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PARTE ESPECIAL
TOMO LII
Direito das Obrigações: Negócios jurídicos bancários e de Bolsa. Corretagem de seguros. Transferencia de
propriedade mobiliária, em segurança. distribuição e colocação de Subscrição, títulos e valores mobiliários.
TÍTULO LIII
PARTE II
CAPÍTULO 1
§ 5.412.Conceito e natureza dos negócios juridicos bancários. 1. Banco, banqueiros e negócios jurídicos. 2.
Espécies de negócios jurídicos bancários. 3. Espécies de negócios jurídicos bancários.4.Forma dos negócios
jurídicos bancários. 5. Natureza da conta corrente bancária
§ 5.413.Operações bancárias em conta corrente. 1. Processo de curso. 2. Compensação durante o curso da conta.
3. Operações com tempo indeterminado. 4. Serviço de caixa. 5. Encargo de recebimento. 6. Encargos de
pagamento. 7. Outorga de poderes a banco. 8. Abertura de crédito bancário e outras figuras jurídicas
§ 5.414.Bancos e Moeda. 1. Operações bancárias pecuniárias 2. Cotações
§ 5.415.“Confere aposto por banco. 1. Uso extrajurídico. 2. Comparação com outros ates. 3. Natureza do ate do
“confere”. 4.Entrada no mundo jurídico
§ 5.416Operações bancárias de cobrança e de pagamento. 1. Cobrança e pagamento. 2. Cobrança pelo banco. 3.
Pagamento pelo banco
§ 5.417.Eficácia das operações de cobrança. 1. Atos do banco. 2.Atos do cliente
§ 5.418.Eficácia das operações de pagamento. 1. Ates do banco. 2.Atos do cliente
§ 5.419.Extinção da outorga de poderes . 1. Causa da extinção. 2.Morte, concurso de credores e incapacidade do
cliente.
CAPÍTULO II
§ 5.421. § 5.422.
(cláusula ou pacto adjecto) de conta corrente. 2. Espécies de conta corrente bancária. 3. Natureza. 4. Conta
corrente bancária e outros negócios jurídicos bancarias
Objeto da conta cor”re‟ate bancária. 1. Encargos do banco. 2.Duplo objeto
Eficácia e extinção da conta corrente bancária. 1. Entradas e compensaçãO. 2. Retiradas e saldos. 3. Conta
bloqueada. 4. Extrato da conta corrente. 5. Condição “salvo Pagamento do cheque e devolução da cártula.
7.Cláusulas de pagamento de cheque. 8. Cheques de viagem. 9. Cheques a cobertura limitada. 10. Ordem de
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pagamento. . Remessa, para cobrança, de crédito contra terceiro. 12. Extinção de conta corrente bancária
CAPÍTULO III
DEPÓSITO BANCÁRIO
CAPÍTULO IV
CARTA DE CRÉDITO
§ 5.426.Conceito e natureza da carta de crédito. 1. Conceito. 2.Carta de crédito e acreditivo. 3. Natureza da carta
de crédito.4. Espécies
§ 5.427.Eficácia e extinção da carta de crédito. 1. Prestação, e não crédito. 2. Extinção da carta de crédito
CAPÍTULO V
CAIXAS FORTES
CAPÍTULO VI
DESCONTO BANCÁRIO
CAPÍTULO VII
CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
COMPENSAÇÃO INTERBANCÁRIA
.
CAPÍTULO X
BANCOS DE INVESTIMENTO
TÍTULO LIV
5.453.Conceito e natureza dos negócios jurídicos de bolsa . 1. Precisões. 2. Influência da técnica bolsistica3.
Aleatoriedade ou não-aleatoriedade dos contratos de bolsa 4. Natureza dos contratos de bolsa
5.454.Bolsa e operações discriminadas. 1Espécies bolsisticas.2.Contratos de bolsa
CAPÍTULO II
OPERAÇÕES BOLSISTICAS
5.455. Operações bolsisticas de valores. 1. Conteúdo. 2. Objeto. 3.Títulos- gêneros e títulos bens determinados.
4. Operações de câmbio. 5. Câmara de Liquidação
5.456. Funções declarativas da Câmara Sindical. 1. Boletim. 2.Responsabilidade pelos atos declaratórios. 3.
Retificação aditiva e inalterabilidade do boletim. 4. Câmbio oficial. 5.Entrega de letras de câmbio e papéis
endossáveis. 6. Subscrições públicas. „7. Resgate de debêntures. 8. Títulos ao portador
CAPÍTULO III
OPERAÇÕESDE BOLSA PARA LIQUIDAÇÃO PRONTA, SEM PRAZO À VISTA (SENSO ESTRITO)
5.457.Operações à vista e sua liquidação. 1. Conceito de operação à vista e a prazo fixo. 2. Liquidação pronta. 3.
Liquidação àvista. 4. Títulos e valores que ainda vão ser emitidos.
5.458.Contratos a termo fixo e os outros contratos. 1. Precisões. 2.Comparações
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CAPÍTULO IV
CAPÍTULO I
§ 5.462. § 5.463.
geral. ~,3. Operações diferenciais e liquidações por diferença 4.Operações diferenciais simples. 5. Operações
diferenciais complexas. 6. Liquidação
Arbitragem bolsística. 1. Conceito. 2. Espécies. 3 Arbitragem bolsistica e operações diferenciais
Eficácia das operações de desconto. 1. Direito de antecipação (Dito “Direito de Desconto”). 2.Liquidação por
diferença sem ter havido operação diferencial. 3. Contratos de câmbio
CAPÍTULO VI
§ 5.464.Conceito e natureza dos contratos de bólsa a prêmio. 1. Conceito de contratos de bolsa a prêmio ou
contratos bolsísticos em opção. 2. Natureza da compra-e-venda com opção.
§ 5.465.Conclusão e espécies de contrato com opção . 1. Conclusão 2.Pressupostos. 3. Contrato de
compra-e-venda. 4. Contrato de compra e venda a prêmio duplo
§ 5.466.Eficácia do contrato de bolsa com opção. 1. Prêmio ou entrega dos títulos. 2. Pagamento do prêmio. 3.
Contrato de compra-e-venda com maj oração do objeto
CAPITULO VII
CONTRATO DE REPORTE
§ 5.467.Conceito e natureza do contrato de reporte (senso lato). 1.Conceito. 2. Conceito de reporte (senso
estrito)e de deporte
§ 5.468. Natureza do contrato de reporte. 1. Contrate real, com eficácia resilitiva. 2. Distinções. 3. Reporte q
deporte de contratos reais. 4. Contrato de reporte e outros contratos.
§ 5.469.Pressupostos necessários e eficácia das operações de reporte e de deporte. 1. Pressupostos comuns às
compras-e-vendas. 2.Pressupostos especiais. 3. Figurantes do contrato de reporte. 4. Prorrogação das operações
de reporte e de deporte. 5. Objeto de reporte. 6. Responsabilidade do portador de títulos. 7. Direitos acessórios
§ 5.470.Extinção de contrato de reporte. 1. Relação jurídica entre reportado e reportador. 2. Infração dos deveres.
3. Falência, liquidação coativa e concurso civil de credores.
§ 5.471.Liquidação das operações de reporte e de deporte. 1. Liquidação e regras gerais. 2. Títulos nominativos
ou títulos que exijam formalidade de transferência
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CAPÍTULO VIII
CAPÍTULO IX
TÍTULO LV
PARTE 1
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO II
§ 5.484. Negócios jurídicos essenciais. 1. Três negócios jurídicos. 2.Propriedade, posse e alienação
5.485. Constituição dos negócios juridicos pressupostos essenciais. 1.Precisões. 2. Unícídade e pluralidade de
outorgantes. 3.Unicidade e pluralidade de outorgados. 4. Instrumentação e prova. 5. Transferência fiduciária da
propriedade mobiliária e posse
§ 5.486. Validade e invalidade. 1. Pressupostos de validade. 2. 1icitude e fraude contra credores. 3. “Lex
commissoria” e transmissão fiduciária da propriedade
§ 5.487.Eficácia vinculativa e eficácia transmissiva. 1. Dupla eficácia. 2. Eficácia contra terceiros e transferência
da propriedade mobiliária. 3. Poder de vender, que tem o fiduciário para se pagar. 4. Reivindicação, vindicação da
posse e ações possessórias. Regras jurídicas sobre vencimento e pagamento
CAPÍTULO III
PARTE III
CAPÍTULO 1
PARTE II
CAPITULO 1
CAPITULO II
1.BANCO, BANQUEIROS E NEGÓCIOS JURÍDICOS. Nem todos os negócios jurídicos em que é figurante
banco ou banqueiro (casa bancária, trate-se de pessoa jurídica ou pessoa física que seja o dono da empresa) são
negócios jurídicos bancários, no estrito senso, isto é, de negócios jurídicos ditos bancários. Qualquer pessoa pode
subscrever, endossar ou avalizar letra de câmbio ou nota promissória. Se é o banco ou o banqueiro que a faz, nem
por isso se torna bancário o negócio jurídico. Mas o negócio jurídico subjacente, justajacente ou sobrejacente
pode ser bancário; e. g., a antecipação bancária ou o desconto.
Na intermediação para a circulação do dinheiro, a função dos bancos é da maior importância. Porém seria errôneo
afirmar-se que o dinheiro não circula tanto em negócios jurídicos em que nenhum figurante é banco. Lá fora, a
circulação é maior, com as vendas de balcão, as encomendas e aquisições à vista, ou a prazo, de bens móveis e
imóveis, em que nenhum papel exerceu qualquer banco.
O que caracteriza a atividade bancária é a função de intermediariedade na circulação do dinheiro. Isso não quer
dizer que somente de bancos e de banqueiros seja tal atividade. Tratar-se, à parte, dos negócios jurídicos
bancários só se entende commoditatis causa.
O ser bancário o negócio jurídico não resulta de elemento essencial ou de caráter intrínseco. Não atende somente
ao objeto da operação, nem há objeto essencial à bancariedade do negócio jurídico. A legislação mais se
influenciou pela qualidade subjetiva, de modo que se apresenta o problema de ser só concluível por banco, ou
entre bancos, o negócio jurídico bancário. Não há resposta a. priori, porque alguns negócios juridicos, em que
banco é figurante, podem ser feitos por pessoas, jurídicas ou físicas, que não são bancos. Em tais casos, porque
não há a qualificação subjetiva, o negócio jurídico não é bancário. Por aí se vê quão afastada da verdade seria
qualquer teoria que ligasse às espécies dos negócios jurídicos o serem bancários os negócios jurídicos. Leis
especiais é que prendem à profissionalidade empresarial a exclusividade de operações ditas bancárias.
Algumas operações bancárias são sobre dinheiro. Outras, sobre guarda. Ésses não se prendem à intermediação
na circulação do dinheiro, pôsto que a posse, mesmo duradoura, do dinheiro, como ocorre quando se guarda
dinheiro, seja fato na vida circulatória dêle. Alguns contratos de guarda, em que figuram bancos, não são de
dinheiro, mas de bens de valia, tais como jóias, ações e debêntures.
Os contratos concernentes à intermediariedade na circulação do dinheiro têm como eficácia o dever de prestar,
desde logo ou futuramente, às vêzes eventualmente, soma dc dinheiro, com dever de restituição; porém não é
estranha à função qualquer contrato em que alguém deposita dinheiro, ou empresta dinheiro ao banco ou ao
banqueiro. Há operações ativas de crédito e operações passivas de crédito.
Os contratos de guarda, esses, são secundários, na vida dos bancos, e podem ser concluídos por empresas não
bancárias, como as empresas de 1ocação de cofres fortes. Os bancos, com esses contratos, têm por fito servir, em
assuntos de valor patrimonial, os fregueses e captar maior simpatia e atração da clientela.
(O fato de muito se falar de contratos bancários de modo nenhum implica serem negócios jurídicos bilaterais
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todos os de que se cogita. A matéria é demasiado complexa e a exposição dela há de compreender os contratos
bancários e o que ocorre, nas operaç6es bancárias, sem a bilateralidade dos negócios jurídicos.)
É êrro identificar-se com o contrato de banco (Ra.nkvertrag) o contrata de giro (Girovertrag), pois contrato de
giro é espécie de contrato de banco. O contrato de conta corrente não é contrato de banco. Ajuda, auxilia, o
contrato de banco. A conta corrente consigna o que ocorreu, a entrada e a saída do que se pôs em conta corrente;
portanto, os resultados, são as vinculações a que as operações levaram. Muito diferente é o traspasso bancário
(unilateral) ou o contrato de giro, que n&o fica no plano operacional.
Pelo contrato de banco, o banco vincula-se a operar para o cliente, quer a respeito de dinheiro, quer de título de
crédito ou títulos representativos, tais como depósitos, custódia e administração de ações e debêntures, compra e
venda de títulos, ou desconto cambiário. A relação jurídica entre o cliente e o banco é relação de confiança. Não
tem conteúdo típico. A relação jurídica contratual é duradoura.
A atividade do banco a propósito de assuntos que interessam ao cliente e podem ou devem ser incluídos na sua
gestão, sem serem conteúdo de negócio jurídico típico, regem-se pelos princípios concernentes às locações de
obras ou de serviços, que se ligam às profissões liberais (cf. A. F. FEnHEER VON MINNIGERODE, § 675 in
BGB und der Begríff der Geschiiftsbesorgung, 84 s.).
2.EsPÉCIES DE NECÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. Os negócios jurídicos bancários podem ser sObre
crédito ou de crédito. Outra espécie é a dos negócios juridicos de custódia.
Os negócios jurídicos sObre crédito são , por exemplo, os em que há promessa de crédito e os negócios jurídicos
de caução de títulos de crédito e outros semelhantes. Não se deve, porém, atribuir grande relêvo à distinção, e
mais convém que se chame negócios jurídicos de crédito às duas espécies.
O elemento custodia], esse, sim, diferencia, ressaltantemente. Não se lhe pode exagerar a função, porque, na
verdade, é secundária, em relação aos outros negócios bancários. Por outro lado, em vez de o banco exercer, ai, a
função de intermediariedade na circulação, apenas custodia, quer se trate de dinheiro, quer de títulos ou outros
bens custodiáveis em banco.
Alguns negócios jurídicos bancários são derivados de leis especiais e a sistemática mais acertadamente põe-nos
na pauta do direito em que êles exsurgem, como acontece às letras hipotecárias (Tomo XX, §§ 2.497-2.499), às
cédulas rurais hipotecárias (Tomo XXI, §§ 2.591-2.600, 2.634-2.658), às cédulas rurais pignoratícias (Tomo
XXI, §§ 2.594-2.598, 2.600, 2.639-2.658), ou às mistas (Tomo XXI, ~§ 2.591, 2; 2.634-
-2.642, 2.655-2.657). São contratos de crédito com objeto especial e regidos por leis especiais.
Os negócios jurídicos de crédito, que são os negócios jurídicos mais frequentes dos bancos e das sociedades de
crédito, que são como empresas colaterais, de limitada atividade (a negócios jurídicos de crédito, ou a negócios
jurídicos de crédito e de financiamento), são de duas espécies: a> os negócios jurídicos de crédito em que o banco
é que é feito credor (negócios jurídicos de crédito bancâriamente ativos, porque o banco é que dá, que presta) ; b)
os negócios jurídicos em que é o banco que se faz devedor (negócios jurídicos de crédito bancâriamente
passivos, porque o cliente é que dá, que presta). Respectivamente, como exemplos, a abertura de crédito ou o
desconto e o depósito bancário de dinheiro.
Os negócios jurídicos bancários são, de ordinário, negócios jurídicos de duração. O elemento tempo revela-se em
todos êles: são todos êles com prazo determinado, ou a tempo indeterminado.
Quanto à prestação, há negócios jurídicos bancários que são em prestação única e instantânea e negócios
jurídicos que são a duas ou mais prestações. Na última espécie, a pluralidade de atos prestacionais pode ser da
parte do banco, ou do cliente, ou de ambos. Pense-se no depósito em conta corrente e no negócio jurídico em que
o banco se encarregou de recebimentos de terceiro ou de terceiros, com o dever de lançar na conta corrente do
cliente.
O crédito pode ser concebido como a) suscetível de exigência a cada momento (exigibilidade a líbito do credor)
ou como b) suscetível de satisfação a cada momento, ou e) com as duas suscetibilidades, ou d) sem elas. Exemplo
de a), tem-se em todos os créditos que derivam de comodato, ou de mútuo sem data para pagamento. Exemplo de
lO tem-se na abertura de crédito, pois ao acreditado fica o poder de prestar, no todo ou em parte, o que era devido.
Os negócios jurídicos bancários podem ser a prestações repetidas, como se há abertura de crédito e o cliente pode,
em conseqúência da relação jurídica existente, sacar ou exigir o que foi prometido ou deixado à vontade do
cliente; ou a exibilidade repetida, como se o banco se reservou dizer as datas dos pagamentos parcelares, ou se
fixados foram as datas ou os meses em que seriam feitos os pagamentos.
Cumpre observar-se que as quantias que o cliente leva a depósito no banco não são prestações a que
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correspondam negócios jurídicos sucessivos. Nem há outros negócios jurídicos que resultem das retiradas. Só há
um negócio jurídico. Só há uma dívida e só há um crédito, a despeito das variações. Por isso mesmo não se podem
invocar regras jurídicas sobre imputação de pagamento, nem regras jurídicas sobre compensação. Também por
isso não há tantos prazos de prescrição quantos os sucessivos débitos, porque esses, salvo cálculo liquidativo, são
um so.
O procedimento, no tocante ao registro contábil, tinha de ser especial e com duas colunas, a do crédito e a do
débito.
Se o cliente entrega, gratuitamente, ao banco título de crédito, com poder de uso e dever de restituIção, há
comodato bancário de titulo de crédito. A propriedade continua com o comodante, e o banco não pode dispor dos
títulos, mesmo a despeito da sua fungibilidade. No depósito regular, não há o uso pelo depositário, o que o
distingue do comodato. No depósito irregular, o fim de custódia não se apaga com a transferência da propriedade:
usa, porque recebeu e tem de restituir; no comodato, o comodatário tem direito ao uso, e tão
80. Não há comodato irregular, de modo que se não pode transferir a propriedade do bem comodado.
8.ESPÉCIES DE CONTRATOS BANCÁRIOS. Alguns contratos bancários e, até, negócios jurídicos unilaterais
bancários, ou com que operam os bancos, são regidos por leis especiais, como se dá com as letras hipotecárias
(Tomo XX, §§ 2.497--2.499), a hipoteca a favor de títulos de crédito circulantes e representativos (Tomo XX, §§
2.500-2.502), o penhor rural (Tomo XXI, §§ 2.591-2.600), o penhor industrial (Tomo XXI, §§ 2.601-2.604), as
cédulas rurais de garantia ~pignoraticia e hipotecária (Tomo XXI, §§ 2.683-2.654, 2.657 e 2.658), ou mista (§§
2.655 ~ 2.656), “warrants” e conhecimentos de de pó-sito (§§ 2.659-2.667), os títulos ao portador (Tornos
XXXII, §§ 8.654-8.730; XXXIII, §§ 3.731-3.787), as debêntures e obrigações portuárias (Tomo XXXIII, §§
8.811-3.826), os títulos cambiários (Tornos XXXIV e XXXV), a duplicata mercantil (Tomo XXXVI, §§
4.012-4.079), os bilhetes de mercadorias (§§ 4.080-4.084), a nota de crédito rural e a nota promissória rural (§§
4.085-4.092).
Os contratos bancários mais frequentes em que a entidade bancária assume a posição de credor ou de devedor são
a) o negócio jurídico de abertura de crédito, o contrato de adiantamento bancário e o de desconto bancário; b) os
depósitos bancários de dinheiro.
Os contratos de crédito são contratos de duração, porque necessàrimente se aguarda a restituição. Pode ser de
prestação instantânea o contrato bancário, ou de prestações ratiais (diferidas no tempo as dações).
Alguns contratos de crédito a prestações repetidas são de crédito à disposição. (Evitemos chamar-lhes “créditos
disponíveis”, para não haver ambiguidade.) Nas relações jurídicas concernentes a esses negócios jurídicos, o
credor pode exigir a restituição, sem que o devedor possa pagar quando queira. Há exigibilidade, unilateral, por
parte do credor, sem haver, por parte do devedor, a faculdade de solver. Além disso, a exigibilidade é do todo, ou
de parte, e não só do todo. Há, não derrogação ao princípio geral de não ser o credor adstrito a receber em parte
nem o devedor a pagar somente parte, mas não-incidência do princípio, que é ius dispositivum.
Em vez disso, há créditos em que o credor não pode exigir antes de certo termo, mas o devedor pode pagar quando
queira, mesmo parcialmente. t o que ocorre nos negócios jurídicos de abertura de crédito. São os débitos de
solvibilidade a líbito. (Em todo o caso, na prática, chamam-se créditos e débitos disponíveis a uns e outros, o que
é de impropriedade evidente.)
Os contratos bancários podem ser de execução repetida, de jeito que o cliente pode exigir a prestação parcial,
pôsto que a relação jurídica seja uma só. É o que se passa com os sucessivos levantamentos, pelo cliente, de
quantias, se há depósito bancário, ou abertura de crédito. As variações quantitativas só se referem ao objeto da
relação jurídica, e não à própria relação jurídica. Passa-se o mesmo se o cliente deposita, ou dá entrada a algum
dinheiro. O contrato é um só e persiste como é, através de todas as baixas e elevações do quanto que tem,
creditado, no banco. Tudo só se passa no tocante ao objeto e apenas quantitativamente. O que B deposita na conta
que tem no banco faz crescer o seu saldo, o que retira fá-lo decrescer; porém nada disso altera ou muda o contrato
bancário que havia. Dá-se o mesmo se o banco, na conformidade do contrato, credita ao outorgado alguma ou
algumas quantias.
4.FORMA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. A propósito da forma dos negócios jurídicos
bancários, não há resposta a priori às questões. A forma é a que tem de ter a espécie de negócio jurídico.
Quase todas as operações bancárias são por escrito. Isso não afasta que se empreguem o telegrama e o
telefonema, além dos teletipos de atividade interna. Os contratos entre ausentes podem ser por telegramas, com as
secundárias medidas confirmatórias, para que se afastem as possibilidades de falsidade e de êrro. Há discussão
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sobre ser entre ausentes ou entre presentes o contrato por telefone (cf. F. MEILI, Das Telephonredil, 201). Devido
à diversidade de lugares, na opinião de alguns juristas, as regras jurídicas sobre contratos inter absentes seriam
invocáveis, mas há a regra jurídica do art. 1.081, ~, 2.~ alínea, do Código Civil, que foi explícito (para a
controvérsia doutrinária que existia no século passado, CAETANO MAJORANA, Deite Gonvenzioni fra
persone lontane, 31 s.; F. MEWI, Das Tetephonrecht, 1 s., e a recensão de H. GUGOENHEIM, Zeitschrift fúr das
gesamte Handetsrecht, 1386, 867). A grande maioria tomava caminho errado, e. g., II. DERNBURG,
Pan>dekten, ~ 3Y ed., § 11). Certos, JOSEF KOHLER (Ober den Vertrag unter Abwesenden, Archiv fUr
Biirgerliches Recht, 1, 301). Cf. Tomos II, § 228, 1, 6; 225, 11; III, § 278, 6; XXXVIII, § 4.194, 6; XLVI, § 5.031,
1. Cumpre advertir-se que já o diziam, em 1873, H. SCHOTT (Der obligatorisch.e Vertrag unter Abwesenden,
68); e, em 1879, R.ICHARD MARSSON (Die Natur der Vetragsoffekrt, 9). Sobre a relatividade da presença,
assunto de que já tratamos, cf. GEORG MAAS (Ver
tragsschluss aaif elektrischem Wege, § 31), OSCAR PHILIPPI (ti ber Vertragsschluss durch Telephon, 15 s.).
Quanto ao contrato ou outro negócio jurídico por telegrama, tem-se de partir do exame das circunstâncias, porém
não se pode dizer a respeito das ofertas, das aceitações e das promessas, unilaterais, por telegrama o que mesmo
que se asserta quanto às ofertas, às aceitações e às promessas por telefone.
5.NATUREZA DA CONTA CORRENTE BANCARIA. O contrato de conta corrente bancária é contrato não
disciplinado pelas leis brasileiras. Porém precisaram-lhe os elementos. Não se deve atender à diversidade das
prestações, por parte do banco, porque tal diversidade concerne aos atos que incumbem ao banco, e não à conta
corrente bancária, que fica por cima dêles e apenas permite as inserções na conta.
1. PROCESSO DE CURSO. Conforme já temos frisado, não se hão de confundir com o contrato de conta
corrente os contratos, quase sempre bancários, em que se adota o processo do curso, isto é, a movimentação em
conta corrente. Os contratos bancários de execução repetida, mesmo que não sejam contratos de conta corrente,
podem ter execução em conta corrente. O que há de comum é que os levantamentos e as inversões de modo
nenhum atingem o contrato, nem lhe quebram a unicidade e unitariedade. A função de conta corrente é inerente
ao contrato de conta corrente, ao passo que o ser em conta corrente, nos outros contratos, somente concerne ao
processo da atividade contratual.
A conta corrente atendeu à necessidade de se evitar o dar e receber, freqUentemente, com perda de tempo e de
trabalho, e de haver escrita contábil, sempre que as operações são muitas.
Uma vez que o depósito bancário, ou a abertura de crédito, ou outra operação bancária se há de movimentar em
conta corrente, pode o correntista levantar, quando entenda, as quantias, dentro do seu crédito; salvo se foi
preestabelecido o pressuposto do pré-aviso (dito, também, aviso prévio). Quem avisa pode só avisar no momento,
razão por que, aludindo-se ao trato de tempo que há de existir, se emprega um dos termos: pré-
-aviso, ou aviso prévio. A previedade do aviso atende à distância no tempo.
qualquer dos figurantes pode denunciar o negócio jurídico, com o pré-aviso conforme os usos, ou de dez dias, se
uso não há. A denunciabilidade resulta, aí, de ser indeterminada a duração. Cumpre, todavia, advertir-se que pode
constar do contrato, ou mesmo dos estatutos do banco, que seja cheia a denúncia, isto é, que se dêem as razões e
essas sejam cabíveis. O cliente há de conhecer.
(A referência a dez dias resulta de serem regidos pelo direito comercial os negócios jurídicos bancários: o art. 137
do Código Comercial, e não o ad. 952 do Código Civil, é que se há de invocar.)
A denúncia e declaração unilateral de vontade, receptícia. Não há exigência de forma especial, salvo se foi
convencionado que a observasse, caso em que a denúncia sem observância da forma especial seria nula.
4. SERVIÇO DE CAIXA. Por vêzes, o banco fica encarregado de pagar contas do cliente, ou de exigir de terceiro
alguma quantia, ou de transferir para outra conta o que o cliente pede. Tais serviços de caixa são estranhos à
própria conta corrente, salvo se a conta corrente é criada para isso, espécie mista, em que os figurantes
preestabeleceram a maneira de atuação (PAOLo GRECO, Le Operazioni di Banca, 147). Se o contrato não o
prevê, tem-se de pensar em negócio jurídico à parta (e. g., mandato, comissão). Em qualquer dos casos, o banco
assume o dever de levar a cabo a incumbência, conforme os-princípios que sejam os do negócio jurídico de que se
trata. Não é de se afastar a hipótese de ter sido deliberação do banco, em gestão de negócios alheios.
Quando a função está prevista no contrato, a figura é a do contrato de que se trata com a inserção de outorga de
poder de representação, ou de simples poder de ato-fato jurídico por outrem (pagamentos).
Se o contrato bancário o previu e deu ao banco o dever da atuação, cada manifestação de vontade do correntista
não é negócio jurídico, não é mandato. Há os pedidos-exigências , a que o banco tem de atender, sem ser preciso
que se dê a aceita ç‟do. A outorga de poder é negócio jurídico unilateral (Tomos II, § 159, in fine, tabela: III, §§
308-323; XXXI, §§ 3.566, 1, e 3.567, 1, 8>. Os pedidos-exigências são comunicações de vontade (Tomo II, §§
235, 1 e 13, e 236, 2). O destinatário da oferta de mandato não é vinculado a praticar os atos a que a oferta se
refere: só se vincula com a aceitação. O oferente, no mandato, pode revogar, se não houve prazo para a aceitação,
até o momento, exclusive, em que lhe chega a resposta (Código Civil, art. 1.081, II). „O autor do pedido-exigência
vincula-se, esse, desde o momento em que se dá a recepção pelo destinatário.
Sempre que o banco, ao receber comunicação de vontade do cliente, tem de atender ao que se pede, trata-se de
pedido-exigência, quer isso resulte de cláusula contratual ou de outorga unilateral de poder, quer da lei, ou dos
usos (cf. GERARDO SANTINI, Ii Banco giro, 22 s.). Se o banco desatende, responde por perdas e danos. Na
linguagem vulgar, diz-se “ordem”, termo demasiado largo. Mas “ordem”, no sentido de exercício de direito a que
o banco preste, não é de refugar-se.
Se o ato que se pede não é ato à cuja prática esteja adstrito o banco, somente se vincula esse se aceita a oferta
contratual. O pedido-exigência supõe a vinculação anterior, qualquer que seja a sua origem.
Alguns atos da incumbência dos bancos são atos de núncio, para os quais não se precisa de poderes de
representação (e. g., pagar contas de impostos, luz e gás, telefones e outros serviços ao público). SObre núncio,
Tomos III, §§ 314, 4; 323; IV, §§ 386, 6; 441; 446; e XXII, § 2.721, 11.
Nem todos os créditos à disposição permitem que se enviem pedidos-exigências.
Os serviços de caixa dependem de ter o banco assumido o dever de os prestar, se esses serviços não são interiores
ao banco (e. g., traspasso bancário, Toni.o XXXI, §§ 3.592 e 3.593).
A assunção pode ser em virtude de lei, da natureza do contrato bancário, ou de especialização estatutária do
banco.
Os serviços de caixa podem ser de pagamento e de recebimento. Os pedidos-exigências, ditos, sem a devida
caracterização, “ordens”, podem ser por meio de carta, telegrama, telefonema, de viva voz, ou por outro meio, ou
por meio de cheque (cláusula de cheque). A remessa de cheque não altera a figura do pedido-exigência: trata-se
de titulo de crédito, para maior prova do levantamento conseqUente, e titulo abstrato.
O pedido-exigência supõe, portanto, assunção do dever de encargo de pagamento, ou de recebimento. Ora, esse
dever de pagar não poderia derivar de assinação: na espécie, de dele gatio solvendi (delegação de pagamento),
porque a delegatio pronittendi seria fora dos usos.
O aviso-exigência supõe que o dever exista; e na assinação não há o dever do assinado. Se o há, decorre de outra
fonte de obrigações.
creditar; nem se exige que tenha havido autorização explícita do correntista. O que é possível é que esse
pré-exclua tal função.
Os pagamentos feitos ao banco não liberam os devedores se não foi exatamente a quantia devida o que se
entregou ao banco, ou se o banco não creditou ao correntista o que o terceiro devia a esse. Por isso mesmo, o
terceiro, que paga, deve exigir o recibo do versamento.
Pode dar-se que o correntista tenha autorizado o terceiro a entregar a quantia exata ao banco, para que lha credite,
de modo que, pela carta, ou por outro meio de comunicação, ou por indicação em fatura, ou conta, ou catálogos,
ou prospectos, ou publicações na imprensa, fique assente que o banco é a empresa indicada pelo credor para
receber o pagamento. Então, os riscos de liquidação coativa ou de decretação de abertura da falência do banco
correm por conta do credor, e não do devedor. Se não houve tal autorização ao devedor, os riscos são seus, salvo
se o credor teve conhecimento do pagamento feito ao banco e o teve, tácitamente ou expressamente, por bem
feito. Quando os riscos são do devedor, continua êle devedor do todo, que o credor não levantara, ou não
aprovara, e tem de apresentar-se como credor do banco por aquilo que entregara.
Se, em virtude da conta corrente, ou de outro negócio jurídico, o banco tem o dever de dar entrada aos
pagamentos, há apenas, da parte do correntista, pretensão a que o banco receba, e os atos dos devedores que
pagam são ou se supõem avisos-exigências.
Quando os bancos estão “autorizados” a receber quaisquer tributos, ou alguns tributos, ou tributo, a relação
jurídica entre o banco e a entidade estatal é a mesma que existiria entre o banco e qualquer cliente, e a relação
jurídica entre o banco e quem paga o tributo é a mesma do terceiro que recebe o que o credor lhe permitiu receber.
(a) Se algum banco recebe procuração, para negócio jurídico que não é da atividade especifica do banco, de modo
que não se tenha de entender que há promessa. de cumprimento, ou o banco tem a procuração como adesão do
cliente, ou aceitação da sua oferta (negócio jurídico subjacente à outorga de poder), ou não tem dever de exercer
o que se contém na outorga de poderes. Salvo caso em que seja necessária resposta ou comunicação de
recebimento, não há dever de resposta, ou de comunicação. Se houve aviso telegráfico ou telefônico, as
circunstâncias quase sempre criam o dever.
~ preciso que se não confunda com a procuração, ou outra outorga de poder, o mandato, que é negócio jurídico
bilateral.
A outorga de poder pode não se inserir em mandato. A procuração é negócio jurídico unilateral, e não contrato
(PAUL ]ISA.BAND, Die Stellvertretung bei dem Abschlusse von Rechtsgeschãften, Zeitschrijt fllr das gesamte
Handelsrecht, 10, 203 s.; R. VON CAN5TEIN, Auftrag u. Vollmacht, Griinkuts Zeitschrift, III, 670 s.;
FRIEDRICH CURTIUS, Die Stellvertretung bei Eingehung von Vertrãgen, Archiv flir die civilist4 sch,e Praxi,s,
58, 78; FR. HELLMANN, Die Stellvertretung in Recktsgeschdften, 110; L. MaTEIs, fie Lehre von der
Stellvertretung, 186; OTTO LENEL, Stellvertretung und Vollmacht, Jherings Jahrb-llcher, 36, 15; EGBERT
WETSCHKY, tiber die Widerruflichiceit der Volimacht, 13 s.).
(b)Nas relações entre os diretores e os bancos, a caracterização da figura que as determina (depósito bancário,
conta corrente, mandato, depósito, caução ou penhor, fiança) é da maior relevância, principalmente para se saber
quais são os casos para indenização e qual a fonte (contratual e extracontratual). Pense-se no que ocorre se se trata
de mandato, tanto mais quanto se discute o próprio conceito de caso fortuito (e. g., KOPPEL, Haftet der
Áuftraggeber deu Beauftra-gten .fiir deu zufãlligen Schaden, deu dieser bei Àusfúhrung des Áuftrags erlitten
hat?, 12, e HERMANN }{ANAU, fie Voraus.setzung eu, unter welchen nack gerneinein Recht der Mawlant filr
Schaden kaftet, welcher dem Mandatar bei Ausfithrung seines Auftra.ges eruÂdckst, 15, que exigem ser o fato
estra‟nho à vontade do mandante e do mandatário; contra, STEPHAN KEKULE, fie Schadensersatzpflicht des
Mandanteu nach gemeinem Rechte, 20, que abstrai dessa referência à vontade dos contraentes). Pense-se em que
muitos atribuem culpa, presuntivamente, ao furtado ou custodiante se furto houve (FREU. HEPP, fie Zurechnuug
auf dein Gebiete des Civiirechts, 66) e outros a afirmam, em quaisquer casos (e. g., A. FABER, Coniecturarum
iuris civilis, III, cap. 5; EGIO voN Lorni, Reitrãge zur Theorie der Culpa, n. 4), com a repulsa de JOH. Cmi.
HASSE (fie Culpa des rõmischen Rechts, 319 s.), P. F. VON WY55 (fie Haftung filr .fremde Culpa, 84),
STEPIIAN KEKULE (13) e de KARL WEíss (Haftet der Auftraggeber dem Beauftragteri. filr deu zuf&ilhigen
Schaden, welcheu dieser bei Áusfilhrung des Auftrags ertitten kat?, 9 s. e 39 s.).
(c) Os problemas derivados de ser incapaz a pessoa que representa o cliente do banco, ou que é mandatário, ou
gestor de negócios alheios sem poderes, têm de ser resolvidos no sentido de que o pagamento é ato-jato jurídico,
e não negócio jurídico, e de que o terceiro, depositante na conta bancária, não pode, com o seu ato, por falta de
poderes ou incapacidade, prejudicar o banco. Se o cliente levantou o que foi depositado bancâriamente, ou se
considerou solvida a divida perante o banco, tem de responder pelo enriquecimento injustificado. Não se há de
invocar o princípio de que quem trata com terceiro tem de exigir a mostra dos poderes, ou de que há de o
outorgante ser capaz (cf. EUGE$ JEHLE, Die Voltmackt und die Witlensmãn,gel des Vollmachtgebers, 55 s.),
porque não se precisa de poderes para se pagar ou depositar em conta. Mesmo se quem paga, com o seu ato,
comete ato ilícito (e. g., B, para injuriar a A, deposita na conta da mulher de A quantia de que ela ignora qualquer
procedência).
(d)Quem pode alegar compensação, e não a alega, ou não procede como se a alegasse (e. g., prestou a diferença),
renunciou ao seu direito. Contra o endossatário não pode o banco compensar, se não é o devedor, mas apenas, e.
g., cobrador do titulo; nem, como fiador, pode compensar contra o credor, se tal direito não tem o devedor ou a êle
renunciou (cf. FRANZ FIEGEN, fie Verzicht auf die Kompensationsbefugnis, 28 s.).
(e) Da pena convencional fica isento o devedor, o cliente, se o banco foi causador de impossibilitação da
prestação (cf. W. v. SEELLER, Zur Lehre vou der Konventional.strafe nach rõmischem J?echt, 75). Com a
cláusula penal prevê-se a conseqUência do inadimplemento (cf. WffHELM SJÕGREN, tiber die rõmiseke
Conventionoistrafe und die Strafklauseln der frãnkischen Urkundem, 19).
Quanto às arras, afaste-se que haja arrha pacto imperfecto
(cf. E. Cmi. WESTPHAL, De arrha romana, 9; BERTROLD VALLENTIN, fie Draul gabe des gemeineu
Rechts, 27; e Huco SCRRÓBTER, Vergeichende Darstellung des Rechts der arrha, 18).
(f) O mandato ou outra outorga de poder post mortem, como o mandato ou a procura in rem suam, escapa à regra
jurídica da extinção por ocorrer a morte do outorgante. Pode A outorgar a B poderes para prestar a C determinada
-w
quantia, ou bem, depois de morrer A (cf. RICHARD MANN, fie eigentilmlich,en Endigungagrilude des Mandats
bezw. der VoUmacht, 28 s., KARL SCHMITZ, Das Erlõschen einer Vollmacht, 13 e., 23 s.). Nada obsta a que o
cliente, nas vésperas de morrer, escreva ou telegrafe ao banco para que credite a C determinada quantia, ou para
que compre, em nome de O, ações de empresa, ou que dê a ordem para que o faça após a sua morte. Apenas tem
o banco, ou outro outorgado de poderes, de comuficar ao inventariante o que ocorreu, bem como tomar outras
providências, por ter sido post mortem o cumprimento do que
quis o cliente. Na última espécie, o cliente manifestou a sua vontade, entre vivos, e não a causa de morte, mesmo
se, cumprido pelo banco o que êle ordenou, fêz parte do pedido-exigência não comunicar o banco a operação
antes de ocorrer a morte do cliente. Uma vez que o banco receba o que o cliente lhe ordenou, embora a chegada
seja posterior à morte, o banco tem de cumprir. Os pressupostos para o telefonema ou para o telegrama são os
mesmos que se exigem para os casos de não haver probabilidade de morte próxima. As dificuldades quanto à
prova, essas, podem surgir a respeito das ordens orais e das ordens telefônicas. O lançamento antes da morte do
cliente facilita a prova, porque há a escrita bancária, que é comercial. Depois da morte, agravam-se as
dificuldades, posto que não sejam insuperáveis.
(g)O banco que se encarrega de receber o que é devido a portador, endossatário ou tomador de algum titulo, tem
de entregar a quem preste o título de que se trata. Se c banco há de pagar, em vez de receber, tem de exigir de
quem se diz credor que lhe faça a tradição do titulo, com as formalidades que f oram exigidas, como o recibo no
título nominativo.
No caso de perda de qualquer titulo de crédito, pode o devedor exigir do credor que faça declaração de ter
recebido, declaração que baste para eficácia contra terceiro. O titulo que pode ser endossado para circular ao
portador não dispensa a amortização, de modo que o art. 942 do Código Civil não se refere a esses. Não basta a
quitação, nem basta a epístola evacuatoria, que é a declaração de que cogita o art. 942. O documento mortificante
só é suficiente se a lei não previu o processo de amortização (cf. ERNST RATHJENS, Quittung und
Mortifikatiansschein flir Schuldseheine, 4 s.). A quitação refere-se à extinção da dívida, mas é preciso que o
credor possa, só por si, redigi-la (cf. G. DRYANDER, Die rechtlich,e Redeutung der Quittung, 14). Trata-se de
ato jurídico stricto sensu (Tomo II, §§ 159, in fine, e 233, 1; cf. Tomo XXIV, §§ 2.889, 5; 2.909, 3; 2.913; 2.916).
Não se pode dizer que a quitação seja negócio jurídico extintivo, como entenderam W. DILOO (fie Quittung im
Recht imã im Verkekr, 81 s.) e outros.
(h) No Tomo XXXIX, §§ 4.265, 1 e 4326, falamos do contrato de compra-e-venda com reserva de domínio.
Trata-se de contrato ,que pode ser feito através de banco, que é procurador, ou simples mediador, conforme a
espécie. isso não obsta a que o banco opere com poderes que lhe dê, por exemplo, o fabricante de máquinas, para
a venda do direito de expectativa, ou para exigir a entrega dos bens vendidos em cláusula de reserva da
propriedade. O industrial é chamado credor real, elipse de credor com o direito real de propriedade
(Realgídubiger). Com isso, evita-se o penhor com retirada da posse ao devedor, porém não é indiscutível a
vantagem para os industriais de vendas com reserva de domínio, como não há na locação (cf. OBERWINTER, Ist
em Âflderung der Gesetzgebung zweckes Ermóglichung des Eigentumsvorbehaltes an Machinen notwendig‟?,
Jherings Jahrbiicher, 51, 253 s.; WALTHER WINDEL, Der Eigeutumsvorb ehatt au Mas chineu, 10 s.).
A empresa industrial pode segurar-se com proibição negocial de alienar (pactum de nou alienando), ou mesmo de
não ceder direitos (pacíniu de nou cedendo). O banco pode estabelecê-lo como segurança para as suas operações
.
Quanto ao problema da eficácia, que tanto se discutiu na doutrina (cf. A. C. J. SCEMm, Handbuch das
gegenwiirtig geltenden gemeinen deutschen Bri~gerUchen Rechts, 1, 39; CARIS KISTNER, Das
rechtsgeschãftliche Verd usserungsverbot, 29; AUGUST KOI-ILEN, Aos Affektionsinteresse bei Obligationeu,
18 e 26; ERNST SCHLESINGER, fie Wirlcsamkeit das pactum de non cedendo, 5 s.; cf. L. BRÚTT, Das
rechtsgeschdftliche Verãwsserungsverbot, 35; WILRELM ECRSTEIN, fie tlbertragbarkeit der Forderungeu, 10
s.).
Se há eficácia absoluta (real, ou erga omnes, por ser resultante de registro ou outra formalidade), a
inalienabilidade ou a incedibilídade é oponível a todos. Se não há tal eficácia, é só pessoal (obrigacional).
Os negócios jurídicos de assinação (Tomos XLII, ~§ 4.683-4.640; II, §§ 120, 2; 285, 11; 237, 2; XXII, § 2.764, 2;
XXII, § 2.855, 4; XXIV, § 2.971, 5; XXV, §§ 8.004, 5; 3.076, 6; XXVI, § 8.157, 4; XXXII, § 8.705, 4; XXXVII,
§ 3.097, 3) são freqUentes nos bancos. Negócio jurídico, a assinação de pagamento exerce função relevante nas
operações de banco, especialmente quanto à relações de valuta, Valutaverhtiltnis
À (cf. GEORG KAHL, fie búrgerliche Anweisung, 81 s.). O banca que aceitou a assinação nada mais pode alegar
a quem se apresenta para receber.
-w
1.OPERAÇOES BANCARIAS PECUNIÁRIAS. A grande maioria das operações bancárias são operações
pecuniárias. As operações que não têm por objeto aquisição, troca, ou depósito, ou empréstimo, de dinheiro,
podem ser bancárias, porém já exigem organização especializada.
A primeira questão, a respeito de dinheiro, é de se saber se existe dualidade de conceitos: dinheiro, em sentido
econômico, e dinheiro, em sentido jurídico. Começar-se por procurar o que a economia vê de mais saliente, mais
ressaltante no dinheiro e o que, do seu lado, o direito faz mais nítido, talvez precípuo, no dinheiro, tem sido êrro
de método. Já se postula. de algum modo, a diversidade de conceitos. Autores há, porém, que afirmam existir o
conceito econômico, inconfundível com o conceito jurídico, de modo que há o dinheiro no sentido econômico e o
dinheiro no sentido jurídico, que não coincidem nos seus limites, e não são, pois, a mesma coisa.
A Sociologia sói mostrar-nos casos em que em dois ou mais processos sociais de adaptação, e. g., Economia e
Direito, Moral e Direito, Economia, Moral e Direito, os conceitos e o que se conceitua num dêles se diferenciam
dos conceitos e do que se conceitua no outro, ou nos outros. Não se pode dizer, portanto, ah initio, que a distinção
não existe. Tão-pouco, que deve existir.
Para a definição do dinheiro, o critério geralmente seguido tem sido o de caracterização das suas funções e, a par
disso, da sua função principal.
Apontam-se, por exemplo, como funções típicas: a) ser instrumento geral de troca ou câmbio e, se é certo que
Gustavo HARTMANN (tiber deu rech,tiich,en Regriff des Geldes, 10) pensava negar-lha, mostrando que tal
função também tinham os títulos cambiários, V. HASENÓHBL (Das õsterreichisch,e Obiigationenrecht, 2~a ed.,
224), pôs os pontos nos ii, quando respondeu que não é verdade ter o título cambiário a função de meio geral de
câmbio ou troca; b) ser medida comum dos valores, denominador geral dos bens, indicador comum dos preços; c)
ser meio geral de pagamento; d) ser meio de transporte do valor, no tempo e no espaço, ou instrumento de
conservação e transmissão de valores.
Invertamos a ordem delas para comodidade da análise, que tem de ser eliminatória. A função d) é, evidentemente,
secundária, e não poderia ser considerada como principal, menos ainda como exaustiva, ou suficiente, para
definir o dinheiro. A função e) constitui parte da função a), pois que, em vez de se aludir a instrumento geral de
-w
câmbio, de tráfico, se alude a instrumento geral de pagamento, com o que se lhe reconhece, não o papel de única
prestação em paga (o que valeria dizer-se que todo pagamento consiste, necessàriamente, em entrega de soma de
dinheiro), mas papel resultante de que qualquer obrigação se pode reduzir à obrigação de se pagar soma de
dinheiro.
Tal é a atitude que, ao definirem dinheiro, preferiram:
F. KLEINWXCHTER (Lehrbuch der NationaWkonomie, 2a ed., 820); EUGEN PHILIPPOVICH vON
PHILIPPSEERG (Grundrise der politischen Okono‟,nie, J, 8Y ed., 320) ; PAUL LABAND (Das Staatsreckt das
deutschen Reichs, 5a ed., 170) ; e O. F. RNArP (Staatliche Theorie das Geldes, 31). A função a) pareceu
principal e típica a CARIS MENCER (Geld, Handwórterbuch der Staatswissenschaft, ~v, 8~ ed., 567) ; a L. v.
Misrs (Theorie das Geldes und Uinlaufsinittel, 3 s.); a MARTIN WOLFP (Das Oeld, Handbuch des gesamten
Handelsrechts, IV, 570).
Alguns escritores há que põem em relêvo duas ou mais funções.
Todos os sistemas monetários se basearam em unidade fundamental, que é o divisor comum; de modo que cada
sistema é independente das expressões, ainda que se adotem particularidades espaciais ou geográficas, e da
própria substância dos signos monetários (ouro, prata, níquel, papel). O sistema varia, sem se tornar incompatível
ou estranho, quando se admite nova unidade, ou se passa a nova unidade, mediante norma de redução, como
pretendeu, no Brasil, a abortada política das moedas-cruzeiro, e agora se fala de tirarem-se zeros. Se o legislador
introduz outros elementos para a redução, como a data do contrato, ou a origem da dívida, esses elementos
concernem à divida, e não ao dinheiro. Aliás, em vez de regra de redução~ o legislador pode aceitar regra de
câmbio, estabelecendo, no tempo, o que sói ser no espaço, ou no espaço anunciado a tempo, mas tempo da
prestação, e não da moeda mesma.
Quem vendeu moeda estrangeira tem de pagar moeda estrangeira. Não se desonera pagando o que deve em
moeda nacional ao câmbio do vencimento, ou ao câmbio do dia do pagamento mais a diferença e os juros. É
devedor de coisa monetária, e não de dinheiro. Tem de pagar em moeda estrangeira; se não paga, responde por
perdas e danos, até a efetiva satisfação, sem se poder falar, então, de juros legais, pois que não se trata de dívida de
dinheiro, mas de divida de coisa monetária. “Quando o vendedor”, diz o Código Comercial, art. 202, “deixa de
entregar a coisa vendida no tempo aprazado, o comprador tem opção, ou de rescindir (7!) o contrato, ou de
demandar o seu cumprimento com os danos da mora; salvo os casos fortuitos ou de fôrça maior . Antes está no
Código Comercial, art. 197: “Logo que a venda é perfeita (art. 191), o vendedor fica obrigado a entregar ao
comprador a coisa vendida no prazo e pelo modo estipulado no contrato; pena de responder pelas perdas e danos
que da sua falta resultarem”. Não atendeu J. X. CARVALHO DE MENDONÇA (Tratado de Direito Co- mercial
brasileiro, VI, 23 parte, 213) à diferença entre dívidas de dinheiro e dívidas de coisa monetária, distinção de que
descurou, quando, ao tratar da indenização devida pelo vendedor inadimplente, disse: “É justo que pague o
vendedor os juros da mora, e assim tem sido julgado por mais de uma vez”. E repeliu exatamente o que é certo:
“Não raras vêzes se tem condenado o vendedor a outras indenizações pelas perdas e danos, liquidáveis na
execução. Certo é que as questões de indenização são de fato. O comprador não pode pretender mais do que a
indenização do prejuízo, pois seria, em caso contrário, locupletar-se à custa do vendedor”. Ora, o juiz tem de
condenar no que se liquidar na execução, porque se trata de compra-e--venda e de obrigação do vendedor. Juros,
aí, seriam absurdos. É um dos pontos em que maior cuidado se precisa ter, para
que se não apliquem aos contratos de compra-e-venda de moeda, ainda a prazo, os princípios peculiares às
dívidas de dinheiro. O comprador, pelo contrato, deve dinheiro (se assim não fôra, o contrato seria de troca), mas
o vendedor deve coisa monetária. Se bem que a lei fale em resolução (rescisão!> ou indenização, quem pede
resolução, segundo o ad. 202, pede a restituição do preço e o pagamento das despesas, com os juros legais (art.
213) : “Em todos os casos em que o comprador tem direito de resilir o contrato, o vendedor é obrigado não só a
restituir o preço, mas também a pagar as despesas que tiver ocasionado, com os juros da lei”. Ora, onde cabem
juros legais não cabem outros pagamentos de danos da mora. Certa, a decisão da 1~a Câmara da Côrte de
Apelação do Distrito Federal, a 28 de junho de 1907, confirmada pelas Câmaras ReUnidas, a 28 de abril de 1909
(R. de D., V, 372; 12, 541) ; erradas, as da 1.a Câmara Cível, a 10 de junho de 1915, das Câmaras ReUnidas, a 27
de junho de 1916, e da 1.a Câmara Cível, 38, 145; 46, 355-360; 49, 360-365; 1?. .1., 11, 350-353). Foi vitima do
mesmo engano J. X. CARVALHO DE MENDONÇA, Tratado, VI, ~ 23 parte, 211 s.).
Tôda moeda é suscetível de dois valores: o valor intraestatal, a que os escritores alemães chamam Rinne‟nwert, e
o valor interestatal, que é, de certo modo, valor extraestatal, se considerarmos o Estado a que pertence o sistema
monetário (Ausserwert). Ambos são taxáveis oficialmente$mas só em épocas de perturbação, ou de desequilíbrio
econômico-financeiro, é que a taxa interior ou os números índices obtêm aplicação compulsória.
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O valor interestatal alude ao importe das trocas e outros fatôres das relações dos povos ao par of exchange, à
Munzparitiit, ou paridade monetária, que resulta da comparação do conteúdo metálico de duas moedas, mas
também à oferta e à procura delas, o que faz a uma sobrepujar a outra. Se se trata de papel-moeda, aquêle fator
diminui ou desaparece.
Para pedir a resolução do contrato com fundamento nos arts. 202 e 213 do Código Comercial, o comprador de
moeda não precisa ter cumprido a sua prestação, salvo se o preço tinha de ser pago antes, ou se o contrato dispôs
diversamente.
Qualquer definição do dinheiro que entre na apreciação do valor contido, do elemento metal ou outro de natureza
semelhante, já ultrapassa o que se quer definir. Exatamente, no dinheiro há valor que não é aquêle (êrro dos
valoristas, metalistas ou não) e do qual pode aquêle não estar separado, pelo menos não há de estar,
necessàriamente, separado (êrro dos nominalistas). A nominalidade quase pura ou pura é o extremo de evolução
técnica, ligada à função do Estado, sensível onde mais se caracteriza a abstração do dinheiro, quer dizer quando
o Direito preponderou na regulação dêle. Nos nossos dias, o dinheiro é mais fato do mundo jurídico do que do
domínio econômico. A Economia não perdeu o seu poder sobre êle, não deixou de regê-lo, de governá-lo, mas,
por um lado, é o dinheiro, tal como o conceito do Direito o faz, que exerce a função econômica e, além disso,
cresce o papel do Direito onde quer que se dirija a Economia. Ora, nos nossos dias, a economia de todos os povos
é mais ou menos dirigida; mesmo onde o liberalismo econômico ainda resiste às tentativas de minorar-lhe as
conseqüências e os males, há notáveis incursões do Direito na dimensão da Economia.
2. COTAÇÕES. Hoje as cotações oficiais, que podem ser duas ou mais, já não indicam preços, nem, sequer,
médias de preços sobre o conjunto das operações levadas a cabo; não têm aquela fidelidade de expressão, que
caracterizava as cotações dos tempos de liberalismo financeiro; são indicações de preços, dentro de certo quadro
de pressupostos e. circunstâncias.
Teoricamente, a cotação oficial significaria a mais próxima expressão do valor real. Pràticamente, em virtude de
política intervencionista dos Estados, tal proximidade é, de regra, discutível. Raramente, hoje, merece grande
crédito. Em todo o caso, é o que se tem de tomar por base, se dos termos do ato jurídico não resulta outro critério,
ou se a lei mesma não estabelece outro.
O primeiro principio, em tal assunto, é o de que a cotação depende daqueles que, por lei, são incumbidos de
determiná-la, não podendo a Justiça entrar na apreciação da sua verdade, pôsto que possa verificar se os que a
fixaram tinham competênda legal para isso e se foram observadas regras jurídicas que dizem respeito à segurança
do público. Tão-pouco podem os bancos fixar taxa diferente da taxa oficial, ou das taxas oficiais, se há mais de
uma (cf. Tribunal de Justiça da Bahia, 16 de março de 1897).
O segundo principio é o de que, se há dúvida sobre qual seja a cotação e. g., se a de uma praça, se a de outra se
tem de entender a do lugar em que se tem de cumprir a obrigação pecuniária. Aliás, os sistemas têm o princípio da
autonomia de vontade na escolha da Bolsa, desde que a tenham na inclusão da cláusula.
Ocurso oficial (interestatal) pode referir-se a valutas, isto é, moeda estrangeira que se adquiria no país, como as
que se compram nos cambistas (valutas), ou a divisas, que são as letras de câmbio sobre o estrangeiro, os cheques
e as ordens de pagamento. O curso das divisas influi no curso das valutas, mas circunstâncias especiais fazem
diferençarem-se os dois cursos. O curso básico é o das divisas, de modo que, no uso do comércio, quando se fala
de curso do câmbio, ou de taxa oficial, ou de curso do dia, é do curso das divisas que se cogita, ainda que se trate
de pagamentos no interior, ou que se prometa pagamento em moeda nacional a câmbio de determinada moeda
estrangeira. A redução da moeda estrangeira em moeda nacional faz-se de acôrdo com o curso das divisas, isto é,
segundo a cotação das letras de câmbio e ordens de pagamento a curto prazo, o rate oh exchange. Não de acôrdo
com o curso das valutas, salvo cláusula expressa.
A regra é que, não sendo possível realizar-se a prestação segundo o estipulado, a divida de moeda estrangeira se
transforma em divida de moeda nacional. Mas, para isso, é preciso que a estipulação valha. O problema da
restituição do recebido (Código Civil, art. 158) é independente da validade da cláusula e supõe, exatamente, que a
cláusula não valha. Porém esse problema da restituição não é sem dificuldades, porque é de evitar-se a
conferência de efeitos a cláusula que a lei fulmi11011 com a nulidade. Tal restituição, às vêzes, favorece ao
devedor (e. g., se devia moeda estrangeira e o câmbio estrangeiro subiu), às vêzes ao credor (e. g., se subiu o
câmbio nacional). O pagamento à taxa do vencimento supõe a validade da cláusula. A restituição exige que se
reponham as coisas no estado em que, antes do pronunciamento da justiça, se achavam. Não há confundi-los.
Em relação ao curso forçado, nem sempre lhe causam danos as cláusulas-ouro ou valor-ouro, porém o legislador
-w
pode ligá-las à boa execução do curso forçado e então lhe é dado proIbi-las no futuro e no passado.
As cláusulas de moeda-ouro atentam evidentemente contra o curso forçado, desde que obriga o devedor a
prover-se de moedas de ouro e é bem possível ocorrer impossibilidade da prestação se se proibe, por exemplo, a
aquisição de moedas ainda acima do valor nominal ou da taxa do câmbio. Tal invocação de impossibilidade só
tem importância se a cláusula vale, caso em que se responde pelo valor do ouro. A proibição da usura exerce, aí,
função importantíssima.
empregado público, ou outra pessoa. Os clínicos, nos seus gabinetes particulares, atestam.
A certidão transcreve todo o ato que foi lavrado, ou parte dêle. No fundo, certifica-se que o traslado é exato,
verdadeiro, no tocante ao ato preexistente, que se transcreve. A autenticidade consiste na reprodução integral ou
parcial. Se há emissão de enunciado de fato sobre o conteúdo, em vez de reprodução, há certificado, e não
certidão.
A eficácia da certidão e do certificado é a eficácia do ato a que a certidão ou o certificado se refere. De certo
modo, exterioriza-se a certeza que com a forma do ato se obteve.
O Código Civil, no art. 188, cogitou da prova plena que resulta das certidões e dos traslados, extraídos por oficial
público, de instrumento e documentos lançados em suas notas. Diz o art. 188: “Terão também a mesma fôrça
probante os traslados e as certidões, extraidas por oficial público, de instrumentos ou documentos lançados em
suas notas”.
Se o interessado acha que a certidão ou o traslado não é fiel, ou tem dúvida a respeito, o tabelião ou escrivão tem
o dever de exibir o original para que se verifique (SILVESTRE COMES DE MORAIS, Tractatus de
Executionibus instrumento-rum d sententiarum, IV, 60 s.).
A certidão não somente confere, contém declaração de conhecimento, que importa declaração reprodutiva de
conhecimento e afirmação de certeza. O certificado declara conhecimento, porém é reprodutivo. Nem no é o
atestado, que também declara conhecimento.
A autenticidade pode só ser formal, como se a escritura pública contém todos os pressupostos, exceto a identidade
de um dos figurantes, de alguns ou de todos. Pode só ser substancial (e. g., refere-se aos figurantes e ao objeto que
se aliena, e não foi apresentado o recibo do impôsto de transmissão).
O reconhecimento de firma, esse, declara conhecimento (o ato de assinatura é da pessoa que tem tal nome), porém
não é certidão: não há certidão, nem certificado no reconhecimento de firma; apenas afirma que há conferência,
que a firma confere com a que foi lançada no cartório.
O traslado de peças dos autos somente faz prova plena se foi extraído por ordem ou mandado do juiz, com citação
da outra parte, que é a interessada, ou se foi extraído pelo escrivão e concertado por outro oficial. Tem-se
chamado traslado a certidão que se tira após a lavratura do negócio jurídico, sem ser a primeira, ou o que se faz de
certidão, concertado por outro tabelião ou escrivão. Diz-se no Código Civil, art. 137: “Farão a mesma prova que
os originais as certidões textuais de qualquer peça judicial, do protocolo das audiências ou de outro qualquer livro
a cargo do escrivão, sendo extraídas por êle, ou sob a sua vigilância, e por êle subscritas, assim como os traslados
de autos, quando por outro escrivão concertados”. Não se aludiu à feitura de traslado, por mandado do juiz e
citação da outra parte. O principio foi revelado pelos juristas do século XVI (NIÇoL. BOERIUS, Decisiones
awrearum in sacro Rurdegalense Senatu, d. 28, n. 9; MÂSCAnnO, Tractabus de Probationibus, c. 1894) e
melhor explicitado por MANUEL MENDES DE CASTRO (Practica Lusitana, 1, Livro 3, cap. 22, n. 4;
Conimbricae, 1680, 1, 122: .1... cum iudicis auctoritate, et partis citatione, quod plenam fidem facere obserunt ...
Et ratio est, quia iudicis auctoritas suspitionem fraudis excludit...”). Está no Alvará de 27 de abril de 1647.
A distinção entre certidão e atestado não pode consistir em ter esse de se referir a ato ou fato, que ocorreu perante
o próprio atestante, e aquela, não, por ser quanto a ato que não se deu perante quem certifica. Estar-se-ia a abstrair
da ligação da certidão à atividade do oficio público, para se pôr em primeira plana a~ pessoa de quem certifica. O
tabelião dá certidão do que êle assinou com os figurantes e as testemunhas e de que o seu antecessor ou substituto
assinou com os figurantes e as testemunhas.
Declaração oral não poderia ser certidão, nem certificado, nem atestado. A forma não-escrita implica que o ato
mesmo se exprima na manifestação, o que de modo nenhum se dá com a certidão, que se reporta a outro ato.
Quem, com a voz, ou com gestos, dá ordem de prisão, não certifica. Nem certifica quem vê o bilhete de ingresso
do teatro ou do cinema, e diz que entre quem o mostra ou o entrega.
A instrumentação de atos jurídicos, que compete a tabelião, a escrivão e outras pessoas, é exercício de função
operacional, informadora, que publiciza, sem ainda se dar qualquer certidão. Há elemento certificativo, mas
interno e intrínseco, a que se segue o ato externo, extrínseco, da certidão.
Quem dá certidão, ou atestado, tem de indicar porque se atribui tal função. Sem que se explicite a competência,
com que se assina a certidão, ou o atestado, não há certidão, nem atestado. Outros elementos são o conteúdo do
ato de que se tira a certidão, ou do fato que se atesta.
Não se deve falar de certidão de vida (cf. Ordenança de 8 de março de 1844), mas sim de atestado de vida. Dá-se
o mesmo com os atestados de frequência (cf. Aviso de 29 de setembro de 1858, inciso 64).
Ochamado atestado de boa conduta, dado pela autoridade pública, não é atestado: é certificado. A autoridade
pública examinou os arquivos ou fichários e o que ela exprime é o que decorreu do exame, segundo a técnica
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informativa do oficio público. Trata-se de certificado, e não de atestado, nem, tão-pouco, de certidão.
Há, ainda, a diferença entre a função certificativa e a função de inspecção ou de perícia. O laudo pericial ou
inspectivo contém declaração de conhecimento, o plus de se terem empregado critérios empíricos ou regras
técnicas.
A declaração, o tornar claro, a afirmação de certeza, pode existir sem que se certifique, isto é, sem que se - dê
certidão, ou atestado. fl~ o que se passa com os atos de registro, ou de arquivamento, ou de arquivamento e
registro, ou de registro e arquivamento, a respeito dos quais a certidão é outro ato, outra declaração de
conhecimento. Já não se diz, implicitamente ou explicitamente, que se tem o dever de registar ou de arquivar, ou
de arquivar e registar, ou de registar e arquivar: certifica-se, pela certidão, que se registrou, ou se arquivou, ou se
arquivou e registrou, ou se registrou e se arquivou. Os atos registados são atos interiores, com eficácia interior e
exterior, e com êles se mira o futuro. A certidão é externa, com eficácia só exterior, e com ela se volve ao passado,
e se cogita do que se fêz.
As notificações comunicam conhecimento, para que o notificado tenha a notícia, possa tomar nota e sej a atingido
pela eficácia notificativa.
As publicações e comunicações podem não ter eficácia notificativa, por serem meros atos jurídicos stricto sensu
de difusão, operações provocativas de conhecimento, a que se pode juntar eficácia própria de outros atos jurídicos
stricto sentu (e. g., convocações, dação de prazo) e até de negócios jurídicos <e. g., revogação da promessa
unilateral de vontade ou da outorga de poderes).
Nem os particulares nem os tabeliães abonam. O abono é negócio jurídico unilateral, pelo qual alguém se vincula
pela solvibilidade de fiador. É o sentido próprio que está no Código Civil, art. 1.482. Nem os tabeliáes abonam,
nem os particulares, se aquêles “reconhecem” firmas ou esses dizem que a firma “confere”.
3.NATUREZA DO ATO DO “CONFERE”. Se alguém que não tem função de dar certidão, ou certificado, ou
reconhecer firma, escreve ou oralmente exprime que a cópia confere com a que tem, ou com o livro comercial, ou
com a firma que está nos seus arquivos ou no seu fichário, não certifica, nem “reconhece” firma.
Conferir é pôr junto, ou defronte. Se há coincidência, diz--se que um dos elementos conferiu com o outro.
