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Introdução à leitura do texto...

::: "A Libido Urgente"


- Cadu

A Persistência da Memória - Salvador Dalí

" A tradição de todas as gerações mortas, oprime como um pesadelo o


cérebro dos vivos... "

Karl Marx
Com os avanços da física subatômica (quântica), Shiva renasce em todos nós,
em uma dança e fluxo de Energia infinita...

Shiva = deus hindu responsável pelo constante fluxo de Energia do Universo, ou seja, uma
constante criação e destruição cósmica.

Onde está a "matéria" ou o "átomo" de Demócrito, Epicuro, Parmênides,


Newton?
- Em lugar nenhum... Pois ele nem existe... não existe em lugar definido ou
existência definida...
- Em todo lugar... Pois ele está em tudo... em toda "matéria", em todos objetos
existentes, seja nosso corpo ou nossa mente...

A "energia" antecede a "matéria" na criação do "cosmo"... É ela que dá forma


ao vazio e ao vazio forma...
Ela é a constante responsável pela criação da "Vida" como a conhecemos (e a
que não conhecemos: "antimatéria", "buracos negros")...
Somos constituídos de "energia", isso é "cientificamente" comprovado...nossos
sais minerais, proteínas,aminoácidos, todos os compostos químicos que deram
origem á "Vida" na Terra vieram do "espaço"... como disseram os físicos
Marcelo Gleiser e Carl Sagan..."somos poeira das estrelas..."
Portanto, somos "energia" concentrada, ou "pura" energia, em consonância,
harmonia, com toda a infinitude do Cosmos,em sua infinita e criativa rede de
Energia.
Essa foto foi tirado pelo "Hubble" em pedaço do espaço que estava"escuro", ou
seja, aparentemente "vazio"...

É uma foto de 13 bilhões de anos luz...


Se tudo está "conectado" como a física quântica diz, então somos um com essa
massa de Energia cósmica que chamamos de "Universo"...

O"átomo" não está "vazio"...mas carregado de "eletromagnetismo", que é o


responsável do porque das coisas, i.e. a "matéria" , não passarem uma sobre
as outras...Tudo que possui movimento no Universo contem
eletromagnetismo...Por isso o psicanalista Wilhelm Reich disse que...

"O corpo humano é uma máquina elétrica, relacionada de alguma maneira


com a energia do cosmos. "

Wilhelm Reich ( A Função do Orgasmo)

Reich disse também que "as partes mais pormenorizadas de meu trabalho,
parecia uma parte infinitesimal do universo"

Doutor Wilhelm Reich


A teoria dos 'chacras' vai de encontro ao pensamento psicanalítico filosófico de
Reich... Unificando, Seres Humanos & Universo, aos olhos terrenos...

Se o Humano, assim como toda a matéria existente no Universo, que é bem


pouca no que conhecemos do cosmo, é feita primordialmente de Energia, e
nós, os animais, o planeta, somos constituídos de "Poeira de Estrelas" ( os
átomos da sua mão direita não vieram da mesma estrela dos de sua mão
esquerda) e de partículas do Sol, estamos, como disse Reich, relacionados

" de alguma maneira com a Energia do cosmos "...

Herbert Marcuse, em seu livro "Eros e Civilização" disse que " a


experiência de continuar uma ciência social crítica, foi feita por Wilhelm Reich
em seus trabalhos primordiais "...portanto ele não é "louco"...

Dessa maneira o corpo humano (entenda-se corpo/mente), que é feito de


Energia, não poderia adoecer, não?

Somente se existisse algum desvio em todo esse processo sensível de Vida e


Criação cósmica a que somos submetidos, desde o "início" do Universo.

"A Libido Urgente" que escrevi, tenta demonstrar o desvio dessas "energias"
vitais, biológicas e universais, através da "autoridade" exercida pela civilização a
partir do advento do "patriarcalismo" (família patriarcal/autoritária) e da
"propriedade privada" (fruto do trabalho escravo e do Estado), que interferem
na "libido" (energias sexuais) humana, quebrando a harmonia biológica que ela
naturalmente desenvolve quando é 'livre' de pressões sociais e interesses de
poder - ambos desviadores das funções biopsíquicas da sexualidade.
Orgonio Azul
Para Reich o Orgonio era Azul...
Para Wilhelm Reich, o "Orgonio" seria uma energia estritamente física contida
no Universo e, que tinha total relação com a regulação de nossas energias
biológicas (libido, chacras, células, átomos...). Quando o ser humano é
reprimido pela sociedade,pelos seus mecanismos ideológicos emocionais de
Poder , essa energia deixaria de circular normalmente, o que adoeceria os
indivíduos "física e emocionalmente".

A Medicina Chinesa, que conta com cinco mil anos de existência, trabalha com
esse tipo de conhecimento universal, que foi trabalhado por Wilhelm Reich na
psicanálise e,no estudo da física subatômica (quântica).
Ela trabalha com o princípio da energia dos alimentos e a importância da nutrição correta para
o corpo e suas energias
Para o equilíbrio energético, os chineses desenvolveram a "acupuntura", que, tocando
diferentes partes do corpo com a agulha consegue fazer correr livres os canais de energia
reprimidos no corpo.

A Medicina Chinesa vê o ser humano como um todo energético, em


conjunção com o Universo...
com a Terra e seus elementos...

A utilização de ervas e massagens também são princípios da Medicina


Chinesa...
Meios diversos e tradicionais para o equilíbrio das energias corporais...

Até na energia doméstica os chineses desenvolveram meios para a livre flutuação das
energias - "Feng Shui"

A visão geral histórica da "Escola dos Annales" (França) da Humanidade, do


desenvolvimento dos períodos "de longa duração" históricos (como o que
chamamos de "Civilização", "mundo antigo" Antiguidade Clássica", "Idade
Média", "Idade Moderna"), e a "mentalidade" que os mesmos produziram e
produzem nos seres históricos, ganhou ainda mais dimensões com uma visão
interdisciplinar que ultrapassasse o sentido dado pelas Ciências Humanas em
torno da humanidade com suas produções e manifestações, para ter uma
dimensão científica "geral", trazendo o avanço do conhecimento "quântico" e a
dimensão "Infinita" do Universo.

O que os budistas tibetanos dizem da "impermanência" das coisas do Universo


há 2000 anos, a física demonstra hoje que é "real".

No Manifesto Comunista Marx diz que "tudo que é sólido desmancha no ar"...
pensamento que também vai de encontro a física quântica... Os "Chacras", que
são a ligação ente nosso corpo (mente/corpo entenda-se) na filosofia hinduísta
e tibetana, não são tão "Impossíveis", como pensaria algum "materialista" em
comparação as descobertas do mundo subatômico, onde tudo se dissolve numa
rede de energia...("Dança de Shiva")...O mesmo com o "Orgonio" descoberto
por Wilhem Reich e que gerou tantas polemicas e sua prisão (e morte!)...

William Blake já havia dito que "tudo que hoje é provado já havia sido
imaginado"...

Quando Heráclito declarou que "tudo estava em movimento"... ele colocou o


todo em movimento, unificado...

Reich fala de "energia", de "Orgonio"...os hindus já falavam do "Prana"...uma


mesma energia vital e cósmica que circula pelo Universo e pelo nosso
corpo...um "elo vital" como pensava Bérgson.

Reich diz do adoecimento que a repressão biológica da energia causa...os


chineses a 5000 anos já estudavam esse conhecimento...

O que a física quântica demonstra em um nível "universal"...já estava sobre os


nossos olhos...já havia "sido imaginado" como disse William Blake.

“ Os Senhores fabricam engenheiros, magistrados, médicos, aos quais


escapam os verdadeiros mistérios do corpo, as leis cósmicas do ser...

falsos sábios, cegos para o além Terra...

Os Senhores nada sabem do espírito, ignoram suas ramificações mais


ocultas e essenciais, essas pegadas fósseis tão próxima das nossas
origens...”

Antonin Artaud - Carta aos Reitores das Universidades Européias


Antonin Artaud
" A partir de hoje penduro ao pescoço

O relógio que marca as horas:

A partir de hoje cessa o curso das estrelas.

Do sol, do canto, do galo e do evoluir da sombra...

E tudo aquilo que a hora anunciou

Agora está tudo mudo, surdo e cego:

Toda a natureza silencia para mim

Diante do tique-taque do relógio e da lei. "

Friedrich Nietzsche

Mas...nossa herança "cartesiana" onde fragmenta-se esse "Todo" de vida e


acontecimentos humanos, impedia que a "Ciência" progredisse como "Ciência",
na eterna dúvida e pergunta: "o que é a Vida?"...e na incapacidade gritante de
responder::procurar...procurar...e procurar mais...infinitamente...progredir
infinitamente junto com a Terra, com todas suas criações, com toda a nossa
raça, em um eterno perguntar...em um eterno responder...

Longe dos dogmas científicos mecanicos do cartesianismo que foi praticado por
Isaac Newton e aprofundado pelo capitalismo e sua "Ciência" voltada para o
consumo, o imediato, à Guerra...
William Blake - Issac Newton

Blake detestava Newton e sua visão única da natureza...dizia ..."Possa Deus


escapar das leis de Issac Newton"...
Nesse quadro Blake retrata Newton virando às costas para o "infinito" e,
portanto, para a verdadeira "Ciência"...
que olha para o todo...interpreta o todo...o relaciona.
O capitalismo apropriou-se dessa visão mecanicista e fragmentada para iludir o
ser humano em seu programa de "progresso" e "razão", roubados do
"Iluminismo", a partir do desenvolvimento da indústria e da tecnologia
(que "apaixonou" Marx) na "solução" para os problemas humanos.
Aprofundando assim, a "estrutura" mecanicista da civilização "autoritária" que
nos tornou "doentes" físicos e emocionais.
William Blake - The Ancien Of Days

A visão científica em si é abrangente da totalidade. No "Ponto de Mutação"


Fritjof Capra diz que Descartes atribuía as doenças do "corpo" à causa das
doenças da "alma" e, num "desequilíbrio" entre os dois, uma visão "holística"
que deixaria muitos "cartesianos" assustados... com essa visão "somática" de
Descartes - a "mesma" de Wilhelm Reich...
Fritjof Capra é um conciliador desses avanços científicos que ultrapassam as
Ciências Humanas e as interdisciplina com as demais descobertas da física,
neurociência, genética, astronomia, literatura, poesia...

Fugindo da herança de Descartes e Newton ( e do sistema capitalista que os


apropriou) e criando uma Ciência que tem por base a ligação entre todas as
coisas e a importância da percepção humana para tal ligação.
( No filme de Bernt Capra "Ponto de Mutação" é dito que 80% da pesquisa
"Científica" nos EUA é financiada pelo Pentágono.)

Temos que entender o que acontece quando obstruímos a "criatividade" que


da "dinâmica" à nossa Vida e toda criação.

O sistema rígido da civilização autoritária criou uma sociedade rígida, com seres
rígidos, estranhos à própria natureza individual e coletiva. As energias sexuais
foram e são utilizadas para aprofundar esse sistema autoritário, transformando
o ser humano numa "máquina elétrica" com 'defeito'... não "relacionado com o
cosmo"... estranho ao "Cerne do seu ser" como pensava Reich.

"Trata-se, em suma, de interrogar o caso de uma


sociedade que há mais de um século se fustiga
ruidosamente pela sua hipocrisia, fala prolixamente
do seu próprio silêncio, se obstina em pormenorizar
o que não diz, denuncia os poderes que exerce e
promete libertar-se das leis que a fizeram funcionar.
Gostaria de inventariar não apenas esses discursos
mas a vontade que os impele e a intenção
estratégica que os sustenta. A questão que gostaria
de pôr não é a de saber porque é que somos
reprimidos, mas porque é que dizemos, com tanta
paixão, com tanto rancor contra o nosso passado
mais próximo, contra o nosso presente e contra nós
próprios, que somos reprimidos. Por que espiral
chegamos ao ponto de afirmar que o sexo é negado,
de mostrar ostensivamente que o escondemos, de
dizer que o calamos – e isto formulando-o em
palavras explícitas, procurando mostrá-lo na sua
realidade mais nua, afirmando-o na positividade do
seu poder e dos seus efeitos?"

Michel Foucault - A História da Sexualidade


Essa construção de nós mesmos em cima de nosso silêncio, repressão e
discursos, fizerem o ser humano aprisionado por "leis" que não compreende e,
que são enraizadas em nossa mente inconsciente e no nosso biológico.

" ... a vontade que os impele e a instrução estratégica que os sustenta "...
Foucault diz querer entender –

"A Libido Urgente" tenta também esse propósito, tão complexo, tão histórico,
biológico e físico... psíquico!

"Pois não só os indivíduos tomados isoladamente, mas também as


coletividades e as próprias civilizações estão comprometidas num
diálogo permanente com o medo"

Jean Delumeau - História do medo no ocidente

Esse "Medo" não é biológico, faz parte do processo de deturpação do processo


vital e da sexualidade doentia, autoritária,da Civilização baseada na família
patriarcal,na propriedade privada e no Estado.
Esse "medo" inatural, assim como a alienação e a chaga emocional da
civilização, transcende classes, grupos, ideologias... estão em todo lugar onde a
vida é "reprimida"...manipulada...desviada...
A "Ciência" é a cidadela contra o processo de deturpação do processo vital,
um "laço" que une as descobertas humanas em um todo filosófico sempre
passível de questionamento e evolução.

“Uma tal atitude consiste em buscar a verdade nos fatos. Por "fatos"
entendemos as coisas e os fenômenos tal qual existem objetivamente, por
"verdade" entendemos o laço interno dessas coisas e fenômenos objetivos,
quer dizer, as leis que o regem; por "buscar" entendemos estudar. Nós
devemos partir da situação real no interior e exterior do país, província, distrito
ou subdistrito, e extrair dela, como guia para a nossa ação, as leis que são
próprias nessa situação, e não leis criadas pela nossa imaginação, quer dizer,
devemos descobrir o laço interno dos acontecimentos que se desenrolam à
nossa volta. Para isso, devemos basear-nos nos fatos tal qual existem,
objetivamente, e não na nossa imaginação subjetiva, no entusiasmo de um
momento ou nos conhecimentos livrescos;há que recolher minuciosamente os
materiais e extrair conclusões justas desse material. "

Mao Tsé - Tung 1941

O processo do conhecimento dissipa a alienação e o medo, fazendo o ser


humano tomar atitudes físicas e mentais que o colocam no caminho do auto
conhecimento e sua conseqüente auto libertação e auto cura, em conjunção
com seus semelhantes e com o seu planeta, natureza... Anunciando um futuro
consciente,pela busca do passado e a compreensão do presente...

Ter sempre em mente a limitação da nossa Ciência e a Eterna busca por


"respostas " mais elevadas, sem perder de vista a Percepção da Vida...uma
"Percepção do infinito"... que vê as coisas como elas realmente
estão: "conectadas"...em uma rede "Criativa" de vida em eterno movimento....
O cientista não pode perder essa dimensão,pois a repressão em nosso cérebro,
feita pelo reino dos mortos, deve cessar e a Vida finalmente reinar...por que...

" Tudo o que vive é sagrado... "

William Blake
" Quando as portas da percepção estiverem abertas....
o homem verá as coisas como realmente são...
Infinitas... "

William Blake
A Libido Urgente

Pois o Querubim, com sua espada flamejante, será tentado a deixar


Seu posto na árvore da vida...
E quando ele o fizer...
Toda criação será consumida...
E se mostrará Infinita e Sagrada...
Como se mostra agora finita e corrupta...

Isso acontecerá por um aperfeiçoamento do gozo sensual...

William Blake

por Carlos Eduardo da Silva

O desenvolvimento da propriedade privada e da família patriarcal (autoritária) se deu


logicamente, nos seios das tribos indígenas que desenvolveram a arte da agricultura e
também da criação de animais, o que proporcionava um armanezamento maior de vários
alimentos, como: carne, leite, frutos..., além dos derivados como couro, sementes...
Isso proporcionava uma produção material (econômica) maior, o que despertou o
interesse dos chefes religiosos e guerreiros de algumas tribos, que, para terem o direito de
herança, tiveram que instaurar a propriedade privada e a família patriarcal, para que a
linhagem matriarcal, de origem sócio econômica coletiva, acabasse e, para que também
acabasse a liberdade de escolha sexual coletiva, isto é, livre, sem interesses econômicos,
tanto do homem como da mulher; ou seja, para transferir uma herança era preciso uma
legitimidade sanguínea do pai , o que um sistema de liberdade sexual e matriarcal, não
permitia.

Uma mudança “estrutural” iniciara-se na raça humana, em busca do Poder, Controle,


Privilégios, Riqueza, Herança...essa mudança, transformaria para sempre a raça humana e
sua organização social.
Esse era um período em que o “Conhecimento” (episteme) ainda era mais escasso que o
do mundo medieval e, tão místico quanto o mesmo...
Os primeiros “chefes”, “reis”...eram Sacerdotes ou Guerreiros (às vezes os dois...) e,
utilizaram-se da escassez desse conhecimento humana sobre si e a natureza, para
escravizar seus semelhantes e assentar em bases de submissão e medo, os privilégios e
Poder que tanto almejaram.

“ Assim um sistema se formou, do qual alguns tiraram vantagens & escravizaram o povo
tentando compreender ou abstrair as divindades mentais de seus objetos: assim começou
o Sacerdócio;
Escolhendo formas de adoração em textos poéticos.
E finalmente proclamaram que os Deuses ordenaram tais coisas... ” (William Blake)

Quem ousaria “desobedecer” os “Deuses” nesse período histórico? – Você, eu? Acho que
não! O “medo”( tão presente em nossa sociedade atual devido seu caos social, e
encorajado por Governos e pela mídia), foi o meio de Controle utilizado por esses
sacerdotes e Guerreiros tribais; o “Medo” que vivemos em nossa sociedade de hoje, não
está desconecto em nenhum momento dessa “estrutura” patriarcal criada para assegurar
privilégios e herança (i.e. “propriedade”).
Acabamos de presenciar uma guerra de quase dez anos entre os EUA e o Iraque, em que
o país que é considerado o mais livre e avançado do globo terrestre, incutiu o “medo” em
sua população pós “ataque” de 2001 na “torres gêmeas” disseminando a Mentira de
“armas químicas” no Iraque e um suposto ataque do mesmo contra os EUA – tudo com o
“pano de fundo” do Petróleo. Vejam “Fahrenheit” (Confidencial) de Michael Moore,
cineasta norte americano, ele mesmo analisa os fatos pós 2001 e a suposta culpa e
perseguição de Bin Laden e as supostas “armas químicas” do Iraque e a conseqüente
Guerra pelo Petróleo. Em “Tiros em Columbine” Moore também analisa essa “cultura”
norte americano, baseada no medo (seja o medo do fracasso, o medo da guerra, o medo
da solidão) e no vazio...

Erich Fromm em “O Medo à Liberdade” diz que:

“ A análise do aspecto humano da liberdade e das forças autoritárias obriga-nos a


encarar um problema geral, qual seja o do papel que os fatores psicológicos
desempenham como forças ativas no processo social – e isto, eventualmente, leva ao
problema de interação dos fatores psicológicos, econômicos e ideológicos no processo
social.”

A “estrutura” humano social desviada pela propriedade, herança e patriarcalismo,


converteu-se em uma estrutura de uma civilização” autoritária, que não se limitou aos
fatores psíquicos humanos, mas a todos os aspectos da “realidade” histórica cultural.
Esse processo “estrutural” de violência contra a humanidade acabou por prevalecer e
dominar o Globo, através das guerras, conquistas, escravos, nações, Impérios, neuroses...
Porem, essa não é a “marca” da raça humana, não é sua “natureza” definitiva, tão pouco
sua “característica” é a submissão e o autoritarismo.

