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PROCESSO Nº TST-RR-3031-40.2011.5.03.

0032

A C Ó R D Ã O
(7ª Turma)
DCABP/iob/cgel

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO


DE REVISTA. REVISTA ÍNTIMA.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. EXPOSIÇÃO
DO CORPO DO TRABALHADOR DESNUDO.
MAJORAÇÃO DO VALOR. Configurada a
divergência jurisprudencial, em face
do valor arbitrado à indenização por
danos morais, merece processamento o
recurso de revista. Agravo de
instrumento provido.
II - RECURSO DE REVISTA. 1.
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ASSÉDIO
MORAL. TRATAMENTO OFENSIVO E
HUMILHANTE. NÃO CONFIGURAÇÃO. O
Colegiado a quo registrou que "foi
comprovado apenas um fato isolado, ocorrido há longa
data (5 ou 6 anos), que, a despeito de desrespeitoso e
infeliz, é insuficiente para revelar perseguição ou
capaz de submeter o Reclamante a situação humilhante
e constrangedora". Concluiu que "o fato de a
Reclamada confessar que tal gerente é uma pessoa
rígida e exigente não implica em confissão de
corriqueiras ofensas ou perseguição". Intangível
essa premissa fática, a alegação
autoral de que era constantemente
ofendido e submetido a tratamento
humilhante reveste-se de natureza
fático-probatória e sua apreciação
encontra óbice na Súmula nº 126 do
TST. Recurso de revista não
conhecido.
2. RECURSO DE REVISTA. REVISTA
ÍNTIMA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.
EXPOSIÇÃO DO CORPO DO TRABALHADOR
DESNUDO. MAJORAÇÃO DO VALOR. Consta
da decisão regional que os
trabalhadores eram expostos
diariamente em trajes mínimos e
sujeitos a revista íntima para
verificar se portavam algum objeto.
Nesse caso, a constatação de ofensa à
intimidade não pressupõe o contato
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físico entre o empregado vistoriado e


o vigilante, sendo suficiente a
realização do procedimento abusivo
atinente à revista visual, em que o
trabalhador é constrangido a exibir
suas roupas íntimas, dia após dia,
não sendo atenuante o fato de o
vistoriador ser do mesmo sexo do
empregado, pois, ainda que parcial,
existe a exposição do corpo do
empregado, caracterizando, portanto,
invasão à sua intimidade. Nesse
sentido, o valor fixado pela Corte
regional a título de indenização por
danos morais mostra-se
desproporcional ao quadro fático
delineado, senão excessivamente
módico e irrisório. Na espécie,
justifica-se a excepcional
intervenção desta Corte a fim de
revisar o quantum indenizatório
estipulado pelo Regional, majorando-
se de R$ 2.000,00 (dois mil) para R$
20.000,00 (vinte mil reais) a quantia
arbitrada. Recurso de revista
provido.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


Recurso de Revista n° TST-RR-3031-40.2011.5.03.0032, em que é
Recorrente PAULO HENRIQUE COSTA e Recorrido EDITORA ALTEROSA LTDA.
O Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região
denegou seguimento ao recurso de revista interposto pelo reclamante
entendendo ausentes os pressupostos do art. 896 da CLT (fls.
641/642).
Inconformado, o reclamante interpõe agravo de
instrumento, alegando, em síntese, que o recurso merece regular
processamento (fls. 645/665).
Não foram apresentadas contraminuta e
contrarrazões (fls. 669).

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Processo não submetido ao parecer do Ministério


Público do Trabalho (TST/RI, art. 83).
É o relatório.

V O T O

I – AGRAVO DE INSTRUMENTO

1. CONHECIMENTO

Presentes os pressupostos recursais de


admissibilidade, conhece-se do agravo de instrumento.

2. MÉRITO

2.1. REVISTA ÍNTIMA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.


EXPOSIÇÃO DO CORPO DO TRABALHADOR DESNUDO. MAJORAÇÃO DO VALOR

O Tribunal Regional negou trânsito ao recurso de


revista do autor que, inconformado, interpõe agravo de instrumento,
sustentando, nas razões do apelo, que decisões oriundas de outros
Tribunais demonstram o conflito de teses a justificar o
processamento da revista.
Isso porque alega que o valor fixado a título de
indenização por danos morais não "aquilatou corretamente os rendimentos mensais
auferidos" e que a reprimenda não possui caráter pedagógico e punitivo
capaz de desestimular as reiteradas práticas ilícitas da reclamada.
Requer a majoração do valor (R$ 2.000,00), por considerá-lo ínfimo.
Os arestos colacionados nas razões de revista
trazem os seguintes entendimentos (p. 626/629):

