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- Lê com atenção o texto que te apresentamos e responde, de seguida, às questões colocadas.

Vem um ONZENEIRO1, e pergunta ao Arrais do Inferno, dizendo:


IMAGEM 46 (?)
ONZENEIRO
Pera onde caminhais?
DIABO
Oh! que má-hora venhais,
onzeneiro, meu parente!
Como tardastes vós tanto?
ONZENEIRO
Mais quisera eu lá tardar...
Na safra2 do apanhar
me deu Saturno quebranto3.
DIABO
Ora mui muito m'espanto
nom vos livrar o dinheiro4!...
ONZENEIRO
Solamente para o barqueiro
nom me leixaram nem tanto...
DIABO
Ora entrai, entrai aqui!
ONZENEIRO
Não hei eu i d'embarcar!
DIABO
Oh! que gentil recear,
e que cousas pera mi!...
ONZENEIRO
Ainda agora faleci,
leixa-me buscar batel!
DIABO
Pesar de Jam Pimentel5!
Porque não irás aqui?...
ONZENEIRO
E pera onde é a viagem?
DIABO
Pera onde tu hás-de ir.
ONZENEIRO
Havemos logo de partir?
DIABO
Não cures de mais linguagem6.
ONZENEIRO
Mas pera onde é a passagem?
DIABO
Pera a infernal comarca.
ONZENEIRO
Dix7! Nom vou eu tal barca.
Estoutra tem avantagem.

Vai-se à barca do Anjo, e diz:


Hou da barca! Houlá! Hou!
1
Onzeneiro: usurário que emprestava dinheiro aos necessitados, cobrando altos juros

2
safra: colheita

3
me deu Saturno quebranto: me fez Saturno (divindade responsável pela duração das vidas humanas) morrer

4
não vos livrar o dinheiro: não vos salvar da morte

5
Jam Pimentel: certamente uma personagem (pouco querida) da época

6
não cures de mais linguagem: não percas tempo com mais conversa

7
Dix: Disse (ou Já disse!)
Haveis logo de partir8?
ANJO
E onde queres tu ir?
ONZENEIRO
Eu pera o Paraíso vou.
ANJO
Pois cant'eu 9 mui fora estou
de te levar para lá.
Essoutra te levará.
Vai pera quem te enganou10!
ONZENEIRO
Porquê?
ANJO
Porque esse bolsão
tomará todo o navio.
ONZENEIRO
Juro a Deus que vai vazio!
ANJO
Não já no teu coração.
ONZENEIRO
Lá me fica, de rondão11,
minha fazenda e alhea.
ANJO
Ó onzena12, como és fea
e filha de maldição!

Torna o Onzeneiro à barca do Inferno e diz:


ONZENEIRO
Houlá! Hou! Demo barqueiro!
Sabeis vós no que me fundo13?
Quero lá tornar ao mundo
e trazer o meu dinheiro
que aqueloutro marinheiro,
porque me vê vir sem nada,
dá-me tanta borregada14
como arrais lá do Barreiro.
DIABO
Entra, entra, e remarás!
Nom percamos mais maré!
ONZENEIRO
Todavia...
DIABO
Per força é!
Que te pês15, cá entrarás!
Irás servir Satanás,
pois que sempre te ajudou.
ONZENEIRO
Oh! Triste, quem me cegou?
DIABO
Cal'te, que cá chorarás.

8
Haveis logo de partir?: Estais já de partida?

9
cant’eu: quanto a mim

10
quem te enganou: o Diabo

11
de rondão: de roldão, numa confusão

12
onzena: dinheiro dos juros

13
no que me fundo: o que pretendo fazer

14
borregada: pancada

15
que te pês: ainda que te pese, ainda que te custe.
Entrando o Onzeneiro no batel, onde achou o Fidalgo embarcado, diz tirando o barrete:
ONZENEIRO
Santa Joana de Valdês16!
Cá é vossa senhoria?
FIDALGO
Dá ò demo a cortesia!
DIABO
Ouvis? Falai vós cortês!
Vós, fidalgo, cuidareis
que estais na vossa pousada?
Dar-vos-ei tanta pancada
com um remo que renegueis17!
1. O Onzeneiro recusa-se a embarcar, de início, na Barca do Inferno. Porquê? [Cotação: 5 pontos]

