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Karl Marx
Com os avanços da física subatômica (quântica), Shiva renasce em todos nós,
em uma dança e fluxo de Energia infinita...
Shiva = deus hindu responsável pelo constante fluxo de Energia do Universo, ou seja, uma
constante criação e destruição cósmica.
Reich disse também que "as partes mais pormenorizadas de meu trabalho,
parecia uma parte infinitesimal do universo"
"A Libido Urgente" que escrevi, tenta demonstrar o desvio dessas "energias"
vitais, biológicas e universais, através da "autoridade" exercida pela civilização a
partir do advento do "patriarcalismo" (família patriarcal/autoritária) e da
"propriedade privada" (fruto do trabalho escravo e do Estado), que interferem
na "libido" (energias sexuais) humana, quebrando a harmonia biológica que ela
naturalmente desenvolve quando é 'livre' de pressões sociais e interesses de
poder - ambos desviadores das funções biopsíquicas da sexualidade.
Orgonio Azul
Para Reich o Orgonio era Azul...
Para Wilhelm Reich, o "Orgonio" seria uma energia estritamente física contida
no Universo e, que tinha total relação com a regulação de nossas energias
biológicas (libido, chacras, células, átomos...). Quando o ser humano é
reprimido pela sociedade,pelos seus mecanismos ideológicos emocionais de
Poder , essa energia deixaria de circular normalmente, o que adoeceria os
indivíduos "física e emocionalmente".
A Medicina Chinesa, que conta com cinco mil anos de existência, trabalha com
esse tipo de conhecimento universal, que foi trabalhado por Wilhelm Reich na
psicanálise e,no estudo da física subatômica (quântica).
Ela trabalha com o princípio da energia dos alimentos e a importância da nutrição correta para
o corpo e suas energias
Para o equilíbrio energético, os chineses desenvolveram a "acupuntura", que, tocando
diferentes partes do corpo com a agulha consegue fazer correr livres os canais de energia
reprimidos no corpo.
Até na energia doméstica os chineses desenvolveram meios para a livre flutuação das
energias - "Feng Shui"
No Manifesto Comunista Marx diz que "tudo que é sólido desmancha no ar"...
pensamento que também vai de encontro a física quântica... Os "Chacras", que
são a ligação ente nosso corpo (mente/corpo entenda-se) na filosofia hinduísta
e tibetana, não são tão "Impossíveis", como pensaria algum "materialista" em
comparação as descobertas do mundo subatômico, onde tudo se dissolve numa
rede de energia...("Dança de Shiva")...O mesmo com o "Orgonio" descoberto
por Wilhem Reich e que gerou tantas polemicas e sua prisão (e morte!)...
William Blake já havia dito que "tudo que hoje é provado já havia sido
imaginado"...
Friedrich Nietzsche
Longe dos dogmas científicos mecanicos do cartesianismo que foi praticado por
Isaac Newton e aprofundado pelo capitalismo e sua "Ciência" voltada para o
consumo, o imediato, à Guerra...
William Blake - Issac Newton
O sistema rígido da civilização autoritária criou uma sociedade rígida, com seres
rígidos, estranhos à própria natureza individual e coletiva. As energias sexuais
foram e são utilizadas para aprofundar esse sistema autoritário, transformando
o ser humano numa "máquina elétrica" com 'defeito'... não "relacionado com o
cosmo"... estranho ao "Cerne do seu ser" como pensava Reich.
" ... a vontade que os impele e a instrução estratégica que os sustenta "...
Foucault diz querer entender –
"A Libido Urgente" tenta também esse propósito, tão complexo, tão histórico,
biológico e físico... psíquico!
“Uma tal atitude consiste em buscar a verdade nos fatos. Por "fatos"
entendemos as coisas e os fenômenos tal qual existem objetivamente, por
"verdade" entendemos o laço interno dessas coisas e fenômenos objetivos,
quer dizer, as leis que o regem; por "buscar" entendemos estudar. Nós
devemos partir da situação real no interior e exterior do país, província, distrito
ou subdistrito, e extrair dela, como guia para a nossa ação, as leis que são
próprias nessa situação, e não leis criadas pela nossa imaginação, quer dizer,
devemos descobrir o laço interno dos acontecimentos que se desenrolam à
nossa volta. Para isso, devemos basear-nos nos fatos tal qual existem,
objetivamente, e não na nossa imaginação subjetiva, no entusiasmo de um
momento ou nos conhecimentos livrescos;há que recolher minuciosamente os
materiais e extrair conclusões justas desse material. "
William Blake
" Quando as portas da percepção estiverem abertas....
o homem verá as coisas como realmente são...
Infinitas... "
William Blake
A Libido Urgente
William Blake
“ Assim um sistema se formou, do qual alguns tiraram vantagens & escravizaram o povo
tentando compreender ou abstrair as divindades mentais de seus objetos: assim começou
o Sacerdócio;
Escolhendo formas de adoração em textos poéticos.
E finalmente proclamaram que os Deuses ordenaram tais coisas... ” (William Blake)
Quem ousaria “desobedecer” os “Deuses” nesse período histórico? – Você, eu? Acho que
não! O “medo”( tão presente em nossa sociedade atual devido seu caos social, e
encorajado por Governos e pela mídia), foi o meio de Controle utilizado por esses
sacerdotes e Guerreiros tribais; o “Medo” que vivemos em nossa sociedade de hoje, não
está desconecto em nenhum momento dessa “estrutura” patriarcal criada para assegurar
privilégios e herança (i.e. “propriedade”).
Acabamos de presenciar uma guerra de quase dez anos entre os EUA e o Iraque, em que
o país que é considerado o mais livre e avançado do globo terrestre, incutiu o “medo” em
sua população pós “ataque” de 2001 na “torres gêmeas” disseminando a Mentira de
“armas químicas” no Iraque e um suposto ataque do mesmo contra os EUA – tudo com o
“pano de fundo” do Petróleo. Vejam “Fahrenheit” (Confidencial) de Michael Moore,
cineasta norte americano, ele mesmo analisa os fatos pós 2001 e a suposta culpa e
perseguição de Bin Laden e as supostas “armas químicas” do Iraque e a conseqüente
Guerra pelo Petróleo. Em “Tiros em Columbine” Moore também analisa essa “cultura”
norte americano, baseada no medo (seja o medo do fracasso, o medo da guerra, o medo
da solidão) e no vazio...
Nem toda tribo que conheceu a agricultura e o “ excedente ” econômico, passou por esse
processo “ civilizador ” da propriedade, patriarcalismo e herança. Ernest Mandel estudou
as descobertas materialistas feitas por importantes antropólogos e constatou um
sentimento de igualdade e solidariedade entre várias tribos indígenas que conheceram a
agricultura:
“ ... vários antropólogos falam-nos dum hábito que se encontra entre numerosos
povos primitivos, hábito que consiste em organizar festas da abundância, após as
colheitas.
A antropóloga Margaret Mead descreveu-nos estas festas entre o povo papua dos
Arapech ( Nova Guiné ). Todos os que tenham feito uma colheita acima da média,
convidam toda a sua família e todos os seus vizinhos, e as festividades prosseguem até
que a maior parte desse excedente tenha desaparecido. Margaret Mead acrescenta:
“ estas festas representam uma medida adequada para impedir que um indivíduo
acumule riquezas... ”
O antropólogo Asch estudou os costumes e o sistema duma tribo existente no sul dos
Estados Unidos, a tribo dos Hopi. Nesta tribo, contrariamente à nossa sociedade, o
princípio da competição individual é considerável condenável do ponto de vista moral.
Quando as crianças Hopi jogam ou praticam desportos, não contam nunca os pontos e
ignoram o “vencedor”.
Quando as comunidades primitivas, que não se encontravam ainda dividida
em classes, praticam a agricultura como atividade economica principal e ocupam um
determinado terreno, não organizam a exploração coletiva do solo. Cada família recebe
uma área em usufruto por um certo período. Mas esses campos são redistribuídos
frequentemente, para evitar favorecer este ou aquele membro da comunidade em
detrimento dos outros. Os prados e os bosques são explorados em comum. Este sistema
de comunidade rural , baseado na ausência de propriedade do solo, foi encontrado na
origem da agricultura entre quase todos os povos do mundo, e demonstra que, nessa
época, a sociedade não estava ainda dividida em classes ao nível da aldeia . ”
Isso nos demonstra que, apesar da civilização ( propriedade, domínio, herança , reinos,
Estado, patriarcalismo, autoridade.....) ter se espalhado para o mundo até os dias de hoje,
isso não quer dizer que ela represente a verdadeira natureza humana ; a civilização e
seus criadores apenas subjugaram as pessoas e o trabalho e impuseram ao mundo um
mundo alienado e sem forma, onde as pessoas executam um trabalho cego feitos por um
domínio cego e, acabam se cegando.
