Você está na página 1de 60

MICOLOGIAMÉDICA

A. T. Londero1, B. Wanke2, M. S. Lazera2, P. C. F. Monteiro2

1Universidade Federal de Santa Maria (RS), 2Serviço de Micologia do Instituto de


Pesquisa Clínica Evandro Chagas-FIOCRUZ (RJ)

Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO

Conceituação e posição dos fungos entre os seres vivos


Os fungos ou cogumelos são seres vivos eucariontes, unicelulares ou filamentosos, envolvidos
por uma parede quitinosa e que se nutrem por absorção. Fazem parte, com os líquenes, do reino FUNGI,
domínio EUKARYA.
A Micologia é o ramo da biologia que estuda os fungos. A Micologia Médica é a parte
especializada que trata do conhecimento dos fungos patogênicos para o homem e das doenças por eles
causadas. Tradicionalmente tem sido incorporada à Micologia Médica o estudo de um grupo de bactérias
filamentosas, membros da ordem Actinomycetales (reino MONERA), porque superficialmente se
assemelham aos fungos filamentosos.

Morfologia e reprodução dos fungos


Os fungos de interesse médico são estudados em cultivos obtidos em substratos apropriados,
meios de cultivo, nos quais se desenvolvem em colônias. Nas colônias os fungos crescem como
microrganismos unicelulares, lêvedos, ou como elementos tubuliformes ramificados, fungos
filamentosos.
Macroscopicamente as colônias de lêvedo são reconhecidas pelo seu aspecto mucóide, cremoso
ou pastoso, resultado do conglomerado dos elementos fúngicos microscópicos que as compõem. Já as
colônias filamentosas apresentam-se aveludadas ou algodoadas, pois resultam de um enovelado de
filamentos frouxa ou intimamente unidos. Há fungos negros que inicialmente crescem como lêvedos mas
tornam-se filamentosos nos subcultivos. Também existem fungos que, na dependência da temperatura ou
de fatores nutritivos, podem desenvolver-se como lêvedos ou como seres filamentosos, por isso
denominados dimórficos.
O início e o fim do ciclo vital de um fungo é a unidade reprodutora, o propágulo. O tipo mais
simples de ciclo vital é observado em lêvedos que se multiplicam apenas por gemação, gemulação ou
brotamento; o broto, resultante da separação do elemento mãe, cresce e se reproduz da mesma maneira.
Esta é forma de reprodução assexuada; no entanto, a intromissão da reprodução sexuada torna mais
complicado o ciclo de certos lêvedos.
O propágulo de um fungo filamentoso, caindo em substrato apropriado, germina, emitindo um
elemento tubuliforme, tubo germinativo, o qual continua a crescer, tornando-se longo filamento que
pode ramificar-se. Estes filamentos, no interior dos quais circula o citoplasma, denominam-se hifas.
Hifas que medem 1,5 a 3,5 m de diâmetro são divididas a intervalos regulares por tabiques ou septos,
em células uni ou multinucleadas; são, por isso, denominadas hifas septadas. Hifas com diâmetro maior
que 7 m ocasionalmente apresentam septos; denominam-se hifas não septadas ou "cenocíticas". O
contínuo crescimento e ramificação das hifas acaba por formar um emaranhado de filamentos, o micélio.
Parte do micélio se desenvolve no interior do substrato, micélio vegetativo, e parte cresce acima do meio
de cultivo, micélio aéreo. Em geral, os propágulos são formados no micélio aéreo, então denominado
micélio reprodutor.
Os propágulos são classificados em esporos e conídios. Esporo é um propágulo sexuado,
produto da cariogamia-meiose, ou assexuado, quando resulta de um processo de clivagem do citoplasma
de estruturas multinucleadas. Os demais propágulos assexuados denominam-se conídios, usualmente são
decíduos e bem distintos das células que os originaram. As células que dão origem a conídios
denominam-se células conidiogênicas.
Os fungos filamentosos são identificados e classificados tendo por base as características da
colônia, em especial os conídios. Porém, a diferenciação dos lêvedos se baseia na propriedade que eles
têem de utilizar certos compostos para crescimento (provas de assimilação e fermentação).

2
Conídios - O tipo mais simples de formação de conídio é verificado nos lêvedos; o broto cresce, separa-
se da célula mãe por um septo, originando-se um blastoconídio. Por vêzes, os blastoconídios alongam-se,
continuam ligados à célula mãe e, por brotamentos repetidos, podem formar longas cadeias. Estas cadeias
de blastoconídios alongados lembram hifas e, por isso, denominam-se pseudo-hifas. Um segundo tipo,
também simples, se verifica nos fungos filamentosos, cujas hifas se desarticulam em segmentos
retangulares, os artroconídios. Um terceiro tipo simples é constituído por células interseptais ou
terminais de hifas, nas quais concentra-se o citoplasma, aumentam de volume e sua parede se espessa,
formando os clamidoconídios.
Segundo a gênese, o conídio pode ter origem blástica ou tálica. Blástico, provém da formação
da gema ou broto por parte de uma célula, com crescimento posterior; tálico provém de uma célula pré-
formada. Estes dois tipos podem nascer envoltos por uma ou mais camadas das paredes da célula
conidiogênica; a posição do conídio em relação à célula mãe pode variar e a relação dos conídios entre si
também é variável. Estas diferenças e variações implicaram na criação de uma terminologia necessária,
apropriada para o micólogo.
Quando um fungo filamentoso forma conídios de dois tamanhos distintos eles serão designados
macro e microconídio, respectivamente o maior e o menor. Os conídios podem estar envoltos por
paredes hialinas ou fuliginosas; a parede externa pode ser lisa, rugosa, equinulada, etc.; podem ter formas
variadas (esféricos, clavados, piriformes, etc.); podem apresentar septos num ou em dois planos. As
denominações apropriadas a cada uma destas variações serão fornecidas posteriormente.
Nos fungos filamentosos há células conidiogênicas que são indistinguíveis das demais e
também as há diferenciadas. Estas células podem nascer de hifas ou de ramos especializados, os
conidióforos. A célula conidiogênica e o conidióforo podem constituir estruturas bem diferenciadas, o
aparelho conidiano ou "frutificação". Merecem descrição algumas células conidiogênicas e certas
frutificações tão peculiares que permitem a identificação de muitos fungos patogênicos. Entre as células
conidiogênicas, a fialídica e a anelídica; entre as frutificações, cladospório, rinocladiela, acremônio e
aspergilo.
A célula fialídica ou fiálide, tem a forma de ânfora sem alças; ao se produzir o primeiro conídio
no ápice, restos de sua parede podem persistir, formando borda com aspecto de taça, o colarete, sobre o
qual acumulam os demais conídios que se formam. A célula anelídica ou anelóforo, de base alargada,
afila-se para o ápice, onde nascem os conídios em sucessão; após a formação de cada conídio, a parte
apical cresce, persistindo uma marca cicatricial anelar no ponto em que surgiu cada conídio.
O aparelho conidiano tipo cladospório tem conidióforo semelhante a um ramo lateral de hifa,
porém com célula terminal mais robusta e ornada de pequenos dentículos apicais, onde surgem os
primeiros conídios; estes, por gemação geram conídios que formam cadeias, nas quais os elementos estão
unidos por disjuntores; as cadeias podem ser ramificadas, longas ou curtas. No aparelho conidiano tipo
rinocladiela, o conidióforo assemelha-se a um ramo de hifa, porém com mais de uma célula
conidiogênica, em cujos dentículos se produzem os conídios; nas células basais eles formam-se
lateralmente, pleurógenos; na célula terminal, apicalmente, acrógenos. No aparelho conidiano tipo
acremônio o conidióforo é afilado para o ápice, pode ter um ou mais septos e os conídios, que nascem no
ápice, ficam aglomerados em bola ou cabeça por uma substância glutinosa. No aparelho conidiano tipo
aspergilo, o conidióforo inicia de uma célula da hifa, o pé, e termina em uma dilatação, a vesícula; ao
redor da vesícula distribuem-se, diretamente ou sobre métulas, as fiálides, que geram conídios formando
cadeias.
Os conidióforos podem se formar na face interna de estruturas em forma de urna, denominadas
picnídios. Os conídios, picnidioconídios, são liberados por uma pequena abertura, o ostíolo.

Esporos - Nos fungos de hifas cenocíticas, sem que haja intervenção do fenômeno sexuado, os esporos,
esporangiósporos, resultam da clivagem do citoplasma, contido em estruturas globulosas, os
esporângios; estas estruturas são suportadas por um ramo de hifa especializada, o esporangióforo. Estes

3
fungos também podem reproduzir-se sexuadamente: curtos ramos de duas hifas de sexualidade diferente,
os gametângios, se aproximam, fundem seus citoplasmas e núcleos, desenvolvendo grandes estruturas de
paredes espessas, os zigósporos.
Nos fungos de hifas septadas, os fenômenos sexuados se processam em uma hifa especializada
na formação de gametas ou requerem duas hifas de sexualidade diferente; após a cariogamia forma-se
uma estrutura saciforme, o asco, onde, após a meiose, surgem quatro a oito esporos, os ascósporos. Os
lêvedos podem formar ascos por conjugação. Nos fungos filamentosos os ascos podem se distribuir em
lóculos no micélio, então denominado ascostroma, ou ficar abrigados em estruturas especiais do micélio,
o ascocarpo. Dois tipos de ascocarpo interessam à micologia médica: o cleistotécio, estrutura esférica de
parede formada por hifas intimamente unidas, encerrando vários ascos; e, o gimnotécio, também
esférico, porém de paredes formadas de hifas frouxamente unidas, permitindo a saida dos esporos através
dela. Num segundo tipo de reprodução sexuada, os esporos, em número de quatro, formam-se
externamente, sobre dentículos, localizados na porção apical mais alargada de uma estrutura claviforme;
esta estrutura é o basídio e os esporos, os basidiósporos.
Os fungos que se reproduzem por ascósporos ou basidiósporos também se multiplicam
assexuadamente por conídios. A fase sexuada dos fungos é denominada fase teleomórfica e a fase
assexuada, anamórfica. Como a fase teleomórfica foi conhecida posteriormente à fase anamórfica, os
fungos patogênicos usualmente costumam ser designados anamorficamente, isto é, na “forma genérica”.
Os fungos patogênicos, portanto, usualmente são identificados pelos conídios que produzem, mesmo
porque se desconhece a reprodução sexuada em muitos deles.

Classificação dos fungos


O reino Fungi é dividido em seis filos (antigas divisões). Os principais fungos de interesse
médico se distribuem em quatro filos, assim caracterizados:

-Fungos de hifas largas, mais de 7 m, e ocasionalmente septadas:


 multiplicando-se por esporangiósporos ou zigósporos: Zygomycota;

-Fungos unicelulares ou filamentosos de hifas septadas, com 1,5 a 5 m de diâmetro:


 que se multiplicam por ascósporos e conídios: Ascomycota
 que se multiplicam por basidiósporos e conídios: Basidiomycota
 que se multiplicam por conídios: Deuteromycota

Os fungos patogênicos do filo Zygomycota pertencem à classe Zygomycetes e, quando


parasitas, invadem os tecidos do hospedeiro sob forma de hifas. Distribuem-se em duas ordens:
Mucorales, que se reproduzem por esporangiósporos, e Entomophthorales, que se multiplicam por
esporangíolos modificados, expulsos por um mecanismo de ejeção do esporangióforo. Três classes do
filo Ascomycota possuem espécies patogênicas: Hemiascomycetes, lêvedos ascosporados;
Loculoascomycetes, fungos filamentosos que produzem ascos bitunicados, formados em lóculos no
ascostroma; e, Plectomycetes, com ascos unitunicados desenvolvendo-se em cleistotécio ou gimnotécio.
No filo Basidiomycota a espécie patogênica mais importante faz parte da classe Teliomycetes, porque
os basídios não se formam em basidiocarpo. No filo Deuteromycota os fungos patogênicos para o
homem se distribuem por três classes: Blastomycetes, encerrando os lêvedos anamórficos;
Coelomycetes, agrupando fungos filamentosos de micélio bem desenvolvido, onde se formam picnídios;
e, Hyphomycetes, fungos filamentosos que não formam picnídios.

4
ADENDO - Bactérias filamentosas, actinomicetos

As bactérias filamentosas, actinomicetos, de interesse médico, tradicionalmente estudadas junto


com os fungos, pertencem à ordem Actinomycetales, do filo Actinobacteria. Estes microrganismos
filamentosos se distinguem praticamente dos fungos filamentosos porque seus filamentos têm um
diâmetro de 1 m ou menos. São Gram-positivos, alguns são ácido-resistentes, capazes de crescer à
temperatura de 25 a 37C. A maioria dos actinomicetos de interesse médico são aeróbios e saprófitas em
natureza; os anaeróbios ou micro-aerófilos, no entanto, são comensais do homem. Os actinomicetos
podem se reproduzir por esporos, formados pela fragmentação dos filamentos, em elementos
bacterióides, ou por ambos os processos.
Os vários gêneros de actinomicetos se distinguem por sua morfologia, pela composição química
de sua parede celular e pela utilização específica de certos compostos químicos. Na identificação das
espécies é importante a composição química da parede e a capacidade de utilização de compostos
químicos.

Bibliografia Básica

AJELLO, L & HAY, RJ - Medical Mycology. In: Topley & Wilson's Microbiology and Microbial Infections. 9th ed.
Vol. 4, Arnold, London, 1998.

KWON-CHUNG KJ & BENNETT JE - Medical Mycology, Lea & Febiger, Philadelphia, 1992.

LACAZ, CS, PORTO E, MARTINS JEC - Micologia Médica, 8a. ed. Sarvier, S. Paulo, 1991.

LACAZ CS, PORTO E, HEINS-VACCARI EM, MELO NT - Guia para identificação de fungos, actinomicetos e
algas de interesse médico, Sarvier-EDUSP, São Paulo, 1998.

McGINNIS, MR - Laboratory Handbook of Medical Mycology, Academic Press, New York, 1980.

RIPPON, JW - Medical Mycology, 3rd. ed., W. B. Saunders, Philadelphia, 1988.

MICOSES HUMANAS
As micoses humanas podem ser causadas por fungos patogênicos ou por fungos oportunistas.
Patogênicos são aqueles que têm capacidade de invadir os tecidos de um hospedeiro normal; os
oportunistas, no entanto, somente são invasores de tecidos de indivíduos com alterações graves do
sistema imunodefensivo. As doenças por fungos patogênicos se classificam em quatro grupos naturais:
Micoses superficiais, cutâneas, subcutâneas e sistêmicas. As doenças por fungos oportunistas se
agrupam sob a denominação Micoses oportunísticas.
Ao invadirem os tecidos, os fungos sofrem uma redução morfológica. Este fenômeno, que vai
desde a simples perda da capacidade de produzir propágulos até a transformação total do talo, também é
conhecido como dimorfismo. Estas modificações caracterizam a adaptação (dos fungos) ao
parasitismo.
O diagnóstico laboratorial das micoses se fundamenta no estudo de uma amostra obtida da
lesão. Nela deve ser visualizado o agente etiológico em sua forma parasitária ou invasiva, ao exame

5
microscópico e, demonstrada a presença do fungo, por seu isolamento e identificação em substratos
apropriados, onde cresce em sua forma saprofitária, exame em cultivo.
ADENDO - Actinobacterioses
As actinobacterioses obedecem a uma patogenia e as actinobactérias produzem lesões que
permitem agrupá-las em subcutâneas, sistêmicas e oportunísticas. Por isso e por comodidade elas serão
tratadas como anexo a cada grupo respectivo de micoses. No entanto, os actinomicetos são
monomórficos, isto é, não sofrem a marca do parasitismo. O diagnóstico laboratorial das
actinobacterioses obedece às regras bacteriológicas.

MICOSES SUPERFICIAIS
As micoses superficiais são infecções: 1) causadas por fungos que invadem apenas as camadas
mais superficiais da capa córnea da pele ou a haste livre dos pêlos; 2) cujas lesões se manifestam como
mancha pigmentar na pele, ou nódulo nos pêlos; 3) nas quais a forma invasiva do fungo é uma hifa,
característica de cada micose.
Quatro são as micoses superficiais: piedra negra, piedra branca, pitiríase versicolor e tinha
negra (feohifomicose superficial). Exceto a tinha negra, as três outras micoses usualmente são
diagnosticadas apenas ao exame microscópico direto. Este exame é feito em preparações, nas quais as
escamas obtidas por raspagem da pele ou os nódulos dos pêlos, são montados em gota de solução de
hidróxido de potássio (KOH) a 10%. Para o isolamento dos agentes da tinha negra, usa-se o meio de
Sabouraud-glicose 2% e, para a identificação, é recomendado o meio de Lactrimel para cultivo em
lâmina.

PIEDRA NEGRA
(Sinonímia: tricomicose nodosa, tricomicose)

É micose causada por Piedraia hortae, fungo saprófita em natureza. No Brasil, a infecção é
endêmica na região Amazônica e esporádica nas demais regiões, principalmente em áreas quentes de
elevada umidade.

Micose - Clinicamente se manifesta como nódulos de cor escura, localizados na haste dos cabelos.
Únicos ou múltiplos, os nódulos são duros e muito aderentes aos cabelos.

Fungo - Aspecto parasitário - Nódulos pequenos consistem de um enovelado de hifas intimamente


unidas. As hifas, de paredes e septos espessos, têm cor castanho-escura; são tabicadas regularmente a
espaços curtos; medem 4 a 8 m de diâmetro. Nódulos grandes constituem um ascostroma, porque, em
meio ao novelo de hifas, formam-se lóculos ovalados, com ascos, contendo oito (8) ascósporos
fusiformes, curvos, medindo aproximadamente 10 x 30 m, com um filamento polar em cada
extremidade.

Aspecto em cultivo - Nódulos inoculados em Sabouraud-glicose 2% dão origem a colônias


negras, de crescimento lento. A colônia elevada, glabra, sulcada no centro, com periferia plana, é muito
aderente ao meio. Microscopicamente é constituida de uma trama de hifas de cor castanha, septadas e
ramificadas, por vezes com células irregulares e clamidoconídios.

6
PIEDRA BRANCA
(Sinonímia: micose de Beigel, tricomicose)

A piedra branca resulta do crescimento de Trichosporon beigelii sobre a haste dos pêlos. Este
fungo é saprófita em natureza. A micose ocorre endêmicamente em todo Brasil.

Micose - Clinicamente se apresenta como nódulos alvacentos, únicos ou múltiplos, facilmente


destacáveis dos pêlos. Os nódulos se localizam principalmente nos pêlos das regiões úmidas do corpo,
escrotais ou perineais, mais raramente nos pêlos axilares, da barba e, ocasionalmente, nos cabelos.
Fungo - Aspecto parasitário - O nódulo consiste em uma trama de hifas hialinas, septadas e
ramificadas, medindo 2 a 4 m de diâmetro. Na montagem de nódulos grandes as hifas podem se
desarticular, resultando artroconídios retangulares que se tornam esferóides ou poliédricos.

Aspecto em cultivo - As colônias, de crescimento rápido em Sabouraud-glicose 2%, têm cor


bege-clara, aspecto cremoso ou glabroso e superfície pregueada. Microscopicamente compõem-se de
hifas hialinas, septadas e ramificadas. Estes elementos se fragmentam em artroconídios, medindo 2 a 4 x
3 a 8 m. Também são vistos blastoconídios.

Revisão taxonômica - Com base em recentes estudos fisiológicos, de biologia molecular e de


ultraestrutura, o agente que se conhece/conhecia como Trichosporon beigelii compreende na realidade 5
espécies distintas dentro do mesmo gênero, todas potencialmente patogênicas para animais e humanos: T.
cutaneum, T. asahii, T. inkin, T. mucoides e T. ovoides. Mais ainda, estudos de seqüências de RNA
ribossomal evidenciaram seu parentesco com o gênero Filobasidiella (Cryptococcus), colocando estes
fungos entre os Basidiomycetes.
[Guehó, E; De Hoog, GS & Smith, MT - Neotypification of the genus Trichosporon, Antonie van
Leeuwenhoek, 61: 285-288, 1992. Guehó, E; Smith, MT et al.-Contributions to a revision of the genus
Trichosporon, Antonie van Leeuwenhoek, 61: 289-316, 1992.]

PITIRÍASE VERSICOLOR
(Sinonímia: tinha versicolor, dermatomicose furfurácea)

Malassezia furfur é o agente da micose. Hóspede normal da pele do homem, onde vive
extrecelularmente sob a forma de lêvedo. Ao invadir as células queratinizadas das camadas superficiais
da pele, M. furfur transforma-se em hifas e determina a micose. Esta transformação de comensal em
parasita se deve a fatores ainda desconhecidos, entre os quais a renovação mais rápida da capa córnea da
pele e a existência de certos lipídios. A micose é de elevada prevalência em todo Brasil.

Micose - A doença se manifesta como manchas descamativas, levemente acastanhadas, de cor marron
clara, às vezes de aspecto hipocrômico, raramente eritematosas, distribuídas principalmente, pelo tórax,
abdomen e membros superiores. As máculas, isoladas ou confluentes, podem ter distribuição limitada ou
generalizada. Em indivíduos de pele escura, as máculas são hipocrômicas. Raramente a micose se
apresenta como lesões papulosas ou como foliculite.

Fungo - Aspecto parasitário - Nas escamas da pele vêem-se curtos fragmentos de hifas ligeiramente
acastanhadas, geralmente curvas, de ápices retilíneos, raramente ramificadas. As hifas, de paredes
espessas e não paralelas, têm septos distribuidos a longos intervalos. Observam-se, também, elementos
esféricos, com 3 a 8 m de diâmetro, isolados ou em grupos, de paredes espessas, alguns com brotamento
fialídico.

7
Aspecto em cultivo - Cultivos podem ser obtidos em Sabouraud-glicose 2% recoberto com uma
camada de azeite de oliva, incubando-se a 37C. As colônias leveduriformes, de cor creme, se compõem
de um conglomerado de elementos leveduriformes.

Revisão taxonômica - Com base em recentes estudos morfológicos, fisiológicos, de biologia


molecular e de ultraestrutura, o agente até recentemente conhecido somente como Malassezia furfur
compreende na realidade várias espécies distintas, dentro do mesmo gênero, todas potencialmente
patogênicas para animais e humanos: M. furfur, M. sympodialis, M. globosa, M. slooffiae, M.
pachydermatis, M. restricta e M. obtusa. Exceto M. pachydermatis, todas são dependentes de lipídios
para o seu crescimento (lipofílicos). Embora M. furfur continue sendo o mais importante agente da
pitiríase versicolor, M. globosa, M. sympodialis e outras espécies comparecem com prevalência cada vez
maior em revisões de casuísticas recentes. Recentes estudos de seqüências de RNA ribossomal colocaram
o gênero Malassezia entre os Basidiomycetes.
[ Guehó, E; Boekhout, T; Ashbee, HR et al. - The role of Malassezia species in the ecology of human
skin and as pathogens. Medical Mycology 36(Suppl. 1): 220-229, 1998]

FEOHIFOMICOSE SUPERFICIAL
(Sinonímia: tinha negra, cladosporiose epidérmica)

A feohifomicose superficial, classicamente conhecida como tinha negra, é causada por


Phaeoannellomyces (Exophiala) werneckii. Outro agente, esporádico, Stenella araguata
(Cladosporium castellanii), foi identificado. Estes microrganismos são saprófitas em natureza,
associados a matéria vegetal em decomposição. No Brasil, a micose ocorre esporadicamente e tem como
agente P. werneckii.

