Uma filosofia
em diálogo com
a modernidade
342
Ano X
Alessandro Ghisalberti
>>Jacqueline Lima
Dourado:
A influência de Ockham na Segunda Escolástica Passione e a indústria
06.09.2010 da telenovela
ISSN 1981-8469
Escolástica. Uma filosofia em
diálogo com a modernidade
A realização do 17º Colóquio Anual Direito e Natureza na primeira e na segunda escolástica, da
Sociedade Internacional para Estudos da Filosofia Medieval (SIEPM), inspira a edição desta semana da IHU
On-Line a debater essa importante corrente filosófica da Idade Média.
Entrevistamos vários dos conferencistas do evento. Na opinião do filósofo João Madeira, da UFMS,
existe uma relação entre alguns postulados da escolástica e os direitos humanos. Paula Oliveira e Silva,
da Universidade do Porto, analisa as ligações entre o ius gentium, o direito das gentes, e a Segunda Es-
colástica. O conceito de domínio na escolástica espanhola é o tema de Jorge Alejandro Tellkamp, que
leciona na Universidade Nacional Autônoma do México. Alessandro Ghisalberti, professor de História da
Filosofia Medieval na Faculdade de Letras e Filosofia da Universidade Católica del Sacro Cuore de Milão,
examina a influência de Ockham na Segunda Escolástica, e percebe reflexos desse pensador na filosofia
moral de Kant. Alfredo Culleton, professor do PPG em Filosofia da Unisinos e organizador do evento,
menciona que a filosofia do jesuíta Francisco Suarez foi a base dos atuais direitos humanos. O filósofo Giu-
seppe Tosi, professor de filosofia na Universidade Federal da Paraíba, debate o legado de Bartolomeu de
Las Casas, que considera o primeiro teólogo e filósofo da libertação. O professor da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS), Alfredo Storck, fala sobre o ser humano repensado pela escolástica. Para
Luís Alberto De Boni, os “velhos escolásticos” continuam presentes.
Também contribuem na discussão do tema central desta edição os pesquisadores José Luís Herreros,
Santiago Orrego, Ludger Honnefelder, Jacob Schmutz, professor de filosofia na Universidade Paris-
Sorbonne (Paris-IV) e diretor dos estudos de filosofia e sociologia na nova Universidade Paris-Sorbonne
Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, a pesquisadora Jaqueline Hamesse, e o filósofo espanhol Angel
Poncela González.
Uma entrevista com Bruna Cristina Engel e Lucia Ortiz, da Organização Não-Governamental Amigos
da Terra Brasil, analisando o impacto da construção das hidrelétricas no Rio Uruguai, tema da IHU On-
Line da semana passada, completa a edição.
A todas e todos um bom feriado, uma ótima leitura e uma excelente semana!
IHU On-Line é a revista semanal do Instituto Humanitas Unisinos – IHU – Universidade do Vale do
Rio dos Sinos - Unisinos. ISSN 1981-8769. Diretor da Revista IHU On-Line: Inácio Neutzling (inacio@
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Leia nesta edição
PÁGINA 02 | Editorial
A. Tema de capa
» Entrevistas
PÁGINA 06 | Luís Alberto De Boni: Os “velhos escolásticos” continuam presentes
PÁGINA 11 | Alfredo Culleton: O pensamento de Suarez como base dos direitos humanos
PÁGINA 13 | Santiago Orrego: A importância da Segunda Escolástica no Ocidente
PÁGINA 17 | Giuseppe Tosi: Bartolomeu de Las Casas, primeiro teólogo e filósofo da libertação
PÁGINA 19 | Jorge Alejandro Tellkamp: O conceito de domínio na escolástica espanhola
PÁGINA 21 | Paula Oliveira e Silva: O ius gentium e a Segunda Escolástica
PÁGINA 24 | Alessandro Ghisalberti: A influência de Ockham na Segunda Escolástica
PÁGINA 26 | Jacqueline Hamesse: A importância da Escolástica para a paleografia
PÁGINA 28 | Alfredo Storck: O ser humano repensado pela escolástica
PÁGINA 30 | João Madeira: A escolástica e os direitos humanos
PÁGINA 33 | Angel Poncela González: A Escola de Salamanca e a Segunda Escolástica
PÁGINA 35 | José Luís Fuertes Herreros: O papel de Salamanca na Segunda Escolástica
PÁGINA 38 | Ludger Honnefelder: A contribuição dos jesuítas à Segunda Escolástica
B. Destaques da semana
» Entrevista da Semana
PÁGINA 40 | Lucia Ortiz e Bruna Cristina Engel: Grandes grupos industriais são donos do Rio Uruguai
» Coluna do Cepos
PÁGINA 44 | Jacqueline Lima Dourado: Passione! A indústria da telenovela no balizamento entre
o merchandising social e o comercial
» Destaques On-Line
PÁGINA 46 | Destaques On-Line
C. IHU em Revista
» Evento
» IHU Repórter
PÁGINA 54| Hélio Paz
SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342
SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342
17º Colóquio Anual Direito e Natureza na primeira
e na segunda escolástica – Sociedade Internacional
para Estudos da Filosofia Medieval
Por Alfredo Culleton
O
17º Colóquio Anual da So- de promover o estudo do pensamento publicação anual com artigos científi-
ciedade Internacional para medieval. Conta atualmente com mais cos e informações de relevância, e a
Estudos da Filosofia Me- de 750 sócios ativos em 45 países. Cabe série Rencontres de Philosophie Médi-
dieval – SIEPM, sob o tema destacar que todos os filósofos medie- évale (Editora Brepols, Bélgica), que
Direito e Natureza na pri- valistas brasileiros são membros da SIE- publica os resultados do Colóquio Anual
PM e que cada um dos cinco programas promovido pela Sociedade.
meira e na segunda escolástica, será
de pós-graduação em Filosofia com que Este evento tem por objetivo reu-
realizado pela Universidade do Vale
conta o estado do Rio Grande do Sul, nir e desenvolver a mais alta pesquisa
do Rio dos Sinos – Unisinos, em Porto tem no mínimo um professor-pesquisa- internacional que se ocupa da história
Alegre-RS, Brasil entre os dias 15 e 17 dor medievalista. A SIEPM organiza re- de filósofos, de teólogos e de juristas
de setembro de 2010. A reunião do con- gularmente congressos internacionais e ibéricos que trabalharam os aspectos
selho da SIEPM realizar-se-á durante o estimula o intercambio entre pesqui- legais e políticos da primeira escolás-
sábado, dia 18 de setembro. sadores e acadêmicos auxiliando nos tica, assim como com a maneira sob a
O presente colóquio é o evento anu- contatos e oferecendo bolsas. Com o qual estes conceitos foram recebidos e
al mais importante da filosofia medieval intuito de manter os especialistas em a geração de novas filosofias políticas
no mundo. A SIEPM foi fundada em 1958 comunicação constante, oferece o Bul- e idéias de filosofia do direito na histó-
em Louvain, na Bélgica, com o objetivo letin de Philosophie Médiévale, uma ria das Américas.
Ao nos referirmos à escolástica, estamos nos referindo (1483-1546) e projetado por seus discípulos para diversos
ao método de ensino teológico e filosófico desenvolvido nos centros de ensino da Europa e América. Destacados teólo-
primórdios da universidade durante a Idade Média, entre gos e juristas de diversas nacionalidades teriam o desafio
os séculos IX e XVII. No método escolástico debatiam-se de escrever comentários sobre os aspectos teológicos, me-
questões e opiniões, fundamentando-as com a razão. Os tafísicos, lógicos, jurídicos, legais e políticos da obra do
escolásticos procuravam conciliar os sagrados ensinamen- Aquinate e de outros destacados pensadores antigos, me-
tos da doutrina cristã com o platonismo e o aristotelismo. dievais e renascentistas. Nesta empresa não só atualizaram
Esse termo não significa exclusivamente filosofia medieval as ideias de seu mestre como introduziram uma nova filoso-
nem religiosa. É um método de produção de conhecimento fia política e do direito que influenciou significativamente a
fundado na disputa, no confronto de perspectivas visando história da América.
respostas sustentadas na razão. A maneira como este vivo diálogo teológico-político-
Quando falamos de Segunda Escolástica, nos referimos jurídico se desenvolveu na Península Ibérica e em outros
ao pensamento desenvolvido segundo a metodologia esco- lugares de Europa, a maneira como teve continuidade
lástica durante os séculos XVI e começos do XVII, duran- no continente Americano, a maneira como os conflitos
te os quais esta forma de pensamento alcança um grande políticos e sociais nas Américas encontraram um eco te-
nível intelectual. Seu principal foco de desenvolvimento, orético na Espanha, assim como a significativa influência
ainda que não o único, é a chamada escola de Salamanca, destes pensadores – e dos conceitos desenvolvidos por
movimento intelectual iniciado por Francisco de Vitória eles – sobre os movimentos revolucionários que levaram
Francisco de Vitória (1483-1512): teólogo espanhol neo-escolásti- à independência dos estados americanos, são todos no-
co e um dos fundadores da tradição filosófica da chamada “Escola de vos tópicos não apenas de interesse histórico mas de ex-
Salamanca”, sendo também conhecido por suas contribuições para a
teoria da guerra justa e como um dos criadores do moderno direito
trema importância filosófica.
internacional.(Nota da IHU On-Line)
“M
ovimento filosófico e teológico, que teve seu apogeu nos séculos XVI e XVII, den-
tro das universidades, principalmente da Espanha e Portugal, mas também da
Itália e de alguns outros países. Partindo do estudo dos escolásticos medievais,
principalmente de Tomás de Aquino, esses autores procuravam dialogar com a
sociedade de seu tempo na qual haviam surgido alguns fatos novos, como as des-
cobertas científicas na área da Física, que haveriam de culminar com os nomes de Copérnico (+1543),
Galileu (+1642) e Newton (+1727); as descobertas marítimas que levaram os europeus a contatar novas
civilizações, nas Américas e no Oriente; e a Reforma protestante”. Assim o filósofo gaúcho Luís Alberto
De Boni define a Escolástica. Ele analisa, também, os motivos pelos quais a formação das universidades
brasileiras foi tão tardia, comparativamente à Espanha e Portugal. De acordo com ele, “no período co-
lonial não tivemos universidades porque Portugal não as quis instituir”. E provoca: “Se Suárez, em vez
de ser um espanhol católico, fosse um alemão luterano, ou um holandês calvinista, ou um inglês angli-
cano, seria muito mais citado e o apresentariam como um dos grandes filósofos da História, o que ele,
de fato, foi”. Em seu ponto de vista, “em questões de Metafísica, de Ética e de Política aqueles velhos
escolásticos estão presentes” até hoje. As declarações fazem parte da entrevista a seguir, concedida por
e-mail à IHU On-Line.
De Boni é graduado em Filosofia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do
Sul – Unijuí e em Telogia pela Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindisi. É doutor em Teologia
pela Universidade de Münster (Westfalische-Wilhelms), orientado por Johann Baptist Metz. É pós-doutor
pelas Universidades Alberto Magno e Bonn, ambas na Alemanha. Publicou e organizou mais de trinta
obras, dentre as quais citamos: Lógica e linguagem na Idade Média (Porto Alegre: Edipucrs, 1995); Gui-
lherme de Ockham (Porto Alegre: Edipucrs, 2000) e A ciência e a organização dos saberes na Idade Média
(2. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2000). Confira a entrevista.
IHU On-Line - Poderia situar a Segun- dialogar com a sociedade de seu tempo
da Escolástica no Brasil? na qual haviam surgido alguns fatos no-
Luiz Alberto De Boni - Creio que con- vos, como as descobertas científicas na
vém, inicialmente, explicar o que foi área da Física, que haveriam de culmi-
a assim chamada Segunda Escolástica. nar com os nomes de Copérnico (†1543),
Tratou-se de um movimento filosófico e Católica. Seu maior mérito foi a síntese do cris- derava a Terra como o centro). Essa teoria é con-
teológico, que teve seu apogeu nos sécu- tianismo com a visão aristotélica do mundo, in- siderada uma das mais importantes descobertas
los XVI e XVII, dentro das universidades, troduzindo o aristotelismo, sendo redescoberto de todos os tempos, sendo o ponto de partida
na Idade Média, na escolástica anterior. Em suas da astronomia moderna. A teoria copernicana in-
principalmente da Espanha e Portugal, duas “Summae”, sistematizou o conhecimento fluenciou vários outros aspectos da ciência e do
mas também da Itália e de alguns outros teológico e filosófico de sua época: são elas a desenvolvimento da humanidade, permitindo a
países. Partindo do estudo dos escolásti- Summa Theologiae, a Summa Contra Gentiles. emancipação da cosmologia em relação à teolo-
(Nota da IHU On-Line) gia. O IHU promoveu de 3 de agosto a 16-11-2005
cos medievais, principalmente de Tomás Nicolau Copérnico (1473-1543): astrônomo e o Ciclo de Estudos Desafios da Física para o Sé-
de Aquino, esses autores procuravam matemático polonês, além de cânone da Igreja, culo XXI: uma aventura de Copérnico a Eins-
governador e administrador, jurista, astrólogo e tein. Sobre Copérnico, em específico, o Prof. Dr.
São Tomás de Aquino (1225-1274): padre do- médico. Desenvolveu a teoria heliocêntrica para Geraldo Monteiro Sigaud, da PUC-Rio, proferiu
minicano, teólogo, distinto expoente da esco- o sistema solar, que colocou o Sol como o centro palestra em 03-08-2005, intitulada Copérnico e
lástica, proclamado santo e cognominado Doc- do sistema solar, contrariando a então vigente Kepler: como a Terra saiu do centro do Universo.
tor Communis ou Doctor Angelicus pela Igreja teoria geocêntrica - o geocentrismo (que consi- (Nota da IHU On-Line)
U
ma verdadeira ruptura com a hegemonia da doutrina de Tomás de Aquino. Esse foi o efeito
do pensamento formulado pelo jesuíta espanhol Francisco Suarez, responsável por novas
interpretações dos clássicos adequadas às necessidades históricas. A afirmação é do filósofo
Alfredo Culleton, em entrevista por e-mail à IHU On-Line. É importante lembrar, também,
que, sob um prisma jurídico-político, Suarez “desenvolve uma série de conceitos que serão
de grande relevância tanto no processo de ocupação das Américas, como na sua independência”. Entram
aí o contrato social, muito antes de sua formulação específica por Thomas Hobbes, “a origem popular
do poder, a doutrina do tiranicídio e de um direito internacional”. O tiranicídio, em específico, inspirou
muitos processos libertários na América Latina, mesmo antes da Revolução Francesa, aponta Culleton.
