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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL – UEMS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA NAVIRAI


CURSO DE DIREITO

JOSÉ ALBERTO FERNANDES JUNIOR

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

PROJETO DE PESQUISA (TCC)

NAVIRAI – MS
2019
JOSÉ ALBERTO FERNANDES JUNIOR

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Projeto de Monografia submetido ao


Curso de graduação em Direito, da
Universidade Estadual de Mato Grosso
do Sul – UEMS.

Orientador: Professor Esp. Welington


Gonçalves.

NAVIRAI – MS
2019
1 - INTRODUÇÃO

Assunto delicado e que divide opiniões. E a questão principal, a redução da


maioridade penal, resolveria o problema da delinquência juvenil?
Há um Projeto de Emenda à Constituição tramitando para ser votado na
Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). A PEC 33/2012 diminui a
maioridade penal nos casos em que menores infratores cometem os crimes hediondos
elencados na lei 8.072/90, como estupro, latrocínio, lesão corporal seguida de morte,
favorecimento à prostituição e exploração sexual de crianças, adolescentes e
vulneráveis, etc.
Para os que defendem a redução da maioridade penal, a proposta é reduzir a
idade mínima de 18 para 16 anos. Sendo assim, um jovem de 16 anos que cometesse um
crime, poderia ser processado e julgado como um maior de idade, não recaindo sobre
ele os efeitos do ECA(Estatuto da Criança e do Adolescente).
A Constituição Federal, em seu artigo 228, prevê que "são penalmente
inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial". O
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) faz a mesma referência em seu artigo 104.
As crianças e adolescentes, com idade entre doze e dezoito anos, serão julgados
pela Vara da Infância e Juventude e estarão sujeitas a punições, previstas no art. 112 do
ECA, como advertência, obrigação de reparar o dano, liberdade assistida e outras mais
dispostas no art. 101 do Estatuto.
Além disso, não se admite que a internação (medida privativa de liberdade), em
nenhuma hipótese, exceda o período máximo de três anos (art. 121, §3º do ECA). E esta
disposição, em especial, junto à liberação compulsória aos 21 anos (art. 121, §5º do
ECA), causa a indignação da população, por ser considerada tolerante demais com a
delinquência dos menores infratores.
Os opositores dessa proposta alegam que essa decisão, só serviria para encher
ainda mais os presídios, que já estão superlotados. E alegam que o sistema prisional não
consegue recuperar ninguém. Por outro lado, não podemos continuar vendo os números
da violência aumentando em nosso país e continuarmos de braços cruzados.
Atualmente os jovens entre 16 e 18 anos cometem delitos, cientes da
impunidade que os cercam. Pois sabem que não serão presos, poderão no máximo, ser
internados em estabelecimentos que abrigam esse tipo de menor infrator, existentes em
algumas cidades brasileiras.
É evidente a existência desse perfil nas comunidades mais carentes, a
desigualdade social no Brasil, também contribui para esse quadro. O governo deve
oferecer políticas de equiparação social para haver diminuição desses crimes cometidos
por esses jovens, como implantação de projetos sociais, prática de esportes e
oportunidade de emprego para os adolescentes que tiverem mais de 16 anos.

2 - PROBLEMATIZAÇÃO

Há muito se discute sobre a redução da maioridade penal. Nesse artigo, iremos


dissertar sobre esse tema, os prós e os contras que essa mudança pode trazer, e se seria
viável em um país como o Brasil, uma mudança como esta. Iremos fazer uma avaliação
do sistema prisional brasileiro e uma análise da educação atual, para jovens nessa idade,
de 16 a 18 anos. A redução da maioridade penal não deve ser um tema tratado como
secundário em nosso país, atualmente tem sido crescente o número de crimes cometidos
por jovens nessa faixa etária. Uma solução deve ser encontrada e colocada em prática
rapidamente, antes que esses números se agravem ainda mais.

