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Sobre o emaranhamento quântico dos elétrons na

supercondutividade e matéria condensada e a evidência de


novas dimensões

Por Celio João Pires

Dimensões superiores tem despertado a imaginação das pessoas


ao longo do tempo, propiciado enredo de histórias e filmes, e sido objeto
de profundas reflexões teóricas, por parte dos físicos, sobre a natureza
de nossa realidade e de nosso Universo, mas faltam ainda evidências
físicas que permitam afirmar que elas existem. Até agora. Este é o objeto
deste artigo, e as consequências possíveis no campo das teorias físicas.

Nos últimos 30 anos, tenho me dedicado a diversos estudos, e a


cosmologia é um de meus preferidos, principalmente a física relacionada à origem
e a construção das estruturas que julgamos constituir a nossa realidade.

Nessa busca por conhecimento, o estudo sobre a possibilidade da


existência de dimensões além das que conhecemos usualmente, o continuum
espaço-temporal – três dimensões de espaço e uma de tempo – conforme
definido por Albert Einstein, na Teoria Geral da Relatividade, sempre me fascinou.
Tal possibilidade tem alimentado a fantasia de gerações, nos livros e filmes de
ficção científica, tipo Jornada nas Estrelas, na série de livros de Perry Rhodan,
que já passa dos 800 volumes na edição brasileira e na série de TV Stargate,
entre outras.

Assim, neste mês de fevereiro, lendo a revista Scientific American Brasil, n.


129, encontrei o artigo de física quântica, “Estranho e Filamentoso”, elaborado por
Subir Sachdev, tratando dos materiais e metais supercondutores e matéria
condensada e a explicação para tal estado: o emaranhamento quântico, sua
especialidade, e ainda a possível ligação deste fato com possíveis dimensões
superiores.

O “entrelaçamento ou emaranhamento quântico” era a famigerada possível


conexão entre partículas, que Einstein não gostava, pois implicava uma “ação à
distância”, sem nenhuma ligação física, aparente, entre elas. Diz Subir Sachdev:

Ainda em 1935, Einstein, Boris Podolsky e Nathan Rosen, ressaltaram


que a mecânica quântica implicava uma conexão fatasmagórica entre
partículas como os elétrons – o que hoje chamamos de entrelaçamento
ou emaranhamento quântico. De alguma maneira as atividades das
partículas são coordenadas sem a mediação de uma ligação física
direta. (SACHDEV, 2013, p.48).
Uma teoria de possíveis dimensões superiores ainda não existia na época
da publicação da Teoria Geral da Relatividade, de Einstein, em 1915.

Subir Sachdev relata que buscava entre os físicos da Teoria das Cordas,
subsídios nas ferramentas matemáticas utilizada pelos mesmos, na formulação
da teoria das cordas, para melhor compreender o que ocorre no seu objeto de
estudo em laboratório, a supercondutividade a baixas temperaturas e o
entrelaçamento de elétrons resultante.

Diz Sachdev (2013, p. 52):

Quando os elétrons em cristais têm apenas um grau limitado de


emaranhamento, ainda podem ser consideradas partículas (quer os
elétrons originais ou pares deles). Quando um grande número de
elétrons se torna fortemente emaranhado uns com os outros, no entanto,
já não podem ser considerados como se fossem partículas, e a teoria
convencional luta para prever o que acontecerá. Em nossa nova
abordagem, descrevemos esses sistemas em termos de cordas que se
propagam em uma dimensão extra do espaço.

Tal compreensão é oriunda da matemática da teoria das cordas. Ele ainda


relata:

Meu colega Brian Swingle, da Harvard University, fez uma analogia entre
a dimensão espacial extra e a rede de entrelaçamento quântico (...).
Mover para cima e para baixo na rede é matematicamente equivalente a
se mover através do espaço. As cordas podem vibrar e se fundir na
dimensão extra, e seu movimento espelha a evolução do
emaranhamento das partículas. Em resumo, as conexões
fantasmagóricas que tanto perturbaram Einstein fazem sentido quando
se considera o grau de emaranhamento, como a distância através de
uma dimensão espacial extra (SACHDEV, 2013, p. 52).

