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A verdade é que não se pode dizer, neste início do século XXI, se a teoria de
supercordas ou de supergravidade são viáveis ou não como teorias da física.
Ambas lidam com um aparato matemático extremamente complicado, o que faz
com que muitos físicos as considerem com certa desconfiança. Afinal, as leis da
Natureza, como acreditava o físico inglês Paul Dirac (1902-1984), deveriam ser
descritas por uma matemática simples e elegante.... Além disso, dez ou onze são
muito mais dimensões para digerir do que as cinco da teoria de Kaluza-Klein.
Qualquer tentativa de explicar por que existem tantas dimensões escondidas,
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não observáveis diretamente, sempre pode parecer um tanto artificial, ou, pelo
menos, ad hoc, do ponto de vista epistemológico.
Para tentar explicar o fato de que até agora não se observou nenhuma dimensão
além das quatro do espaço-tempo tem-se postulado que as dimensões extras, isto
é, as dimensões escondidas do Universo, são minúsculas e se curvam sobre si
mesmas. Na terminologia matemática, diz-se que essas dimensões são compactas.
Recentemente, uma nova versão não-compacta da teoria de Kaluza-Klein foi
sugerida pelo físico inglês Paul Wesson, da Universidade de Waterloo, no Canadá.
Nos modelos cosmológicos propostos por Wesson o Universo em que vivemos tem
cinco dimensões, sendo que a quinta dimensão, não-compacta, é a responsável pela
existência da matéria. Em outras palavras, o que chamamos de matéria seria, em
última instância, meramente geometria, a qual se manifesta como substância
quando observada por seres que vivem numa hipersuperficie de quatro dimensões.
Teorias que postulam a existência de tais hipersuperfícies são conhecidas pelos
matemáticos pelo nome de teorias de imersão. O nome é sugestivo, pois a idéia é
que o universo que observamos fisicamente estaria imerso num Universo maior,
de cinco dimensões.
Uma outra teoria de imersão que surgiu no apagar das luzes do século XX deve-
se aos físicos Lisa Randall, da Universidade de Princeton, e Raman Sundrum, da
Universidade de Boston. Conhecida simplesmente como o modelo de Randall-
Sundrum, essa teoria também considera que vivemos sobre uma hipersuperfície
de um espaço-tempo maior, de cinco dimensões. O interessante é notar que tanto
Wesson como Randall-Sundrum se utilizam de todo o formalismo matemático
desenvolvido por Einstein, em sua teoria da relatividade geral, mudando apenas a
dimensionalidade, que passa a ser cinco.
Desde o momento em que a física “virou” geometria, os físicos passaram a ter que
pagar um tributo aos geômetras. Por exemplo, não é permitido ao físico construir
uma teoria baseada num modelo geométrico sem antes saber se esse modelo é
consistente com os teoremas fundamentais da geometria. Vejamos então o que
sucede com as chamadas teorias de imersão. Quando Wesson publicou sua teoria,
que pretendia geometrizar a matéria, o mecanismo matemático pelo qual se fazia
a imersão em cinco dimensões era apenas uma conjectura, não estava garantido
por um teorema conhecido. Para felicidade de Wesson, todavia, descobriu-se que
o teorema necessário para garantir a consistência de suas idéias já havia sido
demonstrado por um obscuro matemático inglês, Campbell, em 1926, e publicado
postumamente num pequeno livro de geometria diferencial.