Você está na página 1de 15

B

£™rd S* <*Qe é Etnohistória?». Cadernos de


tLtftohistona. Rio de Janeiro, PEPI/UERJ, n . 1,1998 $1968].

NOTA:
A International Encyclopedia of the Social Science (17 volumes) apresenta, no VI
volume, oito artigos sob o verbete History. Um deles é este, intitulado "O que é
Etnohistória" (p.440-448). A Enciclopédia foi editada em 1968, sob a coordenação de
David L. Sills, e teve uma reedição eml972 pela The Macmillan Company and Free
Press, de New York, Tradução: Prof José Ribamar Bessa Freire (UERJ)1.

O QUE É ETNOfflSTÓRIA?
Bernard S. Cohn.

INTRODUÇÃO
O termo Etnohistória foi empregado pela primeira vez, deforma ocasional, no início do
século XX, mas só na década de 40 começou a ser usado, de fôrma sistemática, por
alguns antropólogos culturais, arqueólogos e historiadores norte-americanos, para
denominar suas pesquisas e publicações sobre a história dos povos indígenas no Novo
Mundo. Nos últimos anos, Etnohistória passou a significar o estudo histórico de
qualquer povo não-europeu. Estes estudos tentam reconstruir a história das sociedades
pré-letradas, antes e depois do contato com o europeu, utilizando fontes escritas, orais e
arqueológicas, além dos conceitos e critérios da antropologia cultural e social

Os etnohistoriadores combinam suas fontes históricas com o trabalho de campo


etnográfico, realizado nas sociedades cujo passado
eles pretendem reconstruir. O seu objetivo é enriquecer a História Universal, que levará
em consideração o sistema sociocultural dos povos indígenas. Deste modo, os
etnohistoriadores norte-americanos concentraram particular atenção na localização e
migração das tribos indígenas, nas mudanças das adaptações culturais ao meio-
ambiente, na história demográfica, na natureza exata das relações de cada tribo em
particular com os europeus e nas consequências, para os índios americanos, de
atividades como o comércio de peles e a guerra (Simpósio sobre o conceito de
Etnohistória, 1961),

A Etnohistória direcionou seus estudos principalmente para as formações culturais


específicas, de modo equivalente aos registros etnográficos da pesquisa de campo
dos antropólogos. Houve um pequeno esforço para construir um corpo de
generalizações, tanto através da comparação, como através do desenvolvimento de
categorias ou de conceitos articulados, o que tornaria possível a comparação inter-
regionaL Os enfoques peculiares e os problemas da Etnohistória derivam da natureza
das sociedades indígenas que são estudadas, do período, do tipo e da duração da
dominação europeia, da espécie de documentação disponível e da orientação teórica dos
antropólogos que estudaram a região.

1
FREIRE, José Ribamar Bessa. O que é Etnohistória? Cadernos de Etnohistória. Rio de Janeiro, UERJ,
n. 1, 1998. [Tradução de COHN, Bernard S. "What is Ethnoíiistary?". Im SILLS, David (ed.).
International Eficyclopedia of the Social Science. New York: The Macmillan Compauy and Free Press,
1968, pp. 440-448].
2

Muitos são os aspectos que permitem diferenciar a Etnohistória da História Colonial


convencional O etnohistoriador, como regra geral, tem experiência de campo e contato
direto com a área. Esta experiência aumenta o seu conhecimento sobre as sociedades
indígenas e sobre como elas realmente funcionam ou funcionaram. Em consequência,
sua interpretação dos testemunhos dos documentos é aprofundada. Ele tende a pensar
muito mais em termos sistêmicos e funcionais do que apenas em termos do acaso e dos
detalhes. Procura usar o seu conhecimento mais amplo da organização social e cultural e
constrói suas unidades a partir de conceitos tais como
11
sociedades segmentadas em clãs", "sociedades camponesas" e "sociedades
patrimoniais". Sua percepção do fato histórico, até mesmo quando utiliza os
documentos produzidos pela administração colonial» é sempre na perspectiva dos
índios, muito mais do que na do administrador europeu. Está mais interessado no
impacto da prática e da política colonial (lo que na gênese dessas políticas na sociedade
metropolitana.

HISTÓRICO DO ENFOQUE
Uma das principais fontes da Antropologia era a preocupação com a história do homem
em geral, o estudo comparativo de sociedades e instituições e a reconstrução histórica
de sociedades concretas. Voltaire, Gustav KJemm, Sir Henry Maine, J.F. McLennan, J.J.
Bachofen, N.D. Fustel de Coulanges, L.H. Morgan e E. Tylor aproximaram-se
gradualmente dos registros históricos, procurando estabelecer uma ciência
comparativa da sociedade e da cultura. Esses primeiros antropólogos usaram
informações sobre as civilizações clássicas, a índia, os
povos bárbaros europeus, as instituições da Europa medieval, além dos relatos
dos missionários e viajantes sobre as sociedades primitivas. Em suas reconstruções
generalizantes e teóricas da história do homem, eles descobriram e classificaram alguns
aspectos essenciais das sociedades primitivas e camponesas.

Os esquemas gerais de uma 4'história evolucionista", formulados por esses primeiros


antropólogos, foram
rejeitados posteriormente, mas eles esclareceram como os documentos, focalizados pela
teoria comparativa, podem ser usados para compreender determinadas sequências da
mudança social e cultural

No começo do século XX, difusionistas tais como Raízel e Gmebner, e em seguida


distribucionistas como Wissler, Krõeber e Lowie negaram a possibilidade do uso de
métodos históricos diretos na reconstrução da história das sociedades
indígenas. Krõeber acreditava que para o estudo de "pequenas sociedades primitivas,
tão antigas que não
podem ser datadas... não possuímos nem mesmo um documento escrito antes de nossa
época" (KRÕEBER, 1952:.65).

