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Incentivo:
LEI DE
INCENTIVO
À CULTURA
MINISTÉRIO
DA CULTURA
O projeto “Implantação do Complexo Cultural Estação Júlio Prestes”, que compreende os projetos de restauro e reciclagem da
Estação Júlio Prestes para sua transformação em sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, com a implantação da sala
sinfônica que recebeu o nome de Sala São Paulo, os estudos urbanísticos do entorno (região da Luz) e a publicação deste livro,
foi uma realização da Associação Viva o Centro, apoiada pelo Ministério da Cultura através da Lei de Incentivo à Cultura e
patrocinada pelas empresas Telefônica, Nossa Caixa-Nosso Banco e BankBoston.
Os paulistas sempre se O conceito de parceria
orgulharam do dinamismo da sua Capital. A agitação das corporificou-se, no caso do Complexo Cultural Júlio Prestes,
ruas, o movimento dos pedestres e carros, e mesmo a fumaça num exemplo de complementaridade eficiente entre diferen-
das chaminés eram identificados como sinais de progresso, tes setores da sociedade. O poder público conduziu o processo
cantados até pelos nossos melhores poetas. Expressando este e a sociedade civil, por meio da Associação Viva o Centro,
sentimento, afirmava-se que São Paulo – a cidade que não empenhou-se, ao assumir o desenvolvimento do projeto, em
podia parar – era também a que mais crescia no mundo. que esse importante investimento se realizasse dentro das exi-
Apostando apenas no futuro, ela avançava sobre os bairros gências técnicas e artísticas compatíveis com as expectativas
mais distantes, entre eles o do Guaré, onde, ainda no século de todos.
XVI, ergueu-se uma pequena ermida dedicada a Nossa A concretização de uma obra da importância da Sala São
Senhora da Luz – origem do nome atual da região. Paulo – um recinto sinfônico de alta qualidade técnica, ins-
Do Mosteiro e Igreja da Luz à estação ferroviária da São Paulo talado de forma inovadora no magnífico edifício da Estação
Railway, passando pelo mais antigo dos nossos parques e pelo Júlio Prestes – dá ao Centro de São Paulo mais um poderoso
prédio da Pinacoteca do Estado, nenhuma das outras localida- instrumento para a sua recuperação.
des da grande urbe conserva tantos edifícios históricos e traduz Nos processos de requalificação de centros metropolitanos, a
tão bem o processo que levou a modesta vila colonial à condi- cultura desempenha um papel fundamental. É no centro que
ção de metrópole. Esta região, que constitui um dos nossos experimentamos o vigor criativo de nossa cidade e as suas
mais importantes pólos de cultura e lazer, conta agora com conexões com o mundo. É para ele que as pessoas acorrem
mais um espaço da maior importância para a cidade: a fantás- para a experiência individual da globalização, através das
tica Sala São Paulo, construída pelo Governo do Estado a par- múltiplas linguagens da cultura.
tir de projetos desenvolvidos pela Associação Viva o Centro. A decisão do governador Mário Covas de assumir a recupera-
Faça-se a luz, foram as palavras de Deus, após criar o céu e a ção do nosso Centro metropolitano como um assunto de sua
terra. Se não podemos e nem precisamos imitar este Seu gestão naquilo em que o Governo do Estado pode efetivamen-
exemplo, devemos, ao menos, nos empenhar no apoio dos te intervir – principalmente o transporte público, a seguran-
poderes públicos e da comunidade para a preservação do ines- ça e a cultura – é de fundamental importância para o futuro
timável patrimônio existente no bairro da Luz, criação cole- de São Paulo como metrópole global e um habitat mais
tiva de todo o povo de São Paulo. humano para os seus cidadãos.
9
Estação da Luz Sala São Paulo Torre da Estação Júlio Prestes
Praça Júlio Prestes Banco do Est
11
tado
Edifício Martinelli
12
Edifício Itália
Edifício Copan
Praça Princesa Isabel Terminal Rodoviário
Sumário
Pólo Luz 17
páginas 8 a 14
Vista da cidade a partir da torre da Igreja do Sagrado Coração de Jesus,
com a gare da Estação Júlio Prestes no primeiro plano, 1999
Nelson Kon, 1996
Pólo Luz
do século XIX, um sistema viário que buscou conectar os novos bairros industriais ao Centro e à área
onde estava localizado, a partir de 1900, o mais importante equipamento público da cidade, a
Estação da Luz. A permanente remodelação do sistema viário e a construção de um conjunto de S.a., Arquivo DPH, s.d.
pontes aproximaram os novos bairros operários e aristocráticos, como é o caso dos Campos Elíseos,
na área central da cidade.
Na primeira planta cadastral de São Paulo, datada de 1881, esses empreendimentos urbanos já estão
registrados e marcam o caminho que ia assumindo o crescimento da cidade. Embora houvesse um
grande empenho em estabelecer conexões e relacionar setores, a forma excessivamente fragmentada
do processo de urbanização, resultado direto das características da propriedade fundiária, isto é, o
loteamento das chácaras, gerou uma malha urbana descontínua e pouco eficiente. Do ponto de vista
socioespacial, o processo de urbanização dos bairros que formaram a nossa primeira “periferia”
industrial é bastante distinto daquele que serviu posteriormente de padrão, quando os níveis de
segregação social aumentaram drasticamente. Eles ilustram bem o processo rápido e intenso de
urbanização no qual a principal característica do crescimento pode ser perfeitamente descrita como
fabril e proletária.
Esse processo histórico, que associou durante nosso primeiro surto industrial a fábrica, a ferrovia e
a moradia operária, produziu uma região onde os ingredientes que definem um setor como
metropolitano foram acentuando-se gradualmente. É importante não esquecer que, fugindo dos
tímidos e excessivamente comerciais arruamentos promovidos pelos loteadores, o poder público já Primeira estação da Estrada de Ferro
Sorocabana, na rua Mauá, 1915
havia instalado nessa área, desde as primeiras décadas do século XIX, um equipamento de grande
prestígio: o Jardim Público da Luz (1825), antes projetado como Jardim Botânico. Mais tarde, em
1865, com a Estação da Luz, inaugurada na mesma área, criou-se um setor urbano comprometido
com o destino metropolitano da cidade. Junto à Estação da Luz, equipamentos comerciais e hoteleiros
transcendiam já desde a sua criação às demandas estritamente locais.
Estruturado como um conjunto de bairros residenciais e industriais, pelo menos até os anos 50, o
território composto pelos bairros centrais situados ao norte do Centro atravessou todo o século XX sem
As torres das estações da Luz e Júlio Prestes, que balizam o eixo ferroviário na região, 1999 31
Estação Júlio Prestes
34
A antiga estação assume hoje um papel radical, agora como participante nas mudanças em seu O Grande Hall, adaptado com cobertura
para eventos e transformado na Sala
entorno, tendo parte de seu interior transformado em sala sinfônica. Ainda mantém um equipamento São Paulo, 1997 e 1999
ferroviário e é portal de acesso da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) para os
municípios da região oeste da metrópole, mas seus novos signos apontam para uma outra direção,
unindo cultura, música e alta tecnologia em um espaço surpreendente em todos os sentidos. O
Grande Hall da Estação Júlio Prestes, como que há tempos aguardando essa metamorfose, dá forma
a uma experiência sem igual no mundo enquanto reciclagem arquitetônica e funcional de uma
estação de trens.
Numa região diferenciada da cidade pelo seu patrimônio urbanístico-arquitetônico, a iniciativa de
implantar a Sala São Paulo vem se somar aos projetos de reciclagem em edifícios históricos ora em
curso na área central da cidade. A renovação urbana da área da Luz envolve hoje várias iniciativas,
como a readequação do transporte metropolitano sobre trilhos, a transformação da Estação da Luz
em centro articulador desse sistema e a recuperação de logradouros públicos como o Jardim da Luz,
35
Nelson Kon, 1996
levando à consolidação de um pólo cultural expressivo, conectado aos grandes centros do circuito
internacional de música, museus e artes plásticas.
Como sede da Orquestra Sinfônica de São Paulo, a Estação Júlio Prestes recupera sua importância
para a cidade, assim como confirma o caráter irreversível das mudanças em curso na região. Com a
Sala São Paulo, em meio a graves questões urbanas e sociais, a área da Luz se revaloriza sem alterar
sua identidade, reforçando a vocação cultural que lhe cabe nessa metrópole de muitas faces, ponto
nodal da América Latina na rede das supercidades mundiais.
Memória atribulada
Em 15 de outubro de 1938, doze anos após o início de suas obras, foi finalmente inaugurada a
Estação Júlio Prestes, um monumental exemplar da École de Beaux-Arts, temporão estilístico na
cidade que então crescia vertiginosamente moderna. Com o nome de Estação Inicial da Estrada de
Ferro Sorocabana, balizava, tal como hoje, em conjunto com a torre da Estação da Luz, o eixo
ferroviário que corta a cidade ao norte de seu centro histórico.
