Micologia Clínica – AVⅠ 1
Biologia dos fungos – Introdução à Micologia
Os fungos são seres uni ou pluricelulares, de vida livre e que
independem de outros seres para sobreviver.
• Não sintetizam clorofila ou pigmento fotossintético
• Não tem celulose na parede celular (alguns aquáticos
possuem)
• Não armazena amido como reserva energética,
armazena glicogênio
• Quitina na parede celular
• São seres ubiquitários
• Eucarióticos, leveduras possuem apenas 1 núcleo e
hifas filamentosas são multinucleadas.
Os fungos podem ser heterotróficos ou saprófitos (se nutrem
de material morto ou em decomposição), simbiontes (vivem
em conjunto com benefício mútuo), comensais (vivem em
estreita relação em que apenas um organismo é beneficiado
e o outro não é prejudicado), ou como parasitas (vivem à
custa de outro e a relação é prejudicial ao hospedeiro).
Atuam como patógenos oportunistas, entre
imunossuprimidos, hospitalizados, transplantados,
portadores de AIDS, e pacientes oncológicos.
Parede celular: estrutura rígida, e protege contra choques
osmóticos.
Tem glucanas, mananas e quitina na sua composição,
garantindo a rigidez, quando combinados com proteínas, são
capazes de formar glicoproteínas, manoproteínas e
glicomanoproteínas.
• Glucana = polímero de D-glicose
• Manana = polímero de manose, é um material
amorfo da parede celular. A manoproteína não-
enzimática é responsável por garantir a arquitetura
da parede, enquanto o enzimático promove a
degradação de macromoléculas.
• Quitina = menos comum nas leveduras
Membrana citoplasmática = é a barreira impermeável, com
transporte ativo e passivo através dela. Na sua composição
possui esteróis e lipídios que atuam na propriedade
estrutural da membrana e proteínas, que atuam como
enzimas com diferentes propriedades funcionais.
Núcleo = genoma em cromossomos lineares com dupla fita
de DNA.
Citoplasma = onde ocorre a síntese e o metabolismo
energético. São encontradas inclusões de glicogênio,
vacúolos de alimentos e gordura, mitocôndria, ribossomos,
retículo endoplasmático.
Metabolismo:
Os fungos utilizam a via da glicólise como via metabólica,
formando piruvato a partir de carboidratos. E a hexose
monofostatase forma NADH e NADPH.
Nem todo fungo é capaz de realizar fermentação, e muitos
deles tem como subproduto da via da glicólise a formação
de álcool e ácido lático.
Os fungos podem ser prototróficos, capazes de formar
vitaminas para cofatores enzimáticos.
Auxotróficos, onde não são capazes de produzir todos os
elementos principais, a depender do meio.
Os fungos necessitam de macronutrientes para seu
metabolismo, como fontes de carbono, polissacarídeos,
constituintes de aminoácidos, proteínas, fósforo, enxofre.
Hidrogênio, oxigênio e nitrogênio também são essenciais
para seu metabolismo.
Os micronutrientes são os compostos que os fungos
precisam em quantidades menores, como o magnésio,
fósforo, nitrogênio, cálcio e sódio.
Para o crescimento ótimo dos fungos, há a temperatura ideal
para cada um. Psicrófilos crescem em 0 °C ou temperaturas
abaixo disso, mesófilos, crescem entre 10 e 30 °C, e
termófilos, crescem entre 40 e 60 °C. Alguns fungos podem
passar do estado filamentoso para leveduriforme a depender
da temperatura → termodismorfismo.
A maioria dos fungos tem respiração aeróbia, embora alguns
sejam aeróbios facultativos (fermentadores) e outros sejam
estritamente anaeróbios. Seu metabolismo é heterotrófico e
são bioquimicamente versáteis na produção primária e
metabólitos secundários.
Os fungos produzem lipases, lactases, proteinases, amilases
que hidrolisam o substrato e o torna assimilável para
absorção via transporte ativo e passivo. Alguns fungos são
capazes de hidrolisar substâncias orgânicas, como a quitina,
ossos, couro e materiais plásticos.
São ubiquitários e estão presentes no solo, água e vegetais,
podendo disseminar por estes meios, inclusive pelo ar.
MORFOLOGIA
Leveduras:
Célula que se reproduz por brotamento ou fissão, onde a
célula-mãe se modifica e dá origem a uma célula-filha, que se
alongam e formam estruturas com formato alongado, ou
pseudo-hifas.
Geralmente são unicelulares e produz colônias redondas,
pastosas ou mucoides no ágar.
Nas leveduras, as estruturas que tem função de propagação
são os blastoconídos, artroconídios, clamidoconídios e
esclerotos.
Blastoconídios = (gêmulas) → brotamento da célula-mãe.
 Micologia Clínica – AVⅠ 2

Artroconídios = fragmentos das hifas em elementos

retangulares.

