Zé: Chico, nóis tivemo muita sorte de pegá essas caça, hein! Chico: É verdade Zé, mas foi a lua cheia que ajudô nóis, sabe? Zé: É? Eu num lembro da lua tê ajudado! Chico: Ara, seu burro. Cum esse clarão todo, cumo qui as caça ia se escondê di nóis? Zé: Ah é! Nesse momento vem se aproximando um homem. Chico: Olha aí o Sivirino! Severino: Mas o qui ocês faz aqui essa hora? Zé: A gente tá indo pra festa! Severino: E onde tem festa? Zé: Ô Zé Mané. Num tá vendo as caça nas nossas costa? Severino: E ocês isquecero qui hoje é lua cheia? Chico: Cumo é qui a gente vai isquecê. Tá parecendo lamparina na nossa cabeça! Severino: Ô homi de Deus. É na lua cheia que aparece o curupira, a cobra grande e inté o boto! Chico e Zé disfarçam o medo. Chico: Mas nóis num tem medo disso. Né, Zé? Zé: É! – responde, já com medo. Severino: Nesse causo, eu vô indo! Severino vai embora e os dois continuam parados. Zé: Ocê num tem medo mesmo, Chico? Chico: Claro que tenho, né! Mas ocê acha qui eu ia falar isso pra ele? Zé: Ah Meu Deus. Intão semo dois cum medo. O qui nóis vai fazê agora? Ouve-se um barulho estranho e os dois correm gritando, um para cada lado. E se perdem. Chico vai para a mata fechada.
CENA 2 – Cenário (Mata Fechada)
Chico: Zé, cadê você? Aposto como tá morrendo de medo. – Fala, tremendo de medo. O barulho agora é mais forte. Vem alguém se aproximando de Chico. (Curupira) Chico: Ai meu Deus. O cu-cu-curupira! Curupira: O que você carrega nas costas? Chico deixa cair a caça. Chico: Ah! Num é nada não, Seu Curupira. É que arguém jogô nas minhas costa, sabe? Curupira: Como é que você se atreve a aborrecer os animais da floresta? Chico: É qui a minha família tava cum fome e... – O curupira não deixa ele terminar de falar. Curupira: E QUEM VAI CUIDAR DA FAMÍLIA DOS ANIMAIS? – Fala, gritando e assusta Chico. O curupira se aproxima mais de Chico e este fecha os olhos com medo e começa a tremer. Curupira: Se eu encontrar você de novo aqui, não vai ter volta para casa. Entendeu? Chico faz sinal positivo e o curupira vai se afastando. Segundos depois Chico abre os olhos e não vê ninguém. Dá um grito e corre desesperado. Perto do rio está o Zé.
CENA 3 – Cenário (Beira do rio)
Zé: Nossa mãe, como é que eu vim pará aqui na bêra? Cadê o Chico? - Ouve um ruído. Zé: Chico, é você? – Não tem resposta. – Aparece logo, Chico, sinão eu acerto as tuas fuça! O ruído aumenta. Zé: Chico, num tô brincando. Cê sabe qui num sô corajoso. Acho inté qui sujei as calça. – Olha para as calças. De repente aparece a Cobra Grande. Zé dá um pulo. Zé: Jesus Cristo! – Deixa cair a caça. ― É a co-cobra grande. Não, não é. Acho que tô vendo coisa. ― Começa a tremer. A cobra rasteja em torno de Zé. Zé: Oh! Minha Nossa Sinhora dus disisperado. ― Olha para o céu. ― Eu prometo qui nunca mais vô caçá. Mas eu tenho qui vivê pra isso, né? A cobra continua rondando e Zé começa a rezar. Minutos depois a cobra vai embora e Zé foge, desesperado. Mais tarde os dois se reencontram e cada um conta a sua história.
CENA 4 – Cenário (Mata)
Zé: Oh Chico, onde cê tava? Ti procurei na mata toda! Chico: Cê num vai criditá. ― Começa a falar nervoso e depois simula coragem. ― Encontrei o curupira. ― Fala agora todo seguro de si. Zé: No-nossa! E o qui ele feiz? Chico: Nadinha, purque eu num dexei. Lutei inté ele caí. Aí ele viu qui eu era forte e si intregô. Fiquei cum pena dele e dei a caça. Dispois ficamo amigo. - Zé fica admirado e Chico sorri, orgulhoso de si. Zé: Ingraçado, Chico. Num é qui eu também ganhei um amigo. Qué, qué dizê... uma amiga. Chico: É? E quem foi? Zé: A Cobra Grande! Chico: Num diga? Zé: Digo sim. Ela veio tentá me assustá, mas se lascô. Eu dei um pontapé na custela dela qui ela saiu qui nem cachorro quando apanha. Chico: Nossa! Zé: É. Dispois ela veio querê si discurpá e eu dei uma chance. Conversemo um tempão e eu dei a caça pra ela. Chico: Poxa, Zé, pena qui num vamo levá cumida pras nossa casa. Zé: Mas pelo meno nóis fizemo amigo, né? Chico: Ah é, isso é verdade! Os dois se abraçam. Aparece a mulher de Chico, chorando. Mulher: Chico, Chico! Pelo amor de Deus, hômi. Corre que a nossa filha sumiu. Chico: Sumiu? Mas cumo? Mulher: Num sei. Ninguém sabe dela! ― Fica pensativa de repente. ― Argúem falou sobre lua cheia! Chico olha para Zé, assustado, e falam ao mesmo tempo: Zé e Chico: O boooto! Chico puxa a mulher e os três saem correndo.
CENA 5 – Cenário (Beira do Rio)
Aparece o boto levando a filha para o rio. Ao final aparece a filha, grávida. Tatiane Santos