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Motivaçáo*
Neste capítulo, vamos examinar alguns dos motivos elementares
que caracterizam o comportamento do homem. Incidiremos sobre os
motivos relativamente simples, tais como a fome ou a sede - motivos
que partilhamos com muitos outros animais. (Abordaremos motivos
mais complexos como a necessidade de trocas afectivas, a amizade e
o amor em capítúos posteriores.) Alguns destes motivos simples
podem ser entendidos como tentativas de auto-regulação, que
reflectem a tendência do organismo patamantet ttemperatrra dentro
de determinados limites, uma provisão de líquidos suficiente pafiÀ a
circulação e a digestão, e níveis de nutrientes adequados para
fornecerem energia. Outros motivos são os intentos de autopresewaçío,
como a resposta do corpo à dor ou à sua preparaçío para responder a
uma ame;açL. Ainda outro motivo é a necessidade de dormir, por
vezes considerada como reflectindo a necessidade de auto-restabele-
cimento.
Estes motivos são claramente muito diferentes uns dos outros,
mas têm em comum o tornarem algumas acções mais prováveis do
que outras. Por exemplo, com fome preferimos alimentarmo-nos a
lavat o cabelo ou a ler um livro. Do mesmo modo, estes motivos
filtram as nossas percepções: com fome, a comida e os estímulos do
ambiente com ela relacionados serão mais facilmente notados do
que outros. Esta tendência a totnat determinados comportamentos e
percepções mais prováveis do que outros chama-se, por vezes,

*Tradução de Isabel Barahona da Fonseca e Danilo R. Silva.


96

potenciação (quer dizeq aumento do potencial para a acção).


MoTrvAÇÃo . cap.3
capítulo é uma tentativa para mostfaf como os psicólogos
explicam estes fenómenos.

MOTTVAÇÃO COMO ACÇÃO DIRIGIDA

A maior parte das acções humanas e animais são dirigidas.


nos limitamos a caminhar, a alcançag a recuar ou a fugir;
e alcançamos determinados objectos, evitamos ou fugimos de
Por vezes, os objectos de que o organismo se aproxima ou afasta
fisicamente presentes, como quando o cão vai buscar a bola ou
de um carro que buzina. Outms vezes, no entanto, o obiecto motivante
não está ainda presente mas existe nas expectativas do
- por exemplo, o falcão voa em círculos no ar à procura da presa,
o camaleão muda de cor para se camuflar no caso de aparecer
predador.
Estas acções dirigidas parecem de di-ficil conciliação com a ideia
Flne
de Descartes de que as acções dos homens e dos animais são meros
reflexos sensório-motores. Este problema é mais mafcante em acções
orientadas para um objectivo ftituro, mas também se aplica mesmo
qtrando a acçáo se orienta pafa um objecto imediatamente pfesente.
considere-se o cão que vai buscar abola. os cães náo aváo buscar
como robôs, usando sempfe os mesmos músculos. os seus movi-
mentos dependem, antes, da bola - da sua posição em relação a eles,
se está em movimento e, se estiver, onde itâ cair, se é necessário tifaf
a bola do chão ott aPanhâ'la no ar
Num sentido importante, o comportamento do cão parece ser
orientado pelo objectivo. Se o objectivo (a bola) se mover, o compor-
tamento do cão muda adequadamente. se avia paÍa o objectivo estivef
bloqueada, o cão procurarâ uma via altetnativa. Estas regulações são
infinitamente mais complexas do que as estátuas accionadas pela ígr.]a
que inspiraram Descartes. Estas moviam-se sempre exactamente da
mesma maneira e nunca modificavam as suas acções pafa se adequa-
rem às circunstâncias. No tempo de Descartes era o melhor que as
máqtrinas podiam fazet. Podetâ a máquina ser alterada de modo a
sLrperar esta falha? Â resposta é sim.

Sistemas de Controlo

Ao contúrio das máquinas do tempo de Descartes, as dos nossos


dias podem dirigir e controlar as suas próprias actMdades. Mútos dos
métodos que conseguem fazê-lo baseiam-se na noçío de realimentaçíío.
Uma máquina em funcionamento modifica o ambiente quef essa
mudança seja mecânica, elécÚica,térmica ou outra' Se tais mudanças
97

r). Este
Jern6s MoTIVÀçÃo ' cap.3

s. Não
Ìamos A rnotiuação como acção dirigida.
utfos. 6ste quadro foi encomendado Por
estão um homem clramaticamente salvo
r foge do ataque de um tubarão
no porto de Havana. Conforme
vante
a fepfesentação, toda a tripulação do
rismo
barco dirige os seus esforços Para
ìa, ou o salvamento. (Watson ítnd tlJe sbark
.lgum por John Singleton CoPleY, 1778;
doaçío da Sr.'George von Lengerke
ideia Meyer; por gentileza do Museum of
Ìefos Firte A?'ts, Bostot?)

:ções
:smo
3nte. influenciam, por sua vez, o funcionamento ulterior da máquina - isto
lscaf é, se a realimentam - temos um sistetna' de controlo baseado na
rovi- realimentação. Nos sistemq's de real:imentaçã'o positiaa, a
eles, realimentação fefofça a pf6pri?- fesposta qlle a produziu. o resultado
tirar é que de um pequeno esforço resulta uma grancle altemção' Um
exemplo é o que acontece quando um microfone está demasiado
sef próximo do amplificador. O microfone capta qualquer ruído pro-
pof- duzido pelo amplificador. Alimenta então esta enefgia no amplificador
iver o que aumenta ainda mais o ruído (quer dizer ampliÍica-o)' Por slra vez'
São este ruído mais intenso é captado pelo microfone que o reintroduz no
gua amplificador, tofnando o ruído ainda maior e assim sucessivamente,
da até que se produz um zumbido ensurdecedor que é a maldição dos
[ua- sistemas mal concebidos.
:AS O caso contrário ê a real:imenta.ção negatiaa, em que a
)a realimentação inteffompe ou inverte a fesposta inicial da máquina
que produziu a mudança no ambiente (Fig' 3.1)' Um exemplo simples
é o sistema que controla a maior pafte dos aquecimentos domésticos.
um tefmostato liga o contacto eléctrico para todas as tempefatufas
inferiores a determinado valor estabelecido (o setr pontol'ro)' Assim'
o aquecimento produz um aLlmeflto da temperatura o que por sua vez
ios provê um sinal de realimentação negativo para o termostato: quando
os a casa jâ náo estâ fria, o termostato desliga o aquecimento'
,o, Em certo sentido, poder-se-ia pensar que o aquecimento regulado
SA portermostatotemumobjectivo:"visa"maÍÌterdeterminada
AS tempemtum, por assim dizef. sistemas de realimentação negativa
98

CoNTINUARÀACçÃO
MoTwAçÃo . Cap.3

"NÃO"

Fig. 3.1 Rea.lim.entação negatiua. Se"SM"


Nos sistemas de realimentação
fiegativa,a realimentação Pára ou
inverte a acção que a Produz.
Um mecanismo sensor indica o nível
de determinado estímulo. Se esse
nível exceder o Ponto fixo, a acção
cessa. O efeito é a auto-Íegulação.

existem a todos os níveis do sistema nervoso e são responsáveis, pelo


menos em parte, pelas acções dirigidas qLre se observam nos
organismos vivos. Muitos exemplos deste padrão envolvem a
reglllação do meio interno dos organismos'

Homeostasia

A explicação do comportamento de Descartes centrou-se no


ambiente extefno - os estímulos extefnos actuam no ofganismo e
desencadeiam as suas feacções' Cerca de duzentos anos depois de
Descartes, outro fmncês, o fisiologista Claude Bernard (1813-1878)'
realçolr que o organismo não só tem um meio externo mas também
um meio interno - os próprios fluidos do organismo' Como notou
Bernard, mesmo com grandes flutuações do meio externo, os fluidos
mantêm-se notavelmente constantes - na concentfação de diversos
no nível de oxigénio dissolvido, nas quantidades de nutrientes
sais,
como a glicose e seus PH (isto é, a sua acidez)'Além disso, mlritos
animais (designadamente todos os pássaros e mamíferos) mantêm
também uma temperatura corporal relativamente constante'
Nos organismos saudáveis, todos estas condições oscilam dentro
de limites festfitos. E, na verdade, eles devem manter-se dentro destes
limites pois, de olrtro modo, correm graves riscos. Em indMduos
saudáveis, Llma concentraçáo aceitável de glicose na cofrente
sanguínea situa-se entfe os L7 a L4O miligrzmas por 100 centímetros
círbicos. uma queda abaixo deste nível limite significa fadiga, coma e '

l;
l;

H
99 I
eventuahnellte, morte;uma subida prolongada acima c1o rnesrno pocle
ì . Cap.3
ïi
.ì levar a cloenças dos olhos ou dos rins, ataqlre carclíaco e aciclentes
l vascnlares cerebrais. Estes exemplos de equilíbrio interno reflectem
I
I
Lrm processo que visa a homeostase (literalmente, estado igual) ttn
j processo tão aclmirável, não só na slla complexidacle , rnas também na
i sua eficácia que, muitas vezes, se cliz que reflecte uma "sabecloria clo
i
corpo" (Cannon, 1932).

A REGUI-A.çÃO DA TEMPERÃTURA

Um exemplo claro cle homeostase é a regtúação da temperatttra


(tecnicamente termol'regulação) e a selecção natural dotou-nos
com dois métodos para ela. As aves e os rnamíferos sío end'otérmicos,
animais qlle usam ailrstamentos predominantemente internos ou
fisiológicos para manter Lrma temperatura clo colpo estável. Alguns
destes aillstamentos envolvem modificações corporais de grande
escala, colrìo o aumellto cle peso e crescimento de uma cobertula de
pêlos isolante, a preparaçáo pan os meses frios e a perda de ambos
nos meses qlrentes. outfas regulações envolvem mais difectamente
pelo acções reflexas.
nos Um segunclo tipo cle termorregtllação encontra-se nos animais
Ia exotérmico.s colno os répteis, que não dispõem destes mecanismos
internos, e que devem mânter a temperatlua do corpo com com-
portamento diligiclo p^r^ o exterior (geralmente pela escolha cle
ambientes solarengos ou sombrios). Normalmente os animais endo-
térmicos clizem-se cle "sangue quente", ao contrário dos exotérmicos
que se dizem ser de "sangtle frio" ' Estes termos, todavia, são enganosos
no pois as tempefatlÌfas internas dos enclotérmicos e dos exotéfmicos
oe são idênticas. O que distingue os dois é a sua capacidade para ^
de termorregtúação interna (Rosenzweig et al., L996).
78),
ém
O Contolo da Temperatsra pelo AiustameÍrto Interno
toì.1
los
50s
Os auimais endotérmicos têm um metabolismo qLre gera tlm
tes calor corporal considerável. Se se acumular um calor excessivo,
tos elevando muito a temperatura corporal, desencadeiam-se várias
)m reacções reflexas que irão procluzir percla cle calor' Uma rcacçâo é a
aasod,ilatação periférica, uma dilatação clos capilares da pele. Esta
.fo rcacçío envia o sangue quente para a supeúcie do corpo, dando
.es origem a perda cle calor por radiação. Outras reacções que conduzem
os ao arrefecimento são a transpiração (nos homens) e a respiração
te ofegante (nos cães) - ambas procluzem petda de calot por evaporação'
OS
Um padrão oposto entra em acção quando a temperatura interna
e, desce demasiado.A sudação e a respiração ofegante cessam e ocorre
100

oasoconstríção, uma contracção dos capilares que afasta o


MoTIvAçÃo . Cap.3
da periferia fria e mantém o interior do corpo quente. Outras
reflexas incluem um encrespamento dos pêlos que cria
consistente camada de ar protectora, chamada técnicamente
vasodilatação dos pelas. Os homens também possLrem este reflexo, mas, no
Transpiração
Resptação Ofegânte estado de relativamente sem pêlos, observamos apenas Lrma
reminiscênci a na teacçío chamada "pele de galinha".
Tal como todos os ajustamentos homeostáticos, estas
reflexas visam a manutenção da constância fisiológica. O calot
perdido se a temperatura do corpo estiver demasiado elevada
conseryado se a temperatura baixar excessivamente. Neste aspecto,
estes ajustamentos são análogos ao aquecimento comandado por
termostato, ambos agem de modo a manter Lrma temperatura
ou ponto jïxo (uer Fig.3.2).
Embora tenhamos apresentado a temperatura do corpo coqs
.Ponto 6xi relativamente fixa, em alguns animais varia consideravelmente. Por
superloÍ
exemplo, determinado esquilo terrestre passa o Inverno em hibet
Fonto fixo
inftrior nação. À medida que a temperatura exterior vai esfriando, o ponto fìxo
interno desce, o que o leva a procurar um refírgio isolado e cair num
tofpor - um mecanismo útil numa época do ano em que a comida
escasseia. Mas embora o novo ponto fixo seja baixo, não deixa de
funcionar. Quando o tempo fica demasiado frio, o esquilo acorda de
modo a não morrer gelado (tleller, Cranshaw, e Hammel, 1978).
Animais como o homem, que não hibernam, têm pontos fixos da
temperatura mais estáveis, em média o nosso ê cerca de 37 graus.
Todavia, estes pontos fixos apresentam variações previsíveis' Por
exemplo, o pico da temperatura corporal ocorre no final da tarde e, de
Vasoconsrição
TiÍltar um modo fiável, desce um ou dois graus quando adormecemos.
Erccção dos pêlos Similarmente, o exercício fisico pode transitoriamente elevar em um
ou dois gfaus a tempefatufa corpoml. Estas variações deixam-nos com
Fig.3.2 Regulação rcflexa da tempemturas relativamente estáveis, mas até estes limites podem ser
tefttp eratura nos m amífe ros, excedidos em emergências, como a febre, em que a temperatura do
Quando a temperatura se desvia de corpo pode subir durante cLutos períodos acima dos 38 gtzus
um ponto fixo interno, várias (Sewitch, 1987; Rosenzweig et 6t1.,t996).
reacções reflexas ocoffem para
festaufaf a temperatufa.

O Controlo da Temperatura pelo CompoftameÍÌto


Dirtgido para o Melo Externo

Os mecanismos homeostáticos que acabâmos de descrever são


fundamentalmente involuntários. Os endotérmicos, todavia, com-
pletam estes ajustamentos com acções voluntárias. O que acabou de
ser dito aplica-se a animais jovens que possuem sistemas termorregu-
ladores imaturos e, como tal, aconchegam-se uns aos outros, ou ficarn
junto da míe para se aquecerem. Mas, pelo menos nos ratos, as
mães limitam a dwaçáo deste contacto com os filhos para que a sua
I
101

Itìgue
cÇões . Cap.3
rllna
'cÇão
I seÌì e';terno d4 tem?eraturd
0 cofitrdo
I SUI ttìillcntdl ettt r(ll()s'
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tllììiì (ltlestào tlc afecto
ecto,
ltr>rtrrtlltas ('irclllâlìt('s
ÍnateÍrì:ll.As
Por c0rpo da mãe, aPós () Parto,
no
tima o que tofna
sobfeaqtlecern-na'
tgradi,vel o contacto
com o corpo
omo frio ttrs ct'ias. Ela tanrbém deixa
Por a ninhxla Por breves Períodos,
iber- quarldo o gtttpo aconcheganclo-se,
ele pt'tiprio começâ a sobreacluecê-la'
fixo
lFotografia cle Jane
Burton; O 1987' própria temperatlÌra não suba demasiado (Leon et al',1990)' Existem
Ìum
Bfucc Coleman,Inc.)
ainda oLrtlos tipos de compoftamellto t€fmoffegulaclor. Ern muitas
ú(la
circunstâncias, os animais enclotérmicos confíam nas estratégias
, cle
nofmalmente Llsaclas - cleitar-se ao Sol para aquecef
pelos exotéfmicos
rde
ou pfocufaf Lrma sombfa parâ pefmanecef ffesco' Ainda outra
estratégia é a construção c1o nírho o qual, além de oLÌtras vantâgens,
ida
provêumabarreiraisoladoraemtofnodoslrabitantes.Oshomens
ILIS.
clispõem de inítmeras variações destas técnicas: no Inverno, vestimos
Por
casacos, cobrimo-nos com cobertofes e aninhamo-nos com os nossos
cle
parceiros, e, no Verão, Ìlsamos roupa leve (ou muito polÌca)' tomamos
,

.os.
mais duches ou vamos nadar. Todas estas acções servem o mesmo
um
objectivo pfesefvaf o ambiente interno cuja constância é ftlnda-
-
)m
mental para a nossa sobrevivência.
sef
do

O Sistema Nervoso Autónomo e o CoÍrtfolo


Ius

da TemPeratura

que regtúam a
Que é qlÌe colltlola os cliversos mecanismos
temperatura interna? O cornando mais directo é exercido pelo
sisterna. neruoso autónotv-to (SNA). Em geral, esta é uma parte do
sistema nervoso periférico que envia fibras nervosas para as
io gliìnd,ulas e pafa os músculos /isos' das vísceras (órgãos internos)
n-
e dos vasos sanguíneos. O SNA tem cluas divisões: o simpd'tico e o
le parassimpdtico. Estas duas diüsões actLlam mllitas vezes como
Ll-

n lisas qr'lando obsetvaclas ao


'As fibras mttsclúares clestes músctúos parecem
IS
microscópio, ao contrár'io das fibras dos mútscttlos esqueléticos que parccem
.^
estriacl?ts.
t02

antagonistas. A excitação cla clivisão simpática provoca unÌa acelemção


MoTIVAÇÃo . cap.3 MOTIVl
clo ritmo cardíaco e inibição clo peristaltismo (contracções r.ítmicas;
clos intestilìos, ao passo que a activação clo parassimpático tem efeitos
opostos: desaceleração cardíaca e estimrúação clo peristaltistlo. Este
lIí)otílarno antagonismo pocle talìlbém ser observado na reglúação cla tempe-
mtura.A clivisão simpática actua para conservar a telnperatura intcrna, a
provoca a vasoconstrição e a el'ecção ckrs pêlos. Pelo c<tntrátio, q
pamssimpático contribui p^ta o arrefecínento clo corpo quanclo este
está sobreaqnecido, estimula a respiração ofegante, a transpiração ç n
vasocollstfição (uer Fig. 3.I3).

A Percepção do Meio Interno: O Hipoüâlamo

Quem clitige o SNA? Um centro Íirnclamental de controlo é o


lripotálamo l<>calizado na base clo cér'ebro anterior (uer Fig.3.3). Esta
estrlrtlÌl? cerebral representa rìma vitória da miniatlu'izaç1o ana-
tómica: contém cerca de vinte conjÌrntos de nenrónios que regulanì
FiS.3.3 O biltotíilcbno. Secç7r<t
tmnsvcrsal clo cérebro humirno rnuitos dos motivos biológicos embora, no adulto, o seu tamanho scja
com o hipotálamo inclicaclo. árpenas o de ì.lma ervilha.
(Seguuclo Keetorì, 1980) De entre as mílltiplas ftlnções, o hipotálamo parece clispor cle r-rm
mecanismo de controlo semelhante a ì.lm tefmostato qlle cletecta
quanclo o corpo fica clemasiaclo frio ou qrÌente. Esta icleia ficou
provada em gatos que tinham fios implantados no hipotálamo
anteriol'. Qnanclo se aquecia o fio, verificava-se respiração ofegante e
vasodilatação col1ìo se estivessem quentes e necessitassem cle percler
calor', apesar cle a temperatnra clo corpo pocler estar bastante abaixo
do normal (Magoun et al., L938). Hoje em clia, sabemos que o Íi<t
quente estintrìlâva nelÌfónios especializaclos chamaclos termor-
receptores, qLre norrnalmente reageln à temperatura clos Íluiclos clo
corpo que circulam no cérebro. O Íìo aqr.recido mimetizava fluickrs
corporais quentes e enganâva os termorreceptores qì.le clesenca-
deavam o comportamento que visava o arrefecimento e o restauro da
tempefatì.lfa clo corpo. O eÍbito é semelhante ao qrÌe acontece,
qnando uma coffente de ar qllente é dirigicla pafa um tefmostato
cloméstico. O aparelho clesliga-se aì.ltomaticamente, mesmo se a casa
estiver gelada.
Será que o hipotálamo tarnbém controla as acções qì.le se dirigem
para o munclo exterior como procurar o sol, aconchegar, aníìh:Ìr ou
firesfiro vestir um casaco? Em mr"ritos casos, assirn pafece. Uma
Fig.3.4 O deseil4)e,ilro de u.ntu.
,es?ostd dprctrlidd ?ít.t'a cot6erLìío' experiência que prova o que se acabou cle clizer baseou-se no facto cle
o cnlor. Urtt tato coltlcatlo rttrtn ltcitr que os ratos, qrÌando estão num ambiente frio, poclem aprencler a
fi'io aprenclerír a plessionar uma pressionat uma alavanca que pl'oduz nma breve lufacla cle ar qì.lente
alavanca que liga nma lâtnpacla
(Weiss e Laties, 196l; uer Fig. 3 .4). A questão era saber se os mtos, qlle
prodì-ltora cle calor, durante alguns
segnnclos, cle cacla vez cltre é haviam feito esta aprenclizagem, iriam pressiolÌar a alavanc,r se, em
pressionacla. (Weiss e Latics, 1961) hrgar do corpo, se tivessem arrefeciclo os seus cérebros. Para testar esta
103

icleia, um investigaclor fez correr urn lícluiclo frio através


de ttm tubo
Ção c'rp.3 na vizinhança clo hipotálamo antefiof (satinoff,
muito fino implantaclo
:as)
1964). Aresposta foi níticla: mesmo quanclo a telnperattlra exterior era
itos qlre
confortável, os mtos âcendiam a lârnpadâ de aqllecimellto sempre
lste
os seus cérebros efam affefeciclos'
Pe. Parece, assim, qtle o hipotálarno (e algumas regiões acljacentes)
'na,
a vasoclilatação'
clesencadeia qlÌer o comportamento reflexo, tal corno
t,o
quef o compoftamento voluntário, como o pfoclrt?r calor' Convém
'ste qual clos
notaq ainda, qlre outras regiões cerebrais parecem orientar
ca
doistiposderespostaéactivaclopeloscomarrdosterrrrorregtúadores
para
clo hipotálarno. Se, em ratos treinados na pressão cle alavancas
produzir calor', se destruir uma ár'ea imediatamente em frente do
da alavanca para acender ou
hipotálamo, o animal cessa a pressão
como
desligar as lâmpadas, mas persistem as reacções involuntárias
a
se clestrói
vasoconstrição e o tremer. O restútado é o oposto, cNanclo
'o autonómicas
outra região, tl ma âreaao lado clo hipotálarno: as reacções
rta
são abolidas, mâs os colnportamentos voluntários permanecem
(Satinoff e RÌrtstein, 1970;Satinoff e Shan, l97l;Yan Zoeren e Strickeq
1a-

rm
1977).Estestesultaclosimplicamaexistênciadecirrcuitossepafâdos
)ja
para lidar com os dois modos cliferentes cJe resolver o problema
da

termorr.g.úação. Aqui, tal como em muitas outras ár'eas' a selecção


m pfotegef as
natur.al dotou-nos com mecanismos rníútiplos para
rta
funções vitais do organismo (Satinoffl 1978)'
principal
De um modo interessante, o hipotálamo tarnbém é o
)t-r

Ìo por substâncias químicas


instigaclor. cla febre. A febre é desencacleada
e na corrente sanguínea nas
clramadas pirogéneos' que são libertaclas
ef ou viral' Estas substâncias químicas
zonas da invasão bacterial
io porções anteriores clo
estimtúam receptores especiais localizaclos nas
a uma moclificação transitória do ponto fixo da
kr
hipotálarno, levafldo
representa
temperatÌua. Qual a ftrnção deste processo? Possivelmente'
o pelo
o esforço clo organismo para clestruir os invasores patogénicos
)s
sobreaquecimento temporário (Rosenzw eig et al'' L996)'
t-

^
A SEDE
3

à maior parte
O qtre é vâlido paraa temperatllra aplica-se também
a

Um exemplo é a provisão de água no


clas regulações homeostáticas.
ì
corpo que é ftinclamental para o funcionamento normal'
Perclemos
mas também através
áglla continuamente - sobretndo através c1a urina'
por hemormgia
cla respiração, suclação, clefecação e, ocasionalmente'
da perda cle
ou vómito. O corpo cleve, assim, advertir cuicladosamente
água e clesencaclear acções, se for caso clisso,
para substittlir a que foi
perdida e conservá-la sempre qlre os slrprimentos são baixos
tag.ua? A resposta clo
Como sabe o corpo cle quanclo precisa de
secas' Acontece'
senso comum é quando as nossas bocas se tornam
to4

MOTTVAÇÃo . cap.3

ufr-

"Els o sítio ideall" (Desenbo (le


0t25
l:i 4
Chas.Àddams; @ 1,987, Tbe Neu,t
Yorker Magazine, Inc.) ríÀ

pofém, que a boca seca é apenas Lrma parte da sede.VerificorÌ_se


que
assim é attavés de estudos em que se implantavam tubos que
dreÍìa.
vam a âgLra do estômago de ratos com uma velocidacle igual àquela
com que a âgrcla era ingerida. Os ratos continLravam a beber apesar
de
as sLras bocas estaremhúmidas (Blass e Han, g76).
As provas indicam que o corpo dirige, de modo independente,
dois aspectos separados do equilíbrio interno de água. um é o
volume
de âgua que existe no interior das céldas. o outro é o volume dos
fluidos que circulam fora das células, nos fluidos coryorais como
a
saliva, o sangue, a linfa, o fluido cerebrospinal, e pot ai adiante.
Cada um
destes aspectos do equilíbrio de água - extracelurar ou intracelular

controlado pelo seu próprio conjunto de receptores e desencadeia
o
seu próprio conjunto de ajustamentos homeostáticos internos.