Clamidoconídios = célula arredondada, de volume
aumentado, paredes duplas e espessas, localização apical ou
intercalar. Se formam pela escassez de nutrientes, água e
temperaturas não favoráveis ao crescimento fúngico.
Filamentosos:
Organismos multicelulares constituídos de estruturas
tubulares, chamadas de hifas, que se alongam na
extremidade em um processo chamado de extensão apical.
As hifas podem ser cenocíticas (septadas ou com poucos
septos, que são contínuas e podem conter vários núcleos),
ou septadas (divididas por paredes transversais). Elas se
mantem unidas para produzir estrutura com semelhante a um
tapete, chamado de micélio.

Esclerócitos e esclerotos = são formas de resistência, de

corpúsculos duros e parenquimatosos formado pelo conjunto
de hifas.

As leveduras apresentam forma de divisão celular

diferenciada, a partir de brotamento simples, brotamento
fissão, ou por divisão binária.

Brotamento simples = em determinados locais da parede

celular é visto regiões de adelgaçamento (zonas de buds),
que favorecem o envaginamento da parede, com o
aparecimento de um brotamento correspondente a uma nova
As hifas hialinas são claras e sem pigmentação, e hifas
célula fúngica, que fica ligada à célula-mãe, sendo chamada
demácias são hifas escuras com pigmentação dada pela
de célula-filha.
melanina.
Brotamento por fissão = idêntico ao brotamento simples,
As colônias de fungos filamentos geralmente tem aspecto
porém a levedura célula-filha recém formada, se destaca da
aveludado ou algodonoso.
célula-mãe, separando e evoluindo na maturação biológica,
até alcançar o tamanho da célula que a originou. As hifas crescem por alongamento das extremidades, cada
parte da hifa é capaz de crescer, e quando um fragmento é
Divisão binária = a célula dá origem a duas outras com as
quebrado, é capaz de se alongar e formar uma nova hifa.
mesmas características de tamanho e dimensões.

Algumas leveduras possuem uma cápsula

mucopolissacarídica, que a protege de processos de
fagocitose.

Também é possível encontrar pseudo-hifas nas leveduras,

formadas a partir do brotamento simples, são alongadas e
unidas entre si, onde após o brotamento, as leveduras não
se separam, alongando-se e ficando com aspecto semelhante
às hifas. Uma colônia de pseudo-hifas pode ser chamada de
pseudomicélio.

Quando desenvolvido em ágar ou superfícies sólidas,
produzem estruturas denominadas hifas vegetativas, que
crescem se desenvolvem no interior do substrato, servindo
como elemento de sustentação e para absorção de
nutrientes. As hifas que se projetam acima da superfície do
meio, são chamadas de hifas aéreas. As hifas aéreas podem
produzir estruturas conhecidas como conídios (estrutura de
reprodução assexuada). O micélio reprodutivo é o micélio
aéreo que se diferencia para sustentar os corpos de
frutificação.
Os fungos filamentosos se reproduzem assexuadamente pela
fragmentação das hifas, ocorre a partir da formação de
esporos. Após a formação do esporo, ele se separa da célula
parental e germina, originando um fungo filamentoso.
A reprodução assexuada forma conídios, encontrados na
porção mais externa. Formado por células conidiogênicas,
com pigmentação ou hialinas, com formatos diversos,
isolados ou em grupo
Micologia Clínica – AVⅠ 3
esporangiósporos prestos dentro do esporângio confere o
seu nome, quando ele se abre os esporangiósporos se
dispersam, e podem germinar num meio adequado,
originando um novo talo.
Os esporos sexuados são zigósporos, um esporo grande
envolvido por uma parede espessa, se formam quando os
núcleos de duas células morfologicamente similares se
fundem.
Os microsporídios são eucariotos incomuns por não possuir
mitocôndrias. Não possuem microtúbulos.
Os ascomicetos são fungos com hifas septadas e algumas
leveduras. Os esporos sexuados são produzidos a partir do
conidióforo. Os conídios são facilmente liberados no ar, com
aspecto de poeira. Um ascósporo é formado quando os
núcleos de duas células morfologicamente similares ou
diferentes de fundem, os esporos produzidos formam uma
estrutura semelhante a um saco, chamado de asco.

Os conídios são produzidos por processo blástico

(brotamento em uma porção da célula-mãe que dá origem ao
conídio, forma a primeira modificação na hifa e depois o
septo), ou processo tálico, em que fragmentos de hifas dão
origem a células individuais ou artroconídios. Os conídios são
facilmente dispersos no ar e servem para disseminação do
fungo. Um blastoconídio é formado a partir de um broto de
uma célula-mãe, também é conhecido como gêmulas. Um
clamidoconídio é um esporo de paredes duplas e espessas,
com volume aumentado, com localização apical ou intercalar,
se formam pela escassez de nutrientes, água ou temperatura.

