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TRADIÇOES
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Usos, Costumes e Linguagem

organizado pelo
Capitão-de-Fragata Márcia Lyra
7a edição
revisada e aumentada

~
SERVIÇODE RELAÇÕESPÚBLICASDAMARINHA
BRASÍLIA - DF

1999

)
---
~

@Serviço de Relações Públicas da Marinha

Ia edição: 1965 4a edição: 1975


2a edição: s/ registro 5aedição: 1981
3a edição: s/ registro 6a edição: 1989

-"

L 992t Lyra, Márcio de Faria Neves Pereira de.


Tradições do mar: usos, costumes e lingua-
gem/organizado pelo Capitão-de-Fragata Már-
cio Lyra.- 7.ed., rev. e aum.- Brasília : Serviço de
Relações Públicas da Marinha, 1999.
40p. : il.
l.Folclore do Mar. 2.Homens do mar - Usos
e costumes. 3.Marinharia-Terminologia.4.Termino-
logia naval. I.Brasil.Marinha. Serviço de Relações
Públicas. II.Título.
CDD 390.46238

SERVIÇOS DE RELAÇÕES PÚBLICAS DA MARINHA


Esplanada dos Ministérios, Bloco N - 3° andar
70055-900 - Brasília - DF
E-mail: srpm@gmm.mar.mi1.br
Homepage da Marinha: http://www.mar.mi1.br
impresso no Brasil
ÍNDICE
PÁGINA

1 - INTRODUÇÃO \ 01
2 - SEMELHANÇAS ENTRE AS MARINHAS 03

3 - CONHECENDOO NAVIO \ 05
NAVIOS E BARCOS
O NAVIO. ..;..
\..~ 05
06
CARACTERISTICAS DO NAVIO 08
A FLÂty!ULA DE COMANDO " 11
11

\
POSIÇOES RELATIVAS A BORDO

CÂMARA 13
CAMAROTES E AFINS 13
PRAÇAS E COBERTAS 13
PRAÇA D'ARMAS 13
A TOLDA À RÉ 14
AGULHA E BÚSSULA 14
CORDA E CABO 14

4 - A GENTE"DE BORDO 15
A HIERARQUIA NAVAL 15
A HIERARQUIA DA MARINHA MERCANTE 16

5 - A ORGANIZAÇÃO DE BORDO "' 17


ORGANIZAÇAO POR QUARTOS E DIVISOES DE SERViÇO 17
O PESSOAL DE SERViÇO 18
O SINO DE BORDO 18
AS FAINAS 18
A PRESIDÊNCIA DAS REFEiÇÕES A BORDO 19
6 - CERIMONIAL DE BORDO 21
SAUDAR PAVILHÃO 21
SAUDAR O COMANDANTE... 21
SAU DAR O IMEDIATO 21
SAUDAR _OOFICIAL DE SERViÇO 22
. SAUDAÇ~O ENTRE MILITARES 22
SAUDAÇAO COM ESPADA 22
APRESENTAR ESPADA 22
O CERIMONIAL DA BANDEIRA 23
BAN DEIRA A MEIO-PAU 23
SAUDAR UM NAVIO DE GUERRA AO LARGO 23
SAUDAÇÃO DE NAYIOS MERCANT!;S E RESPOSTA 24
A SALVA: SAUDAÇAO COIv1CANHOES 24
OS POSTOS DE CONTINENCIA 25
V IVAS 25
VIVAS DO APITO 25
CERIMONIAL DE RECEPÇÃO E DESPEDIDA 26
PÁGINA

- UNIFORMESE SEUS ACESSÓRIOS 27


OS UNIFORMES 28
O GORRO DE FITA ~ 28
O APITO DO MARINHEIRO 28
ALAMARES 29
CONDECORAÇÕES E MEDALHAS 29
I - ALGUMAS EXPRESSÕES CORRIQUEIRAS 31
'SAFO' 31

:~~~AA'6~ÇA;.'.'.'.'.'.'."',:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::: ~. ~~
'PEGAR' 31
'ROSCA FINA', 'VOGA LARGA' E 'VOGA PICADA' 32
APRESENTA çà O

E ~m todo o Mundo, os povos são profundamente influenciados por


~ algumas mutáveis características, que levam ao estabelecimento de
uma estreita relação entre o homem e o mar.
As p~culiaridades de alguns povos, influenciados pelo grau de maritimidade
e por certas vantagens daí resultantes, demonstram a natural e proveitosa
vinculação do homem ao mar.
O Brasil é uma nação marítima, o que se justifica pelos quase 8 mil
quilômetros de costa, marcada por facilidades naturais, pela herança das
concentrações populacionais ao longo do litoral e pela crescente importância do
mar como fonte de recursos.
O aproveitamento dessa maritimidade e a conscientização da população
exigem atenção, não apenas para os recursos que o mar possa oferecer, pois,
sendo os rios e os oceanos fontes de sustento, meios de transporte e de produção,
demandam medidas de preservação.
"O marinheiro tem o sentimento
da Pátria unitária, nacional, impessoal;
por isso as velhas tradições do País
conservam-se vivas nos navios
depois de quase apagadas em terra".
Joaquim Nabuco
\ \

PREFÁCIO À 7a EDIÇÃ~ .

Sob Otítulo "Tradição do Mar: Usos, Costumes e Lingu';gem", esta obra, organizada
pelo erltão Capitão-de-Fragata Márcio Lyra, quando Imediato do Navio Oceanográfico
Almirante Saldanha, foi primeiramente editada em 1965, pela Diretoria de Hidrografia e
Navegação, com o propósito de familiarizar o pessoal civil embarcado ou militar recém-
engaJadonas rotinas de bordo. Mais tarde, o Clube Naval, no Rio de Janeiro, imprimiu a 2a
edição; a Diretoria de Portos e Costas a 3a edição; e o Serviço de Relações Públicas da
Marinha (SRPM) as 4a, 5ae 6aedições (1975,1981 e 1989, respectivamente) sob o título de
"Tradições dos Homens do Mar", com o acréscimo de algumas contribuições.
A Marinha do Brasil, em face da procura gerada e por sua utilidade, apresenta a 7a
edição,com o presente tÍfuló, revisada e aumentada, mantendo esta publicação atualizada
para que continue a despertar o interesse das novas gerações de marinheiros pelas tradições
cultuadaspor seus antecessores.
O Editor
Brasília, 1999
1 .~ODUÇÃO

Tradição, Usos, Costume\e Linguagem do Mar

o s homens do mar, há muitos


séculos, vêm criando nomes
para identificar as diversas par-
tes dos navios e designar a praxe de suas
ações, as quais, pela repetição, tornaram-se
10,surgindo daí, a mentalidade marítima.
É óbvio que os navios, mesmo
sendo pequenas cidades espalhadas por
uma enorme área, fazem contato entre si,
nos portos ou na imensidão oceânica.
costumes. Naturalmente, muitas particulari- Vivendo experiências semelhantes, os
dades e expressões ~a tradição naval lem- marinheiros sempre se ajudam uns aos
bram, às vezes, aspectos da vida doméstica outros e trocam conhecimentos. Por eles
ou de atividades em terra. foram criados, e continuam a sê-Io, costu-
O m.ar cobre três quartas partes da mes, usos e linguagem comuns: a tradição
superfície terrestre e tem uma grande do mar. É fácil entender o poder de agluti-
influência na vida dos homens. Na rea- nação das tradições marítimas, visualizan-
lidade, a maior ou menor capacidade de do-se a vastidão da área oceânica onde
uma nação em utilizá-Io, como fonte de elas se manifestam. Os homens do mar,
riqueza ou de alimentação e, ainda, mais por arrostarem sempre a mesma vida e
tradicionalmente, como via de transporte mutuamente se ajudarem, constituem, tra-
e comunicações, decorre, através dos dicionalmente, uma classe de espírito mui-
séculos, da percepção, como país, das to forte.E, como somente em períodos
aspirações nacionais. Hoje em dia, apesar historicamente curtos se vêem em disputa
das conquistas espaciais, vemos, na dispu- pelo domínio, geográfica e cronologica-
ta pela supremacia marítima, comercial e
militar, o reconhecimento dessa realidade
pelas grandes potências.
O Poder Marítimo é a capacidade
de uma nação utilizar o mar: é a marinha
de guerra e mercante, é a frota pesqueira,
são os navios de pesquisas, as escolas de
formação de pessoal, as escolas de técni-
cos em assuntos marítimos, a indústria
naval e tudo o que se relaciona com o
poder e a capacidade de uso do mar, com
a consciência da necessidade de utilizá- São I'aulo

