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ü l+t19duçã9 &

Quas são os saberes que servem au Uu'"-'o ofício de pro-


fessor? Noutras palavras, quais são os conhecimentos, o sa-
ber-Íazer,as competênciasê as habilidades que os professo-
a
res mobilizam diâriamente, nas salas de aula e nas escolas,
fim de tealízarconcretamente as suas diversas tarefas? Qual
éa natuteza desses saberes? Trata-se, por exemPlo, de co-
nhecimentos científicos, de saberes "eruditos" e codificados
como aqueles que encontramos nas disciplinasüniversitá-
rias e nôs currículos escolares? Trata-se de conhecimentos
técnicos, de saberes da açáo, de habilidades de natureza ar'
tesanal adquiridas através de uma longa experiência de tra-
balho? Todos esses saberes são de caráter estritamente cog-
nitivo ou de caráter discursivo? Trata-se de conl-recimentos
racionais, baseados em argumentos, ou se apoiam em cren-
ças implícitas, em vaioresã, em
última análise, na subjetivi-
àrd" áot professores? Como esses saberes são adquiridos?
Através dà experiência pessoal, da formação recebida num
instituto, numa escola nbrmal, numa universidade, através
do contato com os professores mais experientes o-u através
de outras fontes? Qual é o papel e o peso dos saberes dos
professores em relação aos outros conhecimentos que mar-
àu- u atividade educativa e o mundo escolar, como os co-
nhecimentos científicos e universitários que servem de base
às matérias escolares, os conhecimentos culturais, os conhe-
cimentos incorporados nos Programas escolares, etc'? Como
a formação dos professores, seja na universidade ou noutras
instituições, poà" levar em consideraçáo e até integrar os sa-
& LESSARD'
situa$o dentro da escola e da sociedade GARDIF
formação de seus fu- do "SabeÍ"
beres dos professores de profissão na 2000i Por isso, semPre me PaÍeceu u.btTdo
falar
turos pares? 7ou do Conhecimento, da i'edagogia,
da Didática' do Ensi-

Os oito ensaios que compõem este


livro tentam fornecer )rr, àl como o fazemcertoipslcólogos e pesquisadores
se tratasse de
respostas a estas quàstões que nao somente
têm dominado ,nelo-áaxOes da área da educação, como se
"r..1,
últimos vinte das outras realidades
a pesquisa internacional tóbn" o ensjfio nos ;rí;;;i;g;tia autônoma e sepáradanas quais os professores
proble- Jo"iuir, oftanizacionais e humanas
unt*ãut também têm matcado profundamente a
;tá á; p ro f issiona lizaçáo ao oflcio- .a"
gl"j":t^91'"T " á - se encontram mergulhados'
1998)' Esses não
,* pãir"riranor, LESSARD & GAUTHIER' e etapas de up
Na realidade, no âmbito dos ofícios e profissões'
com os
ensaios representam diferentes'mornentos qrru se possa falar do saber sem'relacioná-lo
iii"".áti" àe pesquisa e de reflexão que venho percorrendo "r"io
condicionantes e com o contexto do trabalho:
o saber é sem-
que alicerçam o trabalho coisa no intuito
hâdozeanos a respeito dos saberes rrr" o ruU", de alguém que trabalha alguma
ã u for^uçao dos professores das
escolas ptyqli:-it-".t5 Além disso' o saber não e É
constitui um esforço de síntese nao so
í;r;;f;;;uÀ oüietivo qualquer' dos professot:: é.o
áariur. Caaa um áeles que flúua r,oãtpuço' o saber
a professores de pro-
de oesquisas empíricas realizadas junto "i"u.oitu
iaber delesà está relacionadocom a Pessoa
e a identidade
a natureza
ft;r''ã;'mat tamüém de questÕes teóricas sobre deles, com a sua experiência de vida e
com a sua história
competênci?t' em sala de
ãár ráúrus (conhecim"'to', saber-fazer' Tu- piã?iátio"ul, com ur rr,,, relações com os alunos
bilid.ades, etc') que sáo efetivamente
mobilizados e utilizados na escola' etc' Por isso'
aula e com os outros atores escolares
ã* trabalho diário' tanto na sala de ã .rà.erta.lo estudá-lo relacionando-o
com esses elementos
;;ú professoieu '""
ãula qlanto na escola' constitutivos do trabalho docente'
professores fez
A partir de 1980, a questão do saber dos
r"t;;t;;;""ut a" milÀares de na pesquisas no mundo an-
Escapar de dois perigos: o "mentalismo" e
giÀl*ra. e, mais recentemente, Europi: -o?:t:::ff: varlados e Pro-
ãuisas empregam teorias e métodos bastante o "sociologismo"
:#;;ã;tlãr"rru' concepções a respeito do. saber dos
A abordagem Por mim precorizadaneste livro
tenta es-
gostariade explicitar a mi-
ffi;;;]i,."t. N"t., apresentaçãó, .upà, de doiJperigos, que áesigno pelos termos
de "menta-
nha própriu p".rp"Étiva teórica, ã fi*
d" aiudar os leitores
ii;'*o " e " s o c ü I o g"ism o-", ea1ggga, ao m esrno .temP-o' :? t-
t
as pesquisas con-
u ,itlu.à* *"tú, o meu trabalho entre o=q qqPqt!
belecer uma articuhçaq 1n.otv.t.
temporâneas sobre a questão' "tttt" EIa se assenta na ldeta de
dããGããEbílosírofessores'
que esse saber e ,o.ãi;êot6o'ã t'''u u*i§tôirciia depínd1do.s

a questão do sa- viduais emoenhados numa Prática'