Micose - A tinha negra se apresenta como mácula de cor marron ou negra, usualmente única e localizada
na palma das mãos, podendo ocasionalmente atingir planta dos pés.

Fungo - Aspecto parasitário - Nas escamas cutâneas, P. werneckii é visto como hifas ramificadas e
septadas. As porções apicais das hifas são hialinas, têm paredes paralelas e septação regular. As partes
mais velhas das hifas têm cor castanho-dourada, paredes muito irregulares e septos irregularmente
distribuídos, o que as torna características.

Aspecto em cultivo - Em Sabouraud-glicose 2%, P. werneckii cresce, inicialmente como


colônia úmida, lisa, brilhante e de cor negra; microscopicamente é composta de um conglomerado de
leveduras ovais, fuliginosas, de 3 a 10 m, algumas unisseptadas. Nos subcultivos, as colônias se cobrem
de micélio aéreo negro ou acinzentado. Nos cultivos em lâmina, em meio de lactrimel, observa-se a
conidiogênese que identifica o fungo: nas hifas escuras e tortuosas, os conídios nascem em células
conidiogênicas não diferenciadas ou em conidióforos distintos, ambos de ápices anelados, anelóforos. Os
conídios fuliginosos usualmente são unisseptados. Estudos mais recentes renomearam o fungo para
Hortaea werneckii (Horta) Nishimura et Miyaji

Referências
FISCHMAN, O. Black piedra in Brazil. A contribution to its study in Manaus (State of Amazonas).
Mycopathologia, 25:201-204, 1965.

8
FISCHMAN, O., CAMARGO, Z.P. et al. Genital white piedra. An emerging new fungal disease? In: Superficial,
cutaneous and subcutaneous infections. V International Conference on the Mycoses. PAHO Sci. Pub. n 396, 1980,
pp 70-76.

HORTA, P. Sobre uma nova forma de piedra. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 3:87-88, 1921.

HORTA, P. Sobre um caso de tinha preta e um novo cogumelo (Cladosporium werneckii). Rev. Med. Cir. Brasil,
29:269-274, 1921.

SILVA-HUTNER, M. Malassezia furfur as a pathogen and in culture. A review. In: Superficial, cutaneous and
subcutaneous infections. V Internation Conference on the Mycoses. PAHO Sci. Pub. n 396, 1980, pp. 29-43.

VANBREUSEGHEM, R. Morphologie parasitaire de l'agent du Pityriase versicolor: Malassezia furfur. Ann. Soc.
Belge Med. Trop., 35:251-254, 1954.

MICOSES CUTÂNEAS
As micoses cutâneas se caracterizam porque: 1) são causadas por fungos que invadem toda a
espessura da capa córnea da pele, ou a parte queratinizada intrafolicular dos pêlos, ou a lâmina ungueal;
2) na pele se manifestam como mancha inflamatória, nos pêlos como lesão de tonsura e na unha por
destruição da lâmina ungueal; 3) são infecções adquiridas por contato com o solo, animais ou homens
infectados; 4) na lesão, a forma invasiva do fungo é uma hifa, característica de cada micose.

Neste grupo serão consideradas as dermatofitoses ou tinhas e a candidose/candidíase


ocupacional, das áreas intertriginosas e das unhas. Como anexo, a dermatofilose, infecção cutânea
causada por um actinomiceto.

Diagnóstico laboratorial - O espécime para exame é constituido por escamas de pele ou unha, obtidas
por raspagem; pêlos, epilados com pinça; e, nas lesões inflamatórias, o pus, o conteúdo de vesículas ou
bolhas e a pele que as recobre. O exame microscópico é feito por montagem do material em gota de KOH
a 10%. Nos cultivos para isolamento do agente etiológico aconselha-se o meio de Sabouraud-glicose 2%
acrescido de cloranfenicol e cicloheximida. A identificação pode ser feita neste mesmo meio ou em
substratos especiais.

DERMATOFITOSE
(Sinonímia: tinha, dermatomicose)

As dermatofitoses constituem manifestações clínicas muito variadas, causadas por dermatófitos


que produzem lesões na pele, pêlos e/ou unhas. Os dermatófitos, grupo de fungos taxonomicamente
aparentados, pertencem aos gêneros Epidermophyton, Microsporum e Trichophyton (teleomorfo
Arthroderma).

Os dermatófitos são saprófitas no solo, onde vivem em restos de queratina (são fungos
queratinofílicos). Muitas espécies foram se adaptando ao parasitismo nos animais e no homem. De
acordo com a adaptação ao parasitismo humano, os dermatófitos podem se dividir em: 1) antropofílicos,
adaptados ao parasitismo de humanos; 2) zoofílicos, primariamente parasitas de animais; e, 3) geofílicos,
saprófitas de solo, ocasionalmente parasitas do homem.

9
Muitos dermatófitos são cosmopolitas, outros têm distribuição muito limitada. Isto condiciona a
variabilidade do número de espécies que ocorrem em regiões ou países diferentes. Dentre as cerca de 30
espécies de dermatófitos reconhecidamente patogênicas para o homem, no mínimo 15 ocorrem no Brasil
(Tabela 1).
De elevadíssima prevalência, as dermatofitoses constituem problema do dia a dia das clínicas
dermatológicas brasileiras. A espécie predominante no Brasil é Trichophyton rubrum. Em todo o
território brasileiro ocorrem ainda, de forma endêmica e, ocasionalmente epidêmica, em comunidades
fechadas, tinhas por Epidermophyton floccosum, T. mentagrophytes, Microsporum canis e M. gypseum
(complexo). Porém, T. tonsurans e T. violaceum são agentes de tinhas mais prevalentes na metade norte
do Brasil; T. verrucosum, em populações de bacias leiteiras; T. concentricum, em indígenas do Brasil
Central; T. megnini, em cidades que recebem imigrantes europeus; T. schoenleinii, em certos focos
localizados, em comunidades de descendentes de povos oriundos do Mediterrâneo, Europa Oriental e
Oriente Médio. Recentemente foi identificado no Rio de Janeiro um novo dermatófito, T. raubitschekii
[Caiuby, MJ; Monteiro, PCF & Nishikawa, MM –Isolation of Trichophyton raubitschekii in Rio de
Janeiro (Brazil). J. Med. Vet. Mycology, 34: 361-363, 1996]). O conjunto de espécies de agentes de
tinhas, espectro dermatofítico, é variável de região a região e é muito dinâmico no tempo. Infelizmente
este conhecimento é muito incompleto no Brasil, decorrendo da falta de continuidade nos estudos
realizados.

Tabela 1. Ocorrência de dermatófitos isolados de lesões humanas, no Brasil.


----------------------------------------------------------------------------------------------------
Comuns Esporádicos Ocasionais
----------------------------------------------------------------------------------------------------
E. floccosum* T. verrucosum# M. cookei
T. rubrum* T. schoenleinii* M. nanum #
T. mentagrophytes*#** T. violaceum* M. persicolor #
T. tonsurans* M. gypseum/** T. megnini*
M. canis# T. simii #
T. concentricum*
T. raubitschekii*(?)
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
*antropofílicos; # zoofílicos; os demais, geofílicos; ** complexo
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Micose - As dermatofitoses podem ser classificadas nas seguintes modalidades clínicas: dermatofitose ou
tinha do couro cabeludo, tinha da pele glabra, tinha da barba e da face, tinha inguinal, tinha dos pés e
tinha das unhas. Uma mesma modalidade clínica pode ser determinada por várias espécies de
dermatófitos; da mesma maneira, uma espécie pode determinar vários tipos de lesões. No entanto, a
maioria dos dermatófitos mostra preferência por certas áreas do tegumento.

Tinha do couro cabeludo (tinea capitis) - Usualmente, quando determinada por M. canis, se manifesta
como área circular de tonsura, com superfície escamosa, onde os cabelos quebrados afloram 1 a 2 mm
acima do couro cabeludo. As lesões determinadas por T. tonsurans e T. violaceum usualmente são
múltiplas, apresentando pequenas áreas de tonsura na superfície das quais vêem-se pontos negros,
resultantes da invaginação do cabelo parasitado no folículo piloso. M. gypseum, T. mentagrophytes e T.
verrucosum comumente provocam quadros agudos, com intensa reação inflamatória; neste caso, a lesão,
denominada quérion, é representada por placa elevada, dolorosa, de aspecto esponjoso, pontilhada de
micro-abscessos. As tinhas por T. schoenleinii caracteristicamente se apresentam como endemias em
pequenas comunidades, onde se observam pacientes adultos com áreas de alopécia cicatricial, crianças

10
com lesões papiróides ou pitiróides do couro cabeludo e, mais raramente, com áreas cicatriciais, onde há
raros cabelos sem brilho e lesões crateriformes perifoliculares (escútula fávica, favo).

Tinha da pele glabra (tinea corporis) - Geralmente as lesões são anulares, de crescimento centrífugo,
centradas por pele sã e limitadas por bordos eritemato-vésico-crostosos; estas lesões são únicas ou
múltiplas, isoladas ou confluentes. Por vezes a tinha se manifesta como extensas placas escamo-crostosas
acinzentadas, ou como placas infiltradas e eritematosas; em ambos os casos, há porções de bordo
salientes e eritemato-crostosos. Ocasionalmente, as manifestações são de foliculite ou placa de quérion,
ou de lesão granulomatosa profunda. T. rubrum, T. mentagrophytes, M. gypseum, E. floccosum e M.
canis são os agentes mais comuns da tinha da pele glabra.

Tinha inguinal - Comumente se apresenta como lesão arciforme de bordos eritemato-vésico-crostosos,


com tendência a extender-se para a região abdominal e glútea. Pode, porém, se manifestar como lesões de
foliculite, placas infiltradas, ou, por vezes, como área eritematosa, úmida, de bordos descolados. Os
agentes mais comuns são, em ordem de freqüência, T. rubrum, E. floccosum, e T. mentagrophytes.

Tinha da barba e da face - Na área coberta de barba, ocasionalmente são vistas lesões anulares,
idênticas às da pele glabra. Lesões de foliculite ou placa de quérion são mais freqüentes no bigode e
barba. Lesões de bordos apagados, circundando áreas escamosas, localizadas no dorso do nariz e face,
simulando lupus eritematoso, não são raras. T. rubrum e T. mentagrophytes são os agentes mais
comuns.

Tinha dos pés e das mãos (tinea pedis e tinea manuum) - Três são os tipos mais freqüentemente
observados. O primeiro, de carater agudo, tem localização plantar ou palmar e se manifesta por pústulas
ou vésico-crostas, em áreas limitadas ou não. O segundo, de curso crônico, também plantar ou palmar, se
evidencia como áreas escamosas, assentadas em base eritematosa espessada. O terceiro, localizado nos
espaços interdigitais dos pés, se apresenta como áreas descamadas, maceradas, ou como fissuras. Três
são os agentes mais comuns: T. rubrum, T. mentagrophytes, e E. floccosum.

Tinha das unhas (tinea ungueum) - A lesão inicia por destruição do bordo livre da lâmina ungueal que
cedo se espessa, acumulando-se entre ela e o leito ungueal uma substância tipo requeijão. Com a
progressão da lesão há destruição total da lâmina ungueal. T. rubrum é o agente mais comum.

Fungo - Aspecto parasitário - Nas escamas de pele e unha, qualquer dos dermatófitos é visto como
hifas hialinas, septadas e ramificadas. Estas hifas de paredes paralelas podem se desarticular, resultando
cadeias de artroconídios. Nos cabelos os dermatófitos também se evidenciam como hifas ou cadeias de
artroconídios; porém, em função da relação destes elementos com os cabelos, distinguem-se três tipos de
parasitismo: 1) ectótrix, quando os artroconídios se dispõem ao redor do cabelo, como uma bainha (se
pequenos, de 2 a 3 m, M. canis ou T. mentagrophytes; se grandes, de 8 a 10 m, T. verrucosum); 2)
endótrix, quando os artroconídios, de tamanho médio, se localizam no interior do cabelo, lembrando um
saco de nozes (T. tonsurans e T. violaceum); e, 3) fávico, quando há algumas hifas intracapilares, em
cabelos sem brilho e de tamanho normal (T. schoenleinii).
Aspecto em cultivo – O meio de Sabouraud-glicose 2%, adicionado de cloranfenicol e
cicloheximida, é de eleição para o isolamento de dermatófitos. A identificação da maioria das espécies é
feita pelo estudo das colônias obtidas neste meio. Por vezes é necessário o uso de provas nutricionais,
ataque ao pêlo in vitro ou produção de urease para a identificação de certas amostras. Mais raramente,
para o reconhecimento de estirpes atípicas, é necessário o pareamento sexual, induzindo a produção de
ascos. Fundamentalmente, as colônias obtidas em Sabouraud-glicose 2% são identificadas pelos seus
aspectos macro e micromorfológicos. A maioria das espécies de dermatófitos produz dois tipos de

11
conídios: um pequeno, microconídio, e outro grande, macroconídio. Os macroconídios são característicos
de dois gêneros: no Microsporum, comumente são fusiformes, grandes, multisseptados, de paredes
espessas e rugosas; no Epidermophyton, são clavados, robustos, bi ou trisseptados, com paredes lisas e
espessas. O gênero Trichophyton geralmente não apresenta macroconídios; porém, quando existem, são
delicados, clavados, multisseptados, de paredes finas e lisas. Os microconídios podem ser globulosos,
clavados ou alongados como curtos ramos; podem nascer isoladamente ou em cachos; podem ser
uniformes ou polimórficos.

As características macro e micromorfológicas que permitem identificar os dermatófitos de


ocorrência comum e esporádica no Brasil podem ser assim resumidas:
E. floccosum: colônia de crescimento rápido, no início membranosa, de cor verde-limão, depois se cobre
de induto pulverulento; macroconídios em grupos de 3 ou mais, na extremidade de conidióforos;
microconídios inexistentes.
M. canis: crescimento rápido, colônia branca aveludada ou algodoada, no verso pigmento alaranjado;
numerosos macroconídios fusiformes, grandes, multisseptados (7 ou mais células praticamente
asseguram o diagnóstico da espécie), paredes rugosas e mais espessas que as dos septos; microconídios
inexistentes.
M. gypseum: (complexo): crescimento rápido de colônia pulverulenta, de cor camurça, verso com
pigmento pardacento; numerosos macroconídios fusiformes, multisseptados, de paredes rugosas e finas;
poucos microconídios.
T. violaceum: colônia de crescimento muito lento, aspecto ceroso, sulcada e de cor violeta; conídios
inexistentes.
T. schoenleinii: crescimento lento de colônia de cor creme, aspecto ceroso e sulcada; hifas em
ramificações aberrantes, entumescidas, os candelabros fávicos.
T. rubrum: crescimento rápido de colônia branca, pulverulenta ou aveludada, verso pigmento vermelho;
macroconídios do gênero, microconídios em gota de lágrima, em hifas "esporíferas" (conidiogênicas).
T. mentagrophytes: colônia de crescimento rápido, pulverulenta e branca, verso com pigmento cor de
vinho; macroconídios de tipo Trichophyton, microconídios numerosos, globulosos, dispostos em rácimo
ou aspecto em cacho de uva.
T. tonsurans: colônia branca, pulverulenta ou aveludada de crescimento rápido, verso pigmento
vermelho-ferruginoso; microconídios numerosos e polimórficos, usualmente clavados ou alongados, por
vezes brotando, nascendo em hifas entumescidas.

Freqüentemente são isoladas de lesões de tinha dos pés, mais raramente de outras localizações,
colônias de crescimento rápido, de aspecto algodoado e de cor branca, no verso um pigmento variando do
amarelo ao pardo, ou inexistente; micromorfologicamente não há conídios. Estas colônias podem ser de
T. rubrum ou T. mentagrophytes (cotonoso). Para sua identificação devem ser submetidas à prova da
urease ou ao teste do ataque ao cabelo in vitro: urease positiva em 3 a 5 dias e perfuração do cabelo
indicam T. mentagrophytes; urease negativa em uma semana e ausência de ataque ao pêlo caracterizam
T. rubrum.

CANDIDÍASE (CANDIDOSE) CUTÂNEA: MANIFESTAÇÕES OCUPACIONAIS


As espécies de Candida patogênicas para o homem, em especial Candida albicans são
hóspedes normais do trato gastrintestinal do homem e vivem saprofiticamente em determinadas regiões
do tegumento cutâneo. Porém, Candida pode invadir a camada córnea da pele ou a lâmina ungueal de
hospedeiros normais. Isto ocorre em indivíduos obesos ou aqueles cujo trabalho exige a imersão
freqüente de partes do corpo na água. Problema muito comum em ambulatórios de dermatologia, é
usualmente determinada por C. albicans.

12
Manifestações - As lesões têm localização peculiar: unhas das mãos e áreas intertriginosas da pele, que
são, em ordem de freqüência, dobras inguinais, espaços interdigitais das mãos, região submamária e
axilar. Na pele, as lesões se apresentam como áreas eritematosas, úmidas, erodidas ou não, de bordos
papulosos e descamativos. Na unha, há perda de brilho, áreas erodidas e acompanha-se de reação
inflamatória peri-ungueal (paroníquia).

Fungo - Aspecto parasitário - Nas escamas de pele e unha Candida sob forma invasiva é uma hifa de
paredes hialinas e delicadas, com septos muito afastados entre si. Próximo aos septos notam-se
blastoconídios. Elementos leveduriformes globulosos ou ovalados (5 a 7 m) coexistem com as hifas, em
maior ou menor abundância.

Aspecto em cultivo - Os cultivos de C. albicans crescem rapidamente em Sabouraud-glicose


2%. São colônias cremosas, cor bege clara. Compõem-se de elementos leveduriformes globosos (4 a 5
m) ou ovalados (4 a 6 x 6 a 10 m), gemulantes. A identificação da espécie C. albicans pode ser feita
pelo subcultivo em soro humano, incubado a 37C; ao cabo de duas horas, verifica-se a formação de
tubos germinativos. A formação de clamidoconídios em meios especiais, como o ágar-fubá, acrescido de
Tween 80, também pode ser usado para caracterizar a espécie.

DERMATOFILOSE
(Sinonímia: estreptotricose, dermatite contagiosa)

A dermatofilose é uma infecção causada por Dermatophilus congolensis. Este actinomiceto é


parasita de inúmeras espécies de mamíferos e de alguns lacertídeos. A infecção do homem resulta do
contato com animais infectados. Casos humanos foram relatados principalmente nos Estados Unidos,
Australia e Brasil.

A doença - Clinicamente se manifesta como lesões cutâneas vésico-pustulosas que, ao romperem deixam
exulceração avermelhada, posteriormente coberta de crosta. A cura geralmente é espontânea. Foi relatada
lesão intertriginosa da mão, seqüência de lesões bolhosas recidivantes de área palmar adjacente. Lesão no
dorso do nariz, erodida, exsudativa, coberta de crosta, simulando lesão de dermatofitose, também foi
observada.

Actinomiceto - Aspecto parasitário - D. congolensis é uma bactéria, conseqüentemente, é preferível


examinar o material (exsudato, crosta, escama) corado ao Giemsa. A presenτa de filamentos que vão se
adelgaçando (de 6 a 1 m de espessura), septados em plano longitudinal e transversal muito próximos,
que, nas partes mais espessas, se resolve em elementos cocóides, é característica.

Aspecto em cultivo - Para isolamento deve-se usar a técnica de Haalstra (-), com semeadura em
meio de ágar infuso de cérebro-coração (BHI) e incubação em microaerofilia a 37C. Nas colônias,
semelhantes às de bactérias, a morfologia do microsganismo é idêntica à da fase parasitária.

Referência  HAALSTRA, R.T. Isolation of Dermatophilus congolensis from skin lesions in the diagnosis of
streptothricosis. Vet. Rec., 77:824-825, 1965.

MICOSES CUTÂNEAS POR AGENTES INCOMUNS


Lesões cutâneas têm sido atribuídas a Hendersonula toruloidea, Scytalidium hyalinum,
Fusarium moniliforme, Scopulariopsis brevicaulis, Geotrichum candidum, entre outros. Estas lesões,
também denominadas dermatomicoses, atingem, preferencialmente, a pele e unhas dos pés.

13
MICOSES SUBCUTÂNEAS
As micoses subcutâneas se caracterizam por: 1) resultar da inoculação de um fungo patogênico
por ocasião de um traumatismo; 2) se manifestar como tumefação ou lesão supurada da pele ou do tecido
subcutâneo, produto da disseminação do fungo por contigüidade ou via linfática, porém, limitada ao
território aquém do linfonodo regional; e, 3) ter um agente que na lesão se apresenta como elemento
leveduriforme, corpo (talo) muriforme, esférula, hifas septadas fuliginosas mais elemento leveduriforme,
hifa não septada ou grão, caracterizando cada uma das micoses.

Das micoses subcutâneas, a rinosporidiose, lobomicose e entomoftoramicose subcutânea se


manifestam como lesões tumorais; enquanto a esporotricose, cromoblastomicose, feohifomicose
subcutânea e micetoma se evidenciam como abscessos ou lesão granulomatosa com microabscessos.
Como existem actinomicetos aeróbios que podem produzir o síndrome de micetoma, eles serão tratados
sob esta epígrafe.

Nas formas tumorais, o espécime para diagnóstico micológico deve ser obtido por biópsia; nas
lesões supurativas, o pus é o material de escolha. O pus deve ser examinado ao microscópio, após
montagem em gota de KOH a 10%; os cortes de biópsia, examinados após coloração ao H&E ou Grocott
(prata metenamina modificada pela técnica de Grocott). Os cultivos para isolamento podem ser obtidos
por semeadura em Sabouraud-glicose 2%, com e sem adição de cloranfenicol e cicloheximida. Para a
identificação usa-se o cultivo em ágar infuso de cérebro-coração (BHI), incubado a 37C, ou cultivos em
lâmina em lactrimel, para os fungos. Uma série de provas fisiológicas é necessária para o reconhecimento
de actinomicetos.

RINOSPORIDIOSE
(Sinonímia: micose de Seeber, granuloma rinosporidiótico)

A rinosporidiose se caracteriza pela presença da esférula peculiar de Rhinosporidium seeberi


na lesão. Não é conhecido o habitat deste agente em natureza. A infecção ocorre esporadicamente no
Brasil, com exceção dos estados do Piauí e Maranhão, onde parece haver um foco endêmico.

Micose - Clinicamente, a rinosporidiose se manifesta como tumoração séssil ou pedunculada, localizada


na mucosa nasal ou ocular e, ocasionalmente, em outras mucosas ou pele. A tumefação de cor
avermelhada, pintalgada de pontos esbranquiçados, é lobulada, móvel, friável e sangra com facilidade.

