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Dificuldades e Elementos Priorizados no Planejamento Tributário: Análise a Partir da

Percepção dos Profissionais da Contabilidade

MAIANE BARBOSA
Centro Universitário Campos de Andrade - UNIANDRADE
STEPHANIE MACIEL RIECHTER
Centro Universitário Campos de Andrade - UNIANDRADE
ANTÔNIO NADSON MASCARENHAS SOUZA
Universidade Federal Paraná - UFPR
ALISON MARTINS MEURER
Universidade Federal Paraná - UFPR

Resumo

Este estudo objetiva analisar a relação existente entre as dificuldades e os elementos


priorizados no planejamento tributário a partir da percepção dos profissionais da
Contabilidade. A coleta de dados foi realizada por meio de levantamento, sendo obtidas 81
participações válidas para serem analisadas a partir de estatística descritiva e correlação de
Spearman. Os resultados indicaram que os elementos priorizados com maior média de
importância versam sobre o faturamento da empresa e a complexidade da legislação tributária,
enquanto os com menor média tratam das pressões realizadas sobre os fornecedores ou
sofridas de clientes para emissão de documentos fiscais que possibilitam o aproveitamento de
créditos tributários. Referente as dificuldades no processo de planejamento tributária as
maiores médias pairam em capacitar os profissionais para compreender a legislação vigente.
Além disso, foram identificadas associações positivas e negativas entre as dificuldades e os
elementos priorizados no planejamento tributário. Lidar com a responsabilidade solidária em
relação as informações disponibilizadas ao Fisco foi positivamente correlacionado com
capacitar o pessoal e possuir estrutura organizacional para a realização das atividades
tributárias. Identificou-se associação negativa entre atuar conforme a ética profissional e
priorizar o aproveitamento de crédito tributário e o faturamento dos últimos meses da
organização. Nota-se que os profissionais priorizam a capacitação de pessoal com intuito de
compreender a complexa legislação tributária brasileira. Ao priorizar a atuação conforme a
ética profissional os respondentes podem deixar de priorizar o controle sobre o faturamento
das organizações e o aproveitamento de crédito tributário, à medida que algumas ações não
previstas na legislação criam um ambiente de incertezas que pode gerar em ônus e se
configurar em atos ilícitos. Por fim, destaca-se a importância da capacitação profissional, pois
ao dominar o conhecimento tributário são minimizados os riscos de atos ilícitos, efetuando-se
um planejamento tributário coerente com as práticas organizacionais legalmente aceitas.
Palavras chave: Planejamento Tributário, Sistema Tributário, Dificuldades, Elementos
Priorizados, Profissionais da Contabilidade.
.

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1 INTRODUÇÃO
O ambiente tributário brasileiro tem sido caracterizado por sua complexidade e
elevada carga tributária (Fonseca, Vale Júnior, & Andrade, 2017; Potin, Silva, Reina, & Sarlo,
2016). Apesar de existirem evidências contrárias que apontam consonância da carga tributária
brasileira em comparação a outros países (Pêgas, 2017) sabe-se que a sua configuração,
principalmente pela maior taxação sobre as atividades de consumo, ainda representa um
entrave para as atividades empresariais e para o crescimento econômico do país (Fonseca et
al., 2017; Pêgas, 2017).
O atual Sistema Tributário Nacional (STN) foi instituído por meio da Emenda
Constitucional nº 18, de 1° de dezembro de 1965, a qual dispôs sua composição em impostos,
taxas e contribuições de melhoria. A criação do STN foi proposta a fim de auxiliar a resolução
de problemas na estruturação tributária e para trazer uma nova visão aos conceitos tributários,
devido a Constituição de 1946 não ser tão abrangente neste tema (Lima & Rezende, 2006).
Passados mais de 50 anos após a instituição do STN, houveram inúmeras
modificações realizadas em sua estrutura normativa. Em 2018, o Instituto Brasileiro de
Planejamento e Tributação (IBPT) realizou um levantamento da quantidade de normas
editadas no Brasil após a Constituição Federal de 1988. Os achados indicaram que foram
editadas mais de 5,9 milhões de normas, sendo que cerca de 390 mil correspondem a matéria
tributária (Amaral, Olenike, Amaral, Yazbek & Steinbruch, 2018). O fato de atualmente no
Brasil existirem mais de noventa tributos, entre suas três formas de composição, sendo elas
impostos, taxas e contribuições, faz com que a regulação e controle dos tributos seja
complexa e burocrática (IBPT, 2017).
Outros estudos e análises também indicam evidências sobre a complexibilidade do
ambiente tributário brasileiro, por exemplo, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking de
países com maior complexidade financeira no que diz respeito às obrigações contábeis e
fiscais (TMF Group; 2017), além de ser o com maior tempo demandado pelos colaboradores
da área tributária para cumprir obrigações burocráticas com recolhimentos (IPBT, 2017).
Em termos operacionais, o Código Tributário Nacional (CTN) divide a obrigação
tributária entre principal e acessória, que envolvem sujeitos ativos e passivos (Lei 5.172,
1966). Neste contexto, como sujeito passivo há o contribuinte e sujeito ativo tem-se a Receita
Federal do Brasil (RFB), enquanto a obrigação principal é consubstanciada no recolhimento
dos tributos e a acessória na prestação de informações aos entes governamentais (Pêgas,
2017). A Receita Federal do Brasil tem aprimorado medidas para que as informações
coletadas por meio destas obrigações proporcionem cada vez mais transparência e
tempestividade ao processo de fiscalização. Este processo é realizado por meio do Sistema
Público de Escrituração Digital (SPED) que cruza diversas informações, o qual gera aversão
aos contribuintes que tenham o intuito de fraudar as informações tributárias prestadas aos
entes governamentais (Geron, Finatelli, Faria, & Romeiro, 2011; Mahle & Santana, 2009;
Silva Filho, Leite Filho, & Pereira, 2015). Nessa conjuntura, é importante realizar o controle
dos tributos de forma cautelosa, observando além das vantagens estratégicas a licitude das
ações.
Como consequência deste ambiente normativo e dispendioso, as empresas têm
necessidade de diminuírem os custos das suas operações a fim de maximizar seus lucros,
sendo que uma das maneiras de promover essa ação é por meio do planejamento tributário. O
planejamento tributário é responsável pela análise dos sistemas de leis que visam à redução do
pagamento de tributos a partir da elisão fiscal, dentro das oportunidades legais, auxiliando as
empresas a planejar a forma de realizar suas atividades ao mesmo tempo que diminui os
percentuais de tributos incidentes em suas operações. (Maggi, 2009).
No desenvolvimento do planejamento tributário são analisadas diversas características
da empresa, sendo considerada toda a legislação vigente e demais aspectos legais para