Volume de Água Extracelular

As células que detectam os volumes dos fluidos extracelulares


estão distribuídas por todo o corpo. Todavia, os receptores
mais impor-
tantes encontram-se no coração e nos vasos sanguíneos. Estes
receptores detectam baixas na pressão sanguínea que ocorrem
sempre que há reduções na quantidade de fluidos corporais.
Estes
receptores de pressão enviam mensagens, através dos respectivos
axónios, directamente para o cérebro, que orquestra entã,o as diver_
sas acções para recuperar a pressão sanguínea normal. Uma
via
principal pata esta. recuperação é através de uma hormona chamada
aasopressina. (também chamada hormona antidiurética), que é
sintetizada pero hipotálamo e segregada pera pituitária na coffente
sanguínea. A vasopressina faz com que os vasos sanguíneos
se
contraiam e, assim, aumenta a pressão sanguínea e,faz também,
com
que os rins retenham, em vez de expelirem, maior parte da
âgta.
Os receptores de pressão têm também um efeito com_
portamental, como se mostro' em estudos rcalizados com
cães, em
105

. Cap.3

Des itl
ç(io Po r os tn ose'
t'( t ttl

tlc ágtla' os mal'iuheil'os


ftotlettlos
salvlÌ-vicl'.Ìs mort'erão
de sedc
no
ingestão dc iigtta salgatla
oorquc a
oro.tuzit á trma clesiclmtaçiro aintle

rnaior. tCcnr de MuíittY ott' the


que gentileza
Bott,ltv, 1935 ; Por
'ena-
de Photofest)
nela
rde
qlre se inseriram pequenos balões na veia principal do coração'
nte, Quando se enchia o balão, os cães bebiam abttndantemente.
o balão
ìme impedia que o sanglÌe fluísse para o coração, o que produzia uma
baixa na pressão de líquidos e, deste modo, os receptores de pressão
clos
loa enviavam um sinal pafa o céfebfo iniciaf o compoftamento de bebef
uln (Fitzsimons e Moore-Gillow, 1980; Rolls e Rolls, 1982)'
-é olrtfos feceptofes localizados no fim detectam o volllme cle
iao fluiclos extfacelLúafes. Enviam inclirectamente mensagens ao cérebro
pela moclulação da quantidade de LÌma hormona, chamada engio'
tensina Id que circula na corfente sanguínea. uma vez no céfebfo,
esta hofmona pafece actuaf em feceptofes qlre se localizam
imediatamente em frente clo hipotálamo e na região qLle rodeia os
ventfículos do cérebro cheios de fluido (Epstein, Fitzsimons, e Rolls,
res 1970, Epstein,l982;Rosenzweig et at.,1996). Quer seja iniectada na
of- coffente sanguínea quer clirectamente no cérebro, a angiotensina II é
les um motivador do beber extremamente poderoso e imediato'
)m
:CS
'os Volume de Água Intracelular
311

,ia Aincla outro grupo de receptores verifica o nível cle água no


1a interior das céltúas do corpo. Estes receptores dependem do processo
é químico de osmose e por isso chamam-se os'nomeceptores'
te Obteve-se uma prova das ftinções destes receptores em estudos com
te ratos, em qlre se injectava âgva salgada em determinadas regiões do
m hipotálamo ou próximo. A injecção levava de imediato a qlre os ratos
bebessem água. Alterava a concelltração de iões de sódio no fluido
1- que rodeia a célula receptora, o que induzia a saida de água por
áreas)'
n osmose (de modo a igtalar a concentraçlo de âgva nas duas
106

com consequente redução do volume das células e


MOTTVAçÃO , Cap,3
receptor (Fig. 3.5, Blass e Epstein, 1971;Rolls e Rolls, 1982).
Por que razão existem tantos sistemas receptores que
os níveis de fluidos corporais? Neste caso, como no caso da
da tempefatrra, pensa-se que a evoluçío nafixal dotou-nos de
múltiplas e assim, se um sistema falhat, outro poderá
como na fegulação da temperatufa, os feajustamentos
iÍrtemos podem apenas, até certo ponto, restaurar o equilíbrio
corpo. Finalmente, as medidas correctofas devem implicar
comportamento através do qual o organismo atifija o mundo
No caso da sede, o comportamento é obviamente beber - no caso
homem em média um a dois litros e meio por dia.
Descobriremos uma redundância aindamaio\ao passarmos a
sistema de auto-regulação mais complexo: a manutenção dos níveis
nutrientes do corpo pela alimentação.

Fig.3.5 Desidratação por osmose.


por À FOME
Se duas soluções são separadas
uma membrana que permite o fluxo
livre de água, mas que impede a Todos os animais têm de comer e grande parte das suas vidas
passagem de substâncias nela à volta da comida - procurando-a,caçafido-^, ingerindo-a e fazendo
flui da região
dissolvidas, a água possível por não ser comidos por outros. Não há dúvida de que
menos concentnda pata a tegiáo mais alimentação está, em última instância, ao serviço da homeostase,
concentrada.
seja qual for o alimento ou a forma como é obtido, a
biológica é sempre a mesma - manter no meio interno do
provisões nutrientes adequadas. Mas quais são os mecanismos
determinam o momento em que o homem ou o animal vai comer
patar de comer?

Feso do C-orpo, Nutrição e Enef,gia

Através do processo de digestão, os nutrientes são extraídos da


comida e depois transfomados, quando necessário, em energia que
supre o calor do corpo, permite a contracção dos músculos e, de um
modo geral, sustenta todas as funções vitais CRosenzweig et aL.,t996),
Animais com cérebros grandes dedicam também uma energia
consideúvel - cerca de 20 porcento - à manutenção do potencial de
repouso nos neurónios.
Os animais variam consideravelmente na velocidade com que
"queimam" comida - isto é, na sua taxa meta.bóllca. basal - de modo
a adquirirem energia e materiais básicos de que necessitam. Com os
metabolismos mais úpidos, os endotérmicos, que comem quase
constantemente, necessitam de uma quantidade de comida muito
maior do que os exotémicos, cujos intervalos entre as refeições
chegam a ser de semanas ou meses. Além disso, os animais mais
r07

pequenos costlÌmam ter metabolismos mais r'ápidos do que os maio-


Fão co . Cap.3
res, o qlle significa qlle têm qlre comer tlma qllantidade cle alimento
rificaq proporcionalmente maior para manter o sell peso normal.
yrrlaçãq
Quando a comida está disponível, os auimais adtútos costumam
defesas comer uma quantidade adequada de modo a satisfazet exactamente as
11s. Tal suas necessidacles nutritivas e a manter Lrm peso do corpo
atórios aproximadamente constante. Por sinal, a "quantidade adequada" aqui
rio do não se refere ao volume de comida, mas à quantidade de calorias - e
algurìì portanto à energia metabólica potencial - nela contida. Demons-
rterior trou-se isto nLrm estudo em que o experimentador variou o nível
iÌso {q calórico da clieta fotnecida a ratos, adtúterando-a com celtúose não
nutritiva. Quanto mais diluído era o alimento, tanto mais era comido,
5 2 UÍìì numa quantidade aproximadamente adequada para manter constante
'eis de o conteírcto calórico total (Adolph,1947).
Mas o que acontece se a comida não estiver disponível? Também
aqui observamos a participação dos mecanismos homeostáticos'
Os animais baixam imediatamente as taxas metabólicas e os níveis de
activiclade, de modo a conseguirem satisfazef as suas necessidades
corporais e a mantef o peso do corpo normal tanto tempo quanto
s gim possível (Keesey e Powley, 1986). (Mais adiante analisaremos as impli-
rdo o cações óbvias disto para inclivíduos em dieta.)
ìue a
pois,
ência Os Sinais para AliÍreÃtaç^o
rimal
que O que nos faz ter fome e querer comer? O que nos faz sentir
lf ou saciaclos e qlrerer parar? Quase nenhum cle nós sobe para uma
balança, veriÍìca o peso clo corpo e regtúa depois a ingestão de
alimentos (seguramente náo o fazem os animais não humanos). Em vez
disso, mantemos o peso do corpo mediante a nossa reacção aos
nlrmefosos sinais internos sobre o nosso estado ntltfitivo. Alguns
sinais inclicam o estado das nossas fesefvas de energia de clrrta
sda cluração, usadas em emergências ou em olÌtfos slrftos de actividade,
que outfos indicam o estado das reserwas de longa cluração necessárias
um pam o esforço sllstentado.
96).
rgia
tde SINAIS DO NÍCEOO

lue Uma fonte importante de informação sobre as nossas neces-


rdo siclades nlltritivas é o fígado, qlre tem a ftinção ftindamental de gerir e
os controlar o principal nlrtfiente usado na energia de curta cluração: o
ase açírcar do sangue conhecido como glicose.
ito Imediatamente após uma refeição, a glicose é abundante' Embora
les alguma seja usada cle imecliato, grande parte dela é convertida em
ais gúicogénio (frequentemente chamado amido animal) e em diversos
108

ácidos gordos que são armazenados, par? ser usada mais tar4a,
MoTTVAÇÃo . Cap.3
Posteriormente, quando esta energia armazenada for necessária, ssla
processo será revertido e o glicogénio e os ácidos gordos serão de
novo transformados em glicose utilizâvel.
O figado gere este processo reversível de conversão e inforrql
outros órgãos sobre a direcção da transação metabólica, da glico5q
para depósitos de glicogénio ou vice-versa. Se o equilíbrio se inclinat
paru o armazenamento (o abastecimento excede, geralmente, 4,
I necessidades e o excesso pode ser convertido em glicogénio), o figado
enviará sinais de saciedade e o animal pararâ de comer; se o eeuilíb{s
se inclinar paru a produção de glicose (as exigências excedern q
abastecimento de modo que as reservas são usadas), o figado enviará
sinais de fome e o animal comerá (Fig.3.6). As provas da função
NÃO COMER! ^cetc
do figado provêm de estudos realizados com cães esfomeados que
foram injectados com glicose. Se a injecção era dada na veia que 5s
dirige para o írgado, os animais. paravam de comer. Se era dada eryq
qualquer outro local, não se verificava efeito semelhante (Russek,
1971;Friedman e Stricker, 1976).
Note-se, aliás, que este sistema regulador deve lidar com um
I intervalo de tempo considerável. Imagine-se que o figado espemva até
que os abastecimentos de glicose estivessem baixos e, apenas nessa
altura, enviasse sinais para iniciar a alimentação. Como o metabolismo
I da comida é um processo lento, teriam decorrido muitos minutos
COMER! entre o momento em qlre o sinal de "É preciso glicose!" tivesse sido
dado e o instante em que finalmente chegassem os abastecimentos.
Esta situação poderia ser muito perigosa para o animal e por isso deve
Fie.3.6 A, rclação entre o ecluilíbrío ser evitada. O hgado deve antecipar as necessidades futuras do corpo
de glicose-glicogénio no jïgado
de modo a iniciar-se a alimentaçáo com avanço. Deste modo, os
e a alim.entação.
nlrtrientes chegarão a horas.
Como consegue o figado fazer isto? Realiza-o reagindo à descida
e subida características do nível de glicose: quando o organismo não
come há jâ algum tempo, o nível de glicose no sanglle começa a
balxar. Antes que estes níveis desçam demais, o figado desencadeia a
acção de converter algum glicogénio arnazenado em glicose. Em
consequência, os níveis de glicose no sanglre voltam ao normal.
Esta sequência de eventos produz um padrão facilmente identificável
- uma descida gradual dos níveis de glicose, que clura normalmente
muitos minutos, seguida de uma rápida subida devida à acção compen-
satória do figado.
Este padrão de descida lenta e subida úpida não indica que as
reservas de energia estejam esgotadas; antes, indica que o organismo
está a usar as suas reservas, sendo altura de fazer um depósito. Quando
este padrão dos níveis de glicose ocorre em ratos, o animal começa a
comer (Campfield e Smith, l99O a, b). Quando ocorre nos homens,
eles dizem que têm fome e desejam comer alguma coisa (CampÍield e
Rosenbaum, 1992).
109

RXCEPTORTS NO CÉRNBRO
tfde.
MoTNAÇÃo ' ctP.3
este O figado é apenas um componente qlle regtúa a ingestão de
)de alimentos. Muitos investigaclores pensam qLre o cérebro contém
céltúas sensíveis aos níveis de glicose do sangue, achando-se estas
filìa céltrlas concentradas, Ltína vez mais, na estflrtlua do cérebro res-
:ose
ponsável pela homeostase, o hipotálamo. As pfovas clestes receptores
inar
da glicose provêm de estudos em que se injectava o hipotálamo com
,as uma substância química que tofnava as slras células incapazes cle
ado
reagir à glicose. O restútado efa uma alimentação vofaz. Este tfata-
Irio
mento possivelmente silenciou os glicorreceptofes; o seu silêncio foi
ìo depois interpretado como indicanclo uma deficiência de combustível

o que levou ao acto de se alimentar (Miselis e Epstein, 1970)'
;ão
Iue
SC
SINAIS DO ESTÔMÂGO E DOS INTESTINOS
em
ek,
Apresentámo s,até agora,o qtte leva um animal a iniciar a ingestão
de alimentos, mas o que o faz cessá-la? Os receptores no cérebro não
rm
podem ser a calÌsa pofque eles reagem a trma falta de combustível na
rré
coffente sanguínea que não é corrigida até que a refeição tenha sido,
isa
pelo menos parcialmente, digericla. Não obstante, o homem e olrtros
no
animais terminam a refeição mlrito antes. Porquê?
os
A crença do senso comum cle que comemos até nos sentifmos
Io
cheios é apenas em pafte vefdade.um animal patatí de comer mesmo
ts.
que o seu estômago esteia apenas parcialmente cheio, desde que
re
tenha ingericlo LÌma substância nutfitiva; se o estômago estiver cheio
)o
de um volume idêntico de substâncias não nutfitivas, o animal con-
tinuará a comer. Isto slÌgere qLre as paredes do estômago têm
)s

feceptofes que são sensíveis às substâncias nlrtfitivas dissolvidas nos


sucos digestivos. Eles dão sinal ao cérebro de que as provisões de
la
o
nutfientes estão no seu caminho e o resultado é a saciedade (Deutsch,
a
Puerto, e Wang, 1978).
a
n
L.
SINAIS DO INTESTINO DELGADO
:l

Otrtros sinais de saciedade originam-se no duodeno, a parte


inicial do intestino clelgado. Quando a comicla passa do estômago pafa
os intestinos, o duocleno começa a libertar uma hormona da sua
parede mucosa. Há provas convincentes de que esta hormona - a
colecistoquinina ou CCK - envia mensagens de "parar de comer"
para o cérebro (Gibbs e Smith, 1934). Se se injectar CCK na caviclade
abdominal <le ratos ou cães com fome, eles pararão de comer; se
(Stacher,
administrada a pessoas procluzirá a sensação <le saciedade
Bauer e Steinringer, I979).Se um animal ingerir comida que contenha
110

MOTIVAçÃO . cap.3
.ro ÍIVr

ìì

a
t'.

Festa. de Casd.tnento e|úr'e


carnponeses. (Peter Brueghel the
Elde4 7527; p<'tr gentile za dtl
Kt otstb i stor i s cli e s M u s e w n)

CCK, o animal aprenderá rapidamente a evitar essa comida (Che[,


1993). Os mtos também cessarão a in€iestão cle alimentos, se estes
tiverem ì.lm cheiro clo tipo cla comida que ingeriram, quando folam
injectados com CCK (Weller et a|.,L995).Infelizmente, qllem está em
clieta não aprecia tomar CCK; os indivíchros que injeriram esta
hormona sentem incómoclo abdominal, náusea e por vezes vómitos
(Miaskiewicz, Stricker e Verbalis, 1989).

SINAIS DO TECIDO ADIPOSO

Como os animais não podem estar segtlros de que disporão cle


alimento da próxima vez que precisem cle euerS;ia, eles não cometn
apenas para a ocasião. Comem, então, o suficiente para satisfazer as
necessiclacles do momento e para criar um armàzém de nttttientes
potenciais para mais tarde. Uma parte cleste armazém destina-se a um
futuro póximo, pelo que a comida é transformada em glicogénio que
pode ser rapidamente transformaclo em glicose, quando for necessár'io.
Oìrtra parte cleste armazém é pa:Ia guardar durante muito tempo.
Os animais usaln as céltúas gordas ov céhtlas ad'iposas clo seu corpo
para aÍm zenamento cle longa duração. Estas céltúas absorvem os
ácidos goldos criados pelo fígaclo e alrmentam cle volttme no pro-
cesso. Quando as provisões de glicogénio do animal se esgotam, estas
reservas de longa duração passam a ser utilizadas. Os ácidos gorclos são
clrenados das células adiposas pa1? a corrente sangttínea e transfor-
maclos em glicose.
Embota o tecido acliposo tenda a ser visto como tlm tipo cle
depósito inerte, parece aflora que as células adiposas desempenham
111

uma função na regulação da fome.As céhúas acliposas sintetizam


. Cap.3
uma substância química chamada leptinct, qlle seÉìregam na
corrente sanguínea, oncle é sentida pelos rece ptores clo
hipotálamo e áreas próximas clos ventrículos cerebrais (Maffei e/
a|.,L995;McGregor et at.,1996).Há quem consiclere que a leptina
constitÌli um sinal inclicador cle que existem sufìcientes aclipósitos
no armazém e que, portanto, não é necessário acrescentar mais' <l
que pocle recluzir a ingestão de alimentos. A verificação de qtte
certas descendências de ratos geneticamente obesos perclem
quantidades significativas cle peso, quando lecebem injecções de
leptina apoia e sta suposição (PelleymounÍer et al',1995>' Está em
curso investigação para determinar como actlla a leptina no
hipotálamo, e se a leptina otl olltros compostos químicos
relacionados podem ser benéficos no tfatamento de alguns tipos
de obesiclade'.

, os efeitos clos níveis cle leptina clescncaclciam fespostas integracÍas dc toclo

o colpo com colnponente hormolìal, autonómico e comportalnental Estas


ren, fespostas são meclia<las pela acção modificação ckrs níveis cle leptina sobre cluas
cla

ites regiões ckr hipotálamo, o nírcleo pamventfi\.ulaf (en-Ì torno clos ventríclúos

am cerebrais) e o nírcleo arqneaclo e fespectivas ligações com outftrs estfutÌlfas do


pelos
em sistema nefvoso. o anmento clos níveis cle leptina no sangtle é cletectado
neurónios clo núrcleo arqueaclo que libertam dois nettropéptidos, chamaclos cMSH
:sta
e GART e pfojectam clifectamente para regiões clo sistema nçfvoso
que olqÌìestfaln
tos
a fesposta integracla: têm uma acção clifecta sobre a clivisão simpática do sNA
e

tambétn activan os nettrónios clo nítcleo paraventfictúar cltte regulam a respostâ

hormonal (?Ìumento <la secreção cle TSH e cle ACTFI). Este ílltimo lìílcleo cotltfola,
inibido
ainda, a re sposta cla clivisãro simpática do SNA. O comportament() alimentaf
é
o hipotálamo lateral,
através clas ligações clos nenrírnios clo uúrcleo afqtteado para
assim, as snbstâncias crMSH e CART são também chat[aclas neuropéptidos
fazem
de anorexígenos (climinuem o apetite). Em contriÌste, os níveis de leptina baixos
cessar a fesposta clos neurónios ctMSH e CART e activam otltfo tipo cle nettrónios
:ln
(e aincla
as clo nírcleo arqueaclo qtte contêm outros neuropéptidos, o NPY e o AgRP
nettropéptidos dos neurónios ckr hipotálamo lateral, o MCH e a orexina)'
ontros
CS
Estes neurónios do nílcleo arqtteacl<1, NPY e AgRP, têm também ligações
com o
m
nírcleo paraventricular e com o hipotálamo latefal, tììas as stlas acçòes são
IC
distintas:inibemasecreçãocleTSHecleACTH,activamaclivisãoparassimpática
o. <loSNAeestimulamocompoftamentoalinentaf_sãro,porisso,clranraclos
). pépticlos orexigénicos. É interessante Íì.otaí qÌìe o AgRP e o cMSH são anta-
o gonistas em sentido literal: ambos os neuropéticlos ligam-se ao lresmo receptor
)S (receptof MC4) mas o crMSH é agonista,ao passo qtle oÀgRP é o seu antagonista
MC4
)- natural, que bloqueia a estimtúação <1o aMSH'A activação dos receptores
clos nenrónios clo hipotálamo latefal inibe a ingestão cle alimentos, o blocluei<r
.s
clos receptores estimtlla-a. Alérn ctisso, um grtlpo cle neutónios clo
hipotálamo
D
lateralquerecebeprojecçõesdilectasclosneuróniossensíveisaosníveisde
leptina do nítcleo arqueaclo produz aincta outlos neuropéptidos' o MCH e a
orexina. Os neurónios MCH têm amplas ligações ditectas com o córtex
Esta viâ

permite supor qlle participam na organizaçã<) e zÌctivação cle padrões clo


compoftamento motivado (N, tlo T).
tt2

OS SINAÌS DOS ESTÍMULOS EXTERIORÌS


MoTIvAçÃo . Cap.3

Os seres humanos e os animais comem pata manter a


tase,pof outfas palavfas, comem pofque os seus cofpos precisarl
comida. Mas comem também por outras tazóes. Por exemplo,
mulos externos, como o cheiro de uma pizza, podem set
poderosos pan iniciar a ingestão de alimentos. A hora do dia
é importante: os animais, mais provavelmente, comerão à hora
da refeição. Ainda outra influência é a companhia de comensais
galinha que tenha acabado de comer uma quantidade suÍiciente
grãos recomeçarâ a rcfeiçío, se acompanhada por oÌltras galinhas
ainda tenham fome @aye\ L929).
Mas a eficácia destes indicadores externos depende do estado
interno do organismo. Se tivermos acabado de ingerir uma refeição
substancial, ou se ainda tivermos o estômago cheio, mesmo I
sobremesa mais saborosa deixarâ de ser tentadora. Estas observações
do senso comum podem ser confirmadas no laboratório. Nuq
conjunto de estudos, os investigadores implantaram microeléctrodos
em neurónios do hipotálamo de macacos em vigília e verificaram que
alguns neurónios dispararam quando se apresentava ao animal uq
amendoim ou Llma banana.Mas estas células só disparavam quando o
animal tinha fome. Se o animal fosse primeiro alimentado até à
saciedade e só depois fossem apresentados os mesmos alimentos, os
neurónios hipotalâmicos não reagiam. Parece assim que, pelo menos
no qLre respeita ao hipotâlamo, ele não tem mais olhos do que barriga
(Mora, Rolls e Burton, 1976; Rolls, 1978).
A verificação de que a atractividade da comida depende da fome
remete-nos Lrma vez mais para a fotma como todos os motivos
funcionam - potenciando determinaclas respostas. Afinal, os animais
não têm qualquer forma de saber com exactidão aquilo cle qlre os seus
cofpos precisam num determinado momento; nem eles nem a maior
parte de nós, leram alguma vez qualquer tratado sobre a fisiologia da
digestão. Felizmente, a natvreza incorporou essa informação nos seus
(e nos nossos) sistemas nelvosos, de tal modo que necessidades
específicas guiam a percepção tornando a comida particulamente
atraente quando temos fome. A observação de que a mais deliciosa
sobremesa se pode tornar insuportavelmente enjoativa, depois de
duas ou três porções, é outra demonstração do papel potenciador dos
motivos, que determina o qlre sentimos não menos do que aquilo que
fazemos.

