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Rio de Janeiro
INTRODUÇÃO
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Conídios - O tipo mais simples de formação de conídio é verificado nos lêvedos; o broto cresce, separa-
se da célula mãe por um septo, originando-se um blastoconídio. Por vêzes, os blastoconídios alongam-se,
continuam ligados à célula mãe e, por brotamentos repetidos, podem formar longas cadeias. Estas cadeias
de blastoconídios alongados lembram hifas e, por isso, denominam-se pseudo-hifas. Um segundo tipo,
também simples, se verifica nos fungos filamentosos, cujas hifas se desarticulam em segmentos
retangulares, os artroconídios. Um terceiro tipo simples é constituído por células interseptais ou
terminais de hifas, nas quais concentra-se o citoplasma, aumentam de volume e sua parede se espessa,
formando os clamidoconídios.
Segundo a gênese, o conídio pode ter origem blástica ou tálica. Blástico, provém da formação
da gema ou broto por parte de uma célula, com crescimento posterior; tálico provém de uma célula pré-
formada. Estes dois tipos podem nascer envoltos por uma ou mais camadas das paredes da célula
conidiogênica; a posição do conídio em relação à célula mãe pode variar e a relação dos conídios entre si
também é variável. Estas diferenças e variações implicaram na criação de uma terminologia necessária,
apropriada para o micólogo.
Quando um fungo filamentoso forma conídios de dois tamanhos distintos eles serão designados
macro e microconídio, respectivamente o maior e o menor. Os conídios podem estar envoltos por
paredes hialinas ou fuliginosas; a parede externa pode ser lisa, rugosa, equinulada, etc.; podem ter formas
variadas (esféricos, clavados, piriformes, etc.); podem apresentar septos num ou em dois planos. As
denominações apropriadas a cada uma destas variações serão fornecidas posteriormente.
Nos fungos filamentosos há células conidiogênicas que são indistinguíveis das demais e
também as há diferenciadas. Estas células podem nascer de hifas ou de ramos especializados, os
conidióforos. A célula conidiogênica e o conidióforo podem constituir estruturas bem diferenciadas, o
aparelho conidiano ou "frutificação". Merecem descrição algumas células conidiogênicas e certas
frutificações tão peculiares que permitem a identificação de muitos fungos patogênicos. Entre as células
conidiogênicas, a fialídica e a anelídica; entre as frutificações, cladospório, rinocladiela, acremônio e
aspergilo.
A célula fialídica ou fiálide, tem a forma de ânfora sem alças; ao se produzir o primeiro conídio
no ápice, restos de sua parede podem persistir, formando borda com aspecto de taça, o colarete, sobre o
qual acumulam os demais conídios que se formam. A célula anelídica ou anelóforo, de base alargada,
afila-se para o ápice, onde nascem os conídios em sucessão; após a formação de cada conídio, a parte
apical cresce, persistindo uma marca cicatricial anelar no ponto em que surgiu cada conídio.
O aparelho conidiano tipo cladospório tem conidióforo semelhante a um ramo lateral de hifa,
porém com célula terminal mais robusta e ornada de pequenos dentículos apicais, onde surgem os
primeiros conídios; estes, por gemação geram conídios que formam cadeias, nas quais os elementos estão
unidos por disjuntores; as cadeias podem ser ramificadas, longas ou curtas. No aparelho conidiano tipo
rinocladiela, o conidióforo assemelha-se a um ramo de hifa, porém com mais de uma célula
conidiogênica, em cujos dentículos se produzem os conídios; nas células basais eles formam-se
lateralmente, pleurógenos; na célula terminal, apicalmente, acrógenos. No aparelho conidiano tipo
acremônio o conidióforo é afilado para o ápice, pode ter um ou mais septos e os conídios, que nascem no
ápice, ficam aglomerados em bola ou cabeça por uma substância glutinosa. No aparelho conidiano tipo
aspergilo, o conidióforo inicia de uma célula da hifa, o pé, e termina em uma dilatação, a vesícula; ao
redor da vesícula distribuem-se, diretamente ou sobre métulas, as fiálides, que geram conídios formando
cadeias.
Os conidióforos podem se formar na face interna de estruturas em forma de urna, denominadas
picnídios. Os conídios, picnidioconídios, são liberados por uma pequena abertura, o ostíolo.
Esporos - Nos fungos de hifas cenocíticas, sem que haja intervenção do fenômeno sexuado, os esporos,
esporangiósporos, resultam da clivagem do citoplasma, contido em estruturas globulosas, os
esporângios; estas estruturas são suportadas por um ramo de hifa especializada, o esporangióforo. Estes
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fungos também podem reproduzir-se sexuadamente: curtos ramos de duas hifas de sexualidade diferente,
os gametângios, se aproximam, fundem seus citoplasmas e núcleos, desenvolvendo grandes estruturas de
paredes espessas, os zigósporos.
Nos fungos de hifas septadas, os fenômenos sexuados se processam em uma hifa especializada
na formação de gametas ou requerem duas hifas de sexualidade diferente; após a cariogamia forma-se
uma estrutura saciforme, o asco, onde, após a meiose, surgem quatro a oito esporos, os ascósporos. Os
lêvedos podem formar ascos por conjugação. Nos fungos filamentosos os ascos podem se distribuir em
lóculos no micélio, então denominado ascostroma, ou ficar abrigados em estruturas especiais do micélio,
o ascocarpo. Dois tipos de ascocarpo interessam à micologia médica: o cleistotécio, estrutura esférica de
parede formada por hifas intimamente unidas, encerrando vários ascos; e, o gimnotécio, também
esférico, porém de paredes formadas de hifas frouxamente unidas, permitindo a saida dos esporos através
dela. Num segundo tipo de reprodução sexuada, os esporos, em número de quatro, formam-se
externamente, sobre dentículos, localizados na porção apical mais alargada de uma estrutura claviforme;
esta estrutura é o basídio e os esporos, os basidiósporos.
Os fungos que se reproduzem por ascósporos ou basidiósporos também se multiplicam
assexuadamente por conídios. A fase sexuada dos fungos é denominada fase teleomórfica e a fase
assexuada, anamórfica. Como a fase teleomórfica foi conhecida posteriormente à fase anamórfica, os
fungos patogênicos usualmente costumam ser designados anamorficamente, isto é, na “forma genérica”.
Os fungos patogênicos, portanto, usualmente são identificados pelos conídios que produzem, mesmo
porque se desconhece a reprodução sexuada em muitos deles.
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ADENDO - Bactérias filamentosas, actinomicetos
Bibliografia Básica
AJELLO, L & HAY, RJ - Medical Mycology. In: Topley & Wilson's Microbiology and Microbial Infections. 9th ed.
Vol. 4, Arnold, London, 1998.
KWON-CHUNG KJ & BENNETT JE - Medical Mycology, Lea & Febiger, Philadelphia, 1992.
LACAZ, CS, PORTO E, MARTINS JEC - Micologia Médica, 8a. ed. Sarvier, S. Paulo, 1991.
LACAZ CS, PORTO E, HEINS-VACCARI EM, MELO NT - Guia para identificação de fungos, actinomicetos e
algas de interesse médico, Sarvier-EDUSP, São Paulo, 1998.
McGINNIS, MR - Laboratory Handbook of Medical Mycology, Academic Press, New York, 1980.
MICOSES HUMANAS
As micoses humanas podem ser causadas por fungos patogênicos ou por fungos oportunistas.
Patogênicos são aqueles que têm capacidade de invadir os tecidos de um hospedeiro normal; os
oportunistas, no entanto, somente são invasores de tecidos de indivíduos com alterações graves do
sistema imunodefensivo. As doenças por fungos patogênicos se classificam em quatro grupos naturais:
Micoses superficiais, cutâneas, subcutâneas e sistêmicas. As doenças por fungos oportunistas se
agrupam sob a denominação Micoses oportunísticas.
Ao invadirem os tecidos, os fungos sofrem uma redução morfológica. Este fenômeno, que vai
desde a simples perda da capacidade de produzir propágulos até a transformação total do talo, também é
conhecido como dimorfismo. Estas modificações caracterizam a adaptação (dos fungos) ao
parasitismo.
O diagnóstico laboratorial das micoses se fundamenta no estudo de uma amostra obtida da
lesão. Nela deve ser visualizado o agente etiológico em sua forma parasitária ou invasiva, ao exame
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microscópico e, demonstrada a presença do fungo, por seu isolamento e identificação em substratos
apropriados, onde cresce em sua forma saprofitária, exame em cultivo.
ADENDO - Actinobacterioses
As actinobacterioses obedecem a uma patogenia e as actinobactérias produzem lesões que
permitem agrupá-las em subcutâneas, sistêmicas e oportunísticas. Por isso e por comodidade elas serão
tratadas como anexo a cada grupo respectivo de micoses. No entanto, os actinomicetos são
monomórficos, isto é, não sofrem a marca do parasitismo. O diagnóstico laboratorial das
actinobacterioses obedece às regras bacteriológicas.
MICOSES SUPERFICIAIS
As micoses superficiais são infecções: 1) causadas por fungos que invadem apenas as camadas
mais superficiais da capa córnea da pele ou a haste livre dos pêlos; 2) cujas lesões se manifestam como
mancha pigmentar na pele, ou nódulo nos pêlos; 3) nas quais a forma invasiva do fungo é uma hifa,
característica de cada micose.
Quatro são as micoses superficiais: piedra negra, piedra branca, pitiríase versicolor e tinha
negra (feohifomicose superficial). Exceto a tinha negra, as três outras micoses usualmente são
diagnosticadas apenas ao exame microscópico direto. Este exame é feito em preparações, nas quais as
escamas obtidas por raspagem da pele ou os nódulos dos pêlos, são montados em gota de solução de
hidróxido de potássio (KOH) a 10%. Para o isolamento dos agentes da tinha negra, usa-se o meio de
Sabouraud-glicose 2% e, para a identificação, é recomendado o meio de Lactrimel para cultivo em
lâmina.
PIEDRA NEGRA
(Sinonímia: tricomicose nodosa, tricomicose)
É micose causada por Piedraia hortae, fungo saprófita em natureza. No Brasil, a infecção é
endêmica na região Amazônica e esporádica nas demais regiões, principalmente em áreas quentes de
elevada umidade.
Micose - Clinicamente se manifesta como nódulos de cor escura, localizados na haste dos cabelos.
Únicos ou múltiplos, os nódulos são duros e muito aderentes aos cabelos.
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PIEDRA BRANCA
(Sinonímia: micose de Beigel, tricomicose)
A piedra branca resulta do crescimento de Trichosporon beigelii sobre a haste dos pêlos. Este
fungo é saprófita em natureza. A micose ocorre endêmicamente em todo Brasil.
