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Fungos

Conceito

Os fungos (do latim “fungus” que significa “cogumelo”) são seres vivos eucariontes e
heterotróficos com nutrição absortiva e reserva energética de glicogénio. Estes podem ser
unicelulares ou pluricelulares e aeróbicos ou anaeróbicos.

Os fungos constituem o Reino Fungi, no qual se enquadram espécies como os cogumelos,


bolores e leveduras. O ramo da biologia especializado no estudo dos fungos é chamado de
micologia, que, por sua vez, se encontra dentro de um grupo de estudo maior, a
microbiologia.

Durante muito tempo, os fungos foram considerados como integrantes do reino Plantae e,
somente a partir de 1969, passaram a ser classificados em um reino à parte.

Os fungos apresentam um conjunto de características próprias que permitem a sua


diferenciação das plantas:

Não sintetizam clorofila;


Não tem celulose na sua parede celular, excepto alguns fungos aquáticos;
Não armazenam amido como substância de reserva.

Ocorrência e distribuição

Além de fonte de matéria orgânica, os fungos dependem de água líquida para o seu
crescimento, essencial para todo o processo vital. A maioria depende de oxigénio para a
respiração, sendo, portanto, aeróbios. Alguns podem ser anaeróbios facultativos, pois
respiram na presença de O2 e fermentam na sua ausência.

Devido a grande diversidade do grupo, existe uma variação nos factores que influenciam a
vida de fungos. Assim, temperaturas entre 20 °C e 30 °C são ideais para o crescimento da
maioria dos fungos, mas muitos crescem ou pelo menos sobrevivem em temperaturas
extrema. O pH ligeiramente ácido, ao redor de 6, é ideal para a grande parte dos
representantes do grupo.

Muitas espécies fúngicas exigem luz para seu desenvolvimento; outras são inibidas por ela e
outras ainda mostram-se indiferentes a este agente. Em geral, a luz solar directa, devido à
radiação ultravioleta, é elemento fungicida.
Os fungos são ubíquos, encontrando-se no solo, na água, nos vegetais, em animais, no homem
e em detritos, em geral. O vento age como importante veículo de dispersão de seus propágulos
e fragmentos de hifa.

Morfologia

Os fungos são caracterizados por uma estrutura somática geralmente constituída de filamentos
alongados microscópicos, denominadas hifas. O conjunto de hifas que compõe o corpo do
fungo é chamado micélio, que pode formar estruturas reprodutivas macroscópicas
morfologicamente complexas.

O micélio que se desenvolve no interior do substrato, funcionando também como elemento de


sustentação e de absorção de nutrientes, é chamado de micélio vegetativo. O micélio que se
projecta na superfície e cresce acima do meio de cultivo é o micélio aéreo. Quando o micélio
aéreo se diferencia para sustentar os corpos de frutificação ou propágulos, constitui o micélio
reprodutivo.

Ao microscópio óptico, as hifas são muito simples, são tubos com parede celular e citoplasma.
As hifas podem ser cenocítica ou septadas.

Hifas septadas

São filamentos ramificados com paredes transversais chamadas septos que “delimitam” cada
célula. Esses septos não isolam completamente as células, permitindo assim a comunicação
intracelular. Algumas hifas podem ainda apresentar dois núcleos (dicariótica) em cada célula,
dependendo do estágio sexual do organismo, ou um núcleo apenas (monocariótica).
Hifas cenocíticas

Filamentos contínuos, sem paredes transversais (septos) separando cada célula e com os
núcleos espalhados pela grande massa citoplasmática.

As hifas promovem a fixação do fungo no solo e nos estágios reprodutivos podem brotar do
solo formando uma estrutura de frutificação que são popularmente conhecidas como
cogumelos (presentes apenas nos basidiomicetos), que também apresentam estruturas
específicas.