Devo dizer inicialmente que, Para mim, -.---..-*.._-_:-
b". ão" professores nao pode sór.sep,arada 1it 111?:^9" ou
O **tolitlao consiste em reduzir o saber' exclusiva
mensões do ensinã, """ido estudo
do trabalho realizado cren-
principalmente, a processos nrentais (representações'
;i;;;;""te pelos professores deanos'Z profissão' de maneira de informações' esquemas/
semPre situei' essa ças, imagens, pÍocessamento Em
,"uit Em todos esses ài".;.";o"t"porie é a atividade cognitiva dos indivíduos'
"tpu.ífiàa. contexto mais amplo do es-
ã""",à.'à" saber profissionaldenosua história recente e de sua
i"ãá a, profissáó docente,
L't
1n
ciação entre diversos gruP-os'
Nessesentido' o 9!e u1 "Pro-
forma de subietivis- de tudo' um
terrnos filosóficos, o mentalismo é uma il;;, deve saber ensinar"'náo constitui' acima
conhecimento' e até aprópriarea-
;;;õ;i;^áããrua"zir o
a representa- ;'"b ilT co gmtivl :1:|l:t:**:?f '; ff:" #rTT":"H;
lidade, em algumas de suas formas radicais'
;il;-úrisãuja
à"uf 1po".o
seae o a atividade
importa
d"
Y:i:-1i:T:":*ii:
se este é, em sggyida' numa
persPecfl-
bioló gico'
rumar,'g;:T;ffijraffi
t"" .-'"
'
âmbito da
- - - "'
t " ã; Ao
orgamzaçi ,uuttto
"stolar'
o que um profes-
I va b aseada r'ro *atuiiulismô-oú'no rãducionismo ;;;;;;"á"Pã'.a" t'Átem daquilo elf e1e
"1? :fj1l:^q;f:
Desde o desmoro-
à;i";ilrdo pela atividade cerebral)' do Norte e o conse- ü;;õã" q* elenão saibá aaquilo que os outros sabem
do dehaviorismo na América dos ãaberês que o1-oytros the
em seu lugar u u* ,* nome,
"rÃá"to nos ofícios e Pro-
õ;;"d*::::y:xiJ:,i1;,;"§*:tffiffi :ilá:;i"ilTiÍ- ;;;dlhe atribuem"' Isso signific4que social'
lismo, com suas lnu ;t##ii" "*i" .""rt"ti*ento sem reconhecimento
do processaÍnen-
tivismo, socioconstrutivismo radical' teoria esse saber também é social porque
Eeus
\
.v to da informação, etc'), meparece ser a concepçã9 * conhe- Em terceiro lugar,
isto é' práticas sociais'
;;ent; predómina,'íu "'ôducação' tanto emrelação ao en- próprios obletos sao ietos sociais'
indústria, o ProÍessor
§ I
sino quanto em relação à aprendizagem' bontrariamente ao operário de uma
ele trabalha com sujeitos e
4 A minha posição, no que se refere.ao mentalismo'
é que o ,'rào úuUuff"u apenas um "objeto'"
os alunos' educá-los e
? vários motivos: em função de um projeto: trírsformar
--d ,rU", Jo, profurrô,"t é um saber social' por instruí-los. Ensinar é ag;rcom outros
seres humanos; é saber
sabem que lhes ensino; é
Em primeiro lugar, esse sabet é social Porque
é partilha- agir com outros ,".""'f**osque
-](r' que salep qu: solr
ao pffi-de agentes- os professot*:l1Lff?-
(embora mais ou menos varla-
,à'ú. q,ru ensino a outros seres "rumanosjogo
sutil de conhe.ci-
,*;ràf.*or, etc. Daí decorre todo um iecíprocos'
,rd* uma formãçãô comum modifi-
vel conforme os níveis, ciclos e graus de
ensino)' trabalham mentos, de reconhe.iÁ""tot e de papéis
por causa da es- negociadas' Iortanto' o
numa mesma orguni'açao e estão sujeitos' ;;á;ó;""pectativas e perspectivas fechado em si
saber não é uma substância à"
confeúdo
t;;;, coletiva ãu ,"' trabalho cotidiano' a condicionamen-
através de "*
relações complexas entre
quais PÍogramas, ryté- se manifesta
tos e recursos comparáveis, entre os ããJmo;ele
é preciso inscre-
regras do estâbelecimento' etc' Des- o professor e seus alunos' Por conseguinte'
rias a serem e.rsinádas, a relação com o
dlum pro- ,ár no próprio cerne do saber dos professores
r" pà"t" de vista, ur '"p'""'""tações ou práticas coletivo representa-
i1

rÀrio, específico, po' *àit originais qYe :eiT' qlryfl:T


em relaÇao a
àirtr;; ã, pil".iprrt"ente, com esse outro
do por uma turma de alunos'
l

