 1831 a Abril de 1832; em Pcr-
a 13 de Abril. nambuco dá-se a Setembrada, revolta que per-
Estava terminado o primeiro reinado. turba a vida do Recife durante tres dias - 1 1,
L
Eram elles - os exaltados) os moderados e os de 1835. Coube este encargo ao padre Diogo
restauradores ou caraniurús, do nome elo jor- Feijó, já experimentado quanto ao seu valor de
nal Caramurú, que lhos traduzia a maneira de estadista na qualidade de ministro recto e alta-
pensar. A este partido pertencia José Bonifa- mente energico.
cio, commettendo por lal fórma um erro gra- Rebenta neste mesmo anno de 1835, no Rio
vissimo e prejudicando assim , ele certo modo , Grande do Sul, a Guerra dos Farrapos, revolu-
o nome que havia conquistado na Iuncção no- ção republicana e forte que durou dez annos.
tavel de organizador elo paiz por occasião de Foi seu chefe Bento Gonçalves da Silva, que
sua independencia. Este partido armou sob as em breve dominava a provincia. Feijó manda
ordens do barão de Bulow uma revolta , ven- como governador do Rio Grande José de Arau-
cida no logar chamado MalapO'rcos. hoje Es- jo Ribeiro, que consegue chamar a si Bento
lacio de Sá. Tambem os moderados se rebella- Manoel Ribeiro, o voluvel caudilho, ora revo-
rarn, destruindo os jornaes adeptos dos cara- lucionario, ora imperialista.
murúe,
. a Sociedade Militar) da mesma feição , Trava-se a lucta e os revolucionários são
e , indo a S. Chrislovão, de onde trouxeram
\
Pc- derrotados no combate de Fan]a, sendo Bento
dro II para o paço da cidade, e José Bo nilacio Gonçalves preso e mandado para o Rio de Ja-
preso, immediatamente suspenso das Iuncçõcs de neiro.
luLor de D. Pedro e forçado a residir na ilha Os seus companheiros d'armas proclamam
de Paquelá, onde morreu em 1838. a republica em Piratinim e começam de derrotar
Foi este o inicio da decadencia do partido o exercito monarchico. Bento Ribeiro volta aos
restaurador, que se extinguiu em 1834 com a àrraiaes republicanos, abandonando o cornman-
morte de Pedro L Calma relativa se fez, e a 12 do das armas da provincia, e Bento Gonçalves,
ele Agosto de 1834 as Camaras votaram a re- que havia sido transferido do Rio de J aneiro
forma constitucional, conhecida pelo nome de para o Forte do Mar, na Bahia, d'elle se evade
Acto Addicional. Por elle desapparecerarn os e volta á campanha em meio aos seus, assumin-
Conselhos Geraes das provincias, sendo crearlas do-lhes o commando. A revolução marca então
as assembléas provinciaes, e a regencia do ím- periodo brilhante, sendo impotente o governo
perio passou de trina a una. para reprirníl-a, vindo a ser suffocada em 1845,
O Aclo Addiciorial foi promulgado a 21 de já no periodo do reinado de Pedro 11.
Agosto de 1834, e o regente, eleito a 7 de Abril No Norte, nessa época, o espirito revolu-
200 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRA,IL 201
cionario tambem se fazia sentir: na Bahía, de do regencial um dos de maior vulto na hístcria'
Novembro de 1837 a Março de 1838, com o
'.
patria. Nelle se chocaram as correntes varra-
.
movimento encabeçado pelo Dr. Francisco Sa- das da politica, e mais ou menos as idéas libe-
bino da Rocha Vieira, com 6 nome de Sabínada ; raes algo conseguiram. O erro imputavel aos
no Maranhão, de Dezembro de 1838 a Feve- homens progressistas d'essa hora grande da nos-
reiro de 1840, com a rebellião dirigida por Ma- sa hisloria, foi o de não terem proclamado a
noel dos Anjos Ferreira, o Balaio, sob a deno- republica. A 7 de Setembro de 1822 comprehen-
minação de Revolta dos Balaios ou Balaiada. de-se a razão de ser da monarchia, mas a 7
No terreno da política dos partidos dá-se de Abril de 1831 não se admitte que a não eli-
a fusão dos elementos reaccionarios com os li- minassem.
beraes moderados, graças á acção conjugada de
Bernardo [de Vasconcellos e Pedro de Araujo A maioridade. Luctcs CIVIS até 1848.
Lima. O novel partido chamado conservador , Luctcs no Prata. Oribz e Rosas
vence nas urnas em 1836, o que motivou a de;.
missão de Diogo Feijó e a elevação interina ao Declarada que foi a' maioridade, Pedro II
cargo de regente, do ministro do imperio Arau- nomeou a 24 de Julho de 18·10 o seu primeiro.
jo Lima, posteriormente confirmado nas íun- ministerio e concedeu amnístia a todos os cri-
cções respectivas pelas Camaras, mes políticos.