Agente - Aspecto parasitário - Nos cortes à H&E, R. seeberi é visto como elementos esféricos, em
vários estágios de maturação, medindo de 6 a 300 m de diâmetro. Os elementos menores são
uninucleados. Ao atingirem cerca de 30 m o núcleo começa a multiplicar-se. Os elementos maduros,
denominados esférulas, têm parede espessa e contém em seu interior 16.000 a 32.000 endósporos, cada
um dos quais mede 6 a 7 m de diâmetro.

Aspecto em cultivo - R. seeberi ainda não foi cultivado.

14
Revisão taxonômica - Recentes estudos de biologia molecular constataram que
Rhinosporidium seeberi não é um fungo, sendo na realidade um protista, dentro da classe
Mesomycetozoae, criada especificamente para acomodar este grupo de patógenos singulares que
parasitam peixes, situando-se filogeneticamente entre os reinos animal e fungi. A classe
Mesomycetozoae compreende duas ordens: Dermocystida e Ichthyophonida. Na ordem Dermocystida
foi criada a família Rhinosporideaceae que inclui Rhinosporidium seeberi e espécies do gênero
Dermocystidium. De toda esta classe, a única espécie atualmente conhecida como patogênica para
numerosos animais incluindo o homem é R. seeberi. [Mendoza L, Ajello L & Taylor JW. The taxonomic
status of Lacazia loboi and Rhinosporidium seeberi has been finally resolved with the use of molecular
tools. Rev. Iberoam. Micol., 18: 95-98, 2001]

LOBOMICOSE
(Sinonímia: micose de Jorge Lobo, blastomicose queloidiforme)

Lacazia (Loboa) loboi é o agente da lobomicose, caracterizada porque, nos tecidos, o fungo se
apresenta como elemento leveduriforme, de morfologia peculiar. Esta micose é de distribuição geográfica
muito limitada, restrita ao continente americano, nas regiões equatoriais úmidas, sendo endêmica na
bacia Amazônica, litoral norte da América do Sul, América Central e Caribe. Além do homem atinge
golfinhos do Caribe e costa da Flórida. O habitat de L. loboi em natureza é desconhecido.

Micose - A lobomicose se manifesta como lesões nodulares ou queloidiformes, isoladas ou confluentes,


por vezes cobrindo larga área. Mais raramente, as lesões são maculosas ou gomóides.

Fungo - Aspecto parasitário - Em cortes de tecido e, excepcionalmente, em exsudato, L. loboi é visto


como elementos arredondados ou esféricos, de tamanho mais ou menos uniforme (8 a 12 m de
diâmetro) e paredes espessas. Brotam unipolarmente e, como podem ficar unidos por ponte
citoplasmática, formam cadeias. Raramente podem ser observados brotamentos duplo e/ou triplo. No
exsudato, em potassa, ou em cortes histológicos corados ao Grocott, é possível observar-se a forma
característica do fungo: elemento arredondado, esférico, apresentando num polo um mamelão e, no polo
oposto, pequena depressão cicatricial.

Aspecto em cultivo - O cultivo de L. loboi ainda não foi obtido.

Revisão taxonômica - Recentes estudos de biologia molecular constataram que Loboa Loboi,
nome provisório aceito para o agente da lobomicose, é filogeneticamente relacionado a outros fungos
patogênicos dimórficos agentes de micoses sistêmicas, dentro da classe Onygenales, ao lado de
Paracoccidioides brasiliensis, Ajellomyces dermatitidis (Blastomyces dermatitidis), Ajellomyces
Capsulatum (Histoplasma capsulatum) e Emmonsia parva. Interessantíssima foi a constatação da sua
maior proximidade filogenética com P. brasiliensis, reforçando opiniões muito antigas sobre a
similaridade morfológica entre ambos os agentes, a ponto de postular o nome de Paracoccidioides loboi
para este agente. Dentro desta nova visão, tem-se como muito provável L. loboi ser um fungo dimórfico
apresentando uma fase filamentosa saprofítica, ainda desconhecida. [Mendoza L, Ajello L & Taylor JW.
The taxonomic status of Lacazia loboi and Rhinosporidium seeberi has been finally resolved with the use
of molecular tools. Rev. Iberoam. Micol., 18: 95-98, 2001]

15
ENTOMOFTORAMICOSE SUBCUTÂNEA
(Sinonímia: zigomicose subcutânea, ficomicose subcutânea, rinoentomoftoramicose, basidiobolomicose)

Dois zigomicetos pertencentes à ordem Entomophthorales, são os agentes desta micose:


Basidiobolus ranarum (=B. haptosporus) e Conidiobolus coronatus. Nos cortes histológicos, ambos se
apresentam como hifas largas, ocasionalmente septadas, envolvidas por uma bainha eosinofílica. Os dois
fungos vivem em matéria vegetal em decomposição; B. ranarum tem sido isolado do intestino de répteis.
No Brasil, a micose ocorre na metade norte, onde os casos têm sido descritos cada vez mais
freqüentemente.

Micose - A infecção por B. ranarum se manifesta como tumefação subcutânea, localizada no tronco,
nádegas ou parte proximal dos membros. É massa dura, de bordos bem delimitados, móvel sobre os
planos profundos, coberta por pele normal e livre. Ocasionalmente esta pele apresenta-se alterada,
eritematosa e aderida à massa. A invasão da cavidade abdominal e torácica, por extensão da massa
tumoral subcutânea, tem sido relatada. As lesões por C. coronatus iniciam como infiltração da mucosa
nasal. Daí ela se estende para os tecidos adjacentes: seios paranasais, dorso do nariz, lábio superior e
face. A tumefação, coberta por pele eritematosa, tem consistência dura e apresenta continuidade com os
tecidos subjacentes.

Fungo - Aspecto parasitário - Nos cortes histológicos corados à H&E os dois fungos se apresentam com
aspectos idênticos, que é comum às Entomophthoraceae patógenas. São fragmentos de hifas largas (8 a
10 m de diâmetro), de paredes finas e hialinas, ocasionalmente septadas ou ramificadas. As hifas se
evidenciam muito bem porque estão envoltas por bainha de material eosinofílico granuloso, com 2 a 6
m de espessura (fenômeno de Splendore-Hoepli).

Aspecto em cultivo - Ambos os fungos crescem rapidamente em Sabouraud-glicose 2%. B.


ranarum forma colônia plana, sulcada, de consistência cérea; microscopicamente os numerosos
zigósporos de 20 a 50 m de diâmetro, de parede espessa, apresentando lateralmente duas projeções
unidas em bico, caracterizam o fungo; esporangíolos também são vistos. C. coronatus forma colônia
glabrosa, de cor bege clara, posteriormente coberta por curto micélio aéreo; microscopicamente se
caracteriza pela presença de numerosos esporangíolos de 25 a 45 m de diâmetro, contendo um único
esporo esférico, com uma papila proeminente. Libertos no substrato, os esporangíolos germinam,
podendo duplicar-se. Esporos ornamentados de vilosidades (dando aspecto em coroa, daí o nome
coronatus) também podem ser vistos.

ESPOROTRICOSE
A esporotricose tem como agente Sporothrix schenckii, fungo dimórfico que nos tecidos se
apresenta como elementos leveduriformes, pequenos, com brotamento único de forma peculiar. S.
schenckii vive em natureza, geralmente associado a vegetais; por isso, usualmente é inoculado na pele ou
tecido subcutâneo, determinando lesão subcutânea. Ocasionalmente o fungo pode ser inalado,
determinando, então, a forma sistêmica de esporotricose (ver micoses sistêmicas). É a micose
subcutânea mais freqüente no Brasil, ocorrendo em todo o território nacional.

Micose - A lesão inicial da esporotricose é uma pápula ou nódulo que surge no ponto da inoculação,
usualmente localizado nos membros. Deste local o fungo pode propagar-se por contigüidade,
determinando uma lesão circunscrita (forma fixa), ou por via linfática, produzindo uma série linear de

16
lesões (forma linfocutânea). Nas formas fixas, as lesões podem ser similares a uma foliculite ou se
apresentarem com aspecto acneiforme, ulceroso, gomoso, verrucoso ou papilomatoso. Na forma
linfocutânea, nota-se, a partir da lesão inicial ulcerada, o aparecimento de nódulos em número variável,
sobre o trajeto de um linfático superficial; os nódulos amolecem e se rompem, drenando pus. Lesões
subcutâneas generalizadas ou lesões mucosas ocorrem raramente.

Fungo - Aspecto parasitário - Os elementos de S. schenckii, no pus ou nos tecidos, além de pequenos,
são escassos, por isso de difícil observação ao microscópio, mesmo quando examinados em esfregaços
corados ao Giemsa. No entanto, tem sido assinalado a verificação de corpos asteróides, em gota espessa
de pus montado em potassa a 10%; elementos extracelulares de forma navicular ou em charuto, medindo
2 a 4 x 3 a 6 m, com brotamento claviforme característico ou numerosos elementos redondos, com 4 a 8
m de diâmetro, no interior de macrófagos, em esfregaços de pus corados ao Giemsa. Nos cortes corados
ao Grocott, S. schenckii usualmente passa despercebido, porém, em certos casos são numerosos e
facilmente visualizados, aparecendo como elementos globulosos, de tamanho variado, alguns com típico
brotamento claviforme alongado e único. Raramente podem ser observados brotamentos duplo e/ou
triplo.

Aspecto em cultivo - S. schenckii é fungo dimórfico e suas duas fases, filamentosa e


leveduriforme, podem ser obtidas em cultivo, o que é útil para identifica-lo. A fase filamentosa é obtida
em Sabouraud-glicose 2% adicionado de cloranfenicol e cicloheximida, pela semeadura do pus e
incubação a 25C; aos 3 a 5 dias, surgem colônias esteliformes e brancas; ao crescerem tornam-se
membranosas e sulcadas, com coloração variando do branco ao negro. Microscopicamente estas colônias
compõem-se de trama de hifas hialinas delicadas, medindo 2 m ou menos de diâmetro, septadas e
ramificadas; os conídios nascem isolados ou em grupos dispostos como pétalas de flor, na extremidade
de conidióforos; estes conídios são piriformes, medem 2 a 3 x 3 a 6 m; nas colônias mais velhas vêem-
se conídios triangulares, de parede espessa e de cor castanha. A fase leveduriforme é obtida em ágar
infuso de cérebro-coração, enriquecido com sangue, incubado a 37C; as colônias são brancas e
cremosas; compõem-se de elementos leveduriformes de forma navicular, em charuto ou globulosos,
alguns dos quais com brotamento claviforme alongado.

CROMOBLASTOMICOSE
(Sinonímia: micose de Lane e Pedroso, cromomicose, dermatite verrucosa)

Esta micose se caracteriza pelo aspecto parasitário de seus agentes: o elemento ou corpo (=talo)
muriforme. Cinco são os agentes clássicos de cromoblastomicose: Phialophora verrucosa, Fonsecaea
pedrosoi, F. compacta, Cladosporium carrionii e Rhinocladiella aquaspersa. Recentemente um sexto
agente, Exophiala jeanselmei, tem sido relatado em várias partes do mundo. A micose ocorre
endemicamente em todo Brasil, onde tem como agente usual F. pedrosoi. Porém, já foram assinalados
casos esporádicos por P. verrucosa, R. aquaspersa e E. jeanselmei.

Micose - Usualmente as lesões de cromoblastomicose têm localização unilateral e nos membros


inferiores. A lesão inicial é pápula ou nódulo que se ulcera e se estende por contigüidade, por meses ou
anos, assumindo dois tipos clínicos: tumoral e em placa. As formas tumorais se constituem de nódulos
duros, secos, de superfície lisa ou verrucosa, por vezes cobrindo grandes áreas; à pressão das lesões
exsuda secreção caseosa ou purulenta; diminutos microabscessos podem ser vistos no bordo de
crescimento da lesão. As lesões em placa resultam do crescimento excêntrico da lesão inicial; ela se
estende, freqüentemente, deixando uma parte central cicatricial, coberta de pele lisa e brilhante, enquanto

17
os bordos são pouco elevados, escamosos ou finamente verrucosos. Lesões psoriasiformes, tuberculóides,
sifilóides ou micetomatóides foram descritas.

Fungo - Aspecto parasitário - No pus, examinado em gota de KOH a 10%, ou em cortes histológicos
corados à H&E, qualquer dos agentes da micose se apresenta como grupos de estruturas globosas de 10 a
12 m de diâmetro, com parede acastanhada espessa. Há elementos não septados, unisseptados, bem
como outros septados em dois planos. Este último elemento, denominado corpo ou talo muriforme,
caracteriza a micose.

Aspecto em cultivo - As colônias têm crescimento relativamente lento em Sabouraud-glicose


2%, com ou sem adição de cloranfenicol e cicloheximida. São aveludadas ou algodoadas e de cor
variando do marron-escuro ao negro. Macroscopicamente todas as espécies são indistingüíveis. A
diferenciação das espécies de agentes é feita com base na morfologia do aparelho conidiano. Para isto,
são feitos cultivos em lâmina, em meio de lactrimel. Há três tipos de aparelho conidiano: fialófora,
rinocladiela e cladospório (ver parte geral). As cinco espécies clássicas se distinguem porque P.
verrucosa apresenta apenas frutificações tipo fialófora, nas quais o colarete é saliente e mais escuro; R.
aquaspersa produz somente frutificações tipo rinocladiela; C. carrionii se caracteriza pelo aparelho
conidiano tipo cladospório com cadeias de conídios longas e flexuosas, fiálides podem surgir de conídios
da cadeia; em F. pedrosoi predomina a frutificação tipo cladospório, com cadeias curtas e pouco
numerosas de conídios, mais raramente aparelho conidiano tipo fialófora e rinocladiela; F. compacta
possue aparelho conidiano tipo cladospório, com cadeias curtas, porém numerosas, de conídios,
agrupados de maneira compacta. E. jeanselmei será descrita junto com os agentes de eumicetoma.

MICETOMA
(Sinonímia: Maduromicose, pé de Madura, micetoma eumicótico)

Micetoma é nome coletivo de infecções subcutâneas, adquiridas por inoculação traumática,


produzidas por algumas espécies de fungos ou de actinomicetos aeróbios, os quais, nos tecidos, se
organizam em um agregado de hifas fúngicas ou filamentos bacterianos, denominados grãos. Por isso,
distinguem-se o micetoma eumicótico e o micetoma actinomicótico; o primeiro tem como agente um
fungo, o segundo um actinomiceto. A literatura médica registra muita confusão acerca do termo
micetoma, empregado para alguns quadros não relacionados; entretanto, o conceito deve ser reservado à
definição acima. Para facilitar a compreensão sobre as entidades clínicas que apresentam grãos no pus
das lesões apresentamos o Quadro 1.

Quadro 1 - Entidades clínicas que se caracterizam por apresentarem GRÃOS no pus das lesões.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
MICETOMA: Infecção Subcutânea; inóculo traumático; Fonte de infecção: Exógena
Causada por: a) Bactérias filamentosas aeróbias (Micetoma Actinomicótico)
b) Fungos filamentosos (Micetoma Eumicótico)

ACTINOMICOSE: Infecção Profunda (Cérvico-Facial, Pulmonar, Abdominal, Pélvica, outras


localizações); Fonte de infecção: Endógena
Causada por: Bactérias filamentosas anaeróbias

BOTRIOMICOSE: Infecção Subcutânea, Pulmonar, Hepática, profunda, outras;


Causada por: Cocos (Staphylococcus aureus e outros), Bacilos (Escherichia coli e outros)

18
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Os grãos, de tamanho variado, podem ter coloração branca ou branco-amarelado, vermelha ou


negra. Os agentes de micetoma e a respectiva coloração dos grãos constam da Tabela 2.
Os agentes de micetoma vivem em saprofitismo na natureza, associados a vegetais, nutrindo-se
de tecidos vegetais em decomposição ou fitopatógenos. Algumas espécies têm distribuição mundial,
outras limitada. A infecção é mais comum nas zonas tropicais e subtropicais.
No Brasil, os micetomas devem ser muito mais freqüentes do que faz supor a casuística
publicada. Mais comumente causadas por espécies de Nocardia, entre as quais N. brasiliensis parece ser
a mais freqüente, tal como nos demais países da América. Mais de uma dúzia de casos de micetoma por
A. madurae, três por A. pelletieri e dois por S. somaliensis constam da literatura. Os micetomas
eumicóticos têm sido relatados menos freqüentemente: onze casos por P. boydii (S. apiospermum), três
por M. mycetomatis, dois M. grisea, dois por A. falciforme, um por P. romeroi, um por A. kiliense e
outro por A. recifei.

Tabela 2. Principais agentes de micetoma e respectiva coloração dos grãos que produzem.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-Grãos actinomicéticos de cor vermelha
Actinomadura pelletieri*

-Grãos actinomicéticos de coloração branca


Actinomadura madurae*
Nocardia brasiliensis*
Nocardia asteroides
Nocardia otitidis caviarum (=N. caviae)
Streptomyces somaliensis*

-Grãos eumicóticos de coloração branca


Acremonium falciforme*
Acremonium kiliense*
Acremonium recifei*
Pseudallescheria boydii* (Scedosporium apiospermum*)
Neotestudina rosatii
Fusarium moniliforme
Aspergillus nidulans (Eumericella nidulans)

-Grãos eumicóticos de coloração negra


Madurella mycetomatis*
Madurella grisea*
Pyrenochaeta romeroi*
Exophiala jeanselmei*
Leptosphaeria senegalensis
Leptosphaeria tompkinsii
Curvularia lunata
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
(*) Registrados no Brasil como agentes de micetoma

Micose - Clinicamente constituído, o micetoma se apresenta como tumefação granulomatosa,


no seio da qual se formam abscessos que se abrem na pele por trajetos fistulosos, drenando pus com
grãos. Usualmente localizada nos membros, a infecção se inicia como nódulo ou abscesso. A progressão

19
se faz por contigüidade, resultando tumefação que aumenta lentamente de volume. Na pele que recobre o
tumor, surgem nódulos que amolecem e supuram. A micose evolue com períodos de remissão e recidiva,
até transformar-se em enorme tumoração, deformando o membro. Notam-se então nódulos, fístulas e
cicatrizes indeléveis. Há dor nos períodos de recidiva. A infecção pode se estender em profundidade,
comprometendo músculos, fascias, ossos e tendões. Os grãos eliminados podem ter cor vermelha, branca
ou negra.

Fungo - Aspecto parasitário - Nos tecidos, os agentes de micetoma se apresentam como grãos, cujas
características de cor, tamanho, consistência ou textura permitem uma identificação precisa ou
aproximada do agente etiológico. Para isso, o grão deve ser observado a olho nu, ao microscópio em
montagem em KOH e, se necessário, após esmagamento e distenção em lâmina, corado ao Gram. Como
usualmente é feita uma biópsia, os cortes histológicos são examinados após coloração à H&E e, se
necessário, corados ao Gram-Brown-Brenn e Kinyoun para tecido.

Macroscopicamente o grão de A. pelletieri é reconhecido por sua cor vermelho-coral; grãos


grandes, com 2 mm ou mais, fazem presumir A. madurae, quando brancos, e M. mycetomatis quando a
cor é chocolate.

Microscopicamente, em potassa, o grão de A. pelletieri é reconhecido por sua cor vermelha; o


grão de A. madurae porque apresenta franja periférica longa de 20 a 50 m; o grão de M. mycetomatis
porque é formado de massa de cimento cor marron envolvendo hifas e elementos esféricos hialinos; o
grão de S. somaliensis por sua dureza, que impede o esmagamento; nos demais grãos fúngicos apenas
são visualizadas hifas e elementos esféricos, hialinos ou fuliginosos, que os compõem; nos demais grãos
de actinomicetos (Nocardia), podem ser observadas clavas ou não e, após esmagamento e dissociação
com agulha, os filamentos.

Cortes histológicos corados à H&E permitem a identificação precisa dos grãos de A. pelletieri
(pelos grãos ovalados ou fraturados, de cor violácea homogênea e sem clavas), A. madurae (pelos grãos
grandes, até 2 mm, esféricos ou lobulados, com área central eosinofílica, zona média de trama de
filamentos basófilos, circundada, por sua vez, de coroa de franjas eosinofílicas de cerca de 20 a 50 m de
espessura), S. somaliensis (pelo grão esférico ou ovalado, usualmente fraturado, formado de matriz
compacta de material amorfo pouco corado[cimento]) e M. mycetomatis (pelo grão grande, 2 mm ou
mais, composto de hifas e elementos esféricos hialinos, embebidos em cimento de cor chocolate). M.
grisea, P. romeroi e
E. jeanselmei produzem grãos negros idênticos: esféricos ou arciformes, com parte central mais clara e
periferia escura, formada de densa trama de hifas e elementos esféricos de paredes fuliginosas. P. boydii
(S. apiospermum) e as três espécies de Acremonium também produzem grãos semelhantes: brancos,
esféricos ou lobulados, centro desabitado e periferia formada por trama de hifas de 3 a 5 m de diâmetro
e elementos esféricos de 10 a 20 m. As três espécies de Nocardia produzem grãos idênticos: pequenos,
ovais ou lobulados, homogeneamente corados pela eosina, podem ou não ter clavas periféricas; quando
corados ao Gram-Brown-Brenn, os filamentos que compõem o grão se tornam evidentes.

Aspecto em cultivo - Grãos, de preferência obtidos das partes profundas da biópsia, devem ser
lavados e esmagados antes da semeadura em Sabouraud-glicose 2% ou ágar extrato de lêvedo 5% e
incubados a 30 e 37C.

A identificação dos fungos é baseada nas características das colônias e na micromorfologia que
apresentam nos cultivos em lâmina em meio de lactrimel. M. mycetomatis produz colônia escura, com
crescimento ótimo a 37C; no micélio vêem-se clamidoconídios bem diferenciados, com 20 m de

20
diâmetro e, por vezes, fiálides. M. grisea e P. romeroi dão colônias escuras, com crescimento ótimo a
30C; no micélio estéril, quando presentes, os clamidoconídios são mal definidos. Tardiamente P.
romeroi produz picnídios. E. jeanselmei, inicialmente cresce como colônia de lêvedo negro, mais tarde
se cobre de micélio escuro; microscopicamente, nos cultivos em lâmina, observam-se os anelóforos,
diferenciados ou não. P. boydii (S. apiospermum) forma colônia algodoada e branca, escurecendo ao
envelhecer; microscopicamente vêem-se anelóforos portando um único conídio de base truncada,
medindo 6 x 9 m; por vezes, tardiamente, formam-se cleistotécios escuros. A. falciforme produz colônia
algodoada, branca com verso lilá; conidióforos com conídios em cabeça, nos cultivos em lâmina. A.
kiliense forma colônia glabra, creme a ocre; microscopicamente, os conidióforos com um único septo
basal são característicos. A. recifei se desenvolve como colônia creme, glabra; os conidióforos são
multisseptados e por vezes ramificados.
A identificação dos actinomicetos deve ser feita pelo estudo dos constituintes da parede celular
e por outras provas fisiológicas. Uma identificação provisória, mais rápida, pode ser feita para A.
pelletieri, A. madurae e S. somaliensis em base da micromorfologia e da cor das colônias, todas elas
glabras e sulcadas, respectivamente, cor vermelho-coral, rósea ou creme e esbranquiçada. Qualquer das
três espécies de Nocardia produz colônia glabra, sulcada e de cor alaranjada, por vezes coberta de induto
branco. A prova da decomposição da caseina permite identificação provisória rápida de N. brasiliensis,
assim como a decomposição da xantina identifica N. caviae; e N. asteroides não tem ação sobre estas
duas substâncias.

