Você está na página 1de 14

!"#$%&'()*+,%-.

/%*+'$%0'$%Sistemas de
1'+$*+)2#+#0*0!%!%34+#0*0!%0*%5*678#*%926*+*
(1871-2011)

MAURO WILLIAM BARBOSA DE ALMEIDA

resumo Lewis Henry Morgan costuma ser Segundo Thomas Trautmann, alguns as-
agrupado com McLennan, Lubbock e Tylor como pectos básicos do saber antropológico foram
um dos evolucionistas de gabinete cuja obra é men- profundamente moldados por Morgan, quer
cionada no início de cursos de antropologia, mas tenhamos noção disso ou não. Em outras pala-
cuja leitura não é recomendada. Na verdade, Mor- vras, Morgan foi incorporado ao inconsciente
gan foi um pioneiro da pesquisa de campo, cujo pri- coletivo do pensamento antropológico (Traut-
meiro projeto teórico foi provar a unidade humana mann, 2008, p. v). A disciplina da Antropolo-
e a origem asiática dos povos ameríndios, utilizando gia, ainda conforme Trautmann, não surgiu em
para isso um método que pode legitimamente ser consequência da expansão europeia no espaço
chamado de estrutural. O evolucionismo de Mor- do colonialismo, como reza o ensino habitual.
gan, ou o que ele chamou de “explicação conjetu- Ela seria, antes, o resultado de uma hiperinfla-
ral” da diversidade de terminologias de parentesco ção nos quadros temporais da história huma-
por meio de uma sequência progressiva de formas na, em cuja esteira criou-se um enorme vácuo
de família, foi um adendo à sua monumental obra a ser preenchido por narrativas conjeturais. No
Sistemas de Consanguinidade e de Afinidade na Fa- centro dessa nova narrativa estava o parentesco.
mília Humana, publicada em 1871. A “explicação Há consenso pelo menos sobre o seguinte:
conjetural” é o foco central de sua obra mais conhe-
cida que é A Sociedade Antiga, publicada em 1877. o parentesco como objeto de estudo foi virtual-
Mas, ainda que esta segunda obra não tivesse sido mente inventado por Morgan, e em grande me-
publicada, Morgan mereceria o reconhecimento de dida a antropologia cristalizou-se em torno do
ter sido o criador do objeto “sistema de parentesco”, parentesco e dos problemas intelectuais gerados
de ter criado um método para estudá-lo, e de ter por ele (Op. cit., p. vi).
realizado um esforço de pesquisa comparativa sem
igual até os dias de hoje. Lewis Morgan foi ainda Lewis Henry Morgan (1818-1881) cresceu
um pioneiro na pesquisa de sistemas políticos, da em uma cidade no estado de New York, habi-
arquitetura e da comensalidade de indígenas ame- tada outrora por povos indígenas que incluíam
ríndios, além de ter sido um naturalista que defen- os Iroqueses. Depois de formar-se em 1840,
deu os seres “mudos”, a quem atribuiu inteligência tornou-se advogado. Em 1844, mudou-se para
igual em sua natureza à dos seres dotados de fala. Rochester, onde residiu pelo resto da vida.
palavras-chave Morgan. Antropologia. Pa- A partir de 1842 estudou os iroqueses e, em
rentesco. Evolucionismo. História Humana. 1851, publicou o livro intitulado Liga dos Iro-
queses, até hoje reputado como uma importante

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 1-384, 2010

revista2011-a.indd 309 08/12/2010 01:16:53


310 | Mauro William Barbosa de Almeida

monografia sobre a organização política indí- de um artigo de 13 páginas em que Morgan


gena. Em 1856, voltou à pesquisa etnográfica, anunciava as teses da primeira versão da obra,
da qual resultou uma publicação sobre as “leis entregue para publicação em 1865, já com o
de descendência dos Iroqueses” (1857) em que título Systems of Consanguinity and Affinity in
manifestava o interesse pelas relações entre as the Human Family. A pesquisa e a redação des-
estranhas regras iroquesas, que contavam a des- sa primeira versão dos Systems durou, pois, de
cendência pela linha feminina e não distinguiam 1859 a 1865, sendo que a coleta de terminolo-
os descendentes diretos dos colaterais, e as dos gias de parentesco de índios norte-americanos
demais índios norte-americanos. O trabalho foi realizada principalmente pelo próprio Mor-
que resultou nos seus Systems of Consanguinity gan de 1859 a 1862 (Trautmann, 2008; Resek,
and Affinity in the Human Family iniciou-se, 1960; White, 1951).
porém, no verão de 1858, com a descoberta de A obra terminada em 1865 seria suficiente
que os Ojibwa, embora fossem patrilineares, ig- para assegurar a Morgan um lugar permanente
noravam a distinção entre descendentes diretos na história da Antropologia como criador do
e descendentes colaterais, tratando de “filho” objeto “sistema de parentesco”, dos métodos da
tanto o filho propriamente dito como o filho disciplina que o estuda, e das hipóteses prin-
do irmão. No verão de 1858, após pedir dados cipais que ainda hoje alimentam a disciplina.
sobre o assunto a um missionário que retornava Foi apoiada em dados de pesquisa de campo
da Índia do Sul, Morgan descobriu que a ter- original em escala mundial, feita diretamente
minologia de parentesco Tamil exibia o mesmo por Morgan ou sob sua orientação. Contudo,
padrão de fusão dos descendentes diretos e co- com essa obra, Morgan não seria incluído en-
laterais exibido pelos Ojibwa e pelos Iroqueses. tre os antropólogos “evolucionistas”, porque
Esse foi o grande marco intelectual na trajetória sua teoria do progresso das formas de família
que levou à redação dos Systems. Nas palavras humana da “promiscuidade” à “civilização” foi
do próprio Morgan: acrescentada por ele em uma segunda versão da
obra, enviada ao editor em 1868.
Minha surpresa foi maior do que consigo ex-
pressar ao descobrir que o sistema Tamil e o
sistema dos índios norte-americanos eram subs- As duas versões dos Sistemas e suas
tancialmente idênticos (Morgan apud Traut- respectivas teorias
mann, 2008, p. 15).
Systems of Consanguinity and Affinity in the
Essa descoberta confirmava para Morgan a Human Family foi publicado originalmente em
hipótese da origem asiática dos povos indíge- 1871, como o volume 17 da série Contributions
nas americanos, mas também embutia a des- to Knowledge do Instituto Smithsoniano, ime-
coberta de um novo método de investigação: a diatamente após A Origem da Civilização de
comparação de “sistemas de consanguinidade John Lubbock (1870) e logo antes de Cultura
e afinidade”. A partir daí, Morgan elaborou Primitiva de Edward B. Tylor ([1871] 2010).
um questionário detalhado sobre termos de O manuscrito havia sido submetido por Mor-
parentesco, que foi distribuído a missionários gan ao secretário do Instituto Smithsoniano
e representantes diplomáticos através do mun- em 1865, ano que apareceram Pre-historic Ti-
do, com ajuda do governo norte-americano. mes de Lubbock, Researches into the Early His-
O texto, datado de 1858, era acompanhado tory of Mankind de Tylor e Primitive Marriage