O projeto para uma nova estação, realizado em 1925, fazia parte de um programa de recuperação
iniciado alguns anos antes pela Sorocabana, pelo qual contava inverter as dificuldades que a
acompanhavam desde sua fundação, em 1875. Com suas linhas avançando para o sudoeste paulista
por conta da produção agrícola da região, principalmente algodoeira, a Estrada de Ferro Sorocabana
não se desenvolveu como as outras ferrovias do Estado, trafegando com seus vagões abarrotados de
café. Projetada inicialmente como ligação entre São Paulo e São João de Ipanema, local de grande
importância siderúrgica na época, passava por Sorocaba e São Roque, até chegar à capital, onde
construiu-se uma estação modesta junto à Estação da Luz, da São Paulo Railway Company. Com isso,
permitia a baldeação com os trens que desciam para Santos. Com vários problemas, a Sorocabana
foi adquirida pela União em 1902, comprada pelo governo de São Paulo em 1907 e arrendada a um
consórcio americano em 1909, voltando ao controle do Estado em 1919.
Neves – titular de um dos maiores escritórios de projetos e construções de São Paulo e responsável,
entre outros, por um dos cartões-postais da cidade na época, o conjunto Palacete Conde Prates,
debruçado sobre o Parque do Anhangabaú.
Desenhado em 1925, o projeto da Estação Sorocabana refletia a visão conservadora de seu autor (e
da empresa) para a época, que já vivia uma certa efervescência cultural – a Semana de Arte Moderna
e o escândalo do início do modernismo em São Paulo completavam três anos. A opção por um estilo
historicista com jeito de fim de século contrastava com as demais correntes arquitetônicas em voga,
como a neocolonial, também tradicionalista, que buscava elementos compositivos nas raízes de
identidade brasileira. Do exterior, destacavam-se o art-nouveau, com seus elementos floreados, e, de
forma mais incisiva, a recusa mesma de qualquer ornamentação, expressa pelo movimento de
arquitetura moderna, que já marcava presença na imprensa nacional nesse mesmo ano.3
De qualquer forma, o projeto da Estação Inicial da Estrada de Ferro Sorocabana recebeu, em 1927,
o Prêmio de Honra no III Congresso Pan-Americano de Arquitetura, em Buenos Aires. Nesse mesmo
ano, suas obras sofrem a primeira de uma série de paralisações. Uma nova diretoria assume a
empresa e questiona o prosseguimento das obras reiniciadas em 1928, impondo modificações ao
projeto inicial que privilegiavam uma nova execução das plataformas de embarque em detrimento
do edifício principal. Desconsiderando a hierarquia com que o arquiteto tratava o percurso dos
passageiros de primeira e de segunda classe, simplificando o acesso para estes e criando uma
circulação cenográfica para aqueles – pelos lances de escadas que levavam da rua até o Grande Hall
e então ao concourse –, a empresa eliminou as diferenças de nível entre os pisos. A alteração criou
um problema para o embasamento das colunas internas do edifício, que perderam sua correta
proporção ao compensar essa diferença não prevista de altura. Ainda em 1928, em razão de novas
paralisações, Christiano Stockler das Neves abandona definitivamente a supervisão das obras,
profundamente desgostoso com a empresa.
Na esteira da crise de 29, a Sorocabana ainda iria alterar de forma mais significativa o projeto
original, com a retirada das imensas mansardas que cobriam o Grande Hall (o acesso de passageiros
da primeira classe), das cúpulas laterais e da marquise na fachada. Essa atitude levou o arquiteto a
processar a empresa e reivindicar a manutenção dos elementos do projeto original. Ampliando ainda
a questão sobre as disputas ideológicas da época, o arquiteto se manteve intransigente na defesa dos
valores de sua arquitetura contra o ideário do movimento moderno que então se implantava. Como
um sinal da virada dos tempos, a Justiça comum decidiu pela improcedência de seus argumentos.4
E o Grande Hall se transformou num jardim descoberto, um cenário majestoso para os usuários da
estação e, décadas depois, para os vários eventos que ali se realizariam com o fim de arrecadar
recursos para sua manutenção.
Em 1930 foram entregues ao público a ala das plataformas e o concourse, que no projeto original
correspondia ao acesso dos passageiros da segunda classe. Para cobrir as plataformas recém-
inauguradas, a estação usou uma estrutura metálica adquirida da desmobilização do hangar do
dirigível Zepelim, no Rio de Janeiro,5 num total descompasso com o projeto e com as recomendações
do arquiteto.
Após nova paralisação, decorrente dos reflexos na economia paulista trazidos pela revolução de 32,
as obras foram retomadas apenas em 1936, com as simplificações do projeto inicial a cargo do
arquiteto Bruno Simões Magro. Este técnico da Sorocabana entendia essas mudanças do projeto
original como provisórias, que posteriormente seriam complementadas, mas isso nunca aconteceu.
Sem mais interrupções, foi inaugurada em 1938, já com o nome de Estação Júlio Prestes. A Estrada
de Ferro Sorocabana, juntamente com as outras cinco companhias ferroviárias do Estado, deixa de
existir em 1970, dando lugar à empresa estatal Fepasa – Ferrovias Paulista S.A. Nos anos 80, o
trecho entre Itapevi, na Região Metropolitana de São Paulo, e a Estação Júlio Prestes passa a ser
operado pela CPTM.
Com a Estação Júlio Prestes, a cidade incorporou a seu patrimônio arquitetônico uma obra
imponente. Apesar da turbulência constante durante sua execução, foi preservada a maior parte das
características de monumentalidade e qualidade construtiva previstas nos desenhos de seu criador,
Christiano Stockler das Neves.
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A fachada é ritmada pela disposição das colunas de capitel jônico decorado ladeando as janelas, sendo
o pavimento térreo revestido de pedras rústicas frisadas, solução bastante comum em edifícios
ecléticos da época. Internamente, o edifício se articula com a gare e com suas plataformas de
embarque pelo alinhamento das colunatas. Pelas suas características, a gare configura um conjunto
funcional da estação, não se integrando, estilisticamente, ao restante do edifício.
Concebida para ser a “porta de entrada da cidade”, a estação adotou uma escala monumental,
prevista para a circulação diária de 10 mil passageiros (hoje, o embarque diário é de cerca de 50 mil
passageiros), e impressionava pelo Grande Hall, “o maior salão do Brasil”, como se dizia então. Eram
48 metros de comprimento, 20 metros de largura e 24 metros de altura – dimensões que, sessenta
anos depois, voltariam a impressionar o grupo especial de pessoas que estudava um lugar para
abrigar a sala sinfônica. O projeto original de Christiano Stockler das Neves previa o coroamento desse
espaço por mansardas e, em seu interior, por uma imensa abóbada de berço, com fechamentos em
vitrais artísticos a cargo do mesmo artista responsável pelos vitrais com temas ferroviários do
concourse, Conrado Sorgemith Filho (conhecido pelo trabalho realizado no Teatro Municipal de São
Paulo).
Utilizando elementos construtivos de qualidade, como mármores italianos e serralheria artística
produzida no Liceu de Artes e Ofícios, o edifício teve uma execução primorosa, em consonância com
a competente concepção do arquiteto. Os volumes internos, a alternância das escalas, o ritmo da
colunata da galeria que circunda o Grande Hall e o uso conciso da ornamentação são elementos que
se valorizam na relação espacial que estabelecem nessa arquitetura interior, sem se permitirem
justaposições ou até uma certa sensação de exagero, comuns nos edifícios ecléticos.
Os ambientes que atendem ao programa arquitetônico da estação foram hierarquizados segundo as
regras elitistas de Christiano Stockler das Neves. O projeto faz uma distinção clara entre as áreas
destinadas aos funcionários, praticamente sem ornamentação, as destinadas aos passageiros da
segunda classe, com acesso direto às plataformas de embarque pelo concourse, e os espaços de
circulação para os passageiros da primeira classe, com percurso planejado para a percepção das
52 Corredores do primeiro e segundo andar, ainda com a iluminação natural anterior à reforma, 1998
53
Luizette Nero Davini, 1998
Uma casa para a Sinfônica
O projeto da Sala São Paulo foi a conseqüência natural de um outro projeto: o de imprimir à
Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo padrão internacional, objetivo prioritário da Secretaria
de Estado da Cultura e de John Neschling, maestro carioca chamado para sua direção artística após
a morte do maestro Eleazar de Carvalho, titular até então. Neschling, um dos mais respeitados
maestros da atualidade e com larga experiência em concertos no exterior, foi escolhido pelos próprios
músicos, em votação realizada na orquestra.
