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XXVII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte - MG, 05 a 08 de junho de 2018
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Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Epistemologia da Comunicação do XXVII Encontro Anual da
Compós, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte - MG, 05 a 08 de junho de 2018.
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Doutoranda em Comunicação - Linha Mídia e Identidades Contemporâneas na Universidade Federal de Santa
Maria. E-mail: lauren.ssteffen@gmail.com.
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Doutoranda em Comunicação - Linha Mídia e Identidades Contemporâneas na Universidade Federal de Santa
Maria. E-mail: mari.nhenriques@gmail.com
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Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e do Programa de Pós-Graduação
Profissionalizante em Patrimônio Cultural da Universidade Federal de Santa Maria. Doutor em Ciências da
Comunicação pela Unisinos. E-mail: flavi@ufsm.br
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XXVII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte - MG, 05 a 08 de junho de 2018
Considerações Iniciais
Explorar diferentes possibilidades metodológicas na área da comunicação é uma
forma de encontrar novos percursos, que permitam dar conta de objetos midiáticos cada vez
mais complexos e heterogêneos. Essa diversidade demanda maior abertura teórica e
profundidade crítica para que as análises não se tornem superficiais e repetitivas e
contribuam, de fato, para o avanço na compreensão de como os meios de comunicação social
estão imersos e articulam-se à vida contemporânea.
Nesse sentido, o objetivo desse artigo é explorar as características e potencialidades
da análise cultural-midiática como protocolo teórico-metodológico de pesquisas em
comunicação. A partir dos pressupostos teóricos dos Estudos Culturais, buscamos evidenciar
como a análise cultural, proposta por Raymond Williams, pode ser aplicada para os estudos
de mídia. Com a gênese no conceito de materialismo cultural (WILLIAMS, 1979), tal
protocolo permite uma rica investigação contextual, trazendo à tona aspectos políticos,
econômicos e sociais do período de produção dos objetos em análise, os quais demonstram a
influência e a interdependência da mídia em relação às demais instâncias da sociedade.
A fim de evidenciar como tal protocolo pode ser aplicado na prática, apresentamos
cases de sete dissertações de mestrado de autoria de membros do Grupo de Pesquisa Estudos
Culturais e Audiovisualidades da Universidade Federal de Santa Maria, vinculado ao
Programa de Pós-Graduação em Comunicação, as quais encontraram na análise cultural-
midiática a possibilidade de exercer um estudo com criticidade e densidade contextual por
meio do desenvolvimento de um percurso metodológico autoral. Como contribuição, este
trabalho propõe ainda construir um conceito para a metodologia, a fim de qualificar o
desenvolvimento epistemológico do processo investigativo em estudo.
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[...] o que os une é uma abordagem que insiste em afirmar que através da análise da
cultura de uma sociedade – as formas textuais e as práticas documentadas de uma
cultura – é possível reconstituir o comportamento padronizado e as constelações de
idéias compartilhadas pelos homens e mulheres que produzem e consomem os
textos e as práticas culturais daquela sociedade. É uma perspectiva que enfatiza a
“atividade humana”, a produção ativa da cultura, ao invés de seu consumo passivo.
Dessa forma, por ser um grupo de intelectuais que se preocupavam com as classes
populares e se contrapunham ao capitalismo e à dominação cultural, este movimento
aproximou-se do marxismo. Entretanto, essa relação se desenvolve através da crítica cultural
em relação ao reducionismo e economicismo marxista. Assim, para contrapor o materialismo
econômico de Marx, Williams (1992) influencia de modo significativo o projeto dos Estudos
Culturais ao cunhar o termo materialismo cultural. Para o autor, as práticas culturais devem
ser entendidas como práticas reais, elementos de um processo social material, com intenções
e condições específicas. Ou seja, através de uma revolução do marxismo clássico, os Estudos
Culturais passam a defender que a cultura não é um campo autônomo nem externamente
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determinado, mas um local de diferenças e lutas sociais. Isso significa que não pode ser
explicada e determinada apenas por uma dimensão econômica, já que a sociedade é um todo
complexo e são vários os fatores que a compõe.
