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e

O que é a evolução?
Quem foi Charles Darwin
O que são os genes?
Como se originam as diferentes espécies?
Como eram os mamíferos primitivos?
100 perguntas, 100 respostas

100 PERGUNTAS, 100 RESPOSTAS

Prefácio

Nuno Ferrand de Almeida

José Feijó

A Exposição “A Evolução
de Darwin” foi concebida pela
todo o programa comemorativo
do centenário da Universidade
mundo natural, a sua capacida-
de de análise metódica de dados
Fundação Calouste Gulbenkian do Porto, que se assinala em 2011. acumulados ao longo de muitos
a fim de comemorar o bicentená- Na altura em que a biologia se anos, enfim, a sua extraordiná-
rio do nascimento do naturalista torna na mais dinâmica e vibran- ria ideia de evolução através do
britânico Charles Darwin e, ao te das disciplinas científicas do mecanismo de selecção natural.
mesmo tempo, os 150 anos da século XXI, e em que os seus Essa ideia foi-se consolidando
publicação da sua obra maior, A progressos afectam diariamente desde os tempos de Darwin até
Origem das Espécies. Esteve em o nosso modo de vida nas mais hoje, e constitui o corpo unifica-
exposição em Lisboa e Madrid, variadas áreas – do ambiente à dor de toda a biologia. Por isso,
durante 2009, e depois em Gra- conservação da diversidade bio-
nada, durante 2010. Quase dois lógica, da medicina à agricultu-
anos após a sua inauguração, ra, da genómica à modificação
chega agora ao Porto, onde vem genética dos organismos – não
encontrar um local de acolhi- poderia haver melhor razão para
mento tão simbólico quanto revisitar a história de Darwin,
perfeito: a Casa Andresen, em a sua viagem de cinco anos
pleno Jardim Botânico do Porto. à volta do mundo a bordo do
Antiga casa de Sophia de Mello Beagle, o seu carácter de obser-
Breyner Andresen, acolheu até vador curioso e cuidadoso do
2008 o Instituto de Botânica “Dr.
Gonçalo Sampaio” da Faculda-
de de Ciências da Universidade
do Porto, sofrendo agora amplas
obras de restauro e remodela-
ção para acolhimento desta rele-
vante exposição. A Exposição “A
Evolução de Darwin” constitui-
rá um momento importante de

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torna-se essencial que as pesso- evolutiva não só aumentaria a
as, em todas as áreas das nossas qualidade científica dos nossos
sociedades, percebam os funda- licenciados, como também per-
mentos da teoria da evolução tal mitiria que cidadãos mais bem
como a conhecemos hoje. informados compreendessem
A Comissão Organizadora melhor o controlo das pragas
da Exposição “A Evolução de agrícolas, a luta contra doenças
Darwin” em Granada, através da e epidemias, a conservação da
Andalucía Innova – Consejeria biodiversidade ou a evolução da
de Innovación, Ciencia y Econo- nossa própria espécie. Por todas
mia, teve a feliz ideia de elaborar estas razões, foi nossa opção
uma brochura especial intitula- fazer uma tradução desta infor-
da “100 Perguntas, 100 Respos- mativa brochura e oferecê-la ao
tas” sobre Evolução destinada ao público que visita a Exposição
público em geral. Esta brochura “A Evolução de Darwin” na Casa
constitui uma breve e muito bem Andresen, durante 2011.
conseguida viagem ao mundo da
evolução através de um conjunto
de respostas simples a perguntas
tão diversas como “o que é a evo-
lução?”, “quais são as evidências
morfológicas da evolução?”, ou
“quando surge a espécie huma-
na?”. Como bem refere Manuel
Soler no seu prefácio, uma maior
difusão e compreensão da teoria

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100 perguntas, 100 respostas

100 PERGUNTAS, 100 RESPOSTAS

Os nossos cientistas
respondem
à Biologia o que Newton já logra- espécies animais que habitavam
ra para a Física: uma explicação as ilhas Galápagos serem diferen-
científica que não necessitava de tes entre si e diferentes daquelas
poderes sobrenaturais para ex- que habitavam no continente. No
Manuel Soler
plicar fenómenos naturais. A sua entanto, só depois do seu regres-
ideia é considerada pelos histo- so, observando as suas colecções

o
célebre cientista britâni- riadores da Ciência como a mais e revendo as suas anotações, é
co Charles Darwin nas- importante e influente do conhe- que chegou à conclusão de que
ceu a 12 de Fevereiro de cimento humano, o que torna Da- a única explicação possível era
1809 e publicou sua obra maior A rwin num dos mais importantes que essas espécies se tivessem de-
Origem das Espécies em 1859. Este cientistas de todos os tempos. senvolvido a partir de indivíduos
ano comemoram-se o bicentená- vindos, muito antes, do continen-
rio do seu nascimento e os cento e O jovem Charles Darwin era um te. Darwin tinha consciência de
cinquenta anos da publicação do devoto cristão que tinha a espe- que os seus amigos de Cambridge,
seu famoso livro. Ambas as efe- rança de, um dia, chegar a cléri- de profundas convicções religio-
mérides têm feito com que o ano go. Mas então, como foi possível sas, não aceitariam esta conclu-
de 2009 seja reconhecido como o que lhe ocorresse a ideia da selec- são e preferiu guardar silêncio.
Ano Darwin e que se celebrem ção natural, se esta contradizia
actos de homenagem por todo o as crenças criacionistas domi-
mundo. nantes naquela época? Durante a
famosa viagem que o naturalista
Porque é que a obra de Darwin é britânico realizou no Beagle, cha-
considerada tão importante? Ao mou-lhe a atenção o facto de as
contrário do que se costuma pen-
sar, Charles Darwin não desco-
briu a evolução; a ideia de que as
espécies não permaneciam imu-
táveis, mas sofriam modificações
com o passar do tempo, é bem
mais antiga e já tinha tido bas-
tantes proponentes. O grande mé-
rito de Darwin foi ter descoberto
o mecanismo pelo qual ocorrem
modificações na descendência,
responsáveis pela alteração evo-
lutiva: a selecção natural. Naque-
la época, as maravilhosas adap-
tações dos seres vivos interpreta-
vam-se como uma manifestação
da magnificência divina. Darwin,
graças à sua genial ideia, trouxe

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Entretanto, pensava no assunto te modo, produzir-se-iam, de for- científicos em praticamente todos
de maneira obsessiva, tentando ma paulatina, nos descendentes os ramos da Biologia.
encontrar uma explicação para modificações pela alteração nas
o seguinte facto: de que maneira populações, cada vez mais adap- Hoje em dia, embora exista algu-
teriam ocorrido as alterações que tadas ao seu meio ambiente. ma polémica quanto à importân-
deram origem a essas espécies di- cia relativa da selecção natural
ferentes? Rapidamente, em 1838, Darwin chegou rapidamente a no processo evolutivo, a teoria
ocorreu-lhe a solução graças aos essas conclusões, que constituem Darwinista continua a for ne-

¡
conhecimentos que adquirira a base da sua Teoria da Evolução cer ideias que servem de inspi-
dos criadores de animais, que pela Selecção Natural; no entan- ração, não só a biólogos, mas
conseguiam obter descendentes to, demorou 21 anos a publicá-las. Manuel Soler também a cientistas e profissio-
com características específicas Quando, finalmente, o seu livro é Presidente nais de muitos outros ramos do
(ovelhas com mais lã, vitelas com foi publicado, esgotaram-se ime- da Sociedade conhecimento.
mais carne ou pombas de diferen- diatamente todos os exemplares Espanhola de
tes morfologias), seleccionando das sucessivas edições. A Origem Biologia Evo- Lamentavelmente, Espanha e
os adultos reprodutores que as das Espécies converteu-se então lutiva. Portugal são países com muito
possuíam. Darwin pensou que o num dos livros mais vendidos, pouca tradição evolucionista.
equivalente, na natureza, a esta mais traduzidos e mais lidos de Ainda que os cientistas que, como
“selecção artificial”, realizada todos os tempos. nós, se dedicam a este tema profis-
pelos criadores, seria a compe- sionalmente se baseiem na teoria
tição entre indivíduos, já que a O seu enorme sucesso deveu-se, da selecção natural na concepção
capacidade reprodutiva das es- por um lado, à grande controvér- dos seus estudos e, a um nível me-
pécies é muito elevada, produ- sia gerada com a sua publicação, nos especializado, os biólogos as-
zindo mais descendentes do que que supôs uma verdadeira revo- sumam em geral que a evolução é
aqueles que, mais tarde, chegam lução social. Por outro, deveu-se a base da biologia, a importância
a reproduzir-se. à sua grande importância cientí- concedida à teoria da evolução
fica, que trouxe o enquadramento nos programas curriculares, em
Isto implicaria que os indivíduos teórico imprescindível à conver- todos os níveis de ensino, é míni-
que conseguissem deixar descen- são da Biologia numa verdadeira ma em ambos os países. Tanto nas
dência seriam aqueles que fossem ciência. A enorme capacidade de escolas, como nos liceus, o tema é
portadores das características previsão da teoria de Darwin fa- referido muito superficialmente.
mais favoráveis e que os mesmos voreceu uma explosão de estudos O mesmo acontece nas Universi-
as passariam aos seus filhos. Des- dades: são muito poucas aquelas
em que se lecciona alguma disci-
plina sobre evolução.
A celebração das duas efemérides
atrás referidas está a contribuir
para que, durante este ano, se
esteja a produzir um magnífico
trabalho de divulgação da figu-
ra de Darwin e da sua teoria da
evolução pela selecção natural
em todo o mundo, incluindo Es-
panha e Portugal. Isto é muito
positivo, mas quero aproveitar
a ocasião para reivindicar uma
maior presença da teoria evoluti-
va no ensino. Uma maior difusão
e uma melhor compreensão da
teoria evolutiva melhoraria, por
um lado, a qualidade científica
dos licenciados em Biologia, mas
contribuiria também para uma
melhor compreensão, por parte
dos cidadãos, de temas como o
controlo de doenças e epidemias,
a luta contra as pragas, a conser-
vação da natureza e, inclusive,
para um melhor conhecimento
de nós próprios.