As classes sociais, a desigualdade a exploração, etc, nem sempre existiram e por isso nem
sempre existirão. O egoísmo e a maldade não são inatos aos seres humanos ou apenas aos
homens (que iniciaram a busca pelo poder), são construídos socialmente, como defendia
também Wilhelm Reich e em certa medida Sigmund Freud.
Ernest Mandel ainda coloca um importante fato:
Enfim...a sociedade humana nem sempre reconheceu a autoridade cega, não antes da
civilização, marcada pela propriedade privada, a escravidão e o poder autoritário na
família e na religião.
Nosso “arquétipo mental”, podemos dizer, era moldado de acordo com as leis naturais,
não reconhecendo a autoridade sexual em nenhum momento anterior ao acúmulo
material e o desejo de poder do chefe religioso ou militar sobre os demais membros do
clã.
Quando Freud começou a estudar a “histeria” feminina e foi contatando sua natureza
“inconsciente”, ele estava caminhando para uma descoberta maior e, consequentemente,
um problema maior. A (ou O ) “Libido”, o “Inconsciente”, a “Civilização”...
O ser humano havia se reprimido de tal forma para conviver nas regras da “sociedade” e
da “civilização”, que havia se transformado num ser “doente”, cheio de “neuroses” e
“repressões”, que se expressavam melancolicamente e distorcidamente. Ele chamou isso
de “Mal Estar da Civilização” e dizia claramente que se uma sociedade não satisfaz a
naturalidade de seus indivíduos, cabia então aos mesmos construírem outra. Freud não
era “socialista”( apesar que nas conversas pessoais com Wilhelm Reich, dizia querer
que a “experiência” russa( se referia a Revolução “Comunista” de 1917) fosse levada à
cabo), mas compreendia como essa forma autoritária de civilização e sua base
econômica social, comprometiam a Energia e Moral Sexual, reprimindo-a por causas de
interesses de poder materiais, por isso via a realização da naturalidade dos indivíduos
impossível de se concretizar numa sociedade autoritária, que não dá valor para as
emergências sexuais dos seres humanos. E é bom lembrar que “sexualidade” e “libido”
para Freud , não era apenas o ato sexual que nos reproduz em si, mas tudo concernente
á nossa satisfação, alegria e felicidade; uma energia biológica vital para nossa saúde
mental e corporal.
Mas na verdade foi Wilhelm Reich, discípulo dissidente de Freud, quem aprofundou a
psique humana; utilizando-se das descobertas de Freud, iniciou suas próprias pesquisas
sobre o organismo humano, à sociedade, o cosmo e o inconsciente. Reich foi perseguido
pelos comunistas, pelos nazistas e pelos liberais. Mas ele mesmo dizia:
“ A economia sexual nada tem a ver com qualquer das organizações políticas ou
ideologias existentes. Os conceitos políticos que separam as várias camadas e classes
sociais não se aplicam à economia sexual. A distorção social da sexualidade natural e
a sua supressão nas crianças e nos adolescentes são condições humanas universais,
transcendendo todas as fronteiras de Estado ou grupo”.
W. Reich descobriu uma nova energia, que ele chamou de “Orgônio”, que seria a
bioenergia responsável pelo funcionamento da vida em todos os seres vivos. A “libido”
de Freud havia sido descoberta realmente. O “Orgasmo” sexual não era simplesmente
algo “natural”, mas “vital”; era ele o responsável pela propagação da energia orgônica
em nosso corpo (entenda-se corpo e mente). Porém, se o inconsciente do indivíduo
estivesse bloqueado por repressões morais e sexuais de um meio autoritário, essa
bioenergia não circularia naturalmente, o que causaria o adoecimento do indivíduo,
tanto corporal como mental.
Para Reich também a civilização e seu modelo autoritário negava a vida e era totalmente
avesso a ela. Em suas palavras...
A Civilização moldou seres doentes, estranhos aos seus próprios desejos e necessidades.
Foi uma mudança radical da naturalidade para a autoridade, quando a sociedade
humana começou a extinguir a comunidade dos bens e do poder social, acabando com a
linhagem matriarcal e a solidariedade do clã. Vemos como Reich traduziu tal mudança
psíquica do ser humano, mudança que resultou numa cisão dentro de nosso próprio
“eu”, arruinando o equilíbrio natural que temos desde a infância (que Jean Piaget
também percebeu e assinalou) quando não somos reprimidos pelos interesses de Poder
existentes:
“Na sociedade primitiva, que tem uma estrutura coletiva e “ comunista original ”, a
unidade do clã é a soma de parentes consangüíneos originários da mesma trisavô. Dentro
desse clã, que ao mesmo tempo representa a unidade econômica, somente existem os laços
frouxos do acasalamento. Na medida em que, por reviravoltas econômicas, os clãs ficam
sujeitos à família potencialmente patriarcal do chefe, também começa a destruição do clã.
Família e clã entram em antagonismo. A família então progressivamente se torna a
unidade econômica em lugar do clã, surgindo assim a origem social do patriarcado. O
chefe da organização matriarcal do clã que originalmente não se encontrava em
antagonismo com a sociedade do clã, torna-se paulatinamente o patriarca da família,
adquirindo assim preponderância econômica e progressivamente torna-se o patriarca de
toda a tribo. Origina-se, provavelmente, pele primeira vez, uma diferença de classe entre
a família do chefe e os clãs inferiores da tribo.
As primeiras classes foram ,pois, a família do chefe, de um lado, os gentios, do
outro lado. ”
Quando, principalmente os religiosos, dizem que a “família” é a “célula” social, eles estão
certíssimos, porem, duvido que digam isso em vista do grande caos humano social que a
mesma causou em sua fase “patriarcal”.
Quando vemos nosso corpo biológico fraco e doente, nossa mente alienada vazia...
Quando vemos milhões serem mortos em guerras forjadas por poucos interessados e,
enquanto milhões morrem de fome ou quando outros milhões se entregam as mais
baixas formas de sexualidade ou quando vemos uma massa inteira levantar seus
próprios ditadores e lhes gritar “heil”... compreendemos quão o mal que esse mundo
civilizado nos causou...como ficamos estranhos à nossa natureza e liberdade...ao nosso
“eu” e ao nosso “próximo”...ou seja...como ficamos doentes...
Agora que Wilhelm Reich devesse morrer numa penitenciaria federal, num país
chamado “democrático” como os EUA, depois de fugir do terror nazista...faz parte
também dessa doença e de como o mundo doente fez de tudo para livrar-se de certas
verdades inconvenientes...
Então as relações econômicas são importantes, mas não são as principais; elas se
interagiram e se interagem até hoje com as relações psíquicas e simbólicas do ser humano,
com e no seu meio. Por isso não basta apenas a ciência do materialismo para explicar a
alienação humana e propor sua libertação. É preciso compreender o mundo interno do
humano e, de como, ele se relaciona e se relacionou com o mundo externo que tira sua
liberdade e naturalidade por causa de interesses de poder e materiais. Os SÍMBOLOS
possuem um poder imenso, pois é próprio da mente da mente humana construir
arquiteturas simbólicas para explicar ou compreender, de uma maneira acessível à mente, a
complexidade da realidade à sua volta.
Um símbolo pode tanto trazer liberdade como a escravidão; se for usado por pessoas
doentes, como as criadas pela civilização autoritária, os símbolos aprofundarão essa
escravidão e dependência de liderança; se forem usados como libertação, podem conduzir
um povo para seu caminho natural de (re) encontro à Vida.
De acordo com essa última análise de Reich, a simbologia da civilização, como ele
genialmente comparou com a antiga estrutura livre do “clã”, é de aprisionar o ser humano
e escravizá-lo a partir do trabalho, da sexualidade e do medo. Essa formação simbólica da
autoridade e do controle ( coerção ) se arrastou durante milhares de anos para todas as
partes do globo que desenvolveram ou conheceram a “ civilização ”. Agora, essa
simbologia está mais que enraizada, por isso Reich termina a sua análise dizendo...