No meu entendimento, desde que tive acesso ao conhecimento do


emaranhamento, a ação à distância, sempre me pareceu factível apenas se
existissem outras dimensões além das quatro conhecidas. As informações
científicas sobre o assunto estão disponíveis, em diversos livros, tais como os de
Stephen Hawking, Brian Greene e Michio Kaku, que abordam em detalhes tais
possibilidades. Mas nenhuma evidência ainda estava disponível sobre
dimensões superiores, até ler este artigo de Subir Sachdev.

Tomo a liberdade de citar, parte do texto do referido artigo, nos infográficos


da p. 53, para mostrar o raciocínio de Subir Sachdev:

Estranhamente, o processo de emaranhamento se comporta,


matematicamente, como uma distância espacial. Tanto quanto se mover
através do espaço implica passar por pontos intermediários, sair do
entrelaçamento de duas partículas para o emaranhamento de trilhões
requer que duas partículas se combinem com outras duas, e as quatro
resultantes com mais quatro, e assim por diante. Assim, a profundidade
do emaranhamento em si mesmo age como uma dimensão espacial
implícita, acima e além das três dimensões onde os elétrons residem. Ao
usar essa semelhança matemática, os teóricos que estudam as fases
quânticas da matéria podem utilizar os achados dos teóricos de cordas,
que estudam dimensões espaciais extras. (SACHDEV, 2013, p. 53).

O que me chamou especialmente a atenção, é que se, o emaranhamento


efetivamente ocorre em uma dimensão espacial fora de nossas dimensões
usuais, o fenômeno da supercondutividade e o emaranhamento quântico, podem
constituir uma evidência física da existência de dimensões superiores! Mas
surpreso, não vi essa conclusão, no artigo de Subir Sachdev, que para mim era a
lógica, à vista das informações relatadas por ele. A teoria matemática é
consistente com a explicação dada e constitui um excelente modelo da realidade,
logo o próprio fenômeno observado também é uma evidência para as dimensões
superiores, em contrapartida.

Ora, uma evidência física da existência de dimensões superiores, pelo


menos mais uma, uma quinta dimensão, é o que a teoria das supercordas precisa
para dar mais um passo na construção de uma visão mais próxima da realidade
da nossa existência e do Universo em que vivemos, não obstante ela trabalhar
com dez dimensões, inicialmente (GREENE, Brian, 2004, p. 416).

Lembrei-me, também, à vista da possibilidade concreta da evidência de


uma quinta dimensão, que existem outras teorias da física, já descartadas ao
longo do tempo, que merecem ser resgatadas, pois podem ter algum fundamento
ainda, que abririam novos horizontes nas teorias físicas.

Teoria da Quinta Dimensão de Theodor Kaluza e Oscar Klein

É o caso da teoria de uma quinta dimensão proposta a Einstein pelo


matemático Theodor Kaluza, (1885-1954) citada no artigo de Romero Filho, “As
dimensões escondidas do Universo”, em 1919, com o objetivo de publicá-la, para
unificar o campo da gravitação e o campo eletromagnético. A quinta dimensão
proposta por Kaluza possuía a forma de um espaço cilíndrico. Einstein gostou da
ideia, mas só publicou a teoria de Kaluza em 1921, dois anos depois de ser
apresentada, já com uma crítica de que a teoria não “fornecia solução
interpretável como um elétron” (GOLDSTEIN; RITTER, 2009, p. 79).

Oscar Klein (1894-1977), por sua vez, generalizou a teoria de Kaluza, e


introduziu a constante de Planck h, ligada às leis quânticas (GOLDSTEIN;
RITTER, 2009, p. 80). Segundo tal artigo, Einstein retornou quatro vezes à teoria
de cinco dimensões com especial atenção, mas não manteve como uma
possibilidade concreta. Faltava algo mais.
A teoria proposta, agora chamada de Kaluza-Klein, mostrava que,
“enquanto a gravidade reflete a forma das quatro dimensões do espaço-tempo
que conhecemos, o eletromagnetismo surge da geometria de uma quinta
dimensão, pequena demais para ser enxergada diretamente (pelo menos até
agora).” (BOUSSO; POLCHINSKI, 2004, p. 60) Seria uma dimensão chamada de
compacta.

