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ATLÂNTICA

CURSO
DE PREPARAÇÃO
DE MATEMÁTICA

MÓDULO II:

Introdução ao estudo
de funções reais de
variável real

Sandra Félix
Setembro de 2018
1. Propriedades das funções

1.0. Generalidades sobre funções

Definições

Uma função ou aplicação é uma correspondência unívoca entre dois conjuntos.

Ao conjunto de partida, dá-se o nome de domínio (e representa-se por D), e os seus


elementos dizem-se os objectos. Aos seus correspondentes, que são elementos do conjunto de
chegada, dá-se o nome de imagens. O conjunto das imagens é o contradomínio da aplicação
(representa-se por D’ ou CD), que pode coincidir com o conjunto de chegada ou ser um
subconjunto deste.

Uma função pode ser definida por diferentes processos tais como diagrama de setas, tabela,
expressão analítica ou gráfico cartesiano. Quando temos uma função definida pela sua expressão
analítica, o domínio da função é o domínio dessa expressão.

Nem todas as correspondências entre conjuntos são funções. A condição necessária e


suficiente para que uma correspondência seja função é que seja unívoca, isto é, que cada objecto
tenha uma e uma só imagem.

Vejamos exemplos nas figuras I e II.

Figura I: São funções as correpondências b, c, d e f.

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Figura II: São funções as correspondências a, d, h e i.

Podemos encarar cada uma das propriedades que fazemos corresponder como variáveis.
Dizemos então que a “variável imagem” é a variável dependente, e a “variável objecto” é a
variável independente. Num gráfico cartesiano, a variável independente corresponde ao eixo das
abcissas (xx) e a dependente ao eixo das ordenadas (yy). Podemos então dizer que uma
correspondência entre duas variáveis é uma função se a cada valor da variável independente
corresponde um e um só valor da variável dependente.

Variável dependente  y

Eixo das ordenadas 

x  Variável independente

Eixo das abcissas

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Zero de uma função f é todo o valor do domínio para o qual a função se anula, isto é,
x é zero de f  xDf f(x)=0.

Extremo relativo de uma função f é a ordenada de todo o ponto onde é alterado o sentido
da monotonia da função. Se a função é crescente até esse ponto, e depois passa a decrescente,
então o extremo é um máximo relativo. Se a função é decrescente até esse ponto, e depois passa
a crescente, então o extremo é um mínimo relativo.
Uma função pode ter vários extremos relativos, ou não ter nenhum.
O maior de todos os máximos de uma função recebe o nome de máximo absoluto. O
menor de todos os mínimos de uma função recebe o nome de mínimo absoluto.

Quando a função tem extremos, as suas abcissas também recebem um nome especial. À
abcissa de um máximo chama-se maximizante da função. À abcissa de um mínimo chama-se
minimizante da função. Estes valores são os extremos dos intervalos de monotonia da função.

Classificação de funções

Uma função diz-se:

Sobrejectiva: quando o contradomínio coincide com o conjunto de chegada, ou seja,


quando todos os elementos do conjunto de chegada são imagens.

Injectiva: quando a objectos diferentes correspondem imagens diferentes, ou seja, não


existem dois objectos com a mesma imagem  x1, x2  Df x1  x2  f (x1)  f (x2).

Bijectiva: quando é, simultaneamente, sobrejectiva e injectiva.

Par: se elementos simétricos têm a mesma imagem  xDf -x  Df  f(-x) = f(x).

Ímpar: se elementos simétricos têm imagens simétricas  xDf -x  Df  f(-x) = -f(x).

Monótona Crescente ( ) em IDf : se x1, x2  I x1 > x2  f (x1) > f (x2).

Monótona Decrescente ( ) em IDf : se x1, x2  I x1 > x2  f (x1) < f (x2).

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Função inversa

Sendo f uma função injectiva de A em B, a correspondência inversa é uma função (de B


em A) também injectiva, a que se dá o nome de função inversa de f, designa-se por f-1 e fica
definida do seguinte modo:
aA f(a) = b  B  f-1(b) = a.