tido somente quando colocadas em destaque


tais como mostram a história das
disci-
essa situação côletiva de trabalho'
Em qgê@, escolares e a histó-
Em seeundo lugar, esse saber e social porque
sua Posse plinas escolares, a ústória dos programas
iia das ideias e das práticas pedagógicas' 9.que P'"fl:::T:
que vem-ga- ot
trffiã-Eporffi sobre todo umsuasistema e sua manera úe
"rantir a sua legitimidade e orientar definição utiliza-
e ;il; (ot "@s")
o tempo u: T1-
sindicato' associ- ensirxar (o'saber-eã;67) evoúeãiãã "
iâã, ".i"-rsidãde, administração,escolar'instância de atesta- o que era."verdadei-
ài0", profissionai,, g"pot cióntíficos' danças sociais. N" ffi áu p"d'go,gia'
ponto
Éo*p*tências' Ministério da Educa- ;J;,';;iil" e'boÍn" o.i"* já'náo.ó é mais hoje' Desse
ção e de up.orruçío'aã" os saberes a serem en-
um professor nunca define sozinho e em àe rrirtr, o saber dos profesáores (tanto
çãcl, etc. Em suma, Ao contrário' está assentado naquilo que
si mesmo o seu ptàpJio saber profissional' de uma nego- sinados quanto o,ãt"'-"tttinar)
resulta
árt" trr". é prodlzào sociaimãnte'
13
Bourdieu chama de arbitrário cultural: ele não se baseia em la, tais como as ideologias pedagógicas, as lrtu, p.ofirrio-
nenhuma ciência, em nenhuma lógica, em nenhuma evidên- nais, a imposição e a inculcação da cultura dominante, a re-
cia natural. Noufoas palawas, a Pedagogra a Didática, a Apren- produção da ordem simbólica, etc' No sociologismo, o saber
dizagerne o Ensino são construções sociais cujos conteúdos, ieal dos atores concretos é sempre associado a outra coisa
formas e modalidades dependem intimamente da história de que não a si mesmo, e isso determina a suainteligibilidade
uma sociedadei de suacultura legífima e de súas culturas para o pesquisador (que invoca entáo realidades sociais como
(técnicas, humanistas, cieníficas, populares, etc.), de seus po- ãxplicação), ao mesmo tempo em que priva os atores-de
deres e contrapoderes, das hierarquias que predominam na toãa e qualquer capacidade de conhecimento e de transfor-
educação formal e informal, etc. mação de sua própria situaçáo e ação. Levado ao extremo, o
ácordo com uma litera- sociologismo transforma os atores sociais em bonecos de
@de
turf6ãstante ventrflõquo. Pouco importa o que eles saitam dizer a res-
abundante, esse saber é social por ser adquiri-
do no contexto de uma socialização profissional, onde é incor- peito daquilo que Íazem e dízern, seu saber declarado não
passa de uma prova suplementar da opacidade ideológica
porado, modificado, adaptado em função dos momentos e
na qual a sua consciência está mergulhada: as "luzes" ema-
das fases de uma carreira, ao longo de uma história profis-
nam rtecessariamente de outra parte, ou seja, do conhe-
sional onde o professor aprende a ensinar fazendo o seu tra-
balho. Noutras palavras, o saber dos professores não é um cimento oriundo da pesquisa em ciências sociais, conheci-
conjunto de conteúdos cognitivos definidos de uma vezpor
mento esse cujos orgulhosos distribuidores são os sociólo-
gos e outros cientistas sociais.
todas, mas um processo em construção ao longo de uma
carreira profissional na qual o professor aprende progressi- Diante do sociologismo, afirmo que é impossível com-
vamente a dominar seu ambiente de trabalho, ao mesmo preender a natureza do saber dos professores sem colocá-lo
tempo em que se insere nele e o interioriza por meio de re- ãrn Íntima relação com o que os professores, nos espaços de
gras de ação que se tornam parte integrante de sua "cons- trabalho cotidianos, sáo, fazem, Pensam e dizem. O saber
ciência prâtica". dos professores é profundamente social e é, ao mesmo tem-
po, o saber dos atores individuais que o Possuem e o incor-
Em suma, pouco importa em que sentido consideramos
poram à sua prática profissional para a ela adaptá-lo e para
a questão do saber dos professores, não devemos esquecer
transformá-lo. Para evitar equívocos, lembremos que "so*
sua "nafureza social", se quisermos realmente representá-lo
sem desfigurá-lo. Entretanto, ao tentarmos escapar do men-
cial" não quer dizer "s.upraindividual": quer dizer relação e
interação entre Ego e Alter, relação entre mim e os outros re-
talismo, não devemos cair no sociologismo.
percutindo em mim, relação com os outros em relação a
O sociologismo tende a eliminar totalmente a contribui- mim, e também relação de mim para comigo mesmo quan-
ção dos atores na construção concreta do saber, tratando-o do essa relação é presença do outro em mim mesmo. Portan-
como uma produção social em si mesmo e por si mesmo, to, o saber dos professores não é o "foro íntimo" povoado de
produção essa independente dos contextos de trabalho dos representações mentais, mas um saber semPre ligado a uma
professores e subordinada, antes de mais nada, a mecanis- situação de trabalho com outros (alunos, colegas, pais, etc.),
mos sociais, a forças sociais quase sempre exteriores à esco- um saber ancorado numa tarefa complexa (ensinar), situado
num espaço de trabalho (a sala de aula, a escola), enraizado
numa instituição e numa sociedade.
1. Cf. capítulo II.