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 310 08/12/2010 01:16:54


Lewis Morgan | 311

de John McLennan, e submetido novamente povos “civilizados”. A solução para a existência


em 1868 ao editor que havia exigido cortes e dos “sistemas classificatórios” foi proposta por
modificações na primeira versão1. Entre a pri- Morgan em um artigo publicado separadamen-
meira e a segunda versão, a principal diferença te em 1868 com o título A Conjectural Solution
foi a inclusão do capítulo final, no qual aparece of the Origin of the Classificatory System of Re-
a explicação dos fatos apresentados no livro por lationship. É essa uma das duas obras de Lewis
meio de uma sequência histórica “conjetural” Morgan que Darwin cita com respeito em The
de formas de família. Descent of Man4 (Darwin, [1871] 2004, p. 170,
Houve, portanto, duas versões de Systems of nota 35; p. 655, nota 5; p. 661, nota 14). Adam
Consanguinity and Affinity of the Human Fami- Kuper (1985) atribuiu a nova teoria à influência
ly2. A primeira versão tinha o objetivo principal do evolucionismo social inglês de McLennan e
de provar a origem asiática dos índios america- de Lubbock sobre Lewis Morgan, mas Elisabe-
nos. A prova decisiva da tese era a demonstração th Tooker (1997) e Thomas Trautmann (2010)
da unidade entre os “planos” das terminologias refutam essa atribuição, com apoio em fontes
de parentesco sêneca-iroquesa e tamil (dravidia- primárias que Kuper não consultou. Segundo
na) 3. Para essa prova, Morgan criou um método eles, Morgan chegou à sua teoria do progresso
inteiramente novo, e que pode ser legitimamen- das instituições de família graças às sugestões
te chamado de estrutural: a comparação não insistentes do amigo McIlvain, e sob o impacto
dos termos de parentesco, mas dos “sistemas de da substituição da cronologia bíblica, que dava
relações” que conectam entre si os termos conti- seis milênios para a história humana, pela nova
dos nas terminologias de parentesco. O resulta- cronologia geológica e paleontológica que adi-
do principal dessa análise foi a demonstração de cionava a ela no mínimo centenas de milênios.
que os “sistemas de relações” de diferentes po- Esse espaço a preencher, diz Trautmann, é o ter-
vos, tabulados com detalhamento e abrangência reno para cujo preenchimento a “solução con-
jamais vistos desde então, podiam ser agrupa- jetural” é oferecida. Nela, em vez de sistemas
dos em dois grandes tipos: os “sistemas descri- coexistentes e que se irradiam historicamente
tivos” e os “sistemas classificatórios”, sendo os através dos continentes, há uma sequência li-
primeiros característicos de todos os povos in- near de “formas de família” que explicam a
dígenas norte-americanos (exceto os Esquimó), diversidade dos sistemas terminológicos (Traut-
bem como dos povos da Índia do Sul, da Chi- mann, 1987; 2010).
na, do sudeste asiático e do Pacífico (os dados Morgan insistiu, porém, na introdução à
de Morgan sobre o Japão não eram bons, e ele versão publicada em 1871, que o verdadeiro
não recebeu dados da África nem da América valor de seu livro estava em seu “método” e em
do Sul). Esse resultado, embora representasse seus “dados”. Nas palavras do próprio Morgan,
para Morgan a evidência da unidade dos povos “as tabelas são os resultados principais” da sua
indígenas norte-americanos, e de sua unidade investigação. Morgan pede enfaticamente para
com povos asiáticos, colocava um enigma. que pesquisadores futuros continuem a inves-
Tratava-se de explicar a própria existência tigar os “sistemas” com novos casos, e ressalta
dos “sistemas classificatórios”, que eram, de um sua convicção do valor metodológico do “novo
lado, característicos de povos não civilizados e, instrumento da etnologia” que havia criado:
por outro lado, eram mais artificiais, mais ela-
borados e mais distantes da “natureza da des- sua importância e seu valor vão muito além de
cendência” do que os “sistemas descritivos” dos qualquer uso que o escritor possa ser capaz de

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 311 08/12/2010 01:16:54


312 | Mauro William Barbosa de Almeida

indicar no presente para seu conteúdo. Se elas A invenção do parentesco e o método


puderem ser aperfeiçoadas, e os sistemas das na- comparativo-estrutural
ções que não estão representadas puderem ser
fornecidos, o valor delas será enormemente au- Em que consiste o método que organiza
mentado (Morgan, [1871] 1997, p. 8). essas tabelas, ao qual Morgan atribuiu tanta
importância? Levando em consideração a difi-
Se essas tabelas bastarem para demonstrar a culdade de acesso aos Systems of Consanguinity
utilidade de sistemas de relacionamento para and Affinity of the Human Family, usarei um
a realização de investigações etnológicas, um exemplo retirado de uma tabela desta obra que
dos principais objetivos desta obra terá sido foi republicada por Morgan em seu livro mais
atingido. (...) As tabelas, portanto, são apenas conhecido, que é A Sociedade Antiga.
o começo da obra, se este novo instrumento da A tabela abaixo talvez seja suficiente para
etnologia for um convite ao teste da crítica (Op. ilustrar o conceito e o método. Na coluna
cit., p. 9). 1, encontram-se “relações de família” básicas
(Ego/Pai, Ego/Filho) ou compostas de rela-
Esse texto, já pronto em maio de 1868, traz ções básicas (Ego/Irmão do Pai, Ego/Irmão
em nota o apelo de Lewis Morgan: da Mãe, Ego/Filho do Irmão, Ego/Filho da
Irmã). Nas colunas seguintes, encontram-se
Toda pessoa interessada no avanço do objeto, os termos de parentesco associados em diferen-
que procure obter o sistema de qualquer nação tes línguas (Sêneca-Iroquês, Tamil, Inglês) a
não representada nas tabelas, ou que corrija ou cada uma dessas relações. A coluna 1 contém
complete qualquer lista defeituosa nelas conti- uma lista, potencialmente infinita, de relações
da, prestará um serviço especial ao autor (Op. compostas de relações básicas, enquanto as co-
cit., p. 9). lunas 2, 3 e 4 indicam os termos vernáculos,
em número finito, associados às relações da
As tabelas ocupam mais de 200 páginas de primeira coluna. O resultado é a visibilização
terminologias de parentesco, e são comenta- de “planos” ou “sistemas de relacionamento”.
das em 450 das 600 páginas do livro inteiro. Assim, as colunas 2 e 3 exibem um mesmo
Abrangem 39 povos das famílias semítica, aria- “sistema de relacionamento”, que contrasta
na e uraliana, 80 povos das famílias ganowania- com o “sistema de relacionamento” exibido
na (índios norte-americanos, menos Esquimó, pela coluna 4. O que está sendo comparado
com os Sêneca-iroqueses como caso representa- não são termos, e sim relações entre termos.
tivo) e Esquimó, e 18 povos das famílias tura- Os “planos” de Morgan podem ser chamados,
niana (falantes de línguas dravidianas do sul da segundo Trautmann (1981, 2010), de siste-
Índia, com o Tamil como caso representativo) mas semânticos.
e malaia, num total de 147 casos. Exceto pelos A descoberta da existência de uma mul-
dados sobre o sistema romano antigo e outros tiplicidade de “planos” para agrupar um nú-
sistemas indo-europeus apoiados em fontes se- mero virtualmente infinito de relações de
cundárias, os dados vêm dos questionários de parentesco (exemplificados na coluna 1) em
Lewis Morgan, enviados por correio ou entre- um conjunto finito de categorias terminoló-
gues em pessoa, ou de sua própria pesquisa de gicas (exemplificados nas colunas 2, 3 e 4)
campo. foi aquela que Morgan considerou como sua
grande contribuição para a etnologia. Com a

