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BIOLOGIA GERAL

1 BIOLOGIA DOS FUNGOS


INTRODUÇÃO
Os fungos são os organismos conhecidos popularmente como bolores, leveduras e cogumelos. São representados
atualmente por mais de 100 mil espécies descritas, com ampla distribuição geográfica. Durante muitos anos foram
comparados com vegetais, contudo, análises filogenéticas demonstram que se trata de um grupo monofilético
relativamente próximo dos animais. Embora possuam algumas características com os metazoários, como a reserva de
glicogênio, a nutrição heterotrófica e a parede celular de quitina, alguns aspectos morfológicos e fisiológicos são exclusivos
desses organismos, o que os classifica como um grupo à parte, denominado Reino Fungi.
A origem desses seres vivos é datada em aproximadamente 1 bilhão de anos, embora existam poucas evidências
fósseis. Os fungos surgiram a partir de um ancestral protista flagelado, que se divergiu como uma linhagem independente
após a perda da atividade fagotrófica. Os quitridiomicetos são os fungos mais basais e apresentam em uma fase do seu
ciclo de vida um flagelo, estrutura que não ocorre nos demais grupos. Diante disto, acredita-se que o segundo passo para
a evolução e diversificação dos fungos foi a perda desse flagelo. Um terceiro marco evolutivo foi o surgimento da fase
dicariótica no ciclo de vida, o que originou os grupos irmãos ascomicetos e basidiomicetos, há aproximadamente 600
milhões de anos. O ramo da biologia que estuda os fungos é a micologia.

A - Fungo fóssil da espécie Gondwanagaricites magnificus. B - Ancestral protista flagelado. C - Filogenia do Reino Fungi.

ECOLOGIA DOS FUNGOS


Os fungos possuem papel fundamental no funcionamento dos ecossistemas. Eles são importantes decompositores
primários da matéria orgânica, atuando na reciclagem dos nutrientes. Esses organismos também são os únicos capazes de
degradar a lignina dos vegetais, liberando CO2 para a atmosfera e devolvendo compostos e outras substâncias para o solo.
Desta maneira, estes compostos podem ser reutilizados pelas plantas e eventualmente pelos animais. Os fungos formam
também associações mutualísticas com outros organismos, como as algas (líquens), as raízes das plantas e alguns insetos.
FISIOLOGIA E NUTRIÇÃO
Os fungos são organismos heterotróficos e necessitam de fontes de carbono fixadas por outros seres vivos ou
mortos, vegetais ou animais. Não apresentam cavidades digestivas, crescendo no interior da sua própria fonte de alimento
onde liberam as suas enzimas. Essas enzimas são produzidas próximas ao ápice das hifas, onde a maioria é armazenada em
vesículas associadas ao complexo de golgi, e são enviadas à região apical onde seus conteúdos são liberados. Algumas
enzimas possuem a capacidade de serem excretadas ativamente pela membrana. À medida que os nutrientes se tornam
escassos, os fungos expandem em direção à novas fontes de alimento, produzindo esporos para sua dispersão.
Os fungos simbiontes estabelecem relações mutualísticas com seres autotróficos, tornando-os mais eficientes na
colonização de ambientes pouco hospitaleiros, a exemplo dos líquens e das micorrizas. Os fungos saprófitos vivem sobre a
matéria orgânica morta realizando a decomposição, contribuindo com a reciclagem dos nutrientes. Os fungos parasitas
retiram seu alimento do hospedeiro, muitas vezes o prejudicando e causando-lhe diversas doenças. Os fungos predadores
capturam e alimentam-se de pequenos vermes do solo. As hifas desses fungos secretam substâncias anestésicas que
imobilizam esses animais e envolvem seu corpo com o micélio, realizando a digestão logo em seguida.
Além da matéria orgânica, os fungos necessitam também de água no estado líquido para seu crescimento, por
esse motivo são comuns em ambientes úmidos. A maioria depende do oxigênio para a respiração, sendo, portanto, seres
aeróbios. Alguns podem ser anaeróbios facultativos, pois respiram na presença de oxigênio e fermentam na sua ausência.
A temperatura também influencia no metabolismo dos fungos, que normalmente preferem ambientes entre 20 oC e 30oC.
O crescimento das hifas acontece na sua extremidade, região diferenciada quanto à sua estrutura e função. O citoplasma
é mais denso e há organelas especiais chamadas quitossomos, que por meio de enzimas sintetizam e incorporam materiais
à parede da célula. Entre as principais enzimas estão a quitina-sintase, glucana-sintetase e as enzimas líticas.
CAPÍTULO 1 BIOLOGIA DOS FUNGOS