Robert Lowie, negando categoricamente "que o homem primitivo seja dotado


de perspectiva ou senso históricocriticou o uso da tradição oral e dos relatos dos
viajantes feito por Swanton e Dixon, quando escreveram a história das migrações dos
índios da América do Norte (SWANTON & DIXON: 1914). Lowie observou que "as
problemas históricos dos antropólogas só podem ser resolvidos pelos métodos objetivos da
Etnologia Comparativa, da Arqueologia, da Antropologia Física e da Linguística"
(LOWIE: 1917-1960,206 e 210).
3

A escola "distribucionista" ou "histórica" americana concentrou todo seu esforço para


descobrir informações sobre a cultura e a sociedade na "memória cultural" dos mais
velhos sobreviventes das tribos indígenas americanas. Essas informações ou
características sociais e culturais, os itens da cultura material e os dados linguisticos
foram mapeados geograficamente, na tentativa de deduzir as afinidades interétnicas,
históricas ou cronológicas. Os distribucionistas de nenhuma maneira estavam
interessados na história particular das tribos. Um desses enfoques típicos é o de
Sapir,cujo livro "Perspecávas do tempo na cultura indígena americana: um estudo do método \
publicado em 1916, dedica apenas duas das suas 87 páginas ao uso de documentos e
tradições orais indígenas. Os trabalhos da escola "histórica" americana perderam força,
devido à sua subordinação aos estudos de distribuição de traços culturais simples ou
complexos (por exemplo, a Dança do Sol, contos e mitos específicos) e pela falta de uso
sistemático de documentos e tradições orais. Sua tendência é produzir descrições
intermináveis de fenômenos em
uma base territorial ou relatos descritivos sincrônicos da memória de determinadas
culturas.

As pesquisas antropológicas com orientação histórica foram desaprovadas também na


década de 20, na Inglaterra, por Malinowski e Radcliffe-Brown. Ambos argumentaram
que documentos para o estudo das sociedades primitivas eram inacessíveis. Radcliffe-
Brown sustentou que a Antropologia Social e a História tinham naturezas antagônicas,
devendo os antropólogos sociais, tão diferentes dos etnólogos, se ocuparem com o
avanço das generalizações sobre a estrutura da sociedade, como resultado do estudo
comparativo das sociedades primitivas, sem referência à sua história. Estudos
sincrônicos ou interseccionados das sociedades foram cuidadosamente diferenciados
dos estudos diacrônicos, ou seja, dos estudos das mudanças das sociedades através dos
tempos; esses últimos — os diacrônicos - com condições de produzir
apenas explicações acerca do singular.

Muitos antropólogos sociais britânicos evitaram as pesquisas diacrônicas até a década


de 50, seguindo à risca as observações de Radcliffe-Brown. Antropólogos britânicos e
americanos continuaram estudando a mudança cultural e social, sem referência aos
documentos históricos, mesmo quando as fontes documentais eram facilmente
acessíveis, como nos casos da pesquisa de Lucy Mair sobre Baganda (1934) ou
de Mônica Hunter Wilson sobre Pondo (1936). A pesquisa de Gluckman sobre o sistema
político Zuhi (1940) e a obra de Nadei
intitulada "Black Ryzantium " (1942) usaram documentos históricos para desenvolver o
modelo de estruturas políticas antes das incursões europeias. No entanto, essas não são
pesquisas históricas, mas abstrações analíticas a partir de fontes históricas, com o
objetivo de esclarecer os princípios estruturais. A única exceção digna de nota durante
todo este período é o estudo sobre o beduíno de Cirenaica (1949) de E. Evans-
Pritchard. Neste trabalho, seu autor analisou o processo pelo qual uma sociedade
segmentada em cias desenvolveu instituições e funções políticas centralizadas. Uma
ordem de líderes religiosos muçulmanos - a Ordem dos Sanusi - migrou para a região de
Cirenaica no alvorecer do século XIX
e preencheu as funções religiosas e de troca necessárias à sociedade. Do ponto de vista
geográfico e estrutural, esses líderes muçulmanos localizaram os seus centros religiosos
nas fronteiras dos territórios tribais e dos clãs que aí viviam. Principalmente
devido à pressão, primeiro dos administradores turcos e depois dos italianos que
tentaram governar os beduínos, os chefes da ordem religiosa -
4

como únicos líderes visíveis - foram obrigados a desempenhar funções políticas mais
amplas na sociedade. Evans-Pritchard usou relatórios e registros coloniais acessíveis,
narrativas publicadas, tradições orais e as lembranças de participantes nos
acontecimentos que compuseram a narrativa histórica. Toda a base do "The
Sanusi of Cyrenaica" reside na compreensão do seu autor sobre como funciona um
sistema político acéfalo em uma sociedade segmentada em clãs. E é esta compreensão
que lhe dá não só os princípios estruturais com os quais ele organizou sua narrativa
histórica, como também lhe proporciona um modelo para o estudo do processo de
mudanças estruturais internas de toda e qualquer sociedade que se encontrar sobre o
impacto do controle externo.

Nos Estados Unidos, no período entre 1910a 1930, alguns poucos antropólogos usaram
métodos históricos diretos para reconstruir os passados tribais, como é o caso de John
R, Swaníony em sua pesquisa sobre alguns povos indígenas do sudoeste americano
(1922:1946) e o de Frank G. Speck, em sua história sobre as tribos do nordeste dos
Estados Unidos (1928). Para esta tarefe, eles contaram como seu próprio trabalho de
campo entre os remanescentes das tribos das respectivas regiões e fizeram uso intensivo
de uma dupla série de documentos históricos.

Os primeiros exemplos tnaís evidentes de pesquisa etnohistórica sistemática são


encontrados justamente num volume de estudos dedicados a
Swanton, publicado pelo Smithsonian Institution em1940. William Fenton usou
documentos dos séculos XVII e XVIII para localizar o território e as migrações de
grupos iroqueses (1940). Willian Duncan Strong demonstrou que os documentos
históricos podem ser usados de forma combinada com os dados arqueológicos para
fornecer, do presente ao passado, um registro contínuo de sítios particulares (1940). O
estudo de Julian Steward sobre as sociedades da Grande Bacia combina a ecologia, a
história, a arqueologia e a etnografia, havendo descoberto
critérios nos processos culturais e estruturais (1940). Esses três estudos revelam a
abordagem etnológica que seria formalizada nos anos 50.

