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Análise A Revista Acadêmica da FACE

Porto Alegre, v. 21, n. 1, p. 4-17, jan./jun. 2010

NOVOS CAMINHOS DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA BRASILEIRA
Luis Roque Klering a
Melody de Campos Soares Porsse b
Luis Alberto Guadagnin c

Resumo: O objetivo do presente artigo é apresentar a evolução dos modelos de administração


pública, considerando os três modelos básicos (patrimonialista, burocrático e gerencial), mas
também destacando importantes tendências recentes de governo do Brasil, que apontam
para a configuração de um modelo mais sistêmico, operado via programas multiníveis e
multiesferas de governo. Para tanto, o artigo realiza um levantamento das características
centrais (ou do modus operandi) da administração pública brasileira até 1994, perpassando
os períodos de governos patrimonialistas e burocráticos, até o fim do governo de Itamar
Franco, quando é instituída a Reforma do Estado Brasileiro, em 1995. A partir do segundo
período de governo FHC (1999-2002) e do governo Lula (mandatos 2003-2006 e 2007-2010),
ocorrem iniciativas que sinalizam para a constituição de um modelo de governo brasileiro
mais sistêmico, viabilizado por múltiplos programas intergovernamentais, envolvendo ações
de diferentes níveis e esferas de governo, e da sociedade civil. O artigo então destaca algu-
mas experiências mais recentes, que ilustram a tendência para a conformação de um governo
brasileiro mais sistêmico, especialmente via ampliação de programas federais tripartites ou
n-partites, como o Sistema Único de Saúde (SUS), Rede Integrada de Equipamentos Públicos
de Segurança Alimentar e Nutricional (REDESAN) e Territórios da Cidadania, que são desen-
volvidos ao mesmo tempo por diferentes atores governamentais e sociais, visando a atingir
assim maior sinergia e efetividade nas ações.
Palavras-chave: Enfoque sistêmico. Modelos de administração pública. Governo sistêmico.
Programas governamentais integrados. Programas de governo.

Abstract: The present work is aimed at demonstrating the evolution of public administration
models, taking into consideration three basic models (patrimonial, bureaucratic and
managerial) while also highlighting important recent trends of the Brazilian government,
which indicate the formation of a more systemic model, operated through multilevel and
multisphere government programs. To do so, the present article provides a survey on the
central characteristics (or modus operandi) of Brazilian public administration up to 1994 –
including periods of patrimonial and bureaucratic governments, and the end of Itamar Franco
Administration. Subsequently, it emphasizes a period called Reforma do Estado Brasileiro
(Brazilian State Reformation), established during the first term of Fernando Henrique Cardoso
Administration. From the 1995 State Reformation on, initiatives from the second term of the
FHC Administration (1999-2002) and the Lula Administrations (2003-2006 and 2007-2010
terms) point out the formation of a more systemic model of Brazilian government, operated
through multiple intergovernmental programs, turning to collaborative and integrated
actions at different levels and spheres of government and civil society. The present work
then highlights some of the most recent experiences that illustrate a trend for the formation
of a more systemic Brazilian government, especially by broadening the scope of tripartite
and n-partite federal programs, such as SUS, PSF, REDESAN and Territórios da Cidadania,
which are developed concomitantly by different governmental and social actors, thus aimed
at achieving greater synergy and effectiveness in actions.
Keywords: Systems approach. Public administration models. Systemic governments. Multiple
intergovernmental programs. Governmental programs.
JEL Classification: H8, Miscellaneous Issues; H83, Public Administration; Public Sector
Accounting and Audits.

a Professor do Programa de Pós-graduação em Administração (PPGA) da Escola de Administração (EA) da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS) de Porto Alegre-RS/Brasil. E-mail: <lrklering@via-rs.net>.
b Doutora em Administração e Pesquisadora do Núcleo de Tecnologias em Gestão Pública (NUTEP) da Escola de Administração (EA)
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) de Porto Alegre-RS/Brasil. E-mail: <msporsse@hotmail.com>.
c Professor da Faculdade de Administração, Contabilidade e Economia (FACE) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do

Sul (PUCRS) de Porto Alegre-RS/Brasil. E-mail: <luisguadagnin@pucrs.br>.


Novos caminhos da administração pública brasileira 5

1 Introdução mostram-se mais evidentes, que não abandonam


aprendizagens anteriores, mas que propõem
Em uma perspectiva histórica, a administra- novas soluções de administração para os novos
ção pública brasileira é marcada por processos de tempos. Alguns autores classificam esse novo
reformas, entendidos aqui como transformações modelo de administração com maior enfoque
das estruturas administrativas (organizacionais, social-participativo como sendo “societal” (Paes
gerenciais e no funcionalismo público) e insti- de Paula, 2005). Todavia, algumas iniciativas
tucionais do aparelho do Estado, que visam à mais recentes de governo do Brasil sinalizam
superação de dificuldades organizacionais e para a constituição de um modelo mais sis-
gerenciais no setor público, bem como o desen- têmico, operado via programas mais integrados,
volvimento no campo das relações políticas e multiníveis e esferas de governo, cujo exemplo
sociais (Fadul; Souza, 2005). A disposição para mais ilustrativo são os programas do SUS. Tal novo
“reformar administrativamente” o Estado brasi- modelo ainda não está claro e institucionaliza-
leiro é antiga, estando presente desde a década do no meio acadêmico, e por isso este artigo
de 30 do século passado, mas assumindo maior pretende compreendê-lo melhor, apresentando
relevância em meados da década de 90, via ins- as mudanças fundamentais em gestação na ad-
titucionalização da Lei da Reforma do Estado ministração pública brasileira, que continuam
Brasileiro. sendo aprofundadas, e os caminhos mais recen-
Nesse contexto, podem ser destacadas tes sinalizados.
quatro principais transformações da adminis- Para tanto, inicialmente, o artigo realiza
tração pública brasileira. Tais transformações um levantamento das características centrais
iniciam-se com a criação do Departamento Admi- (ou do modus operandi) da administração pú-
nistrativo do Serviço Público (DASP) em 1936, que blica brasileira até 1994, perpassando os pe-
visava promover uma máquina administrativa ríodos de governos patrimonialistas e bu-
nos padrões weberianos, baseada nas caracte- rocráticos, até o fim do governo de Itamar
rísticas de impessoalidade, formalidade e pro- Franco. Posteriormente, enfatiza-se o período
fissionalismo. Em seguida, tem-se a publica- da Reforma do Estado Brasileiro, instituída no
ção do Decreto Lei nº 200/67 durante o Regime primeiro período do governo FHC. Em segui-
Militar, constituindo-se na tentativa de ado- da, são apresentadas as novas perspectivas de
ção de um modelo gerencial na administração administração pública: a vertente societal e o
federal, fundamentando-se na descentraliza- Estado em rede. Por fim, apresenta-se o enfo-
ção político-administrativa. Posteriormente, que sistêmico da administração pública brasilei-
com a promulgação da Constituição de 1988, ra, especificando-se as propriedades desse
são introduzidas mudanças tanto na estrutura estado de ser, bem como destacando algumas
administrativa (processo de descentralização experiências mais recentes, que ilustram a
da administração pública), como na dimensão tendência para a conformação de um governo
política (construção da cidadania plena, inse- brasileiro mais sistêmico, especialmente via
rindo a sociedade na formulação de políticas pú- ampliação de programas federais tripartites ou
blicas e na gestão governamental). Por último, a n-partites, como o SUS, REDESAN, Territórios
reforma dos anos 90, que teve início no governo da Cidadania, operados ao mesmo tempo por
Collor e que foi consolidada nos dois governos governos dos três níveis e diferentes esferas, e
de Fernando Henrique Cardoso, tinha como pro- também com a participação dos diferentes se-
posta a adoção de um modelo de administração tores sociais.
pública gerencial (Fadul; Silva, 2008).
Dentro dessa trajetória de reformas do Esta- 2 Evolução da administração pública
do brasileiro podem ser identificados inicialmen- no Brasil até 1994
te três modelos básicos de administração: o pa-
trimonialista, o burocrático e o gerencial. Os três No modelo mais antigo, da administração
estágios históricos de administração pública se pública patrimonialista, vivido pelo Brasil es-
sucedem no tempo, sem que, contudo, qualquer pecialmente até o ano de 1889, o aparelho do
um destes paradigmas tenha sido completamen- Estado funciona como uma extensão do poder
te abandonado. Mais recentemente, importantes do soberano, e os seus auxiliares (servidores)
tendências de administração pública brasileira possuem status de nobreza real. Caracteriza-se