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 312 08/12/2010 01:16:54


Lewis Morgan | 313

descoberta da pluralidade de sistemas semânti- Tabela 2. Sistemas na terminologia de Morgan e na ter-


cos que organizam diferentemente as relações minologia contemporânea
de consanguinidade, Morgan desnaturalizou Área geográfica Morgan Atual
os “sistemas de parentesco”, precisamente ao (exemplos)
Sistemas América do Norte Ganowaniano Iroquês, Crow,
demonstrar que os “sistemas classificatórios”
Classificatórios América do Sul (tipo: Sêneca- Omaha
são artifícios da “inteligência humana”. Pas- Iroquês)
semos ao exemplo. Sul da Índia Turaniano (tipo: Dravidiano,
Austrália Tamil) Kariera,
América do Sul Kaxinawá
Tabela 1. Um fragmento dos sistemas Sêneca-Iroquês,
Pacífico Malaio (tipo: Havaiano
Tamil e Inglês. Havaiano)
Sistemas Sistemas Sistemas descri- Europa, Oriente Ariano-Semítico- Esquimó
Classificatórios Descritivos tivos Médio Uraliano
0 1 2 3 4 Nota: Na classificação proposta por Murdock (1949), Crow e
Relações (ego Sêneca- Tamil
Inglês Omaha são subcategorias do sistema “iroquês”, que inclui também
masculino) Iroquês (dravidiano)
7 Ego/PAI my father o sistema “dravidiano”. Este será distinguido do sistema iroquês a
Ego/IRMAO DO PAI hä’-nih takkappan partir de Lounsbury (a distinção já era feita por Morgan). A colu-
53
(mais velho) my uncle na da direita é meramente ilustrativa, sem refletir a variedade de
90 Ego/IRMAO DA MAE hoc-no-se En maman tipologias atuais (e.g. Murdock distingue o sistema “sudanês” do
9 Ego/FILHO my son “esquimó”), entre sistemas que distinguem parentes colaterais de
ha-ah-wuk En makan
Ego/FILHO DO
23 parentes lineais (“descritivos” na classificação de Morgan).
IRMAO
my nephew
hay-ya-wan- En
31 Ego/FILHO DA IRMA A Tabela 2 visa mostrar que, para além das
da marumakan
Fonte: Comparative Table of the System of Relationship of the Seneca- diferenças de denominação, Morgan identifi-
-Iroquois Indians of New York, and of the People of South-India spe- cou os padrões com que a etnologia posterior
aking the Tamil Dialect of the Dravidian Language (Morgan, [1871] trabalhou no século seguinte. Mas a tabela in-
1997; [1877] 1985). Os números da coluna 0 são os da tabela origi- dica também refinamentos e descobertas. Uma
nal, que contém 218 linhas e mais detalhes em cada linha. delas refere-se à fundamentação da distinção,
já feita por Morgan, entre os sistemas ganowa-
A tabela ilustra o resultado principal de niano (iroquês) e turaniano (tamil-dravidiano),
Morgan: existem dois sistemas fundamental- e entre sistemas dravidianos e kariera (que se
mente diferentes de terminologias de paren- deve em parte a um discípulo de Morgan).
tesco: o “descritivo” e o “classificatório”. No Outro refinamento refere-se às características
interior dessas subdivisões, os sistemas classi- que distinguem os sistemas crow e omaha no
ficatórios incluíam a família malaio-polinésia interior do tipo iroquês5. Essas elaborações
(Pacífico), a família turaniana (sul da Índia), e devem-se a Murdock (1949), Dumont (1953),
a família ganowaniana (índios da América do Lounsbury ([1964] 1969) e ainda outros. Mas
Norte, menos os Esquimó). Essa subdivisão, muitas das distinções em jogo já haviam sido
apoiada em uma análise minuciosa de indica- apontadas por Morgan em sua obra de 1871.
tive features de cada sistema, permanece com Pode-se considerar que essa linha de inves-
novos rótulos como parte de toda a discussão tigação esteja morta hoje em dia? A resposta
clássica de problemas de parentesco até nossos é não. Em primeiro lugar, porque o método
dias. Isso é ilustrado na Tabela 2, também mui- acima está na base das abordagens de teóricos
to simplificada. como Goodenough ([1865] 1969), Lounsbury

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 313 08/12/2010 01:16:54


314 | Mauro William Barbosa de Almeida

([1964] 1969), Trautmann (1981), Viveiros de Morgan afirma aqui que as funções de
Castro (2002), para citar apenas alguns exem- “guardião de direitos” que cabem ao Estado na
plos de análises de terminologias de parentesco “sociedade civilizada” são realizadas, nas socie-
que podem ser chamadas legitimamente de es- dades sem Estado, pelo “laço de parentesco”
truturais. Em segundo lugar, o método do es- (bond of kindred). Segue-se que o tamanho do
tudo comparativo de textos e de vocabulários grupo de parentesco tende, nessas sociedades, à
aplicado para rastrear trajetos migratórios da “escala máxima numérica”. A forma classificató-
“família humana” foi revitalizado nos tempos ria de consanguinidade, identificando pais e ir-
modernos por Joseph Greenberg, “o principal mãos dos pais, e identificando filhos e filhos de
taxonomista contemporâneo” de línguas na opi- irmãos, seria um método para maximizar o ta-
nião de Cavalli-Sforza, pesquisador de genética manho de grupos de parentesco, os quais cum-
de populações (Cavalli-Sforza, 2002, 2003). pririam certas funções do Estado em sociedades
sem Estado. Por outro lado, continua Morgan,

