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FUN D A Ç Ã O O BOTICÁRIO
Smithsonian
DE PROTEÇÃO A NATUREZA
National Zoological Park
Institu to de Pesquisas Ecológicas
‘
Ví in
MÉTO D O S DE E S T U D O S EM
Biologia da ConservaçãoO
Manejo da Vida Silvestré-JL
UFPR
Reitor
Zaki Akel Sobrinho
Vice-Reitor
Rogério Andrade Mulinari
Conselho Editorial
Andrea Carla Dore
Cleverson Ribas Carneiro
Francine Lorena Cuquei
, Lauro Brito de Almeida
Maria Rita de Assis César
Mario Antonio Navarro da Silva
Nelson Luis da Costa Dias
Paulo de Oliveira Perna
Quintino Dalmolin
Sergio Luiz Meister Berleze
Sergio Said Staut Junior
Métodos de Estudos em Biologia da Conservação
e Manejo da Vida Silvestre
2 .®£dição revisada
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7335-174-3
ISBN 978-85-7335-174-3
Ref. 530 \
Apresentação
Suzana Machado Padua
Presidente IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
Finalmente, Rudy Rudran é originário do Sri Lanka, mas sem dúvida tem
reconhecimento internacional/Há anos vem atuando como pesquisador pela
Smithsonian Institution, onde encontrou meios de intercambiar
conhecimentos ligados à conservação, ao ministrar cursos abrangentes em
todos os continentes do planeta. Suas pegadas ecológicas certamente já estão
fixadas nas mentes e nos trabalhos bem realizados de muita gente ligada à
proteção ambiental. Devemos ao Rudy a primeira concepção dos cursos que
originaram este manual. Seu apoio, sua determinação e confiança, foram
básicos para que nós pudéssemos ter evoluído e .ousado produzir este
manual.
Com ^ continuidade da parceria entre o IPÊ e a SI, ficou cada vez mais
evidente a necessidade de um manual em português que incorporasse o
conteúdo curricular dos cursos oferecidos. Esse material, além de útil para
os participantes dos cursos, poderá servir como ferramenta de instrução de
atividades que integrem a teoria à prática. Tornou-se evidente, também, que
essa publicação poderá atingir um público mais amplo de estudantes
universitários e profissionais na área de Biologia da Conservação, mesmo
que não tenham tido a oportunidade de participar dos cursos oferecidos
anualmente. Sendo assim, o desenvolvimento do manual foi iniciado em
1998, baseado no currículo dos cursos lecionados, com um cuidadoso
aprimoramento contínuo. Os instrutores e palestrantes que oferecem os
módulos durante os cursos foram convidados a contribuir com capítulos
relacionados a seus temas específicos de trabalho. O resultado desse
processo é este manual, que trata extensivamente de metodologias, técnicas
de campo e suas aplicações práticas e teóricas em Biologia da Conservação e
Manejo da Vida Silvestre. Este manual apresenta, ainda, bases conceituais
atuais nos principais temas da conservação da biodiversidade e seu manejo.
Os capítulos se complementam de modo a se tornar um guia prático na
condução de pesquisa de campo em animais e plantas e uma referência
nacional e internacional em técnicas de manejo da vida silvestre. Esperamos
que “Métodos de Estudos em Biologia da Conservação” venha a contribuir
de uma maneira ampla e que preencha a grande lacuna de livros em Biologia
da Conservação e manejo de vida silvestre na América Latina.
2 0 . Delineamento de experimentos
numa perspectiva de ecologia da paisagem 525
Jea n Paul M etzger
Introdução
O conhecimento atual sobre a diversidade biológica do planeta é extremamen
te escasso (Wilson 1997). A despeito de todos os avanços da ciência no século
XX, dizer quantas espécies de um determinado grupo taxonômico existem no
mundo, ou ainda em um pequeno fragmento de floresta, é extremamente difí
cil, se não impossível (May 1988). Isso é especiálmente preocupante quando
se considera o ritmo atual de destruição de ecossistemas naturais, aliado a
altas taxas de extinção de espécies (Wilson 1997). O desenvolvimento de pro
gramas de conservação e uso sustentado de recursos biológicos, a única forma
conhecida para desacelerar a perda de biodiversidade global, exige uma ampli
ação urgente dos conhecimentos nessa área.
19
ADALBERTO JOSÉ DOS SANTOS
determinar a sua riqueza total. A única opção factível neste caso é inventariar
alguns grupos taxonômicos e algumas características físicas do ambiente, na
tentativa de construir uma visão geral sobre toda a biota. O que se espera
desses organismos selecionados para o inventário é que sua diversidade em
um determinado local reflita a diversidade total, ou pelo menos de uma parte
de seus componentes (Pearson 1994). Isso não significa que os táxons não
selecionados não sejam importantes, mas apenas que, diante da urgência de se
obter dados úteis para projetos de conservação, é necessário concentrar esfor
ços em alguns grupos.
20
ESTIMATIVAS DE RIQUEZA EM ESPÉCIES
21
ADALBERTO JOSÉ DOS SANTOS
dade. Isso não significa, entretanto, que todos os métodos disponíveis devam
ser empregados, uma vez que muitos são redundantes (veja um bom exemplo
disto em Longino & Colwell 1997).
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ESTIMATIVAS DE RIQUEZA EM ESPÉCIES
Estimativas de riqueza
Como mencionado anteriormente., a riqueza em espécies obtida em um inven
tário depende não só das características da área amostrada, mas também do
esforço de coleta despendido. Uma forma simples, mas infelizmente nem sem
pre utilizada, de mostrar isso são as curvas de acumulação de espécies ou
curvas do coletor. Este tipo de gráfico mostra o acúmulo de espécies diferentes
coletadas à medida que se aumenta o esforço de amostragem, como exemplifi
cado na Figura 1.
23
ADALBERTO JOSÉ DOS SANTOS
O primeiro detalhe importante que se pode notar nesta figura é que, para mon
tar esta curva, é essencial que a coleta esteja dividida em unidades amostrais.
As unidades amostrais podem ser adicionadas à curva em qualquer ordem,
embora adicioná-las na ordem em que foram feitas (por exemplo, da primeira
até a última hora de coleta] pode ajudar na detecção de possíveis mudanças de
hábitat durante a amostragem. É relativamente comum observar curvas de cole
tor que apresentam degraus; a curva se apresenta quase estabilizada, mas em um
determinado ponto ocorre um grande incremento de riqueza, o que pode indicar
que outro tipo de hábitat, com uma comunidade distinta, foi amostrado.
24
ESTIMATIVAS DE RIQUEZA EM ESPÉCIES
do am biente? calcu lan d o o núm ero de esp écies presentes na cauda oculta da
cu rva (P reston 1 9 4 8 ). A pesar da sim p licid ad e aparente dessa proposta, ela
tem sido pouco utilizad a, provavelm ente devido a d ificuldades na escolh a do
m elh o r m étodo para aju ste do m odelo a dados am ostrais (veja detalhes em
C olw ell & C oddington 1994).
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ESTIMATIVAS DE RIQUEZA EM ESPÉCIES
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ADALBERTO JOSÉ -DOS SANTOS
28
ESTIMATIVAS DE RIQUEZA EM ESPÉCIES
3. A CE e IC E: estes métodos foram desenvolvidos por Chao & Lee (1992), base
ando-se no conceito estatístico de "cobertura de amostra" [sam ple coverage), e
posteriormente modificados por Chao et al. J1993) e Lee & Chao (1994). O
primeiro modelo (ACE - A bu n d an ce-based Coverage Estimator) trabalha com a
abundância das espécies raras (com poucos indivíduos), enquanto o segundo
(ICE - In cid en ce-based C overage Estimator) requer o número de espécies infre
quentes (que ocorrem em poucas unidades amostrais). Entretanto, diferente
dos anteriormente citados, os métodos ACE e ICE permitem ao usuário deter
minar os limites para que uma espécie seja considerada rara ou infrequente.
Em geral, são consideradas raras espécies com abundância entre 1 e 10 indiví-
29
ADALBERTO JOSÉ DOS SANTOS
4. B o o tstr a p : este método difere dos demais por utilizar dados de todas as
espécies coletadas para estimar a riqueza total, não sé restringindo às espécies
raras. A estimativa pelo bootstrap é calculada somando-se. a riqueza observada
à soma do inverso da proporção de amostras em que ocorre cada espécie (ver
apêndice). As equações de estimativa foram desenvolvidas por Smith & van
Belle (1984), que também fornecem uma equação para cálculo de variância da
estimativa, que tem sido pouco utilizada (talvez devido a sua complexidade).
30
ADALBERTO JOSÉ DOS SANTOS
Por outro lado, a estimativa do método 2 pode ser utilizada para comparações,
uma vez que atingiu um valor estável, independentemente do aumento do
esforço de coleta. Obviamente, essa riqueza estimada poderia ser comparada
apenas a inventários que também apresentassem estimativas estáveis pelo mes
mo método. Observando-se o início das curvas nessa figura, pode-se perceber
que o método 1 gerou uma superestimativa de riqueza, que diminui com o
aumento do número de amostras. Este é um artefato muito comum em alguns
métodos de estimativa (Coddington et al. 1996, Colwell & Coddington 1994),
principalmente naqueles baseados no número de espécies que ocorrem em
apenas uma amostra (Jackknife, Chao 2 , ICE). Uma vez que este número é ex
tremamente alto quando se tem poucas amostras, as estimativas tendem a ser
excepcionalmente altas. A detecção desse artefato é possível apenas quando se
analisa o comportamento das estimativas em relação ao esforço amostrai, como
na Figura 3, o que é também essencial para determinar se ufha' estimativa está
vel foi obtida.
A busca por valores de riqueza estimada estáveis adiciona mais um parâmetro
importante na avaliação de métodos. Uma vez que mais de um método fornece
valores estáveis, seria interessante que eles surgissem'com um mínimo possí
vel de esforço de coleta. A Figura 3B mostra uma comparação entre dois méto
dos que atingem patamares estáveis de riqueza. Embora os dois métodos te
nham chegado ao mesmo resultado, o método 3 é preferível, pois atinge a
assíntota com menor esforço de coleta.
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ESTIMATIVAS DE RIQUEZA EM ESPÉCIES
Número de amostras
Número de amostras
33
ADALBERTO JOSÉ DOS SANTOS
Riqueza real
»
Figura 4. Riqueza estimada usando-se 3 métodos hipotéticos, para seis comunidades com
diferentes valores de riqueza total. Cada ponto representa uma comunidade, amostrada uma
única vez e submetida aos três métodos. O método 1 estima perfeitamente a riqueza de cada
com unidade. O método 2 apresenta estim ativas abaixo da riqueza real, porém com um
desvio constante, que não varia em relação à diversidade total. 0 método 3, o pior de todos,
também subestim a a riqueza, porém o desvio da estim ativa em relação à riqueza real é
maior em comunidades mais diversas.
34
ESTIMATIVAS DE RIQUEZA EM ESPÉCIES
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ADALBERTO JOSÉ DOS SANTOS
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Apêndice
Equações dos métodos não-paramétricos de estimativa de riqueza
(fonte: Colwell 1997)
Variáveis
Sest Riqueza estimada pelo método "est" (Jackknife, Chaol etc);
Sobs Riqueza observada;
Sraras Número de espécies raras;
Sabund Número de espécies abundantes;
Sinfr Número de espécies infrequentes;
Sfreq Número de espécies frequentes;
m Número de amostras;
minfr Número de amostras que têm pelo menos 1 espécie infrequente;
Fi Número de espécies que têm exatamente "i" indivíduos em todas as
amostras juntas;
39
ADALBERTO JOSÉ DOS SANTOS
Equações
3) Bootstrap
Sobs
Sbool= Sobs+ ^ (1 —pk)
*=1
4} Chaol
F i2
School — Sobs H"
, 2Fi
5) Chao2 .
School = Sobs H ~~
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41
1 Macroinvertebrados aquáticos como
indicadores ambientais da qualidade de água
Donald P. Eaton
Earthwatch Institute e IBC - Instituto de Biologia da Conservação
Introdução
O termo "macroinvertebrado aquático" refere-se à classe de animais de água
doce, cujo tamanho pode ser visto a olho nu. A maioria deles pertence aos
filos Arthropoda (insetos, ácaros de água e crustáceos maiores), Mollusca (ca
racóis e bivalves), Annelida (vermes segmentados), Nematoda (vermes cilín
dricos) e Platyhelmintes (vermes plapos). Eles estão presentes em todos os
níveis tróficos, com uma atuação ecológica bem diversa nos ecossistemas
aquáticos (Cummins & Klug 1979). Por exemplo, um grupo misto de espécies
(comunidade) de predadores chamados "desfibradores" converte partículas
orgânicas grandes, provenientes de ambientes terrestres (por exemplo, folhas
caídas), em uma forma mais' acessível para predadores aquáticos, atuando como
decompositores. Um segundo grupo de decompositores, chamados "coleto--
res", come as partículas produzidas pelos desfibradores menores, juntando-as
♦
aos sedimentos ou filtrando-as da coluna de água. Um papel ecológico diferen
te é executado por uma comunidade de macroinvertebrados chamada "raspa
dores" que se alimentam de perifiton (capa nutritiva fopmada por algas, proto
zoários, fungos e bactérias', e que cresce em substrato aquático). Exemplos
destes decompositores incluem os vermes achatados (Turbellaria) que se ali
mentam de protozoários e outros invertebrados pequenos nos sedimentos,
tais como: larvas de Corydalidae (Megaloptera), as quais engolfam insetos aquá
ticos que vivem entre as partículas de detritos, e o "gigante d'âgua" (Hemiptera:
Belostomatidae), que perfura e suga os fluidos de invertebrados, peqüenos
peixes e anfíbios.
43
DONALD P. EATON
1926; Capart 1951), cursos de água cobertos com gelo (Maciolek & Needham
1951), lagoas temporárias (Dodson 1987), lagos salinos e rios altamente polu
ídos sem oxigenação (Hynes 1960). Consequentemente, os macroinvertebra-
dos aquáticos são extremamente úteis para monitorar a qualidade da água,
além de serem de fácil amostragem (Rosenberg e Resh 1993). A análise biológi
ca dos macroinvertebrados aquáticos, para avaliar a qualidade da água, tem
sido realizada durante quase um século e atualmente esses tipos de análises
fazem parte dos programas de monitoramento na Europa, América do Norte e
Austrália (Moss et al. 1987; Barbour et al. 1996, Marchant et al. 1997).
Identificação de espécies
Um dos maiores problemas que os investigadores enfrentam quando estudam
invertebrados aquáticos nos neotrópicos é a falta geral de uma chave de classi
ficação para a identificação de espécies em categorias taxonômicas como or
dens ou famílias. Publicações sobre "Sistema de Classificação para os Insetos
Aquáticos da América do Sul", ou "Efemerópteros do Mato Grosso do Sul" etc,
infelizmente, não existem. A maioria da literatura sobre taxonomia consiste
em descrições de espécies individuais ou grupos de espécies dentro de gêne
ros (veja os volumes de Hurlbert, Rodriquesz, & Santos (1981 a é b) para
referências de taxonomia para organismos aquáticos neotropicais publicados
antes de 1981). Um problema adicional - e um desafio excitante - é que, apesar
do progresso considerável feito em anos recentes (Lugo-Ortiz & McCafferty
1995; Froehlich 1998), o conhecimento taxonômico ainda se encontra incom
pleto para muitos grupos de macroinvertebrados aquáticos na região Neotropi
cal (Epler 1988). Em regiões relativamente desconhecidas, como o Pantanal, é
muito provável que espécies não classificadas sejam coletadas durante inven
tários de macroinvertebrados (AquaRAP 1998). Assim, ecólogos especialistas
em água doce e biólogos conservacionistas terão dificuldades em identificar
estas espécies.
45
DONALD P. EATON
1) local:
* município, estado, país (coordenadas geográficas, se possível);
* especificar o local em ambiente aquático (litoral norte, 200 m da fonte);
* hábitat (zona de planta aquática emergente, tronco submergido etc).
2 ) data:
* da coleta ou do aparecimento (veja "Desenvolvimento de Métodos" abaixo);
* 3 de agosto de 1999 deve ser escrito como 3-agosto-99 ou 3-VIII-99
(abreviações ou números romanos são usados para meses para evitar uma
possível confusão entre dias e meses);
46
MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA-
Finalmente, coletas de adultos devem ser feitas perto dos ambientes aquáticos,
amostrados, sempre que possível. Pode-se usar redes de varredura ou'redes
do tipo fole (beatin g nets) para capturar insetos pousados na vegetação próxi
ma da água, e armadilhas luminosas e-armadilhas de M alaise, que são méto
dos efetivos para obter espécimes de adultos (Martin 1977). Também podem
ser usadas armadilhas emergentes flutuantes, as quais capturam insetos assim
que eles deixam a água para iniciar a fase adulta voadora. Métodos de preser
vação variam para os adultos pertencente a um determinado táxon de inseto,
mas a maioria pode ser armazenada em etanol 95%.
47
DONALD P. EATON
pio mais poderoso (40X a 400X ampliação) com um campo intenso de ilumi
nação. Lâminas temporárias ou permanentes podem ser preparadas usando-se
meios de suporte contendo glicerina ou meio de Hoyer (Martin 1977).
- i ' ,
Delineamento da amostragem, técnicas e análises
Algumas das melhores referências deste assunto são Elliot (1977), Morin (1985),
e Merritt & Cummins (1996).
48
MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA
49
DONALD P. EATON
n = s 2 p 2 Ç ~2
50
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MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA
Tabela 1. Número de repetições das amostras necessárias para se obter a precisão desejada
para a estimativa da abundância dos macroinvertebrados aquáticos (Elliot 1977).
Número de
Número de repetições para
repetições por uma precisão
amostra a desejada b
Curso (número / 0.6 Precisão
d’água m2) Média Variância -* 0.1 0.2 0.4
r 4È
Jararaca 22, 20, 4, 14 15.0 65.32 29 7 2
* As am ostras sâo estim ativas preliminares da abundância de ninfas de Progom phus sp.
(Odonata: Gomphidae) em duas cabeceiras de cursos d'ãgua da Estação Ecológica dos
Caetetus, São Paulo, Brasil.
5?
DONALD P. EATON
Trabalhos conduzidos por Morin (1985) revelaram que quando as médias das
abundâncias eram altas, o número de repetições das amostras obtidas em uma
área menor do substrato reduziu o tempo de processamento. Isto porque havia
menos invertebrados para lidar durante os processos de identificação e conta
gem. Porém, para o mesmo nível de precisão, de amostras e com baixas médias
de abundâncias, Morin (1985) observou que era vantajoso usar uma área maior
para amostragem. Neste caso, foi gasto um tempo menor durante o processo de
coletas. Quando uma área maior foi amostrada, uma menor abundância de
invertebrados foi coletada mais frequentemente e, portanto, o número exigido
de réplicas foi reduzido.
52
MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA
53
DONALD P. EATON
Média da abundância
(número /m2) para hábitatsa
Hábitat -*
Lago Cachoeira Maço de Local geral
arenoso pedregosa folhas
Espécies Áreab -> 0.77 0.18 0.05 abundância d
Repetiçõesc -► n = 4 n= 6 n= 5 (número /m2)
54
MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA
geral e entre hábitats específicos podem ser explicadas pela composição desi
gual do hábitat e pela alta variabilidade do táxon- entre hábitats. Também é
importante observar que a variância da amostragem foi diferente para cada
hábitat. Portanto, o número de réplicas requerido para cada hábitat foi diferen
te (Tabela 2 ). Cachoeiras com padrões heterogêneos de fluxo apresentam dis
tribuições características de macroinvertebrados agrupados, como aqueles que
se alimentam por filtração, S. pertinax, e requerem maior número de repeti-
•ções por amostra (Morin 1985). Hábitats mais homogêneos, como as piscinas
de areia, que mostram menor variabilidade nas abundâncias estimadas dos
táxons, como Progomphus sp., requerem menor número de repetições por
amostra.
Finalmente, a abundância de macroinvertebrados distribuída ao longo de dife
rentes ambientes, pode ser calculada através de amostras obtidas aleatoria
mente dentro de intervalos sistematicamente definidos ou zonas. Por exem
plo, as réplicas' das amostras podem ser obtidas ao acaso, de locais de uma
profundidade específica em uma lagoa ou ainda de intervalos de distância
regularmente espaçados a jusante de uma fonte de poluição (Hynes 1960).
55
DONALD P. EATON
O acúmulo de detritos, como maços de folha e plantas aquáticas vivas, podé ser
amostrado para macroinvertebrados por uma coleta rápida, usando-se redes de
mergulho grandes ou bolsas de rede. As amostras são transferidas para bande
jas de plástico brancas e lavadas levemente para desalojar os invertebrados
56
MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA
presos nos detritos e superfícies de plantas. A água da bandeja deve ser, en
tão, vértida por uma rede para concentrar e coletar os invertebrados. Os detri
tos ou as plantas das amostras são secados e convertidos em cinzas à tempera
tura de 550°C, para determinar o peso seco livre de cinza (método descrito em
APHA 1995). Usando essa técnica, as densidades dos invertebrados são ex
pressas como números ou bipmassa pór peso seco livre de cinza, de detrito ou
material de planta.
Em hábitats lênticos, uma rede de arremesso pode ser usada para amostrar os
macroinvertebrados grandes móveis, associados com os sedimentos ou plan
tas aquáticas (Turner & Trexler 1997). Uma rede de arremesso consiste em uma
armação cuboamoldada, de 0,5 a 1 metro comprimento de tubo de plástico. Os
quatro lados do cubo são envoltos por uma rede com tela de 1 mm, enquanto
o topo e o fundo são mantidos abertos. O fundo aberto da rede é derrubado
rapidamente em cima da área (lote) a ser amostrada e introduzido no substrato
para apanhar os invertebrados dentro do espaço da rede. O uso de uma tela de
mergulho de 1 mm permite que os sedimentos e as plantas dentro da rede de
gota sejam varridos repetidamente até que nenhum macroinvertebrado seja
capturado. A profundidade de dentro da rede de lanço é medida e as abun-
dâncias são expressas sob uma variedade de modos. Estes dependem do lote
e dos hábitos dos macroinvertebrados amostrados, por exemplo, o número ou
a biomassa por área de substrato, por número de plantas aquáticas ou por
volume de água.
57
DONALD P. EATON
Processamento da amostra
O processamento das amostras começa logo após a coleta, seguido da preser
vação e da etiquetagem. Como previamente mencionado, uma quantia consi
derável de detritos é coletada normalmente com amostras aquáticas. Os inver
tebrados devem ser separados dos detritos, de forma a que possam ser identi
ficados e contados. Este processo é conhecido popularmente como "escolha de
bicho". Para facilitar esse processo, os escombros e os invertebrados podem
ser subdivididos em frações de pequenos tamanhos por meio de várias lava
gens, vertendo as amostras gentilmente através de uma série de peneiras com
tamanhos decrescentes de malhas, por exemplo, 1, 0.4, e 0.1 mm, respectiva
mente. Isso faz com que seja mais fácil ver e escolher os macroinvertebrados.
As frações maiores podem ser escolhidas em uma bandeja de plástico branca,
a olho nu; porém, um microscópio binocular com pelo menos 10 X de amplia
ção é necessário para observar as frações menores. Como é de se esperar, a
fração menor sempre contém o maior número de invertebrados e leva a maior ?
parte do tempo para escolher. Se necessário, pode-se fazer subamostras das
frações menores (Elliot 1977).
58
MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA
lógica, a biomassa pode ser mais significativa (Benke et al. 1999). Além disso,
dados da biom assa são essen ciais para estim ar produções secundárias.
Um exemplo das diferenças que podem ser obtidas usando-se biomassa ver
sus número pode ser observado com as larvas de quironomídeos (Diptera:
Chironomidae). Numericamente, mais de 50% dos macroinvertebrados em uma
amostra são documentados como quironomídeos, mas a biomassa total deles é
normalmente inferior a 20%.
59
DONALD P. EATON
y' = log (y + í)
em que y' é a abundância estimada transformada e y é a abundância não trans
formada. Ressalta-se, porém, que os dados transformados devem ser testados
para "confirmar se eles satisfazem as suposições da análise estatística. Caso
isso não ocorra, outras conversões devêm ser avaliadas ou outros testes, tais
como os não paramétricos (Zar Í996), devem ser usados.
60
MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA
Amostras qualitativas podem ser usadas para calcular uma variedade de "métri
cas" que avalia a qualidade da água de um local por intermédio da informação
biológica sobre os macroinvertebrados. Nos Estados Unidos, as "métricas" são
combinadas de várias maneiras e apresentadas em resumo de notas (sum m ary
scores), utilizado para avaliar locais de água doce (Barbour et al. 1996). Esse
método de análise de avaliação biológica é chamado de procedimento "multime-
tríc" (Norris 1995). As avaliações são baseadas em notas multimétricas de um
número grande de locais de referência, ou seja, locais que estão em uma
62
MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA
C ondição da
Tipo d e dados
M é tric a D efinição m étrica em água
co leta d o s
degradada
64
MACROINVERTEBRADOS AQUÁTICOS COMO
INDICADORES AMBIENTAIS DA QUALIDADE DE ÁGUA
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67
3 Diversidade de macroinvertebrados
em riachos
Adriano Sanches Melo
Departamento de Pós-graduação em Ecologia,
Museu de História Natural, Unicamp
Introdução
Lagos, rios, riachos e outros corpos de água doce recebem influência direta
dos processos que ocorrem na área de drenagem da bacia onde estão localiza
dos. Em pequena escala, corpos de á§ua doce podem receber resíduos tóxicos
de uma determinada indústria ou esgoto çloméstico. Em escala maior, levando-
se em conta a própria bacia de drenagem, por exemplo, podem receber pestici
das e fertilizantes utilizados na agricultura e sedimentos carreados pelas chu
vas em áreas desmatadas (Allán & Flecker 1993). Os impactos de tais ativida
des refletem na qualidade da água consumida pela população local, na biota
aquática, tais como em peixes e insetos,, e indiretamente na biota terrestre
dependente da água, como em aves que se alimentam de peixes (Allan &
Johnson 1997).
69
ADRIANO SANCHÉS MELO
70
DIVERSIDADE DE
MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
B|í-1 i
73
ADRIANO SANCHES MELO
Triagem
A separação dos macroinvertebrados 'dos detritos coletados é uma tarefa que
demanda certo tempo e pode ser feita ainda no campo ou no laboratório. A
grande vantagem de se fazer a triagem no campo é a facilidade na localização
dos indivíduos, principalmente dos menores, devido a sua movimentação. A
desvantagem é o tempo gasto no campo, o que muitas vezes torna esta prática
inviável (no entanto, deve-se lembrar que maior tempo no campo não significa
tempo perdido, mas, sim, maior possibilidade de encontro de algo interessan
te, novas ideias e experiência para o delineamento de um próximo trabalho).
No laboratório, a triagem pode ser feita a olho nu e ou com' o auxílio de uma
lupa de baixa magnificação. Neste caso, o tempo necessário para uma boa tria
gem é em geral maior que aquele gasto no campo.
Podem-se também utilizar alguns métodos que auxiliam a triagem. Uma possi
bilidade é utilizar jogos de peneiras, com malhas sucessivamente menores.
Caso existam muitos detritos grandes, tais como folhas e gravetos, é aconse
lhável uma inspeção posterior nestes fragmentos, pois podem reter indivíduos
menores e casas de tricópteros construídas com folhas e gravetos. A desvanta
gem da utilização de peneiras são os cfanos causados aos indivíduos.
Outra forma de separação é feita por meio da adição de açúcar ou outro mate
rial solúvel, o que provoca um aumento da densidade da água e a consequente
flutuação dos indivíduos e de outros componentes orgânicos. Caso existam
muitos detritos orgânicos, uma triagem posterior acaba sendo necessária. Uma
inspeção posterior do material restante no fundo do recipiente também deve
ser feita, no intuito da coleta de casas de tricópteros construídas com pedras.
Alguns corantes também podem ser utilizados como auxiliares na triagem.
Dois dos mais utilizados são a Fluoxina e o Rosa de Bengal.
Identificação
Como citàdo anteriormente, o conhecimento taxonômico dos macroinvertebra
dos de riachos ainda é escasso no Brasil (Hurlbert et al. 1981). A identificação
até gênero ou mesmo família é a pratica mais comum, atualmente, em estudos
de diversidade no país. Apesar da óbvia perda de resolução quando se utiliza
gênero ou família, vários trabalhos realizados em outras regiões mostram a
validade deste procedimento para estudos comparativos em escalas espaciais
maiores, como em bacias hidrográficas (Marchant et al. 1995).
74
DIVERSIDADE DE
MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
75
ADRIANO SANCHES MELO
Não existem muitas chaves taxonômicas que tenham como objetivo os taxa
brasileiros e, portanto, o uso de chaves.de outras regiões é, apesar do alto risco
de erro, a única solução em alguns casos. Dentre as com possibilidade de uso
no Brasil, podem-se citar Merritt & Cummins (1996), Lopretto & Tell (1995),
Domínguez et al. (1992, 1994), Froehlich (1984); Trivinho-Strixino & Strixino
(1995), Wiggins (1996). Apesar de um pouco antigo, o livro de Hurlbert et al.
(1981) apresenta breves revisões sobre cada grupo de artrópodes que habita
águas doces, com referências bibliográficas pertinentes.
76
DIVERSIDADE DE
MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
Tamanho amostrai
A importância da escolha de um tamanho amostrai adequado é Vital no suces
so de um trabalho sobre diversidade. Amostragens pequenas podem não in
cluir espécies ráras, porém importantes na comunidade, levando a resultados
errôneos (Cao et al. 1998). Stout & Vandermeer (1975) coletaram pedras indivi
duais em riachos de regiões tropicais e temperadas e concluíram que trabalhos
anteriores, sugerindo que riachos tropicais são mais pobres que similares em
regiões temperadas, foram na verdade conclusões errôneas baseadas em amos
tragens insuficientes. Nas curvas de acumulação de espécies (ou do coletor)
construídas para-as duas regiões, Stout & Vandermeer (1975) mostraram que
curvas de regiões tropicais têm um crescimento lento, menor que o de regiões
77
ADRIANO SANCHES MELO
Riacho de região * * *
tropical #•*
•# ’
* q 0 o o o o o q
Aa ° 0 ° Riacho de região
□8 temperada
□*
o °9 •
■o
o
Tamanho amostra!
78
DIVERSIDADE DE
MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
Para contornar o problema de não atingir uma assíntota, pode-se usar curvas
semelhantes às curvas do coletor, mas utilizando-se um índice de diversidade.
Neste caso, um determinado índice de diversidade é calculado para cada
tamanho subamostral. O método é conhecido como “P ielou ’s p o o le d qu adrat
m eth o d ” e foi relativamente pouco utilizado desde sua criação, devido princi
palmente à grande quantidade de cálculo necessária (Lloyd et al. 1968; Pielou
1975; Magurran 1988). A ideia é que a entrada de espécies raras no conjunto
seja contrabalançada pela grande abundância de outras espécies (diminuindo
a equitabilidade). Novamente, o programa Estim ateS calcula tais curvas com
índices de Shannon, Simpson e Alpha.
79
ADRIANO SANCHES MELO
80
DIVERSIDADE DE
MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
Análise de dados
Riqueza de espécies nas amostras
A forma mais simples de expressar a diversidade biológica e, ainda, utilizá-la
com intuito comparativo é o número ou riqueza de espécies encontradas em
uma determinada amostra. O primeiro problema que surge quando utilizamos
tal medida é que o número de espécies encontradas numa área é fortemente
dependente do esforço de coleta. Assim, quanto mais se coleta, mais se encon
tram espécies ainda não vistas, porém numa taxa decrescente. Portanto, com
parar amostras com diferentes esforços de coleta claramente poderá levar a
conclusões errôneas. Deve-se, portanto, padronizar o esforço em todas as cole
tas. Mas, deve-se padronizar a quantidade de unidades amostrais (parcelas,
armadilhas, tempo de observação etc) ou o número de indivíduos? Uma boa
discussão sobre o assunto, aplicada ao problema de bioavaliações, é feita por
Barbour & Gerritsen (1996), Courtemanch (1996), Vinson & Hawkins (1996) e
no Capítulo 1 , neste volume).
Caso se decida pela padronização por número de indivíduos ou, ainda, quan
do os dados não foram coletados utilizando-se unidades amostrais distintas,
uma solução é o uso de curvas de rarefação (Hurlbert 1971; Heck et al. 1975;
Sim berloff 1979; Krebs 1989). Suponha-se que há duas comunidades a ser
comparadas quanto à riqueza, porém com quantidades de indivíduos diferen
tes. Na comunidade A temos 144 indivíduos, distribuídos'em 26 espécies, e
na comunidade B temos 320 indivíduos em 38 espécies. A pergunta que se faz
é: caso retiremos 144 indivíduos ao acaso do conjunto B, quantas espécies
81
ADRIANO SANCHES MELO
82
DIVERSIDADE DE
MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
cia diferencial à riqueza de espécies (maior peso para espécies raras) e à equi-
tabilidade (maior peso para as espécies dominantes) (Peet 1974). Magurran
(1988) apresenta os índicçs mais utilizados e resume de forma clara as caracte
rísticas principais de cada um. Ganeshaiah et al. (1997) apresentam um novo
índice de diversidade que, além de riqueza e equitabilidade, inclui também
diferenças biológicas entre os taxa considerados. Neste caso, para duas comu
nidades com mesmo número de espécies, indivíduos e proporção de indiví
duos em cada espécie, o índice produzirá maior valor para a comunidade que
possuir espécies mais diferentes entre si, morfo ou filogeneticamente.
83
ADRIANO SANCHES MELO
logseries, broken stick, geom etric series). Uma das formas de construção do
gráfico (ver Magurran 1988) é a ordenação no eixo das abscissas das espécies
de maior para as de menor abundância e, no eixo das ordenadas, a abundância
relativa das espécies em uma escala logarítmica (Figura 3). Além da riqueza de
espécies, o gráfico permite uma rápida comparação quanto à distribuição de
indivíduos entre cada espécie, ou seja, a equitabilidade (ver alguns exemplos
em James & Rathbun 1981). O posterior ajuste de algum modelo de abundân
cia aos dados permite também outras interpretações sobre a estrutura da co
munidade (Magurran 1988).
100
<8
> 10-
C8
£
m Comunidade A
73
0.1 Comunidade B
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
Figura 3. Espécies encontradas em dois riachos, dispostas em rank. Note a maior equitabi
lidade e o número de espécies na comunidade A.
Análises multivariadas
Em uma dada área, com 3 comunidades A, B e C cada uma com as espécies X
e Y, mas com abundâncias diferentes, pergunta-se: qual é mais semelhante a
qual? Uma forma simples de responder a questão é construir um gráfico com
as duas fontes de informações disponíveis, ou seja, as variáveis X e Y. Neste
caso, o par de comunidades que estiver mais próximo será o mais semelhante.
Considere-se, agora, que em vez de 2 , tenhamos 3 espécies. O princípio conti
nua o mesmo, porém num gráfico tridimensional. E com 4 ou mais espécies?
Agora não é possível construir mais gráficos e a solução é a utilização de um
método (Análise Multivariada) que resuma os diversos eixos (as diversas variá
veis/espécies) em alguns poucos, que possam ser então utilizados na cons
trução de um gráfico com 2 ou 3 dimensões. Mas, como “resumir” diversas
84
DIVERSIDADE DE
MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
para níveis maiores (até todo o conjunto). Existe outra forma chamada classifi
cação divisiva, em que divide-se conjunto total em duas partes, cada fração
então sendo subdividida sucessivamente até a base, ou seja, até um par de
pontos. ”
86
DIVERSIDADE DE
MACROINVERTEBRADOS EM RIACHOS
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90
4 Captura e marcação de animais silvestres
Paulo Rogério Mangini
IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
Introdução
A pesquisa de fauna em vida livre pode ser executada sob diferentes metodo
logias com objetivos variados. Em determinados momentos, em muitos traba
lhos de campo, é necessário que alguns ou todos os indivíduos de uma popu
lação sejam capturados e manipulados. A obtenção dé dados biométricos e
amostras biológicas, na maioria das vezes, requer que os animais sofram con
tenção física ou química. A capacidade da equipe de campo em capturar e
manipular animais silvestres, com eficiência e segurança, pode representar o
sucesso ou o fracasso de um projeto. Os objetivos da pesquisa e a espécie
estudada são alguns dos fatores determinantes na escolha dos métodos empre
gados na captura e manipulação dos animais.
A marcação dos animais pode ser empregada com diferentes objetivos, como
facilitar a observação a distância, conferir um número de registro, evitar ou
possibilitar que dados de um mesmo animal sejam obtidos mais de uma vez
ou, simplesmente, individualizar os animais em estudo. Assim como o méto
do de captura, o método de marcação deve ser escolhido considerando-se a
espécie e os objetivos da pesquisa. Diversos métodos de marcação podem ser
utilizados, com códigos alfanuméricos, geométricos ou marcas coloridas. Na
maioria das situações, a aplicação de marcas requer contenção.
91
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PAULO ROGÉRIO MANGINI
PATRÍCIA AVELLO NICOLA"
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bilidade e segurança para equipe e para os animais manipulados. Deve-se con- *
siderar que, dentro de um mesmo grupo taxonômico, podem existir experiên
cias de sucesso com uma determinada espécie e local, que resultem em fracas
so com outra espécie aparentada. Dessa forma, as considerações apresentadas
.
referem-se,'em parte, à experiência dos autores e às informações obtidas com
diferentes pesquisadores no Brasil e exterior.
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Contenção e manipulação de animais silvestres
Para cumprir os requisitos básicos na contenção de qualquer espécie selva
gem, em cativeiro ou vida livre, é necessária uma equipe multidisciplinar bem
treinada e perfeitamente entrosada. A realização de uma reunião prévia ao
trabalho é ponto fundamental para o procedimento. O responsável pela equipe
deve discutir a proposta de contenção e programar os trabalhos, levando em
consideração todas as possibilidades de falha, a fim de minimizar quaisquer
riscos. Tratando-se de animais potencialmente perigosos, como grandes feli
nos e animais peçonhentos, o fator segurançfâ da equipe deve ser prioritário,
pois a saúde das pessoas envolvidas é de responsabilidade do coordenador da
captura e do médico veterinário responsável pela anestesia do animal a ser
contido. Por outro lado, tanto para animais potencialmente perigosos quanto
para animais com menor capacidade de defesa, devem ser priorizados também
/
a segurança e o bem-estar do animal (Figura 1 ).
A escolha do método de contenção para animais silvestres depende da espé
cie, peso, idade e da situação em que se encontra o indivíduo a ser contido.
92
CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
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PAULO ROGÉRIO MANGINI
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PATRÍCIA AVELLO NICOLA
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CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
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FAULO ROGÉRIO MANGINI
PATRÍCIA AVELLO NICÒLA
Deve-se planejar se o animal vai ser contido por meios físicos ou químicos ou
vai ser induzido a entrar no transporte por meio de corredores de lona ou
outro sistema. A caixa de transporte deve impossibilitar que o indivíduo obser
ve o meio externo, conferindo condições de penumbra. Nessas condições, as
respostas do animal aos agentes estressantes, como sons e odores vindos do
meio externo, ficam atenuadas. Animais muito estressados podem ser tranqui
lizados ou sedados para o transporte. Outro fator importante, que deve ser
ponderado, refere-se às condições ambientais durante o período de transpor
te. Deve-se evitar o transporte de animais nos dias de temperatura muito eleva
da ou extremamente baixa. Deve-se evitar ainda a permanência prolongada
desses animais em locais ensolarados. O transporte por terra deve ser feito
preferencialmente durante a noite, pois, nesse período, as estradas apresen
tam, em geral, menor tráfego e consequentemente menos ruídos.
100
CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
102
CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
Na maioria das vezes, quando animais em vida livre são manipulados, não é
possível que seja realizada uma avaliação prévia das condições de saúde. Em
geral, é possível avaliar superficialmente a condição corporal e a presença de
lesões cutâneas ou deformidades visíveis a certa distância. A dificuldade em
avaliar a condição prévia de saúde do animal é um dos fatores que aumenta o
risco dos procedimentos anestésicos. A integridade do sistema circulatório e
do aparelho respiratório só poderá ser avaliadà após o animal estar imobiliza
do. A manipulação de animais extremamente estressados deve ser evitada. Os
efeitos do estresse agudo sobre o aparelhcy circulatório podem comprometer o
efeito das drogas anestésicas, além de pôr em sério risco sua vida.
1 03
PAULO ROGÉRIO MANGINI
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104
CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
Sistemas de Captura
Métodos genéricos para captura de animais silvestres
*
Caixas e gaiolas .
As caixas, gaiolas e arapucas são amplamente empregadas na captura de gran
de variedade de espécies de aves, répteis e mamíferos. Podem ser confecciona
das em diversos tamanhos, em madeira ou metal. Podem ser armadas duas ou
mais armadilhas em um mesmo ponto, ou posicionadas isoladamente em tran-
sectos. Essas armadilhas podem possuir apenas uma entrada ou portas na
frente e fundo, sendo então denominadas armadilhas de carreiro. Através de
um sistema de gatilho, o animal desarma as portas que se fecham simultanea
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PAULO ROGÉRIO MANGINI
PATRÍCIA AVELLO NICOLA
Currais de captura
Os currais são estruturas excelentes para captura* de ungulados solitários ou
em grupos. A utilização de currais e corredores é empregada com frequência
na captura de grandes e pequenos ungulados africanos, sendo comum também
a utilização dessas estruturas para adaptação de animais ou grupos que foram
translocados. Nas Américas, têm sido empregados principalmeiite na captura
de taiaçuídeos, cervídeos e grandes roedores. Devem ter dimensões compatí
veis com o animal ou grupo a ser capturado, porém não.podem possibilitar
que os indivíduos capturados possam correr demasiadamente no seu interior.
Os currais podem ser erguidos sobre locais de ceva ou posicionados em pon
tos estratégicos para os quais os animais possam ser conduzidos com o auxílio
de helicópteros, de pessoas a pé ou a cavalo. Para currais montados em pontos
de ceva, o sistema de desarme e fechamento mais utilizado é a porta em guilho
tina, acionada por uma corda presa a uma isca ou operada por um observador
oculto. Os sistemas de desarme automático conferem grande eficiência e me-
nores custos ao processo. Entretanto, primatas como o macaco-prego, procio-
nídeos como os quatis e alguns pequenos roedores podem acionar os gatilhos
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PAULO ROGÉRIO MANGINI
PATRÍCIA AVELLO NICOLA
Laço
O laço pode ser empregado para captura de uma grande variedade de espécies,
incluindo aves, répteis e mamíferos. Podem ser camuflados no solo, próximos
a uma isca, laçando o animal pelos membros locomotores, acionados por de
sarme automático. Para captura de aves, o laço pode ser simplesmente fixado
ao .solo, fazendo com que a tentativa de fuga do animal estique a corda, atando
o laço. Laços armados na extremidade de longas hastes de madeira são utiliza
dos na captura de psitacídeos e outras aves, geralmente enquanto essas se'
alimentam. A captura por meio de laços pode ser traumática e requer a associa
ção imediata de outra forma de contenção.
Trincheiras
Asxtrincheiras, armadilhas de queda ou pitfalls constituem-se de buracos fei
tos no solo. Devem ser dimensionadas conforme a espécie ou grupo taxonômi-
co que se pretende capturar, sejam mamíferos terrestres, répteis ou anfíbios.
Para captura de animais de pequeno porte, essas trincheiras geralmente são
revestidas internamente com baldes plásticos e dispostas próximas umas às 1
outras. Adicionalmente são utilizados, em conjunto com as trincheiras, corre
dores de lona plástica que direcionam os animais para o interior dos buracos.
108
CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
Figura 4. Processo de camuflagem da uma trincheira para captura de antas. A trincheira deve
ser instalada em um carreiro utilizado pelo animal que se pretende capturar. A cobertura da
trincheira é realizada com telhas de amianto que proporcionam resistência, sustentando a
camuflagem. No momento em que o animal pisa sobre as telhas essas se quebram com
facilidade e não produzem ferimentos ao animal capturado. (Fotos de E. Patrícia Médici)
Espreita ou perseguição
Em algumas ocasiões, a captura de médios e grandes mamíferos pode ser feita
por meio de espera ou perseguição. Em algumas espécies é possível capturar o
indivíduo, diretamente no ponto de ceva, com o auxílio de dardos contendo
anestésicos. Todavia, tal técnica pode tornar-se dispendiosa, por estar sujeita
a muitos erros ou por demandar muito tempo de espera até que o animal
desejado venha ao local de captura e esteja em posição para receber um dardo
anestésico. Para diminuir o risco de erro na trajetória dos dardos, o ponto de
espera não deve estar além de dez metros da ceva. Dardos disparados por
sistemas de armas de fogo são contraindicados, pois o estampido invariavel-
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PAULO ROGÉRIO MANGINI
PATRÍCIA AVELLO NICOLA
110
CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
para a fuga do animal até um ponto onde não possa ser encontrado. Ainda,
é possível que durante a fuga 0 indivíduo possa ferir-se ou morrer, devido
aos efeitos da anestesia. Entretanto, a possibilidade de recaptura,, a necessi
dade de poucos assistentes de campo e a fácil implementação logística são
pontos positivos do método. Esse sistema de captura tem sido utilizado com
sucesso para diversas espécies de ungulados neotropicais, incluindo Tayas-
suidae e Tapiridae.