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1. 4.
O que é a evolução?
A evolução é uma altera- 3. O trabalho dos
cientistas criacionistas
ção no perfil genético de uma Quem foi Charles Darwin? foi então inútil?
população de indivíduos que De modo algum. Existiram
vai tendo lugar através de Foi um cientista e naturalista britânico grandes cientistas e observa-
sucessivos estados temporais nascido em Shrewsbury, Shropshire, a 12 dores criacionistas, cujo con-
(gerações). Estas modificações de Fevereiro de 1809. Depois de estudar em tributo para a Ciência foi ines-
supõem a integração de no- várias Universidades (aos 16 anos começa a timável. É o caso, por exemplo,
vas vantagens competitivas estudar Medicina na Universidade de Edim- de Lineu (1707-1778), natu-
em termos de sobrevivência e burgo, para depois estudar os invertebrados ralista sueco criador do siste-
podem levar ao surgimento de marinhos, e, posteriormente, Ciências Na- ma de classificação natural e
novas espécies, à adaptação turais em Cambridge), em 1831, integra a da nomenclatura binominal
a diferentes ambientes ou à viagem de reconhecimento do HMS Beagle, utilizadas hoje em dia, ou de
emergência de novidades evo- como naturalista sem remuneração, numa Charles Cuvier (1769-1832),
lutivas. No início do estudo da expedição científica à volta do mundo. Nesta considerado o pai da paleon-
evolução biológica, Darwin e viagem, realizou importantíssimas e metó- tologia.
Wallace propuseram a selecção dicas observações geológicas e biológicas.
natural como principal meca- Cinco anos depois, após o seu regresso a
nismo da evolução. Actualmen- Inglaterra, dedicou-se a reunir e desen- 5.
te, a teoria da evolução com- O que é a teoria
bina as propostas de Darwin e catastrofista?
Wallace com as leis de Mendel, Esta teoria surgiu do pen-
bem como com outros desen- samento de Charles Cuvier. Ao
volvimentos posteriores da longo dos seus anos de estudo
genética; por isso, é designada e meticulosas observações,
por síntese moderna ou teoria apercebeu-se de que, no pas-
sintética da evolução. sado, já tinham existido outras
floras e faunas distintas das
que existem hoje, o que contra-
2. riava o pensamento criacionis-
O que é a teoria ta. Esta contradição levou-o a
criacionista? elaborar uma teoria conhecida
Até ao século XVIII, as ideias como a teoria catastrofista,
dominantes na Europa eram as segundo a qual, ao longo da
de que os seres vivos tinham história da Terra, ter-se-iam
sido criados tal como os conhe- sucedido grandes catástrofes
cemos hoje: eram imutáveis. naturais que teriam eliminado
Estas ideias, conhecidas como os seres vivos existentes, segui-
“fixismo criacionista”, basea- das de novas criações
vam-se nas crenças judaico-
-cristãs do Génesis, segundo
o qual o mundo, e tudo no que 6.
ele existe, foi criado em seis volver as suas ideias sobre a mudança das O que é o
dias e teria uma idade de ape- espécies. Em 1859, após mais de 20 anos transformismo?
nas 6000 anos. Deus teria cria- de estudo, publicou a sua teoria A Origem Ao longo do século XVIII,
do as espécies tal e qual como das Espécies através da Selecção Natural. O e sobretudo do século XIX, o
elas são hoje. seu livro provocou uma grande controvérsia fixismo criacionista começa
Durante muito tempo, na épo- na comunidade científica e religiosa, pois a considerar-se insuficiente
ca do criacionismo clássico, o a sua teoria da evolução desafiava radical- perante as evidências cientí-
termo não foi utilizado de ma- mente a teoria criacionista, e provocou uma ficas que se vão constatando,
neira geral para denominar a enorme revolução no pensamento humano. e nasce o transformismo, que
teoria oposta ao evolucionismo Ficou conhecido como o livro que abalou o daria posteriormente lugar
darwinista, designando-se de mundo. A Origem das Espécies esgotou-se ao evolucionismo. O pai do
outras formas. Os criacionistas no primeiro dia de publicação e o mesmo transformismo é o francês Jean
clássicos negavam a teoria voltou a acontecer nas seis edições poste- Baptiste de Monet, Cavaleiro
da evolução biológica e, par- riores. Charles Darwin morreu a 19 de Abril de Lamarck (1744-1829), pro-
ticularmente, tudo o que se de 1882 e foi enterrado na Abadia de West- fessor no Museu de História
referia à evolução humana e às minster, junto de Isaac Newton. Natural de Paris. Em 1800, dá
explicações científicas sobre a uma conferência na qual expõe
origem da vida. uma teoria coerente sobre a

6
A primeira edição de A Ori-
gem das Espécies continha
como única ilustração um
esquema que explicava como
as diferentes espécies parti-
lham semelhanças e descen-
dem de ancestrais comuns.
Em baixo, detalhes do Beagle.
/Darwin Online

7.
Além da sua teoria sobre a
origem das espécies, deixou
Darwin algum legado dos seus
estudos que permita conhecer
melhor o seu pensamento e as
suas conclusões científicas?

Felizmente, Charles Darwin foi sempre


um escritor metódico e compulsivo. Gos-
tou sempre de tomar nota de tudo aquilo
em que trabalhava e de cada avanço nas
suas investigações, assim como trocar cor-
respondência de forma sistemática com
colegas e professores de todo o mundo.
Conservam-se mais de 14 000 cartas de
Darwin, nas quais se reflectem os seus su-
cessos, avanços e retrocessos nas suas in-
vestigações. Conservam-se, também, muitas
cartas que escreveu a Emma Wedgwood sua
mulher, a quem amou profundamente e que,
embora muito religiosa, sempre o apoiou.
transformação dos seres vivos. Além disso, Darwin publicou posteriormen-
Admite a evolução das espécies te outros livros e tratados de elevado valor
e tenta atribuir-lhe uma expli- científico.
cação racional.

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e desuso), que os mais utiliza- 11.


dos se desenvolvem e fortale- Como se explica essa
cem, e que os menos utilizados transgressão do
se atrofiam, eventualmente até pensamento religioso
desaparecer. da época?
Por último, a teoria afirma que Era Darwin ateu?
os caracteres adquiridos ou Claro que foi uma gran-
perdidos pelos seres vivos ao de revolução e uma enorme
longo da sua vida se transmi- controvérsia nas opiniões de
tem aos seus descendentes então. Darwin manifestou-se,
(hereditariedade dos caracte- no fim da sua vida, fiel aos seus
res adquiridos). princípios agnósticos, tal como
o fizeram os seus filhos, mas
tudo foi fruto de uma evolução
10. do seu pensamento. A tradição
Qual seria um exemplo religiosa da família Darwin
da teoria Lamarckista? foi um unitarismo irregular, já
Para Lamarck, as girafas, por que o seu pai e o seu avô eram
exemplo, tinham inicialmente o livre-pensadores, mas, ao mes-
pescoço curto. Depois, este ter- mo tempo, o seu baptismo e a

8.
Que diferença existe
entre o facto evolutivo
e a teoria da evolução?

Verifica-se, frequentemente, alguma


confusão entre facto evolutivo e teoria da
evolução. Denomina-se facto evolutivo ao
facto científico de que todos os seres vivos
são aparentados entre si e se foram trans-
formando ao longo do tempo. A teoria da
evolução é o modelo científico que descreve
a transformação e diversificação evolutivas
e explica as suas causas.

9. -se-ia alongado para que elas sua formação religiosa foram


Que novidades pudessem comer as folhas das anglicanas. Na sua época de
introduziu a teoria árvores. Deste modo, as girafas Cambridge, Darwin considerou
transformista ou de pescoço mais longo teriam a possibilidade de se tornar um
Lamarckismo? sido as mais fortes e com maior clérigo anglicano, sem ter ne-
O Lamarckismo baseia-se capacidade para se alimentar nhuma dúvida sobre a verdade
em vários princípios funda- e, por consequência, para so- literal da Bíblia. No entanto,
mentais. Por um lado, assegura breviver. Esta característica foi durante os primeiros anos
que o meio ambiente está em sendo herdada pelos descen- enquanto naturalista a bordo
constante mudança e que os dentes até alterar a fisionomia do HMS Beagle, iniciou-se nele
seres vivos se adaptam a essas da espécie. Hoje sabemos que uma transformação ideológica
alterações. Por outro, sustenta esta teoria da hereditariedade procurando respostas que não
que os seres vivos utilizam mais não é correcta. fossem puramente teológicas.
uns órgãos do que outros (uso Darwin ainda procurava “cen-

8
tros da criação” que justificas- 12.
sem a distribuição das espé- Existe alguma
cies, continuava a ser bastante contradição entre a
ortodoxo e citava regularmente Teoria da Evolução e os
a Bíblia como uma autoridade princípios religiosos?
moral. No seu regresso, no Existem algumas tentativas
entanto, Darwin vinha muito de aproximar ambas as aborda-
mais crítico em relação ao gens. O Papa João Paulo II, por
pensamento criacionista e exemplo, optou por comple-
considerou, pela primeira vez, a mentar as duas e segundo ele,
possibilidade de que outras re- a Teoria da Evolução não exclui
ligiões, ou inclusive todas elas, uma intervenção divina. Os es-
fossem igualmente válidas. pecialistas reconhecem que a
Nos anos seguintes, de inten- evolução descreve um processo
sa especulação em torno de que rege o desenvolvimento da
questões geológicas e de trans- vida na Terra.
mutação das espécies, colocou Tal como acontece com outras
muitas questões relativas à fé, teorias científicas, incluindo a
discutindo-as frequentemente Copérnica e a atómica, a teoria
com Emma, a sua mulher, que da evolução apenas se refere a

apoiava a sua fé num estudo e longos passeios sozinho. Relu- Ilustrações objectos, eventos e processos
questionamento igualmente tante em manifestar a sua opi- realizadas no mundo material. Segundo
sérios. Embora considerando, nião sobre questões religiosas, a partir dos esta visão, a ciência não tem
já então, a religião como um em 1879 afirmou, no entanto, dados obtidos nada a dizer, de uma maneira
mecanismo estratégico de so- que nunca se tinha considera- na segunda ou outra, sobre a existência de
brevivência, Darwin ainda acre- do a si próprio um ateu, e que expedição do Deus ou sobre as crenças espi-
ditava que, em última análise, o termo agnóstico “seria uma Beagle, de rituais dos povos. No entanto,
Deus era o “dador de vida”. O descrição mais correcta do 1831 a 1836./ uma corrente com cada vez
cientista continuou a desenvol- meu estado de ânimo”. Darwin Online mais seguidores mostra que
ver um papel muito activo nas ciência e religião representam
tarefas da sua paróquia, mas, duas maneiras de responder às
por volta de 1849, começou mesmas grandes perguntas da
a dedicar o tempo que a sua humanidade: a ciência dá uma
família passava na igreja a dar resposta baseada em factos e

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evidências e a religião na cren-


ça sem evidências, que é a fé. A
ciência, hoje em dia, estuda a
origem das religiões como um
processo natural, produto do
desenvolvimento do cérebro.