Centros Hipotalâmicos de Controlo

Vimos que existem muitos sinais diferentes para a ingestão de


alimentos, alguns originam-se no figado, oLrtros no intestino e no
I
113

teciclo acliposo e oLlt1.os, ainda, clepenclem do nível de nutfientes


. Cap.3
existente na corrente sanguínea. Supôs-se, natllralmente, qlre as
)nleos. cliversas mensagens sefiam toclas integfadas numa fegião do sistema
larn nefvoso responsável pela decisão final de comef ou de não comef.
de
n, estí.
Dllfante mlÌitos anos, o can<lidato natufal pafa uüì tal "centfo de
tltOres alimentação" foi o hipotálamo qlÌe, como se sabe, aloja comandos de
mbéh regulação da tempefatLlra e clo equilíbrio cle líquidos. os psicólogos
tbitual fisiologistas elaboraram :Jlr:.íl teoüí, d'o centro d'ual do controlo
i. UÍna hipotalâmico cla alimentaçáo, anâloga à do sistema de regtúação cla
ìte de
tempefatllfa. Postula a existência de dois centfos antagorìistas, Lrm
ts que corresponclenclo à fome, o otltro à saciedacle.

t,
)stado
ieição CENTROS DUAIS DA ÀLIMENTAÇÃO

lìo a
G 400
í Hiperfágico

Segundo a teoria do centro dual, o hipotálamo dispõe de um


a
ações 6 300
Nurn o Controlo posto de comanclo activadof e de outro inibidor pafa o acto alimentaf.
o 200
:oclos consiclerou-se, çomo hipótese, que o centfo activador se localiza na
40 60
região lateral do hipotálamo; disse-se que ftinciona como um centfo
{) 20
Ì que Dias

I urn da fome cuja activação leva ao acto de comer. o centfo inibidor


Ldo o localizou-se, hipoteticamente, na região aentromeüana e foi
,,centro de sacieclacle", cuja estimulação suspendia
Iré à
encaraclo como o
rs, os o acto alimentaf.
elìos  demonstração destas asserções vieram do estttdo dos efeitos cle
rriga diversas lesões cerebrais. Ratos cujos hipotálamos latefais foram
t ò4 clestrtríclos sofriam de afagia (do Grego, "não comer"). Recusavam-se
ome a comef e a beber e morreriam de fome se não fossem alimentaclos
ivos artificialmente, com tubos, durante algumas semanas' (Teitelbaum e
nais stellar, Ig54). Curiosamente, clá-se finalmente Llma cefta recuperação
;eus da fi,rnção. Após algumas semanas' os animais recomeçam a comet
aior sobretudo se tentaclos por algum alimento que os delicie (Teitelbaum,
t cla e Epstein, 1962).
eus AslesõesÍ]razoflaventromedianaprodtrzemefeitosemmtritos
des aspectos opostos. Animais com esse tipo de lesões sofrem de
nte biperfagia(do grego,"comer em excesso")' Comem com voracidade e

osa rnn continuamente. se a lesão for suficientemente extensa, podem tofnaf-se


de extraordinariamente obesos, acabando por atingir pesos três vezes supe-
los ( )Cvva riores aos seus níveis pré-operatórios.Tumores Ía rcgiáo hipotalâmica
Fic.3.7 Hipe,fagi*.
mostrando o aumento de Peso (emboramuitoraros)têmosmesmosefeitosnossefeshumanos(Miller'
Iue
em rdtos hiperfágicos aPós lesãtr Bailey, e Stevenson, 1 9 50 ;Teitelbau m, 19 5 5, 196l)'
hipotalâmica ciúrgica. O Peso Embora as lesões ventromedianas conduzam a um úpido
estabiliza a um novo nível. (Scgundo allmento de peso, este allmento desaparece ao fim de um mês ou dois'
Teitelbaum, 1955). (B) Fotografìa
A partir daí, o peso clos animais torna-se estável num novo (e'
tle trm rato vários meses dePois
certamente, muito superior) nível. O animal come o suficiente
para
da operação. Este rato Pesava mais
Íe cte 1 quilo. @or gentileza de Neal mantef esre peso mas não mais (Fig. 3.7, Hoebel e Teitelbaum,1976).
Ìo E. Miller, R o ckefe I I e r U n iu e r s i ty) Isto suge re que a lesão pro<luziu um clesvio, para cima, no p onto Íitco
t74

- o ponto que clefine uma espécie de


de regdação clo peso
MoTrvAçÃo . cap.3
qtre determina a ingestáo cle alimentos. Como veremos,
interpretação pode ser relevante para explicar alguns dos
da obesiclade humana (Nisbett, 1972).

OS CENTROS DUÁIS RECONSIDERÀDOS

A teolia clo centro dual da alimentação oclrpou um lugar


destaque durante mlÌitas décadas. Nos anos recentes, tem sido posta
em causa, em pafte porque a investigação sobre as substâncias
neuroquímicas implicadas na alimentação mostrou que era excessl
vamente simples. Considere-se, por exemplo, a ftinção do hipotálams
Iater l na alimentação. É ver<lacle que algumas slrbstâncias químicas,
chamadas orexígenas iniciam o acto alimentar, quando são
injectadas no cérebro, e são segregadas no hipotálamo lateral
(Sakuriam et al., 1,998). Mas uma outra substância neuroquímica,
chamada neuropeptídeo Y (NPY), revela-se ser o estimula<lor do
apetite mais forte que se conhece (Gibbs, 1996), táo potente que,
qnando é injectado no cérebro, consegue fazet com que ratos
completamente saciados recomecem a comer (Stanley Magdalin e
Leibowitz, 1989). Mas o NPY exerce os seus efeitos mais fortes fora do
hipotálamo latetal, o que sugere que esta rcgião náo pode ser o
principal centro da alimentação (Leibowitz, 1991).
Um oLrtro problema diz respeito aos efeitos de lesões
ventromedianas. Segundo ateoria original do centro dual, os ratos com
tais lesões comem em excesso, em consequência da lesão do centro
inibidor da alimentação. Mas pode haver uma melhor maneira de
pensar sobre essa alimentação excessiva. Um efeito das lesões
ventromeclianas é o de produzirem uma hiper-reacção de alguns
ramos do sistema parassimpático. Isto desencadeia uma hipersecreção
da hormona instúina, que, por sva vez, alrmenta a proporção de
nLrtrientes aproveitáveis, principalmente a glicose, que são trans-
formados em gordura e guardados como tecido adiposo. O problema
é qtre a quantidade qtre é armazenada é tão elevada que não sobra
nada pan combLrstível metabólico. Por consequência, o animal
continua com fome e necessita de comer mais para conseguir o
combustível cle que necessita. Mas como quase tudo o que come é
transformado em gordura e atmazenado, o processo prossegue e o
animal tem de continuar a comer. Tuclo se passa como se um indMduo
rico e avarento tivesse enterrado todos os seus bens e, por isso, não lhe
restasse clinheiro para viver.A demonstração provém de estudos que
mostr?m que os animais com lesões ventromedianas ficam mais gordos
do que os normais, mesmo quando ambos os grLrpos são alimentados
com uma quantidade idêntica de comida (Stricker e Zigmond, 1976).
Assim, pode pensar-se que o hipotálamo ventromediano não é de toclo
115

tlor-aÌvo o centro cla saciedacle. Lesões clesta legião podem catlsar uma ali-
. Cap.3
,.r, nìentação excessiva,não porqlre tivessem destruíckl o centro"pafar cle
ar,U
)lìen0$ conìer", mas pofqtÌe perturbaraln gravemente o moclo como o colpo
Lìsa (e guarda) os nutrientes que íÌgeriÌI.
A pouco e polrco, estas e otltfas pfovas plrser2Ìm em causa a ideia
cle clois centros hipotalâmicos qlle controlatn a
alimentação'
Certamente que estes locais cerebrais são importantes pal? a írgestã<l

cle alimentos, mas não a regulam num senticlo clirecto e simples'


Existem, provavelmente, mílltiplos sistemas cla fome e cla saciedacle,
8ar de
t posta algrÌns especializaclos pafa as necessiclacles de energia cle cul'ta
lârrcias cllÌfação e olrtfos pafa o afm zer'tametTto de longa cluração.T[tclo isto
xcessi. constitì,li um exemplo cla elegância e sofisticaçã<l cla homeostasia, que
rálano dispõe cle um coniunto fico e muitas vezes reclundante cle rneca-
nismos que controlam, c1e ttm moclo preciso e podefoso, o estaclo
Á
micas,
o são
interno do organismo.
lateral
ímica,
or do * Selecção de Alimentos
f,-v
I que, ;
(-
fatos
ilin \ Os mecanismos que cleterminam a alimentação estão, pelo menos
rra clo
e
*-' em pafte, sob controlo cla homeostasia e, nessa meclicla, assemelham-se
ser aos mecanismos que regtúam a ingestão de líquidos e o controlo cla
o
/ temperatrÌfa. Mas, em muitos aspectos, são consicleravelmente mais
isões c<rrnplexos. IJrna:'i?izío é a de que o controlo da ingestão de alimentos
com B
clepencle de duas clecisões. o animal tern não só cle decidir comel', mas
:ntfo também o qlÌe comer. Como é que os animais e os sefes hnmanos
ade fazem esta selecção?
:sões Uma parte cla resposta está írtegracla no sistema nervoso Por
guns exemplo, parece existif um conjlÌnto cle preferências inatas cle palaclar,
eção i*r\ nos bebés humanos, entfe as qr.rais as que os levam a preferir o sabor'
rde cloce aos sabores amafgo ou salgado. Esta prefefência aparece bastante
a frequência com que fecém-nascidos sllÉÌâm um biberão

p
:ans- ceclo:
ema clepencle de quão cloce ou salgacla é a solução nele contida (Lipsett e
)bfa , Behl, 1990). A preÍ'erência é também observacla nas expfessões faciais
mal , cte recém-nascictos. Quanclo se molha a boca de um recém-nasciclo
iro com uma solução doce (por exemplo, água açucaracla) a expressão
rcé facial do bebé parece ser receptiva; quaudo a solttção é amarga (por
eo FiÍ1.3.8 ,4 rcacção de recéttt-nersciclos exemplo, água com quinino) o recém-nasci<lo faz cafetas e vita a cara
lu<r 4 cliíerentes saborcs. Gotas de (Steinef, 1974;uer Figs.3.8A e B). Estâ tenclência selectiva tem senticto
lhe soluções diferentes fomm colocaclas do ponto cle vista biológico, pois, no ambiente nattlfal, as substâncias
lue
na boca clas crianças a fim cle registar cloces têm, em geral, maior valof nutfitivo do que as olltfas. os sabores
as suas reacçõres a (A) uln sabor
Jos amafgos, pelo contrário, encontram-se em muitas plantas venenosas.
doce (solução açucaracla) e (B) Ìlm
los com os adoçantes artificiais percle-se a aposta nlltfitiva: a sacaúna é
sabor amargo (solução com quinilÌo).
6) (Segunclo Steiner, 1977; fotogftÌfi as cloce e em geral prefericla a snbstâncias menos cloces, mas uão contém
do ccdidas por Jacob Steiner) calorias.
rt6

Poderão as preferências inatas explicar todas as esc


MOTIVAçÃO . Cap.3
alimentares de um animal? Podem, se o animal comer apenas Llm
mllito polÌcos) tipos de alimentos tal como o coala, cuja dieta
quase totalmente em folhas de eucalipto. Mas a maioria dos anirnais
6
menos especializada, do que o coala: a slÌa dieta é constituída po,
vários tipos de alimentos (Fig. 3.9). Como sabem eles quais i1s srÌbs.
tâncias que fornecem calorias e as qLle não as fornecem? E cornq
identificam as várias sllbstâncias nutritivas de que necessitam além das
calorias: diversas vitaminas, minerais, aminoácidos, etc.? E, no homenì,
existe ainda outra ordem de complexidade - as preferências de sabq1.
por que razão alguns preferem espargllete a sushi? Por que preferen
alguns comiclas condimentadas, enquanto outros as abominam? Todos
estes são problemas de selecção de alimentos.
Para a maioria dos carnívoros, o problema da selecção de
alimentos é relativamente simples. Em geral, alimentam-se de animais
que têm necessidades nutritivas semelhantes às suas o qlle lhes
assegura Llma dieta equilibrada. Os leões não correm o risco 4ç
sofrerem de falta de vitaminas, a menos que insistam em comer zeblag
com avitaminose (Rozin, 197 6c,1982).
Mas como é que os herbívoros como a zebru ou os omnívoros
como nós satisfazem as suas necessidades nutritivas? Uma
dificúdade reside em que grande parte das plantas não possuem
Fig.3.9 Selecção de alimentos. substâncias nutritivas essenciais à sobrevivência dos animais. Pior
(A) ÂÌguns animais, como as zebras, ainda, algumas plantas contêm venenos, Lrma forma de adaptação
comem aperÌas plantas. (Fotografia que as protege dos que as comem. Para conseguir as substâncias
de Laura Riley/ Bruce Coleman) nutritivas necessárias, os herbívoros e os omnívoros têm, pois, de
@) Outros, como os leões apenas
evitar as plantas tóxicas e ingerir uma grande quantidade de
comem animais. (Fotografia de Stan
Osolinski/ Oxford Science Films)
vegetais comestíveis que, em conjunto, satisfarão as suas
(C) Alguns outros subsistem com necessidades dietéticas. Como será isto feito? Parte da resposta
unÌa dieta de apenas ìlm alimento. encontra-se numa solllção simples adoptada por muitas espécies.
No caso do coala australiano, esta Se se trata de alimentação, elas sáo neofóbicas - isto é, têm medo
consiste em folhas de eucalipto clue de tudo o que seia novo. Quando os ratos (que tal como o homem
fornecem ao animal água e
são generalistas do ponto de vista alimentar) são confrontados com
rìutrientes. (Fotografia de Helen
Williams/ Photo Researchers)
uma substância que nllnca comeram, começam por evitá-la.

A c
1t7

Finalmente, acabaráo pof comef - testaf Llma qllantidacle muito


F.has . Cap.3
(ou MoÍIvAÇÃo peqllena. Se for venenosa, adoecerão. Mas, como só ingeriram uma
In
insislg pequena porção, é muito provável qlle consigam restabelecer-se'
rnais Mais tarde, associarão o sabor clessa substância à doença e passarão
é
tu po, a evití-la..Por outro laclo, se o alimento se revelar segufo, o auimal
subs. voltará, Llm ou clois clias depois, e comerá bocados maiores, acres-
cornO centando esse sabor ao repertório cle sabores alimentares aceltâ-
m das I veis (Rozin, 1976c).
nìeÍn, a Muitas crianças apresentam uma neofobia semelhante em
iabor: relação à comida por volta dos dois anos. A paftif dessa altnra,
lererq
@
tendem a sef calrtelosas do ponto de vista alimentar, fixando-se em
cetoÌa
.'odos alimentos já conhecidos e expriminclo desagrado face a algo de
novo. Mas no homem esta neofobia é menos acentuacla do que nos
:l cle
fatos, e não é clificit cle tútrapassar. um factor consiste nas prefe-
lmais
rências de paladar inatas que já mencionamos' Os meninos corn
Ihes
três anos poclem não gostar de alimentos novos, mas estão certa-
rde
mente clispostos a abúr tlma excepção a ttm bolo de chocolate'
lbras
Artersões irtcttas? ('Íbe FAR SIDE Mais importanÍe ainda é o facto de as pessoas viveretn numa cul-

Dfos
caltoon de Gary Larson reproduziclo tllfa qLre lhes permite beneficiar da experiência adquiricla pelas
conr permissão de Cbronicle gerações anteriores. A maioria dos animais tem cle aprencler por si se
Jma
Feutu.res,Sío Francisco, Califórnia,
determinaclo alimento é seguro, ao passo qlre LÌma criança pocle
lem toclos os direitos reservados)
Pior confiar nos seus paisa. A criança pode barafustaÍ e gÍitaf pof causa
cle um prato de espinafres ott de couve-flor, mas pelo menos não
ção
:ias tem cle se preoclrpar qlranto à possibilidacle de serem venenosos'
cle Ao fim cle algum tempo, aprenclerá a comer os alimentos que o seu
de meio cultural prefere (a t^rte de maçã cla mãe), e a evitar aqueles
Ias que repugnam ou são interclitos nessa cultura (a carne de porco
sta para os muçulmanos e jucleus).
es. As preferências alimentares têm também olrtras funções' Para
do alguns cte nós, podem ser Llma fonte de satisfação estética, serem
lm usaclas com diversos significados simbólicos' estar na base de
tm distinções sociais e âjlldar a cimentar gfupos sociais e familiares'
la. Afinal, havetâ alguém que suponha qlre existem necessidacles
metabólicas especiais, na véspera cle Natal, que reqr'teiram os
nutrientes específicos qtte o perÍt fornece? Deste modo, a selecção
de alimentos é também fortemente influenciada pelo contexto
crútural e social.

I Estas aversões alimentares aclquiriclas têm consequências no entenclimento


cla apren<Iizagem, como debateremos no capítulo seguinte'
,iAté cefto ponto, isto acontece também com os Í",tos. Os fâtinhos confiam no

hálitoclasmãesparadecicliremsedevemcomefumalimentotrovo.Quando
focinho
encontram um novo alimento, só o comerão se sentircm esse cheim no
clas

mães (Galei 1988).


118

MoTrvAÇÃo . cap.3 A Obesidade

Todos estes determinantes da ingestão de alimentos


relevantes para um problema que foi em pafte criado pela
da sociedade industrializada moderna - a obesiclade. A obesidade
por vezes, definida como um peso do corpo qLle excede o
médio, pata Lrma determinada altura, em mais de 20
Segundo este critério, cerca de 35 porcento das mrúheres e 31
cento clos homens americanos, com cerca de vinte anos, são
Segundo este mesmo critério, cerca de 25 porcento das crianças
s
adolescentes americanos são também obesos (Stern et at.,l99i).
Mesmo se adoptássemos um critéfio menos inclusivo, subsistiria q
facto de qlre um grande nírmero de indiúduos prefeririam ser mais
magros, e esse seu grande desejo tem proporcionado um mercado
fâcil paru uma grande quantidade de alimentos dietéticos. Em parte,
a razáo é a saúde (pelo menos é o que algumas vezes se diz). Mas
mais importantes são os padrões sociais da. fisica. Não há
^Ítacçá,o
ídolos do cinema corpulentos, nem deusas do sexo anafadas
(Stunkard,1975).
Hívârias razóes para as pessoas se tornarem obesas. Em alguns
casos, a causa é uma condição somática, por vezes relacionada com
factores genéticos. Em outros é apenas uma questão de comer em
excesso.

FACTORNS CORPORÁIS DA OBESIDADE

Geralmente tomamos como certa a ideia de que o peso do


corpo é uma função simples da ingestão calítica e do dispêndio de
energia.Até certo ponto é verdade, mas esta é apenas uma parte da
história. Factores constitucionais podem predispor um indiúcluo a
tornar-se obeso, mesmo que não coma mais (nem pratiqlle menos
exercício) que o seu semelhante elegante. Que factores são esses?
Uma nzã,o pode ser um aparelho digestivo proficiente, pois um
indivíduo que seja capaz de digerir uma maior quantidade do ali-
mento que ingere ganharâ necessariamente mais peso do que os
companheiros com uma digestão menos eficiente. OrÍta razáo
poderá ser um nível metabólico mais baixo; quanto menor for o
dispêndio de combustível nutritivo maior será a quantidade que fica
pan o armazeÍt mento de gordura. Ainda em outfos indiúduos,
grande parte dos nutrientes ingeridos podem ser transformados em
gordura, sobrando pouco para ser gasto como combustível meta-
bólico. Estas e outras diferenças constitucionais podem ajtdar a
explicar por que certas pessoas adquirem peso mais facilmente do
que outras (Sims, 1986; Friedman, 1990a, b).
'|i

Lrg

T.ACTORES GENÉTICOS NA OI]ESIDADE


. Cap.3
Como explicar estes factores constitucionais? Parte da resposta
são
,ncia
são os factores genéticos, e a dotação genética cle cada Llm tem Llma
grancle influência na predisposição pafa a obesidacle. As provas
le é,
provêm cle estuclos cle gémeos iclênticos criaclos separadamente, cujos
alor
pesos eram tão semelhantes como os ctos gémeos que viveram iltntos
nto.
(price e Gottesman, 1991). Além clisso, um tipo específico cle obesi-
Por que
clade grave no homem pafece ser cleviclo a um defeito nllm gene
sos. (Reed
regrúa a proclução cle leptina, qlrer nos ratos, quer no homem
rÌS e
et aL.,7996).
95).
Aclotaçãogenéticainclividtralnãopoclecallsafobesidade
iao
directamente, pois qualcluef pessoa com LÌma dieta insuficiente
nais
perderá peso. Mas os factofes genéticos podem predispor à obesidacle,
aclo
mais provavelmente pela produção cle diferenças constitucionais na
fte,
eficiência metabólica que já expllsemos. Esta possibiliclade parece
f{as
estaf cle acordo com os resultaclos de um esttldo realizado corn doze
hár
pares de gémeos idênticos do sexo masculino' Cada um destes
das dlâtia com um excesso de 1000
incliví<luos recebia ttma alimentaçáo
t.l
a calorias em relação à quanticlade necessária para rnantef o selÌ peso
,ìns a efam mantidas tão constantes
Y t2
a inicial. As actividacles cle cada sujeito
om pottco exercício' Este regime
o
ô
quanto possível, com a tealizaçáo cle
{) a
em
eí a manteve-se durante um períoclo cle cem dias. Desnecessár'io será dizer
aa
è{ tl
a
que todos os vinte e qllatro homens ganharam peso' mas a quânticlade
6
total cleste aLlmento variou substancialmente, entre qllatro e doze
qr-rilos. Também âs zonas do corpo oncle se clepositott o peso
,g a
E
z 4
fecentemente aclquirido foram diferentes. Pafa alguns, no abdómen,
0 468101214 para olrtros nas coxas e náclegas. A verificação importante foi qtte o
Altemção do peso corpoml (Kg)
do
no gémeo B peso que cteterminado inclivícluo aclquiria era idêntico ao do seu
de gémeo Q-ter Fig.3.10). O mesmo se passou qtlanto à zona do corpo
da
Fig. 3.10 Senrclbentça erttre onde se clepositou o peso em excesso. Se, num inclivícluo, efa no
ta abclómen, o mesmo se passava com o selÌ gémeo; se nolltro o ctepósito
o ítttntento de peso ent' gétn'eos
OS iclêrlticos. Os aumentos de Peso de gordura efa nas náclegas e coxas, no selÌ gémeo era iclêntico. Estas
s? ern 12 pares de gémeos ictênticos verificações são uma forte inclicação cle que as pessoas cliferem no
ap<is 100 clias de alimentação
m moclo como o maquinismo corporal lida com o excesso cle calorias e
excessiva no tllesÍÌo nível. Cada
li- que este padrão metabólico é provavelmente herclado (Boucharcl eÍ
ponto representa ttm gétleo
)s al.,r99o).
com o aumento cle Peso clo
clt> par,
.o poderá esta eficiência metabólica inclicar um factor genético?
gémeoA assinalaclo ntl eixo vertical,
o c o do gémeo B representado no Não para os pfoponentes da hipótese clo "gene frugal", que clefenclem
:a eixo horizontal. Os aumentos de qlle os nossos ancestrais beneficiaram de um metabolismo eficiente
t, peso estão inclicaclos em qttilogramas em épocas em que os períodos cle abundância eram ocasionais e os de
(1 Kg = 2.21bs). Quanto maior for et at., 1995; Gtoop e Tuomi, 1997;
n carência frequentes (Fujimoto
a proximiclade clos Pontos em
Ì- Ravtrssin, 1994; Ra'r,'ussin et al., 1997)' Em tais circunstâncias' uma
rclação à linha diagoltrl, mltior
a
a semelhança do attmento cle
tenclência para atmazenar tanta gorclura qlÌanto possível pocleria
) peso entre os gémeos. (Segundo promover a sobrevivência cla mesma forma que , para um urso' é íttil
Bouclrard et al.,l99O) atmazen r excesso de gorclura, como preparaçáo pata o longo jejum
t20

MoTWÂÇÃo . Cap.3
do Inverno. Mas a mesma tendência não
nos serve hoie em
principalmente àqueles cle enre nós
que peftencemos às
opulentas onde obter comida _ e comida
com gorduras eleva{ng
significa apenas Llma ida ao supefmefcado.