Dizer-se que confere não é dizer-se que se reconhece, nem é certificar. O ato do empregado da vigilância, ou do
porteiro, ou guarda, que observa se foram postos no carro os volumes que se mencionam na lista, ou diz que
“confere”, ou que “não confere”: não certifica, nem se recusa a certificar.
Somente pode reconhecer firmas quem recebe, em. virtude áe Lei, tal incumbência. Se A pergunta a B se a firma
que está na carta, que recebeu de O, é a firma de O, a resposta de 13 tem de ser “sim”, ou “não”, ou “tenho
dúvida”. Se diz “sim”, diz que a firma da carta confere com a das cartas que tem de C, ou com a assinatura que O
deixou no livro de visitas, ou no fichário, ou no registro da empresa.
Para que alguém possa dar certidão, certificado ou atestado, ou reconheça firma, com eficácia exterior, é preciso
que haja direito à atividade profissional de declaração de conhecimento. Quem dá noticia não tira certidão, ou
certificado, nem redige atestado, nem reconhece firma. A carta ou a declaração de quem assistiu, como
testemunha, à lavratura do instrumento público, e o assinou, não é certidão, nem certificado. Se a testemunha diz
que viu o figurante do negócio jurídico assinar e aquela é a firma dêle, não certifica, nem reconhece firma, no
sentido próprio.
Na Inglaterra, a Carta Real de 11 de maio de 1880 edictou regras jurídicas de deontologia profissional para os
auditors. membros do Instituto of Chartered Accountants, entre as quais estão a de ser profissional, publie
accountant, o membro do Instituto, e a de só poder exercer atividade compatível com & profissão. Tem de
abster-se de qualquer ato que possa pôr em descrédito a profissão.
O auditor é contratado, mas o juiz LINDLEY frisou que o~ auditor não é um segurador, não garante que os Livros
indiquem a posição real dos negócios da sociedade e não poderia ser responsabilizado se êle mesmo foi enganado,
e. g., por ter havido dissimulação fraudulenta de livros. Responde se nenhum cuidado teve em lançar afirmações.
O que se lhe exige é diligência e habilidade normais, reasonable slcit and care. A decisão do Príncipe, no caso
Kingston Cotton Mili Co., em 1896, frisou que o auditor não é um detetive, é um cão de guarda, não um cão
policial (he is a watch dog, not a bloodhound).
Na Inglaterra, discutiu-se se o relatório do auditor tem eficácia certificativa, isto é, se, com êle, se garante a
autenticidade das peças contábeis, que se comunicam aos acionistas Dai haver os que reputam a missão de
auditor simplesmente controlativa (contrôle material da contabilidade), e. 0~> comendencia entre os pontos do
balanço e os documentos. Outros apontam no trabalho técnico dos auditors perícia, que afirma a correspondência
entre o balanço e a situação da sociedade. Finalmente, há quem sustente tratar-se de certificado, no sentido
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etimológico do termo.
Na Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, o art. 50, § 29, referiu-se à auditoria e ao auditor independente, registado
no Banco Central, e a Resolução n. 7, de 13 de setembro de 1965, do Banco Central, com invocação do art. 99 da
Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, entrou em pormenores. As pessoas jurídicas de direito privado, que
tenham por objeto social a prestação de serviços de auditoria, podem requerer registro como auditores
independentes: se estão devidamente legalizadas para funcionar, e tenham sido cadastradas em Conselho
Regional de Contabilidade há mais de cinco anos, ou tenham realizado auditorias (exame, pareceres, ou
assessoramento técnico-contábil) em pelo menos dez sociedades por ações; se consta expressamente de seu
estatuto ou contrato social a exigência de, no mínimo, um diretor ou técnico responsável perante a própria pessoa
jurídica e terceiros, que seja bacharel em ciências contábeis ou contador, com diploma devidamente legalizado, e
comprove o efetivo exercício da profissão há mais de cinco anos; apresenta, em nome da pessoa jurídica e dos
diretores bem como do técnico responsável, certidões negativas dos distribuidores de registros públicos,
interdições e tutelas, protesto de títulos, execuções fiscais e civis, pedidos de dissolução, liquidação, concordata
ou falência, e varas criminais, abarcando os prazos de prescrição cabíveis em cada caso, do mínimo de cinco anos
ao máximo de vinte anos, e abrangendo o fôro em que a pessoa jurídica fôr ou tiver sido sediada, além dos
domicílios pessoais de diretores e técnico responsável, nos referidos prazos.
Podem ser ainda registadas, como auditores independentes, as pessoas jurídicas de direito privado, devidamente
legalizadas para funcionar mas que não preencham os demais requisitos que são exigidos, desde que organizadas
com a finalidade exclusiva de realizar trabalho de auditoria, sob a responsabilidade de bacharel em ciências
contábeis ou contador de notória competência profissional, que tenha exercido, por prazo não inferior a três anos
consecutivos ou cinco intermitentes, algumas das seguintes funções: a) cargo técnico de alto nível em firma
especializada em auditoria; b) responsável geral pela contabilidade, dirigente de auditoria interna, controlador ou
gerente financeiro em empresa pública ou privada de grande porte, inclusive em cargo de direção; e e) cargo
diretivo, de chefia ou de assessoria em serviço técnico em repartição fazendária da União, Estados ou Municípios
e suas autarquias econômicas. O exame do pedido de registro será feito no prazo de sessenta dias a contar da data
da sua entrega, subordinando-se a sua concessão, após o exame da documentação, à verificação, a critério do
Banco Central, de auditorias efetuadas pelo requerente nas quais não se note: a) a omissão propositada de serviço
prestado; b) a existência de circunstância ou fatos, direta ou indiretamente relacionados àquela auditoria, que
deponham contra o requerente, ou c) que o trabalho realizado tenha sido inepto ou inidôneo. A expedição do
certificado de registro será precedida do pagamento da taxa de cem mil cruzeiros e da assinatura de declaração de
aceitação, por adesão, das disposições baixadas pelo Conselho Monetário Nacional para regular o funcionamento
dos auditores independentes. Concedido o registro, estará o auditor independente sujeito, desde logo e a qualquer
tempo, à fiscalização do banco. O registro é cancelável a qualquer tempo automàticamente, a pedido escrito do
auditor independente registado, sem maiores formalidades. O registro do auditor independente será renovável, de
dois em dois anos, mediante requerimento instruído com a atualização das certidões negativas relacionadas como
exigíveis e o pagamento de taxa de renovação a ser fixada periodicamente .
A posição dos bancos, através dos seus empregados, ou órgão , de modo nenhum é idêntica. O auditor, como o
perito contador de que fala o art. 127, parágrafo único, do Decreto-lei n. 2.627, de 26 de setembro de 1940, tem,
inclusa nas suas funções técnicas, profissionais, a de proceder àqueles atos de exame e de verificação. Os bancos,
de modo nenhum. Qualquer informe sobre assinatura, solvibilidade e ficha comercial é amicitiae gratia.
No caso dos bancos que, amistosamente, dizem que as firmas conferem com as que têm nos seus fichários, ou
registros, e banco não certifica, nem reconhece, apenas informa. Nem é cão de guarda, nem cão policial (he is not
a watch dog, nor a bloodhound).
Todos os atos de particulares que digam “a firma F. confere com a do nosso registro (ou do nosso fichário)” são
atos cujos suportes fâcticos não entram no mundo jurídico como atos jurídicos stricto sensu. Podem entrar como
atos ilícitos absolutos, se fôr alegado e provado que houve dolo ou culpa, ou ser objeto de prestação negocial,
como se a empresa E prometeu, em contrato, ou em declaração unilateral de vontade, que examinaria os
documentos e as firmas que fôssem encontradas, responsabilizando-se pela veracidade. Aí, haveria o ato ilícito
relativo. £ o que acontece com as empresas individuais de perícia grafológica. E com os corretores de fundos
públicos e outros valores (Decreto n. 2.475, de 13 de março de 1897, art. 39: “Os corretores são responsáveis pela
autenticidade da assinatura do último signatário das letras e dos títulos endossáveis que negociarem”).
Os bancos somente são responsáveis negocialmente em conseqúência de seus negócios jurídicos específicos, ou
se, negocialmente, em operação à parte, assumiram responsabilidade. Se o ato do banco não é da sua função, nem
entra no mundo jurídico como ato jurídico stricto sensu ou como negócio jurídico. não se pode pensar em
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qualquer responsabilidade civil negocial. Foi ato amistoso, que não entrou no mundo jurídico. Se houve os
pressupostos para o ato ilícito, cometeu ato ilícito o banco. mas os princípios sobre indenização por atos ilícitos é
que podem reger a espécie.
Tratando-se de nota promissória, há de haver o nome do tomador, para que se endosse, ou desconte. O tomador
estêve em contacto com a empresa. Se a nota promissória foi em branco, tem de ser cheia no momento de
qualquer endosso ou desconto, e quem endossa é que assume a responsabilidade cambiária.
Qualquer desconto, que se faca, sem se encher a nota promissória, contém a vinculação de quem apresentou, para
a operação , a nota promissória, quanto a qualquer pressuposto formal ou material do título (veracidade da firma,
qualidade de quem assinadata). A fortiori, se enchida a nota promissória que era em branco.
4.ENTEADA NO MUNDO JURÍDICO. Quando algum banco apõe, em qualquer documento e. g., nota
promissória, letra úe câmbio, duplicata mercantil, cheque que a firma, que dêle consta, confere ou que as firmas
que dêle constam, conferem com o que há no fichário, ou registro de banco, de modo nenhum se trata de ato
jurídico, porque o uso, a respeito, é extrajuridico, com base em amizade ou colaboração amistosa. O sistema
jurídico brasileiro não tem o reconhecimento de firma por particulares. Só o tabelião ou quem se equipara ao
tabelião, como o cônsul brasileiro no estrangeiro, pode reconhecer firma.
Se alguém assina contrato de pericia, para exame de firmas, pode haver culpa contratual, se a afirmação é no
sentido de ser verdadeira a firma. Os bancos, esses, não fazem contrato de perícia.
Não há contrato de conferência de firmas, porque na prestação de conferência não se inclui a afirmação de ser a
mesma que está no fichário ou registro; portanto, não importa reconhecimento. Quem diz que confere não diz que
é a mesma.
O próprio tabelião, que reconheceu firma falsa, mas de perfeição extrema de falsidade (portanto, que só se
revelaria a profundos exames periciais), não teve culpa. Éle exerce função publicística, em virtude de lei,
dependente do pedido de reconhecimento de firma, que é oferta, e do seu lançamento de enunciado de fato, que é
em declaração (“reconheço a firma”) ; em conseqUência há aceitação com simultânea prestação de serviço ao
público.
Para que o ato amistoso, que não entrou no mundo jurídico. como ato jurídico, dê ensejo a responsabilidade civil,
é preciso que entre no mundo jurídico como ato ilícito absoluto, ou ato-fato ilícito ou fato stricto sensu ilicito. Isso
somente pode ocorrer se o ato amistoso foi o causador de ,flano e se houve culpa ou dolo. Tratando-se de a
posicão de “confere”, ou de opinião sobre ser bom o negócio, sobre que se consulta alguém, fato ilícito só se
compõe se há a relação de causalidade entre tal aposicão, ou opinião, e a manifestação de vontade do consulente.
Portanto, se fica alegado e provado que esse não concluiria o negócio jurídico se não tivesse havido a aposição ou
o conselho.
A ação teria de ser ação condenatória, para se alegarem a causação e o dolo ou a culpa, sem que se possa pensar
em fato ilícito do aponente ou do opinante se a operação razoavelmente teria sido feita se não tivesse havido a
aposição ou a opinião.
O“confere” que os bancos costumam apor em documentos e, às vêzes, o dizem por telefone ou telégrafo, porque
o documento está no banco e o cliente em outra cidade, ou país, apenas contém informação, sem qualquer
certificação, nem reconhecimento. O valor do dado informativo depende dos serviços do banco; portanto, da
confiança inspirada ao cliente, porém não necessâriamente aos clientes.
A responsabilidade criminal supõe o dolo, isto é, pleno conhecimento da falsidade. Os próprios tabeliáes somente
respondem criminalmente, conforme o art. 300 do Código Penal, se, ao reconhecerem firmas, como ato oficial (de
tabelião ; portanto, no exercício da função pública), o fizeram com dolo. Lê-se no art. 300 do Código Penal que é
crime de falsidade documental: “Reconhecer, como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que
o não seja”.
Quem não tem função pública de reconhecimento somente responde criminalmente, por ato de conferimento de
firma, se comete crime contra a fé pública, o que somente pode ocorrer se a pessoa que após o “confere” sabia que
era falsa a firma.
Quanto à responsabilidade civil, por ato ilícito absoluto (delito), para que haja, é preciso que a aposição do
“confere” tenha sido causadora da vontade de quem ia fazer o negócio (o que é raro acontecer) e o conferente
haja conhecido a falsidade, ou que tenha procedido com tal irregularidade de cuidado que se tenha de considerar
culpado.
Sempre que alguém por lei tem de reconhecer a firma, ou identificá-la, como é o caso de corretor oficial de
valores, não pode haver ato ilícito do banco.
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Se a firma, que o banco conferiu, “confere” com a que está no registro, por ser falsidade de difícil verificação,
nenhuma responsabilidade tem o banco, porque o ato de confiança se baseou no que o cliente sabe quanto ao que
se passa nos serviços de conferimento. Se o banco, que conferiu a firma do cheque, pôs o visto, fêz visado o
cheque e assumiu responsabilidade, que é muito além da que poderia resultar da simples aposição do “confere”.
Se o banco conferiu sem pôr o confere e paga, ou se pagou sem conferir, apenas lhe fica a ação contra a pessoa
que falsificou a assinatura do cheque, ou contra ela e quem sabia que era falsa a assinatura e o apresentou. O
avalista e o endossante, esses, respondem pelo aval e pelo endosso, mesmo se falsa a assinatura de quem seria
emitente.
A “devida atenção” somente pode ser a atenção que usualmente se tem na conferência das assinaturas. Se não
houve, a única pretensão do cliente, ou de quem concluiu negócio jurídico após o “confere”, é a de indenização
por ato ilícito absoluto, se prova que somente concluiu o negócio jurídico por ter o banco afirmado a veracidade
da firma. Tal prova é difícil, porque o banco não “reconheceu”, nem disse que era verdadeira a assinatura: apenas
disse que “conferia” com a do seu registro ou fichário, e pode dar-se que também a firma que consta do registro ou
fichário seja falsa (por exemplo, a sucursal remeteu a ficha e foi falsificada ou substituida no Correio ou ao ser
entregue).
A conferência de modo nenhum contém outros enunciados de fato. Se do documento consta que a assinatura é de
diretor de empresa, o “confere” não afirmou que a pessoa, de cuja firma se trata, é, no momento, ou era, à data do
documento, diretor da empresa, porque isso é assunto estranho ao fichário ou registro de firmas. Se há registro ou
fichário sobre as empresas, a. conferência das firmas não contém enunciado sêbre diretoria ou datas. Tudo isso é
assunto para quem desconta ou endossa títulos. Ou para quem avaliza.
Se algum banco, em vez de conferir firmas, em função amistosa, ou de colaboração acidental, entendesse
“reconhecer” firmas, estaria a usurpar função publicística de tabeliáes, ou de outros servidores públicos, ou se
vincularia a operações de perícia, em contratos de serviços. Não é o que está nos usos, extrajurídicos, de
conferência, nem se justificaria sem negócio jurídico explícito, pelo qual o banco se vinculasse a exame técnico
de grafologia.
§ 5.416. Operações bancárias de cobrança e de pagamento
1.COBRANÇA E PAGAMENTO. Uma das atividades mais freqUentes e mais simples dos bancos é a de
cobrança, pela. qual o banco recebe de terceiro o que esse deve (ou quer prestar) a alguém, cliente do banco. O
banco fica investido do poder de receber. O negócio jurídico de que resulta o crédito do cliente pode ser cambiário
(o cliente é sacador, tomador, endossatário ou portador de letra de câmbio, ou tomador ou endossatário de nota
promissória), ou cambiariforme (e. g., tomador, ou endossatário, ou portador de cheque, ou duplicata mercantil),
ou não-cambiário (fatura comercial, fatura acompanhada de título representativo ou de títulos representativos,
recibos ou contas que possam ter recibo lançado pelo banco).
Outra atividade freqUente e simples dos bancos é a de pagamento de dívida do cliente. Aqui, o banco pratica
ato-fato juridico paga e recebe o título da dívida ou o recibo, ou exige a quitação se até ai vai a incumbência.
2. COBRANÇA PELO BANCO. A operação de cobrança supõe outorga de poder por parte do credor. Tal
outorga pode ser por endosso-procuração, ou por endosso que tenha restrição de conteúdo só existente entre o
cliente e o banco, ou pela entrega de títulos ou documentos que bastem para a legitimação do banco a receber. O
endosso supõe poder e dever do banco a levar a protesto se, sem esse, se cortada eficácia do título cambiário ou
cambiariforme. Para afastar a inclusão do poder e dever de protesto, tem de haver a cláusula “sem protesto” ou
“sem qualquer despesa”.
Se o endosso é o ordinário, e não o de restrição contenutística, há, entre o banco e o cliente, o negócio jurídico
subjacente, justajacente, ou (dificilmente) sobrejacente da outorga de poder, de modo que o endosso é fiduciário,
sem que a fidúcia o altere em sua aparência e em sua eficácia, salvo nas relações jurídicas entre o banco e o cliente
(isto é, ficam ao cliente as exceções oponíveis ao banco, mesmo se esse reendossa). O endosso não se tornou
fiduciário; fiduciário fêz-se o negócio jurídico, entre o cliente e o banco, para cobrança. Sobre o endOsso-procura
ou o endOsso-procuração, vejam--se Tomos XXXIII, § 8.798; XXXIV, § 3.800, 2, 8; XXXV, § 3.979, 1, 7;
XXXVI, § 4.058, 9, e 4.061, 4. Sobre endOsso--mandato e endosso comisso, Tomos X, § 1.090; XX, § 2.595;
XXXIV, § 3.890, 5; XXXVI, §§ 4.041, 1, 4.053, 9, e 4.061, 4. Sobre o endOsso-fidúcia, Tomos XXXIV, § 3.890,
5; e XXXVI, § 4.039, 2.
Seja qual fôr o endosso, o banco está exposto às exceções ex cash indossantis. O papel do banco é de quem exerce
poder outorgado, dito procura exigendi, uma vez que não adquiriu, perante o cliente, o direito cambiário (ou
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cambiariforme).
3.PAGAMENTO PELO BANCO. Os bancos prestam serviços aos clientes no tocante ao adimplemento por
terceiro. Aí, em vez da função ativa, é passiva a função do banco. Há outorga de poderes, que pode resultar,
porém não necessAriamente, de depósito, de abertura de crédito ou de adiantamento bancário. O depósito
bancário pode ser sem tal outorga; a abertura de crédito pode ser com os simples levantamentos pelo cliente. Ao
adiantamento bancário não é necessário que haja creditamentos, inclusive ao próprio cliente. Por onde se vê que
perturba a compreensão da figura jurídica do pagamento pelo banco, como a da cobrança pelo banco, não se
abstrair de qualquer negócio jurídico subjacente, justajacente ou sobrejacente.
Em princípio, o banco é estranho e permanece estranho à relação jurídica entre cliente, devedor, ou cliente, que
tem outorga de poderes do devedor, e o credor, a quem o banco vai pagar. O pagamento é ato-fato jurídico, e mais
uma vez havemos de frisá-lo.
O banco paga em nome próprio e por conta do cliente. A respeito, falou-se de ato abstrato, mas o pagamento é
ato-fato jurídico, e não ato jurídico stricto seneu, nem, a fortiori, negócio jurídico, que pudesse ter ou não ter
causa. fl absurdo aludir-se a abstração.
Entre o cliente e o banco, o pagamento foi execução do dever do banco, que se vinculara a isso. O banco prometeu
o ato-fato jurídico, que para a eficácia solutória pode ir até o depósito em consignação para o pagamento. Temos
de fazer algumas precisões.
Quando o banco acorda em que o cliente subscreva e emita cheques, a apresentação do cheque pelo tomador ou
portador leva ao pagamento pelo banco, ou, melhor, à prestação chéquica, à entrega da quantia sacada. Mas tal
operação não é a de outorga de poder para alguém pagar dívida, porque pode não existir dívida e o tomador ou
portador do cheque ser o próprio passador (subscritor). Por onde se vê que há tipicidade na outorga de poder para
pagar (dita ordem de pagamento), que falta à apresentação do cheque. As operações de cheque supõem a
provisão, que pode não existir na outorga de poderes para pagar determinada conta ou determinadas contas ou
títulos de crédito.
Para a subscrição e emissão de cheque há de haver acôrdo, que pré-exista àqueles atos, trate-se de depósito em
conta corrente, ou de conta corrente bancária, ou de abertura de crédito em conta-corrente. O cliente solve a
dívida, se o caso éde solução de dívida (e não de dádiva, ou de levantamento para e próprio cliente), e o ato do
banco é posterior, porque concerne ao cheque, e não à dívida. Quando o banco “paga” o cheque, quem pagou a
divida foi o próprio devedor, que pode ser o subscritor, ou o endossante. A dívida, de qualquer modo, é solvida
pelo devedor, e não pelo banco. O devedor pagou com cheque, como pagamento próprio. Por aí fàcilmente se vê
a diferença entre as operações de cheque e as operações de pagamento pelo banco, ditas ordens de pagamento. Os
juristas que misturam as duas matérias concorrem para graves confusões conceptuais e de prática bancária.
O pagamento do cheque pelo banco pode ser por lançamento de crédito na conta do apontante, qualquer que seja;
mas isso já depende de manifestação de vontade de quem o apresenta e pode receber. Trata-se de negócio jurídico
entre o cliente recebedor e o banco. O passador do cheque também pode pagar a divida com terceiro com o pedido
de lançamento do cheque na conta do credor: o banco nada tem com o pagamento da divida.
Há o pagamento bancário por giro em conta (clearance, eompte de virement), mas, aí, já há outra operação.
1. ATOS DO BANCO. O banco tem de comunicar ao terceiro, que há de pagar, estar com outorga de poder para
receber, salvo se foi explicitado que a cobrança seria feita. por parte do banco. As consequências de qualquer
falta, por parte do banco, são as mesmas que teria a falta por parte do credor. Qualquer ato do banco, perante o
devedor, tem os efeitos que teria o ato, se praticado pelo credor. Idem, quanto às omissões.
Se há alguma formalidade, como o protesto, que é necessária à eficácia da dívida, entende-se que o banco pode e
deve providenciar para que se observe.
2. ATos DO CLIENTE. O cliente tem de entregar ao banco todos os títulos e documentos necessários à cobrança.
Se algum falta, porém não era exigível no momento da inclusão do negócio jurídico para a cobrança, cabe ao
banco exigi-lo do cliente.
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Exeqúido o que o banco explícita ou implicitamente prometera, e. g., recebido o quanto, ou feito o protesto pelo
não-pagamento, tem o banco de guardar a quantia, ou de entregar ao cliente os documentos, se aí havia de parar a
função do banco, ou de propor, se há cláusula a respeito, as ações contra os obrigados principais e de regresso.
O banco incorre em responsabilidade pelos danos se não cumprir o que lhe incumbia (e. g., levar a protesto o
título cambiário ou cambiariforine). Nenhuma cláusula pode excluir a responsabilidade do banco pelos erros
inescansáveis, mesmo quando praticados pelos empregados, ou por alguma agência, ou empresa, bancária ou
não, a que atribuira algum ato, ou o recebimento.
Às vêzes, os bancos adiantam ao cliente tôda ou parte da soma que tem de receber, deduzida a comissão e
deduzidos ou ainda a serem deduzidos os interesses da operação. Aí, há outorga e pré-creditamento, sem que se
possa confundir tal figura com a do adiantamento bancário. Trata-se de operação de cobrança com antecipação
do creditamento <cobrança com adiantamento), e não do típico adiantamento bancário.
1. ATOS DO BANCO. O banco tem de pagar, de conformidade com as instruções e os documentos. Cabe-lhe
verificar os títulos ou documentos que lhe são apresentados. Além do recibo, pode exigir a quitação, se é o caso.
As faltas por parte do banco tem as conseqUências que teria a falta por parte do cliente.
2. ATOS DO CLIENTE. O cliente tem de dar ao banco todos os informes de individuação, de enderêço e de
tempo para que o banco pague no lugar próprio, no tempo devido e à pessoa que tem legitimação para receber. As
faltas do banco têm, perante o credor, as conseqUências que teriam as faltas do cliente devedor.
1.CAUSAS DE EXTINÇÃO. O estar em liquidação o banco de modo nenhum é causa de extinção da outorga de
poderes, pôsto que a respeito da soma recebida se tenha de atender aos princípios do direito falencial e das
liquidações coativas. Salvo cláusula negocial, o cliente pode revogar a outorga de poderes, conforme as regras
jurídicas sobre a procura. Recebido o pagamento ou feito o pagamento, restam entre cliente e banco relações
jurídicas concernentes a adimplemento de deveres e a despesas. Tem-se de atender a que contra o banco e o
cliente pode haver negócio jurídico subjacente, justajacente ou, até mesmo, sobrej acente.
O pagamento, ato-fato jurídico, pode ter de ser elemento de algum ato, mesmo negocial, o que altera a figura
jurídica, em sua complexidade, sem que se haja de tornar diferente o ato-fato jurídico, em si.
CAPITULO II
Em sentido largo, conta corrente é sistema de contabilidade, com que se simplifica a escrituração das entradas e
das saídas. Contrato de conta corrente é negócio jurídico e dele já cogitamos no Tomo XLII, §§ 4.615-4.622.
Aqui, só nos incumbe tratar da conta corrente bancária, que é espécie de conta corrente.
Se apenas se convencionou pôr em confronto contábil as relações de deve e haver, para que, a determinado dia, se
colha o saldo, tendo-se automAticamente compensado as somas, a cada entrada, ou periodicamente , não há
próprimente conta corrente, mas conta de gestão (cf. GIACOMO MOLLE, “Conto di gestione” e contratto di
conto corrente, Banca, Bona e TitoU di credito, 21, li, 569 s.).
A conta corrente enraizou-se nos usos comerciais, sem lei. À jurisprudência e à ciência é que se devem os
enunciados sobre a sua composição e os seus efeitos. Supõe que haja negócios jurídicos entre as pessoas. As
dificuldades de conceituação provieram das espécies, tais como a conta viva, que se reduz a fôlha de escrituração
(II. GÕPPERT, Zur Vereinfachung der Lehre vom Kontokorrent, Zeitschrift fiir das gesamte Handelsrecht, 102,
163), o acórdo (cláusula ou pacto) de conta corrente, que se insinua em contratos entre pessoas que têm negócios,
e o contrato de conta corrente. O acôrdo de conta corrente funciona como contrato-caixilho (Rahinenvertrag, cf.
WOLFGANG HEFERMEHL, Schlegelberger Handelsgesetzbuch, III, 33 ed., 1395), ou, o que escapou a
WOLFGANG HEFERMEEL, como cláusula-caixilho. Estranhável é que REINHARD FREIRERE VON
GODIN (Kommenta~r zum Handelsgesetzbuch, ~fl, 2a ed., 257 s.) não haja distinguido o acOrdo de conta
corrente (Kontokorrentabrede) e o contrato de conta corrente (Kontokorrentvertrag). O acôrdo de conta corrente
supõe a existência de contrato, de que êle é cláusula, ou de que é pacto adjecto. Sem o contrato, o acôrdo de conta
corrente seria sem objeto.
A opinião de VrrrORIO SALANDRA (Conti correnti bancari e Contratto di conto corrente, Rivista dei Di‟ritto
Commerciale, 1933, 1, 22 s.), sobre haver elemento homogêneo no contrato de conta corrente e na conta corrente
bancária, que é o pacto de conta corrente, tem sido zurzida por juristas italianos; mas sem razão. O mesmo
elemento existe; apenas, no contrato de conta corrente, êle enche o próprio contrato, com elementos diferenciais
inconfundíveis, ao passo que, na conta corrente bancária, ou há a cláusula ou o pacto adjecto. De qualquer modo,
a normatividade é comum e comum a técnica contabilística. Não há identificação possível, conforme mostramos
no Tomo XLII.
O contrato de conta corrente preestabelece o trato jurídico que se há de dar aos créditos. Os figurantes
vinculam-se, com a particularidade de inezigibilidade e indisponibilidade, até que § 6.420. CONTA CORRENTE
BANCARIA se feche a conta. Há as remessas (ou entradas), as duas filas de lances, até que elas se encontrem e se
tire o saldo. No fundo, o que se quer é a indisponibilidade a par da inexigibilidade. Só o saldo é exigível e
disponível. Contrato consensual, bilateral. Caracteristicamente, contrato normativo, além de ser dura,douro e
continuativo.
A conta corrente bancária é oriunda de cláusula ou pacto, que às vêzes apenas resulta de uso, que regula
determinadas operações, como o depósito (em conta corrente), a abertura de crédito (em conta corrente), ou a
antecipação (em conta corrente). A indisponibilidade é afastada, admitindo-se as retiradas contra cheques,
recibos, aceite de letras de câmbio, subscrição de titulo cambiário ou promessas de prestação a terceiro.
Discute-se se o contrato de conta corrente bancária é contrato único, ou se há, nêle, ligados, dois ou mais
contratos. Não importa havei pluralidade de documentos, ou de prestações distintas, ou pluralidade de motivos. A
causa. é única. O cliente pode ter tido a intenção de ser o contrato de conta corrente bancária para facilitar
pagamentos na cidade em que se concluiu o contrato, como pode ter tido a de não retirar nada, até que se eleve o
seu crédito e dê para pagamento do edifício que vai comprar ou já comprou. O que incumbe ao banco é elemento
variável, porque depende do contrato. Porque êle existe, não se confunde com o depósito bancário de dinheiro o
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2.ESPÉCIES DE CONTA CORRENTE BANCÁRIA. A conta corrente bancária pode ser conta corrente
disponivel, ou de disponibilidade periodica, ou a partir de determinadas datas, ou de determinados
acontecimentos. Em qualquer caso, o cliente pode remeter (dar entrada) o que retirou. Se a disponibilidade é só ao
terminar a relação jurídica, há contrato de conta corrente, e não apenas o acôrdo de conta corrente (conta corrente
bancária).
A conta corrente dc correspondência ou conta corrente liassiva é aquela que vincula a creditamentos e a
debitamentos concernentes a operações da empresa-cliente, como as vendas de produtos e as compras de
matérias-primas, a compra de divisas e os pagamentos a terceiros.
Na conta corrente de correspondência, assim chamada porque, outrora, se operava através de cartas (troca de
correspondência), há atividades do banco a favor do cliente. Se há saldo credor, esse vence juros, como acontece
com o saldo devedor. A compensação é conseqúência de haver os pressupostos da compensação, a par da
disponibilidade (e não da indisponibilidade), pois sómente cessa com a saldação ao fechar-se a conta. O banco,
além da atividade contabilística, tem a de praticar os atos que sejam necessários à eficiência das remessas e das
retiradas.
Conta corrente de correspondência é o contrato pelo qual o banco se vincula a todos os encargos e operações que
se prevêem no contrato ou resultam dos usos bancários, se os requisita o cliente (e. g. pagamentos a terceiros
traspassos bancários, recebimentos de créditos).
As quantias recebidas ou pagas pelo banco são creditadas ou debitadas na conta do cliente, remetendo-se-lhe a
papeleta ou aviso, que é o elemento de correspondência (carta missiva). A liquidação dos interesses é periódica,
devendo o banco remeter ao cliente o extrato de conta, para que êle reconheça. Ésse reconhecimento é ato jurídico
stricto sensu, em vez de negócio jurídico, como seria o reconhecimento do saldo, em caso de contrato de conta
corrente.
O banco credita-se os direitos de comissão, se os há por cláusula contratual ou pelos usos, e as despesas que teve
de fazer para boa execução dos encargos.
Os fundos necessários provêm de inversões feitas pelo cliente, porém pode dar-se que o contrato preveja algum
ou alguns pagamentos a descoberto.
3. NATUREZA. Está assente, hoje, que, para haver conta corrente, não é preciso que haja outorga bilateral de
crédito, nem que seja vinculativa a colocação do crédito a favor de um dos figurantes (JULIUS vON GIERKE,
Jnlandelsrecht und Schiffahrtsrecht, q,a ed., 494). O que importa não é existir a dação de crédito, mas a
facilitação do tráfico negocial. O acôrdo de conta corrente pode cobrir mútuo, porém isso não é essencial. O que
se há de ter como pressuposto necessário é a existência de vinculações negociais entre os figurantes,
de jeito que cada um contra o outro tenham pretensões; portanto, a existência de direitos e dívidas de cada lado.
4.CONTA CORRENTE BANCÁRIA E OUTROS NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. A conta corrente
bancária de modo nenhum se confunde com o contrato de conta corrente, de que é pressuposto essencial a
reciprocidade. Na conta corrente bancária, só o cliente tem função ativa: o banco apenas regista, isto é, credita e
debita, sem poder fazer remessas ao outro figurante. Salvo cláusula de possível operação a descoberto, só o
cliente é credor, pois os débitos têm de ser dentro do seu crédito. Por outro lado, no contrato de conta corrente, os
créditos são inexigíveis e indisponíveis, até que se feche a conta corrente, ao passo que, na conta corrente
bancária, o cliente pode sempre dispor do crédito.
Também não se há de confundir a conta corrente bancária com o depósito em conta corrente, porque, nesse, só
há operações de entrega e de retirada de dinheiro, sem que o banco assuma qualquer outro encargo (cf. MAmo
MAZZANTINI, Lezioni di Tecuica bancaria, n. 62). As parecenças são, portanto, assaz grandes.
Quanto à abertura de crédito, a distinção é fácil, porque, mesmo se se permitiu algum encargo a descoberto ou se
permitiram alguns encargos a descoberto, tal cláusula não transforma o negócio jurídico em abertura de crédito,
em que se confere o crédito como causa do contrato, ou do negócio jurídico unilateral. Se o banco abriu o crédito
e se encarrega de operações do cliente, tais encargos são secundários, são de utilização do crédito. Na conta
corrente bancária, se o banco adianta, mesmo espontâneamente, quantia que as operações do cliente exigem, não
se pode considerar o adiantamento como abertura de crédito. A abertura de crédito supõe que o crédito exista
antes de qualquer disposição, e exista porque houve a abertura. O mandatário ou outro figurante de contrato com
dívida de fazer de modo nenhum mutua (cf. Código Civil, art. 1.311, sobre somas adiantadas pelo mandatário),
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1.ENCARGOS DO BANCO. O objeto da conta corrente bancária são os atos que o banco tem de praticar,
conforme a cláusula contratual, ou os usos bancários. As regras jurídicas a que há de obedecer cada ato nada têm
com a conta corrente bancária: o giro é que é o objeto; como se há de operar depende da regulação de cada
encargo. O cliente pode dispor do crédito e, dentro dêle, pode exigir que o banco cumpra os encargos que lhe
ficaram.
Os acreditamentos feitos pelos bancos e pelas empresas, por transferência de formas de uma conta corrente para
outra, não são promessas unilaterais. Foi isso o que se estabeleceu com o negócio jurídico entre o banco ou a
empresa e o cliente, de modo que os acreditamentos são atos devidos.
2. DUPLO OBJETO. Os objetos são o versamento e os encargos. Não se desce ao interior dos atos de solução,
razão por que, a despeito da multiplicidade dos encargos, o contrato é um só. Às vêzes um só documento contém
dois ou mais contratos e se tem de verificar o que é que há de incumbir ao banco e o que escapa à conta corrente
bancária. Nenhum dos encargos do banco permite que se considere principal, porque aquêle que o parece ser pode
não ter sido nunca requisitado pelo correntista. A diversidade interna não tira a unicidade do contrato.
Lê-se no art. 254 do Código Comercial: “Não serão admissíveis em juízo contas de capital com juros, em que
êstes se não acharem reciprocamente lançados sobre as parcelas do débito e crédito das mesmas contas”. Cf.
Tomos XXIV, § 2.897, 3 e XLII, §§ 4.611, 2 e 4.619, 3.
É conseqúência da disponibilidade dos saldos (Tribunal de Justiça de Minas Gerais, 24 de novembro de 1920, 1?.
de D., 61, 161). Computados os juros, integram-se no haver, o que importa abstrair-se do passado, da origem da
quantia. Na ausência de convenção expressa, o uso firmou a taxa de doze por cento ao ano (6.a Câmara Civil do
Tribunal de Justiça de São Paulo, 15 de agôsto de 1947, R. dos T., 169, 707). Não há pensar-se em prescrição da
pretensão aos juros das contas correntes.
O saldo ou conta de liquidação é, de regra, negócio jurídico de reconhecimento, a que se exige forma escrita,
salvo cláusula de ressalva. O S. E. ou O. pré-exclui tratar-se de oferta de reconhecimento; apenas se reforça, com
a concordância, a prova que ambos os figurantes tenham. Mas o negócio jurídico de contas de liquidação é
negócio jurídico causal, negócio ou contrato jurídico de regulação (Regelungsvertrag), se não cabe pensar-se em
negócio jurídico abstrato, de que se irradiem novos direitos e deveres, novas pretensões e obrigações.
Se os correntistas são dois ou mais, tem-se de saber se podem operar, para retiradas, separadamente, ou conjunta
mente. Seria aconselhável fixar-se a terminologia: chamar-se àquela conta corrente comum; a essa, conta
corrente conjunta. Se foi determinada a quota nos saldos da conta corrente conjunta, ou da conta corrente comum,
precisa-se quem tem legitimação para as retiradas do saldo reconhecido. Se não houve tal distribuição, qualquer
dos correntistas pode levantar o saldo da conta corrente comum. Se a conta corrente é conjunta, nenhum pode
levantar sem o consentimento dos outros.
O banco responde pelos danos oriundos de inadimplemento do que lhe tocava fazer, ou não fazer, dar ou receber.
2.RETIRADAS E SALDOS. A conta corrente em banco, que permite ao cliente retirar ou dar a outrem poder de
retirar o que nela se acha, não é contrato de conta corrente, mas pode ser acôrdo de conta corrente.
O acôrdo de conta corrente apenas vincula ao lançamento, de jeito que qualquer dos figurantes possa exigir que se
tire o saldo. Qualquer outro efeito é estranho ao acôrdo. Há de provir do negócio jurídico existente entre os
figurantes da conta corrente. Sem essas precisões, a confusão entre os conceitos de conta corrente, acôrdo de
conta corrente, contrato de conta corrente e, até, o de negócio jurídico encaixilhado pode ser de graves
conseqúências. Não há acôrdo de conta corrente sem contrato que ela regule, que ela encaixilhe (cf. EUGEN
ULMER, Kontokorrent, Rechtsvergleichendes Ilandwõrterbuch flir Zivil- und Handelsrecht, V, 198). É efeito
necessário do acôrdo de conta corrente a compensação. Não há conta corrente, oriunda de acôrdo, sem. haver a
saida, formação de saldo (Saldierung) : seria sem utilidade que justificasse o acôrdo. Qualquer dos figurantes
poderia lançar em conta corrente, só contabilisticamente, os créditos e os débitos.
A compertsaçõ..o periádica não precisa ter sido preestabelecida em cláusula expressa. Basta que túcitamente se
haja feito.
Mesmo se cláusula contratual atribui ao banco dever de exeqilir alguma incumbência, tem êle, salvo cláusula
expressa em contrário, direito a cobrar o reembOlso das despesas e comissão. De ordinário portanto, se o
contrário não se estabeleceu a comissão e as despesas são lançadas no débito do cliente, e não pagas
imediatamente.
3.CONTA BLOQUEADA. Reter é retenere, ter para trás, contra. Quem retém a prestação não a faz, não a
entrega, seja prestação que tenha de ser no momento da conclusão do negócio jurídico, ou depois, seja
contraprestação, inclusive como pagamento. Quem retém pode praticar, com isso, ato-fato jurídico, ou ato ilícito
absoluto (e. g., se alguém, que se apossara de bem alheio, se recusa a restituir a posse), ou relativo (e. g., se
alguém, que tinha de pagar, diz que somente pagará após algum fato). Se a pessoa tem ius retentionis, retém
licitamente e por direito.
Se A leva ao banco, ou ao armazém, ou a outro estabelecimento, a nota promissória, ou a letra de câmbio, em que
é subscritor ou sacador, ou endossante, para que o banco, ou o armazém, ou outro estabelecimento, somente lhe
credite, ou a outrem, o que receber, exigiu-se do tomador ou do endossatário que retenha o quanto que teria de
creditar pelo desconto até que haja a liquidação.
Muito diferente é o que ocorre quando se acorda em que o banco, o armazém, ou outro estabelecimento, credite,
desde logo, a quota prometida, e se bloqueia a conta. Conta bloqueada é conta de fundos total ou parcialmente
não sacáveis. A expressão lembra o bloqueio, militar ou civil, de cidade, de praça, ou de pôrto, bélico ou pacifico.
O bloqueio de contas pode ser por vontade unilateral do creditante (lícita ou ilicitamente) ou por acôrdo. Para que
haja o acôrdo, é preciso que o credor e o devedor manifestem a mesma vontade.
Se o cliente quer o creditamento e o bloqueio, tem a empresa creditante de creditar e bloquear, o que, quase
sempre, se faz por anotações no livro de créditos, ou nas fichas. Se o cliente quer que a empresa creditante apenas
tenha a guarda dos títulos e retenha qualquer prestação até que algum fato se dê, como, por exemplo, até que o
subscritor da nota promissória, ou o aceitante da letra de câmbio, ou qualquer outro coobrigado cambiário ou
cambiariforme pague, o creditamento imediato da quantia prometida, ainda não paga, é ato da empresa em cuja
escrita há conta, ou em que se havia de abrir. Ato contrário às instruções; portanto contra a vontade de quem
entregou os títulos.
4.EXTRATO DA CONTA CORRENTE. O extrato da conta, remetido ao cliente, tem-se por aprovado se não é
contestado no prazo dos usos locais, ou, se não houve convenção, nem há. uso, no prazo que se há de ter como
razoável. A chamada remessa é comunicação de conhecimento, enunciado receptício de fato. O reconhecimento
contém afirmação de certeza e de liquidez. Não constitui (portanto, não cria direito, nem nova o negócio jurídico).
Tem eficácia declarativa, de modo que não-se há de pensar em revogação ou em revisão da conta (Rationes~
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semel redditae non sunt iterandae). Isso de jeito nenhum pré-exclui o ataque dos lançamentos com fundamento,
por exempío, em falsidade, dolo, êrro (inclusive de cálculo), omissão ou repetição, ou troca de nomes. Tais
princípios regem, mesmo se houve cláusula ou pacto adjecto para o reconhecimento pelo silêncio após
determinado prazo, ou se houve reconhecimento escrito.
5. “SALVO ENCAIXE”. A inclusão em conta corrente de crédito contra terceiro presume-se se não há
manifestação contrária de vontade dos figurantes do acôrdo de conta corrente sob condição resolutiva, isto é,
com a cláusula. (tácita) “salvo encaixe”, “salvo pagamento”. Se o terceiro não paga, ou o banco retifica a
anotação feita, mediante o estórno , ou contra-anotação, ou contralançamento, ou exerce contra o devedor a
pretensão ao adimplemento. No segundo caso, retarda-se a atitude corretiva do banco, porque pode ser que o
terceiro pague. Tal regra jurídica apanha os próprios cheques. Se o banco apresentou o titulo para aceite, ou
endossou, somente pode estornar depois de ter exercido a pretensão contra o aceitante, ou o subscritor,
ficando-lhe o ônus (não o dever) de tomar todas as medidas necessárias, inclusive o protesto. Só após pode
estornar. Afasta-se, assim, o principio LXccta una via, non datur recursus ad alteram.
Diz-se que, mesmo a respeito de títulos cambiários e cambiariformes, o endosso transmite a titularidade sob
condição. Mas não é bem isso o que se passa. Há a relação jurídica subjacente, ou justajacente, raramente
sobrejacente, que resulta do contrato com a cláusula ou o pacto adjecto de conta corrente, e a relação jurídica
oriunda do endosso. Naquela, há a condicionalidade ao creditamento; nessa, de modo nenhum. Naquela, mesmo
em caso de concurso de credores do remetente do crédito. pode o banco apresentar o título à falência, ou outro
concurso de credores, ou estornar o que lançara como creditamento, ou, depois da apresentação à falência, ou
outro concurso de credores (o que se há de entender, então, por conta do creditado) estornar.
Tudo isso não tem invocabilidade se foi afastada a regra jurídica dispositiva (não escrita) da condição resolutiva.
provisão, pode ser responsabilizado por ato ilícito. Também é ato ilícito do banco pagar o cheque a favor de E
apresentado depois da apresentação do cheque a favor de O, pois que aí há culpa. Não há dolo nem culpa se a
demora somente resultou de haver dúvida sobre a legitimação do portador a receber, ou se a assinatura do sacador
teve de ser examinada.
O cheque pós-datado não é nulo; apenas é irregular. Qualquer medida penal não pode atingir o portador, tomador
ou endossatário, que ignorava a pós-data.
No direito brasileiro, o cheque pode ser em branco, como pode ser em branco o endosso. Lê-se na Lei n. 2.591, de
7 de agôsto de 1912, art. 8.0, 2~a alínea: “Se o cheque não indicar o nome da pessoa a quem deve ser pago,
considerar-se-á ao portador”.
Diz a Lei n. 4.728, art. 52: “O endosso no cheque nominativo, pago pelo banco contra o qual foi sacado, prova o
recebimento da respectiva importância pela pessoa a favor da qual foi emitido, e pelos endossantes
subseqUentes”. E o parágrafo único: “Se o cheque indica a nota, fatura, conta, cambial, impôsto lançado ou
declarado a cujo pagamento se destina, ou outra causa da sua emissão, o endosso do cheque pela pessoa a favor da
qual foi emitido e a sua liquidação pelo banco sacado provam o pagamento da obrigação indicada no cheque.”
O art. 52 da Lei n. 4.728, diante da Lei n. 2.591, de 7 de agôsto de 1912, alude a negócio jurídico subjacente,
justajacente ou sobrejacente, a propósito do qual se subscreve e emite o cheque. Quanto aos endossantes, a cada
endosso corresponde outro negócio jurídico subjacente, justajacente ou sobrejacente. Pode dar-se que sómente
haja um negócio jurídico subjacente, justajacente ou sobrejacente, como se A subscreveu o cheque a favor de B e,
antes da emissão, E o apanha e paga, com êle, o que comprou a O. Ali, há ato ilícito; aqui, contraprestação de
negócio jurídico de compra-e-venda. Se E o retirasse da mesa de A e fôsse ao banco recebê-lo, haveria apenas ato
ilícito (furto ou roubo, ou ato de confiança, por E saber que A não lho negaria) e ato-fato jurídico (pagamento relo
banco).
Sempre que o banco paga ao tomador, cujo nome figura no cheque ou no endosso, a devolução do cheque, pelo
banco, ao subscritor, dá ao subscritor a prova de que o tomador ou o endossatário recebeu a quantia. Prova mais
eficiente do que a de ter o subscritor tomado nota do nome do beneficiado.
Se o endossatário não estava em relação jurídica subjacente, justajacente ou sobrejacente, com o subscritor, o
pagamento a êle não libera o subscritor de qualquer dívida que não seja a dívida que ainda tinha com o tomador.
O art. 52 da Lei n. 4.728 refere-se ao tomador, porque o cheque, na espécie, é nominativo, e ao endossario que o
apresenta para receber a quantia sacada. Pode dar-se que o endosso não diga a favor de quem se endossa. Essa
pessoa pode completar o endosso (Lei n. 2.591, art. 8.~, alínea 2.~, 2a parte) e o banco, que paga, pode exigir o
enchimento para que fique a prova de ao apresentante ter sido prestada a quantia.
Lê-se na Lei n. 4.728, art. 51: “Os bancos e casas bancarias que devolvem aos seus depositantes OS cheques por
êstes sacados, depois de liquidados poderão fazer prova da movimentação das respectivas contas de depósito
mediante cópia foto-gráfica ou microfotográfico dos cheques devolvidos, desde que mantenham esse serviço de
acôrdo com as normas de segurança aprovadas pelo Banco Central”. As regras juridícas do art. 51 já estavam
implícitas no sistema jurídico brasileiro. A devolução dos cheques é uso dos grandes bancos, uma vez gue fiquem
com as cópias fotográficas, microfotográficas ou fotostáticas. Cheques devolvíveis são os cheques que foram
pagos pelo banco depositário. A prática é assaz útil ao subscritor do cheque, porque lhe fica prova original da
emissão. Se houve endosso, do titulo consta o nome do endossante, ou dos endossantes. No parágrafo único do
art. 52 fala-se de cheque que “indica” a nota, a fatura, ou a conta, ou o título cambiário ou o imposto (impôsto,
taxa, ou contribuição; entenda-se, portanto, tributo, e não só impôsto), ou outra “causa~~ da sua emissão. O
cheque não indica a nota, nem a fatura, nem a conta, nem o titulo cambiário, nem o tributo: seria transformar-Se
em titulo concreto, cem causa, o título chéquico, titulo combiarifor me, que é abstrato. O cheque indica, isto é,
tem a indicação do nome da pessoa beneficiada, ou é ao portador. Se o portador ou beneficiado nominativamente
endossa o cheque, dá a prova de que assumiu a obrigação de endossante e deu como recibo o que se expressou
como quantia a ser paga. Se o banco devo1ve o cheque ao subscritor, provado está que foi pago. Não se deve pôr
no cheque a “causa”: se a pessoa que figura como beneficiado é entidade estatal, com a menção da sua repartição,
tom-se ai a prova de que a quantia foi paga pelo banco. O
parágrafo único é de má redação e revela poucos conhecimentos de técnica bancária.
Se o subscritor do cheque ou algum endossante lança no cheque “para pagamento do impôsto tal”, é de supor-se
que foi inserto o nome da repartição arrecadadora, como tomadora ou como endossatária. Se o nome é de outrem,
tumultua-se a operação chéquica: ou o banco pode receber o pagamento do impôsto e o portador tem de dizer em
nome de quem se há de creditar, ou o banco não pode receber o impôsto e cria-se situação embaraçosa, porque o
banco tem de pagar ao tatuador ou ao endossatário, e a cláusula é ineficaz contra o banco. Por onde se vê a falta de
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Quanto a ser regressiva, ou direta, a ação contra o subscritor do cheque, cumpre advertir-se que o art. 50 da Lei
número 2.044, de 81 de dezembro de 1908, invocável a respeito do cheque (Lei n. 2.591, de 7 de agôsto de 1912,
art. 15), estatui: “A ação cambial pode ser proposta contra um, alguns ou todos os coobrigados, sem estar o credor
adstrito à observância da ordem dos endossos”. Cf. Lei uniforme de Genebra, art. 47 (Tomo XXXIV, § 3.858).
Não tem cabimento, no direito brasileiro, a discussão que se trava no direito italiano. O art. 5?, alíneas 1a e 2a,
da Lei n. 2.591 é expressivo.
O banco tem de prestar o que se saca nos cheques segundo a ordem em que são apresentados, ainda que o banco
haja recebido algum aviso ou avisos de terem sido emitidos, antes, outros cheques.
Se, no mesmo momento, são apresentados dois ou mais cheques, com datas diferentes, tem o banco de pagar ao
portador do cheque de data mais remota, para que, se se esgota a provisão, os cheques subscritos com data mais
recente não sejam atendidos. Se têm a mesma data e foram apresentadas no mesmo momento, há de passar à
frente o portador do cheque ou dos cheques de número inferior. Os cheques são numerados.
Se, no mesmo momento, são apresentados cheques de diferentes datas, mas de número mais alto é o cheque que
tem data anterior à do outro ou às dos outros, o que importa é a data.
„7. CLÁUSULAS DE PAGAMENTO DE CHEQUE. (a) O direito brasileiro admite, expressamente, a cláusula
ordem, ou outra que equivalha (e. g., não-endossável).
O endosso ao banco, como a subscrição a favor do banco, permite a esse que debite a quantia na conta do cliente.
Com o cheque, o banco paga-se de alguma dívida do cliente, ou procede a giro bancário.
As vinculações constantes do cheque podem ser avalizadas (a do subscritor, a do banco, a do endossante e a do
avalista). O portador do cheque não se vincula. Não há, portanto, aval da pessoa que tem o nome no cheque, como
favorecido.
O cheque sem cláusula à ordem era intransferível (= não era endossável). Ficava incirculável em poder do
tomador, ou de quem o guardasse, ou dêle houvesse a tença. O banco somente
poderia pagá-lo à pessoa cujo nome constasse da cártula. Se pagava a outrem, em verdade não o pagava, e
respondia pelos danos e não só pela quantia ao titular do direito instransferível, sem qualquer limite. Isso não
significava que não pudesse haver outorga de poderes para recebimento, mas, aí, tal negócio jurídico, sobrei
acente, justajacente ou subjacente (e. g., para recebimento de quaisquer cheques em que tomador seja a empresa
cliente) nada tinha com as circulações chéquicas.
Quando o banco apenas recebia com endosso o cheque nominativo sem cláusula à ordem, ou lançava na conta
corrente do cliente tomador a quantia (e o endosso, aí, só é endosso aparentemente), ou havia de ter dados
suficientes para interpretar como outorga de poder de recebimento da quantia que havia de ser prestada. Assumia
a responsabilidade. Diferente a Lei uniforme de Genebra, arts. 141 e 5? (cf. Tomo XXXVII, § 4.121, 1, 2). Após
a ratificação da Lei uniforme, não pode ser afastada a alegação do banco de ser, não só usual a endossabilidade do
cheque sem cláusula, mas sim de ser invocável a regra jurídica da Lei uniforme.
Se o cheque é com cláusula “sem endossabilidade”, ou “não à ordem”, ou “intransferível”, ou outra que diga o
mesmo, o banco somente pode pagar se há outorga de poderes, negócio jurídico, conforme acima dissemos,
estranho ao cheque. Tal outorga de poderes se sob a forma de endosso-procuração é cambiariforme, se insere no
-w
(b) Quanto à cláusula “para creditar”, ou “para lançar”, o banco, a que se apresenta o cheque, paga-o em conta,
isto é, não há de prestar o dinheiro, mas sim fazer o lançamento na conta corrente da pessoa cujo nome figura no
cheque nominativo, ou em compensação. Supõe-se, de ordinário, que o possuidor ou o terceiro tenha conta no
banco, e tal restrição atende a interesse de quem lançou a cláusula. Pode ela ser posta em cheque que vai ser
visado, ou que o foi. Se a pessoa a que há de ser feito o pagamento não tem conta no banco, não há óbice ao
respeito à cláusula “para creditar”: o banco abre a conta e lança o importe do cheque (cf. CARLO
GIANNATTASIO, Orientamenti delia Giurisprudenza sui Contratti bancari, 25 s.), ou atende as instruções da
pessoa com direito ao crédito.
Na cártula do cheque pode ser inserta a cláusula para “lançar em conta” (41. BItEIT, Der Verrechnungsschek,
Zeitsehrift filr das gesamie Handelsreeh,t, 10, 97 s.; ERN5T JACOBI, Das Wesen des Verrechnungsscheck, 87, 1
s.), dita cláusula à porter en compte, cláusula da accreditari. ft o Verreicknungsseflecle. Credita-se a quantia na
conta corrente, ou em giro, ou em compensação, e debita-se o subscritor, passador do cheque, para lançamento
em conta. Se A deve ao banco e entrega cheques para lançar em conta e há os pressupostos para compensação,
fica paga a dívida ou parte da dívida, pois a cláusula para lançar em conta faz supor-se a destinação do quanto a
compensar o que se deve. Aqui, convém que se refira a situação do banco que a) recebe o cheque para lançar e
não faz o lançamento, ou b) o recebe e lança a quantia noutra conta que a do tomador ou endossatário (o endosso
pode ser para lançar), ou e) lança e estorna o lançamento. No tocante a a), o recibo do banco pela tradição do
cheque põe-no na posição de responsável pelos danos que sofrer o subscritor (ou emissor> ou endossqnte: não
cumpriu o que estabelecera a pessoa a que o banco entregou livro de cheque. No que tange a (lá-se o mesmo. Se se
trata do caso e), o banco não pode, mesmo a despeito de faltar provisão, estornar o lançamento feito:
quem lança o que consta de cheque para lançar paga com o ato-fato do lançamento.
8.CHEQUES DE VIAGEM (“TRAVELLER‟5 CIIECKS”). No Tomo XXXVII, §* 4.112, 4, e 4.146, 1, já
falamos doe cheques de viagem, trave ller‟s checks.
Aqui, temos de frisar a função especial, que na técnica bancária exerce a firma de identificação, a dupla firma,
que o tomador lança no cheque, uma no momento da emissão, à vista do subscritor, e outra, depois, no momento
de receber a quantia. Trata-se de formalidade, de modo que se há de reforçar qualquer afirmação de se estar diante
de negócio jurídico de formação sucessiva. Os viajantes não são pessoas conhecidas em todos os lugares por que
passam. Dai a necessidade de se prestar maior atenção à sua identidade e à identificação das suas firmas. O
cheque de viagem, o traveller‟s check, é de subscrição e emissão do mesmo banco, ou de subscrição de um banco
e emissão por outro banco, casa bancária ou de câmbio. A aposição da firma do tomador é no momento da
emissão. Os cheques de viagem são, quase sempre, subscritos por determinado banco, para que outros emitam
tais cheques aos viajantes ou outros interessados.
De passagem digamos que a entrega dos cheques de viagem sem ser aos viajantes emissão é, mas há
intermediários que “compram” ou “se encarregam de vender” as cártulas, os cheques ainda sem nomes de
tomadores. Qual a relação jurídica entre o banco-subscritor e o banco ou outra empresa lançadora dos cheques de
viagem não importa. Depende do negócio jurídico que ocorreu ou que ocorre entre êles. De regra, o emitente não
figura no cheque: há negócio jurídico subjacente, justajacente ou até mesmo sobrejacente entre o toma-dor do
cheque e o emitente. Na circulação do cheque, a posse pelo emitente e os seus atos transíativos são
extrachéquicos:
não há relação jurídica cambiariforme entre o emitente, que não é subscritor, e o adquirente, que é o tomador.
Durante o tempo em que o cheque estêve com o emitente não-subscritor, houve apenas propriedade e posse ou
outra relação jurídica e posse da cártula, não, porém, titularidade do direito irradiado do cheque.
Com a prática da dupla firma, que só existe para os cheques de viagem, internacionais ou internos, supõe-se
existência de fundos do banco subscritor em diferentes lugares. Com isso, evita-se o transporte de dinheiro em
cédulas ou moedas.
-w
O cheque de viagem pode ser com a cláusula de intransferibilidade (cc não-endossabilidade), para que só se
possa apresentar a determinados bancos ou empresas, cujos nomes constam da cártula.
O cheque de viagem tomou, em grande parte, a função da letra de câmbio e da carta de crédito.
9.CHEQUES A COBERTURA LIMITADA. O cheque de viagem entra de regra na classe dos cheques
limitados, cheques de cujo livro de cheques (talão de cheques) consta a quantia da provisão, ou de parte da
provisão. Diz-se, também, cheque vade-mecum, cheque de provisão prevista, ou cheque de cobertura limitada. O
banco adverte que não paga cheque que passe do limite, levados em contra os que foram apresentados (cf.
JOSEPE TIAMEL, Banques et Opératioris de banque, 1, 976; R. CAPOBIANCO, Note sull‟assegno a copertura
garantita, Banca, Borsa e Titoli di credito, 1950, 1, 367 s.). O banco pode entregar os livros de cheques com a
limitação do quanto dispo‟ nível ou com essa limitação e as quantias de cada cheque (citeques de valor
prefixado). Ali, o total não pode exercer o que se diz ser o limite; aqui, os cheques já têm as respectivas quantias
e o total delas é o limite.
Quando o cliente pede o livro de cheques e o banco lhe dá o livro de cheques com valores prefixados, há acOrdo
do banco e do cliente; porém, no direito brasileiro, não há óbice a que o banco aponha no livro de cheque ou em
cada cheque o valor total da provisão. A entrega de tais livros de cheques impede que o cliente retire da conta o
que corresponde à provisão que o limite supõe existir.
A fixação do valor de cada cheque é cláusula que depende de acOrdo. Com ela, o banco assegura existir a
provisão e o cliente restringe a sua autonomia da vontade, porque não pode lançar valor maior ou menor do que
aquêle que está no cheque. Má a indisponibilidade da provisão; e há mais: o parcelamento fixado do que há de ser
sacado. Não só o fundo se faz intangível, cada cheque já tem o seu conteúdo em dinheiro.
Convém que lembremos aqui a diferença entre o que se passa com o cheque a cobertura garantida, ou a
cobertura garantida e de valor prefixado, e o cheque visado. Ésse está sujeito ao tempo para apresentação, que o
banco conhece, e aquêle ainda não foi apresentado ao banco. O título a cobertura garantida é sem exame
posterior para vinculação do banco; o cheque visado, não (Tomo XXXVII, §§ 4.145, 2, in fine, 4.148. e 4.149): o
cheque visado tem o valor que o cliente pôs e o banco verifica haver fundo.
10. ORDEM DE PAGAMENTO. O encargo de pagamento, às vêzes dito “ordem de pagamento”, pode resultar
de cláusula contratual, ou de acOrdo (contrato) entre o cliente e o banco. Pode ser por escrito (carta ou impresso,
com a assinatura do cliente e os mais requisitos; telegrama, ou telefonema, ou feito pessoalmente, ou por
intermediário, empregado ou núncio). Por vêzes, faz-se mediante cheque o que já supõe utilização do depósito
bancário e submete o meio ao regramento específico do título chéquico. O cheque, por si só, atinge a finalidada da
prestação, sem que se tenha de atender à causa, porque, além de poder ser ao portador, é título .
Nas relações jurídicas com terceiros, o encargo de pagamento consiste em simples delegação para o ato-fato
jurídico do pagamento: o banco presta ao terceiro, como se fôsse ao cliente e por conta desse. Se a incumbência é
de comunicar ao terceiro que em determinado momento, ou quando queira, pode receber, há detegatio
promítendi.
A expressão “pagamento” é empregada, aí, em sentida largo, porque o cliente pode não ser devedor, como se a
prestação é de doação, ou de mesada a filho, ou outra semelhante.
Para que o banco tenha de prometer pagamentos é preciso haver cláusula contratual. O aviso do banco de que está
à. disposição de terceiro a prestação não é delegatio proqnittendi:
em vez de negócio jurídico entre o banco e o terceiro, há apenas a comunicação de estar com a caixa do banco a
importância destinada. Trata-se, apenas, de enunciado de fato, inserto no papel impresso, ou no telegrama, ou no
telefonema,. ou feito oralmente, em presença.
O banco apenas diz por conta de quem paga. Nada tem com a causa da prestação, salvo se tem de exigir
documentos, ou explicitação do elemento causal, espécie em que o banco
§ 5.422. EFICÁCIA E EXTINÇÃO pode fazer objeções e opor exceções que teria o cliente. Note-se que a causa,
que pode vir à tona, é causa credendi ou accipie vii, e não causa do ato-fato jurídico do pagamento, ou de
promessa do banco, estranha à relação jurídica entre o terceiro e o banco, que é abstrata.
O pagamento há de ser em dinheiro, se não houve explicitude em ser em diferente valor. Tem de ser feito no
banco, e não iw ctcrnticilio do devedor (Código Civil, art. 950; Código Comercial, art. 430). Todavia, pode ser
estabelecido que se faça mediante lançamento na conta do terceiro, que tem depósito bancário em conta corrente
no banco encarregado, mesmo se o cliente remete ou entrega cheque ao banco. Em tais espécies, o banco tem o
-w
dever de creditar.
Quanto à eficácia em relação ao terceiro, o simples lançamento na sua conta não é solução da divida, salvo se foi
esse meio o que estipularam o cliente e o terceiro, ou se, enviado o aviso pelo banco, há razão para se supor que o
terceiro admitiu a eficácia solutória (o banco passa a ser devedor, em vez do cliente). Se foi o terceiro que exigiu
ou pediu a remessa pelo banco, sofre êle as consequências da insolvência do banco. Aliás, se não houve indicação
pelo terceiro, mesmo se o terceiro nada opôs à remessa pelo banco e esse lançou na conta do terceiro, ou o terceiro
acusou recebimento do aviso, pode o terceiro alegar que ignorava o que se passava com o banco insolvente ou em
via de se tornar insolvente. Não se pode ter opinião a priori; a confiança no banco, por parte „do terceiro, afasta,
em princípio, a responsabilidade do cliente do banco. Se tal confiança existia e o cliente, conhecedor da situação
do banco, remeteu a prestação, responde pelo ato de má fé.
No momento em que o banco credita ao terceiro, ou comunica estar à disposição a quantia e ocorre recepticiedade
com base para se não supor rejeitado, pelo terceiro, o pagamento, o banco pagou ao cliente e esse não mais pode
revogar a chamada ordem de pagamento (3. BREIT, em DÚRINGER.-HACHENBURO, Das
Handeisgesetzbuch, 2a ed., 921).
O banco, que recebeu o encargo de pagamento, pode creditar a quantia na conta corrente do terceiro que faleceu,
ou se tomou incapaz, bem como pagar, em dinheiro, ao incanaz, e ignora a superveniente incapacidade, ou a
incapacidade ii. ao tempo da remessa.
Não há exigência de f orna, porém é de uso fazer-se a denúncia vazia conforme se operava na conta corrente. O
cliente, por exemplo, enche a papeleta; e banco remete ao cliente a comunicação. Quem não recebe a denúncia
vazia não está exposto à eficácia <Ia manifestação de vontade. Quem a recebe a ela está sujeito mesmo que a
considere descabida. Se a denúncia vazia não cabia na espéciE, em virtude de eficácia contratual, é ineficaz, e
pode ser proposta a ação declaratória negativa.
Se o negócio jurídico entre o correntista e o banco, para cujos efeitos se estabeleceu o encaixilhamento, se
extingue, extingue-se o pacto adjecto de conta corrente.
Também se extingue a conta corrente pelo distrato. As outras causas de extinção da conta corrente bancária são as
dos negócios jurídicos em geral.
Quanto aos concursos de credores, incluída a liquidação coativa, rege o art. 45 do Decreto-lei n. 7.661, de 21 de
junho de 1945 (Lei de Falências) : “As contas correntes com o falido consideram-se encerradas no momento da
declaração de falência, verificando-se o respectivo saldo”. Quanto às concordatas, estabelece o art. 165, parágrafo
único, do Decreto-lei n. 7.661:
“As contas correntes consideram-se encerradas na data do despacho que manda processar a concordata,
verificando.se saldo; entretanto, tendo em vista a natureza do contrato, o juiz poderá autorizar o movimento da
conta nos termos do art. 167”.
