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Ingedore G.

Villaça Koch
(org.)

GRAMÁTICA DO
PoRTuGcÊs FALADO
Volume VI: Desenvolvimentos
2' edição revista

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Ur..1v1:.R;m,,.DE E-;T ..,DUAJ nr C.\Ml'IN11'

Reitor
CA;t:_llS H[:-.Jl\ll~l'l' ~li- P,1111·: Cillli..

CoorJçnador Geral da Univc;·sicLide


Jus1' T,\!JJ"L_ Jrnl\;r
rr('i-Reitordc Exrensão e A»unw_, Comunit<irio1
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UMICAMP

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Josr A. R. Gt'hTIJu - PAUL~1 FK~h;.'Jlll n - R.lAllllO A~ mo
Dircwt Exo.:cutivo ~I To 1! A•IM.MK•:::w::::a:;Jj
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11.'l 11

2
A REPETIÇÃO NA LÍNGUA FALADA COMO
ESTRATÉGIA DE fORMUL\Çi\O TEXTUAL

Luíz Antônio 1l1arcuschí

1. A repetição na fala

Mais do que uma simples característica da língua falada, a repetição é uma das
1·stratégias de forn1ulação textual mais presentes na oralidade. i Por .ser un1a estra-
l(·~ia de grande 1naleabilidade funcional, a repetição assun1e un1 variado conjun-
to de funções. Contribui para a organização discursiva e a rnonitoração da coe-
rl·ncia textual; favorece a coesão e a geração de seqüências n1ais compreen-
síveis; dá continuidade à organização tópica e auxilia nas atividades interativas.
llisso tudo resulta un1a textualidade n1enos densa e n1aior grau de envolvi1nento
illlL'rpessoal, o que toma a repetição essencial numa gramática da textualização
na língua falada.
Na fala, as repetições apresentarn características de u1n planejan1ento
li11~liístico on-line con1 traços de un1 texto relativa1nente não planejado (Ochs,
1')79). Como fonna de organização textual-interativa, as repetições conduze1n
i1 produção de seg111entos inteiros duas ou 111ais vezes, n1otivados pelos n1ais
t!iversos fatores, sejam eles de orden1 interacional 1 cognitiva, textual ou sintá-
tlra. Na escrita, con1 a possibilidade de revisão e editoração, con1 apagan1entos
s11ressivos, só se obtén1 a versão final) dilninuindo a presença da repetição. Na
fala, em que nada se apaga, a repetição faz parte do processo de edição. Sua
prl'sença na superfície do texto falado é alta, constatando-se que a cada cinco

105
111
palavras, cn1 rnédia, urna é repetida. É por isso que a repetição ten1 avaliação e lunllor); n1as na linha 7 o você refere-se apenas ao interlocutor. Referir, portan-
papel diverso na fala que na escrita. 111, não é u1n ato linear que aco1npanha a repetição enquanto tal. ;\lanter o tópico
1
li
Este esludo pauta-se na perspectiva textual-interativa, fonnulando a hipótese rn·1n se1npre equivale a 1nanter os referentes indiciados pelos n1esn1os itens le.xicais. ,'I
!1
geral de que, na fala, os padrões sintáticos têrn íntiina relação con1 os padrões /\ rl'pctição pron1ove coesividade, referencialidade e topicidade, n1as não
interacionais, de modo que certas propriedades sintáticas de superfície são co11- luH·aridade, pois cada uni desses processos len1 características próprias.
1
l'I
1
troladas, no nível discursivo, e1n função de propostas co1nunicativas, inas as ações O certo é que identidade e diferença, soh o aspecto lexical, não equivalem 11
interativas são geradas no fluxo de padrões sintáticos en1 andatnento. que opera1n "Identidade e diferença sob o aspecto referencial. Caso típico é o da pal'tíjrnse' 1
co1no base sobretudo para a coesividade, a continuidade tópica, a con1prcensão, q11t•, e1n geral, 1nanifesta-se con1 diferenças lexicais para gerar ideutidades
111:
a interação e a argurnentação. A repetição não é u1n descontinuador textual, n1as n.·/i'renciais, o que não é garantido ne1n tncsn10 no caso da repetição integral, I',.
unia estratégia de con1posição do texto e condução do tópico discursivo, tal co1no 1 D1110 1nostrou o cxe1nplo acima. E esta é une1 regularidade bastante grande na '

já defendido em Koch et ai. 0990) e Koch e Silva (1996). Lda que, e1n virtude das condições de produção, lança 1não da repetição con10 ~ '
H
1·:-.1ratégia facilitadora, rnas que nen1 scn1prc equivale a unia linearidade referencial. jl
Numa definição funcional, pode-se dizer que repetiçtio é a produçclo de :1
2. ;Voções gerais \t'g1uentos discursivos idênticos ou sente/bantes duas ou rnais vezes no 111,
11111/Jito de tttn rnesn1u evento co111unicativo. Nessa definição, entratn \'ários
Intuitiva111ente, todos ad1nitiinos que repetir é produzir o 1nesn10 seginento 11·nnos a sere1n esclarecidos. Assiin:
lingiiístico duas ou 1nais vezes. Contudo, a repelição não é u1n sitnples ato ine- 111'
talingiiístico, pois ela e,spressa algo novo. Marcadores. tais como repetindo, como a. a expressão seg111en to discursivo designa qualquer produção lingiiís- 1.
jd disse, quer dizer, enz su1na etc., poden1 ser avisos de que se trata de un1a 1u ·:1 de u1n texto oral, seja ele uin scg111ento fonológico, un1a unidade lexical, un1
repetição, n1as não avisos de que se vai dizer a 1nesn1a coisa si1nples1nente. No "111ta~1na (u1n constituinte suboracional) ou 111na oração; 1
1

geral, eles introduzern paráfrases ou sünples1ncnte algo novo. Há u1na grande


diferença entre repetir clernentos lingüísticos e repetir o 1nesn10 conteúdo. Por-
b. o tcnno idêntico réfere t11na repetição en1 que o segn1cnto repelido é
1·1·:1!izado se1n variação e1n sua relação co1n a pri1neira entrada; seria a repeti- i' '
•11
1

tanto1 repetir as tnesuzaspalavras nurn evento conzunicativo não equivale a ~·ao e.rata;
dizer a tnesn1a coisa. O exe1nplo a seguir ilustra clararnente este aspecto: 2 c. o tern10 senzelhante aponta para a produção de u111 seginento co1n vari- 1

,,~·ao, seja no iten1 lexical, na estrutura (ou parte dela), incluindo-se aí a variação
(1) 1 Ll: você cornpra uni carro carro x prosôdica;
2 você alu::ga... 0 carro x d. a expressão evento co1nunicativo designa 11nu1 unidadc de interação
.1 quando você acaba de pagar dt·sde seu início até o final. Esta especificação faz con1 que a repetição seja
4 1:.
você troca por outro 0 carro y observada no ün1bito do 111es1no evento conn1nicativo con10 condição necessária
5 aí você continua alugando o carro carro z p:tra consideração.
6 você não te1n carro nunca carro n
7 L2: e você vê ... isso isso está descapitalizando o cidadão Aprimeira entrada do segmento discursivo depois repelido é designada como li'
(02-REC-266: 525-529) 11u1triz (ili). A1l1 caracteriza-se por operar con10 base ou n1odelo para a proje-
1·;10 de outro segmento construído à sua semelhança ou identidade, chamado de
Note-se que os referentes de carro varia1n quase a cada vez que aparece a l'<'/1í'/içtio (R). Neste sentido, aM pode condicionar aR em vários níveis: fonológico
palavra no testo. Aretomada é do ponto de vista textual e envolve sentidos que ( l1ic\uindo-se aqui os apspectos prosó<licos), n1orfol6gico, sintático, lexical, se-
cstabelecen1 a continuidade tópica, nuLs não a identidade referencial.] á no caso 111;111tico ou prag1nático, 1nas não iinpede a criatividade ou atividade refonnuh1dora.
de wcê temos algo mais complexo. Parece que o você das linhas de J a 6 refere um ,\ N não é un1 si1nplcs espelhan1ento auto1nático, pois a1tf te1n uma funç.ão pa-
li
indivíduo genérico do tipo '·a gente" (que inclui, entre outros, locutor e inter- radign1ática na relação co1n aR.

106 107
il
1 •.
I'
11

1
li
1

1 ,I
Apartir dessas posições e da estrutura da produção discursiva, obtém-se Observe-se a peculiar estratégia (contra) argumentativa aqui desenvolvida ·1·i

u1na tipologia das repetições. Assim, considerando os aspectos forrnais e funcio-