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pela indefinição entre o que é público e privado, distinção entre administração e política. Neste
entre o político e o administrador público (co- estágio, ainda, a administração pública sofre a
mo cargo profissional). Consequentemente, a influência da Teoria da Administração Científi-
corrupção e o nepotismo são inerentes a esse ca de Taylor, buscando o ideal da racionalização
tipo de administração. via aplicação dos princípios da simplificação,
A administração pública burocrática traz, padronização e aquisição racional de materiais,
em seu cerne, as idéias de profissionalização, revisão de estruturas e aplicação de métodos na
de carreira, de hierarquia funcional, impessoali- definição de procedimentos.
dade e formalismo, caracterizando assim um po- Tendo em vista as inadequações do modelo
der racional-legal. Parte-se de uma desconfiança burocrático, a administração pública burocrática
prévia nos administradores públicos e nos cida- que vigorava desde a década de 30 sofreu suces-
dãos que a eles dirigem demandas. Por este mo- sivas tentativas de reforma. Não obstante, as ex-
tivo, são sempre necessários controles rígidos periências se caracterizaram, em alguns casos,
dos processos. pela ênfase na extinção e criação de órgãos, e,
Em contrapartida, surgem disfunções; o con- em outros, pela constituição de estruturas pa-
trole – a garantia do poder do Estado – trans- ralelas visando a alterar a rigidez burocrática.
forma-se na própria razão de ser da administra- Assim, no Governo JK, foi feita uma tentativa
ção. Em consequência, o Estado corre o risco de de reforma administrativa com a criação da Co-
voltar-se para si mesmo, perdendo a noção de missão de Estudos e Projetos Administrativos,
sua missão básica, que é servir à sociedade. A objetivando a realização de estudos para sim-
qualidade fundamental da administração públi- plificação dos processos administrativos e refor-
ca burocrática é a efetividade no controle dos mas ministeriais, bem como a Comissão de Sim-
abusos; seu defeito, por outro lado, está na ine- plificação Burocrática, que visava à elaboração
ficiência, na autorreferência, na incapacidade de de projetos direcionados para reformas globais
voltar-se para o serviço aos seus cidadãos. Esse e descentralização de serviços.
defeito, entretanto, não se revelou determinante A reforma operada em 1967 pelo Decreto-Lei
na época do surgimento da administração pú- nº 200, entretanto, constitui um marco na tenta-
blica burocrática, porque os serviços do Estado tiva de superação da rigidez burocrática, poden-
eram menores. Nesse modelo de administração do ser considerada como um primeiro momento
pública, o Estado concentra esforços para man- da administração gerencial no Brasil. Mediante
ter a ordem e administrar a justiça, e garantir os o referido Decreto-Lei, realizou-se a transferên-
contratos e a propriedade. cia de atividades para autarquias, fundações,
No Brasil, o modelo de administração bu- empresas públicas e sociedades de economia
rocrática emerge principalmente a partir dos mista, a fim de obter-se maior dinamismo ope-
anos 30, como contraponto ao conservador, mas racional por meio da descentralização funcional.
fragmentado, poder das oligarquias rurais ex- Instituíram-se, como princípios de racionalidade
portadoras. Surge no quadro da aceleração da administrativa, o planejamento e o orçamento,
industrialização brasileira, em que o Estado as- o descongestionamento das chefias executivas
sume um papel central mais decisivo, intervin- superiores (visando a desconcentrar e descen-
do maciçamente no setor produtivo de bens e tralizar), a tentativa de reunir competência e
serviços. A partir da reforma empreendida no informação no processo decisório, a sistemati-
governo Vargas por Maurício Nabuco e Luiz Si- zação, a coordenação e o controle.
mões Lopes, a administração pública sofre um O paradigma gerencial da época, compatível
processo de racionalização que se traduziu no com o monopólio estatal na área produtiva de
surgimento das primeiras carreiras burocráticas bens e serviços, orientou a expansão da admi-
e na tentativa de adoção do concurso como for- nistração indireta, numa tentativa de “flexibili-
ma de acesso ao serviço público. A implanta- zar a administração” com o objetivo de atribuir
ção da administração pública burocrática é uma maior operacionalidade às atividades econômi-
consequência clara da emergência de um capi- cas do Estado.
talismo moderno no país. Com vistas à moder- Entretanto, as reformas operadas pelo De-
nização da administração pública, é criado, em creto-Lei nº 200/67 não desencadearam mu-
1936, o Departamento Administrativo do Serviço danças no âmbito da administração burocrática
Público – DASP, abrindo, assim, uma nova e clara central, permitindo a coexistência de núcleos

