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Temática: Diferenças
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Temática: Datas comemorativas
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Temática: Medos
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Temática: Meio ambiente
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Temática: Animais
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Temática: Obras baseadas/inspiradas em clássicos infantis
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Sugestões
Georgina Martins
O pequeno Angelo, ao perguntar para sua mãe porque seu cabelo não "vuava",
abre espaço para que lhe fosse explicado, de forma simples e amorosa, uma
belíssima história de amor: a história de sua família, uma família colorida.
Georgina Martins consegue apresentar a seu leitor um texto delicado e sutil,
que toca em raízes familiares, árvore genealógica, questões raciais,
encontros... Muitos encontros suscitando uma série de interferências com o
texto.
O livro não termina com a descoberta do pequeno Angelo, mas inicia incríveis
questões, novas descobertas e perguntas sobre o mundo familiar, pois
Georgina apresentou uma questão e abriu outras tantas para serem pensadas,
discutidas: amizades inter-raciais, países inter-raciais e principalmente, ao
levantar as diferenças, foca
sua história no encontro amoroso e na igualdade.
A ilustradora Maria Eugênia faz uma incrível leitura: cores, cabelos, olhos, mãos
sempre se tocando... Encontrando-se e fortalecendo o texto original.
A Coleção Muriqui Júnior, que traz como missão levantar temas cotidianos, nem
sempre simples de serem tratados, acertou no alvo com Minha família é
colorida.
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Temática: Interatividade com leitor.
A Borboleta Adormecida
Ziraldo e Zelio
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personagens. Na ilustração, o Gato tem uma expressão de urgência. Ainda
consegue dizer: “Seguinte...”, mas é pausado em suas reticências e também é
quase fim de página! O narrador completa: “falou Gato-de-Botas e virou a
página do seu discurso.” Assim, na página dez, o narrador diz ao leitor que a
página seguinte, ao ser aberta, já não será mais a seguinte __ é, portanto, a
página atual.
Finalmente, nosso travesso felino conta o motivo de sua convocação
extraordinária (ou seria extraordinária convocação?). Tudo começou quando ele
conheceu uma borboleta __ ou melhor, uma bela borboleta __, presa no meio de
um livro de história infantil. Todos ficaram indignados pois borboletas nasceram
para voar com suas asas coloridas e não para ficar presas num livro! Então,
formam um grande exército armado de alicates, serras, tesouras, pinças,
chaves de fenda e pés-de-cabra e os personagens partem para o meio do livro
__
que, é claro, é o meio do próprio livro que está sendo lido e manuseado por
nós-leitores. Mas, quando estamos quase chegando, o Gato-de-Botas grita:
“Parem! Ela está logo ali, depois da virada. Preparem-se para ter uma
emoção...”
Zélio e Ziraldo brincam com a curiosidade do leitor, forçando-o a virar
rapidamente a página: vamos ver e apreciar a bela borboleta! Entretanto, ela
está com as asas fechadas... Nesse momento, quem entra em cena é o
personagem mais importante: o Leitor! Sua missão é despertar a borboleta: ela
somente conseguirá abrir e fechar suas asas enquanto houver quem esteja
interessado em histórias. Cabe ao Leitor aceitar a proposta bastante convidativa
dos autores: as asas imensas nas páginas centrais logo darão ao pequeno
leitor a idéia de movimentá-las e ver o resultado do jogo de cores brilhantes
saltando das páginas.
A partir dessa brincadeira interativa, o mais importante é a mensagem que o
livro encerra: quando o Leitor sentir saudades dos personagens, vai retirar o
livro da estante e repassar pagina por página __ a linda borboleta estará sempre
a voar. O título A bela borboleta também nos remete, em particular, a um dos
mais belos contos da literatura: A Bela adormecida, que conta a história da
princesa que, ao espetar o dedo em uma agulha, dormirá para sempre. Neste
livro, não existe maldição, mas a borboleta fica adormecida até que o Leitor
apareça e pegue o livro, despertando-a com sua leitura. Essa é uma idéia de
extrema criatividade, um belo vôo aos livros.
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Neusa Jordem Possatti
Temática: tempo
Hoje é amanhã?
Carol conhecia muita coisa: da casa da mãe e da casa do pai (que não são a
mesma casa)
e também de todo o mundo que era seu amigo.
Ela apenas se atrapalhava um pouquinho...
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com as palavras! E com as coisas que elas querem dizer,
se não são coisas que a gente vê, pega e apalpa.
Carol é ainda pequena e não entende bem as coisas do tempo. Uma noite,
antes de dormir, a menina perguntou:
__
Mãe, ontem eu vou brincar na casa da Marina?