Nem toda tribo que conheceu a agricultura e o “ excedente ” econômico, passou por esse
processo “ civilizador ” da propriedade, patriarcalismo e herança. Ernest Mandel estudou
as descobertas materialistas feitas por importantes antropólogos e constatou um
sentimento de igualdade e solidariedade entre várias tribos indígenas que conheceram a
agricultura:

“ ... vários antropólogos falam-nos dum hábito que se encontra entre numerosos
povos primitivos, hábito que consiste em organizar festas da abundância, após as
colheitas.
A antropóloga Margaret Mead descreveu-nos estas festas entre o povo papua dos
Arapech ( Nova Guiné ). Todos os que tenham feito uma colheita acima da média,
convidam toda a sua família e todos os seus vizinhos, e as festividades prosseguem até
que a maior parte desse excedente tenha desaparecido. Margaret Mead acrescenta:
“ estas festas representam uma medida adequada para impedir que um indivíduo
acumule riquezas... ”
O antropólogo Asch estudou os costumes e o sistema duma tribo existente no sul dos
Estados Unidos, a tribo dos Hopi. Nesta tribo, contrariamente à nossa sociedade, o
princípio da competição individual é considerável condenável do ponto de vista moral.
Quando as crianças Hopi jogam ou praticam desportos, não contam nunca os pontos e
ignoram o “vencedor”.
Quando as comunidades primitivas, que não se encontravam ainda dividida
em classes, praticam a agricultura como atividade economica principal e ocupam um
determinado terreno, não organizam a exploração coletiva do solo. Cada família recebe
uma área em usufruto por um certo período. Mas esses campos são redistribuídos
frequentemente, para evitar favorecer este ou aquele membro da comunidade em
detrimento dos outros. Os prados e os bosques são explorados em comum. Este sistema
de comunidade rural , baseado na ausência de propriedade do solo, foi encontrado na
origem da agricultura entre quase todos os povos do mundo, e demonstra que, nessa
época, a sociedade não estava ainda dividida em classes ao nível da aldeia . ”

Isso nos demonstra que, apesar da civilização ( propriedade, domínio, herança , reinos,
Estado, patriarcalismo, autoridade.....) ter se espalhado para o mundo até os dias de hoje,
isso não quer dizer que ela represente a verdadeira natureza humana ; a civilização e
seus criadores apenas subjugaram as pessoas e o trabalho e impuseram ao mundo um
mundo alienado e sem forma, onde as pessoas executam um trabalho cego feitos por um
domínio cego e, acabam se cegando.
As classes sociais, a desigualdade a exploração, etc, nem sempre existiram e por isso nem
sempre existirão. O egoísmo e a maldade não são inatos aos seres humanos ou apenas aos
homens (que iniciaram a busca pelo poder), são construídos socialmente, como defendia
também Wilhelm Reich e em certa medida Sigmund Freud.
Ernest Mandel ainda coloca um importante fato:

“ Tendo examinado as instituições sociais de 425 tribos primitivas, os


antropólogos ingleses Hobhouse, Wheeler e Ginsberg encontraram uma ausência total
de classes sociais entre todas as tribos que ignoram a agricultura. ”

Vemos que a oportunidade de acumular aguça o desejo de poder, que paulatinamente os


chefes sacerdotes e guerreiros impõem as suas tribos, que paulatinamente se tornam
nações e impérios.
O ser humano não é uma “ tábua rasa ”, como pensavam os filósofos materialistas, como
Jhon Locke e Berkeley, onde qualquer experiência social ficava marcada na alma do
indivíduo, fazendo com que ele seja bom ou mau, inteligente ou ignorante. Mas o humano
é marcado emocionalmente pelo meio e, dependendo de como ele absorve as experiências
do mundo real e sua consequente violência contra as necessidades naturais do homem
( como o prazer e o trabalho , o descanso e a comida, a arte e o carinho ), os seus
pensamentos e desejos serão moldados e condicionados pelas leis exteriores e não as leis
íntimas que cada um conhece para sua felicidade e satisfação. A civilização e seu processo
de construção, como estamos vendo, é que vai moldando as novas relações de poder
econômicas e familiares para melhor se encaixarem no seu modelo autoritário, alienado e
explorador ( e, conseqüentemente, doente ). Os seres humanos se tornam vítimas de suas
próprias criações sociais, nascidas do desejo de poder de uns e a alienação de muitos, que
mediante a discursos, tanto religiosos ( medo ) como militares ( dominação ), aceitaram a
nova ordem “ civilizada ” que nascia.

A sociedade chamada “civilizada” tão pouco conhece à urgência do conhecimento de


nossa sexualidade. Vivemos durantes dezenas de milhares de anos sem uma lei rígida
que reprimisse os instintos sexuais naturais.Alguns diriam que éramos “selvagens” ou
“primitivos”...mas tão bem também sabemos como os indígenas, que desconheciam a
acumulação individual e o poder autoritário, eram “evoluídos” espiritualmente e de
como se relacionavam com o seu meio natural: o Sol...a Lua...os Rios...os Raios...os
Eclipses...as Chuvas...os Animais...e consigo Próprios!
No cinema também temos o belo filme de Kevin Costner baseado no livro de Michael
Blake, “Dança com Lobos”, onde um oficial do Exército dos EUA (Guerra de Secessão)
vive com a tribo Sioux. Essa tribo é demonstrada com uma grande união entre seus
membros assim como democrática e anciã; ali o Tenente Jhon Dundar (Kevin Costner)
aprende um outro sentido para a sua vida, rumo ao caminho de “um verdadeiro ser
humano”. Bernt Capra (irmão de Fritjof Capra) assinala bem no seu “Ponto de
Mutação” quando critica à nossa sociedade por “não possuir a sabedoria dos índios
americanos... que tomavam todas as suas decisões pensando na sétima geração”. O que
para a nossa sociedade egoísta e consumista é realmente um sonho ( se pensarmos na
energia nuclear e nas bombas(ataques) atômicas, assim como na poluição ambiental e
mental causada pelo ser humano capitalista, veremos como diminuímos nossas chances
de sobrevivência à cada ano).

Enfim...a sociedade humana nem sempre reconheceu a autoridade cega, não antes da
civilização, marcada pela propriedade privada, a escravidão e o poder autoritário na
família e na religião.
Nosso “arquétipo mental”, podemos dizer, era moldado de acordo com as leis naturais,
não reconhecendo a autoridade sexual em nenhum momento anterior ao acúmulo
material e o desejo de poder do chefe religioso ou militar sobre os demais membros do
clã.

Quando Freud começou a estudar a “histeria” feminina e foi contatando sua natureza
“inconsciente”, ele estava caminhando para uma descoberta maior e, consequentemente,
um problema maior. A (ou O ) “Libido”, o “Inconsciente”, a “Civilização”...
O ser humano havia se reprimido de tal forma para conviver nas regras da “sociedade” e
da “civilização”, que havia se transformado num ser “doente”, cheio de “neuroses” e
“repressões”, que se expressavam melancolicamente e distorcidamente. Ele chamou isso
de “Mal Estar da Civilização” e dizia claramente que se uma sociedade não satisfaz a
naturalidade de seus indivíduos, cabia então aos mesmos construírem outra. Freud não
era “socialista”( apesar que nas conversas pessoais com Wilhelm Reich, dizia querer
que a “experiência” russa( se referia a Revolução “Comunista” de 1917) fosse levada à
cabo), mas compreendia como essa forma autoritária de civilização e sua base
econômica social, comprometiam a Energia e Moral Sexual, reprimindo-a por causas de
interesses de poder materiais, por isso via a realização da naturalidade dos indivíduos
impossível de se concretizar numa sociedade autoritária, que não dá valor para as
emergências sexuais dos seres humanos. E é bom lembrar que “sexualidade” e “libido”
para Freud , não era apenas o ato sexual que nos reproduz em si, mas tudo concernente
á nossa satisfação, alegria e felicidade; uma energia biológica vital para nossa saúde
mental e corporal.
Mas na verdade foi Wilhelm Reich, discípulo dissidente de Freud, quem aprofundou a
psique humana; utilizando-se das descobertas de Freud, iniciou suas próprias pesquisas
sobre o organismo humano, à sociedade, o cosmo e o inconsciente. Reich foi perseguido
pelos comunistas, pelos nazistas e pelos liberais. Mas ele mesmo dizia:

“ A economia sexual nada tem a ver com qualquer das organizações políticas ou
ideologias existentes. Os conceitos políticos que separam as várias camadas e classes
sociais não se aplicam à economia sexual. A distorção social da sexualidade natural e
a sua supressão nas crianças e nos adolescentes são condições humanas universais,
transcendendo todas as fronteiras de Estado ou grupo”.

W. Reich descobriu uma nova energia, que ele chamou de “Orgônio”, que seria a
bioenergia responsável pelo funcionamento da vida em todos os seres vivos. A “libido”
de Freud havia sido descoberta realmente. O “Orgasmo” sexual não era simplesmente
algo “natural”, mas “vital”; era ele o responsável pela propagação da energia orgônica
em nosso corpo (entenda-se corpo e mente). Porém, se o inconsciente do indivíduo
estivesse bloqueado por repressões morais e sexuais de um meio autoritário, essa
bioenergia não circularia naturalmente, o que causaria o adoecimento do indivíduo,
tanto corporal como mental.
Para Reich também a civilização e seu modelo autoritário negava a vida e era totalmente
avesso a ela. Em suas palavras...

“ O homem alienou-se a si mesmo da vida e cresceu hostil à ela. Essa alienação


não é de origem biológica, mas socioeconômica. Não se encontra nos estágios da
história humana anteriores ao desenvolvimento do patriarcado”.

A Civilização moldou seres doentes, estranhos aos seus próprios desejos e necessidades.
Foi uma mudança radical da naturalidade para a autoridade, quando a sociedade
humana começou a extinguir a comunidade dos bens e do poder social, acabando com a
linhagem matriarcal e a solidariedade do clã. Vemos como Reich traduziu tal mudança
psíquica do ser humano, mudança que resultou numa cisão dentro de nosso próprio
“eu”, arruinando o equilíbrio natural que temos desde a infância (que Jean Piaget
também percebeu e assinalou) quando não somos reprimidos pelos interesses de Poder
existentes:

“Na sociedade primitiva, que tem uma estrutura coletiva e “ comunista original ”, a
unidade do clã é a soma de parentes consangüíneos originários da mesma trisavô. Dentro
desse clã, que ao mesmo tempo representa a unidade econômica, somente existem os laços
frouxos do acasalamento. Na medida em que, por reviravoltas econômicas, os clãs ficam
sujeitos à família potencialmente patriarcal do chefe, também começa a destruição do clã.
Família e clã entram em antagonismo. A família então progressivamente se torna a
unidade econômica em lugar do clã, surgindo assim a origem social do patriarcado. O
chefe da organização matriarcal do clã que originalmente não se encontrava em
antagonismo com a sociedade do clã, torna-se paulatinamente o patriarca da família,
adquirindo assim preponderância econômica e progressivamente torna-se o patriarca de
toda a tribo. Origina-se, provavelmente, pele primeira vez, uma diferença de classe entre
a família do chefe e os clãs inferiores da tribo.
As primeiras classes foram ,pois, a família do chefe, de um lado, os gentios, do
outro lado. ”

Quando, principalmente os religiosos, dizem que a “família” é a “célula” social, eles estão
certíssimos, porem, duvido que digam isso em vista do grande caos humano social que a
mesma causou em sua fase “patriarcal”.

“ Reviravoltas econômicas ”...diz Reich. Assim como Ernest Mandel demonstrou a


importância da agricultura e do “excedente” para a condição economica da criação das
classes sociais e, que as tribos que desconheceram a agricultura não possuíam classes
sociais, Reich também concorda em suas análises que a “ preponderância economica ” do
chefe da organização matriarcal é o fator responsável pela primeira diferenciação de
classe no seio da tribo e, da construção da ordem patriarcal, fator decisivo para uma o
início de uma ordem “ civilizada ”, que respeite o poder hierárquico, a propriedade e a
herança( que dá “ sentido ” a acumulação de poder e de produtos ).Pensadores e
antropólogos como Pierre Joseph Proudhon, Friedrich Engels, Lewis Morgan, Bachofen,
também concordam com esse tipo de “transição” do matriarcal para o patriarcal.

Prosseguindo com Wilhelm Reich...

“ No desenvolvimento do matriarcado para o patriarcado, que assim se inicia, a


família adquire, ao lado de sua função economica, a função mais importante de mudar
a estrutura do homem, transformando-o de membro livre do clã em membro oprimido
da família...Diferenciando-se do clã, a família torna-se não somente a organização
original de relação de classe, mas também da opressão social dentro e fora de seus
limites. O “homem de família”, que agora surge, começa a reproduzir a incipiente
organização de classe da sociedade pela modificação de sua estrutura. O mecanismo
medular dessa reprodução é a mudança da afirmação sexual em repressão sexual; sua
base é o domínio econômico do chefe.”

Reich refina Freud e aprofunda sua ciência psicanalítica ao retomar o caminho de


formação de repressão do indivíduo na construção do processo civilizatório que destruiu
o clã para o estabelecimento da família patriarcal e o interesse de poder do “chefe”.
A estrutura humana é mudada artificialmente por desejos pessoais de domínio e ganho.
Reich continua e faz um paralelo sobre a mudança dessa “Estrurura Humana”...até então
regulada por suas leis naturais ( e não animais).
As relações econômicas são importantes nesse processo de repressão humana;
até aqui o Materialismo Histórico de Marx parece ter toda a razão, e a economia e seus
derivados de classe social e poder, parecem moldar mecanicamente a mente humana para
um novo tipo de pensamento e simbologia, ou seja, parece que as relações econômicas são
as mais importantes para a formação de uma determinada sociedade. Porém, como Reich é
psicanalista e não um materialista somente, ele enxerga o lado psíquico que todo esse
processo autoritário e alienado causa à humanidade, como diz acima: “ a família...ao lado
de sua função econômica ( adquire ), a função mais importante de mudar a estrutura do
homem ”. Vemos que não existe uma preponderância do “materialismo” (como pensava
Marx) sobre as Idéias e, nem uma preponderância das “Idéias” sobre o materialismo
(como pensava Weber) – mas uma relação “dialética” entre ambos. Reich resume essa
relação e mudança estrutural humano social:

“ Vamos resumir a natureza dessa mudança psíquica rapidamente.


Em lugar de relação livre voluntária, suportada apenas por interesses comuns de vida,
do clã e dos companheiros, surge um conflito entre os interesses econômicos e sexuais.
Em lugar da prestação voluntária de serviços, surgem a exigência dos mesmos e a
rebelião contra eles; em lugar da socialidade sexual natural, surge a exigência moral;
em lugar da combatividade entre camaradas, o poder autoritário; em lugar da união
amorosa feliz e voluntária, a “obrigação psíquica”; em lugar da solidariedade do clã,
a ligação familiar juntamente com a rebelião contra a mesma; em lugar da vida sexual-
economicamente ordenada, a limitação genital, e com ela, pela primeira vez, as
doenças psíquicas e as perversões sexuais. O organismo naturalmente forte,
autoconfiante e biológico se torna indefeso, dependente e temente a Deus; a
experiência orgástica natural dá lugar à êxtase mística, à “experiência religiosa”
posterior e nostalgia vegetativa inextinguível; o ego enfraquecido de cada indivíduo
procura fortalecimento no apoio e na identificação com a tribo, que paulatinamente se
vai tornando “nação”, com o chefe da tribo, que paulatinamente se torna patriarca da
tribo e finalmente rei.
O nascimento da estrutura dos súditos está completo; o enraizamento da subjugação
humana está assegurado”.

Quando vemos nosso corpo biológico fraco e doente, nossa mente alienada vazia...
Quando vemos milhões serem mortos em guerras forjadas por poucos interessados e,
enquanto milhões morrem de fome ou quando outros milhões se entregam as mais
baixas formas de sexualidade ou quando vemos uma massa inteira levantar seus
próprios ditadores e lhes gritar “heil”... compreendemos quão o mal que esse mundo
civilizado nos causou...como ficamos estranhos à nossa natureza e liberdade...ao nosso
“eu” e ao nosso “próximo”...ou seja...como ficamos doentes...
Agora que Wilhelm Reich devesse morrer numa penitenciaria federal, num país
chamado “democrático” como os EUA, depois de fugir do terror nazista...faz parte
também dessa doença e de como o mundo doente fez de tudo para livrar-se de certas
verdades inconvenientes...

Então as relações econômicas são importantes, mas não são as principais; elas se
interagiram e se interagem até hoje com as relações psíquicas e simbólicas do ser humano,
com e no seu meio. Por isso não basta apenas a ciência do materialismo para explicar a
alienação humana e propor sua libertação. É preciso compreender o mundo interno do
humano e, de como, ele se relaciona e se relacionou com o mundo externo que tira sua
liberdade e naturalidade por causa de interesses de poder e materiais. Os SÍMBOLOS
possuem um poder imenso, pois é próprio da mente da mente humana construir
arquiteturas simbólicas para explicar ou compreender, de uma maneira acessível à mente, a
complexidade da realidade à sua volta.
Um símbolo pode tanto trazer liberdade como a escravidão; se for usado por pessoas
doentes, como as criadas pela civilização autoritária, os símbolos aprofundarão essa
escravidão e dependência de liderança; se forem usados como libertação, podem conduzir
um povo para seu caminho natural de (re) encontro à Vida.
De acordo com essa última análise de Reich, a simbologia da civilização, como ele
genialmente comparou com a antiga estrutura livre do “clã”, é de aprisionar o ser humano
e escravizá-lo a partir do trabalho, da sexualidade e do medo. Essa formação simbólica da
autoridade e do controle ( coerção ) se arrastou durante milhares de anos para todas as
partes do globo que desenvolveram ou conheceram a “ civilização ”. Agora, essa
simbologia está mais que enraizada, por isso Reich termina a sua análise dizendo...

“ O nascimento da estrutura dos súditos está completo; o enraizamento da


subjugação humana está assegurado. ”

As análises materialistas econômicas de Marx e da maioria dos marxistas, não considera


esses milênios de simbologia e interiorização da civilização autoritária e todas as seqüelas
que ela deixou na humanidade no plano espiritual, mental e sexual (ou seja, político e
cultural). Por isso acreditam no progresso da ciência e na educação, controlados por um
Estado forte dirigido pelos “comunistas”, que Marx acredita serem os mais capazes de
levar a cabo a construção de uma ordem socialista.(Ver: “Manifesto Comunista”). Os
marxistas querem o ESTADO, os anarquistas querem DESTRUÍ-LO!...
...Pois é preciso mudar a mente e o coração dos homens ( como dizia Kropotkin ) para
fazermos uma revolução verdadeira, que devolva ao humano sua liberdade natural e
política,onde o ser humano organize seu espaço social e a coletividade a partir da
necessidade de todos e a participação de todos, sem autoritarismos de qualquer parte, sem
Estado, mas organizados de baixo para cima, fazendo das instituições políticas um mero
instrumento da vontade (democracia) da maioria.

Claro é que ninguém quer voltar a viver na selva, mas isso não quer dizer que a
organização dos indígenas não era mais avançada que a nossa do ponto de vista natural
(biológico) e político, assim como somos mais avançados na tecnologia e, que, os
indígenas, não tenham nada para nos passar como conhecimento, principalmente
conhecimento natural, como a relação com o nosso semelhante e a relação humano
natureza, como a de algumas tribos norte americanas que extraíam suas sobrevivências à
modo de garantir que a sétima geração pudesse desfrutar das mesmas coisas que elas, algo
que nesse tempo de “ Midas ” ambiental e fome mundial,parece ser um sonho, ou, como
diria os conservadores mal informados: uma “ utopia ”.