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de eficiência e competência na administração visou a racionalizar o ingresso e a fixação de


indireta e formas arcaicas e ineficientes no pla- servidores no serviço público. Todavia, acabou
no da administração direta ou central. O núcleo promovendo um surpreendente engessamento
burocrático foi, na verdade, enfraquecido inde- do aparelho estatal, ao estender para os serviços
vidamente através de uma estratégia do regi- do Estado e para as próprias empresas estatais
me militar, que não desenvolveu carreiras de praticamente as mesmas regras burocráticas
administradores públicos de alto nível, preferin- rígidas adotadas no núcleo estratégico do Es-
do, ao invés, contratar os escalões superiores tado. A nova Constituição determinou a perda
da administração direta através de empresas da autonomia do Poder Executivo para tratar
estatais. da estruturação dos órgãos públicos, instituiu a
Em meados dos anos 70, uma nova iniciativa obrigatoriedade de regime jurídico único para os
modernizadora da administração pública teve servidores civis da União, dos Estados-membros
início com a criação da SEMOR – Secretaria da e dos Municípios, e retirou da administração in-
Modernização. Reuniu-se em torno dela um gru- direta a sua flexibilidade operacional, ao atribuir
po de jovens administradores públicos, muitos às fundações e autarquias públicas normas de
deles com formação em nível de pós-graduação funcionamento idênticas às que regem a admi-
no exterior, que buscou implantar novas técni- nistração direta.
cas de gestão, e particularmente de adminis- O período imediatamente seguinte, do go-
tração de recursos humanos, na administração verno Collor (1990-1992), passa a priorizar o
pública federal. ajuste fiscal, via incentivos à liberação comercial
Já no início dos anos 80, registrou-se uma e a privatização. Assim, promoveu uma reforma
nova tentativa de reformar a burocracia e orien- administrativa do aparelho do Estado via propa-
tá-la na direção da administração pública ge- lado intuito de resgatar a eficiência e a dignida-
rencial, com a criação do Ministério da Desbu- de do serviço público, bem como de adequar as
rocratização e do Programa Nacional de Des- estruturas da máquina estatal às funções típicas
burocratização – PrND, cujos objetivos eram a da administração pública, resultando daí a de-
revitalização e a agilização das organizações missão e aposentadoria de expressivo número
do Estado, a descentralização da autoridade, a de servidores.
melhoria e simplificação dos processos adminis- O curto governo de Itamar Franco (1992-1994)
trativos e a promoção da eficiência. As ações do preocupou-se essencialmente com a estabiliza-
PrND voltaram-se inicialmente para o combate ção da economia, via Plano Real, conduzido pelo
à burocratização dos procedimentos. Posterior- ministro Fernando Henrique Cardoso, que foi
mente, foram dirigidas para o desenvolvimento eleito para presidir o governo seguinte.
do Programa Nacional de Desestatização, num Nesse novo contexto, de desafios impostos
esforço para conter os excessos da expansão da pela expansão das funções econômicas e sociais
administração descentralizada, estimulada pelo do Estado, do aumento do desenvolvimento tec-
Decreto-Lei nº 200/67. nológico e da globalização da economia mundial,
O período da transição democrática (1985- a proposição de um modelo de administração
1990) caracterizou-se por um afrouxamento dos pública gerencial, emprestando conceitos de
esforços de modernização administrativa no se- administração de empresas do mercado, surge
tor público, em função de vários fatores, princi- como resposta ao modelo burocrático de admi-
palmente pela falta de apoio político para esse nistração pública. A diferença fundamental do
objetivo, bem como pela implementação do Pla- novo modelo de administração pública está na
no Cruzado, e ainda pela espera por definições forma de controle, que deixa de basear-se nos
mais claras por parte da nova Constituição (de processos para concentrar-se nos resultados.
1988), que estava sendo engendrada pela As- Outrossim, são definidas metas para cada órgão,
sembléia Nacional Constituinte, instalada em outorga-se maior autonomia na gestão de recur-
1986. Um fato importante ocorrido em 1986 foi a sos, e passa-se a instituir, a posteriori, o controle
criação da Fundação Escola Nacional de Admi- de resultados alcançados. São valorizados, tam-
nistração Pública (ENAP), com o objetivo de for- bém, aspectos de transparência e participação
mar, aperfeiçoar e profissionalizar o servidor pú- dos cidadãos.
blico de nível superior, visando à modernização A eficiência da administração pública – a ne-
do setor público. A nova Constituição de 1988 cessidade de reduzir custos e aumentar a quali-

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dade dos serviços, tendo o cidadão como bene- Objetivando maior eficiência e qualidade nos
ficiário – torna-se, então, primordial. A Reforma serviços prestados aos cidadãos, o cenário da
do Aparelho do Estado passa a ser orientada Reforma empreendida no Brasil prevê diferen-
predominantemente pelos valores da eficiência tes estratégias e formas de descentralização dos
e qualidade na prestação de serviços públicos e serviços públicos: via instituição de mecanismos
pelo desenvolvimento de uma cultura gerencial de privatização, visando a reduzir o tamanho do
nas organizações. aparelhamento administrativo do Estado, bem
como a dinamizar e flexibilizar sua atuação; a
3 A reforma gerencial do Estado quebra de monopólios, para tornar competiti-
brasileiro vas as atividades exercidas com exclusividade
pelo poder público; o recurso a autorizações,
A Reforma do Estado, implementada a partir permissões e concessões de serviços públicos,
de 1995, deve ser entendida dentro do contexto delegando-se estes serviços ao Terceiro Setor e
da redefinição do papel do Estado, que deixa à iniciativa privada; o estabelecimento de parce-
de ser o responsável direto pelo desenvolvi- rias com entidades públicas ou privadas para a
mento econômico e social pela via da produção gestão associada de serviços públicos, ou servi-
de bens e serviços, para fortalecer-se na fun- ços de utilidade pública, por meio de convênios,
ção de promotor e regulador desse desenvolvi- consórcios e contratos de gestão; a terceirização
mento. como forma de se buscar o suporte de entidades
No plano econômico, o Estado é, essencial- privadas ao desempenho de atividades-meio da
mente, um instrumento de transferências de administração pública.
renda. Para realizar essa função redistribuido- Vários modelos de atuação, inspirados no
ra ou realocadora, o Estado coleta impostos e contexto americano ou anglo-saxônico, podem
os destina aos objetivos clássicos de garantia ser considerados inadequados, uma vez que não
da ordem interna e da segurança externa, aos têm a devida sustentação constitucional e legal.
objetivos sociais de maior justiça ou igualdade Como exemplo de inadequação, pode ser men-
e aos objetivos econômicos de estabilização e cionado o caso dos contratos de gestão, utiliza-
desenvolvimento. Para realizar esses dois últi- dos desde 1991, mas que somente em anos mais
mos objetivos, que se tornaram centrais neste recentes estão previstos por Emenda Constitu-
século, o Estado tendeu a assumir funções di- cional (19/98, art. 37, § 8º).
retas de execução. As distorções e ineficiências Com a reeleição de FHC, em 1999, o gover-
que daí resultaram deixaram claro que reformar no passou a direcionar seu foco para a pobreza
o Estado significa transferir para o segundo e para o atingimento das metas internacionais
setor (privado) e terceiro setor (social) as ati- de desenvolvimento, reafirmando o Plano Real
vidades passíveis de serem realizadas pelos como estratégia para a estabilidade econômica.
mesmos. Outrossim, o novo governo propõe, como novi-
Assim, de um lado, o Estado repassa à inicia- dade, a estruturação das atividades de adminis-
tiva privada o que esta pode executar sob o con- tração pública federal em 380 programas, com o
trole do Estado. De outro, também descentraliza objetivo de assegurar transparência e respon-
para o setor público não-estatal a execução de sabilização gerencial. Desta forma, perde força
serviços que não envolvem o exercício do poder o apelo da “Reforma do Estado” frente ao novo
de Estado, mas que devem ser subsidiados pelo desenho da administração pública, calcado na
Estado, como é o caso dos serviços de educação, gestão de programas, flexionando desta forma,
saúde, cultura e pesquisa científica. Este pro- de maneira mais intensa, os esforços de dentro
cesso é a chamada “publicização”. da administração pública para o atendimento
A Reforma do Aparelho do Estado surge num concreto e comum dos cidadãos.
contexto de tecnologização e globalização do Com relação ao governo Lula (mandatos
mundo, em que são atribuídas crescentes com- 2003-2006 e 2007-2010), Fadul e Silva (2008)
petências ao poder público, que por isso precisa consideram que as iniciativas atuais de reforma
buscar condições para tanto, bem como obter propostas nesse governo seguem as políticas e
efetividade no processo, via busca de novas so- ações empreendidas na reforma de 1995, sendo
luções, medidas inovadoras, bem como novos desdobramentos e dando continuidade às refor-
colaboradores e parceiros. mas iniciadas no governo passado.