Referido artigo ainda faz a conexão entre as dimensões superiores de


Kaluza-Klein e a atual teoria das cordas:

A idéia de Kaluza e Klein foi ressuscitada e ampliada como uma das


características da teoria das cordas, a mais promissora unificação da
mecânica quântica, relatividade geral e física de partículas. Tanto nas
conjecturas de Kaluza e Klein quanto na teoria das cordas, as leis da
física que podemos observar são controladas pela forma e pelo tamanho
das dimensões microscópicas adicionais. (BOUSSO;
POLCHINSKI,2004, p. 60)

Tal unificação, no final, faria com que a relatividade geral descrevesse um


espaço-tempo pentadimensional (BOUSSO; POLCHINSKI, 2004, p. 60). Enfim,
dimensões adicionais também têm “papel crucial na unificação da relatividade
geral e da mecânica quântica.” (BOUSSO; POLCHINSKI, 2004, p. 60).
Ora, o caso de uma possível evidência da existência de uma quinta
dimensão seria uma grande descoberta da física do século XXI, e poderia alterar
profundamente nossa compreensão da visão da nossa realidade e abriria novas
perspectivas nas fronteiras da física experimental e teórica.
Brian Greene também cita os trabalhos de Kaluza e Klein, nos seus três
livros que tratam da teoria das cordas, que podem ser consultados para maiores
detalhes: O Universo Elegante, 2001, p. 209-212; O Tecido do Cosmo, 2005, p.
417-418; A Realidade Oculta, 2012, p. 109-114.

Teorias de Imersão: Proposta de Paul Wesson, e Proposta de Lisa Randall e


Raman Sundrun

Encontrei, na internet, no sitio Área Confidencial, o artigo As dimensões


escondidas do Universo, de Carlos Augusto Romero Filho, referências a duas
outras teorias que também utilizam uma quinta dimensão, na sua essência, para
termos uma nova visão de nosso Universo. Citando textualmente:

(...) Recentemente, uma nova versão não-compacta da teoria de Kaluza-


Klein foi sugerida pelo físico inglês Paul Wesson, da Universidade de
Waterloo, no Canadá. Nos modelos cosmológicos propostos por Wesson
o Universo em que vivemos tem cinco dimensões, sendo que a quinta
dimensão, não-compacta, é a responsável pela existência da matéria.
Em outras palavras, o que chamamos de matéria seria, em última
instância, meramente geometria, a qual se manifesta como substância
quando observada por seres que vivem numa hipersuperfície de quatro
dimensões. Teorias que postulam a existência de tais hipersuperfícies
são conhecidas pelos matemáticos pelo nome de teorias de imersão. O
nome é sugestivo, pois a ideia é que o universo que observamos
fisicamente estaria imerso num Universo maior, de cinco dimensões.
(ROMERO FILHO, 2008)

Uma outra teoria de imersão que surgiu no apagar das luzes do século
XX deve-se aos físicos Lisa Randall, da Universidade de Princeton, e
Raman Sundrum, da Universidade de Boston. Conhecida simplesmente
como o modelo de Randall-Sundrum, essa teoria também considera que
vivemos sobre uma hipersuperfície de um espaço-tempo maior, de cinco
dimensões. O interessante é notar que tanto Wesson como Randall-
Sundrum se utilizam de todo o formalismo matemático desenvolvido por
Einstein, em sua teoria da relatividade geral, mudando apenas a
dimensionalidade, que passa a ser cinco. (ROMERO FILHO, 2008)

Estes dois parágrafos citados abrem novas perspectivas de pesquisa, pois


a matemática por trás dessas teorias é consistente, e com a possível evidência de
uma quinta dimensão, dá novo fôlego teórico às mesmas. Mas, como a teoria de
Kaluza-Klei tratava de uma quinta dimensão compacta, e as teorias de Paul
Wesson e o modelo de Randall-Sundrum tratam de uma dimensão não compacta,
a experiência de Subir Sachdev, pode definir qual a melhor teoria para uma quinta
dimensão. A Teoria de Kaluza-Klein me parece mais apropriada, neste caso.