Ao assumir em janeiro de 1997, o maestro apresentou um plano de reestruturação abrangente para
a Osesp, que incluía, como ponto essencial, sua instalação em uma sede própria que contivesse toda
a infra-estrutura necessária para o funcionamento de uma grande orquestra, como salas para
ensaios, reuniões, gravações, arquivo e biblioteca de partituras. Apoiada pelo governo estadual, a
Osesp transformou-se num conjunto profissional, dedicado integralmente aos trabalhos da orquestra,
apresentando-se regularmente para o público com um repertório inovador, do qual fazem parte
várias peças brasileiras. Sua formação atual é de 95 músicos rigorosamente selecionados, com vários
estrangeiros e brasileiros que retornaram ao país para participar desse novo momento da orquestra.
A previsão do maestro é atingir, assim que possível, sua formação completa, com 118 músicos.
Quanto ao lugar definitivo para a orquestra, decidiu-se procurar uma sala de espetáculos que pudesse
ser adaptada especificamente para música sinfônica. Para tanto, foi convocado, como coordenador
geral do projeto, o engenheiro Ismael Solé, responsável pela restauração dos mais importantes teatros
do país, como o Municipal de São Paulo, o São Pedro de Porto Alegre, e o José de Alencar, de Fortaleza.
Junto com o maestro John Neschling e o secretário de Cultura Marcos Mendonça, o grupo-tarefa parte
em busca desse espaço singular e inédito para a cidade. Em seguida foi chamado a São Paulo o
engenheiro e maestro Christopher Blair, da Artec, empresa norte-americana de renome internacional
em acústica para teatros e auditórios, contratada como consultora para os projetos a serem
desenvolvidos.
A essa proposta técnica foi somada a necessária decisão política, o que ocorre com o encaminhamento
da proposta pelo secretário de Estado da Cultura, Marcos Mendonça, desencadeando o processo de
viabilização das obras. Por seu papel no esforço de requalificação da área central paulistana, a
Associação Viva o Centro foi convocada pelo governador Mario Covas e passa a participar do
empreendimento, assumindo a responsabilidade pelos projetos de restauro e de implantação da sala
sinfônica, além de realizar estudos sobre a reurbanização da área da Luz, tendo em vista sua
dinamização como pólo cultural metropolitano.
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Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp
A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – Osesp – foi criada pelo maestro Souza Lima, Primeiros Violinos
1 spalla, 1 solista,
em 1953, e instituída por lei no ano seguinte. Sua primeira sede foi o Theatro São Pedro, de 1 concertino, 11 músicos
onde saiu nos anos 70 para instalar-se no Teatro Cultura Artística e depois em diversos outros Segundos Violinos
1 concertino, 12 músicos
espaços, nem sempre apropriados, até instalar-se definitivamente na Estação Júlio Prestes, Violas
remodelada especialmente para recebê-la. 2 solistas, 2 concertinos, 3 músicos
Violoncelos
Em 1973, quando o maestro Eleazar de Carvalho era seu diretor artístico, a Osesp promoveu 1 solista, 1 concertino, 5 músicos
sua primeira renovação, recompondo o corpo de músicos por meio de concursos nacionais e Contrabaixos
2 solistas, 1 concertino, 5 músicos
convites a músicos estrangeiros. A orquestra passa, então, a se apresentar regularmente em São Flautas
Paulo e a excursionar por diversas capitais do país, levando, entre outras peças importantes e 2 solistas, 2 músicos, 1 flauta e pícollo
Oboés
mesmo inéditas, o ciclo integral das obras de Mahler, Bruckner e Bartók. 2 solistas, 2 músicos, 1 corne inglês
Com a economia convulsionada pela inflação, ao final dos anos 80, a Osesp mergulha numa Clarinetes
1 solista, 1 co-solista, 1 músico,
profunda crise, que resulta na perda de sua sede e na defasagem dos salários dos músicos. Essa 1 requinta e 1 clarinete, 1 clarone
situação começou a se reverter com a nomeação de John Neschling como diretor artístico, em Fagotes
1 solista, 2 músicos
janeiro de 1997, quando o maestro deu início ao processo de valorização e ampliação do corpo Trompas
de músicos por meio de concursos internacionais, o que resultou na qualificação da Osesp 2 solistas, 6 músicos
Trompetes
como uma orquestra de elevado padrão técnico e profissional. Ao mesmo tempo, a Estação Júlio 2 solistas, 3 músicos
Prestes era assumida e cuidadosamente preparada para ser sua sede definitiva. Finalmente, Trombones
2 solistas, 2 músicos, 1 trombone baixo
a inauguração da Sala São Paulo imprime nova vida à Osesp, que retoma com enorme vigor Tuba
as suas apresentações semanais e os concertos em outras cidades paulistas, destacando em seu 1 solista
Tímpano
repertório as obras brasileiras de todas as épocas. 1 solista, 1 assistente
A estrutura atual da Osesp inclui um centro de documentação que reúne atividades de pesquisa Percussão
4 músicos
histórica, arquivo e biblioteca voltados ao público especializado. Está prevista, também, a Teclados
instalação de uma editora especializada em música brasileira desde o período colonial até a 1 solista
produção contemporânea.
Desde janeiro de 1997, o diretor artístico e regente titular da Osesp é o maestro John Neschling,
e seu diretor artístico adjunto e regente associado é o maestro Roberto Minczuk. Eles são
responsáveis por mais da metade dos concertos apresentados, que incluem, ainda, uma
extensa lista de maestros e solistas convidados de todo o mundo.
A Osesp é uma orquestra jovem, com média de 35 anos de idade entre seus músicos. Em
setembro de 1999, contava com 93 integrantes, dos quais 75% são brasileiros e os demais de
várias nacionalidades, entre americanos, europeus e asiáticos.
Sala São Paulo
Restaurante
Entrada Chapelaria
Estar
Loja
Bar–Café Bilheteria
Piso Técnico
Forro Móvel
Térreo
Sobreloja
Corte transversal da Sala São Paulo
Piso Técnico
Forro Móvel
Balcão Superior
Camarote Superior
Balcão Mezanino
Camarote Mezanino
Platéia
Sala São Paulo
Piso Térreo
Palco
Platéia Central
Platéia Lateral
Mezanino
Balcão Mezanino
Coro
Camarote
Mezanino
Piso Superior
Balcão Superior
Camarote
Superior
páginas 58 a 77
Construção da Sala São Paulo, 1998 a 1999 71
Pontos de partida
75
composição estilística, cuja qualidade expressiva era justamente o que tanto encantou a equipe de
especialistas que a escolheu. Ou seja, quaisquer que fossem as interferências previstas, seriam
ajustadas ao alinhamento e ritmo das colunatas e ao rigor da ordenação existente entre seus muitos
elementos decorativos.
A opção por um forro móvel era a mais adequada à Sala São Paulo por permitir uma acústica
ajustável, de acordo com os projetos contemporâneos, e foi possível porque a sala não tinha teto. Sua
adoção atendeu a uma solicitação tanto espacial como acústica para a sala, e implicou duas questões:
no espaço interno, a garantia de visibilidade dos ornamentos, como cimalhas, platibandas e vitrais,
e, na parte externa do edifício, o acréscimo de um volume na cobertura que deveria se relacionar
com a torre do relógio. Neste caso, as proporções da fachada seriam alteradas e de certa forma
dariam oportunidade à complementação, quase setenta anos depois, do projeto original de Christiano
das Neves.
Além da sala de concertos, a adaptação da estação para as atividades da Osesp exigiu a reforma de
um grande número de salas, como as destinadas a ensaios, arquivos, administração e de apoio aos
freqüentadores, como chapelaria, sanitários, cafeteria, restaurantes etc. Além disso, o edifício teve suas
instalações revistas e atualizadas, com a inclusão de elevadores e a informatização de equipamentos
para atender às mudanças.
A reciclagem da Estação Júlio Prestes é um caso singular em projetos de preservação arquitetônica,
colocando-se como um dos raros exemplos em que as funções originais são mantidas ao lado das
novas atividades. A incorporação da gare pelo Complexo Cultural Júlio Prestes – em virtude de um
remanejamento na operação dos trens metropolitanos, em estudo pela CPTM – é algo possível e
mesmo desejável. Contudo, é preciso levar em conta que essa proximidade com a ferrovia foi
particularmente determinante para o projeto da sala sinfônica, uma vez que, além do ruído, a
vibração causada pela passagem das composições implica considerável interferência em seu
resultado.