1
mente limitado, do mar, onde partilham
alegrias e perigos, a fraternidade é a mais
digna característica com que pautaln o seu
comportamento rotineiro.
Nota-se, no homem do ml(lr, um
respeito comum à tradição, a qual d~ gran-
deza e que o vincula a um extraordinário
ânimo patriótico e a uma grande veneração
dos valores espirituais que o liga'n; à
comunidade nacional onde teve seu betço. o.
Vive, internacionalmente, a perceP--ção e "
tem da Pátria, perto ou distante. E, co o
dizia Joaquim Nabuco, "um sentime to ~ tornam obrigatórios. O Cerimonial da
unitário, nacional, impessoal". A lembran- Marinha do Brasil é uma publicação à parte,
ça ou a imagem que dela tem o marinheiro própria, que regulamenta e consagra os
não é maculada pelos regionalismos. Sua tradicionais usos navais, cujo conhecimento
Pátria é um todo de tradições, que venera é conveniente aos que têm vinculação com o
com a mesma força com que aprendeu a mar.
honrar as que são comuns aos homens do Assim, a presentepublicaçãose desti-
mar. O respeito à tradição é uma carac- na aos que servem à Marinha do Brasil, à
terística que gera um patriotismo sadio, MarinhaMercantee aosbrasileirosvinculados
fundamentado na valorização dos aspectos a atividadesmarítimas.Trata,principalmente,
comuns ao seu grupo nacional, em que a dos usos e conhecimentos consagrados pelo
tradição se constitui em elemento comu- tempo. Quando o jovem começa a carreirado
nitário, num poderoso aglutinador. mar vai aprendendo suas particularidades
O Poder Marítimo de um país gradualmente,no dia-a-diade suas atividades.
constitui-se da capacidade de administrar e A linguagem própria é um poderoso
instrumento de aglutinação.Quando se serve
de dar apoio às atividades ligadas ao mar.
Para isso, são necessários recursos de to- a bordo,em naviode guerraou mercante,deve-
se procurar segui-Ia.Com respeito à tradição,
dos os tipos, do material ao humano. O Poder aliadosà coragem e ao orgulho do que fazem,
Naval, exercido pela marinha militar ou de os homens do mar provocam a integração da
guerra, é a parcela militar do Poder comunidade naval e marítima, favorecendo
Marítimo, e dele se origina, para sua pró- a conquista de eficiência máxima, tão
pria proteção e segurança, garantindo os necessária a seus propósitos e aspirações.
meios necessários para utilização do poten- Assim, as tradições, as cerimônias e
cial de suas águas. A essa marinha compe- os usos marinheiros, juntamente com os cos-
te, com suas forças, bases navais, arsenais e tumes, têm extraordinário poder de amal-
estabelecimentos, garantir a capacidade de gamar e incentivar os que vivem do mar.
uso do mar, sejam quais forem as condições Tendem, entretanto, a se tomar atos despidos
e ocasiões.
de significado, quando sua explicação é
Aos brasileiros, particularmente
àqueles que se dedicam ao mar, mas não perdida no tempo.
- somente a eles, é convenientepossuir um A lembrança constante das razões
conhecimento dos usos e costumes da gente dos atos e a sua explicação ou, quando for
do mar. Na Marinha do Brasil, eles são o caso, das versões de sua origem,
observados e chegam, às vezes, a figurar promovem a compreensão, o incentivo e
em regulamentos e documentos que os a incorporação da prática marinheira.

2
2. SEMELHANÇAS ENTRE AS MARINHAS

A vida nas marinhas do mundo inteiro Não estamos aqui abordando, nem
é muito semelhante. Todos que abraçam a seria possível fazê-Io, tudo o que há em
carreira do mar pertencem a uma fraterna tradições, usos e costumes navais e marí-
classe. Há um vasto conjunto comum de timos. Só estão em pauta alguns aspectos
usos, muitos deles ditados pela necessidade mais curiosos. Desejamos que sua divul-
de segurança ou exigências naturais do meio, gação atinja, também, aos que não são ini-
e outros, ainda, pela grande cordialidade que, ciados em assuntos do mar, principalmente
entre si, nutrem os homens do mar, levando- o leitorjovem, dando-lhesum melhor e maior
os a uma permanente troca de gentilezas. conhecimento da vida do homem do mar.

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3
3. CONHECENDO O NAVIO
NAVIOS E BARCOS

um barco, é embarcar. E dele sair é


desembarcar. Uma construção que permita
o embarque de pessoas ou cargas para
transporte por mar, é uma embarcação.
Um navio de guerra é uma belonave.
Vem, a palavra, do latim "navis" (nave,
navio) e "bellum" (guerra).
Um navio de comércio é um navio
mercante. A palavra é derivada do latim
"mercans" (comerciante), do verbo
"mercari" (comerciar).
Apartar é chegar a um porto.
Um navio é uma nave. Conduzir Aterrar é aproximar-se de terra. Amarar é
afastar-se de terra para o mar. Fazer-se ao
uma nave é navegar, ou seja, a palavra vem mar é seguir para o mar, em viagem.
do latim "navigare", "navis" (nave) + Importar é fazer entrar pelo porto; exportar
"agere" (dirigir ou conduzir). é fazer sair pelo porto. Aplica-se geralmente
Estar a bordo é estar por dentro da à mercadoria.
borda de um navio. Abordar é chegar à Encostar um navio a um cais é
borda para entrar. O termo é mais usado atracar; tê-Io seguro a uma bóia é amarrar,
no sentido de entrar a bordo pela força: tomar a bóia; prender o navio ao fundo é
abordagem. Mas, em realidade, é o ato de fundear; e fazê-Io com uma âncora é
chegar a bordo de um navio, para nele ancorar (embora este não seja um termo
entrar. de uso comum na Marinha, em razão de,
Pela borda tem significado oposto. tradicionalmente, se chamar a âncora de
Jogar, lançar pela borda. ferro - o navio fundeia com o ferro!).
Significado natural de barco é o de Recolher o peso ou a amarra do fundo é
um navio pequeno (ou um navio é um barco suspender; desencostar do cais onde esteve
atracado é desatracar; e largar a bóia onde
grande...). Mas a expressão poética de um
esteve é desamarrar ou largar.
barco tem maior grandeza: "o Comandante Arribar é entrar em um porto que não
e seu velho barco" ou "nosso barco, nossa seja de escala, ou voltar ao ponto de partida;
alma". Barco vem do latim "barca". Quem é , também, desviar o rumo na direção para
está a bordo, está dentro de um barco ou onde sopra o vento. A palavra vem do latim
navio. Está embarcado. Entrar a bordo de "ad" (para) e "ripa" (margem, costa).

5
o NAVIO

a navio tem sua vida marcada por sina" deu origem ao termo arsenal, em
fases. a primeiro evento dessa vida é o português, e ao termo "darsena" que, em
batimento da quilha, uma cerimônia no espanhol, quer dizer doca.Construído e
estaleiro, na qual a primeira peça estrutural pronto, o navio é, então, incorporado a uma
que integrará o navio é posicionada no local esquadra, força naval, companhia de
da construção. Estaleiro é o estabele- navegação ou a quem vá ser responsável
cimento industrial onde são construídos pelo seu funcionamento. A cerimônia
navios. Como os navios antigos eram feitos correspondente é a incorporação, da qual
de madeira, o local de construção ficava faz parte a mostra de armamento.
cheiode estilhas,lascasde madeira,estilhaços Armamento nada tem a ver com armas e
ou, em castelhano, sim com armação.
"astillas". Essa mostra, feita
as espa- pelos construtores
nhóis, então,deno- e recebedores, se
minaram os esta- constitui em uma
belecimentos de inspeção do navio
"astileros",que em para ver se está
português derivou tudo em ordem, de
para estaleiros. acordo com a en-
Quando o comenda. Na oca-
navio está com o sião, é lavrado um
casco pronto, na termo, onde se faz
carreira do esta- constar a entrega, a
leiro, ele élançado incorporação e tu-
ao mar, em cen- do o que há a bor-
mônia chamada lançamento. Nesta ocasião do. A vida do navio passa, então, a ser regis-
é batizado por sua madrinha e recebe o trada em um livro: o Livro do Navio, que
nome oficial. a lançamento antigamente era somente será fechado quando ele for
feito de proa; mas, os portugueses intro- desincorporado.
duziram o hábito de lançá-lo de popa, A armação (ou armamento) corres-
existindo também carreiras onde o ponde à expressão armar um navio, provê-
lançamento é feito de lado, de través; e hoje, 10do necessário à sua utilização; e quem o
devido ao gigantismo dos navios, muitos faz é o armador. Em tempos idos, armar
deles são construídos dentro de diques, que tinha a ver com a armação dos mastros e
se abrem no momento de fazê-los flutuar. vergas, com suas vestiduras, ou seja, os
as navios de guerra, geralmente, cabos fixos de sustentação e os cabos de
são construídos em Arsenais.Arsenal é uma laborar dos mastros, das vergas e do
palavra de origem árabe. Vem da expressão velame (velas). Podia-se armar um navio
"ars sina" e significa o local onde são guar- em galera, em barca, em brigue... A
dados petrechos de guerra ou onde os navios inspeção era rigorosa, garantindo, assim,
atracam para recebê-los. A expressão "ars o uso, com segurança, da mastreação.