111
PAULO ROGÉRIO MANGINI
PATRÍCIA AVELLO NICOLA
Répteis
As informações sobre história natural e ecologia de répteis são ainda escassas
ou inexistentes, para algumas espécies nativas. A captura de répteis em flores
tas neotropicais é dificultada pelo tipo de vegetação e solo, com grande camada
de material vegetal vivo e em decomposição. Em geral, a baixa densidade de
indivíduos também prejudica o sucesso de captura. O encontro de répteis,
principalmente serpentes, é na grande maioria das vezes ocasional, ocorrendo
durante outras atividades de campo. É importante o reconhecimento prelimi
nar da área de estudo, bem como o conhecimento de alguns hábitos da espécie
que se pretende encontrar.
Serpentes e lagartos
A captura de serpentes é baseada na procura visual. O pesquisador deve des
locar-se pela área de interesse à procura dos indivíduos. O esforço de procura
deve se estender ao micro-hábitat, investigando tocas ou sob troncos e pedras
em áreas abertas. A identificação de locais frequentados por possíveis presas
pode auxiliar a procura. Os materiais mais usados na captura de serpentes são
o laço e o gancho. Algumas espécies de lagartos podem ser capturadas com
uso de iscas, com o auxílio de laços de desarme automático ou por uso de
armadilhas tipo caixa ou jaula.
Quelônios
A captura de jabutis pode seguir o mesmo padrão de procura utilizado para
serpentes, pois a baixa velocidade de deslocamento dos quelônios terrestres
beneficia a captura manual dos indivíduos. Nesse grupo, a captura com cerca
dos e isca pode ser utilizada, porém, em situações de baixa densidade, pode
ser de pouco sucesso. Para quelônios aquáticos, como cágados, o uso de iscas
em armadilhas posicionadas a beira dos cursos d’água e lagoas representa uma
boa opção. O posicionamento das armadilhas deve ser criterioso, preferivel
mente em locais sombreados. A revisão das armadilhas deve ocorrer mais de
uma vez ao dia, evitando-se que o animal capturado permaneça por longos
112
CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
Captura de Aves
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis
(Ibama) editou uma edição revisada e ampliada do Manual de Anilhamento de
Aves Silvestres (Ibama 1994). O manual apresenta várias técnicas de captura e
características comuns ao trabalho de campo com aves. O método mais utiliza
do para captura de aves é por meio de redes de neblina. Essas podem ser
posicionadas em transectos, distribuídas em áreas abertas ou no interior da
floresta, mas o método é considerado não seletivo. As redes são erguidas com
o auxílio de varas e devem permanecer abertas durante aproximadamente qua
tro horas. Os horários de maior número de impactos, de grande variedade de
espécies, é das 6:00 h às 10:00 e das 16:00 h às 19:00 h. A revisão das redes
deve ser intensificada nesses horários, pois pequenas aves podem sofrer esgo
tamento físico ou traumas decorrentes do esforço de fuga, após estarem presas
à malha da rede.
Técnicas tradicionais, como o uso de laços e visgo, usadas por populações nati
vas e apanhadores de aves, podem ser cogitadas como formas alternativas de
captura para fins científicos, porém requerem extrema cautela, pois, em geral,
podem ser excessivamente traumáticas. O laço é tradicionalmente utilizado na
captura de psitacídeos adultos, ao passo que filhotes em geral são apanhados no
ninho. Nas regiões litorâneas, é comum que os caiçaras utilizem substâncias vis
cosas e aderentes nos galhos das árvores, em locais de dormitório ou alimentação,
fazendo com que as aves fiquem presas, capturando-as em seguida. A utilização
dessa técnica é contraindicada por causar danos severos à plumagem das aves
capturadas, muitas vezes prejudicando a capacidade de voo dos animais.
Captura de Mamíferos
A escolha do método e o sucesso na captura dos mamíferos dependem do
conhecimento do pesquisador sobre as diferentes dietas e comportamentos
alimentares, distribuição espacial, área de uso, período de atividade e outros
fatores individuais ou populacionais, comuns a cada grupo de mamíferos.
Algumas características devem ser consideradas, como a distribuição espacial,
horizontal e vertical dà espécie. A distribuição horizontal pode ser analisada
em diversas escalas, desde o micro-hábitat até macrorregiões geográficas. A
distribuição vertical refe*re-se à utilização de diferentes estratos de vegetação.
113
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PATRÍCIA AVELLO NICOLA
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CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
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PATRICIA AVELLO NICOLA
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CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
Sistemas de m arcação
Em estudos que envolvem fauna silvestre, muitas vezes é necessário que os
indivíduos componentes das populações estudadas, sejam marcados. Tanto
os propósitos do estudo, quanto à espécie em questão, determinam as formas
de marcação e o tipo de marcas utilizadas. O ideal é que seja possível cumprir
todos os propósitos do estudo com apenas um tipo de marcação em cada
indivíduo e que as marcas não representem incômodo para o animal que as
utiliza. O material utilizado deve ser inerte e de fácil aplicação. A utilização de
marcas, como brincos e colares, grandes e de cores fortes, facilita a observação
dos indivíduos. Porém, podem influenciar nas estratégias reprodutivas ou,
ainda, alertar predadores ou suas presas, o que levaria à obtenção de dados
alterados sobre algumas relações inter e intraespecíficas. Loomis (1993) ressal
ta, ainda, que a identificação do animal deve ser capaz de individualizá-lo dos
demais e não deve causar estresse ou dor ou, ainda, alterar sua sobrevivência ou
comportamento. Adicionalmente' é interessante que a marca utilizada seja facil
mente identificada a distância. Muitas vezes todos esses requisitos não podem
ser cumpridos e dois ou mais tipos de marcas precisam ser aplicados. As mar
cas podem ser diferenciadas em permanentes ou de longa e curta durabilidade.
Marcas permanentes
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PAULO ROGÉRIO MANGINI
PATRÍCIA AVELLO NICOLA
Tatuagem
Método tradicional na marcação de animais, a tatuagem depende de equipamen-
tb especializado. Em geral, é necessário anestesiar o animal. O método é doloro
so e necessita de depilação. Ademais, assim como o uso de transponders, é
necessário conter o indivíduo em estudo pará verificar o seu registro. E muito
utilizado em zoológicos, assim com o método anterior.
118
CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
Marcas dérmicas
Consistem em marcas feitas na derme dos animais. Essas marcas podem ser
realizadas com substâncias de pH ácido ou básico, metal quente e por congela
mento da pele e folículos pilosos. Tais técnicas causam cicatrizes que alteram
o padrão de crescimento dos pelos, evitando seu crescimento ou mudando
sua coloração. Como característica comum, todas são dolorosas e requerem
anestesia para aplicação.
Picotes
São pequenos cortes realizados, em geral, no pavilhão auditivo de mamíferos,
escamas marginais da carapaça de quelônios, cauda dos crocodilianos e esca
mas ventrais de serpentes. Em geral, quando aplicadas em indivíduos jovens,
podem desaparecer ou apresentar deformações com o crescimento do animal.
As marcas no pavilhão auditivo, geralmente, são utilizadas em ungulados e
roedores de médio e grande porte. Esses picotes podem compor um sistema
com formatos diferentes em regiões distintas do pavilhão auditivo, sendo atri
buídos a cada combinação, valores numéricos diferenciados. O modelo de
códigos pode ser copiado do sistema denominado M ossa A ustraliana, utiliza
do em suínos domésticos (Figura 6). Para a realização das marcas, não são
119
PAULO ROGÉRIO MANGINI
PATRÍCIA AVELLO NICOLA
Mutilações
Quando o sistema de marcação não necessita de muitos números ou sequências
elaboradas, é possível marcar indivíduos por cortes das falanges ou extremi
dade da cauda dos animais em estudo. Geralmente esse método só se aplica a
pequenos mamíferos, anfíbios e répteis, e requer anestesia. Como desvanta
gens, as lesões causadas possibilitam infecção bacteriana e podem causar incô
modo aos animais. Alguns anfíbios podem apresentar regeneração dos dígitos
amputados, o que pode resultar em erros no sistema de numeração. Adicio
nalmente, mesmo em condições naturais, muitos dos animais em que é possí
vel aplicar essa método, podem apresentar lesões como a perda de dígitos,
geralmente ocasionadas por traumas.
Resenha
Algumas espécies de mamíferos possuem, na coloração natural,/ padrões que
nunca se repetem em indivíduos diferentes. O mesmo acontece com algumas
espécies de quelônios. A anotação de tais marcas, por desenhos e fotografias,
é uma forma de identificação simples e econômica (Figura 7). Muitas vezes não
requer captura ou anestesia dos animais em estudo. Tal método pode ser em
pregado em grande variedade de espécies de répteis, além de mamíferos, como
felinos de pequeno e grande porte. Em levantamentos fotográficos também é
possível identificar diferentes indivíduos, mesmo nas espécies que não apre
sentam padrões de cores, através da identificação de cicatrizes, comuns em
animais em vida livre.
120
CAPTURA E MARCAÇÃO DE ANIMAIS SILVESTRES
121
PAULO ROGÉRIO MANGINI
PATRÍCIA AVELLO NICOLA
Radiotransmissores
Diversos modelos de radiotransmissores podem ser fixados nos animais por
meio de colares que, por si, representam uma forma de marcação (Figura 8-B).
Adicionalmente, cada transmissor possui uma frequência específica, identifi
cando o animal em estudo. Em serpentes, os radiotransmissores são implanta
dos por meio de cirurgia, na cavidade celomáticà, não demonstrando marcas
identificáveis externamente.
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123
ANDRÉ VICTOR LUCCI FREITAS
RONALDO BASTOS FRANCINI
KEITH S. BROWN JR
Lepidópteros
Borboletas compreendem representantes de 5 famílias de Lepidoptera diurnos
(Papilionidae, Pieridae, Nymphalidae, Lycaenidae e Hesperiidae) que prova
velmente formam um grupo natural dentro dos lepidópteros (veja Scoble 1986).
Existem algumas espécies crepusculares, voando nas primeiras horas da ma
nhã ou no final da tarde, mas a maioria é ativa no meio do dia. Mariposas
grandes e melhores conhecidas (Famílias Castniidae, Arctidae, Sphingidae,
Saturnidae e algumas Noctuidae e Geometridae) são principalmente noturnas
(exceto Castniidae e muitos Arctidae) e são mais eficientemente observadas
quando atraídas pela luz. A sistem ática dos grupos citados é relativam en
te bem conhecida, com algumas lacunas de conhecim ento em Lycaenidae,
Hesperiidae, Noctuidae e Geometridae. Pelo fato de serem grandes, coloridas
(muitas diurnas) e de fácil visualização, os grupos têm sido considerados as
melhores “bandeiras” para conservação e indicadores para monitoramento
ambiental, inclusive por leigos e membros de populações tradicionais, com
as necessárias reservas (Brown 1991, 1996a, 1996b, 1997a,- 1997b; Brown e
Freitas 1999; Kremen 1992; New.ef al. 1995; New 1997),
126
INSETOS COMO INDICADORES AMBIENTAIS
Figura 1: A) Coletas com uso de puçás (Teodoro Sampaio, SP), B) Borboletas no prato com isca
de banana fermentada (Reserva Extrativista do Alto Juruá - REAJ, Marechal Thaumaturgo, AC),
C) Visão geral de uma armadilha de borboletas (note-se a grande quantidade de borboletas na
parte superior da armadilha) (Morro do Diabo, Teodoro Sampaio, SP), D) Vistoria de uma
armadilha de borboletas (REAJ, Marechal Thaumaturgo, AC), E) Borboletas em fezes de onça
(Serra dos Carajás, PA), F,G) Borboletas em iscas de Heliotropium indicum (REAJ, Marechal
Thaumaturgo, AC), H) Grupo de borboletas na areia do Rio (Rio Itacaiunas, Serra dos Carajás,
PA), I) Borboletas em flor de Asteraceae (São Bernardo do Campo, SP).
128
INSETOS COMO INDICADORES AMBIENTAIS
12 9
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RONALDO BASTOS FRANCINI
KEITH S. BROWN JR
130
( * 1
INSETOS COMO INDICADORES AMBIENTAIS
ditores da comunidade total deve ser visto com cautela em estudos de comuni
dades de borboletas.
Formigas
As formigas são insetos sociais da fam ília Formicidae (Hymenoptera). No
Brasil são encontradas representantes de 8 subfam ílias (Cerapachyinae,
D olichod erinae, E citon in ae, Form icinae, L ep tan illoid in ae, M yrm icinae,
Ponexinae e Pseudomyrmecinae). Muitas formigas apresentam hábitos oportu
nistas e dieta generalista e a maioria das espécies apresenta distribuições res
tritas (Brandão 1999). Formigas ocorrem em todos os ambientes terrestres, des
de o Equador até latitudes de cerca de 50°, e desde o nível do mar até altitudes
de cerca de 3 mil metros, e são importantes por manterem relações ecológicas
com muitos organismos. Muitas espécies criam homópteros, outras predam
artrópodes, outras dispersam sementes, alguns Attini criam fungos e, em ge
ral, formigas são os primeiros animais invertebrados a visitar outros animais
mortos no solo (Hõlldobler & Wilson 1990).
131
ANDRÉ VICTQR LUCCI FREITAS
RONALDO BASTOS FRANCINI
KEITH S. BROWN JR
132
INSETOS COMO INDICADORES AMBIENTAIS
in prep.). Antes da escolha do transecto, uma inspeção na área deverá ser feita
para verificar qual o lugar mais adequado. Para facilitar o trabalho, uma linha
marcada a cada dez metros, presa ao solo por espeques, deverá ser usada como
referencial. É importante que a vegetação do local seja pisoteada o mínimo
possível, pois isso irá interferir na qualidade dos dados obtidos. Ao longo da’
linha, as seguintes técnicas de coleta pontual devem ser aplicadas nos pontos
previamente marcados:
1 - Metro quadrado de folhiço peneirado, para ser extraído no “Extrator de
Winkler” [em cada ponto alternado = 10 amostras]
4 - Iscas de solo e vegetação, usando sardinha e/ou carboidrato [em cada ponto
= 20 amostras]
Adicionalmente, após as coletas padronizadas, devem ser feitos o desmonte
de pelo menos um tronco podre, além de coleta por procura ativa (aleatoria
mente e/ou usando rede de bateção) por uma hora durante o dia e uma hora à
noite. Por razões comparativas, o metro quadrado de folhiço e as armadilhas
de atração devem ser padronizados, considerando que as outras técnicas serão
incluídas para acrescentar um número adicional de espécies.
133
ANDRÉ VICTOR LUCCI FREITAS
RONALDO BASTOS FRANCINI
KEITH S. BROWN JR
Para evitar uma grande evasão dos organismos do folhiço, a coleta da massa de
folhas do quadrado amostrai deve ser feita das partes externas para o centro e
colocada no saco-peneirador o mais rápido possível (Fig. 2c, d). Por razões de
conveniência e para não interferir muito qom o material peneirado, o saco-
peneirador (“Siftei■”) deve ser longo (120 cm), de forma que o material coletado
fique apoiado no solo, enquanto o resto do material está sendo peneirado. Um
bom peneirador pode ser feito com um balde plástico (aprox. 40 cm de diâme
tro) com o fundo cortado (Fig. 3). O fundo deve ter uma rede de fios de náilon
monofilamento grosso espaçados em 20 mm (inseridos em orifícios feitos com
prego aquecido), e um saco de pano deve ser preso externamente ao fundo do
balde (a conexão com o balde deverá ser de tecido forte, como lonita, e o final,
de tecido fino, como tela de náilon). O saco de pano deve ter uma extremidade
afilada de uns 20 cm de diâmetro, de forma a concentrar o material peneirado,
e possibilitando o fechamento com um nó, impedindo que o saco seja inadver
tidamente aberto durante o processo de peneiragem.
A peneiragem deve ser efetuada perto do lugar de onde o material está sendo
coletado, minimizando assim o escape de muitas das formigas que simples
mente caem. O peneirador deve ser agitado logo que estiver cheio até a metade.
Não há nenhuma maneira padrão de agitar o peneirador, mas ela deve ser feita
com movimentos laterais e verticais. Observe o conteúdo e certifique-se de que
todo o material tenha sido girado ao redor diversas vezes. Em condições secas,
a peneiragem não deve ser prolongada, pois a maioria das formigas cai para o
saco quase imediatamente, e a agitação prolongada adiciona mais restos que
podem dificultar a extração. Em circunstâncias úmidas, a peneiragem deve ser
mais prolongada, pois muitas formigas que aderem às folhas molhadas demo
ram mais, a cair, no entanto, o folhiço não deve ser coletado se estiver muito
molhado, com gotas de água visíveis.
1 34
INSETOS COMO INDICADORES AMBIENTAIS
Figura 2.A. Sequência de coleta de folhiço para separação nos extratores de Winkler; A,
B. Demarcação do metro quadrado; C, D. Junção do folhiço no centro da área demarca
da (com auxílio de luvas); E, F. Colocação do folhiço no peneirador; G. raspagem da
superfície; H. saco de pano que recebe o folhiço peneirado.
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iE_ f.-):.:::
B ald e V 7
Plástico jfjpK
L------------
r 1
. Tela de nylon
* J» P de 10 mm
. Tubo de
r lonlta
'
Saco de
k p a n o p ara
' a amostra
peneirada
Com a rotulagem prévia dos sacos (de acordo com o número de amostras a ser
coletadas) os problemas resultantes da rotulagem no campo são minimizados.
136
INSETOS COMO INDÍCADORES AMBIENTAIS
Coleta de solo
As amostras de solo deverão ser coletadas no mesmo quadrado onde o folhiço
foi coletado, em uma área de 10 x 10 cm no canto esquerdo inferior (este
método é recomendado para coleta de formigas de solo que forrageiam no fo-
lhiço). Para isso, cinco camadas de solo de 2 cm de profundidade devem ser
retiradas até uma profundidade de'10 cm. Cada camada deve ser colocada
num saco individual e todós os 5 sacos de solo deverão ser colocados em um
único saco.
137
ANDRÉ VICTOR LUCCI ÍREITAS
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KEITH S. BROWN JR
138
)
INSETOS COMO INDICADORES AMBIENTAIS
ras onde as formigas fazem seus ninhos) ou pela presença conspícua de formi
gas em suas partes vegetativas (Janzen 1966, 1967, 1969; Bentley 1977; Benson
1985; Davidson et al. 1989; Fonseca 1991, 1996, 1999). Para cada espécie de
mirmecófita reconhecida, as formigas envolvidas na relação serão coletadas e
colocadas em frascos individualizados por planta. Os exemplares de cada ni
nho devem ser mantidos em frascos separados, mas animais ávulsos podem
todos ser postos em um único frasco.
0
139
ANDRÉ VICTOR LUCCI FREITAS
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KEITH S. BROWN JR
externa pode ser feita com duas armações quadradas ou retangulares (do tipo
moldura de madeira) distantes cerca de 50 cm (a profundidade do corpo do
W inkler). As dimensões da caixa externa podem variar (por exemplo, 2 5 x 25
cm ou 28 x 23 cm), mas de maneira geral quanto maior o extrator menos tempo
será necessário para o processo de extração. Por outrdlado, extratores maiores
demandam mais material, pesam mais e ocupam mais espaço, qualidades que
podem ser proibitivas em viagens longas. O corpo do extrator consistirá num
saco cilíndrico feito de pano fino com 100 cm de comprimento com as duas
bocas de 100 cm de diâmetro abertas e com uma largura que seja compatível
com o perímetro da armação de madeira escolhida (100 cm no caso de uma
armação quadrada de 25 cm de lado). Na montagem, o saco envolvendo a
armação é preso com “tachinhas” em vários pontos das armações, de forma
que o conjunto fique rígido. Na armação superior existirão pregos que servirão
de suporte para um saco interno de pano, que conterá a amostra. O saco inter
no com a amostra a ser extraída é dependurado no meio e deve ter uns 2 cm a
menos que o saco externo, de forma a não tocar suas paredes. Esse saco deverá
ser feito do mesmo material do corpo do extrator e deverá ter uma rede com
malha de 1 cm que permita a passagem das formigas maiores. O folhiço deve
ser colocado aos poucos dentro do saco interno e sobre o próprio saco da
amostra de campo (de forma que, se algum animal escapar, irá voltar ao saco
original) ou sobre uma bandeja branca ou um quadrado de plástico branco
(cerda de lm x lm ).
Mantenha os sacos de amostras prontos e os frascos com álcool, rotulados,
além de pinças e pincéis à mão para a coleta das formigas em fuga. O material
a ser extraído deve ser acomodado de forma a evitar a formação de espaços
140
INSETOS COMO INÒICADORES AMBIENTAIS
Triagem do material
Em todos os métodos descritos, a triagem preliminar do material pode ser feita
mesmo sem lupas, na volta do campo para a base. Todos os frascos ou amos
tras devem ser abertos individualmente'e todo seu conteúdo colocado numa
placa de Petrí. Antes da triagem inicial, o material deve ser lavado em acetona
(para retirada da gordura no caso de iscas de sardinha) e só depois feita a
separação das morfoespécies de formigas. A triagem inicial exige a separação
das formigas dos outros organismos. Todo material coletado deve ser colocado
em um frasco rotulado com o mesmo número da amostra de campo.
141
'ANDRÉ VICTOR LUCCI FREITAS
RONALDO BASTOS FRANCINI
KEITH S. BROWN JR
Identificação
É preciso algum treino básico para fazer a separação das formigas nas amos
tras, o que deverá ser feito em laboratório, com auxílio de microscópio( ou
lupa. É possível usar cor, tamanho e algumas características morfológicas bási
cas para separar a maioria dos táxons, e com a prática algumas espécies maio
res podem ser reconhecidas de imediato nas amostras. O primeiro passo é
sepárar as formigas em subfamílias sendo aconselhável, porém, aprender o
mais cedo possível a separar as amostras em gêneros. Com um pouco mais de
treino, cada um dos gêneros poderá ser dividido em morfoespécies. É reco
mendável a montagem de pelo menos três exemplares de cada espécie, ou até
mais em casos duvidosos. Ao término do processo de triagem, todas as formi
gas não montadas da amostra devem ser reunidas de volta no frasco original.
Das séries de ninhos, uma série com fêmeas, operárias e eventuais machos
disponíveis deverá também ser montada.
142
INSETCJS COMO INDICADORES AMBIENTAIS
143
ANDRÉ VICTOR LUCCI FREITAS
RONALDO BASTOS FRANCINI
KEITH S. BROWN JR
índices de diversidade
Usar um índice de diversidade é algo- simples e objetivo, permitindo uma
rápida comparação das comunidades e/ou taxocenoses de diferentes áreas.
Ainda que esses índices não permitam a avaliação da semelhança entre as dis
tintas áreas (embora usados em algumas análises de similaridade, ver na próxi
ma seção), são bons indicadores de semelhança de estrutura comunitária.
ín d ic e s d e d iv e r s id a d e a lfa
Um índice de diversidade alfa é um número que dá, de forma muito sintética,
uma indicação da riqueza e da frequência de cada espécie numa comunidade.
A escolha do índice depende dos objetivos do trabalho, da bagagem de conhe
cimento teórico do pesquisador e dos recursos computacionais disponíveis
(veja também Peet 1974 e revisão de Magurran 1988).
144
INSETOS COMO INDICADORES AMBIENTAIS
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151
fi Métodos para estudos com aves
Pedro Ferreira Develey
Departamento de Ecologia Geral
Instituto de Biologia, USP
I • ___ k____________
Introdução
Quando qualquer pessoa interessada em aves, profissional ou amador, visita
pela primeira vez uma determinada área, seja para planejar um futuro estudo
ou simplesmente como atividade de lazer, a primeira pergunta que lhe vem à
mente é: quais são as espécies de aves que existem aqui? Ou: determinada
espécie é comum na área? Essas questões refletem o interesse e a importância
da obtenção de dados relacionados à composição e abundância das aves. Em
termos de conservação,- é fundamental o conhecimento do tamanho popula-.
cional das espécies, sendo este um dos principais critérios usados pela IUCN
(International Union Conservation of Nature) para a definição da lista global
de espécies ameaçadas (Bibby et al. 1998). No entanto, apesar da sua impor
tância, informações sobre o tamanho populacional da maioria das espécies
neotropicais ainda são escassas.
Por ser um dos grupos mais conhecidos e diversos entre os vertebrados, com
mais de 9.000 espécies no mundo, além do fato da maioria das espécies possuir
hábitos diurnos e vocalizar com frequência, as aves são, relativamente, um
grupo de fácil detecção em campo. No entanto, uma série de fatores dificulta a
obtenção de dados que refletem a situação real das aves na área estudada.
Fatores físicos como condições atmosféricas, que alteram a atividade das aves
e o grau de detectabilidade das espécies, devem ser considerados durante a
realização de censos. A eficiência-de um método também pode variar de acordo
com a biologia das espécies e o tipo de ambiente onde elas se encontram.
A melhor maneira de garantir que um projeto de pesquisa com aves (ou com
qualquer outro grupo) seja bem-sucedido é a realização de um bom planeja
mento antes de se iniciar o trabalho, através dos seguintes passos: 1 ) Determi
nar claramente qual o objetivo do estudo e quais sãcras questões a ser respon
didas; 2 ) Selecionar o método mais indicado para responder às questões pro
postas; 3) Verificar os tipos de dados que serão obtidos e como esses dados
PEDRO FERREIRA DEVELEY
Levantamentos
Levantamentos qualitativos
Em um levantamento qualitativo, o objetivo é conhecer a riqueza (número de
espécies) da comunidade de aves na área de estudo. Esses levantamentos são
muito utilizados na elaboração de diagnósticos ambientais em um período li
mitado de tempo. O Programa de Levantamentos Rápidos (Rapid Assessment
Program - RAP), concebido por Ted Parker, é um dos melhores exemplos da
importância e utilização de levantamentos qualitativos para a caracterização de
uma área com base na sua biodiversidade (Parker & Carr 1992). Por meio de
uma equipe altamente qualificada (premissa básica para um levantamento bem-
sucedido), o Programa de Levantamentos Rápidos identifica e prioriza áreas
que devem ser conservadas, precedendo trabalhos de levantamentos de maior
duração.
Se o tempo disponível para o levantamento for limitado, é importante escolher
a época mais favorável. Durante a temporada reprodutiva, as aves estão muito
mais ativas, vocalizando com maior frequência, tornando muito mais eficiente a
localização e identificação das espécies. A utilização de gravações e “p lay backs”
é um recurso fundamental para identificação de aves raras, pouco conspícuas
ou seguidoras de bandos mistos de dossel (Parker 1991). Outra vantagem de se
gravar o canto das espécies registradas é a possibilidade da identificação pos
terior por meio da consulta a arquivos sonoros. No Brasil, as melhores “bi
bliotecas” de vozes de aves neotropicais são o Arquivo Sonoro Neotropical, na
Universidade Estadual de Campinas e o Arquivo Sonoro Elias Pacheco Coelho
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O método das gravações também
pode ser usado para se determinar o território de uma espécie (Falis 1981) ou
para se testar, por exemplo, a capacidade que uma determinada espécie típica de
interior de mata tem de atravessar áreas abertas (Sieving et al. 1996).
154
MÉTODOS PARA ESTUDOS COM AVES
Levantamentos quantitativos
Em um levantamento quantitativo o pesquisador não está interessado apenas
no número de espécies presentes na área, mas também no tamanho popula
cional das espécies. Os principais métodos usados para censos de aves são:
pontos fixos ou amostragem por pontos, transecto, redes de neblina e “spot
mapping”. Cada um desses métodos apresenta vantagens e desvantagens,
sendo que a escolha de qual será utilizado vai depender, basicam ente, da
questão proposta no estudo. No momento da seleção do método de censo,
deve-se se ter em mente p fato de que não existe uma metodologia perfeita,
sendo que algumas espécies ou grupos certamente serão sub ou superamos-
trados. Por essa razão, quando se consideram estudos enfocando toda a
155
PEDRO FERREIRA DEVELEY
Pontos fixos
No método do ponto fixo o observador permanece parado por um tempo pre
determinado, anotando todas as aves registradas por observação ou vocaliza
ção. Por ser um método menos seletivo, é indicado para estudos envolvendo
toda a comunidade. Uma vez que o observador fica imóvel e em silêncio, a
identificação de espécies pouco conspícuas ou ariscas é mais fácil. Para flores
tas tropicais, onde a maior parte dos registros é auditiva, o método do ponto
fixo também é mais indicado. De acordo com Bibby et al. (1993), algumas
premissas devem ser consideradas quando se utiliza o método: 1 ) a presença
do observador não altera o comportamento das aves, 2 ) o observador é capaz
de detectar e identifiqar, com a mesma eficiência, todas as espécies presentes
na área, 3) as estimativas de distâncias entre o observador e a ave identificada
estão corretas, 4) as aves não se movimentam muito durante o período de
amostragem, 5) o comportamento de uma espécie ou indivíduo não influencia
o comportamento de outro. Todas estas premissas são importantes, porém, a
experiência do pesquisador na identificação das espécies é, sem dúvida, fun
damental para que o método possa ser aplicado.
156
MÉTODOS PARA ESTUDOS COM AVES
157
PEDRO FERREIRA DEVELEY
Transectos
O método de transecto é basicam ente sim ilar ao ponto fixo, no entanto, o
observador anota os registros visuais ou auditivos enquanto caminha ao longo
de uma trilha (ver capítulo 7 de Cullen & Rudran neste volume). Enquanto o
observador está caminhando, há uma preocupação com o deslocamento, pre
judicando a detecção das aves. Além disso, o barulho durante o deslocamento
prejudica o registro auditivo das espécies. Uma vez que este é um método basi
camente visual, é mais indicado para áreas abertas. Amostragens pòr transectos
são adequadas no caso de espécies de fácil detecção (conspícuas ou de grande
porte), caso de cracídeos como jacus (P en elop e spp.) e mutuns (Crax spp.).
Nesses casos, os transectos também são adequados para ambientes florestais.
158
MÉTODOS PARA ESTUDOS COM AVES
cando em conjunto, sendo necessário, neste caso, um maior tempo para iden
tificação correta de todas elas.
Redes de neblina
O uso de redes de neblina é sem dúvida a melhor maneira de se capturar aves.
Dependendo das espécies de interesse, também se pode utilizá-la para recen
sear populações. A maior limitação do uso de redes está no fato de ser um
método bastante seletivo, uma vez que são armadas no sub-bosque. Aves de
grande porte, de dossel e que andam no chão da mata são geralmente subesti
madas. Alguns trabalhos armaram redeS no dossel da floresta (vide Munn &
Loiselle 1995), porém essa é uma técnica extremamente trabalhosa, sendo que
os resultados obtidos acabam não compensando os custos.
159
PEDRO FERREIRA DEVELEY
160
MÉTODOS PARA ESTUDOS COM AVES
capturas. De acordo com esses autores, as espécies estimadas como mais abun
dantes são, na verdade, espécies mais propensas a ser capturadas. Aves não
territoriais que apresentam alta mobilidade, se deslocando com muita frequên
cia (beija-flores, piprídeos, seguidores de formiga de correição e tiranídeos frugí-
vòros com comportamento de “lek”) estão entre as espécies mais abundantes
nas estimativas bâseadas em redes de neblina, o que demonstra a tendência
presente no resultado da utilização desse método (Remsen & Good 1996).
“S po t-M a p pin g”
Este método se baseia no comportamento territorial das espécies, principal
mente no período reprodutivo. Através do mapeamento das localizações dos
indivíduos na área de estudo, é possível determinar o tamanho e número de
territórios das espécies e estimar sua densidade. Este método não pode ser
aplicado no caso de espécies não territoriais ou com territórios muito grandes.
É fundamental que se tenha um mapa detalhado da área de estudo, com um
bom sistema de trilhas. O método exige trabalho de campo intenso, já que é
preciso um acúmulo de registros de um mesmo indivíduo para que se possa
determinar seu território. Problemas na interpretação dos mapas estão relacio
nados em reconhecer se um determinado registro pertence a um mesmo indi
víduo ou não. A marcação com anilhas coloridas ou radiotelemetria resolve
esse problema. Duas boas referências são Terborgh et al. (1990) e Thiollay
(1994), que recensearam várias espécies amazônicas através de “spot-m ap p in g ”
no Peru e na Guiana Francesa, respectivamente. Os dois trabalhos delimitaram
e mapearam detalhadamente uma área de estudo com cerca de 100 há, encon
trando 245 espécies (Peru) e 248 (Guiana) residentes nessa área, sendo que
aproximadamente 60% dessas espécies apresentavam territórios fixos e pude
ram ser recenseadas através do “spot-m apping".
161
PEDRO FERREIRA DEVELEY
Comportamento e ecologia
A partir dos resultados gerados por levantamentos quantitativos ou qualitati
vos, questões específicas a respeito da estrutura da comunidade e biologia das
espécies que ocorrem na área podem ser respondidas. Estudos enfocando a
dieta, o comportamento alimentar e a preferência de hábitat são exemplos de
questões simples, mas de grande importância no estudo da ecologia das aves.
Projetos que envolvem a estrutura da vegetação ou a quantificação de recursos
alimentares são bastante trabalhosos e obrigam o pesquisador a utilizar méto
dos em botânica, ecologia vegetal ou entomologia. Porém, apesar dessas difi
culdades, trabalhos envolvendo recursos alimentares ou estrutura da vegeta
ção com o comportamento e distribuição das aves são fundamentais para se
propor planos de manejo e medidas práticas de conservação.
Comportamento de forrageio
Durante um levantamento de aves, enquanto o pesquisador observa as espécies,
certamente também observa diferentes comportamentos, inclusive de forra
geio. O registro desses comportamentos pode enriquecer o trabalho, ajudando
a explicar o padrão de distribuição e abundância das espécies. No entanto,
uma vez que se decida coletar dados de forrageio durante um levantamento,
deve-se ter claro como e por que essas informações irão contribuir na hora da
análise. O importante é que se evite simplesmente seguir uma ave anotando
seu comportamento, sem uma metodologia e objetivo pré-estabelecidos.
162
MÉTODOS PARA ESTUDOS COM AVES
tratos de forrageio, locais onde a ave investiu para obter o alim ento, são:
agregados de folhas secas suspensas na vegetação, folhas verdes, bromélias,
troncos, lianas e ar.
Uma questão que deve ser pensada, antes de se iniciar o projeto, é qual o nível
de refinamento desejado na coleta de dados. Em estudos de ecomorfologia,
anotações detalhadas do comportamento e do substrato são importantes, já
que uma determinada característica morfológica, por exemplo, o bico de uma
espécie, pode estar diretamente relacionada com o tipo de manobra e substrato
de forrageio (Remsen & Robinson 1990). Já no caso de estudos de comunida
de, um refinamento muito grande acaba impossibilitando que espécies sejam
agrupadas, definindo guildas, por exemplo.
163
PEDRO FERREIRA DEVELEY
Com relação aos frutos, existem diferentes métodos para amostragem no dos
sel e no sub-bosque. Frutos de sub-bpsque são de fácil observação e coleta, em
comparação com os de dossel. Portanto, no caso do sub-bosque podem ser
realizadas contagens diretas do número de frutos produzidos por cada planta.
Para o dossel, uma contagem direta com precisão é praticamente impossível, e
a amostragem depende de estimativas. O acompanhamento fenológico no sub-
bosque pode ser realizado através de transectos aleatórios na área de estudo
(Gentry & Emmons 1987) ou, no caso de trabalhos que utilizem redes de nebli
na para amostragem das aves frugívoras, podem ser realizados transectos loca
lizados ao longo de cada linha de rede (Levey 1988, Loiselle & Blake 1991).
Censos de frutos de dossel podem ser realizados por meio de três metodolo
gias básicas: armadilhas de frutos (Terborgh 1983), acompanhamento fenológi
co de árvores marcadas (Sun & Moermond 1997) e transectos (Develey & Peres
1999). O método de armadilha de frutos estima sua disponibilidade de manei-
I
ra indireta com base na biomassa dos frutos caídos (kg/ha) nas armadilhas. O
método apresenta algumas limitações como o grande consumo de tempo para a
construção, manutenção e monitoramento das armadilhas, o que acaba fazen
do com que apenas uma pequena porção do hábitat seja amostrada. Outro
problema está relacionado ao fato de que as armadilhas medem a queda de
frutos e não a produção de frutos, assim, os frutos mais consumidos pelos
frugívoros acabam sendo menos representados nas armadilhas do que aqueles
menos consumidos.
164
MÉTODOS PARAESTUDOS COM AVES
165
PEDRO FERREIRA DEVELEY
Conclusão
A definição da metodologia é uma das etapas mais importantes na realização
de um projeto e também uma das mais complicadas. É sempre importante que
se conheça claramente quais são as limitações do método utilizado para que,
na hora da análise dos dados, seja possível discernir até onde os resultados
encontrados refletem a realidade ou são artefatos da amostragem, principal
mente em situações onde tanto o tempo disponível quanto o número de inves
tigadores é limitado. Muitas vezes, esse discernimento é extremamente com
plicado, mas, se as prpmissas e limitações do método são bem conhecidas, a
chance de se chegar a conclusões errôneas devido à metodologia usada é bem
menor. O conhecimento prévio dá biologia das espécies a ser estudadas tam
bém é importante para a determinação do método e interpretação dos resulta
dos. A realização de um estudo piloto antes de se iniciar o projeto em si é a
melhor maneira de se testar e definir a metodologia, calcular o tempo e o
esforço amostrai e treinar a identificação das espécies de aves a ser estudadas.
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7 Transectos lineares na estimativa
de densidade de mamíferos e aves
de médio e grande porte
Laury Cullen Jr.
V
. instituto de Pesquisas Ecológicas-IPÊ
Rudy Rudran
Smithsonian Institution, USA.
Introdução
O método dos transectos lineares (Line Transcects), da família DISTANCE de
estimadores de densidade (Buckland et al. 1999), está entre as metodologias
mais utilizadas na estimativa de densidade de populações. Esse método vem
sendo utilizado com sucesso em espécies vegetais, insetos, anfíbios, répteis,
aves, peixes e mamíferos, tanto marinhos quanto terrestres. Em todos os ca
sos, a ideia e o princípio são sempre os mesmos: o observador conduz um
censo ao longo de uma série de linhas ou trilhas previamente selecionadas,
procurando pelo indivíduo de interesse (usualmente animais ou um grupo de
animais). Essas trilhas podem ser definidas de várias maneiras, dependendo
da espécie a ser estudada. Estudos em terra podem incluir caminhadas, aero
naves, veículos terrestres e cavalos, além de outros animais de cárga. Em am
bientes àquáticos, as linhas podem sér definidas' de barco ou outros meios de
transporte afins.
J ' 169
LAURY CULLEN JR.
RUDY' RUDRAN
Estimativas
Distâncias perpendiculares (X) são medidas a partir de cada animal detectado
(figura 1). Em algumas situações, a distância de detecção (r) e o ângulo de
detecção 0 são anotados, e a distância perpendicular é calculada como sendo X
= r sen o 0. Suponhamos que uma série de trilhas de comprimento l v ...... lk
(com X lj = L] são posicionadas seguindo um esquema aleatório e n animais
são detectados a distâncias perpendiculares X v .....Xn. Suponhamos, também,
que alguns anim ais, além de uma certa distância w da trilha (truncation
distan ce), não são detectados. Sendo assim, a área levantada pode ser calcula
da como sendò: a = 2wL, onde os animais foram observados. Agora faça Pa ser
a probabilidade de um animal, escolhido aleatoriamente dentro da área levan
tada, ser detectado, e suponha que uma estimativa para Pa esteja disponível.
Então, a densidade animal (D) poderá ser estimada como:
n
D = ------------ -
2wLPa
Para a estimativa de PQ , definimos a Função de Detecção g (X) como sendo a
probabilidade de um animal à distância X da trilha ser detectado, 0 < X < w, e
assumimos que g (0 ) = 1 , ou seja, que todos os animais na trilha são detecta
dos. Se plotarmos todas as distâncias perpendiculares observadas em um his
tograma, então, o problema se resume em encontrar o melhor modelo ou fun
ção para g (X) e ajustá-lo para servir aos nossos dados de distância perpendi
cular. Como mostrado da Figura 2, se definirmos iÁ = ^ ' g ( x J d x então, PQ
= ju/w. O parâmetro n é chamado como a meia largura efetiva da trilha; é a
distância limite da trilha de onde os animais são observados (figura 1 ). Assim:
n n
2wLp/w 2f)L
170
TRANSECTOS LINEARES NA ESTIMATIVA DE
DENSIDADE DE MAMÍFEROS E AVES
DE MÉDIO E GRANDE PORTE
Figura 2. A área [xsob a função de detecção g (X), quando expressa como a proporção da área w
do retângulo, é a probabilidade que um indivíduo dentro na área levantada ser detectado; i±
também é a largura efetiva da trilha, que toma um valor entre 0 e w. (Fonte: Thomas et al. 2002 ).
171
LAURY CULLEN JR.
RUDY RUDRAN
n N f( 0 )
D= = ----- -
2ÍJL 2L
172
TRANSECTOS LINEARES NA ESTIMATIVA DE
DENSIDADE DE MAMÍFEROS E AVES
DE MÉDIO E GRANDE PORTE
No caso de um fragmento florestal (ex. < 1000 ha), muitas vezes não é possível
aplicar a regra 4 '* 4. Nestes casos, deve.-se conhecer aò máximo o fragmento de
estudo, antes do início da pesquisa. Uma boa conversa e relação de confiança
com a comunidade vizinha pode ajudar em muito a melhor disposição dos
transectos. A combinação de conhecimento específico da área, bom senso e
algum desenho aleatório, faz-se necessária.
173
LAURY CULLEN JR.
RUDY RUDRAN
Durante o trabalho de campo, todas essas decisões devem ser analisadas à luz
da teoria e metodologia DISTANCE, que assume quatro premissas, em ordem
decrescente de importância: (l) todos os animais na trilha devem ser observa
dos; ( 2 ) todos os animais são detectados na sua posição inicial, antes de qual
quer movimento em resposta ao observador (daí.a importância de se anotar o
local do indício da presença em observações in diretas);'(í) as distâncias per
pendiculares são medidas corretamente e (4) as detecções devem ser eventos
independentes, ou seja, o mesmo animal, ou grupo de animais, não pode ser
observado durante o mesmo esforço amostrai. Portanto, durante os trabalhos
.d e campo, é extremamente importante ter essas premissas em mente para evi
tar tendências e erros amostrais. Os censos devem ser evitados durante dias
chuvosos e com muito vento. Os barulhos provocados pela chuva e pelo vento
muitas vezes impedem a detecção de uma vocalização ou algum outro sinal
sonoro que pode levar a observações diretas e indiretas equivocadas.
trilhas de 4 km, o período das quatro primeiras horas da manhã deve ser
suficiente para a realização de cada esforço amostrai. O período subsequente,
da tarde, deve ser novamente usado para o segundo esforço amostrai, retor
nando pela mesma trilha. O período das 10:00 às 14:00 horas, no fim da
trilha, deve ser utilizado para o descanso do observador e da trilha, para um
lanche, para conferência dos dados e outras anotações que se fizerem necessá
rias. E importante enfatizar que todos os animais observados durante o retor
no na trilha também devem ser considerados para as análises, por se tratarem
de observações realizadas em um outro esforço amostrai.
Coletando os dados
Uma boa ficha de campo deve ser preparada antes do início da coleta de dados.
A seguir temos um exemplo de ficha utilizada nas experiências dos autores:
(1) O observador tem certeza q ue contou todos os indivíduos do grupo. Isso ocorre muitas vezes
quando os animais estão bastante agrupados ou em ocasiões em que os animais cruzam a
trilha ou estrada sen do p o ssív e l contar a seq uên cia com pleta de indivíduos. Os dados das
contagens parciais devem se r utilizados para as estimativas d e densidade de grupos. Entretan
to, para a estimativa de tamanho m édio dos grupos observados, o pesquisador só d eve utilizar
os dados dp contagens totais.
(2) Na incerteza quanto à e sp écie observada, anota-se o gên ero e mais tarde obtém -se uma
estimativa de densidade para aquele gên ero especifico.
(3) O bservações associadas e ou oportunísticas devem se r sem pre anotadas (por exem plo:
comportamento, alimentação, idade aproximada, hábitat etc).
175
LAURY CULLEN JR.
