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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

Departamento de Análises Clínicas e Biomedicina

CURSO – BIOMEDICINA
Disciplína – Imunologia Aplica à Biomedicina

Imunologia e Imunodiagnóstico
da Brucelose

11 outubro, 2018
Profª Drª Maria Valdrinez C. Lonardoni
DEFINIÇÃO

• A brucelose humana é uma zoonose transmitida ao


homem por contato com animais doentes ou suas
secreções, produtos e subprodutos do leite e derivados,
carne e subprodutos infectados.
• É caracterizada por um longo período de incubação que
leva ao desenvolvimento de infecção crônica, debilitante,
com manifestações clínicas graves.
BRUCELOSE

Espécies de interesse e patogênicas para o homem:


– Brucella melitensis (cabras e carneiros, camelos)
– B. suis (suínos)
– B. abortus (gado)
– B. canis (cães)
– B. ovis (ovelhas)

• Outras espécies:
• B. neotomae, de ratos do deserto, B. maris, B. cetaceae
(baleias, golfinhos, cachalotes, orcas) e B. Pinnipedeae
isolada em mamíferos marinhos (focas, leões marinhos,
lontras).
BRUCELOSE

Brasil  B. abortus mais frequente.


 B. suis e B. melitensis mais virulentas.

 Doença ocupacional: veterinários, criadores de


gado, trabalhadores de matadouros e frigoríficos,
açougueiros.

 Fontes de infecção: sangue, urina, leite, sêmem,


secreção vaginal, fetos e tecidos de animais
(placenta);
 ingestão de produtos não pasteurizados (queijo e
leite de vaca e cabra).
A BACTÉRIA
 Cocobacilos gram negativos, intracelular facultativo
(macrófagos e histiócitos).

Sobrevivem:
• poeira (40 – 60 dias),
• carne salgada ou congelada (40 dias),
• leite 17 dias, leite congelado ↑ 800 dias, queijos até
6 meses, manteiga até 4 meses,
• 63ºC - 10 minutos, 71,7ºC - 15 segundos.
 Sensíveis:
calor, radiação iônica, desinfetantes, acidez gástrica
e pasteurização.
BRUCELOSE ANIMAL
 Importante causa de aborto animal: custo econômicos.
 Local onde a bacteria se instala: no útero gravídico e
epidídimo em bovinos e suínos.

 Brucelose bovina: aborto é o sinal clínico predominante.


 Vacas infectadas geralmente tem apenas um episódio de
aborto, dando à luz bezerros fracos ou mesmo saudáveis
em gestações subseqüentes.
 Porcentagem significativa de vacas
infectadas são assintomática durante
toda a vida e dão à luz bezerros
saudáveis em todas as gestações, mas
continuarão disseminando a bactéria
via placenta infectada.
 A brucelose suína é doença reemergente de suínos
domésticos e selvagens Europa, América do Norte, Sul e
Central, Sul da Ásia, e as ilhas do Pacífico.
 Brucella suis, também infecta outras espécies de animais
domésticos, como gado, cavalos, coelhos e cães.
 A infecção por B. suis em porcos é frequentemente
assintomática os sinais clínicos são infertilidade e aborto
durante qualquer fase da gestação, nascimento de leitões
fracos e alta mortalidade neonatal.
 A brucelose canina é causada por Brucella canis, e
afeta cães domésticos e canídeos silvestres e
raramente atinge outros animais domésticos.
 Causa doença que afeta a saúde reprodutiva, com
aborto entre 45 a 55 de gestação.
 Ainda ocorre nas Américas Central e do Sul.
 É considerada erradicada em países desenvolvidos.
Yes, B19 e RB51 (não
indutora de Acs aglutinantes)
Brasil

Casos registrados:
Paraná: 4.184 .
São Paulo: 216.
Minas Gerais: 1.1212.
Pernambuco : 69.
Brucelose animal.
Fonte: Ministério da agricultura pecuária e abastecimento.
BRUCELOSE HUMANA

Patogênese e manifestações clínicas

 Brucella se localiza em macrófagos do fígado, baço,


medula óssea, útero, coração e cérebro.
 Leva à formação de granulomas nestes órgãos.
 É caracterizada por febre alta e ondulante, mialgia,
artrite, espondilite, endocardite, osteomielite e abscessos
hepatoesplenicos e abscessos cerebrais (raros).
 Febre: >38-39ºC, noturna, com intensa sudorese.
 Sintomas semelhantes a gripe forte, mas persistente por
semanas ou meses, agravando-se progressivamente.
 Mal-estar, sudorese, anorexia, perda de peso...
BRUCELOSE HUMANA

 Em humanos: é uma doença debilitante febril crônica.