A reprodução também forma esporos, a partir da

esporogênese, surgindo a partir de células esporogênicas,
sendo componentes mais internos.

Os esporos são formados a partir de hifas aéreas

E a reprodução sexuada se esporos resulta da fusão de Os basidiomicetos são fungos com hifas septadas, esse filo
núcleos de duas linhagens opostas de cruzamento. É inclui fungos que produzem cogumelos. Os basidiósporos
produzido em uma frequência menor que a reprodução são formados externamente em um pedestal chamado de
assexuada. basídio.

A reprodução sexuada pode ocorrer por plasmogamia, onde

um núcleo haploide de uma célula doadora penetra no
citoplasma de uma receptora. Cariogamia, os núcleos
haploides da célula doadora e receptora se fundem formando
um núcleo zigótico diploide. E por meiose, onde o núcleo
diploide origina o núcleo haploide.

Reprodução

As estruturas responsáveis pela diferenciação de fungos

filamentosos são conhecidas como estruturas de frutificação
e estruturas de ornamentação.

As estruturas de frutificação são células componentes das

Os zigomicetos, ou fungos de conjugação, são filamentosos
saprofíticos, que apresentam hifas cenocíticas. Um exemplo é
o Rhizopus stolonifer, ou mofo preto do pão. Os
hifas que sofrem modificação para dar origem a dois tipos
celulares, as células esporogênicas e as células
conidogênicas. Possuem a mesma função na estrutura do
fungo, originando estruturas para reprodução assexuada dos
fungos filamentosos e dos fungos dimórficos.

A célula esporogênica dá origem a esporos, que ficam dentro
de uma bolsa conhecida como esporângio. É originado a
partir da formação de uma estrutura saculiforme, subdividida
em columela, esporângio, esporangiósporo e os esporos.
As células conidiogênicas dão origem aos conídios, que
desde sua formação fica livre (não é envolvido por uma bolsa)
para se destacar das hifas e dar origem a um novo fungo. É
localizada na parte terminal da hifa. São formados a partir da
conidiogênese. O conídio é produzido em cadeias na
extremidade do conidióforo. Os conídios formados pela
fragmentação de uma hifa septada em células únicas
levemente espessas são chamados de artroconídio
Conidiogênese = na fase inicial, a hifa pode dar origem a dois
tipos de conídios, o tálico, onde é observado utilização total
da célula conidiogênica na formação do conídio, e o blástico,
com brotamento de uma célula conidiogênica, que se
diferencia para dar origem ao conídio propriamente dito.
MICOSES
As infecções fúngicas são conhecidas como micoses. As
micoses geralmente são infecções crônicas, uma vez que os
fungos crescem lentamente.
São classificadas em cinco grupos de acordo com o grau de
envolvimento tecidual e o modo de entrada no hospedeiro.
Micoses sistêmicas = são infecções fúngicas profundas no
interior do corpo, não se restringe a regiões particulares,
podendo afetar vários órgãos e tecidos.
Micologia Clínica – AVⅠ 4
Normalmente são causadas por fungos que vivem no solo.
Os esporos são transmissíveis por inalação. Em geral se inicia
nos pulmões e em seguida há a disseminação corpórea. Não
são contagiosas.
Micoses subcutâneas = infecção fúngica localizada abaixo da
pele e causada por fungos saprofíticos que vivem no solo e
vegetação. A esporotricose é uma infecção adquirida. A
infecção ocorre pela implantação direta dos esporos ou
fragmentos do micélio em uma perfuração na pele.
Micoses superficiais = localizadas nas camadas da pele e
anexos, como mucosas e zonas cutâneo mucosas. Podem ser
de infecção estrita como pitiríase versicolor, piedras e tinea
nigra.
Os fungos que infectam apenas epiderme, cabelo e unhas são
tidos como dermatófitos, e suas infecções são chamadas de
dermatomicoses ou micoses cutâneas. Os dermatófitos
secretam queratinase, degradando queratina. A infecção é
transmissível entre humanos por contato direto com fios e
células epidérmicas infectadas.
Micotoxinas = fungos que causam doenças a partir da
produção de toxinas, como as aflotoxinas.
Metodologia – Coleta e meios de cultura
O processamento de amostras passa por três fases distintas.
1. Pré-analítica: coleta e transporte do material para o
laboratório. É feito identificação do paciente, uso de
antifúngicos nos últimos meses. Se a coleta é feita
de escamas de unha, não pode estar pintada por no
mínimo 3 dias. A coleta de escamas de pele e de
unha deve ser feita diretamente em placa de petri,
para facilitar o transporte e poder acondicionar o
máximo de amostra possível.
Secreções purulentas são feitas por punção com
seringa, ou com swab.
2. Analítica: processamento da amostra e identificação
do microrganismo, elaboração de laudo e
estocagem.
3. Pós-analítica: estudos mais aprofundados do
patógeno. Os analitos são revalidados por técnicas
de epidemiologia molecular.
O diagnóstico clinico inicia com a realização da anamnese do
paciente a partir das queixas clínicas, e avaliação dos sinais
e sintomas. Seguido pela coleta do material biológico, essa
amostra pode ser dita como seca (escaras da pele, escamas
de unha), ou amostra úmida (líquor, sangue, urina, mucosas,
escarro).