A correspondência inversa de uma função não injectiva não é unívoca e, por isso, não é
uma função.

Uma função que admite inversa diz-se invertível. Para que uma função seja invertível,
basta que seja injectiva.

1.1. Funções cujo gráfico é uma recta

Trata-se de funções do tipo y = ax + b, a, b R e os seus gráficos são rectas.

A constante a chama-se declive da recta e indica-nos a sua inclinação. Assim, temos:


a > 0  recta com inclinação positiva (corta os quadrantes ímpares); será o
gráfico de uma função monótona crescente.
a < 0  recta com inclinação negativa (corta os quadrantes pares); será o gráfico
de uma função monótona decrescente.
a = 0  recta horizontal, sem inclinação (paralela ao eixo dos xx); será o gráfico
de uma função constante.

À constante b chama-se ordenada na origem e corresponde à imagem de zero, ou seja é


o valor de y quando x = 0 (x = 0  y = b).

As constantes a e b podem ser quaisquer elementos de R, pelo que podem também ser
zero. As situações em que a ou b é zero são casos especiais da função afim, como veremos a seguir.

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Função constante  a = 0

Trata-se de uma função da forma y = b, b  R, e cujo gráfico é uma recta paralela ao eixo
das abcissas (xx), ou seja, com declive nulo.

Propriedade desta função:  b  R: xDf f(x) = b  D’f = b

Função linear  b = 0

Trata-se de uma função da forma y = ax, a  R, e cujo gráfico é uma recta que contém a
origem. Traduz uma relação de proporcionalidade directa entre as duas variáveis, ou seja, estas
são directamente proporcionais.

Construção de gráficos de funções afim

Para construirmos o gráfico de uma função deste tipo, necessitamos de conhecer dois
pontos.

Claro que no caso da função constante, esta tarefa é facilitada pelo facto de todos os
objectos terem a mesma imagem.
y
y=4

x
y = -3

Se a função for linear, já sabemos à partida que o seu gráfico contém o ponto (0,0), pelo
que nos basta calcular um outro.

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y
5 x = 0  y = 0  ponto (0,0)
x = 1  y = 51  y = 5  ponto (1,5)

1 x

Nos outros casos, conhecendo a expressão analítica da função, o que se faz normalmente é
determinar os valores da ordenada na origem (ponto em que a recta “corta” o eixo dos yy) e da
abcissa na origem, também conhecido como zero da função (objecto cuja imagem é zero; ponto
em que a recta “corta” o eixo dos xx).

y
y= x+3
3

x = 0  y = 3  ponto (0,3)

-3 x y = 0  0 = x + 3  x = -3  ponto (-3,0)

1.2. Funções definidas por ramos.

Trata-se de funções cuja definição varia ao longo do seu domínio. Cada uma dessas
diferentes definições é designado por troço da função no intervalo respectivo.

Função módulo

É um dos exemplos mais representativos de funções deste tipo. Trata-se de uma função da
forma:
y  ax  b, ax  b  0

y = ax + b   , a, b  R, a  0.
y  (ax  b), ax  b  0

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 b 
O gráfico de uma função deste tipo é um “V”, com vértice de coordenadas   ,0  .
 a 
Se b = 0, o vértice é o ponto (0 , 0) e a função é par.

O valor de a interfere na “abertura” do gráfico.