RUDY RUDRAN
As distancias nunca devem ser estimadas em classes de 5 metros (10, 15„ 20,
25...). Esse agrupamento tendencioso pode dificultar mais tarde o perfeito
ajuste da função de detecção nas distâncias .observadas. Cuidado específico
deve ser tomado com a medida das distâncias mais próximas das trilhas, pois
são estas que mais pesam na hora do perfeito ajuste da função. Erros ou esti
mativas de distâncias perpendiculares, de observações mais distantes das tri
lhas, são menos problemáticos, uma vez que essas distâncias têm menos influ
ência na escolha do melhor modelo para ajuste nas distâncias perpendiculares
(Buckland et al. 1993).
176
TRANSECTOS LINEARES NA ESTIMATIVA DE
DENSIDADE DE MAMÍFEROS E AVES
DE MÉDIO E GRANDE PORTE
D istân cia y
Figura 4. Funções mais comuns na modelagem dos dados durante a análise no programa
DISTANCE (Fonte! ww w .ruw pa.st-and.ac.uk/distance).
177
LAURY CULLEN JR.
RUDY RUDRAN
Depois de realizar a análise com o mesmo modelo, porém com diferentes fil
tros, devem-se observar os valores de GOF (Goodness of Fit: > GOF). Um
maior (> ) valor de GOF significa um melhor ajuste da função e, consequente
mente, um resultado de densidade mais preciso. Assim, o índice AIC deve ser
utilizado para escolher entre modelos e o índice GOF deve ser utilizado para
selecionar, dentro de um mesmo modelo, a modelagem com melhor ajuste
dentro da mesma função. Cuidado especial deve ser tomado com o modelo
Hazart-rate, pois ele normalmente apresenta resultados irreais, principalmente
quando existe uma grande quantidade de distâncias observadas próximas à
trilha. O bom senso e o conhecimento da história natural da espécie analisada
servirão para descartar tais resultados.
178
TRANSECTOS LINEARES NA ESTIMATIVA DE
DENSIDADE DE MAMÍFEROS E AVES
DE MÉDIO E GRANDE PORTE
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179
S Levantamento rápido de mamíferos terrestres
de médio e grande porte
- . Renata Pardini
Departamento de Ecologia, Instituto de Biociências, USP
Rudy Rudran
Smithsonian Institution, USA
Introdução
Entre os mamíferos, existe uma variação muito grande de tamanho corpóreo,
hábitos de vida e preferências de hábitat. Por isso, pesquisas e inventários de
mamíferos requerem a utilização de várias metodologias específicas para dife
rentes grupos de espécies (Voss & Emmons 1996). Dentre estes grupos, os
mamíferos de médio e grande porte das florestas neotropicais, particularmente
os de hábitos terrestres, têm sido pouco abordados em estudos ecológicos,
especialmente no que diz respeito à composição, estrutura e dinâmica de comu
nidades. Os hábitos predominantemente noturnos da maioria das espécies, as
áreas de vida relativamente grandes e as baixas densidades populacionais di
ficultam o estudo como, por exemplo, de tatus, tamanduás, cutias, pacas,
antas, porcos-do-mato, veados e carnívoros de nossas florestas.
181
RENATA PARDINI
EDUARDO H UM BERTO DITT
LAURY CULLEN JR.
CLA RICE BASSI
RUDY RUDRAN
O conhecim ento da biologia dessas espécies, por sua vez, tem colocado em
evidência a im portância desses mamíferos em uma série de processos nos
ecossistemas florestais. Aparentemente, as espécies frugívoras e/ou herbívo
ras, como antas, veados, porcos-do-mato e roedores de grande porte, desem
penham papel muito importante na manutenção da diversidade de árvores da
floresta, através da dispersão e predação de sementes e da predação de plântu-
las (De Steven & Putz 1984; Dirzo & Miranda 1991; Fragoso 1994), ao passo que
os carnívoros regulariam as populações de herbívoros e frugívoros (Emmons
1987; Terborgh 1988, 1990, 1992; Terborgh et al. 2001). A baixa densidade ou
a extinção local de predadores de topo aparentemente leva também ao aumento
de densidade de espécies de médio porte de hábitos generalistas (mesopreda-
dores), o que pode, por sua vez, causar alterações drásticas nas comunidades
de pequenos vertebrados, como aves ou pequenos m am íferos (Fonseca &
Robinson 1990; Palomares et al. 1995; Rogers & Caro 1997; Terborgh et al.
1997; Sieving & Karr 1997; Crooks & Soulé 1999).
O método trad icionalm ente utilizado para tais levantam entos é o de cen
sos visüais em transectos lineares, m uito utilizado em estudos realizados
na região A m azônica e da A m érica Central (Eisenberg & Thorington 1973;
Eisenberg et al. 1979; Charles-Dominique et al. 1981; Glanz 1982; Terborgh
1983; Emmons 1984; Jason & Emmons 1990) e em alguns casos na Mata Atlân
tica (Cullen et al. 2000, 2001; Chiarello 1999, 2000). Porém, as visualizações
de algumas espécies nesses estudos são muito raras (em geral, carnívoros).
182
LEVANTAMENTO RÁPIDO DE MAMÍFEROS TERRESTRES
DE MÉDIO E GRANDE PORTE
183
RENATA PARDINI •
EDUARDO HUM BERTO DITT
LAURY CULLEN JR.
CLARICE BASSI
RUDY RUDRAN
Tabela 1. tam anho, pressão de caça e localização das três áreas de floresta semidecídua
estudadas no interior do Estado de São Paulo. Fonte: Cullen (1997).
Localização 22 ° 50’ S, 52° 30’ W 22 ° 67’ S, 51° 52’ W 22 ° 48’ S, 52° 47’ W
As 100 parcelas de cada área foram distribuídas em três a seis trilhas diferen
tes com 15 a 35 parcelas cada, dependendo do número de trilhas já abertas
disponíveis e do tamanho das florestas. Em cada uma das parcelas foram colo
cadas iscas de um pedaço de banana. As pegadas foram registradas diariamen
te, durante quatro ou cinco dias consecutivos, sem chuva. Em cada visita
diária, a areia das parcelas era remexida para apagar as pegadas e descompac
tar a areia. Se necessário a areia também era umedecida. A identificação das
pegadas foi baseada em Becker &'Dalponte (1991). Cada registro representa a
presença de pegada de uma determinada espécie em uma dada parcela de areia
em um dia. A figura 1 ilustra as pegadas de algumas espécies de mamíferos
terrestres de médio e grande porte.
184
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DE MÉDIO E GRANDE PORTE
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Resultados
E importante ressaltar, inicialm ente, que, em apenas cinco dias de coleta de
dados, o método das parcelas de areia possibilitou o registro de 19 espécies de
mamíferos terrestres de médio e grande porte, contra 14 espécies obtidas com
o método de censo ao longo de um ano de estudo, considerando-se o conjunto
das três áreas (tabelas 2 e 3). Um número maior de espécies foi registrado por
meio das pegadas também em duas das três áreas estudadas. Este maior núme
ro de espécies está associado principalmente aos carnívoros, raramente visua- .
lizados em censos. Além disso, as parcelas parecem ser mais eficientes para o
registro de animais de hábitos predominantemente noturnos como o gambá, a
paca, o tapiti e o cachorro-do-mato (tabela 2 e 3).
186
LEVANTAMENTO RÁPIDO DE MAMÍFEROS TERRESTRES
DE MÉDIO E GRANDE PORTE
que para todas essas espécies, o número de pegadas indica claram ente em
quais áreas de floresta esses animais são comuns e onde são mais raros, levan
do-se em consideração o resultado dos censos. Além disso, para cinco das
oito espécies (Tapirus terrestris, N asu a n a s u a , L e o p a r d u s p a r d a lis , Pum a
concoloT e Panthera on ca), os resultados obtidos com os dois métodos geram
a mesma ordenação de abundância entre as três áreas (tabela 4).
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Resultados
A figura 2 mostra as curvas médias de acúmulo de espécies de grandes mamí
feros terrestres com o aumento do esforço de amostragem para cada uma das
três áreas de estudo. Observa-se que no caso das duas áreas amostradas du
rante 5 dias (Parqüe Estadual Morro do Diabo e Fazenda Tucano) as curvas
tendem à estabilização do número de espécies com o esforço realizado. Na
Fazenda Tucano, de. áréa menor e maior pressão de caça (tabela 1 ), esta estabi
lização ocorre com um esforço de amostragem menor do que no caso do Morro
do Diabo, o qual, pelo menor tamanho e pela menor pressão de caça, apresenta
uma riqueza de espécies bem maior.
190
LEVANTAMENTO RÁPIDO DE MAMÍFEROS TERRESTRES
DE MÉDIO E GRANDE PORTE
P. E. MORRO DO DIABO
FAZENDA TUCANO
V
100 200 300 400 500
FAZENDA MOSQUITO
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CLARICE B A SSI u*
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Riqueza
Local Chao 1 Jacknife 1 Bootstrap
obtida
Resultados
As parcelas de areia apresentaram resultados muito semelhantes nos dois
ambientes amostrados (trilha e fora de trilha), tendo registrado o mesmo nú
mero de espécies e as mesmas espécies, com exceção do coati (dois registros) e
tamanduá-mirim (um registro), que apareceram em apenas um dos ambientes
amostrados (tabela 6 ). Esse resultado é esperado, já que os dois grupos de
parcelas foram colocados em áreas bastante próximas, e estão amostrando a
mesma fauna.
Por outro lado, o número total de registros foi maior fora da trilha (92 em
comparação a 81), o que se deve ao maior número de registros de gambá neste
ambiente. Esse marsupial foi a única espécie em que a diferença do número de
registros foi estatisticamente significativa entre os dois ambientes, mostrando
possivelmente uma preferência por locais mais protegidos do interior da mata.
192
LEVANTAMENTO RÁPIDO DE MAMÍFEROS TERRESTRES
DE MÉDIO E GRANDE PORTE
Apesar do número baixo de registros para alguns tipos de isca não permitir
análise estatística na maior parte das espécies, verifica-se que os animais res
ponderam nitidamente de maneira diferente às iscas utilizadas (fabela 6 ). A
banana e o b a co n foram as iscas mais eficientes tendo resultado no maior
número de espécies (7) e nos maiores números totais de registro. No caso da
cotia e do gambá, as duas espécies com maior frequência relativa nessa amos
tragem, e do tapiti, o maior número de registros ocorreu nas parcelas iscadas
com banana. Já os marsupiais de menor porte e o tatu-galinha parecem ter sido
mais atraídos pelo bacon .
Tabela 6. Número de registros de pegadas de mamíferos nas parcelas de areia com diferen
tes iscas na Reserva Biológica de Una, Sul da Bahia.
Marsupiais 1 2 0 1 4
pequenos
Metachirus cuíca-quatro- 6 9 3 0 18
nudicaudatus olhos
Didelphis aurita Gambá • 25 16 5 5 51 < 0 .001*
Dasypus tatu-galinha 1 3 1 3 8
novemcictus ‘
Dasyprocta sp. Cutia 35 21 15 9 80 < 0 .0 0 1 *
Sylvilagus Tapiti 8 1 0 0 9
brasiliensis
Nasua nasua Coati 1 1 0 0 2
Tamandua tamanduá- 0 0 0 1 1
tetradactyla mirim
Total de espécies 7 7 4 5 8
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RUDY RUDRAN
O sal grosso, que foi utilizado com o intuito de atrair os ungulados, não apre
sentou os resultados esperados. Sabe-se que a anta e o queixada estão prova
velmente extintos na região, mas tanto o veado-mateiro e o cateto são ainda
relativamente comuns e um indivíduo de cada espécie foi observado em uma
ocasião na área de amostragem durante ò trabalho. É provável que esses ani
mais não sejam atraídos por quantidades pequenas de sal, como as dispostas
nas parcelas.
4. Como uma medida, não só da presença das espécies, mas de suas frequên
cias relativas entre áreas, o método de registro de pegadas em parcelas de
areia, mesmo quando aplicado durante períodos de poucos dias, possibili
tou diagnosticar as áreas com maior e menor abundância para várias espé-
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CAIXA 1
ESTUDO DE CIRCULAÇÃO DE FAUNA NO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DAS
EMAS/ GO: UM EXEMPLO DA UTILIZAÇÃO DO MÉTODO DE REGISTRO DE PEGA
DAS EM PARCELAS DE AREIA EM DIAGNÓSTICOS AMBIENTAIS
O Parque Nacional das Emas (PNE), com seus 1.330 km2 de área, é considerado a mais
importante reserva de cerrado, bioma que vem sendo o principal alvo da expansão agrícola
e pecuária no país. A construção de uma ferrovia na área de entorno do parque e os estudos
de impacto ambiental relacionados ao empreendimento levaram à realização de uma série de
diagnósticos, exigidos pelos órgãos ambientais. Um deles foi uma avaliação da importância
das áreas naturais do entorno para a fauna do parque, com o intuito de subsidiar estratégias
para mitigar os efeitos da ferrovia sobre a fauna em um contexto de paisagem.
Os mamíferos terrestres de médio e grande porte foram um dos grupos da fâuna escolhi
dos para esta avaliação. Através da identificação, caracterização e mapeamento das áreas
naturais presentes em um polígono de 117 km x 140 km que inçlui a área do Parque,
foram escolhidas 4 áreas naturais consideradas como mais relevantes na paisagem e 2
tipos principais de matrizes, lavouras e pastagens. Amostragens padronizadas com 500
parcelas/dia foram realizadas no Parque e em cada uma das quatro áreas naturais do
entorno. A ocorrência das espécies nas matrizes foi avaliada através da observação direta
de animais nestes ambientes e do número de animais mortos nas rodovias ao redor do
Parque. Foi estabelecido, a priori, um sistema de interpretação da condição de circulação
da fauna na região de estudo, baseado no seguinte esquema:
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DE MÉDIO E GRANDE PORTE
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RENATA PARDINI _ .
EDUARDO HUMBERTO* DITT
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201
Manejo e controle de danos
causados por espécies da fauna
Sandra M. C. Cavalcanti
Centro de Conservação do Pantanal,
Wildlife Conservation Society, W CS
Introdução
Todas as espécies da fauna silvestre possuem valores positivos ou benefícios
para a sociedade de uma maneira geral. Algumas pessoas gostam de ver e
ouvir espécies da fauna silvestre, outras gostam de caçar. Outras, ainda, sen
tem um grande prazer em simplesmente saber que essas espécies existem e
vivem livres de qualquer dependência humana. Essas espécies possuem tam
bém valores negativos, associados aos impactos adversos que elas podem cau
sar, tais como danos a propriedades do homem, danos à agricultura, predação
sobre animais domésticos, ou simplesmente por serem consideradas espécies-
praga.
203
SANDRA M. C. CAVALCANTI
qualquer situação em que o controle seja necessário, ele deve ser legal e ex
pressamente autorizado pela autoridade competente.
O IBAMA tem recebido vários pedidos para liberação da caça das espécies que
causam problemas, principalm ente dos estados de Tocantins, Paraná, Mato
Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Porémr
apesar de considerar a caça como um instrumento importante de manejo e
controle ambiental, o órgão federal não dispõe de recursos para estudos do
“status” populacional das espécies-problema (F. Dal’ava, comun. pessoal). Al
gumas espécies danosas à agricultura, como a lebre-europeia (Lepus europaeus),
por exemplo, apesar de não serem nativas da fauna brasileira, têm sua caça
proibida em todo território nacional, com exceção do estado do Rio Grande do
Sul (Silva 1984). O artigo 29 da lei 9.605 (Parágrafo 3o), considera como fauna
silvestre todos os espécimes que tenham todo ou parte do seu ciclo de vida
ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro. A Representação Estadual
do IBAMA no Rio Grande do Sul está atualm ente trabalhando numa nova
portaria referente à caça, que abrangerá espécies que causam danos à agricultu
ra e à pecuária no estado.
205
SANDRA M. C. CAVALCANTI
avoante, o IBAMA tem feito uso de uma licença de caráter experimental para o
controle da espécie no estado de São Paulo. Renovações da licença são libera
das mediante minuciosos relatórios técnicos/científicos (IBAMA 1998). Casas
da agricultura e associações de produtores rurais de diversos municípios tam
bém mantêm contato com o órgão federal, colaborando para a formação de um
acervo dos principais problemas com espécies da fauna silvestre para que
futuras medidas de controle possam ser tomadas com maior eficiência.
Para que uma estratégia de controle seja planejada de maneira eficiente, ela
206
MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
207
SANDRA M. C. CAVALCANTI
208
MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
Exclusão
A exclusão consiste em manter um animal longe do alcance de determinado
item ou área. A área ou alvo de proteção pode variar de uma simples flor ou
árvore até grandes áreas, através do uso de cercas ou telas,, plásticas ou de
arame. A quilométrica cerca para dingos (Canis fa m ilia rís dingo) na Austrália
é um exemplo clássico do método de exclusão.
209
SANDRA M. C. CAVALCANTI
Repelentes
Repelentes são substâncias que reduzem o interesse de um animal sobre um
determinado item ou área. Um repelente eficiente é aquele que causa um efeito
imediato e de longa duração. Repelentes de área são aqueles baseados no olfa
to dos animais, enquanto os repelentes de contato produzem reações de tato
ou de paladar. Um repelente, para ser eficiente na redução de danos, precisa
preveni-los por longos períodos. Seu sucesso depende de uma série de variá
veis como, por exemplo, o quanto de fome tem o animal e o conceito de unwelt,
anteriormente citado.
210
MANEIO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
mulo através do tempo até que uma associação seja estabelecida entre o mal-
estar causado pelo agente aversivo e o alvo de proteção. Veja mais detalhes
sobre condicionamento aversivo na seção de carnívoros.
Repelentes de área devem ser voláteis para evaporar, porém são menos eficien
tes devido à ação do vento e tem um período de duração que é fácil do animal
ignorar, se o desejo pela área ou objeto for grande. Repelentes de área não são
eficientes para grandes áreas, pois sãò afetados por condições ambientais como
umidade e temperatura. Seu custo é maior do que repelentes de contato. Exem
plos de repelentes de área incluem a naftalina e a súlfura, usada no repelente
Snake-A-Way® para cobras (Wildlife Supplies, Plymouth, MI).
211
SANDRA M. C. CAVALCANTI
com eles e recomeçam a causar danos. Algumas técnicas são específicas para
determinadas espécies, porém a maioria não é e existe a possibilidade de ou
tras espécies serem afugentadas da área em questão. Algumas técnicas de con
trole não letais podem fazer os animais simplesmente mudar sua atividade
para uma área próxima e desprotegida, ocasionando a simples transferência
do problema, em vez de sua resolução (R. Schmidt, comun. pessoal).
Alguns fatores que influenciam a eficiência desses estímulos visuais e/ou au
ditivos incluem o grau em que esses estímulos afetam o animal-problema, a
motivação do animal, sua idade e as experiências prévias desse animal com os
mencionados estím ulos, associados com a disponibilidade e adequação de
áreas próximas, que sirvam como alternativas para a alimentação e descanso
dos anim ais. Programas de controle de danos através do uso de estímulos
visuais ou acústicos podem ter resultados melhores se forem iniciados ao
primeiro sinal de dano, à primeira ocorrência, aos primeiros vestígios dos
animais problema na área. Devido a sua eficiência ser relativamente de curta
duração, estím ulos que visem afugentar anim ais são mais indicados para
situações onde o controle necessário seja de curta duração. Eles também po
dem ser usados em combinação com ou de maneira complementar a outras
técnicas de controle.
Agentes contraceptivos
Para muitos a ideia do uso de agentes contraceptivos no manejo de populações
animais é nova, mas na realidade seu potencial para tal finalidadé é conhecido
212
\ MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
Agentes tóxicos
> *
213
SANDRA M. C. CAVALCANTI
Um problema sério que vem acontecendo nos últimos anos no Parque Nacio
nal de Brasília, em Goiás é o ataque a animais domésticos, silvestres e, inclu
sive, humanos por matilhas de cães domésticos (Canis fam iliarís). Esses ani
mais, geralmente abandonados ou foragidos da casa de seus antigos donos,
passam a viver sem contato humano e acabam se tornando asselvajados, co-
mumente conhecidos como cães ferais. O maior vazadouro de lixo da cidade,
localizado nas imediações do parque nacional, serve de atrativo para esses
animais, que passam a viver em matilhas e acabam matando espécies da fauna
silvestre que vivem no parque. Carcaças de lobos-guará, tamanduás (Myrmeco-
p h a g a tridactyla], veados-campeiros (B lastocerus dichotom us) e antas (Tapirus
terrestris) têm sido frequentemente encontradas por equipes de patrulhamento
do IBAMA (R. Milano, comun. pessoal). Além de causar a morte de espécies
silvestres e domésticas, os cães ferais podem transmitir doenças como a parvo-
virose e a raiva (W. Tomas, comun. pessoal). A Universidade de Brasília recen
temente assinou um contrato com o IBAMA e a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA) para um programa de controle dos cães ferais em
que se usam fêmeas no cio como isca para capturar os animais.
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MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
carcaça, que é mais rápida em áreas de clima quente, assim como urubus e
outros animais que se alimentam da carcaça, pode obliterar evidências impor
tantes em poucas horas. Devem-se tomar as devidas precauções para que as
evidências de um possível ataque não sejam prejudicadas por transeuntes ou
curiosos. Um histórico do problema de predação na região pode também aju
dar na identificação da causa da mortalidade.
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SANDRA M. C. CAVALCANTI
adultos de até 500 kg. Espécies domésticas de porte médio, como carneiros e
Cabras, além das onças, podem também ser atacadas pelo cachorro-do-mato,
graxaim-do-campo ou pelo cachorro doméstico. A predação destes animais se
dá em indivíduos jovens (cordeiros e cabritos). Cachorros domésticos podem
ocasionalmente matar animais adultos. Por outro lado, a predação em galinhei
ros se dá por todas as espécies de predadores de menor porte, incluindo ca
chorro-do-mato, graxaim-do-campo, jaguatirica, gato-mourisco (Herpailurus
yagou arou n di) e até mesmo pelo lobo-guará. Entretanto, a correta identificação
do predador muitas vezes não é fácil, pois os pa.drões de predação e alimentação
podem variar entre indivíduos e se sobrepor entre espécies. Deve-se considerar
também a possibilidade da utilização da carcaça por mais de uma espécie.
Onça-pintada
Carcaças de animais mortos por onça-pintada geralmente apresentam uma
mordida na base do crânio ou na área da nuca/pescoço, perfurando o crânio
ou rompendo as vértebras da nuca. A morte é normalmente ocasionada pela
quebra do pescoço, decorrente do impacto da queda do animal. A cabeça do
animal predado fica geralmente voltada para trás. Embora possa existir uma
variação entre indivíduos, raramente a presa é morta por sufocamento, com
uma mordida na garganta. A onça-pintada normalmente começa a consumir a
presa pela porção anterior, iniciando a alimentação pelo focinho e pescoço e
então a região peitoral. A parte inferior do pescoço e o peito são as partes
preferidas. Muitas vezes as partes posteriores são deixadas intactas. Bezerros,
por outro lado, podem ser completamente consumidos, inclusive a cabeça e as
patas. A onça-pintada normalmente não cobre a carcaça e pode arrastá-la por
até 1,5 km de distância. Os rastros a elas associados são grandes, têm uma
forma arredondada, sendo que o comprimento total é geralmente um pouco
menor do que a largura. Os dedos são redondos, as almofadas grandes e deli
neadas de forma arredondada.
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MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
Graxaim-do-campo
As carcaças de ovelhas e cordeiros predados por graxains-do-campo apresen
tam mordidas em várias partes do corpo. Suas pegadas fazem lembrar as de
um cachorro doméstico, porém, em menor tamanho e mais alongadas.
Cachorro doméstico
* As carcaças predadas por cachorros domésticos, na maioria das vezes, apre
sentam ferimentos nos membros posteriores, com evidências de mordidas e
ataques antes da morte da presa. Por ser uma espécie doméstica, os cachorros
não são eficientes durante os ataques e acabam machucando as presas de ma
neira considerável e desnecessária. Muitas vezes a carcaça não é consumida.
As pegadas associadas a cachorros domésticos fazem lembrar as de onça-par
da, porém apresentam marcas de unha e são mais alongadas. Devido ao forma
to mais alongado dos dedos, a distância entre a parte superior da almofada e
os dedos é maior nas pegadas de cachorro do que nas pegadas de onça. É
importante notar que existe uma grande variação entre as diferentes raças de
cachorros, o que pode influenciar na apresentação das pegadas.
Outras espécies
A predação das demais espécies ocorre majoritariamente em galinhas, marre
cos, patos e outras espécies domésticas de pequeno porte, o que faz com que
quase nada reste para que se possa proceder a uma análise da carcaça. A me
lhor forma de identificação nesses casos é através dos rastros deixados. Pega
das de jaguatirica são muito similares às de onça-pintada, porém em menor
tamanho. Os gatos-do-mato (Leopardus spp.J apresentam pegadas similares às
de jaguatirica, mas em tamânho menor. Pegadas de gato-mourisco são simila
res às dos gatos-do-mato, porém com dedos mais alongados.
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SANDRA M. C. CAVALCANTI
Técnicas de controle
Práticas de manejo dos animais domésticos
Algupias práticas de manejo podem ser eficientes na prevenção de danos cau
sados por predadores. A relação custo-benefício precisa ser avaliada para cada
prática e a sua eficiência irá depender de cada situação específica.
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MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA-FAUNA
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SANDRA M. C. CAVALCANTI
em áreas de pastagens limítrofes com matas foi proposto, porém, ainda são
necessários dados que possam comprovar sua eficiência.
Cães de guarda
Outro tópico de controvérsia é a utilização de cães para prevenção da preda-
ção. A manutenção de cães preparados para dar o alarme é aconselhada para
espécies de cães de grande porte e em grande número. É aconselhado o uso de
pelo menos cinco animais que não devem ficar soltos pela propriedade, mas
sim contidos numa área próxima à possível área de acesso dos predadores ao
rebanho. A presença de cães de estimação de pequeno porte soltos pela pro
priedade não é aconselhada. Deve-se impedir que esses animais entrem em
áreas de mata ou outras áreas de utilização dos predadores. Um estudo realiza
do no Quênia (Kruuk 1980) comparou taxas de predação em áreas com presen
ça e ausência de cães para prevenção de danos. Os resultados obtidos sugeri
ram que a presença de cães em áreas com criações domésticas pode ser eficien
te na sua proteção.
Cercas elétricas
Métodos de exclusão como cercas têm o objetivo de prevenir ou reduzir o
acesso de predadores a criações domésticas. Por se constituir numa barreira
física não letal, as cercas são vistas como um método racional, com o potencial
de excluir predadores sem a necessidade de prejudicá-los.
Cercas podem ser construídas de várias maneiras, e sua eficiência irá depen
der da situação local. Na escolha do tipo de cerca a ser utilizado,-o produtor
deverá considerar a espécie do predador a ser excluído, as criações domésticas
a ser protegidas, o tamanho da área a ser cercado, o acesso à área, as caracterís
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MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
Existem três tipos básicos de cercas elétricas: 1 ) cercas elétricas portáteis, tem
porárias, 2) cercas elétricas adaptadas de cercas já existentes; e 3) cercas elétri
cas permanentes de alta tensão. Cercas elétricas portáteis temporárias consis
tem, normalmente, de 1 a 5 fios de arame. O objetivo principal desse tipo de
cerca é dividir piquetes para um melhor manejo de pastagens. Essas cercas
não dão proteção contra predadores, embora seu uso possa ser sugerido para
manter o gado em áreas especiais. Cercas elétricas adaptadas podem reduzir
problemas de predação. A cerca existente precisa estar em boas condições para
que fios extras possam ser adicionados.
Quanto maior a área a ser-cercada, maior será o potencial para um mau fun
cionamento ou danificação da cercas, tornando-as menos eficientes. Devido a
isso, o uso de cercas elétricas não é aconselhável para áreas muito extensas.
Sua utilização é mais eficiente e mais viável para a proteção de rebanhos meno
res em pastagens menores. Limitações físicas podem ser impostas pelo tipo de
solo, tipo de vegetação, características do terreno e condições climáticas.
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CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
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Detectores de movimento
Os detectores de movimento são dispositivos parecidos com os pastores ele
trônicos, porém como o próprio nome sugere, são ativados através de um
sensor de movimento, e produzem sons de diferentes frequências. Esses dis
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MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
positivos são mais eficientes com mamíferos, sendo que animais maiores são
mais fáceis de ser detectados. Os detectores de movimento podem facilmente
registrar a aproximação de um animal da forma e do tamanho de um veado,
por exemplo. Algumas vantagens incluem sua sensibilidade, que pode ser
ajustada na fábrica e seu modo de operação, que não liga e desliga mesmo
quando o predador não se encontra no local, diminuindo assim a habituação.
A principal desvantagem desses aparatos é o fato deles não serem específicos
para o animal-problema em questão.
Vários outros testes de campo foram conduzidos nos Estados Unidos testando
a eficiência de sprays, estações de odores e colares para criações domésticas.
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SANDRA M. C. CAVALCANTI
226 /
MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
Agentes contraceptivos
Na teoria, o uso de contraceptivos poderia reduzir populações de predadores
carnívoros e dessa forma reduzir a predação em todas as espécies de presa,
incluindo animais domésticos. Balser (1964) sugere que, quando indivíduos
são removidos de uma população, animais transientes podem se mudar para a
área desocupada e continuar o problema, como previamente mencionado. Po
rém, quando animais estéreis adultos ocupam seu território original, eles o
protegem de indivíduos transientes que possam eventualmente causar proble
mas. No Brasil, o uso de contraceptivos ainda deixa dúvidas quanto ao seu uso
como método de controle, devido ao status em que se encontra a maioria das
espécies que causam problemas com predação. A maioria dessas espécies está
classificada pelo IBAMA como ameaçadas de extinção, apesar de ocuparem cate
gorias diferentes nas listagens da IUCN e da CITES. Porém, no caso de cachor
ros domésticos, por exemplo, mais estudos deveriam ser desenvolvidos devido
ao potencial do método como ferramenta para o manejo e controle de danos.
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SANDRA M. O! CAVALCANTI
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MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
Aves
Estimativa de danos
Algumas espécies de aves causam danos consideráveis em plantações nas mais
diversas áreas do país. No estado do Tocantins, fazendeiros enfrentam prejuí
zos por bandos de marrecas-piadeiras (D endrocygna viduata) e marrecas-cane-
leiras (Dendrocygna bicolor), que após terem se proliferado na região têm des
truído lavouras de arroz. As avoantes (Z énaida au ricu lata) são o maior proble
ma nos estados de São Paulo e Paraná, onde se reproduzem em canaviais e se
alimentam de lavouras de soja. Como em qualquer monocultura, existe nessas
plantações uma fartura de alimento e, por ser um ambiente bastante modifica
do antropicamente, a densidade de predadores naturais é bastante baixa. Des
sa forma, essa espécie chega a procriar mais de uma vez durante o ano, o que
aumenta suas populações consideravelmente.
Para estimar os danos causados por aves a lavouras comerciais, deve-se imple
mentar um esquema de amostragem que irá selecionar os campos a serem amos
trados e determinar as plantas ou a área a ser medida nesses campos (Stickley
et al. 1979). Por exemplo, para que se possa estimar objetivamente a quantida
de de dano causado pela pomba-avoante numa plantação de milho, o pesqui
sador deve examinar pelo menos 10 localidades distantes umas das outras
nessa plantação. Se a plantação tiver 100 linhas e tiver 300 m de largura, o
pesquisador deve cam inhar distâncias alternadas por 30 m ao longo de 10
linhas selecionadas aleatoriamente (por exemplo, 0-30 m na linha 9, 31-60 m
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MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
de comer ovos de patos e marrecos e matar filhotes dessas espécies, elas po
dem competir, com espécies ameaçadas, por locais de nidificação.
Pom bas é p a r d a is : Pombas e pardais são aves que habitam zonas urbanas e
rurais e cujos dejetos desfiguram e deterioram edificações, além de servirem
como agentes de contam inação de diferentes zoonoses. Quando os dejetos
dessas espécies são acumulados por longos períodos, podem conter esporos
do fungo que causa histoplasmose (Weber 1979). Em áreas de estocagem de
cereais, essas espécies consomem e contaminam grãos.. Apesar de atacar lavou
ras de grãos, o dano causado por pardais não é de importância econômica. Já
a pomba-amargosa pode causar danos econômicos consideráveis à agricultura.
Essa espécie é atualmente tida como a que causa mais danos econômicos às
plantações, como a soja, no Brasil e em outras partes da América Latina. Na
Argentina, sua população tem crescido rapidamente desde os meados dos anos
50, coincidindo com a difusão das plantações de soja em larga escala (Bucher
& Bedano 1976). O problema mais sério se mostra em áreas que formam um
mosaico de plantações e manchas de capoeira. Essa situação, semelhante a
outras regiões como o México e a África, sugere que o problema causado por
espécies de aves-praga tende a aparecer em zonas de transição onde o desen
volvimento agrícola avança em direção a áreas previamente não cultivadas (Bu
cher & Bedano 1976). Após a colheita, uma quantidade considerável de grãos
(entre 160 e 500 kg por ha) fica desperdiçada no solo, o que sustenta uma
população bastante alta da pomba-amargosa, principalmente durante períodos
em que a disponibilidade de outros alim entos é pequena. Na Argentina, a
quantidade de grãos desperdiçada devido à ineficiência do maquinário de co
lheita fica entre 10 e 30%, sendo muitas vezes maior do que as perdas causa
das pelas aves, porém esse problema raramente recebe a atenção que merece
(Bucher & Bedano 1976).
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MANEJO E CONTROLE DE DANOS
CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
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Exclusão
Em áreas de cultivo de frutíferas ou outras plantações de alto valor comercial,
o uso de telas de nylon ou de plástico pode ser justificável economicamente
(Fuller-Perrine & Tobin 1993). Telados de arame podem ser usados também
para excluir aves de áreas como tanques de piscicultura ou zonas de ventila
ção de certas edificações. Prédios e/ou telhados com parapeitos podem ser
cobertos com fios eletrificados para prevenir o pouso de pombas e outras aves.
Áreas com deposição de lixo, tanques de piscicultura e outras estruturas po
dem se valer de fios paralelos de linhas ou arame, pendurados em intervalos
de 2,5 a 12 m, para diminuir problemas causados por gaivotas. Linhas ou fios
de arame pendurados em intervalos de 30 a 60 cm repeliram pardais de áreas
de alimentação num experimento conduzido por Agüero e seus colegas (1991).
Pardais e gaivotas se mostram relutantes para voar por entre as fiações, mesmo
quando o espaçamento das mesmas é maior do que a envergadura de suas
asas. Fitas de PVC grosso também são eficientes para excluir pássaros de edi
ficações (Johnson & Glahn 1993).
Repelentes
Aves têm o olfato e o paladar pouco desenvolvidos de uma maneira geral e os
repelentes baseados nesses sentidos norm alm ente não são eficientes. Nos
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CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
Aparatos emitindo ultrassons são também vendidos com ercialm ente para o
controle de aves nos Estados Unidos e no Brasil (Monte Química/SP e MRZM
Indústria e Comércio/SP). Tratam-se de aparelhos emitindo sons com frequên
cia acima do nível da audição humana (20.000 Hz), desenvolvidos para con
trolar aves nas imediações de edificações rurais e urbanas. Contudo, testes de
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SANDRA M. C. CAVALCANTI
Em 1984, Conover conseguiu controlar danos causados por aves com certa
dose de sucesso, por meio da utilização de bandeiras, balões de gás com dese
nhos imitando olhos grandes de predadores e pipas com o formato de águias
predadoras, suspensas por balões ou postes de bambu. Bandeiras fluorescen
tes também podem ser utilizadas para afugentar gansos de plantações de trigo,
milho e alfafa. Heinrich & Craven (1990) recomendam o uso de 10 bandeiras
por hectare. Fitas refletivas foram também testadas com sucesso para a mesma
finalidade, penduradas em linhas paralelas em intervalos de 3 a 7 m. Essa
prática reduziu danos causados por pássaros-pretos em diversos cultivares
nos Estados Unidos (Dolbeer et aí. 1986).
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CAUSADOS POR ESPÉCIES DA FAUNA
Apesar de preferir áreas abertas (Dorst 1973, Garcafé 1999), a lebre se adapta a
uma grande variedade da hábitats, tendo sua presença registrada tanto em
pastagens quanto em áreas reflorestadas com Pinus e E ucaliptus (Auricchio &
Olmos 1999).
Capivara
Nos últimos anos, a Divisão de Ecossistemas do IBAMA (DIREC) tem recebido
diversas solicitações para a retirada de capivaras (H ydrochaeris hydrochaeris)
em áreas agrícolas devido aos danos econôm icos causados em culturas de
cana-de-açúcar, milho, pupunha e arroz. Nessas culturas, as capivaras geral
mente se alimentam da parte aérea das plantas e causam o pisoteio e o conse
quente acamamento das plantas e touceiras (W. Galbiatti, comun. pessoal). O
dano causado pelas capivaras é bastante conspícuo e geralmente acompanha
do de grande quantidade de fezes e trilhas no local. Porém, grande parte das
propriedades que apresentam problemas é caracterizada por áreas propícias à
reprodução e ao desenvolvimento de capivaras, por apresentarem áreas de
preservação permanente (APP), córregos, grande quantidade de açudes e lo
cais adequados que funcionam como perfeito abrigo aos animais. Uma solução
encontrada por técnicos do IBAMA tem sido vistorias para a retirada de exce
dente populacional.
237
SANDRA M. C. CAVALCANTI
Essa situação tem sido acrescida de problemas com indivíduos dessa espécie
em áreas urbanas e problemas potenciais relacionados à saúde pública, com a
possível transmissão da febre maculosa, causada pelo organismo Rickettsia
ríckettsi, através do carrapato estrela (Andlyom m a cajen n en se). Apesar de não
existirem até o momento estudos constatando a transmissão da referida doen
ça, vários pedidos para retirada de capivaras vêm sendo justificados com base
nessa possibilidade (M. P. Carbonari, comun. pessoal).
Lontra
Nos últimos anos, o número de pisciculturas e pesqueiros comerciais (pes-
que-pagues) tem aumentado consideravelmente, principalmente no interior do
estado de São Paulo, o que tem atraído aves predatórias e lontras (Lontra
lon g icau d is), que veem os peixes como uma fonte alternativa de alimentação. Os
danos econômicos podem ser consideráveis (A. Cutolo, comun. pessoal), po
rém as informações a esse respeito são bastante escassas. Não existe uma estima
tiva do real impacto causado por lontras nessas atividades de piscicultura.
Considerações finais
O profissional que trabalha nessa área de identificação, prevenção e controle
de danos causados por animais silvestres precisa estar aberto e disposto a
entender as questões sociais envolvidas num trabalho como esse. É necessário
que o profissional (biólogo, agrônomo, veterinário, engenheiro florestal), além
de entender a necessidade da proteção da fauna silvestre, compreenda o lado
do produtor rural, que muitas vezes depende do sucesso de suas atividades
para sua sobrevivência. É necessário, ainda, entender que o nível de dano
inaceitável para uma pessoa pode não ser considerado prejuízo para outra.
Tome por exemplo o caso de pessoas reclam ando sobre capivaras em suas
hortas e plantações, quando outras pessoas, simplesmente por gostarem des
ses animais, até os alimentam para que eles permaneçam em suas proprieda
des. A caracterização do comportamento dessas espécies é baseada etn parâ
metros humanos, o que torna esse campo de prevenção e controle de danos
tão interessante.
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242
10 ^ Uso de armadilhas fotográficas em
levantamentos populacionais
Walfrido Moraes Tomas
EMBRAPA Pantanal
Guilherme H. B. de Miranda
Instituto Nacional de Criminalística
Serviço de Perícias de Engenharia e Meio Ambiente
i __________________________________________
Introdução
A estimativa de tamanho de populações é de importância central no manejo e
conservação de fauna. Segundo Mourão & Magnusson (1997), os levantamen-'
tos populacionais são ferramentas auxiliares na definição dos propósitos de
manejo de populações silvestres. Eles permitem, segundo Caughley (1977),
(1) o tratamento de populações pequenas ou em declínio, visando aumentar
sua densidade e/ou área de distribuição; (2) o uso econômico sustentado da
população e (3) o tratamento de populações com densidade e/ou taxa de cres
cimento inaceitavelmente altos, visando estabilizar ou reduzir sua densidade.
243
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. B. DE MIRANDA
244
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS
(machos com galhadas, fêmeas e jovens, ambos sem galhadas). Os autores reali
zaram ainda experimentos interessantes relacionando os efeitos da densidade
de câmeras na área de estudo sobre as estimativas populacionais. Jacobson et aí.
(1998) demonstraram que há uma relação inversa entre a densidade de câmeras
e as estimativas de população obtidas pelo índice de Lincoln-Petersen.
O equipamento
O sistema fotográfico automático consiste, basicamente, de uma câmera foto
gráfica comum, com lente de 35 mm, fotômetro, disparo de fla s h , foco e avanço
do filme automático. A máquina fotográfica fica acoplada a um sistema dispa
rador que pode ser: (1) com sensor de raios infravermelhos (RIV); capazes de
detectar calor corporal irradiado e movimentos relativos ao fundo de disper
são dos RIV, (2) sensor de radar (detecta movimentos contra um. fundo relati
vamente fixo) ou (3) sistema mecânico (acionado por pressionamento ou tra
ção). O conjunto é acondicionado em envoltório de material resistente que
protege contra o excesso de umidade e evita a ação danosa de animais curiosos
(Figura 1 ). A maioria dos equipamentos, hoje disponíveis, permite a impres
são da data e horário em que cada foto foi obtida, que são informações impor
tantes para análise via captura-recaptura, para eventuais análises de períodos
de atividade. Existem ainda opções de regulagém para fotos diurnas, noturnas
ou contínuas, e opções de intervalômetro capazes de retardar uma próxima
fotografia por intervalos de 3, 6 e 10 minutos. Com estes aparatos, é possível
economizar material fotográfico e baterias, otimizando os custos do estudo em
virtude do comportamento da espécie estudada. Apesar do custo relativamen
te alto dos equipamentos com erciais, máquinas fotográficas equipadas com
sensores infravermelho ou com sistemas m ecânicos podem ser confecciona
das a partir de componentes disponíveis no mercado de material fotográfico,
Figura 1. Armadilha fotográfica, modelo CAM TRAKKER instalada no campo A. vista frontal da
câmera; B. detalhe da instalação ao longo de uma estrada no interior de um parque. (Foto,
Laury Cullen Jr.)
245
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. B. DE MIRANDA
246
I
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS pbpULACIONAIS
Figura 2. Exem plos de diferentes padrões de pelagem de pacas (Cuniculus paca) atraídas
para pontos com iscas e fotografadas no Parque Nacional de Brasília. Padrões de cor.
Figura 3. Momento de captura fotográfica de onça pintada (Panthera onca). Foto obtida com
câmera automática no Parque Estadual Morro do Diabo, São Paulo. Fotos em posição lateral,
como esta, permitem uma comparação entre indivíduos diferentes com base no padrão de
manchas da pelagem. (Foto: Laury Cullen Jr.)
247
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. B. DE MIRANDA
Protocolos de amostragem
Antes de iniciar qualquer trabalho de campo utilizando equipamento fotográ
fico, é fundamental estabelecer um protocolo adequado à espécie a ser estuda
da, ao tipo de hábitat e aos objetivos do estudo.
248
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS -POPULACIONAIS
galhadas em cervídeos, por exemplo, este cuidado pode ser relaxado, desde que
as fotos ofereçam uma visão dos chifres o mais completa possível (ver Jacobson
et al. 1998). Em animais capturados previamente e marcados, os mesmo cuida
dos devem ser tomados, dependendo do tipo de marcação utilizada.
Figura 4. (A) Grupo de queixada (Tayassu pecari)-, (B) macho de veado-mateiro (Mazama am e
ricana)-, (C) cachorro-do-mato (Cerdocyon thous): (D) anta adulta (Tapirus terrestris). Registros
fotográficos realizados com câm eras automáticas durante inventário na fazenda Nhumirim,
Pantanal da Nhecolándia, no Mato Grosso do Sul.
O Uso de Iscas
A utilização de iscas é comum em protocolos de captura com armadilhas e
também pode ser um meio para atrair os animais para frente das câmeras foto
gráficas. Conhecimentos sobre comportamento e hábitos alimentares são fun
damentais para o estabelecimento de protocolos. Testes preliminares podem
ser realizados com o Objetivo de selecionar os itens mais eficientes na atração
da espécie-alvo. A paca, por exemplo, pode ser atraída por uma grande Varie
dade de grãos, frutas e tubérculos. A escolha deve recair sobre iscas que reú-
nam atratividade, maior resistência ao apodrecimento, facilidade de transporte
e utilização e, no caso de frutas ou grãos exóticos em áreas de preservação,
menor risco de germinação.
