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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PADRÃO DA LÉGUA

Escola Básica e Secundária de Padrão da Légua

ANO LETIVO 2018/2019

Preconceito: diferença não é sentença

Ao lembrar-me das histórias da minha infância há uma que nunca deixou de se relacionar com a atualidade.

Refiro-me á história “A Bela e o Monstro” que, apesar de ser um conto infantil com uma ação simples, uma
bonita história de amor e um fim previsível, apresenta uma temática escondida e complexa que não deixa
de estar presente no quotidiano.

O facto de julgar-mos o que não conhecemos como algo mau e de nos deixar-mos levar pela intuição dos
outros, faz com que discriminemos algo ou alguém que se calhar, ou melhor, quase sempre não é aquilo
que todos dizem ser.

É por ser homem ou mulher, branco ou de cor, homo, hetero ou bisexual ou simplesmente por usar roupas
ou acreditar em coisas diferentes das nossas…

E eu bem sei que tudo isto é mais atual do que pode parecer!

Ouço falar das mulheres que recebem menores remunerações do que os homens porque aparentemente não
têm as mesmas capacidades quando, talvez, até trabalham mais do que eles… Dos senhores de cor que, só
por terem um tom de pele diferente, se houver um conflito ou algo do género são culpabilizados e mal
tratados quando, na verdade, podem estar inocentes… Dos homens ou mulheres que só por andarem com
alguém igual a eles são olhados de lado como se tivessem alguma doença… E daqueles que para
sobreviverem fogem do país em que vivem, arriscam a vida numa embarcação sem quaisqueres condições
e pedem asilo noutro país e quando têm permissão para ficar no país são tratados com desprezo e medo só
por serem associados a terroristas que se baseiam na religião para atingir interesses pessoais…

Mas bem, o que quero mesmo contar é a triste história do meu melhor amigo que aconteceu à uns anos
atrás.

Andávamos no último ano do Ensino Secundário, 12ºano, e, como todos os jovens, tínhamos planos para o
futuro como a faculdade, as férias, etc.

Mas acontece que para a sociedade ele não era uma pessoa “normal”… Ele era muçulmano mas todos
pensavam que era terrorista… Eu fui a única a conhecê-lo melhor. Fui a pessoa com quem ele se abriu pois,
desde logo, demonstrei o que sentia, ou seja, eu não tinha medo dele nem tão pouco julgava uma
coincidência religiosa como uma condição necessária, isto é, não era por ele e os terroristas, supostamente,
serem da mesma religião que ele tinha, necessariamente, de ser como eles. E ele não era.

Cátia Bebiana Ferraz Gomes 11ºI Nº4 | Oficina de Escrita: Conto Literário
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PADRÃO DA LÉGUA
Escola Básica e Secundária de Padrão da Légua

ANO LETIVO 2018/2019

Ele era uma das pessoas mais puras e amáveis que eu já conheci… Era de uma inocência extrema, de uma
simpatia invulgar e de uma inteligência surpreendente. Nunca conheci uma pessoa que, depois de tudo o
que ele passou, conseguisse ser tão extraordinária. Fazia tudo de bom grado, recebia as críticas como
conselhos para melhorar e por mais que o discriminassem ele nunca se ía a baixo.

Mas, um dia a discriminação passou a ser de caracter físico… Eu tentava ajudá-lo mas conseguiam sempre
prender-me longe sem qualquer hipótese de fuga e com vista priveligiada para aquele horroso ato… Só me
soltavam depois de ele estar sem qualquer chance de se defender, ou seja, brutalmente maltratado. E não
adiantava fazer queixa seja a quem fosse. Diziam sempre algo do género “Se lhe aconteceu isso, alguma
coisa ele fez antes” ou “Se não tem provas não pode acusar ninguém”. Eu sabia quem eram mas realmente
não tinha quaisquer provas contra eles e, além do mais, um deles era filho de um PSP, ou seja, como se diz
em bom português “Tinha as costas quentes”…

Isto aconteceu vezes sem conta e ía ficando cada vez mais violento… Até que um dia o massacraram tanto
que nem no hospital conseguiram salvá-lo… E eu assisti a tudo... Ele morreu nos meus braços e a última
coisa que disse foi:

- No futuro, não deixes que isto aconteça a outras pessoas… Defende-as com essa tua enorme força interior
e nunca desistas de lutar pelo que está certo. Faz isso por mim e por todos aqueles que não têm culpa de ser
diferentes…

Ouvir isto só confimou a pureza interior daquele ser completamente surreal que nem á morte se rendeu e
que, quando estava a ficar sem tempo, se preocupou primeiramente no bem estar daqueles que ficaram e
não nos seus próprios interesses.

É por isto, e não só, que não desisto de lutar pela igualdade nem aceito a discriminação. Pode não ser fácil
para nós aceitar o que é diferente mas não precisamos de aceitar. Só temos de respeitar e não excluir
ninguém da comunidade pois podemos não só aprender com esse alguém como temos o dever de tratar o
outro como a nós mesmos.

Cátia Bebiana Ferraz Gomes 11ºI Nº4 | Oficina de Escrita: Conto Literário

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