A partir desse princípio, Williams (1992) defendeu que a dominação em uma
sociedade não se dá apenas a partir da propriedade e do poder. A cultura do vivido também
exerce influência na nossa forma de pensar e sentir através de suas pressões e limites que
promovem a (re)produção de uma ordem social profundamente arraigada. Dessa percepção,
decorre a necessidade de se estudar a cultura não só como produto, mas também como
produção material que articula de forma concreta a dinâmica da totalidade social. Por esse
motivo, o referido autor criticou a proposição de Marx de que a sociedade seria composta por
duas esferas fixas e separadas: a infraestrutura, que representaria a base social real, e a
superestrutura, composta pelos processos intelectuais, políticos e sociais. Para o materialismo
econômico, a economia determinaria a consciência dos homens, os quais estariam alienados
do processo produtivo. Ao propor o materialismo cultural, Williams (1979) considera que a
cultura também deve ser vista como uma prática social real e material com consequências
concretas para os sujeitos, os quais passam a ser entendidos enquanto agentes sociais ativos,
responsáveis pelas lutas sociais. Assim, a cultura não é determinada por uma base econômica,
mas está em constante relação e tensionamento com as demais forças da sociedade.
Tal posição teórico-política via no estudo da cultura a porta de entrada para uma
crítica comprometida, que visa entender o funcionamento da sociedade com o objetivo de
transformá-la. A totalidade cultural, portanto, passa ser o objeto de análise, buscando
evidenciar as complexas relações das instituições e formas culturais com as relações sociais
estabelecidas entre os sujeitos. “O foco central recai sobre a cultura, pensada como força
produtiva a partir do que é efetivamente vivido pelos sujeitos” (MORAES, 2015, p. 3).
Assim, rompe com as concepções passivas e indiferenciadas de público, partindo para
a análise dos modos como as mensagens são decodificadas pelos diferentes receptores,
conforme o contexto social e político (HALL, 2003a). Tal perspectiva passa a defender que,
no âmbito popular, não existe somente submissão, mas também há espaço para resistência e
intervenção social.
Percebemos, então, que entre os seus objetivos está a busca por compreender as
condições sociais e institucionais no interior das quais os sentidos são produzidos e recebidos
em uma sociedade. É a partir dessa lógica que Jameson (2016) vai afirmar que os Estudos
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Culturais são, na verdade, um sintoma, ou seja, devem ser considerados como manifestação
de grupos sociais que refletem o que acontece em um contexto maior.
[...] los Estudios Culturales generalmente han sido percibidos como un espacio de
alianzas [...]. Así, se reciben con los brazos abiertos al feminismo, la política negra,
el movimiento gay, los estudios chicanos, los crecientes grupos de estudios
“poscoloniales”, al igual que a otros grupos más tradicionales, como aficionados a
las distintas culturas populares y de masas (que también podrían considerarse una
especie de minoría perseguida y estigmatizada, en los círculos académicos
conservadores) y los diversos séquitos marxistas (JAMESON, 2016, cap.3).
Assim, o que o referido autor está evidenciando é que os Estudos Culturais têm dado
espaço para uma série de temáticas ou grupos que até então eram desvalorizados,
invisibilizados ou não tinham poder de expressão na sociedade tradicional. Quando esses
grupos emergem, sua presença traz à tona uma série de problemáticas e agendas que não
eram debatidas. Dessa forma, considera que os Estudos Culturais atua como um sinônimo de
"o que é politicamente correto", relacionando-o à valorização da política cultural dos vários
"novos movimentos sociais", como o antirracismo, antissexismo, anti-homofobia e de todos
aqueles que não têm sua voz ouvida. Inclui-se aí, também, os produtos até então
desconsiderados como culturais, aqueles produzidos por esses grupos ou relacionados aos
meios de comunicação de massa.