Parede celular

A parede celular é muito complexa quimicamente, apresentando uma matriz externa


mucilaginosa, formada por um polissacarídeo solúvel. As espécies de fungos verdadeiros
apresentam uma parede formada por uma matriz de fibras de quitina. Já os Oomycetes
apresentam uma parede formada por celulose, um dos motivos para considerar esse grupo
como pseudofungos. Os Myxomycetes, também considerados pseudofungos, não apresentam
parede celular.

Nutrição

A nutrição dos fungos é heterotrófica, ou seja, eles são incapazes de sintetizar o seu próprio
alimento. Esses seres vivos, geralmente, liberam enzimas como como lipases, invertases,
lactases, proteinases e amílases, que hidrolisam o alimento tornando-o assimilável através de
transporte activo e passivo. Essas enzimas, chamadas exoenzimas, agem digerindo as
substâncias orgânicas presentes no solo para que o fungo possa absorver apenas os produtos
dessa digestão. Como os processos digestivos ocorrem fora do organismo, a digestão é
conhecida como digestão extracorpórea.

O composto orgânico utilizado como alimentos pelo fungo permite caracterizar a forma de
nutrição em:

Saprofagia: quando se alimenta de organismos mortos e em decomposição;


Parasitismo: quando se alimenta de substâncias e organismos vivos;
Predação: quando se alimentam de pequenos animais, como insectos.

Para além destes tipos de alimentação, existe a simbiose que ocorre quando os fungos
estabelecem relações simbióticas com seres autotróficos (algas e plantas), tornando-os mais
eficientes na colonização de habitats pouco hospitaleiros. São exemplo disso os líquenes
(associação de cionobactérias ou de algas clorofitas com hifas de fungos). Neste caso, as
células autotróficas (de clorófitas ou de cianobactérias) ficam protegidas por uma camada de
hifas, que forma quase uma epiderme. Dado que a alga não se pode deslocar, o fungo fornece-
lhe os nutrientes minerais de que necessita para a fotossíntese e protege-a das alterações
ambientais, recebendo em troca compostos orgânicos.

Outra importante associação simbiótica dos fungos são as micorrizas, associações entre as
hifas e as raízes de árvores.

O glicogénio é a principal substância de reserva dos fungos. O glicogénio é um polissacarídeo


constituído por uma cadeia de monómeros de glicose.

Reprodução

Nos fungos, assim como nas algas e em vários outros organismos, ocorrem dois tipos de
reprodução: a reprodução assexuada (envolvendo apenas a mitose) e a sexuada (resultado da
plasmogamia, cariogamia e meiose).

De acordo com o tipo de reprodução realizada, os fungos podem ser divididos em três grupos:

Holomorfo: aquele que no ciclo de vida realiza ambas as reproduções, sexuada e


assexuada.
Anamorfo: aquele que no ciclo de vida realiza apenas a reprodução assexuada.
Teleomorfo: aquele que no ciclo de vida realiza apenas a reprodução sexuada
Reprodução assexuada

Esta forma de reprodução também é denominada de somática ou vegetativa, pois não envolve
a fusão de gâmetas, é a chamada fase anamórfica (fase assexual). Como não há mistura de
material genético, na reprodução assexuada não observamos a variabilidade genética, sendo
produzidos indivíduos idênticos geneticamente aos que os originaram. Como os indivíduos
formados são idênticos, diz-se que ocorreu formação de clones. Podem ocorrer mudanças
genéticas nos descendentes caso ocorram mutações. A reprodução assexuada pode ocorrer por
diferentes procedimentos:

Fragmentação

É um tipo de reprodução assexuada muito simples que ocorre em certas espécies de fungos.
Nesse tipo de reprodução, o micélio se quebra, graças a factores bióticos ou abióticos, dando
origem a dois novos micélios.

Brotamento ou gemulação:

É outro tipo de reprodução assexuada que ocorre em fungos, como o Saccharomyces


cerevisae. No brotamento, verifica-se o crescimento de um broto no fungo. Esse broto pode
soltar-se do indivíduo e gerar outro indivíduo independente ou permanecer ligado, formando
cadeias de células.
Divisão binária (bipartição ou cissiparidade)

Nesta divisão, a célula-mãe se divide em duas células de tamanhos iguais de tamanhos iguais,
de forma semelhante ao que ocorre com as bactérias.

