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CHING, Francis D. K..ARQUITETURA – forma, espaço e ordem. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

CONCEITOS BÁSICOS DA ARQUITETURA


A Arquitetura é geralmente concebida (projetada) e realizada (construída) em resposta a um
conjunto de condições existentes. Essas condições podem ser de natureza puramente funcional
ou podem também refletir, em graus variados, a atmosfera social, política e econômica. De
qualquer maneira, pressupõe-se que o conjunto de condições existentes – o problema- seja
pouco satisfatório e que um novo conjunto de condições – uma solução – se faça desejável. O
ato de criar arquitetura, portanto, constitui um processo de resolução de problemas ou de
projeto.

A fase inicial de qualquer processo de projeto é o reconhecimento de uma condição


problemática e a decisão de se encontrar uma solução para ela. O projeto é, acima de tudo, um
ato deliberado, um empreendimento propositado. Um projetista deve primeiro documentar as
condições existentes de um problema, definir seu contexto e levantar dados importantes para
serem assimilados e analisados. Essa é a fase crucial de um processo projetivo, já que a natureza
de uma solução está inexoravelmente relacionada à maneira como o problema é percebido,
definido e articulado.

Os projetistas, inevitável e instintivamente, prefiguram soluções aos problemas com os quais se


defrontam, porém a profundidade e o espectro de seu vocabulário de projeto influenciam tanto
sua percepção de uma questão quanto a formulação de sua resposta. Se nossa compreensão de
uma linguagem de projeto é limitada, o espectro de soluções possíveis a um problema também
será limitado. É necessário, portanto, a construção e o constante enriquecimento de um
vocabulário de projeto através do estudo de seus elementos e princípios essenciais, e uma
exploração de um amplo rol de soluções a problemas arquitetônicos desenvolvido no decorrer
da história humana.

Enquanto arte, a arquitetura é mais do que a satisfação de exigências puramente funcionais de


um programa construtivo. Fundamentalmente, as manifestações físicas da arquitetura
acomodam a atividade humana. Todavia, o arranjo e a organização das formas e espaços
também determinam a maneira como arquitetura pode promover iniciativas, trazer respostas e
comunicar significado.

É possível estabelecer uma analogia com a maneira como precisamos conhecer e compreender
o alfabeto antes que possamos formar palavras e desenvolver um vocabulário, como
precisamos compreender as regras da gramática e sintaxe antes que possamos construir
sentenças; precisamos entender os princípios de composição antes que possamos escrever
ensaios, romances e coisas do gênero. Uma vez que esses elementos foram compreendidos,
poderemos escrever com pujança ou com força, rogar pela paz ou incitar à revolta, comentar
sobre o trivial ou falar com profundidade e relevância. De maneira semelhante devemos ser
capazes de reconhecer os elementos básicos da forma e espaço e entendermos como podem
ser manipulados e organizados no desenvolvimento de um conceito de projeto, antes de nos
voltarmos para a questão mais vital do sentido na arquitetura.
ELEMENTOS PRIMÁRIOS - Ponto, reta, plano e volume

“Toda forma pictórica começa com o ponto que se coloca em


movimento...O ponto de move..e a reta nasce – a primeira dimensão.
Se a reta se desloca para formar um plano, obtemos um elemento
bidimensional. No movimento do plano para espaços, o encontro de
planos dá surgimento ao corpo (tridimensional)...Uma síntese de
energias cinéticas que movem o ponto convertendo-o em reta, a reta
convertendo-a em plano e o plano convertendo-o em uma dimensão
espacial.” Paul Klee

Como elementos conceituais, o ponto, a reta, o plano e o volume não são visíveis exceto na
imaginação. Embora eles não existam de fato, sua presença é sentida por nós. Podemos
perceber um ponto no encontro de duas retas, uma reta marcando o contorno de um plano, um
plano delimitando um volume e o volume de um objeto que ocupa espaço.

