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Manual de Formação

Curso: Técnicos de Acção Educativa

Módulo: Cidadania e Profissionalismo


(Código: CP 1)

Esmoriz
2011
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

FICHA TÉCNICA:

Título: Técnica de Acção Educativa

Autoria /
Organização: Artur Noronha

Coordenação: Dra.

Versão: 01

Ano: 2011

Condições de Utilização:

O presente manual destina-se ao Manual do Curso: Técnica de Acção Educativa, sendo o


conteúdo do mesmo, propriedade da Mutualidade de Santa Maria – Associação
Mutualista Esmoriz.

A sua duplicação para outros fins só poderá ser feita, mediante autorização expressa da
Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista Esmoriz.

O Manual de Formação está estruturado de acordo com o índice do Manual, em que os


conteúdos inseridos estão adaptados em função dos objectivos gerais do Curso e do
público-alvo, sendo um instrumento de apoio à realização da acção de formação.
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

ÍNDICE

Ficha Técnica................................................................................................................................... 1
Índice…………………………………………………………………………………………………………………………………………2
Cidadania e Profissionalidade: Objectivos Gerais……………………………………………………………………..3
Nucleo Gerador………………………………………………………………………………………………………………………...5
História da Constituição da República Portuguesa……………………….……………………………………………6
Constituição Politica Monárquica de 1822…………..…………………………………………………………………..11
Carta Constitucional Monárquica de 1826………………………………………………………………………………..13
Constituição Politica Monárquica de 1838……………………..…………………………………………………………..16
Constituição da República Portuguesa de 1911…………………………………………………………………………18
Constituição da República Portuguesa de 1933…………………………………………………………………………21
Constituição da República Portuguesa de 1976…………………………………………………………………………24
Bibliografia………………………………………………………………………………………………………………………………..26
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

“Cidadania e Profissionalidade”

Objectivos Gerais:
Identificar direitos e deveres pessoais, colectivos e globais e compreender da sua
emergência e aplicação como expressões ora de tensão ora de convergência.
Valorizar a diversidade e actuar segundo convicções próprias.
Avaliar a realidade à luz de uma ordem de valores consistente e actuar em
conformidade.

Núcleo Gerador
Objectivos Específicos:
Reconhecer constrangimentos e espaços de liberdade pessoal
Assumir direitos laborais inalienáveis e responsabilidades exigíveis ao/à
trabalhador/a
Reconhecer o núcleo de direitos fundamentais típico de um Estado
democrático contemporâneo
Elencar direitos e deveres na comunidade global
Reconhecer princípios de conduta baseados em códigos de lealdade
institucional e comunitária
Exprimir sentido de pertença e de lealdade para com o colectivo profissional
Identificar e avaliar políticas públicas de acolhimento face à diversidade de
identidades
Relacionar património comum da humanidade com interdependência e solidariedade
Distinguir as várias hierarquizações de valores, escolher e reter referentes éticos e
culturais
Adoptar normas deontológicas e profissionais como valores de referência não
transaccionáveis em contextos profissionais
Identificar a convicção e firmeza ética como valores necessários para o
desenvolvimento institucional
Elencar escolhas morais básicas para a comunidade global: dignidade vs.
desumanidade, desenvolvimento vs. pobreza, justiça vs. assimetria, etc.
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

Núcleo Gerador: Direitos e Deveres

Objectivos:

Conhecimento reflexivo da evolução política e social de Portugal no decurso dos séculos


XV e XX, dos primórdios da Constituição da Republica Portuguesa.

Objectivos Específicos:

• Identificar conceitos e valores de uma sociedade democrática (Liberdade; Equidade;


Responsabilidade; Participação; Cidadania; Estado; Democracia; sociedade civil;
organização politica dos estados democráticos)
• Reconhecer um Estado Direito
• Avaliar e contextualizar as etapas da fundamentação da Republica Portuguesa
• Relacionar o conceito politico, económico e social na estruturação da Constituição
da República Portuguesa

Actividades:
• Incentivando o Debate
• Jogos Dinâmicos
• Contacto com fontes Bibliográficas, iconográficas e webografia
• Pesquisa em Grupo
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

História da Constituição da República Portuguesa

Resenha Histórica do Estado português e as Sociedades Modernas

Nos primórdios da sociedade portuguesa, verificava-se uma preocupação pela

organização administrativa do reino português. A igreja sobressai no mapa da Cristandade

ocidental, verificando-se uma política caracterizada por uma relação feudo-vassalica, onde

emergem os Estados1. Os reis dominam os seus reinos através de súbditos que,

organizam um sistema burocrático de onde se destaca o poder militar, judicial e financeiro.

Com o passar do tempo, esta máquina administrativa vai-se aperfeiçoando, chegando a

todos os locais dos respectivos reinos.

No período medieval, nunca se desenvolveu, no seu sentido lato, o conceito de

Estado. Por outro lado, emergiram vários tipos de definições de Estados, caracterizados

por cidade-estado, estado territorial, e estado compósito, defendidos por Wim Blockmans.

No caso português, nos finais do século XIII, assistimos à interiorização e

confirmação ideológica de um rex, dirigindo e representando uma «estrutura jurídica,

burocrática e institucional de um regnum»2. Os monarcas portugueses, seguindo o “modelo

europeu”, estabelecem alianças com os nobres e clérigos para governarem o reino na área

militar, jurídica e espiritual. Da população distinguiram-se homens que trabalhavam na

terra, artesanato e mercearia, pois conseguiram participar no sistema político devido à

aprendizagem da escrita e do direito, tornando-se conselheiros do rei e oficiais da corte.