6
Um dos mais Terminada a
conhecidos armadores! vida de um navio, ele
do mundo foi o pro- é desincorporado por
vedor de navios, I baixa, da esquadra,
proprietário e mesmo da força naval, da
navegador Américo companhia de nave-
~ Vespucci. Tão impor- I gação a que per-
tante é a armação de tencia, ou do serviço
navios e o comércio que prestava. Há,
marítimo das nações,
que a influência de
I então, uma cerimônia
de desincorporação,
Américo Vespucci foi com mostra de
maior que a do próprio desarmamento. Diz-
descobridor do novo se que o navio foi de-
continente e que pas- sarmado. As com-
sou a ser conhecido panhias de navegação
como América, em vez conservam os livros,
de Colúmbia, como -registros históricos
seria de maior justiça ao navegador de seus navios. Na Marinha do
Cristovão Colombo. Assim, Américo, Brasil, os livros são arquivados no
como armador, teve maior influência para Serviço de Documentação da
denominar o continente, com o qual se Marinha (SOM) e servem de fonte
estabelecera o novo comércio marítimo, de informações a historiadores e
do que Colombo. outros fins.

L.ançamento - - -Desarmamento
- -- -

7
CARACTERÍSTICAS DO NAVIO
~

Quem entrar a bordo verá que o guerra abandonaram o preto pelo cinza ou
navio, além do nome, tem uma série de azul acinzentado, cores que procuravam
documentos e dimensões que o carac- confundir-se com o horizonte ou com o
terizam. O nome é gravado usualmente na mar das zonas em que navegavam. En-
proa, em ambos os bordos, local chamado tretanto, muitos navios mercantes continuam
de bochecha, e na popa. Nos navios de até os dias de hoje a usar, no costado, a cor
guerra, usualmente, é gravado só na popa. preta, principalmentepor questão de eco-
Os navios mercantes levam, também, na nomia. Era comum, também, navios de
popa, sob o nome, a denominação do porto guerra pintados por dentro, junto à borda,
de registro. com a cor vermelha, a fim de que não
Os documentos característicos do causasse muita impressão a sangueira
navio mercante são, entre outros, seu regis- durante o combate, confundida, assim, com
tro (Provisão do Registro fornecida pelo as anteparas.
Tribunal Marítimo); apólice de seguro obri- Normalmente, as cores da chaminé,
gatório; diário de navegação; certificado nos navios mercantes, possuem a carac-
de arqueação; cartão de tripulação de segu- terização da companhia de navegação a que
rança; termos de vistoria (anual e de renova- pertencem.
ção ou certificado de segurança da nave- Nas embarcações salva-vidas e nas
gação); certificado de seguranç.ade equipa- bóias salva-vidas, predomina a preocupação
mento; certificado de borda livre; certifi- com a visibilidade. Essas embarcações são
cado de compensação de agulhas e curva pintadas, normalmente, de laranja ou
de desvio; certificado de calibração de radio- amarelo, de modo a serem facilmente vistas.
goniômetro com tabela de correção; certifi- Por esse mesmo motivo, e por convenção
cado de segurança rádio; e certificado de internacional, para caracterizar a utilização
segurança de construção. pacífica e não de guerra dos navios (cor
A cor é muito importante. Antiga- cinza), na Antártica é utilizado o vermelho,
mente, os navios eram pintados na cor inclusive nos costados dos navios por seu
preta. O costume vinha dos fenícios, que contraste com o branco do gelo.
tinham facilidade A bandeira,
em conseguir be- na popa, identifica a
tume, e com ele nacionalidade do
pintavam os costa- navio, país que
dos de seus navios. sobre ele tem
A pintura era soberania; mas, há
usada, às vezes, uma bandeira, na
com faixas bran- proa, chamada je-
cas, nas linhas de que (do inglês "ja-
-bordada dos ca- ck") que identifica,
nhões. Somente dentro de cada na-
no fim do século ção soberana, quem
XIX, os navios de tem a responsabili-

8
dade sobre o navio. da qual se dedu-
Na nossa Marinha, zem certos es-
o jeque é uma ban- paços não comer-
deira com vinte e ciáveis ( praça de
uma estrelas - a ban- máquinas, es-
ckira dDcruzeiro. Os paços da tripu-
navios mercantes lação, etc). Cada
usam no Jeque a navio tem uma
bandeira da compa- tonelagem
nhia aque pertencem; oficialmente
porém, aIguns usam a registrada, que
bandeira identifica- define seu tama-
dora de sua compa- nho, e que é uti-
nhia na mastreação. lizada, também,
A medida para o cálculo de
longitudinal do navio é chamada compri- taxas e impostos. Em geral, essa tonelagem
mento; e a sua medida transversal, é é a líquida, que recebe, então, o nome de
chamada boca. O calado é a medida da
tonelagem de registro. Como as formas dos
altura, desde a quilha até a superfícieda água, navios são arqueadas, a medida dos
quando o navio está flutuando. Oponta Iou volumes internos do navio era difícil de
pontal moldado é a medida vertical entre o calcular, exigindo o emprego de artifícios
convés principal (vau do convés) e a quilha especiais para obtê-Ia; daí o nome
(base moldada). Existem peculiaridades em arqueação utilizado para designar o cálculo
tomo dessas medidas, as quais não serão do volume interno dos navios.
abordadas nesta publicação, por serem de Como já vimos, o termo tonelagem
caráter eminentemente técnico.
nada tem a ver com tonelada, peso. Hoje, é
Deslocamento é a medida do peso usado para medir a tonelagem, por se tratar
do volume de água que o navio desloca, de medida de volume, a arqueação, que é o
quando flutuando em águas tranqüilas. volume de 100 pés cúbicos, ou seja 2,83
Esse valor é o peso do navio. Os navios de metros cúbicos. Diz-se, por exemplo, que
guerra têm o seu tamanho avaliado pelo des- o navio "x" tem 2000 de arqueação bruta
locamento, enquanto os navios mercantes (ou AB 2000).
são medidos pela capacidade de carregar Existe, todavia, vantagem em medir
mercadorias - a tonelagem, pois o que mais a capacidade comercial dos navios, tam-
interessa são as características comerciais.
bém, pelo peso que ele é capaz de transpor-
A tonelagem é uma medida de volume e tar, o que dá uma idéia de tamanho. Esse
não de peso. A origem do nome vem de peso é usualmente denominado pela
antigamente: os navios eram medidos por expressão inglesa "dead weight": - um
sua capacidade em carregar tonéis-padrão. navio de tantas toneladas "dead weight".
Era a tonelagem, de tonéis. O deslocamento "dead weight" é a
O volume tem utilização comercial. diferença entre o deslocamento máximo e
A tonelagem bruta é o volume total do o mínimo: a diferença entre o navio pronto
navio e de todos os seus compartimentos para o serviço com o combustível, a aguada,
fechados. A tonelagem líquida é o volume a tripulação, os materiais de consumo e a
que constitui a real capacidade comercial carga paga, e o navio pronto para o serviço,
do navio. Ela é medida pela tonelagem bruta mas sem combustível, sem aguada, sem

9
materiais de consumo, sem carga e sem lhe caracterizava a propulsão, relacio-
/ tripulação. Conclui-se que o deslocamento
de combustível, de aguada, dos materiais
nada, assim, com a sua capacidade de
utilizar o vento.
de consumo, da tripulação e da carga paga, As característicasde combate tinham
reflete-se na capacidade de carregamento outra natureza e os tipos mais comuns eram:
total - a carga bruta. naus (navios de batalha), navios de linha
A carga paga é, (navios de linha de
portanto, uma parcela da combate); fragatas
cargabruta. Se variarmos ("frigates"); e corve-
as parcelas de carga tas ("courvetes").Essa
bruta, de acordo com as
necessidades da viagem I classificação
I
tinha a ver
com o número de
a empreender,é possível cobertas, isto é,
obter maior parcela de conveses de canhões.
carga paga e daí melhor Historicamen-
aproveitamento da capa- te, a velocidade não
cidade comercial do
naVIO. tem evoluído muito, a
A propulsão é não ser para os sub-
outra característica marinos que, hoje,
importante do navio. podem desenvolver
cerca de quarenta
Ela é obtida por hélice (s) - o hélice do
navio, tradicionalmente, na Marinha, é no nós. Os demais navios não suportam, por
masculino - que é movimentado a motor muito tempo, velocidades altas. Há
diesel ou elétrico, a máquina alternativa, a contratorpedeiros (CT), fragatas, corvetas
turbina a vapor ou a gás. Para efeito de e navios patrulha que desenvolvem, du-
regulamentos internacionais, um navio rante um bom período, velocidades de até
movido a hélice ou, mais raramente, a trinta e seis nós. Vinte e cinco nós, para
rodas, é uma navio a propulsão mecânica. muitos navios, e dezoito a quinze, para a
Os navios ditos nucleares conti- maioria, são velocidades usuais, de
cruzeiro, em navios mercantes e navios
nuam sendo impulsionados pelos mesmos
hélices. Nuclear é somente a energia utiliza- de guerra. Historicamente, não é um
da na produção de vapor para as turbinas grande passo. Os navios a vela, par-
que os movem; o combustível é que é ticularmente os "clippers", atingiam quinze
nuclear. Os navios a motor diesel ou os e, às vezes, dezessete nós. A desvantagem
navios a vapor, convencionais, utilizam é que dependiam da intensidade e da
energia obtida de combustíveis comuns: direção do vento. Os de propulsão mecâ-
óleo diesel ou óleo combustível para nica, à época, eram mais regulares,
caldeira ("bunker") ou uma mistura de embora mais lentos, alcançando cerca de
diesel e óleo "bunker" (o "Navy Special"). dez nós. Comercialmente, foi a regularidade
As turbinas a gás utilizam combustível e não a velocidadeque superou os "clippers",
definitivamente,e, com eles, os navios a vela.
diesel de tipos mais leves (conhecidos
como Mar-C, JP-5, etc). Hoje, alguns tipos de embarcações com
Os navios a vela não são considera- construção e propulsão especiais têm
dos de propulsão mecânica. Antigamente, obtido velocidades expressivas, porém,
da mesma forma que hoje se diz um navio operam com restrição no raio de açã9 e
"a motor ou turbina", dizia-se que um relativamente às condições de mar. E o
navio era "armado em galera" ("full rigged caso dos "hovercrafts", que se utilizam
ship"), "em barca" ("bark"), "em brigue" de sistema de "sustentação" ou "colchão
("brigg") ou "em escuna" ("scoon"), o que de ar", e os que se utilizam de hidrofólios e

