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Pontes de Miranda, Tomo 49
Pontes de Miranda, Tomo 49
DE DIREITO PRIVADO
PARTE ESPECIAL
TOMO XLIX
Contrato de sociedade. Sociedades de pessoas.
TÍTULO LI
CONTRATO DE SOCIEDADE
PARTE 1
CAPITULO 1
§5.168. Conceito de sociedade. 1. Elementos para a definição. 2. Fim da sociedade e objeto social. 3.
5. Sindicatos
CAPITULO II
§ 5.175. 5.176.
Sociedades de pessoas
CAPÍTULO 1
7. Prazo do contrato
CAPÍTULO III
§ 5.181. Validade e invalidade do contrato social. 1. Distinção entre contrato, estatutos e registo. 2.
Nulidade e anulabilidade do contrato social
CAPÍTULO iv
§ 5.183. Início e extinção da eficácia. 1. Início. 2. Extinção da eficácia. 3. Fontes dos poderes de
órgão. 4. Poderes dos gerentes. 5. Oposição do sócio a atos do sócio gerente. 6. Abuso do poder de
presentação. 7. Princípio da liberdade de escolha dos órgãos
§ 5.184. Responsabilidade interna dos sócios. 1. Responsabilidade quanto à prestação feita. 2. Danos
à sociedade ou a outros sócios. 3. Patrimônio da sociedade e gestão. 4. Danos a bens dos sócios. 5.
Lucros ilícitos
interna e externa. 2. Poder dos sócios e poder dos órgãos. 3.Responsabilidade da sociedade pelos
atos dos órgãos.4.Aquisição de bens pelo órgão da sociedade. 5. Assembléia geral. 6. Administração
da sociedade. 7.
CAPÍTULO vi
SOCIEDADES COMERCIAIS EM GERAL
§ 5.191. Capital social e entradas. 1. Capital e prestações dos sócios.2. Momento da prestação. 3.
§ 5.193. Registo do contrato social. 1. Arquivamento e registo. 2.Prazo para o registo. 8. Antes do
registo do contrato social. 4. Firma e composição. 5. Pressupostos da criação da firma. 6. Princípio
da unicidade da firma. 7.
§ 5.194. Registo das firmas sociais. 1. Preliminares. 2Falta do registo da firma. 3. Nome
PARTE III
CAPÍTULO 1
§ 5.199. Conceito da. sociedade em nome coletivo. 1. Precisões e dados históricos. 2. Conceito. 3.
Nome e teorias sobre sociedade em nome coletivo
CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
§ 5.207. Funções de gerência . 1. Distribuição das funções. 2. Precisões. 3. Sócio gerente e poderes
de gestão. 4.
§ 5.208. Relações jurídicas da sociedade. 1. Relações jurídicas internas. 2. Relações jurídicas dos
sócios entre si.
CAPÍTULO iv
§ 5.210. Liquidação das sociedades em nome coletivo 1. Regras jurídicas gerais. 2. Cláusula sobre
liquidação PARTE IV
CAPÍTULO 1
§ 5.211. § 5.212.
CAPÍTULO ii
§ 5.215. § 5.216.
Validade do contrato. 1. Figurantes, conteúdo e forma do contrato. 2. Invalídade e quota Eficácia do
contrato social. 1. Preliminares. 2. Proibição de imissão. 8. Responsabilidade dos socios
comanditantes.4.Responsabilidade dos sócios comanditários. 5. Ação do sócio comanditário a
respeito de quotas.
CAPÍTULO iv
§ 5.217. § 5.218.
§ 5.222. Relações juridicas entre os sócios e com terceiros. 1. Relações jurídicas entre os sócios. 2.
Relações jurídicas dos socios com terceiros. 3. Quotas nos bancos
CAPÍTULO
CAPÍTULO i
§ 5.225. § 5.226.
CAPÍTULO ii
CAPÍTULO 1
§ 5.219. § 5.220.
§ 5.229. Forma e registo. 1. Forma e prova. 2. Registo do contrato. 3. Direito fiscal CAPÍTULO II
CAPÍTULO III
§ 5.232. Relações jurídicas externas. 1. Precisões. 2. Efeito e quanto ao sócio participante ativo. 3.
Ações proponíveis. 4.Concurso de credores
CAPITULO IV
DISSOLUÇÃO E LIQUIDAÇÃO
PARTE VII
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO II
§ 5.238. Quotas sociais nas sociedades por quotas, de responsabilidade limitada. 1. Precisões. 2. Em
que podem consistir as quotas. 3. Integralização das prestações das quotas. 4. Transferência das
quotas. 4. Cotitularidade em quota. 6. Aquisição de quotas pela sociedade. 7. Direitos reais limitados
sobre as quotas e medidas executivas e cautelares. 8. Gravação de inalienabilidade,
impenhorabilidade e incomunicabilidade das quotas
§ 5.239. Mudança de tipo social e alterações do contrato social 1.Distinção. 2. Mudança de tipo
social. 3.
CAPÍTULO III
LIMITADA
§ 5.242. Eficácia do contrato. 1. Efeitos comuns e efeitos específicos. 2. Deveres dos sócios em geral.
3. Exclusão de sócio remisso. 4. Ação de integralização das quotas. 5. Falência da sociedade. 6.
Responsabilidade por atos ilícitos, relativos e absolutos.7.Direitos dos sócios
§ 5.244. Exclusão e retirada voluntária de sócio. 1. Pressupostos para a exclusão ou para a retirada.
2. Retirada do sócio divergente da alteração do contrato social
CAPÍTULO iv
§ 5.245. Causas de dissolução. 1. Código Comercial, art. 335. 2. Dissolução da sociedade por quotas,
de responsabilidade limitada. 3. Prazo determinado e condição. 4. Falência ou outro concurso de
credores. 5.
Dístrato. 6. Morte de um dos sócios. 7. Retirada de sócio. 8. Falência ou outro concurso de credores
de algum sócio. 9. Dissolução da sociedade por prazo determinado, em virtude de sentença ...
§ 5.246. Eficácia da dissolução da sociedade. 1. Eficácia em relação aos sócios e eficácia em relação
a terceiros.
2. Liquidação
PARTE VIII
Sociedade cooperativa
CAPÍTULO 1
§ 5.259. Admissão, retirada, exclusão coativa e morte do sócio. 1.Qualidade de sócio. 2. Admissão de
sócio. 3.
§ 5.260. Fundo de reserva. 1. Conceito e natureza. 2. Destinação do fundo de reserva CAPÍTULO III
CAPÍTULO IV
CAPÍTULO V
§ 5.272. Sociedades cooperativas de consumo. 1. Conceito. 2. Bens da sociedade e papel dos sócios
CAPÍTULO 1
2.DIREITO GREGO. Na Grécia, as sociedades publicas com os fins mais diversos (religiosos,
políticos , industriais e comerciais, artísticos, esportivas e de diversões ). Tinham em Atenas como se
fossem emanadas das entidades estatais, como se proviem das sociedades políticas. Prestava-Se
atenção ao que há de idêntico no interesse comum, que há no Estado, nas confrarias, nos demos e
nas tribos, e há na sociedade de navegadores, ou nas sociedades dos interessados em contactos de
gente semelhantes.
POLAND, Gesehlchte des griechischen Vereinswe, 275), o que bem mostra ser possível, na falta de
vedação, dissolver-se a associação.
Nas assembléias elegiam-se os presidentes e os empregados. Tudo se passava como lá fora, nas
dimensões do direito público, com os patriarcas e os demarcas. Havia membros da religião,
principalmente nas associações femininas.
Os regulamentos, vó1tot. eram feitos pela sociedade e modificados ou feitos pela assembléia. A
dyo0á das sociedades, compostas de alguns membros, decidia à semelhança do que fa?Ia o povo.
As sociedades com fins revolucionários foram por algumas leis proibidas, bem assim associações
religiosas novas (E.ZIEBARTE, Da,s griechisebe Ver einswesens, 167 s.).
A opinião de P. FOUÇÂLiT (Des Associatiorts religieuset chez les Grees, 20 s.), sobre ter sido a
entrada de cultos estrangeiros que suscitou a associação na Grécia, foi refutada por F. POLAND
(Geschichte des griechichen Vereinswcsefls, 515). A primeira aparição de culto estrangeiro em
Atenas, com a associação dos crentes, foi a do culto da deusa Bendis da Tráeia, no século V antes de
Crista. As associações eram de caráter místico. Mais tarde, uniões pitagóricas e de artistas
dionisíacas a passaram das fronteiras portanto fora da observância das leis de cada pais.
As sociedades comerciais pululavam, mas não se cogitou de legislação especial. Como tôdas as
outras, tinham personalidade jurídica. O fim era industrial, ou comercia], inclusive bancário e de
transporte. Não havia a sociedade por ações, mas evitavam os riscos do investimento as pequenas
quotas, que os Atenienses preferiam, principalmente nas empresas marítimas. Quase sempre,
sociedade em comandita, de modo que os participantes tinham ação contra o sócio comanditário ou
mesmo contra o gerente. Não eram de longa duração, por serem ocasionais e ligadas às operações
que se tinham em vista, salvo se havia a permanência de organização, como acontecia como os
bancos. Aliás, êsses não eram sociedades em conta de participação. Os membros respondiam pelas
operações (cf.O.PERROT, Le Commerce de i‟argent d te crédit & Athênes, 355). As sociedades para
exploração de minas tinham papel relevante, na esteira do que aconselhava XENOFONTE. Havia o
laço social para a pesquisa e o laço social, vínculo duradouro, para a exploração .
3.DIREITO ROMANO. O contrato sem a origem hereditaria, com a universalidade, ou sem ela,
inclusive para a exploração de uma só indústria ou de um só negócio, apareceu indubitàvelmente,
por exigência das relações humanas. GAIO (Inst., 1111, 148) é expressivo; e o texto descoberto
mostra que, no seu tempo, a sociedade de fundo hereditário, essa, já de muito desaparecera.
As partes dos sócios nos lucros e nas perdas eram, na dúvida, iguais (GAIO, Inst., III, 150; ULPIANO,
L. 29, pr., Di, pra soda, 17, 2). Fêz-se convencionável a participação desigual nos lucros e nas perdas
(GAIO, Inst., III, 149; ULPIANO, L. 29, pr., 171., ro soda, 17, 2), porém repelia-se, como nuMa, a so
cietas leonina (CÂssio, L. 29, 2, D., pra soda, 17, 2).
1
Com a economia agrária, compreende-se que, nos primeiros tempos, morto o pai, tivessem os filhos
de manter a composse do patrimônio e explorá-lo em comum. Segundo o fragmento das Institutições
de GATO, descoberto recentemente, as regras jurídicas sobre essas comunhões eram especiais: e.
g., cada comuneiro podia, eficácias , dispor de bens pertencenteS a comunidade, como alienar por a
coisa, ou manumitir escravo. Era possível, perante o pretor, por meio de certa legis adio, concluir
comunidade com outras pessoas, figura que não se sabe bem qual seria (algo de in jure cessio).
Sociedade somente pode haver se há duas pessoas, pelo menos. Hoje, para algumas sociedades, as
sociedades anônimas e as comanditas por ações, exige-se o mínimo de sete. MAR CrIO, na L. 85, D.,
de verbol significação
, 50, 16, disse que, para NERÁÇIO , três pessoas podem fazer cailetiium, e era isso o que mais se
seguia. Não se sabe porque houve tal preferência pelo mínimo de três.
No direito romano, a societas omnium bonorum exerceu papel de relêvo. Não era preciso que os
bens fôssem transferidos especialmente ao patrimônio social. À conclusão do contrato social, tudo
que era dos sócios exceto.
A L. 3, pr., refere-se aos créditos, mas frisa a prestação das actiones que correspondiam aos créditos
(cf. P. VAN
WARMELO, Aspects of Joint Ownership in Roman Law, Tijdschrift vor Rechtsgeschiedis, 25, 168 sj.
Não havia automaticidade para os bens posteriormente adquiridos (PAPIMANO, L. 52, § 8, D., tira
sacio, 17, 2; ULPIANO, L. 73). SALVATOBE RICCOBONO (Traditio ficta, Zeitschrift der Savigny-
Stiftunv, 34, 185. s.), que tantos outros seguiram (e. g., FRrPZ ScnULz, Einfiihntng in das Studium
der )Jigesten, 84, nota 4, e HEINRICH
SIBER, Rõmisches Redil, II, 206), tinha o conteúdo do fragmento de PAULO como justinianeu; mas,
com o recente descobrimento de fragmente das Institutianes de GAIO, não se pode pensar que so
houve a societas moderna baseada na comunhão hereditária, com a sarjetas omnium ôonorwm. O
texto que se veio a conhecer alterou profundamente, e tinha de alterar, o que se afirniava sobre o
cansartium.
O pacto de admissão do herdeiro do sócio era nulo (SAnLNO, L. 59, pr., O., pra sacia, 17, 2;
ULPIANO, L. 35).
Não se podia convencionar a continuação da sociedade com os sócios sobreviventes (L. 65, § 9, O.,
pro sacio, 17, 2).
52, D., pro soczo, 17, 2). Só o exame do caso concreto podia dar a conhecer, em caso de dificuldade,
o que foi que se prometeu prestar. O trabalho podia não ter valor pecuniário, pôsto que mais
freqUente fôsse o trabalho-valor.
Podia ocorrer o negotium miztuin. cum donatione. O contrato de sociedade não deixava de ser
contrato de sociedade somente pelo fato de não corresponder à prestação a participação de alguns
sócios ou de um sócio.
Nem obstava ao contrato de sociedade a cláusula que fazia diferente da participação nos lucros a
participação nos danos, ou de só um dos sócios ter o risco (L. 29, § 2, e L. 30, O., pro saciO, 17, 2).
Na societas romana, a vinculação era de direito das obrigações, e não de direito das coisas. A
comunhão, sim.
2. FIM DA SOCIEDADE E OBJETO SOCIAL. O contrato de sociedade conclui-se para que duas ou
mais pessoas se vinculem a prestações, versadas no interesse comum. Qualquer das prestações não
pode ser só em proveito de quem a faz, ou de outra pessoa. A comunidade do interesse é elemento
essencial ao conceito. Isso não afasta que a distribuição dos lucros possa ser de inspiração
diferente.
O fim do contrato é a obtenção do que se reputa conseguivel com a comunidade das prestações. O
fim, dito, às vêzes, “objeto”, há de ser licito e possivel.
A participação nas lucros, por parte dos empregados, não cria vinculo social (Tribunal de Justiça de
São Paulo, 17 de março de 1896 e 10 de abril de 1897, O D., 79, 614 a.). Nem o empréstimo com
participação nos lucras: trata-se de mútuo ou de empréstimo de uso ou de uso e fruição. Nem a
outorga de poder (mandato ou outra figura) ou comisada para venda de mercadorias, com parte nos
lucros (Relação do Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1873, O D., 1, 478 s.). Nem a compra por duas
ou mais pessoas de patrimônio ou massa, para que se dividam os lucros ou os lucros e perdas
(Tribunal de Justiça de São Paulo, 19 de janeiro de 1898, O D., 78, 535).
1.
3.PRÉ-CONTRATO. Pode haver pré-contrato de sociedade ou de associação, uma vez que se precise
o fim e se dêem as outras indicações . Ainda não se criou a sociedade, porque essa é efeito do
contrato de sociedade, e não de promessa de contratar. Não há só a indenizabilidade dos danos, pelo
inadimplemento do que se prometeu (sem razão, 3. HÉMAIW, Thé orle et Pratique des Nuilités de
soetétés eI des Sociétés de falI. 165). O art. 1.006 e os §§
4.AÇÂO DO SÓCIO. Entre os sócios há relações jurídicas de direito das obrigações e de direito das
coisas. Dai direitos, deveres, pretensões, obrigações e ações, que existem entre êles. No direito
romano, a actio pra sacio tinha o caráter de ludicium bonae fidei. Por ela, o sócio pedia o que era
seu, a parte nos lucros, a partição das perdas e dos danos que lhe houvessem causado. Tinha o
demandado de ressarcir os danos que resultassem do dolo ou negligência grave (GAIO, L. 72, O., pra
sacio, 17, 2; PAULO, L. 65, §§ 4 e 5). No direito pós-clássico, o sócio respondia pela falta da
diligência que êle teria com os seus próprios negócios.
5. FINs COMUNS E ATIVIDADE HUMANA. O ser humano, produto da assembléia, como foi, não
poderia ter somente fins individuais, somente ter por fito atingir o que interessa ao seu eu. Os fins
coletivos, que dependem de cooperação de duas ou mais pessoas, inclusive de coletividades amplas,
como o clã, a tribo, a nação, o Estado, têm a maior relevância na vida do homem. Em lugar de se
aterem a prestar ou prometer prestar e quererem ou exigirem contraprestação, juntam-se, às vêzes,
por meio de contrato, para que a atividade comum, que êles prometem, consiga os fins comuns.
Pode a sociedade não ter estrutura ou não ter satisfeito pressupostos para haver direção, com a
submissão de tôdas as vontades à maioria, e nome que mostre a distinção entre o grupo e cada
membro do grupo.
A atividade de um homem, mesmo com os seus empregados, pode não ser suficiente para se atingir
o fim que se tem. Dai, a necessidade da associação e da sociedade. As regras jurídicas sobre as
sociedades buscam solução aos problemas de organização e de comunhão das atividades humanas.
6. OBJETO DA SOCIEDADE. O objeto somai é o que se prevê como atividade da sociedade. Há atos
que a sociedade pratica sem estarem inclusos no objeto social e não estão, por isso mesmo, inclusos
nas funções da gerência. A sociedade, pessoa jurídica, pode figurar em atos que o contrato não
previu como de objeto social. Só há as limitações legais e a exigência de que os sócios ou os órgãos
competentes os admitam. É raro que se haja dado aos sócios gerentes a legitimação para atos
estranhos ao objeto social, ao fim da sociedade; então, se isso não ocorreu, só a assembléia de
sócios pode permiti-los (SCHLINK, Die (JUra-vires Lebre im englischen Privatrecht, 1 s.). No direito
inglês, há a teoria do “ultra vires”, segundo a qual se algum ato é estranho à atividade da sociedade,
prevista no contrato, há exorbitância dos poderes de gestão e possivelmente da própria capacidade
da pessoa jurídica. Assim, afasta-se a teoria da igualdade das pessoas, segundo a qual o que a
pessoa física pode praticar também o pode a pessoa juridica, salvo limitação legal ou estatutária
explícita. Naquela teoria, não há ratificação pelos sócios, em caso de infração, porque a mesma
sociedade não o poderia, através de assembléia geral. Na própria Inglaterra, a nova legislação pôs
de lado, em parte, a teoria. Mesmo sob aquela teoria, tinha-se de atender à diferença eventual entre
a capacidade da sociedade e a competência do órgâo, ou de determinados órgãos, caso em que a
sociedade se vincula perante os terceiros de boa fé (A. F. TOPRAM, Principles of Company Law, 24;
FRIDMAN, Pie Law of Ageney, 234), ou ter havido ratificação. Não se pode negar a responsabilidade
das sociedades pelos danos causados por seus órgãos, no exercício das suas funções, se 1
o ato foi ato ilícito, nem a margem que as sociedades têm para atos que interessam à sua vida ou
prosperidade, pôsto que não haja explicitude no que então se considera objeto da sociedade.
Recorrer-se à responsabilidade pelo fato de ligação do agente à sociedade, responsabilidade indireta
(vicarious liability), como se vê em PAJJMER, SMIrrHOFF e CURRY (Company Law, 20a ed., 90), não
afasta que responda a sociedade por ser pessoa jurídica.
Por outro lado, a lei vincula os empregadores e os que têm alguém como órgão (cf. Código Civil,
arts. 1.521, III, e 1.523).
Objeto da sociedade não é só a atividade nos negócios específicos, é, também, a atividade que serve
aos fins sociais, ou que é de supor-se que sirvam a êles. Daí não se pode estabelecer, a priori, quais
são os atos exorbitantes, pois a troca de terrenos, por exemplo, pode ser útil, como pode ser útil o
loteamento. São-no as emissões de ações a descoberto, ou sem deliberação da assembléia geral; não
os atos que são cjnexos, sem serem infringentes da cláusula de objeto (objects-clause). Cp.
CONNEL-PURSE (Companies and Company Law, 35).
(e. g., Vermont Public Act 1915, r. 141, § 15; Ortario Act 1916, n. 35, sect. 6; Virgina G.orporation
Lavz 1956, ~
5) tenham afastada a teoria do “idtrc-v ires”. No mesmo sentido, o Business Uniform Corporatiou
Act de 1923
4 a ed., 729) e
HEINRICE DERNBURG (Bitrgerliches Recht, II, 2, 655), que, a despeito disso, nega a invocabilidade
do § 320
do Código Civil alemão (art. 1.092, 1.a parte, do Código Civil brasileiro). Contra, EMIL STEINBACH
(Rechísgeschtif te der wirtschaftiichen Organisation, 3 s.), II. TITZE (Die tinmõglichkeit der
Leistung nach deutschem BGB., 309 s.), .JOSEF KOHLER (Lehrbuch, II, 279) e O‟rTO VON GIERKE
(Deutsehes Privatrechí, III, 830).
Como negócio jurídico, a sociedade é, sem exceção possível, bilateral (de dois sócios), ou plurilateral
(de três ou mais sócios). Se o contrato (negócio jurídico bilateral ou plurilateral) é bilateral ou
plurilateral (= gerador de relação jurídica obrigacional dos. dois lados, ou de três ou mais) éoutra
questão, e só ai pode haver divergências.
Evita, até certo ponto, confusões falar-se de contrato de intercâmbio, com bilateralidade ou
plurilateralidade, ou de contratos que não são de intercâmbio (contratos unilaterais) ; mas a
prestação para finalidade comum não faz não haver laços entre os sócios.
ed., 36; HANS WÚRDINGER, Recht der Persondgesellsehaften, 47; HEINRICH LEHMANN,
Geseilschaftsrecht, 65; KARL GEILER, J. v. Staudigers Kommentar, ~ 2)‟ Parte, 9)‟ ed., 41;
JoHANNES
FRIESECKE, Palandt Biirgerliches Gesetzbuch, 688; contra, PAUL RNOKE, Das Recht der
Gesellschaft, 83).
Com a redução do número de sócios a dois, o contrato de sociedade não deixa de ser contrato de
prestações comunizadas, para se tornar simplesmente intercambial. À bilateralidade pode
corresponder contrato de sociedade como pede corresponder contrato de intercâmbio.
preste a A, ou a terceiro, C; A presta a B para que as suas prestações tenham o destino que tende ao
fim comum).
O contrato de sociedade pode ser bilateral ou plurilateral. O contrato bilateral de sociedade pode
modificar-se a ponto de se plurilateralizar. O contrato plurilateral de sociedade pode bilateralizar-se,
o que implica alteração, ou sofrer a diminuição do número de sócios, com vagas que tenham ou
possam ser preenchidas sem alteração do tipo do contrato.
O simples fato da diminuição acidental do número de sócios não torna bilateral o contrato de
sociedade, porque, ex hypothesi, a pluralidade persiste, razão por que há vagas. Uma vez que não se
alterou o contrato de sociedade, o ata constitutivo, obviamente continuou a pluralidade,
acidentalmente atingida. Se, para a admissão de novos sócios (terceiro, ou outros), a alteração do
ato constitutivo é indispensável, o contrato de sociedade tinha-se bilateralizado.
O contrato de sociedade pode ser contrato aberto ou contrato fechado. Se a falta de algum sócio
ocorreu em sociedade de contrato aberto, há a abertura para outras pessoas e a vaga que advém
somente tem relevância se concerne a número mínímo de sócios. A estruturação a porta aberta
supõe o número variável de sócios, de modo que não se há de pensar em vaga. A estrutura fechada,
mesmo se há número mínimo de sócios, permite que se cogite de vaga desde que a falta não
diminua mais do que se pode admitir.
O contrato bilateral de sociedade pode ser plurilateralizado por alteração contratual, ou por ter o
ato constitutivo previsto a plurilateralização.
Cláusula contratual pode estabelecer que, ao deixar de ser sócio A, a quota passe a ser de B, ou de E
e C, ou de quem suceda a A. Se inicial-mente os sócios eram apenas A e 13, com as quotas ac e bd,
ou acd e bei, para que outros sejam admitidos, a pluralidade é finalistica, de modo que a
bilateralidade é temporária . A transformação prevista no contrato de sociedade é mediante a porta
aberta ou a parta semi-aberta (admissão dependente de aprovação dos dois sócios, ou dos sócios
existentes).
As leis soem estabelecer a pluralidade necessária do contrato social (e. g., para as sociedades por
ações, mínimo de sete sócios).
O interesse em ser comum o fim faz ser comum o interesse. O conteúdo do interesse de cada sócio
há de ser qualitativamente idêntico, o que faz elemento essencial, no contrato de sociedade e, pois,
na sociedade mesma, que é efeito, a igualitariedade qualitativa (cf. VITTORIO SALANDRA, II
contratto plurilaterale e la società de due soci, Rivistct Trimestrale di Diritto e Proeednra Civile, III,
888). Quantitativamente, os interesses podem ser desiguais (diferenciados pelos valôres das quotas,
cu da participação nos lucros e nas perdas).
Temos de refusar a afirmação de FRANCESCO MESSINEO (La Struttura della Società e 41 cd.
Contratto plurilaterale, flivista di Diritta c-ivile, 1948, 85 s.; Dotirina generale dei Contratto,
Quanto à tese de FRANCESCO MESsINEO de não ser contrato o negócio jurídico de criação de
sociedade, deu-lhe resposta cabal GIUSEPPE FERiU <Società come contratto, Diritto e Pratica
commerciale, 1943, 1, 6 5.; Studi in memoria. de FRANCESCO FERRARA, 1, 259 s.). Se a lei pode
criar sociedade entre duas ou mais pessoas, e. g., desapropriar o edifício tombado e fazet sócios, por
lei, os que foram condôminos, para os proveitos e despesas do uso e fruição do bem, é outro
problema; mas de modo nenhum deixa margem à tese absurda, que é a de FRANCESCO
MESSINEO.
Outorgante (e. g., vendedor) ~ Outorgado (e. g., comprador) ou Outorgantes (e. g., vendedores) ~
Outorgados (e.
g., compradores>
Nos negócios jurídicos plurilaterais, as direções mudam; porém não há, nunca, paralelismo, salvo se
há pluridade de negócios jurídicos.
Nas sociedades, pois que, nelas, não há o elemento de intercambialidade. o fim comum muda a
posição das setas: Assim é a figura, se só os órgãos sociais podem exigir o cumprimento dos deveres
de cada sócio. Se qualquer dêles o pode, a figura é complexa, porque, além do que acima se tem, há
> de cada sócio para qualquer dos outros, pôsto quê a prestação seja para o patrimônio da
sociedade.
(Dizer-se que a divisão é antítese perfeita do contrato plurilateral, importa reduzir-se o contrato
plurilateral ao contrato de sociedade, que pode ser bilateral ou plurilateral e não é a única
subespécie de contrato plurilateral.
Sem razão, GIUSEPPE OSTI, Contratto, Novíssimo Digesto Italiano, IV, 474, nota 8, que, aliás, aludia
a desconstitutividade do contrato, o que nada tem com o ser unilateral, bilateral ou plurilateral.
O distrato contrato é. Pode ser negócio jurídico bilateral ou plurilateral, mas supõe o contrato, que
êle desconstitua, o que não ocorre no contrato de divisão, porque não se trata de desfazer contrato,
mas situação jurídica que, por vêzes, nao resultou, sequer, de contrato. Se o contrato de divisão é
entre três ou mais pessoas, há contrato plurilateral, como ocorre com o contrato de sociedade: a
diferença não está na estrutura negocial, nem na estrutura contratual, mas sim no fim comum, ali
divisório, aqui, societário.) O contrato de sociedade, como qualquer outro contrato, que possa ser
plurilateral, tem de ser entre três ou mais figurantes, em posições próprias. (Os três ou mais
compradores, ou os três ou mais vendedores, que contrataram a compra do prédio, em igualdade de
frações, ou sem igualdade, não são figurantes em posição própria: há uma chave, por trás da qual
êles estão. Os dois figurantes, no contrato de sociedade, estão em situação própria. Se são três ou
mais os figurantes, há posição própria, e o contrato é plurilateral.) Há contratos de sociedade que
não são plurilaterais e contratos plurilaterais que não são de sociedade ou de associação. Esse é um
ponto que escapou a muitos juristas (e. g., KARL WIELAND, Iclandeisrecht, 1, 453 s.; MATTEO
FERRANTE, Ii Negozio ginridico Concetto, 115 sj. Principalmente, tem-se de repelir a identificação
entre contrato plurilateral e contrato de 1
sociedade ou de associação, dito contrato associativo (cf. GIUSEPPE FERIU, Contratto plurilaterale,
Novíssimo Digesto Italiano, IV, 681).
4.COMUNIDADE EFICACTIAL. Há o fim comum, há duas ou mais pessoas que o querem atingir,
mas, para isso, é preciso que o contrato de sociedade surta os efeitos que se quiseram resultantes
do contrato, ou que dêles tenham, por lei, de resultar. Assim, não há somente a reciprocidade de
deveres de prestação, porque o fim comum determina que se crie a comunidade, de jeito que há
interesses que deixaram de ser individuais, para serem, também êles, comuns. Daí o problema de
técnica legislativa que concerne ao atendimento e à defesa. dos interesses comuns. São exemplos as
regras jurídicas do Código Civil, arts. 1.373, 1.379, 1.380, 1.383, 1.386, 1.387, 1.396 e 1.397. As
regras jurídicas que sejam dispositivas permitem cláusulas pré-excludentes, mas, se o afastamento
do ius dispositivo é tal que se tira ao figurante do contrato qualquer influência na atividade social e
qualquer fiscalização, não se há de pensar em sociedade (Jos. SCHAFIIEIJTLE, Gesellschaftsbegriff
und Erwerb in das Gesellschaftsvermõgen 29). Não há so as relações jurídicas entre os sócios. Há a
comunidade, que pode vir a personificar-se Para isso, há ter os seus órgãos. Os sócios estão
vinculados a atividade e gestão que tenham por fito obter a finalidade social. Há algo a mais, que
caminha para a sociedade, que é efeito, e para a pessoa jurídica, de modo que se parte do Direito
das Obrigações, para se ir ao que concerne à Parte Geral, aos sujeitos e aos patrimônios. Sai-se da
comunidade e vai-se à sociedade, para que se chegue à personalidade: ao elemento comum
patrimonial adita-se o elemento comum às pessoas, mas para que se crie outra pessoa.
O elemento de vinculação recíproca, com o propósito da obtenção do fim comum, permite que se
possa pensar em sociedade que a lei crie, em vez de o contrato constituí-la; e ao mesmo tempo a
diferencie da comunidade jurídica simples, isto é, das comunhões que advêm de aquisição, em
comum, de direitos (e. g., comunhão conjugal, comunhão hereditária). A comunhão não só
permanece no plano patrimonial, atinge as pessoas. Se fôsse concluído contrato, ou se a lei criasse
vinculação apenas oriunda de comunhão patrimonial, não haveria, em tal espécie, sociedade.
Não se pode falar de relação fáctica de sociedade se o contrato de sociedade é nulo ou anulado.
Num e noutro caso não se reconhece o efeito do contrato de trabalho, ou do contrato de sociedade;
reconhece-se que algo ocorreu, que entra no mundo jurídico para os efeitos que se lhe têm de
atribuir. As relações jurídicas, a despeito de não se poderem considerar emanadas do contrato de
sociedade, derivam do fato de ter havido prestações e contactos eficaciais. A relação é, portanto,
jurídica, e não fáctica.
Nas “sociedades”, a que não se reconhece o vínculo contratual ou requisito para existir, não se pode
deixar de considerar o que ocorreu entre os que seriam membros (cf. ALFRED HUECK, Das Rechi
der offenen Handelsgesellscha.ft,
Daí ser absurdo falar-se de contrato a favor de terceiro, que seria o de sociedade: a sociedade não é
terceiro; a sociedade é criação do contrato. As vinculações dos sócios tiveram por fito criá-la; se não
a criaram, ela não é. Por isso, quando se fala de saciedade de fato, assunto de que cogitaremos, tem-
se de ter tôda a atenção para a íntima contradição, que há na expressão: sociedade de fato é a
sociedade que não é sociedade; não foi criada: o que no mundo jurídico seria sociedade lá não
chegou.
Para que as sociedades tenham personalidade, é preciso que satisfaçam exigências legais, quase
sempre que se registem. A sociedade que consta de contrato de sociedade, porém ainda não se
personificou, tem trato especial, de que falaremos com minúcias .
1.867: “As sociedades são universais, ou particulares” Essa solução não é tolerada por alguns
sistemas, como o Código Civil argentino, art. 1.651, o chileno, art. 2.056, e o alemão, ~ 810.
Lê-se no Código Civil argentino, art. 1.651: “Es nula la sociedad de todos los bienes presentes e
futuros de los socios, o de todas las ganancias que obtengam; pero pedrA hacerse sociedad de todos
los bienes presentes designándolos; y tambien de las ganancias, cuando elías sean de ciertos y
determinados bienes”. O Código Civil alemão, § 310, diz ser nulo o contrato pelo qual um dos
figurantes se vincula a transmitir o seu patrimônio futuro, ou parte do seu patrimônio futuro ou
gravar com usufruto o patrimônio. Há, portanto, diferença entre as duas soluções vedativas.
A solução permissiva veio, para o direito brasileiro, das Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 44, § 1;
e há, no Código Civil, a regra jurídica segundo a qual o contrato de sociedade universal determina
com a conclusão, a transmissão da propriedade e da posse dos bens, reciprocamente “sem ser
necessária alguma apreensão corporal, ou ato algum”. Apenas havemos de interpretar o art. 1.873
do Código Civil de acôrdo com a teoria da posse que se criou no Código Civil, com a abstração do
animus e do corpus. De início, observemos que não se cogita, no art.
1.378, de sociedade de bens determinados futuramente adquiridos; mas sim da sociedade que
abranja todos os bens, presentes e futuros, e não de sociedade de todos os bens presentes, ou só de
todos os bens futuros, ou só dos frutos e rendimentos.
Diz o Código Civil, art. 1.373: “Se a sociedade fôr de todos os bens, o domínio e a posse dêles
tornar-se-ão comuns independentemente de tradição real, salvo o direito de terceiros”. O que se
estatui é explicitação da solução que só seria normal no sistema brasileiro, que abstrai, na teoria da
posse, do animus e do corpus, com transmissão automática da propriedade, à semelhança do que se
passa na comunhão entre cônjuges. Uma vez que se concluiu o contrato de sociedade universal
senso estrito (“de todos os bens”), tudo ocorre como se fôsse intrínseca ao contrato bilateral ou
plurilateral a cláusula de transmissão do domínio e da posse. Não é preciso que se faça o registo,
por exemplo, de cada bem imóvel, nem que pratique ato que signifique transmissão da posse.
Contudo, o registo é indispensável, para que se possa alegar contra terceiros ter havido a
transmissão do domínio e da posse.
Estatui o Código Civil, art. 1.369: “O simples ajuste de sociedade universal, sem outra declaração,
entende-se restrito a tudo o que no futuro ganhar cada um dos associados”. O legislador, uma vez
que admitiu a sociedade universal, tinha de redigir regra jurídica sobre o que se há de considerar
bem social e o que não se há de considerar. A regra jurídica dispositiva que a desse como
abrangente de todos os bens, presentes e futuros, seria desaconselhável. Na L. 7, pro socio, 17, 2, a
solução foi a de regra jurídica dispositiva: se não se disse qual a extensão, entendia-se que apanhava
todos os adquiridos (quae ex quaestu veniunt).
Quanto à sociedade particular, estabelece o Código Civil, art. 1.370: “A sociedade particular só
compreende os bens ou serviços especialmente declarados no contrato”. Para que a sociedade se
tenha por particular, é preciso que se apontem os bens que se hão de pôr em comum, inclusive
serviços. Não basta que se diga “particular”; pôsto que particular seja a sociedade constituída,
especialmente, para determinada empresa, ou para exploração de determinada indústria., ou
profissão. Cf. Código Civil francês, arts. 1.370 e 1.371. Uma vez que se precisou qual o objeto da
atividade social, o que se colima é o atingimento do fim comum, e isso não importa que se tenha
como capital o que os sócios venham a adquirir. Assim, lê-se no Código Civil, art. 1.371: “Também se
considera particular a sociedade constituída especialmente para executar em comum certa empresa.
explorar certa indústria, ou exercer certa profissão”.
2. SOcIEDADES CIVIS E SOCIEDADES COMERCIAIS. As sociedades de direito privado que não têm
fim comercial, isto é, que se não fazem comerciantes, como acontece também com as pessoas
físicas., são ditas sociedades civis. O que determina ser tida como comerciante a pessoa física tem a
mesma influência no tocante às pessoas jurídicas. Observe-se, todavia, que a comercialidade e a
civilidade podem anteceder à personificação.
Antes mesmo de se tornar pessoa, a sociedade já é civil ou comercial. À lei cabe delimitar o círculo
jurídico das sociedades comerciais. A estrutura social não é, no direito brasileiro, elemento
diferencial. Se é certo que as leis comerciais cogitam, peculiarmente, das espécies estruturais das
sociedades comerciais, nem por isso se obsta a que se componham, à semelhança das sociedades
comerciais, sociedades hão de ser classificadas como civis.
Tem-se, hoje, de atenuar a diferença, que se criou, entre as sociedades civis e as comerciais. A
unificação do 1
Diz o Código Civil, art. 1.364: “Quando as sociedades civis revestirem as formas estabelecidas nas
leis comerciais, entre as quais se inclui a das sociedades anônimas, obedecerão aos respectivos
preceitos no em que não contrariem os dêste Código; mas serão inscritas no registo civil, e será civil
o seu fôro”. A atitude do legislador provém do Esbôço de TEIxERÁ DE FREITAS, arts. 3.087-3.096,
que frisou a independência das sociedades, civis e comerciais, em relação à estrutura da sociedade
(coletiva, seja ou não em nome coletivo; em comandita, simples ou por ações; anônimas ou
companhias; em conta de participação; de capital e indústria).
No Código Civil, não se atendeu, especialmente, a que há empresas cuja propriedade é separada da
direção, com órgãos particulares, distintos das pessoas que compõem a sociedade, e a que algumas
instituições há que mais se devem considerar associações do que sociedades.
§ 5.171.__ASSOCIAÇÃO E SOCIEDADE
A remissão do art. 1.364 do Código Civil às leis comerciais pode fazer surgir dificuldade na
classificação da sociedade como civil ou como comercial, mas o critério para a solução cifra-se na
indagação da existência dos requisitos para se considerar comerciante a sociedade.
Diz o Código Civil, art. 1.365: “Não revestindo nenhuma das formas do artigo antecedente, a
sociedade reger-se-á pelo <que neste Capítulo se prescreve”. O que se há de entender éque
primeiro se tem de verificar se foi seguida a estruturação conforme as leis comerciais. Se nas leis
comerciais não há regras jurídicas sobre a espécie, tem-se de atender tão-só ao Código Civil, arts.
1.363-1.409.
A ligação entre sociedades para atos de exploração, ou de distribuição, em comum ou como nova
entidade, é traço marcante da economia contemporânea. Cartéis e trustes provêm „dessa tendência.
Nos negócios jurídicos de incorporação para construção de edifícios, diferentes gêneros de indústria
e comércio por vêzes se unem, com personificação por cima (suprapersonificação,
sobrepersonificação), ou sem ela. Outrossim, nos negócios de aluguer de edifícios, em comum
(cf.J.FLECBTHEIM, Deutsches Kartellrecht, 1, 12).
§ 5.171. Associação e sociedade
<Teoria deite Persone giuridice, 497 s.). Também se pretendeu que na associação se tenha o gôzo
imediato das utilidades, ao passo que na sociedade haja o gôzo através de dividendos (TULIO
ASCARELLI, Società, Associazioni, Consorzi, cooperative e transformazione, Revista dei Diritto
Commerciale, 1949, II, 425), ou, na associação, a predeterminação da quota das utilidades e, na
sociedade, não (DOMENICO RUmNO, Le Associazioni
non ricono~iute 15 s.). Pensou-se também em haver atividade produtiva, na sociedade, e satisfativa,
na associação. Sobre o assunto, Tomo 1, § 82, 1.
§ 12. Basta que haja união voluntária, com fim comum. Então, pode não haver a economicidade.
Tanto se refere às vinculações pessoais como às pessoais e reais, às duradouras e às acidentais. Não
se confundem, porém, com as simples resiloções. Nem quanto às associações nem quanto às
sociedades, o elemento da personalidade é essencial: apareceu, historicamente, depois; e, em
princípio, se não se faz necessária à criação a personalidade, continua de ser ulterior à criação.
De ordinário, nas associações, o patrimônio não é comum aos sócios: a corporação independe dos
sócios e subsiste às mudanças. Não há a disponibilidade dos meios econômicos. Não se diga que
essa posição seja por 1
cima dos sócios ou que reforça a pessoa jurídica, nem que seja diferente a personificação.
O que se regula, nas associações e nas sociedades, é a vontade diferente, unitária, que se criou, ou
que as manifestações. de vontade criaram. A personificação é plus. O que importou foi o fato de ser
necessária, para determinado fim, solidariedade humana.
Sem que se repila, de todo, o emprêgo do termo, quando não suscite confusões, o sentido próprio é
aquêle que evita, por exemplo, porem-se sob o mesmo nome o que é comunidade sem
associatividade e o que é, verdadeiramente, associação. A comunidade, só por si, não associa. A
sociedade, sim; de modo que o problema, quanto ao conceito de associação senso estrito, consiste
em saber-se qual a diferença entre associação e sociedade.
3. Associação. Se na associação se atribui todo o lucro de cada negócio jurídico, feito através dela, a
cada associado de que proveio a prestação (e. g., associação em tipografia, de cujas edições tenham
os lucros, individualmente, os autores; exposição de quadros ou esculturas, cujos preços, ou os
lucros, sejam pagos aos pintores ou escultores, individualmente), tem-se discutido se há associação
ou sociedade.
Para que haja associação coerciva, tem-se de supor que de alguma regra jurídica se irradiam dever e
obrigação de duas ou mais pessoas associarem-se.
Conforme o território e o plano estatal, as associações são locais (estaduais, distritais, territoriais,
municipais), nacionais, internacionais e supraestatais.
No que se refere aos sujeitos, as associações são simples ou complexas. Simples, quando, para que
se faça parte da associação, é preciso que se satisfaçam requisitos subjetivos (pessoais ou não). É o
que acontece com as associações de empregados e os sindicatos de empregados, as associações de
empregadores e os sindicatos de empregadores, os clubes e grêmios de coestaduanos.
As associações são perpétuas ou temporárias (com termo, ou condição resilitiva; ou a termo ou sob
condição resilitiva, mas prorrogável).
direito das gentes. A teoria do fim entende que é o fim, privado ou público, que determina ser ou de
direito privado, ou de direito público, a associação. Assim pensavam VITToRIO EMANUELE
ORLANDO (Principi di Diritto amministrativo, 146) e CUIDO ZANOBINI (Corso di Diritto
amministrativo, J, 7Y ed., 124 s.). Nem sempre a associação privatística tem fim privado; nem
sempre a associação publicística tem fim público. A associação de direito privado pode ter fim de
proteção a inválidos, do lugar ou transeuntes, a acidentados de determinado lugar, ou de esporte. A
associação de direito público pode ter por fim seguros de empregados ou funcionários, ou de
pessoas que se transportem em aeronaves. A teoria da direção ou ligação distingue a associação de
direito público como a que fica sob a direção ou a ligação ao Estado, mesmo se autárquica, e a
associação de direito privado como a que não está sob o poder, o contrôle, do Estado (FORTI,
Lezioni di Diritto administrativo‟, 175). A despeito da referência à ligação, quando se abstrai das
regras jurídicas de contrôle das associações privadas, a teoria falha. Há a teoria do império (e. g.,
GEORO .JELLINEK, System der subjeictiveu õffentlichen Rechte, 263). O Estado tem a função de
traçar os limites do direito privado e, pois, os do direito público. O que é tido como publicístico não
pode ser privatístico. Associações de fins privados, associações sem império e associações que não
são controladas pelo Estado podem ser consideradas pelo sistema jurídico como associações de
direito público. O problema é de inre condito, e não de jure condendo. Chamariamos a tal teoria
teoria dos limites no sistema. É a verdadeira. O Estado é que pode levar em consideração o fim, o
império e o contrôle.
Elemento comum, negativo, entre sociedades irregulares e associações irregulares é o de não terem
a personalidade que poderiam ter.
Quanto à capacidade civil, os sistemas jurídicos não são coincidentes a respeito do regramento.
Nega-a, de todo, o sistema francês. Dão-lhe alguma, material e processual, e. g., o sistema alemão e
o brasileiro (Código Civil, art.
20, §§ 1.0 e 2.0) -A concepção alemã influiu no Código Civil italiano, arts. 86-38, e no Código de
Processo Civil italiano, art. 754. Sobre o assunto, Tomo 1, § 88.
Para que surja associação não-reconhecida, é preciso que tenha havido conclusão do contrato,
porém não se afasta que se haja concluído pactum de contra flendo cum tertio, que vincule os
interessados. Por outro lado, o contrato de associação pode ser concluído com a adesibilidade por
outros interessados. Depende do que se estabeleceu para as adesões e inclusão dos interessados; e.
g., conforme cláusula de integração de três em três aderentes.
Se o ato constitutivo deu poderes de presentação ou de representação aos que dirigem a associação,
êsses poderes podem ser exercidos, como quaisquer outros, tanto mais quanto os terceiros não têm
de conhecer o que internamente possa destoar da outorga. Quem opera em nome e por conta da
associação é responsável, seja como órgão ou não no seja (DOMENICO RUBI-NO, Le Associazioni
nou riconosciute, 2~a ed., 257).
Os membros da associação, que alegam ofensa a direito de sócio, podem oferecer ou aceitar
compromisso, ou podem suscitar o juízo arbitral, se foi previsto em lei, no ato constitutivo ou nos
estatutos (cf. ALEXANDER
A autonomia das associações para a concepção e a feitura dos seus estatutos não é ilimitada,
embora se atribua a Orlo vON GIERKE (fie Genossenschaftstheorie, 186). Só existe, em extensão, a
deliberabilidade pelos órgãos da associação se a lei (assim, ALEXANDER LEIST, Untersuchungen
zum inneren Vereinsrecht, 1 e 172), ou o ato constitutivo, ou os estatutos não a limitaram. O limite
pode advir de regra jurídica positiva (~ impositiva) ou negativa (= proibitiva), pois o que importa é
que seja ius cogens.
A ação para que se reconheça a qualidade de associação é a ação declaratória. Todavia, se houve
exclusão, ou se se atribui ter havido retirada espontânea do membro, tem-se de propor a ação
constitutiva negativa, para que, 1
1.374 do Código Civil. No tocante à dissolução da associação, de ordinário a assembléia geral é que
decide, e não se permite que tal poder tenha algum órgão (cf. art. 1.399, VI; diferente o direito
anterior; cf. MAX GASSER, Austritt und Auschiiessung aus Vereinen, 31).
contrato social tem de especificar as funções dos sócios de indústria (Código Comercial, art. 819,
1.~ alínea). Na sociedade em conta de participação simples, o sócio ostensivo é que presenta a
sociedade (Código Comercial, art.
826), porque a atribuição de função de presentar implica ostensividade. Nas sociedades simples, o
sócio é elemento pessoal da sociedade: a sociedade aparece externamente, a administração suscita
e compreende a presentação; ao sócio, que não é administrador, precisa ser outorgado, pelos
estatutos, poder de presentação.
De passagem, observemos que se não há de confundir presentação social com mandato (cf. Tomos 1,
§ 91, 2, 8, 98 e 99; III, § 308, 1; KAIIL WIELAND, Ilandeisrecht, 1, 858; KARL LEHMANN-V. RING,
Kommentar zum Handelsgesetzbuch, 1, 2~a ed., 191).
No tocante às sociedades por ações, à diferença das sociedades pessoais, em que há sócios, o
acionista como que fica de fora, e a ação é que o legitima a alguns poderes, porém nunca ao de
presentação da sociedade. À
administração, nas sociedades por ações, ficam „intimamente ligados os poderes de direção e de
presentação. A assembléia geral, órgão máximo, faz as escolhas, depois de traçar as linhas mestras.
A diretoria, essa, conhece os segredos e problemas da empresa, está em contacto com o pessoal e
com os terceiros. O corpo que a fiscaliza apenas examina, ausculta e manifesta-se pró ou contra
atos. t órgão distinto. Pode haver concepções diferentes, como ocorre com o direito alemão, mas a
presentação pertence à diretoria. A atribuição de presentação a sócio ou a órgão sem direção, de
jure condendo, seria chocante; de iure condito, seria nula.
§ 5.171. ASSOCIAÇÃO E SOCIEDADE. seria, sob o nome de representante, lá fora, verdadeiro órgão.
Ora, a própria representação dos diretores tem inconvenientes, pelo segrêdo da votação, além da
necessidade de estar nos estatutos o poder da diretoria ou de algum diretor para outorgar poder de
representação.
O Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), teve de redigir
regra jurídica sobre os dois assuntos: o de inserção social e de votação e o de algum empregador ser
votado. Daí os arts. 527, a), e 530, b).
No art. 529, diz o Decreto-lei n. 5.452: “São condições para o exercício do direito do vote, como para
a investidura em cargo de administração ou representação econômica ou profissional: a) ter o
associado mais de seis meses de inscrição no quadro social e mais de dois anos de exercício de
atividade ou da profissão~~.
O art. 527, a), do Decreto-lei n. 5.452, de 1.0 de maio de 1943, tem de ser lido com cuidado, devido
às elipses que nêle ocorrem. Lê-se no art. 527: “Na sede de cada sindicato haverá um livro de
registo, autenticado pelo funcionário competente do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, e
do qual deverão constar: a) 1
Quanto à legitimacão eleitoral ativa, o associado sindical somente vota se há mais de seis meses
consta da inscrição no quadro social e há mais de dois anos exerce a atividade.
No tocante à legitimação eleitoral passiva, a lei faz pressuposto para a direção, ou para presentação
ou representação de empregador, o já terem estado, desde dois anos antes, pelo menos (= há dois
anos ou mais), no exercício efetivo, individual, da atividade, dentro da base territorial do sindicato,
ou no desempenho de presentação ou representação de empresa sindicalizada. Se a empresa é de
uma só pessoa, essa pessoa precisa já ter exercido a atividade há dois anos ou mais. Quem fundou
ou adquiriu firma individual, há menos de dois anos, não pode, se a firma entrou em sindicato, ser
eleito para dirigir o sindicato; a for priori, para dirigir federação ou confederação.
Segundo o art. 84, inciso II, e), da Portaria n. 146, de 18 de outubro de 1957, é causa de nulidade da
urna, isto é, do conteúdo votacional de tôda a urna, “o exercício do voto por eleitores estranhos à
categoria econômica ou profissional representada pelo sindicato, desde que seus votos não possam
ser deduzidos do total obtido pela chapa mais votada, na forma prevista no art. 25, por serem em
número igual ou superior à diferença entre as duas chapas mais votadas”. É reprodução do art. 529,
d), do Decreto-lei n. 5.452.
As regras jurídicas, ou, na falta de regra jurídica, os estatutos, que podem fazer remissão a
regulamentos, portarias e outros atos normativos, têm de cogitar da eventualidade dos empates, nas
votações, inclusive em se tratando de eleições. As soluções para a ocorrência de empate nas
votações, quaisquer que sejam, ou são de seleção de eficácia, ou devolutivas, ou declarativas de
ineficácia. As primeiras espécies dão ganho de causa ao elemento do assunto, que mais importa, ou
à pessoa, que tem, ou que tem mais do que as outras, determinada qualidade (e. g., à votação que
negou abertura de verba, à votação a favor de quem já exercia o cargo, à votação no candidato mais
idoso). As segundas espécies deixam a quem presidiu a mesa, ou a alguma autoridade ou sociedade
superior, o voto de desempate, ou ao sorteio, a solução. As terceiras consideram sem eficácia a
votação a que se procedeu, como se não tivesse ocorrido. À técnica legislativa incumbe escolher e
estabelecer a solução precisa.
Diante do problema de técnica legislativa e de técnica negocial, os que fazem estatutos têm de
prever os eventuais empates. Se o negócio jurídico não o prevê, então ou há regra jurídica cogente
ou dispositiva que o preveja, ou não existe nenhuma regra jurídica. No último caso, a solução é a de
a mesa declarar a ineficácia e passar a nova votação.
1
-exclui qualquer suposição de se ter renunciado ao exercício do direito de voto.
Se há hierarquia sem ser completa (chefe de delegação e membros de igual categoria), atende-se
primeiro à hierarquia; se não está presente o chefe, ou algum membro de grau superior, há de haver
solução para a situação difícil. Se a lei não dá solução, ou outra regra jurídica, ou cláusula
estatutária não a dá, os membros de igual categoria têm de escolher quem exerça a função, ou tem
de deliberar a entidade delegante.
Na Portaria n. 146, art. 51, diz-se, claramente: “A cada delegação caberá um voto, que será exercido
pelo mais idoso dentre os seus integrantes, salvo se dela fizerem parte membros da diretoria da
entidade representada, caso em que o exercício do voto caberá ao que ocupar cargo mais elevado”.
Interpretando o art. 51, temos de considerar que só se trouxe solução explícita aos casos de
delegação coletiva sem hierarquia e aos em que há delegação hierárquica completa. Se a delegação
é delegação sem hierarquia, a idade é que resolve: o mais velho dentre os presentes é que vota. Se a
delegação coletiva é de completa distribuição hierárquica, segue-se rigorosa-mente, dentre os
presentes, a ordem preestabelecida pela entidade delegante. Se há incompleta distribuição
hierárquica, atende-se à discriminação e, depois, à idade, porque assim se estabelece, para os casos
de falta de hierarquia, na Portaria n. 146, art. 51.
A mesa perante a qual se fazem as votações não tem qualquer arbítrio, nem o tem o próprio corpo
votante, salvo se há regra jurídica expressa ou cláusula estatutária expressa que atribua à mesa ou
ao corpo votante competência para a resolução dos problemas ou de determinado problema. Se há
solução com regras jurídicas ou cláusulas estatutárias, de modo nenhum pode infringi-las a mesa,
nem passar ao corpo votante dito plenário a função de decidir.
Os atos da mesa, no que concerne à legitimação ativa e à legitimação passiva, são apenas
comunicações de conhecimento, aplicação extrajudicial, declarativa, de regras jurídicas ou de
normas estatutais .
O ad. 141, § 18, cogita dos partidos políticos ou associações, “cujo programa ou contrarir o regime
democrático, baseado na pluralidade de partidos e na garantia dos direitos fundamentais do
homem”. No art. 148 estatui-se: “A lei reprimirá tôda e qualquer forma de abuso do poder
econômico, inclusive as uniões ou agrupamentos de empresas individuais ou sociais, seja qual fôr a
sua natureza, que tenham por fim dominar os mercados nacionais, animar a concorrência e
aumentar arbitrAriamente os lucros”.
Trata-se, em qualquer espécie, de quaestio juris, de modo que o direito ofendido é certo e liquido.
Nos Comentários que fizemos a cada uma das três Constituições, sempre frisamos que o direito
constitucional brasileiro, à frente de todos os outros, pôs em igualdade, para a proteção dos direitos
fundamentais, os nacionais e os estrangeiros residentes, sem distinguir pelo tempo de “residência”,
que é, no art. 141 da Constituição de 1946, o domicílio, talvez.
Ramo um dos domicílios. O texto constitucional evitou a expressão “domicílio”, para que, quanto ao
“residente”, sofismas não afastassem, com definição de domicílio, a plena incidência.
As sociedades não podem invocar o art. 141, § 12, sobre liberdade de associação, mas podem
invocar o art. 141,
1
A referência do ad. 141 a Brasileiros e a estrangeiros residentes torna de extrema delicadeza
técnica tôda elaboração de lei sobre composição de sociedades porque uns e outros têm o direito de
associação, uns e outros podem alegar violação à liberdade de associação.
Cada Estado tem o poder de legislar quanto aos seus nacionais, e, dentro do seu território quanto
aos nacionais e aos estrangeiros. Todavia, se o Poder Constituinte estabeleceu diferenças de
tratamento ou regras jurídicas constitucionais de igual tratamento que não podem ser afastadas por
lei ordinária, tais regras jurídicas constitucionais criam, no direito interno, direitos, pretensões e
ações a favor dos beneficiados pelas regras jurídicas de diferenciação ou pelas regras jurídica8 de
proibição de diferenciação No direito constitucional brasileiro, a competência para a legislação
ordinária a respeito de nacionalidade brasileira das associações, ou de exercício de atividade
industrial e comercial, tem de ser com o respeito do ad.
141, §§ 1.0, 32 e 16, e do ad. 146 da Constituição de 1946, além da observância de outros princípios
fundamentais.
A desapropriação pode ser declarada, ou dissimulada, ou em fraude à lei. No primeiro caso, houve a
declaração de desapropriação, que a técnica do direito brasileiro exige. No segundo caso, procura-
se esconder o ato desapropriativo, como se a União retirasse vida à indústria, a fim de não
desapropriar, prestando a indenização justa e prévia.
A estatalização pode ser feita com monopólio ou sem monopólio. Sem monopólio, estataliza-se com a
desapropriação , ou com a simples aquisição do fundo de empresa, ou das ações da sociedade. Para
que a estatalização seja com monopólio, é preciso que se haja observado, estritamente, o art. 146 da
Constituição de 1946. Se se instituiu o monopólio, sem que se satisfizessem todos os pressupostos
de que cogita o ad. 146, há a legitimação ativa de qualquer interessado para alegar a violação da
Constituição de 1946.
Às vêzes emprega-se o termo “naturalização” como se fôsse sinônimo de “estatalização” (e. g., E. W.
RITX3ES, Canstitutionol La.w, 229, a propósito do Bank of England, quando o fundo de empresa
dêsse banco foi transferido ao Treasury Solicitúr, a 1.0 de março de 1946, passando ao rei as
nomeações principais).
Não é êsse o sentido próprio, nem nos interessa na presente exposição. Temos apenas de
considerar: a) a nacionalidade brasileira exigida, pela Constituição de 1946, a alguma atividade ou
titularidade de direito; b) o pressuposto da nacionalidade brasileira exigível, sem ofensa à
Constituição de 1946 note-se bem: exigível por lei ordinária, para que se possa exercer alguma
atividade, ou para que se possa ser titular de algum direito; o) a exigência da nacionalidade
brasileira, feita por ]ei ordinária, para o exercício de a1guw~ atividade, ou para a titularidade de
algum direito.
A monopolização somente pode partir, no direito brasileiro, de lei especial federal e para que exerça
a União O
monopólio. A lei não pode monopolizar qualquer atividade ou autorizar monopolização para outrem.
nacional podem ser atingidas por atos do Poder Executivo, ou mesmo do Poder Legislativo Há
empresas cujo funcionamento depende de autorização ou de concessões cassáveis a líbito. Há
aque1~ a que não se pode cassar a líbito, ou de certo modo retirar a autorização , ou a concessão As
empresas de indústria ou de comércio que não exploram serviços ao público adquirar direito de
funcionar e a vedação de funcionamento somente pode resultar de decisão Constitutiva negativa
proferida por autoridade Judiciária, ou proferida por autoridade administrativa, Contra Cujo ato não
houve interposição de recurso administratívo ou propositura de remédio jurídico processual Não se
pode ordenar o fechamento de fábrica de tecido, ou de produtos de aço ou de farmácia, sem que
haja fundamenta na ilicitude da atividade. Se o ato é administrativo, não pode ser afastada a
apreciação Judicial, porque isso resulta da regra jurídica do ad. 141, § to, da Constituição de 1946,
que é um dos Cumes do direito brasileiro e estranho aos ortorgais temas jurídicos
CAPITULO II
A nacionalidade exigida pela lei ordinária, no sentido de somente poder exercer determinada
profissão, ou indústria, a pessoa física ou jurídica que tenha a nacionalidade brasileira, supõe que
não tenha havido na lei qualquer ofensa aos direitos fundamentais Não há, portanto, solução a
priori, porque nem tôdas as atividades profissionais, industriais e comerciais, ou as titularidades de
direito sobre fundo de empresa, hão de ser tratadas igualmente, de modo que, diante de cada
espécie, é que se hão de examinar as possíveis incidências de quaisquer princípios constitucionais.
Mesmo de jure condendo, seria de grandes inconvenientes que se permitisse diferenciação legal de
pressupostos para a aquisição da nacionalidade em função de atividade. Na própria Constituição de
1946, art. 153, § 1.0, a propósito do aproveitamento de minas e de energia hidráulica, só se exige o
pressuposto de ser Brasileiro à pessoa física a que se dê a autorização ou a concessão, ou de ser
organizada no Brasil a sociedade. No art. ~ 13 e 23
Para a desapropriação é de mister que se componham os requisitos do ad. 141, § 16, da Constituição
de 1946.
Para a estatalização é preciso que se desaproprie e se faça patrimônio estatal o fundo de empresa,
ou que se crie fundo de empresa, que seja de propriedade do Estado. Para‟a monopolização, são
pressupostos necessários a lei especial, o interesse público, o respeito aos direitos fundamentais e o
ser exercida pela União. Não há monopólio, no direito brasileiro, para outra entidade estatal que
não seja a União; a fortiori, para particulares. Aí está óbice profundo a distinções que não estejam
no texto da Constituição de 1946.
3.SOCIEDADE DE NAVEGAÇÃO AÉREA. Quanto às pessoas jurídicas, estatui o ad. 1.0, b), da Lei n.
916, de 13 de julho de 1961, sobre as empresas de navegação aérea, que podem ser proprietários de
aeronaves privadas
“pessoas jurídicas constituídas no Brasil, com sede em nosso pais, gerência exclusiva-mente
brasileira e oitenta por cento, pelo menos, de capital social representado por ações com direito a
voto, pertencentes a Brasileiros”.
a)Não se disse, porém, qual a espécie de sociedade. Tôda espécie de sociedade, constituivel de
acôrdo com a lei brasileira, pode ser a pessoa jurídica a que se refere o art. 12 da Lei n. 3.916.
Fundação pode explorar tal serviço ao público, desde que tipicamente fundação brasileira. Se, como
é o que mais acontece em todos os Estados, a sociedade é por ações, surge o problema da
titularidade das ações, qualquer que seja a espéde de sociedades por ações, inclusive em comandita.
b)O lugar em que se constitui tem de ser no Brasil, de modo que se pré-afasta, de modo absoluto, a
importação de sociedade ou de pessoa jurídica estrangeira (cf. nosso La Création et la Personnalité
des Personnes juridiques en Droit international privé, Mélangea STREIT, 1, 617-630).
d)Se a sociedade é por ações, as ações tem de ser nominativas, até, pelo menos, oitenta por cento do
capital, com direito de voto. Portanto, não se podem admitir que as ações destinadas a Brasileiros
sejam preferenciais, nem seria possível retirar-se ao titular das ações, ou de uma ação, o direito de
voto.
e)As ações, até oitenta por cento, têm de pertencer a Brasileiros. Nenhuma pessoa jurídica,
brasileira ou não, pode ter ações nas empresas de navegação aérea.
De jeito que, se algum acionista, ou alguns acionistas, entram com ações para a constituição do
capital de outra sociedade, mesmo que essa sociedade somente seja composta de Brasileiros, não
pode ter registada a transferência das ações.
Quando regra jurídica estabelece ressupostos necessários, que sejam elementos componentes do
suporte fáctico de titularidade e inafastáveis por serem integrantes de exclusividade> não se pode
admitir que a autonomia da vontade altere o conteúdo do pressuposto necessário Se alguma lei
disciplina a composição de pessoa jurídica, para que ela possa ter determinada atividade, e exige
que todos OS interessados no capital sejam Brasileiros, ou se fixa o percentual ou percentual
mínimo de Brasileiros que hão de ter ações, de modo nenhum se pode admitir que pessoas jurídicas
sejam os componentes, porque, mesmo se os estatutos exigissem idênticos pressupostos ~
pessoa jurídica de nacionalidade brasileira, havendo percentual estaria fraudada a limitação que se
fizera em lei.
Na espécie da Lei n. 3.916, art. l.~, b), o pressuposto de serem Brasileiros que está explícito no
texto legal, não significa Brasileiros “ou pessoas jurídicas de nacionalidade brasileira apenas
Brasileiros natos ou naturalizados.
Pessoas jurídicas brasileiras são as pessoas jurídicas que se constituem com os requisitos para se
regerem pela lei brasileira (sobre Isso, nosso Tratado de Direito Internacional Privado, II, 247), o
que de nenhum modo satisfaria à ratio legis do art. 1.~, b), da Lei n. 3.916, ou de qualquer regra
jurídica para qual a qualidade de nacional seja preestabelecida com o fim de proteção dos interesses
nacionais. No Tratado de Direito Interna cional Privado, Tomo 1, 458, escrevemos: “~ Quais os
pressupostos mais aconselháveis para a obtenção da nacionalidade por parte das pessoas jurídicas?
O problema é de direito interno, variável no tempo, no espaço e segundo as condições especiais de
cada povo. Ainda mais: segundo a natureza do objeto ou fim de cada espécie de pessoa jurídica. Não
é de direito internacional privado (sobredireito interno), mas de direito (interno) substancial. É
ponto que se deve 1
frisar. Enumeremos os pressupostos mais vulgares: i.o, ter sede no país; 2.0, ter no país o centro de
exploração ou estabelecimento principal; 3~0, serem nacionais OS administradores ou alguns dêles;
40, serem nacionais os associados, ou parte dêles, como dois terços, maioria, metade, um têrço; 5.o,
existindo ações de voto plural, ser nacional a influência preponderante; 6.0, ser submetida a
contrôle do Estado ou de entidades ligadas ao Estado.
Quaisquer que sejam os pressupostos, o conjunto dêles não interessa, como se tem pretendido, ao
direito internacional privado: é matéria de nacionalidade, de direito substancial. O direito
internacional privado da pessoa jurídica é outra questão-Outra, ainda, a da aquisição da
personalidade (direito substancial público ou privado). A distinção não é só possivel mas
tndispem.SJVCl”. Os próprios tratados sobre reconhecimento de pessoas jurídicas não são sobre
direito internacional privado (GEORGE MELCHIOR, Die Grundta.q eu des deutsehen tnternatw,za
leu Privatreehts, 80). São êles sóbre direito privado, algo de transacional.
Quando a lei, devido à atividade da empresa, exige reqaialtos para que seja tida como pessoa
jurídica nacional, e possa ser inscrita, e dentre êles está serem nacionais os componentes ou os
acionistas, não atribui a pessoas jurídicas tidas como nacionais em virtude de outras regras jurídicas
o que a lei só-mente deu aos nacionais, às pessoas físicas. Ora, a Lei n. 3916 foi clara: “pertencente
a Brasileiros”.
No art. 2.0 da Lei n. 3.916, foi dito que as ações hão de ser nominativas, depois de, no art. 1.0, se
haver frisado que têm de ser pertencentes a Brasileiros. A referência à notifitividade das ações é
conseqúência necessária da exigência de pertencerem a Brasileiros. Mesmo se em lei se admitisse o
endôsso, somente valeria o endôsso a Brasileiro.
O parágrafo único do art. 2.0 estabeleceu prazo, prorrogável pelo Ministério da Aeronáutica, para a
conversão das ações que eram ao portador a 13 de junho de 1961. Se tal conversão não se deu até a
expiração do prazo, ou da prorrogação que haja ocorrido, necessariamente se deu cancelamento da
inscrição, automaticamente , porque a lei não permitiu segunda prorrogação. Dentro do prazo
também se há de observar o percentual de ações que hão de pertencer a Brasileiros.
Houve, portanto, período de adaptação ao nôvo regime de composição do capital. Às regras jurídicas
do art. 2.0, parágrafo único, juntam-se as do art. 72 e §§ 1.0, 2.0, 3~O e 42.
Teve-se de fazer, se era o caso, a conversão das ações ao portador em ações nominativas, e teve-se
de atender ao mínimo de ações só adquiríveis por Brasileiros e às transferi-las necessárias ao
atingimento da percentualidade Uma vez que o número de ações pertencentes a estrangeiros
excedia o que a lei permite, a sociedade por ações teve de verificar se havia solução amigável, ou se
não a havia. Se havia, cumpria planejá-la, para que o capital social permitisse a continuação da
empresa. A isso o legislador chamou “plano de ajustamento do capital social”.
No art. 4~0 parágrafo único, 23 parte, da Lei n. 3.916, a redação é má, com o emprêgo de palavras
sem observância da terminologia jurídica, como “compromisso” e “delegação”, “de pessoas‟ (em vez
de “„por pessoas”) Em direito e, pois, para os elaboradores de leis, “compromisso” é negócio
jurídico bilateral em que os figurantes se submetem ou prometem submeter-se a juízo arbitral.
Quanto a “representação” e “delegação”, deve-se entender a lei como se lá estivesse escrito:
“representação ou outra outorga de poderes”. Assim, estrangeiros não podem ser órgão com poder
de presentação (Tornos 1, §§ 86, 5, 91, 94-98; III, § 308, 1; X, §§
1.069, 2; 1.071, 2, 6;
1.079, 4), como seria vedada a titularidade à pessoa jurídica que presentassem o que afasta a
própria presentação por Brasileiros. Só Brasileiros podem presentar e só Brasileiros podem exercer
qualquer outorga de poder. Não se trata, de modo nenhum, de delegação, no sentido de dele gatio
crediti (nonvinis). Da transferência de ações e da cessão, quer de direito, quer de pretensão, quer de
ação, ou de exceção, já se cogitou na 1~a parte do art. 42, parágrafo único. Assim, na conformidade
do art. 42, parágrafo único, 23 parte, qualquer presentacão , qualquer representação , ou qualquer
outra outorga de poder ou de poderes , quanto a direito, pretensão, ação ou exceção, concernente a
ações, com direito a voto, de empresa de navegação aérea, somente se pode atribuir a Brasileiro,
para que estrangeiro não vote ou não exerça qualquer poder no tocante àquelas ações que entram
no número das 1
ações de que são titulares cidadãos brasileiros. As próprias ações, que compõem os trinta por cento,
ou menos de vinte por cento, que se deixaram, com direito a voto, a estrangeiros, somente podem
ser alienadas a Brasileiros, conforme o art. 8.0 da Lei n. 2.916. A empresa tem de exigir dos
adquirentes a prova de serem Brasileiros e tem de fazer comunicação ao Ministério da Aeronáutica,
com os documentos, para que seja “ratificada” (sfr) a transferência. Antes dessa ratificação, não há
qualquer efeito da transferência para o exercício dos direitos de acionista.
Assim, com precisa interpretação do ad. 42, parágrafo único, 23 parte, não podem exercer direitos
irradiados das ações que pertencem a Brasileiros: a) pai, mãe, tutor, ou curador de Brasileiro, se tal
pai, tutor, ou curador não é Brasileiro; b) o inventariante, estrangeiro, de herança em que há
herdeiro, ou legatário, de ações do percentual restrito aos acionistas brasileiros; o) o inventariante,
estrangeiro, de inventário em que há ações da empresa, com direito de voto, incluídas no percentual
deixado a estrangeiros, porque a aquisição somente pode ser por Brasileiros, segundo estrita regra
jurídica da Lei n. 3.916, art. 6.0, e os poderes têm de ser exercidos, após a abertura da herança, por
Brasileiros.
A infração da regra jurídica do art. 1.0 da Lei n. 3.916, de 13 de julho de 1961, que é regra jurídica
sobre pressupostos necessários para a aquisição e a permanência da nacionalidade brasileira das
empresas de navegação aérea, importa nacionalidade, porque a nacionalidade brasileira é efeito da
satisfação dos pressupostos, e se algum pressuposto fio foi alegado e provado, ou se a sua
composição foi nula, efeito . O próprio registo que se fêz no Livro de Registo de que cogita o art. 25
do Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940, é nulo.
Além da infração, que, segundo os princípios, determina nulidade e, pois, inexistência de eficácia (o
nulo não tem efeito), pode haver a fraude à lei.
Quanto às ações nominativas com direito de voto, pertencentes a Brasileiros, ou a estrangeiros (Lei
n. 3.916, art.
3.0), se acaso os acionistas transferiram a propriedade a alguma sociedade, mesmo regida por lei
brasileira, não pode ser lançado no “Livro de Transferência das Ações Nominativas” o termo de
transferência (Decreto-lei n.
2.627, de 26 de setembro de 1940, arts. 56, II, 27, a), e 25), nem averbada no “Registo de Ações
Nominativas” a transmissão por sucessão a causa de morte, ou por arrematação, adjudicação ou
outro ato judicial.
Se ocorre fraus legis ou infração, indo a estrangeiro, embora só de fato, o poder sobre as ações ou o
voto, caracteriza se o crime do art. 311 do Código Penal: “Prestar-se a figurar como proprietário ou
possuidor de ação, título ou valor pertencente a estrangeiro, nos casos em que a êste é vedada por
lei a propriedade ou a Posse de tais bens”. Também pode ocorrer o crime do art. 171, § 2.0, II
(“vende, permuta ou dá em pagamento em locação, ou em garantia, coisa alheia como própria”). O
Ministério da Aeronáutica não pode ratificar qualquer das falsas transferências que se pretendam
pois que são contra as regras jurídicas da Lei n. 8.916. A parte final do art. 4~0, parágrafo único, da
Lei n. 3.916 repele qualquer negócio jurídico ou ato jurídico stricto sensu que seja ofensivo das
regras jurídicas da lei, inclusive no tocante à alienação ou criação de quotas que não Possam ser
registadas pela própria empresa de navegação aérea, e ratificadas (art. 3.0) pelo Ministério da
Aeronáutica.
Quem não pode adquirir não pode alienar o que não adquiriu. Quem não pode alienar ações também
não pode alienar quotas; a fortiori estabelecer transferência “pela mera assinatura do termo de
transferência” entre quotistas ou feitas a terceiro ou a terceiros.
O fim é elemento distintivo assaz relevante entre associação e sociedade (GIUSEPPE GIACOMO
AULETTA, Ii Contratto di Societa comercial, 32) ; mas também diversifica associações e sociedades,
como é o caso das associações comerciais e das associações de caridade, as sociedades civis e as
sociedades comerciais 2.DISTINÇOES E NACIONALIDADE As associações que, por seu contrato ou
por seus estatutos, só admitem como associados funcionários públicos, ou funcionáriOs públicos de
determinado lugar, função ou categoria, necessariamente têm a nacionalidade do Estado de que
êsses funcionários são empregados. Isso não pré-exclui a associação, de nacionalidade brasileira, de
que são membros, por exemplo, os funcionários de alguma ou de algumas embaixadas estrangeiras,
nem a associação, de nacionalidade estrangeira, de que sejam membros, por 1
CAPÍTULO III
1.FATOS E FATOS JURÍDICOS. Todos os fatos jurídicos e. g., inundação, morte, convulsão,
manifestação de vontade são fatos, que o mundo jurídico, em virtude de regra jurídica, recebe. Daí
dizermos, repetidas vêzes, que a regra jurídica , a lez, carimba, cobre, o suporte fáctico. Tudo se
passa no mundo fáctico, mas o que lá ficou distingue-Se, necessariamente , do que entrou no mundo
jurídico.
Seria efeito jurídico de contrato que não existe, porque contrato é negócio jurídico. Ora, a relação
jurídica de sociedade supõe que se tenha concluído contrato não nulo
de sociedade; portanto, que o contrato tenha satisfeito todos os requisitos que a lei exige para que
seja válido e produza efeitos jurídicos. Se o contrato de sociedade não existe, ou existe mas é nulo,
ou se foi anulado, sociedade não há.
alínea, exemplificativa aponta casos em que incide o principio de invocabílidade perante terceiros,
desde que a sociedade foi registada, ou haja ocorrido a prática de atos que correspondem ao regular
tráfico jurídico. Trata-se de princípio que cabe em princípio mais geral (princípio protectivo da
aparência), no qual também entram os dos arta. 1.318 e 1.321 do Código Civil (cf. Hzíjz Ht}BNER,
Der Rechtsverl im MobiliarsacheneÚht 98). Os que tiveram conduta que seria de sócio respondem
como sócios. Com isso, não se fazem socios, em sentido jurídico porque, ex hypothesj sociedade não
há. Não existe entre êles relação jurídica social. O problema consiste em se saber como o sistema
jurídico considera as relações que surgiram, isto é, se jurídicas ou não (não-jurídico =
lácticas), ou jurídicas sociais (haveria contradição com a afirmativa de não haver sociedade) ou
jurídicas de outra espécie. Tem-se de admitir que entram no mundo jurídico. Mas, como? j Como
geradoras ou geradas por enriquecímento injustifico Como oriunda5 de mancomunidade, mesmo se
o chamado patrimônio social pertence a um só sócio, pois há a eventual mão-comum dos lucros ou
dos lucros e perdas?
É verdade que pode acontecer que a atividade aparente mente social se haja exercido durante
algum tempo, ou todo o tempo, como se o contrato de sociedade fôsse válido e a própria dissolução
e a liquidação tenham ocorrido.
Isso não serve de argument0 para a teoria da sociedade de fato, que vê 80-ciedade no mundo fáctico
com produção de relações jurídicas (WOLFCANG SIEBERT, liXe faktische Gesellschaft, Festsehrqt
flir J. W.
HEDEMANN, 266 s.; System und võlkische Ordnung, Deutscke Rechtswisse 1986, 287 s.;
GÍ.YNTIIER
HATJPT, ttber faktische Vertragsverbã Pestchrift filr HmNurca Smn, 17 s.; cf. WALTER ERMAN,
Personengeseusúkaíten trnd mangelhaf ter TJertragsgr?J,fl13143ge ~1 sj. O que lá estava aparecia
como sociedade e, embora não o fôsse, foi tratado como tal. Acontece o mesmo se A fêz cheque falso
ou falsificou o cheque de B e recebeu o dinheiro, sem nunca se ter alegado a falsidade ou a
falsificação. Ou se a ação rescisória da sentença poderia ter sido proposta, e não no foi.
A teoria da sociedade de fato tem de ser repelida porque atribui ao fáctico efeito jurídico e efeitos
jurídicos só os 1
há de fatos jurídicos (fatos jurídicos stricto sensu, atos-fatos jurídicos, atos jurídicos stricto sensu,
negócios jurídicos, atos ilícitos, fatos ilícitos stricto sensu). Desde o momento em que se atribui a
algum fato efeito jurídico (e. g., morte, adjunção, mistura, mau uso da propriedade, perdão,
domiciliação, perecimento do objeto), o fato entrou no mundo jurídico, nem sempre corno e quando
se queria que entrasse, nem sempre mesmo se se queria que entrasse.
Se o sistema jurídico atribui efeito ao que se chama “sociedade de fato”, tem-se de indagar qual o
fato a que se atribuiu o efeito, e não afirmar-se, desde logo, que há sociedade, porque, se há
sociedade, houve contrato eficaz, portanto contrato que existe e não é nulo. Ora, partiu-se
exatamente do enunciado fundamental que foi o de não ser ou ser nulo o contrato, razão por que se
levantou a questão. Os atos dos que se criam sócios, ou se fingiam sócios, e não no eram, não podem
ser atos que se tenham de reconhecer como de sócios, porque se supôs, de antemão, que não existia
sociedade. Também a teoria da validade provisória é falsa, porque nega o problema, que nasceu da
afirmação da invalidade. Nem seria de acolher-se a teoria do como se, para a qual tudo se há de
tratar como se sodade houvesse existido (seria, no fundo, o que pensa JOSEF ESSER, Lehrbuch des
Schuldrechts, 402), nem a teoria da validade limitada ou da limita çúo das conseqiiêfl~Cia5 da
nulidade (e. g., WALTER ERMAN, personaígeselLschaft~ und quangelhaf ter vertragsgrundlage, 53
5.; GÚNTIIER
Liquida-se o que resultou da atividade socialiforme pOsto que social se houvesse querido que fôsse,
porque houve fatos que ao sistema jurídico parece que têm de ser considerados dentro do mundo
jurídico~ Se a liquidação é como se se liquidasse sentença (Código de Processo Civil, ad. 678), é
porque o sistema jurídico repeliu a ligação às regras jurídicas do enriquecimento injusto (que
suporia alguém se enriquecer à custa de outrem), e a ligação à contraprestação em caso de não
poder haver, no tocante a contrato bilateral, a restituição por impossibilidade ou a restituição por
ser impossível a prestação.
As relações jurídica5 que se irradiam da chamada sociedade de fato não são contratuais, nem se
pode admitir que de contrato nulo, ou inexistente possa resultar relação jurídica contratual Cedo, as
manifestações de vontade, que concluiriam o contrato, exerceramse, mas a conclusão não se deu.
Nem seria de acolher-se a solução da exceção de dolo (Einrede der Arglist) com que jurisprudência
(desde 1936) e doutrina alemãs tentaram afastamento da nulidade <ct EHWIN Rixzim, Berufung auf
eigenes Unrecht .Jherings Jahrbiicher, 89, 177 s. e 217; cf.
Código Civil alemão, § 162), porém o assunto nada tem com o que se passa com as chamadas
sociedades de fato, pois o tratamento é o mesmo para os casos de dolo e os casos sem o dolo do
figurante de que resultaria a nulidade.
No Código Civil português (1867), art. 692, alínea lA, 1.a parte, já se excluia a nulidade por dolo se
ambos os figura~f~8 incorrem, e na 2.a parte se estatuiu que, se só um é doloso, o outro não é
obrigado a cumprir o que prometeu, nem a restituir o que recebeu, e pode exigir o que prestou (cf.
Código Civil espanhol, art. 1.305). O art.
1 a parte (cp. Código Civil alemão, ~ 817, 2 a parte). Cf. art. 971.
Em todo caso, uma vez que a torpeza é dos dois lados, ou de todos os lados, há o que se quis chamar
“confiscação” (ERWIN RIEZin, Berufung auf eigenes Unrecht, Jherings Jahrbúcher, 89, 204), melhor
“expropriação”. Se alguém usou e deve pelo tempo do uso, tem de indenizar contraprestar, pois que
se lhe prestou a despeito da nulidade do contrato, ou se contrato não existiu (cf. TASCUE, Pacht fúr
nichtige Landpachtvertrãge?, Deutsehes Gemem- uná Wirtschaftsrecht, 1942, 104;
Vertragsverhãltnis nach nichtigen Vetragsschluss?, Jherings Jahrbiicher, 90, 122). O sistema jurídico
repele o “tudo ou nada”, mas isso não significa que leve a negocialídade até onde negócio jurídico
não houve ou não vale (cp. H. LANGE, Vom alten zu
„neneu .Schuidrecht, 67 e 75; Die neugestaltung der Anfechtung und das ~ertragsverhaltni5,
Jherings
1.CONCEITOS. Pôsto que outros nomes melhor exprimissem o que se passa, temos, em atenção ao
uso, de empregar as expressões “sociedades irregulares~~ e “sociedades de fato”. Mas, para isso, é
de mister tôda precisão conceptual. Ou há, por exemplo, o instrumento, público ou particular, ou
não no há. Se o há e a sociedade não se registou, há sociedade irregular, e não há pessoa jurídica.
Se o não há, ou se deixou de existir, tem-se de edictar regra jurídica que estabeleça a alegabilidade
e os „meios de prova da existência da sociedade aparente, que pela simples razão, por exemplo, de
não ter ou de não mais ter o instrumento, público ou particular, do contrato social se diz sociedade
de fato. Tôdas as sociedades são de fato, porque negócio jurídico é fato, e nenhuma fica só no
mundo táctico se o direito admite a sua entrada (=z a prova da sua entrada). A expressão
Mais uma vez frisemos que não há sociedade no que se chama “sociedade de fato”, porque
sociedade é efeito de contrato e, para que qualquer contrato tenha efeito, é preciso que exista e seja
válido e eficaz. O que se encontra e a que se atribuem efeitos, quando se fala de sociedade de fato, é
fato socialiforme, e não sociedade.
As sociedades chamadas irregulares e as sociedades chamadas de fato são relações jurídicas. Não
as falsas sociedades, as firmas falsas, porque essas não são, não existem. Não são sociedades, quer
no mundo jurídico quer no mundo fáctico. Quem usa de firma falsa comete crime, porque diz fazer
parte de sociedade que não existe (Relação do Rio de Janeiro. 26 de outubro de 1880 a 1.0 de
fevereiro de 1881; cf. Supremo Tribunal de Justiça, 12
A definição “sociedade de fato, sociedade constituída com violação de regras legais” de modo
nenhum nos interessa. £definição conforme o conceito francês de “société de fait”. Na doutrina
francesa, o que hoje se chama, no Brasil, sociedade de fato, é dita “société créé de fait”, e aparenta
relação jurídica que apenas resulta do comportamento dos interessados, porque houve manifestação
de vontade de pôr em comum, sem observância da lei, os bens ou a indústria, com o fim de se
partilhar do lucro que de tal comunhão proviesse.
2.CONSTRUÇÂO JURÍDICA. Em tôda sociedade há comunhão. Mas, para haver sociedade, há de
haver plus. A comunhão, só, não perfaz a sociedade. Daí não se poder definir a sociedade como
comunhão de bens, ou comunhão de interesses (sem razão, o Supremo Tribunal de Justiça, a 26 de
maio de 1883, O D., 31, 337; a Relação da Côrte, a 3 de novembro de
1874, e o Juízo do Comércio da Côrte, a 19 de agôsto de 1873, 11, 626 5.; a Relação de Recife, a 17
de dezembro de 1875, 11, 614; o Tribunal de Justiça de São Paulo, a 20 de dezembro de 1892, G. J.,
1, 543 s., a 28 de maio de 1897, 1?. M., V, 574, e a 2 de abril de 1898, O D., 85, 92). Na doutrina, é
lamentável que as confundissem TEIXEIRA DE FREITAS (Consolidação das Leis Civis, art. 747, nota
6) e CARLos DE CARVALHO (Nova Consolidação, art. 1.275). Acertado, .1. X. CARVALHO DE MEN
DONÇA (Tratado de Direito Comercial, III, 91), na critica;porém não na afirmação de personalidade
da sociedade irregular, no que acompanhou o errado acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo,
datado de 15 de março de 1895 (Revista Meiwat II, 316>.
A personalidade jurídica é atribuida 2)lei, ou segundo lei. Tôdas as entidades políticas estatais têm
personalidade jurídica sem ser preciso que satisfaçam formalidades (a União, os Estados-membros,
o Distrito Federal, os Territórios, OS Municípios). A lei diz, por vêzes, como é que as fundações e as
sociedades adquirem a personalidade jurídica. Só os sêres humanos têm personalidade por
princípios supraestatais.
No plano do direito comercial, o registo é que confere a personalidade jurídica; tal como no plano do
direito civil.
Nem o patrimônio separado, que pode existir sem haver sociedade, nem a própria sociedade bastam
para que se afirme a existência de pessoa jurídica. Um fato e a criação da pessoa jurídica, isto é, do
ente apto a ser pessoa jurídica, e outro, a personificação , a aquisição da personalidade jurídica
(nosso La Création et la Personnalité des Personnes juridiques en Droit international privé,
Mélanges STREIT, 671 s.). Não há personificação antes da criação, mas pode criar-se a sociedade
sem ela vir a ter personalidade. Antes de se personificar, a sociedade pode entrar em relações com
terceiros. Para que tais relações não se possam dar, é preciso que haja vedação de criar-se, ou não
se haja criado a sociedade, ou se negue qualquer eficácia jurídica à constituiçãO da sociedade.
A sociedade de fato não é sociedade, não houve o efeito especial, que é a sociedade, mas há relações
jurídicas, porque a lei considero os fatos jurídicos ou atos jurídicos o que ocorreu. O assunto ainda é
discutido em sistemas jurídicos estrangeiros (WALTER ERMAN, Personengesellschftften uná
mangelhaftt Vertragsgrlfndlage, 11 s.), 1
mas tivemos de focalizá-lo, com precisão, no sistema jurídico brasileiro. Tem-se como irradiadora de
efeitos a situação até que se dê, por exemplo, a decretaçaO da nulidade ou da anulação, que
desconstitui e ao mesmo tempo afasta a eficácia da situação existente. O direito teve de levar em
consideração o que se passou, não só em relação a terceiros Como entre os figurantes, com atuação
e atitude acordante (cf.
WOLFGANG SIEBERT, fie faktische Gesellschaft, Festsckrift fiir HEDEMANN, 366; GUNTRER
HAUPT, Úber ta-kti.sche Vertragsverbâlenisse, 17 s.). Repíla-se, porém, que se haja de considerar
provísôríamente válida a sociedade, ou que se deturpem os casos de nulidade para se considerarem
de anulabilidade e se cogitar de desconstituição só ex nuno. Tão-pouco seria de acolher-se a
explicação de ser requisito essencial para a eficácia da chamada sociedade de fato a existência
mesmo só material de contrato.
Quanto à prova da sociedade, a que se refere o art. 1.366 do Código Civil, trata-se de regra jurídica
protectiva dos terceiros, que estiveram em contacto com algum ou alguns Meios, ou com órgão , e
admitiu que existisse sociedade. A “sociedade”, que se prova, pode não ter existido, juridicamente,
de modo que a prova se reduz a prova da aparência. Por outro lado, os que se tinham como sócios
não podem provar a sociedade, salvo por escrito, mas podem provar por outros meios as relações
jurídicas, parecidas com as relações jurídicas sociais, que dos seus atos e atitudes resultaram.
Para se explicar o tratamento das relações jurídicas que se estabeleceram, a despeito da nulidade e
da anulabilidade depois decretada, não se precisa dizer que se trata a espécie como se a sociedade
tivesse juridicamente existido” (e. g., JOSEF Essn, Lekrbuch des Sckuldrcekt 402), nem que há
“limitação das conseqüências da nulidade” (e. g., WALTn ERMAN, Personengeseliscftaft~n und
mangelhaf ter T/ertragsgrundlage 53 s.; GÍINTHER HAUPT-RUDOLF REINHALiDT,
Gesellsckajtsrech,t, 4 lei , 70 s.).
Primeiro, porque o suporte fáctico, sobre que incide a regra jurídica quanto à excepcional eficácia,
não exige o elemento do contrato nulo ou anulável, e pode não ter existido o contrato. Segundo, se a
nulidade ou a anulação foi baseada em regra jurídica protectiva de um dos figurantes, a eficácia,
com que se protege a pessoa, é a que teria o contrato válido de sociedade, porém essa não é, em
todos os pontos, a da chamada sociedade de fato.
Na interpretação do art. 808 do Código Comercial é da maior relevância advertir-se que as ações
entre os sócios a que a regra jurídica se refere, para não as admitir, s5o somente as ações que
derivam da existência da sociedade (ef.TEiXEIRA DE FREITAS, Consolidação das Leis Civis, nota 6
ao art. 747: “Aproveitarei a ocasião para a verdadeira inteligência do Código do Comércio, art. 303,
de que os nossos Juizes e Tribunais tem feito resultar conseqüências iníquas. As ações , que êsse art.
303 do Código veda aos sócios entre si e contra terceiros, se não forem logo acompanhadas do
instrumento probatório da sociedade, não são tôdas as ações indistintamente, mas só aquelas que
não tiverem outra causa possível senão a existência de uma sociedade. É o que bem se conhece
pelas palavras do citado artigo que fundar sua intenção na existência da sociedade. E na verdade, se
estas palavras distinguem estas ações dos sócios entre si, ou dos sócios contra terceiros, como é
possível entender que os sócios estão privados de demandar-se reciprocamente pela restituIção dos
bens de suas entradas sociais, pela partilha de lucros havidos em comum, e demandar a terceiros
para pagamento de dívidas? Quando não exista sociedade legalmente constituída, ou contratada em
forma legal, existia todavia uma sociedade de fato, uma comunhão de bens ou de interesses; e ai
temos uma causa jurídica das ações, embora não tenhamos a existência legal de uma sociedade. Por
outra, o art. 303 do Código do Comércio proibe que, sem o instrumento social registado, se venham
demandar em Juízo efeitos futuros do contrato de sociedade, por exemplo, para que um sócio realize
a prometida entrada social; porém não veda que se demande em Juízo por efeitos já produzidos, ou
pelo que respeita ao passado. A não ser assim, autorizava-se a usurpação dos bens alheios. Esta éa
doutrina de todos os escritores franceses sobre o contrato de sociedade, doutrina tendo por si a boa
razão e mesmo o simples bom senso”;
2 a Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, 7 de junho de 1911, 1?. de D., 21, 566;
1a Câmara Cível, 5 de dezembro de 1912, e Câmaras Reúnidas, 11 de dezembro de 1913, 84, 363; 5
a Câmara Cível, 17 de dezembro de 1926, 84, 828; Tribunal de Justiça de Santa Catarina, 24 de
agôsto de 1928, 7S, 446; ga Câmara Civil do Tribunal de Justiça de S~o Paulo, 21 de novembro de
1982, 1?. dos 2h, 125, 73; 1.a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, 8 de junho
de 1954, 1?. J., 10, 216; 2.~ Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 80 de janeiro de
1945;3a Câmara Civil, 18 de abril de 1945, R. dos 2‟., 157, 716;
5 a Câmara Civil, 12 de março de 1948, 173, 815; 2 a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, 6 de julho de 1949, 4 81, 892;
(Ementário e Jurisprudência, 1953, 823), em que se diz que, nas sociedades de fato, a personalidade
jurídica e o patrimônio social se confundem com as personalidades e o patrimônio dos sócios. 14km,
o acórdão da 5~a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 19 de maio de 1950 (R. dos
2‟., 187, 247).
Se não houve contrato escrito (por instrumento público ou Particular) as atitudes dos sistemas
jurídicos têm sido diferentes: a) a sociedade é sociedade de fato, e não pode personífícar..se; b)
sômente não existe (sociedade é efeito) porque não pode ser alegada pelos sócios, contra terceiros,
a existência (aí, a doutrina francesa comete grave confusão entre ineficácia relativa e nulidade, cf.
E. THÂLLER - J. Pmtcmiou, Traité élémentaire de Droit Commereiai, 259; PAul, PiC, De~ Sociétés
commercial 1, 868) ; e) a falta do escrito implica irregistabílidade o que pré-exclui qualquer
alegabilidade da existência da sociedade contra terceiros.
No direito brasileiro, o instrumento público ou particular é indispensável para que sócios aleguem,
contra os outros, ou contra terceiros, a existência da sociedade (Código Civil, artigo 1.866; Código
Comercial, arts. 300, 808 e 304, cp. art. 325). Nessa matéria qualquer alusão à nulidade é absurda
O Tribunal de Justiça do Ceará, a 22
de abril de 1944 ( Jurisprudência Civil e Comercial, 1958, 328), admitiu que terceiros provassem a
existência de sociedade, a despeito de a empresa ter sido adquirida por firma individual, sem o
devido registo. Está certo. A 5a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 13 de
outubro de 1950 (/?. F., 146, 286), admitiu a existência da sociedade ,aliás, empregando má
terminologia) sem ter havido o registo.
Por outro lado, tem o direito de atender a que pode “aparecer”, no mundo fáctico, a “sociedade”,
sem existir no mundo jurídico, isto é, sem que juridicamente se haja constituído sociedade. É minus
em relacão à sociedade irregular, pois essa existe no plano do direito das obrigações, sem que exista
como pessoa jurídica, por falta do registo obrigatório. A obrigatoriedade do registe é que faz
irregular a sociedade. Por isso mesmo, no direito civil, que não tem o registo obrigatório, a
sociedade, que se não registou, é sociedade não personificada, sem que haja sociedade irregular.
A falta do registo salvo para as sociedades por ações só importa ineficácia e não-aquisição de
personalidade jurídica. No Reg. „787, de 25 de novembro de 1850, art. 693, o legislador viu a
diferença entre invalidade e ineficácia e argutamente, embora lhe faltasse a terminologia científica,
estatuiu: “A falta de registo, salvo os casos expressos no Código, não importa nulidade do
instrumento, mas somente a sançAo especial que o Código estabelece nos casos em que o exige”.
No Código Comercial, art. sai, tem-se explícita a solução que o direito comercial brasileiro deu ao
problema de técnica legislativa, solução assaz diferente das que outros sistemas jurídicos adotaram
e por vêzes não entendida pelos juristas estrangeiros. Lê-se no art. 301, alíneas 13,
2 a e 3
“validade”, no art. 301 do Código Comercial, como em tantos outros passos da legislação brasileira
e das legislações estrangeiras, é imprópria. Reseende a tempo em que se não sabia distinguir da
inexistência a invalidade ou a ineficácia, e da invalidade. Efeitos, o contrato social, não registado,
tem; tanto que o próprio art.
301 atribui efeitos a favor de terceiros contra todos os sócios solidariamente Os efeitos contra
terceiros, êsses, teriam de ser, entre outros, os de não responder algum sócio, ou não responderem
alguns sócios, ou todos, solidariamente . Porque não há efeitos contra terceiros, têm êsses ação
contra todos os sócios solidariamente (A confusão entre contrato social e personalidade perturbou,
de muito, a doutrina, e. g., J. X. CARVALHO DE
MENDONÇA, Tratado de Direito Comercial, III, 135 s. Não compreendia êle que a sociedade
existisse e não tivesse personalidade; portanto, confundia o contrato social com a pessoa jurídica.
Feliz na crítica, em geral, aos escritores italianos e franceses, foi, nesse passo, infeliz.)
As sociedades irregulares existem, porém não têm personalidade (sem razão, J. X. CARVALHO DE
MENDONÇA, Tratado de Direito Comercial, III, 89, que confundiu patrimônio separado com
personalidade).