A conta corrente apenas encaixilha outro negócio jurídico, de modo que depende desse. A extração do saldo e o
reconhecimento do saldo não extinguem a conta corrente bancária, se aquêle não se extinguiu.
Se falece algum dos figurantes, a conta corrente extingue-se se não é o caso de continuar com os herdeiros. Se o
banco se fecha, definitivamente, extingue-se a conta corrente.
DEPÓSITO BANCÁRIO
1.DEPÓSITO BANCÁRIO DE DINHEIRO. O depósito de dinheiro, feito no banco, faz o banco adquirir a
propriedade do que se depositou. Daí nasce o dever de restituição na mesma espécie quando o exija o depositante,
ou quando chegue ao termo que fixou. Pode ser, ou não, estabelecido o dever de pré-aviso. Salvo cláusula do
contrato, a restituição há de ser feita pelo banco, agência ou sucursal em que se fêz o depósito.
O depósito bancário atende a necessidades de capital para os negócios bancários. Distingue-se do depósito
ordinário, embora se possa admitir que o banco conclua algum depósito ordinário e até aceite depositar, como se
infungível fôsse,. dinheiro do cliente.
O depósito supõe a custódia como prestação principal (Depositum est quod custo diendum alicuí datum est).
Nem todos os depósitos bancários são de dinheiro e temos de distinguir as espécies. Há o depósito irregular em
banco e há o depósito bancário regular.
NM importa saber-se se o cliente, que, por exemplo, ia viajar e por menos tempo do que aquêle que daria direito
a dividendos, bonificações e outras vantagens, fêz o depósito de títulos para administração, só tendo interesse, no
momento, em custódia. Daí se vê que o elemento subjetivo não tem relevância, tanto mais quanto a necessidade
da administração pode ser eventual. Se o cliente tardou em voltar, está explícito no contrato o dever do banco. Se
o contrato fôsse apenas de guarda em caixa forte, teria o cliente, a distância, de contratar a administração, ou de
dilatar o conteúdo do contrato existente.
Os depósitos para poupança estabelecem entradas automáticas, ou recebidas em casa do depositante, com o fim
de ter A pessoa economias em banco.
Se o cliente entrega ao banco títulos ao portador, ou outros títulos, com os poderes outorgados, sem lhes transferir
a propriedade, mas com o poder de usá-los, há depósito regular, com cláusula de usabilidade.
Quando, por exemplo, o cliente entrega ao banco determinada quantia para que o banco adquira títulos, ou pague
alguma divida do cliente, o depósito do dinheiro não transfere a propriedade desse ao banco. O banco está com o
dinheiro alheio sem poder dêle dispor. Dá-se o mesmo se alguém deposita o dinheiro no banco para que terceiro o
levante, ou para que fique à disposição do terceiro (O. OPITZ, Pitnfzig depotrechtliche Abhantllungen, 176 s.). A
destinação impede que se confunda com o depósito bancário frequente esse depósito de dinheiro indisponível. O
banco opera, aí, como o mandatário que levasse o dinheiro para o pagamento de que fora incumbido.
Se foi feito depósito simples sem destinação, ou sem qualquer cláusula de restituição à vista ou com pré-aviso, há
transferência da propriedade.
Se o depósito foi em conta corrente, é de entender-se que há a disponibilidade pelo banco, salvo cláusula que
expressamente a pré-exclua, o que sé se justifica se há alguma destinação precisa.
A caderneta é documento comum às contas correntes. Por ela, se está em dia, sabe o cliente de quanto pode
dispor. Tem-se dispensado, satisfazendo-se banco e cliente com os recibos de entrada e os avisos de saída. O uso
intensivo do cheque concorreu para isso. Mas, no Brasil, quando o cheque nEo é devolvido, há inconvenientes em
tal dispensa do pass-book.
As entradas ou são feitas pelo próprio cliente, ou por terceiro, ou pelo próprio banco, se tem de prestar alguma
quantia, eu algumas quantias, talvez periodicamente, ao cliente, O que o terceiro fêz ser creditado na conta
corrente, ou mesmo na conta do depósito simples, não pode ser revogado, nem estornado sem comunicação ao
cliente. Dá-se o mesmo se foi o próprio banco que deu entrada à quantia. Cf. Corpus lurM seoundum, IX, 140
Se o banco, encarregado de pagar alguma soma a terceiro, eu adquirir títulos ou outros bens para o cliente, presta
juros sobre a soma enquanto não cumpre o que prometeu, aí, a dispanibilidade pelo banco introduziu-se e
desnaturou o depósito em tonta corrente passiva ou em conta corrente por correspon4ência.
banco não paga juros (para o antigo direito ático e o romano, O. E. Scx-tOMANN-M. li. E. MEIFz, Der ostijeche
Prozess, 518; M. VOIGT, Ober die Bankier der Rõmer, 13; TREODOR NIEMEVER, Depositum irregulare, 147
s.).
O que distingue o depósito bancário como espécie de depósito irregular é que há a empresa depositária,
profissionalmente dedicada a receber depósitos, e há a pluralidade de entradas,
de depósitos-parcelas. A série de creditamentos e de debitamentos faz do depósito irregular depósito bancário. O
banco, para as suas operações, conta com esses negócios juridicos de massa, sem os quais só disporia do que
constitui o seu capital, o seu fundo de reserva e o que houvesse de empréstimos.
O fato de se haver exigido aviso prévio para os levantamentos, ou de se ter fixado prazo para êles, ou de se terem
restringido os levantamentos periódicos, não desnatura o depósito bancário. Nenhuma das espécies se torna
mútuo, pôsto que o banco possa cogitar de tomar empréstimo a clientes; mesmo porque o mútuo pode ser à vista.
As causas dos dois contratos são distintas. Se o cliente emprestou ao banco fêz mais do que depositar. A
finalidade não foi de investimento, mas de segurança. Melhor é que o dinheiro esteja no banco do que na gaveta
do escritório, ou no próprio cofre. O incêndio que destrói o prédio em que está o escritório destrói o dinheiro que
o cliente guardou, O incêndio do edifício do banco não destrói o direito do cliente que depositou.
Todos os depósitos bancários têm como elemento comum a entrega de soma de dinheiro, da qual o banco adquire
a posse própria e a propriedade, com o dever de restituição na mesma espécie de moeda, quando exigida de
acôrdo com a convenção e a lei. A convenção pode resultar de uso bancário. O banco pode dispor como entenda
do que foi depositado, porque é seu. Não tem dever de conservar, porque restitui o tantundem elusdem generis ae
qualitatis, e nào a cadem res. Não se pode dizer, portanto, como fazem alguns juristas italianos (e. g., ENRICO
COLAcRosso-GIÂcOMO MOILE, Diritto baneario, 291 s.; SEEGIO SOTGIA, Dei contratti bancari,
Cornmentario ai Codice Civile de MARIANO D‟AMEnO e F. FINZI, II, 1, 108), que se trate de depósito ad uso.
O depositante transferiu mais do que o uso. Depósito com direito de usar é o depósito de que cogita o art. 1.275 do
Código Civil.
Os depósitos bancários são espécies de depósito irregular. Portanto, o que dissemos ser o contrato de depósito
irregular (Tornos XXVII, § 8.286, 4; XXIX, § 3.389, 13; XXX, §3.588; XXXVIII, §§ 4.107 e 4.108; XLII, §§
4.663, 6; 4.664 e 4.665) é de leitura útil.
Sobre o dever de custódia e o depósito irregular, Tomo XLII, § 4.656, 3.
O contrato de depósito bancário é real e oneroso. Em alguns sistemas jurídicos, há o contrato de depósito
bancário gratuito, o que se prende, às vêzes, ao emprêgo do sigilo bancário para se ocultar dinheiro oriundo de
fontes ilegais ou criminosas, ou a restrição às operações bancárias para vantagens de grupos.
Por outro lado, a proibição legal (somente pode ser legal) de pagar juros a depositantes diminui os depósitos
bancários e ao mesmo tempo sugere os empréstimos clandestinos, ou os incrementa.
Na classificação dos contratos em contratos de crédito e contratos de custódia, não se pode dizer que o depósito
irregular é contrato de crédito, e só de crédito, nem que é contrato de custódia, em sua feição típica. O persistir
depósito, a despeito da transferência da propriedade, foi o elemento historicamente insinuado e conservado
através dos tempos. Algo de custódia permaneceu, diferenciando-o do mútuo e dos outros contratos de crédito.
Há especificidade da causa.
Contrato aformal, no sentido de não haver nas leis regras jurídicas sobre forma especial. Mesmo se o cliente perde
o recibo do depósito, pode fazer prova da entrega, conforme os princípios gerais.
Há custódia, porque o banco assume dever que excede o de ordinária responsabilidade.
O cliente precisa poder dispor do que deposita.
Os depósitos em conta corrente ou são em cadernetas de poupança ditas carteiras de economia, nas quais se
lançam o que se deposita e o que se retira, como se fôsse a conta do cliente, mas como atividade contabilística do
banco. Depósito em conta corrente, prôpriamente dito, é o depósito de que se retira, livremente, ou a termo, o que
caiba no saldo, quase sempre mediante tradição de cheque.
5. DEPÓSITO BANCÁRIO. Os depósitos bancários podem ser a termo único (o que se depositou somente se
pode retirar quando se chegar ao termo fixado), ou em conta corrente, ou a termos sucessivos. Os depósitos
podem ser com exigência de pré-aviso, para as retiradas, ou sem ela.
O pré-aviso pode ser de dias, de meses, ou mais. Freqúentes os depósitos são com retiradas sem pré-aviso, ditos à
vista. O pré-aviso pode ser exigido apenas a partir de certa quantia.
„Os depósitos podem ser de economia ou poupança, somente em se depositando e em se retirando dinheiro com o
lançamento na caderneta.
Nos depósitos em conta corrente, esses, as retiradas podem ser por cheque, ou autorizações de remessa, ou outro
serviço de caixa.
6. CADERNETA DII DEPÓSITO. A regra jurídica, que devia apanhar todos os casos em que se entrega
caderneta, é de, necessariamente , nela se lançar quanto se remeteu, ou se retirou. O uso do livro de cheque, com
o canhoto ou a fôlha para as notas do cliente, foi tornando menos usual a caderneta. As cadernetas, que hoje se
entregam, quase nunca se dão para se encher. Verdade é, porém, que as notas não fazem prova contra o banco, e
os recibos se perdem facilmente . Se há caderneta, não pode o banco estabelecer que não faça prova. A caderneta
contém, pelo menos, a primeira entrada.
7. DEPÓSIITOS FECHADOS. O depósito em banco pode ser depósito fechado, isto é, depósito que se faz com a
entrega de objetos às vêzes títulos em caixa, maleta ou baú, ficando as chaves com o depositário, ou selado e
lacrado, ou por outro modo tornado incólume a fácil abertura. O que era fungível infungibilizou-se com a
cobertura. Não é exigido que o cliente entregue ao banco a lista do que consta do depósito. Para a restituição pode
ser restabelecido o ônus de pré-aviso.
8. CESSÃO E TRANSFERÊNCIA DO CRÉDITO. O crédito contra o banco pode ser cedido, ou ser transferido,
consequentemente à entrega de cheque nominativo, ou ao portador. Se não foi estabelecido, expressa ou
tàcitamente (e. g., pelo uso), que seria movimentável mediante cheque a conta corrente de depósito bancário, o
meio que se tem para ceder o crédito é a cessão de crédito (Código Civil, arts. 1.065-1.078). Se foi estabelecido
que se sacaria cm cheque, não se há de entender, na dúvida, que se pré-eliminou a cessão do crédito.
Se o crédito foi cedido ou transferido a titulo oneroso ou gratuito, isso não interessa ao banco. Entre os figurantes
da cessão ou da transferência, o negócio jurídico gratuito é doação: precisaria haver título abstrato, para que não
se tivessem de exigir a formalidade e outros pressupostos das doações. Não cabe distinguir-se o título abstrato ao
portador e o titulo abstrato nominativo ou à ordem. Qualquer discussão sobre o negócio jurídico causal, que
houvesse, seria estranha àvalidade e eficácia do título abstrato e as objeções e exceções só seriam oponíveis entre
figurantes em contacto (e. g., endossante e endossatário do cheque).
Cumpre, ainda, advertir-se que o que se cede ou transfere não é a soma, mas o crédito de depósito.
9. PENHOR DE CRÉDITO. O crédito do depositante pode ser empenhado, como qualquer outro crédito. O
titular do direito de penhor não pode retirar a quantia sem que o empenhante consinta. Cf. Tomo XX, §§
2.585-2.590.
1. PRECISÕES. O contrato de depósito, se contrato de massa, tem sempre fórmulas regulamentares do banco,
porque o banco, na divulgação dos seus intuitos, tem interesse de mostrar como se hão de concluir os depósitos
bancários e quais os seus efeitos, conforme as cláusulas.
O locatário do cofre, da caixa ou da gaveta somente contratou porque precisou de cuidados na guarda e o banco os
prometeu. O banco tem o direito à~ comissão e ao reembôlso de despesas. A comissão pode ser ordinária ou
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especial a alguma operação. Não se passa isso com o contrato de depósito bancário.
2. DEVER DE RESTITUIÇÃO. O banco tem o dever de restituir. As cláusulas ou pactos adjectos de pré-aviso,
ou de prazo, apenas regulam esse dever. O termo pode ser certus au ou incertus quando. Se apenas se exigiu
pré-aviso, sem se referir à periodicidade dos levantamentos, permitiu-se a exigibilidade posterior (durante o
contrato) a termo certo, subordinada ao pré-aviso. Com o pré-aviso, o cliente fixa a data para o levantamento. O
banco prepara-se para a prestação. O ônus do pré-aviso (não se fale em dever de pré-aviso) é no interesse do
banco. O termo, que o pré-aviso fixa, ou resulta de cláusula ou de pacto adjecto (e. g., “os levantamentos são dez
dias após o pré-aviso”), é no interesse do cliente e do banco. O banco não pode exigir que o cliente receba antes.
Cliente e banco podem acordar em que não se aguarde a expiração do prazo.
3. PRÉ-Aviso. Se não foi preestabelecida forma necessária ao pré-aviso, pode ser oral, por telefone ou por
telegrama. Se os levantamentos são por inserção em caderneta, a forma especial foi exigida ao lançamento, não ao
pre-avíso.
O pré-aviso é revogável, mesmo se decorreu o prazo. Aliás, é de uso bancário que se tenha como revogado o
pré-aviso se passou, após o termo fixado, tempo igual ao que seria exigido à apresentação de cheque. No direito
italiano, o uso é ser vencível de cinco a dez dias (cf. ADRIANO FlORENTINO, Contratti bancari, Commentario
dei Codice Civile a cura di ANTONTO SCIALOJA e GIUSEPPE BRANCA, 425).
Durante os dias de que se esperou a expiração do prazo e o levantamento, ou até que se revogue o pré-aviso, não
fluem juros. Não importa se a revogação foi expressa ou tácita.
O pré-aviso só inicia o curso do prazo no dia seguinte àquele em que‟é recebido pelo banco.
O pré-aviso é manifestação de vontade receptícia, em exercicio de direito formativo extintivo. Se o cliente quer a
extincão do contrato, tem de pré-avisar; portanto, há ônus, da sua parte. Com isso, fica tempo ao banco para se
munir de fundos.
4.LUGAR DE PAGAMENTO. O dever de restituir é exercido na sede em que se fêz o depósito (sede da
empresa- mãe ou sede da filial, ou sede da sucursal, ou sede da agência). Os bancos podem permitir a exigência
noutras sedes, desde que se dê tempo para as comunicações escritas, telegráficas ou telefônicas. O cheque visado
é expediente que facilita os levantamentos em outras sedes, mas, para que não haja comissão e despesas
cobráveis, é preciso que o banco tenha acordado na apresentação vinculante. Pode haver conveniência em que se
convencione que as operações de entrada e de saída sejam indistintamente em duas ou mais sedes, o que importa
duplicata, ou triplicata, ou outra pluralidade de escrituração do mesmo depósito em conta corrente (e. g.,
“depósito em conta corrente de A na sede da matriz”; “depósito em conta corrente de A na sede da agência de
Santos”). A sede em que se fêz o contrato de depósito tem de avisar quanto aos saldos, ou os levantamentos e
entradas, para que as outras sedes estejam a par da conta corrente. ~ diferente apenas permitir o desconto noutra
sede, ou mesmo a exigência noutra sede, dependentemente de comunicação entre as sedes.
6.JUROS. Os juros são os convencionados, ou os legais. Correm êles do primeiro dia útil posterior à entrada e
cessam de correr no último dia útil anterior ao pagamento ou ao dia do pré-aviso. A liquidação dos juros e o
creditamento fazem-se no dia expressamente convencionado ou de uso. Uma vez creditados, os juros
capitalizam-se, tornando-se produtivos de juros.
A taxa é para todo o tempo que dure o contrato de depósito bancário, salvo se advém pacto adjecto, ou regra legal
limitativa. Pode o banco reservar-se a alteração da taxa, mediante pré-aviso. A lei pode exigir pressupostos para a
fluência de juros, ou afastá-la.
art. 168, IV; Código Comercial, art. 450; Tomo VI, § 678, 2, 6).
Os bancos não podem criar casos de prescrição ou preclusão do direito do depositante.
No art. 1.~ do Decreto n. 36.783, de 18 de janeiro de 1955, estatui-se que, em caso de liquidação extrajudicial de
banco e logo após o levantamento das suas contas de depósito, o liquidante do banco tem de transferir ao Banco
do Brasil, por conta da Caixa de Mobilização Bancária, os depósitos do público (sic), até o limite de cem mil
cruzeiros, ou igual quantia dos depósitos mais elevados, podendo as importâncias transferidas ser livremente
movimentadas por seus titulares (cf. Decreto n. 43.577, de 26 de abril de 1958, arts. 19 e 2.0).
As regras jurídicas da Lei n. 2.313, de 3 de setembro de 1954, art. 29, apanham os depósitos bancários, pois lá se
diz:
Os créditos resultantes de contratos de qualquer natureza que se encontrarem em poder de estabelecimentos
bancários, comerciais e industriais e nas Caixas Econômicas e não forem reclamadas ou movimentadas as
respectivas contas pelos credores por mais de vinte e cinco anos, serão recolhidos, observado o disposto no § 2.0
do art. 1.0, ao Tesouro Nacional e aí escriturados em conta especial, sem juros, à disposição dos seus proprietários
ou seus sucessores, durante cinco anos, em cujo termo se transferirão ao patrimônio nacional”. No § 1.0,
acrescenta-se: “Excetuam-se do disposto neste artigo os depósitos populares feitos nos estabelecimentos
mencionados, que são imprescritíveis, e os casos para os quais a lei determine prazo de prescrição menor de vinte
e cinco anos”. Todos os depósitos geram dívidas imprescritíveis, de modo que para os depósitos não-populares o
art. 2.0 da Lei n. 2.313 criou prazo preclusivo, com a transferência para o patrimônio nacional. No § 2.0,
explicita-se: “Valerão como reclamação dos créditos e movimentação das contas a apresentação ou remessa da
caderneta para contagem e lançamento de juros, ou de qualquer documento pelo qual es credores acusem ciência
dos seus saldos ou queiram dêles conhecer, ressalvados também os meios idôneos admitidos em lei”. A
interrupção do prazo para recolhimento, ou do prazo para transferência ao patrimônio nacional, pode ser por
meio de reclamação escrita, ou telegráfica, em carta ou pedido, a partir da recepção, ou por meio de protesto ou
de citação do estabelecimento, mesmo se ordenado aquêle ou essa por juiz incompetente, ou pela apresentação de
entrada ou de retirada, ou pela apresentação da caderneta, conforme o art. 2.0 da Lei n. 2.313. Sempre se há de
atender à recepticiedade dos atos. No § 39, diz-se: “Suspendem-se os prazos acima estipulados (?) em tempo de
guerra, pelo tempo que esta durar, em favor dos credores, a serviço das fôrças armadas dentro ou fora do pais
No Decreto n. 40.395, de 21 de novembro de 1956, o art. 39 estatui que, “sempre e à medida que, em relação a
cada depósito, se fôr verificando a extinção dos contratos respectivos, os depositários farão o recolhimento”,
“dentro de trinta dias contados da data da extinção”.
Para a cortagios dos nra7os, exclui-se o dia do ato e inclui-se o último dia (Decreto n. 40.395, art. 14; Decreto-lei
n. 3.602, de 9 de setembro de 1941, art. 1.0). Se o dia do vencimento cair em dia feriado, o prazo considera-se
prorrogado até o dia seguinte (Decreto-lei n. 3.602, art. 1.0 parágrafo único).
Sobre como têm de proceder os bancos depositários e as repartições federais, cf. Decreto n. 40.395, arts. 4.o~17.
1. CONCEITO. O depósito de títulos em banco tem, quase sempre, a dupla finalidade da custódia e de
administração. O banco assume, com o depósito, o dever de custódia e o dever de administrar. O dever de
administrar compreende o de exigir os interesses ou os dividendos, receber os títulos dados em bonificação,
verificar os sorteios para prêmios ou reembôlso do capital, subscrever ações de aumento de capital conforme as
instruções do depositante, e diligenciar para o exercício de quaisquer direitos e pretensões relativos aos títulos.
Não se incluem as ações, nem as medidas cautelares; porém, em caso de não pagamento, há os protestos e as
medidas que sejam necessárias à conservação dos direitos.
Antes de se falar do conceito e da natureza do contrato de depósito de títulos de crédito ou de ações para
administração, tem-se de chamar atenção para a duplicidade de atividade, que há em tal contrato: o banco assume
o dever de custódia e da prática de atos que são do interesse exclusivo do cliente e desses poderiam ser
-w
encarregadas pessoas físicas ou pessoas jurídicas que não sejam bancos. Daí a relevância da classificação do
contrato.
Se ao banco foram entregues títulos de crédito ou ações em administração, o banco assume, além do dever de
custódia dos títulos, o dever de administrar. Quem administra títulos de» crédito ou ações tem o dever de exigir
juros, dividendos, bonificações, reembôlso, valor de resgate, prêmios e quaisquer outros produtos ou vantagens e
de prover à tutela de todos. os direitos e pretensões inerentes aos títulos. Quanto à pro positura das ações, é
preciso que o banco haja incluído nos seus deveres esse, que supõe procura em juízo. Os atos que são
indispensáveis ao evitamento de preclusões e prescrições deve-os o banco.
Discute-se sé o contrato é único, ou se há pluralidade de contratos. Se se responde que o contrato é único, ainda se
há de levantar a questão: ~„,trata-se de contrato de depósito, ou de contrato de mandato, ou de contrato misto?
Primeiramente, advirta-se que o exercício dos atos de administração pode ser atribuído a quem nao seja
depositário, porém sim mero mandatário ou empregado de empresa, inclusive empregado de banco que não
pratique os atos em nome do banco. Depois, havemos de frisar que o depositário pode não ter recebido poderes de
administração e praticá-los em gestão de negócios alheios, ou podem ter de administrar os bens em virtude de
dever que resulte de lei. Ainda mais:
pode não ter havido contrato de depósito com poderes de administração e tê-lo havido depois, ou apenas outorga
de procuração em separado, o que afasta ter havido contratualidade.
O depósito de títulos de crédito ou de ações para administração, quer em banco quer não, é contrato único, sem a
duplicidade que lhe vê GEORGES RIPERT (TraiU éléntentaire de Droit Commercial, 2a ed., 835). Pode bem ser
que o interesse do cliente mais seja o de obter serviço do banco do que .a custódia, como pode ocorrer que a
prestação que mais lhe importa seja a custódia, ou que sejam as duas. Isso de jeito nenhum permite que se faça
depender da preponderância do intento do cliente a classificação do contrato. O contrato, em
>qualquer das espécies, é contrato de depósito para administração, sem que se possa perquirir se se depositaram
os títulos para que o banco os administrasse, ou se foram depositados e
-por isso há conveniência em que não se retirem para exercicio de direitos e pretensões. Deve-se evitar
assimilação ao mandato, tanto mais quanto, por ocasião das atividades fora do banco (recebimentos, exercício de
direitos de opção e outros atos administrativos), a intermitência não corta, de modo nenhum, a continuidade da
relação jurídica cio depósito.
O depósito de títulos sem se dizer que é para administração e sem se ter de assim considerar pelo uso do banco,
não e depósito de títulos em administração (sem razão, LuIGI LÚRDI, Istituzioni di Diritto Commerciale, II,
888).
O depósito de títulos em administração é, necessariamente , espécie de depósito aberto. A disponibilidade, pelo
depositante,
só se exclui se, além do depósito em administração, se empenhou o objeto depositado, ou parte dêle.
Para a retirada, pode ser preestabelecido o pré-aviso, inclusive para se assegurarem o pagamento da retribuição
-e oreembôlso das despesas e adiantamentos. Trata-se de depósito retribuído.
O banco não pode misturar com outros os títulos, razão por que o recibo há de conter indicações que os
individuem. Para todas as conseqdências, o objeto depositado é infungível, mesmo se, diante dos termos do
contrato ou do recibo de entrega, há dúvida.
a integra, que a completa. Em vez da custódia só interna e objetiva, há a custódia externa, eficacial.
O contrato é contrato real. A prestação do banco é prestação duradoura.
O contrato de depósito de títulos em administração é um só negócio jurídico, a despeito de ser duplo o conteúdo.
Quanto aos deveres de administração, as regras jurídicas que incidem são as da outorga de poder de
representação.
O depósito global de títulos em administração é espécie que merece considerações especiais. O banco pode
misturá-los com outros do mesmo conteúdo e valor, sem que tenha sobre êles direito de propriedade. Não se
assimila ao depósito bancário de dinheiro, nem ao depósito de outro bem fungível, porque fica entre êles e o
depósito de títulos em administração, a que chamaríamos depósito ordinário de titulas em administração. A
irregularidade é parcial.
A finalidade da cláusula de quase-fungibilidade está, freqUentemente, em permitir-se ao banco que compareça
com os títulos à assembléia de sociedades por ações.
A figura é a de comunhão dos títulos depositados pelos clientes, cabendo a cada um a sua quota. ~ como o
depósito de grãos, depósito en grenier. A comunhão pro indiviso permíte ao banco tratar dos títulos como se
fôssem fungíveis, mas sem poder dispor das quotas alheias (HERMANN HEROLD, Bank und Bõrsenrecht, 68).
Pode ser feito com a posse imediata pelo banco, ou com a posse imediata por outro banco feito o endosso. São,
respectivamente, o depósito global em casa (I-laussammeldepot) e o depósito global por endOsso
(Girosammeldepot).
A comparência do banco à assembléia de sociedade por ações suscita alguns problemas, de que já tratamos, como
o da necessidade de serem de Brasileiros os títulos, por exigência constitucional ou legal, ou estatutária, e o da
proibição do tráfico de voto.
4. EFICÁCIA DO CONTRATO. O banco tem de informar-se, com tôda a diligência e técnica, de todos os efeitos
dos títulos e da titularidade, a fim de comunicar ao depositante quanto aos direitos, pretensões e ações do
depositante e quanto aos deveres, obrigações e ações que haja contra o depositante. No tocante ao exercício de
direitos formativos geradores, modificativos e extintivos, tem de comunicar a tempo, para que o de
positante os exerça ou não os exerça. O direito de subscrição quanto a novas ações é um dêles. Ao comunicar ao
depositante, há de o banco dizer como tem de proceder o depositante, inclusive quanto à necessidade de outorga
de poderes; bem assim, quaisquer fundos necessários. Se o depositante não responde, nem remete os fundos, é
dever do banco vender, por meio de corretagem, de acôrdo com as leis, o direito de subscrição (assim, ADRIANO
FlORENTINO, Contratti cambiari, CommenIano dei Codice Civile, 444). Fora disso, no contrato de depósito de
títulos em administração, podem ser diminuídos ou aumentados os poderes do banco. No tocante à subscrição de
títulos novos, é freqUente a outorga de poderes para se dispensar o pedido de instruções, com o depósito de
fundos suficientes, ou a convenção de saque.
Todas as somas que o banco recebe devem ser imediatamente creditadas ao cliente em conta corrente especial, ou
na conta corrente do depósito de dinheiro que o cliente tinha no banco.
O depósito de títulos em administração permite que o banco exerça os poderes de recebimento sem precisar de
procuração.
A outorga de poder resulta do próprio depósito de títulos em administração. O banco age em nome e por conta do
depositante. Se os títulos são ao portador, o banco não precisa exibir o contrato de depósito em administração.
Se há alguma parcela a ser paga do preço do título, o banco pode pagá-la em nome e por conta do cliente,
cabendo-lhe o dever de comunicação quanto a qualquer fato que não conste do teor do título.
Não é válida a cláusula, nem é válido o pacto adjecto pelo qual o banco se exima da responsabilidade por
inadimplemento de dever ou que a restrinja em caso de culpa.
Os títulos têm de ser restituidos, todos ou alguns, quando o cliente os exija. Pode esse exigir a restituição de um
so.
O banco tem direito de retenção sobre os títulos depositados, por despesas e desembolsos ocasionados pelo
depósito ou pelo exercício do dever de administrar.
outros depósitos. Pode ocorrer que se nove o contrato com a particularidade de se retirar o dever de
administração, mas isso seria difícil ocorrer, pelas facilidades a que o depósito em administração dá ensejo.
CAPITULO IV
CARTA DE CRÉDITO
1.CONCEITO. A carta de crédito é o negócio jurídico (ou o documento do negócio jurídico) pelo qual alguém
(endereçante) de regra, banco autoriza outrem (enderessado), quase sempre viajante, ou pessoa que vai viajar a
receber dinheiro, até certo importe, de terceiro, ou de dois ou mais terceiros, por conta do autorizante, mas em
nome do acreditante. Ressalta a diferença em relação à assinação simples ou corrente: há máximo de importe, e
não quantia fixa, ficando ao acreditado receber de uma vez, ou por partes, o que se lhe autoriza a receber.
A carta de crédito circular ou de viajante, traveller‟s letter ol credit, já era de uso na Idade Média (cl. ALFRED
LÉGAL, Le Crédit confirmé en pays étranger, 40). Não se confunde com a carta de crédito comercial,
co‟mnmercial lelter of credit, que se prende ao financiamento do comércio de importação (cf. SPALDING,
Rankers‟ Credita, 42). Mas os traços comuns são tantos que juridicamente se têm como subespécies (H. HART,
The Law of Banking, 3~a ed., 618; SPALDING, Rankers‟ Credita, 4).
Na jurisprudência americana, a propósito da carta de crédito, alude-se à causa, à consideration, à relação jurídica
entre o comprador e o banco, mas sem que isso afaste ser abstrato o negócio jurídico da carta de crédito (cl.
WILLIAME.Mc Cumw, Commercial Letters of Credit, JIarvard Law Review, 37, 574)
2.CARTA DE CRÉDITO E ACREDITIVO. Do acreditivo propriamente dito difere a carta de crédito: aquêle
não é em carta, mas sim acreditação contra duplicada do conhecimento de mercadorias ou do recibo de
transporLe (Duplikatfrachtbrief), ou expediente semelhante. Por êle, quase sempre o comprador se vincula a que
algum banco ponha ã disposição do vendedor quantia que corresponda ~o preço, de jeito que, satisfeitos alguns
pressupostos, possa o acreditado aí, vendedor exigir que o banco lhe pague. A classificação da relação jurídica
entre o acreditante e o banco tem sido assaz discutida (e. g., JACOBSOHN, Der Kauf gegen Bankakkreditiv,
Gruchots Beitrtlge, 66, 24 5.: o banco seria o fiduciário; H. LEI{MANN, em L. ENNECCERUS-H. LEHMANN,
Leltrbuch, II, 113 recop., 347:
o comprador e o banco concluiriam contrato de obra). A relação jurídica entre o acreditado e o dador de crédito só
se estabelece quando esse assume a dívida perante aquêle, dizendo que está à sua disposição, ou já lançado em seu
crédito. Num e noutro caso, há declaração unilateral de vontade negocial, e não só ato jurídico st ri cio sensu. A
promessa unilateral é abstrata. Pode o dador do crédito, o banco, comunicar que o acreditivo foi feito com a
cláusula de revogabilidade, o que não se presume. Se o dador do crédito não fêz qualquer ressalva, nenhuma
objeção ou exceção tem contra o acreditado, que se funde em relação jurídica com o acreditante. Tem-se de
repelir a explicação da relação jurídica entre o acreditante e o banco, que há de dar o crédito ou o dinheiro, como
contrato a favor de terceiro, porque, primeiro, não há contrato e, segundo, o acreditado estaria exposto às objeções
e exceções do banco dador do acrédito contra o acreditante. Há assinação para pagamento, razão por que são de
invocar-se as regras sobre a assinação.
Já falamos de carta de crédito ou letra de crédito, no Tomo XLII, § 4.635, 5.
A carta de crédito tem de designar a pessoa a que se há de prestar a quantia: se não se determinou, há apenas carta
de recomendação, e não a carta de crédito aberta, que o sistema jurídico brasileiro não tem, offener Kreditbrief.
3.NATUREZA DA CARTA DE CRÉDITO. Nada adiantaria dizer-se que a carta de crédito é espécie de
assinação. Tem a assinação apenas como um dos seus elementos. Nem dizer-se que é espécie de acreditivo: o
destinatário, o endereçado, presta, não promete, de modo que o seu ato é ato-fato jurídico (paga. mente), e não
negócio jurídico. A praxe bancária criou a carta de crédito, com os elementos próprios que a fizeram negócio
jurídico distinto da assinação e do acreditivo.
-w
O prestador acreditivo não tem de pagar: ou confirma, ou não confirma (negócio jurídico unilateral). O assinado
ou apôe o aceite, ou não o apôe. O endereçado da carta de crédito ou paga, ou não paga.
Compare-se a figura da carta de crédito com as duas outras, a da assinação e a do acreditivo, que inserimos no
Tomo XLII, § 4.642, 3.
A figura da carta de crédito supôe triangularidade:
Beneficiário
X (portador)
Endereçante
(subscritor)
-Endereçado (destinatário)
O pagamento é feito pelo endereçado (pagador) do crédito, em nome do endereçante. Esse responde como
devedor, e não como pagador. O pagador do crédito nada tem de investigar quanto à situação patrimonial ou
aptidão creditícia do beneficiado. A relação jurídica entre o endereçante e o endereçado é fora do negócio jurídico
da carta de crédito. Talvez fique aquêle a dever; talvez tenha havido compensação, ou retirada do quanto na conta
corrente do endereçante.
O sêlo é pago de uma vez, por todo o importe do crédito, e nao pelas parcelas recebidas (cp. Decreto de 13 de
agôsto de 1863, art. 8.0; DÍDIMO AGAnTO DA VEIGA, O Amigo e Conselheiro dos Comerciantes, 236).
Alguns autores consideram a carta de crédito título de crédito aparente. Assim, ter-se-ia, ao lado dos títulos de
crédito e dos títulos de legitimação, os títulos de crédito aparentes, isto é, que só o seriam na aparência. Com isso,
transformar-se em título de crédito o que apenas é documento de determinado negócio jurídico. Assim contra
FRANCESGO MESSINm (Titoti di credito, ~ 2a ed., 244) GIUSEPPE FERa! (1 Titoli di credito, 2.~ ed., 55) e
ISIDOCO LA LUMIA (Corso di liliritto Commerciale, 277).
Da carta de crédito há de constar o nome do endereçado (destinatário, pagador do crédito), o nome do portador
seu beneficiário e o nome do endereçante (destinante). Além disso há de estar determinado o quanto a ser pago.
4. ESPÉCIES. A carta de crédito pode ser circular (Zirkularkreditbrief), como se alguém vai viajar e precisa de
dinheiro em diferentes cidades ou outros lugares.
A carta de crédito pode ser para retirada de uma vez, ou por partes. Ou somente para que se inicie conta corrente,
ou para que o banco lhe dê outra cada de crédito, ou outras cartas de crédito.
“crédito”, a carta de crédito é documento para se ir receber, e não para se obter crédito. A relação jurídica entre o
endereçante e o beneficiário nada tem com a relação jurídica entre o endereçante e o endereçado. Há assinação
escrita para pagamento, na carta de crédito, e algo, a mais, parecido com o acreditivo. Quando se diz que ela é
espécie de acreditivo, reduz-se-lhe a figura (e. g., WOLFGANG HEFERMEI-IL, Schlegel berger
Tlandelsgesetzbuch, Jfl, 33 ed., 1368).
O pagamento ao beneficiado pela carta de crédito é, de regra, em dinheiro. Se o pagador de crédito, destinatário
da carta de crédito, abre crédito, ou assume dívida, o ato é seu. Se, na carta de crédito, se disse que o destinatário
creditaria, ou assumiria dívida, o simples creditamento, em tal caso, não tem eficácia solutória, salvo se resulta
dos termos do documento do terceiro, ou do documento que o acreditado deu ao pres tador do crédito. Se foi o
beneficiado que admitiu o depósito, ou o título de crédito, em vez da entrega do dinheiro, o risco da falência ou de
outra liquidação coativa é dêle.
Nas relações entre o subscritor e remetente da carta do crédito e o banco, destinatário, a própria assunção de
dívida por esse é pagamento. O endereçante da carta de crédito é debitado.
O banco pode pagar em dinheiro, ou assumir divida, a favor do terceiro, mesmo após a morte ou a superveniente
incapacidade do subscritor e remetente da carta de crédito, de modo que incidem as regras jurídicas dos arts.
1.321-1.323 do Código Civil, ou do art. 157, inciso 3, do Código Comercial (mandato).
-w
O subscritor e remetente da carta de crédito, que tem o fim de fazer recebedor o acreditado, conta com o crédito
que tem contra o dador do crédito ou com a abertura de crédito para que se lhe debite o que o banco destinatário
pagar ao acreditado.
O beneficiado não é credor se o endereçado não assume a dívida, com o consentimento do beneficiado, ou não lha
credita. Se lha paga, toilitur quaestio. O ato de pagamento foi simples ato-fato jurídico.
2.EXTINÇÃO DA CARTA DE CRÉDITO. Se havia prazo para apresentação, com a expiração dêle extingue-se
a eficácia da carta de crédito: o negócio jurídico resolveu-se. Idem, se havia condição resolutiva e se impliu.
Não há denunciabilidade da carta de crédito.
CAIXAS FORTES
1. CONCEITO. Quando os bancos têm caixas fortes (coffres-forts, safes, cassette de sicurezza), recebem do
cliente o que lhe pague o uso do lugar e os serviços. Ao cliente dá o banco o cartão dc legitimação, ou a carteira
de legitimação, em que se inscrevem as visitas, ou a carta de legitimação. Com esse documento, o cliente pode
mudar ou retirar parte ou todo o conteúdo da caixa ou gaveta, que lhe toca, observadas, porém, as exigências
convencionadas. Às vêzes, além de carta de legitimação, o banco exige a senha oral ou gesticular.
O contrato de caixa forte não se confunde com a carta de legitimação, ou o cartão, ou a carteira.
Pensou-se que o contrato seria de depósito bancário, como os outros. Mas falta a atribuIção da posse de
depositário ao banco. O banco tem a posse própria da caixa, ou cofre, e não do que foi pôsto dentro da caixa, ou do
cofre. Há locação de coisa, e não depósito (Tomo XLII, § 4.658, 5). Nem se precisa dizer que o contrato é misto,
por haver locação de serviços (e. g., GINO DE GENNARO, Le Cassette di sicurezza, 99 s.). O banco tem a posse
imediata do cofre, caixa ou gaveta, de modo que lhe incumbe cuidar da integridade exterior e do estado normal de
ambiente, para que o que foi colocado no interior não seja danificado. Essa prestação é integrada na prestação do
uso, sem se distinguir, no fundo, da prestação que tem de fazer o locador de quartos e outras peças internas ao
espaço de que tem posse imediata o locador. A atividade do banco não é a do depositário, que tem de custodiar. £
atividade que se insere na de locação de cofres, caixas, ou gavetas.
2.NATUREZA DO CONTRATO. „O contrato é consensual e de adesão, porque o banco fêz oferta ao público,
de prestação duradoura e a prazo determinado. O banco tem a sua tabela, o regulamento do edifício e da parte do
edifício em que estão os cofres, as caixas ou gavetas. A cláusula de máximo de indenização, ou de quanto de
indenização, no caso de o banco deixar de explorar o serviço de caixas fortes, ou de venda de edifício, há de
constar do contrato; não basta que conste dos prospectos ou do regulamento do banco.
A forma escrita é a usual. Pode concluir-se, todavia, por telefone, como se pessoa que está fora do país tem
urgência em colocar em cofre do banco jóias ou títulos e encarrega alguém de os entregar ou de os pôr no lugar
que, de longe, tomou em locação. Não se diga que, em tal caso, a pessoa intermediária é mandatário e há de ter
poderes de procura. Pode isso acontecer, mas é possível que se trate apenas de empregado doméstico, ou de
núncio, ou mesmo de incapaz, como o filho do figurante, à distância, do contrato. Então, o banco há de fazer a sua
manifestação de vontade, por escrito, para que se saiba que aceitou a oferta do cliente, e re metê-la ou dar-lhe
outro destino que o cliente estabeleceu.
Não seria possível pensar-se em depósito, porque o banco não recebe os objetos para os guardar. Quem os guarda
é o cliente. Exige-se mesmo que o cliente os guarde pessoalmente, sem que possa haver representação. A
prestação é locaticia, e não depositária
Quanto a ser locação de imóvel ou locação de móvel a locação de cofres fortes, ou de caixas fortes, ou de gavetas,
-w
a despeito de ser ligado ou embutido à parede o cofre, a caixa ou a gaveta, o que se loca é bem móvel, porque,
conforme a concepção que sustentamos, o que se loca é o espaço intenor, e não o exterior. Embora sem esse
fundamento, essa éa doutrina mais generalizada. Em conseqUência de se tratar de bem móvel, o banco não pode
invocar o ad. 776, II, do Código Civil (penhor legal).
As concepções que fogem à inclusão do contrato no contrato de locação foram postas de lado (cf. VAN
LEYNSEELEr Du Contrat de location de cúfi.re-tort, Revue Bancaire belge, 1925, 34 s.; GflJSEPPE BONELLI,
Suíla Natura giuridica dei Contratto di abbonamento alle cassette-forti di sicurezza, Legge,.
1908, 2225, pensou em que o correspectivo só seria devido pelos atos de custódia).
Argumentos quanto a locação ser de bem imóvel são, principalmente, o de estar incorporado ao imóvel o cofre e
o de ser imóvel o espaço interior. Mas ambos não merecem acolhida. O que se tomou em locação não foi cofre
embutido na parede, mas o espaço para nêle se porem bens móveis; e a gaveta e a caixa são pertenças. Se o que
alugou foi todo o espaço interior do cofre não foi o cofre que se alugou, foi o que ficou deixado pelo cofre para ser
enchido ou não enchido.
O prazo preclusivo para a ação do cliente por vício redibitório é o do art. 178, § 2.0, do „Código Civil, e não o do
art. 178. § 59, IV.
Após as considerações que fizemos, fácil é distinguir-se do contrato de caixa forte o contrato de locação de cofre,
em que alguém toma em locação o cofre de outrem, levando-o para a casa, ou para outro lugar, ou ficando na
própria casa do locador, que lhe permitiu entrar na casa ou na parte da casa e usá-lo.
4. CLÁUSULAS CONTRATUAIS. Contrato de caixa forte, ou de cofre forte, às vêzes apenas de gaveta, é o
contrato pelo qual o banco (ou outra empresa), mediante pagamento de soma convencionada, põe na posse
imediata, exclusiva, do cliente o interior da caixa blindada, com chave secreta ou outro modo de fechar secreto.
Na prática e no direito brasileiro, não se usa a caixa ou gaveta retirável pelo cliente e reenviável por êle. Por outro
lado, só em hotéis e navios aparecem os cofres de noite, night safe.
Os bancos quase sempre estabelecem prazos mínimos de contrato (trimestre, semestre, ano). Com o contrato e o
primeiro recibo de locação, o cliente recebe a chave e a carta de Legitimação, dita também carta de acesso, que
hão de ser restituidas ao termo do contrato.
O banco pode reservar-se o direito de verificar os objetos que vão ser colocados.
Não há cessão do direito do cliente, mas transmite-se aos seus herdeiros ou aos sucessores da empresa cliente.
-w
1.EFICÁCIA. ~ O banco tem o dever de vigilância, para que não haja danos, provenientes do exterior da caixa ou
gaveta. Responde pela indenização desses, salvo se oriundos de caso fortuito. Se, devido ao conteúdo, o dever do
banco cresceu, em relação aos negócios jurídicos dos outros clientes, l)ode exigir maior retribuição (retribuição
suplementar).
O cliente tem o dever de pagar o que pelo contrato se reputou correspectivo.
Não se pode dizer, como fazem ENRICO COLAGROSSO e GLACOMO MOLLE (Diritto bancaria, 2? ed.,
383), que o cliente recebe a posse plena e exclusiva do cofre, ou da caixa, ou da gaveta. A posse que o cliente
recebe é a do interior do cofre, da caixa ou da gaveta, posse imediata, pois o banco se fêz possuidor mediato. O
buraco da fechadura está na posse imediata do cliente, a despeito de existirem duas chaves, se a porta só se abre
com a colaboração do banco e do cliente. Os consertos por fora são sempre permitidos ao banco. Não os da
fechadura e os das dobradiças. O cliente há de ser ouvido.
„O cliente somente tem acesso no horário do banco. Não pode o regulamento restringir demasiado o tempo em
que aos clientes é dado abrir e preparar os cofres, caixas ou gavetas.
O banco tem de dar ao cliente o uso pacífico do interior do cofre, caixa ou gaveta.
O banco tem o dever de dar em locação espaço idóneo, isto é, promete à aptidão do local para os fins a que se
destina (= para o uso convencionado).
O dever de cuidar do local é dever oriundo da promessa implícita da prestabilidade do cofre, caixa ou gaveta.
Se o cliente pôs no interior locado objetos deterioráveis, ou que possam perecer com o decurso do tempo, não há
responsabilidade do banco. Aliter, se a deterioração ou a perda teve causa exterior ao objeto, como a de ser
insuficiente, ou de demasiado calor, ou frio. Se há danos resultantes do que o diante pôs no cofre, caixa ou gaveta,
responde êle pela indenização. Se são dois ou mais os clientes, a responsabilidade é do culpado, mas enquanto
não se prova de quem foi a culpa todos os locatários do cofre, da caixa, ou da gaveta respondem. Os danos podem
ser ao banco ou a terceiros.
Se a caixa, a gaveta ou o cofre foi tomado por duas ou mais pessoas, cada uma delas pode abrir, com o banco,
salvo se exigida, pelos termos do contrato, a presença de duas ou mais.
O banco é responsável por qualquer abertura, perfuração ou arrebentamento do cofre, caixa, ou gaveta. Se
apareceu aberta, ou furada, deve o cliente imediatamente avisar o banco, para que se verifique o conteúdo, sendo
conveniente, por isso, que o cliente, antes, entregue ao banco a lista do que estava colocado no interior do espaço
alugado.
À morte do cliente tem o banco de comunicar a existência do contrato. Somente com mandado do juiz se pode
proceder à abertura do cofre, da caixa ou da gaveta, para que se proceda à arrecadação. Dá-se o mesmo em caso de
concurso de credores, qualquer que seja.
Se há perigo .de danos ao banco, ou, a fortiori, ao público, pode o banco pedir judicialmente a medida cautelar de
abertura do cofre, caixa ou gaveta e de busca e apreensão, ou de visto-na do conteúdo (Código de Processo Civil,
arts. 675, II, e 676, III e VI, 1.a parte). O art. 683 do Código de Processo Civil é invocável. A abertura pode ser
determinada pelo juiz, ouvida a parte, nos casos em que deva ser transportado para outro lugar o conteúdo, ou pela
expiração do prazo determinado para a retirada.
A penhora por terceiros pode ser feita conforme as regras jurídicas ordinárias, não se permitindo abrir o cofre, a
caixa ou gaveta, sem mandado do juiz (Código de Processo Civil, arts. 983 e parágrafo único e 234, ~or
analogia). Tem de haver antes o processo incidental de verificação (exibição do conteúdo, Código de Processo
Civil, arts. 216-222; exames periciais, arts. 254-258).
Não há direito de retenção pelo banco quanto ao conteúdo do cofre, da caixa, ou da gaveta.
Quaisquer deteriorações ou vícios do cofre por culpa do cliente, bem como a abertura por especialista, à escolha
do banco, como se o cliente perdeu a chave, ou se esqueceu do segrêdo, são por conta do cliente.
O banco tem o dever de ter livro de registro dos clientes, por ordem alfabética, com as indicações de identidade,
bem como dos cônjuges ou herdeiros, ou dos prováveis sucessores, e o livro de assinaturas, para os clientes que
penetrem na parte do edifício em que estão os cofres, ou em que está a caixa forte. As assinaturas são após a
indicação do domicílio, do dia, hora e minuto em que cada um entrou e do número do cofre, caixa ou gaveta.
No caso de roubo ou incêndio, é responsável o banco. A cláusula de irresponsabilidade do banco é nula. Tem êle
o ônus de provar que não faltou a tôda a diligência.
2.ABERTURA DO COFRE, CAIXA OU GAVETA. Se foi uma só pessoa quem alugou o espaço interior, só
-w
essa pessoa tem acesso. Se duas ou mais, entende-se que qualquer delas, com a chave (a chave pode ser uma só,
ou cada pessoa ter uma chave), pode abrir o recipiente. De regra, pré-exclui-se a representação. Se foi implícita ou
explicitamente admitida, o terceiro tem de provar os seus poderes e a sua identidade.
Se o banco permite que alguém abra o recipiente sem poderes, ou sem a identidade, responde por todos os danos.
A abertura forçada só se pode dar por mandado judicial, por ter expirado o prazo, ou por ter o cliente deixado de
pagar, ou por medida cautelar ou executiva. A penhora é conforme o art. 928 do Código de Processo Civil, e não
conforme o art. 937; isto é, é penhora de bens em posse do devedor, e não de terceiro. A posse imediata está com
o devedor, e não com o banco. Se o que lá está pertence ao cliente, é outra questão.
Se alguma penhora se faz no edifício tendo-se de considerar integrante do imóvel o cofre ou a caixa embutida, a
pessoa a quem fôr adjudicado o bem pode exercer denúncia cheia contra o contrato, prestando a indenização que
o banco teria de prestar, se o contrato foi registadó ou tem eficácia contra o terceiro, o que pode resultar da
invocação dos arta. 22 e 23 do Código Comercial. Cf. arts. 15, 16, 24 e 25.
Se o cofre ou a caixa não se embutiu no prédio, a penhora somente pode ser feita à parte do resto do patrimônio
a.
o banco se o edifício não pertence ao banco. Aliás, na liquidação coativa a continuidade dos serviços bancários
opõe-se a que se faça penhora em separado. No caso de despejo do banco, tem o locador do edifício de requerer a
intimação do cliente do cofre, ou da caixa, ou da gaveta, com o pré-aviso que teria de fazer o banco, salvo se não
são invocáveis ot arts. 22 ou 23 do Código Comercial, ou se não houve registro.
No caso de sucessão do banco, ou de fusão, o contrato há de ser respeitado.
Acima nos referimos à abertura forçada, feita judicialmente. Temos, porém, de considerar o caso difícil de
ocorrer, mas possível, de ter o cliente pôsto no cofre, ou na caixa, ou na gaveta, objeto de grande perigo iminente,
como bomba ou gás de grave danosidade, sem haver tempo para o banco pedir a medida judicial. O caso é para se
chamar, urgente-mente, a polícia, ou se o banco assume a responsabilidade e a polícia tarda ou não pode chegar a
tempo para a ação imediata do banco. Em tudo isso, o banco assume responsabilidade por seu ato ou por seus
atos.
3. EXTINÇÃO DO CONTRATO. As causas de extinção são as de todos os contratos bancários. Se o banco tem
de deixar de explorar o negócio de caixas fortes, ou de cofres, ou se o edifício vai ser demolido, ou entregue a
outra empresa, há denúncia cheia, com indenização.
Raramente o contrato é a prazo indeterminado, de modo que se possa falar em denúncia vazia. Se é o caso para
isso, há de haver prazo para a retirada do conteúdo, ou para cessar o pagamento ao banco.
O inadimplemento por um dos figurantes dá ensejo à resilibilidade.
CAPÍTULO VI
DESCONTO BANCÁRIO
1.CONCEITO. Descontar, de computare, é tirar algo da conta. Quem desconta, contraprestando, paga soma de
que se deduziu o que se exige para o emprêgo do capital. Diz-se também que o credor vai descontar o título, o que
daria duplo sentido a “descontar”; mas aí há elipse: o titular do direito de crédito vai obter do descontador que lhe
desconte o título. O desconto, isto é, o que se deduz, é o correspectivo da disposição antecipada da soma. Os juros
são compensativos, à semelhança do que ocorreria a quem, devedor, pagasse a dívida antes do vencimento. O
descontatário, como se há de chamar quem consegue o desconto, pelo recebimento da quantia, de certo modo
paga os interesses do tempo intercalar.
Pelo desconto esoomple, discount, lYskontogeschiiift, sconto o banco faz prévia dedução dos juros, ou dos juros
e outros interesses, que a lei permita, antecipa ao cliente a importância do crédito, ainda não vencido, contra
terceiro, ou terceiros, mediante a cessão do crédito, ou o endosso do titulo, ou a transferência da propriedade e
posse do título ao portador. Os juros ou mais interesses são concernentes ao tempo entre a data da operação e o
vencimento do crédito.
O crédito, que se desconta, pode ser qualquer crédito suscetível de transferência, inclusive os créditos
-w
incorporados em títulos de crédito, como os warrants e as cédulas rurais hipotecárias, as cédulas rurais
pignoraticias e as cédulas norata mistas, os títulos cambiários e os cambiariformes.
O titulo de favor nada tem com o desconto. O favor é de quem assume a dívida; favorecido, quem figura como
titular. O titulo de favor (papier de cornplaiÉalu3e, accommodation bili, Gunstwechsel) presta-se ao desconto
como qualquer outro. Apenas o descontador se arrisca a ser oposta, contra êle, se má fé, a exceção do favor.
No caso de título cujo vinculado não existe, é o cedente ou vinculado pelo endosso que lança mão de tal
expediente para descontar o título e obter dinheiro, ou outro bem. Mas aí há falsidade por parte de quem criou a
aparência, praticando, com isso, ato criminal.
2.REDESCONTO. Quando o descontador obtém que outrem desconte o título descontado, diz-se que há
redesconto, porém juridicamente não há diferença entre o desconto e o redesconto. Muito se usa o redesconto
temporário, feito em empresa estrangeira, para que o titulo seja restituído contra a restituição do que se recebeu
(UGO CArRARA, La Ranca, 2a ed., 106). Bancos usam redescontar.
1.PRECISÕES. O desconto bancário pode ser de créditos oriundos de negócios jurídicos causais ou de negócios
jurídicos abstratos. Podem os créditos estar incorporados em títulos (títulos incorporantes), ou os títulos ser
títulos representativos. Nem todos os títulos de crédito incorporam, ou representam. Por vêzes, o título é apenas
pertença (documento) do crédito.
O chamado desconto bancário ordinário é desconto de título de crédito, que não é título cambiário, ou
cambiariforme, ou representativo, ou incorporante .
subscritor, mesmo se o contrato de desconto não foi pro solvendo, mas pro soluto, o que, na dúvida, se há de
entender. Não há nenhuma conveniência, de inre condendo, em que se ponha, na legislação sobre desconto
bancário, referência às regras jurídicas especiais, como, a respeito dos títulos cambiários e do cheque, faz o
Código Civil italiano, art. 1.859. O desconto é outro negócio jurídico.
O desconto de títulos cambiários e cambiariformes nada. tem com o que se passa entre os vinculados cambiária
ou cambiariformemente, porque os negócios jurídicos unilaterais que se inscrevem nos títulos nada têm, por sua
abstração, com o que se passou entre descontador e descontatário. Os atos. que o descontador pode praticar, por
ser endossatário, são atos para os quais está legitimado como outorgado do título. Como pode êle, por sua vez,
endossar o título e haver, ou náe, sucessivos endossos, assume êle vinculações cambiárias ou cambiariformes, que
nada têm com o contrato de desconto. Os endossatários posteriores podem incorrer em atrasos de protestos que
determinem preclusão de ações cambiárias ou cambiariformes, o que pode aproveitar ao descontatário e ao
próprio descontador, porém que nada tem com o contrato de desconto.
Se se extinguiu a ação cambiária ou cambiariforme de descontador (como endossatário) contra o descontatário
(come endossante), porque o terceiro não p~ou e faltou o proteste para que não se extinguisse a ação contra o
endossante, resta ao descontador a ação causal contra o descontatário. O terceiro não pagou; tem de pagar o
descontatário, em virtude do desconto, negócio jurídico subjacente, ou justajacente, raramente sobrejacente. O
descontatário, mesmo se o crédito é oriunda de título cambiário ou cambiariforme, restitui em virtude de>
contrato de desconto. A subsidiaxiedade da dívida do descontatário deriva de que êle prometeu transferência pro
solvendo e existe mesmo se não há a subsidiariedade de origem cartular (sem razão, ANDREA ARENA, Lo
Sconto delia carta commerciate, 23). Considere-se, porém, à parte, o caso do cheque.
Na circulação dos títulos cambiários e cambiariformes, a legitimação do endossatário, que é portador, resulta da
concatenação dos endossos. Nos casos de obtenção do direito por boa fé, quer a respeito de títulos ao portador,
quer de outros bens, a doutrina mostrou perplexidade: se alguns juristas f alavam da espécie de aquisição
derivatiVa (ICONRAD HELLWIO, Wesen und sub jektive Begrenzung der Rechtskraft, 98 5.; idem,
II.DERNBURG, On‟o VON GIERKE, CAiRL CROME), outros sustentavam ser originária a aquisição (e. g.,
ROMEICK, Vortrãge, 132) e outros, ainda, de originária aquisição em vestimenta derivativa (?i), como L.
KUHLENBECK (Von den Pandekten z.B.G. B., 1, 311; II, 523), ou de quase-originária aquisição, (cf. A.
MENDELSSOHN-BARTHOLDY, Crenzeu der Rechtskraft, 331; OTTO WENDT, Erwerb von einem
Nichtberechtigten, Archiv flir die civilistische Praxis, 89, 18 sj. Razão tinha CLAUDIUS FREIRERE VON
SCHWERIN (tiber deu Begriff der Rechtsnachfolge, 30) em exprobrar a contradição que há em se falar de
aquisição originária e ao mesmo tempo derivativa (tertium nou datur. Não se transfere o que não se tem:
Nemo plus iuris transf erre potest qiujim. ipse habet (L. 54, D., de diversis regulis inris antiqui, 50, 17).
O vendedor faz-se cliente do banco com o desconto da letra de câmbio ou da duplicata mercantil e lhe confia os
documentos, para que possa exigir do terceiro o pagamento da letra de câmbio ou da duplicata mercantil, ou o
aceite.
Com a criação da duplicata mercantil, o direito brasileiro simplificou, notavelmente , o desconto documentado,
ou desconto documentário. Porém não se afastou a prática de ter o banco de entregar documentos no momento do
pagamento da duplicata mercantil, em virtude de negócio jurídico subjacente. De regra, o comprador vincula-se à
duplicata mercantil quando lança o aceite.
A originalidade da solução brasileira afastou a necessidade de ter o banco os documentos ou o documento. O
título abstrato dispensou a entrega de documentos se o comprador já aceitou.
A duplicata mercantil é título cambiariforme; e abstratiza-se, como dissemos (Tomo XXXVI, *§ 4.017-4.019).
lima vez que não foi descontada com a entrega de documentos, o banco apenas tem de aguardar o aceite, ou o
pagamento. O que incumbe ao banco, no tocante aos documentos, é dever oriundo do elemento negocial,
extracambiariforme, que result.ou de ser qualificado, na espécie, o desconto bancário. Se houve aceite, ou se o
sacado quer aceitar, ou se quer pagar, e o banco não entrega os documentos, põe o vendedor na situação de
inadimplente do contrato de compra-e-venda e o comprador pode ir contra o vendedor com ação de indenização
ou de resilição do contrato e de indenização. O banco deixou de cumprir dever (sem razão, VrTToiuo
ANGELONI, Lo Seonto,. 214 s., entendia que, aí, o banco apenas deixou de fazer o que era do seu interesse).
No direito brasileiro, com a duplicata mercantil, título abstratizável (Tomo Xxxvi, §§ 4.017-4.019), os descontos
cambiários e os documentários entram numa só classe, que é a dos descontos dos títulos que correspondem a
negócios jurídicos abstratos ou abstratizados (cambiários e cambiariformes) Portanto, se há duplicata mercantil,
nenhuma diferença há entre desconto bancário de título cambiário e o chamado desconto documentário.
O descontatário não transfere a propriedade do bem, porque não mais a tem, ou não transfere a propriedade nem a
posse, se essa já foi transferida ao comprador. Se se trata de duplicata mercantil, ou de outro título cambiariforme,
nenhuma diferença há entre esse desconto e o desconto bancário de título cambiário, dito desconto cambiário.
O elemento a mais do desconto documentário, em relação ao desconto de títulos cambiários, está em que há
outorga de poder ao descontador para que pratique todos os atos concernentes à posse dos documentos e aos
direitos que dela resultem e para que os entregue ao comprador. Ésse poder não é o de mandatário, como do
ordinário se afirma (e. g., ANDREA ARENA, Lo Sconto documentale, Banca, Borsa e Titoli di credito, 1950, 1,
807).
O desconto documentário com a cláusula dei credere põe o descontador na situação de responder pela insolvência
do devedor-comprador, razão por que cobra o prêmio que a esse risco corresponde. No comércio internacional, a
cláusula é freqUente e utilíssima, porque nem sempre o vendedor conhece ou está a par da situação do comprador.
Às vêzes, em vez da cláusula, saca-se contra o comprador e contra o banco que desconta (VITO PERNA,
L‟Intervento bancario suíle operazioni in merci, 214; II. TERREL e II. LEJEUNE, Traité des Opérations
commerciales de banque, 455).
O descontador pode ir contra os endossantes, embora estranhos ao negócio jurídico do desconto, se houve o
endosso pelo descontatário.
1.PRECISÕES. O descontatário presta o custo do que se junta ao seu patrimônio em conseqúência da operação,
que lhe proporcionou desde logo a quantia. Por seu lado, o descontador, quase sempre banco, porém não sempre,
tem de encher, no seu patrimônio, o vazio temporal que resultou da antecipação da soma devida por outrem.
Trata-se, evidentemente, de negócio jurídico bilateral, de contrato, a que corresponde outro negócio jurídico
bilateral, plurilateral ou unilateral, para o qual o contrato de desconto é negócio jurídico subjacente, ou
justajacente, ou, embora menos freqUentemente, sobrejacente. Quem entrega ao banco o título endossável, para
que o banco faça o desconto, mesmo se já após o endosso, está à espera de assinar o contrato de desconto
bancário. Se já endossara a entregara o título, só o fêz em confiança e como ato necessário ao suporte fáctico do
desconto.
O descontador, com a sua contraprestação, não adquire o crédito por menos do seu valor, porque o crédito ainda
não está vencido e o seu valor atual não é o seu valor nominal. 1-lá o elemento tempo, de jeito que o descontatário
recebe o que corresponde ao valor atual, e o descontador se priva da quantia que corresponde a esse valor.
Tem-se pretendido que a cessão de crédito, ou o endosso, ou outro ato transiativo, com que o crédito passe a ser
do descontador, é garantia (e. g., PASQUALE D‟ANGELO, Trattato di Tecuica bancaria, ga ed., 139). Ora, o
desconto, negócio jurídico à parte, supõe a transferência, a contraprestação do descontador é correspectiva à
prestação do descontatário. Portanto, se os credores do descontatário não mais podem ir contra o descontador,
para medidas de constrição do crédito, é porque o crédito não mais é do descontatârio, e não por haver garantia ao
descontador. Se o endosso tivesse sido em garantia (Tomos XX, §§ 2.498, 2.584; XXI, § 2.607, 1; XXXIV, §
8.890; XXXV, § 3.970, 1; XXXVI, § 4.053, 8),
e. g., endosso-penhor, o negócio jurídico unilateral do endosso do título não alteraria o conteúdo do negócio
jurídico bilateral do desconto bancário, que teria as conseqUências de haver ficado o descontatário a dever a
transferência do crédito, razão por que responde pelo inadimplemento. Os figurantes podem ter interesse em que
se retarde a transmissão da titularidade do crédito e haja a simples transmissão da posse imprópria de endossatário
pignoratício.
2.TEORIAS. Tem-se discutido a natureza do desconto bancário. As teorias principais são: a) a teoria do
desconta bancário compra-e-venda, segundo a qual o descontador seria comprador, o descontatário seria
vendedor pela soma, descontado o preço da compra (GUSTAVO MINERVINI, Lo .Sconto bancano, 95 s.) ; b) a
teoria do desconto bancário mútuo (cf. CruSEPPE DONADIO, Lo Sconto, 16; ENRICO
COLLAGROSSo-CIACOMO MOLLE, Dinitto bancario, 346) ; c) a teoria da cessão de crédito.
O Código Comercial, no art. 255, refere-se aos descontos de títulos cambiários e aos descontos de quaisquer
títulos negociáveis: “Os descontos de letras de câmbio ou da terra, e de quaisquer títulos de crédito negociáveis
regulam-se pelas convenções das partes”. DÍDIMO AGAPITO DA VEIGA <O Amigo e Conselheiro dos
Comerciantes, 228) advertia, em 1878, que não se trata de mútuo, mas de “outra espécie de convenção”, e frisou
haver risco. Parecia-lhe haver compra-e-venda, razão por que reputava invocáveis as regras jurídicas de tal
contrato. Como, ainda hoje, a JOAQUIN GARRIGUES (Curso de lijerech.o mercantil, II, 1, 553).
Não se pode dizer que o desconto seja apenas cessão de crédito, como pretendeu JosEnI HAMEL (Banques et
Opérations de crédit, II, n. 1.087 s.). A transferência do crédito, digamos mais amplamente, é objeto do
adimplemento pelo descontatário. Contra tal redução do contrato de desconto à cessão de crédito, J. GI-IYSEN
(Le Chê que, 318).