FÀCTORËS COMPORTAMENTAIS

Em algumas pessoas, a obesidade é cla:


uma condição
constitucional. Mas, em muitas optras,
,.r" ,o-"tte
c omporramento : comem
em exce s so. E " o..n.,.t#:1;:ïï'ï. il
uma fesposta única, pois
JrD u
o çxccsso
excesso cfonlco
cfónico de
:
d comida não tem uma
mas muitas causas,

A bipótese da externalidade. Hâ alguns anos, um grupo


investigadores subscreveu a bipótese de
da etcternarid,de que
defendia que as pessoas obesas não reagem comparativamente ao
seu
próprio estado interno de fome, mas são
muito mais influenciadas por
sinais reracionados com a comida pfovenientes
do exterior lscrracrrter
e Rodin, 1974). Segunmente que somos
regularmente tentados pela
aparência e pelo cheiro da comida oLr por
indicadores
comida (schachter, 1971). se alguém fosse ^sro.i"oàsì
particularmente sensível a
a estes indicadofes extefnos e similarmente
Obesos insensível ao facto o. qü
gÉ nesse momento, o seLÌ corpo não precisava
cle calorias, poderia bem
o
E 160 comer em excesso e acabat por tofnar_se
E obeso.
o Efectivamente numerosos estudos demonstraram
I
que partici-
€do t20
Baixo peso pantes obesos são bastante sensíveis
o a sinais extefnos e, em pafticulaf,
õ0 às propriedades sensoriais da comida.
Eo euando se lhes oferece um
80 gelado de baunilha de boa qualiclade,
É
\0
comem maior quantidade clo que
É os sujeitos normais. Mas, se o gelado de
o baunilha tiver sido adulterào
rc com o sabor amargo de quinino, comerão
B uma quantidade menor do
que os normais (Nisbett,1968;uer Fig.3.11).
De acordo com a hipótese
o 0 da externalidade, os participantes obesos,
embora comam mais, são
Desagradável Ágndável também mais selectivos quanto ao qlre
paladar do gelado
comem.
Mas estudos mais recentes Ievantaram
dúvidas sobre a hipótese
da externalidade. Em primeiro lugar, a prova
de uma maior sensi-
Fig.3.f t A atimentação, o pcrlíular e bilidade a estímulos externos, por parte
a obesidade. Na experiência, deu_se
dos obesos, revela_se
bastante inconsistente. E na medida em que
oportunidade de comer gelaclo esta hipersensibilidade
exista de facto,a sua explicação pode
a sujeitos obesos e a sujeitos com ser muito diferente da que foi
dada no início; ela pode ser mais um
peso inferior ao normal. Se o gelado efeito da obesidade do que a
tinha um paladar agradável, os sujeitos sua causa (Nisbett, 1972; Rodin, 19g0, l9g1).
Na nossa socieàade,
obesos comiam maior quantidade pessoas com excesso de peso tentam
voluntariamente restringir a
do que os sì-tjeitos com baixo peso. sua alimentação. Como a obesidade cria dificuldaclessociais, as
O oposto acontecia quanclo pessoas tomam resoluções, cumprem
dietas, compram alimentos
o paladx clo gelado era desagradável. com baixo teor de calorias e fazem todo
(Segundo Nisbett, 1968) o possível por refrear o seu
desejo intenso .e comer. Mas este refreio
é dificil de manter, pois
t2L

.nì qllalquef estímlúo exterior cle comer ç^f^ a clecisão cle fazet
dia. . Catp.3 ^me
:ulhrras dieta (Herman e Polivy, 1980).
yaclas Estas icleias levam a Lrma pefspectiva difefente sobre a "selecti-
.
viclade,'mllitas.vezes observada nos obesos.A sua resolução de não
comer é fâcil de manter, quando a comi<la não é tentadota' Mas, se
forem expostos a comiclas saborosas' tornam-se presas de uma
tentação mnito forte - talvez a mesma tentação forte qtte os tofnou
obesos.Assim, aquilo qlre pafece ser selectiviclade pocle, na verctade,
ncliçiq r.eflectir o moclo como os pafticipantes lidam com a tentação e não
coln uma sensibilidade excessiva aos inclicaclores externos'
O
existe
A ltipótese tío ponto fixr:. O que torna algurnas pessoas obesas
rì ì.ÌÍì14
enquanto olrtras permanecem magras, independentemente daquilo
que comem? Uma hipótese é que as pessoas cliferem qlranto aos setls
ro de pontos fixos clo peso. Estes pontos podem reflectir cliferenças na
I que constituição, qlle, por sLla vez, poclem ser em parte, determinaclas
.o seu geneticamenÍe (uer também Foch e McClearn, 1980)'
is por Apossibilicladeclelravertrmaprrdisposiçãoparartmcleter'
que
chter minaclo peso é sugericla pela observação de qlÌe pessoas obesas
pela cumprem dietas rigorosas voltam rapidamente ao sell peso anterior'
Jos à imecliatamente após tefem tefminado a clieta. Além disso, tâis pessoas
vel a em dieta não petclem tanto peso como seria de esperar, tendo em
que, collta a redução cla ingestão calórica. A. tazío resicle em algo que já
bem mencionámos:ocorpocompensaaperdacalóricacomLlmaredução
da taxa metabólica basal. A sittlação é ainda pior com o "iô-iô" das
rtici- dietas, enì lllre osinclivicluos repetidamente clrmprem dietas'
ular, interrompem as clietas, fecupefam o peso inicial e fecomeçam a dieta
nm (Cadson, 1991). Embora as provas sejam contraditórias, para estes
qÌle inclivícluos, pode haver uma redução metabólica adicional, com cada
'aclo dieta sucessiva, tal que leva cada vez mais tempo a alcançat o peso
'do desejável (Brownell et a1.,1986).
:ese

são
O TRÀTAMENTO DA OBESIDADE

3Se

Que pocle fazerse para aiudar as pessoas com


rsi-
excesso de
-se peso? As diversas tentativas para Íratar a obesidade abtangern a
cle psicanálise, várias formas de terapia comportamental (técnicas cle
loi modificação do comportamento individual através clo uso
'a sistemático de certos princípios da aprendizagem; uer Caps' 4 e
ie, 19), e gmpos de auto-ajucla (como o W'eight Watcbers Interna-
a tionaD,Debate-sebastanteatéquepontoqualqLrefclestesmétoclos
que os
ls concluz a mudanças a longo prazo, embotahaia indícios de
)s grupos de auto-aiuda obtêm bons restútados, sobretuclo em casos
u obesidade ligeira (Booth, 1980;Stuart e Mitchell, 1980;Stunkard'
cle
s 1980:ìíilson, 1980).
I I22

MOTTVAÇÃO . Cap.3
As revisões sugelrm que "clÌlÌÌprir uma dieta" é o métoclo rxo*
comum cle controlo clo peso. Nos Estaclos Uniclos cla Arnérica, equi
em dieta é quase a norma, pois, em qualquer altura, cerca de 40 psi
cento clas mlllheres e 25 por cento dos homens referem qì.le estão
a
tentar perder peso (Ncttionctl Institutes oJt Health, 1995). Outros
aumentam a qrÌantidacle méclia cle exercício fisico, luna opção pre.
Íbrível pois promove maior perda de gor.dura, reequilibr.a o peso cor.
poral e tem efeitos positivos na saílcle e na expectativa de vida (Bhiq
r99r.
Em casos extremos, os médicos podem recorrer a medidas mais
drásticas, afirmando que ter excesso de peso constitui um perigo pafa
a saílde que tem de ser trataclo medicinalmente, se as intervenções
psicoterapêuticas oll comportamentais não ftlncionarem. Certamellç
que a obesidade excessiva causa normalmente a morte precoce e,para
casos extremos, os méclicos recorrem a procedimentos cirútrgicos,
como gfampeaf o estômago (para limitar a sua capacidade) on cortar
rüna porção do intestino delgaclo (para reduzir a absorção calórica cla
comida). Com uma frequência muito maior, os médicos prescrevem
medicações sLrpressol?s de apetite que poclem prodrÌzir perclas d6
peso intensas, mas toclas têm efeitos secundáfios que, em cifcì.tns-
tâncias mms, chegam a ser mortais.Além clisso, essas drogas mosttam
até que ponto o nosso col'po preserva um ponto fixo para o peso, pois
?5
as meclicações só são eficazes enqÌÌanto são tomadas; qllando se
20
q^ suspendem, sucede-se um apetite voÍaz e a recuperação rápida clo
.y d ti Homens peso perdido.
x^
Pondo cle lado os casos extremos cle obesidacle, a relação entre o
Ê ãro
excesso de peso e a esperança de vida é ainda LÌln assÌl11to em clebate
çF s (Fitzgemld, 1987;uer Fig.3.l2), Uma dificuldacle na intelpretação das
Èv
0 provas é a cle que a obesidade está associada com a inactiviclacle que
-10 0 l0 20 30 40 50
Percentagem de variação do peso
é ela mesma Ìlm Íactor de risco para a saírcle. De facto, um estuclo
em relação à medida segnin cercâ de 25 OOO homens e 7 000 mulheres clurante oito anos e
(defcito ou excesso)
verificou que os homens obesos, fisicamente bern constituíclos, tinham
taxas de mortalidade mais baixas clo que os homens com peso normal
Fig.3.tZ Rela.ção e,rttc obesiddde e mas sedentários. Um resultado similar (embora menol) foi encontraclo
tnorletlicktde. A figura indica a taxa
pam as mtrlheres (Kampert et a|.,1996).
cle mortalicl:rcle mlma amostfa de
5209 inclivícluos homens e muflreres
Alguns autores afirmam, pois, que a obesidade é mais nm
eÍÌtre os 45 e os 74 anos de idade, problema social e estético do que um problema de saírcle fisica. Isto
em Massaclrusetts, entre 1948 e 1L)64. aplica-se sobretuclo às mulheres, que tendem, mlrito mais do que os
A percentagem (Íe excesso de peso é hornens, a ver-se cofiì excesso de peso (Gtay, 1977; Fallon e Rozin,
calculacla por refer'ência aos pesos 1985). Visto cleste modo, ser magro é apenas um ideal social e
médios para cletcrminacÍa altura. defendido apenas por algumas sociedacte. Outras culturas têm padrões
A figtrra mostftr que o excesso de
totalmente cliferentes. As mr.rlheres pintaclas por Rubens, Matisse e
peso não aulnelìta o risco (Íe
mortalidacle global, pelo menos
Renoir eram consideradas belas pelos seus contemporâneos, qne
rÌo que respeitáÌ àrs percentagens cle
achariam os supermodelos cle hoje excessivamente magros e pouco
excesso cÍe peso inÍbriores a 50%. at1?entes. Também uma mulher moderna qlle se aproximasse do icleal
(Segunclo Ancltes, 1980) cle Rubens seria simplesmente consideracla obesa.
123

Eviclentemente qÌle as forças que mantêm o peso clo corpo ideal


clo rnais ' caP.3
goÍIvÀÇÃo cla socieclade - incluindo as incessantes imagens dos media que
la, estat
reforçam a icleia cle que o colpo ideal é ì'lm corpo magro - são Íbrças
4o p61
que têm um poclef enofme. Isto torna rnuito clificil que incliúdtlos
estão 4
com excesso cle peso aceitem o sell colpo tal como é. Podem
Ontros
reconhecer qlle não existe qlÌalquer ftlndamento para o ideal de peso
ão pre.
do corpo <la sociedacle e qlle não existe qualquer lei (olt razTào médica)
:So COf-
qÌle justifique qlre cacla hdivícluo alcance esse ideal. Mas este
r (Blaiq
conhecimento é frâgil face a um mlrndo cheio cle pressões sociais.
As imagens cle Holll'wood e os anírncios cle moda celebfam um nível
rs mais
cle magreza que, para a maioria de nós, não é natuml e ptovavelmente
lo pafa
potrco satrclável (para maior aproftìnclamento, uer Smith,1996>'
:nções
mente
e, Para
A Anorexia Nervosa
gic<ts,
cortaf
Em alguns casos, o clesejo cle ser magro é tão excessivo que se
ica cla
tofna um distírrbio alimentaf cujo clano pam a saílcle é bastante mais
:evem
grave clo qlre o excesso de peso. Uma clestas condições é a anorexia
as de
nert)osít., que atinge 1 pofcento dos jovens nas sociedacles in(lus-
cuns-
trializadas. A slra cafacterística definiclofâ é Lrma "incessante pfocufa
stmnl
rJa magrezapela fome até à morte" (Bruch, 1973,p.4).Cerca cle 9O por
pois
,
cento dos anoféxicos são mrúhefes. Normalmente o distírrbio tem
1o se
início nas iclacles intermédias c1a adolescência e é mais comLlm nas
La do
sociedades em qlÌe a comida é abundante, mas a magre z é o ideal da
atracção (Associação Americatta de Psiquiatria ,1994)'
tre o
Os anoréxicos estão intensa e persistentemente preocupados
:bate
corn o meclo de se tornarem gordos. comem apenas alimentos hipoca-
r das
lóricos, quanclo comem. AIém clisso, podem incluzir vómitos para
que
purgar o qlÌe quer que seja qlle tenham ingerido e podem usar
:ndo
laxantes pafa alrmentaÍ a petda cle peso. com frequência, pfaticam
ose
também exercícios fisicos extenllantes, pof vezes, dufante mnitas
lam
horas por clia. Este regime leva evidentemente a uma perda de peso
mal
extfema, que chega a atingit níveis 50 pofcento inferiores ao icleal
ad<r Mdgrez.t é beleza? A organização estatístico. outros sintomas incluem a cessação da menstruação,
B(rycott Anorexic Marketit'tg é tm
hiperactividade, perturbações do sono e evitamento clo sexo'
um gnrpo cle mulhercs clue defendem
Para 4O porcento dos anoréxicos' o tratamento - que pode variar
sto rlue o endettsamento clos moclelos
excessivamente magros na entfe o tratamento em ambulatório até ao intefnamento comptúsivo e
os
publicidade tende a encontjar alimentação intravenosa - ê rcalizado com slrcesso. Infelizmente, em
in,
o clesenvolvimento cle perturbações uma grancle percentagem a doença é crónica De Lrma forma mais
e
alimentares nas iovens adolescentes. trâgica,emtalvez 10 por cento dos casos,o resultado final da privação
res
Para chamar a atenção Para esta
auto-imposta é a morte (Andreaseu eBIack,lgg6)'
e relação, acrescentam comentários supõem que
Quais as caLISas da anorexia nervosa? Muitos autores
_te naqneles quc sttPõem mais na cornida e em não
as principais caLlsas são psicológicas e centram-se
lo significativos. (Kate Moss ntlm
comer, devido à nossa obsessão moderna com a magreza (Logue'
al anírncio para Calvin Klein; fotografia
gentileza cle Jane Carter, 1994) 1986). Em alguns pacientes, a principal causa pode set o meclo cla
r24

1 I

C
A B

Alteração dí.ts cotrcepções qLtanto


sexualiclade. Em olrtros, o conflito principal envolve rìma rebelião
à rektçiio entre o peso cctrpo|ttl
e u. beleza. lJma clas causas cle
contrâ os pais e um clesejo intenso cle autonomia e de controlo. Nas
pefiufbações alimentares nas palavras cle Lrm paciente:"Quando tlma pessoa se sente muito iufeliz e
mulhetes oci(lentais é a crença sem saber como realizar seja o qì"le for, ter o controlo clo setÌ próprio
de qne scr-se tnagro é belo. corpo torna-se uma façanha suprelna. Fazer do sell corpo o seu
Depelrcle. (A),4 Vétws de Wlendotf, próprio reino oncle é o tirano, o ditaclor absoluto" (Bruch, 1978' p. 61).
uma estatuet?Ì pré-histórica
OrÌt1os autolts sl.lpõem que o prìncipal problemâ é orgânico e
clescoberta perto de willendorf na
implica algumas das vias reguladores do hipotálamo. O facto de os
Áustria, esculpida há cerca cle
anoréxicos tenderem a apresentar níveis anomahnente baixos cle
30 000 anos.Alguns arqtteólogos
pensam que se tratiì cle ttmzr clensa hormonas sexllais e cle cfescimento, bem como níveis anormais de
cla feltilidacle; oÌttros, qÌìe representa alguns nelrrotransmissofes, apoialn estâ perspectiva. Até agora, não
o icleal erótico feminino cla iclacle sabemos ainda se os clesequilíbrios hormonais são o efeito oLl a causa dos
clo gekr. (Pol gentileza de problemas psicológicos e da arÌtoprivação (Garfinkel e Garner, 1982).
N tt fit rltistorisltes Museut?t,Viefia). Mas um inclicaclor de que os pl'oblemas hormonais podem ser básicos é
(Ì)) As Três Grzças, pir-rtado pelo
o facto de cerca cle Lrm quiuto clas mlúheres anoléxicas cessarem a
mestre flamengo Peter Patú IÌnbeus
menstruação antes de perderem peso (Anclreasen e Black, 1996).
em 1639. (Por gentileza do fuIuseo
del Ptulo) (C) Noami CamPbell, Quer se venha a provar qlÌe a causa c1a anorexia nervosa ê orgãnica,
uma snpermoclelo dos anos 90. qlrer que a carÌsa é psicológica, parece provável a eístência cle uma
(Fotografìa O M. Carraro / Gamma preclisposição genética. Entre aproxim:Ìclamente 6 a 1O por cento dos
Liason) familiares do sexo feminino de anoréxicos sofrem também cla mesma
cloença.À mesma percentagem também se aplica aos descendentes cle
inclMcluos anoréxicos. Pam gémeos iclênticos, se tlm dos gémeos sofre cle
anorexia nervosa, o olttro tem mais de 5O por cento de probabiliclacle
de também ser anoréxico (Andteasen e Black, 1996).

Bulimia Nervosa

Outro distírrbio alimenÍar é a bulimia neruos& qlre se

caracteÍiza por repetidos acessos de alimentação excessiva, seguidos


125

;l I
. Cap.3
de tentativas cle purgar as calorias ingeridas, pela inclução clo vómito
ou pelo uso cle laxantes. Ao contrário clos anoréxicos, os btúímicos
têm um pe so aproximaclamente notmal, tnas softem física e emocio-
nalmente dos seus fepeti(los acessos e pllfgas. Os acessos repetidos
podem pfovocaf petur.bações do eqr,rilíbrio electrolítico qtle, em
írltima instância, poclerão originar doenças cardíacas e fenais, bem
como infecções urinárias. A auto-indução clo vómito causa, frequen-
temente, a erosão das unhas e do esmalte dos dentes. A maior parte
dos incliúdr,ros com brúimia sofrem também de depressão gfave, e as
medicações antidepfessivas, como o Ptozac, são normalmente bem
sucediclas, não apenas no alívio cla clepressão, mas também no trata-
mento clo comportamento cla btúimia-purga (Grupo de Estuclo cola-
borativo Fluoxetina Bulimia Nervosa, t992).
A btúimia é bastante frequente em estlrdantes Llniversitáfios; uma
revisão apurou-a em 19 por cento das mulheres e 5 por cento dos
homens. O ciclo cle acesso-purga é uma expressão perfeita das nossas
belião âtitucles contraditórias face à comida e ao comer' Por nm laclo, os
o. Nas anírncios comerciais estimulam-nos constantemente a consutnit
feliz e alimentoslripercalóricos'quesãofacilmenteacessíveisesão
'óprio formuladosqtrimicamentepaf?-apalatabiliclade;poroutrolado,
I seu lembram-nos constantelnente de q!le, para sermos sexualmente
>.6t). atraentes, clevemos ser mâgros (Logue, 1986)'
ico e Em conjunto, as perturbações da alirnentação mostram que'
Íe os apesar clo apertado ajllstamento homeostático, que regula a ingestão
rs de de alimentos, a nossa espécie é muito sllsceptível a factofes sociais
is de e psicológicos lllre, em alguns casos, levam a qlre estes mecattismos
não falhem, causanclo graves danos para o corpo e eventualmente a
a dos mofte.
)82).
:os é
tma
AAMEAÇA
úca,
Até agora, concentr'ámo-nos nos motivos baseaclos, em grancle
Jma
parte, em controlos homeostáticos internos' Uma alteração do meio
dos
internoimpeleaacçáoclootganismo,colnoobjectivoderestabelecer
tma
o seu equilíbrio interno. Mas, como vimos, mesmo os chamaclos
de
motivos internamente regtúados não têm uma regulação apenas
:de que uão
interna. Uma comida saborosa pocle levar-nos a come! mesmo
rde
tenhamosfome;aantecipaçãoclofrioclesencacleiaaconstr.uçãodo
ninlro, mesmo qlre o organismo ainda nío tenha frio'
Outros motivos clão ainda mais um passo, pois os seus
desencadeaclores são principalmente externos (embora' como
veremos, os factores internos sejam também importantes)' Um
motivo
deste tipo é a reacçâo a uma ameaç a gr^ve' Neste caso, a instigação
é
SE
em grancle pafte externa, como quando o corpo se prepara para ftigir'
)s
retaliar ou negociar'.
r26

A Ameaça e o Sistema Nervoso Autónomo


MOTIVAÇÃo . cap.3

Quais são os mecanismos biológicos qlÌe estão na base clas nossn5


reacções à, ameaça? Já expusemos o facto de o sistemâ oerv65s
aLrtónomo estar dividido em dois ramos: o simpático e o parassirn
pático (p. 101). Segunclo o fisiologista nofie-americanoValter B. Cannoq
(187I-1945>, estas dlras divisões exercem duas funções gerais muit.
diferentes. O sistema parassimpático controlâ as funções uegetatiuas
davicla normal: â conservação dos reclÌrsos corporais, a reprodução e
a eliminação do que já não serve. Estas são de facto as operações de
Lrm organismo nos períodos de tranquilidade - ritmo cardíaco baixo,
movimentos peristálticos do estômago e dos intestinos, secreção das
glânclulas cligestivas.Ao contário, o sistema simpático tem Llma ftinção
activadora. Mobiliza os rectlrsos do corpo e prepara o organismo para
uma acção intensa (Cannon,1929).
Esta oposição entre as cluas clivisões atttonómicas é observada ery1
muitas activiclades colporais. Por exemplo, a excitação parassimpática
lentifica a frequência c rdiac e rednz a pressão sanguínea. A excita-
ção simpática, como já dissemos, tem o efeito oposto e também inibe
Wa.lter B. Ca.nnon. (Por gentileza cla a cligestão e a actividade sexllal. Além disso, estimtúa a porção interior
Ncttionítl Librdry of Medicine) central cla glânclula slrpra-renal, a nted'ula' atdrenal,I segregar adrena-
lina ou noradrenalina na corrente sanguínea. Estas têm efeitos que são
essencialmente similares aos da estimulação simpática - aceleiam a fre-
quência cardíaca, alÌmentam o metabolismo, e assim por diante. Em conse-
Fig. 3.13 Os t'a.rnos sirttplitico e qlrência, os efeitos simpáticos são ainda mais ampliados (uer Fig.3.13).
parasshnpático d.o sistent'a neruoso
autónotno. O sistema parassimpático Cérebro SISTEMÂ PÁRÂSSIMPÁÏCO
facilita as ftlnções vegetativâs do c espinal Olh<r
mechúa contracção da pupila
organisrno; cleszrcelera a freqttência Glânclulas
Secreção das glândulas lacrimais
cardiaca e a respimção, estimula as salivaÍes
ftinções digestivas, permite a
) salivação

actividade sexual, etc.. Ao contrário,


o sistema simpático desencadeia
! ;t Pulnìa)es
Inibição da frequênciâ cardíaca
consrição das viff respiÍatórias
Contracção do estômago; secreção tle
as reacções necessárias :r colocar
Coração sucos digestiYos
o organismo num estado de
emergêucia: acelera a fiequência Peristâltismo intestinal
cardiacr e rcspiratória, liberta Estômago
Contmcção da bexiga
combustíveis nutrientes Partl + Baço Erecção
o esforço muscular, e inibe as Cadeia Pâncreas
funções digestiva e sexttal. dos
Fígatlo
De notal clue as fìbras clo sistema
sirnpático estão interligadas através cólon
cle uma cadeia cle fibras ganglionares
no exterior da medula esPíral.
Glândrúas
Em <onseclttêtrcia, ír irctivação
snprzrcnais
simpática tem ìrm car'írcter Llm tanto
difnso; qualqtter excitação simpática
tende a afectaf toclas as vísceras em ,r Bexigâ

vez cle apenas algttmas. Isto acontece


em contrìste com o sistema óryãos
parìssimpático cuja acção é mais Parassimpático sexua$
específica. (Segunclo Cannon, 1929) - SinÌpático
-
t27