249
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. B. DE MIRANDA
Por outro lado, alguns efeitos das iscas devem ser ponderados: iscas podem
atrair mais espécies do que o desejado e, em alguns casos, a presença de uma
dada espécie pode influenciar a presença de outra (Koerth et al. 1997). Ou
seja, a atração de espécies que não são alvo do estudo pode alterar a probabi
lidade de detecção fotográfica da espécie de interesse. Outro efeito que pode
ocorrer, dependendo da duração do trabalho, é o de viciar os animais aos
pontos de ceva, onde se encontram as iscas. Se o trabalho for de longa dura
ção, predadores podem “aprender” a espreitar os animais nesses pontos, in
fluenciando a sobrevivência dos indivíduos na população em relação à situa
ção natural. Para esses problemas não há soluções fáceis, mas o pesquisador
deve levá-los em consideração e estabelecer um protocolo de forma a tentar
minimizá-los.
250
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS
251
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. B. DE MIRANDA
Esforço amostrai
Basicam ente, o esforço amostrai é determinado pela densidade de câmeras
distribuídas na área de estudo e pela duração do período de amostragem. A
densidade deve estar coerente com a área de vida da espécie estudada, evitan
do-se falta de independência entre pontos de amostragem. Como a área de
vida varia muito de espécie para espécie, não é coerente utilizar a mesma
densidade de câmeras para estimar tamanho da população de espécies com
áreas de vida muito diferentes, como por exemplo, de uns poucos hectares, e
espécies que ocupam áréas de centenas ou milhares de hectares. Entretanto,
não há regras pré-estabelecidas para o desenho da amostragem, e testes preli
minares podem ser realizados para avaliar o efeito de diferentes densidades
sobre as estimativas (ver, como exemplo, Jacobson et al. 1998). Informações de
literatura podem fornecer alguns indicadores sobre como distribuir as câmeras
no campo, mas qualquer experimento deve descrever detalhadamente a forma
como as amostragens foram realizadas (notadamente para espécies cujas áreas
de vida são desconhecidas).
252
USD DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS
N = (n1 * n2) / m2
em que,
N = nt * (n2 + 1) / (m2 + 1)
cujo erro padrão é:
253
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. B. DE MIRANDA
254
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS
por Burnham (1972) e posteriormente detalhado por Burnham & Overton (1978,
197-9), os quais produziram um procedimento baseado no método de jackkn ife.
Chao (1988) propôs um outro modelo baseado em um estimador de momento
(m om ent estim ator), o qual é superior ao de Burnham & Overton (1978, 1979)
quando as probabilidades de captura são baixas.
Métodos de remoção
O modelo mais simples de remoção assume que todos os indivíduos têm uma
mesma probabilidade de captura, que é constante em todas as ocasiões (Hayne
1949, Moran 1951, Zippin 1956, 1958, Seber & Whale 1970, Otis et al. 1978,
Seber 1982, White et al. 1982). Este método possui apenas dois parâmetros: o
255
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. B. DE MIRANDA
256
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS
Populações abertas
Uma população aberta é aquela em que ocorrem mortes, nascimentos, imigra
ção e emigração durante o período de amostragem. Entretanto, é difícil diferen
ciar morte de emigração e nascimento de imigração através de marcação-recap-
tura. O modelo básico para se estimar tamanho de populações abertas é o de
Jolly-Seber (Jolly 1965, Seber 1965, Cormack 1973, Seber 1982). Esse modelo
permite a estimativa do tamanho da população a cada ocasião amostrai, bem
como taxas de “sobrevivência” (inclui mortalidade e emigração) e “natalidade”
(inclui imigração) entre as ocasiões. As premissas do modelo Jolly-Seber são
ás seguintes: (A) Todos os indivíduos marcados presentes na população a
cada ocasião têm a mesma probabilidade de captura; (B) Todos os animais
marcados presentes na população imediatamente após uma dada ocasião de
captura/marcação têm a mesma probabilidade de sobreviver até a próxima
amostragem; (C) Marcas não são perdidas ou mal-identificadas e (D) Todas as
amostras são rápidas e cada soltura é feita imediatamente após a amostragem.
M j / n ; = Mj / Nj
257
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. B. DE MIRANDA
Pj = m; / Mj = nj / N;
Zj / (M; - mj) = Ti / R;
que corresponde às taxas futuras de recaptura de dois grupos de animais mar
cados na população no período amostrai i, em que zi e r; são animais dos
grupos Mj-ni; e R;, respectivamente, e que são recapturados pelo menos uma
vez. Assim, r; é o número de animais recapturados mais tarde a partir dos
animais soltos na ocasião i; z; é o número de animais capturados antes da
ocasião i que não são recapturados na ocasião i, mas são capturados novamente
durante uma sessão de amostragem subsequente. Portanto, o estimador de M; é:
Mj = Itlj + Rj * Zj / Tj
258
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS
259
WALFR1D0 MORAES TOMAS
GUILHERME H. B . DE MIRANDA
índices de abundância
Um índice de abundância ou de densidade é algum atributo que muda de
forma previsível conforme ocorram mudanças no número de indivíduos ou na
densidade de uma população (Caughley & Sinclair 1994). Quando índices de
abundância relativa são comparáveis, eles podem ser úteis para comparar a
densidade ou abundância de duas ou mais populações ou avaliar tendências
de uma população ao longo do tempo. Às vezes, uma comparação é exatamen
te o que se necessita, ou seja, quando a questão relevante não é saber quantos
indivíduos compõem uma população, mas sim se ela está declinando ou au
mentando. Isso caracteriza um monitoramento. Nesses casos, a acurácia do
índice não é relevante, mas a precisão é crucial (Caughley & Sinclair 1994). A
precisão de uma estimativa de índices depende fundamentalmente da consis
tência e rígida padronização de técnicas de amostragem, porque deles depende
a variância nos índices obtidos.
Monitoramento
Tanto estimativas de densidade ou de abundância absoluta, como de índices
de abundância, podem ser utilizados para monitorar as tendências de uma
população. O objetivo, nesse caso, é saber se a população está estabelecida,
diminuindo ou aumentando além da taxa de variação de um ano para outro.
Algumas complicaçõés surgem quando esta é a intenção do investigador. Nota-
damente o grande risco que se tem de cometer erros tipo I e II (ver Capítulo 19,
neste volume) nas inferências estatísticas (por exemplo, concluir que a popu
lação está declinando quando na verdade ela está estável). Os resultados entre
uma estimativa e outra tendem a não ser iguais mesmo se a população se
260
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS
mantiver estável. Entretanto, essa variação das contagens não é tão séria se o
erro associado é aceitável. OutVo complicador é o fato de que declínios (ou
aumentos) numa população são quase sempre difíceis de se detectar em perío
dos relativamente curtos, a não ser que as taxas de declínio sejam catastróficas.
261
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. 6 . DE MIRANDA
262
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS
Sem este tipo de análise prévia, um esquema de monitoramento pode ser con
siderado um “tiro no escuro”, já que tanto pode haver exageros nas amostra
gens ou insuficiências dá intensidade amostrai (número de pontos x número
de amostras anuais x número de anos de monitoramento). Corre-se o risco de
estar despendendo tempo e dinheiro para coletar informações que não serão
suficientes para detectar mudanças na população. Assim, é fortemente reco
mendado que se conduzam projetos piloto e posterior análise de poder antes de
se implantar ou de buscar financiamento para um programa de monitoramento.
Outros usos ,
0 equipamento fotográfico automático pode ainda ser utilizado para respon
der questões outras que não estimar o tamanho de populações animais. A
realização de inventários (listagem de espécies que ocorrem em determinada
área ou hábitat) pode ser facilitada com o uso de câmeras fotográficas, mas o
263
WALFRIDO MORAES TOMAS
GUILHERME H. B. DE MIRANDA
O uso de hábitats por determinada espécie também pode ser avaliado através
de equipamento fotográfico automático. Entretanto, cuidados devem ser to
mados quanto à distribuição de câmeras e à localização do equipamento nos
pontos de amostragem, além dos efeitos do uso de iscas. A distribuição das
câmeras deve incluir todos os hábitats ou categorias de hábitats na área de estu
do, sendo que o esforço amostrai deve ser equiparável entre essas categorias.
264
USO DE ARMADILHAS FOTOGRÁFICAS EM
LEVANTAMENTOS POPULACIONAIS
Figura 5. Atividade de paca (Agouti paca) inferida por meio de câm eras fotográficas auto
máticas no Parque Nacional de Brasília, entre 05 e 17 de setembro, 2000. n = 4.
O risco que se corre é considerar não detecção como não uso. Torna-se neces
sário ainda nesse tipo de estudo avaliar as vantagens e desvantagens de uma
distribuição ao acaso das câmeras na área de estudo, e assim definir o protoco
lo de amostragem. A utilização de iscas pode. por outro lado, atrair animais
para hábitats de outra forma pouco utilizados.
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267
11 Armadilhamento fotográfico de grandes felinos:
algumas considerações importantes
Ullas Karanth
Wildlife Conservation Society, International Programs
James D. Nichols
USGeological Survey, Patuxent Wildlife Research Center
Laury Cullen Jr.
IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
Introdução
O armadilhamento fotográfico é uma ferramenta relativamente nova no estudo
da biologia de animais silvestres, tendo sido extensivamente empregado em le
vantamentos de campo com grandes felinos e outros animais. Como qualquer
ferramenta, pode ajudar no trabalho quando bem utilizado, ou atrapalhar quan
do usado erroneamente. Este capítulo pretende dar algumas diretrizes iniciais
aos biólogos que queiram fazer uso de armadilhas fotográficas com animais sil
vestres, particularmente com grandes felinos. Informações mais detalhadas quanto
,à utilização adequada desta técnica podem ser encontradas na literatura citada.
270
ARMADILHAMENTO FOTOGRÁFICO DE GRANDES
FELINOS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
fício pode ser alcançada se não utilizarmos armadilhas fotográficas, e sim con
tarmos seus rastros. Sendo a precisão de um índice uma função do tamanho
da amostra, taxas de encontro de rastros podem muitas vezes produzir maio
res amostras (número de conjuntos de pegadas vistos /100 km andados) do
que fotografias (número de indivíduos fotografados/l00 noites de captura). Se
nossos objetivos incluem os itens 3 e 4, ou se os rastros forem realmente mais
“caros e/ou difíceis” de se obter do que as fotografias, então as armadilhas
fotográficas devem ser utilizadas.
271
ULLAS KARANTH
JAMES D. NICHOLS
LAURY CULLEN JR.
N= p .a . C
Onde:
N = é a população da área amostrai a estimar;
a = a proporção da área total efetivamente amostrada;
p = a proporção do número de animais na área amostrada;
C = o número de animais ou a contagem estatística.
272
ARMADILHAMENTO FOTOGRÁFICO DE GRANDES
FELINOS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
273
ULLAS KARANTH
JAMES D. NICHOLS
LAURY CULLEN JR.
274 Í
ARMADILHAMENTO FOTOGRÁFICO DE GRANDES
FELINOS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IM POSA N TES
gem bruta de números de animais capturados. Mesmo nos idos de 1960, George
Schaller utilizou um índice de Lincoln na estimativa dé leões marcados em
Serengeti. Desde então, tem sido disponibilizada uma abundante literatura e
softw ares com melhores desenhos e análises de levantamentos por captura e
recaptura, que estão largamente disponíveis (Otis et al. 1978; W hite et al.
1982, revisado por Nichols em 1992). Parte desta literatura e softw ares já se
encontra disponível gratuitamente na Internet.
275
ULLAS KARANTH
JAMES D. NICHOLS
LAURY CULLEN JR.
de alguma vez esbarrar com uma armadilha (assumindo que todas as armadi
lhas estejam fora de sua área de uso), então, o tamanho populacional estimado
será baixo demais, devido.à não detecção daquele animal.
276
ARMADILHAMENTO FOTOGRÁFICO DE GRANDES
FELINOS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
277
I
ULLAS KARANTH
JAMES D. NICHOLS
LAURY CULLEN JR.
Por exemplo, para tigres, as armadilhas devem ser colocadas de modo que uma
fêmea em estágio reprodutivo possa encontrar pelo menos duas câmeras. Consi
derando que a menor área de uso registrada em hábitats de grande produtivida
de na Ásia do Sul tem por volta de 15 km 2 (onde se pode posicionar as câmeras
com distâncias de 3 - 4 km), em áreas com maior densidade (áreas de uso mais
amplas de fêmeas) pode-se usar um espaçamento maior com segurança.
Por outro lado, o uso das laterais dos animais para identificação necessita do
278
ARMADILHAMENTO -FOTOGRÁFICO DE GRANDES
FELINOS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
Jim 0 1 1 0 0 1 0
Ullas ,1 0 0 0 1 0 1
Alan 0 0 1 1 0 0 1
Tim ' 1 1 0 0 0 0 0
Josh 0 0 0 0 0 0 1
Dale 0 1 1 0 1 0 0
Poderia h a v er outros tigres n a á rea am ostrada, com o Tony, Ruth e Margaret, que
n ã o foram captu rados neste levan tam ento am ostrai específico. A inda assim eles
n ã o p o d erã o es ca p a r do p ro cesso d e estim ativa p o r captura e recaptura.
Identificações por análise de DNA extraído de pelos ou fezes dos animais po
dem dar identificações mais seguras e podem ser usadas em uma estrutura de
captura e recaptura. Entretanto, ainda não foram desenvolvidos microssatélites
específicos, necessários para individualizar a maioria dos felinos silvestres.
Localizações com câmeras dão uma ideia de áreas de uso, mas, na prática,
recapturas, na maioria das vçzes, não são suficientes para tal. Acima de tudo,
em vez de tentar estimar o número de tigres de diversas formas sem bases teóri
cas sólidas, parece mais sábio usar o protocolo baseado na amostragem por
captura e recaptura, e usar informações adicionais de radiotelemetria e outras
evidências para alimentar este processo rigoroso de estimativa populacional.
281
ULLAS KARANTH
JAMES D. NICHOLS
LAURY CULLEN JR.
I
282
ARMADILHAMENTO FOTOGRÁFICO DE GRANDES
FELINOS: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES
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Sites na Web:
O software CAPTURE é gratuitamente disponibilizado na rede no site da USGS Patuxent
W ildlife Research Center, Laurel, Maryland http://www.mbr-pwrc.Usgs.gov/software.html
mantido por Jim Hines.
Os softw are CAPTURE, MARK, JOLLY, JOLLYAGE etc. e a monografia em vida silvestre não
publicada de Otis et a l., 1978, mencionada no texto, estão disponíveis no site da Universidade
Estadual de Colorado, Fort Collins, Colorado http://www.cnr.colostate.edu/~gwhite/mark/
mark.htm mantida por Gary White. Ele também mantém a lista de discussão MARK no site
da Colorado, que lida com tópicos sobre captura e recaptura.
284
■ 12 Radiotelemetria em estudos populacionais
L Anael Aymoré Jacob
IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
Rudy Rudran
Smithsonian Institution, USA
I ____________________________________________________
Introdução
Há aproximadamente 40 anos, a técnica de radiotelemetria vem permitindo a
pesquisadores obter preciosas informações sobre a ecologia e o comportamen
to de populações silvestres, sem estarem obrigatoriamente em contato com os
indivíduos estudados. Tal fato reflete-se principalmente em estudos com espé
cies elusivas ou de hábitos noturnos, que tornam difícil seu monitoramento
por meio de observação direta.
C onsiderações Preliminares
Mesmo que a definição dos objetivos do estudo aponte para a radiotelemetria
como uma das técnicas capazes de fornecer as informações desejadas, deve-se
inicialm ente avaliar sua aplicabilidade à realidade do projeto. É também im
portante lembrar que existem outras técnicas que podem suprir as mesmas
necessidades da pesquisa em questão. Para algumas espécies que vivem em
ambientes abertos e com boa visibilidade, observações diretas de indivíduos
com marcadores individuais permitem análises de comportamento e territo-
286
RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
287
ANAEL AYMORÉ JACOB
RUDY RUDRAIÍ
Delineamento da Pesquisa
A maior parte das críticas dirigidas a estudos da vida silvestre gira em torno da
ausência ou pouca elaboração no delineamento da pesquisa, também chamado
desenho experimental. Esse sintoma pode ser explicado em parte pelas ori
gens desta ciência relativamente jovem, basicamente constituída de estudos
descritivos e de história natural, aliada à dificuldade de controlar e replicar
experimentos frente à magnitude de variáveis que se encontram neste campo
de pesquisa. Ainda assim, cada vez mais autores clamam por um aumento de
rigor científico nesta disciplina (Ratti & Garton 1994; Volpato 2 0 0 1 ), de forma
a produzir uma sólida base de conhecimento para direcionar áções de manejo
e conservação da vida silvestre (Romesburg 1981). Contudo, isto não deve
implicar o abandono dos estudos de história natural, especialmente em regi
ões Neotropicais, onde ainda persistem imensas lacunas de conhecimento
básico. Os estudos baseados na observação e descrição de processos ecológi
cos devem ser encarados como um solo fértil, necessário para instigar o surgi
mento de hipóteses ou modelos que permitam testar ou prever as respostas
das populações estudadas a diferentes condições ambientais.
288
RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
4) Da mesma forma, o tamanho amostrai deve ser considerado nos dois níveis,
buscando-se sempre o melhor termo entre o número de indivíduos monitora
dos e o número de localizações por indivíduo (Alldredge & Ratti 1986). A
tendência de amostrar poucos indivíduos intensamente, apesar de potencial
mente fornecer um profundo entendimento sobre a autoecologia e comporta
mento desses indivíduos, normalmente resulta na carência de representativi-
dade da população amostrai (Samuel & Fuller 1994; Garton et al. 2001).
White & Garrott (1990) lembram que este é um processo iterativo, em que cada
etapa exerce influência decisiva sobre a outra e a necessidade de reavaliação
do delineamento é uma constante até que a pesquisa esteja pronta para imple
mentação. Para um maior aprofundamento no assunto, consultar Scheaffer et
al. (1986), Ratti & Garton (1994) e Volpato (2001).
Escolha do equipamento
A cada dia, torna-se mais difícil escolher o equipamento de radiotelemetria
ideal para um projeto de pesquisa. A evolução da tecnologia para radioteleme
tria tem colocado à disposição dos usuários uma enorme gama de opções,
desde sistemas convencionais que utilizam ondas de rádio VHF até os mais
modernos sistemas de telemetria por posicionamento global (GPS). Felizmente,
290
t
RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS PQPULACIONAIS
Transmissores
Existem atualmente transmissores para quase todos os tipos de animais (pei
xes, aves, répteis, mamíferos, invertebrados etc), podendo ser externos (aco
pláveis) ou internos (implantes). O sistema completo de transmissão é com
posto basicamente pelo transmissor propriamente dito (em outras palavras,
pelos componentes eletrônicos responsáveis pela emissão do sinal), pela bate
ria, pela antena de transmissão e pelo mecanismo de fixação ao indivíduo. A
combinação das especificações dos três primeiros irá determinar a potência
efetiva do sinal emitido e a vida útil do transmissor. Por outro lado, os três
últimos são determinantes no efeito do radiotransmissor sobre o bem-estar do
animal marcado (Samuel & Fuller 1994).
291
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RUDY RUDRAN
Figura 1. Radiotransm issor acoplado por meio de colar a uma onça preta (Panthera onca).
(Foto: Laury Cuílen Jr.)
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RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
Arreios: utilizados na m aioria das aves (Fig. 2), bem como em mamíferos
cujo formato do pescoço e da cabeça permite a eles se desvencilhar de cola
res (ex. lontras e ariranhas). Consistem de um ou dois tirantes, podendo ser
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RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
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RUDY RUDRAN
Receptores
A escolha do receptor irá influenciar principalmente a quantidade de esforço
que o pesquisador terá que empregar durante a coleta de dados. Quase toda
novidade incorporada em modelos mais modernos gira em torno da maior
amplitude da faixa de captação, melhor portabilidade, praticidade e visibilida
de da frequência sintonizada. O principal cuidado a ser tomado na compra do
receptor é a compatibilidade de suas frequências de captação com aquelas dos
transmissores adquiridos para o estudo. Receptores mais simples são capazes
de captar apenas um número fixo de frequências, enquanto modelos mais
modernos captam frequências ao longo de uma faixa de 1 até 10 MHz, traba
lhando com um número muito maior de transmissores. Muitos fabricantes
questionam o cliente sobre a frequência utilizada na pesquisa quando da com
pra de receptores ou transmissores isoladamente, justamente para evitar tais
problemas de incompatibilidade.
Outro item opcional que pode ser acoplado ao receptor é o scan n er. Em sua
memória digital, podem-se armazenar as frequências dos -transmissores em
uso. Feito isto, o scanner realiza uma varredura constante das frequências
armazenadas, podendo ser interrompido quando o sinal emitido por algum
dos transmissores for captado. Essa ferramenta tem se provado muito útil em
estudos com muitos indivíduos marcados, especialmente em monitoramentos
aéreos de espécies com ampla área de vida, quando não há corrro saber ao certo
quais indivíduos serão encontrados em determinada área. Nessas ocasiões, 0
scan n er pode representar uma economia significativa de horas de sobrevoo, que
normalmente consomem grande parte do orçamento de projetos de pesquisa
296
RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
Antenas
O terceiro componente do equipamento básico de telemetria é a antena, res
ponsável por interceptar o sinal emitido pelo transmissor e retransmiti-lo mag
nificado para o receptor. Normalmente ligada ao receptor por meio de cabos
coaxiais, a antena pode ter diversos tamanhos e configurações, que irão influir
diretamente na magnificação do sinal captado e na sua portabilidade. Nova
mente, deverá ser feita uma escolha de acordo com os objetivos da pesquisa e
espécie sendo estudada. Quanto maior for o porte e a complexidade da antena,
maior será o ganho no sinal, porém maior será a dificuldade no seu manuseio.
297
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Loop: Composta por um único elemento circular, a antena loop tem um ganho
de sinal reduzido em comparação com outros modelos. No entanto, seu dese
nho simplificado oferece maior praticidade em ambientes mais fechados, po
dendo ser útil para trabalhos com espécies de pequeno porte que não realizem
longos deslocamentos.
Yagi: O modelo yagi compreende todas as antenas com três ou mais elementos
paralelos, oferecendo as melhores performances em ganho e direcionalidade
do sinal. Estima-se que uma antena com três elementos possua um ganho de
sinal de até 6 dB em comparação a um modelo dipolo, podendo chegar a 13 dB
em uma antena com quatorze elementos. No entanto, excetuando-se a antena
com três elementos, os modelos yagi são de difícil manejo, sendo utilizadas
preferencialmente em estações fixas de monitoramento ou adaptadas a veícu
los automotivos.
298
RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
Figura 5: Padrão de captação de sinal para uma antena direcional do tipo Adcock, evidencian
do o pico de captação na frente da antena, o campo de captação mais fraco no fundo e os
dois lados "surdos", com captação mínima.
ftovas tecnologias
Conforme mencionado anteriormente, a técnica de radiotelemetria vem pàs-
sando por um processo de modernização cada vez mais acelerado (Cohn 1999).
No entanto, duas dessas novas tecnologias merecem uma atenção especial: O
sistema de radiotelemetria por satélite e o sistema de radiotelemetria por posi
cionamento global (GPS). Essas inovações já são uma realidade nos Estados
Unidos e Europa e vêm ganhando cada vez mais adeptos também entre os
pesquisadores da América Latina. Ambas têm ampliado o escopo dos estudos
de radiotelemetria, por incorporar elementos automatizados no processo de
obtenção das localizações dos indivíduos marcados. No entanto, vale lembrar
que também essas tecnologias têm suas limitações e podem não ser as mais
indicadas para determinado estudo.
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300
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I
Samuel & Fuller (1994) observaram que tais efeitos variam de acordo com a
espécie estudada, classe etária e época do ano, mas que o principal fator de
preocupação entre pesquisadores é, a relação peso do equipamento/peso cor
poral e a acomodação do animal ao mecanismo de fixação. Geralmente, reco-
menda-se que o peso do equipam ento a ser acoplado não exceda 10% do
peso, corporal para répteis, anfíbios e grandes mamíferos; 5-10% para peque
nos mamíferos e aves; e 1% para aves de grande porte. No entanto, Murray &
Fuller (2000) alertam para o uso indiscrim inado de regras gerais, sendo Tes-
ponsabilidade do pesquisador considerar previamente os efeitos potenciais
da colocação de radiotransmissores em sua espécie de estudo. W hite & Gar
rott (1990) reforçam essa ideia ao recomendar a utilização de equipamentos
tão leves quanto possível, sem que se comprometam os objetivos do estudo.
Recomendam ainda: 1) a atenção à possibilidade de interferência do equipa
mento em m ecanismos de camuflagem do animal; 2) um período de aproxi
madamente uma semana após a m arcação para in iciar a coleta de dados,
permitindo a adaptação do animal ao equipamento e retorno a üm comporta
mento normal; 3) evitar a colocação do equipamento durante estações repro
dutivas, pois muitas espécies demonstram ser particularmente sensíveis neste
período.
i
302
RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
Procedimentos de campo
Uma vez passadas as £tapas de delineamento da pesquisa, escolha e teste do
equipamento a ser empregado, é chegado o momento de iniciar a coleta de
dados. O procedimento de campo refere-se principalmente à obtenção de loca
lizações dos animais estudados, ao longo de um gradiente temporal. Conforme
mencionado anteriormente, tais informações podem ser coletadas por siste
mas automatizados (ex. Sistem a ARCOS e GPS), ou pela própria equipe de
pesquisa, através de localizações terrestres ou aéreas. E importante lembrar
que através do sistema de recepção de VHF (receptor e antena direcional) pode-
se estimar apenas a direção do radiotransmissor, de onde seu sinal será capta
do com maior intensidade. A determinação de sua distância pode ser feita,
apenas subjetivamente e de forma qualitativa (próximo ou distante) e, mesmo
assim, dependendo da experiência do pesquisador e das condições da área de
estudo.
Localizando o radiotransmissor
A acurácia de uma localização depende principalmente da qualidade das esti
mativas de direção do transmissor. Tais estimativas são suscetíveis não apenas
ao erro humano, mas também sofrem a influência das diversas interferências
(reflexão, difração, polarização etc) a que são submetidos os sinais dos radio-
transmissores. Convém não poupar esforços no treinamento da equipe res
ponsável por essa tarefa, a fim de identificar e corrigir eventuais vícios amos
trais, obter uma ideia geral da capacidade do equipamento sendo usado e de
finir locais vantajosos/problemáticos na recepção de sinais. De extrema impor
tância também é a realização de testes, com transmissores colocados em locais
desconhecidos pela equipe. Dessa forma, através de simulações de diferentes
condições de coleta de dados e de suficientes repetições para cada membro da
equipe, é possível obter um valor de desvio padrão para as suas estimativas de
direção, o que será útil nos cálculos do erro associado às localizações do trans
missor. Apesar da prática ainda ser a melhor forma de aprendizado, as infor
mações a seguir podem ser de utilidade para quem está começando:
303
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Figura 6. Estim ativa da origem do sinal pelo método da bissetriz, utilizando os limites dos
lados "surdos" da antena, para formação de um ângulo.
304
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Rastreamento terrestre
Essa técnica consiste em seguir no rumo de maior intensidade de sinal até o
estabelecimento de contato visual com o indivíduo marcado, com subsequente
localização desse ponto com auxílio de GPS ou de mapas. Apesar de ser um
método com margem mínima de erro de localização, pode ser inapropriado
caso a aproximação humana interfira no comportamento normal do animal
estudado. Também tem como desvantagem o tempo e esforço necessários para
se chegar até a localização desejada, o que dificulta o monitoramento de mui
tos indivíduos. Essa técnica também é utilizada na recuperação de transmisso
res em situações de desvencilhamento do mecanismo de fixação ou óbito do
animal marcado. A grande dificuldade do rastreamento'terrestre se dá com a
aproximação final ao radiotransmissor. Neste momento, o sinal será escutado
de todas as direções e, caso se trate apenas do radiotransmissor ou de um
animal pequeno e furtivo, pode haver certa dificuldade na sua visualização.
Nesses casos, deve-se sempre reduzir o volume do receptor à medida que for
se aproximando do transmissor e considerar a possibilidade de desconectar a
antena, utilizando apenas o cabo coaxial como substituto.
Rastreamento aéreo
Fundamental na localização de sinais perdidos por localizações terrestres, o
rastreamento por sobrevoo permite que se cubram longas distâncias na busca
de animais com amplas áreas de uso ou que habitam áreas de acesso muito
dificultado. Para tanto, utiliza-se uma antena direcional fixada em cada asa do
aeroplano e o auxílio de um comutador, que permite escutar o sinal de cada
antena em separado ou em conjunto. Após a identificação da região geral de
influência do radiotransmissor, através de um sobrevoo alto ( 1 0 0 0 - 2 0 0 0 m) e
utilizando as duas antenas em conjunto, é necessário buscar o rumo de maior
intensidade do sinal, requisitando ao piloto que faça um giro de 360° enquan
to apenas a antena da asa externa à curva é mantida ligada. No momento em
que o sinal estiver mais forte, marca-se o rumo indicado pela bússola do aero
plano (que indica a direção de voo) e se adiciona/reduz 90° de acordo com o
sentido da curva, orientando o piloto para ajustar o curso do aeroplano nesta
305
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4 4if"
.-.....
/ t V
470
5
Triangulação
Possivelmente a técnica de localização por telemetria mais utilizada, a triangulação
consiste em: escolher dois ou mais pontos de qualidade na captação do sinal;
obter suas coordenadas geográficas, no sistema UTM (Universal Transverse
Mercator); estimar suas respectivas direções de maior intensidade do sinal;
medir, com o auxílio da bússola, os ângulos de visada dessas direções; e final
mente calcular a localização do transmissor, através dos pontos de encontro
das retas correspondentes aos ângulos medidos em cada ponto. Dependendo
do número de pontos utilizados para a triangulação, tais cálculos podem ser
de trigonometria simples (dois pontos) ou baseados em estimadores de máxi
ma verossimilhança (três ou mais pontos). A existência de uma quantidade
razoável de programas de computador desenvolvidos para efetuar tais cálculos
(Anexo II) toma desnecessária aqui a descrição desses cálculos, porém, o leitor
mais afeito a procedimentos estatísticos pode buscar os trabalhos de Springer
(1979), Lenth (1981) e Saltz & Alkon (1985) ou ainda o bom resumo destes,
presente no livro de White & Garrott (1990).
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308 ,
RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
Figura 8. Ilustração dem onstrando que, quanto maior a distância do pesquisador para o
radiotransmissor, maior a distância a ser percorrida entre dois pontos de localização para a
obtenção de uma dada diferença a entre os ângulos de visada.
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Polígono
Figura 9. Estimativas dè localização por meio de triangulações com dois e três pontos. As
áreas sombreadas representam as áreas de confiança associadas ao desvio padrão para as
medidas de ângulos de visada.
Análise de dados
O propósito da análise de dados em qualquer estudo, biológico ou não, é
extrair destes o máximo de informações segúras e passíveis de interpretação
por parte do pesquisador. Este é um processo que, apesar de trabalhoso, deve
fluir com tranquilidade quando o delineamento da pesquisa e os procedimen
tos de campo foram bem planejados e conduzidos. Daí, então, entram em cena
o conhecimento e a criatividade do pesquisador para sintetizar tais informa
ções, avaliar sua confiabilidade e oferecer sua visão de como tais informações
explicam a questão que se está investigando, bem como indicar novos passos
para o aprofundamento das pesquisas neste tópico (Ratti & Garton 1994).
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Como já deve estar claro até aqui, os componentes básicos de um banco de dados
proveniente de um estudo com radiotelemetria são as coordenadas geográficas x e
y, expressas no formato UTM, associadas a um tempo t, expresso sob a forma de
data e hora da localização do indivíduo monitorado. Dados adicionais podem
advir de sensores embutidos nos transmissores ou de medições de variáveis ex
trínsecas ao animal monitorado, complementando o banco de dados de acordo
com os objetivos da pesquisa. Embora tais dados possam ser de ordem primária
ou secundária dentro do delineamento da pesquisa, são comumente analisados
em relação dos componentes x, y e t (White & Garrott 1990).
Figura 10. Exemplo de localizações de uma jaguatirica (Leopardus parda lis) monitorada no
Parque Estadual Morro do Diabo, SR
A descrição de cada tipo de análise de dados será limitada aos seus aspectos
teóricos, para que o leitor compreenda sua utilização e nuances, facilitando o
trabalho com os programas de computador dedicados a essas tarefas. O desen
volvimento matemático dessas análises foge dos objetivos deste capítulo, po
dendo ser encontrado
* na literatura indicada. r'
312
RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
Movimentação e atividade
«
Uma das formas mais simples de análise de dados coletados com radioteleme
tria é a de movimentação e atividade dos indivíduos monitorados ao longo de
um gradiente temporal. Estas análises consistem no cálculo simples da taxa
deslocamento/tempo observado entre sucessivas localizações, da proporção
entre pulsos de atividade/inatividade durante o monitoramento, ou ainda da
proporção presença/ausência em uma área definida de descanso. Informações
desse tipo podem ser utilizadas para revelar padrões comportamentais para a
população estudada, que podem por sua vez ser correlacionados com outras
variáveis, tais como período fértil ou disponibilidade de recursos alimentares.
Para esse tipo de análise, são necessários regimes contínuos de coleta de da
dos, a fim de registrarem-se também os movimentos ou períodos de atividade
erráticos dos indivíduos monitorados. Essa deve ser a principal preocupação
do pesquisador, pois intervalos muito longos de tempo entre triangulações
consecutivas podem excluir movimentos inteiros, que tenham se iniciado e
terminado em um mesmo local (ex.: partida e retorno a um ninho em busca de
alimento). Estudos de dispersão e migração também entram nesta categoria,
embora com gradientes temporais mais amplos. Nesses estudos, aspectos como
a distância, a direção e a proporção da população efetuando o deslocamento
são comumente avaliados, bem como os fatores determinantes do início desses
processos (Storm et al. 1976).
Uso do espaço
Análises do padrão de uso do espaço são normalmente feitas através da des
crição das áreas de uso dos animais monitorados, a partir das localizações '
observadas e com o auxílio de diversos estimadores de seu contorno e medida.
Área de uso foi originalmente definida por Burt (1943) como: “A área percorri
da por um indivíduo em suas atividades normais de busca de alimênto, acasa
lamento e cuidado com filhotes. Saídas ocasionais dessa área, talvez de natu
reza exploratória, não devem ser consideradas como parte da área de uso”.
Embora utilizado até os dias de hoje, esse conceito de área de uso deixa mar
gem para controvérsias quanto ao que seriam “atividades normais” e “saídas
ocasionais”, evidenciando as dificuldades inerentes na estimativa dos limites
dessas áreas (Gautestad & Mysterud 1995). Segundo -White & Garrott (1990),
esse conceito deveria ser abandonado em troca da formulação de hipóteses
mais relevantes, a serem testadas pela análise estatística dos dados brutos
(localizações), evitando assim a constante violação de premissas por parte dos
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RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
Figura 11. Contorno da área de uso de uma jaguatirica no Parque Estadual Morro do Diabo,
estimada pelo método do Mínimo Polígono Convexo (MPC).
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Figura 12. Contorno da área de uso de uma jaguatirica no Parque Estadual Morro do Diabo,
estimada pelo método do Mínimo Polígono Convexo com 95% das localizações (MPC 95%).
Note a exclusão dos pontos mais extremos do núcleo de utilização do indivíduo.
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Figura 13: Contorno da área de uso de uma jaguatirica no Parque Estadual Morro do Diabo,
estimada pelo método normal bivariado de Jennrich-Turner com 9 5% da distribuição de
utilização (Elipse 95% ).
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O uso de grids para cálculo de áreas de uso data de muito antes do surgimento
do estimador por média harmônica. A forma de cálculo inicialmente utilizada
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Figura 14. Sim plificação do processo de cálculo das distâncias m édias harm ônicas para
cada nó do grid superposto. Por estar mais próximo das localizações visualizadas no detalhe,
o nó A terá um valor de distância média harmônica menor que o nó B, sendo incluído em um
contorno de menor porcentagem da distribuição de utilização.
Figura 15. Contorno da área de uso de uma jaguatirica no Parque Estadual Morro do Diabo,
estimada pelo método da média harmônica, com 95% da distribuição de utilização.
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Figura 16. Contorno da área de uso de uma jaguatirica no Parque Estadual Morro do Diabo,
estimada pelo método de kernel adaptativo, com 95% da distribuição de utilização.
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Figura 17. Comparação entre a área de uso de uma jaguatirica no Parque Estadual Morro do
Diabo, calculada por meio de diversos estimadores.
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Seleção de hábitat
Um dos principais objetivos ém muitos estudos de animais silvestres é a iden
tificação e análise de padrões de uso do hábitat, pois este engloba diversos
recursos necessários à sobrevivência de populações (alimento, abrigo, etc; ver
Haney & Solow 1992; Tufto 1996). Através do conhecim ento de como uma
população seleciona os hábitats disponíveis em seu meio, pode-se avaliar melhor
a importância de cada um para a adaptação dessa população e da espécie em
estudo, servindo como orientação para ações visando a seu manejo e a sua
conservação (Garshelis 2 0 0 0 ).
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RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
tipos de hábitats por parte dos indivíduos monitorados. No entanto, para que
possam ser consideradas como uma amostra representativa da proporção de
tempo que os indivíduos estudados passam em cada tipo de hábitat, dóis
aspectos das localizações são fundam entais: sua acurácia e independência
(White & Garrott 1986; Millspaugh et al. 1998). As localizações devem ser
obtidas com acurácia suficiente para garantir o seu correto posicionamento
dentro dos diferentes tipos de hábitat estipulados para a análise de uso pelos
animais, sendo aconselhável o uso do sistema de telemetria por GPS em estu
dos com alto grau de detalhamento de hábitat (Moen et al. 1996). Já a indepen
dência entre localizações consecutivas, tema recorrente neste capítulo, deve
ser observada para evitar que a proporção de utilização observada de determi
nado hábitat seja uma amostra viciada por conta do processo amostrai, quando
deveria ser uma função da sua real seleção por parte dos indivíduos monitora
dos (Millspaugh et al. 1998).
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Samuel & Fuller (1994) alertam ainda para a necessidade de cuidado com as
diferenças na abordagem'de um estudo deste tipo, fruto da natureza hierárqui
ca do conceito de seleção de hábitat. Diferentes abordagens exigirão diferentes
delineamentos de pesquisa, unidades experimentais e procedimentos de aná
lise, consequentemente resultando em diferentes tipos de informações adqui
ridas. Por exemplo, a ênfase de um estudo de seleção de hábitat pode ser aó
nível individual, analisando como cada indivíduo estudado utiliza os recur
sos a sua disposição dentro de suas áreas de uso já estabelecidas (Thomas &
Taylor 1990); ou ao nível populacional, avaliando ao longo de uma área de
estudo os componentes de hábitat mais determinantes na seleção e estabeleci
mento de tais áreas de uso (Johnson 1980).
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Conclusões
Apesar das várias décadas desde o início de sua utilização no estudo de popu
lações de animais silvestres, a radiotelemetria encontra-se em plena evolução
técnica e metodológica. Na medida que o avanço tecnológico amplia suas fron
teiras, novas aplicações para a radiotelemetria vão sendo desenvolvidas, en
globando aspectos fisiológicos, ecológicos e comportamentais dos animais sil
vestres, e com isso contribuindo para um melhor entendimento de seus pa
drões naturais. Com o advento dos sistemas de informações geográficas (SIG)
e a incorporação de dados de localizações de animais em seu arcabouço, novas
portas se abrem para essa metodologia, alcançado novos níveis de análise e
interpretação de dados (Hooge & Eichenlaub 2000). Não obstante a isto, muito
ainda há para ser desenvolvido, principalmente no que se refere a como tratar
da enorme gama de informações que podem ser obtidas com esta técnica. White
& Garrott (1990) destacam a necessidade do desenvolvimento integrado de
pacotes estatísticos para análise de dados de radiotelemetria que englobem
todos os seus aspectos, desde triangulações e estimativas de erro nas localiza
ções até análises mais complexas, como estimativas de área de uso e de utiliza
ção de hábitat, entre outros.
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RA D IO TELEM ETR IA EM EST U D O S POPULACIONAIS
Anexo I
Forn eced ores de equipam entos para radiotelem etria. Lista atualizada periodi
cam en te por Robert Diehl & Ronald Larkin, do Illinois N atural H istory Survey,
e d isp on ível em h ttp ://n h sb ig .in h s.u iu c.e d u
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e -m a il: b r i a n @ b i o t r a c k . c o . u k ,
s e a n @ b io tr a c k .c o .u k
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3 3 9
ANAEL AYMORÉ JACOB
RUDY RUDRAN
3 4 0 '
RADIOTELEMETRIA EM ESTUDOS POPULACIONAIS
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Tel: +1 602 892 4444
Fax: +1 602 892 9139
e-mail: info@ telonics.com
http://www.telonics.com
341
Anexo II
Lista de programas de computador para análises de dados de radiotelemetria.
342
13 Metodologias moleculares
utilizadas em genética da conservação
Beatriz M. Perez-Sweeney
Universidade da Columbia, Nova York, USA
Fernando P. Rodrigues
Instituto de Biociências, USP
Don }. Melnick
Universidade da Columbia, Nova York, USA
Introdução
A Biologia da Conservação, desenvolvida em resposta à çrise pela qual a biodi
versidade passa atualmente, utiliza um grande número de disciplinas das áre
as de ciências naturais e sociais. Entre elas, duas subdisciplinas da genética, a
sistemática baseada em dados moleculares e a genética de populações, foram
organizadas em uma nova área de investigação científica aplicada, conhecida
cotno Genética da Conservação. Este capítulo tem como objetivo discutir o
valor dos estudos genéticos para as ações de conservação, fornecer algumas
instruções sobre como proceder a coleta e o armazenamento de amostras e
descrever resumidamente algumas das metodologias laboratoriais e analíticas
mais utilizadas pela Genética da Conservação.
343
BEATRIZ M. PEREZ-SWEENEY
FERNANDO P. RODRIGUES
DON J. MELNICK
O que conservar?
Os dados genéticos podem ser usados de forma com plem entar àqueles da
biologia reprodutiva, ecologia e morfologia, num esforço conjunto para de
finir as unidades (como espécies ou subespécies) que serão o alvo da con
servação. Para evitar uma discussão prolongada sobre as definições de es
pécies, este capítulo focaliza-se em unidades evolutivam ente significativas
(UES) [“evolu tionarily significant units - ESU”]. O conceito de unidades evo
lutivamente significativas (Ryder 1986, Moritz 1994) foi introduzido para defi
nir populações parcialmente diferenciadas geneticamente, justificando assim
o seu manejo como linhagens evolutivas separadas. Diferentes critérios, todos
relacionados à sistemática molecular e usando derivações do conceito de espé
cies filogenéticas, têm sido empregados para identificar UES (Cracraft 1983,
Avise & Bali 1990, Vogler & DeSalle 1992, Davis & Nixon 1992, Moritz 1994,
Avise 1996). Um exemplo da sua utilização pode ser encontrado no trabalho
de Eizirik et al. (1998), no qual a análise filogenética do DNA mitocondrial
revelou que, para. fins de manejo populacional, o gato-maracajá (Leopardus
wiedii) pode ser dividido em três UESs diferentes, ao contrário das onze su
bespécies consideradas anteriormente. Muitos outros exemplos do uso da sis
temática molecular para a definição das UESs podem ser encontrados na litera
tura, entre eles o da tartaruga marinha de Ridley Kemp, L ep id och ely s olivacea,
(Bowen & Avise 1995), do lêmur E u lem u r fu lv u s (Wyner et al. 1999) e do
rinoceronte asiático, D icerorhin u s su m atren sis (Morales et al. 1997). Em al
guns casos a pesquisa genética usada para definir UESs pode conduzir à des
coberta de hibridização entre subespécies ou espécies, como no caso do puma
da Flórida, Pum a co n color coryi (O Brien & Mayr 1991).
344
■ METODOLOGIAS MOLECULARES
UTILIZADAS EM GENÉTICA DA CONSERVAÇÃO
1.0
0.9
0.8
0.7
0.6
Equilíbrio
p 0.5
0.4
0.3
0.2
0.1
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
346
METODOLOGIAS MOLECULARES
UTILIZADA^ EM GENÉTICA DA CONSERVAÇÃO
Outros métodos que nos permitem medir o tamanho efetivo de uma população
(número de indivíduos que nela se reproduzem), o fluxo gênico e os sistemas
de acasalamento têm sido desenvolvidos. O conhecimento desses atributos é
particularmente importante caso se queira evitar o rompimento dos processos
demográficos naturais enquanto se manejam as populações.