130000141412 – RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMADA -


REVISTA ÍNTIMA – DANO MORAL - CONFIGURAÇÃO - A relação
de emprego tem como suporte a confiança, a fidúcia entre as partes. O
empregador somente contrata empregado que lhe merece confiança. Não
vai manter sob suas ordens pessoa na qual não confia. Se, depois de
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admitido, durante a execução do contrato de trabalho, faltar-lhe confiança


no empregado, que ele o dispense. Não e consentâneo com a dignidade da
pessoa humana, mantê-lo sob constante fiscalização (revista íntima,
tendo o empregado que tirar o macacão e ficar de cueca na frente de
um vigilante) como no presente caso. Dano moral configurado.
RECURSO ORDINÁRIO PROVIDO - RESCURSO ADESIVO -
MAJORAÇÃO DO VALOR DA INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS - DEVIDA – Durante um longo período, de janeiro de 1998 a
abril de 2007 a tratamento humilhante por parte da reclamada é devido o
aumento do valor da indenização por danos morais deferida. RECURSO
ADESIVO PROVIDO (TRT-19ª R. - RO 74/2009-006-19-00.7 - ReI. Valter
Pugliesi – Dje 01.07.2011 -p.3)

113000056805 - RECURSO ORDINÁRIO PATRONAL –


REVISTA ÍNTIMA - EXERCÍCIO ABUSIVO DO PODER DIRETIVO
E FISCALIZADOR DA EMPRESA - DANO MORAL
CONFIGURADO - 1- Sabemos que a prática de ação que resulte prejuízo
a outrem enseja o dever de indenizar por danos materiais, ou morais, de
conformidade com a gravidade dos fatos e a intensidade danos causados à
pessoa ou ao seu patrimônio, o que encontra amparo constitucional, art. 5º,
V e X, Constituição Federal . 2- Consoante doutrina de Sérgio Cavalieri, "o
dano moral existe "in re ipsa"; Deriva inexoravelmente do próprio fato
ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, "ipso facto" está demonstrado
o dano moral à guisa de uma presunção natural, uma presunção "hominis"
ou "facti" que decorre das regras de experiência comum. Assim, por
exemplo, provada a perda de um filho, cônjuge, ou de outro ente querido,
não há que se exigir a prova do sofrimento, porque isso decorre do próprio
fato de acordo com as regras de experiência comum (in Programa de
Responsabilidade Civil. 2ª ed. São Paulo: Malheiros. 1998, p. 80). 3-
Portanto, contrariamente ao quanto exposto nas razões recursais, para
efeitos de danos morais, consoante entendimento majoritário na doutrina e
jurisprudência, não é preciso provar que a vítima se sentiu ofendida,
magoada, desonrada com a conduta do agente. O dano moral dispensa
prova em concreto, pois se passa no interior da personalidade, tem
presunção absoluta. Provada a existência do fato ilícito, ensejador do
constrangimento, mostra-se devido o ressarcimento civil por dano moral,
nos moldes do art. 186 do Código Civil "Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". Assim como à
luz do art. 927 do CC/02: "Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 4- In casu, extrai-se da
prova oral produzida que a reclamada, por meio meio de seus
prepostos, efetuava revista íntima em seus funcionários, utilizando o
risível "sistema de tampinhas" (tampinha verde: o funcionário despia-se
somente do macacão, ficando de cueca, e revistavam os pertences
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pessoais; se tirasse a tampinha vermelha, o funcionário despia-se


completamente), o qual somente tinha o condão de aumentar ainda mais a
humilhação a que o recorrido e os demais colegas eram submetidos. 5-
Conclui-se que a conduta patronal excedeu demasiadamente os estritos
limites do poder diretivo e fiscalizador (art. 2° da CLT c/c o art. 187 do
CC), não se conformando muito menos aos postulados éticos e à presunção
da boa-fé que devem presidir a execução do contrato de trabalho (art. 422
do CC/02 c/c o art. 8° da CLT), além do que esbarra no direito pessoal
indisponível de seus empregados de manterem sua intimidade inviolada,
direito este estabelecido no art. 5°, inciso III e X da Constituição Federal
caracterizando-se "ipso facto" como ato ilícito (art. 186 do CC/02 ), gerador
do dever dc indenizar, a título de danos morais ( art. 927 do CC/02 c/c o art.
8ª da CLT) o patente abalo psicológico sofrido pelo trabalhador que viu
conspurcado a sua dignidade humana e os direitos da personalidade. 6-
Recurso desprovido no item. FIXAÇÃO DO QUANTUM
INDENIZATÓRIO. EXCESSO NA CONDENAÇÃO REDUÇÃO A
PATAMAR RAZOÁVEL - 1 Como cediço, a estimativa do valor
indenizatório por dano moral não é tão singela, não sendo realizada
mediante um simples cálculo aritmético, mas com critério, em que o
magistrado deve verificar em cada caso, a repercussão econômica, a
situação econômica das partes, a repercussão social e a duração da lesão.
Exige-se, a um só tempo, prudência e serenidade (art. 946, CC), de sorte
que não se permita o enriquecimento ilícito de urna parte ou o pagamento
de quantia inexpressiva pela outra. 2- Deve-se atentar, ainda, o Julgador
para o desestímulo ao lesante - valor pedagógico da indenização -, de molde
a impedir a reiteração da conduta em outras situações, sem olvidar do bom
senso, da experiência de vida, a realidade e as peculiaridades do caso
individualmente. Tal fixação deve orientar-se, portanto, pelo princípio
constitucional da razoabilidade. Por fim, considerando que a repercussão
danosa é íntima, de modo que se pode estabelecer com precisão a sua
extensão, atentando para os parâmetros da razoabilidade e critérios suso
mencionados, entendo que houve excesso no arbitramento da indenização
compensatória pelo dano moral no montante de R$ 150.000,00 (cento e
cinqüenta mil reais), efetuado pela instância inferior. 4- Assim sendo, dou
parcial provimento ao apelo patronal para reduzir o quantum indenizatório
a título de dano moral, fixando- no patamar razoável de R$ 30.000,00
(trinta mil reais), o qual se mostra suficiente tanto a reconfortar a vítima
pela humilhação oriunda das reiteradas revistas íntimas no curso do pacto
laboral, quanto a inibir a reincidência por parte da empresa infratora, sem
propiciar enriquecimento indevido (TRT-02ª R. - RO
00027004520075020026 (00027200702602009) - (20110467056) - 4 T. –
Rel. Luiza Maria Isabel Cueva Moraes - DOE/SP 29.04.2011).
Destaques no original.

