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Eros é o amor carnal, o amor entre homem e mulher, o amor que aproxima duas

pessoas que possuem sede de se conquistar. É o amor que pode ser repleto de
paixões inebriantes. Interessante que no livro do Cântico dos Cânticos exalta se
este amor erótico como um presente que Deus concedeu ao ser humano: “como
são ternos teus carinhos, minha irmã e minha noiva! Tuas carícias são mais
deliciosas que o vinho; teus perfumes, mais aromáticos que todos os bálsamos”
(Ct 4,10).
E, ao final, a noiva precisa reconhecer: “porque é forte o amor como a morte…
Águas torrenciais não conseguirão apagar o amor, nem rios poderão afogá-lo. Se
alguém quisesse comprar o amor com todos os tesouros da sua casa, receberia
somente desprezo” (Ct 8,6s).
É uma experiência que todos já tivemos. Esse amor-eros pode ser vivido de forma
muito sadia quando o homem integra, unifica corpo e alma. Nas palavras do Papa
Bento XVI em sua encíclica Deus Caritas est: “Somente quando ambos (corpo e
alma) se fundem verdadeiramente numa unidade é que o homem se torna
plenamente ele próprio. Só assim é que o amor – o eros – pode amadurecer até
sua verdadeira grandeza”.
Na mesma encíclica, o Papa fala que o amor erótico é também o de Deus por
nós: Deus assume a natureza humana para amá-la e ser amado. É também o
amor dos amigos, o amor pelos doentes e pobres: ali a dimensão erótica expressa
o amor carnal em seu sentido pleno de amar a natureza humana.

Filia é o amor de amizade. É o amor que não monopoliza, não escraviza, não cria
dependentes. É o amor que vive a alegria de se comunicar com alguém do jeito
que a pessoa é. Esse amor culmina na disposição de expor a vida em benefício
do outro. Jesus refere-se a este ideal quando fala de si: “ninguém tem maior
amor do que aquele dá a vida pelos amigos” (Jo 15,13). Na vida precisamos
cantar, celebrar as amizades. Para Epicuro, filósofo grego nascido em Atenas, a
amizade é o máximo que a sabedoria da felicidade nos pode oferecer na vida.
Os gregos, nas palavras de Anselm Grün, foram o povo da amizade. Muitas
relações são verdadeiramente valiosas porque cresceram sobre o bojo da
amizade. Na canção de Rui Biriva se canta “amizade é dom divino da paz. É
poesia e violão cantando a mesma canção com duas vozes iguais. São os
diamantes da vida que brilham nos olhos da gente. Um amigo é para sempre”.

Ágape é o amor divino, o amor em estado puro. É o amor que é fundado na fé e


por ela plasmado. É um benquerer de coração não só ao amigo, mas a todas as
pessoas. Não se limita às nossas relações cotidianas e habituais: se estende e
prolonga-se até mesmo com aqueles que não temos contato direto.
É também o amor de Deus por nós e o nosso amor por Deus. O ágape não quer
nada dos outros nem de Deus, não é interesseiro e não espera recompensas e
premiações por seus gestos, ama os outros por causa deles mesmos.
O ágape não se mistura com os desejos de posse e vontade de dominar e
explorar, não é um amor por “piedade” ou por comprimento de deveres
morais/religiosos mas, nasce da disponibilidade para ir ao encontro do próximo
e demonstrar-lhe o amor que nos torna sensíveis também diante de Deus.
É neste amor que experimentamos, no serviço ao próximo, o modo com que
Deus me ama e tudo o que ele faz por mim e pela humanidade. É o amor reflete
o amor divino. É o ápice do amor – união do eros, filia, doação total – pelo qual
ansiamos no mais profundo de nosso ser (cf. Hino do Amor, de Paulo, em 1Cor
13, 1-13).
As três maneiras de amor formam um conjunto inseparável. A filia participa da
força do eros. E também o ágape precisa do eros, caso contrário se esvazia. O
ágape está presente no amor erótico e amigo. Torna se então um amor puro e
límpido.
Amor que dá sentido para a vida. Novamente nas palavras de Bento XVI “Deus
é absolutamente a fonte originária de todo ser; mas esse princípio criador de
todas as coisas é, ao mesmo tempo, um amante com toda a paixão de um
verdadeiro amor. desse modo, o eros (também a filia) é enobrecido ao máximo,
mas simultaneamente tão purificado que se funde com o ágape”.
Essa unificação não se dá em confusão. É a unidade que cria o amor, na
qual ambos – Deus e o homem – permanecem eles mesmos, mas, nas
palavras do Apóstolo Paulo, tornando-se uma só coisa: “aquele, porém,
que se une ao Senhor constitui, com Ele, um só espírito” (1 Cor 6,17).

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