13.
Por quese chama, por
vezes, a esta teoria
a teoria de Darwin-
Wallace?
Alfred Russel Wallace foi ou-
tro naturalista britânico, nasci-
do a 8 de Janeiro de 1823, em
Monmouthshire, País de Gales.
Em 1848, realizou uma expe-
dição ao rio Amazonas com
o também naturalista Henry
Walter Bates e, de 1854 a
1862, dirigiu uma investigação
nas ilhas da Malásia. Foi então
que formulou a sua teoria da
selecção natural.
Em 1858, comunicou as suas
ideias ao seu colega Charles
Darwin, dando-se então a
surpreendente coincidência
de que este já tinha redigido a
sua própria teoria da evolução.
No entanto, as conclusões de
ambos são similares e com-
plementares. Wallace morreu
a 7 de Novembro de 1913, em
Dorset, Inglaterra.

14.
Quais são os princípios
gerais da teoria da
evolução das espécies?
A teoria de Darwin-Wallace
ou darwinismo baseia-se nos
seguintes princípios.
Por um lado, existe variação
transmissível das característi-
cas dos indivíduos de uma po-
pulação. Por outro, nem todos
os indivíduos têm as mesmas
características e algumas são
melhores do que outras pa-
ra aproveitar os recursos do
ambiente em que vivem esses
indivíduos. Isto gera uma capa-
cidade reprodutiva diferencial, Crânio de pelos recursos e os que tiverem verem as pressões selectivas e
isto é, os indivíduos com as um extinto melhores características trans- a acumulação de característi-
características que permitam Toxodon mitem-nas à geração seguinte cas adaptativas entre gerações,
uma melhor adaptação são os platensis, com mais sucesso do que acaba por ocorrer especiação.
que terão maiores possibilida- encontrado aqueles que não as tenham. A
des de sobrevivência e repro- pela expedição nova geração herda as carac-
dução. Assim, produz-se uma do Beagle./ terísticas adaptativas e, com o
competição entre os indivíduos Darwin Online passar do tempo, se se manti-

10
15. desta teoria tem sido cientifi-
Qual seria um exemplo
desta teoria? 20. camente avaliados e rejeitados.
Actualmente, não se sustenta
Voltando ao exemplo das Quem foi Gregor Johann nenhuma das afirmações desta
girafas de Lamarck, comparan- corrente religiosa que se baseia
do a teoria dele e a evolucio-
Mendel? na crença, sem nenhum funda-
nista, para Darwin e Wallace a Johann Mendel (1822-1884) (o nome mento, de que a evolução não
população de girafas não era Gregor foi por ele adoptado ao tornar-se explica suficientemente a com-
toda igual, existia uma certa frade) foi um monge agostinho católico e plexidade que existe na vida
variabilidade e, deste modo, naturalista, nascido em Heinzendorf, Áus- na Terra e que na ciência deve
umas tinham o pescoço mais tria, e formado na Universidade de Viena. reconhecer-se a existência de
comprido do que outras. Os in- Descreveu as chamadas Leis de Mendel que uma concepção inteligente. Os
divíduos de pescoço mais longo regem a transmissão das características seus defensores têm tentado
estariam mais bem adaptados hereditárias, por meio dos trabalhos expe- conseguir que as suas propos-
a um ambiente no qual se rimentais que levou a cabo com diferentes tas sejam estudadas nos cen-
teria acesso ao alimento dos variedades de ervilha (Pisum sativum). Fo- tros de ensino, mas os tribunais
ramos mais altos das árvores e ram os primeiros trabalhos realizados em dos Estados Unidos têm avalia-
deixariam mais descendentes, genética. Inicialmente, realizou cruzamento do as provas e têm constatado
que herdariam os seus genes. que o chamado desenho inteli-
Com o tempo, haveria cada vez gente é uma corrente religiosa
mais indivíduos com o pescoço não científica, pelo que não têm
longo. permitido a sua inclusão nos
planos de estudo.
16.
A teoria da evolução 18.
das espécies de Darwin Qual é a teoria
continua vigente, hoje evolutiva actualmente
em dia, tal como então? vigente?
Sim, embora se tenha Nos inícios do século XX,
progredido imenso desde os cientistas como Dobzhansky,
tempos de Darwin. Temos que Simpson, Mayr ou Huxley for-
pensar que na época na qual mularam uma nova teoria,
se elaborou não se sabia nada chamada Neodarwinismo, que
sobre os avanços científicos se fundamenta na teoria da ori-
que conhecemos hoje. Portan- gem das espécies de Darwin, e
to, não se conheciam as leis de se complementa com as leis de
Mendel sobre a hereditarieda- Mendel e o fenómeno das muta-
de, nem se tinha informação ções genéticas. O Neodarwinis-
sobre as mutações. Com esses mo, também chamado Teoria
avanços, principalmente no Sintética da Evolução, é a que se
campo da genética, adicionou- encontra vigente hoje em dia.
-se à teoria de Darwin o apoio
do conhecimento dos mecanis- 19.
mos da hereditariedade e têm- Que opinião sobre a
-se conseguido novas provas evolução sustenta
da origem comum de todos os a actual teoria Neoda-
seres vivos. rwiniana ou Sintética?
de sementes, que mostraram diferentes for- A teoria vigente na actuali-
17. mas de descendência. Nos seus metódicos dade baseia-se nos seguintes
O que é a teoria do estudos verificou que haveria caracteres princípios. Por um lado, os
Desenho Inteligente? dominantes e recessivos. seres vivos experimentam
A teoria do desenho inteli- O seu trabalho não foi valorizado quando variações devido a mutações
gente é uma negação da teoria o publicou no ano de 1866. Hugo de Vries, que se produzem ao acaso, o
da evolução que defende que o botânico holandês, em conjunto com Carl que gera variabilidade entre
criacionismo é uma alternativa Correns e Erich von Tschermak, redescobri- os indivíduos de uma mesma
científica válida que deveria ser ram as leis de Mendel separadamente no espécie. Também, segundo
explicada nas aulas de Ciências ano de 1900. Estas leis mantêm-se válidas esta teoria, actua sobre eles a
da Natureza, como alternativa até hoje, embora se tenham adicionado selecção natural. Os indivíduos
à teoria da evolução. Todos os muitos outros conhecimentos genéticos na com características que lhes
postulados e supostas provas actualidade. permitem uma melhor adapta-
apresentadas pelos seguidores ção sobrevivem, deixam mais

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21.
O que é o DNA?
O DNA é a substância quí-
mica onde são armazenadas
as instruções que dirigem o
desenvolvimento de um ovo
até à formação de um organis-
mo adulto, que mantêm o seu
funcionamento e que permi-
tem a hereditariedade. É uma
molécula gigantesca, formada
pela agregação de três tipos de
substâncias: açúcares, deno-
minados desoxirribose, o ácido
fosfórico e bases azotadas de
quatro tipos: a adenina, a gua-
nina, a timina e a citosina. Os
açúcares e os ácidos fosfóricos
unem-se de forma linear e al-
ternadamente, formando duas
longas cadeias que se enrolam
em forma de hélice. As bases
nitrogenadas encontram-se
no interior desta dupla hélice e
formam uma estrutura similar
aos degraus de uma escada.

descendentes e os seus carac- tica representa uma vantagem, entre si”. O cruzamento de dois
teres tornam-se mais frequen- estes indivíduos reproduzir-se- indivíduos homozigóticos, um
tes dentro da população. Os -iam mais, pelo que o número dominante (AA) e o outro reces-
menos bem adaptados deixam de indivíduos com o pescoço sivo (aa), origina apenas indiví-
menos descendentes e os seus mais longo aumentaria. Com duos heterozigótitos, isto é, os
genes vão desaparecendo. Por o tempo, as girafas teriam o indivíduos da primeira geração
outro lado, estas alterações pescoço cada vez mais longo. A filial (F1) são idênticos (Aa).
acumulam-se no tempo produ- evolução não termina porque A segunda lei, ou Princípio da
zindo modificações nas popu- as mutações fazem com que Segregação, propõe o seguin-
lações que dão lugar a novas haja sempre indivíduos com te: “Alguns indivíduos podem
variedades, raças e espécies. pescoços mais curtos e mais transmitir uma característica
longos dentro da população to- que neles se manifesta”. O
22. tal. Esta é a variabilidade sobre cruzamento de dois indivíduos
Continuando com o a qual actua a selecção natural. da F1 (Aa) dará origem a uma
exemplo das girafas segunda geração filial na qual
utilizado em teorias 23. reaparece o fenótipo “a”, apesar
anteriores, qual Quais são as leis de de todos os indivíduos da F1
seria a demonstração Mendel e o que é que serem do fenótipo “A”. Por isso,
prática da aplicação nos indicam? Mendel supôs que o carácter
desta teoria sobre As leis de Mendel são três, “a” não tinha desaparecido,
esses animais? embora muitos considerem mas tinha sido “escondido”
Segundo o Neodarwinismo, que a primeira não é uma lei, pelo carácter “A”, pelo que ao
as girafas teriam evoluído da pelo que se podem considerar reproduzir-se um indivíduo, ca-
seguinte maneira: entre os an- apenas duas. da carácter é segregado.
tecessores das girafas, animais A primeira lei, ou Princípio da Por último, a terceira lei, ou
de pescoços curtos, as muta- Uniformidade, diz o seguinte: Princípio da transmissão in-
ções teriam produzido alguns “Quando se cruzam dois indiví- dependente, faz referência
indivíduos de pescoços mais duos de raça pura, os híbridos ao cruzamento poli-híbrido
longos. Como esta caracterís- que resultam são todos iguais (mono-híbrido: quando é con-

12
27.
O que são
os genes?
São as unidades mais pe-
quenas da hereditariedade. Um
gene é um pequeno segmento
de DNA que é interpretado pelo
corpo como um plano ou pa-
drão para a produção de uma
proteica específica e a informa-
ção proporcionada pelo con-
junto de todos eles é o desenho
ou plano para estruturar um
indivíduo de qualquer espécie
e as suas funções. Os genes são
unidades de DNA responsáveis
pelos “códigos” que constroem
o organismo de uma determi-
nada forma. São transmitidos
de pais a filhos, de geração
em geração... pelo que se tra-
ta da matéria-prima sobre a
qual actua a selecção natural.
Os genes encontram-se dis-
postos linearmente em longas
cadeias de DNA, que, por sua
vez, formam os cromossomas.