O diagnóstico laboratorial é realizado a partir dos exames
micológicos, histopatológicos, imunológicos e moleculares.
Os exames micológicos consistem no exame microscópico
direto (EMD) e a cultura fúngica (CUF). O EMD é um método
rápido, barato, sensível e especifico realizado pela imersão
da amostra clínica, isto é para: pus, escarro, raspado de lesão
cutaneomucosa e fragmentos de tecidos em uma substância
clarificante (hidróxido de potássio (KOH) a 10% ou KOH-tinta
Quink Parker Permanente Preta, por exemplo). Lavado
brônquico, aspirados de linfonodos e medula óssea, líquor,
urina e escarro homogeneizado, devem ser previamente
centrifugados., examinando o sedimento com KOH.
O EMD tem baixa sensibilidade, em casos de resultado
negativo, não liberar o laudo como resultado (-), o padrão-
ouro utilizado para identificação fúngica em amostras clínicas
é a CUF.
Para o diagnóstico laboratorial é utilizado o exame
microscópico direto (EMD) para a pesquisa de leveduras ou
hifas, caso positivo, há a presença de fungo na amostra.
Consideram-se exame direto de um material clínico
preparações montadas entre lâmina e lamínula, imersas em
uma substância que facilite a visualização microscópica (KOH,
NAOH, tinta da China, azul de metileno ou tinta Parker). Após
adição do KOH + tinta Parker, deixar em repouso de 15-20
min para poder visualizar em microscópio.
O KOH destrói estruturas e a quitina protege o fungo do
clarificante, agindo como agente clarificante, é adicionado 2
gotas da solução e aguardado intervalo até que a substância
atinja sua função.
Para elaboração da cultura fúngica, colocar a amostra em
meio de crescimento adequado, em condições controladas de
temperatura e tempo de incubação, para conseguir realizar
posteriormente a identificação do fungo.
Para avaliação da qualidade da amostra é feito a verificação
de polimorfonucleares, e em coloração de gram, o fungo age
como um gram positivo, sendo corados em azul.
Para inoculação da amostra alguns cuidados devem ser
tomados para que não haja contaminação do meio, pois
fungos anemófilos (presentes no ar atmosférico) podem
contaminar e resultar em falsos-positivo no laudo.
A inoculação de amostras líquidas é feita por método de
esgotamento quantitativo para avaliar a quantidade de
unidades formados de colônia, outras amostras (secas)
seguem o padrão de esgotamento sequencial.
Alguns pontos devem ser considerados no momento da
coleta, em caso de coletas superficiais, a presença de
pigmento escuro no local do crescimento fúngico, indica uma
superpopulação em sua área, sendo o melhor local para
realizar a coleta.
Para coleta de pele, pode ser utilizado uma fita de durex, que
ao ser colada sobre a ferida vai trazer em sua cola as
estruturas fúngicas.
Micologia Clínica – AVⅠ 5
A coleta deve ser feita entre a pele sã e a pele danificada,
pois nessa região se encontram as estruturas fúngicas mais
viáveis.
Após o exame direto ou microscopia com coloração, as
amostras são semeadas em diversos meios de isolamento,
sendo estes escolhidos a partir dos achados micológicos no
EMD. O isolamento primário corresponde a capacidade do
microrganismo em crescer a partir do material clínico em um
meio de cultura basal.
Alguns meios de cultura têm inibidores de crescimento de
fungos saprofíticos. Fungos patogênicos não são
considerados microrganismos fastidiosos, crescendo bem em
meios de cultura utilizados no crescimento bacteriano. A
cultura fúngica (CUF) busca realizar o isolamento do fungo
para avaliação.
Meios de cultura = solução com um conjunto de nutrientes
capazes de promover crescimento microbiano em condições
laboratoriais. Podem ser líquidos, sólidos ou semissólidos.
Podendo ter como finalidade o isolamento primário ou
identificação.
O Agar Saboraud Dextrose é utilizado no cultivo de fungos
ou microrganismos acidúricos, particularmente associados a
doenças de pele. Este pode ser acrescido de antibiótico, com
a finalidade de inibir o crescimento bacteriano que pode estar
contaminando o material clínico. Também é utilizado o
Saboraud + antibiótico + ciclohexemida, visando inibir o
crescimento de fungos oportunistas.
O preparo do meio de cultura necessita a escolha de sua
inoculação, podendo ser em placa de petri ou tubo de ensaio.
Ciclohexemida = efetiva em fungos de crescimento rápido
Agar batata, fubá, arroz, ureia de Christensen, são utilizados
como meios de identificação de fungos.
O microcultivo visa promover o aparecimento de estruturas
de resistência como os clamidoconídios e pseudo-hifas.
Provas bioquímicas:
1. Auxograma: verifica capacidade da levedura em
utilizar uma fonte de carbono ou nitrogênio na
presença do oxigênio.
2. Zimograma: capacidade da levedura utilizar uma
fonte de carbono no processo fermentativo.
3. Urease: capacidade de hidrolisar ou não a ureia.
Os aspectos macromorfológicos da colônia devem ser
observados para identificação do fungo, a partir da sua
textura (algodonoso, veludoso, arenoso, pulverulenta,
glabrosa), topografia (plana, apiculada, rugosa, cerebriforme),
ou coloração (branca, negra, cinza, esverdeada, laranja).
Micoses superficiais estritas
São micoses que determinam alterações apenas na camada
mais superficial do estrato córneo, sem induzir resposta
inflamatória no hospedeiro, não necessita de tratamento oral
de medicamentos nem internação.

