Você está na página 1de 12

Estruturas da natureza

Conceitos de mecânica das estruturas podem ser utilizados em todas as


esferas do conhecimento, já que todas as estruturas comportam-se da mesma
maneira, sejam elas objetos do dia-a-dia, edifícios, ou até mesmo estruturas
naturais, como as de uma árvore.
Algumas vezes essas estruturas naturais são usadas como inspiração
para o desenvolvimento de outras. No campo da construção civil isso tornou-se
comum, já que a natureza é tão rica em espécies, e conseqüentemente nas
reações a que cada uma é submetida.
A seguir são apresentados alguns exemplos que ilustram estruturas
encontradas na natureza, e como elas se relacionam com os conceitos de
mecânica das estruturas.
Estrutura do corpo humano

Os animais vertebrados, assim como o homem, tem suas estruturas


constituídas por ossos, músculos e pelos ligamentos e tendões que os unem; os
ligamentos unem os ossos uns aos outros, e os tendões unem os músculos aos
ossos. Assim como sabemos que o esqueleto não pararia em pé, os músculos
também não se constituiriam o formato como os conhecemos se não fossem os
ossos. Esse conjunto do esqueleto e músculos é a estrutura dos animais
vertebrados.
O crânio humano é apenas parte dessa estrutura. Possui 22 ossos na
face, sendo 8 no crânio propriamente dito. No corpo humano tem-se 206 ossos
no total, que são classificados pelo seu formato.
Estruturas prediais comportam-se da mesma forma, tendo portanto, a
necessidade de materiais resistentes como os ossos de um corpo, assim como
os ligamentos, que por vezes devem ser flexíveis como alguns ligamentos dos
animais, para que os materiais possam se dilatar, por exemplo, ou simplesmente
resistir às cargas acidentais.
Outro exemplo do uso de articulações são os ônibus
de Curitiba, como mostra a foto abaixo.
Palmeira

As espécies vegetais são outro exemplo de estruturas que são


amplamente copiadas do ponto de vista estrutural.
Uma palmeira pode ser analisada como uma viga engastada. Sob esse
aspecto podemos dizer que ela é solicitada tanto pelo peso próprio como pela
ação do vento. O primeiro resulta numa força normal de compressão, na direção
vertical, e o segundo gera um momento fletor e uma força cortante, devidos à
aplicação de uma força distribuída (na direção horizontal).
Tal comportamento, e seus esforços, pode ser comparado a várias
estruturas arquitetônicas, como um poste de luz, ou até mesmo nos famosos
arranha-céus.

Fonte: http://www.folhadomeio.com.br/fma/folha/2002/06/palmeira-capa.jpg

Fonte: http://www.planobeta.com/wp-content/uploads/predios-e-arranha-ceus-2.jpeg
Outro sistema estrutural presente na palmeira está em suas folhas. Para
aumentar a resistência da seção ao giro causado pelo momento fletor, a
natureza modificou a distribuição de material em relação ao centro de gravidade.
No extremo do galho, onde o esforço é menor, a massa da seção se concentra
junto ao centro de gravidade. Quanto mais se aproxima do tronco, mais o
material se afasta do centro. Em outras palavras: quanto mais próxima do tronco
maiôs é o momento de inércia da seção do galho. A marquise de Félix Candela
faz analogia a este sistema estrutural.