10
aqua-turbo propulsores. velocidade do navio de melhor forma.
A velocidade é medida em milhas Jogava-se à água, pela popa, uma barqui-
náuticas por hora, a milha náutica equivale nha, uma espécie de triângulo de madeira,
ao comprimento do arco de um minuto com um dos lados mais pesado, que,
de latitude. Com o achatamento da Terra, portanto, flutuava com um ângulo para
esse comprimento varia do Equador para cima. O artefato era preso a um cordel,
os Pólos e é usado, então, como o valor um cabo fino, cuja outra extremidade
padrão 1.852,4m, no sistema métrico, ou segurava-se a bordo. Uma vez lançado à
2027 jardas, no sistema inglês, que é a água, flutuando, e com o navio afastando-
medida de um minuto de latitude, na se da barquinha, quem segurava o cordel
latitude de 48 graus. A velocidade de uma ia largando o cabo e, em sincronia, contava
milha náutica por hora é um nó. A palavra o tempo em uma ampulheta (estando já
nó vem da forma antiga de medir-se a calculada a quantidade total de areia para
velocidade, o andamento dos navios. Pri- um tempo conhecido). O cordel era cheio
de nós, colocados de forma a que, combi-
mitivamente, jogava-se um pedaço de nado com o tempo decorrido para esvaziar
madeira à água, na proa e media-se com a ampulheta, desse a velocidade em milhas
uma ampulheta o tempo que o navio levava por hora. Assim, bastava ao operador
para que tal pedaço passasse pela popa. lançar a barquinha à água, virar a ampulheta
Com o comprimento do navio e o tempo e largar o cordel, deixando passar os nós
tinha-se a velocidade. Ainda hoje, em e contá-Ios até que a ampulheta ficasse
inglês, a palavra "log" (pedaço de madeira) com a ampola superior vazia. O total de
significa odômetro - instrumento usado nós dava a velocidade.
para medir a velocidade do navio. Com o
correr do tempo, passou-se a medir a

A FLÂMULA DE COMANDO

No topo do mastro dos navios da


Marinha do Brasil existe uma flâmula com
21 estrelas. Ela indica que o navio é
comandado por um oficial de Marinha. Se
alguma autoridade a quem o Comandante
esteja subordinado, organicamente (dentro
de sua cadeia de comando) estiver a bordo,
a flâmula é arriada e substituída pelo
pavilhão-símbolo daquela autoridade. A
flâmula é trocada nas passagens de co-
mando e em nenhum outro caso é arriada.

POSIÇÕES RELATIVASA BORDO

As posições relativas ao navio, para assim: se estiver na parte de trás, estará a


quem está a bordo, são consideradas ré e se estiver na parte da frente do navio,

11
estará a vante; se estiver voltado para a rinha francesa os marinheiros que tinham
parte da frente - parte de vante - o lado alojamento a bombordo, eram chamados
que fica à direita é chamado boreste e o de "babordais" e tinham os seus números
lado que fica à esquerda é chamado internos de bordo pares. Ainda hoje, na
bombordo. A parte da frente do navio é a numeração de compartimentos, quando o
proa; a parte de trás, a popa. último algarismo é par, refere-se a um espaço
A popa é uma parte do navio mais a bombordo. quando é impar, refere-se a
respeitada que as demais. Nos navios de boreste.
guerra, todos que entram a bordo pela As marinhas de língua inglesa, ou a
primeira vez no dia, ou que se retiram de elas relacionadas, não utilizam expressões
bordo, cumprimentam a bandeira nacional próximas de "bâbord". Batizam o bordo
na popa, com o navio no porto. Ela está lá oposto ao do governo de "port", ou seja, o
por ser a popa o lugar de honra do navio, bordo onde não estava o leme e que, por
onde, já nos tempos dos gregos e romanos, esta razão, ficava atracado ao cais, ao porto;
era colocado o santuário do navio, com uma daí a expressão "port", bordo do porto.
imagem ou "Puppis", de uma divindade. O O navio é dividido em seções hori-
termo popa é derivado de "PUPPIS". zontais chamadas conveses. São os pavi-
Os lados do navio são os bordos e o mentos. Um deles serve de referência para
de boreste é mais importante que o de contagem e é chamado convés principal.
bombordo. Nele, desde tempos imemoriais, Os demais são batizados em relação ao
era feito o governo do navio por uma estaca principal, para cima, como os conveses
de madeira em forma de remo, chamada da superestrutura; e para baixo, até o
pelos navegantes gregos de "Staurus". porão. Quem neles estiver, nos conveses
Os antigos navegantes noruegueses abertos é considerado como estando no
chamavam a peça de "staurr" que os convés ou em uma plataforma.
ingleses herdaram como "steor", Os conveses cobertos, do convés
denominação dada ao remo que servia de principal para baixo, até o porão, são
leme, e "STEORBORD" ao bordo onde chamados de cobertas. É dito que quem
era montado, hoje "starboard". Ao neles se encontra está cobertas abaixo.
português, chegou
como estibordo. Os
brasileiros inverteram a
palavra para boreste
f . I

~ 1~
(Aviso .do Almirante
Alexandrino,Ministroda
Marinha) a fim de evitar
confusões com o bordo
.
: - """""" .I

oposto: bombordo. ~ Comomoento


;-.

~
A palavra bom-
bordo tem vínculo com
o termo da língua
1
I
I
I
- rI
..
espanhola "babor" que,
por sua vez, parece ter
II i
II. i
I
.

I.
origem ou estar rela- ! '.{il[ii'1i$ I J Boco I
cionada à palavra fran-
If'- -tCOladO
cesa "bâbord". Na Ma-

12
CÂMARA

Os compartimentos do navio são concedida. Se embarcar num navio o


tradicionalmente denominados a partir do Comandante da Força Naval, esta auto-
principal: a câmara. Este é o local que ridade maior terá o direito à câmara.
aloja o Comandante do navio ou oficial O navio onde embarca o Coman-
mais antigo presente a bordo, com auto- dante da Força Naval é chamado capi-
ridade sobre o navio, ou ainda, um visi- tânia. Seu Comandante passa a denomi-
tante ilustre, quando tal honra lhe for nar-se Capitão de Bandeira.

CAMAROTES E AFINS

Os demais compartimentos de ministrativo; como os camarins da


bordo, conforme sua utilização, ganham navegação, de cartas e da máquina.
denominações com diminutivos de Os navios mercantes costumam
câmara: camarotes, para alojar oficiais, ter um camarote à disposição do
e camarins, para uso operacional ou ad- armador: o camarote do armador.

PRAÇAS E COBERTAS

Uns tantos compartimentos são Os alojamentos da guarnição e seus


chamados de praças: praça de máquinas, locais de refeição são chamados de cobertas:
praçad' armas,praçade vaporizadores,etc. coberta de rancho, coberta de praças, etc.

PRAÇA D' ARMAS

O compartimento
de estar dos oficiais a
bordo, e onde também
são servidas suas
refeições, é denominado
praçad'armas.
Essa denomi-
nação prende-se ao fato
de que, nos navios an-
tigos, as armas portáteis
eram guardadas nesse
local, privativo dos
oficiais.

13
A TOLDA À RÉ

Existem conveses com nomes do tombadilho, que é o convés da parte


especiais. Um convés parcial, acima do alta da popa, e o convés da tolda.
convés principal na proa é o convés do Nos navios grandes o local onde
castelo. A denominação é reminiscência do permanece o Oficial de Serviço, no porto,
antigo castelo que os navios medievais leva- é chamado convés da tolda à ré.
vam na proa onde os guerreiros combatiam. Nele não é permitido a ninguém
Em certos navios existem mais dois ficar, exceto o Oficial de Serviço e seus
conveses com nomes especiais: o convés auxiliares.

