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FESTA NA TERRA DA MANDIOCA

Texto Alba Brito e Gizele Panza

Sinopse:

Nessa contação promovemos um encontro brincante entre o folclore brasileiro e a plateia.


Todos são convidados a cantar, jogar no desafio de trava línguas, brincar com as parlendas e
ouvir as lendas da nossa terra, entre elas a do Saci-Pererê, Caipora, Iara, Cobra Grande, Boto,
Vitória Régia, entre outras. Todos são convidados a dar as mãos, cantar e dançar as lindas
cantigas de roda encontradas aqui, no Brasil.

Atrizes chegam carregando algumas tralhas em seus braços, tralhas embrulhadas por um tecido.
(juta amarela). (E também os 2 banquinhos e os djembês). Figurino: de bebês....

(Chama causo - Alba Brito)

Tango

Tom: Dm

Dm Gm

Olha, que há muito tempo atrás

Ab°

Numa terra, sei lá eu

Dm Gm

Muita gente se encontrava

Ab°

ao redor do fogaréu

(pousam as coisas no chão e arrumam a cena, enquanto continuam a dizer o texto)

C Bb

Era criança, era jovem,

A7

era adulto e gente antiga

1
Gm

E entre contos e cantigas

Ab

Muita coisa era falada

C Bb

Muitos causos... Muitos mitos...

A7

Seres mágicos e bichos

Gm A7 Dm

Nada escapava sob a noite enluarada.

Quem vai? Quem vai? Quem vai? Vô eu!

Alba - Num chapéu grande e bonito (apresentar chapéu)

cor clara, feito de palha

Os nomes eram postos

ATRIZES - Embaralha! Embaralha!

ATRIZES - Quem vai? Quem vai? Quem vai? Vô eu!

GIZA - Augustina, Sebastiana, Seu Antônio, Jamelão

Todos com causos na ponta da língua,

querendo contar, querendo dizer.

GIZA - E na sorte eram lançados os nomes

Feito dado avoador

ALBA - E no acaso escolhidos

um a um o contador.

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ATRIZES - Quem vai? Quem vai? Quem vai? Vô eu!

ALBA - (colocando o chapéu. esse gesto significa quem está no comando da história) -

Peço licença pra iniciar essa contação.

Vou começar com uma história-raíz,

filha do chão.

Vou contar o causo da Mandioca!

Pra quem quiser ouvir,

eu peço a atenção.

(Mandioca- Alba Brito)

Xaxado

Lua branca mandioca

E7

Lua branca mandioca

A D

Menina do cabelo cor de trigo

Bm E7 A

Seus olhos azulzinhos cor de mar

Sua pele feito algodão macio

Tão branca quanto o brilho do luar...

A menina Mandi virou Mandioca!

A menina Mandi virou Mandioca!

Foi assim que o povo da pele vermelha gritou.

Foi um fuzuê na tribo, uma bagunça enorme

Vou contar do início, pra ver se fica fácil de entender.

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O fato é um mistério, parece feitiço de caipora,

Ou ainda coisa que saci apronta, na calada da noite, pra ninguém vê.

Mara era uma jovem índia sonhadora, que sonhava toda noite sem parar.

Numa noite enluarada sonhou que conhecia um homem branco,

um viajante que estava pela tribo a visitar.

E os olhos se cruzaram, e o peito acelerou,

e rapidinho rapidinho se enlaçaram e nessa dança

a índia embuxou.

Engravidou! Engravidou!

Com o mesmo mistério que lá, num sonho, chegou

O estrangeiro foi-se embora, madrugada adentro

e nem um "tchau" deixou.

Quando amanheceu, a índia Mara despertou.

E sentindo um arrepio curioso,

tocou em sua barriga e sentiu que vinha dela um calor. (MOSTRAR bexiga marrom com bolinha
branca de bexiga dentro.)

Engravidou! Engravidou!

GIZA - (canta e toca tambor, ALBA enchendo a bexiga)

(mesma melodia de mandioca)

Batatinha quando nasce

Espalha a rama pelo chão

India Mara quando acorda

Sente crescer seu barrigão

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Mas a vida, as vezes, é feita de sonho,

e noutras decepção.