Projeto
Como espaço voltado para apresentações sinfônicas, a audição perfeita dos sons – volume,
ressonâncias e reflexões – foi a preocupação predominante entre todos os fatores envolvidos na
execução da Sala São Paulo. Daí sua diferença em relação às outras salas de espetáculos que
apresentam música, dança ou teatro, e que necessitam da moldura de um palco – o chamado palco
italiano – para serem vistos. Uma volumetria bem definida, tal como a encontrada no Grande Hall,
impôs-se como premissa conceitual de ocupação, sendo o palco um elemento cênico em seu interior,
integrado ao espaço da platéia. Para a adequação do espaço, tudo o mais, internamente, foi
reformulado, com a colocação da cobertura e do forro móvel, com o rebaixamento do piso,
fechamentos laterais, implantação de balcões e realização de intervenções como instalação de ar
condicionado e redes de cabos.
Para o desenvolvimento do projeto arquitetônico, foi escolhido o escritório Dupré Arquitetura,
empresa com experiência em executar importantes obras de restauro em teatros do Estado de São
Paulo. O primeiro passo do escritório foi o levantamento físico, fotográfico e cadastral da estação, com
a finalidade de apontar o estado geral do edifício e as áreas comprometidas com infiltrações ou outros
problemas construtivos, e realizar as prospecções necessárias para indicar os elementos do projeto
original danificados ao longo dos anos – como as portas, em que camadas sucessivas de pintura
escondiam o cedro com que haviam sido construídas.
Reciclagem da estação
O edifício escolhido para sediar a Osesp é uma construção sólida, com estrutura de concreto armado
e revestimentos de boa qualidade, tendo sido objeto de várias obras de manutenção nos últimos anos,
a cargo da Coordenadoria de Patrimônio Histórico da Fepasa. Ainda assim, sua renovação e os novos
elementos projetados exigiram cuidados especiais de projeto e engenharia, em razão do pioneirismo
de um trabalho dessa natureza e das condições para a realização das obras – que utilizou máquinas
de grande porte operando muito próximo às paredes do edifício tombado. A vedação acústica da sala
sinfônica e o reforço à infra-estrutura das fundações existentes constituíram a parte mais árdua da
obra, sobretudo porque o edifício original teria seu peso muito aumentado pelo isolamento acústico,
pela instalação do forro móvel e da cobertura metálica e pela implantação de todos os equipamentos
e instalações do piso técnico.
Pela sua natureza, a sala sinfônica foi concebida para ser isenta de ruídos e vibrações externas – estas
últimas bem mais difíceis de serem isoladas, pela localização na área central da cidade e a menos de
100 metros dos trilhos da ferrovia. A solução encontrada foi a construção de uma laje flutuante sob
o piso da sala, deixando-a isolada do restante do edifício. Essa laje é composta de uma superfície de
concreto com 15 cm de espessura apoiada em mais de 2 mil isoladores de vibração, que consistem em
discos com 9 cm de diâmetro e 5 cm de altura feitos de neoprene de alto padrão. Sobre a laje, foi
aplicado um revestimento de madeira compensada com acabamento em tábuas corridas de pau-
marfim, complementando-a. Dessa forma, também se tornaram “flutuantes” o palco e os balcões.
O desenvolvimento desse projeto esteve a cargo do consultor especializado em acústica e vibrações José
Augusto Nepomuceno, com larga experiência em teatros brasileiros.
Música e arquitetura
O que mais encantou o engenheiro-maestro da Artec e seus colegas brasileiros na escolha do jardim
interno de uma estação quase desativada foi a mistura das características arquitetônicas com uma regra
de proporção acústica 1:1:2 – de comprovada eficiência nas melhores salas de concerto, desde o século
XIX. O salão apresentava a largura (20 metros) correspondente à altura (24 metros), exatamente a
metade de seu comprimento (48 metros). Essa “caixa de sapatos”, como se diz no jargão da acústica,
favorece as reflexões laterais do som, envolvendo a platéia e dando-lhe a sensação de espacialidade dos
sons produzidos. Em todos os sentidos, a Sala São Paulo foi realmente um achado.
Encaixar uma sala sinfônica no Grande Hall da Estação Júlio Prestes foi um exercício de competência
e criatividade para transformar a imensa massa construída do edifício em algo extremamente
delicado, um invólucro de espaço-tempo musical formado por uma infinidade de detalhes que,
somados, levaram à excelência de sua performance. Isso significa que o forro móvel, por si, não é o
único responsável pela qualidade acústica atingida pela sala. A geometria, a disposição e o desenho
dos balcões, o posicionamento do palco, o tipo e a espessura da madeira utilizada, a inexistência de
carpetes ou cortinas, o desenho das poltronas e todas as pequenas irregularidades nas superfícies, que
resultam também em efeitos ornamentais, como frisos, capitéis e figuras incrustadas nas paredes, são
elementos cruciais para a excelência acústica da sala. Detalhes como as ranhuras nos painéis do forro
e o acabamento da parte frontal dos balcões, em desenhos irregulares, constituem, estes também,
mais que soluções arquitetônicas, importantes elementos de difusão do campo sonoro.
O espaço de uma sala sinfônica deve permitir a reflexão multidirecional e sem distorções do som, e
deve ter o clima acústico perfeito: atrasos, volume, brilho, envolvimento, todos sintonizados e ajustados.
Comparação entre algumas das mais importantes salas de concertos do mundo,
96 José Augusto Nepomuceno, 1998
Concertgebouw
Amsterdã
Symphony Hall
Boston
Musikvereinssaal
Viena
PISO TÉCNICO
98
apresentação da sala aos ouvintes, partindo sempre de sua máxima altura para então adaptar-se à
regulagem programada, num movimento acompanhado pelo olhar de toda a platéia.
A Sala São Paulo resultou num espaço arquitetônico limpo e sofisticado, coerente com os padrões
estabelecidos de qualidade e prestígio para a casa de uma orquestra como a Osesp. Como um
instrumento, deverá ser “afinada”, passando por vários ensaios acústicos até que atinja sua plena
otimização. Assim, o ouvinte, imerso nesse clima, afinará simultaneamente a percepção de todos os
sentidos para as sutilezas da música de concerto e suas variantes, podendo incorporar literalmente a
expressão criada por James Joyce: “o olho-ouvido que ouve”.
“Ressurreição”
Sinfonia nº 2, Ressurreição, de Gustav Mahler. A peça inaugural da Sala São Paulo foi uma escolha
carregada de intenções. É uma metáfora para o sopro de vida que, partindo da orquestra, perpassa as
colunas do edifício da Estação Júlio Prestes e se espalha por toda a região da Luz, que vive agora seu
renascimento.
No dia 9 de julho de 1999, diante de uma platéia de convidados que incluiu o presidente da
República, ministros, o governador de São Paulo, secretários de Estado e o prefeito municipal, o
maestro John Neschling apresentou o resultado de seu trabalho renovador à frente da orquestra. Ele
revelou um conjunto de qualidade impressionante, dominando o espaço com uma massa sonora que
pairou sobre o silêncio reverente do público em quase duas horas de execução.
As expectativas com o sucesso da estréia da Osesp em sua casa rebrilhando de nova eram as mais
otimistas, e ainda assim o espetáculo surpreendeu todo o público presente. A confirmação da
excelência acústica, aguardada com ansiedade por toda a equipe responsável pela sala sinfônica, veio
pela emoção manifestada por músicos e platéia ao término da peça, todos maravilhados com o
resultado.
A implantação da Sala São Paulo na Estação Júlio Prestes é mais um passo para a ocupação
do Complexo Júlio Prestes, conjunto que abriga as instalações da sede da Orquestra Sinfônica
do Estado de São Paulo e a Secretaria de Estado da Cultura e que se prepara para dar lugar,
no edifício vizinho (o antigo DOPS, Departamento de Ordem Política e Social), a outras
atividades culturais.
A Secretaria da Cultura ocupa a antiga ala administrativa da estação, ao lado da torre do
relógio, onde funcionavam os escritórios da Sorocabana. A transferência desse órgão público
para a região central da cidade é simbólica por expressar, com uma ação concreta, o apoio do
governo do Estado ao movimento de requalificação do centro paulistano.
Quanto ao antigo prédio policial – em cuja preservação está a memória do período da ditadura
militar de 1964 –, será restaurado internamente, perdendo os mezaninos acrescentados para
o desempenho das funções burocráticas da Delegacia do Consumidor, sua última ocupação.
Externamente, o edifício se encontra em bom estado de conservação e deverá ser limpo e
restaurado, tendo suas características arquitetônicas preservadas enquanto patrimônio
histórico.
A convivência de atividades culturais afins define o perfil do que será o Complexo Cultural Júlio
Prestes: um centro que oferecerá, além de atividades específicas referentes a cada edifício,
uma série de opções à disposição do usuário. A idéia é atrair e dinamizar a ocupação do local,
criando um público freqüentador assíduo. O Complexo Cultural tem no terreno ao fundo,
junto da linha férrea, uma garagem subterrânea com acesso para a sala sinfônica. Sobre a
laje da garagem e com acesso direto pela rua Mauá, está projetada uma praça para interligar
os dois edifícios que formam o complexo, com vista voltada para o pátio ferroviário. Com
tratamento paisagístico e mobiliário apropriado, nessa praça serão implantados anfiteatros
para apresentações de pequenos grupos.