A REACÇÃO DE EMERGÊNCIÀ
. Cap.3

cannon sublinlÌoll qlÌe a activação simpática intensa ftinciona


como uma reacção de emergêucia que mobiliza o organismo em
las nos5q
nerVOSO
momentos de crise - para,,ftlgir ou para lutaf" como a desctevett.
pafassiÍn.
Vejamos o caso de ttma zebtr- a pastar, mantendo tmnquilamente a
,.au*on
homeostase, morcliscando efva e nLrm estado cle vasodilatação ao
us muito
qlrente sol africano. De fepente, vê um leão aproximar-se p fa a caçaf'
lete.tiuas
rclução Neste momento, as ftinções vegetativas passam para segundo lLlgal"
rções de
s
pois, se L zebra não fugir, não lhe tesÍatâ meio interno para reglllar'
o baiXo, A fuga reqlrererá esforços musculares vigorosos, com o apoio cle
:ção dag todos os mecanismos do corpo, e é este apoio qlle a activaçâo
r ftlnção sirnpática intensa fornece. Devido a esta acÍ|vaçáo, uma maior
no pal? qLlantidade de combustível nutriente está disponível pam os mírsculos,
o qlral pode ser distribuíclo com rapiclez,^Úavês dos vasos sanguíneos
ada ern clilatados.Aomesmotempo,osprodlltosresiduaissãoremovidos
npática também com maior ]í?!pi(lez e todas as actividacles ofgânicas não
excita_ essenciais são reduziclas. Se a zebra não escapat não será
pofque o sell
n inibe sistema simpático não se esforçotl.
nterior Cannon apresentou provas consideráveis que indicam qlle
rdrena- ocorre Llma feacção atltonómica semelhante, qttando o paclrão é de
ataque em vez de ser de fliga. Um gato prestes a llrtar com um
tue são cão
r a fre- (os pêlos
apresenta um ritmo carclíaco acelerado, erecção dos pêlos
conse-
mantêm-se levantados - habitualmente Llma estfatégia de conservação
3.13).
de calor), e dilatação das pupilas - tudo sinais de activação simpática
difusa, sinais de que o colpo se prepara para Lrm esforço musculaL
violento (FiS.3.l4).
MasaformulaçãodeCannondaluta-ott-ftlgaéexcessivamente
o paclrão completo das provas, dado que
ts
os
simples para explicar
organismos responclem à ameaça de formas muito difefentes. os fatos,
por exemplo, tentam ftigir, quando ameaçados, mas atacam cluando'
:ão de por fim, são encurralados.Alguns animais permanecem perfeitâmente
imóveis de moclo a torflar menos provável serem notados pelos
precladores. Olrtros animais possLlem formas de autopl'oteção mais
exóticas: algumas espécies de peixe empalidecem, quando são
ameaçadas, o que torna a sua detecção dificil no flindo
arenoso clo
maf. Este efeito é produzido pela acção directa da adrenalina da

glândula supra-renal sobre os diversos pigmentos c1a pele do anínal


(Odiorne,1957).
Efectivamente,étatoquedeencontrosentreanimaisresultem
imediatamente llÌtas ou ftigas cle ambos os participantes' Em seu lugar'
ocoffenormalmenteumperíododeaumentodavigilância'duranteo
Fig.3.l4 A reacção de emetgência qual cada animal sente os sinais comportamentais daclos pelo outro'
rnecli^da pelo sistetna sirnpá'tico. quer paralisia'
Estes sinais, quer sejam empaliclecimento, piloerecção'
A rcacção itterÍotizaLl^ de um gato a
vocalizações ou expressões faciais servem como indicadores
do
um encontlo ameaçador. @otogmfia
(uer Cap' 10)' Isto dá lugar a um tipo
cle Walter Chanclolha) estatlrto e iutenções clo emissor
{

r2a

clljo restútado final podeú ser lLrta olr ftiga' firas lnmbé\
cle negociação,
MoTrvAÇÃo . cap.3 poderá ser jogo olr acasalamento (Smith, 1977;Hinde, 1985). Mas, eh lloTlvAÇ
toclos estes casos o paclrão cle reacções clo sistema nervoso é o mesrnq.
o reslútaclo pocle ser diferente,mas em toclos os casos a plontidão paq
a resposta imediata é activada.
Que se passa com o homem? Quando somos alneaçados, tamb6q
temos uma resposta alÌtonómica: temos uma respiração ofegante, os
corações batem com força, as palmas das mãos transpiram e algÌlÍnas
Fig.3.l5 A detecção de trcrrtiríts
vezes trememos - tudo actividacles simpáticas' Não surpreende que
atfe.wés rJo ttso de meclidcts
tais fespostas alrtonómicas possalÌì sef utilizadas como indicaclores dg
autonónticas. (A) Alguns lparelhos
medem a activação auton<imica - um
tubo em volta clo tórax tnecle o ritmo
estados emocionais. A respostt galuâ'nica' da pele (GSR) é urxa
meclicla especiâlfiìente utilizada. Uma descida breve cla resistência
ffi
respiratório, eléctrodos ligaclos à mão eléctrica da pele, em especial na palma da mão, calrsada em grande
meclem. a GSR, e ttma pttlseira mecle a parte pela activiclacle das glânclulas sucloríparas, é um indicadot
pressào satrguinca e I pttlsaçào.
sensível cle activação geral. Tronc(
(Fotografia por MarY Shufot'cl)
A GSR e outros indicadores cle activiclade alrtonómica fa7'em
(B) Um registo cla fespimção, cla GSR,
parte de Lrm conjllnto cle mecliclas do polígrafo' tlma máquina por Fig.3.
e Ììma medicla cla pressão sanguínea
e cla púsação. C) registo fefere-se a vezes chamada "detector cle mentiras". Este nome é enganaclor porqÌle, do cét

uma empregacla de um na verdade, nenhuma máqtlina pode detectar mentiras. Em vez disso, esque
estâbelecimento comercial que havia o que o polígrafo faz é detect^t a activaçío aÌrtonómica, qtlanclo o (t tzr
roubaclo mertadorias. A qucstão examinanclo é colocaclo perante certas questões ott frases-chave. 1c1t6.

consistia em deterlnilìar o montante As respostas a tais pergltntas críticas (pof exemplo,"Você ferir'r alguém
cloroubo. As diferelìtes Partes
com uma faca no ...?") são comparadas com as respostas a itens de
concolclatatn em orientar-se pelos
fesultaclos de unl teste de cletecçã<r
controlo - qllestões capãzes cle procluzir tlma reacção emocional, mâs
de mentiras. Interr()gou-se o sujeito qlìe são irrelevantes para o problema presente (por exernplo,"Alguma
acerca clo tnontante clo t'<lubo, tais vez mentiu a alguém antes dos clezanove anos?").
como "Você roubou mais de 1000?" A hipótese ftindamental em que se baseia a técnica cla cletecção
e "Você ronbott mais cle 2OOO?". de mentims é a cle que as pessoas inocentes sefão mais afectadas pelas
O rcgisto mostt? ttm 1li<'o mais questões de controlo clo que pelas questões críticas e, por isso,
elevacto iustamente clepois cle 3000
fevelafão maiof activiclacle alltonómica face às primeiras do que às
e antes de 4000. Mais târcle o sujeito
segundas qllestões (Fig. 3.15). Mas este princípio é, presentemente,
confessou qÌìe o molìtâlìte feal era
4000. (Segundo Inbau e Reicl, 1953) alvo de importante controvérsia (Lykken, 1979' l98l). Resumicla-

A
F

[l Respimção
e
(

GSR
Pressão
sanguírea/prúso

$ 1,000 $2,000 $3,000 $s,000 $7,s00 $10,000


"Roubon mais cle ?"

-
t29

béfn
mente, embora os operaclores poligráficos possam identificar
MoTIVAÇÃO
' caP' 3
indivícluos com culpa' alglrmas pessoas - principalmente as
, ern patecem tet
iÍno: chamadas personalid'ít'des anti-sociais oLr psicoplitcts -
(Waicl e Orne
uma queda especial para iludir os testes poligráficos '
Parq poLrco contriblli para
Cérebro 1982; uer Cap' 18). Além disso, o polígrafo
ficar
)érrr
livrar indivíduos inocentes. Se, por exemplo, a pessoa inocente
ou se ficar parti-
particlllarmente ansiosa com as qtlestões-chave'
,OS
c.rlarmente pertllfbada com os acontecimentos em prova'
isso
nas
surgirá, no teste poligráfico, como Llma activação' e este
padrão é
lue da ofensa
cle
inclistinguível da reacção de um indivícluo que é culpado
em questão (Saxe, Dougherty e Cross, 1985)' Este tipo de demons-
rna
carácter ético levaram o Con-
cia ,r"çõ., e também considerações de
gresso americano, em 1988' a aptova;r legislação que restringill
Lde
consideravelmente o uso dos testes de detector de mentiras
nos
lor Cerebelo

Tronco cercbml
tribunais, no governo e na indústria'
)m
of
Fig.3.16 O siste,,zít límbico Controlos Centrais
le,
rlo cérebro burnlno. Cofte
o, esqucmático do sistema línbico
o (l azul). (Segunclo Keeton e Goulcl, Ãté agota,temo-nos centraclo no sistema nefvoso autónomo'
Mas cliversas
e. 19u6) em ambos os sells ramos simpático e parassimpático'
do organismo
m áreas do cérebro são também cfuciais paf?- a feacção
ameaça. Estas áreas estão concentradas no chamado córtex antigo
le à
do cérebro, as porções sob o neocórtex, por vezes chamadas
em
ts

a conjunto sistetna límbico (Fig. 3'16 e Fig' 3'17)' A estimtúação


um gato
eléctrica cle certas partes do sistema límbico transforma
qlre fonfona nlrma figlrfa ateffadofa do Hallowee'?' A estimtúação
)
s da mesma regiáo nos sefes humanos produz muitas vezes
nlrm doente
sentimentos de grande ansiedade oll de cólera' como
sentiu vontacle de partir coisas e de
qlle disse que, de repente,

Córtex límbico
Fig. 3.17 O sístena' líttzbico
e es t|' uturas relacio tt adas
O cérebro está aqui rePresentaclo Iobo frontal Tíúamo
como se os hemisférios cerebrais
HipocâlìÌpo
fossem transparentes. Uma das
estrutLì1iìs Partictllarmente Formaçã<r
inÌpoftante para as rcacções Lobo olfactivo reticular
emocionais ê a amigdala,tma
estfutura clo tamanho de uma b. Medula espinâl
noz que tem sido ligada ao
Anígclala
conpoftâmento agressivo
e às reacções de medo. (Segundo Hipotálatno
Bloom, LazelsolÌ e Hofstadter, 1988)
130

esbofetear a cara do experimentador (Magnus e Lammers, 1


MOTTVAçÃO . Cap.3
King, 1961;Blynn et al.,t97o).
Distintas áreas cerebrais parecem também iniciar tipos
ataque diferentes. Nos gatos, a estimulação hipotalâmica p
ataque predatório: aproximação lenta e silenciosa seguida de
salto rápido e terrível sobre a presa. A estimulação de uma
região prodrzirâ o padrão de Halloueen'. tm contra-ataque
autodefesa (provavelmente relacionado com o que nos
humanos se chama cólera). Quando este padrão de raiva é activaqq
o gato ignora um rato perto de si e salta malvadamente sobte
experimentador, por quem se sente provavelmente atacado
e Flynn, 1963; Clemente e Chase, 1'97r. O ataque predatório 6
completamente diferente. O leão que salta sobre a zebta nío
trlvez entaivecido, mas tão só ocupado na tarefa trivial
conseguir alimentos. (Se a zebru fica consolada com o facto de q

leão não estar enraivecido,iâ é outra questão.)

Efeitos Disruptivos da Activação Autonómica

A análise precedente centrou-se no valor biológico do


sistema de emergência. Mas uma forte activaçío autonómica pode
também ser desastrosa e prejudicial pan o organismo' Este
aspecto negativo é especialmente claro nos seres humanos' No
nosso dia-a-dia, é rato depararem-se-nos situações de emergência
que requeiram um esforço fisico violento. Mas nem por isso a
nossa natlrrezabiolígicz- mudou, pelo facto de não existirem, no
mundo civilizado de hoje, tigres com dentes aguçados'
Continuamos a ter o mesmo sistema de emergência, de que
dispunham os primitivos antepassados, e as suas consequências
fisicas podem ser graves.
O efeito disruptivo do medo e da cólera na digestão ou no
comportamento sexual é uma qLlestão do conhecimento comum'
Em períodos de forte ansiedade, surgem frequentemente queixas
de diarreia ou de obstipaçáo e de outras doenças digestivas e de
dificuldades em manter o interesse sexual. Isso não ê de admirat,
já que as funções digestivas e muitos aspectos da nossa
sexualidade (por exemplo, a erecção no homem e a lubrificação
da vagina na mulher) são, em grande parte, controlados pelo
sistema parassimpático e, por conseguinte, inibidos por uma
activaçío simpática intensa.Além disso, os pós-efeitos da ameaça
podem ser mais nocivos, provocando perturbações como dores de
estômago ou cefaleias. Nos casos mais extremos' os efeitos
psicofisiológicos são graves e crónicos como na hipertensão e na
doença coronária, podendo causar enfartes, ataques de coração e
morte (uer Cap. 18).
13l

lefs,1956;
A Dor e o Sistema das Endorfinas
. Cap.3
' tipos de
Até agora, aualisámos o moclo como o organismo te ge a diversas
ca produl
formas cle ameaça, mas o qLle se passa com os estímulos qLÌe, em
da de uq
ptimeiro btgar, fazem cessar esta resposta? Alguns destes estímulos
rma oÌìtra (que
aclquiriram segurâmente o ser'r significado pela apren<lizagem
Ìtaque de parecem produzir a
será tema do próximo capítdo). Mas alguns deles
lOS sefes que tenha
reacçáo cle emergência simpática que já clescrevemos' sem
activado,
haviclo qllalquef experiência prévia. um exemplo impoftante cle tais
: sobfe o
estímtúos desencadeadores inatos é a clor.
Jo (Egger
Iatório 5
ão estará
À DOR COMO CONTRIBUTO PARAA SOBREWYÊNCIÂ
:ivial 46
cto cle 6 a sensação de dor tem um valor
Parece paradoxal, mas
consiclerável para a sobrcvivência, representando mais um beneficio
biológico clo que um amafgo farclo. Este facto ê elucidado pelos raros
casos <le indivícluos com uma insensibilidade à dor congénita'
Frequentemente moffem iovens, tendo sofriclo nlrmefosas lesões e
apresentando mazelas (Manfredi et al., L98l)' Em criança, um destes
;ico clo pacientes morcleu a lingua enqtlanto mastigava, sofreu graves
queimacluras ao tocar num calorífero quente e sofreu diversos
:a pode
o. Este
cleslocamentos clo totnozelo e cla coluna porqlÌe não mudava
ros. No
adequadamente o peso quando se virava no sono' Estes traumas
rgência
provocaram grancles infecções que the callsaram a mofte aos vinte e
isso a
nove anos (Melzack, 197 3).
em, no
çaclos.
.e que OALÍUO DA DOR
AS ENDORFINAS E
ências

Ovaloradaptativodacloréocleserumsinalparareagir'levanclo-
ou no -nos a afastarmo-nos cle uma chama quente, a correfmos p ra a
,mum. no tornozelo
^grJa
fria se queimaclos ou a colocarmos menor peso
reixas
distendido(BolleseFanselow,lg82).Mas,seaclorcontinllaf,pode
;ede interf'erir no qlre quer que tenha de ser feito' Felizmente' a selecção
natural resolveu este problema pois parece que os organismos
mirar,
fÌossa
desenvolveram meios para a\iviat a sua própria dor'
:açã.o
Exístem numefosas histórias <le atletas que sofreram lesões, mas
pelo
quenãosentiramclotatéqueojogotivesseterminaclo;lristórias
LìtnA
semelhantes são contaclas por soldados em batalha olr
por pais que
rcaça
salvam os filhos de aciclentes. Estes relatos slrgefem que existem
mecanismos internos que poclem produzir analgesia ou alívio
:s de da
-'itos dor. Diversas experiências laboratoriais apoiam esta conclusão' Ratos
ena submetidos a cliversas formas cle strcsse, como o sefem forçados
anadat
áoe em água fria, tornam-se menos sensíveis à dor (Bodnar et al'' L98O)'

Resultaclos similares foram obticlos no homem: paradoxalmente'


r32

A
MoTrvAÇÃo . cap.3

rHfi.

C,entms superioÍes

t
Tálmo

Fig.3.tS Acunpunctura. Â acunpuntura é um sistema de tratamento complexo


originário da China, que se baseia na ideia de que a doença é uma perturbação
das eneigias vitais que circulam em determinados canais. A manipúação de
agulhas em pontos determinados destes canais permitiria restabelecer o equilíbrio
(À) De um tratado chinês do século X\4I, ilìrstmndo a via do figado com
28 pontos especiais. (De Blakemore, 1977) @) O tratamento de um paciente nos
nossos dias. @otografia @ Dan McCoÍ |994/Rainbow)

Medula esplnal

choques eléctricos fiacos aplicados nas costas oLl nos membros


podem servir como analgésicos. Como também o pode a acupunctura,
Fig.3.19 A dor e seu alíuio. Circuito
neuronal proposto para explicar
um antigo tratamento chinês em qLre são inseridas agulhas em várias
determinados fenómenos de alívio partes do corpo (uer Fig. 1.18; Mann et al.,I9g3). Este procedimenro
da dor com indicação da excitação parece suprimir a dor no animal e no homem (Nathan, 197g).
(a verde) e da inibição (a vermelho). Qual o mecanismo que está na base destes fenómenos?A resposta
Os estímulos da dof excitam pafece residir na química cerebral. É bem conhecido que a expefiência
neurónios da espinal medula
da dor pode ser atenuada e, por vezes, completamente eliminada pela
(c) que tÍznspoftam a informação
administração de várias drogas, como a morfina e outros opiáceos.
da dor para o tálamo. Mas excitam
também os neurónios libertadores
Normalmente, estas drogas são administradas do exterior. Em certas
de endorfina (E) no cérebro médio ocasiões, porém, o cérebro pode ser o seu próprio farmacêutico.
que por sua vez, e através de um Quando assaltado por diversos tipos de stresse (incluindo a dor) o
conjunto de passos intermédios, cérebro pode, por vezes, produzir os seus próprios opiáceos, que
excitam os neurónios descendentes administra a si mesmo. São as chamadas endorfinas (conúacçáo da
(D) que inibem a via da clor na palavra. endógeno - isto é, internamente produzido - e a palavrz
espinal medula. Este sistema de alívio
moffinas), grupo de neurotransmissores similares, do ponto de vista
da dor pode também ser activado
químico, aos opiáceos como a morfina e que modrúam as mensagens
pela administração de morfina ou
pela estimulação eléctrica do cérebro da dor que se dirigem para o cérebro através das vias neryosas do
médio que contém os neurónios que tronco cerebral (uer Fig. 3.I9). parece assim que os compostos
libertam endorfinas. (Segundo Groves opiáceos administrados pelos médicos funcionam mimetizando os
e Rebec, 1988) analgésicos do próprio corpo, embora algumas endorfinas cerebrais
1
r33
i

sejam bastante mais poclefosas do que as dfogas produziclas artifi-


Cap.3
cialmente (Snycler e Chilclers, 1979; Bloom,1983; Olson, Olson e

Kastin, 1995).

Placebos. Muitos investigadores sllpõem qLre as endorfinas


clesempenham Lrma ftinção na reclução da dor procluzida pelos pla-
cebos,sttbstâncias inertes clo ponto de vista químico, que aliviam a
clor e podem ter outros efeitos benéficos (uer Cap' 19 para uma
análise dos placebos no contexto da psicoterapia)' O poder dos
placebos pocle ser clemonstrado facilmente. Numa experiência
(Evans, 1974),aclministrolr-se a pacientes tlm comprimido cle açírcar
que, num caso, se informava ser "aspirina", e' noutro caso, dizia-se ser
"morfina". Em ambos os casos' os comprimidos produziram um
considerável alívio, cerca cle 50 porcento do alívio produzido pelas
dtogas efectivas.
Desempenharão as endorfinas um papel nestes efeitos de
placebo? Para o provar, os investigaclofes Lrsafam drogas bloqueadoras
ctos opiáceos, como o nalaxone ou o naltrexone. Estas drogas são
exo
io
normalmente aclministraclas aos dependentes que sofreram uma
sobreclosagem de heroína; tofnafam-se também um instrumento de
líbrio investigação poderoso. Diversos estlÌdos demonstraram que o
nalaxone bloqueia o âlívio da dor procluziclo pela acupunctura (Mayer
Ìos et al.,1976) e bloqueia também o efeito dos placebos. Num desses
estuclos, administrou-se a pacientes um plac€bo após extracção de um
clente clo siso. Isto ajuclott alguus pacientes, mas não teve qualqller
efeito quando se deu o nalaxone em conjunto com o placebo (Levine'
)fos
ufa,
Gordon e Fielcls, 1979). As implicações são que os placebos ftin-
rias
cionamactivancloaproduçãodeenclorfinas;oefeitodonalaxoneé,
então, o de bloquear o efeito das enclorfinas'
nto
Algunsestuclosmaisrecentesmostfafamqtre,emboraonalaxone
,sta atenlle os efeitos do placebo, não os elimina completamente. sugere,
cia assim, a existência de vias de alívio da dor que não envolvem o sistema
ela de enclorfinas (Watkins e Mayeq 1982; Gtevert e Goldstein, 1985)'
)s. No homem, um exemplo de alívio da dor que não envolve o sistema
las clas endorfinas é a hipnose. o alívio da clor hipnótico é suficiente-
to. mente poderoso para ser, pof vezes, usado na cirurgia, mas o seu efeito
o analgésico não é aboliclo pelo nalaxone (De Benedittis et al., t989;
ie MoÍet et a1.,1991).
.la PorqueseráqueocofpodispõedemíútiplosSistemasdealívio
ra cla dor?A resposta parece depencler, pelo menos em parte, da cluração
lã da dor: a dor de cufta clllração pafece ser aliviacla pelas endorfinas,
mas, se a dor continuat então sistemas de não-endorfinas começam
a
ts
o actuar. E se os stressofes forem particularmente prolongaclos' o
sistema das endorfinas como qLre reemerge pata' ai]Ul<Lar a controlar
a
S

s dor (Terman et at.,I984;Olson eÍ a1.,1995)'


s
734

. AS ENDORFINÁS E O EXERCÍCIO FÍSICO


MoTrVÂçÃo Cap.3

Alguns autores sugeriram que o efeito euforizante


do
fisico exaustivo e contínuo, como o andar ou correr
numa
também está relacionado com as endorfinas. O
atleta
esfofçaf-se até estaf exausto e com dores, o que
leva à produção
endorfinas que neutralizam a dot e produzem uma flutuação
humor na direcção oposta. por flm, pode eventualmente
algo semelhante a Llma dependência _ o corredor
tem de ter a
corrida fixa pata gozat de uma euforia produzida pelas
endorfinas.
se sabe ainda se esta interpretação é correcta.
embora existam
de que o exercício fisico intenso aumenta a secreção
de
QIawkes, 1 p!2;Thoren e col.,I99O; Cal:- et aI.,l9g|).