;I
n1111 base e1n e1n paralelis1nos sintáticos e si1netrias proposicionais, contras-
nais da produção discursiva, Marcuschi 0992) chegou a uma combinatória que tuudo duas posições. O falante diz 1 na linha 1) que te111 u1n conceito diverso da 11t,1·
teoricamente sugere a possibilidade de meia centena de tipos de repelições, tendo t11aloria das pessoas a respeito do que seja "nzorar bern" e então enuncia a 11 ·
sido encontradas ocorrências para apenas 40 deles. Os tipos distribue1n-se em pnsi\·ão da qual discorda. Já a partir da linha 10, retorna a 111es111a estrutura
duas classes: (a) auto-repetições e (b) heterorrepelições. Amais freqüente é a 111kial "n1eu couceito de 1norar bem é diferente" para expor a diferença. Tudo 11

classe da auto-repetição, que chega a 80% de todas as R. Isto sugere que as ~1qui (> si1nétrico inclusive nos procedin1cntos sintáticos de elipses nos 1nes1nos :11
repetições não constituen1 a estratégia 111ais usada para a pro1noção do en- l1j
p1111tos da cadeia, por exe1nplo: ~
volvin1ento interpessoal. 4
111
Aalta incidência daR na fala levou Tannen (1987, 1989) a defender a tese 6 é morar no centro da cidade
de que a língua falada realiza-se em alto grau baseada na "pré-padronização". 0 } perto ue tudo ...
Assim, muito do que se diz não passaria de uma repelição de estruturas pré-fa- 13 é 1norar onde você respire :f,
bricadas. Isto faz con1 que a fala tenha, não obstante sua característica de espon- 0 } onde você acorde de n1anhã
taneidade, um alto grau de formulaicidade. Tanto assim que Tannen (1989, p. 37) 'i
conclui afirmando que "a fala é menos livre1nente gerada, mais pré-padronizada Aestrutura da matriz é e1n grande nún1ero de casos a base para clisõcs 1

do que a n1aioria das atuais teorias lingüísticas reconhecem". .1rrrscin1os ou expansões, inversões, focalizações, seleções etc na construção '11
Atítulo de ilustração, vejamos o segmento (2), que é paradigmático sob da//. Na realidade~ a 1i1 condiciona tanto o tópico co1no uma parte das estraté- "ljl
vários aspectos, e reproduz uma discussão entre dois falantes, um olindense e 1'.las forn11tlativas. 'I
outro recifense, cada qual mais bairrista que o outro: l
11
11,1

(2) L2: eu acho que o meu conceito de morar bem é diferente 1. Manifestações da repetição i
2 pouco da maioria das pessoas que eu conheço
3
11111
l11
a 111aioría das pessoas pensa As repetições se 1nanifestan1de1nuitas 1naneiras e são rnultifuncionais. Sob 1

l1.Ii,
4 que morar benz o ponto de vista do segrnento lingüístico repetido, te1nos:
5 é tnorar num apartamento de luxo ...
6 é morar no centro da cidade .. a. repetiçõesfonolôgicas (aliteração, alongamento, entoação etc.);
7 perto de tudo ... b. repetições de morfemas (prefixos, sufixos etc.); 1!
1

8
1

nos locais onde te1n c. repetições de itens lexicais (geralmente N e V);


mais facilidade d. repetições de construções suborncionais (SN, SV, SPrep, SAdj, SAdv); 11
9
10
até de con1unicação ou de solidão co1no vocês quisere1n e. repetições de orações. ~.
meu conceito de morar bem é diferente
li eu acho que niorar bern Quanto à produção, os segmentos repetidos podem distribuir-se entre auto-
12 é morar fora da cidade ... rt•petições e heterorrepetições, sendo estas inenos freqüentes. Quanto à distri- li1
13 é 1norar onde você respire ... buição na cadeia textual, as repetições podem ser adjacentes (contíguas ou
14 onde você acorde de manhã 11níxirnas) ou estaren1 distantes (con10 no caso de u1111nesmo segn1ento vir repe- Ili
15 como eu acordo [ ... ] lido vários tópicos adiante). 5 Os seg1nentos são repetidos, às vezes integraln1ente 'li

(D2-REC-05: 1.012-1.022) (repetições con1 identidade de fonna), ou con1 variação ( un1 verbo se nonlinaliza, li
1111 uma forma singular vai para o plural etc.). Observe-se que a R integral, aquela
que reproduziria a1lf exatan1ente, é 1nais rara do que all co111 variação, scn<lo

!08 109
que essa variação aun1enta se considera1nos o aspecto prosódico, pois é 1nals E1n (3) tc1nos urna estrutura narrativa típica da fala e que se reproduz
difícil, por exemplo, 1nanter a entoaçtlo constante ern todos os segn1entos 111111u·ras vezes nos textos do projeto r<rRc. Conco1nitante à narrativa, acha-se
repetidos. De resto, quanto rnaior o scg1ncnto discursivo repetido tanto maior 1111a argu1nentação betn estruturada, con1 n1arcas introdutórias que indica1n
a variação. 1
1posiçües te1nporais e encadeian1 seqüências de fonnas, por exe1nplo:
1u!
Como as l? baseiam-se na recorrência de elc111entos lingüísticos, elas apre·
senta111111uitos c~Lsos de paralelis111os e si1nctrias, tanto na construção textuaJ elltão antigamente (( abrifl I fazia))
co1no nas situações discursivas. Veja1nos aqui u1n exe1nplo con1 .si!netrias notáveis 1 agora ( ( depende I faz/ é))
sob o ponto de vista morfológico (uma espécie de continuidade temporal) e do 1

então antigamente ( (calculava/ dava/ desenhava))


ponto de vista da organirnção do argumento (aspecto discursivo): 1 agora ((depende/ vai lançar/ calculo /desenha))
(3) l mas ((calculei I foi /processei I utilizei))
Ll: então atigamente digamos (agora) o pessoal ((sabe /mexe/ fica/ têm))
2 o indivíduo sozinho ele abria u1n livro ... sei lá con1 o professor 11,

3 e aprendia a fazer a coisa .. As repetições n1orfológicas relativas ao te111po verbal atua1n con1 a função
4 agora
tl1· len1jJoraUzaçâo. Por outro lado, cstabelece111 relações discursivas interes-
5 ele depende ... de znuitas outras pessoas pra fazer a n1esn1a coisa ... '>:111tes ao aspectualizaren1 a argun1entação situada en1 te1npos contrastlntes, que
6 só que faz em menos tempo
7 clil'{·rencia111 a natureza das ações praticadas.
é 1nais lucrativo sei lá. [certo? As diversas fonnas de rnanifcstação da R gera1n cerca de 50 tzjJos de
8 L2:
1ahn ahn r1•/wlição, sem contar as R fonológicas e morfológicas. 1• já que neste trabalho
9 Ll:
então ... antiganzente se eu quisesse calcular urna ponte. v:unos concentrar-nos apenas nas repetições lexicais, sintag1náticas e oracionais,
10 eu ca{cu{ava ..
11 uu seja, nas que apresenta1n seg111entos discursivos acin1a do nível n1orfcmático. I'
dava para uni desenhista Ein tennos gerais. as tendências rnanifestadas nos 1nateriais analisados no 1
12 ele desellhava ..
13 corpus do Projeto Nt.:ac foratn as scguintes: 7 111

agora nurn escritório ... não é inais assiln né? 1 1

14 então ele depende do arquiteto i']


15 a auto-i·epetição é mais freqüente do que a betermrepetiçâo, representando
que vaí lançar ... a arquitetura da obra .. 80% das ocorrências; isto se deve, e1n parte, ao fato de haver baixa esponta- 11li
16 aí eu calculo ... 11,lj
17 neidade nos materiais analisados já que se constitue1n de falas con1 te1nas su- 1
o desenhista ... desenha
18 geridos; contudo, pode-se dizer que este resultado vale também para falas
1nas eu calculei 11
19 espontâneas, con1un1a1narge1n de 1OWi de erro; 1
1
11
não foi sozinho ... quanto ao segn1ento repetido, observa-se 11111 equilíbrio entre as repetições
20
21 cu processei metade dos cálculos ... lexicais, síntag111áticas e oracionais, con1 u1n leve predon1ínio (40%) das i''
lllilizei o pessoal da computação repetições lexicais;
22 U: ahn ahn 111
1

do ponto de vista da distribuição das R na cadeia textual. observa-se que


23 Ll ·o pessoal da computação ... sabefazer programa 111
24 e as repetições adjacentes são as n1ais freqüentes, atingindo 90%; as repeti-
não nie.1.:e no cornputador ções <listantes) que aparecern no intervalo de un1 ou mais tópicos, são n1ais
25 porque o computador fica no Rio ... 1.1
26 raras. Há, portanto, u1na preferência nítida por repetições no n1es1no turno '

eles tênz un1 ternlinal de co1nputador certo? e, se possível, dentro da 1nesn1a estrutura frasa!; 11
(D2-SP-343: 897-915) " as R integrais n1ais conn1ns são de itens lexicais, sendo que as R oracionais 1

são as que nutis varia1n. As R integrais são 1nenos freqüentes do que as R


co1n variações, au1nentando essa variação ao se considerar a entoação;

110
J1l
• finalrnente, do ponto de vista estatístico, a fala apresenta cerca de 20% de seus
illi
As R le.vicais 1nenos freqüentes são as distanciadas, isto é, aquelas que apa- li
1nateriais repetidamente, o que não equivale, auto1natica1nente, a unia disper.
são informacional ou rarefação do conteúdo. ''""'lll em tópicos diferentes. Muitas vezes temos dificuldade de saber se se trata 1\11
c\1· 111na repetição, n1as em certos casos tem-se, de fato, u111a reto1nada do próprio
111pirn. Vejam-se os trechos (9 e iO):
Estes resultados inostra1n que a repetição é un1a estratégia usual nas ati·
vidades de formulação textual e contribui de forma decisiva para a formação de
1'11 Li: tu participas de algum grupo ... assim de:: social EXTRA-universidade
cadeias discursivas. Veja1nos alguns exen1plos característicos das diversas assim clube ..
fonnas. ·,ii
( (retomando o tópico três minutos após esse turno))
Li: eu eu eu participo/ eu tenho/ eu sou associada de um clube ..
3.1 Repetição de itens lexicais (D2-REC-340: i37 e 185) 1

110)11: outro dia aí então o (Fábio) contando umas histórias de um::: .. de


Os segmentos (4 a 8) trazem casos de R lexical adjacente. As funções un1 boy barato aí né? ... carro envenenadíssin10 ... 11 I
dessas R são as mais variadas: a (4) dá uma noção de ênfase, ao passo que a
((após encerrar o tópico e uma digressão, retoma o tema))
'.
(5) sugere continuidade; já a (6) serve para estabelecer um elo coesivo; as (7)
e (8) caracterizam a constituição de um tópico. Li: então o cara aí .. analogia né? O cara está no carro mas o que que-
retn?
É tribal a coisa né?
(4) LI: viu E. eu continuo achando que o Brasil só tem três problemas graves
educação, educação e educaçrio (DZ-SP-360: 701-2) 1