Vejamos alguns exemplos:

y = x  função par; o gráfico contém a origem.

y
a=1
y=x
y = -x b=0
vértice (0,0)

y = x - 2  o gráfico está deslocado para a direita.

a=1
y = - (x - 2) y=x-2 b = -2
vértice (2,0)

2 x

Se tivermos um parâmetro aditivo () ou multiplicativo () fora do módulo:

y = ax + b +   o valor de  vai influenciar as coordenadas do vértice,


“movimentando” o gráfico na vertical; de um modo mais geral, o vértice tem coordenadas

 b 
V =   , 
 a 

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y = x - 3 + 1
y a=1
b = -3
=1
vértice (3,1)
1-

3 x

y = ax + b  o valor de  vai interferir na “abertura” do gráfico e no seu formato;


se  < 0, o “V” surge invertido.
1
y  x 1
2

y a=1
b=0
 = -1
 = 1/2
vértice (0,-1)
x
-1 -

y = -x + 1

y a=1
b=0

1- =1
 = -1
x
vértice (0,1)

2 (x - 4) + 1 , x  4 2x – 7, x  4
y = 2x - 4 + 1  y=  y =
2 (-x + 4) +1 , x < 4 -2x + 9 , x < 4

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a=1
9–
b = -4
=1
=2
vértice (4,1)
1-
4 x

Outras funções definidas por ramos

Podemos ter as mais variadas funções definidas por ramos. Temos que ter em conta a
expressão de cada troço e relacioná-la com os tipos de funções que conhecemos para, a partir dos
“gráficos parciais”, podermos esboçar o gráfico total.

Um exemplo:
y
f(x) = x + 1, x  -1
4– 
3– 
f (x) = 2x –1, -1 < x  2
1-
f(x) = 4, x>3
-1 2 3 x

Em funções deste tipo, os intervalos em que a função adopta um comportamento crescente


ou decrescente recebem o nome de intervalos de monotonia. Muitas vezes, os extremos desses
conjuntos são máximos ou mínimos da função, relativos ou absolutos.

Df = R \ 2 , 3
D’f = - , 3  4 Positiva: 1/2 , 2 e 3 , +
Zeros = -1, 1/2 Negativa: - , -1 e -1 , 1/2
Crescente: - , -1 e -1 , 2 Máximos: 0, 3 (relativos) e 4 (absoluto)
Constante: 3 , + Mínimos: não tem

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1.3. Função quadrática

É uma função da forma y = a x2 + bx + c, a, b, c  R, a  0 e o seu gráfico é uma parábola.

Os zeros de uma função deste tipo são as soluções da equação ax2 + bx + c = 0. Assim, a
função terá zeros (um ou dois) apenas se esta equação for possível (b2 - 4ac  0).
Se a função tem zeros, o eixo de simetria da parábola é a recta vertical que contém o ponto
médio dos mesmos.
 b  b 
O vértice da parábola é o ponto de coordenadas  , f    , que é um ponto do
 2a  2a 
eixo dos xx quando b = 0.

O sentido da concavidade da parábola depende do sinal de a, e consequentemente o


contradomínio da função também. Assim, temos:
 b 
a > 0  concavidade voltada para cima  D’ =  ,
 2a 
 b
a < 0  concavidade voltada para baixo  D’ =  , 
2a  

Tendo em conta o número de zeros (dois, um ou nenhum) e o sinal de a, o gráfico de uma


função deste tipo corresponderá a uma das seguintes possibilidades:

Figura III: Gráficos de funções quadráticas.

1ª Série de Exercícios

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1.4. Função polinomial

É toda a função f: R  R
x a0xn + a1xn-1 + ... + an-1x + an , a0, … , an  R e n  N0.

À expressão que define a função chama-se polinómio de grau n (ou do “enésimo” grau,
com a0  0), na variável x. As “parcelas” são os termos do polinómio (monómios) e os números
reais a0, … , an são os seus coeficientes.

Ao expoente de cada um dos termos chama-se grau desse termo. Ao termo de grau zero
(an) chama-se geralmente termo independente, pois é uma constante.

Um polinómio de grau n diz-se completo se existem termos de todos os graus entre 0 e n,


ou seja se os coeficientes são todos não nulos. Caso contrário, o polonómio diz-se incompleto.

Já vimos anteriormente alguns casos particulares deste tipo de função:

Tipo de expressão Função


Polinómio de grau zero  Constante
Polinómio do 1º grau incompleto  Linear
Polinómio do 1º grau completo  Afim
Polinómio do 2º grau  Quadrática

Debrucemo-nos agora sobre funções de grau superior ao segundo (n > 2), que são aquelas
a que geralmente nos referimos quando falamos de funções polinomiais.