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redução ou postergação dos tributos existentes, além de analisar as necessidades do
contribuinte em termos de custos e porte (Fonseca et al., 2017).
Nesse contexto, alguns elementos acabam sendo priorizados durante a estruturação do
planejamento tributário e algumas dificuldades podem surgir no decorrer deste processo. Por
exemplo, as características da empresa, como setor, porte da empresa e aproveitamento de
créditos tributários, devem ser considerados durante o planejamento tributário, bem como a
complexidade e demandas de controles do regime tributário a ser escolhido.
Logo, reconhecendo a relevância e os desafios que permeiam o planejamento
tributário este estudo tem o intuito de responder a seguinte questão de pesquisa: qual a
relação existente entre as dificuldades e os elementos priorizados no planejamento tributário
a partir da percepção dos profissionais da Contabilidade? O objetivo desta pesquisa consiste
em analisar a relação existente entre as dificuldades e os elementos priorizados no
planejamento tributário a partir da percepção dos profissionais da Contabilidade. Opta-se por
analisar a percepção destes profissionais, à medida que os contadores possuem papel
fundamental e formação acadêmica para realizar o planejamento tributário.
Silva (2016) expõe que ao abordar o ambiente tributário pode-se fornecer
introspecções sobre como as atividades empresariais são afetadas por aspectos fiscais. Nessa
conjuntura, este estudo justifica-se nos âmbitos profissional, social e acadêmico. No âmbito
profissional tem-se a possibilidade de auxiliar os profissionais da área Contábil no
desenvolvimento de suas atividades referentes ao planejamento tributário, no que diz respeito
às oportunidades, dificuldades e riscos. No âmbito social esta pesquisa contribui ao abordar a
área tributária, pois fornece evidências de um cenário que afeta diretamente a vida de todos os
contribuintes, que é a arrecadação tributária. Por fim, no âmbito acadêmico colabora-se ao
direcionar esforços para a identificação das principais dificuldades e elementos priorizados no
planejamento tributário, indicando a relação e apontando aspectos que podem ser aprimorados
neste processo.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Planejamento Tributário
Na literatura é possível identificar diversos conceitos de planejamento tributário. Para
Greco (2008) o planejamento tributário consiste em um conjunto de ações que o sujeito
passivo pode aderir para alcançar de forma lícita à redução das despesas ocasionadas pelos
tributos incidentes em suas operações. Já Corrêa (2006) define o planejamento tributário
como um estudo realizado para uma determinada organização, que possui como premissa a
garantia de economia tributária com total compatibilidade às normas do Sistema Tributário
Nacional.
Borges (2014) chama a atenção para um ponto importante referente ao planejamento
tributário em que ao escolher os procedimentos a serem adotados para a diminuição de
despesas tributárias não basta focar somente em ideias inovadoras. O autor destaca a
necessidade de utilizar como objeto principal da operação, a observação das demais
organizações que já efetuam o planejamento tributário, obtendo assim segurança para a
redução efetiva dos tributos.
Vinculado a esta concepção Shackelford e Shevlin (2001) destacam que para alcançar
o resultado esperado os envolvidos na elaboração do planejamento devem considerar três
pontos do conceito de gestão tributária, sendo eles: (I) todas as partes; (II) todos os tributos; e
(III) todos os custos. Estes pontos são essenciais, pois deve-se ponderar todos os envolvidos
nas transações da empresa, bem como os tributos diretos e indiretos. Por também
representarem custos, é importante considerar todos os valores empregados para a
reestruturação da empresa no momento da realização do planejamento tributário.

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As legislações apresentam diversas lacunas que possibilitam aos contribuintes atuarem
de forma lícita ou ilícita para reduzirem os desembolsos financeiros com obrigações
tributárias. Cabe destacar que os atos ilícitos não configuram atos de planejamento tributário e
são considerados crime, pois de acordo com a Lei 12.846/13 a organização e os responsáveis
responderão civil e administrativamente por atos ilícitos inerentes a tributação.

2.2 Dificuldades Encontradas para Realizar o Planejamento Tributário


Além das considerações sobre a alta carga tributária brasileira, argumenta-se que a
estrutura do Sistema Tributário Nacional é sobretudo complexa, o que contribui para dificultar
a realização do planejamento tributário e a gestão dos tributos pelas empresas. Olenike (2001)
relata que entre as dificuldades predominantes dos profissionais de Contabilidade está a
dinamicidade da legislação, seja para manter-se atualizado, consequência da ocupação
principal de coordenar e operacionalizar a Contabilidade, como pela falta de tempo para
atualizar-se constantemente, dificultando o desenvolvimento de um planejamento tributário
adequado.
Nazário, Mendes e Aquino (2008) discorrem sobre o conhecimento abrangente que o
profissional da área Contábil deve possuir. É necessário agregar valor ao trabalho realizado,
adquirir novos conhecimentos e tornar-se um profissional competitivo. Os autores
argumentam que os estudos, em sua maioria, estão direcionados a examinar o planejamento
para redução dos custos tributários das organizações, mas não contestam a capacidade dos
profissionais que o efetuam, podendo acarretar em ônus futuros. Por este motivo é necessário
ao profissional responsável pela área tributária manter-se atualizado quanto às normas e suas
alterações, a fim de saber tratar as situações em que a lei se difere da doutrina, contexto em
que se encaixa a elisão fiscal.
Althof e Domingues (2008) destacam a apreensão com a formação dos estudantes da
área Contábil para enfrentar estes desafios, à medida que as matérias curriculares abordam a
Contabilidade e a legislação tributária de forma generalizada. Os estudantes da área costumam
avaliar o STN negativamente, não atribuindo a real importância do entendimento da matéria
tributária para o exercício da profissão e optando por não acompanhar as mudanças na
legislação tributária (Nazário, Mendes & Aquino, 2008).
Nessa conjuntura, Conceição, Silveira, Sato e Rahrneier (2017) evidenciam que os
profissionais ativos no mercado de trabalho estão em busca de aperfeiçoamento para que os
processos tributários sejam concluídos com precisão e de acordo com as normas e legislações
vigentes, a fim de evitar possíveis penalidades, como as sanções pecuniárias. A expectativa
sobre estes profissionais é de que estejam a par das atualizações realizadas pelos órgãos
competentes, assim como sejam capazes de resolver possíveis dificuldades ligadas ao
cumprimento da legislação aplicando seus conhecimentos em conformidade com a ética
profissional. Araújo (2018) descreve que a origem da internet impulsionou consideravelmente
o desenvolvimento de novas tecnologias, caracterizando-se como a 4º Revolução Industrial,
tornando os procedimentos relacionados à área tributária cada vez mais complexos.
Por sua vez, Conceição et al. (2017) cita que a Receita Federal do Brasil e outros
órgãos fiscalizadores vêm desenvolvendo novas ferramentas e obrigações a serem seguidas
pelos contribuintes. Os profissionais contábeis em virtude destes novos cenários se veem
responsáveis por instruir seus clientes quanto às informações que compõem a estrutura das
declarações, empregando tempo que poderia ser utilizado no estudo do planejamento
tributário para cumprir obrigações acessórias.
Em 2007 o Brasil implantou o Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) por
meio do Decreto nº 6.022. Este sistema é composto por diversos elementos, dentre os quais
destacam-se: (I) Nota Fiscal Eletrônica (NF-e); (II) Escrituração Contábil Digital (ECD); e
(III) Escrituração Fiscal Digital (EFD). De acordo com o portal do Sistema de Escrituração