Por outro lado, as comunidades de homens livres eram dotados de poder politico através

1
A ideia de Estado caracteriza-se por um conjunto humano, um território e um poder politico juridicamente orientado
para objectivos que transcendem os fins pessoais daqueles que o exercem. Trata-se pois de um fenómeno político e de
uma realidade sócio-cultural, in ENCICLOPEDIA VERBO LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Vol. 8. Lisboa:
Editorial Verbo, 1976.pág.
2
A GÉNESE DO ESTADO MODERNO NO PORTUGAL TARDO-MEDIEVO (SÉCULOS XIII-XV) – Coord. de
Maria Helena Cruz Coelho, Armando Luís de Carvalho Homem. Lisboa. Editora, Universidade Autónoma de Lisboa.
1996/97. pág. 270
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

da carta de foral3. Na segmentação politica do reino, presenciamos ao confronto de dois

tipos de senhorios: Os senhorios colectivos,4 mais especificamente os homens livres,

regulados e supervisionados por oficiais régios que interligavam o poder régio com os

concelhos,5 e os senhorios jurisdicionais do clero e nobreza, pois a maior parte deles

escapavam à soberania régia.

Com a carta de foral, e subsequentemente as cartas de feira6, assistimos ao

nascimento dos concelhos, imprescindíveis no fortalecimento militar, povoamento e

tributação local para o poder régio.7 De salientar que, interessaria ao rei o desenvolvimento

dos concelhos, pois era uma forma de centralizar o poder régio e estabelecer pontos

estratégicos na área financeira, administrativa, militar e religiosa. Por outro lado, as cidades

e vilas esperavam ser recompensadas com privilégios e benefícios do poder real.

Foi com o crescimento desta “malha” urbana que se verificou o nascimento dos

territórios e também o aparecimento da aliança dos monarcas contra os «burgueses contra

os grandes proprietários que os pudessem hostilizar».8 Contudo, mais tarde, a rede urbana

veio a ser um entrave ao poder monárquico devida às tensões sociais, registando-se a falta

de uma autoridade que se impusesse perante as populações.

3
Documento jurídico autêntico, outorgado por autoridade legítima, e que se destine a regular a vida colectiva de uma
povoação. É uma lei escrita, isto é, carta firmada, testemunhada e confirmada; Orgânica, orientadora de uma população
de um determinado aglomerado social; local, pois instala-se dentro de limites territoriais definidos; Relativas relações
recíprocas económicas sociais, de uns homens com outros e com a entidade outorgante, in ENCICLOPEDIA VERBO
LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Vol. 8. Lisboa: Editorial Verbo, 1976.pág. 1215.
4
HISTORIA DE PORTUGAL MEDIEVO POLITICO E INSTITUCIONAL – Coord. Humberto Baquero Moreno.
Lisboa: Universidade Aberta, 1995. pág. 287
5
O termo concelho, que aparece nos diplomas a partir do século XIII, advém da expressão latina concilium que exprime
a comunidade vicinal constituída em território de extensão muito variável, cujos moradores são dotados de maior ou
menor autonomia administrativa. DICIONARIO DE HISTORIA DE PORTUGAL – dir. Joel Serrão, 7 volumes. Porto.
Livraria Figueirinhas, 1960, vol.2.pág. 137-139
6
As cartas de Feira concedidas entre os séculos XIII e XV foram dadas pelos os monsrcas aos municípios com o intuito
de atrair gente para as regiões transmontanas. WWW.bragancanet.pt/arte/feira.html . 23-5-2005. 16:45H.
7
Segundo Luís Miguel Duarte não poderemos afirmar que uma «carta de foral por si só, não seria um concelho. E há
numerosos concelhos sem carta de foral» in, HISTORIA DE PORTUGAL MEDIEVO POLITICO E INSTITUCIONAL
– Coord. Humberto Baquero Moreno. Lisboa, Universidade Aberta, 1995, pág. 286.
8
A GÉNESE DO ESTADO MODERNO NO PORTUGAL TARDO-MEDIEVO (SÉCULOS XIII-XV) – Coord. de
Maria Helena Cruz Coelho, Armando Luís de Carvalho Homem...pág. 272
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

Nos finais do século XIV, a cidade de Lisboa era a sociedade urbana mais complexa

e polarizada, onde se assistia ao confronto entre os cidadãos ricos e homens de negócio

que detinham o poder, contra os mesteirais, o «povo do trabalho e do serviço».9 O povo

escolheu como regedor e defensor do reino Mestre de Avis.10 Este, sabendo que precisava

de ter poder político e económico para lutar contra os “inimigos”, apoia-se nos ricos

mercadores do Porto e em outros concelhos, como poderemos verificar nas cartas de

benefício aos mesmos. Podemos afirmar que foi um inteligente acto político.

Por outro lado, uns tempos mais tarde, serão os homens de Lisboa a frente

revolucionária a favor da regência do reino ao Infante D. Pedro.11 Estes dois

acontecimentos, conduzem-nos à tese de que as cidades e vilas conduziram os destinos

«políticos do reino bem como sustentaram estruturalmente um reino e um rei»12.

O monarca concedia privilégios a localidades junto das fronteiras para fomentar a

fixação de populações, acto estritamente politico e militar. Nesse sentido, existia sempre

um corpo de homens especializado em armas intituladas de “bestas”.

No final da guerra contra os muçulmanos, a estrutura militar manteve-se com os

aquantiados, homens com casa própria que, a partir de uma certa percentagem de riqueza,

eram obrigados a ter armas e cavalos (besteiros do conto e besteiros a cavalo).