AGULHA E BÚSSOLA

O navio tem agulha, não bússola.


A origem é antiga. As primitivas
peças imantadas, para governo do navio,
eram, na realidade, agulhas de ferro, que
flutuavam em azeite, acondicionadas em
tubos, com uma secção de bambu. Cha-
mavam-se calamitas. Como eram basi-
camente agulhas, os navegantes espanhóis
consideravam linguagem marinheira, a
denominação de agulhas, diferentemente de
bússolas, palavra de origem italiana que se
referia à caixa - "bosso" - que continha as
Bitácula. Dispositivo em que se peças orientadas.
aloja a ~$~a m~~tica

CORDA E CABO

Diz-se que na Marinha não há corda.


Tudo é cabo. Cabos grossos e cabos finos,
cabos fixos e cabos de laborar..., mas tudo
é cabo.

Existem porém, duas exceções:


- a corda do sino e
- a dos relógios

14
.
4 A GENTE DE BORDO

o Comandante é a autoridade guarnição). O Imediato e oficiais constituem


suprema de bordo. O Imediato é o "oficial a oficialidade. Os demais tripulantes
executivo do navio", segundo do Coman- constituem a guarnição. As ordens para o
dante;é o substitutoeventualdo Comandante: navio emanam do Comandante e são feitas
seu substituto Imediato. executar pelo Imediato, que é o coordenador
A "gente de bordo" se compõe de de todos os trabalhos de bordo, exercendo
Comandante e Tripulação (oficiais e a gerência das atividades administrativas.

A HIERARQUIA NAVAL

No Brasil, o estabelecimento de Esquadras. Os Almirantes, precipuamente,


formação de oficiais do Corpo da Armada, comandam Forças Navais, grupamentos
de lntendentes e de Fuzileiros Navais é a de navios. Sua hierarquia deve definir a
Escola Naval. Seus alunos sãoAspirantes importância funcional do grupamento. Os
e dela saem, ao concluírem o curso, como postos de Almirantes, em sequência
Guardas-Marinha. ascendente são: Contra-Almirante, Vzce-
A formação de praças é realizada Almirante e Almirante-de-Esquadra.
pelas Escolas de Aprendizes-Marinheiros. O Comando dos navios cabe aos
Os alunos dessas Escolas, após o término Comandantes. A importância funcional do
do curso, são nomeados Marinheiros. navio deve definir a hierarquia de seus
A unidade de combate naval é o Comandantes. É mantida tradicionalmente
navio. Os Grupamentos de navios a antiga importância dos navios para com-
constituem as Forças Navais e as bate, classificados de acordo com o nú-

15
mero de conveses e canhões de que dispu- praças(emhierarquiaascendente:Marinheiro,
nham: as corvetas, com um convés de Cabo, 3° Sargento, 2° Sargento, ]VSargento
canhões; as fragatas, com dois conveses e Suboficial). Nos navios de maior impor-

~
e canhões; e as naus com três conveses tância há, ainda, oficiais superiores que
de canhões, havendo também, a exercem funções internas, geralmente na
denominação de navios de linha ou navios chefia de Departamentos. Navios menores
e batalha, por serem os que constituíam as que as corvetas, em geral, são comandados
~s de batalha.Daí a hierarquiaascendente por Capitães-Tenentes.
dos comandantes, como Capitães-de- É interessante notar, entretanto,
Corveta, Capitães-de-Fragata e Capitães- uma característica ímpar da Marinha: na
de-Mar-e-Guerra. linguagem verbal, o tratamento normal-
As funções internasnos navios cabem mente dados aos oficiais da Armada resu-
aos tenentes (em hierarquia ascendente: 2° mem esses nove postos a três: Almirante,
Tenente, ]V Tenente e Capitão-Tenente) e Comandante e Tenente.

Divisões de Navios por Classe na MB.

Classe Comando Tipos de Navios (exemplos)


1"Classe Capitão-de-Mar-e-Guerra Navio-Aeródromo
Navio de Desembarque
Fragatas
2" Classe Capitão-de-Fragata Corvetas
Contratorpedeiros
Navios-Transporte
3" Classe Capltão-de-Corveta Corvetas
Rebocadores de Alto Mar
Navios"Patrulha Fluviais
4" Classe Capitão-Tenente Navios-Varredores
Navios-Patrulha

A HIERARQUIA DA MARINHA MERCANTE


As Escolas responsáveis pela à Marinha do Brasil, assim como as Capi-
formação de pessoal da Marinha Mercante tanias dos Portos, suas Delegacias e
funcionam nos Centros de Instrução Agências, que ministram o Ensino
Almirante Graça Aranha, no Rio de Janeiro, Profissional Marítimo, capacitando pro-
e Almirante Braz de Aguiar, em Belém. fisssionais para exercerem atividades a
Esses estabelecimentos pertencem bordo de embarcação marítimas e fluviais.

HIERARQUIADOS OACIAIS DE CONVÉS HIERARQUIADOS OACIAIS DE MÁQUINAS


- Capitão de Longo Curso - Oficial Superior de Máquinas
- Capitão de Cabotagem - 1° Oficial de Máquinas
- 1° Oficial de Náutica - 2° Oficial de Máquinas
- 2° Oficial de Náutica

16
5. A ORGANIZAÇÃO DE BORDO

ORGANIZAÇÃO POR QUARTOSE DIVISÕES DE SERVIÇO

Em um na- determinado.
vio de guerra, para Dessa for-
a sua condução, ma, o dia de traba-
segurança e anda- lho do marinheiro,
mento dos ser- do homem do
viços administra- mar, é contado di-
tivos, existe sem- ferente do dia do
preuma parcela da homem de terra.
tripulação que fica Se fos~e possível
de serviço, quan- ao navlO navegar
do em viagem ou somente de oito
no porto. horas da manhã
Todo o pes- até as cinco da
soal é dividido em tarde - havendo
grupos chamados parado uma hora
quartos de serviço, para almoço - e
que recebem os nomes de I ° quarto, 2° parar e fundear ao final do dia, para então
quarto e 3° quarto. Existe sempre um recomeçar tudo no dia seguinte, às oito horas,
quarto, efetivamente, de serviço; um estará a jornada seria como a de terra. Mas há
de folga; e outro será o retém, que séculos os marinheiros se ajustaram às
fornecerá pessoal para cobrir faltas necessidades do mar, cumprindo uma
eventuais. jornada de trabalho dividida em seis quartos
O zelo pelo navio é feito dividindo-se de serviço, cabendo a parcelas diferentes da
as 24 horas do dia, em seis períodos de tripulação a vigilância, em cada quarto. No
quatro horas - também chamados de quartos porto, os quartos são de 00 às 04h, de 04 às
- cada um sob a responsabilidade de um 08h, 08h às 12h, de 12h às 16h, de 16h às
quarto de cabos e marinheiros, de uma di- 20h e de 20h às 24h. Em viagem, no período
visão de suboficiais e sargentos e de uma compreendido entre OOh.às12h, os quartos
divisão de oficiais.
tem o mesmo horário que do porto, porém,
No porto, haverá sempre, em condi-
ções normais, pelo menos, um quarto de depois das 12 horas, os quartos são de 3
serviço. Mais gente ficará a bordo, quando horas: 12-15; 15-18; 18-21; 21-24.
necessário, podendo permanecer todo o O quarto de 04 às 08 é batizado de
pessoal em prontidão, se assim for quarto d'alva (ahorad'alva, do amanhecer).