Os dados etnográficos acumulados evidenciaram a falsidade das primeiras hipóteses


sobre a imutabilidade das culturas e sociedades antes do contato europeu. Os
antropólogos começaram a reconhecer que no período anterior ao contato, em vez de
estagnação das sociedades indígenas, ocorreram mudanças de três tipos. Primeiro,
houve mudanças cíclicas
em pequena escala, comprovadas pelo crescimento e divisão de clãs e de famílias
extensas. Segundo, houve ainda ciclos maiores de expansão política e cultural,
quando as linhagens, no interior das tribos, conseguiram dominar grupos similares; no
entanto, muitas sociedades não puderam desenvolver instituições para impedir a
reafirmação da independência de tais grupos, de tal forma que as organizações tribais
extensas cresceriam durante um tempo sujeitas a uma ou a outra parte de uma tribo,
apenas para, novamente, voltar a fragmentar-se em pedaços dentro de grupos menores.
O terceiro tipo de mudança envolve as migrações tribais de grande amplitude,
ocasionando muitas transformações políticas, sociais e nas normas rituais.

Além desses processos internos de mudança, os etnohistoriadores demonstraram as


conseqüências indiretas dos intrusos - europeus e árabes, por exemplo - sobre as
sociedades e culturas nativas, mesmo antes do período da dominação europeia. O tráfico
de escravos, tanto no leste como no oeste da África, o comércio no oeste africano
5

através do deserto de Saara e a circulação de marfim na África central e no litoral leste


ocasionaram importantes mudanças políticas nas sociedades africanas. O comércio de
peles na América do Norte deu origem a significativas guerras intertribais, ao
aparecimento da noção de propriedade e ao surgimento de um sistema social
estratificado, baseado na obtenção e na posse diferenciada de peles. A introdução do
cavalo nas grandes pradarias da América do Norte mudou o modo de vida de muitas
tribos que, na época, viviam em região de fronteiras. Em cada caso, a cultura e a
sociedade eram consideradas pelos antropólogos como estáticas e estáveis e a partir do
momento em que se podia avaliar ou descrever as mudanças, elas estavam em si
mesmas mudando devido a influências externas. (EWERS:1955; LEACOCK: 1954;
JONES: 1963; DILSE: 1956).

A aprovação pelo Congresso Nacional, em 1946, do 'INDIAN CLAIMS ACT'


(Legislação Sobre o Direito dos índios) propiciou um vigoroso avanço na pesquisa
etnohistórica nos Estados Unidos. Protegidas por estas disposições legais, as
tribos indígenas podiam mover ação judicial contra o Governo Federal, exigindo
indenização pelas terras que lhes foram tomadas depois
que haviam assinado tratados protegendo seus direitos. Antropólogos foram contratados
como especialistas, tanto pelas tribos indígenas como pelo Governo, para estabelecer a
localização, o tamanho e o tipo de controle indígena sobre os vários temtórios e a exata
natureza das obrigações contratuais. Isto atraiu o interesse de muitos etnólogos, que
anteriormente, em suas pesquisas sobre os índios americanos,
haviam prestado pouca atenção aos enormes recursos dos arquivos do Governo Federal
e à documentação de vários Estados. A principal revista do ramo - ETNOHISTOR Y -
foi fundada em 1954, em parte com o objetivo
de proporcionar uma saída para as matérias e para o interesse desenvolvido pelas
reivindicações judiciais dos índios.

Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, a expansão das oportunidades de pesquisa de


campo na América Latina e na Ásia e o surgimento de muitos Estados oriundos do
sistema colonial têm sido um extraordinário estímulo para o trabalho etnohistórico. Em
muitas dessas áreas existem tradições literárias de longo alcance e uma riqueza de
documentos históricos. Na América Latina, por exemplo, certas áreas foram cobertas
com fontes históricas por um período de 400 anos. (Para um resumo da literatura, ver
ADAMS: 1962; ARMILLAS:1960;GIBSON:1955).

No leste e sudeste asiático, foram realizadas


importantes pesquisas etnohistóricas sobre as estruturas de parentesco e de clas(FREED
MAN: 1958; R.J. SMITH:1962), posse da terra (T.C SMITH: 1959), recrutamento e
treinamento da burocracia indígena
(HO:1962;MARSH:1961; SILBERMAN:1964), história e mobilidade social urbana(RJ
. SMITH: 1963), comunidades imigrantes ( SKINNER: 1957) e sistemas políticos
indígenas (GULLICK:1958). Estudos etnohistóricos sobre o sul da Asia e o centro leste
estão começando a aparecer (COHN:1962 a, 1962 b; POLK: 1963).

Nas pesquisas europeias, firmou-se uma longa tradição de estudos do medievo clássico
e do começo da sociedade moderna,
orientados por métodos e conceitos sociológicos e antropológicos. A maioria desses
trabalhos foi produzida muito mais por especialistas em História Social, Econômica e
6

Jurídica do que pelos próprios antropólogos. A pesquisa etnohistórica sobre a sociedade


clássica atraiu considerável atenção(KLUCKHOHN:1961). Baseado na Odisséia, Fvúey
escreveu um ensaio sobre a cultura e a estrutura social da Grécia da era heróica, usando
deliberadamente para isso as ideias de Malinowski, Mauss, e Radcliffe- Brown
(FINLEY: 1954). Já Dodds (1951), em sua análise da literatura grega, aproximou-se de
alguns conceitos da antropologia, inspirado pela psicoanálise. Os grandes trabalhos de
Mare Bloch sobre a sociedade feudal (1939-1940) e sobre a estrutura rural da França
medieval (1931) demonstram as possibilidades de uma etnohistória da Europa na Idade
Média.