PITIRÍASE VERSICOLOR
(Sinonímia: tinha versicolor, dermatomicose furfurácea)
Malassezia furfur é o agente da micose. Hóspede normal da pele do homem, onde vive
extrecelularmente sob a forma de lêvedo. Ao invadir as células queratinizadas das camadas superficiais
da pele, M. furfur transforma-se em hifas e determina a micose. Esta transformação de comensal em
parasita se deve a fatores ainda desconhecidos, entre os quais a renovação mais rápida da capa córnea da
pele e a existência de certos lipídios. A micose é de elevada prevalência em todo Brasil.
Micose - A doença se manifesta como manchas descamativas, levemente acastanhadas, de cor marron
clara, às vezes de aspecto hipocrômico, raramente eritematosas, distribuídas principalmente, pelo tórax,
abdomen e membros superiores. As máculas, isoladas ou confluentes, podem ter distribuição limitada ou
generalizada. Em indivíduos de pele escura, as máculas são hipocrômicas. Raramente a micose se
apresenta como lesões papulosas ou como foliculite.
Fungo - Aspecto parasitário - Nas escamas da pele vêem-se curtos fragmentos de hifas ligeiramente
acastanhadas, geralmente curvas, de ápices retilíneos, raramente ramificadas. As hifas, de paredes
espessas e não paralelas, têm septos distribuidos a longos intervalos. Observam-se, também, elementos
esféricos, com 3 a 8 m de diâmetro, isolados ou em grupos, de paredes espessas, alguns com brotamento
fialídico.
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Aspecto em cultivo - Cultivos podem ser obtidos em Sabouraud-glicose 2% recoberto com uma
camada de azeite de oliva, incubando-se a 37C. As colônias leveduriformes, de cor creme, se compõem
de um conglomerado de elementos leveduriformes.
FEOHIFOMICOSE SUPERFICIAL
(Sinonímia: tinha negra, cladosporiose epidérmica)
Micose - A tinha negra se apresenta como mácula de cor marron ou negra, usualmente única e localizada
na palma das mãos, podendo ocasionalmente atingir planta dos pés.
Fungo - Aspecto parasitário - Nas escamas cutâneas, P. werneckii é visto como hifas ramificadas e
septadas. As porções apicais das hifas são hialinas, têm paredes paralelas e septação regular. As partes
mais velhas das hifas têm cor castanho-dourada, paredes muito irregulares e septos irregularmente
distribuídos, o que as torna características.
Referências
FISCHMAN, O. Black piedra in Brazil. A contribution to its study in Manaus (State of Amazonas).
Mycopathologia, 25:201-204, 1965.
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FISCHMAN, O., CAMARGO, Z.P. et al. Genital white piedra. An emerging new fungal disease? In: Superficial,
cutaneous and subcutaneous infections. V International Conference on the Mycoses. PAHO Sci. Pub. n 396, 1980,
pp 70-76.
HORTA, P. Sobre uma nova forma de piedra. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, 3:87-88, 1921.
HORTA, P. Sobre um caso de tinha preta e um novo cogumelo (Cladosporium werneckii). Rev. Med. Cir. Brasil,
29:269-274, 1921.
SILVA-HUTNER, M. Malassezia furfur as a pathogen and in culture. A review. In: Superficial, cutaneous and
subcutaneous infections. V Internation Conference on the Mycoses. PAHO Sci. Pub. n 396, 1980, pp. 29-43.
VANBREUSEGHEM, R. Morphologie parasitaire de l'agent du Pityriase versicolor: Malassezia furfur. Ann. Soc.
Belge Med. Trop., 35:251-254, 1954.
MICOSES CUTÂNEAS
As micoses cutâneas se caracterizam porque: 1) são causadas por fungos que invadem toda a
espessura da capa córnea da pele, ou a parte queratinizada intrafolicular dos pêlos, ou a lâmina ungueal;
2) na pele se manifestam como mancha inflamatória, nos pêlos como lesão de tonsura e na unha por
destruição da lâmina ungueal; 3) são infecções adquiridas por contato com o solo, animais ou homens
infectados; 4) na lesão, a forma invasiva do fungo é uma hifa, característica de cada micose.
Diagnóstico laboratorial - O espécime para exame é constituido por escamas de pele ou unha, obtidas
por raspagem; pêlos, epilados com pinça; e, nas lesões inflamatórias, o pus, o conteúdo de vesículas ou
bolhas e a pele que as recobre. O exame microscópico é feito por montagem do material em gota de KOH
a 10%. Nos cultivos para isolamento do agente etiológico aconselha-se o meio de Sabouraud-glicose 2%
acrescido de cloranfenicol e cicloheximida. A identificação pode ser feita neste mesmo meio ou em
substratos especiais.
DERMATOFITOSE
(Sinonímia: tinha, dermatomicose)
Os dermatófitos são saprófitas no solo, onde vivem em restos de queratina (são fungos
queratinofílicos). Muitas espécies foram se adaptando ao parasitismo nos animais e no homem. De
acordo com a adaptação ao parasitismo humano, os dermatófitos podem se dividir em: 1) antropofílicos,
adaptados ao parasitismo de humanos; 2) zoofílicos, primariamente parasitas de animais; e, 3) geofílicos,
saprófitas de solo, ocasionalmente parasitas do homem.
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Muitos dermatófitos são cosmopolitas, outros têm distribuição muito limitada. Isto condiciona a
variabilidade do número de espécies que ocorrem em regiões ou países diferentes. Dentre as cerca de 30
espécies de dermatófitos reconhecidamente patogênicas para o homem, no mínimo 15 ocorrem no Brasil
(Tabela 1).
De elevadíssima prevalência, as dermatofitoses constituem problema do dia a dia das clínicas
dermatológicas brasileiras. A espécie predominante no Brasil é Trichophyton rubrum. Em todo o
território brasileiro ocorrem ainda, de forma endêmica e, ocasionalmente epidêmica, em comunidades
fechadas, tinhas por Epidermophyton floccosum, T. mentagrophytes, Microsporum canis e M. gypseum
(complexo). Porém, T. tonsurans e T. violaceum são agentes de tinhas mais prevalentes na metade norte
do Brasil; T. verrucosum, em populações de bacias leiteiras; T. concentricum, em indígenas do Brasil
Central; T. megnini, em cidades que recebem imigrantes europeus; T. schoenleinii, em certos focos
localizados, em comunidades de descendentes de povos oriundos do Mediterrâneo, Europa Oriental e
Oriente Médio. Recentemente foi identificado no Rio de Janeiro um novo dermatófito, T. raubitschekii
[Caiuby, MJ; Monteiro, PCF & Nishikawa, MM –Isolation of Trichophyton raubitschekii in Rio de
Janeiro (Brazil). J. Med. Vet. Mycology, 34: 361-363, 1996]). O conjunto de espécies de agentes de
tinhas, espectro dermatofítico, é variável de região a região e é muito dinâmico no tempo. Infelizmente
este conhecimento é muito incompleto no Brasil, decorrendo da falta de continuidade nos estudos
realizados.
Micose - As dermatofitoses podem ser classificadas nas seguintes modalidades clínicas: dermatofitose ou
tinha do couro cabeludo, tinha da pele glabra, tinha da barba e da face, tinha inguinal, tinha dos pés e
tinha das unhas. Uma mesma modalidade clínica pode ser determinada por várias espécies de
dermatófitos; da mesma maneira, uma espécie pode determinar vários tipos de lesões. No entanto, a
maioria dos dermatófitos mostra preferência por certas áreas do tegumento.
Tinha do couro cabeludo (tinea capitis) - Usualmente, quando determinada por M. canis, se manifesta
como área circular de tonsura, com superfície escamosa, onde os cabelos quebrados afloram 1 a 2 mm
acima do couro cabeludo. As lesões determinadas por T. tonsurans e T. violaceum usualmente são
múltiplas, apresentando pequenas áreas de tonsura na superfície das quais vêem-se pontos negros,
resultantes da invaginação do cabelo parasitado no folículo piloso. M. gypseum, T. mentagrophytes e T.
verrucosum comumente provocam quadros agudos, com intensa reação inflamatória; neste caso, a lesão,
denominada quérion, é representada por placa elevada, dolorosa, de aspecto esponjoso, pontilhada de
micro-abscessos. As tinhas por T. schoenleinii caracteristicamente se apresentam como endemias em
pequenas comunidades, onde se observam pacientes adultos com áreas de alopécia cicatricial, crianças
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com lesões papiróides ou pitiróides do couro cabeludo e, mais raramente, com áreas cicatriciais, onde há
raros cabelos sem brilho e lesões crateriformes perifoliculares (escútula fávica, favo).
Tinha da pele glabra (tinea corporis) - Geralmente as lesões são anulares, de crescimento centrífugo,
centradas por pele sã e limitadas por bordos eritemato-vésico-crostosos; estas lesões são únicas ou
múltiplas, isoladas ou confluentes. Por vezes a tinha se manifesta como extensas placas escamo-crostosas
acinzentadas, ou como placas infiltradas e eritematosas; em ambos os casos, há porções de bordo
salientes e eritemato-crostosos. Ocasionalmente, as manifestações são de foliculite ou placa de quérion,
ou de lesão granulomatosa profunda. T. rubrum, T. mentagrophytes, M. gypseum, E. floccosum e M.
canis são os agentes mais comuns da tinha da pele glabra.
Tinha da barba e da face - Na área coberta de barba, ocasionalmente são vistas lesões anulares,
idênticas às da pele glabra. Lesões de foliculite ou placa de quérion são mais freqüentes no bigode e
barba. Lesões de bordos apagados, circundando áreas escamosas, localizadas no dorso do nariz e face,
simulando lupus eritematoso, não são raras. T. rubrum e T. mentagrophytes são os agentes mais
comuns.
Tinha dos pés e das mãos (tinea pedis e tinea manuum) - Três são os tipos mais freqüentemente
observados. O primeiro, de carater agudo, tem localização plantar ou palmar e se manifesta por pústulas
ou vésico-crostas, em áreas limitadas ou não. O segundo, de curso crônico, também plantar ou palmar, se
evidencia como áreas escamosas, assentadas em base eritematosa espessada. O terceiro, localizado nos
espaços interdigitais dos pés, se apresenta como áreas descamadas, maceradas, ou como fissuras. Três
são os agentes mais comuns: T. rubrum, T. mentagrophytes, e E. floccosum.
Tinha das unhas (tinea ungueum) - A lesão inicia por destruição do bordo livre da lâmina ungueal que
cedo se espessa, acumulando-se entre ela e o leito ungueal uma substância tipo requeijão. Com a
progressão da lesão há destruição total da lâmina ungueal. T. rubrum é o agente mais comum.
Fungo - Aspecto parasitário - Nas escamas de pele e unha, qualquer dos dermatófitos é visto como
hifas hialinas, septadas e ramificadas. Estas hifas de paredes paralelas podem se desarticular, resultando
cadeias de artroconídios. Nos cabelos os dermatófitos também se evidenciam como hifas ou cadeias de
artroconídios; porém, em função da relação destes elementos com os cabelos, distinguem-se três tipos de
parasitismo: 1) ectótrix, quando os artroconídios se dispõem ao redor do cabelo, como uma bainha (se
pequenos, de 2 a 3 m, M. canis ou T. mentagrophytes; se grandes, de 8 a 10 m, T. verrucosum); 2)
endótrix, quando os artroconídios, de tamanho médio, se localizam no interior do cabelo, lembrando um
saco de nozes (T. tonsurans e T. violaceum); e, 3) fávico, quando há algumas hifas intracapilares, em
cabelos sem brilho e de tamanho normal (T. schoenleinii).