Estabelecia-se nesse momento, com a exis- A 18 de Julho 'de 1841 foi sagrado e co-
tencia
. dos partidos - liberal e conservador , o roado reinando até 15 de Novembro de 1889.
regimen parlamentar. A amnistia aos criminosos políticos em 1840
Em breve começou de agitar-se a declara- não deteve a tremenda revolução no sul, visto
ção da maioridade de Pedro II, com offensa á como não levou os republicanos a depôrem as
Constituição. O partido liberal fez sua a idéa armas. A lucia continuou, O governo lançou mão
e a fez triumphar a 23 de Julho de 1840, com do então barão de Caxias; um grande sustenta-
o voto das Camaras reunidas. culo do throno e um cabo de guerra de alta!
Consultado anteriormente , Pedro II , com valia, que derrotou os republicanos em! Trium-
quinze annos apenas de idade, sobre quando pho e Comaquati.
queria a sua maioridade, elle respondeu com o Ao tempo voltava outra vez ás forças im-
celebre - quero já. E assim terminou o perio- periaes o brigadeiro Bento Manoel Ribeiro, e a'
/
202 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 203
cito de 20.000 homens invadiu o Uruguay a 4 frente de 23.000 homens, foi batido pelos al-
de Agoslo. O mesmo fez o general Urquiza, o liados, dirigidos pelo general brasileiro Manuel
que obrigou Oribe a capitular, a 11 de Outu- Marques de Souza, depois Conde de Porto-Ale-
bro, adherindo suas tropas ás commandadas por gre. Após esse combate decisivo, Rosas fugiu,
Urquiza. refugiando-se a bordo OP. um navio inglez.
Conseguida essa parte, cumpria agir con-
tra Rosas, que havia em Setembro de 1851 de- 6uerra do Paraguay
clarado guerra aos alliados, facto, aliás, de Ia-
cil previsão. Assim, pois, a 21 de Novembro, foi Da attitude menos digna usada pelos po-
assignado em Moritevidéo o tratado de alliança vos fortes para com os que não dispõem de
entre o Brasil, o Uruguay, Entre-Rios e Cor- exercitos consideraveis e de armadas poderosas,
rientes, contra Rosas, sendo representante do teve o Brasil a prova, no papel de offendido,
Brasil Honorio Hermelo Carneiro Leão, poste- na pendencia com a Inglaterra, conhecida por
riormente Marquez do Paraná. Questão Christie, do nome do plenipotenciarlo
Antes, porém, deste tratado, o governo de inglez.
Pedro Il, abusando da situação difficil em que Usando do processo empregado pelo gover-
208 PJ!DRO DO CC)UTTO PONTOS Df HISTC)R,IA Da ~~ASIL
nislro replica estar promplo a submeLler todas gnos de respeito e amparo'. Não o entendia assim
as questões ao arbilramenLo. Pedro II, que a todo o momento nelles pertur-
O governo brasileiro, porém, só acceita o I
,.
!
I
210 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 211
bava a ordem, indo até a prestar auxilio a cau- brando o arbitramento. Por sua vez, o ministro
dilhos revoltados contra o poder instituido. brasileiro não acceita este alvitre, o que mo-
Tão incorrecta foi a conducta da Inglater- tivou da parte do governo uruguayo o appello
ra nesse como em outros casos, como o é, em a Solano Lopez, dictador do Paraguay, visto
geral, a prepotencia que os paizes pseudo-civili- que esta republica estava na obrigação de zelar
sados exercem contra os que lhe são inferiores pela independencia do Uruguay.
em força armada, Ora, sendo este o prooedi .• Solano Lopez, offerecendo sua mediação,
mento constante do imperio mais se elle accen- obrava, até certo ponto, em defesa propria, visto
tuou com o estado de superexcitação patriotica que, dados os precedentes do governo imperial
decorrente da questão com a Inglaterra. Desde era bem possível que após o esmagamento do
que houvesse opportunidade o governo imperial Uruguay, chegassem até sua' patria os écos do
saberia dar um destino á nobre exaltação domi- triumpho.
nante no povo brasileiro. A opportunidade mani- Não havendo meio de absolutamente che-
festou-se na situação em que se achava a ReL garemá conciliação, rompeu o governo brasilei-
publica do Uruguay, invadida' pelo general Ve- ro as 'represalias, o que deu motivo a uma nota
nacio Flôres. paraguaya, que de nenhum modo modificou
Dada a revolução, o governo imperial, por a situação. Novamente o governo de Lopez se
intermedio de José Antonio Saraiva, seu ministro manifesta de modo decisivo, declarando rotas
em missão especial, exigiu do governo oriental as relações com o Brasil e prohibindo a' nave-
reparo dos crimes commettidos nas proprieda- gação nas aguas paraguayas á bandeira brasi-
des e nas pessoas de brasileiros alli domicilia- leira. A esta nota seguiu-se, sem declaração de
dos. guerra, o aprisionamento do Marquez de Olitida,
O governo oriental tentou refutar os argu- paquete brasileiro, a cujo bordo ia o presidente
mentos adduzidos, e uma troca de notas diplo- de Matto-Grosso, e a invasão d'esta provincia
maticas se estabelece, até que o ministro brasi- (12 de Novembro de 1864). (
leiro, concertado com os ministros inglez e ar- Por esse tempo, já as tropas brasileiras
gentino, procura conciliar o governo legal com dirigidas por Menna Barrete, de combinação
o general Venancio Flôres. Não o conseguín- com o general Flôres, haviam invadido Paysan-
do, o ministro brasileiro apresenta um ultima- dú e marchado para Montevídéo, que, entre
tum ao governo oriental, que este devolve lem- estas forças e o bloqueio effectuado pela esqua-
PEDRa DO COUTTO PONTOS DE HIS,TORIA DO BRASIL 213
212
dra a mando do almirante Tamandaré, capitu- a al liança com a República Argenlina e com o
Uruguay.