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As reformas propostas pelo governo Lula • A introdução de múltiplos atores que de


agregam um conjunto de ações voltadas para forma direta ou indireta participam em
um Estado promotor da inclusão social, as quais diferentes fases do processo de desenvol-
envolvem três categorias que guardam seme- vimento de políticas públicas, ampliando-
lhanças com a reforma dos anos 90, na qual se assim o leque de grupos de interesse e
foram implantadas reformas estruturais (Re- pressão, como também as dificuldades de
forma do Estado e do seu aparelho) e reformas conciliação desses variados e diferentes
administrativas (da administração pública), sen- interesses.
do essas últimas voltadas para a retomada da Nesse novo contexto, o papel do Estado
performance e da qualidade dos serviços públi- está sendo crescentemente demandado, em
cos. A primeira categoria envolve uma reforma que não pode ser entendido como empecilho
do modelo de gestão pública, através de ações à realização do seu papel, mas como solução,
como a integração de programas governamen- ampliando e profissionalizando sua esfera de
tais e avaliação do desempenho administra- atuação, como indutor, articulador, catalisador
tivo. A segunda categoria se preocupa com a e orquestrador principal do desenvolvimento,
melhoria da performance dos serviços públicos com a forte participação da sociedade, sem
através da inovação gerencial, tal como na re- clientelismo, mas com transparência e res-
forma anterior. A última categoria abrange re- ponsabilidades consensuadas e compartilha-
formas na estruturação do executivo federal, das.
tais como realização de concursos públicos,
valorização do servidor, qualidade de vida no
trabalho, novas concepções institucionais, in- 4 Novas tendências de
tegração entre planejamento e orçamento, ac- administração pública
countability, questões similares ao gerencia-
lismo, como na reforma passada (Fadul; Souza, 4.1 Vertente societal
2005). Mais recentemente, começa a se consolidar
Nesse contexto, os projetos da Reforma do uma nova perspectiva de administração públi-
Estado de 95 continuam sendo enfatizados no ca, que Paes de Paula (2003; 2005) nomeia de
governo Lula, mas com uma maior ênfase a pro- “vertente alternativa” ou de “vertente societal”,
gramas sociais, em que o Governo Federal busca sendo baseada em uma nova relação Estado-
acentuar seu papel de planejador e orientador, sociedade, em que há um maior envolvimento
tendo como intermediadores os Estados, e rea- da população na definição da agenda política, e,
lizadores locais os municípios. consequentemente, um maior controle social so-
De fato, pode-se observar que os objetivos bre as ações estatais e a legitimação da socieda-
de reforma gerencial não foram atingidos com a de como participante do processo de formulação
Reforma de 1995, mas serviram (especialmente e implementação de políticas públicas (Fleury,
como prática discursiva) para institucionalizar 2001; Paes de Paula, 2003).
uma série de mudanças nos governos de todos Esse modelo contrapõe-se à gestão estraté-
os níveis e esferas. Como heranças principais, gica tradicional na medida em que tenta subs-
podem ser elencadas: tituir a gestão tecnoburocrática e monológica
• A introdução da noção de “agencificação” (de um ator único) por um gerenciamento mais
na administração pública, pela qual se participativo, dialógico, no qual o processo de-
atribui ao gestor público maior autonomia, cisório é exercido por meio de diferentes sujei-
junto com uma maior autoridade e corres- tos ou atores sociais (de atores compostos, sem
pondente responsabilidade administra- a presunção da existência de um pensamento
tiva; único). Nesse conceito, a gestão é entendida
• A intensificação da descentralização ad- como sendo uma ação político-deliberativa, na
ministrativa, via diferentes arranjos admi- qual o indivíduo participa decidindo seu desti-
nistrativos; no como cidadão, eleitor, trabalhador ou consu-
• A introdução de mecanismos de regula- midor; sua autodeterminação se dá pela lógica
ção, especialmente via implementação de da democracia e não pela lógica do mercado.
agências reguladoras dos serviços públi- Assim, emerge uma concepção de democracia
cos; que transcende à instrumentalidade e tenta