't4 15
Íl
il

les na escola e na sala de aula. Noutras palavras,


embora os
Essas constataçÕes são aPoiadas por Praticamente todos
os estudos que se debruçaram sobre essa questão nos últl- ,rofursor*, utilizem diferentes saberes, essa utilização se dá
mos quiÍtze'anos'' De fato, eles indicam com veemência que àm ftmçao do seu trabalho e das situações, condicionamentos
ã trUâ. dos professores dePende, go1 um lado, das condi- .."rtáot Hgados a esse trabalho. Em suma, o saber está a
deles se realiza e,por ou- "serviço do trãbaho. Isso significa que as relações dos profes-
ções concretás nas quais o trabalho
t*, du p"ruonalidaâe,e-da experiência PÍofissional dos pró- ,orurlo* os saberes nunca são relações estritamente cogmti-
priot p'rofussores' Nessa-perôPectiva, ó saber dos professo- vas: são relações mediadas pelo trabalho que thes fornece
i"r putu"u estar assentado em transações constantes entre o princípios paia enfrentar e solucionar situaçÕes cotidianas.
quJeles são (incluindo as emoções, a cognição,as exPectati- Essa ideia possui duas funções conceituais: em primeiro
O ser e o agir'
'v'as, a história pessoal deles, elc,)e o"que.fazem' lggar, visa a rãlacionar organicamente'o saber à pessoa do
ou melhor, o que Eu sou e o que Eu faço ao ensinar, devem UíUaifraaor e ao seu trabãlho, àquilo que ele é e Íaz, mas
ser vistos aqui não como dois polos separados, mas,como também ao que foieÍez,a fim de evitar desvios em direção a
resultados diinâmicos das próprias transações inseridas no concepções que não levem em conta sua incorporação num
processo de trabalho escolar' de trabalho, dando ênfase à socialização na profis-
f: ".o"uirt
ãáo docente e ao domínio contextualizado da atividade
de
ossaberesdeumprofessorsãoumarealidadesocial profes-
'rii:i: ãnsinar. Em segundo lugar, ela indica que o saber do
materializada através d-le uma formação, de programas, de ele não
soir trazem si mesmo as-marcas de seu trabalho, que
ui
,ll i práticas coletivas, de disciplinas escolares, de uma pedago- é pro-
é somente utilizado como um meio no trabalho, mas
i:
giu iottitrr.ionalizada, etc., e são também, ao mesmo tempo'
,

ós saberes dele. Como se pode, então, pensar essa articulação duzido e modelado no e pelo trabalho' Trata-se, portanto'
de um trabalho multidimónsional qle lncoTPora elementos
entre "o que sabe um ato. em atividade" e o fato de o seu
i, l;', ,
,1, ,i
próprio saber individual ser, ao mesmo tempo, uT c9mpo- ielativos à identidade pessoal e proÍissional do professor, à
súa situação socioprofissional, ao seu trabalho diário na es-
]i:
.i, i rr".t" de um gigantesco processo social de escolarizaçáo de
cola e na ãala de aüla. Essa ideia deve ser associada à tese
..

que afeta mihães de indivíduos e envolve milhares de ou- esses.au-


üebos e Jorion (1990) solre os salineiros. Segundo
..! úos trabalhadores que realizam uma tarefa mais ou menos
tores, o saber do trabalho não é um saber sobre o trabalho,
)
'ii'.
semelhante à sua?
i;. :ti I
mas realmente do trabalho,com o qual ele faz corpo de acor-
A minha perspectiva Procura, portanto, situar o saber do com formas múltiplas de simbolizaçáo e de operacionali-
do professor na interface entre o individual e o social, entre zaçáodos gestos e dai palavras necessárias à realização con-
o ,io, e o sistema, a fim de captar a sua natureza social e in- creta do trãbaho. EstaÊelecer a distinção entre saber e traba-
dividual como um todo. Ela se baseia num certo número de lho é uma operação analítica de pesquisador ou de enge-
fios condutores. nheiro do traUamô, mas, para um grande número de ofícios
e profissões, essa distinçáo não é Íão clara nem tão fácil no
piocesso dinâmico de trabalho.
Saber e trabalho

Um primeiro fio condutor é que o saber dos professores Diversidade do saber


deve seriompreendido em Íntima relação com o trabaiho de-
Um segundo fio condutor de que me sirvo há muito
livro'
tempo e a Ideia de diversidade ou de pluralismo do saber
2. Esses estudos são citados em diferentes partes deste