Teorias de espaço-tempo holográfico e o Universo é um computador

Temos ainda a teoria do espaço-tempo holográfico, tratada no artigo de


Jacob D. Bekenstein:

(...) que afirma que o Universo se comporta como um holograma:


exatamente como um jogo de luzes permite que uma imagem
tridimensional completa seja gravada num pedaço de filme plano, nosso
universo tridimensional poderia ser completamente equivalente a
campos quânticos alternativos e leis físicas pintadas numa vasta
superfície distante (BEKENSTEIN, 2003, p44)

E, ainda, o mesmo artigo nos informa que a teoria do universo holográfico é


perfeitamente plausível num modelo de universo com um espaço-tempo anti-de
Sitter, que também trabalha, na sua versão mais atualizada, com um universo 5-
D, ou seja, com cinco dimensões (idem p. 48).

Tal proposta foi apresentada por Juan Maldacena, da Harvard University,


em 1997 e ela também foi confirmada, para várias situações teóricas, por Edward
Witten, Steven S. Gubser, Igor R. Klebanov Alexander M. Polyakov, “dessa
correspondência holográfica para espaço-tempo com inúmeras dimensões”.
Tal artigo ainda relaciona o universo holográfico com a entropia dos
buracos negros, tal entropia como medida de informação (que está implícita,
matematicamente, na teoria da especial da relatividade) em que o universo é
considerado um gigantesco computador, que processa todo tipo de informação,
tendo como programa, um software baseado no modelo padrão da física. Nas
palavras dos autores do artigo:

(...) o Universo está computando a si mesmo. Movido por um software


baseado no modelo-padrão da física, o Universo computa campos
quânticos, substâncias químicas, bactérias, seres humanos, estrelas e
galáxias. À medida que computa, delineia a sua própria geometria do
espaço-tempo até a máxima precisão permitida pelas leis físicas.
Computação é existência. (LLOYD; JACK, 2004, p.57)

O artigo de Lloyd e Jack (2004, p. 55), relaciona a informação de um


buraco negro com o princípio holográfico, “o qual sugere que nosso Universo
tridimensional é de alguma forma profunda, mas insondável, bidimensional.” Isto é
muito interessante!

É claro, que tais teorias podem não representar o Universo real, ou nossa
realidade, mas são apropriadas para um maior avanço do conhecimento. Elas nos
dão indicações, de que temos que realmente dar um passo teórico a mais para
compreendermos o Universo, e dimensões adicionais certamente estão
envolvidas.

Temos assim, mais duas teorias, sendo que a primeira, a do espaço-tempo


holográfico, incorpora a informação como mais um componente da estrutura de
nosso Universo, juntamente com a matéria, a energia e o espaço-tempo, e a
segunda teoria, do universo que faz processamento (computa), demonstra que a
informação é uma característica inerente do mesmo, mas que é necessário,
também, uma dimensão adicional, no caso, uma quinta dimensão, conforme
exposto pela teoria do Universo Holográfico anti-de-Sitter 5-D.

Observo que à medida que avançava na construção deste artigo, que as


teorias físicas vão se relacionando umas com as outras, em alguns pontos
chaves, nos dando uma indicação, aparentemente, de que algo mais profundo
está unindo a matemática, principalmente aquela que trata de dimensões
superiores. Os autores do último artigo citado dizem que isso é uma unidade da
natureza e “demonstram as interconexões conceituais da física básica.” (p.57). É
uma afirmação que eu concordo.
A Teoria da Grande Unificação E8

Descobri, também, ainda relativamente à teoria de Kaluza-Klein, uma nova


conexão com outra teoria da física, agora relativamente ao Modelo-Padrão da
física de partículas, a teoria E8, proposta pelo físico A. Garrett Lisi, e publicada
em um artigo, do ano de 2007. Os físicos acreditam que essa teoria que pode,

conciliar a teoria da relatividade geral de Einstein com a teoria quântica


exigirá uma mudança radical em nossa concepção de realidade. Em
contrapartida, Lisi argumenta que a interface geométrica da física
quântica moderna pode ser ampliada para incorporar a teoria de
Einstein, levando a uma unificação da física há muito procurada. Mesmo
se Lisi estiver errado, com a teoria E8 ele foi pioneiro em mostrar
impressionantes padrões da física de partículas que qualquer teoria
unificada terá de explicar (LISI; WEATHERALL, 2007, p. 73-81).