Em busca da explicação para a uma mudança gradual de uma condição nôma-


estrutura: as “causas externas” de para uma condição civilizada demonstra-se
como o teste mais severo ao qual um sistema
Restava o enigma da explicação para a pró- de consanguinidade poderia ser submetido. A
pria existência dos sistemas classificatórios, e proteção da lei, ou do Estado, substituiria a da
para a passagem destes para sistemas descriti- parentela; (...) os direitos de propriedade pode-
vos. Há uma primeira teoria a respeito desse riam influenciar com força efetiva o sistema de
problema já nas primeiras páginas dos Systems. relações (Op. cit., p. 14).
Ei-la nas palavras de Morgan:
Como exemplo do sistema classificatório,
Há um poderoso motivo que poderia, sob cer- Morgan cita o caso da sociedade tamil, “where my
tas circunstâncias, levar à derrubada da forma brother’s son and my cousin’s son are both my sons”.
classificatória e à sua substituição pela descri- Essa forma de consanguinidade, diz Morgan,
tiva; ele surgiria, porém, após o surgimento da teria um propósito útil ao aproximar “o laço de
civilização. Trata-se da herança do patrimônio parentesco”, isto é, ao ampliar o número de pes-
territorial (estates). Pode-se postular que o laço soas tratadas como “filhos”. Contudo, diz Mor-
do parentesco, entre nações não civilizadas, gan, “no sentido civilizado seria manifestamente
é uma forte influência para a proteção mútua injusto colocar qualquer destes filhos colaterais
de pessoas relacionadas. Entre tribos nômades, em pé de igualdade com meu próprio filho para
especialmente, a respeitabilidade do indivíduo a herança de meu patrimônio (estate)” 6.
era avaliada, em grande medida, pelo número Notemos, em primeiro lugar, que essa tese
de seus parentes. Quanto mais amplo o círculo tornou-se parte integrante da antropologia dos
de parentes, maior a certeza de segurança, já que sistemas políticos de sociedades sem Estado, de-
eles eram os guardiões naturais de seus direitos senvolvida pela escola britânica de Antropologia
e os vingadores de suas ofensas. Quer por de- Social e apoiada em parte na teoria de Morgan
sígnio ou não, a forma de consanguinidade tu- sobre o papel de grupos de parentesco maximi-
raniana organizava a família com base na escala zados por meio dos sistemas classificatórios7. A
máxima do número de seus membros (Morgan, escola britânica reconheceu de modo mais ex-
[1871] 1997, p. 14). plícito seu débito, quanto a essa tese, para com

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 314 08/12/2010 01:16:54


Lewis Morgan | 315

Henry Maine, cuja obra Ancient Law ([1861] Cabe ainda notar que Morgan considerou
1986) foi dedicada inteiramente a elaborar a tese várias “causas externas” para a existência das
de que a passagem da “barbárie” para a “civiliza- terminologias classificatórias, antes de apre-
ção” foi marcada pela transição entre um sistema sentar sua sequência progressiva de formas de
de direito baseado nos laços pessoais de status a família, no capítulo dos “Resultados Gerais”
um sistema de direito baseado nos laços de con- que conclui seu livro ([1871] 1997, p. 467-
trato. Em suma, trata-se de uma teoria funcio- 510). No fecho de sua grande obra, Morgan
nalista para explicar os sistemas classificatórios. discute minuciosamente várias hipóteses que
A passagem de Morgan citada acima con- agrupamos como “explicações sociológico-fun-
tém o cerne da nota de rodapé que Engels apôs cionais”. Estas explicações incluem: o papel dos
ao Manifesto do Partido Comunista, publicado laços de parentesco para proteção mútua, o sis-
originalmente em 1848, ao reeditá-lo em 1888. tema de linhagens, a poligamia e a poliandria
Logo após a frase que afirma que “a história de (Op. cit., p. 467-479). As três últimas hipóte-
toda sociedade até agora é a história da luta de ses foram testadas estatisticamente por George
classes”, Engels acrescenta: Murdock em seu Social Structure de 1949. É a
partir da seção IV deste capítulo, após indicar
Isto é, toda a história escrita. Em 1847, a pré-his- que nenhuma dessas explicações abrange todos
tória da sociedade, a organização social existente os fatos observados, que Morgan apresenta fi-
antes da história registrada, era praticamente des- nalmente sua “solução conjetural”,
conhecida. Desde então, Haxthausen descobriu a
propriedade comum da terra na Rússia, Maurer ... sob a hipótese da existência de uma série de
provou que ela é o fundamento social de que parti- costumes e instituições antecedentes a um estado
ram todas as raças teutónicas da história e, pouco a de casamento entre pares individuais, nos quais
pouco, verificou-se que as comunidades aldeãs são o costume havaiano se inclui (Op. cit., p. 474).
ou foram a forma primitiva de sociedade em toda
a parte, da Índia à Irlanda. A organização interna Em suma, Morgan estava longe de ignorar
desta primitiva sociedade Comunista foi posta explicações históricas com apoio documental
a nu, na sua forma típica, pela descoberta culmi- (casos da gens romana e grega), ou explicações
nante feita por Morgan da verdadeira natureza da funcionais e sincrônicas, apoiadas em dados da
gens e da sua relação com a tribo. Com a dissolução etnografia de primeira mão. É assim um tan-
destas comunidades primevas, a sociedade começa to injusto que Radcliffe-Brown (1952) utilize,
a diferenciar-se em classes separadas e finalmente para criticar a “história conjetural” como ex-
antagônicas. Tentei reconstituir este processo de plicação de terminologias classificatórias, uma
dissolução em A Origem da Família, da Propriedade explicação sincrônico-funcional baseada na
Privada e do Estado (Nota de Engels à edição ingle- organização de linhagens, sem mencionar que
sa do Manifesto do Partido Comunista, de 1888). Morgan foi o primeiro a propor e discutir pre-
cisamente essa explicação9. Com efeito, como
A sequência de invenções tecnológicas, for- disse Trautmann, “certos aspectos do conheci-
mas de família, formas de governo e institui- mento recebido na antropologia são profunda-
ções de propriedade, destacada por Engels na mente marcados por Morgan, quer saibamos
sua reelaboração da Sociedade Antiga de Mor- disso ou não” (Trautmann, 2010, p. v). Para
gan, prescinde de maior comentário, sendo a concluir esse sobrevoo da presença de Morgan
parte mais conhecida do legado de Morgan8. na teoria contemporânea, falta considerar o