Fonte: REBELLO, 2000


Teia de aranha

A teia de uma aranha ainda é muito estudada devido as sua grande


resistência, sendo uma das mais interessando estruturas da natureza, mesmo
pela forma como é feita. É constituída de pura seda, fabricada no abdômen das
aranhas, onde seis glândulas independentes são capazes de produzir a seda.
Cada glândula é conectada por um duto às "fiadeiras", que são pernas vestigiais
transformadas existentes na parte traseira do abdômen. Todas as glândulas
secretam a seda, que é uma proteína, mas os fios de cada uma diferem quanto
à consistência e propósito, devido a outras secreções que cada glândula produz.
O centro da teia geralmente é constituída por fios mais secos, onde as
aranhas permanecem na maior parte do tempo. A partir dessa região, partem
radialmente outros fios de mesma composição, para que a aranha possa
caminhar sobre a teia. A espiral da teia é feita com o fio básico da seda, mas
que durante o processo de extrusão recebe uma substância pegajosa secretada
pelas glândulas de cola. É essa substância que aprisiona moscas e outro
insetos. Mas a aranha não conseguiria caminhar pela sua própria teia se esta
fosse construída na posição vertical, por isso a configuração inclinada de sua
armadilha.
Além desses tipos de fios, existem os fios "telegráficos", que ligam as
diversas regiões da teia ao centro; é através deles que a aranha sabe onde está
a presa e que tipo de inseto foi capturado, o que é muito importante, pois insetos
grandes são capazes de se livrar da cola, e, nesse caso, a aranha pode tornar-
se a vítima de sua própria armadilha.
A tenacidade, a resistência e a elasticidade desta seda das teias de
aranha continua a intrigar os cientistas, que se perguntam o que dá a este
material natural suas qualidades inusitadas. Mais fina que um fio de cabelo, mais
leve que o algodão, e (nas mesmas dimensões) mais forte que o aço, a teia
”atormenta” os cientistas que tentam copiar suas propriedades, ou sintetizá-la,
para produção em larga escala. Várias aplicações desse novo material surgem
na mente dos pesquisadores, tais como roupas e sapatos à prova d’água, cabos
e cordas, cintos de segurança e pára-quedas mais resistentes, revestimento
anti-ferrugem, pára-choques para automóveis, tendões e ligamentos artificiais ou
coletes à prova de balas.

Fonte: http://elianjos.files.wordpress.com/2009/11/teia_de_aranha11.jpg

Obras executadas na direção dos esfroços principais, que seguem a


geometria das teias, tornam o sistema mais resistente e econômico.
Aviário, em Ludwigsburg – Alemanha, projetado por Frei Otto, em 1973,
tem uma cobertura de malha de cabos de aço que acompanha a geometria das
teias. (REBELLO, 2000)

Fonte: REBELLO, 2000


Arcos de pedra

Nesse tipo de sistema estrutural, o arco, a estrutura é submetida


unicamente a esforços de compressão, o que torna esse sistema muito
apropriado para materiais não resistentes ou pouco resistentes à tração.
A utilização do arco desde a antiguidade é algo muito interessante de ser
estudado justamente por isso. Se analisarmos a natureza novamente podemos
dizer que esse sistema foi copiado.
O Landscape Arch, localizado no Parque Nacional dos Arcos em Utah,
nos Estados Unidos, é conhecido por ser o maior arco natural do mundo em
extensão. Ele possui 90 metros de vão e 32 metros de altura, além de uma
espessura de aproximadamente 3,6 metros na região mais fina. Por possuir um
comprimento muito grande e ser relativamente fino, não se pode afirmar por
mais quanto tempo essa estrutura estará estável, já que ela continua a ser
erodida pelo vento e pela água.

Fonte: http://www.naturalarches.org/big9-1.htm

Conhecida como " Rainbow Bridge", a estrutura abaixo é o terceiro maior


arco natural do mundo em extensão e a maior ponte de pedra existente, isto é,
o arco natural de maior vão que passa sobre um rio. O que pode ter sido algo
intrigante, e também inspirador, em épocas passadas. Tal estrutura possui um
vão de 84 metros e uma altura de aproximadamente 80 metros.Este arco se
localiza no Monumento Nacional Rainbow Bridge, em Utah, Estados Unidos.

Fonte: http://anuko.bei.t-online.de/America/Utah-Rainbow-Bridge-2.html

No Brasil, também se verifica a existência de arcos de pedra. Muitas


dessas estruturas naturais estão localizadas no Parque Nacional de Sete
Cidades, no Piauí, a 206 km de Teresina. Este parque foi criado em 1961 e
contém algumas das estruturas naturais mais conhecidas do Brasil.