2. Por que razão chama o Diabo ao Onzeneiro “meu parente”? [Cotação: 5 pontos]

3. O Anjo diz ao Onzeneiro: “Vai pera quem te enganou.” A quem se refere o arrais da Barca da Glória? [Cotação: 2 pontos]

3.1. Explica o motivo por que o Anjo acha que o Onzeneiro foi “enganado”. [Cotação: 3 pontos]

4. De acordo com o Anjo, utilizando as tuas próprias palavras, explica por que é a onzena “fea”? [Cotação: 5 pontos]

5. O Onzeneiro transporta consigo “um bolsão”.

5.1. Que simboliza este elemento, na caracterização profissional e moral da personagem? [Cotação: 5 pontos]

6. Que desejo manifesta o Onzeneiro, perante o Diabo, após a recusa do Anjo? [Cotação: 3 pontos]

7. Quando se torna inevitável o seu destino final, o Onzeneiro parece manifestar arrependimento.

7.1. Transcreve a fala que o ilustra. [Cotação: 2 pontos]

8. Recorda sucintamente o percurso cénico do Onzeneiro. [Cotação: 5 pontos]

9. Selecciona no texto um exemplo de cómico de linguagem, justificando a tua escolha. [Cotação: 5 pontos]

[Subtotal de cotações: 40 pontos]

GRUPO II

1. Análise morfológica

Utilizando as células em branco que a tabela seguinte inclui, classifica morfologicamente cada uma das palavras desta frase [que
poderia ter sido proferida pelo Anjo]:

“Oh! Uma pessoa maldosa não entra certamente na nossa barquinha puríssima.”

Determinante Determinante Adjectivo Adjectivo no Forma do Nome Nome Advérbio de Advérbio de Interjeição
possessivo no grau grau normal verbo comum comum modo negação
Artigo superlativo “Entrar” no (grau (diminutivo
indefinido absoluto presente do normal) )
sintético indicativo

[Cotação: 10 pontos]

2. Análise sintáctica

Atenta na seguinte frase:

“O Onzeneiro deu ao Diabo várias desculpas.”

16
Joana de Valdês: certamente uma personagem conhecida naquela época

17
que renegueis: que detesteis
Utilizando as células em branco que a tabela seguinte inclui, indica a função sintáctica de cada um dos segmentos
destacados:

O Onzeneiro deu [ao Diabo] várias desculpas ao Diabo

[Cotação: 10 pontos]

3. Discurso indirecto

Atenta na seguinte fala do Anjo (dirigindo-se ao Onzeneiro):

“Pois cant’eu mui fora estou / de te levar para lá [para o Paraíso]. / Essoutra te levará. / Vai pera quem te enganou.”

- Transforma esta fala, utilizando o discurso indirecto. Deverás começar o novo enunciado com “O Anjo disse/respondeu ao
Onzeneiro que…”

[Cotação: 10 pontos]

[Subtotal de cotações: 40 pontos]

- Lê com atenção o texto que te apresentamos e responde, de seguida, às questões colocadas.

O Adamastor

37
Porém já cinco Sóis18 eram passados
Que dali19 nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados,
Prósperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite estando descuidados,
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem que os ares escurece
Sobre nossas cabeças aparece.

38
Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo o negro mar, de longe brada
Como se desse em vão nalgum rochedo.
--"Ó Potestade20, disse, sublimada!
Que ameaço divino, ou que segredo
Este clima21 e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?"--

39
Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura,
O rosto carregado, a barba esquálida22,
Os olhos encovados, e a postura23
Medonha e má, e a cor terrena e pálida,
Cheios de terra e crespos os cabelos,

18
cinco Sóis: cinco dias;

19
dali: da ilha de Santa Helena;

20
ó Potestade (!): ó poder de Deus!

21
este clima: esta região;

22
esquálida: suja;

23
postura: altura;
A boca negra, os dentes amarelos.