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 315 08/12/2010 01:16:54


316 | Mauro William Barbosa de Almeida

nexo entre Morgan e a teoria lévi-straussiana do sistema turaniano (cujo tipo é o tamil), e in-
do parentesco, para além do objeto e do mé- dicou claramente o locus da diferença entre os
todo “estrutural”. A resposta passa por um dois, embora se afirmando incapaz de explicá-la
costume que Morgan ignorou, mas que Rivers (Morgan, [1871] 1997, p. 398). A “identifica-
([1910] 1991) invocou, para explicar a peculia- ção” entre esses dois sistemas foi obra das tipolo-
ridade que distingue o sistema tamil (dravidia- gias de Lowie ([1929] 1968) e Murdock (1949),
no) do sistema iroquês: o casamento de primos na qual iroquês e dravidiano de fato confun-
cruzados. Sobre esse ponto cego na análise de dem-se em um único tipo, até que Lounsbury
Morgan, eis o que diz Trautmann: (1964, nota 16) apontou a diferença, tendo lido
certamente a observação explícita de Morgan so-
Morgan deixou de reconhecer o papel do ca- bre o assunto.
samento de primos cruzados no sistema dra- Entende-se que Systems possa ter servido de
vidiano, e foi aqui particularmente obtuso já epígrafe tanto ao tratado culturalista compara-
que suas fontes de informação sobre o sistema tivo de Murdock como ao tratado estruturalis-
dravidiano indicaram claramente a regra e sua ta de Lévi-Strauss, e que possa ter contribuído
conexão com a terminologia. Como argumen- tanto para a teoria materialista da história de
tei, foi uma coincidência fatídica o fato de que o Marx e Engels assim como para a teoria fun-
próprio Morgan tenha se casado com a filha do cional-estrutural de sociedades sem Estado for-
irmão de sua mãe, uma prima cruzada em siste- mulada por Radcliffe-Brown e Evans-Pritchard.
mas onde a regra existe, fato que explica, a meu Compreende-se também que Tooker apresente
ver, seu ponto cego sobre o assunto ao tratar dos essa obra como “one of the most remarkable of all
dravidianos, erroneamente identificados com os anthropological studies” (Tooker, 1997, p. vii), e
iroqueses (Trautmann, 2008, p. 324). que Trautmann (2010, p. v) tenha afirmado que
Morgan continua “good to think” até nossos dias.
Como se sabe, toda a teoria das “estruturas A influência de Morgan sobre a Antropolo-
elementares do parentesco” pode ser entendida gia exerceu-se desde cedo, e é ilustrada pelos de-
como uma teoria da aliança de casamento entre bates com John McLennan sobre o parentesco
primos cruzados. A teoria, porém, não funciona classificatório, e pela teoria de Edward B. Tylor
para os sistemas de parentesco dos índios norte- sobre a conexão entre o casamento de primos
-americanos aos quais correspondem terminolo- cruzados e o parentesco classificatório (Tooker,
gias “iroquesas” (e em particular seus subcasos 1971). Talvez essa convergência esteja na raiz da
crow e omaha). Lévi-Strauss (1967) forneceu, opinião dominante que é a que inclui Morgan
assim, uma justificativa profunda para a dico- entre os “evolucionistas vitorianos”, em uma
tomia aguda que separaria as “estruturas ele- posição caudatária de Lubbock, McLennan e
mentares de parentesco” (exemplificadas pelos Tylor, agrupando todos ao depósito de velharias
sistemas dravidianos) das “estruturas complexas” teóricas que são mencionadas, mas não estuda-
(exemplificadas pelos sistemas “iroqueses”, par- das seriamente. Esse juízo é ilustrado sarcastica-
ticularmente em suas variantes crow e omaha): mente por Adam Kuper, que afirmou em 1993:
a existência ou ausência de uma regra prescritiva
de casamento. Cabe lembrar que a identificação A lâmpada de Edison realmente funcionava, e
“errônea” entre o sistema iroquês e dravidiano talvez as patentes ainda valham alguma coisa,
não vem de Morgan, que separou nitidamente ao passo que as fantasias intelectuais de Mor-
o sistema ganowaniano (cujo tipo é o iroquês) gan, McLennan, e [Max] Müller conservam

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 316 08/12/2010 01:16:54


Lewis Morgan | 317

pouco valor contemporâneo, se é que ainda classificatório” e, sobretudo, de Robert Lowie


têm algum (Kuper, 1993). em The History of Ethnological Theory (1937).
Sobre a crítica cerrada de Kroeber e de Lowie a
As obras de Lubbock, McLennan, Tylor e Morgan é difícil resistir a citar Trautmann:
Morgan situam-se de fato no período que vai
da publicação de A Origem das Espécies ([1859] Engels criticou os antropólogos ingleses por ata-
2009) ao aparecimento de The Descent of Man carem Morgan e ao mesmo tempo plagiarem seus
([1871] 2004). Morgan admirava a obra de Da- resultados. Isso mudou com Rivers, a partir de
rwin, que visitou na Inglaterra. De acordo com o quem a antropologia inglesa adotou os métodos
Carl Resek, aliás, foi Darwin quem encaminhou de Morgan, mas poderia aplicar-se aos boasianos
Morgan para um encontro com John McLen- na América do Norte (Trautmann, 2008, p. vii).
nan em Londres, que por sua vez o colocou em
contato com os evolucionistas sociais Lubbock, Leslie White (1951, 1957, 1958, 1959)
McLennan e Henry Maine (Resek, 1960, p. dedicou-se, na América do Norte, a restaurar
125). O consenso entre historiadores é, contu- a reputação intelectual de Morgan contra a di-
do, que, a despeito de sua admiração por Da- minuição efetuada pelos boasianos, mas talvez
rwin, e de sua decidida posição monogenista (e, a defesa de Morgan por Leslie White, acompa-
portanto, contrária ao antidarwinista Agassiz), nhada de uma versão radical de evolucionismo
Morgan não era um adepto do evolucionismo linear, e de simpatia pelo marxismo, crítica aos
darwiniano. Ele descreveu uma história huma- boasianos, tenha piorado a imagem de Mor-
na na longa duração da nova cronologia como gan na academia norte-americana, ao invés de
uma história de progresso através de invenções, melhorá-la. Em 1949, Lévi-Strauss dedicou a
mas não é claro que aceitasse uma origem não Morgan as Estruturas Elementares do Parentes-
humana para a humanidade. A questão é su- co, e George Murdock incluiu Morgan entre
jeita a debate, porque Morgan retirou de uma os homenageados na abertura da obra Social
versão preliminar dos Systems, a pedido de seu Structure, publicada também em 1949. Essas
amigo McIlvaine, uma formulação que sugeria duas obras, saídas no mesmo ano que Social
um apoio explícito a Darwin. Outro ponto re- Evolution de Leslie White, também publicada
levante é a recusa de Morgan a estabelecer uma em 1949, assinalavam três retomadas de temas
fronteira absoluta entre a espécie humana e os e problemas deixados por Lewis Morgan, de
“mudos” (mutes), ou animais como formigas e perspectivas muito diferentes: o culturalismo
castores, que considerava como dotados de inte- de Murdock, o estruturalismo de Lévi-Strauss
ligência e da capacidade para elaborar obras em e o evolucionismo social de Leslie White.
resposta a desafios técnicos e ambientais. Um outro marco na retomada de Lewis
Na Antropologia inglesa, a problemática Morgan foram os estudos de Floyd Lounsbury
colocada por Morgan foi introduzida por W. ([1964] 1969) sobre terminologias de paren-
H. Rivers ([1910] 1991), e Meyer Fortes ho- tesco de índios norte-americanos. Lounsbury
menageou Morgan para a Antropologia Social usa os dados e o enfoque de Morgan como
em Kinship and the Social Order: The Legacy of instrumentos da análise semântico-estrutural.
Lewis Henry Morgan ([1969] 2005). Na Amé- Dessa forma, na década de 1950, o legado de
rica do Norte, a imagem de Lewis Morgan Morgan ressurge associado ao mesmo tem-
foi marcada pelas críticas de Alfred Kroeber po à retomada do evolucionismo cultural por
([1909] 1969) ao próprio conceito de “sistema White, ao teste estatístico e sincrônico de suas

