Método do limite superior

Introdução

O método do limite superior é uma alternativa analítica aproximada aos métodos completos (ex:
método das linhas de escorregamento) que possui um domínio de aplicabilidade muito vasto e
que permite obter valores de potência iguais ou superiores à potência real dos processos
tecnológicos.
O método do limite superior baseia-se num campo generalizado de velocidades cinematicamente
admissível/compatível (que pode ser obtido a partir das extensões, deslocamentos lineares ou
rotação angular):
• Verifica a condição de incompressibilidade;
S SD
• Cumpre as condições de fronteira ao longo das
superfícies, SU (onde as velocidades estão
especificadas);
du i = du*i
Nota: Um campo de velocidades cinematicamente
admissível pode conter superfícies onde se
V
verifiquem descontinuidades da componente ST
tangencial da velocidade, SD. SU

t = t*

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 Método do limite superior
Teorema do limite superior

A aplicação do princípio dos trabalhos virtuais a um campo de velocidades cinematicamente

admissível (asterisco - para o distinguir do campo de velocidades real), permite estabelecer a
seguinte igualdade:
∫ ∫
σ*ij ε& *ij dV + k ∆v * dS = t i v *i dS ∫
V SD S

Energia associada à Energia fornecida através das

deformação plástica do solicitações exteriores
material (geralmente a acção de uma ou
mais ferramentas sobre a peça)
v i* - campo de velocidades cinematicamente admissível,
*
ε& *ij - campo de velocidades de deformação derivado de v i
∆v * - descontinuidade de velocidade ao longo da superfície SD

∫ σ ε& dV + ∫ k ∆v * dS − ∫ t i v i* dS ≥ ∫ t i v i dS
* *
ij ij
S SD V SD ST SU

Teorema do limite superior:

A aplicação de um campo de velocidades cinematicamente
du i = du*i
admissível tem associado uma potência de deformação
plástica igual ou superior à que é despendida pela acção das
V tensões exteriores aplicadas ao longo da superfície SU, onde
ST as velocidades estão impostas. No caso concreto dos
SU processos tecnológicos de deformação plástica, estas
tensões exteriores são originadas, na sua generalidade, pela
acção exercida pelas ferramentas sobre as peças. 2
t = t*
Método do limite superior
Campos de velocidades

Existem dois tipos de campos de velocidades que estão na base da grande maioria das
soluções limite superior utilizadas na análise de processos de deformação plástica:

• Blocos rígidos – campos de velocidade construídos a partir da subdivisão da região em

deformação plástica através de blocos rígidos, delimitados por linhas de
descontinuidade de velocidade rectilíneas.
As soluções de blocos rígidos caracterizam-
Vo
se por possuírem velocidade constante e,
B E
consequentemente, a velocidade de A
60º
1
deformação no interior de cada bloco é nula. 2 3

C D
4

ε& *ij = 0 ∫
W& = k ⋅ ∆v ds

• Campos de velocidade contínuos – campos de velocidade definidos a partir de funções

Vo
matemáticas e que podem exigir ou não a delimitação
da região em deformação plástica através de linhas de
L
descontinuidade de velocidade.
x

y
h
O
2v 0 2v 0
vx = vy = − vz = 0
dx
x y
h h
3
Vo
Método do limite superior
Hipóteses simplificativas

• O material é homogéneo e isotrópico.

• O material é rígido-perfeitamente plástico -
desprezam-se todos os efeitos que possam
eventualmente resultar da componente elástica da
deformação.
• Devem apenas ser consideradas duas condições de
atrito distintas nas interfaces de contacto entre o
material e a ferramenta: ausência de atrito e
existência de atrito máximo.

As hipóteses simplificativas atrás enunciadas correspondem às exigências expressas no

teorema do limite superior na sua forma original. Contudo, é importante salientar que muitas
das aplicações conhecidas do método do limite superior, no domínio das tecnologias de
fabrico, ultrapassam os requisitos teóricos e as hipóteses simplificativas exigidas pelo
teorema do limite superior. É frequente contabilizar-se o efeito do encruamento, incluir-se o
atrito através de diferentes modelos e considerar-se a evolução geométrica das peças nos
casos em que os processos de deformação plástica não são estacionários.