É passada a hora em que, a ciência humana, em todas suas especialidades, sirva o ser
humano e não o contrário, como acontece a milhares de anos e, principalmente, nessa era
moderna e capitalista. Criar uma ordem que favoreça a humanidade é criar uma ordem
humana, onde as pessoas diferentes tenham as oportunidades iguais para desenvolverem
seus dons e aptidões,que é a proposta pedagógica que toda educação e educador libertário
propõe.

O Sistema Capitalista e nossa era Moderna demonstram bem como exteriorizamos


nossas vidas, desejos e vontades a um mundo de plástico. E tão importante é a estrutura
patriarcal da família para o estabelecimento da propriedade privada, que Marx, que não
leu nem Freud nem Reich, disse em seu Manifesto Comunista:

“ Que a abolição da economia separada não pode ser separada da abolição da


família, compreende-se por si mesmo”
E quando o acusam de querer destruir a família, ele responde:

“ A família, mas vocês já a destruíram; onde estão suas antigas virtudes? Fora de
toda virtude, só vejo matéria; e a matéria, eu a organizo técnica e coercitivamente ”.

O surrealista Antonin Artaud disse que...

“ Pode-se dizer que, dos antigos valores do Homem, Marx organizou aquilo que a
Burguesia deixou. ”

Reich dizia que “ a formação das massas no sentido de serem cegamente obedientes à
autoridade se deve não ao amor parental mas à autoridade da família. A supressão da
sexualidade nas crianças pequenas e nos adolescentes, é a principal maneira de
conseguir essa obediência”.

Por esse mesmo motivo Friedrich Engels defendia que a principal mudança na estrutura
da família seria “ a submissão da mulher ao marido e dos filhos aos pais ”.
A “ estrutura humana ” foi mudada, como disse Reich. Não quer dizer que os indígenas
que viveram antes da civilização ou que nela não ingressaram (por vontade própria ou por
não conhecer a agricultura e o “ excedente ”), eram sem “defeitos”, como: ciúme, inveja,
autoritarismo, maldade, misticismo, etc. Mas sua estrutura social não estava de desacordo
com suas necessidades biológicas e sociais, como já foi dito. Porém a civilização
autoritária, com sua família patriarcal, suas classes sociais, a exploração, o poder... deturpa
toda um processo natural de socialização, e no meio desse processo está o ser humano real,
com necessidades vitais reais e criativas, que “ de repente ”, são escravizadas por relações
de poder materiais e espirituais, imaginadas nas mentes dos primeiros homens doentes:
Os Patriarcas. Richard Dawkins tem a teoria do “ Gene Egoísta , onde nossa herança
“animal” domina várias relações inconscientes de nosso ser e, constatou-se na biologia que
o código genético humano tem rastros do DNA dos Neardhentais, que seria uma etapa
ultrapassada pela evolução do homo sapiens-sapiens, sendo aqueles menos inteligentes e
mais brutos, ou seja, não se sabe exatamente o porque desses primeiros vestígios de
alienação autoritária que deu origem a civilização e, nem porque, as demais pessoas não se
rebelaram( a ponto de impedir) contra tais indivíduos. Uma hipótese é bem aceita pela
lógica dialética...a ignorância, não no sentido “ acadêmico ” mas natural da vida.
Esses patriarcas apelaram para a retórica e o medo...medo do desconhecido...medo da
morte...medo dos “ deuses ”... E fizeram passar suas vontade como vontade divina...como
assinalou poeticamente William Blake.

A Pedagogia assim como a Neurociência já confirmam que nossa infância é essencial


para a formação de nossa mente e inconsciente, assim como as relações elétricas entre
as sinapses dos neurônios...isto é, estímulos agradáveis e desagradáveis vão ganhando
vida na formação de nosso caráter e personalidade, à medida que vamos “sentindo” o
mundo que nos rodeia. Um mundo alheio à nossa naturalidade e reais necessidades,
que vai colocando arbitrariamente em nós a essência de (como diria Aldous Huxley)
“um desamor organizado”, praticado coletivamente pela sociedade doente. Essa
interiorização biológica do mundo exterior, que destrói a individualidade humana, fica
retida no “inconsciente” dos seres humanos, fazendo com que, afirma Reich, sejamos
controlados por instintos insatisfeitos:
“ O impacto da psicanálise foi enorme e de grandes conseqüências. Foi um soco na
face do pensamento convencional. Você pensa que determina livremente as suas próprias
ações?
Longe disso: a sua ação consciente é apenas uma gota na superfície de um amar de
processos inconscientes, do qual você nada pode saber – e sobre o qual, na verdade, tem
medo de saber algo. Você se sente orgulhoso da “ individualidade da sua personalidade ”
e da “ abertura da sua mente ” ? Qual o que? Na verdade, você é apenas o brinquedo dos
seus instintos, que fazem com você o que bem entendem. Isso, não há dúvida, ofende
intensamente sua vaidade!”

As transformações econômicas são acompanhadas na estrutura da família e da sexualidade,


interferindo diretamente na vida íntima e social das pessoas. O termo “ sexualidade ”
para Freud era relativo à tudo que representa alegria, prazer, satisfação para o ser humano.
Freud era médico. E por causa da descoberta feita por ele do “ inconsciente ”, da “
repressão” e da “ sexualidade infantil ”, ele chegou ao conceito de “ libido ”, ligada
naturalmente ao conceito de “ sexualidade ”. E todo esse processo da civilização
autoritária é um processo que reprime a libido humana, que é algo natural, humano,
regulado interiormente e não por leis compulsivas e artificias, que servem para a
dominação social e individual. Por causa dessas constatações Freud parte para a
psicanálise, da qual é considerado “ pai ”.
Wilhelm Reich, que foi seu discípulo, aprofundou as descobertas de Freud, junto com suas
descobertas biológicas em relação à libido ( ou energia psíquica ) e seus estudos
sociológicos e históricos. Reich pensava que o corpo humano era uma soma de corpo e
mente ( dizia que o corpo humano era “uma máquina elétrica, relacionada de alguma
maneira com a energia do cosmos”),um relacionado à outro, e a repressão de um era a
repressão do outro. Assim ao aprofundar a teoria de Freud (psicanálise) e relacioná-las
com fatores biológicos e socioeconômicos, Reich descobre que o processo de civilização,
ao mudar a “estrutura do homem”, molda a estrutura do ser humano em toda a extensão
da história civilizada compreendendo o que Freud chamou de “ Mal Estar da Civilização ”.
A repressão da sexualidade (alegria, liberdade), que serviu para fins econômicos e de
poder, é um dos mecanismos principais de controle de uma forma de sociedade autoritária,
que usa de uma família patriarcal e, de falsos discursos e ignorância, para manter
privilégios econômicos para uma pequena parcela de toda uma população.

O ser humano se torna cada vez mais dominado pelas condições que não criou e que não
sabe explicar nem controlar. Reich defende que...:

“ As enfermidades psíquicas são a conseqüência do caos sexual da sociedade.


Durante milhares de anos, esse caos tem tido a função de sujeitar psiquicamente o
homem às condições dominantes de existência e de interiorizar a dinâmica externa da
vida. Tem ajudado a efetuar a ancoragem psíquica de uma civilização mecanizada e
autoritária, tornando o homem incapaz de agir independentemente”.

Os Fascismos (inclusive os “vermelhos”) varreram nosso século XX, mostrou-se ser um


fenômeno não econômico ou político, mas acima de tudo “psíquico”(mas com a
interação dos mesmos que Erich Fromm e W. Reich defendem), resultante do caos
sexual da sociedade, que deixou o ser humano refém de sua própria impotência e medo
diante de uma vida que lhe negou a liberdade mais essencial, a liberdade de escolha.
Reich possui um livro riquíssimo nessa abordagem chamado “ Psicologia de Massas
do Fascismo ”. A negação da energia orgonica e sua distorção social nas pessoas,
cria pessoas temerosas com o próprio processo vital, cuja repressão se torna
autocensura, melancolia, alienação, neurose, perversão, câncer, guerra, pobreza, tristeza,
etc... A emergência da “Libido” pode ser também caracterizada como a emergência do
“Orgonio”...que só é liberado naturalmente em indivíduos que não sofreram essa
agressão somática(corpo-mente) em sua psique, assim como nossos antepassados
chamados de “primitivos”, que não conheciam a guerra em massa, a escravidão(trabalho
explorado) ou a propriedade (hierarquia-poder) privada da “riqueza”.

Reich argumentava que ...

“ Natureza e cultura, instinto e moralidade, sexualidade e realização tornam-se


incompatíveis, como resultado da cisão na estrutura humana. A unidade e congruência
de cultura e natureza, trabalho e amor, moralidade e sexualidade – desejada desde
tempos imemoriais – continuará a ser um sonho enquanto o homem continuar a
condenar a exigência biológica da satisfação sexual natural(orgástica). A democracia
verdadeira e a liberdade baseadas na consciência e responsabilidade estão também
condenadas a permanecer uma ilusão, até que essa exigência seja satisfeita. Uma
sujeição sem remédio às condições sociais caóticas continuará a caracterizar a
existência humana. Prevalecerá a destruição da vida pela educação coerciva e pela
guerra ”.

Lembremos que Reich conheceu Freud, viveu os tempos das revoluções socialistas e a
esperança na Rússia “soviética”, além da Segunda Guerra Mundial e a ascensão do
fascismo numa escala mundial...isto é, sua época era ainda mais rica que a nossa em
acontecimentos dignos de análise e atenção. E esse “caos” ainda não continua?
Desde a Segunda Guerra e o nazismo, foram mortos em guerras, de acordo com a Cruz
Vermelha cerca de 25.000.000 milhões de pessoas e, de acordo com a ONU e suas
ramificações cerca de 100.000.000 milhões de pessoas morreram de fome só nos anos
90 e, ainda, continuamos com a média da morte de uma pessoa por segundo por causa
de fome e condições miseráveis de existência e, também às condições caóticas (nas
quais estamos entrando pelo apetite do capitalismo em produzir e da sociedade em
consumir) ambientais, onde desmatam a floresta Amazônica pela marca de um campo
de futebol por minuto...e quando vemos as atrocidades dos governos e personalidades
publicadas, como o caso do famoso WikiLeaks, vemos o sistema e seus agentes
perseguirem as verdades e suas vozes, assim como fizeram com Wilhelm Reich, Freud,
Marx, Bakunin, Gandhi, Che Guevara, Lamarca, Antonin Artaud, etc...
No Brasil vemos as “crises” no Rio de Janeiro onde a polícia, inclusive do famoso
BOPE, é aclamada por muitos como heróis, tantos pelos pobres favelados, como a
classe média e muitos “intelectuais”. Os assassinos ainda continuam sendo aclamados
como heróis... como foram Hitler, Mussolini, Franco, Fidel, Castelo Branco, Moreira
César, o Capitão Nascimento, Busch(s), Obama, Lula, etc...
O caos continua e ainda pior...O ser humano está cada vez mais indiferente a miséria, à
guerra, ao assassinato, a injustiça e, principalmente a sua própria vontade e necessidade,
isto é, à sua escolha e natureza. Reich argumentava que:

“ A estrutura do homem moderno, que reflete uma cultura patriarcal e autoritária de


seis mil anos, é tipificada por um encouraçamento do caráter contra sua própria
natureza interior e contra a miséria social que o rodeia. ”
Então o que somos, o que sentimos e pensamos, está em consonância com nossa vida
prática, a vida que é ensinada todos os dias. Descartes disse... “Penso, logo existo”, mas
Antonio Damásio, neurocientista, o corrigiu: “ Existo (sinto) logo penso ”.

Àquilo que é nos ensinado como certo e errado e a maneira de como nosso corpo e mente
responde a esses ensinamentos, será a fórmula de composição dos indivíduos adultos que
vivem numa determinada sociedade, ou seja, até que ponto as instituições e valores que
todos criamos(todos, independente da autoridade e da manipulação) está de acordo com as
necessidades humanas, sejam elas materiais, físicas, biológicas ou mentais, isto é,
naturais.

Por isso Reich Diz que:

“ Só um conhecimento racional do processo da vida pode dissipar o medo ”

E, como vimos,a autoridade pessoal e as classes sociais são criadas a partir do desejo de
poder e acumulação,usando o sentimento da autoridade, de medo e, do discurso e da
ignorância; isto é, a civilização em sua estrutura alienada não nasce nem estimula o
desenvolvimento humano ou o “conhecimento racional do processo da vida ”, ela
simplesmente corrompe a humanidade para seus mesquinhos interesses de dominação.
O ser humano possui uma capacidade psíquica (isto é, somática) natural e equilibrada
quando não é interferida pelos poderes autoritários e institucionais da civilização.
Jean Piaget Defendia que:

“O desenvolvimento mental, que começa quando nascemos e termina na idade adulta, é


comparável ao crescimento orgânico: como este, orienta-se, essencialmente, para o
equilíbrio da mesma maneira que um corpo está em evolução até atingir um nível
relativamente estável, - caracterizado pela conclusão do crescimento e pela maturidade
dos órgãos -, também a vida mental pode ser concebida como evoluindo na direção de
uma forma de equilíbrio final, representado pelo espírito adulto. O desenvolvimento,
portanto, é uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de menor
equilíbrio para um estado de equilíbrio superior.Assim, do ponto de vista da inteligência,
é fácil se opor à instabilidade e incoerência relativa das idéias infantis às sistematizações
de raciocínio do adulto. No campo da vida afetiva, notou-se, muitas vezes, quanto o
equilíbrio dos sentimentos aumenta com a idade. E, finalmente, também as relações
sociais obedecem à mesma lei de estabilização gradual. ”

Constatamos que não existe perfeição, mas, “ equilíbrio ”, quando acontece um


desenvolvimento psíquico natural, anterior à civilização autoritária, quando o ser humano,
apesar das poucas conquistas filosóficas e científicas ( e também tecnológicas ), cresce
sem a coerção autoritária (artificial) de seu meio. Henry David Thoreau disse: “Quando
a uma planta não é permitida viver de acordo com sua natureza, ela morre, o mesmo
acontece com o homem ”.Assim o equilíbrio se dissipa, mas, a análise de Piaget nos faz
crer que a naturalidade é superior ao autoritarismo e, pode ser restabelecida . Reich era da
mesma opinião.
Porém, como esse equilíbrio é impedido, o adulto não controla a herança infantil da sua
formação emocional, que não foi natural , mas adaptada a um meio que nega sua
naturalidade (do ponto de vista individual e social ) e, como disse o freudiano Karl
Meninger, “somos”, assim, “todos crianças”.
Piaget desenvolveu os vários estágios da formação mental de uma criança (indivíduo) no
seu contato com o mundo social:

“As estruturas variáveis serão, então, as formas de organização da atividade mental,


sob um duplo aspecto: motor ou intelectual, de uma parte e, afetivo, da outra, com suas
duas dimensões individual e social (interindividual). Distinguiremos, para maior clareza,
seis estágios ou períodos de desenvolvimento, que marcam o aparecimento dessas
estruturas sucessivamente construídas: 1) O estágio dos reflexos ou mecanismos
hereditários, assim como também das primeiras tendências instintivas (nutrições) e das
primeiras emoções. 2) O estágio dos primeiros hábitos motores e das primeiras
percepções organizadas, como também dos primeiros sentimentos diferenciados. 3) O
estágio da inteligência senso motora ou prática ( anterior á linguagem ), das relações
afetivas elementares e das e das primeiras fixações exteriores da afetividade. 4) O estágio
da inteligência intuitiva, dos sentimentos interindividuais espontâneos e das relações
sociais de submissão ao adulto ( de dois a sete anos, ou a segunda parte da “ primeira
infância ”). 5) O estágio das operações intelectuais concretas ( começo da lógica ) e dos
sentimentos morais e sociais de cooperação ( de sete a onze anos ). 6) O estágio das
operações intelectuais abstratas, da formação da personalidade e da inserção afetiva e
intelectual na sociedade dos adultos (adolescência). ”

Percebemos na fala de Piaget que, os dois primeiros estágios de formação “interindividual


”, são quase que a adaptação natural da criança ao mundo, ao modo que sua percepção vai
gerindo os fatos básicos de sua sobrevivência, mas logo no primeiro estágio surge a
interiorização das “ primeiras emoções ”, e a emoção é uma base mental da criança e do
adulto.Os estágios 3 e 4, já contam com as “ relações afetivas elementares ” ao mesmo
tempo das “ fixações exteriores de afetividade ” e da “ submissão ao adulto ”...aqui a
forma de civilização autoritária, patriarcal e antinatural marca a criança, machucando
através do poder dos pais sobre os filhos (poder artificial, criado apenas para corresponder
a uma forma econômica de privilégio) a emoção da criança, essa marca estará no
inconsciente da criança e posteriormente do adulto, reprimido e doente, incapaz, como
disse Reich, de “ agir independentemente ”; no estágio 5, os “ sentimentos morais e sociais
de cooperação ”, serão já diretamente moldados pelo materialismo dessas relações sociais
alienadas e artificiais, que acabará de embutir na criança a educação autoritária que gera o
medo e a dependência da autoridade, que nesse estágio são os pais, ou melhor, o pai. No
estágio 6, a adolescência, já está marcada na mente da criança( para não dizer “ alma ”) as
principais repreensões morais e autoritárias e o mundo “ adulto ”e, se encarregará de
manter essas marcas da infância por toda a vida. É um processo de trabalho contra a
naturalidade do amor à vida.

Wilhelm Reich também descreve essa relação da criança com o mundo e como essa
relação interioriza na criança ( e posteriormente na sua vida adulta ) o mundo alienado e
perverso.

“ Para o recém nascido o meio ambiente com inúmeros estímulos não pode ser mais
que um caos do qual as sensações do seu próprio corpo são uma parte. Em termos de
experiência não existe nenhuma distinção entre o eu e o mundo. Era minha opinião que,
inicialmente, o mecanismo psíquico distinguia os estímulos agradáveis dos desagradáveis.
Todos os agradáveis tornavam-se parte do ego em expansão; todos os desagradáveis
tornavam-se parte do não-ego. Com o correr do tempo, a situação muda. Algumas das
sensações do ego que se localizam no mundo exterior são absorvidas pelo ego. Da mesma
forma, alguns dos elementos agradáveis do ambiente ( por exemplo, o seio materno ) se
reconhecem como pertencentes ao mundo exterior. Assim, o ego da criança cristaliza-se
gradualmente a partir do caos de sensações interiores e exteriores, e começa a perceber a
fronteira entre o ego e o mundo exterior. Se, durante esse processo de separação, a
criança experimenta um choque sério, as fronteiras entre eu e o mundo permanecem
nebulosas e confusas, e a criança se torna insegura nas suas percepções. Quando isso
acontece, as impressões do mundo exterior podem ser experimentadas como algo interno
ou, ao contrário, sensações internas podem ser sentidas como pertencendo ao mundo
exterior. ”

Por isso o poeta William Blake disse há mais de 200 anos:

“a água do doce deleite (prazer) nunca pode ser poluída” ... e...

“melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos não satisfeitos”

O próprio Blake dizia que...

“ quando as portas da percepção estiverem abertas, o homem verá como as


coisas como elas realmente são, infinitas... ”

Mas como conseguirá o ser humano perceber o infinito se sua percepção é confundida por
um mundo autoritário que corrompe nossas emoções e sentimentos mais humanos e
secretos, não respeitando nem as águas límpidas da infância?

O surrealista Antonin Artaud disse...

“ A essência sensível e construída de qualquer homem me aflige, decididamente


odeio toda a realidade . ”

O nosso eu é inferiorizado enquanto o mundo exterior, corrompido, nos é interiorizado


pelos mecanismos de educação, como a família autoritária e o Estado: política e educação.
Reich mesmo diz que teve que “ admitir uma harmonia entre o eu e o mundo ” e vai mais
longe dizendo que:

“ O esquizofrênico apenas revela, de maneira grotescamente exagerada, uma


condição que caracteriza o homem moderno em geral. O homem moderno é estranho á
sua própria natureza, ao cerne biológico do seu ser, e o sente como estranho e hostil. Tem
de odiar à todo aquele que tente restaurar o seu contato com a sua essência biológica. ”.