(D2-REC-05: .li9-2i) O grande proble1na já apontado para as R !R.x.Y:~s·é S&bei: distinguir entre l
(5) Li: então daí casou foi casando casando todo muudo e de repente ...
a repetição de un1a forma e a repetição de un11nesn10 referente. Continuidade j,
referencial e continuidade co-textual não se equivalem. Veja-se o caso de (8) em
(D2-REC-.l40: 664-5) que as duas prilneiras ocorrências de cavalo de cão usam a expressão, ao !
passo que nas outras duas ocorrências a expressão é 111encionada.
( 6) L2: a sociedade de consumo é diferente ... ela tem que pensar em produzir 1
Ll: pronto
11
L2: e não e1n eco1101nizar ... econonzizar é unia consequência
3.2 Repetição de estruturas sintagmáticas
(D2-REC-266: 581-5) 111

As R síntagtnáticas ou R de construções são aquelas que reproduze1n 1


(7) Li: e se eu (saio) dali ou não basicamente cu posso oão interferimo pro-
cesso global ... 1nas eu queria entender esse processo nê? constituintes oracionais dos 1nais diversos tipos. Às vezes, elas se parece1n con1
11
as l? lexicais e, de fato, há itens lexicais que são constituintes sintagn1áticos ple-
(D2-SP-343: 585- 7) nos, con10 por exe1nplo uin SN sujeito composto apenas pelo no1ne; e às vezes têm
(8) L2: [ ... ] a bancar o cavalo do cão não é! como diziam meus avós
o aspecto de R oracionais podendo serem 1nes1no orações reduzidas ou co1n
Li: co::rre cavalo do crio muitas elisões. No geral, essasR são produzidas na posição adjacente àM (85%
12: cavalo do cão:: entendeu? Era uma expressão antiga.
dos casos). É interessante observar que com relação à variação, asR sintagmá-
cavalo do cão quer dizer [ ... 1 ticas apresentam um certo equilíbrio, ou seja, 52% delas sãoR integrais e 48%
apresenta1n variação. Alétn disso, 45% dos sintag1nas são SN e 30 % são SV, sendo
(D2-REC-266: 634-9) que todos os demais tipos de sintagmas (SPrep, SAdj, SAdv) chegam a 2;%. Cm
exemplo apenas deve dar uma idéia de que fenômeno se trata:

112
113
i 11

, 1

(11) 1 L: não/ ao contrário do que você 1pensa


2 L2: 3 quando chega o inverno ... cadê praia ... [não é' 1 1
[NÃO
3 Ll: eu acho que o 4 L2: [huhum
catnínho para tuna cristianização LI: j1raia ... e você a
4 cada vez n1aior ... agora canzinba por ... 5
1
; própria preguiça
por ca1ninhos indiretos.
: 1

talvez não 'I


7 6 ilnpcde e tá chovendo .. então participo de un1 clube 1

ele encontrando as suasprójJrfas conseqüências.


8 aí o clube tem piscina
as conseqüências dos seus erros. 8 n1cs1no con1 chuva a gente vai na piscina
9 isso vai levá-lo ... a encontrar urna cristianização 1
clnbe ... entendeu?
,, 1

10 9 e te1n reuniões sociais no


você não tenha dúvida disso 1

11 10 1.2: hahã
porque isso que nos n1ata sobretudo 11 I
12 11 LI: aí as crianças fazem esporte aí eu ... [tam bérn participo
é a pressa 1

[n1as co1no tu consegue um clube assin1


L)
14 L2: isso não/
é a pressa de cada dia
a pressa de cada dia éh éh éh éh::
12 L2:
13 pra se associar? '
l
·1,
i'
15 14 LI: porque meu marido ele é militar 11·
[é a pressa de cada dia
16 LI: 15 e ele [tem/ paga né?
rdessa você não se livra 1nais i'1 i
16 1.2: [ah: fica mais fácil né?
(D2-REC-05 197-210) 17 L1: ele paga mensalmente 11
li
18 ai ele tem nê~
Uma observação interessante a respeito de repetições lexicais e sin- 19 L2: eu j:í tentei eu já tentei fazer [ ... ]
1
I
tag111áticas é o fato de elas se dare1n en1 sua grande rnaioria (acin1a de 80~h) con1 1
1 1

verbos e no1ncs, sendo raras as repetições de adjetivos e advérbios isolada- ele paga lá o clube nê? 1\
20 Ll: é
n1ente, a não ser que se trate da função de ênfase, con10 no caso de "ele falava
tanto !auto tanto que acabou cansando todo 1nundo'', Isto pennite supor
que a repetição te1n a ver cotn os aspectos centrais da condução tópica (e a
(D2-REC-340: 393-415)
I',
Note-se que os itens clube, praia, inverno e jJíscina aparecera111 várias 1'1
manutenção da coesividade pela via do léxico), que se dá em geral a partir dos
vezes repetidos e nunca prono1ninalizados, pouco in1portando a posição sintática l,1
núcleos oracionais constituídos por nornes e verbos. Por outro lado, predo-
minam asR de SNs plenos (em posição pré- ou pós-verbal) fazendo um jogo,
e o status infonnacional. Na verdade, deve-se ta111hé1n ter presente que esses ~
tern1os nen1 sen1pre tê1n o lnesn10 referente, o que é 111ais un1 fator a irnpedir sua
ao nível sentencia], co1n respeito ao status infonnacional desses elernentos.
1

pronominalização. Já o item marido foi imediatamente topicalizado (linha 14). il11, 1


lnfonnaçõcs novas pode1n continuar sendo tratadas reitcradan1entc con10 no- ,
prono1ninalizado (con1 urn prononze sornbra) e daí por diante só aparece
vas, sendo, pois) co1nun1 que urna infonnação nova se repita várias \'ezes adja-
cente1nente con1 o status de nora. reproduzido pelo pronorne anafórico ele, se111pre na posição de sujeito. Em par- 'li
te, esta pro110111inalização é garantida pela idenlidade referencial estabelecida.
Outro fato relevante é a tendência a se repetir itens lexicais várias vezes No1ncs próprios e no1nes con1 referentes individualizados são 111ais facilrnente 11, 1
c1n enunciados adjacentes se1n prononlinalizá-los (sobretudo os itens que contén1 1
li!1
anaforizados.
o traço scn1ântico -aninzado). E isto con1 tnais freqüência e111 textos narrativos 11
que e1n outros tipos. Já os itens que figurain como SNs sujeitos com traço +aní-
tnado são mais facihnente prononünalizados. Vcja111os urn exernplo que evidencia
con1 clareza este aspecto. H :1.3 Repetições de orações

eu participo/ eu sou associada de um


( 12) 1 1.1: eu As R oraciouais tên1 ta1nbé111 un1a boa freqüência (30% do total) e a
clube ... 1naioria delas concentra-se nas R adjacentes com variações (70?-b). ~esse sen-
2 porque prin1eiro a questão de inverno
tido, a repetições de orações aprcsentan1 tuna diferença n1uito grande en1 relação

114
1t5
llu
aos sintag1nas e itens lexicais, pois nestes aparecia1n 111ais J( lntegrais. Isto se 8 1.2: que já é um problema grande
deve, ein parte, ao fato de as orações sere111 fenô1nenos mais con1plexos. Os <) Ll: já é um grande problema
segmentos (LI e 14) ilustram esse fato:
IOL2: já é um grande problema
(D2·REC·266: 53.'\.544)
(13) 1 12: [ ... ] eu por exemplo tenho ouvido coisas notáveis
2 de [ Dom Hélder no programa das seis A linha 3 contém a MI que traz uma indagação citada (citação de fala) e
3 11: [é óbvio
qn<' logo a seguir (linha 4) é repetida 1u forma modificada para um discurso
4 L2: horas [da manhã
111direto (citação do conteúdo). Mas essa produção se baseia na estrutura
5 11: [sim que é que tem isso
.\ 11gerida an teriorn1ente (corno é que eu vou .. . ?li conzo é que ele vai ... ?) .
'li
,1
'1
6 12: verdadeiras lições [de vida
la as linhas 8 a 10 trazem heterorrepelições, em que LI (linha 9) repele 12 '"
7 LI: [que é que tem isso' (linha 8) co1n un1a inversão sintática (un1 quiasma sintático) que se torna uma
'

8 12: é um homem inteligente ... nova J11 repetida por 12 (linha 1O). O que se nota é que as R oracionais têm
I'

9 é um homem culto .. ,,jl


11111a preferência pela posição adjacente e alé111 disso por estrutura modificada,
1O é um homem de grande valor
1·111 ~eral 1 con1 funções argun1entativas e interativas.
li LI: é um homem vivido '·1
12 1.2: éh. .. é um homem que tem pressa também
131.1: okay
1. Aspectos funcionais da repetição
1412: é um homem que deve teréh ... éh ... preocuj;ações enormes 11'1
15 e não obstante isso não o priva de observar as belas coisas que aparecem 1

cada dia Do ponto de vista das funções," as repetições atuam tanto no plano da
co111posição do texto, e111sua1naterialidadc e seqüenciação das cadeias lin-
(D2·REC·05: 23:l·249) gliísticas (relações co-textuais) quanto no plano discursivo de caráter n1ais
1 1,
g\o bal relacionado aos aspectos interacionais, cognitivos e pragináticos (relações
Observe-se que as linhas 8 a 11 tê1n uma série de orações com a n1es1na
estrutura V+SN mudando apenas o complemento do nome. O resultado é uma
sociocontextuais). J
No plano da textualização, a repetição atua com as funções básicas de:
listagem a que nem o preocupado parceiro LI, que antes reclamara do tópico (a i
1·oesivídade (seqüenciação, re(erenciação correção, expansão, parcntetização, 1

auto· repetição da linha 7 em relação àAf da linha 5), resistiu, produzindo ele 1

mesmo umaR na linha I 1 para completar a listagem. t'nquadran1cnto). No plano discursivo, a repetição ten1 u1n número 111ais expres-
sivo de funções e colabora para: conipreeusão (intensificação, esclarecilnento); 11! 1
As R oracionais são rnuito utilizadas para promover o envolvimento e
para contra.argumentar. como ainda veremos adiante. O trecho (14) ilustra o continuidade tópica (amarração, introdução, reintrodução, delimitação);
envolvirnento: argumentatividade (reafirmação, contraste, contestação); interatividade (mo·
nitoração da tomada de turno, ratificação do papel de ouvinte, incorporação). !;f 1

