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Livros de Literatura Infanto-Juvenil

Temática: Diferenças

 Bicho Feio, Bicho Bonito, de Mary França e Eliardo França.


O que é feio para você? E o que é belo? Algo que é bonito para um pode
ser feio aos olhos de outro. É uma questão de gosto e opinião. Mas há quem
não se importe com isso.

 Gente Bem Diferente, de Ana Maria Machado.


Essa é a história de uma família aparentemente normal, mas que vai se
revelando especial a cada descoberta dos netos Rodrigo e Andréia. Será
essa uma família igual às outras ou uma muito especial e diferente?

 Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria Machado.


Era uma menina linda. A pele era escura e lustrosa, que nem pêlo da
pantera quando pula na chuva. Do lado da casa dela morava um coelho que
achava a menina a pessoa mais linda que ele já vira na vida. Queria ter uma
filha linda e pretinha como ela. Um dos maiores sucesso da autora.

 Ninguém é igual a ninguém, de Regina Rennó.


A história mostra como é gostoso a gente ser o que é, sentir o que sente
e viver como vive, apesar da opinião dos outros. Além disso, o personagem
TIM traz uma proposta lúdica muito especial.

 O menino que tinha rabo de cachorro, de Mauricio Veneza.


Esta é uma história que fala sobre ser diferente, ver diferente, sonhar
diferente... E, principalmente, respeitar o diferente.

 O Patinho Feio, de Ruth Rocha.


A história de um patinho feio, que não se parecia em nada com seus
irmãos patos, já é conhecida por todos, mas, nesta obra, Ruth Rocha dá um
toque todo especial a essa famosa história.

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Temática: Datas comemorativas

 A festa encrencada, de Sônia Junqueira.


A bicharada estava toda desanimada e resolveu organizar um festa na
mata. Todos colocaram a mão na massa. Todos os amigos foram
convidados para a festa: bicho, bruxa, fada; todos os seres da terra, da água
e do ar, menos gente.

 Lá vem o ano novo, de Ruth Rocha.


Chegou a hora do Ano Velho partir e dar lugar ao Ano Novo. Mas a dona
Meia-Noite estava aborrecida e não queria descer o escorregador do
tempo...

 Mas que festa!, de Ana Maria Machado.


Este livro mostra que uma simples festa de aniversário pode se
transformar numa congregação dos mais diferentes tipos que formam a
cultura e o povo brasileiros. Do índio ao imigrante das mais diversas origens,
a autora celebra a graça da diversidade que dá forma ao Brasil.

 O Natal de Manuel, de Ana Maria Machado.


André estava querendo saber o que era o natal, mas cada um dava uma
resposta diferente. Até que ele perguntou ao Manuel, seu melhor amigo da
escola, que deu a melhor resposta de todas.

 Um Natal que não termina, de Ana Maria Machado.


A história do nascimento de Jesus é contada em versos, ressaltando a
necessidade de paz e amor entre homens.

 Uma História de Páscoa, de Ana Maria Machado.


Com a páscoa chegando, Joãozinho só pensava no coelhinho que ia
trazer seus ovos de chocolate. Mas os coelhinhos nessa época do ano
também só pensam nos meninos que vão trazer umas cenouras coloridas
para eles.

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Temática: Medos

 Alguns medos e seus segredos, de Ana Maria Machado.


Seleção de três histórias que abordam o medo natural que toda criança
sente: "Mãe com medo de lagartixa", "Com licença, seu bicho-papão" e "O
lobo mau e o valente caçador".

 Fantasma existe?, de Ruth Rocha.


Às vezes, eu tenho muito medo de bruxa e de fantasma... Mas muitos
medos existem só na imaginação e, portanto, podem ser controlados.

 Quem tem medo de dentista?, de Fanny Joly e Jean-Noël Rochut.


Quem não tem, ou nunca teve, medo de dentista? Imagine o cenário: fios
retorcidos, brocas e alicates assustadores, dentaduras expostas... Ainda
bem que, neste caso, as aparências enganam!

 Quem tem medo de fantasma?, de Fanny Joly e Jean-Noël Rochut.


Uma menina, seu pai e sua mãe foram visitar um enorme castelo. A
garota logo viu homens encostados na parede, mas seus pais não deram
bola quando ela os avisou. A menina ouviu um barulho assustador...
(Coleção: Quem tem medo de monstro?, Quem tem medo de
extraterrestres?, Quem tem medo de bruxa?, Quem tem medo de
tempestade?, Quem tem medo de escuro?, Quem tem medo de
dragão?, etc.)

 Será que vai doer?, de Dora Lorch e Ruth Rocha.


O medo de dentista vem do medo de sentir dor, ou pode ser criado pelas
crianças a partir de histórias que ouviram.