Fazem parte desse conjunto:
• Pitiríase versicolor (levedura Malassezia sp)
• Piedra branca (Trichosporum sp) e Piedra preta
(Piedraia hortae)
• Tinea (infecção cutânea) nigra
Incomodam mais por questões estética. Geralmente não
causam desconforto no hospedeiro, e por serem superficiais,
não estimulam resposta imune. Não utilizam queratina para
seu crescimento.
# Piedras #
Caracterizam-se pela presença de nódulos irregulares
aderentes ao pelo, e geralmente são visíveis a olho nu.
Piedra branca = infecção fúngica crônica e assintomática da
cutícula do pelo e que não compromete a pele vizinha à
infecção. Provoca nódulos ao redor dos pelos, com coloração
clara, hialina. Pode acometer pelos do couro cabeludo,
pubianos, genitais e axilares.
Causado por Trichosporum sp, tem caráter assintomático e
benigno, de baixo contágio. São facilmente destacáveis do
pelo, podendo ser confundido com caspa ou lêndeas. No
EMD os nódulos aparecem com hifas septadas, hialinas e
artroconídio. Na CUF, as colônias são de textura algodonosa,
com relevo, indo do rugoso ao cerebriforme, de coloração
branca.
É um microrganismo ubiquitário, faz parte da microbiota
cutânea, presente em áreas tropicais e subtropicais,
apresentando maior prevalência em crianças.
Piedra preta = infecção fúngica crônica e assintomática da
cutícula do pelo causada pelo Piedraia hortae. Fungo
filamentoso demáceo, com pigmentação acastanhada.
Provoca nódulos escuros ao redor do pelo. Ao observar os
nódulos, são observados arcósporos. São firmemente
aderidos ao pelo e não se desfaz facilmente.
No EMD são vistas hifas septadas demáceas, com produção
de melanina. Não pode ser cultivado em ágar mycosel, pois
é sensível à ciclohexemida. Em CUF são vistos macrocolônias
veludosas, castanhas ou amarronzadas.
Micologia Clínica – AVⅠ 6
Encontrado em regiões de clima tropical e subtropical, como
a américa do sul, Ásia e África. Presente no solo. Localização
principal em pelos do couro cabeludo e as vezes na axila e
pelos pubianos. Não faz parte da microbiota humana.
Para melhor visualização das piedras, pode ser molhado o
cabelo para observação dos nódulos com uma lupa, e devem
ser armazenados entre placas de petri.
#Tinea nigra#
Hortaea werneckii. Infecção superficial benigna que acomete
o estrato córneo da pele. Causa manchas acastanhadas
escuras, principalmente na palma da mão, por conta da
umidade presente nelas, podendo atingir outras áreas do
corpo. A lesão tem aspecto arredondado e não descamativa.
É uma doença rara. Presente em regiões de clima tropicai e
temperadas, com ocorrência na américa do sul e norte, Ásia
e África.
É uma doença assintomática, causado por um fungo
filamentoso demáceo geofílico, amplamente distribuído na
natureza (ubiquitário).
Altas temperaturas favorecem sua proliferação (25 a 30 °C)
em restos vegetais, solo e esgoto. O agente sobrevive em
condições de alta salinidade.
A coleta de raspados da pele deve ser submetida ao EMD
apenas com KOH, onde é observado hifas curtas, ramificas,
septadas e em diversos tons de castanho, e alguns conídios.
Na CUF é visto colônias com coloração negra ou verde oliva,
com textura glabrosa, de relevo cerebriforme.
O tratamento é feito com solução de iodo e antifúngicos de
uso tópico. Reincidências ocorrem quando há reexposição ao
fungo.
#Pitiríase versicolor#
Lesão superficial crônica causada por leveduras do gênero
Malassezia.
Conhecido como tinea versicolor, pano branco, micose de
praia. É causada por uma levedura, e encontrado na
microbiota normal da maioria da população. Pode ser
encontrada na pele e couro cabeludo.
Umidade, sudorese, uso de hidratante, pele gordurosa,
fatores genéticos e obesidade são alguns fatores que
favorecem o crescimento desses fungos.
Costumam crescer em lugares com proteção aos raios UV. As
lesões são assintomáticas, e são observadas pelo fato de que
as leveduras secretam ácido azelaico, que tem ação
fotoprotetora, inibindo a produção de melanina a partir da