Fotografia de Henrique Lindenberg Neto, 2002


Viga de pedra

Outra estrutura interessante na natureza são as vigas de pedra, que


podemos encontrar também no Parque Nacional das Sete Cidades. A formação
abaixo, chamada de “Pedra da Biblioteca”, é uma dessas estruturas e tem mais
de 20 metros de comprimento.
Do ponto de vista estrutural, pode-se considerá-la como uma viga
biengastada nas extremidades com dois apoios intermediários. A foto da
esquerda mostra o comprimento do maior vão, já a foto da direita evidencia a
presença dos dois apoios intermediários presentes na estrutura.

Fotografia de Henrique Lindenberg Neto, 2002

No esquema acima, mostra-se o modelo estrutural da viga citada, percebendo-


se que a estrutura possui um grau de hiperasticidade igual a 7.
O ovo

As abóbadas, e os arcos, possuem mais uma estrutura que podemos


comparar com a natureza. Essas estruturas possuem o formato convexo de um
ovo – sua concha é, na verdade, uma abóbada fechada. O peso da estrutura
que está sob a parte central de um arco de pedra, por exemplo, não é capaz de
destruí-lo porque as forças se distribuem lateralmente, pressionando as pedras
do lado.
Ao aplicarmos determinada pressão nas extremidades, ou pólos, do ovo,
a força acaba de distribuindo sobre toda a casca, sendo anulada por uma força
contrária, logo, a intensidade que conseguimos aplicar com as mãos nos pólos
não é suficiente para romper a resistência da casca do ovo. O mesmo não
ocorre quando tentamos quebrar o ovo por uma de suas laterais, ou equador. A
compressão é, agora, perpendicular à casca, e a parte pressionada pode ceder
para dentro sem comprimir o restante do ovo. Há séculos, o mesmo princípio
tem permitido que arquitetos e engenheiros ergam pontes, palácios e outras
edificações cheias de arcos e abóbadas.

Ponte Manoel Ribas – União da Vitória, PR

A vantagem dessas estruturas em arco é que elas permitem o emprego do


concreto armado convencional em grandes vãos com pequeno consumo de
material. O eixo do arco pode ser projetado em coincidência com a linha de
pressões devida à carga permanente, aproveitando, assim, a boa resistência a
esforços de compressão proporcionada pelo concreto. O arco, com sua forma
curva desenvolvida segundo a linha de pressões, devido ao peso próprio, é o tipo
estrutural mais apropriado para os materiais de construção denominados
“maciços” (pedras, concreto), desde que o terreno de fundação seja resistente e
que o empuxo do arco possa ser absorvido por uma fundação economicamente
viável. As pontes em arco, executadas com pedras naturais de boa qualidade
possuem durabilidade praticamente ilimitada e, via de regra, não necessitam de
juntas de dilatação. No caso do concreto, entretanto, é preciso levar em
consideração as deformações devido à retração, à variação de temperatura e à
fluência, o que tem influência na forma do arco e torna necessária a existência de
juntas.

As estruturas em arco podem ser projetadas com


tabuleiro superior, sustentado por montantes,
ou com tabuleiro inferior, sustentado por
tirantes ou pendurais. Existe ainda o sistema
misto com o arco intermediário, sustentado
lateralmente por montantes e, no centro, por
pendurais.
As pontes em arco com tabuleiro inferior são
mais indicadas para pequenos vãos e para
grandes vãos utiliza-se a ponte em arco com tabuleiro superior. As pontes em
arco com tabuleiro intermediário são menos utilizadas uma vez que a interseção
do arco com o tabuleiro representa problemas construtivos.
Bibliografia:

REBELLO, Yopanan Conrado Pereira. A concepção Estrutural e a


Arquitetura - São Paulo: Zigurate Editora, 2000.
VASCONCELOS, Augusto Carlos de. Estruturas da Natureza: um
estudo da interface entre biologia e engenharia - São Paulo: Studio Nobel,
2000.
http://www.lmc.ep.usp.br/people/hlinde/Estruturas/estnat.htm
http://www.brasilengenharia.com.br/artestruturas539.htm
http://lemeribas.blogspot.com/2008/04/as-estruturas-em-arco-permitem-
o.html

Você também pode gostar