A menina, fruto da India com o estrangeiro,

Quando nasceu chorou (ESTOURAR BEXIGA) e em seguida emudeceu.

Morreu! Morreu!

A menininha emudeceu!

A tribo toda chorou

Chorou mais que chuva

Chorou um choro bem chorado

E deixou o chão da tribo alagado.

O pajé, avô da menina Mandi que morreu,

Resolveu enterrá-la dentro da Oca,

pra protegê-la do aguaceiro.

Assim foi feito,

um, dois, tres, 7 palmos sob o chão.

E no final de 7 dias, uma surpresa,

quase uma alucinação.

No cantinho aonde a menininha repousou

Brotou uma folinha verde e

depois de um tempo percebeu-se a terra toda se afofando.

Puxaram e viram que era uma raíz,

uma fonte de alimento.

Quem diria que de um sonho

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surgiria o rebento sustento?

E dizem que é por isso que a mandioca

é marrom- vermelhada por fora

e branca por dentro.

(Mandioca- Alba Brito)

Lua branca mandioca

Lua branca mandioca

Menina do cabelo cor de trigo

Seus olhos azulzinhos cor de mar

Sua pele feito algodão macio

Tão branca quanto o brilho do luar...

...........

Brincadeira com rima, As atrizes começam as falas a plateia termina.

GIZA - E então, eles e elas que estavam ali em torno da fogueira, colocavam milho, batata, cenoura
pra assar e enquanto o alimento cozia eles brincavam de rimar.

Tá com frio?

bate a bunda no rio

Tá com calor?

molha a bunda no tambor

Quem vai ao ar,

perde o lugar.

Quem vai ao vento,

perde o assento.

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Quem vai à ribeira,

perde a cadeira.

A casinha da vovó

trançadinha de cipó;

se o café está demorando

com certeza falta pó.

João corta o pão,

Maria mexe o angu,

Teresa põe a mesa,

para a festa do Tatu.

Fui à feira comprar uva,

encontrei uma coruja,

eu pisei na cauda dela,

me chamou de cara suja.

Fui ao mercado comprar café

Veio a formiguinha

E subiu no meu pé

Eu sacudi, sacudi, sacudi

Mas a formiguinha não parava de subir

Fui ao mercado comprar batata-roxa

Veio a formiguinha

E subiu na minha coxa

Eu sacudi, sacudi, sacudi

Mas a formiguinha não parava de subir

Fui ao mercado comprar mamão

Veio a formiguinha

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E subiu na minha mão

Eu sacudi, sacudi, sacudi

Mas a formiguinha não parava de subir

Fui ao mercado comprar jerimum

Veio a formiguinha

E subiu no meu bumbum

Eu sacudi, sacudi, sacudi

Mas a formiguinha não parava de subir

..........

ATRIZES - Quem vai? Quem vai? Quem vai? Vô eu!

ALBA - Num chapéu grande e bonito (apresentar chapéu)

cor clara, feito de palha

Os nomes eram postos

ATRIZES - Embaralha! Embaralha!

ATRIZES - Quem vai? Quem vai? Quem vai? Vô eu!

GIZA - (pedir nomes à plateia)...

Todos com causos na ponta da língua,

querendo contar, querendo dizer.

GIZA - E na sorte eram lançados os nomes

Feito dado avoador

ALBA - E no acaso escolhidos

um a um o contador.

Quem vai? Quem vai? Quem vai? Vô eu!

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GIZA - (colocando o chapéu. esse gesto significa quem está no comando da história) -

Cheguei!