siderada uma característica; tor masculino. Por outras pa- danificá-la severamente, o que
poli-híbrido: quando são con- lavras, as características que afecta a sua função e pode,
siderados duas ou mais carac- essas variantes determinam assim, gerar uma doença. Além
terísticas). Mendel trabalhou só se manifestam em homozi- do mais, factores ambientais e
este tipo de cruzamento em gotia. As variantes (ou alelos) a presença de outros genes po-
ervilhas, nas quais as caracte- dominantes são aquelas que dem ter efeito na expressão de
rísticas que ele observava (cor para se manifestarem num uma mutação. Isto torna-se evi-
da semente e rugosidade da indivíduo só requerem que ele dente em famílias onde existe
superfície) se encontravam em as tenha herdado de pelo me- uma mesma mutação genética
cromossomas separados. Deste nos um dos progenitores. Ou que se apresenta sob a forma
modo, observou que os carac- seja, manifestam-se em hete- de diferentes patologias.
teres se transmitiam indepen- rozigotia e homozigotia.
dentemente uns dos outros. 26.
Esta lei, no entanto, deixa de se 25. Além destas teorias,
aplicar quando existe ligação O que é uma mutação que provas existem em
(dois genes estão em loci muito de um gene? relação à evolução?
próximos e não são separados É uma alteração na infor- A teoria da evolução das es-
na meiose). mação genética do indivíduo, pécies é, hoje em dia, um facto
na sequência de um gene. O inquestionável, pese embora a
24. dano ou a mutação de um gene relutância de alguns sectores
O que são genes pode ter como resultado a alte- ultra-conservadores em países
recessivos e genes ração da proteína que produz, como os Estados Unidos, que
dominantes? o que por vezes pode não ter continuam a defender o criacio-
Os genes recessivos (neste repercussão na sua função, e nismo. As evidências científicas
caso no sentido de variantes se a houver, pode ser de pou- sobre as quais se sustenta a
ou alelos) são aqueles que só ca importância. No entanto, teoria são, principalmente,
se manifestam num indivíduo nalgumas ocasiões a mutação paleontológicas, morfológicas,
quando são herdados do pro- pode levar directamente à não biogeográficas, embriológicas e
genitor feminino e do progeni- produção de uma proteína, a bioquímicas.

13
100 perguntas, 100 respostas

28.
O que são
as provas
biogeográficas?

Observando a procedência
e o habitat natural de alguns
seres vivos muito semelhan-
tes entre si e espalhados por
diferentes pontos do planeta
e ausentes em outras zonas,
algumas coincidências só
podem ser explicadas atra-
vés da teoria da evolução e
das placas tectónicas. Um
exemplo seria a distribuição
geográfica das grandes aves,
como a avestruz africana, a
ema da América do Sul, as-
sim como o casuar e o emú
australianos.

30. tação ao meio e evolução das (voar, nadar, correr, segurar). Por
Qual seria uma prova diferentes espécies. E também outro lado, os órgãos análogos
paleontológica da podem observar-se os mais provêm de distintas origens,
evolução? resistentes da natureza, os mas o processo evolutivo das
Nos fósseis vegetais e fósseis vivos, organismos que diferentes espécies conduziu-
animais que se têm vindo a permanecem quase inaltera- -os a uma função comum. É o
descobrir ao longo da história, dos desde há milhões de anos, caso da asa de uma mosca e a
encontramos uma fonte ines- como acontece, no caso das asa de uma ave. Ambas servem
gotável de provas paleontoló- plantas, com a araucária (uma para voar, mas a sua origem e
gicas. Um exemplo clássico de árvore muito alta), ou, no dos estrutura são muito diferentes.
prova evolutiva poderia ser o peixes, com o celacanto. Finalmente, os órgãos vestigiais
conjunto de fósseis de Archa- são aqueles que, pelo processo
eopteryx, um antecessor das 31. evolutivo da adaptação, têm
aves que apresenta caracteres Quais são as evidências vindo a atrofiar-se, como, por
tanto de ave como de réptil morfológicas da exemplo, os restos das extremi-
(asas com plumas, dentes de evolução? dades posteriores do esqueleto
réptil, garras nas asas, etc.). Es- As evidências morfológicas das baleias, que revelam os seus
te e muitos outros exemplos de baseiam-se no estudo compara- antepassados quadrúpedes.
animais de formas intermédias do da morfologia e da anatomia
entre espécies mostram clara- dos seres vivos actuais. É preci- 32.
mente as mutações genéticas so diferenciar muito bem vários O que é a Gondwana?
que têm dado origem à evolu- conceitos. Por um lado, os ór- Segundo a teoria das placas
ção das espécies. O estudo dos gãos homólogos, que são aque- tectónicas, há uns 250 milhões
fósseis também permite ver o les que têm uma mesma origem de anos todos os continentes
processo evolutivo dos indiví- e estruturas similares, mas que estavam unidos. Devido a movi-
duos de uma espécie desde os são usados para funções distin- mentos nas placas tectónicas, o
seus ascendentes mediante as tas. Assim, a asa de um morce- continente único dividiu-se há
“séries filogenéticas”. Nelas, go, a barbatana de uma baleia, uns 100 milhões de anos, inicial-
observa-se como, por exemplo, a pata de um cavalo ou a extre- mente, em duas partes. A parte
se foram perdendo os dedos, midade oponível de um primata norte era formada pelas actuais
engrossando as articulações, sofreram um processo evolu- América do Norte, Gronelândia,
alongando ou reduzindo as tivo, apesar de terem a mesma Europa e Ásia. Este conjunto
extremidades ou o crânio, etc., procedência e estrutura, e as su- chama-se Laurásia. O outro
durante o processo de adap- as funções são agora diferentes grande bloco era constituído

14
29.
Como eram os
mamíferos
primitivos?

Tinham o tamanho de um
rato e ramificaram-se em três
linhagens principais: os mono-
trématos (como o actual orni-
torrinco) que são ovíparos mas
alimentam com leite a descen-
dência desde o nascimento; os
marsupiais (como os actuais
cangurus) que são vivíparos,
mas as suas crias nascem dimi-
nutas e crescem num marsú-
pio; e os placentados (a maioria
dos mamíferos actuais), assim
chamados por exibirem uma
ligação nutritiva (a placenta)
entre o útero e o embrião.

pelas actuais América do Sul, 33. nos sistemas antagónicos como


África e Oceânia e recebe o nome Como é que a evolução planta-herbívoro, predador-
de Gondwana. As grandes aves de uma espécie pode -presa ou parasita-hóspedeiro, e
atrás descritas tiveram um ante- afectar a de outra? também nalguns sistemas mu-
passado comum na Gondwana Não há espécie que exista nu- tualistas como plantas-poliniza-
e é por isso que, hoje em dia, os ma situação de vazio biológico. doras ou plantas-dispersadores
descendentes das grandes aves Todos os seres vivos interagem de sementes. Com alguma
que ficaram isoladas e, portanto, com o meio que os rodeia e com frequência, produzem-se efeitos
evoluíram independentemente o resto dos seres vivos com os recíprocos entre as espécies que
dando origem a diferentes espé- quais partilham esse meio. Exis- interagem, isto é, a espécie A
cies, se encontram apenas nos tem relações como a simbiose, o provoca alterações evolutivas na
continentes que formavam a parasitismo ou a polinização. Por espécie B e a espécie B provoca-
Gondwana e não nos que forma- vezes, essa relação entre espécies -as na espécie A. Este processo
vam a Laurásia. é muito directa, como acontece denomina-se co-evolução.

15
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AUSTRALOPHITECUS HOMO ERECTUS HOMO NEANDERTHAL HOMO SAPIENS


-4.000.000 -1.500.000 - 250.000 -150.000

34.
Qual é a classificação da espécie
humana como organismo animal?
Os seres humanos pertencem ao Tipo cordados, Subtipo vertebrados, Classe
mamíferos, Subclasse placentados (eutérios), Ordem primatas, Subordem antro-
póides, Família hominídeos, Género Homo e Espécie Homo sapiens.

36. de vista evolutivo mostram


O que propõe a hipótese maiores semelhanças nos seus
da Rainha Vermelha? processos de desenvolvimento
Trata-se de uma teoria muito embrionário. As semelhanças
geral que se aplica a muitos nas primeiras etapas de desen-
campos da biologia evolutiva. volvimento embrionário dos
Faz referência ao facto de que, vertebrados demonstram a
mesmo num meio físico relati- existência de um antepassado
vamente constante, a evolução comum.
de algumas das espécies que
nele ocorrem provoca uma si- 38.
tuação de alteração que obriga Como é que se conse-
o resto das espécies que parti- guem provas bioquími-
cipam na interacção a também cas da evolução?
evoluir. É conhecida por este Uma das evidências mais
nome porque no famoso livro Restos de um 37. importantes baseia-se na se-
“Alice do outro lado do espe- dos crânios O que são e de que melhança, a nível molecular,
lho”, de Lewis Carroll, a rainha do Homem tratam as provas que existe entre as proteínas e
vermelha diz a Alice que nesse de Herto, embriológicas? o DNA dos diferentes organis-
lugar é preciso correr cons- com cerca de Trata-se da comparação e mos. Esta semelhança é tanto
tantemente para se manter no 158.000 anos. estudo do desenvolvimento mais vincada quanto maior é o
mesmo sítio. Esta hipótese foi /MEC embrionário das diferentes grau de parentesco evolutivo
proposta por Leigh Van Valen, espécies de seres vivos. Nelas entre eles. Assim, para expor vá-
dentro da sua lei das extinções, é possível constatar que as rios exemplos comparados com
em 1973. espécies que estão mais estrei- o homem, a diferença entre o
tamente aparentadas do ponto DNA do homem e do gorila é de