 Tenho medo mas dou um jeito, de Ruth Rocha.


Existem situações que envolvem um perigo real, mas a criança pode
aprender que, tomando os devidos cuidados, ela pode controlar alguns
perigos.

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Temática: Meio ambiente

 Azul e Lindo: Planeta Terra, Nossa Casa, de Ruth Rocha.


Este livro é voltado para a importância de cuidarmos bem da nossa
grande casa - o planeta Terra -, única possibilidade de vida das atuais e das
futuras gerações, que merecem encontrá-lo azul e lindo.

 Nosso Amigo Ventinho, de Ruth Rocha.


Cada vento é de um jeito e tem um ventinho muito especial, amigo das
crianças! Este ventinho adora brincar com as nuvens e sempre ajuda os que
precisam dele. E quando o teatrinho das crianças está ameaçado por um
vento de muito mau humor, Ventinho entra em ação.

 O Mundinho, de Ingrid Bellinghausen.


Este livro trata sobre a importância de cuidarmos do mundo em que
vivemos, para que todos os seres vivos possam viver em paz e harmonia,
deixando o Mundinho feliz.

 No imenso mar azul, de Ana Maria Machado e Claudius.


O menino mergulha no imenso mar azul e encanta-se com as cores, a
vida e a beleza de um peixe palhaço. O peixinho, lá no fundo mar, observa
curioso aquele mergulhador, criatura tão diferente, com mãos e cabelos. A
partir desse encontro, menino e peixe aprendem a respeitar e admirar
mundos e vidas tão diferentes.

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Temática: Animais

 A Arca de Noé, de Ruth Rocha.


Agora, a historinha do Noé, o velhinho que construiu uma arca para
abrigar um casal de cada bicho, é contada, em detalhes, pela Ruth Rocha. E
olha que ela sabe até das aventuras que ocorreram dentro da arca!

 A Galinha que criava um Ratinho, de Ana Maria Machado.


Numa casinha branca com telhado de sapê moravam um galo e uma
galinha. Mas eles não tinham pintinhos, e como queriam ter muitos filhos,
pegaram um ratinho para cuidar. Inspirada num conto tradicional, uma
história deliciosa para os pequeninos.

 A Televisão da Bicharada, de Sidônio Muralha.


A obra trata da “Televisão da Bicharada”, que é a junção de bichos, de
risos, de poesia, de rima, de brincadeiras e de palavras.

 Borba, o Gato, de Ruth Rocha.


Nesta historinha, cão e gato são grandes amigos: cresceram no mesmo
quintal e adoram brincar de pegador, amarelinha, mocinho e bandido. O
sonho da dupla é virar policial. Mas só Diogo, o cão, pode ser da polícia.

 Escolinha do Mar, de Ruth Rocha.


Os peixes também vão à escola. Lá, aprendem música, dança e têm
aulas para não morder anzol. E todo ano os peixinhos fazem uma excursão
pelos lugares mais profundos do oceano. É onde acontece as aventuras
com uma família de tubarões meio mal-educada.

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Temática: Obras baseadas/inspiradas em clássicos infantis

 Branca de Neve e outros contos de Grimm, de Ana Maria Machado.


A famosa história da Branca de Neve e outros nove contos foram
selecionados e traduzidos por Ana Maria Machado.

 Joãozinho e Maria, de Ruth Rocha.


Joãozinho e Maria, deixados pelos pais (que não tinham dinheiro para
criá-los), encontraram uma casa feita de doces, na floresta. Famintos,
começaram a devorá-la. Não sabiam que ali morava uma velha bruxa que
comia criancinhas e gostava principalmente das gordinhas. Ruth Rocha
reconta essa famosa história.

 Joãzinho e o pé de feijão, de Ruth Rocha.


Toda criança já ouviu falar na história de "Joãozinho e o Pé de Feijão", o
garoto que sobe no pé de feijão enorme para encontrar com o gigante. Este
livro trás esta história recontada por Ruth Rocha.

 Rapunzel, de Júlio Emílio Braz.


A jovem Rapunzel é presa em uma torre alta, por uma feiticeira. Quando
a bruxa queria vê-la, gritava por ela e a menina deixava cair para fora da
janela seus longos cabelos, pelos quais a feiticeira subia. Até que o filho do
rei apaixona-se por Rapunzel.

 Romeu e Julieta, de Ruth Rocha.


Num reino distante cada cor tinha o seu lugar: borboletas brancas
ficavam com as flores brancas, e assim por diante, sem misturas. Julieta
estava proibida de sair do canteiro amarelo, e Romeu, do azul. Um dia, o
amigo Ventinho chamou Romeu para dar uma voltinha.