(14) 1 L2: quer dizer toda pessoa chega no consultório ho:je


2 quando se dá o preço a pessoa pergunta
3 "doutor con10 é que eu vou pa~r;:ar.?" 4.1 Coesividade
4 e eu sei como é que ele vai pagar? ...
5 pagar é problema dele Acoesão é u111 dos pricípios bíisicos na composição textual relativa ao
encadean1ento intra- e inter-frástico no plano da co-textualidade e pode ser vista,
6
7 LI:
o meu [ 0 } é receber
segundo sugestão de Koch ( 1989), em duas perspectivas: a coesão seqüencial e
a referencial. As repetições estão entre as estratégias mais utilizadas, sobretu·
é receber

116 117
,,
.,

1
do para a coesão seqüencial, 1nas se achain n1uito presentes tatnbérn na coesão
I,
referencial do texto falado. 5 não se sabe quem:
1
Uma estratégia con1um no caso da coesão seqüencial é o princípio da 6 não se sabe nada 11

listagem. Trata-se da formação de listas facilmente identificadas como parale- (D2-REC-266: 1.094-1.098)
!is1nos sintáticos, geraltnente con1 variações lexicais e rnorfológicas e 1nanuten- '1,1
ção de urna estrutura nuclear. Seus fonnatos são os inais variados. Essas listas As listas são importantes e rnuito usadas porque, alé1n de constituíretn
.1111:1 l'stratégia con1u1n para a conexão inter-frástica, elas criarn un1 rit1110 especial I ''
pode1n constar de palavras, construções suboracionais ou orações. Basta vol- 1 ,,

11;1 interação e possibilitam um maior envolvimento. D. Tannen 0985, p. Ll8)


tar aos exe1nplos anteriorn1ente citados e va1nos encontrar 111uitas destas listas. 1l 1'
Vejan1os uni caso de lista aberta, un1 tipo que pode ser facihnente continuado: 1hsl'rva que as listas não só dão ritrno à construção do texto oral, 111as <lão a
li
1·111c11der algo 111ais do que o dito. 1

(15) 112:// vocêconheceíndiaquemorreudeamor Quanto ao aspecto interacional, as listas poden1 ser produzidas por 11111 i1 1

2 você conhece índia que nzorreu de anzor "ºfalante ou apresentar utna estrutura colahorativa con1 a participação de dois 11.,1

J você conhece índio que tnorre1t guerriando pela an1ada !:dantes na sua elaboração como no caso do já citado exemplo (13), ao serem
4 você conhece índio que tnorreu ern luta de tribos rn1nentadas as virtudes de Do111 Hélder, ou então con10 neste caso: '! 11
5 você conhece índio que foi n1orto
6 porque o outro queria tomar a chefia da tribo
118) 1 LZ: ouvir música 1111
1
,li
2 ou.vir nzúsica antiga 1 1
7 queria virar pajé 3
4
cantar essas 1núsicas ... éh do::
do::
'l :I
8 etccétera i
il.',1
9 etccétera 5 do Lupicinio Rodrigues !1l i'
6 LI: do: Orlando Silva né' 11111,
(D2-REC-266: !i4 l-!.750) 7 L2: doA/temar Dutra.. esse negócio aí
9 Ll: Silvio CAL: das.. esse jJOl'O todo ,J 11
Tatnbém ten1os a típica série ordinal que pode ser continuada con10 nu- (DZ-REC-340: 1.618-1.623)
n1eração aberta: 11,I 1

1
Observemos o trecho (19) em que há uma scqücnciação baseada parcial-
06) 1 L2: então a rnulhe volta a primeira vez
2 essa senhora volta a primeira vez
1nente en1 listagens e) parcialn1cnte, en1 reton1adas lexicais: '~ 1

111
3 volta a segunda vez ( 19) l 12: se un1 can1arada chega uo 1neu consultório 1J:1
4 i•olta a terceira 2 seu escritório
110 '
5 volta a quarta . 3 e encontra aquela BELEza ele ambiente 1
. 1

1 '

(D2-REC-266: 1.018-1.022) 4 rriúsica de câ:niera nun1 é? 11,1.


5 musiquinha de surdi:11a 1
i\1as existe111 as listas fechadas en1 que aparece urna série de elen1entos 6 eee ar condiciona: do entendeu?
para se encerrar sen1 dar a entender que poderia prosseguir. U111 exe1nplo de I,
7 unia atendente tnuito j1lnto:sa
lista fechada é o seguinte:
8 dentro do figurino não é?
9 do alto padrâo femint:no .. 1 1 1 ~
(17) 1 1.2: éh:: agora
D2-REC-266: 1906-1.912)
2 hoje não se sabe quem é j1ai
3 não se sabe quem é filho
Um aspecto co-textual peculiar das listagens é que elas encadeiam unida-
4 não se sabe quen1 é nzâe e esjJosa
des frásticas pennitindo un1 alto grau de contração nas unidades seqüenciadas. .1

118
119 1
1
As listas fornecem u111a estrutura con1 base na qual faze1nos todos os preenchi- liasc, a que chamo de suporte; e a variação que forma propria111ente os elen1entos
mento dos vazios sucessiva111ente gerados. O exe1nplo abaixo inostra con10 se da listage111 configura o novo, quei por sua vez, recebe com freqi.iência u1na
vai de uma unidade frasa! completa até uma unidade frasa! composta por um c·ntoação constante. Alistage1n é l11na forn1a econôtnica de con1entar e sustentar o
simples item lexical:
Hipico sem desviar.
Supooho que seria possível defender a hipótese de que as listas manifestam
(20) 1 L2: [ .. J o negócio tá aí pra quem quiser ver
111na das tendências centrais da fala quanto aos deslocarnentos sintáticos. Refiro-
2 o índio pegando moléstias venéreas
1111· ''preferência de deslocar tudo para a direita e não fazer a seqüenciação à 1
1
11
5 { () ) pegando gripe
1·squerda dos núcleos oracionais, já que a listagem não é um procedimento de
4 { () ) pegando sarampo
5 LI: { fj ) vírus
111picalização mas de rematização constante. O princípio de listagem na fala me-
l 11 1

6 L2: { () ) catapora n·rcrü1 um estudo à parte, pois representa u1na estratégia 1nuito peculiar de
lt'\'tualização e1n oposição à escrita. As listas na escrita são 1nais raras e serve1n
d! . 11'
7 etcétera
para produzir nítidos efeitos de sentido. 11 >
8 etcétera
fhi ainda un1 conjunto de estratégias que visatn à con1posição textual no
(D2-REC-166: 1.755-1.760) jo~o de construção-reconstrução de estruturas com base e1n atividades de
[ I'
rt'\H~tição.Veja1nos o seg111ento (22), cn1 que un1a estrutura é composta com a 1111 '1
Con10 se viu, é comum as listas repetire1n integraln1ente apenas u1na parte
da frase. É bastante controversa a sugestão de que os enunciados subseqiientes "recolha'' de partes do discurso anterior. Este procedin1ento coesivo está entre
sejam elípticos, quando se eliminam sucessivamenrle elementos, mas o certo é as estratégias de formulação textual que envolvem às vezes processos de re- 'li
que para se enrender u1n enunciado nu1na lista é necessário pressupor pelo construçâo de estruturas. 1

n1enos o padrão sintático anterior. Há ainda o c:tso contrário, co1no o do exe1nplo


(15), en1 que se dão acréscimos. Nesses casos, a expansão se dá à direita do
(lZ) 1 LI:
2
a gente tem muitos grujJos de dança hons
agora tudo 1nuito escondido ainda entendeu?
!k
11;,
núcleo frasa!, quer dizer, elisões se dão à esquerda porque elas suprimem algo i'
jd dado, e as expansões se dão à direita porque ele trazem algo nouo. Vejamos
uni caso destes:
3
4
que quase a gente não vê
nun1 é divulgado ntas é nzuito born
l 11

Ili ':
(2 I) 1 LI :os presentes que eu ganhava lá 5 n1as a gente tenz grupos de danças assin1 que não ten11nui :ta di-
2 eram por exemplo vulgação i'I
]li i
3 eram o lenine né? 6 rnas que são nzuito bons
4 eram o: Zé Rocha (ll2-REC-240: 1.342-1.353)
5 que era um pessoal de Lula Cortes il
6 Te111-se aqui u1na repetição e111 que os elen1entos :.mteriores são aproveitados 1

que era o pessoal que tocava que tocava aqui né? 1!


