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Princípio Da Insignificância / Infração Bagatelar Própria
Princípio Da Insignificância / Infração Bagatelar Própria
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Princípio da Insignificância / Infração
Bagatelar Própria1
1) Introdução:
Este princípio não tem uma origem muito precisa segundo a doutrina.
Alguns remetem ao direito romano (minimis non curat praetor – o pretor não cuida
de coisas sem importância), outros remetem à idade média. Porém é
relativamente pacífico na doutrina que o resgate do princípio se deve a Claus
Roxin, que na década de 60 devolveu a insignificância como forma de excluir do
âmbito penal condutas de pouca afetação ao bem jurídico, entendendo ainda que
estariam agasalhadas pelo princípio as Ações Socialmente Adequadas (Não é
qualquer ofensa a bem jurídico que irá caracterizar necessariamente a aplicação
do direito penal).
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Atinge a tipicidade material (bem jurídico), ou seja, trata-se de Causa Supralegal de Exclusão da Tipicidade
Material – art. 386, III, CPP.
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Furtar não é adequado socialmente (tipicidade formal), mas furtar 50 centavos é irrelevante penal (atipicidade
material).
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b) Resultado
Entende-se, portanto, que se o fato for penalmente insignificante significa que não
lesou nem causou perigo de lesão ao bem jurídico. Logo, aplica-se o princípio da
insinsignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com fundamento no
art. 386, III do CPP.
Fernando Capez (Conceito) afirma que, por tal princípio, o Direito Penal
não deve preocupar-se com bagatelas, do mesmo modo que não podem ser
admitidos tipos incriminadores que descrevam condutas incapazes de lesar o bem
jurídico. Para ele, a tipicidade penal exige um mínimo de lesividade ao bem
jurídico protegido, caso contrário, ficará afastada a adequação típica, pois,
sempre que a lesão for insignificante, a ponto de se tornar incapaz de lesar o
interesse protegido, deverá ser considerado um fato atípico (O tipo penal não
descreve condutas incapazes de ofender o bem tutelado).
Assim, considera-se que não se deve levar em conta apenas e tão somente
o valor subtraído (ou pretendido à subtração) como parâmetro para aplicação
da insignificância, pois, do contrário, “deixaria de haver a modalidade tentada de
vários crimes”. Porém, destaque-se que tal análise deve ser feita com base
nas peculiaridades do caso concreto, e não no plano abstrato.
3) Análise de Jurisprudência:
O princípio da insignificância é aplicável a qualquer delito que seja com
ele compatível, e não somente aos crimes patrimoniais.
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Esta matéria é melhor explicada no item 5, da aula 3, do CP-V de Tributário.
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concreto, o valor dos tributos que deixaram de ser pagos.
Vale ressaltar que o limite imposto por essa portaria pode ser
aplicado de forma retroativa para fatos anteriores à sua edição
considerando que se trata de norma mais benéfica (STF – HC
122213).
Obs.: Cabe destacar que esse parâmetro vale, a princípio, apenas para os
crimes que se relacionam a Tributos Federais, pois trata do valor que a
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União considera insignificante.
Obs.3: Para o STF, é possível aplicar o novo limite (de 20 mil reais)
mesmo que o fato tenha ocorrido antes da Portaria 75/2012, ou
seja, limite imposto por essa portaria (20 mil reais) pode ser aplicado de
forma retroativa para fatos anteriores à sua edição considerando que se
trata de norma mais benéfica (STF. 2ª Turma. HC 122213, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 27/05/2014).
Resumindo
STF, TRF3 e TRF4 (Majoritário): Adota, com base na Portaria 75/2012, e posteriormente
na Portaria 130/2012, ambas do Ministério da Fazenda, o patamar de 20 mil reais.
STJ: Ainda segue firme no sentido de manter o patamar de 10 mil reais, com base no art. 20,
da Lei 10.522, sem, contudo, inserir, no montante a ser considerado para a bagatela, os
acréscimos decorrentes da lei tributária
MUDOU!!!
O STJ curvou-se ao entendimento do STF. O STJ, vendo que as suas decisões estavam
sendo reformadas pelo STF, decidiu alinhar-se à posição do Supremo e passou a também entender
que o limite para a aplicação do princípio da insignificância nos crimes tributários e no descaminho
subiu realmente para R$ 20 mil.
O tema foi decidido sob a sistemática do recurso repetitivo e fixou-se a seguinte tese:
Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de
descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$
20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com
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as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da
Fazenda. STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
28/02/2018 (recurso repetitivo).
Por fim, o STJ definiu que também não se aplica o princípio bagatelar
impróprio aos crimes e contravenções penais praticados contra a mulher no
âmbito das relações domésticas (ver no item 5 desta aula).
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Obs.: Segundo o STF, mesmo sem haver qualquer risco de o réu ser
preso por conta do art. 28, Lei 11.343/06, ele poderia sim impetrar
habeas corpus.
Portanto, segundo tal princípio, que também não possui previsão legal no
Brasil, inexistira legitimidade na imposição de pena nas hipóstes em que, nada
obstante a infração penal esteja indiscutivelmente caracterizada (tipicidade formal
e material), a aplicação da reprimenda desponte como desnecessária e
inoportuna.