Os credores particulares de cada sócio não podem ir contra esse patrimônio separado, especial, com
prejuízo para os credores da sociedade. Os credores da sociedade somente podem ir contra o
patrimônio de cada sócio depois da execução do patrimônio separado. Os sócios das sociedades
irregulares são solidariamente responsáveis como o são os sócios das sociedades regulares em nome
coletivo e os sócios ocultos (Código Comercial, ad. 801, a alínea: .... mas dará ação a estes ” aos
terceiros “contra todos os sócios solidariamente ad. 805, 3a alínea: “A responsabilidade dos
sÓCiOS ocultos é pessoal e solidária, como se f~sem sócios ostensivos”; e art. 316). A
responsabilidade de cada um dos sócios isto é, com o seu patrimônio particular é responsabilidade
apenas subsidiária.
No art. 350 do Código Comercial, frisa-se a subsidiariadade : “Os bens particulares dos sócios não
podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados todos os bens sociais”.
Cf. Decreto-lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945, art. 128, III: “não chegando o produto dos bens
sociais para pagamento dos credores sociais, êstes concorrerão, pelos saldos dos seus créditos, em
cada uma das massas particulares dos sócios, nas quais entrarão em rateio com os respectivos
credores particulares”.
Não há escolha entre executar os bens do sócio ou os da sociedade. Se se afirma haver sociedade
(ainda de fato) e ser da sociedade a dívida, tem-se de cobrar à sociedade e executar-se, primeiro, o
patrimônio social. Se não se parte do enunciado de ser social a dúvida, pode o credor ir contra quem
a assumiu, mas o demandado pode alegar que tem de ser citada a sociedade, ou que primeiro se hão
de executar os bens sociais. Idem, se se articula. que a sociedade deixou de existir (Código
Comercial, ad. 329 e 850; Reg. n. 737, arts. 492, § 8, e 497). Sem razão, o Tribunal de Justiça de São
Paulo, a 31 de janeiro de 1903 (São Pauto J., 1, 104).
Se o sócio não foi citado, a execução não pode ir contra os seus bens particulares, porque a sua
responsabilidade solidária é subsidiária. Os bens sociais é que podem ser executados, uma vez que
foi citado órgão da sociedade, ainda se irregular (sem razão, nesse ponto, na crítica a João MINDES
JÚMOR, R. F., 14, 447, o que diz 3. X.
Na dificuldade de se provar a sociedade dita sociedade de fato, pois não mais há, ou nunca houve
instrumento público ou particular, e na necessidade de se protegerem os terceiros e os próprios
contraentes, está a ratio logis das regras jurídicas a que nos referimos. Em verdade, o sistema
jurídico mais cogitou da prova de fatos do que da prova da existência (menos ainda do fato da
constituição, tanto assim que, a propósito da exigência da escritura pública ou particular, falou de
prova, e admitiu exceções largas, como as do art. 305 e 325. Diz o art. 300, alínea 1Y: “O contrato de
qualquer sociedade comercial pode provar-se por escritura pública ou particular; salvo nos casos
dos arts. 804 e 825”. Na alínea
2 a do art. 300 acrescenta-se: “Nenhuma prova testemunhal será admitida contra ou além do
conteúdo do instrumento do contrato social”. Não se disse que seria vedada a prova testemunhal do
contrato que se disse foi que existindo instrumento público ou particular a prova testemunhal é
inoperante contra ou além dêle. Se não há instrumento do contrato social, a prova rege-se pelo art.
805 ou pelo art.
825 (ad. 122). Se atendemos a que o arE 3Q5, 23 alínea, não é exaustivo, melhor se lhe pode
apresentar o alcance.
Não se fez , na espécie, o instrumento público, nem o instrumento particular, pressuposto formal
necessário do contrato social.
Dai não se poder dizer que a sociedade irregular é aquela a que falta o instrumento necessário à sua
constituição ou que se não constituiu. Não é a constituição que está em causa. Por isso mesmo, em
se tratando de sociedades 1
por ações, ou de outras a que se exija, para se constituírem, registo, não há falar-Se de sociedades
irregulares. Ou são ou não são.
a)com prova testemunhal (Tribunal de Justiça de São Paulo, .25 de setembro de 1897, Revista
Mensal, VI, 359 s.)
; b) talão ou talões de impostos pagos (espécie de que o acórdão citado também cogitou) ; o) partilha
de lucros e perdas.
Trata-se de presunções juris tani um. Desde que o fato ou os fatos sejam da mesma natureza dos que
se enumeram, inexaustivamente no ad. 205, 2Y alínea, do Código Comercial, a regra jurídica do art.
305, 1-? alínea, incide. Diante do fato ou dos fatos, tem o interessado em negar a presunção o ônUS
da prova em contrário (Reg.
ti. 735, de 25 de novembro de 1850, art. 1S6: “Presunção legal condicional ~ o fato, ou o ato que a
lei expressamente estabelece como verdade, enquanto não há prova em contrário”, onde se cita o
art. 805). Por exemplo:
a despeito do emprego dos pronomes nós e nosso, pode, conforme prova contrária, não haver
“sociedade” (cf.
Supremo Tribunal de justiça, 12 de maio de 1886, O D., 40, 465 s.; Relação do Rio de Janeiro, 9 de
julho de 1886, 40, 640).
A sociedade de fato pode resultar de imediatidade de comunhão após a dissolução de sociedade que
estava constituída por instrumento público, ou particular, ou, até, registada. Às vêzes, tem-se de
averiguar se houve continuação ou criação de outra sociedade. A questão é quaestio facti e tem
grande interesse, no tocante à 1iquidação se continuou a antiga sociedade, a despeito da dissolução,
tem-se de proceder à liquidação conforme os estatutos da sociedade antes extinta; se não houve
continuação, ou há elementos para se resolver, ou, se os não há, regem os princípios gerais sobre
sociedades.
Sul, 9 de novembro de 1955, R. J., 22, 132) ou a de fato, quem se lhe apresentou como órgão é
legitimado para, como tal, funcionar na ação. O efeito a favor do terceiro, pela proteção fundada na
aparência, é o de ter tratado a pessoa como órgão O ser sócio, por si só, não basta (Lia Câmara Civil
do Tribunal de Justiça de São Paulo, 19 de dezembro de 1958, 1?. dos 7‟., 283, 344), a despeito de
todos os sócios responderem pelas dívidas comuns (Tribunal de Apelação do Rio Grande do Norte>
13 de abril de 1943, R. do 7‟. de A., VII, 325), salvo se o terceiro sabia que a responsabilidade não
era ilimitada.
Na sociedade de fato, se um dos sócios demanda, pela restituição daquilo com que contribuiu para o
patrimônio, a comunidade, ou pelo recebimento dos lucros que advieram da mão-comum, não se
supõe a sociedade tal como se devera ter constituído, diante da exigência legal do instrumento, mas
a situação jurídica resultante de terem as pessoas procedido conto se sócios fôssem. Pode bem ser
que o sócio tenha emprestado à comunidade, ou pago despesas comuns (cf.
4 a Câmara Civil do Tribuna] de Justiça de São Paulo, 31 de agôsto de 1950, 1?. dos 7‟., 190, 186).
Quando há a dissolução, não é a da sociedade, em sentido próprio, mas a da situação que se criara.
O que se liquida é “sociedade” que não entrou, como sociedade, no mundo jurídico, pois o que existe
é comunidade, que tem de passar por liquidação. A expressão “sociedades de fato” leva a pensar-se
em que, juridicamente, ela existe, e isso não ocorre. Por essa razão, a prova é qualquer prova (cf.
Câmaras da Côrte de Apelação do Distrito Federal, 25 de agôsto de 1909, R. de D., 14, 310;
O Supremo Tribunal Federal, a 24 de abril de 1952 (R. F., 155, 179>, dispensou a juntada do
contrato social se há ação entre os sócios, sem ter havido contrato. Entenda-se, porém, que isso
somente ocorre se a ação pode ser proposta e o foi, isto é, se não se trata de ação que suponha a
existência, da sociedade. A cláusula penal, inserta em contrato posterior à constituição da
mão~comUm, pode ser eficaz, por não ser cláusula que suponha a existência da sociedade‟
(Tribunal de Justiça da Bahia, 18 de dezembro de 1951, 1?. dos 7‟. da Bahia, 45, 277).
Se alguma sociedade não se registou e funcionou, mas exerceu a sua atividade e se fêz distrato, sem
que a sua liquidação tivesse sido feita conforme permite a lei (cf., mesmo se de fato a sociedade,
Código de Processo Civil, ad. 673), os terceiros que têm por si a proteção dos seus interesses,
segundo 05 princípios, podem ir contra os sócios pelas dívidas contraídas em nome da sociedade
(sem razão, ALFRED EUECK, Gilt § 15 Abs. 1 1-1GB.
auch beim Erlóschen und bel der ~enderung nicht ~j~getragener, aber ~ Rechtverhãltnisse?,
ArchiV fúr die civiiistisúhe Prazis, tis, 350; cp. ZAUTETEIi, Die Bedeutuflg der Kintragflfl9 ztnd ~
volt Tatsathtfl in das 1
Quem se retira de sociedade de fato não fica, por isso, exonerado diante dos credores da sociedade
~S.a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 26 de novembro de 1948, A. J., 89,
460).
A família pode trabalhar junto sem que haja sociedade e, até mesmo, sem que haja comunhão pro
indiviso nos lucros. O que acontece, por exemplo, se o pai estipula o que há de perceber do que os
clientes pagam, pelo que êle faz (obra), e os filhos, pelo que êles fazem (obras): o pai cobra x pelo
corte das roupas e os filhos cobram y e z, pela costura. Porém nada impede que se conclua,
tàcitamente, ou por escrito, contrato de sociedade, ou simples comunhão.
CAPÍTULO 1
A sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, é so ciedade de capital, mas isso não significa
que à sociedade civil, sem fim lucrativo, não se dê a mesma estrutura. Na sociedade de capital, o
capital passa à frente das pessoas dos sócios. Na sociedade de pessoas, essas é que prevalecem. Os
dois elementos são coligados, nas sociedades cooperativas.
2.FONTES DO DIREITO SOBRE SOCIEDADES DE PESSOAS. As Fontes principais são o Código Civil
e o Código Comercial. Vêm, após, as leis especiais, no que elas reeditam os princípios gerais, como é
o caso da lei sobre sociedades por quotas, de responsabilidade limitada. Por isso, ao tratarmos das
sociedades de pessoas em geral, ao mesmo tempo remetemos ao Código Civil e ao Código
Comercial, O que permite à sistematização apresentar as regras jurídicas comuns aos dois ramos e,
portanto, gerais.
1. PRECISÕES . Em princípio, tôdas as sociedades têm o seu patrimônio, o seu capital, o fundo
social. A distinção quanto a ter, ou não, patrimônio próprio, não é a distinção entre sociedades de
pessoas e sociedades por ações. Nem no é a distinção quanto à atividade social, ao objeto, ao fim,
porque o fim lucrativo e o fim não-lucrativo podem aparecer nas sociedades de pessoas e nas
sociedades por ações. O sócio, o acionista, do clube não é sócio para receber dividendos ou rendas.
Por outro lado, não se há de pretender que, nas sociedades de pessoas, o vinculo seja pessoal, mas,
nas sociedades 1
por ações, real, O vínculo pessoal existe em tôdas as sociedades e, se, nas sociedades por ações,
ações há que se tenham de considerar como bens móveis, res, negociáveis como coisas, nem isso se
afasta a vincularidade pessoal, que se revela nos direitos dos sócios legitimados às assembléias e
outras deliberações, nem a vincularidade é real. Real é o direito que o sistema jurídico atribui aos
que são titulares dos direitos sobre as ações.
Nem se há de admitir que o fato de terem os sócios, nas sociedades por quotas, de responsabilidade
limitada, quotas, sejam êles quotistas do capital social. Um conceito é o de quota, com que se entra
ou se promete (quota, no sentido de quota passiva), e com que se concorre, ativamente, no caso de
liquidação da sociedade, e outro o de quota em patrimônio comum. O patrimônio da sociedade, uma
vez personificada, não 4 comum: é da sociedade (sem razão, a teoria da sociedade, a teoria da
sociedade com fundo pertencente a todos os sócios e outras teorias, tais como se encontravam, e. g.,
em OrTo GIEIuE, com o conceito de mão-comum, e em HOENIGER, com o conceito de dupla
natureza da sociedade).
No Tomo L, que é sobre as sociedades por ações, temos ensejo de aprofundar o conceito de ações e
de quotas senso estrito. A distinção entre sociedades de pessoas e sociedades das ações é a que
mais importa. Com ela é que se evitam as confusões oriundas de se opor ao conceito de sociedades
de pessoas o de sociedades de capitais.
CAPÍTULO II
Os arta. 1.363-1.409 do Código Civil incidem em se tratando de sociedades civis; mas, para as
sociedades mercantis, que não tenham regulação especial ou suficiente, podem ser invocadas
algumas regras jurídicas contidas no Código Civil. Aí estão os princípios básicos das sociedades de
pessoas.
§ 4Y, 30, 71, 188 e 157; Decreto n. 5.372-B, de 10 de dezembro de 1927, art. 19, que fazem
exceções ). A alteração do contrato de sociedade rege-se pelos mesmos princípios, salvo l ex 522 .
Se o contrato de sociedade apenas estabelece que a sociedade adquirirá imóveis ou fará contratos
de direito real sobre imóveis, não é exigido que se faça por escritura pública, de jeito que não se
pode invocar o art. 134, II, do Código Civil. Dá-se o mesmo se o sócio prometeu adquirir imóvel ou
direito real sobre imóvel para cumprir o seu dever social de prestação de entrada.
3. PROVA. Quanto à prova do contrato de sociedade, ou de alteração que lhe haja sido feita, a lei
busca atenuar a exigência de forma. Diz o Código Civil, art. 1.366: “Nas questões entre os sócios, a
sociedade só se provará por escrito; mas os estranhos poderão prová-la de qualquer modo”. A prova
por escrito, a que o art. 1.366 se refere, não é sempre a prova do contrato. Pode dar-se que haja
escrito ou escritos que não sejam o do contrato, mas que sejam suficientes para que se repute
existente a sociedade. Se a sociedade tinha de ser por escritura pública, muda de figura, porque,
por exemplo, não se poderia considerar prestado como entrada o imóvel para cuja transmissão a
escritura pública seja essencial. Já no Código Comercial, art. 304, se põem as mesmas regras
jurídicas. Na L. 4, D., pro sócio , 17, 2, MODESTíNO frisava que se podia concluir sociedade “et re
et verbis et per nuntium”. Cf.
Código Civil francês, art. 1.834; português, art. 1.241; argentino, art. 1.660.
Nas questões entre o sócio e terceiro, propostas pelo sócio, êsses podem provar por outros meios
que a prova escrita o contrato de sociedade. O art. 1.366, 1a parte, do Código Civil só se referiu às
“questões entre os sócio?‟
Já se disse no Código Comercial, art. 303: “Nenhuma ação entre os sócios ou dêstes contra terceiro,
que fundar a sua intenção na existência da sociedade, será admitida em juízo, se não fôr logo
acompanhada do instrumento probatório da existência da mesma sociedade”.
Lê-se no Código Comercial, art. 304: “São, porém, admissíveis, sem dependência da apresentação
do dito instrumento, as ações que terceiros possam intentar contra a sociedade em comum ou
contra qualquer dos sócios em particular. A existência da sociedade, quando por parte dos sócios se
não apresenta instrumento, pode provar-se por todos os gêneros de prova admitidos em comércio
(art. 122), e até por presunções fundadas em fatos de que existe ou existiu sociedade”.
“A entrada imposta a cada sócio pode consistir em bens, no seu uso e gôzo, na cessão de direitos, ou
somente na prestação de serviços. No silêncio do contrato, presumir-se-ão iguais entre si as
entradas”.
Diz-se no Código Civil, art. 1.378: “Se a entrada consistir em coisas fungíveis, ficarão, salvo
declaração em contrário, pertencendo em comum aos associados”. Aí, apenas se exprime que, em
caso da fungibilidade da prestação, a transmissão ao patrimônio social é imediata, sem necessidade
de qualquer formalidade, inclusive registo público. No Código Civil argen„tino, art. 1.704, houve
maior extensão: “Pertenecen ao dominio de la sociedad las prestaciones de cosas fungibles y de las
no fungibles, que se deterioran por el uso; las cosas muebles é inmuebles, aportadas para ser
vendidas por cuenta de la sociedad, ó que hayan sido estimadas en ei contrato social, ó en
documento que a esto se refiera”. No Esbôço de TEIXEIRA DE FREITAS , art. 3.160, de que foi
tirado o art, 1.704 do Código Civil argentino como o art. 1.378 do Código Civil brasileiro, havia o art.
1.159, onde se dizia: “Feita a tradição para trans.. ferir o uso ou gôzo, a sociedade adquire somente
direito real ou pessoal para o uso ou gozo concedido; e o sócio que tiver feito a entrada continuará a
ser proprietário dos bens em que ela consistiu, correndo por sua conta, como dantes, a perda total
ou parcial de tais bens que não fôr imputável a outro sócio”. No art. 3.158, o Esbôço previu a
tradição para transferir o domínio, dizendo que, dissolvida a sociedade, o sócio que fêz a entrada,
não teria direito aos bens prestados, mesmo se ainda se achassem no patrimônio da sociedade, O
art. 3.160 só era exceção à regra jurídica do art. 3.159. O Código Civil argentino, arts. 1.702 e
1.703, teve a influência do Esboço , porém com mais explicítude .
No sistema jurídico brasileiro, se não há cláusula contratual que permita afirmar-se que se cogitou
da transferência da propriedade da entrada, o que pode determiná-la é a fungibilidade do objeto. O
ad. 1.378 do Código Civil é me díspositivum.
Quanto aos bens para cuja transmissão da titularidade é preciso o registo, ou outra formalidade, o
que se há de entender é que qualquer sócio ou a sociedade pode promover a satisfação do requisito,
uma vez que a entrada 1
6. SUB-ROGAÇÃO REAL E LUCROS. Se algum bem foi adquirido pela sociedade, portanto com
meios do seu patrimônio, ou com indenização pelo dano que o seu patrimônio sofreu, ou mesmo pelo
dano moral que foi apreciado em valor econômico, entra no patrimônio da sociedade. Diga-se o
mesmo quanto à indenização de seguros de bens do patrimônio social (cf. Jos. SCHAFRETJThE
GeseU~schaftsbegriÍÍ und Erwerbe in das Gesellschaftsvermõgen 76 s.>, às bonificações prestadas
por empresas e aos prêmios.
Lê-se no Código Civil, art. 1.379: “Pertencem ao patrimônio social todos os lucros obtidos pelo sócio
na indústria que se obrigou a exercer em benefício da sociedade”.
Diz o Código Civil, ad. 1.381: “Se o contrato não declarar a parte de cada sócio nos lucros e perdas,
entender-se-á proporcionada, quanto aos sócios de capital, à soma com que entraram. Em relação
aos sócios de indústria, guardar-se-á o disposto no art. 1.409, parágrafo único”. Cf. Ordenações
Filipinas, Livro IV, Título 44, § 9.
Lê-se no Código Comercial, art. 288: “É nula a sociedade ou companhia em que se estipular que a
totalidade dos lucros pertença a um só dos associados, ou em que algum seja excluido, e a que
desonerar de tôda a contribuição nas perdas as amas ou efeitos entrados por um ou mais sócios
para O fundo social”. Surge o problema de se saber se é nulo o contrato social, se há tal cláusula, ou
se somente é nula a cláusula. Quanto às sociedades civis, não pode haver dúvida: sé é nula a
cláusula. Quanto às sociedades comerciais, a solução há de ser a mesma, a despeito da redação do
art. 288 do Código Comercial (cf. Supremo Tribunal de Justiça, 25 de maio de 1887, O D., 43, 367;
Relação da Côrte, 29 de novembro de 1887, 45, 560). A cláusula de algum sócio poder retirar,
periodicamente , ou até determinada quantia, parte do que se prevê como lucro, não é infração da
lei. A cláusula penal de perda de parte dos lucros por determinada infração contratual não é
clausula nula.
Pode ser estabelecido que se só se distribua parte dos lucros líquidos, pôsto o restante no fundo de
reserva, ou aplicado no desenvolvimento da empresa. Bem assim, a dedução do que há de ser
destinado à participação dos empregados nos lucros (Constituição de 1946, art. 157, IV), ou a fundo
de pensão dos empregados, ou a fundo de escola ou de hospital ou de assistência . Ou a fundo de
aumento de capital.
Lê-se no Código Civil, ad. 1.372: “É nula a cláusula que atribua todos os lucros a um dos sócios, ou
subtraia o quinhão Social de alguns dêles à comparticipação nos prejuízos”. As Ordenações
Filipinas, Livro IV, Titulo 44, §
9, in fine, consideravam “ilícito e reprovado” levar um companheiro o “ganho todo”, ou não ter parte
na perda. Cf.
Código Civil espanhol, ad. 1.691. O quinhão ínfimo trata-se como inexistente; por exemplo: A, 50; E,
40; C, 9; O, 1. A nulidade é da cláusula; fim do contrato. Por isso mesmo, se A, E e C teriam 33 cada
um, e D, i,~ tem-se de verificar se as entradas foram dc mesmo valor, caso em que se dirá que incide
o art. 1.381
do Código Civil. Se não eram do mesmo valor, a participação é proporcional ao valor das quotas.
7.PRAzo DO CONTRATO. A sociedade pode ser a prazo determinado, ou sem prazo determinado. O
prazo pode ser fixo, ou até que se impla alguma condição, ou advenha algum termo. Lê-se no Código
Civil, art. 1.374: “No silêncio do contrato, o prazo da sociedade será indefinido, salvo a cada sócio o
direito de retirar-se mediante aviso com dois meses de antecedência ao termo do ano social. Se,
porém, o objeto da sociedade fôr negócio ou empresa, que deva durar certo lapso de tempo,
enquanto êsse negócio, ou essa empresa, não se ultime, terão os sócio de manter a sociedade”.
Mais ainda. Se as pessoas interessadas são comuneiros (e. g., condôminos), podem pôr em cima da
comunhão existente a pele da sociedade, de modo que explorem o uso e o fruto (e. g., sociedade de
hotel no edifício em comum, ou no edifício de apartamentos pertencentes aos contraentes).
A propósito das sociedades cooperativas, o Decreto n. 22.289, de 19 de dezembro de 1932, art. 6.~,
§ 6, foi 1
explícito: “É permitida a formação de sociedades cooperativas sem capital e sem distribuição, por
qualquer forma, de lucros e dividendos”. Isso não significa que se trate de iez specialis. Sociedades
e associações que não são cooperativas podem ser sem capital e sem distribuição de lucros, ou sem
capital com distribuição de lucros.
Na sociedade interna pode ocorrer que um sócio ou sócios transfiram, a título fiduciário, a um dêles
a propriedade, ou o uso e o fruto, ou só o fruto ou o uso, do quanto com. que contribuem. Se a
mulher colabora na empresa do marido, ou êsse na empresa daquela, pode dar-se sociedade interna,
de jeito que o lucro não retirado se haja de considerar lucro divisível pelos dois.
Na espécie do art. 1.388, 1? parte, do Código Civil, de ordinário surge a figura jurídica da
participação subordinada, ou sub participação (Unterbeteiligung). Por exemplo: D deu a A a quantia
ou parte da quantia necessária para A entrar na sociedade em que são membros A, E e C, com o
vínculo de A a prestar a D fração da quota que receber nos lucros, e no que, em caso de liquidação,
caiba a A. Uma vez que A se vinculou a considerar E como sócio na sua quota, há a sociedade de
segundo grau ou participação subordinada ou sub-participação.
Dá-se o mesmo se concorrem tais elementos do suporte fáctico no caso de A, que já era sócio, ter
obtido parte do valor da sua quota, ou todo êle, com a comunhão nos lucros, e em caso de
liquidação. Se há, na participação subordinada, três ou mais interessados, tem-se como
administrador aquêle que obteve a participação subordinada.
Lê-se no Código Civil, art. 1.388: “Para associar um estranho ao seu quinhão social, não necessita o
sócio do concuno dos outros; mas não pode, sem aquiescência dêles, associá-lo à sociedade”. O
quinhão do sócio é unidade inserta no patrimônio do sócio, razão por que se lhe permite entrar com
êsse bem em sociedade, sem que precise de consentimento dos outros sócios, porque os direitos
perante a sociedade e os outros sócios somente êle os tem e pode exercer. A relação jurídica entre
os participantes dos lucros e da quota, em caso de liquidação da sociedade, pode ser a de sociedade,
dita, então, de participação subordinada ou de subparticipaçáo (sociedade de segundo grau).
Lê-se no Código Comercial, art. 334: “A nenhum sócio é lícito ceder a um terceiro, que não seja
sócio, a parte que tiver na sociedade, nem fazer-se substituir no exercício das funções que nela
exercer sem expresso consentimento de todos os outros sócios, pena de nulidade do contrato; mas
poderá associá-lo à sua parte, sem que por êste fato o associado fique considerado membro da
sociedade”.
3.INGRESSO DE NOVO sócIo. Se, em caso de vaga, ou sem ter havido vaga, os sócios, sem proibição
do contrato de sociedade, admitem nôvo sócio, há o contrato de admissão ou contrato de ingresso
(Aufnahmevertrag), que somente modifica o contrato de sociedade se não foi prevista a
inseribilidade em caso de vaga, ou se não se trata de contrato de sociedade a portas abertas,
assunto assaz relevante no tocante às sociedades cooperativas. A pessoa que entra, como nôvo
sócio, na sociedade, faz-se participe do patrimônio social, sem que seja preciso qualquer ato
especial concernente à transmissão, salvo o que se exigiu ao contrato de sociedade no que se refere
aos nomes dos sócios. Responde êle pelas dívidas existentes, com a sua quota no patrimônio da
sociedade; não além disso, salvo cláusula de responsabilidade ilimitada.
O contrato entre a pessoa que deixa de ser sócio e a pessoa que entra não tem qualquer relevância
perante a sociedade. Trata-se de substituição extra-social, cuja eficácia somente pode ser entre os
figurantes. Todavia, há eficácia para a sociedade (.= para todos os sócios que ficaram> se o contrato
social previa tal situação e a admitira. Então, o contrato com a pessoa que sai faz sócio o outorgado
(ALFRED RUECK, Das Recht der offenen Gesellschaft,
2 a ed., 257).
Se à pessoa que deixa de ser sócio não se dá substituto, ou pessoa que preencha a vaga, extinta fica
a titularidade jurídica de quem saiu e os sócios, que lhe restituiram a prestação de entrada, têm
aumentadas as suas quotas.
Se a entrada restituida saiu do patrimônio social, há diminuição dêsse, e não das entradas dos
outros, que apenas mudam de fração. Se constam de registo de imóveis os nomes dos sócios como
titulares de direitos reais e algum dêles deixa de ser sócio, cabe-lhe o dever de consentir na
retificação do livro de registo.
Se à pessoa que sai se restitui a entrada, com o atendimento do que é divida comum, têm os sócios
de garantir o exato cumprimento das dívidas que foram somadas no passivo da sociedade.
Se o valor do patrimônio não cobre as dividas da sociedade, nem, pois, as entradas dos sócios, o
sócio que sai responde como os outros.
4.QUALIDADE DE SÓCIO. A ação para que se reconheça ter (ou ainda ter) direito de sócio alguma
pessoa entra ou na ação declaratória, porque o elemento de cognição é o preponderante, ou em
ação constitutiva negativa, se vem em primeiro plano o elemento de decretação de invalidade, ou
em ação de condenação para que seja admitido o exercício de algum direito de sócio ou dos direitos
de sócio. Não se pode, a priori, reduzir a tutela jurídica à ação declaratória (R. LBoNHARD, Der
Aligemeine TeU des BGR., 126), nem apenas à ação declaratória e à de prestação (condenatória),
como queriam HANS LOCENER (Ausschluss von Mítgliedern freier V‟ereine, 14) e ARNO
STABEROW (Vber den Rechtsschutz itnd di. f?echtsvertoiounfl beim Ausschluss vou Mitgiiederfl em
getragener Vereine, 17). Aliás, a ação condenatória, para que se atenda aos direitos do sócio, pode
ser sem a alegação de qualquer invalidade.
IRRESTRITA. Se a sociedade civil tem a estrutura de alguma das sociedades de que cogitam as leis
comerciais ou as leis especiais, obedece às regras jurídicas que se ligam a cada espécie, e apenas se
lhe exige o registo social para que se personalize. As regras jurídicas que incidem não podem
contrariar o que se edicta no Código Civil.
Qual o critério para se saber se a regra jurídica, comercial ou especial, se choca ou se afasta do
Código Civil? As regras jurídicas do Código Civil somente têm de vir à frente se não se trata de
matéria peculiar à estrutura que se escolheu.
A propósito das sociedades cuja estrutura não exige que se invoque regra jurídica especial, estatui o
Código Civil, art. 1.396: “Se o cabedal social não cobrir as dividas da sociedade, por elas
responderão os associados, na proporção em que houverem de participar nas perdas sociais”.
Acrescenta o parágrafo único: “Se um dos sócios fôr insolvente, sua parte na divida será na mesma
razão distribuída entre os outros”. Alude-se à proporção em que os sócios hão de participar das
perdas sociais. Já as Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 44, § 9, estabeleciam:
“Não se declarando no contrato da companhia quanta parte do ganho, ou perda, haverá cada um
dos companheiros, entender-se-á que cada um haverá assim do ganho, como da perda, iguais partes.
Não tolhemos, porém, que os companheiros logo no tempo do contrato possam repartir entre si a
perda e o ganho doutra maneira; porque poderá muitas vêzes a indústria e saber de algum dêles ser
de maior valia e proveito, para a mesma companhia, que o cabedal, que os outros meterem, e assim
será justo que êste tal tenha mais no ganho, e menos na perda; não poderão porém os companheiros
pôr tal pacto e condição que um companheiro leve o ganho todo, e na perda não tenha parte,
porquanto o tal acerto, como êste, é ilícito e reprovado”. Em verdade, estava implícita a regra
jurídica de no silêncio do contrato, se terem por iguais as quotas, de modo que o principio ins
dispositivum se estendia à participação nos lucros e nas perdas. Também no Código Comercial, art.
330, pôs-se a mesma regra jurídica. A fonte do art. 1.396 do Código Civil, essa, esta no Código Civil
alemão, § 735. O art. 1.396, como a regra jurídica alemã, é ins dispositimtm (OTTO VON GIERKE,
Deutsches Privatreúht, III, 857). Se a sociedade é em nome coletivo, a ilimitação e a solidariedade
dos sócios pelas dívidas da sociedade são elemento essencial ao tipo de sociedade.
Se há solidariedade, primeiro hão de ser executados os bens sociais. O Código Comercial, art. 350, é
explícito.
Lê-se no Código Comercial, art. 350: “Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por
dívidas da sociedade, senão depois de executados todos os bens sociais
Há renunciabilidade do benefício de excussão, desde que se faça explícita e especial a renúncia (W.
GIRTANN~, Dve Biirgschaft nach genveinem Givitreeht, 1, 436; W. HASENUALO, i» Biirgschaft des
gemeinen CivílrechtS, 1, 604). Idem, se o sócio assumiu, pessoalmente, a obrigação de pagar em
determinado termo, ou condição, ou se 1
declarou que assume a dívida como só sua (W. GIRTANNER, Lhe Biirgschaft nach gemeinem
Civiirecht, 1, 240
a. e 319 5.).
Lê-se no Código Civil, art. 1.398: “Os sócios não são solidariamente obrigados pelas dívidas sociais,
nem os atos de um, não autorizado, obrigam os outros, salvo redundando em proveito da sociedade”.
Afastou-se a solidariedade, em regra jurídica dispositiva. Cada um dos sócios responde conforme o
contrato, ou segundo a regra jurídica dos arts. 1.381 e 1.396.
427). No Código Civil francês, art. 1.853, há regra semelhante ã do artigo 1.831 do Código Civil
brasileiro.
Os arts. 1.368-1.409 do Código Civil regulam a sociedade antes da personificação. Para que se
personifique a sociedade, é preciso que haja o escrito do contrato social e se registe o contrato
(Código Civil, art. 16, § 1.0). No art. 17 diz-se que há presentação das pessoas jurídicas (a expressão
“representação” é ambígua), ativa e passivamente, nos atos extrai judiciais e judiciais “por quem os
respectivos estatutos designarem”, ou, se não se cogitou disso, “pelos seus diretores”.
A sociedade ou a associação não personificada é entidade que não satisfaz os pressupostos para que
o sistema jurídico nela veja personalidade própria, isto é, titularidade única, em vez de pluralidade
de titularidades. O
ordenamento jurídico é que dá essa solução, para que se tenha algo de sobre individual. Não se diga
que o conceito é meramente formal (e. g., VrrmRIO SALANDRA, Le Societâ irregolari nel diritto
vigente, 106; cp.
ANGELO FALzEA, II Soggetto nel sistema dei fenomini gridici, 63) houve sêres humanos sem
personalidade. O
Cumpre observar-se que o associado ou o sócio, ou quem se diz sócio, que conclui negócio jurídico,
unilateral ou bilateral, em nome de associação ou de sociedade, que não tem capacidade jurídica,
responde ilimitadamente, cabendo a execução sobre o patrimônio da associação ou da sociedade e,
depois, sobre os bens do associado ou sócio.
Ono VON GIERKE, 1/ereine ohne Rechtsfdhigkeit, 7; C. PREDARI, Die Grundbuchordnung, 156;
KURT
GÚNTRER, Jslaftet der ejugetragene Verem fúr die Sehulden des nicht reehtsfãhigen, anis welchem
ei-entstanden?, 41 s.). No que se refere à responsabilidade dos associados ou sócios, dá-se o mesmo:
respondem hoje como responderiam ontem, antes do registo. Absurdo pensar-se em mudança de
sujeito (e. g., REINERE, Haftet der rechtsfãhig Verem ftir die Schulden des nichtrechtsfãhigen
Vereins, aus welchem er hervorgegangen ist?, Deutsche Juristen-Zeitinit~, 13, 246).
Quanto à aquisição de direitos reais pela associação ou pela sociedade que não tem personalidade,
não se pode admitir:
registo é contra direito e, pois, nulo (sempre se há de lembrar o que escreveu VON GIERRE, Vereifle
ohiw 1
A associação ou a sociedade sem personalidade expõe-se pelos atos dos órgãos, porque assim
resulta do Código Civil, art. 1.866, e do Código Comercial, arts. 304 e 305. Afaste-se que só se
possam invocar os arts. 1.313 e 1.314 do Código Civil. (Na doutrina alemã, ainda se discute: a) Em
sentido semelhante ao que acima se expôs: 1-1. DERNEURO, Das Biirgerlicke Recht, 1, § 66, IV, e §
79, V; HEINRICH STOLL, Die gegenwãrtige Lage der Vereine ohne Rechtsfãhigkeit, RG. -Praxis, II,
64 s.; EDOAR ROMBACH, Findet § 31 BGH. auf nicht rechtsfãhige Vereine Anwendung?, A‟rchiv fiJi-
die civilistische Praxis, 120, 267 5.; antes, MAx HACHENEUBO, Vortrdge, 488; HEINRICH
LEHMANN, Aligemeiner TeU, 6a ed., 354, e Gesellsehaftsrecht, 171; GÚNTRER HAUrT,
Gesellschaftsrecht,
SIEBERT, llaftung einer Gewerkschaft fOr ihre Organe nach § 31 BGB., Retniebsbe.rater, 1950, 846
s. b) Contra: OTTO vON GIERKE, Vereine ohne Rechtsfãhigkeit, 19; ANDREUS VON TUHR, Der
Alígemeine Teu, 1, 583; e muitos outros, principalmente a propósito de sindicatos, e. g., WALnR
KASKEL-HERMANN
Se a sociedade (ou a associação) ainda não tem personalidade, os atos do sócio (ou associado),
praticados em nome da sociedade (ou da associação), vinculam quem os pratica. Se dois ou mais
sócios foram os praticantes, há solidariedade.
No Código Civil, arts. 1.366 e 1.395, assenta-se que os bens sociais ficam sujeitos às ações dos
credores pelos atos dos sócios, como órgãos, ou como se fôssem órgãos. Ainda não se pode falar,
prôpriamente, de presentação, porque pode não haver personalidade que seja presentada. Quanto à
responsabilidade de cada sócio, se não se personificou a sociedade, não é pertinente falar-se de
representação, porque a responsabilidade é pelo ato que praticou, tenha querido, ou não,
responsabilizar-se, ou haja mostrado exercer poderes outorgados.
den Bestimmungen des EGE., 15; cp. ARTHUR NUSSBAUM, Beitriige zur Auslegung des § 54 BGE.,
Sãchsisches Arehiv liii- búrgerliches Recht imã Prozess, 10, 337 s.; FLIITZ HALLTWIG, Die
Schuldenhaftung der nicht reohtsfiihigefl Verem, 14). Trata-se de responsabilidade independente da
vontade de quem pratica o ato (WILEELM ABRAHAMSON, Schuidenhaftuflg des nwht rechtsfãhigen
Vereins nach bisherigem Recht und dem SUB., 80). Diretor e simples associado, ou sócio,
respondem conforme os mesmos princípios (FRITZ
HARTWIG, fie Sckuidenhaftung der nicht rechtsfãhittefl Vereine nach geltenden Privat- uM
Prozessrecht, 15), sem que se possa pensar em subsidiariedade ou acessoriedade da
responsabilidade do diretor (sem razao, ARTEUR NUSSBAUM, Beitrâge zur Auslegung des § 54
BGB., Sdchsisches Archiv, 10, 33‟? s.).
patrimônio social já está concebido; já se discrimina, a despeito de ainda não haver a pessoa
jurídica, o que é patrimônio social, patrimônio separado. O contrato social foi contrato básico, e não
só contrato causal. Como se marchou para a criação de nova entidade, a despeito da pluralidade de
figurantes do contrato, marchou-se para a individualização dos bens. Embora não esteja ultimada a
discriminação subjetiva, e os figurantes tenham os direitos, já os bens entram em patrimonlO
separado (cf. PAUL KNOKE, Das Recht der Gesellschaft, 82 s.; OTTO WOLZ, Das
GesellschaftsVermogefl, 23 s.).
Tudo isso bem mostra como o sistema jurídico teve de atender a êsses fatos e atribuir-lhes efeitos
jurídicos, mesmo se a sociedade, que se quis, não vem a existir (problema das chamadas sociedades
de fato), ou se apenas não chega a personificar-se (problema das sociedades irregulares).
A responsabilidade das pessoas jurídicas foi tida por alguns escritores (e. g., EDMUNI>
1{HOMBERG, Kórperschaftiiich.es Versehulden, 15) como artif icium juris, e não só a
responsabilidade da associação ou da sociedade sem personalidade, o que não seria para se repelir
fundamentalmente. Influência da teoria de F. vON
SAVIGNY, que exagerou o alcance do “hominum causa, omne ius constitutum est” da L. 2, D., de
statu 1
Jiominum, 1, 5 (cf. FRIEDRIcE SCHEFFFIR, fie Theorie itber das Wesen juristischen Personeu int
Vei-hâltuis zur Deliktshaftung, 7 s.).
A associação, ou a sociedade, que se cria sem que, podendo adquirir, adquira personalidade jurídica,
é inconfundível com a associação ou sociedade que não tem personalidade jurídica porque não pode
adquiri-la, ou não mais pode adquiri-la.
~A personalidade jurídica da sociedade persiste até que se ultime a liquidação? Foi isso o que,
erradamente, admitiu, o Supremo Tribunal Federal, a 24 de novembro de 1952 (D. da J. de 28 de
fevereiro de 1955), como a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Ceará, a 20 de setembro de
1951, J. e D., 1V, 160). O que persiste, depois do registo da dissolução, é a relação jurídica social, a
sociedade; não a personalidade. Antes de registada, mesmo a sociedade civil, não é pessoa jurídica;
com o cancelamento, deixou de o ser. A dissolução não extingue a sociedade, porque as relações
sociais sobrevivem, até que se liquide. Daí a aparente contradição entre falar-se de dissolução da
sociedade e de continuar a sociedade:
ela somente continua, em período que até se chama de sobrevida, mas, se foi registada a dissolução,
a personalidade acabou, a despeito da sobrevivência da sociedade. Aliás, a sociedade que ainda não
foi registada já é sociedade, embora ainda não seja pessoa jurídica. Se a liquidação já fôra feita,
totalmente, não há sociedade iii.
extremis, e com o registo da dissolução extinguem-se pessoa jurídica e sociedade. Não se precisa
pensar em fietio juris, porque a dissolução é que tem eficácia protraída, porque a sociedade
somente persiste para que se proceda à liquidação. A expressão “em liquidação” posposta à firma
social, ou à denominação, não significa que ainda exista e se possa usar da firma. O que se diz é que
está em liquidação a sociedade que tinha aquela firma social, .íu a denominação. Muito
acertadamente afirmaram as Câmaras Reúnidas da Côrte de Apelação do Distrito Federal, a 16 de
setembro de 1915 (E. de D., 38, 559), que a liquidação é efeito ou modo de execução da sentença
que declarou ou decretou a dissolução .
A dissolução produz todos os efeitos, exceto direito e dívida da sociedade. A sobrevivência reduz-se
a permanência de eficácia pró e contra terceiros. Chama-se, pois, sobrevivência à posterioridade de
alguns efeitos.
Desde que haja lide pendente, em que é parte a sociedade dissolvida, continua ela como parte,
sendo representante o liquidante. Isso não significa, se já foi registada a dissolução, que ainda haja
personalidade jurídica, como pareceu à Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Ceará, a 20 de
setembro de 1951 (J. e D., IV, 160).
CAPITULO III
Temos de frisar o que por vêzes repetiremos neste e no Tomo L que o ato constitutivo lato senso
abrange o ato constitutivo e os estatutos, de modo que falar-se de ato constitutivo e de estatutos
importa diminuição do conteúdo do conceito de ato constitutivo.
O contrato social é nulo se infringe regra jurídica cogente, ou se, por ser nulo ou anulado o ato de
participação de algum sócio, deixou de haver o mínimo de sócios, que a lei exige.
1. PRECISÕES. As regras jurídicas que incidem são as mesmas que concernem aos outros contratos.
Apenas a plurilateralidade do negócio jurídico pode dar ensejo a que se decrete a nulidade ou a
anulação de uma das manifestações de vontade sem se atingir todo o contrato de sociedade; mas
isso somente ocorre se há separabilidade, isto é, se pode existir o contrato sem a participação da
pessoa cuja manifestação de vontade foi tida por inválida.
“sociedade de fato” apenas se alude à comunidade, porque sociedade é efeito jurídico e não pode
resultar de simpIes fatos, as duas últimas teorias dizem o mesmo.
O assunto já foi versado (§§ 5.169-5.170) e falamos da teoria do efeito da situação socialiforme.
As duas últimas teorias são verdadeiras conforme o caso em exame. A apreciação em concreto é que
decide. Se a nulidade é por ilicitude, tem razão a primeira teoria, tal como se estabelecia, em
abstrato, no direito comum: qualquer efeito da “sociedade” de fato seria imoral, e os terceiros não
poderiam ser protegidos. Se não há ilicitude, nem violação de regra jurídica cogente, nem
incapacidade absoluta, pode existir, no mundo fáctico, a affecttio societatis e ter-se de atribuir à
comunhão de atividades efeitos protectivos de interesses de terceiros ou dos outros contraentes
atingidos pela invalidade.
Basta consultarmos os textos legais para que verifiquemos quanto, para proteção de interesses de
terceiros, o sistema jurídico fêz entrar no mundo jurídico a atividade socialiforme que surgiria do
contrato de sociedade nulo, ou que surgiu, e foi desfeito, do contrato de sociedade anulado. Os‟arts.
804 e 805 do Código Comercial são expressivos.
Por outro lado, pode haver conversão . Há a decretação da nulidade, ou da anulação, mas outra
figura se salva, em vez da figura da sociedade (e. g., locação de serviços, venda, aquisição de bem
comum). Sobre a conversão, Tomos IV, ~§ 874--~79 e 403, 2, e XXXIV, § 8.847, 5.
Outro ponto que se precisa frisar é o da incidência, a fortiori, do art. 97 do Código Civil. Outro ainda
é o da não-invocabilidade do dolo do sócio, que não foi o órgão da sociedade, pela vítima no caso.
Se o menor que tem mais de dezoito anos contratou sem assentimento do titular do pátrio poder ou
do tutor para comerciar, há a anulabilidade do contrato social, so proponível pelo titular do pátrio
poder, ou da tutela, a ação de desconstituição , ou pelo próprio menor, salvo, nesse caso, se
invocável o art. 155 ou o art. 156 do Código Civil.
Se a incapacidade é por ser menor de dezoito anos o contraente, a invalidade é absoluta; a ação,
imprescritível.
A falta do registo, quando êle é necessário, não causa nulidade. Só ao plano da eficácia é que
interessa; excepcionalmente, ao plano da existência. A despeito da expressão “validade” que
aparece no art. 301, alínea 3~, do Código Comercial, é de ineficácia, aliás relativa, que se trata. O
que pode haver é nulidade do registo, o que é outro assunto. (A êsse respeito, .a confusão, na
doutrina francesa, é enorme. E. g., Josuwn HAMEL e GÃSTON
LAGARDE, Traité de Droit Commercial, 1, 555 s.; JEÂN EscÂrn?A, EDOIJARD ESCARRA e JEIAN
RAULT, Traité théorique et pratique de Droil commercial, 1, 192 s.) Quando, em virtude da
decretação da nulidade, ou da anulação, se tem de pensar em efeitos (jurídicos) da sociedade de
fato, a “sociedade”, que se tem por foco irradiante, é como sociedade em nome coletivo, porque êsse
é o tipo ordinário, advindo do direito comum.
Não se há de confundir a sociedade de fato com aquela a que apenas falta o registo, o requisito de
publicidade, sem cuja observância não há personalidade, nem oponibilidade a terceiros (sociedade
irregular).
A sociedade de fato tem de ser liquidada. A liquidação é um dos efeitos jurídicos do que se produziu
no mundo fáctico e não entrou no mundo jurídico como sociedade. O art. 673 do Código de Processo
Civil é expressivo. Não se trata de simples retomada das entradas. Apura-se o passivo. Verifica-se
qual o ativo. Vê-se qual a participação de cada “sócio” nas perdas e nos lucros. A lei alude ao
procedimento ordinário e à liquidação como se houvesse sentença (Código de Processo Civil, arts.
906-917). Não há simples restitutio in integrum. nem a liquidação da sociedade (arta. 655-672). O
laço fáctico de “sociedade” (= como se fôsse de sociedade, efeito de contrato social) determina o
tratamento da liquidação como se sócios fôssem os interessados, as pessoas ligadas pelo fato ou
pelos fatos. O juiz liquida como se tivesse sentenciado sobre as relações jurídicas entre os sócios e
entre sócios e terceiros. O art. 673 do Código de Processo Civil não se refere &s sociedades
irregulares.
CAPÍTULO IV
1.INÍCIO. O contrato de sociedade tem a sua data. Todavia, a) pode êle estabelecer que dêsse dia
comece a irradiação dos efeitos, além do efeito mínimo, que é o da vinculação, como à) pode
determinar o termo inicial ou a condição para que se inicie a eficácia, ou c) fixar a data desde a qual
se hão de considerar os efeitos.
2 a parte do art. 1.375 também o é, porquês e pode fixar o prazo para a responsabilidade de algum,
ou de alguns dos sócios, ressalvados, segundo os princípios, os interesses de terceiros.
3.FONTES DOS POntES DE ORGÁOS. Muito tempo se levou para que se repelisse a assimilação da
atividade do órgão à do mandatário; muito tempo ainda transcorrerá, para que se não confundam os
poderes de 1
presentação e os de representação. A atividade dos órgãos é funcional, pois que é orgânica. Cumpre
advertir-se que nem toda a gerência é presentativa. Há poder de gestão sem poder de presentação.
Gere-se sem se presentar.
Há órgãos que funcionam sem que presentem. A função presentativa é específica. Mas há também
gerentes que não são órgãos da sociedade.
Diante de mandatário, o terceiro tem de exigir a exibição do instrumento, para que conheça os
poderes outorgados. O órgão tem poderes, inclusive de presentação, se é o caso, porém não há a
relação jurídica entre os que escolhem e o órgão. A relação jurídica é entre a sociedade e o órgão.
Não se pode dizer que, na falta de cláusula contratual, os poderes são regrados pela lei, que seria a
fonte do poder (e. g., CLAUDE HERa, L‟Exercice dii pouvoir dans les soolétés commerciales, 32).
Isso somente acontece se a regra jurídica é cogente.
4.PODERES DOS GERENTES. Os poderes dos gerentes, quase sempre sócios, porque a lei exige que
sejam sócios os gerentes das sociedades de pessoas, não dependem da maneira pela qual são
escolhidos. O gerente único tem os poderes que lhe foram exaustivamente conferidos, ou os que
foram enumerados e os que se lhe hão de atribuir por ser incompleta a enumeração. Se nada se
disse no contrato, tem o sócio gerente ou têm os sócios gerentes todos os poderes ditos de
administração. O art. 1.383 do Código Civil fala dos “limites normais dela”.
que não podem ser praticados pelos gerentes (enumeraçao negativa). Por exemplo (cf. 5. HOUPIN
ET H.
B~VIEUX, 2‟raité générul, théoriqne et pratique dos Societés civiles et commer ciales et dos
Associtio, 1, n. 175)
Os atos de administração são de diferentes classes, que correspondem a funções de gerência: dirigir
a empresa, como superior dos empregados; pagar impostos, taxas e contribuições, alugueres,
prêmios de seguros, salários e honorários, dádivas a obras de caridade; adquirir as matérias-primas
vender os produtos fabricados ou adquiridos, ou entregues em comissão, ou outro contrato. Não é
este quem pratica êsses atos, inclusive atos-fatos, como pagamentos; é a sociedade. Os deveres que
as leis de direito público impõem às sociedades, ou, em geral, às empresas, entram no âmbito da
gerência. Em princípio, não pode licenciar ou despedir empregado sem consulta aos sócios.
A respeito de bens imóveis convém frisar-se que não é a qualidade de imóvel que afasta o poder de
alienar por parte dos gerentes, o que indiscutivelmente ocorre no direito de família, mas sim o não
estar na finalidade da empresa a alienação. Se o negócio fôsse de venda e compra de imóveis, ou só
de venda de imóveis alheios, mediante alguma figura de intermediariedade, o gerente poderia
vendê-los, e não poderia vender o busto do fundador da empresa, que está no salão, nem, sequer, o
prémio que foi dado à empresa.
Se o contrato social determinou a extensão dos poderes e o ato, de que se trata, foi previsto, não há
questões, desde que o ato caiba na finalidade da empresa. As cláusulas contratuais podem ser de
restrição ou de dilata gêto 1
de poderes. Tais cláusulas são válidas, porque as regras jurídicas que as leis edictam a êsse respeito
são uus dispositivum. A eficácia de tais cláusulas perante terceiros somente dependem do registo.
Se a sociedade não foi registada, pode haver prova de que o terceiro as conhecia, ônus de alegação
e prova que toca aos sócios ou ao sócio gerente. As cláusulas permissivas somente se têm de
considerar cláusulas dilatativas se os atos não entrariam, sem elas, na classe dos “atos de
administração”, conforme o conceito do sistema jurídico.
No caso de sociedade não registada, é difícil a prova, pelo gerente, do conhecimento da cláusula
restritiva pelo terceiro, porque há, da parte dêsse, a alegabilidade da má fé com que o gerente lhe
apresentou documentos, ou lhe deu informações.
Os terceiros somente têm de conhecer a clausula de pluralidade (dois ou mais gerentes) conjuntiva
se do registo consta tal cláusula, com explicitude. Se não houve o registo, tem a sociedade o ônus de
alegar e provar que o terceiro a conhecia. Se há pluralidade de gerentes, sem conjuntividade, cada
um dêles tem os mesmos poderes, separadamente (Código Civil. art. 1.884).
5.Oposição ao SOCIO A ATOS DO SÓCIO GERENTE. As leis são omissas ou deficientes no tocante à
oposição do sócio a atos do sócio gerente, bem como à sua extensão. O problema mais delicado, dos
que surgem, é o da sorte do ato contra o qual se manifestou o sócio. Antes, vem o de como se há de
manifestar o sócio. A oposição tem de ser feita ao sócio gerente e ao terceiro ou terceiros que sejam
interessados no ato. Pode ser em juízo. Se o ato contra o qual se manifestou, com razão, o sócio, era
infringente do contrato social, ou dos estatutos, registados ou não, e disso teve conhecimento o
terceiro, ou tiveram conhecimento os terceiros, é ineficaz. A doutrina de alguns Estados fala de
nulidade, o que só seria admissível se o ato do sócio gerente infringisse lei.
A propósito do efeito imediato, porém não definitivo, que é o da suspensividade do ato, havemos de
afastar que a oposição tenha efeito suspensivo. Na doutrina francesa, afirma-se isso, desde muito
(cf. CII. LYON-CAEN et L.
RENAULT, Traité de Droit Comrnercial, fl, 5Y ed., n. 265; E. TIIALLER-PAUL FIe, Des Sociétés com
nuerciales, 1, n. 495; JEAN ESCARRA, Cours de Droit Cornnterciai, n. 622) ; mas sem razão: ao
sócio gerente ou ao terceiro ou aos terceiros é que fica a apreciação das circunstâncias criadas pela
oposição e a suspensão, ou não, do ato atacado pelo sócio. O efeito suspensivo somente pode existir
se a lei ou o contrato social o estabeleceu.
Se a sociedade ainda não foi registada, cresce o risco do terceiro, ou dos terceiros, se não têm
completo conhecimento do contrato social.
6.ATOS DO PODER DE PRESENTAÇÃO. Em princípio, os atos praticados pelo órgão, como atos da
sociedade, com excesso dos poderes, não vinculam a sociedade. Nas sociedades em nome coletivo‟,
por exemplo, dos atos que importam abuso da firma, apenas se irradia ação de indenização da parte
dos sócios como dos terceiros (Código Comercial, art. 816, alínea 8Y). Contra o princípio, alega-se
que, com isso, se deixa de proteger o terceiro e, se o órgão procedeu mal, a culpa é de quem o
escolheu (JEAN ESCARRA, Curso de Droit Comercial, n. 612). Pense-se no caso de proIbição de dar
aval a títulos de crédito. Se isso consta do contrato registado, ou se o terceiro tinha de conhecer a
cláusula vedativa, ~,como se poderia ter como vinculada a sociedade? A decisão francesa da
Chambre des Requêtes, a 8 de maio de 1940, com invocação do art. 1.884 do Código Civil francês,
foi temerária. Por outro lado, não se procura distinguir da fonte legal dos poderes (lus cogens ) a
fonte negocial, porque o terceiro está diante dos mesmos efeitos erga omnes, os da lei e os do
contrato registado, se é que êle mesmo não tratou com sociedade não registada, com inteiro
conhecimento das cláusulas. O
contrato social ou os estatutos, ou um e outros, uma vez registados, têm-se como conhecidos,
porque houve a incidência do principio da publicidade.
O ato que foi praticado fora dos poderes do órgão é ineficaz (não se fale de nulidade). Ineficácia
relativa, que pode ser afastada pelo órgão que poderia conferir poderes de presentação ao órgão
que abusivamente operou. Há, então, ratificação. Tem-se de saber quem pode ratificar e se ratificou,
dentro dos seus poderes de ratificação. Se o terceiro, antes da ratificação, alega o abuso do poder,
não pode a sociedade ratificar o ato relativamente ineficaz, se isso causaria dano ao terceiro. As
ações competem à sociedade ou ao terceiro, e não só à sociedade, como pretendeu, por exemplo, a
Côrte de Paris, a 20 de junho de 1957.
Se a sociedade, a despeito do abuso do poder pelo órgão, tira proveito do ato relativamente ineficaz,
ou a) se conclui que houve ratificação, ou b) a sociedade está exposta à ação de enriquecimento
injustificado. A respeito das sociedades em nome coletivo, há a regra jurídica do art. 316, alínea
1~a, do Código Comercial, verbus “ainda mesmo que seja em negócio particular seu ou de terceiro”.
A propósito das sociedades civis, que não se revestirem da estrutura das sociedades comerciais, de
modo que o regramento haja de ser diferente, o art. 1.380 do Código Civil foi explícito, ao dizer que
há a responsabilidade dos sócios por culpa, se de atos seus resultarem prejuízos à sociedade.
auxisset, loA compensatur compendium cum negligentia”. Texto de MARcm.~o, que ULPIANO cita.
Na L. 72, é de GAIO: “Socius socio etiam culpae nomine tenetur, id est desidiae atque neglegentiae.
culpa autem non est exactissimam diligentiam dirigenda est: sufficit etenim talem diligentiam
communibus rebus adhibere, qualem suis rebus adhibere solet, quia qui parum diiigentem sibi
socium adquirit, de se queri debt”. A expressão
“compensatur”, na L. 26, está em sentido largo (HANS lOtEI-LER, Kritische Digestenexegese zur
“compensatio”, lura, II, 93 s.). Sobre a interpolação na L. 72, E. SEIDL (Papyrologie und
Interpolationenkritik aí den Digesten, An‟nales Universitatis Saraviensis, VIII, 21 s.).
1.387: “O sócio que não tiver a administração da sociedade, não poderá obrigar os bens sociais”. De
quaisquer bens singulares, inclusive crédito, que sejam do patrimônio social, somente podem dispor,
em virtude de manifestação de vontade, acorde, todos os sócios, ou em deliberação comum, ou pela
presentação de órgão da sociedade, a que se hajam atribuído tais poderes, ou por algum
representante de todos os sócios, ou da sociedade, presentada pelo órgão. Nenhum sócio pode
dispor do que lhe tocaria em determinado bem, ou direito, pretensão ou ação, nem renunciar ou
transferir a outrem a sua posição em litígio relativo a isso. Uma vez que o sócio não pode dispor dos
créditos da sociedade, não lhe é permitido receber pagamento, nem compensar, nem fazer remissão
de dívida. A opinião que admite a cada sócio, ou a qualquer dêles, exigir que devedor da sociedade
pague a todos os sócios, ou que deposite em consignação, tem de ser repelida (EUGEN JOSEF, Die
Berechtigung des einzelnen Gesellschafters und des einzelnen am Gesamtgut Beteiligten, Leistung
an sãmtliche Genossen vi verlangei, Archiv ti-ir die civilistisefle Praccis, 84, 88 s.; II. KAUFMANN,
Das Bigentum an Gesellsckeftsvermõgen, 97 s.). Os sócios, em comum, também podem dispor de
bem singular incluído no patrimônio se a disposição não se dá para o fim social (sem razão, II.
KAUFMANN, Das Eigentum des Geseilselwftsvern4qen, 77).
Se algum ou alguns sócios (que não são órgão da sociedade, porque então seria a sociedade a
alienante) dispõem de bem singular do patrimônio social, é ineficaz o negócio jurídico, porque se
trata de alienação de bem alheio e com essa classificação é possível ocorrer aquisição ou domino
pelo outorgado se a lei a prevê para os casos ordínarios.
Se o sócio tem posse do bem que se incluiu no patrimônio social pode exercer a pretensão à tutela
da posse e propor as ações . Se não a tem, nem é érgão, é ilegitimado.
O sócio não pode gravar a quota no patrimônio social, nem é constringível cautelar ou
executivamente a sua quota. No concurso de credores do sócio sé se pode incluir o que fôr liquidado
em caso de retirada ou de dissolução da sociedade.
Se o sócio cede, ou, mais geralmente, dispõe da sua quota, não há nulidade do negócio jurídico, mas
sim ineficácia perante a sociedade.
Se o sócio pode receber crédito da sociedade e o recebe todo, tem de entregar à sociedade o que
recebeu, ou, se e o caso, prestar aos outros sócios o que corresponde às suas quotas. Daí estar no
Código Civil, art. 1.389: “O sócio que recebeu por inteiro a sua parte em uma dívida ativa da
sociedade será obrigado a conferi-la, se, por insolvência do devedor, a sociedade não puder acabar
de cobrá-la”. Supõe-5e que tal sócio possa receber, porque, se o não pode, os devedores da
sociedade não se desobrigam se pagam, no todo ou em parte, ao sócio . Diz o Código Civil, art.
1.897: “Os devedores da sociedade não se desobrigam pagando a um sócio não autorizado para
receber”. Cf. Código Civil argentino, art. 1.749. Ambos o tiraram do Esbôço de TEIxEIRA DE
FREITAS, onde se acrescentou: “Exigido porém o pagamento por sócio autorizado a receber, nao
poderão recusá-lo a pretexto de divisão entre os sócios”, o que não era preciso dizer-se.
1
4.DANOS A BENS nos sócios. Se o bem não passou a ser propriedade da sociedade, ou se tem de
ser restituído em natura, os danos que se lhes causem hão de ser indenizados.
art. 1.891: “Os sócios têm direito a indenização das perdas e danos, que sofrerem em seus bens
por motivo dos negócios sociais”. Já assim nas Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 44, § 10, 2.~
parte: “E da mesma
maneira se~ há de tirar da companhia a perda e dano, que houve nas coisas dela ou que aconteceu
a qualquer dos companheiros nas suas coisas próprias por causa da companhia: Assim como, se,
sendo
mandado um dêles a certo negócio tocante à companhia, o roubarem os ladrões no caminho, ou lhe
matarem o cavalo, em que fôr, ou o escravo, que levar”. CIX art. 1.382
CLOVIS
no seu projeto, porque “a matéria já foi melhor considerada no art. 1.382”. De modo
nenhum.
sem-razão da crítica é evidente: no art. 1.882, a indenização de que se cogita é dos danos “que lhe
ela
causar” e disso não cogitaram as Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 44, §§
dos princípios sobre obrigações por atos ilícitos; ao passo que, no art. 1.391, a indenização é em
casos
em que não foi a sociedade que causou o dano (= “por motivo dos negócios sociais”). Os exemplos
das Ordenações Filipinas , Livro IV, Título 44, § 10, 2Y parte, são assaz significativos.
5. Lucros ILÍCITOS. Diz o Código Civil, art. 1.393: “O sócio que recebeu de outro lucros ilícitos,
cumplicidade, e fica
obrigado solidariamente a restituir”. A regra jurídica Vera das Ordenações Filipinas, Livro IV,
Título 44, § 3, porém com a solidariedade. O que se focaliza é “a matéria ilícita e reprovada”, como o
roubo, ou o contrabando, com que se ofende a sociedade, ou o ganho por via ilícita da “companhia
A primeira espécie, de que cogitam as Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 44, § 3, está no Código
“Havendo comunicação de lucros ilícitos, cada um dos sócios terá de repor o que recebeu do sócio
sem
, de ser consideradas
partir de determinada quantia (is responsabilidade até tanto), na ausência de regra jurídica, duas
GIERKE (Vereine ohne Rechtsfdhigkeit, 29), PAUL KNOKE (Das Rccht der GeselI.schaft, 40; Der
Eintritt emes neuen Gesellschafters in der Gesellschaft nach dem BGB., Ãíehiv /11v Bilrgeriiúhes
Recht, 20, 170 s.), ALEXANDER LEIS‟It (VercútShÚrYSChaft und Vereinsfreihett im kiinftigen
Reieks reckt, 40 s.), CHLiISTIAN
MEIJRER (fie juristische Perso‟n naeh dentachem Recht. 138), HEINRICTI WEILAND (Struktur und
JcúcfttssohÊire der GesdllsehattsschUIdefl und geselsohaftsdhfl iichen 1/crbindUehkeit, 49);
negativamente, WILHELM ABRAHÀNSOHN (Sehzddenhaftuflg des nicht rcchtsfãhigúfl Vereins
887), FRITZ CO1-IN (Die Schuldenhaftu‟flfl <les niolzt reoktsfãkiaen Veretns unter flerjjclcstchtung
seines rechtiich2fl Charakters, 47), TRAUGOrI‟ FREIHERR VON HEINTZE (Der nicht reclttsfLihige
Verem des neuen Rechts, 63) e OTTO
1.ÓRGAOS E ATIVIDADE INTERNA E EXTERNA. Internamente, isto é, nas relações entre os sócios,
o que 1
importa, no tocante à gestão dos negócios, é o contrato social, ou, na falta de cláusula, o ius
dispositivurn, ou na falta de ambos, o que tâcitamente se estabeleceu entre os sócios.
Externamente, o que tem relevância é o poder de presentação , que proveio do contrato de
sociedade, ou de deliberação dos sócios, ou tàcitamente. Pode ser que o órgão competente, ou todos
os sócios, outorguem, a sócio ou a estranho, poder de repesentação.
Se não foi acordado diferentemente, a gestão dos negócios da sociedade cabe a todos os sócios.
O órgão não representa; presenta. A pessoa jurídica é que apresenta o título de crédito, ou qualquer
titulo circulável, ou o instrumento público ou particular de contrato, ou qualquer ato , negocial ou
não, pôsto que a mão que escreve seja a (lo órgão da sociedade, uma vez que o nome de quem
materialmente assina integre a assinatura. A pessoa jurídica pode outorgar poderes de
representação. Mas o órgão tem outros poderes , que resultam da sua investidura, na conformidade
do ato constitutivo ou dos estatutos, ou de lei, O representante figura em nome do representado; o
órgão não é figurante:
quem figura é a pessoa jurídica: ela se vincula em seu próprio nome. Ali, o representante, com o seu
ato, vincula a pessoa jurídica, em cujo nome figura como representante (cf. WERNBR BEINICRE,
Die Haftung der juristisclzen Person fúr tilie Handlungen ih,rer Vertreter und Gehiilfen nach dem
RGR., 13). Aqui, a própria pessoa jurídica figura e vincula-se, e o órgão apenas pratica ato jurídico,
interior à esfera organizatória e funcional da empresa.
(a) Grandes incertezas e confusões, a respeito das sociedades, provêm de não distinguirem muitos
juristas e inteiras doutrinas de muitos sistemas jurídicos o órgão e o representante. Às vêzes caem
no absurdo de identificarem „mandato, representação e órgão . A figura do sócio gerente é figura
que está muito além, com as suas características de órgão, da figura do gerente contratado, ou
escolhido dentre os empregados, o empregado ou preposto que representa ou que apenas exerce
algum mandato.
Ainda mais. Por vêzes não se atende a que há profunda distinção entre a sociedade e a empresa. A
empresa, como o fundo de empresa, pode pertencer a pessoa física. As dificuldades técnicas,
financeiras, industriais ou comerciais, e o propósito de combinar, com o máximo de vantagem, os
fatôres de produção e de exploração, entram na atividade finalística da empresa, mas permanecem
na dimensão econômica. O direito não muito se interessa por isso, porque apenas, eventualmente,
tem de atender às situações que se criam.
(b)No tocante ao órgão , que é sempre presentativo. parte-se do „princípio da presentação por parte
de cada sócio, princípio que o tipo e a estrutura da sociedade podem pôr de lado, ou ser pré-
excluído pelo contrato social.
Nem todo órgão é presentativo, mas o órgão que tem a presentação da sociedade é, nas relações
jurídicas com essa, o mais importante.
O órgão presentativo toma relêvo especial se a sociedade se personifica, com o nome, a sede e a
nacionalidade. fl com a sociedade que os terceiros têm contacto, é com ela que êles contratam, dela
e para ela vão as comunicações, os avisos e todos os atos jurídicos strícto sensu. Atos ilícitos podem
deu-dê-la e atos ilícitos podem partir dela.
Daí a necessidade de que a pessoa física que a presenta, ou as pessoas físicas que a presentam,
como que desapareçam, a fim de os atos serem da sociedade, e não seus.
O órgão de presentação não é o único órgão da sociedade. Tem-se de caracterizar cada um dos
órgãos sociais, mostrar como se distribuem os seus poderes e quais as relações jurídicas entre êles.
Na exterioridade, o órgão presentativo passa à frente de todos. Os seus atos são praticados como
atos da sociedade, dentro da finalidade social. Nem o pensamento, que exprime, nem a vontade que
manifesta, nem, sequer, o sentimento, que exterioriza, nem o ato ou o ato-fato que executa, são seus.
O sócio gerente que assina o recibo de venda, ou o cheque, ou a duplicata mercantil, não
representa, porque não pratica atos seus com as conseqüências pró ou contra a sociedade; pratica
atos da sociedade. Não atua pela sociedade, ou pelos sócios ou acionistas; a sociedade é que atua,
presente, em todos os atos, positivos ou negativos, por de.
a) Se o órgão pratica o ato por sua própria conta, mas emprega a denominação social, há
contradição entre a vontade expressa e o meio ou um dos meios com que se exprimiu vontade. Se o
terceiro não conhecia o abuso do poder de presentação , o direito tem de protegê-lo, porque o
direito, processo de adaptação social, tem de atender 1
A má fé, que se há de atribuir ao terceiro, consiste no conhecimento, que tem, ou deve ter, da
danosidade dos atos do órgão , no que concerne aos interesses sociais. Observe-se, porém, que ato
do interesse do órgão pode ser útil à sociedade (e. g., o órgão endossa à sociedade título seu e
desconta-o para pagar dívida social).
b) Se o órgão, em vez de se dizer órgão (sem usar a denominação social), contrata em seu próprio
nome, ou sem qualquer revelação a respeito de quem é o figurante do contrato, levanta-se a questão
de se saber se há vinculações sociais sem uso da denominação social por parte do órgão. O ad. 1.395
do Código Civil alude a exercício do poder de presentação (lá, erroneamente , “exercício do mandato
social”). O órgão pode praticar o ato como ato da sociedade, mesmo se o não diz. Aí prevalece o
princípio da intenção (cf. Código Civil, art. 85).
Para prova da intenção basta qualquer meio de prova, inclusive declaração ou confissão do órgão.
Muito pesa estar o ato dentro da atividade da sociedade.
c) Se o órgão pratica o ato ou os atos no seu próprio nome, temos o oposto do órgão que abusa da
denominação social. Há atitudes radicais a respeito: a) Solução negativa, que afasta poder ser tido
como da sociedade qualquer ato que o órgão praticar em seu próprio nome (os terceiros não
poderiam ser tidos como credores ou devedores da sociedade>. b) Solução positiva: uma vez que o
negócio foi concluído com bens sociais, ou para o patrimônio social, a sociedade foi figurante. Aí,
entende-se a que a função do órgão é a de exprimir a vontade da sociedade, e não a sua. Se o órgão,
que deixou de mencionar a denominação social, praticou ato que o terceiro tinha de considerar ato
de órgão, há a figura da sociedade. Se as circunstâncias não o revelam, de modo que se afaste a
conduta do órgão que não operou como órgão, então só há, contra a sociedade, o caminho da ação
de enriquecimento injustificado.
Nas sociedades em nome coletivo, prima o principio da finalidade da sociedade, sem que se possa
entrar na apreciação da boa ou da má fé, por parte do terceiro. A proteção dêle não vai até aí. Cf.
Código Comercial, ad.
316, La alínea.
2. PODER nos sÓCIOS E DOS ÓRGÃOS. Cumpre advertir-se que, no sistema jurídico brasileiro, não
se põe o principio dispositivo da unanimidade das deliberações. Se nada se disse no contrato social,
cada sócio está investido dos poderes de gestão dos negócios. Por outro lace, estabelece a maioria
de votos, e não a necessidade de serem acordes todos os votos.
Com a sociedade nascem os órgãos, ou o órgão que os pode criar, transformar ou extinguir. Em
relação à sociedade, não é pessoa distinta da sociedade, pois a pessoa física, em que se insere, deixa
de ter atividade como pessoa física, para ter a de órgão. Não surgem deveres contra êle nem
direitos a favor dêle; mas sim deveres contra a sociedade e direitos da sociedade. Não pode a
sociedade se subtrair à atividade dos órgãos, nem os atos dos órgãos dependem de sua aprovação. O
que pode ocorrer é que outro órgão tenha de aprovar. Nos casos de atos do órgão presentativo que
tenham causado dano à sociedade, pode haver responsabilidade por culpa, mas, para isso, têm de
ser considerados o tipo de sociedade e as regras jurídicas especiais.
O órgâo de presentação, com os seus poderes diferenciados, não fere o princípio da igualdade dos
sócios, se cabe invocá-lo. A atribuição de gerência, inclusive a de presentar a sociedade, é para a
função externa da sociedade.
Em princípio, internamente, a gestão dos negócios compete a todos os sócios ou a qualquer dos
sócios. a) Se ocorre que essa é a solução in casu, a gestão dos negócios é em comum, com os
poderes de cada sócio. Mas há outras soluções, que podem ser objeto de cláusulas contratuais, de
modo que, para a gestão dos negócios em comum, ou todos acordam, expressa ou tâcitamente, ou
todos encarregam um ou alguns sócios da prática dos atos, ou cada sócio pratica o ato, respeitado o
disp ositivum. Se a medida é urgente e necessária, como se dá em caso de con2ervaçáo de bem
móvel ou imóvel, ou de direito ou pretensão da sociedade (e. g., protesto de título), supõe -se que
todos estariam de acôrdo (PAUL KNOKE, Das Recht der Gesellschaft, 57). b) Se, pelo contrato, ou
em virtude de acôrdo posterior, que seja aditável ao contrato de sociedade, ou se haja de ter como
modificativo, se estabeleceu deliberação por unanimidade, afastou-se o jus disposítivum do ad.
1.386, 1, do Código Civil.
O que se supõe , portanto, é que cada sócio pode praticar atos internos de gestão dos negócios. A
cláusula é que pode retirar o poder de algum ou de alguns sócios, para atribui-lo a outro, ou a
outros.
a) Lê-se no Código Civil, art. 1.386: “Em falta de estipulações explícitas quanto à gerência social: 1.
Presume-se que cada sócio tem o direito de administrar, e válido é o que fizer, ainda em relação aos
associados, que não consentiram, podendo, porém, qualquer dêstes opor-se, antes de levado o ato a
efeito. II. Cada sócio pode 1
servir-se das coisas pertencentes à sociedade, contanto que lhes dê o seu destino, não as utilize,
contra o interesse social, nem tolha aos outros aproveitá-las nos limites do seu direito. III. Cada
sócio pode obrigar os outros a contribuir com êle para as despesas necessárias à conservação dos
bens sociais. IV. Nenhum sócio, ainda que lhe pareça vantajoso, pode, sem consentimento dos
outros, fazer alteração nos imóveis da sociedade”.
Quanto à presunção do art. 1.386, 1, do Código Civil, cumpre advertir-se que se trata de poderes
para a administração, excluido, porém, o ato de alienação que não esteja na classe dos atos a que
corresponde a finalidade social.
Quanto aos bens imóveis, se o sócio não os pode alterar (Código Civil, art. 1.386, IV), a fortiori não
os pode destruir ou alienar.
No que se refere ao uso e à fruição, rege o contrato de sociedade; se nada se dispôs no contrato de
sociedade, incide o art. 1.386, II.
Externamente, a gestão dos negócios da sociedade há de ser por todos os sócios, se não foi
determinado quem teria o poder de presentação da sociedade, ou pelo sócio ou pelos sócios que
hajam recebido êsse poder. Como em tôdas as outras pessoas
jurídicas, é possível que haja outorga de poder de presentação, pelo órgão competente, ou por todos
.ps sócios, se é o caso. Até que ponto os sócios diretores, ou gestores, podem presentar a sociedade,
di-lo o contrato. Na dúvida, a extensão é a de quanto caiba na finalidade da sociedade. O poder de
presentação judicial não atinge o que implicaria legitimação ativa e passiva de todos os sócios,
porque ai o caso seria de representação.
Diz o Código Civil, art. 1.895: “São dívidas da sociedade as obrigações contraídas conjuntamente
por todos os sócios, ou por algum dêles no exercício do mandato social”. A expressão “mandato~~ e
erro crasso. Não há mandato se a sociedade é vinculada por ato do sócio, ou dos sócios. A
organicidade é que ressalta. “O encargo da gestão dos negócios não é mandato, mas sim parte do
contrato de sociedade” (L. ENNECCERUS H.
LEHMANN, Lehrbuch, II, § 175, 570). Não há, sequer, representação. Há presentação.
b) Pode ser exigida, no entanto, a unanimidade de agentes. Diz o Código Civil, art. 1.885:
“Estipulando-se que um dos administradores nada possa fazer sem os outros, entende-se, a não
haver convenção posterior, obrigatório o concurso de todos, ainda ausentes, ou impossibilitados, na
ocasião, de prestá-lo, salvo nos casos urgentes em que a omissão, ou tardança, das medidas pudesse
ocasionar dano irreparável, ou grave”. Supõe-se a cláusula de ser necessária a gestão de todos, caso
em que se entende que a ausência não permite que se excetue a unanimidade, salvo necessidade e
urgência (“casos urgentes, em que a omissão, ou tardança” possa causar dano irreparável ou grave).
Não se disse dano grave e irreparável; mas, sim, irreparável ou grave. Um tanto diferente o Código
Civil francOs, art. 1.858; cf. o português, art. 1.269, e o espanhol, art. 1.094.
c)Lê-se, no Código Civil, art. 1.384: “Se a administração se incumbir a dois ou mais sócios, não se
lhes discriminando as funções, nem declarando que só funcionarão conjunta-mente, cada um de per
si poderá praticar todos os atos, que na administração couberem”. Na espécie, em vez de se exigir a
unanimidade na gestão dos negócios, ou de se atribuir a um só dos sócios, mencionam-se dois ou
mais de dois, sem que se lhes discriminem as funções e sem se lhes impor atividade em comum.
Então, a lei estabelece que os poderes foram conferidos a cada um. Cp. art. 1.304 do Código Civil,
sobre mandato. No art. 1.384 não se cogitou de sucessividade.
A responsabilidade da pessoa jurídica por atos, positivos ou negativos, do seu órgão, pode resultar
de manifestação de vontade, ou de comunicação de conhecimento, ou de qualquer outro ato, lícito
ou ilícito, mesmo 1
4.AQUISIÇÃO DE BENS PELO ÚROXO DA SOCIEDADE. Os bens havidos pela sociedade, por seus
órgãos, têm de o ser expressamente em nome dela, ou de todos os sócios, para ela; não basta ter
existido a vontade de adquirir para a sociedade, ou para todos os sócios. Em se tratando de imóvel,
ou de bem cuja propriedade só se transfira com o registo do acôrdo de transmissão, a aquisição
somente é a favor da sociedade se consta do acôrdo de transmissão (cf. JosEr ESSER, Lehrbuch des
Schuldrechts, 412). A opinião que se satisfaz com a intenção de adquirir para a sociedade não é
admissível (e. g., Jos. SCHAEHE‟JTLE, Gesellsehaftsbegriff und Erwerb in das
Ccsellschaftsvermõgen, 71 s.; HEINLUCE LEHMANN, Geselischaftsreekt, 72). Assim, se o sócio
adquiriu para a sociedade e, para isso, basta que o tenha querido, sem ser necessário que o
alienante conheça os poderes e a intenção, há a transmissão.
Quanto à convocação pode ser por publicação em jornal do lugar, o que se há de observar se nada se
estabeleceu nos estatutos, ou por meio de manifestação escrita pessoal, entregue em mão, mediante
recibo, ou por meio de carta registada, ou por simples anúncio mural, ou por telegrama.
A assembléia geral pode ser convocada sem que se precise de dizer qual a matéria, exceto se essa
entra nalgum dos incisos do art. 43 do Decreto n. 22.239 de 19 de dezembro de 1932 (sociedades
corporativas).
O art 43 do Decreto n. 22.239 é cogente, no que êle exige. Isso não obsta a que os estatutos
contenham regras mais rigorosas, como prazo para a reunião , quórum maior do que o referido no
art. 43, § 1.0.
Se foi admitida para matérias estranhas ao ad. 43 a assembléia separada, os delegados têm de ser
sócios. Os estatutos dizem como se há de convocar, como a assembléia geral há de eleger os
delegados, e se há necessidade de exame da regularidade por algum órgão.
É essencial às sociedades o direito de voto, que têm os sócios. Diz o Código Civil, art. 1.394: “Todos
os sócios têm direito de votar nas assembléias gerais, onde, salvo estipulação em contrário, sempre
se deliberará por maioria de votos”. Põe-se a maioria de votos de todos os sócios (maioria absoluta)
como o critério dispositivo.
O fato de ser órgão da sociedade o sócio não implica que fique a sociedade a salvo de qualquer
indenização.
Todavia, tem-se de interpretar o Código Civil, art. 1.382: “O sócio preposto à administração pode
exigir da sociedade, além do que por conta dela despender, a importância das obrigações em boa fé
contraídas na gerência dos negócios sociais e o valor dos prejuízos, que lhe ela causar”. Na primeira
espécie, o sócio gestor despendeu do seu bôlso, por conta da sociedade. Na segunda, contraiu
dividas de boa fé, na gestão dos negócios da sociedade.
Na terceira, a sociedade causou-lhe danos, o que pode ocorrer se houve, por exemplo, a deliberação
majoritária e o sócio, para atender à deliberação, avalizou o título que a sociedade subscreveu e
emitiu. Se o sócio gestor estava em viagem, a serviço da sociedade, e sofreu dano, pode ir contra a
sociedade. A sociedade não é responsável pelo que o sócio gestor deixa de ganhar por ter de dedica?
-se à atividade social. Cf. Código Civil português, art. 1.261; Código Civil espanhol, art. 1.688;
Código Civil francês, art. 1.852.
Se o sócio foi, conforme o contrato de sociedade, incumbido da gestão dos negócios, adquiriu
poderes, que os outros sócios não têm. Há, porém, o limite à competência. Diz o Código Civil, art.
1.383: “O sócio investido na administração por texto expresso do contrato pode praticar,
independentemente dos outros, todos os atos que não excederem os limites normais dela, uma vez
que proceda sem dolo”. Acrescenta o § 1.0: “Os poderes que exercer serão irrevogáveis durante o
prazo estabelecido, salvo causa legítima superveniente”. E o § 2.0: “Se foram conferidos, porém,
depois do contrato, serão revogáveis como os de simples mandato”. E o § 32: “Também serão
revogáveis, em qualquer tempo, os dos diretores ou administradores de sociedade de qualquer
espécie, ainda que nomeados nos respectivos contratos, ou estatutos, se não forem sócios”. Os
problemas de técnica legislativa apresentaram-se nos sistemas jurídicos, que tiveram de dar
soluções (e. g., Código Civil francês, art. 1.856; português, arts. 1.266 e 1.267; espanhol, art. 1.692;
argentino, arts. 1.681 e 1.689; suíço das Obrigações, art. 539; alemão, §§ 712 e 715). A gestão pode
ser confiada a um ou mais sócios: o art. 1.383 e §§ 1.0, 2.0 e 3~0 incidem, mutatis mutandis.
A incumbência, no contrato de sociedade, pode ser a prazo, ou sem prazo. Se sem prazo, os poderes
podem ser retirados quando a maioria dos sócios o entenda, em assembléia geral. Se há prazo, para
que os poderes sejam retirados, é preciso que haja denúncia cheia, isto é, denúncia em que se
alegue “causa legitima superveniente”.
Se a incumbência foi posterior à conclusão do contrato e não há cláusula contratual que regule a
denunciabilidade, essa é vazia, e podem ser afastados os gestores sócios .
A lei trata diferentemente os diretores e administradores que não são sócios. É a êles que se refere
o art. 1.383, §
3.”.
O Sócio responde por dolo, ou culpa (L. 52, §§ 2 e 3, e L. ii, D., pro socio, 17, 2), como pelo ato,
positivo ou negativo, de quem geriu os interesses comuns, que o sócio mesmo deveria gerir (L. 23,
pr., e § 1; cf. E. J.
BURCHARDI, Úber Jie Veran.twortlichkeit des Schuldners 11 seine Gehiilfen, 46 s.).
No direito romano, à diferença do direito grego, a sociedade não era pessoa distinta diante dos seus
membros, a fortiori diante de terceiros. O direito moderno teve de enfrentar o problema, que não foi
fácil para os que se apegavam à concepção romana. Os sócios eram os responsáveis, contratual e
extracontratualmente, e não a sociedade. Por outro lado, não se podia estabelecer responsabilidade
limitada dos sócios, pôsto que se pudesse inserir a cláusula de primeiro serem excutidos os bens
sociais (L. 65, § 14, D., pro socio, 17, 2). Os sócios que entram posteriormente assumem as dívidas já
existentes.
§ 5.186. Penalidades
Com as penas, obtém-se mais perfeita disciplina interna das sociedades. Não há distinção entre as
sociedades civis e as comerciais, entre as associações sem finalidade econômica e as de intuito
econômico, as esportivas e as intelectuais, as de pessoas e as por ações, as de responsabilidade
limitada, as cooperativas e as de fato.
A desaparição de pressuposto para que alguém possa ser sócio não se confunde com as penalidades.
Quando é exigida a qualidade de católico, protestante, ou budista, ou de outra confissão religiosa, e
o sócio muda de crença, a perda da qualidade de sócio não é por aplicação de pena. A exclusão é por
insuficiência de pressupostos, e não por aplicação de penalidade.
De ordinário, as infrações a que correspondem penas são violações de regras morais, ou de honra de
grupos sociais, ou de ordem econômica (e. g., atos que causam dano patrimonial à sociedade). Às
vêzes, coincidem com 1
infrações penais; mas tal coincidência não é necessária, nem ocorre na maioria dos casos.
Freqúentemente, as regras estatutárias sobre penas são de generalidade, que não conviria às regras
jurídicas sobre penas. Deixa-se ao órgão aplicador verificar se houve, ou não, ofensa à honra do
grupo social, ao bom nome da sociedade, ou aos bons costumes e, até, à etiqueta. Não raro se fala
de atos prejudiciais ou nocivos à sociedade; ou de infração grave, ou mau procedimento ou má
conduta. A indicação pode ser exaustiva, ou exemplificativa. Há, então, questão prévia de
interpretação dos estatutos.
O Código Comercial, art. 336, incisos 2.0 e 32, cogita da pretensão à dissolução da sociedade por
ser inábil algum dos sócios, ou por incapacidade civil, ou deficiência moral (ali chamada
“incapacidade moral”), julgada por sentença, ou por abuso, prevaricação, ou violação de
cumprimento das obrigações sociais. Não se trata de penalidade. Todavia, se foi estabelecido, no
contrato social ou nos estatutos, que se daria a exclusão, em vez da dissolução da sociedade, é em
pena que se há de pensar.
3.NATIJEEZA DAS PENALIDADES SOCIAIS. Os estatutos são parte do contrato, ou são o próprio
contrato social. Se não há estatutos, a referência a penas e a atribuIção de aplicá-las têm de constar
do contrato. Por isso mesmo, as penalidades Social5 pertencem à classe das penas estipuladas: são
previstas em cláusulas penais (Código Civil, arts. 916-927). Se a admisSão do sócio foi posterior,
houve adesão. A exclusão do sócio é espécie de resolução da relação jurídica de sócio por
inadimplemento do contrato (Código Civil, art. 1.092, parágrafo único). As teoria do ato coletivo não
destrói essa construção, apenas a explica, atendendo a que o contrato é entre mais de dois
figurantes, sem se ater aos moldes comuns. Por outro lado, a sociedade, por ser com os mesmos
elementos e parte dos intuitos com que se formam as sociedades humanas, aproxima da regra
jurídica, que é estatal, a regra social, que é interna. Não se deve levar a observação a ponto de
equiparação da regra interna à regra jurídica, que é estatal e externa (sem razão, entre outros,
MEYER-COImING fie Vereinstra fe, 47 s).
Ainda quando se há de exigir a aprovação do Estado, o contrato social e os estatutos não se tornam
lei.
Permanecem como regrament0 interno, sem que se faça tal, para tôdas as consequências Nem se
pode pensar em delegação de poder legislativo pelo Estado. Se alguma penalidade tem de constar
do contrato ou dos estatutos, ou se entende, dispositivamente que daquele ou dêsse consta, isso não
torna lei o texto negocial, ainda que cogente a regra jurídica a respeito.
Em sistemas jurídicos, como o brasileiro, em que o conceito de lei é empregado para a determinação
de recursos e competência por infração de lei ou de alguma espécie de lei, como o recurso
extraordinário com fundamento no art. 101, III, a), da Constituição de 1946, não se pode divagar
sobre regra interna, de direito privado ou de direito público, e regra jurídica, propriamente dita,
somente porque o elemento “social” é comum, ou porque o elemento corporativo seja quase igual,
ou semelhante Os estatutos são ditos, por vêzes, lei fundamental da entidade, no sentido de lex em
alguns textos latinos; não no de regra estatal, regra jurídica, no sentido próprio. Por isso, a decisão
sobre invalidade da cláusula penal, inclusive da cláusula sobre penalidades sociais, que declare a
validade, não pode dar ensejo à interposição de recurso extraordinário com base no art. 101, III, e),
da Constituição de 1946, pôsto que Possa ocorrer a espécie do ad. 101, III, a), por se ter infringido
lei federal. A infração da regra estatutária ou contratual não dá ensejo a qualquer recurso
extraordinário. Nem a diferença entre interpretações que os tribunais lhe hajam dado. Não se trata
de infração de lei, de regra jurídica, no sentido próprio.
A função política, em sentido amplo, da pena estatal e a da penalidade social assemelham-se, porém
não se identificam. Punir, nas relações internas das sociedades, é mais disciplinar do que fazer
ressarcir ou castigar. Há mais elemento moral do que nas outras cláusulas penais, porque mais se
trata de adimplemento de conduta pessoal do que de adimplemento de prestação econômica; mas
isso não causa distinção entre a eliminação do sócio por danos causados ou falta de pagamento, que
seja independente da automaticidade da exclusão por inadimplemento de prestações patrimoniais
sociais, e a eliminação por ditos imorais ou atos reprováveis pela ética social.
No direito brasileiro, que tem a regra jurídica do art. 141, ~ 49, da Constituição de 1946, decisão
social que ofenda direito do sócio pode ser apreciada pelo Poder Judiciário. Mas isso de modo
nenhum revela que as 1
penalidades sociais se equiparam às penas estatais, inclusive às penas aplicáveis por autoridades
administrativas.
Para o suporte fáctico, o que é de mister é o fato do sócio, seja fato positivo seja negativo. Não se
pode cogitar apenas de ato. Os estatutos podem estabelecer que não se pode afastar da aplicação da
penalidade por se entender que não teve culpa o sócio. Em todo caso, as regras sociais de tal
natureza quase Sempre são regras sobre qualidade para permanecer na sociedade, e não regras
sobre penalidades. Assim, a eliminação por sofrer o sócio ou vir a sofrer de determinada doença, ou
ter sido punido criminalmente, ou ter deixado de exercer profissão, é em virtude de cláusula sobre
legitimação ao quadro social, e fio em vista de cláusula penal.
Quanto ao pressuposto da culpa, não se pode, a priori, dizer que 5é indispensável ou que o não é. Na
grande maioria dos casos, é pressuposto da ilicitude Todavia não se pode admitir a objeção de
incapacidade absoluta ou relativa, nem se exige outra prova que a da causação O ônus de alegar e
provar não ter havido culpa incumbe a quem está exposto à aplicação da pena. O contrato ou os
estatutos podem prevê-lo. Sempre, porém, que o fato stricto sensu ilícito ou o ato-fato ilícito
bastaria, no plano do direito estatal, público ou privado, é de entender-se que o contrato ou os
estatutos não fizeram pressuposto a culpa.
5.FUNÇÃO APLICADA DÁ PENA. Os estatutos têm de estabelecer qual o órgão social que há de
aplicar a Penalidade, ou quais os órgãos para promoção e aplicação, os recursos e os remédios de
revisão ou de recuperação.
Nada obsta a que a sociedade o atribua a outra, como se é entidade federada, ou a alguma
autoridade, inclusive o juiz estatal. Para a atribuição ã autoridade judiciária não é preciso que a
infração seja ao mesmo tempo a regra estatutária e a texto de lei (sem razão, ULRICH
MEYER..CORDINO fie Vereinsatrafe 18 s.). O juiz estaria a conhecer de ação declaratória da
sociedade contra o sócio ou pessoa para isso equiparada a sócio, ou a conhecer de ação
condenatória, por infração contratual. A incapacidade e a falência do sócio são exemplos, se os
estatutos o estabelecem (cri. Código Civil, art. 1.899, IV; Código Comercial, art. 885, inciso5 2.0 e
Na aplicação da pena, é preciso que se respeite o principio da audiência do sócio, que é o
correspondente na vida interna da sociedade, ao princípio Nemo inauditus damnari potest, no
direito processual civil e no penal. A apreciabilidade de tal observância pelos juizes estatais,
ordinário5 ou especiais, de modo nenhum torna de direito processual estatal o princípio da
audiência do sócio, pois lex speciaus, que o dissesse ius cogens, teria simples função de explicitar
tal cogência da regra jurídica (de direito material) sobre contrato de sociedade. Passa-se o mesmo
com outros princípios que se hão de considerar regras de direito material das sociedades; e. g.: o de
não valer o julgament0 para o qual não se convocaram todos os sócios que teriam, pelo contrato ou
pelos estatutos de nele tomar parte; o de não se poder conceber como incondicionada condenação
se o contrato ou estatutos a concebem como condenaçãO condicional. No direito brasileiro, a
cláusula que pré-exclua o exame, em ação , pela justiça estatal, ofenderia o art. 141, § 4o da
constituição de 1946, e seria nula. Nula também seria a regra jurídica que permitisse tal cláusula de
pré-exclusão .
Quanto à cláusula de excluibilidade arbitrária ou discricionária do sócio que não é, de jeito nenhum,
cláusula penal certamente fere princípios de lealdade social se, no exercer tal poder de afastamento,
há qualquer apreciação de ato ou fato do sócio. Donde ser inafastável a apreciabilidade pela justiça
estatal, uma vez que, ex hypothesi, se feriu direito individual. No Código Civil suíço, o art. 72, 1.a
alínea,
2 a alínea pré-
-exclui, em tal caso, a apreciação judicial: não há ação para se decretar invalidade. Não há, no
direito brasileiro, lei expressa; mas seria difícil vedar-se às sociedades a diminuição do número de
sócios, se isso foi estabelecido no contrato ou nos estatutos. Todavia, pode o motivo, embora não
conste da deliberação, ser perceptível e nocivo ao sócio, constituindo ato ilicito dos outros (abuso do
direito).
Quanto ao juízo arbitral e à aplicação de penalidades sociais, pode êle ser estabelecido: a) se o
contrato ou os estatutos o permitem; b) se o caso poderia ser submetido à justiça estatal; e) se os
juizes árbitros são órgãos da sociedade, ou se se impõe que o sócio somente possa escolher sócio.
Se à sócio renuncia à qualidade de sócio (cf. Código Civil, arts. 1.404-1.406 e 1.374) e a sociedade
com a renúncia não se dissolve, nenhuma penalidade lhe pode ser aplicada, porque Seria aplicação
de pena a nao-socio.
Se a renúncia dissolve a sociedade, a vedação de aplicar-se pena somente se inicia com o começo da
eficácia da renúncia (arts. 1.874 e 1.404). O assunto muito tem interessado aos partidos políticos. O
sócio que eficazmente renunciou não mais pode imPugnar a exclusão, que foi feita (cf. Orno LENEL,
Kann emausgetrete~~5
84>; tem porém a ação por ato ilícito absoluto, não só por ofensa à honra (e. g., F. ARmUR
MÚLLEREISERT, fie Ehre im deutsehen Privatrecht, 99 s.) como por outra qualquer ofensa à sua
esfera jurídica. Os danos podem ser morais ou patrimoniais . Cf. Tomo 1, 94, 5.
CAPÍTULO V
E LIQUIDAÇÃO DA SOCIEDADE
não se pode, em rigor, aludir à decretação d.e nulidade, porque 1. PRECISÔES. .- Falando-Se de
extinção da sociedade, do contrato nulo de sociedade não surgiu sociedade, que é efeito.
Desconstituise o contrato, não a sociedade. A sociedade extingue-se pela expiração do prazo, pelo
distrato (mútuo dia- senso), pela desaparição da base do contrato de sociedade, comoIi7, o é a
impossibilitação do fim social (e.
g., o contrato de sociedade foi feito para se explorar determinada mina e o Estado desapropria-la).
Algumas causas de extinção podem ser previa no contrato de sociedade. No Código Civil, art. 1.399,
há menção das causas previstas em lei.
O contrato de sociedade extinguia-Se pela morte do sócio, pela capitis Jeminujia, pelo concurso de
credores de qualquer dos sócios, pelo dissensus e pela rennncia. O exercício da ação do contrato
implicava renúncia (PAULO, E. 65, pr., D., pra socio 17, 2; ULPIÁNO L. 68, § 10).
Lê-se no Código Civil, art. 1.899: “Dissolve-se a sociedade. 1. Pelo implemento da condição, a que foi
subordinada a sua durabilidade ou pelo vencimento do prazo estabelecido no contrato ii. Pela
extinção do capital social, ou seu desfalque em quantidade tamanha que a impossibilite de
continuar. 111. Pela consecução do fim social, ou pela verificação de sua inexequibilidade. Pela
falência, incapacidade, ou morte de um dos sócios. NJ.
Pela renúncia de qualquer dêles, se a sociedade fôr de prazo indeterminado (ad. 1.404). VI. Pelo
consenso unânime dos associados” Acrescenta o parágrar único: “Os ns. II, IV e 0
não econômicos”.
2.PRAZo E OONDIÇÂO. A sociedade a prazo impede o afastamento dissolutivo o que pode ocorrer é
que o sócio alegue e prove uma das causas de dissolução de que cogita o ad. 1.408 do Código Civil,
o que nada tem com a renúncia. O ato constitutivo pode considerar caso de denúncia cheia qualquer
dos casos do ad. 1.899, IV, pois são casos de regras juridicas dispositivas
O prazo para a sociedade pode ser prorrogado. O ato prorrogativo tem de ser, por seu conceito,
anterior à expiração. Prorrogacão só há se o prazo não se expirou. Diz o Código Civil, art. 1.400: “A
prorrogação do prazo social só se prova por escrito, nas mesmas condições do contrato que o fixou
(arts. 1.864 e 1.366)”.