A própria visão sobre os meios de comunicação de massa sofre um deslocamento
profundo, já que não são vistos como meros reprodutores da estabilidade social, uma vez que
também se adaptam às pressões da sociedade, integrando-as ao próprio sistema cultural,
constituindo-se como modos de produção. Desse modo, o massivo deixa de ser o lugar da
manipulação para transformar-se em um espaço de conflito e negociação de formações
sociais de poder, atravessadas por tensões relativas à classe, gênero, raça e sexualidade. Os
Estudos Culturais compreendem os meios de comunicação de massa como produtores
culturais, agindo de forma dinâmica e ativa na construção e consolidação de ideologias e
hegemonias. A partir de suas estruturas, sustentam, atualizam e reproduzem a estabilidade
social e cultural.
Levando em consideração tais pressupostos teóricos, iremos, no próximo tópico,
percorrer os caminhos da análise cultural enquanto um procedimento que atenta para as
conjunções estruturais e demandas localizadas, comprometendo-se com uma prática
contextual, complexa e oposta a qualquer tipo de reducionismo (MORAES, 2015). A análise
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tem como objetivo descobrir a natureza da organização que constitui o complexo das relações
sociais, revelando identidades e correspondências, bem como descontinuidades. Dessa forma,
exploraremos como essa metodologia pode ser apropriada para o estudo da mídia, colocando-
os, de forma crítica, imersos no todo social, em relação permanente com questões sociais,
econômicas e políticas.
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sentido geral mais comum, embora todos eles sejam usuais. Ele coexiste com o uso
antropológico e o amplo uso sociológico para indicar “modo de vida global” de
determinado povo ou de algum outro grupo social.
Com base nesse entendimento, para uma melhor compreensão das manifestações
culturais, Raymond Williams (2003) propõe uma classificação do termo a partir de três
definições, seriam elas: a ideal, na qual a cultura é um processo de perfeição humana, ou seja,
fixa e absoluta; a documental, que seriam as obras intelectuais e imaginativas que registram o
pensamento e a experiência intelectual do ser humano; e a social, que trata de descrever a
maneira de viver da sociedade, por meio das instituições, características e comportamentos
específicos de grupos. As três definições tornam-se importantes para analisar a sociedade
contemporânea, por meio de seus valores e significados. Por conseguinte, apesar de
diferentes instâncias, devem ser analisadas de forma conjunta, pois, torna-se inaceitável, a
partir de uma definição ideal, abstrair o processo de transformação do homem e da sociedade;
da mesma forma, não é possível valorizar apenas os registros documentados e desassociá-los
do restante da vida em comunidade. Por fim, compreender os processos de arte e aprendizado
apenas como um subproduto da sociedade também não é coerente. Então, Williams (2003,
p.53) afirma que “[…] debemos tratar de ver el proceso como un todo y relacionar nuestros
estudios específicos – si no explícitamente, sí al menos a través de una referencia última –
con la organización real y compleja”.
Além da preocupação do autor supracitado em defender a importância de considerar
as três definições de cultura, ele esclarece que tanto a arte, a política, o comércio, entre outros
âmbitos da sociedade – incluindo aí, a mídia, devem ser analisados de maneira particular. Por
exemplo, um programa televisivo, dependendo do contexto, da história e do local onde se
passa, é expresso e exibido de formas diferentes, por mais que alguns elementos sejam
universais. Por outro lado, através do que é veiculado podemos ter uma visão geral sobre a
cultura vivida a partir da apresentação de alguns fatores selecionados para serem
representativos dessa realidade. Porém, este processo de “seleção” faz com que alguns
aspectos dessa cultura tornem-se esquecidos. Williams (2003) adverte que, mesmo que seja
possível recuperá-los, eles permanecem abstratos. Em outras palavras, nesse processo de
relatar e interpretar escolhe-se o que deve ser lembrado e esquecido, conforme os interesses
que prevalecerem no momento da decisão.
