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Curso de Iniciação e Desenvolvimento em Modelismo Naval

(Março-Junho 2009)
Construção de uma canoa da picada - Escala 1/25

Programa de formação teórica e prática para desenvolver


competências básicas em modelismo naval.

Durante o curso que irá decorrer entre Março e Junho de 2009 nas
instalações do Núcleo Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal, na
Arrentela – Portugal, em complemento dos módulos teóricos sobre
modelismo e construção naval, cada formando vai construir um
modelo à escala 1/25 de uma canoa da picada.

A canoa da picada era uma embarcação com excelentes qualidades


vélicas, tradicionalmente usada no transporte de peixe (sardinha e
pescada que era salgada a bordo) que no início do século XX foi
adaptada ou construída de raiz para a prática da vela desportiva.

O Ecomuseu Municipal do Seixal é uma entidade permanente da


estrutura orgânica da Câmara Municipal do Seixal. Foi criado em
1982, integra cinco núcleos museológicos, duas extensões, gere três
embarcações tradicionais e tem por missão: “ investigar, conservar,
documentar, interpretar, valorizar e difundir testemunhos do Homem
e do meio, reportados ao território e à população do Concelho, com
vista a contribuir para a construção e a transmissão das memórias
colectivas e para um desenvolvimento local sustentável.” (Missão do
Ecomuseu Municipal do Seixal)
Neste site encontra toda a informação sobre o desenvolvidamente
das actividades de construção dos modelos, de acordo com o
seguinte programa:

1. A oficina do Núcleo Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal

2. Desenho e corte das peças para montagem da estrutura


3. Primeiro forro e segundo forro do casco

4. Forro do convés

5. Tratamento e envernizamento
6. Preparação e aplicação dos elementos do convés e do leme
7. Mastreação e poleame
8. Aparelho e velas
9. Acabamentos
10. Dossier fotográfico
11. Programa do curso
12. A canoa da picada – informações e documentação
A Oficina do Núcleo Naval

A Oficina do Núcleo Naval do Ecomuseu do Seixal

A oficina do Núcleo
Naval do Ecomuseu Municipal do Seixal fica situada na Avenida da
República, na freguesia da Arrentela, concelho do Seixal, na margem
do rio Judeu, um afluente do rio Tejo.

Trata-se de um espaço privilegiado, que outrora albergou estaleiros


de construção naval e do qual se pode desfrutar de uma vista
magnífica sobre a Baía do Seixal. Com alguma regularidade é possível
observar flamingos e outras aves migratórias bem como praticar
desportos náuticos.
O espaço é acolhedor, funcional e reúne todas as condições para o
ensino e a prática do modelismo naval
A oficina possibilita que os alunos possam adquirir competências
técnicas no uso de ferramentas manuais e mecânicas pois está
equipada com um parque de máquinas de precisão indispensáveis à
prática do modelismo profissional e ao ensino da actividade

As actividades do curso incluem um programa teórico sobre princípios


e procedimentos de construção naval em madeira e técnicas de
modelação de embarcações históricas e tradicionais

Para os formandos, oriundos de campos profissionais diversos, esta é


uma oportunidade para conhecerem os rudimentos técnicos de uma
profissão que tem vindo a desaparecer e para construir, de raiz, um
modelo de uma embarcação tradicional, com rigor histórico e
qualidade museológica. Na fotografia, o aluno João Jesus afina os
contornos da peça axial (cadaste, quilha e roda de proa) da canoa da
picada
O aluno António Gil recorta uma baliza na serra estacionária

O aluno José Arnedo desfia uma prancha de marupa para obter as


tábuas do forro, na serra circular de precisão

O aluno Fernando Dâmaso, afina os contornos de uma baliza na


lixadeira estacionária. O Fernando Dâmaso é modelista e colabora há
vários anos com o Ecomuseu Municipal do Seixal; este curso é uma
oportunidade para aperfeiçoar a sua prática profissional
O aluno Carlos Dias verifica a correcção do desenho e dos entalhes da
peça axial do modelo