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O recurso de revista está fundamentado apenas em


divergência jurisprudencial.
De outra parte, não se desconhece que há
entendimento nesta Corte no sentido de que "a discussão a respeito do quantum
indenizatório do dano moral pressupõe a indicação de violação dos artigos 5º, incisos V e X, 7º, inciso
XXVIII, da Constituição Federal e 944 do Código Civil, em conjunto ou separadamente" (TST-RR-
105900-92.2006.5.01.0006).
No entanto, considerando as peculiaridades do
caso, revelador da adoção de conduta abusiva e humilhante pelo
empregador em face dos seus empregados, e a despeito do
reconhecimento pela Corte de origem da prática desse ilícito,
verifica-se que o montante arbitrado a título de dano moral não
guarda concordância com a magnitude do bem imaterial violado, e
atenta contra os princípios da razoabilidade e proporcionalidade,
circunstância que autoriza a intervenção excepcional desta Corte.
Considerando, ainda, as premissas fáticas
assentadas nos arestos supratranscritos, dentre elas a verificação
do excesso de poder diretivo e fiscalizador do empregador e a
imposição de revista íntima vexatória, porquanto o empregado era
obrigado a se despir e ficar diariamente exposto apenas de cueca na
frente de outros colegas e de um vigilante/fiscal da empresa,
conclui-se que restou perfeitamente demonstrado o dissenso de teses.
Assim, constata-se que o tema merece
enfrentamento, por divergência jurisprudencial, razão pela qual se
confere provimento ao agravo de instrumento para determinar o
processamento do recurso de revista, para melhor análise da matéria.
Agravo de instrumento provido.

II - RECURSO DE REVISTA

1. CONHECIMENTO

1.1. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ASSÉDIO MORAL.


TRATAMENTO OFENSIVO E HUMILHANTE. NÃO CONFIGURAÇÃO

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O Regional negou provimento ao recurso ordinário


do reclamante e manteve a sentença que indeferiu o pedido de
indenização por danos morais em face do alegado assédio moral, sob
os seguintes fundamentos (p. 589/591):

Indenização por danos morais - Assédio moral


Insurge-se o Reclamante ao argumento de que sofria assédio moral
por parte de sua superior hierárquica que o maltratava e xingava, inclusive
na presença de terceiros, atuando com excesso de rigor, extrapolando os
limites diretivos e razoáveis.
Sem razão.
O assédio moral no trabalho ocorre quando uma pessoa, ou um grupo
de pessoas, exerce violência psicológica sobre um colega de modo
premeditado, sistemático e frequente, subordinado ou não, durante tempo
prolongado. O escopo é comprometer o equilíbrio emocional do
trabalhador, degradante da convivência laboral e ofensiva à dignidade.
O bem jurídico atingido é o respeito ao trabalhador no relacionamento
profissional, que deve ser pautado em valores éticos e tratamento digno,
com suporte nos primados constitucionais da valorização do trabalho e da
dignidade da pessoa humana (artigos 1º, incisos III e IV, e 170, da
Constituição da República).
Pode ocorrer sem propósito específico e sobrevém da adoção repetida
de grosserias, xingamentos, restrições indevidas à liberdade de outrem,
levando à degeneração do relacionamento laboral e a um ambiente de
trabalho hostil e desarmônico. Pode também ser motivado, com finalidade
específica, como tornar insustentável a permanência do trabalhador em
determinado cargo, ou forçá-lo a recorrer ao desligamento da função ou do
próprio emprego.
Considere-se, ainda, que o dano moral deve ser de tal gravidade que
justifique a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado.
Mero dissabor, desconfortos emocionais e mágoas extrapolam o conceito de
dano moral.
A generalidade do dano moral na relação de emprego é aquela
afetação dos brios do empregado, feita pelo empregador, maculando sua
honra e imagem, que são garantidas pela Constituição Federal. Todavia, a
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mera possibilidade de reparação do dano moral não pode se converter em