lou a 28 de Fevereiro de 1865, sendo pouco de-o
pois elevado á presidencia do Uruguay o gene- Cumpre que se registre que essa alliança, no
ral Venancio Flôres. ponlo de vista militar, nenhuma vantagem trou-
Do exposto se conclue que não obstante os xe
.,
ao Brasil, visto que só elle manteve a ozuerra ,
ja pelo valor extraordinario de seus soldados já
crimes perpetrados por Solano Lopez, e mesmo
certa petulancia e tendeucias bellicosas de sua pela capacidade de seus generaes. '
parte, a responsabilidade unica da guerra cabe No ponto de vista político, porém, arredou
ao governo imperial. do Paraguay amigos naturaes, dados os antece-
E' possível que a ambição de Solano Lo- dentes communs e as formas políticas idenlicas.
pez, como alguns sustentam, o levasse a' provo- Da alliança resultou caber o comrnando em
car aluda; mas do que não resta minima du- chefe .ao general Mitre, presidente da Republicà
vida é que a sua conducta, pugnando pela paz Argen~ina, sob cuja direcção se iniciou a cam-
panha.
uruguaya, foi correcta e humana. Não nos dete-
nhamos a julgar a habilidade por elle m'anifes- Com difficuldade começaram as operações
tada no adaptar aquelle pretexto, pois que pro- havendo dentro em pouco entre os chefes certo
vou com isso a tilamente e astucia. Não lh'o desse desaccordo proveniente de alguns insuccessos.
o ímperio, procurando ser justo e fraternal, e Depois de varias desastres e com: a vinda: de ou-
tro corpo do exercito brasileiro, do commando :
então a lição que lhe infligisse, caso sua am-
do conde de Porto Alegre, tomaram os alliados
bição o atirasse a uma guerra, seria apreciada
o forte de Curuzú, ordenando o general Mitre
e mesmo digna de louvor.
logo após, a despeito das divcrgcncias, o assalto
Invadida a provincia de :\Iatto-Grosso, So-
de Curupaily, onde experimentaram formidavel
lano Lopez pediu licença á Republica Argenlina
derrola os exercitos da triplice alliauça.
para atravessar seu territorio afim de atacar
Desalento grande produziu esse revés , ac-
o Rio Grande do Sul, o que lhe sendo negado, b
cuja direcção recomeçaram as operações.' Desde poucos soldados, alguns indios e 17 galés, con-
esse momento ao Brasil coub quasi que em ex- seguindo tres vezes repellir o inimigo e reali-
clusivo a responsabilidade da guerra, que, di- sar por fim, uma feliz retirada; a batalha de
rigida com proficiencia, depois de continuas e Estero-Bellaco em que o general Flôres, envol-
difficeis victorias, tinha seu termo nalural com vido com a sua gente pelo inimigo e conside-
a occupação de Assumpção. rando-se já perdido, foi salvo pelo auxilio do
Durante esse período, cumpre salientar a general Osorio que destroçou os atacantes, to-
batalha de Tuyuly, onde os argentinos foram mandoIhes os canhões de que se haviam apo-
derrotados pelos paraguayos, superiores em nu- derado e obrigando-os a refugiarem-se nas mat-
mero, mas que tiveram de bater em retirada, tas.
destroçados pela acção decisiva dos brasileiros Transposta Humaytá, Lopez recuou, indo
cornmandados pelo general Osorio .(24 de Maio formar novas linhas 'em Tebicuary, sendo perse-
de 1866) .. guido pelo grande Caxias. Travam-se as bata-
Além d'esta batalha' notavel cumpre assi- lhas - da ponte de Itororó, tomada! e reto-
gnalar como de valor, e grande, o combate na- mada diversas vezes; a Avahy, em campo raso;
val de Riachuelo (11 de Junho de 1865) em e a de Lomas Valentinas, onde a lucta se deu
que a esquadra brasileira sob o commando do durante seis dias, ficando dizimado o exercito
almirante Barroso se cobriu de gloria; e a pas- paraguayo e diminuidas de metade as forças
sagem da fortaleza de Humaytá, julgada iuex- brasileiras ,(6 de Dezembro, 11 de Dezembro e
pugnavel, e que decidiu, pode-se dizer, dos des- de 21 a 27 de Dezembro de 1868).