A narrativa da História Social britânica da época de Maitland (1897) e


Vinogradoff (1905) foi marcada pelo uso consciente ou inconsciente da Antropologia
Social Temas modernos que receberam um sofisticado tratamento etnohistórico
incluem a nobreza feudal dos francos (WALLACE-HADRILL:1959), o parentesco
angk)-saxôiiico(LANCASTER:1958) e os sistemas de casamento do começo da
IdadeModerna (STONE:1965, 589-671; HAB AKKUK: 1950). Embora os antropólogos
sociais tenham realizado muitos trabalhos científicos de campo nas sociedades
camponesas europeias, poucos exemplos de pesquisa etnohistórica, sistemática e
rigorosa, têm aparecido. Uma exceção é o trabalho de Lawrence Wyüie, um estudioso
da literatura e civilização francesas, que fundamentado na pesquisa de campo entre os
camponeses da França, foi capaz de mostrar a utilidade das tradições orais e dos
documentos no estudo das mudanças dos sistemas de valores de uma aldeia rural
(WYLLIE: 1965).

Um trabalho importante e cuidadoso começa a ser feito, em áreas sem longa tradição
escrita. O JOURNAL OF AFRICAN HISTOR Y, criado em 1960, mostra a utilização de
crônicas oficiais, tradições africanas arquivadas e documentos em idiomas árabe e
copta. A história institucional do povo Maori, no século XVffl, começa a ser escrita
(VAYDA; 1961 ;BIGGS: 1960). O JOURNAL OF PACIFIC HISTORY foi recentemente
criado para dar vazão à pesquisa etnohistórica cada vez maior na região do oceano
Pacífico.

FONTES E MÉTODOS

DOCXÍMESTOS ESCRITOS
O etnohistoriador, no uso que fez dos documentos escritos, enfrenta inicialmente o
mesmo problema e aplica as mesmas técnicas que os historiadores convencionais. Se ele
recebeu uma formação de antropólogo e já realizou uma pesquisa de campo, muitas
vezes fica profundamente frustrado, quando tem de sujeitar-se aos documentos. Em
geral, os problemas formulados pela pesquisa etnohistórica dizem respeito à história
local ou são problemas "sub-históricos". O etnohistoriador não está interessado nos
acontecimentos principais, bem documentados, com os quais se preocupa o especialista
em história política; com muita frequência, o que ele quer conhecer são as
particularidades do passado, tais como os laços de parentesco de vultos históricos
obscuros em uma sociedade indígena, o movimento e a situação de linhagens
particulares em épocas determinadas, os significados simbólicos de uma cerimónia de
coroação em um reino africano, a população de um grupo indígena americano no século
XVHL
Muitas vezes é difícil identificar corretamente os indivíduos e grupos pelos quais a
etnohistória se interessa. Devido à sua formação de antropólogo, o etnohistoriador
espera construir indutivamente, a partir de fragmentos parciais de informação, um
quadro do funcionamento do sistema. No entanto, ele não pode gerar os seus próprios
dados, formulando questões à população e observando seu comportamento no contexto
de experiências vivenciadas. Os documentos por ele manuseados quase nunca foram
escritos pelo povo cuja estrutura sociocultural ele quer estudar; são relatos redigidos por
observadores, simplórios e preconceituosos, que quase sempre entendiam só pela
metade a realidade que estavam descrevendo.

Se o etnohistoriador usa os arquivos administrativos como um historiador, ele deve


saber não apenas quem escreveu as atas ou o relato das decisões tomadas e
porque escreveu, mas também deve situar os dados num contexto mais amplo da
política administrativa. Cotos registros oficiais, tais como os cadastros de imposto, as
demarcações de terra e documentos de medidas judiciais vigentes, se bem que diferentes
das decisões políticas, muitas vezes revelam ser os melhores dados. Esses materiais são
filtrados pelo crivo cultural dos administradores, com
menos perfeição. O etnohistoriador deve constantemente tentar compreender as
categorias do administrador e do observador externo, tão bem quanto ele deve
compreender os sistemas indígenas de classificação. A interpretação de documentos
oficiais ou não-oficiais, de declarações políticas ou de outras fontes primárias, requer
uma compreensão da cultura e da sociedade dos administradores coloniais. Isto é, por si
só, muito difícil, porque
grande parte dos feitos da sociedade metropolitana pode ter uma aparênciaenganadora.

O etnohistoriador tem de saber de que grupo social específico o administrador é


proveniente e se seus valores, a sua educação e filosofia política e social diferem do
resto da sociedade, e, em caso afirmativo, como diferem. Precisa compreender a
estrutura da administração colonial e saber com quem estavam comprometidos os
autores dos documentos que ele estuda. Deve perceber as relações entre os
responsáveis pelas decisões na Metrópole, os administradores na sede da colônia e os
homens operando na área. Tem de verificar como os administradores coletaram os
dados e informações, quais são os índios com os quais eles negociam e quais são
aqueles que eles empregam como, trabalhadores. Necessita descobrir quais noções
desenvolvidas sobre as sociedades indígenas estavam erradas, como elas influíram nas
observações e decisões, e como essas decisões — baseadas em tal desinformação -
afetaram as diferentes etnias. A tarefe do etnohistoriador é usar os métodos históricos
convencionais, mas colocando sempre perguntas diferentes e guardando na consciência
o seu compromisso com a sociedade indígena. (CURTIN: 1964).

Existe, para quase todas as regiões, grandes coleções de fontes primárias já publicadas,
tais como a série de 73 volumes do Thwaite (Cartas Jesuíticas das Missões 1896-1901)
para a América do Norte; as coleções de Theal (1883) e Brásio (1952-1960) çara o
sudoeste africano; os documentos parlamentares da Grã-Bretanha para índia e Africa.
As principais fontes, no entanto, são para ser encontradas nos arquivos nacional e
regional, na administração local e nos cartórios de registro da área que está sendo
estudada.