16
vezes a hibridação entre espé-

35. cies próximas pode dar lugar a


indivíduos férteis, como ocorre
Quando e como quando se cruzam indivíduos
de diferentes espécies de anatí-
surgem os deos (patos).
primatas?
Após o final da extinção 41.
Cretácica, há 65 milhões de Como surgem as
anos, época na qual quase subespécies dentro de
todos os dinossauros se cada espécie?
extinguiram (hoje em dia, Se diferentes populações de
existem umas 9.000 espé- indivíduos de uma mesma es-
cies de “dinossauros” que pécie experimentam variações
conhecemos como aves), os que as diferenciam devido ao
mamíferos, como um dos isolamento ou a outras causas,
grupos sobreviventes, expe- originam-se as subespécies.
rimentaram uma explosiva Normalmente, respondem à
radiação adaptativa durante própria adaptação da espécie
o período Terciário. Entre os ao meio para assegurar a so-
placentados, esta radiação brevivência, são uma resposta
deu origem aos carnívoros, evolutiva ao seu meio ambien-
aos ungulados, aos roedores te. Os indivíduos de diferentes
e outros grupos tais como subespécies podem reproduzir-
baleias, golfinhos, morcegos, -se entre si, pelo que, para que
insectívoros (como os musa- se produza uma espécie nova,
ranhos actuais) e primatas. é frequentemente necessário
A maior parte das Ordens de que exista algum tipo de bar-
mamíferos diversificou-se reira que impeça o cruzamento
neste período, incluindo os entre indivíduos das diferentes
primatas, aos quais perten- subespécies.
cem à espécie humana.
42.
De onde provêm os
mamíferos?
apenas 1,4%, com o chimpanzé mistura-se plasma sanguíneo A maior parte Os mamíferos evoluíram de
de 1,2% e com o orangotango e anti-corpos de diferentes ani- das ordens de um tronco de répteis primitivos
de 2,4%. Se tivermos em conta mais com proteínas de sangue mamíferos que já dispunham de algumas
que a diferença de sequência humano, e mede-se a percen- desenvolve- características de mamíferos
de DNA entre o gorila e o chim- tagem de aglutinação. Quanto ram-se no durante o período Triásico, há
panzé é de 1,2%, observamos maior for essa percentagem, período Terci- 200-245 milhões de anos.
que a distância do homem ao maior o grau de parentesco ário, incluindo
chimpanzé é a mesma que a evolutivo. Por exemplo, no caso os primatas, 43.
do chimpanzé ao gorila. Ou, do chimpanzé, existe 85% de aos quais Como se originaram as
por exemplo, entre o gorila e o aglutinação em relação ao ho- pertencem diferentes espécies?
orangotango a diferença é de mem, enquanto no caso do boi os humanos./ Uma das definições de es-
2,4%, o que indica que existe existe 10%, no do cavalo 2% e MEC pécie mais aceite sugere que
o dobro da diferença entre no de uma espécie marsupial se trata de um conjunto de
eles do que entre o homem e o 0%. indivíduos pertencentes a po-
chimpanzé e a mesma que en- pulações naturais que podem
tre o homem e o orangotango. 40. reproduzir-se entre si, dando
Podem reproduzir-se como resultado descendência
39. entre si indivíduos de fértil. Trata-se em todo caso
O sangue pode distintas espécies? de um processo evolutivo que
constituir também Em geral não, mas às vezes é responde sempre a uma adap-
uma prova da evolução, possível. No caso do cruzamen- tação ao meio. Qualquer mu-
tal como o DNA? to de um cavalo e de uma burra tação que seja vantajosa para
Sem dúvida: existem provas o resultado é uma mula, estéril, a sobrevivência é aproveitada
concludentes que são reali- e portanto, inconsequente do pela selecção natural. Existe um
zadas da seguinte forma. Por ponto de vista evolutivo e da exemplo clássico e muito curio-
exemplo, num tubo de ensaio selecção natural. No entanto, às so de uma borboleta, a Biston

17
100 perguntas, 100 respostas

betularia, que serve de alimento


a diversas espécies de aves
insectívoras. Até 1850, em In-
glaterra predominava de forma
esmagadora a variedade de cor
mais clara, mais ou menos da
cor da casca das árvores onde
costuma pousar, o que lhe ser-
via para mimetizar-se e prote-
ger-se assim dos seus predado-
res. A partir dessa data, devido
à Revolução Industrial e à proli-
feração de fábricas e indústrias,
as cascas das árvores das zonas
industriais escureceram devido
aos resíduos e aos fumos. Esta
alteração na cor das cascas das
árvores fez com que a varieda-
de escura da Biston betularia se
fosse tornando cada vez mais
frequente, de modo que, em
poucas décadas, a variedade
clara se tornou extremamente
rara. A variação na coloração
é aproveitada pela selecção
natural, dado que as borboletas
que são mais facilmente detec-
tadas quando estão pousadas
nos troncos das árvores são
devoradas pelos predadores,
pelo que não deixam descen-
dência. Curiosamente, quando
o controlo da poluição foi con-
seguido e as árvores voltaram
a apresentar uma casca de cor
clara, em pouco tempo deu-se
o processo inverso e, pouco a
pouco, as Biston betularia de
cor clara voltaram a ser predo-
minantes.

44.
Que factores são
necessários para que
possam surgir novas
espécies?
Para que se produza uma no-
va espécie, além de se originar
uma alteração nas característi-
cas genéticas da população por
selecção natural que origine
populações de indivíduos di-
ferentes, deve produzir-se um
isolamento, de modo que essas
características novas, ou alte-
rações genéticas, não se trans-
mitam a indivíduos de outras
populações.

18
45.
46.
Que tipo de isolamento
Por que razão é necessário, apenas o
geográfico?
algumas espécies Existem dois tipos funda-
se extinguiram e mentais de isolamento que
não evoluíram? dão lugar a novas espécies. Por
um lado, o isolamento geo-
Imaginam hoje um planeta gráfico, em que as populações
ocupado pelos enormes Tyra- ficam isoladas por acidentes
nosaurus rex? As condições geográficos, tais como mares,
ambientais nas quais se desen- rios, desertos; e por outro, o
volvem as espécies e a evolução isolamento reprodutivo. Neste
das outras espécies com as caso, embora os indivíduos
quais partilham o seu meio se mantenham no mesmo
determinam a sua evolução e, território, as variações gené-
inclusive, …a sua extinção. Se ticas produzidas por mutação
essas condições se alteram de podem impedir que um grupo
forma brusca, costuma acon- de indivíduos da população ori-
tecer a extinção, se o meio é ginal possa reproduzir-se com
alterado de forma gradual, as o resto, ocorrendo assim um
espécies podem adaptar-se e isolamento reprodutivo que,
evoluir ao longo de gerações. com o tempo, originará uma
nova espécie.
Imagens de Sue, o fóssil
reconstruído mais completo de 47.
um T. rex. /NHM Chicago. O que é que acontece se
as alterações
atravessam uma
população que não
está isolada?
Se as alterações atravessam
populações e subespécies,
podem originar-se novas su-
bespécies ou variedades, mas
não espécies, já que a relação
genética se mantém.

48.
As alterações
fisiológicas são
sintoma de evolução?
Existem aspectos individuais
que não se consideram exem-
plos de selecção natural, tais
como o aumento da perda de
massa muscular, uma malfor-
mação (se não for congénita)
ou um aumento ou diminuição
de peso, e que se sucedem du-
rante a vida de um organismo.
No entanto, existem indicado-
res de evolução quanto falamos
de gerações que herdam carac-
terísticas como, por exemplo,
doenças genéticas ou outras
características como a cor da
pelagem ou a cor dos olhos.

19
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56.
Como começou a
vida na Terra?
As características do
planeta naquele momento,
com presença de massas de
POSTURA
água, temperaturas e outras
condições meio-ambientais
adequadas favoreceram a
aparição dos primeiros seres
vivos. A partir deles surgiram
as primeiras bactérias, das
quais surgiu a vida aquática
que foi evoluindo até con-
quistar outros meios como a
terra firme e o ar. OVOS

50. 51.
49. Em cima, à Qual é o papel do sexo Se a extinção das
A evolução tem que ver direita, gráfico na reprodução? espécies é parte da
com o acaso? que mostra A reprodução sexual obriga vida na Terra, por que
A evolução não é um proces- o desenvolvi- a que um organismo combine é que nos preocupamos
so aleatório. A variação gené- mento de um metade dos seus genes com em proteger espécies
tica sobre a qual actua a selec- anfíbio./MEC metade dos genes de outro in- que estão à beira de
ção natural pode acontecer ao divíduo do sexo contrário, o que desaparecer?
acaso, mas a selecção natural significa que são produzidas Na actualidade, não pode-
em si mesma não é aleatória. novas combinações de genes mos entender a vida do homem
A sobrevivência e o sucesso re- em cada geração. Por outro sem ter em conta a protecção
produtivo de um indivíduo es- lado, quando se produzem os do seu ambiente. O desapareci-
tão directamente relacionados óvulos e os espermatozóides, mento de espécies animais ou
com as formas herdadas no o material genético que se ba- vegetais afecta directamente o
contexto do seu meio ambiente ralha é recombinado de modo equilíbrio da própria natureza.
local. Se um indivíduo sobre- que são produzidas novas com- Por outro lado, a extinção ma-
vive e se reproduz, depende binações de genes. Já sabemos ciça de espécies que está hoje
principalmente de ter, ou não, que todos os descendentes a acontecer (equivalente às
os genes que produzem carac- de um mesmo casal não são mais importantes detectadas
terísticas que se adaptam bem exactamente iguais, não são noutras épocas geológicas), é
ao seu meio. o mesmo ser repetido a cada responsabilidade directa das
No entanto, os processos de nascimento. A reprodução se- actividades do ser humano,
morte, mais ou menos maciça, xual, portanto, incrementa a va- pelo que é também da nossa
de indivíduos que, portanto, riação genética, o que aumenta responsabilidade travá-la.
não chegarão a reproduzir-se a matéria-prima sobre a qual
podem acontecer por acaso, e opera a selecção natural. 52.
inclusive, provocar alterações A variação genética dentro de Os primatas
nas frequências alélicas das uma espécie (também conhe- descendem todos dos
populações. Fala-se então de cida como a diversidade gené- mesmos antepassados?
deriva genética. tica) facilita um aumento da Sim, existe um antepassado
oportunidade para a mudança comum. Os prossímios primi-
dentro das espécies em gera- tivos, como são denominados,
ções sucessivas. Esta variabili- são os antepassados comuns a
dade é considerada a matéria- todos os primatas.
-prima da evolução.

20
57.
Então, se os peixes se transformaram em
anfíbios há milhões de anos, porque continua
a haver peixes?
A emergência dos anfíbios supôs a conquista de um ambien-
te novo para os vertebrados, o meio terrestre. Os peixes, pela
sua parte, continuaram a evoluir nas suas adaptações à vida no
meio estritamente aquático. Restos fósseis demonstram que os
anfíbios descendem de um grupo de peixes que, para sobreviver
dentro e fora da água, desenvolveram uns apêndices que lhes
permitiram caminhar em terra.
ADULTO
58.
Uma vez aparecidos os
LARVAS animais placentados,
quando aparecem os
primatas?
A evolução dos primatas começou quan-
do alguns mamíferos insectívoros primiti-
vos, como os musaranhos, se começaram
a adaptar a uma vida arborícola, ou seja, as
tendências na evolução dos primatas pare-
53. um é o dos macacos do novo cem estar associadas a adaptações à vida
Então... por que é que mundo (Platirríneos ou de arborícola. Hoje, sabemos que os primatas
partilhamos mais nariz achatado) e, outro, o se originaram há 60 milhões de anos.
percentagem de DNA dos macacos do velho mundo
com um chimpanzé do (Catarríneos ou de nariz para
que com um lémur, por
exemplo?
baixo).
O terceiro ramo, o dos homi- 59.
Os prossímios primitivos nídeos, “primos” dos símios Houve alguma época
evoluíram em dois ramos dife- do velho mundo, divide-se
rentes. Um deles é o dos pros- por sua vez em dois ramos
dourada para os
símios (do qual descendem os evolutivos: o primeiro é o dos primatas, como houve
lémures, os társios e os loris) e pequenos símios, e o segundo para os dinossauros?
o outro é o dos antropóides, do é o dos grandes símios e dos
qual descendemos nós. É por humanos. Se bem que os primatas tenham apare-
isso que partilhamos mais DNA cido há 60 milhões de anos, os antropo-
com os antropóides do que 55. morfos, dos quais descendemos, chega-
com os prossímios. Quando aparece o ram a ser muito numerosos há 20 milhões
homem? de anos, mas as alterações climáticas
54. Estudos paleontológicos e diminuíram os seus efectivos e provoca-
Os antropóides bioquímicos sugerem que a ram a extinção de muitas espécies. Na
pertencem então todos espécie humana se separou actualidade, o gibão, o pequeno siamang,
à mesma família? do tronco comum, do qual o gorila, o chimpanzé, o orangotango e
Não, estes também evoluí- mais tarde descenderiam o homem são as únicas espécies sobre-
ram subdividindo-se em ramos: os gorilas e os chimpanzés, viventes de um grupo noutros tempos
entre cinco e, no máximo, dez diversificado.
milhões de anos, mas pro-
vavelmente numa data mais
próxima da primeira do que
a segunda, o que em termos
evolutivos é muito recente.
A partir desta separação, a
linhagem evolutiva começou
a ramificar-se dando origem a
novas espécies.