Outro aspecto importante do pensamento de Suarez é inaugurar o direito subjetivo, presente no direito
moderno. Prova disso é o conceito de ius gentium, ou seja, o direito das gentes (ou dos povos), “que con-
siste num direito transnacional que independe de estar escrito ou não, que é formulado pelas culturas,
numa consensualidade progressiva e que deve ser respeitado universalmente”. Este direito é, portanto,
a raiz de onde brotam os modernos direitos humanos.
Culleton é graduado em Filosofia, pela Universidade Regional no Noroeste do estado do Rio Grande do
Sul – Unijuí, mestre em Filosofia, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, e doutor em
Filosofia, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, com a tese Fundamentação
ockhamiana do Direito Natural. Atualmente, leciona nos cursos de graduação e mestrado em Filosofia na
Unisinos. É colaborador na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – URI, e na Uni-
versidade de Buenos Aires – UBA, Argentina. Atua como assessor do escritório da Sociedade Internacional
para Estudos da Filosofia Medieval – SIEPM. Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual é a importância de Alfredo Culleton - O jesuíta espanhol losofia católica e de alguns importantes
Suarez na Segunda Escolástica? Francisco Suarez (1548-1617) representa filósofos do século XX, como Heidegger.
Francisco Suarez (1548-1619): teólogo jesuíta uma ruptura com a hegemonia da dou-
espanhol nascido em Granada. Estudou latim, di- trina de Tomás de Aquino desenvolvida IHU On-Line - Quais são os conceitos
reito, filosofia e teologia em Salamanca. É um dos
fundadores do direito internacional e criador da pelos dominicanos e inaugura um alarga- mais relevantes desenvolvidos por
doutrina do suarismo. A partir de 1570, trabalhou mento no pensamento com a introdução ele na formação latino-americana?
como instrutor de teologia em vários centros dos de novas interpretações dos clássicos Alfredo Culleton - Desde o ponto de
jesuítas, na Espanha e em Roma, até se estabe-
lecer como professor de teologia na Universidade adequado às necessidades históricas. vista jurídico-político Suarez desen-
de Coimbra (1597), Portugal, pertencente então Ele vai inaugurar uma nova etapa onde volve uma série de conceitos que se-
à coroa espanhola, por indicação do rei Filipe II. é possível estar de acordo em alguns rão de grande relevância tanto no pro-
Ali firmou sua conduta erudita e tornou-se o prin-
cipal representante da nova escolástica do sécu- pontos com Tomás e em desacordo em cesso de ocupação das Américas como
lo XVI. Sua obra mais influente foi Disputationes outros. Este refinamento no seu pensar na sua independência. Nesse sentido
Metaphysicae (1597), um amplo tratado que arti- filosófico o tornaram o pensador mais destacamos a ideia do contrato social,
culava todo o saber metafísico, concebido como
teologia natural. Escreveu várias obras por enco- influente dos seguintes dos séculos de fi- mesmo antes de Hobbes, a origem
menda do papa Paulo V e de outras autoridades gou o direito do povo derrubar qualquer monarca Thomas Hobbes (1588 – 1679): filósofo in-
religiosas, como De legibus (1612) e Defensio fi- que atuasse contra o interesse social. Também glês. Sua obra mais famosa, O Leviatã (1651),
dei catholicae (1613), destinadas a elaborar uma criticou muitas das práticas da colonização espa- trata de teoria política. Neste livro, Hobbes
teoria jurídica e política baseada nos princípios nhola nas Índias. Lecionou filosofia em Segóvia e nega que o homem seja um ser naturalmen-
católicos. Negou o direito divino dos reis e pre- teologia em Valladolid. (Nota da IHU On-Line) te social. Afirma, ao contrário, que os homens
P
aradoxalmente, a importância da Segunda Escolástica é quase que “inversamente proporcio-
nal à atenção que de fato recebe esse pensamento em nossos países, e algo semelhante cabe
dizer de Espanha e Portugal. Creio que isso tem a ver com o fato de que a Segunda Escolástica
foi predominantemente ibérica e também com nosso lamentável complexo de inferioridade
intelectual, que nos leva a estar sempre mirando as novidades que vem do Norte – o resto
da Europa e Norte-américa”. A reflexão é do filósofo chileno Santiago Orrego, na entrevista que conce-
deu, por e-mail, à IHU On-Line. Em sua opinião, a importância dessa corrente filosófica é decisiva para
nossa formação histórica e identidade cultural. Mas completa: “Se me é perguntado pela importância,
digamos, ‘sociologicamente mensurável’, que o estudo da Segunda Escolástica tem em nossos países,
diria que é marginal, muito inferior ao que mereceria em razão de sua relevância histórica e, em minha
opinião, também em relação com o que tem de valor atual para ensinar-nos”.
Santiago Orrego é professor do Instituto de Filosofia da Universidade Católica do Chile. É doutor em
Filosofia pela Universidade de Navarra com a tese Historia de filosofia del Renacimiento y Edad Media.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual é a importância da Se- gel” (Ser e tempo, § 6, p. 22 [da Ed. supostos” e é habitualmente conside-
gunda Escolástica na América Latina? De Niemeyer]). rado como o pai da filosofia moderna,
Santigo Orrego - São muitas as verten- O pensamento do próprio Descar- se demonstrou que está marcado por
tes a partir das quais se pode abordar tes, que pretendia filosofar “sem pres- uma grande dependência com referên-
esta pergunta. Talvez seja adequado Friedrich Hegel (1770-1831): filósofo ale- cia às propostas filosóficas e teológicas
mão idealista. Como Aristóteles e Santo Tomás
começar por ampliá-la e perguntar-se: de Aquino, tentou desenvolver um sistema fi-
dos escolásticos que precederam ime-
qual é a importância da Segunda Es- losófico no qual estivessem integradas todas diatamente. O mesmo caberia dizer de
colástica no Ocidente – em seu pensa- as contribuições de seus principais predeces- Malebranche, Spinoza, Leibniz e ou-
sores. Sua primeira obra, A fenomenologia do
mento e em suas instituições -, cultura espírito, tornou-se a favorita dos hegelianos
tros. Aos trabalhos pioneiros de Gilson
que integra de maneira preponderan- da Europa continental no séc. XX. Sobre Hegel, e Freudenthal seguiram muitos outros
te a identidade latino-americana? Se- confira a edição especial nº 217 de 30-04-2007, até a atualidade, os quais não fizeram
intitulada Fenomenologia do espírito, de Ge-
ria difícil exagerar essa importância, org Wilhelm Friedrich Hegel (1807-2007), em
mais do que confirmar e aprofundar a
inclusive para aqueles movimentos comemoração aos 200 anos de lançamento hipótese e que seria demasiado longo
intelectuais que se apresentam a si dessa obra. O material está disponível em referir aqui. E isto não só em questões
http://migre.me/zAON. Sobre Hegel, confira,
mesmos como reações contra ela. ainda, a edição 261 da IHU On-Line, de 09-
de metafísica, senão também e muito
Pode citar-se, a este respeito, o pa- 06-2008, Carlos Roberto Velho Cirne-Lima. Um especialmente na área da filosofia ju-
rágrafo 6 de Ser e tempo de Martin novo modo de ler Hegel, disponível em http:// rídica e política, incluindo alguns dos
migre.me/zAOX. (Nota da IHU On-Line)
Heidegger que se refere à obra mais René Descartes (1596-1650): filósofo, físico
teóricos mais importantes da Ilustra-
emblemática da Segunda Escolástica: e matemático francês. Notabilizou-se sobretu- ção. Ambas as vertentes confluíram na
“o essencial da filosofia grega passa à do pelo seu trabalho revolucionário da Filoso- independência dos países da América.
fia, tendo também sido famoso por ser o in-
metafísica e à filosofia transcendental ventor do sistema de coordenadas cartesiano,
Portanto, se é verdade que nossa
da época moderna pela via das Dispu- que influenciou o desenvolvimento do cálculo compreensão de nós mesmos e da re-
tationes metaphysicae de Francisco moderno. Descartes, por vezes chamado o fun- mente em oposição à escola que predomina-
dador da filosofia e matemática modernas, ins- va nas ilhas britânicas, o empirismo), posição
Suarez e determina, no entanto, os pirou os seus contemporâneos e gerações de filosófica dos séculos XVII e XVIII na Europa.
fundamentos e fins da lógica de He- filósofos. Na opinião de alguns comentadores, (Nota da IHU On-Line)
ele iniciou a formação daquilo a que hoje se Nicolas Malebranche (1638-1715): filósofo
chama de racionalismo continental (suposta- francês. (Nota da IHU On-Line)
Acesse www.ihu.unisinos.br
dos governados. E, já Vitoria e Soto simples meios e não como fins – negan-
denunciavam que os espanhóis não do, portanto, sua dignidade que a cons-
estavam governando para o bem dos tituição alemã declara “inviolável”.
povos americanos submetidos. Enfim: Este é certamente um dilema tremen-
tudo isso se encontra nesses pensado- do. Porém, ao ler-se a fundamentação
res, sobre os quais não recaía nenhum da decisão do tribunal, se vê que não
tipo de suspeita sobre sua ortodoxia se concebe uma alternativa entre o
doutrinal católica. Desse modo, um consequencialismo ético, que simples-
partidário da independência e da Re- mente põe na balança as consequên-
pública não tinha por que sentir-se em cias desejáveis de uma ação, e a moral
conflito com suas convicções religiosas da dignidade pessoal incondicionada,
– nessa época, na América Latina, fun- que não admite cálculos. Pois bem: um
damentalmente católicas. dilema parecido formulou para si Vito-
ria, há quase quinhentos anos, sob uma
IHU On-Line - A Segunda Escolástica fórmula distinta: é lícito bombardear
apresenta alguma contribuição à dis- um barco de guerra turco no qual se
cussão jurídica contemporânea? encontram prisioneiros cristãos? Não se
Santigo Orrego - Dos textos destes trata aqui de propor a solução dada por
autores se poderiam extrair princípios Vitória; mas, a mim resulta claríssimo
bastante iluminadores sobre questões que ele apresenta razões de peso não
de grande atualidade. Não é em vão consideradas na discussão atual, que
que Francisco de Vitoria é considerado poderiam ser esclarecedoras e segundo
por muitos como o pai do Direito Inter- as quais derrubar o avião seqüestrado
nacional moderno. Outros assinalam não implicaria em considerar os reféns
Hugo Grócio, porém a grande depen- como simples meios sujeitos a cálculos
dência a este respeito de Vitoria ou de benefícios.
Suarez, por exemplo, está muito bem Em meu país me tocou intervir em
documentada. Abordarei esta questão alguns debates políticos, na mídia,
com exemplos concretos. Pensemos, como a determinação do salário jus-
por exemplo, em suas doutrinas sobre to – que se começou a chamar “salá-
a guerra e suas possíveis justificações; rio ético” – ou a valoração moral dos
são muito mais radicais e matizadas saques que se produziram após o ter-
do que as que se puseram em jogo, remoto de 27 de fevereiro, ou o sig-
por exemplo, nos debates sobre a in- nificado metafísico ou teológico que
vasão dos Estados Unidos ao Iraque, poderia ter o achado “milagroso” de
que parece chegar ao seu fim. Ela não 33 mineiros enterrados depois de 17
tem a simplicidade nem de um paci- dias. Procurei dar realce a ideias em-
fismo hippie, nem de um pragmatismo prestadas de meus amigos da Escola
“realista”, nem de uma ingênua mis- de Salamanca e elas têm sido conside-
são divina de lutar péla liberdade dos radas aportes valiosos para o debate.
povos. E não tenho dúvidas de que aqui há
Outro dilema político e jurídico, muitas luzes que podem orientar-nos,
muito vinculado ao anterior: Há cer- porém nós, na América do Sul, as con-
to tempo, o tribunal constitucional da sideramos muitas vezes como alimen-
tos para roedores nos fundos de nossas
13 Fernando VII (1784-1833): rei espanhol, fi-
lho de Carlos IV e Maria Luísa de Parma. ������
(Nota bibliotecas. Espero que o próximo co-
da IHU On-Line) lóquio ajude a mudar esta situação.
16 SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342
Bartolomeu de Las Casas, primeiro teólogo
e filósofo da libertação
Reconhecimento da alteridade dos indígenas e relação entre teoria e práxis libertadora
tornam justo apontar Las Casas como “autêntico filósofo latino-americano da liberta-
ção”, assegura Giuseppe Tosi
R
econhecer a alteridade dos índios em sua condição de indivíduos e também de povos é um
bom motivo para considerar Bartolomeu de Las Casas como “o primeiro teólogo e filósofo da
libertação latino-americana”, acredita o filósofo italiano Giuseppe Tosi. Em sua opinião, “a
compreensão que Las Casas adquiriu do encontro/desencontro, descobrimento/encobrimen-
to entre o Velho Mundo e o Novo Mundo é uma das mais extraordinárias da nossa história”.
E continua: “pela compreensão e o reconhecimento da alteridade oprimida, humilhada, ocultada dos
povos indígenas, e pela relação constante entre a teoria e a práxis libertadora que ele soube realizar,
podemos a justo título considerar Las Casas como um autêntico filósofo latino-americano da libertação”.
Tosi pontua que ele conseguiu conjugar “o conhecimento da tradição e da linguagem filosófica do seu
tempo com as trágicas e dramáticas questões do Novo Mundo, elaborando assim um pensamento ao
mesmo tempo universal e autenticamente latino-americano”. As afirmações fazem parte da entrevista
a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line.