ESTRUTURA CELULAR
A parede celular dos fungos é caracterizada por ser uma estrutura rígida, resistente e dinâmica. A presença de uma
parede confere à célula uma diversidade de formas e participa de processos metabólicos essenciais para a vitalidade do
organismo. Os fungos possuem uma parede celular complexa, formada principalmente por quitina, um polissacarídeo
semelhante à celulose, que difere deste apenas no componente ligado ao carbono-2. Na celulose, quem se liga ao carbono-
2 é uma hidroxila (OH), enquanto que na quitina há um grupo aminoacetilado (NHCOCH 3). A desacetilação da quitina leva
à obtenção de quitosana, seu mais importante composto derivado.
A membrana plasmática atua como uma barreira semipermeável no transporte de substâncias entre o interior e
exterior celular. É constituída por uma bicamada lipídica, com esteróis (principalmente ergosterol) e glicolipídios
associados, importantes na adesão do fungo ao hospedeiro. O núcleo contém o material genético, composto de DNA dupla
fita em hélice. Há ribossomos responsáveis pela síntese proteica e mitocôndrias que produzem energia (ATP) por meio da
fosforilação oxidativa. O retículo endoplasmático está associado à membrana celular e distribuído por todo o corpo da
célula, atuando no transporte interno de substâncias. O complexo de golgi armazena os compostos que serão desprezados
pela célula por meio de vesículas. Os vacúolos armazenam o glicogênio, principal produto de reserva energética dos fungos.

A - Estrutura molecular da quitina. B - Estrutura celular dos fungos.

ANATOMIA E MORFOLOGIA
Os fungos unicelulares formam colônias e geralmente são leveduriformes, que cumprem as funções vegetativas e
reprodutivas. Os fungos multicelulares são constituídos por filamentos delgados em forma de tubo chamados de hifas, que
podem ser cenocíticas ou septadas. A hifas cenocíticas não apresentam septos, e são essencialmente células
multinucleadas. As hifas septadas apresentam projeções da parede celular em direção ao centro do tubo, mas não se
encontram, formando um poro. É por meio dessa abertura que os nutrientes, as organelas e os núcleos podem migrar de
um septo a outro. Os poros podem adquirir uma estrutura mais complexa, chamada de doliporo-parentossomo, que
consiste numa capa membranosa em forma de barril. Outra modificação que pode acontecer nas hifas dos fungos, são os
grampos de conexão. Essas alterações ocorrem no sistema micelial de septação, encontrados em estágios de fungos
superiores. Esse mecanismo está relacionado com a manutenção e a garantia de um estágio dicariótico.

A - Morfologia das hifas. B - Doliporo-parentossomo. C - Mecanismo da formação do grampo de conexão.

O conjunto de hifas é denominado micélio, porém não forma um tecido verdadeiro. O falso tecido que pode ser
formado é conhecido como pletênquima, que consiste num entrelaçamento de hifas, sendo dividido em duas formas: o
prosênquima, que é caracterizado por possuir hifas hialinas frouxamente entrelaçadas, e o pseudoparênquima, que possui
hifas entrelaçadas de forma mais rígida.
PROPAGAÇÃO VEGETATIVA
O micélio vegetativo não tem função específica de reprodução,
embora algumas estruturas disseminadoras, ou propágulos, possam se
desprender da hifa e formar um novo indivíduo, já que as células fúngicas são
autônomas. Esses elementos são denominados taloconídios, que podem ser de
dois tipos: os blastoconídios, comum em leveduras, formam brotos que
permanecem ligados à célula-mãe, formando uma pseudohifa; os artroconídios
são formados pela fragmentação das hifas em segmentos retangulares.
BIOLOGIA DOS FUNGOS CAPÍTULO 1

DIFERENCIAÇÃO DAS HIFAS


Durante a fase vegetativa, as hifas sofrem modificações fisiológicas e morfológicas formando estruturas
especializadas. Os cordões miceliais são um agregado de hifas formando filamentos visíveis que se estendem no solo a
partir de uma região infectada. Os clamidósporos são estruturas de resistência que estão adaptadas a condições ambientais
desfavoráveis e voltam a se desenvolver quando normalizadas. O apressório é uma estrutura achatada, formada pelo
intumescimento de uma hifa que funciona como uma ventosa, aderindo o fungo ao substrato.
Durante a fase reprodutiva, as hifas se especializam em uma estrutura chamada esporóforo, responsável pela
produção de esporos. Os esporos são células com um envoltório resistente que, quando germinam, originam um novo
indivíduo. Essas hifas especializadas geralmente se desenvolvem para fora do substrato, o que propicia a dispersão dos
seus esporos pelo vento. Em várias espécies de fungos, em especial os superiores, essas hifas se modificam em uma
estrutura reprodutiva chamada corpo de frutificação, que sustenta, produz e abriga os esporos.