 Período de incubação de 2 a 24 semanas,
 leva a perdas socioeconômicas significativas devido
ao longo prazo do tratamento e à incapacitação para o
trabalho.
BRUCELOSE HUMANA

 A brucelose humana é considerada uma infecção


zoonótica bacteriana geograficamente disseminada de
importância global devido à sua significativa morbidade
em humanos.
 Iraque, Jordania, Arabia Saudita, Cazaquistão,
Azerbaizão a incidencia de humanos com brucelose é
de cerca de 100 casos por 100.000 habitantes/ano.
 Africa e America Latina 13 a 35 casos por 100.000
habitantes/ano.
BRUCELOSE HUMANA

 Aborto em humanos: estudos clínicos em humanos


sugerem que não há correlação significativa entre um
diagnóstico anterior de brucelose e a ocorrência de
aborto.

 Mas a alta prevalência de aborto, de 14% a 43%, em


mulheres com brucelose aguda ou crônica durante a
gravidez, levanta a possibilidade de que a infecção por
Brucella possa ser uma causa importante de
complicações pré-natais em regiões endêmicas.
BRUCELOSE HUMANA

 Não existe vacina para prevenir a infecção por Brucella


em humanos.
 O tratamento para a brucelose humana consiste em
terapia antibiótica combinada, por longos períodos.
 Ocorrem falhas significativas no tratamento e recidivas
da infecção.
 A compreensão da patogênese da doença em animais
e humanos é crucial para o desenvolvimento de
ferramentas mais eficientes para a prevenção da
infecção por Brucella.
Fatores de virulencia na infecção por Brucella spp

 A natureza intracelular de Brucella torna difícil a sua total


eliminação pela resposta imune do hospedeiro ou a
erradicação com drogas antimicrobianas.
 A bactéria se evade da resposta do hospedeiro,
permanece nos tecidos e pode provocar recaídas da
infecção.
 Sua persistência também é atribuída à indução de falha
na fusão fagossoma-lisossomas.
Fatores de virulencia na infecção por Brucella spp.
Evasão do Sistema Imune

Hospedeiro deve detectar rapidamente patógenos invasores



Mecanismos de reconhecimento da presença de bactérias
nos tecidos
Inflamação e resposta imune inata

Controle da doença
Mecanismos de reconhecimento da presença de brucelas
nos tecidos ???

Células da resposta imune inata (macrófagos, neutrófilos...),


distinguem padrões moleculares associados a patógenos
(PAMPs: LPS, lipoteicoico ácidos, lipoproteínas e flagelinas),

por meio de receptores de reconhecimento de patógenos
nas membranas celulares (TLRs)
ou no citosol (receptores tipo NOD, NLRs)

Ativação da resposta pró-inflamatória inicial
O Lipopolissacarídeo (LPS) de Brucella sp.
O LPS de Brucella evita a detecção pelo TLR4
(receptor Toll-like)
 Maioria dos patógenos bacterianos: a porção lipídica contém
resíduos de ácidos graxos curtos (C12-C16), mas Brucella contém
ác graxos longos (C28).
 LPS de Brucella é resistente à deposição do componente C3 do
complemento e evita a geração das anafilatoxinas C3a e C5a que
sinergizam com os TLRs na indução de citocinas pró-inflamatórias.
MǾ classicamente ativados:
alta capacidade proinflamatória
e bactericida.
IFN-Y :  mas transitória.

Ativa espécies reativas do oxigênio,


óxido nítrico, enzimas lisossomais,
fatores de transcrição para TNF-α,
IL-6, IL-12.
 carga de bactérias na fase aguda

Energia é produzida pela glicólise


anaeróbica que produz apenas 2ATP,
e as células consumem mais glicose
para atender às suas necessidades.
 glicose p/ multiplicação bacteriana.
Byndloss & Tsolis. Annu. Rev. Anim. Biosci. 2016. 4:9.1–9.17.
MǾ alternativamente ativados:
Efeitos antinflamatórios, de
reparação e fibrose.
IL-10 e TGF-β .