3 - DELIMITAÇÃO DO TEMA

Embora outros países já tenham decidido por reduzir a menoridade penal para
menos de dezoito anos ou não, no Brasil esse tema parece que ainda trará muitas
discussões. Dessa maneira, o que se pretende é trazer várias opiniões de diversos
estudioso no assunto, para que cada um possa se posicionar de maneira embasada de
acordo com o seu ponto de vista.

4 - JUSTIFICATIVA

O número crescente de crimes praticados por jovens e crianças menores de 18


anos, no Brasil, nos faz pensar se a política de encarceramento é realmente eficaz, ou o
que poderia ser feito para diminuir esse preocupante dado.
Nota-se também que o encarceramento atinge mais os indivíduos das classes
sociais mais baixas, existiria mesmo uma seletividade do sistema punitivo penal
brasileiro? Quem acaba sendo selecionado pelo sistema é justamente o mesmo
indivíduo que compõe as classes mais carentes financeiramente, que tem contra si
apontado o foco dos sistemas repressivos, em contraponto com a classe dominante, que,
quando alcançada pelo sistema penal, tem menos possibilidade de integrar as estatísticas
prisionais.
Outro ponto a ser destacado é se seria constitucionalmente legal essa mudança,
tendo em vista que esse assunto gera muito debate entre os estudiosos no assunto. Por
um lado, tem os que defendem que se trata de cláusula pétrea e outros entendem que
seria possível essa alteração.
A justificativa para o desenvolvimento desta pesquisa se encontra no fato da
importância do tema para o Direito brasileiro, eis que, muito embora as mais
importantes instituições de classe se declararem contrárias à mudança legislativa, a voz
das ruas não pode deixar de ser ouvida, e, mais do que isto, compreendida pelos que
estudam o tema.

5 - OBJETVOS

5.1 - Objetivo geral

Analisar as opiniões a favor e contra a "redução da maioridade penal" no Direito


Penal brasileiro.

5.2 - Objetivos específicos

Expor os argumentos a favor e contra a redução da maioridade penal;


Apresentar a situação atual dos presídios no Brasil;
Comentar o impasse da legalidade constitucional dessa alteração;
Discutir se investir em educação é realmente a solução para resolver o problema
da delinquência juvenil.

6 - METODOLOGIA

O método adotado será o descritivo, consistente em revisão bibliográfica e


análise literária de material doutrinário.
Inicialmente far-se-á uma breve demonstração dos princípios fundamentais,
cujos conceitos são importantes para a compreensão do assunto que ora se analisa. Em
seguida, será exposto opiniões diversificadas sobre alguns estudiosos no assunto, ou
seja, opiniões que são a favor e outras que são contra a redução da maioridade penal. E
por último, o posicionamento a respeito do tema em debate.

