CONSTITUIÇÃO - Parte orgânica: o constituinte se dedica a normatizar aspectos de estrutura do Estado. Aqui estão as regras que definem a organização do Estado, determinando as competências dos órgãos essenciais para a sua existência. Aqui também se encontram as normas que disciplinam as formas de aquisição do poder e os processos do seu exercício. Esses preceitos racionalizam o exercício das funções do Estado e estabelecem limites recíprocos aos seus órgãos principais. - Parte dogmática: o constituinte proclama direitos fundamentais, declarando e instituindo direitos e garantias individuais, como também direitos econômicos, sociais e culturais. O constituinte marca o tom que deve nortear a ação do Estado e expressa os valores que tem como indispensáveis para uma reta ordem da comunidade. - Há no Texto Constitucional outras normas que não se enquadram nesses dois grandes grupos temáticos típicos. 2. CARACTERÍSTICAS DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS - Elas não têm sua validade aferida pela sua compatibilidade com uma outra norma jurídica que lhe esteja acima em uma escala hierárquica, como acontece com o restante das normas dos demais ramos do Direito. - Se uma lei ou ato do poder público contrariá-las, será inconstitucional, atributo negativo que corresponde a uma recusa de validade jurídica. - Somente podem ser alteradas pelo procedimento previsto no próprio texto constitucional. - As normas infraconstitucionais são condicionadas, mas não são integralmente determinadas, pelas normas constitucionais. As determinantes negativas expressas nas normas constitucionais, com os vetos que encerram, desempenham uma função de limite para o legislador ordinário. As determinantes positivas regulam parcialmente o conteúdo das normas infraconstitucionais, predefinido o que o legislador deverá adotar como disciplina normativa, dirigindo a ação dos poderes públicos, ainda que não o fazendo de modo exaustivo. 3. DENSIDADE E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS - A liberdade do legislador na escolha do conteúdo concretizador das normas constitucionais será tanto maior quanto menor for a densidade dos preceitos constitucionais envolvidos. - Há, no conjunto das normas constitucionais, variações de grau de abertura às mediações do legislador. Norma densa: em que a disciplina disposta pelo constituinte é extensa e abrangente, dispensando ou pouco deixando para a interferência do legislador no processo de concretização da norma. Norma aberta: a liberdade de conformação é ampla, se valem de conceitos de significação aberta, vazadas, por vezes, com termos de múltiplas denotações, ou naquelas formuladas de modo genérico. Essa diferença de abertura e densidade afeta o grau de exequibilidade por si mesmas: Autoexecutáveis (self-executing provisions): são as normas imediatamente aplicáveis, por regularem diretamente as matérias, situações ou comportamentos de que cogitam. Não autoexecutáveis (not self-executing): dependem de elaboração de lei ordinária para que possam operar mais intensamente no plano das relações sociais. Para o constitucionalismo atual, todas as normas constitucionais são executáveis por si mesmas, até onde possam sê-lo. Advirta-se que todas as normas, em certo sentido, são incompletas, até por serem, por definição, gerais e abstratas, necessitando, por isso mesmo, do trabalho do intérprete para serem aplicadas aos casos da vida social. As normas autoaplicáveis, de seu lado, não excluem necessariamente novos desenvolvimentos por meio de legislação ordinária. - Outra classificação que também enfoca o critério da aplicabilidade das normas constitucionais: Normas de eficácia plena: são idôneas para produzir todos os efeitos previstos, isto é, podem disciplinar de pronto as relações jurídicas, uma vez que contêm todos os elementos necessários. Correspondem aos casos de norma autoexecutável. A essa categoria são muitas vezes assimilados os preceitos que contêm proibições, que conferem isenções e os que estipulam prerrogativas. Normas de eficácia contida: são também autoexecutáveis e estão aptas para produzir plenos efeitos no mundo das relações. Divergem das de eficácia plena só pela circunstância de poderem ser restringidas, na sua abrangência, por deliberação do legislador infraconstitucional. Normas de eficácia limitada (ou reduzida): somente produzem os seus efeitos essenciais após um desenvolvimento normativo, a cargo do legislador infraconstitucional. São normas incompletas, apresentando baixa densidade normativa. - Normas programáticas são subespécies das de eficácia limitada. Essas normas impõem uma tarefa para os poderes públicos, prescrevendo uma ação futura. Jorge Miranda ressalta que não consentem que os cidadãos as invoquem já (ou imediatamente após a entrada e vigor da Constituição) pedindo o seu cumprimento só por si. O caráter programático não significa que o preceito esteja destituído de força jurídica. Segundo Canotilho, é reconhecido hoje um valor jurídico constitucionalmente idêntico ao dos restantes preceitos da constituição. As normas programáticas impõem um dever político ao órgão com competência para satisfazer o seu comando, condicionam a atividade discricionária dos aplicadores do direito, servindo de norte teleológico para a atividade de interpretação e aplicação do direito. Impedem comportamentos contrários a elas mesmas, podendo gerar pretensões e abstenção. Revogam normas anteriores incompatíveis com o programa que promovem e, se atritam com normas infraconstitucionais posteriores, levam à caracterização de inconstitucionalidade. Algumas normas programáticas obrigam ou se desenvolvem por meio de edição de lei. Outras exigem uma atividade material dos poderes públicos. Muitas vezes serão necessários esforços materiais e produção legislativa. 