Linos da guerra (19 de Fevereiro de 1868). Seguem-se-lhes - a tomada de Angustura
Combates diversos em que se salientaram no dia 30 do mesmo mez e a occupação de As-
a bravura e o denodo dos contendores tiveram sumpção a 5 de Janeiro seguinte, podendo-se
legar, sem que se possam comparar aos que desde então julgar terminada a guerra, como
mencionámos. Assim, logo ás primeiras hostili- aliás e mui justamente o entendeu o marquez de
dades, em Dezembro de 1864, o ataque ao for- Caxias, que d'alli voltou para o Brasil, chegan-
te de Coímbra, em Matto Grosso, por seis mil do ao Rio no dia 15 de Fevereiro, sendo-lhe
paraguayos, sob o commando do general Bar- conferido o titulo de duque pelo exito brílante
rios, cunhado de Lopez, e a defesa do forte de seus serviços.
pelo tenente-coronel Porto-Carrero com cento c Não quiz, entretanto, o governo imperial
216 PEDRa DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 217
satisfazer-se com o triumpho obtido, pois pre- lhado para a guerra, seus recursos eram de tal
tendia a todo transe capturar Solano Lopez. De natureza que deus annos depois do começo das
semelhante incumbencia encarregou-se como operações Lopez popunha a paz, que só nã
commandanle em chefe o Conde d'Eu, esposo foi accei ta porque o governo imperial tinha as-
da herdeira do throno, que ainda bateu o exer- sentado a sua expulsão do Paraguay, consoante
cito paraguayo reconstituido com elementos di- o lralado firmado com a Argentina e o Uruguay.
versos e mui reduzidos, e tomou Pirebebuy a Nesse tratado estatuia-se que a guerra era feita
12 de Agosto de 1869. Inicia-se, então, a ca- a Lopez e não á sua pátria, e que, terminada a
çada a Solano Lopez, que, encontrado por uma campanha, seria feito o desarmamento do Pa-
expedição ao mando do general Camara, pos- raguay, bem como lhe seria imposto o paga-
teriorrnente visconde de Pelo tas, em' Cerro-Corá, mento das despezas de guerra.
ás margens do Aquidaban, é morto em lucta, Não foi acceita a proposta de paz e a guer-
depois de ter recusado render-se (1 de Março ra continuou, a despeito da intervenção amis-
de 1870). tosa dos Estados Unidos, do Equador, do Chile,
Assim te.ve fim essa guerra ingloria e des- do Perú e da Bolívia. Pedra II a nada atten-
humana que a política estreita e egoistica do dia, desejoso de eliminar o dictador do Para-
ímperío provocou e a que não soube dar termo guay. O crime de aproveitar impiedosarnente as
digno. - energias e a resignação de um povo para lan-
çal-o a uma lucta 'em terreno desconhecido e
O alto valor dos generaes e a' bravura e o inhospito, por capricho, mesmo depois do ini-
patriotismo dos soldados brasileiros foram ap- migo propôr por 'duas vezes a paz, constitue
plicados á sustentação de uma lucta inutil mes- uma nodoa no reinado de Pedra II, chamado,
mo aos destinos da America. Só ao capricho de enlretanto, o rei magnanimo. Dada a invasão
Pedra II se deve sua provocação e manutenção. do territorio nacional, devia o governo impe-
E' bem verdade que Lopez ha muito se prepa- rial expulsar e castigar o inimigo, fosse elle este
rava para a guerra; entretanto, de nenhum' mo- ou aquellc; o que nunca deveria ler feito era'
do isso deve causar admiração, dada a descon- provocar por sua attilude uma guerra que cus-
fiança que o Brasil então inspirava ás republi- tou a vida a milhares de brasileiros e sacrifí-
cas visinhas. . cios innumeros á forluna publica e particular.
ão obstantc estar o Brasil mal appare-
218 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 219
•
228 PEDRa DO COUTTO
PONTOS DE HISTORIA DO BRA3IL 229
•
como certas liberdades que lhe facilitassem o
se podiam collocar á testa de um movimento rei-
vindicador, foi o íhrono sentindo quão pouco
uso de seu poder incontrastavel.
profundos 'eram os seus alicerces. .
Uma enorme corrupção se estendeu pelo
Já se ouviam enunciar claramente desejos
paiz, favorecida pela situação de decomposição
de. se instituir a republica ; esta fórrna política
dos tempos modernos. deixava de ser a pose de estudantes que a aban-
Mascarado com o rotulo de monarcha con-
don.avam quando formados, para se converter
stitucional, servido por um parlamento supposto
no ideal determinado de alguns que por' ella se
representante da vontade nacional , Pedro II batiam.
exercia de facto o poder absoluto. Os partidos Clubs se. formaram, jornaes se fundaram'
então existentes não se differençavam _ .. repre- para pregal-a ; e a propaganda, díspersíva a prin-
sentavam bem o papel no chamado emphati- cipio, se foi systematisando, dando combate de-
camente equilíbrio dos poderes. Difficilmente se cidido e franco á monarchia.
achava antagonismo entre um' liberal e um con- Assediado pelas duas propagandas irmana-
servador. das por um ideal alevantado - a republicana
O [egoísmo dos politicos procurava sempre e. a abolicionista - o throno contava os dias de
satisfazer o imperante, e com tanto maior 'pre- existencia,
steza quanto mais opposicionistas fossem elles. Havia evídentemente divergencia qua:nto ao
De tal sorte era a convicção publica .sobre modo de conceber a republica, mas havia dese-
a conducta do imperador, que, quando um po-' j~s de Iundal-a, e isto harrnonisava os antago-
litico se extremava em ataques á sua pessoa, msmos.