Graduado em Filosofia pela Universitá Cattolica del Sacro Cuore di Milano, Giuseppe Tosi é mestre em
Sociologia Rural pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, doutor em Filosofia pela Universitá degli
Studi di Padova, e pós-doutor pela Universidade de Firenze, ambas na Itália. Leciona na UFPB e é autor
de La Teoria della schiavitù naturale nel dibattito sul Nuovo Mondo (1510 - 1573). Veri Domini o Servi a
natura? (Bologna: Edizioni Studio Domenicano, 2002) e organizador de Direitos humanos: história, teoria
e prática (João Pessoa: Editora Universitária UFPB, 2005) e de Bartolomé de Las Casas: De Regia Potestate
(Bari-Roma: Laterza, 2007). Confira a entrevista.
IHU On-Line - Quais são as ligações en- tion des droits de l’homme e du citoyen entre a concepção objetiva do direito
tre os direitos humanos e a segunda da Revolução Francesa de 1789. natural, típica de grande parte da tra-
escolástica espanhola? No entanto, tais reconstruções pas- dição antiga e medieval, para a concep-
Giuseppe Tosi - Os estudos que se dedi- sam ao largo do período de transição ção subjetiva dos direitos naturais. Esta
cam à reconstrução da evolução históri- passagem acontece entre os séculos XV
Revolução Francesa: nome dado ao conjunto
ca das doutrinas dos direitos do homem de acontecimentos que, entre 5 de Maio de 1789 e XVI e tem as suas raízes remotas na
evidenciam uma genealogia quase “ca- e 9 de Novembro de 1799, alteraram o quadro jurisprudência da Idade Média, nas po-
nônica”, que inicia com a Magna Charta político e social da França. Começa com a convo- sições assumidas pelos teólogos francis-
cação dos Estados Gerais e a Queda da Bastilha e
Libertatum de 1215, passa pelo Bill of se encerra com o golpe de estado do 18 Brumá- canos e nominalistas, no debate sobre a
Rights da Revolução Gloriosa de 1688 rio, de Napoleão Bonaparte. Em causa estavam pobreza do século XIV e XV, sobretudo
para chegar à Declaração do Estado da o Antigo Regime (Ancien Régime) e a autoridade a partir de Guilherme do Ockham e, fi-
do clero e da nobreza. Foi influenciada pelos ide-
Virgínia de 1777, e finalmente à Déclara- ais do Iluminismo e da Independência America- nalmente, nos teólogos da Escola de Sa-
Revolução Gloriosa: evento histórico que ocor- na (1776). Está entre as maiores revoluções da lamanca, sobretudo a partir do debate
reu na Inglaterra entre 1695 e 1740, na qual o rei história da humanidade. A Revolução Francesa é sobre o Novo Mundo na primeira metade
Jaime II da dinastia Stuart (católico) foi removi- considerada como o acontecimento que deu iní-
do do trono da Inglaterra, Escócia e País de Ga- cio à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e do século XVI.
les, substituído por sua filha, Maria II e pelo seu os direitos feudais e proclamou os princípios uni-
genro , o nobre holandês Guilherme, Príncipe de versais de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade” IHU On-Line - Em que consiste a contri-
Orange. Marcou o declínio do parlamento sobre a (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de
coroa. (Nota da IHU On-Line) Jean-Jacques Rousseau. (Nota da IHU On-Line) buição dos escolásticos de Salamanca
“O
duos e enquanto povos. Nesta passagem
conceito de domínio é central tanto para o desenvol-
crucial e trágica da história ocidental, a
figura de Las Casas, não somente pelo vimento de uma teoria de direitos individuais como
seu valor moral, mas também pela sua de direitos políticos. E, neste sentido, a ideia de do-
originalidade e força teórica, é um dos mínio não é importante apenas para o pensamento da
pontos mais altos da relação entre “nós” Escolástica espanhola, senão também para a filosofia
e “os outros”. A compreensão que Las política moderna em geral”. A afirmação é do filósofo mexicano Jorge Ale-
Casas adquiriu do encontro/desencon- jandro Tellkamp, na entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line.
tro, descobrimento/encobrimento entre Ele pontua que não se pode falar sobre um fim “temporalmente delimitado
o Velho Mundo e o Novo Mundo é uma das da escolástica, senão antes de uma mudança de percepções que se deu prin-
mais extraordinárias da nossa história. Na cipalmente com o Renascimento e com pensadores como René Descartes ou
obra de Las Casas se manifesta um dos David Hume e do desgaste paulatino deste modelo”.
pontos mais altos da “descoberta que o
Tellkamp leciona na Universidade Nacional Autônoma do México e na Uni-
eu faz do outro”, ponto que raramente
versidade Autônoma Metropolitana, também na capital do país. É graduado,
foi alcançado na consciência moderna a
ele posterior. Com efeito, a teoria que mestre e doutor em Filosofia. A graduação foi realizada na Universidade Frie-
Las Casas tanto combateu, da superiori- drich-Alexander, na Alemanha, o mestrado na Universidade Católica de Leu-
dade de uma civilização sobre as outras, ven, na Bélgica, e o doutorado na Universidade Martin-Luther, na Alemanha.
se consolidará nos séculos seguintes atra- Confira a entrevista.
vés das várias formas de eurocentrismo,
alimentado pelas ideologias do progres- IHU On-Line - Por que o domínio concebido como uma faculdade ou
so, do racismo, do (sub) desenvolvimen- é um conceito fundamental da Es- um poder a respeito de algo. As-
to, que acompanham o longo processo colástica espanhola? sim, ao falar de domínio, se está
através do qual a história da Europa se Jorge Alejandro Tellkamp - A no- enfatizando a potestade ineren-
torna história do mundo. ção de domínio (dominium) tem te a qualquer agente racional de
Pela compreensão e o reconhecimen- significado primordialmente legal usar algo ou de estabelecer pro-
to da alteridade oprimida, humilhada, e marca as discussões sobre como priedades. Por isso, com razão se
ocultada dos povos indígenas, e pela re- os indivíduos podem estabelecer destacou que, na identificação de
lação constante entre a teoria e a práxis relações com coisas e também com domínio como direito, se encontra
libertadora que ele soube realizar, pode- outras pessoas. Historicamente fa- a origem dos direitos subjetivos in-
mos a justo título considerar Las Casas lando, não se trata de um concei- dividuais, isto é, de direitos cujo
como um autêntico filósofo latino-ameri- to novo, dado que já é introduzido cumprimento qualquer indivíduo
cano da libertação. Com efeito, ele sou- pelo direito romano. Sem dúvida, a pode reclamar.
be conjugar o conhecimento da tradição partir dos séculos XIII e XIV come- Que esta ideia tenha sido cen-
e da linguagem filosófica do seu tempo çou a configurar-se um panorama tral para alguns dos mais desta-
com as trágicas e dramáticas questões político-legal inovador, no qual se cados pensadores da Escolástica
do Novo Mundo, elaborando assim um destacava a aproximação de pen- espanhola (Vitoria, Soto, Bañez,
pensamento ao mesmo tempo universal sar o domínio como um direito. O Molina, etc.) não é de se estranhar,
e autenticamente latino-americano. conceito de direito, por sua vez, é porque com ela dispuseram de um
O
direito dos povos, originariamente chamado de ius gentium, seria algo como “um direito de-
corrente da natureza humana; não porque uma tal natureza o exija de modo absoluto, mas
pelas circunstâncias e pela condição concreta do gênero humano, situada no espaço e no
tempo”. A análise é da filósofa portuguesa Paula Oliveira e Silva, na entrevista que concedeu,
por e-mail, à IHU On-Line. Esse conceito possui forte racionalidade e aposta na “capacidade
humana de conhecer a realidade e o mundo circundante, na sua condição objetiva”. Para Tomás de Aquino,
“o ius gentium distingue-se do direito natural mas deriva intrinsecamente dele, formando-se pelas solu-
ções que a razão humana dele infere, de modo quase evidente, como conclusões próximas”.
Paula de Oliveira e Silva é pesquisadora no Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, em Portu-
gal. É licenciada em Filosofia, mestre e doutora em Filosofia Medieval. Cursou pós-graduação em Bioética
pela Universidade Católica Portuguesa. De sua produção bibliográfica destacamos Santo Agostinho. Diálo-
go sobre o livre arbítrio (Lisboa: INCM/CFUL, 2001). Confira a entrevista.
IHU On-Line - O que é o ius gentium? (Digesto, II, 4). O direito civil e o dos rio deixou de fazer sentido. Porém, a
Paula Oliveira e Silva - Tanto quanto povos aproximam-se por demais. De noção de ius gentium terá ocupado um
pude entender da investigação que fato, prossegue o texto, todos os po- lugar importante na época do flores-
levei a efeito, ao conceito de ius gen- vos que se regem mediante leis e cos- cimento do Império Romano, quando
tium – que poderíamos traduzir em tumes, fazem uso de um direito que, este não era mais do que um agregado
português por “direito das gentes” em parte, lhes é próprio e em parte de cidades diversas e dispersas. O de-
ou “direitos dos povos” – corresponde é comum a todos os povos. O direito senvolvimento das relações comerciais
uma noção algo difusa, difícil de deter- civil é como que o direito próprio da e a consequente troca de bens e servi-
minar. Deriva do fato de se apresentar cidade onde um povo se organiza. ços tornou premente a necessidade de
como um produto da tradição jurídi- Inversamente, o direito dos povos um entendimento comum aos habitan-
ca romana. Ulpiano, logo no início do é aquele que a razão natural estabele- tes das diversas cidades, mesmo que
Digesto, divide o direito em público e ce entre toda a comunidade humana, provenientes de povos diversos (M.
privado, afirmando que este é triparti- aquele que se conserva de modo equi- Velley, La formation de la pensée ju-
do e deriva ou dos preceitos naturais, valente entre todas as gentes, a modo ridique moderne, p. 342). Os juristas
ou dos povos ou dos civis (Digesto, I, de um direito de que todos os povos romanos reconheciam, por conseguin-
1,1). O direito das gentes situar-se-ia, fazem uso. Como faz notar Velley, a te, um direito natural próprio de todos
então, entre o direito natural e o di- noção de ius gentium não assume um os homens e comum a todas as nações,
reito civil, o que lhe confere à partida papel preponderante no Corpus Iuris promulgado pela razão humana e ex-
uma posição de certo modo ambígua. Civilis, pois o direito dos juristas roma- presso em normas jurídicas.
O direito natural, prosseguem as Ins- nos é sobretudo um direito da cidada-
tituições Justinianas, é aquele que nia e da cidade, um direito civil. Ora, Ius gentium, direito natural
a natureza ensina a todos os animais pelo Édito de Caracala, todos os ha- ou positivo?
– quod natura omnia animalia docuit. bitantes do Império se tornaram cida-
Este direito não é específico do gêne- dãos romanos, pelo que a consideração Mas algumas normas particulares
ro humano, mas de todos os animais de um direito comum ao povo Romano deste direito natural eram cataloga-
que nascem no céu, na terra e no mar e aos outros povos residentes no Impé- das ora como de direito natural, ora
SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342 21
como de direito dos povos. O direito “Daquilo que pude admissão de um direito comum a todos
dos povos seria, neste caso, um direito os povos, decorrente de uma natureza
positivo, pois dependeria da institui- apreender, a proposta de humana também ela comum, supõe
ção humana. Por seu turno, há normas uma postura epistemológica iguamen-
de direito positivo que são apenas váli- um direito comum a te determinada: a convicção de que a
das para alguns povos e cidades. Daí a natureza humana é cognoscível na sua
tripartição que os juristas romanos fa- todos os povos, quer racionalidade e nas manifestações des-
zem do direito propriamente humano ta. Supõe, por isso, um conceito forte
em natural, dos povos e civil. O direito natural, quer positivo, de racionalidade e uma aposta confian-
dos povos seria, então, algo como um te na capacidade humana de conhecer
direito decorrente da natureza huma- supõe, antes de qualquer a realidade e o mundo circundante, na
na, não porque uma tal natureza o sua condição objetiva.
exija de modo absoluto, mas pelas cir- coisa, a concepção de
cunstâncias e pela condição concreta IHU On-Line – Por que esse conceito
do gênero humano, situada no espaço uma natureza humana é resgatado na Segunda Escolástica?
e no tempo. Esta tripartição do direito Paula Oliveira e Silva - Não creio tra-
é transmitida ao mundo medieval atra- comum, caracterizada tar-se exactamente de um “resgate”.