21
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60.
Quem é a Lucy?
A música dos Beatles “Lucy in
the sky with diamonds” tocava
naquele momento no rádio do
descobridor dos restos fósseis
desta fêmea de Australopithecus
em Hadar (Etiópia) e daí resultou
o seu nome. Trata-se do primei-
ro hominídeo, isto é, do fóssil
que apresenta características
já claramente hominídeas. É o
hominídeo mais primitivo, com
cerca de 3,6 a 4 milhões de anos
de antiguidade. Foi uma das des-
cobertas que mais influenciou
os estudos sobre a origem da
espécie humana.

22
61. marcha bípede consome me- Os restos de cobriram-se numas cinzas vul-
A espécie humana nos 50% de calorias do que a Lucy foram cânicas umas pegadas de dois
sempre caminhou de pé? marcha quadrúpede do chim- encontrados Australopithecus, um maior e
Nalgum momento, há cerca panzé. Esta pode ser uma das na Etiópia, outro mais pequeno, com uma
de cinco a dez milhões de anos, razões pela qual os antepas- mais concre- marcha claramente bípede, e
os antepassados dos humanos sados do homem se tornaram tamente na que têm uma antiguidade de
iniciaram a locomoção bípede. bípedes. depressão de 3,75 milhões de anos.
Afar.
62. 63. 64.
Que motivos pôde Que provas existem Quando e porque
haver para que a da origem da motivos será espécie
locomoção em quatro espécie humana e do humana se separou
patas se transformasse bipedismo? do resto dos primatas
em bipedismo na O registo fóssil de restos hu- antropóides?
espécie humana? manos desta época é bastante Os motivos pelos quais uma
Hoje pensa-se que as altera- pobre. Os indícios mais antigos espécie se separa do tronco co-
ções climáticas empurraram de bipedismo são constituí- mum de outras são complexos
os nossos antepassados até dos por uns ossos de pélvis e e respondem a problemas evo-
às savanas. Neste ambiente, o de extremidades anteriores lutivos. Após mais de dez anos
alimento encontrava-se muito descobertos em Hadar, Etiópia, de escavações numa missão
disperso, o que os obrigava a com uma antiguidade situada franco-chadiana, descobriu-se
percorrer grandes distâncias. entre os 3,6 e os 4 milhões de o crânio do que se pode consi-
Alguns estudos indicam que a anos. Em Laetoli, Tanzânia, des- derar o registo mais antigo do
grupo dos hominídeos.
23
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A sua antiguidade ronda os 6-7


milhões de anos (Mioceno tar-
dio). A descoberta foi realizada
no deserto de Yurab, na actual
República do Chade (África
Central). Este fóssil, atribuível
a um hominídeo, foi designa-
do por Toumaï (nome dado às
crianças nascidas na estação
seca e que em goran, a língua
local, significa esperança de
vida). Pensa-se que teve origem
no intervalo crucial no qual a
linhagem que leva aos actuais
humanos diverge da que leva
aos chimpanzés. Pertence a
um novo género e espécie de
hominídeo: Sahelanthropus
tchadensis.

24
65. tes, frutos e pequenos animais. 67.
O que é que caracteriza As pontas dos seus dedos têm O que é que diferencia
os antropomorfos uma grande sensibilidade e os primatas de outros
em relação a outras revelam uma adaptação aque- mamíferos na sua
espécies do ponto de le tipo de alimentação. O seu evolução para seres
vista evolutivo? modo de vida é diurno, e por úl- mais inteligentes?
São denominados assim pela timo, a maior parte das formas Os primatas podem ser
sua semelhança com o ser hu- são de grande tamanho. considerados mamíferos não
mano. As suas características especializados: não possuem
são as seguintes: em primeiro 66. asas, ainda têm quatro extremi-
lugar, o seu habitat encontra- Todos os dades, não podem correr muito
-se em climas quentes; em se- Australopithecus eram depressa, têm geralmente
gundo lugar, têm uma grande da mesma espécies? dentes frágeis, carecem de ar-
capacidade craniana com um Todos os restos fósseis de mações ou couro grosso que os
grande desenvolvimento ence- Australopithecus têm-se encon- proteja. No entanto, a combina-
fálico. E em terceiro lugar dis- trado em África: Tanzânia, Qué- ção das adaptações dos prima-
põem de um sentido do olfacto nia, Etiópia, Chade e África do Em baixo, tas que incluem grandes cére-
pobre mas, pelo contrário, o Sul. Incluem-se até sete espé- reconstrução bros, o uso de ferramentas, vida
seu sentido da visão encontra- cies divididas em dois grupos: da cabeça de social, visão estereoscópica e a
-se muito desenvolvido, pois os Australopithecus de formas uma fêmea de cores, braços e mãos altamente
têm visão estereoscópica (3D) gráceis (magros) e os Australo- A. afarensis. desenvolvidos, dentes versáteis
e a cores; e Em quarto lugar, a pithecus de formas robustas. e postura erecta convertem-
sua dieta é baseada em semen-

68.
O que é que
devemos
recordar dos
Australopithecus?
O dado que vale a pena reter é
que se trata dos hominídeos mais
antigos conhecidos. Viveram há
mais de 3,7 milhões de anos e
extinguiram-se há 1,1 milhões
de anos. O seu aspecto era muito
simiesco, inteiramente cobertos
de pelo. O seu crânio quase não
tinha testa. Tinham os arcos
supra-ciliares muito proeminen-
tes, um marcado prognatismo,
e a sua capacidade craniana era
muito reduzida, apenas 450 cen-
tímetros cúbicos. A sua marcha
era bípede, mas não caminhavam
erguidos. Apresentavam uma
baixa estatura, entre 1,10 e 1,50
metros. A sua alimentação era
omnívora, não conheciam as
técnicas de caça e deslocavam-se
pelas savanas de África oriental,
onde viviam.

25
100 perguntas, 100 respostas

O facto de serem generalistas


e sociais, terá favorecido o
desenvolvimento de uma inteli-
gência superior à que apresen-
ta o resto dos mamíferos.

69.
Então, de que família
de antropomorfos
deriva a espécie
humana?
Os antropomorfos dividi-
ram-se em várias famílias. Os
mais próximos dos seres huma-
nos são os pongídeos, macacos
antropomórficos de grandes
dimensões com extremidades
anteriores mais longas do que
as posteriores, sem calosida-
des nas nádegas e sem cauda.
Esta família inclui as seguintes
espécies actuais: Gorila (Gorilla
gorilla) dos bosques da África
central e ocidental; o Chimpan-
zé (Pan troglodytes) e o bonobo
(Pan paniscus) da África central
e ocidental; e o Orangotango
(Pongo satyrus), de Bornéu e
Sumatra. E, por outro lado, os
hominídeos, caracterizam-se
por exibir uma posição erecta,
um grande desenvolvimento
cerebral, a sua elevada capaci-
dade cognitiva e por complexas
relações sociais. Compreendem
uma variedade de espécies fós-
seis e a espécie humana, distri-
buída por todo o planeta.

70.
Somos a única espécie
sobrevivente de
hominídeos? 71. 72.
Sim, somos. Embora sejam Quando aparece o Procedemos
conhecidas numerosas espé- todos dos mesmos
cies fósseis de hominídeos, a
homem de Neanderthal Australopithecus?
nossa, Homo sapiens, constitui e em que é diferente dos Há uns dois milhões de anos,
a única sobrevivente. O último anteriores? após um longo período (de
sobrevivente próximo, o Homo um milhão de anos) de pou-
neanderthalensis, extinguiu-se O Homo neanderthalensis apareceu há cas mudanças, seis espécies
há menos de 30.000 anos, em- uns 200.000 anos e extinguiu-se há ape- de hominídeos evoluíram em
bora existam evidências recen- nas 30.000. A sua capacidade craniana era resposta às alterações climá-
tes que sugerem que o Homo de 1.500 cm3, maior do que a do homem ticas associadas ao início da
floresiensis sobreviveu até há actual. A sua estatura média era de apro- Idade do Gelo. Apareceram dois
pouco mais de 12.000 anos. ximadamente 1,55 m. O seu aspecto era grupos: o dos Australopithe-
muito semelhante ao da nossa espécie, mas cus, de cérebro menor e que
as características da sua face eram ainda não utilizava ferramentas, e a
muito grosseiras. Fabricava gumes de faca e linhagem que leva ao género
pontas de flecha. Praticava enterramentos. Homo, com cérebros maiores e
utilização de ferramentas. Os
Australopithecus extinguiram-

26
0 Homo sapiens (Mundial)

? H. neanderthalensis
(Europa e Ásia Ocidental)
?
H. heidelbergensis (Velho Mundo)

H. erectus (Ásia Oriental)


?
1 H. antecessor
(Espanha)

? P. robustus P. boisei
(África do Sul) (África Oriental)
H. habilis
(África Subsariana)
H. rudolfensis
(África Oriental) ?
Millones de años de antigüedad

2 H. ergaster
(África Oriental)

? A. garhi
(Etiópia)

Paranthropus
A. africanus aethiopicus
3 (África do Sul) (África Oriental)
A. bahrelghazali ?
(Chade)
A. afarensis
(Etiópia e Tanzania)
?

4
Ardipithecus ramidus
(Etiópia) Australopithecus
anamensis
(Quénia)

5 ?