E contar história agora eu vou

Esse causo muito viajou

De mão em mão

De boca em boca

de geração em geração

Finalmente aqui chegou

Foi o meu bisavô

Que um dia me contou

Foi numa fazenda do interior

onde tudo se passou

(Iara – Gizele Panza)

Iara, Iara, Iara, Iara,

F#

iá, iá, iá, iá iáa

Iara, Iara, Iara, Iara,

iá, iá, iá, iá iáa

Metade peixe

Mãe-d’água

Sereia-Mulher

Nos doces dos rios

Ela vem pra te levar

Metade peixe

Mãe-d’água

Sereia-Mulher

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Nos doces dos rios

Ela vem te encantar

Sua beleza, os seus encantos e sua voz a embalar

Ela vem te chamar

Sua beleza, os seus encantos e sua voz a embalar

Ela vai te levar

Iara, Iara, Iara, Iara,

iá, iá, iá, iá iáa

Iara, Iara, Iara, Iara,

iá, iá, iá, iá iáa

Era um dia de sol e a bela Iara estava sentada sobre uma pedra grande no meio do rio para se
aquecer. Seus longos cabelos despencavam como folhagens.

Abaixo dos cabelos, as águas do rio corriam sem fazer barulho, mas de lá da cachoeira logo
adiante vinha um som forte.

Ela começou a cantar uma canção linda, mas muito triste.

Um lenhador ia passando e ouviu o canto.

- Que pássaro será este? – perguntou-se. – Nunca ouvi nada igual.

E começou a caminhar na direção da voz.

O lenhador viu a bela moça sobre a pedra e ficou fascinado. Ela cantava docemente, olhando para
ele.

Ele notou que os olhos dela estavam cheios de lágrimas.

Ou seriam os pingos da água do rio que salpicavam o ar?

O lenhador conhecia a lenda da Iara, mulher que arrastava os homens para a morte com seu belo
canto. Mas naquele momento ele nem se lembrou disso.

Chegando pertinho, perguntou educadamente:

- Por que você está chorando? Posso ajudá-la?

A Iara também não se lembrou que deveria levá-lo consigo e afogá-lo no rio. Ela contou a verdade
para ele:

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- Não consigo desembaraçar meus cabelos, e esta noite vai ser a festa da lua cheia. Como vou
fazer pra ir à festa com esse cabelo horrível?

Ele foi caminhando bem devagar na direção da pedra.

- Acho que posso dar um jeito nisso... – disse. – Você deixa?

Ela fez que sim com a cabeça e ele chegou pertinho dela. Bem pertinho.

- Feche os olhos... – pediu

Ela secou as lágrimas com as costas das mãos, entregou seu pente para ele e obedeceu.

Ele abriu um pote e começou a passar o creme nos cabelos embaraçados dela.

Enquanto os penteava, dizia uma porção de frases bobas:

- Tá frio hoje ein! Mas pode ser que fique calor, ou até mesmo que chova. Você gosta de bolo de
chocolate?

As frases eram muito, muito bobas, mas a acalmaram.

- tenho aqui algo especial para esses casos. Não vai doer nada. Fique bem quietinha... Vou pegar
um pouquinho de cabelo de cada vez... Está bem, assim?

Devagarinho, mecha por mecha, ele foi desembaraçando os longos cabelos da bela criatura.
Depois, fez ainda uma massagem na cabeça dela, tão gostosa que a Iara quase dormiu.

- Pronto! – disse ele de repente. – Agora você pode acabar de se arrumar. Aposto que será a mais
linda da festa!

A Iara mergulhou no rio e colocou a cabeça para fora d’água, soltando uma risada alegre. Em
seguida, mergulhou novamente e o lenhador nunca mais a viu. Sobrou essa história para ele
contar para os seus filhos, netos e bisnetos.

........

GIZA - E na sorte eram lançados os nomes

Feito dado avoador

ALBA - E no acaso escolhidos

um a um o contador.

ATRIZES - Quem vai? Quem vai? Quem vai? Vô eu!

ALBA - (colocando o chapéu. esse gesto significa quem está no comando da história) -

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(Saci- Alba Brito) (hit the road jack)

Am Dm

Saci Saci Pererê

E7

Apronta todas na cidade, pode crer.

Saci Saci Pererê

Veio da floresta para aprontar com você.

Salgar comida

Dar nó em pingo dágua

Abrir a jaula aonde está a bicharada

Apagar as velas da procissão

Pegar doce escondido

e azedar o feijão.

hehehe

Eu fiquei sabendo de uma história de Saci que achei uma graça que só.

Tavam sozinhas, a neta e sua vó.

Na cozinha.