Esporulação

É um tipo de reprodução assexuada realizada por diversas espécies de fungos, como o


Rhizopus. Na esporulação, os fungos possuem estruturas chamadas de esporangióforos, que
nada mais são do que hifas especiais que saem de determinados pontos do micélio. Na
extremidade de cada esporangióforo, encontramos o local onde são produzidos os esporos,
que é chamado de esporângio. Quando os esporos estão maduros, o esporângio adquire
coloração escura e se quebra, liberando os esporos no ambiente. Os esporos são células
haplóides de paredes resistentes que, por serem muito leves, são disseminados pelo ambiente
através agentes polinizadores como, o vento, água, animais e Homem. Quando esse esporo
encontra um local com condições ambientais favoráveis, ele se desenvolve, originando um
novo micélio.

Os fungos do Filo Ascomycota têm suas hifas especiais chamadas de conidióforos e seus
esporos chamados de conídios. Já os fungos do Filo Cythridiomycota, que são, em sua
maioria, fungos aquáticos, formam esporos chamados de zoósporos, que são dotados de um
flagelo para melhor dispersão na água.

Tipos de esporos Assexuados

Os esporos podem estar no interior de estruturas (endógenos) ou externamente (exógenos),


serem imóveis (aplanósporo) ou móveis (planósporos ou zoósporos).

Esporos endógenos imóveis são denominados de esporangiósporos, estão contidos num


esporângio, que é sustentado por uma hifa denominada de esporangióforo.
Esporos endógenos móveis são denominados de zoosporangiósporos, estão contidos num
zoosporângio, que é sustentado por um zoosporangióforo.

Conídios são esporos exógenos imóveis localizados nas extremidades nas hifas. Os esporos
dos fungos normalmente são imóveis (aplanósporos). Apenas um grupo, os quitrídios
produzem zoósporos.

Reprodução sexuada

A fase sexual também é denominada de teleomórfica. Nesta fase há alta incidência de


recombinação e formação de novos genótipos. Envolve a união de dois núcleos compatíveis.
Um indivíduo pode produzir diferentes tipos de “machos” e “fêmeas”, compatíveis ou não.
Ocorre em três fases:

Plasmogamia: nessa etapa, ocorre a fusão dos citoplasmas de dois micélios. Como em muitas
espécies os núcleos não se fundem imediatamente, os dois núcleos haplóides permanecem aos
pares na célula. Esse micélio é denominado de dicariótico. Com o passar do tempo, esses
núcleos passam a dividir-se sem que haja a fusão;

Cariogamia: Aqui ocorre a fusão dos núcleos haplóides, o que forma células diplóides. No
ciclo de vida dos fungos, apenas o zigoto é uma fase diplóide.

Meiose: divisão reducional, reduzindo outra vez o número de cromossomos ao estado


haploide.

Os órgãos sexuais são chamados de gametângios e formam os gâmetas. Quando não se


distingue a sexualidade (“macho” ou “fêmea”) são denominados de isogametângio e
isogametas. No caso de serem diferentes o “macho” é chamado de anterídeo e a “fêmea” de
oogonia ou ascogônio.

Diferentes tipos de esporos sexuados são produzidos:

Oósporos: Esporos produzidos dentro da oogónia.


Zigósporos: Esporos de parede espessa, produzidos a partir do contacto de duas hifas.
Ascósporos: Esporos produzidos no interior de ascos (saco), geralmente em número de 8.
Basidiósporos: Esporos produzidos na extremidade de basídios (clava), geralmente em
número de 4.
Classificação dos fungos
Whittaker em 1969 posicionou os fungos em um reino próprio, Fungi. Esta classificação ainda
manteve alguns problemas, pois alguns representantes foram mantidos no referido reino por
mera comodidade.