O desenvolvimento político e social pode ser observado através dos olhos de alguns
indígenas, em regiões onde os documentos foram elaborados pelos próprios membros
8

da sociedade local, como Uganda, Emirados do norte da Nigéria e Estados Malaios,


porque aí os europeus tentaram manter o sistema politico indígena, governando
indiretamente.

TRADIÇÃO ORAL
Nos últimos anos, particularmente no estudo da História das sociedades africanas, o
etnohistoríador e o antropólogo preocupado com a história demonstraram
convincentemente como a tradição oral pode ser registrada, confrontada, verificada e
usada para fins históricos (ABRAHAM: 1961; VANSINA: 1961; M.G.SMITH: 1961).
As tradições orais cobrem uma ampla variedade de temas e de assuntos e podem ser
encontradas sob múltiplas formas. Sociedades com instituições políticas centralizadas e
Estados conquistados produziram, muitas vezes, histórias orais bem desenvolvidas,
mantendo especialistas, cuja preocupação é memorizar e transmitir estas tradições. No
uso desta forma de tradição oral, obviamente todo cuidado é necessário, na medida em
que a história reflete tanto a estrutura sócio-política do presente, quanto à do passado, e
está constantemente se transformando para poder dar conta de situações em mudança
(BARNES: 1951; CUNNISON: 1951).

A história oral reproduz os grupos sociais no interior da sociedade; relatos do passado


de aldeias e linhagens desempenham a função especifica de relacionar os grupos uns
com os outros, confirmando ou corrigindo as pretensões locais e justificando as relações
de parentesco. O etnohistoríador, frequentemente, é confrontado com uma
extraordinária multiplicidade de relatos-conflitantes do passado, inclusive da mesma
aldeia(COHN: 1961). Segmentos tribais, linhagens nobres e cortes devem ter histórias
bem preservadas, que funcionam como garantias legais para justificar a estrutura social
do momento.

Como Vansina (1961) demonstra, a narrativa histórica não é o único aspecto da tradição
oral que pode ser registrado, confrontado e utilizado; formulas sagradas, nomes,
poesias, genealogias, contos folclóricos, mitos e exemplos legais são úteis ao
etnohistoríador. Na interpretação da tradição oral, a ênfase deve ser primeiro colocada
no contexto cultural no qual se encontra a tradição. Vansina define a tradição oral como
"testemunhos do passado que são transmitidos deliberadamente de boca em boca". Tal
como ele faz no caso de documentos escritos,
o pesquisador deve sempre perguntar que função a tradição desempenha na sociedade
atual Mesmo o testemunho que é comprovadamente falso pode ser de grande valor, na
medida em que ele pode, ocasionalmente, conter fetos históricos.

Quando pessoas de fora passam um longo tempo registrando narrativas orais indígenas
(como por exemplo, entre o povo Maori), a relação entre a tradição oral e a estrutura
política contemporânea pode ser usada para compreender não apenas o passado narrado,
mas a própria situação política atual, existente no momento do registro.

TRABALHO DE CAMPO
O trabalho de campo é essencial para o oficio do etnohistoriador, é o que o diferencia do
historiador convencional A orientação antropológica básica é desenvolvida através da
experiência, da observação sistemática e da coleta de dados realizadas com povos que
estão vivos, com o objetivo de descrever e analisar o funcionamento de seu sistema
sociaL
9

Em consequência, o trabalho de campo é a base da maior parte da formação do


etnohistoriador, é através dele que o pesquisador desenvolve sua sensibilidade em
relação à estrutura de uma sociedade, o que é difícil conseguir através apenas do estudo
de dados documentais. Ideias referentes a processos e relações históricas podem ser
verificadas, atualmente, no campo, onde aspectos sociais e culturais continuam ainda
operando.

ETNOB3STÓRIA E ANTROPOLOGIA

Os estudos diacrônicos realizados não produziram até hoje formulações teóricas.


Enquanto estudos sincrônicos geralmente permitem ao etnohistoriador deduzir os
processos sociais de evidências documentais, é muito mais difícil demonstrar a
contribuição que os estudos diacrônicos darão para a construção de teorias ou mesmo
para o desenvolvimento de generalizações descritivas relacionadas à sociedade e à
cultura. Mesmo no mais rigoroso estudo etnográfico sincrônico, o etnógrafo deve se
ocupar com a dimensão do tempo. No mínimo, ele está se relacionando com três
gerações e com indivíduos cujas vidas abrangem um período de 60 anos.
Inevitavelmente o etnógrafo de campo formula perguntas sobre o passado; ele deve
confrontar a questão de padrões com padrões em mudança, de ajustes sociais
acidentais com aspectos permanentes da estrutura sociaL

Através do estudo histórico, o antropólogo pode identificar aquelas mudanças no


interior do sistema que são o resultado de sequências instáveis, casuais ou cíclicas e
aquelas decorrentes de realinhamentos estruturais. Nadei e outros argumentaram que
para conhecer o direcionamento da mudança social estrutural é necessário um
mergulho profundo no tempo (NADEL:1957, capítulo 6; LÊVI-STRAUSS: 1949).
Desta forma, por exemplo, estudo estatístico rigoroso mostra que existem em muitas
sociedades, senão em todas, autonomia ou liberdade numa escolha individual de
residência, ainda que ela seja patrilocal ou matrilocal, e essas escolhas podem
estar vinculadas a outras variáveis. Estudos sincrônicos podem dar conta dessas
relações, mas se nós queremos explicar a mudança, então os métodos históricos para
estudar uma sociedade — seja ela primitiva, camponesa ou industrial ~ são o pré-requisito
paia o desenvolvimento de teorias adequadas. (EVANS-
PRITCHARD: 1961 ;M.G.SMITH:1962; THOMAS:1963).

