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Universidade Federal do Pará

Faculdade de Artes Visuais


Programa de Graduação em Museologia
Disciplina: Antropologia das populações brasileiras
Docente: Prof. Hugo Menezes
Discente: João Vitor Correa Diniz

ANDRADE, Eduardo Gonçalves. “Futebol, metáfora da vida”. In: BOTELHO, A. e


SCHWARCZ, L. M. (orgs.), Agenda brasileira: temas de uma sociedade em mudança. São
Paulo: Companhia das Letras: 214-223. 2014.

Eduardo Gonçalves de Andrade, conhecido como Tostão. Nascido em Belo Horizonte, 25


de Janeironde 1947, é um ex-jogador de futebol. Com passagem por vários clubes de renome
nacional como Cruzeiro e Vasco da Gama, inclusive jogou pela seleção brasileira em 1966. É
considerado um dos grandes jogadores do futebol nacional e internacional.
O autor afirma sobre a variedade de perspectivas sobe o futebol: “O futebol pode ser
visto, analisado, admirado e imaginado de diferentes maneiras. Essa multiplicidade de olhares, a
beleza do jogo e a presença marcante e frequente do imponderável fazem do futebol o esporte
mais popular, mais emocionante e mais surpreendente do mundo” (p.216).
E continua: “Pode ser visto como um jogo de habilidade, de criatividade e de fantasia; um
jogo técnico, científico, pragmático e planejado; uma disputa corporal e de força física; um balé;
uma metáfora da vida, com seus dramas, dualidades e emoções; um grande negócio (cada vez
mais); um entretenimento; uma catarse para os torcedores; uma manifestação cultural, política e
sociológica; de todas essas formas e de outras que se possa imaginar” (p.216).
Mesmo tendo origens europeias, o futebol brasileiro tem suas raízes na hibridização
étnica do país: “A miscigenação do povo brasileiro foi um fator decisivo para o crescimento
técnico do futebol-arte, tão admirado em todo o mundo” (p.216).
Aponta-se para as metáforas do jogo com a vida quando começa a falar sobre elementos
como o drible, individualismo, habilidade, e o passe, coletivo, a técnica: “Dos fundamento
básicos (passe, drible, finalização, desarme), o drible é o mais representativo da habilidade [...] O
drible, característica do futebol brasileiro, tem um muito a ver com a ginga com a dança e com a
origem multirracial [...] O passe é o fundamento técnico mais representativo do jogo coletivo e
planejado” (p.217).
O autor inicia seu texto falando sobre o desejo, dos sujeitos envolvidos com o futebol, em
torná-lo mais técnico, previsível: “O sonho dos treinadores, de todo o mundo, de parte da
imprensa e de todos os pragmáticos e apaixonados pelo cientificismo, é transformar o futebol em
um esporte cada vez mais técnico, programado, racional, de jogadas ensaiadas e repetidas, como
o vôlei e outros esportes. Ficaria mais fácil de ser analisado [...]” (p.218).
Eduardo Andrade (Tostão) (2014) faz referencia ao desempenho e notoriedade que a
seleção brasileira que jogou pela Copa de 1970 teve, devido à desenvoltura técnica e física dos
jogadores, posteriormente destaca: “Hoje, com a globalização e a valorização do futebol técnico
e programado, há, cada vez menos, diferença entre o estilo brasileiro e sul-americano e o estilo
europeu. Os brasileiros copiaram o pragmatismo europeu, e estes aprenderam com a fantasia e a
criatividade do brasileiro. Levaram vantagem” (p.218).
Todavia, apesar desta busca pelo controle e projeção deste esporte, o imprevisível,
imponderável (nas palavras do autor) é um dos elementos regentes de uma partida: “Por mais
que o futebol se torne pragmático e programado, ele nunca estará livre do imponderável. Esse
fator é determinante no resultado das partidas entre dois times do mesmo nível. O imponderável
não tem nada a ver com o mistério e com o estranho. É a presença marcante e frequente de fatos
comuns, que não sabemos onde e quando vão acontecer. O imponderável não torce nem é justo.
Acontece” (pp.218-219).
Alguns fatores deste imponderável estão relacionados à falta (ou resistência por parte dos
técnicos e atletas) de um acompanhamento psicológico, que possa resistir aos bloqueios
machistas, e seja entendido como um “treino” tão importante quanto o físico: “No mundo do
futebol, pragmático, operatório e utilitário, as emoções dos atletas são pouco valorizadas. Acham
que o jogador é feito somente por músculos, ossos, tendões, cartilagens e outras estruturas
anatômicas” (p.219).
O técnico mostra-se como um importante personagem no tipo de motivação e formação
do perfil destes jogares: “Treinadores, mesmo quando não têm consciência de suas atitudes e/ou
não são explícitos, muitas vezes estimulam a violência e os valores antiéticos [...]” (p.221).
Gonçalves continua com falas sobre a metáfora do jogo: “Como na vida, há geralmente
uma conciliação entre o principio do prazer e o principio da realidade, entre a ambição e o
altruísmo” (p.222).
Ao finalizar sua fala, o autor comenta: “[...] o esporte é visto com preconceito por muitos
intelectuais, como uma atividade menor, quase que somente física e corporal, com pouca
participação do intelecto e da razão” (p.223).

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