E, no dia seguinte, Carol acorda e levanta-se com outra pergunta pronta na
ponta da língua... Hoje é amanhã?
Em uma linguagem concisa, Anna Claudia Ramos expõe, pela voz da mãe e do
pai de Carol, as primeiras noções de tempo e os modos de perceber sua
passagem que uma criança precisa aprender. Os diálogos são leves e
divertidos mas, o mais saboroso é a reconstrução animista que a pequena
Carol faz para suas descobertas a respeito de ontem, de hoje e de amanhã.
Elias José
Um teclado soando piano, uma suave percussão, e sons que tilintam, sementes
do pau-de-chuva que tombam:
com muita delicadeza, os instrumentos criam a ambiência sonora para o timbre
forte de Elias José, na abertura
do CD que acompanha o livro O jogo da fantasia.
Mas o poeta não está só: do início ao fim, vozes infantis vão tomando/entoando
a cena, acompanhados de músicos experientes. O disco possui 28 faixas e
alterna momentos de leitura expressiva de textos, brincadeiras rítmicas e
dezesseis poemas musicados. Sob a regência de arte-educadores, o projeto
desfila por variados estilos musicais, com melodias simplificadas e tons
adaptados à extensão vocal da criança, buscando facilitar a assimilação e o
aprendizado dos versos. O livro O jogo da fantasia, de Elias José, foi
originalmente publicado em 1989 e conquistou o Prêmio Odylo Costa, Filho -
FNLIJ.
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Ana Maria Machado
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Christiane Gribel e Orlando
Temática: medo
Medo de quê?
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Flávia Côrtes
Medo de quê? Do mais recente título de Flávia Côrtes ilustrado por Ivan Zigg?
Não, não há necessidade de ter medo, mas puro encantamento de como a
autora da palavra vai desconstruindo vários mitos que se constroem durante a
infância, para em seguida se incorporarem à vida cotidiana com sabor de
experiência vivida e vívida.
Flávia Cortês fala de medos diversos, através do olhar da menina, que olha o
mundo e nele vê medos medonhos extremamente necessários à descoberta do
mundo e de nós mesmos.
Na página oito encontra-se a chave que dá movimento ao texto e onde nos
deparamos com o seu segredo: "— Menina medrosa! Medo é uma coisa que
inventam para fazer você parar. Parar de brincar, parar de cantar, parar de
sonhar...".
E a resposta para confrontar os seus medos, mérito da narrativa, é o caráter
emancipatório do texto. Em vez de se utilizar de elementos mágicos para que
as coisas se acomodem e se adaptem ao dia a dia da menina, Flávia Cortês
personifica uma vozinha que vem de dentro da personagem, e que faz com que
a menina reflita naturalmente sobre todos os medos que a cercam.
E para narrar imageticamente a história Ivan Zigg usa de seu peculiar bom
humor misturado à tinta acrílica, papel, água e pincel, por vezes criando um
ambiente claustrofóbico, próprio de como os medos nos parecem quando
somos crianças, mas recheados de comicidade, para auxiliar o leitor na
transposição do questionamento sugerido pelo texto.
Medo de quê? é história para se ler mais de uma vez. E a cada uma, descobrir
que medo, quem faz e cria, somos nós mesmos. E, se eles existem ou não, são
fundamentais para a descoberta de algo humano em todos nós que, por vezes,
temos medo de revelar.
Georgina Martins
Os mimos para o menino não são do tamanho dele: o menino é pequeno, mas
seus medos são maiores do que as coisas que ele pode abraçar: medo de ficar
sozinho, medo de ficar sem mãe, até mesmo medo de crescer para não ter
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mais medo. E, quando começa o dia, o menino se levanta e os monstros vão
surgindo pelos cantos da casa — mas só porque ele sabe que a mãe logo sairá
para ir trabalhar.
Georgina Martins, em uma linguagem afetiva, re-propõe o jogo matinal da
despedida diária para falar dos anseios e fantasias por que passam muitas
crianças pequenas.
O menino tem uma tornerinha de perguntas que não cessam, mas os
argumentos maternos são ternos e igualmente incansáveis. Dos medos mais
imediatos aos temores quanto ao futuro, os temas abraçam nuanças sutis de
sentimentos de abandono, perda e desolação, mas muito levemente que
permitiria à mãe, na despedida final, transformar-se em vento apenas para
voltar e acariciar outra vez o menino.