A matemática da teoria E8 atribui uma forma geométrica às partículas e


forças do Modelo Padrão da física de partículas (como Kaluza-Klein) e também
para gravidade, descrita pela Relatividade Geral, que também aparece na
matemática da teoria de Kaluza-Klein, em que a quinta dimensão tem a forma de
um círculo minúsculo. “Kaluza-Klein sugeriram que a dimensão circular adicional
existe em todos os pontos das dimensões estendidas (...)” (GREENE, Brian,
2001, p. 214). O próprio tecido espacial é descrito por esses pequenos círculos
dimensionais. Assim, o espaço vazio, na realidade possui e é uma estrutura física,
obviamente, composta por uma forma de energia.

O que quero chamar atenção, nessa conexão, é que a ideia das fibras da
teoria E8, é antiga e foi proposta pelo matemático Hermann Weyl, em 1918, em
que os campos elétricos e magnéticos são resultado de uma geometria
matemática em forma de circulo, chamado de U(1) pelos físicos. (LISI;
WEATHERALL, 2007, p. 73-81). Tal círculo “é o exemplo mais simples de um
grupo de Lie, referindo-se ao matemático norueguês do século 19 Sophus Lie”
(idem, p.75). “Cada grupo de Lie é um emaranhado suave e multidimensional de
círculos que se interseccionam e se torcem uns em torno de outros.” (idem, p.76).
Por exemplo, “a Força Fraca está associada a um grupo de Lie tridimensional de
fibras chamado SU (2).” (Idem, p. 76). A Força Nuclear Forte, “corresponde
geometricamente a um grupo de Lie ainda maior, o SU(3).” (Idem, p. 77). Na
primeira tentativa de fazer uma teoria unificada, uma GUT, em 1973, Howard
Georgi e Sheldon Glashow, utilizaram o grupo de Lie combinado do Modelo
Padrão, dentro do grupo SU(5), como um subgrupo dele. (Idem p.78). Outra
teoria, de unificação é baseada no grupo de Lie Spin(10), que faz parte de um
grupo especial de Lie, o E6. (Idem, p.79). Existem outros grupos de Lie, o G2, F4,
E7 e E8. A gravidade é representada pelo grupo de Lie Spin(1,3), (idem, p. 80).
Por fim, uma nova teoria de Tudo da física é proposta pelos os autores do
artigo citado, resumindo o que já se conseguiu com os grupos de Lie, até o
momento:

“Com a gravidade descrita pelo Spin(1,3), e a favorecida Teoria da


Grande Unificação baseada no Spin(10), é natural combiná-las usando
um único grupo de Lie, o Spin(11,3), produzindo uma Grande Teoria da
Unificação Gravitacional – conforme introduzida no ano passado por
Roberto Percacci, da Escola Internacional para Estudos Avançados em
Trieste, e Fabrizio Nesti, da Universidade de Ferrara, ambos na Itália.
Isso nos deixa perto de uma Teoria de Tudo completa. (...) O diagrama
de peso da teoria Spin(11,3) está perfeitamente padronizado e
equilibrado. Sua simetria, assim como a GUT Spin(10), insinua uma
matemática excepcional e mais profunda. Esse elegante padrão de
partículas é parte do que, talvez, seja a mais bonita estrutura de toda a
matemática, o maior grupo de Lie excepcional simples, o E8.” (idem, p.
80).

Enfim o grupo de Lie dá sustentação à teoria E8 e possui, aparentemente,


conexões matemáticas com a teoria de Kaluza-Klein.

Outro aspecto que chama a atenção entre a teoria das cordas e a teoria
E8, é o objeto dimensional básico, proposto por Hermann Weyl, a fibra
dimensional que, na teoria das cordas, é chamado de corda vibrante, e na E8,
chamado de fibra. Ambos possuem a mesma função, só que na teoria das cordas,
eles vibram e muitos deles têm suas pontas conectadas no tecido do espaço-
tempo, e as fibras, por sua vez, são enroladas em um círculo, mas também são
conectadas ao tecido do espaço-tempo, em sua maioria. É lícito inferir, que
ambas as teorias possuem conexões matemáticas profundas, que devem ser
melhores exploradas. A dimensão espacial enrolada em círculo é composta por
alguma coisa, alguma forma de energia, do contrário, não teria existência.