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Sugestões

Temática: questão racial


Minha família é colorida

Georgina Martins

O pequeno Angelo, ao perguntar para sua mãe porque seu cabelo não "vuava",
abre espaço para que lhe fosse explicado, de forma simples e amorosa, uma
belíssima história de amor: a história de sua família, uma família colorida.
Georgina Martins consegue apresentar a seu leitor um texto delicado e sutil,
que toca em raízes familiares, árvore genealógica, questões raciais,
encontros... Muitos encontros suscitando uma série de interferências com o
texto.
O livro não termina com a descoberta do pequeno Angelo, mas inicia incríveis
questões, novas descobertas e perguntas sobre o mundo familiar, pois
Georgina apresentou uma questão e abriu outras tantas para serem pensadas,
discutidas: amizades inter-raciais, países inter-raciais e principalmente, ao
levantar as diferenças, foca
sua história no encontro amoroso e na igualdade.
A ilustradora Maria Eugênia faz uma incrível leitura: cores, cabelos, olhos, mãos
sempre se tocando... Encontrando-se e fortalecendo o texto original.
A Coleção Muriqui Júnior, que traz como missão levantar temas cotidianos, nem
sempre simples de serem tratados, acertou no alvo com Minha família é
colorida.

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Temática: Interatividade com leitor.
A Borboleta Adormecida

Ziraldo e Zelio

Telma Araújo França (Aluna do Curso de Letras, 5º sem. da Universidade


Anhembi Morumbi)

Publicado em 1980 e tendo alcançado 21 edições até o momento, o livro A bela


borboleta, de Ziraldo e Zélio (Melhoramentos), pode ser considerado como um
dos mais emblemáticos textos da literatura infantil. Para fazer com que nossas
crianças viajem pelo mundo da leitura, os autores utilizam os recursos da
intertextualidade e da metalinguagem, trazendo para os leitores a missão de
libertar e manter uma bela borboleta acordada...
Já a capa do livro é algo interessantíssimo: os autores começam a instigar a
imaginação de seus leitores, colocando abaixo do título, a figura de uma
borboleta branca que, num primeiro olhar, parece não possuir beleza alguma.
Mas, com a leitura atenta do livro, veremos como a borboleta branca vai ganhar
cores e leveza... Descobriremos que o livro é um brinquedo interativo: ela é
ainda branca porque ainda não foi despertada!
A aventura se inicia com uma espécie de metaleitura __ ou seja, o livro fala do
próprio livro. O início do relato informa que o livro começará com uma paisagem
muito bonita. É o que vemos. Os autores utilizam-se dessa estratégia para
alertar ao leitor que as ilustrações passam também a fazer parte da história.
Mas não é só isso. A paisagem é um cenário, por enquanto ainda vazio, da
história que vai começar. Uma paisagem de flores e muito verde, calma e
gostosa. Tal quietude logo é interrompida pelos gritos de um personagem muito
astuto: o Gato-de-Botas.
Na paisagem do livro, o Gato-de-Botas entra e convoca personagens de outras
histórias infantis, como Branca de Neve e os sete anões, Alice e o coelho do
relógio (o coelhinho fujão do País das Maravilhas), a Bela adormecida, Peter
Pan, um príncipe encantado e o Patinho Feio __ que fazem parte do repertório
de muitos leitores, tornando assim essa viagem ao universo dos personagens
de ficção muito mais atraente. Aqui claramente está a metaliguagem do próprio
livro, quando o narrador comenta a situação: “Como ele estava dentro de um
livro, logo, logo, todo mundo atendeu à sua convocação.” O narrador vai
deixando evidente que, dentro de um livro, tudo pode acontecer.
E o livro segue falando de sua própria materialidade: entre as páginas oito e
nove, o Gato-de-Botas tenta explicar o motivo da reunião mas é sempre
interrompido pela fala de espanto e outras tantas interjeições dos demais