Os monarcas preocupavam-se com a defesa do reino, como podemos

verificar nas fortificações das cidades de Lisboa, Santarém, Porto, Évora, e Coimbra, nos

séculos XIV e XV.13 As cidades e vilas reclamavam contra os abusos dos funcionários

9
Ibidem, pág. 272
10
Capitulo de Eleição de Mestre de Avis, in, HISTORIA DE PORTUGAL – dir. A.H. Oliveira Marques, vol. I. Lisboa:
Palas editores. 1971. pág. 225-229
11
O justiceiro, quarto filho de D. Afonso IV e D. Beatriz de Castela. Subiu ao trono em 18 Janeiro de 1367, privilegiando
o contacto com o povo, exercendo justiça, evitando guerras e cunhando ouro e prata. Na sua vida verificamos o
famosíssimo episódio de Inês de Castro, no qual viria a ser sepultado junto da sua amada, no mosteiro de Alcobaça. in,
REIS E RAINHAS DE PORTUGAL – Texto editora, S/D. CD. ROM
12
A GÉNESE DO ESTADO MODERNO NO PORTUGAL TARDO-MEDIEVO (SÉCULOS XIII-XV) – Coord. de
Maria Helena Cruz Coelho, Armando Luís de Carvalho Homem...pág. 273
13
Veja-se a localização dos principais habitantes fortificados in, HISTORIA DE PORTUGAL MEDIEVO POLITICO E
INSTITUCIONAL – Coord. Humberto Baquero Moreno. Lisboa, Universidade Aberta, 1995, pág. 70-71
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régios, dos actos que exerciam nos respectivos concelhos, originando uma fiscalidade

mais severa e segura por parte do monarca.

O benefício de uns e a obrigação fiscal de outros traduz-se numa «hierarquização

crescente da sociedade, acentuando-lhe as clivagens sociais».14 As diferenças sociais

foram aumentando com os impostos extras dos monarcas, que mais uma vez eram

cobrados somente à “raia miúda”, para suprimir as despesas face aos casamentos,

guerras, e viagens dos infantes. A classe media da população tinha como obrigação o

serviço militar e os impostos, mas não poderiam auferir aos principais cargos municipais,

destinados aos que não pagavam impostos ou seja, os da alta classe.

Os que se apresentavam com mais conhecimento empírico, eram escolhidos para as

cortes em representação do seu concelho, com o intuito de relatarem os diversos

problemas fiscais, económicos, judiciais, etc. Nos cargos camarários, estão-lhes

designados cargos como «provedores dos hospitais, juízes de confrarias, vedores das

obras, guardas-mores da cidade».15 Este tipo de ofícios oferecia uma distinção social e

poder politico local. Este género de «aristocracia urbana»16, aspirava conseguir o estatuto

da nobreza de sangue, vestindo-se com tecidos caríssimos e ostentando um serviço de

criadagem em qualquer local. Era uma representação perfeita do dinheiro, poder e da

honra.

No período descendente da Idade Média, as cidades foram as bases económicas e

militares do Estado, sendo que os intervenientes locais eram a imagem do organograma do

Estado. Podemos afirmar que foram os «interlocotores da coroa no diálogo político com as

14
A GÉNESE DO ESTADO MODERNO NO PORTUGAL TARDO-MEDIEVO (SÉCULOS XIII-XV) – Coord. de
Maria Helena Cruz Coelho, Armando Luís de Carvalho Homem...pág.276
15
op. cit - Coord. Maria Helena Cruz Coelho, Armando Luís de Carvalho Homem.pág.283
16
Ibidem, pág.284
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

cortes e os garantes da fidelidade (…) no prosseguimento da ideologia e da praxis dos

monarcas»17

Os concelhos, nos seus primórdios, eram a base militar e económica de um reino e,

consequentemente, verificamos o emergir de cargos políticos locais em representação do

povo e do monarca. A sua hierarquização e especialização seriam o garante do

cumprimento das leis monárquicas nos respectivos concelhos. Por outro lado, o povo

também seria representado nas cortes pelos os seus mandatários.

Foi com este organigrama que os monarcas governaram, numa sociedade

referenciada e, sublinhando, pelas diferenças de status, mas sempre no sentido de uma lei

mais universal, como defende Maria Helena Coelho.

17
A GÉNESE DO ESTADO MODERNO NO PORTUGAL TARDO-MEDIEVO (SÉCULOS XIII-XV) – Coord. de
Maria Helena Cruz Coelho, Armando Luís de Carvalho Homem… .pág.292
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Influências Liberalistas

Carta Constitucional 1822

A Constituição Política da Monarquia Portuguesa aprovada em 23 de Setembro de

1822 foi a primeira lei fundamental portuguesa e o mais antigo texto constitucional

português, o qual marcou uma tentativa de pôr fim ao absolutismo e inaugurar em Portugal

uma monarquia constitucional. Apesar de ter estado vigente apenas durante dois efémeros

períodos - o primeiro entre 1822 e 1823, o segundo de 1836 a 1838, - foi um marco

fundamental para a História da democracia em Portugal, e qualquer estudo sobre o

constitucionalismo terá que a ter como referência nuclear.

Foi resultado dos trabalhos das Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da

Nação Portuguesa de 1821-1822, eleitas pelo conjunto da Nação Portuguesa - a primeira

experiência parlamentar em Portugal, nascida na sequência da revolução liberal de 24 de

Agosto de 1820, no Porto. As Cortes Constituintes, cuja função principal, como o próprio

nome indica, era elaborar uma Constituição, iniciaram as sessões em Janeiro de 1821 e

deram os seus trabalhos por encerrados após o juramento solene da Constituição pelo rei

João VI de Portugal em Outubro de 1822 (o qual, no entanto, foi recusado pela rainha

Carlota Joaquina, e por outras figuras contra-revolucionárias de grande nomeada, como o

Cardeal-Patriarca de Lisboa,).

Características da Constituição de 1822


 Causas – Revolução Liberal de 24 de Agosto 1820.
 Processo constituinte – Cortes Gerais Extraordinárias de 08.01.1821 a
22.09.1822.
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 Fontes principais – Constituição de Cádis de 1812 e Declaração dos


Direitos do Homem e Cidadão de 1789.
 Período de vigência –
1º de 23 de Setembro 1822 a 2 de Junho 1823;
2º de 10 de Setembro 1836 a 4 de Abril 1838.

