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Congresso UIA 2005 Istambul – Concurso de estudantes

Istambul, 3 a 7 de julho de 2005

Cidade contemporânea: São Paulo, a


metrópole espalhada e precária
Gabriel Kogan e Paulo Miyada
[representação da FAUUSP]

A metrópole espalhada e precária

Um projeto de cidade: São Paulo

A maior cidade da América do Sul, como uma alegoria de outras, é, hoje, avessa
a arquitetura e urbanismo. Durante as últimas décadas, um planejamento urbano
perverso tornou São Paulo ainda mais suscetível e desigual. Uma clara
dicotomia pode ser colocada: uma periferia incompleta e uma dúzia de bairros
ricos. Dentro e entre estes extremos, não há espaços públicos. A cidade velha e
seus entornos próximos, apesar de uma completa rede de infra-estrutura e até
mesmo de equipamentos, está extremante deteriorada e perde população
rapidamente. Entretanto, ela preserva ainda a possibilidade de uma vida social
ativa e atraente.

Tempo de deslocamento médio: 1 hora e 40


minutos
Salário médio: US$390
Densidade média: 83 habirantes/ha
São Paulo: vida social ativa e atraente

Na periferia a auto-construção, sem marcos, infra-estrutura e equipamentos,


novas casas são construídas todos os dias espalhando uma grande massa
uniforme. Essas novas cidades-dormitório estão totalmente desconectadas de
qualquer outra parte do território. O estado, quebrado, distante e burocrático, é
incapaz de atingir esses habitantes espalhados e a tendência aponta para um
agravamento do processo onde a periferia está crescendo continuamente. O
tempo de deslocamento casa-trabalho pode atingir facilmente mais de 2 horas
por viagem e isso é quase uma regra e não uma exceção.

Já no centro com paisagem de muros, existem


museus, escolas, parques, hospitais, grande e
pequenas lojas, estações de metrô, redes de
esgoto, redes de fornecimento de água,
serviços mas estão todos murados. A
contradição é que, onde a cidade é quase
estruturada, onde a cidade é viável, a
possibilidade de habitá-la não existe. Os
espaços públicos, as ruas, as praças, estão
vazias: a individualização está em alta,
somada as políticas públicas e o valor da terra
forçam crescentemente a população para fora.
Centro com paisagem de muros

Um projeto de cidade: São Paulo, a utópica metrópole hiper-densa

Utopia. Substantivo. Do grego, não + topos lugar. 1. Um lugar imaginário e


remoto; 2. Um lugar de perfeição ideal especialmente para leis, governo e
condições sociais; 3, Um esquema teórico para melhoria social.

Nota Explicatória: A metrópole de São Paulo


hiper-densa é utópica, é um manifesto. É a
cidade para todos. O esporte, a arte, a dança
das multidões e a vida, todos acontecendo
juntos. As extremas condições sociais, políticas
e espaciais da metrópole são todas
repropostas.
A cidade para todos

Os reestruturadores urbanos são edifícios que tem o poder de rearticular seu


entorno. Eles não apenas suprem demandas de equipamentos (a escola, o
hospital) como reorganizam o espaço público. Os reestruturadores urbanos são
também nós articuladores do transporte e da habitação. Pela grande mobilidade
da metrópole hiper densa, eles podem funcionar como rede: seus programas
não são sempre os mesmos, são complementares.

Para a realização da metrópole hiper-densa


acessível a todos, uma construção massiva de
habitação será necessária. A conexão dessa
nova moradia com os reestruturadores urbanos
é essencial para que a nova metrópole se
realize como cidade pública e permeável.
A nova metrópole: cidade pública e permeável

São Paulo: percebamos a inviabilidade. A cidade expande-se indefinidamente. A


periferia, novidade antiga, é transferida constantemente para fora, ainda mais e
mais, e seus vínculos se desfiam. Renova-se sem mudança. Nessa expansão,
há conurbação e dispersão: sem desenho ou proposta, a cidade cresce, esvazia
e enche, especula e multiplica, diversa e igual.