HISTORIADORES E ANTROPÓLOGOS

O estudo do passado divorciado dos valores e paixões da época do historiador; a ideia


de que os fatos históricos podem ser determinados e, se ordenados cronologicamente,
podem filiar por si sós; enfim, o desenvolvimento da "história científica" do século XDC
- com algumas notáveis exceções - levou os historiadores a evitar conscientemente os
conceitos e generalizações que deveriam orientar e elucidar a sua descrição e análise do
passado. No século XX, entretanto, os historiadores têm se tornado cada vez mais
consciente de que eles utilizam- e devem utilizar - generalizações, caso queiram fazer
algo mais do que simplesmente editar textos.
10

H. Stuart Hughes (1960: 25-26) destacou pelo menos quatro níveis em que se dá essa
generalização. Primeiro: os historiadores abstraem, generalizam e comparam
implicitamente, usando palavras como "nação", "revolução", "desenvolvimento",
"tendência" e "classe social", ou seja, generalizam semanticamente.
Segundo: "conclusões" na forma de declarações ordenadas sobre um homem, um
período ou um movimento são generalizações.Terceiro: esquematizações inerentes em
ideias tais como "urbanização" e "industrialização", pelas quais fragmentos e partes do
estudo histórico são organizados em termos de processo ou estrutura, são generalizações
e estão próximas daquelas elaboradas pelos cientistas
sociais. Finalmente, existem sistematizações amplas e inclusivas da história ou
metabistória, associadas com o trabalho de homens como Spengler e Taynbee. E nesse
quarto nível, ou seja, no uso consciente de conceitos referentes a processo e estrutura na
sociedade e cultura, que o cientista social e o historiador podem melhor dialogar e inter-
relacionar suas pesquisas.

Se a atividade característica do historiador é o estudo do passado e se seu princípio de


organização é uma sequência no tempo, então ele deve tomar emprestado princípios de
organização de outras disciplinas, tanto das Ciências Sociais como das demais Ciências
Humanas. Na maior parte das sub-
áreas da História, este processo de empréstimo é explícito, por exemplo, na História
Econômica, onde os conceitos e métodos da Economia são constantemente utilizados
para fornecer a estrutura conceituaL A História Social e a História das Ideias também
devem muito à Psicologia, Sociologia e Antropologia.

Nos últimos trinta anos, tem havido muitos esforços para utilizar a abordagem dos
antropólogos no estudo da História. A antropologia que tem se mostrado mais próxima
dos historiadores é a Antropologia Cultural O conceito de cultura, como uma ideia
abrangente que cobre comportamentos e valores de um determinado povo, num
tempo bem delimitado, adapta-se bem às preferências dos historiadores. Hughes coloca
isso muito bem quando afirma: "„ a abordagem da Antrapobgjia Cultural se aproxima
tanto daquela do historiador, que frequentemente parece idêntica a
ela "(HUGHES, 1960:34).

Como o pesquisador em História, o estudioso das culturas exóticas adota uma atitude
altamente tolerante em relação a seus dados, ficando absolutamente satisfeito no
domínio da imprecisão e
dos procedimentos intuitivos, tentando agarrar aquilo que considera como sendo os
problemas centrais da sociedade com as quais ele se ocupa. (Ver WARE:1940;
GUTSCHALK: 1963 e Social Science ResearchCounciLT954).

Livros como o Patterns of Culture de Ruth Benedict (1934) e ensaios de antropólogos


que realizaram estudos de caráter nacional são considerados como modelos pelos
historiadores (ver POTTER:1954, por exemplo), mais interessados na própria
abordagem da Antropologia Cultural do que nas técnicas, métodos e conceitos. Com
notáveis exceções, como Mare Bloch, os historiadores não têm se empenhado em
combinar o trabalho de campo com a pesquisa histórica para encontrar nas sociedades
traços ainda existentes de técnicas agrícolas e industriais anteriores ou formas
sobreviventes de relação social (BLOCH:1939-1940).Contudo, onde antropólogo e
historiador aparecem necessitando mais um do outro, é justamente no estudo das
11

sociedades pré-industriais e modernizantes de hoje e nas pesquisas sobre as sociedades


históricas que caracterizaram o mundo inteiro antes do início do século XDC

BIBLIOGRAFÏA

ABRAHAM, D.P. (1961): Maramuca: An Exercise in the Combined Used of


Portuguese Records and Oral Tradition. Journal of African History, 2:211-225;
ADAMS, Richard N. (1962): Etnokistoric Research Methods: Some Latin American
Features. Ethnohistory, 9: 179-205;
ARMILLAS, Pedro (I960): Program of the History of American Indians.. Part 2: Post
Columbian America. Social Science Monographs,
N°8. Washington: Pan American Union, Department of Cultural Affairs. Social Science
Section;
BARNES, J A . (1951): History in a Changing Society. Pages 318- 327 In Simon
Ottenberg and Phoebe Ottenberg (editors) (1961). Cultures and Societies of Africa. New
York: Random House;
BELSHAW, Cyril S. (1957):77k? Changing Cultures of Oceanic Peoples During the
Nineteenth Century. Journal of World History, 3: 647.
BENEDICT, Ruth (1934): Patterns of Culture. Boston: Houghton Mifflin. A
paperback edition was published in 1961;
BIGGS, Bruce (1960): Maori Monographs, n° 1. Wellington: TheSociety;
BLOCH, Marc (1931): Les Caractères Originauxde l'Histoire Rurale Française. 2 vols.
New ed. Paris: Colin -VoL 2, Suplément établi d'aprèsles travaux de l'auteur (1931-
1944) was written by Robert Dauvergne.1952-1956;
.(1939-1940): Feudal Society .University of Chicago
Press. First published as La Société Féodale: La formation des liens de dépendance and La
Sociétéféodale: Les classes et le gouvernement des hommes. 1961 ;
BRÁSIO, Antonio D.(editor) (1952-
1965): Monumenta Missionaria Africana: Africa Ocidental. 10 vols. Lisbon: Agencia
Geral do Ultramar. Divisão de Publicações e Biblioteca;
COHN, Bernard S. (\96\):The Pasts of an Indian Village. Comparative Studies in
Society and History, 3: 241-250;
. (1962 ?i}:The British in Benares: A Nineteenth Century Colonial
Society. Comparative Studies in Society and History, 4:169-199;
.(1962b): Political Systems in Eigteenth Century India: The Benares Reg
ion. Journal of the American Oriental Society,82:312-320;
CUNNISON, Yan (1951): History of Luapula : An Essay on the Historical Motions of a
Central African Tribe Rhodes-Livingstone Papers. N° 21, Oxford University Press;
CURTIN, Philip D.(1964) :The Image of AfHca: Britsh Ideas and Action, 1780-1850.
Madison: University of Wisconsin Press;
DIKE, Kenneth O. {\9S€):Trade and Politics in the Niger Delta, 1830-1885: An
Introduction to the Economic and Political History of Nigeria. Oxford: Clarendon. 1962;
DODDS, Eric R. (1951 ):The Greeks and the Irrational. Berkeley: University of
California Press, 1963;
EGGAN,Fred(1937): Historical Changes in the Choctaw KinshipSystem. American
Anthropologist. New Soies, 39:34-52;
EVANS-PRITCHARD, E.E. (1949). The Sanusi of Cyrenaica. Oxford Clarendon.
1954;
12