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personagens. Na ilustração, o Gato tem uma expressão de urgência. Ainda
consegue dizer: “Seguinte...”, mas é pausado em suas reticências e também é
quase fim de página! O narrador completa: “falou Gato-de-Botas e virou a
página do seu discurso.” Assim, na página dez, o narrador diz ao leitor que a
página seguinte, ao ser aberta, já não será mais a seguinte __ é, portanto, a
página atual.
Finalmente, nosso travesso felino conta o motivo de sua convocação
extraordinária (ou seria extraordinária convocação?). Tudo começou quando ele
conheceu uma borboleta __ ou melhor, uma bela borboleta __, presa no meio de
um livro de história infantil. Todos ficaram indignados pois borboletas nasceram
para voar com suas asas coloridas e não para ficar presas num livro! Então,
formam um grande exército armado de alicates, serras, tesouras, pinças,
chaves de fenda e pés-de-cabra e os personagens partem para o meio do livro
__
que, é claro, é o meio do próprio livro que está sendo lido e manuseado por
nós-leitores. Mas, quando estamos quase chegando, o Gato-de-Botas grita:
“Parem! Ela está logo ali, depois da virada. Preparem-se para ter uma
emoção...”
Zélio e Ziraldo brincam com a curiosidade do leitor, forçando-o a virar
rapidamente a página: vamos ver e apreciar a bela borboleta! Entretanto, ela
está com as asas fechadas... Nesse momento, quem entra em cena é o
personagem mais importante: o Leitor! Sua missão é despertar a borboleta: ela
somente conseguirá abrir e fechar suas asas enquanto houver quem esteja
interessado em histórias. Cabe ao Leitor aceitar a proposta bastante convidativa
dos autores: as asas imensas nas páginas centrais logo darão ao pequeno
leitor a idéia de movimentá-las e ver o resultado do jogo de cores brilhantes
saltando das páginas.
A partir dessa brincadeira interativa, o mais importante é a mensagem que o
livro encerra: quando o Leitor sentir saudades dos personagens, vai retirar o
livro da estante e repassar pagina por página __ a linda borboleta estará sempre
a voar. O título A bela borboleta também nos remete, em particular, a um dos
mais belos contos da literatura: A Bela adormecida, que conta a história da
princesa que, ao espetar o dedo em uma agulha, dormirá para sempre. Neste
livro, não existe maldição, mas a borboleta fica adormecida até que o Leitor
apareça e pegue o livro, despertando-a com sua leitura. Essa é uma idéia de
extrema criatividade, um belo vôo aos livros.

Temática: necessidade especial.


Ciça

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Neusa Jordem Possatti

CIÇA, livro da escritora Neusa Jordem Possatti, é narrado em primeira pessoa


pela personagem que dá título à obra. Ciça é uma garota que vive em uma
família, muito pobre, de “catadores” de café em grandes fazendas. A fome de
comida e um cãozinho de estimação imaginário são seus companheiros de
quase sempre. Apesar da pobreza e da falta de perspectiva da família, ela vai
vivendo o seu cotidiano de menina, descobrindo coisas da vida: escola,
esportes, novos amigos, brincadeiras.
Assim, assim, vai vivendo até a vida preparar-lhe uma armadilha. Depois de um
acidente, aprenderá que é possível tocar a vida adiante, com o corpo que se
tem para viver. E isso a transforma em uma garota “especial”.
Uma história curta, mas intensa. Repleta de uma ternura e um otimismo quase
ouros, apesar da dureza dos fatos que brotam da história.
A ilustração é quase fiel ao texto, dando-lhe o suporte para a necessária
compreensão do texto e pertencimento ao clima proposto.

Temática: tempo
Hoje é amanhã?

Anna Claudia Ramos

Carol conhecia muita coisa: da casa da mãe e da casa do pai (que não são a
mesma casa)
e também de todo o mundo que era seu amigo.
Ela apenas se atrapalhava um pouquinho...

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com as palavras! E com as coisas que elas querem dizer,
se não são coisas que a gente vê, pega e apalpa.
Carol é ainda pequena e não entende bem as coisas do tempo. Uma noite,
antes de dormir, a menina perguntou:
__
Mãe, ontem eu vou brincar na casa da Marina?
E, no dia seguinte, Carol acorda e levanta-se com outra pergunta pronta na
ponta da língua... Hoje é amanhã?
Em uma linguagem concisa, Anna Claudia Ramos expõe, pela voz da mãe e do
pai de Carol, as primeiras noções de tempo e os modos de perceber sua
passagem que uma criança precisa aprender. Os diálogos são leves e
divertidos mas, o mais saboroso é a reconstrução animista que a pequena
Carol faz para suas descobertas a respeito de ontem, de hoje e de amanhã.

Temática: poemas musicais


O jogo da fantasia

Elias José

Um teclado soando piano, uma suave percussão, e sons que tilintam, sementes
do pau-de-chuva que tombam:
com muita delicadeza, os instrumentos criam a ambiência sonora para o timbre
forte de Elias José, na abertura
do CD que acompanha o livro O jogo da fantasia.
Mas o poeta não está só: do início ao fim, vozes infantis vão tomando/entoando
a cena, acompanhados de músicos experientes. O disco possui 28 faixas e
alterna momentos de leitura expressiva de textos, brincadeiras rítmicas e
dezesseis poemas musicados. Sob a regência de arte-educadores, o projeto
desfila por variados estilos musicais, com melodias simplificadas e tons
adaptados à extensão vocal da criança, buscando facilitar a assimilação e o
aprendizado dos versos. O livro O jogo da fantasia, de Elias José, foi
originalmente publicado em 1989 e conquistou o Prêmio Odylo Costa, Filho -
FNLIJ.