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abranger a dimensão sociopolítica da gestão pú- blemas da administração e gestão pública, qual
blica1. seja, a construção de uma rede interna ao Esta-
Seu êxito depende da criação de condições do – entre os diferentes níveis e esferas de go-
sociais e de arranjos institucionais que estimu- verno – com ênfase na descentralização, redis-
lem o diálogo livre e aberto entre cidadãos, ca- tribuindo recursos, competências e poder para
pazes de formular juízos informados e racionais as esferas sub-nacionais, e tornando possível a
em torno das formas de resolver problemas. A proximidade do cidadão com a figura do poder
emergência de novas tecnologias de informa- público. As distintas instâncias governamentais
ção e comunicação (TICs) pode contribuir for- se convertem em elos de uma rede e passam a
temente para potencializar a participação dos tomar decisões coordenadas, o que torna as in-
cidadãos na sociedade. tervenções mais eficazes (Castells, 1999). Ade-
Dentre experiências participativas, podem mais, as ações do governo e de seus diferentes
ser citadas: os fóruns temáticos, conselhos ges- níveis e esferas passam a ser integradas tam-
tores de políticas públicas, conselhos de órgãos bém com as diferentes entidades e a sociedade
e de administrações públicas, planejamento via civil.
orçamento participativo, e outras formas mais. O Estado substitui então o modelo de prove-
Tais experiências se diferenciam de outras, uma dor exclusivo e de executor por um modelo de
vez que colocam em questão a tradicional prer- coordenador e fiscalizador de serviços, sendo as
rogativa do executivo em monopolizar a formu- responsabilidades executadas de modo descen-
lação e o controle das políticas públicas. Opor- tralizado, incluindo também parcerias e alian-
tunizam, assim, novos meios de interlocução e ças com empresas privadas e com a sociedade
negociação entre as estruturas de administra- civil. Dessa forma, as instâncias de governo se
ção pública e a sociedade. tornam sócias na promoção do desenvolvimento
econômico e social, apresentando uma organiza-
4.2 O Estado em rede ção mais flexível, ágil, eficiente, efetiva e com a
O desenvolvimento de novas tecnologias de sua ação descentralizada.
informação e comunicação (TICs) e a globaliza- A visão de funcionamento de uma organi-
ção da economia, assistidos no final do século zação em rede ultrapassa, assim, largamente a
XX, constituíram um cenário de negócios tur- visão monológica ou “mecanística” de funcio-
bulento, de mudanças rápidas e contínuas, no namento de organizações, caracterizada por
qual a competitividade, a flexibilidade e a busca Burns e Stalker (1961) na obra The management
da eficiência e da eficácia tornam-se essenciais of innovation, para situar-se mais perto da visão
(Pimenta, 1998). Como uma alternativa de so- “orgânica” de funcionamento de organizações,
brevivência nesse ambiente dinâmico e com conforme ilustra a Figura 1.
elevado nível de incerteza, são estabelecidas
novas estruturas organizacionais privadas e,
sobretudo, públicas, sendo as redes o elemento Variáveis
Organizações Organizações
Mecanísticas Orgânicas
fundamental que as caracteriza. Dessa maneira,
Estrutura Burocracia Adhocracia
as organizações conseguem acessar novos re- organizacional
cursos e conhecimentos, superar limitações in- Desenho dos cargos Estáveis, Mutáveis
Fragmentados,
dividuais, obter maior flexibilidade e melhores Especializados
condições de atuação e de superação de proble- Processo de decisões Centralizado Descentralizado
mas (Peci, 1999). Comunicações Mais verticais Mais laterais
Especificamente em relação ao Estado, uma Confiabilidade Nas regras formais Nas pessoas
nova forma institucional surge para se adequar Princípios Administração Teoria relações
predominantes científica humanas
aos desafios contemporâneos e aos novos pro- Ambiente externo Estável Instável
Fonte: Elaborada pelos autores, baseada em Burns e Stalker (1961).
1 Três dimensões são consideradas fundamentais para a cons-
trução de uma gestão pública democrática: (a) econômico- Figura 1 – Funcionamento de Organizações
financeira, envolvendo questões de natureza fiscal, tributária
e monetária; (b) institucional-administrativa, envolvendo as-
pectos de organização da estrutura, assim como aspectos de De acordo com os autores, no sistema me-
planejamento, direção e controle; (c) sociopolítica, envolven-
do as relações do Estado com a sociedade, especialmente os canístico, predomina a centralização e a hierar-
direitos dos cidadãos e sua participação na gestão pública. quia formal de autoridade. Os procedimentos

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Novos caminhos da administração pública brasileira 11

exigem que a organização se torne uma máqui- conseguem realizar melhor tal ajustamento ao
na eficiente, com muitas regras, regulamentos e ambiente, desenvolvendo cadeias (séries) de
controles. No orgânico, os indivíduos trabalham componentes que se interligam, formando es-
em grupos, se comunicam através de todos os truturas emaranhadas e entrelaçadas.
níveis da organização, e a variabilidade humana De uma estrutura em rede, as organizações
e toda sua complexidade são aproveitadas para podem evoluir para uma conformação mais inte-
estimular as decisões e a participação. grada e organizada de funcionamento, que é a
Em 1969, Warren Bennis (1972) atualizou a forma sistêmica. Para tanto, o ponto de partida
comparação entre organizações mecânicas e or- constitui entender o sentido de um sistema, que
gânicas, enfatizando os seguintes pontos, con- será visto no item seguinte.
forme Figura 2.
5 Enfoque sistêmico da administração
Organizações Organizações
pública brasileira
Variáveis
Mecânicas Orgânicas
Ênfase Nos indivíduos Nos grupos Por sistema, toma-se aqui o conceito defi-
Base do Na obediência Na confiança nido por Scaico (1988): “sistema é um conjunto
relacionamento
de componentes que se relacionam (interagem)
Responsabilidade Dividida Compartilhada
Divisão do trabalho Hierárquica Multigrupal
para atingir objetivos, transformando, sob res-
Tomada de decisões Centralizada Descentralizada trições e oportunidades, entradas em saídas”.
Solução de conflitos Através de repressão Através de Do conceito de sistema, decorre uma compreen-
negociação
são bastante ampla e envolvente do conceito de
Fonte: Bennis, 1972. “enfoque sistêmico”, que consiste em conside-
Figura 2 – Comparação entre Organizações rar uma realidade contendo várias característi-
Mecânicas e Orgânicas cas, propriedades ou atributos, que ultrapassam
a visão mecânica de funcionamento de uma or-
Para o autor, os novos tempos preconizam a ganização (ou seja, de uma visão linear, segmen-
falência do modelo burocrático de organização, tada, fixa), e mesmo a visão orgânica (aberta,
em favor de outro mais orgânico, que tenha ca- relacionada, flexível).
pacidade de evoluir (em ciclos), de aprender a Pois o enfoque sistêmico implica em consi-
aprender, de autorrenovar-se. derar que um fenômeno apresente várias carac-
Em 1992, Tom Peters (1992) acentuou que terísticas, propriedades ou atributos peculiares
a nova visão de trabalho seria de inteligência, do seu estado de ser, em que além das caracte-
em redes de times (equipes) semipermanentes, rísticas próprias de uma organização “orgâni-
formadas por pessoas orientadas a projetos, em ca” somam-se outras propriedades adicionais,
que cada uma é autônoma, um centro produtor especialmente das propriedades da multidi-
de oportunidades. Nessas novas organizações, mensionalidade e multinivelaridade, de foco e
predominariam a flexibilidade e velocidade de autocontrole, da recursividade, da autonomia e
trabalho, com equipes revolucionárias e estru- personalidade das partes, e da subsidiaridade.
turas libertas. Assim, ao se considerar que um fenômeno
Mais recentemente, Farjoun (2002) retomou tem “enfoque sistêmico” implica em considerar
a comparação entre as perspectivas mecânica que ele apresenta propriedades como:
e orgânica para enfatizar a importância das or- • É adaptativo, em que as unidades se ajus-
ganizações enfocarem estratégias orgânicas de tam constantemente às condições do am-
atuação, ao invés das tradicionais estratégias biente, obedecendo à característica da ho-
mecânicas; para avançar de perspectivas li- meostase, ou seja, do equilíbrio dinâmico
neares, causais, discretas, fragmentadas; em do entorno, formulados e implementados
direção a perspectivas de processo, integradas, via “leitura” das condições do ambiente,
adaptativas, emergentes, mais ricas e significa- e implementados de forma adaptativa nas
tivas. Assim, quando uma organização evolui ações locais, visando a atingir os critérios
de uma orientação mecânica de funcionamento e os objetivos previstos;
para uma orgânica, torna-se mais aberta, des- • Do contínuo ajustamento, pelo qual o sis-
centralizada, emanharada, ajustada ao con- tema procura se ajustar (corrigir) constan-
texto, e significativa. As organizações em rede temente aos requisitos internos do mesmo,