O SONO EAVIGÍLIA

Âbordamos, agota uÍna motivação consideravelmente


a necessidade de dormir. O sono é apenas uma
fase daquilo que
investigadores chamam o ciclo aigílle-sono, vm
Obseruação do sono, Registos de ritmo diário
reflecte um continuum daactivação do corpo e do
EEG de uma noite completa de sono cérebro que
em laboratórios de sono revelaram
entre a hipervigilância do alerta até à quase total desactivação
do sono
vários estádios do sono. (Fotografia proftindo.
de Grant Leduc / Monkmeyer)

AYilgílla

o ramo simpático do sistema neryoso autónomo funciona como


um sistema de activação para muitos processos do corpo.
Outro
coniunto de sistemas de activação opera no sentido
de activar o
cérebro, acordar o animal, se este estivef a dormir,
ou fazet com que
um animal desperto fique mais activo. Estes sistemas
de activafão
envolvem estrutufas do mesencéfalo e do cérebro
inferior e as úas
que ascendem para o resto do cérebro (Aston_Jones,l9g5).
PaÍ? além destas estruturas subcorticais, o estado
de activaçáo
do cérebro é também regulado pelo próprio córtex.
A função clo
córtex em regular-se a si mesmo é demonstrada pelo
facto de que
estímulos complexos cujo reconhecimento requer
o envolvimento
cortical- o choro de um bébé, o cheiro do fogo, o som do nosso
próprio nome - acordar-nos-ão com maior probabilidade do que
outros estímulos, independentemente da sua intensidade.
Arém disso,
sinais do córtex podem activat as estruturas subcorticais,
que por sua
vez activam ainda mais o córtex. Este arco _ do córtex
,ir,._u,
para o,
inferiores e, de novo, para o córtex _ desempenha
um papel
importante em muitos fenómenos da vigilia e do
sono. T.mor, por
vezes, di_ficuldade em adormecer pofque não
conseguimos afastar os
135

nossos pensamentos. Neste caso, a actividacle coftical acciona o


Cap.3
sistema de activação subcortical, que, po1' slla vez' activa o córtex e
'xercíq1o
este volta a excitaf o sistema de activação subcortical, e assim
lafatona,
sucessivamente.
Itinqa
nção q.
O

a cnncta
l"ï-Vì
I
Ìção Voltâgem
O Sono e a Actividade Fisiológica
-olvet-ga

:f a sua
do
llll^ I

os circuitos qlle aLrmentam a activação poclem também reduzi-la,


tal como acontece quando ouvimos um conferencista monótono ou
ìas. Não
ÂMPI,IFI-
^*\
Provas C,ADoR fixamos a linha média cle uma aLlto-estrada, durante longas horas cle
lorfinas que
condr,rção noctluna. Estes níveis baixos cle estimulação fazem com
llléctfodos n0 cottro câbeltldo caif
os nossos níveis cle activação desçam tanto que somos tentados a

flg.3.20 Diagrrtma esquentlitico num estado que é oposto ao de activação elevada - o sono' Que
EEG. Um certo poclemos nós clizer acefca cle um estado qlre ocupa cerca de Llm tefço
do registo de
cle elécttoclos é colocado
núrncrc da nossa vida?
do sujeito
A observação clo cérebro de participantes acorclados ou a clormir
no cotlro cabeluclo
)fentei pequenas cliferenças no potencial
Âs
é possível devido, como vimos no Cap. 2, à linguagem do cérebro ser
eléctrico (isto é, a voltagem) entre
lrÌe os em pafte eléctfica. Quanclo se colocam eléctroclos em cliversos pontos
qualqner par clestes eléctrodos, em
o que
por um do couro cabeludo, eles registam flutuações eléctricas que resrútam da
cacla instante , são ampliaclas
: varia actMdacle de milhões cle neurónios clo cóttex. Em termos absolutos,
amplificaclor e usaclas para activar
) sollo
uÍlìiÌ caneta qlre executa o registo estas modificações são extremamente fracas, de forma que têm de ser
Quanto maior for a diferença
de
aumentadas por amplificadores muito sensíveis antes de serem
voltagetl, maior será o desvio da representadas em gráfico num papel em movimento olr de serem
calìctíì. Como a v()ltagem vlria. (Fig 3'20)'
apresentadas clirectamente no monitor de um complrtador
o nì{)vimetltu cla calìetiì. Pâra cimíÌ oLr EEG, vma
e para baixo, traça assim as ondas
O registo resultante é o electroencefctlograma
cerebrais no PaPcl em movimento. imagem clas modificações de voltagem ao longo do tempo em qlre
)omo ocorrem na suPerfície do cérebro'
O núrmero cle onclas Por segundo
)utro é a frecluência do EEG. A Rig. 3.21 apresenta Llm registo de EEG qlre começa com o
'at o participante num estado relaxaclo, com os olhos fechaclos e "não
que pensandoemnadacleespecial,,.ofegistoapfesentaasondasalfa,um
açã,o aumento e uma diminuição bastante fegulares clo potencial eléctrico,
vias com cerca de 8 a 12 ciclos por segundo ' Este ritmo alfa é múto
característico cleste estado (acordaclo mas em repouso) e encontfa-se
Lção Ín Írràior parte dos mamíferos. Quando o suieito presta atenção a
d<.r alguns estímulos, com os olhos abertos, ou está ocupado num
que pensamento activo (por exemplo, cálcrúo mental) com os olhos
nto fechaclos, o registo moclifica-se. Agora o ritmo alfa é bloqueado
eo
sso
lue olhos abertos OllÌos fcchados
,so,
;ì-la
+ {
ìas
rel
or
Fig.3.21 Ondes alfa e blotPteio do Relaxado,
os olhos fechatkls 1 segunclo
ritmo alfer. (Segundo Guyton, 1!81)
136

participante apresenta predominantemente lm ritrno beta'. a yol.


MoTrvAÇÃo . cap.3
t^gem é mais baixa e a freqÌlência é muito stlperior (12 a 14 cickls pq, MoTrvl
segundo) e o padrão de ondas é quase ao acaso.
Os investigadores do sono freqlrentemente obtêm registos
contínlros, durante uma noite colnpleta, não apenas clas onç14, fis.1.2l
de on'd'
cerebrais mas também de oÌrtros tipos de actividacle fisiológica que s.
octúard
provou serem importantes para a c racterização do sono e da vigília. bntai \
Estes contemplam normalmente a frequência respiratória, a fte. REM e
quência c rdiacà,a tensão muscular e os movimentos dos olhos' (B)Aa
óe ortr
da noi

Os Estádios do Sono ÍepfeÍ


úp\d(
coÍrre
Estes fegistos fisiológicos demonstraram que existem dois tipos gue â
cle sono bastante cliferentes. O primeiro tipo, chamado sono d'e do so
ondas lentas,ocorre logo a seguir a adormecermos; o segltndo tipo, o nív
chamaclo sono REM,ocorre intermitentemente ao longo da noite. Kleit!
Comecemos pelo sono cle ondas lentas que apresenta
cliversos estáclios, com base nos padrões de EEG do indivíduo que
dorme. Na hora de clormir, à medida qlle o participante se começa
arelaxar nacama e a ficar sonolento,o seu padrão de EEG tencle a
lentificar-se, comparação com as frequências da vigília, e
por
apresenta um ritmo alfa acentuado. Encontra-se aLgota num estado de
sono leve, a clormitar', de que é facilmente acorclado e durante o qual
tem Llma imagética fr.rgaz do tipo sonho diurno; este é o estáclio mais
leve ou Estádio 1 do sotto de onclas lentas (Fig. J.22)' Após alguns
rninutos no Estádio 1, o participante passa "Lrm ponto sem retorno" no
qr.ral se sente cair no sono (talvez com algurnas contracções
musculares).Isto sinaliza o início clo Estáclio 2 clo sono de ondas lentas.
Na hora segttinte, à medida que o sono se torna mais proftinclo' passa
do Estádb 2 para o Estádio 3 e 4 do sono de ondas lentas. A sua
freqnência cardiaca e respiratória lentificam-se e os olhos movimen-
tam-se lentamente e não iâ cle vma forma coniugada. O EEG apresenta
flutuações com uma voltagem cadavez mais ampla e uma freqr-rência
Fig.3.22 Os estlitlios ckt son'tt caclavez mais baixa (Estádios 2 até. ao 4 naFig.3.22)' Nesta altura, ele
A fìgura mostra os registos de EEG está virtualmente imóvel, dobrado numa posição semifetal e é
obtidos a partir do lobo frontal drr dificilmente acordado. De facto, tentar acordar uma pessoa do sono de
cérebro, durÀnte o estado de vigília, onclas lentas exige um esforço mantido; a pessoâ protestará, parecerâ
o sono lel].to e o sono REM.
@or gentileza cle Williatn C. Dement)

DESPERTo SONO LENTO SONO RIM

Estádio 1 Estíìdio 2 Estádio 3 nstádio 4 Sonho

^úfôjt/h^I'l\lv/íb4\'í ^\/-\\^/\A.fvv.Ju uvlyu/F\trtt'+at".tt"


r37

' beta: a yo1. A


14 ciclos ' caP.3
p6, MoÍIvÀÇÃo Ondas lcntas R[M

:êm registqg MovinÌentos oculares

; das on6u, íig.3.23 O sorlo REM e o sorxo


lentas. (A) os movimentos
ógica que sq /e ondas
oculares
dtlrìnte o sono cie ondas
ç da vigílin. B
e o sono REM. Os Períodos
lefitas
lória, a fi.e. associados ao sonho.
REM estão
olhos.
@)A âlternância
entre os períodos a1
o^
de onclcts lentas e REM no decurso t'6'^
(os pedodos RBM estão _cü
da noite
representados a cor). Os movimentos EË'
É- 4
rápidos dos olhos e os sonhos o
dois tipos Começam no momento em or
1
0 4 6 7
que a pessoa emefge fepetidamente
sotto de profundo para
Horas
do sono mais
undo tipo, do Estádio l. (Següìdo
o nível
a noite.
Kleitman, 1960)
lpresenta
ríduo que desorientada, murmurando incoerentemente ou virando-se mesmo se
e começa for abanada ou se lhe gritar. Alguns indiúduos entram espon-
] tende taneamente nlrm estado confuso, meio sono, meio vigília, o que
a
vigília, explica perturbações clo sono de ondas lentas, como o sonamblllismo
e
:stado cle e os tefrofes noctÌrfnos da inÍância (Haui,1977).
te o qual Normalmente, o sujeito que dorme passa cerca de 9O-100
dio mais minutos num sono de ondas lentas sem interrllpção, percorrendo os
s alguns Estadios 2, 3, e 4. Depois, a qualidade do sono muda de forma
lrno"no espectacular. A frequência cardiaca e respiratória aceleram-se, quase
racções como se se estivesse a Íealizu um exercício fisico vigoroso. O EEG
s lentas.
retorna a Llma actividade de frequência elevada, associada à vigilia
o, passa
(|ouvet, 1967). Os movimentos dos olhos deixam de ser lentos e
passam a ser vigorosos para um lado e para o outro sob as pálpebras
r. A sua
rvimen- fechadas. Segundo estes sinais fisiológicos, a pessoa devia estar
acordada e alerta. Mas, na verdade, não acorda e os mírscr.rlos
resenta
esqueléticos apresentam uma flacidez súrbita - a boca relaxa-se e
uência
move-se de uma posição semifetal para uma posição estendida, com os
ra, ele
braços e as pernas caídos ao acaso.Apesar deste EEG activo, esta é a
leé
fase do sono em que a pessoa é menos sensível à estimulação externa
rno de
(Milliams, Tepas, e Modock, 1962). Mas, se for acordada, estará
:ecetâ
imediatamente com atenção. Este estado estranho é o sono REM, assim
chamado devido aos movimentos oculares rápidos dos participantes
(FiC. 3.23). Os participantes, neste estado, estão fisiologicamente
M activados e muscularmente inactivados; e, devido a este contraste, o
sono REM é por vezes chamado sono paradoxal.
Este primeiro período REM do sono de uma noite dura,
nomalmente, apenas 5 minutos, após o que as pessoas voltam ao sono
de ondas lentas. Nos 90-100 minutos seguintes, surge um novo períoclo
REM. Este padráo prossegue com períodos alternantes de sono de
13u

onclas lentas e de sono REM. uma cle sono méclia irÌclui á ^


MOTIVAÇÃO . Cap. J
períoclos REM que, cle cacla vez, têm'oitenma chrração maior. ao f,rrgo".,l
noite, e o períoclo REM final cla n<tite chega a clur.ar i5 minutos.
Dsr;lq
ao sono REM ser tão activo, ckr po.to cle vista fisiológico, estcs
últirh::
períoclos podem ser extenuantes, o qÌte explica a nzio p"f,
quol'ìÌ
pessoas que cleciclem continuaf a clormir', ignoranclo o alarme
pertador, Íiequentemente acordam aincla mais carsaclas: .o.r"rn*ìï
cto 4{
dormindo em REM. Poclem também ser mais sì.lsceptíveis , .,.
assustador mas inofensivo conheciclo como pctralisia. a" "rau4i
"ooi
(Hauri, 1977),oncle a pararisia muscnrar clo sono REM persiste ,turanti
alguns momentos clepois do despertar., cleixanclo a pessoa conscienls
mas tempomriamente incapaz cle se mover.

As Funções do Sono

Polqr"re será qne o sotlo apresenta uma arqnitectura tão


complexa? Que funções são servidas pelo so.o cle onclas rentas e pelo
sono REM? surpreendentelnente as respostas são aincla clesconhe.
ciclas. Mas as tentativas de encontfaf fespostâs progriclem.

$zoo
\9 PRIVAÇÃO DE SONO

€tso
.YX E
um modo cle avaliar os beneficios do so.o consiste em observar
H! H100 as perturbações qne sobrevêm da sua privação. Esta é a lógica clas
experiências cle privação cle sono, nas quais homens e animais são
Sso
manticlos acord:rclos durante dias segr.riclos. os r-esr.rltaclos conÍìrmam
9
!o qÌÌe a necessiclade de clormir é extremamente poclerosa.
10 20 30 40 50 60 70 Qnanclo
privados cle sono, procuramos dormir tal como procuramos alimentos
Dias de priyação de R-EM
quando temos fome. Quando o sono é finalmente permiticlo, caímos
na cama mais próxima e tentamos compensar o sono percliclo.
F1g.3.24 O eÍeito rÌ.et prhtaçí.ut tlo O indiúdr.ro privado de sono não precisa apenas de dormir;
sono REX4. A fignra aprescnta um
precisa tambérn de quantidades aclequaclas, quer cle sono cle onclas
aumento do tempo clespencliclo em
lentas, quer de sono REM. Isto é clemonstrado ern est'clos em que o
sono REM, após vár.ios pedodos cle
privação cle sono IìEM, em gatos. experimentador impede Ìlm tipo cle sono (por exemplo, o REM) mas
Os animais folam privaclos cle sono não o outro. Para se privar os sujeitos apenas clo sono REM, o
REM (mas não cle sono nz-roIìEM), experimentador acorda-os quando o EEG e os movimentos dos olhos
clurante 5 a 72 clias, sendo acordaclos assinalam o início de nm período REM. Depois cle acordados, os
logo qne o seu EEG incÍicava o início sujeitos voltam a dormir, sendo cle novo acordaclos logo que se inicie
cle um per'íockr REM. No primeiro clia
um novo estádio REM, e assim por cliante clnrante a noite. Após
em qÌtc cra permiti(k) aos aninais
algumas noites em que este procedimento é repetido, permite-se qr.re
clormir, sem serem incomoclaclos,
vetificava-se um allÍÌento na
os suieitos durmam livremente. Eles passarão mais tempo clo que o
proporção do teinpo despencliclo normal em REM, como se estivessem apafentemente a recuperar cla
enr sono REM em lelação ao sono privação (Fig.3.24).nste efeito cle ressalto do REM éfrequentemenre
não-REM. (Daclos cle Cohen, 1972) observaclo após a aclministração e a retiracla cle meclicamentos q'e
139

ri<a5 SupfimemselectivamenteosonoREM-umgfllpoqtleincluialgtlns
. Cap.3
)ngo clos meclicamentos inclÌltofes clo sono VtÌlgafmente pfescfitos.
da
Devido ArnesmacompensaçãoacontececomapfivaçãoselectivaClos
útltirì1q, Estáclios 3 e 4 d<-t sol1o cle ondas lentas. Se for perdiclo nLlma noite' será

qual compensaclo na noite seguinte Cwebb, 1972)'


que torna
A privação clo sono é clararnente ün problema grave, o
as
clo cles.
aincla mais pfeoclrpante qlre apenas 5 por cento clas pessoas com
ÌfaIÌì-5ç
crónica procluem apoio profissional, rnuito embom esta seja
estado insónia
sorro uma peftÌrfbação tràtável (Dement e Mitne! L993;National comtnission'
Iurznlq on Sleep Disorclers,1993; Kupfer e Reynolds, 1997)'Alguns casos de
iciente insónia reagem prontamente a simples regimes de sono: tornar o
à mesma hora;
quarto silencioso e escuro;adofmecer e acordaf sempre
pensamentos stressantes or't cle
absteÊse de exercícios fisicos vigorosos,
estimrúantescomocafeínaorrnicotina,apósarefeiçãoclanoite.Mesrno
o álcool, que, para a maior parte clos indMduos, causa sonolência' cle
tempo
facto procluz Llm sono pertLlfbado, fragmentaclo e resulta nrÌm
a tão
total de sono lnenor (Hauri e Lincle, 1991)'
i pelo l)e quanto sono precisamos realtnente? A resposta varia cle
onhe- pessoa para pessoa c segLlramente vafia com a iclacle' As crianças
<lormem sestas breves, ao longo clo dia, passanclo 5O por cento
clo

sono enì períoclos REM (em média <lormem clezasseis horas por dia'
meses
oito das quais em períoclos REM). Apenas entre os qlratro e os seis
deiclacleosbebéscomeçamacorrsoli<laroSonontlmper.íoclonocttrrno.
À meclicta qlle crescem, precisam cle clolmir menos tenìpo e dormem
3fvaf menosemREM(Rosenzweigetctt.,1996)'Osaclolescentesdormem
L das em média oito horas por noite, cluas das quais são sono REM; os
horas por
; SãO adtútos mais velhos, por sua vez, clormem em média seis
11am noite clas quais apenas uma hora é gasta em REM (Rosetzweig et al''
lndo 1996).Estesnítmerossãoapenasméclias;algtrnsindivídtrosprecisam
ntos de clormir mais, olrtros lnenos. Um investigador encontrou Llma
que dormia
mos enfermeira de setenta anos qLre Íelettava ficledignamente
apenas uma hola por noite; apesar clisso, era atenta e afâvel e
aparentemente não sofria qualquer efeito perturbaclor de algo que'
mir;
Ìdas pwa a maioria cle nós, constitlliria uma privação cle sono agucla
teo (Mecldis,1977).
nas
t,o
hos O SONO COMO UM PROCESSO RECONSTITT]INTE

os
As experiências de privação cle sono sLrgerem qlre existe
de facto
cie
necessiclade de clormir, mas não nos dizem porqtté Uma
possibilidade
)ós
qual alguma
.ue
é que o sono seja reconstitlrinte, um período durante o
substância vital seja reabastecicla no sistema nervoso' De alguma
Ìo
forma, esta posição foi clefenclida pekl mell()s no Renascimento'
cla
rte Shakespeareviaosonocomo..<lbálsamoclasalmascloridas,,que
!le "entretece o fio solto da inquietação"'
r40

Mas se o solro é reconstituinte, o que é que hã a


MoTrvAÇÃo . cap.3
Alguns investigadores realçam as ftinções feconstituintes do son6
ondas lentas (particularmente, estádios 3 e 4),pois as provas
que o sono de ondas lentas aumenta em estados de fadiga
quando aumenta a necessidade de recuperação fisica. Por exemplo,
corredores da maratona dormem mais nas duas noites seguintes
corrida, devido principalmente a passarem mais tempo em sono
ondas lentas (Shapiro et al.,l98t). Quais as ftlnções desta
Alguns indicadores provêm do facto de que uma hormona
crescimento, que promove a síntese de proteínas (e contribui assiql
para a substituição dos tecidos do corpo), é segregada principalmente
durante o sono de ondas lentas (Takahashi, 1979). Mas se esta
hormona (ou qualquer outra forma de reparação corporal) é a chave
palÀ a função do sono é um assunto contfovefso, pois o exefcício
fisico intenso leva também a um aumento do metabolismo cerebral e,
assim, pode ser que seja o cérebro, mais do que o corpo, que necessita
de repouso e reconstituição (Ilorne, 1988).
Estamos também longe de uma resposta definitiva acerca das
funções do sono REM. Segundo alguns teóricos, a observação de que
as crianças têm o mais longo sono REM não acontece por acaso, pois
a actividade neuronal mais intensa dufante o sono REM pode
contribuir para estabelecer conexões neuronais correctas no cérebro
em desenvolvimento. Outra possibilidade é o sono REM ajudar a que
o sujeito consolide o que quer que seja que aprendeu no dia anterior.
Sob este ponto de vista, o que acontece durante o sono REM seria
anâlogo ao que se passa numa biblioteca após o encerramento das
salas de leitrua: os livros são catalogados e arrumados, a fim de se
poderem procurar e encontrar no dia seguinte. As demonstrações
acerca de um tal processo derivam de estudos com ratos que, após
lhes ter sido ensinada uma tarefa, foram sistematicamente privados de
sono REM. Quando testados no dia seguinte, estes animais apre-
sentavam um desempenho inferior aos animais de controlo sem
privação de REM (McGrath e Cohen, 1978; Smith, 1985).
Este facto pode explicar a razâo por que muitos animais não
humanos têm sono REM. Estudos demonstram que todos os pássaros
e todos os mamíferos (com a excepção do tamanduá e do golfinho) o
têm (Rosenzweig et al.,1996). Mas existem outras explicações possí
veis. Primeiro, o facto de peixes e anfibios não apresentarem sono REM
levou a que alguns hipotetizassem que este padrão de sono poderia
estar relacionado com a temorregulação interna @aeddis, 1979).
Outra explicaçío paÍa o sono REM vê os movimentos oculares
como centrais. Alguns investigadores iniciais pensavam que os
movimentos oculares associados ao sono REM correspondiam ao
conteúdo do sonho, como se o sonhador "olhasse" pan a acçáo
sonhada (Dement e Kleitman, 1957). Mas outros investigadores são
mais cépticos, pois os movimentos oculares, durante o sonho, são
descoordenados e desalinhados em cerca de 30 graus (Zhou e King,
141

nstitrrir? 1997). Assim, uma ftinção do sonho talvez seia simplesmente mover
úoÍIvAçÃo ' os olhos o que, nos animais terrestres, exige um constante suprimerÌto
caP 3
sono de
de lágrimas circulantes para lubrificar e oxigenar as córneas
hílmidas'
ugefeÍÌt
a fisica, cristalinas_ptincipalmentequandoaspálpebrasestãofeclÌadas
nplo, os durante o sono (Maurice, 1998).
rintes i
;ooo de O SONO COMO UM PROCESSO DIRIGIDO POR RELOGIO
rvação?
lna (ç Mesmo que o sono seia restaurador, esta não pode ser a ílnica
Li assiq explicação por que dormimos, pois, mesmo quando estalros
da hora
.lmente fisicamente exaustos, a nossa necessidade de dormir depencle
clo sono continlram a sentir-se
te esta do clia. Quando as pessoas são privadas
facto
L chave mais cansadas ao anoitecer e mais clespertas pela manhã' Este
efcício mostra que o sono é ttm processo nxouid'o por relógio (uer Fig'3'25)'
que
:bral e, Neste aspecto, assemelha-se a cliversos outros ritmos biológicos
cessita parecem depencler cle relógios intefnos inatos'Âlguns clestes ritmos
estenclem-se durante o ano inteifo, como os padfões sazonais que
ca das determinam a migração, o acasalamento e a hibernação em mllitos
animais. OLrtfoS São bastante mais cuftos, como oS fitmos
de respi-
le que
raçáo e do batimento carclíaco. O ciclo vigília-sono
tem Llma dimen-
o, pois
ãç vinte e qlratro horas do clia e' por isso' é
pode são intermédia, cluranclo as
I, circa'üdrio (do latim volta de,, e die s,., dia,').
3rebro q 20,000 chamaclo ritmo cir ca,,, à