7 que era o pessoal que faz o a o trabalho aqui né'
(D2-REC-340: 1.381-1.388)
para forn1ar un1a estrutura co1npleta. Essas construções, que constitue1n verda-
deiros aniálgarnas sintáticos, reúnen1 partes de texto anteriores e, nun1 dado
n101nento, fonnulam u1na construção reconstituída com todas essas partes an-
t,
É muito peculiar da fala (e pouco freqüente na escrita) essa estratégia de leirores. Vejarnos este caso interessante:
textualização em que as elisões ficam à esquerda do núcleo verbal repetido e as
(23) 1 L2: eu cbego a pegar por exemplo planta da rua
expansões recaem mais nos constituintes à direita do SN ou do SV nuclear repetido.
2 isso aqui 1nesmo eu achei na. rua e trouxe pra cá
Trata-se de unia tendência a fixar u1n padrão sintático e então fazer os acréscitnos 11,

na suposição da reiteração daquela estrutura. A reiteração é sustentada por uma 3 éh eu preciso trazer planta da rua 1
4 e levar pro meu prédio pra plantar
I,'
120 tll 1

\'i
1 :11
1

5 eu chego a gastar por exemplo cento e setenta pau de táxipm pegar 1 LI: não é que eu goste não
planta 1 '

6 pra trazer pro meu jJrédio 5 que eu acho engraçado ... é Eduardo Dusek
(D2-REC-340: 1.306-1.309)
(D2-REC-340: 678-681)
Corno se nota, as R nos n1ais diversos fonnatos têm utna presença sig-
Neste caso, boa parte das linhas 5 e 6 é un1 an1álga1na de partes antedores.
Quando isto é feito por dois interlocutores resulta nu1na atividade discursiva nificativa no processo de construção do texto falado, providenciando a scqüen-
'

extre111a1nente colaborativa, pois os interlocutores vão sucessiva1nente apro- 1·ia<.:ão e o encadea111ento dos enunciados e servindo con10 estratégia de coesão !
110 texto. A peculiaridade dessas estratégias 1ncrece destaque por seren1 elas
veitando materiais lingüísticos prévios. É o que ocorre no segn1ento (24): 11

11111a caracte1ística da fala e estarern pouco presentes na escrita con1 os fonnatos 1


1'
(24) l Ll: você entrou nesse últírno concurso . . para procuradora? .1q11i desenhados.
'1.1
212: nesse ziltinzo concurso. 11
11
3 LI: hcí dois anos
4 L2: efoi chamada ·i.l Compreensão :1
5 f,J: efiúchamadahááoisanoseponco ... li
Alé1n de contribuir 111arcada1nente para a fonnulação tcxtuaL a R serve a I·
(D2-SP-%0: 453-459) 11111asérie de outras funções de caráter discursivo. A prin1eira dessas funções 'I
Trata-se de uma atividade de heterorrepctições, cm que um locutor vai apro-
da N é a de proinover e facilitar a con1prcensão. ~a verdade, facilitan1 a con1- li'
.1

pn-ensão todas as li que dão pistas para entender o que se quer dizer. Não se
veitando parte <los 1nateriais do interlocutor e construindo co!aborativarnentc o
texto nurna espécie de a1nalga1nento de idéias e linguage1n. lrata de dar a entender algo de 1naneirae.\11fícita enunciando e111 proposições Ir'.

t) ronteúdo pretendido, tnas de facilitar a con1preensão criando pistas. Este é o


Já o caso (25) apresenta uma estratégia de enquadramento e ocorre tanto 1:1
raso da i11te11sificação no segmento (27). que obedece a uma espécie deprí11- li
no início e final de turno con10 no início e final de urna l1nidade discursiva. Serve
r1/Jfo de íconicidade, segundo o qual a uni 111aior volurne de linguageo1 i<lêntica
de sinalização para co111pletude da contribuição infonnativa e para a fonnulação
discursiva. Tan1hén1 pode ser u1n sinal de entrega de turno. 1·1n posição idêntica corresponde un1 tnaior volu1ne de infonnação.

(25) 1 f .. ] qua11doeusaio 127) 1 1.2: [ .. ] mas eu acho que ele falava tanto
do trabalho 2 tanto
2 cu quero DISTÂNCfA
do trabalho 3 tanto
3 eu quero n1e tornar alienada do trabalho
4 LI: quando eu saio 4 e eu o ad1nirava 1nuito
5 eu tinha a impressão 1 .. ] !li
(D2-REC-340: 45!-454) (D2-SP-360: 1.519-21)
Essa estratégia de forn1ulação às vezes ajuda a jJarentetlzar, 11 na 1nedüht
en1 que u1n certo início é interro1npido, seguindo-se 11111a breve inserção textual,
Já o caso (28) é típico para uma série de repetições que têm por finalida-
dl' transfonnar e1n tópico o que era u111 silnples con1entário, pela ênfase dada
para logo ocorrer uma retomada do tópico com a repetição da última construção
produzida antes da interrupção. Veja-se este exemplo: ao item repetido.

(26) 1 LI: o único roquista que cu conheço (28) 1 LI: de repente se você for fazer um levantamento cm todo o
2 acervo que tá aí hoje já virou un1 sa111ba de crioulo doido
2 que eu acho engraçado
3 L2: que1n é? 3 cu acho
4 L2: não 1nas esse srunba de crioulo doido

122
12l
1

1
11

11 i\
i 1.
i 1

1i1
5 é nossa CULTURA .. ohservare1n que densidade e ralentan1ento infonnacional não se opõe1n mas são 1 '

riquíssitna 1 ''
modos diversos de processan1ento. É justan1ente esse ralenta1nento observado na
6 é nossa formulação discursiva da fala que a faz diferente da escrita.
7 esse samba do criou/o doido 11

8 é a nossa cult! 1

9 é a nossa cultura sabe? 1 .\ Continuidade tópica


l 1

(D2-REC-05: 1.467-76) 1 i
i.1
Se do ponto de vista da organização textual, ali tem como função colaborar '
AsR com função de esclarecin1ento explicita1n as inforn1ações co1n expan- ro1n a coesividade, do ponto de vista discursivo, ela serve para introduzir, i 1'

sões sucessivas, seja pela repetição con1 variação ou con1 pequenas paráfrases. n·introduzir, n1anter ou delirnitar tópicos. Ka verdade, isto tern a ver corn a 1 i
Este é o caso do fragmento (29): 111:Lnutenção da "fluência discursiva'', tal como observaram Koch e Silva ( 1996) 1
111

ao tratarem daformulação.fluente!disjluente no processamento da informa-


(29) 1 Ll: você acha que ... desenvofl im-ento é B0~1 ou é ruim?
1
~·ao. As R não são, no geral, responsáveis por disfluência discursiva. Para tan-
2 L2 desen1,10/vin1ento em que sentido? 1,,
to colabora111 construções estruturais de várias extensões (itens lexicais,
3Ll creschnento .. . o Brasil diz-se basicarnente ~intagn1as 1 orações) sendo que a presença constante de um iten1 Icxica\ por
1 1
4 snbdesenm!vido e diz-se também rn•mplo, pode ser o indício de que um tópico está sendo enfocado. No caso de
5 que ele est:i crescendo .. 1.\ 1), temos a reiteração de uma expressão que marca a intrndução de um tó-
6 se desenvolvendo pico discutido depois. Neste caso, aR constitui uma forma explícita de marcar
7 parece que está saindo de tuna ... condição de subdesenvolvimento a introdução do tópico discursivo. Veja-se:
8 para chegar sei lá numa condição de desenvo/-
vido ... okay? 1.í 1) 1 LI: e o dernônio?
(D2-SP-343: 497-50.1) 2 e o demônio na moda? 1,

3 o que é que você acha do de1nônio na nzoda? I'


Tal como observam Koch e Silva 0996, p. 386), é provável que um excesso (D2-REC-05: 1. 543-46)
deli facilitadoras de compreensão propiciem um "ralentamento informacional'°,
mas isso não constitui uma fonnulação disfluente. O exe1nplo citado pelas autoras Outra 1nancira de introduzir e conduzir subtópicos no contexto de u1n
revela esta condição: i('lpico n1ais a111plo é o uso de construções quase forn1ulaicas repetidas no início 1

de cada nova fase do tópico, tal como no trecho (32). Essas.fórmulas determi-
(30) 1 Ll: ora a maneira do homem pré-histórico era ... BAsicameote eu preciso 11:un a própria orientação e relação dos suhtópicos, na n1edida en1 que se ser-
con1er ... vt•in de n1arcadores (por exeinplo, agora) para situar o ouvinte. O caso dos 1

2 e eu jJreciso: ... rne defender dos anin1ais e eu preciso n1c esquentar na 1rês segmentos de subtópicos no exemplo (32) é paradigmático. Aqui, a mãe
medida 1,
t'Stá falando sobre os filhos, suas atividades e seus pendores como tópico ge-
3 do possível. .. certo? ral. Mas ela faz isso em relação a cada um dos filhos. Para tanto, usa uma forma
(EF-SP-405: 109-113) padrão para introduzir os respectivos sub tópicos: agora ..

Seguramente, perder-se-ia muito da força ilocutória e da ênfase pretendida 1.\2) linhas 1291-1295
pela locutora, se ela tivesse dito: ora a n1aneira do ho1nem jJré-histórico (se1~ 1 Ll: agora o nzenino ,gosta muito de nzecânica
era basicanzente (inzagfJJ{ll) "eu preciso conzer, n1e defender dos animais e 2 o de treze anos né? gosta tnuito de mecânica
n1e esquentar na nzedida do possível''. Portanto, as autoras tê111 plena razão ao 3 gosta de mexer corn coisas ...