Claro é que ninguém quer voltar a viver na selva, mas isso não quer dizer que a
organização dos indígenas não era mais avançada que a nossa do ponto de vista natural
(biológico) e político, assim como somos mais avançados na tecnologia e, que, os
indígenas, não tenham nada para nos passar como conhecimento, principalmente
conhecimento natural, como a relação com o nosso semelhante e a relação humano
natureza, como a de algumas tribos norte americanas que extraíam suas sobrevivências à
modo de garantir que a sétima geração pudesse desfrutar das mesmas coisas que elas, algo
que nesse tempo de “ Midas ” ambiental e fome mundial,parece ser um sonho, ou, como
diria os conservadores mal informados: uma “ utopia ”.
É passada a hora em que, a ciência humana, em todas suas especialidades, sirva o ser
humano e não o contrário, como acontece a milhares de anos e, principalmente, nessa era
moderna e capitalista. Criar uma ordem que favoreça a humanidade é criar uma ordem
humana, onde as pessoas diferentes tenham as oportunidades iguais para desenvolverem
seus dons e aptidões,que é a proposta pedagógica que toda educação e educador libertário
propõe.
“ A família, mas vocês já a destruíram; onde estão suas antigas virtudes? Fora de
toda virtude, só vejo matéria; e a matéria, eu a organizo técnica e coercitivamente ”.
“ Pode-se dizer que, dos antigos valores do Homem, Marx organizou aquilo que a
Burguesia deixou. ”
Reich dizia que “ a formação das massas no sentido de serem cegamente obedientes à
autoridade se deve não ao amor parental mas à autoridade da família. A supressão da
sexualidade nas crianças pequenas e nos adolescentes, é a principal maneira de
conseguir essa obediência”.
Por esse mesmo motivo Friedrich Engels defendia que a principal mudança na estrutura
da família seria “ a submissão da mulher ao marido e dos filhos aos pais ”.
A “ estrutura humana ” foi mudada, como disse Reich. Não quer dizer que os indígenas
que viveram antes da civilização ou que nela não ingressaram (por vontade própria ou por
não conhecer a agricultura e o “ excedente ”), eram sem “defeitos”, como: ciúme, inveja,
autoritarismo, maldade, misticismo, etc. Mas sua estrutura social não estava de desacordo
com suas necessidades biológicas e sociais, como já foi dito. Porém a civilização
autoritária, com sua família patriarcal, suas classes sociais, a exploração, o poder... deturpa
toda um processo natural de socialização, e no meio desse processo está o ser humano real,
com necessidades vitais reais e criativas, que “ de repente ”, são escravizadas por relações
de poder materiais e espirituais, imaginadas nas mentes dos primeiros homens doentes:
Os Patriarcas. Richard Dawkins tem a teoria do “ Gene Egoísta , onde nossa herança
“animal” domina várias relações inconscientes de nosso ser e, constatou-se na biologia que
o código genético humano tem rastros do DNA dos Neardhentais, que seria uma etapa
ultrapassada pela evolução do homo sapiens-sapiens, sendo aqueles menos inteligentes e
mais brutos, ou seja, não se sabe exatamente o porque desses primeiros vestígios de
alienação autoritária que deu origem a civilização e, nem porque, as demais pessoas não se
rebelaram( a ponto de impedir) contra tais indivíduos. Uma hipótese é bem aceita pela
lógica dialética...a ignorância, não no sentido “ acadêmico ” mas natural da vida.
Esses patriarcas apelaram para a retórica e o medo...medo do desconhecido...medo da
morte...medo dos “ deuses ”... E fizeram passar suas vontade como vontade divina...como
assinalou poeticamente William Blake.
O ser humano se torna cada vez mais dominado pelas condições que não criou e que não
sabe explicar nem controlar. Reich defende que...:
Lembremos que Reich conheceu Freud, viveu os tempos das revoluções socialistas e a
esperança na Rússia “soviética”, além da Segunda Guerra Mundial e a ascensão do
fascismo numa escala mundial...isto é, sua época era ainda mais rica que a nossa em
acontecimentos dignos de análise e atenção. E esse “caos” ainda não continua?
Desde a Segunda Guerra e o nazismo, foram mortos em guerras, de acordo com a Cruz
Vermelha cerca de 25.000.000 milhões de pessoas e, de acordo com a ONU e suas
ramificações cerca de 100.000.000 milhões de pessoas morreram de fome só nos anos
90 e, ainda, continuamos com a média da morte de uma pessoa por segundo por causa
de fome e condições miseráveis de existência e, também às condições caóticas (nas
quais estamos entrando pelo apetite do capitalismo em produzir e da sociedade em
consumir) ambientais, onde desmatam a floresta Amazônica pela marca de um campo
de futebol por minuto...e quando vemos as atrocidades dos governos e personalidades
publicadas, como o caso do famoso WikiLeaks, vemos o sistema e seus agentes
perseguirem as verdades e suas vozes, assim como fizeram com Wilhelm Reich, Freud,
Marx, Bakunin, Gandhi, Che Guevara, Lamarca, Antonin Artaud, etc...
No Brasil vemos as “crises” no Rio de Janeiro onde a polícia, inclusive do famoso
BOPE, é aclamada por muitos como heróis, tantos pelos pobres favelados, como a
classe média e muitos “intelectuais”. Os assassinos ainda continuam sendo aclamados
como heróis... como foram Hitler, Mussolini, Franco, Fidel, Castelo Branco, Moreira
César, o Capitão Nascimento, Busch(s), Obama, Lula, etc...
O caos continua e ainda pior...O ser humano está cada vez mais indiferente a miséria, à
guerra, ao assassinato, a injustiça e, principalmente a sua própria vontade e necessidade,
isto é, à sua escolha e natureza. Reich argumentava que:
Àquilo que é nos ensinado como certo e errado e a maneira de como nosso corpo e mente
responde a esses ensinamentos, será a fórmula de composição dos indivíduos adultos que
vivem numa determinada sociedade, ou seja, até que ponto as instituições e valores que
todos criamos(todos, independente da autoridade e da manipulação) está de acordo com as
necessidades humanas, sejam elas materiais, físicas, biológicas ou mentais, isto é,
naturais.
E, como vimos,a autoridade pessoal e as classes sociais são criadas a partir do desejo de
poder e acumulação,usando o sentimento da autoridade, de medo e, do discurso e da
ignorância; isto é, a civilização em sua estrutura alienada não nasce nem estimula o
desenvolvimento humano ou o “conhecimento racional do processo da vida ”, ela
simplesmente corrompe a humanidade para seus mesquinhos interesses de dominação.
O ser humano possui uma capacidade psíquica (isto é, somática) natural e equilibrada
quando não é interferida pelos poderes autoritários e institucionais da civilização.
Jean Piaget Defendia que:
Wilhelm Reich também descreve essa relação da criança com o mundo e como essa
relação interioriza na criança ( e posteriormente na sua vida adulta ) o mundo alienado e
perverso.
“ Para o recém nascido o meio ambiente com inúmeros estímulos não pode ser mais
que um caos do qual as sensações do seu próprio corpo são uma parte. Em termos de
experiência não existe nenhuma distinção entre o eu e o mundo. Era minha opinião que,
inicialmente, o mecanismo psíquico distinguia os estímulos agradáveis dos desagradáveis.
Todos os agradáveis tornavam-se parte do ego em expansão; todos os desagradáveis
tornavam-se parte do não-ego. Com o correr do tempo, a situação muda. Algumas das
sensações do ego que se localizam no mundo exterior são absorvidas pelo ego. Da mesma
forma, alguns dos elementos agradáveis do ambiente ( por exemplo, o seio materno ) se
reconhecem como pertencentes ao mundo exterior. Assim, o ego da criança cristaliza-se
gradualmente a partir do caos de sensações interiores e exteriores, e começa a perceber a
fronteira entre o ego e o mundo exterior. Se, durante esse processo de separação, a
criança experimenta um choque sério, as fronteiras entre eu e o mundo permanecem
nebulosas e confusas, e a criança se torna insegura nas suas percepções. Quando isso
acontece, as impressões do mundo exterior podem ser experimentadas como algo interno
ou, ao contrário, sensações internas podem ser sentidas como pertencendo ao mundo
exterior. ”
“a água do doce deleite (prazer) nunca pode ser poluída” ... e...
“melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos não satisfeitos”
Mas como conseguirá o ser humano perceber o infinito se sua percepção é confundida por
um mundo autoritário que corrompe nossas emoções e sentimentos mais humanos e
secretos, não respeitando nem as águas límpidas da infância?
Enquanto dermos às costas aos desagradáveis seres humanos que estamos formando
nesses milhares de anos de civilização autoritária...enquanto não nos atentarmos à
nossa natureza e descobrirmos no que nos tornamos quando à negamos por pressões
sociais e morais...não daremos nenhum avanço significativo para outra forma de vermos
o mundo e a nós mesmos...estaremos mergulhados nessa crise de percepção até que
coisas piores aconteçam e o caos mundial se generalize ainda mais. E essa não é uma
“previsão fatalista”, mas uma “análise dialética”...
Como disse, Aldous Huxley disse que vivíamos num “ desamor organizado ”. Podemos
dizer que esse “desamor organizado” é organizado pelo Estado.A concretização política,
real, material, de todo esse processo de alienação discutido àcima, que subjuga os
indivíduos as condições artificias de dominação econômica (física) e mental (espiritual), é
o ESTADO.
Ernest Mandel ao analisar o começo da divisão social do trabalho, constata que esta
inicia-se juntamente com o aparecimento das classes sociais e do Estado ( todos estes
frutos da acumulação, propriedade, herança e patriarcalismo, ou seja, da civilização
autoritária ).
Mandel coloca o termo “ primitivo ” e não indígena, para referir-se às tribos antigas, isto é
por sua formação marxista, que como já dizemos, apóia-se nas relações econômicas das
sociedades humanas. Mas o interessante de sua fala acima, é que ele deixa claro que essas
comparações com as tribos indígenas, não quer dizer que defendamos a volta simples à
natureza; não simplesmente por ela ser “ extremamente pobre ”, como disse o marxista
Mandel, mas porque ela também foi um estágio para a humanidade, devemos, sim,
compreender todo o processo de formação da civilização autoritária e ressaltar os pontos
positivos, isto é , naturais, que a humanidade viveu durante dezenas de milênios antes da
propriedade privada e do poder autoritário, assim poderemos desenvolver uma civilização
livre, que vá a favor do ser humano e não contra ele.
Outro ponto interessante colocado por Mandel é a cultura, guiada pela
“ignorância...medo...crenças mágicas ”. Como analisamos na civilização interiorizada pelo
indivíduo, os primeiros patriarcas, sacerdotes ou guerreiros, usaram justamente dessa “
ignorância ” para afirmarem-se como seres superiores, que poderiam acumular, dar ordens
e deixar sucessores, utilizando de discursos místicos que engendravam o medo e sua
conseqüência insegurança e submissão.
Mas o ponto mais relevante na fala de Mandel “ é que a sociedade governava a si própria,
nos limites do seu conhecimento e das suas possibilidades ”, esse autogoverno garantia a
liberdade de seus indivíduos, além de ser uma forma de sociedade coletiva. O indivíduo se
sentia capaz, responsável, tanto por ele como de seus companheiros de tribo.
O ESTADO, fruto do poder autoritário (econômico e mental), retira essa responsabilidade
dos indivíduos, tornando-os escravos do meio que eles mesmos constroem. È o início de
uma mentalidade fascista (isto é, autoritária, medrosa, dependente), da auto-alienação
humana, da entrega dos poderes individuais para um poder maior ( ESTADO), para uma
pessoa “ maior ”( PATRIARCA, REI, DITADOR ).
Como já disse Reich ... “ O ego enfraquecido de cada indivíduo procura fortalecimento na
identificação com a tribo, que paulatinamente vai se tornando “ nação ”, com o chefe da
tribo, que paulatinamente se torna patriarca da tribo e, finalmente rei...A Estrutura dos
súditos está completa.”
A estrutura da sociedade foi transformada artificialmente e não “ naturalmente ”, como
defenderia um darwinista social qualquer.
Mandel prossegue:
Claro que toda essa repressão teve opositores, mas o Estado, como afirmou Engels, “ é um
grupo de homens armados ”. Mandel ainda afirma que “ nada ao longo da história,
permite justificar a tese liberal burguesa segundo a qual o Estado teria nascido de um “
contrato ”, de uma “ convenção ” livremente aceita por todos os membros de uma
coletividade. Pelo contrário, tudo confirma que é o produto de uma opressão, da violência
exercida por alguns contra outros. ”
Mas ao lado dessa repressão material existe a mental, como trabalhamos acima; assim o
papel do Estado não é simplesmente entrar em guerra sempre que sua ordem for
contestada, mas assegurar ideologicamente que os seus indivíduos aceitem sua submissão,
interiorizando à autoridade nos seus corpos e mentes, mediante persuasão, medo e
ignorância, Louis Althusser, também fazendo uso da psicanálise, chamou esse processo de
“Aparelhos Ideológicos de Estado”.
Esse processo ideológico de submissão começa, claro, antes desse Estado estar em
condições de tanto poder, poder consolidado, como foi nas sociedades antigas, onde a
civilização autoritária e a “ estrutura dos súditos ”, estavam asseguradas(Suméria,
Mesopotâmia, Egito, Índia, Grécia, Maias, etc.). Esse Estado forte, consolidado, apenas
aprofunda a escravização humana criando seus reinos e escravos (conquistas), acumulando
poder e matéria de maneira progressiva, produzindo ideologias, isto é, justificativas falsas
para explicar o poder de uns sobre os outros.
O Estado é um poder, uma força social feita para garantir a autoridade de poucos
indivíduos sobre muitos e, como já dissemos, ele surge quando a estrutura da sociedade
tribal e do ser humano está totalmente mudada para à aceitação da autoridade, do poder, da
propriedade. O Estado é a materialização da “estrutura dos súditos” psíquica e econômica.
O Anarquismo despreza e combate o Estado por ele ser uma peça chave da escravidão
humana. Socialismo de Estado é algo impossível para os anarquistas, pois esses vêem o
socialismo como genuinamente democrático, e não existe democracia com a opressão
individual e social, que é assegurada pelo Estado, ou como Engels chamou, pelo “grupo de
homens armados”. O teórico anarquista Rodolf Rocker afirmou com razão quando disse
que “ o aparelho de poder do Estado não pode senão criar novos privilégios e proteger
os antigos ”.
A civilização autoritária e sua forma política: o ESTADO age fisicamente pela escravidão
economica e espiritualmente pela escravidão psíquica; pois é uma “estrutura” humana que
é mudada com o advento da propriedade privada e da família patriarcal, o Estado apenas
assegura essas escravidões, que na verdade é uma só: a escravidão humana.
“ Cada homem é tanto individual como social, e talvez mais social que individual(...)
A sociedade, pois, não é apenas a soma dos indivíduos; é formada pelos indivíduos, pelo
fato da sua associação e pelo produto dessa associação, que são fatos psíquicos e fatos
materiais. Aos fatos psíquicos coletivos é que, por analogia com os fatos psíquicos
individuais de que provêm, se denominam consciência social, vontade social, sentimentos
sociais, opinião pública etc. E não há dúvida de que são realidades mais poderosas ainda
do que os seus similares individuais. O conjunto desses fatos coletivos é o que se chama
de pessoa moral.
Sem dúvida, a pessoa moral não é um ente material, uma substância, como a pessoa
física. É invisível, não pode ser percebida pelos nossos sentidos, mas é observável nas
suas manifestações, do mesmo modo que os estados psíquicos são invisíveis, mas nem por
isso menos reais. Por não se poderem ver as idéias e os sentimentos dos indivíduos,
ninguém achou aí motivo para negá-los. ”
Essa “pessoa moral” resultante dos “fatos coletivos”, será uma pessoa doente, não apenas
‘visivelmente’ como alguma patologia “física”, mas através de suas “idéias” e
“sentimentos” influenciadas pelos “discursos” e “imagens” da sociedade autoritária em
seu estágio capitalista. Erich Fromm em “Psicanálise da Sociedade Contemporânea”
utiliza-se de Spinoza para descrever o tipo de “insanidade” da era Moderna:
“ Spinoza formulou com muita clareza o problema do defeito socialmente produzido. Diz
ele: “Muitas criaturas se sentem possuídas de um mesmo afeto com grande persistência.