- Período do Constitucionalismo Vintista:

 Princípios Subjacentes:
 Princípio democrático: poder reside na nação;
 Princípio representativo: poder exercido por representante do povo;
 Princípio da separação de poderes: o poder está separado em legislativo,
executivo e judicial. São independentes entre si;
 Princípio da igualdade jurídica: reconhece quer todos os indivíduos são iguais
perante a lei.

A soberania reside essencialmente na Nação. Não pode ser exercida senão pelos seus
representantes legalmente eleitos.
Força militar composta por dois grupos distintos:
Um permanente e de âmbito nacional e outro chamado de milícias – tropas provincianas.

Carta constitucional de 1826


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Os ideais do liberalismo vão invadindo a Europa, e Portugal como é óbvio vai sentir

e bastante, as suas influências. Com a morte de D. João VI, a luta renhida entre os seus

dois filhos varões, D. Miguel e D. Pedro, vai interferir seriamente na mudança

administrativa de Portugal. As tentativas liberais são aniquiladas pelo absolutismo de D.

Miguel e as normas apresentadas na carta constitucional de 1826 ficam a aguardar a sua

concretização. Após vários desembarques e lutas entre os apoiantes de D. Miguel e D.

Pedro, o liberalismo acaba por triunfar em Portugal. Na ilha Terceira, D. Pedro, chama

José Mouzinho da Silveira para o seu conselho e nomeia-o ministro da fazenda e da justiça

onde começa a compilar as suas leis.

As disposições consignadas na Carta Constitucional de 1826 trouxeram profundas

alterações para a Administração Civil Portuguesa.

Redigido por D. Pedro IV no Brasil, teve a influência em muitos aspectos não só da

Constituição brasileira de 1824 como também da Carta Constitucional francesa de 1814.

Contudo, a Carta era muito mais moderada que a Constituição vintista em certos

aspectos, pois D. Pedro IV considerava o excessivo radicalismo do texto de 1822 como um

mal que contribuía para a desunião da sociedade portuguesa. Assim, pela sua natureza

moderada, a Carta representava um compromisso entre os Liberais defensores da

Constituição de 1822, e os Absolutistas partidários do retorno a um regime autocrático,

tendo por objectivo, precisamente, unir todos os Portugueses em torno da mesma.

Esta medida de D. Pedro não teve o efeito desejado, e em vez de unir, apenas contribuiu

para dividir Liberais e Absolutistas, e mais tarde, após o triunfo definitivo do Liberalismo,

dividir os defensores da Constituição de 1822 e os da Carta de 1826.

A regulamentação dos princípios contidos na carta iniciou-se com decretos, a partir

de 16 de Maio de 1832, publicada na ilha Terceira, pela responsabilidade de Mousinho da


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Silveira, organizou em novas bases a Administração local. O reino foi dividido em

províncias, câmaras e concelhos com a nomeação do chefe do concelho com o titulo de

provedor, e os representantes das divisões administrativas eram apoiados pelos corpos

colectivos ou juntas. Em 18 de Julho de 1835, um novo decreto divide o reino em dezoito

distritos e substitui o concelho de prefeitura pelo concelho do distrito, criando as juntas da

paróquia. Assim, o administrador do concelho, tinha por obrigação escolher, em tríplice

lista de eleição directa, um comissário de paróquia e uma junta de paróquia electiva.

Características Carta Constitucional de 1826:


Outorgada por D.Pedro IV, em 29 de Abril de 1826.

 Período de vigência:

Três épocas:
 1ª de 31 de Julho 1826 a 3 de Maio 1828;
 2ª de 27 de Maio 1834 a 9 de Setembro 1836;
 3ª de 10 de Fevereiro 1842 a 5 de Outubro 1910.
Carta, porque é um regime monárquico em que o próprio Rei dá uma lei fundamental ao
Estado. Há um compromisso entre o princípio monárquico e o republicano.

 Princípios subjacentes:
 Monárquico;
 Divisão de poderes (embora não haja uma completa separação de funções entre
os órgãos que exercem esse poder);
 Reconhecimento de direitos civis e políticos;
 Princípio casuístico: só têm voz activa, as pessoas que tenham determinado nível
de riqueza;

 Estrutura:
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 Rei - Poder moderador. Tem veto absoluto. É assistido por um Conselho de Estado,
podendo dissolver a Câmara dos Deputados. Os Ministros são nomeados e demitidos
livremente pelo rei;
 Poder legislativo bi- câmara:
a) Câmara dos Pares – cargos hereditários e vitalícios, nomeados pelo Rei e sem um
número fixo;
b) Câmara dos Deputados – eleita por sufrágio indirecto e restrito de tipo censitário
(directo a partir de 1852) e com cargos temporários.
 Existência de um Ministério, constituído por ministros do Estado que referendam
os actos do executivo.

 Procedimento legislativo:
Fase da Iniciativa: Direito de Proposição;
Poder Executivo: A discussão das propostas era feita nas duas Câmaras – o Monarca
também participava através da aprovação ou veto.
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Carta Constitucional de 1836

Após a Revolução de Setembro, em 10 de Setembro de 1836, a Carta foi abolida e

em seu lugar reposta em vigor, a título provisório, a Constituição de 1822, tendo sido

convocadas Cortes Constituintes destinadas a redigir uma nova constituição, a qual viria a

ser concluída e jurada em 4 de Abril de 1838 por D. Maria II. Foi como que uma síntese

dos textos de 1822 e 1826, ocupando um lugar intermédio. Foi influênciada pelos textos

anteriores, e ainda pela Constituição belga de 1831 (relativamente à organização do

senado) e pela Constituição espanhola de 1837 (pelo seu espírito concíliatório das duas

formas extremas de constitucionalismo monárquico). As suas características fundamentais

são o princípio clássico da tripartida dos poderes, o bicameralismo das Cortes (Câmara

dos Senadores e Câmara dos Deputados), o veto absoluto do rei e a descentralização

administrativa. Esta Constituição reafirma a soberania nacional, restabelece o sufrágio

universal directo e elimina o poder moderador.