Aspecto em cultivo – O meio de Sabouraud-glicose 2%, adicionado de cloranfenicol e
cicloheximida, é de eleição para o isolamento de dermatófitos. A identificação da maioria das espécies é
feita pelo estudo das colônias obtidas neste meio. Por vezes é necessário o uso de provas nutricionais,
ataque ao pêlo in vitro ou produção de urease para a identificação de certas amostras. Mais raramente,
para o reconhecimento de estirpes atípicas, é necessário o pareamento sexual, induzindo a produção de
ascos. Fundamentalmente, as colônias obtidas em Sabouraud-glicose 2% são identificadas pelos seus
aspectos macro e micromorfológicos. A maioria das espécies de dermatófitos produz dois tipos de
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conídios: um pequeno, microconídio, e outro grande, macroconídio. Os macroconídios são característicos
de dois gêneros: no Microsporum, comumente são fusiformes, grandes, multisseptados, de paredes
espessas e rugosas; no Epidermophyton, são clavados, robustos, bi ou trisseptados, com paredes lisas e
espessas. O gênero Trichophyton geralmente não apresenta macroconídios; porém, quando existem, são
delicados, clavados, multisseptados, de paredes finas e lisas. Os microconídios podem ser globulosos,
clavados ou alongados como curtos ramos; podem nascer isoladamente ou em cachos; podem ser
uniformes ou polimórficos.
Freqüentemente são isoladas de lesões de tinha dos pés, mais raramente de outras localizações,
colônias de crescimento rápido, de aspecto algodoado e de cor branca, no verso um pigmento variando do
amarelo ao pardo, ou inexistente; micromorfologicamente não há conídios. Estas colônias podem ser de
T. rubrum ou T. mentagrophytes (cotonoso). Para sua identificação devem ser submetidas à prova da
urease ou ao teste do ataque ao cabelo in vitro: urease positiva em 3 a 5 dias e perfuração do cabelo
indicam T. mentagrophytes; urease negativa em uma semana e ausência de ataque ao pêlo caracterizam
T. rubrum.
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Manifestações - As lesões têm localização peculiar: unhas das mãos e áreas intertriginosas da pele, que
são, em ordem de freqüência, dobras inguinais, espaços interdigitais das mãos, região submamária e
axilar. Na pele, as lesões se apresentam como áreas eritematosas, úmidas, erodidas ou não, de bordos
papulosos e descamativos. Na unha, há perda de brilho, áreas erodidas e acompanha-se de reação
inflamatória peri-ungueal (paroníquia).
Fungo - Aspecto parasitário - Nas escamas de pele e unha Candida sob forma invasiva é uma hifa de
paredes hialinas e delicadas, com septos muito afastados entre si. Próximo aos septos notam-se
blastoconídios. Elementos leveduriformes globulosos ou ovalados (5 a 7 m) coexistem com as hifas, em
maior ou menor abundância.
DERMATOFILOSE
(Sinonímia: estreptotricose, dermatite contagiosa)
A doença - Clinicamente se manifesta como lesões cutâneas vésico-pustulosas que, ao romperem deixam
exulceração avermelhada, posteriormente coberta de crosta. A cura geralmente é espontânea. Foi relatada
lesão intertriginosa da mão, seqüência de lesões bolhosas recidivantes de área palmar adjacente. Lesão no
dorso do nariz, erodida, exsudativa, coberta de crosta, simulando lesão de dermatofitose, também foi
observada.
Aspecto em cultivo - Para isolamento deve-se usar a técnica de Haalstra (-), com semeadura em
meio de ágar infuso de cérebro-coração (BHI) e incubação em microaerofilia a 37C. Nas colônias,
semelhantes às de bactérias, a morfologia do microsganismo é idêntica à da fase parasitária.
Referência HAALSTRA, R.T. Isolation of Dermatophilus congolensis from skin lesions in the diagnosis of
streptothricosis. Vet. Rec., 77:824-825, 1965.
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MICOSES SUBCUTÂNEAS
As micoses subcutâneas se caracterizam por: 1) resultar da inoculação de um fungo patogênico
por ocasião de um traumatismo; 2) se manifestar como tumefação ou lesão supurada da pele ou do tecido
subcutâneo, produto da disseminação do fungo por contigüidade ou via linfática, porém, limitada ao
território aquém do linfonodo regional; e, 3) ter um agente que na lesão se apresenta como elemento
leveduriforme, corpo (talo) muriforme, esférula, hifas septadas fuliginosas mais elemento leveduriforme,
hifa não septada ou grão, caracterizando cada uma das micoses.
Nas formas tumorais, o espécime para diagnóstico micológico deve ser obtido por biópsia; nas
lesões supurativas, o pus é o material de escolha. O pus deve ser examinado ao microscópio, após
montagem em gota de KOH a 10%; os cortes de biópsia, examinados após coloração ao H&E ou Grocott
(prata metenamina modificada pela técnica de Grocott). Os cultivos para isolamento podem ser obtidos
por semeadura em Sabouraud-glicose 2%, com e sem adição de cloranfenicol e cicloheximida. Para a
identificação usa-se o cultivo em ágar infuso de cérebro-coração (BHI), incubado a 37C, ou cultivos em
lâmina em lactrimel, para os fungos. Uma série de provas fisiológicas é necessária para o reconhecimento
de actinomicetos.
RINOSPORIDIOSE
(Sinonímia: micose de Seeber, granuloma rinosporidiótico)
Agente - Aspecto parasitário - Nos cortes à H&E, R. seeberi é visto como elementos esféricos, em
vários estágios de maturação, medindo de 6 a 300 m de diâmetro. Os elementos menores são
uninucleados. Ao atingirem cerca de 30 m o núcleo começa a multiplicar-se. Os elementos maduros,
denominados esférulas, têm parede espessa e contém em seu interior 16.000 a 32.000 endósporos, cada
um dos quais mede 6 a 7 m de diâmetro.
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Revisão taxonômica - Recentes estudos de biologia molecular constataram que
Rhinosporidium seeberi não é um fungo, sendo na realidade um protista, dentro da classe
Mesomycetozoae, criada especificamente para acomodar este grupo de patógenos singulares que
parasitam peixes, situando-se filogeneticamente entre os reinos animal e fungi. A classe
Mesomycetozoae compreende duas ordens: Dermocystida e Ichthyophonida. Na ordem Dermocystida
foi criada a família Rhinosporideaceae que inclui Rhinosporidium seeberi e espécies do gênero
Dermocystidium. De toda esta classe, a única espécie atualmente conhecida como patogênica para
numerosos animais incluindo o homem é R. seeberi. [Mendoza L, Ajello L & Taylor JW. The taxonomic
status of Lacazia loboi and Rhinosporidium seeberi has been finally resolved with the use of molecular
tools. Rev. Iberoam. Micol., 18: 95-98, 2001]
LOBOMICOSE
(Sinonímia: micose de Jorge Lobo, blastomicose queloidiforme)
Lacazia (Loboa) loboi é o agente da lobomicose, caracterizada porque, nos tecidos, o fungo se
apresenta como elemento leveduriforme, de morfologia peculiar. Esta micose é de distribuição geográfica
muito limitada, restrita ao continente americano, nas regiões equatoriais úmidas, sendo endêmica na
bacia Amazônica, litoral norte da América do Sul, América Central e Caribe. Além do homem atinge
golfinhos do Caribe e costa da Flórida. O habitat de L. loboi em natureza é desconhecido.
Revisão taxonômica - Recentes estudos de biologia molecular constataram que Loboa Loboi,
nome provisório aceito para o agente da lobomicose, é filogeneticamente relacionado a outros fungos
patogênicos dimórficos agentes de micoses sistêmicas, dentro da classe Onygenales, ao lado de
Paracoccidioides brasiliensis, Ajellomyces dermatitidis (Blastomyces dermatitidis), Ajellomyces
Capsulatum (Histoplasma capsulatum) e Emmonsia parva. Interessantíssima foi a constatação da sua
maior proximidade filogenética com P. brasiliensis, reforçando opiniões muito antigas sobre a
similaridade morfológica entre ambos os agentes, a ponto de postular o nome de Paracoccidioides loboi
para este agente. Dentro desta nova visão, tem-se como muito provável L. loboi ser um fungo dimórfico
apresentando uma fase filamentosa saprofítica, ainda desconhecida. [Mendoza L, Ajello L & Taylor JW.
The taxonomic status of Lacazia loboi and Rhinosporidium seeberi has been finally resolved with the use
of molecular tools. Rev. Iberoam. Micol., 18: 95-98, 2001]
15
ENTOMOFTORAMICOSE SUBCUTÂNEA
(Sinonímia: zigomicose subcutânea, ficomicose subcutânea, rinoentomoftoramicose, basidiobolomicose)
Micose - A infecção por B. ranarum se manifesta como tumefação subcutânea, localizada no tronco,
nádegas ou parte proximal dos membros. É massa dura, de bordos bem delimitados, móvel sobre os
planos profundos, coberta por pele normal e livre. Ocasionalmente esta pele apresenta-se alterada,
eritematosa e aderida à massa. A invasão da cavidade abdominal e torácica, por extensão da massa
tumoral subcutânea, tem sido relatada. As lesões por C. coronatus iniciam como infiltração da mucosa
nasal. Daí ela se estende para os tecidos adjacentes: seios paranasais, dorso do nariz, lábio superior e
face. A tumefação, coberta por pele eritematosa, tem consistência dura e apresenta continuidade com os
tecidos subjacentes.
Fungo - Aspecto parasitário - Nos cortes histológicos corados à H&E os dois fungos se apresentam com
aspectos idênticos, que é comum às Entomophthoraceae patógenas. São fragmentos de hifas largas (8 a
10 m de diâmetro), de paredes finas e hialinas, ocasionalmente septadas ou ramificadas. As hifas se
evidenciam muito bem porque estão envoltas por bainha de material eosinofílico granuloso, com 2 a 6
m de espessura (fenômeno de Splendore-Hoepli).
ESPOROTRICOSE
A esporotricose tem como agente Sporothrix schenckii, fungo dimórfico que nos tecidos se
apresenta como elementos leveduriformes, pequenos, com brotamento único de forma peculiar. S.
schenckii vive em natureza, geralmente associado a vegetais; por isso, usualmente é inoculado na pele ou
tecido subcutâneo, determinando lesão subcutânea. Ocasionalmente o fungo pode ser inalado,
determinando, então, a forma sistêmica de esporotricose (ver micoses sistêmicas). É a micose
subcutânea mais freqüente no Brasil, ocorrendo em todo o território nacional.