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Publica (SPED) (2018), este sistema possui diversos benefícios para os usuários, entre eles:
(I) Diminuição do consumo de papel, com redução de custos e preservação do meio ambiente;
(II) Redução de custos com a racionalização e simplificação das obrigações acessórias; (III)
Uniformização das informações prestadas a diversos órgãos governamentais pelos
contribuintes; (IV) Redução do envolvimento involuntário em práticas fraudulentas e do
tempo despendido para atendimento dos auditores fiscais; (V) Simplificação e maior agilidade
nos procedimentos sujeitos ao controle da administração tributária, fortalecendo o controle
e fiscalização com as trocas de informações entre as administrações tributárias; e (VI)
Rapidez no acesso às informações, aumentando a produtividade dos auditores com a
eliminação da coleta de arquivos; (VII) Possibilidade de troca de informações entre os
próprios contribuintes a partir de um leiaute padrão; (VIII) Redução de custos administrativos
e do "Custo Brasil"; (IX) Melhoria da qualidade da informação, possibilitando o cruzamento
entre os dados contábeis e os fiscais, aperfeiçoando o combate à sonegação; e a (X)
Disponibilidade de cópias autênticas e válidas da escrituração para usos distintos e
concomitantes.
Guerra e Gouveia (2018) relatam que quanto mais ativa for a fiscalização, mais ela
permitirá o cruzamento de informações de forma detalhada e garantirá o funcionamento da
auditoria eletrônica. Assim, o SPED teria surgido com o intuito de padronizar, racionalizar e
uniformizar a integração dos órgãos fiscalizadores da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios com relação ao compartilhamento das informações fiscais por meio das
declarações acessórias, facilitando a atuação destes órgãos frente às atividades ilícitas
encontradas.
No entanto, Jacinto e Rodrigues (2011) apontam o aumento da responsabilidade por
parte dos profissionais contábeis após o SPED, pois as informações são confrontadas com
outras obrigações acessórias, o que pode ocasionar ônus para as empresas caso a fiscalização
detecte alguma divergência. De acordo com Manoel, Oliveira, Pereira e Mata (2015) este
movimento da contabilidade digital gerou o surgimento de novos ramos específicos de
atuação, além de exigir um preparo maior por parte dos profissionais atuantes e por obrigá-los
a dedicar mais tempo para o envio de obrigações acessórias.
Os artigos nº 1.117 e 1.118 do Novo Código Civil instituem que o profissional
contábil é solidariamente responsável por todas as ações executadas pela empresa sob sua
responsabilidade. Modim e Furtado (2013) discorrem também sobre a necessidade de
compreensão integral do sistema SPED por parte do empresário. Sendo assim, para que
eventuais transtornos com o Fisco sejam evitados, estes devem estar atentos aos prazos, saber
se está obrigado a cumprir tal obrigação, identificar os departamentos envolvidos na
implantação e conhecer os riscos e penalidades que envolvem cada operação.
Fernandes (2012) realizou um levantamento com 21 profissionais do setor contábil por
meio de questionário, a fim de estimar quais seriam os principais contratempos no processo de
implantação do sistema SPED. Identificou-se que 70% consideram a falta de conhecimento
técnico da equipe ou de determinado usuário como uma dificuldade para adaptação ao SPED;
43% apontaram o processo de emissão do certificado digital como dificultoso pelo custo e
burocracia envolvida; 48% alegaram como uma dificuldade a interpretação da legislação;
38% dos entrevistados responderam que o custo da implantação de sistemas mais eficientes
para atender as obrigações acessórias é muito alto, por exigir profissionais bem qualificados;
43% afirmaram que as informações fornecidas pelos softwares não estão totalmente coerentes
com as reais; e 57% destes profissionais consideram os prazos determinados inadequados para
realizar todos os processos de escrituração e ainda encaminhá-los ao Fisco.
Assim, entre as principais dificuldades que permeiam o planejamento tributário pode-
se destacar o a complexidade e o domínio da legislação tributária (Olenike, 2001; Nazário et
al., 2008), adaptação as obrigações acessórias e as novas tecnologias (Althof & Domingues,

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2008; Fernandes, 2012), bem como ter capacitação constante frente as mudanças que ocorrem
nesta área de atuação (Fernandes, 2012; Conceição et al., 2017).

2.3 Elementos Priorizados na Elaboração do Planejamento Tributário


A governança corporativa pode ser definida como o agrupamento de procedimentos
que direcionam as tomadas de decisão e maximizam o capital da empresa, bem como o
retorno de longo prazo aos acionistas (Silveira, 2015). Vieira (2011) afirma que as boas
práticas da governança contribuem para o aperfeiçoamento empresarial e desempenho
financeiro. O Comitê de Governança Tributária é o elemento relevante para as organizações
que aderem as boas práticas da governança, seu objetivo principal é formular regras que
reduzam os riscos tributários e maximizam a lucratividade, mediante oportunidades lícitas e
éticas para diminuição da despesa com tributos. Após estarem devidamente formalizadas, as
regras devem ser seguidas continuamente, e para isso é necessário que haja compliance dentro
da organização (Governança Tributária, 2015).
Um dos elementos que podem ser observados pelo Comitê de Governança Tributária
ou pelo responsável pelo planejamento tributário são os incentivos fiscais. As obrigações
tributárias representam um fardo para as organizações, e como ação contrária, que reduz os
custos fiscais, as empresas podem se beneficiar ou ser incentivadas por supressões ou
reduções do percentual de determinados tributos. Existem diversas maneiras de incentivos
e/ou benefícios, as mais comuns são isenções, remissão, anistia, créditos tributários, e
reduções de alíquota ou base de cálculo, não há uma disposição específica caracterizando
todas as formas, o que possibilita utilizar-se de diversos destes recursos (Neto, 2012).
Neto (2012) reforça que o responsável pelo planejamento tributário deve estar atento
em definir as melhores ferramentas e processos para gestão dos tributos incidentes nas
operações, pois além do não recolhimento eventual, o recolhimento voluntário de determinado
tributo impacta os resultados organizacionais e é oriundo do mau gerenciamento da
tributação.
Harada (2011) expõe que o conceito de incentivo fiscal pertence à ciência das
finanças, e tem como objetivo o desenvolvimento econômico de certa região ou setor de
atividade. Este benefício acarreta em perdas na receita pública de espécie compulsória ou por
supressão da exigibilidade de tributos, tendo como um de seus mecanismos a renúncia fiscal
por parte do governo diante de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (Oliveira,
2013). Entre os exemplos de incentivos fiscais pode-se destacar a Lei do Bem, regulamentada
pela Lei 11.196/2005, e criada com intuito de promover o desenvolvimento tecnológico e
consolidar os incentivos fiscais que podem ser utilizados pelas empresas que se enquadram
neste contexto.
Fonseca et al. (2017) cita que o porte e a atividade comercial da empresa também deve
ser observado no momento da realização do planejamento tributário, pois algumas atividades
podem não ser enquadradas por determinados regimes de tributação. Silva (2016) observa que
a complexibilidade do ambiente tributário e as políticas governamentais são determinantes do
planejamento tributário, sendo elementos observados no decorrer do processo.
Iudicibus e Marion (2008) defende que o avanço da Contabilidade está diretamente
ligado ao grau de desenvolvimento da sociedade quanto à tecnologia e economia. Segundo
Mahle e Santana (2009), quando há um ambiente mais desenvolvido o contribuinte e o Fisco
conseguem acompanhar as informações de forma tempestiva e simplificada. Desta forma, a
evolução contábil acompanha o progresso político, econômico e social, por isso a era digital
gera tantos impactos nos processos contábeis, exigindo das empresas renovações constantes
na maneira de realizar seu gerenciamento (Silva & Martins, 2007), sendo os custos
operacionais e a tecnologia elementos que colaboram para a adequação do planejamento
tributário.

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Logo, boas práticas de governança corporativa (Governança Tributária, 2015),
incentivos fiscais (Neto, 2012), porte e atividade comercial (Fonseca et al., 2017),
complexidade da legislação tributária (Silva, 2016) e custos operacionais e tecnológicos
(Potin et al., 2016) podem ser priorizados e ter nível de importância distintos no decorrer do
planejamento tributário.

3 METODOLOGIA
Este estudo classifica-se como descritivo, a abordagem do problema é quantitativa,
tendo como finalidade analisar relação entre as dificuldades e elementos priorizados no
planejamento tributário a partir da percepção dos profissionais da Contabilidade. Dessa forma,
a população constitui-se por profissionais que detêm entendimento e experiência na sua
elaboração. As participações foram obtidas a partir de levantamento operacionalizado por
meio de questionário disponibilizado de modo on-line, divulgado por e-mails, redes sociais e
com coleta de dados in loco.
Este instrumento foi dividido em três blocos, sendo: Bloco I - a classificação do grau
de importância dos elementos priorizados no planejamento tributário, sendo composto por 15
assertivas; Bloco II - a classificação do grau de dificuldades no planejamento tributário,
composto por 18 assertivas; e Bloco III - perfil dos respondentes, composto por nove questões
para caracterização da amostra. As assertivas dos Blocos I e II foram elaboradas a partir das
evidências apresentadas em estudos anteriores e foram mensuradas por meio de escala
numérica de 10 pontos, sendo “0 = Pouco importante” a “10 = Muito importante” para o
Bloco I e “0 = Pouco difícil” e “10 = Muito difícil” para o Bloco II. Os Blocos I e II são
apresentados no Apêndice A.
Obtiveram-se 81 participações válidas de profissionais das cinco regiões do Brasil,
conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 - Caracterização dos Respondentes