antitirosinase que inibe a conversão da tirosina em melanina.
Interferindo na melanogênese.
É um fungo lipodependente, com prevalência em áreas
seborreicas como o tórax, e áreas de dobra como pescoço e
abdômen. Precisa de lipídios para se multiplicar.
Manifestações clinicas são observadas, como máculas
finamente descamativas, de bordas bem definidas, com
tamanho e cores variáveis. A coloração pode ser hipo ou
hiperpigmentada, não há explicação do porquê dessa
diferenciação.
São vistas múltiplas lesões que podem ser confluentes.
Algumas manifestações são associadas, como dermatite
seborreica, pitiríase capitis, foliculite pitirospórica.
Para coleta da amostra é feito com o método de Jarbas Porto,
onde com uma fita durex é feito o imprinting da lesão, em
seguida é utilizado para visualização em lâmina, com
leveduras com brotamento em colarete, e hifas curtas e
tortuosas.
Em amostras sugestivas, colar a fita com azul de metileno,
esperar 3 minutos, retirar o excesso realizar leitura
microscópica.
No EMD é feito clarificação com KOH, ou coloração com azul
de algodão (lactofenol). É observado hifas e leveduras com
brotamento. A CUF em ágar Saboraud suplementado com
lipídios (meio Dixon), pode ser adicionado azeite de oliva, as
leveduras crescem no meio com aspecto de gotas oleosas.
O tratamento é feito com uso tópico de cremes ou pomadas
à base de azóis. Uso de shampoo com antifúngicos, ou
shampoo com sulfeto de selênio 5% para reduzir a
população de malassezia do couro cabeludo.
A malasseziose é uma doença sistêmica rara causada por
Malassezia sp, que pode causar fungemia e septicemia em
crianças de baixo peso ou adultos imunossuprimidos.
Para o diagnóstico clínico é feito o sinal de Besnier (ou sinal
da unhada), feito a partir da descamação furfurácea da lesão
quando é raspado com a unha. Também é feito o sinal de
Zileri, onde após fazer um leve estiramento com os dedos na
região sugestiva da pitiríase, é observado um discreto
esfacelamento da queratina.
Dermatofitoses
Infecções cutâneas que atingem o estrato córneo da pele e
seus acessórios. Fungos dermatófitos são fungos
Micologia Clínica – AVⅠ 7
queratinofílicos capazes de causar patologias em homens e
animais.
Os fungos dermatófitos são fungos filamentosos, hialinos,
algumas vezes com artroconídios, queratinofílicos, podem
colonizar e causar lesões em pelos e no estrato córneo.
Possuem predileção ecológico quanto a sua adaptação ao
meio ambiente, podendo ser subdivididos em relação ao seu
habitat. Os dermatófitos pertencentes ao grupo dos fungos
geofílicos tem como característica primária a capacidade de
manter a viabilidade vital em solos ricos em resíduos de
queratina humana e/ou animal (pelos, escamas, penas).
Os fungos zoofílicos se adaptam às condições de parasitismo
em espécies animais (cães, gatos, bovinos, equinos, suínos)
que apresentam contato íntimo com o solo.
Os fungos antropofílicos se adaptaram ao homem.
A determinação do dermatófitos está intimamente ligada ao
microecossistema que ele pertence e quais respostas vai
desencadear no hospedeiro humano. Acredita-se que quanto
mais distanciado filogeneticamente um dermatófitos está da
espécie por ele parasitada, maior será a resposta
inflamatória.
Os fungos não possuem fatores de virulência como as
bactérias, o nível da resposta inflamatória causado por
agentes fúngicos está relacionado com fatores
predisponentes do hospedeiro e ambiente como calor,
umidade, imunidade do hospedeiro, uso de antibióticos que
altera o equilíbrio da microbiota cutânea, e populações
fechadas.
Patogenia = o processo patogênico por dermatófitos em pele
glabra (ausência de pelos), inicia com a inoculação de um
artroconídio ou fragmento de hifa sobre a pele, o processo é
favorecido por uma lesão cutânea ou escoriação preexistente.
O filamento fúngico se desenvolve a favor da escoriação,
penetra na camada córnea da epiderme e cresce
dicotomicamente, de forma circular e centrífuga, após alguns
dias é visto uma lesão macroscópica de aspecto circular,
podendo ser observado descamação associada ou não a
resposta inflamatória.
A lesão progride excentricamente, com aparecimento de
novas vesículas na periferia, e a parte central da lesão tende
à cura com liberação de estruturas fúngicas viáveis.
Os pelos são atacados de forma secundária em resposta à
evolução de uma lesão da pele. Os dermatófitos na
progressão centrípeta encontram uma região de orifício
piloso, invade a camada córnea da epiderme e se aprofunda
em direção ao infundíbulo do pelo. Ao entrar em contato com
uma nova fonte de queratina, o dermatófito remove a cutícula