Micose - A lesão inicial da esporotricose é uma pápula ou nódulo que surge no ponto da inoculação,
usualmente localizado nos membros. Deste local o fungo pode propagar-se por contigüidade,
determinando uma lesão circunscrita (forma fixa), ou por via linfática, produzindo uma série linear de
16
lesões (forma linfocutânea). Nas formas fixas, as lesões podem ser similares a uma foliculite ou se
apresentarem com aspecto acneiforme, ulceroso, gomoso, verrucoso ou papilomatoso. Na forma
linfocutânea, nota-se, a partir da lesão inicial ulcerada, o aparecimento de nódulos em número variável,
sobre o trajeto de um linfático superficial; os nódulos amolecem e se rompem, drenando pus. Lesões
subcutâneas generalizadas ou lesões mucosas ocorrem raramente.
Fungo - Aspecto parasitário - Os elementos de S. schenckii, no pus ou nos tecidos, além de pequenos,
são escassos, por isso de difícil observação ao microscópio, mesmo quando examinados em esfregaços
corados ao Giemsa. No entanto, tem sido assinalado a verificação de corpos asteróides, em gota espessa
de pus montado em potassa a 10%; elementos extracelulares de forma navicular ou em charuto, medindo
2 a 4 x 3 a 6 m, com brotamento claviforme característico ou numerosos elementos redondos, com 4 a 8
m de diâmetro, no interior de macrófagos, em esfregaços de pus corados ao Giemsa. Nos cortes corados
ao Grocott, S. schenckii usualmente passa despercebido, porém, em certos casos são numerosos e
facilmente visualizados, aparecendo como elementos globulosos, de tamanho variado, alguns com típico
brotamento claviforme alongado e único. Raramente podem ser observados brotamentos duplo e/ou
triplo.
CROMOBLASTOMICOSE
(Sinonímia: micose de Lane e Pedroso, cromomicose, dermatite verrucosa)
Esta micose se caracteriza pelo aspecto parasitário de seus agentes: o elemento ou corpo (=talo)
muriforme. Cinco são os agentes clássicos de cromoblastomicose: Phialophora verrucosa, Fonsecaea
pedrosoi, F. compacta, Cladosporium carrionii e Rhinocladiella aquaspersa. Recentemente um sexto
agente, Exophiala jeanselmei, tem sido relatado em várias partes do mundo. A micose ocorre
endemicamente em todo Brasil, onde tem como agente usual F. pedrosoi. Porém, já foram assinalados
casos esporádicos por P. verrucosa, R. aquaspersa e E. jeanselmei.
17
os bordos são pouco elevados, escamosos ou finamente verrucosos. Lesões psoriasiformes, tuberculóides,
sifilóides ou micetomatóides foram descritas.
Fungo - Aspecto parasitário - No pus, examinado em gota de KOH a 10%, ou em cortes histológicos
corados à H&E, qualquer dos agentes da micose se apresenta como grupos de estruturas globosas de 10 a
12 m de diâmetro, com parede acastanhada espessa. Há elementos não septados, unisseptados, bem
como outros septados em dois planos. Este último elemento, denominado corpo ou talo muriforme,
caracteriza a micose.
MICETOMA
(Sinonímia: Maduromicose, pé de Madura, micetoma eumicótico)
Quadro 1 - Entidades clínicas que se caracterizam por apresentarem GRÃOS no pus das lesões.
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
MICETOMA: Infecção Subcutânea; inóculo traumático; Fonte de infecção: Exógena
Causada por: a) Bactérias filamentosas aeróbias (Micetoma Actinomicótico)
b) Fungos filamentosos (Micetoma Eumicótico)
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----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Tabela 2. Principais agentes de micetoma e respectiva coloração dos grãos que produzem.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-Grãos actinomicéticos de cor vermelha
Actinomadura pelletieri*
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se faz por contigüidade, resultando tumefação que aumenta lentamente de volume. Na pele que recobre o
tumor, surgem nódulos que amolecem e supuram. A micose evolue com períodos de remissão e recidiva,
até transformar-se em enorme tumoração, deformando o membro. Notam-se então nódulos, fístulas e
cicatrizes indeléveis. Há dor nos períodos de recidiva. A infecção pode se estender em profundidade,
comprometendo músculos, fascias, ossos e tendões. Os grãos eliminados podem ter cor vermelha, branca
ou negra.
Fungo - Aspecto parasitário - Nos tecidos, os agentes de micetoma se apresentam como grãos, cujas
características de cor, tamanho, consistência ou textura permitem uma identificação precisa ou
aproximada do agente etiológico. Para isso, o grão deve ser observado a olho nu, ao microscópio em
montagem em KOH e, se necessário, após esmagamento e distenção em lâmina, corado ao Gram. Como
usualmente é feita uma biópsia, os cortes histológicos são examinados após coloração à H&E e, se
necessário, corados ao Gram-Brown-Brenn e Kinyoun para tecido.
Cortes histológicos corados à H&E permitem a identificação precisa dos grãos de A. pelletieri
(pelos grãos ovalados ou fraturados, de cor violácea homogênea e sem clavas), A. madurae (pelos grãos
grandes, até 2 mm, esféricos ou lobulados, com área central eosinofílica, zona média de trama de
filamentos basófilos, circundada, por sua vez, de coroa de franjas eosinofílicas de cerca de 20 a 50 m de
espessura), S. somaliensis (pelo grão esférico ou ovalado, usualmente fraturado, formado de matriz
compacta de material amorfo pouco corado[cimento]) e M. mycetomatis (pelo grão grande, 2 mm ou
mais, composto de hifas e elementos esféricos hialinos, embebidos em cimento de cor chocolate). M.
grisea, P. romeroi e
E. jeanselmei produzem grãos negros idênticos: esféricos ou arciformes, com parte central mais clara e
periferia escura, formada de densa trama de hifas e elementos esféricos de paredes fuliginosas. P. boydii
(S. apiospermum) e as três espécies de Acremonium também produzem grãos semelhantes: brancos,
esféricos ou lobulados, centro desabitado e periferia formada por trama de hifas de 3 a 5 m de diâmetro
e elementos esféricos de 10 a 20 m. As três espécies de Nocardia produzem grãos idênticos: pequenos,
ovais ou lobulados, homogeneamente corados pela eosina, podem ou não ter clavas periféricas; quando
corados ao Gram-Brown-Brenn, os filamentos que compõem o grão se tornam evidentes.
Aspecto em cultivo - Grãos, de preferência obtidos das partes profundas da biópsia, devem ser
lavados e esmagados antes da semeadura em Sabouraud-glicose 2% ou ágar extrato de lêvedo 5% e
incubados a 30 e 37C.
A identificação dos fungos é baseada nas características das colônias e na micromorfologia que
apresentam nos cultivos em lâmina em meio de lactrimel. M. mycetomatis produz colônia escura, com
crescimento ótimo a 37C; no micélio vêem-se clamidoconídios bem diferenciados, com 20 m de
20
diâmetro e, por vezes, fiálides. M. grisea e P. romeroi dão colônias escuras, com crescimento ótimo a
30C; no micélio estéril, quando presentes, os clamidoconídios são mal definidos. Tardiamente P.
romeroi produz picnídios. E. jeanselmei, inicialmente cresce como colônia de lêvedo negro, mais tarde
se cobre de micélio escuro; microscopicamente, nos cultivos em lâmina, observam-se os anelóforos,
diferenciados ou não. P. boydii (S. apiospermum) forma colônia algodoada e branca, escurecendo ao
envelhecer; microscopicamente vêem-se anelóforos portando um único conídio de base truncada,
medindo 6 x 9 m; por vezes, tardiamente, formam-se cleistotécios escuros. A. falciforme produz colônia
algodoada, branca com verso lilá; conidióforos com conídios em cabeça, nos cultivos em lâmina. A.
kiliense forma colônia glabra, creme a ocre; microscopicamente, os conidióforos com um único septo
basal são característicos. A. recifei se desenvolve como colônia creme, glabra; os conidióforos são
multisseptados e por vezes ramificados.
A identificação dos actinomicetos deve ser feita pelo estudo dos constituintes da parede celular
e por outras provas fisiológicas. Uma identificação provisória, mais rápida, pode ser feita para A.
pelletieri, A. madurae e S. somaliensis em base da micromorfologia e da cor das colônias, todas elas
glabras e sulcadas, respectivamente, cor vermelho-coral, rósea ou creme e esbranquiçada. Qualquer das
três espécies de Nocardia produz colônia glabra, sulcada e de cor alaranjada, por vezes coberta de induto
branco. A prova da decomposição da caseina permite identificação provisória rápida de N. brasiliensis,
assim como a decomposição da xantina identifica N. caviae; e N. asteroides não tem ação sobre estas
duas substâncias.
FEOHIFOMICOSE SUBCUTÂNEA
(Sinonímia: cistos, abscessos ou granulomas subcutâneos por fungos negros, feoesporotricose)
Micose - No ponto de inoculação do fungo forma-se um nódulo. O nódulo aumenta de volume, sofre
fusão purulenta na parte central, transformando-se em um abscesso encapsulado. Porém, têm sido
descritas lesões de feohifomicose de aspecto verrucoso, semelhantes a lesões de cromoblastomicose.
Fungo - Aspecto parasitário - No pus dos abscessos, em potassa a 10%, vêem-se hifas castanhas
septadas ou hifas torulóides, às vezes ramificadas. As hifas septadas podem ter paredes regulares ou não
e septação a espaços regulares ou não. Nos cortes histológicos da parede do abscesso ou de lesões
verrucosas, à H&E ou ao Grocott, vêem-se fragmentos de hifas regulares ou de aspecto torulóide, por
21
vezes com intumescimentos vesiculosos bizarros. Elementos esféricos de parede espessa, brotando,
também podem ser observados, e, mais raramente, elementos esféricos septados em um plano.
REFERÊNCIAS
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22
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MICOSES SISTÊMICAS
As micoses sistêmicas se caracterizam porque: 1) são adquiridas por inalação de propágulos de
fungo dimórfico; 2) a lesão primária, conseqüentemente, é pulmonar e tem tendência à regressão
espontânea; 3) as lesões extrapulmonares resultam da disseminação hematogênica do fungo; 4) nos
tecidos, o agente etiológico é visto como uma esférula ou como elemento leveduriforme, uni ou
multibrotante. Raramente os agentes de micoses sistêmicas são implantados traumaticamente; quando
inoculados determinam lesπo granulomatosa circunscrita, com ou sem linfangite regional, que regride
espontaneamente.
23
Cladosporium bantianum; e, pela mesma razão, em anexo, a Nocardiose, infecção por actinomiceto
aeróbio.