40
Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te, que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso24,
Que um dos sete milagres foi do mundo:
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo:
Arrepiam-se as carnes e o cabelo
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!

41
E disse:--"Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos25 quebrantas,
E navegar meus longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados de estranho ou próprio lenho26:

42
Pois vens ver os segredos escondidos
Da natureza e do húmido elemento27,
A nenhum grande humano concedidos
De nobre ou de imortal merecimento,
Ouve os danos de mi, que apercebidos28
Estão a teu sobejo29 atrevimento,
Por todo o largo mar e pela terra,
Que inda hás-de sojugar com dura guerra.

43
Sabe que quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizerem de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem
Com ventos e tormentas desmedidas.
E da primeira armada que passagem
Fizer por estas ondas insofridas30,
Eu farei d'improviso tal castigo,
Que seja mor o dano que o perigo31.

(...)

49
Mais ia por diante o monstro horrendo
Dizendo nossos fados, quando alçado
Lhe disse eu:--Quem és tu? que esse estupendo
Corpo certo me tem maravilhado.--
A boca e os olhos negros retorcendo,
E dando um espantoso e grande brado,

24
Colosso: estátua de Apolo na ilha de Rodes, com 33 metros de altura.

25
vedados términos: proibidos limites;

26
nunca navegados por barcos;

27
húmido elemento: mar;

28
apercebidos: preparados;

29
sobejo: exagerado, excessivo;

30
ondas insofridas: ondas nunca navegadas;

31
Que seja mor o dano que o perigo: que o prejuízo seja ainda maior do que se poderias esperar;
Me respondeu, com voz pesada e amara32,
Como quem da pergunta lhe pesara:

50
“- Eu sou aquele oculto e grande Cabo,
A quem chamais vós outros Tormentório,
Que nunca a Ptolomeu33, Pompónio34, Estrabo35,
Plínio36, e quantos passaram, fui notório.
Aqui toda a Africana costa acabo
Neste meu nunca visto Promontório,
Que pera o Pólo antárctico se estende,
A quem vossa ousadia tanto ofende.

51
Fui dos filhos aspérrimos da Terra,
Qual Encélado, Egeu e o Centimano37;
Chamei-me Adamastor, e fui na guerra
Contra o que vibra os raios de Vulcano38;
Não que pusesse serra sobre serra,
Mas conquistando as ondas do Oceano,
Fui capitão do mar, por onde andava
A armada de Neptuno39, que eu buscava.

52
Amores da alta esposa de Peleu40
Me fizeram tomar tamanha empresa.
Todas as Deusas desprezei do céu,
Só por amar das Águas a Princesa.
Um dia a vi co as filhas de Nereu41
Sair nua na praia, e logo presa
A vontade senti de tal maneira
Que inda não sinto cousa que mais queira.

53
Como fosse impossibil alcançá-la
Pola grandeza feia de meu gesto,
Determinei por armas de tomá-la,
E a Doris42 este caso manifesto.
De medo a Deusa então por mi lhe fala;
Mas ela, cum fermoso riso honesto,
Respondeu:--"Qual será o amor bastante
De Ninfa que sustente o dum Gigante?

54

32
amara: amarga;

33
Ptolomeu: geógrafo grego (século II d.C.) que foi autor de um mapa do mundo;

34
Pompónio: geógrafo romano (século I – d.C.), que escreveu uma importante enciclopédica geográfica;

35
Estrabo: geógrafo grego (século I – antes e depois de Cristo), que foi o autor de uma admirável descrição do mundo conhecido;

36
Plínio: Autor da famosa Historia Naturalis;

37
Encéfalo, Egeu, Centimano:nomes de gigantes;

38
Vulcano: Deus do Fogo (aqui, o Adamastor refere-se ao Criador dos raios, não exactamente ao próprio Vulcano - logo, trata-se da guerra
contra Júpiter);
39
Neptuno: Deus do Mar;

40
esposa de Peleu: Vénus;

41
Nereu: Deus marinho;

42
Dóris: mãe de Tétis;
Contudo, por livrarmos o Oceano
De tanta guerra, eu buscarei maneira,
Com que, com minha honra, escuse o dano."
Tal resposta me torna a mensageira.
Eu, que cair não pude neste engano,
(Que é grande dos amantes a cegueira)
Encheram-me com grandes abondanças
O peito de desejos e esperanças.