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 317 08/12/2010 01:16:54


318 | Mauro William Barbosa de Almeida

hipóteses por Murdock, e à fundação de duas no de “sistemas dravidianos” a terminologias de


ciências: a Antropologia Estrutural e a Semân- parentesco ameríndios, e Eduardo Viveiros de
tica Estrutural de Goodenough ([1865] 1969) Castro (2002) liderou um vasto projeto coletivo
(também conhecida como análise componen- de estudos etnológicos sobre parentesco em que
cial) e de Lounsbury ([1964] 1969). o tema da “afinidade” é central. Um balanço da
Em 1972, porém, o capítulo de David Sch- questão foi apresentado em uma publicação de
neider dedicado ao centenário de publicação de 1998 organizada por Maurice Godelier, Thomas
Sistemas de Consanguinidade e Afinidade anuncia- Trautmann e Tjon Sie Fat (1998). Em suma, nada
va que Lewis Morgan era o fundador da ciência indica que o tema do parentesco esteja morto, e
de um objeto inexistente: o parentesco. Na Ingla- pode-se dizer que ele é um campo particularmente
terra, Rodney Needham (1971) fez uma decla- vivo no Brasil10. No Brasil, aliás, a leitura evolu-
ração semelhante. A desconstrução de Schneider cionista de Morgan também inspirou a visão te-
teve enorme sucesso, mas curiosamente ela não órica exposta por Darcy Ribeiro (1972) em seus
resultou no fim dos estudos de parentesco: em estudos sobre o processo civilizatório nas Américas
vez disso, ela marcou a divisão desse campo em e seu efeito sobre os índios do Brasil. Há muita
estudos “clássicos” de parentesco, e os “novos es- semelhança, aliás, entre a combinação um tanto
tudos de parentesco”. American Kinship (1980), incoerente da fé de Lewis Morgan no progresso
de David Schneider, bem como After Nature e sua admiração ilimitada pelos índios iroqueses,
(1992), de Marilyn Strathern, são exemplos da que segundo sua teoria do progresso estavam no
direção tomada pelos “novos estudos de parentes- estágio pré-civilizado, e a fé positivista de Rondon
co”, sendo uma marca distintiva deles a ausência no progresso e sua postura humanista face aos ín-
completa de genealogias, terminologias de paren- dios, posição ecoada por Darcy Ribeiro em sua
tesco e de regras de casamento. Por outro lado, própria versão do evolucionismo de Leslie White
a tradição dos “velhos estudos” continuou viva, e de Julian Steward. Morgan descreveu o sistema
mais na França e no Brasil do que na Inglaterra classificatório como “complexo em sua estrutura,
e nos EUA. Tanto na França como no Brasil, a elaborado em suas discriminações, e opulento em
continuidade dos estudos “clássicos” ou morga- sua nomenclatura” ([1871] 1997, p. 471).
nianos de parentesco deve-se à sua redefinição da Continua Morgan:
problemática feita por Lévi-Strauss, e de questões
colocadas por Louis Dumont, Lounsbury e por Pelas excessivas e intrincadas especializações cor-
Trautmann. De fato, a partir de Louis Dumont porificadas no sistema [classificatório], ele poderia
(1975) e de Lousnbury ([1964] 1969) acende-se ser considerado como de difícil uso prático; con-
o debate sobre uma questão que foi aflorada por tudo, uma de suas características mais singulares
Lewis Morgan nos Sistemas de Consanguinidade é que ele é complicado sem obscuridade, diversi-
e Afinidade: qual é a diferença entre o “sistema ficado sem confusão, e é compreendido e aplica-
sêneca-iroquês” e o “sistema tamil (dravidiano)”? do com máxima facilidade. (...) Nenhum outro
Esse problema, ao qual se juntou o das diferen- caracteriza propriamente uma estrutura cujo ar-
ças entre o sistema dravidiano e o sistema kariera cabouço é tão completo, e cujos detalhes são tão
(inicialmente estudado na Austrália por um dis- rigorosamente ajustados (Op. cit., p. 472).
cípulo de Morgan), juntou-se ao tema espinhoso
das terminologias sistemas “crow-omaha”. É evidente nessas páginas a admiração de
Na América do Sul, Joana Overing (ex-Kaplan) Lewis Morgan pelo sistema de parentesco iro-
(1975) iniciou a aplicação do conceito dumontia- quês e seus análogos. Essa admiração, contras-

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 318 08/12/2010 01:16:55


Lewis Morgan | 319

tando agudamente com o preconceito vitoriano, duração passada da existência humana; e é ape-
tem paralelo apenas na admiração de Morgan nas um fragmento das eras que virão. A dissolu-
pela organização social iroquesa, expressa desde ção da sociedade tem boas chances de ser o termo
1859 na Liga dos Iroqueses às páginas finais da final de uma trajetória da qual a propriedade é o
Sociedade Antiga em 1877. Mais descentralizado fim e o objetivo, porque tal trajetória contém os
e complexo do que o centralismo monárquico elementos da autodestruição. A democracia no
europeu que Morgan detestava, o sistema iro- governo, a fraternidade na sociedade, a igual-
quês foi exaltado por Morgan como exemplar dade de direitos e de privilégios, e a educação
(e tem sido apontado como precursor da demo- universal, prenunciam o plano superior da so-
cracia federalista norte-americana). Isso signifi- ciedade para qual a experiência, a inteligência e
cava, porém, que a ordem do progresso que ia o conhecimento estão conduzindo firmemente.
da barbárie à civilização caminhava do comple- Este será um renascimento, em forma superior,
xo para o simples; o fechamento da fronteira era da liberdade, da igualdade e da fraternidade das
ao mesmo tempo a simplificação dos intrinca- antigas gentes (Morgan, [1877] 1985, p. 552).
dos sistemas classificatórios que “maximizavam
os laços de parentesco”, e a destruição do fe- É a visão que já se anuncia em um discurso
derativismo democrático iroquês. A civilização dirigido por Morgan para uma associação de
também representou, aliás, o fim da elaborada trabalhadores já em 1852, e que marca a dis-
cultura material do castor norte-americano, que tância entre o evolucionismo social vitoriano
Morgan não diferenciava em essência da cultura e a noção ambígua de progresso em Morgan.
material dos indígenas iroqueses, já que incluía
os “mudos” na categoria de seres dotados de in- !"#$% &'()*+,% -./% :!*($% ';% Systems of
teligência e capacidade de invenção. 1'+$*+)2#+#<=%*+0%3;4+#<=%';%<>!%926*+%5*-
Se devemos falar de um evolucionismo so- mily (1871-2011)
cial em Morgan – que usou sempre a noção
de progresso, e não de evolução –, trata-se de abstract Lewis Henry Morgan is usually grou-
uma versão peculiar de evolucionismo social. ped with McLennan, Lubbock and Tylor as one of the
Assim como as estepes russas para Kropotkin, cabinet evolutionists whose work is mentioned at the
as pradarias americanas não combinavam, para beginning of anthropology courses, but whose reading
Morgan, com a “luta pela vida”. Mas Morgan is not recommended. In fact, Morgan was a pioneer in
assistiu ao fechamento da fronteira americana, fieldwork research, whose first theoretic project was to
e tomou parte dela como advogado de ferro- prove the unity of humanity and the Asiatic origin of
vias. Face a essa história real da propriedade Amerindian peoples, employing a method that can be
privada, a linha do tempo progressivo que leva legitimately named structural. Morgan’s evolutionism,
da barbárie à civilização adquiria para ele um or what he called as the “conjectural solution” of the
viés negativo, expresso em páginas célebres da diversity of kinship terminologies through a progres-
A Sociedade Antiga que vale a pena evocar: sive sequence of family forms was an addendum to
his monumental work Systems of Consanguinity and
A mera trajetória da propriedade não é o destino Affinity of the Human Family, published in 1871. The
final da humanidade, se o progresso continu- “conjectural solution” is the focus of his best known
ar a ser a lei do futuro como tem sido a lei do work, that is Ancient Society published in 1877. Even
passado. O tempo que transcorreu desde que a though, this second work had not been published,
civilização começou é apenas um fragmento da Morgan deserves being recognized as the creator of the