A aluna Fátima Matos rectifica à lima os cortes efectuados numa


baliza. No Seixal, as senhoras também gostam de modelismo naval e
praticam-no. A Fátima Matos foi a primeira a inscrever-se no curso.
Durante a fase de pré-inscrição, registaram-se quatro vezes mais
interessados em frequentar o curso do que o número máximo
comportado pela mesmo

As aulas decorrem em horário pós-laboral e são orientadas pelo


modelista Carlos Montalvão, finalista do Curso de Mestrado em
História Marítima (Faculdade de Letras/Escola Naval), autor de
modelos em exposição museológica, de artigos sobre modelismo
publicados em Portugal e no estrangeiro e de um livro sobre
construção de modelos, editado pela Comissão Portuguesa de História
Militar, que foi recentemente galardoado com o Prémio Almirante
Teixeira da Mota, da Academia de Marinha

Desenho e corte das peças para montagem da estrutura


Começa-se por conceber, a partir dos planos e por construir, em
contraplacado marítimo com 4 mm de espessura, a armação
estrutural do modelo. Esta peça constitui a espinha dorsal do modelo
e é composta por várias peças (peça axial, balizas, reforços
horizontais e apoios laterais do forro junto à roda de proa)

Recorte do gabarito da peça axial, construído a partir de uma cópia


plastificada do plano
Longitudinal
O gabarito da peça axial. Repare-se nos entalhes para receber as
balizas

Com a ajuda do gabarito, transcreve-se o desenho da peça axial para


o contraplacado marítimo
Fez-se um gabarito das balizas a partir de uma cópia do desenho das
secções verticais do plano geométrico. Transcreve-se os contornos
das balizas para o contraplacado marítimo. Um pedaço de "bostik"
ajuda a segurar o molde enquanto se realiza o traçado da baliza
Separam-se os desenhos das peças da estrutura axial, na serra
circular
Recorta-se as peças da estrutura na serra estacionária
Pode ser necessário afinar os cortes com a ajuda de uma lixadeira
estacionária
Uma baliza da ré, desenhada e cortada

As várias peças da estrutura axial devem encaixar perfeitamente


umas nas outras. Para que isso aconteça é necessário rectificar e
afinar os vários cortes.
A estrutura do modelo ainda não está completa, mas já se consegue
ter uma noção aproximada dos contornos do casco da embarcação

Montagem da base de apoio à construção. Para montar as balizas é


necessário ter em conta a diferença de imersão entre a vante e a ré.
A quilha é colocada num picadeiro em plano inclinado.
Colagem das balizas. A colagem e afinação do painel da popa sobre a
peça axial não é tarefa fácil, mas com ajuda e engenho o resultado é
excelente.
Os carpinteiros navais do século XVII usavam o verbo “manegar”
para caracterizar o processo de afinação das balizas sobre a quilha. A
estrutura está pronta. As balizas cortam a quilha na perpendicular,
formando um ângulo de 90 graus com o solo e com o eixo da quilha.
A simetria das balizas em ambos os bordos foi repetidamente
verificada.

Colocou-se um reorço junto à roda de proa para segurar os topos das


fiadas do forro
Antes de aplicar o forro é necessário proceder ao “abatimento da
madeira” nas balizas, ou seja, é necessário desbastar o excesso de
madeira nos lados das balizas de proa e popa, de forma a que as
voltas do forro assentem convenientemente em toda a extensão das
mesmas.

Verificando se a tábua do forro assenta sobre as balizas sem ressaltos


de popa à proa. Nesta fase verificou-se que a penúltima baliza da
vante está demasiado recolhida. Como o problema ocorre em todos
os modelos, não é provável que esta situação derive de um defeito de
construção. Tudo indica que existe um erro no desenho das secções
verticais do plano geométrico.
Primeiro e segundo forro do casco