55
--"Já néscio, já da guerra desistindo,
Uma noite de Dóris prometida,
Me aparece de longe o gesto lindo
Da branca Tétis única despida:
Como doido corri de longe, abrindo
Os braços, pera aquela que era vida
Deste corpo, e começo os olhos belos
A lhe beijar, as faces e os cabelos.

56
Oh! Que não sei de nojo43 como o conte!
Que, crendo ter nos braços quem amava,
Abraçado me achei cum duro monte
De áspero mato e de espessura brava.
Estando cum penedo fronte a fronte,
Que eu polo rosto angélico apertava
Não fiquei homem não, mas mudo e quedo,
E junto dum penedo outro penedo!

57
Ó Ninfa, a mais fermosa do Oceano,
Já que minha presença não te agrada,
Que te custava ter-me neste engano,
Ou fosse monte, nuvem, sonho, ou nada?
Daqui me parto irado, e quase insano
Da mágoa e da desonra ali passada,
A buscar outro inundo, onde não visse
Quem de meu pranto e de meu mal se risse,

58
Eram já neste tempo meus Irmãos44
Vencidos45 e em miséria extrema postos;
E, por mais segurar-se os Deuses vãos,
Alguns a vários montes sotopostos46:
E, como contra o Céu não valem mãos,
Eu, que chorando andava meus desgostos,
Comecei a sentir do fado imimigo
Por meus atrevimentos o castigo.

59
Converte-se-me a carne em terra dura,
Em penedos os ossos se fizeram,
Estes membros que vês e esta figura
Por estas longas águas se estenderam;
Enfim, minha grandíssima estatura
Neste remoto cabo converteram
Os Deuses, e por mais dobradas mágoas,
Me anda Tétis cercando destas águas."--

43
nojo: pesar, tristeza;

44
meus irmãos: outros gigantes;

45
Vencidos: derrotados na luta que travaram contra Júpiter;

46
sotopostos: postos debaixo;
60
Assi contava; e, cum medonho choro,
Súbito diante os olhos se apartou.
Desfez-se a nuvem negra, e cum sonoro
Bramido muito longe o mar soou.
Eu, levantando as mãos ao santo coro
Dos Anjos, que tão longe nos guiou,
A Deus pedi que removesse os duros
Casos, que Adamastor contou futuros.

Os Lusíadas, Canto V
1. A que é comparado, no início do episódio, o Adamastor? [Cotação: 2 pontos]

1.1. Por que motivo, em teu entender, usa o narrador essa comparação? [Cotação: 3 pontos]

2. Caracteriza fisicamente, de acordo com as informações do texto, a figura do Adamastor. [Cotação: 6 pontos]

3. Encontra, na estância 40, expressões que indiquem o medo provocado pela gigantesca figura. [Cotação: 5 pontos]

4. Que pergunta de Gama consegue operar uma mudança de atitude no Adamastor? [Cotação: 3 pontos]

5. Resume, em traços sucintos e por palavras tuas, a história do Adamastor. [Cotação: 7 pontos]

6. Gama, no final deste encontro, faz um pedido aos Céus. Que pedido é esse? [Cotação: 3 pontos]

7. Na tua opinião, que simboliza, no conjunto da obra Os Lusíadas, a figura do Adamastor? [Cotação: 5 pontos]

8. Diz se o narrador deste episódio é participante ou não participante. [Cotação: 2 pontos]

8.1.Justifica a tua resposta, com recurso a palavras ou expressões do texto. [Cotação: 2 pontos]

9. A que parte da estrutura interna da obra pertence o episódio do Adamastor? [Cotação: 2 pontos]

[Subtotal de cotações: 40 pontos]

GRUPO II

1. Transforma da forma activa para a passiva a seguinte frase:

“O Adamastor viu Tétis.” [Cotação: 6 pontos]