17
Ao contrário' o saber
caPítulos/ quan- originarem do seu trabalho cotidiano'
docente. De fato, como veremos em diversos àoí prof"rsores contém çonhecimentos e urn saber-fazer
saber/ eles se re- deles pro-
do questionamos os Professores sobrerseu J"á ã.i*"* social é patente' Por exemplo' alguns
Dessoais' falam
ferem a conhecim"''tio'e a um saber-fazer do professor, da escoia que I formou e de
e áos Hvros didá- ou
dos saberes curÍiculares, dos Programas "ãÃãr%Állia
sua cultura pessoaf outros vêm das
universidades das
ticos, apoiam-se em conilecimenós disciplinar::i:l?::"^:: ãr.ofur normais; outros estão ligados à instituição
(progra-
êrn Súa própria experlencra
às matêrias ênsinadas,-fiam:sê ilãr, tug.ut, princípios pedagóficos, objetivos' ftiitl1i,1::'
;;;;clrtos elementoi de sua formação profissional' dos cursos de recrcta-
plural, compósito, he- etc.); outros, ainda, provêm dos pares'
Em suma, o sabeÍ áá' prorursores é eeÍrt etc. Nesse r"rriido, o saber profissional
está' de um cer-
exercício do traba-
terogêneo, poÍque;;'olve, nopÍóp;io oriundos
í;;;;, na confluência de vários saberes atores educacio- da so-
badtante diversos' pro-
lho, Ionhecirrr*.,tot e uin saberfazet ;iJ"ã",'a, instituição escolar, dos outros
de nature-
,,",.,i",.t", d.e fontes variadas e, provavelmente, nais, das universidades, etc'
za diferente'
uma tentati- A consequência disso é que as relações que os professo-
No primeíro capítulo deste livro' apresento res estabelecã* com esses saberes geÍam,
ao mesmo tempo,
diversidade' pro-
.ru á" àterpretaçat desse problema ãa relações sociais corn os gÍupos, organizações
e atores que os
análiàebaseado na origem social dos
,iidli .",..,

"iir
fi,j
i
,
.
;;"d;;ãoa"ioà" formulado em 1-991-' ,.oárr"*. No tocante ã profissão docente' a relação togtl-
;l!:, saberes dos protes*'"t' Esse modelo' il;-."*; trabalho é acómpanhada -"saber
de uma relação social:
:;Ii,
:
'l'. ;;;;;-*uao ui"au hoie' §1 minha oP'yã9' ele pode o, prof"srores não usam o em si"' rnas sim saberes
i,Jil 'ser mais pertinente do que as diferentes tipologias ploPPS-
pro'duzidos Por esse ou Por aquele gruPo' oriundos
dessa
fri:;;,
a diversidade dos
i1.,,
l ..
tas por vários autàres p"u'"p'*entar ã" Jrq*f, instituição, iàcorpórados.ao trabalho por meio
li:l,i:,t r :
(1994)' Doyle
conhecirnentos dos ptáf""o'"s Bourdoncle
,1

i,íi:i';i.;
1í',:!, á;t;á" daquele mecanismô social (formação' currículos'
.,:
er al' (L9eT)' Mar!in119 93)' P.a-
ttô)í1, é ig" (1978),ê authier falar dos sa-
i.-.r, ,:i, r.
i:i: instrumento, a. t.uUulho, etc')' Por isso' ao se
,
'',i (1986)' Estes auto-
illii.: ,, awav (L994), Ravmond (Lgg3) e Shulman Uàr"t aot professores, é necessário levar em consideração
o
a partir dos quais
111fi,1r:.,
l"J#;íiie.í"t."g"itiuot ou teóricos
r

saberes' mas os crité- q* ràs dizem a respeito de suas relações sociais com
dos "t"t instância s, ít garizações, etc' Os j uíz o s co gni-
lf:.:j:ili,:l
i:í,,.. ;;;pã;* diferentes cTassificações
'.ioJmudam de uma tipologia para outra: ora comParam-se "];;ã;P "s, saberes
tivos que exPressam no tocante aos seus diferentes
!;::' ,.
pesquisa' ora
!1r;1,:.!;1,'
p.lr',.fpiot epistemológitot, ora corentes de são, aó *"rÀo tempo, iuízossociais' Eles consideram
que o
mais perti-
modelos ideais... Por"conseguinte, parece-me i"ítuU"t náo pode sei separado de uma definição seu do
no fundo, refle-
nente evitar o uso de tais critérios, os quais, saber-ensinar, definição essa que consideram distinta
ou
tem sempre os postulados epistemológilos 11t::1:::'oos" oposta às outras concepções dã saber-ensinar atribuídas a
propoÍ um modelo construído a partir das categorlas esses gruPos.
dos saberes que utilizam efetivamente
ir.á'çrti"t docentes e
à* trru prática profissional cotidiana'
Esse fio condutor relativo à diversidade
do saber dos Temporalidade do saher
des-
professorespermite também assinalar a natureza social
capítulos O saber dos professores é plural e também temporal'
5;;;;;;íb*:D" fato, como será mostradonos dos professores es- uma vez que, como foi dito antleriormente' é adquirido
lro
L e 2, os diversos saberes e o saber-fazer
mesmos ou de se contexto d" ,*u história de vida e de uma carreira profis-
tão longe d" se.À produzidos por eles

1B
sional. O capítulo 2 trata dessa questão, que também tem zer o que fazem. São esses temas,portanto, que serão explo-
um impactoimportante sobre a formação dos professores, rados de diferentes maneiras através dos vários ensaios
:aqui apresentados'
como veremos nos capítulos a respeito desse tema'
,:,1