Se há prazo determinado, a renúncia, do sócio não dissolve a sociedade É o que está no Código Civil,
art. 1.408:
“Quando a sociedade tiver duração prefixa, nenhum sócio lhe poderá exigir a dissolução antes de
expirar o prazo social, se não provar algum dos casos do art. 1.899, ns. 1 a IV”. A última parte do ad.
1.408 não foi feliz, porque não se trata, nos casos do art. 1.899, 1-1V, de renúncia, ou de denúncia
cheia: apenas o sócio, se os outros não atenderam ao art. 1.899, 1, II, III ou IV, tem pretensão a que
se declare estar dissolvida a sociedade. Aliás, as espécies do ad. 1.899, IV, não são inafastáveis por
alguma cláusula contratual, e então não haveria qualquer 1
ao dizer, no Código Comercial, ad. 886, que as sociedades “podem ser dissolvidas judicialmente,
antes do período marcado no contrato, a requerimento de qualquer dos sócios”. A parte final do art.
1.408 apenas explicita que o sócio tem pretensão à declaração da dissolução nos casos do art. 1.899,
1-1V.
“E pôsto que antes do tempo da companhia ter acabado nenhum dos companheiros se possa afastar
dela, todavia em certos casos o poderá fazer: Assim como se algum dos companheiros fôr de
condição tão áspera e forte, que com êle se não possam avir. Ou se o que se afasta da companhia
alegar que é enviado por Nós, ou pela República a algum negócio: Ou que não lhe é cumprida
alguma condição, com a qual entrou na companhia: Ou que se lhe foi tomada ou embargada a coisa,
em que a companhia é feita”.
655.
O Código Comercial, art. 885, não menciona a causa de dissolução que se prende à desaparição do
elemento essencial, objetivo, do contrato. Fá-lo no art. 386, em que a dissolução depende de decisão
judicial e contém enumeração exemplificativa. Pode ter havido a extinção dos bens, a ultimação da
operação, a perda da entrada do sócio antes da entrega, ou a perda posterior do bem de que apenas
se prestou o uso ou se prestaram o uso e a fruição. À perda material tem-se de juntar a perda
resultante da impossibilidade jurídica de se entregar O bem prometido, a proibição de exploração ou
de exploração privada. A definição que no contrato se dá do objeto social é de grande importância
para se saber se êle foi atingido.
GIAMPAOIX3 DE FEIIRÀ, La Prorroga deite Societâ com merejazi 81). Nem há Prorrogação, nem
renovação, nem continuidade A aparição da causa de dissolução não determina, de si só, a extinção
da sociedade (cf.
A decretação da abertura da falência não causa, ipso jure e, pois, imediatamente a perda da
personalidade, nem, sequer, a dissolução da sociedade A sociedade prossegue até que se faça a
liquidação e se cancele o registo; a personalidade contínua, do mesmo modo. Se o contrato de
sociedade não foi registado, a liquidação com a entrega das Participações no patrimônio, ou com a
entrega em pagamento dissolve a sociedade.
não se refere a essa causa, porque o fim lucrativo pesou para que o legislador do direito comercial a
ela não aludisse.
7. DE Sócio. O Código Comercial art. 385, inciso 4, incide em se tratando de sociedade em nome
coletivo 1
como das outras, salvo se foi previsto no contrato que continuaria, ou se unanimemente se
modificou~o sentido do contrato social nesse ponto. Tanto se pode preestabelecer que continua com
o herdeiro, ou os herdeiros, ou algum ou alguns dos herdeiros, ou legatário, como com pessoa que
desde logo, no contrato, seja indicada, ou o seja em modificação contratual, ou conforme cláusula
sobre o assunto.
A respeito de dissolução de sociedade, ou de morte de sócios, sem que se dissolva a sociedade, tudo
que se diz sobre herdeiro também se há de entender quanto a legatário. Se, por exemplo, o sócio
falecido deixara a alguém os seus haveres na sociedade em legado, tem o legatário os direitos que
teria o herdeiro (cf. Código Civil, art.
1.692). Se lhe toca mais de metade do capital, é o liquidante, conforme o art. 657, § 19, do Código
de Processo Civil (4.a Câmara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, 8 de maio de 1952). O fato
de o sócio falecido ter deixado herdeiro ou legatário menor, não tem relevância para se afastar a
observância da cláusula que prevê o pagamento ao herdeiro ou legatário (cf.
5 a Câmara do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 25 de junho de 1948, A. .1., 89, 161).
8.RETIRADA DO SÚCIO. Nos arts. 1.899, V, 1.404, 1.405 e 1.406 do Código Civil suscita-se
problema de terminologia jurídica. Lá se fala de “renúncia”, e outras legislações empregam o termo
“denúncia” (cf. Tomos III,
§ 253, 5; XII, § 1.400,2; XXV, §§ 3.081, 1, 8.082, 1, 2, e 3.094, 1; XXXVIII, § 4.185,4, 7; XLIV, § 4.836,
6).
Retirada diz-se a saída do sócio por vontade própria, fundamentada ou não. Exclusão (estrito senso),
a deliberação dos outros sócios ou do outro sócio quanto à saída de um dêles.
A exclusão , se a sociedade é por tempo determinado, tem causa justificada se podia ser dissolvida
por ela a sociedade (Código Comercial, arts. 836, incisos 2 e 8, e 889,
prevista a deliberação social a respeito, por maioria absoluta, ou outra maioria, conforme razões
apresentadas no contrato social. Também os casos de retirada podem ser previstos no contrato
social (Côrte de Apelação do Distrito Federal, 22 de outubro de 1929). As justas causas a que alude
o art. 839, 2Y alínea, para a exclusão , são as que resultam dos arts. 289,
8 a parte, 817, 2 a alínea, e 886, que é taxativo, e não exemplificativo e as que constem do contrato
social (8.~ Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 14 de outubro de 1958).
O sócio injustamente substituído (excluido, estrito senso) pode recusar-se a receber o que se diz ser-
lhe devido e, em caso de ação de consignação em pagamento, apresentar contestação, conforme o
art. 816 do Código de Processo Civil (cf. 1.0 Grupo das Câmaras Civis do Tribunal de Apelação de
São Paulo, 8 de maio de 1944, R.
O sócio, na sociedade por tempo determinado, pode ser excluído pelos outros sócios todos mesmo se
não foi prevista a maioria suficiente, e o caso seria, também, para dissolução da sociedade (quem
pode o mais pode o menos); portanto, se ocorre qualquer das espécies dos arts. 289,
(cf. art. 839, alínea 2.~). Fora daí, há de haver a cláusula contratual, com a indicação das razões
bastantes (cf. 2.~
Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 11 de dezembro de 1945, R. dos T., 164, 259; 2?
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 26 de agôsto de 1952, 207, 184, e 19 de fevereiro
de 1959, 285.
277; 6? Câmara Civil, 19 de setembro de 1947, 172, 172). A cláusula contratual, que aluda às
espécies dos arts.
Se a sociedade foi criada para o tempo em que viva algum sócio, e não os outros, afastou-se a
incidência do art.
Na L. 65, ~ 3, D., pra sotia, 17, 2, CÁSSIO referiu-se à renunciatio e disse, com elegância, que, pela
renúncia, o sócio, que renuncia, livra de si os seus sócios, porém não se livra dêles (eum, qui
renuntiaverit societati, a se quidem liberare socios suos, se autem ab illis non liberare).
Lê-se no Código Civil, art. 1.404: “A renúncia de um dos socios só dissolve a sociedade (art. 1.399, n.
V), quando feita de boa fé, em tempo oportuno, e notificada aos sócios dois meses antes”.
Ainda no Código Civil, art. 1.405: “A renúncia é de má fé, quando o sócio renunciante pretende
apropriar-se exclusivamente dos benefícios que os sócios tinham em mente colhêr em comum; e
haver-s&á por inoportuna, se as coisas não estiverem no seu estado integral, ou se a sociedade
puder ser prejudicada com a dissolução nesse momento”.
Acrescenta o Código Civil, art. 1.406: “No primeiro caso do artigo antecedente, os demais sócios
têm o direito de excluir desde logo o sócio de má fé, salvas as suas quotas na vantagem esperada.
No segundo, a sociedade pode continuar, apesar da oposição do renunciante, até à época do
primeiro balanço ordinário, ou até à conclusão do negócio pendente”.
Quanto à dissolução por manifestação de vontade de um dos sócios, a doutrina, que a reputava
automática, foi repelida.
9. O mútuo consenso dissolve a sociedade e tem de ser cancelado o registo, para que deixe de existir
a pessoa jurídica. Exige-se a unanimidade, mas pode ser inserta no contrato social a cláusula de
deliberação majoritária
10.FusÃo E INCORPORAÇÃO Enquanto existe patrimônio social, existe sociedade. Por isso, durante
a liquidação há sociedade. O patrimônio social mantém os vínculos. Nem seria de boa técnica
legislativa que não persistisse a personalidade jurídica, se ainda se está a liquidar a sociedade.
Dissolução da sociedade e despersonificação somente podem ocorrer quando o patrimônio social
volve aos sócios, conforme o que foi previsto no contrato, ou em regra de jug dispositivum, ou se
esgota com o pagamento das dívidas. A despersonificação, essa, exige mais: exige que se cancele o
registo, de que a personificação resultou (Decreto n.
4.875, de 9 de novembro de 1939. art. 183; Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, art. 11, §
2.0). Ou que a extinção seja automática, conforme o contrato.
A liquidação há de começar desde que se deu a causa de dissolução, quer essa implique dissolução
imediata quer não. Trata-se de procedimento administrativo, voluntário ou coativo, mediante o qual
se há de chegar ao pagamento das dividas sociais, à partilha do ativo e à prestação das quotas a que
os sócios têm direito. Os sócios, principalmente os sócios gerentes, estão vinculados à prática de
todos os atos que não possam deixar de ser praticados.
RAiaL WIELAND, Handeisregia, i, 669; MARrO STorrI, La Liquidazione deile Soeietà commerciali,
23).
r.
„À
A fusão de duas ou mais sociedades, uma das quais é de nome coletivo, pode perfazer a constituição
de nova sociedade, ou a incorporação de uma sociedade noutra ou noutras. Se há apenas
incorporação, uma, ou algumas se extinguiram, e uma sobrevive. Se da fusão resultou a criação de
nova sociedade, tôdas se extinguiram. Não há, prôpriamente, fase de liquidação, porque o negócio
jurídico plurilateral (dificilmente se provaria, nos contratos sociais, a fusão sem distrato) há de ser
registado, para que tenha eficácia. A eficácia consiste em incorporação ou criação de nova
sociedade e pois de extinção .
A sociedade nova, ou a que resulta da incorporação, tem de ser responsável pelas dividas das que
foram fundidas, ou se incorporaram. Não se pode dizer que, na incorporação, falte a extinção da
sociedade, ou que a falte na fusão, com a criação de sociedade nova. Há, por certo, vínculos que se
pluralizam (e.g., eram três os sócios, passaram a ser cinco, seis, sete, OU mais), porém essa
transformação dos vínculos não significa que a sociedade não se extinguiu (sem razão, GIUSEPPE
FERIU, La Fusione deite ,Societã comerciali, 48 s.).
11.CAUSAS AFASTÂVEIS. Algumas causas que a lei apresenta são afastáveis; outras, não. Se há
impossibilitação, a sociedade não pode continuar e a cláusula contratual seria inatendível. O distrato
somente poderia ser vedado, se se estabelecesse a continuação da sociedade sem os sócios atuais.
Pode ser estabelecido que, em caso de falência, ou outro concurso de credores, referente a um dos
sócios, ou a alguns, ou em caso de incapacidade de um, ou de alguns, ou de morte de um ou de
alguns, a sociedade continue. São afastáveis as extinções da sociedade: por se considerar a condição
resilitiva como ineficaz se, no momento do implemento, se deliberou a continuação; por ser
prorrogâvel a duração e ter ocorrido a prorrogaçáo por se considerar sem eficácia dissolutiva a
decretação de falêneia do sócio, ou outro concurso de credores do sócio, ou morte dêle; por se ter
como sem eficácia dissolutiva a renúncia por Uni dos sócios, ou por alguns.
Se foi estabelecido que a saida do sócio (renúncia, exclusão, morte), ou alguma espécie de saida,
não seria causa de dissolução da sociedade, a sociedade continua.
O concurso de credores do sócio civil, ou de liquidação coativa, ou falencial pode deixar de ser causa
de dissolução, que o art. 885, inciso 2, do Código Civil prevê, se o contrato social a preafastou De
qualquer modo, a abertura do concurso não determina dissolução de pleno direito da sociedade,
porque pode sobrevir, por exemplo, a concordata.
As espécies do art. 1.899, 11, do Código Civil dão ensejo a afastamento da dissolução, por ser lus
dispositivum O
contrato de sociedade pode prever a substituição do sócio atingido pelo concurso de credores, ou
pela incapacidade ou pela morte. Normal é que se pense no herdeiro ou no legatário para substituir
, em virtude de cláusula contratual, o morto; mas isso não afasta
em qualquer das espécies do art. 1.899, 17, do Código Civil que aponte outra pessoa, que substitua
o morto, ou a pessoa cujo concurso de credores foi aberto, ou que se tornou incapaz.
Lê-se no Código Civil, art. 1.402: “É lícito estipular que, morto um dos sócios, continue a sociedade
com os herdeiros, ou só com 05 associados sobrevivo5 Nesse segundo caso, o herdeiro do falecido
terá direito à partilha do que houver, quando êle faleceu, mas não participará nos lucros e perdas
ulteriores que não forem consequência direta de atos anteriores ao falecimento”. Se houve a
cláusula de continuação após a morte do sócio, essa cláusula ou é de inserção de herdeiro (ou de
outrem, sucessor do falecido) ou de continuação com os sócios sobreviventes O sucessor a causa de
morte tem direito e pretensão a restituição com Participação nos lucros e nas perdas.
Lê-se no Código Civil, art. 1.403: “Se o contrato estipular que a sociedade continue com o herdeiro
do sócio falecido, cumprir-se-á a estipulação tôda vez que se possa; mas sendo menor o herdeiro
será dissolvido em relação a êle, o vínculo social, caso o juiz o determine” A cláusula de continuação
, apos a morte do sócio pode ser a) de eficácia automática se foi previsto quem seria o sucessor, ou
b) se só há um sucessor, ou e) por determinação feita pelos co-herdeiros, comunicada à sociedade,
ou d) com a exigência de aprovação pela assembléia geral ou outro órgão. Se há pluralidade de
herdeiros e omissão do ato constitutivo entende-se que foi acordada a solução e).
Discute..se quanto à validade da cláusula de continuação com estranho O sócio prevê a própria
morte, a interdição ou
outra impossibilitação da atividade, e quer que o substitua pessoa que não é seu herdeiro. O
estranho passa a ser devedor aos herdeiros, ou legatário, ou ao sócio e à família do sócio~ que ficou
impossibilitado, da importância da 1
entrada e do que consta da última distribuição de lucros e perdas, ou desde logo adquire todos os
direitos, adimplindo o que lhe cumpria. Contra a cláusula tem-se arguido que se trata de pacto sobre
sucessão futura. De modo nenhum. Se o estranho prometeu ficar com a quota, vinculou-se. Se não
prometeu, depende da aceitação dêle a assunção da dívida, pela aquisição da entrada. A sucessão
legítima tem direito ao que entre na legítima, sem que seja computada a dívida do estranho se há
outros bens. Se o estranho presta imediatamente, nenhum problema surge.
O herdeiro, que substitui o sócio morto, não o substitui jure hereditario, mas sim em virtude da
cláusula contratual (cf. GEoRG RIPERT, La clause de continuation de la socíété en nom collectif avec
les héritiers de l‟associé décédé, Revue Générale de Droit Commer tini, 1988, „7 s.). O herdeiro,
pois que o é legitimo, ou contemplado no testamento, pode aceitar a herança, e não querer entrar
para a sociedade. Se o presumível herdeiro tomou parte no contrato social, para se vincular à
entrada eventual, tem de satisfazer, no momento da morte do sócio, as exigências legais e
contratuais para a substituição. Porém tudo isso nada tem com a sucessão em si mesma: o sócio
pode deixar mesmo de dizer que a pessoa que lhe tomará o lugar é um dos presumíveis herdeiros.
Se estabeleceu que todos os herdeiros seriam sócios, nem por isso a referência a “herdeiro” fêz jure
hereditário a substituição do sócio.
Pôde-se no contrato estabelecer ordem para os que podem entrar (e. g., “em primeiro lugar, o
herdeiro que tenha feito curso de economia”, “em primeiro lugar, o herdeiro que já seja
Comerciante”) 12.CAUSAs CONTRATUALMENTE PREVISTAS. Se algum fato se há de ter como
extintivo, por assim terem estipulado os figurantes do contrato de sociedade, sem o ter previsto a
lei, diz-se canga contratualmente prevista, causa que se concebe por existir o auto-regramento da
vontade, que é assaz largo a respeito dos contratos de sociedade. São cláusulas inseríveis, por
exemplo: a) a de dissolução se algum dos sócios ou um dos sócios muda de domicílio ou se aceita
emprêgo alhures, que se replite impróprio à atividade de sócio; b) a de dissolver.se a sociedade se
algum dos sócios perde a nacionalidade brasileira; c) a de dissolver-se a sociedade se não se atinge,
até data prefixada, determinado número de sócios; á) a de dissolução se o sócio incumbido da
direção técnica não mais pode exercer a função.
1.TExTO LEGAL. Código Civil, art. 1.401: “Se a sociedade se prorrogar depois de vencido o prazo do
contrato, entender-se-á que se constituiu de nôvo; se dentro no prazo, ter-se-á por continuação da
anterior”. A fonte foi o Código Civil espanhol, art. 1.708, e revela que se estava diante de confusão
terminológica ainda hoje não superada. Prorrogar e renovar são conceitos distintos (Tomos XVII, §
2.020, 2; XXV, § 8.019, 6; Xxxvi, § 4.068, 8; XL, §§ 4.962 e 4.468). O que se tem de entender é que,
diante dos erros conceptuais, os legisladore5 advertiram os interessados.
Se a sociedade progride, ou se mantém com satisfação dos sócios, a solução, para se evitar a
dissolução pelo advento do termo, é a Prorrogação.
A prorrogação tem de ser antes de se extinguir a sociedade. Depois de acabada, o que pode haver é
renovação, não prorrogação (SILVESTRE COMES DE Monxrs, Tractatus de Executionjôns, 1, 316:
.... .si socii societatis termino finito in eadem societatem persistant, ilia in modum tacite
conductionis cum eisdem pactis, clausulis, et condicionibus censetur renoN‟ata”).
Se, antes do advento do termo, há fusão ou incorporação da sociedade de modo que tenha a
sociedade, que exsurge, de durar mais do que duraria a sociedade fundida ou incorporada, entre os
pressupostos para a fusão ou a incorporação está o de poder ser dilatado o prazo que existe. Por
isso, se, por ter havido a alteração do contrato social que permite a retirada do sócio dissidente,
algum sócio quer sair da sociedade, tanto pode alegar a alteração para fusão ou para incorporação
como a alteração para prorrogação.
Cumpre advertir-se que, ea hypothesi, a sociedade registada fei por tempo determinado, de modo
que a 1
O contrato de sociedade é contrato de duração, porque. mesmo se não há prazo, se procura evitar a
eficácia imediata das atitudes. Se com prazo, a prorrogação tem de atender a que se previu a
cessação dos interesses na continuidade. De modo nenhum se pode entender que não seja
necessária, para a prorrogação, a observância do que legalmente e estatutariamente se exige para
as outras alterações do contrato. Não há, porém, contrarius consensus, pois que o que é ainda não
deixou de ser. Não se põe outro contrato em lugar do que estava (cf.
MARIO ALLARA, Le Vicende nel rapporto Juridico e la loro zusa, 62). Trata-se de alteração quanto
ao tempo, à semelhança de quem altera o contrato de compra-e-venda para que a entrega do bem
vendido, ou dos bens vendidos, ou o pagamento do preço seja mais tarde.
Na legislação inglêsa (Companies Act, 1948), somente após a liquidação da sociedade, após a
superveniência do termo (voluntary winding up), é que se extingue a sociedade. Mas essa não é a
solução do direito brasileiro, porque, com o advento do termo, que consta do registo, se a sociedade
foi registada, a extinção é automática. A continuação da atividade da sociedade só seria de
sociedade de fato, ou, se houve nôvo contrato, de sociedade irregular. Se os figurantes quiseram que
se produzisse, com a continuação da atividade, a prorrogação tácita, O
tênno ficou dependente disso que os figurantes previam. Se não foi prevista a prorrogação tácita,
dela não se pode cogitar, porque o termo, advindo, extingue a sociedade, mesmo registada, pois êle
consta do registo (confusão em RENZO BoLAFPI, La Socíetâ semplice 437). Aliás, os figurantes do
contrato social podem estabelecer que o contrato se renove, tácita.. mente, se após o advento do
termo os sócios continuam a atividade social. Se tal ocorre, não criam êles sociedade de fato, porque
a renovação supõe e implica justaposição no tempo, de outra sociedade, com o mesmo objeto e
sujeita às mesmas regras estatutárias.
ESCARRÃ, EDOUARD e JEAN RAULT, Traité théorique et pratique de Droit Commerciaz, 1, 802). A
prorrogação tem de ser publicada. No direito alemão, tem-se como declarativa a eficácia do registo
das sociedades de pessoas (Código Comercial alemão, § 15, II) e como constitutiva a eficácia do
registo das sociedades por ações (Lei alemã de 30 de janeiro de 1987, § 215, cf. § 148). Cf. ROEERT
A prorrogação é alteração estatutária de jeito que seria contra o próprio conceito que se pudesse
alterar depois de ter cessado o contrato social. Uma vez que houve prazo e consta do registo, o
registo da alteração há de ser feito antes de cessar qualquer efeito do registo existe, pois o último
foi o de implícita declaração da expiração.
Se o terceiro contraente conhecia o ato de prorrogação , que não foi registado, e trata com os
administradores mesmo se êsses foram nomeados após o ato prorrogativo, a sociedade é sociedade
irregular. Há a eficácia entre os figurantes do contrato e o terceiro, com a responsabilidade que
resulta de ter tratado com a sociedade irregular.
Se houve o registo, a eficácia é conforme êle e tal como resulta do texto do acêrdo de prorrogação.
jurídica, que as relações jurídicas persistentes compõem,. continua. Não se pode dizer que a
sociedade subsista, persista, continue, prossiga, porque haveria contradição com a expressão
“dissolução ‟~, ou, a fortiori, com a de
“decretação de nulidade”, porque da nulidade não resultou efeito, inclusive a sociedade, que efeito
é. Ter-se-ia, como quase sempre tem ocorrido, de recorrer ao conceito de legal (cp. JOsEF EsSn,
Wert und Bedeutung der Rechtsfiktionen, 123 s.) ; porém não se precisa de ficção, porquanto
apenas se retardou a entrega do que entregue deveria ter sido imediatamente, ou simultaneamente ,
ou anteriormente (Tomo 1, § 101). As relações jurídicas que resultaram da sociedade, ou de
situações socialiformes, como se dá se o contrato era nulo, continuaram, tanto quanto era
necessário para a liquidação, ou continuaram e continuam, tanto quanto era e é necessário para a
liquidação, Os poderes de gestão são restritos aos atos indispensáveis às operações finais, inclusive
no tocante a negócios pendentes e medidas extrajudiciais e judiciais relativas ao patrimônio social.
O contrato de sociedade pode conter cláusulas sobre a espécie e a forma da liquidação. Se não foi
regulada a liquidação, nem sobreveio acôrdo unânime , procede-se como se se tratasse de herança
(cf. Código Civil, ad.
1.409). Se os figurantes acordaram em que a propriedade e a posse dos bens fossem transferidas ou
adjudicada5 a um dêles, ou a alguns dêles, tal acôrdo, que há de ser unânime, não pede ofender a
interésse de terceiros.
Se são só dois os sócios e divergem, ou se mais de dois e todos entre si divergem, rege o art. 657, §
2.0, do Código de Processo Civil; e a
J., 98, 175), aplicou-o em caso de a divergência ser entre sócio e herdeiros do outro sócio; ou,
acrescentemos, se entre os divergentes entre si estão herdeiros ou está herdeiro.
O juiz, na espécie acima referida, tem de nomear pessoa estranha, não pode nomear sócio, nem
estranho indicado por algum sócio (Tribunal de Justiça do Paraná, 2 de setembro de 1954, 1?. J. do
Rio Grande do Sul, 14, 380).
Se há cláusula contratual segundo a qual se há de pagar e último saldo ao sócio que pedir a
dissolução, não é preciso que haja liquidação (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro,24 de março de
1922, 1?. de D., 68, 281).
O assunto do ad. 657, § 2.0, do Código de Processo Civil já fôra tratado, com igual solução, pela 2~a
Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, a 30 de julho de 1907 (E. de D., VIII, 138). A
discordância pode ser entre três ou mais Sócios, sem qualquer solução por votos.
Se um dos sócios sucede a outro, que faleceu, tem êle os votos que correspondem à soma das partes
no capital. Se a soma é igual à parte do outro sócio, há empate, e cabe ao juiz nomear pessoa
estranha (cf.
6 a Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo, 11 de setembro de 1953). Portanto, o poder do juiz não é só, como
pareceu à 33
Câmara Civil, a 11 de outubro de 1956 (E. dos ¶1., 258, 231), no caso de serem dois os sócios
(Código de Processo Civil, art. 657, § 2.0).
No art. 659 do Código de Processo Civil supõe -se existir receio de rixa, crime, ou extravio, ou
danificação, e a medida não é preparatória de ação, de jeito que desse fundamento ao recurso de
agravo de instrumento com invocação do art. 842, III, nem e medida cautelar, no sentido do art. 675.
Daí admitir-se o mandado de segurança contra o ato do juiz (3? Câmara Cível do Tribunal de Justiça
do Paraná, 25 de fevereiro de 1958, Paraná J., 54, 465).
2. RESTITUiÇÕES. Os bens cuja posse para uso pela sociedade, ou todos os figurantes, ou para
fruição, ou para uso e fruição , tenha sido entregue à sociedade, ou a todos, têm de ser devolvidos,
sem que o dono e possuidor tenha pretensão por indenização de danos causados por fôrça maior ou
caso fortuito.
O que era bem fungível ou o que foi convertido em dinheiro, por necessidade, há de primeiro ser
aplicado à solução das dívidas sociais. Se ainda não se venceu alguma dívida, ou há litígio quanto a
ela, tem de ser reservada mais aconselhável-mente, depositada a quantia que baste.
O que sobra após a liquidação tem de ser distribuído aos sócios, conforme as suas quotas.
Se o patrimônio não basta para o pagamento das dívidas sociais, ou para isso e para a restituição
das entradas, sofrem as perdas os sócios, proporcionalmente às suas quotas. Se um dos sócios ou
alguns dos sócios não podem concorrer de conformidade com a sua quota, os outros têm de suprir o
défice.
No tocante às sociedades civis, são invocáveis as regras jurídicas sobre a partida entre os herdeiros
(Código Civil,art. 1.409).. Quanto às sociedades comerciais, há os arts. 844--358do Código
Comercial Todavia, há regras jurídica5 do Código de Processo Civil, arts. 655-674.
Se se trata da mesma pessoa, há continuidade quanto à titularidade; não, porem, quanto à fonte dos
poderes.
Quando a sociedade entra em liquidação não somente tem de aditar à firma a expressão “em
liquidação” como somente usar papéis ou outros documentos com êsse aditamento Não precisa fazê-
lo nos rótulos, caixas e objetos da sua produção, porque aí não há ato jurídico (negócio jurídico, ato
jurídico s tricto sensu) que tenha de ser com a firma tal como está no momento. Com isso, os
terceiros, inclusive os próprios interessados em negócios da sociedade como 05 empregados e os
fregueses, ficam cientes de que se entrou em fase dissolvente do patrimônio social, e não mais
construtiva. .4
A quitação dada por sócio ao liquidante, após a partilha dos haveres, só abrange o que se partilhou,
não aquêles que eram desconhecidos e têm de ser sobrepartilhados (1a Câmara Civil do Tribunal de
Justiça de São Paulo, 27
O que é comercial é a parte do contrato social ou dos estatutos da sociedade comercial que se refere
à liquidação da sociedade, se se dissolve ou à apuração para se entregar ao sócio, que se retira ou
aos herdeiros do premorto o que lhe tornaria se dissolvida estivesse a sociedade ao tempo da
retirada ou da morte do sócio. A alusão a herdeiros é alusão devido a se ter de levar em conta, no
direito que rege as Sociedades, sejam civis ou comerciais, o fato da morte do sócio. A liquidação e a
apuração simples nada têm com o direito, as pretensões e ações dos 1
herdeiros do sócio Premorto; tanto que os juízos, de regra, são diferentes, e o juízo da liquidação ou
apuração de haveres não pode decidir aquela5 questõe5 em que se trate de direito das sucessões
Mais: durante a liquidação se morre o sócio, o herdeiro sucede a êle, porque não há mais
participação social (ORTo WÀRNEyER Kommentar 1, 1165). Não há relação jurídica social,
tão~pouco social comercial, entre os herdeiros do sócio premorto e o sócio ou os sócios
sobreviventes; há direito, pretensão e ação, que resultam da premorte do sócio, no piano do direito
das Sucessões .
Se o sócio que seria o liquidante é inventariante do sócio falecido, aquela função passa à frente (S.~
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 13 de abril de 1948, A. 3., 87, 347) ; mas
não afasta que possa a pessoa preferir ser inventariante e renunciar àquele cargo.
No direito brasileiro, a partilha do patrimônio social pode fazer-se sem o pagamento dos credores,
pois que se adotou como sanção, não a nulidade do acôrdo de distribuição, entre os sócios, do
patrimônio social, mas a ineficácia contra terceiros, credores da sociedade.
Se já houve o acôrdo de distribuição, entre os sócios, do patrimônio social, não mais se pode pensar
em liquidação. Os credores, que acaso existem, têm as suas ações e podem invocar o ad. 1.407 do
Código Civil, que também é regra jurídica de direito comercial. Os sócios responderiam, então,
conforme a lei prevê, explicitamente. Quanto às dividas ativas, foram, ex hypothesi, distribuídas
entre os sócios, ou a algum, ou a alguns dos sócios.
A dissolução da sociedade por distrato tem de ser seguida do acordo de distribuição do patrimônio
social entre os sócios, ou de liquidação que permita chegar-se a essa distribuição A liquidação pode
ser eliminada como fase da vida social. Por exemplo, se todos os haveres são em dinheiro ou bens
que Possam ser partilhados entre os sócios. Então, no mesmo ato distrata-se a sociedade e distribui-
se o patrimônio social.
A fase da liquidação ~ eliminável se nada há a liquidar. O art. 344, 1.~ parte, do Código Comercial e
o art. 1.407
do Código Civil estatuem claramente A liquidação nada mais é do que operação preliminar da
partilha.
Procura-se o ativo liquido. Prevendo que se distribuam as partes do patrimônio sem se terem
saldado as dívidas a terceiros, o Código Civil estabeleceu (art. 1.407) : “Subsiste, ainda após a
dissolução da sociedade, a responsabilidade social para com terceiros pelas dívidas que houver
contraído Não se tendo estipulado a responsabilidade solidária dos sócios para com terceiros, a
dívida será distribuída por aquêles em partes 1
No Código de Processo Civil, arts. 655-674, só se regula a dissolução pedida ao juiz e, pois, a
liquidação porque não se sabe se há o que liquidar ou se não há. Se houve distrato e acôrdo de
distribuição não há liquidação embora persista a responsabilidade dos sócios para com terceiros,
nos termos do art. 1.407 do Código Civil.
Não há discordância entre o art. 1.407 e o art. 1.396 do Código Civil. No art. 1.396, cogita-se da
responsabilidade dos sócios antes de se proceder ao acôrdo de distribuição do patrimônio social
entre os sócios, e no art. 1.407, da responsabilidade dos que foram sócios, depois de dissolvida a
sociedade e feito o acôrdo de distribuição do patrimônio social entre os sócios. Ali, há de ser
respeitado o contrato social, que é onde se pode prever a participação dos sócios nas perdas sociais;
aqui, não mais há o contrato, pois que, ez h~,1pothesi, se distratou tal contrato e se acordou na
distribuição dos haveres entre os sócios. O art. 1.407 proveio do Projeto revisto, art.
1.633, e foram injustas, de lege ferenda, as criticas que lhe fizeram JOÃO Luís ALVES (Código Civil
anotado, V, 3Y ed., 74) e CLOVIS BEVILÁQUA (Código Civil comentado, V, 157).
a)Os sócios podem, se não há dividas passivas, fazer, desde logo, o distrato e o acôrdo de
distribuição, entre os sodos, do patrimônio social.
b)Se há dividas passivas líquidas, ou não, podem fazer, desde logo, o distrato e o acôrdo de
distribuIção, entre os sócios, do patrimônio social, assumindo tôdas as dívidas passivas algum ou
alguns dêles, ou todos, solidáriamente, ou não.
A liquidação, que pode sobrevir, nas espécies lO e e), é da divida, e não do patrimônio social: não se
trata de liquidação da sociedade (Código de Processo Civil, arts. 655-674), mas da dívida (arts. 906-
917; cf. Tomo XXVI,
§§ 2.929-2.931).
O acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 20 de abril de 1896 (G.J., 15, 248), pôs claro o que
esquece, ainda hoje, a alguns escritores estrangeiros, por serem menos freqUentes os casos de
distrato e de acOrdo de distribuição do patrimônio social no mesmo ato, ou em seguimento:
“Conquanto sejam atos distintos por sua natureza e efeitos a dissolução e a liquidação de uma
sociedade e a posterior partilha dos bens sociais, não há disposição da lei proIbindo que êsses atos
possam ser praticados conjuntamente e por meio de uma única escritura, desde que haja acôrdo
entre os sócios e salvo sempre O prejuízo de terceiros” Impecável a solução. 3.
X. CARvALHo DE ME~DONÇA (Tratado de Direito Comercial, III, 244) aí se inspirou ao escrever: “A
liquidação não é operação essencial, conquanto seja, de ordinário, necessária Circunstâncias
ocorrem em que a sociedade passa da vida normal à completa extinção sem percorrer o estado de
liquidação” E acrescentou:
“Não se admite que os sócios assumam a parte que a cada um corresponda nas dívidas sociais e
partilhem entre si os bens da sociedade; mas, se não surgem interesses de terceiros, ou se êstes
concordam, não há motivo que obste a dispensa da liquidação formal. O‟ mútuo acôrdo dos sócios
regulará ~s interesses comuns”. Aí, só se há de advertir que “não se admite que” está em vez de
“não pode lesar terceiros a convenção pela qual”. Os sócios podem distratar a sociedade e acordar
na partilha (z acordar na distribuição do patrimônio social entre os sócios) assumindo as dividas um
ou alguns; apenas tal assunção não pode prejudicar terceiros.
“Eis alguns casos”, escreveu J. IX. CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial, III,
244),
“em que não há razão de ser para a liquidação ou em que esta é dispensada.
a) a sociedade não tem passivo e o ativo se acha representa-lo em dinheiro ou, consistindo êste ativo
em bens, os sócios ajustam divididos ín natura entre si; b) se no contrato social se estipula que os
sócios entrarão imediatamente com a quantia precisa para o pagamento dos credores, ficando a
cargo de uni dêles o estabelecimento ou empresa, com a obrigação de embolsar a quota dos outros
sócios, conforme o último balanço ou fixada por outra forma; c) se se ajusta entre os mesmos sócios
ou com outros nova sociedade sucessora assumindo esta a responsabilidade do ativo e passivo da
que se extingue; d) se um sócio toma a si receber os créditos e pagar as dívidas passivas, dando aos
outros sócios ressalva contra a responsabííí dade futura nos termos do art. 843 do Código
Comercial; e) se o estabelecimento industrial ou comercial, explorado pela sociedade, é vendido em
bloco e O comprador paga diretamente aos sócios em particular o preço da venda. Em todos os
casos figurados os direitos dos credores estão sempre ressalvados, não podendo ser ofendidos nem
prejudicados ” No direito brasileiro não há regras jurídicas como as do CÓdigo Civil italiano, art.
2.280. Mas, ainda n~ direito italiano, há corrente que permite a partilha feita pelos sócios (não
pelos liquidantes) antes de se pagarem as dividas. À base dos defeitos das legislações e doutrinas
estrangeiras está lamentável confusão entre nulidade e 1
ineficácia. Ainda, se há. credores do patrimônio social, a distribuição entre os sócios vale; apenas
não é eficaz contra os terceiros. O art. 1.407 do Código Civil foi excelente a respeito; veio da
Comissão revisora (Projeto revisto, art. 1.633).
Excepcionalmente, pode alguma lei (2) excluir o primado da regra do contrato social ou dos
estatutos, funcionando como derrogatória da regra geral de primado da declaração de vontade do~
contratantes. t~, então, ius cogens, em vez de ser, como na espécie (lO de (1), ius dtspositivitm. A
espécie (e) é negocial, sendo pressuposto necessário a unanimidade. A espécie (2) elidiria as outras.
Se não há lei cogente, isto é, se não (2), nem indicação segundo (a), ou (e), nem lei dispositiva,
espécie (b), então e somente aí tem de ser aplicado, por exemplo, o § 1.0 do art. 657 do Código de
Processo Civil, regra jurídica processual cogente, se não há concordância geral.
A regra jurídica do art. 657, § 1.~, e as semelhantes supõem , portanto, falta de disposição legal ou
contratual.
Se o direito material adota (1) (a), somente na falta de disposição do contrato social, ou dos
estatutos, é que se recorre à lei dispositiva (b), se há tal lei, ou, se não há, à índícaçao pelos sócios
(c). A nomeação segundo o art.
657, § 1.0, é apenas para o caso de não ocorrer (1) (a), nem (1) (b), nem (1) (e). O mesmo raciocínio
cabe a respeito de forma de liquidação e partilha.
O art. 669 do Código de Processo Civil corta cerce o problema de competência: se o inventário tinha
de ser feito no domicílio do falecido e há outro domicílio, que é o da firma individual, o art. 669
estabelece que aquêle é o que se impõe, pelo fato de ser individual a firma. O falecido podia ter,
além do patrimônio da firma, outros bens, e a ratio legis do art. 669 está em que patrimônio de
firma individual entra no patrimônio do decujo e pode dar, e quase sempre se dá, que não seja mais
do que parcela. O que se tem por fito é evitar-se a duplicidade de juízos, o que salientou o Conselho
Superior da Magistratura de São Paulo, a 12 de dezembro de 1955 (R. dos 7?., 248, 347).
As leis de direito material costumam inserir em seu corpo regras do tipo (1) (a), e essas regras
criam direito subjetivo, pretensão e ação a favor dos que pretendem contrair sociedade e
disciplinar..lhe a dissolução e a liquidação. As regras fixadoras de autonomia da vontade são regras
como as demais, suscetíveis de ser infringida5
como direito em tese e como direito em aplicação concreta. Quando o Código Comercial, no art.
302, inciso 6, recomendou que o contrato de constituição da sociedade contivesse a indicação da
“forma da liquidação e partilha”, implicitamente redigiu regra que diz: “~ aos contraentes que toca,
em primeiro lugar, adotar a forma de liquidação e partilha”; portanto, o direito comercial brasileiro
escolheu a solução (1) (a).
Se alguma sociedade em nome coletivo se dissolve pela morte de um dos sócios (Código Comercial,
art. 355) e se declara a sua dissolução, o primeiro passo a dar-se é consultar-se o contrato social
sobre a forma da liquidação e partilha.
“Nos casos expressos em lei, e sempre que~s gêneros ou efeitos sequestrados ou arrestados,
depositados ou penhorados, forem de fácil deterioração, estiverem avariados, ou exigirem grande
despesa para a sua guarda, o juiz, ex officio, nos casos em que lhe competir, ou a requerimento do
depositário, ou da parte interessada, mandará que o serventuário competente venda aquêles
gêneros ou efeitos em praça ou leilão público, mediante avaliação, se ainda não avaliados
judicialmente”. Note-se que é pressuposto necessário: 1) ser caso expresso em lei, ou 2) estarem
judicialmente constritos os bens (seqUestrados, arrestados, depositados, penhorados, etc.). Não
incide o art. 704 se não há 1), nem 2). Nem é de admitir-se venda judicial onde o contrato foi claro
em dizer como se liquidaria e partilharia.
No direito comercial brasileiro, a intervenção do juiz nas liquidações de sociedades tem de ser para
o 1
cumprimento das cláusulas contratuais sobre liquidação e partilha. Somente se não houve, no
contrato social, tais cláusulas, é que se pode pensar em aplicação de lei. Assim, temos: (1) (a),
Código Comercial, art. 302, inciso 6.
(1) (b), Código Comercial, arts. 304 e 348 (art. 802, inciso 6), 344-353; Código de Processo Civil, art.
671.
De modo que ou se tem (1) (a), cumprindo ao juiz aplicar o disposto no contrato, ou os interessados
acordam noutra forma e temos (1) (e), ou se aplicam as regras jurídicas dispositivas (arts. 844-853).
Desde todo o principio, na interpretação do Código Comercial,~arts. 344-353, que se frisa não haver
diferença entre a subordinação da forma de liquidação e partilha, precipuamente, ao disposto pelas
partes, se amigável a liquidação, e a subordinação ao disposto pelas partes, se judicial a liquidação
(Relação do Rio de Janeiro, 9 de junho de 1882, O D., 28, 478). Nem se compreenderia que o fato de
se submeter ao juiz a solução das questões, em caso de discórdia, tivesse a consequência de
desvestir de direitos, pretensões e ações os interessados. O juiz é adstrito ao disposto no contrato; e
é o direito dos sócios ao respeito do contrato, ou, na falta do contrato, da lei, que justifica a
judiciatização da liquidação (cf.
A liquidação ou foi desnecessária, porque nada se tinha a liquidar, e credores não havia, ou, se os
havia, assumiram os socios, pessoalmente, as dívidas, ou algum ou alguns dêles expressamente as
assumiram, ou incide o art. 1.407 do Código Civil. Nas relações com os sócios, a liquidação foi pré-
excluída ou encerrou-se no momento em que os sócios explícita ou implicitamente a deram como tal.
Nas relações com terceiros, ou as dívidas liquidas têm de ser pagas por aquêles que as assumiram,
ou, se há dívidas ilíquidas, têm de ser pagas pelos que as assumiram, após liquidação perante os
responsáveis, ou, líquidas ou ilíquidas, não foram assumidas expressamente e então incide o art.
1.407.
Se o executado aliena o bem penhorado, alienação que é ineficaz em relação ao exeqúente, mas
vale, pode o exeqúente consentir em que se dê a substituição do executado pelo terceiro adquirente.
Se há questão pendente entre o executado e terceiro que se diz com direito ao bem e a penhora foi
posterior à litispendência, o exeqúente pode intervir, como assistente litisconsórcio , na ação
pendente. Depois da expedição da carta de adjudicação ou de arrematação, o exequente ou
arrematante faz-se parte, em substituição.
Se ocorre liquidação da sociedade, primeiro se hão de satisfazer as dívidas comuns dos sócios, para
que somente depois se proceda à restituição das entradas que foram feitas e se partilhe o excedente
que exista. Dividas comuns são as que se originam de relação jurídica com a sociedade e as que os
sócios contraíram por conta da sociedade, bem como as que resultaram de enriquecimento do
patrimônio da sociedade. Se os sócios são devedores solidários, respondem êles com os seus
respectivos patrimônios.
Cumpre observar-se que, em princípio, título contra todos os sócios , se não há razão para se ter
como estranho à atividade social, pode ensejar execução contra o patrimônio da sociedade.
Diz o Código Civil, ad. 1.407: “Subsiste, ainda após a dissolução da sociedade, a responsabilidade
social para com terceiros, pelas dívidas que houver contraído. Não se tendo estipulado a
responsabilidade solidária dos sócioS para com terceiros, a divida será distribuída por aquêles em
cortes proporcionais às suas entradas”.
Estatui-se no art. 1.409: “São aplicáveis à partilha entre os sócios as regras da partilha entre
herdeiros (arts. 1.772
Não há sociedade, mas algo há que pôs em relações jurídicas as pessoas que seriam socios, se o
contrato valesse e fôsse eficaz. Não se pode negar que as pessoas que figuraram no contrato nulo ou
anulado tiveram dever de atividade e de cuidado dos interesses comuns.
participação, e a exclusão não baixa do mínimo, a nulidade é parcial, conforme o conceito do art.
158, 13 parte, do Código Civil. Se não há número mínimo, ou se há e não foi ofendido, e é de
entender-se que os demais figurantes, conhecendo a situação, teriam concluído o contrato social
com a pessoa incapaz ou que deu causa à nulidade ou à anulação da sua entrada, a invalidade é
restrita a essa pessoa.
Tem-se pensado, nos últimos tempos, em que os terceiros, principalmente os credores, seriam
profundamente prejudicados pelas consequências da decretação da nulidade ou da anulação, pois
que êles tinham como juridicamente constituída e atuante a sociedade. A solução mais acolhida foi a
de dar-se como existente, para os terceiros, qualquer sociedade que se teria irradiado de contrato
de sociedade que foi devidamente registado. Os terceiros que estiveram em contacto com alguma
pessoa, que fêz aparecer, para êles, sociedade, que não cx±s LI:.., têm de ser protegidos pelo
direito. Idem, se se disse com podêres de Presentação, há responder, como quem dissesse que tinha
poderes de representação (cf. Código Civil, arts. 1.818, 1.319 e 1.321, 1.331 e 1.345). Nas relações
jurídicas internas, os que seriam sócios, no que houve prestações pela sociedade aparente ou a favor
do patrimônio social, ou percepções de lucros, ou retribuição de despesas, têm de examinar o que
houve de acôrdo e promessa entre os interessados, sem que só se haja de recorrer aos princípios de
enriquecimento injustificado.
HUECK, Das Regia der offenen Gesellsehaft, 60; JOSEF EssER, Lekrbnclt des Schuldrecias, 402;
HANS
a um só sócio, ou a alguns dêles (KÂmI. LARENZ, Lehrbuch des Sehuldrechts, TI, 246).
7.SOCIEDADES DE FATO. A sociedade a que não corresponde contrato por escrito é sociedade de
fato, porque se puseram em comum, no mundo fáctico, as contribuições dos socios. Não tem
personalidade jurídica, porque essa somente pode resultar do registo, ou de lei que a crie e a faça
pessoa jurídica. A mão-comum ocorre, o que estabelece situação que há de ser atendida. Daí o art.
673 do Código de Processo Civil que se refere a liquidação das chamadas sociedades de fato.
A sociedade de fato é dissolvida por sentença proferível em processo ordinário. ~ essa sentença que
tem de ser liquidada.
Se, feita a liquidação, algum credor deixou de apresentar-se e do crédito dêsse não tinha informação
o liquidante e está extinta a sociedade e, com ela, a pessoa jurídica, pode o credor não satisfeito ir,
em ação condenatória, ou executiva, se cabe, contra os sócios e, se houve culpa do liquidante,
contra êsse, para haver indenização dos danos.
Se há ação a ser proposta contra algum sócio (e. g., por dilapidação de bens sociais), compete ao
liquidante propô-la. Os sócios são assistentes equiparados a litisconsortes (não se lhes pode negar
qualquer atividade, como fêz a
7 a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a 16 de outubro de 1951, E. 9., 144,
259).
CAPITULO VII
Algumas profissões liberais, como a dos médicos, a dos advogados e dos arquitetos, procuram a
estrutura da sociedade, para que tenham meios para maior expansão e eficiência. Em tudo isso, o
que se irnta é que os sistemas jurídicos pecam pelo apêgo à discriminação das atividades
econômicas ou comerciais e novos comerciais, ao mesmo tempo que mostram a necessidade da
sistematização de todo o direito privado. O primeiro passo foi dado quando se começou de empregar
o termo “comercial” como abrangente do que é comercial e do que é industrial.
Por outro lado, o Código Civil brasileiro, no art. 1.364, bem refletiu O pensamento dos que
refugavam a limitação dos tipos de sociedade às sociedades comerciais. A própria sociedade por
ações, que tanto serviu ao capitalismo hodierno, é estrutura que as sociedades civis podem ter. A
explícita regra jurídica do art. 1.364 do Código Civil muito revela da necessidade de uniformização,
mesmo noutros setores.
A maioria dos grandes empreendimentos não poderiam ser planejados, ou levados a cabo, se não
houvesse a organização societâria. Não somente soma, multiplica os homens. Faz-se, no plano do
direito privado, o que lá fora, através de milênios , se fêz com os grupos humanos. Algumas vêzes, as
sociedades cogitam de controlar as sociedades, se se precisa de direção única. Outras vêzes, as
operações exigem que se descentralize a direção. Em tudo isso ressalta o que há de extremamente
técnico, persuasivo, de esclarecido, nas sociedades comerciais lato sensu.
Alguns problemas que surgem, a propósito do regramento jurídico das sociedades civis e
comerciais, especialmente das sociedades com firma, noutros sistemas jurídicos (cp. DESrnY, Droit
civil et societés comerciales, 346; GIOVANNI MANARÂ, Una crisi dottrinale delle società anonime;
Società, corporaziori o fondazioni, Studi di Diritto commerciale in onore de Cw SAIU VIVANTE, 1,
705), foram superados pela inserção do artigo 1.364 do Código Civil.
Quanto à comercialidade das sociedades, o que as distingue das sociedades civis é o terem sido
constituídas para o exercício de atos jurídicos, por sua natureza, de comércio. Nascem comerciais. O
contrato, de que emanam, não é ato de comércio, mas a lei comercial tem de regulá-lo, porque ,se
destina à advidade de mercancia, sem ser ato de mercancia.
Com o advento do Código Civil, o direito civil passou a ser, na falta de lex specials, como o é
qualquer lei comercial, e o uso comercial comprovado, passou a ser a fonte mais relevante para o
próprio direito comercial. A sociedade comercial surge do contrato. Todavia, na era da intervenção n
economia, que se iniciou, profunda, neste século, não é afastar-Se que o Estado crie,
esquemàticamente. sociedade, para a autorização, concessões ou ajudas financeiras, o que de certo
modo é regressivo.
O fim que se colima é lucrativo, embora possa não haver lucros, e sim perdas.
No tocante às regras jurídicas, tem o contrato de sociedade, quer civil quer comercial, de atender ao
1118 cogens e ao ias dispositivvm (se a manifestação de vontade não dispôs, a regra jurídica
dispositiva incide) - Se a regra 1
jurídica não é cogente, o acôrdo dos figurantes é o que mais importa, podendo ficar ensejo para o
ins interpretativltlfl. Se não há ins cogens, nem manifestação de vontade, nem ius dispositivum, e à
lei civil cabe ser invocada, ela é que incide. Daí dizer o Código Comercial, art. 291: “As leis
particulares do comércio, a convenção das partes sempre que lhes não fôr contrária, e os usos
comerciais, regulam tôda a sorte de associação mercantil; não podendo recorrer-se ao Direito Civil
para decisão de qualquer dúvida que se ofereça, senão na falta de lei ou uso comercial”.
3.ATO CONSTITUTIVO. No Código Comercial, chama-se ao ato constituivo ato (ou instrumento) da
instituição da sociedade (art. 307,
1 a alínea), contrato primordial (art. 307, 2a alínea), contrato social (arts. 300, 302). Ato social
também se diz. A melhor expressão é “ato constitutivo”, porque abrange o contrato e o ato estatal
de criação. Na lei sobre sociedades por ações (Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940, fala-
se de “atos constitutivos” (art. 50), ou de “ato de constituição” (art. 53).
1.0 acrescenta: “Um dos exemplares será arquivado e outro entregue ao requerente, com nota do
dia e da hora em que foi apresentado o requerimento e feita a inscrição, designada a fôlha do livro -
O livro de registo há de conter coluna para a inscrição, outra, para as declarações que o requerente
entenda fazer, outra, para averbações de alterações, cessação do comércio> decretação de abertura
de falência, reabilitação, concordata, e o mais que deve ser anotado” (Decreto n. 916, art. 11, § 2.0).
Há índice remissivo (Decreto n. 916, art. 11, § 39) e o livro pode ser consultado, durante as horas de
serviço (Decreto n. 916, art. 12). As certidões são dadas em relatório ou verbo ad verbum (art. 12,
parágrafo único).
1.CAPITAL E PRESTAÇXO nos sócios . Nas sociedades comerciais, é elemento essencial o capital
(“fundo social”), diz-se no no Código Comercia], arts. 288, 289 e 880, pela finalidade lucrativa,
capitalística, que hão de ter. Se se tornou insuficiente, há a pretensão à devolução, a despeito do
tempo determinado de duração (Código Comercial, art. 836, inciso 1), com a pretensão à tutela
jurídica para qualquer dos sócios (cf. Código Civil, art.
1.408; Código de Processo Civil, artigos 655-674). Êsse “cabedal social” (Código Comercial, art. 345,
inciso 1), por ser patrimônio separado e, mais do que isso, de outra pessoa, pode ser alienado, pois é
fundo de empresa
O sócio deve à sociedade aquilo que prometeu. Não pode prometer somente garantia ou fiança. A
quota pode ser de propriedade (domínio ou direito real limitado) ou de crédito contra alguém.
Direito formativo gerador, modificativo ou extintivo pode ser objeto da prestação. 1ê-se no Código
Comercial, art. 289: “Os sócios devem entrar para o fundo social com as quotas e contingentes a que
se obrigarem, nos prazos e pela forma que se estipular no contrato. O que deixar de o fazer,
responderá à sociedade ou companhia pelo dano emergente da mora, se o contingente não consistir
em dinheiro; consistindo em dinheiro, pagará por indenização o juro legal somente (art. 249). Num e
noutro caso, porém, poderão os outros sócios preferir, à indenização pela mora, a rescisão da
sociedade a respeito do sócio remisso”. A expressão “rescisão” foi infeliz e errada. O que ocorre é
que os sócios que ficaram quites podem deliberar a exclusão do sócio.
A prestação do sócio pode ser em bens presentes ou em bens futuros, não somente possíveis. Se há
prazo para a entrega, sem álea, o sócio tem de prestar aquilo com que contava, ou o seu valor. Se a
sociedade não é por ações, as prestações podem ser diversas, qualitativa e quantitativamente. O
bem avaliado para a entrada no capital da sociedade por ações não é objeto da prestação; objeto da
prestação é o valor. Ainda assim, a entrega do bem não exime o subscritor das ações da
responsabilidade pela transmissão da propriedade e da posse.
Dentro do prazo preclusivo (Código Civil, art. 178, §§ 2.0 e 50, IV), pode a sociedade propor a ação
redibitória ou a ação quanti rnuzoris.
O perecimento ou deterioração do bem, após a tradição, se não resulta de vício redibitório, é a risco
da sociedade.
1.PREcIsõES. O contrato social é negócio jurídico bilateral ou plurilateral entre os figurantes, que se
fazem sócios. As relações jurídicas que dêle se irradiam são entre os sócios, ou entre os sócios e a
sociedade, ou entre a sociedade e terceiros, ou, eventualmente, entre terceiros e sócios. O contrato,
sem o registo, pode ser conhecido pelos terceiros, ou alguns ou algum dêles. Com o registo, há a
eficacização publicitária, que resulta do princípio da publicidade registária.
2.REGISTO COMERCIAL. O registo comercial é função assaz importante do Estado. Com êle, dá a
entidade estatal a publicidade registária, a que pode adicionar, como elemento reforçador, a
publicidade em afixo, ou em jornais. Não se pode negar que essa posterior publicidade seja ainda
mais dificultadora da objeção à eficácia contra terceiros; porém não é elemento essencial.
Para o registo, há requerimento, manifestação de vontade, que pode ser oral, pois o essencial é o
que a lei exige como documentação do que se quer arquivado e registado. Quem regista tem dever,
perante o Estado e perante os terceiros e os próprios figurantes, de verificação da autenticidade e
da satisfação dos pressupostos Daí poder haver alegação de nul idade e alegação de inveridicidade
do registo. Pode ser exigida pelo corpo ou pessoa incumbida do registo a prova da veracíaade dos
fatos (A. BRAND, Das Prfungsrecht u. die Prúfungspflicht des Registersrichters, Zentratblatt flir
Hari deisvecht, III, 971), como, por exemplo, de não ser um dos sócios mero homem-de-palha.
Aronie comercial é expressão assaz larga, a que dedicamos estudos especiais (Tomo VII, ~§ 746 e
752; XV, §
1.805, 4; XVI, §§ 1.905-1.010; XVII, §§ 2.012, 2.013, 2.025, 6, 2.029, 2.034, 2, 2.088, 2.090, 3, 2.098,
4, 7, 2.100, 7, 2.103, 3; e XXVIII, § 3.346, 7). No nome, a firma individual, ou nome do comerciante
individual, e a firma social (razão social) estão compreendidos. Bem assim, as denominações das
sociedades. A propósito das razões sociais, é elemento assaz relevante a responsabilidade ilimitada
dos sócios: os sócios de responsabilidade limitada não podem dar o nome à firma, sem explicitação
da limitação.
Se todos os sócios são de responsabilidade limitada (e. g., sociedades por quotas de
responsabilidade limitada), ou têm firma, com o acréscimo “Limitada”, “Ltda”, ou a denominação da
sociedade, com o mesmo acréscimo.
A firma social é, antes do registo do contrato social e da firma, o nome da futura sociedade
personalizada. Depois, éo nome da pessoa jurídica.
A firma social é inconfundível com a insígnia, que é O nome do estabelecimento (Tomo VII, §§ 740, 4,
748, 7; XV, § 1.805, 6; XVII, §§ 2.012, 1, 2.026-2.183). Ou com as marcas de industria ou de comércio
(Tomo VII, §§
No Código Comercial só se falou da firma social (e. si., arts. 802, inciso 2, 305, inciso 7, 306, 315,
318, 325 e 332).
Não da firma individual ou nome individual. Durante algum tempo havia liberdade na escolha das
firmas, exceto quanto aos nomes dos sócios comanditários ou de responsabilidade limitada (cf.
Relação do Pará, 1.0 de setembro de 1882, O D., 29, 579, que foi ao extremo de admitir emprêgo de
firma social sem que sociedade existisse; Supremo Tribunal de Justiça, 26 de maio de 1883; Relação
do Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 1883, O D., 31, 337, e 33, 454). Ao Decretou. 916, de 24 de
outubro de 1890, muito se criticou falar de facultatividade da inscrição e ao mesmo tempo de ser
exigida para a atividade comercial, mas o assunto era mais para interpretação do que para ser
objeto de exprobrações.
3.PRESSUPOSTOS DO CONTRATO. Os pressupostos para o registo do contrato são aquêles que a lei
geral (Código Civil ou Código Comercial), ou as leis especiais estabelecem. Quem regista tem de
verificar se os pressupostos foram satisfeitos.
Mesmo antes da inscrição da firma social, pode ser levantada a questão de estar sem observância da
lei a composição da firma social, e então o arquivamento e pois o registo do contrato não serem
admitidos. O Código Comercial é explícito quanto à firma social escolhida e à indicação das pessoas
que dela podem usar (arts. 5?, inciso 1, 302, incisos 2 e 8, e 311; cf. 325).
Tratando-se do registo das firmas sociais, da inscrição, o Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890,
art. 11, também exige aquela explicitude; e mais (art. 11, c) e d) : a assinatura, pelos que delas
podem usar, e o reconhecimento por tabelião de tôdas as assinaturas.
Na sua linguagem do tempo passado, diz o Código Comercial, art. 301: “O teor do contrato deve ser
lançado no Registo do Comércio do Tribunal do distrito em que se houver de estabelecer a casa
comercial da sociedade (art.
10, n. 2), e se esta tiver outras casas de comércio em diversos distritos, em tôdas elas terá lugar o
registo. As sociedades estipuladas cm países estrangeiros com estabelecimento no Brasil são
obrigadas a fazer igual registo nos Tribunais do Comércio competentes do Império antes de
começarem as suas operações. Enquanto o instrumento do contrato não fôr registado, não terá
validade entre os sócios nem contra terceiros, mas dará ação a êstes contra todos os sócios
solidariamente (art. 304)”.
“identidade ~de nomes comerciais com registo federal e lo-. cal”, no art. 108, parágrafo único, do
“registo do nome”, e no art. 109, explicitamente diz que “podem ser registadas, para a proteção
prevista nêste Código: 1.0, as firmas individuais ou coletivas; 2.0, as denominações das sociedades
por ações; 32, as firmas ou denominações das sociedades por quotas, de responsabilidade limitada;
40, as denominações das sociedades civis ou das fundações”. Depois de o art. 110 cogitar do
arquivamento do ato constitutivo, o parágrafo único, a propósito da 1
expressão de fantasia, diz que o nome comercial, que a contém, após ser „depositado para registo”,
pode colidir com expressão de fantasia já registada. No art. 111, explicitamente se acrescenta que
“não são registáveis”~ 1.0, o nome que, requerido por pessoa física, consistir em firma comercial ou
denominação de sociedade; 2.0, as firmas ou denominações de sociedades e associações que se
prestem à confusão com outras anteriormente registadas e, bem assim, as denominações que
contiverem elemento de fantasia suscetível de confundi-las com marca anteriormente registada,
para produto do mesmo gênero ou para a mesma atividade; 30, os nomes que contiverem
expressões qualificativas, tais como “sucessores de , “antigo gerente. . .
“ex-empregado de. . . “, ou outras semelhantes, salvo se ficar provado o direito de usá-las; 4~0, as
denominações capazes de criar confusão com aquelas adotadas por serviços ou repartições públicas,
ou por instituições públicas ou por instituições autárquicas; 59, os nomes patronímicos que o
requerente não possa usar legitimamente” No art. 112, a expressão “registo local” tanto concerne a
firmas como a denominações. Finalmente, com tôda a explicitude, o art. 113 estatui: “O registo do
nome comercial, da denominação das sociedades civis e das fundações, a que se refere êste Código,
não substitui, nem supre qualquer dos registos públicos estabelecidos para dar início a existência
legal das pessoas jurídicas de direito privado”. Cf. Código Civil, art. 18, e Decreto n. 4.684, de 9 de
novembro de 1989, art. 127.
Temos de acentuar a grande importância dos dois atos concernentes aos contratos de sociedades
comerciais: o do arquivamento e registo do contrato social e o do posterior registo da firma.
O registo do contrato social permite conhecer-se o tipo de sociedade, porque um dos pressupostos é
haver no contrato de sociedade a referência às quotas dos sócios e à sua responsabilidade (Código
Comercial, art. 302, incisos 4 e 7; cf. FRANCISCO JOSÉ DA ROCHA, Sociedades em comandita
simples segundo o Código Comercial do Império do Brasil, 440).
O registo do comércio não pode admitir que se registe contrato de que não conste firma, salvo se o
contrato prevê a escolha para que se registe a firma, caso em que a eficácia do registo do contrato
fica sujeita a essa condição, que há de ser considerada pára o registo como alteração do contrato,
pôsto que, rigorosamente, não no seja. Há, porém, regras jurídicas especiais, como as do art. 32 da
Lei n. 3.708, de 10 de janeiro de 1919 (sociedades por quotas, de responsabilidade limitada), do art.
18, a), do Decreto-lei n. 2.063, de 7 de março de 1940 (sociedades mútuas de seguros), do art. 1.0,
inciso 2.0, da Lei n. 1.102, de 21 de novembro de 1903 (empresas de armazéns gerais), e do art.
288, § 2.0, do Decreto n. 370, de 2 de maio de 1890 (sociedades de crédito real) -
O que importa é que se respeite o principio de não haver pessoa sem nome. Enquanto não se regista
o nome, a sociedade não se personifica. Se antes se usou o nome, com isso não se fêz pessoa a
sociedade. O que houve foi dação de nome à sociedade de fato ou à sociedade irregular. A firma ou
denominação é essencial à personificação; porém não basta para ex-surgir a pessoa: só o registo tem
tal eficácia. O nome não éessencial ao contrato de sociedade, mesmo se em nome coletivo se
concebeu a sociedade (sem razão, CARLOS GeMES DE
2. PRAZO PARA O REGISTO. No art. 10, inciso 2, do Código Comercial estatui-5C que todos os
comerciantes são obrigados “a fazer registar no Registo do Comércio todos os documentos cujo
registo fôr especialmente exigido pelo Código , dentro de quinze dias antes da data dos mesmos
documentos, se maior ou menor prazo se não achar marcado” (cf. Decreto n. 596, de 19 de julho de
1890, art. 12, § 3~0, IV; Decreto n. 93, de 20 de março de 1935, art. 12, 1, e), inciso 7.0; Decreto iii.
341, de 17 de março de 1938, arts. 12-18; Decreto-lei n. 281, de 18
A falta de registo faz irregular a sociedade. Dentro do prazo, a eficácia é ex tune (desde a data do
contrato). Se após o prazo, somente ex nunc; de modo que foi sociedade irregular, portanto não
personificada, até a data do registo. O contrato existia e a falta do registo nada tem com a sua
existência., nem com a sua validade (invalidade só há se precedia ou foi simultânea com a conclusão
do contrato). Trata-se, apenas, de eficácia.
sociedade e os sócios individualmente não podem propor contra os sócios ou contra terceiros ação
fundada na existência da sociedade, para exigirem efeitos futuros decorrentes do contrato”. Ora, se
não existe a sociedade, não se pode falar de invalidade, nem de validade. O que se passa é que falta
eficácia ao contrato social, no tocante a ação que suponha a existência da sociedade, não a do
contrato. O sócio pode demandar o outro sócio, ou os outros sócios, para tudo que concirna ao
contrato, que assinaram, exceto se a ação supõe existir a sociedade. A mancomunhão, se existe,
pode ser a base das ações (cf. Relação do Rio de Janeiro, 3 de novembro de 1874, 10 de setembro de
1875; Supremo Tribunal de Justiça, 6 de maio de 1876, O D., 11, 626 5.; Juiz do Comércio da Côrte,
19 de agôsto de 1873; Relação do Recife, 17 de dezembro de 1875, 11, 614; Relação da Côrte, 18 de
maio de 1877, 14, $3; Relação do Rio de Janeiro, 16 de março de 1888, 47, 241; Tribunal de Justiça
de São Paulo, 20 de dezembro de 189k 9. .7., 1, 54S; Relação da Bahia, 6 de fevereiro e 10 de julho
de 1885, O D., 41, 429; Tribunal de Justiça de São Paulo, 9 de setembro de
1896, E. M., V, 574, 2$ de maio e 7 de novembro de 1897, 7 de fevereiro e IS de julho de 1906, São
Paulo J., 136
e 322; Relação do Rio de Janeiro, 3 de dezembro de 1895 e 6 de julho de 1$96). Cabem ações da
sociedade contra terceiros, por exemplo, como titular de direito cambiário ou cambiariamente
(Supremo Tribunal de Justiça, 14 de agôsto de 1861 e 26 de maio de 1888, O D., 81, 33‟?), ou de
créditos de operações comerciais (13 de julho de 1867), ou contra devedores por outras causas
(Relação de Pôrto Alegre, 11 de maio de 1339, O O., 44, 554; Tribunal de Justiça de São Paulo, 25 de
setembro de 1897, E. M., VI, 359 s.; Superior Tribunal do Rio Grande do 5u1, 7 de setembro de
1897, E. .7., V, 507), como titular de direitos reais (Tribunal de Justiça de São Paulo, 29 de agôsto de
1903, São Paulo .7., II, 521), ~u em embargos de terceiro senhor e possuIdor (1.0 de fevereiro de
1898, E. 1ff, VIII, 115), ou em ação de mandado de 5eguraflça, ou em medidas cautelares.
Na liquidação da sociedade irregular, o liquidante tem as funções, em juízo e fora de juízo, que tem
os outros liquidantes, porém não se pode dizer que n0 tenha de provar a sua qualidade e os seus
poderes de liquidanto da mancomunidade (sem razão, a Relação do Rio de Janeiro, a 22 de fevereiro
de 1889, e o Supremo Tribunal de Justiça, a 21 de setembro, O O., 50, 8B7 si.
O empregado que tem direitos contra a sociedade não registada pode demandá-la (Tribunal de
Justiça de São Paulo, 17 de março de 1896, E. M., III, 28 si.
Não pode a sociedade não registada exigir que 05 sócios cumpram o prometido quanto às entradas,
nem o podem OS outros sócios.
Se do contrato social consta quem há de geri-la, inclusive presentá-la após o registo, pode essa
pessoa, sócio ou não (se a espécie o permite)~ requerer o registo do contrato social; depois, o da
firma. Não se tire diferente conclusão da leitura do Decreto n. 596, de 10 de julho de 1890, ad. 27, §
1.0, nem do Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, ad. 11, g).
4.FIRMAS E COMPoSIÇÃO . Firmar é assinar. Fala-se muito de a língua portuguêsa ter havido
“firma” de firm, inglês, ou de Firma, alemão, ou do italiano, ou, até, do francês (em França, é de
1877!). Ora, na língua inglêsa, firm deve ter origem no português firma, no século XVII, porque, na
língua portuguêsa, a assinatura era firma, pelo menos, já no século XI (documentos de Caranos,
1088, e de Mareira, do mesmo século; documentos da senhora Toda, de 15 de maio e de 14 de julho
de 1134, ambos feitos em Arouca).
O nome do estabelecimento não é firma. Com êle não se assina (cf. OTÁvro MENDES, Direito
Comercial Terrestre, 178; CARLOS FULGÊNCIO DA CUNHA PEIXOTO, A Sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada, 99). Isso de modo nenhum Pré-exclui que as notas de vendas à vista,
feitas no balcão com a entrega, ou para ser levadas a enderêço, precisem ser assinadas . O nome do
estabelecimento basta, como bastaria qualquer outra indicação.
O Código de Processo Civil, art. 669, aludiu à liquidação de “ firma individual”, isto é, da empresa
individual, O
2.591, de 7 de agôsto de 1912, art. 2.~, e). Toma-se, aí, o nome pela pessoa e por seus elementos
patrimoniais.J.X.
CARVALHO DE MENDONÇA disse que „a firma não pode ser assinada por procurador”, mas a
confusão era evidente: o procurador assina com o seu nome, como procurador da pessoa a que
corresponde a firma. No art. 11, c), do Decreto n. 916 exige-se “a firma assinada por tôdas as
pessoas com direito ao seu uso ou emprêgo”, mas a firma consta do documento e embaixo está
quem é procurador, porque assinar com a firma é outro fato jurídico, que nada tem com o exercicio
da procura.
como se apenas se usa “José Roberto”. Não se pode inserir elemento de nome alheio, nem substituir
o nome por algum hipocorístico. Nada obsta a que o hipocoristico ou apelido seja plus: “José de
Almeida, Zêzinho”; “Joana de Sousa, Sinhá ”.
A firma de comerciante individual há de ser individual. A firma social não pode consistir no nome de
uma só pessoa física sem indicação da pluralidade de figurantes do contrato social (Ilda., &
Companhia, S.A., Cooperativa). A firma individual não pode ser de conteúdo só objetivo: tem de ser
inserto o nome da pessoa física, por inteiro, ou em parte, abreviado ou não. Não pode consistir num
só nome de família (e. g., Almeida, Ribeiro dos Santos), mas permitido é com acréscimo objetivo (e.
g., Almeida, Móveis; Ribeiro dos Santos, Livraria), ou composta de dois ou mais nomes de família,
como Simeida & Santos.
A firma nova não pode ser idêntica à de outrem; mesmo se ainda pode estabelecer confusão.
Quando o art. 11 do Decreto n. 916 fala de ser facultativa a inscrícao da firma não lhe nega eficácia
específica.
Apenas não deu qualquer sanção por excesso de prazo e apenas se frisou que, sem a inscrição, a
pessoa pode exercer o comércio. Os livros supõem a inscrição. Aí, um dos efeitos que se ligam à
inscrição. A incidência do art.
-lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945, art. 140, 1, diz-se que não pode impetrar concordata o devedor
que deixou de arquivar, registar ou inscrever no registo do Comércio os documentos e livros
indispensáveis ao exercício legal do comércio. Os juristas que daí tiram que a inscrição é obrigatória
fazem do efeito adimplemento de dever, e lamentavelmente confundem dever e ônus . Para que haja
obrigatoriedade, é preciso que haja dever, e de modo nenhum se estabeleceu dever de inscrição;
apenas quem não inscreve não obtém os efeitos específicos.
Na firma não há de estar referência que não se ligue à atividade mercantil; e. g., Doutor J. A.,
fabricante de linhas; Engenheiro .1. A., fabricante de bebidas. Nem o que deixou de ser elemento
informativo; e. g., J. A. & Cia., fábrica baiana de chocolate, se a sede passou a ser no Rio de Janeiro,
em vez de na cidade do Salvador da Bahia.
Cf. LOEWENTHAL, Titel und W‟Íirden ais Firmenzusãtze, Zeitschrift filr das gesamte Ha
ndetsrec/tt und Konkursreeht 88, 418). A firma, diferente do nome, não deve ser usada por ela em
negócios jurídicos ou atos jurídicos stricto sensu próprios. Se a firma Carlos E., porque o sócio é
Carlos C. 1., Carlos C. B. não pode assinar como se o figurante fôsse êle, nem empregar Carlos E.
para os seus negócios jurídicos ou para os atos jurídicos stricto sensu, que sejam só seus.
O princípio da unicidade da firma exige que, se já foi registada alguma firma, nenhuma outra seja
idêntica, ou confundível com ela (Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, ad. 6.0, §§ 1.0 e 2.0). Se
os sócios são os mesmos (ou o mesmo o titular, se individual a firma), basta que se acrescente ou
faça anteceder elemento distintivo, mas é necessário afastar-se que se trata de filial ou sucursal, se
o não é. Cumpre, ainda, que se não confundam filial e sucursal. Aliás, o art. 6.0, § 2.0, só se refere a
filial.
Nem todo adminículo basta à diferenciação suficiente, a que alude o ad. 106 do Decreto-lei n. 7.903,
de 27 de agôsto de 1945: é preciso que pré-exclua qualquer possível êrro ou confusão (Câmaras
Reúnidas da Côrte de Apelação do Distrito Federal, 21 de dezembro de 1922;
s.). Trata-se de quaestio facti. A diferenciação pode ser breve e simples; A. E. & Cia.; A. E. & Cia.,
litografia, ou A. E. & Cia., Invest.). A diferenciação pela espécie de sociedade não basta; por
exemplo, A. E. & Cia., em vez de A. B. 5. A. (TuLLIo ASCARELLI, Ensaios e Pareceres, 76). Não é de
exigir-se para a ação de modificação que a atividade comercial seja a mesma: a confusão entre a
firma A. E. & Cia., que fabrica e vende móveis, e a firma A. E. & Cia., que tem tipografia, pode ser
danosa, pois o crédito é mais pelo nome do que pela atividade (com razão, contra parecer de
FRANCISCO CAMPOS, Pareceres, li, 43 s., JUSTINO VASCONCELOS, Das Firmas e Denominações
comerciais, 248 s.).
Não se pode pôr o elemento objetivo “internacional” (HANS WÚRDINCER, Kornmentar zum.
indicação “bôlsa”¶ “mercado”, “industrial”, onde não há razão para isso. Quem somente comercia
não é industrial. Nem para sociedades que não fazem investimentos, ou negócios crediticios, se há
de inserir alusão a investimento, ou crédito. Dá-se o mesmo com expressões típicas, como “banco”
“casa bancária”, “Instituto”,
No art. 3.~ do Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1S90, precisa-se que o comerciante, que não tem
sócio, somente pode tomar para firma o seu próprio nome, “completo ou abreviado”, com o
aditamento, se quer, de designação mais precisa de sua pessoa ou atividade (“gênero de comércio”).
A abreviação pode ser por vogal (“A.
,~,Pode a firma ser apenas “Viúva Ángelo”, ou “Viúva ~ Amaral”? Afirmativamente, J. X. CARVALHO
DE
MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial brasileiro, II, 158 s.), 5PENCER VAMPRE (Tratado
Elementwr de Direito Comercial, 1, 166) e VALDEMAR MARTINS FERREIRA (Instituições de Direito
Comercial , 1, 1, 20). Que se possa aditar “Viúva Amaral”, não há dúvida. Não porém usar, como
firma, “Viúva AmaraV‟ (cem tôda a razão, HANS WÚRDINGER, Komrnentar zum
Flandeisgesetzb~ch, J, 2a ed., 237).
Há, para a pessoa física a que corresponde a firma individual, ou para o órgão da pessoa jurídica, a
que toque a firma social, o direito e o dever de, nos negócios jurídicos da firma, ou nos atos jurídicos
stricto sensu da firma, somente usar a firma.
O nome da sociedade é inconfundível com o nome do estabelecimento, se existe tal nome, porém,
para a pessoa física, ou para o órgão da pessoa jurídica, há o mesmo direito e o mesmo dever de
exclusividade do uso.
O nome patronimico pode compor a firma: Almeida Silva, Serzedelo (cf. tuís AUTUORI, Fundo de
comércio, 58; JUSTINO VASCONCELOS, Das Firmas e Denominações comerciais, 53 s.). Cumpre,
porém, que se advirta poder existir má fé, por parte de quem usa só o nome de família, se outra
pessoa, de alto crédito, tem o mesmo, sem ser a mesma a família. Tem-se de repelir a opinião que
admite a firma com o prenome, e nada unis (sem razão, LEON LAcouR, Précis de Droit Commerdai,
78).
O pseudômino, no seu âmbito, pode ser registado como firma. As objeções a isso revelam que se não
cogitou do direito ao pseudômino e da importância que pode ter. Mais: pode ocorrer que o nome da
pessoa não possa ser registado, por já existir outro registo (cf. AUGUSTO LEITE, O Nome comercial,
90). Se a pessoa pode usar pseudônimo, averbá-lo, e exercer a respeito o próprio direito de
personalidade, i,como se há de negar que o faça firma individual, ou mesmo elemento de firma
social? g Poder-se-ia negar a João do Rio, ou a Tristão de Ataíde, montar livraria, sozinho , ou com
outrem (Tristão de Ataíde & Cia.)? Sobre o pseudônimo, cf. Tomos VII, §§
„749-
-751; XVI, §§ 1.854, 6, 1.855, 3, 1.857, 8, 1.860, 1.864, 4, 1.889, 8. A doutrina brasileira
preponderante é no sentido afirmal iva, tal corno sustentamos no Tomo VII; cf. FÁrno LEAL
(Apontamentos sobre o nome comercial, O D., 110, 578), ANToldo BENTO DE FARIA (Das Marcas de
fábrica, 291) e Luís AUTUORI (Fundo de comércio, 58). Sem razão, JOZo GAMA CERQUEIRA
(Tratado da Propriedade industrial, 1, 492), como também JUSTINO VASCONCELOS (Das Firmas e
Denominações comerciais, 64).
O que se disse é quanto a sociedades de pessoas e quanto a sociedades por ações. No Tomo L
falaremos das diferenças.
Jome de família de qualquer pessoa é aquêle a que ela tem direito, de acôrdo com o direito civil que
regula a exigência ou a permissão de uso. A adoção pode atribuir nome de família.
A viúva ou o viúvo não pode continuar com a mesma firma anondo oi‟ pospondo ~ referência Pode
usur
“sucessora de ou “sucessor de.. .“ O filho não pode pôr “Filho”, se o pai não tinha o mesmo
prenome. Se a firma tem prenome em sociedade de sede no estrangeiro, não se pode traduzir o
prenome (Ernesto, em vez de Ernst).
A Lei n. 8.708, de 18 de janeiro de 1919, art. 39, admitiu que a sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada, que antes não poderia inserir na denominação nome de sócio, que o
fizesse, e não há qualquer inconveniente, de lege ferenda, porque a firma ou a denominação é
“sempre seguida da palavra limitada” (art.
8.~, § 2.0). Sem razão, SPENCER VAMpa~ (Tratada Elementar de Direito 1, 1, 163).
Deve-se evitar confusito entre a indicação subjetiva e a objetiva. Se havia aqui está apenas exemplo
restaurante que se chamava “Gordão”, ou “Parisiense”, a indicação, ou firma posteriormente
registada, “J. Álvares, o Cordão”, pode ser ato de concorrência ilícita, mesmo porque se deu como
qualidade subjetiva o que era indicação objetiva, como “A. Autran, o Parisiense”, também o poderia
ser.
6.PRINCIPIO DA UNICIDADE DA FIRMA. A mesma pessoa física pode ser sócio de duas ou mais
sociedades, ainda que em tôdas seja sócio gerente, ou ter duas ou mais firmas individuais, de
explorações diferentes, ou da mesma exploração mas situada em lugares diferentes ou com
especialização. Isso de modo nenhum fere o principio da firma única ou principio da unicidade da
firma, porque, precisamente, se supõe haver pluralidade de 1
firmas. Se são no mesmo lugar, alguma diferença tem de haver no tocante à atividade industrial ou
comercial.
Nada obsta a que, se são em diferentes lugares, com círculos diferentes de tráfico, tenham a mesma
atividade.
„7. EFICÁCIA DO REGISTO DA FIRMA. A eficácia que depende do registo é só a eficácia que se liga,
conforme os princípios, à publicidade, à afirmação de que todos conhecem aquilo que se registou. O
contrato de sociedade já entrou no direito; agora, surge a sociedade, em lugar da simples vinculação
a fazê-la, da simples mancomunhão. Se a sociedade é civil, um dos efeitos imediatos é a
personificação. Se é comercial, tem de ser registada a firma social, ou a denominação social.
Se o registo não corresponde à verdade, como se é de admitir-se que o que dêle consta, ou está
arquivado, não é veraz, não há o tratamento com que se protegem os adquirentes de bens imóveis
(ou móveis de aquisição registável), se estão de boa fé. Se o êrro ou dolo foi do oficial, não responde
a sociedade, mas êle, salvo se o órgão social, conhecedor da situação, não o comunicou ao terceiro.
Dá-se o mesmo se, conhecendo a situação, não providencia, a tempo, para a correção (cf. HERBERT
MEYER, Handelsregistererklirungen und Widerruf der Prokura, Zeitschrift flir das gesamte
Handelsrecht und Konlcursrecht, 81, 386 s.).
Oterceiro, se há o contrato registado, tem de considerá-lo como conhecido de todos, inclusive se, em
verdade, não o conhecia. A publicidade registária tem essa função de estabelecer a presunção
absoluta de que todos conhecem o que foi registado. Se o contrato social ou a alteração do contrato
social não teve registo, o terceiro pode fazer a prova doa atos que lhe mastraram existir a sociedade
ou como operava. Essa prova é mais a que apareceu diante dêle do que daquilo que a realidade
continha. Se o terceiro não estava em boa fé, a má fé afasta a proteção legal consistente em poder
provar a aparência de sociedade (cf. Código Civil, art. 1.866, 2A‟ parte; Código Comercial, art. 804,
2,a parte).
A respeito das firmas há o principio da veracidade (Grundsatz der Firmenwahrrheit>. Da firma não
pode constar nome fictício, nem nome de quem não é sócio. Se se mantém onome de algum é como
referência aditada. Há outro princípio, o princípio da novidade da firma ou da denominação,
segundo o qual firma ou denominação já registada impede que se registe ou se use a mesma, ou
outra que confunda o público (cf. Decreto n. 2.068, de 7 de março de 1940, art. 7.O)
22.289,..de 19 de dezembro de 1982, art. 41; Decreto n. 6.980, de 19 de março de 1941, art. 7,0,
Enquanto não se registam as modificações, não podem ser opostas a terceiros, salvo se se alega e se
prova que êles as conheciam. As modificações, como o contrato, são atos dos só-cios, e não da
sociedade. Quando se faz o registo, integram-se no ato constitutivo da sociedade. Todavia, a
satisfação dos pressupostos as faz vinculativas dos sócios. Alguns problemas se levantam a
propósito da eficácia no tocante à sociedade. Ela já tem personalidade jurídica, porque se registou;
se as modificações, que os sócios fizeram, e ainda não foram registadas, atingissem a sociedade,
atingiriam a pessoa jurídica. Assim, os efeitos que podem ser considerados como de relações
jurídicas só entre os sócios são atendíveis; os efeitos que se irradiariam de relações jurídicas entre
sócio e sociedade, ou entre sociedade e terceiro, só se têm como irradiadas após o registo. O que é
efeito erga omnes não pode ser modificado sem que se dê a necessária publicidade registária.
A prioridade que se atribui ao uso da firma social não estabelece exclusividade absoluta, porque,
feito o registo, o que pode ocorrer é invocação do art. 112 do Decreto-lei n. 7.908, que só alude ao
titular do registo local (o art.
Não se deve dizer que a inscrição da firma faz presumir-se a sua existência. Presunção e eficácia são
fatos inconfundíveis. A inscrição tem os seus efeitos: até que se alegue e prove o contrário, tem-se a
firma inscrita como veraz e distinta. Outrossim, nenhuma outra pode afastá-la, ou pôr-se em
concorrência com ela (nada tem isso, advirta-se, com direito de preferência.).
A firma não registada é protegida em relação a outras firmas,, se de uso anterior (principio da
prioridade do uso).
Se registada, a que foi registada depois não pode prevalecer, como prevaleceria a que tivesse sido
registada antes.
Sobre os arts. 108 e 112 do Decreto-lei n. 7.902, de 27 de agôsto de 1945, Tomos XVI, §§ 1.908, 4,
1.909, 1.
Se a sociedade tem denominação , e não firma, o arquivamento e o registo do contrato social foram
o bastante. A eficácia da denominação constante do contrato social registado independe de registo
de firma (ANTÃO DE
MORAIS, Problemas e negócios jurídicos, 108), porém é preciso que a pessoa, que é órgão da
sociedade, tenha firma reconhecível (= constante de tabelionato).
O registo da firma social é plus. Um dos seus efeitos é o direito ao uso com exclusividade. O
arquivamento e o registo do contrato social já têm êsse efeito, nos limites do domicilio do titular do
nome (Decreto-lei n. 7.908, de 27 de agôsto de 1945, art. 106). O registo da firma social é eficaz em
qualquer parte do território nacional, pois tem de set no Departamento Nacional da Indústria e
Comércio (Decreto-lei n. 7.908, artigo 107; Decreto n.
comerciante do Estado de~Pernambuco pode ter a mesma firma, individual ou social, que tem outro,
do Estado de Minas Gerais, Dá-se o mesmo se a Justa Comercial só tem competência de registo
dentro de parte do meSmo território estadual. Assim, não era admissível a opinião de J. X.
CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial Brasileiro, ~ 8Y ed., 178), que
considerava a eficácia só interior à comarca (por quê?), nem a de OTAVIO MENDES (Direito
Comercial Terrestre, 175), que, embora melhor, entendia que a circunscrição era a do Estado-
membro. A eficácia pode ser estadual, ou intra-estadual, ou em todo o território nacional: apenas
depende da competência do ofício registário.
O art. 90 do Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, impôs o registo após se cessar o exercício
do comércio, ou se há dissolução (verbis “a inscrição da firma será cancelada”).
O nome comercial de modo nenhum pode ser objeto de medida executiva, mesmo em caso de
falência, ou de liquidação coativa.
Quanto ao nome de empresa ou nome de estabelecimento pode haver ação possessória. Quanto ao
nome (firma individual ou social), de modo nenhum. A ofensa é à pessoa.
9.ExERCício no DIREITO A USAR A FIRMA. No uso da firma, tem o titular de lançá-la em forma
identificativa, sem lhe acrescentar qualquer letra, ou outro sinal, nem pontos, ou vírgulas, nem a
abreviar, ou a alterar na feição inscrita. O que importa é que ela corresponda ao que consta do
instrumento de declaração levado a registo, com a mesma caligrafia e sem estremecimentos de mão
que a modifiquem. Não pode ser substituida pelo carimbo, ou perfuração, ou por outro meio
material de lançamento. Assinatura do órgão é outra coisa.
Se o comerciante lançou firma inidentificável, nem por isso se exime das conseqúências de ser
alegado e provado que foi êle que a após como titular do direito ao uso da firma.
Se, após algum tempo, a feição caligráfica muda, isso não prejudica o uso da firma, porque o mesmo
ocorre com as pessoas físicas que escrevem o próprio nome civil.
Quando é algum procurador ou outro representante que tem de assinar o ato jurídico (negócio
jurídico ou ato jurídico stricto sensu), tem de ser dito que o faz como tal (e. g., p.p.A). Quase
sempre, sob o texto do negócio jurídico ou do ato jurídico stricto sensu, está, impressa,
dactilografada, ou carimbada, ou mesmo perfurada ou posta em relêvo, a firma, e sob ela o nome do
procurador, ou diretor, gerente, superintendente, caixa, ou tesoureiro.
Abaixo dela o sócio-gerente, que tem poder de presentação, ou o diretor ou quem quer que tenha
poderes de representação, lança o seu nome, com a especificação da sua qualidade. Dá-se o mesmo
a respeito das sociedades por ações e das sociedades cooperativas.
10.PERMISSÃO PARA USO DE REFERENCIA À FIRMA EXTINTA. No art. 70 do Decreto n. 916
fala-se de aquisição de firmas, o que só se permite se também há a aquisição do estabelecimento.
Mas, em verdade, não é de aquisição que se trata, tanto assim que, no art. 72, parágrafo único, logo
se precisa: “O adquirente. por ato inter vivos ou mortis causa poderá continuar a usar da firma,
antecedendo-a da que usar, com a declaração sucessor de Assim, quando o ad. 7O estatuiu que “é
proibida a aquisição de firmas sem a do estabelecimento a que estiver ligada”, apenas permitiu a
outorga de poderes, por parte do alienante, para que o adquirente do estabelecimento use a firma,
que registou ou que vai registar, com o acréscimo “sucessor de...” O adquirente exerce a sua
atividade comercial com o seu nome, com a sua firma, e apenas adquire o direito a pospor à sua
firma a referência à firma anteriormente registada. Tanto assim é, que se cancela tal registo, por
averbação (art. 11, §
2.0). Em vez de “sucessora”, pode ser pôsto “antiga... “, ou “antiga A. & B.”, ou “continuador de. . .
“, ou
comerciais, 132), que reputava admissível pôr-se, antes da firma, “sucessor de.. .“ Não só seria
contraindicado como também se chocaria com a explicitude do Decreto n. 916, art. 6.0, parágrafo
único.
A firma social é intransferível. Surgem, porém, alguns problemas. Um dêles é o de entrar para a
sociedade pessoa que possa inserir na firma social o mesmo nome (A. B., que entra para a firma
social, B. & Cia., de que saiu C. B., ou mesmo outro A. B.). O registo tem de ser cancelado, e feito
outro, embora idêntica, na exterioridade, a firma social. Outro, o da viúva de A. E., ou do viúvo de A.
B., mas, ai, ou ocorre o mesmo do caso anterior, ou, se a firma era A. E. & Cia., e o prenome era
masculino, ou feminino, com permissão contratual de sucessão, apenas há alteração, conforme o art.
11, § 2Y, do Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890. Aliás, há a solução de se dizer sucessora a
nova firma (art. 7~0, parágrafo único). Para isso, há de haver permissão de quem usava a firma
social extinta.
Pode dar-se que o nome da pessoa física tenha de ser alterado, como ocorre em caso de matrimônio,
ou de divórcio, ou de desquite, ou de reconhecimento de filho, ou de decretação de cancelamento do
registo, como se ao ato de reconhecimento da paternidade foi decretada invalidade. esses fatos
concernentes ao nome da pessoa física podem repercutir no nome comercial, quer se trate de firma
individual, quer de firma social. Cumpre, porém, advertir-se que nem sempre a mulher tem de
alterar o nome, em virtude de casamento. Então, a firma, com o nome de solteira, pode continuar
como é (Tomo VII, § 749, 1).
Se o divórcio, ou o desquite, foi sem a continuidade, para a mulher, de uso do nome do marido, não
pode ela conservar a firma em que o nome do marido foi inserto. Dá-se o mesmo se tal ocorreu em
virtude de decretação de nulidade, ou de anulação do casamento, sem putatividade.
No tocante aos adminiculos, a inclusão pode ser por exigência legal, ou voluntária.
A retirada do sócio, que deu o nome à firma, ou a sua morte, implica mudança da firma (aliter,
quanto à denominação, pois que o elemento do nome ou todo o nome foi dessubjetivado) -
A alteração da firma pode ser relativa à estrutura específica; e. g., fêz-se sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada, a sociedade em nome coletivo ou em comandita. Na transformação em
que o nome é admissível nas duas espécies, pode não haver alteração.
Se a espécie de sociedade impõe que, com a saída do sócio, se dê firma, em vez da denominação,
que havia, a substituição é inevitável. Do mesmo modo, se a sociedade há de ter denominação, em
vez de firma, porque a permissão de inserção do nome na denominação depende da pessoa que sair.
Se o nome era individual e a empresa passou a ser de sociedade, tem-se de adaptar a firma, se o
titular continua, já agora como sócio.
No art. 70 do Decreto n. 4.857, de 9 de novembro de 1939, concernente aos registos públicos, abre-
se exceção ao principio de inalterabilidade do nome. “O interessado, no primeiro ano após ter
atingido a maioridade civil, poderá pessoalmente, ou por procurador bastante, alterar o nome, desde
que não prejudique os apelidos de família, fazendo-se a averbação com as mesmas formalidades e
publicações pela imprensa” (redação dada pelo Decreto n. 5.318, de 29 de fevereiro de 1940).
Acrescenta-se no art. 71: “Qualquer alteração posterior do nome só por exceção e motivadamente
será permitida por despacho do juiz togado a que estiver sujeito o registo e audiência do Ministério
Público, arquivando-se o mandado, quando fôr o caso, e publicando-se pela imprensa” (Decreto n.
5.818).
Surgem problemas. Trata-se apenas de alteração ou mudança de prenome. A pessoa fôra registada
com o prenome “Francisco”, fêz parte da firma “Fernando L.”, de que saiu Fernando. ~ Pode
Francisco requerer que se 1
lhe mude o nome para Fernando? ~Outro Fernando pode opor-se a isso? Se Fernando saiu, seria
absurdo que se deixasse a Francisco tomar o nome dêle: a sociedade não poderá abstrair do sócio
que deu o nome à firma. Se Fernando faleceu, e há outro Fernando, não há óbice.
Na lei não se disse se pode ser tácita a permissão do uso da referência “sucessor de. . . “, ou se tem
de ser expressa.
De modo nenhum se pode admitir que, adquirindo a empresa, implícita esteja a permissão de uso
(tal era a opinião de SPENCER VAMPRÉ, Tratado Elementar de Direito Co-marcial, 1, 177) ; mas é
acertado que se conceba a admissão tácita, sem que isso dispense a prova dos fatos de uso sem
oposição do alienante. Se êsse alienou a empresa e fundou outra, ou mudou o nome da outra, para
empregar a firma que correspondia à empresa que alienara, não se pode pensar em permissão
tácita.
Firma é objeto de direito de personalidade, não é direito patrimonial, que possa ser arrecadado em
concurso de credores (falência, ou liquidação coativa) e alienado pelos síndicos ou liquidantes. O
falido, êsse, pode permitir o seu uso.
A referência à sucessão pode ser permitida até certo tempo, ou sob condição, ou enquanto durar a
firma sucessora, que é o que se presume ter ocorrido. Pode haver permissão enquanto os sócios
sejam os mesmos, ou o mesmo o comerciante, ou enquanto não se muda o tipo da sociedade, ou ao
imediato sucessor e aos sucessores dêsse. Sem razão, entende-se que a última solução é a única, por
se haver cedido clientela (ALBERT COHEN, TraiU
tkéorique et pratique des Fond,s de commerce, 286), nem, sequer, que seja de presumir-se.
12. PRoCEsso DE INSCRIÇÃO. Segundo o Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, art. 11, “a
inscrição no registo é facultativa”. No Distrito Federal, é feito pelo Departamento Nacional da
Indústria e Comércio (Decreto n. 98, de 20 de março de 1985, art. 1.0, 1, c), inciso 7.0; Decreto n.
48.444, de 29 de junho de 1960, art. 1.0:
“Enquanto a lei não dispuser sobre as Juntas Comerciais, as atividades pertinentes ao Registo do
Comércio e afins serão exercidas na área territorial de Brasília pelo Departamento Nacional de
Indústria e Comércio, do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em conformidade com o
disposto no art. 1.~ do Decreto-lei n. 6.657, de 4 de julho de 1944”. Acrescenta o ad. 2.0: “Para os
fins do artigo anterior, o diretor-geral do Departamento ali mencionado designará os servidores
públicos lotados no referido órgão que deverão se incumbir, em Brasília, do recebimento,
protocolamento informação, preparo para a solução e encaminhamento ao Gabinete daquele diretor
de todos os documento e relacionados com o Registo do Comércio e atividades conexas e, bem
assim, do recebimento, rubrica e registo de livros mercantis”. Estabelece o art. 3.0: “Ao servidor
público que fôr encarregado do grupo de servidores aludido no art. 2.0 poderá o diretor-geral do
Departamento Nacional de Indústria e Comércio delegar a atribuição de proferir despachos
interlocutórios nos processos em geral e despachos finais em determinados processos que transitem
pelo Pôsto do Registo de Comércio de que trata o presente decreto”. Estatui o art. 4.0: “Aplicar-se-
ão aos trabalhos a cargo do Pôsto ora previsto, em tudo o que couber, as normas legais e
regulamentares em vigor no antigo Distrito Federal nas matérias versadas neste decreto”. Diz o ad.
5.0: “Os casos de dúvida ou omissão serão resolvidos pelo ministro de Estado do Trabalho, Indústria
e Comércio, ouvido prêviamente o diretor-geral do Departamento Nacional de Indústria e
Comércio”.
Se a pessoa é analfabeta, ou não pode escrever, o requerimento tem de ser feito por instrumento
público. Dá-se o mesmo se o comerciante está ausente, caso em que se inscreve a firma e se diz
quem, no intervalo, pode dela usar (certo, VALDEMAR FERREIRA, Tratado de Direito Mercantil
Brasileiro, III,
procurador do analfabeto ou de quem não pode escrever, os poderes podem ser conferidos desde
logo e continuamente, ou deixados para haver outorga para cada caso. Na outra espécie, que é a da
ausência, compreende-se que haja conferimento de poderes desde logo e até que se dé a presença,
ou a termo ou sob condição. No caso de não haver termo, nem condição, tem-se como permanentes
os poderes até que se dê a revogação (cf. Decreto n. 93, ad. 1, 1, b), inciso 4.0).
estatui:
“Cessando o exercício do comércio, dissolvida e liquidada uma sociedade, a inscrição da firma será
cancelada”.