7 - REVISÃO DE LITERATURA

O tema é objeto de extenso debate, não somente sobre a viabilidade da medida


em termos práticos, mas também relativamente à constitucionalidade da proposta: a) há
quem sustente que a norma constitucional sobre a imputabilidade seja cláusula pétrea.
Assim se manifestam com base no entendimento de que os direitos e garantias
fundamentais não se restringem ao rol do art. 5º da CF/88, mas podem ser encontrados
em outros dispositivos cujo conteúdo seja materialmente relacionado ao núcleo da
Constituição. Por isso, voltado à proteção integral da pessoa do adolescente, o art. 228
não poderia ser objeto de proposta de emenda tendente a abolir suas disposições; b) há
ainda aqueles que argumentam não se tratar de cláusula pétrea, pois a inimputabilidade
não está no elenco de direitos e garantias fundamentais do art. 5º da CF/88; c)
finalmente, há quem considere não haver óbice à emenda mesmo que se conclua se
tratar de cláusula pétrea, que não é imodificável, mas refratária tão somente à abolição
ou ao completo desvirtuamento de seu núcleo, o que não ocorre com a proposta de
emenda em discussão, que somente modifica o art. 228 para possibilitar a devida
resposta estatal à prática de crimes por indivíduos que demonstrem pleno discernimento.
Há quem defenda, que existe inconsistência na proposta, pois a emenda permite
que o agente com dezesseis anos seja responsabilizado pelo cometimento de alguns
crimes, e outros não. Trata-se, claramente, de solução política em que se busca o meio-
termo em razão da resistência sofrida pela proposta no âmbito do próprio legislativo. Ou
o agente tem a capacidade biológica de se determinar de acordo com a lei (para
qualquer crime) ou não a tem (para nenhum crime). A consciência, portanto, não pode
ser variável de acordo com a figura criminosa. Como se sustenta que alguém tenha
discernimento para cometer um latrocínio e não o tenha para furtar uma televisão?
Muito se discute, se um jovem entre 16 e 18 anos, não tem o mesmo
discernimento de um que já completou os 18 anos. Suponha-se que um menor de 18
anos de idade, pratique um fato típico e ilícito. Mesmo que tenha capacidade intelectual,
não responde por crime, pois o Código presume a inimputabilidade. Suponha-se agora
que um rapaz de 17 anos de idade, casado, pratique um fato objetivamente criminoso.
Pelo casamento, ele alcançou a maioridade civil. Em face do CP, porém, ele deve ser
considerado inimputável, pois não tinha 18 anos de idade quando cometeu o fato.
É fato que o sistema prisional brasileiro está enfrentando uma crise generalizada
no país inteiro. Não há estrutura para reinserir o cidadão na sociedade. Por isso, é
provável que o jovem saia de lá mais perigoso do que quando entrou.
O sistema prisional no Brasil está falido, com certeza precisa de uma reforma
completa. Muitos presídios com lotação muito acima da máxima, e não há um programa
de reinserção do ex-presidiário no mercado de trabalho, por exemplo. Uma pessoa que
cumpriu pena no regime fechado dificilmente terá uma oportunidade de emprego
concedida pelos empregadores, os empresários preferem escolher uma pessoa que não
tem antecedentes criminais.
Os presídios do Brasil, são ocupados atualmente por um grande número de
pessoas integrantes de facções, situação essa que dificulta muito a socialização do
detento, pois muitas vezes ele precisa se associar a essas facções para continuar vivo
dentro do presídio. Esse problema das facções também é complexo, e precisa de
investimentos e estudos para resolvê-lo.
Sem dúvidas, a educação reduziria o número de jovens infratores, mas não
resolveria o problema de imediato, isso é uma solução que diminuiria os números da
violência gradativamente conforme os anos vão passando.
Estudos comprovam que a taxa de criminalidade é menor na classe de pessoas
que tem mais estudos. Um bom investimento, seria nas escolas em turno integral, dessa
forma o jovem ficaria mais tempo na escola e menos tempo na rua, onde geralmente é o
lugar que os mesmos acabam se envolvendo com o crime.
Não podemos excluir desse tema, os pais que também tem o dever de educar
seus filhos e por muitas vezes não o fazem, são intransigentes deixando toda a
responsabilidade da educação dos filhos com a escola, que não tem esse papel.

Segundo PARTICHELLI (2012):


A própria sociedade demanda por políticas punitivas, por
mais policiamento nas ruas, redução da maioridade penal,
mais prisões e pela presença de um Estado violento e
repressor dos seus inimigos. E a produção da figura do
“inimigo” é perigosa porque atrelada a ela está o discurso de
que toda ação é permitida para sua eliminação.

Analisando o atual cenário sociológico nacional, entende-se a crescente


influência, incutidas principalmente pela ação da mídia, das ideias do Direito Penal do
Inimigo, que vem influenciando para o resultado tão expressivo a favor desta redução.