se assoalhava logo queelle desejava boa col- A mór parte dos republicanos subordinavam-
locação, e no commurn das vezes isso se con- se ao manifesto de 1870, tomado como prova de
firmava. A tal ponto chegou esse processo cor- a dhesão; á nova idéa, não obstante alguns de seus
rupto'r; que bem poucos homens públicos se pu- signatarios terem adherido ao imperio. Cumpre
deram conservar immunes. Assim conseauiu o Pe- entretanto declarar que quasi todos, ao menos
dro li ir mantendo uma instituição repudiada pe- os mais influentes, estavam imbuidos das opi-
los nossos antecedentes, prolongando quanto lhe niões nelle contidas.
foi possivel o dominio de sua família. Seja como fôr, o que é inconteste é que a
Crescendo, porém, os attentados á liberdade
campanha se tornou renhida.
e avultando concornítantemente as luzes dos que
232 PEDRa DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 233
militares, ja revoltado, negando-se a capturar E outra se não devia esperar do caracter recto,
escravos foragidos, vem tomar a parte decisiva do espirito ordeiro de Benjamin Con~tant.
na lucta, dando-lhe termo. Estabelecida a decisão de que se devia depor
O nucleo mais avançado do exercito - a o throno Benjamin procurou Deodoro a quem
Escola Militar, dominada pelo alto valor mo- convidou' para dirigir o movimento. Este relu-
ral e grande capacidade de Benjamin Constant, ctou mas anle os argumentos 1 pos tos por um
. ho-
declara-se abertamente em favor dos ideaes re- , . . id d
mem íntegro c destituí o e mmçao,a rnição acqmesceu.
.'
publicanos. Diante dos officiaes do navio de Ta residencia de Deodoro reuniu BenJaml?
guerra chileno Almirante Cockratie, em visita varies chefes republicanos, muitos d'elles depois
á Escola, e do ministro da guerra, Benjamin membros do Governo Provisorio) e com. elles
Constant, orando, expoz a missão dos exercitos concertou o levante. Este se tornou realidade
modernos, provocando grande ovação por parte a 15 de Novembro de 1889, quando uma. pal~te
dos alurnnos. A attitude por elle assumida sa- do exercito, dirigida por Deodoro e BenJa~ll:,
grou-o desde logo chefe pratico d'essa pleiade asornpanhados por Quintino B~c~yuv~, se diri-
de jovens republicanos, e como talos conduziu giu ao quartel-general, onde o mínisterío se acha-
á victoria,
va reunido. _
Havendo um conflicto entre um official do . As tropas republicans marchar~m. de Sao
exercito de guarda ao Thesouro e o Ministro Christovão sob o commando de Benjamin Cons-
da Fazenda, entenderam varios collegas d'aquel- íant, visto Deodoro se achar gravemente enf:r-
le official ser o caso motivo para um protesto mo. Apezar, porém, de seu estado de sa,:de, nao
por parle do Club Militar. se conteve Deodoro que não fosse parhlh~r. da
T este sentido dirigiram um officio ao res- sorte de seus companheiros, e se lhes. Ioi Jun-
pectivo presidente, Marechal Deodoro, que não tar quando já elles vinham para ~ Cidade, na
julgou azada a intervenção do Club. altura do canal do Mangue, assumi~do. o com-
A 9 de TOyembro de 1889, porém, houve mando das forcas ladeado por BenJamm Cons-
sessão no Club Militar, sob a direcção de . , .' as
tant e Quinlino Bocayuva. FOi assim que
Benjamin Costant, seu vice-presidente, e nes- forças republicanas surgiram na Praça da Re-
sa reunião ficou resolvido, uma solução hon- publica, então Praça da Acclamação. Formaram
rosa, ao críterío de Benjamin - a republica. no quadrilatero fronteiro ao quartel-general, on-
236 PElDRO DO COUTTO PONTOS 05 HIS'TORIA DO BRASIL 237
de o minislerio, com excepção do ministro da da' antiga Escola Normal, e vivas republica se
á
Floríano Peixoto, ajudante-general, pergunlando- impressionante de Deodoro, que aos lados leva;
lhe porque não agia naquelle momento como - Benjamin Constant, com a sua' physionomia
o fizera no Paraguay, .ao que respondeu Floria- serena ,e grandemente sympathicat e Quintino
no que lá, na republíca então em auerra' com' Bocayuva com o seu typo caracteristíco de an-
o Brasil, elle .via inimigos, e aqui ~ irmãos. tigo rornantico. Por onde passam', acclamam-
. Percebendo por esta resposta qual era a n-os todos que anceiavam pela republica.