Uma das vantagens práticas de se classificar, rigorosa-mente, o contrato de desconto, diz-se, é a de se saber se há
usura na taxa alta de desconto; mas, salvo cláusula pro soluto, pode haver usura. Com a cláusula pro soluto, há
álea, que atinge o descontador.
No Corpus luris secundum (IX, 797), fala-se de discount como de qualquer negócio jurídico bilateral em que se
faz crédito a título por preço inferior a seu valor nominal.
FreqUentemente se diz que os dois elementos essenciais do contrato de desconto são a antecipação, com detração
de interesses, que se faz ao descontatário, do que tem a receber do terceiro, e a transferência do crédito, que é a
-w
prestação ao descontador. Na antecipação aponta-se gôzo do capital e, pois, empréstimo, como há em qualquer
adiantamento.
O desconto bancário não é compra-e-venda, porque, na compra-e-venda, não se deduzem interesses. Boa compra
não é compra por preço menos juros e despesas. Não é mútuo, porque o mutuário deve, e é obrigado a restituir; o
descontatário, somente se há a cláusula salvo bom êxito, é devedor subsidiário. O mutuário restitui bem da
mesma espécie e qualidade daquela que êle recebeu; o descontatário, que prestou o crédito contra o terceiro,
adimple, subsidiàriamente, com bem diferente, que é o dinheiro ou outro bem com que o terceiro interessado
tinha de adimplir a sua dívida.
Tão-pouco se pode considerar o desconto bancário pagamento de divida de outrem. O pagamento pelo terceiro
interessado ou pelo terceiro não interessado é pagamento em lugar do devedor principal. O descontador
contrapresta em nome próprio e por conta própria: não paga a dívida de outrem; contrapresta, porque prometeu,
quase sempre à vista; não solve a dívida de quem devia e, com o desconto, continuou de dever ao descontatário.
De modo nenhum se pode dizer que a soma que o descontador antecipa ao descontatário seja o correspectivo do
crédito transferido, porque para o descontador a cessão ou outra transferência de crédito é pelo valor nominal
menos interesses e despesas, com particularidades que assaz tipificam o negócio jurídico.
1-lá contrato de oferta de alienar no desconto, mas contrato com características próprias. Uma delas é ser, sempre,
inferior ao valor nominal a contraprestação do descontador.
Não se confunde, sequer, com a compra-e-venda de títulos. Por outro lado, o descontatário presta e o descontador
contra-presta, o que não ocorre no mútuo: no mútuo, o mutuário não presta; toma de empréstimo e promete pagar.
Não se deve considerar a transferência como cessão em garantia, porque se estaria a transformar o desconto em
penhor de crédito. Ora, a despeito da obrigação subsidiária do descontatário, o crédito é transferido
definitivamente ao descontador.
Não ocorre isso se apenas houve cessão em garantia, ou se houve penhor. Com o penhor, só se transfere a posse
imediata das pertenças (documentos) ou do titulo. Não há, no desconto, transferência fiduciária da titularidade do
crédito, nem penhor do crédito. O descontador pode transferir a outrem (redescontar) o crédito que foi objeto do
contrato de desconto, o que não poderia fazer o fiduciário, nem o titular do direito de penhor. Transferência pro
solvendo é transferência, não é transferência em fidúcia, nem constituIção de penhor. A eventual dívida do
descontarário, a obrigação subsidiária, pode não existir por se haver inserto a cláusula pro soluto, e não deixa de
ser de desconto o contrato que se conclui.
O descontador inverte o capital e deduz do valor do crédito o que corresponde à antecipação; porém não é
mutuante. O que há de comum entre o mútuo e o desconto é o elemento de investimento com interesses, mas o
elemento de investimento aparece em muitos outros contratos, inclusive o de compra-e-venda. O que se deduz é
correspondente ao tempo em que se espera o reembôlso, mas o reembôlso no desconto é feito pelo devedor do
crédito descontado ou precipuamente por êle, o que não ocorre no mútuo.
Se, enquanto não se vence o crédito, esse se extingue, há a resolução do contrato de desconto e o descontatário
tem de restituir imediatamente o que recebeu do descontador. No mútuo não se daria isso.
Tem-se deixado de aprofundar o exame do conteúdo do negócio jurídico bilateral de desconto bancário, de modo
que não se tem prentenção a que, embora seja mais freqUente a simultaneidade da prestação e da contraprestação,
tal simultaneidade pede não existir e não é essencial, sequer, a entrega do título de crédito no momento da entrega
do dinheiro. Não se trata, portanto, de contrato real. O descontador promete a quantia, com a dedução acordada, e
o descontatário promete a transferência do crédito. Se o banco já assinou o contrato de desconto e se o cliente já o
assinou, concluído está. Se o banco deixa de entregar a quantia, ou se o descontatário não faz a transferência, há
inadimplemento.
A redução do desconto bancário ao mútuo é forçada. Salvo cláusula especial, a cláusula a bom êxito, de que
falamos, o descontatário, à diferença do mutuário, não tem de restituir o que recebeu mais os interesses (o quanto
devido pelo terceiro). Mesmo se houve a cláusula, a sua obrigação é subsidiária, o que não se compreenderia no
mútuo. O desconto bancário é, portanto, negócio jurídico típico de financiamento. Dai a necessidade de ser
regulado em lei como figura à parte.
A cessão ou outra transferência do crédito somente é pro solvendo, e não pro soluto, se tal cláusula, dita cláusula
salvo bom êxito, ou cláusula salvo encaixe, foi inserta. Mediante tal cláusula, o efeito liberatório só se opera se o
terceiro paga a dívida, ou se o faz alguém por Me, inclusive o próprio descontatário. Sem a cláusula, o desconto é
desconto pro soluto, desconto à for fait ou sem garantia. Se o descontador cobrou interesses e comissão, a
comissão é pela assunção da aleatoriedade (comissão deI credere).
Se o negócio jurídico de transferência é, por sua natureza, com assunção de garantia, como acontece com o
endósso, a responsabilidade provém do endosso, e não do contrato do desconto. Em todo caso, pode ter sido
referida a natureza do crédito transferível e ter-se de considerar inserta a cláusula de bom êxito.
O descontatário somente é vinculado a restituir a soma do crédito, se o terceiro, devedor, não paga, se houve a
cláusula pro solvendo, o que bem mostra a diferença entre o desconto bancário e o mútuo. A vinculação a restituir
se o terceiro não paga tem de ser em virtude de cláusula, mas, se isso ocorre, a sua obrigação, em caso de
inadimplemento pelo terceiro, é subsidiária, o que também acentua a diferença entre o desconto bancário e o
mútuo.
4.VALUTA AO VENCIMENTO. Também se tem considerado desconto a operação pela qual o descontador, em
vez de fazer a tradição do valor devido menos os interesses, credita ao descontatario a importância nominal em
conta não disponível, para que, ao vencer-se a divida, se lance na conta disponível. A deformação é grande; e
mais convém chamar-se a tal operação o que se lhe chama na técnica bancária: vai uta ao vencimento. Não há,
porém, sem escrituração, pois, se não se deu garantia, ou se não houve endosso, ou cessão com a cláusula de
responsabilidade pela solvência (Código Civil, arts. 1.074 e 1.075), há aleatoriedade.
5.“DESCONTO FINANCEIRO”. O desconto bancário pode ser posterior ao título de crédito (às vêzes,
cambiário ou cambiariforme), de modo que se sabe que se há de concluir a cessão de crédito, ou o endosso, ou
outro negócio jurídico de transferência. Pode ser anterior, de jeito que se promete o título de crédito ou o ato de
transmissão. Então, o descontatário cria o título de crédito, para obter a contraprestação. Tem-se chamado a essa
última espécie desconto financeiro, mas a distinção é sem grande relevância, pôsto que, ali, o descontatário seja
titular de crédito contra terceiro, e, aqui, não, ou ainda não. No desconto financeiro, o descontatário recebe o
quanto nominal menos o desconto, e faz o titulo no qual não há referência ao negócio jurídico subjacente. Em
qualquer das espécies, o desconto é outro negócio jurídico, causal, que não atinge o negócio jurídico
possivelmente abstrato que se concluiu. O descontatário, de qualquer maneira, com o título de crédito adimple c
que lhe cumpria em virtude do negócio jurídico do desconto.
7. BILATERALIDADE. Para o descontador, o desconto é meio de inverter capital a curto prazo; para o
descontatário, meio de obter antecipação de recebimento. O custo dessa antecipação é proporcional ao tempo que
falta para o vencimento do titulo. Por isso, o descontador contrapresta menos do que o crédito nominal. No
Código Civil italiano, art. 1.858, diz-se que o banco antecipa o importe do crédito contra terceiros ainda não
vencido, mediante a cessão (“Lo sconto é ii contratto col quale la banca, previa deduzione dell‟interesse, anticipa
aí cliente l‟importo di un credito verzo terzi non ancora scaduto, mediante la cessione, salvo buon fine, dei credito
stesso”). Lá, em vez de “mediante”, devia estar “contra”, e tem razão a crítica de FRANCESCO MESSINEO (La
Natura giuridica dei Contratto di sconto, Banca, Bona e Titoli di credito, 1943, 1, 23) e de GIUSEPPE
DONADIO (Lo Sconto, 8).
banca anticipa l‟importo di un credito”, em vez de “si obbliga”. No direito brasileiro, não devemos desprezar a
praxe, que é mais esclarecida e mais eficiente, porque seria cheio de inconvenientes que só se considerasse
concluído o contrato de desconto depois de entregue ao descontador com todos os requisitos o instrumento de
transferência e depois de contraprestada ao descontatário a soma descontada. Os juristas italianos ativeram-se
demasiado à letra da lei.
Seria cerceante da eficiência dos descontos não se dar por fechado o desconto que o banco aceitou talvez pelo
telefone ou que êle ofereceu fazer e o credor aceitou. A fortiori, não se ter como concluído o contrato pelo fato de
o banco não ter creditado a antecipação.
9. DESCONTO, ATO . O descontador pode ter descontado o crédito por obrigação; isto é, pode a pessoa, quase
sempre banco, ter vínculação a descontar. O desconto é feito, em tal caso, como ato devido. 1 o que se passa, por
exemplo, se entre os dois interessados existe relação jurídica decorrente de contrato de abertura de crédito. Se
assim Ocorre, o descontador não pode recusar-se a descontar se não há justa causa. Justa causa é qualquer
deficiência de que resulte nulidade ou anulação, ou ineficácia (e. g.‟ está prescrita a dívida). A fortiori, se não
existe o crédito. Se o descontador não tinha justa causa para se recusar a descontar, é inadimplente, em relação ao
contrato que existia.
Não se confunda o contrato consensual de desconto com o pré-contrato de desconto. No pré-contrato de
desconto, o promitente-descontador vincula-se a fazer contrato de desconto, ou contratos de desconto, a respeito
de créditos que se mencionem, como se o banco promete descontar os títulos de crédito do construtor contra os
compradores de apartamentos. Não se trata, aí, de contrato de abertura de crédito, pôsto que dêle possa derivar
dever de descontos.
Quando o contrato de desconto está concluído, a despeito de não se haver feito a antecipação, nem de se ter cedido
o crédito, ou endossado o título, ou entregue o título ao portador, não mais se precisa de fazer o desconto: o
desconto já está feito; o que falta é o adimplemento pelo descontador e pelo descontatário. Ora, no pré-contrato de
desconto, faltaria o contrato de desconto. Se, por exemplo, o titular do crédito caiu em insolvência, o promitente
descontador pode recusar-se a concluir o contrato de desconto, ao passo que, se tivesse havido o contrato de
desconto, não ficaria ao descontador mais do que a excecão do art. 1.092, 2.~ alínea, do Código Civil, exceção
que também teria o descontatário se insolvente fôsse o descontador.
O título do desconto é chamado nota de desconto. Pode ocorrer, todavia, que o desconto seja por manifestações
orais de vontade
(desconto oral, dito desconto verbal). A oferta, ordináriamente feita pelo descontatário, é revogável enquanto o
descontador não aceita. Se, excepcionalmente, foi feita pelo descontador, dá-se o mesmo. Se o título ou
documento foi entregue ao banco antes de ser concluído o contrato de desconto bancário, o que se justifica pela
necessidade de prévio exame, o descontador pode recusar-se à restituIção, se aceita: a sua recusa de restituir é
aceitação da oferta. A oferta pode ser feita com a dúvida de irrevogabilidade dentro do prazo, e tal cláusula pode
resultar de uso bancário da praça.
Se o descontatârio se recusa a fazer a cessão do crédito, ou o endosso, ou outro modo de transferência, há
inadimplemento. Se o descontador lança o crédito do descontatário, adimple a sua dívida.
As punctações e conversações para o desconto não têm entrada no mundo jurídico, mas é possível que ocorra
responsabilidade pela culpa in contrahendo (Tomo XXX VIII, §§ 4.219, 3, 4.242 e 4.248).
2. TÉCNICA DA CONCLUSÃO. De ordinário, quem faz a oferta é o descontatário. Vai ao banco, e mostra o
titulo, ou o contrato, para que o banco responda se vai fazer, ou se faz o contrato de desconto (aceita a oferta), ou
se não o faz. A resposta pode não ser decisiva, como se o banco pede informações, ou responde que ainda se vai
informar sobre o terceiro. A resposta decisiva pode ser telegráfica ou telefônica, conforme as exigências do uso;
mas, quase sempre, é com a nota de desconto, com as indicações da soma que se vai entregar, ou que se entrega,
ou acompanhada do recibo de depósito.
Salvo vinculação, como a derivada de contrato de abertura de crédito, o descontador não estava adstrito a
descontar.
-w
A aceitação é manifestação receptícia de vontade. Pode haver a invocabilidade do art. 1.086 do Código CiviL
como pode haver, se os pressupostos são satisfeitos, a própria aceitação pelo silêncio.
Se o oferente já entregou o título com a cessão, ou com o endosso, a posse imprópria pelo que há de descontá-lo
torna-se posse própria no momento mesmo em que assina a nota de desconto, ou o recibo de depósito, ou por
outro qualquer modo, expresso ou tácito, aceita a oferta. Com a aquisição da posse própria do documento
(pertença) ou do título circulável, o descontador faz-se
Se ainda não: houve aceitação e não corre prazo de irrevogabilidade, o pedido de restituição dos documentos ou
do titulo é revogação da oferta.
O ato afirmativo do banco relativo à idoneidade do cliente não importa aceitação, porque essa supõe o exame dos
dados objetivos, e não só dos dados subjetivos. Pode ocorrer que os dados objetivos sejam favoráveis, e não os
subjetivos, ou algum dêles. Uma das verificações de requisitos objetivos é da descontabilidade do crédito, o que é
menos do que a bancariedade. Donde dizer-se, na linguagem bancária internacional, que o crédito ou o papel é
bancável (papier bancable), se satisfaz todos os requisitos subjetivos e objetivos, ou descontável, se satisfaz os
requisitos objetivos.
O desconto supõe a soma (= valor nominal do crédito), a data do vencimento (que é a data do vencimento do
crédito transferendo) e a taxa, que é o que se deduz, se desconta, da soma. O cálculo é como o dos mútuos, porém
a antecipação é uma e não convém que se repute “acessório” o que se deduz. O que o descontatário presta é o
crédito, tal como se acha no momento do desconto; o que o descontador contrapresta é o que éle antecipa (soma
menos interesse). Na nota de desconto convém que se mencionem a soma, o lugar do pagamento, o vencimento, o
tempo, a taxa, o cálculo dos interesses (= do que se deduz), os documentos entregues ao descontador ou que têm
de ser-lhe entregues.
Quando o banco desconta títul comercial, a que não corresponde a mercadoria que se menciona, diz-se que se
trata de carta de cômodo. Entende-se que se renovou a exigibilidade, a qualquer momento, da antecipação
contraprestada, ou a regularização do título.
1. PRECISÕES. Antes da conclusão do contrato de desconto bancário, o que se passa não é pré-contrato, nem
abertura de crédito. Concluído, do contrato de desconto bancário, contrato bilateral, irradiam-se o dever de
transferência do crédito e o de antecipação. Além do dever de contraprestar o montante convencionado, tem o
descontador o ônus <não dever) de cuidar, no vencimento, de que o devedor solva a dívida. Se o
não fêz, sofre as conseqUências. Se o caso é de protesto, para que não precluam as ações de regresso, tem o
descontador o ônus de protestar.
O descontatário pode ficar sujeito, conforme cláusula do contrato, a pagar juros maiores se o devedor não solve
no vencimento (juros moratórios convencionais, ditos supostos).
Se há substituição dos títulos cambiários ou cambiariformes, o que se há de entender é que se prorrogou o
contrato de desconto até a nova data. (Evite-se o êrro de se falar, a propósito do título cambiário ou
cambiariforme, em prorrogação, ou renovação, ou novação. O nôvo título é outro título, a promessa é outra, outra
a eficácia. A substituIção de modo nenhum prende o nôvo título ao antigo, pôsto que se possa tirar da
subscrição e emissão do nôvo titulo conseqUências como a de ratificação do título anterior e a de interpretação
de algum dizer ou de alguns dizeres.)
O ônus do descontador, quanto à exigência do pagamento pelo devedor, ou pelos devedores, conforme o débito, é
só o de interpelar, apresentar e protestar, ou outros atos, conforme a espécie do crédito ou do título; não é de
executar. Se o terceiro não pagou, a despeito da diligência do descontador, pode o descontador exigir do
descontatário aquilo que o terceiro não prestou. Em todo o caso, o descontador pode preferir executar, desde logo,
o terceiro, e as despesas, que faça, correm por conta do descontatário ciente. Se havia necessidade de protesto, por
existirem, por exemplo, endossantes e avalistas entre o terceiro e o descontatário, não pode deixar de pô-los em
mora o descontador. Se o descontatário paga, substitui-se ao descontador na ação que esse propôs. (Mais uma vez
se põe assaz evidente que o descontatário não garante: é devedor subsidiário, e nao garante.)
O descontador tem de proceder de modo que não perca o descontatário qualquer direito, pretensão, ou ação, ou
-w
exceção, contra o terceiro, que se irradie do crédito. Se o descontatário adimple, em vez do terceiro, tem o
descontador de restituir o crédito tal como o recebeu.
O descontatário recebe do descontador x tu, isto é, o importe do crédito menos a taxa dos interesses multiplicada
pelo tempo (t). O que êle tem de restituir, à data do vencimento, se o terceiro não ;paga, é todo o crédito, porque o
t.q foi o custo da utilidade do que o descontador desembolsou. A soma antecipada foi gozada pelo descontatârio
durante t, e y foi o que se convencionou por unidade de tempo. Desde o momento em que o descontatârio tem de
prestar, porque o terceiro não pagou, há juros legais da mora, se não foram fixados diferentemente.
Para o descontador, quando o terceiro paga, paga a dívida do descontatârio, muito embora, se o título foi
endossado ou se o crédito foi cedido com tôda a eficácia para o terceiro, o pagamento, para o terceiro, seja
pagamento ao endossatário, seja pagamento ao cessionário.
pagar e recebê-las. O pedido de venda em hasta pública é feito ao juiz. Feita a venda, o descontatário tem de
prestar o que falta para o pagamento e as despesas e juros. Vale a cláusula que dispense a venda judicial
(ADRIANO FlORENTINO, Deposito, Conto corrente, Contratti bancari, Commentario dei Codice Civíte, Libro
IV, 570; sem razão, Lurni LORDI, Istituzioni di Diritto Commerciale, II, 458).
O chamado desconto do recibo de penhor ou da nota de penhor é desconto do crédito que o penhor garante.
Transferem-se a titularidade do crédito e á do direito real limitado. O recibo de penhor não é título cambiário nem
cambiariforme. Há cessão do direito, e não endosso do recibo ou da nota.
Se foi aberto crédito pura desconto, o descontador vai descontando os créditos contra terceiros e lançando os
créditos de antecipação na conta corrente do descontatário, ou fazendo pagamentos de que está incumbido.
8. AÇÕES. Quem desconta título que ainda não tem aceite, acarreta com o ônus de apresentação para aceite.
A recusa do aceite permite que o descontador vá contra o descontatário, ou com a ação cambiária ou
cambiariforme, ou com a ação causal do desconto. Aquela é de regresso; essa, não , recusa do aceite em parte dá
as duas ações. Se ao descontador precluiu a ação de regresso contra algum vinculado, de modo que o
descontatário não a possa exercer, preclui também a ação causal contra o descontatário. Essa subsiste se a acao
preclusa não poderia ser exercida pelo descontatário.
O descontador tem, salvo cláusula em contrário, nas espécies do art. 37 da Lei n. 2.044, de 31 de dezembro de
1908, o direito de ressaque.
Se o descontatário solve a dívida do terceiro antes do vencimento mensal, tem direito à dedução dos interesses
que pagou como correspondentes ao período entre o pagamento e o vencimento normal (interusurium), Cf. Tomo
XXIII, § 2.772, 10.
A ação causal que o descontador tem contra o descontatário, oriunda do contrato de desconto, ou é a ação para que
esse cumpra o que prometeu (e. g., assine o endosso do título. cambiário ou cambiariforme), ou a ação para que o
descontatário preste o que o terceiro deixou de prestar. O descontatário pode alegar, por exemplo, que não houve
recusa de pagamento, por parte do terceiro, ou que o descontador não procedeu de modo a ser resguardada a ação
de regresso que teria o descontatário.
Nos negócios jurídicos ordinários de penhor, já há a divida que se há de garantir, dívida que pode ser de qualquer
fonte de obrigações (negocial ou não), e faz-se o acordo de constituição de penhor, de que nasce o direito real de
penhor. Na vinculação bancária, só há um negócio jurídico em que o vinculante presta (ou se vincula a prestar) e
no mesmo o beneficiado constitui o penhor pelo que venha a dever. Embora sejam muitas as situações usuais,
tudo se passa como se A dissesse a B: “Compre os títulos de C (ou os títulos tais) e pague o preço, ficando êles em
penhor”. Ou “Compre os títulos, e êles fiquem em penhor até que eu pague o que me preste”.
Desde que se possa pensar em direito real de penhor, o bem pode ser gravado em vinculação bancária. O crédito
que pode ser objeto de penhor ou de caução pode ser gravado em vinculação bancária.
Tem-se de repelir a asserção de MICHELE SPINELLI (Contributo alIo studio dell‟anticipazione bancaria,
Ranca, Rorsa e TitoU di credito, 1949, 1, 227 s.) quanto a ser incompatível com a cláusula de conta corrente a
vinculação bancária.
O adiantamento bancário contém prestação pelo banco e garantia real; mas, insita no contrato, e não acessória. A
garantia inserta-se no negócio jurídico, não o acompanha. Daí o afastamento de regras jurídicas próprias do
penhor. Não se trata de ligação de acessório a principal; porque o negócio jurídico é um só. A figura é unitária, de
modo que a prestação do adiantamento e a garantia são elementos do suporte fáctico. Não há cindibilidade. Há
financiamento e segurança real, sem que se possa separar essa daquele, ou aquêle dessa.
2. CONCEITO. A vinculação cambiária supõe que o negócio jurídico, que é um só, tenha como eficácia prestar o
banco o que é necessário para a operação e o beneficiado haja de restituir, para que o bem, ou o valor do bem, lhe
seja entregue, ou creditado.
No adiantamento bancário, credita-se ao cliente, primàriamente (digamos assim), parte do valor do bem que se
dá em garantia. Fixa-se percentual que há de permanecer o mesmo durante todo o tempo do contrato. Em vez de
o penhor ser elemento acessório, como ocorre a qualquer dívida para o qual devedor preste garantia real com bem
móvel, o gravame pignoratício é elemento essencial do negócio jurídico de adiantamento bancário. Não se
constitui o penhor porque se deve; deve-se porque se prestou para gravame algum bem de valor superior à dívida.
Não se pode dizer: empenho o bem a, porque devo b; diz-se: para que fique a dever b, presto em garantia a. O
valor de a é acima do valor de b e, com a diminuição do valor de a, tem o cliente de completá-lo, para que
continue a mesma percentualidade.
A vinculação bancária não é mútuo sob penhor (aliás, com penhor), dito mútuo pignoraticio, nem abertura de
crédito em conta corrente.
O vinculante para dar a soma x exige que o valor dos bens que garantem o crédito seja de x ~ ?J~ O beneficiado,
o vinculado, tem de fazer os suplementos sempre que o valor diminua de z + 2‟-
Trata-se de negócio juridico de crédito com a garantia inclusa; e não de dois negócios jurídicos, a fortiori de três
negócios jurídicos. Sempre que um banco é incumbido, por exemplo, de comprar ações ou títulos de crédito, ou
mercadorias, ou de apenas pagá-las, ficando com os títulos ou os documentos que bastem como pressuposto da
tradição da posse de titular de penhor, a antecipação é garantida, não só com o direito de retenção, mas sim com o
gravame real mobiliário. Foi isso o que a prática bancária, através de séculos, criou. Não há mútuo, porque não se
emprestou antes da constituição do penhor, de modo que pudesse não haver penhor; e porque se preestabeleceu
relação de proporcionalidade entre a soma prestada ou a soma a ser prestada e o valor dos títulos ou das
-w
mercadorias.
No direito italiano, permite-se a garantia em depósito de dinheiro, mas isso já deturpa o instituto da vinculação
bancária, que o Código „Civil italiano, art. 1.851, sob o nome de antecipação bancária, extrapolou.
No caso de penhor irregular (Tomo XXI, § 2.616), o banco, por ter adquirido a propriedade, apenas não precisa
pedir a venda do objeto dado em garantia, como se daria em caso de penhor regular. Em todo o caso, é preciso que
se saiba qual o valor da mercadoria ou dos títulos. A vinculação bancária imprópria é aconselhável quando se
trata de mercadoria, porque evita que o banco fique sujeito a guardar mercadorias durante todo o tempo da
duração do contrato, não só pela qualidade delas como pelas variações de preço que a técnica do banco pode
prever.
Quando se fala de penhor irregular, tem-se em vista pignus, no mais vasto sentido. Aliás, já a respeito do
adiantada-mente bancário dito próprio (= sem transmissão da propriedade), a expressão “penhor” está em sentido
largo. Emprega-se “penhor irregular”, como se emprega, também aproximadamente, “depósito caucional”, ou
“caução de contrato”. Em verdade, o adiantamento bancário, dito próprio, é como penhor regular; o impróprio,
irregular. Não há penhor estrito senso no adiantadamento bancário.
restituir ao cliente, em caso de inadimplemento por êrro, o valor que exceda ao dos bens que bastaram para a
solução do que o cliente devia (cf. Tomo XX, § 2.422, sobre o Código Civil, art. 765). O valor dos bens, no
adiantamento bancário, foi explicitamente determinado, com individuação, e é o do mercado ao tempo do
vencimento. O banco tem de restituir o que excede a importância dos créditos garantidos. Ê preciso que se não
abstraia da especificidade normal do adiantamento bancário, que está na unitariedade da figura jurídica (prestação
pelo banco, bens entregues pelo cliente, em garantia, sem acessoriedade do ggnus). Tem-se de repelir a opinião de
ERNESTO SIM‟ONET‟rO (1 Contratti di credito, 404 s.) que se refere à infração que haveria à proibição da
cláusula ou pacto comissório. O valor dos bens é o do tempo do vencimento, de jeito que o mercado é que tem o
papel mais relevante. Não importa quem fique, afinal, com os bens, inclusive o banco, que tem de lançar o preço
do mercado, quem quer que seja o adquirente (antes ou depois). Se houve transferência do poder de dispor, o
valor não é o do momento do contrato, mas sim o do vencimento da dívida. Se o preço subiu e o banco alienara,
perde êle com a operação; se baixou e o banco alienara, ganha êle com a operação. Note-se que, além do elemento
creditício, há o de liquidação por diferença.
2. FORMA. Quanto à forma, o adiantamento bancário há de ser para atender a conveniências dos figurantes em
duas ou mais vias. O documento, de qualquer modo, é apenas probatório: a posse não atribui direito a quem o
possui, ou ao cessionário, porque é pertença do crédito. £sse é um dos pontos que têm de ser frisados.
A
3. DIREITOS DO BANCO. O banco tem direito a recobrar o que prestou e direito aos juros; às vêzes, o direito a
comissão .
Tratando-se de títulos ou mercadorias não disponíveis, tem o direito ao reembôlso das despesas.
Cabe-lhe o dever de exame dos documentos.
4. BENS GRAVADOS. Os bens dados em garantia são bens que têm valor de mercado ou valor de bolsa ou
valor corrente, bens de fácil alienação por seu valor. Por isso, não se pode considerar, de regra, vinculação
bancária, mas sim mútuo com penhor, o empréstimo que o banco fêz com a garantia de objetos antigos.
A soma adiantada pode ser prelevada a) à conclusão do contrato, ou 14 no momento em que o figurante, diante do
banco, presta os bens em garantia, ou e) levada em momentos sucessivos, fixados ou não (em conta corrente),
após a conclusão do contrato com a prestação dos bens em garantia. A figura e) tem o plus da creditação em conta
corrente para levantamentos sucessivos, mas esse elemento é acessório, porque, mesmo nas espécies a) e c), pode
haver crédito em conta correntes. Tem-se de evitar qualquer interpretação que faça &ses dados acidentais
perturbarem a concepção do contrato típico de adiantamento bancário, o negócio jurídico lombardo.
Se o contrato, que se concluiu, é de adiantamento bancário em que o banco se vincula a prestações, quando o
cliente precisar ou quiser, sem fixação de datas, à medida que o cliente presta os bens, há, aí, apenas pré-contrato
de adiantamento bancário.
Os adiantamentos bancários sobre títulos cambiários ou cambiariformes não se confundem com os descontos de
titulas cambiários ou cambiariformes, mesmo porque o cliente pode, naqueles, ter de integrar a garantia, como
pode solver em parte e retirar o que corresponda, em títulos, ao valor prestado, ou a parte do valor prestado.
O adiantamento bancário pode ter como elemento de garantia títulos, mercadorias ou mesmo moeda, que não
sejam individuados, de modo que se transfira a propriedade ao banco que pode dispor do objeto. Tal transmissão
alguns consideraram como a) dação em pagamento (GENe CORLA, Pegno, Ipoteche, Commentario dei Codice
Civile, de A. SCIALOJA e G. BRANCA, 2.~ ed., 293 s.), outros, como 14 negócio jurídico fiduciário
(DOMENICO RUBINO, II Pegno, Tratiato de Diritto Civile italiano, 14, Tomo Primo, 2? ed., 214 s.), outros,
-w
ainda, e) como alienação com função de garantia (MASSIMO O. BIANCA, II Divieto del patto cammissorio, 172
s.). Quanto a a), não se dá em pagamento, porque a transmissão é sente.Ibante à do depósito irregular e em
garantia, o que sublinha a especificidade do adiantamento bancário. Quanto a 14, abstrai-se da função de garantia,
que aí pré-exclui a de fidúcia. Sobre a fiducia cum creditore contracta (alienação assecutatória), Tomo XX, §
2.418, 2, 8; adiante, §§ 5.482-5.489.
O cliente pode preferir a figura jurídica do adiantamento bancário se, no adiantamento bancário regular (dito
próprio),ou no adiantamento bancário irregular (dito impróprio), tem interesse em poder exigir a restituição de
parte, ou do todo, mediante a prestação percentual ou total, como o banco pode ter interesse em que se integre o
valor dos bens dados em garantia. Sempre que se precisa de dinheiro e se quer contar com a propriedade de
títulos, ou mercadorias, o adiantamento bancário é a melhor solução, porque, mesmo se há transferência da
propriedade, por não se terem infungibilizado os bens, o banco está exposto a exigência da entrega.
O adiantamento bancário sobre títulos representativos pode ser regular (dito próprio) ou irregular (dito
impróprio). Para os exportadores, a operação tem grande importância, porque se lhes adianta o que vão exportar.
Para os que têm atividade dentro do país, porque com isso atendem à multiplicidade dos seus fregueses, em
diferentes momentos. Todas essas operações são diferentes das que consistem em saques ou em endossos. Os
endossos, inclusive os endossos em penhor ou em garantia, apenas são meios técnicos para as operações de
adiantamentos cambiários ou cambiariforme.
Para os adiantamentos bancários em que o objeto da garantia é título nominativo, o que se tem de observar é a lei
especial sobre os registros dos títulos, e a operação consiste em transferência da titularidade ou em dação em
garantia, convindo que se diga “em garantia de adiantamento bancário”, ou simplesmente “em garantia”, pôsto
que não seja óbice falar-se em “penhor”.
Se o título não é bem corpóreo, mas res incorporalis, ou há a cessão, ou a caução conforme o art. 790 do Código
Civil.
O objeto do adiantamento bancário pode ser de bem infungível, que o banco adiantador tem de restituir no
momento em que o cliente pague o que recebeu. Com a restituição do bem, libera-se o banco de qualquer
responsabilidade, salvo, no prazo preclusivo, pelos vícios redibitórios. Também pode ser de bem fungível, com a
restituíbilidade per tantundetm ciusdem generis. Aqui, aponta-se o penhor, elemento essencial à figura, como
penhor irregular, ou com eaução (senso estrito) do crédito de restituição, porém não se há de repugnar a figura
do penhor regular, como há a do depósito regular. O cliente, na espécie, não deposita mercadoria, ou título; em-
penha. O cliente paga interesses, em vez de recebê-los. Pediu adiantamento e obteve-o; para isso, prestou, em
penhor, mercadoria ou títulos.
No adiantamento bancário com transmissão da propriedade dos bens dados em garantia, figura em que se refere o
penhor irregular, o cliente também fica exposto ao dever de completar o valor, de integrar a garantia; e pode o
cliente, a seu líbito, prestar o que deve, ou parte do que deve, e desvincular-se, ou desvincular-se eni parte (com
razão, GIUSEPPE FERIU, Anticipazione bancaria, R‟ncictopedia dei Diritto, II, 528; ADRIANO
FlORENTINO, Conto corrente, Contratti bancari, Commentario dei Codice Civile di A. SCIALOJA e G.
BRANCA, 509; sem razão, ANTONIO PAVONE LA ROsA, L‟Anticipazione bancaria nelia disciplina del nuovo
Codice Civile, Rivista Tri mestrale di Dinho e troce Jura. Civile, 13, 128).
A cláusula de serem bens em garantia do adiantamento bancário “quaisquer bens que estejam no banco, quer em
custódia quer possuidos pelo banco, imediatamente, a qualquer titulo”, tem sido considerada válida, em alguns
sistemas jurídicos. Mas sem razão, porque o adiantamento bancário há de precisar e individuar os bens dados em
garantia. Alguns juristas falam de validade e ineficácia perante terceiros, mas errôneamente.
O art. 756 e o parágrafo único do Código Civil são invocáveis. Bem assim o art. 757 e o art. 759. Aliter, o art. 758
e o art. 764.
Quanto aos títulos de crédito, os que mais servem a vínculação bancária são os títulos em série ou títulos de
massa, que se encontrem em grande número, títulos de fácil alienação, títulos cotáveis, títulos fungíveis ou
fàcilmente intercambiáveis (apólices da dívida pública, ações de sociedades, debêntures, cédulas hipotecárias,
cédulas pignoratícias e cédulas mistas, letras hipotecárias). Mas os títulos individuais ou singulares, como as
letras de câmbio aceitas por outrem, as notas promissórias de outrem e as duplicatas mercantis, também são
suscetiveis de servir como objeto de penhor e os títulos representativos de mercadorias que não sejam títulos de
massa.
5.TRADIÇÂO DO OBJETO DO PENHOR. A posse do titular do direito de penhor oriundo do negócio jurídico
lombardo
-w
1
ou a) começa pela tradição dos títulos ou mercadorias ao banco no momento da conclusão do contrato à vista, ou
Li) quando fôr preciso que se mantenha a relação proporcional com a prestação da soma, se há conta corrente e
não foi entregue importância suficiente para todas as retiradas. Mas as duas espécies mais usuais são c) a da
conclusão do contrato para que com a soma, mais o que se entregou em dinheiro (descarte), o banco adquira
títulos ou mercadorias que ficam sob a sua posse imediata de titular do direito de penhor, tendo recebido o
vinculado a posse própria mediata; e d) a da tradição pelo vinculado, para que o banco, que presta,
simultâneamente, a soma convencionada, venda os títulos ou as mercadorias e se pague.
Sempre que o vinculante faz depositar-se a soma recebida, há outro negócio jurídico.
O cliente, nos adiantamentos bancários, continua com a disponibilidade da propriedade dos bens, gravada pelo
contrato, porque só se transferiu ao banco a posse imediata. Para a disposição precisa transferir ao terceiro a
faculdade de prestar percentual para poder retirar os bens de valor correspondente.
10.VINCULAÇÃO BANCARIA COM PENHOR IRREGULAR. De ordinário, o penhor que integra o negócio
jurídico de vinculação bancária é penhor regular. Todavia, pode ser preestabelecida a disponibilidade. Se o que
se entregou ou se adquiriu foi bem fungível, inindividualizável, o que se há de entender é que o penhor é irregular,
pois que se precisaria de cláusula para que se pusesse em custódia fechada o que não é o usual
o bem que foi entregue ou adquirido. Mesmo se o bem é individualizável, pode ser inserta a cláusula de
disponibilidade. A falta de individualização na cédula de vinculação faz supor-se irregular o penhor dos títulos ou
outros bens individualizáveis. Se os títulos ou outros bens foram adquiridos pelo banco, tem êle o dever de
individualizá-los, se o contrário não se dispôs no contrato ou na cédula de vinculação.
Se o banco não pode restituir o que era objeto do penhor, o valor dêle é o do dia do vencimento, ou o do dia do
pagamento, ou outro, maior, que seja o dado pelo interessado, se houve mora.
CAPÍTULO VIII
1.PRECISOES. No Tomo XXXI, §§ 3.592 e 3.593, tratamos do negócio jurídico de giro, como operação
bancária por ordem de correntista. Frisamos que se supõe relação jurídica subjacente (ou, excepcionalmente,
sobrejacente), entre o ordenante e o banco. Aqui, o que nos interessa é o giro bancário
bilateral, isto é, o negócio jurídico bilateral entre o oferente, interessado no giro, e o banco. Em verdade, no
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contrato de giro, o chamado “ordenante” não ordena, apenas é oferente do negócio jurídico de giro bancário. O
contrato de giro, Ci.. rovertrag, é negócio jurídico em que a pessoa que quer o giro, o traspasso, oferta, e o banco
aceita a oferta de girar, de traspassar. Não recebe ordem para isso, porque, ex hvpothesi,.não está vinculado ao
giro, ao traspasso. Se a pessoa, mesmo se é correntista, quer que se credite a outrem, e, segundo as relações
jurídicas entre o oferente e o banco, não há vinculação a essa operação, tem de haver a bílateralidade do negócio
jurídico de giro. Pode ser que o banco não possa remeter o dinheiro em moeda corrente, ou em moeda estrangeira,
ao lugar em que se acha o beneficiário, ou legalmente não possa. Então. tem de recusar a oferta.
O ordenante, ou oferente assina ao banco nôvo credor. Fala-se de delegação pronútendi enquanto o creditamento
não importa pagamento, mas, em verdade, está-se a ver a ei icácia entre o ordenante ou oferente e o beneficiário,
o que deturpa a figura. O creditamento importa, automàticamente, enriquecimento do beneficiário, porque a soma
ou o título passou a ser desse, quer se trate de creditamento em conta do beneficiário no banco girante, quer se
trate de creditamento por outro banco ou outra empresa (negócio jurídico estranho ao negócio jurídico de giro,
que está em exame, pôsto que seja, e é provável que seja, outro negócio jurídico de giro).
O banco girante executa a ordem, com a necessária transferência da propriedade e da posse mediata. (A josse
~mediata, essa, tem tradição no momento em que o beneficiário recebe a prestação.)
Não se deve falar de delegação solvendi, porque solução pode não haver e, se há, está na intenção do ordenante, e
não no negócio jurídico do giro.
4.GIRo BANCÁRIO. Uma das formas características do pagamento bancário é o giro em conta, ou, melhor, o
banco-giro, ou giro bancário, pois há giro sem ser em conta. O banco-giro, ou giro bancário, opera-se pela
prestação de soma pelo ordenante (= ordenador) ou oferente, a favor de terceiro, que é o destinatário. É uma das
espécies do negócio jurídico de giro (dito Girogeschitft), mesmo porque há giro sem ser por banco. A conta
corrente tem por objeto regular e liquidar, periodicamente , as relações jurídicas, de ordem econômica, que se
estabelecem entre o correntista e o banco, O negócio jurídico de giro quase sempre regula as relações jurídicas
entre os clientes de um mesmo banco, por via de compensação, ou de lançamento em conta, ou de remessa. Mas
pode não haver conta de outrem no mesmo banco e a remessa. ser por meio de cheque ou crédito perante outro
banco ou outra empresa.
A adscrição do banco às contas tem como efeito liberar ordenante ou oferente e atribuir à pessoa a quem se
creditou a soma ação contra o banco. A relação jurídica que se cria entre o banco e o destinatário da soma é
independente das relações jurídicas anteriores que o banco tenha tido ou tenha
com a pessoa que ordenou a prestação. Portanto, é de natureza abstrata (KARL HEINSHEIMER-KARL
GEILER, Handelsrecht. § 66, b).
O ordenante ou oferente consegue, com o negócio jurídico unilateral ou com o contrato de giro, que o banco
assuma a dívida, ou pela credítação na outra conta, ou pela remessa, ou simples pôr-à-disposição.
5. GIRO DE CÂMBIO. Giro de câmbio é operação dupla, em que o banco ou outro figurante do negócio jurídico
de giro recebe a moeda, que tem em conta, ou que lhe leva o oferente, e credita ao destinatário em outra moeda. A
expressão é velha na língua portuguêsa. Pode não existir conta corrente entre o interessado e o banco
(WOLFGANG HEFERMEHL, Sehtegelberger Handeisgesetzbuch, ~ SA ed., 1536; sem razão, ULRICH
MEYER-CORDING, Da8 Recht der Banloiiberweisung, 39). Apenas o que mais acontece é haver as duas
relações jurídicas.
Em princípio, diante da fungibilidade da moeda (Una pra alia pecunia solvi poted), pode o devedor solver com a
moeda a que se refere o instrumento do negócio jurídico, ou que oral-mente foi indicada, ou na moeda que tem
curso legal no lugar do pagamento (Código Civil, art. 947, §§ 1.0 e 2.0). A regra jurídica não incide se foi
estabelecida a infungibilidade ou a inconversibilidade.
Se a lei do lugar de que há de sair o pagamento faz exigências relativas à aquisição de moeda estrangeira pelo
interessado em prestar, o modo e os meios de cobertura são determinados pelas leis do lugar. O contrato ou
estabelece que o pagamento seja na moeda do Estado em que tem domicílio ou sede o comprador, ou exige que
seja em moeda estrangeira, ou deixa à escolha ou conforme alguma cláusula contratual que fixe o critério.
Conforme a legislação de cada Estado e o tipo de intervenção estatal no tráfico de moeda, o banco girante pode
creditar em outro banco, ou fazer ou obter do banco autorizado pelo Estado cheque ou ordem de pagamento para
que o beneficiário receba a quantia, liberando-se o banco. Quem se libera é o banco, pois o ordenante do giro ou
oferente do contrato de conta bancária já se liberara ao ser concluído o negócio jurídico de giro.
O contrato de câmbio de moeda estrangeira pode ser a favor de um dos figurantes no contrato, ou a favor de
terceiro, a quem se transfere a propriedade da moeda estrangeira, eu a propriedade da moeda nacional. Os dólares
que E foi pedir ao banco para que se lhe creditassem na sua conta de Nova lorque, foram adquiridos no momento
do contrato de câmbio. Quanto ao crédito em Nova Torque, o banco apenas “transporta” para Nova Torque o que
já é de E, desde o momento em que os dólares foram adquiridos. Os dólares que B pede ao banco que sejam
creditados a em Nova lorque, ditos remetidos, já são de C no momento em que se concluiu o contrato de câmbio
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à vista, contrato em que já se transfere a C a posse mediata e ao banco apenas permanece atribuida a posse
imediata, como depositário.
1.RELAÇÃO JURÍDICA OFERENTE-BANCO. O que se passa no giro bancário bilateral, entre o oferente do
contrato de giro bancário e o banco, reduz-se à oferta e à aceitação pelo banco, que, na ocasião mesma da
aceitação e, pois, no instante da conclusão do contrato, assume a clivicUz. de giro e simultàneamente destina a
prestação. O oferente nada mais tem com a tradição da prestação pelo banco, porque o banco fêz o creditamento
da quantia, com o documento que deu.
Se entre o banco e o cliente há outras relações jurídicas, de modo que, a despeito, por exemplo, de ter sido
entregue o recibo ou o documento, o que se deu como prestado pelo cliente não no fôra, porque faltavam fundos,
o banco não pode, com isso, resilir o contrato, que foi conc1uido com plena eficácia. Qualquer direito, pretensão
ou ação do banco é com base no outro negócio jurídico. Se o cliente pagou o que tinha de pagar para ser creditado
em moeda nacional ou estrangeira à empresa de navegação aqui apenas damos exemplo e o dinheiro que o
cliente entregou era moeda falsa, com isso não fica privado o beneficiário do que lhe tocava como negócio
jurídico de giro bancário.
2.RELAÇÃO JURÍDICA BANCO-flENEFTCL4RIO. A re1ação jurídica banco-beneficiário surge no momento
mesmo em que o banco conclui o negócio jurídico de giro, porque o lançamento com a remessa é apenas elemento
contabilístico. O banco vinculou-se a lançar ou a remeter, e a nota é execução. Dai não ser preciso, sequer, que
haja comunicação do banco. O crédito do beneficiário é abstrato.
Por isso, não se há de considerar o contrato de giro bancário como gerador de direito futuro do beneficiário, ou
direito condicional. Com a conclusão, nasce o direito do beneficiário. Tal é o que se assenta, por exemplo, na
jurisprudência alemã (Ent.scheidungen des Reichsgeriehts in Ziviisaohen, 54, 332; 102, 68; 105, 898; 108, 212).
Desde que o banco deu a nota ou documento da conclusão do contrato, o banco vfficulou-se perante o
beneficiário. Não é preciso que o receba o beneficiário, nem, sequer, que dêle tome conhecimento. Daí dizer-se
que o aviso do documento tem eficácia declaratórjai (ULItICII MEYER-CORDING, Das Reeht der
Bankitberweisung, 40 s.; SCHOELE, Das Reclit der tlberweisung, 28).
O banco assume o dever de cuidar do ato jurídico, às vézes ato-fato jurídico (pagamento). O devedor ou
interessado tem de avisar o destinatário (WOLFGANG HEFERMEHL, Sehiegelberger Handelsgesetzbuch, ~ SY
ed., 1544), se não há situação que importe aviso prévio, ou dispense o aviso. Se o banco avisa que outro banco
tem de adimplir, há a ação do destinatário cointra esse banco e, sucessivamente, contra o banco girante. O aviso
do credor, pelo ordenante ou oferente, ou pelo banco, de que foi ultimado o contrato de giro é comunicação da
solução da dívida do ordenante ou oferente, se suficiente a quantia ou satisfatória a qualidade da moeda.
Enquanto não há aviso do banco de que o destinatário pode receber a soma em outro banco, há a ação real contra
o banco figurante do contrato de giro, açâo que se irradia de crédito abstrato e não depende de aviso do banco.
A função mais frequente, que se há de ver no negócio jurídico de giro, é a incumbência de extinguir divida
(REINHÂRD FREIHERR VON GODIN, Kornmentar zum FlandeLsgesetzfruch, III, 23 ed., 521). Porém não é.
de modo nenhum, a única. E. g., remessa de moeda estrangeira à família em viagem.
O traspasse da soma de uma cont‟a para outra supõe que cada pessoa a que se refere o contrato de giro tenha
conta no banco, ou outra empresa. Geralmente, porém não necessariamente , o banco gírante comunica ao
beneficiário o crédito que se abriu, ou que está à sua disposição, ou, se houve remessa a outro banco, esse o faz.
Se há êrro na indicação do nome do beneficiário, a dívida do banco nasceu, e apenas o ordenante ou oferente pode
ir com a ação de enriquecimento injustificado contra o terceiro favorecido pelo êrro. Avisado pelo ordenante ou
oferente o beneficiário, tem esse ação contra o banco girante, quer esse haja comunicado, quer não tenha
comunicado. Aliás, a simples ciência, pelo beneficiário, de que lhe foi feita a atribuição, qualquer que seja a fonte
de tal conhecimento, basta para que possa êle propor a ação contra o banco girante, ou contra aquêle a que se fêz
a remessa. O documento do giro bancário bilateral, ou prova, segundo os princípios, basta para a apreciação
judicial.
As contraprestações a prazo, principalmente as parcelares ou periódicas, podem ser de conformidade com o
instrumento negocial e sem qualquer subscrição de título sobrejacente, abstrato, que permita a circulação
(duplicatas mercantis, letras de câmbio, notas promissórias). Se não se emite título abstrato, não há qualquer
dúvida sobre como se há de adimplir o que se prometeu. Se o pagamento é em moeda nacional, a nominalidade do
valor simplifica todas as soluções, desde que não haja lei de revalorização Se o pagamento, em moeda nacional,
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há de ser a empresa credora que não tem sede no mesmo lugar, os problemas de risco são pequenos, mas surgem,
ou podem surgir.
Se os figurantes do contrato não são domiciliados no mesmo lugar, ou no mesmo lugar não se hão de fazer a
prestação e a contraprestação tem-se de atender aos riscos, mesmo do objeto do pagamento.
Sempre que se estabelece pressuposto de ato administrativo favorável, ou se há de interpretar, diante das leis do
Estado de que há de sair o crédito em moeda estrangeira, que há tal pressuposto, o devedor da moeda estrangeira
libera-se com a autorização estatal e a conclusão do contrato de giro, O banco girante assumiu a dívida, dívida
abstrata, perante o beneficiário.
Dizem, com tôda a precisão, ENRICO COLÂGROSsO e GIACOMO MOIJUE (Diritto baneario, 481): “la banca
obbligata verso l‟ordinante, esequita t‟operazione, resta liberata; ma assume una nuova obbligazione nei
confronti del beneficiario”. Acrescentam êles, no sentido da doutrina (482) : “Perciô il beneficiario, che abbia
accettato l‟operazione, deve rivolgersi, per il pagamento, innanzi tutto, alIa banca.., e solo successivamente
all‟ordinante”.
Convém lembrar-se o que escreveu GIUSEPPE FERRI (Bancogiro, Encictopedia dei Diritto, V, 34) : “. ..
evidentemente non si possono far ricadere sull‟ordinante le consequenze della determinazione del beneficiario in
ordine all‟utilizzazione deile disponibilitá esistenti nel conto”.
Cumpre, porém, frisar-se:
a) O ordenante ou oferente não responde pelos riscos posteriores ao seu ato, ao negócio jurídico de giro bancário
bilateral, se não havia razão para se evitar a conclusão do contrato com o banco que êle escolheu, salvo se o
beneficiário exigiu que o giro fôsse por determinado banco, ou se tal seleção resultava dos usos do ordenante ou
oferente e do beneficiário, em seus negócios jurídicos.
b)O banco girante nenhuma responsabilidade assumiu se a operação era legalmente concluível (xxx não era
vedada), mas ilícito era o objeto da relação jurídica estabelecida entre o ordenante ou oferente e o beneficiário, ou
a estabelecer-se entre êles.
3.RELAÇÃO JURIDICO ENTRE O OFERENTE E O BENEFICIÁRIO. No tocante à relação jurídica entre o
oferente do contrato de giro e o destinatário, o que importa é eficácia da creditação, conforme o que quis o
oferente, sem que isso tenha de ser explícito na relação juridica entre o banco e o oferente. Tanto se obtém
creditação a favor do beneficiário, no próprio banco, ou alhures, para se solver dívida do oferente, ou de outrem,
como para se doar ou emprestar ao beneficiário. Pode dar-se que o oferente tenha errado e tenha pago dívida que
não existia, dando ensejo a ação de enriquecimento injustificado. Se o propósito foi pagar, conforme cláusula
contratual, ou conforme sentença, extingue-se a divida, no todo, ou em parte, segundo os princípios.
Entre o oferente e o destinatário, dito beneficiário, pode estar estabelecido cque o pagamento ou os pagamentos
tem de ser por operações de giro, ou pode ser que isso resulte de circunstâncias, inclusive tratar-se de dívida de
moeda estrangeira e haver exigências legais de corretagem e de giro de câmbio.
Assim, quanto à exigência do recebimento pelo credor, ou por beneficiário que não seja credor, ou da
comunicação de que admite a creditação, imprôpriamente chamada “aceitação”, pode já estar satisfeita por
alguma cláusula negocial, ou por sentença. Alguns juristas erram em falar de aceitação (e. g., GIUSEPPE FERRI,
flancogiro, Endclrypedia dei Diritto, V, 33). O beneficiário, se não está vinculado a receber, pode recusar-se a
receber, ou dizer que não quer receber. Se estava vinculado ao modo de prestação, com a recusa incorre em mora
creditons. A abstenção de receber é a risco do beneficiário. Observe-se que, se há vinculação entre o ordenante ou
oferente e o beneficiário, isso é estranho ao que se passou entre aquêle e o banco gírante, mesmo se o banco se
obrigara, em virtude de outro negócio jurídico, ao giro bancário bilateral.
Ao importe do giro bancário bilateral não correspondem juros, porque o beneficiário não transfere a propriedade
(Gzoito OBST, Geld-, Rank~ und Ràrsenwesen 17.a ed., 123). Se o beneficiário tem conta corrente no banco em
que há de receber o Importe girado e há cláusula, ou uso de lançamento, correm os juros, se a conta corrente os
permite.
4.EFICÁCIA lIA CREDITAÇÃO. As operações de alienação e aquisição, ou de aquisição e alienação, que
compõem os negócios jurídicos onerosos, sem os quais as empresas não produziriam, caracteriza a vida industrial
e comercial. Há o preço pelo qual se vende, o preço com o qual se compra. Há sistema de harmonização de
interesses e de atendimento a conveniências reconhecidas pelas empresas que participam do mercado. Com a
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função operativa das empresas, na conclusão dos contratos entre empresas ou entre empresa e clientela, há
simultâneas vantagens para os figurantes do negócio jurídico.
Com o negócio jurídico transíativo, pode não haver a. mudança de lugar, porque há a tradição brevi múnu, ou a
tradição longa inanu, ou o constituto possessório. Daí poder a mercadoria comprada permanecer no armazém do
vendedor, ou no Armazém geral, ou em armazém de depósito público. O que importa é a disposição por um dos
figurantes, com a aquisição pelo outro: aquisição da propriedade e da posse, ou, embora mais raramente, só de
uma. Nos tempos modernos, a contra-prestação do adquirente é, de regra, em moeda, sem que se pré-exclua a
troca industrial ou comercial.
Se a prestação e a contraprestação supõem distância, porque alienante e adquirente não têm a mesma localização,
surgem, entre outros, os problemas de atribuição das despesas de transporte e de aquisição da moeda estrangeira,
bem como o de risco da prestação (até o pôrto de embarque ou até o pôrto de destino) e o de risco da
contraprestavio.
A aquisição de moeda estrangeira é aquisição de res, porque a moeda estrangeira não é moeda corrente no lugar
em que, ex hupothesi, ela está. No momento em que o banco, com a autorização do Estado para o giro de moeda
estrangeira, concluiu o negócio jurídico de giro, houve a tradição da posse mediata da moeda estrangeira ao
beneficiário. Em conseqUência, o beneficiário passou a ser o dono da moeda estrangeira, considerada, no
território do Estado, em que se concluiu o contrato de giro, como atribuida ao beneficiário conforme a destinação
estipulada.
A autorização administrativa para a aquisição de moeda estrangeira, que é elemento comum a muitos sistemas
jurídicos, é fonte de direito à conversão, incessível, pois que houve condicio inris que foi satisfeita pelos dados
pessoais e de objeto. Quer esteja em causa compensação internacional, estatal ou privada, quer só se trate de
negócios de reciprocidade, se os bens, a que a autorização se refere, são cessíveis, a autorização é cessível, com
cessão de direito acessório.
Se a empresa estrangeira não cumpre o que prometeu, tem de indenizar, e a ação, que caiba, não é para execução
específica, mas sim para ressarcimento dos danos calculados em moeda nacional.
O negócio jurídico de giro bancário bilateral, esse, tem eficácia transíativa ao beneficiário. Não se trata de
promessa de prestar. O banco girante, no momento da conclusão do negócio jurídico de giro bancário bilateral,
não só vendeu, transferiu: o traspasso põe o beneficiário na posição jurídica de dono da moeda, que foi girada.
Cumpre que se não deixe de atender a que o giro bancário bilateral é abstrato.
A ordem de pagar, ou, em geral, de prestar ao terceiro, que o cliente deixa no banco, para depois da sua morte, o
terceiro tem direito a recebê-la, ainda em caso de dúvida. Mesmo se o terceiro ainda não nascera. O que pode
ocorrer é que o cliente não tivera, no momento da morte, a disposição do bem ou dos bens (e. g., não cabe na
metade disponível testamentâriamente ) e poder ser feita objeção, inclusive em juízo, para expedição de mandado
ou de comunicação.
se tem a declaração do beneficiário como ordem de retôrno (de giro ao ordenante ou oferente) ou como recusa a
receber, o que faria do giro de volta causa de distratabilidade pelo ordenante ou oferente; ou como simpies
operação contabilística do banco. O banco não credita apenas; o banco devolve, presta de volta, porque o giro
bancário bilateral tornou-se ineficaz.
CAPÍTULO IX
COMPENSAÇÃO INTERBANCÁRIA
O agente da compensação coletiva pode ser sociedade, associação, ou empresa especializada, ou repartição
pública, ou autarquia. De qualquer modo, tem o Estado de exercer vigilância, pela função e pela relevância da
função compensativa, diante da massa de créditos e de débitos.
O excesso de crédito é creditado ao banco credor, que não devia o mesmo; o excesso de débito é debitado ao
banco, que não era credor de igual quantia. Pode ser lançado todo o crédito, ou todo o débito, por ser sem débito
o banco, ou faltar ao banco algum crédito. Supõe-se que o banco devedor tenha ativo na Câmara de
Compensação.
A finalidade operacional é a de extinguir os créditos e os débitos, até onde haja concorrência, com a objetividade,
que éde exigir-se, entre todos os que remeteram os seus títulos.
A Câmara de Compensação, Clearing Hoiise, A brechnungss~eUe, Chambre de Compensation, Stanza di
Compensazione, pode ser instituição pública ou privada, inclusive ser apenas associação de bancos, ou algum
banco, a que a lei ou contrato atribuiu as funções compensativas interbancárias.
2. ENDOSSOS. Se o título não é ao portador, mas endossável, pode o banco, que o apresenta à Câmara de
Compensação, endossá-lo a essa, ou ao seu diretor, com a cláusula “para compensação”, ou apenas apor a
indicação “Para compensação”. Não se trata de negócio jurídico fiduciária, como pareceu a ENRICO
COLAGROSSO e GIACOMO MOLLE (Diritto Banoario, 2a ed., 484, nota 3), mas sim de outorga de poder de
compensar (=praticar os atos que levem à compensação interbancária).
2. CÂMARA DE COMPENsAÇÃO. A Câmara de Compensação foi e é uma das criações mais eficientes da
economia. Supõe conhecimento, organização e propósito de simplificar, na base de atos contabilísticos e
atos-fatos jurídicos, pois que os pagamentos o são, as permanentes emissões e negociações de títulos. Em vez de
intervir em relações de A e B, faz contactos entre multiplicidade de credores e de devedores, em vez de os pôr em
contacto. De certo modo, fácticamente se substitui aos credores e aos devedores, para simplificar, o mais possível,
a solucão das dividas entre muitos bancos.
Sabe-se que Florença e o Japão a conheceram, antes dos outros Estados; mas o início da organização típica,
metodizada e produtiva, foi por volta de 1463, em Lyon. Edimburgo teve-a em 1760; Londres, em 1773; Nova
lorque, em 1853; Boston, em 1855; Paris, em 1872.
O Estado pode permitir que alguma instituição de direito público, ou alguma empresa de direito privado, proceda
a compensações. Trata-se de problema de técnica legislativa, ligado à necessidade do contrôle e da fiscalização
de tais operações compensatórias .
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CAPITULO IX
BANCOS DE INVESTIMENTO
Se o ato que deu ou negou a autorização é contra a Constituição, alguma lei ou outra regra jurídica, não se pode
deixar de atender à pretensão à tutela jurídica, por parte de quem tenha interesse na desconstituição do ato. O art.
141, ~ 4~O, da Constituição de 1946 é invocável, como o é o art. 86, § 2.0.
O art. 10 da Lei n. ~ é de conteúdo geral. A respeito dos bancos de investimento, estatui a Lei n. 4.728, de 14 de
julho de 1965, art. 29: “Compete ao Banco Central autorizar a constituição de bancos de investimentos de
natureza privada cujas operações e condições de funcionamento serão reguladas pelo Conselho Monetário
Nacional, prevendo: 1 o capital mínimo; II a proibição de receber depósitos à vista ou movimentáveis por
cheque; III a permissão para receber depósitos a prazo não inferior a um ano, não movimentáveis e com cláusula
de correção monetária do seu valor; IV a permissão para conceder empréstimos a prazo não inferior a um ano,
com cláusula de correção monetária; V a permissão para administração dos fundos em condomínio de que trata o
art. 50; VI os juros e taxas máximas admitidos nas operações indicadas nos incisos III e VI; VII as condições
operacionais, de modo geral, inclusive garantias exigíveis, montantes e prazos máximos”. Acrescenta o § 1.0: “O
Conselho Monetário Nacional fixará ainda as normas a serem observadas pelos bancos de investimento e
relativas a: a) espécies de operações ativas e passivas, inclusive as condições para concessão de aval em moeda
nacional e estrangeira; 14 análise econômico-financeira e técnica do mutuário e do projeto a ser financiado;
coeficientes ou índices mínimos de rentabilidade, solvabilidade e Liquidez a que deverá satisfazer o mutuário; e)
condições de diversificação de riscos”.
Se o banco que se ocupa de investimento, senso estrito, já está criado e já funciona regularmente, a lei mesma
somente podia exigir o que não infringiria o art. 141, § 33‟, da Constituição de 1946.
O primeiro requisito para a criação e o funcionamento dos bancos de investimento é o do capital mínimo. Se o
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banco era banco de investimento, senso estrito, há de haver prazo razoável para o aumento do capital, como teria
de haver para a correção monetária do capital, a fim de se satisfazer pressuposto de minoridade. A razoabilidade
da exigência de capital mínimo e apreciável pelo Poder Judiciário com invocação do art. 141, § 49, da
Constituição de 1946 e do artigo 141, § 1.0 ou § 3~
O segundo requisito, aliás aí exigência, é o de não receber depósitos à vista ou depósitos movimentáveis por
cheques. A proibição é dupla: não só se veda a operação bancária de depósito à vista: veda-se, também, a de
depósito movimentável por cheque. A fortiori, a de depósito à vista movimentável por cheque.
O terceiro requisito ou exigência é o de só poder operar com depósitos a prazo de um ano, ou mais, não
movimentáveis e com a cláusula de correção monetária do quanto em depósito. Se foi feito o depósito com
observância do art. 29, III, da Lei n. 4.728, a cláusula de correção monetária é implícita, porque não se poderia, na
dúvida, interpretar o ato constitutivo senso estrito ou a cláusula dos estatutos como infringente da lei. Para a
correção monetária, o que importa é o saldo, de modo que, sempre que se comunica o saldo, se tem de comunicar
a correção monetária. Se o banco de investimento recebeu depósito com infração do art. 29, III, da Lei n. 4.728,
sem má fé por parte do cliente, a restituição do quanto ilegalmente depositado é com a correção monetária.
No inciso IV, permitem-se em texto legal, frise-se as operações de empréstimo, senso lato, a prazo de um ano ou
mais, nunca de menos de um ano. Também aí há de haver a correção monetária, no momento do pagamento. Não
é preciso que haja cláusula explícita.
No inciso V, permite-se ao banco de investimento administrar fundo em condomínio, aludindo-se ao art. 50. No
artigo 50, fala-se de conversão de fundos em condomínio de títulos ou valores mobiliários em sociedades por
ações de capital autorizado, assunto já versado no Tomo LI; porém a administração, de que se cogita no art. 29, V,
de modo nenhum se refere a fundos convertidos, isto é. societarizados. nem, tão-pouco, a fundos que tenham a
própria administração . A remissão do art. 29, V, deveria ter sido ao art. 50. ~ 1.0. 2.0 e 8.~, porque ai é que a lei
trata da administração da carteira de investimento de fundos que tenham de contratar administração por outrem. O
art. 50, § 13‟, atribui tal administração de fundos alheios a “companhia de investimentos”. Portanto, a
administração há de ser por alguma sociedade de investimento, não-bancária, ou por banco. Se o fundo de
investimento tem a sua administração, pode auxiliá-la empresa de investimento, ou empresa de técnicos que lhe
preste serviços. Os §§ 2.0 e 3.~ têm de ser observados, se o fundo em condomínio há de ser administrado por
outrem. A propósito, convém sublinhar-se que o fundo em comum pode ser exterior à sociedade ou banco
administrador, ou pode ser fundo em comum resultante da clientela da sociedade ou do banco, caso em que a
comunidade é devida a comunhão de riscos, que com a formação interna do fundo de investimento resulta das
entradas dos clientes, O fundo de investimento, que há de ser administrado pela sociedade de investimento ou
pelo banco de investimento, pode não ser societário.
No inciso VI, ao Conselho Monetário Nacional atribui-se regular o quanto dos juros e taxas máximas
concernentes às operações de depósitos que se permitem, no inciso III, aos bancos de investimento.
Finalmente, no inciso VII ainda se diz que a constituição dos bancos de investimento tem de atender ao que o
Conselho Monetário Nacional estabeleceu como pressupostos das operações de investimento, de que se
incumbam os bancos de investimento, inclusive quanto às garantias exigíveis, aos montantes e aos prazos
máximos. Escusado é frisar-se que tais exigências não podem ser feitas sem respeito ao principio de igualdade
perante a lei: o que se considera inafastável para um banco de investimento tem de o ser para os outros bancos de
investimento.