Não há êrro no art. 9~0 em se referir à dissolução e à liquidação. Pode ter havido aquela sem essa:
nada havia a liquidar-se. Pode ter havido essa sem aquela. Se vai haver a liquidação, acóa-se a
expressão “em liquidação”.
Aos sócios e, se tem poderes , ao síndico ou liquidante coativo é que incumbe requerer o
cancelamento, ou a algum interessado, como a firma que deu a permissão para usar “sucessor de...”
A decretação de abertura da falência de modo nenhum permite que se cancele o registo da firma
(Tcmo XXVIII, § 3.346, 7). O que há é a averba cão, senso estrito.
Se a firma individual ou social cessa, por ter acabado a sociedade de pessoas, e querem os sócios ou
acionistas pôr o nome do sócio ou os dos sócios, que estavam insertos na firma, como elemento de
denominação (e. g., em vez de A. B., ou de A. B. & Cia.. A. B., 5. A., ou A., B. & Cia., 5. A.), sem ter
havido permissão de A. B., há violação de direito, porque permitir inserção na firma não é o mesmo
que permitir inserção na denominação, ou, a fortiori, em título de estabelecimento.
O deixar de usar a firma, sem propósito de definitividade, não a extingue, isto é, não causa a
extinção.
(b)A firma, individual ou social, tem prazo legal, que é de dez anos (Decreto-lei n. 7.903, a 27 de
agôsto de 1945, art. 138). Mas a prorrogação é requerível, indefinidamente de modo que apenas se
exige a manifestação de vontade. De yure condendo, a mais acertada solução seria a da
prorrogabilidade tácita . Diz o art. 138, parágrafo único: “A prorrogação deverá ser requerida na
vigência do último semestre do decênio de proteção legal, ou nos três meses seguintes, com o
pagamento da multa prevista na tabela anexa” (cf. Lei n. 2.916, de 13 de outubro de 1956, que tem
nova tabela).
(c)Se o titular do direito ao uso da firma ou da denominação deixa de exercer a atividade comercial,
a que se liga a firma, ou a denominação, há causa de extinção que se tem de providenciar para o
cancelamento e, um ano após a cessação da atividade comercial, pode terceiro requerer registo de
firma idêntica (Decreto-lei n. 7.908, art. 151
e parágrafo único). Se não foi requerido o cancelamento e o terceiro requere registo de firma
idêntica ou confundível com ela, o registo há de ser imediatamente após o cancelamento ou
simultâneo a êsse.
14.EXERCÍCIO DO COMÉRCIO SEM NOME COMERCIAL. Pode dar-se que se exerçam atividades
comerciais sem se usar nome comercial, ou sem nome verdadeiro, ou sem qualquer nome
(anônimamente). Se todos os operantes usam o mesmo nome, como se fôsse de firma registada, o
caso é de uso de firma social da sociedade de fato ou da sociedade irregular (= não registada), ou já
personificada (= já registado o contrato social). Dizer-se que a firma é essencial à sociedade em
nome coletivo é o mesmo que enunciar-se: só existe sociedade (ou mancomunidade) com firma, isto
é, se há uso de firma; e isso é inadmissível. Primeiro, porque pode haver contrato social, em que se
haja deixado a posterior deliberação dos figurantes a escolha da firma ou denominação (cp. Código
Comercial, art. 302, inciso 2). Segundo, o registo da firma ou denominação será outro registo.
Velhas opiniões doutrinárias estão superadas (e. g., a de RODOLPHE ROUSSEAU, Des Soclétés
comercioles, 1, 240). Cf. JOSEPH HAMEL e GASTON LAGARDE (Traité de Droit Commercial, 1,
536).
A respeito da firma, cumpre advertir-se que as sociedades em comandita simples ou por ações e as
sociedades de capital e indústria também têm firma. No Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890,
ad. 2.0, há definição de firma ou razão social:
“Firma ou razão comercial é o nome sob o qual o comerciante ou sociedade exerce o comércio e
assina nos atos a 1
êle referente?‟. No art. 302, inciso 2, do Código Comercial, exige-se ao contrato social, seja por
instrumento público, seja por instrumento particular, “sendo a sociedade com firma, a firma por que
a sociedade há de ser conhecida”. Antes, § 5.188, 14.
2.FALTA DO REGIsTO DA FIRMA. No art. 20, § 29, do Código Civil diz-se que as sociedades (civis)
que, “por falta de autorização ou de registo, se não reputaram pessoas jurídicas, não poderão
acionar a seus membros, nem a terceiros”, mas “os terceiros poderão responsabilizá-los por todos os
seus atos”. O art. 20, § 29, devido ao ad.
16, § 2.0, não se refere a sociedades comerciais. Tem-se, pois, de verificar qual o tratamento que
lhes dá o Código Comercial. Nos arts. 300 e 301, última alínea, é preciso sobre a eficácia: não há
eficácia com os sócios, nem contra terceiros. j, Como se poderia admitir que juridicamente exista
(sociedade é efeito) e, a fortiori, que tenha personalidade? De modo nenhum. Assim, a decisão da 58
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 14
de março de 1940 (E. dos T., 128, 111), foi completamente contrária aos princípios, pois que
confundiu o principio de proteção dos terceiros quanto à carência (Código Comercial, art. 305) com
o de atribuição de.
personalidade. O art. 805 apenas faz “presumir-se” que a sociedade existe. A mesma errônia
Cometeu a 3,a Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a 22 de março de 1956 (E. F.,
172, 347). Cp. &a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná, a 25 de fevereiro de 1957 (E. J. do
Rio Grande do Sul, 28, 816).
3. NOME. A sociedade tem de ter denominação ou firma. Se não na tem, pode existir contrato,
porém não pessoa jurídica. Não há mesmo a registabilidade, porque a lei civil e a lei comercial
fazem da denominação ou nome pressuposto essencial ao registo (cf. 2~a Câmara Cível do Tribunal
de Justiça de Goiás, 21 de julho de 1989, 1?.
No Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, art. 11, depois de se dizer que, para o registo, é
elemento essencial a indicação do “nome por extenso dos sócios ou pessoas com direito ao seu uso
ou emprêgo” (art. 11, b), exige-se que se lance a firma, “assinada por tôdas as pessoas com direito
ao seu uso ou emprêgo” (art. 11, e) e reconhecimento pelo tabelião (art. 11 cl). A respeito das
sociedades em nome coletivo, 80 05 sócios podem usar da firma; pessoas estranhas, de modo
nenhum (Código Comercial, art. 315, alínea 2.a).
Para que a firma, lançada pelo sócio gerente, em aio de interesse seu, ou de terceiro, vincule a
sociedade, é preciso que o ato caiba no âmbito dos negócios da sociedade (e. g.: no balcão ou no
escritório, foi vendida a tela que era do sócio gerente, ou de amigo dêle, e não estava no patrimônio
social, nem fôra a sociedade encarregada da venda; com o nome da sociedade, o sócio gerente
adquiriu para si, à vista ou a prazo, ou a prestações periódicas, caminhão ou automóvel, ou objetos
de escritório>. Do exame de cada caso é que se pode concluir se há ou não a responsabilidade da
sociedade (2!‟ Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, 28 de maio de 1915, 1?. de
D., 37, 896).
Quanto ao nome do sócio que se retirou ou faleceu, que pode ser de alto interesse para se manter a
clientela, surge, no direito brasileiro, a questão: j,pode-se e como se pode conservar o nome do sócio
retirado ou falecido? No Código Comercial, arts. 311-314, não há base para resposta afirmativa. O
art. 306 é expressivo. No Código Civil italiano, o art. 2.292, alínea 2!‟, referente às sociedades em
„nome coletivo mas invocável a propósito das sociedades em comandita (ad. 2.814), corrigiu o que
rijamente se estabelecia, e estatuiu: “La societA puô conservare nella ragione sociale ii nome dei
socio roceduto o defunto, se il socio receduto o gli eredi del socio defunto consentono”. No direito
brasileiro, a expressão aditada a nova firma “sucessores de. . .“ é indubitàvelmente permitida
(Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, art. „79, parágrafo único). Bem assim, “A. & Cia., hoje B.
c4 dia.”). O direito brasileiro já havia dado solução geral, a propósito de firmas sociais, no fim do
século passado, e as suge~‟tóes que levaram à regra jurídica do Código Civil italiano não teriam
cabímento no direito brasileiro (cf. 1-TANS WIJRDINGF.R, Das Recht der personctigeseiLsehaf teu,
1, 447). A solução foi dada. A expressão “sucessor de...” pode ser empregada, mesmo se o sócio.
gerente que se retirou passou a ser sócio comanditário.
Se a firma foi empregada por sócio que não tinha poder de usá-la, o ato é ineficaz contra a
sociedade, pôsto que possa haver a ação de enriquecimento injustificado contra ela, se proveito lhe
adveio (cf. Tribunal de Justiça do Ceará, 11 de junho de 1947, Jurisprudência e Doutrina, 22, 247).
Registo de firma social não faz comerciante, automaticamente , a sociedade; é preciso que se dê a
prática de atos comerciais.
Os arts. 811, 315 e 325 do Código Comercial, que se referem a ser comerciante, no momento da
conclusão do contrato pelo menos um dos figurantes, estão superados.
~preciso que haja o consentimento de duas pessoas pelo menos. E possível a representação e, até, a
gestão de negócios alheios sem outorga de poderes, uma vez que sobrevenha a ratificação. O que se
exige às sociedades civis, para que não haja nulidade ou anulabilidade, também há de ser exigido às
sociedades comerciais.
Lê-se no Código Comercial, art. 287: “É da essência das companhias e sociedades comerciais, que o
objeto e fim a que se propõem seja licito, e que cada um dos sócios contribua para o seu capital com
alguma cota, ou esta consista em dinheiro eu em efeitos e qualquer sorte de bens, ou em trabalho ou
indústria”.
Quanto à forma do contraio de sociedade comercial, diz o Código Comercial, ad. 300: “O contrato de
qualquer sociedade comercial só pode provar-se por escritura pública ou particular; salvo nos casos
dos arts. 804 e 825.
Nenhuma prova testemunhal será admitida contra e além do conteúdo no instrumento do contrato
social”. A forma escrita é pressuposto necessário, salvo se há, apenas, sócio ou sócios em
participação (ad. 325). Os terceiros, êsses, podem provar que existe sociedade, com o sentido que já
explicamos (art. 304). A atividade social, em caso de sociedade dita de fato, não é sujeita à exigência
de prova escrita. Não se pode, por exemplo, provar ser sócio, sem que haja contrato social escrito, o
que não afasta a prova de ser sócio em conta de participação, ou de se haver estabelecido
comunidade.
A respeito do conteúdo do contrato social, diz o Código Comercial, art. 302: “A escritura, ou seja
pública ou particular, deve conter: 1. Os nomes, naturalidade e domicílios dos sócios. 2. Sendo
sociedade com firma, a firma por que a sociedade há de ser conhecida. 3. Os nomes dos sócios que
podem usar da firma social ou gerir em nome da sociedade; na falta desta declaração, entende-se
que todos os sócios podem usar da firma social e gerir em nome da sociedade. 4. Designação
especifica do objeto da sociedade, da cota com que cada um dos sócios entra para o capital (art.
287), e da parte que há de ter nos lucros e nas perdas. 5. A forma de nomeação dos árbitros para
juizes das dúvidas sociais. 6. Não sendo a sociedade por tempo indeterminado, as épocas em que há
de começar e acabar, e a forma da sua liquidação e partilha (art. 344).
7.Tôdas as mais cláusulas e condições necessárias para se determinarem com precisão os direitos e
obrigações dos sócios entre si, e para com terceiro. Tôda a cláusula ou condição oculta, contrária às
cláusulas ou condições contidas no instrumento ostensivo do contrato, é nula”. Entenda-se ineficaz.
Quanto às sociedades leoninas, já dissemos o que era preciso e citamos o art. 288 do Código
Comercial (cf.
2.DIREITOS E DEVERES DOS sócIoS. Uma vez que hajam concluído o contrato e providenciado
para a sua eficácia, têm os sócios os direitos que se ligam à conclusão do contrato e sua eficácia.
Alguns direitos dependem de ter sido feita a entrada (prestação do sócio). O Código Comercial, art.
289, não permite entender-se que direitos somente há após a entrega das entradas, tanto assim que
faz correrem ao inadimplente os juros da mora.
Um dos principais direitos dos sócios é o de pleno conhecimento dos atos da sociedade, positivos ou
negativos, mas seria contra direito que se permitisse a divulgação, mesmo só entre sócios, o que é
segredo de terceiro, confiado à sociedade, ou do que a sociedade faz para atividade sigilosa de
outrem. Por outro lado, a espécie de sociedade reflete-se na concepção do direito dos sócios ao
exame dos livros e documentos. Não se poderia estender a intempestividade da exposição dos livros
e dos documentos aos sócios, que há na sociedade em nome coletivo, a outras sociedades; por
exemplo, às sociedades em conta de participação. Tem-se, portanto, de interpretar
O Código Comercial, art. 290, que diz: “Em nenhuma associação mercantil se pode recusar aos
sócios o exame de todos os livros, documentos, escrituração e correspondência, e do estado da caixa
da companhia ou sociedade, 1
sempre que o requerer; salvo tendo-se estabelecido no contrato ou outro qualquer titulo da
instituição da companhia ou sociedade, as épocas em que o mesmo exame unicamente poderá ter
lugar”. Não há dúvida que a sociedade é dona dos livros e de alguns documentes que se acham em
sua posse e os sócios têm os seus direitos, mas isso não permite dizer-se que os sócios são donos dos
livros, ou comproprietários. Quanto às sociedades por ações, rege o art. 57 do Decreto-lei n. 2.627,
de 26 de setembro de 1940.
Lê-se no Código Comercial; ad. 829: “As obrigações dos sócios começam da data do contrato, ou da
época nêle designada; e acabam depois que, dissolvida a sociedade, se acham satisfeitas e extintas
tôdas as responsabilidades sociais”. O contrato de sociedade é consensual. A sua eficácia começa no
momento da conclusão, sem que isso sIgnifique não se poder determinar o rUes a quo para o
funcionamento da sociedade. Todavia, mesmo se há tal cláusula, os terceiros podem fazer prova
da iniciação antecipada da atividade. Enquanto não se atinge o Ctcs a qua, do contrato social já
se irradia a vinculação entre uz, silos. O rUes a quo pode consistir em termo, ou em dia do
implemento de condição.
Uma vez que há contrato social escrito, a cláusula dos poderes dos sócios há de constar do teor, ou
rege a espécie o art. 802, inciso 8, do Código Comercial. Se há cláusula expressa, somente pode ser
alterada por escrito. Se consta de escritura pública, só por escritura pública se pode alterar. Diz o
Código Comercial art. 882: “Se o contrato social fôr da natureza daqueles que só valem sendo feitos
por escritura pública, nenhum sócio pode responsabilizar a firma social validamente sem
autorização especial dos outros sócios, outorgada expressamente por escritura pública (art. 807) „~.
Diz o Código Comercial, art. 881: “A maioria dos sócios não tem faculdade de entrar em operações
diversas das convencionadas no contrato sem o consentimento unânime de todos os sócios. Nos
demais casos, todos os negócios sociais serão decididos pelo voto da maioria, computado pela forma
prescrita no art. 486”. O art. 881
contém ias dispositivum~ A 1.~ parte entra na regra jurídica que exige a unanimidade para
alteração do contrato social, pois cláusula que restringe, altera ou aumenta poderes dos sócios
implica alteração do contrato social. Se não há pré-exclusão, os poderes cabem no âmbito que a
cláusula traçou, e as deliberações são por votos computados na proporção dos quinhões, com um
voto o sócio de menor quinhão e, se ocorre empate, decide-se pela sorte (art. 486).
Se não há cláusula contratual que determine diferença na participação dos sócios nos lucros e nas
perdas, todos participam em proporção às suas quotas. É o principio da proporcionalidade que se
estabelece, dispositivamente, no Código Comercial, art. 830: “Os ganhos e perdas são comuns a
todos os sócios na razão proporcional dos seus respectivos quinhões no fundo social, salvo se outra
coisa fôr expressamente estipulada no contrato”. Se o sócio não entrou com o que devia, tem de
indenizar, de modo que a sociedade pode reduzir do que foi lucro o que se calculou como
indenização, salvo se foi previsto que não se distribuiria ao sócio em mora qualquer lucro. Sobre o
sócio de indústria, cf. Código Comercial, art. 819.
Estatui o Código Comercial, art. 294: “Tôdas as questões sociais que se suscitarem entre os sócios
durante a existência da sociedade ou companhia, sua liquidação ou partilha, serão decididas em
juízo arbitral”. Era o juízo arbitral necessário ou 3Ut20 arbitral obrigatório, que a Lei n. 1.350, de
14 de outubro de 1866, aboliu. Sobre o juízo arbitral voluntário, Código Processo Civil, art. 1.081.
3. Sócios ADMINISTRADORES OU SÚCIOS GERENTES. Lê-se no Código Comercial , art. 293: “Os
sócios administradores ou gerentes são obrigados a dar contas justificadas da sua administração aos
outros sócios”. A prestação de contas abrange a fundamentação dos atos conforme os poderes, para
que se verifique se o administrador ou gerente se manteve no âmbito das suas atribuições previstas,
ou se teve de praticar atos que foram necessários à vida da sociedade. O contrato social ou os
estatutos podem apontar o tempo e os pressupostos para se exercer a pretensão à prestação de
contas. Sobre a quitação que pode ocorrer, Código Comercial, art. 436.
Se o contrato social, registado, ou conhecido pelo terceiro, contém cláusula que vede determinados
atos (e. g., fiança prestada pela sociedade, ou por algum dos sócios), qualquer ato que a infrija é
ineficaz contra a sociedade e contra os outros sócios (cf. Supremo Tribunal Federal, 4 de novembro
de 1940, Jurisprudência , 1941, 1, 217; 3~a Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal,
24 de outubro de 1927, R. de D., 94, 380; Côrte de Apelação, 24 de agôsto de 1982, R. F., 61, 41). As
restrições não podem ser interiores ao âmbito dos negócios da sociedade, como, por exemplo, não
assinar notas promissórias a favor de fornecedores da firma (sem razão, por falta de distinção dos
âmbitos, a
.1?. de D.. 46, 365). A proibição de avais de títulos cambiários e cambiariformes pode ser vedada, se
não se trata de negócios da atividade social; não, porém, os endossos dos títulos de que a sociedade
é tomadora, ou 1
endossatária, porque aí passa à frente o interesse da circulação (cf. Côrte de Apelação do Distrito
Federal, 19 de julho de 1938, acórdão em que, como voto vencedor e designado para redigir o
acórdão, dissemos: “. . .0 direito alemão invocado não corresponde ao direito brasileiro, dominante
na espécie, porquanto no art. 126 do Código Comercial alemão se declaram ineficazes quaisquer
restrições contratuais aos poderes dos gerentes”; “. . . no direito brasileiro, os sócios respondem
solidàriamente para com os terceiros, e êsses para com a sociedade, se a firma social foi assinada
por sócio que, no instrumento do contrato, foi autorizado a usar dela, ainda que em negócio
particular ou de terceiro; e a exceção única está no caso da firma social empregada em transações
estranhas aos negócios designados no contrato, exceção a favor da sociedade e pois dependente do
requisito de publicidade, que na espécie é o registo”; “. . . não é certo que o Código Comercial, no
art. 316, haja implicitamente condenado as restrições impostas, no contrato social, aos poderes dos
gerentes, pois o art. 802, inciso 4, fala de objeto específico e sobre o que não fôr específico podem
incidir as restrições contratuais, tendo J.
X. CARvALHO DE MENDONÇA (Tratado, III, 169) sido vítima da sedução do direito alemão e do
suíço, na espécie diferente do direito brasileiro”.
4. RELAÇÕES JURÍDICAS COM A SOCIEDADE. O ad. 804 do Código Comercial permite processo
não escrito, se terceiros é que exercem ação. Acrescenta o art. 305: “Presume-se que existe ou
existiu sociedade, sempre que alguém exercita atos próprios de sociedade, e que regularmente se
não costumam praticar sem a qualidade social. Desta natureza são especialmente: 1. Negociação
promíscua e comum. 2. Aquisição, alheação, permutação ou pagamento comum. 3. Se um dos
associados se confessa sócio, e os outros o não contradizem por uma forma pública. 4. Se duas ou
mais pessoas propõem um administrador ou gerente comum. 5. A dissolução da associação como
sociedade. 6. O emprêgo do pronome nós ou nosso nas cartas de correspondência, livros, faturas,
contas e mais papéis comerciais. 7. O fato de receber ou responder cartas endereçadas ao nome ou
firma social. 8. O uso de marca comum nas fazendas ou volumes. 9. O uso de nome com a adição e
companhia. A responsabilidade dos sócios ocultos é pessoal e solidária, como se fôssem sócios
ostensivos (art. 816) .“.
A enumeração do art. 805, incisos 1-9, não é exaustiva (Tribunal da Relação de Minas Gerais, 23 de
junho de 1906,
2 a Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Bahia, 11 de julho de 1956, 174, 260), porque há a regra
jurídica do art. 805 e apenas após se apontam os casos mais freqUentes e especiais (“Desta
natureza são especialmente”). Além disso,há outras provas, sem serem as presunções do ad. 805
(6.a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 27 de maio de 1955, 164, 204; R. dos T., 289,
219). A existência da presunção dispensa outras provas (Tribunal da Relação de Minas Gerais, 17 de
março de 1906, 1?. F., V, 808). Não basta a prova de comunhão de interesses (sem razão, as
Câmaras Cíveis ReUnidas do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 29
de julho de 1950, 47, 254) ; pois que se têm de provar fatos que mostrem existir sociedade (7.~
Câmara Cível, 24
Compreende-se que o legislador haja mencionado, na enumeração, não exaustiva, dos fatos que
determinam presunção de existir sociedade o uso do nome de alguém com a adição “e Companhia”
(ou “& Cia.”, ou
“Companhia...”). Tem de ser feita a prova do uso, sem ser preciso que se trate de prova concernente
ao ato de que se cogita na ação do terceiro (cf. 2~a Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito
Federal, 1.0 de fevereiro de 1927, 1?. de D., 84, 125; Tribunal de Apelação, 4 de junho de 1940).
Ainda a respeito de terceiros, estatui o Código Comercial, ad. 806: “A pessoa que emprestar o seu
nome como sócio, ainda que não tenha interesse nos lucros da sociedade, será responsável por
tôdas as obrigações da mesma sociedade, que forem contraídas debaixo da firma social, com ação
regressiva contra os sócios, mas não responderá a êstes por perdas e danos”. O art. 806 supõe a
despeito de ser exigência legal que só nome de sócio conste da firma que alguém permita a inclusão
do seu nome, a despeito de não ter prestado entrada social e não ter, portanto, parte nos lucros. O
ad. 306 somente é invocável se a pessoa permitiu (“pessoa que emprestar”). Se não houve a
permissão, não há qualquer responsabilidade de quem teve o nome, sem manifestação de sua.
vontade, inserto na firma. Pretensão tem tal pessoa à indenização dos danos e à retirada do seu
nome.
Diz o Código Comercial, art. 292: “O credor particular de um sócio só pode executar os fundos
líquidos que o devedor possuir na companhia ou sociedade, não tendo êste outros bens
desembargados, ou se, depois de executados, os que tiver não forem suficientes para o pagamento.
Quando uma mesma pessoa é membro de diversas companhias ou sociedades com diversos sócios,
falindo uma, os credores dela só podem executar a cota liquida que o sócio comum tiver nas
companhias ou sociedades solventes depois de pagos os credores desta. Esta disposição tem lugar
se as mesmas pessoas formarem diversas companhias ou sociedades; falindo uma, os credores da
massa falida só têm direito sobre as massas solventes depois de pagos os credores destas”. São
fundos 1
líquidos os saldos postos à disposição do sócio, ou a parte que, na liquidação da sociedade, foi
atribuída ao sócio.
O art. 292 de modo nenhum apanha as ações, porque se regem por seus princípios. Se houve
penhora ou medida cautelar, que atingiu bens sociais, a sociedade é terceiro (2.a Câmara Cível da
Côrte de Apelação do Distrito Federal, 22 de setembro de 1908, 1?. de D., 10, 139), com a pretensão
aos remédios processuais específicos.
1.REGISTO. Desde que o contrato de sociedade comercial foi registado (Código Comercial, ad. 301),
está adquirida pela sociedade a personalidade jurídica. Essa era e é a interpretação que se havia e
se há de dar, máxime depois do Código Civil (art. 16, II, e § 2.0, e art. 18). Pela personalidade
jurídica das sociedades comerciais, TErCEIRA DE FREITAS (Co‟nsolidação das Leis Civis, ad. 742,
nota 1; Esbôco, art. 278, nota), CARLOS DE CARVALHO (Nova Consolidação, art. 152, e), CLÓvIS
BEviLÁQUA (Direito das Obrigações, 898 s.; Teoria Geral do Direito Civil, 165 s.), o Tribunal da
Relação da Côrte, a 1.0 de agosto de 1884 (O D., 42, 12), a Câmara Cível da Côrte de Apelação do
Distrito Federal, a 9 de maio de 1898 (97, 562 s.), a Câmara Cível, a 21 de junho de 1909 (1?. de D.,
13, 138), a
2 S Câmara Cível, a 20 de outubro de 1905 (O D., 99, 293) e a 20 de agôsto de 1907 (105, 295), as
Câmaras Reunidas, a 3 de novembro de 1909 (R. de D., 15, 332), o Tribunal de Justiça de São Paulo,
a 22 de janeiro de 1895 (G. J., VII, 197), a 24 de maio de 1895 (IX, 40 s.) e a 21
de julho de 1897 (ReviSta Mensal, VI, 103), e o Tribunal da Relação de Minas Gerais, a 5 de abril de
1889 (
Negavam a personalidade jurídica das sociedades comerciais s, ANTÔNIO JOAQUIM RIBAS (Curso
de Direito Civil brasileiro, II, 136 e 159), E. DE P. LACERDA DE ALMEIDA (Das Pessoas jurídicas, §
26) e outros. Cf.
Tomo 1, § 82, 8.
1. CAUSAS DE DISSOLUÇÃO. Lê-se no Código Comercial, art. 335: “As sociedades reputam-se
dissolvidas: 1. Expirando o prazo ajustado de sua duração. 2. Por quebra da sociedade, ou de
qualquer dos sócios. 3. Por mútuo consenso de todos os sócios. 4. Pela morte de um dos sócios, salvo
convenção em contrário a respeito dos que sobreviverem. 5. Por vontade de um dos sócios, sendo a
sociedade celebrada por tempo indeterminado. Em todos os casos deve continuar a sociedade, só-
mente para se ultimarem as negociações pendentes, procedendo-se à liquidação das ultimadas”.
Aquela supõe que ainda não haja expirado o prazo, porque só se prorroga o que ainda é. Se expirado
estava, o nôvo contrato pode estabelecer que a sociedade continuou ininterruptamente, o que
resulta de cláusula contratual para a eficácia ex tune. Se a continuação da sociedade não foi feita
com as exigências formais, não há vínculo social. Se falta o registo, não pode ser alegada contra
terceiros, que, todavia, têm a proteção do artigo 304.
Prorrogação somente há do contrato de sociedade tal qual era; portanto, se, por exemplo, a
sociedade era em comandita como sociedade em comandita é que continua (Tribunal de Justiça de
São Paulo, 8 de outubro de 1903, São Paulo J., III, 182).
Se expirou o prazo e não havia cláusula de prorrogação em caso de não haver manifestação de
vontade em contrário, extingue-se o contrato de sociedade.
3. MORTE DE sócio. A morte do sócio dissolve a sociedade, salvo cláusula em contrário. Permite-se a
cláusula de continuação com o herdeiro (ou legatário) do sócio falecido, ou com determinado
herdeiro (ou legatário).
Estatui o Código Comercial, art. 309: “Falecendo sem testamento algum sócio que não tenha
herdeiros presentes, quer a sociedade deva dissolver-se pela sua morte, quer haja de continuar, o
Juízo a que competir a arrecadação da fazenda dos ausentes não poderá entrar na arrecadação dos
bens da herança do falecido que existirem na massa social, nem ingerir-se por forma alguma na
administração, liquidação e partilha da sociedade; competindo somente ao mesmo Juízo arrecadar a
quota líquida que ficar pertencendo à dita herança. No caso de o sócio falecido ter sido o caixa ou
gerente da sociedade, ou quando não fôsse, sempre que não houver mais de um sócio sobrevivente,
e mesmo fora dos dois referidos casos, se o exigir um número tal de credores que represente
metade de todos os créditos, nomear-se-á um nôvo caixa ou gerente para a ultimação das
negociações pendentes, procedendo-se à liquidação e partilha pela forma determinada na seção VIII
dêste capítulo; com a única diferença, de que os credores terão parte na nomeação da pessoa ou
pessoas a quem deva encarregar-se a liquidação. A nomeação do nôvo caixa ou gerente será feita
pela maioria dos votos dos sócios e dos credores, retinidos em assembléia presidida pelo juiz de
direito do comércio, e só poderá recair sobre sócio ou credor que seja comerciante”.
Diz o Código Comercial, art. 810: “As disposições do artigo precedente têm igualmente lugar,
sempre que algum comerciante que não tenha sócios, ou mesmo alguém, ainda que não seja
comerciante, falecer sem testamento nem herdeiros presentes, e tiver credores comerciantes;
nomeando-se, pela forma. acima declarada, dois administradores e um fiscal, para arrecadar,
administrar e liquidar a herança, e satisfazer tôdas as obrigações do falecido. Não existindo
credores presentes, mas constando pelos livros do falecido ou por outros títulos autênticos que os há
ausentes, serão os dois administradores e o fiscal nomeados pelo Tribunal do Comércio”.
Ainda o Código Comercial, art. 308: “Quando a sociedade dissolvida por morte de um dos sócios
tiver de continuar com os herdeiros do falecido (art. 885, n. 4), se entre os herdeiros algum ou
alguns forem menores, êstes não poderão ter parte nela, ainda que sejam autorizados judicialmente,
salvo sendo legitimamente emancipados”.
O único sócio sobrevivente pode assumir a responsabilidade com a criação de firma individual, com
a quitação aos herdeiros ou outros sucessores, devidamente apurados („1.~ Câmara Cível do
Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 20 de abril de 1944, D. da J. de 6 de janeiro de 1945). Dá-
se o mesmo se três. ou mais são os sócios e todos menos um querem a retirada (cf. Câmaras Cíveis
Reunidas do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 9 de janeiro de 1952).
Tem-se entendido que, a despeito de não haver, no Código Comercial, a regra jurídica do Código
Civil, art. 1.404, há de ser de boa fé e sem inoportunidade a retirada (5.~ Câmara Cível do Tribunal
de Justiça do Distrito Federal, 2 de dezembro de 1952).
O art. 885, inciso 5, do Código Comercial não afasta pressupostos para a retirada ou para a
dissolução, com aviso prévio e prazo para o exercício ou para a eficácia do exercício da retirada
(sem razão, a 4~a Câmara Cível do Distrito Federal, 28 de dezembro de 1954).
“A sociedade formada por escritura pública ou particular, deve ser dissolvida pela mesma forma de
instrumento por que foi celebrada, sempre que o distrato tiver lugar amigavelmente ”. Os dizeres
finais foram infelizes, porque não há distrato judicial: há resolução judicialmente feita, e há
denúncia cheia, dependente de ação e sentença.
O art. 837 exige, para o distrato, a escritura pública, se não o fôr em juízo, ou o instrumento
particular, se foi constituída, respectivamente, por escritura pública ou particular. Se qualquer
dissolução é pedida judicialmente, os dizeres do art. 337 “sempre que o distrato tiver lugar
amigâvelmente” são infelizes, íbois todo distrato há de ser amigável, mesmo se feito em juízo. Assim,
não se pode proceder por outro meio (Tribunal de Justiça de São Paulo, 8 de novembro de 1927, E.
dos 7‟., 64, 270).
Diz o Código Comercial, art. 338: “O distrato da sociedade ou seja voluntário ou judicial, deve ser
inserto no Registo do Comércio, e publicado nos periódicos do domicílio social, ou no mais próximo
que houver, e na falta dêste por anúncios afixados nos lugares públicos; pena de subsistir a
responsabílidade de todos os sócios a respeito, de quaisquer obrigações que algum dêles possa
contrair com terceiro em nome da sociedade”.
5. DENÚNCIA CHEIA. Quanto aos casos de denúncia cheia, estabelece o Código Comercial, art.
386: “As 1
mesmas sociedades podem ser dissolvidas judicialmente, antes do período marcado no contrato, a
requerimento de qualquer dos sócios: 1. Mostrando-se que é impossível a continuação da sociedade
por não poder preencher o intuito e fim social, como nos casos de perda inteira do capital social, ou
dêste não ser suficiente. 2. Por inabilidade de alguns dos sócios, ou incapacidade moral ou civil,
julgada por sentença. 3. Por abuso, prevarica~Ao, violação ou falta de cumprimento das obrigações
sociais, ou fuga de algum dos sócios”.
No caso de impossibilidade de continuação da sociedade (Código Comercial, art. 336, inciso 1) entra
o de divergência tal entre os sócios que não possam prosseguir os lucros, ou a própria atividade (2.a
Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, 10 de agôsto de 1915, E. de D., 39, 895;
CôTte de Apelação, 9 de novembro de 1916, 46, 115; 6.~ Câmara Cível do Tribunal de Apelação do
Distrito Federal, 19 de maio de 1933, E. dos Tr., 97, 229; Tribunal de Justiça de S& Paulo, 9 de
agôsto de 1927, E. de C. .1., VI, 402; 53 Câmara Civil, 5 de junho de 1935, E. dos 7‟., 97, 157; 13
Câmara Civil, 14 de outubro de 1946, 166, 331; 43 Câmara Civil, 24 de outubro de 1946, 165, 835;
23 Câmara Civil, 9 de setembro de 1947, 171, 196; 83 Câmara Civil, 10 de junho de 1950, 188, 255;
23 Câmara Civil, 13 de março de 1956, 251, 318; Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, 28 de agôsto
de 1952, E. F., 149, 380). O julgamento, pois que se têm de apurar a espécie e os fatos, é
constitutivo negativo (cf. 73 Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 25 de
novembro de 1949, A. J., 98, 388).
Se foi pedida a dissolução da sociedade com fundamento no art. 836, incisos 2 e 8, não pode o
demandante mudá-lo para ter o fundamento do art. 835, inciso 1 (5~~ Câmara Cível do Tribunal de
Apelação do Distrito Federal, 7 de maio de 1936).
No caso do art. 836, inciso 3, do Código Comercial, nem sempre a ação de dissolução tem de ser
conforme o art.
656, § 29,
2 a alínea, do Código de Processo Civil, pôsto que seja hoje, como no direito anterior, o que mais
acontece (sem razão, exigindo, sempre, a ação ordinária, no direito anterior, a Côrte de Apelação do
Distrito Federal, a 25 de julho de 1960, R. de D., 28, 835). Por exemplo: em caso de incapacidade
civil, julgada por sentença, trânsita em julgado, ou proibição legal ou judiciária de atividade
comercial, rege o art. 656, § 2.~,
.alinea 1a
O processo a que se referem os arts. 655 e 656 e §§ 1/‟ e 29, alínea 1~a, do Código de Processo Civil
supõe que o de mandante alegue dissolução de pleno direito, ou dependente da sentença, aponte o
fato notório ou junte a prova que baste à declaração da dissolução ou à decretação (elemento
constitutivo negativo preponderante). No direito anterior, também era assim (e. q.,
2 a Câmara Cível da Côrte de Apelação do Dis-. trito Federal, 29 de abril de 1913, 1?. de D., 28, 826;
Côrte de Apelação, 27 de maio de 1926, 75, 125).
6.DESPEDIDA DO SÓCIO. A despedida pode ser sem conseqúência de dissolução. Daí dizer o Código
Comercial, art. 339:
“O sócio que se despedir antes de dissolvida a sociedade ficará responsável pelas obrigações
contraídas, e perdas havidas até o momento da despedida. No caso de haver lucros a êsse tempo
existentes, a sociedade tem direito de reter os fundos e interesses do sócio que se despedir, ou fôr
despedido com causa justificada, até se liquidarem tôdas as negociações pendentes que houverem
sido intentadas antes da despedida”.
Se ocorre morte de sócio, mas a sociedade continua de existir, o uso da firma social vincula a
sociedade, porque dia-solução não houve, e, em caso de existir sócio de responsabilidade solidária,
êsse responde se a sociedade não pode pagar (cf. Supremo Tribunal Federal, 24 de agôsto de 1948,
1?. D., 57, 205). Se outra sociedade se constitui, com sucessão do fundo de emprésa, quem usa a
firma da sociedade extinta não vincula a sociedade, que se extinguia, nem os antigos sócios, pois
incide o art. 340 do Código Comercial (cf. Tribunal de Apelação do Amazonas, 20 de maio de 1938, J.
e D., 1938, 355).
Se dois ou mais sócios querem assumir o ativo e o passivo, tem de ser feita a licitação - (5~ Câmara
Cível do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 31 de julho de 1945, Jurisprudêncial Civel, 11,
207), se os outros sócioS não preferem a liquidação normal (ei.
2 a Câmara do Tribunal de Apelação da Paraíba, 24 de abril de 1941, 1?. da F., 48, 89).
a nulidade, ou a anulação, para que depois se possa pedir a. decretação da dissolução (4.~ Câmara
Civil do Tribunal de Apelação de Silo Paulo, 29 de novembro de 1945, 1?. dos T.~ 166, 621>.
Se nada há para se liquidar e o que os sócios entregaram há de ser-lhes restituído, dispensada está
a liquidação: apenas se apuram haveres (cf. Câmaras Cíveis Reunidas do Tribunal de Justiça do
Paraná, 6 de maio de 1955, 1?.
dos T., ..240, 516). Alguns atos, posteriores à dissolução, podem ser de interêsse da comunidade
ou de algum sócio; mas é preciso atender-se a que não há mais sociedade. Lê-se no Código
Comercial,art. $41: “Uma letra de câmbio ou da terra, sacada ou aceita por um sócio depois de
devidamente publicada a dissolução da sociedade, não pode ser acionada contra os outros sócios,
ainda que o endossado possa provar que tomou a letra em boa fé por falta de noticia; nem ainda
mesmo que prove que a letra foi aplicada, pelo sócio sacador ou aceitante, à liquidação de dividas
sociais, ou que adiantou o dinheiro para uso da firma durante a sociedade; salvo os direitos que ao
sócio sacador ou aceitante possam competir contra os outros sócio?‟.
Após a dissolução da sociedade, pode haver créditos que tenham de ser satisfeitos pelos devedores,
que o eram a sociedade. Dai a necessidade de amigável ou judicialmente se outorgar poder a algum
sócio. Inclusive é válida cláusula contratual. a respeito.
(Código Comercial, art. 342: “Fazendo-se participação aos devedores, depois de dissolvida a
sociedade, de que um sócio designado se acha encarregado de receber as dívidas ativas da mesma
sociedade, o recibo passado posteriorimente por um dos outros sócios não desonera o devedor”.)
Algumas vêzes há a outorga de poderes, para que possa continuar a empresa. Por isso prevê o
Código Comercial, art. 843: “Se ao tempo de dissolver-se a sociedade, um sócio tomar sobre si
receber os créditos e pagar as dívidas passivas, dando aos outros sócios ressalva contra tôda a
responsabilidade futura, esta ressalva não prejudica a terceiros, se êstes nisso não convierem
expressamente; salvo se fizerem com aquêle alguma novação de contrato (art. 438). Todavia, se o
sócio que passou a ressalva continuar no giro da negociação que fazia objeto da sociedade extinta,
debaixo da mesma ou de nova firma, os sócios que saírem da sociedade ficarão desonerados
inteiramente, se o credor celebrar, com o sócio que continua a negociar debaixo da mesma ou de
nova firma transações subseqüentes , indicativas de que confia no seu crédito”.
Dissolvida a sociedade, pode um sócio ou podem alguns sócios assumir o ativo e o passivo da
empresa, mas, com isso, não exonera da responsabilidade perante terceiros o outro ou os outros
sócios. O que pode ocorrer é que suceda nova sociedade, que o sócio continue como comerciante
individual ou sob a mesma firma, e o terceiro entre em negócios com a entidade posterior,
confiantemente. Os créditos que não podiam ser transferidos sem consentimento expresso do
credor, êsses permanecem contra os membros da sociedade anterior (cf.
2 a Turma do
A liquidação da sociedade pode ser posterior ou anterior à dissolução. A dissolução só é eficaz com o
registo. A completa liquidação ainda não é dissolução.
2. LIQUIDAÇÃO. Dissolvida a sociedade, permanece o fundo de empresa, que tem de ser gerido. A
gestão é para fim liquidatório . As soluções estão previstas no Código Comercial, art. 844:
“Dissolvida uma sociedade mercantil, os sócios autorizados para a gerir durante a sua existência
devem operar a sua liquidação debaixo da mesma firma, aditada com a cláusula em liquidação; salvo
havendo estipulação diversa no contrato, ou querendo os sócios, a aprazimento comum ou por
pluralidade de votos em caso de discórdia, encarregar a liquidação a algum dos outros sócios não
gerentes, ou a pessoa de fora da sociedade”.
Os primeiros deveres do liquidante são o de inventário dos bens sociais e o de fazer o balanço. Sem
isso não se pode saber qual o ativo e qual o passivo. Depois há a partilha em natureza ou em
dinheiro, talvez com a divisão de bens. A liquidação de sociedade é execução de sentença de
dissolução, qualquer que ela seja (6.~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 15 de
dezembro de 1950).
O Supremo Tribunal Federal, a 24 de agôsto de 1948 (fl. F., 141, 160; 1?. dos T., 192, 420),
dispensou a escritura pública de transferência da propriedade imobiliária e da posse do imóvel ao
sócio que se retira, ou aos sucessores a causa da morte, mas com argumentos absolutamente sem
fundamento (e. g., “não há transferência de bens; há mero pagamento”, como se pagar com
propriedade de imóvel não fOsse transferir a propriedade). Se houve escritura de transferência à
sociedade, precisa-se de outra escritura, ou de sentença, que possa ser atendida pelo registo.
Se há morte, sem dissolução de sociedade, ou retirada de algum sócio, não se procede à liquidação,
mas só à haveres (Código de Processo Civil, art. 688). Se só resta um sócio, não importa: o art. 688
do Código Penal incide (cf. Código Comercial, art. 344).
Câmara Cível do Tribunal de Justiça de São Paulo, 20 de agôsto de 1957, 1?. E., 179, 287). Tem
efeito suspensivo, razão por que não funciona, no intervalo, o liquidante nomeado (Conselho de
Justiça do Distrito Federal, 27 de agôsto de 1948, A. J., 88, 375).
Se no contrato social foi dito quem seria o liquidante, sócio ou estranho, em caso de dissolução da
sociedade, somente a unanimidade pode escolher outra pessoa (cf. Tribunal de Justiça de São Paulo,
6 de março de 1047, R.
O art. 657 do Código de Processo Civil não derrogou o art. 344 do Código Comercial. Se o contrato
nada preestabelece, o sócio gerente é quem é liquidante, se os sócios, por maioria, não escolhem
outra pessoa (4.& Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 17 de fevereiro de 1944, 1?. das
T., 154, 626>. No caso de empate, ou de não haver maioria, não há outra solução que a de
nomeação, pelo juiz (3~a Câmara Civil, 31 de maio de 1944, 158, 151).
Quanto aos. deveres dos liquidantes, diz o Código Comercial, art. 345: “Os liquidante5 são
obrigados: 1. A formar inventário e balanço do cabedal social nos 15 dias imediatos à sua nomeação,
pondo logo no conhecimento de todos os sócios; pena de poder nomear-se em juízo uma
administração liquidadora à custa dos liquidantes, se forem sócios; e não o sendo, não terão direito
a retribuição alguma pelo trabalho que houverem feito. 2. A comunicar mensalmente a cada sócio o
estado da liquidação, debaixo da mesma pena. 3. Ultimada a liquidação, a proceder imediatamente à
divisão e partilha dos bens sociais; se os sócios não acordarem em que os dividendos se façam na
razão de tantos por cento, à proporção que os ditos bens se forem liquidando, depois de satisfeitas
tOdas as obrigações da sociedade”.
3 a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 7 de fevereiro de 1952, 1?. dos T., 199, 381),
acertadamente, se foi sócio o liquidante destituído. Se o não foi, há contra ele ação de indenização
de danos.
“Os liquidantes são responsáveis aos sócios pelo dano que à massa resultar de sua negligência no
desempenho de suas funções, e por qualquer abuso dos efeitos da sociedade. No caso de omissão ou
negligência culpável, poderão ser destituídos pelo Tribunal do Comércio, ou pelo juiz de direito do
Comércio nos lugares fora da residência do mesmo Tribunal, e não terão direito a paga alguma do
seu trabalho; provando-se abuso ou fraude, haverá contra êles a ação criminal que competir”.
Acabada a liquidação, ou não há fundos, ou os bá. Se há, tem-se de proceder à partilha ou à divisão.
Lê-se no Código Comercial, art. 848: “Acabada a liquidação, e proposta a forma da divisão e partilha,
e aprovada uma e outra pelos sócios liquidados, cessa tôda e qualquer reclamação da parte dêstes,
entre si reciprocamente e contra os liquidantes. O sócio que não aprovar a liquidação ou a partilha é
obrigado a reclamar dentro de 10 dias depois desta lhe ser comunicada; pena de não poder mais ser
admitido a reclamar, e de se julgar por boa a mesma liquidação e partilha. A reclamação que fôr
apresentada em tempo, não se acordando sobre ela os interessados, será decidida por árbitros,
dentro de outros 10 dias úteis; os quais o juiz de direito do Comércio poderá prorrogar por mais 10
dias improrrogáveis”.
Finda a liquidação, procede-se à partilha. Uma vez aprovado o plano de partilha, feito em juízo, há
toda a eficácia negocial dêsse ato. Por isso, há a comunicação a todos os sócios e o prazo é de cinco
dias e não mais decendial, para a reclamação. Na decisão da Câmara Cível da Relação de Minas
Gerais, a 2 de outubro de 1918, disse-se que a eficácia é opus legis. Adianta-se, porém, que se supõe
ser váLido o negócio jurídico. Não mais se pode ir contra a partilha, que não é nula, nem anulável;
porém isso não afasta que se possa exercer, com fundamento na partilha, alguma ação, como a
reivindicatória, a de posse, a de prestação de contas contra quem está com as contas e os bens (sem
razão, quanto à prestação de contas, a Câmara Cível do Tribunal de Apelação de Minas Gerais, a 12
de fevereiro de 1940, 1?. F., 82, 368).
O art. 664 do Código de Processo Civil, como o art. 848 do Código Comercial, propõe plano de
partilha, apresentado ou feito em juízo; não se há de invocar para as liquidações, judicial ou
extrajudicial, com partilha extrajudicial, ou com o distrato em que se inseriu a partilha (cf. arts. 337
e 388; Tribunal de Justiça de São Paulo, 6 de março de 1896, G. J., 12, 161, e 8 de junho de 1912, R.
dos 7‟., II, 882; 6.~ Câmara Civil, 6 de maio de 1949, 1?. dos 7‟., 181, 297).
O prazo do art. 848 do Código Comercial, hoje do ad. 664 do Código de Processo Civil, é prazo
prescricional, e 1
não prescricional como erradamente o considerou a 6~a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São
Paulo, a 6 de maio de 1949 (E. dos 7%, 181, 297).
É preciso, para que corra o prazo, que 05 interessados sujeitos a êle, sejam partes no processo e,
tratando..se de herdeiros, que sé tenham observado as regras jurídicas do Código de Processo Civil,
arts. 80-87, 198, § 1.0, 6), 512 e parágrafo único
Seria perturbador da liquidação, tanto mais quanto pode haver dívidas sociais que se ignoras,
entregar..se o que caberia a algum sócio antes de se pagar, ou de se depositar em conSignação o
que consta ao passivo. Prevê-se no Código Comercial ad. 349: “Nenhum sócio pode exigir que se lhe
entregue o seu dividendo enquanto o passivo da sociedade se não achar todo pago, ou se tiver
depositado quantia suficiente para o pagamento. mas poderá requerer o depósitar das quantias que
se forem apurando Esta disposição não compreende aquéles sócios que tiverem feito empréstimo à
sociedades os quais devem ser pagos das quantias mutuadas pela mesma forma que outros
quaisquer credores”.
Os liquidantes não podem dispor, gratuitamente de elementos do fundo de empresa, nem transigir,
nem assinar compromisso. Foi explícito, a respeito da transação e do juízo arbitral, o Código
Comercial art. 851: “Os liquidante não podem transigir, nem assinar compromisso sobre os
interesses sociais, sem autorização especial dos sócios dada por escrito; pena de nulidade” Também
não podem os liquidante assumir dividas, nem nová-las; nem prorrogar contratos, o Código
Comercíal art. 851, fala de “nulidade” mas a espécie é de ineficácia relativa à sociedade, aos sócios,
e não de nulidade.
Após a liquidação, os livros, que podem ainda ser de interesse jurídjc0, para os sócios e para
terceiros, têm de ser coa-senados. Diz o Código Comercial art. 852: “Depois da liquidação e partilha
definitiva, os livros de escrituração e os respectivos documentos sociais serão depositados em casa
de um dos sócios, que à pluralidade de votos se escolher”.
A despeito da superveniência do Código Civil, ainda continuou invocável o Código Comercial, ad.
358: “Nas liquidações de Sociedades comerciais em que houver menores interesados, procederá ã
liquidação e partilha com seus tutores , e com um curador especial que para êste fim lhes será
nomeado pelo juiz dos órfãos e todos os atos que com os ditos tutor e procurador se praticarem
serão válidos e irrevogáveis, sem que contra êles em tempo algum se possa alegar benefício de
restituição ; ficando únicamente direito salvo aos menores para haverem de seus tutôres e
curadores os danos que de sua negligência culpável, dolo ou fraude lhes resultarem”. Hoje, só há o
direito de restituição .
Se, para a dissolução, ou após a dissolução, algum ou alguns dos sócios assume a responsabilidade
pelas dívidas, ou pelo ativo e passivo, o negócio jurídico ou a cláusula de distrato é plenamente
eficaz entre os sócios (cf.
Supremo Tribunal Federal, 5 de julho de 1922, 11. de D., 66, 509) ; não, contra os credores (1.2
Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, 17 de janeiro de 1916, 1?. de D., 68, 855).
O sócio liquidante não pode obrigar, cambiáriamente , sem a assinatura ou outorga de poderes por
todos os outros sócio& (2.~ Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, 15 de junho de
1928, E. de D., 70, 877).
Quanto aos dinheiros destinados à solução de dívidas sociais e outros atos da sociedade, que caibam
nas funções gestatórias do sócio liquidante, pode subscrever e emitir cheques.
Lê-se no Código Comercial, ad. 850: “Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por
dividas da sociedade, senão depois de executados todos os bens sociais”. Se não há bens da
sociedade, que possam ser penhorados, a penhora pode recair em bens dos sócios que dela se
retiraram mas permaneceram nas operações sociais (Supremo Tribunal Federal, 27 de outubro de
1949, R. dos 7‟., 204, 682).
Se houve a partilha dos bens e os sócios os receberam, os credores podem ir contra os sócios
conforme os bem que lhes foram entregues e, se insuficientes, contra os sócios, como devedores
solidários. Um tanto omissa, por deixar de fazer a distinção , entre os bens, a 4,2 Câmara Civil do
Tribunal de Jus ttqa de São Paulo, 80 de setembro de 1948 (E. dos 7‟., 177, 837).
No direito civil não há a regra jurídica correspondente à de art. 850 do Código Comercial; há a do
Código Civil ad. 1.407, que é dispositivo em sentido contrário (cf. 2.~ Câmara Civil do Tribunal de
Justiça de São Paulo, 23 de novembro de 1948, R. dos 7‟., 178, 843;
O credor da sociedade tem de propor ação contra a sociedade, para que se verifique a insuficiência
dos bens sociais. Se, antes de tal verificação, o credor vai contra o sócio, tem esse o jus ezeussionis
(83 Câmara Cível do 1
Câmara Cível do Fundo de Justiça de Minas Gerais, 23 de fevereiro de 1959, M. F., 28, 59).
O art. 858 tem, hoje, pouca importância, porque há as regras jurídicas do direito comum. A parte
final do art. 353
A validade dos atos de liquidação e de partilha, se há incapazes, tem de ser alegada segundo os
princípios gerais.
CAPÍTULO 1
(cf.
AGEO
ARCANGELI,
La
Società.
in
accomandita
semplice,
30;
ALBERTO
MARGI-IIERI-SCIALOJA, Trattato diDzrttto (Xrmmeiciale, ~~~, 3.~ ed., 24; ANTONIO SOIALOJA,
Saggidi vario diritto, 1, 228), e revelam o elemento germânico da gesammte Hand (cf. MAX WEBER,
Zur Geschichte der Han.-ddsgsetlschaften im Mittelalter, 49; ANGELO VERGA, Le Comw nioni tacite
familiari, 16).
O direito romano já tinha a sodetas fratrum (L. 52, § 8, D., pro Rodo, 17, 2), porém faltava a mão-
comum, o que de si só mostra que a evolução não pode ter sido da familia para a sociedade
hodierna. Houve, no caminho, o elemento germânico, que não se pode negar (sem razão, ENRICO
BESTA, La Famglia nelia storia dei diritto italiano, 194; e Le Obbligazioni neila etoria dei diritto
italiano, 332). Há a parecença, porque em todos os tempos famílias trabalham junto e exploram
junto (cf. sobre PLÍNIO, Epist., 8, 18, WOLFGANG ICUNREL, Em unbeachtetes Zeugnis úber das
rdmische Consortium, Annales de la Paeuité de Droit d‟Istanina, 1955, 4-5, 56 s.; Aí. BRETONE,
“Consortium” e “communio”, Labeo, VI, 207 s.).
Na Idade Média, a sociedade já se afastou da societas romana. A distinção entre o fim lucrativo,
comercial, e o fim não-lucrativo, suscitou a concepção de regras jurídicas especiais àquelas
sociedades que tinham função mercantil, sem que se chegasse a nítidas diferenciações.
Nos tempos modernos, alguns sistemas jurídicos se satisfizeram com a autonomia patrimonial,
baseada na mão-comum (cf. R. CESSI, Note per ia storia deita sodetá di commercjo nel Medievo‟ in
Italia, 102 e 138), e outros avançaram até a personificação das sociedades. No direito brasileiro, o
que se estatuiu foi o principio ria personificação com o registo.
De qualquer maneira, a economia doméstica não poderia ser tida como degrau necessário e único. O
escopo de lucro aproveitou a societas, a mão-comum, a gestão presentativa e o princípio da
solidariedade. Com êsse, 1
O elemento de amizade familial, êsse, a sociedade em nome coletivo, companhia fraterna, tinha de
conservar e conservou em grande dose. Porém houve mais, com o nome, os poderes e a
responsabilidade solidária dos sócios.
como “Tício e sócios da tal sociedade”, o que implicava a responsabilidade solidária (à L. 37, D., de
stipnlatione servorum, 45: .... . in libris cum litteris mercatorum, unus nominatur nomine proprio,
omnes alii nomine appellativo, hoc modo: Titius et socii talis societatis”; à L. 4, C., si certum petatur,
4, 2: “societas est nomen complexiorem et in ipso stipulante repraesentatur et sic ipsa societas
praesens habetur”).
Se foi dito que figurou “P. e Companhia”, todos os sócios estão compreendidos, pois que se deu
publicidade registária ao nome coletivo. Se o sócio não se referiu ao nome coletivo, não vinculou a
sociedade (cf.
2.CONCEITO. Sociedade em nome coletivo é a sociedade de pessoas que exerce atividade sob firma
ou razão social, de modo que todos os sócios sejam responsáveis ilimitada e solidáriamente pelas
dívidas sociais. Não nos referimos a “atividade comercial”, porque o Código Civil, no art. 1.364
permite que sociedades civis se estruturem como as espécies mencionadas em lei comercial. Nas
relações internas, os sócios podem estabelecer cláusulas ou pactos restritivos da responsabilidade.
Nas relações externas, não, porque se mudaria de tipo de sociedade.
Na sociedade comercial em nome coletivo, se comercial, todos os sócios hão de ser comerciantes e
se têm como tais: a responsabilidade é ilimitada e solidária . Diz o Código Comercial, art. 315:
“Existe sociedade em nome coletivo ou com firma, quando duas ou mais pessoas, ainda que algumas
não sejam comerciantes, se unem para comerciar em comum, debaixo de uma firma social. Não
podem fazer parte da firma social nomes de pessoas que não sejam sócios comerciantes”.
A definição que o Código Comercial, art. 315, tentou dar é defeituosa, porque a ilimitação e a
solidariedade de responsabilidade dos sócios são elemento essencial. Tem-se de aludir à eficácia
como determinante do tipo.
Nas sociedades em nome coletivo, o Código Comercial, artigo 315, permitiu que duas ou mais
pessoas se liguem para comerciar em comum, debaixo de firma social, ainda que algumas não sejam
comerciantes. Mas isso já está obsoleto, porque basta que elas se possam fazer e se façam
comerciantes. Não há o pressuposto de ter comerciado antes. Nas sociedades em comandita (art.
311), falou de ser uma, pelo menos, comerciante. Mas a inteligência que se há de dar ao artigo é a
mesma.
Não é de admitir-se a teoria da sociedade em nome coletivo só externa, segundo a qual o contrato
de sociedade em nome coletivo abstrai das relações jurídicas entre os sócios e só se atenha ã
responsabilidade pelas dívidas da sociedade a terceiros (e. g., PAUL LABAND, Beitrãge zur
Dogmatik der Handelsgesellschaf~~~ Zeitschrift fiir das gesamte Ilandelsrech,t, 30, 509 s.) - As
relaçóes jurídicas internas são reguláveis, porém não a ponto de se só se ter dado à sociedade a
aparência de ser em nome coletivo.
Se os cônjuges acordam, com base na comunhão universal, ou na comunhão limitada dos bens, em
ter empresa, ou se assim procedem os co-herdeiros, sob a firma do decujo, sem que a inserção tenha
sido prevista, não há a sociedade em nome coletivo, pôsto que possa haver sociedade, e não
somente comunhão. Isso não significa que 1
2.“NOME COLETIVO”, SENSO ESTRITO. A sociedade em nome coletivo não recebeu o nome atual
antes do século XVIII. Falava-se, antes, de sociedade geral, de sociedade ordinária, ou de sociedade
livre. Na Alemanha, diz-se offene Gesellschaft.
O que mais caracteriza a sociedade em nome coletivo é o serem solidários todos os sócios quanto às
dividas da sociedade. Uma das conseqüências que se tiraram foi a de serem todos considerados
comerciantes, se comercial a sociedade. Uma vez que se concluiu tal contrato, o princípio de
solidariedade é inafastável. Afastá-lo é fazer outro contrato. Nem pode qualquer sócio sair da
sociedade, a seu líbito. Quando sair, responsável é pelo passivo social até o momento da saída.
Tôda sociedade que não se distingue de tal maneira que se possa, com segurança, dizer qual o seu
tipo, tem-se como sociedade em nome coletivo. É o princípio da prevalência do tipo social mais
simples, ou princípio da prevalência da igualirariedade social. Por isso, na sociedade em conta de
participação, se os sócios participantes inativos se mostram a terceiros como sócios, isto é,
procedem como sócios ativos, o princípio incide, e êles respondem como sócios ilimitada e
solidàriamente vinculados. Passa-se o mesmo com os sócios comanditários, na sociedade em
comandita.
Em alguns sistemas jurídicos, não é sociedade em nome coletivo aquela que não é com finalidade de
lucro. No sistema jurídico brasileiro, não. Tanto pode haver sociedade em nome coletivo que se
classifique como civil como pode havê-la comercial (Código Civil, art. 1.364).
A expressão “nome coletivo” revela que a firma social exerce relevantíssimo papel. Mas, se
atendermos a que outras sociedades a têm e a que são comuns a tipos diferentes expressões
coletivas, como “& Cia.”, ressalta a superação da pertinência do nome.
Levanta-se a questão de se saber se, na sociedade em nome coletivo, de três ou mais pessoas, a
firma social pode deixar de mencionar um ou mais sócios, sem se apor o elemento simbólico “&
Cia”. A resposta é afirmativa; e a razão está em que aos terceiros se mostram menos do que são os
responsáveis ilimitada e solidâriamente A., B. e C.,; firma E. & C.
A inserção de nome de sócio, ou de quem foi sócio, ou de estranho, no título do estabelecimento não
o torna firma social (Loja Santos Dumont, Sociedade da antiga casa Sousa & Silva, Bazar antigo
Almeida & Cia.).
A firma comercial é para as assinaturas sociais. Se A assina “A & Cia.”, foi a sociedade que assinou,
e não A. Não se precisa de qualquer explicitação. O órgão presentou, suficientemente.
A inserção inverídica na firma social do nome de alguém, que não é sócio, é crime de falsidade
(Código Penal, art.
299) e pode ser elemento de outro crime. O terceiro, que concorda com figurar, é co-autor e com
isso não se faz comerciante.
CAPÍTULO II
em nome coletivo exige, com igual rigor, a capacidade de todos os figu rantes, igualitàriamente,
objeto lícito e causa lícita.
O figurante do contrato de sociedade em nome coletivo precisa ser capaz para os atos jurídicos e
poder ser comerciante.
Algumas profissões supõem aptidão com habilitação legal, como acontece com as sociedades de
médicos, oficinas farmacêuticas e de engenharia.
Para comerciar, os menores de idade, que têm mais de dezoito anos, precisam de assentimento do
titular do pátrio poder (Código Comercial, art. 1», inciso 3), ou do tutor. levantou-se a questão da
necessidade de assentimento especial, além dêsse, se o menor tem de entrar em sociedade já
existente, ou concluí-ia. Na doutrina francesa, ainda há divergência (afirmativamente, JoSEPII
HAMEL e GASTON LAGARDE, Traité de Droit Commercial, 1, 540; negativamente, JRAN ESCARRA,
Mqatuet de Droit CommerciaI, n. 495). De modo nenhum seria de exigir-se nôvo assentimento para
quem já se tornou capaz, devido ao próprio assentimento para comerciar (cf.
Observe.se que se tem o princípio como abrangente não só das sociedades constituídas
concomitante ou posteriormente ao casamento como também das sociedades anteriores, o que de
modo nenhum tem sentido, porque tôda causa de nulidade há de ser antenor ao negócio jurídico.
São argumentos que se têm levantado para isso, na ausência de texto legal que cogite da sanção,
ode haver o poder marital, que desigualiza, e o de existir o princípio de imutabilidade do regime
matrimonial de bens. Ora, a alusão ao poder marital é algo de obsoleto, e não há proibição, para os
cônjuges, qualquer que seja o regime matrimonial de bens, de aquisições de bens indivisos, nem
alienações de partes dos dois patrimônios ou de partes indivisas. Por outro lado, se há a
personificação jurídica, o patrimônio é social, e não dos sócios-cônjuges.
Se a constituição ou sociedade em nome coletivo pode ser prejudicial à mulher, a questão é de fato;
portanto, ia casu. Não se justifica a conclusão de ser nulo o contrato social, O caminho que a
jurisprudência francesa tomou foi errado, e há tentativas de cortá-lo com paliativos, como o de ver-
se no contrato locação de serviços, mandato, comunidade e até de testa-de-ferro, que seria um dos
cônjuges (Tribunal Civil de Saint-Jean-deMaurienne, 22 de novembro de 1949).
2.ATo cONSTITUTIvO. Para que se possa constituir sociedade em nome coletivo, é preciso que haja
contrato escrito, instrumento público ou particular. O art. 316 do Código Comercial fala de
“instrumento do contrato” e de designação “no contrato”. No art. 30 do Decreto n. 916, de 24 de
outubro de 1890, está dito: “O comerciante que não tiver sócio, ou o tiver não ostensivo ou sem
contrato devidamente arquivado, não poderá tomar para firma se não o seu nome completo ou
abreviado, aditando, se quiser, designação mais precisa de sua pessoa ou gênero de negócio”.
3.FIRMA SOCIAL. A firma, a despeito dos nomes de sócios que contenha, é o nome da sociedade.
Com o registo, adquire ela o direito ao uso exclusivo, sem que se afaste a possível discussão entre
figurantes de dois ou mais contratos, que não foram registados, para se saber quem usou primeiro a
firma. Ai, a data do uso é assaz relevante, mas a entrega do contrato de registo já tem eficácia que
abstrai da data. A coletividade do nome, com o registo, ou com a apresentação para o registo, cria a
personalidade jurídica, com o direito a firma. Se a sociedade é em nome coletivo, a responsabilidade
de todos os sócios é ilimitada. A cláusula que restringe a responsabilidade de algum sócio, ou de
alguns sócios, deturpa a figura contratual. Feito o registo, que pedia ser negado, os terceiros pedem
alegar que se chamou de nome coletivo a sociedade, e ser ineficaz a cláusula restritiva; se não foi
feito o registo, os terceiros podem ignorar a deformação. Se, em ato jurídico posterior, algum sócio,
órgão da sociedade ou não, se diz sócio sem responsabilidade ilimitada, ou insere cláusula que
exclui a responsabilidade ilimitada, é inoperante a restrição.
O Código Comercial, ad. 315, § 4, não diz que não podem fazer parte da sociedade pessoas que não
sejam comerciantes. Apenas estatui que “não podem fazer parte da firma social” (isto é, da
denominação social) nomes de sócios que não sejam comerciantes. Alguma ou algumas podem não
ser comerciantes (cf. Tribunal de Justiça de São Paulo, 31 de agôsto de 1922, E. dos T., 44, 207).
Para que se atenda ao art. 315, alínea
2 a, que, de iure
coMendo, poderia apenas estabelecer que se reputaria comerciante o sócio que desse nome a firma,
baseia que o figurante do contrato haja feito o registro do seu nome, isto é, que se tenha
matriculado (Código Comercial, art.
4O), se comerciante ainda não era. Nada obsta a que a matrícula do sócio e o registo da
sociedade, se comercial, se faça no mesmo dia. Se a sociedade em nome coletivo, ou, mais
precisamente. de responsabilidade ilimitada, é civil, o art. 315, alínea 2.~, não incide. Registado o
contrato, todos os sócios são comerciantes.
Se o comerciante não tem sócio, óbvio é que a sua firma somente pode consistir no seu nome,
abreviado ou não .
O que êle pode aditar é a designação de qualidade pessoal ou do gênero de negócio (aditamento
subjetivo ou objetivo): A., manicura; B., casa de móveis; C., joalheria. Se há sociedade e é em nome
coletivo, um, pelo menos, dos nomes, abreviado, ou não, tem de constar da firma. Se há mais sócios
do que os que constam do nome comercial, tem-se de acrescentar: e Companhia; & Cia.. No Decreto
n. 916, de 24 de outubro de 1890, art. .39,§
li‟, está dito: !„A firma de sociedade em nome coletivo deve, se não individualizar todos os sócios,
conter pelo menos o nome ou firma de um com o aditamento por extenso ou abreviado e companhia,
não podendo dela fazer parte pessoa não comerciante”. O dizer final não pode significar que
somente haja ser membro de sociedade em nome coletivo quem já é comerciante, ou que tenha de
satisfazer os pressupostos para ser comerciante se quer ser sócio de sociedade em nome coletivo,
inclusive ter-se matriculado.
Quem faz parte de sociedade em nome coletivo precisa satisfazer os pressupostos que lhe seriam
exigidos para ser, individualmente, comerciantes. Essa é a interpretação que se há de dar ao
Decreto n. 916, ad. 3O, § 2.0, in tine.
À parte nominal (A.; ou A., 13.; ou A., B., C.) acrescenta-se a parte simbólica, que pode ser alusiva a
uma só pessoa ou a duas ou mais (& Cia.). Assim, pode chamar-se A. & Cia. a sociedade em que os
sócios são A., B., C., D. e E. (ou mais), como pode chamar-se A., 13. & Cia., ou A., E., C. & Cia.; ou
ter maior número de partes nominais. Pode não haver símbolo:A.&E.
Quanto à registabilidade do nome Viúva A., ou Viúva A. & Cia., ou Viúva A., 13. & Cia., ou Viúva A. e
E., ou 13.
& Viúva A., há jurisprudência contrária, com tôda a razão. A doutrina contra os acórdãos destoa do
que se assentou na doutrina alemã. O direito ao uso civil do nome Senhor A. de modo nenhum
permite que se use tal nome como firma, ou elemento de firma. No Brasil, há o ad. 7 O e parágrafo
único do Decreto n. 916, que não permite as divagações que se fizeram. Se A. E. era a mulher de E.
B. e a firma era B. B., o que se há de fazer épospor à firma A. 13. o enunciado “sucessora de E. E.”,
ou “viúva de E. E.” Se os sócios são apenas A. e E., ou A., E. e C., não se pode dizer A., 13. & Cia., ou
A., 13., C. & Cia. Em
“Companhia” há de haver pelo menos um sócio (JOÃO CÂNDIDO MARTINS, Consultor teórico e
prático do comércio, 84).
Em vez de “A. & Cia.”, pode-se pôr: “A. & Filhos”, ou “A. & Genros”, ou “A. & Irmãos”, ou “A. &
Genro”, ou
“A. & Irmão”, “A. & Senhora”, ou “A., Fill‟ns & 13.”, ou “A., Filhos, B.” Não se pode compor firma de
sociedade coletiva com “Irmãos A.”, ou “Filhos de A.”, nem “Companhia A.” Não se pode omitir
nome de sócio, sem que se empregue termo simbólico (e. g., ~„& Cia.”, “& Filhos”, “& Outros”). Por
exemplo, se os sócios são A., E. e C., a firma não pode ser ~„A. & E.”, ou “A. & C.” Pode ser usado
“Sociedade A. & Cia.”. Nada obsta a que se anteponha “Sociedade em nome coletivo”; ou “5. N.
C.”, seguido de vírgula, para que não se pense em iniciais do nome que segue.
Se alguma pessoa, que tenha o nome na firma, deixa de ser sócio, não pode outro adotar sobrenome,
ou prenome, que não tem, para figurar como sócio: haveria violação do art. 315, alínea 2?. Também
isso ocorre se algum sócio, que tinha o nome na firma, passa a ser sócio comanditário (Supremo
Tribunal Federal, 12 de setembro de 1940, Jurisprudêntio‟, IV, 36, R. F., 86, 92).
4.REGRAS JURÍDICAS SOBRE A FIRMA. Lê-se no Código „Comercial, art. 316, alíneas a e 8?: “Nas
1a, 2~
sociedades em nome coletivo, a firma social assinada por qualquer dos sócios gerentes, que no
instrumento do contrato fôr autorizado para usar dela, obriga todos os sócios solidàriamente para
com terceiros, e a êstes para com a sociedade, ainda mesmo que seja em negócio particular seu ou
de terceiro; com exceção somente dos casos em que a firma social fôr empregada em transações
estranhas ao negócio designado no contrato. Não havendo no contrato designação do sócio ou sócios
que tenham a faculdade de usar privativamente da firma social, nem algum excluído, presume-se
que todos os sócios têm direito igual de fazer uso dela. Contra o sócio que abusar da firma social,
dá-se ação de perdas e danos, tanto da parte dos sócios como de terceiro; e se com o abuso
concorrer também fraude ou dolo, êste poderá intentar contra êle a ação criminal que no caso
couber”.
Se se leva a registo instrumento contratual do qual consta como sócio, por ter o nome na firma,
quem não o é, deve-se recusar a inscrição da sociedade (ALBERT PINNER, Staubs Kommentar zum
HandelÉgesetzbuch, ~ 13?
ed., 636).
À firma da sociedade em nome coletivo se pode acrescentar :alguma expressão de ordem objetiva,
como “A., E.
& Cia., Engenheiros”, ou “A., E., C. & Cia., Ótica guanabarina”, pois o que importa é terem sido
respeitadas as regras jurídicas sobre composição da firma (cf. Luíoí LoRní, Istituzioni di Diritto
commerczale, 1, 282; ENRICO
A firma ou razão social da sociedade em nome coletivo pode conter um só nome de sócio, ou os
nomes de dois ou mais, ou de todos. Por exemplo: A. e Companhia; A., E. e Companhia; A., E. e C.
Em vez de “e”, costuma-se pôr
“&“. Não pode ter nome na firma quem não é sócio, mesmo que seja o fundador da empresa, ou o
decujo que a deixou aos herdeiros, sócios de hoje. Nem se pode omitir a referência a outros sócios
(e. g., A. & C., se os sócios são A., E. e C., caso em que são possíveis as fórmulas A. & Cia., ou E. &
Cia., ou C. & Cia., ou A., E. & Cia., ou E., A. & Cia., ou A., C. & Cia., ou C., A. & Cia., ou E., C. & Cia.,
ou C., 13. & Cia.). Em vez de “& Cia.”, é permitida outra referência, como A. & Irmão, ou A. & Filho.
ou A. & Filhos. O que é de exigir-se é a verdade da relação de parentesco, a que se alude.
O Código Comercial nada disse sobre a firma da sociedade em nome coletivo. O Decreto n. 916, de
24 de outubro de 1890 ad. 3O, § 1.0, estatuiu: “A firma de sociedade em nome coletivo deve, se
não individualizar todos os sócios, conter pelo menos o nome ou firma de um com o aditamento por
extenso ou abreviado e companhia, não podendo dela fazer parte pessoa não comerciante”. “Pelo
menos”, isto é, o aditamento “e companhia”, ou outro mais expressivo, como “& Irmão”, “& Filho”,
ou “e Irmão”, “e Filho”, “e Irmãos” ou “e Filhos”.
Quem sai da sociedade não pode conservar o nome na firma, nem o aditamento pode ser vazio (e. g.,
a firma era A., 13. & Cia., porém morreu ou saiu da sociedade por outra causa o sócio C., que era o
terceiro sócio, ou os sócios C. e D.,. que eram os restantes).
A parte final do art. 8.0, § 1.0, do Decreto n. 916 (“não podendo dela fazer parte pessoa não
comerciante”) não significa que os sócios tenham de ser comerciantes; apenas se estabelece que o
nome, que figura, ou os nomes que figuram já sejam de comerciantes. Não há, porém, razão de jure
condendo, e por isso se deixa de atender à regra do art. 39, § 1.~, in fine.
“designação específica do objeto da sociedade”. Uma das vantagens da indicação explícita (menos
segura, a indicação implícita) é a de poder ser oposto a terceiros, máxime se houve registo,
evitando-se os abusos eventuais dos sócios presentantes da sociedade.
Através do tempo das operações sociais, é possível que mude, de fato, algo do objeto da sociedade,
sem que se haja providenciado para a averbação no registo, nem, sequer, se tenha assinado
alteração do ato constitutivo.
Mesmo assim, a modificação pode ser oposta a outro sócio ou aos outros sócios que pedem a decreta
cão judicial ou dissolução da sociedade, por não ser possível (Código Comercial, art. 386, inciso 1) o
preenchimento do fim social (os sócios continuaram, com outro intuito, cf. ALFREDO DE GaEaomO,
Deite SacieM. e deite Associazioni commerdali, 6? ed., 89). Todavia, casos há em que a mudança ou
a assunção de nôvo fim não é definitiva.
Oobjeto da sociedade pode estar ligado ao nome, ou a um dos nomes, que se inserem na firma. Nas
sociedades em nome coletivo surgem problemas, como o de continuar o objeto e ter de ser retirado
o nome. Tem de ser observado o art. 72 do Decreto n. 916: “É proibida a aquisição de firmas sem a
do estabelecimento a que estiver ligada”. Acrescenta o parágrafo único: “O adquirente por ato inter
vivos ou nwrtis causa poderá continuar a usar da firma, antecedendo-a da que usar, com a
declaração sucessor de...” O fundo de empresa bá de ser transferido e, pois, conservado o objeto da
sociedade. O passado, no tocante ao sócio ou sócios, que foram retirados, por morte ou outra causa,
apenas é lembrado. Se a permissão foi para a firma atual, ou para ela e sucessoras, há valor
patrimonial que pode ser matéria de ações dos credores, com o propósito de exercício do direito
oriundo da outorga do poder de referência. A renúncia ao direito pode ser tratada como qualquer
alienação proibida, ou alienação ineficaz perante os credores concursais.
2.CAPITAL. Nas sociedades em nome coletivo, o capital é fixo. Nenhum dos sócios pode retirar
aquilo ou parte daquilo com que entrou para a sociedade, ou teve depois de acrescentar ã entrada,
conforme o contrato ou modificação do contrato. Se o valor do ativo social desce a menos do que
compõe o capital, tem de ser restabelecido antes de qualquer distribuIção de lucros. Dir-se-á que
isso é sem grande alcance, porque todos os sócios, na sociedade em nome coletivo, respondem
ilimitada e solidàriamente. Mesmo diante de tal argumento, rege o princípio do capital. Quem retira
lucro que devia encher o capital diminuído injustificadamente o retirou.
Se no contrato foi inserta a cláusula de retirada fixa, mesmo se não houve, no período, lucros que o
permitam, a única dificuldade consiste em se afirmar ou em se negar a oponibilidade a terceiros. A
falta de publicidade teria como conseqüência responder-se negativamente: não se poderia opor a
terceiros aquilo que êles desconheciam.
Se do contrato social registado consta a cláusula, o que em verdade se permitiu foi eventual
diminuição do capital, o que atenua o principio da fizidez do capital.
3.DURAÇÃO DA SOCIEDADE EM NOME COLETIVO. O Código Comercial, art. 302, inciso 6, exige
que constem, “não sendo a sociedade por tempo indeterminado, as épocas em que há de começar e
acabar, e a forma da sua liquidação e partilha”. Se nada se estabeleceu quanto à duração, é por
prazo indeterminado a sociedade em nome coletivo. Há vantagens em se prever algum termo, ou
condição, com ou sem prorrogabilidade, porém a lei não afasta a indeterminação do tempo para a
atividade social. A prorrogação é por tempo indeterminado, se o contrato não a fêz igual prazo, ou
maior ou menor.
No direito brasileiro, a falta de cláusula de duração (termo final ou condição final) não faz
irregistável o contrato de sociedade (cf. Código Comercial, arta. 301 e 302, inciso 6; Decreto n. 916,
de 24 de outubro de 1890, art. 11).
Diferente a solução da doutrina italiana com base no art. 2.295, 9), do Código Civil italiano, relativo
à sociedade em nome coletivo (“la durata della società”). Cf. ANTONIO I3RUNETTI (Trattato dei
fliritto deite Societá, 1, 463), que, sem razão, reputa elemento necessário da individuação do escopo
social a indicação do extremo cronológico.
4.SEDE. Tem de constar do contrato a sede (Decreto ii. 916, de 24 de novembro de 1890, art. 11),
inclusive das filiais (art. 11, Ii), sucursais e agências. Na sede da sociedade, está o centro da
organização e corresponde ao domicílio da pessoa física. Os seus administradores ou pessoas a
quem o contrato ou os estatutos dêem poderes de presentação ou de representação é que têm de
ser citados e a competência judicial conforme o domicílio é determinada pela sede (cf. Código de
Processo Civil, art. 86). Se acaso a alguma sociedade falta a personalidade jurídica, a competência é
conforme o lugar em que está a sede ou onde se exerce a atividade social, de modo construtivo.
Cumpre observar-se que não há qualquer razão para se falar de domicilio e de residência, tratando-
se de pessoa jurídica. O segundo conceito é peculiar à pessoa física (Código de Processo Civil, arts.
134, § 1.~, e 142). Nem se há de discutir se a sociedade tem de escolher como sede o lugar onde
efetivamente toma sede. Ora, a sede resulta da publicidade; portanto, do registo (com razão, KARL
WIELANP, Handelsrecht, 1, 171, contra H.
Pode dar-se mesmo que não exista qualquer sede e se aleguem aparências ou meros indícios.
5.PARTE NOS LUCROS E PERDAS. A parte dos sócios nos lucros e nas perdas não é
necessAriamente proporcional às suas entradas. Apenas é o que se há de entender se o contrato
social nada estabeleceu. Tem o sócio gerente de distribuir o total dos lucros, deduzidas as despesas
que foram feitas.
O sócio gerente somente está adstrito à reserva de fundos se o contrato disse como se faria, ou se se
teria de fazer, ou houve deliberação unânime dos sócios.
1.CONSENSO DE TODOS Os SÓCiOS. As alterações do contrato social somente podem ser feitas
pela vontade unânime dos sócios. A maioria somente pede deliberar quanto aos negócios de
administração ordinária, isto é, quanto à gestão normal da sociedade. No tocante a interpretação do
contrato social, pode a maioria decidir (cf.
CESARE VFVANTE, Trattato di Diritto Commerciale, II, 5.~ ed., 95). O que era ins dispositivum, ou
jus interpretativum, foi querido pelos sócios, com unanimidade.
2.SUBSTITUiÇÃO DE SÓCIO. Se algum sócio se faz substituir com o unânime consentimento dos
outros, há modificação do contrato social, e não outro contrato social; salvo se o contrato o proibia,
ou se não foi respeitado no que exigia. Convêm, porém, para se evitarem dificuldades de ordem
fiscal, que se insira no contrato a cláusula explícita sobre a substituibilidade como apenas
modificadora do contrato. Não é nula a cláusula de suficiente consentimento majoritário; nem
desnatura o contrato. Também pode ser inserta a cláusula de redistribuição das contribuições.
Qualquer dessas cláusulas só-mente é eficaz contra terceiros se foram observadas as mesmas
formalidades, inclusive registárias, que se exigiram para O contrato social.
Não atinge a sociedade o negócio jurídico entre sócios pelo qual um dêles cede a outro ou a outros
algum ou alguns dos seus direitos. Pode ocorrer, aí, subsociedade.
3.CLÁUSULA EVENTUAL DE SUBSTITUIÇAO. O contrato social pode prever que, em caso de morte,
ou de incapacidade superveniente, ou de impossibilidade física ou intelectual de trabalhar, os
membros da família ou pessoa indicada pelo sócio, com a aprovação dos outros sócios, ou herdeiros,
se substitua na quota.
Se se previu a duração da sociedade em nome coletivo e ainda não expirou o prazo, podem os
sócios, por unanimidade, ou conforme a cláusula que hajam inserto no contrato social, ou em
modificação, prorrogá-la. Não há prorrogação se já se venceu o prazo. Tratar-se-ia de renovação ,
quer no plano do direito privado quer no plano do direito fiscal.
Durante o tempo em que a sociedade em nome coletivo não-regista exerce a sua atividade normal,
os direitos e deveres dos sócios são os que resultam do contrato social. Quanto aos terceiros, devido
à tipicidade da sociedade em nome coletivo, pode ser-lhes exigida a prévia excussão do patrimônio
social, mesmo se êles não conheciam os termos do contrato. A responsabilidade dos sócios é
ilimitada e solidária A solidariedade é com a sociedade, 1
Pode ocorrer que, não obstante a firma parecer de sociedade em nome coletivo, o contrato contenha
cláusulas que retirem à sociedade que se cria, a classificabilídade como sociedade em nome
coletivo. Então, para que essa deturpação Possa atingir interesses de terceiros, é preciso que esses
hajam conhecido o contrato, com as suas cláusulas deformantes.
As modificações do contrato que sobrevieram antes do registo não são oponíveis aos terceiros que
somente conheceram o contrato originario
Antes da Personificação, há esfera jurídica patrimonial, sem que se Possa excluir que os sócios são
os donos do patrimônio. ~ o que se passa nos sistemas jurídicos que recusam personalidade às
sociedades em nome coletivo (cf. SALVATORE PUGLYATTT ~1i Istituu di Diriuo Civile, 1, 300 s.). Já
se protegem os terceiros (cf. OSSÂR
Prsxo, Lehrbucn des ôsterreichischen Ilandeigreenis 354), razão por que a separação é mais
perceptível de fora do que de dentro. Cumpre evitar-se confusão com os sistemas jurídicos, como o
italiano, que negam a personalidade das sociedades em nome coletivo.
A medida de participação dos sócios, na sociedade em nome coletivo, é quota de valor, e não quota
em natura, como ocorre na comunhão conjugal de bens e na compropriedade. Não há
disponibilidade da parte; há unidade coletiva, para todos os sócios. Uma das conseqüências é a
impenhorabilidade do patrimônio social pelos credores do sócio, se há, para êsses, a eficácia da
separação (houve o registo, ou êles contaram, de boa fé, com isso).
Enquanto a sociedade em nome coletivo não se personifica, os sócios são partes nas ações em que é
parte a sociedade, sem que isso possa excluir a proteção legal dos terceiros de boa fé, que são
partes adversas e contaram com a personificações , pôsto que não se tivesse feito o registo. Só o
sócio presentante ou os sócios presentantes podem propor, em nome da sociedade, as ações, ou
defender-se nelas, porém é indispensável, por fôrça de lei, que juntem o contrato escrito, embora
não registado. Qualquer sócio pode ser citado para a matéria da sua responsabilidade ilimitada e
solidária. Confissões pela sociedade só as podem fazer os sócios presentantes.
Se há ação contra a sociedade e ação contra o sócio, por se ter afirmado a sua responsabilidade
ilimitada e solidária, há lítispendência, e cabe a exceção (cf. Código de Processo Civil, art. 166, TI).
Enquanto não se regista o contrato da sociedade comercial , os sócios não podem alegar eficácia do
contrato como gerada de sociedade. Os terceiros, êsses, têm ação contra os sócios (Código
Comercial, art. 301, alínea
3 a> e
contra a sociedade (art. 304), cuja existência pode ser provada por todos os meios de prova,
inclusive por presunção, de que, exemplificativamente, cogita o art. 305. Tem-se, porém, de
interpretar o ad. 301, alínea
3 a,
que liga ao registo a existência da sociedade, como referente à existência da pessoa jurídica, e não
da comunidade de bens que se haja estabelecido. Por isso, no art. 303, se ajude ao “instrumento
probatório da existência da mesma sociedade”, sem que se aluda ao registo. A interpretação que
equiparava “existência” e
Durante o tempo em que a sociedade em nome coletivo não é pessoa, as lides entre cada sócio e ela
não são, em verdade, contra ela ou promovidas por ela: a relação jurídica processual é entre o sócio
e os outros sócios (KÂRL
HEINSEBIMER, Zweiparteienptqzip 40 s.), pôsto que possa figurar o sócio gerente, com poderes de
presentação.
A questão é, necessàriamente, sobre o contrato e o cumprimento dos deveres que dêle se irradiam,
porque, se isso não ocorre, o sócio não figura como sócio, mas sim como terceiro. O sócio ou os
sócios, a que foi outorgado poder de presentação, antes da personificação da sociedade, receberam,
com exclusividade, o que tocaria 1
a todos, se o contrato não o houvesse previsto; por isso, só o registo pode afastar a distributividade,
para todos, dos poderes, ou, em caso de não se ter registado o contrato, o contrato com terceiro, de
boa fé.
CAPÍTULO III
dolo, para que vicie, tem de partir de outro contraente, sem que precise provir de todos. Se o dolo é
de estranho, não atinge o contrato de sociedade, salvo se algum dos contraentes o conheceu (Código
Civil, art. 95>. O êrro eo dolo não podem ser alegados contra terceiros, que sejam credores da
sociedade. Quanto à simulação, pode dar-se que se aparente o intuito social e em verdade o que se
tenha por fito seja lesar o fisco,ou, por exemplo, dar aparência de sociedade ao que não passa de
empresa individual de quem não pode exercer o comércio.A sociedade pode ter sido constituída para
dissimular empréstimo usurário, ou contrato de trabalho ilícito, ou transferência ilegal de direitos,
ou apenas haver, contra lei, entre os figurantes algum testa-de-ferro.
2.PRESTAÇÕES nos sócios. As prestações dos sócios podem ser em dinheiro, ou em quaisquer
outros valôres, ou em serviços, como é o caso da sociedade em nome coletivo para a exploração de
determinada indústria, para a qual a atividade técnica de um dos sócios pode ser de alta relevância.
A responsabilidade é ilimitada e solidária, a despeito de um ou alguns dos sócios não entrarem com
valor em bens.
Os sócios não são vinculados a entrar para a sociedade com contribuições novas, salvo se o próprio
contrato previu futuras prestações.
taxas, contribuições, contratos, atos ilícitos relativos ou absolutos). Ilimitada, como é, por lei, a
responsabilidade perante terceiros é irrestringível pelos sócios.
Os terceiros têm de exercer a pretensão primeiro contra a sociedade. Depois, podem exercê-la
contra os sócios. O
art. 350 do Código Comercial e o art. 1.396 do Código Civil não têm a mesma explicitude no tocante
à necessidade da execução dos bens da sociedade, mas a interpretação é a mesma. Primeiro hão de
ser executados os bens sociais.
Nas sociedades em nome coletivo, a firma significa, por si só, que há solidariedade ilimitada e
solidária dos sócios. Donde a invariabilidade do tipo (KARL HEINSHEIMER, Htkfldelrnh.t, ~ ed.,
59). A relevância da firma, como reveladora de, pelo menos, o nome de um sócio, é tão alta que
estranho não pode ser gerente. Por outro lado, o que se há de entender é que todos os sócios têm
dever e direito de participar da administração (J. FR.
Os bens do sócio ficam sujeitos à execução, “nos termos da legisla o civil e comercial” (Código de
Processo Civil, sul. 888, II). Os credores, que obtiveram sentença de eficácia executiva contra a
sociedade, se não há patrimônio social, ou ae é insuficiente, podem executar os bens dos sócios. Já
assim era no Reg. n. „737, de 25 de novembro de 1850, arts. 492, § 8.¶ e 497.
Quer se trate de ação executiva de sentença quer de ação executiva de titulo extrajudicial, é preciso
que se tenha ato judicial de que conste não existirem ou serem insuficientes 05 bens da sociedade.
Se houve sentença com eficácia executiva e sobreveio tal alegação e prova na execução contra a
sociedade, a ação executiva pode prosseguir contra o sócio ou contra os sócios. Se a ação executiva
não era de sentença, tem-se de suscitar o litisconsórcio passivo, se ainda não houve sentença cc
condenação trânsita em julgado. O litisconsórcio é facultativo próprio (Código de Processo Civil, art.
88, alínea 1a , 2a parte, e alínea
sócios têm o benejicium excussionis (Código de Processo Civil, art. 897), podem atacar a alegação
de inexistência ou insuficiência dos bens da sociedade, inclusive exercer pretensão recursal contra
decisão judicial.
A propositura da ação contra a sociedade interrompe a prescrição da ação contra os sócios (Código
Comercial, art. 454, a parte: “Excetuam
2~
-se os sócios, contra os quais ficará interrompida a prescrição sempre que um dos sócios fôr pessoal-
mente citado ou intimado do protesto”; Código Civil, art. 176, § 1.0, 2.a parte: “a interrupção
efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros”.
pertence ao número de sócios e não só porque apareceu ao público como sócio. Ésse ponto é assaz
relevante, porque supôe resposta à questão de estar a ratio legis ligada a) à proteção dos terceiros,
ou b) consistir em que se apenas se explicita que hão de ser tratadas como sócios tôdas as pessoas
que são sócios. Segundo b), é indiferente conhecer o terceiro, ou não conhecer, a existência de tal
sócio. Apenas se há de apurar, objetivamente, se a pessoa é sócio. O terceiro tratou com a
sociedade; portanto, quem é sócio, oculto ou não, tem de responder. Não foi com os sócios que
estêve em relação o terceiro,foi com a sociedade. Tem-se de repelir, portanto, a opinião dos que
consideram elemento necessário o fato da aparência. Sem razão, VIT‟PORIo SALANDRA (Società
irregolari e pubblicità di fatto, Foro italiano, 1930, 1, c. 961) e F. PESTALOZZA (II Socio di fatto
occulto, Rivista dei Diritto commerciaie, 1934, II, 482 s.). Certos, além 5. SOTOIÁ (Società
apparente e responsabiiitâ dei socio, 1
s.) e ENRICO SOPRANO (Trai tato teorico pratico deile Soeietà eommerciaii, 1, 157), LORENZO
MOSSA (Diritto Coinmereiaie, 1, 135), ANTONIO BRUNETTI (Trattato dei Diritto delie SacieM, 1,
529) e outros.
Ora, o emprêgo da expressão “responsabilidade subsidiária” há de ser para as espécies em que haja
benefício de prévia excussão, ou outra razão para se fazer principal a responsabilidade de outrem. A
responsabilidade do sócio é solidária e subsidiária, porque não se pode excutir o patrimônio de
qualquer sócio antes de se excutir o da sociedade. Dizer-se que é principal não é resposta admissível
à questão, porque ser direta a responsabilidade não significa ser, necessàriamente, principal. Não é
fidejussória, está certo. Nem no é, sequer, se a sociedade está personificada <sem razão, ANTONIO
BRUNETTI, Trattato dei Diritto deite SacieM, 1, 531 s.).
Devido à solidariedade dos sócios no tocante à sociedade. o credor pode ir contra qualquer dos
sócios, ou desistir da execução contra um e promovê-la contra outro, ou suspender contra um, ir
contra outro e volver à execução centra aquêle com que fôra antes.
Se a sociedade foi, dissolvida e liquidada, não mais há a personalidade jurídica, de jeito que os
credores podem ir diretamente contra os sócios, mas têm de atender a que a solidariedade é pelas
dívidas sociais.
Personificada a sociedade em nome coletivo, ou protegido o terceiro por ter admitido, de boa fé, que
a sociedade em nome coletivo existia e o contrato fôra válido, o registo protege o terceiro mesmo
em caso de ser nula ou anulada a manifestação de vontade um dos sócios, e os outros sócios
respondem ilimitada e solidàriamente, porque lhes incumbia velar pela feitura do contrato social
para que tivesse registo (cf. FELIX Moos, Die Interessenkonhiikte bei betriigerischen Abscklusst von
Geseilschaftesverírãgen, 34 s.).
A execução nos bens do sócio obedece a certos princípios em que se apoiam as regras de direito
material, regras que dM ao vencedor na ação a pretensão à cobrança, não ainda a de executar
nesses bens. Sempre que a responsabilidade pelas dívidas sociais existe, segundo o direito material,
existe pretensão do credor à condenação dêsse obrigado sócio e, em conseqUência, por fôrça do
Código de Processo Civil, ad. 888, II, a pretensão a executar nos bens do sócio a dívida social. Sem o
art. 888, II, ter-se-ia de primeiro propor a ação de condenação contra o sócio, depois da ação contra
a sociedade devedora, ou cumulada com essa.
A atuação do art. 888 do Código de Processo Civil ê a de criação da pretensão à execução nos bens
pessoais do sócio sem necessidade de tal ação prévia, figura muito diferente da que se observa no
ad. 887, parágrafo único, e Código Civil, art. 1.495, em que há substituIção subjetiva, e não só açá.
própria contra outra pessoa. Se o sócio tem a responsabilidade, cabe-lhe o beneficium ecccussion is,
o que não depende do direito material, uma vez que o ad. 888, nesse ponto, não reenviou a êle.
Pode, nos embargos à penhora, levantar a sua exceção de excussão, se a tem em virtude do direito
material respectivo (arg. aos arts. 897 e 1.010, II, que é exemplificativo), e, antes disso, em virtude
de o art. 888, TI, apresentar o seu requerimento obstativo da imediata penhora (arg. ao ad. 928,
parágrafo único). Assunto de direito pré-processual, pode ser trazido a exame antes da defesa
(embargos do executado), (art. 1.010, III).
Se a sociedade é irregular, os arts. 888 e 897 , porque a execução pode ser direta, por fôrça mesmo.
Em vez de ser responsabilizada ao lado, como, de regra, ocorre com os sócios que o direito material
tem como responsáveis , a sociedade irregular é transparente e deixa ver, de frente, os sócios
responsáveis pela obrigação.
O benefício de excussão é, no art. 897, personalis, e a regra jurídica do Código de Processo Civil,
art. 897, nada tem com a legitimação passiva dos sócios. Sempre que se podem executar bens dos
sócios por dívidas da 1
sociedade o que o art. 897 supõe cabe ao sócio o benefício, a que corresponde exceção. O art. 897
não confere ao executante pretensão a executar bens dos sócios. O princípio que regeria a espécie
seria o ad. 888, II. Aqui, o art.
Se a sociedade não tem bens suficientes e sócios se retira rir, ostensivamente, mas continuaram a
operar na sociedade, os bens dêles podem ser penhorados (L~ Turma do Supremo Tribunal Federal,
27 de outubro de 1949, R. dos 7‟., 204, 683).
5. LucRos E PERDAS. No direito brasileiro, em regra de iva dispositivum, a distribuição dos lucros e
perdas é proporcional às contribuições dos sócios, conforme a tradição franceia e a suíça; e não por
pessoa, que é o sistema alemão. A autonomia da vontade tem de abster-se de cláusulas ou pactos
leoninua. Para se saber se há ofensa ao art. 1.378 do Código Civil, não basta a apreciação só
aritmética; pode haver espoliação por exclusão qualitativa.
Quanto à cláusula de percepção mínima (e. g., o sócio A recebe, pelo menos, periodicamente , x),
que se inquina de conter implicitamente a cláusula de não-participação nas perdas, somente
podemos considerar válida se o mínimo é tão baixo que, com êle, não haveria passivo maior do que o
ativo. Dá-se o mesmo em se tratando de participação relativa à renda de determinada prestação (e.
g., imóvel em que se instala a sociedade). Se a renda é, conforme o tráfico, inferior à que perceberia
o sócio se explorasse o bem, ou se o alugasse, não seria inválida, saber se a diferença implicasse ser
leonina a cláusula.