Todos os seus sentidos estão afetados de forma tão profunda em um só objeto que elas
acreditam que esse objeto esteja presente mesmo quando não o esteja. Se isso acontece
enquanto a criatura está acordada, ela é julgada doente... Mas se a pessoa avarenta só
pensa em dinheiro, se a ambiciosa só pensa em fama, não são consideradas doentes, mas
apenas incomodas; geralmente se sentem desdém por elas. Mas de fato a avareza, a
ambição e coisas semelhantes são formas de insanidade mental, embora usualmente não
sejam consideradas “doenças”. ”
Só que esse “defeito socialmente produzido” está mais desenvolvido do que no período de
Spinoza, pois a pessoa “avarenta”, “ambiciosa”, não é tratada com “desdém”, mas
‘admirada’, ‘invejada’, ‘copiada’, pois pessoas tais, ou possuem muito dinheiro ou o
ambicionam em demasia e, como o “dinheiro” é encarado com respeito, as pessoas que o
possuem ou o dejesam possuí-lo, são ‘admiradas’, pois ele é a “essência” do mundo
“Burguês”, capitalista, baseado no lucro e no consumo, através do dinheiro, das
mercadorias que prometem a “felicidade”.
Frederico Nietzsche declarou pós Spinoza...
“ O que antes se fazia por amor a Deus...hoje se faz por amor ao dinheiro... ”
E antes de Nietzsche e Spinoza, William Shakespeare, já percebia o advento de um outro
período, onde o “dinheiro” seria o “deus” supremo, o verdadeiro...Aquele que “ une
impossibilidades extremas.... E as faz beijar!...”
Se Shakespeare disse isso há quase 500 anos, o que esperaríamos do chamado “pós
modernismo”, onde as relações de lucro, mercado, consumo, que regem à sociedade e
seus desejos e esforços, estão por todo globo terrestre?
Entendemos que esse “defeito socialmente produzido” que disse Spinoza e que torna as
pessoas “avarenta”, “ambiciosa”, “doente”, não é visto com “desdém” como ele diz em sua
período; pelo contrário, essa ‘doença’ nada mais é que o mundo “moderno” atual. “Deus” é
substituído pelo “dinheiro” e a “Igreja” substituída pelo “shopping” – todos trabalham,
estudam, sonham, em base da aquisição desse “Objeto” de troca e obtenção de
“mercadorias”, seja essa mercadoria um relógio, um carro ou a própria pessoa humana, o
próprio “trabalhador”, que produz esse mundo com a força de seu trabalho alienado,
roubado...
A “Guerra” é fruto desse “defeito socialmente produzido” – “ambição”, “avareza”,
“alienação” – e os indivíduos entregam-se à ela com a força de sua mente manipulada e
seu corpo massacrado, para servir de objeto a “avareza” e “ambição” humana ou seja, para
servir a sua própria “doença”.
“ A causa imediata de muitos males assoladores pode ser determinada pelo fato de que
o homem é a única espécie que não satisfaz à lei natural da sexualidade. A morte de
milhões de pessoas na guerra é o resultado de manifesta negação social de vida. Essa
negação, por sua vez, é expressão e conseqüência de perturbações psíquicas e somáticas
da atividade vital. ”
E como Reich já havia colocado anteriormente, “ essa alienação não é biológica, mas
socioeconômica ”.
Essa doença social criada por essa alienação, não cria apenas os sentimentos de “avareza’,
“ambição”, “destruição”, mas também desejos de “autoridade” e sua conseqüente
“submissão” – como disse Reich são “perturbações psíquicas e somáticas da atividade
vital”. O fenômeno do “fascismo” é fruto dessa coerção e perturbação “somática”:
“ O que era novo no movimento fascista das massas era o fato de que a extrema reação
política conseguiu usar os profundos desejos de liberdade das multidões. Um anseio
intenso de liberdade por parte das massas mais o medo à responsabilidade que a
liberdade acarreta produzem a mentalidade fascista, quer esse desejo e esse medo se
encontrem em um fascista ou em um democrata. Novo no fascismo era que a massas
populares asseguraram e completaram a sua própria submissão. A necessidade de uma
autoridade provou que era mais forte que a vontade de ser livre”. (W. Reich)
As alienações causadas pela civilização são universais, não correspondem a certos grupos
ou classes sociais, não correspondem a essa ou àquela “civilização”. A própria luta de
classes, tão propagandeada pelos marxistas, não passa de uma expressão, uma
manifestação, dessa alienação da vida; o fascismo ou os antigos impérios e imperadores,
às guerras de religiões, todas as lutas por territórios, a eliminação dos índios, o lucro dos
burgueses, a sede de sangue, o sacrifício em vão, a cega obediência, o vazio, a depressão, a
pobreza, a fome, as neuroses, etc.... são a “ expressão e conseqüência de perturbações
psíquicas e somáticas da atividade vital ”, feitas pela sociedade patriarcal e a escravidão
dos indivíduos, levada à cabo pela própria humanidade.
O Indivíduo , o Ser Humano, precisam, sim, serem recuperados, e não deixados à mercê
das forças históricas, econômicas e psíquicas; é preciso deixá-lo beber a seiva da liberdade,
sentir a leveza da responsabilidade, correr sem descanso ao passo lento da evolução, é
preciso dar aos humanos sua necessidade de Revolução...às suas vontades..à sua direção.
O sistema patriarcal é um muro que separa tudo isso de nós... e o Estado, qualquer
um...seja absolutista, autoritário, democrático ou comunista...é fruto da alienação
individual, em forma coletiva, da civilização autoritária.
Ele traz em sua forma a escravidão psíquica e material da humanidade...o Estado é
totalmente incompatível com a liberdade: democracia e igualdade.
Quem conhece um pouco da história dos antigos impérios, sabem da utilização das
neuroses sexuais, que de um lado contavam com uma moral rígida patriarcal por causa da
propriedade e da herança, e do outro abusavam ás escuras, com o consentimento velado do
Estado, do sexo e das orgias. Na era moderna, Marques de Sade deu provas desse lado
obscuro que Reich apontaria na repressão da Libido; no cinema filmes como Romance e
Irreversível mostram a alienação sexual e suas nefastas conseqüências para os indivíduos;
romances como Madame Bovary de Flaubert, Anna Karenina de Tolstoi ou Casa de
Bonecas de Ibsen, mostram o desespero pela busca da simples satisfação sexual, ou seja, a
busca pela naturalidade, a simples satisfação do amor, que se transformam em tragédia,
como em Romeu e Julieta; na obra de Huxley, Admirável Mundo Novo, a sexualidade
serve para conformar os indivíduos com sua servidão; em prefácio de 1946 do mesmo
livro ele diria: “Ao passo que a liberdade pessoal diminui, a liberdade sexual aumenta,
com a finalidade de reconciliar os súditos com a inevitável servidão que é seu destino ”,
ou seja, não dá para negar a repressão sexual, nascida com a civilização autoritária;ela age
em nosso íntimo, nas nossas alegrias e necessidades mais pessoais, humanas e naturais; em
períodos de caos geral como uma Guerra ela mostra sua perversão.
Essa alienação da vida está por trás do mundo doente e das pessoas perdidas, que erguem
seus próprios ditadores, suas próprias cadeias.
Os trobriandeses, Reich quer dizer, tinham uma higiene mental mais desenvolvida que nós,
apesar de estarem tecnologicamente atrás da civilização. A falta de satisfação natural do
amor (seja na vida sexual ou na vida em sociedade, isto é, na vida íntima ou coletiva) é o
cerne desse processo de alienação que inicia-se com a formação da civilização
autoritária(propriedade, poder herança, patriarcalismo...), onde ela infiltra suas
ideologias(falsas idéias) nos nossos corpos e mentes, tornando as pessoas frias, alienadas,
egoístas, inseguras e, consequentemente, submissas.
A civilização infiltra-se em nossas células, nossos neurônios, nosso inconsciente... Ela
corrompe a biologia do nosso corpo e a doçura da nossa alma... desvirtuados pela
civilização e suas exigências morais e artificiais, imaginárias, de certos indivíduos sobre
outros. Como já foi dito: o Estado é a materialização política de todo esse processo de
alienação, que estende-se até hoje.