Quando Reich diz da “ harmonia entre o eu e o mundo ” ma formação do caráter dos


indivíduos desde a infância, ele faz a menção aos pacientes mentais e sua comparação com
o cidadão médio:

“ ...os pacientes mentais experimentam essa harmonia sem distinguir o eu do mundo,


e que o cidadão médio não suspeita dessa harmonia e, apenas sente o seu querido ego
como um centro nitidamente delineado do mundo. A profundidade do paciente mental é
humanamente mais valiosa que a do cidadão médio com seus ideais nacionalistas! O
primeiro tem pelo menos a noção do que seja o cosmos. O último tem como fonte das suas
grandes idéias a sua constipação e a sua insignificante potência. ”
“ A Formação Social da Mente ”, título de um livro de outro iminente pedagogo,
Vigotisky; onde ele também demonstra a consonância entre o eu e o mundo na formação da
criança(indivíduo). A interiorização do meio autoritário, fere nossos anseios mais secretos
de amor e felicidade; o indivíduo precisa de uma sociedade que não entre em desacordo
com suas necessidades vitais humanas, uma sociedade que privilegie o coletivo ao invés
do interesse de indivíduos egoístas, que corrompem e são corrompidos pelo meio alienado.
Apenas uma sociedade coletiva pode garantir o livre desenvolvimento dos diversos
indivíduos e personalidades do seu meio. A civilização engendrou o medo, mas, a
liberdade, não precisa ser ensinada, apenas respeitada e entendida, pois ela é humana, faz
parte intrínseca do nosso ser. (“ A água do doce deleite nunca pode ser poluída ” –
William Blake)

O MEDO é um processo que gera insegurança, desamparo, o que leva à violência, à


desumanidade, à maldade. Os seres humanos não são perfeitos, temos muito que
desenvolver nosso campo espiritual(mental) e social(coletivo); mas o equilíbrio de nossas
energias internas é algo natural que foi corrompido pelo meio autoritário e artificial; como
diria Marx, “os criadores foram dominados pelas próprias criações”. Se criamos a
escravidão, podemos também retornar à liberdade, que é bem mais simples, bem mais
humana, bem mais natural que a escravidão.

Enquanto dermos às costas aos desagradáveis seres humanos que estamos formando
nesses milhares de anos de civilização autoritária...enquanto não nos atentarmos à
nossa natureza e descobrirmos no que nos tornamos quando à negamos por pressões
sociais e morais...não daremos nenhum avanço significativo para outra forma de vermos
o mundo e a nós mesmos...estaremos mergulhados nessa crise de percepção até que
coisas piores aconteçam e o caos mundial se generalize ainda mais. E essa não é uma
“previsão fatalista”, mas uma “análise dialética”...

O ESTADO COMO DOMINAÇÃO POLÍTICA E IDEOLÓGICA

Como disse, Aldous Huxley disse que vivíamos num “ desamor organizado ”. Podemos
dizer que esse “desamor organizado” é organizado pelo Estado.A concretização política,
real, material, de todo esse processo de alienação discutido àcima, que subjuga os
indivíduos as condições artificias de dominação econômica (física) e mental (espiritual), é
o ESTADO.
Ernest Mandel ao analisar o começo da divisão social do trabalho, constata que esta
inicia-se juntamente com o aparecimento das classes sociais e do Estado ( todos estes
frutos da acumulação, propriedade, herança e patriarcalismo, ou seja, da civilização
autoritária ).

“ Na sociedade primitiva sem classes, as funções administrativas eram executadas pelo


conjunto dos cidadãos. Cada um usava as suas armas e participavam das assembléias que
tomavam decisões respeitantes à vida coletiva e às relações da comunidade com o mundo
exterior. Os conflitos internos eram igualmente resolvidos pelos membros da coletividade.
Claro está que não existe qualquer razão para idealizar a situação existente no seio
dessas comunidades primitivas, que viviam sob o comunismo do clã ou da tribo. A
sociedade era extremamente pobre. O homem era dominado pelas forças da natureza. Os
hábitos, os costumes, as regras de arbitragem dos conflitos internos e externos, se bem
que aplicados coletivamente, caracterizavam-se pela ignorância, pelo medo, pelas
crenças mágicas. Em compensação, o que é necessário sublinhar é que a sociedade se
governava a si própria, nos limites dos seus conhecimentos e das suas possibilidades. ”

Mandel coloca o termo “ primitivo ” e não indígena, para referir-se às tribos antigas, isto é
por sua formação marxista, que como já dizemos, apóia-se nas relações econômicas das
sociedades humanas. Mas o interessante de sua fala acima, é que ele deixa claro que essas
comparações com as tribos indígenas, não quer dizer que defendamos a volta simples à
natureza; não simplesmente por ela ser “ extremamente pobre ”, como disse o marxista
Mandel, mas porque ela também foi um estágio para a humanidade, devemos, sim,
compreender todo o processo de formação da civilização autoritária e ressaltar os pontos
positivos, isto é , naturais, que a humanidade viveu durante dezenas de milênios antes da
propriedade privada e do poder autoritário, assim poderemos desenvolver uma civilização
livre, que vá a favor do ser humano e não contra ele.
Outro ponto interessante colocado por Mandel é a cultura, guiada pela
“ignorância...medo...crenças mágicas ”. Como analisamos na civilização interiorizada pelo
indivíduo, os primeiros patriarcas, sacerdotes ou guerreiros, usaram justamente dessa “
ignorância ” para afirmarem-se como seres superiores, que poderiam acumular, dar ordens
e deixar sucessores, utilizando de discursos místicos que engendravam o medo e sua
conseqüência insegurança e submissão.
Mas o ponto mais relevante na fala de Mandel “ é que a sociedade governava a si própria,
nos limites do seu conhecimento e das suas possibilidades ”, esse autogoverno garantia a
liberdade de seus indivíduos, além de ser uma forma de sociedade coletiva. O indivíduo se
sentia capaz, responsável, tanto por ele como de seus companheiros de tribo.
O ESTADO, fruto do poder autoritário (econômico e mental), retira essa responsabilidade
dos indivíduos, tornando-os escravos do meio que eles mesmos constroem. È o início de
uma mentalidade fascista (isto é, autoritária, medrosa, dependente), da auto-alienação
humana, da entrega dos poderes individuais para um poder maior ( ESTADO), para uma
pessoa “ maior ”( PATRIARCA, REI, DITADOR ).
Como já disse Reich ... “ O ego enfraquecido de cada indivíduo procura fortalecimento na
identificação com a tribo, que paulatinamente vai se tornando “ nação ”, com o chefe da
tribo, que paulatinamente se torna patriarca da tribo e, finalmente rei...A Estrutura dos
súditos está completa.”
A estrutura da sociedade foi transformada artificialmente e não “ naturalmente ”, como
defenderia um darwinista social qualquer.
Mandel prossegue:

“ Não é pois verdade que as noções de “sociedade”, de “coletividade humana” e de


“Estado” sejam praticamente idênticas e se justaponham mutuamente ao longo dos
tempos.
Bem pelo contrário: a humanidade viveu durante milênios e milênios em coletividades que
ignoravam a existência de um Estado.
O Estado nasce quando certas funções, primitivamente executadas pelo conjunto dos
membros da coletividade, se tornam privilégio de um grupo separado de homens:
- um exército distinto da massa dos cidadãos armados;
- juízes distintos da massa dos cidadãos, julgando os seus semelhantes;
- chefes hereditários, reis, nobres, em vez de representantes ou de dirigentes de
tal ou tal atividade, designados temporariamente e sempre removíveis;
-“produtores de ideologia” ( padres, clérigos, professores, filósofos, escribas,
mandarins), separados do resto da coletividade.

O nascimento do Estado é pois o produto duma dupla transformação: O


aparecimento de um excedente social permanente, que permite libertar uma parte da
sociedade da obrigação de efetuar trabalho para assegurar sua subsistência – parte essa
que cria assim as condições materiais da sua especialização nas funções de acumulação e
de administração – uma transformação social e política que permite excluir os restantes
membros da coletividade do exercício das funções políticas que eram outrora comuns a
todos. ”

Claro que toda essa repressão teve opositores, mas o Estado, como afirmou Engels, “ é um
grupo de homens armados ”. Mandel ainda afirma que “ nada ao longo da história,
permite justificar a tese liberal burguesa segundo a qual o Estado teria nascido de um “
contrato ”, de uma “ convenção ” livremente aceita por todos os membros de uma
coletividade. Pelo contrário, tudo confirma que é o produto de uma opressão, da violência
exercida por alguns contra outros. ”

Mas ao lado dessa repressão material existe a mental, como trabalhamos acima; assim o
papel do Estado não é simplesmente entrar em guerra sempre que sua ordem for
contestada, mas assegurar ideologicamente que os seus indivíduos aceitem sua submissão,
interiorizando à autoridade nos seus corpos e mentes, mediante persuasão, medo e
ignorância, Louis Althusser, também fazendo uso da psicanálise, chamou esse processo de
“Aparelhos Ideológicos de Estado”.
Esse processo ideológico de submissão começa, claro, antes desse Estado estar em
condições de tanto poder, poder consolidado, como foi nas sociedades antigas, onde a
civilização autoritária e a “ estrutura dos súditos ”, estavam asseguradas(Suméria,
Mesopotâmia, Egito, Índia, Grécia, Maias, etc.). Esse Estado forte, consolidado, apenas
aprofunda a escravização humana criando seus reinos e escravos (conquistas), acumulando
poder e matéria de maneira progressiva, produzindo ideologias, isto é, justificativas falsas
para explicar o poder de uns sobre os outros.

A Dialética trabalha com a filosofia da mudança, da transformação, e uma realidade só se


transforma porque dentro dela existe contradições, diferenças, que vivem em uma
aparente estabilidade, mas que na realidade, estão em confrontos incessantes, que um dia
vão se resolver (tese, antítese, síntese). Por isso os impérios sempre caem. Mas, por que
não ACABAM?
Por que, não são apenas as causas materiais que formaram a civilização, as classes sociais,
o Estado...mas sim causas simbólicas, psíquicas, anti naturais, artificiais, mentais
(espirituais).
Por isso os impérios caem, como caíram a Suméria, o Egito, Grécia e Roma, Turquia,
Espanha, Inglaterra, etc, mas sempre surgem novos...como os Estados Unidos (e talvez um
dia a China).
O ESPÍRITO AUTORITÁRIO e suas conseqüências somáticas (psíquicas e físicas), como
vimos com Reich, Piaget e outros, enraíza sua doença no ser humano, invertendo o
processo social natural de uma vida em sociedade, transformando à coletividade em
propriedade e o indivíduo em escravo das condições materiais e psíquicas que fazem
nascer as classes sociais e sua consequente divisão social do trabalho(trabalho
escravizado); o Estado apenas assegura todo um processo de alienação iniciado bem antes
dele, mas que tem inteira ligação com o mesmo. Quando esse processo se repete em
diferentes épocas ou regiões, a estrutura dos súditos prossegue, criando novos impérios,
novos escravos ou tipos de escravidão. Marx não compreendeu isso e, apesar de conceber
o Estado como uma instituição repressiva, a favor das classes dominantes de todas as era,
defendeu (no geral de seu projeto político de libertação) sua tomada e não sua destruição.
Por isso a Rússia e a China ficaram muito mais próximos da alienação do que da
liberdade; transformaram- se em impérios, continuando o processo de poder e domínio
que dá início à civilização autoritária, que transforma o ser humano em escravo do próprio
ser humano. Oscar Wilde disse que a maioria dos homens morriam de seus remédios e não
de suas doenças , imaginamos que seja porque os humanos não conhecem sua doença,
dando remédios que são insuficientes para curar um problema tão profundo e antigo: a
civilização autoritária e sua conseqüente alienação humana (e, as consequentes
conseqüências desagradáveis dessa alienação...)
Marx não enxergou a necessidade humana da liberdade e da auto organização; condenou o
Estado como repressor, como intrumento da classe dominante, mas não sistematizou sua
destruição, mas sua tomada política pelos trabalhadores enquanto “ as classes não
deixarem de existir ”. Mas a revolução é um processo de extinção das classes e
consequentemente do Estado autoritário formado pelas necessidades de uma civilização
dividida entre explorados e exploradores, ou seja, com a revolução se elimina os
privilégios de uns poucos homens sobre a maioria da humanidade, que o Estado surgiu
para manter e assegurar esses privilégios; então a revolução não necessita de Estado mas
de uma forma de federação entre os produtores livres. Mas Marx, em sua busca por um
“socialismo científico”, ficou obcecado pelas relações econômicas capitalistas e, como
nesse sistema, as ideologias (religião, moral, Direito, filosofia, ciência, etc) são
diretamente influenciadas pelo capital, ou seja, pelo econômico e suas relações, Marx
imaginou que todas as eras eram guiadas pela mesma fórmula, pela mesma interferência
do econômico como o é no capitalismo, na era Moderna. Porém Marx deixou de analisar o
indivíduo massacrado por anos de uma civilização e educação autoritária, e, de como esse
indivíduo aspirava por sua liberdade e, que essa liberdade era o núcleo da revolução e, não
simplesmente a luta entre o capital e o trabalho, essa, por sua vez, é apenas o reflexo dessa
luta íntima do homem entre a naturalidade e a alienação(ou liberdade x escravidão).
Marx, nesse método econômico (Materialismo Histórico) chegou a importantes conclusões
sobre o regime capitalista e a História, mas seu erro é ter generalizado as relações de poder
do capitalismo, como as relações de poder todas sociedades anteriores, onde o consumo e a
indústria não eram o “ motor principal ” da vida coletiva e, sim, relações simbólicas que,
apesar de estarem também relacionadas com a produção econômica, eram constituídas
principalmente pelas ideologias políticas e religiosas, como foi na Grécia, no Egito, na
Idade Média, nos primeiros Impérios (civilizações) e, inclusive, na antiga “União
Soviética”, onde a idéia de “socialismo” reinou e apaixonou milhões do mundo inteiro,
sem que na verdade existisse ali não mais que uma propaganda forte que àquele era o
“mundo socialista”; um “mundo” que não era nem um pouco diferente da civilização
autoritária e do capitalismo: autoritário, desigual e doente.

O Estado é um poder, uma força social feita para garantir a autoridade de poucos
indivíduos sobre muitos e, como já dissemos, ele surge quando a estrutura da sociedade
tribal e do ser humano está totalmente mudada para à aceitação da autoridade, do poder, da
propriedade. O Estado é a materialização da “estrutura dos súditos” psíquica e econômica.
O Anarquismo despreza e combate o Estado por ele ser uma peça chave da escravidão
humana. Socialismo de Estado é algo impossível para os anarquistas, pois esses vêem o
socialismo como genuinamente democrático, e não existe democracia com a opressão
individual e social, que é assegurada pelo Estado, ou como Engels chamou, pelo “grupo de
homens armados”. O teórico anarquista Rodolf Rocker afirmou com razão quando disse
que “ o aparelho de poder do Estado não pode senão criar novos privilégios e proteger
os antigos ”.
A civilização autoritária e sua forma política: o ESTADO age fisicamente pela escravidão
economica e espiritualmente pela escravidão psíquica; pois é uma “estrutura” humana que
é mudada com o advento da propriedade privada e da família patriarcal, o Estado apenas
assegura essas escravidões, que na verdade é uma só: a escravidão humana.

O professor Darcy Azambuja ao analisar a personalidade do Estado nos diz...

“ Cada homem é tanto individual como social, e talvez mais social que individual(...)
A sociedade, pois, não é apenas a soma dos indivíduos; é formada pelos indivíduos, pelo
fato da sua associação e pelo produto dessa associação, que são fatos psíquicos e fatos
materiais. Aos fatos psíquicos coletivos é que, por analogia com os fatos psíquicos
individuais de que provêm, se denominam consciência social, vontade social, sentimentos
sociais, opinião pública etc. E não há dúvida de que são realidades mais poderosas ainda
do que os seus similares individuais. O conjunto desses fatos coletivos é o que se chama
de pessoa moral.
Sem dúvida, a pessoa moral não é um ente material, uma substância, como a pessoa
física. É invisível, não pode ser percebida pelos nossos sentidos, mas é observável nas
suas manifestações, do mesmo modo que os estados psíquicos são invisíveis, mas nem por
isso menos reais. Por não se poderem ver as idéias e os sentimentos dos indivíduos,
ninguém achou aí motivo para negá-los. ”

Essa “pessoa moral” resultante dos “fatos coletivos”, será uma pessoa doente, não apenas
‘visivelmente’ como alguma patologia “física”, mas através de suas “idéias” e
“sentimentos” influenciadas pelos “discursos” e “imagens” da sociedade autoritária em
seu estágio capitalista. Erich Fromm em “Psicanálise da Sociedade Contemporânea”
utiliza-se de Spinoza para descrever o tipo de “insanidade” da era Moderna:

“ Spinoza formulou com muita clareza o problema do defeito socialmente produzido. Diz
ele: “Muitas criaturas se sentem possuídas de um mesmo afeto com grande persistência.
Todos os seus sentidos estão afetados de forma tão profunda em um só objeto que elas
acreditam que esse objeto esteja presente mesmo quando não o esteja. Se isso acontece
enquanto a criatura está acordada, ela é julgada doente... Mas se a pessoa avarenta só
pensa em dinheiro, se a ambiciosa só pensa em fama, não são consideradas doentes, mas
apenas incomodas; geralmente se sentem desdém por elas. Mas de fato a avareza, a
ambição e coisas semelhantes são formas de insanidade mental, embora usualmente não
sejam consideradas “doenças”. ”

Só que esse “defeito socialmente produzido” está mais desenvolvido do que no período de
Spinoza, pois a pessoa “avarenta”, “ambiciosa”, não é tratada com “desdém”, mas
‘admirada’, ‘invejada’, ‘copiada’, pois pessoas tais, ou possuem muito dinheiro ou o
ambicionam em demasia e, como o “dinheiro” é encarado com respeito, as pessoas que o
possuem ou o dejesam possuí-lo, são ‘admiradas’, pois ele é a “essência” do mundo
“Burguês”, capitalista, baseado no lucro e no consumo, através do dinheiro, das
mercadorias que prometem a “felicidade”.
Frederico Nietzsche declarou pós Spinoza...

“ O que antes se fazia por amor a Deus...hoje se faz por amor ao dinheiro... ”
E antes de Nietzsche e Spinoza, William Shakespeare, já percebia o advento de um outro
período, onde o “dinheiro” seria o “deus” supremo, o verdadeiro...Aquele que “ une
impossibilidades extremas.... E as faz beijar!...”