Rua Mauá
Praça Coronel Fernando Prestes, 1999
Estação da Luz no eixo da avenida Casper Líbero, 1999
O convívio cotidiano
ampla e sistemática dos seus espaços públicos. A segregação funcional, reconhecidamente um dos
mais nocivos princípios de organização do espaço e da vida urbana saudável, ao lado da adaptação
espacial às exigências da circulação viária que conduzem as propostas, encabeçam a lista dos
problemas a serem enfrentados.
A procura de novos parâmetros para a intervenção tem origem, a partir dos anos 60, nas críticas
produzidas pela observação direta da vida nas cidades. A diversidade funcional, tal como a defendeu
Jane Jacobs no início da década de 60, é o ponto de partida das discussões teóricas e também dos
projetos urbanos cujo objetivo é reverter a desagregação representada, sobretudo, pelo
aprofundamento da distância física e social existente entre o espaço público e o espaço privado.
Apesar da diversidade das abordagens surgidas ao longo do debate acerca das relações entre essas duas
esferas da vida, podemos assumir um ponto consensual: uma vez destruídos os elementos que
relacionavam diretamente o espaço da vida privada e o espaço da vida pública, as cidades perderam
qualidade e, acima de tudo, diminuíram as possibilidades de se constituírem genuinamente como
espaços de vida coletiva. Em outras palavras, as cidades perderam substância urbana e a vida pública
coletiva, o seu espaço de atuação.
O amplo processo de recuperação das áreas centrais de cidades americanas, impulsionado pela
decadência de setores residenciais, foi, nos anos 60, uma resposta para os problemas de desagregação
urbana. Esse tipo de ação, embora seja, na sua origem, um discutível modo de atuar no interior de
setores urbanos, substituindo antigos moradores por novos, de maior poder aquisitivo, influenciou
positivamente o novo ideário urbanístico que se iniciava. A ação conduzida nas áreas centrais de
cidades americanas é traduzida pelo novo conceito de gentrification, e tornou-se exemplo de
operações urbanas cujo produto final foi a iniqüidade. Os movimentos populares de luta e
reivindicação dos moradores atingidos fazem parte de qualquer estudo sobre esse tipo de intervenção.
Sua crítica foi, assim, incorporada como nova condicionante de grande parte dos projetos de
renovação urbana realizados posteriormente.
Principais espaços públicos:
1. Praça Coronel Fernando Prestes, 2. Jardim da Luz, 3. Largo General Osório, 4. Praça Júlio Prestes, 5. Largo Coração de Jesus, 6. Praça Princesa Isabel
Principais eixos estruturais:
A. Eixo ferroviário, B. Av. Tiradentes, C. Av. Casper Líbero, D. Eixo Av. Duque de Caxias - Rua Mauá, E. Anel viário central 119
Jorge Hirata, 1985
Na Europa, a renovação urbana foi, inicialmente, pautada pela continuidade do modelo iniciado
no século XIX, que consistia na modernização e no restauro da trama urbana medieval. Quando
as demandas tornam-se mais complexas, em decorrência da obsolescência dos equipamentos
urbanos de grande porte localizados em suas áreas centrais, assistimos a transformações mais
radicais. Dois mercados centrais de alimentação – Covent Garden, em Londres, e Les Halles, em
Paris – são exemplos marcantes dessa nova modalidade de intervenção. Para atender às novas
escalas e exigências de modernização do comércio atacadista de alimentos, sua transferência para
áreas periféricas é realizada a partir do início dos anos 70. A localização urbana, nos dois casos, foi
decisiva, pois ambos os equipamentos ocupavam parte importante de bairros centrais – The City
e Les Marais –, cuja trama urbana se mostrava incompatível com o volume de tráfego por eles
gerado.
Seguindo modelos de implantação distintos, as duas remoções geraram transformações urbanas
importantes no seu entorno. A polêmica e as questões que acompanharam essas experiências
tornaram-se paradigmáticas para o urbanismo contemporâneo. Tanto Covent Garden quanto Les
Halles continham a força das realizações plenamente implantadas. As profundas transformações
causadas pela substituição dos equipamentos ou pela simples mudança no uso do imóvel trouxeram
para o primeiro plano da discussão questões sociais, sobretudo as de ordem habitacional.
O espaço público, a partir dos anos 70, ganha uma nova função: se antes ele era relegado ao papel
de coadjuvante e justaposto, condição a que fora submetido por projetos equivocados, passa agora a
agente instrumental da nova urbanidade. As experiências marcantes de Londres e Paris serviram de
modelo para as cidades que nas décadas de 80 e 90 sofreram processos de reabilitação e renovação
urbana. As substituições ou as transformações do uso de equipamentos de grande porte, inseridos em
tecidos urbanos consolidados, exigem hoje projetos complexos cujo planejamento do conjunto, bem
como o desenho urbano das suas partes, é um procedimento indispensável. Com o desenvolvimento
dos conceitos de renovação e reabilitação urbana e com a análise das experiências implantadas, os
complexos ferroviários e portos obsoletos, os bairros industriais abandonados, enfim, os degradados
Região central de São Paulo – projeto “São Paulo Centro – uma nova abordagem”,
desenvolvido por Regina Maria Prosperi Meyer, Fernando de Mello Franco, Marcelo
Laurino e Sarah Feldman para a Associação Viva o Centro, 1996
Pico do Jaraguá
Jaraguá Horto
Flor
estal Guarulhos
Parque da Zona Leste
Brasilândia
Pirituba Tucuruvi
Vila Nova
Pirituba Cachoeirinha S
Parada Inglesa
Jardim São Paulo
Piqueri
Santana
Carandiru Vila Maria
Campo
de Marte
Tietê Parque Cangaíba Guilhermina
Novo Mundo Esperança
Lapa Barra Armênia
Patriar
ca
Osasco Água Funda Tiradentes Aricanduva
Ceagesp Branca Mal. Deodor
o Luz Pari Vila Matilde
Presidente
Sta. Cecília Carrão Penha
República Tatuapé Artur Alvim
Altino Pq. i
Vlla Belém Corinthians
Lobos Sumaré Bresser
Osasco Vila Clínicas Brás Vila Carrão Itaquera
Madalena Sé
Consolação Moóca
Cidade Pinheir
os São Joaquim
Universitária
Vila Formosa
Jardins Aclimação Água Rasa
Rio Pequeno Butantã Paraíso
Ana Rosa Ipiranga Vila Guarani
Parque do
Ibirapuera Oratório Parque do Carmo
Vila Vila Mariana
Olimpia Sapopemba
Morumbi Embuaçu
Vila Sônia Moema Santa Cruz Jardim Grimaldi
Praça da Árvor
e
Brooklin São Mateus
Saúde São Caetano
Paraisópolis
São Judas Utinga
Aeroporto Conceição Prefeito
de Congonhas São Caetano Saladino
do Sul
Santo Jabaquara
Jardim Santo André
Amaro Parque do
São Luiz Estado Capuava
Mauá
Capão Redondo
Jardim Miriam Pir
elli
Diadema Mauá
Jurubatuba
Pedreira Santo André
Rio Bonito
Piraporinha
Autódr
omo de
Jardim Ângela Interlagos
São Bernar
do
do Campo
Cidade Dutra Represa
Represa Billings
Guarapiranga Ferrazópolis
S
Reflexões e propostas
Renovação Urbana”, da equipe do escritório Rino Levi Arquitetos Associados, desenvolveu um amplo
diagnóstico técnico e o mapeamento detalhado da área, classificada na legislação de zoneamento
urbano como Z8-007, cujo perímetro era formado pelo traçado da ferrovia ao sul, da avenida do
Estado e de seu prolongamento com a avenida Cruzeiro do Sul a leste, do rio Tietê ao norte e da rua
Prates a oeste.
Esse estudo, encomendado pela Cogep – Coordenadoria Geral de Planejamento, órgão que antecedeu
a atual Sempla (Secretaria Municipal de Planejamento) –, foi realizado às vésperas da entrada em
operação do metrô, com três estações na região e a perspectiva de sua integração com os trens
suburbanos. Na época, a área da Luz já se encontrava dividida pelo alargamento da avenida
Tiradentes para a implantação do metrô, e havia a expectativa de intervenções urbanas de porte em
1. Museu da Saúde Pública “Emilio Ribas” (antigo Desinfectório Central), 2. E.E.P.S.G. Marechal
Deodoro, 3. Biblioteca Clara Luz (Fundação para o Livro Escolar), 4. Radar Tantã, 5. Grêmio Dramático
Musical Luso-brasileiro, 6. Sociedade Israelita Brasileira “Talmud Thorá”, 7. Sinagoga Centro Israelita de
São Paulo “Knesset Israel”, 8. Instituto de Ensino Lubavit, 9. Colégio Santa Inês, 10. Oficinas Culturais
Três Rios (antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia), 11. Sinagoga Comunidade Israelita, 12.