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segundo critérios (padrões) que orientam do probabilidades e múltiplos motivos, e


o funcionamento coordenado do conjunto; não de forma fixa; o direcionamento das
sempre tendo em vista os critérios supe- atividades depende de contingências que
riores (metacritérios) definidos; visando a ocorrem, e em função das quais os admi-
resguardar o andamento (o processo) do nistradores podem direcionar de forma fle-
sistema; xível as atividades, recorrendo a diferentes
• Da flexibilidade, em que as relações e flu- alternativas de atividades; parte-se assim
xos entre as partes (componentes do siste- do pressuposto de que as pessoas têm ne-
ma) não são fixas, mas podem assumir di- cessidades e preferências diferentes, que
ferentes conexões e direções (ou direções devem ser tratadas como opções alterna-
de navegação), na forma de redes e ca- tivas de ação e solução;
deias abertas, sem cumprirem hierarquias • De foco e autocontrole, pelo qual se
verticais e horizontais fixas; podendo os reconhece que um sistema tem um obje-
objetivos maiores ser alcançados por dife- tivo a alcançar, uma orientação a seguir,
rentes caminhos (fluxos, cadeias) ou redes um “lugar” onde aportar; em relação ao
de atores do sistema, sem a necessidade qual opera constantes mecanismos de
de obedecer a um protocolo ou fluxo fixo autocorreção (ajustes, feedbacks) em re-
de orientação ou direcionamento (hierár- lação a padrões de referência, que servem
quico); de forma metafórica, pode-se refe- como controles da orientação ou caminho
rir que esta arquitetura permite caminhar certo a ser percorrido;
livremente sobre “as pedras de um rio”, • Da recursividade das partes, pelo qual
sem obedecer a um esquema ou caminho o sistema pode reusar as qualidades ou
fixo pré-determinado; atributos de partes (componentes ou uni-
• Da multidimensionalidade e multinive- dades-módulos) diversas vezes, em dife-
lalidade, em que os sistemas devem ser rentes outros níveis do sistema; assim, so-
compreendidos como fazendo parte de sis- luções boas num nível podem ser usadas
temas maiores (macros) e ao mesmo tem- igualmente nos outros níveis, partilhando-
po contendo sistemas menores (subsiste- se conhecimentos, práticas, tecnologias
mas), na forma de módulos dos maiores; e soluções nas diferentes instâncias do
em que se podem compreender os municí- sistema, sem que sejam “gastos”, ou sem
pios como sendo partes (subsistemas) dos que sejam acessados de forma exclusiva e
sistemas maiores (seus respectivos esta- unidirecional num único ponto e nível do
dos e a União), e vice-versa; numa pers- sistema;
pectiva de orientação “para cima e para • Da autonomia das partes, em que se reco-
baixo”, tendo-se a visão ora do local, ora nhece que as partes (unidades-módulos)
do todo; constituem reproduções menores do sis-
• Da multidisciplinaridade, pelo qual se re- tema maior, com papéis, competências e
conhece a capacidade das partes (compo- prerrogativas próprias no contexto do sis-
nentes ou unidades-módulos) de um siste- tema maior; assim, a idéia é repassar as
ma complementarem-se a si, preenchendo competências (autoridades) e responsa-
lacunas e potencialidades mutuamente, bilidades para os níveis em que as ações
tornando o conjunto (o sistema) mais rico ocorrem, visando a liberar os intermediá-
e desenvolvido; assim, os objetivos devem rios das tarefas de controle; ou seja, dar po-
ser atingidos via contribuição de diferen- der de resolução e atuação para os lugares
tes disciplinas, em que o conjunto é mais (instâncias) em que as ações ocorrem; de
rico que as disciplinas consideradas de tal forma que os administradores possam
forma individual, sendo diferentes, mas realizar as ações de sua responsabilidade
relacionadas, umas preenchendo lacunas sem precisarem das intermediações e con-
das outras, gerando assim mais riqueza e troles de intermediários;
pluralidade de conhecimento; • Da subsidiaridade, realizando em cada ní-
• Da ocorrência probabilística, pelo qual vel do sistema os papéis de referência ou
se reconhece um sistema como sendo identidade, de visualização do futuro (pla-
contingencial, que se desenvolve segun- nejamento), de execução (organização, di-

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Novos caminhos da administração pública brasileira 13

reção e coordenação) e de controle, que se representativas as alianças realizadas entre go-


repetem e se complementam mutuamente vernos de vários municípios, caracterizando-se
nos níveis inferiores e superiores do siste- como consórcios intermunicipais.
ma; assim, os níveis inferiores informam No entanto, essa nova arquitetura institucio-
(ou retornam) as informações dos níveis nal somente se torna efetiva com a construção
superiores; em cada nível existe um admi- de diferentes arranjos entre o Estado, a socieda-
nistrador (de nível ou básico) que consti- de civil e as empresas privadas. Assim, quando
tui a referência (identidade) do mesmo; em o enfrentamento dos problemas ultrapassa a
que o grupo de administradores (adminis- capacidade de ação individual do setor público,
trador e seus administradores-auxiliares) formam-se também redes entre as entidades go-
gerencia (organiza, dirige, coordena, con- vernamentais e outros atores.
forme diferentes papéis atribuídos) o nível Portanto, o esforço de reforma administrativa
de referência; e a outros pode ser atribuído do Estado em um sentido mais amplo, enfatiza-
o papel de controladores; em que os ad- do na descentralização, consistiu na reestrutu-
ministradores de níveis superiores podem ração das intervenções estatais, constituindo-se
acessar naturalmente os níveis inferiores, na busca de uma maior inserção na comunidade
observando e mesmo os controlando; internacional, maior participação da população
• Da personalização de cada componente no processo de tomada de decisões governamen-
do sistema, informando claramente os atri- tais, maior competitividade, alteração das rela-
butos da identidade ou personalidade de ções entre governo e os agentes sociais, maior
cada um, assim como seu papel no sistema; eficiência administrativa, melhor distribuição de
cada componente (uma pessoa, por exem- recursos e de poder entre as três esferas do go-
plo) tem certo perfil ou personalidade no verno e, principalmente, o estabelecimento de
sistema, via qual se reporta ou se referen- uma nova arquitetura de ação administrativa,
cia, em termos de autoridade, de partici- envolvendo os esforços integrados de diferentes
pação, de visualização e de comunicação. níveis e esferas de governo ao mesmo tempo, na
No Brasil, o novo desenho estatal começa a solução de demandas sociais.
ser definido no final dos anos 70, num cenário
marcado por uma profunda crise econômica e 6 Experiências recentes de
fiscal e por mudanças na economia capitalista administração pública brasileira
mundial. A alternativa encontrada para o en- com enfoque sistêmico
frentamento das crises interna e externa foi a
reestruturação das instituições governamentais, Algumas experiências no Brasil, propostas
possibilitada inicialmente pela promulgação da a partir da década de 90, que empregam esse
Constituição Federal de 1988, e posteriormente enfoque sistêmico, integrando diferentes ações
pela Reforma do Aparelho do Estado em 1995, e com diferentes níveis de governo, entidades e
complementadas em momento seguinte pela Lei sociedade civil, podem ser destacadas: o Sis-
de Responsabilidade Fiscal. tema Único de Saúde – SUS (Lei nº 8.080/90);
O elemento central da redefinição da esfera REDESAN (Rede Integrada de Equipamentos
pública brasileira foi a descentralização, isto é, o Públicos de Segurança Alimentar e Nutricional,
deslocamento das decisões para as esferas sub- do Ministério do Desenvolvimento Social e Com-
nacionais de governo (estados e municípios), es- bate à Fome); e Territórios da Cidadania (do Go-
tabelecendo-se vínculos de parcerias verticais verno Federal).
e horizontais. No primeiro caso, os programas O SUS foi criado em 1988 pela Constitui-
de iniciativa municipal ou estadual são articula- ção Federal Brasileira, transformando o Brasil
dos com esferas mais abrangentes de governo. no país de maior atendimento gratuito de saú-
Ademais, as alianças verticais também podem de no mundo. Trata-se de um sistema ímpar,
ser formadas a partir de diretrizes federais, mas uma vez que garante acesso integral, universal
com a formulação e implementação de progra- e igualitário para toda a população brasileira,
mas em nível local, podendo ser citado o Progra- desde o simples atendimento ambulatorial até
ma “Médico da Família” do Ministério da Saúde, o transplante de órgãos. Além de oferecer con-
adotado em prefeituras brasileiras. Com relação sultas, exames e internações, o sistema também
às parcerias entre governos de mesmo nível, são promove campanhas de vacinação e ações de