situação, não perdeu, entretanto, o illustre Vis- Após o passeio -triumphal, janella' da In-
á
conde de Ouro Preto Ia calma e a' serenidade -e tendencía Municipal, onde hoje "funccíona ai Pre-
soube com dignidade e coragem enfrentar o mo- feitura, assoma o mais moço dos vereadores,
mento difficil que se lhe apresentava. José do Patrocínio, e em vibrante discurso pro-
. Abrem-se os portões do quartel general e clama a republíca' em' nome da cidade, hastean-
Doodoro, bello, impa,vido, por elles penetra 're- do a bandeira do Club Republicano Lopes Tro-
cebendo grande ovação das trepas alli disp~stas vão, de cores verde ie anrarella, listrada moda
á
tregue um offício do governo provisorio, em' que consideração da historia corno correspondendo
se lhe fazia doação de cinco mil contos. plenamente aos princípios pregados por aquelles
Do primeiro porto escreveu 'O ex-ímperante proceres da propaganda, Coroando a série de
a seu procurador, recusando nobremente essa' medidas de 'Ordem politica e administrativa to-
quantia: e acceitando sómente as dotações a que madas desde logo, ha a considerar a medida li-
se julgava com direito, beral consubstanciada na lei de 7 de Janeiro de
A 5 de Dezembro de 1891 íallecia Pedro 11 1890 em que ise estabelecia a' separação da Igre-
em Paris. Findava a existencia de um homem ja do Estado e a liberdade de cultos. Conse-
que governara 'O Brasil durante quarenta e nove quenlemente se decretava 'Ocasamento civil, com-
annos. pletando assim 'O registro civil de nascimento
Sem paixões, que ellas se extinguem com 'O que a monarch ia havia estatuido em 1888.
perpassar dos annos, sem Ialsidade, que a não Essa accentuada orientação tendia em pou-
têm 'Os homens de bem, póde dizer-se que mor- co a modificar-se, a princípio pelo ascendente
reu um cidadão honesto, amante da sua terra, que no animo de De'Od'Or'Oiam tornando ele-
bom chefe de família, intelligente e lido, e que mentes vindos do regimen anterior e que passa-
habilmente procurou equilibrar a sua dynastia ram a servir á revolução triumphante, e pos-
em meío a um 'povo que a ella não lera affei- teriorrnente pelo dissídio entre De'Od'Or'Oe 'Os
çoado.
242 PFDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 243
seus ministros, motivando a demissão d' estes a esse periodo é que explodem as tenden-
20 de Janeiro de 1891. cias reaccionarías dos apegados ao passado que
Quando estes factos se desenrolaram, a Cons- a 15 de Novembro ficaram estarrecidos ante o
tituição era discutida por uma assembléa elei- golpe que derribou um throno que lhes parecia
ta a 15 de Setembro de 1890, e que se reunira; eterno, recolhendo-se pouquissimos a uma oppo- ~
no paço de S. Chrístovão, hoje Museu Nacional, sição honesta e discreta, adherindo soffregamen-
a 15 de Novembro de 1890. te a grande maioria, sem sinceridade alguma.
Coube a presidencia d'essa assembléa ao Com a elevação ao poder do marechal Flo-
DT. Prudente José de Moraes e Barros. A 24 de ri ano , acharam azado o momento, e perturba-
Fevereiro :de 1891 lera promulgada a' Constitui- ções varias se deram. N. 18 'de J aneiro de 1892
ção que nos r-ege, e no dia seguinte eleitos' o deu-se uma revolta nas fortalezas de Santa Cruz
presidente e o vice-presidente da Republica. e Lage, suffocadas inteiramente. A 13 'de Mar-
Recahiu a escolha no marechal Deodoro da ço, treze generaaes de mar e terra' publicaram
Fonseca para presidente, e no marechal Floria- um manifesto impondo a Floriano procedesse á
no Peixoto para seu substituto legal. eleição para o successor de Deodoro. A esse
Dentro em pouco, o ministerio que se for- acto de indisciplina e do maís ínconveníente mi-
mára ao implantar-se a Republica e que soífrera litarismo, respondeu Floriano reformando os in-
modificações com a retirada de alguns de seus subordinados. Ainda não cessára o prurido de
membros era substituido por outro sob a di- revolta: a 10 de Abril dá-se um movimento sedi-
recção do barão de Lucena, começando então cioso, sendo as suas prmcipaes figuras presas
uma lucta tenaz entre o Congresso le o Execu- 110S fortes da barra do Rio de J aneiro ou depor-
t\vob e cujo termo foi a conducta inconstitucional tadas para o norte 'do paiz. Ao sul, uma revolu-
do marechal Deodoro, que dissolveu aquelle a ção se manifesta, também de caracter suspeito
3 de Novembro {te 1891. Semelhante procedimen- ao regimen, não obstante lhe darem apôio, cer-
to despertou a mais energica reacção, sendo Deo- to por falsa interpretação de seus intuitos, nomes
doro obrigado a resignar, diante da attilude re- respeítaveís do partido republicano desde a épo-
volucionaria da armada sob o commando do ca da propaganda. Esta revolta teve inicio a
contra-almirante Custodio José de Mello, pas- 6 de Fevereiro de 1893.
sando o go(Ve.rnoa 23 de Novembro ao vice-pre- A 6 de setembro, urna parte 'da armada se
sidente, marechal Floriano Peixoto. revolta ao mando do contra-almirante Custodio
,r
PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 245
244 PEDRa DO COUTTO
r antia dos respectivos compatricios. Floriano, passo' que Custodio de Mello entregava á Argen-
com' a sobriedade que lhe era feitio, respondeu tina os remanescentes da esquadra, pedindo-lhe
com! a celebre phrase - A' bala. E tal foi o mo- asylo. Entre os navios entregues, se não inclúe
do incisivo por que se manifestou, que os di- o Aquidabati, que sob o cornmando do capitão de
plomatas ficaram na consulta. fragata Alexandrino Faria de Alencar fôra torpe-
'A campanha continuava forte. Aqui, na ilha deado em Santa Catharina pela Gustaoo Satnpaio,
do Governador, onde foi ferido mortalmen- dírigída pelo tenente Altino Correia.