Sinagoga Machzikei Adat, 13. Sinagoga Israelita do Bom Retiro, 14. TAIB – Teatro de Arte Israelita
Brasileiro, ICIB – Instituto de Cultura Israelita Brasileiro, 15. Sinagoga Israelita Brasileira “Beit Itzchak
El Chonon”, 16. Instituto de Educação Hebraico Brasileiro – Renascença, 17. Sinagoga “B’nei Akiva”,
18. Igreja N. Sra. Auxiliadora, 19. Instituto Dom Bosco, 20. Quartel General da Polícia Militar do Estado
de São Paulo, 21. Teatro Franco Zampari (Fundação Padre Anchieta), 22. Curso Pré-Vestibular
Universitário (Antigo Instituto de Hidromecânica da Escola Politécnica), 23. Instituto de Eletrotécnica –
Poli/USP (Edifício Ramos de Azevedo), 24. Faculdade de Tecnologia de São Paulo – Fatec (Edifício
Hipólito Pujol), 25. Faculdade de Tecnologia de São Paulo – Fatec (Edifício Paula Souza),
26. Faculdade de Tecnologia de São Paulo – Fatec (Edifício Santhiago), 27. Praça Coronel Fernando
Prestes (futura praça Cultural), 28. Igreja Apostólica Armênia São Jorge, 29. Senac – Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial, 30. Igreja São Gregório Iluminador (Paróquia Armênia Católica),
31. Museu de Arte Sacra, Igreja N. Sra. da Luz, Mosteiro da Imaculada Conceição, 32. Metrô – Estação
Tiradentes, 33. Arco do Presídio Tiradentes, 34. Quartel da Luz (1º Batalhão da Polícia de Choque
“Tobias de Aguiar”, 35. Chaminé da Usina de Eletricidade, 36. Regimento da Polícia Montada “Nove de
Julho”, 37. Anfiteatro da Banda da Polícia Militar, 38. 2º Batalhão da Polícia Militar (antigo Colégio
Santo Agostinho), 39. Museu da Polícia Militar (antigo Hospital da Polícia Militar), 40. Liceu de Artes e
Ofícios de São Paulo, 41. Residências com valor ambiental urbano nos Campos Elíseos, 42. Palácio dos
Campos Elíseos (Secretaria de Estado da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia), 43. Santuário do
Sagrado Coração de Jesus, Liceu Coração de Jesus, 44. Conjunto de casas do largo Coração de Jesus,
45. E.E.P.G. João Kopke, 46. Estação Júlio Prestes – FEPASA, 47. Antiga Estação Rodoviária,
48. Primeira Igreja Batista de São Paulo, 49. Monumento a Duque de Caxias, 50. Hotel Flórida,
51. Antiga Estação da Estrada de Ferro Sorocabana (antigo DOPS), 52. Escola de Educação Infantil Dom
Gastão, 53. E.M.E.I. Jardim da Luz, 54. E.E.P.G. Prudente de Moraes, 55. Jardim da Luz, 56. Pinacoteca
do Estado (Faculdade de Belas Artes), 57. Estação da Luz – R.F.F.S.A., 58. Igreja de São Cristóvão (antigo
Seminário Episcopal), 59. Conjunto de hotéis da rua Mauá, 60. Clube Ginástico Paulista, 61. Metrô –
Estação da Luz, 62. Vila Inglesa (Jardim da Marquesa de Itú), 63. Vila Economizadora.
133
de passagem, além de um programa abrangente de diretrizes urbanísticas que propunha uma nova
normatização para o uso do solo da Z8–007, visando a sua incorporação pela legislação vigente.
Entre os objetivos básicos destacavam-se: o incentivo ao adensamento populacional da área, com a
implantação de conjuntos habitacionais; o aumento da qualidade de vida urbana local através da
implantação de centros educacionais integrados e postos de saúde; proteção e valorização do
patrimônio arquitetônico e ambiental da área com base no reconhecimento de seu potencial de uso
para o lazer cultural e como estímulo a uma maior utilização desse conjunto pela população.
Dez anos depois, em 1984, a Secretaria de Estado da Cultura coordenou um trabalho voltado
especificamente para a dinamização da área a partir da estratégia de integrar seu reconhecido
potencial de utilização, ou seja, seus espaços públicos e institucionais, e a população local, moradora
Projeto Luz Cultural e freqüentadora da área. Com o nome de Projeto Luz Cultural, coordenado pela arquiteta Regina
Maria Prosperi Meyer, a iniciativa envolvia a área entre o rio Tamanduateí, a avenida Rio Branco e
a rua Mauá, incluindo os quarteirões adjacentes a esse perímetro.
O projeto propunha a criação de laços entre a comunidade e a área da Luz por meio de ações que
trouxessem à tona novas percepções daquele espaço e novas formas de interagir com ele. Nesse
sentido, várias atividades foram planejadas, com a expectativa de atingir cada vez mais setores da vida
urbana local. Para tanto, tornava-se imprescindível a colaboração dos moradores, o que por si já seria
uma resposta aos planos convencionais de renovação urbana, baseados na expulsão da população
local, principalmente de baixa renda.
O Projeto Luz Cultural assumiu como um de seus pólos a Oficina Cultural Oswald de Andrade,
instalada no edifício tombado e reciclado da antiga Escola de Farmácia e Odontologia da
UNA Arquitetos, 1996
Universidade de São Paulo, que passaria a abrigar a Orquestra Jovem de São Paulo, além de atividades
e cursos de música, artes plásticas e espetáculos cênicos. Por outro lado, associado com a Emurb
(Empresa Municipal de Urbanização), o projeto buscava recuperar áreas comprometidas – como a
praça Fernando Prestes, que seria reurbanizada para transformar-se num ponto de encontro e lazer
134
para a comunidade e da qual os automóveis seriam expulsos, permitindo que o local ganhasse um
calçadão arborizado, com espaço para apresentações musicais.
Além de buscar melhorias para o estado deplorável do Jardim da Luz, o Projeto Luz Cultural buscou
várias parcerias: com a Polícia Militar, que assumiria um policiamento mais efetivo e apresentaria
sua banda nos fins de semana; com a Secretaria Municipal de Cultura, que criou o programa Leitura
no Parque e o projeto Educação Ambiental; e com a Pinacoteca do Estado, quando desenvolveu o
programa Desenho no Parque.
Buscando sua consolidação e, portanto, maior visibilidade em sua área de influência, o Projeto Luz
135
Reprodução Iatã Cannabrava, 1999
a Estação da Luz, terminal de trens urbanos das linhas noroeste e oeste; e a Estação Roosevelt, para
os trens regionais do vale do Paraíba e para o Rio de Janeiro. O estudo propôs uma nova estação, na
Mooca, para os trens com destino à região do ABC e Santos.
O projeto propõe transformações significativas na paisagem urbana da área da Luz, como a grande
rotatória que arremata a avenida Tiradentes, em frente à Pinacoteca do Estado, o redesenho dessa
mesma avenida, ajustado ao tráfego local, e outra rotatória substituindo o viaduto Couto de
Magalhães, para a reorganização do fluxo da avenida Duque de Caxias em direção à zona norte,
incluindo o redesenho da rua Prates.
Pelo caráter excessivamente voltado às grandes obras viárias, de alto custo e realização complexa, as
interferências desse projeto incidentes na área da Luz somam-se ao acervo de estudos da região
como uma proposta de longo prazo e de difícil realização, pela necessária integração de agentes
públicos e privados, da qual é dependente.
Dentro do Programa de Reabilitação do Patrimônio Cultural, desenvolvido pelo IPHAN (Instituto do Programa de Reabilitação
do Patrimônio Cultural
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/Ministério da Cultura) e destinado à requalificação de
centros históricos em cidades brasileiras com recursos do BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento), foi apresentado pela Prefeitura, em 1998, o Projeto Luz, destacando o bairro pelo
qual se iniciaria o processo de recuperação da área central da cidade. Trata-se de um projeto
coordenado pelo DPH (Departamento de Patrimônio Histórico, órgão da Secretaria Municipal de
Cultura), em associação com o Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), montado com base nos trabalhos já
realizados sobre a área da Luz.