Região do País % Sexo %
Centro-Oeste 1% Feminino 47%
Nordeste 4% Masculino 53%
Norte 2% Prefiro não responder 0%
Sudeste 11% Faixa Etária %
Sul 81% até 20 anos 9%
Nível de Formação % entre 21 e 30 anos 38%
Ensino superior incompleto 33% entre 31 e 40 anos 27%
Ensino superior completo 38% entre 41 e 50 anos 20%
Especialização/MBA incompleta 6% 51 anos ou mais 6%
Especialização/MBA completa 16% Tempo de Atuação na Área
%
Contábil
Mestrado incompleto 4% Menos de 1 ano 14%
Mestrado completo 1% 1 ano a 5 anos 40%
Doutorado incompleto 0% 6 anos a 10 anos 20%
Doutorado completo 1% 11 anos a 15 anos 7%
Área de Atuação Contábil % 16 anos a 20 anos 4%
Administrativo 7% 21 anos a 25 anos 9%
Contábil 41% Mais de 25 anos 7%
Controladoria 1% Formação (Nível Superior) %
Fiscal 26% Administração 9%
Jurídico 1% Ciências Contábeis 80%
Recursos Humanos Administrativo 9% Direito 5%
Outro 15% Outros 6%
Nota: % = Percentual. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

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Para análise dos dados empregou-se a estatística descritiva e testes estatísticos. Na
estatística descritiva analisou-se a média, mediana, mínimo, máximo e o desvio padrão da
amostra, enquanto para o teste estatístico o objeto de análise foi a interdependência das
variáveis por meio da aplicação do método de correlação de Spearman, devido aos dados
serem ordinais e não normais. Este método visa identificar qual é a intensidade que uma
variável possui sobre determinado conjunto de informações, por meio das medidas de
covariância e o coeficiente de correlação. Os resultados obtidos podem ser positivos ou
negativos podendo variar de -1 a 1 (Fávero & Belfiore, 2017).

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS


Primeiramente foram analisados os percentuais dos respondentes em relação ao grau
de importância atribuído a cada elemento priorizado no planejamento tributário. Pode-se
observar que os 15 elementos apresentados obtiveram em algum momento grau 10 de
importância para a elaboração do planejamento tributário, conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 - Análise dos Elementos Priorizados no Planejamento Tributário


ID Descrição 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Setor de atuação (Comércio / Indústria /
E1 0% 0% 0% 0% 0% 2% 2% 9% 11% 15% 60%
Serviços).
Atividades exercidas pela empresa por
E2 meio dos CNAEs cadastrados na Receita 0% 0% 0% 0% 1% 2% 4% 5% 21% 11% 56%
Federal do Brasil.
Faturamento dos últimos meses auferidos
E3 0% 0% 0% 0% 0% 0% 4% 4% 12% 23% 57%
pela empresa.
Previsão de faturamento do próximo
E4 0% 0% 0% 0% 1% 4% 2% 9% 21% 21% 42%
período.
Previsão da margem de lucro do próximo
E5 0% 0% 0% 0% 2% 4% 5% 5% 27% 22% 35%
período.
Incentivos fiscais correlacionados as
E6 1% 0% 0% 0% 1% 4% 2% 10% 21% 15% 46%
atividades exercidas pela empresa.
E7 Aproveitamento de crédito tributário. 1% 0% 0% 0% 0% 1% 5% 9% 16% 17% 51%
Adoção das boas práticas da governança
corporativa (agir com ética,
responsabilidade econômica e social,
E8 aplicação dos princípios básicos: i - 0% 0% 0% 0% 0% 2% 2% 6% 17% 16% 56%
transparência, ii - equidade, iii -
prestação de contas, iv - responsabilidade
corporativa).
Obrigações principais e acessórias
E9 exigidas pelo Fisco conforme o regime 0% 0% 0% 1% 0% 0% 10% 15% 15% 16% 43%
tributário.
Estrutura organizacional para atender as
E10 0% 0% 0% 4% 0% 5% 9% 7% 19% 21% 36%
obrigações do regime tributário.
Custos operacionais para atender as
E11 0% 0% 1% 0% 0% 2% 11% 12% 16% 25% 32%
obrigações do regime tributário.
Capacitação de pessoal para atender as
E12 0% 0% 0% 1% 0% 1% 9% 7% 17% 17% 47%
obrigações do regime tributário.
Complexidade da legislação, levando em
E13 conta as alterações frequentes realizadas 0% 0% 0% 0% 1% 2% 5% 12% 15% 20% 44%
pelo Fisco.
Pressão dos clientes quanto à utilização
E14 4% 0% 1% 1% 2% 4% 20% 11% 26% 12% 19%
dos créditos tributários.

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Pressão realizada aos fornecedores para
emissão dos documentos fiscais com
E15 2% 0% 0% 0% 1% 2% 10% 9% 21% 22% 32%
dados necessários possibilitando a
utilização de crédito tributário.
Nota: ID – Identificação, E = Elemento Priorizado. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

Os elementos priorizados que obtiveram maior grau de importância (valor 10) foram o
“E1 - setor de atuação” com 60%, “E2 - Atividades exercidas pela empresa por meio dos
CNAEs cadastrados na RFB” com 56% e “E8 - Adoção das boas práticas da governança
corporativa” com 56%. Apesar dos elementos “E6 - Incentivos fiscais correlacionados as
atividades exercidas pela empresa” e o “E7 - Aproveitamento de crédito tributário”
apresentarem um percentual de importância elevado nesta pesquisa, é possível observar que
aproximadamente 1% dos contabilistas consideram estas assertivas nada relevantes para
realização do planejamento tributário. Nota-se ainda que os elementos “E14 - Pressão dos
clientes quanto á utilização dos créditos tributários” e “E15 - Pressão realizada aos
fornecedores para emissão dos documentos fiscais com dados necessários possibilitando a
utilização de crédito tributário” apresentaram os maiores percentuais de pouca importância,
sendo 4% e 2% respectivamente.
Outro aspecto nesta análise é em relação ao elemento “E14 - Pressão dos clientes
quanto à utilização dos créditos tributários” que sofreu oscilações de percentual na maior
parte da escala de 0 a 10, podendo constatar que esta variável pode ser afetada por outros
aspectos, como o ramo de atividade, o regime tributário aderido no período e os benefícios
disponibilizados pelo governo de acordo com o porte da empresa. Estas características são
únicas de cada organização, que consequentemente pode modificar a percepção dos
profissionais que prestão serviços de maneira concomitante a clientes com diferentes
características.
Em seguida foram verificados os percentuais referentes as dificuldades encontradas na
elaboração do planejamento tributário, conforme Tabela 3.

Tabela 3 - Análise das dificuldades no Planejamento Tributário


ID Descrição 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Acompanhar a dinamicidade e
D1 0% 0% 0% 4% 1% 6% 9% 14% 19% 19% 30%
complexidade da legislação vigente.
Adaptação às normas e alterações
D2 0% 2% 0% 4% 1% 7% 9% 10% 20% 27% 20%
constantes da legislação.
Acompanhar os avanços tecnológicos do
D3 2% 2% 5% 1% 4% 10% 16% 10% 14% 10% 26%
Fisco.
Adaptação da escrituração contábil aos
D4 4% 5% 2% 2% 7% 5% 15% 12% 16% 12% 19%
meios digitais.
D5 Interpretações das legislações vigentes. 2% 2% 0% 1% 5% 5% 10% 12% 20% 17% 25%
Capacitação de pessoal para trabalhar
D6 0% 0% 1% 4% 1% 7% 10% 10% 22% 21% 23%
conforme a legislação vigente.
Obtenção de conhecimento abrangente
D7 0% 1% 4% 1% 5% 11% 12% 15% 16% 17% 17%
sobre as operações exercidas pela empresa.
Aperfeiçoamento dos métodos para
D8 1% 2% 4% 1% 1% 10% 10% 15% 25% 12% 19%
cumprimento das obrigações fiscais.
Obter as informações contábeis com
D9 qualidade e em tempo hábil para 0% 4% 0% 0% 4% 5% 9% 12% 19% 19% 30%
cumprimento das obrigações.
Possuir entendimento pleno da estrutura
D10 das obrigações para prestação de contas ao 1% 2% 2% 0% 1% 6% 10% 12% 26% 19% 20%
Fisco.