“Ouro! Ouro amarelo, reluzente, precioso! Nada de deuses,


Não sou um ocioso devoto: raízes, aclarais os céus!
Uma porção disto tornará o preto branco; o mau bom;
O errado certo; o vil nobre; o velho novo; o covarde valente.
... Isto
Afastará sacerdotes e servos do teu lado;
Arrancará almofadas de homens fortes de baixo da sua cabeça;
Este escravo amarelo
Unirá e destruirá religiões; abençoará os malditos;
Tornará o encanecido leproso adorado; colocará ladrões.
E dar-lhes-á título, respeito e aprovação
Com senadores no mesmo banco: é isto
Que leva a viúva acabrunhada a casar de novo;
Aquela, a quem o hospício e as feridas ulcerosas
Lançariam as garras, isto aromatiza e condimenta
De novo para o dia de Abril. Vem terra maldita,
Vulgar prostituta da Humanidade, que estabelece o equilíbrio
Entre as nações em tormenta...”
(Timão de Atenas – ato IV, cena 3)

Se Shakespeare disse isso há quase 500 anos, o que esperaríamos do chamado “pós
modernismo”, onde as relações de lucro, mercado, consumo, que regem à sociedade e
seus desejos e esforços, estão por todo globo terrestre?
Entendemos que esse “defeito socialmente produzido” que disse Spinoza e que torna as
pessoas “avarenta”, “ambiciosa”, “doente”, não é visto com “desdém” como ele diz em sua
período; pelo contrário, essa ‘doença’ nada mais é que o mundo “moderno” atual. “Deus” é
substituído pelo “dinheiro” e a “Igreja” substituída pelo “shopping” – todos trabalham,
estudam, sonham, em base da aquisição desse “Objeto” de troca e obtenção de
“mercadorias”, seja essa mercadoria um relógio, um carro ou a própria pessoa humana, o
próprio “trabalhador”, que produz esse mundo com a força de seu trabalho alienado,
roubado...
A “Guerra” é fruto desse “defeito socialmente produzido” – “ambição”, “avareza”,
“alienação” – e os indivíduos entregam-se à ela com a força de sua mente manipulada e
seu corpo massacrado, para servir de objeto a “avareza” e “ambição” humana ou seja, para
servir a sua própria “doença”.

O coletivo forma a moral individual, mas a consciência coletiva é fruto da consciência


individual, e como vimos a civilização e sua autoridade agem na formação dos indivíduos
desde suas infâncias, poluindo com sua moral patriarcal a pureza humana, sua naturalidade
e espontaneidade, que simplesmente uniam um aos outros e todos à Natureza. Essa
alienação não é somente material, mas psíquica, na verdade a escravidão psíquica ante veio
à material (isso sem ser “weberiano” e sem esquecer as “relações” essências entre matéria
e espírito, mas pela “riqueza” social, que justificaria a criação de um Estado, ainda ser
escassa), e apesar de não ser tão fácilmente identificada como a material, ela existe e “ é
observável nas suas manifestações ”.
Por isso Reich disse após o início da Segunda Guerra Mundial que: “ A vitória das
ditaduras deve ser atribuída à enfermidade psíquica das massas européias ”. O fascismo e
as guerras eram fruto da doença psíquica da civilização autoritária. Reich ainda diz que:

“ A causa imediata de muitos males assoladores pode ser determinada pelo fato de que
o homem é a única espécie que não satisfaz à lei natural da sexualidade. A morte de
milhões de pessoas na guerra é o resultado de manifesta negação social de vida. Essa
negação, por sua vez, é expressão e conseqüência de perturbações psíquicas e somáticas
da atividade vital. ”

E como Reich já havia colocado anteriormente, “ essa alienação não é biológica, mas
socioeconômica ”.

Essa doença social criada por essa alienação, não cria apenas os sentimentos de “avareza’,
“ambição”, “destruição”, mas também desejos de “autoridade” e sua conseqüente
“submissão” – como disse Reich são “perturbações psíquicas e somáticas da atividade
vital”. O fenômeno do “fascismo” é fruto dessa coerção e perturbação “somática”:

“ O que era novo no movimento fascista das massas era o fato de que a extrema reação
política conseguiu usar os profundos desejos de liberdade das multidões. Um anseio
intenso de liberdade por parte das massas mais o medo à responsabilidade que a
liberdade acarreta produzem a mentalidade fascista, quer esse desejo e esse medo se
encontrem em um fascista ou em um democrata. Novo no fascismo era que a massas
populares asseguraram e completaram a sua própria submissão. A necessidade de uma
autoridade provou que era mais forte que a vontade de ser livre”. (W. Reich)

Lembremos que Reich, ao descrever a mudança “psíquica” da sociedade do “Clã” para a


sociedade “autoritária”, “patriarcal”, diz que “o nascimento da estrutura dos súditos está
completo, o enraizamento da subjugação humana está assegurado”.
O “fascismo” demonstrava a estrutura “inconsciente” do ser humano “civilizado” e
“oprimido” em suas próprias criações e energias biológicas. “O Medo à Liberdade” como
chamou Erich Fromm, foi “enraizado” pela estrutura de poder em nosso “inconsciente”.

“Hitler prometeu a destruição das organizações democráticas socialistas e burguesas.


Milhões de pessoas, democratas, socialistas e burguesas, congregaram-se em torno dele,
porque, embora as suas organizações falassem muito a respeito da liberdade, nunca
haviam sequer mencionado o difícil problema da ânsia humana de autoridade e do
desamparo das massas na prática política. As massas populares haviam sido
desapontadas pela atitude irresoluta das velhas instituições democráticas. O
desapontamento por parte de milhões de pessoas quanto às organizações liberais mais a
crise econômica mais um desejo irresistível de liberdade produzem a mentalidade
fascista, i.e., o desejo de entregar-se a uma figura autoritária de pai”. (W.Reich)

Antonin Artaud declarou que...


“ a essência construída e enferma de todo homem me aflige...”...
Esse é o resultado irracional de uma mente e um corpo corrompido e manipulado desde a
infância, onde a “Autoridade” substitui a “liberdade” e ‘responsabilidade’ pessoal,
tornando o indivíduo um ser desamparado, que necessita de um guia, de uma “autoridade”,
uma “ordem”, “Lei”, a serem seguidos e obedecidos cegamente – esse será um indivíduo
inseguro, repleto de ‘medo’ ao mesmo tempo que sua “essência” biológica grita pela
‘liberdade’, que ele não sabe como obter – resultado: “Fascismo”!

“ A pregação a respeito da liberdade conduz ao fascismo a menos que se faça um


esforço decidido e consistente para inculcar nas multidões uma vontade firme de
assumir a responsabilidade da vida de todos os dias; e a menos que haja uma luta
igualmente decidida e consistente para estabelecer as pré condições sociais dessa
liberdade. ”(W. reich)

Compreendemos por que Reich chamava os “comunistas “ de “Fascistas Vermelhos”, pois


os mesmos não trabalhavam para que as massas tornassem-se “responsáveis” pelo seu
próprio processo vital e social, mas ao contrário, alimentavam “ditaduras” e repressões à
independência da classe operária e da humanidade.
No filme “Reds” de Warrem Beatty, a anarquista Emma Goldmann questiona o
bolchevique Zinoviev, um dos principais dirigentes do partido de Lênin e da Internacional
Comunista, do por que das pessoas não poderem fazer uma auto organização para resolver
os problemas básicos da população; porém Zinoviev diz que o que eles menos querem é
que as massas tomem parte do processo revolucionário. Ou seja, mantiveram a ‘estrutura
dos súditos” intocável, enquanto faziam a “propaganda” de um “mundo socialista”.
No livro de Isa Salles “Um Cadáver ao Sol”, ela relata a viagem que Bernardo Canellas,
militante do recém fundado PCB (Partido Comunista Brasileiro) à Moscou, em um
congresso da Internacional Comunista. Aqui fica claro de como os marxistas são
autoritários e manipuladores diferenciando-se pouco na prática do antigo “espírito’
capitalista e czarista que julgavam destruir.

As alienações causadas pela civilização são universais, não correspondem a certos grupos
ou classes sociais, não correspondem a essa ou àquela “civilização”. A própria luta de
classes, tão propagandeada pelos marxistas, não passa de uma expressão, uma
manifestação, dessa alienação da vida; o fascismo ou os antigos impérios e imperadores,
às guerras de religiões, todas as lutas por territórios, a eliminação dos índios, o lucro dos
burgueses, a sede de sangue, o sacrifício em vão, a cega obediência, o vazio, a depressão, a
pobreza, a fome, as neuroses, etc.... são a “ expressão e conseqüência de perturbações
psíquicas e somáticas da atividade vital ”, feitas pela sociedade patriarcal e a escravidão
dos indivíduos, levada à cabo pela própria humanidade.

“ A supressão da sexualidade ” , é instrumento dessas “perturbações” vitais; a supressão


sexual é a supressão da naturalidade dos indivíduos, sua espontaneidade, sorriso, alegria...
algo doce transformado em amargo pela autoridade, pelo grito, medo e ignorância...
Como William Blake disse acima:

“ a água do doce deleite nunca pode ser poluída ”.

O Indivíduo , o Ser Humano, precisam, sim, serem recuperados, e não deixados à mercê
das forças históricas, econômicas e psíquicas; é preciso deixá-lo beber a seiva da liberdade,
sentir a leveza da responsabilidade, correr sem descanso ao passo lento da evolução, é
preciso dar aos humanos sua necessidade de Revolução...às suas vontades..à sua direção.
O sistema patriarcal é um muro que separa tudo isso de nós... e o Estado, qualquer
um...seja absolutista, autoritário, democrático ou comunista...é fruto da alienação
individual, em forma coletiva, da civilização autoritária.
Ele traz em sua forma a escravidão psíquica e material da humanidade...o Estado é
totalmente incompatível com a liberdade: democracia e igualdade.

Wilhelm Reich ao analisar a obra do antropólogo Malinowsky, chega às conclusões de


que a repressão sexual não é biológica mas social e, que, ela é instrumento essencial da
escravidão econômica que reflete à estrutura autoritária e alienada dos indivíduos e da
sociedade.
Malinowsky estudou por décadas os “trobriandeses”, chamados assim por viverem nas
ilhas Trobriand.

“ O principal trabalho de Malinowsky, A Vida Sexual dos Selvagens, apereceu em


1919.
Continha uma profusão de documentos que tornavam absolutamente claro que a
repressão sexual era de origem sociológica e não biológica. O próprio Malinowsky não
discutiu a questão em seu livro, mas a documentação falava por si. No meu ensaio “ Der
Einbruch der Sexual-moral ” (segunda edição, 1934), tentei demonstrar a origem
sociológica da negação sexual com base nos documentos etnológicos
disponíveis.Resumirei o que pé importante para a presente discussão.
As crianças trobriandesas não conhecem a repressão sexual, nem há para elas
segredo sexual.
A vida sexual das crianças trobriandesas desenvolve-se naturalmente, livremente e sem
interferências através de todos os estágios da vida com satisfação sexual plena. As
crianças entregam-se à atividade sexual de acordo com a idade. Apesar disso, ou melhor,
precisamente por essa razão, a sociedade trobriandesa, na terceira década desse século,
ignorava quaisquer perversões sexuais, enfermidades mentais funcionais, psiconeuroses e
o assassínio de origem sexual; não havia uma palavra para “roubo”.”

Quem conhece um pouco da história dos antigos impérios, sabem da utilização das
neuroses sexuais, que de um lado contavam com uma moral rígida patriarcal por causa da
propriedade e da herança, e do outro abusavam ás escuras, com o consentimento velado do
Estado, do sexo e das orgias. Na era moderna, Marques de Sade deu provas desse lado
obscuro que Reich apontaria na repressão da Libido; no cinema filmes como Romance e
Irreversível mostram a alienação sexual e suas nefastas conseqüências para os indivíduos;
romances como Madame Bovary de Flaubert, Anna Karenina de Tolstoi ou Casa de
Bonecas de Ibsen, mostram o desespero pela busca da simples satisfação sexual, ou seja, a
busca pela naturalidade, a simples satisfação do amor, que se transformam em tragédia,
como em Romeu e Julieta; na obra de Huxley, Admirável Mundo Novo, a sexualidade
serve para conformar os indivíduos com sua servidão; em prefácio de 1946 do mesmo
livro ele diria: “Ao passo que a liberdade pessoal diminui, a liberdade sexual aumenta,
com a finalidade de reconciliar os súditos com a inevitável servidão que é seu destino ”,
ou seja, não dá para negar a repressão sexual, nascida com a civilização autoritária;ela age
em nosso íntimo, nas nossas alegrias e necessidades mais pessoais, humanas e naturais; em
períodos de caos geral como uma Guerra ela mostra sua perversão.
Essa alienação da vida está por trás do mundo doente e das pessoas perdidas, que erguem
seus próprios ditadores, suas próprias cadeias.

Os trobriandeses, Reich quer dizer, tinham uma higiene mental mais desenvolvida que nós,
apesar de estarem tecnologicamente atrás da civilização. A falta de satisfação natural do
amor (seja na vida sexual ou na vida em sociedade, isto é, na vida íntima ou coletiva) é o
cerne desse processo de alienação que inicia-se com a formação da civilização
autoritária(propriedade, poder herança, patriarcalismo...), onde ela infiltra suas
ideologias(falsas idéias) nos nossos corpos e mentes, tornando as pessoas frias, alienadas,
egoístas, inseguras e, consequentemente, submissas.
A civilização infiltra-se em nossas células, nossos neurônios, nosso inconsciente... Ela
corrompe a biologia do nosso corpo e a doçura da nossa alma... desvirtuados pela
civilização e suas exigências morais e artificiais, imaginárias, de certos indivíduos sobre
outros. Como já foi dito: o Estado é a materialização política de todo esse processo de
alienação, que estende-se até hoje.
A partir das análises do trabalho de Malinowsky sobre a vida dos trobriandeses, Reich
entendeu sua própria teoria e como ela se aplicava não só a vida “moderna”, mas à toda
civilização, autoritária e alienada. Continuando sobre os trobriandeses, que conheciam a
agricultura e o excedente, mas não à propriedade privada, como Reich assinalou não havia
uma palavra para “roubo”.

“ Na sua sociedade, a homossexualidade e a masturbação eram encaradas como um


meio incompleto e inatural de satisfação sexual e como uma prova de perturbação da
capacidade de experimentar a satisfação normal. O estrito e neurótico-obsessivo
treinamento de asseio, que solapa a civilização das raças brancas, é desconhecido das
crianças trobriandesas. Por isso, o trobriandês é espontaneamente limpo, ordeiro,
naturalmente sociável, inteligente e trabalhador.
O casamento monogâmico voluntário não compulsivo, que pode, sem dificuldades, ser
dissolvido a qualquer hora, prevalece como forma social de vida sexual. Não há
promiscuidade. ”

Existe então a naturalidade sexual e o equilíbrio natural de desenvolvimento infantil nos


“trobriandeses”, que Piaget disse acima quando não há repressão nos indivíduos; ao
mesmo tempo, Reich compara o psíquico dos trobriandeses com as “raças brancas”, os
“civilizados”, que possuem “ o estrito e neurótico-obsessivo treinamento de asseio”, que
os deixam “doentes”.

Temos que entender que tudo possui uma ligação, as partes formam o todo mas não são o
todo, se analisarmos as partes e esquecermos o todo, estaremos apenas fragmentando um
pedaço de um espelho quebrado, que não mostra nada a ninguém. Tudo que concerne à
nossa vida concerne ao simples fato de sermos felizes ou não, saudáveis ou não. Tudo que
nosso íntimo reclama é algo essencial para nós; mesmo que não exista um “ser humano”
puro, como pensamos que foram Cristo, Buda, Gandhi, existe uma humanidade e é dessa
humanidade que saírá o que chamamos de “ser humano”, construído a partir do
desenvolver da própria humanidade, caminhando a um futuro que crie, como disse
Nietzsche:

“ O homem de amanhã e o amanhã depois de amanhã ”...

Mas temos que compreender em qual medida esse “mundo” feito por nós, com suas noções
morais estabelecidas sobre os indivíduos do que é certo ou errado com as instituições que
criamos: familiar, política, econômica, social, correspondem ou não para que nossa vida
sócio individual seja plena? Estamos vendo que as cadeias são intrínsecas por demais e
estão na humanidade por tempo demais; tudo que traga o espírito dessa alienação,como:
autoridade,repressão, mentira, poder, propriedade, força, assassínio, não servem para a
libertação da humanidade e a transformação da história e da civilização e, elementos
como: o Estado, a Burocracia, o Exército, a Família Patriarcal, a Pátria....tão pouco
podem servir para a finalidade libertadora e criativa de uma revolução socialista, pois são
as mesmas expressões desse espírito alienado da civilização.

Basta à humanidade entregar-se a si mesma.

Reich dá um exemplo muito prático nessa discussão tão sensível, ao comparar um sistema
patriarcal e autoritário, que já apontava inícios avançados das características psíquicas da
civilização,com os trobriandeses...

“ A poucas milhas das ilhas de Trobriand, nas ilhas de Amphlett, vivia uma tribo com um
sistema patriarcal baseado na autoridade da família. Todas as características dos
neuróticos europeus(desconfiança, angústia, neuroses, suicídios, perversões, etc.) já
eram evidentes nos nativos dessas ilhas.”

Como disse Marx:

“ A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos


vivos”

A “estrutura do homem” é seriamente afetada pela estrutura de dominação patriarcal, que


é a raiz das futuras relações de Estado, que surgem quando essa dominação está eficaz e
consolidada.
Por isso, nem os marxistas, que sonham com a conquista do poder político (isto é, o poder
de ESTADO), conseguem dizer que o Estado não é um órgão de opressão, mesmo num
governo “socialista”. O seu cerne é o poder autoritário e sua conseqüente violência, mesmo
se exercida em “nome” dos trabalhadores ou da “revolução”. Mas como Marx era
impregnado pela idéia de um “ socialismo científico ”, sua noção de progresso das forças
produtivas e da educação do homem (metas parecidas com a do iluminismo e positivismo),
deram-lhe a ilusão( e também a ilusão da sua escola) de que as transformações feitas pelas
medidas governamentais “comunistas” à sociedade fariam com que o Estado
desaparecesse ( um dia...), inaugurando a etapa do “comunismo”, construído por tempo
indefinido pelo “Estado Proletário”. Proudhon, Bakunin e os anarquistas combateram
esse “comunismo autoritário” desde o início; as previsões de Bakunin sobre o socialismo
marxista se aplicaram, menos de meio século depois, a Revolução Russa de 1917.
Agora a psicanálise e a pedagogia confirmam como toda forma de opressão seja estatal,
física ou moral, prejudicam a naturalidade de equilíbrio do ser humano e afeta diretamente
sua vida em sociedade e sua formação psíquica.
Reich diz que a construção da higiene mental dos indivíduos depende de análises como
essas, que buscam chegar à estrutura do indivíduo e sua sociedade:

“ A nossa ciência, que é tão exagerada na negação sexual, conseguiu até anular a
importância de fatos decisivos colocando lado a lado, e igualando-os, o importante o não
importante, o lugar comum e o extraordinário. A diferença que acabo de descrever entre a
organização matriarcal e livre dos trobriandeses e a organização patriarcal e autoritária
da tribo que vive nas ilhas de Amphlett tem mais peso para avaliação da higiene mental
que as curvas e gráficos mais complicados e aparentemente mais exatos do nosso mundo
acadêmico. ”
Os estudos de Malinovsky ainda levaram Reich à descobertas importantes referentes à
psicanálise freudiana e a estrutura de formação natural da criança (indivíduo):

“ Freud afirmara que o período de latência sexual das nossas crianças, entre as idades
de seis e doze anos aproximadamente, era de natureza biológica. Fui atacado pelos
psicanalistas porque verifiquei, em adolescentes oriundos de vários estratos da
população, que não há período de latência quando a sexualidade se desenvolve de
maneira natural. O período de latência é um produto inatural da civilização. Agora
Malinowsky o confirmava. A atividade sexual das crianças trobriandeses é contínua;
varia, apenas, com a idade. Não há período de latência. As relações sexuais começam
quando a puberdade o exige. A vida sexual dos adolescentes é monogâmica; a mudança
de companheiro se dá calmamente e de maneira pacífica, sem violência ou ciúme.
E contrariando completamente nossa civilização, a sociedade trobriandesa proporciona
os meios de isolamento e higiene à sexualidade do adolescente, particularmente no que
diz respeito à habitação e a outros aspectos, até onde lhes permite o seu conhecimento
dos processos naturais. ”

Esse processo de higiene mental, só pode vir acompanhado de uma mudança radical na
sociedade civilizada autoritária, pois senão, toda essa herança que martela o cérebro dos
vivos, terá mais força em se reestruturar, mesmo após uma revolução que questione a
propriedade e a hierarquia social, do que uma “nova” forma de organização baseada nas
responsabilidades dos indivíduos, consigo próprios e com a comunidade em que vivem.