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 319 08/12/2010 01:16:55


320 | Mauro William Barbosa de Almeida

object “Kinship System”, of having created a system Ego masculino e “cousin” como o primo cruzado
to study it and, of having performed an effort of com- masculino). É o próprio Morgan quem afirma
parative research without pair until today. Lewis Mor- este último ponto, à página 391: “The children of
my male cousins, Ego a male, are my nephews and
gan was a pioneer in the research on political systems,
nieces; of my female cousins are my sons and dau-
of architecture and of commensalism of Amerindian ghters”, advertindo em seguida: “esse é o único
indigenous people, besides being a naturalist that de- detalhe em que [a forma tamil] difere substan-
fended the “muted” beings, to whom he attributed cialmente da forma sêneca-iroquesa”. A aparen-
intelligence equal in nature to that of beings endowed te contradição pode indicar a sobrevivência de
with speech. uma versão anterior no manuscrito final.
7. Sobre a tendência à maximização dos números
keywords Morgan. Anthropology. Kinship.
dos parentes, lembremos que a expansão ter-
Evolutionism. Human History. ritorial nuer foi atribuída ao tamanho de seus
grupos guerreiros, por sua vez explicado pelo
Notas sistema de linhagens (Kelly, 1985).
8. Acompanhamos aqui, por comodidade de exposi-
1. Em 1871, Morgan estava preocupadíssimo com ção, a posição segundo a qual a teoria marxista da
a demora de seis anos na publicação do livro, história é uma teoria funcionalista (Cohen 1978).
contando a partir de 1865, e de três anos, con- 9. Trata-se da crítica ao método da “história conje-
tando a partir de 1868 (Tooker, 1997, p. vii). tural” em The Study of Kinship Systems, datado de
2. O comentário detalhado sobre a diferença en- 1941 (Radcliffe-Brown, 1952). Radcliffe-Brown
tre as duas versões está em Trautmann, 2008, refere-se aos Systems como um “monumento de
Apêndice III. erudição e de pesquisa paciente na coleção de
3. A comparação direta está na tabela não nu- dados” (Op. cit., p. 50), mas afirma que Morgan
merada dos Sistemas, cujo título aparece como “não conseguiu entender a natureza e a função
Comparison of the System of Relationship of the da terminologia classificatória” que identificou
Seneca-Iroquois with that of the Tamil People of (Op. cit., p. 59). Radcliffe-Brown propõe uma
South America (Morgan, 1871, p. 511-514). A explicação funcional para essa terminologia
indicação “América do Sul” em vez de “Índia do como alternativa à “história conjectural”. O cer-
Sul” é um lapso profético já que, embora Mor- ne da explicação funcional de Radcliffe- Brown é
gan nunca tenha trabalhado com dados sobre o conceito de “solidariedade do grupo de germa-
índios da Amazônia, estes viriam a tornar-se ter- nos”. Mas Radcliffe-Brown deixa de mencionar
reno paradigmático de “dravidianato” (Overing, que foi Morgan quem primeiro propôs que os
1975; Silva, 1995; Viveiros de Castro, 2002). “sistemas classificatórios” poderiam ser expli-
4. A outra obra de Morgan citada por Darwin é cados por seu papel para a proteção mútua do
The American Beaver and His Works, também grupo de germanos. Assim, sua afirmação de que
publicada em 1868. “é óbvio que toda a teoria de Morgan é intei-
5. Morgan distinguiu “ganowaniano” e “turaniano”, ramente injustificada” ignora a teoria funcional
mas viu os dois sistemas como sendo “idênticos” proposta pelo próprio Morgan.
em seus traços essenciais, exceto por uma diver- 10. Sobre o prolongamento do debate sobre sis-
gência que não soube como explicar: no sistema temas iroqueses, dravidianos, kariera e crow-
tamil, a filha da minha prima cruzada (sendo eu -omaha, ver ainda Silva (1995, p. 25-28),
homem) é chamada de “minha filha”, enquanto Barnes ([1984] 2005, p. 194-217), Viveiros de
no sistema Iroquês o termo apropriado é “minha Castro (2002, p. 87-181), Trautmann e Barnes
sobrinha” (Morgan, [1871] 1997, p. 391). (2008), Trautmann (2008 p. 324-325).
6. À página 14 de Systems, Morgan afirma que na
sociedade tamil “my brother’s son and my cousin’s Referências bibliográficas
son are both my sons”. De fato, esse “traço in-
dicativo” aplica-se ao sistema sêneca-iroquês, ALMEIDA, Mauro W. Barbosa de. Marxismo e Antropo-
mas não ao sistema dravidiano (se tomarmos logia. In: TOLEDO, Caio N.; BOITO JR., Armando.