FEOHIFOMICOSE SUBCUTÂNEA
(Sinonímia: cistos, abscessos ou granulomas subcutâneos por fungos negros, feoesporotricose)

O termo feohifomicose (ou hialohifomicose) designa coletivamente micoses causadas por


fungos de paredes fuliginosas (ou hialinas) que, nos tecidos do hospedeiro, se apresentam como hifas
septadas, hifas torulóides e elementos leveduriformes. De acordo com a localização da lesão, a patogenia
e o caráter primário ou secundário da micose, ela pode ser classificada em feohifomicose (ou
hialohifomicose) superficial, cutânea, subcutânea ou oportunística.

A feohifomicose subcutânea é determinada por fungos patogênicos negros, usualmente


inoculados na pele por ocasião de traumatismo com um fragmento vegetal. O agente mais freqüente é
Exophiala jeanselmei (também agente de micetoma e de cromoblastomicose). Outras espécies, como E.
spinifera, E. moniliae, Phialophora richardsiae, P. parasitica, P. repens, P. hoffmani, P. bubakii, P.
verrucosa, Wangiella dermatitidis, além de muitas outras, menos freqüentes, podem causar o síndrome.
Todos os agentes de feohifomicose subcutânea são saprófitas na natureza, associados a vegetais. No
Brasil, a maioria dos casos foi diagnosticada em bases histológicas, conseqüentemente sem identificação
do agente. Apenas alguns casos brasileiros tem a espécie causadora identificada: P. bubakii,
Cladosporium elatum, E. spinifera.

Micose - No ponto de inoculação do fungo forma-se um nódulo. O nódulo aumenta de volume, sofre
fusão purulenta na parte central, transformando-se em um abscesso encapsulado. Porém, têm sido
descritas lesões de feohifomicose de aspecto verrucoso, semelhantes a lesões de cromoblastomicose.

Fungo - Aspecto parasitário - No pus dos abscessos, em potassa a 10%, vêem-se hifas castanhas
septadas ou hifas torulóides, às vezes ramificadas. As hifas septadas podem ter paredes regulares ou não
e septação a espaços regulares ou não. Nos cortes histológicos da parede do abscesso ou de lesões
verrucosas, à H&E ou ao Grocott, vêem-se fragmentos de hifas regulares ou de aspecto torulóide, por

21
vezes com intumescimentos vesiculosos bizarros. Elementos esféricos de parede espessa, brotando,
também podem ser observados, e, mais raramente, elementos esféricos septados em um plano.

Aspecto em cultivo - Pus ou fragmentos de tecidos semeados em Sabouraud-glicose 2%, dão


crescimento a colônias algodoadas escuras, precedida por uma fase de lêvedo negro em Exophiala e
Wangiella. A identificação das espécies é feita pelo aparelho conidiano, conseqüentemente em cultivo
em lâmina, usando o meio de lactrimel. Os conidióforos (anelóforos, fiálides, etc.) e conídios permitem
identificar as espécies de Exophiala, Phialophora e outras.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, P.C. Rhinosporidium seeberi. Considerações sobre a morfologia, ciclo parasitário e posição
sistemática. Tese, Fac. Med. UFPA (Belém, Pará), 1958.

BAKER, R.D. Organ distribution and pathogenesis in the deep mycoses. In: Systemic mycoses (Ed. C. E. W.
Wolstenchole & R. Porter). J. & A. Churchill Ltd. London, 1968, pp 9-19.

BARUZZI, R.G., LACAZ, C.S. et al. História natural da doença de Jorge Lobo. Ocorrência entre os índios Caiabi
(Brasil Central). Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 21:302-338, 1979.

BITTENCOURT, A.L., LONDERO, A.T. et al. Occurrence of subcutaneous zygomycosis caused by Basidiobolus
haptosporus in Brazil. Mycopathologia, 18:101-104, 1979

CASTRO, R.M. & GOMPERTZ, O.F. Feohifomicose subcutânea por Cladosporium elatum. Relato de um caso.
An. bras. Dermatol., 59:235-237, 1984.

LACAZ, C.S. Distribuição geográfica dos micetomas no Brasil. An. bras. Dermatol., 56:167-172, 1981.

LONDERO, A.T. & RAMOS, C.D. Chromomycosis. A clinical and mycologic study of 35 cases observed in the
hinterland of Rio Grande do Sul, Brazil. Am. J. Trop. Med. Hyg., 25:132-135, 1976.

LONDERO, A.T. & RAMOS, C.D. Esporotricose. Estudo de 195 casos observados no interior do Rio Grande do
Sul. Rev. Assoc. Med. R. G. Sul, 24:104-106, 1980.

MACKINNON, J.E. Agentes de maduromicosis en la region neotropical. An. Fac. Med. (Montevideo), 48:453-
458, 1968.

MAGHOUB, E.S. Mycetomas caused by Curvularia lunata, Madurella grisea, Aspergillus nidulans and Nocardia
brasiliensis in Sudan. Sabouraudia, 11: 179-182, 1973.

MARIAT, F., DESTOMBES, P., et al. The mycetomas. Clinical features, pathology, etiology and epidemiology.
Contr. Microbiol. Immunol., 4:1-39, 1977.

MATSUMOTO, T., PADHYE, A.A., AJELLO, L. & STANDARD, P.G. Critical review of human isolates of
Wangiella dermatitidis. Mycologia, 76:232-249, 1984.

McGINNIS, M.R. Chromoblastomycosis and phaeohyphomycosis. New concepts, diagnosis and mycology. J. Am.
Acad. Dermatol., 8:1-6, 1980.

PADHYE, A.A., KAPLAN, W., et al. Subcutaneous phaeohyphomycosis caused by Exophiala spinifera.
Sabouraudia, 22:493-500, 1984.

22
PORTO, E., LACAZ, C.S., et al. Phialophora bubakii. Isolamento de abscesso subcutâneo, em transplantado renal.
Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, 21:106-109, 1979.

SCHELL, W.A. Medically important dematiaceous fungi. Synopsis of VI PAHO Conference on the Mycoses,
1983.

SILVA, J.F. Rinosporidiose. Tese mestrado, UFPE, 1980.

MICOSES SISTÊMICAS
As micoses sistêmicas se caracterizam porque: 1) são adquiridas por inalação de propágulos de
fungo dimórfico; 2) a lesão primária, conseqüentemente, é pulmonar e tem tendência à regressão
espontânea; 3) as lesões extrapulmonares resultam da disseminação hematogênica do fungo; 4) nos
tecidos, o agente etiológico é visto como uma esférula ou como elemento leveduriforme, uni ou
multibrotante. Raramente os agentes de micoses sistêmicas são implantados traumaticamente; quando
inoculados determinam lesπo granulomatosa circunscrita, com ou sem linfangite regional, que regride
espontaneamente.

Em zonas endêmicas as micoses sistêmicas usualmente são adquiridas na infância. Como


conseqüência da inalação de propágulos do fungo, a lesão primária é pulmonar, usualmente ela transcorre
assintomática; pode, porém, se manifestar por sintomas de infecção respiratória inespecífica. A lesão
pulmonar primária usualmente é regressiva, tende à cura, deixando lesões residuais ou quiescentes;
raramente tem caráter progressivo, determinando quadros graves. Por ocasião da primo-infecção há
sempre disseminação hematogênica; nos focos extrapulmonares as lesões são também usualmente
regressivas; porém, quando tiverem caráter progressivo, determinarão manifestações polimórficas, graves
e de decurso fatal. As lesões regressivas primárias ocorrem em indivíduos imunocompetentes, as
progressivas, em hospedeiros com grave defeito do sistema imunodefensivo. Tardiamente, nos adultos
(30 anos ou mais), lesões primárias quiescentes podem ser reativadas por imuno-depressão ou por doença
grave debilitante. As lesões de reativação podem se limitar ao pulmão ou serem extra-pulmonares,
podendo manifestar-se concomitantemente em vários órgãos ou sistemas. Essas lesões de reativação tem
evolução crônica e tendência progressiva.

Ao invadir os tecidos, os fungos desencadeiam resposta imunológica do hospedeiro, que pode


ser evidenciada por reação intradérmica (hipersensibilidade tardia/imunidade celular) e por provas
sorológicas (imunidade humoral), dentre as quais são comumente usadas a aglutinação de partículas de
látex sensibilizado, a difusão dupla em gel de ágar e a fixação do complemento. Uma reação intradérmica
positiva evidencia indiretamente que o indivíduo foi infectado, enquanto as provas sorológicas
geralmente indicam ou fornecem indícios de que há doença em atividade. As provas intradérmicas têm
sido usadas mais com finalidade epidemiológica; as provas sorológicas, úteis na triagem, têm valor
diagnóstico presuntivo e servem na avaliação prognóstica.

Quatro são as micoses sistêmicas clássicas, causadas por fungos dimórficos:


Coccidioidomicose, Paracoccidioidomicose, Blastomicose e Histoplasmose. Por terem uma patogenia
similar à destas micoses, serão tratadas conjuntamente a Criptococose e a Feohifomicose sistêmica por

23
Cladosporium bantianum; e, pela mesma razão, em anexo, a Nocardiose, infecção por actinomiceto
aeróbio.

O diagnóstico das micoses sistêmicas também deve se fundamentar na visualização do fungo


nos tecidos e no seu isolamento em cultivo. As reações sorológicas são úteis na triagem dos casos, pois
facilitam a seqüência das técnicas micológicas a serem usadas. Nas micoses sistêmicas pode haver o
acometimento de todo e qualquer órgão do hospedeiro, isolada ou conjuntamente. É óbvio, pois, que o
diagnóstico laboratorial será tanto mais fácil quanto maior for a acessibilidade do órgão à obtenção da
amostra para exame. Lesões da pele, das mucosas ou dos linfonodos superficiais permitem facilmente a
obtenção de exsudatos, pus ou aspirado, que serão examinados em KOH a 10% ou em esfregaços corados
ao Giemsa. Escarro é examinado diretamente em KOH a 10% ou no sedimento do centrifugado, após
homogeneização em solução de NaOH (soda) a 4% (ver parte técnica); pus de empiema pode ser
examinado diretamente em potassa. Sedimentos de lavado ou aspirado brônquico, líquido céfalo-
raquidiano, urina, líquido pleural, após a centrifugação, são examinados diretamente em KOH a 10% ou
em esfregaços corados ao Giemsa. Cortes histológicos de biópsia ou peça cirúrgica são corados à H&E,
ao Grocott e Mucicarmin de Mayer. Cultivos para isolamento podem ser obtidos em Sabouraud-glicose
2% (com e sem adição de cloranfenicol e cicloheximida), ágar extrato de lêvedo, incubados a 25C. Os
fungos, isolados na fase filamentosa, são identificados provocando-se a reversão à fase leveduriforme, o
que é obtido em ágar infuso de cérebro-coração (com ou sem a adição de 5% de sangue), incubados a
37C, ou por inoculação em animais de laboratório. Amostras atípicas de fungos podem ser identificadas
pela técnica de exo-antígenos, entre outros recursos mais sofisticados.

COCCIDIOIDOMICOSE
(Sinonímia: micose de Posadas-Wernicke, Granuloma coccidióidico, Febre do Vale de São Joaquim)

A coccidioidomicose tem como agente Coccidioides immitis, fungo que se apresenta em


parasitismo como uma esférula peculiar. C. immitis vive saprofiticamente no solo, em micro-nichos de
zonas semi-áridas ou semi-desérticas das Américas. A micose ocorre endemicamente nas regiões
sudoeste dos Estados Unidos, norte do México, vales áridos da Guatemala e Honduras, nordeste da
Colômbia, noroeste da Venezuela e na região do Chaco na Argentina, Paraguai e Bolívia. Dois casos
autóctones da micose haviam sido registrados no Brasil em 1978 e 1979, em pacientes provenientes do
Nordeste semi-árido. A partir de 1991 foram descritas várias microepidemias de coccidioidomicose
pulmonar aguda em indivíduos que exerceram atividade de caçar e desentocar tatus (Dasypus
novemcinctus), sobretudo nos estados do Piauí, Ceará e Maranhão. A infecção por C. immitis no Brasil já
foi demonstrada em humanos, cães e tatus e o fungo tem sido isolado de amostras de solo coletadas das
tocas de tatus que foram revolvidas antes do aparecimento da coccidioidomicose pulmonar aguda. Por
causa disso supõem-se que esta micose seja mais importante do que a literatura registrou até o momento
no Brasil. Wanke B, Lazera MS, Monteiro PCF, Lima FC, Leal MJS, Ferreira Filho PL,
Kaufman L, Pinner RW, Ajello L. Investigation of an outbreak of endemic coccidioidomycosis in
Brazil's northeastern state of Piauí with a review of the occurrence and distribution of Coccidioides
immitis in three other Brazilian states. Mycopathologia 148(2): 57-69, 1999. Eulálio KD, Macedo
RL,Cavalcanti MA, Martins LM, Lazera M, Wanke B. Coccidioides immitis isolated from armadillos
(Dasypus novemcinctus) in the state of Piauí, northeast Brazil. Mycopathologia 149(2): 57-61, 2000.

Micose - As manifestações clínicas da coccidioidomicose podem ser classificadas em três formas


clínicas: 1) pulmonar primária, assintomática ou sintomática; 2) pulmonar persistente, progressiva ou
benigna crônica; e 3) disseminada, multifocal ou unifocal.

24
Coccidioidomicose pulmonar primária - É comumente assintomática, em mais de 60% dos
indivíduos infectados. Tem na conversão da reação intradérmica à coccidioidina ou esferulina muitas
vezes a indicação diagnóstica. Na forma pulmonar primária, de tipo sintomático, os sintomas surgem aos
10 a 16 dias após a exposição ao fungo. Dependendo da carga infectante, os pacientes apresentam
sintomatologia que varia de um estado gripal até o de grave infecção respiratória inespecífica, com febre,
dor torácica, tosse com ou sem expectoração, acompanhadas de sintomas gerais ou manifestações
alérgicas. Radiologicamente, o pulmão pode se apresentar normal, revelar apenas espessamento hilar ou
extensos infiltrados pulmonares, com ou sem linfadenomegalias hilares ou derrame pleural. Em um a
dois meses, a doença regride espontaneamente, porém em menos de 1,0 % dos pacientes há tendência à
disseminação; a presença de linfadenomegalias mediastinais ou paratraqueais é um indício de
disseminação. Surtos epidêmicos, da forma pulmonar primária sintomática ocorrem em grupos de
arqueólogos ou visitantes de áreas endêmicas.

Coccidioidomicose pulmonar persistente - Prolongamento da primo-infecção, cujos sintomas


não regridem após oito semanas. Pode apresentar-se sob dois tipos: i) crônico benigno e ii) progressivo.
A modalidade crônica benigna se evidencia por lesões pulmonares nodulares ou cavitárias, geralmente
achado radiológico casual. A modalidade progressiva se apresenta como doença pulmonar fibro-cavitária
ou como disseminação miliar pulmonar, com sintomatologia e sinais radiológicos inespecíficos.

Coccidioidomicose disseminada - Tanto pode ser seqüência da primo-infecção, como o


resultado de reativação de lesão latente. No primeiro caso, transcorre geralmente com curso agudo,
rapidamente fatal e com acometimento de vários órgãos e sistemas; porém, pode ter curso protraído, com
acometimento dos pulmões e outros órgãos, com períodos de remissão e de recrudescência. A forma
disseminada pode se apresentar como manifestações focais, dentre estas a meningítica, lesões cutâneas,
ósseas ou articulares e do sistema gênito-urinário, isoladamente ou em conjunto. Os quadros clínicos são
inespecíficos.

Fungo - Aspecto parasitário - Nas preparações em potassa ou em cortes histológicos, C. immitis


apresenta-se como elementos esféricos, não brotantes, de paredes espessas, variando em tamanho de 5 a
60 m de diâmetro. Estes elementos, quando maduros, denominam-se esférulas e estão repletas de
pequenos endósporos, de 4 a 5 m de diâmetro.

Aspecto em cultivo - Em Sabouraud-glicose 2% com cloranfenicol e cicloheximida, as


colônias são de crescimento rápido, cujo aspecto membranoso inicial rapidamente se transforma em
algodoado, a princípio de cor branca, passando a marron-claro em alguns dias. Microscopicamente,
observam-se hifas septadas e ramificadas de 2 a 4 m de diâmetro; ao envelhecerem, as hifas mostram
alternadamente, espaços interseptais vazios e cheios de citoplasma. Nas hifas maduras, os espaços cheios
de citoplasma têm suas paredes abauladas e espessadas, assumindo o aspecto de barril (2,5 a 4 x 3 a 6
m). Estes elementos, os artroconídios, são liberados apelo rompimento da parede dos espaços vazios. A
transformação da fase filamentosa em leveduriforme pode ser obtida em meio de Converse em ambiente
rico de CO2 ou por inoculação em animais.

PARACOCCIDIOIDOMICOSE
(Sinonímia: micose de Lutz, micose de Lutz-Splendore-Almeida, blastomicose sul-americana,
granuloma paracoccidióidico)

25
A paracoccidioidomicose é micose sistêmica causada pelo fungo dimórfico Paracoccidioides
brasiliensis, que apresenta elemento multibrotante peculiar na fase parasitária do seu agente. P.
brasiliensis já foi isolado do solo, porém seu nicho ecológico e seu modo de viver saprofiticamente ainda
são desconhecidos. A micose é endêmica na América Latina, com exceção de poucos países. No Brasil,
as áreas de maior prevalência da micose estão nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e
Goiás. A infecção por P. brasiliensis ocorre geralmente nas primeiras duas décadas da vida, com igual
prevalência nos dois sexos, da mesma maneira que nas formas graves da doença em crianças. A micose,
decorrente da inalação do fungo, tem sido descrita em crianças a partir dos 3 anos, idade em que iniciam
a exploração da natureza. As formas de reativação da micose predominam no adulto, em homens, de
maneira idêntica às demais micoses sistêmicas; não mostra preferência por raça, porém a doença tem
curso mais grave em imigrantes ou não nativos de regiões endêmicas. A micose é mais freqüente em
pessoas que mantêm contato direto com a natureza (agricultores). Ainda não foi observado surto
epidêmico, nem a ocorrência da micose em animais, exceto em tatus (Dasypus novemcinctus)
naturalmente infectados, recentemente descrito.

Micose - As manifestações clínicas da paracoccidioidomicose resultam da inalação de elementos


infectantes do fungo ou da reativação de lesão primária quiescente. Elas podem ser divididas em dois
grupos: 1) forma primária pulmonar regressiva, pulmonar primária progressiva e disseminada
grave de tipo juvenil, quando resultam da inalação do fungo e das manifestações decorrentes; e 2)
formas pulmonar progressiva crônica e forma disseminada de tipo adulto, se resultam da reativação
de lesão quiescente.

Paracoccidioidomicose pulmonar primária regressiva - Pode ser sintomática ou


assintomática. Quando assintomática, pode ser revelada pela positividade à prova intradérmica com
paracoccidioidina que em certas regiões chega a 62,6 até 80,5% dos indivíduos com menos de 20 anos de
idade. Quando sintomática, presume-se que o quadro clínico-radiológico seja semelhante ao da
histoplasmose primária aguda. No único caso relatado, a crianτa apresentava febrícula, tosse e
emagrecimento e o quadro radiológico revelava infiltrados alveolares dos campos pulmonares médios e
linfadenomegalias hilares bilaterais.

Paracoccidioidomicose pulmonar primária progressiva grave - Jovem de 15 anos de idade,


apresentando um quadro de infecção respiratória aguda, com agravamento progressivo e,
radiologicamente, sinais de broncopneumonia basal e derrame pleural bilaterais, expressa um exemplo
deste tipo clínico.

Paracoccidioidomicose disseminada grave, tipo juvenil - Seqüência da primo-infecção, esta


forma ocorre em crianças e jovens. Por vezes, inicia com sintomas de infecção respiratória, porém, no
curso da doença, as manifestações mais óbvias são as do sistema retículo-endotelial. Em menores de 10
anos de idade, os sintomas compõem um quadro de abdomen agudo, devido aos sinais gerais de infecção
e às volumosas linfadenomegalias mesentéricas; crianças de 10 a 12 anos apresentam quadros
septicêmicos e salientes manifestações ósseas (foco único ou múltiplo); entre 12 e 14 anos, o quadro
clínico simula o de uma septicemia ou linfoma, pelo intenso comprometimento dos linfonodos
superficiais. É presumível que as chamadas formas linfático-abdominais dos jovens que vivem em áreas
de colonização recente no Brasil possam ser incluídas nesta forma clínica.

Paracoccidioidomicose pulmonar progressiva, tipo adulto - Clinicamente se manifesta com


sintomas de infecção respiratória inespecífica, com curso subagudo ou crônico, com ou sem remissão e
recaídas. Os quadros radiológicos também são inespecíficos, só tardiamente sugestivos, quando as lesões
são bilaterais e ocupam a metade inferior dos pulmões.

26
Paracoccidioidomicose disseminada, tipo adulto - Resulta da reativação de lesão quiescente,
com generalização por via hematogênica. Ocorre em adultos, usualmente homens de mais de 30 anos.
Clinicamente as manifestações podem se limitar a um órgão, tipo unifocal, ou acometer muitos órgãos ou
sistemas, tipo multifocal.

O comprometimento dos órgãos pode ser simultâneo ou em seqüência a intervalos variáveis, o


que explica o polimorfismo clínico. As lesões mais conhecidas são as que se situam na pele, mucosas e
linfonodos superficiais, explicável pela acessibilidade ao exame clínico e à tomada de material para
exames.

Fungo - No pus, exsudato ou líquidos orgânicos, P. brasiliensis é visto como elementos esféricos, de
parede birrefringente, medindo de 5 a 10 até 40 m ou mais de diâmetro, apresentando um ou mais
brotamentos, que se ligam à célula-mãe por fina ponte citoplasmática. Nos cortes histológicos à H&E, o
multibrotamento característico nem sempre pode ser observado, porém em cortes corados ao Grocott,
este modo de multiplicação é bem evidente. Com esta coloração é possível observar-se elementos com
dezenas de brotamentos de 1 a 2 m de diâmetro, surgindo em toda a periferia do fungo.