4. A CARACTERÍSTICA DA SANÇÃO IMPERFEITA - São chamadas de normas imperfeitas porque a sua violação não se acompanha de sanção jurídica suficiente para repor a sua força normativa, até porque não há nenhuma outra instância superior que lhe assegure a observância pelos órgãos da soberania. Aponta Konrad Hesse que a força normativa da Constituição depende das possibilidades de sua realização, abertas pela situação histórica, bem como da vontade constante dos implicados no processo constitucional de realizar os conteúdos da Constituição. 5. MODALIDADES DE NORMAS CONSTITUCIONAIS – REGRAS E PRINCÍPIOS - As normas jurídicas se subdividem em dois grupos: regras e princípios. Ambos se valem de categorias deontológicas comuns às normas: o mandado (determina-se algo), a permissão (faculta-se algo) e a proibição (veda-se algo). Critério da generalidade ou da abstração: Os princípios seriam aquelas normas com teor mais aberto do que as regras. Critério do grau de determinabilidade: Os princípios corresponderiam às normas que carecem de mediações concretizadoras por parte do legislador, do juiz ou da Administração. Já as regras seriam as normas suscetíveis de aplicação imediata. Critério da importância da norma para o conjunto do ordenamento jurídico: O princípio seria o fundamento para outras normas. Critério da ideia de direito: Os princípios seriam padrões que expressam exigências de justiça. Os princípios teriam, ainda, virtudes multifuncionais, diferentemente das regras. Os princípios nessa linha, desempenhariam uma função argumentativa. Por serem mais abrangentes que as regras e por assinalarem os standards de justiça relacionados com certo instituto jurídico, seriam instrumentos úteis para se descobrir a razão de ser uma regra ou mesmo de outro princípio menos amplo. Dão ensejo, ainda, até mesmo à descoberta de regras que não estão expressas em um enunciado legislativo, propiciando o desenvolvimento e a integração do ordenamento jurídico. 6. REGRAS E PRINCÍPIOS EM DWORKIN E EM ALEXY DWORKIN: - As regras e os princípios tem um modo de aplicação distinto. Aplica-se a regra segundo o modo do tudo ou nada; de maneira portanto, disjuntiva. Havendo um conflito entre regras, a solução se dará pelos critérios clássicos de solução de antinomias (hierárquico, da especialidade e cronológico). - Os princípios não desencadeiam automaticamente as consequências jurídicas previstas no texto normativo pela só ocorrência da situação de fato que o texto descreve. Os princípios podem interferir uns nos outros e, nesse caso, “deve-se resolver o conflito levando se em consideração o peso de cada um”. Se faz pela indagação sobre quão importante é um princípio (ou qual o seu peso) numa dada situação. Para Dworkin, os princípios captam os valores morais da comunidade e os tornam elementos próprios do discurso jurídico. ALEXY: Para Alexy, a distinção é “a chave para a solução de problemas centrais da dogmática dos direitos fundamentais”. Apresentam uma diferença qualitativa e de grau. - Os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida, dentro das possibilidades jurídicas e reais existentes, são comandos de otimização. O grau de cumprimento do que o princípio prevê é determinado pelo seu cotejo com outros princípios e regras opostas (possibilidade jurídica) e pela consideração da realidade fática sobre a qual operará (possibilidade real). - Enquanto os princípios concitam a que sejam aplicados e satisfeitos no mais intenso grau possível, as regras determinam algo. Se uma regra é válida, então há de se fazer o que ela exige, sem mais nem menos. Desse modo, enquanto um princípio pode ser cumprido em maior ou menor escala, as regras somente serão cumpridas ou descumpridas. - A colisão de regras é diferente, na sua estrutura, de uma hipótese de colisão de princípios. Um conflito entre regras é solucionado tomando-se uma das regras como cláusula de exceção da outra ou declarando-se que uma delas não é válida. Quando os princípios se contrapõem em um caso concreto, há que se apurar o peso (ponderação) que apresentam nesse mesmo caso. Terá que ser apurado, conforme o caso, qual dos dois apresentam maior peso. - Admitida essa teoria dos princípios, não será exato afirmar que a generalidade seja a nota definitiva para se identificar um princípio. Afinal, há normas com alto grau de generalidade que não se enquadram como princípios. - As constituições, hoje, são compostas de regras e de princípios. Um modelo feito apenas de regras prestigiaria o valor da segurança jurídica, mas seria de limitada praticidade, por exigir uma disciplina minuciosa e plena de todas as situações relevantes, sem deixar espaço para o desenvolvimento social. O sistema constitucional não seria aberto. Entretanto, um sistema que congregasse apenas princípios seria inaceitavelmente ameaçador à segurança das relações. 7. NORMAS CONSTITUCIONAIS CLASSIFICADAS SEGUNDO A SUA FUNÇÃO - Classificação baseada no critério de função das normas constitucionais: Normas impositivas que estabelecem um dever para os poderes públicos, prescrevem uma tarefa para o Estado; Normas que instituem garantias para os cidadãos; Normas que reconhecem e conformam direitos fundamentais; Normas que entronizam garantias institucionais; Normas orgânicas, que criam órgãos; Normas de competência que fixam as atribuições dos órgãos; Normas de procedimento que estabelecem um modo de agir para os seus destinatários;