Origina-se provavelmente a partir dos circuitos-relógio do


hipotálamo
a que ü 10,000
implica a hotmona tnela-
terior. 0
e da glânclula pineal, cujo funcionamento
â por aferências do nervo
I seria
0
9 nM. 9 9 PM. 9 À.M. 9 PM. toninct;estes relógios parecem ser regulados
(Morgan
óptico qlle informam o sistema sobre se é dia ou noite
^.M. e
:o das Hora do diâ
de se
gãelen, 1996). Na verdade, os efeitos debilitantes ocasionados pelas
longas viagens cle avião são cleviclos à ruptura desses
relógios'
ações
provocada pelo facto de os viajantes verem os selÌs amanhecer
Fie.3.25 O relógio biológico e
, após
cerebral. A actividacle cle céltúas
los de ãnoitecer chegarem clemasiado cedo ou demasiado tarcle5'
írnicas no núcleo supraquiasmótico sono REM
apte- Os intervalos de 90 a 100 minutos entre períodos de
do hipotálamo de um rato. chamado ritmo ultra-
sem parecem, também, indicar um ciclo separado,
Às flutuações regulares clia-noite na
parecem cal?c-
frequência <le clescarga destas células d.fuirio (por ocoffer muitas vezes por clia) Ritmos similares
os processos de digestão e de
r nao tlemonstram qtte o cérebto posstti teúzr a ocorfência de sonhos dittrnos,
SAfOS um relógio biológico inato. secreçãoclehormonas'eodesempenho<lecertastarefasmentais(Kripke'
ro) o (De Carlson, 1991) l982;Armitage, Hoffmann e Moffitt, 1992;Rosenzweig et al''1996)'
)OSSi
REM
Os Sonhos
deria
e cinco
O desejo de dormir é um motivo poderoso e cerca de vinte
lares
anosdeLrmtempodevidamédioé-lhedevotado.Apesarclesabefmos
)os muito acefca do sono, persistem numefosas qLlestões' Como
notámos'
Ìao
:ção
são t Alguns tratamentos promissores para determinados clistírrbios emocionais
baseiam-se na verificação cle que as perturbações clos
relógios biológicos e dos
são
efeitos rrclicais nos httmores (uer Cap'78)
ing, paclrões <lo sono poclem ter
t42

MOTIVAÇÃO . C:tp.3

Ritmos biológicos no rnundo


uegetctl. A fotogmfia apresenta
uma flor aberta duÉnte um Peúodo
de quatro horas. O hor'ário depende
do relógio circadiano cla Planta'
@otografias cle Nature
Productions/ Takahisa Himno)

continnamos sem saber p(\ra que selve o sono (para um debate oel o
rVebb, 1979; Horne, 1988). O mesmo se pocle clizer em relação a Llma
das características mais salientes do sono, nomeadamente, o sonho'

O SONHO NO SONO DE ONDAS LENTAS E NO SONO RTM

As pessoas sonham não só cllrrante o sono de ondas lentas' mas


também durante o sono REM, mas os sonhos são consideravelmente
diferentes. Quando acofdados do Estádio 2 do sono de ondas lentas,
cefca de 60 porcento dos participantes felatam ter estado a sonhar
(o despertar dos estádios 3 e 4 dâltrgar a menof númefo de relatos).
Mas, solicitados a descrever os selÌs sonhos, só produzem breves
resumos, notando que, na vefdade, estavam apenas "a pensaf sobre
algo" ou que os sonhos eram "maçadores". Raramente relatam o tipo
de drama colorido, cheio de acontecimentos que normalmente
consideramos Lrm sonho' Por outro lado, quando participantes
adormecidos são despertados durante o sono REM, cerca de 80 por
cento felatâ Lrm sonho pictórico: nma série de episódios pictóricos
que os incluía como personagens e qLre' na altura, lhes pareciam reais
(Cartwright, 1977 ; ArrnrÍage et al., 1992).
Significa isto que sonhamos mais ou qLre os nossos sonhos são
diferentes, no sono REM e no sono cle ondas lentas? com frequência,
afirma-se isto, mas é dificil prová-lo porque todas as pfovas se baseiam
em relatos produzidos pelos participantes da investigação, após terem
sido acordados. Como os participantes acordados do sono cle ondas
lentas estão desofientados e lentos, enqLÌanto os acofdados do sono
REM ficam quase instantaneamente as diferenças entfe o
^lefta1talvez
-t

143

tipo de sonhos relatâdos sejam mais indicadoras do estado cle quem


. Cap.3
clorme, ao ser acordaclo, do que da natureza do próprio sonho. Isto foi
sugerido pof um estLrdo em qlre os pafticipantes fofam acofdados qLÌef
do sono REM, quer clo Estáclio 2 do sono cle ondas lentas, sendo-lhes
imediatamente peclido qLre recordassem o selÌ sonho ou qLle descre-
vessem Lrma bfeve história cle banda desenhada que tinham obselvado
imediatamente antes de adormecer'. os participantes acordados do sono
REM lembravam-se muito mais qlrer clos seus sonhos, quer das bandas
desenhaclas @osenblatt,Antrobus e Zimler, L992).
Os estudos dos relatos clo sonho a partit do sono REM também
não confilmam â noção de condensação do sonbo,aideia de que os
eventos do sonho ocoffem instantaneamente diante de nós. os inves-
tigadores, verificaram antes, qLre os participantes âcordados cinco
minutos após o início do REM tendiam a descfevef sonhos mais cuftos
do que os sujeitos acofdaclos quinze minlrtos clepois do início desse
mesmo período. Em geral, os eventos dos sonhos parecem durar
exactamente o mesmo tempo que dutariam na vida teal (Dement e
\íolpelt, 1958: Dement e Kleitman' 1957).
uer Mas ainda que os sonhos ocorlam em tempo real, eles não
O sonlJo de Jacob' Os sonhos têm
uma captufam a experiência sensorial completa da vida vigil. Por exemplo,
sido vistos como intermediários
) entre a fealidade quotidiana e uma rafamente oll nunca experimentamos dor nos nossos sonhos'
existência espiritual Um exemplo
possivelmente a melhor explicação para isto é a de que temos de nos
ó a figum bíblica Jacob, que sonhava manter aptos a reagir à clor real, mesmo quando estamos a dormir'
com anjos subinclo e descendo uma É preferível qlre uma pessoa aclormecicla acor<le imediatamente se fof
escadâ entre o cétt e a terra. mordida pof Lrm lobo. se, em vez disso, incorporar a dor fia 1|m,ffaÍiva
(De Lambeth Bible, Eugland,
nas clo sonho, arrisca-se a náo acorclar mais (Symons'1993).
século XII, gentileza da Lanzbeth
Ìte Libraty)
Embora em média os adtútos sonhem algumas horas por noite,
Pctlace
AS, algumas pessoas afìrmam sonhar apenas ocasionalmente e outfas
taf dizem que nunca sonham. Porquê? Isto reflecte possivelmente o facto
5). de que os sonhos são, normalmente, esquecidos alguns minntos após
es terem ocorrido. Num estudo, os pafticipantes foram acordados durante
re o sono REM e cinco minlÌtos após um período cle sono REM' Na pri-
ro meira conclição, em 85 por cento clos despertares, obtiveram-se narra-
te tivas pormen oúzad^s; fia segunda nenhuma (Wolpert e Trosman, 1 95 8)'
IS Porque será que os sonhos cleixam recordações tão frágeis? Uma
f possibilidade é a de que o conteúclo do sonho, em mllitos casos, não se
s integra bem com outras coisas em qlre o indMduo pensa oll recorcla
t (Kodack e Goodenough, 197 6). uma possibilidade difefente restúta do
carâcÍer visual dos sonhos do sono REM. Este modo de sentir pode ser
bastante diferente do do pensamento vigil, tornando clificil recordar
LÌma a partir da perspectiva da otttra. E, de facto, estes aspectos do
sonhaf podem feâlmente ser írteis, defenclendo-nos de confundirmos as
memórias clo nosso passaclo vigil com acontecimentos que fofam
apenas sonhaclos. Poderíamos, no entanto, referir qtte, mesmo com
estas protecções, este tipo cle conftisão pode acontecer e' por vezes,
acontece (Gooclenough, 1978; Johnson e Raye, 1981)'
t44

M()TIVA(ìÃ()' (.-âp. .f

:a#g'*
Sonltos. Salvackrr Dali criou
urn rnuncl<t itrcal, r>nír.ico, oncle
as imagens bizarras e fragmcntaclâs
sãro intclpfetadas co1Ìto tcn(k) um
significackr simb<jlico. (The Grcat
Plu:utoic, clc Salvaclor. Dali, I 93(r,
gentilezâ cÍo Museum Boymans-va1.ì
Beuninger.r, Rotcr.clão)

TEÌúo os s()Nrìos uMA FUNÇÃ()?

Por que sonhamos? Os antigos pelÌsavam que os sonhos


elam
proféticos. Nos nossos clias, vários teóricos cleÍ.enclem
que as
funções dos sonh.s se relacionam coÍì os probremas pessoais
cro
sonhador. A teoria cre sigmuncr Freucl Íbi a mais influente,
crefbnclia
qne toclos nós guar.clam.s clesejos, impulsos prirnitivos
e proibiclos q'e
a mente normarmente mantém no inconsciente. nurante
os sonh's,
porém, a nossa autocensrÌra afi.ouxa_se só um p.uc<t, permitincl.
quc
esses imptúsos comeceln a emergir através cla consciência,
mas apenas
clefbrma clisto.cicla e censrÌracla. para Freucl isto explica por que
razão
os tÌossos sonhos pareceln tão frecllrenternente estranhos e sem
senticb. N:r sr.ra perspectiva, a estranheza está apenas no exteri.r;
solt
a superficie, encontfan-se os significacros clisfarçaclos e os clesej.s
inaceitáveis inteligentemente esconclidos (Fr.eucl, I
900).
Apesar cla popularidatre da razáo cle Frer.rcl, tem surgido
um númelr
cada vez mai'r cle provas que suscitam clúrvicra sobre
a sua teor.ia cl<ls
sonh<rs (e a sua teoria global; pam cletalhes,uet Cap.l7).Hoje,muitos
aìrtores supõem qtÌe os sonhos clo son<t REM não são proféticcls
nem
.eveladores cl. inconsciente. Em vez clisso, subscr.evem
a lcipótese clct
síntese-q'ctiaação' qve defencre que o sonho é apenas um
reflexo clo
estado de activação clo cérrcbro crnrante o sono REM. Druante
este
períockr, o círrtex cerebral está activt.r e consicreravelme'te
isoracro cla
r45

estimlúação externa. Nestas cil'clìnstâncias, as ínagens cla memória


. Cap.3

p tornam-se mais proeminentes do qlre no estaclo vigil, porqlle não


têm de
competir com o imediatismo clos sentidos Que imagens cla memória
ocofrem? As experiências recentes são mais facilmente evocadas e
pot
slra vez activafao uma sér'ie cle memórias relacionaclas. O córtex está
que
stúcienternente activo para ligar e intelpfetaf estes matefiais pam
i.,,e-
J,
tenhamos Lrma narrÀtiva interna. Mas isto realiza-se frequentemente cle
maneira prínitiva e clesconexa' sugerindo qlre o córtex não está
stúcientemente activo para propolcionar mais do que uma organização
grosseira(ÍIobsoneMcCarley,lgTT;Hobson,1988)I'oríútimo'devemos
lembratqlreossonhosnãosãotrmareprodtrçãoobjectivadoseventos
cliurnos. São antes coloriclos pelas nossas necessiclades, conflitos
e

preocupações. Enquanto sonhamos, não estamos ligados às experiências


dtl
sensofiais qLÌe nos mantêm em estreito contacto com os Íactos
mundo objectivo. Assim, os nossos pensamentos, memórias e desejos
acerca clo mundo (que nem sempre são tão realistas) podem vÍ
part a
fretlte. Os sonhos compostos por tais elementos stújectivos
podem ter
um significaclo pessoal proftindo. Mas essa significação não tem qtte
implicar imptúsos e fantasias inconscientes; em Yez disso' r'eflecte
simplesmenteessefactocleque,paracadaLÌmclenós,mr-ritosdosnossos
pensamentos, memórias e desejos - mesmo aqueles de qtte estamos
inteiramente conscientes - têm um significaclo pessoal proftindo'

O QUETÊM EM COMUM OS DIFERENTES MOTTVOS


efam
Neste capítulo, temos tratado clos motivos que impelem à
re para
acção - fome, sede, medo, etc..Alguns, como a fome' servem
as
Lis clo colro as ameaças' são activados por
'endia manter o meio interno. Outros,
felevantes pata a pfesef-
estímulos clo meio exterior e mostram-Se
prin-
vaçío da ptÍpia vicla. Quanto a alguns oLltros - cujo exemplo
s qìJe
rhos, estes motivos
cipal é o sollo - a ftinção é ainda clesconhecida'Todos
l que para qì-le
são muito diferentes, como são cliferentes os objectivos
renas
dirigem o organismo - comida, água, fuga cle ameaças' uma noite de
qllestão: O que têm em
azão b,rÀ sono. Mas poderíamos também colocar a
sem comLlmtodosestesmotivos?Seguramentetocloselesclinamizamo
comportamenÍo, otganizam o qlre fazemos, vemos e sentimos'
;sob Mas

estes motivos e objectivos partilham alguma coisa entre


reios si?

ìefo
dos A Psicologia da RecompeÍÌsa e o Nível de Activação
itos
Vários teóricos sugeriram que todos os motivos - otl pelo menos
rem
a maioria - podem ser descritos como Lrma proctlra de um nível
da primeiras
do óptimo de activação olr de estimdação geral' Uma das
cãntrovérsias Íesta- surgiu acerca cla questão de determinar em
ste
que consiste o nível ^tea
óPtimo.
da
746

TEORIA DÀ REDIIÇÃO DO IMPIILS()


MOTIVAÇÃO . Cap.3
f)e acorckr com à teoriít da red.ução clo impulso, prop()sta há Mor
cerca de cinqnenta anos por Clark L. Hull (1884-1952),o nível óptirnq q. i

activação que o organismo proctì1a é essencialmente o zelo. Hull e 6s


seus alunos ficaram impressionaclos com o facto cle muitos motivos
pafecerem clirigiclos para a rccllÌção cle qrÌalquer estado intefno de tensão
somática, a que chanÌoLt intpulso (driue). A fome irnpele um ânimal a
actuar de tal maneift qne diminuirá a sua fome (comer); da mesry1n
forma, a clor impele um animal a descobrir nma qualquer maneira 4.
aliviâ-la (por exemplo, afastarse cla silva). Para Hull, cacla um destes ac1o5
é r'eforçaclor porqrÌe reduz o impulso que o instigoll. Por extensão, íúbriu
que aquilo por qlle o organismo se esforça é a reclução de tockrs 11s
imprúsos - Lrm mínimo absolnto de activação e cle estimtúação, urln
vetsão biopsicológica cla bnsca oriental do Nitvana (}]:trll,1943).

UMAACTTVAÇÃO ÓPTIMAACIMA DE ZERO

A teoria da redução clo impulso de Hrúl sllÉlere que, eln geral, os


ol€anismos procuram níveis mínimos cle estimulação,prefef indo apaz
e a tranquilidade a estados de tensão e activação. Mas, de facto, isto
parece não corresponcler inteiramente à verdade, pois existem poÌÌcas
clírviclas de que algumas experiências são activamente proclrr:rclas,
como o sabor doce, a estimulaçã<) erótica, provas atléticas e andal na
montanha mssa. Estas activiclades fazem pouco sentido se o organisrno
proctlra realmente redr.rzir o nível de activação e evitar a estimulação.
Este padrão cle procura de estimrúaçío até no lato pocle ser
observado, pois ele prefere beber água artificialmente adoçada clo que
água natural, mesmo que o adoçante não possrÌa valor calórico e não
acalme a fome (Sheffielcl e Roby, 1950). Conclusão semelhante emerge
cle tmbalhos sobl'e a curiosidade e a maniplllâção. Os macacos enviclam
esforços extmordinários até descobrirem o modo de abrir trincos
pfesos a uma táblÌa de madeira (uerFig.3.26), mesrno se a abeftufa clos

,,
,À\.

\
%
F|g. 3.26 A atrk.ts itlctde
e d. manipu.ldçã.r). Jovcns nluìciìcos
rhesus tentalrr abrir um cacleaclo sem
receberem qnalclucl recompcns?ì
r {
espccial. Aprcnclem a fazêJo apenas
"pelo plazcr cle o fazer". (Segunckr
ìNlffir.
Harlow, 1950; Fotografiâ Gcntileza
da U n iue rs ity Wis cortsitt. Pr i nut te
ktbtna.tu'1t) ó
147

trincos não propol'ciona nada ao animal. O acto cle resolver o <lilema


l4oTIvAÇÃo ' cap'3 parecia ser a slla recompensa. Neste aspecto, os macacos agiam de um
sta há
modo muito semelhante ao homem, que compra puzzles, rcsolve
mo de palavras cruzadas e anagramas dos jornais e que, de inírmeros modos,
Ieos procur? a estimulação mais do que tenta recluzi-la (uer Cap.4).
otivos
Estas observações sugerem que o nível óptimo de activação pode
ensão
achar-se acima cle zero. Se nos encotltrantos acitna deste óptimo,
mal a
agimos como Hull sugerin e tentamos reduzir a estimulação. Mas se
Ìesrna
estamos abaixo do nível óptimo, desobeclecemos a Hrúl e, em vez
ra de
clisso, procuramos estimlÌlação para recLlperar o nosso nível óptimo.
actos
rferiu Qual é este nível óptimo? Sem dírvida qlre varia de instante para
)S oS instante e de motivo para motivo. O nível óptimo da fome é
rìma
presumivelmente bastante baixo, de tal modo que toleramos muito
pouca fome antes de sermos impelidos a comer. O do sexo é
provavelmente mais elevado, pois a maior parte dos animais são
selectivos na escolha do parceiro, mesmo em estados de prontidão e
cle activação sexual (uer Cap.10). Pode ainda haver variação de
tl, os pessoa para pessoa: scgundo alguns autoles, certas pessoas são ávidas
t paz cle sensações e procLrram habitualmente a estimulação' enqLranto
isto olrtras preferem Llma existência mais tranqlÌila (Zuckerman,l979; uer
LÌCAS Cap.16).
das,
rna
smo DROGAS EADIçAO

;ão.
sef Geralmente as pessoas procllram optimizar os níveis de activação
que atrâvés das vias esperadas - comem se tiverem fome, dormem quando
não cansadas, pfocufam pessoas intefessantes ou situações estimulantes se
rlge estiverem entediadas. Em alguus casos, porém, o desejo de estimtúação
lam pode levar à procura de alterações drásticas da activação pelo uso e
COS abuso de clrogas.
Jos
Drogas que alteram o níuel cle actiuação. Usam-se duas classes
principais de drogas p ra os níveis de activação: as drogas
^lÍerar
depressora.s, que reduzem a activação, e as estimukt'ntes, qLre a
allmentam.
As drogas depressoras incluem diversos sedativos (por exemplo,
os barbitúricos), o álcool e os opiáceos (ópio, heroína e morfina)6'
os seus efeitos gerais consistem em reduzir a actividade de todos os
neurónios do sistema nelvoso centml. Este efeito pode parecer

6
Em sentido estfito, os opiáceos peftencem a utna classe distinta.Ao contúrio
do álcool e cle outros se<lativos, ftlncionam como Íìafcóticos (quer dizef, pfomovem o
aúvio <la dor) e agem sobre receptores opiáceos distintos.Além disso,um deles - a
lreroíra - em aclministração intfavenosa, pafece sef capaz de incluzir um "alto"
eufórico extfaor.dinafiament€ intenso, pof vezes semelhante â uma excitiÌção
sexual intensiÌ.
748

sufpfeenclente face ao compoftamento exì.lbel'arìte ou agressivo


MOTIVAçÃO . Ctrp.3 ds
indiúcluos embriaÉ{aclos, que parecem tuck) menos letár'gicos ni MoTIvz
cleprimidos. O paraclox<) resolve-se se reconhecermt-rs rluq
i
hiperexcitabiliclacle cla pessoa embriagada é um cas<-r tle clesiniltiçio
Após apenas Llma oll cluas bebidas, as sinâpses inibicloras do cére[10
parecem estar depríridas, mas nestas doses (relativamente) baixas n,
sinapses excitacloras ainda não estão afectadas. Como consequência, as
restrições uslÌais do comportamerÌto são afrouxadas e o indivídÌÌ.
pode actuar com percla (la compostura, sentindo-se eufórico e
perdendo as inibições sexnais e aÉaressivas. Mas se continuar a bebeq
os efeitos depressores atingirão todos os centros cerebrais. Então, a
excitação prodllzida pela clesinibiçío darâ lugar a rÌma rechlção geral
da activiclacle. A atenção e a memória falharão e o fttovimento col'poral
A prrtctr.r'tt. íle estitnttldçlio.
()s homens invcntararn rmritas e linguagem tornar-se-ão c d^ vez mais descoorclenados, até quc, pot
âctivicladcs para gozarem a alegria fim, fica completamente incapacitaclo e perde a consciência.
p:trltkrx:tl tkr mttkr c tkr pcrigo. Claro que os efeitos dos estimulantes comportamentais, como a
(A) Algumas clestas actividadcs clue anfetamirìa e a cocaína, são distintos. Estas clrogas produzem efeitos corls
incluzcm cxcitação sãxr na realiclircle o bater do coração rapido e a pressão sanguínea alta, insónia, reclução ds
seguras, tal como zr Montiìnhir Russa.
apetite e, tãlvez como resultaclo cla estimrúação interna, quietude
(Fotografia cle Georg Grerste!
comportamental. Esta íútima verificação tem concluzitlo à difusão clo
Comstock) (B) ()utras actividades
são mais perigosas cono o
uso de doses fiacas cle estimulantes tipo anfetamina, çomo Dexeclrin,
pamclueclismo. (Fotografia Cylert e Ritalin, p^ra tt'àt^r inclivícluos que sofrern cle hiperactividacle
de Gny Sanv:rge, Agcncc ou de pertÌtrbações cle cléfice cl:Ì atenção (Anclreasen e Black, 1996).
Vandy - staclt / Photo lÌesearchers) Os estimulantes também elevam o hLrmor. Em particular com a
(C)Ainda cm outras Írctividades, cocaína, a elevação clo humor pocle ser intensa - um "pico" eufórico
o meclo e o perigo são acompanhado cle sentimentos cle enorme energia e cle aumento da
experimentaclos de morkr vicâriante,
auto-estima, um facto qlre levou alÉiuns méclicos do virar do século
como nos fìlmes cle terfor. ljma cena
passado (incluindo Sigmuncl Freucl) a elogiar a cocaína como tìma
cle Scream (199(r) com Dlew
Barrymorc. (Fotografia Gentileza cle clroga milagrosa que produzia vm energia sem limites e eúoria sem
I'hotofest, c.4rjlriglJt @ Diútension quaisquer efeitos colaterais. Infelizmente estavam bem ktnge cla
Iihns) verdade,porquanto a euforia inicial tem LÌm cÌlsto elevado. Ao contrário

t{À *'.ii*

A C
t49

aqressivo
qo
das suposições iniciais, as anfetaminas e a cocaína procluzem em
. Cap.3
etaryicos qt)
geral dependência que poderá, eventlÌalmente' tornar-se no pti-
mos qtre . meifo obiectivo de vicla do sujeito. Além diss<1, o Llso fepetido cle
clesinibiçino cocaina (e cle anfetaminas) pode concluzif a estados disfóricos
; 4e cér.ehq extfemos semelhantes a alguns tipos de esquizofrenia, com delírios
te) barxas
as
de perseguição, medos irracionais e alLlcinações (Siegel, 1984)'
squência, Algumas substâncias químicas felacionadas com estas drogas têm
oLrtros efeitos tóxicos; a metanfetamina, pol' exemplo, é uma
ng
e indivídÌlq
eufórico
s
neurototcina poclefosa que pode destrtlir nellrónios'
.tar a be[ç1
ris. Entào, Tolerâ.ncia e priuação. Muitas drogas, e não apenas as
a
Jução gernl anfetaminas e L cocaífia,podem produzir adição' Em geral, o padrão de
to corpofal adição c facteriza-se por cluas cafactefísticas pfincipais: primeira, o
té que, po1 clependente adquife Lrm aLlmento da tolerâ.ncia face à droga, tal que
necessita de doses cada vez maiofes para obtef o mesmo efeito;
Lis, corno n
segunda, qlrando se sLrspende a droga, aparecem sintomas de
bitos cono prinação. Em geral, estes sintomas são precisamente opostos aos
edução clo sintomas pfoduzidos pela própria droga. Assim, a heroína produz
, quietrÌde alívio da dor' os clependentes de heroína pfivados cla droga, ao
lifrtsão do contfáfio, tofnam-se extfemamente irritáveis, inquietos, ansiosos e
Dexedrin, sofrem de insónia. Os estimulantes são idênticos: a cocaína e as
rctividacle anfetaminas produzem elação e energia; a privação destas subs-
:k,1996). tâncias clá lugar a Llma depressão catastrófica acompanhacla de
lar com a fadiga'omesmoSeaplicaamuitossintomasfisicosproduzidos
eufórico por estas drogas: uma carâcterística dos opiáceos é originarem
nento da acentttadaobstipação.(Duranteséctúosforamtrsadaspafamitiga;Ía'
o século diarreia e a clisenteria.) Mas, quando a clroga é retirada, o aclito sofre de
mo tÌma diarreia aguda e clos sintomas gastfointestinais associados
(túien,1985;
irria sem Volpicelli,1989).
rnge cla
ontrário
ATEOIUA DA MOTIVAÇÃO DO PROCESSO OPONENTE

Como explicar os fenómenos clo uso da droga e da acliçâo?