Todos os sócios têm direito à partilha dos lucros verificados durante dado período, levando-se em
consideração o estado do patrimônio social no fim do ano e o estado do patrimônio no ano
precedente. Dá-se o mesmo no tocante às perdas. No contrato social diz-se como se repartem os
lucros e as perdas.
1.DISTRIBUIÇÃO DAS FUNÇõES. A atividade dos sócios gerentes pode ser distribuída conforme a
extensidade e a intensidade das funções, ou conforme as espécies de atos externos, ou internos. ~
estipulável que para os atos sejam exigidas as assinaturas ou manifestações de vontade, expressas
ou tácitas, de todos os sócios, ou de alguns dêles. Se a cláusula é concernente à vida interna da
sociedade, não importa aos terceiros.
O sócio gerente não pode praticar atos que fiquem fora do âmbito dos poderes de sócio gerente: se
os pratica, há excesso de poder. Isso não significa que, embora dentro do âmbito dos poderes, não
possa haver abuso por parte do sócio gerente, como se violar as precisas instruções que receberam
dos outros sócios.
Se o sócio gerente pratica ato de gerência em nome e por conta da sociedade, mas o benefício da
operação é para êle, usa implicitamente da firma social.
Se, em vez disso, ultrapassa os poderes que tem, embora verdadeiramente em nome e por conta da
sociedade, excede os limites do que lhe cabia. No tocante a terceiros, as espécies têm trato
diferente, porque, ali, só a má fé, por parte do terceiro, e. g. o conluio, poderia ser alegada pela
sociedade contra o terceiro. Aqui, o principio de publicidade resguarda a sociedade.
2.PREcIsÕEs. Os sócios que administram a sociedade em nome coletivo dizem-se sócios gerentes,
ou, simplesmente, gerentes, o que é termo ambíguo, chamados, em outro tempo, caixas (JOSÉ DA
SILVA LISBOA, Princípios de Direito Mercantil l, II, 501). “Sócio gerente” é o que convém que se
empregue, porque há “gerente” empregado, preposto, e “caixa”, que também o e.
O sócio gerente é órgão, presenta a sociedade. Pode dar-se que todos os sócios sejam sócios
gerentes, singular ou coletivamente. Se no contrato de sociedade não se disse quem teria a gestão
dos negócios da sociedade, o que se há de entender é que todos têm a gerência (Código Comercial,
art. 316,
2 a alínea).
Pode dar-se que o ato do sócio gerente seja eficaz em relação a terceiro e seja danoso para os outros
sócios ou para a sociedade. Então, à qualquer daqueles ou a essa cabe a pretensão à indenização.
3.SóCIO GERENTE E PODÊRES DE GESTÃO. A sociedade em nome coletivo fica sob a gerência de
todos os sócios, ou só de alguns, ou de um. Se o contrato social não designa qual o sócio que gere,
ou quais os sócios que gerem, há o ins dispositivum do art. 316, alínea
Quem é sócio gerente pode usar a firma social. Quem é sócio sem ser gerente, não.
O sócio gerente pode ser gerente estatutário, pois que o contrato social o nomeou, ou não-
estatutário, se escolhido depois. Seja como fôr, é comerciante, por extensão do conceito (em
verdade, não é êle quem comercia, é a sociedade). Quer estatutário quer não, o sócio gerente
presenta a sociedade na vida jurídica, desde que respeite os limites dos seus poderes. O uso da
firma social prova que tratou em nome da sociedade, e não no seu próprio.
Não é a prova única, pois pode resultar de outras circunstâncias (e. g.. estava sentado no escritório
principal e o terceiro foi apresentado pelo empregado ao sócio, como sócio gerente).
Quando a sociedade em nome coletivo tem dois ou mais gerentes, qualquer dêles tem os poderes.
Quanto aos poderes, o que importa é o objeto social. O sócio gerente do armazém de secos e
molhados pode adquirir
imóvel; não, porém, alienar. Tão-pouco, seria admissível que hipotecasse o prédio. De qualquer
modo, ~
cláusulas que restringem os poderes do sócio gerente somente podem ser opostas a terceiros se
constam do registo.
Se o sócio se faz substituir, a substituição não entra no mundo jurídico, porque é afastado por lei
qualquer poder para isso.
sócio gerente somente não vincula a sociedade se. terceiro é cúmplice, ou obrou com dolo, para que
ficasse responsável a sociedade ou outro sócio.
O sócio gerente pode contratar consigo mesmo, conforme os princípios (Tomos 1, § 91, 8; III, § 318;
XV, § 1.756, 8; XLIII, §§ 4.684, 5, e 4.722, 3; XLIV, § 4.759, 2, e 4.777, 5). Aliás, o próprio Código
Comercial, art. 349, refere-se a empréstimos feitos pelo sócio à sociedade.
A procuração passada pelo sócio gerente é eficaz, mesmo se falece o sócio, porque não se trata de
falecimento da mandante (mandante foi a sociedade, e não o sócio gerente que faleceu). Cf. Relação
do Rio de Janeiro, 11 de maio e 3 de agôsto de 1886, e Supremo Tribunal de Justiça, 9 de fevereiro
de 1887 (O li., 42, 839-346).
A gestão externa pode ser conjuntiva ou disjuntiva. Se só dois, ou mais, ou todos os sócios têm de
funcionar na presentação da sociedade, há a conjuntividade, que tem de constar do contrato de
sociedade e do registo. Se um só, ou dois, ou maia sócios, ou todos podem ter a atividade
presentacional, mesmo separadamente, há a disjuntividade.
A sociedade em nome coletivo tem direitos, pretensões e ações e assume deveres, obrigações e
legitimação passiva nas ações. Os titulares de tais direitos e deveres não são os sócios, se já há
personalidade jurídica. Se ainda não se personificou a sociedade em nome coletivo, há. sociedade
não-personificada, que de modo nenhum se pode identificar com a soei et as romana, porque se
intercalou, histórica e juridicamente, o conceito de mão-comum.
Os sócios que presentam a sociedade em nome coletivo são os que foram indicados no contrato
social, para funções conjuntas ou distributivas, ou, se não houve discriminação, todos. No contrato
social pode haver diferenciação por matérias.
O momento em que se inicia a presentação da sociedade em nome coletivo é ou a) o momento da
conclusão do contrato, com a eficácia imediata, ou o em que se há de poder exercer a gestão nas
relações jurídicas externas, ou b) o momento em que o sócio gerente, ou um dos sócios gerentes, ou
os sócios gerentes começam a sua atividade.
Há, portanto, diferença conceptual entre a) e b). Se ainda não houve registo, somente se pode
alegar contra terceiro a inobservância de cláusulas contratuais se o terceiro as conhecia. Para êle,
dispositivamente, todos os sócios podem ser tidos como gerentes. Com o registo, pode isso ser
inteiramente afastado.
A sociedade em nome coletivo não assume responsabilidade pelos atos dos seus sócios a que não são
outorgados os poderes de presentação, exceto nos casos de enriquecimento injustificado, ou de
gestão de negócios alheios com a sua ratificação. Se o sócio gerente, ou qualquer dos sócios
gerentes, que tenha poderes, obrou com uso da firma, mesmo em negócio seu ou de terceiro, mas
dentro da atividade social prevista no contrato, a sociedade está 1
Se o contrato de sociedade em nome coletivo não foi registado, nem por isso está privada de receber
deixas testamentárias ou doações, por analogia com o caso do nascituro (Código Civil, arts. 1.718 e
1.169). A firma social já a individua (cf. JULIUS FLEOHTREIM, em DÚRINGER-HACHENBURG, Das
Handeisgesetzbueh, II, 2, 653, que dá como fundamento a individuação através da firma social, o
que não nos parece bastante). A sociedade em nome coletivo ainda não registada pode comparecer
em juízo, como autora ou como ré, desde que sócio, com poder de presentação, o exerça. A situação
jurídica é simétrica à da massa falida ou à de outra massa concursal, à da herança e ã dos bens
arrecadados do defunto sem herdeiros (cf. Código de Processo Civil, art. 85; Código Civil, arts.
1.591-1.594). O sócio gerente, ou os sócios gerentes, na presentação conjuntiva, têm os poderes que
foram outorgados no contrato.
A substituição do sócio, ou dos sócios, que há de ser de acôrdo com o contrato social, ou por
modificação, não dá ensejo à suspensão da instância (cf. Código de Processo Civil, art. 197), mesmo
se por morte, porque o sócio gerente não é“procurador” da sociedade. O sócio gerente não pode ser
testemunha no processo em que a sociedade é parte, porque ela está presentada por êle; mas, em se
tratando de sociedade em nome coletivo, nenhum sócio o pode ser, pela profunda ligação do seu
interesse com o da sociedade (VifiGILIO ANDRIOLI, Commento ai Codice di Procedura Civile, 1,
508; ~f, 3Y ed., 198; sem razão, SALVATOBE SArrA, Guida pratica per ii nuovo processo civile
italiano, 66).
Se a presentação da sociedade tem de ser conjuntiva (por dois ou mais sócios, ou por todos, ou por
maioria), é preciso que conste do registo para que haja eficácia em relação a terceiros. Isso não
significa que em pré-contrato do terceiro com a sociedade não se possa estabelecer que o contrato
tenha de ser assinado por mais sócios do que aquêles que, pelo registo, teriam poderes de
presentação.
2 a Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 26 de outubro de 1934, 1?. dos 2‟., 96, 125;
Côrte de Apelação do Distrito Federal, 19 de julho de 1933, e 5 de maio de 1935, A. J., 30, 343; ~
Câmara Cível, 7 de janeiro de 1935, 1?. dos T., 97, 238; 6.~ Câmara Cível, 9 de outubro de 1937. R.
9., 73, 85; 4~a Câmara Cível, 21 de janeiro de 1943; mesmo se dois presentaram, 63 Câmara Cível,
1.0 de agôsto de 1950, 139, 219; g~a Câmara Cível, 20 de março de 1951, 147, 246; em geral 4~O
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 2 de maio de 1934, 1?. de D., 114, 418).
Se o ato jurídico negócio jurídico ou ato jurídico stricto sensu cabe no âmbito da atividade social, a
sociedade responde, mesmo, por exemplo, em caso de fiança (33 Câmara Civil do Tribunal de Justiça
de São Paulo, 4 de março de 1958). Aliter, se não cabe (43 Câmara Civil, 2 de maio de 1234, 1?. de
li., 114, 418; 13 de março de 1935, R. dos 2‟., 97, 402; 30 de agôsto de 1939, 1?. de D. C., 10, 169).
O sócio que exorbitou dos poderes não pode alegar o próprio abuso da firma (23 Câmara do Tribunal
de Alçada de Sto Paulo, 8 de outubro de 1952, R. dos 2‟., 206, 474, 1?. F., 150, 310).
Contra o sócio que abusa da firma social há a ação de indenização dos outros sócios ou do outro
sócio. Se houve restrições aos poderes, não podem ser alegadas contra terceiros de boa fé. A
publicidade das restrições não pré-exclui a vinculação da sociedade, porque se trata, no tocante a
sociedades de responsabilidade ilimitada, de pré-exclusão fora de uso. O que se passa, no direito
brasileiro, é que à sociedade fica o ônus de alegar e provar a má fé, por parte do terceiro
(divergentes, com opiniões entre si também divergentes, J. X. CARVALHO DE
1.RELAÇÕES JURÍDICAS INTERNAS. As relações jurídicas intentas são relações jurídicas que quase
só se referem à organização social. Sem ação unitária, para que se possa atingir o fim comum, não
haveria laço social entre as pessoas físicas, ou entre pessoas físicas e pessoas jurídicas, ou entre
pessoas jurídicas. Nas sociedades em nome coletivo, as relações jurídicas internas são apenas entre
pessoas físicas. Tais relações jurídicas são entre os sócios, ou entre sócio ou sócios e a sociedade.
Existem essas, mesmo se a sociedade ainda não se personificou. Já houve a contribuição de
patrimônio separado e já há atos da entidade coletiva ainda não-personificada. Desde que se
estabeleceu o regime da mão-comum, há devedores e credores da sociedade, a despeito de ainda
não haver a personalidade jurídica. No regime da comunhão conjugal de bens, pode haver direitos e
dívidas de um dos cônjuges perante o casal. A despeito de estarem em comum os interesses dêles,
um dêles pode ter interesse contra a comunidade, de que faz parte. Apenas, temos de sublinhar que
a fonte, nas duas espécies, é contratual, mas pode 1
Não há regra jurídica explícita sobre a proibição de o sócio, na sociedade em nome coletivo, ser
sócio de outra sociedade em nome coletivo, ou que explore o mesmo negócio, salvo consentimento
de todos os sócios. Porém é tão profundo o dever de colaboração dos sócios da sociedade em nome
coletivo que se há de considerar implícito no sistema jurídico, como iss dispositivum, o princípio. Há
dever de fidelidade, que não permitiria a livre assunção de atividade em concorrência. Até certo
ponto, há contradição em competir e colaborar. Se o sócio infringe o dever de abstenção infrigiu o
de colaborar e tem de indenizar a sociedade dos danos que resultaram.
2. RELAÇÕES JURÍDICAS DOS SÚCIOS ENTRE SI. O contrato de sociedade em nome coletivo tem
de dizer qual a situação jurídica entre os sócios. A responsabilidade solidária é elemento essencial
ao tipo do contrato. A solidariedade é com a sociedade. Se algum dos sócios respondeu pela
sociedade, há a sub-rogação pessoal, de modo que pode êle ir contra os outros sócios, conforme o
que cada um teria de pagar, isto é, conforme as quotas.
Se algum sócio contratou com a sociedade, pôs-se na situação jurídica de terceiro e tem pretensão
contra a sociedade, a cuja responsabilidade corresponde a dos sócios, incluido êle mesmo, conforme
as respectivas quotas.
Os direitos dos sócios que não são sócios gerentes são, principalmente, os de participar das
deliberações da sociedade, cada um com o seu voto. Para matérias que não implicam modificação do
contrato social, sé se exige para deliberação a maioria, que, nas sociedades em nome coletivo, é a
maioria dos sócios, e não pelas quotas.
Uma vez que os credores podem propor ações para execução em todos os bens da sociedade,
qualquer sócio pode arrastar ou penhorar bens de outro ou de outros sócios que bastem para que se
satisfaça a pretensão da sociedade à quota ou ao restante da quota do sócio ou dos sócios
devedores. Trata-se de patrimônio social e os créditos estão insertos nêle. Discute-se, porém, se a
ação é ação direta, ou se é ação sub-rogatória.
255
A ação é direta, porque o sócio deixou de prestar, para o patrimônio social, o que prometeu, o que
faria qualquer outro sócio responsável (cf. Código Comercial, art. 289, 3.a parte).
Se sócio, cujo nome está inserto na firma social, falece ou sai da sociedade em nome coletivo, tem-se
de alterar o contrato social para que se retire o nome de quem não mais é sócio e de se fazer a
anotação no registo. No Decreto n. 916, de 24 de outubro de l89O~ art. ~ diz-se claramente:
“Modificada uma sociedade pela retirada ou morte do sócio, a firma não poderá conservar o nome
do sócio que se retirou ou faleceu”. Acrescenta-se no parágrafo único: “A pessoa que emprestar o
nome como sócio, ainda que não tenha interesse nos lucros da sociedade, será responsável por
tôdas as obrigações da mesma sociedade que forem contraídas sob a firma social”. Ao contrário
disso, no Código Civil italiano, art. 2.292, alínea 2~a, diz-se: “La società puô conservare nella
ragione sociale il nome deI socio receduto o defunto, se il socio receduto o gli eredi del socio
defunto vi consentono”. A razão, que se invoca, para tal regrá jurídica, seria a de que a retirada do
nome pode prejudicar no tocante à clientela e não haver, com a publicação da saída ou do
falecimento, risco de responsabilização do sócio que se retirou ou dos sucessores do morto.
Se personificada, adquire direitos e assume deveres com o emprêgo da firma social. Tem
legitimação processual ativa e passiva e pode figurar em qualquer negócio jurídico, inclusive
acôrdos de transmissão ou de constituição de direitos reais.
Perante terceiros, a sociedade em nome coletivo não exibe somente o seu patrimônio, mas, sim,
também os dos seus sócios, que são responsáveis em caso de insuficiência do patrimônio social.
5.DIREITos DOS SÚCIOS À PARTE NOS LUCROS. Os sócios têm direito às que lhes correspondem,
nos lucros como quotas nas perdas, sem que tenha de haver igualdade percentual entre a quota da
entrada e a quota nos lucros.
Somente pode haver divisão de lucros obtidos (em bens corpóreos, ou incorpóreos, em créditos,
pretensões ou ações). Se houve perda do capital e houve lucros, com êsses se há, primeiro, de
integrar o capital, salvo se os sócios preferem reduzi-lo, o que pode depender de modificação do
contrato de sociedade em nome coletivo. Os 1
credores podem opor-se a que se distribuam lucros sem se integrar o capital, sempre que, com a
redução, seriam ou poderiam ser prejudicados.
6.RELAÇÕES JURÍDICAS EXTERNAS. A escolha do sócio gerente tem por fim evitar erros,
desatenções e eventual inexperiência dos negócios, por parte de alguns sócios. Cresce de pronto
essa razão se se exige a presentação conjuntiva que é mais do que a consulta. A consulta, sem a de
conjuntividade fica só entre os sócios.
De qualquer modo todos os sócios são responsáveis inexceptuàvelmente , sem limitação e com
solidariedade A propósito da p resentacão, deve-se evitar por exemplo, a respeito das substituições
(Código Civil, ad. 1.304; Código Comercial, ad. 147) interpretação analógica com o mandato. Há
princípios gerais, que mais atendem à natureza da gestão social (cf. J. v. SCHEY, Pie Obligationsver
617; ARTURO CAnn‟o, La Procura collettiva, 82 s.). Ou há cláusula de conjuntividade ou não há, que
é o que dispositivamente se há de entender Se há, nenhum dos sócios presentantes pode fazer-se
substituir, ou renunciar à Presentação conjuntiva.
Se o ato é, por uso do comércio, ou civil local, praticável por um so dos soclos gerentes, pôsto que
coni a tácita manifestação do outro ou dos outros, como se as vendas têm de ser com a manifestação
de vontade conjuntiva e um dos sócios gerentes no balcão, ou noutro lugar próprio, alienou e fêz a
tradição, tem-se de admitir que se satisfez o requisito da conjuntividade Afaste-se, porém, a
afirmação de que há, na espécie , substabelecimento tácito, ou delegação tácita.
O contrato de sociedade pode estabelecer que os sócios presentantes somente outorguem poderes
de representação da 50ciedade a um procurador (Código Comercial alemão, § 125>.
2 a alínea). Se há contrato com cláusula diferente, ainda não registado, e o terceiro o ignora, tem
êsse de considerar legitimados à presentação qualquer dos sócios que trate dos negócios.
Se a sociedade em nome coletivo tem interesse em contrato consigo mesma, podem os sócios
presentantes concluí-lo. Se e sócio presentante é que tinha o interesse, e não a sociedade, é ineficaz
o cóntrato, porque o sócio presentante excedeu os seus poderes. Se há conjuntividade têm de
figurar todos os outorgados à Presentação. A ação para que se declare a ineficácia do negócio
jurídico ou do ato jurídico síricto sensu pode ser proposta pela sociedade, ou por algum dos outros
sócios, salvo se a sociedade ou os outros sócios tinham conhecimento do confIRo de interesses
As causas da revogação podem ser previstas no contrato da sociedade, mesmo se não seria reputada
justa causa. A cláusula de restrição das justas causas ou cláusula da indicação exaustiva das justas
causas somente vale se não é atingida pelo art. 145, II, do Código Civil.
8.ATOS E5ONCLIJÍDOS SEM USO DE FIRMA SOCIAL. Na lei não se previu o caso de o sócio, sem
usar a firma ou nome coletivo, concluir negócio jurídico com terceiro, no interesse da sociedade.
Afirma-se que, ai, o sócio é que se vincula, ou se vinculam os sócios, mesmo se todos, se em nome
próprio negociaram (BERTOLINI Appunti didaltici di diritio romano, 795). No caso de um só sócio
figurar, só há a adio nego tiorum ou ação de enriquecimento0 injustificado se os pressupostos se
compõem; no caso de figurarem todos os sócios, há a responsabilidade pro rata. Temos de afastar
essas interpretações romanísticaS. Se o sócio pode presentar a sociedade e manifesta vontade, em
assunto que se há de considerar do interesse da sociedade, a sociedade responde.
Não pode ser gerente, no sentido de órgão para os atos com terceiros, pessoa estranha à sociedade.
Isso não significa que a sociedade não possa outorgar poderes de representação a pessoa que não é
sócio. O sócio é que pode ser o órgão, nas relações jurídicas externas. Daí a relevância da atividade
dos sócios, ou de alguns, ou de um, no funcionamento das sociedades em nome coletivo.
O ser sócio gerente de uma sociedade em nome coletivo não priva o sócio de o ser de outra
sociedade em nome coletivo, ou de qualquer outra sociedade. (No plano moral, não seria admissível
qu~ um sócio gerisse duas sociedades do mesmo ramo de negócios, em possível ou eventual
concorrência. Já o dissemos.) Os poderes do sócio gerente não podem ser transferidos a outro, pôsto
que o sócio gerente possa ter permissão, pelo contrato, para outorgar poderes de representação da
sociedade. Para que a substituição seja possível, há de ser observado o art. 334 do Código
Comercial, verbis “fazer-se substituir no exercício das funções que nela exercer sem expresso
consentimento de todos os outros sócios”.
No contrato de sociedade em nome coletivo, os sócios podem inserir cláusula sobre as relações
jurídicas internas, ou entre si. Por exemplo: a) a cláusula de responder em primeiro lugar, nos casos
de responsabilidade solidária com a da sociedade, o sócio gerente, cláusula que não se impõe aos
terceiros; ~<) cláusula de limitação interna da responsabilidade <se o sócio é chamado a responder
solidâriamente, pode exigir dos outros que lhe seja restituído o que prestou acima da sua quota).
atos ilícitos absolutos, e do art. 316,, alínea 1a e 2a .~ partes. A extraneidade das operações , no
tocante ao fim da sociedade, mesmo se houve .emprêgo da firma, afasta a responsabilidade da
sociedade e „dos outros sócios, porque os terceiros têm de conhecer o objeto da atividade social (cf.
Câmara Comercial da Côrte de Apelação do Distrito Federal, 16 de agôsto de 1893 e 25 de
novembro de 1892; Câmaras Reúnidas, 22 de fevereiro de 1894, O
.0., 64, 531 s.; Tribunal de Justiça de São Paulo, 11 de junho de 1895, e 5 de agôsto de 1896, G. J.,
12, 184 a.; Revista Mensal, 1, 46).
Se o negócio jurídico ou o ato juridico stricto sensu cabe no objeto da atividade social, mas houve
excesso de poderes por parte do sócio gerente, o uso da firma social vincula a sociedade e os outros
sócios, solidariamente Contra o sócio gerente, que excedeu os poderes, os outros sócios podem
exercer ação de indenização, não sé para haver o que pagaram a terceiros como para que se lhe
ressarça qualquer outro prejuízo. O sócio cúmplice, gerente ou não, êsse, não tem tal legitimação.
10.AÇÕES DOS SOCIOS CONTRA A SOCIEDADE. Se algum sócio se fêz ou foi feito credor da
sociedade 1
(alienou bem à sociedade, emprestou à sociedade, sofreu danos por ato ilícito absoluto ou relativo),
pode exercer a prestação e a ação contra a sociedade, como qualquer outro credor. Nenhum dever
tem o sócio quanto a informar-se do que deve ou tem em ativo a sociedade. Tal função é do sócio
gerente ou dos sócios gerentes. O
sócio credor da sociedade tem de atender ao benefício de excussão que tem o outro sócio, ou têm os
outros sócios (Código „Civil, art. 1.896; Código Comercial, ad. 350; Código de Processo Civil, arts
888, II, e 897). Não pode, todavia, exigir do outro sócio, ou dos outros sócios, mais do que a quota
que lhe caiba, ou do que as quotas que lhes caibam.
CAPITULO 1V
A causa de dissolução pode atingir a sociedade em nome coletivo no seu todo, como ocorre se foi
advindo o termo determinado no contrato, ou implida a condição „que se estabeleceu, ou somente
algum dos sócios com repercussão no todo contratual, ou mais da metade dêles. As regras jurídicas,
a respeito disso, são comuns as sociedades de pessoas. Já analisamos o art. 1.399 do Código Civil e o
art. 335 do Código Comercial. Há de ser feita, diante de cada espécie, a classificação, para se saber
se é de fim econômico incluída a de fim lucrativo a sociedade, ou se o não é (Código Civil, art. 1.399,
parágrafo único).
O fato de sobrevir qualquer dos fatos que se têm como causas de dissolução não produz eficácia,
automàticamente, no mesmo instante, a desagregação. Inicia-se a liquidação.
Para que a manifestação de vontade dos sócios dissolva a sociedade em nome coletivo é preciso que
haja unamidade
É o mútuo consenso, desconstitutivo, mutuus dissensus, de todos os sócios, o distrato, de que cogita
o Código Comercial, art. 335, inciso 3.
referiu ao termo, mas tem de ser interpretado como abusivo, implicitamente à condição).
4. DISTRATO. A sociedade em nome coletivo pode ser dissolvida pelo distrato. Todos os sócios têm
de ser figurantes do negócio jurídico plurilateral desconstitutivo, salvo se o próprio contrato social
previu a competência da maioria ou de determinada maioria (e. g., quatro quintos) para o distrato.
8.DENÚNCIA CHEIA. . As causas a que se referem os arts. 1.399, II e III, 1.404-1.406 do Código
Civil, e o art.
336 do Código Comercial são pela denúncia cheia. Idem, o art. 399, ~v, 2.~ parte (sobre
incapacidade do sócio).
Contudo, a fusão faz continuarem os vínculos sociais e com terceiros, de modo que a sociedade, em
si, permanece como que ampliada, (Tomo XXVIII, § 3.288, 10).
1.REGRAS JURIDICAS GERAIS. O que foi dito sobre a liquidação das sociedades em geral, civis ou
comerciais, é invocável a respeito das sociedades em nome coletivo.
2. CLÁUSULA SOBRE LIQUIDAÇÃO. O contrato social pode conter regras jurídicas sobre a
liquidação da sociedade em nome coletivo. Nada obsta a que, em acôrdo posterior, regulem todos os
sócios a situação. Uma das espécies é a da transferência do patrimônio social a um dos sócios, que
contrapreste aos outros o valor das quotas.
Outra, a da transformação da sociedade em nome coletivo em sociedade por ações, ou outro tipo de
sociedade. Se nada disso ocorre, a liquidação tem de ser feita, de conformidade com a lei, ou regras
contratuais. Satisfazem-se os credores e distribui-se o restante pelos sócios.
~. Têm os liquidantes, nas sociedades de responsabilidade ilimitada, poder de exigir dos sócios
pessoalmente responsáveis as somas necessárias à extinção do passivo social, se o patrimônio social
foi insuficiente? A questão que surgia no direito brasileiro e noutros sistemas jurídicos não mais se
pode apresentar no direito brasileiro, porque o art. 660, II, 2.~ parte, do Código de Processo Civil
foi explícito. Apenas temos de acrescentar que o poder de exigir vai até as partes correspondentes
ao que se não pôde haver do sócio insolvente. A liquidação é para a extinção do passivo e divisão do
patrimônio resíduo. Uma vez que há responsabilidade ilimitada, não se justificaria que não
pudessem os liquidantes exigir o que os credores o poderiam. Os poderes dos liquidantes são 1
Os arts. 663-666 do Código de Processo Civil regem as informações contra os atos, positivos ou
negativos, dos liquidantes. No art. 663, ia flue, fala-se, em caso de juntada do inventário e do
balanço, de remeter o juiz os reclamantes às vias ordinárias, se não pode, no prazo de cinco dias,
resolver as questões . Tal ação ordinária pode ser proposta pelos reclamantes, ou qualquer dêles,
com possível intervenção adesiva de todos aquêles que não reclamaram, porque o prazo de cinco
dias, que se fixa no art. 663, só diz respeito à reclamação , e não à ação. Se há pluralidade de
reclamantes, com as mesmas impugnações, têm-se de reúnir as reclamações , para serem julgadas
com uma só sentença. Cumpre, porém, observar-Se que há consorcio necessário , de modo que a
decisão atinge a todos, reclamantes e não reclamantes (cf. arts. 90 e 91).
(De passagem observemos que no Código Civil italiano, ad. 2.311, g~a alínea, há regra jurídica
segundo a qual, em caso de impugnação do balanço ou do plano de partilha, o liquidante pode
requerer que as questões relativas à liquidação sejam examinadas separadamente das relativas à
divisão, “alIe quali ii liquidatore puô restare estraneo”. Ora, ~ como separar-se do procedimento de
liquidação o de divisão? O próprio liquidante deve cogitar da proporcionalidade dos sócio no
patrimônio social e das dívidas dos sócios à sociedade. Com a aprovação do balanço, o liquidante
está livre de reclamações , mas, se a partilha do resíduo não lhe interessa, cabe-lhe dizê-lo, ao ser
ouvido, mesmo porque pode haver questão inclusa nas contas a que o balanço se refere.) CAPÍTULO
1
Entre a sociedade em nome coletivo e as sociedades por ações, a sociedade em comandita simples e
a sociedade em comandita por ações são dois degraus que vão das sociedades de pessoas às
sociedades por ações. O elemento pessoal vai sempre diminuindo, para que o elemento capitalístico
cresça. Quanto mais se precisa de capital, mais se avança na estruturação favorável à capitalização
das sociedades. As empresas pequenas mais fàcilmente se podem estruturar pessoalmente; as
grandes, que hão de contar com capitais enormes, têm de superar o pessoalismo das outras. A
sociedade por quotas de responsabilidade limitada, essa, atenua o capitalismo da sociedade por
ações, sem se volver ao estrito pessoalismo das outras pequenas empresas.
Por vêzes, a sociedade em nome coletivo, devido a circunstâncias que se prendem à solvibilidade
dos sócios, obtém maior prestígio, com o aumento do capital e a publicação das contribuições . Pode
bem ser que, para maior vigilância dos negócios da sociedade> credores se façam sócios
comanditários (cf. HANS WÚ1WINGEB, Geseiischaften, 1, 148).
“Cominanditaire” e “commanditer” respectivamente, em 1727 e 1809. Nada tem com o étimo que se
lhe quis empresta“ut dictum est”, isto é, “como está dita”, “nos ditos termos”. A língua francesa,
como a portuguêsa, recebeu-a da língua italiana:
“accomandita” A pronúncia, na língua portuguêsa, revela que se recebeu através da língua francesa.
O étimo italiano está em “commenda”, “commanda” “commendatio” “recommenda uo”. Já no século
X havia o capitalista 1
que ficava em terra e prestava mercadoria ou dinheiro (eommendator, Soezus stans) e o empresário
que viajava (tractator portitor portator, actonwnilataríus) algumas vêzes capitão de navio. Ésse fazia
nos negócios com o capital que recebera, ou suas viagens maríti timas. ou por terra (portat trans
mare.. in terra laboratorial ; isto é, faz trabalhar o capital para o lucro. Após a figura da comandita
em que o tractator quase sempre sem recursos, prestava o trabalho (a indústria>, veio a figura da c
omenda com Participação bilateral de capital, a collegantj«
veneziana, ou societas (maria terrae). Havia algo de depósito (e de empréstimo) e de sociedade, mas
êsse elemento preponderava. Deve-se muito, quanto a essa explicação, a LEVIN GOLDSCHMPDT,
com o apoio de A. RENATYD (Das Rectht der CommanditgesezL.~chaÍten 8 s.), W. SILBERSCHMmT
(Die Commenda in ikrer friihesten Entwickiung bis zum XJIL Jakrhund~-t> 11 s.), J. Fn. BERREND
(Lekrbueh des Handetsreehts, 1, 110 s.), MAx WEBER (Zur Geechiente der Handeisgeseu.sckaften
im Mitteialler, 106) e TUCHATSCH (Die Kommanditgeseu,ç0~af~ § 2). Precedentes estudos em
FRÉMERY (Siudes da Droit Commerciol ou da Droit fondé sur la coutume ?tfliVerselle des com
merçanÃts, 86 s.) e R. TILOPLONO (Contrat des Soclétés civiles et commerciazes, 1, 12 s.). Cf. as
investigações histéricas deCHIAUDANO, Gumo ASTUTI e GíNo LUZZATTO.
comentatur (ou capitaneus ) não corria outro risco que o de perder o dinheiro ou a mercadoria com
que entrava para a sociedade. Quase sempre, os terceiros não o conheciam.
Discute-se se, sendo a “commenda” depósito, portanto negócio jurídico de crédito podia dela
exsurgir a seciedade era comandita; mas basta pensar-se em que os capitalistas cedo procuraram
receber ratae, quotas, ou messe, e, sem intervir na direção da atividade e da administração da
“commenda”, velavam por ela, sem que se expusessem a responder pelas dividas sociais. Não se
pode pretender que o que se tem de dados histéricos sobre a
GOLDSCHMID‟L‟. A crítica de ENRICO BESTA (Le Obôtigazioni nelia storia dei dirilto italianQ 351)
não convence, porque o que êle estranha foi exatamente o que constituiu degrau da evolução: só ser
visto pelo público o sócio gerente, que, na terminologia italiana, é dito “commandatario”, e haver
sociedade. Nem convence a de AGEO ARCANGELI (La. Soeietà in accornandita semplice, 18, 21 e
25), que frisava serem poucos e dúbios os documentos sobre a “commenda” de terra, fora da
“commenda” veneziana, puramente local. Mesmo os resultados da investigação de R. CESSI (Note
per ia Storia delie Società di commercio nel Medio Evo in Itaila, 8
s., 64 s.) apenas mostram que a “comrnenda”, a “coliegantia” e outras figuras tinham de acabar por
descomunizar a societas e cortar, quanto a alguns sócios, a responsabilidade ilimitada.
É possível que haja contribuído para a aparição da sociedade em comandita o terem os capitalistas
de evitar a responsabilidade ilimitada e de elidir as sanções contra a usura. A lei florentina de 1408
foi significativa, tanto mais quanto lá não se usava a “commenda” (OSCAR CAROSEILI,
L‟Associazione in Partição~ 59). Observe-se, porém, que em Gênova o afastamento da
responsabilidade ilimitada demorou Seja como fôr, com o registo florentino o sócio gerente e o outro
apareciam perante terceiros.
O registo teve relevância jurídica e histórica na evolução da sociedade em comandita Era preciso
que houvesse a publicidade, para que os terceiros tivessem de atender ao vínculo societário Os
sócios não responsáveis ilimitadamente, nem solidários, não podiam figurar na razão social, mas
tinham de constar dos livros da empresa O objeto da sociedade havia de ser determinado bem assim
a contribuição do sócio. O tempo de duração do contrato e a soma até a qual haveria a respensa.
bilidade déle a participação nos lucros eram cláusulas necessárias.
O contrato tinha de ser registado. Tudo isso está na Lei bolonhesa de 28 de maio de 1588, e antes
foram dignos de relevancia os Estatutos da Côrte dos Mercantes de Luca, datado de 1554. Vieram
depois os Estatutos da Côrte de Mercancia de Florença (26 de março de 1585), de Gênova (1589),
da Universidade dos Mercantes de Siena (1664) e a Lei do Cardeal Barberini de Roma, de 30 de
junho de 1626 (A. SCIALOJÂ, Saggi di vario difltto, II, 238).
A sociedade em comandita teve como um dos seus elementos históricos a “commenda” porém não
foi único, nem o podia ser. Lá estavam, enfrentandose, a “compagnia” e a responsabilidade limitada.
A respeito, W.
Jahrhunderts 1, 402 s.) precisou que a sociedade em comandita supõe a participação e implicava
sociedade tácita, sUtis Geseftschaft, e reputou que pudesse ter nascido na Itália, pôsto que
admitisse que o elemento da 1
Participação, do particepa nau socius, ou da societas privata quite ad socius non ad coeteros vim
habet, pudesse ter contribuído, através da legislação francesa, para a figura da sociedade em
comandita qual hoje e. Nesses assuntos de fontes históricas de institutos modernos, é preciso que se
não queira reduzir as causas, mais ou menos preponderantes a uma só.
Em França, a Ordenança de 11627 falou de poderem os nobres comerciar nos Estados de outros
Príncipes, em viagem de longo curso; e J. SAX‟ARY (Le Parf ait Negociant, II, 14.)
275
argumentou: “s‟ils peuvent faire le commerce sous leur nom sans deroger, à plus forte raison
pourront-ils faire des sociétés en commandite, avec des Negocianta qui le font eux-mêmes, sans
faire un autre fonction avec eux que celle de donner leur argent, leur faire rendre compte de leur
negotiation, et recevoir les profits, ainsi qu‟il a été dit ci-dessus”.
Só o Código Comercial francês, arts. 23-28 (Code de Commerce) tratou da razão social, cortando as
dificuldades que eram notórias.
Ao art. 28 do Código Comercial francês a Lei de O de março de 1863 acrescentou: “Les avis et
conseils, les actes de contrôle et de surveilíance n‟engagent point l‟associé commanditaire”.
“Quando duas ou mais pessoas, sendo ao menos uma comerciante, se associam para fim comercial,
obrigando-se uns como sócios, solidariamente responsáveis, e sendo outros simples prestadores de
capitais, com a condição de não serem obrigados além dos fundos que forem declarados no contrato,
esta associação tem a natureza de sociedade em comandita. Se houver mais de um sócio
solidàriamente responsável, ou sejam muitos os encarregados da gerência ou um só, a sociedade
será ao mesmo tempo em nome coletivo para êstes, e em comandita para os sócios prestadores de
capitais”.
Cumpre evitar-se qualquer confusão de terminologia quando se lêem livros italianos. Os sócios, que
chamamos comanditinos, são, na linguagem jurídica italiana, “accomandante”; aos que gerem e são
responsáveis ilimitadamente dá-se o nome de “accomandatari”. Diremos: comanditantes.
J.X. CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito Comercial, 111, 180 s., nota 4) achava “mais
exata” a linguagem italiana.
.1.X. CARVALHO DE MENDONÇA <Tratado de Direito Comercial, III, 182) achou incorreta a
expressão, porque, se o fôssem, ficariam na situação de mutuantes. Sem razão, porque prestar não é
só dar em mútuo: o sócio, ao cumprir o que prometeu, presta. 1‟restar não é sempre emprestar.
É difícil, porém não impossível, ocorrer que se constitua sociedade em comandita que não seja
comercial. Por muito tempo se afirmou a inconcebibilidade, mas o art. 1.364 do Código Civil abriu a
porta a eventuais conclusões de tal contrato, no campo do direito civil.
Nas fontes histéricas ressalta que a sociedade em comandita surgiu como combinação de trabalho e
de capital, de jeito que a especulação do contribuinte se acobertava dos riscos da atividade
comercial.
A sociedade em comandita simples, isto é, a sociedade em comandita que não é por ações, é
sociedade de natureza P23SC ti?, que, sob firma social, exerce a atividade de fim comum, sendo um
dos sócios, pelo menos, responsável pelas dívidas sociais, ao passo que o outro ou os outros apenas
se vinculam pelo que prometeram prestar à sociedade, ou prestaram. Comparando-se com a
sociedade em nome coletivo logo se percebe que apenas se retira a um ou mais sócios a
responsabilidade ilimitada Sé o sócio ou os sócios que respondem ilimitadamente podem dar o nome
à sociedade. O outro ou os outros, os comanditários não. O sócio comanditário responde pela quota
por êle prometida, e não mais.
CAPITULO II
nome coletivo incidem quanto aos sócios comanditantes. Em principio, os terceiros ignoram quais
são os sócios comanditários. Internamente, é que surgem os problemas das relações jurídicas
peculiares. Mas a constituição da sociedade em nome coletivo afasta as dificuldades, pela tipicidade
do contrato de sociedade em comandita simples.
Tem a sociedade em comandita simples de funcionar sob firma social. Só nomes de sócios
comanditantes podem dela constar. A firma social não revela se a sociedade é em nome coletivo, ou
se é em comandita simples. Se são dois os sócios, um momanditante e outro comanditário, só a
expressão “& Cia.” mostra que há mais de um. Se o nome de algum, que consta do contrato
registado como sócio comanditário, se insere na firma social, nas relações com terceiro responde
como sócio comanditante, mesmo se há prova de que o terceiro conhecia o contrato. Nas relações
jurídicas internas, é sócio comanditátio.
No registo, não: ~ Possível que dêle conste apenas a quota, sem que se diz. Se há um sé
comanditante e muitos sócios conlanditários, sé o nome de uma pessoa tem de aparecer no registo.
Sociedade em comandita, ou qualquer outra sociedade associação ou fundação pode ser sócio
comanditario 8. FIRMA SOCIAL A firma social é proposta e aceita. Depois, registada (Decreto n.
916, de 24 de outubro de 1890, art. l.~). Diz o art. 3.o, § 2.0, do Decreto n. 916: “A firma de
sociedade em comandita simples ou por ações deve conter o nome ou firma de um ou mais sócios
pessoal e Solidâriamente responsáveis com o aditamento por extenso ou abreviado e companhia,
sem que se inclua o nome completo ou abreviado de qualquer comanditário, podendo a que tiver
capital dividido em ações declarar sociedade em comandita por ações”.
Nada obsta a que a firma se refira a outra firma da sociedade em nome coletivo “A. & B. em
comandita”, “A.&R
& Cia.” (cf. Decreto n. 916, ad. 3~o, § 2.0, verbis “ou nome ou firma”) A firma tem de conter, pelo
menos, um nome de sócio de responsabilidade ilimitada, que é gerente porém o fato de apenas
constar o seu nome não pré-exclui a existência de outro sócio gerente ou de outros sócios gerente. O
nome de sócio comanditário é que não pode ser inserto. Se algum dêles o permitiu, responsável
ilimitada e Solidâriamente se fêz, perante terceiros, a despeito dos dizeres do contrato. No direito
brasileiro, permite-se que não se mencione, no registo o nome do sócio comanditário, ou os nomes
dos sócios comanditos se exige que a quantia da entrada, ou as quantias das entradas constem dêle
(Código Comercial, art. 816) explicitamente O sócio comanditário ou os sócios comanditários estão
compreendidos, qualquer que seja o número dêles, na indicação genérica “& Cia.”, ou “e
Companhia”.
Se o nome de algum sócio comanditário foi incluído na firma social, fêz-se, para quem trate com a
sociedade sócio ilimitada e Solidâriamente responsável. Se foi contra a vontade do sócio
comanditâdes e. g., se estava ausente quando se concluiu o contrato ou se o contrato previa
posterior composição de firma social (e êle somente podia esperar que se observasse a lei, o que, ex
hypothesi, não ocorre), tem êle de providenciar para que se faça a necessária retificação. Para isso,
basta que o interessado o requeira ao oficial do registo, que também o pode fazer de ofício, diante
dos termos do contrato (OTOo WEIPERT, K ommenzar zum Handelsgesetzbuch, ~ 2Y cd., 566).
A sociedade em comandita, em seus primeiros tempos, não tinha firma social. Ou aparecia o
comerciante individual, ou a sociedade em nome coletivo. Há reminiscência disso no art. 811,
2 a alínea, do Código
Comercial que ainda aludiu aos dois elementos, o dos sócios ilimitadamente responsáveis e o dos
sócios de responsabilidade limitada (verbis “a sociedade será em nome coletivo para êsse, e em
comandita para os sócios prestadores de capital”). O sócio comanditário ficou fora da nominalidade
da firma e até mesmo se permitiu que não se inscreva no registo o seu nome (Código Comercial, art.
812>.
Em vez de “& Cia.” pode ser pôsto “& Comanditários Não, porém, “& Irmão”, ou “& Filhos” ou “&
Genros”.
Se os sócios ilimitadamente responsáveis são dois ou mais, nada obsta a que sé se insira o nome de
um sócio, ou de alguns (com razão, JIJSTINO VASCONCELOS, Das Firmas e Denominações , 106;
sem razão, FÂBIO
A firma “A. & B., Sociedade em comandita simples”, ou “A., E. & Comanditários” é como se fôsse “A.,
E. & Cia”. Para essa solução há o argumento tirado do art. 164, parágrafo único, do Decreto-lei n.
2.627, de 26 de setembro de 1940, sobre sociedade em comandita por ações.
Aditamentos subjetivos e objetivos são permitidos. Por exemplo: “A., arquiteto, B. e Cia.”; “A., E. &
Cia., ferragens”.
Nada obsta a que, se há título de estabelecimento, se junte à firma, mesmo se dêle constam nomes
de sócios comanditários (houve a dessubjetivação) : “A. & Cia., Casa E.” (em que coincide E. ser o
sócio comanditário).
Mesmo se o nome do sócio comanditário não consta do regist0 todos os sócios são titulares de
direito e dever~
decorrentes do uso da firma social Por parte dos que podem figurar O nome do sócio comanditário
não consta da firma, mas isso não pré-exclui que a firma social também lhe Pertença.
Pode a Prestação do sócio comanditário ser em serviço. Nada obsta a que o serviço já tenha sido
Prestado e com is50 fique sem mais responsabilidade o Sócio comandinário (Elujj., Wmn~ÁNn,
HandelsrÚÚht 1, 763> Porém a simples ajuda ou Participação auxiliar em trabalho, a que não
Possa ser dado valor no contrato, não pode constituir a contribuição comanditística
(SCauso~BREÇERE GESSLER, Sehlegelôerí,er Nau
A morte do sócio comanditário não dissolve, ipso jure, a sociedade a despeito do que, em geral, se
diz no art. 335, inciso 4, do Código Comercial.
Se não foi prevista a continuação a causa de morte, com o sucessor, tem-se de registo o ato de
alteração do contrato social, salvo se do regist0 não constava o nome do sócio o que a lei permite Se
só havia um sócio comanditario os sócios comandites podem, no período de liquidação transformar a
sociedade em comandita em sociedade em nome coletivo, ou admitir outro sócio comanditârio Se só
havia um sócio comanditante a sua morte OU saída Por outra razão dissolve a sociedade em
comandita se, no período de liquidação não há substituição do sócio comanditante que o deixou de
ser.
Surge o problema de se saber se, morto ou retirado o sócio comoditante e tendo o sócio
comanditário, ou os sócios comandítários praticado atos de gestão, de modo que se fizeram
ilimitadamente responsáveis, sociedade continua com êsse, ou com êsses, como sócios
ilimitadamente responsáveis. A resposta tem de basear-se no art. 814, lA parte, do Codigo
Comercial. a responsabilidade ilimitada, que resulta de tal regra jurídica, é perante terceiros, e não
perante os outros sócios, de jeito que não há alteração, automática, da sociedade, e somente dentro
do período da liquidação é que os sócios podem deliberar a continuidade como sociedade em
comandita, ou a transformação da sociedade em sociedade em nome coletivo, ou noutra sociedade.
Dentro do período da liquidação, há transformabilidade; depois, não. Houve nova sociedade, porque
a sociedade que havia se dissolveu.
II.As sociedades mercantis”. Afastou-se do direito alemão (cp. OTTO WEIPELIT, Kommentar zum
Handelsgesetzbuch, II, 23 ed., 568 s.), do italiano e de outros sistemas jurídicos. A eficácia
personificante do 1
registo
foi
declarada,
em
termos
lesivos.
Foi-se
além
do
conceito
de
mancomunidade
A sociedade em comandita simples não registada no registo comercial dificilmente se trata como
sociedade em comandita simples comercial Idem, como sociedade civil em comandita simples, se
não Seria, talvez, sociedade de fato, ou sociedade irregular, mas a eficácia da comanditariedade
seria apenas interna, como comunhão (mão-comum), ou como comunhão resultante de contrato
social que ainda não foi registad
aparece aos terceiros é mais sociedade em conta de participação, com sócio oculto, ou com sócios
ocultos.
No direito comercial, o quanto da responsabilidade limitada, mesmo que do registo não constem os
nomes dos sócios comanditários há de constar do registo; e por certo o mesmo se há de entender, no
direito brasileiro, a propésito das sociedades civis, em virtude do art. 1.364 do Código Civil (versus
“serão inscritas no registo civil”).
Tem-se dito que a aparição de contas secretas de sociedade em nome coletivo, em nome de alguém a
que se chama “sócio comanditário oculto”, stifler Kommíinditãr não se faz sociedade em comandita
simples.
Redargúi..se que ~ demasiado geral a afirmação porque a sociedade em comandita simples pode ser
de fato (e. g., HENLjI ZELLELRAHN em A. SCRNErnER e 11. Fícx, Commentajre du CotiZe fédéral
des Obligajtion,ç II, 67). Porém temos de distinguir: se a sociedade em nome coletivo foi registada, a
participação de alguém mais fácilmente perfaz a figura do participante ou do mutuante; dificilmente
se poderia apontar, nas relações jurídicas externas, a sociedade em comandita, contra o que consta
do registo. Se a sociedade em nome coletivo não foi registada, tudo se vai resolver, para efeitos a
respeito de terceiros, conforme os princípios de proteção que a lei estabelece. Aliás, a simples
admissão de alguém que perceba parte dos lucros, ou participe dos lucros e das perdas, não faz,
sempre, sócio comanditário nem, sequer, sócio participante a pessoa beneficiada.
CAPÍTULO III
2.INVALIDADE E QUOTA. Se algum sócio comanditário é incapaz e o nome dêle não consta do
registo, mas sim a quota, surge o problema dos créditos de terceiros. Aí, o registo é a favor do
terceiro, e apenas se há de perguntar se o terceiro, que conhecia a incapacidade e a conclusão do
contrato, pode exercer pretensão sobre a quota. A solução é negativa, porque passa à frente a
proteção do incapaz.
1.PRELIMINARES. Conforme antes dissemos, os sócios comanditados têm os deveres que têm os
sócios de sociedade em nome coletivo, ao passo que os sócios comanditários apenas prestam, ou
prometem prestar, e respondem por suas quotas, ou dentro das quotas. De jure condendo, havia o
problema da responsabilidade dos sócios comanditários pelos lucros que hajam recebido. A solução
tinha de ser de proteção a êles, se não houve fraude contra credores na distribuição dos lucros e se
já os havia recebido o sócio comanditário.
dever existe, por inerência quanto ao sócio ilimitadamente responsável, ou aos sócios
ilimitadamente responsáveis.
Lê-se no Código Comercial art. 313: “Na mesma sociedade, os sócios comanditários não são
obrigados além dos fundos com que entram ou se obrigam a entrar na sociedade nem a repor, salvo
nos casos do art. 828, os lucros que houverem recebido; mas os sócios responsáveis respondem
solidâriamente pelas obrigações sociais, pela mesma forma que os sócios das sociedades coletivas
(art. 316) “.
2. PROIBITIVO DE IMISSÃO . O sócio comanditário não pode ser gerente da sociedade porque isso o
poria em posição de sócio comanditante Surge a questão de se saber se o Sócio comanditário pode
ser procurador da sociedade. Tem-se entendido que o princípio proibitívo da imissão seria violado
se, vedando-se ao sócio comanditário a gerência se lhe permitisse representar a sociedade Seria
difícil, para o terceiro, saber em que qualidad5 praticava os atos, se como gerente se como
representante. o assunto merece exame, que adiante se fará.
Diz o Código Comercial, art. 314: “Os sócios comandatarios não podem praticar ato algum de
gestão, nem ser emprega~o5 nos negócios da sociedade, ainda mesmo que seja come procuradores,
nem fazer parte da firma social; pena de ficarem Solidariamente responsáveis como os outros
sócios; não se compreende, porém, nesta Proibição a faculdade de tomar parte nas deliberações da
sociedade nem o direito de fiscalizar as suas operações e estado (art. 290) “.
O sócio comanditário não é apenas capitalista, bajileur de fonds, de modo que se precisa interpretar,
com tôda a atenção, o art. 314, ia parte, do Código Comercial A fonte está no art. 27 do Código
Comercial francês, depois modificado pela Lei francesa de 6 de maio de 1863. Antes dizia:
“L‟associé commandítaire ne peut faire aucun acte de gesti~~ ni étre emploíé pour les affaires de
la société, même em vertu de procuration” Passou a dizer:
“L‟associé commanditaire ne peut faire aucun acte de gestion même en vertu de procuration”
Pergunt~55. ~
proibi~5~ a) a prática de atos, objetivam~t., ou b) apenas nas relações com terceiros (atos externos
de gestão)? Se a), a raMo legis estaria na proteção dos terceiros contra a incursão dos sócios
comanditários na atividade social e na proteção dos sócios ilimitadamente responsáveis contra a
intromissão que poderia criar riscos ou ser imprudente do sócio comanditário na empresa, mas a
sua responsabilidade seria limitada. No Código Comercial francês, art. 28, estava dito: “En cas de
contravention à la prohibition mentionnée dans l‟article précédent, l‟associé commanditaire est
obligé soudairement, avec les associés en nom collectif, pour toutes les dettes et engagements de la
société”. Com a Lei de 6 de maio de 1863, o ad. 28 teve a seguinte redação, como alínea la:
2 a, foi estabelecido:
“Les avis et conseils, les actes de contrôle et de surveillance n‟engagent point l‟associé
commanditaire”.
Os atos concernentes à constituição da sociedade não entram na classe dos atos de gestão e de
administração. Os sócios comanditários podem tomar parte em quaisquer deliberações sobre
modificações e alterações do contrato social, sobre o modo de se repartirem os lucros e as perdas,
sobre como se há de levantar inventário e fazer-se o balanço, sobre nomeação e poderes de
liquidantes. O contrato pode dar normas precisas sobre como se hão de escolher os administradores
e se podem afastar. O capital subscrito pelos sócios comanditários pode ser elemento de votação, e o
voto pode ser por pessoa.
Mas, se o ato do sócio comanditário, ou em que êle tomou parte, ato que violou a regra jurídica de
proibição, vinculou a sociedade o que dá ensejo a sanção protectiva do terceiro, não seria de
admitir..se que não fizesse responsável ilimitadamente, pelo menos in casu, perante os outros
sócios, o sócio coman ditário infringente Quanto à inovação francesa de 1863, no tocante ã eventual
declaração de estar obrigado solidàriamente o sócio comanditário por tôdas e quaisquer vinculações
sociais, não está na lei brasileira Mas seria difícil negar5~ em casos de interferência freqüente e
por bem dizer-so normal, a ação declaratória do art. 29, parágrafo único, do Código de Processo
Civil. O que não se pode acolher é a discrição do juiz no apreciar a situação do sócio comanditário
“suivant le nombre et la gravité des acta qu‟il a faits”. O que se faz preciso é que os atos do sócio
ccmanditário sejam tais que não se Possa ter o seu ato como ocasional ou os seus atos como
ocasionais Aqui, é 1
deixou de ser comanditário, o que já frisava C. DELANOIÃ~ (Des Societés co‟mmerciaíes n. 417),
antes mesmo da Lei de 1863.
Pelo fato de existirem, nas sociedades em comandita duas espécies de sócios apresentou-se o
problema do tratamento do sócio comandiatário que procede como se sócio comanditário não fôsse.
a) Pré-excluir..se da gestão o sócio comanditário, sem sanção para o caso de se êle intrometer e
participar de atos, não é solução acertada, pôsto que se tenha margem para a proteção dos terceiros
in casu. O Codigo Comercial Geral Austríaco, art. 158, e o Código Comercial alemão, § 164, apenas
se referem à Dão-ingerir do sócio comanditário Aquêle não fala de responsabilidade ilimitada se o
nome não consta da firma registo êsse permite aos sócios comanditários opor-se aos atos dos sócios
gerentes que excedem dos podêres.
b) Pode haver a solução de ficar responsável ilimitação o sócio comanditário que trate como órgão
da sociedade c) Outra solução é a solução francesa anterior à lei de 1863 e do Código Comercial
brasileiro, art. 314.
d) Ainda há a solução que o direito francês estabeleceu com a lei de 1863, com repercussão no
Código Comercial egípcio, em 1875, no de Mônaco em 1877, e no do México, em 1880.
Se o sócio comanditário permitiu que se inserisse na razão social o seu nome, fêz-se ilimitadamente
responsável.
O art. 314 do Código Comercial veda que o sócio comanditário possa praticar atos de gestão mesmo
se procurador da sociedade. Isso não significa que êle não possa ser advogado, porque aí não se
trata de negécio da sociedade. Aliás, a lei podia ser retificada para que pudesse o sócio
comanditário ser procurador, se explícita a sua situação na procura. Cf. Código Civil italiano, que
eliminou a regra jurídica que havia no £5-digo Comercial italiano, art. 118. Se há tal explicitude,
mesmo sob o art. 314 do Código Comercial brasileiro, não se pode considerar ilimitadamente
responsável quem ficou exposto à revogabilidade da procuração (cf. CESARE
Quanto a poder ser tido como responsável ilimitado o sócio comanditário no tocante a atos
anteriores a sua imissão, temos de repelir a opinião dos que reputam impraticável a verificação da
anterioridade, da contemporaneidade, ou da posterioridade do ato (e. g., AGEO ALICANGELI, La
Società in accomandita semplice, 213; ANTONIO BRUNErrI, Trattato dei Díritto deite Societôs, 1,
2Y- ed., 604>. Trata-se de quaestia facti, e não de qua.estio luris, de modo que ao sócio
comanditário fica a objetabilidade, inclusive por exemplo se, ao tempo do negocio jurídico, ainda
estava ausente.
A proibição de atos de gestão aos sócios comanditários é protectiva dos interesses de terceiros, que
se guiam pelo contato registado, e dos próprios sócios de responsabilidade ilimitada, porque êsses
assumem tal responsabilidade e não se poderiam arriscar por atos de quem sé limitadamente
responde. Surge o problema de ser ins cogens, ou ias dispositivurn, a regra jurídica proibitiva. A
doutrina alemã é no sentido da dispositividade; mas a cogência da regra jurídica é evidente.
O sócio comanditário não pode praticar atos de gestâo, mamo se o faz através de procurador
(Tribunal de Apelação do Ceará, 29 de março de 1943, J. e D., VII, 305), ou por interposta pessoa ,
ou como empregado (Côrte de Apelação do Distrito Federal, 9 de agôsto de 1918, 1?. de D., 49, 686,
e 52, 356). Não é ato de gestão o serviço de arquitetura, ou outro serviço, que o sócio comanditârio
presta como pessoa que exerce profissão liberal (Tribunal de Apelação do Distrito Federal, 14 de
abril de 1989, 1?. de D. C., 10, 32), ou em contrato de mediação (Tribunal de Justiça de Minas
Gerais, 28 de setembro de 1921, .1?. F., 87, 444).
Atos de gestão são apenas os atos de gerência, de direção imediata, ou de administração. A ratio
legis da regra jurídica proibitiva com ônus para o sócio comanditário, que, infringindo-a, se torna
sócio comanditante está em que é preciso que os terceiros conheçam quais os sócios gerentes ou
responsáveis ilimitadamente e não se dê ensejo a que, nas empresas arriscadas, ou sem êxito
seguro, sócios haja que apenas se querem protegidos pela limitação da responsabilidade (Tribunal
de Justiça de São Paulo, 31 de julho de 1912, 1?. dos T., III, 43).
O sócio comanditário que se envolve na gestão da sociedade somente pode ter essa conduta com o
consentimento, embora constrangido, dos outros sócios. Não deviam permiti-lo. Uma das
consequências está em que os terceiros podem invocar o art. 814 do Código Comercial; os outros
sócios, conhecedores do que se passava, não (Côrte de Apelação do Distrito Federal 9 de agôsto de
1918, 1?. de D., 49, 686).
O sócio comanditário pode fiscalizar e tomar parte em deliberações que digam respeito ao contrato
social.
Ainda um problema: se o sócio comanditante somente pode operar pessoalmente, ou com auxiliar
previsto em lei (e. g., é corretor, ou leiloeiro), ~: pode o sócio comanditário praticar atos de gestão?
A priori, estão afastados aquêles atos que só pessoalmente podiam ser praticados. A gestão vai além
dêsses atos e, quanto aos que a lei não limitou à atividade do sócio comanditante há opinião
acolhível que o permite (e. g., Josnn HAvrru e GÀSToN
A situação dos sócios comanditantes é a mesma dos sócios, na sociedade em nome coletivo.
Respondem pelas dívidas da sociedade com todo o seu patrimônio. A dos sócios comanditários, não.
Nenhuma atividade exercem quanto à gerência e à. administração, à diferença do que se passa na
sociedade em nome coletivo em que todos prestam ou é de supor-se que prestem trabalho e capital
à empresa. Por isso, quando algum ou. alguns sócios da sociedade em nome coletivo se sentem
cansados, ou doentes, ou querem dedicar-se a outros negócios , encontram a solução da
transformação da sociedade em nome coletivo cm sociedade em comandita. Cumpre advertir-se que,
no direito brasileiro, nem uma nem outra é .desprovida de personalidade jurídica: registado o
contrato, a sociedade personifica-se. Às vêzes há modificação do contrato social para o sócio
comanditante se tornar comanditário.
A responsabilidade solidária do sócio comanditário por ter praticado ates de gestão tem de ser
alegada e provada (Relação da Côrte, 18 de julho e 7 de outubro de 1879). Antes de decisão sobre a
insuficiência dos bens sociais e a responsabilídade do sócio comanditário, não pode haver
arrecadação pela massa falida (20 de outubro de 1879, O D., 20, 556). O art. 314 do Código
Comercial faz solidário, nas espécies apontadas o~
sócios comanditários
Muito tempo se discutiu se os credores sociais têm a ação direta para cobrar o que o sócio
comanditájio deve à sociedade como sua entrada, ou parte dela. A resposta afirmativa é fácil, nos
sistemas jurídicos que não têm a Personificação jurídica das sociedades em comandita (e. g., UtíssE
MANÂIa DelJe &eietâ e deite Assoejazioni commercial, 1, 474 5.~ ALFREDO Di GíiEcoRío Deite
Soei etd e deite Assoeiazirjy~j commerciali, 6a ed., 204).
O § 171 do Código Comercial alemão é explícito. A jurisprudência francesa, desde 1887, admite que
o credor exerça a ação dita oblíqua (primeiro contra a sociedade; depois, contra o sócio
comandítario em falta), ou a ação direta <PAUL ?íc, Des Sociátés commerciazes, J, 2.~ ed., 681;
JEAN ESCÂmtÃ, EDOUARD EscÂmiÃ, JEAN
RAULT, Traité theorique ei pratique de Droji commerdaz, 1, 389; JOSEPH IIAMEL e GASTON
LAGÂanE, Traité de Droji cominer, 615 s.; H. SOLTJS, Les Adio-na direetes, n. 99 s.). A favor da ação
direta, na falta de texto como o § 171 do Codigo Comercial alemão, argumentos que os terceiros,
diante do registo, contavam com o adimplemento à sociedade, por parte do sócio comanditário, e
não ser conveniente que se perca tempo com a oposição, por parte do sócio comanditário, de
benefício de excussão (aliás, não há, ai, tal benefício) Dizer-se que, sendo pessoa jurídica a
sociedade em comandita, o que se havia de prestar faz parte do patrimônio social, e a ação direta ~
recomendável, não é pertinente. Se a sociedade é pessoa jurídica, a ação havia de ser contra ela e
falta argumento para se admitir a ação direta. Outro argumento também não se há de aplaudir: o de
que a ação direta i mais proveitosa ao credor demandante, porque vai, sozinho , contra o patrimônio
do sócio comanditário ao passo que, se proposta fôsse a ação oblíqua, iria contra o patrimônio social
exposta a todos os credores. Seria justo isso?
A solução é a de se atender a que o débito está no patrimônio social e se pode ir contra a sociedade
com a execução forçada dêsse crédito. A ação direta abrevia, porém não se podem destruir os
princípios jurídicos para admiti-la: tem-se de conceber a ação direta dentro dos princípios.
proposta a ação contra o sócio comanditário, tem de a objeção de ter versado à sociedade o que
devia e, portanto, não haver qualquer responsabilidade perante a sociedade, a fortiori perante
terceiros (J. Fa. BEHREND, Lekrbuch. des Handei,reehts, 1, 685).
WIELAND (Handeisredil, 1, 758) ; no italiano, TJLISSE MANARA (Deite Societâ e deite Associazioni
commerciali, 1, 482).
A responsabilidade do sócio comanditário e que o importe que consta do registo. Ainda assim, se
comunicou a terceiro, por circular ou outro meio, que elevou a sua quota, responde pelo que disse
ter prometido (cp. Código Comercial alemão, § 171; francês, art. 26; cf. suíço, art. 602,
sócio comanditário de que se trata. Não basta a que outro sócio comanditário fêz, nem a que fêz o
sócio ilimitadamente responsável, ou órgão da sociedade. Só o registo teria tal eficácia. A
autenticidade tem de ser apurável. Daí poder ser por telegrama, ou por telefone, com documentação
gravada, ou por outro meio. Não precisa ter sido feita, diretamente, ao terceiro. É possível que o
terceiro a tenha recebido através de empresa de informações. É preciso que a nova soma tenha sido
indicada (pode ocorrer que não tenha havido comunicação; e.
g., que apenas tenha havido outro contrato social ou alteração do contrato social ex hypothesi, ainda
não registado) e o terceiro tinha tido conhecimento dêle. Portanto, o elemento essencial é o
conhecimento; não a comunicação do sócio comanditário.
Se a quota, que figura no contrato social registado, é inferior ao que foi versado, o que importa é o
que consta do registo (VIRGILO ROSSEIL, Manuel du Droji fédéral des abUgations, II, 60).
As dívidas sociais não atingem os sócios comanditários. Se êles ainda devem à sociedade, há crédito
da sociedade contra êles; não dos credores da sociedade.J.X. CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado
de Direito Comercial, III, 183) dizia que os sócios comanditários também respondem solidàriamente
e não sé os sócios gerentes, ou co-.
manditantes; e frisou que os arts. 811 e 818, que sé aludem a responsabilidade solidária dêsses, não
coincidem com o que se tem de enunciar. Sem razão; o comanditário responde, principal e
diretamente, pelo que deve à sociedade, pois que lhe prometeu a prestação inteira. A
responsabilidade dos sócios comanditantes é ilimitada, solidária, pôsto que subsidiária. Não se dá
isso quanto aos sócios comanditários O sócio comanditário tem os deveres que resultam do
conferimento da prestação, conforme a espécie do bem e a transferência ocorrida (propriedade
imobiliária ou mobiliária, bens incorpóreos como direito autoral, patente de invenção, marca. de
indústria ou de comércio). O valor tem de constar e ser razoável, de jeito que possa haver
indenização justa em caso de inadimp1emento A própria promessa de não fazer, como a de nao
concorrer a respeito de determinado produto, pode ser suficiente. A dação do bem pode consistir em
propriedade ou em uso, ou em uso e fruição, ou sé em fruição. O que importa é que aumente, em
verdade, o importe patrimonial da sociedade (HÂNS WÚItDINGER Recht der Personalgesensenaíten
168; RARL WIELÂND, Handelsrecht, 1, 762). O trabalho ou serviço prometido, ou já prestado, tem
de ser avaliado, e pode ser levada em consideração a vedação de concorrência
Se foi dito o total de fundos postos em comandita, sem se dizer o que a cada sócio comanditário
cabe (Codigo Comercial, art. 812, in tine), têm-se como iguais as quotas.
Se ainda não houve a personificação, a ação é oriunda da mancomunidade, que não se pode negar.
Diz-se que, se a sociedade em comandita já é pessoa, não poderia o sócio comanditário propor ação,
porque lhe falta poder de presentação da sociedade; porém o interesse não é sé da sociedade. Por
outro lado, cumpre que se não confunda a sociedade em comandita com a sociedade em conta de
participação.
Quanto aos lucros, pode ser fixado, no contrato social, interesse periódico de cada quota de sócio
comanditário.
Se não houve lucro que permitisse a dedução, houve adiantamento sobre lucros futuros, podendo
haver ação de 1
ULISSE
<„Vale a cláusula de direito de opção de algum sócio à aquisição das quotas dos sócios
comanditários? A õa Câmara da Côrte de Apelação do Distrito Federal, a 28 de maio de 1926 (1?. de
D., 81, 608), respondeu afirmativamente, desde que se disse como se havia de contraprestar (no
caso, mediante o pagamento de tudo que lhes fôsse devido e exatamente apurado).
Se houve perdas, nenhum lucro se distribui antes que se cubram as perdas. O princípio apanha as
sociedades em nome coletivo e as sociedades em comandita, É o principio de reintegração do capital
social. Aqui, convém precisar-se que o patrimônio social pode ser superior ao capital social, O
capital social é nominal; o patrimônio social supõe o valor exato do que se inseriu no que constitui
bem social. Se foi vendido bem social, que se valorizou, e não houve lucros no ano, pode êsse valor a
mais ser destinado à divisão para os sócios, desde que não atinja o capital social, razão por que há
tôda a conveniência em se cogitar de bonificações em quotas (ou em ações), para que se atualize a
nominatividade do capital. O balanço do exercício é elemento assaz relevante, para se saber o que é
capital social.
6.RELAÇÕES JURÍDICAS EXTERNAS. Os sócios comanditantes têm partes no capital social, porque
para êles concorreram. Por isso aos credores sociais cabe primeiro ir contra o patrimônio da
sociedade, no qual estão tôdas as quotas com que os soclos, comanditantes ou comanditários,
contribuíram. Os credores da sociedade contam com o patrimônio social. Se algum sócio,
comanditante ou comanditário, deve, a responsabilidade é principal e direta, pôsto que limitada,
quanto a êsse, a quota que conferiu.
Se há dois ou mais sócios comanditantes e o contrato nada dispôs sobre a gerência, todos êles se
têm como gerentes. t o que se há de tirar do art. 811, alínea
O sócio comanditante somente pode ser responsabilizado depois de estar em liquidação a sociedade,
ou de ter sido demandada, infrutuosamente, a sociedade.
Quando à responsabilidade limitada dos sócios comanditários, no tocante a atos jurídicos anteriores
ao registo, não há dúvida quanto a existir. Se os sócios comanditários praticavam atos de gestão, há
a responsabilidade ilimitada. Antes do registo, são responsáveis como se a sociedade estivesse
registada, salvo se o sócio comanditário alega e prova que o terceiro tinha ciência da sua qualidade
de sócio comanditário e da ocasionalidade da gestão. Sé os terceiros de boa fé podem ser
protegidos, salvo se o nome do sócio comanditário figurava na firma social, porque então se
presume a boa fé.
Comparada, nas relações jurídicas internas e externas, com a sociedade em nome coletivo, a
sociedade em comandita dela não muito se diferencia. Há, a mais, a participação capitalística dos
sócios comanditárjos; há a pré-exclusão dêsses, no tocante aos atos de gestão. Qualquer que seja o
objeto da contribuição do sócio comanditário sé se considera devido aquilo que consta do contrato
social (Ku~ LEHMANN V. RING, Kommenear zum HandeIsgesetzb, 2a ed., 498). Os sócios
comanditantes são os que podem dar nome à firma social e administrar ou gerir a sociedade.
Os sócios comanditários não ficam vinculados à restituição dos proveitos recebidos, se houve
balanço regulamente aprovado e estavam de boa fé. Se a causa do dano a outrem provém do
balanço, não se po&~Âa pensar em boa fé, por parte dos sócios comanditantes (cf. Código
Comercial alemão, § 172). Os sócios comanditários têm a mesma imunidade à restituição se estavam
de boa fé, a despeito de não terem conhecido o balanço. No Código Comercial, art. 328, alude-se ao
art. 828, hoje revogado, que se refere à fraude contra credores em falência. A êsse art. 828
corresponde, hoje, o art. 53 (cf. Decreto-lei ii 9.346, de 10 de junho de 1946; Código Civil, arts. 106-
113) do Decreto-lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945. Sobre a ação revocatória falencial, Tomos
XXVIII, 8.285, 4; 8.298, 2; 3.322, 7; 3.386; 8.845, 2; 3.348, 2, 5; 3.355, 5; 8.357, 1; 8.858, 1, 2;
8.359, 2, 4, 5; 3.360, 1, 4; principalmente, 8.862-3.370).
têm de ser computadas com clareza e precisão, para que se saiba se atingiram o capital social ou se
têm de ser deduzidas do ativo.
CAPITULO 1
“Diz-se sociedade de capital e indústria aquela que se contrai entre pessoas, que entram por uma
parte com os fundos necessarios para uma negociação comercial em geral, ou para alguma operação
mercantil em particular, e por outra parte com a sua indústria somente. O sócio de indústria não
pode, salvo convenção em contrário, empregar-se em operação alguma comercial estranha à
sociedade; pena de ser privado dos lucros daquela, e excluído desta”. J. X. CARVALHO DE
MENWNÇÂ (Tratado de Direito Comercial Brasileiro, III, 204) considerava “esdrúxula” a construção
jurídica da sociedade de capital e indústria. Mas o tipo era e é usado, prestava e presta relevantes
serviços. Em vez de o capitalista só emprestar, presta como sócio, O sócio de indústria, em vez de
dar a sua atividade social como quota, assume tôda a atividade produtiva, desde o trabalho, quase
sempre manual, porém não sempre, até a direção da empresa. Daí não poder dedicar-se a outra
atividade (Código Comercial, art. 817,
2 a alínea), razão por que pode, infringindo êsse dever, perder o que lhe caberia nos lucros e ser
excluído da sociedade.
Há outro ponto essencial ao conceito: a sociedade de capital e indústria não é sociedade por quotas;
é sociedade capitalista, cujos sócios respondem ilimitada e solidàriamente.
Ar
CAPÍTULO II
2.PRESTAÇÕES. As prestações dos sócios capitalistas são as prestações que poderiam corresponder
a sócio em sociedade de nome coletivo. As prestações do sócio ou dos sócios de indústria são o seu
serviço, a sua atividade, ou os seus serviços, ou as suas atividades. Não há determinação da quota
do sócio de indústria ou dos sócios de indústria. O Código Comercial, art. 287, não é invocável; de
jeito que não se tem de avaliar aquilo que é a contribuição do sócio de indústria. Ésse é o ponto
principal e precisa-se ter tôda a firmeza e exatidão na interpretação do Código Comercial, art. 319:
“O instrumento do contrato da sociedade de capital e indústria, além das enunciações indicadas no
ad. 802, deve especificar as obrigações do sócio ou sócios que entrarem na associação com a sua
indústria somente, e a quota de lucros que deve caber-lhe em partilha. Na falta de declaração no
contrato, o sócio de indústria tem direito a uma quota nos lucros igual à que fôr estipulada a favor
do sócio capitalista de menor entrada”. A quota, a que se refere o art. 319, é a quota nos lucros, e
não a quota de entrada, porque se há quota de entrada em serviços, em atividade, em indústria, há
de haver a avaliação, e então a sociedade não é de capital e indústria. Por isso, não se pode ir contra
o sócio de indústria para se penhorar ou constringir cautelarmente o valor do que seria a atividade
de sócio de indústria, nem, por dívida do sócio de indústria, se pode ir contra os bens da sociedade,
O que pode ocorrer é a constrição cautelar ou executiva da parte que ao sócio de indústria cabe nos
lucros partilhados (cf. Código Comercial, .art. 323).
O sócio de indústria, no sentido de sócio de sociedade de capital e indústria (Código Comercial, arts.
317-324), não é o sócio cuja prestação em trabalho foi avaliada e pôsto o seu valor como quota do
sócio. A atividade dêle é prestada à sociedade, para que tenha parte nos lucros, O sócio capitalista
ou os sócios capitalistas respondem, como se só éles fôssem componentes da sociedade, O sócio de
indústria não contribuiu para o capital social com dinheiro, ou outro bem cujo valor se insira, desde
logo, no ativo social, O seu patrimônio fica incólume. Não gera, nem dá nome para figurar na firma.
Se dá o nome, se entra com algum valor, desde logo, mesmo como dívida à sociedade, ou se pratica
os ates de gerência, responsável fica pelas dívidas sociais (cf. Código Comercial, art.
O que o sócio de indústria promete é o seu trabalho, a sua atividade necessária à emprésa. Não
pode ocupar-se de ope rações comerciais estranhas à empresa, sob pena de perder a pretensão aos
lucros que lhe caberiam e de ser excluído da sociedade. Em todo o caso, o art. 317, 2.” alínea, é jus
disposttivum: pode-se, no contrato social, permitir que o sócio tenha outra atividade, fora ou dentro
do estabelecimento, ou a mesma atividade, fora do estabelecimento, ou dentro dêle, se é possível a
discriminação.
Hoje, a sociedade de capital e indústria, que não tivesse firma social, seria sociedade de fato (cf.
Decreto ri. 916, de 24 de outubro de 1890, art. 3~O, § 8.0: “A firma de sociedade de capital e
indústria não poderá conter o nome por extenso ou abreviado do sócio de indústria”. O que se havia
de entender, lendo-se o mal redigido art. 318 d~
Código Comercial, é que a firma social, se só há um sócio de capital, somente pode conter o seu
nome. Se há dois, a firma social pode conter os dois.
Contra a opinião de Jútro PIRES (Direito Comercial, 134) de ser sociedade em conta de participação
a sociedade de capital e indústria sem firma, o que J. X. CARVALHO DE MENDONÇA (Trata de
Direito Comercial Brasileiro, III, 209) parecia reLutar, temos de advertir se o contrato é explícito em
ser sociedade de capital e indústria aquela cujo contrato se conclui e se deixa de dar firma social,
dificilmente pode ser considerada, contra a letra do contrato, sociedade em conta de participação:
figurantes do contrato.
Para que haja firma de sociedade de capital e indústria, é preciso que haja, pelo menos, o nome de
um sócio capitalista e a alusão simbólica a outros sócios, que podem ser sócios de responsabilidade
ilimitada e sócios de indústria, ou só sócio ou sócios de indústria.
Com o que se estatui no art. 317 do Código Comercial, não se vedou identificação do sócio de
indústria, vedou-se a inserção do seu nome na firma social. Algo ocorre como a respeito do sócio
comanditário.
Quanto a poder o registo do nome comercia] ser negado, porque se inseriu na firma social o nome
do sócio que somente presta a indústria, a solução tem de ser negativa. Em verdade, êle quis outra
vinculação que aquela do contrato social:
A sociedade de capital e indústria não aparece, sempre, como firma individual, mesmo se só há um
sócio capitalista. O que se veda é que da firma social conste nome, completo ou abreviado, de sócio
de capital e indústria; porém a CONSEQÜÊNCIA da infração é tornar~se responsável ilimitada e
solidàriamente a pessoa que também é sócio de indústria. Dissemos “também é”, porque a
sociedade não se transforma em sociedade em nome coletivo. Sócio de indústria continua de ser,
mas fez-se também, pela nominalidade na firma, sócio capitalista. O ad. 8.0, parágrafo único, do
Decreto n. 916 apanha tôdas as pessoas, que, embora não sejam, pelo contrato social, sócios
ilimitadamente responsáveis, “emprestaram” o nome.
Por outro lado, nada obsta a que o sócio capitalista queira participar dos lucros como sócio
capitalista e também como sócio de indústria.
Se há apenas firma individual, a sociedade de capital e indústria somente pode ser sociedade de
fato, pois, se há contrato de sociedade, ainda não registado, êsse contrato há de conter a firma
(Código Comercial, art. 302, inciso 2, que se há de interpretar, hoje, como a legislação posterior
tratou a sociedade de capital e indústria). O próprio art. 318, 1.a parte, refere-se a “firma social” (5.
IX. CARVÂLHO DE MENDONÇA, Tratado de Direito Comercial Brasileiro, III, 2Y ed., 201 s.;
VALDEMA~Lt FERILEIRA, Instituições de Direito Comercial, 1, 355
e 356; sem razão, FRANCISCO JOSÉ DA ROCHA, Sociedades em comandita, 65; DE PLÁCIDO E
SILVA, Noções práticas de Direito Comercial, 160). Não se pode, porém, admitir que a sociedade de
capital e indústria não tenha (ou não possa ter) firma social. O uso da expressão “nós” pelo sócio
capitalista, se é um só, é elemento de prova da sociedade (Código Comercial, art. 305, inciso 6>,
como o é o uso da expressão “& Cia” (ad. 305, inciso 9). O que a firma da sociedade de capital e
indústria não pode conter é o nome, por extenso ou abreviado, do sócio de indústria.
A expressão “& Filhos”, ou “& Filhos”, ou “& Senhora”, ou “& Irmãos”, implica responsabilidade
ilimitada do sócio de indústria, porque se determina, embora simbôlicamente, quem seja ou quem
sejam os sócios de indústria.
O elemento subjetivo, embora genérico, aparece. „A expressão “& Filho” disse a Câmara Criminal
de Agravos do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 22 de setembro de 1924 (R. dos T., 52, 42) “coloca
ostensivamente na razão social o sócio de indústria, podendo induzir terceiro a êrro sob a natureza
da sociedade, motivo suficiente, em face da lei, para que seja a firma considerada coletiva”. Está
certo.
Cia.”. Nada obsta a que se posponha ao elemento nominal ou aos elementos nominais “Sociedade de
capital e indústria”, ou “5. de Cap. e Ind.”, ou “5. de C. e 1.”.
Outros elementos, objetivos, podem ser acrescentados, como “Casa de móveis”, “Joalheiros”,
“Alfaiates”.
Diz o Código Comercial, ad. 324: “Competem tanto soa sócios capitalistas como aos credores sociais
contra o sócio de indústria, tôdas as ações que a lei faculta contra o gerente ou mandatário infiel, ou
negligente culpável”.
Quanto à administração rege o que se disse a respeito das sociedades em nome coletivo, O sócio de
indústria não pode ser gerente, porque, sendo-o, responde pelas dividas sociais , ilimitada e
solidàriamente Se ocorre que êle é, ao mesmo tempo, sócio de indústria (com a quota 1/x nos lucros)
e sócio capitalista, a responsabilidade é apenas como sócio capitalista.
O sócio de indústria responde ao outro sócio ou aos outros séelos, e não sé aos sócios capitalistas,
pelos danos que cause por dolo, culpa, inclusive negligência. Pode ocorrer que êsse dole, essa culpa,
inclusive essa negligência, cause danos a terceiros, e responde o sócio de indústria, porém a lei não
foi feliz na equiparação, porque o ato pode ser ato ilícito absoluto como pode ser ato ilícito relativo,
mas aí como gestor de negócios alheios sem outorga.
Diz o Código Comercial, art. 823: “Os fundos sociais em nenhum caso podem responder nem ser
executados por dívidas ou obrigações particulares, do sócio de indústria sem capital; mas poderá ser
executada a parte dos lucros que lhe couber na partilha”.
Lê-se no Código Comercial, art. 821: “O sócio de indústria não responsabiliza o seu patrimônio
particular para com os credores da sociedade. Se, porém, além da indústria, contribuir para o
capital com alguma quota em dinheiro, bens ou efeitos, ou fôr gerente da firma social, ficará
constituído sócio solidário em tôda a responsabilidade”.
Diz o Código Comercial, ad. 822: “O sócio de indústria não é obrigado a repor, por motivo de perdas
supervenientes,que tiver recebido de lucros sociais nos dividendos; salvo provando-se dolo ou
fraude de sua parte (ad. 828)”.
Se o sócio de indústria é devedor a alguém, não se pode. responsabilizar a sociedade por isso,
porém cabe execução na. pretensão do sócio à quota nos lucros (Código Comercial,. ad. 328).
No tipo de sociedade de que cogitou o Código Comercial, nos arta. 317-824, concebem-se o sócio
capitalista como sócio ilimitada e solidâriamente responsável ou os sócios capitalis bis, se há dois ou
mais, como ilimitada e solidâriamente iresponsáveis. O sócio de indústria ou os sócios de indústria
ficam de parte, sem responsabilidade patrimonial. Em conseqUência, de modo nenhum, salvo se por
manifestação de vontade ou ato de responsabilização, assumiu dever, pode o seu patrimônio ser
atingido para adimplemento das dívidas sociais. Se há perdas supervenientes ao período a respeito
do qual recebeu quota nos lucros sociais, por elas não respondem os sócios de indústria, ou não
responde o sócio de indústria; salvo se houve culpa da sua parte (Código Comercial, art. 822).
Perante terceiro.,. o sócio de indústria responde como procurador, gerente ou pessoa que haja com
culpa. No fundo, tem-se de ver qual a posição do sócio de indústria perante terceiros. Se o contrato
entre a sociedade e o terceiro é de empreitada ou locação de obra, a responsabilidade do sócio de
indústria é atingida pelos princípios que regem a responsabilidade da sociedade perante terceiro. Se
há outra figura contratual, com princípios diferentes sobre responsabilidade de quem presta serviço
ou trabalho, tem-se de fazer remissão a êsses princípios.
Quanto aos sócios capitalistas, estabelece o Código Comercial, ad. 320: “A obrigação dos sócios
capitalistas é solidária,. e estende-se a além do capital com que se obrigarem a entrar na
sociedade”.
Se o sócio de indústria gere a empresa, responde ilimitada. e solidâriamente (Código Comercial, ad.
821, 2.~
parte).
3. QUOTAS NOS LUCROS. Pode haver dois, ou mais sócios de indústria, com a discriminação do que
têm de fazer e das quotas que lhes cabe nos lucros (cf. Código Comercial, art. 819). Se o contrato
social é omisso quanto à quota de cada um nos lucros, entende-se, que é igual à de cada um dos
sócios capitalistas. Se há sócios capitalistas com diferentes quotas, a quota de cada sócio de
indústria é igual a menor quota de sócio capitalista. Se só há um sócio capitalista e dois ou mais
sócios de indústria, cada sócio de indústria tem direito à quota do sócio capitalista.
CAPÍTULO III
de março de 1905). No direito francês, a doutrina afasta a validade do con-trato se ambos são sócios
comanditantes, mas admite que se-jam comanditários (cf. CH. LYON-CAEN, L. RENAULT e
ANDRÉAMIAUD, TraiU de Droit comercial, II, n. 78; 5. HÉMARD Tkéorie et Pratique des Nuilités de
Societés,
2 a ed., n. 88). Se o sócio de indústria pede a dissolução da sociedade, éque a lei o permite, a
despeito das críticas que se fizeram, de jure condendo (cf. 53 Câmara Civil do Tribunal de Justiça
de São Paulo, 28 de abril de 1988). Todavia, se no contrato social se previu o modo por que se hão
de apurar e pagar os haveres do sócio de indústria, é que implicitamente (talvez explicitamente) se
pré-eliminou a dissolução a pedido do sócio de indústria (2.a Câmara Cível da Côrte de Apelação do
Distrito Federal, 28 de janeiro de 1927, 1?. de D., 88, 522; Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, 19
de setembro de 1958, E. J., 42, 66).
Se no contrato social há a cláusula de poder o sócio de capital despedir o sócio de indústria, apenas
com o direito a determinada percentagem dos lucros, mas ocorre que a extinção se dá por advento
do termo do contrato social, tem-se de proceder à liquidação ~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça
de São Paulo, 15 de agôsto de 1984, 1?.
2. DISPENSA Do sócio . No contrato de sociedade de capital e indústria pode ser posta a cláusula de
dispensa de sócio de indústria, seja voluntária (Tribunal de Justiça de São Paulo, 26 de abril de
1938, C. do D., III, 242) seja com apresentação de justa causa (que pode ser explicitada) Não pode
haver despedida sem ser prestado ao sócio de indústria aquilo a que dos lucros tem direito.
As regras jurídicas sobre dissolução e liquidação das sociedades em geral incidem a propósito das
sociedades de capital e indústria. Em princípio, liquidante é o sócio capitalista; só em caso de morte,
incapacidade, ou outra causa de afastamento êle não o é (2.a Câmara Cível da Côrte de Apelação do
Distrito Federal, 18 de abril de 1928, e Câmaras ReUnidas, 7 de janeiro de 1924, 1?. de D., 76, 165).
1
Ainda que os sócios sejam apenas dois, liquidante há de ser o de maior capital. Se a sociedade é de
capital e indústria e o sócio capitalista prestou integralmente o que tinha de prestar, Lêsse é que
tem de ser o liquidante?
Não, respondeu a 2a Turma do Supremo Tribunal Federal, a 22 de janeiro de 1954, porque o art.
657, § 2/~, Jo Código de Processo Civil é exceção ao que se estatui no art. 657, § 1.0: se são dois os
sócios e há divergência; de modo que, aplicado à sociedade de capital da 2.~ Câmara Cível do
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a 16 de março de 1958 (R. F., 151, 318).
Se, com a morte do sócio capitalista, ou de algum dêles, pode o sócio de indústria tomar o seu lugar,
de modo que se extinga a sociedade de capital e indústria, ou haja sócio de indústria com a quota de
capital, é questão que se tem de resolver pelo contrato social. J. X. CARVALHO DE MENDONÇA
(Pareceres, II, 285) respondeu, a priori, contra a inserção do sócio de indústria. No contrato social
pode estar prevista a continuação da sociedade, e. g., indo a quota ao sócio de indústria pelo valor
do último balanço, ou a outrem, inclusive à escolha do sócio de indústria. Então, os sucessores a
causa de morte recebem o valor. Quase sempre, há instalação, aparelhos ou maquinaria, de modo
que a liquidação seria prejudicial aos interesses dos sucessores e do próprio sócio de indústria. Cf.
Código Comercial, ad. 885, inciso 4.
Se não há mancomunhão de fundos, como é de supor-se, o que se liquida é apenas aquilo que tem de
ser partilhado como lucro. Se há dois ou mais sócios capitalistas, tem-se de proceder à liquidação
dos fundos ~ús, e não sé dos lucros. Se só há um, seria liquidação de lucros. O assunto foi discutido
na 2.~ Turma do Supremo Tribunal Federal, 10 de novembro de 1952 (R. de D. M., V, 787); mas sem
que se possa tirar do acórdão solução precisa, por mais que se tenha considerado a cognição do
recurso extraordinário 8. Socío IRREGULAR A sociedade do capital e indústria, mesmo se irregular,
está sujeito à dissolução e à liquidação (Código de Processo Civil, art. 678; Supremo Tribunal
Federal, ii de novembro de 1952, E. dos T., 242, 642). O Código de Processo Civil, art. 671, admite
que se liquide, judicialmente, a própria sociedade de fato.
CAPITULO 1
“sociedade secreta” (stille Gesellschaft), tal como está no Código Comercial alemão, §§ 885-342.
Não se pode dizer que a sociedade em conta de participação seja juridicamente inexistente perante
terceiros. Seria confundir-se inexistência com ineficácia. Existir, ela existe. O problema que surge é
o de seus efeitos contra terceiros e a não-existência de personalidade jurídica. Nela, há o punetum
satiens de ser sociedade, e não só comunidade, e não se personificar: é sociedade, sem ser pessoa
jurídica.
Quanto, no Decreto n. 916, de 24 de outubro de 1890, art. 32, § 4O, se diz que “a sociedade em
conta de participação não poderá ter firma que indicie a existência de sociedade”, faltou-lhe
precisão terminológica: a sociedade em conta de participação não pode ter firma, porque, se a tem,
se caracteriza outro tipo; veda-se-lhe o uso de firma para a sociedade, embora exista, não aparece
no registo, a respeito os terceiros, pela publicidade registária. Existe, internamente; não se
apresanta, lá fora, como pessoa jurídica, nem há as relações jurídicas externas. Não é para se
estranhar que J. SAVARY (te Parfait Negotzant, 1, 345) a chamasse anônima; porque, em verdade,
mesmo se o sócio participante gerente é sociedade, com o seu nome, a sociedade em conta de
participação não o tem. O sócio participante gerente pratica os atos, em contacto com os terceiros,
sob o seu próprio nome individual ou social. Não tem de dar-lhes a conhecer a existência da
sociedade, se é que êles a desconhecem; nem tem dever de informar a respeito.
“Quando duas ou mais pessoas, sendo ao menos uma comerciante, se reúnem, sem firma social,
para lucro comum, em uma ou mais operações de comércio determinada, trabalhando um, alguns ou
todos em seu nome individual para o fim social, a associação toma o nome de sociedade em conta de
participação, acidental, momentânea ou anônima; esta sociedade não está sujeita às formalidades
prescritas para a formação das outras sociedades, e pode provar-se por todo o gênero de provas
admitidas nos contratos comerciais (ad. 122) “. A comercialidade pode começar com a participação,
como pode ser anterior ou posterior ao seu início. Se todos os sócios participantes não são
comerciantes, um dêles se faz comerciante, se a sociedade é comercial, para que possa gerir a
sociedade. O sócio gerente, por sua ostensividade, tem de ser comerciante.
Nada obsta a que a sociedade seja civil e se tenha de invocar o art. 1.364 do Código Civil. O ad. 325
do Código Comercial supõe que as operações a que se refere sejam comerciais.
No art. 325 cogita-se de trabalho dos sócios, mas supõe-se a prestação em bens móveis ou imóveis.
A sociedade 1
A propósito das sociedades em conta de participação devemos evitar o emprêgo das expressões que
apenas se referem à eficácia e são empregadas como se os fatos a que elas. correspondem fôssem
no plano da existência.
1.364 (cf. K4ML WIELAND, Handelsrecht, 1, 771 5.; RUDOLPR MÍSLLER-ERZBACH, Deutsche>s
Handelgrecfl~ 355 5.; JmÃus VON GIERKE, Handetsrecht und Schiffahrtsrecht, ~J, 5.~ ed., § 57;
OTTO
stillen Gesellschaft, Zeitschrift fiir das gesantie Handelsrecht, 58, 502 5.; Fa. LEONHAIm,
Besonderes Schiddrecht de8 BGR., 276). Na opinião de 1{EINRICH LANa, a sociedade em conta de
participação é apenas figura seme]hante à sociedade, mais caracteristicamente contrato de crédito,
o que se há de refusar.
2. INTERINIDADE Sem personalidade, a sociedade em conta de participação não tem sede social,
nem órgãos que a presentem na vida jurídica. Dentro, pode ela ter assembléia organizada, ou
organizável, que vigie e vele pelo5 interesses dos sócios participantes, ou dos sócios participantes
inativos. Pode bem ser que não se trate de órgão interno, mas de outra figura, como a de associação
de velamento.
Por vêzes, o sócio participante ativo exige outorga escrita de poderes ou de poder. Porém deve êle
abster-se de apresentá-la aos terceiros, salvo se explicitamente se diz que a sociedade é em conta de
participação e o instrumento escrito de outorga de poderes de modo nenhum faz autônoma a
sociedade.
Para alguns juristas, há contrato de intercâmbio nas sociedades e nas associações em participação
(sociedade unilate ral de trabalho, ou sociedade unilateral de capital). Assim, BEaTO BRACCO (Le
Società co4nnterciali mm inanif este, 14 s.) e TULLW ASCARELLI (Consorzi votoniari tra
impreditori, 38 s.) contra, TITO RAvÁ
Sé o sócio participante ativo, nas relações jurídicas com terceiros, é que é figurante dos negócios
juridicos e dos atos jurídicos stricto .sensu, principalmente se é êle que tem a propriedade e a posse
dos bens em comunhão pro indiviso. Passa-se algo semelhante ao que se passa com os
comissionários.
No Código Comercial (1850), art. 325, falou-se de “associação ”; nos art. 326, 327 e 328, de
“sociedade”. No Código Comercial francês, arts. 47-50, e nos que o imitaram, cometeu-se o mesmo
êrro de terminologia. Incorreu nêle, de nôvo, a Lei francesa de 24 de junho de 1921. Em direito
comercial, as sociedades em conta de participação são sociedades, e não associações, pôsto que se
possa pensar em associações comerciais em que haja a participação, como há as sociedades civis em
conta de participação e as associações civis em conta de participação. De qualquer modo, temes de
repelir, em direito comercial e em direito civil, não se tratar de verdadeira sociedade, como queriam
Clix LYON-CAEN e L. RENAULT (Traité de Droit Commer ei ai e E.
A sociedade momentânea não tem personalidade civil. Se a obteve, deixou de ser do tipo de que se
acentuou o elemento da momentaneidade.
Se a exploração é regular e contínua, não há sociedade momentânea. Por isso mesmo, não funciona
como firma social. Se os sócios lhe atribuíram pressupostos para registo e a eficácia personificante,
têm os juizes de verificar qual o tipo de sociedade que se concebeu, a despeito, por exemplo, de se
lhe haver dado o nome de “sociedade momentânea”. Todos os sócios ficam em contacto com os
terceiros, juntos ou separadamente, no que se diferencia da sociedade em conta de participação,
que especializa os sócios (participantes ativos e participantes inativos). Uma das razões para se
afastar tratar-se de sociedade momentânea se foi feito o registo, com a eficácia personificante, está
em que, se isso fôsse admissível, os figurantes teriam aí meio para dissimular sociedade em nome
coletivo.
A responsabilidade dos ativos, perante terceiros, é ilimitada e solidária. Tal conseqUência esteia-se
no art. 301, alínea 3~a, do Código Comercial. Se um dos sócios figura em nome próprio como
contraente, não há ação direta dos terceiros contra os outros, nem há pensar-se em solidariedade.
Se opera em nome da sociedade, ou de todos, vincula a todos.
Pôsto que não tenha persolidade jurídica, a sociedade em conta de participação existe,
juridicamente. Cada sócio tem de fazer a sua contribuição, mas isso não implica que se hajam de
juntar em comunhão as contribuições.
Contribui-se, sem se atribuir. Todavia, embora não seja o mais freqúente, pode existir o fundo
comum, sobre o qual os terceiros podem ir sem se preocuparem com a existência do sócio
participante. Se nada se estabeleceu no contrato social, o que se comuniza é o uso dos bens
empregados no interesse comum (P. DE PEISMAECKER, Des Associatiorts en> participation eL des
Syndicats fi‟nanciers, n. 31). O usineiro ou o fabricante de sapatos, que admitiu a sociedade em
conta de participação, não transfere a propriedade dos imóveis, nem dos móveis infungíveis. Se as
contribuições forem em dinheiro ou coisas fungíveis, a propriedade transfere-se ao sócio gerente,
que deve, por isso, as entradas dos sócios participantes Nada obsta a que se transfiram as
propriedades dos bens imóveis e dos móveis, que exigem registo do ato translativo, e então há
mancomunidade, sem que com isso algo tenham a ver os terceiros, pois os sócios participantes
sofrem as perdas se outorgarem poderes de gestão ao sócio gerente.