Como bem assinalou Wilhelm Reich:

“A nacionalização ou socialização da produção por si só...em nada pode alterar a


escravidão humana”.

A Revolução como Caminho

“ É simplesmente inconcebível quão pouca compreensão tem o movimento


revolucionário com respeito à subjugação e repressão sexual como meio principal da
submissão humana ”
(W. Reich – A Revolução Sexual , pg. 197-198)

Reich foi por um tempo comunista, mas logo viu que sua perseguição pelos mesmos
tornara incompatível a teoria do orgasmo e a “Ditadura do Proletariado”... somente o
ser humano, o indivíduo, dotado da responsabilidade da sua vida, poderia ser tomado
pela capacidade natural do Amor e curar-se a si e sua sociedade... :
“As enfermidades psíquicas são o resultado de uma perturbação da capacidade natural
de amar...A condição essencial para curar perturbações psíquicas é o restabelecimento
da capacidade natural de amar. Depende tanto de condições sociais como psíquicas”.

Reich assim formulou sua própria teoria, chamada de “Democracia do Trabalho”, que
aproxima-se do anarquismo de Kropotkin.

Antonin Artaud também viu no marxismo um entrave para o desenvolvimento interno


do ser humano:

“ Assim como o planeta possui sua geografia...o homem interior também possui
sua geografia...e essa é uma coisa material...porém o materialismo dialético de Lênin
teme e desconhece essa geografia ”

A perversão e distorção sexual chegaram aos seus limites...Reich diz que:

“No caso da impotência orgástica, que sofre a esmagadora maioria, ocorre um


bloqueio de energia biológica, e esse bloqueio se torna a fonte de ações irracionais”.

A Internet, filha da Guerra Fria, é um grande adiantamento tecnológico para a troca de


informações e conhecimento humano, porém, ela também expressa a neurose coletiva
da sociedade e suas conseqüentes doenças sexuais...

Sites como “Red Tube” , “Secretas” e outros similares...reproduzem de maneira


grotesca à perversidade sexual da era “pós-moderna”. Eu...como todo adolescente da
minha época, tivemos nossos primeiros contatos com a sexualidade a partir da
masturbação e de filmes pornográficos.... é assim que o silêncio da família em torno da
sexualidade era quebrado, a “pornografia” resultante dessa alienação do mundo
autoritário e perverso, ainda era algo “marginal” à sociedade.Então...o mundo perverso
ia nos contaminando com sua sexualidade doente sem nós percebermos...até que
encontramos Freud, Reich e o tantrismo, e enxergamos a verdade sobre a sexualidade e
a vida e, tentamos estabelecer nossa auto cura.

Robert Anton Wilson, que já foi até editor da revista Playboy, escreveu em seu livro:
“ A Nova Inquisição (Racionalismo Irracional e a Fortaleza da Ciência) ” que
“acompanhara a controvérsia em cima de Reich por trinta anos” (data referente à
publicação do livro mencionado):

“ Reich irritou a Associação Médica Americana ao assumir uma posição


“psicossomática” extrema, defendendo que quase todas as doenças eram causadas
pela repressão , tanto no sentido freudiano como no sentido político, ou seja, os
primatas domesticados haviam sido treinados para uma espécie de submissão
masoquista que os tornava, literalmente, doentes, “ física” e “mentalmente”. Reich
também irritou a poderosa Associação Psicanalítica Americana, declarando que a
terapia freudiana não curava nada em si e que deveria ser suplementada pelo
“trabalho de corpo”: técnicas diversas para relaxar os músculos e normalizar a
respiração. Além disso ofendeu a fortaleza (cientifica) ao insistir que toda energia
nuclear (mesmo na indústria “pacífica”) era prejudicial à saúde dos humanos e, para
garantir sua impopularidade, ele desafiou diretamente o novo fundamentalismo,
alegando a existência de uma nova energia característica dos seres vivos, que ele
chamou de orgone , energia esta suspeita como a “ a força vital ” apresentada pelos
antimaterialistas, como Bérgson e Bernard Shaw”.

A polêmica de Reich continua, ainda mais quando vemos os “primatas domesticados”


tornarem-se ainda mais “doentes”, “física” e “mentalmente”...

Os sites pornôs, como os citados acima, demonstram que àquela “educação” de filme
pornô, apresentado pelo sistema nocivamente para nossa naturalidade e saúde (saúde: o
que inclui uma vida sexual saudável) foi ultrapassado na perversidade...e, agora, saiu da
“marginalidade” para a “oficialidade”, sendo investida pelo Capital.
Vemos como são apresentados os slogans dos filmes e as diversas histórias usadas para
“atrair” compradores do site, isto é, dos filmes.
Eu acompanho a psicanálise desde 2003 quando descobri Freud, Jung, Lacan, Reich,
Erich Fromm... e desde lá tento analisar essa, como chamou Karen Horne,
“Personalidade Neurótica de Nosso tempo”... e venho constatar que a Internet
demonstra essa “personalidade neurótica” dos “primatas domesticados”, e , de como ela
tem se tornado “natural”...assim como a pedofilia, que vem crescendo
assustadoramente... Esses sites mostram menores, crianças, com homens já adultos,
e ganham dinheiro com as assinaturas desses filmes, cuja a existência só a “Justiça”
parece não conhecer. Esses sites são patrocinados por sites de TV (como uma tal de
“TVNOPC”) ou de jogos (como um denominado “Ganhando na Loteria”), que abrem
automaticamente quando se acessa tais sites.
Reich chama a emergência para a sexualidade humana na compreensão e libertação do
mesmo e, tais informações, por mais que sejam “desagradáveis”, são “reais” e, não
podem ser ignoradas (como já são). Imaginem se Kardec se recusasse a acompanhar e
estudar os fenômenos ‘espíritas’, só para não entrar num “bordel”; ou se Cristo deixasse
de ensinar e conversar com samaritanos, pescadores, coletores de impostos, prostitutas,
ladrões, leprosos, só por ser o “messias” ou se Darwim, Freud e Reich desistissem de
sua ciência por causa da opinião púbica alienada.... O mundo sairia perdendo, não?
Então não podemos fechar os olhos para o que a Humanidade está se transformando, só
por causa de imagens e fatos desagradáveis e perversos... O “espírito” do cientista, do
humanista, está acima dessas limitações e, por isso ele transita tão tranquilamente na
análise dos fatos, por piores ou indesejosos e reveladores que sejam.
E existem milhares de perversidades e chamativas obscenas na Internet. Alguns, como
os acessadíssimos “Hentai”, que são filmes pornôs em forma de desenho, que mostram
muitas cenas de estupro, principalmente em colegiais. Esses “desenhos” são mais
destrutivos que os outros, pois mostram as mulheres (crianças) violentadas possuindo
prazer no ato do estupro, o que, para uma pessoa com sua sexualidade distorcida e
grotesca, pode parecer algo real, isto é, que a mulher violentada sente prazer e não dor
num ato de estupro. Mas as cenas de estupro estão em outros sites, são cenas forjadas
em assaltos e asiáticas, e as próprias “atrizes” fingem estar tendo prazer e não repulsa
com tal violência. A perversidade é bem acompanhada....em alguns meses apenas,
alguns filmes, no geral os mais absurdos e grotescos, duplicam de acesso, e os sites,
como o RED TUBE usam cenas de violência e estupro para atrair assinantes para seus
filmes.

Você pode estar achando que isso não é relevante, mas vá você mesmo e confira, faça
um estudo psicanalítico (depois de arrumar um excelente anti vírus) nesses sites e veja
como a sociedade pensa sua sexualidade e veja (vc que é mais velho) como a perversão
dos antigos filmes pornôs de locadora triplicou nesse século. Pense se essa perversão
não é fruto, causa e conseqüência da nossa realidade tão miserável.
Se Reich chamava atenção ao movimento revolucionário à sexualidade e seus
problemas para a servidão e libertação humana à setenta anos, então imaginemos hoje,
que a perversão sexual piorou em seus aspectos qualitativos.

Aldous Huxley já disse acima: “ à medida que a liberdade econômica diminui, a


liberdade sexual tende a aumentar em compensação...levando os súditos à escravidão
que é seu destino ”.
Porem vivemos em período em não apenas a opressão econômica do capital interferem
na “liberdade sexual”, mas, a própria “abundância” do consumo feita pelo capital, age
para que a sexualidade pornográfica (construída pelo mundo autoritário e sua
sexualidade perversa) torne-se “natural” aos indivíduos consumistas e, uma fonte
crescente de lucro.

Em um documentário que assisti na “TV Escola” chamado “A Indústria do Sexo:


influência sobre crianças” , foi dito que a industria pornográfica rende um mercado de
57 bilhões de dólares no mundo e, que a Internet e a pornografia são as principais fontes
de “inspiração” para as crianças, ou seja, de ‘educação’ sexual...A mesma Internet que
mostra cenas de estupro a partir de “atrizes” que fingem prazer e de desenhos ‘Hentai’,
que tem como propaganda: “Hentai faz bem a saúde...”
A indústria pornográfica passou da marginalidade para o lucro comercial, e as vítimas,
são as nossas crianças e a nossa sociedade, que se afunda cada vez mais na própria
doença.
O documentário ainda diz da violência emocional que as meninas sofrem, por serem
propagandeadas como objetos de desejo sexual, como se fossem “adultos em
miniatura”, exibindo um uma postura “sexy” que nem os seus corpos podem ainda
acompanhar. Roupas, acessórios de beleza, músicas, que são feitas pelo Capital e o seu
lucro, para meninas de 8, 10 anos, que nem de longe, precisariam de tais produtos.
Cantoras como Britney Spears, cantores de Rap como Fifty Cents e outros, são o que
‘moldam’ as posturas das crianças e adolescentes em relação a si próprios e suas
sexualidades. Nesse estilo musical a mulher é sempre um objeto que afirma a potência
de “poder” do homem ou um tipo de mulher “liberal” para o sexo e com a postura
“sexy”, que as meninas de 10 anos imitam, perdendo ainda mais sua individualidade,
personalidade e liberdade, para a civilização autoritária e doente, que, em sua fase
capitalista, aprimora os meios de controle moral e sexual através da sua utilização pelo
Capital e os meios de comunicação oriundos dele.

“...se a perturbação genital constituía a fonte de energia dos sintomas neuróticos,


então não poderia haver um só caso de neurose com genitalidade não perturbada. ”
(W. Reich)

As meninas que seguem tal estilo de vida, são as mais propensas à depressão, baixo
estima, problemas alimentares, realização sexual – problemas psíquicos que já existiam
antes do advento da “etapa” capitalista da sociedade são aprofundados pelo mesmo. E,
se os pais, entram de cabeça nesse consumismo “sexual” a que as crianças são vítimas, é
por que a “estrutura dos súditos”, como disse Reich, está mais firmada que no seu início
a milhares de anos.
“ Das centenas de casos que observei e tratei ao longo de vários anos de trabalho
extensivo e intensivo, não havia uma só mulher que não tivesse uma perturbação
orgástica vaginal.” (W.Reich)

Isso foi escrito e 1942... Agora o que resta a essa educação sexual social do capital nesse
período “pós moderno” ? Que tipo de adultos serão essas crianças?
A mulher, menina, é afirmada como “objeto” e, a mesma, pelo vazio emocional da
civilização autoritária e sua inevitável repressão biológica de milhares de anos, aceita
esse rótulo e tenta ser “sexy” sem ter ainda nem o corpo necessário para tal; a
complacência dos pais demonstra como é grande essa repressão.

Casos de “pedofilia’ entraram em moda no mundo “ocidental” e, não falo de um suposto


“ocidente” e “oriente”, mas de um mundo ocidental que possui os valores tanto
autoritários como capitalistas, independente em que hemisfério estejam.
É obvio, que todos ao ver um caso desse, condenam e querem linchar a pessoa doente
que cometeu tal crime; mas ninguém questiona o que essa sociedade de mercado
herdeira de uma civilização reprimida e doente, faz com a libido e naturalidade dos
indivíduos e, o que, essa indústria sexual infantil (internet, roupas, “acessórios”)e seus
modelos “artísticos” que sugerem a “imagem” de beleza e comportamento, fazem com
as mentes já distorcidas pelo autoritarismo e a negação do Amor e da sexualidade
natural, sadia.
É o mesmo caso da pessoa de classe média, que não dá a mínima à pobreza e a exclusão
da maioria das pessoas no país, e, quando é abordado por um “marginal” e lhe é
roubado algum pertence, a primeira coisa que lhe vem à cabeça é “a pena de morte para
esses vagabundos...”. Temos que compreender que tipo de pessoas estamos formando e
que tipo de sociedade é essa, que herdamos desses milênios de autoritarismo e repressão
sexual, e, o que ela faz com as pessoas, isto é, que tipo de ser humano é esse, construído
em cima da negação do seu próprio eu? Do que ele é capaz? Que “Mundo” ele criará?
Que mundo é esse que ele criou? Que mundo é esse que estamos criando...?
Reich já disse que esse humano reprimido desenvolverá uma couraça “contra sua
própria natureza interior e a miséria social que o rodeia...”
O “resultado”, como já estamos percebendo, não será nada belo.
As meninas e meninos continuarão a serem tratados como adultos em miniatura pelos
pais e pelo capital e, sua sexualidade, ‘ensinada’ pelos sites pornôs, que apostam nas
mais baixas perversidades oriundas dessa civilização doente para, “vender”...

Desde os tempos antigos, babilônicos que vemos a manifestação do efeito destruidor da


civilização sobre a sexualidade (à libido, o orgonio, o inconsciente, a naturalidade),
O escritor Suetônio descreve (A vida dos Doze Césares) as perversões sexuais na
Roma antiga, assim como Engels (Origem da Família, da Propriedade Privada e do
Estado) descreve a falta de importância do EROS na Grécia antiga.
O documentário “O Poder e a Mídia” ( em 3 partes) demonstra como o nazismo e
Goebbels usaram do entretenimento sexual para distrair os alemães da sua derrota
eminente na Segunda Guerra.
O filme de Tinto Brass “Luxúria” mostra a perversidade sexual do nazi-fascismo ( que
Reich estudou), principalmente no período da decadência e da derrota, o que soma-se
aos relatos dos sobreviventes do “Bunker” de Hitler em Berlim momentos finais da
derrota.
Por outro lado vemos os “vermelhos”, os “soviéticos”(‘fascistas vermelhos’ como dizia
Reich) estuprarem mais de 100.000 mulheres em Berlim na “vitória” da guerra contra o
nazismo. Mais de 10.000 dessas mulheres morreram, à maioria por suicídio.

Os sites de hoje e suas perversidades são mais perigosas do que imaginamos...


O filme “ Pecados Íntimos” de Todd Field (com Kate Winslet) mostra como um
personagem ao entrar num site pornô uma vez, não conseguiu resistir e, embora não
tenha entrado no site por dez meses, àquilo fica “gravado” em sua baixa libido, na sua
baixa satisfação e, após esses dez meses ele entra novamente no site e se vicia, à ponto
de deixar sua mulher de lado e ela procurar um amante e efetuar os seus “pecados
íntimos”, esse filme também cita a famosa Madame Bovary de Flaubert, que prefere à
morte a viver uma vida condenada de infelicidade sexual, ou seja, uma vida sem
liberdade ( Madame Bovary foi processado em sua época, no mesmo momento de
Flores do Mal de Charles Baudelaire, só que esse segundo não foi “absolvido”).
A história de Leon Tolstoi, Anna Karenina, é parecida com a de Madame Bovary , e a
tristonha Anna também escolhe à morte a viver uma vida sem felicidade, isto é, sem
satisfação. Henrik Ibsen, no seu Casa de Bonecas, retrata a vida de Nora, casada com
Helmer, que a trata como um enfeite de sala, ela se diverte com os filhos e passa seu
tempo, assim como uma “casa de bonecas”, mas Nora desperta para sua vida medíocre e
abandona o marido e os filhos dizendo: “meu primeiro dever como mulher é comigo
mesma”; claro que o livro de Ibsen rendeu muitas polêmicas na época.

A repressão sexual cria pessoas doentes e submissas como tão bem assinala Reich em
sua análise desse “mal estar de civilização”( para usar as palavras de Freud).
Esses filmes e romances demonstram o que se passa na realidade desse nosso cotidiano
tão “normal”.
À própria situação da mulher, que parece ter se libertado do machismo patriarcal
milenar da civilização autoritária, não passa de ilusão. Assim como os famosos anos 60
e 70, o movimento “hippie” nos EUA, o Punk Rock na Inglaterra, a liberação feminina e
sexual...tudo...tudo isso foi aproveitado pelo capitalismo como lucro. A “liberação
feminina” aproxima-se mais do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, onde ás
mulheres, que aparentemente “ganharam” sua liberdade sexual, são simplesmente
usadas pelos homens como um “pedaço de carne”(nas palavras de Bernard Marx);
a entrada da mulher no “mercado de trabalho” lhes promoveram á altura dos “direitos”
dos homens, esses mesmos homens que criaram um mundo invertido, alienado, inatural
e repressor, que veste as meninas como mulheres, somente para o lucro e controle.

O cinema ainda nos ajuda mais a entender a perversão sexual que chegamos e, de como
os sites pornôs se expandiram e são tão aclamados, com suas mais baixas perversidades
tão procuradas...isto é... se existem nesse plano “ideal” (para lembra Platão ou Hegel) é
porque subsistem no plano material, civilizado e corrupto.
O filme francês de Catherine Braillat, Romance X, é essencial para demonstrar a
perversidade sexual de nosso tempo. Maria é casada com um jovem modelo, que
começa a desprezá-la sexualmente. Assim Maria vai a todo custo realizar sua libido
vazia e pervertida pelo meio e esse falido casamento; assim ela se torna uma
ninfomaníaca, que faz tudo por sexo, inclusive deixar um desconhecido lhe fazer sexo
oral na escada de seu prédio e ainda “gozar” e deixar que o estranho lhe penetre com
violência; o estranho ainda diz; “te cumi legal sua vadia”, e Maria caí em desespero...
Isso é o resultado de uma perversão histórica da nossa naturalidade e Eros sexual(o que
nos separa da sexualidade animal), transformando o humano em um animal louco para
saciar seus desejos não satisfeitos...vemos que o que Tinto Brass(Luxúria) retratou no
seu Calígula (Roma Antiga), é muito atual e mais perverso...
Outro filme francês, de Gaspar Noé, Irreversível, demonstra a perversidade dos guetos
e sexualidade doentia e cruel da humanidade. O interessante é que os franceses, com
sua fama de românticos e poéticos, parecem teoricamente estar acima dessas perversões,
mas Irreversível e Romance X mostram o submundo dessa França tão “poética”,
demonstrando como Reich disse que a sexualidade pervertida não respeita ideologias ou
fronteiras de Estado, “ se encontram em todo lugar ”... “sem exceção”...onde existe
civilização ou sua construção patriarcal existe repressão e o consequente vazio sexual.

É...quão pouco conhecimento possui o movimento revolucionário da subserviência


sexual para controle político e econômico... Como nossa era se torna cada vez mais
vazia e fascista...Cada vez mais nos tornamos impotentes diante da centralização do
poder e do controle exteriorizado da nossa vida por políticos, personalidades e objetos
de consumo.