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prevenção e de vigilância sanitária. Ademais, não existe hierarquia na relação entre União,
o sistema constitui um projeto social único que estados e municípios, mas competências para
se materializa através de ações de promoção, cada um dos gestores do SUS. O que ocorre é a
prevenção e assistência à saúde dos brasileiros, chamada “pactuação intergestores”, na qual os
constituindo-se em uma política de Estado de entes federados negociam e entram em acordo
grande magnitude, com particularidades em seu sobre serviços, ações, organização dos atendi-
funcionamento e responsabilidades inerentes mentos e demais questões referentes ao sistema
a cada ator dentro do sistema. Nesse sentido, público de saúde.2A pactuação se dá, em nível
o sistema coloca possibilidades e desafios, os municipal, por intermédio do Conselho Munici-
quais devem ser assumidos de forma solidária pal de Saúde (CMS), onde as políticas são apro-
pelos três níveis de governo2. vadas; em nível estadual, através da Comissão
Em primeiro lugar, com a Constituição de 1988, Intergestores Bipartite (CIB)3, em que as polí-
a gestão do sistema de saúde foi descentraliza- ticas são negociadas e pactuadas, assim como
da para os municípios com a consequente trans- do Conselho Estadual de Saúde (CES)4, no qual
ferência de recursos financeiros e da cooperação as políticas são deliberadas; em nível federal,
técnica da União. O município passou a ser o prin- por meio da Comissão Intergestores Tripartite
cipal responsável pela saúde pública e, em decor- (CIT)5, em que as políticas federais são negocia-
rência, pela gestão das ações e serviços de saú- das e pactuadas.
de oferecidos em seu território. Quando o muni- Dessa forma, observa-se que o SUS constitui
cípio não pode oferecer procedimentos de com- um sistema integrado de gestão, uma vez que o
plexidade, ele estabelece parcerias com outros Governo Federal formula as políticas nacionais
municípios da região, negociando também com de saúde, coordena, controla e avalia o SUS, mas
o gestor estadual, para garantir o atendimento não realiza as ações, sendo que a realização dos
pleno da sua população. Os municípios possuem projetos depende dos parceiros (estados, muni-
secretarias específicas para a gestão de saúde, cípios, ONGs, fundações, iniciativa privada).
coordenando e planejando o SUS em nível muni- No que tange à REDESAN, a mesma consti-
cipal, de acordo com a normatização federal e o tui-se em uma rede virtual constituída pelo Mi-
planejamento estadual. Essa esfera de governo nistério do Desenvolvimento Social e Combate
formula suas próprias políticas de saúde e aplica à Fome – MDS (contando também com o apoio
em parceria as políticas estaduais e nacionais de tecnológico da Universidade Federal do Rio
saúde. O gestor municipal aplica recursos pró- Grande do Sul – UFRGS, e o apoio técnico e ad-
prios e os repassados pelo estado e pela União. ministrativo da Fundação de Apoio da UFRGS-
Nesse sistema, a gestão federal da saúde FAURGS), que objetiva a formação de gestores e
é realizada pelo Ministério da Saúde, sendo a o monitoramento dos processos de implementa-
União o principal financiador da saúde pública ção dos Equipamentos Públicos de Alimentação
no país, realizando metade dos gastos. Ainda, é e Nutrição da Secretaria de Segurança Alimen-
de responsabilidade da União a formulação de tar e Nutricional do MDS, via três programas in-
políticas nacionais de saúde, cuja implementa- terrelacionados: Gestão de Restaurantes Popula-
ção é feita pelos seus parceiros (estados, muni- res, Cozinhas Comunitárias e Bancos de Alimen-
cípios, ONGs, fundações, iniciativa privada). A tos. Via REDESAN, os diferentes programas são
União também tem a função de planejar, orien- desenvolvidos de forma integrada, buscando-se
tar, criar normas, avaliar e utilizar instrumentos soluções a lacunas e limitações comuns entre
para controle do SUS. Ao governo estadual com- os mesmos, obtendo-se desta forma uma ação
pete a implementação das políticas nacionais e administrativa e prática com maior sinergia. Os
estaduais de saúde e também a organização do resultados da ação conjunta dos programas são
atendimento à saúde em seu território. muito mais efetivos e amplos do que se fossem
Os estados possuem secretarias específicas buscados de forma isolada pelos programas,
para a gestão de saúde, coordenando e plane-
jando o SUS no âmbito estadual em conformi- 2
3
Mais informações em Brasil. Ministério da Saúde, 2009.
A CIB é composta por representantes da secretaria estadual
dade com a normatização federal. Na área da e das secretarias municipais de saúde.
saúde, os estados aplicam recursos próprios, 4 A CES é composta por segmentos da sociedade: usuários,

entidades de classe, profissionais, gestores, dentre outros.


inclusive nos municípios, bem como os repas- 5 A CIT é composta por representantes das secretarias munici-

sados pela União. No entanto, nesse sistema, pais e estaduais de saúde e pelo Ministério da Saúde.