Este facto, tem levado muitos investigadores a encararem a técnica do limite superior como
um balanço energético assente em campos de velocidade cinematicamente admissíveis.

4
Método do limite superior
Teorema do limite superior – significado físico-geométrico

Distorção instantânea do material sobre uma linha de descontinuidade de velocidade xx’

(em condições de deformação plana):
x'

A B vt0 vn0 = vn1

θ B' v0 vt1 φ v0
O
θ
A' D C ∆vxx'
C' v1
v1
D'
φ
x

A construção do hodógrafo foi efectuada com base nas propriedades que caracterizam uma
linha de descontinuidade de velocidade:

• As componentes normais da velocidade em cada um dos sub˘domínios v n 0 = v n1

criados pela linha descontinuidade de velocidade (LDV) têm que ser iguais
• A diferença entre os vectores de velocidade absoluta, v0 e v1, tem que
coincidir em módulo, direcção e sentido com o vector da descontinuidade ∆v xx ' = v t1 − v t 0
de velocidade, ∆vxx’ , o qual, por seu lado, tem que ser tangente à linha de
descontinuidade de velocidade xx’. 5
Método do limite superior
Teorema do limite superior – significado físico-geométrico
Incremento de trabalho plástico necessário à modificação instantânea da geometria do
paralelogramo quando atravessa uma linha de descontinuidade de velocidade xx’
x'
x'
φ B' B'
v1

A' A=A' B τ
A B C' C'
v0 O
γ
ds

D' θ C
D=D'
θ
D C

x
x
____
dW ⎛⎜ ____ ⎞⎟ CC '
____

⎛ ⎞
____ ____
dW ⎛ ____ ⎞ CC ' ⎛ ____ ⎞
dW = F d = ⎜ k BC ⎟ CC' = k BC = ⎜ k BC ⎟ = ⎜ k BC ⎟ ∆v xx '
⎝ ⎠ dt ⎜ ⎟ dt dt ⎝ ⎠ t ⎝ ⎠
⎝ ⎠

No caso geral da linha de descontinuidade de velocidade ser

curva, haverá unicamente que substituir o comprimento BC por
um comprimento infinitesimal ds, o qual deverá ser integrado ao ∫
W& = k ⋅ ∆v xx'ds
longo de todo o comprimento da linha
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Método do limite superior
Exemplo - indentação sem atrito em condições de deformação plana

Considere a operação de indentação sem atrito em condições de

deformação plana que se encontra representada na figura.

Vo

A B E
60º
1
2 3

C D
4

a) Determine o campo de velocidades e proceda à sua representação no hodógrafo.

b) Calcule o valor da pressão de compressão adimensionalizada com a tensão limite de
elasticidade do material p/2k.
c) Compare o valor obtido na alínea b) com o que tinha sido calculado através do método das
linhas de escorregamento.

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Método do limite superior
Exemplo - indentação sem atrito em condições de deformação plana

Através da aplicação do método do limite superior com soluções de blocos rígidos, pode-se
calcular a potência consumida nas descontinuidade de velocidade através de:

W& = ∑ k ∆v s = k⋅ {AC ⋅ ∆v AC + BC ⋅ ∆vBC + CD ⋅ ∆vCD + BD ⋅ ∆vBD + DE ⋅ ∆vDE }

10
= k ⋅ AB ⋅ Construção do hodógrafo
3 L/2

Como a potência fornecida pelo cunho vale:

(W& )ext = p ⋅ AB ⋅ v 0
A pressão necessária à indentação, p, obtém-se
igualando as duas equações anteriores:

10 p 5
p< ⋅k < ≅ 2.89
3 2k 3 Hodógrafo
Solução limite superior

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Método do limite superior
Exemplo - indentação sem atrito em condições de deformação plana

Pressão necessária à indentação – Met. do limite superior:

p
≅ 2.89
2k

Pressão necessária à indentação – Met. das linhas de escorregamento:

p ⎛ π⎞
= ⎜ 1 + ⎟ ≅ 2.57
2k ⎝ 2⎠