124
125
1 il
linhas 1367 -1369 15 coisa de divulgação: : on qualqner coisa mais fácil o povo todinho
4. agora a Laura não: se definiu que é n1uito pequena vai [ligar
5. a outra de nove quer ser bailarina 16 L2:
linhas 1416 -1417 Chacrinha
6 agora o Luis. l 7Ll: é o povo todinho vai ligar pra Chacrinha né ... o que é be1n o:
7 o de seís anos .. 18 sinal dos tempos do gênio da [ raça ,li
(D2-SP-360) 19 L2: \e: Ed.
,1
20 LI: eu noto porque eu tenho niuito tenipo de con1unicaçào:: .
O trecho (33) aparece no início de um di{i]ogo. De saída, as documentadoras 21 L2: éh a 111in1111e parece viu que você te111 razão até certo ponto .. até
havia1n proposto aos dois interlocutores, corno tópicos para discussão, os se- certo
guintes te1nas: 22 ponto/ eu sou partidário ac/Jo que con1unicaçâo a dois é sernpre
'i
23 a coJnzuzicação 1nais iJnjJortante ... especialrnente quando: ... bo111 .. 11

Doe. vocês podern falar sobre con1unicação .. transportes ... viagens 24 LI: bon1 é bo111 você não falar a gente falar pouco porque a tua nnilher 1

assuntos en1 geral está


li
25 aí junto vou lá chan1ar ela viu? 1\
1

Após un1a série de trocas en1 que o tópico a ser tratado era negociado) 12 26 L2: agora ... quanto à co1nunicaçâo eu acho válida .. acho válida ... 1
11

dá início ao tópico escolhido sobre comunicação. 27 agora unza co1n1u1ícação fiscalizada essa co1nunícação de n1assa ,11

te1n que ser uina 1


(33) 1 L2: o te1na viagem é muito ruin1 nê? ... E o que é que elas querern falar?
1

2
28 comunicação muito.fiscalizada [ .. \ o problema de transmitir [ Hmnlet ,,.,1
é sobre negócio de cornunicaçâo é? 29 J,J: r não eu sou contra 1
3 Ll: bo1n é: o tal negócio ... nós estatnos ... nesse nesse nesse século de 30 L2: na íntegra ... ou Chacrinha ... Chacrinha tem o público dele ... o que
4 con1unícaçâo ... e: ... pra 1ni111 pelo n1enos 1ne parece que co1nuní- 1!
31 1ne parece ilnportante é conduzir o público e1n tennos de un1a co- li
cação é
1nunicação 11
5 faca de doisgu1nes .... co1no conseqüência de un1a urna conzunicação
6 32 séria pra fazer com que o püblico aceite Hainlet. .. ou: ... cultura
nzuito intensa os Estados [nidos tiverai.11 a.lgu1n algu1n te1npo atrás ... 33 evidente1nente ... satisfatória ... e nunca Chacrinha se há Chacrinha
7 éh:: ... uma crise de cultura própria ... e foram obrigados a a a a:: ... 34 se há público pra Chacrinha é porque não l'Í havendo preparação ... não
8 importar homens cultos porque:: ... se eles não tinham analfabetos 35 tá havendo condução do público pra aceitar uma comunicação séria 1

9 ta111bén1 não tinharn grandes culturas ... eu nüo gosto de con1uni- então é preciso que essa con1unicação séria con1ece t ... ] eu por
36 1:,

cação não. 'il


exemplo
10 que eu acho que a cornunicaçâo certa é aquela que se faz de u111 pra 37 não vejo televisão e não pennito quase que nlinhas filhas vejan1 1
outro ...
38 LI: não o 1 problema chega não chega i,i
li dois a dois ... e de un1 pra outro .. ne1n dois a dois .. sinz a co1nu- 1,
39 L2: r porque
nicação
401.l: tanto assin1 olhe que quando eu falei que não que não gostava de 1

12 de MAssa só pode ser feita em termos de de de divulgação de de


incultura
~
41 conzunícação é que eu estava pensando nu1na faixa 1nuito alta ....
13 de falsa cultura de subcultura porque se uma emissora for transmi- porque
'I !
tir éh:
42 obvian1ente n11111a faixa 1nédia a a crnnunicaçüo pode trazer valores
14 HAMLET .. em texto integral e a outra for transmitir::: éh: ... qual- 4) co1no você vê por exe1nplo ... atuahnente nessa recente ca111panha
quer
'I,

126 ]?i
'1
í

11 li
44 política en1 que houve unia cons-cien-tiza-ção do povo para certos
45 ltc' l11rmar um subtópico dentro de um quadro tópico em andamento. Por outro 'I
proble1na.s ... o povo não n1ais votou ah: con10 protesto ... e não rnais
46 l~do, notamos que os itens condutores dos subtópicos mais repetidos distribuem- 111
votou e111 branco nern votou nulo i ... J realn1ente pra 1SSO a comu-
nicação "'' 1·111 duas classes de palavras, ou seja, notnes e verbos. As outras classes, tais
'!'..11:
47 foi válida [... até certo ponto [ ... ] é possível que a comunicação
1 01110 adjetivos e advérbios, não se caracteriza111 co1no condutoras de tópico. ti,, 1

4812 1 bom Ainda no caso de (33), o item lexical comunicação surge em ambientes
49 LI: seja boa ... agora como eu lhe digo porque isso aí fica na FAIXA da "l11Liliros diversos, nas produções de an1bos os falantes e na auto- ou hete- 1

50 cultura média ... eu tava pensando em termos de cultura Alta ... da


1'111T1·petição. Em 10 ocorrências, o tenno co1nunicação ve1n situado na posição r.1
51 ili- Jri/>ico sentencia! (co1no sujeito da oração); en1 8 ocorrências, ele cumpre
mesn1a 111aneira corno a a a a:... comunicação trará para o país
un1a grande 11111 papel informacional de cornentário e, em outras 8, ele aparece ein outras
1),,
52 po,..,i\:ões. Assim, ele pode ser ton1ado corno condutor de tópico, ou seja, é sobre "l
faixa de cultura 1nédia... ern contra1lartida tornar cada vez 1nais rara 1

53 a grande cultura a alta cultura 1w111111icação que se está falando. O mais provável é que a repetição reiterada,
54 L2: é agora eu não sei a que [ponto 1111:111do 1em referentes iguais e sentidos interligados e vier situada em posição de
55 LI: lopico sentencial, opere co1no estratégia de condução e 111anutenção do tópico
IL
1é mais fácil eu olhar [. 1lisrursivo.
"'
56 L2: é 1nas aí E. você ten1 o seguinte proble1na ... não só o problc1na de 1

quem O trecho acima foi analisado por Risso ( 1993, pp. 49-50) quanto à fun-
57 \ªº do marcador agora, tendo sido observado pela autora que esse marcador
:!
faz a comunicação mas o problema l .. j quem recebe a comuni-
caçâo '"vezes introduz discordância do interlocutor (linha 26) ou restrição à pró-
58 porque ... 1 ... ] pria assertiva (linha 27), o que caracteriza o marcador agora como desen-
radeador de variações na perspectiva da condução tópica, contribuindo assitn
59 LI: outro 111al outro nzal da con-1unicação con10 un1 todo li, nada ,,1
1

para a organização interna do tópico. Neste caso, já entran1os no iten1 a seguir,


6o 111enos que de que un1a conseqiiência da.falta de comunicação, n1uito
1·111 que a repetição serve a atividades argumentativas.
61
mais fácil divulgar [ o que é ruiln do que divulgar o que é botn
62 L2: llJI
1 o que é ruim do que o que é bom
·í .4 Argumentatividade
(D2-REC-05: 13-106)

Note-se que no trecho acima o ite111 lexical co;nunicação apareceu preci- As repetições, sobretudo de orações) tên1 urn papel in1portante na con- ~
sa1nente 26 vezes en1 diversas construções e carregou consigo u1na série de dução da argu1nentação. Serve1n co1no estratégia para reafir1na1~ contrastar 1

11

outros itens correlacionados ao fenô1neno da co11111nicação, tais con10: 1111 co11testar argumentos. Prototípico é o trecho (34) com váriasR, cujo ob-
jetivo é reafirmar um argumento. O falante afirn1a que "a mercadoria nzais
. cultura e variações corno culto, incultura subcultura; cara ai11da é dinbeiro" (linhas 1 e 2) e se repete (linha 3), sendo reconfirmado
1
. televisão e enzissora; pelas repetições abonadoras do interlocutor (linhas 4 e 5), para reafirmar
, transmitir divulgar, divulgação; (linhas 8, 9, 10) sua assertiva inicial sem que novos argumentos sejam apre-
, povo e outros como público; sentados. Observe-se:
, Cbacrinba, Hamlet entre outros.
(34) 1 L2: a mercadoria mais cara no país.
Ao todo, esses itens soma111 42 ocorrências dentro de un1 mesn10 campo 2 inda é dinbeiro

!
lexical, sendo que cada uni desses itens vai se adensando nu1n certo n101nento co1110 é caro comprar dínbeiro
4 LI: é o negócio mais caro

li
128
129 l"i
1
111

5
6 L2:
inda é dinheiro 1171 o contraste se dá por substituição lexical inserindo itens antonímicos dentro ' li·
porque o dinheiro é tlln eleniento de troca ... certo? 1la 111('s1na proposta estrutural. 1]1
7 o dinheiro é u111 ele111ento de troca
oi

8 então .. a gente pra comprar dinheiro 1 171 l Ll: porque falar bem é bom ,,
11
9 agente paga ca::ro ... 2 falar 1nal não cornpensa não é? 1
10 você paga caro por dinheiro (D2-REC-266: 927) 'I
(D2-REC-05: 497-502) 1

Caso scn1elhante, mas con1 u1na inversão da estrutura (co1n un1 quiasn1a 1

Caso un1 pouco diverso, n1as relacionado a esse, é o que se observa em .. 111t;ilico), é o trecho (38) 1nuito freqüente quando se deseja contra-argu111entar: I ,
(35):
1 IH) 1 Ll: aqui só quem faz economia é o rico 1