A partir das análises do trabalho de Malinowsky sobre a vida dos trobriandeses, Reich
entendeu sua própria teoria e como ela se aplicava não só a vida “moderna”, mas à toda
civilização, autoritária e alienada. Continuando sobre os trobriandeses, que conheciam a
agricultura e o excedente, mas não à propriedade privada, como Reich assinalou não havia
uma palavra para “roubo”.
Temos que entender que tudo possui uma ligação, as partes formam o todo mas não são o
todo, se analisarmos as partes e esquecermos o todo, estaremos apenas fragmentando um
pedaço de um espelho quebrado, que não mostra nada a ninguém. Tudo que concerne à
nossa vida concerne ao simples fato de sermos felizes ou não, saudáveis ou não. Tudo que
nosso íntimo reclama é algo essencial para nós; mesmo que não exista um “ser humano”
puro, como pensamos que foram Cristo, Buda, Gandhi, existe uma humanidade e é dessa
humanidade que saírá o que chamamos de “ser humano”, construído a partir do
desenvolver da própria humanidade, caminhando a um futuro que crie, como disse
Nietzsche:
Mas temos que compreender em qual medida esse “mundo” feito por nós, com suas noções
morais estabelecidas sobre os indivíduos do que é certo ou errado com as instituições que
criamos: familiar, política, econômica, social, correspondem ou não para que nossa vida
sócio individual seja plena? Estamos vendo que as cadeias são intrínsecas por demais e
estão na humanidade por tempo demais; tudo que traga o espírito dessa alienação,como:
autoridade,repressão, mentira, poder, propriedade, força, assassínio, não servem para a
libertação da humanidade e a transformação da história e da civilização e, elementos
como: o Estado, a Burocracia, o Exército, a Família Patriarcal, a Pátria....tão pouco
podem servir para a finalidade libertadora e criativa de uma revolução socialista, pois são
as mesmas expressões desse espírito alienado da civilização.
Reich dá um exemplo muito prático nessa discussão tão sensível, ao comparar um sistema
patriarcal e autoritário, que já apontava inícios avançados das características psíquicas da
civilização,com os trobriandeses...
“ A poucas milhas das ilhas de Trobriand, nas ilhas de Amphlett, vivia uma tribo com um
sistema patriarcal baseado na autoridade da família. Todas as características dos
neuróticos europeus(desconfiança, angústia, neuroses, suicídios, perversões, etc.) já
eram evidentes nos nativos dessas ilhas.”
“ A nossa ciência, que é tão exagerada na negação sexual, conseguiu até anular a
importância de fatos decisivos colocando lado a lado, e igualando-os, o importante o não
importante, o lugar comum e o extraordinário. A diferença que acabo de descrever entre a
organização matriarcal e livre dos trobriandeses e a organização patriarcal e autoritária
da tribo que vive nas ilhas de Amphlett tem mais peso para avaliação da higiene mental
que as curvas e gráficos mais complicados e aparentemente mais exatos do nosso mundo
acadêmico. ”
Os estudos de Malinovsky ainda levaram Reich à descobertas importantes referentes à
psicanálise freudiana e a estrutura de formação natural da criança (indivíduo):
“ Freud afirmara que o período de latência sexual das nossas crianças, entre as idades
de seis e doze anos aproximadamente, era de natureza biológica. Fui atacado pelos
psicanalistas porque verifiquei, em adolescentes oriundos de vários estratos da
população, que não há período de latência quando a sexualidade se desenvolve de
maneira natural. O período de latência é um produto inatural da civilização. Agora
Malinowsky o confirmava. A atividade sexual das crianças trobriandeses é contínua;
varia, apenas, com a idade. Não há período de latência. As relações sexuais começam
quando a puberdade o exige. A vida sexual dos adolescentes é monogâmica; a mudança
de companheiro se dá calmamente e de maneira pacífica, sem violência ou ciúme.
E contrariando completamente nossa civilização, a sociedade trobriandesa proporciona
os meios de isolamento e higiene à sexualidade do adolescente, particularmente no que
diz respeito à habitação e a outros aspectos, até onde lhes permite o seu conhecimento
dos processos naturais. ”
Esse processo de higiene mental, só pode vir acompanhado de uma mudança radical na
sociedade civilizada autoritária, pois senão, toda essa herança que martela o cérebro dos
vivos, terá mais força em se reestruturar, mesmo após uma revolução que questione a
propriedade e a hierarquia social, do que uma “nova” forma de organização baseada nas
responsabilidades dos indivíduos, consigo próprios e com a comunidade em que vivem.
Reich foi por um tempo comunista, mas logo viu que sua perseguição pelos mesmos
tornara incompatível a teoria do orgasmo e a “Ditadura do Proletariado”... somente o
ser humano, o indivíduo, dotado da responsabilidade da sua vida, poderia ser tomado
pela capacidade natural do Amor e curar-se a si e sua sociedade... :
“As enfermidades psíquicas são o resultado de uma perturbação da capacidade natural
de amar...A condição essencial para curar perturbações psíquicas é o restabelecimento
da capacidade natural de amar. Depende tanto de condições sociais como psíquicas”.
Reich assim formulou sua própria teoria, chamada de “Democracia do Trabalho”, que
aproxima-se do anarquismo de Kropotkin.
“ Assim como o planeta possui sua geografia...o homem interior também possui
sua geografia...e essa é uma coisa material...porém o materialismo dialético de Lênin
teme e desconhece essa geografia ”
Robert Anton Wilson, que já foi até editor da revista Playboy, escreveu em seu livro:
“ A Nova Inquisição (Racionalismo Irracional e a Fortaleza da Ciência) ” que
“acompanhara a controvérsia em cima de Reich por trinta anos” (data referente à
publicação do livro mencionado):
Os sites pornôs, como os citados acima, demonstram que àquela “educação” de filme
pornô, apresentado pelo sistema nocivamente para nossa naturalidade e saúde (saúde: o
que inclui uma vida sexual saudável) foi ultrapassado na perversidade...e, agora, saiu da
“marginalidade” para a “oficialidade”, sendo investida pelo Capital.
Vemos como são apresentados os slogans dos filmes e as diversas histórias usadas para
“atrair” compradores do site, isto é, dos filmes.
Eu acompanho a psicanálise desde 2003 quando descobri Freud, Jung, Lacan, Reich,
Erich Fromm... e desde lá tento analisar essa, como chamou Karen Horne,
“Personalidade Neurótica de Nosso tempo”... e venho constatar que a Internet
demonstra essa “personalidade neurótica” dos “primatas domesticados”, e , de como ela
tem se tornado “natural”...assim como a pedofilia, que vem crescendo
assustadoramente... Esses sites mostram menores, crianças, com homens já adultos,
e ganham dinheiro com as assinaturas desses filmes, cuja a existência só a “Justiça”
parece não conhecer. Esses sites são patrocinados por sites de TV (como uma tal de
“TVNOPC”) ou de jogos (como um denominado “Ganhando na Loteria”), que abrem
automaticamente quando se acessa tais sites.
Reich chama a emergência para a sexualidade humana na compreensão e libertação do
mesmo e, tais informações, por mais que sejam “desagradáveis”, são “reais” e, não
podem ser ignoradas (como já são). Imaginem se Kardec se recusasse a acompanhar e
estudar os fenômenos ‘espíritas’, só para não entrar num “bordel”; ou se Cristo deixasse
de ensinar e conversar com samaritanos, pescadores, coletores de impostos, prostitutas,
ladrões, leprosos, só por ser o “messias” ou se Darwim, Freud e Reich desistissem de
sua ciência por causa da opinião púbica alienada.... O mundo sairia perdendo, não?
Então não podemos fechar os olhos para o que a Humanidade está se transformando, só
por causa de imagens e fatos desagradáveis e perversos... O “espírito” do cientista, do
humanista, está acima dessas limitações e, por isso ele transita tão tranquilamente na
análise dos fatos, por piores ou indesejosos e reveladores que sejam.
E existem milhares de perversidades e chamativas obscenas na Internet. Alguns, como
os acessadíssimos “Hentai”, que são filmes pornôs em forma de desenho, que mostram
muitas cenas de estupro, principalmente em colegiais. Esses “desenhos” são mais
destrutivos que os outros, pois mostram as mulheres (crianças) violentadas possuindo
prazer no ato do estupro, o que, para uma pessoa com sua sexualidade distorcida e
grotesca, pode parecer algo real, isto é, que a mulher violentada sente prazer e não dor
num ato de estupro. Mas as cenas de estupro estão em outros sites, são cenas forjadas
em assaltos e asiáticas, e as próprias “atrizes” fingem estar tendo prazer e não repulsa
com tal violência. A perversidade é bem acompanhada....em alguns meses apenas,
alguns filmes, no geral os mais absurdos e grotescos, duplicam de acesso, e os sites,
como o RED TUBE usam cenas de violência e estupro para atrair assinantes para seus
filmes.