Dizer que o saber dos professores é temporal significa


dizer, iniçiahnente, oue ensinar,supõe aprender a ensinar, A experiôncia de trabalho enquanto
ou seja, aprender a áominar progressivamente os saberes fundamento do saber
.recesãáriós à realização do trabalho docente. Os inúmeros
trabalhos dedicados à aprendizagem do ofício de professor . Se admitirmos que o saber dos professores não provém
colocam em evidência.a importância das experiências fami- ,deuma fonte única, mas de várias fontes ede diferentes mo-
liares e escolares anteriores à formação inicial na aquisição ilentos da história de vida e da carreira profissional, essa
do saber-ensinar. Antes mesmo de ensinarem, os futuros ,rprópria diversidade levanta o prúlema da unificação e da
professores vivem nas salas de aula e nas escolas - e, portan- iecômposição dos saberes no e pelo trabalho. Como os Pro-
"* L6 anos (ou seja, em torno de- 15.000 horas). Ora, tal
io, seu futuro local de trabalho durante aproximada- fessorôs amalgamam esses saberes? E, se há fusão, como ela
mente ge opera? Ocoirem contradições, dilemas, tensões, "conflitos
imersão é necessariamente formadora, pois leva os futuros l, COgrritivos,'entreesses saberes? Essa diversidade dos saberes
professores a adquirirem cÍenças, representações e certezas , tàirbém trazàtona a questão da hierarquizaçáo efetuada pe-
iobre a prática do ofício de professor, bem como sobre o que 1o§ professores. Por exemplo, será que eles se servem de to-
é ser alttno. Em suma, antes mesmo de começarem a ensinar doiesses saberes da mesma maneira? Será que privilegiam
oficialmente, os professores já sabem, de muitas maneiras, o ,r iertos saberes e consideram outros periféricos, secundários,
que é o ensino pôr causa de toda a sua história escolar ante- acessórios? será que valorizam alguns saberes e desvalori-
rior. Além disJo, muitas pesquisas mostram que esse saber zam outros? Que princípios regem essas hierarquizações?
herdado da experiência escolar anterior é muito forte, que
Os professores que encontrei e observei não colocam to-
ele persiste atrávés do tempo e que a formação universitária
dos os àeus saberesãm pé de igualdade, mas tendem a hie-
não consegue transformá-lo nem muito menos abalá-lo'
rurqutzá-los em função de sua utilidade no ensino' Quanto
A ideia de temporalidade, porém, não se limita à histó- *"iot utilizável no trabalho é um saber, menos valor profis-
ria escolar ou familiar dos professores. Ela também se aplica lional parece ter. Nessa ótica, os saberes oriundos da expe-
diretamente à sua carreira, carreira essa comPreendida como riência de trabalho cotidiana paÍecem constituir o alicerce da
um processo temporal marcado pela construção do saber prática e da competência profissionais, pois essa experiência
proÍissional. Esse tema da carreira profissional, poÍ sua vezl Z,p*uo professór, a condição para a aquisição e produção de
incide sobre temas conexos como a socialização profissio- seus próprios saberes profissionais. Ensinar é mobilizar uma
nal, a consolidação da experiência de trabalho inicial, as umpü vàriedade de saberes, reuülizando-os no trabalho para
fases de transformação, de continuidade e de ruptura que adáptá-los e transformá-los pelo e Para o trabalho' A expe-
marcam a trajetória profissional, as inúmeras mudanças riêrrcia de trabalho, portanto, é apenasumésPaço onde opro-
(de classe, de escola, de nível de ensino, de bairro, etc') fessor aplica saberei, sendo ela tnesma saber do trabalho sobre sa-
que ocorrem também no decorrer da carreira profi.qsional beres, em suma: reflexiaidade, retomada, reprodução, reitera-
e, finalmente, toda a questão da identidade e da subjetivi- ção daquilo que se sabe naquilo que se sabe fazet, a
fim de
dade dos professores, qre se tornam o que são de tanto fa- produár sua própria prática profissional'
I i 'fil