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Cumprir os prazos estipulados pelo Fisco
D11 4% 1% 4% 5% 4% 12% 9% 5% 16% 20% 21%
na entrega das obrigações.
Investimento em softwares que gerem as
informações necessárias conforme a
D12 2% 4% 1% 6% 2% 12% 5% 10% 25% 6% 26%
legislação vigente, sem a necessidade de
ajustes nos arquivos.
Atuar conforme a ética profissional e
D13 proporcionar ao cliente a redução de custos 6% 5% 4% 4% 6% 12% 16% 5% 12% 12% 17%
tributários esperada
Instruções aos clientes de como as
D14 operações devem ser realizadas para que 1% 4% 5% 2% 1% 11% 15% 9% 19% 12% 21%
não sofram nenhum tipo de fiscalização.
Lidar com a pressão imposta pelos clientes
D15 em relação aos tributos incidentes sobre as 2% 5% 2% 4% 5% 7% 12% 14% 17% 19% 12%
operações realizadas.
Lidar com os custos, processos
burocráticos, fiscalização, multas e
D16 1% 2% 2% 1% 5% 9% 9% 16% 21% 16% 17%
despesas ocasionadas pela escrituração do
SPED.
Lidar com a responsabilidade solidária em
D17 relação às informações disponibilizadas ao 1% 1% 4% 0% 0% 11% 11% 12% 20% 19% 21%
fisco.
Volume de trabalho conforme os diferentes
D18 0% 2% 2% 0% 4% 7% 12% 11% 21% 15% 25%
regimes tributários.
Nota: ID – Identificação, D = Dificuldade no Planejamento Tributário. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

As principais dificuldades consideradas pelos respondentes são “D1 - Acompanhar a


dinamicidade e complexidade da legislação vigente” e “D9 - Obter as informações contábeis
com qualidade e em tempo hábil para cumprimento das obrigações” com 30% na pontuação
10, seguido por “D3 - Acompanhar os avanços tecnológicos do Fisco” com 26% na pontuação
10. Os resultados indicam oscilações na escala 0 a 10, sendo os maiores percentuais
concentrados entre os intervalos de 5 a 10 pontos.
As assertivas com maiores percentuais na pontuação “0 – Pouca dificuldade” foram
“D13 - Atuar conforme a ética profissional e proporcionar ao cliente a redução de custos
tributários esperada” com 6% e “D4 - Adaptação da escrituração contábil aos meios digitais”
e “D11 - Cumprir os prazos estipulados pelo Fisco na entrega das obrigações” com 4%. A
elevada variabilidade das assertivas D4 e D11 destoam do exposto por Fernandes (2012),
visto que o conhecimento técnico e o cumprimento de prazos das entregas para o Fisco não
figuram entre as principais dificuldades encontradas para lidar com o planejamento tributário.
A fim de explorar os achados, analisaram-se outras variáveis estatísticas como a
média, mediana, mínimo, máximo e o desvio padrão. Na Tabela 4 são apresentados os valores
obtidos dos elementos priorizados.

Tabela 4 - Estatística Descritiva dos Elementos Priorizados na Realização do Planejamento Tributário


ID Descrição Média Mediana Mínimo Máximo Desvio Padrão
Setor de atuação (Comércio / Indústria /
E1 9,22 10 5 10 1,202
Serviços).
Atividades exercidas pela empresa por meio
E2 dos CNAEs cadastrados na Receita Federal 8,94 10 4 10 1,436
do Brasil.
Faturamento dos últimos meses auferidos
E3 9,26 10 6 10 1,062
pela empresa.

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E4 Previsão de faturamento do próximo período. 8,77 9 4 10 1,386

Previsão da margem de lucro do próximo


E5 8,59 9 4 10 1,445
período.
Incentivos fiscais correlacionados as
E6 8,63 9 0 10 1,781
atividades exercidas pela empresa.
E7 Aproveitamento de crédito tributário. 8,87 9,5 0 10 1,623
Adoção das boas praticas da governança
corporativa (agir com ética, responsabilidade
econômica e social, aplicação dos princípios
E8 9,12 10 5 10 1,195
básicos: i - transparência, ii - equidade, iii -
prestação de contas, iv - responsabilidade
corporativa).
Obrigações principais e acessórias exigidas
E9 8,64 9 3 10 1,537
pelo Fisco conforme o regime tributário.
Estrutura organizacional para atender as
E10 8,42 9 3 10 1,732
obrigações do regime tributário.
Custos operacionais para atender as
E11 8,36 9 2 10 1,643
obrigações do regime tributário.
Capacitação de pessoal para atender as
E12 8,74 9 3 10 1,549
obrigações do regime tributário.
Complexidade da legislação, levando em
E13 conta as alterações frequentes realizadas pelo 9,73 9 4 10 1,5
Fisco.
Pressão dos clientes quanto à utilização dos
E14 7,35 8 0 10 2,555
créditos tributários.
Pressão realizada aos fornecedores para
emissão dos documentos fiscais com dados
E15 8,23 9 0 10 2,019
necessários possibilitando a obtenção de
crédito tributário.
Nota: ID – Identificação, E = Elemento Priorizado. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

As especificações apresentadas na Tabela 4 permitem identificar qual a variante de


cada elemento priorizado no planejamento tributário. Desse modo, são discutidas as duas
maiores e menores médias para análise. É possível verifcar que as menores médias possuem
as variantes maiores (desvio padrão), devido as respostas obtidas variarem com maior
disparidade entre o grau de importância na escala de 0 a 10, enquanto as maiores médias
apresentam variantes menores, isto significa que as respostas apresentaram menor oscilação
na escala.
Durante a elaboração de um planejamento tributário, Shackelford e Shelvin (2001)
destacam a importância de se considerar os conceitos de gestão tributária de todas as partes,
todos os tributos e todos os custos. Os autores advogam que para realizar um planejamento
tributário confiável e correspondente às expectativas da empresa se faz necessário apontar
uma sequência de todos os fatos e elaborar medidas que tornem estes apontamentos cada vez
mais fidedignos e coerentes com a realidade apresentada, sendo uma das justificativas para
que todos os elementos obtivessem elevada pontuação de grau de importância.
As assertivas com maiores médias de importância foram “E3 - Faturamento dos
últimos meses auferidos pela empresa” com 9,26 de pontuação e desvio padrão de 1,062, e
“E13 - Complexidade da legislação, levando em conta as alterações frequentes realizadas pelo
Fisco” com média 9,73 e desvio padrão 1,500. Fonseca et al. (2017) expõe que o porte da
organização é uma das principais variáveis consideradas no planejamento tributário, à medida

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que alguns regimes de tributação são limitados pela receita bruta, como o Simples Nacional e
o Lucro Presumido.
Referente aos elementos com menores médias tem-se a “Pressão dos clientes quanto à
utilização dos créditos tributários.” com média 7,35 e desvio padrão 2,555 e “Pressão
realizada aos fornecedores para emissão dos documentos fiscais com dados necessários
possibilitando a obtenção de crédito tributário” com média 8,23 e desvio padrão de 2,19.
Acredita-se que estes elementos são inerentes às atividades empresariais, pois a utilização de
crédito tributário tende a acompanhar o regime de tributação e a pressão realizada aos
fornecedores não ocorre a cada operação.
Da mesma forma, foram analisadas as dificuldades encontradas durante a elaboração
do planejamento tributário. Na Tabela 5 é exposta a média, mediana, mínimo, máximo e
desvio padrão destas assertivas.