Contudo, foi efémera a sua vigência - em 10 de Fevereiro de 1842, Costa Cabral é

saudado com vivas à Carta na sua chegada ao Porto, e ao regressar a Lisboa procede a

um golpe de Estado e restaura a Carta Constitucional de 1826.

Características da Constituição de 1838:

 Período de vigência: de 4 de Abril 1838 até Fevereiro de 1842

 Processo Constituinte: Cortes Constituintes de Janeiro de 1837 a Março de 1838

- Período do Constitucionalismo Setembrista

 Órgãos de Soberania:
 Câmara dos Deputados;
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 Câmara dos Senadores, eleitos por sufrágio directo e censitário;


 O Rei tem veto absoluto. É o chefe do poder executivo, pode demitir livremente os
Ministros, que devem referendar os actos régios, pelos quais ficam responsáveis.
 Princípios Subjacentes:
 Constituição Pactuada – traduz o compromisso entre os vintistas (defensores da
soberania nacional) e os defensores da ideia monárquica;
 Consagra o Direito de propriedade (nomeadamente a intelectual) – encontra-se no
início da Constituição;
 Câmara dos Senadores (cargos temporários);
 Reconhecido ao Rei o direito de ser chefe do executivo:
a) O direito de sanção, para tal necessitava do apoio das Câmaras;
b) o direito de veto, era agora da autoria do Parlamento.
 O Rei pode convocar e adiar cortes;
 Em casos extremos, o Rei pode dissolver a Câmara dos Deputados;
 Desaparece o poder moderador do Rei.
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Constituição da Republica portuguesa 1911

A Constituição Política da República Portuguesa de 1911 foi a quarta

constituição portuguesa, e a primeira constituição republicana do país.

Em 11 de Março de 1911, o Governo Provisório da República Portuguesa procedeu

à publicação de uma nova lei eleitoral (destinada a substituir a lei do governo de Hintze

Ribeiro de 1895, conhecida como a «ignóbil porcaria»), tendo em vista a realização de

eleições para a Assembleia Nacional Constituinte (ANC), o que se verificaria em 28 de

Maio de 1911.

Foram eleitos 226 deputados, na sua grande maioria afectos ao Partido Republicano

Português, o grande obreiro do 5 de Outubro, tendo a Assembleia iniciado os seus

trabalhos em 19 de Junho de 1911, sob a presidência do venerando Anselmo Braamcamp

Freire; na sessão inaugural, declarou abolida a Monarquia e reiterou a proscrição da

família de Bragança; sancionou por unanimidade a Revolução de 5 de Outubro e declarou

beneméritos da Pátria os que combateram pela República; conferiu legalidade a todos os

actos políticos do Governo Provisório, elegendo de seguida uma Comissão que ficou

encarregada de elaborar um Projecto de Bases da Constituição, constituída por João

Duarte de Menezes, José Barbosa, José de Castro, Correia de Lemos e Magalhães Lima

(este último como relator da Comissão).

Características Constituição de 1911:

 Período de vigência – 21 de Agosto de 1911 a 9 de Junho 1926;


Vigorou durante o constitucionalismo republicano.

 Princípios Subjacentes:
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- Princípios Republicanos:
 Democracia;
 Soberania nacional (quem detém o poder é a nação);
 Princípio representativo (representantes eleitos);
 Preparação de poderes;
 Consagração do sufrágio universal;

- Características essenciais:
 República Laica (separa-se o poder político e religioso; liberdade e igualdade de
religião e culto);
 República descentralizada (preocupa-se em desenvolver a vida política local);
 Longo catálogo de Direitos fundamentais: prevê e reconhece novos direitos,
liberdade de expressão, proibição da pena de morte, etc.

 Estrutura política:

- Órgãos legislativos:

A – Congresso da República (Parlamento):


1 - Duas Câmaras:
Deputados – representantes eleitos, competências a nível de impostos, organização
militar e discussão das propostas do executivo;
Senado – constituído por representantes dos vários distritos;
B – Presidente da República:
Eleito pelo Congresso. Representa a nação, chefe do executivo. As suas competências

são exercidas através dos ministros. Mandato de 4 anos não renováveis. Não tem poderes

de dissolução.

C – Ministério:
Sistema Parlamentar. Assume a responsabilidade pelos actos do Presidente da República.
São responsáveis por todos os actos (uns dos outros).
O Parlamento, órgãos supremo, controla os actos do Ministro.
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D – Tribunais

Esta Constituição foi objecto de deformações:


 Através da grande instabilidade governativa que existia na época;
 Progressivo apagamento da figura do Presidente da República;
 Existência de multipartidarismo – muito exacerbado, partidos pequenos, muito
competitivo -.
 Surgimento de forças colectivos – movimentos sindicalistas, movimentos operários.