Alguns avanços têm sido obtidos nas estimativas dos tamanhos efetivo histó
rico e atual das populações. A determinação do tamanho efetivo histórico da
população nos ajuda a identificar ocorrências passadas de gargalos genéticos
(declínio rápido do tamanho populacional, de longa ou curta duração). E útil
identificarmos se as populações passaram por gargalos genéticos antes da frag
mentação do hábitat, para assim avaliarmos em que grau a fragmentação devi
do à ação antrópica está afetando a estrutura genética de uma população. A
obtenção de estimativas do tamanho efetivo histórico de uma população não é
simples, mas testes estatísticos cada vez mais sofisticados estão sendo desen
volvidos com esse propósito. Por outro lado, a determinação do tamanho efeti-'
vo atual da população através de dados genéticos está se tornando cada vez mais
realista. Esta é uma medida necessária já que o tamanho efetivo da população é
geralmente muito menor do que o tamanho de censo (Crow & Denniston 1988,
Templeton & Read 1994, Gerber & Templeton 1996, Schwartz et al. 1999). Em
populações em que há sobreposição de gerações, por exemplo, o tamanho do
censo pode incluir indivíduos subadultos e idosos, fazendo com que a estima
tiva populacional seja maior do que o tam anho efetivo da população. As
347
BEATRIZ M. PEREZ-SWEENEY
FERNANDO P. RODRIGUES
DON J. MELNICK
estimativas dos tamanhos efetivos das populações nos ajudam a prever a taxa
de perda de variação genética com o passar do tempo e ainda ajudam na
avaliação da viabilidade presente e futura das populações (Lande 1998).
Métodos
O processo de planejamento da pesquisa genética é uma etapa importante, prin
cipalmente no que se refere ao sistema de amostragem (número de indivíduos e
localidades analisadas) e à escolha do marcador genético a ser utilizado. A dis
cussão do sistema de amostragem não será contemplada nesté capítulo, mas
informações sobre o tema podem ser obtidas ,em Weir (1996a); Baverstock &
Moritz (1996); e GoodnighJ & Queller (1999).
348
METODOLOGIAS MOLECULARES
UTILIZADAS EM GENÉTICA DA CONSERVAÇÃO
Tempo de
Amostragem Modo de
Método Fonte Custo desenvol
não invasiva Herança
vimento3
"Tempo levado para desenvolver a técnica de forma que a genotipagem possa ser feita para
espécies am eaçadas ou ainda não estudadas.
bCusto da operação rotineira. O custo é alto durante sua implementação e desenvolvimento
dos marcadores para novas espécies.
349
BEATRIZ M. PÉREZ-SWEENEY
FERNANDO P. RODRIGUES
DON J. MELNICK
350
T a b e la 2. M é t o d o s d is p o n ív e is p a ra a c a r a c t e r i z a ç ã o g e n é t i c a d e in d iv íd u o s e p o p u la ç õ e s e s u a a p lic a b ilid a d e a q u e s t õ e s d e in t e r e s s e p a ra a
c o n s e r v a ç ã o (m o d ific a d o d e F r a n k h a m e t al. 2 0 0 2 ). •
352
METODOLOGIAS MOLECULARES
UTILIZADAS EM GENÉTICA DA CONSERVAÇÃO
A coleta das amostras pode ser feita de maneira invasiva ou não invasiva. Os
métodos invasivos são aqueles utilizados para obtenção de tecidos ou sangue,
para os quais geralmente se requer a captura e contenção dos animais. Os
métodos não invasivos são aqueles nos quais a captura dos animais não é
necessária, utilizando-se como amostras materiais biológicos como fezes, pe
nas e pelos deixados em seu hábitat. Métodos pouco invasivos também estão
disponíveis, como aqueles em que se coleta pelos (Valderrama et al. 1999), ou
biópsias de pele através do uso de dardos. As amostras obtidas podem ser
armazenadas de várias maneiras, algumas delas específicas para o tipo de ma
terial e estudo que será realizado. Alguns procedimentos para se armazenar
*-y
diferentes tipos de amostras são descritas a seguir:
Tecido anim al: ótimos resultados são obtidos para estudos de DNA, armaze
nando-se os tecidos em etanol absoluto. Os pedaços de tecido devem ser pe
quenos (biópsias de pele com alguns m ilímetros quadrados geralmente são
suficientes) e devem ficar totalmente mergulhados no álcool. O material assim
armazenado deve ser guardado preferencialmente sob refrigeração ou mantido
à temperatura ambiente até ser enviado ao laboratório. Etanol 70% também
pode ser utilizado, podendo ainda o tecido ser congelado a 2 0 °C. Tecidos
obtidos de espécimes conservados em formol não são adequados para estudos
de DNA, e, portanto, a conservação por este meio não deve ser realizada.
353
BEATRIZ M. PEREZ-SWEENEY
FERNANDO P. RODRIGUES
DON J. MELNICK
Apesar de não ser objeto deste capítulo, vale lembrar que para estudos citoge-
néticos é necessária a obtenção de células nucleadas vivas, e por isso as amos
tras coletadas devem ser armazenadas utilizando-se meios distintos dos aqui
descritos (Duarte et al. 1999).
Eletroforese
Todas as metodologias discutidas a seguir possuem em comum a necessidade
de se separar os fragmentos de DNA ou proteínas estudadas, para detecção de
suas diferentes formas ou alelos. Essa separação é obtida através do uso de
uma técnica básica conhecida como eletroforese. A eletroforese permite a sepa
ração de m oléculas em um meio de suporte, em função das diferenças de
354
METODOLOGIAS MOLECULARES
UTILIZADAS EM GENÉTICA DA CONSERVAÇÁO
Proteínas (Isoenzimas)
Um método clássico, muito utilizado a partir da década de 60, para avaliação
da diversidade genética em diferentes organismos, é o de eletroforese de prote
ínas ou isoenzimas (ver Murphy et al. 1996). Isoenzimas são formas alternati
vas de uma mesma proteína, resultante de sua codificação por mais de um
alelo ou loco. A sua detecção envolve a extração das proteínas do tecido, a
separação dessas proteínas através de eletroforese e a coloração histoquímica
do gel, o que permite a sua visualização na forma de uma banda. Cada uma das
bandas observadas corresponde ao produto de um alelo diferente, e desta for
ma podemos identificar os genótipos dos indivíduos de uma população. Devi
do a essa capacidade de revelar os diferentes alelos presentes em um determi
nado loco e sua combinação na formação de indivíduos homozigotos ou hete-
rozigotos, dizemos que a eletroforese de proteínas fornece marcadores do tipo
codominante. Além da vantagem proporcionada por esse fato, essa é uma téc
nica com uma boa relação custo-benefício, pois requer equipamentos relativa
mente baratos, geralmente comuns nos laboratórios de genética.
355
BEATRIZ M. PEREZ-SWEENEY
FERNANDO P. RODRIGUES
DON J. MELN1CK
DNA
Extração do DNA
A extração do DNA pode ser feita a partir de uma variedade de materiais,
incluindo pelos (Allen et al. 1998; Vigilant et al. 1989; Walsh et al. 1991),
peles de espécim es mantidos em museus (Herman & Hummel 1994), fezes
(Boom et al. 1990; Constable et al. 1995; Kohn & Wayne 1997; Flagstad et al.
1999; Wasser et al. 1997), sangue (Ausubel et al. 1992), tecidos (Ausubel et al.
1992), osso e penas (Herman & Hummel 1994) e até mesmo unhas e urina
(Boom et al. 1990; Veloso et al. 2000). A extração de DNA dessa variedade de
fontes pode ser realizada por meio de métodos tradicionais, como os protoco
los baseados no uso de solventes orgânicos como fenol/clorofórmio (Sambrook
et al. 1989) e suas modificações, ou através de kits comerciais, os quais geral
mente produzem DNA de alta qualidade para as análises.
Amplificação do DNA
Reação em cadeia da polim erase (“PCR”)
356
M ETO D OLO G IAS MOLECULARES
U TILIZA D A S EM G ENÉTICA DA CONSERVAÇÃO
a temperatura para cerca de 94°C, o que faz com que as pontes de hidrogênio
que unem as duas fitas se rompam e a molécula passe a ser fita simples. Na
etapa de anelamento, a temperatura é reduzida para cerca de 40 a 65°C, permi
tindo assim a hibridação do DNA molde aos oligonucleotídeos iniciadores
(pequenas moléculas de DNA de fita simples, em geral chamadas de “prím ers”).
Os prím ers são sintetizados artificialmente, de forma a que sua sequência seja
complementar à sequência que delimita a região que se quer amplificar. Na
terceira etapa, a temperatura da reação é elevada para 72°C, o que faz com que
a enzima DNA polimerase inicie a extensão a partir dos prím ers ligados ao
DNA na etapa anterior. Durante a extensão, nucleotídeos são incorporados à
nova fita que está sendo sintetizada, tendo como molde a sequência alvo que
será amplificada. Assim, ao fim do processo, temos uma nova cópia em fita
dupla da sequência de interesse. Este ciclo é repetido cerca de 30 a 40 vezes e,
em cada um deles, a quantidade da sequência alvo dobra. Dessa forma, a am
plificação segue uma progressão geométrica, ao fim da qual teremos milhares
de cópias daquela sequência. A duração de cada etapa e a- temperatura de
anelamento podem variar e dependem do tamanho e da sequência dos prím ers
e das condições da reação, devendo ser otimizadas pelo pesquisador durante
o desenvolvimento do experimento. Os produtos do PCR podem ser visuali
zados em gel de agarose ou poliacrilamida após coloração específica, podendo
ainda ser purificados e utilizados em outras técnicas como, por exemplo, a
clonagem e o sequenciamento. Apesar de sua aparente simplicidade, a técnica
de PCR possui muitas variáveis e a ocorrência de dificuldades durante sua
realização é comum. Para ajudar na resolução desses problemas, várias estraté
gias estão disponíveis e podem ser encontradas na literatura (Innis et al. 1995;
Dieffenbach & Dveksler 1995; Palumbi 1996).
31
357
B E A TRIZ M. P E R E Z -SW E E N E Y
FERN AN DO P R O D RIG U ES
DON J. MELNICK
Clonagem
Antes do advento do PCR, a clonagem era o principal método disponível para
obter numerosas cópias de ufn lo c o genético. Essa técnica envolve a introdu
ção do DNA em uma bactéria e, através da m ultiplicação das células bacteria-
nas, o DNA de interesse também é multiplicado. Embora o PCR tenha, em
geral, substituído a utilização da clonagem para a amplificação do DNA, essa
técnica é ainda muito empregada em estudos de genética molecular. Ela é uti
lizada, por exemplo, durante a construção de bibliotecas genômicas e bancos
de DNA microssatélite (Fig. 3). Esses bancos são usados posteriormente para
gerar os prím ers que serão utilizados na amplificação de marcadores microssa-
télites específicos para a espécie de interesse.
DNA
Inserção em vetores
Digestão do DNA
e separação dos Seleção dos
fragmentos por fragmentos com
eletroforese 300 a 500 bp
ó 0
Desenvolvimento dos
Seqüenciamento
prímers para amplificação
dos clones positivos
dos microssatélites por PCR
Introdução dos vetores em
bactérias, multiplicação em
meio de cultura, e detecção
das colônias que contêm
repetições microssatélites.
Seqüenciamento de DNA
A determinação da sequência de bases no DNA é a forma mais direta de avaliar
a variação genética existente nos organismo. Essa técnica envolve o isola
mento do DNA, a am plificação do lo c o de interesse, a condução de uma
reação de seqüenciam ento e a resolução da respectiva reação através de ele
troforese. Atualmente, esse processo é feito usualmente, utilizando-se equipa
mentos para seqüenciam ento automático. O pesquisador pode amplificar o
DNA através de PCR ou clonagem, porém, o uso de PCR é geralmente mais
358
M ETO D OLO G IAS MOLECULARES
U TILIZA D A S EM G ENÉTICA DA CONSERVAÇÃO
usado por ser mais simples e rápido. Apesar do sequenciamento ainda ser um
procedimento caro e trabalhoso, os avanços tecnológicos têm facilitado o uso
dessa técnica, muito utilizada para fins taxonômicos e filogeográficos.
N O VO SEG M EN TO D E DNA
^ 3'
Ligação iônica H HO
£ 5'
CH Base CH
5"
Base A
\
------ T
1\
I T
c— c
3' Ay
l / V l I/ ° \ l C r 4'f C
C 4‘ 1' C ^ C 4’ 1 ;C
^ / r
3' 2; / \ 3' 2;. /
c— C c —
T T I . I
OH H H H
Desoxinucleotídeo Dideoxinucleotídeo
(dNTP) (ddNTP)
C 4- Hc
\ 3-
c —-£ c)
r I
OH H
3’
359
BEA TRIZ M. P E R E Z -S W EEN EY
FERN AN DO P. RO D RIG U ES
DON J. MELNIGK
360
M ETO D O LO G IA S MOLECULARES
U TILIZA D A S EM GEN ÉTIC A DA CONSERVAÇÃO
5' t t r i"i i r i i
C T G A C T T C G A C A A
| -|- r"i— 3'
Adicionar:
DNA polimerase
dNTPs (A, T, C e G)
ddNTPs fluorescentes
( J.CeG)
i_ L
-L i
U L
Fragmentos
grandes
3' 5'
G C
A T
Q Determinaçao q
j da sequência a
Eletroforese em G do DNA c
sequenciador A estudado j
automático A ------------ ► T
G C
C G
T A
G C
T A
T A
5' 3'
Fragmentos
pequenos
Figura 5. Diagrama esquemático do sequenciamento baseado no método de dideoxinucleo-
tideo de Sanger.
361
BE A TRIZ M. PE R E Z -SW E E N E Y
FERN AN DO P. RO D RIG U ES
DON J. MELNICK
362
M ETO D O LO G IA S M OLECULARES
UTILIZA D A S EM G ENÉTICA DA CONSERVAÇÃO
sobre o caráter do DNA, mas é menos preciso e fornece menos informação para
as análises quantitativas. Ele ainda,requer que as condições da reação sejam
consistentes e bastante rigorosas para que o repetimento seja obtido. Os dados
gerados através da técnica de RFLP podem ser usados tanto para sistemática
molecular como para a análise de genética de populações.
363
B E A TRIZ M. P E R E Z -SW E E N E Y
FERN AN DO P. R O D RIG U ES
DON J. MELNICK
Minissatélites
Várias classes de sequências repetitivas são encontradas nos organismos euca-
riotos e têm sido descritas e caracterizadas em várias espécies animais e vege
tais. Uma dessas classes é conhecida como m inissatélites, ou ainda VNTRs
(“Variable Number of Tandem Repeats” - Sequências adjacentes que se repe
tem em número variável). As regiões m inissatélites são encontradas em todo o
genoma e são constituídas por um número variável de sequências repetidas,
cujo tamanho do grupo de repetição pode variar de 10 a 100 bases (Jeffreys et
al. 1985, Armour & Jeffreys 1992, Bruford et al. 1992, Frankham et al. 2002).
Os m inissatélites são altamente variáveis, sendo sua evolução devida à recom-
binação não equivalente e conversão gênica (Armour & Jeffreys 1992; Jeffreys
et al. 1991, 1994). A análise dos m inissatélites é feita de maneira semelhante à
análise de RFLP, sendo o DNA cios indivíduos analisados cortado com enzi
mas de restrição e separado através de eletroforese. Em seguida é desnaturado
(passado para fita simples) e transferido para uma membrana através da técni
ca “Southern blot”, a qual permite a detecção das repetições através da hibrida-
ção com sondas radioativas ou fluorescentes. Essas sondas radioativas se. li
gam aos fragmentos contendo m inissatélites através do pareamento comple
mentar de bases, e o resultado é visualizado através de uma autorradiografia.
A autorradiografia revela um padrão de bandas semelhante a um código de
barras, o qual, em espécies não endogâmicas, permite a caracterização de cada
indivíduo analisado. Por esse motivo essa técnica também é conhecida como
“DNA fingerprinting”, por fornecer uma impressão digital genética de cada
indivíduo.
364
METO D OLO GIAS MOLECULARES
U TILIZA D A S EM G ENÉTICA DA CONSERVAÇÃO
Microssatélites
Outra classe de sequências repetitivas encontrada nos genomas eucariotos são
os microssatélites, denominados ainda sequências simples repetidas (“SSR -
Simple Sequence Repeats”) ou repetições pequenas em Tandem (“STR - Short
Tandem Repeats”). Os m icrossatélites possuem sequências repetidas mais sim
ples do que os minissatélites, com comprimento das repetições variando de 2
a 5 bases (Tautz 1989; Weber & May 1989). Uma unidade de repetição com três
bases pode ser constituída, por exemplo, pela repetição ATG. A variação en
contrada nos m icrossatélites é resultado da variação no número dessas repeti
ções, que produzem uma mudança no tamanho dos alelos observados. Assim,
para um determinado lo co estudado em uma população, podemos encontrar
muitos alelos que variam quanto ao número de repetições que ele possui. Em
um organismo diploide poderemos encontrar um ou dois alelos, dependendo
se ele é homozigoto ou heterozigoto para o lo co estudado. Portanto, os micros
satélites são marcadores codominantes, e por isso geneticamente muito infor
mativos. Os m icrossatélites são detectados por meio da amplificação por PCR
utilizando-se p rim ers específicos, que se ligam a regiões conservadas que deli
mitam a sequência de DNA que contém a região repetitiva. Os fragmentos re
sultantes da amplificação são então separados por eletroforese em gel de poli-
acrilamida e corados com nitrato de prata, para visualização e registro do re
sultado. Alternativamente, pode-se utilizar p rim ers modificados por fluores
cência, o que permite a detecção dos fragmentos amplificados usando-se equi
pamentos de sequenciamento automático.
365
BE A TRIZ M. P E R E Z -SW E E N E Y
FERN AN DO P. RO D RIG U ES
DON J. MELNICK
366
M ETO D OLO G IAS MOLECULARES
U TILIZA D A S EM G ENÉTICA DA CONSERVAÇÃO
Tabela 3. R efe rên cias biblio g ráficas re fere nte s às m etodologias de an álise dos dados
genéticos.
Tópico Referências
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367
B E A TR IZ M. PER E Z -SW E E N E Y
FERNANDO P. RO D RIG U ES
DON J. MELNICK
Conclusão
A Genética da Conservação é uma disciplina aplicada que está em franco cres
cimento. Nela, a sistemática molecular e a genética de populações são utiliza
das conjuntamente, com o objetivo de fornecer instrumentos para que o mane
jo das espécies possa ser realizado visando-se à manutenção do seu potencial
evolutivo e consequentemente a sua viabilidade a longo termo. Ela faz uso de
várias metodologias laboratoriais e analíticas, através das quais é possível ob
ter marcadores moleculares que nos auxiliam na resolução de numerosos pro
blemas pertinentes à conservação. Em conjunto com outras disciplinas que v
fazem parte da Biologia da Conservação, as ferramentas aqui apresentadas são
capazes de formar um quadro robusto da diversidade encontrada nas popula
ções naturais, fortalecendo os meios pelos quais a biodiversidade pode ser
conservada.
368
A n e x o 1: P ro g ra m a s c o m p u ta c io n a is m a is u tiliz a d o s na a n á lis e d e d a d o s g e n é tic o s .
/
Função/ Métodos Programas Acesso
Construção de Árvores
Genealógicas (Genealogia)
2. Rede de haplótipos
Dispersão
Fluxo Gênico
Tamanho Efetivo
da População (N J.
LAMARC http://evolution.genetics.washington.edu/lamarc/migrate.html
5 . Ne histórico
M ETO D O LO G IA S M OLECULARES
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380
Vegetação e ecologia de paisagem
14 Restauraçãoeconservação de
ecossistemas tropicais
Paulo Kageyama
Universidade de São Paulo (USP)
Introdução
A Mata Atlântica original cobria cem milhões de hectares. Hoje, em virtude da
densa população e industrialização, resta somente cerca de 7% dessas flores
tas. Diversos pontos desse bioma são atualmente apontados como sendo hotspots
de biodiversidade, locais onde se concentra uma alta diversidade de espécies
associada a uma grande ocorrência de endemismos - parâmetros indicadores
de prioridade parà a conservação e a preservação (MacNeely et al. 1990).
383
PAULO KAGEYAMA
F L Á y iO B E R TIN GANDARA
Dessa forma, a restauração ecológica deve criar um novo ecossistema que per
mita não só o desenvolvimento das espécies arbóreas estabelecidas, como tam
bém dos seus organismos associados, tanto vegetais como animais, além de
microrganismos. Deve-se salientar que a maioria das espécies arbóreas tropi
cais tem animais como vetores de pólen e de sementes, os quais são essenciais
na restauração (Bawa 1974). Portanto, a restauração adequada seria aquela que
possibilitasse que os novos ecossistemas fossem importantes para a reconsti
tuição de hábitats, bem como para a conservação genética e como fontes de
sementes e de propágulos para novos projetos de restauração.
Diversidade de espécies
A alta diversidade de espécies nos ecossistemas, sem dúvida, é uma das prin
cipais características das florestás tropicais, podendo-se encontrar até cerca de
400 espécies em um só hectare de mata (SOS Mata Atlântica 1996).
384
RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE
E C O SSIS T E M A S TRO PIC A IS
Assim, pode-se concluir que essa alta diversidade de espécies na floresta não
é igualmente distribuída entre os diferentes tipos de espécies. Existem grupos
que ocorrem em mais alta densidade, tais como as pioneiras (comuns nas
clareiras grandes) e algumas clim ácicas que ocorrem sob o dossel da floresta
fechada, assim como aqueles que são raros e que têm normal ocorrência no
grupo das espécies secundárias (Kageyama et al. 1986).
Dinâmica da sucessão
A sucessão secundária é o processo de mudanças que se verifica nos ecossis
temas após a destruição parcial da comunidade. Pode ser em uma pequena
área de floresta nativa, devido à queda de uma árvore, ou em vários hectares
de uma cultura agrícola abandonada. Nesse processo, ocorre uma progressiva
mudança na composição florística da floresta, iniciada a partir de espécies
pioneiras até espécies climácicas.
Nas clareiras, ocorre uma reocupação por diferentes grupos ecológicos de espécies
385
PAULO KAGEYAMA
FLÁ V IO BE R TIN GANDARA
Interação planta-animal
A interação entre plantas e animais em florestas tropicais é muito intensa e
determinante para a estruturação do ecossistema, pois envolve relações funda-
mefttais, tais como polinização, dispersão de sementes e herbivoria/predação.
As espécies das florestas tropicais, em sua maioria, são alógamas, ou seja,
necessitam trocar pólen para que haja a sua polinização (Bawa et al. 1985a).
Essa troca é fundamentalmente realizada por animais (Bawa et al. 1985b), des-
tacando-se os insetos, os morcegos e as aves.
386
RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE
E C O SSIS T E M A S TRO PIC A IS
Uma classificação arbitrária dos grupos ecológicos pode ser tentada, buscan
do-se um consenso entre os principais autores que mais se aprofundaram no
assunto, visando dar um certo pragmatismo a essa tarefa. Deve-se salientar
que, no caso, serãò consideradas somente as espécies arbóreas e arbustivas,
levando-se em conta que o componente herbáceo é muito efêmero no início da
sucessão, principalmente na secundária. Além disso, o pragmatismo na restau
ração tem o objetivo básico de “apressar” a súcessão, e/ou encurtar cada um de
seus estágios. Abaixo é apresentada uma classificação desses grupos ecológicos:
387
PAULO KAGEYAMA
FL Á V IO B E R T IN GANDARA
388
RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO C E
E C O SSIS T E M A S TRO PIC AIS
389
PAULO KAGEYAMA
FLÁ V IO B E R T IN GANDARA
390
1
RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE
E C O SSIS T E M A S TRO PIC A IS
Desta forma, não como uma camisa de força, mas como indicação, essas regras
devem ser gradativamente adotadas, uma vez que o uso de um grande número
de espécies nativas nos plantios mistos de revegetação não permite a sua ado
ção a partir de um momento. No entanto, deve-se evitar coletar sementes de
populações plantadas, desconhecidas quanto à sua origem e ao seu tamanho.
Também se deve evitar terminantemente a coleta de uma árvore isolada, tanto
natural como plantada.
391
PAULO KAGEYAMA
FLÁ V IO B E R T IN GANDARA
Considerações finais
I
O avanço das técnicas de restauração ecológica, transformando as áreas de
gradadas em ecossistem as florestais, aliado com o aumento do rigor da fisca
lização e da legislação ambientais, assim como da conscientização de proprie
tários rurais e outros segmentos da sociedade, tem permitido que o ritmo do
plantio de áreas de preservação permanente e reserva legal venha crescendo
continuam ente. Dessa forma, constata-se que as áreas restauradas devem não
só conter a riqueza de espécies da floresta tropical como também uma repre-
sentàtividade genética das populações dessas espécies. Além do mais, no fu
turo, essas áreas restauradas representarão grande parte da biodiversidade re
manescente, passando a ser fontes de propágulos e de genes para uso econô
mico ou de conservação.
Por outro lado, somente nos últimos anos a pesquisa sobre florestas naturais e
espécies nativas vem desenvolvendo técnicas sustentáveis de manejo de ecos
sistemas naturais e de plantio econômico de nossas espécies. Essas florestas e
plantios, quando bem manejados, podem ter também um papel importante na
conservação genética, pela manutenção de populações representativas da bio
diversidade original. Finalm ente, constata-se que para as espécies arbóreas
tropicais a conservação in situ e ex situ, às vezes, se confundem ou se sobre
põem, como ocorre em áreas restauradas com material representativo das espé
cies e populações. Como são áreas plantadas (restauradas), deveriam ser deno
minadas de ex situ. Entretanto, como se espera que com o tempo se tornem
muito semelhantes às áreas naturais, e com representatividade das espécies e
populações, elas poderiam ser confundidas com uma conservação in situ.
392
RESTAURAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE
E C O SSIS T E M A S TRO PIC A IS
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394
15 Fenologia, (rugivoria e dispersão de sementes
Mauro Galetti
i Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Patrícia C. Morellato
Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Introdução
A polpa de frutos carnosos é a fonte primária de energia para muitas espécies
.de aves, mamíferos, lagartos e até mesmo de peixes. Esses animais podem
defecar, cuspir, regurgitar ou, simplesmente, derrubar frutos longe da planta
mãe, aumentando consideravelmente as suas chances de sobrevivência. Por
tanto, a frugivoria e a dispersão de sementes são processos essenciais para as
populações das plantas, assim como para os animais.
395
M A U RO G A L E TTI
MARCO AURÉLIO PIZO
PA TRÍC IA C. M ORELLATO
V
396
i
FEN OLOGIA, FRUG IVO RIA E
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
A maioria das plantas de mata primária possui sementes grandes que são dis
persas por mamíferos e aves de grande porte, como antas e macacos. Esses
dispersores atuam na regeneração de ambientes perturbados, transportando
sementes de florestas primárias para áreas perturbadas (Guevara & Laborde
1993). Entender como esses processos de regeneração ocorrem pode ajudar na
restauração de ambientes degradados (Duncan & Chapman 1998).
397
M AU RO G A LÇTTI
MARCO AURÉLIO PIZO
PATRÍCIA C. MO RELLATO '
Fenologia
A fenologia estuda a ocorrência de eventos biológicos repetitivos e sua relação
com mudanças no meio biótico e abiótico (Davis 1945, Morellato et al. 1989).
O estudo da fenologia é fundamental para avaliarmos que tipos de frutos,
quando e em que quantidades estão disponíveis aos frugívoros, em uma deter
minada área. Antes de iniciar qualquer estudo fenológico é necessário definir
o nível de análise, se indivíduo, população ou comunidade e, a partir daí,
selecionar um método de amostragem dos indivíduos (arbóreos, arbustos, lia
nas) que serão monitorados periodicamente na área.
Esses métodos utilizam-se de algum critério de exclusão (ou escolha) dos indi
víduos, que estará relacionado aos objetivos do estudo. Por exemplo, árvores
podem ser selecionadas utilizando-se um diâmetro mínimo para sua inclusão;
esse pode estar associado ou não à posição do indivíduo na estratificação;
arbustos podem ser selecionados pela altura total, ramificação ou pelo diâme
tro máximo; trepadeiras normalmente são selecionadas pelo seu hábito, que
pode ou não estar associado a serem trepadeiras lenhosas ou herbáceas, um
critério adicional. Não se esqueça que, além de árvores, as lianas e arbustos
também produzem frutos consumidos pelos animais. No caso de lianas e cer
tas plantas herbáceas, é difícil definir o que é um indivíduo, e outras estraté
gias têm que ser adotadas para caracterizar a fenologia das espécies (Morellato
& Leitão-Filho 1996, Romera 1999).
398
FENOLOGIA, FRUG IVO RIA E
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
em mente que, quanto mais indivíduos você amostrar, melhor será. Estudos
de populações devem envolver o maior número amostrai compatível com a
sua capacidade de observação, para poder determinar variações significativas
na oferta de recursos e permitir testes estatísticos (eg. Milton et al. 1982, Man-
tovani & Morellato 1999), O número mínimo de indivíduos é dez (Fournier &
Charpantier 1975), mas pode chegar a mais de duzentos, dependendo das
características do estudo. Lembre-se que o estudo da fenologia demanda tem
po e regularidade.
O que observar
Após escolher e marcar os indivíduos, deve-se definir o que se vai observar ou
as fenofases que se desejam estudar. As fenofases ou fases a serem estudadas
dependem do objetivo do estudo proposto. Em estudos de frugivoria, normal
mente se estuda a frutificação, que pode ser desdobrada nas fenofases frutos
verdes e frutos maduros. Muitos observam também a presença de flores, que
pode ser utilizada como-indicativo da capacidade reprodutiva da planta (razão
flor/fruto). Para a observação, utilize binóculos claros com magnitude 8 x 30, 8
399
M AURO G A L E TTI
M ARCO AURÉLIO PIZO
PA TRÍCIA C. M ORELLATO
(1) P resen ça/au sên cia - Esse método consiste em observar diretamente a copa
das árvores, registrando somente a presença ou ausência de flores e frutos
(Frankie et al. 1974, Morellato et al. 1989). Ele nos oferece o número de espécies
e indivíduos com frutos em um determinado local, porém, não nos fornece a
quantidade de frutos disponíveis para frugívoros.
FENOLOGIA, FRUGIVORIA E
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
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Frugivoria
O estudo da frugivoria avalia qualitativamente e quantitativamente quais os
frutos consumidos pelos animais. Os dados sobre frugivoria dependem muito
do tamanho da sua amostra. É comum que pesquisadores cheguem a conclu
sões errôneas, como considerar uma espécie especialista em determinados fru
tos, em razão da amostragem realizada ter sido pequena. Outro erro comum é
sugerir que uma espécie é especialista em determinado item ou espécie de
fruto sem ter avaliado a disponibilidade dos recursos no ambiente (Collar et
al. 1992). Não podemos dizer, por exemplo, que a jacutinga (Pipile jacutinga)
é especialista em frutos de palmito (E uterpe edu lis), porque essa planta é,
402
FENOLOGIA, FRUGIVORIA E
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
Alguns autores argumentam que pelo menos 100 estômagos são necessários
para se obter uma am ostragem rep resen tativ a da dieta de uma espécie
403
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Espécie analisada:---------------------------
Data da coleta:__?___________ .Local:
; /•
Amostra Volume do Número Número Espécies Tamanho
n° estômago de de de sementes
(ml) itens sementes sementes e estado1
Todos os estudos que visam identificar as espécies de frutos que são utiliza
dos por uma espécie animal devem possuir uma coleção de referência de fru
tos e sementes para análises comparativas. As carpotecas (coleção de frutos)
devem possuir amostras de frutos maduros preservados em álcool 70%: Nos
frascos, as amostras devem conter uma etiqueta com determinação da espécie,
local de coleta, cor dos frutos (já que alguns frutos mudam de cor no álcool),
data de coleta e local. Sempre que possível, deve-se colocar algumas sementes
no mesmo frasco - elas serão úteis para comparar com sua amostra. Também é
recomendável o pesquisador tomar medidas morfométricas de pelo menos 10
frutos de cada espécie (Tabela 3). Essas medidas podem ser usadas para se
fazer uma análise do tamanho de frutos em uma comunidade, em comparação
com os tamanhos de frutos utilizados pelos frugívoros (veja Herrera 1982,
Wheelwright 1985J.
*
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FENOLOGIA, FRUGIVORIA E
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
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PATRÍCIA C. MO RELLA TO *
406
\
FENOLOGIA, FRUGIVORIA E
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
Observação focal
Este método consiste em permanecer próximo a uma planta com frutos madu
ros, registrando os animais que dela se alimentam, assim como o seu compor
tamento. Para essas observações, escolha árvores com copa desobstruída, evi
tando assim que alguns “visitantes” passem despercebidos. Não se deve ficar
muito próximo da árvore, pois isso pode afugentar ou alterar o comportamen
to dos animais visitantes; quanto mais longe, melhor. As observações devem
ser iniciadas antes do amanhecer, pois esse é o horário em que alguns animais
(por exemplo, os cracídeos) preferencialmente visitam as fruteiras. Embora o
período da manhã seja, em geral, o que propicia o maior número de registros
por representar o horário preferencial de forrageamento dos animais (especial
mente aves), observações ao fim da tarde também são recomendáveis, já que
alguns frugívoros alimentam-se também ao entardecer (Pizo 1997). Para o estu
do de morcegos frugívoros, o melhor horário para as observações é no início
da noite, das 19 às 23 horas, que corresponde ao período de maior atividade
de forrageamento desses animais (Coatés-Estrada & Estrada 1986, Fleming &
Williams 1990). Nesses casos, faz-se necessário o pso de lanternas e/ou de
aparelhos para visão noturna, sensíveis ao infravermelho. Em geral, vários
dias são necessários para se ter uma lista confiável dos animais que se alimen
tam da planta estudada.
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PATRÍCIA C . M ORELLATO
Fica claro que nem todos os dados acima citados podem ser coletados por um
único observador em cada visita de um anim al à árvore. Dessa forma, são
necessárias várias horas de observação para que se obtenha dados para todas
as espécies visitantes. O uso de,um a planilha otimiza a coleta de dados no
campo, além de posteriormente facilitar a análise dos dados. A Tabela 4 apre
senta um exemplo de planilha que pode ser usada para observações focais.
408
FENOLOGIA, FRUGIVORIA É
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
Transecto
Esse método consiste em cam inhar vagarosamente por trilhas e/ou estradas
previamente sorteadas e, a cada encontro com indivíduos da espécie em estu
do se alimentando de frutos, anotar um registro de alimentação (feeding bout).
Dados adicionais que eventualmente podem ser coletados com o uso deste
método incluem horário em que o registro foi realizado, número de indivíduos
se alimentando, espécie vegetal e item consumido (polpa, arilo, semente, fruto
imaturo). Além disso, em algumas observações, é possível ainda registrar o
tempo em que o indivíduo (ou grupo de indivíduos) permaneceu se alimen
tando, a taxa de alimentação (isto é, o número de frutos consumidos por uni
dade de tempo) e detalhes do comportamento.
409
M A URO G A L E TTI
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mais utilizado considerar um registro para o grupo todo, já que é difícil contar
1
Redes de neblina
Redes de neblina têm sido amplamente usadas para o estudo da dieta de aves
e morcegos frugívoros (Loiselle & Blake 1990, 1999). Para isso o animal captu
rado é colocado dentro de um saco de pano por 10-15 min, tempo em geral
suficiente para que ele defeque as sementes contidas em seu tubo digestivo. A
ave é, então, liberada e as fezes são coletadas e conservadas em álcool 70% ou
FAA (Formol - Álcool Ácido Acético) para análise posterior. Uma outra ma
neira de obter as sementes do animal capturado é provocar sua regurgitação
através da administração de uma substância emética. Este método, conhecido
como tártaro emético, vem sendo utilizado para o estudo da dieta de aves
(Poulin et al. 1994, Poulin & Lefebvre 1995, Mallet-Rodrigues et al. 1997) e
consiste em fornecer oralmente à ave uma solução de Tartarato de Antimônio e
Potássio a 1%, através de um tubo plástico flexível ligado a uma seringa. O
tubo é cuidadosamente inserido até o esôfago da ave e a solução administrada
lentamente na dosagem de 0,8 cm 3 para cada 100 g de massa corporal da ave.
410
FENOLOGIA, FRUGIVO RIA E
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
\
Após a administração, a ave deve ser mantida em um saco de pano, como
descrito anteriormente.
Focal Detalhamento
Dispersão
O estudo da dispersão das sem entes envolve aspectos relacionados à frugi
voria, como, em geral, quais anim ais se alim entam de determinado fruto e,
portanto, podem ser os dispersores das sem entes, e o número de sementes
411
M AU RO G A L E TTI
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PATRÍCIA C. M ORELLATO
Germinação de sementes
A avaliação da taxa de germinação das sementes nas fezes dos frugívoros é a
primeira etapa para determinarmos se um animal é “bom ou mau” dispersor.
Para isso, as sementes coletadas devem ser lavadas em água corrente sobre
uma peneira de malha fina (< 1 mm2 ou 5 mm2). Existem diversos tratamentos
que são realizados para testar a germinabilidade da semente (exemplo: germi
nação no claro versus escuro), e essa é uma área bastante promissora da fisiolo
gia vegetal. Entretanto, a maioria dos estudos ecológicos utiliza a germinação
em verm iculita ou em placas de petri, sob papel absorvente, colocadas em
estufa. Alguns autores utilizam antifúngicos para evitar a infestação de fungos
nas sementes.
Observação direta
O registro da distância de dispersão e do local de deposição da semente por
observação direta do agente dispersor é inviável para a maioria dos dispersores
de sementes. Com a presença próxima do observador, o dispersor pode rapidà-
mente se afastar ou alterar seu comportamento. Entretanto, no estudo da mirme-
cocoria (isto é, dispersão de sementes por formigas), é possível acompanhar as
formigas enquanto elas removem as sem entes para seus ninhos (Passos &
412
FEN OLOGIA, FRUG IVO RIA E
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
Ferreira 1996, Pizo & Oliveira 1999). Para isso, basta que o observador se mova
com cautela e tenha paciência, já que o caminho adotado por uma formiga para
chegar ao seu ninho nem sempre é aquele que julgamos ser o mais curto. As
formigas que dispersam sementes geralmente as removem para seus ninhos,
onde aproveitam a parte carnosa que envolve a semente (elaiossomo, polpa ou
arilo) para, depois de alguns dias, descartá-la em torno da entrada do ninho.
Assim, ao se acompanhar uma formiga carregando semente para seu ninho,
pode-se ao mesmo tempo registrar a distância de dispersão (normalmente <
10 m no caso das formigas) e o local de deposição da semente.
413
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MARCO AURÉLIO PIZO
PA TRÍCIA C. MO RELLA TO
414
FENOLOGIA, FRUG IVO RIA E
D ISPERSÀ O DE SEM EN TES
relação ao local onde foi inicialm ente colocada, o que faz com que a proporção
de sementes recuperadas através do uso deste método seja normalmente baixa.
Por isso, sua eficácia limita-se a dispersões de curta distância (< 20 m).
Pó fluorescente
O pó fluorescente tem sido utilizado para o estudo de fluxo de pólen e rara
mente se aplica a estudos de dispersão. Frutos de sementes dispersas por
formigas têm sido marcados com pó fluorescente. Assim, tanto o destino como
a rota através da qual o fruto é levado podem ser encontrados com a ajuda de
lanternas com luz ultravioleta (Bossard 1990). É imprescindível que o elaios-
soma (local onde a formiga carrega o fruto) não receba o pó, para não influen
ciar na escolha dos frutos,pelas formigas. Esse.método pode ser empregado
para o estudo de dispersão por formigas e roedores em que a distância de
dispersão é geralmente curta. Também é mais recomendável para locais secos,
abertos e com pouca liteira. O principal problema desse método é que o pes
quisador deve tomar muito cuidado com o manuseio do pó fluorescente para
não “contaminar” a vegetação, além do pó poder ser lavado facilmente pela
chuva. Também como na frugivoria (Tabela 5), os métodos a serem escolhidos
para se estudar a dispersão de sementes irão depender da espécie a ser estuda
da (planta e animal) e do local (Tabela 6).
415
M AU RO G A L E TTI
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PATRÍCIA C. M O RELLA TO
Tabela 6. Comparação dos métodos para se avaliar o destino das sem entes dispersas por
an im ais.
Experimentos de exclusão
Estudos naturalísticos sobre dispersão de sementes geralmente esbarram na
impossibilidade de se controlar todas as variáveis, como eficiência na disper
são, remoção secundária das sementes encontradas nas fezes, sítio de deposi
ção das sementes, estabelecimento das plântulas. Portanto, experimentos de
exclusão de um determinado grupo (formigas, roedores ou aves) poderão indi
car precisamente qual a importância de cada grupo na remoção de sementes.
Esses experimentos, chamados de “ca feteria ex perím en ts”, estão se tornando
bastante comuns, principalmente para estudos de predação de sementes (Hul-
me 1998, Hulme & Hunt 1999, Edwards & Crawley 1999, Pizo & Oliveira 1999).
Uma premissa importante desses experimentos é ter certeza de que cada trata
mento de exclusão (de roedores, aves ou formigas) é inviolável, ou seja, que o
grupo a ser excluído não tem acesso às sementes oferecidas. Geralmente dois
ou três tratamentos são realizados e os controles são comparados
416
FEN OLOGIA. FRUGIVORIA E
D ISPERSÃ O DE SEM EN TES
(2) tratam ento d e ex clu são d e roed o res - Esse tratamento consta de uma gaiola
metálica (15 x 15 x 10 cm) revestida por tela de arame (malha de 1,5 cm) com
aberturas laterais pequenas que permitem o acesso de roedores, mas impedem
o acesso de aves granívoras (Columbídeos e Tinamídeos).
(3) tratam ento aberto (controle) - Neste tratamento as sementes são dispostas
no chão da mata e todos os animais (aves, roedores e formigas) têm acesso às
sementes.
Cada tratamento é, geralmente, espaçado de dois a cinco metros um do outro e
cada estação (ca fe ter ia ) fica distante entre 50 e 100 metros uma da outra. Ano-
ta-se a proporção de sementes removidas após 7 a 30 dias do início do experi
mento. O pesquisador deve levar em conta sempre a pergunta que norteia o
trabalho e não esquecer de obter o máximo número de réplicas possíveis.
Considerações finais
São vários métodos utilizados para o estudo da fenologia, frugivoria e disper
são de sementes. Como ressaltado ao longo deste capítulo, a escolha de cada
método depende dos organismos estudados e das perguntas que o pesquisa
dor pretende responder. Sugerimos que antes de iniciar um estudo o pesqui
sador procure:
1) Ler trabalhos semelhantes para se familiarizar com o método que está sendo
mais empregado para seu objeto de estudo.
2) Fazer testes pilotos no campo antes do início das coletas, com o objetivo de
testar os métodos empregados.
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422
16 Estruture da paisagem:
ousu adequado de métricas
Jean Paul Metzger
Instituto de Biociências, USP
Introdução
Como a ecologia da paisagem lida com a relação entre padrões espaciais e
processos ecológicos, é necessário quantificar com precisão os padrões espa
ciais. Uma das formas de quantificação é a utilização das chàmadas “métricas
da paisagem” ou “índices da paisagem”. Seria impossível escrever aqui um
manual de cálculo e uso de índices da paisagem. Esta é uma tarefa para um
outro livro, voltado unicamente para essa questão. Porém, já existem vários
manuais sobre o assunto, como o livro do Frohn (1998) ou mesmo o de uso do
programa Fragstats (McGarigal & Marks 1995), mais utilizado para cálculo de
métricas da paisagem. Há também artigos de síntese excelentes, como Ritters et
al. (1995), Gustafson (1998), Hargis et al. (1998) e Fortin (1999). Assim, é
importante que o leitor consulte estas referências para maior detalhamento no
cálculo de métricas da paisagem. Este capítulo ficará restrito à apresentação
alguns índices e dicas de seu uso no planejamento de um estudo em ecoldgia
da paisagem.
423
JEAN PAUL M ETZG ER
Mesmo que o mapa utilizado tenha sido feito pop outra pessoa, deve-se sempre
verificar a acuracidade da informação e adaptar a legenda para ^ pergunta pro
posta (o que pode envolver o agrupamento de classes da legenda). É necessá
rio também procurar fazer ou obter mapas numa escala minimamente compatí
vel com a pergunta proposta.
424
E ST R U T U R A DA PAISAGEM:
O U SO ADEQUADO DE M ÉTRICA S
425
Tabela 1. índ ices para quantificar a estrutura da paisagem . As fórm ulas apresentadas referem -se a cálcu los em im agens m atriciais (formato
426
"raster"). São indicadas as figuras de apoio para a compreensão do cálculo dos índices, assim como os índices calculados pelo programa Fragstats.
Composição
da paisagem
Diversidade Ho Ho=—£ (pj)in(pj) onde: pi = propor Este índice não apresenta valores O’Neill et al.
da paisagem ia limites. Quanto maior o valor, (1988)
ção de área ocupada pela unidade "i”; maior a riqueza e/ou a igualdade
n = riqueza de unidades na distribuição das áreas ocupadas
pelas diferentes unidades da
paisagem. Este índice não é sensível
1, 2 SHEI à disposição espacial das unidades
da paisagem.