Inspirado no livro de Bárbara M. Joosse, Mamãe, você me ama?, o texto é
construído em uma estrutura de diálogo, sem intervenções de um narrador,
permitindo-nos ouvir diretamente as vozes do pequeno e sua mãe. As respostas
são firmes e doces embalando o filho em uma promessa que jamais se romperá
— e isso é extremamente bonito e delicado.
As ilustrações de Elisabeth Teixeira ambientam o cotidiano da mãe e do
menino, movimentando portas com sombras que só o menino vê, uma bruxa
azul por detrás do acortinado do banheiro, um dragão que habita debaixo da
toalha da mesa. Os detalhes das cenas são cheios de ternura e brasilidade,
como o feijão preto,
o filtro de barro, os vasos de flores na janela...
Temática: Família
Valentina
Márcio Vassalo
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oferecer aos leitores uma visão otimista da infância e da fantasia que une a
todos, quando pequenos: não importa o cenário vivido, lares transformam-se
em castelos para quem pode descobrir (e encantar-se com) uma torre com
escada enluarada pelos recantos do mundo.
E para magicar a linguagem, o texto encarrilha expressões adverbiais de lugar
intensificadoras de distâncias e espaços, pois o castelo de Valetina ficava onde
alguém possa imaginar, "na beira do longe, lá depois do bem alto".
Suppa dá a Valentina cor de café-com-leite, misturinha que a menina é do pai
branco e da mãe negra que aparecem como figuras reais no início do livro e,
pelas últimas páginas, em um retrato de elegância familiar. A pequena princesa
tem coroa de papel, estampada de jornal, e uma saia de plástico transparente,
drapeada com grampos metálicos, com três flores bordadas em linhas
aplicadas.
Temática: higiene
Banho!
Mariana Massarani
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habitado de peixes, poraquê, pirarucu, mais arraia, sucuri e jacaré-açu!
Mariana Massarani articula palavra&imagem para contar uma inédita história de
um banho bem molhado e humorado, em que a imaginação (e a leitura de um
livro) transforma o cotidiano doméstico. O texto verbal pontua pistas para o olho
mergulhar e desvendar a ilustração, em seus detalhes mais cômicos. Imaginem
com que cara (e com que pintas) aparece a mãe, em meio à folia, gritando da
porta:
"Já passaram xampu?" Edson, Edilson e Ednalva
desbravam viagem entre marolas e ladrilhos — a banheira
é mesmo uma grande embarcação — e nadam
pelas profundas águas que o narrador enuncia...
Até que surjam as piranhas e os três zapt banheiro afora!
E o Edmilson, cadê?
Temática: amizade
A árvore curiosa
Didier Lévy
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O menino chora, mas sua mãe vem sussurrar em segredo o que agora se deve
fazer para que a amizade perdure em outros recantos da memória e da
imaginação.
Regina Chamlian
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Temática: diferenças
Diferentes somos todos
Alina Perlman
Temática: comportamento
Maria-vai-com-as-outras
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Sylvia Orthof
O que é necessário para uma ovelha dar uma requebrada na vida e modificar
todo o seu caminho? Dos textos mais bem comportados de Sylvia Orthof, a
história de Maria, que ia sempre com as outras ovelhas, é uma das primeiras
delícias que conheci.
O texto é uma fábula contemporânea, arejada com a precisão de uma
lengalenga, com rimas marcando o ritmo e um refrão ecoante, no final de cada
situação: Maria ia sempre com as outras. Ela ia pra baixo, ia pra cima. Ia pro
deserto, ia pro pólo sul. Até que as coisas começaram a apertar... Foram todas
comer jiló, Maria detestava jiló, mas como as outras ovelhas comiam, Maria
comia também.
É neste instante que o narrador se manifesta, com uma simples e enfática
exclamação: “Que horror!” E, não-mais-que de repente, Maria pensa pela
primeira vez. Bastou?
Que nada, Maria continua seguindo o rebanho... Até que vão as ovelhas para o
alto do morro do Corcovado e, de lá, saem pulando fofinhas e faceiras pra
dentro da lagoa, muito, muito abaixo. Conseguiram? Que nada! E Maria?
A Maria que vemos na ilustração é uma ovelhinha diferente: não tem as
pestanas fechadas, nem o sorriso vermelhamente angelical. Ela não é uma
ovelha cinza no meio da alvura azulada do rebanho — é, aliás, bem parecida
com a maioria. Porém, sofre, como sofre, pega gripe, insolação...
Tudo porque não sabe caminhar por onde quer o seu pé! Sylvia Orthof dá um
desfecho simples à história
com um recado sorridente, gracejando leve com os leitores, com as ovelhas e
com o narrador. Agora, mé, leia você o livro e tire suas próprias conclusões!
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Fávia Savary
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