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Williams (2003) apresenta, também, três níveis de cultura: Cultura vivida que é
presencial; Cultura registrada, que são as obras de arte, vídeos, documentos, entre outros; e
por último, a Cultura da tradição seletiva, que funciona como um mecanismo de resgate e
incorporação de práticas do passado no presente. Com o passar dos anos e a morte das
pessoas da geração passada, a cultura vivida, aos poucos, torna-se cultura registrada,
deixando apenas alguns de seus resquícios na geração atual. A partir disso, a cultura da
tradição seletiva estabelece uma cultura e também um registro histórico de uma sociedade
específica, assim como cria a rejeição de “zonas consideráveis” da antiga geração. Esta
seleção é determinada por diversos interesses, como, por exemplo, os de classe e gênero.
Cabe destacar, então, que pensar apenas nas características de um grupo dominante de um
determinado período pode ser um problema, já que se pode ignorar parte do processo
histórico, caráter social do momento e atividade de diferentes classes, fatores não
considerados ao observar o grupo dominante. O estudo desta tradição exige um olhar crítico,
já que envolve principalmente uma análise cognitiva a partir de tudo que se sabe sobre ela, ou
seja, “no sólo es una selección sino también una interpretación” (WILLIAMS, 2003, p. 61).
A cultura de um determinado período é descrita por Williams (2003) através do
conceito de “estrutura de sentimento”, ou seja, o resultado de todos os elementos reunidos de
uma organização geral. Antigas gerações podem repassar o “padrão de cultura” para as
novas, mas a “estrutura de sentimento” será diferente, pois esta nova geração lidará com
esses dados de uma maneira própria. De acordo com Brennen (2003), metodologicamente,
estrutura de sentimento auxilia na compreensão de elementos materiais de uma geração
específica, em um determinado período histórico, baseada em um processo de hegemonia.
Neste contexto, Williams (2003) vislumbrou o conceito de estrutura de sentimento não
apenas como uma construção teórica, mas também, como um método de análise, cujas
categorias seriam dominante, residual e emergente. Por dominante, entendem-se os
elementos hegemônicos de uma cultura, a partir das relações que se estabelecem em seu
interior, e de como essas relações predominam umas sobre as outras. Já por residual entende-
se que “ao longo do processo histórico, novas práticas sociais emergem, valores, costumes,
normas e vivências são substituídos ou mesclados por novas experiências, mas permanecem
resquícios e vestígios de características do passado” (MORAES, 2013, p.105). O residual são
aqueles elementos que, ao longo da história, resistiram à cultura dominante e ainda operam
no presente, ou seja, são elementos que se formaram no passado, mas seguem ativos no
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processo cultural atual. Já o emergente, resulta da tensão dos aspectos dominantes e residuais,
que gradativamente perdem força diante de novas práticas sociais. Ocorre, então, uma fusão
entre o novo e o velho, já que há aspectos dominantes e residuais que sobrevivem ao
emergente.
Dessa forma, analisar a cultura deve considerar a totalidade social, pois deve objetivar
descobrir a natureza da organização que compreende a complexidade das relações sociais
(WILLIAMS, 2003). A fim de analisar o todo social, entende-se ainda que as relações devem
ser estudadas na sua dinamicidade, uma vez que sua organização mutável permite que sejam
observados os diferentes sentidos produzidos entre as atividades sociais e suas inter-relações.
Ou seja, a partir da análise cultural como instrumental analítico, é possível observar e
descrever tais inter-relações que têm significado nas práticas sociais. Daí vem o sentido de
cultura como ordinária, que, conforme Williams (2003), remete a algo que é comum e está
em toda parte. A cultura é sempre contextualizada, na medida em que é uma prática social
que se dá entre pessoas em situações específicas, portanto com significados específicos que
podem variar em diferentes situações sócio-históricas. É, assim, um espaço de dominação, já
que as decisões sociais sobre cultura afetam todo um modo de vida e funcionam como uma
articulação dos valores que serão privilegiados e dos grupos que terão acesso à produção
desses valores em função de seus interesses (CEVASCO, 2001).