17
(
o PESSOAL DE SERVIÇO

Certos postos, ocu- Auxiliar, que usa um apito


pados pelo pessoal de com cadarço preto e um
serviço, são indicados por cinto especial na cintura,
uma peça adicional no com sabre, é o encarregado
uniforme. Assim, o Oficial de dar os toques (silvos de
de Quarto usa um apito, apito que transmitem
com um cadarço preto. No informações e ordens),
porto, o Oficial de Serviço, efetuar as batidas do sino,
além do apito, usa um marcando os quartos, e
cinturão com coldre e pis- fazer cumprir a rotina; o
tola. Para auxiliar o Oficial de Ronda, que é um men-
Serviço, existem: o Con- sageiro às ordens do Oficial
tramestre de Serviço, que de Serviço, usa um cinto
tem a graduação de suboficial especial; e o Polícia, que é
ou sargento e usa um apito um sargento ou um cabo,
com cadarço preto; um encarregado de auxiliar o
cintul'ão com coldre e pistola. É o ajudante Oficial de Serviço na fiscalização da dis-
do oficial para manobra e aspectos de ciplina e da rotina, usa um cinto especial e
ordem marinheira do navio; o Cabo um cassetete.

o SINO DE BORDO

No período com- Ia mela- hora do quarto Uma batida sIngela


preendido entre os 2"meia- hora do quarto Uma batida dupla
toques de alvorada e
3" meia- hora do quarto Umabatidaduplaeumasingela
'de silêncio, os in-
tervalos dos quar- 4" meJa- hora do quarto DuasOOtidasduplas
tos são marcados 5" meia- hora do quarto Duasbatidasduplase umasingela
por batidas do sino 6"meia- hora do quarto Três batidas duplas
de bordo, feitas ao
fim de cada meia- 7" meia- hora do quarto Trêsbatidasduplase umasingela
hora. 8"meia- hora do quarto Quatro batidasduplas

AS FAINAS

Organizado em Divisões Adminis- trabalhos que envolvem toda a gente de


trativasou em Quartose Divisões de Serviço, bordo ao mesmo tempo, ou parte dela, para
o navio está pronto para fazer frente aos um fim específico. Esses trabalhos são

18
chamados de fainas. As fainas são gerais, - Colisão;
comuns, especiais ou de emergência. - Socorro externo;
- Homem ao mar;
- Reboque;
- Abandono;
- Avaria no sistema de governo;
- Acidente com aeronave ("crash"); e
- Recolhimento de náufragos.
Além das fainas, existem ocasiões em
que toda a tripulação do navio deve atender
a formaturas gerais, para certas formalida-
des a bordo ou para cerimonial, conhecidas
com formaturas gerais.
São formaturas gerais:
- Parada;
Em um navio de guerra, a principal - Mostra;
faina geral é a de Postos de Combate. - Distribuição de faxina;
São fainas gerais e fainas comuns, - Postos de continência;
entre outras: !
- Preparar para suspe9der;
- Bandeira; e
- Concentração da tripulação.
- Suspender (ou deS arrar ou desa- As situações previstas para fainas ou
tracar);
- Preparar para fU ar;
- Fundear (ou am
!
;r ar, ou atracar):
formaturas constam de uma tabela a bordo,
chamada Tabela Mestra, que designa cada
homem da tripulação para um determinado
-Navegação e . águas restritas posto ou função, específica em cada faina
(Detalhe Especial para OMar); ou formatura, além de designar qual é seu
"- Recebimentode munição; bote salva-vidas e seu respectivo quarto.
- Recebimentode materialcomum ou O cumprimento da rotina de bordo,
sobressalentes; bem como das fainas, como já mencionado,
- Recebimento de mantimentos; são ordenados pelo toque de apito. Alguns
- Montagem ou desmontagem de avisos e ordens em linguagem clara, pelo
toldos; fonoclama, podem ser dados, também, em
- Içar e arriar embarcações; certas circunstâncias especiais, mas repetir,
- Operações aéreas, decolagem e em linguagem clara, o significado de um
pouso de aeronaves; toque de apito é considerada atitude pouco
- Inspeção de material; marinheira, não sendo, normalmente,
- Docagem e raspagem do casco; e permitido a bordo.
- Pintura geral. As fainas de emergência são ordena-
São fainas de emergência: das pelos respectivos sinais de alarme, fono-
- Incêndio; clama, sino ou mesmo viva voz.

A PRESIDÊNCIA DAS REFEIÇÕES A BORDO


As refeições de oficiais são presi- estiver presidindo. A cortesia naval dita que
didas pelo Imediato ou, na sua ausência, pe- ninguém deve retirar-se da mesa antes do
lo oficial mais antigo presente, o qual Imediato ou do oficial mais antigo presente.
convida os demais a sentarem-se à mesa. As refeições dos suboficiais e sargen-
Após iniciada uma refeição, qualquer tos são presididas pelo Mestre do Navio.
pessoa que deseje sentar-se à mesa, ou dela Compete ao Mestre d' Armas presidir as
retirar-se, deve pedir permissão a quem a refeições dos cabos e marinheiros.

19
6 . CERIMONIAL DE BORDO

SAUDAR O PAVILHÃO

Como já foi explicado, faz parte do das 8 horas até o por do sol.
cerimonial saudar com a continência o Isto se faz ao entrar a bordo pela
Pavilhão Nacional, que é arvorado na popa, primeira vez e ao sairpela última vez, no dia.

SAUDAR O COMANDANTE

É costume os oficiais saudarem o retira de bordo, no Cerimonial de Des-


Comandante na câmara, pela manhã, pedida. Se algum oficial chegar após o
quando em viagem. À noite, a saudação é Comandante, deve saudá-Io na câmara,
feita após o Cerimonial do Arriar a Bandeira. bem como ao Imediato. Se vai retirar-se
Quando no porto, os oficiais for- de bordo antes do Comandante, deve
mam para receber o Comandante, cum- despedir-se dele na câmara, obtendo li-
prindo o Cerimonial de Recepção; e, da cença para retirar-se, não sem antes ter
mesma maneira, formam quando ele se sido liberado pelo Imediato.

SAUDAR O IMEDIATO

Ao entrar e ao retirar-se de bordo cumprimentarem o Imediato pela manhã


os oficiais saúdam o Imediato. e, também, após o Cerimonial da Ban-
É costume, em viagem, os oficiais deira.

21
SAUDAR O OFICIAL DE SERVIÇO

Todos que vêm a bordo, obriga- deve obter permissão do Oficial de


toriamente, saudam e pedem licença para Serviço e dele despedir-se.
entrar ao Oficial de Serviço. Da mesma Qualquer visitante ao chegar a
forma, para retirar-se, qualquer pessoa bordo é conduzido ao Imediato.

SAUDAÇÃO ENTRE MILITARES

A saudação entre militares é a reminescência do antigo costume, que


continência. Ao cumprimentar um civil, o tinham os combatentes medievais, quando
militar quando fardado, poderá fazer-lhe vestidos com suas armaduras, ao serem
uma continência, como cortesia, além de inspecionados por um superior, de levar a
dar-lhe o usual aperto de mão. A continên- mão à têmpora direita, para suspender a
cia, saudação militar U versa!, é uma viseira, permitindo sua identificação.

SAUD AO COM ESPADA


.
A antig~da~ã n~;~~~~i
.~comespadae o
gesto de abatê-Ia, não é uma tradição naval,
mas militar. O pessoal da Marinha, contudo,
faz uso da espada em algumas cerimônias
a bordo e, em formaturas, em terra.
O gesto de levar a ponta da espada
até o chão é uma antiga demonstração de
submissão a uma autoridade superior,
reconhecendo sua superioridade hierárqui-
ca. A ponta da espada no chão, ao fim da
saudação, não permite ao oficial usá-Ia,
naquele momento.
APRESENTAR ESPADA
Também não é uma tradição
somente naval. A princípio, tinha o
significado de entregar a espada a um
superior, por exemplo.
No movimento, o oficial leva
o punho da espada até a altura da
boca ou queixo, antes de abatê-Ia.
Esta é uma reminiscência do antigo
costume de beij ar a cruz que a
espada possuía.

22
o CERIMONIAL DA BANDEIRA

Os navios da Marinha do Brasil, quando Nacional na popa. Ou seja, é içadae arriada


em contato com terra (atracados, fundeados junto com esta.
ou amarrados), arvoram a Bandeira N aciona! O Pavilhão é içado às oito horas da
no pau da bandeira, na popa. manhã e arriado exatamente na hora do pôr-
Ao suspenderem, no instante em que do-Sol. O Cerimonial consta de sete vivas
é desencapelada a última espia ou o ferro com o apito do marinheiro e das continências
arranca ou é largado o arganéu da bóia, a de todo o pessoal. Quem estiver cobertas
Bandeira é arriada na popa e içada, em abaixo, permanece descoberto e em silêncio,
movimentos contíguos, no mastro de com- atento. O cerimonial do arriar é maior e
bate, mas de forma consta de for-
que nunca deixe de matura geral da
estar içado o Pavilhão tripulação. Após o
Nacional. Não há arriar, é costume o
cerimonial, nessas cumprimento geral
ocasiões. de "boa-noite"
A Bandeira do entre todos os pre-
Cruzeiro, que é arvo- sentes, sendo pri-
rada no pau do jeque, meiramente diri-
acompanha os movi- gido ao Coman-
--mentos-da--Ean de ira dante.

BANDEIRA A MEIO-PAU
Nos navios da Marinha não se usa a meio-pau. É o sinal de luto.
as denominações de "mastros" de O costume teve origem na antiga
bandeira, nem do jeque: a nomenclatura marinha a vela. Era usual que os navios,
correta é nomeá-Ios o "pau da bandeira" e como mostra de pesar pela morte de uma
o "pau do jeque", mesmo que sejam personalidade, desamantilhassem as
metálicos. O distinto, na Marinha, vergas, de modo a deixá-Ias desalinhadas
segundo a tradição, é que sejam de madeira e pendentes, em diferentes ângulos, e com
e envernizados. todos os cabos de laborar, de mastros e
Desta forma, o termo bandeira a vergas folgados e pendentes. A mostra de
meio-pau é a expressão que corresponde pesar consistia neste aspecto de desleixo,
à Bandeira Nacional içada a meio-mastro. por tristeza. O Pavilhão também era
O jeque acompanha a Bandeira Nacional, arriado a meio-pau.
SAUDAR UM NAVIODE GUERRA AO LARGO
Quando um navio de guerra a bordo). O apito e, em alguns navios
passa a menos de 200 jardas de outro, de maior porte com fuzileiros navais
saúda-o ou é por ele saudado, embarcados, a corneta dão os sinais
dependendo da antiguidade dos para as continências individuais de
Comandantes (ou da maior autoridade todos os que se achem no convés.