No art. 29, § 1.0, também se cogita de normas quanto às espécies de operações dos bancos de investimento, quer
ativas quer passivas, e alude-se a pressupostos para a dação de aval em moeda brasileira ou estrangeira, o que é
assunto de extrema delicadeza. Se o banco de investimento tem atividade de financiamento, as normas podem ser
concernentes à satisfação de pressupostos e à análise objetiva e subjetiva da oferta dita “projeto” de
financiamento, O cliente, que quer o financiamento, é que expõe, como oferente, o que deseja que lhe pre~te o
banco de investimento, que financia, em função secundária de financiamento, porque se tal função não é
secundária, o banco passa a ser misto (de crédito, financiamento e investimento). O banco de investimento tem de
examinar o que está na oferta de contrato, que lhe faz o cliente, porque seria excepcional, na espécie, ser oferente
o banco de investimento.
Pode ocorrer que já existam instituições financeiras que operem com créditos a médio e longo prazo, por conta
própria ou de terceiro e com a subscrição de títulos ou valores mobiliários, para revenda e distribuição no
mercado. A lei reporta-se à transformabilidade de tais instituições financeiras em bancos de investimento. Daí
estar, na Lei n. 4.728, art. 29, § 4.0: “Atendidas as exigências que forem estabelecidas em caráter geral pelo
Conselho Monetário Nacional, o Banco Central autorizará a transformação em bancos de investimentos, de
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instituições financeiras que pratiquem operações relacionadas com a concessão de crédito a médio e longo
prazos, por conta própria ou de terceiros, a subscrição para revenda e a distribuição no mercado de títulos ou
valores mobiliários”. Na transformação, o banco não pode ter atividades que não sejam com observância do art.
29, §§ 19, 2.0 e 3~0, mesmo se antes as tinha, conforme o seu ato constitutivo e a autorização para funcionar, se
autorizada era. O tratamento desigual feriria o ad. 141, § 19, da Constituição de 1946.
Ainda se lê, em dizeres gerais, na Lei n. 4.728, ad. 29, § 2.0: “Os bancos de investimentos adotarão em suas
operações ativas e passivas sujeitas à correção monetária as mesmas regras ditadas no ad. 28”. O art. 28 apenas
enuncia que as instituições financeiras têm de atender às exigências
normativas, entenda-se que faça o Banco Central quanto às operações de subscrição e emissão de notas
promissórias e de saque ou aceite de letras de câmbio, com a correção monetária para o quanto exigível, conforme
o art. 27, de má redação, e que estabeleça o Conselho Monetário Nacional no tocante a empréstimos com
correção monetária (ad. 28). No ad. 28, aparece a palavra “poderão” no que se refere a depósitos, mas no ad. 29 se
estatui que pressupostos necessários para os depósitos são o prazo mínimo de um ano, a imovimentabilidade e a
correção monetária. Daí perguntar-se: <A regra jurídica sobre a corrigibilidade monetária, no tocante aos
depósitos, é ias cogens ou ias dispositivum? A interpretaqão que se há de dar é no sentido da cogência, de modo
que se tem de considerar o “poderão” como lapso na redação da lei.
Lê-se na Lei n. 4.728, ad. 29, § 8.0: “Os bancos de que trata êste artigo ficarão sujeitos à disciplina ditada pela Lei
a. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, para as instituições financeiras privadas”. A remissão é um tanto vaga, mas
os arts. 17, 18 e 25-41 da Lei n. 4.595 são as regras jurídicas mais relevantes.
A expressão “banco de desenvolvimento” supõe finalidade de elevar o nível econômico do pais, ou da zona,
como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico, que é empresa para o Brasil, e o Banco Europeu para os
Investimentos, que facilita projetos de financiamento para a valorização das regiões européias subdesenvolvidas
(isto é, abaixo do nível dos Estados Unidos da América, do Canadá, da Austrália e de alguns Estados da Europa
ocidental), de conversão e modernização de empresas, de criação de novas atividades econômicas, necessárias ao
mercado comum europeu, e de interesses comuns dos Estados-membros (Tratado de Roma, 1957, artigo 130).
1.CAPITAL E CAPITAL MÍNIMO. As regras jurídicas sobre o capital das sociedades por ações têm de ser
observadas, em tudo em que não se choquem com a Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e a Lei n. 4.728, de
14 de julho de 1965. No art. 29, 1, da Lei n. 4.728 há delegação de poderes para fixação do capital mínimo.
Cria-se, com isso, delicado problema. A lei devia ter edictado regra jurídica que dissesse qual o mínimo de capital
em determinada data, com a exigência da correção monetária, no momento em que se tivesse de criar algum
banco de investimento, e periodicamente .
No inciso IV da Resolução n. 18, de 18 de fevereiro de 1966, fixa-se o capital mínimo: cinco bilhões de cruzeiros,
mas adverte-se que o Conselho Monetário Nacional atualizará, periódicamente, o limite. A atualização a líbito do
Conselho Monetário Nacional, ou de quem quer que seja, inclusive o Presidente da República, é contra os
princípios, porque é matéria para lei, e não para ato administrativo. Acertado seria o limite legal dizemos: cinco
bilhões com a correção monetária, que para todos os negócios jurídicos se faça. O Decreto-lei n. 6.419, de 13 de
abril de 1944, art. 59, §§ 1.04.0, está obsoleto (redação conforme o Decreto-lei n. 6.457, de 29 de maio de 1944).
Central da República do Brasil, permanecendo indisponíveis até a solução do respectivo processo”. E o § 29: “O
remanescente do capital subscrito, inicial ou aumentado, em moeda corrente, deverá ser integralizado dentro de
um ano da data da solução do respectivo processo”.
Acrescenta, com o mesmo pendor ditatorial, a Resolução n. is, inciso IV: “e) Deverá efetivar-se em dinheiro, e no
prazo máximo de um ano da data da respectiva subscrição, a integralização da parcela restante do capital inicial,
e de seus aumentos. d) As quantias recebidas dos subscritores de ações nos termos da alínea b serão recolhidas ao
Banco Central dentro de cinco dias do seu recebimento, permanecendo em depósito até a autorização para
funcionamento do banco, ou a aprovação do aumento do seu capital. e) Nos casos de aumento do capital
subscrito, se o Banco Central não se manifestar no prazo de trinta dias do requerimento de aprovação o aumento
será tido como aprovado”.
A Resolução n. 18, inciso XI, refere-se à transformação, fusão ou incorporação dos bancos de investimento, “para
dizer que a aprovação é pelo Banco Central”.
art. 141, § 89, da Constituição de 1946; b) as exigências que atingem a todas as empresas da mesma espécie não
ferem o principio de igual tratamento ou princípio de isonomia (ad. 141, § 19).
1.PRECISÕES. A propósito das operações dos bancos de investimento, cumpre que se atenda à necessidade
metodológica de se discriminar o que é específico e o que se acrescenta de iure condendo, acertada ou
desacertadamente a isso, sem ser, de modo nenhum, operação de investimento.
2.OPERAÇÕES COM AÇOES E OUTROS TÍTULOS. A finalidade precípua das sociedades de investimento,
inclusive os bancos de investimento, é a de operações de aquisição e alienação de ações, títulos ou valores
mobiliários, inclusive debêntures, no mercado de capitais. Assim é que êles investem o que os poupadores lhes
entregaram, ou o que os poupadores confiaram à sua administração. Razão não havia para que a Resolução n. 18,
Xlv, pusesse em primeira plana tratando
-se de bancos de investimento empréstimos de capital fixo ou de movimento (financiamento), e não a aquisição
de ações, debéntures e quaisquer outros títulos ou valores mobiliários para investimento ou revenda, tal como se
mesclou no texto. A Resolução n. 18 revela que, apesar do ruído demagógico, em tôrno do papel das empresas de
investimento, houve intuitos mais de financiamento do que de investimento e não se cogitou de precisão das
figuras de atividade investitiva.
3.FINANCIAMENTOS. Há operações típicas a que se fixam limites temporais, para que possam ser feitas pelos
bancos de investimento. Aí está um dos elementos diversificados dos bancos de investimento e dos outros bancos,
de atividade ordinária. Uma das operações, que se puseram em primeiro lugar, é a de empréstimos; e a elas se há
de exigir serem a prazo. mínimo, quer se trate de financiamento para capital fixo, quer se trate de financiamento
de produção e embarque de bens 4estinados a exportação, ou de outro capital de movimento. Dêles cogitou a
Resolução n. 18, inciso XIV, a) e b), deter.~ minando que o prazo mínimo seja de um ano.
Nos negócios jurídicos bancários, o empréstimo é de grande relevância, porque o aceipiens se torna proprietário
do dinheiro, mas a função da transferência, para o gôzo, é causa jurídica e econômica, dos contratos. Se há
financiamento, o que é elemento necessário para as operações que se permitem aos bancos de investimento, sem
que os transformem em bancos de crédito e financiamento, ou em bancos ordinários, tem de haver o motivo
relevante (por bem dizer-se, outra dose causal), que é o emprêgo que se há de dar ao bem emprestado. Se falta
alguns dos pressupostos para a operação do banco de investimento, há infração da disciplina jurídica que se deu
aos bancos de investimento. Há o pressuposto de se tratar de financiamento e o de um ano de prazo mínimo. Mais
ainda:
o financiamento pode ser de capital fixo, ou de capital de movimento, sem que se possa justificar prazo maior ou
direito de opção à prorrogação.
Os bancos de investimento, como as outras sociedades da investimento, podem financiar, dentro de limites, mas,
se o financiamento passa à frente das outras operações típicas, há mistidade, pela deturpação da figura jurídica da
sociedade de investimento.
Embora haja intuito de lucro nas operações de investimento, não se permite aos bancos de investimento as
ordinárias operações de empréstimos. Permite-se-lhes financiamento. Cumpre, porém, que não se preestabeleça a
principalidade de tais operações, porque o banco deixaria de ser banco de investimento, para ser de
financiamento, ou misto.
9.ADMINISTRAÇÃO DE CAPITAIS ALHEIOS. O banco de investimento pode ter serviço <te administração
de ações e outros títulos ou valores mobiliários, de custódia e de recebimento de dividendos, interesse e outros
proveitos. Não se falou de caixas fortes e de outros recipientes em que se guardem títulos. Mas tais negócios
jurídicos entram na figura da custódia, a que se alude na Resolução n. 18, XVI, d) “administração de carteira,
custódia e recebimento de rendimentos de títulos ou valores mobiliários”. A função de custódia é mais larga do
que a de depósito: custodia-se sem se ser depositário. 0 assunto já foi tratado. Aqui, apenas interessa frisar-se que,
ou seja a caixa forte ou cofre para inclusões de valores de que a posse imediata passe ao banco de investimento,
quer não, pode êle concluir tais negócios jurídicos.
A causa de custódia é que permite que seja depósito, e não mútuo, o depósito irregular. O conteúdo diferencia-os,
qualificando-os, pôsto que nêle haja elementos comuns. A tipicidade exsurge, porque histôricamente se impôs.
Poder-se-ia repelir, em algum sistema jurídico, a figura do depósito irregular, mas isso não aconteceu, tanto mais
quanto a tipicidade se fêz legal, em vez de apenas sugeriapelas circunstâncias (a que CESARE GRASSETTI,
L‟Interpretazione dei Negozio givridico cem particulare riguardo ai contratti, 167, chamou, sem felicidade,
“tipicidade social”).
As regras jurídicas concernentes ao depósito regular não são invocáveis a respeito de outros contratos de custódia,
salvo, em determinados casos, a respeito do depósito irregular. Algumas regras jurídicas não são somente regras
jurídicas do depósito regular; daí a razão para que não se tenham tais regras jurídicas como peculiares. A
responsabilidade do banco que dá em locação caixas fortes ou gavetas não é a de depositário; é, até certo ponto,
como a de depositário. Não o viu, como devera, Ismono LA LUMIA (1 Depositi bancari, 209 s.).
operações de investimento. São operações de crédito, ativas ou passivas. Estranhas, portanto, a bancos de
investimento, como a quaisquer sociedades de investimento. Não as pode fazer sociedade ou banco de
investimento, sem permissão excepcional. A propósito dos bancos de investimento, a Resolução n. 18, XVII,
permitiu-as :“Durante três anos, a contar da data desta Resolução, é facultado aos bancos de Investimento ou de
desenvolvimento assumir co-obrigações ou conceder aceite em obrigações e títulos cambiários, para colocação
no mercado de capitais, desde que vencíveis em prazo não inferior a doze meses, ressalvados, entretanto , os casos
em que, numa série, constituída eventualmente de títulos de menor prazo, não seja inferior a um ano o prazo
médio”. A fixação do prazo de três anos significa que o inciso XVII teve apenas incidência breve.
1. PRECISÕES. As limitações, a respeito dos bancos de investimento, como das outras sociedades de
investimentos, provêm de ser restrita, conceptualmente, a atividade dos bancos de investimento e da necessidade
de não se lhes misturarem atividades. A função, econômico-social, de diminuição e de divisão dos riscos dos
capitais dos poupadores portanto, do público exige que se possam conhecer as suas operações e os seus
propósitos, a fim de se proteger a clientela. Não foi até onde devia ir a ação da lei e dos atos administrativos,
infringentes, por vêzes, palmarmente, de conceitos e de principios juridicos.
3. PROIBIÇÕES . Os bancos de investimento estão sujeitos à estrita observância da Lei n. 4.595, art. 34: “É
vedado às instituições financeiras conceder empréstimos ou adiantamentos: 1 A seus diretores e membros dos
conselhos consultivo ou administrativo, fiscais e semelhantes, bem como aos respectivos cônjuges; II Aos
parentes, até o grau, das pessoas a que se refere o inciso anterior; III Às pessoas físicas ou jurídicas que
participam de seu capital, com mais de dez por cento, salvo autorização específica do Banco Central da República
do Brasil, em cada caso, quando se tratar de operações lastreadas por efeitos comerciais resultantes de transações
de compra e venda ou penhor de mercadorias, em limites que forem fixados pelo Conselho Monetário Nacional,
em caráter geral; IV às pessoas jurídicas de cujo capital participem, com mais dez por cento; V às pessoas
jurídicas de cujo capital participem, com mais de dez por cento, quaisquer dos diretores ou administradores da
própria instituicão financeira, bem como seus cônjuges e respectivos parentes, até o 2.0 grau”. Acrescenta o § 1.0:
“A infração ao disposto no inciso 1, dêste artigo, constitui crime e sujeitará es responsáveis pela transgressão à
pena de reclusão de um a quatro anos, aplicando-se, no que couber, o Código Penal e o Código de Processo
Penal”. E o § 2.0: „~O disposto. no inciso IV dêste artigo não se aplica às instituições financeiras públicas”. A
expressão “até o 22 grau” . A instituição financeira não pode fazer empréstimos ou adiantamento a qualquer
pessoa que esteja na linha vertical de parentesco, seja pai, avô, seja bisavô, ou acima desse parente, seja a filho,
neto, bisneto, ou abaixo desse, de diretores, membros de conselho consultivo ou administrativo, fiscais ou
-w
semelhantes, bem como aos respectivos cônjuges. Nem a irmão e primo ou tio. A redação do projeto de lei
continuou o êrro que se vem cometendo a propósito de grau de parentesco. Cf. Código Civil, art. 333.
A regra jurídica do art. 34, III, da Lei n. 4.595, depois de vedar, acertadamente, que a pessoas físicas ou jurídicas,
que participam do capital, com mais de dez por cento, a instituição financeira empreste ou faça adiantamento,
abre a exceção para as que tenham “autorização específica” do Banco Central, e isso dá margem ao arbítrio nas
operações, o que desde 1930 é a causa maior das grandes fortunas do País. um vez de se ter a clareza da proibição,
tem-se a porta aberta para as negociatas, disfarçadas pela satisfação de requisitos dificilmente apreciáveis
(“operações lastreadas por efeitos comerciais resultantes de transações de compra-e-venda ou penhor de
mercadorias, em limites que forem fixados pelo Conselho Monetário Nacional, em caráter geral”). Sente-se a
pressão d.e grupos sobre a atividade legislativa. O que se proibe não se pode deixar a arbítrio de alguém, porque
assim se infringe o art. 141, § 1.0, da Constituição de 1946.
Quanto ao inciso IV, a vedação é inexcetuavel. Quanto ao inciso V, há proibição, e apenas se tem de atender a que
o legislador não contou, “subindo”, “de um dos parentes até o ascendente comum”, o grau ou os graus existentes
de parentesco. Tem-se de dar inteligência sistemática ao que lá está dito, pois por exemplo o filho ou neto do tio
avô não há de ser tratado como o irmão ou o primo, filho de tio. Cf. Tomo IX, § 948.
Ainda está na Lei n. 4.595, art. 36: “As instituicões financeiras não poderão manter aplicações em imóveis de uso
próprio, que, somadas ao seu ativo em instalações, excedam o valor de seu capital realizado e reservas livres”.
Compreende-se que a propriedade de imóveis para uso próprio, que, somados os seus valores não só os de
aquisição! aos das instalações, excedam o valor do capital realizado e das reservas livres. Na Resolução n. 18,
inciso XX, 2Y parte, a redação é diferente, o que pode dar ensejo a dúvidas e a controvérsias (“As aplicações dos
bancos de investimento ou de desenvolvimento em bens do seu ativo fixo não poderão ser superiores a dez por
cento do montante do capital realizado e reservas livres”).
No § 1.~ do ad. 34 a regra jurídica é de direito penal:
diz-se qual o suporte fáctico e qual a pena, com remissão, um tanto obscura (o que sempre se há de evitar em
direito penal), ao Código Penal e ao Código de Processo Penal.
No § 2.0 retira-se a incidência do art. 34, IV, a propósito de instituições financeiras públicas.
Lê-se na Lei n. 4.595, art. 35: “É vedado ainda às instituições financeiras: 1 Emitir debêntures e partes
beneficiárias; II adquirir bens imóveis não destinados ao próprio uso, salvo os recebidos em liquidação de
empréstimos de difícil ou duvidosa solução, caso em que deverão vendê-los dentro do prazo de um ano, a contar
do recebimento, prorrogável até duas vêzes, a critério do Banco Central da República do Brasil”. Acrescenta o
parágrafo único: “As instituições financeiras que não recebem depósitos, poderão emitir debêntures, desde que
previamente autorizadas pelo Banco Central da República do Brasil, em cada caso”. A proibicão de emissão
(subscrição e emissão, e não sé de emissão) de debêntures e partes beneficiárias é compreensível. Igualmente, a
de adquirir bens imóveis não destinados ao próprio uso, ou recebidos em liquidação de empréstimos de difícil ou
duvidoso solução. Na segunda espécie, há o prazo de um ano, “a con~ tar do recebimento” (entenda-se: a contar
da transmissão da propriedade) para a alienação. Permite-se a prorrogação, ate duas vêzes, pelo flanco Central,
mas havemos de assentar ciie a prorrogação é a prazo determinado, nunca por mais de um ano.
A respeito da subscrição e emissão de debêntures, ou de emissão de debêntures, o art. 85, parágrafo único,
permite-as a instituições financeiras “que não recebam depósitos”, se o Banco Central prêviamente o autorizou.
Ésse ato do Banco Central não é incontrolável pela Justiça.
O art. 35, II, da Lei n. 4.595 foi reproduzido na ilesolução n. 18, inciso XX, 1a parte.
se quer implantar no Brasil não os deturpa de diminuir e dividir riscos dos poupadores, que são clientes, embora
a espécie de clientela varie, e não haja a especificidade de diminuição e divisão de riscos que há nos fundos
comuns de investimento, ou nos fundos administrados com a comunidade resultante.
Algumas medidas limitativas foram postas na Resolução n. 18, XVIII, onde se diz: “Em suas operações, os
bancos de investimento ou de desenvolvimento, observarão os seguintes limites de risco: a) a responsabilidade
direta por cliente não poderá exceder cinco por cento do valor total das aplicações do banco; b> o valor médio das
operações por cliente não poderá exceder dois e meio por cento do montante total das aplicações do banco; c) os
limites referidos neste item somente serão obrigatórios a partir do exercício em que os recursos de terceiros,
obtidos pelo banco, atingirem cinqUenta por cento dos limites previstos no item XXXIX, alínea “f”; d) enquanto
não se verificar a condição prevista na alínea anterior, a responsabilidade direta por cliente não poderá exceder
vinte e cinco por cento do montante do capital realizado do banco”. Acrescenta o inciso XIX: “Na apuração dos
limites previstos no 11cm anterior, serão observados os seguintes critérios: a) a responsabilidade direta por
cliente inclui o principal de todas as suas obrigações para com o banco e todas as suas obrigações garantidas pelo
banco, salvo no caso de operações lastreadas por duplicatas de emissão do próprio cliente, quando por
responsabilidade direta se entenderá a dos ascados compradores; b) o montante total das aplicações do banco
inclui as garantias por êle prestadas, excetuadas as responsabilidades por obrigações de underwriting; c)
excluem-se dos limites as aplicações efetuadas com recursos de terceiros entregues ou colocados à disposição do
banco para determinada operação, desde que a exigibilidade desses recursos esteja subordinada ao integral
recebimento do crédito decorrente da respectiva aplicação; d) em cada espécie de operação, os bancos de
investimento ou de desenvolvimento observarão as normas sobre garantias previstas nesta Resolução”.
Se a operação é de financiamento, operação a latere, porque, se não o fôsse, se teria dado nome impróprio ao
banco, incumbe-lhe analisar o projeto de empreendimento a ser financiado. A Resolução n. 18, XXIII, chegou a
indicar alguns pontos que aos seus autores pareceram principais. De modo nenhum podemos considerar exaustiva
essa enumeração: “As operações de financiamento de capital fixo deverão ser decididas pelos bancos de
investimento ou de desenvolvimento após análise do projeto de empreendimento a ser financiado, que demonstre:
a) existência de mercado para os bens ou serviços a serem produzidos; b) exeqúibilidade técnica do processo de
produção e disponibilidade dos fatôres necessários; c) rentabilidade da exploração do empreendimento; d)
viabilidade do esquema de financiamento proposto e segurança da disponibilidade dos demais recursos previstos;
e) capacidade do mutuário para pagar os encargos do financiamento”.
Afasta-se o financiamento total, isto é, o financiamento que consista em prestar o banco todo o quanto necessário
à aquisição ou obra financiada. Na Resolução n. 18, XXIV, fala-se de “adequada proporção entre o seu capital e o
valor emprestado”, além de ser parcial o financiamento (= a empresa concorre com parte do que é necessário para
a adquirição ou a obra).
Compreende-se que não se financie por tempo escasso. Acertado é que se estabeleça prazo mínimo para a solução
da dívida: um ano (inciso XXV). Os pagamentos tem de ser dentro das possibilidades da empresa financiada, o
que se há de rever nas operações (XXV). No inciso XXVI, acrescenta-se: “Os empréstimos para capital fixo
deverão ser garantidos por direitos reais de garantia, reserva de domínio ou alienação fiduciária em garantia,
admitida ainda, para os casos previstos nas alíneas b e e do item XXII, outras garantias, a juízo do Banco Central”.
Não dependem de qualquer ato do Banco Central a garantia real do financiamento (penhor, caução, hipoteca,
anticrese>, nem a reserva de domínio, se a operação é de prestação de bens móveis ou imóveis, nem a aqui
fiduciária em garantia. Só outras garantias exigem prévia permissão do Banco Central.
garantido e por direitos reais de garantia, reserva de domínio, ou transferência fiduciária em segurança. Quanto a
outras garantias, como a de aceite de letras de câmbio por terceiro, ou avales ou outras assunções de obrigações, o
Banco Central há de ser ouvido (inciso XXXI) ou de haver estabelecido pressupostos.
2.LIMITES. Diz-se no inciso XXXV, c) : “1. O principal das debêntures em circulação, acrescido da nova
emissão, não poderá exceder o montante do patrimônio liquido da empresa emitente; 2. o total do passivo exigível
da empresa, nêle incluídas as debêntures e todas as demais obrigações, não poderá exceder a cento e cinqüenta
por cento do patrimônio líquido da empresa emitente; 3. o total de obrigações com cláusula de correção monetária
e em moeda estrangeira não poderá exceder cento e vinte por cento do patrimônio líquido da empresa emitente; 4.
as disponibilidades da empresa emitente, previstas em suas projeções financeiras, depois de atendidas todas as
demais obrigações, deverão ser equivalentes, no mínimo, a uma vez e meia o montante anual dos encargos de
juros e amortização das debêntures com cláusula de correção monetária. d) A operação deverá prever recursos
para a sustentação da cotação das debêntures no mercado de capitais durante o prazo previsto para a sua
distribuição, observadas as normas em vigor sobre sustentação de títulos no mercado. e) As debêntures com
vencimento superior a dois anos que não tiverem a coobrigação de banco de investimento ou de desenvolvimento
deverão ser garantidas com ônus reais sobre bens do patrimônio da emprêsa emitente. Essa garantia real poderá
ser dispensada, desde que a empresa emitente não tenha ônus reais de garantia constituídos sobre os bens de seu
ativo e, enquanto não liquidar as debêntures, se obrigue a: 1, não constituir direito reais de garantia a favor de
terceiros, a não ser que antes, e preferencialmente, esses direitos reais garantam as debêntures em circulação; 2.
não assumir novas obrigações perante terceiros que elevem o total das suas exigibilidades além dos limites
previstos na alínea e, dêste item; 3. não assumir novas obrigações cujos encargos de amortização e juros reduzam,
além do limite previsto na alínea c), n. 4, a relação entre as disponibilidades financeiras da empresa e os encargos
de juros e amortização das debêntures com cláusula de correção monetária.
3.150, de 4 de novembro de 1882,as debêntures não tinham privilégio geral; tiveram-no desde o Decreto n. 164,
de 17 de janeiro de 1890, art. 32, §~§ 29 e 39.De qualquer modo, não há debêntures sem privilégio geral que nelas
se incorpore. Quando a Resolução n. 18, no inciso XXXV, e), supõe debênture~ sem coobrigação de banco de
investimento, que devem ter “ônus reais sobre bens do patrimônio da empresa emitente”, supõe que existam
debêntures sem direito real de garantia que nelas se incorpore. Todavia, emprega a expressão “ônus reais”,
absolutamente imprópria. Não se pode tratar de assuntos de direito econômico sem se saber direito. A falta de boa
terminologia jurídica perturba os negócios jurídicos, suscita controvérsias e faz a confusão que se estabeleceu no
Brasil, como nunca, entre 1964 e 1966.
2.ACEITES E OUTRAS APOSIÇÕES; GARANTIAS. Quanto aos aceites, em geral, estabelece-se que hão de
ser títulos com vencimento, pelo menos, de doze meses, e nunca superior a vinte e quatro meses, contados da data
do aceite, e não da data do titulo. Com isso, afastam-se possíveis simulações e fraudes. Tais prazos nada têm com
as obrigações oriundas de avales ou de endossos. As coobrigações hão de ter contragarantias, que são, conforme
o inciso XXXVI, a), 1) a caução de duplicatas mercantis e 2) a caução de títulos ou valores mobiliários
negociados habitualmente na Bolsa de Vaiares e líquidos (lá se diz, fora de qualquer terminologia científica, “ou
elevada liquidez”, o que permite entender-se que se trate de liquidez, qualidade que não admite graus, portanto
sem poder ser mais elevada ou menos elevada, ou de liquidabilidade, que essa, sim, os admite, porque depende da
solvibilidade) ; 3) caução de direitos de crédito resultantes de venda de mercadorias ou de prestação de serviços;
4) caução de documentos representativos de mercadorias de fácil venda no mercado; 5) alienação fiduciária em
garantia de mercadorias de fácil venda no mercado.
§ 5>449. Transferência de posição subjetiva em contratos de empréstimos e outros negócios juridicos feitos no
exterior e simples repasse
exterior, a prazo mínimo de um ano, destinados a serem repassados a empresas no País, quer para financiamento
de capital fixo, quer de capital de movimento, ouvido o Banco Central”. Primeiramente, havemos de atender a
que a. referência a “contrair empréstimos” foi infeliz a recebe influência de sistema jurídico inferior ao do Brasil.
Os negócios jurídicos no estrangeiro podem ser bilaterais ou unilaterais. Nada impede que se invoque a regra
jurídica permissiva em se tratando de saque ou aceite de letra de câmbio, ou de assinatura de nota promissória, ou
de endosso ou aval. A ligação causal à destinação é estranha à relação jurídica entre o banco de investimento e a
empresa, bancária ou não, que se fêz outorgada no negócio jurídico causal ou abstrato.
O assunto da transferência da posição jurídica nas relações jurídicas obrigacionais já foi tratado no Tomo XXIII,
§§2.871-2.881, onde expusemos o que respeita às transmissões de créditos e de dívidas, pretensões e obrigações,
à cessão total e à assunção total, ao que se transfere nos negócios jurídicos unilaterais e nos bilaterais, à forma e à
eficácia.
a, quando tiver de solver a dívida que lhe nasceu no estrageiro, ou em virtude de negócio jurídico concluído no
estrangeiro, fazê-lo no banco de investimento com a prestação ao câmbio do dia. Aí, evidentemente, não se
cogitou de qualquer vinculação do banco de investimento à empresa, com sede no estrangeiro; nem de assunção,
pelo banco de investimento, da divida da empresa estabelecida no Brasil, nem de assunção de dívida alheia
perante a empresa credora.
O banco de investimento nodo a) assumir a dívida da empresa estabelecida no Brasil, quer perante o credor, e
tão-só perante o credor, ou b) somente perante o devedor, e não perante o credor, ou e) perante o credor e o
devedor. Nas espécies a) e b), em que a assunção da divida alheia pelo banco é unifigurativa ou a um só membro,
pode suceder a coeficacização pelo devedor (assunção unifigurativa com coeficacização pelo devedor, dita
co-eficacização horizontal, ou pelo credcr, dita vertical). Na espécie c), há negócio jurídico entre o devedor, o
assuntor ou assumente e o credor, isto é, entre a empresa estabelecida no Brasil, o banco de investimento e a
empresa credora, que, ex hypothesi, tem sede no estrangeiro. Entre o banco de investimento e a empresa devedora
há assunção de adimplemento.
A empresa estabelecida no Brasil pode obter do banco de investimento a promessa de assumir a dívida, em
negócio de assunção unifigurativa de dívida. Se não cumpre o que prometeu, tem de prestar indenização.
1. REDESCONTO Proibem-se aos bancos de investimento operações de redesconto (Resolução n. 18, XXXIV).
negócios jurídicos contêm ou não contêm a cláusula de emissão de certificado de depósito, porém havemos de
entender, se nada se disse, que o banco de investimento se vinculou a emiti-los. Há direito e pretensão do
depositante a que lhe seja feita a entrega.
No tocante aos empréstimos ou operações abstratas Xcitas no exterior, com o que dêles provém pode o banco de
investimento operar, respeitadas as exigências do direito brasileiro para a vinculação no estrangeiro. Cumpre
observar-se que, se foi o próprio banco de investimento que se vinculou e, portanto, não houve assunção de dívida
alheia, unifigurativa, ou cumulativa, ou de outra espécie, não se há de aludir a capital alheio ou “recursos de
terceiros”, porque o banco de investimento, devedor na relação jurídica irradiada de negócio jurídico concluído
no estrangeiro, se fêz dono do dinheiro recebido. Diga-se o mesmo a propósito dos empréstimos e outros
negócios jurídicos feitos no Brasil, com ou sem clausula de correção monetária. O dinheiro que foi recebido,
causal ou abstrato o negócio jurídico, integrou-se no ativo do banco: os “terceiros~~ são apenas credores.
O banco de investimento pode distribuir ou colocar, no mercado de capitais, títulos cambiários, duplicatas
mercantis e debêntures, com a vinculação d,~ banco, desde que se respeitem, para isso, os princípios que
disciplinam os títulos. Isso não significa que seja inválida a manifestação de vontade do banco, estranha à cártula,
que se refira ao título abstrato, com promessa de satisfação. Trata-se, aí, de negócio jurídico sobrejacente, ou
justajacente, e pode mesmo ocorrer subjacência. A forma mais adequada para a vinculação do banco de
investimento é o aval do título cambiário ou cambiariforme. Se o banco de investimento adquire os títulos e a seu
risco os coloca no mercado de capitais, a figura jurídica que se impõe é a do endosso.
A venda de quotas de fundos de investimento que não são fundos do banco compõe a figura da operação com
capitais de terceiros, isto é, que não são do banco. Na Resolução n. 18, XXXIX, c), apenas se explicita a
permissão. Para que tais vendas se possam fazer, é preciso que haja outorga de poderes pelo dono do fundo de
investimento ou pelos donos do fundo de investimento.
A captação de capitais, conforme o que acima se disse, em a) e d), há de observar os seguintes limites: 1) as
responsabilidades por aceite ou coobrigação em títulos cambiários e debêntures, não podem exceder, em seu
conjunto, quatro vêzes o montante do capital realizado e reservas livres: 2) os demais recursos de terceiros,
excluídas as responsabilidades acima previstas, não podem exceder cinco vêzes o montante do capital realizado e
reservas livres; 3) o total de recursos de terceiros, em todas as modalidades acima previstas, não podem exceder
oito vêzes o montante do capital realizado e reservas livres.
Para determinar o limite previsto em 2) da alínea “f”, os recursos de terceiros que corresponderem a aplicações
com prazos superiores a dois anos e que forem garantidas com direitos reais de garantia, reserva de domínio ou
alienação fiduciária em garantia, serão computados pela metade do seu valor.
Os recursos de terceiros referidos em a) a d), devem ter prazos de exigibilidade compatíveis com os das
respectivas aplicações.
se computam, para a apuração dos limites previstos, os recursos de terceiros recebidos para execução de
operações determinadas e cuja exigibilidade, na forma do item XIX, c), esteja subordinada ao recebimento, pelo
banco, do crédito decorrente das respectivas aplicações.
3. CONTAS. Os bancos de investimento podem manter contas, sem juros e não movimentáveis por cheque,
relativas a recursos de terceiros: a) recebidos de clientes para aplicação em títulos ou valores mobiliários, ou
referentes à movimentação dessas aplicações; b) vinculados à execução de suas operações ativas ou relacionados
com a prestação de serviços.
Os recursos acima aludidos, quando retidos sem aplicação por mais de quinze dias, ficam sujeitos a recolhimento
integral no Banco Centra], até que venham a ser aplicados.
Quanto ao que aí se estabelece, está no inciso XL, c), da Resolução n. 18, e ressalta a coerção descabida que se
contêm em tão exíguo prazo para aplicação de capitais.
A concepção do banco de investimento como empresa bancária especial foi restritiva, menos, aliás, do que
deveria ser. As contas de terceiros podem ser os depósitos de que se falou no inciso XXXIX, a), com cláusula de
correção monetária, a prazo fixo não inferior a dezoito meses, com juros, e imovimentáveis, ou as contas sem
juros, movimentáveis porém não por cheques (o banco de investimento não pode ser sacado em título chéquico,
não pode dar talão de cheque)
A figura, em a), não é a do depósito bancário, a que apenas se retirasse a movimentabilidade por meio de
cheques. Os clientes do banco de investimento podem entregar dinheiro ao banco, para operações de investimento
em títulos ou valores mobiliários ou para essas operações e outras que sobre-venham. A figura jurídica apresenta
particularidades da maior importância. Não se trata de depósito bancário. O depósito não é regular, porque não se
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individua o dinheiro entregue, porém o depósito irregular, que em verdade ocorre, não se faz depósito bancário.
Há a fungibilidade do bem, mas o negócio jurídico considera de modo especial o bem fungível, o dinheiro.
Quanto aos títulos e valores mobiliários entregues em administração, o depósito é regular, dada a individuação
que ressalta. Quanto ao dinheiro, a destinação afasta a compensabilidade por parte do depositário (Cf.
ALBERTO TRABUCCEI, .tstituzio‟ni di Diritto civile, 8~a ed., 519). O que mais importa é que se atenda a que há
depósito, e esse depósito irregular não se faz depósito bancário. O que se entregou não se integrou em fundo de
investimento, que seja ativo do banco de investimento, e mesmo que se compusesse fundo comum de
investimento, a propriedade permaneceria com os clientes, porque essa é a figura do inciso XL, a). O elemento
histórico, anglo-saxônico, ressalta, sem que o sistema jurídico brasileiro tenha de se considerar insuficiente com
os seus conceitos. A res, o dinheiro, foi entregue, mas é unidade distinta do patrimônio do trustee. A destinação é
que mantém a inconfundibilidade com o patrimônio do banco de investimento. Diante de terceiros, o banco de
investimento é conto dmo do dinheiro. (Aqui, o conceito de propriedade do direito brasileiro e continental
europeu, bem como dos outros países que o receberam, é diferente do conceito da Comomn Law.) No plano do
sistema jurídico brasileiro, o banco de investimento apenas tem o exercicio de alguns direitos do proprietário,
exercício necessário ao atingimento da destinação do que foi entregue. O banco de investimento, para se
empregar expressão inglêsa, é apenas “legal owner” perante terceiros. Não temos o problema que surgiu no
direito inglês quando faltava a tutela ,jurídica em caso de inadimplemento de deveres por parte do trustee. Não
precisamos recorrer à Equity, diante da insuficiência da Comomn Law, para que os clientes tenham ações
pessoais para observância, pelo banco de investimento, do que lhe incumbe, nem a ação real, para a separação
dos bens se materialmente (fàcticamente) estão inclusos no patrimônio do banco de investimento (aliás, ainda há
controvérsias no direito inglês, H.-G. HANBURY, Modern Equity, 57‟ ed., 505 s.).
No direito brasileiro, o inciso XL, a), suscita o problema de se saber se há depósito irregular, ou se há
transmissão fiduciária da propriedade mobiliária. A afirmação de que não há, na espécie, depósito bancário, não
resolve a questão da classificação: apenas se elimina uma das possíveis figuras. A invocação de conceitos e textos
anglo-saxões seria perturbante, porque a concepção da propriedade, no direito brasileiro, é a do direito romano.
As “contas”, sem juros e imovimentáveis, de que cogita o inciso XL, a), são de poupanças dos clientes do banco
de investimento, que salvo cláusula de inclusão em fundo do banco para diminuição e divisão de riscos não
deixam de ser de propriedade dos clientes, a despeito da fungibilidade da res. Se a conta alude a fundo comum de
investimento, nem por isso se há de deixar de pensar em depósito irregular, porque a comunização não se fêz com
bem do banco de investimento, mas sim, e somente, entre bens depositados pelos clientes. Para que se pense em
transmissão fiduciária da propriedade, estrito senso, é preciso que haja cláusula ou elementos que levem a
pender-se para a figura da propriedade fiduciária. Na espécie do inciso XL, a), o caso é de depósito irregular.
Se há comunhão, os clientes são donos do que entregaram para a conta, irradia-se a Gemeinschaftseigentnm, cada
um com a sua quota na propriedade comum.
Não há prazo prescripcional para a exigência contra o banco de investimento.
Adiante temos de cogitar da diferença entre os certificados de depósito e os certificados de depósito bancário.
Na Resolução n. 19, inciso XLI, b), há definição de “certificado de depósito”. Lá se diz: “O certificado de
depósito bancário é promessa de pagamento da importância do depósito acrescida do valor da correção e dos
juros convencionados”. Pagamento à ordem, diz-se na Lei ii. 4.728, art. 80, § 1.0.
As “contas”, a que acima nos referimos, a propósito do inciso XL, a), podem ser com certificados de depósito, ou
sem êles. Na dúvida, ou mesmo na falta de cláusula pré-excludente, o que se há de entender é que há direito aos
certificados de depósito. A definição, que se deu, nada tem com os certificados a que se refere o inciso XL, a) :
apenas se alude a certificados de depósito bancário.
Emitido o certificado de depósito bancário, pelo banco de investimento o “crédito”, contra o banco emissor, pelo
principal e juros, não pode ser objeto de penhora, arresto, seqüestro , busca ou apreensão, ou qualquer outro
embaraço, que impeça o pagamento da importância depositada e de seus juros, mas o certificado de depósito
bancário pode ser penhorado por obrigação de seu titular. É o que se diz na Lei n. 4.728, art. 30, § 29, e no inciso
XLI, d). Pusemos entre aspas a palavra “crédito”.
Revelar-se-ia, aí, a imprecisão de linguagem jurídica, pois quer haja fiduciariedade, quer depósito irregular não
se haveria de pensar em crédito”. Mas o inciso XLI, b), definiu o certificado de depósito bancário, e não o
certificado de depósito irregular, que corresponde às contas mencionadas no inciso XL, a).
A respeito da circulabilidade dos certificados de depósito bancário, estabelece a Lei n. 4.728, art. 30, § 2.0, que
certificados de depósito bancário podem ser transferidos mediante endosso datado e assinado pelo depositante,
ou por mandatário especial, com a indicação do nome e qualificação do endossatáno. Tudo isso se tinha de dizer,
e não só afirmar-se que o certificado de depósito é título nominativo endossável. Nem a Resolução n. 18, ou
qualquer outra, poderia conceber diferentemente o certificado de depósito bancário, porque estaria a edictar regra
de lei. A mentalidade totalitária de 1930 persiste, em sua função de perturbar a segurança jurídica do país.
As regras jurídicas sobre as notas promissórias são invocáveis, inclusive no tocante aos endossos e aos avales.
Aplicam-se ao certificado de depósito bancário, no que couber, as regras jurídicas relativas à nota promissória. É
o que se diz na Lei tu 4.728, art. 30, § 50, no inciso VLI, f), da Resolução ri. 18.
O endossante do certificado de depósito bancário responde pela existência do crédito, mas não pelo seu
pagamento. Lei n. 4.728, art. 30, § 49. (Cfr. inciso XLI, e).
Ai está exceção à invocabilidade das regras jurídicas a respeito de notas promissórias: o endossante de nota
promissória responde pela vinculação autônoma e solidária de regresso, inclusive pela falta de pagamento; o
endossante do certificado de depósito bancário, em bancos de investimento, somente responde pela existência do
crédito, não pelo pagamento. (De passagem advirtamos que tal regra jurídica não se estende, de jeito nenhum, aos
certificados de depósito para investimento.)
O pagamento dos juros relativos aos depósitos em relação aos quais tenha sido emitido o certificado, diz a Lei n.
4.728, art. 80, § 6.0, somente pode ser feito mediante anotação no próprio certificado e recibo do legítimo
proprietário à época do pagamento dos juros. A exigência de forma atende a que o possuidor do certificado,
endossatário, talvez após muitos outros, tem de saber se os interesses foram pagos, ou se o não foram. Faz-se a
anotação no próprio certificado, com a data, para que se saiba se quem os recebeu era, no momento, o proprietário
do certificado, portanto o proprietário do depósito feito, ou da quota. Sem o certificado não se podem receber
interesses.
Há tôda a conveniência em que se lance o recibo, com a data, após o endosso, para que posterior endosso fique,
espacialmente, após o endosso anterior ao recebimento dos interesses.
Surge pergunta de relevância: j,o endosso do certificado de depósito bancário pode ser em branco? No direito
brasileiro, a nota promissária pode ser endossada em branco (Tomo XXXV, §§ 3.978, 1, e 3.988, 4). De modo
nenhum.
Os depósitos não podem ser prorrogados, mas podem, por ocasião do vencimento, ser renovados, por prazo não
inferior a dois anos. (O que se contém na Lei n. 4.728, art. 30, § 7.~, e no inciso XLI, h), da Resolução n. 18, é
pleonástico, e. g., “renovar” mediante “contratação nova”, “havendo comum ajuste”. Todo ajuste é comum!)
Permite-se a renovação, não a prorrogação, com todas as conseqúências jurídicas de tal limitação. A renovação
por menos de dois anos é ineficaz.
AlctiengeselLschaft, 26, 145-151; U. Bovnu, ttber die recktliche Natur der In.vestment Trusts und die
RecI&tsstellung des Zertificatsinhabers, 1 s.; para o direito belga, Rêglements de Gestions des Dêpots eoflectifs,
art. 17; no direito alemão, a incidência dos §§ 741-758 do Código Civil alemão afasta que se trate de títulos de
crédito).
Assim, os certificados de depósito para investimento são titujos representativos e aquilo que se disse sobre os
certificados de depósito bancário (circulabilidade; responsabilidade pela existência de crédito, e não pelo
pagamento; disciplina à semelhança das notas promissórias) não é invocável.
A circulação dos certificados de depósito para investimento é a de títulos nominativos endossáveis. Como
sempre, o endosso, só por si, não transfere a propriedade e a posse.
É preciso que haja o endosso e a tradição. Se o poupador, tomador do certificado de depósito para investimento,
endossa o titulo e o guarda, não houve tradição. O endossante, antes de transferir a passe, pode riscar o endosso. O
título, que é representativo, entra na classe dos títulos cambiariformes.
O endosso pode ser em prêto ou em branco. Não se permite o certificado de depósito para investimento ao
portador; mas permite-se o endosso em branco. O intervalo entre o endOsso „em branco e outro endOsso, em
prêto, é de circulação a semelhança da circulação dos títulos ao portador. SObre os problemas que podem surgir,
cf. Tomo XV, § 1.881, 1, 2, 4.
Cumpre atender-se à diferença de trato dos títulos do § 5.450, 4 e 5.
3.REQuisiTes PARA QUE HAJA A CARTEIRA DIVERSIFICADA. Conforme o inciso XLII, a), a carteira de
investimento deve subordinar-se a requisitos de diversificação: 1) o montante das aplicações em títulos de uma
única empresa não deve exceder a dez por cento do total das aplicações da carteira, nem representar mais de vinte
por cento de capital votante da empresa cujas ações integrem a carteira de fundo; 2) a média das aplicações, por
empresa, não pode exceder cinco por cento do valor total das aplicações em carteira; 8) as aplicações em um
mesmo tipo de atividade não devem exceder a vinte por cento do total das aplicações do fundo.
Acrescenta-se em b) que não se estendem essas regras de limite às ações recebidas em bonificação ou resultantes
do exercício de direito de opção (lá só se diz “de preferência”) ou de preferência ou de contratos de subscrição
para revenda, desde que o excesso das percentagens seja eliminado no prazo máximo de seis meses, prorrogável
por igual período quando devidamente justificada a medida, perante o Banco Central.
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1.NATUREZA DA FIGURA JURÍDICA. O depósito, a que se alude, não é depósito irregular, nem, a fortiori, é
depósito bancário. Trata-se de depósito regular. Os direitos e pretensões dos depositantes são os de quem é dono
dos bens entregues. O certificado é endossável, porém não se podem invocar a respeito dêle o que se estabelece
para os certificados de depósito bancário.
O que acima se disse está, em parte, na Lei n. 4.728, art. 31 e §§ ~ e na Resolução n. 18, inciso XLIII, com
alterações que se impunham, como, em b), 4) a eliminação da expressão “garantia”, que não tem senso.
Por outro lado, se, pela lei, não pode votar o banco de investimento, pela ligação do voto à nacionalidade
brasileira do acionista, ou outra ligação, é nula a extensão da outorga de poderes que a Resolução n. 18 concebeu,
fora da lei, como se pudesse alterar lei e até Constituição.
Título LIV
CAPÍTULO 1
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Estabelece o ad. 1.0 da Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de 1953: “As Bolsas oficiais de valores são
órgãos auxiliares dos poderes públicos, na fiscalização dos lançamentos de emissões de títulos, por
subscrição pública”. Não é bem isso. As Bolsas oficiais de valores são bolsas, como quaisquer outras,
para as operações de lançamento ou de compra-e-venda de títulos das entidades de direito público. Uma
das suas funções é a de lançar titulos estatais, de subscrição pública, e outra, a de fiscalização desses lançamentos,
de modo que lhes incumbe verificar a legalidade das subscrições dos títulos e das emissões, bem como a da
subscrição pública (tomada pelo público).
foram fortuitos, De qualquer modo, fora do mundo jurídico, como elementos do contrato. A comutatividade
ressalta. Oscilam os valores, não os títulos e as mercadorias.
Reporte
Deportede Iiquidaçâo pronta 1 à vista
Compra-e-venda { a termofixo (simples duplo (Stellage)
a prêmio 1 majoração objetiva
4.NATUREZA DOS CONTRATOS DE BOLSA. Os contratos de bolsa são contratos em que mais se toma em
consideração onde se concluem e mediante atos de alguém, que não é figurante, do que a finalidade econômica e
as pessoas que nêles figuram. Não há peculiaridade estrutural. Há a atinência a determinado mercado, em que se
concluem, com frequência, contratos que não são especificamente de bolsa, como a venda a termo e o reporte. A
intromissão do Estado, que procura controlar a atividade dos corretores, não publiciza a atividade, nem as
operações bolsísticas. Com as bolsas, concentra-se o mercado, espacial e temporalmente, ao mesmo tempo que se
discriminam negócios jurídicos que podem ou que devem ser em bolsa. Passa-se algo semelhante com as feiras,
mas falta a essas a figura de quem corre, do corretor. A institucionalidade falta a essas, a despeito de haver regras
jurídicas ou atos administrativos que as regulem.
Nas bolsas, há características extrínsecas, que são concernentes a bolsa em si mesma e aos que nela operam como
corretores, e há características intrínsecas, ligadas ao modus faciendi das operações bolsísticas. A feira interessa a
têda a cidade, ou ao bairro, a quem por ela passe; a bolsa é interior a edifícios, com horário certo, sem que estejam
presentes os objetos (mercadorias, valores) que se vendem, e talvez mesmo ainda não estejam adquiridos.
As operações bolsísticas de hoje são aquelas que se concluíam no século XVII, na bolsa de Amesterdão. No
século XIX, a preocupação de rigor e de precisões para se acentuar a institucionalidade das bolsas ganhou terreno.
Por outro lado, a técnica acelerou os negócios jurídicos bolsisticos .
Após essas considerações, que se impunham, temos de ver o caminho que vai das bolsas ao Estado, pois aí está,
entre êles, a Câmara de Comércio, ou, mais especializadamente, Câmara de Corretores ou Câmara Sindical. A
expressão “Câmara” basta para que se perceba a essencialidade da localização . Daí partem as Bolsas, que ainda
mais discriminam. Sobre a contrato de corretagem, Tomo XLIII, §§ 4.732-4.753; sobre bolsas, ~ 4.745.
Temos, aqui, de cogitar dos negócios jurídicos da bolsa .
No Decreto n. 20.882, de 30 de dezembro de 1931, art. 1.0, há definições de Bolsa de Mercadorias, Bolsa de
Mercadorias do então Distrito Federal: “A Bolsa de Mercadorias do Distrito Federal é a reUnião coletiva e
periódica dos corretores e demais pessoas interessadas no mercado de produtos da indústria agrícola ou
manufatora, suscetíveis de negociação , em lugar e horas prêviamente determinados para a realização de
compra-e-venda de tais produtos”.
As repartições ou entes administrativos que provêem e fiscalizam as atividades de outros entes sio ligações com o
Estado (cf. GrnSEPPTNO TREVES, Le Imp‟rese pubbliche, 106 s.), sem que, com isso, se façam,
necessariamente , entes publicísticos os corpos operacionais, ou os seus membros. A intervenção estatal não basta
para a publicização.
Lê-se, hoje, na Lei ii. 4.728, de 14 de julho de 1965, artigo 59: “O sistema de distribuição de títulos ou valores
mobiliários no mercado de capitais será constituído: 1, das Bolsas de Valores e das sociedades corretoras que
sejam seus membros; II, das instituições financeiras autorizadas a operar no mercado de capitais; III, das
sociedades ou empresas que tenham por objeto a subscrição de títulos para revenda, ou sua distribuição no
mercado e que sejam autorizadas a funcionar nos termos do art. 11; IV, das sociedades ou empresas que tenham
por objeto atividade de intermediação na distribuição de títulos ou valores mobiliários, e que estejam registadas
nos termos do art. 12.”
No ad. 59, 1, falou-se das Bolsas de Valores e das sociedades corretoras, que sejam seus membros. Há, portanto,
a alusão ans corretores, pessoas físicas, e aos corretores, pessoas jurídicas. O elemento comum, essencial, é serem
membros da Bêlsa. Há empresas financeiras, que têm autorização para operações do mercado de capitais, porém
não dentro da Bolsa, nem para operaç5es para as quais a lei só admite a atividade do corretor ou da sociedade
corretora. Há sociedades ou empresas não-societârias , que se incumbem de subscrição de títulos, de distribuição
ou colocação, empresas , essas, que tenham autorização especifica do Banco Central (Lei ri 4.728, arts. 5Ó, II, e
11). Porém essas empresas, pessoas físicas ou jurídicas, nem operam na Bolsa, nem podem operar no que a lei só
atribua a corretores ou sociedades correto.ras. Também há as empresas autorizadas que têm por objeto atividade
de intermediação na distribuição ou colocação no mercado de títulos ou valOres mobiliários. Mas escapa-lhes a
função bolsistica e estão afastadas sempre que alguma regra jurídica exige que somente seja confiada a corretores
ou a sociedades corretoras. Em tudo isso, ressalta a exclusividade das funções dentro da BOlsa e das que
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legalmente têm de ser ou somente podem ser exercidas pelos corretores ou sociedades corretoras.
As operações de bolsa ou são feitas pelos corretores, membros da ]3ôlsa, ou por sociedades corretoras.
Deixou-se ao Conselho Monetário Nacional fixar o capital que há de ter cada uma. Cumpre, porém, observar-se
que se há de respeitar o principio da isonomia. Podem ser criadas antes ou ser autorizadas a funcionar, porque não
se subordinou a autorização do Banco Central a criação delas. Quanto aos seus dirigentes, a investidura é sujeita
às exigências concernentes à dos dirigentes das empresas financeiras.
Permitiu-se que a empresa corretora seja membro de mais de uma Bolsa de Valores.
Lê-se na Lei n. 4.728, art. 8.0: “A intermediação dos negócios nas Bolsas de Valores será exercida por sociedades
corretoras membros da Bolsa, cujo capital mínimo será fixado pelo Conselho Monetário Nacional.” Acrescenta o
§ 12: “A participação societária conjunta dos administradores das sociedades corretoras não poderá ser inferior à
metade do capital votante.” E o § 2.0: “As sociedades referidas neste ar~ tigo somente poderão funcionar depois
de autorizadas pelo Banco Central, e a investidura dos seus dirigentes estará sujeita às condições legais vigentes
para os administradores de instituições financeiras.” Diz-se no § 3.0: “Nas condições fixadas pelo Conselho
Monetário Nacional, a sociedade corretora poderá ser membro de mais de uma Bolsa de Valores.” E no § 42: “Os
administradores das sociedades corretoras não poderão exercer qualquer cargo administrativo, consultivo, fiscal
ou deliberativo em outras empresas cujos títulos ou valores mobiliários sejam negociados em Bolsa.” Ainda o §
5.0:
“As sociedades referidas neste artigo, ainda que não revistam a forma anônima, são obrigadas a observar as
normas de que trata o ad. 20, § 12, alienas a e b.” E o § 69: “O Conselho Monetário Nacional assegurará aos atuais
Corretores de Fundos Públicos a faculdade de se registarem no Banco Central para intermediar a negociação nas
Bolsas de Valores, sob a forma da firma individual, observados os mesmos requisites estabelecidos para as
sociedades corretoras previstas neste artigo, e sob a condição de extinção da firma por morte do respectivo titular,
ou pela participação dêste em sociedade corretora”.
A
No art. 8.0, § 6.0, há regra jurídica que só se refere aos corretores que eram, na data da incidência da lei,
Corretores de Fundos Públicos. Não se ofende, com ela, o princípio de isonomia, porque apenas se evita que a le~
nota fira direitos dos que hoje exercem a função. Ou êles operam individualmente, ou como firma individual, ou
se integram em sociedade corretora; de jeito que a firma individual é tida como provisória (se extingue com a
morte do corretor, ou se êle passa a ser membro de sociedade corretora).
A expressão “instituições financeiras” foi infeliz, porque não se podem considerar “instituições” empresas
particulares.
Ainda se diz, na Lei n. 4.728, art. 6.0: “As Bolsas de Valores terão autonomia administrativa, financeira e
patrimonial, e operarão sob a supervisão do Banco Central, de acôrdo com a regulamentação expedida pelo
Conselho Monetário Nacional.” Supervisão, e não subordinação.
O Banco Central passou a ter a supervisão entendamos: a fiscalização, a vigilância, a inspecção (não a direção ou
presidência) das Bolsas de Valores, em qualquer parte do território nacional. As normas, que o Banco Central
estabeleça, têm de respeitar o principio da isonomia ou igualdade perante a lei (Constituição de 1946, art. 141, §
1.0). A fiscalização, a vigilância ou a inspecção não pode transformar-se em ingerência na administração, nem no
patrimônio das Bolsas, ou da Bolsa, porque está em lei o principio da autonomia administrativa, financeira e
patrimonial. As normas que forem ditadas pelo Conselho Monetário Nacional não podem infringi-lo, nem violar
os princípios constitucionais (e. g., Constituição de 1946, art. 141, §§ 1.~, 8? e 49).
Lê-se na Lei n. 4.728, art. 7?: “Compete ao Conselho Monetário Nacional fixar as normas gerais a serem
observadas na constituição, organização e funcionamento das Bolsas de Valores, e relativas a: 1, condições de
constituição e extinção; forma jurídica; órgãos de administração e seu preenchimento; exercício de poder
disciplinar sobre os membros da Bolsa, imposição de penas e condições de exclusão; II, número de sociedades
corretoras membros da Bolsa, requisites ou condições de admissão quanto à idoneidade, capacidade financeira,
habilitação técnica dos seus administradores e forma de representação nas Bolsas; III, espécies de operações
admitidas nas Bolsas; normas, métodos e prâticas a serem observados nessas operações; responsabilidade das
sociedades corretoras nas operações; IV, administração financeira das Bolsas; emolumentos, comissões e
quaisquer outros custos cobrados pelas Bolsas ou seus membros; V, normas destinadas a evitar ou reprimir
manipulações de preços e operações fraudulentas; condições a serem observadas nas operações autorizadas de
sustentação de preços: VI, registro das operações a ser mantido pelas Bolsas e seus membros; dados estatísticos a
serem apurados pelas Bolsas e fornecidos ao Banco Central; VII, fiscalização do cumprimento de obrigações
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legais pelas sociedades cujos títulos sejam negociados na Bolsa; VIII, percentagem mínima do preço dos títulos
negociados a termo, que deverá ser obrigatôriamente liquidada à vista; IX, crédito para aquisição de títulos e
valores mobiliários no mercado de capitais”. E o §1.0: “Exceto na matéria prevista no inciso VIII, as normas a que
se refere êste artigo somente poderão ser aprovados pelo Conselho Monetário Nacional depois de publicadas para
receber sugestões durante trinta dias.” E o § 2.0: “As sugestões referidas no parágrafo anterior serão feitas por
escrito, por intermédio do Banco Central.”
A interpretação do art. 70 da Lei n. 4.728 tem de ser no sentido de se tratar de normas, e não de regras juridicas
que haviam de estar em lei. O que a lei exige às Bolsas de Valores a ser dispensado pelo Conselho Monetário
Nacional; - de êle criar penalidades, porque isso importa~ia atribuir-se a órgão do Poder Executivo edictar regras
de direito penal, com infração da ConstituIção de 1946 e dos próprios princípios essenciais à civilização
ocidental. £ lastima„~„el que o Congresso Nacional, só existente na aparência, desde 1964, haja admitido o ad. 7?
da Lei n. 4.728, com excesso de delegação legislativa, que seria surpreendente no próprio regime parlamentarista.
O que se tem por fito, evidentemente, é a ditadura financeira .
As Bolsas Oficiais de Valores, diz a Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de 1958, são “órgãos auxiliares dos poderes
públicos, na fiscalização dos lançamentos de emissões de títulos, por subscrição pública. A expressão “órgãos”
poderia sugerir
4..
que as Bolsas de Valores são partes integrantes do Estado.
A Bolsa de Valores é organização de direito público, que depende de constituição pelo Estado; não é, porém,
árgão do
Estado. Daí estar o adjetivo “auxiliares” que se acrescentou
a “órgaos”.
Ainda a Lei n. 4.728, art. 92: “O Conselho Monetário Nacional fixará as normas gerais a serem observadas em
matéria de organização, disciplina e fiscalização das atribuições e atividades das sociedades corretoras membros
das Bolsas e dos corretores de câmbio”. Diz o § 1.0: “A partir de um ano, a contar da vigência desta Lei,
prorrogável no máximo, por mais três meses, a critério do Conselho Monetário Nacional, será facultativa a
intervenção de corretores nas operaçôe~ de câmbio e negociações das respectivas letras, quando realizadas fora
das Bolsas”. O § 22: “Para efeito da fixaçM do curso de câmbio, todas as operações serão obrigatôriamenti
comunicadas ao Banco Central”. E o § 8.0: “Aos atuais corretores inscritos nas Bolsas de Valores será permitido
o exercício simultâneo da profissão de corretor de câmbio com a de membro da sociedade corretora ou e titular de
firma individual organizada de acôrdo com o § 6.0 do art. 82 desta Lei”. E o § 4.0: “O Conselho Monetário
Nacional fixará o prazo de até um ano prorrogável, a seu critério por mais um ano, para que as Bolsas de Valores
existentes e os atuais corretores de fundos públicos se adaptem aos dispositivos desta lei”. Ainda o § 52: “A
facultatividade a que se refere o § 12 dêste artigo entrará em vigor na data da vigência desta Lei, para as
transações de compra ou venda de câmbio por parte da União, dos Estados, dos Municípios, das sociedades de
economia mista, das autarquias e das entidades paraestatais excetuadas as operações de câmbio dos bancos
oficiais com pessoas físicas ou jurídicas não estatais”. E o § 62: “O Banco Central é autorizado, durante o prazo
de dois anos, a contar da vigência desta Lei, a prestar assistência financeira às Bolsas de Valores, quando, a seu
critério, se fizer necessário para que se adaptem aos dispositivos desta lei”. E o art. 10:
“Compete ao Conselho Monetário Nacional fixar as normas gerais a serem observadas no exercício das
atividades de subscrição para revenda, distribuição, ou intermediação na colocação, no mercado, de títulos ou
valores mobiliários, e relativos a: 1, capital mínimo das sociedades que tenham por objeto a subscrição para
revenda e a distribuição de títulos no mercado; II, condições de registro das sociedades ou firmas individuais que
tenham por objeto atividades de intermediação na distribuição de títulos no mercado; III, condições de
idoneidade, capacidade financeira e habilitação técnica a que deverão satisfazer os administradores ou
responsaveis pelas sociedades ou firmas individuais referidas nos incisos anteriores; IV, procedimento
administrativo de autorização para funcionar nas sociedades referidas no inciso 1 e do registro das sociedades e
firmas individuais referidas no inciso II; V, espécies de operações das sociedades referidas nos incisos anteriores;
normas, métodos e práticas a serem observados nessas operações; VI, comissões, ágios, descontos ou quaisquer
outros custos cobrados pelas sociedades ou empresas referidas nos incisos anteriores; VII, normas destinadas a
evitar manipulações de preço e operações fraudulentas; VIII, registro das operações a serem mantídas pelas
sociedades e empresas referidas nos incisos anteriores, e dados estatistícos a serem apurados e fornecidos no
Banco Central; IX, condições de pagamento a prazo dos títulos negociados”.
Na Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, art. 52, III, alude-se a “sociedades ou empresas que tenham por objeto a
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subscrição de títulos para revenda, ou sua distribuição no mercado”. Tais empresas, societárias ou não, precisam
da autorização para funcionar, conforme os arts. 52 e 12. Na Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de 1953, art. 1.0, §
1.0, estava explícito: “Nas emissões por subscrição pública interferirá sempre o corretor oficial de valores, sob
pena de nulidade de pleno direito”. No § 32, acrescenta-se que podem ser credenciados “agentes de corretores
oficiais e de entidades para a colocação de emissões de títulos”. As operações que se permitem às empresas a que
se refere o art. 52, III, da Lei n. 4.728, são operações fora da Bolsa . Podem elas subscrever ações, debêntures ou
outros títulos, para lançá-los, por sua conta, no mercado. Podem, também, ser encarregadas do lançamento
originário, ou da distribuição de bonificações, ou da tomada por opção pelos acionistas, em caso de aumento de
capital social, ou emissão de novos títulos de crédito.
No art. 92, § 2.0, da Lei n. 4.728 diz-se que todas as operações que possam influir na fixação do câmbio têm de ser
comunicadas ao Banco Central. A obrigatoriedade está explícita no texto.
Quanto à participação dos corretores em sociedade corretora, o art. 90, § 32, estatui que aos atuais corretores
inscritos nas Bolsas de Valores se permite o exercício simultâneo da profissão de corretor e o exercício que lhe
incumba como membro de sociedade corretora e de empresa intermediária de negociações na Bolsa de Valores,
“sob a forma de firma individual”, ou com uma delas (art. 82, § 6.0).
As~ empresas, pessoas jurídicas ou pessoas físicas, a que se refere o ad. 10, II. da Lei n. 4.728, não operam como
corretores. A atividade é de intermediação, o que não exclui o trato com os corretores, ou sociedades corretoras,
que, nos casos, mantêm a sua função específica.
O Estado tem de organizar as feiras, os mercados público a e as bolsas . Tem de fiscalizá-los. Bolsa é mercado
público, porém mais fechado, mais restrito. A própria Bolsa de Mercadorias é inconfundível com o mercado
público, porque a esse falta a figura do corretor, além da localização mais estreita (H. GÕPPERT, Das Recht der
Rórse, 32 s. e 54 s.).
Tem-se distinguido da bolsa pública a bolsa particular; mas, se precisamos o sentido de bolsa de valores e de
bolsa de mercadorias, a bolsa particular é proibida. Houve interesse público na limitação à liberdade de operar.
2. CONTRATOS DE BOLSA. Os negócios jurídicos de bolsa são bilaterais, são contratos. A tecnicização fê-los
mais eficientes e mais fâcilmente fiscalizáveis. Por outro lado, há a seleção dos objetos com que se opera; donde
a relevância da admissão dos títulos e das mercadorias à cotação na bolsa. Acontece, porém, que há contratos de
bolsa que podem ser feitos fora da bolsa, como a venda de título cotado na bolsa com vencimento em dia que não
seja o da liquidação de bOlsa, ou o contrato de reporte sem que o dia do vencimento seja dia de liquidação em
bolsa (cf. GARRONE, Le Borse ualori, 188). Por outro lado, contratos que têm por objeto títulos de crédito
podem ser contratos de bOlsa ou contratos de banco (ACQUAFREDDÁ, 1 Riporto nei mercati monetario e
finanzia.rio, 78 s.; GwmsÃÃ, Teenica di Borga, 79 s.). Nas espécies, evidentemente os contratos têm o mesmo
conteúdo e, sem se descer aos motivos, o elemento subjetivo intercalar é que há em alguns, e não há nos outros
(DE NAmto, 1 Contratti di borsa e di bane/te, 84 s.; NICOLõ CAMPAGNA, 1 Riporto in borsa e fuori borga, 16
s.). Tem-se de atender a que a especificação foi mais quanto ao instrumento, para se dar melhor organização aos
serviços, sem os fazer de direito público. Quando o tabelião lavra escritura, esse “funcionário jurídico” não
publiciza os negócios jurídicos. O mesmo ocorre com os corretores, que não são funcionários públicos.