Ho Rom m e
E q u a b ilid a d e Eo Eo = V aria de 0 a 1, sen d o q u e o v alo r
. •■rnax m á x im o é atin g id o q u an d o h á u m a (1982).
da p aisag e m onde:
H m ax = d iv e r s id a d e m á x im a d a d is t r ib u iç ã o ig u a l d a á re a o c u p a d a
....... ---------------------------------------------- - —
ÍNDICE COMO CALCULAR FIG Fragstats SIGNIFICADO ESPACIAL REFERÊNCIA
(D
Diversidade
espacial da
paisagem
Fragmentação
Número de NF Número de fragmentos de uma índice mais simples para medida Romme (1982)
fragmentos paisagem. Numa imagem matricial da fragmentação, i.e. do grau de Burkey (1989)
(formato "raster"), os fragmentos ou ruptura de uma determinada uni Kleinn et al.
polígonos podem ser definidos por dade. Os valores deste índice de (1993)
pixels de uma mesma unidade unidos: pendem da área da paisagem.
i) por contatos ortogonais (unicamen
te); ii) ou por contatos ortogonais e/ou
diagonais. Esta última regra é a mais
us,ada nos trabalhos de ecologia da
paisagem.
429
430
índice não EPP EPP _ BF 3 ED índice que mede o grau de ruptura Kleinn et al.
AF
normalizado em função da quantidade de borda. (1993)
de onde: Os valores deste índice dependem Li et al. (1993)
fragmentação BF é o número de pixels de borda da da área ocupada pela unidade (AF), Zipperer
unidade estudada; sendo que os valores máximos são (1993)
AF é o número de pixels da unidade obtidos quando a unidade estudada
estudada ocupa a metade da paisagem.
3
índice índice que mede o grau de ruptura Kleinn et al.
normalizado F=— — em função da quantidade de borda. ,(1993)
de VÃ * AF
Apresenta a vantagem de seu valor
fragmentação onde: ser independente da área ocupada
ITF é o número de interfaces da pela unidade da paisagem (AF),
unidade estudada com as demais assim como da área de paisagem '
unidades; (A). Quanto maior seu valor, maior
A é o número de pixels da paisagem. o grau de fragmentação.
Isolamento 4 NEAR
Isolamento ao ISP f É a distância mais curta do fragmento Medida simples de distância. Van Apeldoorn
fragmento "f" estudado ao fragmento mais et al. (1992)
mais próximo próximo. As distâncias são sempre
medidas entre os pontos mais próxi
mos dos dois fragmentos.
ÍNDICE COMO CALCULAR FIG Fragstats SIGNIFICADO ESPACIAL REFERENCIA
(1)
Isolamento ISG f É a distância de um fragmento "f" 4 Medida simples de distância. Lynch &
ao “fragmento estudado ao fragmento fonte mais Whigham
fonte” mais próximo. Este fragmento "fonte" pode (1984)
próximo ser uma área não fragmentada (maciço Van Dorp &
ou reserva florestal, por exemplo) ou Opdam (1987)
um fragmento com um tamanho acima Verboom & Van
de um determinado limiar (para o qual Apeldoorn
consideramos ter uma população (1990)
estável da espécie estudada).
4 MNN
Isolamento ISTf É a distância média de um fragmento Medida média de distância. Ripple et al.
médio a todos "f" estudado a todos os fragmentos "g" (1991)
os fragmentos de uma determinada região no entorno Maller &
do entorno de "f, R0rdam
(1985)
IST f“ - 2----------
NF
onde:
NF é o número de fragmentos na
vizinhança considerada;
dg é a distância do fragmento "f"
estudado ao fragmento "g"
Isolamento GIL Média das proximidades (dj) de cada 5 Isolamento médio de uma paisagem Metzger
médio pixel "i" da imagem ao pixel mais em função da proximidade a uma (2 0 0 0 )
Isolamento GIC Média das proximidades (dj) de cada Isolamento médio de uma paisagem Metzger
médio pixel "i" da imagem ao pixel de interior em função da proximidade a áreas ( 2 000 )
baseado em mais próximo da unidade estudada. de interior de uma unidade
proximidade Assim, o pixel de interior da unidade estudada.
estudada tem a proximidade 0 ; o pixel
de borda desta unidade tem o valor 1 ; o
pixel seguinte tem o valor 2 ; etc.
Isolamento GIB Média das proximidades (dj) de cada Isolamento médio de uma paisagem Metzger
médio pixel "i" da imagem ao pixel mais em função da proximidade a áreas (2 0 0 0 )
baseado em próximo de um fragmento "fonte" da consideradas como “fontes”.
proximidade paisagem. Os pixels destes fragmentos
fontes têm proximidade 0 ; os pixels
justo adjacentes têm proximidade 1 ; etc.
ÍNDICE COMO CALCULAR FIG Fragstats SIGNIFICADO ESPACIAL REFERÊNCIA
(1)
<•
433
“ ÍNDICE COMO CALCULAR FIG Fragstats SIGNIFICADO ESPACIAL REFERÊNCIA
(1)
Forma dos ■*
fragmentos
TE
Proporção PBf PBf = BFf/AFf Proporção simples de pixels de
de borda onde: borda.
BFf é o número de pixels de borda do
fragmento " f; %
AFf é o número de pixels do fragmen
to t :
435
436
Dimensão D D é estimado pela inclinação da reta FRACT Este índice mede a Gomplexidade Krummel et al.
fractal de regressão entre o logaritmo da área das formas dos fragmentos. As pai-' (1987),
pelo logaritmo do perímetro de todos sagens com manchas de formas Gardner et al.
os fragmentos que compõem o mosai- mais simples (quadradas, (1987), Milne
cada paisagem. retangulares) e regulares terão uma (1988),
D - log (Af) /log (Pf) dimensão fractal próxima de 1 . O’Neill et al.
onde: Paisagens com manchas de forma (1988)
Af é a área bidimensional de um mais complexas terão valores de D
fragmento " f ; próximos de 2 .
Pf é o perímetro do fragmento "f'
(1) Abreviação dos nom es dos índices no programa F ra g sta ts (McGarigal & Marks 1995).
Métricas de composição
Entre as métricas de composição, as mais importantes estão relacionadas com
a riqueza de unidades de paisagem (n) e com a proporção (pi) de área ocupada
por cada uma dessas unidades na paisagem. Esses dois parâmetros podem ser
utilizados para a avaliação da heterogeneidade da paisagem (Ho), a partir da
função de Shannon-Wiener, assim como da equabilidade (Eo) e dominância da
paisagem (Do). Essas métricas, apresentadas na tabela 1, permitem captar a
heterogeneidade não espacial da paisagem (Figura 1 ).
I—
437
JEAN PAUL M ETZG ER
Im a g e m d a s s ific a d a
f f (| p s p s íp s ps
f f f ps ps! ps ps
f f * PS p s jp s ps
t f f |ps p s fp s ps
ph ph >ph|ph ph ph ph
ph ph ph|ph Ph|ph ph
8 □ E I 2 2 2 2
8 8 8 2_ 2 2 2
8 8 8 2 2 2 2
£ 8 j 8 j _2 _2 _2 _2
4
4_ 4 I _4 _4 _4
4_ 4 4 _4 _A_ 4 _4
B-lsoiamento das unidades
JL □
4 _
2 2 2 2
n _8 n : 2 2 7
□ 8 n 2 2 2
□ 8 ö 2 2 2 2
■ Si H 4 4 4 4 4 4 4
4 _4_ 4 4 4 4 4
C-Dilataçâo das
unidades
8 8 8 8
8 8 8 8
8 8 8 8
8 8 8 8 4 4 4 4 4 4 4
8 8 8 8 4 4 4 4 4 4 4
4 4 4 4 4 4 4
C-Som a d as dilatações
8 El 10 10 2 2 2
8 D 10 10 2 2 2
8 "U! 10 2 2 2
EEm 14 14 6 6 6
te EE 14 14 6 6 o
Dj□ 4 4 4 4 4
Métricas de fragmentação
A fragmentação pode ser entendida como o grau de ruptura de uma unidade
da paisagem, inicialm ente contínua. Esse grau de ruptura é medido pelo nú
mero de fragmentos (NF) ou então por índices baseados na quantidade de
borda entre a unidade estudada e as demais unidades da paisagem (índices
EPP e F, figura 3).
b b b
b i b
b b b b
V
b
b
Figura 3. Definição de borda. Grande parte dos índices de fragmentação está baseada na
quantidade de borda. Quanto maior a quantidade de pixels ou interfaces de borda entre a
unidade estudada e as demais unidades, maior a fragmentação desta unidade. Um pixel de
borda corresponde a um pixel da unidade estudada com contatos ortogonais ou diagonais
com um de outra unidade. Uma interface corresponde a um lado de um pixel que separa a
unidade estudada de outra unidade. Como a área submetida aos "efeitos de borda" pode ser
muito maior do que o tamanho de um pixel, pode-se considerar tam bém que a borda é
formada pelo conjunto de pixels de hábitats que estâo até uma determinada distância de
pixels de outras unidades da paisagem. Por exemplo, se considerarm os que o efeito de borda
■tem 90 m, entâo seráo consideradas bordas as três primeiras fileiras de pixels Thematic
Mapper (de 30 m) de um determinado hábitat.
Métricas de isolamento
As métricas de isolamento podem ser divididas em duas classes: as que me
dem o isolamento de um único fragmento, em geral através de medidas sim
ples de distância (índices ISPf, ISGf, IST f e ISMf, figura 4) e as que medem o
isolamento médio em relação a todas as áreas de uma determinada unidade da
paisagem, através de medidas de proximidade (índices GIL, GIC, GIB, figura 5).
439
JEAN PAUL M ETZG ER
ISPf = d3
ISGf = d5
dj + "t" d 3 + d 4 4- d$
IST f = --------------------------------------------
5
d* d* d/ d/ d/
ISMf <= ---------7 + --------- + ---------- + ---------- + ---------
a fa i a fa 2 a fa 3 a fa 4 a fa â
440
ESTR U T U R A DA PAISAGEM:
O U SO ADEQUADO DE MÉTRICAS
Im a g e m h á b ita t / n ã o h áb itat
0 0 0 1 2 2 2 3 3 4 0 0 1 2 3 4 5 5 5 5 6 5 4 4 4 4 4 4 4 4
0 0 0 1 1 1 2 2 3 3 0 0 1 2 3 4 4 4 4 4 6 5 4 3 3 3 3 3 3 3
0 0 0 1 0 1 1 2 2 2 1 1 1 2 3 3 3 3 3 3 6 5 4 3 2 2 2 2 2 2
1 1 1 0 0 0 1 1 1 1 2 2 2 2 3 2 2 2 2 2 6 5 4 3 2 1 1 1 1 1
2 1 1 1 1 0 0 0 0 0 3 3 3 3 3 2 1 1 1 1 6 5 4 3 2 1 0 0 0 0
2 1 0 1 1 1 0 0 0 0 4 4 4 4 3 2 1 0 0 0 6 5 4 3 2 1 0 0 0 0
2 1 1 1 2 1 0 0 0 0 5 5 5 4 3 2 1 0 0 0 6 5 4 3 2 1 0 0 0 0
2 2 2 2 2 1 0 0 0 0 6 6 5 4 3 2 1 0 0 0 6 5 4 3 2 1 0 0 0 0
GIL : Isolamento 3 todo pixel G IC : Isolam ento a todo pixel GIB : Isolamento a os fragmentos
d e interior fontes
Figura 5. M edidas de isolam ento baseadas em proxim idades. Quando se quer saber o
isolamento médio de uma unidade da paisagem (e não apenas de um fragmento, como no
caso da figura 4), pode-se utilizar a função de proxim idade oferecida pela maioria dos
"S iste m a s de In fo rm ações G e o g ráficas". E s sa função perm ite co d ificar cada pixel da
paisagem em função de sua distância ao pixel-alvo m ais próximo. A ssim , o pixel-alvo tem
o código 0; o pixel ju sto adjacente tem o código 1; o pixel seguinte tem o código 2: etc.
Nesse caso, o pixel-alvo pode ser: todo pixel de hábitat (GIL); todo pixel de interior de hábitat
(GIC): ou todo pixel de fragmentos fontes (GIB). E sse s modelos estariam de acordo com o
isolamento no caso: de uma espécie menos sensível à fragmentação (GIL); de uma espécie
de interior (GIC); ou de uma espécie que necessita de fragm entos de hábitats com pelo
menos um determinado tamanho mínimo (GIB). A é o número total de pixels da paisagem.
Métricas de conectividade
A conectividade é a capacidade da paisagem de facilitar os fluxos biológicos.
Essa capacidade depende: da densidade de estruturas de conexão (índice CON,
figura 6 ); da proximidade ou percolação das áreas de hábitat (índice IHP, figu
ras 7 e 8 ; índice L, figura 9) e da permeabilidade da matriz da paisagem (índice
PM, figura 10).
441
JEAN PAUL M ETZG ER
442
E ST R U T U R A DA PAISAGEM :
O U SO AD EQUADO t)E M ÉTRICA S
Erosão ^
f
J
Dilatação y
r
'
A‘ C I
Estruturas de conexão
443
JEAN PA U L M ETZG ER
Paisagem A Paisagem B
Figura 7. Percolação e conectividade. Dois exemplos que mostram que paisagens que perco-
lam nem sem pre têm alta conectividade ou, inversam ente, paisagens que não percolam
podem ter alta conectividade. Uma paisagem percola para um determinado tema (em cinza
neste exem plo) quando este tem a se expande de um lado ao outro dos lim ites de uma
paisagem (da esquerda para direita, ou de cima para baixo; èm geral, a percolação é medida
em paisagens quadradas). A percolação pode indicar uma alta conectividade (isto é, a capa
cidade da paisagem de. facilitar fluxos biológicos) da paisagem , m as nem sempre isso
ocorre.
Figura 8. O índice de percolação das áreas de interior (IHP). Só existem dois estados ,de f
percolação (percola ou não percola) e a maioria das paisagens fragm entadas, que tem
menos de 40% de hábitat, não percola. O índice IHP permite calcular um "grau de percola
ção" para e ssas paisagens, tendo ainda a vantagem de não ser influenciado pelos corredores
da paisagem, em geral formados apenas por áreas de borda (figura 7). Para tanto, é avaliado
o grau de percolação das áreas de interior (em cinza escuro). Para eliminar as áreas de borda
(em cinza claro), realiza-se inicialmente uma erosão (no caso, o equivalente de um filtro de
mínimo de 3 por 3 pixels, que permite retirar uma fileira de pixels; um filtro de 5 por 5 pixels
permitiria retirar 2 fileiras de pixels; um filtro de 7 por 7 permitiria retirar 3 fileiras etc.). 0
valor de IHP é entáo o número de dilatações (nesse caso, filtro de máximo de 3 por 3 pixels)
necessário para obtermos um estado de percolação. O valor de IHP é inversamente propor
cional à conectividade da paisagem.
444
E ST R U T U R A DA PAISAGEM:
O U SO ADEQUADO DE MÉTRICAS
n r
LLt
Erosão
Não percola
Dilatação j
Percola
c e n tr o d o s fr a g m e n to s
d is tâ n c ia e n tre
a s b o r d a s m a is próxim as
d e d o is fr a g m e n to s
lin h as d e u n iã o d e
fr a g m e n t o s d e um
m e s m o s u b g rá fic o
446
ESTR Ü T U R A DA PAISAGEM:
.O U SO ADEQUADO DE MÉTRICAS
Imagem classificada
f f c c c p p p ff f : floresta
f f c c c p p p ff c : capoeiras resistência aos
c c c c c p p p pp p : pastagens T fluxos
c c c c f p p p pp u : urbano +
c c c c f f p p pp
c c c c f f
u u uf
c c c c u u
u u u f
c c c c u u u u u f
c c c c u u u u u f
447
JEAN PAUL M ETZG ER
Qual é o estado atual de conhecim ento sobre o significado biológico dos índi
ces? E difícil fazer uma síntese sobre esse assunto, primeiro porque a literatura
sobre o assunto é muito grande e, em segundo lugar, porque muitos índices
diferentes são utilizados. Não se pretende aqui fazer uma síntese, mas sim
apresentar na tabela 2 as principais evidências, para as quais parece haver
consenso na comunidade de ecólogos da paisagem.
Cuidados na análise
Calcular os índices é simples e muitas vezes automático (quando se usa um
programa). Muito mais difícil é interpretar e analisar os resultados, em relação
aos dados biológicos/ecológicos coletados. Aqui vão algumas sugestões que
podem ajudar nessa interpretação:
1 . Testar o ín dice em con d ições con troladas - Antes de tudo é importante enten
der o significado espacial de cada métrica e, se possível, testá-la em paisa
gens manipuladas (com variações controladas de densidade, agregação etc).
2. T rabalhar com m étricas sim p les - Muitas métricas tendem a incorporar dife
rentes informações em um único valor. Por exemplo, o índice de diversida
de espacial da paisagem (HL) depende da riqueza da paisagem, do grau de
fragmentação das unidades da paisagem e da distribuição de área entre
estas unidades. Por isso, a interpretação biológica desse índice não é sim
ples. O ideal, para facilitar a interpretação, é trabalhar com índices que
medem apenas um aspecto da estrutura da paisagem.
448
E ST R U T U R A DA PAISAGEM:
O U S O ADEQUADO DE MÉTRICAS
Área do Uma relação positiva entre a área do fragmento e a riqueza de espécies foi
fragmento evidenciada para diferentes grupos taxonômicos (e.g. plantas, aves e pequenos
mamíferos). Essa relação parece estar relacionada a um conjunto de fatores: i)
diminuição da relação entre a área mínima necessária para a sobrevivência das
populações e a área do fragmento; ii) redução da heterogeneidade interna do
hábitat: iii) aumento da área sob efeito de borda; iv) dim inuição de recursos e,
por consequente, uma intensificação das com petições intra e interespecíficas;
v) extinções secundárias de espécies dependentes.
Isolam ento O isolamento age negativamente na riqueza de espécies ao diminuir a taxa (ou
o potencial) de imigração (ou de recolonização).
Forma do A forma, avaliada pelo índice BFf, permite estimar a proporção do fragmento
fragmento subm etido aos “efeito s de bord a”, que se caracterizam por uma maior
diversidade e densidade de espécies, maior exposição às perturbações externas,
e uma maior produtividade biológica, apesar dessas propriedades não se
aplicarem a todas as bordas.
449
JEAN PAUL M ETZG ER
6 . E scolh er a m étrica certa p a r a o objetivo p rop osto - Apesar deste ponto ser
bastante criticado por alguns autores, existe uma métrica certa para a per
gunta e/ou o tipo de organismos considerados. Por isso, pode-se (e deve-
se) “adaptar” a métrica para a finalidade escolhida. Quando a questão é
relacionar métricas a processos ecológicos, essa “adaptação” é inevitável
450
E ST R U T U R A DA PAISAGEM :
O U SO ADEQUADO DE M ÉTRICA S
Comentários finais
A ecologia da paisagem ainda está engatinhando na compreensão da influên
cia da estrutura da paisagem em processos ecológicos. Para avançar neste cam
po, são necessários estudos criteriosos, nos quais a quantificação da estrutura
da paisagem é sêm dúvida crucial. O cálculo dos índices pode ser automático,
mas o uso adequado, não. As sugestões apresentadas acima tiveram como
principal objetivo alertar o pesquisador para a importância da escala e da quali
dade dos dados categóricos utilizados para o cálculo dos índices; da necessida
de de se trabalhar com um número reduzido de métricas independentes, esco
lhidas em função do objetivo do estudo e para os cuidados nas interpretações
biológicas dos índices. As métricas são uma ferramenta importante na investiga
ção ecológica espacializada, porém é necessário usá-las de forma criteriosa.
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453
17 Métodos para análise de vegetação arbórea
Giselda Durigan
Instituto Florestal, Estação Experimental de A ssis, São Paulo
Introdução
Grande parte das pesquisas relacionadas com a biologia da conservação impli
ca uma etapa de compreensão do hábitat e das relações da espécie animal com
os elementos do mèio, especialm entç a vegetação. O pesquisador de fauna,
frequentemente, encontra dificuldades nesse trabalho, em decorrência da falta
de intimidade com os métodos usuais empregados em estudos de vegetação e
do desconhecimento de qual o melhor método a ser adotado* de acordo com
os objetivos de sua pesquisa.
Estudos qualitativos
Fitogeografia
A fitogeografia trata da localização geográfica de elementos da vegetação, desde
grandes formações vegetais até a área natural de ocorrência de uma determinada
455
N G ISELD A DURIGAN
456
M ÉTO D O S PARA A N ÁLISE DE VEGETAÇÃO ARBÓREA
anteriormente (Eiten 1972; Goodland & Ferri, 1979). Protegida contra o fogo e
o pastoreio, essa vegetação volta a se adensar, em um processo dinâmico, que
compromete a qualidade dos mapas de fisionomias. Áreas que podem ter sido
mapeadas como campo cerrado, há 30 anos, podem apresentar-se atualmente
como cerradão e vice-versa.
Identificação de espécies
A identificação de plantas normalmente é feita com material reprodutivo (fru
tos e, principalmente, flores) e material vegetativo (geralmente apenas ramos
com folhas). O material coletado deve ser prensado em jornal e secado em
estufa, para que não embolore e não derrube as folhas, o que pode impossibi
litar ou, pelo menos, dificultar a identificação. Instruções detalhadas sobre
coleta de material botânico são encontradas em Mori et al. (1989) ou Fidalgo &
Bononi (1989). A identificação de espécies vegetais geralmente é feita por espe
cialistas. Eventualmente, com a ajuda de bibliografia especializada e chaves de
identificação, um pesquisador que tenha familiaridade com a terminologia pode
fazer esse trabalho sozinho, mas os riscos de erro são grandes. A comparação
457
G ISELD A DURIGAN
Fenologia
A fenologia é o estudo das fitofases em uma escala temporal, ou seja, época de
florescimento, frutificação etc. Além de caracterizar a época de ocorrência da
fitofase, pode-se ainda quantificar isso, através do índice fenológico:
Diagrama de perfil
Os diagramas de perfil, propostos por Richards (1996), são figuras que repre
sentam uma faixa de vegetação de largura conhecida. Para florestas, no Brasil,
tem sido adotada geralmente a largura da faixa de 5m, e extensão variável,
geralmente não inferior a 30m. Pode-se elaborar um perfil real (Fig. 2 ), repro
duzindo a estrutura vertical da floresta a partir de uma faixa em que são
458
M É T O D O S PARA A N Á L IS E D E V EG ETA Ç Ã O A R B Ó R E A
medidas a altura total da copa, altura inferior da copa, altu ra do prim eiro
ramo, largura da copa e formato da copa de cada um dos indivíduos presentes
na faixa, que são mapeados e identificados.
25 m
co7 um ^
OU do hábitat de espécies animais. da fis‘° " ° m ia da vegetação
4 5 9
GISELD A DURIGAN
Estudos quantitativos
Métodos de amostragem
A escolha do método a adotar depende essencialm ente das questões‘ que se
pretende responder sobre a vegetação. Há diversas obras trazendo detalhadas
explanações sobre métodos fitossociológicos, destacando-se Müller-Dombois
e Ellenberg (1974) e Pielou (1975). Os métodos usualmente empregados são
.apresentados a seguir.
Parcelas
A área amostrai é subdividida em parcelas, em número suficiente para estabi
lização da curva do coletor. O tamanho das parcelas deve ser coerente com a
estrutura da comunidade a ser estudada. Para florestas no Brasil é comum a
utilização de parcelas quadradas de 10 x 10 m, embora teoricamente as parce
las retangulares sejam consideradas mais representativas. Em matas ciliares,
recomendam-se parcelas de 5 x 20 m. A área de 100 m 2 facilita os cálculos. Para
comunidades herbáceas naturalmente as parcelas podem ser bem menores. E
comum, ainda, em comunidades herbáceas, utilizarem-se parcelas circulares.
Os pesquisadores são unânimes em afirmar que é melhor um número grande
de parcelas pequenas do que um número pequeno de parcelas grandes.
460
M ÉTO D O S PARA A N Á LISE DE VEGETAÇÃO ARBÓ REA
d a d o s p r e c is o s d e d e n s id a d e e d o m in â n c ia .
Quadrantes
Existem alguns métodos de amostragem de vegetação denominados métodos
sem área. O método de quadrantes (Cottam & Curtis 1956) tem sido o mais
adotado no Brasil, dada a facilidade e rapidez de sua execução. No entanto,
conforme o nível de agregação dos indivíduos da comunidade, o método pode
acarretar um erro grande na estimativa de densidade e, consequentemente, na
dominância da vegetação. Comunidades com distribuição regular tendem a
uma superestimativa de densidade e comunidades agregadas levam a uma su-
bestimativa de densidade. Se o que importa no estudo é apenas a diversidade
e os parâmetros relativos entre as espécies, o erro desaparece e não há incon
veniente em se utilizar o método. Pbrém, se os parâmetros absolutos são es
senciais, há que se ter precaução na utilização do método de quadrantes, uma
vez que é impossível dimensionar o erro e corrigi-lo.
461
GISELD A DURIGAN
Bitterlich
O método de Bitterlich começou a ser empregado no Brasil recentemente para
estudo de diversidade e estrutura de florestas tropicais. É normalmente utili
zado para estimar volume de madeira. E um método que não leva em consi
deração a área investigada, porém, possibilita uma estimativa razoavelmente pre
cisa de densidade. Utiliza-se um aparelho denominado Relascópio de Bitterlich.
O observador faz um giro de 360° ao redor do ponto, e são identificadas e
medidas todas as árvores cujo diâmetro ultrapasse a banda selecionada, no
visor do aparelho. Aparentemente fácil de usar, entretanto carece de treina
mento prévio e há poucos pesquisadores habilitados para o uso do método
com essa finalidade no Brasil. Embora as medições sejam relativamente fáceis,
o método envolve cálculos bastante complexos para estimativa de densidade e
dominância das espécies. Detalhes sobre o método de Bitterlich e sua aplica
ção podem ser encontrados em Bitterlich (1984).
462
M ÉTO D O S PARÁ A N ÁLISE DE VEGETAÇÃO ARBÓREA
'4 6 3
G ISELD A DURIGAN
464
M ÉTO D O S PARA A N ÁLISE DE VEGETAÇÃO ARBÓREA
BIOMASSA: Expressa o peso de matéria seca por unidade de área, que reflete
a capacidade de suporte do meio ou a disponibilidade de forragem. Pode ser
de grande importância no estudo de animais herbívoros, ou ter uma importân
cia mais genérica, como parte da caracterização do hábitat. Determinar a bio-
massa de comunidades herbáceas é relativamente fácil, já que é possível cole
tar todo o material, secar e pesar. Para comunidades arbóreas, no entanto, é
praticamente impossível. Usualmente faz-se estimativa de volume de madeira,
através de medições de árvores em pé e converte-se em peso seco por unidade
de área com base em valores conhecidos de densidade da madeira das diferen
tes espécies. Os cálculos de biomassa podem estender-se às folhas e até mes
mo às raízes, conforme o objetivo da pesquisa.
\
DOMINÂNCIA: Representa o espaço ocupado pela espécie na comunidade.
Como a obtenção desse valor seria extremamente difícil, são utilizadas duas
formas para representá-lo: a cobertura (explicada a seguir) e a área basal. A
dominância absoluta de uma espécie corresponde ao somatório das áreas ba
sais de todos os troncos da espécie, expressa em m 2/ha. A dominância relativa
é a proporção entre a dominância absoluta de uma espécie e o somatório da
dominância absoluta de todas as espécies.
465
GISELD A D U RI(?AN
466
M ÉTO D O S PARA A N Á LISE DE VEGETAÇÃO ARBÓREA
A grande dúvida está em saber qual deve ser o tamanho da amostra para repre
sentar a riqueza da comunidade em estudo. A maneira mais comumente adota
da de verificar isso tem sido a curva do coletor. Quando houver estabilização
da curva do coletor, significa baixa probabilidade de aparecimento de novas
espécies com o aumento da área amostrai. Normalmente a curva é construída
utilizando o número de espécies (eixo Y) em função do aumento da área amos
trai (eixo X). Porém, se é modificado o critério de inclusão (diâmetro mínimo,
por exemplo), a curva se desloca totalmente. E recomendável, portanto, que se
construa a curva número de espécies x número de indivíduos, que muda
muito pouco entre estratos para uma mesma comunidade. A estabilização da
curva tende a ocorrer com um número semelhante de indivíduos, indepen
dentemente do critério de inclusão adotado, dentro de uma mesma comunida
de. Para formações arbóreas do interior do Estado de São Paulo, por exemplo,
esse número gira em torno de 400 indivíduos, em área contínua. Isso facilita o
dimensionamento da amostra quando se estratifica a amostragem. Basta que se
amostre para cada estrato a área necessária para obter um número semelhante
de indivíduos em todos os estratos.
467
G ISELD A DURIÓAN
466
M ÉTO D O S PARA A N ÁLISE DE VEG EJA Ç Ã O ARBÓREA
A grande dúvida está em saber qual deve ser o tamanho da amostra para repre
sentar a riqueza da comunidade em estudo. A maneira mais comumente adota
da de verificar isso tem sido a curva do coletor. Quando houver estabilização
da curva do coletor, significa baixa probabilidade de aparecimento de novas
espécies com o aumento da área amostrai. Normalmente a curva é construída
utilizando o número de espécies (eixo Y) em função do aumento da área amos
trai (eixo X). Porém, se é modificado o critério de inclusão (diâmetro mínimo,
por exemplo), a curva se desloca totalmente. É recomendável, portanto, que se
construa a curva número de espécies x número de indivíduos, que muda
muito pouco entre estratos para uma mesma comunidade. A estabilização da
curva tende a ocorrer com um número semelhante de indivíduos, indepen
dentemente do critério de inclusão adotado, dentro de uma mesma comunida
de. Para formações arbóreas do interior do Estado de São Paulo, por exemplo,
esse número gira em torno de 400 indivíduos, em área contínua. Isso facilita o
dimensionamento da amostra quando se estratifica a amostragem. Basta que se
amostre para cada estrato a área necessária para obter um número semelhante
de indivíduos em todos os estratos.
467
G ISELD A DURIGAN
Há vários índices que são utilizados para expressar a diversidade (alfa) de uma
comunidade vegetal. São considerados melhores aqueles que incluem nos cál-
, culos a riqueza e a densidade relativa das espécies. Quanto maior for o núme
ro de espécies, ihais semelhante for o número de indivíduos de cada espécie e
melhor distribuídos estiverem esses indivíduos na área amostrai, maior será a
diversidade da comunidade. Do ponto de vista da fauna, alta diversidade flo-
rística implica possibilidade de suportar também alta diversidade de espécies
animais. E importante ressaltar qus, para uma mesma comunidade, o índice
468
M ÉTO D O S PARA A N ÁLISE DE VEGETAÇÁO ARBÓREA
469
G ISELD A DURIGAN
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471
G ISELD A DURIGAN
Anexo I
Fórmulas de cálculo
472
M ÉTO D O S PARA A N ÁLISE DE VEGETAÇÃO ARBÓ REA
DoR-i = 100 A B i / ^ A B i
(= i
DoRi = dominância relativa da espécie i (%)
ABi= área basal da espécie i
473
GISELD A DURIGAN
C = 100 lc/L
Onde:
C = grau de cobertura (%)
lc = extensão da linha coberta pela projeção da parte aérea das plantas
L = extensão total da linha de amostragem
P = V/M
Onde: »
P = índice de agregação
V = variância do número de plantas por parcela
M = média do número de plantas por parcela
Valores de P menores que 1,0 indicam distribuição regular; P entre 1,0 e 1,5
indica distribuição aleatória e P maior que 1,5 indica distribuição agregada.
Pi = ni / N
ni = número de indivíduos da espécie i
N = número total de indivíduos amostrados
474
M ÉTO D O S PARA ANÁLISE DE VEGETAÇÃO ARBÓREA
D s = 1 - £ [n i ( n i - 1 ) / N (N - I )]
<= i
Onde:
ni = número de indivíduos da espécie i
N = número total de indivíduos amostrados
DMg = (s - D / l n N
Onde:
N = número total de indivíduos amostrados
s = número total de espécies amostradas
ln = logaritmo neperiano
Onde:
N = número total de indivíduos amostrados
s = número total de espécies amostradas
e = H’/H’máximo ou e = H’/log s
Onde:
H’ = índice de diversidade de Shannon
s = número total de espécies amostradas
«
ÍNDICE DE SIMILARIDADE DE SORENSEN = S
S = 2c/(a +b)
Onde:
a = número total de espécies presentes em uma das amostras
b = número total de espécies presentes na outra amostra
c = número de espécies comuns a ambas as amostras
475
GISELD A DURIGAN
Cj = c/(a + b - c)
Onde:
a = número total de espécies presentes em uma das amostras
b = número total de espécies presentes na outra amostra
c = número de espécies comuns a ambas as amostras
Cj = c/(a + b + c)
476
M ÉTO D O S PARA A N Á U SE DE VEGETAÇÃO ARBÓ REA
LOCAL: , DATA:
OBSERVAÇÕES:
>
477
G ISELD A DURIGAN
LOCAL: DATA:
OBSERVAÇÕES:
5m
0 5 10 15 20 25 30m
478
M ÉTO D O S PARA A N ÁLISE DE VEGETAÇÃO ARBÓREA
LOCAL: ’ DATA:
OBSERVAÇÕES:
'
4
2 -
t
3
479
Uso do sistema do informações geográficas
em Biologia da Conservação
Alexandre Uezu
Mestrado e doutorando em Ecologia
- pela Universidade de São Paulo.
Podemos citar três tipos de relação entre os objetos em nosso mundo (Câmara
& Medeiros, 1998): i. c o rrela ç ã o e s p a c ia l - objetos mais próximos tendem a
ser mais semelhantes entre si - por exemplo, doenças de animais domésticos
e selvagens têm mais chance de serem transmitidas entre as espécies se estas
tiverem um contato mais próximo; ii. co rrela ç ã o tem ática — um conjunto de
fatores determina as características de uma região - podemos citar o nicho de
uma espécie, que é constituído por um conjunto de condições abióticas (rele
vo, tipo de solo, clim a) e bióticas (tipo de vegetação e presença de outras
espécies); e, finalmente, iii. co rrela ç ã o tem p oral - a paisagem atual retém mar
cas do passado, ou seja, é uma transformação da paisagem que existia anterior
mente. A existência dessas relações é que torna o SIG uma ferramenta útil para
entendermos melhor os fenômenos naturais em nosso mundo.
481
ALEXA N DRE U EZU
Caixa 1 ,
Noções de cartografia
Em um SIG, os diversos tipos de informações referentes a uma localidade po
dem ser sobrepostos e integrados pelo uso de um sistema de referência geográ
fica. E essa referência que faz a costura entre as informações. A cartografia
forneceu as bases para o georreferenciam,ento, suprindo-nos de conceitos como
sistema de coordenadas geográficas e planas, projeção, datum e escala.
Coordenadas geográficas: o globo terrestre é dividido em meridianos e parale
los (Fig. 01a), cujd unidade é dada em graus. Os meridianos são círculos máxi
mos da esfera, cujos planos passam pelo eixo de rotação da Terra. O meridiano
de Greenwich é o inicial, de origem (0o de longitude), e passa sobre o antigo
observatório britânico homônimo. A leste de Greenwich, os meridianos apre
sentam valores positivos, crescentes, até + 180°. A oeste, as medidas decres
cem até - 180°. Os paralelos são círculos da esfera perpendiculares ao eixo de
rotação da Terra. O equador é o paralelo inicial (0o de latitude) e divide a Terra
nos hemisférios norte e sul. Do equador em direção ao polo norte, os valores dos
paralelos são crescentes e positivos até + 90° e, para o sul, decrescem até - 90°.
A localização de um ponto na Terra é dada por sua latitude e longitude. A
latitude é a distância angular de qualquer ponto na superfície, partindo do
centro da Terra, até o equador. Por sua vez, a longitude é a distância angular de
um ponto até o meridiano de Greenwich. Por exemplo, a cidade de São Paulo
está a leste do meridiano de Greenwich e ao sul do equador e apresenta longi
tude e latitude de - 46° 42’ e - 23° 32’, respectivamente.
Coordenadas planas: o sistema de coordenadas planas, também conhecido por
sistema de coordenadas cartesianas, baseia-se em dois eixos perpendiculares,
horizontal e vertical, em cujo cruzamento determinam-se as coordenadas inici
ais (0 , 0). A localização de um ponto nesse sistema é determinada por dois
valores, um referente à projeção do ponto no eixo x e o outro referente a sua
projeção no eixo 7 . No SIG, as coordenadas cartesianas são usadas em projeções
geográficas (Fig. 01b).
)
482
U S O DO SIST E M A D E-IN FORM AÇÕES
G EOG RÁFICAS EM BIOLOGIA
DA CONSERVAÇÃO
Fontes de informação
Uma etapa importante no trabalho com o SIG é a obtenção das informações. A
qualidade de todas as análises empreendidas dependerá dos dados obtidos. A
escolha inadequada de uma fonte de informação pode gerar resultados pouco
consistentes e que pouco explicam os fenômenos que estamos estudando. A
escolha da fonte ideal dependerá de fatores como detalhamento dos mapas a
serem criados, precisão da localização dos objetos estudados e frequência de
coleta das informações. Nesta seção, serão citadas as fontes de informação
mais frequentemente utilizadas.
483
ALEXA N DRE U EZU
Sensoriamento remoto
Com base nessa definição, podemos fazer uma analogia com a nossa pró
pria visão. Nossos olhos (sensores naturais) recebem inform ações proveni
entes de fontes de radiação (como o sol ou uma lâmpada). Essa radiação
incide sobre os objetos e sofre m odificações, parte é absorvida pelos obje
tos e parte é refletida, até chegar a nossas retinas. Com as informações que
chegam a nossos olhos, conseguim os id en tificar os objetos por sua cor,
textura e forma, sem entrar em contato direto com eles. O mesmo acontece
com os dados de sensoriam ento remoto. No entanto, nesse caso, os senso
res estão em aviões, espaçonaves ou satélites. Uma outra diferença marcan
te é que alguns sensores têm a vantagem de “enxergar” faixas do espectro
eletrom agnético além das visíveis a olho nu (Figura 03). Entre os produtos
do sensoriam ento remoto, temos as imagens de satélites, as fotografias aére
as e os radares.
visível
C BER S Radares
0.45-0.90im
484
U SO DO SIST E M A DE INFORMAÇÕES
G EOG RÁFICAS EM BIOLOGIA
DA CONSERVAÇÃO
485
ALEXA N DRE U EZU
mações obtidas em uma área menor, bem conhecida, para toda sua extensão.
Isso é importante, sobretudo, em regiões de difícil acesso, como o interior da
floresta amazônica.
486
U SO DO SIST E M A DE INFORMAÇÕES
G EOG RÁFICAS EM BIOLOGIA
DA CONSERVAÇÃO
Banda 4
140
pasto .
120 ♦* » l
100 •
I í *u_±
80 » * . ♦ ♦
60
40
: ♦I . »*
água
20 u h
0
15 17 19 21 23 25 27 29 31 33
B anda 3
487
A LEXA N DRE U EZU
Caixa 2
Georreferenciamento
Para que as informações de diferentes mapas se sobreponham', a fim de que sejam
analisadas, elas devem estar em um sistema de coordenadas. Frequentemente,
deparamo-nos com essa tarefa, a de georreferenciar nossas fontes de informação:
imagens de satélite, fotografias aéreas e mapas topográficos (no formato digital).
Nesse processo, a imagem bruta, sem referência espacial (p. ex., aquela recém-
escaneada) deve se “encaixar” em um sistema de coordenadas, de acordo com uma
base de referência. Essa base pode ser uma carta topográfica, uma outra imagem, já
georreferenciada, ou pontos coletados com GPS. A ideia é procurar pontos (chama
dos pontos de controle) que sejam identificáveis tanto na imagem bruta quanto na
base que se tem como referência. Esses pontos podem ser cruzamentos de estradas
e rios, construções isoladas (casas, fábricas), barragens etc. Quanto mais bem dis
tribuídos estiverem os pontos na imagem, melhores serão os resultados. Ao indicar
esses pontos de controle em um programa específico, serão calculados os erros do
processo, que podem variar de frações de metro até vários metros, dependendo da
fonte de referência que se esteja usando e da resolução de sua imagem. Ao executar
o georreferenciamento, o programa criará uma nova imagem, inserido-a no siste
ma de coordenadas de referência (ver exemplo na Figura 05).
488
U SO DO SISTEM A DESINFORMAÇÕES
G EOGRÁFICAS EM BIOLOGIA
« DA CONSERVAÇÃO
Caixa 3
|
489
ALEXA N DRE U EZU
490
USO DO SISTEM A DE INFORMAÇÕES
GEOGRÁFICAS EM BIOLOGIA
DA CONSERVAÇÃO
Figura 06 - Mapa de elevação produzido com base em sistem as de radar da região do Pontal
do Paranapanema. Em maior escala, são mostrados os valores de pixel (com os valores de
altitude) de uma das escarpas do Morro do Diabo. Resolução de 90 m de pixel.
Cartas topográficas
491
ALEXA N DRE U EZU
gura 07C), que podem auxiliar na determinação das áreas de preservação per
manente (APP). Por lei, terrenos com inclinação maior que 45 graus são consi
deradas áreas de APP, em que se deve manter a vegetação natural (Figura 07D).
Os modelos em três dimensões podem gerar também mapas de elevação (seme
lhantes aos obtidos por radares, conforme a Figura 06), que podem ser sobre
postos a fotografias aéreas ou imagens de satélite, criando uma visão em três
dimensões das informações contidas nessas imagens (Figura 07E).
Figura 07 - Inform ações geradas com base em cartas topográficas da região de Nazaré
Paulista: A - cotas de altitude; B - mapa de elevação; C - mapa de declividade; D - mapa de
declividade mostrando as áreas de APP com declividade maior do que 45 graus (em verme
lho); E - visualização, em perpectiva, de um modelo digital de terreno sobreposto a uma
fotografia aérea.
492
U SO DO SISTEM A DE INFORMAÇÕES
G EOGRÁFICAS EM BIOLOGIA
__ DA CONSERVAÇÃO
493
ALEXA N DRE U EZU
Preferência de hábitat
Em uma escala n^ais ampla, usando algoritmos apropriados (Garp, por exem
plo) e mapas de condição clim ática, relevo, hidrografia e cobertura vegetal, é
possível mapear os nichos ecológicos de uma espécie (Petterson, 2001). Esses
modelos podem gerar mapas de distribuição potencial das espécies. Além de
ajudar no entendimento da distribuição das espécies, esses mapas têm fun
494
U SO DO SISTEM A DE INFORMAÇÕES
GEOG RÁFICAS EM BIOLOGIA
DA CONSERVAÇÃO
Ecologia de paisagem
Uma outra aplicação para o SIG são os cálculos dos índices de paisagem, que
representarão a estrutura espacial da paisagem: tamanho, forma e grau de iso
lamento de fragmentos; proporção de hábitat; conectividade e diversidade da
paisagem (ver capítulo 16). Relacionando os parâmetros da paisagem com os
dados biológicos (Uezu e t al., 2005), podemos verificar como a paisagem influ
encia a biodiversidade de uma região. Programas como o Fragstats e a extensão
Patch Analyst do Arcview 3.2 são usados para calcular tais métricas.
Dinâmica da paisagem
495
ALEXA N DRE UEZU
média, tinham cerca de 1.791 ha. Em 1978, esse percentual atingiu 26,7%
(Figura 08b). Os grandes remanescentes deram lugar a várias manchas meno
res de floresta e é verificado um alto grau de fragmentação, reduzindo o tama
nho médio dos fragmentos. Em 1984, a região tinha cerca de 18% de floresta,
o mais baixo índice registrado até o momento neste estudo (Figura 08c). A
partir de 1988, começa a haver um aumento dessa percentagem, chegando a
18,5% (Figura 08d). Mais recentemente, entre os anos de 1997 e 2003 (Figura
08e-f), há uma estabilização da fragmentação, com a cobertura florestal chegan
do a quase 19%. É destacável, nesse histórico, a perda de hábitat resultante do
enchimento das represas de Rosana, no rio Paranapanema, £ de Porto Prima
vera, no rio Paraná.
496
U SO DO SISTEM A DE INFORM AÇÕES
GEOGRÁFICAS EM BIOLOGIA
DA CONSERVAÇÃO
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497
Análises estatísticas
19 Estatística e interpretação de dados
Paulo de Marco Junior
Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Viçosa
Introdução
O objetivo deste texto não é, nem de longe, ser um manual completo para guiar
as suas atividades na área da análise de dados. Antes, deseja-se apresentar
algumas ideias interessantes que possam desafiar a vontade de ser mais efici
ente no uso dessas ferram entas. A ênfase aqui é demonstrar que todos os
testes estatísticos mantêm a mesma estrutura lógica e, portanto, podem ser
facilmente entendidos.
