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ós saberes dele. Como se pode, então, pensar essa articulação duzido e modelado no e pelo trabalho' Trata-se, portanto'
de um trabalho multidimónsional qle lncoTPora elementos
entre "o que sabe um ato. em atividade" e o fato de o seu
i, l;', ,
,1, ,i
próprio saber individual ser, ao mesmo tempo, uT c9mpo- ielativos à identidade pessoal e proÍissional do professor, à
súa situação socioprofissional, ao seu trabalho diário na es-
]i:
.i, i rr".t" de um gigantesco processo social de escolarizaçáo de
cola e na ãala de aüla. Essa ideia deve ser associada à tese
..
17
Ao contrário' o saber
caPítulos/ quan- originarem do seu trabalho cotidiano'
docente. De fato, como veremos em diversos àoí prof"rsores contém çonhecimentos e urn saber-fazer
saber/ eles se re- deles pro-
do questionamos os Professores sobrerseu J"á ã.i*"* social é patente' Por exemplo' alguns
Dessoais' falam
ferem a conhecim"''tio'e a um saber-fazer do professor, da escoia que I formou e de
e áos Hvros didá- ou
dos saberes curÍiculares, dos Programas "ãÃãr%Állia
sua cultura pessoaf outros vêm das
universidades das
ticos, apoiam-se em conilecimenós disciplinar::i:l?::"^:: ãr.ofur normais; outros estão ligados à instituição
(progra-
êrn Súa própria experlencra
às matêrias ênsinadas,-fiam:sê ilãr, tug.ut, princípios pedagóficos, objetivos' ftiitl1i,1::'
;;;;clrtos elementoi de sua formação profissional' dos cursos de recrcta-
plural, compósito, he- etc.); outros, ainda, provêm dos pares'
Em suma, o sabeÍ áá' prorursores é eeÍrt etc. Nesse r"rriido, o saber profissional
está' de um cer-
exercício do traba-
terogêneo, poÍque;;'olve, nopÍóp;io oriundos
í;;;;, na confluência de vários saberes atores educacio- da so-
badtante diversos' pro-
lho, Ionhecirrr*.,tot e uin saberfazet ;iJ"ã",'a, instituição escolar, dos outros
de nature-
,,",.,i",.t", d.e fontes variadas e, provavelmente, nais, das universidades, etc'
za diferente'
uma tentati- A consequência disso é que as relações que os professo-
No primeíro capítulo deste livro' apresento res estabelecã* com esses saberes geÍam,
ao mesmo tempo,
diversidade' pro-
.ru á" àterpretaçat desse problema ãa relações sociais corn os gÍupos, organizações
e atores que os
análiàebaseado na origem social dos
,iidli .",..,
"iir
fi,j
i
,
.
;;"d;;ãoa"ioà" formulado em 1-991-' ,.oárr"*. No tocante ã profissão docente' a relação togtl-
;l!:, saberes dos protes*'"t' Esse modelo' il;-."*; trabalho é acómpanhada -"saber
de uma relação social:
:;Ii,
:
'l'. ;;;;;-*uao ui"au hoie' §1 minha oP'yã9' ele pode o, prof"srores não usam o em si"' rnas sim saberes
i,Jil 'ser mais pertinente do que as diferentes tipologias ploPPS-
pro'duzidos Por esse ou Por aquele gruPo' oriundos
dessa
fri:;;,
a diversidade dos
i1.,,
l ..
tas por vários autàres p"u'"p'*entar ã" Jrq*f, instituição, iàcorpórados.ao trabalho por meio
li:l,i:,t r :
(1994)' Doyle
conhecirnentos dos ptáf""o'"s Bourdoncle
,1
i,íi:i';i.;
1í',:!, á;t;á" daquele mecanismô social (formação' currículos'
.,:
er al' (L9eT)' Mar!in119 93)' P.a-
ttô)í1, é ig" (1978),ê authier falar dos sa-
i.-.r, ,:i, r.
i:i: instrumento, a. t.uUulho, etc')' Por isso' ao se
,
'',i (1986)' Estes auto-
illii.: ,, awav (L994), Ravmond (Lgg3) e Shulman Uàr"t aot professores, é necessário levar em consideração
o
a partir dos quais
111fi,1r:.,
l"J#;íiie.í"t."g"itiuot ou teóricos
r
saberes' mas os crité- q* ràs dizem a respeito de suas relações sociais com
dos "t"t instância s, ít garizações, etc' Os j uíz o s co gni-
lf:.:j:ili,:l
i:í,,.. ;;;pã;* diferentes cTassificações
'.ioJmudam de uma tipologia para outra: ora comParam-se "];;ã;P "s, saberes
tivos que exPressam no tocante aos seus diferentes
!;::' ,.