Tabela 5 - Estatística Descritiva das Dificuldades na Realização do Planejamento Tributário


ID Descrição Média Mediana Mínimo Máximo Desvio Padrão
Acompanhar a dinamicidade e
D1 8,04 8 2 10 1,93
complexidade da legislação vigente.
Adaptação às normas e alterações
D2 7,82 8 1 10 2,005
constantes da legislação.
Acompanhar os avanços
D3 7,01 7 0 10 2,665
tecnológicos do Fisco.
Adaptação da escrituração contábil
D4 6,73 7 0 10 2,771
aos meios digitais.
Interpretações das legislações
D5 7,59 8 0 10 2,327
vigentes.
Capacitação de pessoal para
D6 trabalhar conforme a legislação 7,91 8 2 10 1,955
vigente.
Obtenção de conhecimento
D7 abrangente sobre as operações 7,22 7,5 1 10 2,196
exercidas pela empresa.
Aperfeiçoamento dos métodos para
D8 7,28 8 1 10 2,244
cumprimento das obrigações fiscais.
Obter as informações contábeis com
D9 qualidade e em tempo hábil para 7,91 8 1 10 2,193
cumprimento das obrigações.
Possuir entendimento pleno da
D10 estrutura das obrigações para 7,71 8 1 10 2,114
prestação de contas ao Fisco.
Cumprir os prazos estipulado pelo
D11 7,09 8 0 10 2,712
Fisco na entrega das obrigações.
Investimento em softwares que
gerem as informações necessárias
D12 7,60 8 0 10 2,727
conforme a legislação vigente, sem a
necessidade de ajustes nos arquivos.
Atuar conforme a ética profissional e
D13 proporcionar ao cliente a redução de 6,29 6 0 10 2,994
custos tributários esperada
Instruções aos clientes de como as
operações devem ser realizadas para
D14 7,09 8 1 10 2,539
que não sofram nenhum tipo de
fiscalização.

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Lidar com a pressão imposta pelos
clientes em relação aos tributos
D15 6,77 7 0 10 2,613
incidentes sobre as operações
realizadas.
Lidar com os custos, processos
burocráticos, fiscalização, multas e
D16 7,27 8 0 10 2,283
despesas ocasionadas pela
escrituração do SPED.
Lidar com a responsabilidade
D17 solidária em relação às informações 7,55 8 0 10 2,214
disponibilizadas ao fisco.
Volume de trabalho conforme os
D18 7,64 8 1 10 2,168
diferentes regimes tributários.
Nota: ID – Identificação, D = Dificuldades. Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

A partir da Tabela 5 percebe-se que as assertivas com maiores médias foram “D1 -
Acompanhar a dinamicidade e complexidade da legislação vigente” com média 8,04 e desvio
padrão 1,930, “D6 - Capacitação de pessoal para trabalhar conforme a legislação vigente”
com média 7,91 e desvio padrão 1,955 e “D9 - Obter as informações contábeis com qualidade
e em tempo hábil para cumprimento das obrigações” também com média 7,91, porém com
desvio padrão 2,193. Tais assertivas estão alinhadas a complexibilidade do ambiente tributário
brasileiro, fato que já vem sendo discutido na literatura como uma dificuldade ao
desenvolvimento das atividades empresariais do país (Fonseca et al. 2017; Potin et al., 2016).
Neste contexto é possível dar ênfase aos resultados expostos pelo Amaral et al. (2018)
quanto as milhares de normas tributárias editadas no Brasil após a Constituição de 1988. Lima
e Resende (2006) também contribuem para a discussão ao enfatizar que os processos do
planejamento tributário dependem da interpretação de várias fontes, como o Fisco e até
mesmo dos colaboradores, com isso surgem as chamadas “exceções a regra”, e cabe ao
profissional de contabilidade identificar e repassar a melhor interpretação, estando alinhada
com a D6 e D9.
Ao verificar as menores médias tem-se “D13 - Atuar conforme a ética profissional e
proporcionar ao cliente a redução de custos tributários esperada” com média 6,29 e desvio
padrão 2,994 e “D4 - Adaptação da escrituração contábil aos meios digitais” com média 6,73
e desvio padrão 2,771. Referente a D4, Araújo (2018) descreve os avanços dos meios digitais
como ferramentas que tem o intuito de facilitar a entrega das informações, bem com a
fiscalização das operações realizadas pelas empresas, por isso, a RFB instituiu o programa
SPED. Desse modo, as diferentes formas de adaptação dos profissionais aos meios digitais
pode explicar o nível de dificuldade e a alta variabilidade desta assertiva.
Para analisar a relação existente entre as dificuldades e os elementos priorizados no
planejamento tributário foi utilizado o método estatístico denominado de correlação de
Spearman. A Tabela 6 apresenta as associações obtidas entre cada dificuldade e elementos
priorizados.

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Tabela 6 - Correlação de Spearman entre as Dificuldades e os Elementos Priorizados no Planejamento Tributário
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11 E12 E13 E14 E15
D1 0,316** 0,101 0,088 0,195 0,276* 0,131 0,085 0,003 0,154 0,287** 0,243* 0,242* 0,333** 0,094 0,086
D2 0,243* 0,088 0,126 0,229* 0,310** 0,220* 0,004 0,094 0,171 0,273* 0,203 0,264* 0,257* 0,252* 0,090
D3 -0,013 -0,071 -0,176 -0,032 0,166 0,062 -0,200 -0,090 -0,137 0,121 0,067 -0,009 0,058 0,221* -0,006
D4 0,064 -0,050 -0,073 -0,013 0,153 0,047 -0,215 -0,048 -0,115 0,128 -0,010 0,040 0,122 0,143 -0,027
D5 0,029 -0,049 -0,012 0,015 0,152 0,107 -0,211 -0,036 -0,146 0,173 0,142 0,052 0,143 0,198 -0,073
D6 0,121 0,049 0,046 0,166 0,143 -0,008 -0,065 0,091 0,213 0,316** 0,211 0,281* 0,217 -0,031 0,071
D7 0,112 -0,024 -0,099 0,033 0,154 0,078 -0,193 0,028 -0,044 0,263* 0,090 0,088 0,080 0,152 -0,008
D8 0,136 -0,012 -0,046 0,069 0,171 0,067 -0,117 0,050 0,640 0,289** 0,122 0,163 0,087 0,184 0,011
D9 0,150 0,032 0,048 0,090 0,136 0,187 -0,061 0,086 -0,058 0,225* 0,08 0,191 0,302** 0,130 0,000
D10 0,108 -0,039 0,036 0,082 0,154 0,106 -0,175 -0,066 -0,041 0,203 0,027 0,173 0,273* 0,123 -0,047
D11 0,104 0,093 -0,084 -0,062 0,051 0,041 -0,137 -0,075 -0,071 0,162 0,111 0,08 0,061 0,056 -0,058
D12 0,165 0,050 -0,079 0,101 0,265* 0,233* -0,046 0,128 0,216 0,294** 0,243* 0,273* 0,298** 0,057 0,114
D13 -0,031 -0,118 -0,235* -0,089 0,084 -0,076 -0,298** -0,030 0,030 0,207 0,059 0,112 0,117 0,053 0,001
D14 0,057 -0,012 -0,147 -0,030 0,168 0,099 -0,117 0,138 -0,052 0,238* -0,015 0,244* 0,207 0,057 0,077
D15 0,005 -0,010 -0,088 0,025 0,145 0,161 -0,142 0,032 -0,054 0,257* 0,12 0,227* 0,181 0,214 0,195
D16 0,013 0,043 0,012 0,068 0,155 0,118 -0,099 0,070 -0,021 0,252* 0,122 0,242* 0,259* 0,127 0,035
D17 0,149 0,099 0,029 0,206 0,351 0,206 0,067 0,212 0,107 0,374** 0,226* 0,394** 0,296** 0,125 0,232*
D18 0,161 0,129 0,020 0,101 0,189 0,160 -0,086 0,062 0,143 0,227* 0,129 0,191 0,272* 0,202 0,105

Nota: ID – Identificação, D = Dificuldades, * = 5% de significância, ** = 1% de significância. Fonte: Elaborado


pelos autores (2018).