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Novos caminhos da administração pública brasileira 15

como era o programa original “Fome Zero”. E produtivas das populações pobres dos territó-
as perspectivas são de que haverá maior siner- rios, ampliar a participação popular, e melhorar
gia ainda quando outros programas puderem o planejamento e a integração de políticas públi-
ser agregados, ampliando a noção de que o pro- cas. O enfoque sistêmico desse programa está
blema se resume a deficiências de alimentação, no fato de que a estratégia é construída com
via programas voltados à melhoria da saúde, base na participação social e na integração de
da educação, da moradia e muitos outros. Ao diferentes ações (e Programas) entre o Governo
colocar em contato gestores de três programas Federal, estados e municípios. Outras caracterís-
complementares entre si, espalhados por todos ticas sistêmicas podem ser destacadas (verificar
os Estados do Brasil, a REDESAN formou uma Figuras 3 e 4): (a) mobiliza 19 Ministérios (15
rica cadeia de trocas de informações, conheci- com ações) e outros órgãos do Governo Federal;
mentos e tecnologias por todo o território nacio- (b) envolve 135 ações, organizadas em 3 eixos
nal, superando a visão tradicional de programas estruturantes e sete temas; ao longo de 2009,
focalizados de forma isolada e segmentada. este conjunto de ações foi realizado pelo Governo
Por fim, o Programa Territórios da Cidada- Federal em 120 territórios rurais; (c) as ações são
nia é uma iniciativa do Governo Federal, lança- lançadas no portal Territórios da Cidadania6, po-
da em 2008, que tem a finalidade de melhorar a dendo ser consultadas por totais nacionais e por
qualidade de vida dos brasileiros que vivem em territórios; (d) a gestão é articulada, sendo que
regiões com maiores demandas, notadamente fazem parte do Comitê Gestor Nacional os ��� Se-
do meio rural. O�������������������������������
bjetiva superar a pobreza e ge- cretários Executivos ou Secretários Nacionais de
rar trabalho e renda no meio rural, promover o todos os Ministérios/Secretarias que compõem
desenvolvimento econômico e universalizar pro- o Programa; do Comitê de Articulação Estadual,
gramas básicos de cidadania por meio de uma órgãos federais e estaduais, representantes das
estratégia de desenvolvimento territorial sus- prefeituras dos territórios; do Colegiado Territo-
tentável, alicerçado em diferentes programas rial, representantes das três esferas de governo
complementares. Também objetiva gerar ações e da sociedade em cada território.

Figura 3 – Organização
das ações do Programa
Territórios da Cidadania
Fonte: Portal da Cidadania (2010)

Figura 4 – Estrutura da
gestão do Programa
Territórios da Cidadania
Fonte: Portal da Cidadania (2010)

6 <http://www.territoriosdacidadania.gov.br>.

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Percebe-se, assim, o enfoque sistêmico de descentralizado, consolidado em rede, existindo


administração pública do Programa “Territórios a participação de diversos atores. Assim, a par-
da Cidadania” ao contemplar a realização de tir da Reforma do Estado de 1995 e iniciativas do
mais de uma centena de ações diferentes, mas segundo período do governo FHC (1999-2002) e
complementares, organizadas por diferentes do governo Lula (mandatos 2003-2006 e 2007-
eixos e temas, via governos dos três níveis 2010), foi possível identificar a tendência para a
(União, estados e municípios), bem como pela conformação de um modelo sistêmico de admi-
sociedade civil e diferentes outros parceiros. nistração pública, via ampliação de programas
Desta forma, bem mais do que um programa com federais tripartites ou n-partites, operados ao
ações isoladas, constitui um arranjo de progra- mesmo tempo por governos dos três níveis e di-
mas que se complementam entre si e possuem ferentes esferas, e também com a participação
uma potencialidade de obtenção de resultados dos diferentes setores sociais, sendo exemplos
sinérgicos muito maior. ilustrativos programas como o SUS, REDESAN,
Territórios da Cidadania, dentre outros.
7 Considerações finais Enfatizou-se, portanto, a trajetória da admi-
nistração pública brasileira desde o início do
O presente texto procurou evidenciar a evo- século XX até os dias atuais, que apontam para
lução dos modelos de administração pública, um Estado que busca novas soluções, medidas
considerando os três modelos básicos (patrimo- inovadoras, novos colaboradores e parceiros,
nialista, burocrático e gerencial), mas também configurando-se o Estado em rede – entre os três
destacando importantes tendências recentes de níveis de governo, entre esferas de um mesmo
governo do Brasil, que apontam para a configu- nível e entre o governo, entidades e sociedade
ração de um modelo mais sistêmico, operado via civil.
programas multiníveis e esferas de governo.
Tomando como referência a Reforma do Apa- Referências
relho do Estado em 1995, Paes de Paula (2005)
identifica como nova tendência de administra- ALMEIDA, M. E. B. de. Educação a distância na internet:
ção pública brasileira o modelo societal, marca- abordagens e contribuições dos ambientes digitais de
aprendizagem. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29,
do por experiências alternativas e mais partici- n. 2, p. 327-340, jul./dez. 2003.
pativas de gestão pública, tais como o Orçamen- BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.
to Participativo e os Conselhos Gestores. Brasília: Senado Federal, 1988.
No entanto, esse artigo identifica estar em BRASIL. Lei complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.
desenvolvimento um quarto modelo de adminis- Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a
tração pública que supera tal âmbito, caracteri- responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providên-
zando-o como sendo de perfil sistêmico, que é cias. Diário Oficial da Republica Federativa do Brasil, Bra-
sília, 5 maio 2000. Disponível em: <http://200.181.15.9/
ilustrado por diversas experiências recentes em ccivil/LEIS/LCP/Lcp101.htm>. Acesso em: 14 abr.
andamento. A reforma das estruturas do Estado 2008.
e a adoção de novas práticas de gestão possi- BRASIL. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municí-
bilitadas pela Constituição Federal de 1988, e pios / Ministério da Saúde, Conselho Nacional das Se-
posteriormente pela Reforma do Aparelho do cretarias Municipais de Saúde. 3. ed. Brasília: Ministério
Estado em 1995, delinearam um novo concei- da Saúde, 2009.
to de Estado, qual seja, o Estado em rede, em CASTELLS, M. A era da informação: economia, socieda-
que se privilegia a realização de parcerias inter- de e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999. v. 1, 2 e 3.
nas e externas ao Estado, tanto entre os níveis FADUL, E. M.; SILVA, L. P. Retomando o debate sobre
a reforma do estado e a nova administração pública.
de governo (vertical), quanto entre as esferas
In: ENCONTRO NACIONAL DOS PROGRAMAS DE
de mesmo âmbito (horizontal), bem como com PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO, 32., 2008,
outros parceiros, mobilizados e articulados em Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.
torno de um problema de interesse público. 1 CD-ROM.
Como consequência, se estabelece uma nova FADUL, E. M.; SOUZA, A. R. Políticas de reformas da
relação entre Estado, sociedade civil e merca- administração pública brasileira: uma compreensão a
partir de seus mapas conceituais. In: ENCONTRO NA-
do, iniciando-se assim um processo inovador de CIONAL DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
formulação e implementação das políticas públi- ADMINISTRAÇÃO, 24., 2005, Brasília. Anais... Brasília:
cas, o qual pressupõe um Estado mais flexível, ANPAD, 2005.

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Novos caminhos da administração pública brasileira 17

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