Zeros de uma função polinomial

Os zeros de uma função polinomial, se existirem, são as raízes do polinómio que define
essa função.

Se o polinómio de grau n P(x) = a0xn + a1xn-1 + ... + an-1x + an

admite n raízes reais x1, … , xn, então podemos escrevê-lo como um produto de factores

P(x) = a0 (x – x1) (x – x2) … (x – xn),

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e o polinómio será divisível por cada um desses factores.

Raiz de multiplicidade k de um polinómio

 é raiz de multiplicidade k de um polinómio p(x) quando p(x) é divisível por (x - )k,


mas não é divisível por (x - )k+1.

Exemplo: Os polinómios p1(x) = x + 1

p2(x) = (x + 1)2

p3(x) = (x + 1)3

admitem todos como único zero o valor –1. Contudo, em cada um dos casos, a factorização é
diferente, pois: no primeiro caso, -1 é raiz simples de p1(x); no segundo caso, -1 é raiz dupla ou
de multiplicidade 2 de p2(x); no terceiro caso, -1 é raiz tripla ou de multiplicidade 3 de p3(x).

Casos Notáveis

Para facilitar desenvolvimentos e simplificações de polinómios, aqui ficam algumas


expressões consideradas casos notáveis da multiplicação em R, algumas já referidas
anteriormente.

- Quadrado do binómio: (a  b)2 = a2  2ab + b2

- Diferença de quadrados: a2 – b2 = (a – b) (a + b)

- Cubo do binómio: (a  b)3 = a3  3a2b + 3ab2  b3

- Diferença de cubos: a3 – b3 = (a – b) (a2 + ab + b2)

- Soma de cubos: a3 + b3 = (a + b) (a2 - ab + b2)

Divisão inteira de polinómios

- Algoritmo da divisão inteira de polinómios


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Trata-se da determinação do quociente q(x) e do resto r(x) da divisão de um polinómio
dividendo D(x) por um polinómio divisor d(x), através de um esquema sequencial de operações.

D(x) = d(x)  q(x) + r(x)

Se a divisão for exacta, o polinómio resto é o polinómio nulo, ou seja, r(x) = 0.

A título de exemplo, efectuemos então a divisão de 2x3 – 60 x2 + 450x – 500 por x – 10


recorrendo ao algoritmo.
O primeiro termo do quociente tem de ser 2x2, já que 2x2  x = 2x3. Subtrai-se ao
dividendo o produto de 2x2 pelo divisor, o que, na prática, equivale a adicionar ao dividendo o
simétrico desse produto.
2x3 – 60 x2 + 450x – 500 x – 10
- 2x3 + 20x2 2x2
- 40x2 + 450x - 500

Obtido o primeiro resto parcial, cujo grau é superior ao do divisor, prossegue-se a divisão
inscrevendo no quociente o termo que multiplicado por x dá – 40x2, neste caso – 40x.

2x3 – 60 x2 + 450x – 500 x – 10


- 2x3 + 20x2 2x2 – 40x
- 40x2 + 450x - 500

Adiciona-se ao primeiro resto parcial o simétrico do produto de - 40x por x – 10.

2x3 – 60 x2 + 450x – 500 x – 10


- 2x3 + 20x2 2x2 – 40x
- 40x2 + 450x – 500
40x2 – 400x
50x - 500

Como o segundo resto parcial ainda tem grau igual ao do divisor, prossegue-se a
divisão, colocando no quociente o termo + 50, que multiplicado por x dá 50x. Procedendo
como referido anteriormente, chega-se a resto 0.