vés de Isidoro de Sevilha e pode ler-se O contexto em que analisei o concei-
nas Etimologias, Livro V, cap. 4-6 (PL, pela racionalidade, to de ius gentium foi efetivamente o
82, 199-200). E é esta discussão que do ensino da filosofia e da teologia na
Tomás de Aquino retoma na II-IIae da integrando-se por isso escolástica medieval. Quer isto dizer
Suma Teológica, no artigo 3, questão que o fiz em contexto do ensino nas
57, recuperando as posições de Gaio e numa concepção universidades. A partir do brevíssimo
Ulpiano e citando Isidoro. Basicamen- artigo 3, da questão 57, da II-IIae de
te, são estas as questões que se discu- naturalista do direito” Tomás de Aquino, parti para os comen-
tem, na escolástica medieval e na tra- tários posteriores, nomeadamente o
dição de comentário àquela questão e de Caetano. Avancei depois para os co-
gico, como é o caso do referido texto
artigo do Aquinate, as quais se man- mentários de Vitória e de Soto, já no
de Tomás de Aquino, e verificar como
têm no século XVI, no período áureo século XVI e produzidos no contexto
cada autor responde à questão sobre
da Escolástica Ibérica. O que está em da Escola de Salamanca, para daí ace-
a fundamentação do direito dos po-
discussão é saber se o direito das gen- der a alguns daqueles produzidos nas
vos. É uma tarefa que excede o meu
tes é um direito natural ou um direito Universidades portuguesas de Coimbra
propósito. Todavia, daquilo que pude
positivo e, em consequência, até que e Évora, na segunda metade do século
apreender, a proposta de um direito
ponto as normas dele decorrentes são XVI (nomeadamente, os comentários
comum a todos os povos, quer natural,
imutáveis – caso em que decorrem de de Antônio de Santo Domingo e de Fer-
quer positivo, supõe, antes de qual-
um ditame da natureza racional – ou, nando Perez). Sendo assim, mais do
quer coisa, a concepção de uma na-
porque de instituição humana, podem, que uma recuperação do conceito de
tureza humana comum, caracterizada
e até, desejavelmente nalguns casos, ius gentium no século XVI, o que pude
pela racionalidade, integrando-se por
devem ser abolidas. verificar foram elementos de conti-
isso numa concepção naturalista do di-
nuidade na doutrina, os quais se pren-
reito. Supõe ainda que uma tal natu-
IHU On-Line - Qual é a sua fundamen- dem, eventualmente, com um fator
reza não se esgota nos indivíduos hu-
tação teórica? externo, inerente à própria organiza-
manos, nem se exaure nas expressões
Paula Oliveira e Silva - Se a questão ção do ensino universitário da Teologia
espacio-temporais que caracterizam o
anterior poderia ser respondida com em torno da Suma Teológica de Tomás
humano na sua individualidade. É, de
base na História e na Filosofia do Di- de Aquino, cujo comentário subsistiu
fato, um bem comum e permite iden-
reito, esta outra indaga os fundamen- paulatinamente aquele das Sentenças
tificar características comportamentais
tos antropológicos e até metafísicos da de Pedro Lombardo. Era assim já em
comuns que estão para além da condi-
concepção romana e depois medieval Paris, ao tempo em que Vitória aí es-
ção geográfica e histórica da vida das
do ius gentium. Seria por isso necessá- tudou e o sistema será importado pelo
comunidades humanas. Em segundo
rio indagar cada um dos textos, desde próprio para a organização dos estu-
lugar, a consideração de um conjunto
aqueles de caráter jurídico, como pode dos em Salamanca.
de princípios comuns que viabilizem
ser o Digesto, àqueles que se inserem
a coexistência pacífica entre os povos
num debate filosófico ou mesmo teoló- Entendimento universal
San Isidoro de Sevilha (560 – 636 d. C.): bis-
implica admitir que a condição humana
po, teólogo, compilador e santo hispanoroma- é por natureza e essencialmente soci-
Do ponto de vista doutrinal, da leitu-
no na época visigoda. Foi arcebispo de Sevilha ável e dada à partilha de bens e tare-
durante mais de três décadas (599-636) e era ra dos comentários dos autores que refe-
considerado um dos grandes eruditos dos pri-
fas. Sem esta dimensão, o ser humano
ri à Suma Teológica, II-IIae, questão 57,
meiros tempos da Idade Média. (Nota da IHU não se realiza como tal. Por último, a
On-Line) a.3 pude verificar a discussão acerca do
Orações Ilustradas.
leis como as da liberdade dos mares e as sensu no horizonte do conceito de ius
dos direitos dos embaixadores em con- gentium ou, se quiser, este adquire um
texto de guerra. Porém, deste modo Vi- novo contexto hermenêutico, à luz da
Acesse em www.ihu.unisinos.br
tória - e Soto ainda com maior evidência discussão sobre a dignidade humana dos
- sublinha o carácter positivo do direito povos indígenas, dos seus direitos, e da
dos povos, enquanto resulta da institui- legitimidade da ocupação dos territórios
ção humana e depende do consentimen- das Américas pela coroa espanhola e
to universal de todos os povos, mais do pela coroa portuguesa. Esse é um debate
que o seu fundamento ex ipsa natura interessantíssimo e pleno de atualidade,
rei, como queria Tomás de Aquino. que se pode seguir de perto, entre ou-
Uma das questões latentes nesta tros textos, pela leitura das Relectiones
discussão é a da origem e legitimidade de Indis de Vitória e também pelos docu-
da escravatura. Os autores que estudei mentos emanados da designada Junta de
coincidem em afirmar que a escravatu- Valladolid, recolhendo a discussão entre
ra - considerada por Aristóteles como Sepúlveda e Las Casas.
uma realidade de direito natural, po- Respondendo diretamente à sua
sição que Tomás de Aquino de certo questão sobre a atualidade do concei-
modo corrobora - é uma norma de di- to de ius gentium diria: sim e não. Por
reito das gentes que pode ser revoga- um lado, o conceito de Direito Inter-
da, e, de fato, o foi, no que se refere nacional, fundado na ideia de um con-
à condição dos prisioneiros resultantes senso universal entre as nações, subs-
dos conflitos armados entre povos cris- titui aquele de ius gentium, da mesma
tãos. Porém, esta afirmação, nestes forma que o jusnaturalismo irá sendo
comentários em particular, é feita de atenuado (e até substituído) pelo di-
um modo pouco determinado. É como reito subjetivo – o direito de fazer uso
se a razão dissesse que assim deve ser, de uma coisa segundo o arbítrio pró-
mas a prática de vida e a organização prio. Por outro lado, não deixa de ser
social da época, contradizendo a razão profícua a compreensão do conceito
dos teólogos, se impusessem como re- de ius gentium e do seu lugar na histó-
alidade irrevogável. ria e na filosofia do direito. De fato, se
ele é atualmente pouco operativo em
IHU On-Line - O ius gentium é um termos de gestão das relações entre a
conceito pertinente nos dias atuais? comunidade internacional, as discus-
Por quê? sões teóricas que lhe estão na base -
Paula Oliveira e Silva - Posso intuir que, o fundamento natural ou subjetivo do
se tivesse dirigido a minha resposta à direito, a objetividade ou subjetivida-
questão anterior para onde ela parecia de da norma jurídica - são hodiernas e
querer dirigir o diálogo, esta questão de máxima pertinência.
SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342 23
A influência de Ockham na Segunda Escolástica
Há um nexo indiscutível entre a filosofia do filósofo nominalista com o pensamento de-
senvolvido pela Escolástica, analisa Alessandro Ghisalberti. Ideias ockhamianas chegam
até a modernidade, em Kant e em sua filosofia moral
G
uilherme de Ockham não foi um nominalista no sentido negativo do termo, explica o filóso-
fo italiano Alessandro Ghisalberti na entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line.
“Neste sentido, muitos filósofos e teólogos da Segunda Escolástica valorizaram a teoria de
Ockham sobre os universais (contra toda forma de realismo dos conceitos), sobre a lingua-
gem científica (contra toda hipostatização de termos como essência, natureza, espaço,
tempo, movimento), e contra a proliferação das distinções que não sejam a distinção real e a de razão
(“‘Não se devem multiplicar entes sem necessidade’; eis a famosa navalha de Ockham!”) Outra contri-
buição importante desse pensador é para a ontologia, filosofia da natureza e da política ao afirmar o
primado do indivíduo em relação ao gênero e à espécie. As influências de Ockham para a Segunda Esco-
lástica são inegáveis, e chegam até a modernidade, na filosofia moral de Kant, por exemplo.
Ghisalberti é professor de História da Filosofia Medieval na Faculdade de Letras e Filosofia da Univer-
sidade Católica do Sagrado Coração de Milão, onde é diretor do Departamento de Filosofia. Membro da
Sociedade Internacional para Estudos da Filosofia Medieval (SIEPM), escreveu diversas obras, das quais
destacamos Introduzione a Ockham (Roma: Bari, 1976) e Guglielmo di Ockham (Firenze: Scritti filosofici,
1991). Confira a entrevista.
IHU On-Line – Qual é a influência de muitos filósofos e teólogos da Segun- Criador”; o indivíduo, qualquer indi-
Ockham sobre a Segunda Escolástica? da Escolástica valorizaram a teoria de víduo pertencente ao mundo do de-
Alessando Ghisalberti - São dois os Ockham sobre os universais (contra vir, do movimento espaço-temporal,
elementos emergentes da historio- toda forma de realismo dos conceitos), é originado do imperscrutável ato de
grafia filosófica mais recente sobre a sobre a linguagem científica (contra liberdade com que o Criador fez sur-
valoração da obra de Guilherme de toda hipostatização de termos como gir o mundo a partir do nada inicial na
Ockham: antes de tudo, o mestre in- essência, natureza, espaço, tempo, vertente dos entes finitos. O indivíduo
glês, considerado o iniciador da “via movimento), e contra a proliferação tem a força de existir e se encontrar
moderna”, não foi um nominalista, das distinções que não sejam a distin- precisamente por sua não-repetibili-
no sentido negativo do termo. Se por ção real e a de razão (“não se devem dade, sua característica singularida-
nominalismo se entende a teoria da multiplicar entes sem necessidade”: de, a qual lhe impede de perder iden-
insignificância do universal, do seu re- eis a famosa navalha de Ockham!). tidade e consistência: sem indivíduos
duzir-se a um flatus vocis, a mera vo- a contingência já seria anulada em seu
calização convencional destituída de Primado do indivíduo esforço de nascer. A influência destas
toda carga semântica ligada ao mundo doutrinas estará muito presente nos
do pensamento e do conceito, Ockham Em segundo lugar, Ockham deu autores franceses do século XV ao
não foi nominalista. Seu nominalismo contribuições inovadoras no plano da XVIII, tanto escotistas como boaventu-
é entendido como um terminismo, ou ontologia, da filosofia da natureza e rianos, os quais reivindicam o primado
seja, como uma teoria do uso rigoroso da política, mediante a afirmação do da liberdade do sujeito contra toda
dos termos (termos mentais, ou con- primado do indivíduo com respeito ao forma de absolutismo da razão (sobre-
ceitos, orais e escritos), correspon- gênero e à espécie: presença não-re- tudo criticando Descartes), ou do po-
dente às peculiares características da petível e irreprimível no cosmo criado der político e religioso.
lógica e da linguagem. Neste sentido, e ordenado pela “infinita potência do
“D
e maneira geral, as notas deixadas pelos eruditos da Segunda Escolástica nas mar-
gens dos manuscritos da Idade Média, sobre as quais eles trabalhavam, são com
frequência mais difíceis de ler do que a escritura dos medievais”. A revelação é da
paleógrafa francesa Jacqueline Hamesse, na entrevista exclusiva que concedeu,
por e-mail, à IHU On-Line. Em sua opinião, a América Latina é o lugar ideal para
se empreender estudos sobre a Escolástica. “A Segunda Escolástica permaneceu por demasiado tempo
ignorada dos pesquisadores. Considerada como filosofia colonial importada principalmente pelos jesuí-
tas, ela não tem sido estudada por ela mesma durante séculos”, assinalou. Ela contou, também, sobre
os projetos de digitalização dos manuscritos e impressos na Europa e Estados Unidos, que podem inspirar
projetos de conservação dos textos deste período.
Jacqueline Hamesse é paleógrafa, professora emérita da Universitè Catholique de Louvain. De sua
produção intelectual, salientamos La vie culturelle, intellectuelle et scientifique à la cour des papes
d’Avignon (Turnhout: Brepols, 2006) e Repertorium initiorum manuscriptorum latinorum medii aevi (Tur-
nhout: Brepols, 2009). Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual é a importância pô-los. Dever-se-ia, então, poder obter IHU On-Line - Que sentido tem em
da Segunda Escolástica para a pale- informações novas a propósito do ensi- estudar a Segunda Escolástica na
ografia? no da escritura, das abreviações ainda América Latina?
Jacqueline Hamesse - Antes de poder em vigor, bem como novas maneiras de Jacqueline Hamesse - A América La-
responder a esta questão, seria neces- abreviar certas palavras, o que permi- tina é o lugar ideal para se fazer este
sário ter previamente um recensea- tirá, no final, reunir esse novo material estudo. Com efeito, a Segunda Esco-
mento de todos os textos conservados, paleográfico para elaborar um dicionário lástica permaneceu por demasiado
que foram escritos durante este perío- de abreviações utilizadas na época. Este tempo ignorada dos pesquisadores.
do. A maioria deles deve ser a obra de servirá, em seguida, a todos aqueles que Considerada como filosofia colonial
eruditos que provavelmente redigiram abordarão a leitura dessa literatura e importada principalmente pelos
em latim. Em sua época os diversos lhes fará ganhar tempo, propondo-lhes jesuítas, ela não tem sido estuda-
tipos de escritura, em vigor durante soluções adequadas para resolver bom da por ela mesma durante séculos.
o período medieval, não eram mais número de problemas de leitura. Os pesquisadores não viam o papel
utilizados. Redigiam-se então os tex- De maneira geral, as notas deixa- desempenhado pelos escritos des-
tos de maneira mais cursiva e as escri- das pelos eruditos da segunda escolás- te período que, de fato, permitem
turas eram, consequentemente, mais tica nas margens dos manuscritos da compreender melhor a Idade Média
personalizadas e menos padronizadas Idade Média, sobre as quais eles tra- e a passagem à época moderna. Ví-
que antes. Esses textos serão, pois, de balhavam, são, com frequência, mais tima deste preconceito, a importân-
maneira geral, menos fáceis de ler e difíceis de ler do que a escritura dos cia das doutrinas filosóficas originais
decifrar. medievais. Haverá, pois, lá todo um que ela ilustra ainda não teve muito
Já que este período ainda é mal co- material novo disponível que deverá impacto sobre os estudos filosóficos.