Saberes humanos a respeito de seres humanos mação para o magistério, levando em conta os saberes dos
profess-o.es e as realidades específicas de seu trabalho coti-
Outro dosmeus fios condutores é a ideia de trabalho inte- àirr,o. Essa é a ideia de base das reformas que vêm sendo
rativo, ou seja, um trabalho onde o trabalhador se relaciona realizadas na formação dos professores ern muitos países
com o seu objeto de trabalho fundamentalmente através da in- nos úItimos dez anos. Ela expressa avontade de encontrar, nos
teração tiuirtána. Vem daí qryia que§tão central que tem orien- cürsos de formação de professores, uma nova articulação e
tado as minhas pesquisas nos últimos anos: em que e como o urn novo equilíbrio entre os conhecimentos produzidos pe-
fato de trabalhar seres htmanos e com seres humanos rePer- las universidades a respeito do ensino e os saberes desenvol-
cute no trabalhador, em seus conhecimentos, suas técnicas, vidos pelos professores em suaspráticas cotidianas. Até ago-
sua identidade, sua vivência pnifissional? Minha hipótese é ra, a fõrmação para o magistério estevp dominada sobretu-
que o trabalho interativo e, por conseguinte, os saberes mobili- do pelos conhecimentos disciplinares, conhecimentos esses
zados pelos trabalhadores da interação não podem se deixar geralmente numa redoma devidro, semnenhu-
proãuzidos
-úa
pensaÍ a partir dos modelos dominantes do trabalho material,
conexão com a ação profissional, devendo, em seguida,
sejam eles oriundos da tradição marxista ou da economia libe-
serem aplicados na prática por meio de estágios ou de ou-
ral. De Íato, até. agora, foi o trabalho produtor de bens mate-
tras atividades do gênero. Essa visão disciplinar e aplicacio-
riais que serviu de paradigmapaÍao estudo do trabalho inte-
nista da formação profissional não tem mais sentido hoje
rativo. A organização escolar foi idealizada a partir das or-
em dia, não somente no campo do ensino, mas também nos
ganizações industriais (tratamento de massa e em sérig divi-
outros setores profissionais. É essa ideia que defendo, de-
são extrema do trabalho, especialização, etc.) e o ensino, como
senvolvo e ilustro nos três últimos capítulos. Procuro mos-
uma forma de trabalho técnico susceptívelde ser racionaliza-
do por meio de abordagens técnico-industriais ípicas, como o
trar como o conhecimento do trabalho dos professores e o
,fato de levar em consideração os seus saberes cotidianos
behaviorismo clássico, por exemplo, mas também, afualmen-
te, através de concepções tecnológicas da comunicação que permite renovar nossa concepção não só a respeito da for-
servem de suporte às novas tecnologias da informação. mação deles, mas também de suas identidades, contribui-
ções e papéis profissionais.
Com essa ideia de trabalho interativo, procuro comPre-
ender as características da interação humana que marcam o
saber dos atores que atuam juntos, como os professores com
seus alunos numa sala de aula. A questão do saber está liga- São estas, substancialmente, as principais ideias que nor*
da, assim, à dos poderes e regras mobilizados pelos atores teiam e alimentam os capítulos deste livro, o qual está divi-
sociais na interação concreta. Ela também está ligada a inter- dido em duas partes. Aprimeira contém cinco capítulos que
rogações relativas aos valores, à ética e às tecnologias da in- tratam mais especificamente do saber dos professores posto
teração. Essas diferentes ideias são abordadas em diversas em relação com seu trabalho e com suas atividades profis-
partes do livro e de maneira mais específica no capítulo 6. sionais; a segunda possui três capítulos que abordam muito
mais as relações entre a formação profissional dos professo-
res e seus saberes.
Saberes e formaçáo de professores
Na primeira parte, os capítulos 1 e 2 formam um todo e
Finalmente, chegamos ao último fio condutor, decor- discutem o mesmo problema com oito anos de intervalo. O
rente dos anteriores: a necessidade de repensar/ agora, a for- capítulo 1 ("Os professores diante do saber: esboço de uma

1' 23
problemática do saber docente") já é bem conhecido no ,câcional. Historicamente, a atividade educacional foi consi-
Brasil e apresenta, pela primeiravez, os elementos e etapas 'lr,dêrada uma arte (arte, technà) durante muito tempo; nos
de um programa de pesquisa sociológica sobre os saberes a ser considerada como uma es-
,'litêmpos modernos,,passou
dos professores em relação com sua profissão e situação pécie de técnica e de ação moral, ao mesmo tempo; mais re-
sociáI. plopõe _qma p1iry9i11t1nolog1a doq saberes dqs ,.àentemente, tomou-se interação. Ora, cada uma dessas con-
-!le
professóré§ba"seada errt sua origém social e em seus modos cdpçOes atribui ao saber uma certa definição e um certo sÍa-
de integração no magistério. Fornece também elementos , ,itui cujos fundamentos conceituais precisatn ser identifica-
conceituais para compreender melhor a posição socialmen- ,,.'tlos, se quisermos comPreender bem a natureza do saber
te desvalorizada do saber docente em relação aos outros . ique serve de base ao ensino. r
conhecimentos sociaió, escotaiêÉ ê üiúversitáiios. Finalmen- li-
,l ,."' O capítulo 5, finalmente, fecha essa primeira parte do
te, destaca o papel primordial da experiência de trabalho
vro/ apÍesentandouma reflexão aomesmo tempo epistemo-
cotidiana na constituição do sentimento de competência
lógicáe crítica sobre a própria noção de "saber dos professo-
entre os professores de profissão e na aquisição do saber
i'eã". A multiplicação das pesquisas sobre o saber dos pro-
experiencial, considerado, pelos próprios professores, como jiessores
geÍou uma série de problemas teóricos e conceituais
a base do saber-ensinar. iá,respeitô do sentido a ser dado a essa noção, em virtude
O capífulo 2 retoma os mesmos temas, situando-os num ,dós diversos significados que the foram atribuídos Por pes-
contexto interpretativo mais rico que incorpora as dimen- quisadores de linhas teóricas diferentes. Esse capítulo pro-
sões temporais do saber dos professores, ou seja, sua inscri- ,pôe, assim/ uma linha conceitual para Pensar e, sobretudo,
ção numa história de vida e seu desenvolvimento ao longo rdelimitar melhor todo esse camPo de pesquisa/ ao mesmo
da carreira profissional. O fato de levar em conta essas di- tempo em que oferece perspectivas metodológicas aos pes-
mensões temporais permite dinamizar o saber experien- q$sadores e alunos que se interessam pela questão.
cial, mostrando como ele é modelado no decorrer da histó- e está muito
ria pessoal, escolar e profissional dos proÍessores'
rr, A segunda parte do livro é mais prática
rnais voltada para a discussão dos probiemas concretos le-
O capítulo 3, de maneira deliberada, situa a questão do vantados afualmente pela formação de professores' Ela re-
saber no campo do estudo do trabalho docente, de suas ca- totra, essencialmente, os resultados da parte anterior e mos-
racterísticas e condicionantes obietivos. Ele parte dos gran- 't{a como podem originar novas concepções da formação
des componentes clássicos da análise do trabalho (seu ob- profissional no campo do ensino e quais os papéis que os
jeto, seu objetivo, suas tecnologias, seus resultados, etc.) e professores de profissão poderiam nela desempenhar. Tam-
mostra em que sentido o trabalho dos professores é profun- bém propõe uma reavaliação crítica das relações entre os
damente diferente do trabalho com a matéria inerte (traba- pesquisadores universitários e os professores, assim como
tho industrial, tecnológico, etc.) e como essa diferenÇa per- entre os conhecimentos universitários e os saberes docentes.
mite repensar toda a questão do saber do trabalhador e de
O capítulo 6 apresenta uma breve síntese das concep-
sua identidade.
ções atuáis relativas à subjetividade e ao seu papel no ensi-
Os capítulos 4 e 5 levam a discussão sobre o saber dos no. A partir daí, propõe diversas pistas de reflexão para que
professores para um plano muito mais teórico' O capítulo 4 sejam repensadas de outra maneira as relações entre a teoria
representa uma contribuição às teorias contemporâneas da e a prática na formação de professores.
ação, mas também à história das concepções da atividade edu-
r-
I