2x3 – 60 x2 + 450x – 500 x – 10

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- 2x3 + 20x2 2x2 – 40x + 50
- 40x2 + 450x – 500
40x2 – 400x
50x – 500
-50x + 500
0

Trata-se, neste caso, de uma divisão exacta, pelo que se pode escrever:

2x3 – 60x2 + 450x – 500 = (x – 10)  (2x2 – 40x + 50)


D(x) d(x) q(x)

e pode dizer-se que 2x3 – 60x2 + 450x – 500 é múltiplo de (ou é divisível por) x – 10.

Efectuemos agora a divisão de A(x) = -3x4 + 2x3 + x + 1 por B(x) = 2x2 – 1:

-3x4 + 2x3 + 0x2 + x + 2x2 – 1


3 1 3 3
2 2 4
+3x4 -  x2 -  x2 + x - 

3
2x3 -  x2 + x + 1
2

- 2x3 +x

3 x2 + x + 1
-
2
1
2x + 
4

A divisão termina quando o resto obtido tem grau inferior ao divisor. Assim, podemos
escrever:
3 x2 + x - 3 ) + 2x + 
A(x) = B(x)  (-  1
2 4 4

CONCLUSÃO: Dados dois quaisquer polinómios, a divisão inteira de um pelo outro é


sempre possível, desde que o divisor não seja o polinómio nulo.

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- Regra de Ruffini

Trata-se de um processo prático para efectuar a divisão inteira de dois polinómios, quando
o divisor é da forma x - . Esta regra permite-nos determinar os coeficientes do polinómio
quociente Q(x) e o resto R da divisão.

Apliquemos esta regra, como exemplo, à divisão de D(x) = 3x4 – 4x3 + 2x2 – 3x +1 por
d(x) = x – 2. Constrói-se uma tabela como a seguinte:

3 -4 2 -3 1 coeficientes do dividendo

valor de  2
3

transporta-se para a linha de baixo o


primeiro coeficiente do dividendo

3 -4 2 -3 1

+
2 6
3 2

Multiplica-se aquele coeficiente (3) por  (2) e adiciona-se o produto (6) ao segundo
coeficiente do dividendo. O resultado desta soma escreve-se na linha de baixo.

3 -4 2 -3 1

2 6 4 12 18
3 2 6 9 19

Repete-se o processo sucessivamente. O último número obtido é o resto da divisão, sendo


os anteriores os coeficientes do polinómio Q(x), que terá de ser do 3º grau. Então, temos que:

3x4 – 4x3 + 2x2 – 3x +1 = (x – 2)  (3x3 + 2x2 + 6x +9) + 19.

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Podemos ainda aplicar a Regra de Ruffini no caso de o polinómio divisor ser da forma ax
+ b, com a  0. Tendo em conta que
b
ax + b = a (x + ),
a
b b
aplica-se a Regra de Ruffini considerando como divisor o binómio x +  ( = - ). No final,
a a
obtêm-se os coeficientes do polinómio aQ(x), que têm de dividir-se por a para assim
encontrarmos os coeficientes do quociente pretendido.

Funções polinomiais de grau n

Quando se estudam funções deste tipo, deve ter-se em conta que:

- A função não pode ter mais que n zeros reais.


- Os zeros reais correspondem às abcissas dos pontos onde a curva atravessa ou toca o eixo
dos xx.
- Cada raiz real corresponde a um factor do 1º grau (da forma x - ), na decomposição da
expressão polinomial que define a função.
- O gráfico é uma linha “contínua”, cuja forma exacta pode ser esboçada por processos
que serão estudados mais tarde.
- Contudo, podemos desde já trabalhar sobre uma função deste tipo, se nos for fornecida
informação como a expressão polinomial, zeros, extremos, quadros de variação e de sinal, ou a
própria curva.
- Para uma função cúbica, o sinal do coeficiente do termo de maior grau indica-nos o
comportamento do primeiro troço da função, em termos de monotonia. Assim:

a0 < 0  função decrescente no primeiro troço


a0 > 0  função crescente no primeiro troço.

Exemplo: Analisemos uma função cúbica (de grau 3), da qual temos a curva, onde nos é indicado
um do zeros.

