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Éotto¡: Mo¡cos Morclonllo I
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C¡e¡ e Pno¡ao GaÁnco: Andréia Custódio
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Cors¡l¡o Eonont¡l i
Ana Stahl Zilles [Unisinos] t
Carlos Alberto Faraco IUFPR] f
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Egon de Olivelra Rangel IPUCSP] I
GIIvan Müller de Oliveira tUFSC, lpoll t
Henrique Monteagudo IUniversidade de Santiago de Compostelo] $
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Konavillil Rajagopalan [Unicomp] b
Por uma lingüfstio aplicada lNdisciplinar/ Brano tabldo... Ë quando poucos ainda pensavam esse c:rmpo no
{et al.l; organiz¿dorluiz Paulo da Moita lopes. - São Paulo: r Brasil. Especialmente, pelo exemplo de
Parábolð Ed¡torial, 2006. -(Ljngualgeml; 19)
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profissionalismo, pelo entusiasmo contagiante com es
i;
lncluí bihliografia I questões referentes à educação lingi.ilsrica e pelos
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|SBN 978-8H845H9-5
t sonhos comparrilhados para pensa¡ e consrruir ouuos
i caminhos e outros mundos.
1. lingülstkô aplkada. 2. Abordagem interd¡scipl¡nar do \
L
(onhecimento 3, Linguagem e lfnguai.4. Linguagem e <ultura.
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5. Sociol¡ngüfstica. L Moita Lopes, [uiz Paulo. ll. Série.
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formas de produzir conhecimenro, uma vez que a
Pesquisa é um modo de
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W'rooowsoN, H. G. (2001). Coming to Terms l7ìrh Realiry: Applied Linguistis in Perspecrive' in:
.'
possível a pesquisa relatada aqui. uma primeira versão desre
tqto cons¡ituiu a conferência de abe¡rua do
Graddol, D. (org.). Apptied Linguistiæ þr the 21' Cennry, AILA Reaiew, 14,2-17' WI Congresso Brasileiro de Lingüístià Aplícada, realizado em 20O4 na pUC-Sp
86 ff Lulz Pnulo o,r Morr¡ LoPss L¡NGûfsrrcA ApLrcAD¡. E vtÐA
g7
coNrEMpoR.ANEA ffi
'de carne e osso no dia-a-dia' coni seus conhe- zäek (2004), por.exemplo, euando Mushakoji se refere à episteme
sociais vividas pelas pessoas dos
positivista e moderna' indígenas "em relat'o à narureza, à terra e a sue húerdade
cimentos entendidos como senso comum pela ciência de a$o,, (Mushakoji,
1999:209) ou' por exempro, sobre-o que os indígenas brasiieiros
e os
Nesse sentido, náo posso deixar de mencionar o
livro organizado por africanos multilíngües enrendem por finlua (Cavalcanti
em relafo à &. Cesar, 2004;
Lopes da Silva & Rtj"goprt* (2004) e seus questionamentos Makoni 6¿ Meinhof, nesre volume). A Ãesma preocupação
é perceptível
"lingtiirti". gue nos io f^lhu" exetamente porque muito do que se
chama
quando Boavenrura sanros (2004: lg) indica que o hemisfério^.,sur
surge
lingüísticâ insiste em ignoraro que as Pessoas no cotidiano pensam sobre como proragonizando a grobariza$o contra-hegemônica,
cuja manifestação
hrr!o.g.*, embora ig,rd*..,tt insista em produzir conhecimento sobre a mais consistente é o Fórum sociar Mundiar" ou quando
ele indica a neces-
vida delas ou lhes indicar açóes políticas' Com o mesmo objedvo'
lembro sidade de escavar "tradições suprimidas ou *"rgirr*lizad.as,
representações
indígena brasi-
aqui a fala desafiadora de Azelene Kaingáng' uma socióloga particularmente incompleras porque menos .olÃi""d".
pero cânon hege-
l.irr, . que assisti em uma mesa plenária do Congresso Luso-Afro-Brasileiro mônico da modernidade" (Boaventu¡a Sann¡s, 2004: 19),
ou ainda, quando
de ciências sociais, realizado em setembro de 2oo4 em coimbra,
que Lizrk (zooq:t) afirma que .,nossa
em um mundo realmenre
desqualificou a indagação de uma socióloga brasileira branca que, da platéia, 'liv¡e' está no universo sombrio'e triste"r;;;"*
J* f"rr.r"r". A esperança não está na
questionava o argumento da socióloga indígena de
que os indígenas brasi- .ciê-ncia ocidentalista de teorias separadas das práticas sociais.