pesquisa' ora
!1r;1,:.!;1,'
p.lr',.fpiot epistemológitot, ora corentes de são, aó *"rÀo tempo, iuízossociais' Eles consideram
que o
mais perti-
modelos ideais... Por"conseguinte, parece-me i"ítuU"t náo pode sei separado de uma definição seu do
no fundo, refle-
nente evitar o uso de tais critérios, os quais, saber-ensinar, definição essa que consideram distinta
ou
tem sempre os postulados epistemológilos 11t::1:::'oos" oposta às outras concepções dã saber-ensinar atribuídas a
propoÍ um modelo construído a partir das categorlas esses gruPos.
dos saberes que utilizam efetivamente
ir.á'çrti"t docentes e
à* trru prática profissional cotidiana'
Esse fio condutor relativo à diversidade
do saber dos Temporalidade do saher
des-
professorespermite também assinalar a natureza social
capítulos O saber dos professores é plural e também temporal'
5;;;;;;íb*:D" fato, como será mostradonos dos professores es- uma vez que, como foi dito antleriormente' é adquirido
lro
L e 2, os diversos saberes e o saber-fazer
mesmos ou de se contexto d" ,*u história de vida e de uma carreira profis-
tão longe d" se.À produzidos por eles
1B
sional. O capítulo 2 trata dessa questão, que também tem zer o que fazem. São esses temas,portanto, que serão explo-
um impactoimportante sobre a formação dos professores, rados de diferentes maneiras através dos vários ensaios
:aqui apresentados'
como veremos nos capítulos a respeito desse tema'
,:,1
Saberes humanos a respeito de seres humanos mação para o magistério, levando em conta os saberes dos
profess-o.es e as realidades específicas de seu trabalho coti-
Outro dosmeus fios condutores é a ideia de trabalho inte- àirr,o. Essa é a ideia de base das reformas que vêm sendo
rativo, ou seja, um trabalho onde o trabalhador se relaciona realizadas na formação dos professores ern muitos países
com o seu objeto de trabalho fundamentalmente através da in- nos úItimos dez anos. Ela expressa avontade de encontrar, nos
teração tiuirtána. Vem daí qryia que§tão central que tem orien- cürsos de formação de professores, uma nova articulação e
tado as minhas pesquisas nos últimos anos: em que e como o urn novo equilíbrio entre os conhecimentos produzidos pe-
fato de trabalhar seres htmanos e com seres humanos rePer- las universidades a respeito do ensino e os saberes desenvol-
cute no trabalhador, em seus conhecimentos, suas técnicas, vidos pelos professores em suaspráticas cotidianas. Até ago-
sua identidade, sua vivência pnifissional? Minha hipótese é ra, a fõrmação para o magistério estevp dominada sobretu-
que o trabalho interativo e, por conseguinte, os saberes mobili- do pelos conhecimentos disciplinares, conhecimentos esses
zados pelos trabalhadores da interação não podem se deixar geralmente numa redoma devidro, semnenhu-
proãuzidos
-úa
pensaÍ a partir dos modelos dominantes do trabalho material,
conexão com a ação profissional, devendo, em seguida,
sejam eles oriundos da tradição marxista ou da economia libe-
serem aplicados na prática por meio de estágios ou de ou-
ral. De Íato, até. agora, foi o trabalho produtor de bens mate-
tras atividades do gênero. Essa visão disciplinar e aplicacio-
riais que serviu de paradigmapaÍao estudo do trabalho inte-
nista da formação profissional não tem mais sentido hoje
rativo. A organização escolar foi idealizada a partir das or-
em dia, não somente no campo do ensino, mas também nos
ganizações industriais (tratamento de massa e em sérig divi-
outros setores profissionais. É essa ideia que defendo, de-
são extrema do trabalho, especialização, etc.) e o ensino, como
senvolvo e ilustro nos três últimos capítulos. Procuro mos-
uma forma de trabalho técnico susceptívelde ser racionaliza-
do por meio de abordagens técnico-industriais ípicas, como o
trar como o conhecimento do trabalho dos professores e o
,fato de levar em consideração os seus saberes cotidianos
behaviorismo clássico, por exemplo, mas também, afualmen-
te, através de concepções tecnológicas da comunicação que permite renovar nossa concepção não só a respeito da for-
servem de suporte às novas tecnologias da informação. mação deles, mas também de suas identidades, contribui-
ções e papéis profissionais.