As espécies mais tradicionais, como cogumelos, leveduras e bolores foram reunidas em um


reino próprio denominado Fungi, e estão mais proximamente relacionados aos animais, do
que propriamente com as plantas. São heterotróficos como os animais, mas sua nutrição
acontece por absorção e não ingestão. Ainda, particularmente, apresentam quitina na parede
celular, ergosterol na membrana celular, reserva de glicogénio, e são haplóides (n), mas
também podem ser dicarióticos na maior parte do seu ciclo de vida. Organismos que não
apresentam esta combinação de caracteres, como é o caso de alguns pseudofungos aquáticos
por exemplo, os Oomycetes, que foram posicionados junto às algas heterocontes
(Stramenopila), porque além da estrutura somática diplóide (2n) apresentam parede celular
composta por celulose. O outro grupo tradicionalmente problemático, os Myxomycetes, estão
atualmente posicionados junto aos Protistas, pois além de apresentar estrutura somática
diploide (2n), sua nutrição acontece por ingestão e não absorção como nos fungos
verdadeiros.

Reino Filo Número de espécies


Acrasiomycota 12
Dictyosteliomycota 46
Protista
Myxoamoebae 750
Plasmodiophoromycota 45
Hydrochytriomycota 24
Chromista Labyrinthulomycota 42
Oomycota 700
Ascomycota 64200
Basidiomycota 32000
Fungi Chytridiomycota 800
Glomeromycota 200
Zygomycota 1000
Os filos Ascomycota e Basidiomycota juntos, compreendem aproximadamente 98% das
espécies conhecidas do reino Fungi.

Filo Chytridiomycota

Este filo representa o grupo mais antigo de fungos. Os quitridiomicetos, ou quitrídios são
fungos tipicamente unicelulares ou com cadeias de células anexadas ao substrato através de
rizóides. São microscópicos. Alguns são cenocíticos, sem septos dividindo as células. São
predominantemente aquáticos, o que significa que os fungos provavelmente surgiram na água.
Entretanto, alguns quitrídios são também encontrados em ambientes terrestres.

Existe neste grupo uma grande variação ecológica, alguns são habitantes de água doce, alguns
marinhos, enquanto outros vivem em plantas ou animais em decomposição.

A reprodução sexuada ocorre através da fusão de gâmetas móveis que são morfologicamente
similares, mas diferentes fisiologicamente. Desta fusão ocorre a formação de um zigoto,
também móvel. Algumas espécies possuem talos femininos (oogônio) e masculinos
(anterídio). O anterídio libera gâmetas móveis que nadam até encontrar um oogônio ao qual se
fundem.

A reprodução assexuada é através de divisão citoplasmática em um esporângio, produzindo


zoósporos uniflagelados móveis.

Filo Zygomycota

Encontrados em ecossistemas aquáticos e terrestres, são difíceis de serem observados porque


são fungos microscópicos. Os membros mais conhecidos são espécies do género Rhizopus,
cujo micélio branco acinzentado é frequentemente visto contaminando rapidamente frutas e
pães com alto teor de açúcar (bolor preto do pão). Além das espécies saprófitas, existem
espécies que habitam o trato digestório de artrópodes, outras que formam associações
ectomicorrízicas com plantas, e ainda outras que são patógenas de animais, plantas, amebas e
especialmente outros fungos. As hifas da maioria dos zigomicetes têm paredes finas e são
cenocíticas – não possuem septos dividindo as células tubulares. A característica única
(sinapomorfia) do filo é o zigósporo, esporo sexual de resistência. Os zigósporos têm parede
grossa e são formados após a fusão de hifas especializadas (gametângios) durante o ciclo
sexual.
A reprodução assexuada ocorre por divisão do citoplasma em um esporângio, produzindo
esporos imóveis.

Filo Ascomycota

Neste filo encontram-se aproximadamente 75% de todas as espécies de fungos já descritas e


existe uma grande variação na morfologia e na ecologia deste grupo. A característica que
define e identifica os membros deste filo é o asco, estrutura de reprodução sexual que será
explicada mais adiante. A maioria dos fungos que se associa a algas para formar líquenes
fazem parte deste filo, assim como a maioria dos fungos que não possui fase sexual
conhecida. Um dos mais famosos fungos é um ascomicete Saccharomyces cerevisae, a
levedura utilizada na indústria de pães e bebidas fermentadas. Entre os ascomicetes
patogénicos está Candida albicans, causador da candidíase.