Seu objetivo é também potencializar a vocação cultural do bairro, inserindo-o como uma opção de
qualidade no circuito de lazer e turismo da cidade. Assumindo a Estação da Luz como o centro de um
círculo de abrangência para os investimentos diretos do Programa de Reabilitação, pelo papel de
polarizador do transporte público futuro da região, o projeto propõe a restauração de vários edifícios
históricos, melhorias em praças, a implantação de um camelódromo, um projeto específico de
Projeto vencedor do Concurso Nacional de Idéias para um Novo Centro de São Paulo,
dos arquitetos Martinez Correa, José Paulo de Bem e outros, 1996 137
iluminação, a redefinição do traçado viário local, com inclusão de áreas de estacionamento, e uma
avaliação socioeconômica da área visando a transferência ou o reassentamento da população
moradora de cortiços.
Entre suas propostas, destacam-se algumas ações específicas, tais como:
• recuperação arquitetônica e paisagística do Jardim da Luz, além das antigas garagens em frente
ao parque, das quais uma parte será transformada em estacionamento;
• melhoria do espaço público entre a praça Júlio Prestes e a praça Coronel Fernando Prestes;
• intervenção em imóveis particulares degradados, principalmente ao lado da Estação da Luz, na
rua do Triunfo, rua Mauá e avenida Casper Líbero;
• término das obras da atual sede do DPH, no edifício Ramos de Azevedo, que o projeto pretende
transformar em Casa da Memória Paulistana e reequipar com material do Arquivo Municipal;
• restauro das obsoletas instalações da Garagem Municipal e sua transformação em Centro de
Atividades, em parceria com a iniciativa privada.
O Projeto Luz, no qual o BID participaria com 50%, o governo federal com 30% e a Prefeitura de São
Paulo com 20%, encontra-se em compasso de espera, aguardando a assinatura do convênio entre a
Prefeitura Municipal e o Ministério da Cultura, para então iniciar o detalhamento.
Na esfera das iniciativas não governamentais, a Associação Viva o Centro realizou dois estudos de
São Paulo Centro – fôlego envolvendo a área da Luz. O primeiro, “São Paulo Centro – uma nova abordagem”,
Uma Nova Abordagem
desenvolvido por Regina Maria Prosperi Meyer e o escritório MMBB Arquitetura, aproveitava o
momento político – 1996, ano das eleições municipais – para oferecer uma visão do papel
fundamental do centro paulistano na reorganização da cidade, através de análises e propostas que
pudessem subsidiar a futura administração. O trabalho foi distribuído, na forma de um relatório
técnico contendo mapas e diagramas, a todos os candidatos à Prefeitura e à Câmara Municipal de São
Paulo.
Esse trabalho tornou explícitas as posições da Associação Viva o Centro para as questões da
recuperação da área central da cidade, destacando a necessidade de sua diversidade funcional como
138
condição para a vitalidade da região e, em conseqüência, como incentivo à implementação da
função residencial, revertendo o quadro de diminuição progressiva de moradores do Centro – o que
seria uma solução também para a conservação dos conjuntos sociourbanísticos existentes, com seu
valor histórico preservado. A delimitação proposta para os estudos definia um conjunto de
características urbanas e sociais homogêneas que abrangia os bairros centrais da cidade de São
Paulo, entre os quais os que configuram a área da Luz.
O trabalho incorpora os projetos elaborados por empresas públicas da área de transportes,
principalmente o PITU (Programa Integrado de Transportes Urbanos, coordenado pela Secretaria de PITU
(Programa Integrado de
Estado dos Transportes Metropolitanos de São Paulo), cujo objetivo é a integração física, tarifária e Transportes Urbanos)
operacional de todo o sistema de transporte coletivo de grande capacidade e sua articulação com os
demais modos de transporte na metrópole. Dentro desse programa, destacam-se: o Plano de
Recuperação do Desempenho Operacional dos Corredores de Transporte Coletivo, ora em implantação
pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), cujo objetivo é a redução dos ônibus
que acessam o Centro, concentrando as linhas em terminais integrados por linhas circulares de Revaf
(Programa de Revitalização
trolebus; o Revaf, Programa de Revitalização de Áreas Ferroviárias, do governo federal, através do de Áreas Ferroviárias)
Ministério de Transportes, que torna possível a captação de recursos da iniciativa privada como
contrapartida da utilização do considerável patrimônio imobiliário, hoje ocioso, existente ao longo
das linhas; e, ainda, o Projeto Integração Centro, da CPTM, que prevê a desativação da Estação Júlio Projeto Integração Centro
Prestes em seu plano de articulação ferroviária, passando a utilizar a Estação Barra Funda como
terminal para as composições do tronco Oeste. Nesse plano, o antigo tronco Leste da CBTU, hoje
incorporado pela CPTM, estende sua penetração na área central da cidade, deslocando seu terminal
da Estação Roosevelt para a Estação Barra Funda, parando na Estação da Luz.
Sobre esses estudos, o trabalho “São Paulo Centro” estabeleceu um conjunto de diretrizes voltadas
para intervenções no sistema viário, para a ocupação dos vazios ao longo do eixo ferroviário e para
o adensamento residencial da região, fator essencial para a recuperação da vida urbana, com a
otimização da infra-estrutura existente e com a garantia de circulação segura à noite. Em decorrência
139
Iatã Canabrava
140
do grande número de órgãos públicos instalados no Centro, o estudo propõe a transferência da sede
do governo estadual para essa área, da mesma forma como a Prefeitura, em edifício histórico
tombado pelo patrimônio.
Dentro dos projetos já existentes, a Estação da Luz ganha especial relevância enquanto principal
conexão do Sistema de Transportes de Alta Capacidade, interligando a rede ferroviária unificada e as
duas linhas de metrô (a atual norte–sul e a futura Linha 4). Segundo o Metrô, deverão circular pela
área cerca de 500 mil passageiros diariamente, com as conseqüências previsíveis para a revitalização
Projeto Operação Centro de seu entorno. O Projeto Operação Centro prevê a modernização das instalações, em especial da gare,
por onde circularão os trens com intervalo de três a quatro minutos. Dentro de um padrão Metrô de
operação, também serão instaladas escadas rolantes, bilheterias e bloqueios nas plataformas de
embarque. O projeto de adequação da Estação da Luz à sua nova função estratégica teve orientação,
na forma de diretrizes de restauro, dos órgãos de preservação do patrimônio histórico e arquitetônico
em nível federal, estadual e municipal.
Em relação ao eixo viário norte–sul, o estudo propõe o rebaixamento da calha da via de fluxo
expresso da avenida Tiradentes, garantindo sua travessia sem interferências e dando-lhe ao mesmo
tempo um caráter monumental de avenida para o tráfego local, com amplas calçadas, valorizando
a região, seus espaços públicos e o patrimônio arquitetônico.
O redesenho da avenida Casper Líbero, por sua vez, propõe um uso limitado para veículos, assumindo
a característica de boulevard, mais apropriada ao trânsito de pedestres, e estabelecendo uma
articulação preferencial entre a área da Luz e o Anhangabaú.
Em relação à orla ferroviária, o projeto da Associação Viva o Centro propõe a construção de novas
estações, com o objetivo de dinamizar o entorno, em especial com equipamentos de porte
metropolitano e com a ocupação de conjuntos residenciais. Aponta, também, para a necessidade de
se constituir um encadeamento entre os espaços livres ao longo das linhas, o qual se ampliaria no
entorno das estações, recuperando para a paisagem urbana a antiga barreira representada pelo
traçado da ferrovia na região. Os espaços livres, assumidos como dinamizadores da vida pública, são
142
destacados no estudo como elementos potencialmente estruturadores da região, pelas suas
características simultaneamente funcionais e simbólicas.
Assumindo a dinamização da vida coletiva como forma de recuperar a urbanidade, ou seja, as
relações de convivência equilibrada entre a população e o meio, o estudo “São Paulo Centro”
estabelece três princípios de intervenção nos espaços públicos: a articulação dos espaços públicos
numa rede, constituindo conjuntos interligados; a ampliação dos espaços públicos existentes por
meio da incorporação de áreas internas às quadras e ligações de circulação exclusiva para pedestres;
e a criação de alternativas de convivência entre pedestres e veículos para integrar o espaço público no
funcionamento cotidiano da cidade.
Para a área da Luz, o estudo assinala dois conjuntos de espaços públicos. O primeiro, no bairro da
Luz, envolve o Jardim da Luz e a praça Fernando Prestes, com seus edifícios de entorno, articulado à
rede da área central pelas avenidas Tiradentes e Casper Líbero. O segundo, nos Campos Elíseos,
envolve a praça Pricesa Isabel, a praça Júlio Prestes e o largo do Coração de Jesus, articulando-se à
rede pela avenida Rio Branco.
O papel da reorganização dos espaços públicos na área da Luz torna-se ainda maior pelo patrimônio
histórico-arquitetônico a eles associado. O estudo reafirma seu caráter conjugado enquanto
elementos de expressão urbana, partes de uma mesma unidade espacial, induzindo as intervenções
na área a integrá-los em cenários de alta qualidade, estimulando a percepção e o convívio social dos
lugares em si e sua relação na paisagem urbana da cidade.