COCCIDIOIDOMICOSE
(Sinonímia: micose de Posadas-Wernicke, Granuloma coccidióidico, Febre do Vale de São Joaquim)
24
Coccidioidomicose pulmonar primária - É comumente assintomática, em mais de 60% dos
indivíduos infectados. Tem na conversão da reação intradérmica à coccidioidina ou esferulina muitas
vezes a indicação diagnóstica. Na forma pulmonar primária, de tipo sintomático, os sintomas surgem aos
10 a 16 dias após a exposição ao fungo. Dependendo da carga infectante, os pacientes apresentam
sintomatologia que varia de um estado gripal até o de grave infecção respiratória inespecífica, com febre,
dor torácica, tosse com ou sem expectoração, acompanhadas de sintomas gerais ou manifestações
alérgicas. Radiologicamente, o pulmão pode se apresentar normal, revelar apenas espessamento hilar ou
extensos infiltrados pulmonares, com ou sem linfadenomegalias hilares ou derrame pleural. Em um a
dois meses, a doença regride espontaneamente, porém em menos de 1,0 % dos pacientes há tendência à
disseminação; a presença de linfadenomegalias mediastinais ou paratraqueais é um indício de
disseminação. Surtos epidêmicos, da forma pulmonar primária sintomática ocorrem em grupos de
arqueólogos ou visitantes de áreas endêmicas.
PARACOCCIDIOIDOMICOSE
(Sinonímia: micose de Lutz, micose de Lutz-Splendore-Almeida, blastomicose sul-americana,
granuloma paracoccidióidico)
25
A paracoccidioidomicose é micose sistêmica causada pelo fungo dimórfico Paracoccidioides
brasiliensis, que apresenta elemento multibrotante peculiar na fase parasitária do seu agente. P.
brasiliensis já foi isolado do solo, porém seu nicho ecológico e seu modo de viver saprofiticamente ainda
são desconhecidos. A micose é endêmica na América Latina, com exceção de poucos países. No Brasil,
as áreas de maior prevalência da micose estão nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e
Goiás. A infecção por P. brasiliensis ocorre geralmente nas primeiras duas décadas da vida, com igual
prevalência nos dois sexos, da mesma maneira que nas formas graves da doença em crianças. A micose,
decorrente da inalação do fungo, tem sido descrita em crianças a partir dos 3 anos, idade em que iniciam
a exploração da natureza. As formas de reativação da micose predominam no adulto, em homens, de
maneira idêntica às demais micoses sistêmicas; não mostra preferência por raça, porém a doença tem
curso mais grave em imigrantes ou não nativos de regiões endêmicas. A micose é mais freqüente em
pessoas que mantêm contato direto com a natureza (agricultores). Ainda não foi observado surto
epidêmico, nem a ocorrência da micose em animais, exceto em tatus (Dasypus novemcinctus)
naturalmente infectados, recentemente descrito.
26
Paracoccidioidomicose disseminada, tipo adulto - Resulta da reativação de lesão quiescente,
com generalização por via hematogênica. Ocorre em adultos, usualmente homens de mais de 30 anos.
Clinicamente as manifestações podem se limitar a um órgão, tipo unifocal, ou acometer muitos órgãos ou
sistemas, tipo multifocal.
Fungo - No pus, exsudato ou líquidos orgânicos, P. brasiliensis é visto como elementos esféricos, de
parede birrefringente, medindo de 5 a 10 até 40 m ou mais de diâmetro, apresentando um ou mais
brotamentos, que se ligam à célula-mãe por fina ponte citoplasmática. Nos cortes histológicos à H&E, o
multibrotamento característico nem sempre pode ser observado, porém em cortes corados ao Grocott,
este modo de multiplicação é bem evidente. Com esta coloração é possível observar-se elementos com
dezenas de brotamentos de 1 a 2 m de diâmetro, surgindo em toda a periferia do fungo.
BLASTOMICOSE
(Sinonímia: micose de Gilchrist, blastomicose norte-americana, dermatite blastomicótica)
Micose - As manifestações clínicas da blastomicose podem ser classificadas em: 1) forma pulmonar
primária assintomática; 2) forma pulmonar primária sintomática; e 3) forma disseminada.
27
espontânea, se produz disseminação hematogênica do fungo, provocando lesões extrapulmonares, em
especial, com localização na pele, ossos ou outros órgãos.
Blastomicose disseminada - Pode ter curso agudo e caráter grave, pelo acometimento de vários
órgãos ou sistemas. A sintomatologia é inespecífica e com quadro clínico polimórfico. Pode também
transcorrer com curso crônico e acometimento limitado a um órgão, prevalecendo as lesões da pele, dos
ossos ou do sistema gênito-urinário.
Fungo - Aspecto parasitário - Nos espécimes clínicos B. dermatitidis apresenta-se como elementos
esféricos, de parede duplamente refrátil, tamanho mais ou menos uniforme de 8 a 15 m de diâmetro,
multiplicando-se por um só brotamento, no qual o blastoconídio liga-se ao elemento mãe por uma base
larga, um septo.
HISTOPLASMOSE
(Sinonímia: histoplasmose capsulata, micose de Darling, histoplasmose africana, citomicose retículo-
endotelial)
A histoplasmose é uma entidade micológica dupla, causada por duas variedades de um mesmo
fungo: Histoplasma capsulatum var. capsulatum e Histoplasma capsulatum var. duboisii. Ambas as
variedades têm uma só forma teleomórfica, o ascomiceto denominado Ajellomyces capsulatum. As duas
entidade micológicas são a histoplasmose capsulata ou clássica, e a histoplasmose duboisi ou
africana.
28
ambulatórios de pneumologia e em hospitais de doenças torácicas, chega respectivamente a 0,5 e 0,85%
dos pacientes.
Micose - Três são as formas clínicas principais em que se apresenta a doenτa: 1) pulmonar primária ou
pulmonar de reinfecção exógena; 2) disseminada; e 3) pulmonar crônica. As formas pulmonar
primária e pulmonar de reinfecção exógena ocorrem em hospedeiros normais; as formas disseminadas,
em indivíduos imunodeficientes; e a forma pulmonar crônica, em pacientes com deficiência estrutural,
anatômica, dos pulmões.
Fungo - Aspecto parasitário - Nos esfregaços corados ao Giemsa, H. capsulatum var. capsulatum é
visto como elementos ovalados de 2 a 3 x 3 a 5 m, parasitando macrófagos ou células gigantes. Há um
halo claro ao redor do fungo, cujo citoplasma é azul claro, apresentando, em um dos polos, uma massa de
29
cor violácea, de forma oval ou em crescente. O brotamento unipolar ligado por um estreito istmo, se
produz no polo mais afilado da célula-mãe, sendo visualizado nos elementos fúngicos libertados pelo
rompimento do macrófago. Nos cortes histológicos corados à H&E são vistas as massas nucleares dos
fungos, situados em espaço oval claro no interior do macrófago parasitado; ao Grocott se evidencia a
forma peculiar do fungo e o seu brotamento típico.
CRIPTOCOCOSE
(Sinonímia: micose de Busse-Buschke, Torulose)
30
inespecíficas, leves e regressivas, devam ser muito freqüentes; no entanto, não dispomos de antígenos
adequados – sensíveis e específicos - para testes cutâneos utilizáveis em estudos populacionais.
Taxonomia atual – Há tendência a mudanças taxonômicas deste agente. Uma bem definida e aceita é a
mudança de C. neoformans para a ordem Tremelalles, saindo, portanto, dos Filobasidialles. Outra,
ainda recente e sujeita a modificações, baseada em marcadores moleculares é a seguinte:
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Taxon antigo / atual Taxon proposto
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
C. neoformans var. neoformans espécie C. neoformans com duas variedades:
C. neoformans var. grubii (sorotipo A)
C. neoformans var. neoformans (sorotipo D)
e híbridos (sorotipo AD)
Criptococose pulmonar primária regressiva - Pode ter curso assintomático, subagudo, com
sintomas de infecção respiratória leve, regredindo espontaneamente; constituem achado casual de
ressecção cirúrgica ou mesmo de necrópsia.
31
meningite, meningoencefalite ou massa expansiva. No tipo meningítico, a cefaléia intermitente ou
mudança do comportamento, com longa duração, é verificação comum antes que se instale o quadro
clínico sugestivo. A forma meningoencefalítica tem curso fulminante, levando rapidamente ao coma. No
tipo tumoral, os sintomas são inespecíficos e dependem da localização.
Para discriminar a espécie, usamos o meio CGB (Canavanina - Glicina - Bromotimol), cuja "receita de
bolo" é:
32
corresponde à da massa expansiva. Cladosporiose de forma meningítica, de curso crônico, sem evidência
de lesão focal, também foi relatada.
Aspecto em cultivo - Colônias de cor olivácea ou negra, de aspecto compacto, são obtidas em
ágar Sabouraud-glicose 2%. Cultivos em lâmina, em meio de lactrimel, permitem observar conidióforos
de tipo cladospório, com longas cadeias flexuosas de conídios, medindo 2 a 3 x 4 a 7 m. C. bantiana
cresce bem a 41C.
NOCARDIOSE
A nocardiose usualmente é causada por Nocardia asteroides, mais raramente por N.
otitidiscaviarum (N. caviae) ou N. brasiliensis. Nos tecidos, os três Nocardia se apresentam como
filamentos de 1 m ou menos de diâmetro. Estes actinomicetos são saprófitas no solo, de onde têm sido
isolados com isca de parafina. Dois casos humanos bem documentados de nocardiose por N. asteroides,
constam da literatura brasileira.
Aspecto em cultivo - As colônias, em ágar Sabouraud-glicose 2%, são cerosas, sulcadas, cor
alaranjada, por vezes cobertas de induto branco. Para sua identificação rápida é necessário: 1) cultivo em
lâmina em meio ágar-água, para demonstrar as ramificações múltiplas dos filamentos; e 2) provas
fisiológicas, em especial a decomposição da caseína ou da utilização da tirosina e xantina (ver micetomas
actinomicóticos).
33
cortes de biópsia ou feito pelo isolamento do fungo em cultivo. O aspecto parasitário do fungo e a
morfologia dos cultivos já foi descrita (ver esporotricose).
MICOSES OPORTUNÍSTICAS
As micoses oportunísticas são causadas por fungos termotolerantes de baixa virulência, que
determinam doenças em hospedeiros com graves deficiências do sistema imunodefensivo. Esses fungos
têm porta de entrada variável; usualmente provocam reação supurativa necrótica; podem acometer os
mais variados órgãos, produzindo quadros clínicos polimórficos que se apresentam como manifestações
cutâneas, subcutâneas ou sistêmicas; quando invadem os tecidos, quase sempre o fazem como uma
hifa. Pouquíssimas são as exceções.
Diagnóstico micológico - O material de eleição para o exame micológico é o obtido por biópsia
ou punção aspirativa de lesão. Nos cortes corados à H&E ou Grocott deve ser visualizada a hifa, forma
invasiva do fungo. O diagnóstico micológico, porém, só será completo pela caracterização da espécie do
agente etiológico, após o isolamento em cultivo. A identificação dos agentes é feita pelo estudo dos
cultivos, em meios de rotina, ou especiais, e outras provas. Dentre as provas sorológicas, a dupla difusão
em gel de ágar, usando antígenos específicos ou de grupo, é utilíssima, pois permite um diagnóstico
presuntivo. Usada em série, sempre como triagem, em pacientes predispostos, facilita e orienta a
obtenção de espécimes e a conduta micológica e médica.