Quando se fazem visíveis aos olhos no papel ou no espaço tridimensional, esses elementos se
tornam forma com características de matéria, formato, tamanho, cor e textura. À medida que
experimentamos essas formas em nosso meio, devemos ser capazes de perceber em sua
estrutura a existência dos elementos primários do ponto, da reta, do plano e do volume.

FORMA
Forma é um termo abrangente que tem vários significados. Pode se referir a uma aparência
externa passível de ser reconhecida, como a de uma cadeira ou de um corpo humano que se
senta nela. Pode também aludir a uma condição particular na qual algo atua ou se manifesta,
como quando falamos de água na forma de gelo ou vapor. Em arte e projeto, freqüentemente
utilizamos o termo para denotar a estrutura formal de um trabalho – a maneira de dispor e
coordenar os elementos e partes de uma composição de forma a produzir uma imagem
coerente.

No contexto deste estudo forma sugere referência tanto à estrutura interna e ao perfil exterior
quanto ao princípio que confere unidade ao todo. Enquanto forma freqüentemente inclui um
sentido de massa ou volume tridimensional, formato refere-se mais especificamente ao aspecto
essencial da forma que governam sua aparência – a configuração ou disposição relativa das
linhas ou contornos que delimitam uma figura ou forma.
O formato se refere ao perfil característico de uma figura plana ou à configuração de uma forma
volumétrica. É o principal meio pelo qual reconhecemos, identificamos e classificamos figuras e
formas determinadas.

FIGURAS PRIMÁRIAS
A psicologia gestaltística afirma que a mente simplifica o meio visual a fim de compreendê-lo.
Dada qualquer composição de formas, temos tendência a reduzir o tema, em nosso campo
visual, aos formatos mais simples e regulares. Quanto mais simples e regular for um formato,
mais fácil será percebê-lo e compreendê-lo.
Da geometria sabemos que as figuras regulares são o círculo e a série infinita de polígonos
regulares que podem ser inscritos nele. Desses polígonos, os mais significativos são as figuras
primárias: o círculo, o triângulo e o quadrado.

SÓLIDOS PRIMÁRIOS
“Cubos, cones, esferas, cilindros ou pirâmides constituem as grandes
formas primárias que a luz revela sob um ângulo favorável; a imagem
destas é distinta e tangível em nós e sem ambigüidade. É por essa
razão que elas são formas belas, as formas mais belas.”Le Corbusier

As figuras primárias podem ser ampliadas ou postas em rotação de modo a gerarem formas
volumétricas ou sólidos que são distintos, regulares e facilmente reconhecíveis. Os círculos
geram esferas e cilindros, os triângulos geral cones e pirâmides e os quadrados geram cubos.
Nesse contexto o termo sólido não se refere à firmeza da substância, mas ao seu corpo ou
figura geométrica tridimensional.

TRANSFORMAÇÃO DA FORMA
Todas as outras formas podem ser compreendidas como transformações dos sólidos primários,
variações geradas pela manipulação de uma ou mais dimensões pela adição ou subtração de
elementos.

Transformação Dimensional
Uma forma pode ser transformada ao se alterar uma ou mais de suas dimensões e ainda
conservar sua identidade como membro de uma família de formas. Um cubo, por exemplo,
pode ser transformado em formas prismáticas semelhantes, através de mudanças distintas em
altura, largura ou comprimento. Pode ser comprimido em uma forma plana ou ser estendido
em uma forma linear.

Transformação Subtrativa
Uma forma pode ser transformada ao se subtrair uma porção de seu volume. Dependendo da
extensão do processo subtrativo, a forma pode conservar sua identidade inicial ou ser
transformada em uma forma de outra família. Por exemplo, um cubo pode conservar sua
identidade como cubo, mesmo que uma porção dele seja removida, ou ser transformado em
uma série de poliedros regulares que começam a se aproximar de uma esfera.

Transformação Aditiva
Uma forma pode ser transformada pela adição de elementos ao seu volume. A natureza do
processo aditivo e o número e os tamanhos relativos de elementos acrescentados determinam
se a identidade da forma inicial será alterada ou mantida.

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