A vó ensinava sua netinha a fazer biscoitos de saci.

Ovo, farinha de trigo, manteiga,

leite, açúcar, corante, canela, perninha de grilo,

gorro de noel, cachimbo de coco falante

pozinho de pirlimpimpim.

Pronto! Taí a receita de fazer isso tudo virar Saci.

A massa era delicadamente jogada numa forminha em formato de Saci.

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Botaram no forno.

180º graus. Pré aquecido por 10 minutinhos.

Vovó fechou a porta do forno desejando que os biscoitos crescessem

crescessem, crescessem...

Pum pá Paratimbum.

Bum bum bum

Pum pá Paratimbum.

Bum bum bum

Foram pra sala, toda cor lilás.

Vovó pegou um livro.

Sentaram no sofá.

Pum pá Paratimbum.

Bum bum bum

Pum pá Paratimbum.

Bum bum bum

Era uma vez...

Powwww!!!!

Ouviram um barulhão na cozinha que fez as duas pularem de susto.

A avó foi na frente, mas a menina ainda chegou a tempo de ver milhares de Sacis voando.

Havia Saci em cima da mesa, das cadeiras, do armário, no chão.

Pendurado na lâmpada!

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- Aiii Uiii!!! - Queimando a mão! Soprar!

Havia Saci inteiro e Saci quebrado. E havia pedaço de Saci para todo lado.

A menina começou a chorar.

E aí a Avó disse - Vamos catar tudo e juntar os pedaços. Depois, se você quiser, podemos preparar
outros biscoitos.

E foi o que elas fizeram.

A cada Saci que arrumavam, a cozinha ia ficando mais animada.

No final, o maior de todos os Sacis disse: - Estamos felizes outra vez. Em nome dos meus colegas
sacis, agradeço. E agora, vocês já podem nos comer!

(Comer comer)

Se eu não como me dá nó nas tripas

Me ataca a gripe, não posso dormir

Incha meus olhos, eu fico tão fraca

que até um mosquito vai me destruir

Se eu não como não posso brincar,

Não consigo falar e começo a tremer

Eu como de uma só vez a comida de um mês

até minha barriga crescer

Eu como de uma só vez a comida de um mês

até minha barriga crescer

Comida de um mês?

Comendo outra vez?

De uma só vez?

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Comer comer, comer comer

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F G7

é o melhor para poder crescer

Comer comer, comer comer

é o melhor para poder crescer

Comer comer, comer comer

é o melhor para poder crescer

Comer comer, comer comer

é o melhor para poder crescer

SACI GRANDE - Ou menina! Ou!

ALBA - A menina tava estatelada! E de um sobressalto, devorou-os.

MENINA- Que delícia!

E ela saiu correndo pela casa, batucando em seu barrigão,

gritando pra todo mundo ouvir:

Tem gosto de açúcar, canela e alegria!

Tem gosto de açúcar, canela e alegria!

.........

GIZA - E comiam e bebiam e cantavam...

1 - O mundo gira, que nem pião

O mundo gira enquanto eu bato na palma da mão.

Ora! Sou eu quem gira, ora eu sou o pião.

O mundo gira enquanto eu bato na palma da mão.

2 - Cai cai balão, cai cai balão

Aqui na minha mão

Não Cai não, não cai não, não cai não

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Cai na rua do Sabão

3 - ALECRIM DOURADO

Alecrim, alecrim dourado

Que nasceu no campo sem ser semeado BIS

Foi meu amor que me disse assim

Que a flor do campo é o alecrim BIS

4 - Sapo Cururu na beira do rio

Quando o sapo grita, ó Maninha, é porque tá frio

A mulher do sapo, é quem está lá dentro

Fazendo rendinha, ó Maninha, pro seu casamento

5 - A Barata diz que tem sete saias de filó

É mentira da barata, ela tem é uma só

Ah ra ra, la ro ró, ela tem é uma só!

A Barata diz que tem um sapato de veludo

É mentira da barata, o pé dela é peludo

Ah ra ra, Iu ru ru, o pé dela é peludo !