34
ASPERGILOSE
A aspergilose é causada por membros do gênero Aspergillus que se apresentam nos tecidos
como hifas hialinas septadas, ramificadas dicotomicamente. Estas hifas, porém, não são características do
gênero, se bem constituam o selo da invasão. Por isso, o isolamento e a identificação, em cultivo, é
requisito para o diagnóstico micológico.
Micose - A aspergilose pode ser classificada em três formas clínicas: alérgica, colonização e invasiva.
35
abscesso pulmonar; mais raramente, o quadro clínico simula o da tuberculose pulmonar. Um sub-tipo
semi-invasivo pulmonar, que ocorre em leucêmicos, se manifesta como lesões pneumônicas, única ou
múltiplas; posteriormente, por abscedação tornam-se cavidades que são ocupadas pelo próprio
Aspergillus (de permeio à massa necrótica do tecido pulmonar seqüestrado), formando uma bola que
histologicamente se diferencia da bola formada em cavidade pré-existente, pelo aspecto da parede da
cavidade e pelo conteúdo e composição desta massa (bola). O tipo cutâneo da aspergilose se manifesta
como lesão granulomatosa ulcerada, de curso crônico.
Fungo - Aspecto parasitário - Nos cortes histológicos, em especial corados ao Grocott, os Aspergillus
são vistos como hifas septadas, ramificadas dicotomicamente em ângulo aproximado de 45, medindo 2,5
a 4,5 m, dispostas em direção única, irradiando de um ponto. Este aspecto não é peculiar porque fungos
de outros gêneros têm forma invasiva semelhante. O mesmo se verifica nos cortes de bola fúngica
aspergilar, exceto se neles for surpreendido a presença de frutificação do tipo Aspergillus. No entanto, a
constatação de hifa invasiva é fundamental para o diagnóstico, que será completado pelo cultivo.
MUCORMICOSE
(Sinonímia: zigomicose, Ficomicose)
Micose usualmente grave, tem como agente etiológico espécies de zigomicetos da ordem
Mucorales. É caracterizada pela forma parasitária característica das mucoráceas: nos tecidos se mostram
como hifas largas, quase sem septos, com ramificações aberrantes, invadindo as paredes dos vasos
arteriais e colonizando a sua luz, padrão lesional idêntico ao da aspergilose invasiva. Mucorales são
saprófitas do solo. As seguintes espécies têm sido incriminadas como agentes de mucormicose: Mucor
pusillus, M. ramosissimus, Absidia corymbifera, Rhizopus microsporus, R. oryzae (=R. arrhizus), R.
rhizopodiformis, Cunninghamella bertholettiae, Saksenaea vasiformis e Mortierella wolfii. Estes
zigomicetos determinam infecções em pacientes diabéticos descompensados, diarréicos em acidose,
urêmicos, neoplásicos (em especial leucemia e linfoma), transplantados, grandes queimados ou com
36
graves traumatismos por acidente. A casuística brasileira sobre a mucormicose é pequena e
freqüentemente falha na identificação do agente.
Mucormicose pulmonar - É rara em indivíduos normais, nos quais se manifesta como nódulos
ou infiltrados pneumônicos. Como manifestação oportunista (oportunística), inicia como infecção
respiratória inespecífica, de curso subagudo ou agudo, acompanhada de sintomas decorrentes da
trombose de vasos arteriais; radiologicamente se evidencia por infiltrados não homogêneos, pneumonia
necrosante ou derrame pleural. A cavitação maciça pulmonar ou obstrução brônquica, bem como
mediastinite granulomatosa têm sido descritas.
Fungo - Aspecto parasitário - Sendo micose de curso agudo e rapidamente fatal, um diagnóstico rápido
é ideal. Para isso, constitue valioso achado a presença de hifas largas, esparsamente septadas e com
ramificações aberrantes, vistas em espécimes obtidos por biópsia ou raspagem de lesão mucosa,
montados em potassa a 10%. Usualmente o material de biópsia é preservado em formol, neste caso cortes
histológicos corados à H&E ou Grocott permitem observar as hifas cenocíticas invadindo as paredes dos
vasos sangüíneos e colonizando sua luz. Este aspecto, selo da invasão, é comum a qualquer espécie de
mucorácea e o padrão lesional é, em tudo, similar ao da aspergilose invasiva.
37
branca, com hifas frouxamente unidas. A identificação das colônias pode ser feita pela morfologia dos
cultivos em ágar batata ou ágar infuso de feno. Certas espécies, porém, devem ser reconhecidas pelo
pareamento sexual ou com o concurso de um especialista. Os três gêneros de agentes mais comuns se
diferenciam pelo modo como nascem os esporangióforos do micélio: diretamente das hifas no gênero
Mucor; do ponto em que as hifas aéreas ou estólons tocam o meio de cultivo e se fixam pelos rizóides,
em Rhizopus; no meio do arco aéreo da hifa, em Absidia. A espécie mais comumente isolada é R.
oryzae; esta espécie forma colônias brancas, que se tornam amareladas com o tempo, os esporângios são
escuros; microscopicamente vêm-se vários esporangióforos nascendo do ponto em que se formam os
rizóides; os esporangióforos sustentam esporângios de 100 a 300 m de diâmetro, contendo
esporangiosporos castanhos de 6 a 8 x 7 a 9 m. Dois outros agentes têm tido incidência emergente: C.
bertholletiae e S. vasiformis. C. bertholletiae em Sabouraud-glicose 2% cresce como micélio estéril; por
isso deve ser subcultivado em ágar infuso de feno. Microscopicamente, nas colônias obtidas neste meio,
os esporangióforos hialinos, eretos, simples ou ramificados, terminando em vesícula coberta na periferia
por esporangíolos com um esporangiosporo cor de ouro, de 5 a 7 m de diâmetro, de superfície
equinulada ou lisa, permitem reconhecer o gênero. A identificação específica é feita pelo pareamento
sexual. S. vasiformis também necessita ser cultivada em ágar infuso de feno para que se formem os
esporângios característicos: em forma de ânfora sem asas (alças), de longo gargalo e cheio de
esporangiosporos.
38
aspecto peculiar. O agente mais comum de candidose é C. albicans. Outras espécies relacionadas com
doença humana constam da Tabela 3.
Apenas três das espécies de Candida produzem colônias com características comuns: C.
albicans, C. tropicalis e C. stellatoidea. Mesmo assim a forma genérica Candida continua a agrupar
estes microrganismos e eles continuam a ser diferenciados em sua forma anamórfica, usando-se provas
fisiológicas. À medida que vem sendo descoberta a reprodução sexuada, as características dos esporos
demonstram que teleomorficamente elas pertencem a vários gêneros (Tabela 3).
C. albicans é habitante normal do tubo digestivo do homem, vive também em menor número na
árvore brônquica e cavidade vaginal; vegeta ainda nas grandes pregas do corpo e espaços interdigitais
dos pés. Nestes locais o microrganismo cresce como elemento unicelular ovalado, unibrotante e de
localização extra-celular. As populações de Candida, comensais do homem, variam de acordo com a
dieta, a flora bacteriana intestinal e com a ação de drogas, em especial antibióticos.
Micose - A candidose oportunística se apresenta sob três modalidades: mucosa, cutânea e sistêmica.
Candidose mucosa - Com exceção da criança com menos de três semanas de idade, na qual
Candida é normalmente invasora da mucosa oral, nos demais indivíduos a infecção é sempre secundária.
As lesões da mucosa oral se mostram como placas pseudomembranosas, cremosas, brancas, bem
aderentes à mucosa; retiradas as placas, vêem-se áreas eritematosas. As lesões orais podem ser limitadas
ou generalizadas e se estender ao faringe, dificultando a deglutição. Ocorrência comum em crianças de
tenra idade, a candidose oral nos jovens e adultos é indicativo importante para busca da causa primária de
alguma imunodeficiência. Uma variante da manifestação oral é a queilite angular. Na mucosa vaginal as
lesões são semelhantes às da boca, porém freqüentemente determinam ulcerações e sempre se
acompanham de corrimento vaginal. No homem pode ocorrer balanite ou balanopostite por Candida.
Candidose cutânea - Lesões das regiões inguinais e nádegas em crianças de tenra idade são
ocorrência freqüente. Porém, a manifestação mais importante é a denominada candidose cutânea crônica,
adquirida na infância, predominando em mulheres e tanto mais grave quanto mais cedo inicia. É doença
39
de indivíduos com defeitos genéticos ou endocrinopatias. Na modalidade menos grave se apresenta com
lesões crônicas orais e das unhas; na modalidade mais grave, o granuloma candidiásico cutâneo, é doença
desfigurante, caracterizada por formações córneas da pele e extremidades, associadas a lesões escamosas
hiperceratóticas espessas, alopécia, hipopigmentação cutânea, queilose e anemia. Quatro são as
variedades da candidose mucocutânea crônica: a) crônica precoce, de início precoce, tem como subtipo o
granuloma, ocorre em indivíduos com endocrinopatias, exceto Mal de Addison e hipoparatireoidismo; b)
crônica tardia, ocorre em crianças de mais idade, se limita a lesões crônicas da mucosa oral e das unhas;
c) crônica familiar, de caráter hereditário; e, d) juvenil familiar poliendócrina, leve ou intensa, acomete
indivíduos com Mal de Addison ou hipoparatireoidismo.
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difusa. Em recém nascidos as manifestações pulmonares podem ser primárias, ter curso fulminante, como
processo pneumônico agudo. Não deve ser esquecido que, em pacientes com infecções respiratórias
crônicas ou sob efeito de antibioticoterapia prolongada, há intensa colonização da árvore brônquica por
Candida. Neste local o fungo forma hifas; conseqüentemente, no escarro, o fungo será visualizado com
aspecto semelhante ao que tem nos tecidos, achado portanto sem valor diagnóstico.
Candidose gastrintestinal - A candidose esofágica é extensão de lesões orais; pode ter curso
crônico, manifestar-se como disfagia e dor retroesternal, e ser presumida por quadro radiológico
sugestivo. Candida pode colonizar ulcerações gástricas ou duodenais, o poder invasor aumenta em
paciente em uso de cimetidina. Candida pode produzir ulcerações intestinais profundas, com perfuração
intestinal e conseqüente peritonite. A candidose entérica é entidade controversa, admite-se que possa se
apresentar com quadro de enterocolite, pois o fungo pode invadir a mucosa intestinal. Peritonite por
Candida também pode resultar da inoculação do microrganismo por ocasião de diálise peritoneal ou de
ato cirúrgico.
Endocardite por Candida - Constitue uma entidade produzida por espécies de Candida que
não C. albicans. Ocorre em pacientes com defeitos valvulares cardíacos. Os sintomas se assemelham aos
da endocardite bacteriana, da qual difere porque os fenômenos embólicos são mais freqüentes.