O sindicato financeiro tem gerente, que é quem figura nos negócios com os terceiros, e entra na
classe dos sócios participantes ativos que são os gerentes das sociedades em conta de Participação.
O que se expõe, em toda esta Parte, sobre as sociedades em conta de participação é invocável a
respeito dos sindicatos financeiros.
Nas relações jurídicas internas, os sócios partilham a comissão que se receberam, deduzidas as
despesas. Quanto aos títulos não colocados, podem os sócios tomar parte proporcional às suas
quotas. -
Há sindicatos financeiros que não tratam ou não tratam somente de emissões. Por exemplo: os
sindicatos financeiros para levar a bolsa, ou para manter preços bolsísticos ou de mercado; os
sindicatos para bloqueio de títulos; os sindicatos de gestão ou de contrôle (cartéis, holdings,
Konzern). Cf. P. DR
Nas relações jurídicas entre a empresa emissora de títulos, ou outra, e a pessoa que trata com ela,
não se interfere o sindicato financeiro. A empresa só se põe em contacto com a pessoa que gere o
sindicato financeiro, de que talvez não tinha notícias. Nas relações entre o sócio participante ativo e
os adquirintes de títulos ou de outras mercadorias, responde êle como se elemento fôsse êle, e não a
sociedade emissora, ou os sócios participantes inativos. Tem de reparar os danos causados,
conforme os princípios que regem a espécie de operação.
A sociedade em conta de participação não se confunde com o mútuo com participação nos juros, O
mutuante não se expõe a perdas nas operações que se fazem com o dinheiro mutuado.
No contrato de trabalho com participação nos lucros, há a participação sem haver o igual
tratamento, pois que se insere o elemento da subordinação, sem que seja fácil, sem profundo exame
dos casos, distinguir-se cada negócio 1
Algumas expressões e enunciados, que aparecem em acórdãos, tem de ser repelidos. E. g.: a)
2 a Câmara Cível da
COrte de Apelação do Distrito Federal, 14 de junho de 1918, 1?. de O., 49, 896: “A sociedade em
conta de participação tem como característicos os seguintes~ ser desconhecida de terceiro; ser
transitória, acidental, ocasional, ou momentânea”. Ora, os terceiros podem conhecê-la, e a
sociedade pode ter finalidade de grande duração. b) “Ser sem personalidade externa” (?), como está
no acórdão da 2!- Câmara Cível, a 17 de julho de 1928 (R. de 13., 78, 410). Tôda personalidade é
externa.
Também os empréstimos podem ser conseguidos por pessoas co-mutuantes, representadas por uma
ou algumas delas, ou mediante a figuração de uma sé, duas, ou algumas pessoas, para tôdas, por ter
havido, haver ou ter de haver a conclusão de contrato em conta de participação.
A aquisição de título nominativo pode ser para a finalidade do contrato em conta de participação.
Dá-se o mesmo se endossável, ou ao portador o titulo; porém não há contrato em conta de
participação se o titulo foi adquirido pelos cônjuges que têm comunhão de bens, ou pelos sócios da
empresa em nome coletivo, ou em comandita simples, ou outra sociedade, em nome da sociedade,
mesmo se não foi explícita a referência ao nome de quem adquire.
Se não foi estabelecida mancomunhão, nem se pode pensar na figura da sociedade em conta de
participação; pode dar-se que se componha sociedade de fato, isto é, situação que não é a de
sociedade, como se A e 13 vão comprar o bilhete em duas partes perfuradas e na ocasião, só
havendo um, A faz sinal a E para que compre todo, metade para cada um. Cf.L.AULINGER (Die
atypi.sche stille Gesellschaft, 45 s.).
CAPÍTULO II
1.FIGURANTES. Já dissemos que há de haver, pelo menos, duas pessoas que participem dos lucros,
societàriamente .
Código Civil, art. 1.864, previu a invocabilidade de regras jurídicas de direito comercial.
A sociedade em conta de participação pode ter por objeto aquisição de apartamento, ou de edifício,
ou de fazenda.
Ou a ~exploração de imóvel.
O sócio gerente pode dispor, livremente, dos tens móveis e de todos os bens que estejam em nome
dêle ou da sociedade a que se ligou o sócio participante inativo.
Se o contrato social não dá soluções diferentes, a) o sócio que nao prestou o que prometera como
participação tem de pagar os juros legais da mora, b) se os sócios não designaram o sócio gerente, a
administração interna é de todos e os poderes de contacto com os terceiros sao atribuidos ao sócio
de maior quota, mas qualquer dêles que se incumbe de exercer a presentação é tido como sócio
gerente, e) o sócio gerente tem de prestar contas, periodicamente , com a respectiva documentação
de receita e de despesa, d) se não foi preestabelecido qual o período, tem-se como assente o de ano.
Se o contrato de sociedade em conta de participação foi concluído apenas para determinadas
operações, a prestação de contas há de ser logo que essas se ultimem.
A contribuição pode ser a) de bem que fique em comum, ou b) de bem de que não se transfira a
propriedade, mas só o direito de uso, e) de bem de que se transfiram ao sócio participante ativo a
propriedade e a posse. Se o participante entra com bem imóvel, é preciso que se transfira a
propriedade ao sócio participante gerente, ou que se estabeleça, com as exigenclas legais, a
mancomunhão porque, se nem aquilo nem isso -ocorre, a propriedade continua com o participante, e
só se destinam à sociedade o uso e a fruição, ou só o uso, ou só a fruição.
À extremidade do sócio participante inativo ou dos sócios participantes inativos corresponde o não
poder o sócio participante inativo praticar atos de gestão, conjunta ou coletiva-mente, ou sozinho ,
em contacto com terceiros.
Se o sócio participante inativo procede como se fôsse sócio em sociedade coletiva, ou como gerente
da sociedade, há as conseqúências da sua atividade positiva, de jeito que nasce aos terceiros ação
direta contra o sócio gerente, conforme o art. 827, in fine, do Código Comercial (não se precisa
invocar princípio de direito civil, cp. P. DE
poderes), ou regular (se houve o registo, o que afasta qualquer dúvida decorrente de má redação do
contrato social).
O que é preciso é que o sócio participante inativo se abstenha da prática de atos que teriam de ser
do gerente, sem que o chamado principio da clandestinidade ou da obscuridade, melhor diremos
princípio da extramidade, possa ser interpretado como vedativo de informação sobre a sociedade,
seus meios e seus fins. No fundo, só se proibem a ação conjunto ou coletiva e o emprêgo de firma
social.
A vantagem maior do tipo está em que se deixa fora dos contactos com terceiros (portanto, com
possível atividade interna em sigilo) a exploração comercial. Outra é a da dispensa da publicidade
registária. Isso não obsta a que as leis fiscais imponham o dever de comunicação à repartição
pública.
Quando a operação é ocasional, de alguns dias, ou semanas, como em festa de ano bom, ou de
Natal, ou de algum centenário, compreende-se que os interessados em laço societário prefiram a
composição da sociedade em conta de participação. Raramente, a atividade comercial duradoura
adapta-se à figura da sociedade em conta de participação. Mas os sindicatos financeiros são
exemplos de tais sociedades permanentes.
As quotas podem ser conferidas ou alienadas acima do par (ágio, Aufgetd), tal como se passa nas
sociedades por ações. O organizador da sociedade em conta de participação não pode admitir
quotas abaixo do valor nominal.
Os estatutos podem prever a substituição dos sócios participantes, desde que não torne título
negociável a quota da participação. Se nada se previu, é preciso a unanimidade do assentimento dos
outros sócios participantes.
Não há capital social da sociedade em conta de participação. Há patrimônio em mão comum, ou não
o há (cada sócio é dono da sua entrada, ou tôdos os direitos, objeto das entradas, se transferiram ao
sócio participante ativo, 011 aos sócios participantes ativos).
(A expressão “capital social” tem sido criticada, porque a sociedade cooperativa tem patrimônio
social, e não capital. Ora, capital e patrimônio social são dois conceitos, e não se há de excluir do
conceito de capital social o que se destina, patrimonialmente, ao funcionamento da entidade social,
personificada. O que pode ocorrer é que o patrimônio social, por ser ínfimo o valor, não exista, ou o
elemento mutualístico seja sozinho , como se prevê no art. l.~, § 6.0, do Decreto n. 22.289.)
8.FRAÇÂO BENEFICIÁRIA NOS LUCROS DA SOCIEDADE. No contrato social pode ser inserta
cláusula segundo a qual algum sócio tenha fração dos lucros, a titulo de benefício ao fundador;
porém não em títulos negociáveis.
questão seria negativa. Aliter, se as operações com isso se incrementam ou se não são atingidas. O
que êle pode é fazer a outrem participante da sua quota. O que acima dissemos é ius distpositivum.
ESCARRA, JEAN RAULT, Traité théorique a pratique de Droit commerciat, Les Sociétés
commerciales, 1, 546). Se alguma lei exige, para os atos do objeto da participação, que haja forma
escrita e publicidade dos nomes dos exploradores das operações, êsses pressupostos de modo
nenhum têm a conseqúência de personificar a sociedade em conta de participação, salvo se se
afasta, na espécie de atividade, tal figura.
A prova do contrato de sociedade em conta de participação é qualquer prova. Não se estende a êle o
que se estabelece para os outros contratos de sociedade (cf. Código Comercial, art. 300, 2.~ alínea,
e art. 325, in tine).
Oart. 825 do Código Comercial permite que se prove o contrato de sociedade em conta de
participação: a) por meio de qualquer escrito, mesmo se redigido num só exemplar, pôsto em lugar
de que possa ser exibido, em caso de requerimento ou petição em juízo (solução com que afastamos
as soluções radicais, a que admita que um só dos participantes tenha a guarda do documento, e a
que o nega, respectivamente de C. HOUPIN e E. BOSVIEUx, Traité générale théori que et pratique
des Sociétés civiles a co‟mmeroiales d des Associations, 1, n. 382, e E.
THALLER, TraiU général théori que et pratique de Droit commercial, n. 2017) ; b) pelos livros de
comércio, ou correspondência trocada entre os figurantes; e) por testemunhas, mesmo se não há
comêço de prova por escrito (L. ADOLPII, De PAsso ciation en participation, 53) d) por presunções;
e) pela confissão; O por indícios.
de Justiça de São Paulo, 14 de setembro de 1951, R. F., 145, 212). Se o contrato é entre sociedade e
sócio participante inativo, então há de estar registado o primeiro contrato social, para os efeitos
concernentes à sociedade-sócio, mas essa exigência nada tem com o registo do contrato de
sociedade em participação.
Não se pode dizer, em geral, como fazem alguns juristas (e. g., Oro WEIPERT, Ko‟mmentar zum
Hctndelsbuch,
~J, 2.~ ed., 705), que, registada a sociedade em conta de participação, não se faz sociedade
comercial. Se, com o registo, há elementos para se ver, no caso, outra sociedade, houve a
personificação, além da publicidade (afastamento da secretitude, da obscuridade, da ineficácia para
terceiros). Se não os há, o registo foi sem eficácia personificante e os terceiros tratam com o sócio.
participante ativo, ou com os sócios participantes ativos, sem as conseqUências que seriam próprias
das sociedades em nome coletivo ou outra sociedade de pessoas.
3.DIREITO FISCAL. Se, conforme permite a lei (Código Comercial, art. 325, in une), foi oral o
contrato de sociedade em conta de participação, há dificuldades para que as repartições de
impostos apurem o que se sonegou. Dá-se quase o mesmo se o contrato foi por meio de cartas e os
contraentes, não obrigados ao registo, os guardam com sigilo. Quanto ao impôsto de renda, o sócio
participante ativo, se encobre os outros, expõe-se ra que se lhe cobre o imposto sobre o todo dos
lucros. Os problemas são muitos (cf. R.
BLANCHER, La Situation fis cale des Associo tions cii participation, 5 s.). A lei fiscal pode exigir
que, se foi feito escrito, que se registe. De jure condendo, o registo nas repartições fiscais é
recomendável, para que se evite 1
pensar-se em outro tipo de sociedade. Quando a contribuIção foi com transferência de propriedade
imobiliária, já houve pagamento de impostos. Igualmente, se foi estabelecida mão-comum.
Se os contraentes, para evitar suspeitas, ou por outra razão, registam o contrato, êsse fato de modo
nenhum desnatura o contrato de sociedade em conta de participação. Continua ela e em
personalidade.
CAPÍTULO III
2.CAPACIDADE. Os sócios participantes, ativos e inativos, têm de ser capazes, no plano do direito
civil, ou no plano do direito comercial, conforme a espécie. Mas os requisitos para exercer o
comércio só se exigem aos sócios participante3 ativos. Se a operação somente consiste num ato ou
espécie de ato, a capacidade para a profissão comercial é concernente a êsse ato ou espécie de ato.
Aos outros sócios participantes são exigidos o poder de disposição dos tens e o de destinação ii
atividade em participação.
3. O objeto da atividade, de cujos lucros e perdas se participa, tem de ser liei~o. Se não no é, há
nulidade. Dá-se o mesmo se impossível o objeto. Se a sociedade se propõe a operações que ficaram
limitadas por lei às bolsas, aos bancos ou a outras empresas, o objeto é ilícito. É o que ocorre, por
exemplo, com alguns sindicatos financeiros.
4.FORMA. A infração de regra jurídica sobre fomia somente ocorre se, in casu, a lei especial a exige.
O Código‟
Comercial, art. 825, abriu as portas à oralidade e à tacitude, no que o acompanha o Código Civil,
art. 1.864.
5.REGRA.s JURÍDICAS COM SANÇÃO DE NULIDADE. Se alguma regra jurídica proibe o sigilo, o
segredo, a respeito de alguma operação, ou se não permite que a participação se dê sem a
legitimação de acôrdo com a lei, há a sanção de nulidade. Nula é a operação e nulo o contrato de
sociedade em conta de participação. Pode dar-se que somente se vede a participação, e não a
operação.
As regras jurídicas proIbitivas de jôgo e aposta não respeito dos contratos de sociedade em conta de
parti-cipação
. As sanções não atingem os sócios participantes inativos. Por outro lado, o sócio participante ativo
tem de abster-se de todos os atos ilícitos relativos ou absolutos, inclusive de atos que infringem as
leis contra a its uva e os jogos e apostas ilegais. Se os pratica o sócio participante ativo, há violação
da lei e violação do contrato (HEINRICH LANO, Die Typen der stillen Geseltsehaft, 62; KAP1.L
WIELAND, Handelsrecht, 1, 781; ERNST
6.FRAUDE À LEI. Há larga autonomia de vontade para que os sócios participantes estabeleçam as
cláusulas contratuais.
A sociedade em conta de participação pode ter sido planejada em fraude à lei, como se o que se tem
por fito foi fazer sócio, para determinada exploração, quem, por sua nacionalidade, não o poderia
ser.
Entre os sócios participantes, a eficácia é completa: a sociedade existe e é eficaz. No tocante aos
terceiros, há a sociedade, a sociedade existe, mas os seus efeitos não alcançam os terceiros.
Por ocasião de inflação e de leis de revalorização, a sociedade por conta de participação suscita
questões de 1
grande relevância (cf. L. QuÂssowsicl, Geseiz ilber die Aufwertuníi v. Hypotheken u. andem
Anspriichen, 480).
Pode haver fundo comum e pode não haver (sem razão, a 2A Câmara Civil do Tribunal de Justiça de
São Paulo, 17 de junho de 1947, 1?. dos 2‟., 169, 288).
Quanto à participação nos lucros e não nas perdas, pode resultar de não haver fundo comum. O
risco que importa é o de lucros e perdas, tal como se convencionou. Se os patrimônios são
individuados, as perdas também o são.
Não se conceberia que o sócio participante não corresse nenhum risco de perdas, porque faltaria a
affectio societatis (
6 ~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 31 de agôsto de 1951, R. dos 2‟., 195, 151, 1?.
No tocante à partilha dos lucros e das perdas, cabe ao contrato social dar as normas que se têm de
observar. Se os figurantes nada estabeleceram, a quota nas perdas e nos lucros é conforme a quota
nas entradas.
A aprovação expressa ou tácita das contas libera o sócio gerente ou os sócios gerentes.
Cada sócio pode ter, sem assentimento dos outros, ajudante; mas, salvo cláusula em contrário, pode
pôr na sociedade outro sócio participante inativo ou dividir a sua quota.
O sócio participante ativo é sujeito a prestação de contas durante a atividade social e se há causa de
dissolução (Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 25 de abril de 1952, R. de D. M., IV, 974; Rio
Grande do Sul, 14 de janeiro de 1955, R. t/., 16, 204).
A Côrte de Cassação de França, a 3 de dezembro de 1890, julgou que estranho pode ser gerente.
Sem razão, porque aí estaria confusão entre sócio participante ativo e gerente-preposto. O estranho
seria representante do sócio participante ativo, ou dos sócios participantes ativos, e não participante
ativo.
O sócio participante ativo pode tratar de outros negócios, seus ou de outrem, similares aos da
sociedade em conta de participação; não, porém, causar, com isso, prejuízo à atividade
participacional.
Pode haver remuneração ao sócio participante ativo, ou aos sócios participantes ativos.
O sócio participante ativo tem de se adstringir aos termos do contrato e à natureza e extensão da
operação a que se refere o contrato. As relações jurídicas internas podem ser concebidas de tal
maneira que, a despeito de ser, na vida jurídica, sociedade em conta de participação, haja a
incidência por fôrça contratual das regras jurídicas sobre as sociedades em nome coletivo ou sobre
as comanditas. No direito fiscal, tal sociedade é considerada sociedade atípica em conta de
participação (atypische stille Gesellschaft). Cf. L. AULINGER (fie atypische stille Geseilsch,aft, 1 s.)
e WOLFGANG SIEBERT (Zur atypische stille Gesellschaft, Neue .furistiseke Wochenschrift, 1953,
806).
Lê-se no Código Comercial, art. 333: “O sócio que, sem consentimento por escrito dos outros sócios,
aplicar os fundos ou efeitos da sociedade para negócio ou uso de conta própria, ou de terceiro, será
obrigado a entrar para a massa comum com todos os lucros resultantes; e se houver perdas ou
danos serão êstes por sua conta particular além do procedimento criminal que possa ter lugar (art.
316) “. O sócio que gere os negócios sociais ou tem posse de bens da sociedade não pode empregar
fundos sociais em negócio jurídico seu ou em uso de conta própria, ou de terceiro, isto é, em uso ou
uso e fruição para si ou para terceiro. Mesmo que seja para se alimentar. Todos os ganhos têm de
ser postos no ativo social. Se assim na o procede o sócio, que tem a gestão, sem consentimento
escrito dos outros sócios, comete ato ilícito absoluto, e não so ata ilícito relativo. Resta saber se a
permissão escrita é exigida como forma essencial, ou somente como prova. A resposta é no sentido
de não se poder provar por indícios ou outros meios de prova, salvo se foi feita a prova de se ter
perdido o instrumento do consentimento.
O sócio que infringiu o art. 333 do Código Comercial tem de entregar à sociedade os lucros obtidos
com o investimento. Não pode debitar perdas e prejuízos. Da dívida correm juros da mora.
5.JUROs DA MORA. Discutiu-se quanto a correrem juros da mora contra os sócios participantes que
deixaram de prestar, no momento devido, a contribuição, ou se apenas correriam após interpelação
(e. g., O. POULLE, Traité théorique et pratique des Assodations commerciales eu participatiou, n.
137; RODOLPHE RoUSSEAU, Les Societés co‟mmercixzles françaises et étrangêres, fl, 53 ed., n.
3027). Sem razão, a última opinião, porque, no direito francês, há o art. 1.846 do Código Civil
francês, e, no direito brasileiro, os arts. 955 e 960, alínea 1?, do Código Civil. É difícil não ter havido
prazo para o adimplemento; se não o há, então sim rege o art. 960, alínea 2?.
O sócio participante que retira alguma parte dos futuros lucros, ou dos lucros já entrados porém
ainda não prestáveis, a título de adiantamento, é devedor de tais quantias desde que a~ recebe,
salvo cláusula contratual em contrário.
1.PRECISÕES. As relações jurídicas externas não são. da sociedade, porque o contrato de sociedade
em conta de participação se caracteriza por essa insuficiência eficacial. Tão é essa falta de efeitos
externos, que erradamente, que, para os terceiros, participação não existe. Ela existe. tem efeitos no
tocante aos terceiros.
2.EFEITOS QUANTO AO sócio PARTICIPANTE ATIVO. O sócio participante ativo pratica os atos,
perante terceiros, em seu próprio nome. Não importa a êsses qual a extensão dos poderes do sócio
participante ativo com quem se põem em contacto. Os terceiros estão em situação de quem ignora
que há sociedade. Os sócios participantes não podem alegar a existência da sociedade e exigir que
se respeite a eficácia do contrato social.
Perante terceiros, o contrato social não tem efeitos. Os poderes do sócio participante ativo foram
poderes próprios. Os terceiros compradores, fornecedores, empregados da sociedade, banqueiros,
fisco (exceto, por exemplo, a repartição de impôsto de renda) somente estão diante do sócio
participante ativo. A posição dêles é a de desconhecimento (pôsto que possam conhecer) dos laços
sociais, laços internos; somente conhecem ( somente têm de considerar que conhecem) o sócio
participante ativo, ou os sócios participantes ativos.
Não há ações direta dos terceiros contra os sócios participantes inativos. Com êsses não trataram.
Se algum sócio participante inativo deve ao sócio participante ativo, os credores dêsses podem ir
sêbre êsses créditos (cf. Código de Processo Civil, arts. 931, 936-938 e 941).
Se o sócio participante ativo, no contrato com terceiro, afastou que fôsse o sócio gerente, e aludiu a
pessoas que coincide serem os sócios participantes inativos, procedeu como representante, não
como sócio participante ativo.
Se revelou, para fins jurídicos (eficácia dos seus atos) a existência da sociedade, a sua posição foi a
de órgão de sociedade ou a de representante: ali, presentou; aqui, representou. Qual a sociedade
que se há de considerar diante dos terceiros, depende dos fatos, e talvez, se todos os sócios
participantes inativos se inseriram nas relações jurídicas com o terceiro, o tipo para a eficácia é o da
sociedade em nome coletivo. Se só algum ou alguns sócios participantes inativos se fizeram ativos, a
responsabilidade é dêle, ou dêles, como se, entre os que eram ativos e os que se fizeram tais, a
sociedade fôsse sociedade em nome coletivo. É possível que as circunstâncias hajam dado ao
terceiro razão suficiente para crer na existência de sociedade em nome coletivo.
Não há ação dos sócios participantes inativos contra os devedores do sócio participante ativo, ou
dos sócios participantes ativos.
Só o sócio participante ativo aparece perante o público. Contra êle é que se dirigem os direitos,
pretensões, ações e exceções dos terceiros. Os sócios participantes inativos somente são -atingíveis
pela ação de enriquecimento injustíficado, ou pela ação do indireta, por dever o sócio participante
ao sócio gerente aquilo com que tinha de contribuir ou de reembolsar a parte da perda sofrida.
Lê-se no Código Comercial, art. 326: “Na sociedade em conta de participação, o sócio ostensivo é o
único que se obriga para com terceiro; os outros sócios ficam únicamente obrigados para com o
mesmo sócio por todos os resultados das transações e obrigações sociais empreendidas nos termos
precisos do contrato”. Para os terceiros, a sociedade em conta de participação é como se não
existisse. O sócio gerente individual ou coletivo trata com os terceiros; o sócio participante inativo,
não. Não há ação direta dos terceiros contra êsse. As dividas, que o sócio 1
participante ativo assume, são dívidas sociais, em relação a todos os sócios; não, em relação a
terceiros.
Todo sócio participante responde por culpa, sem poder, na espécie, alegar compensação com os
proveitos que haja trazido a sociedade, O art. 1.880 do Código Civil tanto incide se é civil a
sociedade em conta de participação como se é comercial. Não há qualquer fundamento para que se
lhe pré-exclua a incidência em tal tipo de sociedade (cf. art. 1.364), inclusive no que se refere aos
atos do sócio participante ativo (sem razão, LÚEBERT, Die Rechtsnatur der stillen Gesellschaft unter
besonderer Berúcksichtung ibrer historischen Entwickung, Zeitschrift 14k das gesarnte
Haiulclsrecht, 58, 513). Também há a responsabilidade pelos prepostos, procuradores e outras
pessoas que foram escolhidas.
Diz o Código Comercial, art. 327: “Na mesma sociedade o sócio gerente responsabiliza todos os
fundos sociais, ainda mesmo que seja por obrigações pessoais, se o terceiro com quem tratou
ignorava a existência da sociedade; salvo o direito dos sócios prejudicados contra o sócio gerente”.
Atenda-se a que os chamados fundos sociais podem ser em comunhão, ou de propriedade do sócio
Participante ativo, ou somente consistir naquílo de que pode dispor o sócio participante ativo. Na 2Y
parte do art. 327 fala-se de o terceiro ignorar a existência da sociedade.
Não se tire daí que os terceiros que conheciam a existência da sociedade se hajam de considerar em
contacto. A redação do art. 827, 2.~ parte, foi má; o que se havia de dizer seria: se o sócio
participante ativo operou por si, em vez de operar pela sociedade (o que somente poderia ocorrer se
os terceiros admitissem a vinculação social, em vez da vinculação pessoal do sócio participante
ativo), mesmo aí vinculada não foi a sociedade, e sim o sócio em contacto.
O fato de declarar o sócio Participante ativo que opera em nome dos outros sócios, ou da sociedade,
não vincula os outros sócios, diretamente, nem a sociedade. Para isso seria preciso que os outros
sócios consentissem.
Declarar que há sociedade em conta de participação não basta para a vinculação. Se o sócio
participante ativo faz a declaração e comunica aos sócios participantes inativos, o silêncio dêsses há
de ser tido como consentinte (ERNST GESSLER, Schlegelberger TIandelsgesetzbuc;j fi, 3a ed.,
1284).
3. AÇÕES PROPONÍVEIS O sócio participante ativo exerce as ações relativas aos negócios ou
operações da participação. A decisão, que se proferiu, é eficaz entre os sócios (Leuís FREI».zícq,
Traité de Droit Commercial belge, V, 1181), de modo que a coisa julgada contra o sócio gerente é
invocável por esse perante o sócio participante ou os sócios Participantes.
O sócio gerente pode exigir o adimpleimento da promessa de contribuição ou qualquer outra, que
faça parte do contrato de sociedade
Os poderes do sócio gerente, salvo cláusula em contrário, são revogáveis a nuto, se não é êle o único
sócio proprietário. Se o sócio participante entende que o sócio gerente obrou mal em algum negócio,
o que êle pode fazer é promover a dissolução da sociedade.
Os credores pessoais dos sócios só participantes podem exercer os seus direitos, pretensões e ações
sobre os bens que êles, sem transferência, entregaram ao sócio participante ativo. es credores do
sócio participante ativo podem penhorar ou exercer medidas cautelares sobre os bens que foram
transferidos ao sócio participante ativo, mesmo se destinados aos fins sociais.
Ainda perante terceiros, os sócios participantes ativos ou inativos podem dispor dos bens com que
entraram. O
óbice que pode surgir é o de ter havido averbação no registo de imóveis, no tocante à destinação
(Decreto n.
Quanto aos bens infungiveis que foram entregues ao sócio participante ativo, sem transmissão, os
riscos correm contra o sócio participante que os prestou (res perit domino). Isso não aconteceria se
a perda ou dano proviesse da empresa ou do próprio recebedor.
Se os bens foram transferidos ao sócio participante ativo (à sociedade não poderia ser, por faltar-lhe
personalidade), mesmo em tal caso o sócio participante ativo tem o dever de só os empregar com o
fim social e os riscos são dêle.
Se os bens foram mancomunados, cada comuneiro tem direito a receber a sua parte indivisa e,
quando não sejam divisíveis os bens, regem os arts. 632 e 1.139 do Código Civil.
Se o sócio entrou com o usufruto de algum bem, tendo havido o registo, tem de exigir-se o
cancelamento, para que o direito real volte ao sócio participante inativo. Se não houve o registo, a
posse imediata foi transferida em virtude de negócio, jurídico de direito pessoal, que se distrata com
a manifestação de vontade do sócio participante ativo.
CAPÍTULO IV
DISSOLUÇÃO E LIQUIDAÇÃO
O art. 337 do Código Comercial não incide a propósito de sociedades em conta de participação (4.~
Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 13 de janeiro de 1944, 1?. dos 7h, 154, 178).
2.DESCONSTITUÍÇÂO POR INVALIDADE. Se o contrato social era nulo, não houve, com a
decretação da nulidade, dissolução da sociedade em conta de participação, como a havia a propósito
de qualquer outra sociedade. Sociedade é efeito do contrato. O nulo não produz efeitos, salvo se há
regra jurídica especial. Se o contrato era anulável e houve a decretação da anulação, a eficácia ex
nuno vai até o ponto de se ter como desfeita a sociedade. Se, porém, efeitos houve, talvez mesmo
perante terceiros, tem-se de proceder à liquidação.
3.RESíLíçÃo E DENÚNCIA DO CONTRATO SOCIAL. Pode ocorrer que, por inadimplemento por
parte de um dos sócios, se haja de resilir a sociedade por conta de participação. A eficácia é ex
nuno, razão por que dizemos “resilição” e não “re solução” estrito senso (cf. P. DE PELSMAERER,
Des Associo,. tions en partidpation et des Syndicats finanoiers, n. 110).
Se não há prazo de duração, pode qualquer sócio participante denunciar a sociedade. Se há prazo
determinado, a denúncia cheia ou a resiliçdo é a que se permite. Se não foram previstas no contrato
as causas de denúncia, ou de resilição, tem-se como bastante, e. g., a inimizade, o dolo, ou culpa, o
desrespeito ao contrato, sem ser por inadimplemento ou a infração de dever.
A denúncia tem de ser em momento oportuno, isto é, no momento em que não cause prejuízos
comuns, ou com tempo para que êsses prejuízos comuns não ocorram. Não vale a cláusula que
exclua a resilibilidade por transgressão dolosa ou culposa de dever social.
Se a sociedade em conta de Participação foi fundada sem prazo, ou sem que se haja de entender
duração mínima, necessária à atividade prevista, pode ser dissolvida por manifestação unilateral de
vontade. Mas, se há três ou 1
mais sócios, os restantes podem continuar com outra sociedade em conta de Participação.
Se tôdas as quota8 são transferidas a um só dos participantes, pode dissolverse a sociedade, mas a
causa de dissolução fica afastada se o participante aliena ou vai alienar o que adquiriu ou, pelo
menos, uma das quotas.
A falência, ou a liquidação coativa do sócio gerente, cria alguns problemas jurídicos. O Código
Comercial não se referiu a todos, nem, sequer, aos principais. Se o sócio participante fêz a
contribuição, com transferência da propriedade, ou de algum direito real limitado, ou posse, o sócio
participante é credor no concurso, diminuindo-se do quanto contributivo as perdas e acrescentando-
se-lhe as quotas noz ganhes, se os lucros provieram da participação, mesmo se o terceiro nao
conhecia a existência da sociedade em conta de participação. Se ao sócio gerente foi decretada a
abertura da falência, ou da liquidação coativa, em virtude de operações pessoais desastrosas e
foram lucrativas as operações feitas em participação, tem de haver a discriminação nas operações.
Se o sócio só participante contribuiu com bens infungíveis, para serem vendidos ou usados, como o
fêz, com outros bens, o sócio gerente, o sócio só participante tem ação de reivindicação de tais bens
de finalidade contributiva. A espécie parece-se com a que se dá com os bens do comitente em poder
do comissionário (Tomos XLIII, §~ 4.728 e 4.731, 5; e XXVIII, § 3.354, 3; Decreto-lei n. 7.661, de 21
de junho de 1945, art. 49 e parágrafo único). De modo nenhum se pode alegar, contra a
reivindicação, o princípio de que os sócios sê-mente podem vindicar os bens que estão no fundo
social após o pagamento dos credores, porque o participante não entregou propriedade, ou direito
real, mas apenas uso (cf. L. LAJOUR et J. BOUTERON, Pré eis de Droit Commercial, n.
726). Se dois ou mais sócios tratam com terceiro, tem êsse ação contra aquêles, com solidariedade
(J.
Lê-se no Código Comercial, art. 328: “No caso de quebrar ou falir o sócio gerente, é licito ao
terceiro com quem houver tratado saldar tôdas as contas que com êle tiver, pôsto que abertas sejam
debaixo de distintas designações, com os fundos pertencentes a quaisquer das mesmas contas;
ainda que os outros sócios mostrem que êsses fundos lhes pertencem, uma vez que não provem que
o dito terceiro tinha conhecimento, antes da quebra, da Existência da sociedade em conta de
participação”. Se os sócios que não são participantes ativos se dizem donos dos fundos, só têm o
ônus de alegar e provar que o terceiro conhecia a participação antes da abertura do concurso de
credores se os fundos estão no nome do sócio participante ativo, individual ou coletivo.
Nas sociedades em que, para todos ou alguns, ou algum dos sócios, se admite a responsabilidade
limitada, os sócios que só respondem limitadamente não podem ser credores do importe da
contribuição, em caso de falência, liquidação coativa ou concurso civil de credores. Nas sociedades
em conta de participação, de modo nenhum: o art. 328, 2>‟ parte, do Código Comercial só se refere
aos fundos cuja propriedade foi transferida ai sócio participante ativo ou aos sócios participantes
ativos. Se o terceiro tratou com a sociedade, sim, é isso que o Código Comercial chamou
“conhecimento da existência”. A ação do sócio participante inativo contra o sócio participante ativo
ou os sócios participantes ativos é outra questão.
Quase sempre, a liquidação da sociedade em conta de participação precede a sua dissolução. Devido
à permanência daquilo com que contribuíram, preferem os sócios só participantes reservar em
natureza o que 1
prestaram. Se não houve transmissão de propriedade, apenas se retoma a posse imediata. Daí ser
bastante, o mais das vêzes, a apresentação das contas e a entrega da posse.
2. LIQUIDANTE. O liquidante, se acaso foi escolhido ou nomeado, não tem função representativa.
Não pode estar em juízo, em nome da sociedade (essa não é personificada), salvo se o sócio
participante ativo lhe conferiu poderes, ou se o liquidante comparece com a caução de rata. Se o
liquidante deixa as funções, sem as haver terminado, têm os sócios participantes de substitui-lo por
algum, com o pressuposto da unanimidade, ou conforme no contrato social se haja previsto, ou por
decisão judicial.
No caso de ter o sócio só participante transmitido ao sócio participante ativo, ou aos sócios
participantes ativos, a propriedade dos bens que foram a sua entrada, incumbe ao sócio participante
ativo ou aos sócios participantes ativos restituir o que ainda esteja com êle, ou com êles, salvo se se
criou, no intervalo, indivisibilidade do bem, porque, então, seria para se invocar, por analogia, o
Código Civil, arts. 615 e §§ 1.0 e 22, 616, 632 e 1.139.
3. PARTICIPAÇÀO NAS PE RDAS. Os sócios participantes inativos sofrem, nas perdas, o que
corresponde às suas quotas, Lá fora, não se vincularam aos terceiros. As perdas repartem-se como
os lucros, o que se faz, se o contrato social não dispõe diferentemente, proporcionalmente às quotas
de entrada.
O contrato social pode estabelecer que os sócios participantes inativos só até determinado quanto
sofram com as perdas.
Ochamado método da conta social ou método da partilha final consiste em tratar-se a sociedade em
conta de participaçao, que não é sociedade personificada, como se fôsse pessoa jurídica, creditando-
se-lhe os resultados das vendas e os outros proventos que se tiveram e debitando-se-lhe o que
resultou de compras, as despesas, os juros, os impostos e outros tributos e as perdas sofridas. Após,
faz-se a partilha, O método da parti//ia imediata abstrai do que possa haver de mancomunhão e
abstém-se de Sitpar que a sociedade é pessoa jurídica. Cada soclo participante abre em seus livros
conta a que chama “participação” (L. RETAIL, Administration a gestion des ejétes cammerciales 1,
n.0 104), com ou sem a menção da quota, e credita e debita o que corresponde à sua quota.
Implicitamente, abre-se a favor dos outros o que perfaz o cento por cento.
CAPÍTULO 1
Antes de haver a disciplina das sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, sentia-se a sua
necessidade, principalmente quando falecia algum comerciante ou industrial e nem todos os
herdeiros se consideravam com os requisitos técnicos para a exploração, ou nem todos pudessem
dedicar-se à direção dos negócios. Tinha-se de sublinhar a solidariedade dos gerentes.
Em 1865, JOSÉ TOMÁS NABUCO DE ARAÚJO apresentou projeto de lei sobre as sociedades de
responsabilidade limitada e em circulares distribuiu questionário, em que havia pergunta3 sobre
convir, ou não, fixar o máximo do capital social, terem valor mínimo as quotas (ditas “ações”), ser
acertado, ou não, estender às sociedades civis o nôvo tipo social, exigir-se, ou não , depósito
imediato de parte do capital social, e serem, ou não, desde logo nominativas as ações.
O Tribunal do Comércio da Côrte, a 12 de março de 1866, afastava que se limitasse o capital de tais
sociedades e que se fixasse número mínimo de ações (por ofensa à liberdade de associação ) ; e
achou acertado que se estendesse o tipo social às sociedades civis e se exigisse a subscrição de todo
o capital social. Mais ou menos assim, a Comissão de Jurisprudência do Instituto dos Advogados
Brasileiros.
No sistema jurídico brasileiro, as sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, foram
reguladas em 1919; na Áustria, em 1906; na França, em 1925; na República Argentina, em 1982; no
Uruguai, em 1938; no México, em 1934; na Bélgica, em 1985. Os dois sistemas jurídicos imitaram o
alemão, com a sua sociedade com responsabilidade limitada (Geseilschaft mTt besckrãnkter
Haftung) ; criadas em 1892 (Leis alemãs de 20 de abril de 1892 e de 20 de maio de 1898). Tiveram-
nas, depois, a Áustria (Lei austríaca de 6 de março de 1906) e o Brasil (1919). A França só a teve em
1925.
A criação atendeu à necessidade, que se notava em todos os países, de se poder concluir contrato de
sociedade com restrição da responsabilidade, a fim de que os sócios se pudessem forrar aos riscos
do negócio, da atividade dos outros sócios e da própria atividade. Uma das sugestões eram
provindas de experiências calamitosas das sociedades de família. A difusão foi assaz maior do que
mesmo se esnerava. Sem se sair do campo das sociedades pessoais, obtinha-se a limitação melhor, a
restrição da responsabilidade, que a sociedade por ações havia obtido.
Foi como ponto intermédio entre a sociedade em nome coletivo e a sociedade por ações. Não há a
anonimidade que se encontra nas sociedades por ações, nem, sequer, a anonimidade parcial das
sociedades em comandita por ações. Os seus membros mantêm a individualidade, sem que os seus
patrimônios fiquem expostos. No direito brasileiro, a gestão dos negócios, inclusive a presentação, é
de algum, de alguns ou de todos os sócios. A última solução é a do lus dispositivflim da Lei n. 3.708,
de 10 de janeiro de 1919, art. 13, 1~a parte. O poder de uso da firma é “delegâvel”, se o contrato de
sociedade não o proibiu.
Cumpre advertir-se que as quotas não são negociáveis como o são as ações; porém isso não impede
que no contrato de sociedade se permita a subscrição e emissão de títulos representativos das
quotas, mas tais títulos não são títulos de crédito, nem ações, e sim documentos do direito à
participação. Há, então, a transmissibilid ade concernente aos títulos nominativos, ou à ordem; não
a dos títulos ao portador. Nisso, distinguem-se das sociedades de nome coletivo, para as quais há,
em princípio, a intransmissibilidade das quotas, e das sociedades 1
por ações , que as pode ter transmissíveis ao portador. Se, por um lado, pesa a consideração de ser
necessário que as quotas não criem a responsabilidade ilimitada, por outro há o elemento essencial
de maior constância e estabilidade dos sócios.
“Além das sociedades a que se referem os arta. 295, 311, 315 e 317 do Código Comercial, poderão
constituir-se sociedades por quotas, de responsabilidade limitada”. Além das sociedades por ações
(o art. 295 do Código Comercial está ab-rogado), das sociedades em comandita simples (arts. 311-
314), das sociedades em nome coletivo (arts. 315-316) e das sociedades de capital e indústria (arts.
317-324) e das sociedades em conta de participação (arts. 325-328), a que a Lei n. 3.708 não se
referiu, foram criadas as sociedades por quotas, de responsabilidade limitada. Assim, passou a ser
mais uma das formas regidas pela lei comercial, mas adotáveis pelos figurantes de contratos de
direito civil.
No art. 1.0 da Lei n. 3.708 supõe-se a comercialidade das sociedades por quotas de
responsabilidade. Não se pode, todavia, desatender a que o sistema jurídico brasileiro, mais atento
ao objeto das sociedades, permitiu que as sociedades civis tenham o tipo de qualquer das
sociedades comerciais (Código Civil, art. 1.364). Assim, pode haver sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada, que não seja comercial. Aliás, noutros sistemas jurídicos, inclusive no
alemão, cai-se na contradição de se dizer que ela é sempre comercial e de se admitir que não tenha
fim lucrativo.
O simples fato de ser alguém sócio quotista não o faz comerciante, para quaisquer efeitos de direito
privado ou público (Tribunal Federal de Recursos, 12 de novembro de 1952, R. J. do Rio Grande do
Sul, 20, 181). O sócio quotista não pode ser empregado da sociedade; e o trabalhador que passa a
ser sócio quotista deixa de ser trabalhador (Tribunal Superior do Trabalho, 3 de agôsto de 1950, R.
F., 142, 460; contra, o Tribunal Regional de São Paulo, a 22 de março de 1954, 1?. dos 21, 238, 592).
Isso não significa que não possa ser trabalhador com participação nos lucros, se não se fêz sócio;
nem que o trabalhador não possa ter ações (Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, 26 de
novembro de 1948, 1?. das T., 186, 900).
Estabelece na Lei n. 3.708, art. 2.0: ~ título constitutivo regular-se-á pelas disposições dos artigos
300 e 302 e seus números do Código Comercial, devendo estipular ser limitada & responsabilidade
dos sócios à importância total do capital social”. Em virtude do art. 2.0 da Lei n. 3.708, o contrato de
sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, há de ser por escrito (instrumento público, ou
particular), mas a respeito dela também são invocáveis por terceiros as regras jurídicas do art. 304.
Se a sociedade civil ou comercial não foi registada, não tem responsabilidade jurídica. Para a
personalidade, como sociedade comercial ou civil, há de ser arquivado o contrato <
Distrito Federal, 9 de maio de 1924, 1?. de D., 73, 610). O art. 2.0 da Lei n. 3.708 exige a
observância dos arts.
300, 301 e 302 do Código Comercial, para o ato constitutivo (escritura pública ou particular, com o
registo, além dos pressupostos legais). Não pode constituir-se por deliberação de assembléia geral
de subscritores de capital.
Sem o registo, é sociedade irregular; portanto, há a responsabilidade ilimitada e solidária dos sócios
(43 Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, 25 de outubro de 1932, 1?. de D., 107,
491, e 20 de março de 1945, J. C., 1, 268; cf. Tribunal de Justiça do Paraná, 13 de novembro de
1956, 1?. dos 2‟., 270, 696).
contrato social pode prever a dissolução da sociedade por morte de algum ou de alguns dos sócios.
Trata-se, evidentemente, de sociedade de pessoas. A limitação da responsabilidade não caracteriza a
sociedade por ações: há limitação nas sociedades em comandita simples e nas sociedades por
quotas, de responsabilidade limitada.
Procurou-se ver na sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, meio de caminho entre a
sociedade de pessoas e a sociedade de capitais (e. ri., A. DE AZEVEDO SOTJTO, Lei das Sociedades
por quotas, anotada,
2 a
ed., 20). Sociedade mista, ou espécie intercalar de sociedade, é a sociedade em comandita por
ações, não a sociedade por quotas, de responsabilidade limitada. Outros Juristas aludiram a espécie
híbrida (sociedade em nome coletivo e sociedade por ações), o que de modo nenhum se há de
admitir. Não há ações, na sociedade por quotas, de responsabilidade limitada. Nem se pense em
sociedade anônima sem ações, porque não há, na sociedade por quotas, de responsabilidade
limitada, anonimia.
Compromissos das sociedades civis, religiosas, pias, morais, científicas ou literárias, e os das
associações de utilidade pública e da~ fundações. II. As sociedades civis que revestirem as formas
estabelecidas nas leis comerciais”). Se a sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, tem
por objeto exercício de profissão liberal (2.a Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal,
21 de julho de 1922, R. do S. T. F., 46, 291), é sociedade civil.
Frisam a mistidade da sociedade por quotas, de responsabilidade limitada (elemento pessoal mais
elemento capital),
G.DROUETS, R. GAIN e P. DELAISI; mas é inegável que se trata de sociedade de pessoas (e. g.. G.
PIoT).
CAPÍTULO 11
Diz-se na Lei n. 3.708, art. 3.0: “As sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, adotarão
uma firma ou denominação particular”. Acrescenta o § 1.0: “A firma, quando não individualize todos
os sócios, deve conter o nome ou firma de um dêles, devendo a denominação, quando possível, dar a
conhecer o objetivo da sociedade”. E
o § 2.0: “A firma ou denominação social deve ser sempre seguida da palavra limitada. Omitida esta
declaração, serão havidos como solidária ilimitadamente responsáveis os sócios-gerentes e os que
fizerem uso da firma social”.
Se algum sócio, cujo nome consta da sociedade, dela se retira, tem de ser modificada a firma Quais
as conseqUências da irregularidade, isto é, de ter saído o sócio, por falecimento ou outra causa, e
ter continuado na firma o nome? A sua quota é tida como se fizesse parte do capital social, de jeito
que os herdeiros persistem responsáveis ou o sócio retirado persiste responsável pelo que falte ao
capital social, como quota.
Assim, as sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, podem ter firma ou denominação
social (cf.
No direito francês, usa-se a expressão 5. A. R . L., que a prática substituiu às palavras escritas
visivelmente e em tôdas as letras “sociedade de responsabilidade limitada”, que o art. 18 da Lei
francesa de 7 de março de 1925
exige: “Dans tous les actes, factures, annonces, publications ou autres documents imanés de la
société, la dénomination sociale doit toujoura être précédée ou suivie immédiatement des mots
écrits visiblement et a toutes lettres “société à responsabilitá limitée” et de l‟énonciation du capital
social”.) No direito brasileiro, “Ltda.” está de uso corrente.
3.NÚMERO DE SOCIOS. A lei não exigiu número mínimo do sócios, de jeito que bastam dois
figurantes para o contrato de sociedade. Se são muitos os sócios, pode um dêles, ou podem Líguns
dêles, que não alienaram as suas quotas ou não perderam, adquirir uma ou mais quotas dos demais
sócios. Surge o problema de um só adquirir tôdas as outras. A solução é no sentido de se não
dissolver, automâticamente, a sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, porque as quotas
podem ser de nôvo alienadas. Durante o tempo em que tôdas as quotas pertencem a uma só pessoa,
êsse sócio é o administrador, ou há delegado a quem êle outorgou os poderes, ou a quem outro soem
ou outros sócios antes outorgaram. O sócio único tem, perante a sociedade, todos os direitos e
deveres que teriam os outros, de que provieram as quotas.
(O sócio pode adquirir quotas. Discutia-se se, indo tôdas as quotas às mãos do único sócio restante,
há automática dissolução da sociedade. No sentido afirmativo, o Supremo Tribunal Federal, a 7 de
outubro de 1957, 1? dos T., 265, 801. Um pouco precipitada a decisão, porque a dissolução depende
da manifestação de vontade do sócio, que tem de levá-la ao registe. Pode ser que a sua intenção seja
a de alienar as quotas que adquiriu.) 4. CLÁUSULAS CONTRATUAIS. As cláusulas contratuais
insertas no contrato de sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, nem sempre são,
formalmente, cláusulas, porque a lei é especial, e a referência a lei especial especializa o contrato, e
porque a exigência da expressão “Limitada”, ou “Ltda.”, cláusula é.
Desde que se haja constituído sociedade com dois sócios, portanto, pelo menos pode haver limitação
da responsabilidade até o valor do capital. O comerciante ou industrial individual, êsse, responde
ilimitadamente, sem qualquer meio para evitar a ilimitação. Não há separação absoluta entre capital
da empresa individual e o 1
A exigência da explicitude da cláusula sobre responsabilidade limitada foi inovação da Lei n. 3.708,
art. 2.0, in une, e com ela frisou-se que a responsabilidade dos sócios se há de presumir ilimitada.
O contrato há de ser por instrumento público, ou por instrumento particular, O título constitutivo há
de conter: a) os nomes, as naturalidades, as nacionalidades e os domicílios dos sócios; lO a firma ou
a denominação; o) os nomes dos sócios que podem usar da firma ou da denominação social; d) o fim
o objeto da sociedade; e) o total do capital, com a indicação da quotas e das partes, que lhes
correspondem, nos lucros e nas perdas; f) a cláusula explícita de ser a responsabilidade dos sócios
limitada à importância total do capital social; g) o prazo de duração da sociedade, se não se quer
que o tempo seja indeterminado; li) os casos em que se dissolverá, ou não, a sociedade, e. ~., por
morte de algum, ou de alguns sócios, o~ modo de liquidação e partilha.
Não se pode considerar cláusula contratual qualquer proposição que não conste do contrato social
registado, se não resulta de subsidiariedade de lei para os estatutos.
Quanto à prova do contrato de sociedade e da sua eficácia, entre os sócios, regem os arts. 300, 329
e 126 do Código Comercial. Em relação aos terceiros, são invocáveis os arts. 303-307.
Se algum bem imóvel ou outro bem cujo direito de propriedade ou de uso ou de uso e fruição só se
possa transferir por escritura pública, tem de ser prestado como valor ou parte do valor da quota, a
escritura pública é indispensável. O Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940, art. 46, só se
refere a sociedades por ações (cf.
arts. 54, parágrafo único, e 55). Não cabe remeter-se ao ad. 18 do Decreto-lei n. 5.452.
Se algum dos sócios não sabe ou não pode escrever, ou o contrato social é por escritura pública, ou
tem êle de outorgar poderes de representação, por escritura pública. Não se pode constituir a
sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, em assembléia: o que pode haver é reunião, em
que todos tenham de assinar o contrato, a despeito do nome que se lhe haja dado.
Não nos parece que a falta da cláusula, a que se refere o contrato de sociedade por quotas, de
responsabilidade, de ser limitada a responsabilidade dos sócios tem de ser explícita e separada, lima
vez que se registou “A. & B.
Ltda.”, ou “A. & Cia. Ltda.”, e não há qualquer elemento para se induzir que se contratou sociedade
em nome coletivo, dizer-se que se trata de sociedade em nome coletivo é demasiado. O terceiro
sabie que se tratava de sociedade de responsabilidade limitada. Por isso, foi demasiado longe a lA
Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, a 24 de março de 1941 (1?. dos T., 132, 135).
1-lá o problema da sociedade mercantil ou civil que entra para sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada, como um dos sócios, ou, como um dos sócios, a cria. Se a sociedade que
entra como sócio, de início ou posteriormente, é sociedade em nome coletivo (e. p., “A. & Cia.”),
seria inserível o nome (“A. & Cia.”) como 1
elemento do nome da nova sociedade (e. g., “A. & Cia. B. & Cia. Ltda.”). Solução desaconselhável.
Melhor é que se ponha na firma o nome de sócio pessoa física e as pessoas jurídicas sejam inclusas
na expressão “& Cia.”. Se a sociedade é por ações, a denominação, acrescida de “Ltda”. criaria
confusões. Sobre o assunto já se manifestara, em 1925, VALDEMÃR FERREntÁ (Sociedades por
quotas, õa ed., 54).
A denominação social pode ser alusiva à finalidade ou objeto da sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada, ou não no ser.
Nos papéis e outros documentos ou objetos em que se haja de pôr a denominação, pode haver a
simples denominação, como pode haver impressa, carimbada, ou de outro modo escrita ou gravada,
a própria firma. Se, porém, se trata de uso de denominação, ou da firma, quem pode usar dessa, ou
daquela, ou os que dela podem usar e têm de usar precisam lançar as suas firmas, sob a
denominação social ou sob a firma social. Nem basta a firma social, nem basta a denominação
social; nem basta, a fortiori, a firma de quem pode usar da denominação social ou da firma social.
Usar da denominação social ou da firma social significa assinar em nome da sociedade, como orgão.
Se não se trata de órgão, tem de haver poder de representação e exercício de tal poder, com tôda a
explicitude.
Tem-se de pôr o nome da sociedade (firma ou denominação), o que pode ser por escrito, impresso ou
por outro meio.
De ordinário, acima do nome do sócio gerente, ou do empregado gerente, com poderes, e aquêle ou
êsse é que tem de assinar, em exercício de gerência, como sócio ou como empregado. A firma da
sociedade pode ser lançada pelo sócio gerente, se apenas se falou em poder de uso da firma. As
duas soluções são admissíveis, mas o contrato social ou o uso da firma, interpretativo do contrato, é
que decide. A denominação, essa, não basta: tem de haver frequentemente, embaixo, a assinatura
do sócio gerente. O que mais importa frisar-se é que não usa, como própria assinatura, a
denominação, pode usar-se a firma, sem que se afaste o que é mais aconselhável: que se assina sob
a firma social, como a referência à qualidade de quem usa (“sócio gerente”). Não é, porém,
pressuposto necessário.
Se há a firma social, escrita, impressa, picotada, dactilografada, ou por outro modo expressa, ou a
denominação, qualquer que seja o meio empregado, e o sócio gerente assina, não é preciso que diga
qual a sua função, ou se o faz como sócio gerente (cf. SANTOS LOURENÇO, Das Sociedades por
quotas. II, 38). Nada obsta a que o sócio gerente assine e após o seu nome venha a indicação “sócio
gerente da Empresa A. Ltda.”, ou “pela Empresa A.
Ltda.”.
A firma social não pode ser somente com letra do alfabeto; e. g., “A. & C., Ltda.”; ou “A. & E., Ltda.”.
A denominação, sim; razão por que fêz mal a 2,a Câmara Cível do Tribunal de Apelação do Paraná, a
29 de janeiro de 1941 (R. de
li. D., 11, 169), quando não distinguiu as duas espécies: a letra como elemento da firma (abreviação)
e a letra como elemento da denominação. O que dissemos quanto às letras é aplicável aos números,
romanos ou árabes, ou quaisquer outros (“Bazar 1001, Ltda.”; “Casa de Brinquedos X, Ltda.”, “Casa
de Brinquedos 10, Ltda.”). Se é possível a indicação do objeto ou do fim da sociedade, tem-se de
inserir. Porém tal pr~suposto não tem de ser individualizante, nem de caracterização rigorosa da
espécie.
A sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, não pede fazer operações diversas daquelas
de que cogita, explicita ou implicitamente, o contrato, sem que consintam todos os sócios (Código
Comercial, art. 831). Nos demais casos, a deliberação é pela maioria de votos, computados conforme
o art. 486. A vontade majoritária é que prevalece, uma vez que não há infringência de cláusula
contratual ou de regra jurídica. Deve-se a TEIXEIRA DE
FREITAS (Aditamentos ao Código de Comércio, II, 940) ter frisado que o art. 486 não se refere so as
parcerias ou sociedades de navios, mesmo porque se coaduna com o que já se estabelecia nas
Ordenações Filipinas, Livro IV, Título 74, § 3?.
O objeto da sociedade há de ser lícito. Se é ilícito, nulo e o contrato social (Código Civil, art. 145, II).
Dá-se o mesmo se o objeto é impossível, O oficial do registo ou o registo do comércio pode alegar a
ilicitude ou a impossibilidade para se recusar ao ato.
O Supremo Tribunal Federal, a 22 de janeiro de 1951 (1?. F., 136, 486), reputou lícita a cláusula de
perda da quota pelo sócio que falece ou se retira. Ora, essa cláusula é leonina e cai, a fortiori, sob o
art. 288 do Código Comercial e sob art. 1.872 do Código Civil.
A cláusula de exclusão do sócio, pela maioria, tratando-se, como se trata, de sociedade de pessoas,
pode ser inserta: delibera a maioria. Outras causas de exclusão podem ser admitidas, inclusive com
automaticidade (e. g., 1
Se o contrato não continha a cláusula de exclusão do sócio pela maioria, a alteração do contrato só a
pode conter se foi unanime a deliberação para alterá-lo nesse ponto. O art. 289 do Código Comercial
nada tem com o assunto.
Não se confunda a questão da permissão da cláusula de exclusão pela maioria, que é assente, com o
da exclusão do sócio, pela maioria, sem ter havido a cláusula. Por outro lado, é profundamente
contra os princípios permitir-se que se possa excluir por maioria, em virtude de alteração do
contrato por maioria, o sócio que a maioria não podia excluir. Segundo o art. 15 da Lei n. 3.708, a
maioria pode alterar, porém a alteração não pode ser quanto ao objeto da sociedade nem quanto aos
poderes
de permanência dos sócios, Contra, VALDEMAR FERBEIRA (QuestõeS de Direito Comercial, 114) e
Sn.vIO
Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, a 13 de novembro de 1934 (5.~ e 6.~
Câmaras Cíveis, 14 de março de 1935, 1-?. de D. C., V, 243), de modo nenhum sustenta tal opinião:
apenas se referiu à prorrogação . A propósito do problema da eliminabilidade, a líbito, de sócio,
cumpre que se atenda a que a eliminação imediata, por deliberação não está na lei, e a eliminação
mediata, após se ter alterado, no sentido da expulsão arbitrária, o contrato social, seria em fraude à
lei. O que não se pode fazer na estrada por que se vai não se pode fazer pelo atalho.
A cláusula de poder a maioria aumentar o valor das quotas, e a de terem os sócios de adquirir outra
ou outras quotas, é válida, porque se trata de alteração do contrato, e não de mudança do tipo
social, nem do objeto da sociedade. Pode mesmo ser inserta a cláusula de ter-se de aumentar, em
datas ou períodos predeterminados, o valor das quotas ou o número de quotas. Sem razão, a 2,a
Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, a 3 de agôsto de 1928 (A. J., VII, 413). Cp.
Fn.AN MARTINS (Das Sociedades por quotas no direito brasileiro, 219) e EGBERTO LACERDA
TEIXEIRA (Das Sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, 90). No sentido da
interpretação que damos à lei brasileira, a Lei alemã de 20 de abril de 1892, §§ 26-28, e a Lei
portuguêsa de 11 de abril de 1901, ad. 17, ambas com explicitude.
Convém que se façam tantas cópias quantos são es sócios, ou os sócios de quota inteira e os sócios
pro indiviso.
Todos os figurantes hão de constar do contrato e assiná-lo, pessoalmente ou por procurador com
poderes especiais. Não se dispensa isso em caso de transformação, salvo se a sociedade anterior era
por ações. Se era sociedade em comandita por ações, têm de figurar todos os sócios comanditantes
e há de constar a deliberação dos acionistas. O que se há de respeitar é a lei que rege a sociedade
que se vai extinguir, bem como a lei sobre a sociedade que se cria.
As quotas podem ser cedidas a outro sócio e a violação da regra jurídica é violação que dá ensejo a
recurso extraordinário (Supremo Tribunal Federal, 30 de setembro de 1941, R. 9., 90, 739), se o
contrato não o vedou, pois há ius disp.sithum. O art. 18 da Lei n. 3.708 diz que a lei das sociedades
por ações é subsidiária dos estatutos, não da lei sobre sociedades por quotas, de responsabilidade
limitada (cf.
4 a Câmara Cível, 12 de dezembro de 1941, R. de 12, 140, 354; lA Câmara Cível do Tribunal de
Justiça da Bahia, 7 de dezembro de 1948, 1?. dos 2‟., 40, 441). Se os estatutos 1
mica: antes de se registar o contrato, ~, pode-se falar de eficácia do contrato e de mão-comum, que
permita considerar-se já separado o patrimônio social? Noutros termos: j passa-se o mesmo que
acontece às sociedades de nome coletivo, ou o que ocorre com as sociedades por ações? O que já se
destinou, com tradição ou transferência da propriedade, ou com aquela e essa,
está em patrimônio separado, tanto mais quanto o registo tem eficácia ex tufo, o que acentua a
relevância da atribuição à sociedade ainda não personificada.
Outro problema. O art. 18 da Lei n. 3.708 diz que, “no que não fôr regulado no estatuto social”, se
aplicam as regras jurídicas da lei sobre sociedades por ações. ~ Têm as sociedades por quotas, de
responsabilidade limitada, de fazer a publicação, no prazo de trinta dias (Decreto-lei n. 2.627, de 26
de setembro de 1940, arts. 54 e 55), ou não precisam fazer essa publicação? NM, respondem,
acertadamente, F. SÃ FILHO
(Procuradoria Geral da Fazenda Pública, Pareceres de 1940, 234). Afirmar-se o contrário seria
entender-se que o art. 18 da Lei n. 3.708 faz subsidiária da Lei n. 3.708 a lei das sociedades por
ações. A Lei n.8.708 somente cogitou do registo, que pode ser conforme o Codigo Comercial, ou
conforme o Código Civil, O
prazo do art. 10, inciso 2, do Código Comercial é para o registo, e não pan publicação.
Com a personalidade jurídica, a sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, tem o contrato
social como os seus estatutos. Os direitos e deveres dos sócios são perante a sociedade, e não
perante os outros sócios.
5.238. Quotas sociais na sociedade por quotas, de responsabilidade limitada 1.PRECISõES. Quotas
são as participações dos sócios h1 patrimônio social; mas, a despeito do conceito comum a
muitos tipos de sociedade, as quotas, nas sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, são
tratadas em regras jurídicas gerais e em regras jurídicas peculiares.
As sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, não podem fazer ao portador, nem por
ações, as suas quotas, a despeito da referência às sociedades por ações, que há no art. 18 da Lei n.
3.708. O termo de transferência é elemento necessário (cf. Supremo Tribunal Federal, 29 de janeiro
de 1942, 1?. de D., 142, 106), porém o registo é que lhe atribui efeitos contra terceiros.
Alguns sistemas jurídicos, inclusive o do Código Comer tia] italiano, hoje abrogado, permitia, nas
sociedades por ações, ações e quotas sem que a responsabilidade dos sócios pudesse ir além do
valor das quotas que lhes correspondiam, isto é, sem que tivessem de responder em caso de
inexação pelos outros sócios. Não é isso, de modo nenhum, o, que se estabelece para as sociedades
por quotas, de responsabilidade limitada.
2.EM QUE PODEM CONSISTIR As QUOTAS. A quota pode ser em dinheiro, ou em outro bem, ou
bens, corpóreos ou incorpóreos. Está na Lei n. 3.708, art. 4.0: “Nas sociedades por quotas de
responsabilidade limitada não haverá sócio de indústria”. “Sócio de indústria” está aí no sentido que
tem nos arts. 317-324 do Código Comercial, a propósito das sociedades de capital e indústria; não,
no sentido de bens, não pecuniários, avaliados, com que se compõe a entrada do sócio ou das
sociedades nas outras sociedades As entradas em natura têm de ser por seu valor. Se os sócios que
entraram com dinheiro admitem que a entrada em natura tenha determinado valor, os terceiros
podem ir contra êles pelo que o bem ou os bens não valham o que foi dito, de jeito que há
solidariedade dêsses quanto às quotas em natura (cf. P. TALAIRAC e A. O. JoST, Des Apports en
nature, leur évaluatíon et les taxes fiscales applicables, La Société á responsabiljté Iirnitée, 1950,
102). Podem ser prestação em natura, pelo valor do momento, bens imóveis hipotecados, ou o uso
ou o uso e a fruição de determinado bem.
A avaliação pode ser pelos próprios sócios, que são os interessados. Tem de ser precisa Com a
avaliação, ficam eles solidàriamente responsáveis. Para que se não exponham às ações dos
terceiros, pode ser pedida a avaliação 1
judicial.
A responsabilidade não é por ato ilícito absoluto, nem por ato ilícito relativo (responsabilidade
contratual), mas responsabilidade perante terceiros, pela publicidade do quanto do capital social em
seu inicio. O sócio, que paga a diferença, tem ação contra aquêle que entrou para a sociedade com o
bem em natura, avaliado acima do que teria de ser o seu valor. A divida dêsse é pessoal e persiste
ainda em caso de ter sido cedida a quota.
Se, para a transformação, é preciso que o sócio ou acionista entre com mais, o sócio ou acionista
que entrou com O valor de bem avaliado, o valor restituível aos sócios que não queiram entrar na
nova sociedade, ou creditável aos que o queiram, é o de tempo da avaliação, ou o do último balanço.
Se a sociedade que se vai extinguir é sociedade por ações e há cotação na bôlsa, fácil é ao acionista
exigir o valor do último balanço ou vender as ações.
A quota pode consistir em direito de uso, ou de fruIção, ou de uso e fruição. Não é preciso que a
outorga seja de direito real: o contrato social pode exigi-lo. É o caso da sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada, em que um dos sócios entra com os direito autorais, ou de propriedade
industrial, como o direito de uso de patente de invenção. Se é dissolvida a sociedade, o sócio que
entrou com o direito de uso, ou de fruição, ou de uso e fruição, tem direito à restituição e ao que lhe
haja de ser destinado na liquidação. Todavia, se houve transferência de direito real e não só
constituição pelo tempo da duração, a que correspondeu o valor atribuído, não há restituição.
Para isso, frisemos, é preciso que haja cláusula, ou se tenha de entender que a transmissão foi
definitiva. O art. 76
Conforme a Lei portuguêsa de 11 de abril de 1901, arts. 4 O e 59, dez por cento, pelo menos, da
quota de cada sócio tem de ser prestada para que se possa constituir a sociedade e nenhum sovo
pode subscrever mais de uma quota. Os valôres, êsses, podem ser desiguais.
A prestação do sócio, à semelhança que ocorre com as outras sociedades, pode ser em dinheiro, ou
outros bens (e.
g., exploração de patente de invenção), ou a simples abstenção (e. g., não fazer competência à
sociedade desde que se lhe haja acordado no valor.
Nada obsta à cláusula de ter de passar a outro sócio a participação de algum ou de alguns (e. g., em
caso de morte).
A quota pode ser pagável a prestações, como pode haver a clâusula de ter cada sócio, ou algum
sócio, ou alguns sócios, duas ou mais quotas, pagas no mesmo momento, ou de uma em uma,
sucessivamente 3.INTEGRALIZAÇÂO DAS PRESTAÇÕES DAS QUOTAS. A integralização das
prestações das quotas pelos sócios é de grande relevância. Se algum sócio não integralizou, os
outros, em caso de insolvibilidade da sociedade, ou do sócio, respondem pelo que o sócio deixou de
prestar. Cada um responde pela sua quota; mas, se algum ou alguns não integraram a sua quota ou
as suas quotas, o outro, ou outros respondem, subsidiária e solidàriamente. O limite da
responsabilidade é quanto ao todo do capital,no que a sociedade por quotas, de responsabilidade
limitada, se distingue da sociedade por ações.
A assunção da realização de todo o capital é por todos os sócios, a despeito de serem quotistas. Daí
terem, quanto às suas quotas, de integralizá-las; e, quanto às quotas dos outros, de ficarem
subsidiária e solidàriamente responsáveis.
Se cada sócio somente respondesse por sua quota, poderiam quaisquer pessoas constituir sociedade
por quotas, de 1
responsabilidade limitada, incluindo as que não teriam idoneidade ou não poderiam prestar
integralmente as suas quotas. Os terceiros teriam conhecimento de capital social inverídico, porque
n~o integralizável. Com a responsabilidade subsidiária e solidária pelas integrações das quotas dos
outros sócios, cada sócio tem de interessar-se pela prestação das quotas dos outros sócios.
A sociedade pode propor ação de indenização por atos ilícitos dos fundadores, inclusive pela
prestação em bem sem valor, ou cujo valor foi exagerado pelos fundadores.
„Bem de ser por instrumento público ou particular, e supõe -se que foi exigida a aprovação pela
sociedade (não pelos outros sócios) se o adquirente não é sócio. Não se pode vedar a transmissão,
mas vale a cláusula de ter a pessoa que quer adquirir determinadas qualidades pessoais; bem como
a de direito de preferência a favor dos sócios, ou do sócio que tem mais ou que tem menosquotas,
ou que está, na lista dos sócios, como fundador, ou em lugar anterior ou posterior ao do alienante.
A cada sócio não é necessário que somente corresponda uma quota. Pode-se atribuir a um sócio
duas ou mais quotas. O que importa é que as quotas sejam iguais (principio da igualdade das
quotas). Pretende-se que o art.
5O da Lei n. 3.708 exigiu o principio da unicidade inicial da quota. De modo nenhum: o art. 5.~
pôs em relêvo que, por haver o princípio da igualdade das quotas, a aquisição de quotas de outros
sócios de jeito nenhum aumenta o vi>; da quota do sócio adquirente:
tinha quota de 2, adquiriu outra quota, que, segundo o princípio, também é de 2; passou, portanto, a
ter duas quotas, como poderia passar a ter três ou mais.
No direito brasileiro, não se fixou o mínimo para o valor nominal de cada quota, expediente que
apresenta inconveniências graves em todos os Estados, devido às possibilidades de inflação. Na Lei
alemã de 20 de abril de 1892, § 5, na Lei portuguêsa de 11 de abril de 1901, art. 4 O (não pode o
sócio subscrever mais de uma quota, art.
50)~ e a Lei austríaca de 9 de março de 1906, § 10, estabeleceram mínimo. Na Lei belga de 9 de
julho de 1935, também há limitação.
No direito britânico dos Campanies Acts de 1948, sec. 29-31, como nos Companies Acts anteriores,
não se dá limite, mas estatui-se, na sec. 2, (4), (a), (b), que o sócio não pode ter mais de uma quota.
Não há o principio da igualdade das quotas. A transferência é permitida, salvo cláusula contrária; e
há direito de preferência dos sócios para adquiri-las. Para a entrada de nôvo sócio, é preciso
aprovação das pessoas que já são sócios (A. E. ToPIIAM, Palmer‟s Compan?J Law, 17a ed., 371). A
aquisição pelo estranho, se o sócio alienante só tem uma quota, retira a qualidade dessa pessoa
como sócio.
Diz-se na Lei n. 3.708, art. 5.0: “Para todos os efeitos serão havidas como quotas distintas a quota
primitiva de um sócio e as que posteriormente adquirir”. O art. 59 é ias cogens. Não seria válida a
cláusula que considerasse fundíveis as quotas, pela aquisição de alguma ou de algumas delas, ou
pela vinculação dos titulares em virtude de comunhão, de sociedade ou de outra ligação.
A cessão de quota a outro sócio é permitida, pôsto que o àrt. 59 da Lei n. 3.708 não seja ias cogens e
possa haver cláusula contrária à transmissibilidade das quotas. A cessão a terceiro não se diga que
o termo é impróprio, porque é o sentido do Código Civil, art. 1.070 depende do consentimento de
todos os sócios. Assim se haveria de entender mesmo se não houvessem, ou não fôssem de invocar-
se, o art. 334 do Código Comercial e o art. 1.338,
Tais regras jurídicas regem as respectivas espécies (sociedades comerciais por quotas, de
responsabilidade limitada; sociedadescivis por quotas, de responsabilidade limitada).
Surge o problema de se saber se o art. 334 do Código Comercial ou o art. 1.338, 2.~ parte, é ias
cogens, ou ins dispositivum. A sorte da cláusula de trans feribilidade da quota a terceiro ou cláusula
de cessibilidade da quota a. terceiro depende da resposta que se dê. Preliminarmente, observemos
que oart. 18 da Lei n. 3.708 nada tem com o assunto. (Sem razão, a5a Câmara Civil do Tribunal de
Justiça de São Paulo, a 5 defevereiro de 1954, 1?.
dos T., 226, 174 s.) Se no contrato social,ou em alteração dêle, feita com o consentimento unânime,
foi incluída a cláusula, com ou sem pressuposto ou pressupostos para a invocabilidade (e. g., ser
engenheiro, ser químico, serformado em direito, ser agricultor, ser plantador de café),fêz-se antes o
que se poderia fazer depois: todos 1
consentiram.Para tal conclusão não se precisaria de inserir na lei o que foi,com pouca explicitude,
pôsto na Lei portuguêsa de 11 de abril de 1901, art. 69, § 39 (“A escritura social pode fazer
dependera cessão de quotas do consentimento da sociedade e de outros requisito?‟). Os figurantes
do contrato social, mesmo em alteração feita com unanimidade, podem inserir a cláusula, o que não
é o mesmo que poder fazer depender de consentimento da sociedade a cessão da quota. A cláusula
pode estabelecer a permissão por maioria, ou a exigência de quórum e de maioria, ou apenas a
permissão pelos sócios gerentes. Se não há cessibilidade a terceiros, as quotas somentepodem ser
cedidas a sócios ou à sociedade. Se há cessibilidade a terceiro, o contrato social pode exigir que
antes se ofereça ao sócio, ou à sociedade, ou ao sócio e à sociedade, o que cria direita de
preferência. A cláusula pode dizer a quem se faz a oferta ou através de quem se faz a oferta (e. g.,
ao conselho de administração, 43 Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, 18 de março
de 1943, 1?. dos 77., 144, 673; à gerência, 39 Grupo de Câmaras Civis do Tribunal de Justiça de São
Paulo, 24 de setembro de 1954, 226, 174 s.). O que se disse sobre as cessões de quotas entende-se
quanto às cessões de partes indivisas das quotas. O acórdão do 39
Grupo de Câmaras Civis, que acima foi referido, errou, profundamente, em não considerar invocável
o art. 334 do Código Comercial e reportar-se ao art. 27, § 29, do Decreto-lei n. 2.627, de 26 de
setembro de 1940 (lei das sociedades por ações), como se a lei das sociedades por ações fôsse
subsidiária da Lei n. 3.708: ela é subsidiária do contrato social, dos estatutos. Se existisse, na Lei n.
3.708, o princípio da cessibilidade a terceiro, estaria derrogado o art. 334 do Código Comercial. Mas
tal derrogação não existe no texto legal. Sé se falou de transferência a estranhos no ad. 79 da Lei n.
3.708, para o caso de, remisso o sócio e incobrável a divida, não quererem os sócios a quota do sócio
remisso.
A cessão de quotas a estranhos implica alteração do contrato social, em ponto relativo aos
figurantes, o que, em princípio, sé a unanimidade pode deliberar.
A passagem de tôdas as quotas a um só dos sócios não é causa de extinção da sociedade por quotas,
de responsabilidade limitada. Tem-se, no direito brasileiro, como sociedade transitoria ou
temporâneamente unipessoal, pôsto que não ~e tenha, no sistema jurídico brasileiro, a sociedade
unipessoal (EinpersonnengesellschciJt) do direito alemão.
~.3.708, ad. 6.0: “Devem exercer em comum os direitos resos co-proprietários da quota indivisa,
que designarão,entre si, um que os represente no exercício dos direitos de sócio. Na falta dêsse
representante, os atos praticados pela sociedade em relação a qualquer dos co-proprietários
produzem
efeitos contra todos, inclusive quanto aos herdeiros dos sócios. Os co-proprietários da quota
indivisa respondem solidàriamente pelas prestações que faltarem para completar o pagamento da
mesma quota”.
O art. 69 da Lei n. 3.708 supõe que a comunhão seja de acôrdo com os estatutos e não tenha sido a
líbito do sócio.
No art. 334 do Código Comercial está dito: “A nenhum sócio é lícito ceder a um terceiro, que não
seja sócio, a parte que tiver na sociedade sem expresso consentimento de todos os outros sócios,
pena de nulidade do contrato; mas poderá associá-lo à sua parte, sem que por êste fato o associado
figura~ considerado membro da sociedade”. No Código Civil, ad. 1.388, em outros termos, estatui-
se o mesmo. O art. 69 supóe que houve consentimento dos outros sócios, porque se trata de eficácia
interna. Se se permitisse que o sócio se fizesse comuneiro e desse poderes ao estranho para
representá-lo, abrir-se-iam portas a situações difíceis (e. g., presença do estranho indesejável) ou de
fraude à lei (e. g., faria seu representante na assembléia dos quotistas quem não poderia ser sócio,
e. g., n~o é arquiteto e a sociedade sé admite sócios arquitetos, ou não é Brasileiro e a sociedade
exige aos sócios a qualidade de Brasileiro). Por outro lado, o art. 6.~ faz tais pessoas solidària mente
responsáveis pelas prestações que faltem para completar a quota. ~ Como se haveria de permitir
exame dos 1
livros da sociedade e dos seus arquivos por pessoa estranha que a sociedade não admitiu como
sócio? Quem tem parte em quota, com eficácia interna, é sócio, sócio de parte em quota.
A quota pode ser objeto de comunhão, quer por ato entre vivos, quer a causa de morte. Para ser
comuneiro-sócio é preciso que satisfaça os pressupostos para ser sócio. A doação, o legado, a
herança, a cessão não fazem, por si sos , comuneiros-sonos os outorgados, que sócios não são. O art.
334, 2Y parte, do Código Comercial somente cogita de comunhão com eficácia externa; o art. 6.0 da
Lei n. 3.708 supóe serem sócios os comuneiros. Cf. 4~a Câmara Civil da Côrte de Apeluem £2 k1.J
Paulo, 3 de abril de 1935 (1?. dos T., 93, 109). A 3.~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São
Paulo, a 20 de setembro de 1925 (102, 176), repeliu qualquer atribuição de eficácia interna e negou
ao comuneiro não-sócio o direito de examinar a escrita da sociedade. O consentimento de todos os
sócios para a comunhão na quota, eficácia interna (portanto, para que se possa invocar o art. 6.0 da
Lei n.
4 a Câmara Civil da Côrte de Apelação de São Paulo, a 29 de abril de 1936 (E. dos T., 101, 471 a.).
Disse a Câmara Cível do Tribunal de Apelação do Distrito Federal, a 10 de setembro de 1946 (1?. de
J. .8., 73, 85), a respeito das sociedades de pessoas, em geral, que a morte do cônjuge de um dos
sócios não acarreta a dissolução da sociedade e o juízo do inventário verifica os haveres do sócio. Se
os cônJuges têm quota indivisa, o inventariante ou o sócio gerente que sobreviveu representa os
herdeiros, conforme o art. 6.0 da Lei n. 3.708. Se sobreviveu o sócio que não era gerente, os
herdeiros podem outorgar poderes ao outro cônjuge, ou ocorrer que se outorguem a um dos
herdeiros. O contrato pode prever isso.
6.AQUISIÇÃO DE QUOTAS PELA SOCIEDADE. Está na Lei n. 3.708, art. 8.0: “E lícito às sociedades
a que se refere esta lei adquirir quotas liberadas, desde que o façam com fundos disponíveis e sem
ofensa do capital estipulado no contrato. A aquisição dar-se-á por acôrdo dos sócios, ou verificada a
exclusão de algum sócio remisso, mantendo-se intacto o capital durante o prazo da sociedade”.
Muito se exprobrou a permissão de aquisição das quotas pela sociedade. A sociedade pode adquiri-
las quando lhes sejam oferecidas, ou ela seja oferente da aquisição. Faz-se em verdade sócia de si
mesma (cf. PAULETTE
VEAUX-FoURNERIE, L‟AcauiSitiOTh de 505 propres actions ou parIs sociales par la société ém-
et‟rice, 395).
No Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940, o art. 15, parágrafo único, alude às operações
de resgate, reembôlso, amortização ou compra, “previstos em lei”. No art. 28, parágrafo único,
permite-se à sociedade por ações receber as próprias ações para garantia da gestão de seus
diretores; e no au. 19, a compra de ações em caso de redução do capital (art. 114), para as retirar
da circulação. A propósito das sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, foi-se mais
longe, com a permissão geral da Lei n. 3.708, art. 8.0.
O art. 8.0 da Lei n. 3.708 só se refere a quotas liberadas; a sociedade não pode adquirir quotas
não liberadas, de modo que o direito do art. 70 não lhe toca. Há, ainda, outros pressupostos: ter
fundos disponíveis e, com a aquisição, não ofender “o capital estipulado no contrato”. Nem sempre o
sócio não aliena a quota deixa de ser sócio (o que escapou a HORÁCI9BERLINCK, Contabilidade
aplicada às Emprésas comerciais, industriais, agrícolas e financeiras, 1, 383) : pode o sócio ter duas
ou mais quotas, a primitiva e a outra, ou as outras que adquirir.- - A sociedade somente pode
adquirir quotas dos sócios se tem “fundos disponíveis”. O art. 8.0 é explícito. Acrescenta:“sem
ofensa do capital estipulado”. Se a sociedade adquire quota, o capital continua o mesmo e a
sociedade tem os direitos dos outros sócios. Não pode adquiri-los a crédito (cf. 4~ Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo, 17 de agôsto de 1952, E. F., 147, 280; E. dos T., 203, 354). Se os
títulos são cambidries ou cambiariformes, o terceiro possiúdor, de boa fé, é protegido.
A amortização pela sociedade de quotas liberadas só se admite se o contrato social o previu. Para
que se possa dar é preciso que não se atinjam os fundos necessários à permanência incólume do
capital social. Daí ser conveniente a criação de fundo para aquisição ele quotas sociais.
O contrato social pode estabelecer o direito de preferência da sociedade à aquisição das quotas que
algum sócio ou alguns sócios queiram ceder. É uma das cláusulas de direito de preferência à
aquisição. Se a cláusula é infringida, a cessão é ineficaz (evite-se dizer que é inválida, pois contrato
nãO é lei). Cf. 4.~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 13 e ~ março de 1943 (1?.
dos T., 144, 672). O art. 313 do Código Processo Civil é invocável.-
podem ser objeto de direitos reais é de repelir-se (e. g., VALDEMAR FERREIRA, Tratado de
Sociedades Mercantis, ~Jr, 5.~ ed., 770). Não sé de direitos em bens corpóreos há penhor, uso e
usufruto. Não só direitos corpóreos são penhoráveis, arrestáveis e seqüestráveis . Se a quota pode
ser transferida a outro sócio, pode êsse ser titular de usufruto ou de uso (e. g., o sócio A não quer
alienar a quota, mas, por estar ausente, quer que o filho, quotista, uso ou usufrua a quota), como
pode ser penhorada, arrestada ou seqUestrada por êle (e. g., o sócio A não quer alienar a quota, mas
precisa de empréstimo).
Quanto à penhora e às medidas cautelares, o art. 292, 13 alínea, do Código Comercial é invocável:
“O credor particular de um sócio sé pode executar os fundos líquidos que o devedor possuir na
companhia ou sociedade, não tendo êste outros bens desembaraçados, ou se, depois de executados,
os que tiver não forem suficientes para o pagamento”. Sem fundamento, a dec~s5o do Tribunal de
Justica de São Paulo, a 16 de março de 1926 e a 4 de outubro de 1927 (R. dos 7‟., 58, 122; 68, 605).
No Código de Processo Civil, art. 942, XII. diz-se que nao podem absolutamente ser penhorados “os
fundos sociais, pelas dívidas particulares do sócio, não compreendendo a isenção” leia-se: a
imunidade “os lucros líquidos verificados em balanço ”. ~ o que está no art. 328 do Código
Comercial, e nada tem com o art. 292, 13 alínea, nem com a penhora da quota de quem faz parte de
sociedade por quotas, de responsabilidade limitada. No art. 943, III, do Código de Processo Civil
fala-se da penhora de que cogita, claramente, o art. 292, alínea 1.&, do Código Comercial.
1. DIsTINÇÃO. . É assaz relevante distinguir-se da alteração tio contrato social, que não lhe muda o
tipo, nem o objeto ou finalidade da sociedade, nem os direitos de figuração no contrato, a mudança
de tipo social, a de objeto ou finalidade da sociedade e de cláusula que retire aos sócios e ponha a
arbítrio da maioria ou de alguém a inclusão da pessoa como sócio, sem que tal mudança seja
prevista no contrato social.
3.ALTERAÇÕES DO CONTRATO SOCIAL. Considera-se alteração do contrato social o que não lhe
mude o tipo, nem o objeto ou finalidade, nem os direitos dos sócios no tocante à continuidade, 1-lã
alterações que exigem unanimidade, como as que consistem em diminuição ou aumento das
operações, porque incide o art. saí, ia parte, do Código Comercial. De regra, as outras alterações
podem ser por maioria, com as conseqüências dos arts. 15 e 16 da Lei n. 3.70 maioria, que
legitimamente poderia alterar o colitrato, deliberar sobre a exclusão de sócio? Nos casos do ad. 7,0
da Lei n. 3.708, que alude ao art. 289 do Código Comercial, sim.
A exclusão a líbito dos outros sócios, entende a jurisprudência que não (cf. 1~a Câmara Cível do
Tribunal de Justiça da Bahia, 13 de novembro de 1956, 1?. dos T., 55, 409).
As alterações do contrato social têm de ser arquivadas nocomércio ou levadas a registo civil.
Surge o problema da alteração que não foi levada ao re~31íC. A 4,~ Câmara Cível do Tribunal de
Apelação do Distrito Federal, a 20 de março de 1945, entendeu que, não sendo levada a registo a
alteração, a sociedade passa a ser irregular. Seria atribuir efeitos e efeitos ex tune à falta de registo.
Irregular é a sociedade cujo contrato não se registou, mas a sociedade registada, cujo contrato sofre
alteração, continua registada, tal como é, até que se registe a alteração. A falta de registo é quanto
à alteração, e não quanto ao contrato social, que foi registado e continua registado tal como era.
Não se pode aumentar o capital antes de se integralizarem tôdas as quotas, salvo se isso foi previsto
no contrato social.
Se algum sócio discordou, ou deixou de concordar com aumento do capital, ou com a prorrogação
do contrato social, ou com a função da sociedade, ou com a redução do capital, o art. 15 da Lei n.
3.708 incide. O sócio dissidente, abstinente ou ausente tem de manifestar a vontade de se retirar,
porque, se não se manifesta, continua com o contrato social alterado, assumindo as
responsabilidades, inclusive a subsidiária e solidária do art. 15 da Lei n. 3.708. Sem razão, a 2~a
Câmara Cível da Côrte de Apelação do Distrito Federal, a 3 de agôsto de 1929 (A.
Se a alteração foi rara citada de outro sócio ou de outros sócios, necessàriamente todos
consentiram, porque o aumento daria ensejo a que algum ou alguns ou todos os sócios quisessem as
novas quotas.
A pessoa que $2 ±2:0110 recebo a sua quota primitiva, no sentido do art. 5,0 da Lei n. 3.708.
No caso de redução do capital social, precisa-se do consenso de todos os sócios se não é apenas
para o caso de saídas voluntárias ou de morte de sócios, ou de cessão de quotas.
Se houve alteração do contrato que consista em permitir-se excluir um sócio, ou alguns sócios, a
unanimidade é exigida. Sem razão, a 2Y‟ Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, a 19
de outubro de 1943 (1?. dos 1‟., 147, 682) ; mas o 1.0 Grupo de Câmaras Civis, a 8 de maio de 1944,
reformou, acertadamente, o acórdão.
O contrato pode estabelecer a maioria, inclusive vontade de todos menos um, ou a unanimidade,
para que se altere o contrato social. A respeito, observemos que se há de repelir a opinião que
entende derrogado ou mesmo ab-rogado o art. 331 do Código Comercial, O objeto da sociedade
somente pode ser mudado por deliberação unânime. Quanto a outras matérias, o art. 15 da Lei n.
3.708 supõe a incidência do art. 331, 2.~ parte, do Código Comercial, isto é, que tenha tido
cabimento a deliberação por maioria conforme o art. 486.
Em texto nenhum do Código Comercial, nem da Lei n. 3.708, se permite a exclusão do sócio sem ser
com fundamento previsto em lei ou no contrato social (e. g., Código Comercial. arts. 287, 289 e 317,
2,a alínea; Lei n.
3.708, art. 7~0). A exclusão que não seja leonina é válida (cf. g~a e 4a Câmaras Cíveis do Tribunal
de Apelação do Distrito Federal, 7 de novembro de 1939, A. .1., 55, 45; 4,a Câmara Cível, 28 de
julho de 1940, 55, 193; O D., IV, 310).
Não se pode alterar o contrato sem se manter a igualdade das quotas. Tal o direito brasileiro..
A igualdade das quotas foi imposta pela Lei francesa de 14 de junho de 1988, para se pôr fim à
controvérsia existente (A.AUGER e R. MíCIIE>L, Les S¶ociétés à responso bilité tiraitée, „71).
5 a e 6 a Câmaras Cíveis, 14 de maio de 1985, 97 e 230). Isso não quer dizer que não possa o
contrato social prever pressupostos para a prorrogabilidade.
O registo é indispensável para a eficácia contra terceiros. A personalidade, essa, persiste, porque
teria de haver registo cancelativo para que ela desaparecesse.
CAPÍTULO III
VALIDADE E EFICÁCIA DO CONTRATO DE SOCiEDADE FOR QUOTAS, DE RESPONSABILIDADE
LIMITADA
O objeto da sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, tem de ser licito e possível. As
sociedades de capitalização, não podem ser por quotas, de responsabilidade limitada, porque a lei
(Decreto n. 22.456, de 10 de fevereiro de 1933, art. 1.0> exige que só funcionem no território
nacional sociedades de capitalização ~ue sejam sociedades por ações nacionais. Todos os sócios hão
de participar dos lucros e das perdas.
Oque acima se disse sobre cônjuges entende-se quanto a quaisquer sócios comuneiros, isto é,
comuneiros que sejam somos, porque a êsses e só a êsses se refere o art. 6.0 da Lei n. 3.708.
A nulidade que não é concernente à forma não pode ser oposta a terceiro por um sócio. Êsse
somente pode alegar 1
a nulidade por incapacidade quanto à sua manifestação de vontade, de modo que não atinge a
validade do contrato social entre dois ou mais sócios restantes.
2. ANULABILIDADE O relativamente incapaz, que ocultou a sua idade, está vinculado (Código Civil,
art. 155).
Dá-se o mesmo no que concerne aos outros incapazes, se o curador deixou de prevenir a
anulabilidade. No caso de dolo, o sócio, que foi vítima, tem ação de indenização contra o sócio
culpável. Restam os casos de êrro, de violência, de simulação e de fraude contra credores.
Em caso de invalidade do contrato social, e não só de nulidade, como está no art. 17 da Lei n. 3.708,
os sócios a que ela não se prende, são responsáveis pelas quotas dos que deram causa à invalidade
sem se tornarem responsáveis. Se todos são absolutamente incapazes, não, porque só houve culpa
do oficial que fêz o registo.
3.708, art. 17: “A nulidade do contrato social não exonera os sócios das prestações correspondentes
às suas quotas, na parte em que suas prestações forem necessárias para cumprimento das
obrigações contraídas”. O art.
17 não se entende apenas quanto à nulidade, mas sim quanto à nulidade e à anulação.
As outras conseqUências são conforme os princípios gerais, ou do direito comercial, ou do direito
civil.
Os direitos sobre o patrimônio social são direitos da sociedade, e não dos sócios. Os sócios têm os
direitos concernentes à administração, à fiscalização. Quando êsses direitos são dependentes de
exercício comum, ou de deliberação por maioria, não deixam de ser direitos dos sócios: a eficácia é
que é diferentemente prevista. Assim é, também, no que concerne às sociedades por quotas, de
responsabilidade limitada (cf. ROGER LECOUTRE, La Natnre juridique et le Trans fcrt des parts
sociales dans ia soc?é‟é â responscúbihté lhnitée, 14 s.). Ter direito, por ocasião da dissolução e da
liquidação da sociedade, a receber o que cabe a cada quota, não é ser comuneiro do patrimônio
social: o patrimônio social é da sociedade.
Se a sociedade adquire quotas, ela adquire os direitos que têm os sócios. As quotas são delas, e não
de todos os sócios.
O sócio tem de integrar, conforme o contrato social, a sua quota e as quotas que adquiriu.
Um dos seus deveres principais é o de indenizar a sociedade pelo dano que a ela causar, por atos ou
deliberações contrários à lei ou ao contrato social.
Em caso de decretação de invalidade do contrato social, o sócio tem de prestar o que fôr necessário
ao adimplemento das dívidas que em nome dela foram assumidas.
Quando se retira da sociedade, por divergência quanto à alteração do contrato social, ou por outra
causa, o sócio tem responsabilidade pelas dividas que a sociedade assumiu até a data do registo da
alteração do contrato, ou da sua saída, conforme os princípios jurídicos.
Se algum sócio não integralizou, como devera, a sua quota, os outros têm de integralizá-la, como
teriam de integralizar as próprias.
Se dividendos ou outros valôres foram recebidos, com prejuízo do capital da sociedade, têm de ser
restituidos, mesmo se o contrato social, na espécie, os permitira.
Quanto à responsabilidade pela integralização das quotas, ou a quota pertence aos bens do casal e,
pois, quotista é o casal, ou só pertence ao marido, ou a mulher, e o marido ou a mulher é que
responde, porque, conforme o Código Civil, na comunhão
universal de bens, somente pela dívida incluível assumida pelo marido, ou pela mulher, responde a
comunhão.
Aliás, assim se passa, quando o sócio se retira, ou falece, porque o recebido não se comunica.
Bens do casal, ou de um dos cônjuges, se a quota foi prestada integralmente, não podem ser
penhorados por dividas da sociedade (í~~ Turma do Tribunal Federal de Recursos, 18 de junho de
1957, cf. Tribunal Federal de Recursos, 18 de maio de 1957).
O sócio divergente, quanto à alteração do contrato social, pode reclamar o reembôlso da quantia
correspondente à sua quota, de conformidade com o último balanço aprovado. Se o sócio divergente
tem alegação contra a validade da deliberação, pode propor a ação de nulidade.
3.EXCLUSÃO DE SÓCIO REMISSO. Diz-se na Lei n. 3.708, art. 7.0: “Em qualquer caso do art. 289
do Código Comercial, poderão os outros sócios preferir a exclusão do sócio remisso. Sendo
impossível cobrar amigàvelmente do sócio, seus herdeiros ou sucessores a soma devida pelas suas
cotas, ou preferindo a sua exclusão, poderão os outros sócios tomar a si as quotas anuladas ou
transferi-las a estranhos, pagando ao proprietário primitivo as entradas por êle realizadas,
deduzindo os juros da mora e mais prestações estabelecidas no contrato e as despesas”. Cabe a
exclusão do sócio pelo voto de todos os outros sócios se êle deixou de entrar para o fundo social com
o que prometera, no prazo e pelo modo que foi estabelecido no contrato social. No art.
7O da Lei n. 3.708 não há a infeliz referência a “rescisão (?) da sociedade a respeito do sócio
remisso”, que aparece no art. 289 do Código Comercial. Não há rescisão, há expulsão; e o termo
“rescisão” revela medíocre ou, melhor, pequeno conhecimento de terminologia jurídica.
A integralização das quotas ou se dá por adimplemento das dívidas dos sócios à sociedade, ou pelo
que, subsidiária e solidariamente , prestem, por êles, os outros sócios. O adimplemento pelo sócio
devedor pode ser exigido. Se êsse não pode prestar ou não presta amigàvelmente, os outros sócios
podem tomar a si as quotas, ou transferi-las a estranhos. (A expressão “anulada” não tem qualquer
pertinência.) Para isso, os outros sócios, ou um sócio, ou alguns sócios, com o consentimento dos
outros, chamam a si a quota, prestando ao sócio excluído aquilo com que já entrara, com dedução
dos juros da mora, conforme a lei ou o contrato, e à sociedade o que êle lhe deve e as despesas. Se
os outros sócios não querem fazer-se titulares do direito de quota, podem transferi-la a estranho, ou
a estranhos, que têm de prestar ao sócio remisso aquilo com que já entrara, deduzidos os juros da
mora, e à sociedade o que êle deve e as despesas.
Para as conseqUências acima, o que se supõe é a exigência amigável por parte da sociedade,
portanto através do seu órgão, ou dos seus órgãos. Se fracassa a tentativa de solução sem lide, os
outros sócios é que são legitimados à ação de exclusão do sócio remisso. Assim, a sociedade tem
pretensão e tem ação; o outro sócio ou os outros sócios é que só têm a ação.
A exclusão do sócio remisso, se não foi possível a solução amigável, supõe que se cobre
judicialmente ao sócio remisso o que êle deve e os juros da mora desde a interpelação ou a
propositura da ação, cuja citação contém interpelação (Código Comercial, art. 188>. Pode ser que o
contrato social haja estabelecido a mora pela simples falta do pagamento no dia marcado, ou após
algum tempo contado do inadimplemento. Se a sociedade por quotas, de responsabilidade limitada,
é sociedade comercial, rege o art. 137 do Código Comercial, em caso de haver prazo determinado.
Se houve interpelação, podem os sócios, por instrumento público, ou por instrumento particular,
declarar excluído da sociedade o sócio remisso, e atribuir a quota a um, que passa a ser sócio com
duas quotas, a alguns, ou a todos os outros, que passam a ser sócios-comuneiros quanto à quota
adquirida. É possível que, de conformidade com o contrato social, tenha de ser ouvido algum órgão
social, ou que se haja atribuído a, assembléia geral a deliberação.
A 2,a Câmara Civil do Tribunal de Apelação de São Paulo, a 19 de outubro de 1943 (E. dos T., 147,
682), parece que não admitiu o depósito em pagamento para se discutir a legalidade nu
irregularidade da exclusão. Isso seria dar-se aos sócios a justiça de mão própria, pré-eliminando-se o
exame judicial, o que infringiria o art. 141, § 4$, da ConstituIção de 1946.