Com essa ideia de trabalho interativo, procuro comPre-
ender as características da interação humana que marcam o
saber dos atores que atuam juntos, como os professores com
seus alunos numa sala de aula. A questão do saber está liga- São estas, substancialmente, as principais ideias que nor*
da, assim, à dos poderes e regras mobilizados pelos atores teiam e alimentam os capítulos deste livro, o qual está divi-
sociais na interação concreta. Ela também está ligada a inter- dido em duas partes. Aprimeira contém cinco capítulos que
rogações relativas aos valores, à ética e às tecnologias da in- tratam mais especificamente do saber dos professores posto
teração. Essas diferentes ideias são abordadas em diversas em relação com seu trabalho e com suas atividades profis-
partes do livro e de maneira mais específica no capítulo 6. sionais; a segunda possui três capítulos que abordam muito
mais as relações entre a formação profissional dos professo-
res e seus saberes.
Saberes e formaçáo de professores
Na primeira parte, os capítulos 1 e 2 formam um todo e
Finalmente, chegamos ao último fio condutor, decor- discutem o mesmo problema com oito anos de intervalo. O
rente dos anteriores: a necessidade de repensar/ agora, a for- capítulo 1 ("Os professores diante do saber: esboço de uma
1' 23
problemática do saber docente") já é bem conhecido no ,câcional. Historicamente, a atividade educacional foi consi-
Brasil e apresenta, pela primeiravez, os elementos e etapas 'lr,dêrada uma arte (arte, technà) durante muito tempo; nos
de um programa de pesquisa sociológica sobre os saberes a ser considerada como uma es-
,'litêmpos modernos,,passou
dos professores em relação com sua profissão e situação pécie de técnica e de ação moral, ao mesmo tempo; mais re-
sociáI. plopõe _qma p1iry9i11t1nolog1a doq saberes dqs ,.àentemente, tomou-se interação. Ora, cada uma dessas con-
-!le
professóré§ba"seada errt sua origém social e em seus modos cdpçOes atribui ao saber uma certa definição e um certo sÍa-
de integração no magistério. Fornece também elementos , ,itui cujos fundamentos conceituais precisatn ser identifica-
conceituais para compreender melhor a posição socialmen- ,,.'tlos, se quisermos comPreender bem a natureza do saber
te desvalorizada do saber docente em relação aos outros . ique serve de base ao ensino. r
conhecimentos sociaió, escotaiêÉ ê üiúversitáiios. Finalmen- li-
,l ,."' O capítulo 5, finalmente, fecha essa primeira parte do
te, destaca o papel primordial da experiência de trabalho
vro/ apÍesentandouma reflexão aomesmo tempo epistemo-
cotidiana na constituição do sentimento de competência
lógicáe crítica sobre a própria noção de "saber dos professo-
entre os professores de profissão e na aquisição do saber
i'eã". A multiplicação das pesquisas sobre o saber dos pro-
experiencial, considerado, pelos próprios professores, como jiessores
geÍou uma série de problemas teóricos e conceituais
a base do saber-ensinar. iá,respeitô do sentido a ser dado a essa noção, em virtude
O capífulo 2 retoma os mesmos temas, situando-os num ,dós diversos significados que the foram atribuídos Por pes-
contexto interpretativo mais rico que incorpora as dimen- quisadores de linhas teóricas diferentes. Esse capítulo pro-
sões temporais do saber dos professores, ou seja, sua inscri- ,pôe, assim/ uma linha conceitual para Pensar e, sobretudo,
ção numa história de vida e seu desenvolvimento ao longo rdelimitar melhor todo esse camPo de pesquisa/ ao mesmo
da carreira profissional. O fato de levar em conta essas di- tempo em que oferece perspectivas metodológicas aos pes-
mensões temporais permite dinamizar o saber experien- q$sadores e alunos que se interessam pela questão.
