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Marcos Queiroz
Doutorando em Antropologia
Síntese do texto: KUPER, Adam. Lewis Henry Morgan e a Sociedade Antiga. Em: A
reinvenção da sociedade primitiva: transformações de um mito. Recife: UFPE, 2008.
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O Instituto Smithsoniano foi fundado 1846, é uma instituição educacional e de pesquisa associada a um complexo
de museus, fundada e administrada pelo governo dos Estados Unidos (https://www.si.edu/).
ele estava interessado nos estudos de etnologia americana, impressionando-se com a abordagem
dos estudiosos a respeito das línguas indo-europeias. Considero apontar estes detalhes do texto,
pois alguns fundamentos que estão presentes aqui vão se manter ao longo da trajetória de
Morgan, mesmo havendo alguma alteração no contato com novas informações, novos
referenciais e diálogos. Tais aspectos vão acompanhá-lo ao longo de sua produção científica,
tais como: a oposição as ideias de Darwin, a relação entre ciência e religião, o caráter fixo das
espécies e a noção de progresso.
Em seguida, o texto relata a relação de Morgan com os Iroqueses que habitavam uma
reserva na região onde ele morava. Morgan passou a visitar a reserva com o objetivo de “coletar
informações etnográficas”. Nesse período, fez campanha contra a deportação dos Iroqueses
daquela reserva para o Kansas e auxiliou o grupo na reinvindicação das terras. Escreveu seus
“achados etnográficos” em um trabalho descritivo chamado “The league of the Iroquois”. O
autor compara os iroqueses aos gregos, tomando como referencial o livro “History of Greece”
de George Grote. Este livro apresentava o desenvolvimento da organização social da Grécia em
momentos diferentes ao longo do tempo. Os gregos eram organizados em famílias separadas
que se juntaram e formaram os clãs, uma unidade baseada no parentesco e na política. Depois,
outros dois momentos se seguem, como a junção dos clãs em tribos ou fratrias e, por último, o
período de maior complexidade de organização social e poder (a monarquia). Morgan
identificou que os iroqueses se encontravam nas condições primeiras caracterizadas por Grote,
organizações baseadas em “relações familiares”. De maneira secundária, Morgan fez registros
das terminologias iroquesas de parentesco, percebendo que eram diferentes daquela da Lei
Civil.
Depois da publicação desse trabalho em 1851, Morgan se voltou para a profissão de
advogado. A medida que foi se tornando bem-sucedido, enveredou por outros caminhos
profissionais, como a dedicação a carreira política, atuando no congresso nacional e, depois,
assumiu alguns postos públicos ligados aos povos indígenas. Em Rochester fundou com
McIlvaine o Clube Pundit, onde estudavam geologia, filologia e etnologia. Depois, em 1887,
Morgan foi eleito como membro da Associação para o Avanço da Ciência, encorajando-o a
retornar as observações sobre os iroqueses. Preparou um artigo intitulado “Laws of descent of
the Iroquais”, que apresentava o sistema de classificação do parentesco iroquês. Anos depois,
Morgan tomou conhecimento sobre os Ojibwa, povo indígena falante de língua muito diferentes
dos iroqueses, cuja organização social possuía um sistema de classificação de parentesco muito
semelhante. Essa descoberta ampliou a perspectiva de Morgan, abrindo margem para refletir
sobre uma hipótese: além de pensar na origem comum, sugeriu que os indígenas americanos
tinham origem asiática.
O contato com o trabalho de Samuel Haven, “Archeology of the United States”, deu um
novo ânimo as pesquisas de Morgan. Haven fez uma varredura em trabalhos de diversas áreas,
principalmente aqueles que tratavam das línguas norte-americanas e considerou três
importantes indicativos: 1. apontava que, para além da diversidade de línguas, os indígenas
compartilhavam uma estrutura gramatical comum; 2. havia referências que todos descendiam
de um mesmo povo e 3. essas afinidades encontravam características que correspondiam a
condição inicial da “raça asiática”. Essas proposições reforçavam uma questão importante para
Morgan, que era a crença “monogenista” e a “unidade da raça humana”.
Morgan logo ficou impressionado com os dados da filologia e dos linguistas norte-
americanos, que usavam o modelo indo-europeu para identificar afinidades entre línguas que
anteriormente eram vistas como diferentes, como as línguas semíticas. Max Müller, professor
de Harvard, sugeriu um terceiro grupo e o chamou de “turariano”. Divididos entre o ramo do
norte europeu e o ramo sul, esse grupo incluía muitas línguas do mundo, inclusive as dos
indígenas norte-americanos. Os três modelos acenavam para uma origem asiática comum, mas
como não foi possível ter uma conclusão com base filológica, Max Müler usou a tipologia de
Humboldt para classificar as línguas de acordo com características gramaticais: isolamento,
aglutinação e inflexão. Assim, traçou um modelo de caracterização abrangente.
“As línguas mais primitivas eram “isolantes”. Cada palavra consistia de uma raiz
estável, única. Em nível mais avançado, elas eram caracterizadas pela “aglutinação”; as
raízes eram “coladas” para formar novas palavras. As línguas mais desenvolvidas
faziam “amalgamação”, desenvolvendo formas mais inflexíveis nas quais as raízes
originais, uma vez simplesmente coladas, fundiam-se para formar novas palavras.”
(KUPER, 2008, pag. 99 – 100)
MORGAN, L.H. A sociedade Antiga. Em: CASTRO, Celso (org.) Evolucionismo cultural.
Textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.