A cidade espalhada, pouco densa, sem futuro prazeroso e sem passado


manifesto, impossibilita-se no presente. Não há gestão possível. A infra-
estrutura se espalha tal qual a cidade. Os equipamentos, numerosos,
centralizam antes extensões de terras do que pessoas. A metrópole dos
encontros e das complexidades está pelo avesso: sua configuração espacial é
determinante para a exclusão e o impedimento. A cidade é a rua e a praça,
espaço público das trocas e das identidades, mas as ruas e as praças de São
Paulo viraram espaços de esvaziamento e insegurança, viraram muros, viraram
leito carroçável.

São Paulo: percebamos as potencialidades. Cidade-metrópole de todas as


misturas, espaço do encontro para ser agendado. Componhamos a rua da
aglomeração para grandes manifestações, a cada segundo, do parangolé
coletivo. Esta é a dança da multidão ao som do sinal fechado e aberto num
instante, da porta do metrô que se abre. É a menina que parte no sentido
oposto, perdendo-se na multidão de todas as cores.
No transporte hiper-rápido ou no caminhar do pedestre, o tempo se transforma.
O espaço se deforma e se rende diante das possibilidades de mobilidade,
reconstrói-se na paisagem da memória. Na cidade, esse imaginário ganha
cheiro, cor, forma e peso: o espaço deformado pela velocidade se materializa
novamente; agora, as memórias individuais podem se realizar como espaço
coletivo.

Desenhemos São Paulo em perspectiva e


escrevamos não como Koolhaas,
retroativamente. Nossa cidade tem
potencialidades e não é como Nova York, cheia
de evidências. Há de se construir assim uma
história a partir do presente, a cidade do
desejo.

São Paulo: cidade com potencialidades

A cidade nos últimos 100 anos se reconstruiu três vezes. Inevitável talvez seja
não pensar a história de São Paulo como uma história volátil, insípida. Uma
contemporaneidade sem vínculos com a história. Uma história que vai deixar de
existir em breve para dar lugar a outra. Projetemos enfim uma metrópole-cidade
possível onde todas as pessoas estão inseridas. Deixemo-as sentir o impacto de
atravessar a rua com mais duzentas pessoas, serem vizinhas da faculdade, do
trabalho, da escola e do parque, habitemos o imenso circo picadeiro!

Propomos a densidade como partido, mas ela numa rede-sistema de infra-


estrutura, de equipamento e de transporte. Nossa densidade é possível,
concreta, vem de Manhattan, cerca de vinte vezes a concentração atual, o que
faria de São Paulo compreensível em uma área de 300 km².

A cidade hiper-densa é o lugar da infra-


estrutura racionalizada em que os
encanamentos percorrem poucos quilômetros,
mas atendem todos, onde o metrô cresce
metros para atingir milhares. A cidade hiper-
densa é o equipamento ao alcance, a escola a
poucos minutos, o hospital acessível; mas não
apenas, é também o lugar onde as
manifestações são possíveis e grandiosas, é o
lugar dos encontros. Em São Paulo, como em
seu museu, o cidadão se constrói agora do
confronto e da simultaneidade de culturas:
Rembrandt e Léger estão lado a lado para
mudarem e serem mudados. No contínuo e
livre do espaço, o referencial entre as obras é
o público, para sempre circulando.

A cidade hiper-densa: infra-estrutura racionalizada

O centro que queremos ver adensado não é o centro que já temos, nem o centro
de Manhattan, para além disso: para uma proposta de cidade futura, cidade com
qualidade, acessibilidade e densidade necessárias para sugar o crescimento da
cidade para si, como um grande imã.

Falamos então do crescimento vertiginoso da


moradia francamente acessível, da
concentração dos transportes e de seus nós
organizadores. Falamos do déficit habitacional
da cidade, do país e de toda América Latina.
Falamos da tendência natural da cidade em
expandir-se. Habitação, transporte e
equipamentos: nenhum antes, nenhum depois
mas num tripé funcionando em sistema. Este
não é o lugar dos apaziguamentos, não é o
lugar do imaginário sub-urbano que
freqüentemente nos ronda. Possamos assim,
enfim, falar numa metrópole possível para toda
a sua população. Uma metrópole cidade que é,
antes de tudo, uma cidade.

Processo de adensamento de São


Paulo vista de uma foto de satélite
(densidade adotada: 500
habitantes/hectar = upper east
Manhattan)

Um projeto para 17.878702


pessoas

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