nacional'
leiros não seriam culpados pelos ataques à chamada soberania abordagem que temos de perseguir é, seguindo Venn (2000:
como .A
Azelene Kaingáng baseou seu argumento em seu posicionemento
234), e ourros aurores já mencionados,
233_
têm lutado
indígena, *ori.*L que historicamente os indígenas brasileiros
que entendo
p.1""*"r,rr,.nção das front"i.* nacionais. São esses discursos em um nível, a humanidade comum de todos com base
na experiência do sofrimento
qoo,ionadores da lógica ocidentalista'
e de fragilidade", -. . 'htivada na relaso face a ,,acæ.,.,
.- ,r- .";;;;, apesar da
"o.rro alteridade radical do ourro, um modo de ser que reconhece
,i"r;;;il;iidade de um
por outro lado, também não posso deixa¡ de citar um exemplo, muito eu er<istindo sozinho._
e revistas
próximo de nós, de como as chamadas redes de conhecimento Em outraspalavras, a quesrão que sè coroca é como rida¡
Um rápido com a diferença
científicas internacionais atuam na direção do ocidentalismo. com base-na compreensão de nós mesmos como outros,
Internacional de Lingüls- opondo-se, ponanto,
exame da programação do congresso da .Associaçáo ao 'þrivilégio ocidentalista de um si-mesmo fechado e hoÅogêneo
tica Aplicada de 2005 indica que, ao conÛário dos dois
ríltimos congressos' . d.q,r.ro
na de organizedores -que são iguais" (venn, 2000: 234), defendendo *opor,r"b-iridade e a sori-
s,ras jen,írias (tanro na lista de conferenc'rstes quanto dariedade para com o ourro na vida social e em novas
(à
exceção formas de conhece¿
dos simpósios convidados), só incluem pesquisadores anglo-saxóes-
de um holandêÐ ou que aruem em universidades do mundo
anglo-saxônico. Esse é, em última análise, um projeto érico de renovação
ou de reinvenção
de conhe-
Em sua tógica ocidentalista, as redes internacionais de produ$o
de nossa existência que es áreas de investigafo rêm de
abraça¡ e, ao mesmo
internacionais e de considerar tempo, um projeto social e epistemológico, ou mlvez epistemológico
cimento afætam, apesar de seu ideal de serem porque
social, diferindo de muitas tradições que separavarn p.od,rçao
o mundo globalizado, conhecimentos produzidos em outfos cenüos perifé- " do conhe-
"internacional" quer diz'er o cimento do ser social' Essa posição é rambém veicurada
ricos. Isso lndic" que são associaçþes em que pelo i.nsam.nto de
mundoanlgo-saxônicodovelhoglobalismoocidentalizado'quetemorigem
Boavenru¡a sanros (zaß)
que argumenta em favor do l.o.rh..imenro
pru-
,ro, .h"-"Ls grandes descobrimentos no século XVI em seus esforços
de dente para uma vida decenre", que Mignolo
eo03) também acolhe, embo-
sobre as quais Edward ra seu afgumenro não seja pela universaridade, mas pela
coloniza¡ ou de leva¡ a'verdade" Pera os outfos, ações pluriversidade do
conhecimento e da compreensão, corno também f"ço
Said (1976) foi exuemamente cla¡o' "qrì.
Esse tipo de conhecimento da lógica ocidenrarisra/moderna
É pr.o.,rpaéo com novas-epistemes que atravessa tanto o Pensamento þropôs-se
d. "
Mrrrhãkoji (1999), Milton Santos (2000), Boaventura Santos
(2004) e não apenas compreender o mundo ou ocplicíJo, mas tamb¿m
transform¿-
LINcÛfmc¡ npucnol
90 ü Lulz Plulo ol Morrn loPes E Vf DA, coNTEMPoR.ÂNEA n 9I
já que' como sabe- 'horror econômicoo, em que talvez, como diria canclini (1999), seja o
todos os sentidos, embora possam também confirmá-las'
consumo que consüua nossas identidades, ainda que muitos sejam apenas
mos, são muitos os.. discu¡sos que nos chegam'
consumidores imaginários (Sarlo, 2000).