Algumas propostas vêm da teoria do processo oponente
que
apresenta um amplo esboço de como mLritos motivos são adquiridos''
A premissa básica desta teoria é homeostática, a de que o sistema
,r.rrroro tem Llma tenclência getal para fleLrtÍ liz r qualquer desvio clo
nofmal.Assim,seoorganismoestivefdemasiadofrio,procurarámeios
para conseguir o calor sllficiente; um organismo que esteia muito
q.r.nr" procurará meios para arrefecer' O mesmo se aplica' segundo
Àru propor,a, às dimensões cla activação e clo prazer uersus dor'

,()tefmoprocessooponentefoitrsacloot.iginirlmentenoclomínioclavisãtl
para direcções opostas
cromática, oncle designa processos neuronais que se <lirigem
(uer Cap.5).
150

Se existir demasiada inclinação para o pólo da alegria e do êxtass,


MOTIVAÇÃo . Cap.3
processo oponente é chamado a intervir procurando restaÌuar
neutralidade do humor. Inversamente, se a inclinação inicial for
sentido do terror ou pânico, haverâ Lrm processo oponente
direcção do lado positivo, com vista a levar o indiúduo para um
mais equilibrado.
Uma outra hipótese desta teoria, é a de que, em cacla um
casos, o processo oponente se torna mais eficaz com a
na primeira vez que estivemos com medo, levará algum tempo
que o equilíbrio se restaure. Mas, à medida que a experiência assrìs.
tadora se repete, a npidez com que o equilíbrio se restaura será cada
vez maior (Solomon e Corbit, 1974; Solomon, 1980).
Este "efeito da prâtica" pode explicar o desenvolvimento q4
tolerância e da abstinência, bem como do ciclo de adição resultante.
Segundo esta teoria, a reacçío produzida pelas drogas desencacleia
um processo que puxa na direcção oposta, restaurando o estado
inicial do organismo. Quanto maior for a frequência do consumo de
droga,mais intenso se tornará o processo oponente. A consequência
é um aumento da tolerância, devido ao facto de o processo oponente
se ter tornado mais eficaz e poder contrariar os efeitos da droga,
ráryida e completamente. Como resultado tornam-se necessárias
doses cada vez maiores para ultrapassar o processo oponente e pro-
duzir o "pico" desejado.
Que acontece, quando a droga é rctirada? Não haverá, obvia-
mente, qualquer efeito da droga mas persiste o processo oponente,
cuja força aumentou com cada dose. O processo oponente puxará o
adicto na direcção oposta à da droga retirada, e isto é o que dá origem
à angústia da privação - com um conjunto de características que,
como vimos, são opostas às associadas com a droga (Solomon, 1980.
Ver Cap.4).

A Biologia da Recompensa

A nossa anâlise dos níveis óptimos de activação e da teoria do


processo oponente chamou a atençáo para aquilo que os diversos
motivos têm em comum psicologicamente. Todos eles implicam
um nível de activaçã.o óptimo (mesmo se esse óptimo vaúa de
motivo para motivo);todos podem implicar um processo oponente
que visa manter o estado constante do corpo. Mas haverá, também,
certos aspectos comuns fisiológicos subjacentes aos diversos
motivos? Poderia haver uma região cerebral isolada cuja activaçáo
desse lugar ao que nós, os homens, chamamos "prazef,, quer este
ptazff tenha oriçm no acto sexual, quer na audição de música, quer
em comer uma deliciosa sobremesa? Os investigadores procuraram
responder a esta questão estudando os efeitos gratificantes da
estimulação eléctfica em diversas regiões do cérebro.
t5t

': tìq Esta área geral cle investigação iniciou-se em l954,quando James
. Cap.3
âta Olcls e Peter Milner descobrilam que os ratos aprendem a premir uma
| Íì0 alavanca se forem reforçaclos apenas com uma breve clescarga
,na eléctrica em certas regiões do hipotálamo e do sistema límbico (Olds
:ado e Milneq L954;uer Fig.3.27). Efeitos reforçadores similares têm sido
clemonstraclos ntlma grande variedade de animais, designadamente
stes gatos, cães, golfinhos, macacos e seres humanos' Para conseguir essa
lim, estimtrlação, os l?tos carregam na alavanca conì uma frequêucia
aré superior a 7OO0 vezes por hora, durante horas e horas seguidas'
os
suE- Quando forçados a escolher entre a comida e a allto-estimulação,
ada ratos esfomeados optam geralmente pela auto-estimulação, mesmo
que isso os leve literalmente a morrer cle fome (Spies, 1965).
da
rte.
eia CENTROS DE PRÂZEIì ESPECÍFICOS E GERAÌS
nos
.do Fig.3.27 A auto-estit'lulação
t(ttos. O l?to sentc a cstimrllação
de
que clura menos Como explicar o efeito recompensadot da auto-estimulação?
de uma descarga
cia
de unr scgundo.
(Gentileza clo Dr M' uma possibilidade é que a allto-estimlúação mitnetiza ceftas gfati-
ìte
E. Okls) ficações naturais específicas. Assim, a estimulação de uma região
1a, poderia "enganar" o cérebro, levando-o a sllpor ter estado a comer, a
ias
estimtúação de uma outfa fegião poderia levá-lo a sLrpof ter estado a
:o-
coptúar, etc.. Uma explicação diferente é a de que a auto-estimtúação
proporciona uma espécie de ptazer mais geral, não específico, algo
ia-
que toclas as recompensas partilham. Bebeg comer e copular são
e,
obviamente cliferentes, mas talvez as difefentes mensagens que enviam
o
p ra o cérebro ("acabo de beber, de comer, de copular") alimentem
m
finalmente um sistema neurológico comum que feage a toclas elas de
um modo muito parecido ("certamente isso foi bom")'
t.
Em geral, as provas parecem favorecer a primeira destas
possibiliclades - nomeaclamente a de que a estimulação de certas áreas
procluz recompensas bastante específicas. Por exemplo, os animais
esforçam-se no senticlo de obter estimtúação eléctfica na zona latetal
do hipotálamo (que, por vezes, estimula a fome), mas o quanto se
) esforçarão por obter essa gfatificação <lepende do seu nível de fome.
s
Se não tiverem comido durante algum tempo, esforçar-se-ão muito
mais clo que o fariam em caso contrario. Isto slrgefe que o cérebro
interpreta a estimulação desta região como Llm equivalente da comida.
obtêm-se efeitos análogos nas regiões que se relacionam com o acto
de beber oll com o comportamento sexual (olds e Fobes, 1981)'

A HIPOTESE DOPAMINÉRGICA DO REFORÇO E DOS EFEITOS DAS DROGAS

Qual a base fisiológica do efeito da auto-estimulação? Diversos


investigadores supõem que a chave está em certas vias dopaminér-
gicas cerebrais. Sabe-se qlre a alrto-estimulação é mais eficaz quando
152
t
aplicada a LÌm feixe de fibras nervosas designado feixe medtql I
MoTrvAÇÃo . cap.3 'Í
cérebro a.nterior (MFB, medial forebrain bundle). Estas fibra5 r'S'
do mesencéfalo par o hipotálamo e, de acordo com alglrns ,a
{
desencadeiam a actividade de outras células que se estendem t
córtex parte do cérebro médio (a drea tegmental aentral ov VÍA) pa1i-
límblcd :,.i,.'l!, ârea no cérebro anterior conhecida como núcleo acumbente N

Fig.3.28). Estas vias contam com a dopamina como


I
v
Isto revela-se pelo facto de que a injecção de drogas antagonistas
dopamina, nas regiões cerebrais relevantes, totna a
cerebral menos eficaz. Inversamente, se se injectarem, na mesma
acumbente drogas que servem de agonistas da dopamina, ocoffe um efeito
oposto: a estimulação cerebral toma-se bastante mais eficaz (Gallistel,
Shizgal eYeomans,l!81;Stellar e Stellar, 1985;Wise e Rompre, 19g9).
Para explicar estas verificações, alguns autores supõem que
a
Fig.3.Ze As uias implicadas nos activaçáo das fibras qÌle se originam no núcleo acumbente 6
efeitos reforçadores da. estlmulítção.
interpretada pelo cérebro Òomo um equivalente neurológico 4ç
Na figrrra, representa-se uma secção
"Bom... repitamo-lo".Isto pode realmente ajudar a. explicar alguns dos
da parte inferior do cérebro de um
fato, apfesentando uma via
fenómenos de adição à droga. A cocaína como a anÍetamina aumen_
descendente que estimula neurónios tam os níveis de dopamina na sinapse. A cocaína fá-lo bloqueando n
libertadores de dopamina na /u.ea tecaptação da dopamina (para que o transmissor permaneça um
VentmlTegmental que ascende para período mais longo); a anÍetamina faz o mesmo e também aumenta a
o NÍrcleo Acumbente. (Segundo libertação de dopamina no terminal do axónio. Libertadas na corrente
Rosenzwig, Leiman e Breedlove sanguínea, ambas as drogas poderão possivelmente penetrar no
1996)
núcleo acumbente e disparar as fibras do "Bom... repitamo-1o".
Existe ainda muito por esclarecer neste domínio. parece claro
que a dopamina desempenha uma função central na fisiologia da
recompensa, e identificámos algumas das estruturas cerebrais cruciais
paÍa a fecompensa. Mas ainda não sabemos como reunir os vários
conhecimentos sobre a estimulação do cérebro, pata ctiat um quadro
coerente da base biológica da recompensa ou, de modo mais ambi-
cioso, da base biológica do pnzet. euando soubermos, poderemos
compreender muito mais do que por qve Íazáo os ratos (cães e
golÍinhos) primem uma alavanca que produz pequenos choques eléc-
tricos em certas partes dos seus cérebros. Poderemos compreender a
base neurológica da recompensa e motivos natLrrais, o que se passa no
cérebro que faz com que os homens e os animais registem certos
eventos como eventos que gostariam de voltar a sentif (como comef
quando com fome, coprúar quando sexualmente activado, e assim por
diante). Poderemos, também, compreender algo acerca da base
biológica de algumas fecompensas "não naturais", como as drogas, a
que alguns indivíduos ficam adictos.

A NATUR-EZA DOS MOTTVOS

Durante os útimos cinquenta anos, tem-se verificado um progresso


significativo na compreensão dos fundamentos psicológicos e
t53

tediql fisiológicos dos motivos biológicos. Estes motivos são muito hete-
do . Cap.3
l'bras vio rogéneos. Alguns, concretamente, a regtúação da temperatnra, a sede
teóricos, e a fome implicam mecanismos de realimentação;olÌtros, como o sono
rm drÌrna e o sexo, não o implicam.Pata alguns motivos, como as ameaças, o
pafa luna nível cle activação óptimo é elevado; para olltros, como o sono, é
,nte (usy baixo. Identificámos algumas características - quer psicológicas, qner
tsmisso( fisiológicas - que podem juntar os motivos, mas' no fim, a diversidacle
ristas qn cle motivos persiste.Talvez a nossa procLrra da simplicidade e clo que é
nulaçãq comlrm íráo seia, correcta. Como todos os cientistas, os psicólogos
na áre4, sentem-se mais felizes com as explicações claras. Mas a Mãe Natureza
r efeito não planeou os organismos para fazer felizes os psicólogos; ela
iallistel, planeou os organismos para fazerem o qLIe necessiÍam f^zer para
1989). sobreviver e propagar os seus genes'
que a Um íútimo aspecto: este capíttúo oclÌpou-se com os motivos
3nte é que resultam de mecanismos em grande medida inatos. Estes são,
ico de afinal, os motivos respeitantes aos objectivos biológicos que
ns clos devemos atingir para sobreviver. Mas, sempre qlre se analisa um
umen_ motivo em pormenor (como no caso cla selecção de alimentos pelo
Lndo a homem), verificamos que o nosso comportamento motivado
ta uÍn clepende não apenas da nossa biologia, mas também daquilo que
:nta a aprendemos acerc do ambiente em que actllamos. Àssim, o que
'rente bebemos nã;o é apenas uma questão do nosso equilíbrio de
Í' llo líquidos, mas também de preferência adquirida e, em algttns casos,
de aversões cultttralmente encorajadas. Por exemplo, grande
claro nírmero de membros da cultura ocidental sentiriam repulsa em
a cla beber uma chávena da sua saliva, mesmo sabendo qLle teve origem
ciais nas sllas próprias bocas. Do mesmo modo, embora tenhamos que
irios manter determinados níveis de nutrientes, poucos de nós se
ldro sentiriam satisfeitos com Lrma dieta de gafanhotos. O mesmo se
lbi- aplica a oLltros motivos, como o qlle capta a nossa curiosidade, nos
nos ameaç ou nos desperta sexLralmente' Em todos estes casos' a nossa
rse experiência constrói-se sobre a nossa biologia, como um tecelão
léc- que pegasse nos nossos fios genéticos e tecesse o tecido que
)ta somos zós.
no No próximo capítulo, iniciaremos a anâlise de como ê fotmada a
los urdidura e a textufa deste tecido.Trata-se do processo intricado pelo
lef qual adquirimos informação sobre o ambiente e sobre como o per-
of corremos, processo chamado aprendizagem.
SC

SUMÀRIO

l.Amaiorpaftedasacçõeshumanaseanimaissãomotiva<las.oSlnotilÌos
têm uma ftrnção clupla: Primeiro, dirigem o organismo para realizlv um compora
tamento cleterminaclo. Segwdo,potenciarn m is cetta:s percepções, comportamen-
tos e sentimentos do que outros, impelindo o organismo a aproximar-se ott a afas-
tar-se de determinaclos objectivos.
154

2. Uma base biológica da acçáo dirigida ê L realirnentação negatiua eÍr


MoTIVAÇÃO - Cap.3 o sistema se "realimenta" a si próprio de modo a para;r a sua própria acção.4
limentação negativa inata é responsável por muitas reacções que mantêm a
bilidade do meio interno do organismo, ou bomeostase. Células especiais
hipotálamo entendem vários aspectos do estado interno do corpo, como seia
tempemtura. Se esta estiver acima ou abaixo de determinados pontos fhcos,
activados determinados reflexos auto-reguladores controlados pelas divisões
pátlca e parassimpátlca do sistema neruoso autónomo (por exemplo,
Além disso, desencadeiam-se actos voluntários dirigidos para o exterior (tal corno
expor-se ou resguardar-se do sol) .

3. Mecanismos homeostáticos semelhantes estão na base de outros


biológicos. como a sede.O organismo é informado acerca do seu equilíbrio de
pot receptores de uolum.e, que verificam o volume total dos fluidos do corpo,
pot osrnorreceptores, qrue monitorizam os níveis de líquidos dentro das céluhs.
Às perdas de água são parcialmente compensadas por mecanismos reflexos,
designadamente a secreção da uasopressina.,a hormona antidiurética, que instrui sg
rins para reabsorverem maior quantidade da água que passa através deles. d16qt
disso, o organismo reajusta o seu próprio meio interno através de uma acção
dirigida - beber.

4. Afome tem sido o motivo biológico mais extensamente estudado. Muitos


dos estímulos que desencadeiam a alimentação e a saciedade são provenientes dq
meio interno. Os sinais da alimentação abrangem os níveis de nutrientes na
corrente sanguínea (que provavelmente actuam nos receptores da glicose no
cérebro) e os processos metabólicos no figado (principalmente o equilíbrio
glicose-glicogénio). Os sinais de saciedade compreendem mensagens dos
receptores do estômago e do intestino delgado (em especial uma hotmona da
saciedade chamada colecistoquinina oU CCIQ e do tecido adiposo que segíega
leptina. Outros sinais para a fome e a saciedade são externos, concretamente o
paladar dr comida.

5. Os investigadores pensavam, inicialmente , que o controlo do alimentação


selocalizava em centros antagonistas da fome e da saciedade no hipotálamo. Como
prova, apontavam os efeitos de lesões que produziam afagia,uma recusa total a
comer, ou biperfagta, um aumento considerável da ingestão de alimentos. Esta
teoria original do cento-dual foi derrubada pelas descobertas que sugerem um
papel maior dos órgãos digestivos e do tecido adiposo na fome, bem como pela
existência de múltiplas vias da fome e da saciedade no cérebro.

6. Os factores homeostáticos determinam se e quando um animal come, mas


não o que come. A selecção de alimentos é determinada por diversos factores,
designadamente as preferências inatas e r aprendiz gem. Muitos animais são
neofóbicos - medo de quanto seia novo. Provaúo apenas uma pequena quantidade
de qualquer alimento novo, desenvolvendo uma auersã,o de paladat adquirida, se
esse alimento se revelar venenoso, ou acÍescentando-o à sua dieta se pfovaf ser
segufo.

7. Uma perturbação relacionada com a alimentação é a obesidade.Alguns


casos são devidos a factores constitucionais, inclusive a eficiência metabólicâ.
A obesidade observada em alguns indMduos pode representar a acçáo de "genes
indolentes" que codificam metabolismos mais lentos, ideais para dietas frugais mas
nocivos na abundância moderna. Outros casos resultam de vários factores
t55

,tegailaa CIÌì compoftamentâis. Segundo L lJipótese de externítlidade,as pessoas com excesso de


?ti'à acção.d 'c'rp.3 peso são compamtivamente menos sensíveis a sinais intefnos de fome do que a
:ftantêrn 4 \ sinais externos, tais como o paladar. uma alternativa é a hipótese do ponto fi&o,
as especiais segundo a qual incliúduos com excesso cle peso têm um ponto fixo intefno mais
elevado parà o Peso.

g. outfos clistúrbios alimentafes sào a anorcxia neruosc4,em que existe um


paclrão cle auto-inanição implacável e pof vezes letal, e a bulimia neruosa, qr're se
c tacÍefiza pof um peso normal apesar de fepetidos acessos de comida e cle
privação.

rrttros rnotivtu g. Ao contrário cla secle e cla fome,que são largamente baseadas em factores
.líbrio de homeostáticos clo meio intefno, váfios motivos são instigados a paftif do exterior
4g,o
s do cofpo,e um exemplo é a reacção pfeparàtófia à ameaça. os mecanismos biológicos
r das célu1a,- abrangem as operações do sisterna neruoso autó,?omo (SNA) ' O SNA é constituído
1os refle;rqg, por clois mmos antagonistas. um é o sistemí4. nefuoso pa.ta.ssimpãtico,q\e sefve as
1ue instr.ul 6, ftinções vegetativas cla vicla quotidiana, como a digestão e a repfodução Baixa o
deÌes.415,n ritmo cardíaco e recluz a pressão sanguínea. O outro é o sistema net'r)oso shn-
uma acçâo
pá.tico,qte activa o corpo e mobiliza os seus recursos em resposta à ameaça Este
sistema aumenta os combttstíveis metabólicos disponíveis e acelera a sua utilização
aumentando o fitmo cardíaco e a respiração. uma actividade simpática intensa é
ado. Muitos umareacçãocleemergência'qtrenostofnavigilantesecapazesdelidarcom
inientes do contingências momentâneâs impostas por sitìJações ameaçacloras'
:rientes 12
glicose nq 10.4 reacção cle emergência simpática nem sempre é adaptativa Pode

zquilíbrio produzir disrupções temporáfias clas ftiirções digestivas e sexuais,podendo também


gens dos calÌsar perturbações psicofisiológicas mais permanentes'
mona da
-- segfega
l1.Entrc os estímulos que desencacleiam a reacção cle emergência simpática
está a dor que, embora sela desagraclável, é um sinal para reagit to
perigo' Mas'
Ìmente o
como a continuação da dor pode interferir na acçáo adequada, processos con-
tra-actuantes intervêm para aliviar a clor. Um mecanismo de dor implica as

lentação enclorfinas,um gfupo cle neurotransmissofes, segregados no interior do cérebro,


r. Como que actuam para bloquear âs mensagens da dor. As endorfinas podem explicar os
que
r total a
efeitos <le alívio <ta dor pelos Pl.l.cebos, substâncias quimicamente inertes
os. Esta incluzem bem-estar porque os pacientes supõem que são eficazes'
em um
1.2. Embora o sistema simpâtico active muitos processos no corpo'
diversas
to pela
estfuturÀs cofticais e stlbcorticais activam o cérebro. Estes sistemas de despertar
são opostos por pÍocessos antagonistas que causam o solÌo Durante o sono'
a

e, nlas âctividade cerebral modifica-se como o mostlÍÌ o electroencefalogram'a ot EEG.


qual o córtex e
tofes, Todas as noites , oscilamos €ntfe o sott o de ond.as lentóts , dufante o
s são as funções corporais estão relativamente menos activos, e o sono REM'
idade ca.i1àctefizàdo pof uma considerável actividacte coftical e corporal e ainda por'

la, se movimentosúpi<losdosolhos(ouREMS),ecluasecompletaflacidezclosmírsculos
lentas'
r sel do tronco e dos membros. O sonho ocorre quer clurante o sono de ondas
quer clurante o sono REM. os sonhos altamente visuais associam-se mais ao sono
mais
REM, mas isto pode clever-se ao facto de que os participantes despertados
uns mpiclamente clo sono REM conseguem relatar sonhos com mais poÍmenor'
ica.
nes 13.Os estuclos sobre privação clo sono mostram que,quando um oì'l outro
las tipodesonoéimpeclido,tendeaserrecuperadonasnoitesseguintes.Istosugefe
que existe necessidacle de cada um dos dois tipos de sono, embom as suas ftinções
:es
r56

biológicas sejam ainda desconhecidas . Uma hipótese é que um ou ambos q5


MoTwAçÃO . Cap.3 de sono tenham uma função reconstituinte, mas esta nío ê a ínica razão,
sono é umprocesso comand.ad.o por um relóglo que depende, em parte, d1
do dia, seja qual for o estâdo de exaustão do indMduo.

14. Segundo a teoria da reduçtio do ln pulso, todos os motivos


actuam no sentido de feduzir a estimulação e a activação. Pfesentemente, a
dos autores pensa que, em vez disso, os organismos procuÍ:Ìm um níuel óptltny
actlúaçã.o. Se se encontrarem abaixo deste nível óptimo, tentam aumentar a
vação atr:vês de vários meios.

15. O uso de drogas é um modo de lidar com níveis de activação


elevados ou baixos.Algumas dfogas actuam como depressoras, designadamente
álcool e os opiáceos. Outras, como as anfetaminas e a cocaína sáo
Em muitos indiúduos,o uso repetido le à adtção, que se acompanha de
dL tolerâncla e dos slntoffias de priuação se a droga for retirada.

16. A teorla da tnotiuação d.o processo oponente tenta explicar a


à droga, a privação e muitos outros fenómenos, defendendo que todas as
nos níveis de activação produzem um processo contrariante que actua
moderar as subidas e as descidas. Quando se retira o instigador original da
o pfocesso oponente fevela-se mais claramente, como \a pfivação,

17. Os trabalhos sobre os efeitos recompensadores de certas regiões


cérebro levaram a especulações sobre a existência,de centros de prazer no
Existem provas de que a estimúação de ceftas áreas produz efeitos de
específicos. De acordo com a bipótese d.opamlnérgica do reforço, as bases
ronais destes efeitos fecompensadores baseiam-se Í Lctfraçío de fibras
numa estrutura do cérebro cham da núcleo acumbente e sío desencadeadas
dopamina. Segundo a hipótese, a sua acti ção é o equivalente neurofisiológico de
"Bom... vamos repetilo".

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