nhecido e que numerosos textos ainda ser posto à disposição dos pesquisado- E, no entanto, numerosos documen-
não foram editados, a análise desses res para ajudá-los a ler mais facilmen- tos que datam deste período estão
documentos permitirá compreender te certas escrituras mais individuais da reunidos nas bibliotecas deste con-
melhor os métodos utilizados para com- época. tinente e deveriam ser conservadas
T
pelos membros do conselho da SIE-
PM a fim de fazer conhecer melhor ambém chamada de escolástica moderna, tardia ou barroca, a
as realizações aí concretas já exis- Segunda Escolástica abarca o período de 1500 a 1800 e é carac-
tentes no domínio filosófico. Seria terizada “pela necessidade de repensar a compreensão cristã do
indispensável hospedar um evento ser humano assim como as bases de sua convivência em sociedade
científico desta dimensão para sen-
frente às grandes mudanças políticas, sociais e econômicas que
sibilizar os pesquisadores dos ou-
atravessaram o período”. A afirmação é do filósofo gaúcho Alfredo Storck, na
tros países sobe as potencialidades
presentes neste país. Este evento entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele, “um dos
também permitirá pôr em contato traços mais característicos desse movimento é a criação de um modelo de
os participantes europeus e ameri- direito natural no qual o Direito e o Estado são concebidos como fundados
canos com seus colegas dos diversos na concepção teocêntrica cristã da qual é derivada a autoridade do rei,
países da América Latina, intensifi- bem como diversas obrigações éticas e jurídicas”. A respeito da influência da
cando os elos que, em certos casos, escolástica na formação das universidades brasileiras, Storck relembra a im-
já existem e permitindo a todos de portância dos jesuítas desde a formação cultural no Brasil colônia: “Durante
melhor se conhecerem. Depois de todo o período colonial, os principais estabelecimentos de ensino serão os
2007, pela primeira vez na história colégios jesuítas”.
da SIEPM (fundada em 1958), um Graduado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
brasileiro foi eleito membro do bu-
– UFRGS e em Direito pelo Centro Universitário Ritter dos Reis – Uniritter, é
reau (conselho) da Sociedade. Isto
mestre em Filosofia pela UFRGS e doutor nessa mesma área pela Universidade
é um reconhecimento importante
da Comunidade internacional para o François Rabelais, na França, com a tese Les modes et les accidents de l´être:
trabalho já concluído e a qualidade Etude sur la métaphysique d´Avicenne et sa réception en Occident. É pós-dou-
dos trabalhos realizados por certos tor pela Universidade de Paris. Professor no departamento de Filosofia da UFR-
pesquisadores da América Latina. GS, escreveu A filosofia medieval (Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2003)
Graças a este encontro, a SIEPM po- e organizou Norma, moralidade e interpretação: temas de filosofia política e
derá sensibilizar de maneira mais do direito (Porto Alegre: Linus Editores, 2009). Confira a entrevista.
eficaz a comunidade internacional e
conduzir, deste modo, seu padroado
aos projetos futuros concernentes à IHU On-Line - Qual é a influência da convivência em sociedade frente às
Segunda Escolástica. A obtenção de Segunda Escolástica no Brasil? grandes mudanças políticas, sociais e
subsídios e de créditos de pesquisa Alfredo Storck - A Segunda Escolás- econômicas que atravessaram o perí-
locais será facilitada pela presença tica, também conhecida como esco- odo, mas também face às mudanças
da SIEPM no Brasil e valorizará os es- lástica moderna, escolástica tardia provocadas pela reforma religiosa e
forços já realizados por nossos cole- ou ainda escolástica barroca, é o pe- pelos novos modelos científicos sur-
gas deste país. ríodo que vai de 1500 a 1800 e que gidos nos séculos XVI e XVII. Durante
se caracterizou pela necessidade de a Segunda Escolástica, teólogos es-
repensar a compreensão cristã do ser panhóis e portugueses enfrentaram
humano assim como as bases de sua esses desafios com uma intensa ati-
28 SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342
vidade criativa em diversas áreas do nós conhecemos o que ele deixou em
conhecimento e que fazia acompanhar
“A partir de meados do dois manuscritos (que, aliás, eu pre-
a especulação teórica pela atividade tendo editar) e que são um comentá-
mais prática ligada aos assuntos da
século XVI, os jesuítas rio à Física de Aristóteles e um outro
Igreja e pela atuação como conselhei- ao Tratado da Interpretação, também
ros dos reis.
instalam no Brasil (Rio de Aristóteles. Tolossa redigiu esses
Um dos traços mais característicos comentários em um ambiente cultural
desse movimento é a criação de um mo-
de Janeiro, Bahia e Pará) de grande fecundidade entre os jesu-
delo de direito natural no qual o Direito ítas do Colégio das Artes de Coimbra,
e o Estado são concebidos como fun-
colégios semelhantes ao talvez mesmo o período áureo da filo-
dados na concepção teocêntrica cristã sofia portuguesa e que será conhecido
da qual é derivada a autoridade do rei,
Colégio das Artes como a época dos conimbricenses. To-
bem como diversas obrigações éticas e lossa foi o quarto provincial do Brasil
jurídicas. Debates sobre a usura, sobre
português, para o ensino e o seu sucessor foi José de Anchieta,
o valor de troca ou o sobre preço justo personagem com diversas qualidades e
a ser pago por um bem são recorren-
da Filosofia, Teologia e de grande importância também para a
tes, como também o são os problemas literatura brasileira.
ligados à ocupação do novo mundo e à
Humanidades” Durante todo o período colonial, os
condição de seus habitantes. Lembre- principais estabelecimentos de ensino
mos aqui a célebre defesa, por Barto- foi defensor dos índios, opondo-se à serão os colégios jesuítas. Cabe tam-
lomeu de las Casas, de que os índios sua exploração e escravidão, defen- bém salientar que, ainda no século
são seres livres, dotados de dignidade deu ainda a causa dos judeus, o que XVI, os jesuítas tentaram transformar
e que são plenamente capazes de rea- lhe valeu alguns problemas com os do- seus colégios, sobretudo o baiano, em
lizar uma sociedade mais próxima dos minicanos da Inquisição. universidades, mas o pedido encon-
evangelhos. Há ainda debates impor- trou resistência da Coroa portugue-
tantes à época, como a liberdade dos IHU On-Line - A formação das univer- sa, fazendo com que os egressos dos
mares, que envolveu Hugo Grócio, e a sidades no Brasil recebeu influência colégios devessem ir estudar em Por-
defesa da autoridade do rei por direito da escolástica? Se sim, qual seria? tugal. Os primeiros cursos superiores
divino. O Colóquio Anual da Sociedade Alfredo Storck - Antes de falar do sur- são criados com a vinda da família real
Internacional para Estudo da Filosofia gimento das universidades no Brasil, para o Brasil. O primeiro a ser criado
Medieval, que neste ano ocorrerá em convém lembrar alguns fatos acerca é o curso médico de cirurgia da Bahia.
Porto Alegre, enfocará esses temas e da formação cultural no Brasil colônia. Em 1827, surgem os cursos jurídicos
conferirá especial interesse ao pensa- Nesse sentido, não há como não des- em São Paulo e Olinda. Mas esse mo-
mento jusnaturalista. tacar a participação da Companhia de vimento de criação de cursos ocorre
Jesus nesse período, reflexo do papel após a expulsão dos jesuítas do Brasil,
A escolástica no Brasil que os jesuítas exerciam na cultura em 1759. Já a primeira universidade
portuguesa, sobretudo desde que D. a ser criada em nosso país será a Uni-
Quanto à influência da Segunda João III lhes entregou, em 1555, o Co- versidade do Rio de Janeiro, mas isso
Escolástica no Brasil, há diversos as- légio das Artes. A partir de meados do em 1920.
pectos a considerar. Em primeiro lu- século XVI, os jesuítas instalam no Bra-
gar, basta levarmos em conta que os sil (Rio de Janeiro, Bahia e Pará) colé- IHU On-Line - Como os paradigmas
principais expoentes do período per- gios semelhantes ao Colégio das Artes desenvolvidos pela primeira e Segun-
tenciam à Península Ibérica, para per- português, para o ensino da Filosofia, da Escolástica impactaram no direito
cebermos que a difusão de suas ideias Teologia e Humanidades. Os primeiros brasileiro?
esteve associada à expansão marítima cursos superiores de Filosofia e Teolo- Alfredo Storck - A expulsão dos jesu-
e ao processo colonizador espanhol gia no Brasil foram criados na Bahia e ítas de Portugal e do Brasil deve ser
e português. Essa influência deixa-se foram ministrados por Inácio Tolossa vista no contexto político maior das
perceber em diversos aspectos da cul- (teologia) e Gonçalo Leite (dialética mudanças introduzidas pelo Marquês
tura e da vida administrativa do Brasil e filosofia) em 1574. Olhando para a de Pombal (1699-1782) e que levarão
colonial. Um bom exemplo de inte- formação desses professores, teremos à reforma dos estatutos da universida-
lectual do período é o Padre Antônio uma boa ideia de como os cursos eram de portuguesa, em 1772. A Universida-
Veira (1608-1697), nascido em Portu- concebidos. Inácio Tolossa, por exem- de de Évora é extinta e a Universidade
gal, mas que veio com seis anos para plo, era um espanhol que entrou na
o Brasil, estudou no Colégio dos Jesuí- Companhia em 1560 e doutorou-se na Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês
Universidade de Évora. Ensinou por al- do Pombal – 1699-1782): nobre e estadista por-
tas em Salvador e passou boa parte da tuguês. Foi secretário de Estado do Reino du-
vida entre Portugal e o Brasil. Além de gum tempo em Coimbra, fez seus votos rante o reinado de D. José I (1750-1777), sen-
notabilizar-se pelo gênio literário que e solicitou ser enviado para o Japão, do considerado, ainda hoje, uma das figuras
mas veio parar no Brasil. De sua obra, mais controversas e carismáticas da História
conhecemos em seus Sermões, Vieira Portuguesa. (Nota da IHU On-Line)
“U
nascido em Portugal, de mãe portu-
guesa, pai brasileiro, e que veio morar m estudo aprofundado de temas escolásticos, como a
muito cedo no Brasil. Bastante conhe- diferença entre o direito natural e o direito positivo,
cido na literatura brasileira por Marília o problema do mal, e a noção de ‘corpo político’, cer-
de Dirceu, Tomás era, além de poeta, tamente enriqueceriam o debate sobre as bases da po-
jurista. Cursou direito na Universidade lítica latino-americana, desde o período colonial, pas-
de Coimbra, formando-se bacharel em sando pelos processos de independência dos vários estados e chegando até
1768, ou seja, pouco antes da reforma os dias atuais”. A consideração é de João Madeira, filósofo, na entrevista que
dos estatutos. Tomás escreveu um Tra- concedeu por e-mail à IHU On-Line. Para ele, “o aristotelismo português as-
tado de Direito Natural bem ao sabor sume no Brasil, tanto quanto em Portugal, uma posição média e estratégica
do pensamento da Segunda Escolásti-
para uma perfeita concepção da Filosofia, não só como disciplina normativa
ca. Ele cita amplamente os autores do
suscetível de contingências históricas, mas também como atitude reflexiva
direito romano e os autores escolásti-
cos e ataca os jusnaturalistas moder- atemporal. Os missionários e autoridades da administração do Brasil eram
nos, como Pufendorf e Hugo Grócio. egressos daquele ensino”. E lembra que “a escolástica sempre se pautou
Até o momento, mencionei alguns pela abertura a ideias e a saberes de outras fontes, que não se restringiam
aspectos da influência direta da segun- ao familiar e já conhecido”.
da escolástica no Brasil colonial, pois o Graduado em Filosofia pelas Faculdades Claretianas de Batatais e em Teo-
país foi, naquela época, marcado pelo logia pelo Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeiro Preto, João Madeira é
pensamento de autores portugueses. especialista em Filosofia Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica
Todavia, seria um erro pensar que a de Minas Gerais (PUC-MG), mestre em Filosofia pela Universidade Católica de
influência dos grandes filósofos limi- Louvain-la-Neuve e doutor em Filosofia pela mesma instituição, com a tese
ta-se à sua época. No Brasil, um autor Pedro da Fonseca’s Isagoge Philosophica and the Predicables from Boethius to
da primeira escolástica que marcou e
the Lovanienses. Fez pós-doutorado em História das Ciências na Universidade
continua marcando as mentalidades,
de São Paulo (USP). Membro do Centro de Filosofia Brasileira (CEFIB) da Uni-
tanto no mundo jurídico quanto fora
dele, é, sem dúvida, Tomás de Aqui- versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é professor de História da Filosofia
no. A influência do tomismo praticado na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Confira a entrevista.
por diversos filósofos cristãos no sécu-
lo XX é bastante forte, sobretudo na
IHU On-Line - Como a Segunda Es- foi entregue aos jesuítas em 1º de
primeira metade do século passado.
colástica se insere na filosofia no outubro de 1555. Os jesuítas tinham
Mesmo hoje, autores como John Fin-
Brasil? ainda outros colégios em Portugal e
nis, australiano radicado nos Estados
João Madeira - Para contextualizar a a direção da Universidade de Évora.
Unidos e que ensina filosofia do direito
relação entre a Segunda Escolástica O ensino dos jesuítas foi gestado no
em Harvard, reivindica uma versão do
e a filosofia no Brasil, é necessário contexto da Contra-Reforma e ten-
direito natural inspirada em Tomás de
lembrar o fato de que os missionários do como pano de fundo a luta entre
Aquino.
e os encarregados da administração, aristotélicos e antiaristotélicos, que
enviados de Portugal para o Brasil precedeu o surgimento da ciência
ao longo dos primeiros séculos de e da filosofia modernas. Conhecido
Confira nas Notícias do Dia 12-01-2008, do colonização, foram todos formados como Ratio Studiorum, o método
site do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, a no contexto da Segunda Escolástica. de estudos dos jesuítas estabeleceu
entrevista com o Prof. Dr. Wilson Engelmann, Talvez, o caso mais emblemático seja regras para o ensino de disciplinas
intitulada As nanotecnologias, Uma reflexão
ética a partir de John Finnis, disponível para o dos missionários jesuítas. Isto por- como a lógica, a psicologia, a ética,
download em http://bit.ly/9DZ2vQ. (Nota da que o Colégio das Artes de Coimbra as matérias referentes às ciências da
IHU On-Line)
25 a 28 de outubro de 2010
U
ma proposta ambiciosa e necessária para “ativar o interesse pelo estudo e pela difusão
do pensamento da Segunda Escolástica em nível mundial”. Assim o filósofo espanhol Angel
Poncela González define o Projeto Scholastica Colonialis, conduzido por Roberto Hofmeister,
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e Alfredo Culleton, da Universidade
do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos. A respeito da Escola de Salamanca, González afirma que
“não existe um acordo unânime dentro da comunidade científica acerca da natureza, dos traços carac-
terísticos e da relação de autores que a integram”. As reflexões fazem parte do artigo a seguir, escrito
especialmente à IHU On-Line.