panaceia, utilizável em toda e qualquer situação em que ocorra conflito de
interesses nesse nível. Isso é próprio, d.v., da denominada "indústria do
dano".
Não obstante, no caso presente, não foi demonstrada conduta de
perseguição ao Reclamante, e a despeito do eventual rigor ou grosseria da
superior hierárquica, não foi evidenciado dano moral nos termos pleiteados.
Em depoimento pessoal, o Reclamante relatou que a forma rigorosa e
grosseira de sua superior era generalizada, não se tratando de perseguição,
in verbis:
"(..) que sua chefe imediata era Adriana Rezende; que tinha
problema de relacionamento com ela, pois era tratado "como se fosse
um imbecil", assim entendendo porque era alvo de deboche, ironia,
sendo habitualmente desacatado por ela; que isto era feito às
escondidas, como também perante terceiros, colegas de trabalho;
que ela assim portava com todos no ambiente de trabalho, mas em
relação ao depoente com maior ênfase; (destaquei, f. 435)

Das três testemunhas ouvidas em Juízo, apenas uma delas relatou


ofensa da referida superior hierárquica aos empregados, contudo o fez de
forma generalizada e isolada, além disso, outra delas informou desconhecer
qualquer ofensa ao Reclamante:
"(..) que trabalhou na reclamada de 1996 até 2011, inicia/mente na
função de auxiliar gráfico, tendo passado a impressor offset cerca de
02 anos depois; que o depoente o depoente, em uma oportunidade,
há cerca de 05/06 anos, presenciou a Sra. Adriana Resende
ofendendo o reclamante, dentro de uma sala, na qual estavam o
depoente, o reclamante e a referida senhora.; que, em tal ocasião,
referida senhora, por estar insatisfeita com a qualidade de um
trabalho aprovado pelo reclamante, jogou o trabalho no chão e disse
"vai pra puta que o pariu, aqui só tem incompetente", mandando o
reclamante recolher o material no chão; que a ofensa se dirigiu
tanto aos empregados que fizeram o trabalho, quanto ao
reclamante, que o teria aprovado; (..)" (destaquei - testemunha
Antônio Augusto Azevedo, fs. 380/381)
"que trabalha na ré desde maio de 1995; que atualmente é
coordenador de produção; que nunca presenciou nenhuma situação de
animosidade, discussão ou mesmo falta de paciência e que lhe
despertasse a atenção em relação ao autor e sua chefe Adriana, que
trabalhava diretamente com o autor, que o autor fazia provas no setor
off set, lá comparecendo diariamente, sendo que lá poderia ficar
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algumas horas ou alguns minutos, variando; (..) que Adriana é muito


exigente com o trabalho, mas nunca viu ela xingando ou destratando
o autor, (..)" (testemunha Davidson Ferreira da Silva, f. 436)

Assim, como bem ponderou o. d. Juízo primevo, foi comprovado


apenas um fato isolado, ocorrido há longa data (5 ou 6 anos), que, a
despeito de desrespeitoso e infeliz, é insuficiente para revelar perseguição
ou capaz de submeter o Reclamante a situação humilhante e
constrangedora. Até porque, frise-se novamente, a mesma testemunha que
presenciou o fato, informou que a ofensa foi proferida de forma genérica a
todos os trabalhadores que participaram do aludido trabalho.
Além disso, o fato de a Reclamada confessar que tal gerente é uma
pessoa rígida e exigente não implica em confissão de corriqueiras ofensas
ou perseguição.
Dessa forma, verifica-se que o Demandante não se desincumbiu do
ônus que lhe cabia, de provar os requisitos ensejadores de reparação por
dano moral (art. 818, CLT e art. 333, I, CPC), não havendo qualquer reparo
a se fazer na r. sentença que indeferiu a pretensão.