Para realizar o aprofundamento das análises são discutidas as associações mais


expressivas entre os resultados positivos e negativos. As maiores associações foram
encontradas entre a assertiva “D17 - Lidar com a responsabilidade solidária em relação às
informações disponibilizadas ao fisco” com “E12 - Capacitação de pessoal para atender as
obrigações do regime tributário” (r = 0,394; p-valor = 0,01) e “E10 - Estrutura organizacional
para atender as obrigações do regime tributário” (r = 0,374; p-valor = 0,01). Nesse sentido, a
dificuldade em lidar com a responsabilidade solidária das decisões tomadas frente ao
planejamento tributário mostram-se positivamente associadas com a priorização da
capacitação de pessoal e com a estrutura organizacional para atender as obrigações fiscais que
permeiam esse cenário.
Conceição et al. (2017) descreve que a partir da institucionalização do SPED em 2007,
os profissionais ficaram responsáveis implicitamente por interpretar as exigências do Fisco e
repassar aos seus clientes, com o intuito de cumprir com coerência as obrigações acessórias
que acabam impactando o planejamento tributário. Para Nazáro, Mendes e Aquino (2008) o
conhecimento amplo e diversificado é uma exigência aos profissionais da área de
Contabilidade para que consigam exercer suas atividades de maneira coerente. Para os autores
ainda existe a necessidade de ser explorada a capacitação acadêmica dos profissionais
responsáveis pela área tributária, à medida que a formação acadêmica deste profissional
exerce influência sobre os resultados finais do planejamento tributário.
A “D1 - Acompanhar a dinamicidade e complexidade da legislação vigente” também
mostrou-se associada a “E13 - Complexidade da legislação, levando em conta as alterações
frequentes realizadas pelo Fisco” (r = 0,333; p-valor = 0,01) indicando que a complexidade
das normas torna-se um elemento priorizado pelos profissionais de Contabilidade, justamente
pela dificuldade em acompanhar as alterações da legislação. Nesse contexto, Borges (2014)
destaca que os profissionais responsáveis pelo planejamento tributário devem ponderar todos
os elementos que envolvem este ato, não somente aqueles que se julgam importante, e estar
atentos a legislação vigente. Olenike (2001) observa que manter-se atualizado frente às
alterações constantes da legislação é fundamental, pois o bom desempenho do profissional da
Contabilidade depende do domínio tempestivo da matéria que está sendo abordada.
Pode-se concluir que a dificuldade apresentada por Olenike (2001) não é a única
enfrentada pelos profissionais atuantes na área Contábil, visto a diversidade de dificuldades

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com altas pontuações e correlações neste estudo. Nessa vertente, Conceição et al. (2017)
expõe que os profissionais que já trabalham na área Contábil se preocupam cada vez mais em
aperfeiçoar seus conhecimentos nas atividades desenvolvidas e este anseio deve ser
desenvolvido desde o início da graduação junto aos estudantes de Contabilidade.
Destacam-se entre os resultados obtidos, as correlações da “D13 - Atuar conforme a
ética profissional e proporcionar ao cliente a redução de custos tributários esperada” com “E7
- Aproveitamento de crédito tributário” (r = -0,298; p-valor = 0,01) indicando que as lacunas
identificadas na legislação para aproveitamento de crédito tributário podem colaborar para
que a percepção do profissional contábil em termos de atuação ética seja comprometida.
Nesse sentido, algumas práticas de planejamento tributária geram incertezas aos profissionais,
Martinez e Coelho (2016) ao apresentarem uma série de conceitos de tax avoidance
explicitam a dificuldade entre identificar atos lícitos e ilícitos de planejamento tributário, pois
normalmente estes são julgados como legais ou ilegais após serem realizados.
Outra associação negativa foi identificada entre “D13 - Atuar conforme a ética
profissional e proporcionar ao cliente a redução de custos tributários esperada” com “E3 -
Faturamento dos últimos meses auferidos pela empresa” (r = -0,235; p-valor = 0,05). Regimes
tributários como o Simples Nacional e o Lucro Presumido possuem limites de faturamento
para enquadramento (Fonseca et al., 2017), fato que pode colaborar para que ações sejam
realizadas a fim de suavizar o montante das receitas da organização em detrimento da atuação
ética, fazendo com que o limite do regime tributário não seja ultrapassado.
Tais atitudes apresentam-se como um risco organizacional, à medida que Guerra e
Gouveia (2018) relatam que as fiscalizações tem-se tornado mais ativas, sendo realizado o
cruzamento de informações dentro de um curto espaço de tempo. Em complemento, Jacinto e
Rodrigues (2011) apontam que diante do cenário imposto pelo SPED, a realização de práticas
fraudulentas aumentam drasticamente as chances de autuação da organização.
Nessa conjuntura, Modim e Furtado (2013) discorrem sobre a importância do
conhecimento por parte das corporações no que diz respeito as funcionalidades do sistema
SPED, com intuito de minimizar os riscos e transtornos com o Fisco. Fernandes (2012) indica
que entre as dificuldades para acompanhar os avanços tecnológicos promovidos pela RFB
estão: (I) falta de conhecimento técnico da equipe; (II) dificuldades na interpretação da
legislação; (III) o custo para realizar a implantação; (IV) as informações geradas pelos
softwares não estão coerentes com a realidade; e (V) os prazos determinados pelo Fisco são
inadequados.
Constata-se que essas dificuldades são coerentes as dificuldades indicadas pelos
respondentes inerentes ao planejamento tributário. Nesse contexto, o planejamento tributário
deve estar alinhado com as práticas organizacionais realizadas no dia-a-dia, pois as obrigações
acessórias espelham ao Fisco as operações realizadas pela empresa e devem estar consonante
com a realidade. Assim, sugere-se a implantação do Comitê de Governança Tributária que
tem como objetivo instituir regras para redução dos riscos tributários e maximização dos
lucros por meio de ações éticas e licitas a fim de obter a diminuição da carga tributária.

5 CONCLUSÃO
O planejamento tributário é uma importante ferramenta de gestão de custos para as
organizações, visto que tem o intuito de diminuir o impacto dos tributos em suas operações
por meio de atos lícitos. Neste contexto, a complexidade da legislação acerca desta área exige
processos devidamente mapeados e profissionais qualificados para exercer tal função.
Diante disso, objetivou-se analisar a relação existente entre as dificuldades e os
elementos priorizados no planejamento tributário a partir da percepção dos profissionais da
Contabilidade. Após a verificação das evidências identificou-se que os elementos com maior
grau de importância para o planejamento tributário são: “E13 - Complexidade da legislação,