.' A possibilidade de experimenra-r a vida de outros Pera além da vida local
só para cita¡ um espaço social que me é muito câro e no qual a er<clusão
é vTvez a grand.e contribuição da vida contemporânea, ao nos drar de nosso
e não nos reinã, vale a pena refletir sobre a visão que a socióiog*
mundo e de nossas cerrezas que apagam quem é diferente de nós ".g.ntir",
Beatriz Sa¡lo
um mundo de (2000:112), tem da escola pública em nosso conrinenre: "Na maioria dos
possibilitam viver outras formas de sociabilidade::É também
já identificáveis em todos os campos: da p,ísçs da América I¿tina, a escola pública é hoje o lugar da pobreza simbólica,
tecnológicos inimagináveis,
"r,"rrço, onde professores, currículos e meios materiais concorrem em condições de
à saúãe, passando pela construçáo de seres humanos pós-orgâni-
"do""çao
..hibridizados por próteses bioinformáticas já à venda" (sibila' 2002: muito provável derroa com os meios de comunicafo de.massa" (apesar dos
cos,
øda vez. esforços dos professores, como acho necessário completar). Isso ocorre em um
16) e pela compreensáo de que a construfo da aprendizagem está '
e na utilizafo de letramentos multissemióticos mundo no qual, em conradifo, tais escolas precisam ser ainda melhores para
mais n.¿ participafo erfr'redes -
d. ,igr,ifi""do que ele mesmo receu" tem na mídia como aPonte Thompson das idéias pós-modernistas. Ele reme que esse pós-modernismo ,.possa ocul-
rodas de fiar o mundo" na contemporaneidade. Não posso
,.as ta¡ a dçscriÉo que fizeram fda modernidade ocidental] os que ,of..r.m
(199ã:20),
deixar de lembrar que em países perifericos ot¡ semiperiféricos
como o nosso' violência com que ela lhes foi imposta", r.ünâ vez que são eles que podem"
da modernidade, é pro- apresenre.r formas alternativas de conhecimenro e de vida social que possi-
por não refmos conseguido conquistar as Sarafrtias
1r".,r.1*..r,. mais difícil minimizar os efeitos desse mundo contemporâneo bilitam tentar resolver os chamados 'þroblemas modernos", ,ro*."d".rr..,a.,
que invade nossas casas (Boaventura Santos' 2001)'
a falta da "liberdade, igualdade e solidariedade" (Boaventura Santos, 2004:
5). Trl falta persiste em nossas sociedades, principalmente em países como
Na contramão da modernidade e de sua visão de um sujeito homogê: o Brasil, onde esses problemas se agravam a cada dia.
.nço,algumasPessoassãocadavezmaisexPostaseumamultiplicidadede
identitá- Atualmenre, ral violência é retrarada nas teorizações feminisras, and-
ffio", idendrários, como também à percepção da heterogeneidade
uso novos' racistas, pós-coloniais, queer e cultu¡alistas de classe social (Eder, 2o0z),
.i, em um mesmo ser social' Como fazer desses
"o.*istirdo muitas das quais representadas neste volume, que podem apontar caminhos
oih"r., qo. fraturam a vida social e a enriquecem Para construir novos
diria Foucault (1995 com base no que estou chamandci de perspectivas do sul; ao colaborarem
conhecimentos e novas. sociabilidades, ou, como talvez
ser" é um dos na reinvenéo da emancipaÉo social (Boaventura Sanros, 2004:5) por meio
23g),.como podemos "imaginar.e construir o que poderíamos
atual' Como Pensar da constituiso do que já chamei de uma \coligação anti-hegemanicai É, claro
grandes pro¡..o. políticos e epistemológicos da vida
em outros olhares e, que não compartilho da idéia moderna de ciência como salvaÉ.o, mas é claro
lor", foi*"s de produzir conhecimento com base que não compartilho "da sina da filosofia lamentada por \Tittgenstein
assim, colabo raÍ na reinvenção da vida social? Acho
que Boaventura Santos lambém
'de deixa¡ o mundo como é"'6 (Bauman, 2003b: g), típica ã. ..r,o cinismo
(2001: 329) diria que isso só é possível se usarmos os olhares "cio sul".
acadêmico contemporâneo.