Agora veremos um relato interessante de W.Reich sobre um caso que atendeu,


relacionando a miséria sexual e a miséria de cunho material, cujo os marxistas dão tanto
valor:

“ Um dia, uma operária moça e bonita veio à clínica. Trazia consigo dois
meninos e uma criança pequena. Perdera a voz, sintoma conhecido como “mutismo
histérico". Escreveu em um pedacinho de papel que havia subitamente perdido a voz,
alguns dias antes. Uma vez que uma análise não era possível, tentei eliminar a
perturbação da fala pela hipnose e obtive sucesso após algumas sessões. Agora falava
em voz baixa, rouca e meio assustada. Havia anos que vinha de um impulso compulsivo
de matar as crianças. O pai dos meninos a havia abandonado. Estava sozinha com as
crianças e dificilmente encontravam o que comer. Costurava em casa, mas ganhava
desesperadamente pouco. Sacudiu-a então a idéia do assassínio. Estava pronta para
empurrar as crianças para dentro da água quando foi tomada de tremenda angústia.
Daí em diante foi tomada pela angústia de confessar-se a polícia a fim de proteger as
crianças dela mesmo. O impulso a mantinha em estado de medo mortal, pois temia ser
enforcada pelo crime . O pensamento lhe provocou uma constrição na garganta. O
mutismo impedia-a de ceder ao impulso. Na realidade, o mutismo era um espasmo
extremo das cordas vocais. Não foi difícil apontar a situação da infância que
permanecia por trás disso. Fora órfã e vivera com estranhos, morando com seis ou
mais pessoas no mesmo quarto. Menina, fora sexualmente violada por homens feitos.
Era atormentada pelo desejo de uma mãe que a protegesse. Nas suas fantasias sentia-
se uma criança protegida. Havia sempre sentido na garganta e no colo toda àquela
angústia sufocante e aquela ansiedade. Agora era mãe e via os filhos numa situação
semelhante à que enfrentara quando criança. Não queria que vivessem. Além do mais,
transferira para eles o ódio amargo que sentia pelo marido. A situação era
terrívelmente complicada. Ninguém a entendia. Embora fosse totalmente fria, dormia
com vários homens diferentes. Consegui ajudá-la a vencer algumas dificuldades.
Encaminhei os meninos para um bom internato. Ela criou coragem bastante para
recomeçar a trabalhar. Fizemos uma coleta para ela. Na verdade a miséria continuou –
apenas um pouco aliviada. O desamparo de tais pessoas leva-as a cometerem atos
imprevisíveis. Vinha à minha casa à noite e ameaça cometer suicídio ou infanticídio a
menos que eu fizesse isso ou aquilo, a menos que ajudasse nesta ou naquela condição,
etc. Visitei-a no seu apartamento e aí tive que enfrentar não a nobre questão da
etiologia das neuroses mas a questão de como um organismo humano podia viver
naquela condições, ano após ano. Não havia nada, absolutamente nada, que trouxesse
luz a essa vida. Nada havia se não miséria, solidão, mexericos dos vizinhos,
preocupações com a refeição seguinte – e, sobre tudo isso, as trapaças criminosas do
senhorio e do patrão. Apesar do fato que o seu trabalho era dificultado por
perturbações psíquicas agudas, era explorada cruelmente e sem piedade.
Recebia uns dois schillings por dia de dez horas de trabalho, o que quer dizer que
devia sustentar-se, e aos três filhos, com uns sessenta ou oitenta schillings por mês! O
extraordinário é que conseguia! Nunca pude descobrir como . Apesar de tudo, não se
descuidava absolutamente da sua aparência. Lia sempre, inclusive alguns livros que me
tomou emprestado ”.

Compreende-se que as neuroses mentais são criadas, como diria Vigotsky, á partir da
“formação social de nossa mente”. Imaginemos que a vida nas nossas milhares de
favelas, envolvendo milhões de pessoas , não seguem o mesmo traço? É claro que sim.
Pois esse é um processo histórico de miséria e exploração individual e social, que
destrói nossas capacidades humanas em pro um meio corrupto cheio de interesses
egoístas e materiais.

Vejamos o que Reich comenta do caso acima:

“ Mais tarde, quando os marxistas não se cansavam de dizer-me que a etiologia


sexual da enfermidade psíquica era um capricho burguês , que era “apenas
necessidade material” o que produzia as neuroses, eu me lembrava sempre de caso
como esse. Como se a miséria sexual não fosse uma “miséria material”! Não é uma
“necessidade material” no sentido da economia marxista o que produz as neuroses.
Antes são as neuroses dessas pessoas que lhes destroem a possibilidade de fazerem
algo de sensato quanto à miséria; de se afirmarem mais eficazmente; de entrarem na
competição do mercado de trabalho; de chegarem a um entendimento com outros em
semelhante situação social e de manterem a cabeça fria para o pensamento racional.
(...)
As neuroses da população operária carecem muito simplesmente do refinamento
cultural. São cruas e ásperas revoltas contra o massacre psíquico a que todo mundo é
submetido. O cidadão próspero suporta a sua neurose com dignidade, ou manifesta-a
materialmente de uma ou de outra forma. Entre as grandes massas da população que
trabalha, a neurose se manifesta em toda a sua deformidade trágica. ”

Temos que compreender que os próprios revolucionários, como eu e qualquer um,


somos reféns dessas condições sociais e morais(sexuais) caóticas , somos reféns dessa
história desvirtuada e da educação coerciva do meio corrupto, porém , quando nos
defrontamos com essas verdades lembramos de Marx quando o mesmo disse que
“ser radical é agarrar as coisas pela raiz, e a raiz para o homem é o próprio homem”,
devemos olhar para nós mesmos e entendermos que um doente não cura o outro e, que
tão pouco conseguiremos uma mudança verdadeira, revolucionária, nas nossas vidas e
na sociedade, se não nos atentarmos para os fatos internos do ser humano; essa
“geografia interior” que fala Artaud, essa ciência psíquica tão importante e essencial
para a formação e compreensão do ser humano sobre si mesmo e o mundo em que vive
e constrói inconscientemente. Uma verdadeira ciência social, uma verdadeira luta
revolucionária não pode renegar esses fatos por causa de conveniências (repressões)
pessoais.
Temos claro também que o marxismo não é preparado para tal ciência, pois a
psicanálise não pode simplesmente descer ao materialismo dialético e, tão pouco,
vemos a preocupação do marxismo em elevar-se à psicanálise e ao surrealismo, há não
ser por poucos expoentes, como o próprio Reich, que não era “marxista”.
A Revolução Russa de 1917 criou formas de governo autônomas, descentralizadas,
embora unidas. Porém a “Ditadura do Proletariado” seguindo a ciência marxista,
privilegiou o mundo material ao psíquico. Quando Marx disse no Manifesto
Comunista que “ os operários nada tinham a perder, a não ser suas correntes ” com a
revolução comunista, ele esqueceu-se do fato simples do ser humano não governar e
escolher sua vida, e a necessidade dessa escolha e liberdade para a libertação humana
do mundo que o mesmo criou contra si, assim em sua ciência histórica admitiu ser mais
importante o desenvolvimento dos meios de produção da riqueza material para o
advento do comunismo e sua conseqüente liberdade humana, do que o domínio dos
seres humanos sobre suas próprias vidas, e o que vemos foi o seu partido (Partido Social
Democrata Alemão) apoiar candidaturas e parlamentarismo ao invés da luta direta
contra o capitalismo, apoiaram a Primeira Guerra Mundial ao invés de seguir as
resoluções da AIT(Associação Internacional dos Trabalhadores – para os marxistas
primeira internacional) que diziam para os operários fazerem greves para que não se
produzissem armas para a guerra e para não atirarem em seus irmãos trabalhadores, e
expulsaram os anarquistas das organizações que faziam parte. Lenin e Trotsky seguiram
o mesmo espírito, e fecharam descaradamente as organizações populares nascidas da
revolução, as mesmas organizações que prometiam ser o caminho da libertação humana,
tão sonhada pelos socialistas, como os sovietes (conselhos populares), as comunas
rurais, os comitês de fábrica, as cooperativas, as organizações anarquistas, etc... Stalin
não inventou nada, nenhuma organização repressora, todas haviam sido criadas na
época de Lenin; fuzilaram anarquistas, poetas, camponeses, marinheiros, soldados,
etc...por não concordarem com a “Ditadura do Proletariado”!
Os operários já diziam na Rússia de 1920: “ não somos mais homens livres...somos
escravos!” Trostky se referia aos mesmos operários ( o antigo futuro da revolução e do
comunismo de acordo com os marxistas) como “material humano”; vemos porque
Reich rompeu com o marxismo e, a partir dos seus estudos psíquicos da sociedade e
indivíduo humano aproximou-se do anarquismo.

A Editora Zahar colocou no glossário da Revolução Sexual de Reich uma boa e concisa
interpretação da Democracia do Trabalho que Reich defendeu para a cura dos males
sociais da libido reprimido e sua nefasta conseqüência para a raça e sociedade humana:

“ Democracia do Trabalho – A democracia do trabalho não é um sistema ideológico,


nem tampouco um sistema político que é imposto à sociedade pela propaganda de
partidos, personalidades políticas ou grupos ideológicos. É a soma total das funções
vitais desenvolvidas naturalmente, e em desenvolvimento, que organicamente governam
as relações humanas racionais.
O que é novo na democracia do trabalho é que pela primeira vez na história da
sociologia uma possível futura ordem da sociedade humana é deduzida dos processos,
que ocorrem naturalmente e que sempre estiveram em funcionamento, e não de
ideologias ou de condições ainda por serem criadas. O que é novo é a renúncia e a
rejeição de qualquer espécie de política e demagogia. Em tal ordem social, as massas
trabalhadoras são realmente incumbidas de suportar o peso da responsabilidade
social, em vez de serem aliviadas de tal peso. As ambições políticas são evitadas. Além
disso, a democracia do trabalho modifica conscientemente a democracia formal – que
consiste simplesmente em votar representantes ideológicos sem qualquer
responsabilidade subseqüente por parte do eleitor – tornando-a uma democracia
autentica, concreta e prática, em escala internacional; uma democracia que se
desenvolve organicamente das funções naturais do amor, trabalho e conhecimento.
Também opõe-se ao misticismo e ao conceito do Estado totalitário não com ideologias,
mas com as funções da vida prática governadas pelas suas próprias leis naturais.
Em suma, a democracia do trabalho não é um programa político, mas uma recém
descoberta função biossociológica básica da sociedade . ”

É a união da inteligência e força de trabalho humana com as nossas exigências sexuais e


biológicas, sem interferências das relações de poder e propriedade, que geram a
hierarquia e a autoridade, que destroem nossa naturalidade e liberdade no convívio
social e no desenvolvimento do trabalho e da criatividade humana.
Nas palavras de Wilhelm Reich...:::

“ A higiene mental em escala maciça exige o poder do conhecimento contra o


poder da ignorância; o poder do trabalho vitalmente necessário contra qualquer
forma de parasitismo, quer seja de natureza econômica, intelectual ou filosófica.
Levando-se a si mesma a sério, a ciência natural pode tornar-se uma cidadela contra
essas forças que destroem a vida, seja qual for o lugar ou o ator dessa destruição.
Claro está que uma pessoa sozinha não possui o conhecimento necessário para
salvaguardar a função natural da vida. A visão cientificamente racional da vida exclui
a ditadura e exige a democracia do trabalho.
O poder social, exercido pelo povo, através do povo, e pelo povo, produzido
pelo amor natural à vida e pelo respeito ao trabalho executado, seria invencível.
Entretanto esse poder pressupõe que as massas trabalhadoras se tornem psiquicamente
independentes e capazes de assumir a responsabilidade total pela existência social, e
de determinar racionalmente a sua própria vida. O que impede isso de acontecer é a
neurose psíquica da multidão, neurose que se materializa em todas as formas de
ditadura e em todas as formas de tumulto político. Para dominar a neurose coletiva e o
irracionalismo na vida social, isto é, para efetuar uma verdadeira higiene mental, é
necessária uma estrutura social que deve, antes de tudo, eliminar a miséria material, e
salvaguardar o livre desenvolvimento das energias vitais em cada um e em todos os
homens. Essa estrutura social só pode ser a verdadeira democracia. ”

No filme “A Comuna” de Peter Watkins, é reproduzido o ambiente da Comuna de Paris


de 1871, onde os trabalhadores assumem o controle da grande e complexa Paris,
inspirados acima de tudo pelas idéias federalistas do anarquista francês Pierre Joseph
Proudhon, que já havia falecido no momento da revolução. Poetas como Paul Verlaine e
Artur Rimbaud participaram da revolução parisiense, assim como centenas de artistas e
escritores. As mulheres criaram suas organizações e se encarregaram de retirar a
Educação da responsabilidade da Igreja e criaram escolas laicas, ensinando um
“discurso” onde o povo, o trabalhador, a união, a auto organização, é que eram os
verdadeiros fundamentos da vida e da sociedade.
O filme conseguiu passar bem o espírito da Comuna e, de como os seres humanos
conseguiram quebrar o jugo do Estado, da autoridade, propriedade e burocracia, criando
uma sociedade em que os indivíduos eram os responsáveis diretos por suas vidas
pessoais e sociais. “A Democracia do Trabalho” pela primeira vez levada à cabo, como
vemos no Manifesto dirigido ao povo francês em 19 de abril de 1871:
“ A completa autonomia da Comuna estendeu-se a todas as localidades da França,
garantindo a cada uma seus direitos integrais e a todos os franceses o pleno exercício
de suas capacidades, como homens, cidadãos, trabalhadores. A Autonomia da Comuna
terá como limite apenas a idêntica autonomia de todas as demais comunidades que
concordarem com o contrato; sua cooperação deve assegurar a liberdade da França”

Na Ucrânia em 1917, também tivemos esforços heróicos e concretos para a


consolidação da “democracia do trabalho” e sua conseqüente “higiene mental”.

“...na espamarrada aldeia de Gulyai Polye um jovem operário chamado Nestor


Makhno, saído a pouco da prisão de Butirky, em Moscou, tinha sido eleito do Soviete
(conselho popular) local. Já em agosto de 1917. Makhno e o punhado de anarquistas
locais que o apoiavam haviam conquistado a confiança dos camponeses pobres,
começando a dividir as propriedades locais entre os sem terra, e a entregar as
pequenas indústrias do distrito aos operários... os relatos de suas aventuras do período
Apresentam-no como um Robin Hood anarquista.
Durante sete meses, de novembro de 1918 a junho de 1919, a legião dominada por
Makhno...durante um breve período de paz, houve uma tentativa de criar uma
sociedade comunista livre, e , se for possível aceitar a descrição um tanto ingênua das
comunidades comunistas, que Makhno incluiu no seu relato sobre a rebelião no sul,
elas pareceriam um pouco com as comunidades criadas pelos camponeses de
Andaluzia(Espanha 1936-37):

“ Em todas essas comunas havia alguns camponeses anarquistas, mas a grande


maioria não era anarquista. Não obstante, agiam na comunidade com aquela
solidariedade anarquista da qual, na vida cotidiana, só são capazes os trabalhadores
cuja simplicidade natural ainda não foi afetada pelo veneno político das cidades. Pois
as cidades sempre desprendem um odor de mentira e traição do qual muitos não
conseguem escapar, mesmo aqueles que se consideram anarquistas.
Cada comunidade era composta por dez famílias de camponeses e operários, ou
seja, um total de cem , duzentos, trezentos membros. Por decisão do Congresso
Regional de Comunidades Agrícolas, cada uma delas recebia uma extensão normal de
terras, isto é, tanto quanto seus membros pudessem cultivar, situadas nas proximidades
da comuna e que haviam pertencido aos pomeschiki (latifundiários), além de gado e de
implementos agrícolas dessas antigas propriedades...
A maioria absoluta dos trabalhadores... via nas comunidades agrícolas a alegre
semente de uma nova vida social, que continuaria, à medida que a Revolução atingisse
o clímax de sua marcha criativa e triunfal, desenvolvendo-se, crescendo e estimulando
a organização de uma sociedade análoga no país, como um todo ou pelo menos nas
aldeias e povoados da nossa região” . ” (George Woodcoock – História das Idéias e
Movimentos Anarquistas)

Mas Makhno, não quis submeter-se as autoridades “comunistas” de Moscou, queria


uma Ucrânia anarquista, livre, onde independente de qualquer direção e Partido, os
próprios camponeses e operários dirigissem suas vidas, como na “democracia do
trabalho” proposta por Reich e, na própria vontade e necessidade de “democracia e
liberdade” em que o “socialismo” foi criado.
Makhno resistiu até agosto de 1920, mas o “Exército Vermelho” comandado por
Trotsky era muito superior e Makhno, teve que fugir com a ajuda da população do
“terror vermelho”, e morreu em 1935 em Paris, “tuberculoso e alcoólatra, um
camponês amargurado e solitário que detestava a cidade...”. Woodcoock diz que “só
após expulsar Makhno da Ucrânia é que os bolcheviques puderam dar início à
procustana tarefa de adaptar o mundo camponês ao Estado marxista.”

Mas a própria Revolução Russa, como toda “Revolução” que é uma Revolução,
modificou a “estrutura” da sociedade e, para essa conseqüência houve a causa da
modificação da “estrutura” do ser humano – membro oprimido pela sociedade, o Estado
e sua ideologia “fascista”, em membro livre construtor da sociedade, do trabalho e das
idéias. Uma inter relação entre o meio social (Material) e a consciência humana dos
indivíduos (Espiritual) trabalhando para o movimento de mudança da sociedade.

O “Partido Bolchevique”, transformado em Partido “Comunista” em 1919, foi o


responsável pelo anulamento da “revolução” russa e ucraniana.
Marx e Proudhon, depois Marx e Bakunin, tiveram profundas divergências pelo
“socialismo” genuíno e transformador. A AIT – Associação Internacional dos
Trabalhadores - uma das organizações mais presentes na Comuna de paris em 1871, foi
o palco da principal batalha entre o “Federalismo” anarquista e o socialismo “político”
(que viria a ser chamado de “marxismo”) da “Social Democracia” Alemã.
O lema da AIT era ...
“A Libertação dos Trabalhadores Será Obra dos Próprios Trabalhadores”
A escola Social Democrata de influência marcadamente de Marx, defendia a conquista
de um ‘poder político’ pela classe operária, o que justificava a participação em
“eleições” e “parlamento”; essa escola queria criar um “Estado Popular” dirigido por
eles, rumo a um futuro “comunista”; a questão de controle direto dos trabalhadores
sobre a economia, extinguia a “necessidade” de um “Estado Popular” ou de qualquer
representante “acima” do povo ou “representante” do mesmo.
Os trabalhadores auto organizando-se nas fábricas e demais locais de trabalho, seria a
“verdadeira” força “política” da sociedade, criada a partir de seus interesses coletivos
através da participação ativa de seus indivíduos – a “Democracia do Trabalho” que o
psicanalista Wilhelm Reich propõe como uma sociedade saudável e próspera: era esse a
intenção da AIT e dos “Federalistas” (anarquistas ).As seções da Espanha, Holanda,
França, América Latina, Itália, França, apoiavam os ideais “Federalistas” – a Alemanha,
Inglaterra, Bélgica, identificavam-se com o socialismo “político’ , chamado pelos
“Federalistas” de “autoritário”.
Por isso Marx apoiou a Guerra da Alemanha contra a França em 1870, visando uma
centralização européia na classe operária alemã, que se tornaria mais forte com a vitória
de Bismarck...Marx chegou a declarar em carta à Engels: “ Bismarck de certa maneira
trabalha para nós... A preponderância da classe operária alemã sobre a francesa
seria ao mesmo tempo a preponderância das nossa teoria sobre a de Proudhon... ”

Marx em carta, tentou desencorajar em os trabalhadores parisienses antes da Comuna de


1871 e pós vitória de Bismarck e, em uma jogada política apoiou-a durante.
Bakunin disse que isso foi “cômico” e que Marx temeu ser “ultrapassado pela comuna”
tamanhão tinha sido “a paixão por esse movimento” pelos trabalhadores e
revolucionários. O Social Democrata alemão Franz Mehering, um dos poucos a
votarem contra o apoio do partido de Marx à Primeira Guerra Mundial, diz ao comentar
sobre “A Guerra Cívil na França”, livro em que Marx exala a Comuna por ter destruído
o aparelho de Estado burguês e instaurado sua própria auto organização, que “apesar
das características originais dessa obra, estava em desacordo com a opinião política
exposta por Marx desde o Manifesto Comunista” – as mesmas discussões políticas que
travaram a batalha na AIT e a dissolução da mesma pelo próprio Marx (mesmo após ter
escrito “Guerra Cívil na França “ exaltando a Comuna) e as polemicas com Bakunin e
os Federalistas. Parece que Bakunin estava certo quando disse que Marx temeu ser
ultrapassado pela Comuna, adotando por um tempo seu ideal político, mesmo que fosse
“proudhoniano” ou “Federalista”.
Lenin cria sua facção “Bolchevique” na Social Democracia Russa”, em base ao Marx
que escreve “A Guerra Civil na França”, que apóia os métodos anarquistas da Comuna.
Porém ele segue a risca o “materialismo histórico” de Marx e pensa que é impossível
um “socialismo” sem o “desenvolvimento dos meios de produção”, e o resultado é a
Rússia sob a Ditadura do Proletariado” e de um Estado, não “Social Democrata” como
pensara Marx, mas um Estado “Bolchevique”, “Marxista”, “Vermelho”... E o que vemos
foi um terror intenso, onde artistas, poetas, revolucionários, marxistas, anarquistas,
foram fuzilados, exterminados e exilados no gelo da Sibéria – foi a mistura do ideal
“social democrata” de Marx, de um “socialismo” desenvolvido pelos ‘comunistas’
conscientes de seu “papel histórico”, através do poder político, do Estado, com o Marx
do “Guerra Cívil na França” que apóia uma ação revolucionária direta da classe
operária.
Dessa maneira Lenin propagandeava um Estado dos Trabalhadores, ao mesmo tempo
que fechava as organizações genuinamente operárias, nascidas no processo
revolucionário de 1917, e que o mesmo exaltara antes como “ a verdadeira democracia
operária”, que era, em tese, a própria meta de Marx em sua sociedade “comunista” (pós
“socialismo”).
Quando Stalin chegou ao poder, ele “apenas” intensificou a repressão que Lenin havia
iniciado para sua “Ditadura Proletária”, inspirada em Marx.