MIRABETE (2008, p. 214), ao examinar a questão, faz um estudo de direito


comparado, no qual tece as seguintes considerações:

"Entretanto, em alguns países podem ser considerados


imputáveis jovens menor de idade, como: 17 anos (Grécia,
Nova Zelândia, Federação Malásia); 16 anos (Argentina,
Birmânia, Filipinas, Espanha, Bélgica, Israel); 15 anos (Índia,
Honduras, Egito, Síria, Paraguai, Iraque, Guatemala, Líbano);
14 anos (Alemanha, Haiti); 10 anos (Inglaterra). Algumas
nações, porém, ampliam o limite até 21 anos (Suécia, Chile,
Ilhas Salomão, etc.). Entretanto, há países em que funcionam
tribunas especiais (correcionais), aplicando-se sanções
diversas das utilizadas em caso de adultos."

Isso deixa claro que esse tema divide opiniões em todo o mundo e que não existe
uma opinião certa e definitiva para o assunto.
Vejamos a seguir alguns argumentos a favor e contra a redução da maioridade
penal.
Pró-redução da maioridade penal:
* Alguns criminosos, cientes da impunidade dos menores entre 16 e 18 anos,
acabam usando jovens nessa idade para cometimento de crimes, aumentando assim os
números da criminalidade e da impunidade.
* Muitos países desenvolvidos adotam maioridade penal abaixo dos 18 anos, nos
Estados Unidos, por exemplo, em alguns locais a idade mínima é de 12 anos.
* A punição atualmente para quem possui menos de 18 anos, são muitos brandas,
o que acaba gerando a reincidência.
* A maioria da população é a favor, segundo uma pesquisa do Datafolha,
divulgada em 2015, 87% da população é a favor da redução da maioridade penal.

Contra a redução da maioridade penal:


* A educação seria um caminho mais eficiente, gastos na educação trariam mais
retorno do que na construção de estabelecimentos prisionais para esses jovens.
* O jovem não tem o discernimento de um adulto, pois está em fase de
desenvolvimento psicológico.
* Prender menores agravaria ainda mais a crise no sistema prisional brasileiro.
* A redução da maioridade penal afetaria principalmente jovens em condições
sociais vulneráveis, pois os jovens com condições financeiras favoráveis teriam dinheiro
para pagar um bom advogado.

8 - HIPÓTESE

Parece-me, que uma solução para esse problema, seria a educação, e não o
encarceramento, para isso existe o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que
prevê as medidas (socioeducativas) adequadas à gravidade dos fatos e à idade do menor
infrator (Lei n. 8.069/90). Nessa faixa etária os menores precisam, como seres em
formação, mais de educação, de formação, e não de prisão ou de encarceramento, que
representa a universidade do crime, de onde é impossível alguém sair melhor do que
entrou.
Com a existência real de um objetivo ressocializador mínimo, tornado
programático, obrigatório, permanente e efetivo, mostra-se razoável a alteração do
ECA, ampliando o prazo de internação do menor (entre 16 e 20 anos) para até cinco
anos, na criminalidade clássica, e para até sete anos na hipótese dos denominados
crimes hediondos e assemelhados.
O problema da delinquência juvenil está longe de ser resolvido, ainda haverá
muita discussão ao redor deste assunto, o que não me parece razoável é o conformismo
das autoridades em face desse problema.
É necessário também a reestruturação completa do nosso sistema prisional, para
que lá não seja uma escola do crime, como é hoje. Precisamos ter presídios com
estrutura, para que todos saiam de lá com oportunidade de conseguir um emprego e
dessa forma recomeçar a vida, longe da criminalidade.
Ou seja, não há como resolver esse problema social com apenas uma solução,
são um conjunto de soluções, que funcionando de forma harmônica, irá resolver esse
problema no nosso país.
9 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GRECO, R. Código Penal Comentado. Rio de Janeiro: Impetus, 2017.

CUNHA, R. S. Manual de Direito Penal Parte Geral. Bahia, 2016.

DE JESUS, D. Direito Penal Parte Geral. São Paulo, 2013.

ESTEFAM, A. Direito Penal Parte Geral. São Paulo, 2018.

BITENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal Parte Geral 1. São Paulo, 2012.

BRASIL. Constituição Federal. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.>.
Acesso em: 11 de jun. 2019.

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