 Foi sujeito a alterações do texto inicial:


 Em 1916: reintrodução da pena de morte;
 Em 1918: (Sidonismo) transformação do sistema constitucional em presidencialista;
 Em 1919/1921: reforço dos poderes do Presidente da República; descentralização
nas relações com as colónias.
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Constituição da Republica portuguesa 1933

A Constituição Política da República Portuguesa de 1933 foi o documento

fundador do Estado Novo em Portugal. O documento foi elaborada por um grupo de

professores de Direito convidados por António de Oliveira Salazar e por ele directamente

coordenado, tendo sido promulgada a 22 de Fevereiro. Foi aprovada pelo Plebiscito

Nacional de 19 de Março de 1933 e entrou em vigor em 11 de Abril do mesmo ano, sendo

modificada pelas Leis n.os 1885, 1910, 1945, 1963, 1966, 2009, 2048, 2100 e 3/71,

respectivamente de 23 de Março e 23 de Maio de 1935, 21 de Dezembro de 1936, 18 de

Dezembro de 1937, 23 de Abril de 1938, 17 de Setembro de 1945, 11 de Junho de 1951,

29 de Agosto de 1959 e 16 de Agosto de 1971. Vigorou até 25 de Abril de 1974, data em

que o regime corporativo nela regulado foi deposto pela Revolução dos Cravos.

Foi o documento fundador do Estado Novo tendo vigorado, com várias emendas, até

25 de Abril de 1974. De cariz presidencialista (mas na realidade o Presidente do Conselho

de Ministros, o chefe do Governo, era o detentor do poder e era ele que decidia os

assuntos do Estado), admitia a existência de uma Assembleia Nacional e de uma Câmara

Corporativa compostas ambas por elementos próximos do regime escolhidos por um

simulacro de eleições.

Tendo como principais influências a Constituição de 1911 (por oposição), a Carta

Constitucional de 1826 e as Constituições alemãs de 1871 e 1919, a Constituição de 1933

representou a concretização dos ideais de Salazar, inspirados no corporativismo, na

doutrina social da Igreja e nas concessões nacionalistas. A figura do Chefe de Estado

encontrava-se subalternizada, efectivando-se a confiança politica ao contrário no disposto

na Constituição: na prática, era o Presidente da República que respondia perante o

Presidente do Conselho, Oliveira Salazar. Assim, não é de estranhar que a partir de 1959,
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ano de revisões à Constituição, a eleição do Presidente da República passassem a ser por

sufrágio indirecto. Deste modo, havia um único partido, a União Nacional, sendo todos os

outros abolidos.

Características Constituição de 1933:

 Período de vigência: de 11 de Abril de 1933 a 25 de Abril de 1974.


(Constituição de Veimar de 1919)

- Constitucionalismo autoritário.
 Defende a ideologia do Estado Novo – ideia autoritária de Estado;
 Defesa de uma ideia hierárquica – corporativa de Estado. Pretende-se ultrapassar
as ideias liberais, baseando-se a vida política nos elementos intermédios
(estruturais) da nação;
 Existência necessária de um Estado forte e independente do poder legislativo;
 Parlamento não fragmentado por partidos. Limita-se a definir as bases gerais dos
regimes jurídicos (ordenamento jurídico) e compete-lhe ratificar decretos-lei.
 O Chefe de Estado é responsável perante a nação.

 Estrutura:
1. Consagra alguns direitos do indivíduo, mas um grupo destes direitos ficam
retratados em leis especiais (que depois acabam por desaparecer);
2. Fala-se da existência de uma Constituição Económica – na própria Constituição está
determinado o quadro jurídico pelo qual se vai pautar a economia;
3. Impõe programas, directivas a nível económico.

Conclusão: Constituição económica, programática e dirigente.

 Estrutura política:
 Órgãos de Soberania:
1 – Chefe de Estado – eleito pela nação.
2 – Assembleia Nacional – eleita por sufrágio universal e directo. Tem funções
legislativas;
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3 – Governo – funções executivas e legislativas.


4 – Tribunais.
 Órgãos políticos:
1 – Câmara Corporativa – representa autarquias locais e interesses sociais.
2 – Conselho de Estado – aconselha o Presidente da República.

 Estrutura partidária:
Não está consagrada a possibilidade da existência de partidos políticos.
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Constituição da República de 1976

A Constituição da República Portuguesa de 1976 (CRP) é a actual constituição

portuguesa. Foi redigida pela Assembleia Constituinte eleita na sequência das primeiras

eleições gerais livres no país em 25 de Abril de 1975, 1.º aniversário da Revolução dos

Cravos. Os seus deputados deram os trabalhos por concluídos em 2 de Abril de 1976,

tendo a Constituição entrado em vigor a 25 de Abril de 1976.

Até ao momento, a Constituição de 1976, é a mais longa constituição portuguesa que

alguma vez entrou em vigor, tendo mais de 32 000 palavras (na versão actual). Estando há

34 anos em vigor e tendo recebido 7 revisões constitucionais (em 1982, 1989, 1992, 1997,

2001, 2004 e 2005), a Constituição de 1976 já sofreu mais revisões constitucionais do que

a Carta Constitucional de 1826.

Características Constituição de 1976:


Entrou em vigor a 2 de Abril de 1976.
Nasceu do 25 de Abril de 1974.
No início, tinha uma carga ideológica marxista muito grave.

 Organização política:

1-Defende o principio democrático e a soberania popular;

2-Prevê mecanismos de participação directa do cidadão, consagrando o direito de sufrágio

universal, directo, secreto e periódico;

3-Prevê a existência de partidos políticos.

 Órgãos de soberania:

O Presidente da República é directamente eleito, por maioria absoluta, sob

candidatura directa de cidadãos (e não de partidos); o seu mandato é de cinco anos


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(art. 128º) e são elegíveis os cidadãos eleitores, portugueses de origem, maiores de

35 anos (art. 122º).

Entre outras atribuições o Presidente da República tem direito de veto, de

dissolução da Assembleia da República e de demissão do Governo. É Comandante

Supremo das Forças Armadas e Grão- Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas.

 Como decisor

Ao Presidente são-lhe cometidas competência que exerce com total independência,

agindo de acordo com o que entenda mais conveniente na defesa dos supremos

interesses do Estado e das instituições democráticas. As suas vastas competências

são, por via de regra, exercidas em estreita e obrigatória conexão com outros órgãos ou

titulares de cargos políticos e de acordo com preceitos normativos constitucionais e da

lei ordinária.