. (1961). Antropology and History. Pages46-65in Evans-


Pritchard (1963). Essays in Social Anthropology. New York: Free Press. A lecture
delibered at the University of Manchester inl961;

EWERS, John C.(1955): The Horse in Blackfoot Culture: With Comparative Material
from Other Western Tribes. U.S.Bureau of American Ethnology. Bulletin n° 159.
Washington. Smithsonian Institution;
FENTON, William N.(1940): Problems Arising From the Historic North-
Eastern Position of the Iroquois. Pages 159-251, in Smithsonian Institution . Essays in
Historical Anthropology of North American in Honorof John R. Swanton. Smithsonian
Miscellaneous Collections. Vol. 100.Washington. The Institution;
.(1951): Locality as a Basic Factor in
the Development of Iroquois Social Structure. Pages 35-54in Symposium onLocal
Diversity in Iroquois Culture. U.S. Bureau of American Ethnology. Bulletin n° 149.
Washington: Government Printing Office;
. (196/). Iroquoian Culture History: A General Evaluation. Pages
253-277 in Symposium on Cherokee and Iroquois Culture. U.S.Bureau of
American Ethnology. Bulletin n 180. Washington: Government Printing Office;
FINLEY, Moses I. (1954):7fce World of Odysseus. Rev. Ed London.Chatto & Wmdus.
1956.
FREEDMAN, Maurice (1958): Lineage Organization in Southeastern China. London
School of Economics Monographs on Social Anthropology. N° 18. New
York. Humanities. 1965;
GIBSON,Charles (1955). The Ihmsformation of theJncBan Conununityin New Spain. Journal
of World History, 2:581-607;
GIBSON, Charles (1964):77k? Aztecs Under Sframdi Side: a History of the Indians of the
Valley of Mexico 1519-1 SI 0. Stanford University Press;
GLUCKMAN, Max. (1940):IheKmgdcrn(f the Zulu (f South Afnca. Pages 25-55 in Meyer
Fortes ancLEvans-Pritchard (editors). African Political Systems. Oxford University
Press;
GOTTSCHALK, Louis R. (editor) (1963):Generalization in the Writing of History.
University of Chicago Press;
GULLICK, J.M. (1958): Indigenous Political Systems of Western Malaya. London
School of Economics Monographs on Social Anthropology. N® 17. London: Athlone;
HABAKKUKJL J.(l950): Marriage Settlements in the Eighteenth Century. Royal
Historical Society. Transactions Fourth Series, 32:15-30;
HO, Ping-Ti (\962).The Ladder of Success in Imperial China: Aspectsof Social
Mobility 1368-1911. New York: Columbia University Press;
HOMANS, George C.(1941). English Villagers of the Thirteenth Century. New York:
RusselL 1960;
HUGHES, HL Stuart (1960):77u? Historian and die Social Scientist. American Historical
Review, 66:20-46;
JESUITS, Letters from Missions (North America) (1896-1901):
The Jesuit Relations and Allied Documents: Travels and Explorations of the Jesuit Miss
ionaries in New France, 1610-1791. 73 vols. Edited by ReubenG. Thwaites New York:
Pageant 1959;
JONES, G. I. (1963):77ie Trading States of the Oil Rivers: A Study of Political
Development in Eastern Nigeria. Oxford University Press;
KLUCKHOHN, Clyde (1961). Anthropology and the Classics. Providence R. L Brown
University Press;
13

KROEBER, A.L. ( 1 9 5 2 ) : N a t u r e of Culture. University of Chicago Press-See