Candida é uma espécie assexual e, assim como vários outros ascomicetes, o ciclo sexual não é
conhecido. Estes fungos eram anteriormente classificados separadamente como
“Deuteromycota” devido à falta de caracteres morfológicos sexuais para sua identificação. No
entanto, estudos genéticos do DNA combinados com as características morfológicas
assexuais, permitiram o reconhecimento destes fungos dentro de Ascomycota. Deuteromycota
não é mais reconhecido como uma categoria taxonómica válida e os fungos onde a fase sexual
não é conhecida são denominados de fungos anamórficos.

Ecologicamente os ascomicetes podem actuar como sapróbios, decompondo desde matéria


orgânica vegetal até tintas sintetizadas.

A reprodução sexuada é caracterizada pela presença do asco, uma estrutura alongada ou


arredondada que contém os esporos sexuais produzidos por meiose. Dentro do asco, ocorre a
fusão nuclear e em seguida a meiose, que dá origem aos esporos que são chamados de
ascósporos. Os ascos são produzidos em estruturas que recebem denominações distintas de
acordo com a morfologia que apresentam.

A reprodução assexuada ocorre através de esporos mitóticos chamados de conídios, que são
geneticamente idênticos ao micélio do qual se originou, mas haplóides. Os conídios são
formados na extremidade de hifas especializadas, os conidióforos. A produção de esporos
sexuais é um acontecimento relativamente comum neste filo.

Filo Basidiomycota
Este filo corresponde a 37% das espécies de Fungos descritas até hoje. Os Basidiomycota
mais conhecidos são os que apresentam estruturas macroscópicas, como os cogumelos e
orelhas de pau, que são as estruturas reprodutivas responsáveis por produzir e dispersar os
esporos sexuais. Embora em menor número, existem neste grupo espécies unicelulares
(leveduras) e assexuais (fungos anamórficos). A característica diagnóstica do filo
Basidiomycota é a produção de células chamadas basídios, onde são produzidos os esporos
sexuais.

A reprodução sexual dos Basidiomycota é caracterizada pela presença do basídio, uma célula
em formato de clava de onde emergem, na extremidade, os esporos sexuais, denominados
basidiósporos. Ao contrário do que ocorre nos ascos, os basidiósporos são formados fora da
célula reprodutiva (basídio) e emergem a partir de prolongamentos chamados de esterigmas.
Dentro do basídio ocorre a fusão nuclear e em seguida, a meiose. Depois disso os núcleos
migram para a extremidade do basídio e então amadurecem para dar origem aos
basidiósporos.

Os esporos produzidos sexualmente germinam dando origem a um micélio cujo estado


nuclear é haplóide, o qual se funde com outro micélio haplóide compatível para formar o
micélio secundário. A cariogamia ocorre muito mais tarde no ciclo de vida e o micélio
secundário de vida longa é dicariótico, ou dicário. O dicário produz um micélio septado e
pode ou não formar fíbulas (também chamadas de grampos de conexão). Quando as
condições permitirem, este micélio vai formar o basidioma, a estrutura que vai produzir os
esporos sexuais. Nos basídios, células em forma de clava que dão origem aos esporos sexuais,
ocorre por fim a cariogamia que é imediatamente seguida por meiose produzindo os núcleos
que darão origem aos esporos. Estes núcleos são transportados até o ápice do basídio e
formados em estruturas denominadas de esterigmas.

Os basidiósporos podem ser de dois tipos: balistosporos e estatismosporos. Os balistosporos


são lançados forçadamente do basídio, como de uma catapulta. Enquanto os estatismosporos
não estão sujeitos a esta força.