Pode a própria sociedade, se o contrato não o disse, nem há regra jurídica especial, propor ação de
exclusão do sócio? Não. O art. 7~O da Lei n. 3.708 só se refere aos “outros sócio?‟. Ésses é que
podem preferir à indenização, com os juros da mora, a exclusão (cf. 42- Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal, 19 de abril de 1952, E. F., 150, 254;
12- Câmara Cível, 3 de dezembro de 1958; 82- Câmara Cível, 8 de abril de 1958; cf. 22- Câmara
Cível, 6 de maio de 1957, D. da .1. de 13 de março de 1958). O sócio que é excluído tem direito ao
que prestou da quota, deduzidos os juros da mora e as despesas (3a Câmara Cível, 18 de maio de
1959, D. da J., de 17 de setembro de 1959).
A ação pode ser a executiva, sem que possa a sociedade apropriar-se de bens do sócio alugados à
sociedade (12-Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Corais, 3 de agosto de 1950, E. F., 139,
292).
Se a sociedade adquire quotas, que hão de ser quotas liberadas, conforme lhe permite o art. 8.0 da
Lei n. 3.708,
~,pode ela exercer o direito de sócio quanto a exclusão dos sócios em falta? A resposta tem de ser
afirmativa, mas sem relevância porque qualquer dos sócios, inclusive o que é órgão da sociedade, o
poderia exercer.
4.AÇÃO DE INTEGRALIZAÇÃO DAS QUOTAS. ~ preciso que se não confunda a ação para a
cobrança das prestações das quotas com a ação de exclusão do sócio. Seria absurdo que se não
reconhecesse à sociedade, que é a credora, a ação para o adimplemento do que o sócio prometeu ou
os sócios prometeram. No caso de sócio remisso, há a ação de cobrança, que tem a sociedade, e a
ação de cobrança, que têm os sócios. Êsses podem referir a exclusão do sócio, em virtude do art.
„72 da Lei n. 3.708: o art. 70 emprega, explicitamente, “poder não preferir”.
A responsabilidade perante a sociedade, essa, resulta dos princípios gerais e a Lei n. 8.708 os
subentende.
Se o sócio deixa de integralizar e há a interpelação sem resultado e ninguém quer adquirir a quota,
~como se há de proceder? Pela ação executiva. Se não há bens que possam ser penhorados, ~qual a
situação em que fica o capital social? A sociedade somente pode adquirir quotas liberadas.
Os comentadores da Lei n. 3.708 entenderam que a responsabilidade dos sócios pela integralização
somente pode ser efetivada em caso de falência da sociedade, de modo que lêem o art. 9/> da Lei n.
3.708 como se lã estivesse:
“Só em caso de falência. . . “, e não, como está, “Em caso de falência Por outro lado, esqueceram-se
de que no art. 2.0 se fala de “responsabilidade dos sócios” pela “importância total do capital
sociaL‟. Ora, os terceiros conhecem o capital social pelo contrato registado e têm de levar em
consideração que há datas para a integralização, que se presumem observadas. Se a sociedade ou
os sócios não providenciarem de acôrdo com o art. 7» da Lei n. 3.708, são responsáveis pela
importância total do capital social e a sociedade pode exigir-lhes a integralização. Diz-se que faltam
regras jurídicas como as da Lei português2 de 11 de abril de 1901, arts. 15 e 16, e daí a critica
enérgica, mas injusta, de SANTOS LOURENÇO (Das Sociedades por quotas, 1. 229). O que está no
art. 2.0 da Lei n. 3.708 basta.
O art. 92 só se refere à falência da sociedade, e não a de algum sócio. A insolvência do sócio remisso
é causa para se invocar o art. 72 da Lei n. 3.708, e não para invocação do art. 92. Explicou a 22-
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 7 de agôsto de 1951 (E. <los T., 196, 312)
“A responsabilidade pelo pagamento de cada quota do capital, em princípio, é pessoal, do sócio que
a subscreveu.
5.FALÊNCIA DA SOCIEDADE. Estatui-se na Lei n. 3.708, art. 92, alíneas 12- e a. “Em caso de
falência, 2
todos os sócios respondem solidáriamente pela parte que faltar para preencher o pagamento das
quotas não inteiramente liberadas. Assim, também, serão obrigados os sócios a repor os dividendos
e valôres recebidos e as quantias retiradas, a qualquer título, ainda que autorizados pelo contrato,
uma vez verificado que tais lucros, valôres ou quantias foram distribuídos com prejuízo do capital
realizado”. No art. 90, alínea 12-, falou-se de “em caso de falência”, mas pode ocorrer que se trate
de liquidação coativa de sociedade comercial, ou de concurso civil de credores, ou de liquidação
coativa de sociedade civil.
Se algum sócio deixa de pagar integralmente a sua quota, há o ônus e não só o direito dos sócios à
exigência do que falta. Tanto assim que, se ocorre falência da sociedade, todos os sócios respondem,
solidàriamente, pelo que o sócio devia, mesmo se ainda não chegara a data para o pagamento. Os
sócios são chamados à integralização do capital (Tribunal de Justiça de São Paulo, 7 de agôsto de
1951; 12- Turma do Supremo Tribunal Federal, 10 de dezembro de 1953). Fora do caso de concurso
da sociedade, não há responsabilidade solidária para a integralização do capital (22- Câmara Civil
do Tribunal de Justiça de São Paulo, 7 de agôsto de 1951, E. dos T., 196, 311; 62- Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 13 de junho de 1952, E. F., 152, 221; 22-Turma do Tribunal
Federal de Recursos, 10 de outubro de 1956, D. da J. de 3 de março de 1959).
Na 2.~ alínea do art. 9.~, a responsabilidade do sócio é pelo que indevidamente foi retirado ao
capital da sociedade:
Pretendeu-se que o art. 50, § 22, do Decreto-lei n. 7.661, de 21 de junho de 1945, ab-rogara o art. 92
da Lei n.
8.708; e a 5a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 25 de agôsto de 1950 (R. dos 7k,
189, 240), acertadamente o repeliu.
6.RESPONSABILIDADE POR ATOS ILÍCITOS, RELATIvOs E ABSOLUTOS. Diz-se na Lei n. 8.708, art.
16: “As deliberações dos sócios, quando infringentes do contrato social ou da lei, dão
responsabilidade ilimitada àqueles que expressamente hajam ajustado tais deliberações contra os
preceitos contratuais ou legais”. Pode a sociedade, que sofre prejuízo, invocar o art. 11. Ú art. 16
cogita do direito, pretensão e ação dos outros sócios. A responsabilidade é ilimitada, porque se deu
trato igual às infrações contratuais e aos atos ilícitos absolutos (cf.
A lei não exige assembléia geral ordinária periódica. Se alguma deliberação infringiu o p rincipio de
igualdade entre os sócios , ou regra jurídica ou regra estatutária (cláusula contratual), qualquer
sócio pode impugná-lá. O
7. DIREITOS DOS SÓCIOS. Cada sócio tem direito de intervir na administração da sociedade, desde
que observe as cláusulas estatutárias e com a sua intervenção não infrinja lei. Do mesmo modo lhe
cabe: fiscalizar a gestão dos negócios sociais; examinar os livros de contabilidade e escrituração,
correspondência e arquivo, pessoalmente, desde que não cause dano à sociedade e conforme o
tempo e o modo que o contrato social previu; exigir dos sócios gerentes balancetes periódicos e
informações sobre as operações da sociedade, concluídas ou em trâmite; colaborar nos trabalhos
para o balanço anual, que há de ser submetido à sua aprovação; adquirir e alienar quotas, de
conformidade com a lei e as cláusulas contratuais, inclusive exercer o direito de preferência, que o
contrato social haja estabelecido; tomar parte nas deliberações sociais, na forma que o contrato
social tenha exigido ou permitido, podendo exercer o direito de retirada se a deliberação é sobre
alteração do contrato; participar dos lucros sociais, conforme a lei e o contrato, após aprovação do
balanço anual, que os sócios gerentes apresentaram, tenha ou não havido colaboração de sócio;
participar do acervo social, em caso de dissolução e liquidação da sociedade.
A duração das funções dos sócios gerentes é livremente fixada pelo contrato social, ou pelos
estatutos. A gerência só-mente pode ser retirada pela assembléia dos sócios, que delibera por
maioria absoluta, e os sócios que divergirem podem sair da sociedade, porque, na espécie, há
alteração do contrato social. O sócio que fel devidamente afastado da gerência pode pedir
judicialmente indenização de perdas e danos.
Na sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, a diferença do que ocorre com as sociedades
em nome coletivo, a modificação do contrato social não exige unanimidade, tanto assim que se
permite a retirada voluntária do sócio divergente (cf. Lei n. 3.708, art. 15). A maioria absoluta é que
decide. Se foi deixado a assembléia dos sócios a designação do sócio não-estatutário, pode haver
deliberação pela maioria dos presentes, em posterior convocação .
O sócio gerente que foi destituído injustamente pode exigir indenização dos danos.
2.GERENTES. Os sóCiOS gerentes têm todos os poderes para operações em nome da sociedade,
sem que possa ser alegada contra terceiros a restrição feita no contrato registado ou nos estatutos
registados. esse princípio jurídico, que transparece nos arts. 10 e 14 da Lei n. 3.708, é de origem
germânica. Por isso mesmo, a divisão de atribuições entre só-cine gerentes não se pode considerar,
em relação aos terceiros, restrição de poderes, para que as pessoas que tratam com a sociedade não
tenham de se preocupar com as cláusulas contratuais. Daí a conveniência de conselho de gerência,/
ou conselho de administração, ou diretoria, para que a gestão seja colegial. Assim, todos o~
membros do conselho têm de figurar nos negócios jurídicos.
A excedência dos poderes pelo sócio gerente ou pela colégio gestatério não pode ser alegada contra
terceiros, razão por que sempre responde o sócio gerente ou o colégio outros sócios pelos excessos
ou violação dos contratos eu da lei (ei. Lei n. 8.708, art. 10).
Não entram nos poderes de gestão da sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, o de
liquidar a sociedade, o de alienar os bens que não são destinados a alienação mas, no direito
brasileiro, se não há cláusula contratual em contrário, os sócios gerentes podem delegar funções de
gerência.
Se o sócio gerente emprega, nas operações , a firma social, vincula a sociedade. O emprêgo da firma
social, se há firma social. ou a assinatura do sócio gerente, em presentação da sociedade que tem
denominação, há de ser tido como ato em nome da sociedade. Se à firma social, ou à denominação ,
falta a expressão “Limitada”, OU “Ltda.”, ou se não foi aposta essa expressão, os terceiros podem
considerar a sociedade como em nome coletivo, ou como outra sociedade que as circunstâncias
façam aparente.
O contrato social pode prever que cada sócio gerente tenha os mesmos poderes, o que se há de
supor ter sido querido (cf. Lei n. 3.708, art. 13, alínea i.a~. Qualquer dêles pode opor-se ao que o
outro vai fazer, mas sem efeito suspensivo se tem razão, a decisão judicial dirá sem efeito o ato
praticado sem poder, ou com abuso do poder.
Os sócios gerentes e os que deram o nome à firma aparecem, aos terceiros, como outorgados de
poderes. Tôda outorga tem limites. Mas a situação em que se acham, pela gestão , ou pode inserção
do nome na firma, faz supor-se que operam de acôrdo com o contrato e a lei. Vinculam a sociedade,
e não a si mesmos (“não respondem pessoalmente”)~ se praticam atos em nome da sociedade. Se
não tinham os poderes, ou se os excederam, a sociedade tem direito, pretensão e ação contra êles.
Os terceiros, ésses, têm direito, pretensão e ação contra a sociedade e contra êles, que respondem
“solidária e ilimitadamente pelo excesso do mandato” (ou falta de poder) e “pelos atos praticados
com violação do contrato ou da lei”. A referência aos que deram nome à firma só tem relevância,
porque, se o contrato social foi omisso quanto ao uso da firma, todos os sócios podem usá-la (Lei ix.
3.708, art. 13).
A regra júridica do art. 10 da Lei ii. 3.708 sobre não responderem os sócios gerentes e os que deram
nome a firma pelos atos praticados em nome da sociedade, de modo nenhum abrange os atos
ilícitos, os atos-fatos ilícitos e os 1
Os sócios gerentes são órgãoS, e não nutritários não representam, presentam a sociedade. rrêm de
respeitar os estatutos e submeter o balanço à aprovação dos sócios, que decidem quanto à partilha
dos lucros. Não podem alienar fundo social. O contrato social e os estatutos podem determinar, com
preci5ã0, os direitos e obrigações dos sócios entre si e para com ter ceiros. Se omisso o contrato
social, ou se omissos os estatutos, presentam a sociedade os seus diretores (Código Civil, art. 17)
que, na sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, são os sócios gerentes. Todavia, pode
ocorrer que não se tenha cogitado, sequer, de gerentes, e então todos os sócios podem usar a firma
(Lei n. 8.708, art. 17).
Quanto aos títulos cambiários e cambíariformes a Lei n.2.044, de 31 de dezembro de 1908, arts. 1.0,
V, 8.0, 11, 14, 46 e 54, IV, exige poderes especiais. Pode-se proibir o aval ou a fiança (S.~ Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 20 de março de 1951, 1?. dos T., 197, 409). Se o
sócio gerente, ou o sócio que tem nome na firma, excede os poderes, responde perante a sociedade
e perante terceiros.
Se os atos do sócio gerente, ou do sócio que deu nome à firma, entram no âmbito dos atos próprios
da atividade social, porém o sócio os praticou em negócio seu, vinculada está a sociedade, porque
houve abuso da firma, o que os terceiros não têm de conhecer. Não assim se o contrato social pré-
exclui ato que não se pode reputar dentro dos limites objetivos da atividade social (e. g., prestar
fiança). Cf. Côrte de Apelação do Distrito Federal, 19 de julho de 1933 (1?. F., 69, 806).
Os sócios gerentes só têm poderes que caibam nos poderes que tem a sociedade. Se à sociedade
falta, por exemplo, e poder de dispor de determinado bem, ou de praticar determinado ato de
comércio, tal poder n~o pode ter o sócio gerente. Os poderes hão de caber no objeto da sociedade e
serem atribuidos pelo contrato social, ou pelos estatutos, ainda que o seja em virtude de ius
dispositivum, ou conforme as cláusulas contratuais, ou estatutárias. Mas os terceiros são protegidos
pela lei.
3.RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS GERENTES E DOS QUE DERAM NOME Á FIRMA. Diz-se na
Lei n. 8.708, art 10: “Os sócios gerentes ou que derem o nome à firma não respondem pessoalmente
pelas obrigações contraídas em nome da sociedade, mas respondem para com esta e para com
terceiros solidária e ilimitadamente pelo excesso de mandato e pelos atos praticados com violação
do contrato ou da lei”.
O que mais importa sublinhar-se no art. 10 da Lei ii. 3.708 é que se põe de lado a responsabilidade
imediata do sócio gerente ou de quem deu o nome à firma, se contraiu a divida, ou se praticou o ato
alienativo, ou aquisitivo, em nome da sociedade. Vinculou a sociedade; e essa, se razão tem contra a
assunção de dívida, ou contra o ato alienativo, ou aquisitivo, pode ir contra o sócio que não tinha
poderes ou que os exerceu com dano para a sociedade. Os terceiros que forem contra a sociedade
também podem ir contra êle, se houve excesso de poderes ou violação do contrato ou da lei.
Se a operação é estranha à atividade social, tal como foi designada no contrato social, o uso da firma
não vincula a sociedade (cf. Código Comercial, ad. 316, 1.~ alínea, in tine). Quaestio facti a de se
saber se a operação entra, ou não, na atividade social
Somente se a sociedade opera com hipotecas (ou penhôres) pode o sócio gerente, sem
consentimento dos outros sócios, hipotecar (ou empenhar) bens da sociedade, O Supremo Tribunal
Federal, a 30 de julho de 1953 (1?. de J., 1
1945, 51), para negar poderes para isso, invocou o art. 1.295, § 1.0, do Código Civil. Se as operações
são só sobre imóveis, não podem os atos ser sobre móveis (cf. 6.~ Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Distrito Federal, 21
Seria de repelir-se poder o sócio gerente, sem o consentimento de todos os outros sócios, alienar
todo o patrimônio social (Tribunal de Justiça do Paraná, 30 de setembro de 1957, 1?. dos 7‟., 281,
696).
O sócio gerente ou o colégio administrativo tem de prestar contas aos sócios. Todos os sócios se há o
de manifestar, aprobativamente ou não, sobre o balanço e a repartição dos lucros, o que supôe
poder de investigação no tocante à contabilidade, O contrato nu os estatutos podem prever o dever
de consulta, em determinados casos, da assembléia dos sócio~, porém tal dever não gera qualquer
restrição aos poderes do sócio gerente ou da diretoria, nas relações com terceiros.
4.SóCIO QUE USA INDEVIDAMENTE DA FIRMA. Lê-se na Lei n. 8.708, art. 11: “Cabe ação de
perdas e danos sem prejuízo da responsabilidade criminal, contra o sócio que usar indevidamente da
firma social ou que dela abusar”. Supõe -se, no art. 11, uso ilegítimo da firma, ou abuso da firma,
conceitos inconfundíveis. Em vez de haver, como nas sociedades em comandita simples, para o sócio
comanditário, a sanção de se converter em sócio solidário e ilimitadamente responsável, o sócio
quotista, qualquer que seja, responde pelo ato ilícito absoluto e pelo crime que cometeu, urna vez
que não podia usar da firma, ou foi além do que podia.
Se o contrato social não precisou quem tem poderes de usar da firma, todos os sócios o podem.
Aliás, pode haver a cláusula de todos poderem usá-la, ou a de somente em conjunto poderem usá-la
(todos, ou A e B, ou A, E e C).
Os terceiros não podem alegar desconhecimento disso, pois o registo do contrato social o tornou
público (cf. 29
Grupo de Câmaras Civis do Tribunal de Justiça de São Paulo, 18 de novembro de 1954, 1?. dos T.,
227, 185, e 231, 165).
Se o contrato social distribui, objetiva e subjetivamente, os poderes (e. g., sócio gerente A,
operações a; sócio gerente E, operações b; sócio gerente C, operações o), raramente dificuldade
surge se há destinação tópica das operações (operações bancárias, sócio gerente A, salão a;
operações de venda, sócio gerente E, salão 14. Quanto aos cheques e outros títulos cambiários ou
cambiariformes, é sem pertinência exigir-se que a empresa, a despeito da distribuição subjetiva e
objetiva das operações, perante o banco declare que não atenderá à discriminação.
Porque o cheque e os outros títulos cambiários e cambiariformes são abstratos e o sócio gerente tem
ou não tem poder de subscrever cheque, ou certo título cambiário ou cambiariforme. Não
atenderam a isso R. DACQUIN (La Raison 80- date en Droit cornparé Ircinçais et anglais, 115) e
VALDEMAR FERREILtA (Tratado de Sociedades Mercantis, ~ 5Y ed., 958).
5. CAUÇÃO EXIGÍVEL AOS SOmOS GERENTES. Nas sociedades por quotas, de responsabilidade
limitada, há o princípio da caução exigível ao sócio gerente, ou aos sócios gerentes. O princípio, ius
dispositivum, não está explícito na Lei n. 8.708, mas, sempre que se diz que o contrato social pode
dispensar algum ato, tem-se de entender que há o principio.
Só se dispensa o que seria exigível. Se o contrato social nada disse, a sociedade, ou os sócios, ou
qualquer sócio pode exigir que o sócio gerente preste a caução, ou que a prestem os sócios
gerentes.
Não se alude ao que pode ser objeto da caução. Qualquer bem alienável, exceto, na espécie, a quota.
Podem ser ações de alguma empresa, ou fiança. Todavia, se nada se precisou no contrato social, o
que se há de entender é que a caução há de ser em dinheiro, ou em títulos da dívida pública, ou em
ações de empresas conforme a cotação da Bôlsa.
Diz-se n~ Lei n. 3.708, art. 12: “Os sócios gerentes poderão ser dispensados de caução pelo contrato
social”, O
contrato social ou alteração do contrato social é que pode dispensar a caução. Nada obsta a que se
estabeleça o valor, ou se faça dependente do que se apure nos balanços, ou que só se dispense ao
sócio que seja chamado a gerência depois do funcionamento da sociedade.
6.FUNÇÃO DE GERÊNCIA E DELEGAÇÃO DE POntUES. Estatui-se na Lei n. 3.708, art. 13: “O uso
da firma cabe aos sócios gerentes; se porém, fôr omisso o contrato, todos os sócios dela poderão
usar. ~ licito aos gerentes 1
delegar o uso da firma somente quando o contrato não contiver cláusula que se oponha a essa
delegação. Tal delegação, contra disposição do contrato, dá ao sócio que o fizer pessoalmente a
responsabilidade das obrigações contraídas pelo substituto, sem que possa reclamar da sociedade
mais do que a sua parte das vantagens auferidas do negócio”, O art. ~3, l.~ parte, estabelece o
principio da gerência necessária: ou o contrato social disse quem seria o sócio gerente, ou quais os
sócios que seriam sócios gerentes, ou todos os sócios o são. O sócio gerente ou os sócios gerentes
têm o poder de uso da firma. Isso não afasta a possível discriminação objetiva e subjetiva dos
poderes, conforme já dissemos.
O contrato social pode dizer, desde logo, quem há de ser o sócio gerente, ou quem hão de ser os
sócios gerentes, ou apenas estabelecer o modo de escolha. Quanto à eleição, pode exigir a
unanimidade, ou alguma maioria. Para as deliberações, se não foi dito qual o quórum, basta a
presença de número suficiente para a escolha, O contrato social também pode cogitar:
No art. ~3, 2.~ parte, a Lei n. 8.708 fala-se da delegação do uso da firma. Em princípio, a delegação
é permitida; só a cláusula contratual a pode afastar. De jure condendo, não foi feliz a lei. Primeiro,
porque o uso da firma, no sistema jurídico brasileiro, é indelegável (cf. Código Comercial, art. 802,
inciso 8>. Com o art. 18, 2.~ parte, a Lei n. 8.708 permitiu que gerentes não sócios, ou sócios não
gerentes, recebam poderes de gerência e possam usar da firma social. Os atos de tal pessoa, sócio
ou não, são atos do representado, que é o sócio gerente, e não a sociedade: os terceiros têm de
exigir a prova de que houve a outorga de poderes de uso da firma, pelo sócio gerente. O outorgado
põe-se abaixo do sócio gerente, que êle representa, de modo que a presentação da sociedade
continua com o sócio gerente. Tem de haver procuração do sócio gerente, com o poder especial do
uso da firma, porque a procuração para representá-lo em operações, sem êsse poder especial, não
permite que o outorgado use a firma.
-sócias, ou das associações-sócias, pois que em verdade essas se fazem órgãos, sócios gerentes. fl
preciso que se não confunda a função na sociedade, como sócio gerente, com a função que pode ser
a de órgão, ou a de representante, na sociedade-sócia, ou na associação-sócia.
A Lei n. 8.708 não cogitou de qualquer órgão da sociedade por quotas, de responsabilidade limitada,
além do órgão de gerência, do sócio gerente. A respeito dêsse foi sem pormenores. Nada disse sobre
os órgãos coletivos, administrativos, ou de setores, nem sobre a conjuntividade ou o encadeamento
das funções. No entanto, pode haver, pelo contrato social, diretoria, diretores e administradores,
conselho fiscal (sem razão, a Junta Comercial do Distrito Federal, 1?. do S. T. F., 20, 207) e
assembléia geral, com normas estatutárias sobre convocação, quórum e maiorias deliberativas. As
funções têm de ser discriminadas e fixado o que se há de considerar essencial à composição e ao
funcionamento.
A convocação tem de ser regulada no contrato social. Se não o foi, subsidiária do contrato social ou
dos estatutos é o Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940, arts. 88 e §§ 1.0 e 29, 89 e 90.
No direito brasileiro, os sócios é que têm a administração e a presentação da sociedade por quotas
de responsabilidade limitada, ou algum dêles, ou alguns dêles. A Lei n. 8.708, art. 13, e 3~a partes,
permitiu a delegação a outro sócio, ou a pessoa estranha. Se no contrato foi dito quem seria o sócio
gerente, a revogação somente pode ser com justa causa.
Os sócios gerentes e os delegados respondem por violação de seus deveres, não perante os outros
sócios, mas sim perante a sociedade.
A sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, noutros sistemas jurídicos, pode ter como
administradores pessoas estranhas. No sistema jurídico brasileiro, somente a delegação de podéres
pode obtê-lo.
A solução de lege lata afastou as discussões que há noutros sistemas jurídicos (e. g., no direito
francês, com três opiniões distintas, cf. J. ESCÂRRA et J. RAULT, Traité théorique et pratique de
Droit commercial, 1, n. 402, com a solução que a lei brasileira dá; GEORGES RIPERT, TraiU
éléme.ntaire de Droit com‟mercial, 4~a ed., n.
850; J. JÃÉMÂiw, Societé à responsabilité limitée, Encyclopedie Dailos, Droit commercial, III, n. 294,
que sustenta opinião de ser causa de dissolução da sociedade a falta de acôrdo entre os sócios).
Os sócios gerentes prestam contas por balanços anuais e por balancetes periódicos e não podem
recusar qualquer esclarecimento exigido pelos outros sócios (2.~ Câmara Civil do Tribunal de
Justiça de São Paulo, 17 de fevereiro de 1956, 1?. dos T., 248, 258), ou pelos comuneiros da mesma
quota.
Se algum sócio deixa de aprovar o balanço, cabe-lhe a ação para a verificação judicial dos danos
sofridos, com exame dos livros e da contabilidade (
2 ~ Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 17 de fevereiro de 1956, R. dos T., 248, 259).
A Lei n. 3.708 não disse como se escolheriam os sócios gerentes, se não o foram nomeados no
contrato. Há a regra jurídica dispositiva, segundo a „inicial, se foi omisso o contrato social, todos os
sócios podem usar da firma (art. ~3, L~ parte). O contrato pode nomear e pode regular a forma pela
qual se escolhe o sócio gerente ou se escolhem os sócios gerentes. Pergunta-se:
se tal ocorre, ~ podem os sócios escolher, em ato posterior, os sócios gerentes, a despeito de ter
incidido o ius dispositivum do artigo 13 da Lei n. 3.708? No registro está o contrato omisso, de modo
que a publicidade, para os terceiros, estabeleceu que todos os sócios são sócios gerentes. A situação
é diferente da que resulta da Lei francesa de 7 de março de 1925, art. 24, alínea
posterior; porém vem dar no mesmo. Durante a vida social, pode ser feita a escolha. Há alteração do
contrato social , de jeito que incide o artigo 15 da Lei n. 3.708. O registo tem de ser feito.
Quanto à revogação dos poderes do sócio gerente, é preciso que se tenha admitido a revogabilidade.
A discriminação dos poderes que têm os sócios gerentes pode ser qualitativa, com especialidade
conforme o ramo da atividade (e. g., seção de mobiliário, seção de brinquedos, seção de presentação
e de contratos de empréstimos ou negócios jurídicos cambiários ou cambiariformes). Se o contrato
social é explícito e não poderia haver êrro do terceiro, há eficácia contra êsse. No direito brasileiro,
não é vedada a cláusula de ptu ral idade conjuntiva de gerentes, nem a de distribuição de funções
gestórias. A jurisprudência e a doutrina francesas contrárias a isso têm de ser refugadas (e. g.: C.
HoUPIN et 1-1. ROsVIETJx, Traité général théorique et pratique des Sodétés civiles et
cornrnerciales, n. 1522; PAUL Pio et BARATIN, IDes Soclétés à responsabilité limitée, 2Y ed., n. 298;
J.
COPPER-ROGEIt, Les Soejétés à responsabilité limitée eu droit français, n. 69). Tôdas as cláusulas
que constem do contrato registado, ou de que tenha conhecimento o terceiro, são eficazes quanto a
êle.
Pode-se prever a suficiência de dois sócios gerentes ou mais, ou mesmo de um, se o outro ou os
outros estão ausentes,e isso consta da publicidade registária, ou de declaração do sócio gerente, ou
dos sócios gerentes ausentes.
A sociedade por quotas de responsabilidade limitada pode criar, em vez de gerência plural, conselho
de administração, ou diretoria (cf. JOSEPH HÂMEL eL GASTON LAGARBE, Traité de Droit
cornrnercial, 1, 937). Mas tem de haver a delegação a um dos membros, ou a função é conjuntiva,
ou o contrato estabelece que o presidente do conselho ou da diretoria tenha o poder de presentação.
Na última espécie, o terceiro não tem de inquerir se houve a sessão do conselho, ou da diretoria,
com a deliberação.
Se o sócio gerente, com o uso da firma social, praticou ato que cabe nos poderes que lhe foram
atribuidos, há eficácia a favor e contra a sociedade por quotas, de responsabilidade limitada. Se o
sócio gerente não usou da firma social, mas, intencionalmente, praticou o ato em nome da sociedade
ou para proveito dela, tem-se de verificar se o ato cabia nos poderes de gerência, ou se não cabia.
Aí, dá-se valor à intencionalidade, por parte do sócio gerente, ou ao proveito, que do ato resultou
para a sociedade, sem que se possa dispensar ter sido a vantagem querida pelo sócio gerente.
Esta na Lei n. 3.708, art. 14: “As sociedades por quotas, de responsabilidade limitada, responderão
pelo~
compromissos assumidos pelos gerentes, ainda que sem o uso da firma social, se forem tais
compromissos contraídos em seu nome ou proveito, nos limites dos poderes da gerência”. Se os
negócios jurídicos forem contraídos em nome da sociedade ou em proveito da sociedade, sem uso da
firma social ou da denominação 1
social, mas nos limites dos poderes de gerência, há a vinculação da já sociedade por quotas, de
responsabilidade limitada, O uso da firma social ou da denominação social não é pressuposto
essencial para a vinculação da sociedade: o que é essencial é que o ato do gerente caiba nos
poderes. Todavia, se não houve o uso da firma social, ou da denominação social, é preciso que tenha
sido em nome dela, isto é, como ato da sociedade por seu órgão e em seu proveito. Se não foi em
nome dela, nem em seu proveito, não ficou vinculada, por figurante não foi no negócio jurídico ou no
ato jurídico stricto sensu ou no ato-fato jurídico.
Em nome da sociedade pode ser concluído o negócio jurídico, ou praticado o ato júrídico, ou o ato-
fato jurídico, expressamente, ou tâcitamente, como acontece nas vendas no balcão, ou no escritório,
ou em caso de remessas, ou de contactos com os vendedores ambulantes.
Se a sociedade e o sócio gerente devem a alguém e o sócio gerente paga (ato-fato jurídico) em nome
da sociedade e, pois, em proveita dela, extingue-se a dívida da sociedade. Se o sócio usa da firma e
paga a sua dívida, e não a da sociedade, não obrou em proveito da sociedade, O problema, que aí
pode surgir, prende-se a poder ser abstrato o título com que se paga, ou ser da sociedade o dinheiro,
casos em que não se pode ter contra o terceiro outra objeção que a de má fé e, talvez, crime.
Se o ato cabe nas funções de gerência e foi praticado com o uso da firma, responsável é a sociedade.
Se não cabe, n&x Se não foi praticado com uso da firma, mas em seu nome, ou em seu proveito (seu,
no art. 14, é “da sociedade”, e não “do sócio gerente”; sem razão, a
A fiança, se não é proibida pelo contrato social, pode ser prestada pela sociedade com o uso da
firma (cp. 1~a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, 20 de outubro de 1958, D. da
J. de 5 de março de 1959), se cabe nos limites da atividade social. Se foi proibida pelo contrato, não
é eficaz contra a sociedade, mesmo porque só é ato de gerência o afiançar se entra nas operações
normais da sociedade (cf. Côrte de Apelação do Distrito Federal, 30 de janeiro de 1930, 1?. F., 55,
65, e .1?. de D., 95, 306).
O contrato pode prever os pressupostos para exclusão do sócio, sem ser com fundamento no art. „79
da Lei n.
3.708 (e. g., interdição, inabilitação para a profissão, ou condenação a determinadas penas, não ter
o sócio completado o curso de engenharia ou outro curso). Com razão, a
São Paulo, a 24 de agôsto de 1~4 5 (R. dos T., 160, 798), e a 23 Câmara Civil, a 11 de dezembro de
1945 (164, 248).
Também se podem estabelecer as causas e o modo para a retirada voluntária dos sócios.
3.708, art. 15: “Assiste aos sócios que divergirem na alteração do contrato social a faculdade de se
retirarem da sociedade obtendo o reembôlso da quantia correspondente ao seu capital, na
proporção do último balanço aprovado. Ficam, porém, obrigados às prestações correspondentes às
quotas respectivas na parte em que essas prestações forem necessárias para pagamento das
obrigações contraídas, até à data do registro definitivo da modificação do estatuto social”. Nas
espécies em que se exige para a deliberação a unanimidade dos sócios, dificuldades não surgem. Se,
porém, a alteração do contrato social pode ser feita por maioria, há o problema, de iure condendo,
da situação dos sócios divergentes. Temos de repelir a interpretação do art. 15 da Lei n. 3.708 no
sentido de que derrogou o art. 831 do Código Comercial, O art. 331, 13 parte, do Código Comercial
afasta qualquer alteração do contrato social, no tocante às operações que se lhe atribuíram, sem ser
por deliberação unânime. Nem seria de admitir-se que, sem justa causa (inabilidade do sócio, ou
incapacidade moral ou civil, julgada por sentença; abuso, prevaricação, violação ou falta de
cumprimento das obrigações sociais, ou fuga de algum dos sócios, cf. Código Comercial, art. 336,
incisos 2 e 3), pudessem ser eliminados sócios.
A Lei n. 3.708 não fixou prazo para o sócio divergente manifestar a vontade de retirar-se (cp. Lei
portuguêsa de 1
11. de abril de 1901, art. 41, § 32, que exigiu ser imediata a manifestação de vontade). Não é de
invocar-se o Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940, art. 114, porque não se trata de falta
do contrato social, e sim falta de regra legal. O que os sócios devem fazer é na assembléia, ou na
reunião, em que decidem, invitar os sócios divergentes a que imediatamente se manifestem. Se isso
não ocorre, qualquer ato postenor de presença ou de atividade social por parte do sócio divergente
importa anuência à permanência.
O que se retira do ativo social para o reembôlso é o que corresponde áquilo com que entrou para o
capital o sócio divergente. Pode ser, porém, que a sua quota ainda não tenha sido integralizada: o
reembôlso é somente daquilo que êle prestou, de acôrdo com o ativo social, e não podia ser
diferentemente. Note-se que o ad. 15 da Lei n. 3.708
fala de “proporção do último balanço”, para que se afaste a imperativa retirada do valor nominal da
quota, ou mesmo da parte da quota que fôra prestada, O capital social, as reservas e os lucros
restantes são os elementos positivos. Elementos negativos, as perdas e as dívidas. Feito o cálculo,
divide-se conforme os valôres das quotas, ou das partes das quotas. Não é elemento positivo o fundo
de depreciação ou o fundo de previsão (23 Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, 21 de
fevereiro de 1256, R. dos T., 250, 128).
~Qual o balanço a que se refere o art. 15 da Lei n. 3.708? É o balanço anual (2.~ Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo. 17 de fevereiro de 1956, 1?. dos T., 248, 259).
O reembôlso conforme o último balanço aprovado é o modo mais frequente, O art. 10, inciso 4, do
Código Comercial incide, O art. 15, l.~ parte, da Lei n. 3.708 é ins dispositivum.
Algumas questões se levantam. A aprovação do balanço e por todos os sócios. Se algum sócio se
recusa a assiná-lo, ou se não p pode, por moléstia, ou ausência, ~ entende-se que basta a maioria?
Seria a solução com remissão aos arta. 331 e 486 do Código Comercial. Os estatutos podem dispor
diversamente, de modo que a unanimidade seria exigida: intimar-se-ia o curador do d0ente, ou do
ausente, ou se poria edital.
Também pode o contrato social ou podem os estatutos estabelecer outros pressupostos (e. g.,
assembléia dos quotistas; exame e parecer do conselho fiscal, e votação em assembléia dos
quotistas).
CAPITULO IV
LIMITADA
1.Código COMERCIAL, Ar. 335. O art. 335 do Código Comercial enumera os casos de dissolução das
sociedades e cabe explicá-los: 1. Expirado o prazo, se houve prazo determinado (termo, ou
condição). 2. Falência da sociedade, ou, se a sociedade é civil, o concurso civil de credores. 3. O
mútuo consenso de todos os sócios (distrato). 4. A morte de um dos sócios, salvo se houve cláusula
em contrário. 5. Por vontade de um dos sócios, se por tempo indeterminado a sociedade. Em
qualquer das espécies, têm-se de ultimar as negociações pendentes e de liquidar as ultimadas (ad.
335, 2Y alínea>. Além dêsses casos, há os de dissolução judicial (ad. 836).
O inciso 2,
2 a parte, do art. 335 do Código Comercial, aderente à falência do sócio, está derrogado.
A sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, pode ser dissolvida pelo juiz se os sócios
procedem contra a lei ou permitem que as pessoas delegadas pratiquem atos ilícitos.
Na sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, regida pelo direito civil, basta que haja tal
desfalque no capital social que a impossibilite de continuar em funcionamento (Código Civil, art.
1.399, II).
5.DISTRATO. Em caso de distrato (Código Comercial, art. 335, inciso 3), a sociedade constituída por
instrumento público só se dissolve com o distrato por escritura pública. Se por instrumento
particular, por escritura pública ou por instrumento particular. Tal a interpretação do art. 337 do
Código Comercial. Só o registro lhe dá eficácia a respeito de terceiros (cf. art. 338).
6.MORTE DE UM DOS SÓCIOS. No Código Comercial, art. 335, inciso 4, cogita-se da morte do sócio
como causa de dissolução da sociedade, “salvo se houve cláusula em contrário”. É preciso, portanto,
que exista tal cláusula, para que a sociedade não se dissolva. Todavia, o art. 5~ da Lei n. 3.708
supóe aquisição de quotas pelos sócios e seria absurdo que se reputasse extinta a sociedade por
quotas, de responsabilidade limitada, se um dos sócios faleceu e deixou a quota a outro sócio, ou
legado, ou se, em herança, a quota é destinada, pelo testamento, a um sócio, ou se o herdeiro a que
ela tocou na partilha, é sócio. O que se há de fazer, por ocasião da morte, para se evitarem
controvérsias, é pedir o sócio beneficiado que não é legatário da quota (cf. Código Civil, art. 1.690)
que se lhe destine, na partilha, a quota. Ouvidos os interessados, o juízo comunica à sociedade o que
ocorreu.
Trata-se de ins dispositivum. Se o contrato social previu a aquisição por terceiro, entende-se que
depende do consentimento dos sócios conforme os estatutos, ou, se não se dispôs quanto aos
pressupostos consentimento, do consentimento de todos os sócios vivos. Erradamente, a Junta
Comercial de São Paulo negara registo (arquivamento) ao contrato social, porque continha a
clausula de continuação, com designação de um dos co-titulares para que representasse os outros.
Ora, o art. .308 do Código Comercial não permitia tal atitude. A 3Y~
Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo, a 19 de setembro de 1955 (E. dos T., 242, 239),
deferiu contra êsse ato sugestivo o pedido de mandado de segurança.
Se falece o sócio, a quota passa aos herdeiros ou legatários, porém isso não os faz,
automâticamente, sócios.
Enquanto à quota não corresponde sócio, o herdeiro ou legatário provisôriamente exerce os direitos
que não sejam inerentes à qualidade de sócio, ou os herdeiros ou legatários da quota escolhem
quem os represente.
Respondem êles pelo que falte para a integralização da quota e, no caso de inadimplemento, os
sócios podem chamar a si a quota. Com isso os herdeiros ou legatários não deixam de ser sócios,
porque sócios (ainda) êles riso eram.
Se falece um dos cônjuges co-titulares do direito à quota, não há dissolução da sociedade por
quotas, de responsabilidade limitada. Quem herdar a parte do cônjuge falecido pode vir a ser
admitido como sócio.
TErcEIRA DE FREITAS (Aditamentos ao Código do Comércio, 1, 693) entendia que o cônjuge viúvo
(continua 1
com o exercício dos direitos, ficando reservado para sobrepartilha. Sem razão. Se êle representa
filhos menores, sim. Se não representa, precisa ter poderes, inclusive ser escolhido pelos
interessados. Pode dar-se que os herdeiros já sejam sócios e então se êles querem a transferência da
qualidade de sócio é automática.
7. RETIRADA DE SÓCIO. Quanto ao inciso 5 do art. 335 do Código Comercial, a 5Y Câmara Cível do
Tribunal de Apelação do Distrito Federal, a 19 de março de 1940 (O D., V, 243), decidiu que a Lei n.
3.708, art. 15, uma vez que só exige o voto da maioria para que se alterem os estatutos, derrogou o
art. 385 do Código Comercial, no que concerne ao inciso 5. Cumpre, porém, que se atenda ao
sentido em que a expressão “alteração” se acha no art.
15 da Lei n. 3.708, assunto que já foi versado. O art. 335, inciso 5, do Código Comercial não foi
derrogado, mas é dispositivo: pode haver a cláusula de continuação da sociedade com a retirada de
sócio quotista. A cláusula pode ser explícita ou implícita.
Mesmo se são só dois os sócios, ou se só dois restam, a cláusula tem de ser atendida.
(Estranhável não é que o Supremo Tribunal Federal, a 18 de julho de 1923, E. F., 43, 523, não
houvesse tomado conhecimento de recurso extraordinário, por se tratar de questão de
interpretação, porque naquele tempo não havia a regra jurídica do art. 101, III, d), da Constituição
de 1946, e fôra introduzida pela Constituição de 1984, art. 76, III, d.)
O contrato social ou os estatutos podem estabelecer prazo de pré-aviso para a eficácia do exercício
do direito que se funde no art. 335, inciso 5, do Código Comercial, como pode pré-excluir tal direito.
Se a sociedade por quotas, de responsabilidade limitada, não tem prazo determinado, qualquer sócio
pode retirar-se, a seu líbito, com direito ao reembôlso segundo a lei. O contrato continua ou se
extingue, conforme entenderem os sócios que ficam (cf. 5a Câmara Civil do Tribunal de Justiça de
São Paulo, 14 de novembro de 1947, E. dos T., 171, 658, e 5 de outubro de 1951, 196, 172).
No art. 15 da Lei n. 3.708 alude-se a “último balanço aprovado”. Se não houve tal balanço aprovado
por todos os sócios, tem-se de fazer outro balanço, amigável ou judicialmente (2.a Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo, 12 de fevereiro de 1956, E. dos T., 250, 127>. O sócio retirante de
sociedade que tem credores só se desonera perante êsses se êsses o declaram ou se a dívida é
renovada (
O ad. 335, inciso 5, do Código Comercial diz que há dissolução da sociedade por tempo
indeterminado se algum dos sócios se retira; mas, entenda-se, os outros podem querer que continue.
No Código Civil, art. 1.404, após se ter dito (artigo 1.399, V) o mesmo que está no Código
Comercial, exige-se a boa fé, o tempo oportuno e a notificação dois meses antes.
Porém, mesmo~no direito civil, pode haver a continuação. No direito comercial, a dissolução não é
automática, de modo que há a manifestação de vontade dos outros sócios no sentido da continuação
(que depende de registo como a dissolução), ou da dissolução, ou há a ação do sócio que se quer
retirar. O juiz pode condenar o retirante a prestar indenização pelos danos causados por sua atitude
de má fé ou inoportuna, tal como ~e daria em direito civil.
2 a parte, pois o Decreto-lei n. 6.771, de 21 de junho de 1945, art. 48, estatui: “Se o falido fizer
parte de alguma sociedade, como sócio solidário, comanditário, ou quotista, para a massa falida
entrarão somente os haveres que na sociedade êle possuir e forem apurados na forma estabelecida
no 1
contrato. Se êste nada dispuser a respeito, a apuração far-se-á judicialmente, salvo se, por lei ou
pelo contrato, a sociedade tiver de liquidar-se, caso em que os haveres do falido, somente após o
pagamento de todo o passivo da sociedade, entrarão para a massa”. No parágrafo único acrescenta-
se: “Nos casos de condomínio de que participe o falido, deduzir-se-á do quinhão a êste pertencente o
que fôr devido aos outros condôminos em virtude daquele estado”. A regra jurídica do parágrafo
único é invocável a respeito de qualquer comunhão, inclusive no caso do art. 6$ da Lei n. 3.708.
Se o nome do sócio falido ou em concurso de credores figura na firma social, tem de ser eliminado
(Decreto n.
O art. 1.899, IV, 1.a parte, do Código Civil também está derrogado pelo Decreto-lei n. 2.627, de 26
de setembro de 1940> art. 138.
O contrato social pode estabelecer a dissolução pela falência ou outro concurso de credores cuja
abertura se decrete contra o sócio.
Se o contrato social nada dispôs, o sócio gerente ou os sócios gerentes continuam com os encargos e
poderes de liquidantes (cf. Código Comercial, art. 344) e com os deveres e a atividade constantes
dos arts. 345-353. Sobre a liquidação judicial, Código de Processo Civil, arts. 665-674. Se há
menores interessados, rege o art. 358 do Código Comercial.
Se o caso é de liquidação por falência, por liquidação coativa ou concurso civil de credores, tudo se
passa conforme os princípios. O que mais importa é que prêviamente se classifique a sociedade por
quotas, de responsabilidade limitada que pode ser sociedade comercial ou ser sociedade civil. Em
qualquer das espécies, há de ser observada a legislação concursa! respectiva, tal como expusemos
nos Tomos XXVII-XXXS
CAPÍTULO 1
cláusula de responsabilidade ilimitada, nem com a sociedade por ações, ainda naqueles sistemas
jurídicos que permitem as quotas em ações.
A membridade adquire-se pelo fato de se figurar no ato constitutivo, que é contrato plurilateral, ou
pela admissão posterior à constituição da sociedade. Não há aquisição deriva-Uva da qualidade de
sócio.
Os Hebreus usavam cooperativas de seguros, quatro séculos antes de Cristo. Tudo isso não serve
muito à explicação da natureza da cooperativa, como espécie de sociedade contemporânea. No
século XIX havia sociedades de consumo na França e na Inglaterra, onde se tentou a implantação
nos séculos anteriores, com aparição de muitos defensores nos países europeus. Alguns nomes
foram ligados à concepção do cooperativismo, solução do problema polifico-econômico do homem.
Por volta de 1820, ROBERT OWEN viu na cooperativa a base para nová ordem social, econômica e
política.
Lançava-a contra o laissez faire, a competição sem contrôle. Assim, a propósito da associação, já
FRANcoIs MAmE CHARLES FouRmR. Assim, muitos outros pensadores, mas, aqui, o que nos
interessa é a dimensão jurídica, e não a dimensão política.
A cooperativa inglêsa evoluiu do modêlo de Rochdale à Wholesaie Society, que juntou cooperativas
locais de consumo e de produção. Abriu fábricas e adquiriu naves para transporte. Em 1947, havia
na Inglaterra dez milhões de sócios, mais de um quinto da população.
Na Alemanha, a cooperativa de crédito foi medida salutar para os que precisavam de forragens,
fertilizantes, bois e aparelhos rurais. Eram duramente explorados pelos fornecedores. A isso ligado
está o nome de FRIENtIcH
WTLHELM RAIPFEISEN, que fundou em 1872 o primeiro banco cooperativo regional. Em 1876,
organizou o banco central nacional de agricultura. A difusão fora da Alemanha foi grande. Já
HERMANN
Oque prevaleceu, na Europa, foi a sociedade de estrutura especial, participação pessoal e permissão
de regras jurídicas das sociedades capitalísticas. A França e a Bélgica apenas limitam as
participações, mantêm o princípio do capital variável e permitem as ações.
A atividade cooperativa tinha de ser regulada pelo Direito. No século XIX, tomou aspectos
relevantes. De certo modo, em reação ao sistema capitalístico, ao lado dos sindicatos, das
sociedades de socorro mútuo, pôsto que se houvesse desligado do elemento inicial da luta de classe.
Pode-se dizer que a primeira figura jurídica, completa, da sociedade corporativa foi a dos Equitabte
Pioniers de Rochdale, na Inglaterra, em 1844.
Temos de separar, cuidadosamente, para que o trato jurídico seja satisfatório, o problema jurídico da
empresa cooperativa e o problema das ideologias cooperativísticas. O próprio problema de como
podem servir à solução das questões sociais a propagação das cooperativas pertence à sociologia
política e à política científica, e não ao direito, pôsto que, por ocasião da feitura das leis sobre
sociedades cooperativas, possa exsurgir, nas discussões e deliberações de jure condendo.
cooperação, para que se pré-eliminem êsses proveitos por terceiros (intermediários). Há algo de
defensivo, de pré-eliminatório dos que teriam por fito ganhar, por falta de cooperação entre os
sócios da cooperativa. O que caracteriza a cooperativa é essa função de evitamento do que outros
ganham com o que o sócio da cooperativa paga a mais, ou recebe de menos. Não se pode dizer que
essa atividade seja extra-
-econômica, como se tem afirmado. Não é só econômico o que se passa em defesa dos que alienam e
dos que adquirem.
O que a cooperativa consegue eliminar é vantagem para os sócios, quer êles paguem o que resultou
da atividade cooperativa, isto é, preço abaixo do preço corrente do mercado, ou recebam acima do
preço corrente do mercado; quer êles paguem o preço corrente, ou recebam pelo preço corrente, e
lhes seja prestado, por divisão do ativo, o que lhes toca pelas diferenças. Nada obsta a que se
atenda à maior participação capitalística do sócio.
O método de atividade, na sociedade cooperativa, consiste na prática de atos que diminuam o custo
da produção, de jeito a haver vantagem para os sócios, que são os consumidores ou que levem a
obtenção de melhor preço para os produtos, pois que produtores são os sócios, ou a conclusões de
empréstimos com menores interesses 4. CASOS OMISSOS NA LEI E NOS ESTATUTOS No direito
brasileiro, não se remete à legislação sobre sociedades por ações, se há omissão dos estatutos e da
lez speeialis. O art. 6.0. § 9O, do Decreto n. 22.339 diz que, “nos casos omissos nos estatutos e
neste decreto” aliás, na legislação especial, porque outras leis sobrevieram “serão resolvidos
supletivamente, sem prejuízo do espírito da sociedade cooperativa pela legislação em vigor
referente às sociedades em geral, ou pelos princípios gerais de direito”. Assim, o Código Civil e o
Código Comercial vem antes da legislação sobre sociedades por ações, o que é compreensível em
sistema jurídico que veda, nas sociedades cooperativas, ser constituído por ações o capital (Decreto
n. 22.239, art. 7o, o).
Aos próprios estatutos, como ao ato constitutivo, não se permite estabelecer a herdabilidade.
Mesmo se o sócio é pessoalmente responsável, por estar isso nos estatutos, não é penhorável a
quota.
Para o fim lucrativo, a lei apenas deixa margem: tem limite legal; é secundário; e eventual. A
limitacão, a secundariedade e a eventualidade mostram que se não permitiu a sociedade
cooperativa, regulada pela lex specialis, se a mutualidade, a inespeculatividade, não está em
primeiro plano. A sociedade cooperativa pode ser qualquer escopo de lucro e sem a própria
distribuição, entre sócios, das sobras. Se há escopo de lucro, tem de ser conforme a lei permite. Há
de ser respeitada a prevalência mutualística. Daí ter-se de refusar qualquer teoria ou opinião
doutrinâria que considere a mesma a causa das sociedades cooperativas e a causa das sociedades
lucrativas, que são tipicamente capitalísticas. Mais se coopera, naquelas, para se evitar o fim
lucrativo de terceiros, do que para se lucrar. O fato de haver capital não pode ser base para se
afirmar que há propósito capitalístico. Por vêzes, o capital da sociedade cooperativa é para a luta
contra os atos alheios capitalísticos.
Associações ou sociedades sem qualquer proveito para os associados ou os sócios têm capital.
Se tal não ocorre, a sociedade é lucrativa, e não cooperativa. O fim econômico, nas sociedades
cooperativas, é atingido diretamente pelos sócios, em seus contactos com a sociedade. O fim
econômico, nas sociedades lucrativas, é obtido com a repartição do que a sociedade percebeu de
lucro. A diferença é sutil, porém sempre da máxima relevância.
Os contactos da sociedade cooperativa com terceiros são para a totalidade dos sócios, eliminando-se
a intermediariedade de terceiros. Dir-se-á que intermediários se fizeram os sócios, em lugar dos
terceiros (RENZO
PRANCESCHELLI, L‟lmprenditore uci nuovo codice, 78). Mas tal substituição é funcional, e não
lucrativa. A lucratividade, prôpriamente dita, há de ser mínima. Seria extrapolação dizer-se que o
fim econômico, mutualístico, nas sociedades cooperativas, é lucratividade marginal, expressão que
criaria confusão em vez de servir à precisão de conceitos.
Outro ponto que havemos de frisar é referente às associações mútuas. Não se há de afirmar que
têm, sempre, fim ego-altruístico. As mútuas podem ser só altruísticas; as cooperativas.. no sentido
da lex speciali.s, não. Ainda mais: não se há de identificar com interesse econômico, fim econômico,
interesse de lucro, fim lucrativo.
Comprar mais barato, através da cooperativa, é conseguir o fim econômico. Vender mais caro
também o é, sem ser lucrar, no sentido de “interesse”, de dividendo, de juros. Daí termos de repelir
a doutrina de FRANCESGO
MESSINEO (Studi di Diritto Jetie Società, 5 s.). As mútuas puras, essas, não têm fim econômico;
portanto, a fortor, nenhum fim lucrativo. Nelas, seria inadmissível a divisão de sobras. As
associações mútuas não são reduzíveis a sociedades cooperativas. Nascem de negócio jurídico entre
pessoas físicas, sem fim especulativo (dito lucrativo). Se o fim é de assistência material ou moral, há
a sociedade cooperativa, para mútuo socorro, quase sempre mediante seguro ou de acolhimento em
sede. No direito brasileiro, se publicística, escapa à legislação especial sobre sociedade
cooperativas, com ou sem estrutura societária ou associação .
As sociedades cooperativas podem exigir, por seu fim ou expressamente, qualidade que seja pessoal,
como a profissão. implementos técnicos e administrativos, estritamente indispensáveis ao bom
funcionamento da sociedade cooperativa, podem ser sócios (Decreto-lei n. 581, de 1.0 de agôsto de
1938, ad. 14, parágrafo único).
Têm-se como integrados na profissão a que alude o fim econômico da sociedade cooperativa.
Diz-se no Decreto n. 22.239, art. 21: “As sociedades cooperativas podem-se classificar nas seguintes
categorias principais: i. Cooperativas de produção agrícola. ii. Cooperativas de produção industrial.
III. Cooperativas de trabalho <profissional ou de classe). IV. Cooperativas de beneficiamento de
produtos. \f Cooperativas de compras em comum. VI. Cooperativas de vendas em comum. VII.
Cooperativas de consumo.
de cooperativas (federações) “.
quais serão consideradas de categoria indeterminada e assemelhadas àquela que oferecer mais
aproximada 1
analogia”.
Estabelece o Decreto n. 22.289, art. 88: “São sociedades civis, e como tais não sujeitas à falência,
nem à incidência de impostos que recaiam sobre atividades mercantis, as cooperativas: a) de
produção ou trabalho agrícola; b) de beneficia~ mento e venda em comum de produtos agrícolas ou
de origem animal não transformados industrialmente. e) de compras em comum, para
abastecimento dos sítios ou das fazendas, de animais, de plantas vivas, mudas, sementes, adubos,
inseticidas, máquinas e instrumentos agrários e outras matérias primas ou fabricadas, úteis à
lavoura ou à pecuária, sem intuito de revenda; d) de seguros mútuos contra a geada, mortandade do
gado e outros; e) de crédito agrícola, quando não distribuam dividendos proporcionalmente ao
capital; f) de consumo, quando não tenham estabelecimento aberto ao público, e vendam
exclusivamente aos associados, não distribuindo dividendos proporcionalmente ao capital; g) de
construção de habitações populares para venda tecnicamente aos associados; Ii) editôras e de
cultura intelectual (bibliotecas, etc.), ainda mesmo que mantenham oficinas próprias de compor,
imprimir, gravar, brochar e encadernar livros, opúsculos, revistas e periódicos, uma vez que tais
edições e trabalhos gráficos sejam de proveito exclusivo dos associados ou sirvam a intuitos de
propaganda únicamente da sociedade ou da instituição cooperativista, sem estabelecimento aberto
ao público; i) escolares, com objetivo educativo, além dos fins econômicos”.
O art. 38 do Decreto n. 22.239 mostra que há sociedades cooperativas não sujeitas à decretação de
abertura de falência e às regras jurídicas concursais das empresas comerciais e sociedades
cooperativas que são expostas ao concurso de credores falencial. A enumeração que no art. 88 é de
grande relevância, por sua exaustividade.
“Às cooperativas mistas será facultado dividirem-se em seções distintas, correspondentes a cada
categoria de atividade e classificar os seus associados pelas ditas seções, conforme os respectivos
interesses, para a defesa dos quais podem êles reúnir-se em assembléias secionais, sem prejuízo do
direito de tomar parte nos atos das assembléias gerais” A mistidade a que alude o Decreto n.
22.289, art. 35, não concerne à extensã0 do fim econômico, mas sim aos atos que se hão de praticar
na sociedade cooperativa (e. g., produção agrícola e produção 1industrial; produção agrícola e
venda em comum; de beneficia.. mento de produtos e de venda; de trabalho e de seguro; de crédito
e de construções).
CAPITULO II
“Dá-se o contrato de sociedade cooperativa quando sete ou mais pessoas naturais mútuamente se
obrigam a combinar seus esforços, sem capital fixo predeterminado, para lograr fins comuns de
ordem econômica, desde que observem, em sua formação, as prescrições do presente decreto”.
Acrescenta o parágrafo único:
“Excepcionalmente se permite que cooperativaS várias possam, como pessoas jurídicas, formar
entre si um nôvo contrato de sociedade cooperativa para constituir cooperativas centrais ou
federações, nos termos do que se dispõe nos arts. 36 e 37”. No art. 1.~ põe-se em relêvo o principio
do nt2meiro mínimo de sócios, o principio do capital variável e o principio da economicidade do fim
comum. Mutualidade entre sete sócios pelo menos, aberta (e nunca fechada), com o fIm comum,
pré-eliminador da intermediariedade prejudicial aos interessados na cooperação. A categoria a que
corresponde o fim comum não obsta a que se concentrem ou se federalizem sociedades
cooperativas. A concentração supõe o mesmo espaço ou parte do mesmo espaço, sendo o resto
comum.
Não há a constituição por subscrição pública. A figura dos fundadores é essencial, e são exigidos,
pelo menos, sete:
sete é o mínimo que há de ter de sócios fundadores. Se a sociedade cooperativa foi constituída com
sete sócios ou mais, e o número baixa a menos de sete, não deixa de ser sociedade cooperativa
criada; apenas, se foi regida pela lez speciojis, pode ser dissolvida por justa causa, e não pode gozar
de vantagens de direito público que a legislação especial ou leis fiscais estabeleceram. Se no ato
constitutivo ou nos estatutos se restringem a menos de sete o número de sócios, necessària mente
se há de ter como sociedade cooperativa regida pelo direito comum. Se o número baixou de sete e
volveu a ser de sete, esta integrada.
Cumpre advertir-se quanto à diferença entre o sistema jurídico brasileiro e outros sistemas
jurídicos, no tocante ao número sete, ser referente a fundadores, ou a sócios. O art. 1.0 do Decreto
n. 22.239 de modo nenhum se pode interpretar como concernente a sócios, e não a fundadores.
O capital não pode ser predeterminado fixamente. Não há capital mínimo, que se preestabeleceu.
Há a variabilidade dêle, que pode crescer ou diminuir, sem que se precise, para isso, de qualquer
regra estatutária. Isso não significa que tenham os sócios de, aberta como é a porta a novos sócios,
tenham êles de admiti-los sempre: os sócios é que têm de examinar e deliberar quanto à entrada de
novos sócios; a êles compete defender os seus interesses, no momento. Há porta aberta, mas, com
isso, não se dispensou a decisão sobre as adesões.
As participações são em quotas, e não em ações. As legislações que admitem as ações não atendem
a que o conceito de “ação” fica deturpado pela essencialidade da variabilidade do capital. Trata-se
de documento de quota, e não de ação; portanto, de certificado de quota, como se diz sob o Código
suiço das Obrigações e a doutrina sublinha (errado, o Código Civil italiano, art. 2.514, alínea 1.a, ,a
parte: “Le quote di participazione 2
possono essere rappresentate da azioni”). Não se trata de títulos-valor, nem de títulos nominativos, à
ordem ou ao portador. De iure condendo, é absurdo o que sugeriu Bosisio (Le Societô coo perative,
2~a ed., 327) sobre dar-se às sociedades cooperativas a estrutura das sociedades por ações,
suprimindo-se os arts. 2.511, 2.513 e 2.514 do Código Civil italiano, que permitem que se
estruturem como sociedades de responsabilidade limitada e de responsabilidade ilimitada.
O capital social da sociedade cooperativa não tem o tamanho contábil, permanente, do capital das
outras sociedades. Se o sócio da sociedade cooperativa doa à sociedade de que faz parte, a doação
insere-se no capital social, ao passo que o que o acionista doa à sociedade por ações não entra no
capital: entra no ativo. O capital social da sociedade cooperativa não é pré-constituído. O sócio tem
quota, não tem ação.
Há, de certo modo, aderência da quota à pessoa do sócio. Cabe-lhe a quota do capital social que
exista. Não o valor da quota, valor nominal, que no direito brasileiro não se admite, O valor é o valor
percentual (ou outro valor fracionário) e a abertura da sociedade cooperativa a futuros sócios
concorre para que não haja o valor de mercado, que caracteriza a aquisição de ações ou de quotas
de sociedades fechadas.
A lei não diz quais os requisitos pessoais que têm de ser satisfeitos para que alguém entre como
sócio nas sociedades cooperativas. Os estatutos, em princípio, é que descem aos pormenores, se
bem que o ato constitutivo já possa ter sido explícito quanto a todos os pressupostos.
1
Se a sociedade cooperativa é de trabalhadores, os sócios têm de trabalhar na especialidade que
corresponde à sociedade cooperativa, ou na especialidade afim. Note-se que a qualidade de afim,
por si só, pode juntar. Não, o ter empresa idêntica ou afim à da cooperativa. Seria misturar
trabalhadores e empresários. Quanto a técnicos e administradores para a sociedade cooperativa, a
lei brasileira não se afasta do principio: 011 cabem na categoria, ou não podem ser sócios.
No art. 1.0, pr., do Decreto n. 22.289 fala-se de “pessoas naturais”. Em principio, sé pessoas físicas
podem constituir ou entrar em sociedade cooperativa. Há, porém, exceções : no art. 1.0, parágrafo
único, prevê-se a constituição de sociedades cooperativas centrais e a de federações, em que são
figurantes pessoas jurídicas (arts.
36 e §§ 1.~, 2.0 e 30, e 37 e parágrafo único) ; no art. 7O, § 2.0, diz-se que, nas cooperativas
agrícolas, em geral, podem ser admitidas como sócios pessoas jurídicas que tenham ad qualidade~
da categoria em cooperação. às cooperativas de indústrias extrativas, é permitida a admissão, como
sócios, de pessoas jurídicas cuja existência tenha por fim a extração e o beneficiamento dos
respectivos produtos (Decreto-lei n. 1.386, de 5
de dezembro de 1939, ad. 1.0) ; os sindica~ tos podem constituir sociedades cooperativas, as
sociedades cooperativas podem constituir sociedade cooperativa, bem assim quaisquer entidades
não econômicas (no art.
11, 23 parte, do Decreto n. 22.289, fala-se de “entidade morar‟, que tome a iniciativa) ; as pessoas
jurídicas empresas de transporte de passageiros ou de carga, podem constituir sociedade
cooperativa, ou nela ingressa (Lei n. 8.189, de 2 de julho de 1957, art. 1.0). Quando sociedades
cooperativas criam sociedade cooperativa, há tantas pessoas jurídicas quantas são as entidades
membros mais a pessoa jurídica, que resulta do registo da sociedade cooperativa que se cria.
As pessoas jurídicas podem ser sócios das sociedades cooperativas de transportes de passageiros e
de cargas. A Lei n. 8.189, de 2 de julho de 1957, estatui no art. 1.0: “Nas Cooperativas de
transportes de Passageiros e de Cargas é permitida admissão como associados, de pessoas jurídicas
cuja existência tenha por fim a exploração dos serviços de trans.. portes de passageiros e de
cargas”.
Se o número de sócios baixa de sete, não está dissolvida, automaticamente a sociedade cooperativa.
Pode ocorrer que outras pessoas se introduzam o ad. 137 do Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro
de 1940, sobre sociedades por ações, é invocável, pôsto que não haja ações nas sociedades
cooperativas Na primeira assembléia ordinária, ou na que fôr marcada, pode ser deliberada a
dissolução, ou deixada a segunda assembléia a deliberação se o número não foi preenchido
Se os estatutos não têm regra contrária os novos sócios podem ser admitidos a qualquer dia do ano,
sem que se haja de cogitar do número de sócios que entraram.
“AS sociedades cooperativas podem ser formadas por iniciativa dos sindicatos, de outra cooperativa
ou de qualquer entidade moral, ou organizadas isoladamente; mas, umas e outras, são sociedades
autônomas, com personalidade jurídica distinta de qualquer corporação iniciadora” (Decreto n.
22.239, sal. li). Nenhuma cooperativa poderá ficar sob o contrôle ou dependência de qualquer
entidade ou associação (Decreto-lei n.581, art. 27).
“As sociedades cooperativas, qualquer que seja a sua natureza, civil ou mercantil, são sociedades de
pessoas e não de capitais, de forma jurídica sul generis, que se distinguem das demais sociedades
pelos puntos característicos que se seguem, não podendo os estatutos consignar disposições que os
infringiam: a) variabilidade do capital social, para aquelas que se constituem com capital social
declarado; b) não limitação do número de associados, sendo, entretanto, êste número no mínimo de
sete; e) limitação do valor da soma de quotas-partes do capital social que cada associado poderá
possuir; cl) incessibilidade das quotas-partes do capital social a terceiros estranhos à sociedade,
ainda mesmo em causa mortis; e) quérum para funcionar e deliberar a assembléia geral, fundado no
número de associados presentes à reUnião e não no capital social representado (Decreto n. 22.239,
art. 2.0, a-e) ; f) distribuição de lucros ou sobras proporcionalmente ao valor das operações
efetuadas pelo associado com a sociedade, podendo ser atribuído ao capital social realizado um juro
fixo não maior de doze por cento ao ano, prêviamente estabelecido nos estatutos, ou ausência
completa de distribuição de lucros (Decreto-lei n. 581, art.
26, alteração la); g) indivisibilidade do fundo de reserva entre os associados, mesmo em caso de
dissolução da sociedade Decreto n. 22.239, art. 2.0, g) ; Ii) singularidade de voto nas deliberações,
isto é, cada associado tem um só voto, a sociedade tenha, ou não, capital social, e êsse direito é
pessoal e não admite representação, senão em casos especiais, taxativamente expressos nos
estatutos, não sendo, nesses casos, permitido a um associado 1
representar mais que um outro (decreto n. 22.239, art. 2.0, Ii) ; mas, nas cooperativas cuja área de
ação, por suas condições peculiares, se estenda até onde os associados
possam ter domicílio profissional ou residência, é permitida a representação por procuração nas
assembléias gerais, não podendo, porém, cada associado representar mais de 30 (Decreto-lei n. 581,
art. 11, § 2;> ; ~> área de ação determinada (Decreto n. 22.239, art. 2.0, i) ; quando o número de
associados de uma cooperativa exceder de mil e quinhentos será permitida a eleição de delegados
para as assembléias gerais, observado o limite de representação fixado no § 22 do art. 11 do
Decreto-lei n. 581 (Decreto-lei n. 581, art. 11, § 3.0)” a)O capital da sociedade cooperativa pode ser
inicialmente estabelecido, mas, se o foi, entende-se variável.
Nenhuma cláusula em contrário tem validade, porque infringe o art. 2.0, d), do Decreto n. 22.239.
Apesar de se falar, na lei specialis, de capital social, o Decreto n. 22.239, art. 6.0, § 6.0, diz que é
permitida a constituição de sociedade cooperativa “sem capital social e sem distribuição por
qualquer forma, de lucros ou dividendos”.
A soma do que os sócios prestam não é capital social, em senso estrito; daí, poder-se pensar em
sociedade cooperativa sem capital. A quota é inconfundível com a ação. Não é título nominativo, ou
título â ordem, no sentido técnico. Não é título. Não se pode transferir a qualquer pessoa o direito
que o certificado documenta. Se se perde, pode ser requerido à sociedade cooperativa outro
certificado. Os estatutos podem prever os pressupostos e o processo para a amortização do
certificado, sem que isso tenha grande conveniência (cf. RANS-PE‟rER
A despeito da relevância do capital, o art. 6.0, § 6.0, do Decreto n. 22.239 diz que se permite a
criação de sociedades cooperativas sem capital e sem distribuição, por qualquer forma, de lucros ou
dividendo. Sem capital social, entenda-se; porque, nas sociedades cooperativas, se falta o capital
social, devido à suficiência da cooperatividade e da participação dos sócios, que é, de certo modo,
em mutualidade, nem por isso deixa de haver sociedade cooperativa. Não há patrimônio social, que
se fracione em quotas.
O capital social não é elemento que há de anteceder à criação da sociedade cooperativa, O que
importa, se a espécie não se enquadra no Decreto n. 22.239, art. 6.0, § 6.~, é que s aluda a êle (art.
6.0, inciso 5.0), Nas sociedades cooperativas de que cogita o art. 62, § 6.0, o elemento mutualístico
ficou sozinho: o elemento capital desapareceu. Não há, própriamente, qualquer fim econômico
pessoal. O art. 6.0, § 6.0, afastou opiniões estrangeiras, segundo as quais, se falta capital social, não
há cooperatividade, nem sociedade, o que seria não se ver na sociedade cooperativa a possibilidade
de abstrair do capital (e. g., VIn‟oItIO SAL~ANDRA, Manuate di Diritto Commerciale, 1, 356). A
estrutura é de sociedade; o contrato é negócio jurídico plurilateral, com sócios que se vinculam. O
elemento de valor econômico indispensável ao funcionamento pode ser mínimo: as reuniões são em
salão cujo uso se permitiu gratuita-mente, ou que os sócios (ou terceiros) locaram para as reuniões ,
pagos pelos sócios (ou por terceiros) os alugueres.
b)Ao lado do principio do capital variável vem o pricípio da irrestricão do número de sócios, dito
principio da porta aberta.
O regramento jurídico das sociedades cooperativas tem de ser severo, para que o elemento egoístico
não se transforme em fim lucrativo, em vez de integrar o elemento egoístico-altruístico, que é
normal na mutualidade. A exigência do capital variável foi sugerida com o mesmo propósito, porém
não é elemento característico, e sim elemento secundário, da sociedade cooperativa.
Levanta-se a questão de se saber se, a despeito da regra jurídica do art. 2.0, b), do Decreto n.
22.239, que exige a variabilidade do capital, podem os estatutos estabelecer que o número de sócios
não passará de x, ou que somente em virtude de reforma dos estatutos, se podem admitir novos
sócios. Na doutrina francesa, tem-se dito que a variabilidade do capital não passa de cláusula
estatutária (cf. COPPER ROGER, TraiU des Soejétés anonymes, IV, 4,a ed., 509). Na doutrina
italiana, diante da falta de regra jurídica cogente (Código Civil italiano, art. 2.520), sustenta
ANTONIO BLUJNETTI (Trattato dei Diritto deite Societâ, III, 364 s.) que se pode pôr de lado o
princípio da variabilidade do número de sócios. No direito brasileiro, não: o Decreto n. 22.239, art.
29, a), impõe a variabilidade do capital social, se foi estabelecido que o havia; e o art. 2.0, b), veda
que se restrinja o número de sócios.
c)O número máximo de quotas, que pode ter cada sócio, há de ser fixado.
A Participação do sócio é necessária. Não há sociedade cooperativa sem entrada, que cada sócio
preste. O art. „70
e), g) e á), do Decreto n. 22.239 veda tratamentos desiguais. A Prestação de entrada pode ser em
dinheiro, ou em natura, ou em trabalho, ou em clientela Todavia, tôdas têm de ser labradas em
dinheiro, para que se Possam determinar o capital social e a quota de cada sócio na liquidação.
As quotas têm de ser iguais; mas o sócio pode ter uma ou mais quotas. No ato constitutivo ou nos
estatutos, 1
pode-se permitir que o sócio adquira outras quotas, sem que isso dê ensejo a transferência de
quotas a terceiros o que o Decreto n. 22.239, art. 2.0, d), proibe. Se houve clausula de
adquiribílidade e de quotas, não pode deixar de haver a restrição do número de quotas que cada
sócio pode ter (art. 2.0 e).
O capital social pode ser de relevância nas sociedades cooperativas porque se divide em quotas e se
tem de determinar o máximo que podem adquirir os sócios e porque a responsabilidade pessoal é
limitada Se o pagamento das quotas é parcial, em caso de concurso de credores, a situação dos
sédos é a dos devedores ordinário5 Os terceiros credores têm pretensão ao que, no momento,
pagaram ou têm de pagar os sócios e ao que haja de integrar a quota.
d)As quotas não podem ser transferidas a estranhos. É o princípio da intransferibilidade das quotas
sociais .
O elemento pessoal tem de ser examinado para a inserção de novos sócios e a sociedade cooperativa
não é sociedade de capital. Não há, sequer, a transmissão a causa de morte. Todavia, no art. 8.0 do
Decreto n. 22.239, fala-se de “transferência de valor, total ou parcial”, das quotas do capital social.
Não é de transferência da qualidade de sócio que se cogita. O art. 8.0 permite que se lance no
certificado o quanto da dívida que o sócio assumiu perante outro sócio; nunca, perante terceiro.
Qualquer manifestação de vontade, posta no certificado, da qual possa decorrer qualquer efeito a
favor de terceiro, não atinge as relações jurídicas entre o sócio e a sociedade ou entre êle e os
outros sócios. Não se afaste a possibilidade de valer e de ser eficaz entre a pessoa que tem o nome
no certificado como sócio e o terceiro. Por exemplo: nos últimos momentos de vida, ou em lugar em
que a pessoa, que é sócio, não tem outro papel em que possa escrever, declara que deve ao terceiro,
ou que promete a terceiro alguma quantia ou objeto. Tal declaração poderia ser feita por pessoa que
não é o sócio, a favor de terceiro ou do sócio .
f)As sobras ou lucros lançados têm de ser distribuídos proporcionalmente, ou invertidos na empresa.
A lei limita o valor do interesse atribuível aos sócios.
A distribuição a que se refere o art. 2.0, f), do Decreto-lei n. 581, alterado pelo art. 26, alteração
1~a, do Decreto n.
22.239, é resultante de cláusula estatutária. Se não foi inserta nos estatutos qualquer cláusula, o
eventual dos lucros ou sobras é destinado a fim mutualístíco, tal como ocorreria quanto ao que
excede o que se faz, na lei, máximo distribuível.
O fim da cooperativa é atribuir a cada sócio a diferença entre o custo ou o preço na cooperativa e o
custo ou o preço no mercado geral. Não pode ter caráter de especulação, nem mesmo de comércio.
A variabilidade do capital não bastaria para se caracterizar a cooperativa, porque o elemento do fim
mutualístico éessencial. No art. 26, alteração
1 a, do Decreto-lei n. 581, que deu outra redação ao art. 29, 1), do Decreto n.
22.239, de algum modo abriu brecha para atividade paracapitalística, uo para pequena finalidade
capitalística.
O elemento lucrativo não pode ser eliminado de todo, porque pode haver sobras e outros haveres
eventuais. À lei cabe estabelecer o máximo dêsse elemento para que fique à frente o fim muwalístico
A regra jurídica limitativa pode fundar-se em diferença durante determinado período, ou por ocasião
da aquisição ou da alienação.
O sócio da sociedade cooperativa pode ser capitalista, sem que isso torne capitalística a sociedade
cooperativa. As empresas comerciais ou industriais podem constituir cooperativa para adquirir
matéria prima, objetos de escritério sementes e instrumentos de produção, sem que isso torne
comercio) a sociedade cooperativa. As sociedades cooperativas de seguros e as de crédito não são,
por isso, sociedades comerciais. Às sociedades cooperativas de consumidores e de trabalhadores
falta, de regra, qualquer elemento capitalístico e a lei do máximo introduzível
h)Nenhum sócio, mesmo se há diferença de quotas no capital, pode ter mais de um voto. O voto é
por pessoa, e não por valor do que se inverteu na sociedade cooperativa. É o princípio da igualdade
do voto pessoal. Nem elemento capitalístico, nem elemento pessoal pode desigual o voto dos sócios.
Todos votam e cada um sé tem um voto.
2.C0NSTITIÓTYÇÂo E PROVA. O ato constitutivo cria e prova que se criou a sociedade cooperativa.
Está no Decreto n.22.239, art. 3.0: “A prova da formação do contrato de sociedade cooperativa é o
ato constitutivo, o qual pode efetivar-se:
a)por deliberação da assembléia geral dos fundadores, constante da respectiva ata; li) por
instrumento particular, nos termos do art. 135 do Código Civil; c) por escritura pública”. Como todas
as outras sociedades, as sociedades cooperativas têm de ser constituídas. O contrato social é o ato
constitutivo; não no seria pré-contrato dc contrato social, isto é, negocio jurídico pelo qual duas ou
mais pessoas, ou as sete, a que se refere a lei sobre cooperativas, prometessem constituir
sociedade, inclusive sociedade cooperativa. O art. 5,0 do Decreto n. 22.239 não estabelece prazo
para a feitura e a assinatura dos estatutos. Faz mais: exige que sejam assinados na mesma data e
pelas mesmas pessoas que assinaram o ato constitutivo. Isso expõe à alegação de antedata e de
ineficácia os estatutos e ao mesmo tempo põe o que se constitui na dependência da observância do
art. 3,0, 3. FORMA E CONTEÚDO. Na leitura do Decreto n. 22,239. ad. 4,0, têm-se de distinguir a
regra jurídica de forma e os requisitos de fundo a que se alude. Estatuto o Decreto n. 22.239, ad. 49:
“O ato constitutivo, sob pena de nulidade, deverá conter: 1.0, a denominação particular pela qual a
sociedade será conhecida, de modo a diferenciá-la de outras, para que se não possa ser induzido a
êrro ou engano; 2.0, a sede da sociedade; 30 o seu objeto econômico; 4,0 a designação, no texto do
documento, dos nomes por extenso, residência e profissão dos associados fundadores que o vão
assinar; 5.o, a declaração da vontade de formar a sociedade”. Se o contrato da sociedade
cooperativa não disse, desde logo, qual a denominação que teria, há nulidade. Quanto à sede da
sociedade, a exigência é a mesma, mas isso não impõe que se move no bairro, rua, ou mesmo parte
ou zona da unidade territorial urbana, ou rural, O “objete econômico” ou “fim econômico” há de
constar, ainda quando haja mistidade e o funcionamento da sociedade cooperativa não tenha de
começar para tôdas as operações .
4.ATO CONSTITUTIVO E ESTATUTOS. Diz-se no Decreto n. 22.239, art. 50: “O ato constitutivo da
sociedade poderá conter, ou deixar de conter, integralmente, os estatutos pelos quais se há de reger;
e o respectivo instrumento, ou ata, deverá ser assinado, p~elo menos, por sete fundadores com seus
nomes por extenso, ainda que o número dêles seja maior”. Acrescenta o parágrafo único: “Quando
os estatutos não constarem do ato constitutivo, deverão ser assinados na mesma data e pelas
mesmas pessoas que assinaram aquêle ato”. O que mais importa é frisar-se que a lei não admite
contrato de sociedade cooperativa em que haja menos de sete manifestantes de vontade. Se os
estatutos consta do ato constitutivo, a assinatura de cada contraente é para os dois atos, que foram
concebidos como unidade formal. Se no ato constitutivo não se inseriram os estatutos, rege o ad.
50
No art. 59 apenas se permite que os estatutos não constem, parcial ou totalmente, do ato
constitutivo. Nesse, podem estar, na íntegra, os estatutos, ou sé em parte, ou não estar. Mas, se dêle
não constam, têm de ser assinados na mesma data e pelas mesmas Pessoas que assinaram o ato
constitutivo (senso estrito). No art. 59, parágrafo único, estabelece-se o principio da essencialidade
dos- estatutos Se na mesma data não se assinam os estatutos, qualquer que seja a razão, o ato
constitutivo tornou-se ineficaz: tem-se de assinar outro, se se quer constituir a sociedade
cooperativa, e na mesma data hão de ser assinarios os estatutos Se há assinatura no ato constitutivo
que não está nos estatutos e a data é a mesma, pode dar-se que aponha a assinatura quem ainda
não o fizera, pôsto que seja arriscada tal situação, por ser alegável por algum interessado, no
intervalo, a falta ocorrida.
A forma escrita é pressuposto essencial Dificilmente se farão estatutos por instrumento público,
embora seja possível fazer-se por instrumento público o ato constitutivo, que é menor. A data tem de
ser a mesma. No direito estrangeiro (e. g., no direito suíço, GoTmmm BACHMANN, Commentaire au
Cade Fédérat des Obligation II 1
240, permite-se a data diferente). no direito brasileiro não se pode tirar dos textos legais tal
conclusão porque o art. 32, e), do Decreto n. 22.239 é explícito.
As regras jurídicas dos arts. 3,0, 42 e 59 e parágrafo único do Decreto n. 22.239 são regras-
jurídicas de forma., pôsto que se aluda, no art. 42, a conteúdo.
6.SEDE. O ato constitutivo tem de determinar o lugar da sede da sociedade cooperativa, sem que se
possa dispensar a referência especial, pois a lei é explícita. Não se deixou aos estatutos tal
incumbência, salvo, entenda-se, se inclusos no ato constitutivo. Surge o problema da mudança de
sede, uma vez que disso não se falou quando se enumeraram as exigências contemitísticas dos
estatutos, O que se há de assentar é que se supês, para a exigência da determinação da sede, ser
ligada, de regra, à categoria de pessoas ou de negécios, a sede da sociedade cooperativa, sem que,
se possível a mudança, não possa a assembléia, respeitados o ato constitutivo e os estatutos, passar
a outro lugar a sede da sociedade cooperativa. Dissemos “se possível”, porque do lugar pode ser
inseparável a atividade econômica, inutualística, da sociedade cooperativa.
„7. FIM DA SOCIEDADE COOPERATIVA. A assembléia pode modificar a extensão dos negócios da
sociedade cooperativa; não o fim da sociedade. Se contra o voto de um dos membros se delibera
mudar ou alterar o fim da sociedade, dito “o seu objetivo econômico” (Decreto n. 22.289, art. 42,
inciso 32), nasce ao sócio, que discordou, açáo de nulidade, porque é nula a deliberação. Se todos
concordaram, são precisos outros regi5-tos, porque em verdade se extinguiu uma sociedade
cooperativa e se criou outra.
Os assuntos sôbre validade, principalmente quanto à forma, ligam-se aos estatutos, razão por que os
deixamos para o O número minimo de sócios é o de sete (Decreto n. 22.239, de 19 de dezembro de
1932, art. 1.~). Com isso, põe-se em relêvo a categoria das sociedades cooperativas. A satisfação do
requisito é indispensável ao registo. Se três pessoas acordaram em criar a sociedade cooperativa,
com o mínimo de sete sócios, as manifestações de vontade de outras quatro, ou de mais de quatro,
integram o contrato social, que pode ser registado.
1.0).
O intuitus personae tem especial relêvo nas sociedades cooperativas. A atribuição de voto a cada
sócio e a estruturação da sociedade são elementos necessários. Não há livre substituição do sócio,
nem a transferibilidade entre vivos com eficácia no tocante à sociedade, ou a causa de morte, nem a
fracionabilidade da participação social.
2.LICITUDE. Como tôdas as sociedades, a sociedade cooperativa há de ter objeto licito e fim lícito. O
art. 141, §
12, da Constituição de 1946 incide e sé a autoridade judiciária pode apreciar a ilicitude, no que o
sistema jurídico brasileiro passa à frente de muitos outros.
A sociedade cooperativa é civil ou comercial, conforme a atividade que se exerce. Tem-se de repelir
a opinião que lhe vê sempre na função de intermediação o fim especulativo. Nem e de lucro
comercializa, necessàriamente, as sociedades, nem se há de deixar de atender à natureza da
atividade exercida. Supõe -se que os sócios tenham necessidades econômicas ~0rnogêneas, mesmo
quando o Estado é que promove a constituíção da sociedade.
Lê-se no Decreto n. 22.239, art. 42: “Ninguém poderá organizar uma sociedade cooperativa, ou dela
fazer parte somente no intuito de gozar o lucro permitido às quotas-partes do capital social, ou com
a intenção de explorar o trabalho alheio assalariado ou não; nem poderão associar-se às
cooperativas, comerciantes ou agentes de comércio que negociam com os mesmos fins e objeto da
sociedade”.
2.REQUISITOS DOS ESTATUTOS. Estabelece o Decreto n. 22.239, art. 6.0: “Os estatutos sociais
deverão mencionar, mas sem pena de nulidade, o seguinte: 1.0, a denominação e sede da sociedade,
não obstante a sua menção no ato constitutivo; 29, o seu objetivo econômico, operações ou
programa de ação; 30, prazo de duração da sociedade, que tanto pode ser determinado como
indeterminado; 49, a área de ação ou circunscrição de suas operações; So, o mínimo do capital
social e a forma por que êle é ou será ulteriormente realizado, para as que se constituem com
capital; 6.0, o modo de admissão, demissão e exclusão dos associados; „79, os direitos e deveres dos
associados, enumerando-os com precisão e clareza, garantia a igualdade absoluta dêles; 5~0, as
condições de retirada de valor das quotas-partes de capital que pertençam aos associados
demissionários, excluídos ou falecidos; 99, a maneira como os negócios sociais serão administrados
e fiscalizados, estabelecendo os respectivos órgãos e definindo-lhes as atribuições com tíareza e
minúcia; 10.0, o modo de convocação da assembléia geral e a maioria requerida para a validade das
deliberações a forma de repartirem-se os lucros e as perdas entre os associados, bem como a
percentagem a deduzir para o fundo de reserva, que não será inferior a dez por cento; 12.0, os casos
de dissolução voluntária da sociedade e o destino a dar-se ao fundo de reserva na liquidação, depois
de satisfeitos os compromissos sociais; 13.0, se os associados respondem, ou não, subsidiàriamente,
pelas obrigações sociais, e, no caso afirmativo, a natureza dessa responsabilidade; 149, quem
representa a sociedade, ativa e passivamente, nos atos judiciais e extra-judiciais; 15.0, se os
estatutos sociais são reformáveis e de que modo; 16.0, a fixação do exercício social, que poderá
coincidir, ou não, com o ano civil, e a data do levantamento anual do balanço geral do ativo e passivo
da sociedade”.
O nome social e a indicação da sede têm de constar do ato constitutivo e dos estatutos.
A área de açâo ou circunscrição das operações tem relevância para se determinar onde pode ser
exercida a atividade cooperativa. Todavia, não é sempre da mesma precisão, ainda no tocante à
extensão territorial.
Frisa-se que os estatutos têm de dizer como se admitem.,. como se demitem e como podem ser
excluidos os sócios e como se retiram os valôres das quotas.
Os direitos e deveres dos sócios explícita ou implicitamen te hão de ser mencionados nos estatutos.
Têm-se de regular a formação e o funcionamento dos órgãos sociais, inclusive da assembléia geral.
Outrossim, a distribuição dos lucros e das perdas e a constituição do fundo de reserva.
A responsabilidade, subsidiária ou não, dos sócios tem de ser prevista nos estatutos.
É preciso que os estatutos digam qual o orgão social que presenta a sociedade.
Finalmente, os estatutos devem cogitar do modo pelo qual podem ser reformados o período que se
considera de exercício da atividade social.
3.INDICAÇÃO DO TIPO SOCIAL E DA SEDE. Diz o Decreto n. 22.239, art. 69, ~ 1.0: “As sociedades
cooperativas devem fazer preceder, ou seguir, a sua denominação particular, com a locução
“Sociedade 1
Cooperativa”, quando, na própria denominação, ela não se achar incorporada, e isto em todos os
seus atos, documentos, fórmulas e prospectos”. Um tanto diferente o Decreto n. 41.872, art. 4.0:
“Em todos os atos, documentos, impressos, letreiros e propaganda das cooperativas, a palavra
“Cooperativa”, de que trata o art. 6.0,
~ jO, do Decreto-lei n. 22.239, de 19 de dezembro de 1932, alterado pelo art. 26, § 2.0, do Decreto-
lei n. 581, de 1.0 de agôsto de 1935, deverá ser grafada por extenso e com os mesmos caracteres e
destaque como que fôr escrita a parte restante de sua denominação A designação do tipo pode ser
com a palavra “Cooperativa”, ou com a expressão “Sociedade Cooperativa”, quer antes quer após o
nome, quer integrada nêle.
No art. 6.0, inciso 1.~, explicitamente se estabeleceu que também os estatutos hão de mencionar a
sede da sociedade cooperativa, “não obstante a sua menção no ato constitutivo”.
de tôda conveniência que se diga qual o pressuposto de votação para que se permita mudança de
sede. Trata-se de alteração ao ato constitutivo, sem que se atinja a constituição da sociedade
cooperativa.
A sociedade cooperativa pode ser a prazo determinado, ou determinável com referência a condição
ou termo incerto, ou sem prazo. „Prazo determinado”, ou “indeterminado”, diz o art. 6.0, inciso 32,
do Decreto n. 22.239. A menção de prazo é rara, como ocorre nas sociedades por ações. A menção
não é, portanto, necessária. Se nada se estabeleceu, a duração é indeterminada.
4.CAPITAL SOCIAL. Lê-se no Decreto n. 22.239, art. 69, § 4.0: “A unidade de divisão do capital da
sociedade é a quota--parte, cujo valor poderá ser desde um cruzeiro e seus múltiplos até o máximo
de cem cruzeiros, mencionando também os estatutos o número mínimo e o máximo delas que cada
associado deva possuir”. A primeira questão que surge é a do momento em que se há de fixar o valor
das quotas, antes expresso em mil réis.
Porém, devido à contemporaneidade cogente do ato constitutivo e dos estatutos (Decreto n. 22.239,
ad. 52, parágrafo único), é sem relevância. Aliás, o art. 6.~, pr., explícita que a falta de alguma das
cláusulas dos estatutos não é causa de nulidade dêles. Os valôres são, hoje, obsoletos.
Valor contábil, a quota tem grande relevância para se saber se foi observada regra jurídica sobre
mínimo ou sobre máximo, para se dizer qual a dívida do sócio à sociedade, se ainda não prestou o
que prometeu, e qual a importância de qualquer outra dívida suplementar que se crie, e para se
determinar o que corresponde ao valor reembolsável da quota, quer ao sócio que sai, quer aos
herdeiros, e o quanto que há de perceber de qualquer proveito ou lucro eventual. No fundo, só há
unidade de medida, e não valor negociável. Tudo isso resulta de ser prevalecente, diante de
qualquer elemento econômico, a pessoalidade da participação; conseguintemente ser marginal o fim
de ordem lucrativa.
Se o sócio ainda não pagou a dívida da quota, o valor que a essa se atribui é o valor da dívida. Se já
foi paga e o sócio sai da sociedade cooperativa, tal valor é o do seu crédito como o é,
proporcionalmente, do que eventualmente se tenha distribuído ou se venha a distribuir aos sócios.
Os limites do valor das quotas, que aparecem no art. 6.0, § 40 têm por fito impedir que se
constituam sociedades cooperativas de capital irrisório e se dificulte aos trabalhadores e às pessoas
de poucos meios pecuniários a entrada na sociedade cooperativa (cf. Bosisío, te Società cooperative,
29). Com a inflação, o art. 6.0, § 40, perdeu muito da sua razão de ser. Pode o juiz, em ação
declaratoria ou em qualquer outra ação, em que a questão se levante, atender aos pri ncípios de
revalorização, especialmente inspirado em lei que haja revalorizado dívidas à União. De qualquer
modo o limite mínimo pode ser em relação ao aumento de salário entre 1932 e o ano corrente.
Lê-se no Decreto n. 22.239, art. 6.0, § 3.0: “Para a for-inação do capital social, poderá ser estipulado
que o pagamento das quotas-partes dos associados seja feito por prestações semanais, mensais ou
anuais, que serão sempre independentes de chamada, ou por outra forma estabelecida”. Com isso,
permitiu-se a promessa de prestações das quotas. A referência a “semanais, mensais ou anuais” é
exemplificativa: as prestaqôes podem ser, e. g., bimensais, trimensais, ou bimestrais, trimestrais, ou
semestrais, ou de dois anos em dois anos.
ODecreto n. 22.239, art. 6.0, § 5~0, estabelecia limites, assaz diferentes, conforme as sociedades
cooperativas eram de consumo, de compras em concurso e crédito, êsses, limites de somas das
quotas, em quantias, e, para as demais sociedades cooperativas (ditas “as outras”), participação
proporcional àsoma das operações do sócio, fixável nos estatutos. O Decreto-
-lei n. 581, art. 12, foi mais simples: “Nas cooperativas em que o capital não seja proporcional à
produção, nenhum associado poderá subscrever mais de um têrço do capital”. Qualquer que seja o
número de quotas, o voto é um só (Decreto-lei n. 581, art. 12, parágrafo único: “Para as
deliberações, cada associado tem direito a um voto, qualquer que seja a sua participação no
capital”.
5.ADMISSAO , RETIRADA E EXCLUSÃO DE SÓCIOS. A lei exige que os estatutos contenham norma
sobre a admissão, demissão e exclusão dos sócios. Não estatuiu que a assembléia seja
extraordinária, nem que as votações sejam aquelas a que se refere o art. 43, § 12, do Decreto n.
22.239.
6. ASSEMBLÉIA GERAL. A assembléia geral pode ser convocada pela Diretoria, ou pelo Conselho
Fiscal, ou por outro órgão, que tenha, pelos estatutos, tal atribuição, ou por determinado número de
sócios. Qual o número mínimo de sócios que pode fazer convocação, ou requerê-la, é assunto para
os estatutos. Se êsses nada disseram a respeito, entende-se que a maioria é legitimada.
O fim da convocação há de ser indicado. Se a diretoria ou o órgão que havia de fazer a convocação,
não a faz, pode ser responsabilizada por perdas e danos.
7.ATIVIDDADE DA SOCIEDADE COOPERATIvA Decreto n. 22.239, ad. 6.0, § 2.0: “É permitido às
cooperativas adotar por objeto qualquer gênero de operações ou de atividade na lavoura na
indústria no comércio no exercício das profissões, e todos e quaisquer serviços de natureza civil ou
mercantil, podendo ser, ou não, lucrativo, contanto que não ofenda a lei, a moral e os bons
costumes” 8.Órgãos E DELIBERAÇÕES. O art. 6.0, inciso 90, do Decreto n. 22.239 diz que os
estatutos têm de mencionar a maneira com que os negócios sociais serão admitidos e fiscalizados,
estabelecendo os érgàos e definindo. as atribuições “com clareza e minúcia” Não há pena de
nulidade, em caso de omissã0 Se ocorre falta ou má redação dos estatutos, o que se há de entender
é que os poderes de deliberação administrativa são atribuidos ao presidente, ou, se a diretoria é
colegial, à maioria dos diretores (cf. GIANCARLO FaÉ, L‟Organs~, amminístrativo nele societâ
anonima, 182).
a) fazer-se distinguir por uma firma social em nome coletivo, ou incluir em sua denominação nome
ou nomes de seus associados; b) criar agências ou filiais, dentro ou fora de sua área de operações,
não se considerando como tais os estabelecimentos montados para os serviços das cooperativas
centrais (Decreto n. 22.239, art. 72, b) ; será permitida às cooperativas agrícolas, com exceção das
de crédito a criação de agências fora da área de ação, para os seus serviços (Decreto-lei n. 581, art.
26, 3.0)
e)constituir o seu capital social por subscrição ou emissão de ações (Decreto n. 22.289, art. 72, e);
d) remunerar com comissão, Percentagem, ou por outra forma, a quem agencie novos associados; e)
estabelecer vantagens ou privilégios em favor de iniciadores incorporadores, fundadores e
diretores, ou preferência alguma sobre parte do capital social ou percentagem sobre os lucros; 1)
admitir como associados pessoas jurídicas de natureza mercantil, fundações, corporações e
sociedades civis, excetuando-se apenas os sindicatos profissionais ou agrícolas, outras cooperativas
e o disposto no § 2.0 dêste artigo; v) cobrar prêmio ou ágio pela entrada de novos associados, ou
aumentar o valor da jóia de admissão estabelecida, a título de compensação das reservas ou da
valorização do ativo; /i,) estabelecer penalidades para o associado que se atrasar no pagamento das
prestações das quotas-partes de capital a que se obrigou, a não ser um pequeno juro pela mora e a
retenção do dividendo ou quota de lucros, se houver, que lhe serão creditados por conta das
prestações atrasadas (Decreto a. 22.239, art. 1.0, d-h)
; ao associado de uma cooperativa que se atrasar no pagamento das quotas-partes do capital a que
se obrigou, será cobrado o juro de seis por cento pela mora e retido o retôrno das sobras líquidas ou
os juros computados, que lhe serão creditados, por conta das prestações atrasadas (Decreto-lei n.
581, art. 13) ; i) permitir a admissão de associados que não possuam capacidade jurídica de
contratar, ainda mesmo relativa, salvo as exceções do parágrafo primeiro dêste artigo; 5) especular
sobre a compra e venda de títulos, envolver-se, direta ou indiretamente, em operações de caráter
aleatório, ou adquirir imóveis para renda, excetuando-se, apenas, a construção ou a compra de
prédios para a sua sede, ou destinados aos serviços sociais; k) promover homenagens a quem quer
que seja, ou participar, direta ou indiretamente, de qualquer manifestação política, ou fazer, por
intermédio da sociedade, propaganda política ou religiosa; 1) contrair empréstimos mediante
emissão de obrigações preferenciais (Decreto n. 22.239, art. 70, i-rn) “. Acrescenta o § 1.0 do art.