Desfiando as tábuas do primeiro forro na serra circular de precisão, a


partir de uma prancha de marupa. O primeiro forro enforma o casco e
consolida a ossada. Um segundo forro de madeira de bétula será
colocado posteriormente. As tábuas têm 5 mm de largura e 1,75 de
espessura. São necessárias 60 ripas para cada um dos dois forros da
canoa.
Depois de verificar de novo a correcção do abatimento da madeira
em cada baliza, aplicou-se a primeira tábua de forro seguindo, por
baixo, a linha do convés, de forma a manter a linha original do
tosado. Começa-se indiferenciadamente por aplicar a tábua de
bombordo ou de estibordo, mas logo que a primeira tábua está
pregada num dos bordos aplica-se no bordo oposto, seguindo a
mesma linha e trajectória. Para evitar empenos da ossada, as
primeiras voltas do forro são aplicadas com o modelo solidamente
fixado no picadeiro.
Ainda com o modelo no picadeiro, aplica-se a segunda tábua do forro
por baixo da tábua anteriormente colocada. As duas tábuas seguem
unidas apenas na zona da casa mestra sendo que na proa e na popa
descem um pouco seguindo a sua tendência natural. Não se pode
forçar a tábua a seguir uma curvatura muito acentuada, pois isso
introduz deformações na estrutura. As tábuas do forro colocam-se
sequencialmente em cada bordo. A simetria das voltas e a ausência
de empenos na estrutura devem ser cuidadosa e repetidamente
verificadas. Os pregos não são colocados até ao fundo, pois deverão
ser removidos logo que a cola seque.
O modelo só é removido do picadeiro quando se tem a certeza de que
as tábuas anteriormente colocadas garantem a solidez da estrutura.

Com o modelo “a fazer da quilha portaló” coloca-se, em cada bordo,


uma tábua do forro do fundo.
Aplicação das tábuas do resbordo, as primeiras voltas do fundo a
seguir à quilha, em cada bordo. Verifica-se, pelo alinhamento da
quilha que até ao momento a estrutura do modelo não sofreu
deformações significativas.
As tábuas do forro anteriormente colocadas funcionam como as
“armadouras” dos navios que garantem a correcção e a solidez da
ossada. Nesta fase pode-se completar o forro enchendo os espaços
em aberto entre as tábuas.
Tábuas de forro terminando em cunha simplificam o processo de
enchimento do forro. Neste momento já não há o perigo da estrutura
vir a sofrer empenos acidentais. No entanto, o remate do forro junto
ao cadaste exige algum cuidado de forma a garantir uma superfície
desempolada na transição entre o cadaste e o encolamento.

Verificando os remates junto ao cadaste. Nesta área as voltas sofrem


uma torção acentuada para se adaptarem ao delgado da ré.

Aplicou-se a primeira tábua do forro seguindo a curvatura longitudinal


do pavimento. O alcatratre, ou corrimão da borda, também tem
tosado, cuja curvatura vem indicada nos planos. A aplicação de uma
última tábua seguindo a linha abaixo do corrimão da borda permite
definir a curvatura deste.

Coloca-se cola branca no interior do casco para aumentar a sua


resistência e selar qualquer junta que não tenha ficado devidamente
colada. Aplica-se a cola em áreas alternadas, pois a humidade da cola
poderia descolar o forro já colocado. Logo que a cola seque pode
proceder-se ao polimento do casco. Passa-se primeiro com lixa de
grão médio (80 a 120) e faz-se o acabamento com uma lixa mais fina
(grão 150- 180).

Pormenor sobre as tábuas para o segundo forro, acabadas de sair das


máquinas. O segundo forro do convés é de madeira de bétula que foi
desfiada na serra circular de precisão e aparelhada na
desengrossadeira para ficar com 1,5 mm de espessura e 4,5 mm de
largura. Estas tábuas são bastante flexíveis e dão um excelente
acabamento ao casco. Começou-se por colocar o cintado, cujas
tábuas são ligeiramente mais grossas do que as do forro e a tábua do
resbordo. A tábua do resbordo segue paralela à quilha.

No segundo forro o remate entre duas tábuas deve ser feito a


preceito de forma a que os topos das voltas terminem imitando uma
construção à escala real. Fez-se um entalhe numa das tábuas
contíguas para alojar a tábua a colocar. O procedimento é
semelhante na ré.