2. Transforma da forma passiva para a forma activa a seguinte frase:

“O Adamastor é recusado por Tétis. [Cotação: 6 pontos]

3. Indica a função sintáctica de “por Tétis”. [3 pontos]

4. Encontra, no trecho seguinte, exemplos de orações coordenadas e orações subordinadas.

“Tétis e o Adamastor conheceram-se mas o destino não os uniu. Trata-se de um episódio triste porque acaba mal. Se Tétis amasse
o Adamastor, a história seria outra. Tétis recusa esse amor e o Adamastor sofre. A mãe de Tétis ajuda a filha para que esta escape a
uma tal união.”

Oração subordinada final

Oração subordinada causal

Oração subordinada condicional

Oração coordenada copulativa

Oração coordenada adversativa

[Cotação: 15 pontos]
Soluções dos Testes

Módulo 15

Grupo I

1. O Onzeneiro, de início, recusa-se a embarcar na Barca do Inferno porque prefere a barca da Glória e, à semelhança da maioria
das personagens, julga-se com o direito de escolher o seu destino.

2. O Diabo chama ao Onzeneiro “meu parente” porque esta personagem, em vida, praticou o Mal, não olhando a meios para
enganar e explorar os seus semelhantes.

3. Quando o Anjo diz ao Onzeneiro “Vai pera quem te enganou”, está obviamente a referir-se ao Diabo.

3.1. O Anjo acha que o Onzeneiro foi “enganado” porque esta personagem não foi capaz de, em devido tempo, perceber que tudo
quanto fazia, na sua vida de engano e exploração dos outros, era um caminho certo para a perdição (ou seja, para o Inferno).

4. O Anjo considera a onzena “fea” porque, na sua opinião, é “filha da maldição”, ou seja, é consequência de uma atitude egoísta,
pecaminosa. O Onzeneiro lucra com as dificuldades e o sofrimento dos seres humanos.

5.1. O Onzeneiro transporta consigo “um bolsão”. Este elemento tem a ver com a actividade profissional do Onzeneiro, que
emprestava dinheiro a juros e, depois, recolhia os fartos lucros deste negócio. Por outro lado, o tamanho desmesurado da bolsa
ajuda a perceber a ambição desmedida e exagerada deste tipo de personagem.

6. Perante a recusa do Anjo, o Onzeneiro manifesta ao Diabo a intenção de “tornar ao mundo” e aí buscar o seu dinheiro.

7.1. Quando se torna inevitável o seu destino final, o Onzeneiro manifesta arrependimento: “O! Triste, quem me cegou?”

8. O percurso cénico do Onzeneiro foi o seguinte: em primeiro lugar, dirigiu-se à Barca do Inferno; depois, tentou a sua sorte junto
do Anjo; finalmente, voltou à Barca do Inferno e, depois de ver recusada a sua intenção de tornar ao mundo dos vivos, acabou por
entrar nessa embarcação infernal.

9. Um exemplo de cómico de linguagem, nesta cena, é sem dúvida o modo como o Onzeneiro confessa o seu medo de enfrentar
“aqueloutro marinheiro” (que lembra a figura mitológica de Caronte) sem ter dinheiro para lhe dar: “[…] aqueloutro marinheiro, /
porque me vê vir sem nada, / dá-me tanta borregada / como arrais lá do Barreiro.” A expressão “dá-me tanta borregada” e a
comparação com um rude “arrais do Barreiro” criam, aqui, o cómico, sobretudo pelo recurso a um nível de língua popular
(próximo do calão).

Grupo II

1. Análise morfológica

Determinante Determinante Adjectivo Adjectivo Forma do Nome comum Nome comum Advérbio Advérbio Interjeição
possessivo no grau no grau verbo (grau normal) (diminutivo) de modo de negação
Artigo superlativo normal “Entrar” no
indefinido absoluto presente do
sintético indicativo

Uma nossa Puríssima maldosa entra pessoa barquinha certamente Não Oh

2. Análise sintáctica

O Onzeneiro deu [ao Diabo] várias desculpas ao Diabo

Sujeito Predicado Complemento directo Complemento indirecto

3. Discurso indirecto

O Anjo disse/respondeu ao Onzeneiro que estava [no que lhe dizia respeito] muito fora de levar o Onzeneiro para o Paraíso.
Acrescentou que aquela outra Barca o levaria e mandou-o ir ter [ou aconselhou-o a ir ter] com quem o tinha enganado.