especially pages 63-65 on "History and Science in Anthropology
LANCASTER, Lorraine (1958): Kinship in Anglo-Saxon Society. Parts I and 2. British
Journal of Sociology, 9-230-250,359-377;
LEACOCK, Eleanor (1954):7fo? Montagnais- "Hunting Territory" and ike Fur Trade.
American Anthropological Association. Memoir n° 78;
LEVI- STRAUSS, Claude (1949 ): Introduction: History and Anthropology. Pages 1-
27 in Claude Levi Strauss(1963yStructuraJ Anthropology. New York: Basic Books -
First published in French;
LOWIE, Robert H. (1917): Pro/ Tradition and History. Pages 202-210 in Robert H.
Lowie (I960): Selected Papers in Anthropology. Edited by Cora Dubois, Berkeley:
University of California Press;
MAIR, Lucy P.(1934); An African People in the Twentieth Century. New York: Russell.
1965;
MAITLAND, Frederic W. (1897): Domesday Book and Beyond .Cambridge University
Press;
MORGAN, Lewis Henry (1871): Systems of Consaguinity and Affinity <f the Human
Family. Smithsonian Contributions to Knowledge. VoL 17, Publication n° 218.
Washington: Smithsonian Institution;
NADEL, Siegfried F.(1942): A Black Byzantium: The Kingdom of Nupein
Nigeria. Published for the International Institute of African Languages and Cultures.
Oxford University Press;
. (1957): The Theory cf Social Structure. London-Cohen & West
Glencos: Free Press, Published posthumously;
OLIVER, Douglas L.(1951): The Pacific Islands. Rev. Ed. Garden City,N.Y.
Doubleday. 1961;
POLK, William R. (1963): The Opening cf South Lebanon: 1788-1840.. Cambrige, Mass:
Harvard University Press;
POTTER, David M. (1954): People of Planty: Economic Abundance and the American
Character. University of Chicago Press. 1963;
ROWE, John H. (1946): Inca Culture at the Time of Spanish Conquest Pages 183-330
in Julian H. Steward (editorX1963): Handbook of South American Indians. Volume 2;
The Andean Civilizations. U.S. Bureau ofAmerican Ethnology. Bulletin n° 143. N.
Yoriq
SAPIR, Edward {\9\6).Time Perspective in Aboriginal American Culture: A Study in
Method. Pages 389-462in Edward Sapir (1949):Selected Writings,., in Language.
Culture and Personality. Edited by D.Mandelbawn. Berkley. University of California
Press;
SILBERMAN,Bernar<l(l964): Ministers of Modernization: Elite Mobility in the Meyi
Restoration, 1868 1873. Tucson. University of Arizona Press;
SKINNER, George W. (1957):Chinese Society in Thailand. Ithaca. N.Y.Cornell
University Press;
SMITH, Michael G.(1960): Government in Zassau: 1880-1950.0xfoTd University Press;
. (1961): Field Histories Among the Hausa. Journal of Airican History, 2:
87-101;
. (1962): History and Social Anthropology. Journal of the Royal
Anthropological Institute of Great Britain and Ireland, 92: 73 -85;
SMITH, Robert J. (1962): Stability in Japanese Kinship Terminology:The Historical
Evidence. Pages 25 - 33 in Pacific Science Congress, Tenth, Honolulu (1961): Japanese
14

Culture: Its Development and Characteristics. Edited by Robert J. Smith and Richard
K_ Beardsley. Chicago. AJdine;

. (1963): Aspects of Nobility in Pre~lndustrial Japanese Cities.


Comparative Studies in Society and History, 5:416 — 423;
SMITH, Thomas C. (1959): The Agrarian Origins of Modern Japan. Stanford University
Press;
SMITHSONIAN INSTITUTION (1940): Essays in
Historical Anthropology ofNorth American In Honor of John R Swan on Smithsonian
Miscellaneous Collections. Vol 100. Washington. The Institution;
SOCIAL SCIENCE RESEARCH COUNCIL. Committee on Historiography (1954):
The Social Sciences in Historical Study: A Report. Social Science Research Council,
BuL N° 64. New York. The Council;
SPECK, Frank G. (1928): Territorial Subdivisions and Boundaries cf the Wampanoag.
Massachusetts and Nauset Indians. Indians Notes and Monographs, n° 44. New York.
Museum of the American Indian. Haye Foundation;
SPICER, Edward H. (1962): Cycles of Coquest. Tucson: University of Arizona Press;
STEWARD, Julian H. (1940): Native Cultures of the Intermontane(Gneat Basin) Area
Pages 445-502 In Smithsonian Institution. Essays in Historical Anthropological of
North America in Honor of Jonh R Swanton. Smithsonian Miscellaneous Collection.
VoL 100;
STONE, Lawrence (1965): The Crisis of the Aristocracy: 155&-164L Oxford:
Clarendon;
STRONG,WilliamD.(l940): From History to PreHistory in the Northern Great Plains.
Pages 353-394 In Smithsonian Institution Essays Historical, VoL 100;
SWANTON, John Reed (1922): Early History of the Creek Indians and their
Neighbors. Smithsonian Institution Bureau of American Ethnology. Bulletin N° 73.
Washington: Government Printing Office;
. (1946): The Indians of the Southeastern United
States. Smithsonian Institution. Bureau of American Ethnology. BuL N° 137
Washington: Government Printing Office;
SWANTON, John Reed; and DIXON, Roland B.( 1914): Primitive American History.
American Anthropologist New Series, 16: 376-412;
SYMPOSIUM ON THE CONCEPT OF ETHNOHISTORY (1961): Ethnohistory 8:12-
92;
THEAL, George McC (editor) (1883): Basutoland Records. Capetown: StruiL 1964;
THOMAS, Keith (1963): History and Anthropology. Past and Present, 24: 3 - 24;
VANSINA, Jan (1961): The Oral Tradition: A Study in
Historical Methodology. Chicago: Aldine. 1964. First Published in French;
VAYDA, Andrew P. (1961): Maori Warfare. Maori Monographs . N° 2. Wellington
Polynesian Society;
VINOGRADOFF, Paul (1905): The Growth of the Manor. 3d ed_, 1920. New York.
Macmillan;
WALLACE-HADRILL, J.M.(1959): The Blood feud of The Franks. JohnRyiands Library-
Bulletin, 41: 459-487;
WARE, Caroline F. (editor) (1940): The Cultural Approach to History. Port 1965.
Washigton. N. Y. Kennikat;
WILSON, Monica (Hunter) (1936): Reaction to Conquest: Effects ofContact with
Europeans on The Pondo of South African. 1961. 2d e d Oxford University Press. - The
first edition was published under theauthor's maiden name;
15

WYUE, Laurence (1965): The Life and Death of a Myth. Pages 164-185 In Melford
E.Spiro (Editor): Context and Meaning in Cultural Anthropology. New York. Free
Press.

Você também pode gostar