te Silva Telles, general legalista, e na Armação, Terminava dest'arte, pela victoria da Repu-
em Níctheroy, onde o contra-almirante Salda- n blica, o mais temeroso movimento que contra
nha da Gama operava um' 'desembarque, os re- ella se manifestou.
voltosos foram derrotados. E a 13 de Março Floriano, que despertára o odio dos que não
de 1894 entrava a barra 'do Rio de Janeiro a es- amavam' o regimen vigorante, subiu extraordi-
quadra que Floriano' adquirira na Europa, sob nariamente no conceito nacional, tornando-se um
o cornm'ando do almirante Jeronymo Gonçalves. nobre emulo dos pro-hornens da historía patria;
Os revoltosos, ante o combate que se annuncíava A 15 de Novembro de 1894 entregou Flo-
e para o qual não se achavam preparados, aban- riano o poder ao Dr. Prudente José de Moraes
donaram o forte de Willegaignon e as ilhas e Barros, eleito a 1 de Março, em plena guerra
que occupavam, e foram pedir asylo aos navios civil. Esta eleição é ainda um attestado do valor
de 'guerra portuguezes. moral de Floriano: quizeraelle e teria; eleito
Floríano, ante a conducta de Portugal, rom- quem entendesse acertado, dada a força de que
peu com elle relações a 13 de Maio, entregando dispõem os governos, sendo de notar que' no
os passaportes ao, conde de Paraty, seu represen- seu caso essa força era accrescida de muito,
tante. tendo-se em' vista a situação especial em que
No sul, a lucta continuava, se bem que bas- se achava elle collocado. Não o fez, entretanto.
tante diminuída de intensidade. Os elementos re- l!\1 "
Deixou que os politicos escolhesesm o seu suc-
voltosos, 'ao mando 'de Gumercindo Saraiva, se cessor e acatou-lhes a decisão, não soeintrornet-
foram dirigindo, acossados pelas tropas legaes, tendo absolutamente no pleito, não obstante sa-
•
para o Rio Grande ido Sul, onde se localisaram. ber que lhe não era sympathico o candidato in-
Em desespero de causa, presta-lhes auxilio Sal- dicado.
danha ida Gama, em breve morto em 'combate, ao ,~ , O Dr. Prudente de Moraes exerceu o go-
248 PEDRO DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 249
verno até 15 de Novembro de 1898, exceptuando meado para tal misler pelo Marechal Floriano
o periodo de 10 de [ovembro de 1896 a 4 de Peixolo, e arbitro o presidente dos Estados Uni-
.Março de 1897, em que, doente, se viu obrigado dos, Cleveland .
a passal-o ao vice-presidente Dr. l\Ianoel Victo- A 15 de Novembro de 1898 o Dr. Prudente
rino Pereira. de Moraes passou o governo ao Dr. Manoel
A 23 de Agosto de 1895, os residuos da re- Ferr'az de Campos Salles, eleito a 1 de Março.
volução federalista, já virtualmente anniquilla- Após sua eleição, o Dr. Campos Salles foi
da, firmaram, por seu representante general Sil- á Europa assignar o contracto do [uriditiq-loaii
va Tavares, com o. general lnnocencio Galvão de já combinado entre o governo anterior e os ban-
Queiroz, um accordo, por via do qual se estabe- queiros inglezes. O cumprimento d'esse contra-
lecia a paz. elo, levado a termo graças á energia do DI'.
Na Bahia, um individuo conhecido por An- Campos Salles e de seu notavel monístro dai
tonio Conselheiro, chefiando um bando de faria- Fazenda, DI'. Joaquim Murtinho, pôz á prova' a
ticos, perturbou a ordem. Expedições contra el- capacidade de resístencia do povo brasileiro. A
les enviadas foram derrotadas, morrendo o che- ella se deveu a melhora da situação financeira.
fe de uma dellas, coronel Moreira Cesar. Afi- No governo do Dr. Campos Salles ficaram'
nal foram derrotados a 25 de Julho de 1897, em determinados os limites do Brasil com a Guyana
Canudos, onde se haviam entrincheirado. Franceza, sendo arbitro o presidente da! Suissa
Já quasi a terminar seu governo, a 5 de e advogado do Brasil o illustre barão do Rio
Novembro de 1897, o Dr. Prudente de Moraes foi Branco.
aggredído no Arsenal de Guerra por um' sol- Na visita que á Argentina realisou o Dr.
dado que o queria matar. O presidente da Re- Campos Salles, ficou no governo o vice-presi-
publica nada soffreu, morrendo, porém, o mi- dente Dr. Francisco de Assis Rosa e Silva.
nistro da Guerra, marechal Machado Bittencourt, A 15 de Novembro de 1902 subiu ao poder
que accorrera a defendel-o. o Dr. Fraancisco de Paula Rodrigues Alves, cujo
Ainda na gestão do Dr. Prudente de Mo- governo foi bastante proficuo ao paiz pelo enor-
raes teve termo a questão das Missões, velha' mie desenvolvimento material e pelos cuidados
contenda que comnosco mantinha a' Republica hygienicos que assás nos elevaram no estrangeiro;
Argentina. Foi nosso representante, advogando O DI'. Rodrigues Alves, cuja andrninistração
os nossos direitos, o barão do Rio Branco, no- foi valiosissirna, manif.estou energia na execu-
250 PEDRa DO COUTTO PONTOS DE HISTORIA DO BRASIL 251
..