A teoria da Gravidade Quântica em Loop

Outra teoria que também possui alguma semelhança com as teorias do


universo holográfico e da informação nos buracos negros, em sua essência, é a
teoria da Gravidade Quântica em Loop, proposta por Lee Smolin, Abhay Ashtekar,
Ted Jacobson e Carlo Rovelli, na década de 80, em que a estrutura do espaço-
tempo, é descrita por

diagramas de linhas e de nós chamados de redes de spin. O espaço-


tempo quântico corresponde a diagramas similares chamados de
espumas de spin.” (...) “A gravidade quântica em loop considera que o
espaço surge em volumes discretos, o menor dos quais é um
-99
comprimento de Planck cúbico 10 cm3. O tempo transcorre em
intervalos discretos de cerca de um intervalo de Planck, ou seja, 10-43
segundos. (SMOLIN; 2004, 2002, p.58).

O interessante desta teoria é que as mínimas estruturas do espaço-tempo


que ela apresenta, tem a forma de pequenos laços, loops, que podem se
relacionar, através de nós, ligações e dobras (SMOLIN; 2004, 2002, p.137). E ela
também faz a unificação entre a gravidade e a Mecânica Quântica, revelando que
a estrutura do espaço-tempo, não é mais contínua, mas que se apresenta em
pequenos átomos de espaço-tempo, que assumem a forma de redes de spin, que
é a própria estrutura do espaço-tempo. Só que aqui é uma rede, ao invés de
círculos dimensionais, como na teoria de Kaluza-Klein. O que elas têm em
comum, é o próprio tecido espacial, e suas formas de representação.

Essa estrutura descontínua para o espaço-tempo proposta pela teoria da


Gravidade Quântica em Loop é semelhante à proposta por Kaluza-Klein, para
unificar, via geometria, o eletromagnetismo e a gravidade, com a quinta
dimensão, em forma de círculo ou anel compactado, donde se infere, também
torna a estrutura do espaço-tempo descontínua. Ressalte-se também, a
semelhança dos laços da primeira em relação ao círculo da segunda teoria.
Obviamente, a comparação é por mera semelhança dos objetos dimensionais,
pois não são iguais, formalmente.

Perspectivas futuras – teste das evidências das dimensões superiores

A proposta de que o emaranhamento quântico é uma evidência de uma


dimensão superior, e não apenas uma semelhança matemática entre as teorias,
acredito, pode ser testada, e qualquer que seja o resultado, a relação custo-
benefício deve compensar e permitir um maior avanço da Ciência. Senão,
vejamos:

a) Elaborar e fazer uma experiência de emaranhamento quântico que ainda


nunca foi feita, pela escala das distâncias envolvidas, (pois deve ter um
custo muito elevado): emaranhar átomos ou elétrons, que estejam na Terra
com outros em órbita da Lua, ou mesmo em sua superfície, sendo que a
distância média envolvida é de cerca de 380 mil quilômetros, o dobro, para
uma viagem de ida e volta do sinal enviado e recebido via emaranhamento.
O tempo de resposta, obedecendo à velocidade da luz, será de pelo menos
2,53 segundos;
i. Caso a resposta do sinal enviado, seja imediata, ou seja, tempo t=0
(zero), teremos como resultado, que a quinta dimensão não
obedece às leis do espaço-tempo quadridimensional;
ii. Caso contrário, teremos a conclusão, de que pelo menos, em
relação à quinta dimensão, existe o respeito às leis do espaço-
tempo quadridimensional, relativamente à velocidade da luz;
iii. Se a resposta for t=0, teremos inaugurado uma nova era nas
comunicações, abrindo a perspectiva de comunicação
interplanetária e interestelar em tempo zero, on-line. Um grande
avanço tecnológico para as futuras viagens interplanetárias, e outras
possíveis utilidades da descoberta.
b) Mesmo que a resposta seja a “ii” acima, a análise efetuada neste artigo,
relativamente às diversas teorias que envolvem uma quinta dimensão, por
sí só, já vale a pena um aprofundamento na direção de sua demonstração
ou comprovação, da quinta dimensão, pois de acordo com o que
analisamos a semelhança neste aspecto, denota uma realidade subjacente
às diversas teorias citadas, e a física teórica teria muito avançar na
compreensão última da natureza de nossa realidade.
c) Poderíamos ainda, especular, que uma quinta dimensão poderia estar
envolvida na questão das duas outras famílias de partículas, as
superpartículas, previstas pela teoria do Modelo Padrão da física de
partículas, mas que até agora não foram encontradas; ou ainda poderia
explicar melhor algumas esquisitices observadas pela Mecânica Quântica;
talvez, ainda, a Teoria da Grande Unificação necessite das dimensões
superiores para ser elaborada, tal qual fizeram Kaluza-Klein, no século
passado, na sua proposta de unificação da gravidade com o
eletromagnetismo e como a teoria das supercordas está fazendo (inclusive
nas versões de 10 e 11 dimensões).