23
SAUDAÇÃO DE NAVIOSMERCANTES E RESPOSTA

o navio mercante que passa ao o de guerra o mesmo, como resposta.


largode um naviode guerracumprimenta- O mercante içará novamente sua
o, arriandosuaBandeiraNacional,fazendo Bandeira, depois que o de guerra o fizer.

A SALVA:SAUDAÇÃO COM CANHÕES

O sinal de amizade era antigamente armas e, principalmente, da produção da


entendidoe mormente caracterizadopelo fato pólvora, a maior salva de bordo passou a ser
de apresentar-se uma pessoa, com a espada também de vinte e um tiros.
abatida, ou um navio ou uma embarcação, O número de tiros, depois que a
momentaneamente impossibilitado de salva se transformou num costume, chegou
manobrar ou combater. Nos tempos em que aos nossos dias consagrado no Cerimonial
não havia meios seguros de comunicação e Naval. Vmte e uma salvas é o máximo que se
quando no mar não era possível aos navios usa. Mas por que vinte e uma? É porque,
sa!Jerem notícias de terra, a menos que além do costume acima, esse número é
enCúnt!:assemoutros que as transmitissem, múltiplo de três. A explicação é que os números
era importantíssimopara cada um deles saber 3, 5 e 7 sempre tiveram significado místico,
quais as inte ões uns dos outros, quando se muito antes, mesmo, de existirem marinhas
encontravam. ina~seque um navio, no organizadas como as dos últimos três séculos.
mar há algum tem ~poderia não saber se O intervalo das salvas festivas é de
sua nação estavaou nãoem guerra com outra, cinco segundos, entre um tiro e outro. Havia
inclusive com aquela cuja bandeira um navio um velho costume, na Marinha antiga, que ainda
avistado ostentava! Era, portanto, importante hoje os oficiais "safos" usam para contagem
demonstrar atitude amistosa, tomando difícil dos cinco segundos regularmentares, que é o
a manobra ou o combate. de dizer a expressão: "teco, teleco, teco, pepi-
Nos temposde HenriqueVIII,para nos, não são bonecos, - fogo um !"; repetindo-
um canhão repetir um tiro levava uma hora. se após cada tiro o mesmo conjunto de pala-
Assim, um navio estava com os canhões vras só alternando o número da ordem de fogo.
sempre carregados para combate. Mas, se Quem cronometrar o tempo que normalmente
ele os disparava, ficava impossibilitado se leva para dizer as palavras mencionadas, verá
momentaneamente de combater. A maior que ele é de cinco segundos.
parte das fragatas e navios menores era
armada com uma bateria de sete canhões,
_o:~-
em cada borda. A princípio, uma salva de
sete tiros era a salva nacional britânica. As
baterias de terra, no entanto, deveriam
responder às salvas do navio, na razão de
três tiros para cada tiro de bordo. Assim, a
máxima salva de bordo, sete tiros, era
respondida pela maior salva de terra, vinte e
um tiros. Com o progresso da indústria de

24
OS POSTOS DE CONTINÊNCIA

Mas, somente disparar os


canhões não era mostra de ficar sem
aptidãopara combater.O navio, além
disso, deveria ferrar o pano (colheras
velas),perdendovelocidade e ficando
momentaneamenteimpossibilitadode
manobrar e combater, com todos os
cabos de laborar pelo convés e a
guarniçãoocupada nas fainas.Assim,
essa mostra de respeito mantinha o
navio privado de combater.Foi desse
antigocostume,quevieram aténossos
diascertasformasde cumprimentoem
embarcações como renws ao alto,folgar as a guarnição pelas vergas dos vios-escola a
escotas ou parar a máqui1U1.
Nos grandes navios, no entanto, podia
ser demonstrada, ao navio avistado, a intenção
pacífica, fazendo subir toda a guarnição aos
mastros e vergas. Assim estava o navio
de postos de continência.
Em todos os navios l
vela, veio até nossos dias, com a enominação

Marinha, os
postos de continência são atendidos com toda
a guarnição distribuída pela borda do navio, no
impossibilitado de utilizar seus homens para o bordo por onde vai passar a autoridade a saudar,
combate, transitoriamente. Desta forma, dispor numa demonstração de respeito.

VIVAS

Ainda permanece em nossa Marinha o guarnição, quando em postos de continência, a


hábito dos vivas. É uma repetição da antiga um sinal, leva o boné ao peito do lado esquerdo,
forma de continência e saudação à autoridade com a mão direita, e, ao sinal de salvas do apito,
que passar perto do navio, sempre que o fato sete vezes, estende a mão com o boné para o
for antecipado e devidamente anunciado. A alto, à direita, e Já os vivas correspondentes.

VIVAS DO APITO

Permanece, no Cerimonial da O número de sete, como explicado,


Bandeira, o costume dos sete vivas, pelo ainda é a lembrança dos antigos sete tiros
apito do marinheiro. Durante o içar ou arriar das fragatas e navios menores, que
da Bandeira, o Mestre ou Contramestre, constituíam a maior salva. Embora os tiros
dependendo da ocasião, faz soar sete vezes de salva tenham passado para vinte e um,
o apito, correspondendo aos sete vivas, os vivas de apito permaneceram em sete,
que é a maior saudação por apito. como a honra máxima.

25
CERIMONIAL DE RECEPÇÃO E DESPEDIDA

Os oficiais ao entrarem e saírem de quando embarcavam ou desembarcavam.


bordo fazem jus a um cerimonial corres- Ao patim inferior da escada de
pondente à sua patente, constando de toques portaló descem dois "boys" e mais dois
de apito característicos e da continência de quando há espaço. Os demais formam no
quem o recebe ou despede e dos presentes. convés. Quando estiver com prancha pas-
Além disso, marinheiros em formatura, em sada para terra, somente dois devem ficar
número correspondente a cada cerimonial, em terra; os demais formam no convés.
chamados "boys", ladearão o oficial sau- Formar mais de dois "boys" em terra é,
dado, na escada de portaló e no convés. como se diz na gíria marinheira, uma
Esses cerimoniais são tradições varada (de "vara", termo espanhol que quer
herdadas dos dias da marinha a vela. dizer encalhe). Tudo isso deve-se ao fato
Costumava-se, nas reuniões de Comandan- de que o emprego dos "boys" é uma
tes de navios de uma Força Naval em um tradição na manobra de embarque
determinadonavio - quando o mar não estava desembarque de oficiais, em navios no m~t'
muito bom - içar o visitantepor uma guindola, Quando o Comandante é recebido
espécie de pequena tábua suspensa pelas no seu próprio navio, é o Mestre quem
extremidades. A manóbra era comandada executa os apitos do cerimonial.
pelo Mestre, ao som do apito e, para realizá- Quando o cerimonial é executado em
Ia, vários marinheiros iam para o local de terra, como nos estabelecimentos ou
embarque. Hoje é uma cortesia naval acorrer cerimônias públicas, os "boys" são distri-
com marinheiros aoportaló (local de embar- buídos no número completo previsto no
que ou saída de bordo) e saudar com toque Cerimonial da Marinha, em caráter
de apito, a autoridade que chegar ou sair. simbólico.
Os marinheiros que acorriam para
as manobras de embarque do Comandante
a bordo eram chamados, na Real Marinha
britânica, de "boys". Esse costume passou
desde o Império, à nossa Marinha. Hoje,
há um toque de apito que, em realidade,
significa boys aos cabos. Tratava-se, até há
pouco tempo, quando se vinha ou saía de
bordo por lancha, de chamar os marinheiros
para que descessem ao patim inferior da
escada de portaló e aí estendessem cabos
(preparados com pinhas nas duas extremi-
dades, uma para o boy e outra para a
autoridade), para que lhe servissem de apoio

26
.
7 UNIFORMES E SEUS ACESSÓRIOS

OS UNIFORMES

Os oficiais, suboficiais e sargentos alta no punho é terminada por uma volta.


usam uniformes do mesmo feitio para o Conta a tradição que é uma reminiscência
serviço ou para os trabalhos a bordo. São da volta que o Almirante Nelson, oficial
do tipo paletó, ou dólmã, e calça, ou so- inglês, levava em um pequeno cabo
mente camisa e calça. Na cabeça usa-se o amarrado à manga de seu dólmã para
boné. Os oficiais e suboficiais, para distin- sustentá-ia em um botão, quando, após
ção, usam galões nas platinas colocadas nos perder o braço, subiu ao convés pela
ombros dos uniformes brancos, galões nos primeira vez. As marinhas que tiveram
punhos do uniforme azul e distintivos na origem e contatos com a Marinha britânica
gola do uniforme cinza de manga curta conservam o símbolo.
(cáqui para os fuzileiros navais). Os Os cabos e marinheiros usam
sargentos, cabos e marinheiros cursados uniformes, brancos ou azuis, de gola, e na .
usam sempre, para distinção de graduação, cabeça, bonés sem pala. Os de trabalho são
divisas nos braços. Os marinheiros-recru- de cor mescla, com chapéus redondos
tas, aprendizes e grumetes não usam típicos, de cor branca, chamados caxangá.
divisas. O uniforme típico de marinheiro é
As platinas são presas sobre os universal. Suas características são, princi-
ombros dos uniformes como acessório, palmente, o lenço preto ao pescoço e a gola
sendo reminiscênciasde antigastiras de couro azul com três listras.
usados nos uniformes para fixar os talabardes O lenço teve sua origem na artilharia
(boldriés). São de origem francesa. dos tempos antigos da marinha a vela. Os
Os galões dos oficiais são listras marujos usavam um lenço na testa durante
douradas. No Corpo da Armada, a mais os combates, amarrado atrás da cabeça.