ção de seus planos e tacto na escolha' de seus como presidente durante uma rápida ausencia
auxiliares. r TO seu governo teve termo a ques- do Chefe de Estado. \
tão do Acre, nome por que era conhecida a con- Este periodo governamental se recommen-
tenda de limites com a Bolivia. A 17 de Novem- da pela attitude tomada ante a pavorosa guer-
bro de 1903 foi ella resolvida pelo tratado de ra que agitou o mundo, dando ao Brasil um' pa-
Pelropolis, sendo nossos representantes os Srs. pel de destaque em meio ao concerto das poten-
barão do Rio Branco e DI'. Assis Brasil. Aquel- cias mundíaes.
le, o habil politico, negociador com o Uruguay Infelizmenle, o gesto nobre com que o Bra-
do condomínio da Lagoa Mirim, e notavel de- sil se coUocou ao lado d'aquelles que pugua-
marcador de nossos limites, descuidados pelo vanr pelos principios liberaes, não foi corres-
imperio , este, diplomata e antigo republicano. pondido, provando-lhe que aos bellos ideaes deve
A 14 de Junho de 1905 fica tambem resol- elle prestar culto, mas que se não deve imrnis-
vida a questão de limites comi a Guyana Ingleza, cuir em contendas que lhe não affectem' imme-
sendo ,arbitro o rei da Italia, Victor Emmanuel díatamente a honra e os interesses honestos.
Il, e nosso advogado, Joaquim Nabuco, gran- Em todo o caso, a attitude do Brasil fez
de orador parlamentar na phase aguda. da abo- vêr aos povos que d'elle desdenhavam, suppon-
lição. dó-o ainda em estado selvagem, o que eUe valia,
Ao Dr. Rodrigues Alves succedeu o DI'. Af- qual o seu estado de civilisação.
fonso Augusto Moreira Penna, que fôra vice- Para sucoeder aos Drs. Wencesláo Braz Pe-
presidente no quatriennio anterior, substituinrlo reira Gomes e Urbano dos Santos da Costa Ara-
o DI'. Silviano Brandão, que faUecera. ujo, foram eleitos os Drs. Francisco de Paula' Ro-
O DI'. Affonso Penna morreu em' pleno drigues Alves e Delfim Moreír a da Costa Ribeiro.
exercicio do governo, sendo substituido pelo vi- .l ão podendo o Dr. Rodrigues Alves assu-
se-presidente DI'. ilo Peçanha. A este succe- mir o governo no dia 15 de 1 ovembro de 1918,
deu o marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, por se achar enfermo, ficou interinamente na
que passou o governo no termo do seu mandato presidencia o Dr. Delfim Moreíra. Entrementes,
ao DI'. Wencesláo Braz Pereira Gomes, vice- morre o Dr. Rodrigues Alves, c os elementos po-
presdiente do governo anterior. / líticos, após grande agitação, indicam para subs-
O vice-presidente neste exercicio, Dr. Ur- tituil-o ó Dr. Epilacio da Silva Pessoa, que exer-
bano dos Santos da Costa Araujo, funccionou
.- .•. I
252 PEDRO DO COUTTO
INDICE
INDICE
Prefacio 7
Descobrimento do Brasil. O incola 15
Primeiras explorações 25
I
Capitanias hereditarias - Inicio da colonisação 28
Governo geral - Thomé de Souza e Duarte da
Costa . 38
Mem de Sá - francezes no Rio de Janeiro 44
Divisão do Brasil em dous governos e reunião »<
posterior em um só . 51
Dominio hespanhol. Francezes no Maranhão. Co-
lonisação do Norte . 56
Primeira invasão hollandeza 64
Segunda invasão hollandeza 71
Luctas entre jesuitas e colonos. Beckmann 98
Palmares. Emboabas. Mascates 104
Guerra de successão na Hespanha. Duclerc e Du·
guay Trouin , 115
O Brasil no reinado de D. joão V. Bandeiras. 121
D. José I e o Marquez de Pombal. Guerras do
Sul. 129
InCJ;lnfidencia mineira. 139 f-
Transrnigração da família real portugueza para
o Brasil - D~OãO yI - Revolução de 1817 147
Regencia de D. edro - In epen encia . . 160
O rímeíro reinado 183
A Regencia 196
A maipr.i.d.a,~ - Luctas civis até 1848. - Luctas
no Prata. - Oribe e Ro~ . 201
Guerra do ParaE:uay .... 207
A aboli ão 219
A Reuublica. O Governo Provisorio. . . . . 228
A"C:onstituinte. Governos constitucionaes até o de
Epitacio Pessoa 241
LIVR.OS ESCOLA.::~ ;.~8
EDIÇÕES DESTA CASA