3. Doenças causadas pelos fungos

As doenças causadas por fungos são conhecidas como micoses. As micoses podem ocorrer ao
nível do aparelho respiratório, olhos, unhas, cabelo, pele. Os esporos produzidos por alguns
fungos podem produzir alergias. A sua forma de contágio se dá por meio da inalação, ingestão
ou inoculação directa desses microorganismos. Dessa forma, as infecções fúngicas podem
afectar uma área delimitada (localizada) ou comprometer amplamente o organismo
(sistémicas).

As micoses podem ser classificadas atendendo aos tecidos que são inicialmente afectados, em:

a) Micoses superficiais

São infecções frequentes que se caracterizam por comprometerem a pele, cabelo e unhas. Por
exemplo, a Tinea versicolor, que provoca manchas escuras na pele.

b) Micoses cutâneas

Acometem a epiderme mais profunda e incluem doenças que invadem o cabelo e unhas. As
micoses cutâneas podem provocar resposta imune do hospedeiro, com mudanças patológicas
nas áreas afectadas. Por exemplo, a Tinea pedis que causa pé-de-atleta.

Os fungos que causam micoses cutâneas são chamados dermatófitos.

c) Micoses subcutâneas

Acometem a derme e tecidos subcutâneos, como músculos e fáscia. O fungo entra


normalmente através de feridas ou aberturas da barreira dérmica.

São de tratamento complicado, requerendo muitas vezes cirurgia.

d) Micoses sistémicas

Acometem sistemas e órgãos internos, estas podem ser causadas por:


Patógenos primários

Normalmente se originam nos pulmões, disseminando-se a partir deles. Os microrganismos


que as produzem são virulentos. Um exemplo é o histoplasma.

Patógenos oportunistas.

Desenvolvem-se em pacientes afectados por alguma imunodeficiência. Entre os fungos


oportunistas estão Cândidas, Crytococcos, e Aspergillus.

Dermatófitos

Os dermatófitos são um grupo de fungos que produzem as micoses cutâneas, também


conhecidas como tinhas. Não sua maior parte, os fungos dermatófitos pertencem aos géneros
Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton. Estes fungos têm a capacidade de digerir a
queratina presente na pele, no cabelo e nas unhas.

Dependendo da sua localização, se podem considerar diferentes tipos de tinha:

Tinea corporis, é a tinha mais frequente no ser humano. Afecta as partes sem pelo do
corpo. Normalmente as lesões são anéis vermelhos que rodeiam uma zona central de
aspecto normal.
Tinea pedis, também chamada “pé de atleta”. Começa normalmente nos espaços
interdigitais, estendendo depois para o resto do pé.
Tinea cruris, lesões escamosas avermelhadas localizadas nas zonas inguinais. As vezes
estendem-se a zona perianal e aos glúteos.
Tinea capitis, caracteriza-se por lesões crostosas com lesões claras (hipopigmentadas),
com descamação. Os cabelos são infectados, quebrando-se na sua base. Provoca queda do
cabelo com alopecia definitiva.
Tinea unguium, também chamada por onicomicose. São lesões que ocorrem nas unhas, de
aspecto variável, desde manchas esbranquiçadas a destruição da lâmina ungueal.

Cândidas

As cândidas são um género de leveduras, que vivem em simbiose com animais, incluindo os
seres humanos. Várias espécies são integrantes das floras normais no intestino e na vagina.

Algumas espécies de Cândida têm a capacidade de provocar doença, especialmente em


situações de debilidade ou quando a imunidade é baixa. Portanto, são consideradas patógenos
oportunistas.

As infecções por Cândida, ou candidíases, podem ter apresentações clínicas muito diferentes,
desde infecções superficiais na boca e na vagina até infecções sistémicas potencialmente
fatais. Estas últimas estão limitadas a indivíduos com imunodeficiência grave (por exemplo,
em indivíduos HIV positivos).

Entre as apresentações clínicas mais frequentes, podem ser indicadas as seguintes:

Candidíase oral. É a infecção das membranas mucosas da boca. É comum em recém-nascidos,


e também aparece em diabetes mal controladas e infecção pelo HIV. As vezes, as cândidas
podem produzir lesão nos vértices da boca, chamada queilite angular.