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g: x 8x3 + 6x2 – 9x –5

Sabendo que um dos zeros desta função é 1,


podemos determinar os seus outros zeros. Em primeiro
lugar, efectua-se a divisão inteira de
8x3 + 6x2 – 9x –5 por x – 1,

aplicando a Regra de Ruffini.

8 6 -9 -5
1 8 14 5
8 14 5 0

Daí resulta que 8x3 + 6x2 – 9x –5 = (x – 1)  (8x2 + 14x + 5) . Sendo o polinómio quociente
uma expressão do segundo grau, facilmente calculamos as suas raizes.

 14  142  4  8  5  14  196  160  14  6


8x 2  14x  5  0  x   
28 16 16

1 5
x  x
2 4

Assim, a função g admite como zeros os valores 1, -1/2 e –5/4. Podemos então construir
o seu quadro de sinal:

x -5/4 -1/2 1
g(x) Neg. 0 Pos. 0 Neg. 0 Pos.

e, mesmo não tendo acesso ao seu gráfico, poderíamos prever que a função apresenta um primeiro
troço em que é crescente, um segundo em que é decrescente e um terceiro em que é novamente
crescente.

2ª Série de Exercícios

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1.5. Funções racionais

Chama-se função racional a toda a função cuja expressão algébrica é o quociente de dois
polinómios.
Dentro destas, debruçar-nos-emos sobre as funções do tipo

ax  b
f(x)  , a, b, c, d  R, c  0 .
cx  d

Neste tipo de funções, o domínio é o conjunto de todos os valores que não anulem o
denominador, isto é, será o conjunto definido por
Df  x  R : cx  d  0.

Note-se que uma função deste tipo terá sempre uma assímptota vertical, no zero do
denominador. Poderá também ter assímptotas não verticais.
O estudo duma função deste tipo implicará sempre o recurso ao cálculo.

1.6. Funções irracionais

Chama-se função irracional a toda a função cuja expressão designatória envolve radicais,
e na qual a variável aparece no radicando.
Estudaremos funções do tipo
f(x)  a  b  n p(x) , a, b  R, p(x) é um polinómio em x ,
cujo domínio depende do índice da raíz (n).

n ímpar  Df  R

n par  Df  x  R : p(x)  0

No caso das funções mais simples, do género y  x , poderá ser feita uma abordagem

da mesma a partir da função inversa, neste caso a função y  x 2 . No caso de funções com
expressões mais complexas, o seu estudo implicará o recurso ao cálculo.

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1.7. Função exponencial

Generalidades sobre potências

A definição mais simples que pode fazer-se de potência é a seguinte:

Potência de base a e expoente x: ax = a  a  ...  a , a  R, x  N.


x factores

Contudo, podemos definir potências com qualquer expoente real. Para um melhor
entendimento do seu significado, vejamos algumas Propriedades das Potências:

a0 = 1, a0

0x = 0 e 1x = 1,  x  R

1
a x
 x a, x  N

1
a  x   x , a  0
a 
(ax)y = ax  y  Potência de potência

Refiram-se ainda as Regras de Operações com Potências, nomeadamente para a


multiplicação e para a divisão:

ax  ay = a x + y ax
y
 a x y
a
ax  bx = (a  b)x ax  a 
x
 
bx  b 

Função exponencial

Trata-se de funções cuja expressão é uma potência de base positiva e expoente real, ou
seja, é qualquer função da forma:
f: R  R+
x ax (a > 0).

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Nesta função podem distinguir-se duas situações que originam curvas com características
diferentes, e que têm a ver com o valor de a.

Se a > 1, sabemos que  x1, x2  Df x1 > x2  ax1 > ax2, ou seja, a função é crescente.

Contudo, se a < 1, temos que  x1, x2  Df x1 > x2  ax1 < ax2, ou seja, a função é
decrescente.