Aspecto em cultivo - De crescimento muito lento, as colônias filamentosas evidenciam-se 20


dias ou mais após a semeadura em meio de Sabouraud-glicose 2%. Aveludadas ou algodoadas, são
compostas de uma trama de hifas e por vezes clamidoconídios. A fase leveduriforme é facilmente obtida,
bastando incubar o cultivo a 35C; as colônias, então, de consistência cremosa, de cor creme-clara, são
compostas de conglomerados de elementos esféricos grandes e multibrotantes, com número variável de
brotos em elementos leveduriformes de tamanho muito variável.

BLASTOMICOSE
(Sinonímia: micose de Gilchrist, blastomicose norte-americana, dermatite blastomicótica)

A blastomicose é micose sistêmica causada por Blastomyces dermatitidis, forma anamórfica do


ascomiceto Ajellomyces dermatitidis que nos tecidos se apresenta como um fungo leveduriforme
unibrotante peculiar. B. dermatitidis vive saprofiticamente no solo, em micro-nichos associados ao
habitat de castores; porém, no geral, ainda não bem conhecidos. A micose é endêmica no meio oeste e
sudeste dos Estados Unidos e sudeste do Canadá. Casos autóctones foram relatados em Israel, no
Extremo Oriente, Oriente Médio, Índia e em dezenas de países da África, continente onde está presente,
com casos esporádicos, em quase todas as regiões. Várias microepidemias foram descritas nos Estados
Unidos.

Micose - As manifestações clínicas da blastomicose podem ser classificadas em: 1) forma pulmonar
primária assintomática; 2) forma pulmonar primária sintomática; e 3) forma disseminada.

A blastomicose pulmonar primária assintomática tem sido comprovada nas microepidemias.


A blastomicose pulmonar primária sintomática manifesta-se clinicamente com sintomas de infecção
respiratória e quadro radiológico similar ao da tuberculose ou histoplasmose primárias. Ela pode evoluir
de três maneiras: regressivamente, progressivamente ou com início insidioso. No primeiro tipo, os
sintomas e sinais regridem espontaneamente, após algum tempo, e a cura se processa sem seqüelas. No
segundo tipo, progressivo ou pneumônico, a infecção toma curso agudo, evoluindo para uma pneumonia
lobar ou broncopneumonia, com ou sem derrame pleural ou lesão extrapulmonar; pode também ter curso
crônico, com sinais e sintomas de processo pulmonar supurativo ou cavitário. No terceiro tipo, de início
insidioso, enquanto os sintomas da infecção respiratória inicial mostram tendência à regressão

27
espontânea, se produz disseminação hematogênica do fungo, provocando lesões extrapulmonares, em
especial, com localização na pele, ossos ou outros órgãos.

Blastomicose disseminada - Pode ter curso agudo e caráter grave, pelo acometimento de vários
órgãos ou sistemas. A sintomatologia é inespecífica e com quadro clínico polimórfico. Pode também
transcorrer com curso crônico e acometimento limitado a um órgão, prevalecendo as lesões da pele, dos
ossos ou do sistema gênito-urinário.

Fungo - Aspecto parasitário - Nos espécimes clínicos B. dermatitidis apresenta-se como elementos
esféricos, de parede duplamente refrátil, tamanho mais ou menos uniforme de 8 a 15 m de diâmetro,
multiplicando-se por um só brotamento, no qual o blastoconídio liga-se ao elemento mãe por uma base
larga, um septo.

Aspecto em cultivo - Em Sabouraud-glicose 2%, acrescido de cloranfenicol e cicloheximida, a


25C, a colônia é de crescimento rápido, algodoada e branca. Às vezes, formam-se colônias glabras, de
cor marron-claro e de crescimento mais lento. Microscopicamente compõe-se de uma trama de hifas
hialinas de 2 a 3 m; conidióforos curtos ou longos suportam um conídio esférico ou piriforme de 2 a 10
m de diâmetro. Nos cultivos em ágar infuso de cérebro-coração incubados a 37C desenvolvem-se
colônias leveduriformes, compostas de elementos unibrotantes, semelhantes aos da fase parasitária.

HISTOPLASMOSE
(Sinonímia: histoplasmose capsulata, micose de Darling, histoplasmose africana, citomicose retículo-
endotelial)

A histoplasmose é uma entidade micológica dupla, causada por duas variedades de um mesmo
fungo: Histoplasma capsulatum var. capsulatum e Histoplasma capsulatum var. duboisii. Ambas as
variedades têm uma só forma teleomórfica, o ascomiceto denominado Ajellomyces capsulatum. As duas
entidade micológicas são a histoplasmose capsulata ou clássica, e a histoplasmose duboisi ou
africana.

A histoplasmose capsulata ou clássica, causada pela variedade capsulatum, se caracteriza


pelas formas teciduais do parasita: pequenos elementos leveduriformes, unibrotantes, medindo 2 a 3 x 3 a
5 m e de localização predominantemente intracelular. A histoplasmose duboisi ou africana é causada
pela variedade duboisii, reconhecida por elementos leveduriformes ovalados, grandes, medindo 8 a 15
m, com paredes moderadamente espessas e de localização extracelular, nos tecidos. Em ambas as
variedades o brotamento único se faz por estreito istmo.

Histoplasmose capsulata - A histoplasmose capsulata ou clássica é micose cosmopolita. Na parte


central dos Estados Unidos e em certas regiões da América Latina estão as zonas de maior endemicidade,
onde também são comuns os surtos epidêmicos. H. capsulatum var. capsulatum é saprófita em natureza.
O fungo tem sido isolado com facilidade de locais em que o solo está enriquecido com excretas de
galinhas, pássaros e morcegos. Dos vários animais suscetíveis à infecção, o morcego serve também como
disseminador do fungo em natureza, devido ao intenso parasitismo das células de sua mucosa intestinal.
No Brasil, a infecção parece ser mais prevalente no norte, decrescendo para os estados do sul. É, no
entanto, infecção de distribuição focal, encontrando-se áreas limitadas com 90% ou mais, de reatores
positivos. Várias microepidemias de histoplasmose, originadas em grutas e galinheiros, têm sido
relatadas. As publicações sobre as formas pulmonares do adulto e disseminadas uni ou multifocais da
histoplasmose não dão idéia da real magnitude do problema no país, pois a ocorrência da micose, só em

28
ambulatórios de pneumologia e em hospitais de doenças torácicas, chega respectivamente a 0,5 e 0,85%
dos pacientes.

Micose - Três são as formas clínicas principais em que se apresenta a doenτa: 1) pulmonar primária ou
pulmonar de reinfecção exógena; 2) disseminada; e 3) pulmonar crônica. As formas pulmonar
primária e pulmonar de reinfecção exógena ocorrem em hospedeiros normais; as formas disseminadas,
em indivíduos imunodeficientes; e a forma pulmonar crônica, em pacientes com deficiência estrutural,
anatômica, dos pulmões.

Histoplasmose pulmonar primária e pulmonar de reinfecção - pode ter curso assintomático


ou sintomático. Porque a carga de elementos infectantes usualmente é pequena, o tipo pulmonar primário
assintomático (e as reinfecções exógenas) é (são) de ocorrência freqüentíssima em zonas endêmicas. Por
isso, a histoplasmose é essencialmente uma infecção assintomática e insignificante. O diagnóstico dos
casos assintomáticos é casual e tem por base a conversão da intradermorreação de negativa a positiva ou
o aparecimento do arco M na dupla difusão em gel de ágar. O tipo sintomático primário e o sintomático
de reinfecção resultam da inalação de uma grande carga de elementos infectantes do fungo. Os sintomas
iniciam após 7 a 21 dias de incubação; variam de simples mal estar geral a uma infecção respiratória
grave e prolongada. Febre, cefaléia, tosse, dor retro-esternal são sintomas usuais; astenia e fatigabilidade,
sempre presentes, e dispnéia nos casos graves. Radiologicamente se evidenciam áreas de pneumonite ou
infiltrados nodulares e linfadenomegalia hilar e mediastinal. Usualmente os sintomas regridem
espontaneamente, deixando calcificações pulmonares, como seqüelas; raramente produzem complicações
como obstrução traqueal, brônquica ou esofágica, ou pericardite. Em zonas de alta endemicidade da
micose a reinfecção pode ocorrer repetidas vezes em indivíduos sadios; na dependência da carga
infectante pode transcorrer sem ou com manifestações clínicas e/ou radiológicas e geralmente tende à
regressão espontânea.

Histoplasmose disseminada - Há três modalidades. A primeira, aguda ou tipo infantil, é


verificada em crianças, resulta da primo-infecção e tem curso agudo; inicia com febre, emagrecimento,
diarréia, vômitos e letargia; verifica-se sangramento das mucosas ou da pele (petéquias, equimoses),
linfadenomegalias superficiais ou profundas e hepatoesplenomegalia; a anemia, leucopenia e
plaquetopenia são dados laboratoriais constantes; a evolução da doença é aguda e fatal quando não
diagnosticada e tratada precocemente. O segundo tipo, denominado subagudo ou tipo juvenil, ocorre em
qualquer idade; manifesta-se com febre, emagrecimento, mal estar geral, lesões focais em um ou vários
sistemas (insuficiência supra-renal, meningite, sintomas gastrintestinais, lesões mucocutâneas); a
hepatoesplenomegalia é constante, bem como a anemia e leucopenia. A terceira modalidade, denominada
crônica ou tipo adulto, manifesta-se com lesões cutâneo-mucosas ou faringeanas, podendo ou não ser
acompanhadas de manifestações decorrentes do acometimento de outros órgãos, resultando quadros
polimórficos, em que se observa hepatoesplenomegalia constante.

Histoplasmose pulmonar crônica - Resulta da colonização de bolhas de enfisema por


propágulos do fungo inalados. Os sintomas e sinais físicos decorrem da resposta do hospedeiro à
dispersão dos antígenos solúveis produzidos no local invadido. Há uma modalidade aguda ou subaguda,
que se manifesta por lesões pneumônicas, com tendência à regressão e uma modalidade crônica, com
sintomatologia semelhante à da tuberculose pulmonar crônica cavitária, devido às lesões fibróticas
pulmonares.

Fungo - Aspecto parasitário - Nos esfregaços corados ao Giemsa, H. capsulatum var. capsulatum é
visto como elementos ovalados de 2 a 3 x 3 a 5 m, parasitando macrófagos ou células gigantes. Há um
halo claro ao redor do fungo, cujo citoplasma é azul claro, apresentando, em um dos polos, uma massa de

29
cor violácea, de forma oval ou em crescente. O brotamento unipolar ligado por um estreito istmo, se
produz no polo mais afilado da célula-mãe, sendo visualizado nos elementos fúngicos libertados pelo
rompimento do macrófago. Nos cortes histológicos corados à H&E são vistas as massas nucleares dos
fungos, situados em espaço oval claro no interior do macrófago parasitado; ao Grocott se evidencia a
forma peculiar do fungo e o seu brotamento típico.

Aspecto saprofitário - Em Sabouraud-glicose 2%, com ou sem adição de cloranfenicol e


cicloheximida, a colônia é algodoada, de crescimento rápido; inicialmente branca, toma cor camurça, ao
envelhecer. Consiste de hifas de 1 a 5 m de diâmetro, nas quais nascem conídios sésseis ou em curtos
conidióforos. Os conídios são de dois tipos: microconídios, pequenos, esféricos, medindo 2 a 6 m e
macroconídios, grandes, de 10 a 15 m, esféricos e tuberculados. A reversão da fase filamentosa à
leveduriforme pode ser obtida em ágar infuso de cérebro-coração, enriquecido com sangue e incubado a
37C; as colônias cremosas, cor creme, compõem-se de elementos leveduriformes pequenos, ovalados,
unibrotantes, iguais aos da forma parasitária.

HISTOPLASMOSE DUBOISII - A histoplasmose duboisii ou africana difere da forma clássica ou


capsulata por suas manifestações clínicas e pela forma parasitária do fungo. Clinicamente predominam as
manifestações cutâneas, ósseas e linfáticas, embora a micose deva ser considerada basicamente uma
doença primariamente pulmonar. Nos tecidos H. capsulatum var. duboisii é elemento leveduriforme, de
parede moderadamente espessa, de forma ovalada, medindo 8 a 15 m, de localização extracelular. Além
disso, a distribuição geográfica desta micose é limitada ao continente africano.

CRIPTOCOCOSE
(Sinonímia: micose de Busse-Buschke, Torulose)

A criptococose é micose causada por Cryptococcus neoformans, forma anamórfica do


basidiomiceto Filobasidiella neoformans; nos tecidos o fungo mostra-se como lêvedo encapsulado,
unibrotante, bibrotante e raramente multibrotante. Distinguem-se duas variedades de C. neoformans,
correspondendo cada uma delas a sorotipos distintos: C. neoformans var. neoformans (sorotipos A, D e
AD) e C. neoformans var. gattii (sorotipos B e C). C. neoformans var. neoformans vive no solo; é
isolado com facilidade de locais onde se acumulam excretas de pombos; C. neoformans var. gattii foi
encontrado em restos vegetais de Eucalyptus camaldulensis, na Austrália, principalmente na época da
floração desta espécie de eucalipto. Por isso, foi sugerido que esta variedade seja originária da Austrália
e tenha se dispersado pelo mundo junto com os eucaliptos. No entanto, a variedade gattii e a variedade
neoformans foram encontradas em ocos de árvores tropicais em diferentes regiões brasileiras, sugerindo
que o seu habitat natural seja relacionado a decomposição de madeira. C. neoformans var. neoformans
tem sido isolado de casos humanos na Europa, nas Américas, Ásia e Oceania, independentemente do
clima, com franco perfil cosmopolita, associado a condições de imunodepressão celular do hospedeiro.
C. neoformans var. gattii constitue 35 a 100 por cento dos isolados obtidos de casos de criptococose na
América Latina, incluindo o Brasil, sul da Califórnia, África Central e Extremo-Oriente, ocorrendo em
indivíduos HIV-negativos, sem evidência de imunodeficiência específica. A micose é de ocorrência
freqüente no Brasil, em especial nas grandes cidades, predominando no Sul e Sudeste como micose
oportunística causada pelo variedade neoformans sorotipo A; no Norte e Nordeste a variedade gattii
sorotipo B predomina como agente de criptococose em indivíduos nativos aparentemente normais,
enquanto que o sorotipo A mantém o padrão de agente oportunista associado à AIDS, principalmente,
mas também associado ao uso de corticosteróides, diabetes melitus, tuberculose, linfomas, leucemias, etc.
Presume-se que as formas subclínicas ou as que se manifestam como infecções respiratórias

30
inespecíficas, leves e regressivas, devam ser muito freqüentes; no entanto, não dispomos de antígenos
adequados – sensíveis e específicos - para testes cutâneos utilizáveis em estudos populacionais.

Taxonomia atual – Há tendência a mudanças taxonômicas deste agente. Uma bem definida e aceita é a
mudança de C. neoformans para a ordem Tremelalles, saindo, portanto, dos Filobasidialles. Outra,
ainda recente e sujeita a modificações, baseada em marcadores moleculares é a seguinte:
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Taxon antigo / atual Taxon proposto
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
C. neoformans var. neoformans  espécie C. neoformans com duas variedades:
C. neoformans var. grubii (sorotipo A)
C. neoformans var. neoformans (sorotipo D)
e híbridos (sorotipo AD)

C. neoformans var. gattii  espécie Cryptococcus gattii (sorotipos B e C)


------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Micose - Na relação C. neoformans x hospedeiro deve-se considerar a colonização da árvore
brônquica e três tipos clínicos de manifestações: 1) forma pulmonar primária regressiva; 2) forma
pulmonar progressiva; e 3) forma disseminada.

Colonização da árvore brônquica - C. neoformans tem sido isolado da árvore brônquica de


indivíduos assintomáticos, sem lesão radiológica, ou de pacientes que tenham outras doenças
pulmonares. Como o fungo é monomórfico – isto é, sem morfologia caracteristica da forma parasitária - ,
a simples verificação de sua presença no escarro ou lavado brônquico não confere valor diagnóstico ao
achado.

Criptococose pulmonar primária regressiva - Pode ter curso assintomático, subagudo, com
sintomas de infecção respiratória leve, regredindo espontaneamente; constituem achado casual de
ressecção cirúrgica ou mesmo de necrópsia.

Criptococose pulmonar progressiva - O acometimento invasivo do pulmão por C.


neoformans pode se processar de duas maneiras: ocupação ou invasão do parênquima pulmonar. A
ocupaçâo é representada por uma coleção uniforme do fungo, encistada em meio ao parênquima;
assintomática, porque não causa reação inflamatória adjacente; usualmente é achado radiológico,
evidenciando nódulos medindo 3 cm de diâmetro ou mais. No tipo invasivo há reações inflamatórias
provocadas pelo fungo, que comumente se manifestam por sintomas de infecção respiratória inespecífica,
leve ou grave, aguda ou subaguda, acompanhadas ou não de sintomas gerais de intensidade variável,
compondo quadros polimórficos. Raramente esta modalidade transcorre assintomaticamente.
Radiologicamente se evidencia consolidação segmentar bem circunscrita, localizada em qualquer
segmento pulmonar e que pode sofrer cavitação; também pode se revelar como massa de limites
imprecisos, de localização variável, ou massa infiltrativa com aspecto tumoral, vista frontalmente, e
como infiltrado segmentar, vista de perfil. Mais raramente, o quadro radiológico se revela por aspecto
pneumônico ou por lesões que simulam as de tuberculose pulmonar.

Criptococose disseminada - Manifestações sistêmicas, originadas por disseminação


hematogênica, podem resultar do acometimento de qualquer órgão ou sistema, com produção de quadros
polimórficos inespecíficos. Manifestações unifocais, cutâneas ou ósseas, às vezes acompanhadas de
concomitante lesão pulmonar ou do sistema nervoso podem ocorrer. O comprometimento do sistema
nervoso central constitue a mais freqüente lesão de disseminação; manifesta-se como síndromes de

31
meningite, meningoencefalite ou massa expansiva. No tipo meningítico, a cefaléia intermitente ou
mudança do comportamento, com longa duração, é verificação comum antes que se instale o quadro
clínico sugestivo. A forma meningoencefalítica tem curso fulminante, levando rapidamente ao coma. No
tipo tumoral, os sintomas são inespecíficos e dependem da localização.

Fungo - Aspecto parasitário - Em espécimes montados em potassa C. neoformans é de difícil


visualização. Apresenta-se como elementos esféricos de 5 a 15 m de diâmetro, com um só brotamento,
ligado por estreito istmo à célula-mãe. A adição de gota de tinta Nanquim ou de nigrosina a 10% à
preparação, estabelecendo um fundo negro, permite evidenciar a cápsula espessa que envolve o fungo.
Esta preparação de Nanquim é fundamental para um diagnóstico rápido da micose, sobretudo no exame
do líquor. Nos cortes histológicos a evidenciação da cápsula é obtida com coloração especial pelo
Mucicarmin de Mayer. Variantes com pseudo-hifa podem ocasionalmente ser observados ao lado das
formas parasitárias em levedura e indicam estado diplóide ou aneuplóide deste fungo.

Aspecto em cultivo - Tanto em Sabouraud-glicose 2% à temperatura ambiente ou em ágar


infuso de cérebro-coração a 37C, Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii se apresentam como
um lêvedo encapsulado unibrotante, às vezes bibrotante. As colônias, ao serem isoladas, são cremosas,
brancas e sulcadas; nos subcultivos tornam-se úmidas, mucóides, de cor creme ao camurça.
Microscopicamente observam-se elementos sem cápsula evidente, ocasionalmente formando tubos
germinativos; nos subcultivos, a cápsula pode tornar-se evidente. Na prática, a identificação destas
espécies patogênicas é baseado: i) no crescimento a 37C (termotolerância); ii) na produção de
melanina em meio com sementes de niger (niger seed agar = NSA) evidenciado pelo crescimento de
colônias marrom escuro; e iii) no perfil metabólico mínimo: urease positivo, assimilação de: inositol
positivo, lactose e nitrato de potássio negativo. Vale lembrar que a cicloheximida inibe o crescimento
deste fungo, não sendo recomendado meio Mycosel ou outro meio que contenha este antifúngico para
isolamento desta levedura.

Para discriminar a espécie, usamos o meio CGB (Canavanina - Glicina - Bromotimol), cuja "receita de
bolo" é:

FEOHIFOMICOSE SISTÊMICA por Cladophialophora (Xylohypha) bantiana (=Cladosporium


bantianum)
(Sinonímia: cladosporiose cerebral)

A feohifomicose sistêmica por Cladophialophora bantiana é primariamente infecção


pulmonar, que se dissemina caracteristicamente para o sistema nervoso central. Nas lesões o fungo se
apresenta como hifa e elementos esféricos fuliginosos, como qualquer agente de feohifomicose. C.
bantianum vive sobre vegetais em natureza. A micose é cosmopolita. Há um único caso bem
documentado relatado no Brasil.

Micose - Adquirida por inalação, o acometimento cerebral é resultado da disseminação hematogênica do


fungo a partir de foco pulmonar. Foi descrita a colonização de cavidade bronquiectásica por C. bantiana,
em que o fungo se apresentava sob a forma invasiva. Abscessos pulmonar e cerebral concomitantes em
um paciente também foi observado. Os demais registros da literatura se referem a lesões do sistema
nervoso central. Na maioria dos casos, eram pacientes que apresentavam abscesso cerebral encapsulado,
único ou múltiplo; apenas em um doente a localização era cerebelar. A sintomatologia é inespecífica e

32
corresponde à da massa expansiva. Cladosporiose de forma meningítica, de curso crônico, sem evidência
de lesão focal, também foi relatada.

Fungo - Aspecto parasitário - O aspecto parasitário é semelhante ao da feohifomicose subcutânea.

Aspecto em cultivo - Colônias de cor olivácea ou negra, de aspecto compacto, são obtidas em
ágar Sabouraud-glicose 2%. Cultivos em lâmina, em meio de lactrimel, permitem observar conidióforos
de tipo cladospório, com longas cadeias flexuosas de conídios, medindo 2 a 3 x 4 a 7 m. C. bantiana
cresce bem a 41C.

NOCARDIOSE
A nocardiose usualmente é causada por Nocardia asteroides, mais raramente por N.
otitidiscaviarum (N. caviae) ou N. brasiliensis. Nos tecidos, os três Nocardia se apresentam como
filamentos de 1 m ou menos de diâmetro. Estes actinomicetos são saprófitas no solo, de onde têm sido
isolados com isca de parafina. Dois casos humanos bem documentados de nocardiose por N. asteroides,
constam da literatura brasileira.

Doença - A nocardiose é primariamente infecção pulmonar, transcorrendo assintomaticamente ou com


manifestações de leve infecção respiratória, evoluindo para a cura espontânea. Em 3/4 dos casos mais
graves, há envolvimento pulmonar de caráter agudo e curso grave. Usualmente se manifesta com
sintomas e sinais de abscesso pulmonar ou de pneumonia necrosante aguda, simulando infecções
bacterianas. A disseminação mais comum se faz para o sistema nervoso central, como abscesso cerebral,
único ou múltiplos. Lesões generalizadas devido ao acometimento de múltiplos órgãos ou sistemas,
podem ocorrer; são quadros polimórficos, sem características próprias.

