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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

GABRIELLE REGINATTO DO CARMO

Resenha do II Encontro de Pesquisa em Teoria da História e História da


Historiografia

Rio de Janeiro
2019
1. Resenha sobre a 12ª mesa temática de tema Estado, Disputas de
Poder e Escrita da História
1.A - “Visões de um passado glorioso: quando o Estado inventa uma
História” por Mário Novaes César Rezende
O trabalho em questão refere-se à discussão historiográfica pelos usos do
passado feitos por Salazar em dois cortejos específicos estudados pelo pesquisador:
1940, durante o período de fascistização, e 1947, durante o período de
isolacionismo. Para isso, ele mobiliza a questão da construção de um herói nacional,
no caso português, através da dialética entre memória e esquecimento e do duelo
entre memória pública e privada.
A escrita da história e a historiografia aparecem em seu trabalho na medida
em que o pesquisador utiliza o ano de 1933, momento em que o Secretariado da
Propaganda Nacional começa a vigorar, e 1940, conhecido como “ano áureo”, para
exemplificar o momento em que Portugal procura legitimar a sua história nacional
através da escrita, utilizando de estratégias culturais para disseminar o fascismo.
A questão da memória é construída a partir da ideia de Enzo Traverso 1 sobre
os usos políticos do passado, o qual há um embate entre memória forte, aquela
institucionalizada, e a memória fraca, relacionada sempre com um caráter
combativo. Além disso, Elizabeth Jelin 2 e Eric Hobsbawm3 são mobilizados para a
compreensão da construção de uma memória política e como ela interfere no social,
e a mescla entre nação e o conceito de raça.
O pesquisador concluiu seu trabalho procurando estabelecer uma relação
entre a memória política e social de uma nação, e como ela é construída através de
interesses de um grupo dominante, e também disseminada através da educação das
massas a partir de uma História Positiva. O aparato estatal, portanto, conduz a
educação e a propaganda nacional à legitimação do regime Salazarista.
1.B “A Brecha Camponesa no sistema escravista: situação e
implicações de um debate historiográfico”, por Filipe Pantoja Stampa.
O trabalho dedica-se a entender a retratação da brecha camponesa na
historiografia brasileira a partir das mudanças de percepção da situação durante o
1 Historiador italiano atualmente professor da Universidade de Cornell.
2 Socióloga argentina que instituiu um conceito de memória social.
3 Historiador britânico falecido em 2012.
século XX e XXI. O pesquisador procura entender a brecha camponesa como parte
da estrutura do Antigo Sistema Colonial, já que as atividades exercidas por escravos
que fogem à lógica da plantation também devem ser consideradas formas de
resistência.
Antes de adentrar ao conceito de brecha camponesa, o pesquisador trava
um embate entre as explicações do Brasil através da transposição de conceitos
europeus. Para ele, não devemos entender a história do país, principalmente a do
Antigo Sistema Colonial, somente a partir de estruturas europeias adaptadas às
terras tropicais, e sim por meio de uma autonomia criativa. As estruturas políticas e
econômicas aqui implementadas seriam, para ele, originárias do próprio Brasil.
Adentrando a própria questão da brecha camponesa, foram mobilizadas
posições de Ciro Flamarion Cardoso4, Jacob Gorender5 e Caio Prado Júnior6. Dessa
forma, reproduz a ideia de que a brecha tornava os escravos “protocamponeses” e
que isso não significava um afrouxamento da opressão contra esse grupo, já que a
doação de lotes ajudava a manter o sistema escravista.
Conseguimos perceber que o pesquisador preocupou-se demonstrar as
diferentes visões da movimentação em questão, sem abandonar a ideia de que a
brecha não era uma exceção à regra do Antigo Regime Colonial, e sim parte
importante dele.
1.C “Mens Sana in Corpore Sano”: arquivos de eugenia, médicos e
psiquiatras no Governo de Vargas (1930-1945)”, por Rodrigo Maia Monteiro.
O pesquisador procura compreender a relação entre a Polícia e a eugenia
na Era Vargas no contexto de embate entre os conceitos de democracia racial e
eugenia. Para isso, ele analisa os discursos médicos principalmente dos boletins
médicos compromissados com a questão da eugenia, e como esses laudos fizeram
parte da agenda política de Getúlio Vargas.
Mobilizando, como anteriormente mencionado, a democracia racial em
contraponto com a teoria eugenista, o pesquisador traça o caminho da capilarização
do discurso eugenista. Assim, entende que Getúlio Vargas utilizou desse discurso
para fortificar seu projeto político.
2. Regimes de exceção e crise democrática como desafio para a
reflexão, por Maíra Santana Marinho da Cunha.
4 Professor-doutor brasileiro falecido em 2013.
5 Historiador e cientista social brasileiro falecido em 2013.
6 Historiador brasileiro falecido em 1990.
A pesquisadora analisa a Comissão Nacional da Verdade para entender uma
memória específica construída sobre a Ditadura, àquela referente à situação
camponesa durante o período. Antes de adentrar ao próprio recorte de período
escolhido, ela se debruça sobre o contexto pré-golpe. Nele, a tônica da reforma
agrária aparece como um pontapé para traçar uma análise sobre a questão
camponesa.
A disputa de memória da Ditadura é, para ela, exemplo claro da necessidade
de uma Comissão Nacional da Verdade, sendo essa fruto de uma luta pelo não
apagamento dos crimes cometidos pelo Estado. Adentrando a questão do campo,
ela pontua que os movimentos ligados à terra foram sujeitos politicamente ativos, e
essa atividade refletiu na Comissão. As perseguições e os assassinados contra os
camponeses são dois eixos temáticos que aparecem em sua pesquisa.

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