Quanto a zeros, esta função não admite nenhum. Por definição, a base é positiva (a > 0), e
não existe expoente nenhum capaz de transformar uma potência de base não nula em zero. Além
disso, sabemos que se a = 1, teremos uma função constante da forma y = 1, pelo que neste caso
não se tem uma função exponencial.

No que diz respeito às curvas, teremos então:

a>1 a<1

Podemos então resumir as principais conclusões àcerca da função exponencial como se


segue:
f(x) = ax , (a > 0, a  1) Df = R
D’f = R+
Não tem zeros
f(0) = 1 , a
É injectiva e sobrejectiva (a  1)
Se a < 1, é decrescente
Se a > 1, é crescente

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1.8. Função logarítmica

Generalidades sobre logarítmos

Define-se logarítmo de x na base a como sendo o expoente a que é preciso elevar a


base a para se obter o número x. Simbolicamente:
loga x = b  ab = x.

Vejamos algumas Propriedades dos Logarítmos:

loga a = 1

loga 1 = 0

loga (p  q) = loga p + loga q

 p 1
loga   = loga p - loga q , e em particular, tem-se: loga   = - loga q
q q

1 1
loga pr = r  loga p , e em particular, tem-se: loga n p = loga p n
= loga p
n

Os valores dos logarítmos que se podem encontrar em tabelas, ou que são fornecidos
directamente pelas calculadoras, referem-se geralmente a duas bases:
Base 10  logarítmos decimais: log10 x ou simplesmente log x
Base e  logarítmos nepperianos: loge x ou simplesmente ln x

e  Número de Nepper: é a base mais utilizada, quer na função logarítmica, quer na


função exponencial; trata-se de um número irracional com valor 2,718...

Função logarítmica

Façamos um breve estudo da função logarítmica, pensando nela como função inversa da
função exponencial y = ax, que vimos ser bijectiva.

Assim, uma função logarítmica na base a é toda a função da forma:

f: R+  R
x loga x , a > 0, a  1.

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Se pensarmos que as curvas de duas funções inversas são simétricas relativamente à recta
y = x, e conhecendo já a função exponencial, será fácil prever a representação gráfica da função
logarítmica. Teremos então:

a>1 a<1

E, de um modo geral, podemos tirar, para esta função, as seguintes conclusões:

f(x) = loga x (a > 0, a  1) Df = R+


D’f = R
Um zero: x = 1
É injectiva
Se 0 < a < 1, f é: decrescente
positiva se 0 < x <1
negativa se x > 1
Se a > 1, f é: crescente
negativa se 0 < x <1
positiva se x > 1

3ª Série de Exercícios

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Bibliografia e Fontes de Figuras

 Neves, M. A. F.; Faria, M. L. M.; Matemática 8, Porto Editora, Porto, 1997.


 Abrantes, P.; Carvalho, R. F.; M 7, M 8, M 10, M 11, Texto Editora, Lisboa, 1982 a 1986.
 Jorge, A. M. B.; Alves, B. A.; Barbedo, J.; Infinito 10 (2º vol.), Areal Editores, Porto, 1996.
 Neves, M. A. F.; Vieira, M. T. C.; Alves, A. G.; Livro de Texto – Matemática 12º ano, Porto
Editora, Porto, 1987.
 Page, S.; Berry, J.; Hampson, H.; Mathematics – A second start (2nd ed.), Prentice Hall,
Cornwall, 1996.
 Caraça, B. J. (Edição revista por Almeida, P.); Conceitos Fundamentais da Matemática,
Gradiva, Lisboa, 1998.
 Setek, W. M.; Fundamentals of Mathematics (7th ed.), Prentice Hall, Upper Saddle River,
1996.
 Neves, M. A. F.; Carregal, M. I. J.; Matemática – manuais e livros de exercícios para os 10º,
11º e 12º anos, Porto Editora, 1996.
 Fernandes, A. M. P. G. C.; Borges, C. R.; Matemática – o essencial (10º e 11º anos), Edições
Asa, 2001.
 “Math is Fun” website - https://www.mathsisfun.com

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