Para uma melhor compreensão da teoria, Johnson (2006, p. 29) destaca a importância
de se partir de casos concretos, a fim de se discutir a teoria de forma contínua e
contextualizada ao fazer conexões entre argumentos teóricos e experiências contemporâneas.
Assim, o projeto da análise cultural é “abstrair, descrever e reconstituir, em estudos
concretos, as formas através das quais os seres humanos vivem, tornam-se conscientes e se
sustentam subjetivamente”. É preciso analisar a cultura do vivido do ponto de vista de suas
pressões e tendências, especialmente seus lados contraditórios e suas modificações nas
relações sociais. A pressão está na representação da cultura vivida como uma forma autêntica
de vida, evitando seu tratamento de forma inferiorizante e estereotipada.
Ao ser direcionada para a esfera midiática, a análise cultural permite pensar as
relações humanas no contexto de inter-relação com as mídias, as quais ocupam um
importante lugar na concepção e ação cultural dos sujeitos. Para Kellner (2001) os modelos
teóricos e metodológicos dos Estudos Culturais se esforçam para a compreensão das relações
mútuas entre economia, política, sociedade, cultura e vida diária. Esses componentes são
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simbólicas são tratadas para produzir significado. Centram-se aqui as análises textuais,
discursivas e outras relacionadas ao produto midiático em si. Estudar o texto, de acordo com
Johnson (2006, p.75), permite identificar os repertórios narrativos básicos que organizam a
sociedade, sendo ele “apenas um meio [...], um material bruto a partir do qual certas formas
podem ser abstraídas”. Por fim, nas leituras, estão relacionadas as práticas da audiência, é o
espaço de produção de sentido. Dessa forma, é impossível desconsiderar suas relações com as
estruturas de produção.
A proposta do circuito da cultura de Paul Du Gay et al. (1999) desenvolveu-se a partir
do estudo do Walkman como artefato cultural, articulando consumo, produção, regulação,
identidade e representação (FIG. 3).
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Todos os trabalhos elaborados pelo Grupo de Pesquisa Estudos Culturais e Audiovisualidades podem ser
acessados na íntegra pelo link http://w3.ufsm.br/estudosculturais/.
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Telejornal exibido ao meio-dia pela RBS TV, emissora afiliada da Rede Globo no Rio Grande do Sul.
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análise cultural-midiática para observar o objeto através de três grandes instâncias: o fazer
televisivo, os produtos textuais e o contexto em que estava inserido (FIG. 6).
Assim, para dar conta do fazer televisivo, buscou informações sobre regulação
televisiva e normas institucionais da emissora em que os programas foram exibidos. As
formas textuais foram contempladas através da análise textual de Casetti e Chio (1999). O
contexto foi observado com base nas estruturas de sentimento em relação a aspectos sociais,
históricos, culturais e identitários. Junto a isso, foi incluída a dimensão política para dar
visibilidade às questões de gênero. Por fim, a pesquisadora realizou uma análise de conteúdo
com base em Bardin (2002) a fim de elencar os principais sentidos acionados pelo programa.
Da pesquisa, Henriques (2016) inferiu que os três principais sentidos construídos pela
emissora em relação à identidade feminina são ocultamento, objetificação e masculinização,
características essas que formam uma identidade feminina estereotipada. Além disso, também
destacou que os especiais atuam na intenção de perpetuar uma identidade hegemônica e
masculina, transmitindo uma falsa ideia de empoderamento feminino, na busca por gerar
audiência e reconhecimento.