São exemplo das competências do Presidente da República quanto a outros órgãos:

art. 133º b) - marcar, de harmonia com a lei eleitoral, o dia das eleições e dos referendos;

art. 133º e) - dissolver a Assembleia da República observando o disposto no art. 172º,

ouvidos os partidos nela representados e o

Conselho de Estado;

art. 133º i) - presidir ao Conselho de Ministros quando o Primeiro-Ministro lho solicitar;

art. 133º n) - nomear cinco membros do Conselho de Estado e dois vogais do Conselho

Superior da Magistratura.

São exemplos de competências na prática de actos próprios:

art. 134º b) - Promulgar e mandar promulgar leis, decretos-Ieis e decretos regulamentares.


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art. 134º d) - declarar o estado de sítio ou o estado de emergência (observados o art.19º nº

2,3. art. 134º d) e art. 138º).

art. 134º e) - pronunciar-se sobre todas as emergências graves para a vida nacional.

São exemplos de competências do Presidente da República nas relações internacionais:

art. 135º c) declarar a guerra em caso de agressão efectiva ou eminente e fazer a paz,

conforme as disposições constitucionais na

matéria.

No prazo de vinte dias contados da recepção de qualquer decreto da Assembleia da

República para ser promulgado como lei, ou da publicação da decisão do Tribunal

Constitucional que não se pronuncie pela inconstitucionalidade de norma dele constante,

deve o Presidente da República promulgá-lo ou exercer o direito de veto, solicitando nova

apreciação do diploma em mensagem fundamentada.

As decisões presidenciais são influenciadas:Po

Pelos pareceres solicitados ao Conselho de Estado (art. 145º f);

• Pela audição das entidades que a Constituição lhe impõe que o faça (art. 133º, j), l) e p);

• Pelo que ele entenda que são, em cada momento, os superiores interesses da República

Portuguesa.

O Conselho de Estado é presidido pelo Presidente da República, podendo este solicitar

conselho sempre que, no exercício das suas funções, entender conveniente, de acordo

com o que estipula a alínea f) do art. 145º.

O Presidente da República tem ainda como órgãos de apoio a Casa Civil, a Casa Militar e

o Gabinete da Presidência.

Quem representa os cidadãos?


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Por definição constitucional a Assembleia da república é a assembleia

representativa de todos os portugueses (art. 147º). É o órgão legislativo por excelência e o

principal fórum de debate político e de fiscalização da actividade governamental.

É composta pelo mínimo de 180 e pelo máximo de 230 deputados (art. 148º). Os

Deputados representam todo o país e não os círculos eleitorais onde foram eleitos (art.

152º). O mandato dos deputados tem a duração de 4 anos (uma legislatura). Cada

legislatura tem quatro sessões e o período normal de funcionamento é de 15 de Setembro

a 15 de Julho (art. 174º).

Na Assembleia da República debatem-se as questões essenciais da vida nacional e

elaboram-se as leis que as regulam. Assim, o art. 161º determina que são competências

políticas e legislativas da Assembleia a revisão da Constituição, nos termos dos arts. 284º

a 289º; aprovação e alteração dos Estatutos político-administrativos das Regiões

Autónomas dos Açores e da Madeira; fazer leis; conceder amnistias e perdões genéricos;

aprovar o Orçamento do Estado e o Plano; conceder autorização legislativa ao Governo e

às Assembleias Legislativas Regionais dos Açores e da Madeira; autorizar empréstimos;

etc.Competências da Assembleia da República

Enquanto assembleia representativa dos cidadãos portugueses, são atribuídas

vastas competências à Assembleia da República, enunciadas nos artigos 161º

(competência política e legislativa) e 162º (competência de fiscalização), 163º

(competência quanto a outros órgãos).

Segundo o art. 164º só a AR pode legislar sobre as matérias da sua exclusiva

competência; quanto às matérias enunciadas no art. 165º a Assembleia da República

legisla-as ou autoriza o Governo a sobre elas legislar.

O art. 162º da Constituição atribui competências de fiscalização à AR no que se refere a:

der Loca
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• Convenções e tratados internacionais;

• Referendos;

• Declaração de guerra e de paz;

• Matérias pendentes de decisão em órgãos no âmbito da União Europeia;

• Cumprimento da Constituição e das Leis;

• Actos do Governo e da Administração Pública;

• Declaração dos estados de sítio e de emergência;

• Contas do Estado e os relatórios de execução dos planos.

Quem governa?

O Governo é o órgão de soberania responsável pela condução da política geral do

país, interna e externa, civil e militar. É nomeado pelo Presidente da República e é

responsável perante a Assembleia da República, que o pode demitir mediante a rejeição

do programa do Governo, aprovação de uma moção de censura ou rejeição de um voto de

confiança.

O Governo também é responsável perante o Presidente da República, podendo ser

exonerado por este se estiver em risco o normal funcionamento das instituições

democráticas (nº 2 do art. 195º). O Governo é o órgão supremo da Administração Pública e

é constituído pelo Primeiro-Ministro, que dirige e coordena a actividade do Governo, pelos

Ministros, Secretários e Subsecretários de Estado.

Aos Ministros cabe gerir os ministérios, em conformidade com o programa do

Governo, com as medidas definidas em Conselho de Ministros e com as orientações do

Primeiro-Ministro. Os Ministros representam o Governo perante a Assembleia da

República. Os Secretários de Estado, para além da competência administrativa do seu

gabinete, têm a competência que lhes é delegada pelos Ministros.