ACTINOMICOSE
É doença causada por actinomicetos anaeróbios ou microaerófilos pertencentes aos gêneros
Actinomyces, Arachnia e Bifidobacterium, e em parasitismo estes microrganismos se organizam em
grãos, formados por um enovelado de filamentos Gram positivos e não ácido resistentes. O agente mais
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freqüente é o Actinomyces israelii, com menos freqüência o A. naeslundii, A. viscosus, A. odontolyticus
e A. meyeri. O síndrome pode ser causado também por Arachnia propionica e Bifidobacterium
eriksonii. Estes microrganismos são comensais do homem, vivendo na cavidade oral, provavelmente no
intestino e vagina. A. propionica é isolada do canal lacrimal. A actinomicose parece resultar de uma
cooperação entre o actinomiceto e bactérias, em especial produtoras de hialuronidase. É freqüente a
associação com Actinobacilus actinomycetemconcomitans que pode, por si, causar infecção sistêmica.
No passado a actinomicose foi considerada doença muito freqüente, tendo sido objeto de
inúmeras publicações brasileiras. Hoje, é do consenso geral que a incidência tenha diminuído, explicável
por uma melhor higiene oral e pelo uso de antibióticos. O espectro dos agentes da actinomicose no Brasil
é desconhecido, pois tem sido atribuída apenas a A. israelii.
Doença - É costume separar a actinomicose em três tipos clínicos: cérvico-facial, torácico e abdominal.
Porém, há manifestações generalizadas, de curso fulminante, se bem raras.
Outras formas clínicas - A actinomicose pode se manifestar como síndrome de micetoma dos
membros, lesões neurológicas focais ou infecção de aparelho genital feminino, provocada pelo uso de
dispositivos anticoncepcionais.
Bactéria - Aspecto parasitário - Nas lesões o microrganismo é visto como grãos branco-amarelados,
medindo até 1 mm de diâmetro. O grão pode ser encontrado no pus que flue de fístulas da pele, pus de
empiema obtido por aspiração e, tardiamente, no curso de lesão pulmonar, no escarro. Nas preparações
em potassa, grãos simplesmente esmagados podem estar ou não orlados de clavas; se dissociados com
agulha é possível ver-se os finos filamentos que os compõem; se dissociados e distendidos em esfregaço
e corado ao Gram e Kinyoun, pode-se observar os filamentos Gram positivos e não ácido resistentes. O
diagnóstico precoce, quando ainda não há fistulização, só pode ser feito em material obtido por biópsia,
em cortes histológicos corados ao Gram-Brown-Brenn e Kinyoun para tecidos.
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Aspecto em cultivo - Grãos esmagados e lavados várias vezes em água destilada são semeados
em tioglicolato caldo ou infuso de cérebro-coração enriquecido com sangue e incubado a 37C em
atmosfera de CO2. As colônias formam-se em 48 horas. Subcultivos são feitos em tioglicolato caldo para
manutenτπo e encaminhamento a um especialista em identificação do grupo. Há, no entanto, kits
comerciais que permitem uma identificação rápida provisória. Em certos centros é possível a
identificação específica do agente por imunofluorescência direta, em cortes histológicos ou esfregaços.
SCEDOSPORIOSE (PSEUDALESQUERIOSE)
(Sinonímia: Alesqueriose, Monosporiose, Petrielidiose)
Micose - S. apiospermum (P. boydii) é agente de micetoma eumicótico de grãos brancos (ver
Micetoma), mas pode ser agente de micose oportunística, quando existam, no hospedeiro, os mesmos
fatores predisponentes que os da aspergilose. Como oportunista, pode determinar manifestações
pulmonares (colonização da árvore brônquica, bola fúngica e pseudoalesqueriose ou scedosporiose
invasiva), dos seios faciais (sinusite maxilar, nasal, esfenoidal), do sistema nervoso central (forma rino-
órbito-cerebral, meningite, paquimeningite), ósteo-articulares (osteomielite, artrite), ocular (ceratite),
cardíaca (endocardite) e subcutânea (síndroma linfocutâneo). A sintomatologia, em qualquer das
apresentações clínicas, é inespecífica.
Fungo - Aspecto parasitário - Quando oportunista, S. apiospermum (P. boydii) se apresenta nos tecidos
como hifa idêntica à dos Aspergillus. Nos cortes de bola fúngica por S. apiospermum (P. boydii), se não
houver conídios, o aspecto é idêntico ao da bola fúngica aspergilar. O cultivo é necessário, portanto, para
o diagnóstico da micose (ver Micetoma). A prova sorológica pela dupla difusão em gel de ágar é
exeqüível e, com o uso de bom antígeno, tem valor diagnóstico.
FEOHIFOMICOSE OPORTUNÍSTICA
Feohifomicose oportunística é entidade clínica que pode ser causada por várias espécies de
fungos de paredes fuliginosas que, em parasitismo, se apresentam como hifas septadas, hifas
moniliformes e elementos brotantes. As manifestações inespecíficas que causam dependem do(s)
órgão(s) acometido(s) e da extensão das lesões. A tabela 4 relaciona agentes de feohifomicose
oportunística e as manifestações que podem causar.
Tabela 4. Agentes de feohifomicose oportunística e suas manifestações mais freqüentes.
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Agente Manifestações
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---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Alternaria sp. Pulmonares e articulares
Alternaria alternata Ósseas
Chaetoconidium sp. Articulares
Cladosporium cladosporioides Pulmonar (bola fúngica)
Curvularia geniculata Disseminada, endocárdica, ocular
Curvularia lunata Disseminada
Curvularia pallescens Disseminada
Drechslera hawaiiensis Óssea, meningoencefálica
Drechslera spicifera Cerebral, ocular
Drechslera rostrata Óssea
Exophiala spinifera Cerebral, subcutânea
Phialophora richardsiae Disseminada, ocular, subcutânea
Wangiella dermatitidis Disseminada, cerebral
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
E muitos outros (não esquecer as mudanças/danças de nomes)
MICOSES INCOMUNS
ADIASPIROMICOSE
É infecção pulmonar granulomatosa crônica, causada por propágulos de Emmonsia parva
(Chrysosporium parvum), espécie que compreende duas variedades, E. parva var. parva e E. parva var.
crescens. Enquanto ambas as variedades causam a infecção em animais, somente E. parva var. crescens
tem sido relatada como causadora da micose em humanos. Os propágulos inalados crescem no
parênquima pulmonar sem se reproduzir, denominando-se por isso adiaconídios. Cada conídio inalado
cresce até se tornar um enorme adiaconídio, de parede celular muito espessa. Dependendo do inóculo, ou
seja, da quantidade de conídios inalados, as manifestações podem ser desde leves a muito graves e
mesmo fatais. O diagnóstico quase sempre é obtido através de biópsia pulmonar de caso de infecção
pulmonar a esclarecer. Em cortes histológicos se apresentam como elementos esféricos de 10 a 200 m
de diâmetro, de parede espessa e aparentemente vazios. A micose ocorre em praticamente todos os
continentes e atinge humanos e vários animais, sobretudo roedores. Há vários casos humanos na
literatura, entre os quais casos brasileiros oriundos de vários estados e regiões.
MISCELÂNEA
Outras micoses viscerais mais raras (infecções por Paecilomyces lilacinus, Geotrichum
candidum, Coprinus cinereus, Schizophyllum commune) ou de ocorrência em área endêmica fora das
Américas (Peniciliose marnefei, infecção por Penicillium marneffei, com patogenia e manifestações
clínicas similares às das micoses sistêmicas, especialmente a histoplasmose capsulata, endêmica no
Sudeste e Sul da Ásia) não estão incluídas no presente Manual.
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REFERÊNCIAS
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5) Medical Mycology. Ed. Ajello L & Hay RJ, Arnold, London, 1998.
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9) Modern Mycology, third edition. Ed. JW Deacon. Blackwell Science, UK, 1997
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TÉCNICAS E PROCEDIMENTOS EM MICOLOGIA
COLHEITA DE ESPÉCIMES
Para o diagnóstico micológico é fundamental obter-se um espécimen apropriado. Corretamente
colhido e preservado, nele, ou ao exame microscópico, deve ser visualizado o agente etiológico e, dele,
ao exame em cultivo, deve ser isolado o fungo, para acurada identificação.
Lesões de pele - Limpar com éter; com o bordo de lâmina ou com bisturi, raspar o centro e a
periferia das lesões; recolher as escamas em placa de Petri, entre duas lâminas ou em envelope de papel.
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Lesões de unha - Proceder como para as lesões de pele, porém, obter o material do bordo
espessado da unha ou de áreas erodidas e sem brilho da lâmina ungueal.
Cabelo e pêlos - Cortar com tesoura os pêlos com nódulos; epilar com pinça cabelos
quebrados, do bordo de lesão tonsurante ou, com agulha, desinvaginar os cabelos dos pontos negros;
conservar entre duas lâminas ou em envólucro de papel.
Pus - Dos abscessos fechados, aspirar com agulha esterilizada montada em seringa
hipodérmica; conservar em tubos ou pequenos frascos esterilizados. Microabscessos dever ser abertos
com bisturi ou agulha esterilizada, após limpeza da pele com éter; por expressão obter o pus que deve ser
examinado e cultivado de imediato.
Medula óssea - Com seringa heparinizada aspirar 0,2 a 0,3 ml; conservar na própria seringa até
o momento do exame.
Escarro - Pela manhã, em jejum, lavar a boca e escovar sem pasta dentifrícia; coletar 5 a 10 ml
de escarro em frasco esterilizado de boca larga; enviar imediatamente ao laboratório; imediato exame.
Tecidos (biópsia) - Colocar o fragmento sobre gaze umedecida com água estéril, em recipiente
esterilizado.
EXAME MICROSCÓPICO
Pêlos e escamas de pele ou unha - Colocar sobre lâmina limpa, juntar 1 gota de solução de
KOH a 10%, cobrir com lamínula, aquecer suavemente sobre chama, examinar. A microscopia deve ser
feita sempre, com qualquer preparado, primeiro com objetiva de 10x e em seguida com objetiva de 40x.
Para a visualização das estruturas fúngicas não há necessidade de objetiva de imersão (100x).
48
Líquido cefalorraquidiano, lavado brônquico ou urina - Centrifugar, examinar o sedimento
diretamente ou em gota de KOH, se necessário, adicionar uma gota de tinta Nankin. O sedimento pode,
também, ser distendido em esfregaço e corado ao Giemsa, Grocott, Gram e Kinyoun.