O actinomiceto - Aspecto parasitário - É fundamental demonstrar a presenτa de filamentos nos tecidos


para caracterizar a invasão; por isso, o diagnóstico deve ser feito em espécime obtido por biópsia ou
punção aspirativa. Esfregaços ou cortes histológicos devem ser corados ao Gram e Kinyoun. Com estas
colorações se demonstram os filamentos ramificados, finos, Gram positivos e parcial ou fracamente ácido
resistentes. Os filamentos são vistos como cadeias de granulações Gram positivas.

Aspecto em cultivo - As colônias, em ágar Sabouraud-glicose 2%, são cerosas, sulcadas, cor
alaranjada, por vezes cobertas de induto branco. Para sua identificação rápida é necessário: 1) cultivo em
lâmina em meio ágar-água, para demonstrar as ramificações múltiplas dos filamentos; e 2) provas
fisiológicas, em especial a decomposição da caseína ou da utilização da tirosina e xantina (ver micetomas
actinomicóticos).

ADENDO: ESPOROTRICOSE SISTÊMICA


Se S. schenckii for inalado determinará manifestações de micose sistêmica. A infecção
pulmonar primária pode transcorrer subclinicamente ou com sintomas de leve infecção respiratória; a
cura é espontânea. A esporotricose pulmonar pode ter curso progressivo, manifestando-se sob duas
modalidades, ambas simulando o quadro de tuberculose pulmonar: 1) doenτa cavitária crônica
pulmonar, ou 2) linfadenomegalias hilares maciças. Em ambos os casos a sorologia é muito útil no
diagnóstico, pois orientará no isolamento do fungo em cultivo, base do diagnóstico micológico. As lesões
de disseminação são, usualmente, unifocais: ósseas, ósteo-articulares, gênito-urinárias ou do sistema
nervoso central. A sintomatologia nestes casos é inespecífica e o diagnóstico, achado casual ao exame de

33
cortes de biópsia ou feito pelo isolamento do fungo em cultivo. O aspecto parasitário do fungo e a
morfologia dos cultivos já foi descrita (ver esporotricose).

MICOSES OPORTUNÍSTICAS
As micoses oportunísticas são causadas por fungos termotolerantes de baixa virulência, que
determinam doenças em hospedeiros com graves deficiências do sistema imunodefensivo. Esses fungos
têm porta de entrada variável; usualmente provocam reação supurativa necrótica; podem acometer os
mais variados órgãos, produzindo quadros clínicos polimórficos que se apresentam como manifestações
cutâneas, subcutâneas ou sistêmicas; quando invadem os tecidos, quase sempre o fazem como uma
hifa. Pouquíssimas são as exceções.

As micoses oportunísticas são cosmopolitas. As mais importantes são a aspergilose, a


mucormicose e a candidose (candidíase). Porém, resumidamente, serão consideradas também a
feohifomicose oportunística e a pseudallescheriose. Como adendo, será descrita a actinomicose, infecção
endógena por actinobactéria anaeróbia.

Diagnóstico micológico - O material de eleição para o exame micológico é o obtido por biópsia
ou punção aspirativa de lesão. Nos cortes corados à H&E ou Grocott deve ser visualizada a hifa, forma
invasiva do fungo. O diagnóstico micológico, porém, só será completo pela caracterização da espécie do
agente etiológico, após o isolamento em cultivo. A identificação dos agentes é feita pelo estudo dos
cultivos, em meios de rotina, ou especiais, e outras provas. Dentre as provas sorológicas, a dupla difusão
em gel de ágar, usando antígenos específicos ou de grupo, é utilíssima, pois permite um diagnóstico
presuntivo. Usada em série, sempre como triagem, em pacientes predispostos, facilita e orienta a
obtenção de espécimes e a conduta micológica e médica.

34
ASPERGILOSE
A aspergilose é causada por membros do gênero Aspergillus que se apresentam nos tecidos
como hifas hialinas septadas, ramificadas dicotomicamente. Estas hifas, porém, não são características do
gênero, se bem constituam o selo da invasão. Por isso, o isolamento e a identificação, em cultivo, é
requisito para o diagnóstico micológico.

Os fungos do gênero Aspergillus são ubiqüitários, encontrados no solo e na água, em madeiras


e restos orgânicos em decomposição, em qualquer parte do globo terrestre. Seus propágulos se dispersam
facilmente pelo ar, por isso são contaminantes comuns de laboratório e de ambientes hospitalares.
Espécies patogênicas têm sido isoladas de aparelhos de ventilação e refrigeração, em hospitais. Poucos
grupos de Aspergillus causam infecção no homem. Espécies de Aspergillus dos grupos fumigatus, niger
e flavus são os patógenos mais comuns, menos freqüentemente os dos grupos nidulans, terreus, ustus e
restrictus.

A aspergilose raramente ocorre como doença primária, isto é, incidindo em hospedeiros


normais. Comumente se instala em indivíduos imunodeprimidos, debilitados por doenças hematológicas
ou neoplásicas, ou pacientes em tratamento com esteróides ou citotóxicos. A aspergilose alérgica, muito
importante e pesquisada em alguns países de clima temperado e úmido, praticamente é desconhecida no
Brasil; a casuística brasileira sobre aspergilose invasiva ainda é relativamente pequena e, com poucas
exceções, fundamentada freqüentemente em diagnóstico incompleto, porque baseado apenas em exame
histopatológico. No entanto, a colonização de cavidades pulmonares por Aspergillus tem incidência
muito alta, segundo se depreende de algumas publicações e muitas comunicações em congressos.

Micose - A aspergilose pode ser classificada em três formas clínicas: alérgica, colonização e invasiva.

Aspergilose alérgica – Manifesta-se como síndrome asmatiforme, em indivíduos sensíveis


(asma extrínseca); pode se evidenciar por crises asmatiformes à repetição, decorrentes de inalação
prolongada e freqüente de propágulos de Aspergillus, causando conseqüente lesão granulomatosa e
fibrose pulmonar (alveolite alérgica extrínseca); pode também se apresentar como sérias (intensas) crises
de asma, acompanhadas de manifestações radiológicas decorrentes de lesões produzidas pelo crescimento
do fungo nas paredes dos brônquios (broncopulmonar alérgica).

Colonização - Aspergillus podem colonizar cavidades naturais, como os seios da face, ou


cavidades pulmonares pré-formadas, como bronquiectasias e caverna tuberculosa saneada. Nos seios
faciais, além da colonização, pode haver invasão das paredes e, conseqüentemente, sinusite. Nas
cavidades, o micélio do fungo cresce como massa esferóide, daí a designação bola fúngica (fungus
ball). A bola pulmonar aspergilar é usualmente constituida por massa miceliana esferóide, ocupando
quase toda a cavidade. Clinicamente se manifesta por hemoptises à repetição e, radiologicamente, se
evidencia por massa ocupando a cavidade, deixando imagem aérea superior em meia lua.

Aspergilose invasiva - Pode se manifestar sob as seguintes modalidades: sistêmica, rino-


órbito-cerebral, pulmonar e cutânea. O tipo sistêmico resulta de acometimento de múltiplos órgãos ou
sistemas, tem curso agudo e grave, sintomatologia polimórfica, dependente dos órgãos comprometidos,
entre os quais, pulmões, cérebro e rins. O tipo rino-órbito-cerebral tem como porta de entrada a mucosa
nasal ou seios faciais; inicia como sinusite ou dor em uma hemiface, acompanhada de proptose do globo
ocular, seguem-se os sinais neurológicos, decorrentes da trombose do seio longitudinal e da carótida; se
não for diagnosticada e tratada precocemente tem curso rapidamente fatal. O tipo pulmonar, assim como
o sistêmico, tem como porta de entrada a via inalatória, usualmente apresenta curso agudo, se manifesta
com sinais clínico-radiológicos de pneumonia necrosante, ou com sintomas e sinais de infarte ou de

35
abscesso pulmonar; mais raramente, o quadro clínico simula o da tuberculose pulmonar. Um sub-tipo
semi-invasivo pulmonar, que ocorre em leucêmicos, se manifesta como lesões pneumônicas, única ou
múltiplas; posteriormente, por abscedação tornam-se cavidades que são ocupadas pelo próprio
Aspergillus (de permeio à massa necrótica do tecido pulmonar seqüestrado), formando uma bola que
histologicamente se diferencia da bola formada em cavidade pré-existente, pelo aspecto da parede da
cavidade e pelo conteúdo e composição desta massa (bola). O tipo cutâneo da aspergilose se manifesta
como lesão granulomatosa ulcerada, de curso crônico.

Fungo - Aspecto parasitário - Nos cortes histológicos, em especial corados ao Grocott, os Aspergillus
são vistos como hifas septadas, ramificadas dicotomicamente em ângulo aproximado de 45, medindo 2,5
a 4,5 m, dispostas em direção única, irradiando de um ponto. Este aspecto não é peculiar porque fungos
de outros gêneros têm forma invasiva semelhante. O mesmo se verifica nos cortes de bola fúngica
aspergilar, exceto se neles for surpreendido a presença de frutificação do tipo Aspergillus. No entanto, a
constatação de hifa invasiva é fundamental para o diagnóstico, que será completado pelo cultivo.

Aspecto em cultivo - Em Sabouraud-glicose 2% as colônias mostram crescimento rápido. Os


três grupos mais freqüentemente isolados podem ser identificados nos subcultivos em meio de Czapeck-
Dox. A colônia de Aspergillus do grupo fumigatus inicialmente é membranosa e branca, depois toma
aspecto granular e cor esverdeada, com verso incolor; microscopicamente vêm-se conidióforos que
terminam insensivelmente em vesícula alongada, de 20 a 30 m; esta vesícula suporta fiálides
distribuidas apenas na sua metade apical; as fiálides de cerca de 8 m de comprimento se dispõem em
paliçada, numa direção única, e dão origem a cadeias de conídios globosos e equinulados (2 a 3 m de
diâmetro) que se mantem contíguas. Aspergillus do grupo niger têm colônia de início membranosa e cor
branca que se torna granular e de cor negra; o conidióforo termina em vesícula globosa (60 m); a
vesícula tem métulas e fiálides dispostas em toda a sua periferia; as métulas (30 m de comprimento)
suportam fiálides (8 m de comprimento), estas, por sua vez, originam cadeias de conídios globosos,
rugosos e de cor negra (4 a 5 m). Aspergillus do grupo flavus são de crescimento mais lento;
inicialmente membranosa e sulcada, a colônia torna-se granular e de cor amarelo-limão, com verso
incolor, róseo ou negro; conidióforos com vesícula sub-globulosa (10 a 65 m) e dupla série de fiálides
que cobrem toda a sua periferia (=superfície externa); as fiálides, 10 e 15 m de comprimento,
respectivamente, dão nascimento a cadeias de conídios globulosos e equinulados (3,5 a 4,5 m).

MUCORMICOSE
(Sinonímia: zigomicose, Ficomicose)

Micose usualmente grave, tem como agente etiológico espécies de zigomicetos da ordem
Mucorales. É caracterizada pela forma parasitária característica das mucoráceas: nos tecidos se mostram
como hifas largas, quase sem septos, com ramificações aberrantes, invadindo as paredes dos vasos
arteriais e colonizando a sua luz, padrão lesional idêntico ao da aspergilose invasiva. Mucorales são
saprófitas do solo. As seguintes espécies têm sido incriminadas como agentes de mucormicose: Mucor
pusillus, M. ramosissimus, Absidia corymbifera, Rhizopus microsporus, R. oryzae (=R. arrhizus), R.
rhizopodiformis, Cunninghamella bertholettiae, Saksenaea vasiformis e Mortierella wolfii. Estes
zigomicetos determinam infecções em pacientes diabéticos descompensados, diarréicos em acidose,
urêmicos, neoplásicos (em especial leucemia e linfoma), transplantados, grandes queimados ou com

36
graves traumatismos por acidente. A casuística brasileira sobre a mucormicose é pequena e
freqüentemente falha na identificação do agente.

Micose - Podem-se distinguir as seguintes formas clínicas: sistêmica, rino-órbito-cerebral, pulmonar,


gastrintestinal, subcutânea e cutânea.

Mucormicose sistêmica - As manifestações são polimórficas e inespecíficas, pois resultam do


acometimento de múltiplos órgãos. Lesões unifocais, produto de disseminação hematogênica a um órgão,
também são inespecíficas (ossos, rim, útero, endocárdio, etc.).

Mucormicose rino-órbito-cerebral - Usualmente acomete diabéticos em acidose, sem


distinção de idade, sexo, raça e tem como agente mais comum Rhizopus oryzae. A infecção inicia na
mucosa do pálato ou nos seios faciais; ulceração da mucosa, coberta de crosta negra, descarga nasal de
pus necrótico escuro e opacificação do seio facial são os sinais iniciais; dor na hemiface, ptose palpebral,
protusão do globo ocular do mesmo lado e letargia vêm a seguir, podendo, no entanto, ser os sintomas
iniciais; paralisia do nervo facial e anestesia da área inervada pelo trigêmeo, sintomas neurológicos
decorrentes da invasão e trombose do seio cavernoso e da carótida, completam o quadro. Este tipo clínico
pode se originar por ocasião de um traumatismo. Lesões focais cerebrais ou sensoriais têm sido descritas
na mucormicose em indivíduos sadios.

Mucormicose pulmonar - É rara em indivíduos normais, nos quais se manifesta como nódulos
ou infiltrados pneumônicos. Como manifestação oportunista (oportunística), inicia como infecção
respiratória inespecífica, de curso subagudo ou agudo, acompanhada de sintomas decorrentes da
trombose de vasos arteriais; radiologicamente se evidencia por infiltrados não homogêneos, pneumonia
necrosante ou derrame pleural. A cavitação maciça pulmonar ou obstrução brônquica, bem como
mediastinite granulomatosa têm sido descritas.

Mucormicose gastrintestinal - Os sintomas dependem do segmento intestinal onde ocorrem as


áreas de infarte. Síndromas os mais diversos podem ser observados, pois as lesões variam desde a
simples invasão de ulceração gástrica ou duodenal até a perfuração intestinal e peritonite.

Mucormicose subcutânea e cutânea - Celulite ou gangrena progressiva de membro, em


diabético, pode resultar da inoculação do fungo por aposição de adisivos pós-cirurgia (R.
rhizopodiformis), por injeção de corticóides ou por traumatismo. Ulceração crateriforme coberta de
crosta necrótica pode ser decorrência da introdução do fungo por infusões intravenosas. Foi relatado caso
de paciente com lesão destrutiva da face, de curso crônico, por M. ramosissimus. Alguns casos de lesões
subcutâneas por S. vasiformis também foram relatados.

Fungo - Aspecto parasitário - Sendo micose de curso agudo e rapidamente fatal, um diagnóstico rápido
é ideal. Para isso, constitue valioso achado a presença de hifas largas, esparsamente septadas e com
ramificações aberrantes, vistas em espécimes obtidos por biópsia ou raspagem de lesão mucosa,
montados em potassa a 10%. Usualmente o material de biópsia é preservado em formol, neste caso cortes
histológicos corados à H&E ou Grocott permitem observar as hifas cenocíticas invadindo as paredes dos
vasos sangüíneos e colonizando sua luz. Este aspecto, selo da invasão, é comum a qualquer espécie de
mucorácea e o padrão lesional é, em tudo, similar ao da aspergilose invasiva.

Aspecto em cultivo - O diagnóstico micológico da mucormicose requer o isolamento em


cultivo e a identificação do agente. Pão esterilizado sobre ágar, incubado a 25 e 30C, é o meio ideal para
isolamento. Subcultivos em Sabouraud-glicose a 2% produzem rapidamente colônias algodoadas, de cor

37
branca, com hifas frouxamente unidas. A identificação das colônias pode ser feita pela morfologia dos
cultivos em ágar batata ou ágar infuso de feno. Certas espécies, porém, devem ser reconhecidas pelo
pareamento sexual ou com o concurso de um especialista. Os três gêneros de agentes mais comuns se
diferenciam pelo modo como nascem os esporangióforos do micélio: diretamente das hifas no gênero
Mucor; do ponto em que as hifas aéreas ou estólons tocam o meio de cultivo e se fixam pelos rizóides,
em Rhizopus; no meio do arco aéreo da hifa, em Absidia. A espécie mais comumente isolada é R.
oryzae; esta espécie forma colônias brancas, que se tornam amareladas com o tempo, os esporângios são
escuros; microscopicamente vêm-se vários esporangióforos nascendo do ponto em que se formam os
rizóides; os esporangióforos sustentam esporângios de 100 a 300 m de diâmetro, contendo
esporangiosporos castanhos de 6 a 8 x 7 a 9 m. Dois outros agentes têm tido incidência emergente: C.
bertholletiae e S. vasiformis. C. bertholletiae em Sabouraud-glicose 2% cresce como micélio estéril; por
isso deve ser subcultivado em ágar infuso de feno. Microscopicamente, nas colônias obtidas neste meio,
os esporangióforos hialinos, eretos, simples ou ramificados, terminando em vesícula coberta na periferia
por esporangíolos com um esporangiosporo cor de ouro, de 5 a 7 m de diâmetro, de superfície
equinulada ou lisa, permitem reconhecer o gênero. A identificação específica é feita pelo pareamento
sexual. S. vasiformis também necessita ser cultivada em ágar infuso de feno para que se formem os
esporângios característicos: em forma de ânfora sem asas (alças), de longo gargalo e cheio de
esporangiosporos.

ADENDO: ENTOMOFTORAMICOSE SISTÊMICA


(Sinonímia: zigomicose, ficomicose)

Duas espécies de Entomophthoraceae podem invadir as vísceras de indivíduos sadios: B.


ranarum (=Basidiobolus haptosporus) e Conidiobolus incongruus. Lesões subcutâneas por B. ranarum
podem se estender por contigüidade aos órgãos abdominais ou aos pulmões e, lesão do pálato, para o seio
facial. Mas este zigomiceto também pode determinar lesões francamente viscerais, pois foi descrita lesão
tumoral do estômago e intestino manifestando-se como quadro de abdomen agudo. Provavelmente este
fungo tenha sido, também, agente de lesões tumorais gastrintestinal e hepática, observadas em dois
outros casos publicados.

C. incongruus foi identificado como agente de mediastinite granulomatosa e de manifestações


sistêmicas generalizadas. O aspecto parasitário destes dois zigomicetos é idêntico ao dos agentes de
entomoftoromicose subcutânea. O cultivo do B. ranarum já foi descrito; C. incongruus somente difere
de C. coronatus, em cultivo, por produzir zigósporos.

CANDIDOSE (CANDIDÍASE) OPORTUNÍSTICA


(Sinonímia: monilíase)

A candidose oportunística resulta da invasão dos tecidos de hospedeiros com endocrinopatias,


nos que recebem terapêuticas imunossupressivas, nutrição parenteral e administração prolongada de
antibióticos ou esteróides ou pacientes com complicações após grandes cirurgias, por espécies de
Candida. Nos tecidos, espécies de Candida, com exceção de C. glabrata, se apresentam como hifas de

38
aspecto peculiar. O agente mais comum de candidose é C. albicans. Outras espécies relacionadas com
doença humana constam da Tabela 3.

Tabela 3. Espécies de Candida parasitas do homem.


--------------------------------------------------------------------------
Forma anamórfica Forma teleomórfica
--------------------------------------------------------------------------
C. albicans -
C. dubliniensis -
C. guilliermondii Pichia guilliermondii
C. glabrata -
C. tropicalis -
C. parapsilosis Lodderomyces elongatus
C. stellatoidea -
C. pseudotropicalis Kluyveromyces maxianus
C. krusei Issatchenckia orientalis
C. viswanathiii -
-------------------------------------------------------------------------

Apenas três das espécies de Candida produzem colônias com características comuns: C.
albicans, C. tropicalis e C. stellatoidea. Mesmo assim a forma genérica Candida continua a agrupar
estes microrganismos e eles continuam a ser diferenciados em sua forma anamórfica, usando-se provas
fisiológicas. À medida que vem sendo descoberta a reprodução sexuada, as características dos esporos
demonstram que teleomorficamente elas pertencem a vários gêneros (Tabela 3).

C. albicans é habitante normal do tubo digestivo do homem, vive também em menor número na
árvore brônquica e cavidade vaginal; vegeta ainda nas grandes pregas do corpo e espaços interdigitais
dos pés. Nestes locais o microrganismo cresce como elemento unicelular ovalado, unibrotante e de
localização extra-celular. As populações de Candida, comensais do homem, variam de acordo com a
dieta, a flora bacteriana intestinal e com a ação de drogas, em especial antibióticos.

A candidose oportunística, em especial as formas sistêmicas têm incidência crescente em todo o


mundo. Casos das mais variadas formas clínicas da micose têm sido descritas no Brasil, porém, com
documentação etiológica muitas vezes incompleta.

Micose - A candidose oportunística se apresenta sob três modalidades: mucosa, cutânea e sistêmica.

Candidose mucosa - Com exceção da criança com menos de três semanas de idade, na qual
Candida é normalmente invasora da mucosa oral, nos demais indivíduos a infecção é sempre secundária.
As lesões da mucosa oral se mostram como placas pseudomembranosas, cremosas, brancas, bem
aderentes à mucosa; retiradas as placas, vêem-se áreas eritematosas. As lesões orais podem ser limitadas
ou generalizadas e se estender ao faringe, dificultando a deglutição. Ocorrência comum em crianças de
tenra idade, a candidose oral nos jovens e adultos é indicativo importante para busca da causa primária de
alguma imunodeficiência. Uma variante da manifestação oral é a queilite angular. Na mucosa vaginal as
lesões são semelhantes às da boca, porém freqüentemente determinam ulcerações e sempre se
acompanham de corrimento vaginal. No homem pode ocorrer balanite ou balanopostite por Candida.

Candidose cutânea - Lesões das regiões inguinais e nádegas em crianças de tenra idade são
ocorrência freqüente. Porém, a manifestação mais importante é a denominada candidose cutânea crônica,
adquirida na infância, predominando em mulheres e tanto mais grave quanto mais cedo inicia. É doença

39
de indivíduos com defeitos genéticos ou endocrinopatias. Na modalidade menos grave se apresenta com
lesões crônicas orais e das unhas; na modalidade mais grave, o granuloma candidiásico cutâneo, é doença
desfigurante, caracterizada por formações córneas da pele e extremidades, associadas a lesões escamosas
hiperceratóticas espessas, alopécia, hipopigmentação cutânea, queilose e anemia. Quatro são as
variedades da candidose mucocutânea crônica: a) crônica precoce, de início precoce, tem como subtipo o
granuloma, ocorre em indivíduos com endocrinopatias, exceto Mal de Addison e hipoparatireoidismo; b)
crônica tardia, ocorre em crianças de mais idade, se limita a lesões crônicas da mucosa oral e das unhas;
c) crônica familiar, de caráter hereditário; e, d) juvenil familiar poliendócrina, leve ou intensa, acomete
indivíduos com Mal de Addison ou hipoparatireoidismo.