e alcança o pelo. A invasão ocorre da superfície até a área
mais profunda, até que não se encontre mais queratina no
colete do bulbo pilar.
O crescimento fúngico observado da região do infundíbulo
até o nível do colete do bulbo pilar é conhecido como franja
de Adamson. É visto dois movimentos contrários nesse
estágio. O primeiro, o crescimento fúngico tende à
profundidade do pelo, utilizando a queratina recém-formada
como fonte nutricional. O segundo, do crescimento do pelo
que tende da profundidade até a superfície.
Dessa forma há equilíbrio com permanência de uma infecção
capilar dermatofítica.
Ao chegar no estágio de infecção pilosa, cada espécie fúngica
expressa particularidades, desde a quebra do pelo até o
acometimento das unhas.
E a partir disso, as dermatofitoses são classificadas a partir
da localização das lesões, espécie do dermatófitos e status
imunológico do hospedeiro. Tinea se refere a toda e qualquer
lesão dermatofítica que acomete exclusivamente o estrato
córneo do couro cabeludo, barba e bigode.
#Tinea corporis#
Acomete a pele glabra, no tronco, ombros e membros
superiores. Tem evolução centrífuga única ou múltipla, com
aspecto anelar, eritematosa com contorno delimitado, bordas
elevadas e pruriginosa.
#Tinea capitis#
Ou tinea fávica, tem como agente etiológico o Trichophyton
schoenleinii, acomete principalmente o couro cabeludo. No
inicio da infecção é visto em torno do pelo, gotas de líquido
seroso, ao se depositar em torno do pelo, dessecam, e a
deposição contínua misturada com material córneo eliminado
no ato de coçar forma uma massa, que toma aspecto de
crosta amarelada.
A tinea capitis cobre toda área do couro cabeludo, e os pelos
se tornam rarefeitos, e os pelos que se encontram íntegros
podem ser arrancados com bulbo sem que se quebrem. Com
o desenvolvimento da doença tende a formar foliculite
intensa, que com o processo cicatricial no folículo piloso
pode levar a uma alopecia definitiva.
As lesões podem ser microscópica (única e relativamente
grande), tricofítica (múltiplas lesões de tamanho reduzidos),
e favosa (crostas com restos celulares, de odor fétido e
massas densas de hifas).
#Tinea barbae#
Afeta regiões pilosas da face e do pescoço. Pode ser leve e
superficial, com bordas vesiculopustulares, com reação
inflamatória branda e alopecia central.
Ou podem ser profundas, com pústulas foliculares, com
reação inflamatória crônica.
#Tinea cruris#
Micologia Clínica – AVⅠ 8
Ou lesões de grandes pregas, localizada na região inguinal,
perianais e perineais, lesões com aspecto pustuloso, placas
avermelhadas, com descamação.
As margens das lesões são circinadas, elevadas e papulosas.
Acomete mais homens, a transmissão é por contato íntimo
com roupas contaminadas.
#Tinea unguium#
Invasão da lâmina ungueal, com seu comprometimento.
A onicomicose subungueal distal se inicia com seu
descolamento da lâmina superficial, que evolui nessa região,
e fica com aspecto opaco, esbranquiçado e espesso. O
raspado subungueal tem aspecto farináceo, originado da
intensa queratólise.
A onicomicose subungueal proximal inicia pela extremidade
proximal, sendo observadas manchas brancas,
comprometendo toda unha à medida que cresce.
A onicomicose branca superficial é caracterizada pelo
aparecimento de manchas de coloração branca na parte
superior da unha. A evolução da lesão leva a uma coloração
amarelada nas manchas. Nessa lesão há penetração in situ de
estruturas fúngicas em direção ao interior da unha.
#Tinea pedis e Tinea mannum#
Lesões interdigitoplantares, caracterizada pelo aparecimento
entre os espaços interdigitais e na planta dos pés.
Formas desidróticas caracterizam-se pelo aparecimento de
vesículas duras, que tendem a romper e liberar um líquido
citrino, e tendem a formar uma placa na região plantar.
As lesões hiperqueratóticas tem aspecto de placas
eritematoescamosas, localizadas na região plantar ou na
borda lateral do pé, com aspecto escamoso descamativo e
ulcerativo.
As lesões intertriginosas, conhecidas como pé-de-atleta,
caracterizadas pela intensa maceração que atinge a base
inferior dos dedos, que evoluem para o aparecimento de
fissuras.
A tinea manuum, indica hiperqueratose unilateral difusa ou
esfoliativas.
O diagnóstico laboratorial das dermatofitoses é feito a partir
da cultura fúngica ao observar aspectos da macromorfologia,
para a CUF é utilizado ágar mycosel e ASA, com crescimento
em até 15 dias em temperatura ambiente.
Na micromorfologia do microcultivo são observadas as
estruturas de ornamentação e reprodução. A diferenciação
entre as espécies é feita a partir da análise quantitativa dos
elementos micro e macroconídios.