Sustenta o reclamante que diariamente sofria


assédio moral por parte de sua superiora hierárquica (gerente) que,
além de extrapolar os limites do poder diretivo, sempre o maltratava
e o xingava, fatos esses que ocorriam até mesmo na presença de
terceiros. Afirma que o tratamento rígido e as ofensas restaram
comprovados pelos depoimentos testemunhais. Aponta divergência
jurisprudencial e transcreve arestos para confronto de teses.
No caso, a Corte regional destacou que não restou
"demonstrada conduta de perseguição ao Reclamante, a despeito do eventual rigor ou grosseria da
superior hierárquica, não foi evidenciado dano moral nos termos pleiteados". Consignou que no
depoimento pessoal, o reclamante relatou que o comportamento
rigoroso e grosseiro da gerente era generalizado, dirigido a todos
os empregados, e não se tratava de perseguição pessoal.
O Colegiado a quo registrou, com base na prova
testemunhal, que "foi comprovado apenas um fato isolado, ocorrido há longa data (5 ou 6
anos), que, a despeito de desrespeitoso e infeliz, é insuficiente para revelar perseguição ou capaz de
submeter o Reclamante a situação humilhante e constrangedora". Assim, concluiu o
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Regional que "o fato de a Reclamada confessar que tal gerente é uma pessoa rígida e exigente
não implica em confissão de corriqueiras ofensas ou perseguição".
Intangível essa premissa fática, não se pode
prospectar diretamente a prova, a fim de obter conclusão diversa
daquela registrada pelo Regional. Isso porque a alegação autoral de
que era constantemente ofendido e submetido a tratamento humilhante
reveste-se de nítida natureza fático-probatória, não podendo ser
analisada por esta Corte, em face da Súmula nº 126 do TST.
Na espécie, fica evidente que a pretensão recursal
não é de nova qualificação jurídica dos fatos, mas de simples
revolvimento do conjunto probatório, almejando nova análise dos
aspectos factuais e probatórios, incabível em sede recursal
extraordinária.
Adicione-se, por fim, que em face da incidência na
espécie da Súmula nº 126 desta Corte, essa circunstância afasta em
bloco a viabilidade do conhecimento do recurso de revista, sendo
despiciendo analisar individualmente cada aresto trazido para
confronto.
Recurso de revista não conhecido.

1.2. REVISTA ÍNTIMA. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL.


EXPOSIÇÃO DO CORPO DO TRABALHADOR DESNUDO. MAJORAÇÃO DO VALOR

Nos termos da fundamentação expendida quando do


exame do agravo de instrumento, a revista tem trânsito garantido por
restar configurada divergência jurisprudencial. Conhece-se.

2. MÉRITO

Na parcela de interesse, a Corte Regional reformou


a sentença e condenou a reclamada ao pagamento de indenização por
danos morais no valor de R$ 2.000,00 (p. 593/596), adotando os
seguintes fundamentos:

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Indenização por dano moral - Revistas íntimas


(...)
Inicialmente, convém ponderar que as revistas íntimas ocorreram
somente até 2008 e que não havia exposição dos revistados aos visitantes
da empresa, consoante confissão obreira:
"(...) que até 2008 houve revista íntima, sendo que ficavam num
corredor e depois ingressavam numa pequena sala, rodeada de
espelhos, onde ficavam um segurança e o empregado revistado, este
apenas de cueca, que apertavam um botão e a partir disso havia o
sorteio para a revista; que ficava constrangido porque havia gozação
de colegas, mas estes também se submetiam à revista, que entravam
no referido local individualmente, onde só permanecia o segurança
e a pessoa que seria revistada, ou seja, o procedimento não era
visualizado pelos demais colegas; (...)
O fato também é incontroverso e, conforme depoimento pessoal do
preposto da Ré, a exposição ocorria perante os demais empregados,
ressalvando que eram do mesmo sexo:

"que até 2008 havia revista íntima dos empregados, pois a ré


trabalha com dinheiro eletrônico (cartão de crédito); (..) que
inicialmente, quanto à revista, a pessoa passava pelo vestiário, tirava
a roupa e ficava de cueca, seguindo então para o segundo vestiário,
onde colocava o uniforme de trabalho, isto no início da jornada, ao
final, o empregado tirava a roupa no primeiro vestiário, passava
pelo corredor e acionava um detector o qual selecionava
aleatoriamente o empregado que se submeteria à revista; e se fosse
submetido, ele seguia para uma cabine com a roupa íntima, onde
um vigia fazia a verificação; que ao acionar o botão seletivo da
revista o empregado já estava de cueca, dentro do corredor que tem
acesso direto ao vestiário; que nesse local ficam todos os
empregados que estão entrando ou saindo, separados obviamente
por sexo, e portando somente as roupas íntimas; que os visitantes
passavam por esse mesmo corredor, mas os horários de visitas eram
programados de forma a não coincidir com os horários em que os
empregados estavam ali transitando e utilizando os vestiários, que

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visitantes não passavam por revista íntima, que não teria como o
empregado neste corredor ser visto por terceiros ou estranhos, que
não os próprios colegas que estivessem no mesmo local e na mesma
situação; (..)" (fs. 435/436)