7O do Secreto n. 22.239:
“Os menores não emancipados, com mais de 16 anos de idade, e as mulheres casadas, sem
autorização paterna ou 1
marital, podem entrar como associados para as cooperativas de trabalho, de consumo e de crédito, e
nelas operar com os recursos de suas economias próprias, proventos de seu trabalho profissional, ou
para ocorrer às suas despesas pessoais ou de administração doméstica; mas não poderão contrair
compromissos que onerem ou possam atingir seus próprios bens ou do casal”. Diz o § 2.0: “Nas
cooperativas agrícolas e~ geral, poderão ser admitidas como associados as pessoas jurídicas cuja
existência tenha por fim a prática da agricultura e da pecuária Poderão as cooperativas de seguro
admitir como associados pessoas jurídicas (Decreto..íei n. 531, art.
O Sócio que tem muitas quotas só tem um voto, como acontece ao sócio que tem uma quota. A
despeito da organização capitalística que apresenta, à sociedade cooperativa não se permite deixar
de ser sociedade de pessoas, em vez de sociedade de capitais No art. 72, e), do Decreto n. 22.239,
veda-se à sociedade cooperativa estabelecer vantagens e privilégios quer a iniciadores quer a
incorporadores quer a fundadores, quer a diretores e outras pessoas que tenham função na sua vida
externa e interna; ou qualquer preferência ou melhor tratamento no tocante ao capital social e aos
lucros, percentualmente ou não (a expressão “Percentagem” no art. „70, e), apenas exemplifica).
Estatuí o Decreto n. 22.239, art. 8.0: ~ associado não poderá transferir o valor, total ou parcial, de
suas quotas
-partes do capital social senão a outros associados e mediante autorização da assembléia geral”.
Acrescenta o §
1.0: “A transferência a que se refere êste artigo, será averbada no título nominativo do associado
cedente e no do cessionário, bem como nas respectivas contas correntes de capital do livro de
matrícula, transferindo Se por débito, os créditos correspondentes mediante a assinatura de ambos
os interessados”. E o § 2.:
“A prova de pagamento da prestaçã0, efetuado por conta da quota-partes de capital a que se obrigou
O associado, é o recibo firmado pelo diretor gerente da sociedade no título nominativo do associado,
devendo também o mesmo pagamento ser averbado, a crédito da respectiva conta corrente do
capital, no livro de matrícula”. A expressão “transferir” não foi feliz, O que se há de entender é que
o sócio não pode, sem autorização da assembléia geral, por escritura pública, ou por instrumente
particular, inclusive no próprio certificado de sócio, assumir dívida própria, ou alheia a favor de
terceiro, que haja de ser paga sobre o seu direito de Sócio, nem, tão-pouco expô-lo a transferência
por execução forçada~ Daí resulta que a quota é inatingível por penhor ou arrecadação, salvo se
quem pede a penhora, em virtude de assunção de dívida na conformidade do ad. 8.0 e § LO, é outro
sócio. A espécie encaixa-se noad. 942 do Código de Processo Civil.
22.239, art. 12: “Em regra, as do Govêrno; dependendo dela, entretanto, as que se proponham
sociedades cooperativas podem-se constituir sem autorização
Passa-se o mesmo no tocante às sociedades cooperativas de crédito, que não opera somente com
crédito agrícola, ou não sejam. caixa rural, ou sociedade de crédito mútuo. As próprias sociedades
cooperativas de seguros de vida, se, para os benefícios ou outras vantagens, não precisem sortear
ou fazer cálculos de mortalidade, podem funcionar sem autorização (e. g., à morte de cada sócio as
pessoas que fazem parte da sociedade cooperativa prestam a que lhes corresponde).
Na sociedade cooperativa não se admite qualquer tratamento desigual, de que resulte Posição
privilegiada Não se podem inserir no ato constitutivo ou nos estatutos cláusulas que dêem
preferência a sócios para quórum ou para votação, mesmo se têm maior número de quotas.
Estatui o Decreto n. 22.239, art. 13: “As sociedades cooperativas, devidamente constituídas, para
adquirir personalidade jurídica e funcionar validamente , devem preencher as seguintes
formalidades sem as quais serão nulos todos os atos que praticarem: 1.0) Arquivar no cartório do
registo das pessoas jurídicas do termo ou comarca da circunscrição onde a sociedade tiver a sua
sede: a) cópia, em duplicata, do ato constitutivo; ti) exemplares, também em duplicata, dos estatutos
sociais, se não se acharem inclusos no ato constitutivo; e) lista nominativa dos associados com
indicação de suas profissões e residencias e, quando a sociedade tiver capital, a menção das
respectivas quotas-partes 2.0) Publicar, na fôlha local que der o expediente oficial do Juízo, o
certificado do oficial do re gisto que arquivar os documentos” Acrescenta o § 12: “Os documentos a
que se referem as alíneas a), ti) e e), serão assinados tão-somente pela administração eleita ou
escolhida, ou pelos sete fundadores, os quais ficam responsáveis pela veracidade das afirmações do
seu conteúdo e sujeitas às penas, no caso de fraude, de Cr$100,00 a Cr$1.000,00 impostos pelo juiz
da jurisdição a que pertencer a cooperativa”. E o
§ 2.0: “O oficial do registo deverá dar um certificado dos documentos arquivados e remeter, por
intermédio do Juízo, as duplicatas à Junta Comercial da Capital do Estado”.
À lei somente exige a publicação, no .órgão oficial, do cerdo oficial do registo. Algumas legislações
estrangeiras certificado, no sistema jurídico brasileiro, não pode deixar supõem a publicação dos
pontos essenciais dos estatutos. Mas de conter o que concerne à responsabilidade dos sócios
perante terceiros.
A parte final do art. 13 do Decreto n. 22.239, verbis “sem as quais (formalidades) serão nulos todos
os atos que praticarem”, importa dizer-se que, sem o registo conforme se exige,
a sociedade cooperativa não existe como pessoa jurídica. Há a sociedade cooperativa irregular. Tem-
se de afastar a opinião segundo a qual o que há, antes do registo, é manifestação fáctica de vontade
com fins cooperativos.
Quem quer que tenha praticado atos pela sociedade que se irradiaria do contrato, se registado
tivesse sido, responde ilimitada e solidàriamente. Sem razão, ALFREDO DE GREGORIO (Corso di
Diritto commercicie, 399
s.), que afasta o princípio; com razão, DOMENICO RUBTNO (Le Associazioni non rieonosciute,
2 a ed., 84 s.),
que sustenta a eficácia entre os sócios e a existência de sociedade não reconhecida (sociedade
irregular).
3.ENTRADA E SAÍDA DE SÓCIOS. O registo das sociedades cooperativas atende a que se trata de
sociedades cuja especificidade suscita regras jurídicas adequadas. Todavia, não se falou do dever de
se enviar ao registo o documento de entrada de novos sócios ou de saída de algum. Aliter, no tocante
ao registro administrativo, o Decreto-lei n. 581, art. 82, ti), que impõe a remessa semestral da lista
nominativa dos sócios, com es dados de que fala o art. 40, § 1/~, III. Isso não significa que não se
precise de remeter a lista ou o nome de cada nôvo sócio, feita a matricula, ou dos que saíram. A
publicidade é necessária à eficácia, contra terceiros, da matricula ou da saída do sócio. Com as
entradas, o crédito da sociedade cooperativa fortalece-se. Com as saídas, diminui.
Quanto à transferência do direito de sócio, é ius cogens a proibição (Decreto n. 22.239, art. 2.0, d).
Os direitos a 1
juros> dividendos e vantagens que correspondam a dividendos são transferíveis (cessão de direitos)
e podem ser penhorados (cp. E. BLATTNER, Die ReúhtsverhãUnisse der Mitglieder in de~ Erwerbs..
und Wirtschaftsgenosscnschaft 101 s., que não é preciso nesse ponto). O direito ao que aumenta o
valor da quota, em virtude de reavaliação do ativo ou emprêgo do fundo de reserva, é incessível e
impenhorável.
5. REGISTO ADMINISTRATIvO É preciso que se não confunda o registo, que o Decreto n. 22.239
regula, com o registo administrativo, que só tem relevância de direito administrativo. Aliás,
advirtamos que os Estados-membros e os Municipios podem exigir registo administrativo, para as
relações de clireIw administrativo entre a sociedade cooperativa e a entidade estatal. A falta do
registo pode ter como conseqUência nao se atender à incolumidade ou à isenção tributária.
O Decreto-lei n. 581, de 1.0 de agôsto de 1938, art. 2.0, criou o “registo administrativo obrigatório”,
que se atribuiu à Diretoria de Organização e Defesa da Produção e, depois, ao Serviço de Economia
Rural (Decreto-lei n.
8.401, de 19 de dezembro de 1945, art. 3.0), “para efeito de assistência técnica e fiscalização às
cooperativas, bem como estatística e informações” <cf. arts. 1? e 3.O)
EA sociedade cooperativa adquire a personalidade jurídica com o registo, de acôrdo com o art. 13.
Tal registo não se confunde com o reguto administrativo, de que trata o Decreto-lei n. 581, arts.
4.0~10. Depois que a sociedade cooperativa adquire a personalidade jurídica é que, publicado o
certificado, se há de requerer o registo no Serviço de Economia Rural.
Diz o Decreto-lei n. 581, art. 59: “As cooperativas escolares instruirão o pedido de registo com uma
cópia do ato constitutivo, um exemplar dos estatutos e uma relação dos associados, documentos
êstes com assinatura de sete ou mais fundadores e autenticados pelo diretor do instituto de ensino”.
Acrescenta o parágrafo único: “Ficam as cooperativas escolares isentas de pagamento de impostos e
de selos”.
Estabelece o Decreto-lei n. 581, art. 6.0: “Concedido o registo por despacho do diretor da Diretoria
de Organização e defesa da Produção, será efetuado na seção competente e, satisfeitas as
exigências estabelecidas neste decreto-lei, expedido o certificado”.
Estatui o art. 79 do Decreto-lei n. 581: “As cooperativas constituídas, de acôrdo com a legislação
anterior, terão o prazo de 180 dias a contar da publicação do presente decreto-lei, para solicitar o
registo”. Acrescenta o § 1.0: “O
registo não poderá ser negado, desde que os documentos estejam conformes com a lei, sob cujo
regime se hajam 1
constituído”. E o § 2.0: “As cooperativas a que se refere êste artigo não poderão modificar os
estatutos sem observar as disposições do presente decreto -lei”. E o § 3.0: “Será enviada à Diretoria
de Organização e Defesa da Produção, em duplicata, cópia fiel da assembléia geral que haja
aprovado alterações nos estatutos, feita a prova (ia publicação a que se refere o n. IV, § 1.0, do art.
40 Será remetido, também, um exemplar dos estatutos modificados”.
Lê-se no Decreto-lei n. 581, art. 8.0: “Tôdas as cooperativas registadas, para efeito de estatística e
publicidade, deverão enviar à Diretoria de Organização e Defesa da Produção e à repartição
fiscalizadora a que estiverem sujeitas: a) mensalmente, cópia do balancete do mês anterior; ti)
semestral-mente, lista nominativa dos associados, observado o disposto no n. III, § 1.0, do art. 4~O;
e) anualmente, e até 15 dias depois da data marcada para a assembléia geral da prestação de
contas, cópia do balanço geral acompanhado da demonstração da conta de lucros e perdas, do
parecer do Conselho Fiscal e de um exemplar do relatório”.
Tem de ser enviado, mensalmente, à repartição competente. Não basta constar do arquivo e dos
livros da sociedade cooperativa, nem ter sido comunicado aos sócios e aos credores (cf. lxi.
ZIMMELIMANN. fie Jahresbiianz der Aktiengesellschxtft nach deutschem und seitittizúttschem
Recht, 217).
II) As cooperativas populares de Crédito Urbano, que não tenham caráter mútuo, deverão
apresentar, para cada um dos membros de seus Conselhos de Administração: a) atestado policial de
bons antecedentes; ti) atestado de idoneidade, fornecido por dois estabelecimentos de crédito; e)
prova de que não é falido; d) prova de que não tem títulos protestados; e) prova de não estar sendo
demandado pelo Fisco; f) prova de quitação com o impôsto sobre a renda.
III)As Cooperativas profissionais, de classe, ou de empresa, que não tenham caráter mútuo, deverão
apresentar para cada membro de seus Conselhos de Administração: a) atestado policial de bons
antecedentes; b) atestado comprobatório de idoneidade; e) prova de que não é falido.
IV) As Cooperativas de Crédito Mútuo estão isentas dessas exigências (Podaria n. 191, de 8 de
fevereiro de 1956).
6. FALTA DO REGISTO. - Se não foi feito o registo e a sociedade cooperativa não é tal que se haja de
considerar não subordinada à icz specialis, tem-se de afastar qualquer afirmativa de não ser possível
existir sociedade cooperativa irregular: está criada, se foi observada a lei para se constituir; ou não
está criada. Se está criada, falta-lhe a personificação para poder praticar atos como entidade social:
embora exista, não é pessoa, e não pode, sequer, ter órgãos. Por aí se vê que não é pessoa, e não
pode, sequer, presentar-se. Pode ser pessoa jurídica a sociedade cooperativa: muitos efeitos, quase
todos, do contrato social dependem do registo.
A distinção entre patrimônios, um dos quais se tem como separado, não se baseia apenas em capital
social e patrimônio de cada pessoa que faz parte da sociedade cooperativa. Pode vir antes da
personificação: não há, ainda, o capital social, mas já há o patrimônio separado (cf. P. VON RorH,
Zur Lehre ron der Genossúnsehaft, 20
s.). O que aparece, como sociedade cooperativa, aos terceiros, é que faz a discriminação
patrimonial, razão por que se tem de pôr em primeiro plano o que se separou (cp. IIUDOLPH 5dM,
fie deutscke Genossen.schaft, 40).
§ 5.254. Fiscalização
2. LIMITES CONSTITUCIONAIS. O art. 2.0 do Decreto n. 48.552 diz e o art. 20 do Decreto-lei n, 581
já dizia que as sociedades cooperativas têm dever de facilitar aos funcionários da fiscalização o
exercício amplo da sua função, facultando-lhes o exame de livros, documentos e arquivos. No art.
24, as sociedades cooperativas que não observarem as regras jurdicas do Decreto-lei n. 581 (e do
Decreto n. 22.239, entenda-se), incorrem em pena pecuniária. A pena é aplicável pela autoridade
administrativa, sem que se possa pré-excluir a apreciação judicial (Constituição de 1946, art. 141, §
4.0).
Estabelece o Decreto n. 22.289, art. 41: “É proibido o uso da denominaçãO cooperativa a qualquer
estabelecimento comercial ou não, bem como a qualquer empresa, instituto ou sociedade, que não
estejam organizados de acôrdo com as disposições do presente decreto, mi que, anteriormente
fundados, não tenham observado o Decreto ti. 1.637, de 5 de janeiro de 1907; salvo o direito
adquirido às pessoas jurídicas constituídas no regime do direito comum vigente antes da
promulgação daquele decreto legislativo”. Acrescenta o parágrafo único: “Os infratores serão
punidos com multa de dois contos de réis e, no caso de reincidência, com a pena de prisão por oito
dias, além de serem coagidos materialmente a observar o dispositivo, apreendendo-se todos os
objetos em que se encontre a menção da palavra proibida, isto tudo depois de prévia notificação ao
interessado, assinando-se-lhe prazo razoável para cumprir a lei”.
A designação da sociedade ou qualquer empresa como “cooperativa”, sem que o seja, constitui
violação da lei, que somente exige e somente admite o emprêgo da expressão a sociedades que
tenham o tipo de cooperativa e hajam observado as regras jurídicas sobre fins, composição e outros
requisitos. A quantia, de que cogita a lei, para a penalidade, está obsoleta.
Diz o Decreto-lei n. 581, art. 15: “Ficam sujeitas à fiscalização do Ministério da Agricultura, por
intermédio da Thretorta de Organização e Defesa da Produção” (hoje, do Serviço de Economia
Rural) : “a) as cooperativas agrícolas de qualquer espécie, inclusive as de indústrias, rurais, de
crédito e de seguro; ti) as federações dessas cooperativas”. O Decreto n. 43.552, art. 1.0, estendeu
tal competência de fiscalização estatal a tôdas sociedades cooperativas.
Diz o Decreto-lei n. 581, art. 21: “A Diretoria de Organização e Defesa da Produção” (hoje, Serviço
de Economia Rural), “bem como os demais órgãos fiscalizadores, poderão determinar ou fazer a
convocação das assembléias gerais e presidi-las nos casos comprovados de violação de lei e de
disposições regulamentares”. É preciso que haja comprovação da violação da lei ou de regra
regulamentar. Se não houve violação, falta legitimação ao órgão estatal para a convocação da
assembléia geral e para que alguém, que seja membro do órgão estatal, possa presidir a assembléia
geral. A ação é ação declaratória da falta de legitimação, ou a ação constitutin negativa, para que se
decrete a nulidade dos atos que resultaram da convocação e das deliberações da assembléia geral. A
assembléia geral pode examinar as razões para a convocação e deliberar, segundo a lei ou os
estatutos quanto à legitimidade ou ilegitimidade da convocação .
Estatui o Decreto-lei n. SS1, art. 22: “A fiscalização dos três Ministérios será exercida
gratuitamente, sem ônus de quotas de fiscalização e honorários de fiscais, excetuando-se, porém,
dessa gratuidade, as cooperativas de crédito urbano, de construção e seguro e suas respectivas
federações”, que pagarão taxa mensal, de conformidade com os regulamentos baixados pelos órgãos
fiscalizadores.
Diz-se no Decreto-lei n. 581, art. 23: “Fica o govêrno autorizado a estabelecer acôrdo ou a delegar
poderes aos Estados para os serviços de fiscalização de que trata o presente decreto-lei”. A
delegação de poderes, ai, é permitida, porque não se trata de delegação por um Poder estatal
federal a outro Poder estatal federal, mas sim pelo Poder Executivo federal ao Poder Executivo
estadual.
Segundo o Decreto-lei n. 581, art. 24, “às cooperativas que não observarem as regras jurídicas do
decreto-lei são aplicadas multas”. Acrescenta o § 1.0: “A Diretoria de Organização e Defesa da
Produção” (hoje, o Serviço de 1
Economia Rural), “nos casos de infrações reiteradas de lei e de disposições das cooperativas por
iniciativa própria, se se tratar de cooperativas sob a fiscalização do Ministério da Agricultura, ou por
solicitação dos demais órgãos fiscalizadores, se se tratar de cooperativas fiscalizadas pelo Ministério
da Fazenda e pelo do Trabalho, Indústria e Comércio” (hoje, Ministério do Trabalho), “ficando
impedidas as mesmas de funcionar, até que seja substituida a sua administração”. E o § 2.0: “As
multas que não forem pagas administrativamente serão cobradas por executivo fiscal”.
Estabelece o Decreto-lei n. 581, art. 25: “Para atender às despesas de propaganda, assistência e
fiscalização das cooperativa, serão consignados, anualmente, no orçamento das repartições
fiscalizadoras os créditos necessários”. Acrescenta o parágrafo único: “A renda proveniente das
taxas previstas no art. 22 será aplicada no custo da fiscalização das cooperativas de crédito urbano,
construção, seguro e respectivas federações”.
Estatui o Decreto-lei n. 581, art. 26: “Ficam revogados os Decretos ns. 23.611, de 20 de dezembro
de 1933, e 24.647, de 10 de julho de 1934, e revigorado o Decreto n. 22.239, de 19 de dezembro de
1932 com alterações no art. 2.0, letras ti) e i) no ad. 49, n. 4; no art. 6.0, § 5.0; no art. 70, letra /0,
e § 29; no art. 13; no art. 14; no art. 30,
§ 39, letra d) ; e no art. 34; tôdas decorrentes dêste decreto-lei e mais as seguintes: a letra f) do art.
29 é assim redigida: “Distribuição de lucros ou sobras proporcionalmente ao valor das operações
efetuadas pelo associado com a sociedade, podendo ser atribuído ao capital social realizado um juro
fixo, não maior de 12% ao ano, prêviamente estabelecido nos estatutos, ou ausência completa de
distribuição de lucros”; 2~a, O § 19 do art. 6.0 passa a ter a seguinte redação: “As sociedades
cooperativas devem unir à sua denominação particular a palavra “cooperativa”, em todos os seus
atos~ documentos, fórmulas e prospectos”; g~a, será permitida às cooperativas agrícolas, com
exceção das de crédito, a criação de agências, fora da área de ação para os seus serviços (art. 79,
letra b) ; 4,a, poderão as cooperativas de seguro admitir, como associados, pessoas jurídicas (ad. 79,
§ 29)
os §§ 39 e 40 do art. 13 ficam redigidos assim: “§ 39) Nos Estados em cuja capital não houver
Junta Comercial, o oficial de registo fará a remessa das duplicatas dos documentos ao Departamento
Nacional de Indústria e Comércio”. “§ 4.o) Nas capitais dos Estados onde houver Junta Comercial,
nestas se fará o arquivamento e, no Distrito Federal, no Departamento Nacional de Indústria e
Comércio”. Hoje, no Serviço de Economia Rural.
Estatui o Decreto n. 43.552, art. 3.~: “No caso de encontrarem os funcionários da fiscalização
graves irregularidades comprovadas, o diretor do Serviço de Economia Rural decretará a
intervenção na Cooperativa, designado o interventor, que terá os poderes de cautelosa
administração, até substituição dos administradores, a serem eleitos, em assembléia geral”.
Diz-se no Decreto n. 43.552, art. 4.0: “Em caso de intervenção, o interventor da Cooperativa, de
ordem do diretor do Serviço de Economia Rural, sanadas as irregularidades, convocará a assembléia
geral para substituição da Diretoria, ou providenciará, se fôr o caso, a cassação do registo, nos
termos, respectivamente, dos arts. 21 e 24, §
Estabelece o Decreto n. 43.552, art. 59: “O Serviço de Economia Rural poderá delegar suas
atribuições, de modo geral ou em cada caso, aos órgãos técnicos dos Estados”.
§ 5.255. Livros obrigatórios
1. PREcISõEs. Os livros não se confundem com ou autos, ou, melhor, as atas, que se lavram com a
versão do que se passou nas sessões da assembléia geral, ou dos outros órgãos . Os livros de que
aqui se fala são os livros internos, livros que entram no fundo de empresa, e não os livros de
cartórios ou de alguma repartição pública em que se tenham de registar atos dos sócios ou da
própria sociedade. Alguns livros de sociedades são livros em que se registam fatos que se ligam à
vida social. A eficácia de tais registos nem sempre é suficiente em relação a terceiros, porque não
são públicos êsses registos.
2. DECRETO N. 22.239, ART. 16. Estabelece o Decreto n. 22.239, art. 16: “Haverá na sede social de
tôda sociedade cooperativa, sob a guarda da administração, um livro, denominado “Livro de
matrícula dos associados”, sempre patente a qualquer dêles, no qual será transcrito o ato
constitutivo da sociedade e constará: 1.0, o nome por extenso, idade, estadC civil, nacionalidade,
profissão e domicílio de cada associado; 2.0, a data de sua admissão e, oportunamente, a de
demissão ou exclusão; 30, a conta corrente respectiva das quantias entradas, retiradas ou
transferidas por conta de sua quota-parte de capital”. Acrescenta o § 1.~: “Além do “Livro de
matrícula dos associados”, a sociedade deverá possuir os livros necessários a uma boa
contabilidade, entre os quais, obrigatôriamente, o “Diário”, o “Razão”, o “Caixa”, o “Copiador de
correspondência”, o de “Inventário e balanço” e o de “Atas das reUniões da assembléia geral e da
administração”, podendo ser, por conveniência, retinidos ou desdobrados”. E o § 2.0:
O Livro de Matricula é livro de documentação Interna. O ato constitutivo foi registado, com o que
adquiriu publicidade e deu personalidade à sociedade cooperativa. A transcrição no Livro de
Matrícula é ato inicial da documentação interna. Além dessa transcrição, do Livro de Matrícula há
de constar tudo mais que o art. 16 do Decreto n. 22.239 enumera.
Além do Livro de Matrícula, a sociedade cooperativa tem de ter os outros livros mencionados. A
respeito dêles incidem as regras jurídicas sobre prova que as leis estabelecem quanto aos livros
comerciais.
Diz-se no Decreto n. 22.239, art. 36: “Para todos os delitos dêste decreto-lei são consideradas
cooperativas centrais aquelas fundadas nas capitais dos Estados ou cidades que constituem
mercados de exportação de produtos ou centros de zona econômicamente dependente, com objetivo
de promover a defesa integral de determinado produto ou produtos, em regra, destinados à
exportação”. Acrescenta o § 1.0: “São também consideradas cooperativas centrais: 1. Os bancos
centrais populares, nas mesmas condições de sede, que visem a financiar cooperativas de
determinada espécie ou tipo que se encontrem instaladas dentro de sua área de ação; II.
Os bancos centrais agrícolas que, ainda nas mesmas condições de sede, tenham por objeto financiar
um ou mais determinados produtos agrícolas, diretamente aos lavradores, ou por intermédio das
cooperativas locais, caixas rurais e bancos agrícolas municipais”. E o § 2.0: “As cooperativas centrais
podem-se constituir, indistinta e cumulativamente, entre cooperativas da mesma ou de diferentes
espécies, ou entre elas e associados singulares”.
E o § 3.0: “A área de ação das cooperativas centrais pode abranger o território de um Estado ou uma
região limitada a um certo número de municípios ou ainda estender-se a mais de um Estado”.
Lê-se no Decreto n. 22.239, art. 37: “As sociedades cooperativas, exceto as centrais, podem
constituir entre si nova sociedade cooperativa, em forma de federação, observando em seus
estatutos tudo quanto se dispõe no presente decreto, no que lhes fôr aplicável, mas sendo-lhes
proIbido admitir como associados pessoas naturais e outras coletividades, federadas que não sejam
cooperativas da mesma espécie e tipo”. Acrescenta o parágrafo único: “As federações têm por fim:
a) organizar em comum os serviços das cooperativas federadas ou fruir outras vantagens ou
interesses comuns; b) regular as transferências dos associados de uma para outra cooperativa
federada; e) permitir, em casos especiais, que os associados de uma cooperativa federada se
utilizem dos serviços de outra também federada; d) manter um serviço de assistência têcnica
permanente e de inspecção da gestão e da contabilidade das cooperativas federadas; e) tutelar e
representar as cooperativas federadas perante os poderes públicos”.
Estabelece-se no Decreto n. 22.239, art. 39: “As cooperativas de natureza civil, conforme a
enumeração do artigo 1
anterior, e as de caráter mercantil que não distribuam dividendos aos associados proporcionalmente
ao capital, gozam de isenção do impôsto sobre a renda, não se considerando dividendo o juro fixo a
que se refere a alínea 1) do art. 2.0”.
Está no Decreto n. 22.239, art. 40: “As cooperativas que dora em diante se constituírem, gozarão de
isenção do impôsto federal de sêlo para seu capital social, seus atos, contratos, livros de
escrituração e documentos
1. PRECISÕES. Uma vez que se enunciam como fundamentais o principio da estruturação equitativa
da sociedade cooperativa, o principio da pessoalidade do quórum e da votação e o principio da
igualdade do voto pessoal, a assembléia geral é órgão essencial das sociedades cooperativas.
O que é essencial é que se pense no órgão básico, que é a assembléia geral, na diretoria e no órgao
de fiscalização . A propósito da possibilidade de diretores estranhos à sociedade cooperativa. o ari.
14 do Decreto-lei n. 581 afastou-a, só permitindo “gerentes técnicos ou comerciais” Se algum dêsse
tem poderes externos, são poderes de representação, e não poderes de presentacão .
“Para as deliberações, cada associado tem direito a um voto, qualquer que seja a sua Participação
no capital”. O
art. 12 é ius cogens. Os estatutos não podem estabelecer outro modo de contar.
A forma da convocação pode ser preestabelecida nos estatutos. Se o não foi, entende-se que há de
ter publicidade em jornal oficial.
Para que a convocação possa não conter a matéria sobre que se há de deliberar, é preciso que o
permitam os estatutos.
Se a matéria escapa ao art. 43 do Decreto n. 22.239, a deliberação pode ser por maioria absoluta,
ou, em segunda convocação, por maioria dos sócios presentes, salvo se diferentemente se disse nos
estatutos. Podem êsses exigir, para qualquer matéria que aponte, a extraordinariedade e qualquer
número de votos favoráveis. O art. 43, êsse, é ius cogen.s.
Mesmo se a sociedade cooperativa está em fase de liquidação, só a assembléia geral pode deliberar
sobre a ação de responsabilidade dos diretores e outros órgãos que os estatutos criaram. Também
lhe incumbe, a qualquer momento, a destituição dos diretores ou de outros órgãos .
O Decreto-lei n. 581, art. 11, ~ 3.~, permitiu as chamadas assembléias de delegados, que é uma das
espécies de assembléias separadas, mas da assembléia de categoria, que é outra espécie, não
cogitou. Lê-se no art. 11, § 3.0:
“Quando o número de associados de uma cooperativa exceder de 1.500, será permitida a eleição de
delegados para as assembléias gerais, observado o limite de representação fixado no parágrafo
anterior”.
Discute-se se o voto, para as matérias que escapam ao art. 43 do Decreto n. 22.239, pode ser por
meio de correspondência. Não há regra jurídica que o permita, ou que o vede; mas há
inconvenientes (e. g., falta da co-presença dos sócios e da discussão) e em verdade a legislação não
acolheu tal afastamento dos contratos sociais.
Não há suspensão do direito de voto, salvo se os estatutos prevêem falta de pagamento de parcelas
da quota do sócio (cf. Decreto n. 22.239, art. 7$ h), ou o caso é de conflito de interesses entre a
sociedade cooperativa e o sócio (por exemplo, há ação do sócio contra a sociedade e a deliberação é
sobre essa matéria).
razão a destituição, ou de ser dependente de apreciação judicial a destituição por justa razão.
No direito brasileiro, cada sócio somente pode ter um voto (Decreto n. 22.239, art. 2.0, e),
2 a parte, e li), e
Decreto-lei n. 581, art. 12, parágrafo único), à diferença de outros sistemas jurídicos que têm o
princípio como ius dispositivum Q~ estatutos não podem inserir cláusula em contrário. Os sócios
presentes, que não votaram, não podem ser considerados para se determinar qualquer maioria, ou
outra votação.
4. ASSEMBLÉIAS GERAIS ExmÂOÍWINÂRIAS Estatui o Decreto n. 22.239, art. 43: “Só podem ser
tomadas por uma assembléia geral extraordinária, convocada especialmente para êsse fim, as
deliberações que versarem sobre: 1, a reforma dos estatutos; II, a prorrogação do prazo de duração;
III, a mudança de objeto da sociedade; IV, a fusão com outra cooperativa; V, a dissolução da
s.ociedade; VI, a nomeação de liquidante”. Acrescenta o §
1.0: “Tais deliberações devem reunir a favor dois terços dos associados presentes à reúnião que, em
primeira convocação, deve constituir-se por dois terços da totalidade dos associados, ou, em
segunda, com a metade e mais um, ou finalmente, em terceira, com qualquer número”. E o § 2.0: “A
simples reforma de estatutos não envolve mudança de objeto, nem prorrogação do prazo de duração
da sociedade, as quais, quando motivo de deliberação, devem figurar taxativamente expressos na
ordem do dia de convocação”. E o § 3.0:
Para reforma dos estatutos, a lei brasileira não faz pressuposto necessário a unanimidade dos sócios
(e. g., o Código suíço das Obrigações, art. 682, que, aliás, é ius dispositivum, cf. L. RIiidnHoFna,
Beitrãge zum Schweizerisehen Genossen-. schaftsrecht, 46). O art. 43, 1, apenas exige a assembléia
geral extraordinária e o §
1.0 cogita do número mínimo de votos favoráveis. As normas estatutárias podem dificultar a votação
das emendas, não atenuar o que se estabelece no art. 43, § 1.0. O oficial do registo não tem
atribuição de examinar se, para a reforma, foi observado o art. 43, § 1.0. Para o registo não épreciso
que o requerimento seja assinado por todos os sócios.
Pode o ato constitutivo e podem mesmo os estatutos considerar irreformáveis a êsses (art. 6.0,
inciso 15).
A maioria não pode suprimir direitos individuais dos sócios (e. g., tornar pessoalmente responsáveis
os sócios, mesmo limitadamente, se responsáveis pessoalmente não eram; desi
gualizar os sócios, inclusive quanto a votos (cf. ALBERTO Viam, Diritti individuati degli azionisti, 30
5.; GIUSEPPE D‟ONADIO, .11 Recesso dei ao cio per te modifiche etatutarie, 11 s.). Quanto às
matérias do art. 7?
Está no Decreto n. 22.239, art. 44: “As sociedades cooperativas constituídas durante a vigência do
Decreto n.
1.637, de 5 de janeiro de 1907, poderão continuar a reger-se por seus estatutos; mas não lhes é
permitido reformá-los, nem prorrogar o prazo de sua duração, sem que observem os dispositivos do
presente decreto”.
Acrescenta o parágrafo único: “As mesmas sociedades, para poderem gozar das faculdades e dos
favores e isenções de impostos de que trata o presente decreto,
precisam modificar seus estatutos naquilo em que possam contravir às suas disposições”.
1.DIREÇÃO. A sociedade cooperativa há de ser direção e quem a presente nas relações com
terceiros e judicialmente.
A lei estatui sobre o número mínimo de pessoas que dirigem. Podem ser três ou mais; não podem ser
duas nem uma so. No Decreto n. 22.239, art. 6.0, inciso 9.~, alude-se à “maneira como os negócios
sociais serão administrados e fiscalizados, estabelecendo os respectivos órgãos e definindo-lhes as
atribuíções com clareza e minúcia”. O art. 6.0, inciso 14, exige nos
estatutos cláusula sobre “quem representa” leia-se: presenta “a sociedade, ativa e passivaniente,
nos atos judiciais e extrajudiciais”. A diretoria, é órgão necessário, como o é a assembléia geral. 1-lá
de haver conselho de sindicância ou de fiscalização (Verwaltungsrat), ou conselho fiscal, como é
possível que haja outro órgão ou outros órgãos. Têm-se de afastar raciocínios que se prendem a
sistemas jurídicos, que, desacertadamente, não têm como órgão necessário a assembléia geral. O
art. 43 do Decreto n. 22.239 alude a assembléia geral extraordinária, como o art. 2?, e), à
assembléia geral, ordinária ou não, e o art. 15 à assembléia gera] ordinária.
Se os estatutos não disseram qual o membro da diretoria que presenta a sociedade cooperativa, é
exigido que todos assinem quando haja qualquer ato de presentação. Os estatutos podem permitir
ou determinar que um só assine, ou que a~s:nem dois ou mais. Tal princípio não se estende aos que
da diretoria receberam podéres de representação. Quanto a êsses, regem os princípios
concernentes à outorga de representação ou ao contrato de mandato.
A diretoria é responsável pelos pressupostos formais e registários dos livros e das atas e processos
verbais no tocante a deliberações por ela, ou por outros órgãos da sociedade cooperativa. Se o
órgão funciona isoladamente, responsável, em primeiro plano, é quem o preside, mas isso não afasta
a responsabilidade da diretoria, ou do seu presidente, pela guarda e regularidade dos livros, atas e
processos, que tenham de chegar ao seu conhecimento.
Ao Decreto n. 22.239, ad. 14, que permitia estranhos na diretoria, foi atingido pelo Decreto-lei n.
581, art. 14, que estabeleceu: “As cooperativas serão administradas por três ou mais mandatários,
associados, eleitos em assembléia geral, para um mandato não excedente de três anos, permissível a
reeleição e a destituIção dos administradores”. Acrescenta o parágrafo único: “Os gerentes técnicos
ou comerciais poderão ser associados ou não e perceber, além da remuneração contratual, uma
percentagem »ro labore, não excedente de 5% dos lucros líquidos e equivalente no máximo, ao
ordenado anual”.
Os §§ 1.0, 2.0 e 3? do art. 14 do Decreto n. 22.239 não foram derrogados. Assim, os administradores
não são responsáveis, pessoalmente, pelas dívidas que em nome da sociedades cooperativa são
assumidas; mas respondem, solidàriamente, pelos prejuízos resultantes dos seus atos se, dentro das
suas atribuições , procedem com dolo ou culpa, ou se violam lei ou estatutos (§ 1.~). Quanto a êsses
atos, a sociedade cooperativa somente é responsável se os ratificou, ou dêles tirou proveito (§ 2.0).
Os que tomarem parte em ato ou operação social em que ocultem ser cooperativa a sociedade,
podem ser responsabilizados pelas dividas assumidas (§ 3.~).
A sociedade cooperativa pode ter, junto à diretoria comissão de administração, com poderes de
deliberação dentro das regras estatutárias.
Os órgãos facultativos não são inscritos no registo (e. g.‟ os gerentes técnicos ou comerciais, de que
trata o art. 14, parágrafo único, do Decreto-lei n. 581).
Para que a sociedade cooperativa se vincule, é preciso que se hajam respeitado as regras jurídicas e
estatutárias sobre fundo e forma.
Subentende-se que a sociedade cooperativa não pode tratar com o próprio membro da diretoria.
Em princípio, supóe-se que todos os atos-fatos, atos jurídicos atricto sensu, negócios jurídicos e
fatos jurídicos stricto sensu lícitos, que cabem na finalidade da sociedade cooperativa podem ser
praticados pela diretoria. O fim da sociedade há de constar, com explicitude, dos estatutos, porque é
uma das exigências principais. Se algum ato pode atingir direitos de sócios, como acontece se a
sociedade cooperativa necessita, por seu fim, de medidas contra os sócios (boicote, penas
convencionais), há o problema técnico da elaboração dos estatutos no tocante a êsses pontos.
Todavia, perante terceiros, se a diretoria pratica ato mesmo ilícito que esteja no círculo da atividade
social, o ato reputa-se ato da sociedade cooperativa, se não foi afastado, pela diretoria, que fôsse em
nome dela. Os terceiros 4
de boa fé são sempre protegidos. O que se há de supor é que o terceiro conhece o fim social..
Entenda-se, porém, 8
que as cláusulas estatutárias que exigem aprovação ou iniciativa de outro órgão, ou de outros
órgãos, são 5
consideradas como atendidas pela diretoria, sem que possa ser alegada, eficazmente, contra o
terceiro, a falta ocorrida.
Quando os sócios são pessoalmente responsáveis pelos atos e dívidas da sociedade cooperativa, tem
a diretoria de comunícar-lhes a admissão de novos sócios, pôsto que a entrada, devido à eficácia
constitutiva do registo, se dê no momento da inscrição no livro de matrícula. Qualquer
cancelamento do registo tem de ser comunicado, como foi o registo.
3. ADMINISTRAÇÃO. Nem sempre quem administra dirige. Dirigir é mais do que administrar. Os
diretores têm de ser sócios; os administradores, que não dirigem, êsses, podem ser estranhos.
O administrador pode administrar sem representar, como pode administrar com função
primacialmente representativa. Não pode presentar, porque então teria de ser diretor com poderes
de presentaçao seria órgão, ou o mentor do órgão que poderia presentar conforme as leis e os
estatutos.
4.CONSELHO FISCAL. Lê-se no Decreto n. 22.239, art. 15: “Tôda sociedade cooperativa deverá ter
a sua gestão assistida e controlada por um conselho de sindicância, comissão de contas, ou conselho
fiscal conforme preferirem os estatutos de três ou mais membros efetivos e suplentes em. igual
núcleo , nomeados pela assembléia geral em sua reunião . ordinária anual, com mandato por um
ano, sendo permitida ~ reeleição para o período imediato”. Acrescenta o parágrafo único: “A êste
órgâo colateral da administração compete assídua fiscalização e, principalmente: a) examinar livros,
documentos e a correspondência da mesma, e fazer os inquéritos de qualquer natureza; b) estudar
minuciosamente o balancete mensal da escrituração e verificar o estado da caixa; e) apresentar à
assembléia geral anual o parecer sobre os negócioS e operações sociais, tomando por base o
inventario, o balanço e as contas do exercício; d) convocar, extraordinariamente, em qualquer
tempo, a assembléia geral, se ocorrerem motivos graves e urgentes”. No art. 15, fala-se de
nomeação pela assembléia geral, em reunião ordinária anual; mas as primeiras nomeações podem
constar do ato constitn tiro.
5. OUTROS órgãos . A direção da sociedade cooperativa, por pessoas que a presentem, ou, se eia
tem presidente-sócio, eleito, que a representem, é exigência legal. O fato de se permitir que pessoas
estanhas façam parte da administração não as torna “representantes”: a afastabilidade a líbito
mostra que a assembléia geral é que dirige, ou controla, através da diretoria ou grupo de
administradores. O conselho fiscal, que pode ter êsse, ou outro nome, é órgão necessário. Mas há
outros órgãos que podem ser criados pelo ato constitutivo; por exemplo, o conselho para decidir
sobre questões que surjam entre a sociedade e os sócios, ou entre sócios, se relativas à relação
jurídica social. Os membros são escolhidos pela assembléia geral. A competência pode ir até as
questões entre sociedades cooperativas federadas, ou entre sociedade cooperativa federada e
federação de sociedades cooperativas. A atribuição pode ser facultativa (o conselho funciona como
árbitro escolhido) ou obrigatória.
“demissão”), a exclusão ou a morte. A dissolução rege-se pelos arts. 6.0, incisos 10 e 12, e art. 48,
3/, e § 1.0.
Diz o Decreto n. 22.2,39 art. 6.0, § 7.~: “É facultado estipular que cada associado pague uma jóia de
admissão, não excedente de cem cruzeiros, destinada a construir ou a reforçar o fundo de reserva,
ou a atender às despesas de instalação da sociedade”. Acrescenta o § 8.0: “É lícito dispor nos
estatutos que só poderão ser admitidos como associados pessoas de determinada profissão, classe
ou cooperação”. E o § 9.0:
“Os casos omissos nos estatutos e neste decreto serão resolvidos, supletívamente, sem prejuízo do
espírito da sociedade cooperativa pela legislação em vigor referente a sociedades em geral, ou pelos
princípios gerais de direito”. A quantia, que se fixou, está atingida pela desvalorização da moeda e
pode ser declarado o máximo, quer em ação declaratória, quer em qualquer ação em que se possa
levantar a questão. Ao juiz é dado atender à variação do salário mínimo ou a critério que a União
haja seguido, em virtude de lei, para a revalorizaçã0 dos seus próprios créditos.
Diz o Decreto-lei n. 581, art. 18: “Ao associado de uma cooperativa, que se atrasar no pagamento
das prestações das quotas-partes do capital a que se obrigou, será cobrado o juro de 6% pela mora e
retido o retôrno das sobras líquidas ou os juros computados, que lhe serão creditados por conta das
prestaç5es atrasadas”.
No estatutos é permitido estabelecer-se que somente podem ser admitidos como sócios pessoas de
determinada profissão, classe ou cooperação (Decreto n. 22.289, art. 6.0, § ~ Aliás, os fundadores já
têm de satisfazer tal pressuposto, que é subjetivo, mas, de regra, já se prende à finalidade objetiva
da sociedade cooperativa.
2.ADMISSÃO DE sócIo. A admissão supõe que a sociedade cooperativa preexistia à entrada do sócio.
Diz-se no Decreto n. 22.289, art. 17: “A admissão do associado se faz mediante sua assinatura no
“Livro de matrícula”, precedida da data e das declarações a que se refere o n. 1 do artigo antenor”.
Acrescenta o § 1.0: “O associado, uma vez inscrito no “Livro de matrícula”, entrará no gôzo pleno de
todos os direitos sociais e receberá, para comprovação, um título nominativo
-em forma de caderneta, contendo, além do texto integral dos estatutos, a reprodução das
declarações constantes da matrícula no livro e um certo número de páginas em branco para nelas
ser lançada a respectiva conta corrente de capital e lucros, se os houver”. E o § 2.0: “Essa
caderneta, título nominativo, será assinada pelo associado a que pertencer e pelo representante da
sociedade”. Não se trata de título-valor. Nem de título negociável nominativo.
A pessoa que deseja entrar na sociedade cooperativa tem de manifestar a sua vontade com a
assinatura no livro de matrícula. Ésse livro, por seu titulo e por sua destinação, contém
manifestação de vontade, como se fôsse escrito a que só faltasse assinatura. Tal suficiência não é
irrestringível pelos estatutos. tsses podem dizer como se admitem os sócios (Decreto n. 22.289, art.
6.0, inciso 61‟), como, por exemplo, exigir requerimento, acompanhado de documentação pessoal
(profissão, residência, número de quotas). Nada obsta a que se atribua à diretoria ou a outro órgão
examinar a manifestação de vontade, expressa no requerimento, e os documentos juntos. Se a
diretoria ou outro órgão nega a admissão (= a permissão para assinar o livro de matrícula), a
deliberação é suscetível de apreciação judicial.
8. RETIRADA DO 5ÓC10. Diz-se que se retira, ou se demite, o sócio que voluntâriamente deixa de
ser sócio.
Estatui o Decreto n. 22.289, art. 18: “A demissão do associado, concedida Únicamente a pedido
dêste, se torna efetiva por averbação lançada no respectivo título nominativo, e no “Livro de
matricula”, na mesma página dêste, com a data e as assinaturas do demissionário e do
representante da sociedade”. A referência a “título nominativo” não faz ação, ou, sequer, título
negociável o certificado da inclusão do sócio.
Lê-se no art. 18, parágrafo único: “Se o representante ~ recusar a averbar a demissão, procederá o
associado à notificação judicial, que, para êste fim, é isenta de sêlo”.
A retirada voluntária do sócio, dita demissão, não depende, em princípio, de qualquer apreciação
pelos órgãos da sociedade cooperativa. E a líbito do sócio. O que o art. 18 do Decreto n. 22.239,
chama “pedido” é, em vez de pedido, manifestaçã0 unilateral de vontade, de eficácia mediata
desconstitutiva: apresentada à sociedade cooperativa, acompanhada do certificado o empregado
encarregado do serviço, que há de ter substitutos regulares ou eventuais, tem de fazer,
imediatamente, a averbação no certificado e no livro de matrícula, com a assinatura do
demissionário e do preposto, que se tem como órgão da sociedade para isso, se os estatutos não
determinam que algum diretor haja de assinar (presentação da sociedade cooperativa). Nenhum
poder tem a diretoria para impedir 1
a averbação (L. SIEGMUND e Ii. LEFOLiT, Manuel du pose du Registre de Commerce, 839). A
manifestação unilateral de vontade pode ser oral.
A retirada (demissão, Decreto n. 22.289, art. 18) é manifestação unilateral de vontade, receptícia,
que há de ser averbada para ter eficácia, razão por que, se o órgão ou preposto da sociedade
cooperativa se recusa a averbar, a notificação judicial supre a averbação.
Os estatutos podem regular o “modo de demissão” dos socios (Decreto n. 22.289, art. 70, 6.0). Se
nada se disse, estatutariamente , é a líbito do sócio a retirada, porque assim se há de interpretar o
art. 18, que é ins dispositivum.
A solução contrária, que se sustenta na doutrina italiana (GIusrr~r VALER!, Manuale di Diritto
commerúiale, 1, 196; GUSTAVO MiNERVINI, Società mutualistiche, Rivista trimestrale di Di‟ritto e
Procedura civile, 1, 685; contra VITTORIO SALANDRA, Manuale, Manuale di Diritto commereiale, 1,
367; FRANCESCO FERRARA JIJNIOR, Gli Imprenditofl e le societâ,
2 a ed., 276). Os estatutos podem prever: as causas justas de retirada, o que importa o enchimento
de denúncia; e o procedimento para a sua eficácia, sem que se possa bilateralizar a manifestação de
vontade, pois qualquer exame é apenas para se saber se cabia ou não a retirada.
Se foi feita a notificação a que se refere o art. 18, parágrafo único, do Decreto n. 22.239, e não se
satisfez algum dos pressupostos estatutários, o caminho que tem a sociedade cooperativa ou
qualquer sócio é a propositura de ação declaratória da insatisfação, cuja sentença favorável negará
qualquer eficácia da notificação feita. Se foi feita averbação, a ação tem de ser constitutiva negativa,
prevalentemente, pôsto que se haja de declarar não ter sido satisfeito algum dos pressupostos.
A retirada do sócio pode ser subordinada à satisfação dos deveres perante a sociedade e a outras
exigências, porém não se pode pré-excluir a voluntariedade da demissão. Os estatutos têm maior
campo normativo para o regramento da entrada do que para o regramento da saída a líbito do sócio.
Não é vedada a cláusula de perda dos interesses ou benefícios e da própria quota se a retirada não é
ao tempo que se prevê para cada ano.
O sócio, que se retira, sem ter pago o que deve à sociedade pela entrada ou derivado de outra
origem, fica exposto às ações exercidas por terceiros contra a sociedade, ou em caso de concurso de
credores (civil ou falencial, conforme a espécie de sociedade cooperativa).
Os terceiros tem ação contra a sociedade e contra os sócios para cobrança sobre os valôres que
constam das publicações exigidas pela lei.
Se há justa causa para o sócio se demitir, tomo se foi chamado ao serviço militar e não pode prestar
trabalho na sociedade cooperativa de trabalho, basta a manifestação de vontade, com as provas,
respeitadas as exigências estatutárias, inclusive a responsabilidade até o fim do ano, ou até o
advento do termo ou o implemento da condição posta pelos estatutos.
Se há justa causa, a apreciação do enunciado de fato é pela sociedade cooperativa, ou pelo órgão a
que a tenha atribuído, ou pela Justiça. A decisão por essa é declaratória, ou constitutiva, conforme
resulte dos estatutos. Se houve denegação pelo órgão social, a decisão judicial contrária é
constitutiva negativa, quanto à deliberação do órgão, e não se pode negar a constitutividade
positiva, no tocante ao deferimento da retirada.
22.289, art. 19: “A exclusão do associado só poderá ser deliberada na forma dos estatutos e por fato
nêles previsto e será feito por termo assinado pelos administradores da sociedade, do qual
constarão tôdas as circunstâncias do fato; termo êsse que será transcrito no “Livro de matrícula” e,
sem demora, dêle remetida uma cópia do excluído, mediante registo postal”.
A pessoa que foi ilegalmente excluída e recebeu a cópia a que se refere o art. 19 do Decreto n.
22.239, ou não a recebeu, apesar da transcrição da deliberação excludente, tem ação contra a
sociedade cooperativa para que se decrete a nulidade de deliberação ilegal ou da transcrição sem
fundamento (falta da deliberação), ou de ambas.
Pode ocorrer que algum fato superveniente à admissão do sócio, ou à sua participação desde a
criação da sociedade cooperativa (sócio fundador), tenha tornado impossível ou incompatível a
participação, como se a qualidade de sócio supõe a cidadania brasileira e a pessoa a perdeu, ou se
deixou de ser trabalhador, ou produtor, 1
ou não mais tem domicilio na cidade ou no lugar em que co~1sum1ria. O art. 19 do Decreto n.
22.289 é invocável.
Trata-se de causa justa de demissão, mesmo se dela não cogitaram, explicitamente, os estatutos.
Se algum dos fatos preexistia à criação da sociedade cooperativa, ou à admissão do sócio, tem-se de
aplicar, por analogia, o art. 19 do Decreto n. 22.289, ou propor a ação de decretação de invalidade
da participação.
Nos casos de retirada, ou de exclusão por deliberação da sociedade cooperativa, o ad. 20, § 1.0, do
Decreto n.
22.239 rege a situação jurídica da pessoa. Se foi decretada nulidade da admissão do sócio, tem-se de
atender aos interesses de terceiros, de modo que a invocação por analogia se impõe.
5.MORTE DO SÓCIO. Com a morte, a pessoa deixa de ser sócio. A sucessão nos direitos do sócio não
transfere a qualidade de sócio da cooperativa. Tal qualidade não é terdável, nem transferível entre
vivos. Se, de acôrdo com os estatutos, em virtude de norma especial ou de observància das normas
concernentes à admissão de sócios, o herdeiro, o legatário ou o sucessor entre vivos entra na
sociedade cooperativa, tudo se passa como se se tratasse de terceiro, estranho a relações jurídicas
com o falecido.
No art. 2.0, d), o Decreto ix 22.289 diz que é vedada cláusula estatutária que permita transferir-se a
terceiro, estranho à sociedade cooperativa, mesmo a causa de morte, o direito de sócio, que é sobre
a sua quota; e no art.
20, § 2.0, estabelece que „os herdeiros têm direito à quota-parte do capital e lucros” do sócio
falecido, “podendo ficar sub-rogados nos direitos sociais do decidus se, de acôrdo com os estatutos,
puderem e quiserem entrar para a sociedade”. A expressão “sub-rogados” é infeliz. Não há sub-
rogação. < que se passa é que, se os estatutos permitem, o herdeiro ou legatário do de cujo pode
pedir, de acôrdo com os estatutos, que o admitam. Tudo se passa como se não se tratasse de
sucessor nos direitos. Os herdeiros têm direito a recebimento da quoba, não a ser sócio. Vale a
cláusula de inserção automática, que é a cláusula segundo a qual o herdeiro ou legatário se faz sócio
se o órgão competente da sociedade cooperativa delibera e comunica o ocorrido com prazo
estatutário para que o sucessor aceite ou não a investidura. Há, no fundo, oferta, e não invitação a
oferecer, pôsto que os estatutos possam ser explícitos em sentido contrário.
Com a morte, cessa a qualidade de sócio e não há transmissão da participação. O art. 20, § 2.0, do
Decreto n.
22.289 regula os direitos dos sucessores a causa de morte quanto àquota e quanto a lucros. Têm-se
como básicos o último balanço e a conta corrente. Fala-se de sub-rogação, mas a expressão não é
adequada. Ou o sucessor é investido da qualidade de sócio. por permitirem os estatutos a entrada e
ter satisfeito os requisitos, inclusive com a sua manifestação de vontade; ou não pode ou não quer
ser admitido.
1. CONCEITO E NATUREZA. O fundo de reserva distingue-se do capital social, por sua destinação.
Nas sociedades cooperativas, pode existir sem que exista capital social, pois a lei brasileira admite
que as sociedades cooperativas se constituam e funcionem sem capital social. Nas sociedades
cooperativas, pode ser inserto, no ato constitutivo ou nos estatutos, que os sócios têm de preencher
o que vai além da destinação ordinária que é a de cobrir perdas verificadas no balanço, ou a de
lnversao em melhoramentos e renovação (cf. ALEXKNDER
Se há repartição dos benefícios, os estatutos têm de referir-se a ela, bem como ao modo de computá-
los.
2.DESTINAÇAO DO FUNDO DE RESERVA. Lê-se no Decreto n. 22.289, art. 90: “O fundo de reserva
é destinado a repaxar as perdas eventuais da sociedade, e como tal deverá ser aplicado, pelo menos
50%, em títulos de renda de primeira ordem, fâcilmente disponíveis, os quais deverão ter na
escrituração conta especial”. A destinação é à cobertura das perdas eventuais da sociedade. Isso
não afasta que se crie outro fundo, como o fundo de melhoramento. Os títulos de renda, a que se
refere o art. 9.~, são ações de empresas, ou títulos de crédito, inclusive estatais.
CAPÍTULO II
VALIDADE E EFICÁCIA DO CONTRATO PLURILATERAL DE SOCIEDADE COOPERATIVA
1. CAPACIDADE E QUALIDADES EXIGIDAS. Além da capacidade para ser sócio, são exigidas as
qualidades que hão de ter os que têm de cooperar, inclusive o que justifique a participação
cooperativística. Quanto a menores, relativamente incapazes, e a mulheres casadas, cf. art. „79, §
1.~, do Decreto n. 22.239. Quanto a pessoas jurídicas, art. 7.% § 2.~.
3.FORMA. O art. 6.0 do Decreto n. 22.239 permite a ata de constituição da sociedade cooperativa,
se foi por deliberação da assembléia geral dos fundadores, ou o instrumento particular, assinado
pelos fundadores e subscrito por duas testemunhas (Código Civil, art. 185), ou a escritura pública.
Pode constar de ato estatal a sociedade cooperativa criada pelo Estado.
2.DEVERES DOS sócios . Os sócios têm de prestar: a) a quantia ou os bens que prometem; b)
responder, conforme resulta da falta de cláusula estatutária, ou se regular em cláusula estatutária.
4.RESPONSABILIDADE PESSOAL DOS SOCIOS POR FÔRÇA DOS ESTATUTOS. Diz-se no Decreto n.
22.289, art. 10: “A responsabilidade dos associados, para com terceiros, pelos compromissos (1) da
sociedade, quando estabelecida, é sempre subsidiária, segundo a forma por que foi determinada nos
estatutos; e perdura ainda, para o associado demissionário ou excluído, durante dois anos após a
sua retirada da sociedade, contados da data da demissão ou exclusão, nos limites das condições com
que foi admitido e em relação somente àqueles compromissos contraídos antes do fim do ano em
que se realizou a demissão ou exclusão”. Acrescenta o parágrafo único: “As obrigações do associado
falecido, contraídas com a sociedade antes de sua morte, bem como aquelas oriundas de sua
responsabilidade, como associado, em face de terceiros, pelos compromissos (!) sociais contraídos
antes da data em que se deu o
óbito, passam aos herdeiros; mas a responsabilidade cessa imediatamente e as ditas obrigações
prescrevem, dentro de um ano a contar do dia da abertura da sucessão”.
O Decreto n. 22.289, art. 10, afastou a responsabilidade solidária dos sócios, que o direito anterior
estabelecia (cf.
No caso de responsabilidade pessoal dos sócios, tal corno resulta da cláusula estatutária prevista no
art. 10 do Decreto n. 22.289, cabe saber-se qual a estrutura jurídica dessa responsabilidade. ~Há
pluralidade de deveres e de obrigações (da sociedade cooperativa e dos sócios), ou unicidade de
deveres e de obrigações, por serem acessórios os deveres e obrigações dos sócios? Ou se entende
que os sócios assumiram os deveres E.BLArPNER (Dii Retst‟erhxillnse der Mii glieder in der e as
obrigações, ou que assumiram deveres e obrigações para ocaso de não bastarem os bens sociais. Cf.
L. KIRCRHoFFn~ (Beitrãge zum Schweizerischen Genossenschaftsreeht, 82 s.) e
Wirtschaftsgenossensckaf 1, 146 s.). Não se confunde tal responsabilidade com a do sócio na
sociedade em
do sócio-gerente na soou a suspensão a repercussão na obrigação dos outros (E. HLATTNER, Die
RechtsverMltnisse der Mii glied,er in der R‟rwerbs- und Wirtsehaftsgenossensehaf 1, 171 s.).
-Discute-se se vale a cláusula de restrição da responsabilidade pessoal. Por ela, supõe -se
estabelecida, explícita ou implicitamente, a responsabilidade pessoal, mas somente até certa parte a
mais da quota do sócio, ou somente até determinada quantia além do capital da sociedade
cooperativa. A resposta ~ afirmativa. Sem razão, L.
Se há responsabilidade pessoal, para sócio, que se retira, ou que é excluído, ou persiste a vinculação
a respeito de tôdas as dívidas anteriores e de tôdas as que nasceram dentro do ano em que se deu a
retirada, ou a exclusão. Mas a responsabilidade pessoal tem duração limitada, temporalmente, por
lei: dois anos. O Decreto n. 22.289, art. 10, fala de responsabilidade pessoal “durante dois anos após
a sua retirada da sociedatie, contados da data da sua demissão ou exclusão”. Como se trata de prazo
para efeitos contra terceiros, havemos de entender que o prazo só se inicia com o registo da
retirada ou exclusão. Trata-se de prazo preelusivo.
Os prazos de que falam o art. 10 e o parágrafo único do Decreto n. 22.289 não podem ser alterados
pelos estatutos.
Os credores pessoais do sócio de modo nenhum tem ação sobre os bens reais e pessoais da
sociedade. O que lhes toca é a pretensão a medida cautelar ou executiva sobre o que, em caso de
liquidação, lhe caiba ou sobre os dividendos e outros quaisquer interesses.
No direito brasileiro, não se pode pôr em dúvida que o art. 10 somente permite a responsabilidade
limitada, ou a ilimitada, ou a irresponsabilidade de todos os sócios. Não seria possível a adaptação
às sociedades em comandita.
O art. 10 do Decreto n. 22.239 não cogitou do dies a qua em relação a terceiros, de modo que, de
lege lata, o prazo preclusivo da responsabilidade do ex-sócio corre do dia da saida. Todavia, o dia da
saída é o da transcrição do termo de exclusão no livro de matrícula (art. 19), ou o da averbação da
retirada (art. 18), ou o da notificação do órgão da sociedade cooperativa, que se recusou à
averbação (art. 18, parágrafo único).
5.RESPONSABILIDADE DOS ADMINISTRADORES. Diz o Decreto n. 22.239, art. 14, ~ 1.0: “Os
administradores, pessoal mente, não serão responsáveis pelas obrigações que, em nome da
sociedade, contraírem; mas responderão, solidàriamente entre si, pelos prejuízos resultantes de
seus atos, se, dentro de suas atribuições, procederem com dolo ou culpa, ou se violarem a lei ou os
estatutos”. Acrescenta o § 2.0: “A sociedade não responderá pelos atos a que se refere a segunda
parte do parágrafo anterior, a não ser que os tenha vàlidamente ratificado, ou que dêles haja tirado
proveito”. E o § 3.0: “Os que tomarem parte em um ato ou operação social em que se oculte a
declaração de que a sociedade é cooperativa, poderão ser declarados pessoalmente responsáveis
pelos compromissos contraídos pela sociedade”.
ra
CAPÍTULO III
Na lei alude-se a alterações ao ato constitutivo e aos estatutos. A transformação importaria mais do
que isso, pois, em vez de supor extinção, seguida de criação de outra empresa, implica a
continuidade a despeito da mudança de estrutura. Nada tem êsse problema com o da transformação
de sociedade cooperativa, no tocante à responsabilidade dos sócios (e. g., transformação de
sociedade cooperativa, de responsabilidade ilimitada, em sociedade cooperativa, de
responsabilidade limitada). A êsse a resposta somente há de ser positiva. Quanto aos outros dois,
não. Vejamos os argumentos pré e contra a afirmação de se poder transformar em sociedade
ordinária a sociedade cooperativa e vice-versa.
2.DUAS SOLITÇÕES EM CONFLITO. Uma das opiniões sustenta que a assembléia pode modificar o
ato constitutivo. Sim; porém modificar até o ponto em que se não desconstitua 1
o que se constituiu, porque então se dissolve, se extingue, o que se constituíra. Se há mudança total
no objeto social, ou se a sociedade deixa de ter a mesma causa, ou passa a tipo estrutural de
sociedade especial, ou deixa de ser do tipo estrutural da sociedade especial, não se pode falar de
modificação. Seria dar-se ao quórum e à maioria poder para “mudar” o negócio juridico em negócio
juridico essencialmente diverso. S insustent.ável que o poder de transformar a sociedade consista
em transformá-la, ou em extingui-la pondo outra no lugar da que se extinguiu, porque seria
eliminar-se o abismo no tempo que, por mínimo que tenha sido, existiu. Ali, não há sucessão; aqui,
há. A transformação, no tocante ao tipo de sociedade, só é possível se há homogeneidade de tipo;
portanto, se é dentro do tipo. Se estão em exame dois tipos heterogêneos, um se extingue e outro
nasce. Se há regra jurídica que trate diferentemente a criação de duas pessoas jurídicas, não há
transformabilidade de uma na outra. A sociedade cooperativa não é uma das sociedades ordinárias,
nem é sociedade capitalística. Há diferença quanto à causa, quanto à estruturação e quanto à
tipicidade. A assembléia geral, que tem de respeitar a causa do negócio jurídico de que resultou a
criação da sociedade cooperativa, não poderia ir até aí.
Tem-se falado de “reinvestimento”, conceito puramente econômico, e não jurídico, que de modo
nenhum serviria à solução dos problemas de transformação. Também de “conversão” da deliberação
nula, o que se bá de repelir de todo. Se se extinguiu uma sociedade e outra se criou, não há
problema. Se houve nulidade do ato transformativo, não houve extinção, porque, se válido tivesse
sido, também não extinguiria.
Não se pode excluir o sócio que não queira concorrer para o aumento do capital.
São afastadas as modificações que tornem impossível a continuação de sócios, como a mudança de
sede que retira todo interesse de alguns sócios ou de algum sócio em continuar na sociedade, salvo
unanimidade de deliberação.
Em princípio, a mudança de tipo depende da deliberação por maioria da assembléia geral que
poderia extinguir (cf. NICOLA GASPERONI, La Tractormazione deite societá, 225 s.) mas porque em
verdade sempre se dão a extinção e a criação de nova sociedade.
Observe-se que elementos de legislação tributária não podem servir para se responder a problemas
sobre transformação de sociedades (cf. GINO BEnTO, Studi prehmiiiatt suila trasformttzione delie
societá, 68; A.
A lei brasileira (Decreto n. 22.239, art. 43, ~ 32) foi feliz ao estatuir: “A deliberação visando a
mudança de forma jurídica da sociedade importa em dissolução da mesma e subseqiien~e
liquidação”. “Forma” está, aí, por estrutura ou tipo.
a) A propósito da deliberação dissolutiva, cumpre advertir-se quanto à explicitude do art. 48, § 3,0,
do Decreto n.
22.239, art. 5,0), ou nos estatutos (art. 6.0, inciso 3.0), ou em reforma dos estatutos. Tal reforma é
sujeita a deliberação da assembléia, de acôrdo com os próprios estatutos que hão de ser registados.
Se ocorre prorrogação, a dissolução não se dá, mas o ato prorrogativo é ato constitutivo e tem de
ser registado antes do advento do termo ou do implemento da condição. Aliás, os próprios estatutos
podem prever prorrogação por algum fato, positivo ou negativo, que seja apreciado pela assembléia
geral, antes do advento do termo, ou de se implir a condição, ou pela Justiça, em decisão
declaratória. O registo tem de ser feito, no último caso, por mandado judicial.
d) A sociedade cooperativa pode ser dissolvida por decisão do juiz, que decrete a nulidade (sentença
constitutiva negativa), ou que declare a sua dissolução, que os sócios ou algum sócio ou alguns
sócios não reconhecem, como se os estatutos prevêem a extinção automática por ter descido a
menos de sete o número de sócios. No direito brasileiro, não há diferença de tratamento entre a
nulidade da sociedade cooperativa e a nulidade da sociedade por ações.
22.239, art. 20: “O associado demissionário ou excluído e, em caso de morte> interdição ou falência
de qualquer dos efetivos, os seus herdeiros, representantes legais ou credores, não poderão
requerer a liquidação social”.
Acrescenta o § 1.0: “A qualidade de associado, para aquêle que pede demissão ou é excluído, cessará
somente após a terminação do exercício social em que o pedido de demissão fôr feito ou a exclusão
realizar-se; mas, o associado demissionário ou excluído tem direito a retirar, sem prejuízo da
responsabilidade que lhe competir, o saldo da sua quota-parte de capital e lucros, conforme a
respectiva conta corrente e o último balanço do ano social da demissão ou exclusão, depois dêste
aprovado pela assembléia geral”. E o § 2.0: “Os herdeiros têm direito à quota-parte do capital e
lucros do associado falecido, conforme a respectiva conta-corrente e o último balanço, procedido no
ano da morte, podendo ficar sub-rogados nos direitos sociais do de culus se, de acôrdo com os
estatutos, puderem e quiserem entrar para a sociedade”. E o § 32: “Os curadores dos associados
interditos têm direito a optar pela continuação de seus curatelados na sociedade ou pela retirada
nas condições do § 1.0; não lhes cabendo, no primeiro caso, nenhuma interferência na
administração, nem votar ou ser votado para os cargos sociais”. E o § 4.0: “Os credores pessoais do
associado falido têm direito a receber os juros ou lucros que couberem aos devedores, e a sua quota-
-parte de capital somente depois da dissolução da sociedade ou quando êle fôr demíssionário ou
excluído”.
Surge o problema de se saber se o art. 20, § 2.0, é me cogens, ou se os estatutos podem estabelecer
que, com a morte do sócio, a quota não passe aos herdeiros e se insira no fundo de reserva, bem
assim o valor dos direitos sobre a quota nos lucros. A resposta: há de ser afirmativa de ser lus
dispositivum o que se diz no art. 20, § 2.0. No art. 6.0, inciso S.~, cogita-se de normas estatutárias
sobre a retirada do valor das quotas em caso de demissão, exclusão ou morte, e, no inciso 11, de
normas estatutárias sobre divisão de lucros e perdas. Todavia, no art. 7~O, não se pôs regra jurídica
proibitiva de cláusulas de irrestituição Cf. Código suíço das Obrigações, art. 687.
No caso de dissolução da sociedade cooperativa, a repartição do capital e dos lucros não pode ser
afastada pelos estatutos. O fundamento para a permissão da cláusula de irrestituição está em que há
interesse na continuidade da empresa e na proteção dos credores. Se, a despeito da saída do sócio,
o valor da quota permaneceu com a sociedade cooperativa, ou é incluído no fundo de reserva, com a
admissão de outro sócio, que faça a sua prestação, ou se extingue a quota. Os estatutos têm de
conter a solução.
CAPÍTULO IV
ESPÉCIES DE SOCIEDADES CONFORME O COOPERATIVAS FIM
sociedades cooperativas comerciais. Desde que haja os pressupostos para ser sociedade comercial,
a sociedade cooperativa comercia e comerciante é. Foi posta de lado, por falta de fundamento, a
opinião que reputava sempre comercial a sociedade cooperativa. Bem assim, a que tinham,
inexceptuàvelmente, como sociedade civil. Ali, o que se alegava era o intuito de lucro, de se evitar o
intermediário, que há, sempre, no escopo mutualístico. Ora, o fim de lucro não basta para fazer
comercial a sociedade. Aqui, negava-se qualquer fim de lucro.
Muitas cooperativas de crédito são para consumo, ou produção. Pensou-se em limitá-la a duas
classes: cooperativas de consumo e cooperativas de produção. Ou em aumentá-la: cooperativas de
consumo, cooperativas de produção, cooperativas de crédito, cooperativas de seguros. HANS
MÚLLER dizia-as econômicas e industriais.
Já o Decreto n. 22.289, ad. 21, fêz a classificação das sociedades cooperativas por suas „categorias
principais”; e o parágrafo único frisou que a enumeração não é exaustiva.
2. DECRETO N. 22.239, ART. 22. Estabelece o Decreto n. 22.289, art. 22: “As cooperativas de
produção agrícola caracterizam-se pelo exercício coletivo do trabalho agrário de culturas ou criação,
com os recursos monetários dos próprios associados, ou de crédito obtido pela própria cooperativa,
em terras que a sociedade possua em propriedade ou por arrendamento, concorrendo cada .um,
simultâneamente com trabalho e recursos”.
Nas sociedades cooperativas agrícolas (cc de produção agrícola); não podem ser sócios pessoas que
exercitam atividade diveisa da cultivacão da terra, salvo se cabem no art. 14, paráfrrafo único, do
Decreto-lei n. 581, isto é, se têm atividade na empresa como técnicos ou gerentes comerciais.
1. CONCEITO. Nó art. 21, 1, do Decreto n. 22.239, a segunda espécie refetida é a das sociedades
cooperativas de produção industrial. Empregou-se o adjetivo “industrial” em sentido estrito, para
haver a distinção entre sociedades cooperativas agrícolas e sociedades cooperativas industriais.
Há espécie mista, que é a sociedade de produção agrícola que industrializa os produtos. Nelas, à
atividade do produtor agrícola junta-se a das máquinas e de todos os outros meios de melhoramento
de produtos agrícolas. Isso não significa que entre em tal espécie mista a sociedade cooperativa de
produção agricola que apenas utiliza máquinas para preparo das terras, semeadura e debulho. Para
que se repute de produção agrícola, e não industrial, o elemento essencial é que os sócios sejam
agricultores, ou que não sejam preponderantes os sócios que financiaram as aquisições de
maquinaria, ou que dela fizeram o objeto das prestações sociais.
A sociedade cooperativa agrícola, inclusive na espécie mista, põe em comum qualidades pessoais e
experiências dos agricultores, para a venda coletiva e a padronização.
1
2.0, cogitou-se das sociedades cooperativas de indústrias extrativas, para se permitir que sejam
sócios “pessoas jurídicas cuja existência tenha por fim a extração e o beneficiamento dos
respectivos produtos”.
Osócio, embora trabalhe na sociedade, não é empregado. A affectio societatis não só está à frente:
só ela liga o sócio, que trabalha, aos outros sócios e, pois, à sociedade. O que mais põe em relêvo a
situação das pessoas, que, como sócios, trabalham, é não serem trabalhadores empregados, nem
trabalhadores sem vinculação empregatícia.
Não se pode dizer que empresários sejam os sócios: coletivamente, pela cooperação, êles integram a
empresa.
Nas sociedades cooperativas de trabalho, os sócios têm de ser trabalhadores e exercer a arte ou o
serviço correspondente à especialidade da sociedade cooperativa de que fazem parte ou de
sociedades cooperativas afins.
Não podem ser sócios os que trabalham em empresa própria idêntica ou afim à da cooperativa. Os
elementos técnicos e administrativos (ditos, no art. 14, parágrafo único, do Decreto-lei n. 581,
“comerciais”), em número estritamente necessário às funções regulares da sociedade em
comandlk4, podem ser sócios.
Estatui o Decreto n. 22.239, art. 24: “São cooperativas de trabalho aquelas que, constituídas entre
operários de urna determinada profissão ou ofício, ou de ofícios vários de uma mesma classe têm
como finalidade primordial melhorar os salários e as condições do trabalho pessoal de seus
associados e, dispensando a intervenção de um patrão ou empresário, se propõem contratar e
executar obras, tarefas, trabalhos ou serviços, públicos ou particulares, coletivamente por todos ou
por grupos de alguns”.
Se nem todos os sócios trabalham, há deturpação, sem que isso afaste a possibilidade de sociedade
cooperativa de trabalho em que os sócios, após algum tempo (e. g., devido à idade), sejam
encarregados de funções fiscais, ou diretivas, ou simplesmente de deliberação.
Diz-se no Decreto n. 22.239, art. 25: “As cooperativas de beneficiamento têm por fim fazer, sem
transformação industrial, expurgo, seleção, beneficio, padronização, classificação e
acondicionamento de produtos agrários, para a venda ou exportação”.
1. CONCEITO. Com as duas referências do ad. 21, V e VII, do Decreto n. 22.289, distinguem-se as
sociedades cooperativas de aquisição em comum, sem que os bens adquiridos se destinem a
consumo, e as sociedades cooperativas de aquisição em comum de bens consumiveis. A sociedade
cooperativa de compras em comum pode ser para aquisições de materiais ou de máquinas, cujo
preço seja mais baixo se adquiridos em grande quantidade, ou para a distribuição entre os sócios
dos elementos que foram adquiridos globalmente (e. g., alguns sócios precisam da carne, e outros,
dos couros).
Lê-se no Decreto n. 22.239, art. 26: “As cooperativas de compras em comum podem ser rurais ou
urbanas, sendo aquelas constituídas entre agricultores ou criadores para abastecimento dos sítios
ou das fazendas, de animais, plantas vivas, mudas, sementes, adubos, inseticidas, má quinas e
instrumentos agrários e outras matérias-primas ou fabricadas, úteis à lavoura ou à criação, sem
intuito de revenda; e as urbanas formadas entre artífices ou operários de indústria a domicílio,
visando adquirir em comum, com os recursos da sociedade e, em certos casos, com intuito de
revenda, artigos, matérias-primas e utensílios de trabalho necessários ao exercício de sua
profissão”.
O que se adquire, nas sociedades cooperativas de compras em comum, não é para consumo, nem, de
ordinário, para revenda. Daí, no final do art. 26 do Decreto n. 22.239, se aludir ao que pode ocorrer
nas sociedades cooperativas urbanas de compras em comum. Todavia, é preciso que o intuito de
revenda não seja tal que os sócios não sejam interessados em trabalho ou serviço, mas apenas no
comprar e vender.
22.239, tem de ser considerada como exemplificativa. Aquilo que se adquire pode ser para
instalações, consertos e outros trabalhos. Se a sociedade cooperativa é para comprar e vender, a
figura não se enquadra no art. 26, porque se trataria de cooperativa de vendas em comum (arts. 21,
VI, e 27).
22.239, art. 27: “As cooperativas de venda em comum distinguem-se pelo fato de organizarem
coletivamente a defesa comercial dos produtos particularmente colhidos ou elaborados por seus
associados, lavradores ou criadores, por êles trazidos à cooperativa para esta, com os recursos
próprios, promover, sem ulterior transformação, a venda nos mercados de consumo ou nos de
exportação”.
As sociedades cooperativas não funcionam como sociedades que adquirem os produtos, para os
beneficiar ou transformar, ou para os alienar. As cooperativas não adquirem, salvo em virtude de
negócios jurídicos à parte. De modo que não se pode pensar, por exemplo, em considerar o que a
cooperativa recebe para vender ou para consignar como objeto de compra ou de consignação. O
sócio não vendeu, nem consignou. Há outorga de poderes pelo sócio, conforme os estatutos, e há o
dever de exercer os poderes, que a cooperativa assume. Não se pode considerar a entrega dos
produtos à cooperativa como alienativa. A tradição é de posse imprópria, e não da posse própria. Se,
por exemplo, se pretendesse cobrar aos sócios o impôsto sobre vendas e consignações, tal cobrança
somente poderia ser cautelar e a quantia teria de ser depositada, ou, o que é menos aconselhável,
restituível pelo Estado-membro. Com a venda ou a consignação pela cooperativa apenas se concluiu
a venda ou a consignação que se previu. Duas alíquotas de modo nenhum seriam cobráveis, razão
por que assim frisamos em anteriores oportunidades.
mais frequente e mais aconselhável que a cooperativa figure no negócio jurídico como o alienante,
isto é, em nome próprio.
Se a sociedade cooperativa presta o preço mediante média geral periódica, nem por isso deixa de
ser vendedor o sócio; e tal expediente é o mais adequado se há fungibilidade dos bens com que
todos os sócios ou alguns sócios concorrem para o fundo alienável.
As sociedade cooperativas podem exigir a individuação dos bens entregues, e.g., em sacos
numerados, mas não é isso o usual, nem o que mais acontece. A fungibilidade dos bens impõe que
apenas se precisem os dados suficientes para se conferir o preço ou para eventual restituição. A
cooperativa tem despesas, quer atinentes à custódia quer aos negócios jurídicos de alienação, e tais
despesas são elemento que se há de deduzir do importe total dos preços recebidos.
Pretender-se que as cooperativas comprem aos sócios e vendam aos terceiros é destruir-se a
característica essencial da cooperatividade e transformar-se a cooperativa em sociedade por quotas.
Nos casos das sociedades cooperativas, os sócios continuam donos dos bens entregues, ainda que
haja fungibilidade, cuja conseqUência única é a quotização. Não podem elas empenhar qualquer
bem infungível, que receberam dos sócios, nem a fração do importe dos bens fungíveis. Se há mau
êxito nas venda, ou nos outros negócios, perdem os sócios, e não as cooperativas.
Se os sócios houvessem entregue os bens a risco da sociedade cooperativa, então os teriam vendido
à cooperativa, como qualquer pessoa que não fôsse sócio. Como sócios da cooperativa, não vendem,
nem consignam (convém evitar-se o emprêgo de tal expressão, em se tratando de relações jurídicas
entre sócios e cooperativa) : de acôrdo com os estatutos, exercem direito de entregar a posse e
exigir a gestão cooperativa.
coopera. E coopera, com os poderes estatutários, e não por ter recebido em consignação.
Lê-se no Decreto n. 22.239, art. 28: “As cooperativas de consumo têm por escopo ajudar a economia
doméstica: adquirindo, o mais diretamente possível, ao produtor, ou a outras cooperativas, os
gêneros de alimentação, de vestuários e outros artigos de uso e consumo pessoal, da família ou do
lar; distribuindo-os nas melhores condições de qualidade e preço, aos consumidores associados ou
não, no interesse dos quais pode ainda prover a outros serviços afins; e convertendo em economias,
a favor dos mesmos consumidores, os eventuais resultados líquidos verificados pelo balanço”.
2.BENS DA SOCIEDADE E PAPEL DOS SOCIOS. Urna vez que os bens da sociedade cooperativa de
consumo têm de ser consumidos pelos sócios, deturparia a figura jurídica que algum sócio não
consumisse, ou alguns sócios não consumissem, ou, a fortiori, que todos não consumissem. Ao
elemento objetivo da consumibilidade junta-se, como elemento essencial, o elemento subjetivo de
serem os sócios os consumidores A medida do consumo é que pode variar, sem que haja, em
princípio, o dever de adquirir e de consumir para cada 1
sócio . Pode-se fazer parte de sociedade cooperativa de consumo com intuito de aproveitar a
qualidade de sócio quando seja preciso. Isso não impede a cláusula de consumo mínimo.
Nas sociedades cooperativas de consumo não podem ser admitidos como sócios os intermediários e
as pessoas que exercem atividade comercial da mesma natureza da que tem a sociedade
cooperativa.
A atribuição a cada sócio pode ser igual, variável, ou desigualmente fixada, como os pedidos de
aquisição podem ser a líbito de cada sócio. Tudo isso depende dos estatutos.
Lê-se no Decreto n. 22.239, ad. 29: “As cooperativas de abastecimento são fundadas para, de acôrdo
com as cooperativas de produção, de vendas em comum e outras, fornecer às cooperativas de
consumo e prover, ou fundar, os pequenos mercados e feiras-livres”
do Decreto n. 22.239, tem pouca relevância, porque apenas se afasta a sociedade cooperativa que
tenha finalidade de fornecer a mercados de extenso âmbito de operações. Sociedade cooperativa
que abastece qualquer empresa não é, no sentido do art. 29, sociedade cooperativa de
abastecimento mas sim sociedade cooperativa de vendas em comum. A sociedade cooperativa de
abastecimento é espécie dessa.
1. CONCEITO. O financiamento depende do crédito que tem a pessoa que dêle precisa, o que faz
decendente da vontade de quem financia a entrega do dinheiro ou dos bens. A sociedade
cooperativa de crédito, que tem de ser regional, porque se torna difícil o âmbito extenso da
localização dos sócios, submete o crédito à adaptação ao rendimento médio e à aptidão de
reembôlso pelos sócios.
Estatui o Decreto n. 22.239, ad. 30: “As cooperativas de crédito têm por objetivo principal
proporcionar a seus associados dos crédito e moeda, por meio da mutualidade e da economia,
mediante uma taxa módica de juros, auxiliando de modo particular o pequeno trabalho em qualquer
ordem de atividade na qual êle se manifeste, seja agrícola, industrial, comercial ow profissional e,
acessoriamente , podendo fazer, com pessoas estranhas à sociedade, operações de crédito passivo e
outros serviços conexos ou auxiliares do crédito”. Acrescenta o § 1.0:
“As cooperativas de crédito podem revestir, na prática, várias modalidades, entre as quais se
compreendem os tipos clássicos das caixas rurais Raiffeisen e dos bancos populares Luzzatti”. E o §
2.0: “São normas comuns a tôdas as cooperativas de crédito em geral, que elas deverão,
obrigatóriamente, mencionar em seus estatutos e observar: a) os empréstimos, descontos e abertura
do crédito, são concedidos exclusivamente aos associados; b) o reembôlso será, nos empréstimos
que não são de curto prazo, sempre feito por pagamentos parcelados, mudando a obrigação de
dívida, quando única, as diversas épocas » de amortização, ou, quando várias sejam as obrigações,
corresponderá cada uma delas a cada parcela de amortização, juros inclusive; c) nos empréstimos a
que se refere a alínea b), os juros serão calculados de modo que recaiam sobre o saldo efetivamente
devido ao tempo do vencimento de cada parcela de amortização e pagos, em conjunto com ela,
assim parceladamente; d) não será cobrado aos associados, a título de prêmio, ou a qualquer outro,
a não ser o montante dos juros nos1descontos, soma alguma que reduza a quantia efetiva do
empréstimo que houver sido ajustado; e) nos empréstimos, ou aberturas de crédito, em conta-
corrente, os juros serão recíprocos, de débito e de crédito, à mesma taxa, e vencíveis com a conta;
1) a taxa do juro não poderá ser aumentada durante a vigência do empréstimo, sua prorrogação ou
reforma, podendo êle ser cancelado pelo devedor em qualquer tempo; g) considerar empréstimos de
curto prazo: 1. Os empréstimos feitos aos profissionais da lavoura a prazo de colheita a colheita,
segundo o gênero de cultura. II. Os empréstimos de crédito popular, sem amortização periódica,
quando o vencimento não fôr maior de três meses”. E o § 3.0: “Para que fique bem caracterizada a
caixa rural do tipo Raiffeisen, essas cooperativas de crédito deverão, obrigatóriamente, 1
incluir em seus estatutos e> na prática, rigorosamente a êles obedecer os seguintes princípios que
constituem a base do sistema: a) ausência de capital social e indivisibilidade, entre os associados, de
quaisquer lucros; b) responsabilidade pelos compromissos da sociedade, pessoal, solidária e
ilimitada, de todos os associados; e) atribuição dada á assembléia para controlar essa
responsabilidade, fixando, anualmente, pelo menos, a quantia máxima dos compromissos da
sociedade, o máximo do valor de cada empréstimo e a importância máxima do total dos
empréstimos; d) área de operações reduzida a uma pequena circunscrição rural, de preferência o
distrito municipal, [mas que não poderá, em caso algum, exceder o território de um município] (“as
caixas rurais tipo
“Raiffeisen”, constituídas após a vigência do presente Decreto-lei n. 581, deverão ter como uma de
suas características, área de operações limitada e restrita, tanto quanto possível, a uma pequena
circunscrição rural, que poderá abranger zonas municipais limítrofes”, lê-se no Decreto-lei n. 581,
ad. 11, § 1.0) ; e) ; empréstimos concedidos exclusivamente aos associados, lavradores ou criadores,
que sejam solváveis, dignos de crédito e domiciliados na circunscrição onde a caixa tem sua área de
ação ou aí possuam uma propriedade agrícola destinados a serem aplicados em sua atividade
agrária e para certo e determinado fim, declarado pelo solicitante e julgado útil e reprodutivo pelo
conselho de administração, sendo absolutamente proibidos os empréstimos de mero consumo”.
Diz o § 4.~: “Os bancos populares do tipo “Luzzatti” distinguem-se das demais cooperativas de
crédito pelos seguintes princípios fundamentais, que deverão, obrigatóriamente prescrever em seus
estatutos e observar: a) capital social dividido em quotas-partes de pequeno valor, acessíveis a tôdas
as bôlsas; b) responsabilidade, pelos compromissos da sociedade, limitada ao valor da quota-parte
do capital que o associado se obrigou a realizar; e) área de operações circunscrita, tanto quanto
possível, ao território do município em que tiver a sua sede, só podendo estabelecer área maior, fora
dêsse território, quando municípios próximos abrangerem zonas econômicamente tributárias
daquele em que estiver, não se incluindo, entretanto, no limite da área aquelas operações que
consistem em cobranças ou permutação de fundos; d) empréstimos concedidos exclusivamente aos
associados que sejam domiciliados na circunscrição considerada como área de operações, dando a
administração sempre preferência às operações de menor valor e ao crédito pessoal sobre o de
garantia real; e) administração constituída por um conselho de administração composto, pelo
menos, de cinco membros, eleitos pela assembléia geral, sendo o presidente do conselho e o diretor-
gerente da sociedade designados diretamente no ato da eleição e êstes dois, permanentemente, e
mais um conselheiro que cada mês ficará de turno, formarão a diretoria executiva, cabendo ao corpo
cole-11<0 as atribuições mais gerais e de regulamentação e à dire~ tona as funções mais
particularizadas e executivas”.
Estabelece o Decreto n. 41.872, art. 3?: “O Ministério da Agricultura, pelo Serviço de Economia
Rural, processará na forma da lei os pedidos de autorização prévia das cooperativas de crédito, para
sua constituição>‟.
Acrescenta o § 1.0: “Se o parecer do Serviço de Economia Rural fôr favorável, por atender às
normas da legislação cooperativista, o processo será encaminhado à Superintendência da Moeda e
do Crédito para o necessário exame, no que lhe competir”. E o § 2.0: “O processo, depois de
apreciado pela Superintendência da Moeda e do Crédito, será devolvido ao Serviço de Economia
Rural, o qual tomará as medidas cabíveis, em face da legislação em vigor e promoverá, se fôr o caso,
a expedição do decreto de autorização prévia, que será referendado pelos ministros da Agricultura e
da Fazenda”.
Diz o Decreto n. 41.872, art. 2.0: “Das observações e recomendações resultantes de fiscalização ou
inspecção feitas pela Superintendência da Moeda e do Crédito e por esta transmitida diretamente às
cooperativas, serão remetidas, simultânea-mente, cópias ao Serviço de Economia Rural, para
apreciação e providências”.
feios em comunhão pro divisa) e às sociedades cooperativas de crédito para determinada atividade
agrária ou industrial. O crédito é sempre aos sócios, ou aos sócios e, se há margem estatutária, a
estranhos, que tratam com a sociedade como clientes e não como cooperadores.
As operações podem, por exemplo, ser em contratos de empréstimo, ou títulos cambiários (aceite,
aval, endôsso), ou com direito real de garantia (penhor, hipoteca, caução de títulos), abertura de
conta corrente, descontos de títulos de crédito, inclusive de duplicatas mercantis, pagamentos por
conta do sócio.
22.239 fixa o período do primeiro ano, o que se há de entender como período mínimo. O prêmio não
é fixo, mas sim proporcional, tendo-se de considerar a soma dos riscos assegurados, cobrada
sobretaxa para se atender à administração. As operações somente podem ser com os sócios.
Diz o Decreto n. 22.289, art. 81: “As cooperativas de seguros devem: a) operar no regime de pura
mutualidade e exclusivamente com os associados; 19 não estabelecer prêmio fixo nos contratos de
seguros terrestres e marítimos, devendo tal prêmio ser determinado pela soma dos sinistros
ocorridos durante o ano em proporção à soma dos riscos assegurados e acrescidos de uma
sobretaxa para cobrir as despesas gerais de administração; e) constituir um capital social
correspondente ao indispensável à instalação dos serviços da sociedade e a formar um fundo de
previsão para os sinistros que possam eventualmente ocorrer no primeiro ano”.
No Decreto-lei n. 926, de 5 de dezembro de 1938, art. 1.”, estatui-se que somente os seguros
agrícolas, inclusive de indústrias rurais, e os de acidentes do trabalho podem ser objeto de
operações de sociedades cooperativas. No art. 2.0, acrescenta-se que as sociedades cooperativas de
seguros contra acidentes do trabalho ficam sujeitas, logo que seja autorizado o seu funcionamento, a
registo no Ministério da Agricultura, que há de ser ouvido pelo Ministério do Trabalho e Previdência
Social antes de ser dada a autorização. São, segundo o art. 3~0, isentas da quota de fiscalização a
que se refere o art. 22 do Decreto-lei n. 581, de 1.0 de agôsto de 1938.
Sociedade de seguros mútuos, fechada, para que só os sócios sejam beneficiados, não é sociedade
cooperativa, pôsto que seja sociedade mútua. Na sociedade de seguros mútuos, os sócios, porque
são sócios, são beneficiados pelo seguro, ao passo que, na sociedade cooperativa de seguros, há a
relação social e podem ocorrer as relações jurídicas de seguros que resultem dos negócios jurídicos
bilaterais entre o sócio e a sociedade. Ser sócio é pressuposto necessário para poder concluir o
contrato de seguro. Na sociedade mútua de seguros ser sócio já é estar seguro. Cf. GIUSEPPE
FANELLI (L‟Assicurazione mutua, 7 s.). Sobre as sociedades mútuas de seguros, Tomo XLVI, §§
4.990-4.992.
2.DECRETO N. 22.239, ART. 82. Diz-se no Decreto n. 22.239, art. 82: “A cooperativa de construção
formada para edificar casas populares, a fim de vendê-las aos associados por pagamentos
parcelados, poderá também efetuar operações de crédito com o fito de obter recursos para ampliar
os seus serviços e melhor consecução do 1
seu objetivo, limitando-se tais operações às seguintes: a) receber em depósito, dinheiro a juros, não
só dos associados como de pessoas estranhas à sociedade; 19 contrair empréstimos com ou sem
garantia de hipoteca dos imóveis que construir; e) emitir letras hipotecárias, se, para isso, obtiver
autorização do Govêrno”. Acrescenta o parágrafo único: “Nessas cooperativas, cada associado não
poderá possuir quotas-partes do capital social em importância superior a cinco contos de réis,
qualquer que seja o valor da casa que pretenda adquirir”. “Nas cooperativas em que o capital não
seja proporcional à produção, nenhum associado poderá subscrever mais de um têrço do capital”
(Decreto-lei n. 581, art. 12) “. A referência ao valor das quotas é obsoleta.
As casas ou apartamentos que se destinam aos sócios podem ser predestinadas, ou apenas
atribuíveis aos sócios após a construção. O capital social pode ser na aquisição de terrenos, em que
se vão fazendo as casas ou edifícios de apartamentos, tendo de ser o produto das alienações
investido em outro terreno ou noutros terrenos.
As outras sociedades cooperativas de cultura intelectual são para aquisição de livros, revistas e
periódicos, opúsculos e outras publicações, quer para a formação de bibliotecas, quer para os
sócios, individualmente. São espécie das sociedades cooperativas de compras em comum, ou de
sociedades cooperativas que apenas adquiram para os sócios que quiserem adquirir. Ali, há a
transmissão da propriedade à sociedade cooperativa; aqui, ela apenas satisfaz o pedido dos sócios,
de modo que se faz diretamente a aquisição.
1k-se no Decreto n. 22.239, art. 33: “As cooperativas editoras e de cultura intelectual têm por fim
formar bibliotecas fixas ou circulantes, editar, por conta própria ou de seus associados, trabalhos
dêstes ou de interesse geral, bem como adquirir para êles, livros, opúsculos, revistas e periódicos,
conforme seus pedidos e pugnar-lhes pelo desenvolvimento cultural, para cujos fins poderá manter,
ou não, oficinas gráficas próprias, com ou sem negócios com o público”.
2.SOCIEDADES COOPERATIVAS ESCOLARES. Estatui o Decreto n. 22.289, art. 34: “As cooperativas
escolares poderão se constituir nos estabelecimentos, públicos ou particulares, de ensino primário,
secundário, superior, técnico ou profissional, entre os respectivos alunos, por si ou com o concurso
de seus professôres, pais, tutôres ou pessoas que os representem, com o objetivo primordial de
inculcar aos estudantes a idéia de cooperativismo e ministrar-lhes os conhecimentos práticos da
organização e funcionamento de determinada modalidade cooperativa e acessôriamente,
proporcionar-lhes as vantagens econômicas peculiares à modalidade preferida”. “As cooperativas
escolares instruirão o pedido de registo com uma cópia do ato constitutivo, um exemplar dos
estatutos e uma relação dos associados, documentos êsses com a assinatura de sete ou mais
fundadores e autenticados pelo diretor do Instituto de Ensino. Ficam as cooperativas escolares
isentas do pagamento de impostos e de selos (Decreto-lei n. 581, art. 5.~, parágrafo único) “.
Se é permitido que se escolha o órgão fora dos sócios, não há diferença consistente em não ser sócio
a Ressoa que se nomeou no contrato, ou nos estatutos, ou depois, como órgão. O que importa é que
se trate, em verdade, de órgão, e não de representante, ou de mandatário. A respeito das sociedades
por ações, o Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940, art. 116, permitiu que sejam diretores,
escolhidos pela assembléia geral, “acionistas ou não”. Aliter, a propósito das sociedades em
comanditas por ações (art. 165).
1.RESPONSABILIDADE QUANTO À PRESTAÇÃO FEITA. Diz. o Código Civil, ad. 1.377: “Se o sócio
entrar para a sociedade. com objeto determinado, que venha a ser evicto, responderá aos consócios
como o vendedor ao comprador”. Com isso, apenas se explicitou, a respeito das sociedades, o que o
Código Civil, arts.
1.107-1.117, estatuiu, com a generalidade que outros sistemas jurídicos não têm, quanto à evicção.
Diz o Código Civil, ad. 1.890: “Se as coisas, cujo uso e gôzo exclusivamente constituírem a entrada
do sócio, não forem fungíveis, consistindo em corpos certos e determinados, o risco que correrem
será por conta dos respectivos donos”. Acrescenta o § 1.~: “Se, porém, forem fungíveis ou se, ainda
guardadas, se deteriorarem, se forem destinadas a circular no comercio, ou se forem transferidas à
sociedade por um valor determinado e constante de inventário ou balanço autênticos, por conta da
sociedade correrão os riscos, a que estiverem expostas”. E o § 2.~: “Perecendo a coisa de
importância determinada nos termos do parágrafo antecedente, última parte, o dono só lhe poderá
exigir o valor constante do inventário, ou balanço”.
2.DANOS À socIEDADE OU A OUTROS SÚCIOS. Pode ocorrer que algum ato do sócio, na gestão dos
negócios da sociedade, ou em atividade interna, cause dano à sociedade. Diz o Código Civil, art.
1.880: “Cada sócio indenizará a sociedade dos prejuízos, que esta sofrer, por culpa dêle, e não
poderá compensá-los com os proveitos que lhe houver granjeado”. Já na L. 26, D., pro socio, 17, 2,
dizia-se: “.. .si socius quaedam neglegenter in societate egisset, in plerisque autem societatem