Temática: caminhos da vida


Abrindo caminho

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Ana Maria Machado

Frente a capa, nossa imaginação logo começa a funcionar: mãos dadas,


menino e menina tal-e-quais João e Maria vão abrir o próprio caminho?
A partir do Rio de Janeiro a um ponto qualquer do mapa, onde existam castelos,
o que eles têm é o mundo a seus pés... na moldura, pena, arco, óculos,
ampulheta, árvore, um avião de rabiola, um violão, um barco antigo de muitos
remadores, a torre francesa, um monstro marinho escamoso e alado. Por onde
irão os dois personagens? A princípio, a lugar nenhum: este é apenas um
despiste da ilustradora sobre o que é possível encontrar neste livro.
A viagem que nos oferece Ana Maria Machado tem outra natureza: nem é
preciso sair do lugar para conhecer o que havia no meio do caminho de Dante,
Carlos e Tom: uma floresta, uma pedra, um rio... ou no caminho de Cris, Marco
e Alberto: oceano, deserto, muita lonjura. E o que há nos possíveis caminhos do
leitor, o texto diz:
No meio do meu caminho
tem coisa de que não gosto.
Cerca, muro, grade tem.
No meio do seu, aposto,
tem muita pedra também.
E assim, intertextualizando caminhos, o poema de Ana Maria vai abrindo
começos de novas leituras, dos clássicos da literatura universal e brasileira, à
nossa canção popular e referências históricas de todos os povos. Afinal, todo
livro é promessa de vida -- e a autora, afinada com o diálogo entre gerações (de
pessoas e de textos), vai juntando frases que pinçou aqui e ali compondo sua
própria canção.
Grandes e belas, as ilustrações de Elisabeth Teixeira vão "abrindo caminho"
para cenários variados, dando ao olhar as pistas que o texto nos quer fazer
descobrir.

Temática: comportamento - sono


Não vou dormir

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Christiane Gribel e Orlando

A menininha enfezadinha de cabelos vermelhinhos disse que não vai dormir...


Pode até desligar a televisão, subir os degraus da escada (nervosinha, hein?)
carregando seu ursinho, escovar os dentinhos (irritadinha talvez) e ir para a
cama. Mas, ela diz: — Não vou dormir.
É a partir de uma situação tão rotineira para quem cria pestinhas em casa — ou
para quem tem menos de cinco anos e pais chatinhos, também em casa — que
Christiane Gribel e Orlando tiram o melhor do humor para os leitores (de
qualquer idade que moram aí, na sua casa). E o que casa muito bem nessa
curtíssima história é a seqüência de imagens e
frases curtas, em um projeto gráfico bacana que assume os papéis de narrador
e de diretor de filmes: as primeiras páginas-cenas mostram a menina como se
uma câmera ali a acompanhasse e, de repente, toma o ponto-de-vista e a voz
da pequena personagem. Sentada e acordada no quarto, o que mais ela veria
senão os pés da cama? E a cômoda e o guarda-roupa, a janela, a boneca, o
mancebo e o cavalo-de-pau, o retrato de palhaço: o cenário não muda... Mas,
por quanto tempo, ela vai ficar olhando a mesma cena? E o leitor?
O que nos diverte, no livro, é perceber o cabo-de-força da menininha contra o
sono: o campo de visão vai diminuindo pouco a pouco... Ela pisca, o
enquadramento aumenta, então depois... vai, vai, vai até que tudo se apaga.

Temática: medo
Medo de quê?

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Flávia Côrtes

Medo de quê? Do mais recente título de Flávia Côrtes ilustrado por Ivan Zigg?
Não, não há necessidade de ter medo, mas puro encantamento de como a
autora da palavra vai desconstruindo vários mitos que se constroem durante a
infância, para em seguida se incorporarem à vida cotidiana com sabor de
experiência vivida e vívida.
Flávia Cortês fala de medos diversos, através do olhar da menina, que olha o
mundo e nele vê medos medonhos extremamente necessários à descoberta do
mundo e de nós mesmos.
Na página oito encontra-se a chave que dá movimento ao texto e onde nos
deparamos com o seu segredo: "— Menina medrosa! Medo é uma coisa que
inventam para fazer você parar. Parar de brincar, parar de cantar, parar de
sonhar...".
E a resposta para confrontar os seus medos, mérito da narrativa, é o caráter
emancipatório do texto. Em vez de se utilizar de elementos mágicos para que
as coisas se acomodem e se adaptem ao dia a dia da menina, Flávia Cortês
personifica uma vozinha que vem de dentro da personagem, e que faz com que
a menina reflita naturalmente sobre todos os medos que a cercam.
E para narrar imageticamente a história Ivan Zigg usa de seu peculiar bom
humor misturado à tinta acrílica, papel, água e pincel, por vezes criando um
ambiente claustrofóbico, próprio de como os medos nos parecem quando
somos crianças, mas recheados de comicidade, para auxiliar o leitor na
transposição do questionamento sugerido pelo texto.
Medo de quê? é história para se ler mais de uma vez. E a cada uma, descobrir
que medo, quem faz e cria, somos nós mesmos. E, se eles existem ou não, são
fundamentais para a descoberta de algo humano em todos nós que, por vezes,
temos medo de revelar.