No mesmo sentido da confissão, foram os depoimentos das duas


testemunhas ouvidas a rogo do Autor (fs. 380/381).
A prática de revista dos trabalhadores não é, em si, vedada, mormente
quando lidam com mercadorias de pequeno porte e que podem ser
facilmente extraviadas, como no caso cartão de crédito. Porém, não se
admite excessos, que possam expor os trabalhadores em situações
humilhantes e abusivas.
Por certo que o relato dos autos traduz ilícito, o que não pode ser
permitido. As empresas podem dispor de outros meios fiscalizatórios,
inclusive através de modernos sistemas de câmeras de segurança, que
alcançam todo o estabelecimento, evitando, assim, a indesejável prática das
revistas. E na hipótese, sabendo que os cartões (dinheiro plástico)
fabricados na Ré contém tarjas magnéticas, há aparelhos modernos que
detectam sua existência junto ao corpo, sem necessidade de toque ou olhar
direto.
As provas delatam que a Reclamada violava a privacidade, a
intimidade e a honra do Autor. Ainda que efetiva fiscalização fosse
realizada em sala reservada, inicialmente os trabalhadores eram expostos
uns aos outros, trajando apenas roupas íntimas, em corredor aonde seria
realizado sorteio aleatório para a revista. A conduta abusiva não pode,
evidentemente, ser tolerada, sendo o que ficou evidenciado na espécie.
Presentes os requisitos essenciais para o deferimento da indenização
por danos morais, quais sejam o ilícito patronal, culpa e nexo causal, a
sentença deve ser reformada para condenar a Reclamada ao pagamento de
indenização por danos morais.
Para a quantificação da compensação por dano moral, orienta-se o
magistrado pelos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, que
estabelecem relação equitativa entre a gravidade da lesão e o valor da
indenização, que não deve ser insignificante para o ofensor, tampouco
cause o enriquecimento indevido à vítima.

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Considera, assim, parâmetros como os meios utilizados; a gravidade


da ofensa; a intensidade do sofrimento da vítima; a relevância do bem
jurídico atingido; a condição individual e a situação financeira do ofensor e
da vítima; a repercussão da ofensa na posição pessoal e profissional do
ofendido e a possibilidade de minoração do dano.
O dano individual, in casu, é ínsito à situação constrangedora
vivenciada e, ainda que se transformasse em situação para brincadeiras
entre os empregados, o que foi confessado pelo Autor "(..) que ficava
constrangido porque havia gozação de colegas, mas estes também se
submetiam à revista; (10ª linha, f. 435), não se pode olvidar sua ocorrência,
ainda que em menores proporções.
Por todo o exposto, fixo o quantum indenizatório em R$2.000,00.
Ressalta-se que a quantia já levou em consideração que a empresa procedeu
lesivamente até o ano de 2008, pelo que repara apenas a situação
individual.

O reclamante sustenta que os valores arbitrados a


título de danos morais são ínfimos e escapam à razoabilidade,
pugnando pela majoração desse montante, em razão do potencial
econômico da reclamada. Aponta dissenso jurisprudencial,
transcrevendo arestos para confronto de teses.
O Regional, reconhecendo a ilicitude na conduta
perpetrada pela gerente da reclamada, consistente na exposição da
intimidade do reclamante perante os demais empregados, deferiu
parcialmente a pretensão autoral, fixando a indenização por dano
moral em módicos R$ 2.000,00 (dois mil reais).
Consta da decisão regional que os trabalhadores
eram expostos diariamente em trajes mínimos (apenas de cueca), e em
mais de uma oportunidade, ao fiscal da empresa e também perante os
demais empregados, pois eram compelidos a passar por revista íntima
para verificar se portavam algum objeto (in casu, cartões de
créditos).
Nesse sentido, concluiu o Regional, após detido
exame das provas dos autos, que "a reclamada violava a privacidade, a intimidade e a
honra do Autor" com a adoção desses procedimentos invasivos.
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É evidente, conforme o próprio nome já indica, que


as peças íntimas, tais como cueca, calcinha, soutien e meias, estão
ligadas à intimidade das pessoas, daí a restrição à sua exposição em
determinados ambientes, como no trabalho.
Com efeito, revistas pessoais, regra geral, ferem
o direito à intimidade e afrontam os princípios da presunção de
inocência e da dignidade do trabalhador, cabendo ao empregador que,
pelas condições em que o trabalho é realizado, corre o risco de
sofrer furtos, investir em outros meios para proteger o seu
patrimônio, já que a ele cabem os riscos da atividade econômica.
Não se pode olvidar, outrossim, que esta prática
transgride o princípio da boa-fé que rege as relações contratuais
(art. 422, CC), pois traz implícita a suspeita do cometimento de
crime contra o patrimônio do empregador.
A relação de emprego não pode servir de fundamento
para que o poder empresarial menospreze o balizamento constitucional
relativo à preservação da intimidade de seus empregados. As
garantias e direitos fundamentais acompanham o trabalhador por onde
quer que ande.
O poder de direção empresarial, aí incluído a
fiscalização do empregado, não é absoluto. As revistas às quais o
reclamante era submetido diariamente não podem ser consideradas
lícitas (art. 188, I, do CC), pois implicavam desrespeito à sua
intimidade e dignidade.
Referidos direitos, expressamente tutelados pelos
arts. 1º, III, e 5º, X, da CF, como atributos da personalidade
humana, são tidos como fundamentais e não admitem restrição, salvo
os casos expressamente resguardados pelo próprio texto
constitucional ou que dele sejam inferidos.
No caso, não há regra constitucional excetiva da
tutela dos direitos da personalidade, tampouco se verifica
justificativa razoável para a realização das revistas nos moldes
perpetrados pela reclamada.
Some-se, ainda, a existência de legislação
vedando, expressamente, o empregador ou preposto a proceder a
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revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias, nos termos do art.