-se há um milhão de anos. Com Na imagem


um registo fóssil incompleto, 73. superior 74.
pensou-se que os Australopi- Que espécie é então esquerda, pode As origens do homem
thecus ou, pelo menos a sua considerada a nossa apreciar-se o começaram em África?
forma menor, os A. africanus, antecessora directa? maior tama- Todas as provas arqueoló-
eram antecessores do Homo. Um conjunto de diferentes nho do crânio gicas e paleontológicas de que
No entanto, descobertas re- espécies evoluiu há cerca de do Homo near- dispomos assim o indicam.
centes, levaram à reavaliação 2 a 2,5 milhões de anos no derthalensis
dessa hipótese. Uma coisa é continente africano. A espécie 75.
certa: os caracteres humanos Homo tinha o cérebro maior, Quem foram o Homo
evoluíram como um mosaico o crânio proporcionado e erectus e o Homo
a diferentes velocidades e em dentição diferente da do Aus- habilis?
diferentes tempos: alguns tralopithecus. Há cerca de 1,8 O Homo erectus difere das
estabeleceram-se rapidamente milhões de anos, os primeiros primeiras espécies de Homo
(esqueleto, dieta), enquanto Homo (Homo habilis) deram por ter um cérebro de maior
outros desenvolveram-se mais origem ao Homo erectus, a es- tamanho, o rosto plano e o ar-
tarde (fabrico de ferramentas, pécie considerada nossa ante- co supraciliar proeminente. O
linguagem, uso do fogo). cessora. Depois dela aparece- Homo erectus é similar aos hu-
ram o Homo neanderthalensis manos modernos em tamanho,
e o Homo sapiens. mas tem algumas diferenças na

27
100 perguntas, 100 respostas

forma do crânio, testa proemi- tros. Habitava em África e era 77.


nente e diferenças nos dentes. caçador. Empregava já utensí- Significa isto que o
Apareceu há 1,8 milhões de lios como lascas e rudimentares Homo sapiens conviveu
anos e extinguiu-se há 200.000 ferramentas de madeira. com o Homem de
anos. A sua capacidade craniana Neanderthal?
era já de 1.000 cm3. Caminhava 76. Na verdade, ambos convi-
bípede e totalmente erguido. A Quem foi o Homem de veram durante 80.000 anos.
sua estatura média era de apro- Cromagnon? Não se sabe, com certeza, se a
ximadamente 1,70 m. Era caça- O Homem de Cromagnon era relação entre ambos era pacífi-
dor, talhava pedra e dominava indistinguível do homem actual, ca ou não, mas a hipótese mais
o fogo. Ocorreu em África, Ásia que apareceu há uns 150.000 aceite, actualmente, baseada
e Europa. O Homo habilis apa- anos e a sua capacidade cra- na ideia da exclusividade eco-
receu há 2,5 milhões de anos e niana é de 1.400 cm3. A sua es- lógica (duas espécies que utili-
extinguiu-se há 1,6 milhões de tatura média é de 1,65 metros. zam os mesmos recursos não
anos. Tinha um crânio seme- Caracterizava-se por fabricar podem co-existir), sugere que
lhante ao dos Australopithecus utensílios de caça, ornamentais mantiveram uma dura com-
mas com maior capacidade e domésticos de madeira, mar- petição que levou à extinção
craniana: 750 cm3. Caminhava fim, pedra, etc., e também pelas do Homo neanderthalensis. Há
bípede e erguido. A sua estatura suas representações artísticas, bastante tempo colocou-se a
oscilava entre 90 cm e 1,8 me- como as pinturas rupestres. hipótese a ideia de que o Homo

28
terá dado a origem aos huma-
nos modernos (Homo sapiens
sapiens). Esta última hipótese
tem cada vez menos apoio.

79.
Como é que os
antecessores do
homem se espalham
pelo resto do mundo
após a saída de África?
Após a sua origem em África,
o Homo erectus parece ter saído
rapidamente de África até à
Europa e à Ásia (Eurásia) em pe-
quenos grupos populacionais.
No entanto, um bom número
de Homo erectus permaneceu
em África e evoluiu até ao Homo
sapiens. Deste modo, há uns
100.000 anos, estes saíram de
África para o que é hoje o Médio
Oriente e Ásia Ocidental, que já
estava povoada há 60.000 anos.
Há 40.000 anos, isto é, 20.000
anos depois, estenderam o
seu território até o que é hoje
a Austrália e a Europa. A partir
daí, deslocaram-se há uns 25-
30.000 anos, ocupando o resto
da Ásia. Chegaram a outros ter-
ritórios do Norte e Gronelândia
há uns 10.0000-20.000 anos.

80.
E como e quando
chegaram até América?
A América foi povoada a
partir da Ásia através de uma
passagem terrestre temporária,
localizada onde actualmente
sapiens que habitava na Europa 78. Ilustração se situa o Estreito de Bering,
teria podido reproduzir-se com Evoluiu o Neanderthal comparativa que unia a Sibéria (Ásia) e o
o homem de Neanderthal. No gradualmente para o de diferentes Alasca (América do Norte) du-
entanto, estudos muito recen- humano moderno, ou esqueletos rante as glaciações. De acordo
tes baseados na comparação foram substituídos humanos com a evidência genética mais
do DNA de ambas as espécies por formas modernas publicada recente, é provável que todas
sugerem que a hibridação originadas de uma só por Thomas populações indígenas das
entre ambas espécies não se população? Henry Huxley Américas descendam de uma
produziu, ou ocorrem em grau Existem duas hipóteses. A no seu traba- única população com origens
muito reduzido. hipótese “Out-of-Africa” sugere lho Evidence remotas na região do lago Bai-
que o homem de Neanderthal as to Man´s kal, embora o número de vagas
era uma espécie separada (Ho- Pace in Natu- migratórias que deu origem
mo neanderthalensis) que foi re, de 1863/ aos ameríndios tenha sido, até
substituída à medida que os Benjamin há pouco, uma questão muito
humanos modernos (Homo sa- Waterhouse debatida. Apesar de a data de
piens) saíam de África. A hipó- Hawkins. entrada dos primeiros homens
tese da multi-regional sugere na América não estar ainda
que o homem de Neanderthal estabelecida, vários estudos ge-
foi uma subespécie (Homo néticos apontam para períodos
sapiens neanderthalensis) que próximos do último máximo

29
100 perguntas, 100 respostas

83. 84.
Como eram os primeiros Quem foi Redi?
seres vivos que Francisco de Redi foi um naturalista e fisiólogo italiano que nas-
apareceram na Terra? ceu em Arezzo, em 1626, e morreu em Pisa, em 1698. Demonstrou
Os seres primitivos que existiam há 3.600 que, ao contrário do que se pensava na altura, os insectos não nas-
milhões de anos eram semelhantes às bacté- cem por geração espontânea. Realizou estudos sobre o veneno das
rias mais primitivas que existem na actualida- víboras e escreveu “Observações sobre as víboras”. Foi também po-
de. Sabemos isto porque foram encontrados eta e pertenceu à Academia da Crusca, cultivando principalmente
fósseis de organismos procariotas em rochas o género humorístico.
com essa idade.

85.
Quais foram as experiências de Redi?
No tempo de Redi (século XVII) acreditava-se que os seres
vivos podiam criar-se a partir de matéria inanimada, o que se
conhece como teoria da geração espontânea. Redi colocou 3 pe-
daços de carne em três recipientes. Um deixou-o sem cobertura,
outro cobriu-o com um papiro, e um terceiro com uma fina gaze.
Após vários dias observou que apenas no primeiro apareciam
vermes, terminando assim com a teoria da geração espontânea
dos insectos.

glaciar, há volta de 15 a 20 mil cies, incluindo ratos. Mas não 82.


anos. Em cima, há dúvida de que não se trata Quando aparece a vida
esquema de do único gene envolvido na ca- no nosso planeta?
um organismo pacidade humana de falar. Há uns 13.000 milhões de
81. unicelular. À anos originou-se o Universo, e
Quando aprende o ser direita, capa há cerca de 4.600, o Sistema
humano a falar? do livro Expe- Solar e a Terra. Há 3.800 mi-
A variação genética que per- riências acerca lhões de anos, consolidou-se a
mitiu a evolução da linguagem da criação dos crosta terrestre do planeta, e
poderia ter-se espalhado entre insectos, de formaram-se os oceanos e ma-
a população humana há uns Redi /MEC res. Há 3.600 milhões de anos
200.000 anos (próximo do mo- originou-se a vida na Terra.
mento em que emerge o actual
homem moderno), o que cons-
titui um dos principais motores
da sua expansão. A linguagem
humana baseia-se na possi-
bilidade do controlo preciso
dos músculos da laringe e da
boca. Identificou-se um gene
relacionado com a linguagem
humana, tendo por base uma
mutação no gene FOXP2, en-
contrada nos membros de uma
família inglesa com dificulda-
des na fala. Existem diferentes
versões deste gene em chim-
panzés, gorilas, orangotangos,

Macacus rhesus e outras espé-

30
86.
Quem foi Louis Pasteur?
Louis Pasteur, químico e biólogo francês, filho de um curtidor, nasce em Dô-
le, em 1822, e cresce na pequena cidade de Arbois. Em 1847, obteve o douto-
ramento em física e química pela École Normale de Paris. As suas descobertas
foram importantíssimas. Fundou a ciência da microbiologia, demonstrou a
teoria dos gérmens como causadores de doenças (agentes patogénicos), in-
ventou o processo que tem o seu nome - pasteurização - e desenvolveu vacinas
contra várias doenças, entre as quais a raiva.

87.
Que experiência de Pasteur teve a
ver com a geração espontânea de
organismos?

As experiências de Pasteur têm muito que ver com


a criação de novos seres e a evolução dos micro-
-organismos. Numa das experiências, colocou caldo de
carne num recipiente de cristal que tinha o cone em
forma de cotovelo e pô-lo a ferver. Observou, desta for-
ma, que, após arrefecimento, não se desenvolviam no
caldo micro-organismos, e que este se mantinha não
contaminado durante muito tempo. No entanto, se se
partisse o cone do recipiente, ou se este fosse inclinado
até que o caldo ultrapassasse a zona acotovelada do
cone, este era contaminado em pouco tempo. Portan-
to, para a proliferação de micro-organismos ocorra
numa determinada matéria é necessário que ocorra a
sua contaminação.

88.
Então, com as experiências de Redi
e Pasteur ficou demonstrado que não
é possível produzir vida por geração
espontânea?

De facto, a conclusão foi a de que a vida não se gera


de forma espontânea a partir de matéria inerte. No
entanto, já no século XX, um cientista russo, Oparin, re-
tomou as ideias da geração espontânea e desenvolvem
a teoria sobre a origem abiótica dos seres vivos.