Escarro - Colocar gota de escarro (de preferência grumos de áreas com raias de sangue) com
gota de KOH, cobrir com lamínula e aquecer suavemente à chama. Observada presença de leveduras
esféricas e unibrotantes, juntar gota de tinta Nankin. O escarro pode também ser homogeneizado: juntar
volume iguais de escarro e solução de hidróxido de sódio a 4%; agitar vivamente por 10 minutos; colocar
em estufa a 37C por uma hora; centrifugar por 30 minutos a 3.000 rpm; eliminar o sobrenadante,
depositando o sedimento entre lâmina e lamínula. Para a homogeneização também pode ser utilizada a n-
acetil-cisteína (Fluimucil), com bons resultados.
CULTIVO
Com pequenas diferenças, as técnicas de cultivo usadas em micologia se assemelham às de uso
em bacteriologia. Para o cultivo usar de preferência tubos de ensaio com tampão de algodão hidrófobo,
ou com tampa rosqueável de baquelite. Para incubação à temperatura ambiente usar tubos de 18x150 mm
e, para incubação a 37C, os de 25x150 mm. Para implantar o espécime no meio e para retirar porções de
colônia, usar fio de níquel-cromo em agulha, montado em cabo Kohle; para leveduras usar o fio em alça.
Alguns fungos podem ser identificados ao exame do cultivo primário. Outros, contudo,
requerem a observação de cultivos obtidos em lâmina, uso de meios especiais, provas fisiológicas e
outras. Mais raramente é necessário verificar a patogenicidade por inoculação em animais de laboratório.
CULTIVO EM LÂMINA
O cultivo em lâmina permite a observação das relações das estruturas conidianas com o
micélio. Isto se obtem fazendo o fungo crescer em lâmina sobre a qual foi colocado um bloco do meio de
cultivo.
Preparação:
Em placa de Petri de 100 mm, colocar um bastão de vidro encurvado em U em cima de papel de
filtro; sobre ele colocar uma lâmina; cobrir e esterilizar.
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Em outra placa de Petri preparar 15 ml de meio cultivo (Sabouraud, lactrimel, etc ); quando
solidificado, cortar com bisturi esterilizado, blocos de cerca de 1 cm2.
Retirar um destes blocos de meio de cultivo e, com bisturi, transferí-lo para a lâmina da outra placa
de Petri; inocular cada um dos centros dos lados do bloco com porções do cultivo do fungo a
examinar; cobrir com lamínula esterilizada; adicionar 5 a 8 ml de água destilada esterilizada ao fundo
da placa para embeber o papel de filtro; incubar no escuro à temperatura ambiente.
Após a dessecação na estufa, que fixa os conídios: a lamínula é invertida e posta sobre lâmina limpa,
onde previamente fora posta uma pequena gota de lactofenol ou lactofenol-azul algodão; a lâmina,
por sua vez, recebe uma pequena gota de lactofenol e é coberta por lamínula limpa.
Fenol 20 ml
Ácido cítrico 20 ml
Glicerina 40 ml
Água destilada 20 ml
Lactofenol-azul algodão
Hidróxido de potássio 10 g
Água destilada 100 ml
ou Hidróxido de potássio 10 g
Glicerina 20 ml
Água destilada 80 ml
50
Preparo: Misturar os ingredientes; conservar ao ambiente.
Hidróxido de sódio 4g
Água destilada 100 ml
Tinta Nankin
Usa-se não diluída. Pode ser substituida por uma solução de nigrosina:
Nigrosina em pó 10 g
Solução de formol a 10% 10 ml
Preparo: Dissolver a nigrosina na solução de formol em banho-Maria, por meia hora; completar o
volume com formol 10%; filtrar. Conservar ao ambiente.
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Preparo: Esterilizar a solução de extrato de levedura em água destilada, por filtração.
Dissolver o ágar em água por aquecimento em banho-Maria; autoclavar a 120C por 15 minutos;
deixar esfriar a 60C e, então, juntar a solução de extrato de levedura; distribuir em placas (e/ou
tubos) e vedá-las. Conservar à temperatura de 4C (geladeira).
Composição: Dextrose 20 g
Peptona 10 g
Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml
Composição: Dextrose 20 g
Peptona 10 g
Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml
Cloranfenicol 50 mg
Cicloheximida 500 mg
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MEIOS DIFERENCIAIS
Actinymyces: conservação de estirpes. Tioglicolato caldo
Composição: Thioglycollate (BBL) 29,5 g
Trypticase soy (BBL) 1,5 g
Triptose (Difco) 1,25 g
Água destilada 1.000 ml
Preparo: Dissolver os ingredientes por aquecimento em banho-Maria; distribuir em tubos com tampa
de galalite (baquelite) rosqueada; autoclavar a 120C por 15 minutos. Conservar em geladeira.
Preparo: Dissolver o ágar em água por aquecimento em banho-Maria; misturar os demais ingredientes;
distribuir em tubos; autoclavar a 120C por 15 minutos. Conservar em refrigerador.
Preparo: Juntar a farinha de milho (fubá) com 500 ml de água e aquecer em banho-Maria a 60C por
45 minutos; filtrar em gaze dupla e, depois, em papel de filtro. Adicionar água para completar 1 litro e
dissolver o ágar; ajustar o pH para 6.8 e adicionar o Tween 80; distribuir em tubos; autoclavar a 120 C
por 15 minutos. Conservar em refrigerador.
Preparo: Distribuir o soro em alíquotas de 0,5 ml em pequenos tubos. Conservar a menos 15C.
Para verificar a produção de tubos germinativos, inocular leveduras suspeitas de colônia recém
isolada no soro, incubar em estufa a 37C durante duas horas e em seguida examinar ao microscópio.
Somente Candida albicans produz tubos germinativos.
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Dermatófitos: diferenciação entre T. mentagrophytes e T. rubrum
Meio de Christensen (Uréia-ágar)
Composição: Peptona 1g
Glicose 1g
Cloreto de sódio 5g
Fosfato monobásico de potássio 2 g
Fenol vermelho 12 mg
Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml
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Solução de uréia a 20%
Preparo: Com exceτπo do ágar, dissolver os demais ingredientes em 1 litro de água destilada; ajustar o
pH a 6.8; adicionar o ágar e dissolver por aquecimento em banho-Maria; distribuir em alíquotas de 4,5 ml
em tubos; autoclavar a 120C por 15 minutos; esfriar o meio a 70C e, então, misturar 0,5 ml de uma
solução de uréia a 20% em cada tubo, agitando bem. Conservar em refrigerador.
Preparo: Misturar lentamente a farinha com a água; dissolver bem; acrescentar os demais ingredientes,
aquecendo em banho-Maria e misturando freqüentemente; distribuir em tubos; autoclavar a 120C por 15
minutos. Conservar em refrigerador.
Nocardia: identificação rápida. (Nota: Este meio também serve para estimular a produção de conídios
característicos de Paracoccidioides brasiliensis)
1) Ágar água
Composição: Ágar 20 g
Água destilada 1.000 ml
2) Prova da gelatina
Composição: Gelatina 4g
Água destilada 1.000 ml
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Preparo: Dissolver a gelatina e ajustar o pH a 7; distribuir em tubos; autoclavar a 120C por 15
minutos. Conservar em refrigerador.
3) Prova da caseina
Composição: a - Leite desnatado 10 g
Água destilada 100 ml
b - Ágar 2g
Água destilada 100 ml
Preparo: Autoclavar as misturas a e b a 120C por 15 minutos; resfriá-las a 45C e, então, misturá-las;
distribuir em placas de Petri. Conservar em refrigerador.
Preparo: Dissolver por aquecimento o ágar na água; adicionar os cristais de tirosina ou xantina e
misturar bem. Autoclavar; misturar bem os cristais no meio, por agitação; distribuir em placas de Petri.
Conservar em refrigerador.
Preparo: Dissolver o ágar em água; autoclavar a 120C por 15 minutos; distribuir. Esterilizar o pão e
colocar sobre o ágar.
Preparo: Misturar o feno com água. Autoclavar 30 minutos a 120C; filtrar por talagarça (ou gaze
dupla); adicionar o fosfato e ágar; resfriar a ajustar o pH a 6.2; ferver; distribuir em tubos; autoclavar a
120C por 15 minutos. Conservar em refrigerador.
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MEIO CGB
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TESTE CGB
Fazer um repique da cepa no meio Agar Sabouraud dextrose e incubar a 25ºC por 48h.
Fazer um inóculo pontual com alça bacteriológica no meio CGB incubar a 25ºC por 5 dias.
OBS: O repique da cepa deverá ser feito a partir de uma colônia isolada de um cultivo em meio níger,
LEITURA CGB
Meio com manutenção da coloração original (amarelo-esverdeado), e sem crescimento do inóculo inicial
Meio onde a coloração passou de amarelo-esverdeado para azul-cobalto com crescimento do inóculo
TÉCNICAS SOROLÓGICAS
Ver a parte de imunologia.
Preservação de soros de pacientes - Para cada 1 ml de soro obtido, usar 0,01 ml da solução abaixo:
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REFERÊNCIAS (Além dos textos citados no tópico inicial de Morfologia dos fungos):
AJELLO, L.; GEORG, L.K. et al. -Laboratory manual for medical mycology. U.S.Department of
Health, Education and Welfare, Atlanta GA, 1963.
HALEY, L.D. & STANDARD, P.G. -Laboratory methods in medical mycology. U.S.Department of
Health, Edication and Welfare, Atlanta GA, 1973.
BORELLI, D. Medios caseros para micología. Arch. Venezolanos Med. Trop. Parasitol. Med., 4: 301-
310, 1962.
SOLUÇÃO SOLO + SALINA ESTÉRIL 0,9% (500 ml)
(com cloranfenicol 500mg/l)
AGITAR 3 min REPOUSO 20 min
INOCULAR 1 ml DO SOBRENADANTE EM 4 CAMUNDONGOS
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NECRÓPSIA APÓS 4 SEMANAS (observar sempre)
FRAGMENTOS DE FÍGADO E BAÇO
HISTOPATOLÓGICO CULTIVO (Sabouraud e Mycosel)
Patógeno na forma parasitária em tecidos Identificação: dimorfismo
PROTOCOLO DE ISOLAMENTO DE
Cryptococcus neoformans DE AMOSTRAS AMBIENTAIS E DE
ESPÉCIMES CLÍNICOS CONTAMINADOS
[plaqueamento em Niger Seed Agar (NSA = Meio de Níger)]
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NSA (Niger Seed Agar - Staib, 1962) Utilizado para identificação e isolamento de
Cryptococcus neoformans de materiais contaminados, tanto clínicos (escarro, urina, etc.) quanto
ambientais (poeira doméstica, madeira em decomposição, excreta de pombos e aves cativas, etc.).
Preparo: Fever por 15 minutos 100 g de semente de niger em 400 ml de água destilada, em seguida
bater no liquidificador (sementes com a água) para romper as sementes, filtrar em coador. O filtrado
obtido é utilizado para preparar o meio. Acrescentar 20g de ágar, 400 mg de cloranfenicol, 0,8 ml de
aminacina e completar o volume com água destilada até 1.000 ml. Autoclavar a 121ºC por 15 minutos.
Distribuir em placas de petri dentro de câmara de fluxo.
Conservar em refrigerador.
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