A Barata diz que tem uma cama de marfim

É mentira da barata, ela tem é de capim

Ah ra ra, lim rim rim, ela tem é de capim

A Barata diz que tem um anel de formatura

É mentira da barata, ela tem é casca dura

Ah ra ra , lu ru ru, ela tem é casca dura

A Barata diz que tem o cabelo cacheado

É mentira da barata, ela tem coco raspado

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Ah ra ra, lo ro ró, ela tem coco raspado

6 - Borboletinha tá na cozinha

fazendo chocolate

para a madrinha

Poti, poti

perna de pau

olho de vidro

e nariz de pica-pau pau pau

7 - Pirulito que bate-bate, pirulito que já bateu

Quem gosta de mim é ela, quem gosta dela sou eu

8 - Samba Lelê ta doente, tá com a cabeça quebrada

Samba Lelê precisava, de umas boas sambadas

Samba, samba, samba ô Lelê

Quebra quebra quebra o lalá

Samba, samba, samba ô Lelê

Pisa na barra da saia!

9 - Toda vez que eu chego em casa

A barata da vizinha está na minha cama

Toda vez que eu chego em casa

A barata da vizinha está na minha cama

Diz aí Luis Fernando o que cê vai fazer

Eu vou comprar um chicote pra me defender

Ele vai dar uma chicotada na barata dela

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Ele vai dar uma chicotada na barata dela

Diz aí Rogério o que cê vai fazer

Eu vou comprar um pau pra me defender

Ele vai dar uma paulada na barata dela

Ele vai dar uma paulada na barata dela

Diz aí Fernando o que cê vai fazer

Eu vou comprar uma espora pra me defender

Ele vai dar uma esporada na barata dela

Ele vai dar uma esporada na barata dela

Diz aí Luizinho o que cê vai fazer

Eu vou comprar uma inseticida pra me defender

Ele vai dar uma tonteada na barata dela

Ele vai dar uma tonteada na barata dela

Diz aí Serginho o que cê vai fazer

Eu vou comprar uma furadeira pra me defender

Ele vai dar uma furada na barata dela

Ele vai dar uma furada na barata dela

Diz aí Alexandre o que cê vai fazer

Eu vou comprar uma bombinha pra me defender

Ele vai dar

Ele vai dar

10 - O sapo não lava o pé, não lava porque não quer

Ele mora lá na lagoa, não lava o pé porque não quer

Mais que chulé

ATRIZES - Quem vai? Quem vai? Quem vai?

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ALBA - Tem alguém aí da plateia que tem um causo desses na ponta da língua? Se não tiver, vou
eu! Vou eu!

Alba coloca o chapéu.

ALBA - Era noite, uma noite escura pra valer.

As ruas estavam desertas, e lá no alto do interior de um cidadezinha qualquer caminhavam na


penumbra uma mulher, que carregava seu filho nos braços e seu marido.

A lua iluminava o que podia pelo caminho. E o vento uivava carregando a poeira da estradinha de
terra pra lá e pra cá.... As árvores e o matagal que beiravam a estrada dançavam sob a luz do luar.

Eles estavam caminhando durante horas e horas. O vento a cada passada ia se tornando mais
gélido. A mãe protegia seu bebê o quanto podia. Só o rostinho levemente sem coberta. Doze kilos
de gente em seus braços e algumas mamadas pelo caminho. Era noite de lua cheia.

Num determinado momento o marido resolveu parar para fazer xixi.

A mulher e seu filho ficaram sentadinhos na beira da estradinha enquanto o marido adentrava o
matagal....

O vento – Alba Brito

Ruuuuuu

Gm D7

Soprava o vento

Ruuuuu

de lá pra cá

Ruuuuu

Cm

Em movimento

A lua soprava o vento

D7

O vento era gelado

Gm

e era bom de assustar

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O bebê se espreguiçava, as mãoszinhas estavam quentinhas. Ufa!

O bebê resmungava um pouquinho e a mamãe, sentadinha no meio fio do nada, dava-lhe o seu
leite quentinho.

Estavam ali, a espera do marido que entrou no matagal para fazer xixi e o tempo parecia se
arrastar de tanta agonia...