31
100 perguntas, 100 respostas

89. 90.
Quem foi Foi possível demonstrar
Oparin? de alguma forma a
Alexander Ivánovich revolucionária teoria de
Oparin (1894-1980) foi um Oparin?
bioquímico russo pioneiro no
desenvolvimento de teorias O cientista americano Stanley Miller
bioquímicas sobre a origem realizou, em 1953, uma conhecida experi-
da vida na Terra. Oparin gra- ência simulando as condições iniciais da
duou-se na Universidade de origem da vida na Terra, de acordo com
Moscovo, em 1917, onde foi a teoria de Oparin, quando, com 23 anos,
nomeado catedrático de bio- era ainda bolseiro na Universidade de
química em 1927 e, de 1946 Chicago. O resultado dessa experiência foi
até a sua morte, foi director de grande importância e abriu uma nova
do Instituto de Bioquímica A. linha de pensamento científico.
N. Backh de Moscovo.

91.
O que explica a teoria sobre a origem abiótica dos seres vivos de Oparin?
Baseia-se nos seguintes passos.
1) Situa o ponto de partida há 3.800 milhões de anos. Naquela altura, a atmos-
fera era composta por metano (CH4), amoníaco (NH3), hidrogénio (H2) e vapor
de água (H2O), e era redutora e anaeróbia. No entanto, nestas substâncias
encontravam-se já os principais bioelementos que formam a matéria viva: car-
bono (C), azoto (N), hidrogénio (H) e oxigénio (O).
2) Formação das biomoléculas. As radiações solares e as descargas eléctricas
das trovoadas proporcionaram a energia suficiente para que as componentes
da atmosfera reagissem e formassem as biomoléculas, compostos orgânicos
simples como os que agora formam os principais compostos dos seres vivos.
3) Quais eram estas biomoléculas? Formaram-se açúcares, gorduras simples,
aminoácidos e outras mais simples que reagiram entre elas para dar lugar a
moléculas mais complexas.
4) O caldo primitivo. Segundo Oparin, os compostos orgânicos que se forma-
ram na atmosfera foram arrastados até aos mares pelas chuvas e ali, ao longo
de milhares de anos, concentraram-se formando uma solução espessa de água
e moléculas orgânicas e inorgânicas a que ele chamou o caldo primitivo.
5) Os precursores das bactérias: Neste caldo primitivo, algumas moléculas
formaram membranas, dando origem a estruturas esféricas chamadas coa-
cervados. Alguns puderam concentrar no seu interior enzimas com as quais
conseguiram fabricar as suas próprias moléculas e obter energia. Por fim,
alguns coacervados puderam adquirir o seu próprio material genético e assim
a capacidade de replicar-se (reproduzir-se). Formaram-se assim os primeiros
procariotas.

93. Capa do livro que defendem que a origem seria a ideia de que toda a vida
Existe apenas uma A Origem da ocorre neste planeta a partir no Universo possuiria uma
teoria científica sobre Vida, onde de matéria inerte. base bioquímica semelhante, a
a origem da vida na Oparin explica 2) Teorias da panspermia, que menos que se comprovasse a
Terra? a sua teoria. sugerem que a origem teve existência de mais do que uma
Não, existem diversas teo- lugar noutro planeta e chegou fonte original de vida. Os que
rias que podem ser separadas à Terra através de algum corpo defendem esta teoria não acei-
em dois grandes grupos: celeste, como um cometa, um tam o facto de que a matéria
1) Teorias da origem abiótica asteróide, etc. Uma possível inerte possa dar origem à vida,
dos seres vivos. Estas são as consequência da panspermia sob circunstância alguma. No

32
Vapor de agua
Electrodo
Descarga
de chispas

Gases (metano,
amoniaco, hidrógeno)

Condensador
Llave para toma
de muestras
Gotas
de agua

Agua

Colector
Calor

92.
Em que consistiu a experiência de Miller?
Construiu um dispositivo em forma de circuito. Num frasco em balão (recipiente
de vidro) verteu água não contaminada. Tentou reproduzir com calor os efeitos dos
raios solares até que a água se converteu em vapor. Adicionou a estes vapores uma
mistura de gases como a que formava a primitiva atmosfera da Terra nas suas ori-
gens. Depois, aplicou descargas eléctricas ao resultado da mistura, simulando as
que eram libertadas nas trovoadas e, efectivamente, estas fizeram reagir a mistura.
A seguir, um condensador arrefecia o líquido resultante e os compostos produzidos
dissolviam-se na água do frasco em balão, fechando o circuito. Após algum tempo,
através de uma chave extraiu parte do líquido do frasco em balão para analisá-lo. O
assombroso resultado foi que Miller pôde comprovar que se tinham formado muitas
biomoléculas: açúcares simples, aminoácidos, etc., de grande importância na cons-
tituição dos seres vivos. Desta forma, Miller demonstrou que as primeiras etapas
previstas pela teoria de Oparin eram possíveis.

entanto, esta teoria está obri- Imagem de plexa) de forma espontânea, a


gada a explicar o aparecimen- Alexader partir de matéria inerte. Apesar
to da vida noutro lugar fora da Ivánovich das experiências de Redi e
Terra. Oparin no Pasteur, a teoria de Oparin e a
laboratório. / experiência de Miller mudaram
94. MEC a perspectiva que se tinha até
Então, continua a há apenas meio século sobre a
pensar-se, ainda hoje, origem da vida. Hoje, pensa-se
que a origem da vida que, efectivamente, a geração
não foi possível por espontânea não é possível na
geração espontânea? actualidade, mas que há 3.600
A geração espontânea tam- milhões de anos se deram as
bém conhecida como auto- condições que a fizeram possí-
-génese, é uma antiga teoria vel graças a um processo muito
biológica de abiogénese, e lento que pôde demorar mi-
sustentava que podia surgir vi- lhões de anos.muito lento que
da animal e vegetal (vida com- pôde demorar milhões de anos.

33
100 perguntas, 100 respostas

95.
Mas então, se no nosso
DNA temos provas 96.
de todos os nossos Em que momento começou a haver oxigénio
antepassados comuns
que partilhamos
na atmosfera da Terra que permitisse a vida
com outras espécies, aeróbia que hoje conhecemos?
também deveríamos
ter algo em comum com Há 2.500 milhões de anos desenvolveram-se as cianobactérias. Este tipo de
organismos como as bactérias foi o primeiro capaz de realizar fotossíntese e, portanto, de produzir
bactérias? oxigénio. Quinhentos milhões de anos mais tarde, a atmosfera da Terra já tinha
Na verdade, será espécie mudado, já era oxidante e aeróbia. Há cerca de 1.500 milhões de anos, origina-
humana partilha até 98,8% do ram-se as primeiras células com núcleo, as chamadas células eucariotas, que
seu DNA com o chimpanzé, o por sua vez se agruparam para dar origem a colónias de células como os actu-
nosso parente mais próximo. ais Volvox. Estes organismos primitivos evoluíram e, em 500 milhões de anos,
No entanto, também partilha- isto é, há 1.000 milhões de anos, desenvolveram-se os primeiros organismos
mos uns 200 genes com as pluricelulares vegetais (algas) e os primeiros animais de corpo mole (esponjas,
bactérias. Essa é outra das pro- vermes marinhos, medusas, pólipos...).

vas da evolução das espécies e


da origem comum e remota de 97.
todas elas. De facto, os genes Como é a evolução de organismos como os
comuns a bactérias e humanos
não saltaram directamente de
vírus e as bactérias, e em que se diferencia da
uns para os outros, mas foram evolução do resto de organismos?
sim herdados de antepassados
comuns, segundo investiga- Os vírus e as bactérias são organismos que geralmente se reproduzem
ções recentes, cujas provas muito rapidamente e fazem-no com uma taxa de mutação (isto é, com uma
estão a resolver agora uma dis- quantidade de modificações por cada geração) muito elevada. Ao estudá-los
puta evolutiva e acalmando os encontramos a existência de populações muito diversas com características
temores sobre os organismos muito variáveis que, por exemplo, lhes permitem encontrar a forma de enga-
geneticamente modificados. nam o sistema imunitário dos seus hospedeiros.

34
98.
É verdade que os
humanos são os seres
vivos mais evoluídos?
Essa é uma visão clássica
que existe desde a antiga Gré-
cia e que Darwin destruiu com-
pletamente com os seus contri-
butos. Não existem organismos
mais ou menos evoluídos
(embora sim mais ou menos
complexos). Todos formamos
parte de uma cadeia evolutiva
que se iniciou há 4.000 milhões
de anos no nosso planeta e to-
dos os organismos que encon-
tramos hoje existem porque lhe
estão adaptados.

Na página anterior, diferentes


exemplos de cianobactérias. 99.
Que aplicações tem a teoria da evolução
na nossa vida diária?

Muitas. Alguns dos exemplos mais claros vêem-se em certas aplicações da


medicina. Por exemplo, o fabrico de vacinas baseia-se na evolução dos micro-
-organismos que provocam as doenças. No caso da gripe, todos os anos o
vírus sofre mutações, pelo que cada inverno é necessário fabricar uma nova
vacina. Os tratamentos contra a SIDA são um exemplo de uma estratégia de
ataque a partir de vários flancos contra um agente patogénico que evolui a
grande velocidade.

35
100 perguntas, 100 respostas

100.
Existem outras aplicações da teoria evolutiva fora
do campo da medicina?
A agricultura é outro campo no qual a
aplicação da teoria evolutiva teve grandes
benefícios para o homem. Aplicamos os
princípios da selecção artificial há milhares
de anos, sem saber, através da escolha das
melhores sementes para a colheita seguin-
te, das melhores plantas, das mais resisten-
tes, das que oferecem melhores frutos... O
que pressupõe a aplicação de princípios
evolutivos. Do mesmo modo, os conheci-
mentos evolutivos também se aproveitam
na luta contra as pragas. Também é de
destacar que a aplicação da teoria evoluti-
va ao estudo do comportamento humano
deu origem à disciplina conhecida como
psicologia evolutiva, que está a contribuir
de maneira decisiva para que nos conheça-
mos melhor.

36
37
100 perguntas, 100 respostas

38
e

100 Perguntas, 100 Respostas


Especial Evolução

Plano de Divulgação de Conhecimento


de Andaluzia - Andalucía Innova
Conselheria de Economia, Inovação
e Ciência

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Investigação e Tecnologia
Avda. Albert Einstein s/n
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Tel.: +34 954 995314 / +34
954995317
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E-mail: info@andaluciainvestiga.com
Web: www.andaluciainvestiga.com

Conselheiro de Inovação, Ciência e


Empresa
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Investigação e Tecnologia
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Tecnologia e Empresa
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Director Geral de Universidades


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Técnicos do Plano de Divulgação e


de Conhecimento
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web)
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Autora
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Comité científico
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