Candidose sistêmica - A candidose sistêmica é a mais polimórfica de todas as micoses.


Dificilmente é diagnosticada em vida porque: 1) os sintomas e sinais são inespecíficos, 2) não existe
prova sorológica confiável para diagnóstico e 3) o isolamento do microrganismo do sangue, base do
diagnóstico, requer aparelhos automatizados direcionados para o isolamento de leveduras, procedimento
caro ainda não incorporado à rotina. No entanto, o diagnóstico pode ser feito mais freqüentemente se
levado em consideração que em todo o paciente predisposto a esta infecção: 1) nos casos graves há uma
tríade sintomática sugestiva: febre, erupção cutânea eritemato-papulosa e dor muscular; 2) há lesão
de endoftalmite característica, evidenciável ao exame de fundo de olho; e, 3) é possível evidenciar-se
anticorpos por provas sorológicas e/ou observar presença de hifas de Candida na urina obtida por
punção da bexiga, em exames feitos em série, durante o período crítico de possível instalação da
infecção. A candidose sistêmica pode se manifestar com sinais e sintomas decorrentes do acomentimento
a múltiplos órgãos ou com predominância dos sintomas de um só dos órgãos atingidos. Mais
freqüentemente são acoametidos o rim, cérebro e coração, nesta ordem de freqüência; seguem o trato
digestivo, sistema respiratório e vasos. Quando há manifestações poliorgânicas, além dos sintomas gerais
de infecção (febre, mal estar geral, taquicardia, esplenomegalia, petéquias e outros fenômenos
embólicos), somam-se manifestações renais, respiratórias e ósseas; nestes casos a endoftalmite está
sempre presente.

Candidose do sistema urinário - O acometimento renal, raramente primário, tem presença


constante na forma sistêmica e é de ocorrência comum na candidemia prolongada subclínica. Manifesta-
se como quadro de pielonefrite e suas conseqüências, devido à invasπo dos glomérulos. Porém, pode
decorrer da invasão infiltrativa difusa apical das papilas renais, obstrução dos túbulos e formação
secundária de bola fúngica ureteral; neste caso, o sintoma mais importante é a diurese temporária no
curso de oligúria progressiva. Pode se manifestar, também, unicamente como bola fúngica ureteral, ou ter
curso assintomático, comum durante períodos de antibioticoterapia intensiva.

Candidose do sistema nervoso central - Síndromes de paquimeningite, meningite ou abscesso


cerebral podem constituir o quadro clínico ou constituirem os sinais mais óbvios da forma sistêmica. A
presença de sintomas neurológicos inexplicáveis, em pacientes potencialmente sujeitos à infecção por
Candida, deve sugerir o acomentimento ao sistema nervoso.

Candidose ósteo-articular - Estas manifestações podem ser as predominantes no curso da


infecção sistêmica. As lesões podem se localizar nas mais variadas articulações ou ossos, com
preferência pelas vértebras. Artrites por Candida podem também resultar da inoculação do fungo, por
ocasião de injeções intra-articulares de substâncias medicamentosas.

Candidose bronco-pulmonar - A invasão do parênquima pulmonar usualmente acompanha


outras localizações na forma sistêmica. É de origem hematogênica, decorre de vasculite necrosante
embólica; a sintomatologia é inespecífica e o quadro radiológico evidencia lesões de broncopneumonia

40
difusa. Em recém nascidos as manifestações pulmonares podem ser primárias, ter curso fulminante, como
processo pneumônico agudo. Não deve ser esquecido que, em pacientes com infecções respiratórias
crônicas ou sob efeito de antibioticoterapia prolongada, há intensa colonização da árvore brônquica por
Candida. Neste local o fungo forma hifas; conseqüentemente, no escarro, o fungo será visualizado com
aspecto semelhante ao que tem nos tecidos, achado portanto sem valor diagnóstico.

Candidose gastrintestinal - A candidose esofágica é extensão de lesões orais; pode ter curso
crônico, manifestar-se como disfagia e dor retroesternal, e ser presumida por quadro radiológico
sugestivo. Candida pode colonizar ulcerações gástricas ou duodenais, o poder invasor aumenta em
paciente em uso de cimetidina. Candida pode produzir ulcerações intestinais profundas, com perfuração
intestinal e conseqüente peritonite. A candidose entérica é entidade controversa, admite-se que possa se
apresentar com quadro de enterocolite, pois o fungo pode invadir a mucosa intestinal. Peritonite por
Candida também pode resultar da inoculação do microrganismo por ocasião de diálise peritoneal ou de
ato cirúrgico.

Endocardite por Candida - Constitue uma entidade produzida por espécies de Candida que
não C. albicans. Ocorre em pacientes com defeitos valvulares cardíacos. Os sintomas se assemelham aos
da endocardite bacteriana, da qual difere porque os fenômenos embólicos são mais freqüentes.

Fungo - Aspecto parasitário - A verificação da forma invasiva de Candida, em material de biópsia ou


de punção aspirativa, é fundamental no diagnóstico da micose. Nos tecidos se apresenta como hifas
hialinas de paredes delicadas, com septos espaçados, próximo aos quais nasce blastoconídio; elementos
leveduriformes, ovalados, unibrotantes, em maior ou menor quantidade, também estão presentes. A
verificação deste aspecto parasitário é simples no material obtido por raspagem de lesões de pele, unha
ou mucosa oral, faringeana e vaginal, examinadas em preparações com potassa a 10%. Nas lesões
granulomatosas cutâneas e em fragmentos de tecidos obtidos por biópsia a observação do fungo deve ser
feita em cortes histológicos corados ao PAS e Grocott. Em pacientes potencialmente sujeitos à candidose
sistêmica (antibioticoterapia prolongada, alimentação parenteral, após grandes cirurgias) o exame seriado
de urina para evidenciar a presença de hifas de Candida é importante. O exame microscópico deve ser
feito no sedimento de urina obtida por punção suprapúbica e realizado nos primeiros 15 minutos após a
sua coleta. A verificação de hifas de Candida no escarro, indicando apenas colonização da árvore
brônquica, constitue achado comum em pacientes sob antibioticoterapia.

Aspecto em cultivo - As espécies de Candida podem ser isoladas em ágar Sabouraud-glicose


2%, onde crescem como colônias cremosas, de cor creme, compostas de conglomerados de elementos
unicelulares, ovais e unibrotantes. Pseudo-hifas podem ser vistas. C. albicans pode ser identificada mais
fácil e mais rapidamente que as demais espécies (ver manifestações cutâneas de candidose, em Micoses
Cutâneas). A identificação das demais espécies em hospitais ou pequenos laboratórios pode ser feita com
o uso de equipamentos (kits) comerciais, que permitem uma identificação provisória. A identificação
definitiva deveria ser feita por estudos dos cultivos, provas de assimilação, fermentação e utilização de
compostos químicos; sua descrição ultrapassaria os limites impostos por este manual.

ACTINOMICOSE
É doença causada por actinomicetos anaeróbios ou microaerófilos pertencentes aos gêneros
Actinomyces, Arachnia e Bifidobacterium, e em parasitismo estes microrganismos se organizam em
grãos, formados por um enovelado de filamentos Gram positivos e não ácido resistentes. O agente mais

41
freqüente é o Actinomyces israelii, com menos freqüência o A. naeslundii, A. viscosus, A. odontolyticus
e A. meyeri. O síndrome pode ser causado também por Arachnia propionica e Bifidobacterium
eriksonii. Estes microrganismos são comensais do homem, vivendo na cavidade oral, provavelmente no
intestino e vagina. A. propionica é isolada do canal lacrimal. A actinomicose parece resultar de uma
cooperação entre o actinomiceto e bactérias, em especial produtoras de hialuronidase. É freqüente a
associação com Actinobacilus actinomycetemconcomitans que pode, por si, causar infecção sistêmica.

No passado a actinomicose foi considerada doença muito freqüente, tendo sido objeto de
inúmeras publicações brasileiras. Hoje, é do consenso geral que a incidência tenha diminuído, explicável
por uma melhor higiene oral e pelo uso de antibióticos. O espectro dos agentes da actinomicose no Brasil
é desconhecido, pois tem sido atribuída apenas a A. israelii.

Doença - É costume separar a actinomicose em três tipos clínicos: cérvico-facial, torácico e abdominal.
Porém, há manifestações generalizadas, de curso fulminante, se bem raras.

Actinomicose cérvico-facial - Geralmente é conseqüência de traumatismo da mucosa oral na


ocasião de extração dentária. Usualmente de localização mandibular; inicia com dor e tumefação; quando
constituída, a doença se apresenta como tumoração mandibular, dura, nodular, com áreas amolecidas
onde se abrem fístulas, drenando pus e grãos.

Actinomicose torácica - Presume-se que resulta da aspiração de material de origem oral. Se


manifesta como infecção respiratória inespecífica (febre, tosse, nas fases mais adiantadas há
expectoração purulenta e hemóptica); as lesões pulmonares tem tendência a se estender para a parede
torácica. As alterações radiológicas evidenciam massa tumoral, por vezes com cavidades necróticas, ou
infiltrados alveolares crônicos, ou lesões fibro-cavitárias. Essas lesões estendem-se por contiguidade,
invadindo a pleura, determinando empiema, e a parede torácica, com conseqüente fistulização para o
exterior. É muito sugestivo no quadro radiológico o derrame pleural e as lesões ósseas focais das
costelas, mais raramente das vértebras. O quadro clínico-radiológico usualmente sugere o de tuberculose
ou neoplasia.

Actinomicose abdominal - Pode resultar da perfuração intestinal por objetos metálicos ou


ossos, implantando a bactéria. O apêndice é geralmente o local de início da lesão. Se manifesta como
tumoração simulando neoplasia, ou manifestações polimórficas dependendo do órgão atingido e da
extensão do processo. Há tendência à disseminação da lesão para o tórax ou a parede abdominal. A
actinomicose da parede abdominal, sem comprometimento visceral, é rara.

Outras formas clínicas - A actinomicose pode se manifestar como síndrome de micetoma dos
membros, lesões neurológicas focais ou infecção de aparelho genital feminino, provocada pelo uso de
dispositivos anticoncepcionais.

Bactéria - Aspecto parasitário - Nas lesões o microrganismo é visto como grãos branco-amarelados,
medindo até 1 mm de diâmetro. O grão pode ser encontrado no pus que flue de fístulas da pele, pus de
empiema obtido por aspiração e, tardiamente, no curso de lesão pulmonar, no escarro. Nas preparações
em potassa, grãos simplesmente esmagados podem estar ou não orlados de clavas; se dissociados com
agulha é possível ver-se os finos filamentos que os compõem; se dissociados e distendidos em esfregaço
e corado ao Gram e Kinyoun, pode-se observar os filamentos Gram positivos e não ácido resistentes. O
diagnóstico precoce, quando ainda não há fistulização, só pode ser feito em material obtido por biópsia,
em cortes histológicos corados ao Gram-Brown-Brenn e Kinyoun para tecidos.

42
Aspecto em cultivo - Grãos esmagados e lavados várias vezes em água destilada são semeados
em tioglicolato caldo ou infuso de cérebro-coração enriquecido com sangue e incubado a 37C em
atmosfera de CO2. As colônias formam-se em 48 horas. Subcultivos são feitos em tioglicolato caldo para
manutenτπo e encaminhamento a um especialista em identificação do grupo. Há, no entanto, kits
comerciais que permitem uma identificação rápida provisória. Em certos centros é possível a
identificação específica do agente por imunofluorescência direta, em cortes histológicos ou esfregaços.

SCEDOSPORIOSE (PSEUDALESQUERIOSE)
(Sinonímia: Alesqueriose, Monosporiose, Petrielidiose)

É entidade emergente, de amplo espectro clínico, causada por Scedosporium apiospermum


(Pseudallescheria boydii). Na fase parasitária a hifa de P. boydii é indistinguível da hifa de Aspergillus.
P. boydii é forma teleomórfica de S. apiospermum. Este fungo recebeu anteriormente as denominações:
Allescheria boydii e Petriellidium boydii para a fase teleomórfica e Monosporium apiospermum, para a
fase anamórfica.

Micose - S. apiospermum (P. boydii) é agente de micetoma eumicótico de grãos brancos (ver
Micetoma), mas pode ser agente de micose oportunística, quando existam, no hospedeiro, os mesmos
fatores predisponentes que os da aspergilose. Como oportunista, pode determinar manifestações
pulmonares (colonização da árvore brônquica, bola fúngica e pseudoalesqueriose ou scedosporiose
invasiva), dos seios faciais (sinusite maxilar, nasal, esfenoidal), do sistema nervoso central (forma rino-
órbito-cerebral, meningite, paquimeningite), ósteo-articulares (osteomielite, artrite), ocular (ceratite),
cardíaca (endocardite) e subcutânea (síndroma linfocutâneo). A sintomatologia, em qualquer das
apresentações clínicas, é inespecífica.

Fungo - Aspecto parasitário - Quando oportunista, S. apiospermum (P. boydii) se apresenta nos tecidos
como hifa idêntica à dos Aspergillus. Nos cortes de bola fúngica por S. apiospermum (P. boydii), se não
houver conídios, o aspecto é idêntico ao da bola fúngica aspergilar. O cultivo é necessário, portanto, para
o diagnóstico da micose (ver Micetoma). A prova sorológica pela dupla difusão em gel de ágar é
exeqüível e, com o uso de bom antígeno, tem valor diagnóstico.

FEOHIFOMICOSE OPORTUNÍSTICA
Feohifomicose oportunística é entidade clínica que pode ser causada por várias espécies de
fungos de paredes fuliginosas que, em parasitismo, se apresentam como hifas septadas, hifas
moniliformes e elementos brotantes. As manifestações inespecíficas que causam dependem do(s)
órgão(s) acometido(s) e da extensão das lesões. A tabela 4 relaciona agentes de feohifomicose
oportunística e as manifestações que podem causar.
Tabela 4. Agentes de feohifomicose oportunística e suas manifestações mais freqüentes.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Agente Manifestações

43
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Alternaria sp. Pulmonares e articulares
Alternaria alternata Ósseas
Chaetoconidium sp. Articulares
Cladosporium cladosporioides Pulmonar (bola fúngica)
Curvularia geniculata Disseminada, endocárdica, ocular
Curvularia lunata Disseminada
Curvularia pallescens Disseminada
Drechslera hawaiiensis Óssea, meningoencefálica
Drechslera spicifera Cerebral, ocular
Drechslera rostrata Óssea
Exophiala spinifera Cerebral, subcutânea
Phialophora richardsiae Disseminada, ocular, subcutânea
Wangiella dermatitidis Disseminada, cerebral
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
E muitos outros (não esquecer as mudanças/danças de nomes)

MICOSES INCOMUNS

ADIASPIROMICOSE
É infecção pulmonar granulomatosa crônica, causada por propágulos de Emmonsia parva
(Chrysosporium parvum), espécie que compreende duas variedades, E. parva var. parva e E. parva var.
crescens. Enquanto ambas as variedades causam a infecção em animais, somente E. parva var. crescens
tem sido relatada como causadora da micose em humanos. Os propágulos inalados crescem no
parênquima pulmonar sem se reproduzir, denominando-se por isso adiaconídios. Cada conídio inalado
cresce até se tornar um enorme adiaconídio, de parede celular muito espessa. Dependendo do inóculo, ou
seja, da quantidade de conídios inalados, as manifestações podem ser desde leves a muito graves e
mesmo fatais. O diagnóstico quase sempre é obtido através de biópsia pulmonar de caso de infecção
pulmonar a esclarecer. Em cortes histológicos se apresentam como elementos esféricos de 10 a 200 m
de diâmetro, de parede espessa e aparentemente vazios. A micose ocorre em praticamente todos os
continentes e atinge humanos e vários animais, sobretudo roedores. Há vários casos humanos na
literatura, entre os quais casos brasileiros oriundos de vários estados e regiões.

MISCELÂNEA
Outras micoses viscerais mais raras (infecções por Paecilomyces lilacinus, Geotrichum
candidum, Coprinus cinereus, Schizophyllum commune) ou de ocorrência em área endêmica fora das
Américas (Peniciliose marnefei, infecção por Penicillium marneffei, com patogenia e manifestações
clínicas similares às das micoses sistêmicas, especialmente a histoplasmose capsulata, endêmica no
Sudeste e Sul da Ásia) não estão incluídas no presente Manual.

44
REFERÊNCIAS
ADDLESTONE, R.B. & BAYLIN, G.J. -Rhinocerebral mucormycosis. Radiology, 115: 113-117, 1975.

AGUIAR, E., MORAES, M. et al. -Gastrointestinal entomophthoramycosis caused by Basidiobolus haptosporus.


Mycopathologia, 72: 101-105, 1980.

ANDRIOLE, V.T., KRAVETZ, et al. -Candida endocarditis. Clinical and pathological studies. Am. J. Med., 32:
251-285, 1962.

BAKER, R.D. -Pulmonary mucormycosis. Am. J. Pathol., 32: 287-313, 1956.

BOTTONE, E.J., WEITZMAN, I. et al. -Rhizopus rhizopodiformis. Emerging etiologic agent of mucormycosis. J.
Clin. Microbiol., 9: 530-537, 1979.

BUSAPAKUM, R., YOUNGCHAIYUD, U. et al. -Disseminated infection with Conidiobolus incongruus.


Sabouraudia, 21: 323-330, 1983.

EDWARDS, J.E., FOOS, R.Y. et al. -Ocular manifestation of Candida septicemia. Review of 72 cases of
hematogenous endophthalmitis. Medicine, 53: 47-75, 1974.

EDWARDS, J.E., LEHER, R.I. et al. -Severe candidal infections. Clinical prospective, immune defence,
mechanisms and current concept on therapy. Ann. Intern. Med., 88: 91-106, 1978.

GEFTER, W.B. & EPSTEIN, D.M. -Allergic bronchopulmonary aspergillosis. Less common patterns. Radiology,
140: 307-312, 1981.

GEFTER, W.B. & WEINGRAD, T.R. -"Semi-invasive" pulmonary aspergillosis. A new look at the spectrum of
Aspergillus infection of the lung. Radiology, 140: 313-321, 1981.

HALE, L.M. -Orbitocerebral phycomycosis. Aspects of a case and review of the disease in infants. Arch.
Ophthalmol., 86: 39-43, 1971.

HERBERT, P.A. & BAYER, A.S. -Fungal pneumonia (Part 4). Invasive aspergillosis. Chest, 80: 220-225, 1981.

JACOBS, M.E., MAGID, M.S. et al. -Disseminated candidiasis. New approach to early recognition and treatment.
Arch. Dermatol., 116: 1277-1279, 1980.

JAIN, J.K., MARKOWITZ, A. et al. -Localized mucormycosis following intramuscular corticosteroid. Case report
and review of the literature. Am. J. Med. Sci., 275: 209-216, 1978.

KILIAN, M. -Rapid identification of Actinomycetaceae and related bacteria. J. Clin. Microbiol., 8: 127-138, 1978.

KRUSSEL, B., SZENCWCZYK, C. et al. -Early clinical recognition of disseminated candidiasis by muscle and skin
biopsy. Arch. Intern. Med., 138: 429-433, 1978.

LACAZ, C.S., PORTO, E. et al. -Feohifomicose disseminada por Exophiala spinifera. An. bras. Dermatol., 59:
238-248, 1984.

LAWSON, H.H. & SCHAMAMAN, A. -Gastric phycomycosis. Br. J. Surg., 61: 743-746, 1974.

LEHER, R.I., HOWARD, D.H. et al. -Mucormycosis (UCLA Conferences). Ann. Intern. Med., 93: 93-108, 1980.

McGILL, T.J., SIMPSON, G. et al. -Fulminating aspergillosis of the nose and paranasal sinuses. A new clinical
entity. Laryngoscope, 90: 748-754, 1980.

45
MEYER, R.D., ROSEN, P. et al. -Phycomycosis complicating leukemia and lymphoma. Ann. Intern. Med., 77:
871-879, 1972.

MYERS, B.K., WORMSER, G. et al. -Rhinocerebral mucormycosis. Premortem diagnosis and therapy. Arch.
Intern. Med., 139: 557-560, 1979.

MICHIGAN, S. -Genitourinary fungal infections. J. Urol., 116: 390-397, 1976.

McGINNIS, M.R., WALKER, D.I. et al. Zygomycosis caused by Cunninghamella bertholletiae. Clinical and
pathologic aspects. Arch. Pathol. Lab. Med., 106: 282-286, 1982.

PORTO, N.S., SEVERO, L.C. et al. -Actinomicose pulmonar. Estudo de onze casos observados no Rio Grande do
Sul. Rev. Assoc. Med. R. G. Sul, 25: 110-117, 1981.

QUILICI, M., ORSINI, A. et al. -Adiaspiromycose pulmonaire disseminée (A propos d'une observation). Arch.
Anat. Cytol. Pathol., 25: 227-234, 1977.

RIPPON, J.W. -Clinical spectrum of Petriellidiosis. Mycetoma to systemic opportunist. In: Superficial, cutaneous
and subcutaneous infections. PAHO Sci. Pub., 396: 276-295, 1980.

SCHELL, W.A., JOHNSON, M.G. et al. -Zygomycosis caused by Cunninghamella bertholletiae. Mycologic
aspects. Arch. Pathol. Lab. Med., 106: 287-291, 1982.

STONE, L.C., KOLB, L.D. et al. -Candida sepsis. Pathogenesis and principles of treatment. Ann. Surg., 179: 697-
711, 1974.

WALTZ, J.C., CALLAWAY, C.S. et al. -Human pulmonary adiaspiromycosis. Arch. Pathol., 99: 11-15, 1975.

YOUNG, R.C. & BENNETT, J.E. -Aspergillosis. The spectrum of the disease in 98 patients. Medicine, 49: 147-
173, 1970.

Acrescentar:
1) Medical Mycology. Ed. Kwon-Chung KJ & Bennett JE, Lea & Febiger, Philadelphia, 1992

2) Guia para identificação de fungos, actinomicetos e algas de interesse médico. Ed. Lacaz CS, Porto E, Heins-
Vaccari EM & Melo NT, Sarvier-EDUSP, São Paulo, 1998.

3) Laboratory Handbook of Medical Mycology. Ed. McGinnis MR, Academic Press, New York, 1980.

4) Medical Mycology. Ed. Rippon JW, Lea & Febiger, Philadelphia, 1988

5) Medical Mycology. Ed. Ajello L & Hay RJ, Arnold, London, 1998.

6) Fields-Virology, quarta edição, 2002


PCR Protocols for Emerging Infectious Diseases, Ed. David H. Persing, ASM Press, 1996

7) PCR Technology - Current innovations, Ed. Hugh G. Griffin & Annette M. Griffin, CRC Press, Boca Raton,
USA, 1994.

8) DNA fingerprinting in plants and fungi. Ed. K Weising, H Nybom, K Wolff & W Meyer. CRC Press, Boca
Raton, USA, 1995.