Pausa na construção de seis canoas da picada, para a fotografia. Uma


visão invulgar sobre seis modelos simultaneamente semelhantes e
diferentes, expressando, cada um deles, à sua maneira, algo acerca
da personalidade do seu construtor.
É notória a diferença de tonalidade entre os dois forros e as duas
espécies diferentes de madeira. Depois de completar o forro do fundo
e o forro da borda, falta colocar ainda o forro na zona do
encolamento onde os entalhes são mais numerosos.

Completou-se a colocação do segundo forro e faz-se o polimento do


casco, primeiro à mão e depois com a ajuda de uma mini-lixadeira
delta.
Verificando a qualidade do trabalho realizado com a embarcação a
fazer da quilha portaló. A quilha não evidencia empenos pelo que a
estrutura não sofreu deformações durante o processo de aplicação do
forro. Consegue-se perceber a diferença entre as voltas do forro e a
técnica usada para fazer encaixar as tábuas umas nas outras nos
topos. Esta técnica de construção dá um toque de realismo
significativo ao modelo e realça a beleza constitutiva da madeira, que
não deverá ficar escondida sob camadas de pintura.
Aferindo distâncias entre voltas do forro da borda para conseguir
produzir uma tábua com as medidas exactas para o intervalo entre a
volta imediatamente abaixo do alcatrate e a volta imediatamente
acima do convés . Trabalho meticuloso e demorado, recompensado
quando tudo corre bem com o facto de não se ter que recomeçar de
novo.

Forro do convés
Realização de um graminho para desenhar a curvatura dos vaus. A
flecha do vau (altura máxima do vau) da canoa da picada não vem
referida nos planos, mas normalmente costuma rondar os 1/50 do
comprimento do vau (recta do vau). O graminho permite desenhar
uma curvatura harmoniosa e se o processo de confecção é difícil de
descrever a sua realização é bastante simples. Faz-se o graminho
com a ajuda de uma régua e de um compasso. A régua serve para
traçar a recta do vau que deverá ser dividida em 8 segmentos com a
mesma distância. Desenha-se com o compasso um meio círculo em
cada um dos pontos que dividem a recta, com excepção do ponto
inicial e do ponto terminal, com o raio igual ao valor da flecha do vau.
A divisão desse meio círculo em quartos, oitavos e finalmente 1/16
de círculo fornece os pontos pelos quais deverá passar a curva do
vau.
Antes de colocar os vaus é necessário remover os excedentes das
balizas acima da linha do convés, trata-se de uma actividade que, por
semelhança com os procedimentos necessários para desimpedir o
navio de forma a aprontá-lo para o combate, pode ser designado pelo
verbo “desempachar” .
Removendo os excessos das balizas, acima do convés, com a ajuda
de uma lima rotativa e com uma lâmina acoplada na lixadeira delta.
A remoção dos excessos da estrutura em contraplacado na roda de
proa e no painel da popa é um processo delicado, pois se não se “tem
mão” na máquina pode danificar-se o trabalho já realizado .

Uma canoa finalmente “desempachada” pronta para receber os vaus.


Controlo da altura dos vaus de forma a concretizar a curvatura
elíptica do tosado do convés. Colocou-se, em primeiro lugar, o vau da
baliza mestra e depois dois vaus nos fundos. O primeiro identifica o
ponto mínimo da altura do tosado e os dois últimos os ponto mais
próximos e elevados do fim da curvatura.
Aplicação do primeiro forro do convés. Utilizam-se tábuas de marupa
semelhantes às que foram aplicados no primeiro forro do casco. A
primeira tábua corre a bombordo ou a estibordo da mediania. Segue-
se completando o forro de ambos os lados.
O primeiro forro do convés quase completo, completo e polido.
Aproveita-se o polimento para eliminar alguma incorrecção na
curvatura do convés.

Marcações no convés simulando os vaus para facilitar a quando da


colocação do segundo forro o trespassamento dos topos das voltas do
pavimento.
Marcações para realizar um entalhe numa tábua do pavimento para
simular os topos.

A primeira tábua do segundo forro do convés com os topos alinhados


com as marcações dos vaus.

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