27
Esse procedimento evitava que o suor, no braço.
misturado à graxa e mesmo à pólvora das A golado marinheiroé bastanteantiga.
peças de tiro, lhes caísse nos olhos. Ao findar Era usada para proteger a Ijoupa das
o combate, os marinheiros regulares giravam substâncias gordurosas com que os marujos
o lenço e o amarravam ao pescoço, com o untavam o "rabicho" de suas ca1;Jeleiras.O
nó para frente. Hoje, simbolicamente,o lenço uso do rabicho desapareceu, mas, a gola
é colocado em tomo do pescoço. permaneceu, como parte característica do
Sua cor preta, diferentemente do que uniforme. A cor azul é adotada por quase
muitos dizem, não é originada em sinal de todas as marinhas do mundo.
lutopelamorte de Nelson,poisera usadopelos As três listas da gola são re . .scência
marinheiros, com essa cor, bem antes disso, do costume antigo de se indicar, por meio de
embora, naquele evento, tenham retirado o
lenço característico do pescoço e o colocado §
fitas, presas ao pelerine (capa utiliza a sobre
os ombros), o tempo de serviço do em arcado.

o GORRO DE FITA

Os fuzileiros navais também trazem


em seus uniformes simbolismo e tradição.
O gorro de fita, de origem escocesa,
é uma das tradições que são incorporadas,
permanecem e ganham legitimidade. Foi
idéia, em 1890, de um comandante do
Batalhão Na'lal, de ascendência britânica. O
gorro foi bem aceito e, hoje, caracteriza de
forma ímpar o uniforme dos marinheiros
de terra, soldados do mar, que são os fuzi-
leiros navais.

O APITO DO MARINHEIRO

cial: o apito do marinheiro. O apito serve,


também, para chamadas de quem exerce
funções específicas ou para alguns eventos
que envolvam pequena parte da tripuláção.
Ele tem sido, ao longo dos tempos, uma
das peças mais características do equipa-
mento de uso pessoal da gente de bordo.
Os gregos e os romanos já o usavam para
fazer a marcação do ritmo dos movi-
mentos de remo nas galés.
Com o passar dos anos, o apito se
Os principais eventos da rotina de tomou uma espécie de distintivo de autori-
bordo são ordenados por toques de apito, dade e mesmo de honra. Na Inglaterra, o
utilizando-se, para isso, de um apito espe- Lord High Admiral usava um apito de ouro

28
ao pescoço, preso por uma corrente; um apito denação e ordens contínuas de um Mestre
de prata era usado pelos Oficiais em Coman- ou Contramestre, são conduzi das somente
do, como "Apito de Comando". Eram com toques de apito. Fazê-Io aos gritos
levados tais símbolos em tanta consi- denota pouca qualidade marinheira do
deração que, em combate, um oficial que dirigente da faina e sua e uiPe.
usasse um apito preferiajogá-Io ao mar a O Oficial de Ser iço utiliza um
deixá-Io cair em mãos inimigas. apito, que não é o tradici ~nal, e serve para
O apito, hoje, continua preso ao cumprimentar ou reSPO der a cumpri-
pescoço por um cadarço de tecido e tem mentos dos cerimoniais (honras de pas-
utilização para os toques de rotina e sagem) de navios ou lan has com autori-
comando de manobras. dades que passam ao largo; mas, o
As fainas de bordo, ainda hoje, em
especial as manobras que exigem coor- j
cadarço que o prende ao p scoço mantém-
se como parte do símbol tradicional.

ALAMARES

Nos tempos de cavalaria andante, alam ares (autoridade) e seu cabo


na Idade Média, os ajudantes lavavam (ajudante) - este utilizado solteiro nos
os cavalos e auxiliavam os cavaleiros, uniformes internos - significam
com armaduras, a montar, tal era o peso "ajudante de uma autoridade". Os
desses apetrechos. Depois que os oficiais chefes de estado-maior e oficiais
cavaleiros montavam, os ajudantes se do gabinete de uma autoridade naval
afastavam das montarias e dos chefes, também usam esse símbolo, por serem
ficando porém nas mãos com o cabo seus ajudantes mais diretos. O conjunto
(corda) no braço, na altura do ombro. é usado do lado esquerdo; porém, os
Ainda hoje, os ajudantes-de-ordens oficiais do Gabinete Militar da
usam, com garbo, essa peça, primi- Presidência da República usam os
tivamente humilde, presa ao ombro no alamares do lado direito.
uniforme. Mas, o
conjunto completo é
constituído desse
pequeno cabo (cor-
del), junto com os
alamares, que são a
reminiscência da
antiga corrente, que
as autoridades na-
vaIS usavam para
pendurar os apitos,
um símbolo de
autoridade já comen-
tado. Assim, o con-
junto formado pelos

29
CONDECORAÇÕES E MEDALHAS
As condecorações e medalhas são
usadas no lado esquerdo do peito.
O costume, que não é apenas naval,
vem do tempo das cruzadas, quando os
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cavaleiros traziam a insígnia de sua Ordem .
(as Ordens da Cavalaria) perto do coração.
Era, também, porque o escudo ficava no
braço esquerdo; e assim, protegia não
somente o coração, mas a insígnia de honra.
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30
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8. ALGUMAS EXPRESSÕES CORRIQUEIRAS

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"SAFO"

Safo é talvez a palavra mais usual coisas correrem bem: "oficial safo,
na Marinha. Serve para tudo que está marinheiro safo. A faina está safa. A entrada
correndo bem, ou para tudo que faz as é safa, pode demandar: não há bancos".

"ONÇA"

Onça é também uma expressão de


grande uso. Significa dificuldade: "onça de
dinheiro, onça de sobressalentes".
Estar na onça é estar em apuros.
"A onça está solta", quer dizer que tudo vai
mal.
"j Essa expressão vem de uma velha
história de uma onça de circo, que era
transportada a bordo de um navio mercante
e se soltou da jaula, durante um temporal.

"SAFA ONÇA"

Safa onça é a combinação das agarrando-me a uma tábua que


duas expressões anteriores. Significa flutuava...O meu safa onça foi um
salvação. Safa onça é tudo que soluciona pedaço de queijo, que ainda restava no
uma emergência. "Safei a onça, barco; do contrário, morreria de fome".

"PEGAR"

Pegar é o contrário de estar safo. Estar pegando significa que não está dando

31
certo: "Tenente, o rancho está pegando! "pegar tempo", ou seja, pegar mau tempo.
Não chegou a carne! Este marinheiro ainda Fulano está pegando tempo, para resolver
está muito inexperiente: com ele tudo pe- a primeira questão de sua prova... Aquele
ga...Comandante, não pude chegar a tem- marujo não conseguiu safar-se para a
po, a lancha pegou bem no meio da baía!" parada: pegou tempo, para arranjar um
Parece que a expressão vem de boné novo".

"ROSCA FINA" E "VOGA LARGA"


\
Na gíria maruja, muitas expressões A origem do primeiro está no
externam o universal bom humor ou "aperto", na "pressão" impressa pelo
espirituosidade que caracterizam os homens chefe, comparada pelo marinheiro à do
domar. As expressões "roscafina", "voga parafuso com rosca fina - que "aperta
picada" e "voga larga" são alguns mais". A segunda vem de "voga", que
exemplos: é a velocidade da remada ditada pelo
"Rosca fina" (ou ainda "voga pi- patrão aos remadores em uma
cada") denomina o superior, Oficial ou embarcação a remos. Pode ser uma
Praça, que é exigente na observância das "voga picada" (regime de velocidade
normas e regulamentos, bem como, na maior, portanto mais exaustivo para os
execução das fainas e tarefas, por si e pelos remadores) ou "voga larga" (velocidade
subordinados. O antônimo é o "voga larga". amena, mais calma, mais tranquila).

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