Colno podemos "aprender com o Sul"? Essa é a "metáfora do sofrimento
humano, (Boaventura Sanros, 2004 12) que ele utiliza para dar
conta de o conceito de emancipação social aqui é diferente de sua compreensão
margens em suâ na modernidade e no processo de ocidenralização, porque incorpora os
persPectivas marginalizadas, de modo que' ao conhecer
as
proiri" lror, ,tÃbé* seja possível conhecer o centro5' É'- pott"ttto' tt* diferentes gr.rpos marginalizados (pela classe social, sexuaridade, gênero,
vida social raça etc.), já que os fatores econômicos, culturais e políticos náo poderir
L,rr,¿o dos múltiplos discursos e de novas consrruções para a
também da exclusão descarada, em que os limites são inespe¡ados ser sepãrados, mas também porque não se trata de levar a verdade/conhe-
e
como
em qr¡e, conseqüentemenre, a ética é central na vida social e
na pesquisa.
6
Täl sina se reFere ao âto de que lWingenstein achau que dweríàmos estudar os jogos
de linguagem
t com as relaçóes Norte e Sul na em que as pessoas se envolvem, ou seja, o mr¡ndo como é, se quiséssemo.
Boaventura Santos (2004) Parece estat mais preocupado .-lirr!,r"-
(1999)' amplio ametáforado SuJ paraenVolver gem futrciona, e não as teorizaçóes semâ¡dcas e sinúticas que n.da iêm a ver com"o,.ná.i.o¡¡o
contemporanêidade, enquanto aqui'-seguindo Mushakoji o mod.o como as pe¡soes
esofrimento humano' usm a linguagem ou com o que a linguagem é.
outros Jorrtoto. d" margtnalizzção
96 I Lu¡z P¡ulo o¡ Monr LoPes
LNcûfsflorr{¡ucÂDA E vrDA coNTEMpoRÁNfr{ H 97
cimento a esses grupos,- mas de construir e comPreensão da vida social A rupn¡scrNDrBruDADE DE rrMA LrNGüísrcA A'LT.ADA
com eles em suas perspecrivas e vozes, sem hierarquizí-los (veja, abaixo, o
HÍBRIDA oU MESTIÇA
apagamento da disdnção entre teoria e prática)- Desse modo, pode-se
dizer que há várias emancipações sociais fundamentadas na ética e na Para consüuir conhecime.rro
politização da vida social.
n*. seja responsivo à vida social, é neces-
sário que se compreends* a rn não como áisciplina, mes como
área de
estudos, na verdade, cornci á¡eas tais como otudo, feministas,
estudos qazer,
estudos sobre negros, esrudos afro-asiáticos etc. pesquisadores
originários de
Uun rrNcüfsrlcA APUCADA coNTEMPÒRÂNE"A' diferentes disciplinas (sociologia, história, opologi-r" ....) para
"nt
essas á¡eas e passem a focalizar tópicos comuns, "o.,rrJrçm
atuando no que chamei um
Quero traçar um quadro do que vejo corno implicações dessa percepSo da processo transdisciplinar de produção de conhecimento (Moita
Lopes, t99g).
vida social atual, como também dos modos de produzir conhecimento em Embora muiros pesquisadores que operain no campo da
re tendal a vir do
campo da lingüística (como é o meu cáso), há pesquisadores
nossos dias pâra uma 1Â contemPorânea: uma tA que precisa ter algo a dtzer no Brasil que
vêm da educação, da literarura, da psicorogia .,.. .
sobre o mundo como se apresenür e que o fuz com base nas discussões quç estão
produtivos. Em muitos casos, equivo.ada.m.nt., ,lg,r.r,
!rr. esrão entre os mais
atravessando ouüos camPos das ciências sociais e das humanidades, nas quais se
..rt ndem que essas
são suäs disciplinas-mães, às quais têrn que presrar serviço
ainda hoje, ge-
verifica uma mudança paradigmática em vim¡de da crise da Ciência moderna. rando pesquisa de aplicação das teorias Jessrs áre"s, enüe
as quais a mais
Entendo que o câmpo da m está localizado nas ciências sociais, *Inà, ¿iir, notória e amplamente criricada (por exemplo, Moita Lop.r,
l99g e
venho i¡rsistindo h.í pelo menos quinze anos (d. Moita Iopes, 1990). Ela não Rajagopalan, neste volume), como sabemos, esrá a aplicação
åe lingüística
pode, portanto, ficar à pane drs discussões em tais c:lmPos. Isso me parece (inclusive, por exemplo, aplicação de teorias da
an¿flise de discrrrso).