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O Governo inicia as suas funções com a tomada de posse e cessa-as quando um

novo Governo toma posse. O Primeiro-ministro é nomeado pelo Presidente da República,

depois de ouvidos os partidos políticos representados na Assembleia da República e tendo

em conta os resultados eleitorais. Os demais membros do Governo também são nomeados

pelo Presidente da República sob proposta do Primeiro-Ministro.

O Conselho de Ministros é o órgão colegial formado pelo Primeiro-Ministro, pelos

Vice-Primeiros-Ministros se os houver e pelos Ministros, podendo ainda nele participar os

Secretários e Subsecretários de Estado, se para tal forem convocados.

Quem administra a justiça?

Nos termos do art. 202º da Constituição da República portuguesa, os Tribunais são

órgãos de soberania com competência para administrar a justiça, em nome do povo. Na

administração da justiça incumbe aos tribunais assegurar os direitos legalmente protegidos

dos cidadãos, reprimir a violação da legalidade democrática e dirimir os conflitos de

interesse, públicos e privados. O art. 203º atribui-lhes independência entre si e face aos

outros órgãos de soberania, estando apenas sujeitos à lei. Os tribunais são independentes

nas suas decisões que são obrigatórias para todas as entidades, públicas ou privadas, e

prevalecem sobre as de quaisquer outras entidades. Compete-lhes a fiscalização da

constitucionalidade, não podendo aplicar leis que sejam contrárias à Constituição ou aos

princípios fundamentais de direito. O sistema judicial é constituído por várias categorias de

tribunais, cada um com a sua estrutura e regime próprios.

Organização dos Tribunais

O art. 209º identifica, para além do Tribunal Constitucional, as seguintes categorias de

tribunais:

• O Supremo Tribunal de Justiça e os tribunais judiciais de primeira e de segunda instância;


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• O Supremo Tribunal Administrativo e os demais tribunais administrativos e fiscais;

• O Tribunal de Contas.

Está constitucionalmente prevista a possibilidade da existência de tribunais marítimos,

tribunais arbitrais e julgados de paz. A respectiva criação está sujeita a regulamentação

legislativa.

A Constituição de 1976, tem como grandes fundamentos a democracia

representativa e a liberdade política. Até à 1ª revisão constitucional de um órgão de

soberania composto por militares, o Conselho da Revolução.

É uma Constituição-garantia e, simultaneamente, uma Constituição prospectiva. É uma

Constituição muito preocupada com os direitos fundamentais dos cidadãos e dos

trabalhadores e com a divisão do poder.

Sendo uma Constituição pós-revolucionária, a Constituição de 1976 é também uma

Constituição compromissória.

A Constituição sofreu a influência tanto das Constituições portuguesas anteriores,

como de algumas Constituições estrangeiras, embora nenhuma possa ser considerada a

sua fonte principal.

Nos dias de hoje, O Parlamento de Portugal é constituído por uma única Câmara: “a

assembleia representativa de todos os cidadãos portugueses”.

Para além da função primordial de representação, compete à Assembleia da

República assegurar a aprovação das leis fundamentais da República e a vigilância pelo

cumprimento da Constituição, das leis e dos actos do Governo e da Administração


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Neste Órgão de Soberania funciona o Poder Legislativo da República Portuguesa,

exercem actividade 230 Deputados e Deputadas, de vários partidos políticos, eleitos nos

círculos eleitorais do Continente, das Regiões Autónomas e da Emigração.

Entre as varias funções, salienta-se a discussão e aprovação de Leis e os Tratados

internacionais, o Orçamento e as Contas do Estado, bem como fiscalização e a actuação

do Governo e da Administração.

Discute-se debate-se importantes debates políticos entre o Primeiro-Ministro e os

líderes da Oposição.

Existem Comissões de Inquérito e audições parlamentares nos quais apreciam

petições remetidas pelos cidadãos.

Acompanham a política internacional, a construção europeia e a Comunidade dos

Países de Língua Portuguesa. De referir, que o Parlamento utiliza das melhores

tecnologias de informação e comunicação, aberto à imprensa e a todos os que nos visitam.

Bem-vindos à Assembleia da República na XI Legislatura.18

18
http://www.parlamento.pt/Paginas/default.aspx 2-14-2011 16.35min
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Bibliografia

A GÉNESE DO ESTADO MODERNO NO PORTUGAL TARDO-MEDIEVO (SÉCULOS XIII-


XV) – Coord. de Maria Helena Cruz Coelho, Armando Luís de Carvalho Homem. Lisboa.
Editora, Universidade Autónoma de Lisboa. 1996/97.

Constituição da República Portuguesa 2008 Almedina

DICIONARIO DE HISTORIA DE PORTUGAL – dir. Joel Serrão, 7 volumes. Porto. Livraria


Figueirinhas, 1960

Educação para a Cidadania, Plátano editora (adaptado)

ENCICLOPEDIA VERBO LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Vol.26. Lisboa: Editorial


Verbo, 1976.

Joel Serrão (sel.), Liberalismo, Socialismo, Republicanismo. Antologia de Pensamento


Político Português, 2.ª ed., Lisboa, Livros Horizontes

J. Joaquim Gomes Canotilho, «As Constituições» in José Mattoso (dir.), História de


Portugal, 5.º Volume: Luís Reis Torgal e João Lourenço Roque (coord.), O Liberalismo
(1807-1890), Lisboa, Editorial Estampa,

HISTORIA DE PORTUGAL MEDIEVO POLITICO E INSTITUCIONAL – Coord. Humberto


Baquero Moreno. Lisboa: Universidade Aberta, 1995.

REIS E RAINHAS DE PORTUGAL – Texto editora, S/D. CD. ROM

http://www.arqnet.pt/ 14-02-2011 12.10min

WWW.bragancanet.pt/arte/feira.html . 23-5-2005.
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

http://www.parlamento.pt/Paginas/default.aspx
A Mutualidade de Santa Maria – Associação Mutualista

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