Temática: comportamento - despedida


Fica comigo

Georgina Martins

Os mimos para o menino não são do tamanho dele: o menino é pequeno, mas
seus medos são maiores do que as coisas que ele pode abraçar: medo de ficar
sozinho, medo de ficar sem mãe, até mesmo medo de crescer para não ter

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mais medo. E, quando começa o dia, o menino se levanta e os monstros vão
surgindo pelos cantos da casa — mas só porque ele sabe que a mãe logo sairá
para ir trabalhar.
Georgina Martins, em uma linguagem afetiva, re-propõe o jogo matinal da
despedida diária para falar dos anseios e fantasias por que passam muitas
crianças pequenas.
O menino tem uma tornerinha de perguntas que não cessam, mas os
argumentos maternos são ternos e igualmente incansáveis. Dos medos mais
imediatos aos temores quanto ao futuro, os temas abraçam nuanças sutis de
sentimentos de abandono, perda e desolação, mas muito levemente que
permitiria à mãe, na despedida final, transformar-se em vento apenas para
voltar e acariciar outra vez o menino.
Inspirado no livro de Bárbara M. Joosse, Mamãe, você me ama?, o texto é
construído em uma estrutura de diálogo, sem intervenções de um narrador,
permitindo-nos ouvir diretamente as vozes do pequeno e sua mãe. As respostas
são firmes e doces embalando o filho em uma promessa que jamais se romperá
— e isso é extremamente bonito e delicado.
As ilustrações de Elisabeth Teixeira ambientam o cotidiano da mãe e do
menino, movimentando portas com sombras que só o menino vê, uma bruxa
azul por detrás do acortinado do banheiro, um dragão que habita debaixo da
toalha da mesa. Os detalhes das cenas são cheios de ternura e brasilidade,
como o feijão preto,
o filtro de barro, os vasos de flores na janela...

Temática: Família
Valentina

Márcio Vassalo

Uma princesa com orelhas de abano: para escutar cochicho de nuvem. E


pernas compridas: para pular até pensamento... Assim é Valentina, sempre
sorridente e com óculos espichados para ver tudo o
que acontecia à sua volta. Mas, o que ela não
entendia era por que o rei e a rainha precisavam, todos os dias, tão antes do sol
nascer, saírem do castelo para trabalhar. Eles explicavam que era tudo
necessário para a princesa ser "alguém na vida" e, um dia, ela entenderia.
Vestindo a realidade com imagens de contos de fadas, Márcio Vassalo busca

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oferecer aos leitores uma visão otimista da infância e da fantasia que une a
todos, quando pequenos: não importa o cenário vivido, lares transformam-se
em castelos para quem pode descobrir (e encantar-se com) uma torre com
escada enluarada pelos recantos do mundo.
E para magicar a linguagem, o texto encarrilha expressões adverbiais de lugar
intensificadoras de distâncias e espaços, pois o castelo de Valetina ficava onde
alguém possa imaginar, "na beira do longe, lá depois do bem alto".
Suppa dá a Valentina cor de café-com-leite, misturinha que a menina é do pai
branco e da mãe negra que aparecem como figuras reais no início do livro e,
pelas últimas páginas, em um retrato de elegância familiar. A pequena princesa
tem coroa de papel, estampada de jornal, e uma saia de plástico transparente,
drapeada com grampos metálicos, com três flores bordadas em linhas
aplicadas.

Temática: higiene
Banho!