O capítulo 7 trata de um dos nós górdios de todas as re- treal, o professor Clermont Gauthier, da Universidade La-
formas realizadas na formação de professores nos últimos val, e a professora Danielle Raymond, da Universidade de
vinte anos: as relações entre os conhecimentos produzidos Sherbrooke, pela ajuda constante que me proporcionaram
pelos pesquisadores universitários das ciências da educa- eÍn meus trabalhos sobre a profissão docente. Também que-
ção e os saberes mobilizados pelo_s.práticos dq ensino. Com ro agradecer às professoras Menga Lüdke e Isabel Lélis, da
basê nos meus recehtcs trabalhos sobre o estudo do trabalho Pontifícia Universidade Católica do Rio de )aneiro, por me
docente, esse capítulo tenta lançar as bases de uma verdadei- terem incentivado a divulgar os meus trabalhos no Brasil.
ra epistemologia da prática profissional dos professores, ao Agradeço também, sinceramente, ao meu tradutor e amigo
mesmo tempo em qug proguJA§gpecificar as consequências Francisco Pereira de Lima, que assumiu a delicada missão
dessa epistemologia para as óoncepçõês e práticas de forma- de traduzir a grande maioria dos capítulos deste livro do
ção no magistério. francês para o português do Brasil. Finalmente, gostaria de
Finalmente, sempre tomando a questão do saber como expressar toda a minha gratidão à professora Cecília Bor-
fio condutor, o capítulo I apresenta um balanço das refor- ges, da Universidade Federal de Pelotas, por sua paciência
mas realizadas nos dez úlümos anos em matéria de forma- e compreensão, bem como pelo apoio constante que me
deu durante os diferentes momentos em que estive no Brasil.
ção de professores. Depois de apresentar, de maneira sucin-
ta, o modelo atual de formação profissional decantado pelas
reformas, ele analisa os obstáculos e dificuldades ligados a
essa reforma, relacionando-os com os problemas suscitados
pela nossa compreensão afual do saber docente.
No Brasil, esses capífulos foram, em sua maioria, publi-
cados inicialmente em revistas ou apresentados e discutidos
de maneira crítica em cursos/ conferências ou comunicações
diversas. Esta edição me deu a oportunidade de revisar to-
dos os textos, aos quais, em alguns casos/ acrescentei ele-
mentos inéditos, além de possibiiitar a eliminação de deter-
minados erros, entre os quais os tipográficos, e a atualização
das referências bibliográficas. A tradução em português tam-
bém foi revista e corrigida.
Eu não poderia concluir esta apresentação sem apresen-
tar os meus sinceros agradecimentos aos membros do gru-
po de pesquisa (Grupo de Pesquisa Interuniversitário so-
bre os Saberes e a Escola-GRISE) que há dez anos tenho a
honra e o prazer de dirigir, no Canadá, e cujos membros -
colegas e assistentes * participaram da elaboração ou da
discussão de certas partes dos capítulos deste livro. Quero
agradecer de modo mais específico aos meus colegas e ami-
gos, o professor Claude Lessard, da Universidade de Mon-

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