Ángel Poncela González é licenciado em Filosofia e em Humanidades pela Universidade de Salamanca.
Sua monografia está em processo de edição e intitula-se As raízes do pensamento jurídico europeu. Teo-
rias da justiça e do direito das gentes. É doutor em Filosofia pela Universidade de Salamanca com a tese
Francisco Suárez, leitor de Metafísica IV e XII. Possibilidade e limite da aplicação da tese Onto-teo-lógica
às disputas metafísicas, também em processo de edição. Desde 2008, é professor no Departamento de
Filosofia e Lógica e Filosofia da Ciência da Universidade de Salamanca e é coordenador do bacharelato da
mesma. Confira o artigo.
Penso que deveríamos situar o Zubiri, deixando à margem toda uma por pensar os problemas de seu tempo
principal influxo de Salamanca preci- plêiade de historiadores cuja menção desde uma ótica aristotélico-tomista.
samente na origem do movimento de seria quase impossível esgotar.
recuperação do pensamento escolásti- Partindo do magistério do domini- Interesses do Império
co medieval, ou seja, da Segunda Es- cano Francisco de Vitoria – catedráti-
colástica. Salamanca e, em concreto, co de Prima Teologia no estudo sala- Tais problemas constituíam os
as aulas de seu “Estudo Geral” na atu- manquense desde 1526 até 1546 e sua mesmos que foram demandados pelo
al universidade, é o lugar no qual se ação de implantar a Suma Teológica sistema político do momento, ou
produziu a renovação da Filosofia Es- como livro-texto, em substituição do seja, a monarquia imperial espanho-
colástica e, de maneira particular, da manual oficial (o conhecido Libro de la caracterizada, entre outras mui-
via tomista, que acabou exaurida no las Sentencias de Pedro Lombardo), tas coisas, por atribuir a si a tarefa
século XIV pelos excessos e sutilezas junto à imposição do método do dita- apostólica da salvação das almas de
das diversas interpretações lógicas às do nas salas de aula –, foi se forjando todo o orbe por meio da evangeli-
quais foi submetida, sendo finalmen- uma tendência filosófica caracterizada zação da doutrina cristã católica. É
te eclipsada pelo humanismo italiano. valho, Pampa. Um espaço humano de promes- a partir deste apostolado, primeiro
Tal recuperação daria lugar ao perío- sas e realizações, concedida à IHU On-Line nº nas Índias e mais tarde no continen-
do histórico que, dentro da Filosofia, 190, de 07-08-2006, disponível em http://mi- te europeu, que surge toda uma sé-
gre.me/16MA9. (Nota da IHU On-Line)
conhecemos como a Segunda Escolás- Xavier Zubiri (1898-1983): filósofo espanhol rie de problemas de tipo pragmático
tica. Assim tem sido reconhecido pela cuja pesquisa e reflexão se concentrou, fun- que o Império deve resolver. São fre-
maioria dos filósofos do século vinte, damentalmente, nos campos da Teoria do Co- quentes, nesta época, as consultas
nhecimento, da Ontologia e da Gnoseologia.
se bem que com diversos matizes, tais Em sua juventude, Zubiri estudou filosofia no dos políticos espanhóis aos teólogos
como Ortega y Gasset, Heidegger ou Instituto Superior de Filosofia da Universidade de Salamanca, presenciais ou me-
José Ortega y Gasset (1883-1955): filósofo de Louvain, na Bélgica. Em 1921, Zubiri obteve diante correio, buscando os modos
espanhol, que atuou também como ativista doutorado em filosofia pela Universidade Com-
político e jornalista. Sobre o autor, confira a plutense de Madrid. No mesmo ano, foi orde- teóricos de harmonizar o que deno-
entrevista concedida por José Maurício de Car- nado diácono. (Nota da IHU On-Line) minamos o “choque de civilizações”
SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342 33
com os interesses do Império espa- do pensamento da Segunda Escolás-
nhol, tanto materiais quanto espiri-
“Desta maneira, a Escola tica em nível mundial. O estudo da
tuais. E, são igualmente frequentes História da Filosofia em geral e, com
as publicações de escritos dos esco-
de Salamanca abandona particular insistência da Filosofia do
lásticos salamanquenses, nos quais século XX, na qual nos educamos como
se oferece resposta aos problemas
sua forma circular jovens investigadores que participa-
gerados pela conquista, por exem- mos do projeto, revela uma reutili-
plo, à questão concreta das Leis No-
perfeita para zação constante, por parte daquelas,
vas (1542); e, em particular, à fór- das metodologias, conceitos e teorias
mula do “requerimento”, ilustrada
converter-se numa herdadas da escolástica, como modo
na apaixonante polêmica sustentada de enfrentar os problemas contempo-
entre Sepúlveda e Las Casas e que
semente comum da qual râneos. Cabe, portanto, pensar não só
terminará nas instruções de Vallado- na genialidade daqueles pensadores
lid, de 1556, nas quais se autorizou
brota o pensamento do período moderno e barroco, senão
o estabelecimento dos espanhóis no na potencialidade daquelas teorias e
Novo Mundo, sem dano nem violên-
moderno conceitos, a fim de serem aplicados
cia aos indígenas. a âmbitos diversos dos originais, de
hispano-americano” maneira semelhante ao modo como
Escola de Salamanca fizeram os membros participantes do
lhes foi demandando sua época. É um
movimento filosófico salamanquense.
eixo que podemos estabelecer desde
Em primeiro lugar, é mister assi- O projeto se encontra, na atuali-
o começo da docência vitoriana até
nalar que, pese ao aparente do caso, dade, em fase de aprovação, embora
meados do século XVII, dois séculos
não existe um acordo unânime dentro caiba pensar que terá uma valoração
que coincidem historicamente com o
da comunidade científica acerca da positiva, dado seu grande interesse.
predomínio da instituição monárquica
natureza, dos traços característicos e Além de fomentar o intercâmbio de
espanhola, no primeiro século, e do
da relação de autores que integram a alunos de mestrado e de investiga-
papado agasalhado pela Companhia
chamada Escola de Salamanca. E, por dores entre todas as universidades
de Jesus, no século seguinte. Des-
isso, é fundamental mostrar, de saí- participantes, se facilitará o acesso
ta maneira, a Escola de Salamanca
da, o conceito que cada investigador e a difusão do conhecimento cientí-
abandona sua forma circular perfei-
maneja acerca da Escola. Se adotar- fico através de ações concretas de
ta para converter-se numa semente
mos uma visão rígida, característica, implementação informática ao cam-
comum da qual brota o pensamento
embora não exclusiva nem excluden- po respectivo; bem como de congres-
moderno hispano-americano. Somen-
te dos estudos puramente teológicos, sos internacionais em cada uma das
te a partir desta concepção ampla e
a escola se vê reduzida à solução dos sedes e seminários de investigação.
flexível - como convém observar -,
problemas que concernem às ques- A Faculdade de Filosofia da Univer-
tem cabimento propor a questão da
tões de fé por parte de um número sidade de Salamanca colaborará de
possível influência do pensamento
de teólogos inferior a trinta. Existe duplo modo: em primeiro lugar, tra-
da Escola de Salamanca na ideologia
na matéria uma relação diretamente tando de levar tudo a termo, dentro
independentista americana. É uma
proporcional entre os enfoques dos das competências específicas enco-
questão interessante, em relação à
investigadores e os interesses de cada mendadas e, em segundo lugar, eco-
qual se tem realizado movimentos de
um de nós. Assim, falamos igualmen- nomicamente. Com o fim de auxiliar
rastreamento muito válidos, dedica-
te da Escola de Salamanca, da Escola na execução do projeto, solicitamos
dos a assinalar a presença de algumas
espanhola de Paz, ou da Escola espa- uma ajuda à Agência Espanhola de
teorias de pensadores desta Escola,
nhola de direito internacional, como Cooperação Internacional, que aca-
concretas e de determinado país, mas
também da Escola espanhola de mo- ba de financiar um novo projeto in-
sobre as quais carecemos hoje de um
ral econômica, ou de Renascimento titulado Scholastica Salmanticensis
estudo de conjunto.
teológico salamanquense do século e que vem complementar o anterior,
XVI, etc. Qualquer uma destas deno- cruzando os objetivos compartilha-
Projeto Scholastica Colonialis
minações é correta, na medida em dos pelas universidades participan-
que corresponde à verdade histórica tes e por ela própria. Esperamos
Acerca do Scholastica Colonia-
contemplada como história dos efei- sinceramente que ambos os projetos
lis, projeto dirigido pelos doutores
tos, ou seja, ao conjunto das diversas logrem o financiamento público ne-
das universidades brasileiras UFRGS
soluções que o numeroso e heterogê- cessário para que possamos desen-
e Unisinos, Roberto Hofmeister e Al-
neo grupo de pensadores, adscritos volvê-los e, assim, oferecer aos alu-
fredo Culleton, hei de comentar-lhes
às diversas cátedras de Salamanca, nos e à comunidade científica novas
que me parece uma aposta tão ambi-
ou antes, educados nesses bancos do idéias e materiais para o estudo e
ciosa como necessária para ativar o
Estudo Geral por mestre e discípu- a reflexão, contribuindo deste modo
interesse pelo estudo e pela difusão
los, apresentaram aos problemas que ao fomento real do conhecimento.
34 SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342
O papel de Salamanca na Segunda Escolástica
Um pensamento complexo e extenso. Assim pode ser definida a filosofia desenvolvida na
Escola de Salamanca, aponta José Luis Fuertes Herreros
M
uito complexo e extenso. Assim é o papel da Escola de Salamanca na Segunda Escolástica,
avalia o filósofo espanhol José Luis Fuertes Herreros na entrevista que concedeu, por e-
mail, à IHU On-Line. A originalidade e as contribuições inovadoras de Salamanca num se-
gundo momento “e, em concreto, de Francisco de Vitoria se devem à sua nova proposta do
pensamento escolástico, o qual parte de uma reta interpretação do sistema tomista. Neste
sentido, Vitoria insiste na distinção entre a ordem natural e a sobrenatural”. E continua: “Em Salaman-
ca, desde a segunda metade do século XV, o pensamento foi se concentrando em torno ao que podia ser
um núcleo de elementos seguros e fundamentais para servir de guia nessa etapa do Renascimento”.
Herreros é catedrático e diretor do departamento de Filosofia e Lógica e do de Filosofia da Ciência,
ambos da Faculdade de Filosofia da Universidade de Salamanca, na Espanha. Confira a entrevista.
IHU On-Line - Qual é o papel de Sala- to, Pedro Martínez de Osma ocupava a obra de Pedro de Osma, para discer-
manca na Segunda Escolástica? a cátedra de Filosofia Moral (1457- nir e orientar os novos tempos é o da
José Luis Fuertes Herreros - O papel 1463) e em 1463 ele acedia à cátedra fé e o relato que a partir dela emerge
de Salamanca na Segunda Escolástica, de Prima Teologia na Universidade de como ordem que dá sentido e inteligi-
a qual pode abarcar desde a segunda Salamanca, sucedendo na mesma os bilidade. É o discurso que, tal como já
metade do século XV até todo o século dominicanos que o haviam precedido, havia acontecido com Santo Agostinho,
XVII, é muito complexo e extenso. Por Lope de Barrientos (1416-1436?) e Ál- ao transfigurar a realidade e colocar-
isso vou restringir-me a dois momentos: varo de Osório (1436?-1463). Pedro de nos num âmbito distinto de significa-
O primeiro, que estaria representado Osma permaneceria em dita cátedra ções e sentido, mostrava as insuficiên-
por Pedro Martínez de Osma (1424- até 30 de abril de 1479. cias dos outros discursos ou filosofias.
1480), a partir da segunda metade do Em tempos posteriores se está A fé, tal como é confessada pela Igreja
século XV, e o segundo que se iniciaria no Concílio de Basiléia (1431-1437 [- no Simbolum quicumque, o credo da
com Francisco de Vitoria (1483-1546), 1449]). Após a experiência do que ha- Igreja universal, é sobre este que ele
quando chega a Salamanca, em 1526, a via sido o cisma de Avignon, fazia-se publicará um importante comentário,
cátedra de Prima Teologia, e nos quais necessário oferecer uma doutrina com- In simbolum quicumque: (1472-1474).
teremos, como algumas das notas dis- provada e segura para guiar e blindar
tintivas importantes, o tomar-se como frente aos perigos da Fé e da Igreja Cristandade resplandecente
guia Santo Tomás para a renovação da e para permitir uma navegação sere-
Teologia, bem como a elaboração de na nestes novos tempos que se haviam E os demais pressupostos, como
uma teoria do direito internacional e aberto. E já estamos no Renascimen- fontes e rios, da mesma forma como
dos povos, uma teoria econômica e a to e ante a diversidade de filosofias e ocorrerá em Melchior Cano em De lo-
incessante proclamação da igualdade linhas de pensamento que se haviam cis theologicis (Salamanca, 1536), que
de todos os seres humanos que “foram aberto. A Universidade de Salamanca de algum modo derivam e são neces-
naturais das terras de lá como de cá”. não iria ser alheia a estas exigências e, sários para vir em socorro e ajudar a
Com respeito ao primeiro momen- sentindo com estes tempos e, desde a fé: obsequium rationale da razão à
fidelidade à Igreja, trataria de dar res- fé, o valor da tradição e dos doctores
FUERTES HERREROS, J. L. Lógica y Filosofía
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en la Universidad de Salamanca, siglos XII-
posta às mesmas. E Pedro Martínez de antiqui, não às novidades e às coisas
XVII, In: Luis E. Rodríguez-San Pedro Bezares Osma seria um de seus mestres mais não necessárias ou supérfluas, retóri-
e Juan Luis Polo Rodríguez (Coord.), Historia notáveis em buscar e encontrar o ca-
de la Universidad de Salamanca, vol. III, 1: Frei Melchior Cano (1590-1560): teólogo
Saberes y confluencias (Ediciones Universidad
minho adequado. espanhol, entrou na Ordem dos Pregadores
de Salamanca 2006), p. 491-586. (Nota do en- O principal pressuposto que envolve no convento de Salamanca. (Nota da IHU On-
trevistado) Line)
“A
o lado das ordens religiosas mais antigas dos franciscanos e dominicanos, são os
jesuítas que, no âmbito da segunda escolástica, já no século XIII desenvolveram
ulteriormente o emergente conceito da ‘formação pela ciência’, tornando-a o fun-
damento da formação para as pessoas da modernidade”. A afirmação é do filósofo
alemão Ludger Honnefelder, em entrevista por e-mail à IHU On-Line. Segundo ele,
através do método do Direito natural, “os jesuítas desenvolveram uma ética e um direito que ultrapassa
as culturas e permite uma ação responsável em vista da moderna ampliação e transformação do Velho
no Novo Mundo”.