373-A da CLT que, em face do princípio constitucional da igualdade
dos direitos entre homens e mulheres (art. 5º, I, da CF), deve
também estender-se ao trabalhador do sexo masculino.
Nesse sentido, a jurisprudência desta Corte, nas
hipóteses de revistas íntimas em que os empregados são compelidos a
expor parte de seu corpo, mostrando suas roupas íntimas, entende
configurado o exercício abusivo do poder diretivo do empregador e a
ofensa à intimidade do empregado.
Os seguintes precedentes são elucidativos:

RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANOS


MORAIS. MAJORAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. O
Tribunal Regional consignou que -a autora foi chamada pelo preposto da
reclamada, perante seus colegas de trabalho, de 'miss', e invadida na sua
esfera íntima, posto que sujeita a contatos físicos desnecessários e
indesejados que lhe eram direcionados exclusivamente, o que caracterizou
tratamento discriminatório, seguido de desprezo quanto à condição de
saúde da reclamante, diante dos comentários pejorativos sobre seu jeito de
andar.-. Dessa forma, o valor fixado pelo Tribunal Regional em R$
4.000,00 (quatro mil reais) escapa à razoabilidade. Assim, mister a
majoração do valor para R$ 20.000,00 (vinte mil reais) em atenção às
peculiaridades da espécie. Recurso de revista conhecido e provido (RR -
1103-77.2010.5.09.0014, Relatora Ministra Delaíde Miranda Arantes, j.
16/10/2013, 7ª Turma, DEJT 18/10/2013).

[...] RECURSO DE REVISA DA RECLAMANTE - INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - DOENÇA OCUPACIONAL -
QUANTUM INDENIZATÓRIO. Nos termos do art. 950 do Código Civil,
havendo incapacidade da vítima para o exercício do seu ofício, caberá ao
causador do dano o pagamento de valor equivalente ao trabalho para o qual
se inabilitou. (...) Outrossim, em relação ao quantum fixado a título de
indenização moral, é certo que essa verba deve ser arbitrada em valor justo
e razoável, sopesando o dano causado ao empregado, as condições pessoais
e econômicas dos envolvidos e a gravidade da lesão aos direitos
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fundamentais da pessoa humana, da honra e da integridade psicológica e


íntima. Cabível, pois, a majoração das indenizações por danos morais e
materiais arbitradas no caso a fim de que se tornem adequadas à extensão
do dano, nos termos do art. 944 do Código Civil. Recurso de revista
conhecido e provido (RR - 651-23.2011.5.09.0567, Relator Ministro Luiz
Philippe Vieira de Mello Filho, j. 16/10/2013, 7ª Turma, DEJT 18/10/2013).

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO. DANO MORAL.


INDENIZAÇÃO. REVISTA ÍNTIMA. Foi demonstrada a aparente
violação constitucional os termos exigidos no artigo 896 da CLT. Agravo de
instrumento provido para determinar o processamento do recurso de revista.
(...) DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. REVISTA ÍNTIMA. A
jurisprudência desta Corte, nos casos de revistas íntimas habituais em que
os empregados expõem parte de seu corpo, mostrando suas roupas íntimas,
entende configurado o exercício abusivo do poder diretivo do empregador
(art. 187 do Código Civil) e a ofensa à intimidade do empregado, sendo
devida a indenização por dano moral, nos termos do inciso X do art. 5º da
Constituição Federal. É notório, conforme o próprio nome indica, que as
peças íntimas estão ligadas à intimidade das pessoas. Por outro lado, a
relação de emprego não pode servir de fundamento para que o poder
empresarial menospreze o balizamento constitucional relativo à preservação
da intimidade. A constatação de ofensa à intimidade não pressupõe
necessariamente o contato físico entre o empregado vistoriado e o vigilante,
sendo suficiente a realização do procedimento abusivo atinente à revista
visual, em que o trabalhador é constrangido a exibir as roupas íntimas
vestidas por ele, dia após dia, não sendo excludente, nesse caso, o fato de o
vistoriador ser do mesmo sexo do empregado, pois, ainda que parcial,
existe a exposição do corpo do empregado, caracterizando, portanto,
invasão à sua intimidade. Some-se, ainda, a existência de dispositivo de lei
vedando, expressamente, o empregador ou preposto a proceder revistas
íntimas nas empregadas ou funcionárias, nos termos do art. 373-A da CLT
Recurso de revista conhecido e provido (RR - 6300-40.2007.5.05.0463,
Relator Ministro Augusto César Leite de Carvalho, j. 14/8/2013, 6ª Turma,
DEJT 16/8/2013).