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Além das temáticas voltadas para o contexto regional, Rogério Saldanha Corrêa
(2016) trouxe questões sobre identidade brasileira na dissertação intitulada “A construção da
brasilidade: uma análise cultural midiática do programa Esquenta - TV Globo”. A pesquisa
teve como objetivo principal analisar os sentidos de brasilidade construídos no Programa
Esquenta, encontrando as continuidades e rupturas que se apresentam nas formas de
representação do brasileiro. Para tal, Corrêa (2016) buscou aporte nas estruturas de
sentimento para identificar os aspectos residuais ainda mantidos pelo programa Esquenta na
representação dos brasileiros. Aliou a isso uma análise documental e político-social a fim de
descrever a maneira de viver ou modos de vida da sociedade contemporânea. Trouxe, ainda, a
análise textual de Casetti e Chio (1999) para, por fim, compreender como esses elementos
estão presentes no programa televisivo e quais sentidos são construídos por ele (FIG. 7).
A partir da pesquisa, o autor verificou que a atração, mesmo tendo como premissa
representar as múltiplas identidades brasileiras, pouco alcança esse objetivo. A brasilidade
nele é representada de maneira grotesca, por vezes ridicularizada, através de traços
alicerçados em representações estruturalmente residuais da sociedade brasileira.
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A partir da dissertação de Lauren Santos Steffen (2016), outra temática analisada foi o
telejornalismo esportivo. Com a pesquisa “Relações e tensões em campo: tipificações e
cultura vivida na série especial do Jornal Nacional com os jogadores da Seleção Brasileira”, a
autora objetivou problematizar as tensões e relações entre as tipificações dos jogadores de
futebol, construídas através da série especial com os jogadores da Seleção no Jornal
Nacional, e os elementos presentes na cultura vivida, a partir do contexto político, econômico
e social. Para isso, Steffen (2016) elaborou uma proposta de análise cultural-midiática do
telejornalismo esportivo, inspirada em Du Gay et al. (1999) e Johnson (2006), dando foco em
esferas dinâmicas e interdependentes da cultura vivida: a economia, a política, a sociedade e
o telejornalismo esportivo. Por fim, para mapear as tipificações construídas nas histórias de
vida na série, a pesquisadora utilizou a análise textual de Casetti e Chio (1999) (FIG. 8).
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hegemônicas por desafiarem o padrão narrativo de tais histórias. Assim, através de uma
representação homogênea, a série não coloca em discussão novas representações, que
poderiam levar a construções diferentes sobre a identidade do jogador de futebol no Brasil,
mostrando a diversidade e a pluralidade de suas histórias de vida.
A dissertação de Francesco Flavio da Silva (2017), intitulada “Identidades
contemporâneas do Oeste catarinense no telejornalismo regional”, tinha como objetivo
analisar como dois telejornais locais (re)configuram em seus conteúdos a cultura identitária
da região Oeste catarinense e, com isso, de que forma seus conteúdos atuam na constituição
da identidade dos sujeitos. Para tal, Silva (2017) elaborou um circuito, inspirado em Du Gay
et al. (1999), a partir de três grandes categorias analíticas: produção, estrutura de sentimento e
regulação (FIG. 9). A essas três categorias estão associadas práticas, sentidos e valores
presentes na sociedade, cultura, política, economia e história, que são determinantes também
para constituir e (res)significar os sentidos na estrutura de sentimento. Na categoria produção,
foi utilizada a análise textual de Casetti e Chio (1999) para perceber os sentidos
representados nos textos dos telejornais e entrevista semiestruturada com os responsáveis
pelas equipes de jornalismo das emissoras analisadas. Para a categoria regulação, foram
analisadas as mediações e as tradições seletivas presentes nos conteúdos dos telejornais e
como elas contribuem para a constituição dos sentidos atuais das representações identitárias.
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A partir da análise, Silva (2017) pôde verificar que os telejornais direcionam suas
estratégias em torno de valores e sentidos culturais da região, evidenciando padrões que
constituem pistas de uma identidade do Oeste catarinense, construída, principalmente, a partir
do município de Chapecó, atrelada ao desenvolvimento econômico e ao passado “heroico”
que ainda repercute no presente. Ao mesmo tempo, visualizou novas estruturas culturais
emergindo em um cenário de tradições ainda recentes e que hoje é atingido pela globalização.