9) Modern Mycology, third edition. Ed. JW Deacon. Blackwell Science, UK, 1997

46
TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EM MICOLOGIA

COLHEITA DE ESPÉCIMES
Para o diagnóstico micológico é fundamental obter-se um espécimen apropriado. Corretamente
colhido e preservado, nele, ou ao exame microscópico, deve ser visualizado o agente etiológico e, dele,
ao exame em cultivo, deve ser isolado o fungo, para acurada identificação.

Lesões de pele - Limpar com éter; com o bordo de lâmina ou com bisturi, raspar o centro e a
periferia das lesões; recolher as escamas em placa de Petri, entre duas lâminas ou em envelope de papel.

47
Lesões de unha - Proceder como para as lesões de pele, porém, obter o material do bordo
espessado da unha ou de áreas erodidas e sem brilho da lâmina ungueal.

Cabelo e pêlos - Cortar com tesoura os pêlos com nódulos; epilar com pinça cabelos
quebrados, do bordo de lesão tonsurante ou, com agulha, desinvaginar os cabelos dos pontos negros;
conservar entre duas lâminas ou em envólucro de papel.

Pus - Dos abscessos fechados, aspirar com agulha esterilizada montada em seringa
hipodérmica; conservar em tubos ou pequenos frascos esterilizados. Microabscessos dever ser abertos
com bisturi ou agulha esterilizada, após limpeza da pele com éter; por expressão obter o pus que deve ser
examinado e cultivado de imediato.

Ulcerações - Limpar com água destilada esterilizada; curetar a superfície da ulceração;


examinar o exsudato imediatamente.

Sangue - Aspirar 8 ml; conservar em tubos esterilizados com heparina e cultivar


imediatamente.

Medula óssea - Com seringa heparinizada aspirar 0,2 a 0,3 ml; conservar na própria seringa até
o momento do exame.

Líquido cefalorraquidiano - Obter por punção 3 a 5 ml; conservar em tubo ou frasco


esterilizado.

Urina - Obter 25 a 50 ml por punção suprapúbica, ou cateterismo; examinar de imediato.

Escarro - Pela manhã, em jejum, lavar a boca e escovar sem pasta dentifrícia; coletar 5 a 10 ml
de escarro em frasco esterilizado de boca larga; enviar imediatamente ao laboratório; imediato exame.

Lavado ou escovado brônquico - Após a obtenção colocar em frasco esterilizado.

Tecidos (biópsia) - Colocar o fragmento sobre gaze umedecida com água estéril, em recipiente
esterilizado.

EXAME MICROSCÓPICO
Pêlos e escamas de pele ou unha - Colocar sobre lâmina limpa, juntar 1 gota de solução de
KOH a 10%, cobrir com lamínula, aquecer suavemente sobre chama, examinar. A microscopia deve ser
feita sempre, com qualquer preparado, primeiro com objetiva de 10x e em seguida com objetiva de 40x.
Para a visualização das estruturas fúngicas não há necessidade de objetiva de imersão (100x).

Pus, exsudato de ulcerações, esfregaços por impressão(=aposição), pequenos fragmentos


de tecidos - Podem ser examinados entre lâmina e lamínula em gota de KOH a 10%, após aquecimento
suave à chama. Podem ser confeccionados esfregaços, secos ao ar e corados ao Giemsa ou pelas técnicas
de Gram, Kinyoun e Grocott.

48
Líquido cefalorraquidiano, lavado brônquico ou urina - Centrifugar, examinar o sedimento
diretamente ou em gota de KOH, se necessário, adicionar uma gota de tinta Nankin. O sedimento pode,
também, ser distendido em esfregaço e corado ao Giemsa, Grocott, Gram e Kinyoun.

Medula óssea, aspirado pulmonar ou ganglionar - Distender em esfregaço e corar ao


Giemsa, Grocott, Gram ou Kinyoun.

Escarro - Colocar gota de escarro (de preferência grumos de áreas com raias de sangue) com
gota de KOH, cobrir com lamínula e aquecer suavemente à chama. Observada presença de leveduras
esféricas e unibrotantes, juntar gota de tinta Nankin. O escarro pode também ser homogeneizado: juntar
volume iguais de escarro e solução de hidróxido de sódio a 4%; agitar vivamente por 10 minutos; colocar
em estufa a 37C por uma hora; centrifugar por 30 minutos a 3.000 rpm; eliminar o sobrenadante,
depositando o sedimento entre lâmina e lamínula. Para a homogeneização também pode ser utilizada a n-
acetil-cisteína (Fluimucil), com bons resultados.

CULTIVO
Com pequenas diferenças, as técnicas de cultivo usadas em micologia se assemelham às de uso
em bacteriologia. Para o cultivo usar de preferência tubos de ensaio com tampão de algodão hidrófobo,
ou com tampa rosqueável de baquelite. Para incubação à temperatura ambiente usar tubos de 18x150 mm
e, para incubação a 37C, os de 25x150 mm. Para implantar o espécime no meio e para retirar porções de
colônia, usar fio de níquel-cromo em agulha, montado em cabo Kohle; para leveduras usar o fio em alça.

As colônias isoladas devem ser observadas macroscopicamente, notando-se a rapidez do


crescimento, topografia da superfície, textura, cor e a pigmentação do verso. Após, devem ser observadas
microscopicamente; para isso, remove-se uma porção de micélio para uma lâmina, juntar uma gota de
lactofenol ou lactofenol-azul algodão; dissociar o micélio com agulhas de dissecção; cobrir com lamínula
e examinar em pequeno aumento (objetiva de 10x) e depois em maior (objetiva de 40x).

Alguns fungos podem ser identificados ao exame do cultivo primário. Outros, contudo,
requerem a observação de cultivos obtidos em lâmina, uso de meios especiais, provas fisiológicas e
outras. Mais raramente é necessário verificar a patogenicidade por inoculação em animais de laboratório.

CULTIVO EM LÂMINA
O cultivo em lâmina permite a observação das relações das estruturas conidianas com o
micélio. Isto se obtem fazendo o fungo crescer em lâmina sobre a qual foi colocado um bloco do meio de
cultivo.

Preparação:

 Em placa de Petri de 100 mm, colocar um bastão de vidro encurvado em U em cima de papel de
filtro; sobre ele colocar uma lâmina; cobrir e esterilizar.

49
 Em outra placa de Petri preparar 15 ml de meio cultivo (Sabouraud, lactrimel, etc ); quando
solidificado, cortar com bisturi esterilizado, blocos de cerca de 1 cm2.

 Retirar um destes blocos de meio de cultivo e, com bisturi, transferí-lo para a lâmina da outra placa
de Petri; inocular cada um dos centros dos lados do bloco com porções do cultivo do fungo a
examinar; cobrir com lamínula esterilizada; adicionar 5 a 8 ml de água destilada esterilizada ao fundo
da placa para embeber o papel de filtro; incubar no escuro à temperatura ambiente.

 Examinar periodicamente ao microscópio; quando estiverem formados os aparelhos conidianos,


retirar com cuidado a lamínula e colocá-la invertida, em outra placa de Petri esterilizada, em estufa a
37C por uma noite. Ao mesmo tempo, retirar e eliminar o bloco de ágar da lâmina; a lâmina,
colocada em placa de Petri também é levada para estufa a 37C por uma noite.

 Após a dessecação na estufa, que fixa os conídios: a lamínula é invertida e posta sobre lâmina limpa,
onde previamente fora posta uma pequena gota de lactofenol ou lactofenol-azul algodão; a lâmina,
por sua vez, recebe uma pequena gota de lactofenol e é coberta por lamínula limpa.

 As preparações são examinadas microscopicamente.

LÍQUIDOS PARA MONTAGEM


Lactofenol

Fenol 20 ml
Ácido cítrico 20 ml
Glicerina 40 ml
Água destilada 20 ml

 Preparo: Dissolver o fenol em banho Maria; juntar os demais componentes.

Lactofenol-azul algodão

Os mesmos componentes do lactofenol, acrescido de azul de algodão 0,05 g. Dissolver o


corante na água destilada e, depois, adicionar os demais reativos. Conservar em temperatura ambiente.

Solução de Hidróxido de potássio (KOH)

Hidróxido de potássio 10 g
Água destilada 100 ml

ou Hidróxido de potássio 10 g
Glicerina 20 ml
Água destilada 80 ml

50
 Preparo: Misturar os ingredientes; conservar ao ambiente.

Solução de Hidróxido de sódio (NaOH)

Hidróxido de sódio 4g
Água destilada 100 ml

 Preparo: Misturar os ingredientes e conservar ao ambiente.

Tinta Nankin

Usa-se não diluída. Pode ser substituida por uma solução de nigrosina:

Nigrosina em pó 10 g
Solução de formol a 10% 10 ml

 Preparo: Dissolver a nigrosina na solução de formol em banho-Maria, por meia hora; completar o
volume com formol 10%; filtrar. Conservar ao ambiente.

COLORAÇÕES PARA ESFREGAÇOS


Para as técnicas de coloração ao Gram e Kinyoun, ver a parte técnica de Bacteriologia; para o
Giemsa, a parte técnica de Parasitologia. [(NOTA: Não é mais nosso caso, não é? Mas, creio que valeria
a pena a descrição da impregnação argêntea ao Grocott.)]

MEIOS DE CULTIVO PARA ISOLAMENTO


Extrato de levedura ágar

Composição: Solução de extrato de levedura a 15 % 6 ml


Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml

51
 Preparo: Esterilizar a solução de extrato de levedura em água destilada, por filtração.
Dissolver o ágar em água por aquecimento em banho-Maria; autoclavar a 120C por 15 minutos;
deixar esfriar a 60C e, então, juntar a solução de extrato de levedura; distribuir em placas (e/ou
tubos) e vedá-las. Conservar à temperatura de 4C (geladeira).

Infuso de cérebro-coração ágar (BHI-ágar)

Composição: "Brain heart infusion" (Difco, USA) 37 g


Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Dissolver os ingredientes em água por aquecimento em banho-Maria; distribuir em


tubos de ensaio; autoclavar a 120C por 15 minutos. Conservar em geladeira.

Sabouraud glicose 2% ágar

Composição: Dextrose 20 g
Peptona 10 g
Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Dissolver o ágar em água por aquecimento em banho-Maria; adicionar os demais


ingredientes; distribuir em tubos; autoclavar a 120C por 15 minutos. Conservar em geladeira.

Sabouraud glicose 2% ágar com cloranfenicol e cicloheximida

Composição: Dextrose 20 g
Peptona 10 g
Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml
Cloranfenicol 50 mg
Cicloheximida 500 mg

 Preparo: Dissolver 50 mg de cloranfenicol em 10 ml de álcool 95 e dissolver 500 mg de


cicloheximida em 10 ml de acetona. Em seguida, dissolver o ágar em água, por aquecimento em
banho-Maria; juntar os demais ingredientes e as duas soluções de antibióticos; distribuir em
tubos, autoclavar a 120C por 15 minutos. Conservar em geladeira.

52
MEIOS DIFERENCIAIS
Actinymyces: conservação de estirpes. Tioglicolato caldo
Composição: Thioglycollate (BBL) 29,5 g
Trypticase soy (BBL) 1,5 g
Triptose (Difco) 1,25 g
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Dissolver os ingredientes por aquecimento em banho-Maria; distribuir em tubos com tampa
de galalite (baquelite) rosqueada; autoclavar a 120C por 15 minutos. Conservar em geladeira.

Aspergillus: identificação. Czapeck-Dox ágar


Composição: Sulfato de magnésio 0,5 g
Cloreto de potássio 0,5 g
Fosfato dipotássico 1,0 g
Sulfato ferroso 0,01 g
Nitrato de sódio 3,0 g
Sacarose 30,0 g
Ágar 20,0 g
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Dissolver o ágar em água por aquecimento em banho-Maria; misturar os demais ingredientes;
distribuir em tubos; autoclavar a 120C por 15 minutos. Conservar em refrigerador.

Candida albicans: identificação rápida. Meio de fubá (cor meal) ágar


Composição: Fubá (Farinha de milho) 40 g
Tween 80 10 ml
Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Juntar a farinha de milho (fubá) com 500 ml de água e aquecer em banho-Maria a 60C por
45 minutos; filtrar em gaze dupla e, depois, em papel de filtro. Adicionar água para completar 1 litro e
dissolver o ágar; ajustar o pH para 6.8 e adicionar o Tween 80; distribuir em tubos; autoclavar a 120 C
por 15 minutos. Conservar em refrigerador.

Prova da produção de tubos germinativos em soro


Composição: Soro humano

 Preparo: Distribuir o soro em alíquotas de 0,5 ml em pequenos tubos. Conservar a menos 15C.
Para verificar a produção de tubos germinativos, inocular leveduras suspeitas de colônia recém
isolada no soro, incubar em estufa a 37C durante duas horas e em seguida examinar ao microscópio.
Somente Candida albicans produz tubos germinativos.

53
Dermatófitos: diferenciação entre T. mentagrophytes e T. rubrum
 Meio de Christensen (Uréia-ágar)
Composição: Peptona 1g
Glicose 1g
Cloreto de sódio 5g
Fosfato monobásico de potássio 2 g
Fenol vermelho 12 mg
Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml
----------------------------------------------------------
Solução de uréia a 20%

 Preparo: Com exceτπo do ágar, dissolver os demais ingredientes em 1 litro de água destilada; ajustar o
pH a 6.8; adicionar o ágar e dissolver por aquecimento em banho-Maria; distribuir em alíquotas de 4,5 ml
em tubos; autoclavar a 120C por 15 minutos; esfriar o meio a 70C e, então, misturar 0,5 ml de uma
solução de uréia a 20% em cada tubo, agitando bem. Conservar em refrigerador.

Fungos negros e outros: produção de propágulos(cultivo em lâmina)


 Lactrimel
Composição: Farinha de trigo 20 a 30 g
Leite integral 200 a 250 ml
Mel de abelhas 10 g
Ágar 20 g
Cloranfenicol 250 mg
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Misturar lentamente a farinha com a água; dissolver bem; acrescentar os demais ingredientes,
aquecendo em banho-Maria e misturando freqüentemente; distribuir em tubos; autoclavar a 120C por 15
minutos. Conservar em refrigerador.

Nocardia: identificação rápida. (Nota: Este meio também serve para estimular a produção de conídios
característicos de Paracoccidioides brasiliensis)
1) Ágar água
Composição: Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Misturar os ingredientes e dissolver por aquecimento; distribuir em placas de Petri.


Conservar as placas seladas em refrigerador.

2) Prova da gelatina
Composição: Gelatina 4g
Água destilada 1.000 ml

54
 Preparo: Dissolver a gelatina e ajustar o pH a 7; distribuir em tubos; autoclavar a 120C por 15
minutos. Conservar em refrigerador.

3) Prova da caseina
Composição: a - Leite desnatado 10 g
Água destilada 100 ml
b - Ágar 2g
Água destilada 100 ml

 Preparo: Autoclavar as misturas a e b a 120C por 15 minutos; resfriá-las a 45C e, então, misturá-las;
distribuir em placas de Petri. Conservar em refrigerador.

4) Provas da tirosina e xantina


Composição: Tirosina / Xantina 5g
Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Dissolver por aquecimento o ágar na água; adicionar os cristais de tirosina ou xantina e
misturar bem. Autoclavar; misturar bem os cristais no meio, por agitação; distribuir em placas de Petri.
Conservar em refrigerador.

Mucoráceas: Isolamento e identificação


1) Pão ágar
Composição: Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml
-----------------------------------------
Pão

 Preparo: Dissolver o ágar em água; autoclavar a 120C por 15 minutos; distribuir. Esterilizar o pão e
colocar sobre o ágar.

2) Infuso de feno ágar


Composição: Feno em decomposição 50 g
Fosfato dipotássico 2g
Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Misturar o feno com água. Autoclavar 30 minutos a 120C; filtrar por talagarça (ou gaze
dupla); adicionar o fosfato e ágar; resfriar a ajustar o pH a 6.2; ferver; distribuir em tubos; autoclavar a
120C por 15 minutos. Conservar em refrigerador.

55
MEIO CGB

Produção da solução A (para um volume final de 100 mL)


Pesar na balança analítica os seguintes insumos:
L-Canavanina – 30mg
Glicina - 10g
KH2PO4 – 1g
7H2O MgSO4 – 1g
Colocar estes insumos em Becker de 200mL.
Acrescentar 1mg de Tiamina HCl ou Tiamina.
Diluir com 50 mL de água bidestilada.
Verificar o pH da solução utilizando o potenciômetro.
Corrigir, se necessário, com NaOH 1M ou HCl.
O pH final deverá ser 5,6.
Completar até o volume final de 100 mL com água bidestilada.
Dentro da cabine de segurança biológica esterilizar, por filtração utilizando membrana 0,22 m e
fazer alíquotas de 25 mL, em tubos de ensaio estéril com tampa de rosca.
Armazenar em freezer (-20ºC).

Produção da solução B (para um volume final de 100 mL)


Solução de Azul de Bromotimol Sódico 0,4%.
Pesar na balança analítica o seguinte insumo:
Azul de bromotimol sódico - 0,4g
Colocar este insumo em Becker de 200 mL.
Diluir com 50 mL de água bidestilada.
Homogeneizar.
Completar até o volume final de 100ml com água bidestilada.
Colocar esta solução em frasco âmbar ou envolvido com papel alumínio com tampa de rosca.
Armazenar em geladeira (+2 a +8ºC).

Produção final do meio CGB (para um volume final de 250 mL)


Pesar em balança analítica o seguinte insumo:
Ágar bacteriológico - 5g
Retirar do freezer a solução A e deixar em temperatura ambiente.
Colocar em Erlenmeyer 500 mL, 5g de ágar, 5 mL da solução B, completar volume até 220 mL com
água bidestilada.
Autoclavar 121ºC por 15 minutos.
Resfriar ± 55ºC.
Acrescentar ao meio, a 55ºC, 20 mL da solução A lentamente, homogeneizando bem. Distribuir 2,5
mL nos tubos de ensaio estéreis 13x100 mm com tampa de rosca.
Estender os tubos em bancada com suporte para a formação de bisel.

56
TESTE CGB

Fazer um repique da cepa no meio Agar Sabouraud dextrose e incubar a 25ºC por 48h.

Fazer um inóculo pontual com alça bacteriológica no meio CGB incubar a 25ºC por 5 dias.

OBS: O repique da cepa deverá ser feito a partir de uma colônia isolada de um cultivo em meio níger,

para evitar teste falso-positivo.

LEITURA CGB

Primeira leitura em 48h e leitura final em 5 dias.

Meio com manutenção da coloração original (amarelo-esverdeado), e sem crescimento do inóculo inicial

indica resultado negativo (CGB negativo), espécie Cryptococcus neoformans.

Meio onde a coloração passou de amarelo-esverdeado para azul-cobalto com crescimento do inóculo

inicial indica resultado positivo (CGB positivo), espécie Cryptococcus gattii.

TÉCNICAS E COLORAÇÕES HISTOLÓGICAS


De preferência devem ser feitas em laboratório de histopatologia.

TÉCNICAS SOROLÓGICAS
Ver a parte de imunologia.

Preservação de soros de pacientes - Para cada 1 ml de soro obtido, usar 0,01 ml da solução abaixo:

Solução: Mertiolate incolor 1 g


Borato de sódio 1,4 g
Água destilada 100 ml

Exo-antígenos - Para identificação de cultivos isolados.

57
REFERÊNCIAS (Além dos textos citados no tópico inicial de Morfologia dos fungos):

AJELLO, L.; GEORG, L.K. et al. -Laboratory manual for medical mycology. U.S.Department of
Health, Education and Welfare, Atlanta GA, 1963.

HALEY, L.D. & STANDARD, P.G. -Laboratory methods in medical mycology. U.S.Department of
Health, Edication and Welfare, Atlanta GA, 1973.

BORELLI, D. Medios caseros para micología. Arch. Venezolanos Med. Trop. Parasitol. Med., 4: 301-
310, 1962.

PROTOCOLO DE ISOLAMENTO DE AGENTES DE MICOSES


SISTÊMICAS DE SOLO

AMOSTRA DE SOLO (50 g)


SOLUÇÃO SOLO + SALINA ESTÉRIL 0,9% (500 ml)
(com cloranfenicol 500mg/l)


AGITAR 3 min  REPOUSO 20 min


INOCULAR 1 ml DO SOBRENADANTE EM 4 CAMUNDONGOS

58

NECRÓPSIA APÓS 4 SEMANAS (observar sempre)


FRAGMENTOS DE FÍGADO E BAÇO

 
HISTOPATOLÓGICO CULTIVO (Sabouraud e Mycosel)


Patógeno na forma parasitária em tecidos  Identificação: dimorfismo

PROTOCOLO DE ISOLAMENTO DE
Cryptococcus neoformans DE AMOSTRAS AMBIENTAIS E DE
ESPÉCIMES CLÍNICOS CONTAMINADOS
[plaqueamento em Niger Seed Agar (NSA = Meio de Níger)]

Cryptococcus neoformans  Isolamento a partir de amostras ambientais  plaqueamento


em meio de Niger (NSA)

59
 NSA (Niger Seed Agar - Staib, 1962)  Utilizado para identificação e isolamento de
Cryptococcus neoformans de materiais contaminados, tanto clínicos (escarro, urina, etc.) quanto
ambientais (poeira doméstica, madeira em decomposição, excreta de pombos e aves cativas, etc.).

Composição: Semente de niger 100 g


Ágar 20 g
Cloranfenicol 400 mg
Amicacina 0,8 ml
Água destilada 1.000 ml

 Preparo: Fever por 15 minutos 100 g de semente de niger em 400 ml de água destilada, em seguida
bater no liquidificador (sementes com a água) para romper as sementes, filtrar em coador. O filtrado
obtido é utilizado para preparar o meio. Acrescentar 20g de ágar, 400 mg de cloranfenicol, 0,8 ml de
aminacina e completar o volume com água destilada até 1.000 ml. Autoclavar a 121ºC por 15 minutos.
Distribuir em placas de petri dentro de câmara de fluxo.

Conservar em refrigerador.

Plaqueamento - 1g de material ambiental é macerado em cadinho, com auxílio de pistilo,


acrescentando 50 ml de salina fisiológica estéril acrescida de clorafenicol (400 mg/l). A
suspensão é colocada em erlenmeyer, homogeneizada em vórtex por 1 minuto e decantada por 30
min. O sobrenadante é aspirado com auxílio de seringa 0,1 ml e semeado em placas com o meio
NSA, 10 placas para cada amostra. Para espécimes clínicos o procedimento é similar.

Crescimento de colônias marrons no meio NSA indica presença de C. neoformans,


confirmada através de estudos da micromorfologia em preparações com tinta nanquim e azul de
algodão, para evidenciar a presença de cápsula e de células redondas ou ovalada uni ou
bibrotantes sem hifa ou pseudohifa, sensibilidade à cicloheximida, produção de urease e testes
bioquímicos clássicos de fermentação e assimilação de carbono e nitrogênio, para determinar a
identificação final de gênero e espécie.

60

Você também pode gostar