Microsporum Trichophyton Epidermophyton
Macroconídios +++ + +++
Microconídios + +++
Epidermophyton floccosum = macroconídios em forma de
clava, ou porrete, tem a parede celular fina, e não apresenta
microconídios. No meio de cultivo, se apresenta com aspecto
algodonoso, e pulverulento na região intermediária.
Microsporum canis = macroconídios fusiformes com mais de
6 compartimentos, parede celular larga, de extremidades
afiladas. Os microconídios são globosos. Na CUF tem textura
algodonosa, de coloração branca e o reverso é amarelo-
limão.
Microsporum gypseum/Nannizzia gypsea = tem parede fina,
com extremidades irregulares e arredondadas, com até 5
compartimentos. Na CUF é tido textura pulverulenta, com
bordas irregulares e alto pleomorfismo.
Trichophyton = tem estruturas de ornamentação variadas,
podendo ser observados como órgãos pectinados,
candelabros fávicos, hifas em espiral. A avaliação das
características micro e macromorfológicas pode não ser
suficiente para identificação desse grupo de dermatófitos,
algumas cepas necessitam de testes complementares, como
perfuração do pelo, prova da urease e necessidades
nutricionais.
Trichophyton rubrum = contaminação inter-humana ou por
fômites contaminados. Crescimento entre 12-16 dias. As
colônias tem textura algodonosa ou veludosa, com pregas
Micologia Clínica – AVⅠ 9
radiais e pequenas saliências no centro, apresenta ainda
tonalidade branca que com o tempo pode se tornar
avermelhada. A micromorfologia indica muitos microconídios
delicados, regulares e piriformes, os macroconídios quando
presentes tem formato de clavas alongadas, com aspecto
cilíndrico e de duas a nove septações.
Trichophyton tonsurans = causa lesões tonsurantes no couro
cabeludo. Tem crescimento de 12 a 16 dias, As colônias tem
aspecto algodonoso a veludoso, quando se tornam velhas
pode ter aspecto furfuráceo. A micromorfologia dos
microconídios indica numerosos conídios dispostos em
acladium e com aspecto grosseiro, sem homogeneidade de
dimensão e forma, podendo se apresentar como pequenas
ou grandes estruturas claviformes. Os clamidoconídios
intercalares, hifas em raquete e artroconídios podem ser
vistos em culturas velhas. Os macroconídios quando
presentes indicam aspecto irregular e não contribuem para
diferenciação.
Trichophyton mentagrophytes = no ágar Saboraud tem
aspecto furfuráceo ou pulverunto, sem relevo acentuado,
formando círculos concêntricos de coloração branco-
amarelado ao castanho-avermelhado, com crescimento de 6-
11 dias. Na microscopia é observado muitos microconídios
arredondados e agrupados, com aspecto de cacho. Como
teste complementar para diferenciação é feito o teste de
perfuração do fio de cabelo, pois ele é capaz de perfuras o
pelo. O fio de cabelo é incubado junto com a cultura suspeita
de 10-14 dias para avaliação da perfuração.
 Micologia Clínica – AVⅠ 10

Trichophton schoenleinii = fungo de crescimento lento, a

maturação varia de 14 a 30 dias. As colônias tem textura
glabrosa seca até veludosa baixa, com relevo cerebriforme e
pigmentação variando do bege ao castanho-escuro. Não são
observados macroconídios nem microconídios, são vistos
numerosas hifas septadas e em bifurcação, associada a hifas
com cabeça de prego.