Você pode estar achando que isso não é relevante, mas vá você mesmo e confira, faça
um estudo psicanalítico (depois de arrumar um excelente anti vírus) nesses sites e veja
como a sociedade pensa sua sexualidade e veja (vc que é mais velho) como a perversão
dos antigos filmes pornôs de locadora triplicou nesse século. Pense se essa perversão
não é fruto, causa e conseqüência da nossa realidade tão miserável.
Se Reich chamava atenção ao movimento revolucionário à sexualidade e seus
problemas para a servidão e libertação humana à setenta anos, então imaginemos hoje,
que a perversão sexual piorou em seus aspectos qualitativos.
As meninas que seguem tal estilo de vida, são as mais propensas à depressão, baixo
estima, problemas alimentares, realização sexual – problemas psíquicos que já existiam
antes do advento da “etapa” capitalista da sociedade são aprofundados pelo mesmo. E,
se os pais, entram de cabeça nesse consumismo “sexual” a que as crianças são vítimas, é
por que a “estrutura dos súditos”, como disse Reich, está mais firmada que no seu início
a milhares de anos.
“ Das centenas de casos que observei e tratei ao longo de vários anos de trabalho
extensivo e intensivo, não havia uma só mulher que não tivesse uma perturbação
orgástica vaginal.” (W.Reich)
Isso foi escrito e 1942... Agora o que resta a essa educação sexual social do capital nesse
período “pós moderno” ? Que tipo de adultos serão essas crianças?
A mulher, menina, é afirmada como “objeto” e, a mesma, pelo vazio emocional da
civilização autoritária e sua inevitável repressão biológica de milhares de anos, aceita
esse rótulo e tenta ser “sexy” sem ter ainda nem o corpo necessário para tal; a
complacência dos pais demonstra como é grande essa repressão.
A repressão sexual cria pessoas doentes e submissas como tão bem assinala Reich em
sua análise desse “mal estar de civilização”( para usar as palavras de Freud).
Esses filmes e romances demonstram o que se passa na realidade desse nosso cotidiano
tão “normal”.
À própria situação da mulher, que parece ter se libertado do machismo patriarcal
milenar da civilização autoritária, não passa de ilusão. Assim como os famosos anos 60
e 70, o movimento “hippie” nos EUA, o Punk Rock na Inglaterra, a liberação feminina e
sexual...tudo...tudo isso foi aproveitado pelo capitalismo como lucro. A “liberação
feminina” aproxima-se mais do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, onde ás
mulheres, que aparentemente “ganharam” sua liberdade sexual, são simplesmente
usadas pelos homens como um “pedaço de carne”(nas palavras de Bernard Marx);
a entrada da mulher no “mercado de trabalho” lhes promoveram á altura dos “direitos”
dos homens, esses mesmos homens que criaram um mundo invertido, alienado, inatural
e repressor, que veste as meninas como mulheres, somente para o lucro e controle.
O cinema ainda nos ajuda mais a entender a perversão sexual que chegamos e, de como
os sites pornôs se expandiram e são tão aclamados, com suas mais baixas perversidades
tão procuradas...isto é... se existem nesse plano “ideal” (para lembra Platão ou Hegel) é
porque subsistem no plano material, civilizado e corrupto.
O filme francês de Catherine Braillat, Romance X, é essencial para demonstrar a
perversidade sexual de nosso tempo. Maria é casada com um jovem modelo, que
começa a desprezá-la sexualmente. Assim Maria vai a todo custo realizar sua libido
vazia e pervertida pelo meio e esse falido casamento; assim ela se torna uma
ninfomaníaca, que faz tudo por sexo, inclusive deixar um desconhecido lhe fazer sexo
oral na escada de seu prédio e ainda “gozar” e deixar que o estranho lhe penetre com
violência; o estranho ainda diz; “te cumi legal sua vadia”, e Maria caí em desespero...
Isso é o resultado de uma perversão histórica da nossa naturalidade e Eros sexual(o que
nos separa da sexualidade animal), transformando o humano em um animal louco para
saciar seus desejos não satisfeitos...vemos que o que Tinto Brass(Luxúria) retratou no
seu Calígula (Roma Antiga), é muito atual e mais perverso...
Outro filme francês, de Gaspar Noé, Irreversível, demonstra a perversidade dos guetos
e sexualidade doentia e cruel da humanidade. O interessante é que os franceses, com
sua fama de românticos e poéticos, parecem teoricamente estar acima dessas perversões,
mas Irreversível e Romance X mostram o submundo dessa França tão “poética”,
demonstrando como Reich disse que a sexualidade pervertida não respeita ideologias ou
fronteiras de Estado, “ se encontram em todo lugar ”... “sem exceção”...onde existe
civilização ou sua construção patriarcal existe repressão e o consequente vazio sexual.
“ Um dia, uma operária moça e bonita veio à clínica. Trazia consigo dois
meninos e uma criança pequena. Perdera a voz, sintoma conhecido como “mutismo
histérico". Escreveu em um pedacinho de papel que havia subitamente perdido a voz,
alguns dias antes. Uma vez que uma análise não era possível, tentei eliminar a
perturbação da fala pela hipnose e obtive sucesso após algumas sessões. Agora falava
em voz baixa, rouca e meio assustada. Havia anos que vinha de um impulso compulsivo
de matar as crianças. O pai dos meninos a havia abandonado. Estava sozinha com as
crianças e dificilmente encontravam o que comer. Costurava em casa, mas ganhava
desesperadamente pouco. Sacudiu-a então a idéia do assassínio. Estava pronta para
empurrar as crianças para dentro da água quando foi tomada de tremenda angústia.
Daí em diante foi tomada pela angústia de confessar-se a polícia a fim de proteger as
crianças dela mesmo. O impulso a mantinha em estado de medo mortal, pois temia ser
enforcada pelo crime . O pensamento lhe provocou uma constrição na garganta. O
mutismo impedia-a de ceder ao impulso. Na realidade, o mutismo era um espasmo
extremo das cordas vocais. Não foi difícil apontar a situação da infância que
permanecia por trás disso. Fora órfã e vivera com estranhos, morando com seis ou
mais pessoas no mesmo quarto. Menina, fora sexualmente violada por homens feitos.
Era atormentada pelo desejo de uma mãe que a protegesse. Nas suas fantasias sentia-
se uma criança protegida. Havia sempre sentido na garganta e no colo toda àquela
angústia sufocante e aquela ansiedade. Agora era mãe e via os filhos numa situação
semelhante à que enfrentara quando criança. Não queria que vivessem. Além do mais,
transferira para eles o ódio amargo que sentia pelo marido. A situação era
terrívelmente complicada. Ninguém a entendia. Embora fosse totalmente fria, dormia
com vários homens diferentes. Consegui ajudá-la a vencer algumas dificuldades.
Encaminhei os meninos para um bom internato. Ela criou coragem bastante para
recomeçar a trabalhar. Fizemos uma coleta para ela. Na verdade a miséria continuou –
apenas um pouco aliviada. O desamparo de tais pessoas leva-as a cometerem atos
imprevisíveis. Vinha à minha casa à noite e ameaça cometer suicídio ou infanticídio a
menos que eu fizesse isso ou aquilo, a menos que ajudasse nesta ou naquela condição,
etc. Visitei-a no seu apartamento e aí tive que enfrentar não a nobre questão da
etiologia das neuroses mas a questão de como um organismo humano podia viver
naquela condições, ano após ano. Não havia nada, absolutamente nada, que trouxesse
luz a essa vida. Nada havia se não miséria, solidão, mexericos dos vizinhos,
preocupações com a refeição seguinte – e, sobre tudo isso, as trapaças criminosas do
senhorio e do patrão. Apesar do fato que o seu trabalho era dificultado por
perturbações psíquicas agudas, era explorada cruelmente e sem piedade.