A - Cordões miceliais. B - Clamidósporos. C - Apressório. D - Esporóforo.

ASPECTOS REPRODUTIVOS
Existem alguns aspectos importantes na descrição dos ciclos de vida dos fungos. Esses organismos podem ser
classificados em três grupos, quanto ao tipo de reprodução. Um fungo anamorfo é aquele que no ciclo de vida apresenta
apenas reprodução assexuada. Um fungo teleomorfo apresenta apenas a forma sexuada de reprodução. Quando o fungo
apresenta as reproduções sexuada e assexuada, o organismo é chamado holomorfo.
A reprodução sexuada ocorre em três etapas: a plasmogamia, que é a união dos protoplastos de uma célula, sem
que haja fusão dos núcleos formando as hifas dicarióticas; a cariogamia, que forma o zigoto diploide por meio da fusão de
células haploides; e a meiose, responsável por estabelecer a forma haploide e originar esporos com maior variabilidade
genética. A reprodução assexuada pode ocorrer pela simples divisão celular ou por brotamento.
NOMENCLATURA BIOLÓGICA
A nomenclatura biológica é universal para todos os seres vivos, e foi
formalizada por Lineu no século XVII. As espécies são identificadas por um sistema
binomial composto por um gênero mais um epíteto específico, que devem estar
destacados em itálico. Ambos devem ser escritos em latim, sendo que o primeiro
deverá começar com a letra maiúscula e o segundo minúscula. Os fungos seguem ainda
regras adicionais definidas pelo Código Internacional de Nomenclatura Botânica, que
rege as normas taxonômicas de cianobactérias, algas, fungos e plantas. Ela define
algumas terminações para as hierarquias taxonômicas, expressas na tabela ao lado.
MÉTODOS E TÉCNICAS DE COLETA
As coletas em fungos necessitam de cuidados especiais. É importante
ressaltar a segurança do coletor, visto que há diversas espécies de fungos que são
tóxicas, e, se preciso, deve-se tomar medidas de precaução, como o uso de luvas e
máscaras. Os principais materiais para a coleta de fungos são: sacos plásticos ou de
papel, espátulas, canivetes, máquinas fotográficas, GPS para aquisição de
coordenadas geográficas e caderno para anotações de campo. Essas anotações
devem conter local e data da coleta, descrição do ambiente (vegetação e solo) e o
hábito do fungo. Deve-se descrever também as características do fungo ainda vivo,
como as cores e formas.
Os fungos unicelulares devem ser coletados e cultivados em meios de cultura laboratoriais, e analisados em
microscópios ópticos. Os mixomicetos e zigomicetos devem ser colocados em caixas ou frascos com tampa, para que não
sejam danificados. Os corpos de frutificação de ascomicetos e basidiomicetos podem ser coletados em diferentes estágios
de desenvolvimento, embora só os maduros sejam analisados microscopicamente. É importante que cada material seja
armazenado individualmente. Os fungos micorrízicos devem ser coletados juntamente com a raiz da planta a qual está
associado, e armazenado em sacos plásticos. Os talos liquênicos devem ser coletados apenas quando maduros, e devem
ser armazenados em sacos plásticos ou de papel. Os materiais coletados podem ser registrados em um herbário.
CAPÍTULO 1 BIOLOGIA DOS FUNGOS

CHAVE DE IDENTIFICAÇÃO
1. Fase vegetativa na forma de plasmódio ............................................................................................................Myxomycota
1. Fase vegetativa formando hifas ............................................................................................................................................2
2. Hifas cenocíticas ...................................................................................................................................................................3
2. Hifas septadas .......................................................................................................................................................................6
3. Fungos predominantemente aquáticos ................................................................................................................................4
3. Fungos terrestres ..................................................................................................................................................................5
4. Esporos móveis biflagelados ..................................................................................................................................Oomycota
4. Esporos móveis uniflagelados ......................................................................................................................Chytridiomycota
5. Presença de zigosporângios e/ou esporangióforos ............................................................................................Zygomycota
5. Presença de glomerosporos .........................................................................................................................Glomeromycota
6. Presença de ascoma; presença de ascas .............................................................................................................Ascomycota
6. Presença de basidioma; presença de basídios ................................................................................................Basidiomycota

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