Aumenta glicose intracelular


que pode ser usada por
Brucella para multiplicação:
persistência nas células do
hospedeiro.
PATOGENESE

Infecção por Brucella


Vasos linfáticos  nódulos regionais.

Disseminação sanguínea  fígado, baço, medula


óssea e nódulos linfóides (placa de Peyer).

Multiplicação: fagossoma de MØ  formam granulomas.


 Granulomas podem se romper  novas bacteremias.
Resumo:
Aspecto central da patogênese da brucelose e a sua
interação com macrófagos.

Brucella multiplica-se em células fagocíticas (macrófagos).


 é capaz de evitar a morte em fagolisossomos e replica-
se em um compartimento associado ao retículo
endoplasmático e no autofagossomo modificado.
 Evasão da resposta imune inata, resultando em uma
resposta pró-inflamatória leve, que resulta na
persistência bacteriana,
 é capaz de modular a resposta imune através da
indução de citocinas reguladoras como a IL-10 (papel
importante na persistência).
RESPOSTA IMUNE

Humoral e celular  proteção parcial


RESPOSTA IMUNE

IgM = 2 a 4 sem - IgG = 4 a 6 sem.


Persistência de IgG  recidivas.
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Testes diretos:

PCR (Reação em Cadeia da Polimerase).


Cultura padrão ouro internacional.

Testes indiretos (imunológicos):

 Triagem: Rosa Bengala (AAT);


 Confirmatório: ELISA (Ensaio imunoenzimático).
Caso Suspeito

Triagem : Rosa
Bengala

Positivo Negativo

Confirmatório Confirmar RB 30 dias


ELISA IgM/IgM

+ - + -

Caso Manter
Confirmado acompanhamento
clínico – Diagnóstico
diferencial.
PCR
DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO

Soro aglutinação:
• IgG e IgM, com pico após 3ª e 6ª sem.
• Após tratamento  títulos podem permanecer positivos
por vários meses ou anos.
• Brucelose aguda: raros resultados falso negativos.
• Brucelose crônica  títulos baixos ou negativo.
IgM  persiste durante muitos anos em títulos altos
(mesmo após cura pelo tratamento).
Testes diretos
 Cultura sangue, medula óssea, tecidos ou
secreções.
 PCR Multiplex Real Time
→ Padrão Ouro
Testes indiretos
 Imunológicos
 Rosa Bengala (contato),
 Elisa IGM e IGG,
 teste de soroaglutinação/SAT,
 teste de microaglutinação/MAT,
 Ensaio Homogêneo de Fluorescência
Polarizada/FPA,
 Imunofluorescência Indireta, entre outros.
DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO

• Ag Rosa Bengala: IgG e IgM


• Soro do paciente + suspensão de
Brucella coradas  aglutinação.
Tratamento da brucelose humana

1ª escolha:
• Doxiciclina (200 mg/dia) + rifampicina (900mg/dia)
por 6 semanas.

Associação:
• Cotrimoxazol, cefalosporinas, aminoglicosídeos.
Tratamento da brucelose humana

• Recidivas - repetir o tratamento.


• Gestantes, nutrizes e < 7 anos, não usar doxiciclina.

• Sulfamatoxazol e Trimetoprim (800/160 mg/dia)
+ Rifampicina (900mg/dia) por 6 semanas ou
• Gentamicina (120mg/dia) por 14 dias.
REFERÊNCIAS

• Byndloss, M.X. and Tsolis, R.M. Brucella Spp. Virulence Factors and
Immunity. The Annual Review of Animal Biosciences,. 4: 9.1–9.17, 2016.
• Godfroid F., Cloeckaert A., Taminiau B., Danese I., Tibor A., Bolle X.,
Pascal Mertens P., Jean-JacquesLetesson J. Genetic organisation of the
lipopolysaccharide O-antigen biosynthesis region of Brucella melitensis 16M
(wbk). Research in Microbiology, 151(8): 655-68, 2000.
• Ducrotoya M.J., Muñozb P.M., Conde-Álvarezc R., Blascob J.M.,
• Moriyón I. A systematic review of current immunological tests for the
diagnosis of cattle brucellosis. Preventive Veterinary Medicine, 151: 57–72,
2018.

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