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levando em conta as alterações frequentes realizadas pelo Fisco”; “E3 - Faturamento dos
últimos meses auferidos pela empresa”; “E1 - Setor de atuação”; “E8 - Adoção das boas
práticas da governança corporativa”; e “E2 - Atividades exercidas pela empresa por meio dos
CNAEs cadastrados na RFB”. Neste sentido, constatou-se que antes de se iniciar um processo
de planejamento tributário, o profissional responsável e os demais envolvidos devem se
atentar a significância destes elementos.
O setor de atuação atrelado às atividades cadastradas na RFB define as alíquotas que
serão aplicadas sobre os tipos de receitas auferidas em determinado período. Os códigos
CNAEs devem ser analisados individualmente, pois apresentam percentuais diferentes de
tributos incidentes, assim como nas legislações de incentivos fiscais em que os benefícios
também ocorrem de forma específica. Em se tratando do faturamento dos últimos períodos,
esta informação auxiliará o profissional a provisionar um cenário para o próximo período,
facilitando as comparações entre os regimes do Simples Nacional, Lucro Presumido e para o
Lucro Real, transparecendo qual destes será melhor aproveitado pela organização. Após
realizada a análise estes fatos serão repassados aos stakeholders facilitando assim a
compreensão e sustentando de forma precisa as suas tomadas de decisão.
As principais dificuldades para realização do planejamento tributário versam sobre:
“D1 - Acompanhar a dinamicidade e complexidade da legislação vigente”; “D6 - Capacitação
de pessoal para trabalhar conforme a legislação vigente”; “D9 - Obter as informações
contábeis com qualidade e em tempo hábil para cumprimento das obrigações”; “D2 -
Adaptação às normas e alterações constantes da legislação”; e “D10 - Possuir entendimento
pleno da estrutura das obrigações para prestação de contas ao Fisco”. Percebe-se que as
principais dificuldades apontadas estão relacionadas a complexidade da legislação tributária.
A fim de minimizar os efeitos destas dificuldades sobre suas atividades, recomenda-se aos
profissionais de Contabilidade dedicar-se de modo constante para estudos e atualizações
conforme as demandas e alterações das normas tributárias. Essas ações podem ser realizadas a
partir de cursos on-line oferecidos em diversas plataformas, inclusive os realizados pelos
Conselhos Regionais de Contabilidade.
Referente a relação existente entre as dificuldades e os elementos priorizados no
planejamento tributário verificaram-se associações positivas e negativas. Os achados
indicaram maior intensidade positiva nas associações existentes entre elementos que versam
sobre capacitação profissional e lidar com responsabilidade solidária frente as decisões
tributárias, e entre acompanhar a dinamicidade da legislação tributária e priorizar a
observação da complexibilidade tributária. Nesse sentido, são reforçadas as ponderações para
investimento em capacitação continuada, à medida que ao dominar com propriedade os
aspectos tributários são minimizados os riscos de responder solidariamente por ações
incorretas realizadas no planejamento tributário.
Além disso, houve relação negativa entre o faturamento da organização e buscar
formas de aproveitamento de crédito tributário com atuar conforme a ética profissional. Nesta
concepção, pode-se introspectar que ao priorizar a atuação conforme o código de ética, o
profissional da Contabilidade evita buscar brechas na legislação para suprir as expectativas de
seus clientes em relação a redução da carga tributária incidente em suas operações. Tal
constatação pode ser oriunda da responsabilidade solidária do profissional responsável pelo
planejamento tributário perante atitudes ilícitas.
Por fim, apesar das preocupações metodológicas, esta pesquisa possui algumas
limitações. A amostra utilizada corresponde a profissionais atuantes em diversas áreas da
Contabilidade com experiência em elaboração de planejamento tributário, em que apesar dos
esforços para coleta de dados, a maioria dos respondentes estão concentrados na região sul do
país. Pesquisas futuras podem buscar contemplar uma amostra maior e representativa de todas
as regiões. Entretanto, os achados fornecem evidências importantes sobre o planejamento

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tributário, principalmente na esfera federal, na qual as normas não possuem especificidades
protuberantes por região do país.
Outro aspecto interessante é a variação do grau das dificuldades perante o
planejamento tributário. Acredita-se que características observáveis pessoais podem afetar
esta percepção, tal como a faixa etária e a experiência profissional. Por este motivo, incentiva-
se os pesquisadores a evidenciar em estudos posteriores o impacto que estas variáveis podem
ter sobre o planejamento tributário.

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO UTILIZADO COMO INSTRUMENTO DE
COLETA DE DADOS

A presente pesquisa tem por objetivo identificar as principais dificuldades e elementos priorizados no
planejamento tributário a partir da percepção dos contabilistas. Para melhor compreensão define-se
PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO como:

“Um conjunto de ações que o sujeito passivo pode aderir para alcançar de forma lícita a redução das despesas
ocasionadas pelos tributos incidentes em suas operações” (Greco, 2008).

BLOCO I - ELEMENTOS PRIORIZADOS NO PLANEJAMENTO TRIBIUTÁRIO


Analise os elementos a seguir e indique com um X a importância atribuída a estas variáveis no momento
da elaboração do planejamento tributário, sendo 0 = Pouco importante e 10 = Muito importante.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Quanto mais próximo de 0 (zero) = Pouco importante
Pouco Muito
importante Quanto mais próximo de 10 (dez) = Muito importante importante

ELEMENTOS 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Setor de atuação (Comércio / Indústria / Serviços).


Atividades exercidas pela empresa por meio dos
CNAEs cadastrados na Receita Federal do Brasil.
Faturamento dos últimos meses auferidos pela
empresa.
Previsão de faturamento do próximo período.
Previsão da margem de lucro do próximo período.
Incentivos fiscais correlacionados as atividades
exercidas pela empresa.
Aproveitamento de crédito tributário.
Adoção das boas praticas da governança corporativa
(agir com ética, responsabilidade econômica e social,
aplicação dos princípios básicos: i - transparência, ii
- equidade, iii - prestação de contas, iv -
responsabilidade corporativa).
Obrigações principais e acessórias exigidas pelo
Fisco conforme o regime tributário.
Estrutura organizacional para atender as obrigações
do regime tributário.
Custos operacionais para atender as obrigações do
regime tributário.
Capacitação de pessoal para atender as obrigações do
regime tributário.
Complexidade da legislação, levando em conta as
alterações frequentes realizadas pelo Fisco.
Pressão dos clientes quanto à utilização dos créditos
tributários.
Pressão realizada aos fornecedores para emissão dos
documentos fiscais com dados necessários
possibilitando a obtenção de crédito tributário.

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BLOCO II - DIFICULDADES NA ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO TRIBIUTÁRIO

Analise os elementos a seguir e indique com um X a dificuldade atribuída a estas variáveis no momento da
elaboração do planejamento tributário, sendo 0 = Pouco importante e 10 = Muito importante.

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Quanto mais próximo de 0 (zero) = Pouco importante
Pouco Muito
importante Quanto mais próximo de 10 (dez) = Muito importante importante

ELEMENTOS 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Acompanhar a dinamicidade e complexidade da


legislação vigente.
Adaptação às normas e alterações constantes da
legislação.
Acompanhar os avanços tecnológicos do Fisco.
Adaptação da escrituração contábil aos meios
digitais.
Interpretações das legislações vigentes.
Capacitação de pessoal para trabalhar conforme a
legislação vigente.
Obtenção de conhecimento abrangente sobre as
operações exercidas pela empresa.
Aperfeiçoamento dos métodos para cumprimento das
obrigações fiscais.
Obter as informações contábeis com qualidade e em
tempo hábil para cumprimento das obrigações.
Possuir entendimento pleno da estrutura das
obrigações para prestação de contas ao Fisco.
Cumprir os prazos estipulado pelo Fisco na entrega
das obrigações.
Investimento em softwares que gerem as
informações necessárias conforme a legislação
vigente, sem a necessidade de ajustes nos arquivos.
Atuar conforme a ética profissional e proporcionar
ao cliente a redução de custos tributários esperada
Instruções aos clientes de como as operações devem
ser realizadas para que não sofram nenhum tipo de
fiscalização.
Lidar com a pressão imposta pelos clientes em
relação aos tributos incidentes sobre as operações
realizadas.
Lidar com os custos, processos burocráticos,
fiscalização, multas e despesas ocasionadas pela
escrituração do SPED.
Lidar com a responsabilidade solidária em relação às
informações disponibilizadas ao fisco.
Volume de trabalho conforme os diferentes regimes
tributários.

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