Os negócios jurídicos da bOlsa, feitos na bolsa, têm regramento mais pormenorizado, porque a organização
bolsística reflete a tipicidade publicística dos órgãos do Estado descendo até ela. Um dos elementos
característicos é corporativo, porém, através dos tempos, é de relêvo o elemento dos usos de bolsa .
Os usos de bolsa são o que se costuma ou se usa fazer. Não são usos no sentido de direito consuctudínário
(Código de Processo Civil, ad. 212). São aquêles a que se referem os arts. 259-262 do Código de Processo Civil.
A prova dêles faz--se por certidão das repartições ou institutos incumbidos do registro (art. 260). Assim também
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é nas bolsas dos Estados Unidos da América (cf. WILLISToN, On Contracts, s., 649 5.; j. E. DOS PASSOS, A
Treatise ou the Law ol Stockbrokers and Stock Ezchanges, ~, 2.~ ed., 410; MEYER, The Law of Stockbrokers
and Stock Exchanges, 152 s.1p. Se algum acórdão, principalmente do Supremo Tribunal Federal, alude ao uso da
Bolsa como assente, reforça-se o uso, mas isso não basta para o tornar regra juridica.
Se o cliente quer a operação, o que se há de entender é que quis o que é de uso nos atos dos corretores. O
afastamento do uso por manifestação de vontade do cliente não viola lei. As discussões que aparecem no sistema
jurídico dos Estados Unidos da América não podem ser importados pelo direito brasileiro. E. g., para o sistema
jurídico brasileiro, regra jurídica somente pode ser derrogada por uso, se esse uso é direito consuetudinário, e não
o uso no sentido dos arts. 259-262 do Código de Processo Civil.
Há presunção de que o cliente conhecia o uso bolsistico:
devia, por ser de ordinária diligência, conhecer o que se usou quanto à operação que deseja (Harris versus
Turnbridge, 83 N. Y. 92, 1880). A prova de que o ignorava, sem que devesse conhecê-lo, afasta a invocabilidade
do uso (Irwin versus Williar, 110 U. 5. 499, 1884).
Os usos da bOlsa têm extensão federal, ou estadual, ou de cidade. Atende-se à matéria, se há diversidade entre os
usos do mesmo lugar e não houve qualquer cláusula contratual em sentido contrário.
Os regulamentos da bOlsa costumam inserir a cláusula de variabilidade das partidas da mercadoria contratada,
com a correspondente variação do preço (deliverable grades), para que se evite a monopolização.
Lê-se no art. 51 do Decreto-lei n. 1.344: “As Câmaras Sindicais, para admitirem títulos a negociação e cotação
das respectivas Bolsas, além dos documentos já apresentados pelos interessados, poderão pedir maiores
esclarecimentos técnicos e jurídicos”. Os esclarecimentos, que forem exigidos, hão de
ser pertinentes, para que possa haver o fundamento do despacho de admissão ou de não-admissão. Se
desrazoáveis e injustificáveis, permitem-se os recursos e ações que caibam e a invocação do art. 141, § 49, da
Constituição de 1946.
CAPÍTULO II
OPERAÇÕES BOLSISTICAS
1. CONTEÚDO. As operações bolsísticas de valores são todas as operações em que se compra ou se vende, ou
outro negócio jurídico, permitido em bolsa, se conclui, se o objeto a que se referem é dinheiro, ou são títulos ou
valores equiparáveis a títulos. Diz-se portanto Bolsa. de Valores a bolsa em que as operações não são sobre
produtos, mercadorias senso estrito, razão por que havemos de entender que “valores” está, aí, em senso estrito.
Bolsa, em sentido material, é a bOlsa que opera com negócios jurídicos bolsísticos. Daí haver as bOlsas que o
Estado cria (ou autoriza) e as bolsas privadas, que são proibidas.
Bolsa, em sentido formal, é a que tem status de bólsa, com ou sem a função de concluir negócios jurídicos
bolsísticos.
De qualquer modo, as bolsas não são sujeitos de direito, não têm personalidade jurídica.
Lê-se na Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, art. 19:“Os mercados financeiro e de capitais serão discip»nados
pelo Conselho Monetário Nacional e fiscalizados pelo Banco Central da República do Brasil.” No art. 2.0: “O
Conselho Monetário Nacional e o Banco Central exercerão as suas atribuições legais relativas aos mercados
financeiro e de capitais com a finalidade de: 1, facilitar o acesso do público a informações sObre os títulos ou
valOres mobiliários distribuídos no mercado e sobre as sociedades que os emitirem: II, proteger os investidores
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contra emissões ilegais ou fraudulentas de títulos ou valores mobiliários; 1H, evitar modalidades de fraude e
manipulação destinadas a criar condições artificiais da demanda, oferta ou preço de títulos ou valores mobiliários
distribuídos no mercado; IV, assegurar a observância de práticas comerciais equitativas por todos aquêles que
exerçam, profissionalmente, funções de intermediação na distribuição ou negociação de títulos ou valores
mobiliários; VI, regular o exercício da atividade corretora de títulos mobiliários e de câmbio”.
Ainda a Lei n. 4.728, ari. 32: “Compete ao Banco Central: 1, autorizar a constituição e fiscalizar o funcionamento
das Bolsas de Valores; II, autorizar o funcionamento e fiscalizar as operações das sociedades corretoras membros
das Bôl823 de Valores (arts. 8.0 e 99) e das sociedades de investimento; III, autorizar o funcionamento e
fiscalizar as operações das instituições financeiras, sociedades ou firmas individuais que tenham por objeto a
subscrição para revenda e a distribuição de títulos ou valores mobiliários; IV, manter registro e fiscalizar as
operaç5es das sociedades e firmas individuais que exerçam as atividades de intermediação na distribuição de
títulos ou valores mobiliários, ou que efetuem, com qualquer propósito, a captação de poupança popular no
mercado de capitais; V, registar títulos e valores mobiliários para efeito de sua negociação na Bolsa de Valores;
VII, registar as emissões de títulos ou valores mobiliários a serem distribuídos no mercado de capitais; VII,
fiscalizar a observância, pelas sociedades emissoras de títulos ou valores mobiliários negociados na bolsa, das
disposições legais e regulamentares relativas a: a) publicidade da situação econômica e financeira da sociedade,
sua administração e aplicação dos seus resultados; b) proteção dos interesses dos portadores de títulos e valores
mobiliários distribuídos nos mercados financeiro e de capitais; VIII, fiscalizar a observância das normas legais e
regulamentares relativas à emissão, ao lançamento, à subscrição e à distribuição de títulos ou valores mobiliários
colocados no mercado de capitais; lIS, manter e divulgar as estatísticas relativas ao mercado de capitais, em
coordenação com o sistema estatístico nacional; X, fiscalizar a utilização de informações não divulgadas ao
público em beneficio próprio ou de terceiros, por acionistas ou pessoas que, por fôrça de cargos que exerçam, a
elas tenham acesso.” No art. 49: “No exercício de suas atribui-
ções, o Banco Central poderá examinar os livros e documentos das instituições financeiras, sociedades, empresas
e pessoas referidas no artigo anterior, as quais serão obrigadas a prestar as informações e os esclarecimentos
solicitados pelo Banco Central.” No § 1.0: “Nenhuma sanção será imposta pelo Banco Central, sem antes ter
assinado prazo, não inferior a trinta dias, ao interessado, para se manifestar, ressalvado o disposto no § 39 do art.
16 desta Lei.” No § 29: “Quando, no exercício das suas atribuições, o Banco Central tomar conhecimento de
crime definido em lei como de ação pública, oficiará ao Ministério Público para a instalação (!) de inquérito
policial.” E no § 3.0: “Os pedidos de registro submetidos ao Banco Central, nos térmos dos arts. 19 e 20 desta Lei,
consideram-Se deferidos dentro de trinta dias da sua apresentação, se nesse prazo não forem indeferidos.” No §
49: “A fluência do prazo referido no parágrafo anterior poderá ser interrompida uma única vez, se o Banco
Central pedir informações ou documentos suplementares, em cumprimento das normas legais ou regulamentares
em vigor.” E o § 50: “Ressalvado o disposto nro. 89, o Conselho Monetário Nacional fixará os prazos em que o
Banco Central deverá processar os pedidos de autorização, registro ou aprovação previstos nesta Lei.” E o § 69:
“O Banco Central fará aplicar aos infratores do disposto na presente lei as penalidades previstas no capitulo V da
Lei n. 4.595, de 81 de dezembro de 1964.”
Tem de ser elaborado quadro dos títulos cotáveis na bolsa. Não seria praticável o exame imediato. A cotabilidade
depende do que se sabe sobre a empresa e a satisfação dos pressupostos. Se falta algum dêles, não se há de admitir
operação sobre o que se não considera apto à cotação. Cf. Decreto n. 2.475, de 13 de março de 1897, art. 89, onde
se põe o principio da responsabilidade do permitente, que era, então, a Câmara Sindical, e não importa, para a
invocabilidade do artigo 89, 2.~ alínea, qual o corpo a que presentemente incumba:
..... responderá, civilmente, pelos prejuízos resultantes da admissão à cotação de títulos, debêntures
irregularmente emitidas e ações de associações ilegalmente constituídas, ou que não tenham realizado o capital
exigido na lei reguladora do anonimato, para que as suas ações sejam negociáveis, e de sociedade sem existência
real e atividade efetiva, e organizadas no intuito exclusiVo de tentar a negociação de títulos e a exploração de
operações sobre os mesmos”. Hoje, a Lei n. 4.728, art. 3~O, ¾ diz que compete ao Banco Central “registar títulos
e valores mobiliários para efeito de sua negociação lia Bolsa de Valores”.
Se o registro, a autorização ou aprovação, cujo pedido foi feito ao Banco Central, sem que esse o despachasse
dentro do prazo, resultou de expiração, não fica isento de responsabilidade civil o seu Presidente e os demais
dirigentes pelos danos que advierem da inidoneidade. Também em caso de deficiência ou falta de fiscalização há
a responsabilidade civil.
Diz a Lei n. 4.728, art. 19: “Somente poderão ser negociados nas Bolsas de Valores os títulos ou valores
mobiliários de emissão: 1 de pessoas jurídicas de direito público; II de pessoas jurídicas de direito privado
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registadas no Banco Central”. E o § 19: “O disposto neste artigo não se aplica aos títulos cambiais colocados no
mercado de acôrdo com o artigo 17”. E o § 29: “Para as sociedades que já tenham requerido a cotação de suas
ações nas Bolsas de Valores, o disposto neste artigo entrará em vigor a partir de 19 de janeiro de 1966, quando
ficará revogado o Decreto-lei n. 9.788, de 6 de setembro de 1946”.
O art. 17 da Lei n. 4.728 exige a coobrigação de empresas financeiras nos títulos cambiários lançados no
mercado, salvo se há permissão do Conselho Monetário Nacional, “em caráter geral e de modo a assegurar
garantia adequada aos que adquirirem”.
O Decreto-lei n. 9.788, de 6 de setembro de 1946, art. 1.0, dizia que as sociedades por ações, com sede no Brasil,
ficariam obrigadas, antes de entrar em funcionamento, a requerer à Bolsa de Valores mais próxima de sua sede a
cotação de suas ações e obrigações ao portador (debêntures). No parágrafo único, acrescentava-se que as
sociedades já organizadas tinham o prazo de noventa dias, contados da publicação do decreto-lei, para isso.
A respeito dos valores mobiliários das empresas de direito privado é indispensável o registro. Diz a Lei n. 4.728,
artigo 20: “Compete ao Conselho Monetário Nacional expedir normas gerais sobre o registro referido no inciso II
do artigo anterior, e relativas a: 1 informações e documentos a serein apresentados para obtenção do registro
inicial; II informações e documentos a serem apresentados periodicamente para a manutenção do registro; III
casos em que o Banco Central poderá recusar, suspender ou cancelar o registro”. Acrescenta o § 1.0: “Caberá
ainda ao Conselho Monetário Nacional expedir normas a serem observadas pelas pessoas jurídicas referidas neste
artigo, e relativas a: a) natureza, detalhe, periodicidade da publicação de informações sobre a situação econômica
e financeira da pessoa jurídica, suas operaç5es, administração e acionistas que controlam a maioria do seu capital
votante; b) organização do balanço e das demonstrações de resultado, padrões de organização contábil, relatorios
e pareceres de auditores independentes registados no Banco Central; e) manutenção de mandatários para a prática
dos atos relativos ao registro de ações e obrigações nominativas, ou nominativas endossáveis”. E o § 29: “As
normas referidas neste artigo não poderão ser aprovadas antes de decorridos trinta dias de sua publicação para
receber sugestões”. Lê-se na Lei n. 4.728, art. 21: “Nenhuma emissão de títulos ou valores mobiliários poderá ser
lançada, oferecida pública-mente, ou ter iniciada a sua distribuição no mercado, sem estar registada no Banco
Central”. Acrescenta o § 1.0: “Caberi ao Conselho Monetário Nacional estabelecer normas gerais relativas às
informações que deverão ser prestadas no pedido de registro previsto neste artigo em matéria de: a) pessoa
jurídica emitente ou coobrigada, sua situação econômica e financeira, administração e acionistas que controlam a
maioria de seu capital votante; b) características e condições dos títulos ou valores mobiliários a serem
distribuídos; e) pessoas que participarão da distribuição”. E o § 29: “O pedido de registro será acompanhado dos
prospectos e quaisquer outros documentos a serem publicados, ou distribuídos, para oferta, anúncio ou promoção
de lançamento da emissão”. E o „~
“o Banco Central poderá suspender ou proibir a distribuição de títulos ou valores: a) cuja oferta, lançamento,
promoção ou anúncio esteja sendo feito em condições diversas das constantes do registro da emissão, ou com a
divulgação de informações falsas ou manifestamente tendenciosas ou imprecisas; b) cuja emissão tenha sido
julgada ilegal ou fraudulenta, ainda que em data posterior ao respectivo registro”. E o § 49: “O disposto neste
artigo não se aplica aos títulos cambiais colocados no mercado com a coobrigação de instituições financeiras”. As
empresas vincularam-se.
2.OBJETO. Os contratos de bolsa têm por objeto valores, moeda estrangeira e mercadorias. Muitos contratos de
bolsa são sobre valores a que correspondem moeda estrangeira ou mercadorias. O pressuposto da fungibilidade é
necessário. Fala-se de bens móveis. Mas, de jure condendo, não se justificaria que se excluissem os títulos
incorporativos de direitos sobre imóveis, de modo que se dêem a exame os direitos incorporados. Ainda assim, se
a operação é de reporte ou de deporte, pode ser feita a individuação do título para efeitos de prêmios, bonificações
por sorteio e outros direitos acessórios.
Quanto aos titulos acessórios, como os cupões de juros ou de dividendos, sendo separáveis, nio criam problemas.
A operação bolsística ou os compreende, ou não os compreende.
Para que o contrato de bolsa seja feito dentro da balaustrada, no flúor da bolsa, seja fora deixe de ser considerado
contrato de bolsa, é preciso que expressamente se haja preestabelecido não ser contrato de bolsa. Na Constitution
of the New York Stock Exchange, art. XII, seção 1, está explícito: “AlI contracts of a member of the Exchange or
of a member firm or a member corporation with any member firm or any member corporation for the purchase,
sale, borrowing, loaning or hypothecation of securities, or for the borrowing Ioaning or payment of money,
whether occurring on the Floor of the Exchange or elsewhere, shall be Exebange Contracts, unless made subject
to the rales of another Exchange, or unless the parties thereto have expressly agreed that the same shall not be
Exchange Contracte”.
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O contrato de bOlsa tem de observar as regras jurídicas legais ou regulamentares e o que se haja tornado uso da
bOlsa.
A oferta e a aceitação, el fere, são elementos indispensáveis, porque se trata de negócios jurídicos bilaterais, quer
sejam em sessão da bolsa, quer fora (Decreto-lei n. 1.344, de 18 de junho de 1939, arts. 35-89; Decreto n. 2.475,
de 13 de março de 1897, arts. 76 e 77; Decreto n. 20.881, de 30 de dezembro de 1931, arte. 31 e 82).
A vinculação é conforme os princípios gerais de direito aceita a oferta, concluído está o contrato. Se não se disse,
precisamente, quantos os valores ou as mercadorias compradas, entende-se que foi do menor número que podia
ser. A cláusula tudo ou nada (alI or none) implica que a aceitação foi do todo.
Se o corretor tem o que vender e também tem de comprar, trate-se de valor ou de mercadoria, primeiro há de
oferecer titulo a preço superior àquele da oferta de compra. Só assim pode concluir o contrato alheio consigo
mesmo.
A aprovação de operação que se ultimou, acima ou abaixo do que se desejava, implica modificação do que
originàriamente se disse e, pois, aceitação.
O cliente que desaprova, no todo ou em parte, deve fazê-lo no dia seguinte àquele em que recebeu a comunicação.
Não basta que remeta de volta a comunicação válida, porque tem de pormenorizar os pontos falhos ou divergentes
do encargo.
Nas operações a prazo, tem o corretor direito de exigir do figurante futuro a garantia de reforço , para eventuais
alterações da taxa do câmbio, para se pôr a salvo de possível impontualidade ou insolvibilidade do futuro
figurante (Decreto n. 2.475, arts. 99 e 100).
As liquidações de cambiais ou de moedas metálicas têm de ser pela entrega efetiva das letras de câmbio ou das
moedas. São proibidas as liquidações por diferença e a entrega por antecipação de prazo (Decreto n. 2.475, arts.
94, 108 e 111). O corretor é responsável pela celebração perfeita do contrato (Regimento Interno da Bolsa de
Valores, art. 242). Visados ou confirmados os contratos, o corretor somente se responsabiliza pela identidade dos
figurantes, autenticidade das firmas, formalidades legais e registro da cotação (art. 243). A falta de liquidação da
operação, na data do vencimento, ou no termo da prorrogação, permite o protesto como medida para a prestação
de perdas e danos (Decreto n. 2.475, ad. 98). Se a operação cambial não foi liquidada no prazo do contrato, os
figurantes têm de notificar, por escrito, o corretor, com a menção do número do contrato, do saldo e do prazo da
prorrogação (Regimento Interno da BOlsa de Valores, art. 245).
As operações de cambiais podem ser feitas em documento, devidamente selado, que contenha promessa de
entrega das letras, dentro de determinado prazo (Decreto n. 2.475, artigo 118). As operações a prazo sobre letras
de câmbio somente podem ser objeto de cotação, ou. ter eficácia em juízo, se podem ser provadas por certidão
extraida de livro do corretor com as exigências do art. 49 do Código Comercial e do art. 54 do Decreto n. 2.475
(Regimento Interno da Bolsa de Valores, art. 232).
As negociações de espécies metálicas provam-se por certidão extraída do livro do corretor, com a indicação da
quantidade, da natureza e do prazo (Decreto n. 2.475, art. 121).
As ações das empresas de capital aberto têm de ser cotadas na Bolsa de Valores. Diz a Lei n. 4.728, art. 59:
“Caberá ao Conselho Monetário Nacional fixar periodicamente as condições em que, para efeitos legais, a
sociedade anônima é considerada de capital aberto”. Acrescenta o § 1.0: “A deliberação do Conselho Monetário
Nacional aumentando as exigências para a conceituação das sociedades de capital aberto somente entrará em
vigor no exercício financeiro que se inicie, no mínimo, seis meses depois da data em que fôr publicada a
deliberação”. E o § 29: “Para efeito do cálculo da percentagem mínima do capital com direito a voto, representado
por ações efetivamente cotadas nas Bolsas de Valores, o Conselho Monetário Nacional levará em conta a
participação acionária da União, dos Estados, dos Municípios, das autarquias, bem como das instituições de
educação e de assistência social, das fundações e das ordens religiosas de qualquer culto”.
As letras imobiliárias , de que cogita a Lei n. 4.728, são títulos mobiliários. Lê-se na Lei n. 4.728, art. 65: “Por
proposta do Banco Nacional de Habitação, o Conselho Monetário Nacional poderá autorizar a emissão de Letras
Imobiliárias com prazo superior a um ano”. Acrescenta o parágrafo único: “O Banco Nacional de Habitação
deverá regulamentar, adaptando-as ao disposto nesta Lei, as condições e características das Letras Imobiliárias
previstas no art. 44 da Lei número 4.880, de 21 de agOsto de 1964”.
O art. 44 da Lei n. 4.380 estabelece: “O Banco Nacional da Habitação e as sociedades de crédito imobiliário
poderão colocar no mercado de capitais “letras imobiliárias” de sua emissão”. O § 1.0: “A letra imobiliária é
promessa de pagamento e quando emitida, pelo Banco Nacional da Habitação serão garantida pela União
Federal”. No § 2.0 acrescenta-se: “As letras imobiliárias emitidas por sociedades de crédito imobiliário terão
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preferência sobre os bens do ativo da sociadade emitente em relação a quaisquer outros créditos contra a
sociedade, inclusive de natureza fiscal ou parafiscal”. No § 3.0:
“Às Sociedades de Crédito Imobiliário é vedado emitir debéntures ou obrigações ao portador, salvo letras
imobiliárias”. No § 4.0: “As letras imobiliárias emitidas por sociedades de crédito imobiliário poderão ser
garantidas com a coobrigação de outras empresas privadas”.
Preliminarmente, é de frisar-se que não se trata de letra, de carta, que se remeta a alguém, que aceite e assim se
vincule. Nenhum ato de saque se lhe pode apontar. O termo é de impropriedade gritante. Em segundo lugar, não
há, no suporte fáctico, qualquer elemento de bem imóvel, porque só a atividade da empresa é que consiste em
negócios jurídicos em que a res é bem imóvel.
Tais letras imobiliárias são, conforme o art. 51 da Lei n. 4.380, cotáveis na Bolsa de Valores. Isso não significa
que não precisem da admissão à cotação. Tem de ser examinada a observância das leis.
As letras imobiliárias são títulos de crédito, a despeito da denominação que se lhes deu. Há elipse, porque se
chamou letras imobiliária às cédulas, às notas promissórias, que o Banco Nacional da Habitação ou a sociedade
de crédito imobiliário emite (não saca!), sem qualquer incorporação ou representação de bem imóvel, ou parte
dêle. A impropriedade da linguagem é lamentável, porque se faz pensar em letras de câmbio (saque) e em bem ou
garantia de bem imóvel. ~No entanto, há, apenas, promessa unilateral de pagamento (Lei número 4.380, art. 44, §
1.~), e privilégio (dito, na lei, “preferência”, cf. Tomo XXVII, §§ 3.235, 1, e 2.236, 1, 2). Trata-se de prelação,
que há de ocorrer entre créditos, e nada tem com os direitos reais, inclusive de garantia. Nos concursos de
credores, as letras imobiliárias são créditos, que passam à frente dos outros créditos, porém não à frente dos
direitos reais de garantia. Os direitos reais, a favor de terceiros, não são computáveis no ativo da sociedade
emitente ou do Banco Nacional da Habitação, que os outorgou.
O depósito para uso começou na Inglaterra no fim do século XVII. A sua estrutura precisou-se na organização
bancária e nos propósitos da circulação do dinheiro (cf. ADOLPH WACNER, fie Geláind Kreditheorie der
Peelseken Bankaktc, 215). ~ inconfundível com qualquer título de crédito que a empresa emita. A chamada letra
imobiliária, por exemplo, não é cártula de depósito, pôsto que o dinheiro prestado possa ter aplicações que o
depósito bancário teria ou poderia ter. O depósito supõe a retirada pelo depositante, conforme es princípios, e o
uso do dinheiro a líbito do banco (cf. NEUMANN-HOFER, Depositengeschãf te ind Depositertbanken, 12)
No art. 44, § 39, a Lei n. 4.880 proibiu às sociedades de crédito imobiliário emissão de debêntures (sejam ao
portador, ou, hoje, sejam endossáveis). Assim, afasta-se compreensivamente que se tivesse de pôr à frente das
letras imobiliárias as debêntures. A redação do art. 44, má, porque não se justifica a inserção de “salvo”, uma vez
que letras imobiliárias não são debéntures.
As letras imobiliárias podem ter avales de outras empresas privadas, sejam imobiliárias ou não no sejam. A
coobrigação é por aval, que pode constar do título impresso, ou ser posterior à emissão.
As letras imobiliárias são títulos cambiariformes.
No art. 45 da Lei n. 4.880 fala-se dos pressupostos ao certificado ou titulo (digamos “título”) : “O certificado ou
titulo de letra imobiliária deve conter as seguintes declarações lançadas no seu contexto: a) a denominação “letra
imobiliária” e a referência à presente lei; b) a denominação do emitente, sua sede, capital e reserva, total dos
recursos de terceiros e de aplicações; c) o valor nominal por referência à Unidade Padrão de Capital do Banco
Nacional da Habitação (art. 52) ; á) a data do vencimento, a taxa de juros e a época do seu pagamento; e) o número
de ordem bem como o livro, fôlha e número da inscrição no Livro de Registro do emitente; f) a assinatura do
próprio punho do representante ou representantes legais do emitente; g) o nome da pessoa a quem
-deverá ser paga no caso de letra nominativa”.
As letras imobiliárias podem ser nominativas ou ao portador. Aquelas podem ser endossadas. No caso de perda
ou destruição (“perda ou extravio”, diz a Lei n. 4.880, art. 50> da cédula nominativa, quer endossada, quer não, ao
tomador ou endossatário cabe requerer expedição de outra via, que lhe há de ser entregue mediante termo de
recibo, subscrito por duas testemunhas idôneas. Compreende-se que assim seja se e‟ nome do endossatário
constava do título e se o requerente da outra via alega e prova a sucessão de endossos. O endosso somente pode
ser em prêto (art. 47, b) : “no próprio título”, o que é pleonasmo, porque não há endosso fora do título:
“datado e assinado pelo endossante”.
Diz a Lei n. 4.880, art. 46: “O Banco Nacional da habitação e as sociedades de crédito imobiliário manterão
obrigatôriamente um “Livro de Registro de Letras Imobiliárias Nominativas” no qual serão inscritas as Letras
nominativas e averbadas as transferências e constituições de direitos sobre as mesmas”. Acrescenta o seu
parágrafo único: “O Livro de Registro de Letras Imobiliárias nominativas das sociedades de crédito imobiliário
será autenticado no Banco Nacional da Habitação e o seu modêlo e escrituração obedecerão às normas fixadas
-w
pelo mesmo Banco”. As providências registárias são as que a técnica legislativa tem fixado; e o registro dos
endossos, que são em prêto, e das transmissões em virtude de sucessão a causa de morte, ou de execução forçada,
ou outra causa não endossativa, tinha de ser exigido. Ainda se fala, no art. 46, dos direitos sObre as letras
imobiliárias, como é o caso do usufruto, do negócio jurídico lombardo, do penhor, ou da transferência da
propriedade fiduciária, em segurança (aí, transferência da propriedade mobiliária, fiduciária, em segurança, a
despeito da infeliz expressão “letras imobiliárias”).
Diz a Lei n. 4.380, art. 47: “As Letras Imobiliárias poderão ser ao portador ou nominativas, transferindo-se as
primeiras por simples tradição, e as nominativas: a) pela averbação do nome do adquirente no Livro de Registro e
no próprio certificado efetuada pelo emitente ou pela emissão de novo certificado em nome do adquirente,
inscrito no Livro de Registro; b) mediante endosso em prêto no próprio título, datado e assinado pelo
endossante”. Está no § 19: “Aquêle que pedfr a averbação da letra em favor de terceiro ou a emissão de nôvo
certificado em nome desse deverá provar perante o emitente sua identidade e o poder de dispor da letra”. Diz o §
29:
“O adquirente que pedir a averbação da transferência ou a emissão de nôvo certificado deve apresentar ao
emitente da letra o instrumento da aquisição, que será por êste arquivado”. E o § 8.0: “A transferência mediante
endosso não terá eficácia perante o emitente enquanto não fôr feita a averbação no Livro de Registro e no próprio
título mas o endossatário que demonstrar ser possuidor do titulo com base em série-contínua de endossos, tem
direito a obter a averbação da transferência, ou a emissão de nôvo título, em nome ou no nome que indicar”.
Bastaria dizer que as cédulas seriam ao portador, ou nominativas endossáveis em prêto. As nominativas constam
do Livro de Registro e contêm, como resulta do conceito, o nome dc tomador. Os endossos hão de ser em prêto.
Na Lei n. 4.880, art. 47, os erros de terminologia são lamentáveis: os títulos nominativos, que se emitem, são
inscritos; os endossos, averbados. Trocou os termos. As atribuições de direito são inscritas (ou transcritas, como
ocorre com a aquisição da propriedade imobiliária) ; as averbações são incidentais e sup6em que algo esteja
transcrito ou inscrito, para que se aponha ao lado do verbum, do escrito, o que sobrevenha e tenha de ser registado.
Averbação, averbamento, é “nota ou declaração que se põe àmargem de um título ou de um registro” (F. 3.
CALDAS AULETE, Diciondrio contemporáneo da Ungua Portuguêsa, J, 13 ed., 184). Aliás, nos §§ 1.0, 2.0 e
89 fala-se de “averbação”. O endosso não pode ser em branco, nem sem data; de modo que, feito em branco, não
há perfeição do ato e outra pessoa, em vez do endossante, não o pode encher. Dá-se o mesmo com a data. Em
consequência disso, a empresa tem de verificar se a letra é do endossante e de identificá-lo, porque o nome dêle e
a identidade já constam dos livros. O tomador e o endossatário, cujos atos aquisitivos constam do registro,
presumem-Se com poder de dispor, se não há elemento registário (e. g., menoridade, incapacidade por loucura, ou
por prodigalidade, ou ausência) que a pré-exclua.
No § 39 diz-se que a transferência mediante endosso é ineficaz, “perante o emitente”, enquanto não fôr feita a
averbação e no próprio título, mas logo após se reconhece a eficácia: “mas o endossatário que demonstrar ser
possuidor do título com base em série contínua de endossos, tem direito a obter a averbação da transferência”. A
contradição ressalta. O endossatário, com a apresentação do titulo que satisfaça os pressupostos legais, entende-se
ser titular do direito sobre o título, e o registro dá ao ato de endosso eficácia erga omnes. O que o endossante ou
alguém que se considere titular do direito, contra o endossatário, tem são as ações que tocam a qualquer titular de
direito cambiário ou cambiariforme, contra quem se diz titular, inclusive as ações de medida cautelar. Se, por
exemplo, o endossatário não adquiriu a posse (e. g., roubara ou furtara a cártula que o tomador ou o endossatário
titular endossara a alguém sem ter feito a tradição), falta o elemento integrativo da transmissão.
O que acima se disse quanto a endosso é invocável a propósito de emissão de nova cártula.
Sobre o assunto, Tomo XXXV, §§ 8.988-3.941, 4.007--4.009.
No § 29 do art. 47, a Lei n. 4.880 diz que a autenticidade do endosso não pode ser posta em dúvida se “atestada”
por algum corretor de fundos públicos (ou, acrescentemos, por órgão de sociedade corretora>, ou por algum
Cartório de Ofício de Notas (o Tabelião “reconhece firma”, não atesta, cf. § 5.415, 2, 8), ou “abonado” por Banco.
Quanto ao “abono” pelo Banco, a Lei n. 4.880, já de 21 de agôsto de 1964, não teve o fito, que seria injusto, de
pretender vincular bancos que conferiam, fâcticamente, firmas, e com isso chegar à finalidade de dissolver
empresas brasileiras ou estrangeiras, que eram de grande importância para o Brasil. tA que foi, no artigo 47, § 2.0,
que o legislador chamou “abono”?
Abono, abonação, senso próprio e estrito, é a fiança a fiador, inconfundível com a abonação que está nas
Ordenações Filipinas, Livro 11, Titulo 188, § 2. O abono pode ser, por exemplo, do fiador ou do fiador do fiador
(Tomo XLIV, §4.788, 7), ou da solvência do cônjuge (Tomo VIII, ~ 855). O abono de que se fala no art. 47, § 2.0,
é abono da solvência do emitente, e não reconhecimento de firma, ou certificado, ou atestado. Há a vinculação do
-w
banco.
Lê-se na Lei n. 4.380, art. 48: “Os direitos constituídos sobre as letras imobiliárias nominativas só produzem
efeitos perante o emitente depois de anotadas no Livro de Registro”. Acrescenta o seu parágrafo único: “As letras
poderão, entretanto, ser dadas em penhor ou mandato mediante endosso, com a expressa indicação da finalidade
e, a requerimento do credor pignoratício ou do titular da letra, o seu emitente averbará o penhor no Livro de
Registro”. Sobre o endosso-penhor, Tomos XXXV, § 8.970, 1; XXXVI, §§ 4.041, 1; 4.053, 8; XXXVII, 4.165, 3,
6. Sobre endosso-procura, Tomos XXXIV, § 3.800, 2, 3; XXXV, § 3.979; XXXVI, § 4.053, 9; XXXVII, § 4.165,
3.
A averbação não há de ser apenas do endosso-penhor. Uma vez que a Lei n. 4.380, art. 48, se refere aos dois
endossos, o que há de se entender é que houve omissão na redação da regra jurídica. Aliás, qualquer endosso, seja
endosso traslativo da titularidade, ou não no seja, está subordinado à exigência registária. O pressuposto eficacial
é geral, e não especial.
Estatui a Lei n. 4.380, art. 52: “A fim de manter a uniformidade do valor unitário em moeda corrente e das
condições de reajustamento das letras em circulação, tOdas as outras imobiliárias emitidas pelo Banco Nacional
da Habitação e pelas sociedades de crédito imobiliário terão valor nominal correspondente à Unidade Padrão de
Capital do referido Banco, permitida a emissão de títulos múltiplos dessa Unidade”. Diz o § 19: “A
Unidade-Padrão de Capital do Banco Nacional da Habitação corresponderá a dez mil cruzeiros, com o poder
aquisitivo do cruzeiro em fevereiro de 1964”. E o § 29: “O valor em cruzeiros corrente da Unidade-Padrão de
Capital será reajustado tôda vez que o salário-mínimo legal fOr alterado, com base no índice geral de preços
referidos no ad. 5O, § 1.0, desta lei”. E o § 89: “Os reajustamentos serão feitos sessenta dias depois da entrada
em vigor de cada alteração do salário--mínimo após a vigência desta lei, na proporção da variação de índice
referido no parágrafo anterior: a) desde fevereiro de 1964 até o mês de entrada em vigor da primeira alteração do
salário-mínimo após a data desta lei; b) entre os meses de duas alterações sucessivas do nível de salário-mínimo,
nos reajustamentos subseqúentes ao primeiro, após a vigência desta lei”. Está no § 4.0: “O valor nominal da letra
imobiliária, para efeitos de liquidação do seu principal e cálculo dos juros devidos, será o do valor reajustado da
Unidade-Padrão de Capital no momento do vencimento ou pagamento do principal ou juros, no caso do título
simples, ou esse valor multiplicado pelo número de Unidades-Padrão de Capital a que correspondem as letras no
caso de título múltiplo”. E o § 5.0: “Das letras imobiliárias devem constar, obrigatóriamente, as condições de
resgate quando seu vencimento ocorrer entre duas alterações sucessivas do valor de Unidade-Padrão de Capital as
quais poderão incluir correção monetária do saldo devedor, a partir da última alteração da Unidade-Padrão até a
data do resgate”.
Diz a Lei n. 4.880, ad. 58: “As letras imobiliárias vencerão o juro de, no máximo, oito por cento ao ano, e não
poderão ter prazo inferior a dois anos
8.TÍTULOS-GÊNEROS E TÍTULOS BENS DETERMINADOS. Diz o Decreto n. 2.475, art. 48: “As
negociações de Bolsa, que não tiverem por objeto letras de câmbio, não assentam senão sObre quantidades, sem
especificação dos números e mais característicos dos títulos”. Portanto, embora os títulos contenham elementos
infungibilizáveis, a operação bolsística trata-os como género. Nenhuma característica, inclusive o núma. ro,
consta dos escritos. Daí a relevância da tradição pelo corretor, conforme os princípios sObre posse.
Os títulos devem ter os cupões. Cinco dias antes da data inicial de pagamento têm de ser cortados ou despregados,
para que sejam cotados com a declaração ex (sem o dividendo, nem os juros).
Se os títulos não têm cupões, porque os interesses hão de ser recebidos mediante declaração de recebimento na
cártala (e. g., no certificado), ao corretor incumbe recebê-los na data que se fixou, ou cotá-los com a inclusão dos
interesses.
Acrescenta o Decreto n. 2.475, art. 54: “Nos assentos das negociações de letras de câmbio deverá o corretor
mencionar o vendedor, o comprador e a Praça sobre a qual fOr feito o saque, o prazo e as estipulações a êste
referentes, sem prejuízo das demais declarações exigidas no art. 49 do Código Comercial. Nas negociações de
títulos ao portador e à vista deverá declarar não somente a natureza do titulo, mas ainda a série e os números, se os
comitentes o exigirem”.
SObre as operações de câmbio, diz o Decreto n. 2.475, art. 118: “As operações de câmbio só poderão realizar-se
por meio de letras ou de documentos, com sêlo proporcional, contendo promessa de letras a entregar dentro do
prazo determinado”.
Segundo o Decreto n. 2.475, art. 120, as negociações sObre letras de câmbio não produzem efeito para o fim de
serem apuradas em Juízo, e serem objeto de cotação, se não puderem ser provadas por certidão extraida dos livros
-w
dos corretores e com menção das declarações a que se refere o art. 54. O ad. 54 exige, nos negócios jurídicos de
letras de câmbio, mencionar o corretor o nome do vendedor, o do comprador e a praça sobre a qual fôr feito o
saque, o prazo e as estipulações que ao prazo se refiram, sem prejuízo do que se estabelece no art. 49, alínea 1a, do
Código Comercial: “Nos assentos de negociações de letras de câmbio deverá o corretor notar as datas, termos e
vencimentos, as praças onde e sobre que foram sacadas, os nomes do sacador, endossadores e pagador, e as
estipulações relativas ao câmbio se algumas se fizerem (art. 885)”.
Ainda se lê no Decreto n. 2.475, art. 121: “As negociações de espécies metálicas provar-se-ão por meio de
certidões extraídas dos livros dos corretores que dêem indicação da quantidade, natureza e preço das espécies”.
Ainda no Decreto n. 2.465, art. 122: “Os estabelecimentos bancários, filiais ou agências, nacionais ou
estrangeiros, que negociarem em câmbio e moeda metálica são obrigados a remeter diAriamente ao síndico, em
notas autenticadas pelos gerentes ou diretores respectivos, a declaração das taxas a que tiverem operado e
quinzenalmente a totalidade das operaçóe?‟. No ad. 128, diz-se: “As operações realizadas pelos bancos e pelos
corretores servirão de elemento para a fixação do curso oficial do câmbio pela Câmara Sindical”.
O curso do câmbio tem de ser declarado. Mas essa declaração supõe algo de técnico, que colha o que se há de
considerar a taxa do câmbio.
A lista oficial dos preços de bOlsa, que se não refiram ao câmbio, também se firma em exame, cujo resultado se
declara.
A intervenção do Estado pode perturbar e disturbar a determinação das taxas, o que concorre, profundamente,
para a insecuridade econômica e financeira.
Diz o Decreto n. 2.475, art. 124: “A cotação à vista será fixada para as operações a 90 dias, com dedução de 1/4 de
penny, calculada sobre a taxa ao par”. A referência a “penny”, em português “pêni”, liga-se à data em que foi
lançado o decreto. Antes, já o Decreto n. 858, de 16 de dezembro de 1895, art. 14.
Se alguma lei estabelece o preço de venda e o preço de compra, oficialmente, sem que os vendedores de moeda
estrangeira possam operar com preço diferente, trata-se de intervenção do Estado na economia e nas finanças, o
que só se pode justificar se há texto de lei que o imponha.
4. OPERAÇÕES DE CÂMBIO. As operações de câmbio podem ser feitas pelos corretores, ou pelas sociedades
corretoras, fora da bolsa. Bem assim, com a autorização da repartição federal ou da instituição, que no momento
tenha tal função, as operações de compra-e-venda de metais preciosos, amoedados ou em barra (Decreto n. 2.475,
art. 76, parágrafo único). Fica sujeito a pena o corretor que, até a hora marcada para o encerramento da Bolsa,
deixa de exibir, para cotação, as notas das operações que tenha realizado, fora da BOlsa (art. 144). Tem de
remeter os contratos aos figurantes, antes da abertura da BOlsa, no dia seguinte ao da operação (Regimento
Interno da BOlsa de ValOres, art. 289).
A obrigação de remeter os contratos aos figurantes é ligada ao dever de prestar contas. Recebendo a comunicação,
o figurante, que há de examinar o que foi feito, ou aprova ou eventualmente tem de apontar os pontos em que o
corretor se afastou do que se queria que se fizesse. Apesar de ser‟ o escrito, a nota, o que mais freqUentemente se
envia, pode ter sido estabelecido que a comunicação seria telegráfica ou telefônica.
como acontece sempre que o encargo foi com a cláusula “resposta imediata”, ou a cláusula “com tOda a
urgência”.
A falta do sêlo ou a insuficiência do sêlo é causa de nulidade da operação, quer de cambiais quer de moeda
metálica (Decreto n. 2.475, art. 119), salvo lei especial isentiva.
Diz o Decreto n. 2.475, art. 119: “São declarados, nulos para todos os efeitos os contratos de cambiais ou moeda
metálica a prazo que não tenham o sêlo legal”.
Os atos dos corretores, em tais casos, são declarações de venda (bilís a? sale), para que a compensação se faça.
Tem razão J. R. DOS PÂssos (A Treatise ou the La‟w ol Stockbrokers and Stoclc Exchanges, 407) em frisar que,
para a compensação, quem fica em posição principal é o corretor.
1. BOLETIM. Lê-se no Decreto n. 2.475, art. 125: “A Câmara Sindical, além dos boletins diários do curso oficial
do câmbio, dos fundos públicos e das espécies metálicas, remeterá mensalmente ao Ministro da Fazenda um
quadro do movimento da BOlsa, com fixação da média dos cursos cotados”.
Diz o Decreto n. 2.475, art. 129: “À Câmara Sindical da Capital Federal serão enviados pelos presidentes das
juntas dos corretores de tOdas as praças comerciais da República
comunicações telegráficas das taxas cambiais do dia. A Câmara Sindical organizará com esses dados um boletim
central da cotação cambial da República no referido dia e com limites máximo e mínimo de cada Praça”.
O que nos interessa é a função declarativa, que subsiste ~às alterações de atribuições. O elemento contabilístico
prevalece, de modo que não se pode negar a declaratividade.
2.RESPONSABILIDADE PELOS ATOS DECLARATÓRIOS. Dada a eficácia jurídica das declarações feitas e
a sua finalidade, compreende-se a responsabilidade pela verdade do que se declara. Assim, está no Decreto n.
2.475, ad. 126: “A Câmara Sindical é responsável pela exatidão dos preços cotados no mercado de câmbio, no
das espécies metálicas e no de fundos públicos. A falta de exação na cotação acarreta para os membros da referida
Câmara a incursão no crime de falsidade”.
4.CÂMBIO OFICIAL. Está no Decreto n. 2.475, artigo 128: “A cotação oficial do câmbio determinará o curso
autêntico do mesmo, e será fixada de acôrdo com as instruções do regimento interno da Bolsa; dela será expedido
boletim
pela Câmara Sindical, o qual será registado no livro competente assinado pelo síndico e pelo secretário da mesma
Cámara e publicado no Diário Oficial”.
A intervenção arbitrária na fixação do preço da moeda estrangeira tornou-se um dos expediente do totalitarismo
de 1930 para cá, com pequenas interrupções, mas seriamente agravada de 1964 em diante.
6. SUBSCRIÇÃO PÚBlICAS. Diz o art. 12, § 1.0, da Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de 1953: “Nas emissões
por subscrição pública interferirá sempre o corretor oficial de valores, sob pena de nulidade de pleno direito”.
Estatui o art. 1.0, § 2.0, da Lei n. 2.146, de 29 de dezembro de 1958: “As compras e vendas de títulos particulares
a prestação serão reguladas, no que couber, pelas disposições do Decreto-lei de n. 3.545, de 22 de agOsto de
-w
1941‟t O Decreto-lei n. 3.545 refere-se a compra-e-venda de títulos da dívida pública da União, dos
Estados-membros e dos Municípios. Essa regra jurídica, como quaisquer outras que exsurjam, se prende a
operações em que a tomada ou aquisição dos títulos é a prestações.
Estatui-se no art. 1.0, § 89, da Lei n. 2.146: “Para a fiel observância do disposto neste artigo, as Câmaras Sindicais
das BOlsas de ValOres poderão credenciar agentes de corretores oficiais e de entidades para colocação de
emissões de títulos”.
Estatui o Decreto n. 2.475, art. 59: “A Câmara Sindical, sempre que instituir exame sObre qualquer ou todos os
livros do corretor, é obrigada, debaixo do segrêdo profissional, a guardar sigilo sObre os nomes dos comitentes de
tOdas as operações nêles escrituradas”. Se algum incumbente incorreu em crime, a Câmara Sindical não tem a
liberdade de divulgação: o que lhe cabe fazer é “representar” (criminalmente) contra a pessoa, salvo se o ato
ilícito é apreciável pela própria Câmara Sindical.
Com a legislação posterior, recente, os arts. 5.~, 11, 12, 16 e §§ 1.o~8.O, 19 e 21 da Lei n. 4.728 passam a ser
básicos. A distribuição e a colocação de títulos e valOres mobiliários têm de ser feitas, no mercado, pelas BOlsas
de ValOres ou pelas sociedades corretoras, que sejam seus membros (art. 5.~, J), pelas empresas financeiras que
tiverem autorização para operar no mercado de capitais (art. 5.~, II), pelas sociedades ou empresas
não-societárias que tenham por objeto a subscrição de títulos para colocação ou distribuição no mercado,
devida-mente autorizadas (art. 5.~, III), e pelas sociedades ou empresas não-societárias que possam fazer essas
operações conforme o art. 12 (art. 5.~, IV).
Tem-se, pois, de distinguir do que há de ser dependente da operação bolsística o que dela não depende. Se não
depende, a operação no mercado não-bolsístico tem de ser entregue a alguma empresa que se compreenda no art.
5~O, 11-1V, da Lei n. 4.728, conforme a especificidade e o conteúdo mesmo da autorização.
7. RESGATE DE DEBÊNTURES. Diz o Decreto-lei n. 1.844, de 13 de junho de 1939, modificativo de
legislação especial, art. 47: “Quando não forem apresentadas a resgate tOdas as debêntures em circulação, a
sociedade depositará em juízo a importância correspondente ao valor nominal dos títulos ainda não resgatados, a
fim de que os seus portadores façam oportunamente o levantamento do depósito”. Acrescenta o parágrafo único:
“Apresentadas em juízo as debêntures que faltavam, ou parte delas, a sociedade requererá ao juiz sejam entregues
os respectivos títulos à Câmara que iniciou a incineração, do que se juntará certidão aos autos do cancelamento”.
Ainda no Decreto-lei n. 1.344, do art. 48: “A BOlsa enviará a cada uma das outras BOlsas de Valores uma
notificação do resgate e da incineração”. Explicita o parágrafo único:
“As emissões integralmente incineradas deixarão de fazer parte dos quadros de negociação e cotação de Bolsas”.
8. TÍTULOS AO PORTADOR. Diz o Decreto n. 2.475, artigo 90: “A venda de títulos ao portador reputa-se
perfeita com a tradição dos mesmos pelo corretor-vendedor ao corretor-comprador, ou pelo seu lançamento nos
livros daquele em nome dêste”. Corretor-vendedor e corretor-comprador, diz a lei. Há elipse. Corretor-vendedor
é o corretor que se incumbiu de intermediar para que o incumbente venda. Ésse é que é o figurante.
Corretor-comprador é o corretor que se incumbe de intermediar para que o incumbente compre.
No texto da lei supõe -se que o corretor incumbido da venda tenha consigo os títulos ao portador: a posse imediata
está com êle; a posse mediata, com quem é proprietário e possuidor dos títulos; mas há a outorga de poderes ao
corretor, para que transfira a posse mediata, que está com o figurante alienante, e a posse imediata, que o corretor
tem em conseqUência da entrega. No momento em que o corretor incumbido da alienação lança no livro, como do
figurante outorgado da compra-e-venda, os títulos, transferidos estão a posse mediata própria e a propriedade dos
títulos. A tradição, quando entregar as cártulas, é apenas da posse imediata, que com o corretor ficara. A regra
jurídica apenas salienta que o lançamento tem eficácia da tradição da posse mediata própria, e, pois, da
propriedade.
CAPÍTULO III
OPERAÇÕES DE BÓLSA PARA PRONTA, SEM PRAZO E (SENSO ESTRITO) LIQUIDAÇÃO À VISTA
No Regimento Interno da BOlsa de ValOres, o art. 199 procurou manter a distinção entre operações para
liquidação pronta e as operações para liquidação em cinco dias, intercaladas as operações para liquidação dentro
de quarenta e oito horas úteis, que são as que têm tal prazo e aquelas a que não se determinou prazo. De jeito que,
para o Regimento Interno, há as operações: a) para liquidação pronta; b) para a liquidação dentro de quarenta e
oito horas, quando, ao ser feito o pregão, não for determinado o prazo; c) para liquidação em cinco dias ou à vista;
d) a prazo fixo, suscetível „de liquidação por diferença; e) de reporte e de deporte; 1) com opção.
2. LIQUIDÂÇÃO PRONTA. Liquidação pronta é a liquidação que se inicia e ultima no mesmo dia em que se
conclui o negócio jurídico. As operações para liquidação pronta, devido à sua presteza, talvez surpreendente, só
se permitem na BOlsa se o Síndico a controla. No Decreto-lei n. 1.844, de 18 de junho de 1939, o art. 2.0, § 2.0,
nada diz a respeito, mas é o que está no ad. 191 do Regimento Interno da BOlsa:
„<Considera-se operação para liquidação pronta a que é realizada e ultimada no mesmo dia. Essa operação fica
sob o contrOle do Síndico e sOmente será permitida se a sua efetivação não provocar oscilação brusca do valor do
título na cotação do mercado”. Se se efetuou, toilitur qunestio: concluiu-se o contrato, existe e vale o contrato,
com tOda a eficácia. O que se exigiu foi o contrOle pelo Síndico e nada mais.
Os contratos de bOlsa, com mais forte tipicidade, são os contratos de compra-e-venda, com alguns traços
característicos, e o reporte. As compras-e-vendas, essas, ou são de pronto. ou com prazo, ou à vista.
Quanto aos contratos de bOlsa de pronto, cumpre frisar-
-se que as leis lhe atribuem traços técnicos e jurídicos próprios. Os contratos de bOlsa de pronto ou prontos ou são
senso estrito ou em senso impróprio ou extensivo, que é o de contrato de bOlsa, em que, em vez de se prestar no
mesmo dia, se deixa para outro momento, que a lei fixar.
Chama-se, na França, ao contrato a pronta liquidação, ou de pronto, marché au comptant, na Alemanha,
Kassageschtift, em se tratando de títulos, e Lokogeschdft, se de mercadoria.
Os contratos de pronto são, de ordinário, contratos de venda de títulos de crédito ou de ações, de emissão recente,
que tenham de ser colocados, e em que figurantes são a empresa subscritora e emitente, ou só emitente, e os
poupadores. Isso não afasta que sejam, e muito ocorre, com propósitos da especulação, pOsto que mais se dê nos
contratos a prazo. Às vêzes, diante de proibição de contratos a termo, a respeito de determinados objetos, o
contrato de pronto serve a fraudes àlei ou a disfarces, como se há o contrato de bolsa de pronto e
reporte-prorrogação. Um dos expedientes recomendáveis para se evitarem tais infrações é o do versamento em
cobertura para as operações a termo.
8.LIQUIDAÇÃO Á VISTA. No sentido estrito que lhe deu o Regimento Interno da Bolsa de ValOres,
“operações à vista são as realizadas para liquidação dentro de cinco dias úteis e efetuadas mediante troca de
boletins na BOlsa” (Regimento Interno, art. 192). Cp. o Decreto-lei n. 1.344, art. 2.0 e § 1.0, sobre esse critério.
Seja quem fôr, o figurante com a atividade essencial dos corretores escolhe: ou a liquidação, pronta, que é no
mesmo dia, ou a liquidação em quarenta e oito horas, que também será a das operações em que se estipulou a
liquidação sem qualquer prazo, nem se disse que seria à vista (cf. Decreto-lei n. 1.844, art. 2.0, § 1.0; Regimento
Interno, art. 192, parágrafo único). No pregão, ou se estipula o prazo, ou não se estipula, ou se diz ser à vista a
operação. Se nada se disse, a liquidação há de ser em quarenta e oito horas úteis. (De passagem, digamos que seria
conveniente, em legislação futura, que se empregassem expressões da melhor terminologia e sem suscitamento
-w
de confusões, pe-. los que não são técnicos em negócios jurídicos bolsísticos.)
Lia-se no Decreto n. 2.475, art. 191: “As operações àvista realizadas na Bolsa deverão ser liquidadas dentro de
dois dias úteis; não o sendo neste prazo, a Câmara Sindical fá-los-a. executar na primeira reUnião da BOlsa,
segundo o processo estabelecido no regimento interno. As de letras de câmbio e espécies metálicas sê-lo-ão no
prazo de cinco dias úteis, de.vendo tornar-se efetiva a responsabilidade do corretor dois dias úteis depois do
vencimento da operação no caso de faltar o comitente ao cumprimento do contrato”. A responsabilidade
do corretor advém de ser munido ou dever munir-se do que e necessário para o adimplemento do dever irradiado
do negócio jurídico, seja de prestar seja de contraprestar. Não é êle o adimplente. Adimplente é o incumbente.
Êle, apenas, por sua função de corretagem, na qual se inclui a de declarar a conclusão, tem o dever de verificar se
o que se aliena ou que se adquire está em seu poder, ou em depósito, ou em situação que êle repute suficiente. O
fato de reputar suficiente importa a responsabilidade do corretor.
4.TÍTULOS E VALORES QUE AINDA VÃO SER EMITIDOS.
Os corretores podem operar quanto a venda de títulos a serem emitidos, o que implica ter a condição “se forem
emitidos” (para quando, como e se emitidos forem, when, as, and if issued contract). Os contratos podem ser
sobre títulos já emitidos, porém ainda não distribuídos (when distributed). Cf. LEFPLER (The Stock Market,
374). Trata-se, na primeira espécie, de oompra-e-venda de coisa futura. Não se pode dizer que o adquirente seja
possuidor dos títulos ainda não emitidos. i~ apenas titular de direito expectativo. Tal direito é transferivel por
cessão (cf. Código Civil, art. 1.078; DILLAVoU and fioWARD, Principies of Business Law, 892). Se não se faz
a emissão, há a resolução ex tune do contrato. Se a mudança do plano de subscrição ou de emissão foi profunda, a
ponto de o cliente considerar-se, justamente, desinteressado, ocorre a resolução, que aí depende de denúncia do
cliente.
O cliente tem de depositar na data prefixada o quanto, ou e percentual exigido.
Se alguma regra jurídica subordina a negociabilidade em bOlsa a não mais haver retirabilidade do projeto de
subscrição, ou de emissão, ~ contrato deixa de ser contrato condicional, para se fazer contrato a termo.
De jure condendo, argúi-se que as operações para quando, como e se houver emissão são nocivas ao interesse
público; mas advirta-se que há razão de ser, em muitos casos, para a empresa saber, de antemão, se convém, ou
não, emitir.
a termo fixo é figura típica. Fica adiada a prestação do bem genérico que se vendeu, de jeito que no momento da
constituição do negócio jurídico ainda não há transferência da propriedade. Com isso, abrem-se portas às vendas
“a descoberto”. isto é, vendas de bens cuja propriedade ainda não está com o vendedor, a despeito de se
determinarem, desde logo, o gênero e o preço.
1.PRECISOES. A despeito de ser de particular relevância para os contratos de bOlsa a temporalidade, o contrato
CAPÍTULO IV
1.CONTRATOS Á TERMO. Contratos de bOlsa a termo são, no direito brasileiro, os contratos cujas prestações
hão de ser feitas em data marcada, a térmo fixo, ou com opção, nos dias 15 e último de cada mês. (Discute-se se
pode ser, por exemplo, “quando emitidos os títulos”, o que é de grandes inconvenientes.)
-w
Na comparação entre contratos a termo fixo e contratos sem termo, não há grande diferença porque o contrato de
bOlsa sem termo é liquidável nas quarenta e oito horas; nem entre êle e o contrato dito à vista, ou de liquidação
em cinco dias. Há tem pus em todos êles; apenas a essencialidade não fica precisada nos contratos sem termo.
Diz o art. 30, § 1.0, do Decreto-lei n. 1.844: “As opera
0ções a termo e os atos a elas referentes sOmente são válidos quando lavrados em formulários fornecidos pelas
Bolsas de ValOres e de acOrdo com os respectivos regimentos internos,e registados na caixa de liquidação
prevista na lei”. Diz o art. 32, § 2.0, do Decreto-lei n. 1.244: “O valor mínimo dessas operações, calculado pelo
valor nominal dos títulos, é de dez mil cruzeiros”, quantia, essa, hoje em dia,evidentemente obsoleta.
2.PRESSUPOSTOS FORMAIS. Diz o art. 4O do Decreto-lei n. 1.844: “Não serão aceitas, para registro em
caixas de liquidação, propostas de operações a termo: a) firmadas por prepostos que não tenham poderes
expressos de corretor para vencimento. Se os títulos negociados forem ao portador, ou negociar em operações da
espécie; b) assinadas por mais de com endOsso ao portador, a liquidação definitiva há de ser um corretor; c) não
assinadas pelas partes contratantes ou uma hora antes da ga BOlsa, contada a do vencimento (Regi-seus
procuradores especiais”.monto Interno da Bolsa de ValOres, art. 208, a) e b), e 204).
1. RESPONSABILIDADE. Estatui o art. 50 do Decreto-lei n. 1.844: “As BOlsas de ValOres e as respectivas
Câmaras Sindicais e Caixas de Garantia e Previdência não respondem, direta ou indiretamente, pela liquidação
das operações”. Acrescenta o parágrafo único: “Quando o serviço de registro e liquidação fOr executado pelas
BOlsas, estas garantirão, apenas, os depósitos feitos”.
3. INADIMPLEMENTO. Se, nas operações a prazo fixo, não se houver entregue o que o tinha de ser uma hora
antes da terceira bOlsa, e o corretor vendedor não houver entregue os títulos, ou o corretor comprador não haja
prestado o preço dos títulos, o outro corretor há de levar o fato ao conhecimento do síndico. Ésse ouvirá o faltoso
e, se não lhe parece razoável e que alega, tem de mandar publicar o ocorrido nas pedras da BOlsa (Decreto n.
2.475, art. 40).
1.COMPRA-E-VENDA OU APOSTA? O primeiro problema que surge, quanto às operações a prazo suscetíveis
de liquidação por diferença, ditas operações diferenciais, é o de se saber se nelas há compras-e-vendas, ou
apostas. De ordinário, as operações bolsísticas são operações que se concluem em compra-e-venda, de contado
(de liquidação pronta), à vista ou a termo, firme ou a prêmio, e os reportes. As operações diferenciais, no que
satisfazem os pressupostos referidos pela lei, são operações permitidas, de modo que temos, antes, de pôr o
problema teórico, principalmente de técnica legislativa; para, finalmente, darmos a classificação e o conceito
preciso de operações diferenciais que o direito brasileiro admite. O problema da autonomia da figura jurídica está
implícito no de classificação conforme o conceito.
2.OPERAÇõES DIFERENCIAIS EM GERAL. Fala-se de operações a prazo fixo, suscetíveis de liquidação por
diferença, mas isso não bastaria para se caracterizarem as operações de bOlsa, a prazo fixo, a que a lei brasileira
atribui existência, validade e eficácia. Estar-se-ia a cogitar de operações diferenciais em geral, a prazo fixo, o que
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apenas daria conceito amplíssimo, que provocou, por isso mesmo, disputas teóricas e técnicas, durante muitos
decênios de doutrina jurídica. Um dos pontos mais sensíveis foi o da admissibilidade, isto é, o da incidência ou
não-incidência das regras jurídicas sobre aposta. Ora, a qualquer conclusão exata somente se poderia chegar após
o exame das diferentes classes de operações diferenciais..
Primeiramente, é de advertir-se que para as operações diferenciais são muitos os remédios jurídicos e os
expedientes técnicos. O resultado econômico é o mesmo, mas diferentes os. caminhos. Há operações diferenciais
simples, que são aquelas que por um só contrato de compra-e-venda os figurantes se vinculam à liquidação por
diferença. As mais das vêzes, em virtude de cláusula do próprio contrato. Raramente, de pacto adjecto. Há as
operações diferentes complexas, que, em vez de serem em negócio jurídico, constam de dois contratos de
compra-e-venda com Posições inversas dos figurantes (A, B, comprador, vendedor; A, E, vendedor, comprador),
ou entre um dos figurantes e dois ou mais vendedores ou compradores.
a.OPERAÇÕES DIFERENCIAJS E LIQUIDAÇÕES POR DIFERENÇA. Temos de atender, precipuamente, a
que, no direito brasileiro, a operação à vista é, em princípio, liquidável por diferença, se o outro corretor consente
(Regimento Interno da Bolsa de Valores e dos Corretores de Fundos Públicos do Rio de Janeiro, art. 198: “A
liquidação poderá ser realizada pelo pagamento da diferença entre a cotação do dia e o preço por que foi fechado
o negócio, se nisso concordar o corretor perante o qual não foi cumprida a obrigação assumida”). Trata-se de
modo de adimplemento, dependente de outro negócio jurídico, e não de operação diferencial. Não há direito à
prestação da diferença. Apenas se permite o acôrdo.
A consentimento pelo outro corretor é em virtude de implícita outorga de poder, mas, perante o figurante, de que
se supõe provinda a outorga, o corretor é responsável, se foi afastado o acôrdo de pagamento por diferença ou se
era de supor-se o afastamento. A concordância pelo corretor é plenamente eficaz diante do outro corretor e, pois,
do outro figurante; não, para com o figurante que teria de receber.
do Decreto n. 2.475, de 18 de março de 1897: “Não é lícito pactuar nas negociações a prazo que a liquidação só
tenha lugar pela prestação das diferenças entre as cotações”. O contrato existe, mas é nulo. A sanção não é só de
ineficácia; é de nulidade.
A legislação brasileira refere-se, expressamente, às operações diferenciais simples e às limitações de validade.
Quanto à intermediariedade dos corretores, é evidente que se exige. A cláusula de compra-e-venda, liquidável por
diferença, não éválida se os negócios jurídicos são concluídos diretamente pelos figurantes. Não se trata de
limitação subjetiva, mas operacional. Quanto às limitações objetivas, há a sanção de invalidade (Lei n. 354, de 16
de dezembro de 1895, art. ~ 2A parte, cp. art. 90, § 1.0; Decreto n. 2.475, de 18 de março de 1897, art. 111, cp.
art. 94, 23 alínea; Regimento Interno, art. 212).
6.LIQUIDAÇÃO. A liquidação das operações a prazo lixo, suscetíveis de liquidação por diferença, ou é no
último dia da quinzena, ou no último dia do mês, conforme fôr estabelecido. Pode ser pela entrega dos títulos,
com a transferência da posse e da propriedade. Se o adimplemento é por diferença, tem-se de considerar a cotação
do título, no dia mesmo do vencimento.
A liquidação por pagamento da diferença há de ser uma hora antes da ga Bolsa, contada a do vencimento da
operação (Regimento Interno da Bolsa de Valores, art. 201, § 2.0). Se o pagamento não é feito, como deveria ser,
há a publicação do ocorrido nas pedras da Bolsa (art. 195) e o levantamento da quantia do fundo da caução que o
corretor prestou (artigo 199). Tudo isso resulta do Decreto n. 2.475, arts. 40 e 132).
bolsística” complexo de operações que supõem a diferença de variação dos preços dos títulos, ou mercadorias do
mesmo valor intrínseco, em diferentes bolsas, ou na mesma bolsa com a finalidade de lucro diferencial no caso de
se nivelarem os preços. Para isso, é preciso que haja pleno conhecimento do mercado. Daí surgirem empresas que
se especializam nesses negócios, quanto a bolsas nacionais e a bolsas nacionais e estrangeiras. É indispensável
organização rigorosa dos serviços, porque se tem de operar a tempo em cada bolsa, de modo que se possa vender
nas bolsas de preços mais elevados e comprar naquelas em que os preços estão mais baixos. Em todo o caso, a
despeito dos meios hodiernos de informação telefônica e da precisão dos serviços técnicos, não é fácil poder-se
exercer a atividade de arbitragista entre praças estrangeiras. Tem-se de recorrer a encargos prévios a bancos ou a
arbitragistas, com as indicações qualitativas e quantitativas.
A maior importância das arbitragens bolsísticas é a respeito de mercadorias. Muito se opera fora das bolsas e sem
a intervenção dos corretores, mesmo se em cada operação é exigida a atividade de corretagem oficial.
2. ESPÉCIES. Diz-se arbitragem bolsistica direta a que concerne a diferentes cotações do mesmo título, câmbio
ou mercadoria em duas ou mais bolsas, ou a diferentes cotações de títulos, câmbios ou mercadorias do mesmo
valor econômico, na mesma bolsa. Ou se compra (ou se vende) aí, e se vende (ou se compra) ali; ou se compra (ou
se vende) ali, e se venda (ou se compra) acolá. Arbitragens bolsisticas indiretas são as que levam em
consideração a diferença de cotação dos títulos, câmbios ou mercadorias, em relação a outro titulo (e não à moeda
nacional), o que torna mais complexas, indiretas, as operações.