cial, mostrando como ele é modelado no decorrer da histó- e está muito
ria pessoal, escolar e profissional dos proÍessores'
rr, A segunda parte do livro é mais prática
rnais voltada para a discussão dos probiemas concretos le-
O capítulo 3, de maneira deliberada, situa a questão do vantados afualmente pela formação de professores' Ela re-
saber no campo do estudo do trabalho docente, de suas ca- totra, essencialmente, os resultados da parte anterior e mos-
racterísticas e condicionantes obietivos. Ele parte dos gran- 't{a como podem originar novas concepções da formação
des componentes clássicos da análise do trabalho (seu ob- profissional no campo do ensino e quais os papéis que os
jeto, seu objetivo, suas tecnologias, seus resultados, etc.) e professores de profissão poderiam nela desempenhar. Tam-
mostra em que sentido o trabalho dos professores é profun- bém propõe uma reavaliação crítica das relações entre os
damente diferente do trabalho com a matéria inerte (traba- pesquisadores universitários e os professores, assim como
tho industrial, tecnológico, etc.) e como essa diferenÇa per- entre os conhecimentos universitários e os saberes docentes.
mite repensar toda a questão do saber do trabalhador e de
O capítulo 6 apresenta uma breve síntese das concep-
sua identidade.
ções atuáis relativas à subjetividade e ao seu papel no ensi-
Os capítulos 4 e 5 levam a discussão sobre o saber dos no. A partir daí, propõe diversas pistas de reflexão para que
professores para um plano muito mais teórico' O capítulo 4 sejam repensadas de outra maneira as relações entre a teoria
representa uma contribuição às teorias contemporâneas da e a prática na formação de professores.
ação, mas também à história das concepções da atividade edu-
r-
I
O capítulo 7 trata de um dos nós górdios de todas as re- treal, o professor Clermont Gauthier, da Universidade La-
formas realizadas na formação de professores nos últimos val, e a professora Danielle Raymond, da Universidade de
vinte anos: as relações entre os conhecimentos produzidos Sherbrooke, pela ajuda constante que me proporcionaram
pelos pesquisadores universitários das ciências da educa- eÍn meus trabalhos sobre a profissão docente. Também que-
ção e os saberes mobilizados pelo_s.práticos dq ensino. Com ro agradecer às professoras Menga Lüdke e Isabel Lélis, da
basê nos meus recehtcs trabalhos sobre o estudo do trabalho Pontifícia Universidade Católica do Rio de )aneiro, por me
docente, esse capítulo tenta lançar as bases de uma verdadei- terem incentivado a divulgar os meus trabalhos no Brasil.
ra epistemologia da prática profissional dos professores, ao Agradeço também, sinceramente, ao meu tradutor e amigo
mesmo tempo em qug proguJA§gpecificar as consequências Francisco Pereira de Lima, que assumiu a delicada missão
dessa epistemologia para as óoncepçõês e práticas de forma- de traduzir a grande maioria dos capítulos deste livro do
ção no magistério. francês para o português do Brasil. Finalmente, gostaria de
Finalmente, sempre tomando a questão do saber como expressar toda a minha gratidão à professora Cecília Bor-
fio condutor, o capítulo I apresenta um balanço das refor- ges, da Universidade Federal de Pelotas, por sua paciência
mas realizadas nos dez úlümos anos em matéria de forma- e compreensão, bem como pelo apoio constante que me
deu durante os diferentes momentos em que estive no Brasil.
ção de professores. Depois de apresentar, de maneira sucin-
ta, o modelo atual de formação profissional decantado pelas
reformas, ele analisa os obstáculos e dificuldades ligados a
essa reforma, relacionando-os com os problemas suscitados
pela nossa compreensão afual do saber docente.
No Brasil, esses capífulos foram, em sua maioria, publi-
cados inicialmente em revistas ou apresentados e discutidos
de maneira crítica em cursos/ conferências ou comunicações
diversas. Esta edição me deu a oportunidade de revisar to-
dos os textos, aos quais, em alguns casos/ acrescentei ele-
mentos inéditos, além de possibiiitar a eliminação de deter-
minados erros, entre os quais os tipográficos, e a atualização
das referências bibliográficas. A tradução em português tam-
bém foi revista e corrigida.
Eu não poderia concluir esta apresentação sem apresen-
tar os meus sinceros agradecimentos aos membros do gru-
po de pesquisa (Grupo de Pesquisa Interuniversitário so-
bre os Saberes e a Escola-GRISE) que há dez anos tenho a
honra e o prazer de dirigir, no Canadá, e cujos membros -
colegas e assistentes * participaram da elaboração ou da
discussão de certas partes dos capítulos deste livro. Quero
agradecer de modo mais específico aos meus colegas e ami-
gos, o professor Claude Lessard, da Universidade de Mon-
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