O segundo trabalho, “Polo Cultural Luz”, desenvolvido por Regina Maria Prosperi Meyer e o escritório Pólo Cultural Luz
143
Proposta para a praça Júlio Prestes, com esculturas de Eliza Bracher, desenvolvida até
a etapa do projeto executivo (mas não realizada) para a Associação Viva o Centro por
Regina Maria Prosperi Meyer e UNA Arquitetos, 1999
144 Maquetes eletrônicas Clóvis Cunha
Planta do projeto não realizado da Praça Júlio Prestes
1. árvores existentes sobre piso de paralelepípedo, 2. alameda de paus-ferro, 3.
palmeiras imperiais, 4. ipês roxos, 5. bandeiras indicando a programação da praça,
6. piso de mosaico, 7. piso inclinado de granito corumbá apicoado, 8. fontes de
água no piso, 9. entrada da Estação, 10. entrada da Sinfônica, 11. paus-ferro, 12.
piso das calçadas de mosaico português branco, 13. acesso ao edifício, piso de
paralelepípedo, 14. Avenida Duque de Caxias, 15. Alameda Dino Bueno, 16. Praça
Júlio Prestes, 17. Alameda Cleveland
149
MORSE, Richard. Formação histórica de São Paulo. São Paulo, Editora Difusão Européia do Livro,
1970.
Projeto Funcional – Linha 4 Morumbi/Luz. São Paulo, Companhia do Metropolitano de São
Paulo, 1997.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Racionalismo e proto-modernismo na obra de Victor Dubrugas. São
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SILVA BRUNO, Ernani. História e tradições da cidade de São Paulo (vols. 2 e 3). São Paulo,
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WARCHAVCHIK, Gregori, "Acerca da arquitetura moderna", Correio da Manhã, Rio de Janeiro,
1º/11/25.
Notas
1 A Estação de Mairinque, uma das mais importantes da E. F. Sorocabana, projetada por Victor
Dubugras em 1906, é considerada a primeira manifestação de modernidade da arquitetura
brasileira: “Em 1906 o arquiteto realizou o projeto para a estação de Mairink, em concreto, que se
tornou famoso como obra moderna, no momento de sua divulgação. O projeto era plástica e tecni-
camente moderno”. Nestor Goulart Reis Filho, Racionalismo e proto-modernismo na obra de
Victor Dubrugas, São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo, 1997, p. 61.
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2Neste edifício, tombado pelo Condephaat, o arquiteto manteve o escritório até sua morte, aos 93
anos, em 1982.
3Artigos publicados na imprensa: “A arquitetura e a estética das cidades”, de Rino Levi, O Estado
de S. Paulo, 15/10/25; “Acerca da arquitetura moderna”, de Gregori Warchavchik, Correio da
Manhã, Rio de Janeiro, 1o/11/25.
4 “Salvo casos individualistas sem maior valor expressional, todas as construções volumosas
estavam nas mãos de firmas construtoras entrosadas com a estrutura governamental. Alguns edifí-
cios que marcaram época nas imediações de 1929 exemplificam a situação existente. A estação da
Sorocabana, projetada inicialmente pelo arquiteto Cristiano S. das Neves e reestudada pelo arquite-
to Bruno Simões Magro, arrastava-se numa construção morosa, depois de ter sofrido o escândalo de
um rumoroso processo judicial, em que as soluções reivindicadas pelo projetista inicial, tais como
mansardas, foram reconhecidas pela Justiça como improcedentes. Sem entrar no mérito nem do
projeto primitivo, nem do projeto remanejado, posto que os horrorosos resultados finais delatam
um nível pouco favorável à qualidade arquitetônica da obra, interessa notar uma circunstância sig-
nificativa: o poder judiciário se instituía como julgador de valores arquitetônicos.” In “Arquitetura
paulista”, de Luís Saia, publicado no Diário de São Paulo, 1959, apud Arquitetura moderna
brasileira: depoimento de uma geração, Alberto Xavier (organizador), São Paulo, Editora
Pini/ABEA/Fundação Vilanova Artigas, 1987.
5 Texto de Christiano das Neves, publicado na revista Architectura e Construção, de 1929, no arti-
go “Arquitetura contemporânea”: “Os hangares de zeppelins não são obras de arquitetura, nem
tampouco tudo que se está fazendo na Alemanha e outros países do norte da Europa nos moldes re-
volucionários do futurismo. São obras de engenharia, em que a solidez e a economia são os únicos
fatores, resultando esse gosto detestável de construção, que absolutamente não poderá medrar”.
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Implantação do Complexo Cultural Estação Júlio Prestes
Empresas contratadas pela Associação Viva o Centro
Este livro faz parte do projeto Restauro e reciclagem Estudos e projetos Edição do livro
“Implantação do Complexo Cultural geral do edifício urbanísticos Pólo Luz, Sala São Paulo,
cultura e urbanismo
Estação Júlio Prestes”, apoiado pela Coordenação do Análise e estudos de
Lei de Incentivo à Cultura do projeto básico requalificação urbana Serviços de produção e
Ministério da Cultura, que Acunha Solé Engenharia Ltda. da área adjacente ao coordenação editorial do livro
compreende o desenvolvimento dos Complexo Cultural Júlio Editora Terceiro Nome Ltda.
Concepção e estudos preliminares,
projetos básicos de restauro da Prestes e projeto executivo
anteprojeto e projeto básico de Serviços de projeto
da praça Júlio Prestes
Estação Júlio Prestes e de reciclagem arquitetura, memorial descritivo e e produção gráfica
do edifício para sua transformação Regina Maria Prosperi Meyer e
planilhas quantitativas e Editora Marca D’Água Ltda.
UNA Arquitetos S/C Ltda.
em sede da Orquestra Sinfônica do orçamentárias
Serviços de impressão
Estado de São Paulo (Osesp) e para Dupré Arquitetura e Levantamento planialtimétrico
e acabamento do livro
abrigar a Sala São Paulo, assim como Coordenação S/C Ltda. e cadastral em terreno
Hamburg Donnelley Gráfica
a realização dos estudos urbanísticos na praça Júlio Prestes
Concepção e estudos Editora S.A.
e alameda Cleveland
para a inserção do Complexo no preliminares, anteprojeto e
contexto da região da Luz. Etagri – Serviços de
projeto básico de instalações
Engenharia e Construções Ltda.
Pela Associação Viva o Centro, hidráulicas, elétricas e
envolveram-se diretamente na chuveiros automáticos Projeto executivo
projeto, desde sua conceituação até o Etip – Projetos de Engenharia Júlio Prestes
tou com o apoio fundamental de Spm Engenharia S/C Ltda. e alameda Cleveland
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Coordenação geral Coordenação editorial ISBN: 85-87556-01-0
Associação Viva o Centro Editora Terceiro Nome Dados Internacionais de Catalogação na Publicação CIP
Consultora Editora
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Regina Maria Prosperi Meyer Mary Lou Paris
Polo Luz: Sala São Paulo, cultura e urbanismo
Assistente de produção textos de Regina Meyer e Alcino Izzo Júnior
Textos Dominique Ruprecht Scaravaglioni Fotos de Luiz Carlos Felizardo
Pólo Luz São Paulo: Editora Terceiro Nome, 1999
Pesquisa
Espaços para a vida urbana Paula Izzo
Regina Maria Prosperi Meyer Vários Patrocinadores.
Preparação de texto Bibliográfia.
Estação Júlio Prestes Maria Eugênia Bittencourt Régis ISBN: 85-85118-29-6
Sala São Paulo
Propostas para a área (1974-1999) Revisão
1. Complexo Cultural Júlio Prestes (São Paulo,
Alcino Izzo Jr. Maria Eugênia Bittencourt Régis
SP) 2. Estação Júlio Prestes 3. Luz (São Paulo, SP) –
Teresa Cecília de Oliveira Ramos
Descrição 4. Renovação Urbana – São Paulo (SP) 5. Sala
Fotos Projeto e produção gráfica São Paulo (São Paulo, SP) 6. São Paulo (SP) –
Luiz Carlos Felizardo Editora Marca D’Água Urbanismo I. Meyer, Regina. II. Izzo Júnior, Alcino. III.
(onde não consta crédito junto à foto) Margarida Cintra Gordinho Felizardo, Luiz Carlos. IV. Título: Sala São Paulo
Debora Gomes Pereira
Sandra Maria Dias 99-4393 CDD–711.570981611
Projeto gráfico
Índices para catálogo sistemático:
Carlito Carvalhosa
1. São Paulo: Cidade: Cultura e urbanismo
Fotolito Planejamento urbano 711.570981611
Editora Marca D’Água
2. São Paulo: Cidade: Urbanismo e cultura
Impressão e acabamento
Planejamento urbano 711.570981611
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MINISTÉRIO
DA CULTURA