502
ESTA T ÍSTIC A E IN TERPRETAÇÃO DE DADOS
A outra decisão errada é aceitar a hipótese nula quando ela é falsa. Esse é o
chamado Erro Tipo 2, cuja probabilidade é definida por p. O poder de um
teste é definido como 1 - p, isto é, quanto menor a probabilidade de cometer o
Erro Tipo 2, mais poderoso é o teste. Ambos os erros são indesejáveis, porém,
503
PAULO DE MARCO JUNIOR
ADRIANO PEREIRA PAGLIA
o pesquisador tem controle mais efetivo sobre o Erro Tipo 1. Para diminuir a
probabilidade de rejeitar uma hipótese nula sendo ela verdadeira, basta redu
zir o nível de significância (geralmente de 5% para 1 %). A mesma regra não se
aplica para o valor de p. Na verdade, quanto mais se reduz o nível de signifi
cância mais se aumenta a probabilidade de cometer o Erro Tipo 2. A única
maneira de reduzir simultaneamente ambos os tipos de erro de decisão é au
mentar o tamanho da amostra. Assim, para um dado nível de significância,
amostras grandes produzem um teste estatístico mais poderoso. Para concluir,
é importante ressaltar que não rejeitar a hipótese nula não prova que ela é
verdadeira. Pela lógica dos testes de hipóteses, quer dizer què não existem
evidências suficientes para concluir que ela é falsa.
504
E S T A T Í S T I C A E IN T E R P R E T A Ç Ã O D E D A D O S
Variável Variável
Teste
Dependente Inadependente
#
Quantitativa 1 C ategórica co m 2 níveis Teste t (testé U)
Quantitativa 1 C ategórica co m + 2 níveis ANOVA 1-fator (Kruskall-Wallys)
Quantitativa 2 C ategóricas ANOVA 2-fatores (Friedm an1)
Quantitativa 1 Q uantitativa R egressão sim ples
(correlação Spearm an)
Quantitativa 2 ou m ais Q uantitativas Regressão m últipla
Quantitativa 1 C ategórica e 1 ANCOVA
ou m ais Q uantitativas
Categórica 1 C ategórica Q ui-quadrado2; Teste G2
Categórica 2 ou m ais C ategóricas L og-linear2
1 No ca so d e a m o s tra s d e p e n d e n te s , 2 E ss e s te s te s e v e n tu a lm e n te v e rific a m n ã o a re la ç ã o
de d e p e n d ê n c ia e n tre v a riá v e is , m a s s im a a s s o c ia ç ã o e n tr e e la s , d e s c a r a c te riz a n d o , p o r
tanto, a c la s s ific a ç ã o d e v a riá v e is d e p e n d e n te s e in d e p e n d e n te s .
A a p r e s e n t a ç ã o de r e s u l t a d o s
O cie n tista é, em e ss ê n cia , u m e scrito r. De que re a lm e n te v ale o c o n h e c im e n to
produzido se n ão for e x p o sto c o m c la re z a à c o m u n id a d e q u e p o d erá u tilizar
esse co n h e cim e n to ? A ssim , d ev e-se te r a p re o c u p a ç ã o d e a p re se n ta r as id eias
dando se m p re ên fase ao p ro b le m a b io ló g ico e ao ta m a n h o do efeito atin g id o , e
resg u ard an d o o r e s u lta d o d o s te s te s e s ta tís tic o s ao b e m d e lim ita d o e s p a ç o
interno dos p a rê n te se s. Por e x e m p lo , n ão se d ev e d izer: “A s p o p u la çõ e s tiv e
ram d iferen ças de v a riab ilid ad e p o p u la cio n a l e s ta tis tic a m e n te d iferen tes pelo
teste F ”. M elh o r d izer: “A p o p u la çã o A v ario u 2 v e z e s m ais que a p o p u la çã o B
(F = 2 , 3 1 ; P < 0 . 0 5 ) ”. N ão se e sq u e ça q u e é m ais fa cilm e n te c o m p re e n sív e l o
que nos for a p re se n ta d o p o r figu ras do que p o r lo n g as T abelas.
Um b r e v e a p a n h a d o de p r e s s u p o s t o s e t r a n s f o r m a ç õ e s
Serão a p re se n ta d o s aqui alg u n s te ste s e sta tístico s m ais em p reg ad o s, te n ta n d o
dem onstrar que to d o s seg u em a m e sm a ló g ica de to m a d a de d e cisã o . O que u m
teste e sta tístico faz é fo rn e ce r u m a m ed id a de in c e rte z a ou as c h a n c e s de se
tomar u m a d e cisã o errad a. P ara que tal ro tin a fu n cio n e , algu n s p re ssu p o sto s
devem ser cu m p rid o s.
505
PAULO DE MARCO JUNIOR
ADRIANO PEREIRA PAGLIA
Alguns testes estatísticos dependem da distribuição dos dados ou, mais preci
samente, da distribuição da média amostrai. Tais testes são classificados como
“paramétricos” e, para empregá-los, deve-se garantir que, além da distribuição
ser normal, as variâncias entre grupos (no caso de teste t e ANOVA) devem ser
iguais. De maneira geral, os dois pressupostos, normalidade e homogeneidade
de variâncias, não são requisitados para os testes não paramétricos. O proble
ma é que nem sempre existe uma alternativa não paramétrica para cada teste
paramétrico.
506
ESTA T ÍSTIC A E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
É um Sanhaço?
Sim 13 34 47
Não 12 40 52
Total 25 74 99
507
PAU LO DE MARCO JUNIOR
ADRIANO PEREIRA PAGLIA
É um Sanhaço?
Total 25 74 99
508
I ' . ESTA T ÍSTIC A E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
r.
I .; . <.; ' T '
com mesmo número de machos, fêmeas e filhotes). Assumindo todas essas va
riações, acompanhou-se a vida de indivíduos que foram reintroduzidos a partir
de dois grupos, os que passaram e que não passaram pela pré-adaptação. Esta
será a variável independente categórica binária. A variável resposta é a idade em
que o indivíduo morreu. A Tabela 4 resume os resultados encontrados:
A hipótese nula reza que não há diferenças de longevidade dos primatas com
ou sem pré-adaptação. Propositalmente, foi apresentado um conjunto de da
dos que apresenta dois dos principais problemas que usualmente assustam
q\iem começa a usar os testes estatísticos. Os dados parecem muito regulares
para estarem apresentando “d istribu ição norm al" e a longevidade na ausência
do período de pré-adaptação parece variar mais que com a pré-adaptação.
5 09
PAULO DE MARCO JUN IO R
ADRIANO PEREIRA PAGLIA
Ho: m = p2 = n3 = p4
510
ESTA T ÍSTIC A E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Observe que a hipótese nula (Ho) tarribém quer dizer que não há efeito da
altitude sobre a densidade da espécie, com consequência lógica da igualdade
das médias em altitudes diferentes. Para se rejeitar a hipótese nula, basta que
pelo menos um par apresente valores médios diferentes, para um nível de
significância de 5% (a = 0,05). Os valores obtidos pelo pesquisador estão
listados na Tabela 5.
PI P2 P3 P4 P4 P6 P7 P8
Cota 1 19 15 17 21 22 23 .22 19
Cota 2 21 22 17 20 17 21 21 24
Cota 3 16 17 19 18 14 20 15 17
Cota 4 18 18 14 16 19 15 13 18
Tabela 6\. Análise de variância testando o efeito da altitude sobre a abundância da planta.
Total 249,5 31
511
PAU LO DE MARCO JUN IOR
ADRIANO PEREIRA PAGLIA
lembrar o que foi dito no início desse texto: o valor F é uma razão entre variân
cias. Compara-se o valor F calculado com o valor esperado sendo a hipótese
nula verdadeira, e decide-se pela sua rejeição ou não. A maioria dos progra
mas estatísticos calcula a probabilidade associada ao valor F calculado. No
exemplo acima, o valor F calculado foi de 5,66, com um nível de significância
atingido (ou valor-p estimado) de 0,004. Como o valor-p está bem abaixo do
nível de significância adotado de 0,05 rejeitam os a hipótese nula, ou seja,
existe efeito significativo da altitude sobre a densidade da planta. Uma boa
maneira para ilustrar o resultado sem apresentar o quadro completo é fornecer
o valor F com seus graus de liberdade e o valor-p. No exemplo acima, diría
mos: “Existe diferença na densidade ente as cotas de altitude (F3,28 = 5, 66 ;
p = 0,004)”. Além disso, a apresentação gráfica dos valores médios por grupo,
com suas respectivas medidas de variação facilita a visualização dos resulta
dos. Gráficos do tipo box-plot como o da figura 1 são^bem ilustrativos.
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Z
16
14
2 . 3
Cotas de altitude
O teste ANOVA indica se existe diferença, mas não informa onde esta se en
contra. Para tal, tendo rejeitado a hipótese nula pela ANOVA faz-çe necessário
um teste a p osteriori. De uma maneira geral, existem dois grupos de testes a
p osteriori. Os prim eiros, denominados testes de comparação múltipla, nos
quais não se estabelece uma hipótese a priori, e os testes de comparação plane-
5X2
EST A T ÍST IC A E IN TERPRETA Ç Ã O DE DADOS
I a ' emPreSand° a técn ica de contrastes. Este último, mais “elegante" deve
ser otilizado sem pre quando o pesquisador já possuir, antes de iniciar o expe-
rimento, um a hipótese de com o seus grupos devem se diferenciar.
t
Altitude N° de espécies de N° de indivíduos
(metros) polinizadores da planta
500 27 31
550 15 32
610 12 28
680 45 29
720 20 30
770 40 20
810 10 15
890 ' 27 15
930 29 13
990 12 12
1030 25 10
1080 8 8
1140 12 7
1200 9 9
513
PAULO DE MARCO JUN IOR
ADRIANO PEREIRA PAGLIA
Figura 2. Retas produzidas por diferentes coeficientes de regressão, p > 0 indica associa
ção positiva; p < 0 associação negativa: e p igual a zero indica ausência de associação
entre as duas variáveis.
514
ESTA T ÍSTIC A E IN TERPRETAÇÃO DE DADOS
Coeficientes Estatística
(3 B g.l. t Valor-p
Intercepto 52,928 12 15,316 < 0,001
Altitude -0,947 -0,0405 12 -10,275 < 0,001
Total 1175,5
Como foi dito no tópico sobre ANOVA, a soma dos quadrados (SQ) é uma
estimativa da variância particionada entre a regressão e o resíduo, ou erro. A
proporção entre a SQ reg e a SQtot indica quanto da variação é explicada pela
1055 5 s
regressão. Nesse caso --------— = 0,898 . A regressão explica 89,8% da variação
1175,5
dos dados. Esse valor é o chamado R 2 da regressão e pode também ser calcu
lado simplesmente elevando-se ao quadrado o valor do coeficiente de correla
ção (R = -0,947 —» R 2 = 0,898). O teste segue a mesma lógica de uma ANOVA
comum. Calcula-se o valor da estatística F pela divisão dos quadrados médios.
(QMReg/QMRes). Compara-se o valor calculado com o esperado, sendo verda
deira a hipótese nula e toma-se a decisão. No exemplo, o elevado valor de F
indica que a regressão é altamente significativa (Figura 3).
515
PAULO DE MARCO JUNIOR
ADRIANO PEREIRA PAGLIA
Altitude (metros)
516
ESTA T ÍSTIC A E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Coeficientes Estatística
P B g i t Valor-p
Intercepto 52,495 ll 10,984 < 0,001
Altitude -0,942 -0,040 11 -9,092 < 0,001
Riqueza 0,014 0,011 11 0 ;l3 8 0,892
Tabela 11. A nálise de variância para a regressão múltipla entre altitude e riqueza com a
abundância das plantas.
Total 1175,5
517
PAULO DE MARCO JUN IO R
ADRIANO PEREIRA PAGLIA
Tabela 12. Presença (1) e ausência (0) de duas espécies de Chironomidae concentração de
nitrogênio total em 20 pontos da bacia do Rio Doce.
Nitrogênio total
Ponto Tanitarsus sp C ryptochironom us
(Hg/1)
1 1 0 262,4
2 1 1 420,6
3 0 1 1889
4 1 1 718,5
5 1 1 471,3
6 0 0 1219,3
7 0 1 1587
8 1 1 482,6
9 0 1 2132
10 0 0 3112
11 0 0 5257
12 1 . 1 454,3
13 0 0 1221
14 0 1 837,8
15 0 0 538,9
16 1 1 136,2
17 0 0 574,5
18 0 0 775,6
19 0 0 7283
20 . 1 0 308,8
518
e s t a t ís t ic a e in t e r p r e t a ç ã o d e d a d o s
1
Y=
1 + e - ( « + P t * l + p 2 X 2 + ~ + P i X i ')
Se fizermos Ls - Lc :
519
PAULO DE MARCO JUNIOR
ADRIANO 'PEREIR A PA G U A
520
E STA T ÍSTIC A E IN TERPRETAÇÃO DE DADOS
Ocorrência = 1/(1+exp-(44.26+(-15.97)*N-tot))
2,0 2.2 2.4 2.6 2,8 3,0 3,2 3,4 3.6 3,8 4.0
Ocorrência = 1/(1+exp-(3,71+(-1,26)*N-tot))
521
PAULO DE MARCO JUNIOR
ADRIANO PEREIRA PAGLIA
Isto nos leva também ao problema dos riscos assimétricos, discutido de forma
muito interessante, se bem que ligeiramente diferente, em Caughley & Gunn
(1996). Considere os dois tipos de erros estatísticos que podem ocorrer nesse
teste. Nós poderíamos rejeitar a hipótese nula sendo ela verdadeira (Erro tipo
1) ou aceitá-la sendo ela falsa (Erro tipo 2).
522
ESTA TÍSTICA E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Bibliografia recomendada
Caughley, G. & Gunn, A. 1996. Conservation Biology in Theory and Practice. Blackwell
Science, Inc., Cambridge, M assachusetts. 459p.
Hosmer, D. W. & lemeshow, S. 1989. Applied Logistic Regression. John Wiley & Sons, New
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Krebs, C. J. 1989. Ecological Methodology. Harper & Row, Publishers, New York. 654p.
Magurran, A. E. 1988. Ecological Diversity and its Measurement. Cambridge University
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Neto, P. R. P.; Valentin, J. L. & Fernandez, F. {eds.}. 1995. Tópicos em tratamento de dados
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200p.
Sokal, R. R. & Rohlf, 1995. Biometry. W. H. Freeman arid Company, New York,/USA. 887p.
Tonhasca, A., Jr. 1991. T-he three “capital sin s” of statistics used in biology. Ciência e Cultura,
4 3 (6 ):4 1 7 -4 2 2 .
524
20 Delineamento de experimentos
numa perspectiva de ecologia da paisagem
Jean Paul Metzger
Instituto de Biociências. USP
Introdução
Avanços na ciência dependem da existência de um corpo teórico que permita
formular hipóteses e previsões testáveis. Na ausência deste corpo teórico e da
possibilidade de realizar experimentos, a pesquisa costuma resultar em sim
ples estudos descritivos ou, entâo, em generalidades como “a escàla é impor
tante”, “a relação depende das características das espécies ou do tipo de paisa
gem”, que, apesar de chamarem atenção para aspectos importantes, não são
úteis nem para se.estabelecer teorias nem em termos aplicados (Wiens 1999a).
A realização de experimentos é a forma mais usual de se fazer ciência, de se
estabelecer relações de causa e efeito (Ims 1999), e tem sido aplicada com
sucesso nas mais diversas áreas de pesquisa, como na física, na bioquímica ou
na biologia molecular. No entanto, estudos experim entais ainda são pouco
numerosos em ecologia da paisagem, correspondendo a menos de 5% dos
artigos publicados na L a n d sca p e E cology de 1986 a 1995 (Wiens 1992, Hobbs
1999). Assim, não é de se espantar que a ecologia da paisagem ainda não tenha
um arcabouço teórico bem formulado, sendo considerada uma disciplina ima
tura e em busca de uma identidade (Hobbs 1994).
Porém, várias razões podem ser apontadas para essa ausência de experimenta
ção (Ims 1999). Primeiro, a ecologia da paisagem lida, em geral, com escalas
espaciais e temporais muito amplas, tornando difícil e muitas vezes impossí
vel realizar um experimento bem controlado e delineado. Em segundo lugar,
cada paisagem tem uma história própria, o que torna difícil a tarefa de se
encontrar réplicas de paisagem ou paisagens-controle. Terceiro, a paisagem é
uma unidade que integra um sistema extremamente complexo de interações
entre variáveis, o que dificulta e, muitas vezes, torna irreal ou artificial o estabe
lecimento de uma causalidade única (ou simples). Alguns autores consideram,
JEAN PA U L M ETZG ER
526
DELINEAM ENTO DE EXPERIM EN TO S
NUMA PERSPEC TIVA DE ECOLOGIA DA PAISAGEM
527
\
JEAl< PA U L M ETZG ER
Uma outra possibilidade é a utilização dos cada vez mais sofisticados progra
mas de tratamento de informações espaciais (por exemplo, Sistemas de Infor
mações Geográficas) para gerar simulações de determinados processos, consi
derando-se determinadas premissas (ou hipóteses) sobre as relações entre pa
drões espaciais e processos ecológicos. Através desses modelos, é possível
simular determinados eventos ou processos e comparar os resultados obtidos
com os simulados (esperados segundo o modelo) (figura 1 ). Essa é, sem dúvi
da, uma opção tentadora para os ecólogos da paisagem construírem uma teoria
da paisagem, à medida que as simulações forem quantitativas e precisas. Até o
presente, os ecólogos da paisagem (em particular os norte-americanos) têm se
mostrado muito eficientes em produzir modelos cada vez mais complexos,
porém poucos estudos procuram testar as predições desses modelos, toman
do essas simulações de pouca utilidade para a compreensão da paisagem real.
As simulações devem ser um caminho importante de pesquisa em paisagem,
porém é necessário estar sempre confrontando os resultados simulados com
os observados na paisagem estudada.
528
DELINEAMENTO DE EXPERIM EN TOS
N UMA PERSPECTIV A DE ECOLOGIA DA PAISAGEM
529
JEAN PAUL M ETZG ER
Definição do objetivo
Apesar de muitos estudantes desconsiderarem esta etapa, definindo o objeto
de estudo sem ter claro o objetivo do trabalho, esta é a etapa inicial, primordial
e, sem dúvida, crucial para o sucesso de uma pesquisa. Sem um objetivo bem
definido, é impossível fazer 1uma boa pesquisa. Muitas vezes o que permite
distinguir uma boa pesquisa é a capacidade do pesquisador de intuir ou per
ceber quais são os fatores-chave a serem estudados numa determinada paisa
gem. Outros autores consideram que a ecologia da paisagem tem que ser útil
em termos aplicados (pois sua escala de análise é compatível com a escala de
perturbação antrópica do ambiente) e, por isso, consideram que a definição da
pergunta tem que estar relacionada com uma necessidade prática ou um fim
aplicado. Assim, ao invés de procurar estudar o fator-chave, seria necessário
definir o problema-chave de uma determinada paisagem, para, então, definir o
objetivo da pesquisa.
Seja qual for sua prioridade (mais teórica ou mais prática), o objetivo tem que
ser formulado de forma clara e testável (refutável), e pode ser enunciado sob
forma de um grupo de hipóteses, baseado numa sequência lógica de suposi
ções restritivas. Por exemplo, se o objetivo é provar que um determinado coi'-
redor funciona como um facilitador do fluxo de indivíduos de uma espécie
entre dois fragmentos, pode-se, na sequência: i) determinar se a espécie usa o
corredor (realizando censos no corredor), o que não significa que ela está usando
o corredor para ir de um fragmento a outro; ii) áe ela usa o corredor, então
podem-se marcar indivíduos da espécie estudada nos fragmentos em questão
e ver se indivíduos capturados nos fragmentos são encontrados no corredor,
ou se indivíduos de um fragmento podem ser encontrados no outro fragmen
to. No caso positivo, ainda não se provou que o corredor foi utilizado para o
deslocamento e muito menos que ele facilita esse deslocamento, visto que os
indivíduos podem ter ido de um fragmento ao outro pela matriz; iii) tendo tido
sucesso na etapa anterior, deve-se agora provar que a espécie se locomove
preferencialmente pelo corredor e não pela matriz. Isso só pode ser feito com
parando a intensidade de locomoção nesses dois casos (o que nem sempre é
fácil).
Fica claro que de nada adianta realizár a terceira parte da pesquisa se as duas
primeiras não forneceram os resultados esperados. Mesmo tendo sucesso nes
sas três etapas, não se podem fázer grandes generalizações. Será que ,a espécie
não cruzaria de forma mais intensa pela matriz se não houvesse corredor? Ou
seja, seria necessário comparar os resultados obtidos acima com resultados de
530
D ELINEAM ENTO DE EXPERIM EN TO S
NUMA PERSPEC TIVA DE ECOLOGIA DA PAISAGEM
fluxos entre dois fragmentos não unidos por corredores. Para generalizar ain
da mais essa relação (os corredores facilitam a locomoção das espécies em
questão em paisagens fragmentadas), seria necessário provar que o que foi
obtido nos dois pares de fragmentos estudados não é uma exceção. Ou seja, é
preciso replicar o estudo para vários outros pares de fragmentos. E, para a
generalização valer para qualquer paisagem, seria necessário estudá-la para
diferentes tipos de matrizes. Enfim, esse é apenas um exemplo de como é
necessário definir bem o objetivo conforme o que vai realmente ser estudado
(ou do que é possível estudar), e de como um objetivo simples pode envolver
uma cadeia grande de testes (ou hipóteses).
531
JEAN PAUL M ETZG ER
532
D ELINEAM ENTO DE EXPERIM EN TO S
NUMA PERSPEC TIVA DE ECOLOGIA DA PAISAGEM
Relações teóricas
Padrão Padrão
f ■ # -
Processo v; Processo \
Desenho experimental
Chega-se ao ponto crítico: de posse do objetivo bem formulado, do conheci
mento que o espaço e a escala são importantes, como fazer para lidar com
todos os problemas de experimentação com paisagens (falta de réplicas e con
troles, impossibilidade de isolar ou manipular variáveis etc)? Estão aqui apre
sentadas apenas algumas sugestões, generalizando o estado da investigação
533
JEAN PAUL M ETZG ER
em três grandes casos: i) sabe-se que o espaço importa, mas não se tem a
mínima ideia de que a variável espacial é mais importante; ii) tem-se uma ideia
clara de que a variável espacial pode estar afetando mais efetivamente o pro
cesso ecológico; iii) além de uma intuição de que variável espacial é mais
importante, há também um efeito previsto que pode ser simulado.
No primeiro caso, quando não se tem ideia de que variável espacial pode ser
mais importante, faz-se um estudo “exploratório”. Isso significa correlacionar
diferentes parâmetros espaciais (os “índices espaciais”, abordados com mais
detalhes no Capítulo 16, Estrutura d a p a isa g em : o uso a d eq u a d o d e métricas,
neste volume) com seus parâmetros ecológicos. Por exemplo, deseja-se enten
der que parâmetros espaciais estariam agindo na definição da riqueza de espé
cies de fragmentos florestais de uma determinada região. Nesse caso, necessi
ta-se estudar a riqueza de espécies de diferentes fragmentos (pelo menos 10.
de preferência mais de 30) e estudar a estrutura espacial da paisagem no entor
no desses fragmentos, utilizando índices da paisagem. Dessa forma será possí
vel relacionar os índices da paisagem com a riqueza dos fragmentos, utilizan
do possivelmente regressões lineares e não lineares. As relações mais signifi
cativas darão uma ideia de que parâmetros espaciais podem estar agindo na
determinação da riqueza. Porém, ainda se está longe de poder estabelecer uma
relação de causa e efeito, pois outras variáveis correlacionadas podem ser res
ponsáveis pelo padrão de riqueza observado. O importante é que esse tipo de
investigação “exploratória” permite levantar hipóteses e centralizar o foco num
conjunto reduzido de variáveis espaciais.
Tendo tido dados que apontem para uma relação positiva entre densidade de
corredores e densidade da espécie com o experimento acima, seria ainda ne
cessário entender essa relação melhor: será que os corredores permitem uma
maior migração entre os fragmentos, compensando, por exemplo, mais rapida
mente as perdas por mortalidade? Ou será que os corredores aumentam as
possibilidades de fuga da espécie estudada de um possível predador? Ou será
ainda que os corredores aumentam a capacidade da espécie de encontrar al
gum tipo de recurso mais escasso e distribuído de forma irregular nos frag
mentos? Todas essas perguntas requerem novos trabalhos experim entais e
deixam claro que o reconhecim ento de um determinado padrão de relação
entre uma estrutura da paisagem (no caso, densidade de corredores) e um
processo/padrão ecológico (densidade da espécie) não esgota o trabalho do
ecólogo da paisagem. Quanto maior a necessidade de detalhar uma determina
da relação entre padrão e processo, mais o ecólogo de paisagem mostra que ele
nada mais é do que um ecólogo tradicional (que estuda populações ou comuni
dades) que tem a particularidade de espacializar suas perguntas. Para realizar
um teste mais específico sobre o efeito de um determinado corredor, o ideal
seria eliminar ou criar (por restauração) um corredor, analisando o que ocorre
535
JEAN PAUL M ETZG ER
Conclusões
A principal intenção deste capítulo foi a de sugerir formas de planejar a pes
quisa, sem a pretensão de esgotar todas as opções. Muito pelo contrário, dese
ja-se incentivar fortemente o leitor a adaptar sua forma de fazer pesquisa com
paisagem, de acordo com o objetivo específico de sua pesquisa. O importante
para fazer uma boa pesquisa é formular perguntas de forma lógica, ter um bom
desenho experimental, ser quantitativamente rigoroso na coleta dos dados, ter
uma análise objetiva e interpretações confiáveis (Wiens 1999a).
536
D ELINEAM ENTO DE EXPERIM EN TO S
NUMA PERSPEC TIV A DE ECO LOGIA DA PAISAGEM
Matriz. Pode ser entendida de duas formas: como a unidade da paisagem fun
cionalmente (e em geral, espacialmente) dominante (unidade que controla a
dinâmica da paisagem) ou como o conjunto de unidades de não hábitat (nesse
caso, é feita uma oposição entre hábitat e matriz).
537
JEAN PA U L M ETZG ER
P ercolação. Diz-se que uma unidade da paisagem percola quando uma de suas
manchas atravessa espacialmente a paisagem de ponta a ponta.
Bibliografia
Andrén, H. 1994. Effects of habitat fragmentation on birds and mammals in landscapes with
different proportions òf suitable habitat: a review. Oikos 71: 355-366.
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model for landscape analysis. Pp. 77-103, In: M. G. Turner e R. H. Gardner, (eds). Quantitative
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D ELINEAM ENTO DE EXPERIM EN TO S
N UMA PERSPEC TIV A DE ECO LOGIA DA PAISAGEM
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Wiens, J. A. & Milne, B. T. 1989. Scaling of “landscapes” in landscape ecology, or, landscape
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Wiens, J. A.; Stenseth, N. C.; Van Horne, B. & Ims, R. A. 1993. Ecological m echanism s and
landscape ecology. Oikos 66: 369-380.
539
Educação ambiental e conservação
21 A abordagem participativa
na educação para a conservação da natureza
Suzana M. Padua
IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
Marlene F. Tabanez
Instituto Florestal de São Paulo
Introdução
A educação ambiental surgiu formalmente na década de 70, como resposta às
crises socioambientais crescentes que não estavam sendo abordadas efetiva
mente nas diversas áreas da atividade humana, principalmente nas propostas
tradicionais de educação. A formação de cidadãos atuantes passou a ser o
centro dos debates sobre a temática ambiental, em eventos realizados em vári
os países do mundo.
544
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
A abordagem participativa
Um elemento-chave para educação ambiental em programas de conservação é
desenvolver mecanismos que promovam o engajamento de comunidades lo
cais. A adoção de abordagens participativas pode incentivar populações que
habitam regiões próximas a áreas naturais a se envolverem com conservação,
ajudando a protegê-las. Essa abordagem conta com o ouvir a todos e o processo
pode iniciar-se com a identificação de problemas locais e a busca de soluções,
545
SUZA N A M. PADUA
M ARLEN E F. TA BA N EZ
M ARIA DAS GRA ÇA S DE SO U ZA
546
A ABO RDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÀO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
no todo, mas organiza-se por partes. A lista das etapas pode variar de acordo
com o contexto, permitindo sua adaptação às situações específicas de cada
t
I a Etapa: Planejamento
Avaliando a realidade ambiental
A fase de P la n eja m en to é quando o educador/pesquisador aproxim a-se da
realidade a ser trabalhada, procurando conhecê-la mais profundamente. En
volve uma gama de aspectos tais como: identificação dos problemas e poten
ciais locais, públicos a serem trabalhados e clarificação de objetivos. A avalia
ção contínua deve permear todo esse processo.
547
SU ZA N A M. PADUA
M ARLEN E F.' T A BA N EZ
MARIA D A S GRA ÇAS DE SO U ZA
Uma vez que um problema/tema local tenha sido identificado como prioritá
rio, podem-se identificar soluções e onde se quer chegar. Esses constituem
efetivamente os objetivos que podem visar ao aumento de conhecimentos e à
sensibilização.do público causador do problema, a fim de mudar seu compor
tamento, visando minimizar os danos observados anteriormente. O objetivo
pode ser também obter participação para a busca de soluções propiciando
oportunidades para despertar o potencial transformador de cada um. Uma vez
que se sabe o que se quer, a forma de se ter êxito fica mais clara. Afinal, “o
vento só ajuda o navio que sabe para onde vai”.
d. Identificação do público-alvo
548
A ABO RDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
f. Avaliação
54 9
SUZA N A M. PADUA
M ARLEN E F. TA BA N EZ
MA RIA D A S GRA ÇA S DE SO U Z A
2a Etapa: Processo
Definindo a mensagem e implantando as ideias
A fase do P rocesso consiste em criar as estratégias e as atividades do programa
e implementá-las. Em geral, essa é a fase mais estimulante tanto para o público
quanto para o educador/pesquisador. E importante manter a motivação, o que
não é difícil quando se coloca a ‘fmão na massa”. Essa etapa pode incluir os
passos descritos a seguir.
550
A ABO RDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
c. Elaboração de cronograma
d. Capacitação de equipe
Como educação ambiental é ainda uma área nova, torna-se necessária a capaci
tação do educador/pesquisador, bem como de sua equipe. Materiais didáticos
como livros e vídeos, reuniões e cursos podem contribuir em processos de
formação de pessoal. Cursos específicos dessa área podem capacitar o profis
sional que muitas vezes quer executar, mas se sente inseguro em como fazê-lo.
Outro meio de formação é promover oportunidades de estágios em programas
de educação ambiental em andamento, quando o aprender fazendo pode ser
sempre uma estratégia enriquecedora.
3a Etapa: Produto
Avaliando as partes e o todo
Durante a fase Produto é possível verificar se os objetivos foram alcançados ou
não. Todo resultado é importante, pois se aprende tanto com às experiências
bem sucedidas quanto com as que não surtiram os efeitos esperados. Todos os
fatores devem ser considerados para que haja maior compreensão dos resulta
dos. Trata-se de um desafio em que muitas vezes o processo é mais importante
do que os resultados propriamente ditos. Daí a importância da avaliação nos
diversos momentos do programa.
a. Avaliação do processo
551
SU ZA N A M. PADUA
M ARLEN E F. TA BA N EZ
M ARIA D A S GRAÇA S DE SO UZA
552
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
d. Busca de apoio
e. Disseminação de resultados
Considerações Finais
Como os problemas socioam bientais são muitos e o tempo parece curto, a
estruturação de programas educacionais pode economizar energia e recursos
de todos os envolvidos e propiciar resultados mais eficazes. Segundo Simões
(1995), o pragmatismo muitas vezes está direcionado a uma atuação emergen-
cial em relação ao quadro da degradação existente. Embora a educação ambien
tal tenha a sua origem no enfoque da resolução de problemas e é o caráter
prático que lhe dá identidade, é imprescindível aprofundar essa reflexão buscan
do significado para a prática. Daí a razão da importância da educação ambiental
buscar coerência teórica e metodológica. A metodologia apresentada neste arti
go é uma das muitas utilizadas em programas de educação ambijental. Pode ser
adaptada para pesquisas qualitativa e quantitativa, de acordo com a situação
ou problema e os âmbitos do contexto.
553
SU ZA N A M. PADUA
M ARLEN E F. TA BA N EZ
M ARIA DAS GRAÇA S DE SO U Z A
Bibliografia
♦
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554
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
N A EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
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555
SU ZA N A M. PADUA
M A RLEN E F. TA BA N EZ
M ARIA D A S G RA Ç A S DE SO U ZA
Anexo 1
Exemplo da aplicação de uma metodologia de educação para a
conservação
Apresentamos, a seguir, a síntese de um programa de educação ambiental que
ilustra a utilização da metodologia PPP - Planejamento, Processo e Produto,
abordada neste capítulo.
556
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
Planejamento
A fase P lanejam en to deve sempre iniciar com um levantamento da realidade
local, para que se possa estruturar o programa de acordo.
a. Levantamento do contexto
a.l. A rea lid a d e am bien tal
557
SU ZA N A M. PADUA
M ARLEN E F. TA BA N EZ
MARIA D A S GRAÇA S DE SO U ZA
d. Identificação do público-alvo
O público-alvo foi composto por estudantes da região, mas muitas atividade:
foram deliberadamente dirigidas à comunidade em geral. Os objetivos especí
ficos incluíram: apresentar os alunos ao Parque e seus recursos naturais; fo
mentar uma apreciação do mundo natural; disseminar conhecimentos sobri
conceitos ecológicos; envolver a comunidade na conservação do Parque; tor
nar o programa estruturado para que sua continuidade pudesse ser assegura
da; e treinar alunos de segundo grau como guias de natureza. O treinamenti
incluiu ainda funcionários do Parque para garantir a continuidade do progra
ma e fomentar o envolvimento interno nas atividades educacionais.
558
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÁO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
f. Instrumentos de avaliação
Um delineamento de pesquisa foi elaborado com alunos expostos ao programa
(grupo experimental) para serem comparados a outros não participantes (gru
po de controle). Esses alunos foram aleatoriamente separados nesses dois gru
pos, aumentando assim a confiabilidade dos resultados. Os instrumentos de
avaliação foram questionários aplicados como pré-teste, pós-teste e teste de
retenção, o que possibilitou a comparação dos resultados nas três ocasiões. O
grupo de controle também respondeu aos questionários, permitindo uma com
paração entre os dois grupos. Dessa forma, os resultados puderam ser estatis
ticamente analisados, dando maior confiabilidade ao estudo.
Processo
Na fase Processo, ou de implantação, as atividades e estratégias foram criadas,
implementadas e constantemente avaliadas. Dessa forma, foi possível melho
rar às atividades à medida que iam sendo implantadas.
a. 1. Pré-visita
A pré-visita incluiu a elaboração e distribuição de material didático para os
professores, que compreendia uma série de quatro apostilas, cada uma enfo
cando aspectos regionais distintos: história, geografia, flora e fauna, e clima.
Para os alunos, foi apresentada uma palestra nas escolas, como preparação à
visita, mostrando o Parque e áfeus recursos naturais. Na palestra foram utiliza
das técnicas audiovisuais como “slides” e cartazes e encorajou-se a participa
ção dos espectadores por meio de perguntas, imitações de animais e debates.
559
SU ZA N A M. PADUA
.M A RL E N E F. TA BA N EZ
M ARIA D A S GRAÇA S DÈ SO UZA
a. 2. Visita
a. 3. Pós-visita
a. 4. A tividades a d icio n a is
560
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
b. Avaliação do processo
Todas as atividades foram avaliadas periodicamente, fornecendo à equipe de
educação informações quanto à sua qualidade e adequação ao respectivo pú
blico. A avaliação formativa, ou aquela adotada durante a implantação do pro
grama, serviu para manter, aprimorar ou mudar completamente as linhas de
ação e adequar o conteúdo ao público-alvo. A metodologia de avaliação utiliza
da foi a aplicação de questionários com perguntas simples e diretas. A quali
dade do programa pode, portanto, ser monitorada, aumentando as chances de
se criar condições favoráveis ao aprendizado e às mudanças de atitude em
relação à natureza.
c. O cronograma de execução
A fim de organizar as atividades a serem desenvolvidas, foi elaborado um
cronograma que incluiu as diferentes etapas. A prática mostrou que, quanto
mais detalhado o cronograma, mais fácil pode ser a implantação das partes que
compõem o programa. Um exemplo de cronograma foi inserido a seguir para
ajudar a visualização de algumas atividades:
561
SUZA N A M. PADUA
MARLEN E F. TA BA N EZ
MARIA D AS GRAÇA S DE SO U Z A
d. Capacitação
Uma vez que o programa para o mico-leão-preto começou do zero, não havia
equipe capacitada para desempenhar papéis como guias ecológicos, palestran
tes ou demais funções necessárias. A capacitação começou com adolescentes
voluntários, através de dias de estudo e trocas de informações. Aos poucos,
esses voluntários tornaram-se estagiários e, como o programa foi criado com
participação e palpite de todos, sempre houve grande envolvim ento e entu
siasmo em melhorar o desempenho pessoal, que reflete no programa como um
todo. Em pouco tempo os professores da região começaram a demandar cursos
de capacitação. Desde então, cursos têm sido oferecidos continuamente a pro
fessores em diversas regiões onde o mico se encontra.
562
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
Produto
a. Resultados esperados
Uma vez que esse estudo serviu como dissertação de Mestrado, foram feitos
vários testes estatísticos para que os resultados pudessem ser melhor analisa
dos. Esse não é um procedimento muito usual, mas mostra como um programa de
educação ambiental pode utilizar mecanismos mais estruturados de avaliação.
Uma análise de variância mostrou que não havia diferença entre os grupos no
pré-teste, o que indica que inicialmente todos tinham o mesmo nível. Entretan
to, uma diferença significativa foi observada no pós-teste e no teste de retenção,
o que indica a eficácia do programa, ou seja, os alunos expostos ao programa
responderam com muito mais acertos do que o grupo que não participou (con
trole). A Tabela 2 indica diferenças significativas no pós-teste e no teste de reten
ção entre os grupos e entre as séries, mas não detectadas entre os sexos.
563.
SU ZÁ N A M. PADUA
M ARLEN E F. TA BA N EZ
MARIA D A S GRAÇA S DE SO U Z A •
Médias
Grupos
Experimental N=70 61.65 76.5 76.04
Controle N=74 60.33 60.58 62.94
Sexo
Meninas = 68 * 59.73 68.64 69.70
Meninos = 76 * 62.09 68.02 68.9
Séries
8a - 7a 1.74 1.95 -0.85
8a - 6a 3.85 * 6.28 * 4.65
8a - 5a * 5.48 * 9.98 * 9.55
7a - 6a 2.11 * 4.32 3.80
7a - 5a 3.74 * 8.02 * 8.70
6a - 5 a 1.62 3.69 * 4.9
564
A ABO RD AGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
b. Resultados inesperados
c. Busca de apoio
Uma vez que o programa para o mico-leão-preto teve resultados concretos,
tanto esperados como inesperados, foi possível buscar apoio dentro do Insti
tuto Florestal de São Paulo e instituições financiadoras. Os dados obtidos
através das avaliações facilitaram a argumentação porque ofereceram indicado
res de eficácia. Portanto, a avaliação e a análise dos dados foi de grande valia.
Considerações Finais
0 programa descrito está longe de ser um processo acabado, pois é a sua
própria dinâmica que o faz evoluir. Entretanto, muitas das metas conservacio-
nistas têm sido atingidas, o que indica que a combinação de pesquisa, educa
ção e envolvimento comunitário forma um modelo eficaz para a conservação
da natureza. Toda iniciativa que contribui para a conservação deve ser busca
da, já que as pressões sobre a natureza são muitas e o tempo para encontrar
soluções parece cada vez mais curto.
565
SUZA N A M. PADUA
M ARLEN E F. TA BA N EZ
M ARIA D A S GRAÇAS DE SO U ZA
Anexo 2
Exemplo de questionários utilizados na pesquisa
“Avaliação de trilhas interpretativas para educação ambiental”**
Apresentamos, a seguir, modelo de pré e pós-questionários utilizados para
avaliação de trilha interpretativa na Estação Ecológica dos Caetetus, aplicados
com a finalidade de mensurar sua eficácia educacional.
566
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
Pré-questionário
Trilha Interpretativa do Jatobá - Estação Ecológica dos Caetetus
1- Nome:______________________________________________ 2- Idade:_____________
3- Sexo: M ( ) F ( )
4- Nome da Escola:______________________________________ 5- Série:_____________
6- Cidade:______________________________________________________________ _ _ _
8- Você acha importante existir um local como a Estação Ecológica dos Caetetus?
( ) sim ( ) não
Por quê?____________________________________________________________________
10- Explique com suas palavras o que você entende por Biodiversidade.
13-Dê 2 exemplos diferentes de como pode ocorrer a polinização das plantas numa
floresta:____________________________________________________________•________
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M ARLEN E E TA BA N EZ
M ARIA D A S GRAÇA S DE SO U Z A
14- Cite 5 nomes de árvores que existem na Estação Ecológica dos Caetetus:
15- Cite 5 nomes de animais que vivem na Estação Ecológica dos Caetetus:
16- Extinção é:
18- Você poderia citar 3 causas para um animal ficar ameaçado de extinção:
19- Existe algum animal ou planta ameaçado de extinção na Estação Ecológica dos
Caetetus?
( ) sim ( ) não
Quais: _____________________________________
20- Hoje você vai conhecer a Trilha Interpretativa do Jatobá. O que você espera encon
trar nessa Trilha (pode anotar mais de uma alternativa)?
( ) cipós ( ) vestígios de animais
( ) fungos ( ) flores
( ) árvores grandes ( ) frutos
( ) árvores pequenas ( ) árvores mortas
( ) animais ( ) “toca de animais”
( ) outras, quais:
24- Comentários:_______________________________________________
568
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA ED UCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
Pós-questionário
Trilha Interpretativa do Jatobá - Estação Ecológica dos Caetetus
1- Nome:________________________
2- Você acha importante existir um local como a Estação Ecológica dos Caetetus?
^ ( ) sim ( ) não
Por quê?____________________________________________________________ ________
10- Extinção é:
569
SU ZA N A M. PADUA
MARLEN E F. TA BA N EZ
MARIA D A S GRA ÇAS DE SOUZA
12- Você poderia citar 3 causas para um animal ficar ameaçado de extinção?
13- Existe algum animal ou planta ameaçado de extinção na Estação Ecológica dos
Caetetus?
( ) sim ( ) não
14- Hoje você conheceu a Trilha Interpretativa do Jatobá. O que você encontrou nesta
Trilha (pode anotar mais de uma alternativa)?
( ) cipós ( ) vestígios de animais
( ) fungos ( ) flores
( ) árvores grandes ( ) frutos
( ) árvores pequenas ( ) árvores mortas
( ) animais ( ) “toca de animais”
( ) outras, quais: i
570
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
571
SUZA N A M. PADUA
M ARLEN E E TA BA N EZ
MARIA D AS GRAÇA S DE SO U ZA
Anexo 3
Exemplo de entrevista utilizada na pesquisa “Significado para
professores de um programa de educação ambiental em unidade de
conservação ”***
Apresentamos, a seguir, modelo de roteiro de entrevista semiestruturada utili
zada para avaliação do programa de educação ambiental desenvolvido com
professores de ensino fundamental e ensino médio na Estação Ecológica dos
Caetetus.
* * * Parte da publicação: Tabanez, M.F. 2000. Significado p a ra professores
de um program a de edu cação am bien tal em unidade de conservação. São
Carlos: UFSCar, 313 p. Dissertação (Mestrado em Educação) Programa de Pós-
Graduação em Educação.
Roteiro de entrevista
I- Dados Pessoais
1. Nome:
2. Formação Acadêmica:
572
A ABORDAGEM PARTICIPATIVA
NA EDUCAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO DA NATUREZA
5. Você costuma fazer uma preparação dos seus alunos para a visita à Estação
Ecológica dos Caetetus? Como é essa preparação?
573
SUZA N A M. PADUA
M ARLEN E F. TA BA N EZ
M ARIA DAS GRAÇA S DE SO U ZA
Anexo 4
Algumas referências bibliográficas de apoio
Apresentamos algumas referências bibliográficas de apoio, procurando
agrupá-las por temas, a saber: pesquisa qualitativa; avaliação quantitativa;
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577
II Análise da sustentabilidade de caça
em florestas tropicais no Peru - Estudo de caso
Richard E. Bodmer
Durrell Institute of Conservation and Ecology, University of Kent, England
John G. Robinson
Wildlife Conservation Society, USA
Introdução
A caça de animais selvagens é uma atividade importante para as comunidades
rurais nas regiões Neotropicais, onde esse tipo de prática é permitido pela
legislação em vigor.1 (Robinson & Redford 1991, Robinson & Bennett 2000). A
sustentabilidade dessa caça é importante para oferecer benefícios em longo
prazo para essas comunidades que vivem da caça e também para a conservação
das espécies e ecossistemas (Swanson & Barbier 1992, Freese 1997).