Recebia uns dois schillings por dia de dez horas de trabalho, o que quer dizer que
devia sustentar-se, e aos três filhos, com uns sessenta ou oitenta schillings por mês! O
extraordinário é que conseguia! Nunca pude descobrir como . Apesar de tudo, não se
descuidava absolutamente da sua aparência. Lia sempre, inclusive alguns livros que me
tomou emprestado ”.
Compreende-se que as neuroses mentais são criadas, como diria Vigotsky, á partir da
“formação social de nossa mente”. Imaginemos que a vida nas nossas milhares de
favelas, envolvendo milhões de pessoas , não seguem o mesmo traço? É claro que sim.
Pois esse é um processo histórico de miséria e exploração individual e social, que
destrói nossas capacidades humanas em pro um meio corrupto cheio de interesses
egoístas e materiais.
A Editora Zahar colocou no glossário da Revolução Sexual de Reich uma boa e concisa
interpretação da Democracia do Trabalho que Reich defendeu para a cura dos males
sociais da libido reprimido e sua nefasta conseqüência para a raça e sociedade humana:
Mas a própria Revolução Russa, como toda “Revolução” que é uma Revolução,
modificou a “estrutura” da sociedade e, para essa conseqüência houve a causa da
modificação da “estrutura” do ser humano – membro oprimido pela sociedade, o Estado
e sua ideologia “fascista”, em membro livre construtor da sociedade, do trabalho e das
idéias. Uma inter relação entre o meio social (Material) e a consciência humana dos
indivíduos (Espiritual) trabalhando para o movimento de mudança da sociedade.
No livro de Jhon Reed, “10 dias Que Abalaram o Mundo”, o primeiro sobre a revolução
de 1917 na Rússia, inclusive elogiado por Lenin, demonstra a mudança estrutural que
passou o povo russo nesse período, ao mesmo tempo que mostra o que é uma
“revolução” socialista genuína:
“ ...os soldados começavam a resolver a questão da paz ao seu modo: pela deserção
em massa. Os camponeses incendiavam as casas dos seus senhores e dividiam as terras
entre si. Os operários paralisavam a produção industrial pela sabotagem e
declaravam-se, freqüentemente, em greve. ” (Jhon Reed)
Nesse período começa a palavra de ordem “Todo Poder aos Soviets”, que o Partido
Bolchevique irá tomar como slogan para tomar o Poder do Estado.Abortando, como o
faria na Ucrânia e com Makhno, o “Socialismo”, “Democracia do Trabalho”, o ‘novo’
ser humano em auto libertação, auto cura.
“O operário russo é revolucionário, mas ele não é nem violento, nem dogmático, nem
pouco inteligente. Está pronto para o combate de barricadas, mas estudou suas regras
e, caso único entre os operários do mundo inteiro, foi na prática ele que as aprendeu.
Está disposto a levar até o fim a luta contra seu opressor, a classe capitalista” (J.Reed)
O próprio Lenin havia declarado e 1916 que “sem independência completa, a juventude
não pode criar socialistas aproveitáveis.”
Porem isso foi antes dos bolcheviques tomarem o poder do Estado, consequentemente
“organizado” de “Cima para baixo”, pela “força”se mantém, como sabia Marx, como
defendia Trotsky.
“ Não devemos apelar unicamente para o cérebro, pois antes que o homem entenda
alguma coisa tem que senti-la também ”
Como foi demonstrado, temos que efetuar uma real “democracia”, onde os indivíduos
estejam conscientes de sua liberdade natural e responsabilidade social em comum; as
“revoluções” demonstram como isso é possível, ao mesmo tempo de como é “difícil”
desprender-se dessa herança patriarcal, autoritária, que nos fez doentes “física” e
“emocionalmente”, prisioneiros de uma “realidade” alienada aos indivíduos e suas
vontades, mas construídas e alimentada pelos mesmos.
A Guerra Cívil Espanhola, o último acontecimento revolucionário de importância no
século XX ( e não estamos esquecendo da importância do Maio de 68 na França) ,
Foi dirigida em sua maioria pelos anarquistas e contou com a participação de marxistas
libertários.
George Woodcook relata no seu livro “História das Ideias e Movimentos Anarquistas”,
relatos da coletivização realizada pelos trabalhadores na Espanha Anarquista, algo bem
parecido com a idéia de higiene mental a partir da organização racional da vida e do
trabalho proposta por Reich:
“ Antes da mais nada, não existe dúvida que a coletivização das áreas rurais foi
extensa. O escritor francês Gaston Leval menciona 500 coletividades no Levante, 400
em Aragão, 230 em áreas de Castela, enquanto na Andaluzia todas as aldeias que
escaparam do primeiro ataque violento dos fascistas(nacionalistas) automaticamente
coletivizaram sua terra. Leval estipula que, ao todo, 3.000.000 de pessoas estavam
vivendo sob economias regionais coletivizadas, por volta de 1937.”
O filme de Ken Loach, Terra e Liberdade e uma boa ilustração dessa luta pelo
socialismo na Espanha de 1936-37 e, de como a Rússia “Soviética”, sob o controle de
Stalin, desmontou esse processo revolucionária, assim como Lenin, Trotsky e os
bolcheviques haviam desmontado a Revolução Russa de 1917 à 1921 para criar sua
“Ditadura Revolucionária” . Mas não existe dúvida da importância da Revolução e do
Anarquismo (Democracia do Trabalho) para a higienização e libertação humana,
sonhada há séculos, desde Buda e Cristo às revoluções socialistas de nossa era intitulada
moderna. A Comuna de Paris,a Ucrânia de Mackno, a Rússia de 1917, a Espanha
Anarquista, foram realizações concretas para a implantação da Democracia do
Trabalho e o reino da liberdade humana sonhado pelo socialismo.
Mas a luta continua...a aprofundação do capitalismo nessa era “pós moderna” mostra a
urgência da transformação social, em um mundo cada vez mais caótico e perverso.
O mundo se parece cada vez mais com um site pornô que estupra meninas, alicia
crianças e cria fantasias para um Ego já corrompido, vazio e desviado, o mesmo Ego
das grandes e pequenas guerras mundiais e nossa horrível história de ditaduras e
assassinatos em massa, nas camaras de gás, nas torturas, nas favelas e prisões, na
miséria generalizada, nos manicômios, na educação coerciva, na exploração do trabalho,
etc... Mas, como bem disse Lavousier...
A Civilização trouxe avanços tecnológicos, mas nos fez perder nossa união com a
natureza, com o mundo, com o próximo, com o nosso interior ... alienou-nos e nos fez
acreditar que a repressão, a escravidão, a fome, a guerra, a tristeza, as doenças, as
neuroses... são algo normais ...e, não, uma anomalia na qual nossa mente foi
aprisionada... como uma “ Matrix”!
Mas para construir esse ser humano “rei de si mesmo”, devemos trabalhar em formas
alternativas das apresentadas pela civilização autoritária e seu estágio mais vazio e
artificial: o capitalismo.
Como assinalou Michel Foucault e Wilhelm Reich, temos que mudar não somente as
relações mega estruturais de poder, como o Estado e a produção economica, mas as
relações cotidianas, “microfísicas”, onde esse poder se desenvolve e se alimenta.
Temos que recuperar o uso da linguagem em favor da humanidade, libertando-a dos
desejos e relações de poder de um mundo autoritário e artificial. Como disse Paulo
Freire... “a leitura do mundo...precede a leitura das palavras”...
Temos que reinterpretar o mundo e reutilizar todas as formas de linguagem, escrita ou
visual, unindo as subjetividades em projeto em comum, onde o amor ao próximo, o
amor a vida, sejam os verdadeiros “senhores” de nossa consciência e humanidade.
Unificar nossa biologia e realização humana, com os esforços coletivos por uma
Humanidade Unificada, entregando-se a uma única Verdade: A Liberdade.
Wilhelm Reich
Fontes da Pesquisa:
Filmografia:
- A Comuna – Peter Watkins
- Reds – Warrem Beatty
- Doutor Jivago – David Lean
- Dança com Lobos – Kevin Costner
- Romance X – Crhistiane Baillet
- Irreversível – Gaspar Nóe
- Luxúria – Tinto Brass
- Calígula – Tinto Brass
- Terra e Liberdade – Ken Loach
- A Matrix – Irmãos Machowsky
- Pecados Íntimos – Todd Field
- O Ponto de Mutação – Bernt Capra
Documentários:
Outras Fontes:
- Internet