Umas das arbitragens indiretas mais usadas é a arbitragem bancária indireta de câmbio. Por exemplo: deve A em
Paris tantos novos francos, e ocorre que o dinheiro brasileiro compra a melhor preço o dólar que o nôvo franco;
adquire A dólares e com os dólares compra novos francos. Os bancos e os arbitragistas, com os serviços
telefônicos, incumbem-se da arbitragem bancária indireta, cobrando o custo da operação (comissão, despe&as de
telefones e de aquisições no exterior, se é o caso). Cf. F. LEITNER (Rankbetrieb und Rank.. geschiífte, 73‟ ed.,
638 s.). Não se há de confundir a operação de arbitragem bolsística, com intuito de especulação, com operações
de investimento sem prévia ligação; nem é arbitragem bolsística de mercadorias a que o comerciante quer, no
tocante a mercadorias de que precisa para o seu comércio, ou o industrial, para a sua indústria, e compra a mais,
para poder vender, em caso de alta, ou utilizar o resto, se mais lhe convem.
As arbitragens bolsísticas mais freqUentes são as de câmbio e as de mercadorias. As operações podem ser no
mesmo dia e em bOlsas diferentes.
por antecipação, isto é, antes da época fixada para a liquidação da transação”. No ad. 112 ressalvou-se:
“É vedado o desconto nas operações de reporte e nas de letras LI, de câmbio, ou moeda metálica”. Ainda nos dois
decênios posteriores a esses textos brasileiros era assaz renhida, em países da Europa, a luta dos que desejavam e
dos que repeliam a solução legislativa do direito de antecipação. O direito de antecipação, ou direito de desconto,
provém do direito frances.
Entre os argumentos a favor do direito de desconto está o de ser expediente para impedir ou dificultar que os
especuladores prossigam nas suas manobras de baixa e de depressão. Responde-se que os que têm tal direito
também podem especular na alta.
Pôsto que a Lei n. 354, ad. 11, e o Decreto n. 2.475, artigo 110, não se refiram aos corretores, mas aos figurantes,
o Regimento Interno, art. 205, foi explícito quanto a tratar-se de corretores. Essa soluçtã é a solução acertada,
porque assim se atenuam as desvantagens do direito de antecipação. Assim é em França. O Brasil teve-o desde
1895, antes da Itália (1907), que o admitiu em períodos de graves depressões nas bolsas, seguindo-se legislação
vacilante e ondulosa, inclusive a que o fêz dependente de “concessão” do Ministro de Estado.
Se algum corretor quer liquidar, por antecipação, alguma operação, ou algumas operações, há de avisar o outro
corretor, com quem operou (Regimento Interno da Bolsa de Valores, art. 205). O aviso é em memorando, que há
de ser enviado e recebido uma hora antes da abertura da Bolsa, mas têm de ser respeitados os prazos ordinários
para a entrega dos títulos nominativos ou ao portador (arts. 206, 203 e 204).
No direito brasileiro, a antecipação ou desconto pode ser exigido na operação a firme, ou na operação a premio.
Não pelo reportado (Lei n. 354, ad. 11, 23‟ parte; Decreto n. 2.475, art. 11; Regimento Interno, art. 212), nem pelo
comprador de letras de câmbio, ou de moeda metálica (Lei n. 354, art. ~ 23‟ parte; Decreto n. 2.475, art. 111; cp.
Regimento Interno, art. 212). No direito italiano, permite-se a antecipação desconto pelo reportado, seja em caso
de reporte seja de deporte, mas, nesse caso, tem de ser restituido o chamado “compensativo de deporte”.
2.LIQUIDAÇÃO POR DIFERENÇA SEM TER HAVIDO OPERAÇÃO DIFERENCIAL. No ad. 99 da Lei n.
354, de 16 de dezembro de 1895, estatui-se, em geral: “As liquidações das operações de Bolsa poderão ser
realizadas pela efetiva entrega dos títulos e pagamento do preço ou pela prestação da diferença entre a cotação da
data do contrato e a da época d~ liquidação”. Não se supôs a cláusula ou o pacto de liquidação por diferença. Em
regra jurídica, permitiu-se, na liquidação de operações de bolsa, que se preste a diferença entre a cotação da data
do contrato e a da época de liquidação. Não há, ai. o direito a exigir a liquidação por diferença, mas o direito a
liquidar por diferença. Também a respeito da regra jurídica do art. 90 há a limitação quanto às letras de câmbio e
às operações de moeda metálica (art. 9O, § 1.0) : “São excetuadas desta disposição as operações sobre letras de
câmbio e moeda metálica, que somente serão liquidáveis pela entrega efetiva dos títulos”. No Decreto n. 2.475, de
13 de março de 1897, o art. 94, alínea 1a, insistiu: “As liquidações das operações de bolsa feitas a prazo poderão
ser realizadas pela efetiva entrega dos títulos e pagamento dos preços, ou pela prestação da diferença entre a
cotação da data do contrato e a da época da liquidação”, e a alínea 2.a: “São excetuadas desta disposição as
operações sobre letras de câmbio e moeda metálica, que somente serão liquidáveis pela entrega efetiva dos títulos
e das espécies”.
Quanto a existirem contratos reais, não há dúvida no direito brasileiro. Ê o que se passa com o depósito, o mútuo,
o reporte e o contrato .
Surge, porém, o problema de se saber qual há de ser a atitude do intérprete ou do juiz diante de texto em que se
deu como concluído o contrato sem ter havido a tradição. E há o problema de se poder interpretar ou como
contrato consensual o contrato de depósito ou de compra-e-venda, que não foi concluído com a entrega, ou como
pré-contrato. A despeito de uma ou outra solução poder ocorrer a propósito de contratos reais, a prática bancária
exige a creditação, por mínima que seja a quantia, conforme exigia o banco, para os depósitos bancários.
Acontece que pode ter o banco de receber a quantia que vai ser lançada a crédito do cliente. AI, ~há pré-contrato
ou contrato consensual? Temos de entender que há contrato consensual, com a inserção do crédito no momento
determinado, ou quando ocorrer algum recebimento. Tal solução tem de ser afastada pelos que consideram
pressuposto formal a entrega.
Nos contratos com liquidação por diferença, tem-se a liquidação pela entrega dos títulos, ou valores, ou pela
prestação da diferença. Numa e noutra espécie, não há contrata real, se houve prazo. Se não houve, a operação à
vista, mesmo se por prestação da diferença, foi contrato real
O contrato em que há a cláusula de liquidação por diferença é válido e eficaz se o objeto não é letra de câmbio,
moeda metálica ou câmbio. Se só é liquidável por diferença, é nulo. Com isso se afasta a especulação sobre
-w
3.CONTRATO DE CÂMBIO. Os contratos de câmbio a prazo, liquidáveis por diferença, não são nulos. São
relativamente ineficazes. Por isso diz o art. 95 do Decreto n. 2.475:
“Não são acionáveis perante os tribunais os contratos de câmbio a prazo liquidáveis por diferença”. Não é o
mesmo o que se estatui a respeito dos contratos a prazo, liquidáveis por diferença, se o objeto foi letra de câmbio
ou moeda metálica. Quaisquer operações sobre letra de câmbio ou sobre moeda metálica só são liquidáveis pela
entrega efetiva. Quaisquer contratos de câmbio liquidáveis a prazo por diferença são ineficazes fracionáveis,
Decreto n. 2.475, ad. 95).
CAPITULO VI
EM OPÇÃO
§ 5.464. Conceito e natureza dos contratos de bolsa a prêmio
contrato em opção, a desistência, mediante o pagamento do prêmio estipulado, deverá ser feita na Bolsa que
preceder o dia da liquidação”.
A contrato de bolsa com opção, ou a prêmio (Prãmiengeschãft, marché libre, mercato a premio), não é contrato
de o‟pção, nem pré-contrato, porque a opção é conteúdo de cláusula do contrato de compra-evenda com termo
determinado, para que o figurante manifeste recepticiamente a vontade ou de manter o que concluiu ou de
resolver ex nuno (não “rescindir”!) o contrato, pagando o prêmio.
1.PRÉMIO OU ENTREGA DOS TÍTULOS. O que se tem de comunicar, na véspera do vencimento da opção, é
a vontade de vender os títulos. Se não se fêz a comunicação, o que só o corretor do comprador pode fazer, o
corretor do vendedor levanta o prêmio. Se foi comunicada a vontade de receber os títulos, a liquidação há de ser
como se o negócio jurídico tivesse sido à vista. O prazo para a liquidação é o de quarenta e oito horas.
(Observe-se que no Regimento Interno, art. 220, se diz “consolidação da operação” a falta de pressupostos para a
cláusula de opção, o que faz considerar-se o contrato com opção operação não consolidada.)
A manifestação unilateral de vontade, que o comprador há de fazer para que não se dê a resolução ex nunc da
compra, é receptícia e, pois, irrevogável. A. legislação bolsística precisou o lugar e o tempo em que há de ser feita.
Pode ocorrer que os dois corretores acordem em que se dê a consolidação antes do vencimento da opção. Aí, há
negócio jurídico bilateral, em que os figurantes, através da atividade dos corretores, que apenas correm e não
representam. nem tão-pouco medeiam, são o comprador e o vendedor. Se tal ocorreu, o negócio jurídico bilateral
fica exposto às exigências ordinárias de validade. Cumpre, porém, observar-se que tem de ser comunicado à
secretaria da Bolsa, na véspera do vencimento da opção, ao mais tardar.
outorga de majoração.
As principais teorias em tôrno do contrato de compra-e--venda com majoração do objeto são três: a) a teoria do
con.trato mais oferta irrevogável, segundo a qual há a compra-e-venda da quantidade determinada, a preço fixo,
e a oferta irrevogável quanto ao majorável (o outro figurante do contrato de compra-e-venda tem a faculdade de
aceitar, ou não, a oferta); b) a teoria da alternação entre quantidades, segundo a qual, à semelhança do que se
passa com o contrato de compra-e-venda a prêmio duplo, a escolha é entre a quantidade x ou a quantidade x + 2!;
e) a teoria da potestatividade do plus (~ da majoração do objeto), que atende a que o plus é que pende, e nao o que
já se deu por firme, O contrato é de duas estruturas, no tempo e nos efeitos: firme e aberto.
O que surpreende aos que não estão acostumados à técnica dos contratos de bolsa é parecerem invadentes da
esfera jurídica de outrem os contratos de compra-e-venda a prêmio simples, a prêmio duplo e em majoração do
objeto. Ora, à base está o princípio da autonomia da vontade ou do auto-regramento e tem de ser atendido o
interesse de quem comprou, ou vendeu, atento às circunstâncias instáveis do mercado.
1~
CAPÍTULO VII
CONTRATO DE REPORTE
1.CONCEITO Já no século XVII havia o contrato de reporte (cf. PAPA D‟AMIGO, li Riporto nel nuovo Codice
di Commercio, 30 s.). No contrato de reporte, um dos figurantes (o reportado) aliena de pronto para readquirir a
termo o que o outro adquirira (o reportador). Econômicamente, o reportado é dono de títulos ou outros bens, e
não quer desfazer-se para sempre do que é seu, pôsto que tenha necessidade da quantia que adquire com a
alienação. O reportador tem interesse em, dentro de determinado tempo, ser dono daquilo que terá de perder,
futuramente.
O negócio jurídico de reporte ao mesmo tempo dá títulos e capitais para a especulação, tem eficácia no tocante à
mantença do valor dos títulos e serve a operações com divisas estrangeiras. Com a multiplicidade das suas
funções econômicas e financeiras, não deixa de apresentar a estrutura jurídica que lhe é própria. Trata-se de
contrato duplamente transiativo, o que afasta qualquer concepção que o faça definível como duplo contrato de
compra-e-venda (duas vendas recíprocas). Não há duas operações, dois negócios jurídicos, mas sim uma 6
operação, um só negócio jurídico. A diferença entre o reportador e o reportado é concernente a temporalidade. A
venda a termo já implica o restabelecimento da situação anterior. Não há retrovenda: o que há é venda a termo
(final, resilitive) e consequente volta da propriedade, suspensivamente. O reportado, que vende, sabe que vai
recuperar, no dieR ad quem, e o reportador, que compra, conta com a volta ao reportado. do que lhe advêm as
vantagens como se simples venda fôra.
nome do comprador (Decreto n. 2.875, arts. 107 e 108)”. No art. 210 do Regimento Interno precisa-se que as
operações de reporte e de deporte se têm de buscar na cotação dos títulos, na bolsa do dia da negociação; e o
ar--figo 210, parágrafo único, exige a fixação do prazo (pressuposto necessário) no ato de negociação. O prazo
embora prorrogável, obedecida a cotação do dia não pude exceder de trinta dias (Regimento Interno, art. 218).
Pelo negócio jurídico de reporte, um figurante aliena a vista para readquirir a termo o que alienou. Reportado é a
pessoa que aliena para depois adquirir; reportador, a que adquire para depois alienar. No fundo, o reportado
precisa de pecúnia e manifesta a vontade de alienar para obtê-la, mas nisso consente com a cláusula mexa de
readquirir, pois não deseja perder o que tem. Talvez, para isso, prometa plus valor, talvez receba o preço com
dedução de juros ou outro interesse. Quem paga o prêmio é reportado.
Se o interesse maior é do reportada!r (deportatior), êle équem acarreta com o pagamento do prêmio, e diz-se então
que há negócio jurídico de deporte.
As flutuações do mercado muito concorrem nara essas operações. Porém não somente elas. A necessidade
momentânea ou temporária de dinheiro ou a necessidade de ter os títulos ou outros valores como próprios,
durante algum tempo, pode ser a causa principal, ou a única. Por vêzes, o intuito é meramente especulativo.
1.CONTRATO REAL, COM EFICÁCIA RESILITIVA. O contrato de reporte é real, e não consensual, a termo
resilitivo (termo final), e o seu elemento real aponta-o, no direito brasileiro, como inconfundível com a
compra-e-venda, e a resilitividade de modo nenhum o reduz à figura jurídica da propriedade fiduciária. Não há
duas compras-e-vendas; só há uma alienação, com a volta, estipulada, ao alienante, em virtude do termo final.
Frise-se que a contraprestação, que faz o reportador~, é distinta da prestação que o reportado restitui, porque fica
à vontade dos figurantes, que podem estabelecer que seja ~ preço corrente ou do mercado, para o momento da
conclusão do contrato de reporte, ou para os dois momentos, o da conclusão do contrato de reporte e o da
reaquisição, ou ser em títulos cambiários agora (aceite in solutum, ou emissão tu aolutum) e em dinheiro ao
advento do termo, ou por crédito em conta corrente conforme o mesmo critério, ou com dois critérios diferentes.
Pode ocorrer que o reportado (alienante) já seja devedor ao reportador e, assim, em vez de receber,
ato-fàcticamente, o valor, pague, com o que lhe teria de ser entregue, o que devia. Pagamento houve, sem o
conteúdo da tradição brevi manu. O preço dos títulos pode ser aumentado ou diminuido conforme critério
acordado, tal como se se estabelece que se pague mais, ou se pague menos, se a cotação subiu ou desceu, até o
terceiro mês. O ágio pode ser no interesse do reportador; ou do reportado, por se tratar de deporte.
Chama-se também reparte a convenção bolsistica pela qual se reporta, de uma liquidação para outra, o mercado
firme, e assim se prolonga a operação, haja baixa, haja alta. Assim, A comprou dólares, ou outra moeda, para lhe
serem entregues no mês de dezembro, mas à data do termo, ou antes, quer reportar a sua operação para o mês de
abril: aliena os dólares, que comprou, e os compra para o mês de abril (J.-G. COVIlCELLE-SENEUIL,
Opérations de Renque, 181). A diferença de preço é recebida ou paga por A.
Há, ainda, outra operação que se chama reporte: pois que há diferença para mais entre o curso nas operações à
vista e o curso nas operações a termo, reporte é o negócio jurídico com que alguém, que adquiriu de contado x, o
aliena, a prazo, ganhando y (reporte); ou se a aqnisição a prazo é mais baixa, se alguém alienou à vista e exige a
contraprestação, o adquirente deporta (compra a termo).
As operações de reporte supõem que haja no mercado mais títulos que se destinam à venda do que títulos que são
procurados; o deporte, que haja mais especuladores de baixa do que, de alta.
O contrato é único, transiativo dos propriedade (contrato real) e oneroso. Se há promessa de transmissão da
propriedade dos títulos, não se trata de contrato de reporte, e haveria pré-contrato de contrato de reporte.
Prometeu-se contratar reporte, não se reportou. Se os títulos são nominativos, tem-se de proceder às formalidades
necessárias ao registro. Antes, não se concluiu o contrato, que é contrato real.
O contrato é a tempo determinado (a termo), e não condicional.
2. DISTINÇÕES. Quando se distinguem dos contratos de crédito os contratos de especulação , um dos casos
mais discutidos é o da classificação do contrato de reporte (pela inclusão nos contratos de crédito, GIUSEPPE
VALER!, Manuati di Diritto Commerciale, II, 143; pela mistidade contrato de crédito e de especulação e não só
de crédito ou de especulação, UNRICO CoLAGROSSO-GIACOMO MOLLE, Diritto Bancario, 518>. Não é
contrato de crédito, como a compra-e-venda não no é; é contrato especulativo, por sua origem e por sua função.
3.REPORTE E DEPORTE DE CONTRATOS REAIS. A alusão que a legislação faz à “entrega real” foi anterior
ao Código Civil, quando o sistema jurídico brasileiro não tinha a teoria da posse, que lhe deu primeiro lugar na
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técnica legislativa do mundo. Sem dúvida, para impor que o contrato de reporte ou de deporte seja contrato real,
atendeu a razões de interesse público. Puseram-se de lado os contratos consensuais de reporte e de deporte. A
doutrina que considerava contrato consensual o reporte, ou o deporte, em que a transmissão da posse fôsse pela
tradição brevi manu, ou pelo constituto possessório, foi superada em 1916, mesmo se admitíssemos que, antes do
Código Civil, não se tivesse de refugar tal afirmação. Digamos o mesmo quanto à tradição longa menu.
Diz-se que, na praxe bolsística de alguns países, a despeito da concepção legal do reporte e do deporte contratos
reais, muitas vêzes não se opera a tradição dos títulos ou outros objetos vendidos. O reporte e o deporte fundem o
contrato de compra-e-venda e o acôrdo de transmissão, com a conseqUência, que à política jurídica pareceu
exigível, de ser real o contrato. Procurou-se chamar reporte consensual e deporte consensuas aos contratos de
reporte e de deporte em que, no ato da operação, não se entrega por tradição simples a posse do objeto vendido.
Responsável por isso é a deficiente teoria da posse de alguns Estados europeus. A lei repele o reporte consensual
e o deporte consensual, mas, se houve qualquer modo de transferência da posse (Código Civil, art. 498), basta. O
que se exige é que se transfira, ou já tenha sido transferida, verdadeiramente, a posse própria.
A respeito do contrato de reporte discute-se qual a sorte do contrato se não houve a tradição. Não se pode dar a
mesma solução que se admite a propósito de outros contratos que seriam reais (com razão, FAOLO
FORCHIELLI, 1 Contratti reali, 111; sem razão, LUIGI LORDI, Istituzioni di Dtritto commerciale, II, 151 s.).
Isso não significa que não possa haver o pró-contrato de reporte, porque se tem de separar, detidamente, do
problema da permissibilidade do contrato consensual o problema do pré-contrato (cf. Tomos V, § 569, 2; XIII, §§
1.432--1.527; XXVI, § 3.170, 8; XXXVIII, §§ 3.196, 8; 4.261 e 4.262; XLVI, § 5.001, „7, a propósito de
comodato; §§ 5.012. 1, e 5.020, 5, a propósito de doação; XLII, § 4.657, 2, 8, a propósito de depósito).
Quanto ao problema da consensualidade, Tomo XXVI. § 8.170, 3.
Se o título é ao portador, a posse, que o vendedor transferiu, pode não ser posse própria. A posse própria é que êle
tinha de transferir. Se de boa fé o terceiro adquirente pode dar-se a aquisição. Surge aí o problema de se saber se
a posse imprópria do vendedor, que a transmite ao comprador de boa fé, gera a posse própria, instantaneamente ,
e, pois, a propriedade. A resposta há de ser afirmativa, uma vez que estamos a falar de contratos bolsisticos.
Se o título é endossável, a posse, mesmo própria, sem o endosso, não bastaria a ser considerada como suficiente
para gerar a propriedade.
Se nominativo o titulo, há de haver a satisfação de todas as exigências legais para que se dê a transferência. Daí a
diferença de tempo que a legislação bolsística permitiu.
8.FIGURANTES DO CONTRATO DE REPORTE. O papel, que tem, nas operações de bolsa, o contrato de
reporte, e a função econômica, que exerce, põe-no no rol dos negócios jurídicos de bolsa, e a doutrina muito
procurou revelar da sua natureza, considerando, em primeiro plano, a conclusão em bolsa. Porém não só em bolsa
há contratos de reporte, inclusive de deporte.
Os bancos podem concluir negócios jurídicos de reporte e de deporte, quer como reportado quer como reportador.
Não há diferença jurídica entre o contrato de reporte, ou de desorte, em que os figurantes são bancos, ou banco e
pessoa tísica ou jurídica, que não tenha função bancária ou bolsística, e o contrato de reporte, ou de deporte, que
se faça em bolsa. A causa é a mesma; o que pode variar aliás, tanto nos contratos de reporte, ou de deporte, em
que figura banco, como nos feitos em bolsa é a diversidade de motivos (cp. NICoLÔ CAMPAGNA, 1 Riporto in
borsa e fuori borga, 16, que tentou mostrar diferenças). Na prática bancária, há o reporte com fim alienativo a
termo, em que o banco adquiriu os títulos, com a contraprestação imediata, e os aliena a termo, por preço superior,
e adquire, quanto tiver de restituir, outros títulos; e o reporte com fim alienativo à vista, em que o banco adquire
os títulos, com a contraprestação imediata, e os aliena com preço à vista e adquire, depois, outro. A adjetivação
não é perfeita, como não no é a adjetivação usada (reporte ativo, reporte passivo), porque a alienabilidade pelo
reportador é que é elemento essencial do contrato de reporte, não o fato mesmo da alienação.
Raramente os bancos figuram em contrato de deporte. Às vêzes, os bancos recebem títulos e os possuem,
mediante pagamento de interesses. Aí, não há reporte, nem deporte; há empréstimo de titulo, para que o banco
possa usá-los. A fraude à lei caracteriza-se se o intuito é o de exercer o direito de voto.
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4.PRORROGAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE REPORTE E DE REPORTE. A lei fixa prazo máximo para as
operações de reporte e de deporte, mas admite a prorrogação (Decreto número 2.475, de 18 de março de 1897,
arts. 97 e 109; Regimento Interno da Bolsa de Valores, art. 211: “Estas negociações não poderão exceder de trinta
dias de prazo, sendo permitida a prorrogação, obedecida, porém, a cotação do dia”).
Pergunta-se se o reporte a prazo, ou o deporte a prazo, não faz consensual o contrato de reporte ou de deporte. O
prazo é para a operação a retro, e não do contrato. O contrato de reporte ou de deporte é sempre contrato real.
Nas proximidades do vencimento, os figurantes, reportados ou reportadores, vendedores ou compradores, têm de
munir-se do suficiente para a operação a retro; isto é, hão de ter à disposição o dinheiro ou o objeto com que
possam adimplir a dívida assumida. Se não o têm, ou se têm interesse em não vender a retro ou comprar a retro no
momento de se vencer o reporte ou o deporte, ou obtêm a prorrogação ou se expõem à liquidação coativa.
Na técnica bolsistica, distinguem-se a prorrogação do reporte e a do deporte em prorrogação direta e em
prorrogação indireta, conforme são os mesmos figurantes, ou não, os figurantes da operação repórtica de
depórtica. Tal diferença de modo nenhum se reflete na figura jurídica da prorrogação. Alguns juristas empregam
os termos noutro sentido, porém acertada é a terminologia dos franceses (e. g., A. COURTOIS, Traité des
Operations de Rourse et de Change, 83 ed., 90). Temos, porém, de distinguir, o que adiante faremos, a
prorrogação e a renovação .
A prorrogação não precisa ser feita necessàriamente pelo corretor que fêz a operação originária, e pode ser que
um dos figurantes ou os figurantes tenham mudado.
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Se a prorrogação do reporte ou do deporte é direta, não há qualquer dificuldade quanto à posse. O que era,
continua. Tanto faz que o adquirente não tenha a posse como se a tivesse, porque o momento para adimplir
mudou.
Algumas teorias surgiram com o propósito de construção da figura jurídica da prorrogação do reporte ou do
deporte:
a) a teoria da prorrogação-novação, em que ressalta a contradição, pois que não nova quem prorroga (e. g.,
FRANCESCO MESSINEO, Operazioni di Borsa e di Banca, 2a ed., 199; CmSEPPE VALER; Manuole di
Diritto Commerciale, II, 144); b) a teoria da prorrogação de contrato sObre o ão-compensado, segundo a qual há
outro contrato de conteúdo igual, quantitativamente posterior (cf. FRANCESCO MEsSINEO, Riporto con
tradizione e riporto-proroga, Foro Lombardia, 1981, 427 5.>; e) a teoria da prorrogação-dação em soluto, que é
absurda, lançada pela Cassação de Roma, a 18 de janeiro de 1984; d) a teoria do contrato único, para a qual são
supérfluas e sem base tOdas as discussões que fujam ao conceito de prorrogação, conceito que afasta,
radicalmente, pensar-se em novação ou em renovação (cf. Tomos XX, § 2.486, 5; XXV, § 3.019, 5, 6; XXXVI, §
8.068, 3; XL, §§ 4.462, 4.468).
O reporte, ou o deporte, se advém prorrogação, deixa integro o contrato, porque apenas o estende no tempo. Se a
prorrogação foi com outrem ou houve substituição do titular, ou dos titulares, o que resulta de outro negócio
jurídico, pois a dívida era do originário figurante e, ex hypotkesi, houve a sucessão; ou tal sucessão não houve, e o
outro figurante é terceiro, interessado ou não, que paga a dívida e conclui outro negócio jurídico de reporte ou de
deporte. Aqui, não há própriamente prorrogação do reporte, ou do deporte, mas renovação por outrem. Sem fazer
a distinção entre outro contrato autônomo e renovação, FRANCESa> MESsINEO (Operazioni dii Rorsa e di
Ranca, 2~a ed., 272; DOMENICO BARBERO, Sistema istitu.zionale del Diritto prinato italiano, 2.~ ed., II, 291).
Observe-se que o próprio FRANCESCO MESSINEO (197> alude a nexo de interdependência entre os dois
negócios jurídicos.
Importa apurar-se se o terceiro é mandatário, cessionário, associado ou delegado, agente, ou o que quer que seja,
em relação ao outro figurante. Quem devia vender a retro, ou comprar a retro, não o fêz, se o terceiro não tinha
poderes; ou não o fêz no nome do figurante omisso: o terceiro solveu como foi acordado e concluiu outro negócio
jurídico de reporte ou deporte. Assim, se o nôvo prazo foi em negócio jurídico em que não é figurante quem o era
no momento do vencimento, há renovação, e não prorrogação. O significado de prorrogação tem de ser lixado
estritamente.
5.OBJETo DO REPORTE. Objeto de reporte são os títulos negociáveis, inclusive os títulos representativos de
mercadorias, e quaisquer títulos que tenham sido admitidos a cotação em bolsa. Não importa se são de
particulares ou de entidades estatais, ou paraestatais, ou se os regem regras jurídicas privatísticas ou publicísticas.
As formalidades para a transmissão da propriedade têm de ser cumpridas, tal como ocorre com os títulos
nominativos não-endossáveis e os títulos nominativos endossáveis. Os títulos estrangeiros podem ser reportados,
salvo proIbição por lei. As letras de câmbio sacadas para o exterior são reportáveis. Quotas de sociedades, uma
vez que não são negociáveis, ou só o podem ser com permissão especial, não podem ser objeto de reporte.
O objeto os títulos tem de ser determinado quanto à espécie, inclusive o ano da emissão, se há diferença, e quanto
à quantidade.
O objeto do reporte é bem ~fungivel: o reportador restitui o que recebeu, ou outros títulos da mesma espécie e na
mesma quantidade. A cláusula de serem restituidos os títulos que foram reportados deturpa o contrato, que passa
a ser empréstimo com penhor regular. Se há cláusula de pagar o reportador os impostos de transmissão se alienou
a propriedade dos títulos e tem de restituir outros, supõe-se que não houve transmissão da propriedade dos títulos
reportados, portanto
há empréstimo e penhor, ou fraus legis contra o Estado. Idem, se a cláusula é quanto aos impostos da transmissão
em retôrno (RENATO COBRADO, II Riporto, 93; 1 Contratti di bona, 242 s.; sem razão, GUSTAVO
MINERnNI, Su un preteso caso di riporto a scopo - di garanzia, Banca, Borsa e Titoli di credito> 1952, II, 380 sã.
A prestação do preço (contraprestação) é pressuposto necessário da operação de reporte ou de deporte. Se não foi
feita, ao vendedor não compete a exceção inadimpleti contractus, mas a de inexistência, do contrato. Todavia, há
a posição do corretor, de modo quê dificilmente se dá ensejo ao problema.
10 s.). A despeito de não se tratar de compra-e-venda, mas de outro contrato, a rescisão por vício redibitório, ou a
pretensão quanti minoris, pode surgir (cf. RAIMUND ALBERT, Pie rechtliche Natur der Wandelung, 24 s.),
tanto mais quando o direito brasileiro foi mais explícito, a respeito dos contratos comutativos (Código Civil,
artigos 1.101-1.106>, do que os outros sistemas jurídicos. Como a prestação com vicio pode ser em
adimplemento de anterior contrato a que o posterior contrato se refere, mesmo que seja em execução de divida
prescrita (cf. MAXIMILIAN RAULBACH, Pie Konsiruktion der Wa.ndelung und der Mindenung im
Ejirgerlicheu Gesetzbuck, 18), a redibição ou a minoração da prestação pode ocorrer.
2.INFRAÇÃO DOS DEVERES. Há, no contrato de reporte, prestações correspectivas, porém a estrutura típica
do contrato de reporte afasta a pretensão à resibilidade, porque a propriedade dos títulos volta automàticamente e
o pagamento do preço é dever simultâneo: a pretensão à execução forçada é a única soluçao, porque se deve bem
fungível, cuja propriedade teria de estar com o reportado. A Bolsa de Valores ou outra entidade que dirija ou
contrôle as operações de reporte tem de adquirir os títulos para a execução forçada administrativa, com a entrega
ao reportador do certificado de crédito, que tem eficácia executiva (título executivo extrajudicial ).
Salvo regra jurídica especial, os contratos de reporte fel-. tos por agentes de câmbio (aliter, pelos corretores), são
válidos (cf. ARTURO CAPUTO, La Liquidazione coaltiva dei cmvtratti di borza vallori, 54 s.; FRÂNCESCO
FERRARA JUNIOR, Li-. quidazione coaltiva deila Compravend.ita commerciale, 169).
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1.LIQUIDAÇÃO E REGRAS LEGAIS. A liquidação é na data que se fixou, não sendo permitida a liquidação
por antecipação (Decreto n. 2.475, de 13 de março de 1897, art. 111; Regimento Interno da Bolsa de Valores, art.
212: “A liquidação será efetuada na data fixada, não sendo permitidos descontes do prazo, isto é, a liquidação por
antecipação”). A préexclusão da liquidação antecipada só se refere às operações. na Bolsa de Valores.
2.TÍTULOS NOMINATIVOS OU TITULOS QUE EXIJAM FORMALIDADE DE TRANSFERÊNCIA. Lê-se
no art. 213 do Regimento Interno da Bolsa de Valores: “Quando se tratar de titulos nominativos ou por
transferência, a liquidação será subordinada às disposição da letra a do art. 203; para a liquidação dos títulos ao
portador, vigorará o disposto na letra 6 do citado artigo”. A lei que rege a transferência da titularidade dos valores
há de ser respeitada. O art. 213 do Regimento Interno é apenas remissivo. Se o título é titulo ao portador, a
liquidação há de ser uma hora antes da Bolsa, contada a do vencimento. Dá-se o mesmo se a transferência há de
ser por endosso (títulos endossáveis). Se o título é nominativo, uma hora antes da bolsa subseqúente à do
vencimento, os corretores permutam memorandos, com os nomes dos compradores vendedores e fazem a
transferência, de modo que, uma hora antes da quarta bolsa, contada a do vencimento, se opere, definitivamente,
a liquidação.
CAPITULO VIII
§ 5.472. Generalidades
2.OPERAÇÕES SUBJETIVAMENTE PROIBIDAS. Nas operações efetuadas em Bolsa, ou nela registadas, não
se podem apresentar, individualmente, como compradores e vendedores de qualquer mercadoria, dois sócios da
mesma firma (Decreto n. 20.882, ad. 82). “Firma” está, aí, como sociedade em nome coletivo, ou sociedade em
comandita simples, ou sociedade em comand]ta por ações (no tocante aos sócios comanditantes). Se a sociedade
é em conta de participação, a responsabilidade do corretor depende de ter esse tido ciência de ser participante o
cliente.
Chegando ao conhecimento do sindico da Junta de Corretores, que dois corretores se mancomunaram com o
mesmo comitente para simular operações, serão êles multados, a arbítrio do síndico, e a operação é nula, sem
qualquer efeito. Ao comitente será vedado realizar novas operações, enquanto não indenizar dos prejuízos que
possa ter causado com essa irregularidade, ficando, além disso, impedido de negociar cm Bolsa durante três
meses (art. 82, parágrafo único).
3. RELAÇÃO JURÍDICA COM O CORRETOR. A relação jurídica do cliente com o corretor é típica. O corretor
não põe em contacto material os dois figurantes do contrato, que podem ignorar quem seja a outra pessoa, ou
quais sejam as outras pessoas, sem caber exame, em conseqUência do sigilo de cada corretor.
A incumbência dada ao corretor para qualquer negociação entende-se finda no mesmo dia, salvo convenção em
contrário (Decreto n. 20.882, art. 35). A regra jurídica não é lus Luterpretativum, a despeito do “entende-se” que
nela aparece. Ç regra jurídica jus dispositivum. Sem ter havido manifestação de vontade em contrário, escrita ou
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2. OPERAÇÕES A VISTA. No Decreto n. 20.882, art. 39, repete-se, para a espécie de negócios jurídicos
bolsísticos, o que é princípio geral de direito concernente nos negócios jurídicos: “São consideradas operações à
vista aquelas cuja ordem para a entrêga da mercadoria fôr passada no mesmo dia da venda, ainda mesmo que os
pagamentos sejam efetuados em prazos convencionados entre os comitentes”.
A expressão “à vista” só se refere, aí, à prestação da mercadoria, e não à contraprestação. Mesmo que a prestação
do preço seja a prazo, ou para momentos sucessivos, tem-se como à vista a operação em que a mercadoria há de
ser entregue no mesmo <tia,. O que importa é o dia da operação.
(no Decreto n. 20.882 diz-se que os “termos” dos regulamentos se presumem “conhecidos e aceitos pelas partes
contratantes”, mas a regra jurídica do art. 48 é ias dispositivum), a liquidação tem a garantia da Caixa de
Liquidação. Se as operações forem sem a vinculação da Caixa de Liquidação, podem os corretores exigir dos
clientes a garantia suficiente para a liquidação (art. 48, parágrafo único). *
A falta de liquidação autoriza o protesto, medida para assegurar a indenização por perdas e danos (art. 44).
2. INADIMPLEMENTO PELO FIGURANTE. Se o figurante deixa de adimplir o que lhe incumbe, ou não
adimple como deveria adimplir, nasceu a pretensão do corretor e do outro figurante, ou dos outros figurantes, a
que êle adimpla. Há a protestabilidade, em medida cautelar; e há o possível requerimento do corretor ou do outro
ou dos outros figurantes para a afixação na Bolsa e na Secretaria da Junta dos Corretores do nome do
inadimplente, com o resumo da operação (Decreto n. 20.882, art. 37). Enquanto não haja completa liquidação, o
figurante faltoso não pode pretender operações bolsísticas, nem o corretor ou seus prepostos podem correr para
êle, salvo se o figurante faltoso e o outro figurante da nova operação, ciente do ocorrido, acordam em que tal
aconteça (art. 37, parágrafo único).
3. ENTREGA DAS MERCADORIAS E RESPONSABILIDADE. A tradição das mercadorias é conforme os
princípios que regem a transmissão da posse e da propriedade. Se a têrmo a operação, a transmissão da
propriedade e da posse é feita por ordem assinada do vendedor, com as características, designação, quantidade,
pêso, marca, lugar de depósito e outros informes que sejam necessários (Decreto n. 20.881, de 30 de dezembro de
1981, ad. 32, e), e Decreto n. 20.882, ad. 45). Diz-se ordem de entrega a ordem passada no mesmo dia da
operação àvista, com antecedência de quarenta e oito horas do vencimento, nas operações a prazo (Decreto n.
20.882, art. 46), quer acompanhada de documentos que hajam de ser entregues ou exibidos ao possuidor
imediato, ou ao tenedor, quer apenas com o caráter de elemento indispensável à tradição longa vzanu, ou breve
manu, ou mesmo ao constituto possessório, ou como papel de legitimação perante a empresa vendedora. Pode
dar--se que a ordem de entrega se junte a título representativo ou incorporante, com os requisitos para que o
comprador possa receber o que foi vendido.
Se alguma dúvida surge na ocasião da conferência do total ou de parte do que foi vendido (Decreto n. 20.882,
artigo 47), ou se a ordem de entrega não satisfaz os pressupostos para a sua validade e eficácia, há recurso, por
escrito, dos interessados comprador, sucessor, preposto, ou corretor para o síndico da Junta de Corretores. Então,
são nomeados dois peritos, escolhidos com a aprovação dos interessados recorrentes é recorridos, que, em
comissão, presidida por um corretor designado, procede à verificação. O laudo da comissão há de ser entregue ao
síndico e registado, em livro especial, na Secretaria da Junta de Corretores (art. 47, parágrafo único). Se a
comissão conclui pela procedência do alegado no recurso quer total quer parcial a desconformidade e a entrega
satisfatória não se faz até o dia do vencimento,. ou vinte e quatro horas após o registro do laudo dos peritos, perde
o vendedor o direito à quantia depositada e responde. pelos prejuízos, perdas e danos, ao outro figurante (art. 48).
A referência a “prejuízos”, e não só a “perdas e danos”, pôsto que essa expressão bastasse, tem, no texto do
Decreto número 20.882, a finalidade de explicitar que não só se responde pelo que objetivamente atinge a
mercadorias, isto é, não só se responde por perda material ou dano material.
No caso de vícios redibitórios, ou de evicção , regem os. princípios gerais de direito (Decreto n. 20.882, art. 49, a
que se há de dar interpretação abrangente; Código Civil, artigos 1.101-1.106, sendo de notar-se que o art. 49 do
Decreto número 20.882 não afasta invocabilidade do art. 1.106 do Código Civil; Código Civil, arts. 1.107-1.117;
Tratado de Direito Privado, Tomo XXXVIII, §§ 4.211-4.213; 4.2144.232; 4.233-4.241). A despeito de a venda
em bolsa ser hasta pública, quando essa é a classificação da operação, a responsabilidade pelos vícios redibitórios
existe. Não basta o recebimento da ordem de entrega para que se inicie o prazo preclusivo do art. 178, § 29, do
Código Civil: é preciso que a ordem haja sido cumprida, de modo que se tenha dado a tradição da. posse imediata.
Os vícios redibitórios podem ser verificados judicialmente (e. g., ação ordinária desconstitutiva, vistoria) ou ficar
a exame por alguma comissão de arbitragem, composta de dois peritos e um corretor; cf. Decreto n. 20.882, arts.
49 e 47). Para a arbitragem e não só arbitramento, entenda-se e quaisquer verificações ou solução de dúvidas,
que exsurgirem, sobre as entregas das mercadorias, objeto de operações registadas na Bolsa de Mercadorias, os
dados são os que constem da classificação oficial da Junta de Corretores (Decreto n. 20.882, art. 50).
t
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À
Adiante, § 5.476, 2.
A propósito do café, açúcar e algodão, diz o ad. 51 do Decreto n. 20.882: “Para a entrega do café, açúcar ou
algodão, em liquidação de negócios realizados ou registados em Bolsa, faz-se preciso que o entregador requeira a
sua classificação oficial, pagando prêviamente os emolumentos constantes da Tabela n. 2, anexa ao regulamento
a que se refere o Decreto n. 20.881, de 30 de dezembro de 1931, e fornecendo as amostras e as latas para o
respectivo acondicionamento”.
Acrescenta o parágrafo único: “A classificação oficial do café e do açúcar será feita por comissões nomeadas pelo
síndico da
Junta dos Corretores entre pessoas de competência especializada no assunto e de sua inteira confiança; a
classificação oficial do algodão se fará na Superintendência do Serviço do Algodão, de acôrdo com as suas
disposições regulamentares”.
Quanto à classificação oficial das mercadorias negociaveis em bolsa, estabelece-se no Decreto n. 20.882, art. 52:
“Para que se possa proceder à classificação oficial das mercadorias negociáveis em Bolsa para entrega às caixas,
faz-se preciso:
a) que o café esteja depositado em armazém geral, e o açúcar e o algodão nesses armazéns ou trapiches,
regularmente organizados; b) que estejam as mercadorias devidamente lotadas e marcadas, conforme declaração
dos fiéis dos ditos armazéns ou trapiches, feita no requerimento em que a classificação fôr pedida; o) em relação
ao café, que se encontre o mesmo acondicionado em sacaria, nova, do tipo oficial; d) em relação ao açúcar, que a
mercadorias seja do tipo uniforme e se ache acondicionada em saco nôvo de algodão, de primeira viagem; e)
relativamente ao algodão, que o mesmo estej a bem enfardado e haja sido prensado, por prensa, registada no
Serviço de Algodão, em fardos com o pêso mínimo de 140 quilos cada um”.
O ad. 53 do Decreto n. 20.882 é de todo interesse, porque estatui inegociabilidade em bOlsa, regras jurídicas de
cuja infração resultaria nulidade do contrato de compra-e-venda. A despeito das minúcias, de ordem técnica,
convém que se reproduzam o art. 53 e os §§ 18, 29 e 3O Diz o art. 53: “Não são negociáveis em Bolsa: a) o café
de qualidade inferior ao tipo 8 da Bolsa do Rio de Janeiro; b) o algodão que não fôr de fibra
resistente, de côr branca ou creme natural e o que contiver corpos estranhos ou salvados de incêndio, varreduras
de armazéns, umidade, sementes, fragmentos de cascas ou fôlhas, resíduos, terra e linters; c) o açúcar sem
uniformidade de côr e demais descrições que o tipo oficial comporta”.
Lê-se no § 1$: “Na série de 10.000 quilos de algodão para entrega às caixas em liquidação de negócios a termo,
não se admitirá mercadoria inferior ao tipo 8, nem na sua composição poderão entrar mais de três tipos diferentes,
desprezados os meios tipos e a diferença de fibra superior a 0,444 m”.
No § 2.0: “Nos meses de julho a janeiro, só poderão ser entregues lotes de açúcar do tipo cristal, bom, sêco, com
um mínimo de polarização equivalente a 990, e, nos meses de fevereiro, março, abril, maio e junho, de açúcar
bom e fino, com a polarização respectivamente de 980½, 98v, 97~~/2 e 970 e 9fi0”
Finalmente, no § 39: “Nos meses de fevereiro a junho é facultada a entrega de açúcares com um mínimo de
polarização equivalente a 96v, pagando, porém, os recebedores, 2% por grau acima do valor, nos térmos do
disposto no parágrafo anterior”.
Acrescenta o art. 54 do Decreto n. 20.882: “As contestações sobre classificação de açúcar serão resolvidas pela
polarização da mercadoria em estabelecimento oficial, observada a tolerância da umidade a que se refere o § 39
do artigo antenor e admitindo-se para a entrega, nos meses de fevereiro a junho, gênero que alcance a polarização
de 98o½~~.
E o art. 55: “A classificação das mercadorias negociáveis em Bolsa se fará por série de 100 atestados cada uma,
discriminados, por ordem numérica e alfabética”. Diz-se no parágrafo único: “O atestado de classificação de café
será válido pelo tempo de 90 dias; o de açúcar, pelo de 15 dias; o de algodão, pelo de 90 dias, contados esses
prazos da data em que os mesmos forem assinados”.
No art. 56: “Em liquidação dos negócios de Bolsa ou nela registados, poderão ser entregues mercadorias de
qualidade superior à dos tipos oficiais adotados, devendo o entregador, nesse caso, ser indenizado pelo recebedor
da diferença de preço entre a mercadoria entregue e o tipo oficial de Bolsa”. Acrescenta o § 1.~: “Essa
indenização se fará de acôr
do com a tabela de diferenças entre os tipos, organizada e semestralmente revista pela Junta dos Corretores, em
colaboração com a Diretoria do Centro do Comércio de Café do Rio de Janeiro, a Superintendência do Serviço do
Algodão e os administradores das Caixas de Liquidação legalmente constituídas, no que tocar à competência
técnica dos mesmos, e fixadas no regimento interno da Bolsa”. Ainda o § 2.0: “Para o efeito da indenização aos
-w
entregadores, é fixada em 30 pontos a diferença entre os tipos de café 2 a 7, inclusive, e de 50 pontos entre os tipos
7 e 8, sendo de vinte réis o valor de cada ponto”.
Lê-se no ad. 57: “Na hipótese prevista no art. 56, nenhum lote de 1.000 sacas de café ou açúcar admitirá mais de
quatro qualidades ou marcas diferentes, nem amostras inferiores a 250 sacas”.
1.VENDAS POR MANDADO JUDICIAL. Os juizes determinam que as vendas sejam em hasta pública,
inclusive em bolsa de valores ou de mercadorias, se a lei o exige, ou se a lei lho permite. As vendas de
mercadorias somente podem ser em bolsa se foi afixado aviso no local em que a Bolsa de Mercadorias funciona,
publicado no Diário Oficial e na imprensa periódica. O corretor há de ser designado pelo juiz competente e as
operações têm preferência nos trabalhos do dia (Decreto n. 20.882, art. 58).
Algumas vendas de mercadorias somente podem ser em bolsa. Uma das espécies é a do Decreto n. 1.102, de 21 de
novembro de 1903, arts. 10, § 1.0, e 23, § 1.0. Lê-se no Decreto n. 1.102, art. 10, § 1.0, a propósito das
mercadorias em depósito nos armazéns gerais: “Vencido o prazo do depósito, a mercadoria reputar-se-á
abandonada, e o armazém geral dará aviso ao depositante, marcando-lhe o prazo de oito dias improrrogáveis para
a retirada da mercadorias contra a entrega do recibo (art. 6.0), ou dos títulos emitidos (ad. 15). Findo êste prazo,
que correrá do dia em que o aviso fôr registado no Correio, o armazém geral mandará vender a mercadoria, por
corretor ou leiloeiro, em leilão público, anunciado com antecedência de três dias pelo menos, observando-se as
disposições do art. 28, §§ 39, 49, 6.0 e 70” No art. 23, § 1?, diz-se que se, no dia do vencimento, não fôr pago o
warrant, “o portador do warrant fará vender em leilão, por intermédio do corretor ou leiloeiro que escolher, as
mercadorias especificadas no titido, independentemente de formalidades judiciais”.
2.Vícios REDIBITÓRIOS E Evícção . Quanto aos vícios redibitórios, diz o Decreto n. 20.882, art. 60: “Nas
vendas judiciais ou naquelas a que se refere o artigo antecedente, não serão admitidas reclamações sobre
qualidade; os compradores deverão examinar a mercadoria no local onde se achar depositada, incluindo os
corretores em seus contratos a cláusula de ter sido a mesma examinada e aceita por seus comitentes”.
A evicção, essa, tem as consequências segundo os principios gerais.
CAPÍTULO IX
1.CONCEITO. A corretagem de seguros, como todas as outras corretagens, não implica representação, nem,
sequer, mediação. A despeito de não se haver cogitado de bolsa de seguros, atribui-se a função a pessoas que
operam como os outros corretores operam, quando os negócios jurídicos se íncluem fora da bolsa; isto é, sem que
existam os dois elementos objetivos, um, especial, e outro, de linguagem: a balaustrada e o pregão. Melhor teria
sido que, em vez de corretor de seguros, se tivesse falado de agentes; mas a conveniência não é base suficiente
para se exprobrar à Lei n. 4.594, de 29 de dezembro de 1964, a terminologia que preferiu. A função é a de
corretor, pôsto que bolsa de seguros não exista e pudesse existir.
O corretor de seguros depende do título que se lhe confira. Antes da aquisição do título, corretor de seguros não é.
Daí os pressupostos para o requerimento e para que se lho defira. Lê-se na Lei n. 4.594, art. 3.0: “O interessado na
obtenção do titulo a que se refere o artigo anterior, o requererá ao Departamento Nacional de Seguros Privados e
Capitalização, indicando o ramo de seguro a que se pretenda dedicar, provando documentalmente: a) ser
brasileiro ou estrangeiro com residência permanente; b) estar quite com o serviço militar, quando se tratar de
brasileiro naturalizado; e) não haver sido condenado por crimes a que se referem as Seções II, III e IV do Capítulo
VI do Título 1; os Capítulos 1, II, III, IV, V, VI e VII do Título II; o Capítulo V do Título VI; Capítulos 1, II e III
do Titulo VIII; os Capítulos 1, II, III e IV do Titulo iX e o Capítulo 1 do Título XI, parte especial do Código Penal;
d) não ser falido; e) ter habilitação técnico-profissional referente aos ramos requeridos”. No ~ 1.0: “Se se tratar de
pessoa jurídica deverá a requerente provar que está organizada segundo as leis brasileiras, ter sede no pais, e que
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seus diretores, gerentes ou administradores preencham as condições dêste artigo”. E no § 2.0: “Satisfeitos pelo
requerente os requisitos dêste artigo, terá êle direito a imediata obtenção do titulo”. O requerimento não só se há
de referir à especialidade da atividade corretora, que é a de seguros. Tem de precisar qual o ramo de seguros em
que há de operar e esse ramo de seguros há de ser um dos que o direito brasileiro admite, e pode acontecer que tem
specialis vede as operações de corretores, no tocante a algum dêles. No art. 8?, a), permitiu-se a função de
corretagem de seguros a estrangeiros que apenas tenham residência permanente no Brasil, o que se há de entender
como domicilio, porque seria estranho que, em caso de duas ou mais residências permanentes, uma no Brasil e
outra no estrangeiro, pudesse o estrangeiro, que o seu país de origem ou outro país considerou domiciliado,
exercer, no Brasil, a atividade corretora. De jure condendo, a corretagem, como pró-fissão, pode ser exercida por
Brasileiro, ou por estrangeiro que seja domiciliado no Brasil, para que as regras jurídicas sobre capacidade e
outras regras jurídicas que dependem da Lez domiojiji sejam as do direito brasileiro.
Se o requerente é Brasileiro naturalizado, tem de estar livre do serviço militar, ou por tê-lo prestado, ou por ter
passado da idade, ou por outra causa, que a lei estabeleça.
O art. 8.0, e), reporta-se aos crimes que não há de ter cometido o requerente: 1) crimes contra a inviolabilidade do
domicílio (Código Penal, Parte Especial, Título 1, Capítulo VI, Seção II), contra a inviolabilidade da
correspondência <Capítulo VI, Seção III), ou contra a inviolabilidade dos segredos (Capítulo VI, Seção IV); 2)
crime de furto (Código Penal, Parte Especial, Título II, Capítulo 1), de roubo ou extorsão (Capitulo II), de
usurpação (Capítulo III); de dano (Capítulo IV); de apropriação indébita (Capítulo V); de estelionato e outras
fraudes (Capítulo VI), ou de receptação <Capitulo VII) ; 8) crime de lenocínio e tráfico de mulheres (Código
Penal, Parte Especial, Título V, Capitulo 1); 4) crime contra a incolumidade pública, tais como de perigo comum
(Código Penal, Parte Especial, Título VIII, Capítulo 1), contra a segurança dos meios de transporte e outros
serviços públicos (Capítulo II), ou contra a saúde pública (Capítulo III) ; 5) crime de moeda falsa (Código Penal,
Parte Especial, Título X, Capítulo 1), de falsidade de título ou outro papel público (Capítulo II), de falsidade
documental (Capitulo III), ou de outra falsidade (Capitulo IV); 6) crime de funcionário público contra a
administração (Código Penal, Parte Especial, Título XI, Capítulo 1).
O que primeiro se há de frisar é que os crimes aí referidos (Código Penal, arts. 150-154, 155-181, 227-282,
250-285, 289-811, 812-827), podem ser cometidos no estrangeiro e regidos por lei estrangeira, com sentença
proferida no estrangeiro. Se o crime conforme a lez fori contém os elementos do suporte fáctico de qualquer dos
crimes que foram mencionados nos textos da lei penal brasileira, de modo que, praticado no Brasil ou fora do
Brasil, mas regido pela lei brasileira, o requerente seria condenado, está composto o pressuposto negativo: não
pode êle ser corretor de seguros no Brasil, mesmo que o pudesse ser ou a seja no estrangeiro.
~1
Em segundo lugar havemos de entender que qualquer estrangeiro, quer seja naturalizado no Brasil, quer não, tem
de
juntar a prova negativa. Não se poderia admitir que o estrangeiro fôsse tratado melhor do que o Brasileiro
(Constituição de 1946, art. 141, § 1.0), como seria contrário aos princípios constitucionais qualquer ato de
legislação que desse a naturais de Estado-membro tratamento diferente do que se atribuísse a naturais de outro ou
de outros Estados-membros.
De iure condendo, é de estranhar-se que possa ser corretor de seguros, por exemplo, quem matou para haver paga
ou outro motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 29, 1), ou poder praticar outro crime, ou para ocultá-lo, ou para
ficar impune ou obter vantagem (art. 121, § 29, V), induzir ou instigar alguém a suicidar-se, ou prestar-lhe auxílio
para que o faça (ad. 122). Ou praticou crimes, corno o de testemunho falso, ou de falsidade em perícia, tradução
ou interpretação em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral (art. 342) e o de dação ou
promessa de dinheiro ou qualquer vantagem para tais atos por parte de outrem (artigo 348).
Quem faliu, ou quem foi considerado culpado em liquidação coativa, não pode ser corretor de seguros. Não
importa se a decretação da abertura da falência foi no Brasil ou fora do Brasil. A lei somente se referiu à falência.
Não se há de estender a regra jurídica ao concurso civil de credores, O que pode acontecer é que, nesse concurso,
fique provada a prática de algum dos crimes referidos no art. 3O, e), da Lei n. 4.594 e advenha a coisa julgada de
sentença criminal.
Se, por ocasião do requerimento de autorização, há inquérito policial ou ação penal já intentada, por algum dos
crimes que o ad. 39, e), menciona, não basta isso para se denegar a autorização; mas a posterior condenação tem
conseqUência imediata á coisa julgada. Se, ao tempo do requerimento, o corretor ja teve contra si sentença que
-w
Dai termos de considerar apenas pendencial a denegação ou o retardamento. Isso não afasta
que se reconheça o direito à imediata obtenção do título, de que cogita o art. 3~0, § 29, suscetivel de
exame judicial, com invocação do art. 141, § 49, da Constituição de 1946.)
O último requisito aliás, em verdade o primeiro, porque é o pressuposto positivo é da habilitação
técnico-profissional, que há de ser a propósito do ramo de seguros em que quer operar.
A respeito das sociedades corretoras de seguros, permitiu-se que se componha de Brasileiros
natos, ou de Brasileiros naturalizados, que hajam preenchido a exigência do art. 39.
que se refere ao serviço militar, ou de estrangeiros domiciliados no Brasil (“com residência
permanente”), ou não (o que também é de estranhar-se). Apenas quanto aos diretores, gerentes ou
administradores, tenham ou não poder de presentação ou de representação, foi exigido o
domicilio no Brasil (z= “residência permanente”)
No § 2.0 do art. 8.0 diz-se que, satisfeitos os requisitos exigidos pelo art. 39, tem o requerente “direito à
imediata obtenção do titulo”. Se, no plano do direito administrativo, não há recurso do despacho do
Departament0 Nacional de Seguros Privados e Capitalização, há a invocabilidade do artigo 141,
§ 49, da Constituição de 1946, a proponibilidade da ação ordinária, ou da ação de mandado de
segurança, desde que os pressupostos estejam satisfeitos.
Quanto à habilitação técnico-profissional, estatui a Lei ~ 4.594, art. 49: “O cumprimento à exigência da alínea e)
do artigo anterior poderá consistir na observância comprovada de qualquer das seguintes condições: a) servir há
mais de dois anos como preposto de corretor de seguros para os ramos requeridos; b) haver concluído curso
técnico-profissional de seguros, oficial; e) apresentar atestado de exercício profissional anterior a esta lei,
fornecido pelo sindicato de classe ou pelo Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização”. A
eficácia de qualquer desses documentos é suscetível de exame judicial, caso a denegação seja por insatisfação do
pressuposto do ad. 8.0, e).
Diz a Lei n. 4.594, art. 6.0: “Não se poderá habilitar novamente como corretor aquêle cujo título de habilitação
profissional houver sido cassado, nos termos do art. 24”. Falaremos do assunto, ao cogitarmos do art. 24. A
cassação é definitiva, porém não incólume à interposição de recurso, que o direito administrativo admitir, ou à
propositura de ação, inclusive de mandado de segurança, contra o ato cassatório.
Diz a Lei n. 4.594, art. 89: “O atestado, a que se refere a alínea o> do art. 40, será concedido na conformidade das
informações e documentos colhidos pela Diretoria do Sindicato, e dêle deverão constar os dados de identidade do
pretendente, bem como as indicações relativas ao tempo de exercício nos diversos ramos de seguro e as empresas
a que tiver servido”. No § 1.0: “Da recusa do Sindicato em fornecer o atestado acima referido cabe recurso, no
prazo de 60 dias, para
O Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização”. No § 2.0: “Os motivos da recusa do atestado,
quando se fundarem em razões que atentem à honra do interessado, terão caráter sigiloso e somente poderão ser
certificados a pedido de terceiros por ordem judicial ou mediante requisição do Departamento Nacional de
Seguros Privados e Capitalização”.
O art. 5~0 concerne a quaisquer pessoas, Brasileiros natos, ou Brasileiros naturalizados, que desejem o título de
corretor de seguros. Do art. 8.0 indubitâvelmente se tira que os estrangeiros, domiciliados no Brasil, que o
queiram, têm de apresentar o atestado, como qualquer Brasileiro nato, ou naturalizado. Se a pessoa apenas vai ser
diretor, ou gerente, ou administrador tem de satisfazer a exigência do atestado.
Acrescenta a Lei n. 4.594, art. 99: “Nos municípios onde não houver sindicatos da respectiva categoria,
delegacias ou seções desse sindicato, poderá o atestado ser fornecido pelo sindicato da localidade mais próxima
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Diz o ad. 25: “Ficam sujeitos à multa correspondente t 15% do prêmio anual da respectiva apolice, e ao dôbro no
caso de reincidência, as empresas de seguro e corretores que, transgredindo o ad. 14 desta lei e as disposições do
Decreto-lei n. 2.063, de 7 de março de 1940, concederem, sob qualquer forma, vantagens que importem no
tratamento desigual dos segurados”.
E o ad. 22: “Incorrerá na pena de multa de Cr$ 5.000 a Cr$ 10.000 e, na reincidência, em suspensão pelo tempo
que durar a infração, o corretor que deixar de cumprir o disposto nos arts. 16 e 17”. É simplesmente ridículo que
para faltas tão graves se estabeleçam tão pequenas penalidades.
Conforme o ad. 24, “incorrerá em pena de destituição corretor que sofrer condenação penal por motivo de ato
praticado no exercido da profissão”.
Diz-se no ad. 23: “Incorrerá em pena de suspensão das funções, de 30 a 180 dias, o corretor que infringir as
disposições desta lei, quando não foi cominada pena de multa ou destituição”.
Quanto à~ penas, diz o art. 26: “O processo para cominação (?) das penalidades previstas nesta lei reger-se-á, no
que fôr aplicável, pelos arts. 167, 168, 169, 170 e 171 do Decreto-lei n. 1.063, de 7 de março de 1940”.
Condenação; não cominação.
Acrescenta o art. 27 da Lei n. 4.594: “Compete ao Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização
aplicar as penalidades previstas nesta lei e fazer cumprir as suas disposições”.
1.PRIvATIVIDADE DA CORRETAGEM. Uma vez que o sistema jurídico somente permite que os corretores
de seguros intermedeiem nos contratos de seguros e ainda exige a especialidade profissional conforme o ramo de
seguros, ou os ramos de seguros, há o principio da exclusividade das operações de corretagem de seguros. Quem
não é corretor não pode concluir contrato de corretagem com cliente interessado em outorga de seguro, nem com
empresa de seguro. Se há contrato de corretagem de seguro em que um dos figurantes não é corretor, há nulidade
do contrato de corretagem. Se foi concluído o contrato de seguro, a nulidade do contrato de corretagem fio atinge
o contrato de seguro, porque figurantes foram, diretamente, em consequência da nulidade do contrato de
corretagem, o cliente e a empresa de seguros. Tal empresa está adstrita ao cumprimento do que se estabelece no
art. 19 da Lei n. 4.594.
Estatui o art. 29 da Lei n. 4.594: “Não se enquadram nos efeitos desta lei as operações de co-seguro e resseguro
entre Empresas seguradoras”.
2. COMISSÃO DE CORRETAGEM. Se o contrato de corretagem é válido e se, por obra do corretor, se concluiu
o contrato de seguro, tem êle direito à comissão.
Diz a Lei n. 4.594, art. 18: “Só ao corretor de seguros devidamente habilitado nos termos desta lei e que houver
assinado a proposta, deverão ser pagas as corretagens admitidas para cada modalidade de seguro, pelas
respectivas tarifas, inclusive em caso de ajustamento de prêmios”. Diz o § 1.0:
“Nos casos de alterações de prêmios por êrro de cálculo na proposta ou por ajustamentos negativos, deverá o
corretor restituir a diferença da corretagem”. E o § 2.0: “Nos seguros efetuados diretamente entre o segurador e o
segurado, sem interveniência de corretor, não haverá corretagem a pagar”.
O corretor de seguro não pode exigir ou receber mais do que o fixado nas tarifas, inclusive em caso de
ajustamento de prêmios. Se, por êrro de cálculo na oferta, ou na aceitação, ou em ajustamentos posteriores, o
corretor recebeu mais do que lhe era devido, tem de restituir a diferença da comissão de corretagem. Se, em vez
de ter recebido mais, recebeu menos do que lhe havia de ser pago, cabe-lhe exigir o restante.
No § 2.0, há regra jurídica supérflua, que só se pode explicar para se afastar qualquer pretensão do corretor a que
se lhe pague comissão de corretagem se não houve a atividade especifica. Todavia, há eventuais quaestiones
facti: a) Se o corretor não tinha contrato de corretagem, nem com o cliente nem com a empresa, e levou ou
remeteu à empresa de seguros oferta e essa a aceitou, j,tem o corretor de seguros direito à comissão? Tudo
depende de saber-se se a empresa não teve oferta direta, ou se preferiu a oferta como lhe veio do corretor de
seguros. Nas duas espécies, a entrega da oferta e a aceitação pela empresa supõem a superveniência da conclusão
do contrato de corretagem. Quanto ao interessado na outorga de seguro, somente se vincula em contrato de
corretagem se posteriormente à oferta que o corretor levou à empresa de seguros foi por êle retificada (o corretor
procedeu como gestor de negócios alheios sem poderes).
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Se a conclusão do contrato de seguro foi direta (= sem a atividade do corretor de seguros), a empresa tem de
prestar o equivalente para fins sociais, conforme o art. 19.
§ 5.481. Sindicatos de corretores de seguros de prestar aos interessados corretores de seguros, prepostos e
sindicato os “dados necessários”.
Lê-se na Lei n. 4.594, art. 10:..vS organizarão e manterão registro dos corretores e respectivos prepostos,
habilitados na forma desta lei, com os assentamentos essenciais sobre a habilitação legal e o “curriculum vitae”
profissional de cada um”. Diz o parágrafo único: “Para os efeitos dêste artigo, o Departamento Nacional de
Seguros Privados e Capitalizações fornecerá aos interessados os dados necessários”.
De tudo isso se tira que os corretores de seguros e os prepostos têm de sindicalizar-se, de acôrdo com os
princípios concernentes à organização sindical.
2.PUBLICIDMIE. A lista dos corretores de seguros e dos prepostos há de ser publicada, para que se saiba, com
exatidão , quem é corretor de seguros ou preposto. Nas expressões “corretores e respectivos prepostos” estão
inclusas as sociedades corretoras, mas, a respeito dessas, tem-se de atender a que há diretores, gerentes e
administradores, de modo que todos ésses dados há de constar, obrigatoriamente.
Diz a Lei n. 4.594, art. 11: “Os sindicatos farão publicar, no Diário Oficial da União e dos Estados, a relação
devidamente atualizada dos corretores e respectivos prepostos habilitados”. Não se cogitou de data fixa. Sempre
que a lista e alterada, irradiam-se para o sindicato o dever e a obrigação de publicidade.
1.PROFISSIONALIDADE E ORGANLZAÇÂO SOCIETÁRIA. A Lei n. 4.594 referiu-se aos sindicatos, no art.
59, b), ao exigir aos corretores de seguros o pagamento do impôsto sindical, para que possam exercer a profissão.
Nos arte. 10 e 11, fala do registro dos corretores e dos prepostos, do curriculum vitae dos corretores de seguros e
dos prepostos, do dever que tem e Departamento Nacional de Seguros Privados e Capitalização
CAPITULO 1
FIDUCIÁRIA, EM SEGURANÇA
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1. PRECISÕES. Antes da Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, o assunto da cessão fiduciária de créditos e de
transmissão fiduciária da propriedade fôra largamente versado nos Tomos XXI, §§ 2.668-2.678, e XXIII, § 2.826,
que convém sejam todos antes do trato especializado que aqui dedicamos aos dois institutos congêneres.
A expressão “transmissão fiduciária da propriedade” põe a palavra “propriedade” em sentido larguíssimo, porque
há transferência fiduciária de direitos, que não são, sequer, direitos reais. Tal o que ocorre com a transmissão
fiduciária de créditos.