ainda mais peninente quando muitas das questões mais interessantes sobre a o outro ponro que me parece cruciar pa¡a que a IA seja responsiva
à vida
linguagem são levanadas por pesquisadores fora do campo de estudos especí- social se.prende à necessidade de enrendê-la como area
híbridalmesdça ou a
ficos da linguagem. Se quisermos saber sobre lingr¡agem e vid¿ social ¡¡oq dias :iiea da i*disciplina. A interdisciprinaridade é, porém, em
gerar, ainda vivida
de hoje, é preciso sair do campo da linguagern propriamente dito: ler soäologia, de forma drnida na Lq,, embora ela seja o* de proãut'o d.e conheci-
-ldo
geografia, história, anuopologia, psicologia cultural e social etc. A chamada menro que é o.da vez mais prevalente nas ciências sociais e
humanas. É clr¡o
'ii¡ada discursiva" tem possibiliado a pesquisadores de vários outros öamPos que a compfeensão da rA como rNdisciprina tem impricações
parq I desenvol-
estudaf a linguagem com intraüisões muito reveladoras para nós- Pa¡ece.essen-
vimento de ca¡rei¡as acadêmicas ao gerar o fenômeno do,rei^[ou'rainha]
sem
reino" (Fauré, 1992: 68), o que tem sido muito pouco discutido
cial que a LA se aproxime de á¡eas que focalizam o social, o político e a história. no nosso
campo no Brasil. são pouc* as universidades no Brasil onde
Essa é, aliás, uma condifo pefa que a rá, possír fâlar à vida contemporânea. se pode presar
concurso pafa uma carreira de lingüista aplicado. Não surpreerrd.
!,re
Na tentativa de pautar uma tA contemporânea, otganizanei a discussão o.afirreza do trabalho desse rei sem reino seja tão
difícil de å*pr...rd.r. "
que segue com base em quatro Pontos: No sentido da rNdisciplina e da mestiçagem, meu trabarho tem estado
a imprescindibilidade de uma r¡ hlbrida ou mestiça, a que já comecei muito mais próximo de pesquisadores que aruam nesses ourros
1) campos das
ciências humanas e sociais do que do de pesquisadores
a me referir em outros textos (Moia hPo, 2OO4); que fazem o que
âgora se chama LA normal. É ness. mesma direÉo q...
2) a tl. como ufiur área que explode a relação entre teoria e práúca; ÈI.ir, (1990: 45)
a¡gumenrou que "nos anos 1960, a ftsica dnha se tornado
a necessidade de um outro sujeito Para e lq.: as vozes do Sul; uma federat'o de
3) disciplinas, incorporando áreas rais como física nuclear e fisica
úo do esado
4) a re. como área em que édca e poder os novos pilares- sólido, áreas que tinham máis em comum com a química
e a engenharia do
Ir
-. LrNctfsnc¡apLlc¡.o¡.