(35) 1 L2: quem tem dinheiro paga mais barato


2 que gente j1obre não faz econo1nia l 1,
2 LI: mais barato porque paga menos (D2-REC-266: 594) 1,1
.l L2: quem tem dinheiro paga mais barato
(DZ-REC-266: 516-19) E(n (39) acontece urna situação interessante para contrastar posições. i
\'rala-se de inverter os elen1entos nos extrc1nos da sentell\'.a, mantendo un1a parte
Em (35). temos uma premissa (linha 1) enunciada por L2. uma 1111t·~rahnente repetida. O ato ilocutório aqui sugere atitudes pessoas opostas li
explicação causal confirmativa proposta por 1.1 (linha 2) e uma auto-repeti· 1·111 circunstâncias idênticas.
ção de L2 (linha 3), reafirmando o que dissera antes. Tanto em (34) como em
(35) te1nos u111a espécie de redundância ern série; os falantes preferen1 repetir 1 l<J 1 1 L2: você pra tratar de negócio em Maceió prefere ir de automóvel
suas afir111ações con1 1naterial lingüístico já existente a apresentar novos 2 eu pra tratar de negócio em Maceió vou de avião
argun1entos. (D2-REC-05: 983-986)
Um pouco diferente é o caso das R com função de contraste. Aqui nem
sempre aparecem negações em termos proposicionais, já que a negação pode Caso se deseje estabelecer um contraste de situação em que apenas parte
dar-se pela modulação enloacional. É só transformar uma asserção em indaga- 11111da, utiliza-se a niudança no adjunto colocado à esquerda do núcleo. No caso
ção que já se está contrastando nu1na espécie de "efeito surpresa", coino le1n- l ·111), o falante comenta o problema de quase não se encontrar com os filhos,
bra l'iorrick (1987, p. 252). Este é o caso de (36): l'o1Hrastando dois mo1nentos do dia:
(36) 1 I,1: agora você quer ... você quer ver un1a coisa que eu detesto
l ·111) 1 Ll: de noite eu chego en1 casa as criança tá dornzindo
2 que eu não GOS:to de jeito nenhum 2 de tnanhã eu saio as crianças tâo dormindo
3 é fazer compras (DZ-REC-340: 35-386)
4 L2: fazer compras?
5 LI: seja qual for ela ... viu? Con10 se disse acima, as R oracionais tambéin operatn na função de contesta-
(D2-REC-.l40: 728-732) ('rlo. Sob o ponto de vista interativo, un1a característica ilnportante dessas Ré sua
rl'iação com as faces dos interlocutores. O cuidado com a preservação da face
Amudança de entoação por parte de L2 (linha 4). alterando a assertiva de 1H')!,ativa do
interlocutor não é prioritário, quando se trata de contestar, e1n situações
11 para u1na indagativa) transfonna o ato ilocutório e introduz desacordo ou til' relações interativas sin1étricas, sendo por isso possível que este tipo deR apre-
surpresa. Este é uni ;'uso expressivo da entoação". segundo observa Tannen "'lltc menos traços de polidez. Observe-se o segmento (40), em que L2 se repor-
0 987), com o objetivo de produzir contrastes com base na repetição. Já em ta ü observação de Ll rispida111ente, usando a estrutura oracional editada por Ll:

130 tJt
(41) 1 LI: toda vez que posso viajar por terra não viajo de avião
O trecho (43) evidencia como o falante constrói suas estruturas dentro
2 L2: ah não eu não l 1ou por terra aonde eu posso ir de avião
d1· opções já antecipadas para realizar contrastes com n1aior ênfase.
(D2-REC-05 926-929)
Adiferença entre (39) e (41) acha-se precisamente no fato de em (39) ser ·1. 5 Interatividade
apenas um contraste estabelecido pelo mesmo falante entre duas opiniões, o que
lhe permite maior volume de repetição integral: já em (41) ternos urna contesta- Aproposta teórica deste trabalho pauta-se na perspectiva textual-interativa,
ção feita por um falante contra o outro. O contraste evidencia uma oposição de por se considerar que a atividade interativa é um aspecto central no processo
princípios, rna.') a contestação é a substituição de u1na assertiva por outra. Veja-se til' formulação do texto falado. Muitas das decisões tomadas pelos falantes de- 1'1

isto de 1naneira n1ais acentuada, até corno discordância brusca no caso de (42): v1·111-se a pressões de orde1n con1unicativa. ~leste caso, insere-se a repetição
,li
ro1n un1 variado nún1ero de funções voltadas particularmente para a pro1noção
(42) 1 LI: então eu acho um barato esse negócio de ... visitar parente entendeu? da interação, tais con10 expressar opinião pessoal, n1onitorar a to1nada de tur-
2 L2 não eu não gosto de visitar parente 110, ratificar o papel de ouvinte, incorporar ou endossar asserções do parceiro,

(D2-REC-.HO: 674-677) 111ostrar polidez etc. As R que promovem a interação são comandadas em boa
parte dos casos pelo princípio da preservação das faces, tal como proposto por
Observe-se o caso de (43), u111pouco111ais con1plexo que os anteriores, llrown e Levinson ( 1978), e são permeadas de marcadores ou atenuadores, ao
que n1ostra con10 un1 falante organiza seu discurso argurnentando e contra-ar- rontrário dos contrastes vistos acilna.
gu111entan<lo con1 base e1n auto-repetições sucessivas calcadas e1n oposições; AR que promove a expressão de opiniões pessoais divergentes é um
!"
(43) 112: renzédío que cura rnso típico e se manifesta sempre como hcterorrepetição. Veja-se o trecho (44) 11

2 é un1 renzédio barato situado no contexto em que L2, uma psicóloga de 25 anos vem expressando sua
3 opinião sobre as condições psicológicas dos indivíduos diante do (des)emprego. 1:
pode custar o mesmo preço que.for Ela inicia seu turno com u1na ressalva ao interlocutor Ll, engenheiro de 26 anos)
4 curou li'
marcando sua fala com um atenuador, "é mas a{ é o tal negócio''. Quando LI
5 curou
6 então é um remédio barato lo1na a palavra, inicia seu turno con1 n1odalizadores de atenuação "eu às vezes" 11
7 / "digarnos" para expressar sua divergência. Para tanto, utiliza a mes1na
8
caro <'strutura de base de L2 no início de turno:
é aquele que rnestno custando unz ou dois cruzeiros
9
li
não 1ne sirva (:i4) 1 L2: é mas aí:: é o tal negócio eu não me jJreocujJo muito com a média ...
não venha servir de nada 2 pra mim interessa::: o:: indivíduo né' salvação individual [ ... ]
12
este siln é que é uni re1nédio caro não é?
(D2-REC-266: 1933-37) 3 LI: é eu às vezes me preocupo com ... digamos com a média pelo
seguinte ...
As oposições aqui seriam: (a) remédio que cura é um remédio barato;
4 eu me preocupo com o que eu estou contribuindo com o be1n da média
não importa o preço. (b) remédio caro é um remédio que não cura; não
importa se custa barato. ou não
Ai estão três oposições nítidas: (D2-SP-343: 568-578)
1

(a) remédio barato Uma outra função, exercida agora pela auto-repetição, é a de monitorar
- re1nédio caro
(b) remédio que cura a tomada do turno. Esta estratégia se expressa por uma insistente repetição,
re111édio que não cura e111 sobreposição de vozes) corno se fosse un1 re_frão con10 se observa no
(c) custando qualquer preço - 1nesmo custanto pouco 1

fragmento (45):

132
tl3
: 1:111

5 L2: SE!Scentinhos ... ele disse" divide divide pelos quatro vê quanto dá'" )',\
(45) 1 LI: você leva a vida ... falsificando a cultura .. éh: ... éh::
4 ele disse "não:: é seiscentos pra cada u1n" "1
2 prostituindo a arte para levá-la ao povo pra cada um
3 L2: mas por quê? ... por que você não leva a cultura ao povo prin1eiro? 5 Ll: 11,i

4 LI: não porque:: eu acho que f ( )


6 I.2: são dois e quatrocentos \,,1111

7 LI: são dois e quatrocentos ( (rindo)) 1.1


5 L2: [porque se você não tiver outra opção 8 L2: e não comeram ... absolutamente nada ... quer dizer f ... ]
6 não tiver Chacrinha [ não tiver Flávio Cavalcantk (D2-REC-266: 438-446)
7 Ll: [ eu continuo achando 'l 1

8 L2: não tiver Sílvio [Santos o povo= LI repete L2 nas linhas 5 e 7 só para confirmar que ele pode prosseguir
9 LI: [ eu continuo achando !alando. Trata-se de un1a R con1 função de envolvi111ento e confinnação do outro \1\i.
10 L2: o povo vai ligar [pra tv universitária=
11 1.1: [ não eu continuo achando viu? ro1110 falante. I':
Existe un1a R interativa que opera co1no estratégia de incorporação de '11'1
12 12: pra Tom Jobim pra Chico Buarque llollanda [Caetano= ,,·11gestões, sobretudo en11non1cntos nos quais o falante parece estar em difi- '

13 LI: [ não! veja eu continuo achando ruldade (seja por problen1as de 1nen1ória ou de conheci1nento do assunto). Assi1n, 111

J4 L2: ora se vai eis contextos de hesitação são pontos propícios para este tipo de "socorro" ime- 1
15 Ll: viu E/ eu continuo achando que o Brasil só tem três problemas diat.unente incorporado, tal con10 ocorre seguidas vezes no trecho (47), reve- 111.