Mariana Massarani

A hora do banho é sempre


uma grande aventura diária
no reino encantado de qualquer lar: a mãe berrando e parece tão longe que
a criançada jamais desprega da televisão, não é mesmo?
Na casa de Edson,
Edilson,
Ednalva
e Edmilson,
não é diferente!
Só mesmo uns cascudos da mãe furibunda para fazer os quatro atravessarem a
porta... e ingressarem na fluidez da fantasia: banheira, tampa, água, bichos de
borracha, todos a bordo? "Cuidado com a pororoca!", avisa Ednalva e dá-lhe
água do balde. Em pouco minutos, o banheiro vira rio, vira Amazonas, tão

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habitado de peixes, poraquê, pirarucu, mais arraia, sucuri e jacaré-açu!
Mariana Massarani articula palavra&imagem para contar uma inédita história de
um banho bem molhado e humorado, em que a imaginação (e a leitura de um
livro) transforma o cotidiano doméstico. O texto verbal pontua pistas para o olho
mergulhar e desvendar a ilustração, em seus detalhes mais cômicos. Imaginem
com que cara (e com que pintas) aparece a mãe, em meio à folia, gritando da
porta:
"Já passaram xampu?" Edson, Edilson e Ednalva
desbravam viagem entre marolas e ladrilhos — a banheira
é mesmo uma grande embarcação — e nadam
pelas profundas águas que o narrador enuncia...
Até que surjam as piranhas e os três zapt banheiro afora!
E o Edmilson, cadê?

Temática: amizade
A árvore curiosa

Didier Lévy

No jardim da casa, em frente à janela do quarto do menino, havia uma árvore


de tronco cascudo e nodoso que ninguém sabia de que espécie era. Porém, era
fácil de escalar até o extremo de seus galhos e o menino gostava, gostava
muito, de ler ali sentado. Enquanto o menino lia, a árvore esticava seus braços
de folhas — mas isso
ninguém parecia saber... Ele apenas desconfiava de que se tratava de uma
árvore leitora. Porque, algumas vezes,
suas histórias preferidas iam parar em meio à folhagem...
Seria sempre a brisa quem as carregava?
Neste apólogo mágico sobre a amizade, a narração é feita com extrema leveza
pelo próprio personagem.
O afeto e as histórias compartilhadas, um dia, deixam de acontecer, pois um
terrível raio põe um término na vida da árvore que ninguém nunca soube de que
espécie era.

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O menino chora, mas sua mãe vem sussurrar em segredo o que agora se deve
fazer para que a amizade perdure em outros recantos da memória e da
imaginação.

Temática: padrões estéticos


O menino mais
feio do mundo

Regina Chamlian

Há um feitiço de lenda e lenha aquecendo o coração desta história, como nos


sonhos de uma noite de junho... Em meio aos festejos da véspera do São João,
Bertoldinho percorre o labirinto de gente que pesca peixinhos, faz fila para a
pipoca, diverte-se com os mamulengos e aproveita também a distração para
saber da sorte, do amor, do amargor da morte. Bertoldinho sente-se o menino
mais sozinho do mundo: seguir os mesmos caminhos dos amigos no
divertimento não basta, por vezes até mesmo machuca.
Nesta noite, sob o clarão da lua, Bertoldinho fincou uma faca na bananeira por
necessidade de adivinhação. Que a seiva escorresse e desse forma de letra, a
letra com que começa e se escreve o nome da futura namorada... S. Porém,
são terríveis os reflexos da casa dos espelhos e Solange brilha longe, entre
risadas que ferem. Mas, há Selene, de silenciosa espera e companhia que ele
nem desconfia e vai se fiar na conversa charlatã de Soraya, a feiticeira da
quermesse...
Elementos mágicos de nossa brasilidade se mostram no texto de Regina
Chamlian, no galope de uma fantasia bem temperada. As fogueiras de junho,
entre nós, são da mesma luz e feitio que inspiraram os devaneios de
Shakespeare, dando asas aos encantados que invadiram o teatro elisabetano,
e inspiraram também a composição de um músico russo chamado Mussorgsky
que acordou uma feérica excitação sonora em A noite sobre o Monte Calvo. E
este é o ritmo das imagens noturnas de Helena Alexandrino, sobrepondo planos
e sombras, impressões, claros e detalhes, delicadeza e formas distorcidas,
distância e intimidade — uma dinâmica expressão.
As autoras criam uma história original, estrelada de símbolos, para falar a
crianças e jovens "que sofrem o pão que o diabo amassou, quando não
correspondem aos padrões de beleza corrente".

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Temática: diferenças
Diferentes somos todos

Alina Perlman

Conviver é viver com diferenças.