Ruuuuuu

Soprava o vento

Ruuuuu

de lá pra cá

Ruuuuu

Em movimento

A lua soprava o vento

O vento era gelado

e era bom de assustar

Foi quando sentiram um cheiro forte de couro. Couro molhado. Cheiro forte trazido pelo vento. E
ouviram um som muito forte de pisadas no chão. A mãe arrancou o peito da boca do bebê,
guardou. Embrulhou seu filho o mais apertado que pode e levantou-se rapidamente.

O som crescia, a vegetação balançava, ela sentia um frio imenso. Era medo. Pavor!

Ela começou a gritar por socorro. Chamava seu marido. O bebê em desespero com o pavor da mãe
também chorava.

Ela então, sem pestanejar se pôs a correr.

Correu, correu, correu, correu... (fazendo sons no djembê)

Correu com seu filho em seus braços

atravessando o vento.

Começou a chorar pelo caminho, sentia que algo gigantesco a perseguia.

Ela gritava, ela chorava, ela corria.

Olhou pra trás, por um milésimo de segundo e viu:

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Grande, com um focinho horroroso, um cachorro gigantesco, cinza, trotava faminto em sua
direção.

Ela correu ainda mais. Resolveu entrar no matagal... (fazendo sons no djembê)

Foi afastando os galhos, os caules, as folhas do caminho.

Ela sentia que o bicho estava próximo.

Avistou um abacateiro e resolveu subir.

Com muita dificuldade, subiu se encaixou entre as folhagens da árvore.

Se agarrou, ainda mais ao sue bebê. Tentou tapa- lhe a boca. Ele berrou.

Tirou seu seio pra fora e meteu na boca na criança, que parecia se tranquilizar.

Ela quase não respirava, tinha esperança do bicho ter perdido eles de vista.

Ruuuuuu

Soprava o vento

Ruuuuu

de lá pra cá

Ruuuuu

Em movimento

A lua soprava o vento

O vento era gelado

e era bom de assustar

E cravou suas unhas no tronco da árvore.

Era o bicho! O Lobisomem!

Ela subiu ainda mais. O bicho saltava tentando abocanhá-los.

Ela colheu um abacate e jogou contra o monstro.

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Ela colheu outros abacates e foi tentando se defender.

Ele saltou o mais alto que pode e abocanhou a cobertinha do seu filho.

Ele berrou, ela puxou, o bicho puxava. Ela se pendurou num galho, arrancou-o e meteu uma
galhada na fuça do bicho.

Que desistiu e saiu uivando levando consigo um pedaço da cobertinha.

Ainda muito assustada, ela se acomodou no tronco, beijou a testa do seu filho e, mais uma vez,
tentou acalmá-lo.

Foi quando ouviu ao longe: Amor... mor... mor...

Era seu marido!

Tô aqui!... qui!... qui!

E se encontraram. Ele a ajudou a descer, se abraçaram sob a lua. Ele deu um beijo em seu filho, a
abraçou mais uma vez. Ela tentou dizer rapidamente o que lhe acontecera... ela reparou em seu
rosto um vergão...

Ela queria fugir dali, ir pra um lugar seguro.

Ele se ofereceu pra segurar seu filho em seus braços, para dar um descanso para sua amada
mulher. Foi neste momento que a lua iluminou, ainda mais os três, e ela pode ver nos dentes do
seu marido fiapinhos da cobertinha do menino...

GIZA - E o povo envolta da fogueira

as vezes ria, e as vezes se espantava.

ALBA - E as estrelas giravam,

e muitas vezes a brasa surgia

E com muita madeira e brincadeira

O fogo era alimentado.

E de novo, e de novo

E mais uma vez.

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Até quase o raiar do novo dia.

GIZA - Depois juntavam suas tralhas,

e deixavam com a brasa, ainda quente,

a lembrança de que por lá passaram.

(MÚSICA FINAL)

E B7

Adeus adeus,

que eu já vou me embora.

Adeus, adeus,

que eu já vou me embora.

meu coração fica e meus zóios chora

meu coração fica e meus zóios chora

Fim. Atrizes saem de cena. Deixando em cena apenas vestígios de que lá estiveram...

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