Ludger Honnefelder é professor emérito de Filosofia da Universidade de Bonn, na Alemanha. Em 1999
foi diretor do Centro de Referência Alemã para a Ética nas Ciências da Vida. Cursou Filosofia nas univer-
sidades de Bonn, Innsbruck e Bochum, na Alemanha. Tem doutorado e pós-doutorado em Filosofia pela
Universidade de Bonn. Confira a entrevista.
“A
produção de metano é outro problema ambiental grave que pouco se discute. A hi-
drelétrica vendida com energia limpa e renovável é na verdade uma falsa solução
para o combate às mudanças climáticas, pois produz grandes quantidades de metano
devido à massa verde submersa pelo lago e sedimentos carreados pelo rio e deposi-
tados no fundo do lago. As hidrelétricas podem ter o mesmo grau de poluição de uma
termelétrica”, afirmam Lucia Ortiz e Bruna Cristina Engel, da Organização Não-Governamental Amigos
da Terra Brasil, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. Elas contribuem para o debate levan-
tado na última edição da revista, sobre as hidrelétricas no Rio Grande do Sul (http://bit.ly/cvHKgp).
Lucia Ortiz é coordenadora do Núcleo Amigos da Terra e do GT Energia do Fórum Brasileiro de ONGs
e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. É geóloga e mestre em Geociências.
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Como os Amigos da Ter- deve-se ao fato da concentração no de hidrelétricas. Para o Brasil crescer,
ra Brasil definem hoje a política de Brasil dos setores industriais eletroin- precisamos de mais energiai Essa é a
construção de hidrelétricas no Brasil tensivos, voltados à exportação de frase que ouvimos durante décadas e
e no Rio Grande do Sul, principal- alumínio, ferro, aço, celulose e a pro- que caracteriza um sistema de cresci-
mente na região do Alto Uruguai? dução de cimento, que tem na água e mento econômico atrelado a processos
Lucia Ortiz e Bruna Engel - Uma po- na energia barata uma fonte de lucro. industriais altamente dependentes de
lítica atrasada que prioriza os inte- Obviamente as indústrias são o prin- grande quantidade de energia e bens
resses do setor industrial sem avaliar cipal consumidor de energia no país e naturais que não vêem na destruição
outras dimensões senão a econômica. batem constantemente seus recordes dos rios um limite para o seu cresci-
Enquanto o setor elétrico apresenta de consumo: no mês de julho consu- mento. Com financiamento público
supostas novas estratégias de comuni- miram 15.915 GWh (Gigawatts hora), através do BNDES (principalmente
cação e de opções técnicas, como as 13,7% a mais que o mesmo período do fundos de pensão), licenciamento am-
tais “usinas plataforma”, os projetos ano passado. biental feito a toque de caixa, audiên-
são os mesmos inventariados que lo- cias públicas de fachada e atropelo da
tearam os rios brasileiros na ditadura Cresce demanda total legislação ambiental, grandes grupos
militar e são impostos com o mesmo por energia elétrica industriais como a Votorantin Cimen-
autoritarismo que desconsidera outras to, Alcoa Alumínio S.A., Vale, Gerdau,
opções e demandas por melhores con- Dados da EPE revelam também que CPFL Energia, GDF Suez, CSN, Camargo
dições de vida por parte das popula- a demanda total por energia elétrica Corrêa, Andrade Gutierres, Bradesco e
ções regionais. cresceu 8,5% comparada com igual outros são considerados os donos do
Segundo a Empresa de Pesquisa período do ano passado. A leitura rio Uruguai. As hidrelétricas são proje-
Energética (EPE), o setor industrial foi que pode ser feita desses dados é o tadas e construídas sem respeito pela
responsável pelo consumo de 46,1% da aumento do poder de consumo da ati- população local e sem objetivar o seu
energia elétrica em 2008, enquanto o vidade industrial, e o resultado disso abastecimento energético. A energia
setor residencial por apenas 24%. Este são mais investimentos em construção gerada e lançada no SIN – Sistema In-
desbalanço na distribuição de energia terligado Nacional – atende a demanda
40 SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342
de indústrias instaladas em todo o Bra-
sil. Ou seja, se a Alcoa está precisando
“Para o Brasil crescer, fertilizantes agrícolas. A partir da li-
beração da exploração mineral em
de energia para transformar a bauxi-
ta lá no Pará e é oportuno construir
precisamos de mais todo território nacional para fabrica-
ção de fertilizantes, encabeçada pela
uma hidrelétrica aqui no sul, ela o faz,
joga a energia produzida no SIN e paga
energia. Essa é a frase Vale, a produção de energia precisa
acompanhar o crescimento do setor
um valor subsidiado muito inferior ao
MWhora que pagamos os cidadãos e ci-
que ouvimos durante do agronegócio que, ao contrário do
modelo da agroecologia, é altamente
dadãs brasileiros. A região do rio Uru-
guai não é diferente do resto do país.
décadas e que intensivo em energia, consumida na
fabricação destes insumos, bem como
O rio Uruguai é um rio de corredeiras
encalhado na serra da mata atlântica,
caracteriza um sistema no uso de maquinário pesado e na lo-
gística ineficiente de distribuição glo-
entre os estados do Rio Grande do Sul
e Santa Catarina e com alto potencial
de crescimento balizada. Outra demanda é a produção
e exportação de celulose, também um
elétrico, 12.816 MW ou 5,1% do poten-
cial nacional, dos quais 5.186MW já
econômico atrelado a setor eletrointensivo que tem crescido
sua autoprodução de energia utilizan-
foram aproveitados e o restante está
inventariado. As sete usinas já instala-
processos industriais do resíduos madeireiros e carvão mi-
neral nos seus processos industriais,
das geram aproximadamente R$3,2bi
anuais de lucro para os consórcios que
altamente dependentes mas também investido em projetos
conjuntos de geração hidrelétrica. No
possuem a concessão das usinas. As
hidrelétricas são obras gigantes, de
de grande quantidade de Rio Grande do Sul, onde o Pampa está
sendo dizimado por monoculturas de
lucros vultuosos e estão totalmente
atreladas a um modelo explorador e
energia e bens naturais árvores exóticas para atender a de-
mandas das plantas de produção de
exportador que nada tem a ver com o
desenvolvimento equilibrado e equita-
que não vêem na celulose, estas se erguem como gigan-
tes famintos de energia, água, terras,
tivo das regiões do país. destruição dos rios um madeira e mão de obra barata.
* Doutora em Ciências da Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, pro-
fessora do mestrado em Políticas Públicas e do curso de Comunicação Social da Universidade Fede-
ral do Piauí – UFPI, e líder do Grupo de Pesquisas COMUM/UFPI. Email: jacdourado@uol.com.br.
Entrevistas especiais feitas pela IHU On-Line e disponíveis Usina de Estreito e seus impactos socio-
nas Notícias do Dia do sítio do IHU (www.ihu.unisinos.br) de ambientais
31-08-2010 a 03-09-2010. Entrevista com Cirineu da Rocha, co-
ordenador do Movimento dos Atingidos
Direito, trabalho e novas tecnologias por Barragens (MAB)
Entrevista com Marcos Wachowicz, pro- Confira nas Notícias do Dia de 02-09-2010
fessor na Universidade Federal de Santa Disponível no link http://bit.ly/b00Zfi
Catarina Cirineu da Rocha comenta a situação dos moradores que
Confira nas Notícias do Dia de 31-08-2010 vivem próximo à obra da nova usina hidrelétrica na divisa
Disponível no link http://bit.ly/bga9OE do Tocantins com o Maranhão. Segundo ele, a construção da
Marcos Wachowicz propõe uma discussão sobre o uso das hidrelétrica na cidade de Estreito, no Maranhão, irá atingir
novas tecnologias e defende que a partir delas o esforço doze cidades, povos indígenas, ribeirinhos e outras pessoas
humano, que antes era braçal, virou intelectual. E ques- que dependem do rio.
tiona: “Qual sociedade nós queremos para o futuro?”.
O Brasil em chamas
Quatro rios unidos contra as Entrevista com Saulo Freitas, professor
“monstro-hidrelétricas” na Universidade Federal do Rio Grande do
Entrevista com Telma Monteiro, coordena- Norte e no Instituto Nacional de Pesquisas
dora de Energia e Infraestrutura Amazônia da Espaciais – INPE
Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé Confira nas Notícias do Dia de 03-09-2010
Confira nas Notícias do Dia de 01-09-2010 Disponível no link http://bit.ly/975R99
Disponível no link http://bit.ly/9VeUrV De acordo com o físico Saulo Freitas, o mês de setembro
Telma Monteiro, comenta sua participação no I Encontro dos deve seguir a tendência do mês de agosto, com tempo
Povos e Comunidades Atingidas e Ameaçadas por grandes pro- extremamente seco em função das queimadas. Ele ex-
jetos de infraestrutura, nas bacias dos rios da Amazônia: Ma- plica que “a fumaça fica na atmosfera por uns 10 dias,
deira, Tapajós, Teles Pires e Xingu, que aconteceu em Itaituba, mas os gases do efeito estufa ficam centenas de anos”.
no Pará. Mais de 600 pessoas protestaram contra Belo Monte.
informações em www.ihu.unisinos.br
Data: 6-9-2010
Evento: EAD - Jesus e o Reino no Evangelho de Marcos
SEGUNDA ETAPA - JESUS RESPONSÁVEL PELA VIDA (Mc 1,16-3,6)
Dia 8-9-2010
Evento: Ciclo de Estudos em EAD: Sociedade Sustentável
A questão energética no mundo contemporâneo
Dia 9-9-2010
Evento: Ciclo de Palestra Jogue Roayvu: História e Histórias dos Guarani. Pré-evento do XII Simpósio
Internacional IHU: A Experiência Missioneira: território, cultura e identidade
Profa. Dra. Maria Cristina Bohn Martins – Unisinos
As missões e reduções dos Guarani
Evento: Ciclo de Filmes e Debates - Subjetividade e Normalização: Discutindo políticas de identidade
e saúde mental na sociedade contemporânea - Pré-evento ao XI Simpósio Internacional IHU: O
(des)governo biopolítico da vida humana
Prof. Dr. Carlos A. Gadea - PPGCS/ Unisinos
Exibição e debate do Filme Blade Runner, de Ridley Scott (EUA)
Dia 13-09-2010
Evento: XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana
Conferências simultâneas: Prof. Dr. Paulo C. Leivas - MP/RS, Prof. Dr. Márcio Seligmann-Silva -
Unicamp. Abertura: Prof. Dr. Frédéric Gros – Université de Paris XII
XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana
Evento: Ciclo de Estudos em EAD – Repensando os Clássicos da Economia - Edição 2010
As concepções teórico-analíticas e as proposições de
políticas econômica de KEYNES - John Maynard Keynes, 1883-1946
É possível reverter as mudanças e pela 350.org, campanha que busca e atitudes pessoais e coletivas com as
climáticas? Segundo Julia Marton-Le- soluções para a crise climática a par- necessidades dos ecossistemas da na-
fèvre, diretora-geral da União Interna- tir de uma conscientização em torno tureza, para que toda a fauna e a flora
cional pela Conservação da Natureza das 350 partes por milhão de CO2, taxa do mundo e do universo possam viver,
– UICN, que reúne governos, ONGs e que, se for superada, segundo os cien- florescer e ser preservadas”.
cientistas, em entrevista à IHU On- tistas, acelerará ainda mais os danos Dentro desse espírito ecumênico, o
Line (http://bit.ly/bqpWNW), “o im- causados pelo aquecimento global, Instituto Humanitas Unisinos – IHU tam-
pacto das mudanças climáticas (…) que são já visíveis. bém se somou à campanha 10:10:10 e
se tornarão sempre mais graves se as Outra grande parceria da campa- publicará diversos materiais de cons-
emissões de gás de efeito estufa não nha 10:10:10 é o Conselho Mundial cientização e reflexão sobre o Tempo
forem imediatamente reduzidas”. Fe- de Igrejas, que organiza anualmente da Criação, nas Notícias do Dia, nas
lizmente, afirma, “a natureza também o “Tempo da Criação”, um período Entrevistas do Dia, no Blog do IHU e
está em condições de nos fornecer privilegiado para que as igrejas cris- na revista IHU On-Line, assim como irá
utensílios poderosos para lutar contra tãs reflitam e rezem pela proteção do dar passos concretos nesse sentido.