Por fim, mais recentemente, a dissertação de Débora Flores Dalla Pozza7 (2018),
intitulada “Representações de identidades pampeanas em programas documentais da região:
intersecções entre cultura vivida e cultura registrada”, objetivou analisar as representações de
identidades pampeanas a partir de programas documentais do Brasil, Argentina e Uruguai.
Com esse intento, a autora buscou em Williams (2003) suas classificações das dimensões e
níveis de cultura. Dessa forma, Dalla Pozza (2018) articula a dimensão social, que se refere
aos modos particulares de vida dos povos, com o nível da cultura vivida de um momento e de
um lugar determinado, e da tradição seletiva, que vincula a cultura vivida do momento com
as culturas de distintos períodos no mesmo espaço. A dimensão documental, que se refere aos
registros do pensamento e da experiência humana, é articulada ao nível da cultura registrada e
aqui se localizam os documentários que foram estudados através da análise textual de Casetti
e Chio (1999) (FIG. 10).
7
A dissertação será defendida em 16 de março de 2018. A versão final do texto já foi entregue, e a metodologia
foi validada na defesa de qualificação, ocorrida em 22 de agosto de 2017.
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XXVII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte - MG, 05 a 08 de junho de 2018
Com base nisso, a autora delineou as intersecções entre cultura registrada e cultura
vivida a partir das disputas pela hegemonia e da tradição seletiva e verificou que há um
esforço para naturalizar o reconhecimento entre os habitantes da região do pampa. No
entanto, concluiu que, apesar de não ser essencialista em suas representações das identidades
pampeanas, há pouca diversidade cultural, com grande disparidade quanto à equidade de
gênero e baixa representatividade em termos étnicos e raciais.
Considerações finais
A motivação principal desse artigo foi demonstrar como a análise cultural-midiática
pode ser utilizada como possibilidade metodológica em pesquisas da área da comunicação, a
fim de que mais pesquisadores se apropriem de tal protocolo analítico e usufruam de sua
flexibilidade e abrangência. Para isso, apresentamos as bases teóricas dos Estudos Culturais,
alicerces de tal recurso analítico, sem as quais se torna infundado e superficial mergulhar em
uma análise que tem na cultura seu ponto principal de investigação. A exploração do conceito
de materialismo cultural, gênese desse tipo de análise, é imprescindível para que se evidencie
a mídia enquanto instituição, processo e prática social material, interligada, mas não
subordinada, às demais esferas do todo social.
Os cases de dissertações de mestrado, trazidos nesse artigo como exemplos de
aplicações práticas já realizadas, permitem observar a forma como o Grupo se apropriou da
metodologia ao longo do tempo. Inicialmente, os trabalhos trouxeram aplicações e
adaptações mais diretas dos circuitos. Após essas primeiras aproximações, os pesquisadores
passaram a desenvolver apropriações cada vez mais complexas, dinâmicas e autorais dos
modelos existentes, conforme os objetivos de cada pesquisa e as necessidades suscitadas
pelos objetos empíricos. Assim, é perceptível uma evolução gradual do uso da metodologia,
na medida em que houve um contato maior com a teoria, o que trouxe aprofundamento e
autonomia para a elaboração dos percursos de cada pesquisador.
Os trabalhos apresentados demonstram ainda a capacidade dessa estratégia
metodológica em ser aplicada aos mais variados objetos, desde programas televisivos
regionais a nacionais, adaptando-se ainda a uma gama diversa de temáticas, como o
regionalismo, a brasilidade e o telejornalismo esportivo. Tal versatilidade mostra o potencial
de utilização aos mais diferentes contextos e suportes midiáticos, o que evidencia o quanto os
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Referências
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