1 Nota dos editores: A atividade de caça no Brasil - sem a devida permissão - é proibida por
lei federal (N° 9.605 - Lei dos Crimes Ambientais de Fevereiro de 1998), sendo considerada
crime ambiental. Entretanto, conforme ressaltado por Lourival e Fonseca (1997), defronta
mo-nos constantemente com uma situação de contrassenso, já que tal delito é praticado
diuturnamente, sem a possibilidade de fiscalização, monitoramento ou controle, principal
mente no que se refere à caça tradicional de subsistência, escopo deste capitulo. A legisla
ção referente ao tema nâo encontra ressonância nas realidades regionais e prova disso pode
ser encontrada em Almeida (1992) e Peres (2000) apontando a relevância da fauna para as
pequenas comunidades que ocupam áreas extrativistas da Amazônia brasileira. Este capítu
lo apresenta uma metodologia para avaliar sistematicamente a sustentabilidade do modelo
de caça de subsistência praticado na Amazônia peruana, onde a caça de subsistência encon
tra amparo legal.
579
RICH ARD E. BO D M ER
JOHN G. RO BIN SO N
mato, veados e roedores, a pressão de caça parece estar dentro dos limites
da sustentabilidade. Por outro lado, para espécies com taxas reprodutivas
mais baixas, como primatas e antas, a caça raram ente parece ser sustentável
(Bodmer et al. 1997). Este capítulo focalizará métodos utilizados para avaliar a
sustentabilidade da caça de animais selvagens nas florestas tropicais
2. Dar uma definição exata do “uso sustentável” para o recurso da vida selva
gem. Algumas definições - como, por exemplo, aceitar que a caça é sustentável
quando a população da espécie é sadia e estável, quando analisada - são mui
to gerais. Outras definições, no entanto, podem ser específicas a certos mode
los quantitativos: um modelo de caça para espécies de vida curta, pot exem
plo, pode ser definido como sustentável quando menos de 40% dos indivíduos
são extraídos da população total.
3. Esclarecer bem a hipótese nula. Em geral é muito mais fácil demonstrar que
a caça é não sustentável do que mostrar que ela é sustentável. Se o nulo não for
aceito (ou não há nenhuma evidência de que a caça está sendo praticada em
excesso), então, a caça pode ser realmente sustentável.
580
A N ÁLISE DA SU STEN TABILID ADE DE CAÇA
EM FLO R ESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTU D O DE CASO
muitos anos. Dados norm alm ente coletados para avaliar a sustentabilidade
da caça incluem pressão de caça ou captura de anim ais para cada tentativa
realizada, abundância ou densidade anim al, reprodução animal e a estrutu
ra da idade animal.
Planos de estudo
Os dois planos de estudo que são geralmente empregados para avaliar a sus
tentabilidade da caça nas florestas tropicais são o plano comparativo e o de
monitoramento (Robinson & Redford 1994). O plano comparativo examina
variáveis entre os locais sem, com pouca ou muita caça. Essas variáveis podem
incluir abundâncias de animais, estruturas de idade, reprodução, captura de
animais para cada tentativa realizada, entre outros. Esse plano é útil se a sus
tentabilidade da caça necessita ser determinada em um período de tempo rela
tivamente curto. O plano apresenta suposições importantes que devem ser
consideradas, a ser:
1) Locais que são comparados devem ter o mesmo hábitat. Locais adjacentes
com hábitat semelhante normalmente são usados para as análises compara
tivas. Porém, é difícil mostrar, de maneira convincente, a consistência de
hábitats tropicais entre locais, e as variáveis de hábitat estimadas podem
não ser as mais importantes para os animais;
2) A variável com a maior variação entre locais deveria ser a pressão de caça;
3) A pressão de caça deve ser conhecida para diferenciar entre locais sem
caça, com pouca caça e' com muita caça.
1) O hábitat do local não varia com o passar do tempo, sendo então constan
te. Mudanças na qualidade do hábitat podem alterar a oferta de alimento
ou o abrigo utilizado pelas espécies e anular o impacto de caça;
581
RICH A RD E. BO DM ER
JOHN G. RO BIN SO N
Os modelos
Os modelos usados para avaliar o uso sustentável de vida selvagem tropical
discutidos neste capítulo incluem:
1. Abundância, densidades ou com parações da biomassa existente;
2. Modelo de estoque;
3. Modelo de tentativa;
4. Modelo de estruturas de idade;
5. Modelo de exploração;
• 582
A N ÁLISÉ DA SUSTEN TA BILID A D E DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTU D O DE CASO
583
RICH ARD E. BO D M ER
JOHN G. ROBIN SO N
Essa estratégia também pode ser usada para comparar densidade, biomassa ou
abundância de espécies com o passar do tempo no mesmo local (Cullen et al.
2001). O impacto da caça pode ser indexado pelo grau de declínio apresentado
pela população. A exploração é normalmente julgada como não sustentável se
as populações dos animais estão diminuindo com o passar dos anos.
584
A N ÁLISE DA SUSTEN TA BILID A D E DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTU D O DE CASO
Longevidade
Figura 2. Relação entre a alteração na abundância e max. Max é uma medida da produtividade
reprodutiva e a idade da primeira reprodução. É a medida do período de geração e a idade da
última reprodução, a qual avalia a longevidade. Os pontos representam espécies diferentes.
2. Modelo de estoque
Uma variante das comparações da densidade é o modelo de estoque (stock-
recruitm ent m od el), que está baseado nos modelos de população dependente
da densidade que usam as estimativas de Rendimento Sustentável Máximo
(MRS) (m axim um su stain ed yield) e capacidade de suporte (K). Como a maio
ria das espécies caçadas nos neotrópicos é de estratégia K, essas espécies de
vem ter um aumento da população dependente de densidade (Caughley 1977).
Cotas sustentáveis de exploração dependem das relações entre a taxa do au
mento e tamanho da população. O modelo de.estoque prediz níveis sustentá
veis de exploração para tamanhos de populações diferentes (McCullough 1987).
A maior população-base encontra-se na capacidade de suporte (K) e a menor
encontra-se na extirpação (0). Uma cota sustentável pode ser conseguida em
qualquer tamanho de população-base, porém, só há um ponto em que a explo
ração contínua está ao máximo, ou seja, no (MRS) (Caughley 1977).
585
RICH ARD E. BO DM ER
JOHN G. RO BIN SO N
\
586
AN ÁLISE DA SUSTEN TABILID ADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTU D O DE CASO
Assume-se que o valor de MRS para muitas espécies de vida selvagem esteja
por volta de 60% da capacidade suporte (K). Tal informação é baseada em
estudos empíricos com mamíferos grandes (Robinson & Redford 1991). O va
lor K é considerado como a densidade de populações não caçadas (Robinson
& Redford 1991), sendo N a densidade observada. Assim, N/K pode ser com
parado ao valor calculado de MRS. A caça pode ser considerada arriscada ou
segura, dependendo se N/K é maior ou menor que o valor de MRS. Porém, o
valor exato de MRS para espécies tropicais não é ainda bem compreendido.
Realmente, um pesquisador poderia predizer que o valor de MRS de espécies
com reprodução lenta, como primatas e antas, seria maior que 60% de K. No
entanto, é mais provável encontrar-se em aproximadamente 80% de K. Como
mostram os estudos conduzidos na Amazônia peruana, espécies que apresen
tam uma reprodução lenta têm uma variação na reprodução menos dependente
da densidade, com declínios na reprodução que só acontecem em densidades
altas. Como resultado, O valor de MRS seria mais próximo de K (Bodmer 2000).
587
RICH ARD E. BO DM ER
JOHN G. RO BIN SO N
588
A N ÁLISE DA SU ST EN TABILID ADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTU D O DE CASO
CATETO
V E A D O M A TE IR O
ANTA
589
RICH ARD E. BO DM ER
JOHN G. RO BIN SO N
3. Modelos de tentativa
Os modelos de tentativa examinam as relações entre a tentativa de caçar e a
caça realizada, e geralmente usam um índice de captura para cada tentativa
realizada. Esses modelos normalmente requerem informação extensa sobre as
atividades diárias dos caçadores para avaliar as tentativas ou, ainda, o esforço
de caça realizado. Por isso, a maioria dos modelos de tentativa foi aplicada por
antropólogos (Vickers 1991).
Registros de caça são usados para obter o número de animais mortos e índices
de relação esforço/captura (Puertas 1999). A análise da captura para cada ten
tativa de caça realizada foi testada, neste estudo, para examinar um local du
rante a estação chuvosa e a estação seca. Embora o nível de água não afete os
hábitats, ele determina o acesso da área aos caçadores. Durante a estação alta,
quando os riachos estão cheios de água, o acesso ao local de caça através de
canoa é relativamente fácil. Durante a estação seca, quando os riachos estão
secos, o acesso aos locais de caça é muito difícil. Acredita-se que a abundância
de mamíferos grandes não deva mudar muito entre as duas estações. Já a pres
são de caça e a tentativa são consideravelmente diferentes entre as duas esta
ções, sendo muito maior durante a estação chuvosa.
590
A N ÁLISE DA SU ST EN TABILID ADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU • ESTU D O DE CASO
Blanco
w
>S
Sb
ê é
E I
S °
1 ? 0 . 1-
oâ
II
Ü
Chuvoso Seco
200 -, Tentativa
E I
to E
<s t- 100 -
Iœ âo
Ec
■3 O
Z 2
Chuvoso Seco
900-
Pressão da Caça
800
700
g " 600
I I 500
| | 400
Õ §. 300
200
100
Chuvoso Seco
Figura 5. Capturas para cada tentativa de caça feita durante a temporada chuvosa e seca na
região de Blanco. Repare que as capturas por tentativa são constantes, embora a tentativa e
a pressão de caça sejam bem diferentes entre as duas temporadas.
591
RICH ARD E. BO DM ER
JOHN G. RO BIN SO N
Tipo 2. Caça ao acaso acontece quando os caçadores não escolhem suas presas,
caçando indivíduos ao acaso em termos de idade. Isso acontece mais provavel
mente com o uso de armadilhas. Amostras de populações caçadas aleatoria
mente refletem a distribuição da idade da população. As alterações na distri
buição da idade das amostras caçadas devem então refletir diretamente as
592
A N ÁLISE DA SU STEN TA BIU D A D E DE CAÇA
EM FLO R ESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTUD O DE CASO
Uma série de técnicas é utilizada para averiguar a idade das espécies de vida
selvagem. A técnica mais comum para mamíferos é analisar os dentes. Os
crânios de populações caçadas na Amazônia peruana têm sido empregados
para determinar a idade através dos dentes e, assjm, avaliar as distribuições de
idade das populações das presas capturadas (Gottdenker & Bodmer 1998).
Porém, os resultados não são de fácil interpretação, quando se considera a
caça excessiva. Por exemplo, para predizer a idade dos modelos, as popula
ções de queixadas e catetos capturados ao acaso deveriam mostrar algumas
diferenças entre áreas onde a caça é contínua e áreas de pouca caça. Porém, a
variabilidade da distribuição da idade entre os anos é significante e anula as
diferenças entre os locais de caça, ocultando dessa forma qualquer efeito da
caça (Figuras 6a e 6b).
593
RICH A RD E. BO DM ER
^ JOHN G. RO BIN SO N
1000
N=133
800
600
400 1991
200
Região de Yavari (Pouca Caça)
0
1000 1000
N=37 ‘ N=62
800 800
600 600
400 1994
400
200 200
0 0
1000 1000
N=44 N=89
800 800
600 600
400 1995
400
200 200
0 0
1000 100D
N=51 N=119
800 800
600 600
400 1996 400
200 200
0 0
1000 1000
N=39 N=89
800 800
600 600
400 1997
400
200 200
0 0
1 2 3 1 2 3
Categorias de Idade Categorias de Idade
Figura 6a. Distribuição da idade de catetos (Tayassu tajacu) caçados na região de Blanco
(muita caça) e Yavari (pouca caça), Amazônia peruana, no período de 1991 e 1999.
594
A N ÁLISE DA SUSTEN TABILID ADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTUD O DE CASO
1500i
N=148
1000
1991
500
1500 1500
N=67 N=163
1000 ■) 1000
1994
500 500
in La
1500 1500
N=63 N=240
1000 1000
1995
500 500
—L
3000 1500i
N=:92 N=155
2000 1000
1996
1000 500
2000 2000
N=56 N=217
1500 ■
=
--- 1500
•
1000 1997 1000
500 500
0 - 0
1 2 3 1 2 3
Categorias de Idade Categorias de Idade
Figura 6b. Distribuição da idade de catetos ( Tayassu pecari) caçados na região de Blanco
(muita caça) e Yavari (pouca caça), Amazônia peruana, no período de 1991 e 1999.
595
RICH ARD E. BO D M ER
JOHN G. ROBIN SO N
1000 10001
800 800-
600 600J
400 400-
200 200-
0 0-
1 2 3 1 2 3
Classes de Idade Classes de Idade
Figura 7. Distribuição da idade para a anta (Tapirus terrestris) em áreas com pouca e muita
caça.
596
A N ÁLISE DA SUSTEN TA BILID A D E DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTU D O DE CASO
5. Modelos de exploração
0 impacto da caça pode ser avaliado mais diretamente examinando-se a rela
ção entre a produção e a exploração nas populações. As populações animais
podem, teoricamente, ser caçadas de forma sustentável em qualquer nível de
população, prevista na capacidade de suporte (K) e extirpação (0) (Caughley
1977). Assim, um modo para avaliar, a sustentabilidade de caça seria saber se
há produção de animais para .a população que está sendo capturada. A explo
ração pode, então, ser comparada com a produção para averiguar se a propor
ção explorada está dentro dos limites sustentáveis. Esse tipo de análise é co
nhecido como “modelo da exploração” (Bodmer 1994).
P= (0.5D)(Y*g),
onde:
Y é o número de jovens documentados por fêmea (capacidade reprodutiva
bruta (número de jovens/número de fêmeas examinadas); g é o número médio
de gestações por ano e D é a densidade da população (deduzindo 50% sob a
suposição de que a razão do sexo da população é de 1:1 - ou seja, somente se
considera a densidade das fêmeas).
Se a população estiver sendo caçada em excesso, então esta pode ser determi
nada através da comparação da exploração com a produção de animais. Os
dados de caça nas áreas de exploração dão uma estimativa sobre a pressão de
caça (exploração/km2 de indivíduos). A porcentagem da produção de animais
que pode ser capturada de maneira sustentável precisa ser calculada, uma vez
que o cálculo da produção dos animais não considera pré-reprodução ou mor
talidade de indivíduos adultos. Robinson & Redford (1991) sugerem que o
tempo de vida de uma espécie pode ser usado como um índice do número de
animais que teria morrido mesmo na ausência da caça. Eles propõem que os
caçadores podem abater 60% da produção para animais de vida bem curta
597
RICH A RD E. BO DM ER
JOHN G. RO BIN SO N
(aqueles cuja idade da última reprodução ocorre com menos de cinco anos),
40% da produção para animais de vida curta (aqueles cuja idade da última
reprodução está entre 5 e 10 anos) e 20% da produção para animais de vida
longa (aqueles cuja última reprodução ocorre com mais de 10 anos).
Como exemplo deste modelo, análises sobre a condição reprodutiva das fê
meas de catetos abatidas por caçadores são aqui apresentadas. Essas análises
revelaram que a produtividade total (número total de jovens/número total de
fêmeas examinadas) na região de Blanco foi de 0.76. Como os catetos têm uma
média de duas gestações por ano (Gottdenker & Bodmer 1998), a capacidade
reprodutiva anual foi de 1,52 jovens/fêmeas. A capacidade reprodutiva foi
multiplicada por metade da densidade de catetos, uma vez que foi considera
do que metade da população de catetos no local era de fêmeas. O produto, ou
seja, a produção anual foi, então, dividido pela pressão de caça anual de 0.33
catetos caçados por km2. Isso resultou na porcentagem da produção abatida
pelos caçadores, a qual, nesse caso, foi de aproximadamente 31% da produção
de catetos. Esse valor está abaixo da quantidade máxima permitida (40%) para
uma espécie de vida curta e sugere que a captura de catetos na região de Blanco
é provavelmente sustentável.
Algumas considerações sobre esse modelo podem ser feitas: o modelo de ex
ploração é uma maneira útil de avaliar a sustentabilidade da caça em uma área,
pois usa informações sobre a produção e exploração dos animais em questão.
598
A N ÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU ■ ESTUD O DE CASO
. . Cateto Queixada
599
RICH A RD E. BO D M ER
JOHN G. RO BIN SO N
animais que podem ser caçados. Por exemplo, no máximo 40% da produção
de catetos daquela região podem ser abatidos de maneira sustentável, confor
me o modelo da exploração. Portanto, a linha RS no modelo da exploração
unificado é o 40% de limite. Se a exploração de catetos exceder os 40% do
limite, então a exploração é julgada insustentável, caso contrário, for menor
que os 40% do limite, considera-se a exploração sustentável. Assim, explora
ções sustentáveis podem acontecer a qualquer tamanho da população de cate
tos, desde que a exploração seja menor que 40% da produção. No caso da
anta, o nível máximo de abate é de 20% da produção.
600
ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTUD O DE CASO
c a ç a d a e s t i v e s s e a c im a d e 8 0 % d e K .
RSM
Figura 8a. Diagrama do modelo unificado de exploração. A altura das linhas sólidas, na
vertical, representa a porcentagem da produção abatida, enquanto a posição da linha verti
cal, pontilhada, representa a proximidade da população abatida a K e M RS. A linha RS é o
limite estimado de caça sustentável que, para catetos e queixadas, é de 40% da produção.
602
A N ÁLISE DA SUSTENTABILID ADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTUD O DE CASO
RSM
ANTA
Figura 8b. Diagrama do modelo unificado de exploração. A altura das linhas sólidas, na
vertical, representa a porcentagem da produção abatida, enquanto a posição da linha verti
cal, pontilhada, representa a proximidade da população abatida para K e M RS. A linha RS é o
limite estimado da caça sustentável, que, para o veado-mateiro, é de 40% da produção e para
a anta é de 20% da produção.
7. Modelo de produção
603
RICH ARD E . BO DM ER
JOHN G. RO BIN SO N
P=(0.6K*Lmax) 0.6K
onde:
Lmax é a taxa finita do aumento da população, determinada a partir do expo
nencial de rmax, quando rmax é a taxa intrínseca do aumento da população (taxa
mais alta do aumento da população quando uma espécie não está sob limites
de oferta de alimento, espaço, com petição de recurso ou predação). A taxa
intrínseca do aumento da população pode ser calculada usando a equação de
Cole (1954):
onde:
o é a idade específica da espécie durante a primeira reprodução, w é a idade
da última reprodução e 6 é a taxa de nascimento anual de fêmeas. Esses parâ
metros reprodutivos estão disponíveis na literatura sobre animais de cativeiro
e silvestres para espécies comumente caçadas.
Lrr- 1 (Lmax- 1) fn
Prr=(Lrr -1)0,6K
(ver Slade et al. 1998). O Lrr tem sido utilizado para demonstrar a exploração
604
A N ÁLISE DA SUSTEN TA BILID A D E DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTU D O DE CASO
8. Modelos de fonte-destino
Os modelos descritos acima são indicadores úteis do uso sustentável de po
pulações, mas eles não incorporam as complexidades dos ecossistemas natu
rais e as flutuações imprevisíveis das populações de vida silvestre. Alguns
modelos, como o das comparações de abundância, o modelo de estoque e o da
análise da estrutura da idade, são modelos abertos que incorporam, por si, a
imigração e a emigração das áreas ao redor. Outros, como o modelo de explora
ção e o modelo de produção, são modelos de população fechada que não con
sideram imigração ou emigração.
605
RICH ARD E.~BODM ER
JOHN G. RO BIN SO N
606
ANÁLISE DA SUSTENTABILID ADE DE CAÇA
em F l o r e s t a s t r o p ic a is n o p e r u - e s t u d o d e c a s o
pouca caça mostrou uma estimativa de 16% da produção de anta caçada, sen
do que este valor estava abaixo dos 20% do limite permitido. Portanto, a caça
foi considerada sem risco (Tabela 3).
Assim, os locais com pouca caça podem ser considerados parte da área de
fonte. Já os locais sem caça tiveram 0% da produção caçada, enquanto os com
pouca caça, associados àqueles sem caça, formaram uma área de fonte integra
da. Os caçadores capturaram da área de fonte integrada, uma estimativa de 8%
da produção da anta, sendo que esse valor estava dentro dos níveis sustentá
veis. Dentro de toda área fonte-destino, incluindo as áreas com caça contínua
com pouca e sem caça, os caçadores capturaram cerca de 18% da produção de
antas. Isso sugere que a caça da anta de toda área fonte-destino parece ser
sustentável e a sustentabilidade da caça na área com caça contínua depende
em grande parte das taxas de imigração (ou suprimento) de fontes adjacentes.
Porém, a caça excessiva da anta em locais com caça contínua deveria ser atenu
ada para não depender somente das áreas fontes.
607
RICH ARD E . BO D M ER
JOHN G. RO BIN SO N
608
AN ÁLISE DA SUSTEN TABILID ADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTU D O DE CASO
Área
aproximada 1,700 4,000 5,300 9,300 11,000
(km2)
i
Densidade 0.21 0.91 0.91 0.91 0.80*
(Ind/ km2)
Pressão
de caça 0.07 0.02 0.0 0.01* 0.02*
(Ind/ km2)
% da
produção 140% 16% 0% 8% 18%
caçada
3. Modelos de esforço
609
RICH ARD E. BO DM ER
JOHN G. RO BIN SO N
5. Modelo de exploração
7. Modelo de produção
8. Análise de Fonte-Destino
610
ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC AIS NO PERU - ESTU D O DE CASO
611
RICH ARD E. BO DM ER
JOHN G. RO BIN SO N
estrutura da idade dos animais, por meio dos crânios e dos tratos reproduti
vos das fêmeas abatidas. Esse procedimento mostrou quantos tipos diferentes
de dados podem ser coletados e a possibilidade de envolvimento de caçadores
na análise de dados e na iniciação do manejo, ponto fundamental para a ava
liação da sustentabilidade da caça e início de práticas de manejo para a susten-
tabilidade.
612
AN ÁLISE DA SUSTEN TABILID ADE DE CAÇA
EM FLO RESTA S TRO PIC A IS NO PERU - ESTU D O DÉ CASO
613
RICH ARD E . BO D M ER
JOHN G. RO BIN SO N
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615
á 23 Entrevistas 8 aplicação de questionários
P em trabalhos de conservação
Eduardo Humberto-Ditt
IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
Waldir Mantovani
Instituto de Biociências, USP
Cláudio Valladares-Padua
IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
Clarice Bassi
IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas
Introdução
Os projetos de pesquisa e de conservação frequentemente demandam a aplica
ção de técnicas para elaboração de questionários, condução de entrevistas,
análise e interpretação de dados coletados a partir de relações interpessoais.
No entanto, essas técnicas costumam ser muito mais utilizadas por profissio
nais das ciências sociais do que por aqueles que trabalham com Biologia da
\
Conservação.
Neste capítulo, que relata uma investigação de atitudes e de comportamento de
fazendeiros do interior do Estado de São Paulo, apresentam-se considerações
destinadas a auxiliar o planejamento e o desenvolvimento de trabalhos que
envolvem entrevistas e a maximizar o aproveitamento de maneira consistente e
segura das informações e dos dados que são coletados. Apesar de serem en
contrados na literatura outros trabalhos que também envolvem entrevistas para
mensurar atitudes e comportamento, é importante ressaltar que as considera
ções aqui apresentadas podem ser extrapoladas, tornando-se também válidas e
aplicáveis a trabalhos que envolvam entrevistas com propósitos diferentes.
618
EN TREV ISTA S E APLICAÇÃO DE Q U ESTIO N Á RIO S
EM TRA BA LH O S DE CONSERVAÇÃO
619
EDUARDO HUM BERTO DITT
WALÖIR MANTOVANI
CLÁUDIO VALLADARES-PADUA
CLA RICE BASSI
Afetividade e Conhecimento dos recursos presentes em sua floTesta 10, 11, 12,
preocupação Uso dã floresta para atividades de lazer 14, 25, 26
com meio Motivos pelos quais a floresta ainda existe
am biente Disposição em remover a mata no passado, no
presente e no futuro
Preocupação com o solo e com a água
Apreciação da beleza
Legislação Conhecim ento das leis de proteção das florestas 15, 16, 17,
Influência da legislação sobre as ações dos proprietários 18, 19
de terra para conservar os rem anescentes florestais
Reserva legal
Punições e multas por agressão ao meio ambiente
Opinião do fazendeiro sobre a legislação
620
EN TREVISTA S E APLICAÇÃO DE QUESTION ÁRIOS
EM TRABALH O S DE CONSERVAÇÃO
Estrutura do questionário
As pesquisas realizadas por meio de entrevistas podem ser baseadas em ques
tionários ou podem ser conduzidas livremente pelo pesquisador, da maneira
que lhe for mais conveniente para maximizar a obtenção de informações dos
entrevistados.
621
EDUARDO H UM BERTO DITT
WALDIR MANTOVANI
CLÁUDIO VALLADARES-PADUA S .
CLA RICE BASSI
622
EN TREV ISTA S E APLICAÇÁO DE QUESTION ÁRIOS
EM TRA BA LH O S DE CONSERVAÇÃO
Entrevistas-piloto
Antes de ser concebida a versão final do questionário, é importante a realiza
ção de entrevistas-piloto que, além de servirem como treino para o entrevista
dor, possibilitam identificar problemas relacionados à maneira de conduzir a
entrevista, à compreensão por parte dos entrevistados e à funcionalidade do
questionário. Os entrevistados-piloto devem ser parecidos com aqueles para
os quais pretende-se aplicar a versão definitiva do questionário, no que diz
respeito a sua idade, a sua profissão, ao nível de escolaridade e a outras carac
terísticas, às quais cabe ao pesquisador ficar atento.
623
EDUARDO HUM BERTO DITT *
WALDIR MANTOVANI
CLÁUDIO VALLADARES-PADUA *
CLARICE BASSI
624
EN TREVISTA S E APLICAÇÃO DE QUESTIO N ÁRIO S
EM TRABALH O S DE CONSERVAÇÃO
625
EDUARDO H UM BERTO DITT
WALDIR MANTOVANI S
CLÁUDIO VALLADÁRES-PADUA
CLARICE BASSI
Média de
.N Média Variância correlação Alfa de Cronbach
17 11,88 5,61 intervariáveis 0,64
0,23
%
Correlação
M édia se a Variância se a Correlação Alfa se a
corrigida entre
■ Variáveis variável é variável é m últipla ao variável é
variável e
desprezada desprezada quadrado (R2) desprezada
indicador
Essas duas variáveis são também as que possuem maior variabilidade nos
dados, ou seja, suas exclusões causariam as maiores reduções na variância.
No entanto, sua exclusão não se justifica, considerando-se que, juntamente
626
EN TREV ISTA S E APLICAÇÃO DE Q UESTIO N ÁRIO S
EM TRA BA LH O S DE CONSERVAÇÃO
com “substitu” (desejo de remover a floresta caso não haja impedimento legal)
e “Punição” (punições por agressão ao meio ambiente), elas apresentam altas
correlações com o indicador final, comparando-se com as demais variáveis. Os
valores de correlação apresentados na tabela para essas quatro variáveis evi
denciam a importância de se levar em consideração, em trabalhos semelhan
tes, os planos e a disposição do fazendeiro para reduzir áreas naturais ou para
convertê-las, os motivos pelos quais foram mantidas as áreas naturais que
ainda existem, e punições e multas que o fazendeiro tenha recebido por causar
danos ao meio ambiente.
627
I
EDUARDO HUM BERTO DITT
VyALDIR MANTOVANI
CLÁUDIO VALLÀDARES-PADUA *.
CLARICE BASSI
Considerações finais
As descrições apresentadas anteriormente contribuem para que, através de
abordagens quantitativas, muitas das informações levantadas por meio dos
questionários não sejam desperdiçadas. No entanto, esse desperdício de in-,
formações também pode ocorrer caso o pesquisador recorra apenas a aborda
gens quantitativas. A investigação pode ser enriquecida quando sustentada
por bases quantitativas de análise, porém, levando-se em consideração, no
momento da interpretação dos resultados obtidos, todas as informações quali
tativas e não “quantificáveis”.
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628
EN TREV ISTA S E A PUC AÇ ÀO DE Q U ESTIO N ÁRIO S
EM TRA BA LH O S DE CONSERVAÇÃO
Anexo I
Questionário aplicado aos fazendeiros que posseiam os fragmentos
florestais
5) Quais são os tipos de uso do solo na propriedade? Quanto cada um deles representa,
em porcentagem da área total da propriedade?
___% pastagem ___% benfeitorias ___% floresta ___% ______
(dado quantitativo = porcentagens) ,
6) Nos últimos 20 anos, quem da família atuou por mais tempo nos negócios e na
administração da propriedade? Qual é a idade desta pessoa?
(dado quantitativo = idade)
7) Essa pessoa, nos últimos 20 anos, morou quanto tempo na zona rural?
(dado quantitativo = número de anos de moradia na zona rural)
629
EDUARDO HUM BERTO DITT
WALDIR MANTOVANI
CLÁUDIO VALLADARES-PADUA
CLARICE BASSI
10) Que espécies de mamíferos o senhor sabe que existem nesta mata?
(pedir no máximo 12 espécies. Dado quantitativo = número de espécies citadas pelo
entrevistado, que realmente existem na floresta. As respostas puderam ser confirmadas
consultando-se os resultados de levantamentos de fauna realizados por pesquisadores
do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas nas mesmas florestas)
Que animais existem na propriedade, dos quais o senhor não gosta? Por quê?
11) O senhor ou alguém da família usa a floresta para caminhadas ou para algum
outro tipo de lazer?
Com que frequência?
(dado quantitativo = valor 1 atribuído àqueles que responderam que nunca usam a
floresta para caminhadas; valor 2 atribuído àqueles que utilizam no máximo uma
vez ao mês; valor 3 atribuído àqueles que utilizam mais de uma vez por mês)
12) Por que motivos a floresta ainda existe na propriedade? (Foram apresentados
quatro cartões, cada um contendo por escrito uma resposta diferente. Além destes,
também foram fornecidos cartões em branco aos entrevistados, para que pudessem
ser escritos outros motivos que eles sugerissem. Solicitou-se uma ordenação dos
cartões, por grau de importância.)
Primeiro cartão (peso 2); “Cumprimento da lei”;
Segundo cartão (peso 1): “A área não serve para outro uso”;
Terceiro cartão (peso 3): “Proteção do solo e da água”;
Quarto cartão (peso 3): “Apreciação da beleza”;
Outros cartões (peso definido após a entrevista): “Outros motivos apresentados pelos
entrevistados”.
(dado quantitativo = valor obtido pela somatória dos pesos dos cartões, multiplicados
pelas respectivas classificações ordinais atribuídas pelos entrevistados)
Obs.: Após as entrevistas, foram reunidas 16 pessoas que já atuaram na região, incluindo
biólogos, agrônomos, engenheiros florestais, veterinários, ecólogos, guardas-parques,
educadores e estudantes. Todas as respostas obtidas para essa questão foram
apresentadas ao grupo, que em consenso determinou os pesos a serem atribuídos
para cada cartão.
13) Se essa floresta não existisse, a área poderia estar sendo usada para alguma
atividade que proporcionasse renda? Que tipo de uso?
___Sim. Qual? ___ Não
(dado quantitativo = valor 1 atribuído para respostas “não” e valor 2 atribuído para
respostas “sim”)
14) Se a legislação permitisse, o senhor gostaria de substituir a mata por algum outro
tipo de ocupação do solo? ,
630
EN TRE V ISTA S E APLICAÇÃO DE Q U ESTIO N Á RIO S
EM TRA BA LH O S DE CONSERVAÇÃO
15) O senhor conhece as leis de proteção da floresta que existe na sua propriedade?
_ Sim. Quais o senhor conhece? ___Não
(dado quantitativo = valor í para aqueles que não conheciam nada sobre leis; valor 2
para aqueles que mencionaram apenas os 20% de reserva legal; e valor 3 para aqueles
que, além da reserva legal, também m encionaram as áreas de preservação
permanente)
18) Algum órgão do governo já lhe fez alguma crítica ou já lhe aplicou alguma punição,
alegando que o senhor fez algo contra o meio ambiente?
_Sim. Como foi? ___ Não
(dado quantitativo = valor 1 para respostas “sim” e vâlor 2 para respostas “não”)
23) O senhor acredita que os conflitos que existem entre o governo e os fazendeiros
sobre a regularização fundiária da propriedade afetam a conservação das florestas?
Por quê?
(não foram atribuídos valores quantitativos às respostas dessa pergunta)
631
24) Existe algum aproveitamento comercial da floresta? (Por exemplo: cabo de enxada,
mourão, apicultura., lenha, madeira, carne de caça, outros) Qual? Quanto representa
na renda da propriedade?
(não foram atribuídos valores quantitativos às respostas dessa pergunta)
26) Quanto de floresta o senhor acredita que será removida nos próximos 10 anos?
Quanto o senhor pretende acrescentar?
(dado quantitativo = valor 3 para quem pretende plantar floresta; valor 2 para quem
não pretende plantar nem remover floresta; valor 1 para quem pretende desmatar)
porcentagem da área da fazenda onde se pretende remover floresta
27) O senhor sabe que existiu uma reserva na região, chamada Grande Reserva do
Pontal do Paranapanema?
_ Sim ___Parcialmente ___Não
O que o senhor sabe sobre isso?
(dado quantitativo = valor 1 para quem não sabia da Grande Reserva; valor 2 para
quem sabia mas não conhecia detalhes; valor 3 para quem conhecia detalhes).
632
i 24 Manejo integrado de espécies ameaçadas
Cláudio B. Valladares-Padua
Universidade de Brasília e IPÊ- Instituto de Pesquisas Ecológicas
Rudy Rudran
Smithsonian Institution
Introdução
Como resultado principalmente da ação do homem, a diversidade biológica
que habita o planeta Terra está vivendo uma onda de extinções sem preceden
tes (Ehrlich & Wilson 1991). O aspecto mais dramático dessa crise ambiental é
a irreversibilidade da extinção de uma espécie. Todas as outras agressões ao
meio ambiente podem ser revertidas ou minimizadas, mas uma extinção é para
sempre.
633
CLÁ UDIO B . V A LLA D A RES-PAD U A
C R IST IA N A SA D D Y M A RTIN S
RU D Y RUDRAN
A maior parte das espécies ameaçadas sofre de uma ou mais dessas ameaças e,
como consequência, tem o seu número reduzido. O grande desafio da conser
vação de espécies é reduzir as pressões negativas sobre elas e seu hábitat e,
com isso, aumentar sua probabilidade de sobrevivência. Todavia, em casos
extremos, é preciso manejá-la genética e demograficamente para manter sua
população dentro dos patamares de viabilidade, enquanto se trabalha a redu
ção das ameaças que recaem sobre si.
634
MANEJO IN TEGRADO DE ESP É C IES AMEAÇADAS
635
CLÁUDIO B . V A LLA D A RES-PA D UA
C R IST IA N A SA D D Y M A RTIN S
RU D Y RUDRAN
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CLÁUDIO B . VALLAD A RES-PA D U A
C R IST IA N A SA D D Y M A RTIN S
RU D Y RU D RA N
METAPOPULAÇÃO
População Núcleo
% ® ■
Subpopulações selvagens
O
A pesquisa
O primeiro passo é o desenvolvimento de um programa amplo de pesquisa,
que permitirá o diagnóstico das ameaças à espécie e ao seu hábitat. A pesquisa
leva à visualização da situação atual da espécie, seja no campo ou em cativeiro
(se já houver população em cativeiro) e fornece dados para o planejamento das
ações adequadas para a sua conservação. Um programa de pesquisa não preci
sa necessariamente chegar ao fim antes que ações conservacionistas sejam es
tabelecidas, mas deve direcioná-las sempre. Essas ações devem ser avaliadas
periodicamente e revistas de acordo com o avanço das pesquisas.
A Ação
O planejamento, a execução e a avaliação das ações são etapas fundamentais
para o sucesso do programa de conservàção. Após o diagnóstico do status da
espécie e de seu hábitat, deve-se compilar os dados e definir as ações pertinen
tes. Em um manejo integrado para a conservação de espécies ameaçadas, ne
cessita-se de um fluxo razoável de animais entre as diversas subpopulações.
Para isso, duas estratégias são adotadas: a primeira envolve manejo de movi
mentação, em que são utilizadas as reintroduções e as translocações; a segun
da, sempre que possível, consiste em criar as condições para que o fluxo de
638
MANEJO INTEGRADO DE ESP ÉC IES AMEAÇADAS
^ f
I 1 •' mi ......
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jpiiHKM.'i
Ação
Natureza '"'T-!'"' Cativeiro
_ f _
Educação Ambiental
f "
Ações Políticas
- <-
Conservação do Hábitat
♦ - .
Manejo Cativeiro/Natureza
639
CLÁUDIO B . V A LLA D ARES-PA D U A
C R IST IA N A SA D D Y M A RTIN S
RU D Y RUDRAN
Os recursos
Um trabalho de conservação envolve ações em longo prazo e, antes do início
de qualquer programa, há a necessidade de se buscar recursos que garantam a
continuidade do programa. De forma geral, é interessante iniciar a busca de
recursos pelo menos um ano antes do início do programa.
640
MANEJO INTEGRADO DE ESP É C IES AMEAÇADAS
641
CLÁUDIO B . V A LLA D A RES-PAD U A
C R IST IA N A SA D D Y M A RTIN S
RUD Y RUDRAN
Podem ser estimuladas parcerias com produtores rurais para o plantio de cor
redores florestais que comuniquem fragmentos isolados de ambientes a serem
protegidos ou, ainda, linhas de ação direcionadas para a criação de Reservas
Particulares do Patrimônio Natural (RPPN’s), também com os proprietários
rurais. Estas ações podem gerar benefícios, como isenção de impostos ou faci
lidade de crédito em bancos oficiais. Em muitos casos, esse plantio pode regu
larizar a situação legal da propriedade, que necessita manter uma área de Re
serva Legal (um percentual da propriedade) e muitas vezes não o faz. As pes
quisas com modelos de uso da terra através de sistemas agroflorestais são
exemplos de correntes atuais de sistemas produtivos e que podem ser incor
poradas ao programa através de parcerias (Cullen et al. 2001, Valladares-Padua
et al. 2002a; 2002b).
Atividades de cativeiro
Uma vez identificada a situação da espécie e d» seu hábitat, o estabelecimento
de uma subpopulação em cativeiro é parte do manejo integrado. Pode ser que
já exista uma população em cativeiro da espécie, e esta será incorporada ao
programa. O manejo de alta qualidade em cativeiro é muito importante para o
sucesso do plano como um todo. As etapas a seguir detalham como este mane
jo deve ser feito.
642
MANEJO IN TEGRADO DE ESP ÉC IES AMEAÇADAS
Para uma boa avaliação genética usando métodos bioquímicos, são necessários
pelo menos os seguintes passos: a) cariotipia; b) análise de polimorfismo e hete-
rozigose por eletroforese; c) DNA satélite; e d) DNA nuclear ou mitocondrial. As
análises genéticas mais específicas podem e devem ser usadas num programa de
manejo. Análises como a oariotipagem podem contribuir para diferenciar alguns
grupos taxonômicos e definir “unidades de conservação” (Paetkau 1999). A ava
liação por eletroforese pode indicar níveis de variabilidade genética presentes
na espécie e as análises mais modernas de genética molecular (DNA satélite),
tanto nuclear quanto DNA mitocondrial, fornecem informações detalhadas so
bre a taxonomia e a variabilidade das populações (Avise e Hamrick 1996).
Análise demográfica
643
CLÁUDIO B. VALLA D A RES-PAD U A
CR1STIANA SA D D Y M A RTIN S
RU D Y RU D RA N
A análise demográfica é realizada pelos mesmos softw ares das análises genéti
cas e precisa ser discutida com os profissionais de cativeiro, que avaliarão o
desempenho das colônias com base nesses dados e nos do dia a dia, na insti
tuição. Com essas análises, são detectados, por exemplo, problemas de repro
dução numa colônia, se existe um desvio para o nascimento de determinado
sexo ou, ainda, se a colônia está muito velha e tende a diminuir com o tempo.
Esse acompanhamento demográfico também é feito periodicamente para ava
liação do manejo proposto. A ilustração abaixo mostra esses passos do acom
panhamento da população de cativeiro (Figura 3).
0 \
/ ' * \
0 0
Manejo das colônias Compilação dos dados
populacionais
Análises Genéticas
Análises Demográficas
Padrões de criação
644
M ANEJO INTEGRADO DE ESPÉC IES AMEAÇADAS
Outras Atividades
E d u c a ç ã o a m b ien tal
M o v im en ta çõ es
C om itê de m an ejo
F o rm u la çã o do p ro g ra m a
Após todas as etapas acima terem sido realizadas, ou concomitante com elas,
quando necessário, o programa deve ser elaborado. Na etapa das movimenta
ções, recomendações claras devem ser especificadas animal por animal e insti
tuição por instituição; a) designar animais excedentes; b) dar destino a esses
645
CLÁUDIO B . VALLA D A RES-PA D UA
C R IST IA N A SA D D Y M A RTIN S
RU D Y RU D RA N .
Essas recomendações são normalmente feitas pelo stu d book keep er, que é o
profissional que detém um profundo conhecimento da população em cativeiro
da espécie. Em um programa de manejo integrado, como são planejadas movi
mentações tanto de cativeiro para a vida livre como entre populações selva
gens, é de extrema importância contar com a equipe de pesquisadores de cam
po na elaboração das movimentações. Isso porque os pesquisadores de campo
conhecem os locais mais adequados à soltura dos animais, as condições do
hábitat, as ameaças e o comportamento dos animais necessário à sobrevivência
em vida livre. Além disso, serão eles que realizarão as atividades de monitora
mento posteriores à movimentação.
Im p la n ta ç ã o do p ro g ra m a
Uma vez aprovado pelo comitê de manejo, o programa deve ser divulgado a
todas as instituições participantes, através de seus representantes. Cada insti
tuição assume a responsabilidade de executar a sua parte do programa.
R ev isõ es e m o d ifica çõ e s
R e cu rso s e m eios
646
MANEJO IN TEGRADO DE ESP ÉC IES AMEAÇADAS
647
C LÁU DIO B . VALLA D ARES-PA D U A
C R IST IA N A SA D D Y M A R TIN S
R U D Y RUDRAN
Conclusões
Mesmo sem ter a intenção e a responsabilidade de atuar em áreas diferentes do
m anejo da espécie, neste tipo de programa deve-se participar do processo
comunitário de busca de alternativas de desenvolvimento sustentáveis e iden
tificação de agentes apropriados para a realização das ações. Resultados mais
duradouros para a conservação de uma espécie são atingidos quando se conse
guem parcerias e o apoio da comunidade local.
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M A N E IO IN T E G R A tíO D E E S P É C IE S A M E A Ç A D A S
6 5 1
Rudy Rudran
Ph.D em ecologia e comportamento
animal pela Universidade de Maryland,
EUA é atualmente diretor da Divisão de
Educação e Treinamento do Smithsonian
Institution. A té o mom ento organizou
120 cursos sobre o tem a conservação da
biodiversidade em mais de 15 países,
além de ter contribuído com o
treinamento a capacitação de
aproximadamente 2000 profissionais de
80 países. Ajudou a produzir manuais em
Biologia da Conservação em Inglês e
Chinês. Esse manual em português é
mais um resultado de sua peregrinação
na conservaçãò da biodiversidade pelo
mundo.
Cláudio Valladares-Padu
é Biólogo e possui doutorado pela
Universidade da Flórida. Atualmente
exerce as funções de Professor na
Universidade de Brasília (UnB) e Direção
Científica do IPÊ Instituto de Pesquisas
Ecológicas. É pesquisador associado do
Centro de Estudos Ambientais e de
Conservação da Universidade de
Colúmbia (CERO e diretor internacional
de conservação do Wildlife Trust ambos
em Nova Iorque. Atualmente ocupa o
cargo de vice-presidente de conservação
da Sociedade Primatológica Internacional.
Entre 1997 e 2002 ganhou quatro
prêmios conservacionistas sendo um
nacional e três internacionais. Possui dois
livros e mais de 40 trabalhos publicados
em revistas científicas nacionais e
internacionais.
Este livro foi co m p o sto Z u rich LtX C nB t 2 4 /1 5 /8 e
Z apfElliptB t 1 0 ,5 /9 ,5 /5 , im presso em off-set, em
papel reciclato 9 0 g/m 2para o m iolo, e papel cartão
250 g/m2 para a capa, pela Imprensa da UFPR para a
Editora UFPR, em agosto de 20 1 2 .
IS B N 9 7 8 -8 5 -7 3 3 5 -1 74-3