as mudanças climáticas”. meio ambiente “como Criação divina Uma iniciativa é a publicação, nas
Talvez, um dos “utensílios” mais e herança compartilhada”, nas pala- Notícias do Dia, publicadas de segunda
poderosos fornecidos pela natureza vras do Patriarca Ecumênico da Igreja a domingo no sítio do IHU, de reflexões
contra as mudanças climáticas seja, Ortodoxa, Bartolomeu I. Neste ano, sobre as principais leituras das celebra-
em primeiro lugar, o próprio ser hu- excepcionalmente, o Tempo da Cria- ções dominicais do Lecionário Comum
mano. “Cabe a cada um adotar gestos ção irá encerrar no dia 10 de outubro, das Igrejas Cristãs. Entre os dias 5 de
ecológicos no cotidiano”, diz Marton- para se unir à campanha 10:10:10 com setembro e 10 de outubro, sempre aos
Lefèvre. E esse é o desafio proposto orações, vigílias e ações concretas. O domingos, serão publicados textos de
pela campanha mundial 10:10:10. A tema deste ano – Criação florescen- autoria do reverendo anglicano inglês
proposta é assumir o compromisso de te: Um momento para a celebração e Keith D. Innes, membro do Churches To-
reduzir 10% do consumo de carbono ao o cuidado – também está relacionado gether in Britain and Ireland (www.ctbi.
longo de um ano, a partir do dia 10 de ao Ano Internacional da Biodiversidade org.uk), órgão ecumênico que reúne
outubro de 2010. das Nações Unidas. diversas Igrejas cristãs dos dois países
Nessa data, serão realizadas inú- Por ocasião do Dia da Proteção do nórdicos. Os artigos buscam incentivar
meras ações concretas e de conscien- Meio Ambiente, celebrado pela Igreja e apoiar estas igrejas na observação do
tização em todo o mundo, para que Ortodoxa no dia 1º de setembro, o Pa- Tempo da Criação a partir das leituras
esse seja o dia com o maior número triarca Ecumênico Bartolomeu I divul- bíblicas, para a proteção da criação de
de ações positivas contra as mudanças gou uma mensagem em que convoca os Deus e a promoção de estilos de vida
climáticas da história. O foco é a re- fiéis a “tomar parte na batalha titânica sustentáveis.
dução das emissões de CO2 e um menor e justa para aliviar a crise ambiental As Notícias do Dia também inicia-
consumo de carbono. e prevenir os resultados ainda piores ram a publicação de uma seção cha-
A campanha é promovida pela 10:10 que derivam de suas consequências. O título da primeira reflexão é “Tempo
Global, organização fundada em 2009 Motivemo-nos a harmonizar nossa vida da Criação”: Soberania de Deus, respon-
por Franny Armstrong, diretora do fil- Sobre Bartolomeu I leia mais nas Notí- sabilidade humana e está disponível em
me-documentário A Era da Estupidez, cias do Dia do sítio do IHU em http://bit. http://bit.ly/cRSA7T (Nota da IHU On-
ly/aBPk2F (Nota da IHU On-Line) Line)
52 SÃO LEOPOLDO, 06 DE SETEMBRO DE 2010 | EDIÇÃO 342
mada “Faça a sua parte” como mais 2. Consuma produtos locais: o trans- de TV que falam sobre meio ambiente e
um gesto concreto de participar da porte de produtos que vêm de longe desenvolvimento sustentável.
campanha 10.10.10 e do Tempo da consome petróleo e aumenta o efeito 12. Não use papel: utilize a tecnolo-
Criação. estufa. gia digital para enviar e receber do-
O IHU também está divulgando e 3. Diminua a temperatura de gela- cumentos e para se informar. Assim,
participando da campanha do Dia sem deiras, ar condicionados e estufas no você salva árvores e não polui com o
Carro, no dia 22 de setembro. inverno e aumente no verão: assim, transporte.
Além disso, no Blog do IHU, também você vive melhor e polui menos. 13. Escove os dentes, mas com inte-
serão disponibilizados subsídios para 4. Use melhor os eletrodomésticos: ligência: se deixar a torneira aberta,
uma semana de oração pela Criação, desligue o computador e a televisão você joga fora 30 litros de água. Abra
entre os dias 4 e 10 de outubro. Pre- quando não são utilizados. O modo a torneira só quando for preciso.
parados pela pastora valdense italiana stand-by consome energia e, portan- 14. Use lâmpadas econômicas: conso-
Letizia Tomassone, vice-presidente da to, polui. mem cinco vezes menos e duram 10
Federação das Igrejas Evangélicas da 5. Pegue sol. Como? Com painéis so- vezes mais.
Itália – FCEI, os momentos de oração, lares. 15. Coma de forma sadia, prefira o or-
de segunda-feira a domingo, são com- 6. Troque (se puder) de carro; prefira gânico: é um método de cultivo que
postos por uma leitura bíblica, infor- os movidos a gás ou etanol. E, princi- respeita o meio ambiente.
mações científicas sobre a ecologia e a palmente, use-os o menos possível. 16. Coma com consciência: os ham-
Criação, gestos concretos que podem 7. Fique com os pés no chão: os aviões búrgueres são bons, mas, para serem
ser feitos no dia a dia para preservar a provocam 10% do efeito estufa mundial. produzidos, destroem florestas intei-
natureza e uma oração final. 8. Coma frutas e verduras (se orgâni- ras. Pense nisso.
Para dar um pontapé inicial nos ges- cas, melhor): carne de ovinos e carne 17. Um banho é bom se dura pouco:
tos concretos em torno da proteção da de bovinos são responsáveis por 18% em três minutos, você consome 40 li-
Criação, buscando a meta proposta pela das emissões mundiais de gás carbôni- tros d’água. Em 10 minutos, mais de
campanha 10:10:10, publicamos aqui 20 co, além de favorecer o desmatamen- 130 litros.
medidas simples e inteligentes que po- to devido à sua exploração intensiva. 18. Pense sempre que todo objeto que
dem ser realizadas em nosso cotidiano 9. Use fraldas ecocompatíveis: a bio- você usa irá se tornar lixo: faça com
para ajudar o meio ambiente e reduzir o degradação das fraldas tradicionais que ele dure o máximo possível.
nosso consumo de carbono e emissão de leva 500 anos. 19. Usar e jogar fora? Não, obrigado. Por
CO2. As sugestões também são de auto- 10. Para conservar os alimentos, use exemplo, use pilhas recarregáveis: po-
ria da pastora Letizia Tomassone. vidro e não alumínio ou plástico: estes dem ser recarregadas até 500 vezes.
poluem e, para a sua produção, o des- 20. Faça a coleta seletiva: é a con-
1. Faça de conta que as sacolas plásti- perdício energético é enorme. tribuição mais inteligente e mais im-
cas não existem: use bolsas e sacolas 11. Informe-se com inteligência: exis- portante que você pode dar ao meio
de algodão para carregar compras. tem centenas de sítios, revistas e canais ambiente.
Informações www.ihu.unisinos.br
N
ascido em Porto Alegre e apaixonado pela internet, o professor Hélio Paz,
do curso de Comunicação Digital da Unisinos, conta nesta entrevista os prin-
cipais aspectos de sua trajetória pessoal e profissional. Encantado com a
carreira acadêmica, ele relata sua experiência em sala de aula e ainda
divide um pouco da sua visão de mundo e seus sonhos. Confira:
Origens – Nasci em Porto Alegre. da escola. Assim que acabei o tercei- ternet, vi um anúncio de que estavam
Meu pai era engenheiro de minas e ro ano, passei no vestibular da UFRGS precisando alguém para trabalhar com
metalurgia, trabalhava na rede ferro- para Jornalismo. Depois, quando esta- criação. Comprei um livro de HTML e
viária federal. Minha mãe sempre foi va no terceiro semestre, pedi transfe- aprendi a desenhar uma página. Fiz
dona de casa. Tenho três irmãos e eu rência interna para Publicidade. Não a entrevista e entrei em 1997 para a
sou o filho mais novo. Quando eu nas- é que eu não tenha gostado do Jorna- empresa que virou o Zaz que, depois
ci meu pai já estava estabelecido em lismo, mas criei mais afinidade com os de comprado pela Telefônica, virou
Porto Alegre. Meus irmãos passaram colegas de Publicidade e, ao mesmo Terra. Fiquei um ano e meio ali. Nesse
por uma época em que meu pai, que tempo, comecei a descobrir qualida- meio tempo eu dava alguns cursos de
recém tinha iniciado a carreira, era des minhas que eu não conhecia até Photoshop. Em 2002, o professor Alex
transferido de cidade em cidade. Me então, de trabalhar com foto e mani- Primo, da UFRGS, estava saindo para
criei no Bairro Auxiliadora, um bairro pular imagem com computação gráfi- fazer o doutorado e me avisou que
de classe média, com amigos que te- ca. Passei a gostar muito de tudo isso, abriria vaga para professor substitu-
nho até hoje. Foi uma infância diver- que eram coisas mais relacionadas com to. Ele sabia que eu queria dar aula.
tida, andando de bicicleta, brincando a Publicidade. Depois de vários anos Eu levei a documentação até lá, fui
de esconde-esconde, pulando dentro tentando, passei na seleção do mes- aprovado e fiquei um ano dando aula
da casa dos outros, porque não tinha trado em Ciências da Comunicação da como substituto na UFRGS. Essa expe-
grades. A gente jogava futebol e sem- Unisinos, que concluí em 2009. riência foi fantástica e decidi que não
pre fazia algum outro esporte, como queria saber de fazer outra coisa na
natação, karatê ou judô. Paixão pela internet - Descobri a vida. Também trabalhei um semestre
internet no final da faculdade. E pas- na Unifra, em Santa Maria. Mas quan-
Formação – Estudei em colégio pú- sei a me apaixonar por esse universo. do terminei o mestrado, não tinha ins-
blico, na Escola General Daltro Filho. Dentro da UFRGS, no Centro de Pro- tituição para lecionar. Praticamente
Era uma escola muito boa se comparar- cessamento de Dados – CPD, eles da- quase um ano depois da minha defesa
mos com o ensino público de hoje. Fui vam uma conta de e-mail para a gen- fui chamado pelo professor Daniel Bit-
privilegiado e talvez eu seja da última te. Não existia nem web ainda, não tencourt para trabalhar na Comunica-
geração que pegou o ensino público tinha interface gráfica. Era tudo por ção Digital da Unisinos. Estou bastante
de uma qualidade excelente. Os pro- linha de comando, bem rudimentar. satisfeito, porque é um curso de van-
fessores de todas as disciplinas eram Mesmo assim já se podiam estabelecer guarda. Nosso currículo não tem igual
ótimos. Depois, fiz o segundo grau no relações com as pessoas. Quando apa- no Brasil. Temos uma divisão clara en-
Instituto Porto Alegre - IPA, que é uma receu a web, comecei a utilizar acesso tre a prática e a teoria.
escola particular. Todo mundo teria discado em casa, mas era muito lento,
continuado no Daltro Filho se tivesse uma carroça. União – Vivo com a Lúcia, minha
segundo grau. O IPA dava muita ênfase companheira, há mais de cinco anos.
aos esportes. Eu não cheguei à seleção Trajetória profissional - Comecei Leia uma entrevista exclusiva com Alex
nenhuma porque eu não tinha tanta trabalhando em algumas agências de Primo, publicada nas Notícias do Dia do
habilidade, mas fui do grupo de teatro publicidade. Já familiarizado com a in- sítio do IHU e disponível em http://bit.
ly/dzOKF0 (Nota da IHU On-Line)
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Não tenho filhos. Ela tem um fi- O que não posso praticar, gosto de cer. Percebo que estamos lidando
lho do primeiro casamento, que assistir. Ah, e sou gremista. com pessoas especiais, com um
já tem 21 anos, o Leo. Ele não propósito muito humano em tudo
mora com a gente. E nós moramos Sonhos – Tenho vários sonhos. o que fazem. O espírito da Uni-
com a minha mãe, que é viúva. Eu Um deles é que quero que todos sinos é de trabalhar em prol das
tenho vontade de ter filhos, mas saibam que aquilo em que eu par- comunidades onde ela está inse-
a Lúcia já vai fazer 43 anos. Não ticipei, no esforço conjunto com rida. E é isso o que faz com que
sei se a gente arrisca ou se de re- várias outras pessoas, levou a um a Unisinos seja hoje uma das me-
pente adotamos uma criança mais passo além. Outro sonho é entrar lhores universidades particulares
adiante. Eu sou filho adotivo. No no doutorado. Quero seguir a vida do país e a melhor da região sul.
começo eu tinha uma certa pre- no ensino, na pesquisa e na exten- É um privilégio, uma responsabi-
ocupação em relação a isso, mas são. Sonho em ver uma socieda- lidade e um orgulho muito grande
agora já não tenho mais. A Lúcia de com mais conhecimento, com estar aqui.
trabalha o dia inteiro em uma far- mais segurança e mais saúde. O
mácia e faz faculdade de História grande problema é a baixa auto- IHU – Visito seguidamente o
da UFRGS, estando 12 horas ocu- estima das pessoas, principalmen- site do IHU para ler as matérias,
pada todos os dias. Então agora te nas camadas mais populares. pego algumas revistas e cadernos
quero mais é ajudá-la a concluir do IHU para ler e gosto muito.
o curso. Unisinos – Sensacional. Aqui Esse trabalho é muito difícil de
na universidade é muito difícil encontrar em qualquer universi-
Nas horas livres – Gosto de ci- chegar em algum setor e encon- dade. Até porque aqui dentro da
nema, de assistir vários tipos de trar um funcionário de má von- Unisinos o IHU é muito divulgado,
filmes, de drama, comédia e filme tade ou alguém que não tenha a é apresentado para toda a comu-
europeu. Adoro esportes em geral. informação correta para ofere- nidade.
Platão e os guarani
O texto Platão e os Guarani, de autoria da Prof. Dra. Be-
atriz Helena Domingues, da UFJF, acaba de ser publicado
no número 140 dos Cadernos IHU ideias, cuja versão em
PDF estará disponível no sítio do IHU dia 08 de setembro.
A publicação é mais um subsídio para o XII Simpósio Inter-
nacional IHU – A Experiência Missioneira: território, cul-
Apoio:
tura e identidade, que acontece em outubro na Unisinos.
A versão impressa pode ser adquirida na Livraria Cultural
da Unisinos. Saiba mais em http://bit.ly/bn5tcH