Vulvovaginite por cândida. É a infecção das membranas mucosas da vagina. Produz irritação
e ardor, com secreção esbranquiçada espessa. É questionável se esta infecção é ou não
infecção de transmissão sexual. A vulvovaginite por cândida persistente é típica na infecção
pelo HIV. No homem pode-se produzir também infecção genital, com irritação e inchaço da
glande e prepúcio.

Candidíase cutânea. É a infecção da pele em áreas localizadas, especialmente nas zonas com
muita humidade, como virilhas ou pregas abdominais.

Candidíase esofágica. É uma infecção oportunista do esófago, muito habitual em estadios


avançados da infecção pelo HIV.

Candidíase sistémica. É a disseminação da infecção por Cândida em todo o organismo,


provocando sépsis (infecção generalizada com falência dos mecanismos homeostaticos
hemodinâmicos que pode levar a morte). Unicamente se produz em indivíduos com
imunodeficiência.

Micoses sistemáticas

Pneumocystis jirovecii

É um fungo normalmente encontrado nos pulmões de indivíduos saudáveis. Porém, em


indivíduos com imunodeficiências pode provocar pneumonia, especialmente nos estádios
avançados da infecção pelo HIV. Por isso é considerado como patógeno oportunista.
O Pneumocystis jirovecii pode ser visualizado ao microscópio em escarro ou lavado bronco-
alveolar, corados de azul de toluidina.

Cryptococcus neoformans

É um patógeno oportunista, que é responsável por infecções em pacientes


imunocomprometidos. Principalmente, pode provocar pneumonia e meningite (criptococose).

O Cryptococcus pode ser visualizado em LCR ou escarro com coloração com tinta de China.

Aspergillus spp

É também um patógeno oportunista, que causa a pneumonia (Aspergilose) em indivíduos com


imunodeficiências. Pode também provocar reacções alérgicas.

O aspergillus pode ser visualizado ao microscópico em preparações com tinta de prata.

Histoplasma capsulatum

Patógeno oportunista, que causa pneumonia e septicemia em indivíduos com


imunodeficiência.

O histoplasma pode ser visualizado ao microscópio em amostras de escarro, sangue ou outros


órgãos infectados.

Importância ecológica e económica

O processo de decomposição é um dos papéis mais importantes que os fungos têm na


natureza. As enzimas fúngicas agem sobre a matéria orgânica decompondo-a em compostos
minerais que serão retornados ao ambiente e, então poderão ser reutilizados, não apenas pelos
fungos que os decompõe, mas por todos os organismos fotossintetizantes.

Para além do benefício ecológico, existem diversas aplicações para o benefício humano.
Algumas espécies de fungos como o Agaricus campestris e o Lentinus edodes, conhecidos
respectivamente como champignon e shitake, são amplamente utilizados no preparo de
diversos pratos da gastronomia. Além desses fungos, há os que são utilizados na fabricação de
queijos, como o Penicillium roqueforti, utilizado na produção do queijo roquefort, e o
Penicillium camembertii, utilizado na fabricação do queijo camembert.
Já as leveduras, como o Saccharomyces cerevisae, são empregadas na fabricação de alimentos
como cerveja, pães e queijos. Elas são utilizadas como fermento, pois conferem à massa
leveza e maciez. Em bebidas alcoólicas, como a cerveja e o uísque, o Saccharomyces
cerevisae também é empregado, mas na produção de vinho, o fungo utilizado é o
Saccharomyces ellipsoideus.

Além de serem importantes como decompositores, na indústria alimentícia e de bebidas, os


fungos também são muito importantes na indústria farmacêutica, na produção de antibióticos
como a penicilina, descoberta por Alexander Fleming no ano de 1929. Este antibiótico foi
originalmente extraído e purificado a partir de um fungo do género Penicillium. Uma das
drogas que revolucionou a terapia de transplantes de órgãos, a ciclosporina, é produzida e foi
sintetizada a partir de um metabólito de um fungo chamado Tolypocladium inflatum.
Referências bibliográficas

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