Por vêzes, alude-se a negócio jurídico encoberto, verdecktes Gesehàft, porém a fiduciariedade não implica
encobrimento, menos ainda simulação (cf. A. WULFF, Das Voilindossament zu Inkassozwecken, 67).
A transmissão fiduciária pode ser de moeda (cf. FitITz 11AM, Die Sietierstellung durch tibcreignung ejuer
Gelclsunrme nach deutsekem biirgerlichern Reckt, 65 s.).
Uma vez que se concluiu o negócio jurídico de transmissão fiduciária da propriedade ou do crédito, com os
requisitos exigidos, inclusive o registário, não há apurar-se se a. dívida era simulada, ou não, salvo para se atacar
a própria dívida (cf. MAx voN ASSEBURO-NEINDORFE, Cessio in securita tem, 45; FRn‟z CASPARI,
Sich,erungslibereignung und Sicherungsces.£ .sion, 12). Com a decretação de invalidade do negócio jurídico
aliudido, ou com a declaração da inexistência da dívida que se quis garantir, apenas se dá ensejo ao cancelamento
do registro.
W. HOLMES, Early English Equity, Sei ect Essaus, II, 705, que o ligou à Treuhand ou ao ,S‟almann). Com-.
preende-se que tenha havido, na evolução dos negócios juri-dicos fiduciários, maior ou menor atuação da ordem
jurídica no tocante à eficácia, quer para a diferenciação quer para o surgimento ou a precisão das pretensões, das
ações e das exceções. Mesmo se, aqui e ali, o elemento histórico da Treuhand ou do Salmann, ou do writ o)‟ sub
poena é de relevância, não se pode eliminar a contribuição histórica da fiducio. romana. O que mais sobressai, se
comparamos, a respeito dos negócios jurídico fiduciários, os diferentes sistemas jurídicos, é a maior hostilidade
ou a menor ou maior acolhida. Uns põem de lado o fiduciante, pelo menos quanto às relações jurídicas com
terceiros. Outros acentuam a posição do fiduciante, de jeito que
a violação do negócio jurídico pelo fiduciário, breaeh ol trust, tem contra si as ações pessoais e reais do
fiduciante. (Contra a opinião de HOLMES está JAMES BAuR AMES, Origin of Uses, Lectures, 233, que
sustentou ser indígena a criação, e não importada do direito germânico; no mesmo sentido, W. S.
HOLnsWORTH, History of Engtish Law, IV, 418). Cf. sobre isso. HAROLD POI-rER (Au. Historical
Jntroduction to English. Law and its In.stitutions, 529 s.).
Cumpre que não se confundam os negócios jurídicos fiduciários com os negócios jurídicos simulados, nos quais
há discordância, que não há nos negócios jurídicos fiduciários, entre a vontade e a manifestação de vontade.
Naqueles, assim no que se atribui como no que se exige, a manifestação de vontade é do que se quer, e não do que
se simula. Aqui, há vício de vontade; ali, não.
O assunto de que aqui nos ocupamos é pertinente a negócio jurídico fiduciário, mas, venha de onde vier, ou de
onde tenha vindo a fidúcia, inclusive como Treuhand (cf. J. HEIN, Grundriss des Treuhandreckts, 17 s.), o
elemento fidúcia aparece em diferentíssimas figuras jurídicas.
Preliminarmente, afastemos que o principio do numerus clausus seja óbice à transmissão da propriedade
fiduciária ou da posse fiduciária. No sistema jurídico brasileiro, a introdução dos arts. 647 e 648 do Código Civil
mostra que a absolutidade e abstratividade do direito real ressaltam das regras jurídicas especiais, particularmente
quanto ao registro e à tradição da posse. Há o elemento comum à propriedade re;solúvel e à propriedade
fiduciária, mas é a fidúcia que distingue essa daquela.
Pode dar-se que o transmitente não seja,no momento, possuidor, e o art. 66, § 49, fêz pressuposto da.
transferência fiduciária do domínio ser possuidor próprio ~a transmitente. De iure condendo, a solução contrária
não seria desaconselhável, porque, no sistema jurídico, não é óbice à alienação do domínio o não ser possuidor o
alienante, e a própria Lei n. 4.728 não deu tôda a posse ao credor. O que se há de entender é que a transferência
eficácia do negócio jurídico de alienação somente se opera quando o alienante adquire a posse própria, para
poder transferi-la ao credor. Mas só nos casos da Lei n. 4.728.
A propriedade fiduciária pode ser de bem móvel ou de bem imóvel. A alienação pode ser em segurança. Se o
devedor entrega em penhor algum bem móvel, fungível, a propriedade e a posse transmitem-se ao credor, que
apenas tem de restituir o que recebeu em qualidade e quantidade (cf. Código Civil, ad. 770, alínea ~ Se o bem
móvel não era fungível, ou há a transmissão da propriedade e da posse, em segurança, ou a) o devedor permanece
na posse, porque tem de prestar se não solver a divida, ou b) não permanece, porque somente há, a favor dêle, a
resilibilidade no momento do adimplemento da dívida, O art. 66 da Lei n. 4.728 apenas cogitou da espécie a). O
devedor aliena a propriedade, mas fiduciàriamente, para que o credor seja o dono enquanto não se paga o quanto
devido. O devedor deixou de ser dono, e só tem posse imprópria. Se aliena o bem objeto da fidúcia, a alienação é
a non domino, como se qualquer pessoa alienasse o que é de outrem. Ideni, se empenha, ou dá em caução, ou faz
objeto de direito real o que fiduciàriamente é de outrem.
A existência de fundo coletivo que não tem personalidade jurídica, nem se pode explicar pela transmissão
fiduciária da propriedade das poupanças, ou é pro indiviso, a porta aberta ou não, ou pro diviso, porque já era
comum e não se fêz comum somente porque se constituiu o fundo. No direito brasileiro, há a comunhão seja de
direitos reais seja de direitos pessoais, uma vez que patrimoniais sejam (Código Civil, artigos 629, parágrafo
único, e 630, que fixa em cinco anos o máximo para a indivisibilidade).
Para que se afaste a incidência dos arts. 629, parágrafo único, e 630 do Código Civil, um dos meios foi a figura da
sociedade de indivisão, a que recorreu parte da doutrina francesa (e. g., A. IONASCO, La Copropriété dun bien,
133 s.; J. LEBRET, La Notion dindivision, 166 s.), que seria sem personalidade jurídica. Não se precisa disso. O
direito brasileiro tem a sociedade em. conta de participação, que consta dos artigos 325-328 do Código
Comercial. Com a figura de tal sociedade, conforme já frisamos no Tomo LI, § 5.400, 2, que é sociedade sem
personalidade jurídica, segundo resulta dos próprios textos legais, a indivisibilidade necessàriamente limitada ao
máximo de cinco anos está afastada, bem como a comunidade de entradas.
Cumpre, ainda, advertir-se que se tem a conta de participação não-societária.
4. DADOS HISTóRICOS. O negócio jurídico de alienação fiduciária, em segurança, vem de instituto romano da
época republicana. Fazia-se por inancipatio ou in inre cessio. A despeito do que escreveu II. SIBELi (Rõmisches
Rech,t, II, 121, nota 7), o nome era o de pactum fidneiae. A ação do devedor, se foi cancelada a dívida, era ação
pessoal, a actio fiducine, e a condenação continha a nota de infâmia. Usava-se a Lex commissoria, a cláusula de
comisso. Também se recorria ao pactum de vendendo.
A fiducia aparece, nos textos romanos, a propósito do depositum, do commodatum, do oontractu.s pigneraticius,
o que, em realce, está em PAUL OERTMANN (úber die fiducia, 184), espécies em que se há de restituir a posse.
A restituição era tida, pelos juristas, como objeto de pretensão pessoal (cf. MÀX JACOBY, Kritische
Untersuchungen, 13), mas hoje seria impertinente reputarem-se pessoais as ações possessórias e as ações de
restituição nos casos de fidúcia. Por outro lado, há fidúcia no fideicomisso e há a restituição da propriedade e da
posse, bem como dos frutos colhidos, ou que deviam ter sido cedidos pelo fiduciário, antes da abertura da
sucessão (cf. RARL SALKOWSKI, De legatis et fideicommissis, Ausfúhrtiche Erlãuterung de voN GLÚCE, 49,
426; FE. BLtÚGGER, tjber den Anspruch. des Singuliarvermãchtnissnehmers aul Friich,te, 3 a.). A transmissão
da posse era relevante nos contratos de compra-e-venda, para que o vendedor a perdesse: enquanto não a
transmitia, o comprador, que tivesse algum poder, era detentor. O dever de entregar pode ser quanto ao que foi
adquirido pelo comprador, segundo os princípios: frutos, ou partes, ou pertenças (cf. BAv. VOORDA, nota ad
JANI A COSTA, Praelectiones ad iflustrationes, 838).
Tem-se frisado que a transmissão da propriedade em segurança é exemplo de instituto que se expõe com
argumentos secundum leg em, praeter legem e contra legem. A prática mais pesou do que a legislação, sem que
com isso se ferissem os sistemas jurídicos. Alguns juristas chamaram atenção para os §§ 1.205 e 1.206 do Código
Civil alemão, em que se proibiu a hipoteca de bens móveis. No direito brasileiro, também não há hipoteca
mobiliária, e é excepcional o penhor sem a tradição (com a cláusula constituti), conforme o Código Civil, artigo
769. A Lei n. 4.728, art. 66 e §§ 19-10, veio regrar, em direito escrito, nos pontos capitais, o instituto, no tocante
aos bens móveis.
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A despeito do numerus clausus dos direitos reais, a transmissão fiduciária em segurança, inclusive da propriedade
em segurança (Sicherungseigentum) passou a ser figura típica (cf. GUSTAV BOEHMER, Grundlagen des
Riirgerlichen Recktsordnung, li, 148).
adimplemento da dívida, se não foi por alienação do bem móvel pelo credor para se pagar a dívida. Solução, essa,
de origem germânica (H. BRUNNER, Forschu‟ugen zur Geschichte des deutsehen únd franzõsischen Redita,
620 5.; OTTO VON GIERKE, Seflulá uM Ilaftung im àlteren. dmttschen Rech,t, 26 s.), e não romana, pois a
fidúcia não era com transmissão condicionada.
Dá-se o mesmo se, em vez de transmissão fiduciária da propriedade, em segurança, o caso é de cessão fiduciária,
em segurança, de direito de crédito, ou de outro direito que não seja direito real.
3.TRANSMISSÃO FIDUCIARIA DA POSSE E OUTRAS FIGURAS.
Á diferença do que se passa com o direito de penhor, a transmissão fiduciária é independente do crédito, não é
acessória. O credor pode transferir o crédito, caucioná-lo, ou de qualquer modo submetê-lo a direitos de outrem,
sem que o faça quanto .à propriedade, bem como pode dispor dessa, ou gravá-la, sem dispor ou gravar o crédito.
Há a penhorabilidade, a arrestabili.dade e a seqilestrabilidade de um, e não a do outro direito.
O que acima dissemos quanto à transmissão fiduciária, em segurança, de direito real, também é invocável a
propósito da transmissão fiduciária, em segurança, de qualquer outro direito, inclusive da cessão de crédito.
Se A é devedor a B e transfere, fiduciáriamente, em segurança, a propriedade de bem móvel, ou de bens móveis,
pode B ceder a C o crédito contra A, sem que transfira a C a propriedade fiduciária, em segurança, que lhe fôra
transmitida; ou transfere a propriedade fiduciária, em segurança. sem que ceda o crédito.
4. “TRusT”. O conceito de trust, truste, como figura de coalizão industrial, nada tem com o de trust, no sentido de
empresa fiduciária, de financial trust, ou investinent trust (co‟mpany, ou trual corporation). Com as empresas de
investimento, o que se tem por fito são as operações para investimentos em títulos de crédito, ou ações, ou
colocação, ou outras operações semelhantes. Originàriamente, eram feitas por bancos; depois, com a mais precisa
distribuição da atividade humana, que, em sua evolução, exige divisão do trabalho e especialização, surgiram
empresas financeiras distintas dos bancos.
Não se pode dizer que as empresas de investimento sejam sempre sociedades por ações para aquisição de ações e
outros títulos. Estaríamos a reduzir a forma societária, ou mesmo a reduzi-las a sociedades. Por outro lado, não
bastaria o elemento da fidúcia, para as classificar, porque há empresas fiduciárias que não são investitivas. Mais
ainda: qualquer delimitação conforme a legislação e a prática de um Estado pode chocar-
-se com a da legislação e a prática de outro Estado (e. g., Grã-Bretanha e Alemanha ou Suíça ou Itália).
Seja como fôr, trust é fidúcia: alguém, pessoa física ou pessoa jurídica, adquire e exercita poder, direito ou
patrimônio, no interesse de outrem (cestuy que trust), por manifestação de vontade do beneficiário, ou de terceiro,
mesmo por ato de última vontade. O cestuy que truvst fica em posição regrada pela eqúidade (equitable estaI e),
ao passo que o trusteze, o fiduciário, tem a titularidade sobre a coisa ou sobre o direito (legal estale). Por ai se vê
que a diferença entre o fiduciário do direito brasileiro e o do direito inglês se prende às próprias fontes dos direitos
do fiduciante ou beneficiário e do fiduciário, que são, no direito inglês, a comnwn law e a .equity, e atos
posteriores tentaram fundir (Jueticature Acte de 1873 e 1875; cf. Property Act de 1925). A relação jurídica de
fidúcia ressalta no trust, porque se trata de confidence relaticmship, ou fiduciary relationship.
O beneficiário do trust tem direito de following the trust property, que apenas não pode ferir o terceiro adquirente
a título oneroso e de boa fé. Daí, o próprio F. W. M.AInÀND (Lectures on Equity, 7a reimpressão, 23 s.), que ai
via direito pessoal do fiduciante, dizer que, a muitos propósitos, se há de tratar como se fôsse jus in rem. O trust
ownersh,ip pode ser alienado como o pode ser o beneficial ownership.
A propriedade do fiduciário é no interesse do fiduciante, ou do terceiro beneficiário, O fiduciante, o setílor, retira
do seu patrimônio algo, que passa ao patrimônio do trusice, do fiduciário, O que, então, ocorre no direito
britânico e no direito brasileiro, é o mesmo, salvas as diferenças, de algum modo sutis, entre os dois sistemas
jurídicos.
Na Inglaterra, o impôsto de renda recai sobre os acionistas, mas a sociedade é que o paga, por conta desses. Nos
Estados Unidos da América, há a dupla imposição, mas em 1936, abriu-se exceção a favor das investment
companies, que distribuiram cem por cento das rendas aos acionistas; mas o Revenue Ad de 1940 diminuiu o
percentual para noventa por cento. Na Holanda, as Releggingsmantscnappije~ foram mais favorecidas: se
sessenta por cento da renda bruta forem distribuídos, está isenta do impôsto de renda a sociedade de investimento.
No Canadá há diferença entre sociedades de residentes e sociedades de não-residentes (noventa e cinco por cento
do capital é de não-residentes, ou a divida a não-residentes é de cem por cento).
A origem do businesa trust data, nos Estados Unidos da América, do Massachussets Trust. De lá passou à
Inglaterra e ao mundo. Nada tem com a figura do trust de que aqui cogitamos.
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CAPITULO II
Entre as duas espécies transmissão fiduciária, em segurança, de direitos reais e transmissão fiduciária, em
segurança, de crédito ou de outro direito pessoal (cessão fiduciária de crédito, em segurança; cessão fiduciária de
outros direitos pessoais, em segurança), há a transferência fiduciária, em segurança, dos títulos incorporantes e a
transferência fiduciária dos títulos representativos.
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2.PROPRIEDADE, POSSE E ALIENAÇÃO. A alienação pode ser só da propriedade, como pode ser só da
posse. O que adquiriu a propriedade pode ser credor e tê-lo feito para que se lhe garantisse, fiduciàriamente, o
crédito, O possuidor, que não tem (ou ainda não tem) a propriedade, pode prestar garantia, com a transferência da
posse ao seu credor. Não há princípios no sistema jurídico brasileiro que se oponham a isso.
Sem dúvida, a transferência da propriedade mais a transferência da posse, inclusive com o constituto possessório,
perfazem a mais simples das transmissões da propriedade fiduciária. Porém isso de modo nenhum afasta que se
dê a propriedade em fidúcia, se propriedade se tem e não se tem a posse imediata, ou mesmo qualquer posse, por
ter havido, por exemplo, esbulho.
A transferência fiduciária, em segurança, pode ser da titularidade de créditos, ou seja em títulos circuláveis, ou
seja em simples documentos. Aqui, há cessão fiduciária, em segurança, de créditos contabilizados, o que de
modo nenhum se confunde com o penhor ou a caução de títulos de crédito (Código Civil, arts. 789-795). Há, ali e
aqui, cessão em segurança, dita, aqui,. desconto de créditos contabilizados, negócio jurídico que não exige, para a
sua eficácia transíativa, notificação do devedor (cp. Código Civil, art. 1.069), porém que só se eficaciza com o
registro. Não há confundir-se com o penhor, ou com a caução de créditos, a cessão, em segurança, de créditos
contabilizados (HEINRICH HOENIGER, fie Diskontierung raiz Buchforderun>gen, 8 s.) ou de títulos de crédito.
A eficácia quanto ao devedor, para que êle saiba a quem há de pagar, essa, sim, depende da notificação.
Se o fiduciante notifica o devedor de ter cedido o crédito, a eficácia contra o devedor se estabelece, mas a
transferência está feita desde o registro.
As regras jurídicas que, de modo geral, afastam o constituto possessório, em se tratando de penhor, não são
invocáveis no que se refere a transmissão da propriedade em segurança (além dos tratadistas, quase em
unanimidade, ERICH iBECKER, Sickerung des Gkiubigers durch constitutum possessorium, 14 s.; GEoito
TARNOWSRI, Die fiduciarische Abtretung von Forderungen, 52; WILHELM ENGEL, Sicherungsúbereignung
um! Sickerungscession, 24 s.; MAx vON ASSEBURG-NEINDORFF, Cessio jiz securitatem, 32 5.; diferente,
SALOMO BUEI1Ow, fie Sickerungsúbeignungen, 20 s., e FLIITZ CASPARI, Sickerungsiibereignung und
Sicherungseession, 26 s.). Os documentos do crédito podem ficar com o fiduciante, pois que o registro foi feito.
Para que se dê transmissão, é preciso que se respeitem os princípios especiais.
liquidação é o valor da propriedade fiduciária, e não o do que volte ac fiduciante, porque esse não seria apanhado
pelo concurso de credores do fiduciário (cf. A. WULFF, Das Vollindossamcnt zu Inkassozwecken, 82;
STEINELINCK, Das fiduciarische bufossa.ment, 48; FIUEDLIICiI PUVOGEL, Begriff der fiducianschen
Rechtsitbertragung und deren Bedeutung, 41).
A propósito da parte pro indiviso no bem cuja propriedade se transfere, em segurança, cumpre advertir-se que o
fiduciante perde a sua parte pra indiviso e o fiduciário a recebe, passando a ser comuneiro, fiduciàriamente (só
êle), na propriedade do bem. A transferência de modo nenhum altera a situação jurídica dos condôminos, entre si;
apenas a parte pro indiviso, que foi objeto do negócio jurídico, se torna de outrem, que a perde ao ser adimplida a
divida do fiduciante. A esse volve a parte pra indiviso.
Devido à~ palavra “possuidor”, que aparece no art. 66, surge a questão de se saber se a) o credor proprietário se
faz possuidor próprio mediato, e o devedor, pelo constituto possessório, permanece possuidor imediato, ou lO se
o credor só tem a propriedade, e não a posse, ou e) se o credor recebe toda a posse e o devedor fica, apenas, com
o precanum, com a tença. A solução o) tem de ser afastada, evidentemente, porque a Lei n. 4.728, no art. 66, § 2.0,
diz que o devedor continua a possuir, “em nome (7> do adquirente”, o bem móvel cuja propriedade transferiu. No
art. 66, § 39, subordina a eventual aquisição da posse, pelo devedor, à aquisição da propriedade. Cumpre, porém,
observar-se que, no art. 66, § 39, a regra jurídica é dispositiva, e não cogente; de modo que se pode estabelecer
que a propriedade se transfere imediatamente, a despeito de não ter o alienante a posse do bem, bis dispositivum,
como é o art. 66, § 39, as ações que foram subscritas (ou outros títulos ou valores que dependem de subscrição) e
ainda não foram emitidas podem ser objeto de transmissão fiduciária da propriedade, em segurança.
O constituto possessório passou a ser, dispositivamente, um dos pressupostos. Se o fiduciante, ao tempo do
negócio jurídico, não era possuidor próprio, a cláusula de constituto possessório é ineficaz, de modo que a
transmissão não se opera, ou se opera ao adquirir o devedor a posse própria, sem que se tenha de indagar da boa fé
em que estava o credor. A solução não coincide com a do direito alemão (Código Civil alemão, § 983; cf.
HEINRICTI LANGE, Ware und Geld, 2.~ ed, 191 5.; Vo~n atten zum neuen Schuldrecht, 49 5.; Lage and
Zukunft der Sicherungsiibertragung, Neve Juristische Wochenschrift, 1951, 565 s.; e o estudo sociológico de
MÚNzm~, Eigentumsvorbehalt und Sicherungsúbereignung, Monatsschrif 1 flir Deutsckes Rech,t, 1951, 129 s.).
No direito brasileiro, a eficácia vinculativa inicia-se com a conclusão do negócio jurídico; a traslativa, não:
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depende da posse própria transferivel, ou da aquisição da posse própria transferível, caso em que só então se dá.
Devido à palavra “possuidor”, que aparece no ad. 66. surge a questão de se saber se a) o credor proprietário se faz
possuidor próprio mediato, e o devedor, pelo constituto possessório, permanece possuidor imediato, ou lO se o
credor só tem a propriedade, e não a posse, ou e) se o credor recebe toda a posse e o devedor fica, apenas, com o
precanum, com a tença. A solução o) tem de ser afastada, evidentemente> porque a Lei n. 4.728, no art. 66, § 29,
diz que o devedor continua a possuir, “em nome („2) do adquirente”, o bem móvel cuja propriedade transferiu. No
art. 66, § 39, subordina a eventual aquisição da posse, pelo devedor, à aquisição da propriedade. Cumpre, porém,
observar-se que, no art. 66, § 39, a regra jurídica é dis positiva, e não cog ente; de modo que se pode estabelecer
que a propriedade se transfere imediatamente, a despeito de não ter o alienante a posse do bem. Jus dispositivum,
como é o art. 66, § 39, as ações que foram subscritas (ou outros títulos ou valores que dependem de subscrição) e
ainda não foram emitidas podem ser objeto de transmissão fiduciária da propriedade, em segurança.
Oconstituto possessório passou a ser, dispositivamente, um dos pressupostos. Se o fiduciante, ao tempo do
negócio jurídico, não era possuidor próprio, a cláusula de constituto possessório é in4icaz, de modo que a
transmissão não se opera, ou se opera ao adquirir o devedor a posse própria, sem que se tenha de indagar da boa fé
em que estava o credor. A solução não coincide com a do direito alemão (Código Ci
vilalemão, § 983; cf. HEINRIOR LANGE, Ware und Geld, 2a ed, 191 s.; Vom alten zum neuen Schutdrech,í, 49
s.; Lage und Zukunft der Sicherungsiibertragung, Neve Juristische Wocher&. sch,rif 1, 1951, 565 s.; e o estudo
sociológico de MÚNZEL, Eigentumsvorbehalt und Sicherungstibereignung, Monatsschrif 1 flir Deulsches
Recht, 1951, 129 s.). No direito brasileiro, a eficácia vinculativa inicia-se com a conclusão do negócio jurídico; a
traslativa, não: depende da posse própria transferivel, ou da aquisição da posse própria transferível, caso em que
só então se dá.
O art. 66, § 3~0, somente pode ser entendido como ias disposilivum. Não se justificaria que a lei vedasse a
alienação apenas da propriedade: somente poderia alienar quem tivesse a propriedade e a posse; nem, a fortiori,
que se considerasse proibida a transmissão fiduciária imediata se outorgante-devedor e outorgado-credor
acordam em que não se aguarde, para a eficácia, a aquisição da posse ou a reaquisição (vindicação da posse, ou
reintegração da posse). Assim, se o instrumento de transmissão fiduciária da propriedade alude à falta da posse, e
não se estabelece que a eficácia é imediata, então cabe invocar-se o art. 66, § 3.0: há suspensividade da eficácia
transiativa e o negócio jurídico só se eficaciza, quanto à transferência do domínio, no momento em que o
outorgado adquire a posse. No mesmo instante, têm-se como transferidas a propriedade e a posse mediata.
Uma vez que é ius dispositivum a regra jurídica, os figurantes podem acordar em que a transferência da
propriedade fiduciária seja imediata, a despeito da falta da posse própria, que pudesse ser transferida. Por
exemplo: roubaram as jóias e alguém, que é credor da pessoa que sofreu o roubo, aceita o negócio jurídico
fiduciário, a despeito de ter o fiduciante apenas a propriedade sem a posse. Não se confunda posse própria com
direito à posse própria.
Se foi pré-excluída a incidência do art. 66, § 39, como se, no instrumento do negócio jurídico da transmissão
fiduciária da propriedade, em segurança (aliás, dar-se-ia o mesmo se em segurança não fôsse), se diz que se
transfere fiduciàriamente a propriedade, a despeito (= não obstante, = embora, pôsto que) de, no momento, não
ser, ou ainda não ser possuidor o alienante, o fiduciário recebe a propriedade, com o direito à posse. É possível
que se haja atribuído a propriedade, sem a posse, por ter havido esbulho e estar por ser proposta, ou já estar
proposta, contra o esbulhador a ação de reintegração de posse ou a de vindicação de posse.
Para se construir, conceptualmente, a transferência fiduciária da propriedade, tem-se de partir do conceito e dos
pressupostos da transferência da propriedade, tal como ocorre no sistema jurídico. O elemento a mais é a
fiduciariedade, que nem sempre se prende à segurança ou garantia. No direito brasileiro, há transferência da
propriedade quer mobiliária quer imobiliária sem transferência de qualquer posse, ou sem transferência da posse
imediata, ou dá posse mediata.
Pode dar-se que não haja, in casu,constituto possessório, como se o outorgante transfere a propriedade e a posse e
apenas fica na situação de servidor da posse.
2.ILICITUDE E FRAUDE CONTRA CREDORES. O requisito da licitude tem grande relêvo, porque a fiducia
rum creditore enseja ofensas aos bons costumes e a regras legais, inclusive por falta de seriedade (L. SCHÀFER,
fie Rechtsprechung ilber die S‟cherungsúbereignung Arckiv fi& Bilrgerlickes Rech,t, .38, 9 s.; JAKo» VETSCII,
file Umgekung dos Gesetzes, 58 s.).
A transmissão fiduciária da propriedade, em segurança, ou a cessão fiduciária de crédito, em segurança, é nula se
in fraudem legis (cf. A. NEFF, Reitrttg~ zur Lehre von der fraus legi facta in den Digesten, 24; ALEREO
WEVERS, Beitrag zur Lehre vom Szcherungskauf, 18 e 17 s.; A. BARTHELMES, Das Ilandein iii fraudem legis,
23).
Quanto à fraude contra credores, se ela ocorre, há anulabilidade do negócio jurídico, conforme os princípios (cf.
Tomos III, §§ 274, 3; 275, 1; IV, §§ 482-504; V, § 532; VI. § 711; XI, § 1.244, 10; XXVII, §§ 3.279, 4; 3.280, 4;
XXVIII, § 8.364, 3; XXIX, § 3.410, 5; XXX, §3.466, 7; XXXVII, §§4.157, 5, 8; 4.162, 2).
Além da transmissão fiduciária, em segurança, da propriedade e de créditos, há a transmissão fiduciária, em
segurança, de outros direitos, e a respeito dêles as leis especiais, que existam, têm de ser respeitadas. Às vêzes,
não há transmissão fiduciária, em segurança, mas negócio jurídico simulado, e cabem as regras jurídicas sobre
simulação.
Se o fíduciante dá posse ao fiduciário e esse lhe causa dano, tem o fiduciário de indenizar. Assim era no direito
romano, com a acUo fidueiae directa, e assim é hoje (cf. F. P. BREMER, Das Pfandlreeht und die
Pfan~dobjekte, 5; STEINBLINCR, Das fiduciarische Indossameni, 22 s.).
O dano do patrimônio do fiduciante pode resultar de ato, positivo ou negativo, do fiduciário, que não seja ao
objeto por esse possuído. Se a posse está com terceiro e a ação proposta contra o terceiro foi perdida por ato do
fiduciário, responda dle pela indenização. Se o fiduciário, que tinha de receber o bem móvel em data marcada, ou
dentro de prazo (e. g., por estar na alfândega), incorre em mora creditoris, as conseqüências são contra êle, no
plano indenizatório.
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3. PODER DE VENDER, QUE TEM O FIDUCIÁRIO, PARA SE PAGAR. Lê-se na Lei n. 4.728, art. 66, § 59:
“No caso da inadimplemento da obrigação garantida, o proprietário pode vender a coisa a terceiros e aplicar o
preço da venda no pagamnento do seu crédito e das despesas decorrentes da cobrança, entregando ao devedor o
saldo porventura apurado, se houver . E o § 6.0: “Se o preço da venda da coisa não bastar para pagar o crédito do
proprietário fiduciário e despesas, na forma do parágrafo anterior, o devedor continuará pessoalmente obrigado a
pagar o saldo devedor apurado”.
A alegação de inadimplemento ou de adimplemento ruim precisa basear-se em ter havido mora. Os pressupostos,
para que o fiduciante incorra em mora, são os dos princípios gerais, mas pode ocorrer que lei especial exija, na
espécie, alguma formalidade. Terá de ser atendida.
Se o bem móvel tem cotação em bolsa, a venda há de ser na bolsa, ou, se fôr o caso, pelo preço da bolsa, à data da
mora, salvo se houve pedido do devedor para espera, com o que o fiduciário concordou. Se a operação de venda
tem, pelo elemento objetivo, ou por algum elemento subjetivo, de ser com outorga de poderes a alguma empresa,
ou classe de empresa, tem de ser cumprido o que se estabelece na lei.
O direito do fiduciante, se a transmissão fiduciária, em segurança, foi de direito real, é direito real (o que é de
grande importância em direito concursal, se em concurso de credores está o fiduciário, cf. F. REGELSBERGER,
Pandekten, 1, 519). Se a transmissão é de direito pessoal, tem-se de dar ao direito expectativo do fiduciante o
tratamento que teria o fiduciário, em caso de concurso de credores do fiduciante, com a simples dedução do que
paga a divida.
Uma vez que estamos a falar de “venda”, cumpre precisar-se que, ai, o que ocorre é a alienação da propriedade
sem fidúcia. O que se aliena, em verdade, é o total da propriedade fiduciária e do direito expectativo: alienam-se
todos os direitos, quer do fiduciante, quer do fiduciário, porque só assim se aliena a propriedade, o bem, O direito,
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que resta ao fiduciário, é sobre o preço, até o importe da dívida que estava garantida com a transmissão da
propriedade. O direito, que resta ao fiduciante, é sobre o eventual excesso (preço divida = restante).
Dos arts. 758, 762 e 763 do Código Civil já falamos nos Tomos XIII, § 1.498, 4-7; XIV, § 1.613, 5; XVI, § 1.857,
1; XIX, § 2.280, 5; XX, §§ 2.424, 2, 3; 2.425, 1; 4.427, 1, 3, 6; 2.439, 3-5; 2.459, 5; 2.504, 1; 2.506, 2; 2.508, 1, 3,
4, 6; 2.515, 2; 2.528, 2, 4, 6; 2.540, 1; 2.541, 1; 2.542, 1; 2.549, 7; 2.551, 2; 2.552, 8; 2.557, 1; XXI, § 2.629, 5;
XXII, § 2.755, 4; XXV, § 8.073, 2; XXVII, § 2.258, 10; XXVIII, § 3.359, 4; XXIX, §§ 3.394, 2; 3.427, 5; XLII,
§§ 4.586; 4.595, 2; 4.627, 1.
Diz a Lei n. 4.728, art. 66, § 9.0: “Aplica-se a alienação fiduciaria em garantia o disposto nos arts. 758, 762, 768
e 802 do Código Civil, no que couber”.
O art. 758 é jus dispositivum. Se não se inseriu cláusula em contrário, não há extinção da segurança no caso, volta
da propriedade fiduciàriamente transferida se o devedor paga as prestação sem integrar o pagamento. A regra
jurídica incide mesmo se a transferência fiduciária foi de dois ou mais bens.
O art. 762 e seus §§ 19 e 29 incidem, a despeito de se ter dado a transferência fiduciária da propriedade, O artigo
763 é invocável.
O art. 802 do Código Civil é aquêle em que se enumeram as causas de extinção do contrato de penhor. Dêle
cogitamos no § 5.488.
CAPÍTULO III
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1.CAUSAS DE EXTINÇÃO. O ad. 66, § 9,0, da Lei 4.728 remete ao art. 802 do Código Civil. Segundo o ad.
802, extingue-se o penhor aqui, a ,fiducia tore “1. Extinguindo-se a obrigação. II. Perecendo a coisa.
III. Renunciando o credor. IV. Dandose a adjudicação judicial, a remissão, ou a venda amigável do penhor, se a
permitir expressamente o contrato, ou fôr autorizada pelo devedor (artigo 774, n. III), ou pelo credor (art. 785). V.
Confundindo--se na mesma pessoa as qualidades de credor e dono da coisa.
VI. Dando-se a adjudicação judicial, a remissão (?) ou a venda do penhor, autorizada pelo credor”. Cf. Tomo XX,
§§2.428; 2.438.
Extinta a dívida, a propriedade volve ao fiduciante. Se perece o bem, não há mais propriedade fiduciàriamente
transferida, mas, com isso, não se extingue a dívida. Se o credor renuncia à propriedade fiduciária, a dívida não
deixa de existir, porque só se cogitou da renúncia à propriedade fiduciária. O art. 802, IV, só interessa ao instituto
da transmissão fiduciária da propriedade, em segurança, no que concerne à venda que o art. 66, § 6.0, da Lei n.
4.728 permite, para que o credor se pague do que lhe é devido, ou, em caso de execução forçada, que leve à
adjudicação ou à remição.
Sobre o ad. 802 do Código Civil, Temos XX, §§ 2.428; 2.432, 1; 2.434, 1; 2.485, 1; 2.516, 4; 2.524, 1; 2.555,
10;2.592, 1; 2.598, 1; XXI, §§ 2.608; 2.611, 1, 2; 2.612, 2; 2.628, 1; XXII, § 2.827, 2; XXIII, §§ 2.787, 4; 2.826,
3; 2.827, 2; XXV, § 3.003, 3; XXIX, ~§ 3.394, 2; 3.398, 3; 3.436, 2; XLVI, § 5.009, 2.
A sucessividade dos credores, um dos quais se tornou proprietário fiduciário, em segurança, suscita problemas de
eficácia. Se o primeiro credor, que não se fêz proprietário fiduciário, não poderia alegar eficácia do seu crédito
contra terceiros, ou contra o terceiro credor, óbvio é que nada pode objetar, ou excepcionar, contra o adquirente
fiduciário. Se no intervalo, ou depois, com retroeficácia, há abertura de concurso de credores, as regras jurídicas
sobre alienações atingíveis são invocáveis.
Se o credor, que não adquiriu propriedade fiduciária, em segurança, tem a seu favor eficácia, contra terceiro,
cabe-lhe a pretensão correspondente ao seu direito, por ter havido alienação nula, anulável, ou ineficaz. Qualquer
solução depende de exame a posteriori. Um dos casos é o de ter havido pré-contrato, com eficácia registária, de
transmissão fiduciária, em segurança.
1. Extinção DA DÍvIDA. Se a dívida se extinguiu, não há mais a causa para a segurança: não se assegura o que
não é. Então, a propriedade volve ao fiduciante, porque cessou a razão de ser para a fiducia. cum creditore: não
mais há crédito. Aliás, se a fonte do crédito foi declarada inexistente, ou decretada a invalidade do negócio
jurídico de que se teria irradiado o crédito, o fiduciante está legitimidado a exigir e cancelamento do registro. Até
o momento em que se desfaça a eficácia registaria, o fiduciário é tido como proprietário, salvo se a decisão do juiz
já a atinge diretamente.
2. PERECIMENTO DO BEM. Se o bem cuja propriedade foi fiduciàriamente transferida, em segurança, perece,
a dívida considera-se vencida, porque se fizera a transferência fiduciária, em segurança, e o bem deixara de
existir. A propriedade fiduciária, em segurança, se extingue, mas persiste o crédito, que se considera vencido.
Todavia, se a transmissão fiduciária, em segurança, não foi concluída no momento da assunção de dívida, ou se o
negócio jurídico de que se irradiou o crédito não estabeleceu, mexamente, a transmissão fiduciária, em segurança,
o que se há de entender dispositivamente, portanto é que o perecimento do bem não implica vencimento da
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divida.
3. RENÚNCIA PELO CREDOR. O credor, que renuncia à propriedade, não a abandona, sai da relação jurídica
de direito real, e nela entra, antes de qualquer pagamento, ou antes de solver a divida, quem fôra o fiduciante. A
dívida persiste, o que distingue da remissão de dívida a renúncia à propriedade fiduciária, em segurança.
4. VALOR DO BEM E SOLUÇÃO. A extração do valor do bem pode resultar de execução forçada, de concurso
de credores, de desapropriação ou de alguma outra emergência extrativa de valor. Seja qual fôr, a propriedade
fiduciária, em segurança, só se extingue se solvida a divida, ou entregue ao credor todo o valor extraido. A
remição presta todo o quanto devido.
CAPITULO 1
DE PARTICIPAÇÃO
§ 5.490. Conceito
1. DADOS HISTÓRICOS. A quota em conta de participação vem da commenda, de que também derivou a
sociedade em comandita, assunto que já se versou (Tomo LI, §§ 5.373--5.376, principalmente § 5.373, 2). O
mercador ou tinha a atividade e a prestação de figuração, preponderantes e ostensivas, ou apenas prestava o
trabalho, sem que se possa falar, na espécie, ainda naqueles tempos, de contrato unilateral. Cumpre advertir-se
que a forma societária foi posterior. Daí a divergência quanto à classificação do contrato de participação: se é de
sociedade, ou se o não é. Não se pode, em todas as espécies e em todos os casos, dizer, com BENEVENUTO
STRACCI{A, que socius cl partieeps idem sunt. Há participantes que não são sócios, de modo que a participação,
em virtude de contrato ou até de negócio jurídico unilateral do outorgante da participatio, pode não societarizar a
relação jurídica.
2. PRECISÃO CONCEPTUAL. A conta de participação supõe a participação e a conta. Não basta que se
participe, porque o sócio, que não é participante, participa, e participa o comuneiro. Mesmo quando há o elemento
de societariedade, o participante só participa em conta, sem a visibilidade do patrimônio e com direito a receber
algo.
CAPÍTULO II
1.PARTICIPAÇÂO SoCiETÁRIA . Lê-se no art. 325 do Código Comercial: “Quando duas ou mais pessoas,
sendo ao menos uma comerciante, se reúnem, sem firma social, para lucro comum, em uma ou mais operações de
comércio determinadas, trabalhando um, alguns ou todos em seu nome individual para o fim social, a associação
toma o nome de sociedade em conta de participação, acidental, momentânea ou anônima; esta sociedade não está
sujeita às formalidades prescritas para a formação das outras sociedades, e pode provar-se por todo o gênero de
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provas admitidas nos contratos comerciais (art. 122)”. Se civil a sociedade em conta de participação, assunto que
adiante temos de versar, rege o art. 1.366 do Código Civil. A redação não é boa: a anonimidade não resulta de não
ser acidental, nem momentânea a sociedade; a sociedade só é em conta de participação se algum ou alguns sócios
ou todos têm direito a quota de participação, sem que a atividade seja sua, ou se apenas é no que resulta da
atividade de outro, ou dos outros. Nem todas as sociedades com sócios ocultos é sociedade em conta de
participação. Já tratamos da sociedade em conta de participação no Tomo XLIX, §§ 5.225-5.234.
Se o sócio operante, visivelmente, ou os sócios operantes, visivelmente, não são comerciantes, a sociedade em
conta do participação é civil, e se tem de invocar o art. 1.364 do Código Civil brasileiro.
No momento da conclusão do contrato de sociedade em conta de participação, pode ainda não ser comerciante o
sócio. ostensivo, a despeito de se querer criar sociedade mercantil (Tomo XLIX, § 5.195, 1).
1.PRECISÕES. Dizemos “patrimônio social”, sem que, com isso, pensemos em “capital social”. A socialidade
do patrimônio não chega, ai, a cindir os haveres em patrimônio particular do sócio ostensivo e patrimônio social.
Fica nas relações jurídicas entre o sócio ostensivo e o sócio participante ou os sócios participantes. Não se pode
dizer que a socialidade do patrimônio (= a soma dos bens do sócio ostensivo com os bens do sócio participante ou
dos sócios participantes) somente ocorre no mundo fáctico: a inexistência de eficácia em relação a terceiros de
modo nenhum justificaria que não se visse a eficácia entre os sócios, com ou sem ocultação. A eficácia jurídica de
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xy menos a eficácia jurídica de x ou de y continua eficácia jurídica. Portanto, a soma entrou, embora não para
todos, no mundo jurídico. Nêle está o patrimônio social (o do sócio ostensivo + o do sócio participante), pôsto que
só eficazmente entre os sócios. Antes do registro qualquer com propriedade imobiliária de A e E é apenas entre os
comuneiros; na sociedade em conta de participação, a compropriedade, que se estabelece sem registro, existe,
mas apenas como propriedade de A. O que não tem eficácia, no que tange a terceiros, é a compropriedade, porque
não se vê o que é de 13 como de E: não se vê a, como de A, e 6, como de E, mas ab, como de A. Há patrimônio
social, mas é invisível a socialidade: vê-se apenas o conteúdo do substantivo, sem se ver o conteúdo do adjetivo.
Os sistemas jurídicos conhecem outros casos de ineficácia, semelhantes (não idênticos), como acontece com a
comissão mercantil (Tomo XLIII, §§ 4.722-4.732).
CAPITULO 1
1.TRÊS ESPÉCIES. As empresas que subscrevem títulos ou outros valores mobiliários para venda (evitemos
dizer para revenda, porque quem subscreve não compra, adquire como sócio, e não se pode apagar o laço
societário, devido à imediatidade) são empresas subscritoras, ou que têm na subscrição uma das suas atividades.
Diferente é a atividade da empresa que se encarrega de distribuir as ações ou outros títulos ou valores, a que
tenham direito de opção ou direito de preferência algumas pessoas, ou que os recebem como bonificação, ou da
empresa que os coloca entre os que querem adquirir. Ainda é inconfundível com as duas espécies a atividade da
empresa que adquire ações, ou outros títulos ou valores para revenda.
A empresa pode ser ou não ser societária.
2.FUNCIONAMENTO DA EMPRESA. Lê-se na Lei número 4.728, art. 11: “Depende de prévia autorização do
Banco Central, o funcionamento de sociedades ou firmas individuais que tenham por objeto a subscrição para
revenda e a distribuição no mercado de títulos ou valores mobiliários”. E o parágrafo único: “Depende igualmente
de aprovação pelo Banco Central: a) a modificação de contratos ou estatutos sociais das sociedades referidas
neste artigo; b) a investidura de administradores, responsáveis ou prepostos das sociedades e em prêsas referidas
neste artigo”.
O que depende de ato do Banco Central é o funcionamento da empresa, seja societária, seja individual. Isso não
significa que não toque ao Banco Central exame da legalidade do ato constitutivo, tanto mais quanto, no art. 11 da
Lei n. 4.728, explicitamente se estabelece que a modificação do contrato ou dos estatutos (digamos do ato
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mas tal atitude legislativa não bastaria para que se defendesse ou se tentasse defender a posição do público,
interessado em investimento. Daí o artigo 5? da Lei n. 4.728, de 14 de julho de 1965, ter limitado, subjetivamente
a aptidão negocial de títulos ou valores mobiliários no mercado de capitais, sem que a enumeração identificasse
as atividades. Cada classe de entidade tem a sua limitação objetiva. Os negócios jurídicos bolsáteis são peculiares
às Bolsas de Valores e às sociedades corretoras que sejam membros de bolsa. Há, fora disso, a atividade de
operações no mercado de capitais, escapas ao conceito de operações de bolsa, que pode ser exercida por empresa
que satisfaça os pressupostos para criação e funcionamento. Após vêm as sociedades especializadas em
subscrição de ações para venda, ou em aquisição no mercado para a revenda, ou em distribuição e colocação,
sociedades, essas, que t~m de ser autorizadas pelo Banco Central.
Na esteira da política concentrativa, a Lei n. 4.728 teve de partir da distinção entre emissões de títulos ou valores
mobiliários sem ser em mercado e emissões de títulos ou valores mobiliários em mercado financeiro ou em
mercado de capitais.
A oferta, a invitatío ad erendum e qualquer conclusão de negócio jurídico por parte da sociedade emissora ou
co-obrigada (e. g., avalista, endossante) que não sejam em mercado não ficam sujeitas à limitação subjetiva dos
arts. 52 e 6.0 da Lei n. 4.728. A colocação em massa faz de mercado a operação. A sociedade por ações que emite
ações em bonificação ou aumento de capital não tem de incumbir de tal atividade qualquer empresa mencionada
no art. 52. Nem qualquer empresa que emite letra de‟ câmbio ou nota promissória precisa da atuação de outra
empresa, se não o faz em massa ou em mercado.
Existem as empresas que podem exercer e exercem habitualmente as atividades de subscrição, de distribuição e
de colocação, no mercado de títulos ou valores mobiliários. Aí, mesmo que singular, e não plural, o ato,
entende-se em mercado, porque essa é a finalidade da empresa.
Pode dar-se quer fàcticamente quer juridicamente que alguma pessoa tísica ou alguma pessoa jurídica exerça
contrôle sobre sociedade emissora de títulos ou valores mobiliários, e esse contrôle faz supor-se atividade no
mercado. O art. 16, § li‟, c), da Lei n. 4.728 equipara às outras operações as de interferência controlativa, porque
deixaram de ser de vontade própria da empresa emissora (cf. Tomo LI, §§
5.377-5.379).
Não importa, para se caracterizar a operação em mercado financeiro de capitais, de quem parte a oferta, ou, a
fortiori, a invitação à oferta; o que se há de observar é o negócio juridico, que se concluiu.
1.LIMITAÇÕES SUBJETIVAS. Acima já falamos da política concentrativa. Daí estar na Lei n. 4.728, art. 16:
“As emissões de títulos ou valores mobiliários somente poderão ser feitas nos mercados financeiro e de capitais
através do sistema de distribuição previsto no art. 5~0” E no § 19: “Para es efeitos dêste artigo considera-se
emissão a oferta ou negociação de títulos ou valores mobiliários: a) pela sociedade emissora ou coobrigada; b)
por sociedades ou empresas que exerçam habitualmente as atividades de subscrição, distribuição ou
intermediação na colocação no m3rcado de títulos ou valores mobiliários; c) pela pessoa natural ou jurídica que
mantém o contrôle da sociedade emissora tios títulos ou valores mobiliários oferecidos ou negociados”. No ~ 2.0:
“Entende-se por colocação ou distribuição de títulos ou valores mobiliários nos mercados financeiro e de capitais
a negociação. oferta ou aceitação de oferta para negociação: a) mediante qualquer modalidade de oferta pública;
b) mediante a utilização de serviços públicos de comunicação; c) em lojas, escritórios ou quaisquer outros
estabelecimentos acessíveis ao público; d) através de corretores ou intermediários que procurem tomadores para
os títulos”. E no § 3.0: “As sociedades que infringirem o disposto neste artigo ficarão sujeitas a cessação imediata
de suas atividades de colocação de títulos ou valores mobiliários no mercado, mediante a intimação do Banco
Central, que requisitará, se necessário, a intervenção da autoridade policial”.
O § 1.0 é de evidente impropriedade. A oferta ou negociação de títulos ou valores mobiliários não é emissão. A
sociedade ou outra empresa que vai emitir faz os títulos ou valores mobiliários, de ordinário assinando-os (=
subscrevendo-os, = assinando-os embaixo). Pode haver experimentação do mercado, mediante imitações à oferta,
ou lançamentos de projetos de emissão, para que os interessados subscrevam sem definitividade, por parte da
empresa, porque essa, por exemplo, subordina a condição de subscrição integral a emissão. Após a subscrição da
tomada de títulos ou valores mobiliários (que de modo nenhum se confunde com a subscrição de títulos ou
valores mobiliários que se vão emitir), os títulos ou valores mobiliários têm de ser entregues (tradição). A função
das empresas, de que os arts. 59 e 16 cogitam, ou é de subscrição, de modo que a empresa emite os títulos ou
valores e os entrega à sociedade que pode atuar no mercado financeiro e no mercado de capitais, ou é de
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distribuicão, porque não é necessária a subscrição, ou é de colocação, o que supõe a atividade intermediária para
que os interessados subscrevam. Além dessas operações, podem elas adquirir títulos ou valores mobiliários (por
subscrição, ou por compra) e colocá-los (vendê-los).
Diz o art. 17: “Os títulos cambiais deverão ter a coobrigação de instituição financeira para sua colocação no
mercado, salvo os casos regulamentados pelo Conselho Monetário Nacional em caráter geral e de modo a
assegurar garantia adequada aos que os adquirem‟. E o § 1.0: “As empresas que. a partir da publicação desta Lei,
colocarem papéis no mercado de capitais em desobediência ao disposto neste Capítulo, não terão curso na
Carteira de Redesconto, ressalvado o disposto no parágrafo seguinte”. E o § 2.0: “As empresas que, na data da
publicação desta Lei, tiverem em circulação títulos cambiais com sua responsabilidade em condições proibidas
por esta Lei, poderão ser autorizadas pelo Banco Central a continuar a colocação com a redução gradativa do total
dos papéis em circulação, desde que dentro de sessenta dias o requeiram, com a indicação do valor total dos
títulos em circulação e apresentação da proposta de sua liquidação no prazo de ate doze meses, prorrogável, pelo
Banco Central, no caso de comprovada necessidade, no máximo, por mais seis meses”. No § 3.0: “As empresas
que utilizarem a faculdade indicada no parágrafo anterior poderão realizar assembléia geral ou alterar seus
contratos sociais, no prazo de sessenta dias da vigência desta I~í, de modo a assegurar opção aos tomadores para
converter seus créditos em ações ou cotas de capital da empresa devedora, opção válida até a data do vencimento
dos respectivos títulos”.
No § 4.0: “A infração ao disposto neste artigo sujeitará os emitentes, coobrigados e tomadores de títulos de
crédito à multa de até cinqüenta por cento do valor do titulo”. Diz-se no art. 18: “São isentas do impôsto do sêlo
quaisquer conversões, livremente pactuadas, em ações ou cotas do capital das empresas obrigadas em títulos de
dívida em circulação na data da presente lei, sem a coobrigação de instituições financeiras concretizadas no prazo
de cento e oitenta dias da vigelicia desta Lei”.
O art. 16 não retirou às empresas o poder de emitir titulos ou valores mobiliários que elas mesmas distribuam ou
coloquem. O que se proibiu foi a atividade no mercado financeiro ou de capitais, sem ser através das sociedades
mie se mencionam no art. 59.
O art. 17, § 2.0, apenas se refere às sociedades ou empresas não societárias que, na data que incidiu a lei, tivessem
títulos cambiários em circulação, títulos que não poderiam, desde aquêle momento, ser emitidos, por infringência
de qualquer regra jurídica ~a Lei n. 4.728, ou que ela suponha em vigor e implicitamente abranja. Há, porém, a
necessidade de plus, que é a autorização pelo Banco Central, concernente a poder continuar a emitir, aceitar ou
avalizar, para colocação. Tal ato do Banco Central somente é permitido se foi requerido dentro de sessenta dias,
com a indicação do valor total dos títulos em circulação, e com a exigência de a empresa responsável pelos títulos
cambiários em circulação sé lançar novos títulos se há redução do valor dos títulos em circulação. Não se disse o
prazo para a extinção da responsabilidade, o que depende do conteudo do ato do Banco Central.
com sede no País, controladas por pessoas residentes ou domiciliadas no exterior”, isto é, sociedades com sede no
Brasil, se há contrôle por pessoa ou pessoas, físicas ou jurídicas, que não tenham domicílio no Brasil, quer se
saiba quer não se saiba se a sua residência no estrangeiro compõe o domicílio (idem, se há contrôle de
domiciliados no Brasil e de residentes tora do Brasil, que domiciliados no Brasil não sejam, ou de residente no
estrangeiro que domiciliado no Brasil não seja). No § 2.0, quebrou-se até certo ponto a linha que se traçara: em
vez de se deixar o contrôle à apreciação conforme o conceito mesmo de contrOle de sociedade, aludiu-se a
pessoas “residentes ou domiciliadas no exterior” (o que impõe que se observem as considerações acima feitas)
quando essas “detenham direta ou indiretamente a maioria do capital com direito de voto”.
A lei cogitou de mínimo de nível. Não tomou por base o capital, com ou sem a correção monetária, nem o capital
e as reservas. Refere-se, globalmente, a) ao capital da empresa com sede no Brasil, ou ao capital da filial (ou
sucursal, ou agência) da empresa estrangeira, ou da empresa com sede no Brasil,
b) às cauções monetárias do ativo fixo ou de capital de giro próprio, c) aos saldos credores de acionistas, matriz ou
empresas “associadas”, se não há juros e se podem considerar capital adicional, avaliados, em moeda estrangeira,
à taxa de câmbio que no momento esteja fixada para amortização de empréstimos externos, e d) às reservas e aos
lucros pendentes.
Acrescenta a Lei n. 4.728, no art. 25: “O Banco Central,ao aplicar a norma prevista no art. 22, fixará as condições
se
guintes, se a média mensal das dívidas da empresa no sistema financeiro nacional, durante os dozes meses
anteríores, não tiver excedido os limites previstos no art. 23, esses limites serão obrigatórios inclusive para o
exercício social em curso; II, se a média mensal das dívidas da empresa no sistema financeiro nacional, durante os
doze meses anteriores, tiver excedido os limites previstos no art. 23, a empresa deverá aumentar os recursos
próprios ou reduzir progressívamente o total das suas dívidas no sistema financeiro nacional, de modo a alcançar
os limites do art. 23, no prazo máximo de dois anos, a contar da data da resolução do Banco Central”.
Diz a Lei n. 4.728, art. 23: “O limite de acesso ao sistema financeiro referido ao art. 22 não poderá ser fixado em
nível inferior: a) cento e cinquenta por cento dos recursos próprios pertencentes a residentes ou domiciliado5 no
exterior; b) duzentos e cinquenta por cento dos recursos próprios pertencentes a residentes ou domiciliado5 no
País”. Acrescenta o § 1.0: “O limite previsto no presunto artigo será apurado pela média mensal em cada
exercício social da empresa” E o § 2.0:
“Para efeitos dêste artigo, os recursos próprios compreendem:
a)o capital declarado para a filial, ou o capital da empresa com sede no País; b) o resultado das correções
monetárias de ativo fixo ou de manutenção de capital de giro próprio; o) os saldos credores de acionistas, matriz
ou empresas associadas, sempre que não vencerem juros e tiverem a natureza de capital adicional, avaliados, em
moeda estrangeira, à taxa de câmbio em vigor para a amortização de empréstimos internos; d) as reservas e os
lucros suspensos ou pendentes” Ainda o § 32: “As reservas referidas na alínea d do parágrafo anterior
compreendem as facultativas ou obrigatôrimente formadas com lucros acumulados, excluidas as contas passivas
de regularização do ativo, tais como depreciação, amortização ou exaustão, e as provisões para quaisquer riscos,
inclusive contas de liquidação duvidosa e técnicas de seguro de capitalização”. E o § 42: “O sistema financeiro
nacional, para os efeitos dêste artigo, compreende o mercado de capitais e todas as instituições financeiras
públicas ou privadas, com sede ou autorizadas a funcionar no Pais.” Finalmente, o § 5.0: “O saldo. devedor da
empresa no sistema financeiro correspondera a soma de todos os empréstimos desse sistema, seja qual fôr a forma
do contrato, inclusive abertura de créditos e emissão do desconto, de efeitos comerciais, títulos cambiais ou
debéntures, não computados os seguintes valóres: a) empréstimos realizados nos termos da Lei n. 2.300, de 23 de
agôsto de 1954; 6) empréstimos sob a forma de debêntures conversíveis em ações; o) depósitos em moeda de
instituições financeiras; d) créditos contra quaisquer pessoas de direito público interno, autarquias federais e
sociedades de economia mista controladas pelos Governos Federal, Estaduais ou Municipais; e) adiantamentos
sobre venda de câmbio resultantes de exportações”. Ainda o § 6.0: “O disposto neste artigo e no artigo seguinte
não se aplica às instituições financeiras, cujos limites serão fixados de acôrdo com a Lei n. 4.595, de 31 de
dezembro de 1964”.
Explícita-se no art. 23, § 32, que as reservas de que cogita o § 2.0, d), são as reservas legais (ou obrigatórias) e as
reservas facultativas (cf. Tomos L, §§ 5.337 e 5.338; 5.336, 4; LI, § 5.388). Não se computam as contas passivas
de regularização do ativo, nem as reservas que a isso se destinam.
No § 40 deu-se definição de “sistema financeiro nacional”.
Diz a Lei n. 4.728, art. 24: “Dentro de quatro meses do encerramento de cada exercício social seguinte ao da
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decisão prevista no art. 22, as empresas referidas no art. 23 apresentarão ao Banco Central quadro demonstrativo
da observância. no exercício encerrado, dos limites de dívidas no sistema financeiro nacional”. Acrescenta o
parágrafo único: “A empresa que deixar de observar, em algum exercício social, o limite previsto no art. 23, ficará
sujeita à multa imposta pelo Banco Central, de até trinta por cento do excesso da dívida no sistema financeiro
nacional, multa que será duplicada no caso de reincidência”.
É de relevância observar-se que tudo que se disse nos artigos 23 e 24 não atinge as empresas financeiras que
tenham o~ limites fixados conforme a Lei n. 4595, de 31 de dezembro de 1964, o que quase esvazia os arts. 23 e
24 da Lei n. 4.728 (cf. Lei n. 4.595, arts. 25-41).
O art. 25 da Lei n. 4.728 não atribui funções regulamentares ao Banco Central, apenas estatui que, se forem im
postas medidas de contenção do crédito, o Banco Central tem de as aplicar sem infringência do que re estabeleceu
no artigo 25. Aliás, o art. 23 também é limitativo. Daí resulta que todas as instruções e o que quer que seja, no
tocante à matéria do art. 22, não se podem afastar do que se edicta nos arts. 23 e 25.
3.SÉrIo. A propósito de sêlo, diz a Lei n. 4.728, artigo 43: “O impôsto do sêlo não incide nos negócios de
transferência, promessa de transferência, opção, ou constituição de direitos sobre ações, obrigações endossáveis,
quotas de fundos em condomínio, e respectivos contratos, inscrições ou averbações”.
1.PERMISSÃO DE ALIENAÇÃO. Lê-se na Lei n. 4.728, art. 60: “O Poder Executivo poderá promover a
alienação de ações de propriedade da União, representativas do capital de sociedade de economia mista e de suas
subsidiárias, mantendo cinqúenta e um por cento, no mínimo, das ações das empresas nas quais deve assegurar o
contrôle estatal”. Acrescenta o parágrafo único: “É excluída das disposições dêste artigo a Petróleo Brasileiro,
S.A. Petrobrás”. Primeiramente, tem-se de advertir que a alienação somente pode ser a pessoas que, conforme a
Constituição de 1946 e as leis, possam adquirir tais ações. Aliás, o parágrafo único ressalva as ações da Petróleo
Brasileiro S.A., diante do propósito desvinculativo do Estado que era, justamente, a retirada do poder da União
naquela empresa.
2.FIxAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO. Seria repelível que se fixasse o número máximo de ações que a União
pudesse ter.
Fixou-se mínimo. Tinha-se de examinar cada espécie, ou mesmo cada caso. Dai dizer a Lei n. 4.728, ad. 61: “O
Conselho Monetário Nacional fixará a participação da União nas diferentes sociedades referidas no artigo
anterior, ouvido o Conselho de Segurança Nacional nos casos de sua competência, e no das empresas cujo
contrôle estatal é determinado em lei especial, e estabelecerá as normas que serão observadas
para a alienação, respeitadas as seguintes condições: 1 a alienação será precedida da reavaliação do ativo das
sociedades, feita com observância da legislação vigente, ficando as mesmas isentas do recolhimento do impôsto
de renda devido sobre a parcela da reavaliação proporcional à participação da União em seu capital social; II as
ações serão negociadas através do sistema de distribuição instituido no art. 59 desta Lei, com a participação do
Banco Central, na forma do inciso IV do art. li da Lei n. 4.595, de 31 de dezembro de 1964:
III poderão ser recebidos como pagamento de sessenta por cento do preço das ações os provantes de créditos dos
contribuintes, relativos aos adicionais e empréstimos compulsórios vinculados ao Impôsto de Renda, exceto
aquêles que se destinem à subscrição compulsória de Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional”.
No art. 61, ao Conselho Monetário Nacional atribuiu-se, com prévia audiência do Conselho de Segurança
Nacional, nos casos em que tenha de ser ouvido, inclusive naqueles em que lei especial submete a contrôle estatal
as empresas, ou a empresa, regulamentar as operações de alienação. Tal regulamentação há de atender,
primeiramente, a que, para qualquer alienação de ações ou quotas da União em empresas, é preciso que se
proceda à reavaliação do ativa, com observância das regras jurídicas vigentes sobre reavaliação e correçao
monetaria. Em segundo lugar, é pressuposto inafastável o ser em Bolsa de Valores a alienação , a despeito de se
aludir, no artigo 61, II, ao art. 59, que enumera os operadores no mercado de valores e nao seria admissível que a
União pudesse alienar títulos através de simples empresas autorizadas a operar no mercado. Terceiro pressuposto
é o de ser em dinheiro o pagamento do preço dos títulos ou em dinheiro, pelo menos, quarenta por cento, e até
sessenta por cento em créditos dos contribuintes, que o art 61, III, menciona.
O ato ilegal do Conselho Monetário Nacional é suscetível de exame e de julgamento pela Justiça, se os
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pressupostos se juntam para a proponibilidade de alguma ação, inclusive da ação declaratória e da ação poder.
Aliás, algum texto da Constituição de 1946 pode incidir, de jeito que se afaste a competência do Conselho
Monetário Nacional para regulamentar a alienação.
2.TRIBUTOS. A respeito de tributos, estatui a Lei n.4.728, art. 63: “Na alienação, promessa de alienação ou
transferência de direito à aquisição de imóveis, quando o adquirente fôr sociedade que tenha por objeto alguma
das atividades referidas no artigo anterior, a pessoa física que alienar ou prometer alienar o imovel, ceder ou
prometer ceder o direito à sua aquisição, ficará sujeita ao impôsto sobre lucro imobiliário, à taxa de cinco por
cento”. Acrescenta o § 1.0: “Nos casos previstos neste artigo, o contribuinte poderá optar pela subscrição de
Obrigações do Tesouro, nos termos do art. 39, § 8.0, da Lei n. 4.357, de 16 de julho de 1964”. E o § 29:
“Nos casos previstos neste artigo, se a sociedade adquirente vier, a qualquer tempo, a alienar o terreno ou
transferir o direito à sua aquisição sem construí-lo ou sem a simultânea contratação de sua construção, responderá
pela diferença do impôsto da pessoa física, entre as taxas normais e a prevista neste artigo, diferença que será
atualizada nos termos do artigo 79, da Lei n. 4.357, de 16 de julho de 1964”. O art. 63 é limitado às sociedades de
que acima falamos, se figurantes adquirentes, e às pessoas físicas que sejam alienantes, cedentes de direitos
sObre imóveis ou promitentes vendedores. Se havia pré-contrato, a cessão dá ensejo à invocabilidade do art. 68.
Idem, se a pessoa física, apenas pagara prestações de construção.
O art. 30, § 8.0, da Lei n. 4.354 dispensou o pagamento do impôsto de renda (art. 30, § „7.0) se o contribuinte
prefere adquirir Obrigações do Tesouro, para vencimento em prazo não inferior a cinco anos contados da data do
balanço de que conste a correção monetária que deu ensejo à incidência do impôsto de renda, mas em valor
nominal correspondente ao dôbro do impôsto devido.
art. 39 da Lei n. 4.357, de 16 de julho de 1964, o custo do terreno e da construção objeto de suas transações”.
Acrescenta o § 1.0:
“Para efeito de determinar o lucro auferido pelas sociedades mencionadas neste artigo, o custo do terreno e da
construção poderá ser atualizado, em cada operação, com base nos coeficientes a que se refere o ad. 70, § 19, da
Lei n. 4.357, de 16 de julho de 1964, e as diferenças resultantes dessa atualização terão o mesmo tratamento fiscal
previsto na lei para o resultado das correções a que se refere o ad. 8.0 da referida lei”. E o § 2.0: “Nas operações a
prazo, das sociedades referidas neste artigo, a apuração do lucro obedecerá ao disposto no parágrafo anterior, até
o final do pagamento”.
O art. 8.0 da Lei n. 4.857 estabelece a correção monetária conforme os coeficientes fixados, anualmente pelo
Conselho Nacional de Economia, “de modo que traduzam o poder aquisitivo da moeda nacional entre o mês de
dezembro do último ano e a média anual de cada um dos anos anteriores” Tal conformação há de ser exata e a
própria fixação pelo Conselho Nacional de Economia não é arbitrária. Pode ser objeto de ação constitutiva
negativa contra a União, com eficácia declaratória Se os requisitos de certeza e liquidez se compõem , a ação
mandamental pode ser proposta.
O critério que se preferiu no art. 8.0 da Lei n. 4.357 supõe que o Conselho Nacional de Economia haja fixado o
coeficiente. Se o não fêz, pode ser exercida a pretensão à ação popular, ou o mandado de segurança. Anos
anteriores
são aquêles de que se publicou a média, com exatidão, porque não há arbítrio tara a autoridade fixadora dos
coeficientes, nem para a extração da média, que é operação puramente matemática.