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 320 08/12/2010 01:16:55


Lewis Morgan | 321

(Orgs.). Marxismo e Ciências Humanas. Campinas: LÉVI-STRAUSS. Les Structures Élémentaires de la Paren-
Editora Xamã, CEMARX e FAPESP, p. 48-59, 2003. té. Paris e Haia: Mouton, 1967.
BARNES, J. Two Crows Denies It. A History of Controversy LOUNSBURY, Floyd G. A Formal Account of the Crow-
in Omaha Sociology. Lincoln e Londres: University of and Omaha-Type Kinship Terminologies. In: TYLER,
Nebraska Press, [1984] 2005. Stephen A. Cognitive Anthropology. New York: Holt,
CAVALLI-SFORZA, L. Luca. Genes, Povos e Línguas. São Rinehart and Winston, p. 212-254, [1964] 1969.
Paulo: Companhia das Letras, 2003. LOWIE, Robert H. Relationship Terms. In: BOHAN-
CAVALLI-SFORZA, Luca; CAVALLI-SFORZA, Fran- NAN, Paul ; MIDDLETON, John(Orgs.). Kinship
cesco. Quem Somos? História da Diversidade Humana. and Social Organization. New York: The Natural His-
São Paulo: Editora UNESP, 2002. tory Press, p. 39-59, [1929] 1968.
COHEN G. A. Karl Marx’s Theory of History. A Defense. LUBBOCK, John. The Origin of Civilization and Primi-
Princeton: Princeton University Press, 1978. tive Condition of Man. Londres: Longmans Green,
DARWIN, Charles. The Descent of Man. Introdução de 1870.
James Moore e Adrian Desmond. Londres: Penguin MAINE, Henry S. Ancient Law. Its Connection with the
Books, [1871] 2004. Early History of Society, and its Relation to Modern Ide-
______. A Origem das Espécies. São Paulo: Escala, [1859] as. Tucson: University of Arizona Press, [1861] 1986.
2009. McLENNAN John F. Primitive Marriage. An Inquiry into
DUMONT, Louis. The Dravidian Kinshp Terminology as the Origin of the Form of Capture in Marriage Cere-
an Expression of Marriage. Man, vol. 53, p. 34-39, 1953. monies. Organização e Introdução de Peter Rivière.
DUMONT, Louis. Dravidien et Kariera. L’ Alliance de Chicago e Londres: The University of Chicago Press,
Mariage dans L’ Inde du Sud, et en Australie. Haia e [1865] 1970.
Paris: Mouton, 1975. MORGAN, Lewis H. Diffusion Against Centralization.
ENGELS, Friedrich. Der Ursprung der Familie, des Pri- A Lecture Delivered Before the Rochester Athenaeum
vateigenthums und des Staats. Stuttgart: Dietz Verlag, and Mechanic’s Association. Rochester Athenaeum: D.
1886. M. Dewey, 1852. Fac-simile disponível em: <http://
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O Manifesto do Parti- books.google.com.br>.
do Comunista. In: ______. Werke. Berlin: Dietz Ver- ______. A conjectural Solution of the Origin of the
lag, vol. 4, p. 459-493, [1890] 1972. Classificatory System of Relationship. Proceedings of
FORTES, Meyer. Kinship and the Social Order: The Le- the American Academy of Arts and Sciences, vol. VII, p.
gacy of Lewis Henry Morgan. New Bruswick: Aldine 436-467. Cambridge: Welch, Bigelow, and Company,
Transaction, [1969] 2005. [1868a] 1968. Disponível em: < http://books.google.
GODELIER, Maurice; TRAUTMANN, Thomas R.; com.br>.
FAT, F. Tjon Sie. Transformations of Kinship. Washing- ______. The American Beaver and His Works. Philadel-
ton e Londres: Smithsonian Institution Press, 1998. phia: J. B. Lippincott & Co., 1868b.
GOODENOUGH, Ward H. Yankee Kinship Terminolo- ______. Systems of Consanguinity and Affinity in the Hu-
gy: A Problem in Componential Analysis. In: TYLER, man Family. Lincoln e Londres: The University of Ne-
Stephen A. Cognitive Anthropology. New York: Holt, braska Press, [1871] 1997.
Rinehart and Winston, p. 255-287, [1865] 1969. ______. Ancient Society. Com prefácio de Elisabeth
KELLY, Raymond. The Nuer Conquest. The Structure and Tooker. Tucson: The University of Arizona Press,
Development of an Expansionist System. Ann Arbor: [1877] 1985.
The University of MichiganPress, 1985. MURDOCK, George P. Social Structure. New York: The
KROEBER, Alfred L. 1909. Sistemas Classificatórios MacMillan Company, 1949.
de Parentesco. In: LARAIA, Roque de Barros (Org.), NEEDHAM, Rodney. Rethinking Kinship and Marria-
Organização Social. Rio de Janeiro, Zahar Editores p. ge., Londres: Routledge Library Editions, 1971.
15-25, [1909] 1969. OVERING (KAPLAN), Joanna. The Piaroa. A People of
KUPER, Adam. The Development of Lewis Morgan’s the Orinoco Basin. A Study in Kinship and Marriage.
Evolutionism. Journal of the History of the Behavioral Oxford: Clarendon Press, 1975.
Sciences. vol. 21, January, p. 3-22, 1985. RADCLIFFE-BROWN, R. The Study of Kinship Syste-
______. Reply to Tooker. American Anthropologist. New ms. In: ______. Structure and Function in Primitive
Series, vol. 95, n.2, p. 443-446, 1993. Society, New York, Free Press, 1952.

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 321 08/12/2010 01:16:55


322 | Mauro William Barbosa de Almeida

______. Sistemas Africanos de Parentesco e Casamento tions of the American Philosophical Society, vol. 84,
– Introdução. In:MELATTI, J. C. (Org.). Radcliffe- partes 6 -7, 1994.
-Brown. Antropologia. São Paulo: Editora Ática, p. 59- TRAUTMANN, Thomas R.; BARNES, R. H. “Dra-
161, [1950] 1995. vidian”, “Iroquois”, and “Crow-Omaha” in North
RESEK, Carl. Lewis Henry Morgan. American Scholar. American Perspective. In: GODELIER, Godelier;
Chicago: The University of Chicago Press, 1960. TRAUTMANN Thomas R.;FAT, Franklin E. Tjon
RIBEIRO, Darcy. Estudos de Antropologia da Civilização. Sie.(Orgs.). Transformations of Kinship. Washington:
I. O Processo Civilizatório. Etapas da Evolução Socio- Smithsonian Institution Press, 2008.
cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972. TRAUTMANN, Thomas. Dravidian Kinship. Cambrid-
RIVERS, W. H. O Método Genealógico de Pesquisa An- ge: Cambridge University Press, 1981.
tropológica. In: OLIVEIRA, Roberto C. de. (Org.). ______. Lewis Morgan and the Invention of Kinship.
A Antropologia de Rivers. Campinas: Editora da UNI- Berkeley: University of California Press, 1987.
CAMP, p. 51-70, [1910] 1991. ______. Languages and Nations. The Dravidian Proof in
SCHENEIDER, David. American Kinship. A Cultural Colonial Madras. Berkeley: University of California
Acount. Chicago: The Universit of Chicago Press, Press, 2006.
1980. ______. Lewis Morgan and the Invention of Kinship. New
______. What is Kinship All About? In: REINING Pris- Edition with a new Introduction and Appendices by the
cilla (Org.). Kinship Studies in the Morgan Centennial Author. Lincoln and London: University of Nebraska
Year, Washington: The Anthropological Society of Press, 2010.
Washington, p. 32-63, 1972. TYLOR, Edward. Primitive Culture. Cambridge: Cam-
SILVA, Márcio. Sistemas Dravidianos na Amazonia: O bridge University Press, [1871] 2010.
Caso Waimiri-Atroari. In: VIVEIROS DE CASTRO, VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. A Inconstância da
E. (Org.). Antropologia do Parentesco. Estudos Amerín- Alma Selvagem. São Paulo: Cosac & Naify, 2002..
dios. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, p. 25-60, 1995. WHITE, Leslie A. Lewis H. Morgan’s Western Field
STRATHERN, Marilyn. After Nature: English Kinship in Trips. American Anhropologist, New Series, vol. 53, n.
the Late Twentieth Century. Cambridge: Cambridge 1, p. 11-18, 1951.
University Press, 1992. ______. How Morgan Came to Write “Systems of Con-
TOOKER, Elisabeth. Introduction. Lewis Morgan, Sys- sanguinity and Affinity”. Papers of the Michigan Aca-
tems of Consanguinity and Affinity in the Human Fa- demy of Science, Arts, and Letters, vol. 42, p. 257-268,
mily. Lincoln e Londres: The University of Nebraska 1957.
Press, p. vii-xxi, 1997. ______. What is a Classificatory Kinshp Term? Southern
______. Lewis Morgan and His Contemporaries. Ame- Journal of Anthropology, vol. 14, n. 4 p. 378-385,
rican Anthropologist. vol. 94, n. 2, p. 357-375, 1992. 1958.
______. Reply to Kuper’s Commentary. American An- ______ (org.). Lewis Henry Morgan. The Indian Journals.
thropologist, vol. 95, n.2, p. 446-448, 1993. 1859-1862. Ann Arbor: The University of Michigan
TRAUTMANN, Thomas R.; KABELAC, Karl S. The Press, 1959.
Library of Lewis Henry Morgan. Philadelphia: Transac-

autor Mauro William Barbosa de Almeida


Professor do Departamento de Antropologia Social / Unicamp
Doutor em Antropologia Social / Universidade de Cambridge

Recebida em 26/10/2010
Aceita para publicação em 26/10/2010

cadernos de campo, São Paulo, n. 19, p. 309-322, 2010

revista2011-a.indd 322 08/12/2010 01:16:55

Você também pode gostar