graves: lando u1n envolvi1nento interpessoal bastante grande. 1

16 educação educação e educação


11

1111,
(D2-REC-05: 305-321) 1-17) 1 LI: [ ... ] agora ele quer ser MESmo pelo gosto dele ele gostaria de ser 1
2 jogador de futebol ( (1isos)) não é1 então ... ele::: troce ... pelo Palmeiras
Chega a ser irritante a insistência con1 que I,1 deseja ton1ar o turno e a 3 e é o:: ... o:: xodó dele é o ... [o verde e branco 11,11

rapidez com que fala L2 para impedir que o interlocutor tome a palavra. LI faz 4 L2: [ele joga? 11
1

a primeira tentativa na linha 4, quando discorda do colega dizendo "não por- e/e joga
5 LI: '11
que:: eu acho que" e aí L2 prossegue en1 sobreposição de vozes nun1to1n1nais
6 L2: ah
alto que 11 e vence o turno. Daí para frente, Ll não escutará n1ais o parceiro e 7 !.!: ele gostaria de:: jogar no::
repetirá 5 vezes a rnesn1a tentativa "eu continuo achando" para, final1nente, 8 L2: no dente de leite
con1 11111 1narcador de atenção (o non1e do interlocutor: "viu E.") ton1ar o turno 9 L l: no dente de leite .. . 111a.s o horário pra nü1n era ruin1 1i1
·1
e prosseguir falando. Mie-se a diferença entre (44) e (45), que servem a pro- 10 mas NO Palmeiras ele me fez [inscrevê-lo 11
pósitos semelhantes con1 estratégias opostas. 11 LZ: [então cortou uma vocaçào [ ((risos)) 1

lima função interativa muito comum das!/ é a de ratificação do papei de 12 LI: [não eu não cortei. 1

ouvinte e ela te1n o n1es1110 objetivo dos rnarcadores do tipo sitn, claro, ahã,
1 1

13 ele jog<l futebol de safüo ... então eu expliquei direitinho que se 1

sei e outros gerahnente en1 sobreposição de vozes e para expressar a idéia de


que o falante pode continuar com a palavra. Este é o caso do segmento (46) que
14 realmente for bom vocaçào eu:: não impedirei de seguir.
15 mas só pra não dizer que a gente ..
f
se situa logo após L2 ter narrado o caso ocorrido con1 uni a1nigo que fora a unia 16 LZ·. certo/ [ cerceou .. 11
boate com outros três. Após to111aren1 dois uísques cada tun, surprccnde1n~se 17 LI: [tolheu cerceou aquela:: aquela ambição [ ... ]
con1 a conta altíssi1na. 11'

18 e:: ele segue [os


(46) e quando veio a conta ele chegou e disse "rapaz ... seiscentinhos"
1 L2: [ ... ] !9L2: [ahnahn
11

2 LI: quanto? 111

135
134
Ein suma) confirn1ando observações feitas en1 vários trabalhos, realizados
20 LI: salários dos::
''"''" membros do GT dedicado ao estudo da língua falada na perspectiva textual-
li\'
1
21 12: [jogadores 1111l·rativa1 pode-se dizer que a repetição não é un1 descontinuador textual, rnas 111,'
'1

.'r.
22 LI: [ele segue os salários dos jogadores .. através da:: ' l'I
principalmente uma estratégia de formulação do discurso oral sedimentada na
23 revista Placar ... é u1na revista:: 11
,1
'"i'l'rfície do produto material do texto como reflexo do processo desenvolvido.
24 12: especiali[zada em esporte
25 LI: [especializada em esporte ... então [ ... ] ' 11
1

(D2-SP-360: 1.298-1.327) 1'

Vale observar que as linhas 4 e 5 trazem um par adjacente (pergunta-res- !11,\

posta P-R) que tem a função oposta do par (assertiva-pergunta A-P) visto no 1

trecho (36). Quando temos uma P-R, dá-se um caso normal de colaboração, ao .,1

I!,:
passo que uma A-P sugere dúvida, revide ou contestação sob o ponto de vista
interacional. Este é u1n aspecto irnportante nu1na grarnática ilocutória da fala. O 1',\
par das linhas 16-17 mostra um caso de polidez/atenção evidenciada na
:1l1
incorporação de uma sugestão que era u1na sin1ples paráfrase da fonnulação
proposta em sobreposição.
Como se constata, as R-in teracionais trabalham na linha das relações
1 1

interpessoais e contribuem de forma decisiva para um envolvimento maior nas


atividade.s formulativas e no processa1nento textual-di.scursivo. Por outro lado,
elas se apresenta1n co1n forn1atos diferenciados cn11110111entos característicos, 1

1
tais co1no em to1nadas de turno) conclusão de unidades ou de turnos, en1 pares
adjacentes e correções, entre outras. 111

Após estas análises, seria esperançoso poder estar convencido de que não 1 ~ 1

parece equivocado afirn1ar que a repetição 1nostrou ser u1n indicador sistc1ná- 111

tico e relevante para a determinação do que se vem denominando estilo falado.


Tudo indica não se se tratar de u1n fenô111cno resultante apenas das condições !

de produção local ou on-line, mas sim de estratégia de processamento regular


e sistemática, situável entre as estratégias básicas de forinulação da fala. ,1,

Entre as várias conclusões deste estudo, estão estas duas: a repetição tem 1

nas funções de coesividade e condnção do tópico sua presença mais freqüente e 1

sistemática.Já as funções de argumentatividade e interação tem uma presença mais


1'1'
variada. Con1 isto, a repetlção constitui-se nurna estratégia valiosa para o proces- 'I
sa1nento textual-interativo, seja na contribuição para o proccssan1ento inforn1a-
cional, seja na preservação da funcionalidade con1unicativa. Com esses resultados)
pode-se dizer que o texto falado (seja na forma dialogada ou monologada,
espontânea ou solicitada), de fato, progride e se constitui loc;tlmente, ou seja,
on-line. :-Ião é planejado globalmente, reíletindo assim condições de produção
ligadas ao tempo real.

137
136
111·111/n1s do Projeto l\t'l~c aqui trabalhado compreende uma amostragem de dmii' horas, co111em-
pl.11ulo parks de 6 diálogos entre dois informantes (D2).
11lf.,1Tvaçües a este respeito podem ser vistas em Bessa \feto (1991, p. 127) qn~mdo a autora fala
11.1 "insislcnte lexica\ização da mesma observação'', com o objetivo de realçá-la.
tratamento mais completo desta questão consultem-se: Ramos (1983); i\orrick ( 1987);
l'.11".1 t1111
1'1.1vaglia ( l 988); Hilgcrt (1989); Tanncn (l 989); Bessa Neto (l 990; Marcuschi (l 992).
N:l11 li:í espaço para tanto aqui, mas seria de extremo proveito uma análise da entoaçi"to das uni-
1

1\.1dl's listadas. Aentoação constante com manutenção do tom no final da unidade projeta a con-
/11111idade da lista, ao passo que uma entoação dcscco<lcnte projeta a.finalização <l:1 lista e, às 11
11·11·~. sug,ere entrega <le turno.

j)11a1i10 à questão específica da parcntcti1.ação ou inserção (por muitos chama<la<lc desvio tópico),
N0111s -.11h o ponto de vista da seqüenciação e hierarquização túpica do texto falado. remeto aos trabalhos
1\c·Juhran (1993 e 1996).
l.!I
1.!i

1
Para maiores detalhes sobre a repetição de um modo geral, consultem-se os estudos de 1\far- l1!i
cuschi 0992), Ramos (1983), Bessa Keto ( 1991), Travaglia 0 988), todos enfocando a língua
por!uguesa. É fundamental ter J)re.scnte que a 11oção defotmulação cnvoll'c tanto os :t~pectos de
111

construção como de reconstruçã() textual. Co11tudo, a repetiçào stricto sensu é tida como estra-
tégi~t dej(Jrmu!ação apena:;, construindo os encadeamentos textuais. Somente num sentido muito
'1

amplo, não considerado aqui, ela é uma estratégia de reconstruçâo, envolvendo também a pará- I''
frase. Veja-se sobre isto Koch et al. ( 1990, pp. 158-17 2), Koch e Silva (J '>96) e llilgert 0 993). 11.'

As citações dos exemplos seguem sugestão de ,'t1arcuscl1i l 1992). Trata-se <lc uma disposição que
seqiiencia verticalmente o material lingüístico, com b:L"e na Gtlcgo1ia njJo/lçrTo, a fim de deixar ;·i-
sualmcntc evidentes as relações mútuas entre os elementos rl'petidos. Estes elementos vêm em itálico
quando se deseja indicá-los explicitamente. Em alguns ca~os, devido à extensão do trecho citado,
deixa-se de seguir a transcrição biaxial e opta-se pela linear. Quanto ao material, todo ele procede do 1

Projeto NuRc e sua identificação faz-se assim: D2= Düí!ogo entre dois informantes; EF= Elocuçôes 11 •

formais. \:i seqüência ve111 :1 cidade: REC = Recife. SP= São Paulo, o número do inquérito, as linhas 1

citadas. Devido à Lranscrição adotada, as linhas não coincidem com o original.


Aqui não será trabalhada a par:ífrasc. Para 11ma visão do funcionamento deste aspecto da fala,
veja-se llilgcrt (1989).
1
Em Koch et ai. ( 1990), a rcpe1ição foi aprescnta<l:: . omo t: ::- : .'.:i~ subcategorias que CL'!~tr!buíam
para a manutenção(' contü1uidade do fluxo informacional. Embora l:i o {'Hf<HJUC fosse outro, man-
tém-se aquele ponto de vista. É importante ter presente que não considero no conjunto das R a
rcilera\'iio dos marcadores conversacionais, as R de co1-reção e as de hesitação.
Quanto a este aspecto, en1 .\1arcuschi (1992) proponho três dbtribuições: (a) contígua. (h) pró-
xima e (c) distante. Embora ainda mantenha a mesma posição teórica, creio ser mais coerente
usar só :L~ du;L~ posições aqui iJ1dicadas, sendo 4ue a proximidade fica assimilada à contiguidade,
desde que não ultrapasse o ftmbito <lo mesmo enunciado. Em Koch et aJ. (1990, p. 158) defcndia-
se que a R podia ser imediata ou posterior, o que corresponde ü posição ora adotada.
1
' Um estudo sério destas duas formas de manifestaç:lo da repetição está por ser feito, o lJUe certa-
mente traria excelentes contribuições para o estudo da língua fabda.

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