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RECURSO DE REVISTA - 1. REVISTA ÍNTIMA - ABUSO DO


PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR - VALOR DA INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS. Na hipótese, a violação da intimidade e da honra
do trabalhador chegava ao extremo de, durante revista íntima, de expor a
nudez dos empregados na presença dos demais colegas, além de,
implicitamente, considerá-los suspeitos de furto nos dias em que se
constatavam diferenças nos malotes. Diante de tal contexto, observados os
parâmetros legais, jurisprudenciais e doutrinários, subsidiários para a
quantificação da reparação por dano moral, julgo que a redução do valor da
indenização por dano moral determinada pela Corte de origem não
contempla a necessária proporcionalidade prevista no art. 5º, V e X, da
Constituição Federal, em especial considerando as peculiaridades do caso
concreto: condições financeiras dos ofensores, possibilidade de se adotarem
outros meios para vigilância e segurança, submissão do autor a revistas
íntimas, obrigado a despir-se na presença de outros trabalhadores, e muitas
vezes, ao extremo de ficar completamente despido. Recurso de revista
conhecido e provido. 2. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - JUROS
DA MORA - SÚMULA Nº 439 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO
TRABALHO. A jurisprudência desta Corte Superior firmou o entendimento
de que o termo inicial para a incidência dos juros da mora ocorre na data do
ajuizamento da reclamação trabalhista. Súmula nº 439 deste Tribunal
Superior. Recurso de revista conhecido e provido (RR - 63400-
18.2007.5.02.0048, Relatora Desembargadora Convocada Maria das Graças
Silvany Dourado Laranjeira, j. 22/5/2013, 2ª Turma, DEJT 31/5/2013).

I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA.


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. REVISTA ÍNTIMA ABUSIVA.
CONSTRANGIMENTO POR ISOLAMENTO EM LOCAL PÚBLICO.
VALOR ARBITRADO. Ante a possível violação do art. 944 do Código
Civil, impõe-se o provimento do agravo de instrumento para determinar o
processamento do recurso de revista. Agravo de instrumento provido. II -
RECURSO DE REVISTA. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
REVISTA ÍNTIMA ABUSIVA. CONSTRANGIMENTO POR
ISOLAMENTO EM LOCAL PÚBLICO. VALOR ARBITRADO. Na
esteira do art. 944 do Código Civil, o valor arbitrado a título de danos
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morais deve ser compatível com a extensão do dano causado ao empregado.


No caso concreto, diante de uma compreensão pedagógica da prestação
jurisdicional, para que situações como esta não se repitam, levando-se em
conta as condições econômicas da reclamada e a conduta realizada -
decorrente da revista íntima coletiva diária, com os empregados despidos e
na presença de outros colegas em sala monitorada por câmeras cujas
imagens eram exibidas em outro local - bem como do isolamento em local
público, é razoável o valor arbitrado em primeira instância de 200 e 100
salários mínimos, respectivamente a título de indenização por danos morais.
Recurso de revista conhecido e provido (RR - 167641-49.2005.5.01.0013,
Relatora Ministra: Delaíde Miranda Arantes, j. 17/10/2012, 7ª Turma, DEJT
26/10/2012).

Em relação ao quantum fixado a título de


indenização por dano moral, é certo que essa verba deve ser
arbitrada em valor justo, razoável e equitativo, levando em
consideração a frequência e gravidade das ofensas perpetradas pela
reclamada, os danos causados ao empregado, as condições pessoais e
econômicas das partes envolvidas, o caráter pedagógico e punitivo da
condenação e a gravidade da lesão aos direitos fundamentais da
pessoa humana, da honra e da integridade psicológica e íntima.
Nesse sentido, o valor de R$ 2.000,00 (dois mil
reais) fixado pela Corte Regional a título de indenização por danos
morais, mostra-se desproporcional com o quadro fático delineado no
acórdão recorrido, ou seja, é excessivamente módico e irrisório,
levando-se em consideração os parâmetros acima mencionados.
Na espécie, justifica-se a excepcional intervenção
desta Corte a fim de revisar o quantum indenizatório estipulado pelo
Regional, uma vez que referido valor escapa à razoabilidade.
Portanto, majora-se para R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a quantia
arbitrada. Mantidas as custas processuais.
Recurso de revista provido.

ISTO POSTO

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ACORDAM os Ministros da Sétima Turma da Sétima


Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do
agravo de instrumento e, no mérito, dar-lhe provimento para
determinar o processamento do recurso de revista por divergência
jurisprudencial. Por unanimidade, conhecer do recurso de revista
quanto ao tema "majoração do dano moral", por divergência
jurisprudencial e, no mérito, dar-lhe provimento para majorar o
valor da indenização por danos morais para R$ 20.000,00 (vinte mil
reais). Custas processuais inalteradas.
Brasília, 15 de outubro de 2014.

Firmado por Assinatura Eletrônica (Lei nº 11.419/2006)


ARNALDO BOSON PAES
Desembargador Convocado Relator

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