Mas durante o processo revolucionário Livre, Independente, a Rússia conseguiu


estágios de auto organização (“Democracia do Trabalho”) surpreendentes, modificando
a “estrutura “ humana social” em uma rapidez admirável. É bom lembrar que a Rússia
estava com 4 anos de Guerra Mundial contra o eixo alemão, e a maioria de sua
população era camponesa e analfabeta.

No livro de Jhon Reed, “10 dias Que Abalaram o Mundo”, o primeiro sobre a revolução
de 1917 na Rússia, inclusive elogiado por Lenin, demonstra a mudança estrutural que
passou o povo russo nesse período, ao mesmo tempo que mostra o que é uma
“revolução” socialista genuína:

“ Soviets: a palavra “soviete” significa “Conselho”. Durante o governo do Czar, o


Conselho Imperial do Estado denominava-se Gosudarstvenyi Soviete. Entretanto, após
a Revolução o termo soviete foi empregado para designar um certo tipo de assembléias
eleitas pelas organizações econômicas da classe operária: os Soviets dos deputados
operários, camponeses e soldados. Por isso mesmo, limitei-me a empregar a palavra
Soviete quando me refiro a essas organizações proletárias...
Os Sovietes de deputados operários e soldados, depois da Revolução de março (que
derrubou o Czar) fundiram-se em quase todos os locais. Entretanto, ainda reuniam-se
separadamente. Só após o golpe de Estado bolchevique é que os Sovietes de deputados
camponeses reuniram-se a eles. Como os operários e os soldados, também os
camponeses estavam organizados na capital com o seu Comitê Central Executivo Pan
Russo dos Sovietes camponeses. ”
Foram essas organizações que garantiram a Revolução Russa e que foram exaltadas por
Lenin como “ a autentica democracia operária” antes do golpe bolchevique.
Junte ao Soviets, os “comitês de fábrica” , as “coopperativas”, “guarda vermelha”,
“comitês” do exército, marinha, “comunas rurais”... que desenvolviam-se para criar uma
nova “estrutura” de sociedade, construída a partir dos próprios trabalhadores, como
havia defendido os “Federalistas” e a AIT até sua dissolução por Marx e a criação da
Segunda Internacional de inspiração “Social Democrata” i.e., de Marx, que teve por fim
o vergonhoso apoio à Primeira Guerra Mundial, que foi uma das causas da própria
Revolução Russa quando os soldados começaram a desertar em massa...

“ ...os soldados começavam a resolver a questão da paz ao seu modo: pela deserção
em massa. Os camponeses incendiavam as casas dos seus senhores e dividiam as terras
entre si. Os operários paralisavam a produção industrial pela sabotagem e
declaravam-se, freqüentemente, em greve. ” (Jhon Reed)

Nesse período começa a palavra de ordem “Todo Poder aos Soviets”, que o Partido
Bolchevique irá tomar como slogan para tomar o Poder do Estado.Abortando, como o
faria na Ucrânia e com Makhno, o “Socialismo”, “Democracia do Trabalho”, o ‘novo’
ser humano em auto libertação, auto cura.

“O operário russo é revolucionário, mas ele não é nem violento, nem dogmático, nem
pouco inteligente. Está pronto para o combate de barricadas, mas estudou suas regras
e, caso único entre os operários do mundo inteiro, foi na prática ele que as aprendeu.
Está disposto a levar até o fim a luta contra seu opressor, a classe capitalista” (J.Reed)

Os anarquistas viram desde início que os planos bolcheviques estavam destruindo a


Revolução Russa. Que o seu “autoritarismo”, “desejo de Poder”, sua “Ditadura
Proletária”, estavam guinado a sociedade recém liberta para uma nova escravidão.

“ No início, os anarquistas russos mostraram-se divididos quanto à posição a adotar


frente ao governo bolchevique e também frente aos sovietes. Alguns tornaram-se
comunistas. Outros, como o idealista Alexander Chapeou, acreditavam que poderiam
melhorar as condições vigentes trabalhando com o novo regime, e colaboraram a contra
gosto e brevemente. Mas a grande maioria percebeu, acertadamente, que o governo
bolchevique era uma ditadura partidária alheia a todos os valores libertários que
defendiam, e abriram oposição. Com relação aos sovietes, a atitude foi mais lenta. A
princípio eles consideravam esses conselhos autenticas expressões da vontade dos
trabalhadores e camponeses que os integravam, mas logo decidiram que os
bolcheviques haviam transformado os conselhos em instrumentos de sua política. Essa
posição anarquista foi expressa numa resolução do Congresso Nabat de abril de 1919,
que se opunha a “Toda participação nos soviets, que se haviam transformado em órgãos
puramente políticos, organizados em bases autoritárias, centralistas e estatizantes”...
No fim de 1922, todos os anarquistas da Rússia haviam sido mortos, presos, banidos
ou silenciados. Para os anarquistas no exílio restava a amargura de ter visto a Revolução
se transformar exatamente no oposto de tudo aquilo que esperavam; quando muito, o
melancólico consolo de saber que seu antepassado Bakunin tinha previsto tudo o que
aconteceria agora quando examinou o socialismo marxista ”. (G. Woodcoock)
Claro que uma “Revolução” é um processo difícil e complexo, feito a longo prazo.
Porem....esse “Longo” prazo depende de condições “radicais” da própria modificação
da estrutura da sociedade autoritária e seu humano reprimido.
Wilhelm Reich estudou o desenvolvimento de “Uma Nova Vida” na União Soviética,
porém “refreada” pelas condições tradicionais da sexualidade doente e da falta de
“Autonomia” da juventude em criar as novas condições sexuais saudáveis.

“ Somente uma juventude sexualmente sadia, tornada independente, sem disciplina


autoritária, poderia realizar de modo permanente as tarefas incrivelmente difíceis da
revolução...” (W.Reich)

O próprio Lenin havia declarado e 1916 que “sem independência completa, a juventude
não pode criar socialistas aproveitáveis.”
Porem isso foi antes dos bolcheviques tomarem o poder do Estado, consequentemente
“organizado” de “Cima para baixo”, pela “força”se mantém, como sabia Marx, como
defendia Trotsky.

No V congresso do Konsomol (juventude comunista) foi dito:

“ Não devemos apelar unicamente para o cérebro, pois antes que o homem entenda
alguma coisa tem que senti-la também ”

Porém as comunas da juventude, como dizia Reich, estavam repletas de uma

“disciplina autoritária, antifeminista, constituída sobre ligações homossexuais, e não


estruturada de forma especificamente comunista ”.

Reich demonstra o papel das “comunas da juventude” para enfrentar as dificuldades da


construção de uma nova vida e sexualidade saudável, construída somente por indivíduos
livres, ao contrário dos ‘criados’ pela família patriarcal da sociedade autoritária.

“ As comunas da juventude prestam-se especialmente bem para demonstrar o papel da


revolução sexual juvenil. Foram a primeira expressão natural da vida coletiva juvenil
em desenvolvimento. Uma comuna constituída de homens mais idosos logo depara com
as dificuldades apresentadas pelas reações psíquicas e costumes rígidos. Na juventude,
porém, especialmente na puberdade, tudo é movediço, as inibições ainda não se
tornaram estruturas rígidas. Justamente as comunas jovens tinham expectativas
especialmente favoráveis para se imporem e assim provarem e utilidade e o grande
progresso oferecidos pela vida coletiva. ” (W. Reich)

Como foi demonstrado, temos que efetuar uma real “democracia”, onde os indivíduos
estejam conscientes de sua liberdade natural e responsabilidade social em comum; as
“revoluções” demonstram como isso é possível, ao mesmo tempo de como é “difícil”
desprender-se dessa herança patriarcal, autoritária, que nos fez doentes “física” e
“emocionalmente”, prisioneiros de uma “realidade” alienada aos indivíduos e suas
vontades, mas construídas e alimentada pelos mesmos.
A Guerra Cívil Espanhola, o último acontecimento revolucionário de importância no
século XX ( e não estamos esquecendo da importância do Maio de 68 na França) ,
Foi dirigida em sua maioria pelos anarquistas e contou com a participação de marxistas
libertários.
George Woodcook relata no seu livro “História das Ideias e Movimentos Anarquistas”,
relatos da coletivização realizada pelos trabalhadores na Espanha Anarquista, algo bem
parecido com a idéia de higiene mental a partir da organização racional da vida e do
trabalho proposta por Reich:

“ Inegavelmente, a fábrica que vi é um grande sucesso para a CNT(Confederação


Nacional do Trabalho – sindicato anarco-sindicalista). Apenas três semanas depois do
início da Guerra Cívil, duas semanas depois do fim da greve geral, tudo parece correr
tão calmamente como se nada tivesse acontecido. Visitei os homens em sua máquinas.
As salas pareciam arrumadas, e o trabalho era realizado de maneira regular. Desde a
socialização, esta fábrica consertou dois ônibus, terminou um que estava em
construção e construiu um completamente novo. Este último continha a inscrição
“construído sob controle dos trabalhadores”.

E Woodcook relata as experiências coletivas nas áreas rurais:

“ Antes da mais nada, não existe dúvida que a coletivização das áreas rurais foi
extensa. O escritor francês Gaston Leval menciona 500 coletividades no Levante, 400
em Aragão, 230 em áreas de Castela, enquanto na Andaluzia todas as aldeias que
escaparam do primeiro ataque violento dos fascistas(nacionalistas) automaticamente
coletivizaram sua terra. Leval estipula que, ao todo, 3.000.000 de pessoas estavam
vivendo sob economias regionais coletivizadas, por volta de 1937.”

O filme de Ken Loach, Terra e Liberdade e uma boa ilustração dessa luta pelo
socialismo na Espanha de 1936-37 e, de como a Rússia “Soviética”, sob o controle de
Stalin, desmontou esse processo revolucionária, assim como Lenin, Trotsky e os
bolcheviques haviam desmontado a Revolução Russa de 1917 à 1921 para criar sua
“Ditadura Revolucionária” . Mas não existe dúvida da importância da Revolução e do
Anarquismo (Democracia do Trabalho) para a higienização e libertação humana,
sonhada há séculos, desde Buda e Cristo às revoluções socialistas de nossa era intitulada
moderna. A Comuna de Paris,a Ucrânia de Mackno, a Rússia de 1917, a Espanha
Anarquista, foram realizações concretas para a implantação da Democracia do
Trabalho e o reino da liberdade humana sonhado pelo socialismo.

Mas a luta continua...a aprofundação do capitalismo nessa era “pós moderna” mostra a
urgência da transformação social, em um mundo cada vez mais caótico e perverso.
O mundo se parece cada vez mais com um site pornô que estupra meninas, alicia
crianças e cria fantasias para um Ego já corrompido, vazio e desviado, o mesmo Ego
das grandes e pequenas guerras mundiais e nossa horrível história de ditaduras e
assassinatos em massa, nas camaras de gás, nas torturas, nas favelas e prisões, na
miséria generalizada, nos manicômios, na educação coerciva, na exploração do trabalho,
etc... Mas, como bem disse Lavousier...

“Na natureza nada se cria...nada se perde...tudo se transforma...”


Anunciando a aurora da transformação e da dialética humana...

O indivíduo precisa adentrar nessa essência cósmica da vida e descobrir o infinito de


vida que o sopro do universo jogou para dentro de nós...somos todos um...eu ...você...
e o Universo...

Lembremos de Wilhelm Reich... “ A saúde psíquica depende da potência orgástica,


isto é, do ponto até o qual o indivíduo pode entregar-se, e pode experimentar o clímax
de excitação no ato sexual natural. Baseia-se na atitude de cunho não neurótico da
capacidade do indivíduo para o amor. As enfermidades psíquicas são o resultado de
uma perturbação da capacidade natural de amar ”.

A Civilização trouxe avanços tecnológicos, mas nos fez perder nossa união com a
natureza, com o mundo, com o próximo, com o nosso interior ... alienou-nos e nos fez
acreditar que a repressão, a escravidão, a fome, a guerra, a tristeza, as doenças, as
neuroses... são algo normais ...e, não, uma anomalia na qual nossa mente foi
aprisionada... como uma “ Matrix”!

Retomemos o caminho da luz e da vida...

Nós somos um dos milagres do Universo...uma manifestação pura de energia... que


nunca poderá ser totalmente corrompida por um mundo alheio a si mesmo e a seu
espírito cósmico, quântico...
Se conseguirmos retomar esse Sol central de nossa vida...veremos o infinito que está
dentro de nós... uma camada pura ...

Como escreveu o poeta Shelley...

A odiosa máscara caiu, e o homem permanece


sem cetro, livre, sem restrições, mas homem
igual, sem castas, tribos ou nações,
isento de medo, respeito, hierarquias.
rei de si mesmo; apenas gentil, sábio, mas homem
sem paixões? – não, entretanto livre de culpa ou sofrimento
que por sua vontade tivesse criado ou sofrido
ainda não isento da sorte, da morte e da inconstância
Embora ordenando-as como se escravas fossem.
Os obstáculos daquilo que, de outra maneira,
Poderia voar demasiado alto
como a mais sublime estrela do firmamento
elevando-se acima do vazio intenso.

Mas para construir esse ser humano “rei de si mesmo”, devemos trabalhar em formas
alternativas das apresentadas pela civilização autoritária e seu estágio mais vazio e
artificial: o capitalismo.
Como assinalou Michel Foucault e Wilhelm Reich, temos que mudar não somente as
relações mega estruturais de poder, como o Estado e a produção economica, mas as
relações cotidianas, “microfísicas”, onde esse poder se desenvolve e se alimenta.
Temos que recuperar o uso da linguagem em favor da humanidade, libertando-a dos
desejos e relações de poder de um mundo autoritário e artificial. Como disse Paulo
Freire... “a leitura do mundo...precede a leitura das palavras”...
Temos que reinterpretar o mundo e reutilizar todas as formas de linguagem, escrita ou
visual, unindo as subjetividades em projeto em comum, onde o amor ao próximo, o
amor a vida, sejam os verdadeiros “senhores” de nossa consciência e humanidade.
Unificar nossa biologia e realização humana, com os esforços coletivos por uma
Humanidade Unificada, entregando-se a uma única Verdade: A Liberdade.

“ O amor, o trabalho e o conhecimento...


São as fontes de nossa vida...deveriam também governá-la...”

Wilhelm Reich
Fontes da Pesquisa:

- Sigmund Freud – Os Pensadores


- Wilhelm Reich – A Função do Orgasmo
- Wilhelm Reich – A Revolução Sexual
- Erich Fromm – O Medo à Liberdade
- Erich Fromm – Psicanálise da Sociedade Contemporânea
- Ernest Mandel – Introdução ao Marxismo
- William Blake – Matrimônio do Céu e do Inferno
- Karl Marx e Friedrich Engels – O Manifesto Comunista
- Karl Marx – Manuscritos Econômicos – Filosóficos
- Karl Marx – Contribuição a Crítica da Economia Política
- Friedrich Engels – Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado
- Mao Tsé Tung – O Livro Vermelho
- Vladimir Ilich Ulianov (Lenin) – Que fazer?
- Leon Trostsky – Programa de Transição
- Antonin Artaud – Escritos de Antonin Artaud (org. Claudio Willer)
- Richard Dawkins – O Gene Egoísta
- Carl Sagan – Bilhões e Bilhões de Anos
- Friedrich Nietzsche – A Gaia Ciência
- Antonio Damásio – O Erro de Descartes
- Jean Piaget – Seis Lições de Psicologia
- A Desobediência Civil – Henry David Thoreau
- L.S. Vigotsky – A Formação Social da Mente
- Louis Althusser – Posições 2
- Jean Delumeau – História do Medo no Ocidente
- Aldous Huxley – Admirável Mundo Novo
- Darcy Azambuja – Teoria Geral do Estado
- Will Durant – História da Filosofia
- Mikhail Bakunin – Escritos Anarquistas
- Antologia do Socialismo Libertário – seleção de Nelson Abrantes
- George Woodcoock - História das Idéias e Movimentos Anarquistas
- Jhon Reed – Dez Dias que Abalaram o Mundo
- Isa Salles – Um Cadáver ao Sol
- Robert Anton Wilson – A Nova Inquisição (Racionalismo Irracional e a Fortaleza da
Ciência)
- Suetônio – A Vida dos Doze Césares
- Oscar Wilde – A Alma do Homem sob o Socialismo
- Leon Tolstoi – Anna Karenina
- Gustave Flaubert – Madame Bovary
- Henrik Ibsen – A Casa de Bonecas
- Michel Foucault – Microfísica do Poder
-Michel Foucault – História da Sexualidade –vol.1
- Paulo Freire – Pedagogia da Autonomia
- O Ponto de Mutação – Fritjof Capra

Filmografia:
- A Comuna – Peter Watkins
- Reds – Warrem Beatty
- Doutor Jivago – David Lean
- Dança com Lobos – Kevin Costner
- Romance X – Crhistiane Baillet
- Irreversível – Gaspar Nóe
- Luxúria – Tinto Brass
- Calígula – Tinto Brass
- Terra e Liberdade – Ken Loach
- A Matrix – Irmãos Machowsky
- Pecados Íntimos – Todd Field
- O Ponto de Mutação – Bernt Capra

Documentários:

- A Indústria do sexo: Influência sobre crianças – TV Escola


- O Poder e a Mídia
- A Servidão Moderna – Jean François Brient
- Por uma Outra Globalização – Milton Santos
- Dias que Abalaram o Mundo – Super Interessante (revista)
- Fahrenheit (Confidencial) 9/11 – Michael Moore
- Tiros em Columbine – Michael Moore
- Cosmos – Carl Sagan
- A Viagem Cósmica – “IMAX”

Outras Fontes:

- Internet

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