1. No início do episódio, o Adamastor é comparado a uma nuvem ameaçadora.


1.1. O narrador usa essa comparação para, por um lado, dar conta do tamanho imenso do Adamastor e, por outro lado, para dar
conta da perspectiva dos marinheiros face àquela figura gigantesca (vista de baixo para cima). O Adamastor aparece, de modo
imponente e ameaçador, sobre as cabeças dos navegadores.

2. O Adamastor é caracterizado da seguinte forma: é uma figura robusta, poderosa, medonha. Tem uma cor terrena (acastanhada),
barba suja, olhos encovados, cabelos crespos, dentes amarelos, pernas e braços enormes, voz grossa e horrenda.

3. Encontramos, na estância 40, algumas expressões que indicam claramente o medo provocado pela gigantesca figura: é “tão
grande de membros” como o Colosso de Rodes; Tem um “Tom de voz (…) horrendo e grosso”; “Arrepiam-se as carnes e o cabelo
/ (…) só de ouvi-lo e vê-lo”.

4. A pergunta feita por Gama que consegue operar uma mudança de atitude no Adamastor é a seguinte: “Quem és tu?” (estância
49).

5. A história do Adamastor, em traços sucintos, é a seguinte:

O Adamastor apaixonou-se pela bela Tétis, depois de um dia a ver sair, nua, das águas do mar. Não sendo correspondido, tentou
tomá-la pela força. Foi Dóris, a mãe de Tétis, que serviu de intermediária na procura de uma solução para este problema. Quando,
ingenuamente, o Adamastor acreditou que Tétis estava disposta a ser sua, correu para ela – mas os Deuses castigaram-no e ele foi
transformado num imenso rochedo (um “remoto cabo”). Para cúmulo, o gigante é obrigado, sem se poder mover, a ver
frequentemente a doce Tétis banhando-se à sua volta.

6. Gama, no final deste encontro, faz um pedido aos Céus: que as profecias do Adamastor se não concretizem (“A Deus pedi que
removesse os duros / Casos, que Adamastor contou futuros”).

7. A figura do Adamastor simboliza, por um lado, o humano medo do Desconhecido e as dificuldades que foi preciso enfrentar e
vencer para se conseguir atingir o objectivo final. Por outro lado, simboliza uma certa forma de Amor (do Adamastor por Tétis),
fundada sobretudo no desejo físico e bruto (o chamado “Baixo Amor”), que os deuses não deixaram de castigar.

8. O narrador deste episódio é participante.

8.1. Ocorrem no poema expressões que dão conta da presença do narrador (trata-se do próprio Gama, aliás) no espaço e tempo da
acção narrada. Veja-se, por exemplo, o momento em que ele interpela directamente o Adamastor, utilizando a primeira pessoa para
no-lo reportar [estância 49]: “Mas ia por diante o monstro horrendo / Dizendo nossos fado, quando alçado / Lhe disse eu: - Quem
és tu?”

9. O episódio do Adamastor pertence à parte da narração.

Grupo II

1. “Tétis foi vista pelo Adamastor.”

2. “Tétis recusa o Adamastor.”

3. A função sintáctica de “por Tétis” é a de complemento agente da passiva.

4. Oração subordinada final “para que esta escape a uma tal união”

Oração subordinada causal “porque acaba mal”

Oração subordinada condicional “Se Tétis amasse o Adamastor”

Oração coordenada copulativa “e o Adamastor sofre”

Oração coordenada adversativa “mas o destino não os uniu”

Grupo III

- O aluno deverá utilizar os conhecimentos adquiridos sobre a redacção de cartas. Na página 23 do manual, recordam-se alguns
dos aspectos formais mais importantes a ter em conta neste exercício de escrita.

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