Em meu entendimento, não existe coincidência em teoria científica, mas é


evidência de ligações mais profundas no objeto de estudo. A conexão entre as
diversas teorias físicas e evento do emaranhamento apontam, sem dúvida, para a
uma realidade subjacente, que deve ser melhor explorada em um projeto de
pesquisa amplo, para eliminar eventuais dúvidas ainda persistentes e revelar as
conexões eventualmente existentes.

É claro que se as informações que Subir Sachdev e sua equipe,


apresentaram no artigo dele que estamos tratando, for realmente uma evidência
da existência de pelo menos mais uma dimensão, tal feito seria digno de um
Prêmio Nobel, pois é a evidência física que a teoria das cordas e outras teorias
que trabalharam com dimensões superiores precisavam para serem melhores
exploradas e consideradas. Seria um enorme avanço para a Ciência e para a
Física, particularmente para o segmento que trata das fronteiras de nossa
realidade.

O fato relevante deste artigo, é que, aparentemente, Subir Sachdev, não


considerou a relação entre a matemática de dimensões superiores (que explica o
fenômeno de entrelaçamento/emaranhamento quântico) e o fenômeno físico do
emaranhamento em sí, este último, em contrapartida à interpretação matemática,
como uma evidência da existência da própria dimensão superior. Algo para mim
desconcertante!

O teste sugerido no item “a” acima pode abrir novas perspectivas em


transmissão de dados, caso a transmissão, via quinta dimensão, que
especulamos, não obedeça às leis do espaço-tempo quadridimensional,
especialmente, a velocidade da luz.

Sempre é interessante garimpar o conhecimento e buscar novos


vislumbres da realidade, mesmo que os caminhos tomados possam levar a
estradas de terra e pontilhões caídos e tenhamos que retornar por onde viemos e
fazer novas escolhas. Navegar por mares novos e antigos sempre é um desafio
ao intelecto humano, e ficamos muito felizes quando avistamos novas terras e
temos um vislumbre de novas possibilidades. Foi muito interessante e estimulante
elaborar este artigo!

Espero que o conhecimento progrida com esta nova possibilidade: a


evidência física de uma quinta dimensão.

REFERÊNCIAS

BEKENSTEIN, Jacob D. Informação no universo holográfico. Scientific American


Brasil, São Paulo, ano 2, n. 16, p. 42-49, set. 2003.

BOUSSO, Raphel; POLCHINSKI, Joseph. O Panorama da Teoria das Cordas.


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GREENE, Brian. A realidade oculta. São Paulo: Schwarcz Ltda, Companhia das
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LISI, A. Garret; WEATHERALL, James Owen. Uma teoria de tudo geométrica.


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LLOYD, Seth; JACK, Ng Y. Computador buraco negro. Scientific American Brasil,
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ROMERO FILHO, Carlos Augusto. As dimensões escondidas no universo.


Disponível em: <http://areaconfidencial.blogspot.com.br/2008/12/ser-que-vivemos-
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SACHDEV, Subir. Estranho e filamentoso. Scientific American Brasil, São Paulo,


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SMOLIN, Lee. Átomos de espaço e tempo. Scientific American Brasil, São Paulo,
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