Esta é a temática do livro de Alina Perlman. Diferenças de muitas ordens, que
se impõem como parte da experiência fatal e empolgante de que Diferentes
somos todos.
E o texto aponta o quanto as personagens, principalmente Carminha e
Laurinha, vivem as contradições das relações entre os diferentes, no seio de
uma sociedade como a nossa, que falseia a realidade em nome de uma
suposta igualdade.
O enredo começa revelando a questão da diferença de classes e desemboca
em muitas outras, espelhadas pela narrativa. Entre tantas questões
emergentes, no conto, aparece a da problemática das crianças especiais, na
figura do irmão e da irmã das duas meninas que, ironicamente, tornam-se o
ponto de encontro entre elas.
A partir do encontro, novas diferenças e contradições se mostram, ao se tratar
da relação com essas crianças ditas especiais, nome que às vezes disfarça o
quanto ainda nos consideramos mais normais em relação a outros. Afinal,
diferentes e especiais somos todos.
Aí aparece também como esse tema é pouco digerível na família, na escola e
na sociedade de um modo geral.
Descobrindo-se em suas diferenças, Carminha e Laurinha então se propõem
transformar descobertas em ação, colocando em foco o problema da inclusão.
Este me parece ser também o foco principal do livro. Alina Perlman cria uma
trama leve, acompanhada também pelas leves imagens de Cecília Esteves, que
busca sensibilizar o leitor para o assunto, na escola, na família, onde quer que
existam pessoas enredadas nesses encontros entre diferentes: somos todos.

Temática: comportamento
Maria-vai-com-as-outras

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Sylvia Orthof

O que é necessário para uma ovelha dar uma requebrada na vida e modificar
todo o seu caminho? Dos textos mais bem comportados de Sylvia Orthof, a
história de Maria, que ia sempre com as outras ovelhas, é uma das primeiras
delícias que conheci.
O texto é uma fábula contemporânea, arejada com a precisão de uma
lengalenga, com rimas marcando o ritmo e um refrão ecoante, no final de cada
situação: Maria ia sempre com as outras. Ela ia pra baixo, ia pra cima. Ia pro
deserto, ia pro pólo sul. Até que as coisas começaram a apertar... Foram todas
comer jiló, Maria detestava jiló, mas como as outras ovelhas comiam, Maria
comia também.
É neste instante que o narrador se manifesta, com uma simples e enfática
exclamação: “Que horror!” E, não-mais-que de repente, Maria pensa pela
primeira vez. Bastou?
Que nada, Maria continua seguindo o rebanho... Até que vão as ovelhas para o
alto do morro do Corcovado e, de lá, saem pulando fofinhas e faceiras pra
dentro da lagoa, muito, muito abaixo. Conseguiram? Que nada! E Maria?
A Maria que vemos na ilustração é uma ovelhinha diferente: não tem as
pestanas fechadas, nem o sorriso vermelhamente angelical. Ela não é uma
ovelha cinza no meio da alvura azulada do rebanho — é, aliás, bem parecida
com a maioria. Porém, sofre, como sofre, pega gripe, insolação...
Tudo porque não sabe caminhar por onde quer o seu pé! Sylvia Orthof dá um
desfecho simples à história
com um recado sorridente, gracejando leve com os leitores, com as ovelhas e
com o narrador. Agora, mé, leia você o livro e tire suas próprias conclusões!

Temática: lendas brasileiras


Lendas da Amazônia
...e é assim até hoje

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Fávia Savary

O livro de Flávia Savary contém dez lendas amazônicas e um subtítulo: “... e é


assim até hoje”, frase que inicia e encerra o livro. Com propriedade, a autora faz
um apanhado de mitos amazônicos, homenageando a riqueza das nações
indígenas, nas figuras das tribos Maués, Anambés, Taulipangs, Parintins, etc. O
livro nos convida, em tupi: “Caá rasapa, nde retame xe sou”, o que significa:
Atravessando a mata, para a tua terra eu vou. Lá, o leitor descobrirá que o índio
Uánham negociou a Noite Grande com a Surucucu em troca de uma cabaça de
venenos. Conhecerá a história de Bahira, o pajé que roubou o fogo cujo dono
era um tal Urubu. Caminhando mais pela mata, pode-se presenciar a aposta
entre a Chuva e a Onça, ou seja: de quem os índios têm mais medo? É
emocionante acompanhar Onhiamuaçabê plantar na terra os olhos do filho
morto, para que renasçam como frutos do guaraná. A autora descreve, também,
a lenda do Curupira, o protetor da floresta e dos seus habitantes. Mani, a
indiazinha, diferente das outras de sua tribo, ao morrer, virou plantinha,
transformando-se na bela e conhecida lenda da mandioca. A autora, a seguir,
nos brinda com a lenda de Ceuci, a velha gulosa, introduz a encantadora
história da cunhã-porã-poranga (moça muito bonita) Naiá que se transformou
na vitória-régia. Encerrando o texto, duas belíssimas lendas: Cobra Norato e O
Boto. As ilustrações alongadas de Tati Móes parecem flutuar pelas páginas,
graciosamente.

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