100 ¡ LuIz P^urc DÂMolTA LoPEs EVIDA coNnEMpoR.Â,NEA ff 101
cabe também mencionar que não faz nenhum sentido a distinção radi,
Além das teorizações de ca¡áter híbrido ou mestiço, considero
essencial,
cional de que a lingüística se ocupa da teoria e a LA da prática, o que quer
urn que,e:<ploda os
na forma como atuelmente concebo a LA, pgsicionamento
que se entenda por essas áreas hoje em dia- como nós que an¡arnos em LA,
çern6, aliás, esuí implícito
limites entre teoria e pnítica. Estou apontandq - sabemos, nosso trabalho tem-se pautado por teorizações. por um lado, conhe-
"as vozes
no que disse anteriormente em relafo à necessidade de considerar cimento que não considera as vozes daqueles que vivem a prâtíca social não
do S,rt" p ra a inadequafo de formular conhecimento que seja responsivo pode dizer nada sobre ela; e, por outro, em IA, temos de produzir conheci_
-
à vida sociiignorando as vozes dos que a vivem. Tmdicionalmente'
o chama:'
mento em que não haja distinfo enrre reoria e prática, mesmo porçlue, como
do conhecimento científico foi förmulado com base na crença na separação " diz Boavenura sanros (2001: 18), a contingência, a velocidade e o inesperado
teorizações ou sua --
enrre o pesquisador e o objeto que esruda Para que suas da contemporaneidade têm feito com que % realidade pareça ter tomado a
científica (portanto, singular) do que estudava não se contami- dianteira sobre a reoria". Daí a necessidade de dizer não "à distância crírica"
"o*pr"".rrao conhecimento apolítico e não-ideológico, típico do positivismo-
,r"o.*, um e procurar "a proxirnidade crítica", o que só é possível se apagarmos a distinÉo
Essa é a base da grande tradiéo da chamada ciência moderna
em seu anseio entre teoria e prática (Boaventura Sanros, 2O01 4).
vivem a vida social
por se sepatar ou não se deixar conraminar por aqueles que
e por seu sgnso comum, na busca de objetividade e neutralidade científicas.
Essa percepção persiste, mas é. cada vez mais questionada'
inclusive nas uu orrmo suJErro pARA A LrNcüfsrrcA.ApucADÆ As voÆs Do sr.)L
ciências exatat ou d'a nafi;uez:.' A compreensão de que
estamos diretamente
começa a interessar pesquisa- Parte da discussão sobre a relação enrre reoria e prática já envolveu
imbricados no conhecimenro que produzimos
dores em vários campos. Isso não quer dizer que no
'mercado epistemológicd, críticas à crença na neutralidade científica e em uma racionalidade
em muiros contextos, o conhecimento da verdadeira' ciên- descorporif;cada, na qud está implícita a questão do sujeito social.
por assim dizer, euero
a 'verdade' focalizar especiûcamente o problema relativo a quem é o sujeito da n. A
cia náo tenha mais valor. A magia das estatísdcas que comProvam
das abstraçóes totalmente separadas da vida social das Pessoas
em suas aþes chamada ciência moderna já foi amplamente criticada por se basear em um
chamaaatençãoParaofatodeque..averdadeédestemundo;éproduzida
nele devido a multiplas forças de coerfo"'
A uNcüfs:ucA ApLTcADA coMo ÁREA
Assim,muitodapesquisamaisrecentenasciênciassociaisehumanas
-*o"do EU OUr ETrCA E PODER SÃO OS NOVOS prr.AREs
tem apontado que o social e nós mesmos somos constituldos no ,.
que envolve cofno as
dir",rrso na linha de teorias socioconstrucionistas¡ o
sócio-história. Essa compreen- Talvez a palavra mais repetida em muito da lireratura atual das ciências
pessoas estáo posicionadas no mundo em sua
sua naturezâ fragmentada' sociais e huma¡ras seja "éticd'. Quando se enfatizam o sujeito social e sua relaSo
,Uo do sujeito social tem chamado a atenSo Para
2002; 20AT)' sendo tam- com a alteridade, assim como sua heterogeneidade na construSo do conheci-
h"t.rogêrr.", contrad'itória e fluida (Moita Lopes' mento' como fiz aqui, as questões relarivas a ética, e poder úo inuínsecas. Não
Nesse sentido'
bém entendido como sempfe aberto a revisóes identitárias.
focalizando penso que vivemos em um mundo do 'iale-rudo" (Rosenau, lgg2: llg), como
é a minha própria sócio-história que está inscrita no
que estou
já que .bs pós-
algumas versões céticas pós-modemas querem nos fazer acreditar,
aqui ao me reposiciona¡ diante da r'q" modernos ceticos estipulam que nenhum sistema de valor pr-.J*h, pode ser ':
discursivos, con-
i"d.., gêrr"ro, ernia etc. são inscritas em posicionamenros mundo social, a posifo
relativista ewazia a narureza interessada do conhe- ì
templandosomenteosujeitocomoracionalenão:comosocialehistórico, cime¡ito (Roman, 1993)- sou da opinião de que, tendo em vista alternativas ,t
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